ano 5
26 donaflor artal fit banana & banana uncle K rodini joalheiros design brasil portobelloshop duo deca projeta iluminação da fiore cravo e canela churrascaria ribeirão
onde os sonhos nascem
projeto | ambientação | flores ilustração: neni almeida
rua sete de setembro, 1334 | ribeirão preto - SP | tel 16 3610 6821 | www.donaflor.com.br | donaflor@donaflor.com.br | mapa 01
calรงa Supplex Rosset
camiseta Amni
regata skin-fit
saia-shorts santa constancia
av.JosĂŠ Adolfo Bianco Molina, 212 | RibeirĂŁo preto - sp | tel 16 3621 9474 | Tamanhos Plus Size | mapa 02
sumário #26
08
estilo b | london fashion week
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turbina na b | vol 3
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banana & banana
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da fiore
16
uncle k
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sabor b | henrique fogaça
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lado b | the heat is on
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churrascaria ribeirão
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estação b | música para viagem
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respiro | alinhavos para costurar o tempo
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capa | 29a bienal
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design brasil
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desenho b | design by royal college of art
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projeta iluminação
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desenho b | london’s corners - parte 3
inclui mapa destacável de ribeirão preto NOSSA capa/poster 29a bienal de são paulo: Medusa - Amelia Toledo foto: divulgação siga a revista B: twitter.com/revistab
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colaboradores
Alex Xavier virou jornalista por um erro de cálculo. Achou que podia mudar o mundo e quebrou a cara. Encontrou na cultura, no conhecimento e na relação com as pessoas, o sentido da profissão. Foi editor da JungleDrums em Londres, repórter da CartaCapital e do Terra Magazine, deu furo para o The Observer, escreveu para a Folha de S. Paulo e a Superinteressante. Atualmente é colunista do portal Terra, sub-editor do portal NaturaMusical e publisher do blog Turbina.tk.
Ana Brasil é jornalista e não deixa de ser carioquíssima nem morando em Londres há quase dois anos. Na terra da rainha fez Mestrado em Revistas, veículo pelo qual é apaixonada, na University of East London. Também editou a revista JungleDrums e atualmente trabalha com mídias sociais. É fotógrafa amadora e adora viajar, descobrir novos lugares, pessoas e culturas.
andré de oliveira tem 22 anos, é aficionado por Western e acha o diretor Sérgio Leone e o ator John Wayne os melhores da sétima arte. Música, livros e cinema são suas preferências, mas nunca esquece da sua paixão pelo Corinthians. Gosta de contar uma boa história e é estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Trabalhou na revista Carta Capital e na londrina Jungle Drums, quando morou na cidade por oito meses. Gosta da Europa, mas prefere o temperinho nacional.
Bianca coutinho dias - Nascida em Descoberto - Minas Gerais, criada sob o signo da cordialidade e do improviso, escreve para a B sobre moda e cultura, é psicanalista, estilista, e desenvolve no momento, um trabalho de psicanálise e arte no curso de história da arte na Faap. Circula entre as linhas de costura aqui: vestidoscompoesia. com.br e entre as costuras de linhas aqui: flordebelalma.blogspot.com
Heloisa Righetto é designer por formação, porém ultimamente tem se dedicado apenas a escrever sobre o assunto para as publicações brasileiras mais legais, principalmente sobre o que está movimentando o mercado em Londres e na Europa. Eventos, exposições, premiações: se é sobre design, ela está lá! Antes disso, foi designer da Tok&Stok. Formada em 2006 pela Universidade Mackenzie, em São Paulo, foi uma das primeiras participantes do grupo Design Possível, que usa o design como ferramenta para melhoria de vida de muitas pessoas.
Jonas Oliver quem diria acabou em Londres...na verdade como estudante de moda sempre achou que Paris seria o melhor lugar do mundo para estar, mas um belo dia tudo mudou; uma proposta de trabalho em New York e próxima parada!!!! Londres. Hoje seu trabalho pode ser visto em importantes revistas como: Vogue, Elle, Style e outras; viver em Londres é mesmo a melhor aventura até agora; e o trabalho de moda foi com certeza seu maior acerto.
Regina Maria a. vieira, terráquea há sessenta e cinco anos, vez por outra extraterrestre por vocação. Escritora, ilustradora e criadora do Programa Sábado Sabido de teatro de formas animadas (sabadosabido.com.br). Há vinte e dois anos desenvolve textos e ações voltados para a conscientização e sensibilização para todas as questões que afetam a vida em nosso planeta. Menos cética do que se imagina, faz da esperança ofício de viver.
Schelay McCarter é jornalista de moda e diretora de arte, além de dar aulas de marketing em moda na escola Central Saint Martins Artscomm. Schelay escreve em um blog chamado fashiontent (schelay.blogspot.com) e contribui para a Komotif, uma empresa de e-commerce especializada em projetos de moda. (schelay.co.uk)
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London
Fashion Week
Como em todos os anos, LFW gera uma mistura de êxtase e agonia para os que aguardam um lugar nos desfiles mais badalados. Muitas vezes, o convite chega um dia antes do show. Nesta edição acompanhei de perto as criações dos seguintes fashionistas:
Day One
Caroline Charles e Vauxhall Fashion Scout Quando eu cheguei na Somerset House, local onde acontecem os desfiles, uma hora adiantada para assistir Caroline Charles, encontrei o razzmatazz de sempre com fashionistas glamurosas se equilibrando em seus vertiginosos saltos. Eu estava atenta, absorvendo a atmosfera de expectativa, de forma confortável nas minhas sapatilhas de balé! O desfile começou tarde como manda o figurino. E para minha surpresa, a coleção apresentou peças interessantes, que podem ser usadas no mundo real. Caroline Charles começou sua carreira nos anos 60, uma contemporânea de Mary Quant. Sua grife sobreviveu ao tempo e hoje produz roupas lindas, clássicas e que nunca saem de moda. | carolinecharles.co.uk O desfile “The Ones to Watch” é organizado pela Vauxhall Fashion Scout que promove e desenvolve novos talentos no Reino Unido, uma preparação importante para o calendário oficial. Nessa dinâmica de lançamento, foram apresentados três talentosos estilistas recém formados: Charlotte Taylor: Sua coleção atraente e simples, apostou em estampas bem humoradas com bobôs de cores fortes de giz de cera. Georgia Hardinge: Com criações angelicais franzidas com acabamento cru foram inspiradas por A Bela e a Fera, Jean Cocteau e o artesanato barroco Francês. Lilee: A coleção era bem elegante, simples e branca com elementos no mais profundo azul marinho. Muitas peças eram pregadas à mão e todas traziam sua assinatura tradicional de linhas clássicas e limpas. Caroline Charles
Charlotte Taylor | Georgia Hardinge | Lilee
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Diary
london fashion week
by Schelay McCarter
Day two David Longshaw
Após me desvencilhar da multidão de cópias da Carrie Bradshaw, eu sai em busca de novos e promissores talentos na mostra LFW Designers e, me deparei com o stand do David Longshaw exibindo sua distinta coleção primavera verão. David estudou moda na Central Saint Martins e se formou na Royal College of Art em 2008. Seu estilo é ousado, porém sensível e com uma silhueta sensual coberta com estampas florais em traços e personagens excêntricos. Seu estilo ilustrativo funciona muito bem nos acessórios, especialmente nos lenços. | davidlongshaw.co.uk
Basso and Brooke
Day three Basso and Brooke Como é de se esperar da talentosa parceria anglo-brasileira de Basso and Brooke, a coleção foi uma explosão de estampas radicais. As linhas limpas e clássicas claramente influenciadas pelos anos 60 e início dos 70 foram substituídas por leveza fluida. Os tons terrestres e a palheta de pastéis suaves e esbranquiçados são complementados com detalhes elétricos, as estampas ousadas são estrategicamente colocadas a fim de realçar os contornos do corpo, dando forma e estrutura. Basso and Brooke são pioneiros na estamparia digital para moda e exploram de forma inteligente as influências de outrora nos levando de volta ao distante passado analógico. Usando textos escritos à mão por Da Vinci, Tolstoy, Balzac, Saint–Exupery, revelando assim um interesse e respeito pelos métodos de registro da mente criativa pré era digital. Realmente inspiradora! | bassoandbrooke.com
David Longshaw
o Bruno Bass
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Christo
oke pher Bro
London
arte b
Fashion Week
Jasper Conran Enquanto aguardava para entrar no próximo desfile, eu pude observar Alexandra Shulman, editora de moda da Vogue britânica, que sem dúvida tinha entrada VIP para o desfile, mas teve que aguardar paciente na fila do café! A platéia para o desfile de Jasper Conran estava lotada, eu me espremi para sentar no banco e apreciei o clima antes do show, a euforia era palpável. A coleção de Jasper Conran se dividiu em três partes; estampas gráficas em preto e branco em tecidos como tule, texturas em branco com silhuetas sensuais usando renda de algodão e lindos bordados, e por último, cores cítricas com estampas gráficas. A silhueta era inspirada nos anos 50 e 60 e o resultado foi feminilidade e discrição em geral. Eu adorei os lindos vestidos brancos, perfeitos para os dias quentes de verão e ótimos para espantar o calor! Branco foi uma tendência marcante na maioria das coleções desta temporada. | jasperconran.com
Lucy Bailey
A Recepção Com Champagne Esthetica No intervalo entre desfiles, eu acompanhei o presidente do Conselho Britânico de Moda, Harold Tillman e Lucy Bailey e seus discursos sobre o progresso da Esthetica. O Conselho Britânico de Moda fundou a Esthetica. Patrocinada pela Monsoon, há quarto anos divulga o movimento crescente de estilistas de ponta, comprometidos com o trabalho sustentável. A Esthetica, agora na sua nona estação, evoluiu para se tornar o centro londrino da indústria de moda ética. O sucesso desta iniciativa, a maior no cenário internacional, fica evidente com o rápido crescimento de treze estilistas na primeira mostra, com os atuais 37 participantes nesta estação.
Day four Leaving Dreamland Coleção Feminina Primavera Verão 2011 Moda no cinema é algo que me interessa muito, então fiquei eufórica ao receber um convite para o lançamento de um novo filme promocional para a loja Londrina bSTORE. Entitulado “Leaving Dreamland”, o filme é dirigido por Ivana Bobic e Rain Li que trabalharam com Gus Van Sant e fizeram filmes pra outros estilistas como 3.1 Philip Lim, Dries Van Noten, Vivienne Westwood e Yoshi Yamamoto. “Leaving Dreamland” viaja por uma estranha paisagem que lembra Los Angeles, combinando luzes de neon reminiscentes do filme “Drugstore Cowboy” de Van Sant para criar uma narrativa melancólica que captura perfeitamente o clima da coleção de primavera verão da bSTORE. Amei! Jasper Conran
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Diary
hélio oiticica
by Schelay McCarter
Day five Mais talento brasileiro em Londres!
issa
Neste dia, a estilista brasileira Daniella Issa Helayel, conhecida como Issa, foi a última coleção na passarela do Conselho Britânico de Moda. Os turbantes coloridos e adornados de jóias formam a liga criativa que uniu a coleção toda. Os vestidos de dia com uma variedade de tecidos delicados como seda, jersey, chiffon, renda feita à mão, gaze bordada de algodão e jersey fosco italiano para proteger contra o sol, eram muito práticos. A palheta de cor inspirada no Diwali indiano com o vermelho primário, amarelo, azul e verde claro suavizados com tons terrestres refletindo os palácios empoeirados e desbotados da Índia, foi apaixonante! | issalondon.com
Hermione de Paula Fui amplamente recompensada por ter feito o esforço de ir ver a coleção de Hermione De Paula na tarde de terçafeira desta London Fashion Week. O local no hall maçônico em Covent Garden funcionou como fundo perfeito para o desfile de Hermione De Paula. Eu encontrei a sobrinha de Manolo Blahnik na fila, Kristina. Estava muito quente e ela usava um casaco de pele, iniciamos uma conversa sobre de como é difícil decidir o que vestir. Ela usava sapatos lindos, obviamente, que
ela permite que a mulher moderna se divirta misturando cores contrastantes com um visual elegante e refinado. Vestidos fáceis de usar para um guarda roupa completo que realça a figura feminina. Issa a faziam bem alta. Ela confessou que Manolo Blahnik era um negócio de família e que estava ansiosa para o início do desfile de Hermione De Paula, que estudou na Central Saint Martins onde se formou com sua coleção pintada à mão de estampas e colagens inspirada numa musa da mitologia. De Paula mistura texturas com perfeição, combinando tops de caxemira e crochê com vestidos de seda pintados à mão. Seus acessórios grandes e cônicos dão a impressão de que a musa passou por uma teia de aranha e a enrolou como saia. As roupas foram criadas pensando no movimento e tomaram vida na passarela. Realmente foi uma semana incrível... londonfashionweek.co.uk fashiontent: schelay.blogspot.com
hermione de paula
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London
arte b
Fashion Week
Paolo Zerbini, fotógrafo da Vogue italiana, registrou momentos exclusivos dos bastidores da London Fashion Week especialmente para essa edição da Revista B. Com muito ti-ti-ti, a semana de moda foi para todos os gostos e tribos, do bonitinho fashion ao hipy estiloso..., tudo como diria Bete Lima “um luxo só” com muito detox, detox and butox.
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people
by jonas oliver | pictures by paolo zerbini
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hĂŠlio oiticica
banana & banana
formas leveza
conforto tecnologia exclusividade Banana & Banana Uma vitrine completa para a moda brasileira
lenny
clube bossa
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banana & banana
salinas
av. IndependĂŞncia, 2366 RibeirĂŁo preto - sp tel 16 3620 2281 mapa 03 LYGIA & NANNY
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uncle k
uncle k
Design inteligente, ousadia e praticidade traduzem a Uncle K. Os sapatos, as bolsas e os acessórios da marca há um ano vêm surpreendendo as clientes de Ribeirão Preto e região. Desde 1996, quando nasceu no Rio de janeiro, a marca busca o investimento em inovação e qualidade, conquistando as mulheres que precisam se adaptar a múltiplas tarefas ao longo do dia. Atualmente, a Uncle K conta com 51 lojas, em vários estados do país. Para a nova coleção Primavera-Verão 2011, a sensação de um mergulho no mar, de lavar a alma, de renovar as forças. Sentimentos de frescor e tranqüilidade combinados com as cores quentes e vibrantes da estação. Tonalidades que despertam em você o cheiro da primavera e a alegria dos dias de verão. Primavera! Aguardamos ansiosamente as árvores voltarem a se colorir. Os cheiros mudam, as cores se intensificam, a vida começa a florescer. Cores! A Uncle k foi buscar na luz do amarelo, na suavidade dos azuis, na clareza das cores cruas, na graça dos tons rosados, cores para colorir suas bolsas. Reciclado! Uma linha de bolsas com tecidos obtidos através da combinação de retalhos de algodão tinto remanescentes do corte de confecções com os fios reciclados de garrafas PET. O resultado final é um tecido macio, resistente, e com uma qualidade fundamental: colorir sem agredir o meio ambiente.
Rua Altino Arantes, 1066 ribeirão preto - sp tel 16 3610 3425 www.unclek.com.br mapa 04 fotos (loja): wagner abrahão junior
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por: Jonas Oliver | fashion@revistab.com.br
Photographer: Oggy Yordanov Fashion Styling: Francesca Marrota fashion assistant: Emilie Thoorens male Grooming: Jonas Oliver using mac:pro Models: Jonathan Woodward @ Storm and Ollie @ Nevs
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lado b
Jonathan wears Trousers by Marjan Pejoski for KTZ and Black Leather Bag worn as hat by Richard Torry
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lado b
Jonathan wears Walt Disney World Mickey’s Ears Hat, Stylist’s own
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lado b
Ollie wears Diamante Choker-Belt by Louis Mariette
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lado b
Ollie wears Beanie Black Jewellery Shorts by KTZ, Black & White Bow by Totally Erected and Black Glitter High-Tops Trainers by KTZ.
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lado b
Ollie wears Black Leather Bag by Bracher Emden
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lado b
Jonathan wears Graffiti Trilby Hat by Philip Treacy, Black Jewellery Vest Top by KTZ and Black Jeans are Model’s own
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lado b
Ollie wears Sunglasses by Jeremy Scott
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estação b
Por ana brasil | foto: sarah-ji
São Paulo está prestes a sediar o 1° Festival Internacional de Músicos de Metrô. Entre os dias 8 e 12 de novembro, a capital paulista receberá artistas de oito cidades incluindo Nova Iorque, Londres, Paris, Montreal e Moscou, que se apresentarão em estações do metrô entre as sete da manhã e às sete da noite. A escolha da cidade ocorreu pelo fato de o idealizador do projeto ter sido um paulistano, o produtor cultural Marcelo Beraldo. “Queria dar um presente para minha cidade natal. Quero mostrar à parte das 3,5 milhões de pessoas que andam diariamente no metrô de São Paulo que existem músicas e talentos que nunca imaginaram. Este choque cultural de trazer um trio de cordas de Moscou para a estação Sé, por exemplo, é algo que me motiva muito”, comenta. Tudo começou com uma visita de Marcelo a Nova Iorque em 2006, quando, por utilizar o metrô da cidade, entrou em contato com o busking, termo inglês que significa a prática de performances artísticas em espaços públicos, como ruas ou, neste caso, estações de metrô, onde os músicos esperam ser recompensados por seu trabalho com doações e contribuições dos passantes. Surpreso com a qualidade do trabalho, o produtor decidiu investigar a cultura de busking em outros sistemas metroviários do mundo e resolveu criar o festival justamente porque em São Paulo as apresentações são proibidas. “O metrô de Nova Iorque deve ser o metrô com a maior presença de músicos. Lá, eles estão em todos os cantos. E muitos são bastante talentosos. Vendo todo este movimento, pensei em desenvolver um projeto oficial para músicos de metrô”, diz. Assim nasceu o festival, que passou a se chamar Red Bull Sounderground após a parceria com a marca de bebidas.
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Para a concepção do projeto, Marcelo visitou 17 cidades, dentre elas 10 com as maiores redes metroviárias do mundo, mas ele diz que nem todas são favoráveis aos buskers: locais como Tóquio e Hong Kong não toleram os músicos nas estações. Segundo Marcelo, o outro objetivo do festival é estimular a discussão em torno desta prática ante as autoridades pertinentes. “Em São Paulo, segundo eles, não querem incentivar a mendicância... Apesar de considerar este termo infeliz, respeito a postura deles e realmente não sei se este modelo de donation funcionaria no Brasil”, comenta. Em várias cidades há departamentos ou organizações dentro dos metrôs para organizar o busking. Em Nova Iorque, por exemplo, há o MUNY (Music Under New York), um programa que seleciona os músicos através de audições e os certifica para tocar nos subways da cidade. Londres também conta com um sistema semelhante. “O metrô de Londres tem um dos programas oficiais mais desenvolvidos em relação a músicos de metrô. Foi em Londres, que aprendi que os buskers’ pitches (local onde se apresentam) das estações poderiam ter seu espaço vendido para patrocinadores. Isto faz muito sentido, pois é uma nova maneira para fomentar a arte urbana e de rua”, avalia o produtor.
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Com tanto a ser explorado em torno do assunto, já há planos para que o festival se torne anual, sempre com esta dinâmica de uma cidade recebendo músicos de outros lugares do globo. Sem dúvida, o público sempre apressado que circula pelos metrôs das grandes metrópoles é um ótimo termômetro para os músicos avaliarem as suas performances, além de poder ganhar experiência, e obter a aprovação de um público internacional adiciona um pouco de prestígio a estes ‘shows’ tão informais. Desta forma, além de músicos das cidades selecionadas, o festival terá também artistas da própria São Paulo se apresentando, para que os músicos locais também tenham o gostinho de experimentar o busking. No início de sua viagem pesquisando para o festival, Marcelo decidiu filmar sua experiência pelos metrôs do mundo. Parte do material, que deverá ser transformado num documentário, está disponível na página de Marcelo do YouTube, youtube.com/mbarong. Lá, é possível ter uma pequena amostra de como o festival em São Paulo pode ser. Vale a pena conferir.
redbullsounderground.com/ youtube.com/mbarong
350 Points towards Infinity TATIANA TROUVÉ
“Há sempre um copo de mar para um homem navegar”
por: Bianca Coutinho Dias | bianca@revistab.com.br | fotos divulgação
O verso serve de mote para a Bienal com curadoria de Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias, e sugere que a dimensão utópica da arte está contida nela mesma, e não no que está fora ou além dela. Com a poesia no corpo penetro naquele mundo, naquele copo de mar. Mergulho numa espécie de delírio vertiginoso no infinito das obras, em que vão surgindo intenções, gestos, atos de artistas criando clareiras num espaço vazio, num mundo de tantos signos e ideias.
capa
Entre passos emocionados, uma chuva lírica se faz debaixo de meus olhos: a obra de Tatiana Trouvé. Confundindo e invertendo interior e exterior, reconstruindo e reconfigurando o espaço de instalação, sua obra “350 points towards infinity” sintetiza um espaço adormecido, onde pêndulos presos e imóveis se cruzam antes de tocar o solo. Meu corpo é amortizado pelo transbordamento estético e, nesse entrecruzamento, encontro Godard que faz, com “Je vous salue, Saravejo”, que algo novo surja, articulando pensamentos acerca da história e da política, apresentando a arte como exceção que pode ser musicada, pintada ou vivida, e que se contrapõe às normas definidoras da cultura. A descoberta da superfície sensorial me remete ao mais nostálgico de mim. Fotos recolhidas aleatoriamente e uma história por escrever - aquilo que se recolhe dos escombros ou, dito por Manoel de Barros: “O que é bom para o lixo é bom para a poesia”. Rosângela Rennó e sua matéria de poesia fotográfica recolhida do improvável encarna aquilo que temos de mais íntimo. Estranhamento e familiaridade em objetos e imagens que ela insere de novo no mundo, dando vida a histórias abandonadas pelo tempo. No tempo poroso, fraturado, urgente, onde ocorre a invenção, penetro o moto contínuo de movimentos, aproximações e afastamentos alinhavados num patchwork infinito e criativo. Encontro, assim, contingência nos terreiros - largos, praças, terraços, quintais, nos lugares onde se dança, se canta, se brinca, se joga conversa fora. Na arquitetura de cada um desses terreiros, idealizados por artistas e arquite-tos, a presença profunda da arte na vida. Transpostos e adaptados para o ambiente expositivo, os terreiros desempenham seu papel como lugar de encontro, fala, escuta, comunhão e dúvida, ecoando a potência da política como ato de criação do que não é dado, ou do que sequer se adivinha como possível. São eixos designados através da palavra poética - aquela que não se dá com facilidade e que mantém em seu bojo um enigma, num mundo permeado por falas vazias e pretensamente cristalinas. O terreiro de performances “O outro, o mesmo” – título emprestado da obra do escritor argentino Jorge Luís Borges - revela-se labiríntico e demarca uma arena aberta, que faz aparecer a continuidade frágil entre dentro e fora. Mostra a fragilidade dos mecanismos de representação, ameaçados de se diluírem no fluxo dos eventos à sua volta. Logo à frente, no lugar das possibilidades diversas, Antonio Dias convoca ao ato, sugerindo a existência simbólica para experimentação. O espaço de afirmação das singularidades marca um território a ser explorado no chão. Convida-se ao ato, mas delimita-se algo de uma falta - essa mesma que carregamos enquanto inventamos nosso lugar no mundo.
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29a bienal
Menos valia ROSÂNGELA RENNÓ
Faça você mesmo: Território liberdade ANTONIO DIAS
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capa
Alvorada - terreiro A pele do invisĂvel Tobias Putrih
Youturn - terreiro Eu sou a rua UNStudio
Longe daqui, aqui mesmo MarilĂĄ Dardot e Fabio Morais
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29a bienal
Reservado às projeções audiovisuais, o terreiro “A pele do invisível” tem assinatura do artista esloveno Tobias Putrih e traz o caráter não específico da produção audiovisual contemporânea, que borra as fronteiras entre documento, cinema, vídeo amador e vídeo arte. Emocionada, identifico alguma voz no filme “This Much is uncertain”, de Runa Islam, filmado ao norte da costa da Sicília, com imagens que mesclam a textura da areia vulcânica e fragilidade dos grãos de prata do filme. Obra imersiva sem retorno, mas cheia de sutileza de movimentos. Aporto meu barco “Longe daqui, aqui mesmo”. Inspirado no texto de Antonio Bivar, o “entre-lugar” de Marilá Dardot e Fábio Morais se apresenta como um labirinto, construído em alvenaria, onde as paredes e os pisos são capas de obras fundadoras da literatura universal. Uma casa que é um livro,
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uma pergunta, algumas palavras e um verter lírico: “Com que livro você construiria sua casa?” Tocando os limites do real, imaginário e simbólico, segui a incursão entre-livros e entre-afetos. Vicejando a fantasia, caminhei por abismos e tempestades. No trajeto evanescente, perambulei por várias cidades, com o artista Alberto Greco e seu “Vivo dito”- fotografias do cotidiano entre a sutileza do gesto artístico e a teatralidade da cena pública. Celebro o jornalista e cronista carioca João do Rio, no espaço “Eu sou a rua” do escritório holândes UN Studio, que simula as curvas características da arquitetura de Niemeyer e, num gesto arrojado, faz da rotação de três extremidades um monumento ao enigma da construção.
capa
Nesses lugares de pausa, onde se toca o mais profundo e há um desnudamento, à flor da pele olhei para as árvores do Parque Ibirapuera - a calma cena de um jardim e uma contradição visceral dentro de mim. Na geografia da sensualidade da natureza, sinto o vento no rosto e a vida no vórtice do corpo adormecido. Deito sem saber onde, esqueço do mundo e vivo o deslumbre do instante. Numa coincidência epifânica leio o nome do terreiro que é um convite pela desmontagem de sentidos e pela entrada na subjetividade “Lembrança e esquecimento”, de Ernesto Neto. Por todos os lugares, o alumbramento de Guimarães Rosa e sua escrita de travessia. No terreiro “Dito, não dito, interdito”, de Roberto Loeb e Kboco, baseado em Guimarães também, o gesto de abertura que carrega o conceito de terreiro, ao tensionar a membrana que separa a Bienal. Aquilo que liga e separa e descontrói os limites de dentro-fora Surge em mim a urgência de escrever e, como num acaso que se torna verdade, encontro Mira Schendel e sua relação íntima e solitária com a escrita. Ela e a linguagem selvagem, estrangeira, aberta. A translucidez do papel resguardando e insinuando infinitas possibilidades ao olhar. Sigo comovida nas texturas daquilo que me causa e que é lugar vazio a ser inscrito. Criar vazio é a principal arte - e é dessa arte que abre buracos e descortina terrenos novos, onde reencontro sagaz, aquilo que Paulo Bruscky faz por meio da poesia visual, da fotografia, do vídeo, do cinema, da performance e da intervenção urbana, instaurando fendas no cotidiano e mantendo o mesmo espirito contestador de 1978, quando desfilou pelas ruas como um homem-sanduíche que carregava as perguntas “O que é arte? Para que serve?”. Mergulho no barco sensorial dos sentidos. Samuel Beckett chama no vídeo “Not I”. Uma boca num rosto negro verte freneticamente um monólogo de fluxo ininterrupto e sem sentido claro. Silêncio para fazer falar.
29a bienal
Not I Samuel Beckett
O que ĂŠ arte? Para que serve? Paulo Bruscky
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Metade da fala no chão – Piano surdo Tatiana Blass
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29a bienal
Encontro Tatiana Blass e sua “Metade fala no chão - piano surdo“. Um vídeo registra uma tinta desaguar num piano, indo do desafinar das notas ao emudecimento completo. Vejo infinitos a me abismar. Escuto Clarice Lispector: “Na verdade, acho que nosso contato com o sobrenatural deve ser feito em silêncio e numa profunda meditação solitária”. Encontro o mar de Artur Barrio, uma quase mimese do que me assola. Deserto de mar, sem peixes, pedaços de pedras, carbono, alumínio. Mar da indolência e repleto de sentido poético-político.
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Para o meu vizinho de sonhos JosĂŠ Leonilson
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29a bienal
Em torno da identidade que se dissolve e do corpo que é sem lugar, reencontro Leonilson. De suas aquarelas e tecidos bordados costuro vestidos desesperados nesse corpo-vertigem. Um intraduzível toma conta de mim no contato com suas imagenspalavras, que enunciam um discurso amoroso incompleto, feito de cacos dispersos em situações de onde emergem sentidos cambiantes de angústia, carinho, ciúme, culpa, dependência, sedução, fragmentos dos indícios insuspeitos da possibilidade de uma vida partilhada, que colocam em suspensão o que parecia estável e seguro. Ofegante de tanto mar, sinto a urgência decidida de uma escrita. Siderada, olho em busca de um norte. Só encontro enigmas. Na arte que é vida, desejo e iluminação, retiro delicadamente o véu de Joseph Kosuth e seu desmontar dos códigos e dos processos de construção do discurso artístico. Sobre um fundo preto descontroem-se sentidos da linguagem, onde a descrição de uma coisa é diferente da coisa em si. Ver é sentir algo que nos escapa. Assim escrevo minha viagem transatlântica, pois só me restam as palavras. Palavra - catarse, roupa de nuvens - que carrega a lembrança da inquietude daquilo que a arte faz permeando as encruzilhadas da crítica e daquilo que se vive enquanto assombro no cotidiano Sustento a escrita que se faz nessa zona de sombra, onde não se pode dizer tudo. Escrevo como tentativa de inscrição de um real que, como diria e.e.cummings, trata-se daquilo que existe “nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além de qualquer experiência”... Escrevo e “agora os objetos me percebem”, como Paul Klee decifrou poeticamente um dia.
29a bienal de são paulo | 25 setembro - 12 dezembro 2010 29bienal.org.br
North, South, East, West Joseph Kosuth
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design brasil
“Sergio Rodrigues é esta figura iluminada de personalidade marcante, que soube transformar suas inquietações numa obra coerente e reveladora da cultura brasileira. Sergio é, sem dúvida alguma, uma das mais admiráveis expressões do design em nosso país. O traço coerente e único inscreveu seu nome na história do design do século 20, sobretudo pela criação de uma grande variedade de produtos, dos quais o mais famoso é a Poltrona Mole. Ao lado de mestres como Joaquim Tenreiro e José Zanine Caldas, Sergio vem tornando o design brasileiro conhecido internacionalmente... Ele transformou totalmente a linguagem do móvel, foi generoso no traço e no emprego das madeiras nativas. A aproximação de desenho do móvel moderno com certos objetos da cultura brasileira, e a não preocupação com modismos, acentuam o espírito de brasilidade que tanto busca Sergio Rodrigues.
Sergio Rodrigues
Adriana Doria Mattos
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design brasil
colecionáveis
eterno design “O processo criativo de Paulo Alves é alimentado por uma sensibilidade e por um grande interesse, despertado ainda jovem, pelo trabalho com a madeira. Enquanto estudante de arquitetura ele passa a acompanhar o trabalho de um dos ícones da arquitetura brasileira, Lina Bo Bardi, integrando seu escritório em 1992. Numa busca de liberdade, seus espaços e objetos vão além das amarras funcionais, buscam no traço depurado de todos os artifícios, a forma capaz de materializar o máximo de expressividade. Plenos de poesia, suas criações apontam novas possibilidades e um frescor que revigora o legado dos grandes mestres do mobiliário moderno brasileiro” Judith Pottecher
paulo alves
onde encontrar:
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Rua Cap. Adelmio Norberto da Silva, 710 ribeirão preto - sp tel 16 3913 4647 atendimento@designbrasilrp.com.br mapa 06
desenho b
Os formandos de 2010 da escola de design mais cobiçada do planeta mostram seus projetos em exposição super badalada em Londres texto e fotos: heloisa righetto | desenhob@revistab.com.br
Umas das coisas mais legais no mercado de design europeu são as feiras organizadas pelas universidades para exibir o trabalho dos recém formados, proporcionando uma oportunidade única não só para eles – que tem a chance de exibir o resultado de tanto trabalho para a indústria criativa e a imprensa – mas também para os “olheiros”, que, ávidos, buscam novos talentos e ideias inusitadas para logo serem colocadas em prática. Conhecidos como Graduation Shows, eles geralmente acontecem na metade do ano, o que corresponde ao fim do ano letivo no hemisfério norte. Apesar de todos serem interessantes e recheados de novos talentos, existe uma escola que gera um certo frisson, atiçando a curiosidade dos loucos por design: a londrina Royal College of Art. Não é a toa, afinal a RCA está nos currículos de artistas como Thomas Heatherwick (o mais novo queridinho do design britânico), David Hockney e David Adjaye. A escola, que é a única no mundo a oferecer exclusivamente cursos de pós graduação ligados a design, foi fundada em 1967 e orgulha-se de ter 93% de seus alunos colocados no mercado de trabalho assim que terminam os estudos. A variedade de cursos é grande: design de produto, moda, automobilístico, têxtil e comunicação são alguns exemplos. A instituição também deve sua reputação aos nomes que já fizeram parte do quadro de professores: Ron Arad é o mais conhecido (e acabou de passar sua vaga para Tord Boontje). Mas será mesmo que a fama é justa? Fui lá conferir o trabalho da turma de 2010, e de cara a diferença é notável: a recepção para imprensa é digna de dia de inauguração em uma galeria ou museu famosos. Todos os compradores das marcas especializadas e editores das revistas mais bacanas querem ser os primeiros a descobrir o próximo nome que vai bombar no mercado.
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rca 2010
Um dos temas mais constantes vistos esse ano foi a reutilização (o termo que está ganhando notoriedade é upcycling). David Amar foi um dos que aderiu a essa tendência: ele garimpou peças de mobiliário de madeira de segunda mão para criar uma coleção nova e cheia de personalidade. Criando acessórios de fixação inteligentes, ele consegue estender o ciclo de vida de objetos que estavam destinados ao lixo. Claro que reciclar não é nenhuma novidade, mas o fato de David ter desenvolvido ferramentas que fazem esse processo ficar ainda mais simples, é que merece destaque. Por exemplo, os pés para mesa de centro batizados de Raymond - podem ser usados em tábuas e pedaços de madeira de qualquer tamanho. O mais legal é que, mesmo que o pé seja comercializado e torne-se um sucesso de vendas, o consumidor dificilmente terá uma mesa igual a de outra pessoa.
David Amar
Iain Howllet também aderiu ao upcycling, mas resolver investir no potencial do papel. Um material que apesar de ter aparência frágil, é bastante resistente quando manuseado de forma correta. Iain apresentou duas peças distintas fabricadas com processos diferentes: uma cadeira construída com diversas camadas de jornais velhos e uma mesinha com tampo feito a partir da polpa do papel. A tendência vai além do design de móveis: resíduos gerados por fábricas de tecidos são a matéria prima para Jrumchai Singalavanij, enquanto garrafas de plástico transformam-se em lindas bijuterias através do projeto social elaborado por Florie Salnot. O interessante da iniciativa de Florie é todo o processo de produção envolvido, já que as peças são feitas manualmente pelos refugiados vindos do deserto do Sahara, no sudoeste da Algéria. Utilizando apenas garrafas e areia – algumas das poucas matérias primas disponíveis no campo de refugiados – a designer não só criou peças maravilhosas que já se tornaram objetos de desejo entre as mulheres que adoram moda, mas também garantiu a essas pessoas uma pequena renda, tornando sua sobrevivência um pouco mais feliz e melhorando sua auto estima. Outro assunto em alta que serviu de inspiração para vários dos formandos foi a natureza, das maneiras mais diferentes e atípicas possíveis. Materiais, estampas e contato com a vida mais selvagem foram traduzidos em produtos bacanas e funcionais. Para se ter uma ideia da grande influência desse tema, um dos estudantes – George Fereday – construiu um caixão biodegradável, feito de terra proveniente da escavação de túmulos. Pode a primeira vista soar um tanto quando mórbido ou macabro, mas era uma das propostas mais inteligentes, viáveis e sustentáveis de toda a exposição.
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Iain Howllet
Florie Salnot
George Fereday
desenho b
Há também produtos interessantes para quem prefere um approach mais leve, mas que não abre mão da interação com a natureza. O Bird TV, de Robert Maslin, tem o poder de, no mínimo, gerar curiosidade dos consumidores. Funcionando como uma espécie de lente de aumento, o Bird TV deve ser grudado na janela (através de ventosas) e possui um compartimento para comida de pássaros. Atraídos pelo alimento, eles se posicionam em frente a essa lente de aumento e porporcionam uma visão espetacular e única para quem está do outro lado. Uma maneira fácil e acessível de trazer um pouco da natureza pra dentro de casa, afinal espaço nesse caso não é problema!
Robert Maslin
Interação é também palavra chave para Chrysoula Konstantinidou, que utilizou a tecnologia para dar voz as plantas. Isso mesmo! Plantas que respondem ao toque – através de luz, som ou movimento – estimulando assim o contato entre homem e natureza. O segredo está no vaso, ou melhor, no sistema desenvolvido pelo designer, batizado de Soubtle Touch.
Harry Thaler
Julian Bond
Hye-Yeon Park
Outros projetos bacanas também influenciados pelo tema incluem as estampas para papel de parede de Katie Lenton e a instalação musical Whispering Leaves, de Ji Young Shon, que consiste em diversos auto falantes em formato de folha, feitos a partir de uma camada fina de plástico, super delicados e ao mesmo tempo impressionantes. Não é fácil eleger os melhores de toda a exposição, afinal os temas são super variados e as funcionalidades dos produtos são diferentes. Isso sem falar no mix de estudantes, vindos dos quatro cantos do mundo, influenciados por culturas e conceitos que sem dúvida influenciam em seus projetos. Mas de qualquer forma, esses são os designers/produtos que chamaram minha atenção e entram para meu hall de favoritos! Pressed Chair, de Harry Thaler: é quase impossível acreditar que uma cadeira tão leve – que pode ser levantada com dois dedos – seja tão resistente! Sua resistência é resultado de um projeto muito bem executado, com muita atenção aos detalhes e a construção. Pixel Vases e Pixel Casting Machine, de Julian Bond: o mais curioso desse projeto é a infinidade de possibilidades na criação do vaso. A máquina, que pode ser manipulada por qualquer pessoa, permite configurações super bacanas, que resultam em vasos com forma pixelada. In Between Time, de Hye-Yeon Park: o passar do tempo nesse relógio é hipnotizante. A designer explorou muito bem a forma dos números, e ao invés de deixá-los estagnados, mostra a transformação deles no passar dos segundos. Apesar de ser um produto digital, essa organicidade deixa-o mais humano e muito mais interessante! royal college of art rca.ac.uk
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Av. Saudade, 957 | ribeirão Preto - sp | tel 16 3234 6957 | Estacionamento com acesso à loja – Rua Ceará, 1080
Ambiente mostra Casarão Boulevard Projeto: Renata Buischi fotos: wagner abrahão junior
Av. Itatiaia, 1.175 • ribeirão preto - sp • tel 16 3902 1700 R. Carlos Botelho,1264 • São Carlos - SP • Fone: (16) 3364-5001 mapa 07
DUO DECA | Loja Exclusiva
Compra com Segurança
Uma compra segura de louças e metais, deve seguir adequadamente as especificações de um profissional qualificado para evitar os possíveis problemas na instalação. Com o foco nesse conceito, a Loja Duo Deca oferece cubas e lavatórios especiais com formatos e dimensões adequados para lavabos e banheiros atuais, permitindo grande flexibilidade de projeto em função da variedade de modelos e cores. Além de Metais com design exclusivo inspirado em conceito minimalista com peças lindas, para qualquer ambiente. De formas geométricas, a linha Quadratta é perfeita para quem deseja ambientes modernos.
Av Sumaré 190 | ribeirão preto - sp tel 16 3902 1701 | mapa 08
Projeta Iluminação
lounge | projeto Flávia Camargo
Adega | projeto Susana Tarifa loft | projeto Maria Teresa Loures e Guga Loures
projeta - casarão boulevard fotos: wagner abrahão junior
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Projeta Iluminação
quarto da menina | projeto Karina Tostes
escada | projeto Susana Tarifa
escritório | projeto Juliana Nogueira
Rua Itacolomi, 272 Ribeirão preto - sp tel 16 3237 1112 www.projetailuminacao.com.br mapa 09
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desenho b - decoração
Paul Smith Um dos estilistas mais prestigiados do cenário britânico, Sir Paul Smith também tem uma loja de produtos para interiores. As peças são lindas e super exclusivas, por isso corra caso você goste muito de alguma coisa! Localizada no coração de Mayfair, bairro luxuoso do centro de Londres, a loja é vizinha de galerias de arte e restaurates descoladíssimos. 9 Albermale Street London W1S 4BL paulsmith.co.uk
Do Shop 47 Beak Street London W1F 9SE do-shop.com
LONDON’S
É impossível passar apenas alguns minutos na Do. Essa loja, localizada no Soho, em meio a restaurantes e baladinhas super bacanas, vende móveis e acessórios moderninhos, de jovens designers que não tem medo de aplicar novos conceitos em suas criações. Um dos destaques é o conjunto de sofá e poltrona infláveis ideia de Jeroen van de Kant - , que remete ao tradicional modelo Chesterfield. Relógios, espelhos e velas com formatos divertidos são outros atrativos da coleção.
CORNERS parte 3 TEXTOS E FOTOS: heloisa righetto
Na terceira etapa do nosso mini guia de design em Londres, um pouco para todos os gostos: da excentricidade dos objetos garimpados pelo estilista Paul Smith aos acessórios divertidos da quase escondida loja Do Shop, no Soho. E, para quem quer poupar tempo e ver um pouco de tudo sob o mesmo tempo, visitamos a Aria: prepare algumas horinhas para passear por lá!
aria Indiscutivelmente um dos espaços mais bonitos e espaçosos de Londres, que oferece uma enorme variedade de peças contemporâneas; ícones como as cadeiras de plástico da Kartell desenhadas por Phillippe Starck e produtos de novos designers. Tem também uma área reservada apenas para complementos “must-have” de cozinha, livros especializados e alguns acessórios de uso pessoal, como relógios e bolsas. Barnsbury Street London N1 1PN aria-shop.co.uk
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premiados
premiação
DUBAI
DUBAI
Ribeirão Preto
outros Destinos
2010
7 noites passagem e hospedagem
Fortaleza ou Bonito: • André Bernardes Maceió ou Gramado: • Adalberto Montagnani • Maria Teresa Loures e Guga Loures • Rogério e Adriana Barizza O SER Portobello Shop é o maior programa de relacionamento do Brasil voltado para Arquitetos, Designers de Interiores e Engenheiros. Apoiado em uma rede composta por mais de 100 lojas. Neste ano, a Portobello Shop de Ribeirão Preto registrou uma participação ainda mais expressiva, através da parceria com profissionais que se destacaram nessa premiação nacional, conquistando sete prêmios. SER movimenta ao redor de 20.000 profissionais em todo o País. Consulte o regulamento : www.portobelloshop.com.br
Av. Itatiaia, 1175 Ribeirão Preto | 16 3902 1700
turbina na b
O músico que toca rock’n roll e não conhece Bruce Springsteen, está certamente fora da curva. Mas, com certeza, não há muitos destes por aí. O projeto Haning’ Out On E Street está ai para provar. Trata-se de uma série no YouTube que reúne novos artistas influenciados pelo “Big Boss”. Cada vídeo mostra um artista falando um pouco sobre essa influência e tocando um cover de Bruce Springsteen.
website
As muitas caras de Bruce Springsteen
Tem de Josh Ritter cantando “The River” até uma versão acústica de “Cover Me”, da bela Juliana Hatfield. Vale a visita: http://www. brucespringsteen.net/news/hanginout.html
Os irmãos que conquistam corações
Direto do forno Seth e Scott Avett são dois talentosos irmãos barbudos da Carolina do Norte. Começaram a escrever música há dez anos e, hoje, 12 álbuns depois, são já figuras carimbadas do folk contemporâneo dos Estados Unidos.
Despretensiosos, meio tímidos, com um leve aspecto de autismo. A aparência desta dupla de Vancouver, Canadá, esconde uma pérola musical. A dupla Lightning Dust foi formada recentemente, há 3 anos só, e lançou dois álbuns. No mais recente deles, chamado Infinite Light (2009), tem uma música intitulada Antonia Jane que deveria vir com o loop ligado. A voz trêmula da cantora Amber Webber te persegue por dias (no meu caso, por meses). Ouça no blog como uma música simples e melancólica pode ter poderes sobrenaturais.
De 2007 pra cá, o Avett Bro thers decolou e os últimos quatro discos da dupla são desses de ficar ouvindo o dia inteiro. As melhores composições são as canções melódicas, mais calminhas.
O lado melancólico
cover
da força
Tiê com voz grossa
Agora em outubro eles lançam mais um: é o Live, Volume 3 com versões ao vivo dos folks mais recentes da banda, gravado no estado natal dos Avett. No TURBINA, você encontra o link que antecipa todas as faixas do CD em streaming.
clipe
O cantor e compositor Jair Naves é um baita letrista. Ele trafega no cenário do rock alternativo da música brasileira há mais de 10 anos e raras foram as vezes em que ele colocou covers no seu repertório. Agora em carreira solo (a banda Ludovic acabou), ele topou com “Assinado Eu”, música do primeiro disco da Tiê e resolveu tocá-la uma vez em público. Neste registro feito na Rádio Levi’s, Jair faz uma versão de “Assinado Eu” com um trechinho de Maps, do Yeah Yeahs Yeahs no meio.
som
Tiê vai ficar orgulhosa. Para ouvir como ficou a versão, entre no TURBINA. E descubra também as músicas e as letras do próprio Jair Naves.
por: alexandre xavier
ouça essas e muitas outras dicas no blog turbina.wordpress.com
vol.3
O hit de 6 milhões de Fuck You’s Não teve conversa, essa música virou hit do verão americano na internet (e em algumas rádios liberais) atropelando tudo e todos pela frente, mesmo falando um monte de palavrão numa letra bastante politicamente incorreta. O intérprete de “Fuck You” é um negro gordinho, polêmico e baixinho, metido a gângster e com um nome esquisito: Cee Lo Green. Mas todo esse escracho deu muito certo, o clipe é ótimo, o arranjo é deliciosamente clichê e a música é tão divertida que o clipe oficial no YouTube já teve mais de 6 milhões de acessos. Vicie-se: http://www. youtube.com/watch?v=pc0mxOXbWIU | 54
RECORTE ESTE ANÚNCIO E COLE NO TRABALHO, NA FACULDADE, NO BAR, ONDE VOCÊ QUISER. O PRIMEIRO PASSO PARA MUDAR É A INFORMAÇÃO.
da fiore
Aromas da Primavera
Da Fiore
Nas tradições mais simples encontram-se os melhores e mais puros sabores. Na combinação de ingredientes, está a magia de cozinhar, uma atividade que proporciona prazer e aproxima as pessoas. Nos mercados e feiras começa o dedicado trabalho do cozinheiro, com toda a sedução dos aromas e a beleza dos produtos frescos. O segredo de um bom prato está na escolha e na combinação dos ingredientes. A natureza faz sua parte e o cozinheiro a arte. Chef Tatiana Bifulco
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da fiore
Primavera Da Fiore Para comemorar a mudança de estação a Chef Tatiana Bifulco do restaurante Da Fiore, selecionou pratos especiais adotando o lado mais refinado da cozinha italiana com apresentação e dosagens perfeitas
fotos: wagner abrahão junior
AV. INDEPENDÊNCIA, 2165 Ribeirão Preto - sp tel 16 3621 0080 / 3621 0083 Cucina Terça à sábado 12h às 15h - 19h às 00h domingo 12h às 16h Gelato - coffé terça à sábado 12h às 01h domingo 12h às 23h WWW.DAFIORE.COM.BR mapa 10
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sabor b
O chef paulista que levou para a cozinha suas tatuagens e mĂşsicas por: AndrĂŠ de Oliveira | tipografia: biLly argel
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henrique fogaça
, cores e texturas, salta, quase agressivamente, de uma frigideira em um restaurante paulistano, localizado na rua Minas Gerais, entre a avenida Consolação e o final da Paulista. A mistura de cores dos ingredientes que voam alguns centímetros acima da panela se confundem com o braço repleto de tatuagens do cozinheiro. Ingenuamente pergunto quantas são: “Estou em processo de fechamento, vou cobrir o meu corpo inteiro”, diz Henrique Aranha Fogaça, 33 anos, chef e proprietário do restaurante Sal, desde 2005. As tatuagens, conta, são sua história. Em seu antebraço esquerdo é possível identificar o desenho de uma frigideira e um fogão, que não é qualquer fogão, mas o primeiro que comprou para o Sal. As histórias que as tatuagens contam, no entanto, começam muito antes dele se tornar cozinheiro ou mesmo sonhar em ter um restaurante. “Fiz a primeira aos 16, em Ribeirão Preto, cidade em que vivi dos 8 aos 21
anos de idade, sem consentimento dos meus pais e com um tatuador itinerante”, revela. Os desenhos daquela época falam sobre sua paixão pelo hard core, bicicleta e skate. Coisas que permanecem em sua personalidade - ainda que a bicicleta tenha sido substituída por uma Harley Davidson e que extravasam para os pratos que cria. De estatura mediana, cabeça completamente raspada, cavanhaque e de voz rouca e séria, mas, no entanto, simpática, Henrique conta que demorou algum tempo até descobrir a paixão pela cozinha. “Aos 21 anos, depois de ter cursado dois anos de arquitetura, em Ribeirão Preto, sem ter o menor interesse na faculdade, fui morar em São Paulo com minha irmã”, conta. Depois de quatro anos trabalhando em um banco e da tentativa frustrada de cursar “comércio exterior”, Henrique encontrou o que gostava de fazer passando por uma experiência comum a todo garoto que vai morar longe dos pais. “Quando mudei de casa tinha duas opções: ou comia a comida congelada que minha mãe trazia de Ribeirão, ou aprendia a cozinhar”. Foi assim que, por volta dos 25 anos, ele ingressou no curso de “chef executivo de gastronomia”, das Faculdades Metropolitanas Unidas, a FMU. Logo no começo já foi o responsável pela cozinha de um furgão que vendia sanduíches na saída das baladas da Avenida Augusta, uma parceria que ele fez com seu cunhado e que não durou muito, apenas seis meses. Depois disso, ele foi trabalhando em vários restaurantes paulistanos e, em 2005, abriu um pequeno café nos fundos de uma galeria de arte, que, depois de um ano, já teria se transformado no Sal. “No começo era tudo muito pequeno, tinha um fogão e um ajudante, minha mulher, Fernanda, trabalhava no caixa. Era uma loucura, nosso espaço era minúsculo e eu mal dormia, ficava o dia, a madrugada, e
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sabor b
a noite em função do restaurante”, relembra. Mas, como conta, ele não desanimou em nenhum minuto, “fui com sangue nos olhos, isso tinha que dar certo”. Passados 5 anos, o Sal ainda é pequeno e fica no mesmo endereço, mas é claro que algumas coisas mudaram nesse tempo, a galeria de arte que dividia espaço com o restaurante foi para uma casa vizinha, e o espaço, que ele mesmo ajudou a reformar, é maior e muito moderno, com uma cozinha inteira envidraçada que dá para as mesas dos clientes. Em 2008, ele ganhou o prêmio de chef revelação pela revista Veja, já gravou programas para o canal fechado GNT e mantém um blog patrocinado pela Brastemp (assimumabrastemp.com.br/author/hfogaca). O restaurante, como define , é contemporâneo “uma mistura de diferentes culinárias, mas que preserva, um sabor brasileiro”. Henrique conta, também, que toda sua inspiração vem da rua e do trabalho, o que o torna praticamente um autodidata. “Para ser sincero eu não leio muito, busco minha inspiração na rua, na conversa do dia dia; gosto de ir comprar os ingredientes e é nessa troca que tenho ideias de pratos”. Além disso, ele acredita que seus gostos e estilo de vida refletem em suas criações. “No hard core todas as letras das músicas são diretas, agressivas, eu vejo meus pratos assim. Acho que canalizo toda essa agressividade para meus pratos, que são muito generosos e vivos”, explica. A música não é só fonte de inspiração, mas válvula de escape para seu dia dia estressante atrás do fogão. Henrique, como sua voz rouca denuncia, é também vocalista da banda Oitão, de “Hard Core Old School”, como define.
As criações de Henrique na cozinha carregam um pouco de sua personalidade e tem raízes em diversas culinárias do mundo
Seu perfil, seus gostos e seu restaurante não excluem sua vida familiar. Henrique é casado e pai de dois filhos, um de dois e outro de quatro anos; e sua esposa, Fernanda, continua trabalhando junto dele no restaurante. “Vou levando tudo que gosto junto de mim, não preciso deixar de ser o adolescente que curte hard core e tatuagens por causa da cozinha”. Para o futuro, Henrique já não tem muitas ambições. “Quero o restaurante pequeno e com qualidade, já tive ofertas para ampliar, mas estou satisfeito assim”. O Sal, em cinco anos, tornou-se um dos restaurantes mais famosos de São Paulo e Henrique, de um adolescente cheio de incertezas, virou um dos chefs mais respeitados de uma das capitais da gastronomia mundial.
tem participado do projeto Chefs Especiais, organizado por Marcio Berti, que dá aulas para crianças com síndrome de down. As aulas têm sido uma ótima experiência, conta Henrique, que tem descoberto o prazer de ensinar as pessoas. Para conhecer mais sobre o projeto visite o site chefsespeciais.org
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rua altino arantes, 840 Ribeir達o Preto - sp tel 16 3635 1929 / 3234 7881 mapa 11
fotos: wagner abrah達o junior
aos amantes da carne
AVENIDA PRESIDENTE VARGAS, 1100 jardim sumaré, Ribeirão Preto - SP tel 16 3911 9513 www.churrascariaribeirao.com.br mapa 12 fotos: wagner abrahão junior
texto e ilustração: regina maria amorim vieira | respiro@revistab.com.br
O Dia mais Oneida levantavam-se pondo a clarear restos de penumbra. Chinelas de pelúcia rosa sujo levavam a velha senhora ao encontro com o espelho. – Oneida! Oneida! Oneida! Repetia frente ao aço carcomido do que antes fora. Infalivelmente começava o dia chamando a si mesma por três vezes. Três vezes e não mais, era o que bastava. Sua voz ondulava pelas frestas, escalava paredes, vencia janelas e, chegavam aladas as lembranças, gavetinhas do tempo que se abriam.
respiro
- Oneida, onde afinal meteu-se o meu casaco? – Oneida, e as toalhas limpas? Estou atrasado! – eis a voz do marido, reclamos e dias bons. A monótona sinfonia das casas amanhecendo a cada dia. Oneida tomou do torto guarda-chuva e, torta, vestiu o casaco com gola de flores. Achou-se feia, riu-se – Pra cá estou eu com bobagens. Saiu à rua. Bom dia, mereciam as árvores, os gatos, os cães, os passarinhos. Bom dia também aos apressados pequeninos. Fingia-se cheia de quefazeres, encontros marcados nas agendas sem folhas. Ia-se. À alturas, apertou os olhos mofentos, ao meio fio, bem ali, pequenos sóis rutilavam exageros. Amiudou os passos imprimindo-lhes força, olhou de banda com cuidado, não fosse um tipo incauto usurpa-lhe o tesouro. Mãos desmastreadas eram velas estendidas, à socapa, para dentro do saco despencou uma tampa velha abalroada por viver às turras com uma panela, ao que tudo indica, dada como desaparecida. Caminhando, satisfazia-lhe ouvir o tinir dentro da bolsa como se dentro do peito seco. Ainda lugar havia para um cavalinho azul, engolfado de terra; uma cúpula de abajur manchada e úmida, para sempre às escuras – de certo, eram lágrimas, é triste estar-se assim tocado pra rua – pensava Oneida enquanto a secava com a saia. Mais cabia: um elástico com pompons escabelados que, dera de si; um pé de meia morto à tesouradas; um bule destampado e desalmado; uma pá falta de cabo e de coragem para ser pá ou outra qualquer coisa. Riquezas de Oneida eram engolidas com a fome de sua pequena vida. A seu tempo, a padaria. Entrou. Guardou na algibeira o sorriso, melhor não dessem por ela, bom ser como os lagartos, tomar a si as neblinas. Segurança para sobreviventes, calosidades de viver. O pão e foi-se à vida. Um obstáculo ao caminho, que maçada! Esparramada, imponente, ocupando à meias a calçada. Sentava-se uma gorda mala do tipo baú. Estava a pobre, esbarrada de cicatrizes, o couro gasto, entrada nos anos. Acelerou-se coração catador de Oneida – é minha, tem que ser minha! Atarantava-se a volta do imenso ser, quase um elefante! Como arrastá-lo porta a dentro? Passou boa parte do dia acocorada ao lado do baú, não fosse o desvalido sentir-se só. Ganho no tempo, órfãos de último hora iam sendo apanhados: uma tesoura com um só lado, um botão de madeira com um só furo, um coador que vivera seu último café...
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Mas como chegadas são as eras, lá se foi pela porta a grande mala e, quem a força fez foi um sujeito de maus bofes, que por uns trocados arrastou o peso morto à casa da velha. O cinzento olho do homem, esquadrinhava o aposento, as mãos a apertar o nariz ao cheiro nauseabundo. – Minha senhora, que horror, isto aqui está uma imundície, olhe os ratos a correr, olhe o mofo, a morrinha. Isto é lixo, madame, é a podridão! Eram de se ver e sentir caixas aos pedaços, restos amarrados às fitas, caçarolas descasadas, uma fatia de bolo, farto de bolor a equilibrar uma vela apagada e sem uso, roupas enodoadas abraçadas umas às outras como condenados, uma cama onde pregos tortos se deitavam, livros abertos para olhos náufragos, o restolhal de Oneida, a da vida pequenina! Enrelhada, confusa, buscava entender o discurso do falastrão sem conseguir porém – O que está a dizer pra ai este um? O homem não se calara, gesticulava indignado – Afinal, não tem ninguém por si? Não pode estar sozinha em meio às suas doidices. Olhe que vou chamar a Defesa Civil, é o que farei, esteja desde já certa disto. Saiu o tipo a abalar-se, pra trás deixou os trocados – Homessa! Oneida tentou chamar-se por três vezes. Sempre funcionava! Não deu certo desta vez. Lixo? A sua volta, o que via era sua pradaria, sua montanha, seu amanhecer e sua noite. Eram eles que regressavam, todos... os pais, o marido, os filhos, os companheiros, os bichos, os tantos que o afeto lhe foram e partiram. Lixo?! Não! Preenchiam carne e ossos, o cansado sopro, o fôlego perdido dos corcéis do medo, até que, o mirrado corpo fosse abraçado, aconchegado para que ela pudesse adormecer. Oneida emurcheceu-se, pediu colo entre os caixotes repletos de ventanias, fez-se lado ao cabideiro ornado com querubins sem asas, os pés aconchegou sobre o colchão, serpente enrolada com olhos de furos. Encostou a emaranhada cabeça ao grande peito do almofreixe recém chegado. Encaixou-se, pequeno camundongo, em meio às frestas e, cansada, fez-se neblina como os lagartos. Longo dia, Oneida anoitecia. Não viu quando chegaram os homens da Defesa Civil, não ouviu as vozes da rua, muito menos os passos tímidos e covardes dos filhos. Um caminhão engolia voraz os tesouros de Oneida. Na calçada, restos do entulho aguardavam sua vez de embarcar. Estavam úmidos – eram lágrimas, afinal é muito triste estar-se assim tocado pra rua. Regina Maria Amorim Vieira
editorial
O fazer arte Arte, a intensidade do fazer, respiro aos olhos e a inquietação do pensar, expostos ao desejo crítico da racionalização do diferente, de algo distante tão próximo que nos assombra, nos afasta ou aproxima do que é legítimo para o artista. O que é arte? As narrativas como possíveis respostas, são submetidas ao efeito da subjetividade que reconhece ou não, o fazer arte. Para os que buscam na arte um ofício prático, a subjetividade que não classifica pode ter um efeito mais cruel e, diferente para as pessoas que se expõem usando as margens subjetivas da “criação artística” para dar expressão a uma ideia ou conceito. Assim, pensamos o nosso trabalho a cada nova edição, pautando conteúdo e forma que estimulam sensações subjetivas aos nossos olhos e aos olhares dos leitores, que identificam em nosso trabalho o bom gosto, a beleza, a arte gráfica, a força dos dizeres ou simplesmente, um trabalho editorial bem feito que agrada e impõem um padrão atual de qualidade! Lourenço Tarantelli
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A - PRAÇA XV DE NOVEMBRO Marco de referência histórica e geográfica, localizada na região central da cidade. A praça foi tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), junto com o Quarteirão Paulista. A - QUARTEIRÃO PAULISTA Tradicionalmente conhecido, é formado pelo conjunto arquitetônico que abrange o Theatro Pedro II, o prédio do antigo Palace Hotel e o Edifício Meira Júnior, onde funciona o Pinguin II. A - THEATRO PEDRO II Rua: Álvares Cabral, 370 Fone: 16 3632-0757 A reforma da estrutura do prédio, a modernização das instalações e o restauro das características arquitetônicas originais recuperaram o Pedro II e ampliaram suas funções, transformando-o no 3º maior teatro de ópera do país em capacidade de público. B - MARP - MUSEU DE ARTE DE RIBEIRÃO PRETO Rua Barão do Amazonas, 323 Fone: 16 3635-2421 Inaugurado em 1992, com um perfil voltado à arte contemporânea, apresentando várias exposições de representativos artistas brasileiros. B - PALÁCIO RIO BRANCO Praça Barão do Rio Branco Fone: 16 3977-9000 Inaugurado em 26 de maio de 1917, o Palácio Rio Branco abriga o Gabinete do Prefeito e a Secretaria de Governo.
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C - CATEDRAL METROPOLITANA Praça das Bandeiras Fone: 16 3625-0007 Em estilo romântico e linhas góticas, destacam-se os vitrais coloridos no seu interior, os afrescos pintados por Benedito Calixto que datam de 1917. A Catedral Metropolitana de São Sebastião de Ribeirão Preto está localizada na Praça das Bandeiras, região central da cidade. C - FEIRA DE ARTE E ARTESANATO De sexta a domingo, das 7 às 22h Praça das Bandeiras Com participação de mais de 150 artesãos de Ribeirão Preto e Região, a feira oferece uma grande variedade de produtos em cerâmica, couro, metais, vidro, adorno pessoal, louças, porcelana, fiação, tecelagem, flores desidratadas, arranjos em palha, vasos, tecidos etc. D - GALERIA DE ARTE A CÉU ABERTO Todos os domingos, das 9 às 14h Praça Sete de Setembro Aproximadamente cem artistas plásticos de Ribeirão Preto e região expõem e comercializam suas obras, promovendo o encontro da população com a arte. fonte: Prefeitura Municipal
Rua Marcondes Salgado, 1538 - sala 04 - Boulevard CEP 14.025-160 | Ribeirão Preto | SP | www.revistab.com.br departamento comercial tel 16 3964 6762 comercial@revistab.com.br