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A BATALHA CONTRA O RELÓGIO
from Revista Cásper #33
Você já parou para pensar quanta coisa tem para fazer hoje? Nos prazos de entrega? Cada dia precisaria de umas 48 horas para dar conta de tudo. Parece que já acordamos devendo alguma coisa. Até os finais de semana parecem estar cheios de compromissos. E você que lute com a culpa de não fazer o impossível. O resultado, mais do que o cansaço, é o esgotamento – físico, mental e emocional. Ao que parece, literalmente, perdemos a noção do tempo.
Como chegamos a esse ponto? As atividades aumentam, mas o dia continua tendo 24 horas. E, quanto mais coisas temos para fazer, mais acelerado o ritmo. Em vez de aproveitar as atividades, precisamos terminar cada uma o mais rápido possível para começar a próxima. Quando tudo é urgente, não conseguimos ver o valor real de cada momento.
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Essa aceleração de todas as atividades prejudica diretamente as relações pessoais – o amor resiste à muita coisa, menos à falta de tempo. O encontro com outra pessoa, com a alteridade, precisa de seu momento – o tempo da escuta, do acolhimento e da percepção das diferenças, assim como do que existe em comum. Relações apressadas tendem a ser superficiais: talvez não seja coincidência que, na velocidade das redes sociais, vemos todos os dias julgamentos e sentenças apressadas. Na pressa, a diferença se transforma em problema, e o outro, reduzido a uma imagem rápida, pode ser visto como ameaça.
Quando o tempo é entendido só como quantidade, deixamos de lado algo importante: a qualidade de cada momento. Uma hora com alguém que você ama é sempre pouco; cinco minutos em uma situação chata parecem uma eternidade. Estamos cada vez com menos paciência para esperar qualquer coisa, e basta ter um instante livre para pegarmos nosso smartphone e ocupar o tempo novamente com os posts de uma rede social.
Outra consequência dessa aceleração é a relação com a nossa memória e nossa história. Registramos rápido para esquecer depressa. Quando o presente é tudo o que importa, o passado se dilui, e coisas importantes podem se apagar. Tiramos mais e mais selfies, mas raramente olhamos para elas novamente.
O problema, evidentemente, não são as mídias sociais. A questão é dar a elas a devida importância, e saber desconectar. Avaliar corretamente nosso tempo é um primeiro passo para pensar como usá-lo de uma maneira mais saudável. Por exemplo, procurando deixar de glamourizar o excesso de atividades, e respeitar um pouco mais os ritmos do corpo – porque quando ele manda a conta, o valor costuma ser alto. Outro aspecto é resgatar o tempo livre. Não desconcentramos, e o resultado é uma saturação de informações que pode se transformar em um cansaço crônico, que não passa depois de uma noite de sono.
Não existem soluções fáceis. A mudança não vai aparecer em um passe de mágica. Mas podemos, como sociedade, pensar em alternativas para fazer do tempo, novamente, um aliado. (Luís Mauro Sá Martino, professor da Cásper Líbero e publicou, em outubro, o livro Sem tempo para nada (Editora Vozes))