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Central de Sinistro

Gestão da abertura e acompanhamento de todo o processo do sinistro. Acionamento do vistoriador por geolocalização. Redução de tempo de resposta e de custo operacional. Plataforma web para Seguradora, Corretor e Reguladora de sinistro.

Atende Sinistro Aplicativo para o vistoriador ser acionado de forma simples e inteligente. Praticidade no recebimento e envio das informações da comunicação do sinistro, incluindo upload de fotos, áudios e vídeos. Ações pré-definidas para atualizar o status do atendimento em tempo real.

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(11) 95083.7643 |


Palavra do Presidente Competência feminina também em nosso setor O mercado de trabalho hoje conta com a participação das mulheres em todas as áreas e níveis de hierarquia. É bom para todos nós podemos contar com a competência feminina. Suas principais características – sensibilidade, intuição, habilidade de ser multitarefa – as ajudam muito a se destacar. No mercado de seguros, em particular, como o relacionamento interpessoal é ponto chave, a empatia nos relacionamentos, e conseguir mantê-los, fortalecendo ao longo do tempo, é um diferencial muito positivo. As mulheres são excelentes em ajudar e incentivar pessoas, auxiliam no desenvolvimento de habilidades e lidam com facilidade em situações adversas. São ágeis, flexíveis e lideram pelo exemplo. No ramo de transportes, elas também estão alcançando os mais elevados postos e mostrando a que vieram. A liderança feminina nas organizações de nosso segmento foi tema de uma das palestras de nosso primeiro workshop do ano, em fevereiro, e ampliamos o debate em nossa matéria especial de capa. Ainda há o que evoluir, mas hoje o mercado já reconhece quem tem competência, independentemente do gênero. Por falar em workshop, estreamos um novo local para os encontros do CIST, o São Paulo Center. Estamos em busca da melhoria contínua, tanto em estrutura como em nível de qualificação, e em alcance. O ano de 2018 foi extremamente importante para o CIST, tivemos a oportunidade de desenvolver

grandes workshops, reunindo cerca de 700 pessoas, e ao final do ano nosso evento máster, onde conseguimos reunir 800 pessoas participando de nossos painéis e dos estandes dos nossos patrocinadores, reforçando o relacionamento. Para este ano, nós da diretoria do CIST estamos fortemente engajados a promover mais temas de debates, inclusive fora de São Paulo. Teremos em junho um evento em Fortaleza e em maio participaremos do evento internacional da ALSUM que acontecerá em são Paulo. E estamos preparando mais. Nesta edição, também trazemos os valiosos conteúdos de nossos articulistas e um bate-papo exclusivo com Adriano Yonamine, da Sompo Seguros, iniciando a série de entrevistas que teremos com heads das seguradoras em transportes. Ele traz as boas perspectivas para o segmento de seguro de transportes de mercadorias, que é uma das grandes apostas das seguradoras para 2019. Fique conosco, pois o CIST é qualificação e relacionamento de primeira para quem vive os seguros de transportes. Um abraço! Salvatore Lombardi Junior Presidente do CIST

N° 30 - JAN / FEV - 2019



CERTIFICAÇÃO AIRM A Associação Brasileira de Gerência de Riscos – ABGR proporciona aos profissionais de Administração de Riscos e Seguros, a Certificação Internacional em Gerência de Riscos (AIRM), através da Fundação Ibero-Americana de Administradores de Riscos e Seguros (ALARYS). A Certificação AIRM é reconhecida mundialmente pela International Federation of Risk and Insurance Management Association (IFRIMA) e nos Estados Unidos pela RIMS (Risk and Insurance Management Society Inc). A AIRM é dirigida principalmente aos profissionais da área de riscos, independente do campo em que

atuem (riscos seguráveis, operacionais, financeiros, estratégicos), que desejam obter reconhecimento profissional em Gerenciamento de Riscos, bem como aos que pretendem obter o “RIMS Fellows Designation”. Áreas: Adm. de Riscos Seguros Tesouraria Finanças RH Controle e Auditoria Interna Jurídico

Qualidade Compliance Operações Engenharia Logística e outras, ligadas ao controle e mitigação de riscos.

Os interessados deverão encaminhar curriculum para avaliação e aprovação da Direção do curso. Endereço (abgr@abgr.com.br).

Link para maiores informações: http://abgr.com.br/noticias.php?NuNot=168

NOVAS TURMAS

INFORME-SE!

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FenSeg: seguro de transportes tem previsão de 12% de alta, em 2018 O seguro de transporte de mercadorias é uma das grandes apostas das seguradoras para 2019. O segmento deve registrar crescimento de 12% este ano, segundo a FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais). O volume de prêmios é estimado em R$ 3 bilhões, contra R$ 2,7 bilhões do ano passado. Para Alexandre Leal, presidente da Comissão de Transportes da Federação, os bons números se explicam pela recuperação da economia brasileira nos últimos meses; a procura pelo seguro por empresas que habitualmente não o faziam e a nova versão do MDF-e que estabeleceu a obrigatoriedade do número da apólice e averbação para a liberação do embarque, aliada à fiscalização pela ANTT deste normativo. “Com o olhar mais criterioso da órgãos fiscalizadores, os transportadores procuraram se adequar à norma na procura do seguro obrigatório de RCTR-C (Seguro de Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Carga)”.

Alexandre Leal, presidente da Comissão de Transportes da FenSeg

Para 2019, Alexandre destaca que se fortalecida a estabilidade econômica brasileira, haverá, no mínimo, a manutenção do resultado de 2018. “Podemos estimar um crescimento entre 5%

a 10%, dependendo do aquecimento das vendas e compras de bens e/ou mercadorias, desde o fabricante até o consumidor final, pois esta é a roda que faz girar o seguro de Transportes”.

Profissional completa 50 anos de seguros de transportes Atual diretor Comercial de Transporte da Alper Consultoria em Seguros e presidente do Conselho Consultivo do CIST, Mauro Camillo completou 50 anos de carreira e dedicação ao setor de seguros de transportes no dia 11 de fevereiro. Ele recebeu homenagem do CIST no Workshop realizado dia 21 de fevereiro. “Completar 50 anos de carreira não é fácil, é realmente uma trajetória maravilhosa, mas que não fiz sozinho. Tive pais maravilhosos (minha mãe ainda viva), uma esposa que amo demais, filhos (representado no setor pelo Thiago) e agora os netos. Neste mercado só fiz bons amigos e estou realmente emocionado, pois quando olho para trás vejo que foi uma carreira muito acertada”.

CIST homenageia Mauro Camillo


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Jornalista do CIST recebe premiação

Thaís Ruco representando o CIST no pódio

Reportagem da Revista CIST News esteve entre as vencedoras do Prêmio Nacional de Jornalismo em Seguros 2018, promovido pela Fenacor (Federação Nacional dos Corretores de Seguros). Com o título “Proteção para exportações e importações entre o Brasil e o mundo”, a matéria de capa da edição 28 (setembro/outubro 2018), produzida pela jornalista e editora da revista, Thaís Ruco, destacou que o mercado brasileiro de seguros hoje apresenta competitividade em técnica, coberturas e preços para atuar com destaque nos transportes internacionais. Foram ouvidos cinco especialistas, sendo um transportador, dois seguradores e dois corretores de seguros, no especial de cinco páginas. A matéria foi a segunda colocada na categoria especial Corretor de Seguros, que reúne trabalhos que abordam a atuação desses profissionais. Em diversos pontos, a reportagem destaca a importância dos corretores de seguros em um ramo altamente técnico e especializado. O Prêmio Nacional de Jornalismo em Seguros é uma iniciativa da Fenacor para reconhecer e valorizar os profissionais de imprensa e dos meios de comunicação cujos trabalhos tenham como foco o mercado de seguros. A cerimônia de anúncio dos vencedores e de premiação aconteceu no dia 7 de dezembro, no Museu do Amanhã (Rio de Janeiro).

Seguradora realiza mudanças na direção

Tecnologia promete desobrigar contratação de gerenciamento de riscos

O novo Head of Latin America Marine da Argo Seguros, Salvatore Lombardi

A Argo Seguros está realizando mudanças em sua direção. Quem está promovendo todo esse processo de transição (que começou com a saída do ex-CEO Pedro Purm, em dezembro passado) é Jorge Luiz Cazar, Head da América Latina do Grupo Argo. “Em menos de sete anos no Brasil, a Argo Seguros se tornou uma das principais seguradoras de Transportes, e a primeira em E&O (Erros & Omissões), de acordo com o ranking da Susep. Para mantermos esse ritmo de crescimento, precisávamos fazer algumas mudanças pontuais em nossa estrutura”, revela o executivo. Na área de Transportes, que terminou o ano com o melhor desempenho de sua história ao atingir mais de R$ 100 milhões em prêmio emitidos, a principal novidade, em complemento as suas funções no Brasil, é a nomeação de Salvatore Lombardi como Head of Latin America Marine. “Em breve, devemos anunciar um novo CEO. Com todas essas mudanças, esperamos oferecer uma plataforma digital ainda mais robusta, que irá nos permitir atender melhor os nossos clientes, desenvolver novos produtos, oferecer um ambiente de mais qualidade aos nossos colaboradores e gerar mais riqueza para os nossos acionistas”, concluiu Cazar, que ficará à frente da operação.

Cleber de Castro, diretor do Grupo Vista

O PGI (Plano de Gestão Inteligente), desenvolvido pelo Grupo Vista, criador do Sistema Cargo Viewer, garante fazer com que as empresas contratantes de seguros de transportes fiquem desobrigadas da contratação de gerenciadora de riscos. O processo, inovador, foi reconhecido e homologado pelas companhias seguradoras parceiras que participaram do desenvolvimento e validaram todo o processo. “A proposta da implantação de um PGI é que a empresa tenha a gestão operacional otimizada, trabalhando através de sistemas integrados”, afirma Cleber de Castro, diretor do Grupo Vista. Com o sistema, também não há necessidade de continuar contratando serviços de pesquisa ou consulta cadastral. Os profissionais de transportes são cadastrados no Sistema Cargo Viewer, mas sem custos adicionais para a empresa. “Nossos clientes têm obtido em média 53% de redução de custos diretos com os itens relacionados ao processo, além da economia indireta proporcionada pela gestão centralizada”, garante o diretor. O formato de apólice atende a qualquer empresa que queira contratar apólice de seguro de transporte, e promete ser tendência em 2019, agora que o sistema já está implantado em grandes companhias, reduzindo custos e problemas dos transportadores.


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Lideranรงa feminina e desafios do setor


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O CIST realizou na manhã do dia 21 de fevereiro o primeiro workshop de 2019, com o tema “Liderança feminina nas organizações e desafios do setor de transportes de cargas”. O evento marcou a estreia de um novo local para os encontros da entidade, o São Paulo Center, e reuniu cerca de 150 participantes. Paulo Alves, vice-presidente do CIST, realizou a abertura do evento destacando a importância dos encontros para qualificação e networking. “Em nossas reuniões, interage-se com o embarcador, o transportador, o prestador de serviços, as áreas jurídicas, as seguradoras, as corretoras, enfim, todos nós que temos ligações com o seguro de transportes no Brasil”. Ele fez ainda um balanço do ano anterior e apresentou novidades para o novo período. “2018 foi extremamente importante para o CIST, nós tivemos a oportunidade de desenvolver grandes workshops, reunindo cerca de 700 pessoas, e ao final do ano nosso evento máster, onde conseguimos reunir 800 pessoas participando de nossos painéis e dos estandes dos nossos patrocinadores, reforçando o relacionamento. Este ano a diretoria do CIST está fortemente engajada a promover mais temas de debates, inclusive fora de São Paulo. Teremos em junho um evento em Fortaleza e em maio participaremos do evento internacional da ALSUM que acontecerá em são Paulo. E estamos preparando mais”. O primeiro workshop de 2019 teve o patrocínio das empresas Guep, Grupo Fox e Munich Re. Painel 1: Liderança feminina nas organizações

Palestrante: Camila Calais, sócia do escritório Mattos Filho Advogados Mediadora: Mayra Monteiro, diretora de parcerias da Golden Sat. Debatedoras: Cristina Domingues, presidente da seguradora Starr Com-

panies, e Simone Martins, 2ª vice-presidente do Sincor-SP. “Não importa o sexo ou gênero dos profissionais, a gente quer que o nosso negócio cresça”, declarou a advogada Camila Calais no início de sua apresentação. “Há uma forte correlação entre diversidade de gêneros em equipes executivas e lucratividade e geração de valor. E empresas com mais mulheres na liderança tendem a ser mais lucrativas”, disse a palestrante. Ela reportou uma frase do presidente da Ernest Young Brasil, Luís Sergio Vieira, que reflete essa ideia: “Não estamos fazendo um favor para as mulheres. Essa é uma discussão estratégica e racional para construir um mundo dos negócios melhor”. Segundo ele, as pesquisas indicam que aumentar em 30% o número de líderes femininas faz, o lucro crescer 6%, em média. Trazendo o exemplo de seu escritório, Camila apresentou que as mulheres têm sido maioria. No Programa Jovens Talentos do escritório de advocacia Mattos Filho, em 2017 foram 1.499 inscritos, sendo 59% mulheres; em 2018 foram 1.155 inscritos, sendo 57% mulheres; e em 2019 foram 1.606 inscritos, sendo 59% mulheres. E como ficam os talentos que já temos nas empresas? Pesquisa feita para Boston Consulting Group mostrou que ter lideranças femininas é o 5º aspecto mais importante para as mulheres (enquanto para os homens é o 17º). As mulheres também têm expressão na liderança do escritório de advocacia Mattos Filho. Em 2016, eram 64 sócios no total, sendo 19 sócias mulheres (30%). Dos 47 advogados seniores de 2016, 28 era mulheres (60%). Em 2019, são 93 sócios no total, sendo 32 sócias (34%). Dos 71 advogados seniores, 37 são mulheres (52%). A palestrante trouxe motivos para que as empresas tenham mais mulheres na liderança, entre eles: • Atração, desenvolvimento e retenção de talentos: profissionais têm maior capacidade de identificação com empresas que possuem programas de Diversidade e Inclusão (LinkedIn’s Global Recruiting Trends 2018); • Melhor performance dos profissionais: equipes diversas resolvem problemas e desafios complexos com mais facilidade (Harvard Business School, Boston Consulting Group e McKinsey); • Inovação: ideias e experiências diferentes promovem um ambiente propício à criatividade e soluções inovadoras (McKinsey);

•Visibilidade de marca e relacionamento com clientes: responsáveis pelas contratações de fornecedores esperam aumentar seus investimentos em empresas que promovam Diversidade e Inclusão (Glassdoor). Camila Calais explicou que não é possível mudar o cenário ainda predominante masculino no setor de seguros de um dia para o outro, a não ser que implante uma política mais drástica, como a de cotas. “A política de cotas desagrada na grande maioria das organizações. O ideal é fazer um trabalho de médio para longo prazo que contemple também treinamentos para que as lideranças atuais tenham talentos femininos em seus processos de sucessão. Existem empresas que já colocam como política que toda direção deve ter pelo menos duas pessoas, sempre um homem e uma mulher”, garantiu. Painel 2: Desafios no setor logístico e transportes de carga no Brasil

Palestrante: Leila Chaves, sócia da Sólida Assessoria em Gerenciamento de Riscos e Seguros. Mediador: Paulo Alves, vice-presidente do CIST e Head of Marine Brazil da Axa XL. Debatedores: Sergio Casagrande, vice-presidente do Grupo Apisul, e Guilherme Brochmann, diretor de Gerenciamento de Riscos da DHL na América Latina. Leila Chaves destacou que é uma profissional voltada ao trabalho com pessoas “Não acredito no gerenciamento de riscos sem pessoas”. E ressaltou a importância da união do mercado e de eventos como os promovidos pelo CIST. “Devemos nos unir no objetivo de fazer o gerenciamento de riscos e nossas apólices os mais adequados possíveis”. Em sua gestão operacional, ela aposta em: mão de obra qualificada, subcontratação, terceirização, e uso de tecnologias (logística 4.0).


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Para Leila, o primeiro grande problema do segmento é a falta de segurança e infraestrutura das rodovias. “As condições gerais ruins das rodovias brasileiras, cada vez mais, reduzem a segurança de quem circula por elas e também aumentam o consumo de combustível, tempo de viagem e custos de manutenção dos veículos, de lubrificantes, de pneus e de freios”, disse. A frota nacional de caminhões está envelhecida, o que agrava o cenário. “A frota autônoma chega a 16 anos, pois existe pouca oportunidade para renovação. A frota renovada pertence somente a transportadoras e operadores logísticos. 60% do que se produz no Brasil está se movimentando em caminhões mais velhos”. Segundo a especialista, também há que se preocupar com o perfil do motorista no Brasil. “A grande maioria dos motoristas, sem terminar o ensino fundamental, acaba se tornando gestores operacionais como poucos: sabem de finanças, tecnologias embarcadas, mecânica, internet, comunicação, enfim... Tudo o que isoladamente cuidamos no nosso dia a dia administrativo e exigimos qualificação para contratação em nossos escritórios. Eles têm que saber de tudo na ponta, são os representantes das transportadoras e na maioria das vezes reclamam porque não são bem recebidos ou não são ouvidos”. É preciso buscar condições para evoluir, reduzindo custos, otimizando o tempo e melhorando o atendimento aos clientes. “Conecte-se! Sem integração, qualquer mercado está mais passível a erros, com pouca visibilidade e falta de controle. Integrado, temos mais visibilidade e capacidade analítica, gestão e controle, e menor índice de retrabalhos e perdas financeiras”. “Trazendo para a realidade do gerenciamento de riscos e seguros

Debatedores do painel 1

Debatedores do painel 2 de cargas, hoje temos a criação dos PGRs (Programas de Gerenciamento de Riscos), cadastro de motoristas e falta de uniformidade e critério nas informações, rastreadores (tecnologia vinculada ao transportador, sem qualquer comprometimento com as gerenciadoras de risco e seguradoras), e descrédito nas informações geradas”. Ela acredita que o Marco Regulatório do setor de transportes irá trazer

mudanças que podem representar evoluções. “O Marco Regulatório determina que seguro é uma obrigação contratual do transportador, assim como o PGR estabelecido nas apólices; as gerenciadoras terão que cumprir com suas obrigações contratuais e indenizar em caso de falhas; e os motoristas punidos em caso de envolvimento como roubo de carga ou receptação”.


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Boas perspectivas para o segmento de seguro de transportes Adriano Yonamine, diretor de Transporte e Auto Frota da Sompo Seguros, fala com exclusividade à revista CIST News sobre as perspectivas para o segmento de seguro de transportes. Confira!

CIST News – O mercado de seguros de transportes reserva oportunidades de crescimento para este ano? Como as seguradoras estão se posicionando neste ramo? Adriano Yonamine – Sim. Nos anos de 2017 e 2018 observamos uma sensível recuperação da economia. Saímos de um período de recessão, com PIB negativo em 2015 e 2016, para um crescimento anual da ordem de 1% em 2017 e 2018. As perspectivas são de que teremos um crescimento do PIB da ordem de 1,5% em 2019 e acredita-se que esse índice deve se repetir anualmente até 2022. Outras ações para incentivar os investimentos em projetos de infraestrutura também já foram anunciadas. Caso se concretizem, esses investimentos devem contribuir para que esses índices sejam ainda mais positivos. Tudo isso faz com que o mercado se movimente e a área de Seguros de Transporte seja positivamente impactada. Mais do que garantir a indenização caso algo aconteça ao bem segurado, as companhias vão agregar expertise

para ajudar aos segurados e corretores de seguros a administrar os riscos a fim de que não aconteçam os sinistros. A Sompo já faz isso com o Seguro de Cargas e também já disponibiliza serviço semelhante para o seguro de Frotas. Um fator que deve influenciar substancialmente nessa tendência é a inovação tecnológica. A Inteligência Artificial, o aprendizado de máquina e a utilização estratégica dos dados que podem ser coletados vão contribuir muito com a evolução das técnicas de gerenciamento de riscos. Além disso, o desenvolvimento de novas tecnologias voltadas à segurança de transporte e dirigibilidade também devem contribuir para que a incidência de sinistros diminua num futuro de médio e longo prazo. CIST News – Quais entraves ainda existem para o desenvolvimento da estrutura de transportes e dos seguros de transportes, no Brasil? Adriano Yonamine – Nossa nova gestão agora é pautado baixo investimento em infraestrutura logística é um dos principais. Estradas mal sinalizadas, em péssimas condições ou com necessidade de manutenção, além da questão da segurança e do roubo de cargas estão entre os principais desafios do segmento. A ideia de atrair investimentos públicos e privados, estabelecer concessões de trechos de estradas importantes e melhorar o nível de competitividade do setor de Transportes pode ajudar bastante a dinamizar esse mercado. É importante lembrar que, se tivermos mais equipamentos e recursos para incrementar o embarque e desembarque de cargas, se a carga for transportada por vias adequadas e bem estruturadas etc.; o Custo Brasil, que reflete no preço que o consumidor paga por bens e alimentos, deve diminuir substancialmente. CIST News – Sobre os prêmios de seguro de carga no Brasil: Quais são as causas do baixo crescimento médio dos prêmios nos ramos de seguro de carga nos últimos três anos? Adriano Yonamine – Segundo dados da SUSEP - Superintendência de Seguros Privados, o segmento de Seguro de Transportes registrou crescimento de 15,3% e passou de R$ 2,7 bilhões em Prêmios Emitidos em 2017 para R$ 3,2 bilhões em 2018. Mesmo com todas as adversidades, o nosso ramo esteve entre os que apresentou maior crescimento. Considere que tivemos um ano com um PIB de 1,1%. Então, podemos dizer

que o mercado de Seguros como um todo contribuiu para o resultado positivo da economia. E, dentro das modalidades de seguros, a de Transportes esteve entre os destaques. Tudo por conta do empenho e esforço dedicado pelos players do segmento. Um ponto que vale ressaltar é que, segundo divulgado pela CNT (Confederação Nacional do Transporte), o setor de Transporte, armazenagem e correio cresceu 2,2% e atingiu R$ 256,08 bilhões em 2018. CIST News – Comente sobre o desempenho da carteira de transportes em sua seguradora nos últimos anos. Como foi o fechamento em 2018? Adriano Yonamine – A Sompo alcançou um crescimento de 71,9% e R$ 579,4 milhões em Prêmios Emitidos, ante R$ 337,1 milhões de 2017. O resultado vem de uma estratégia de investimento em soluções tailor made de gerenciamento de risco, que além de prevenir sinistros, contribui com a melhora nos índices de eficiência operacional do cliente. CIST News – Qual a estrutura da seguradora na área de transportes? Quantos funcionários atuam e em quais setores? Adriano Yonamine – Desde 2015 a Sompo tem investido em capital humano a fim de contar com profissionais altamente qualificados e com profundo conhecimento do segmento de transportes. As soluções desenvolvidas pelos profissionais da nossa equipe nos fizeram incrementar processos, sermos mais assertivos e criativos no desenvolvimento de novas soluções, além de termos muito foco no cliente e nos objetivos de entregar qualidade e resultado. Hoje a Sompo conta com profissionais dedicados à área de subscrição em Transportes, por exemplo. Também contamos com Trading Underwriters responsáveis por regiões específicas do País. Esses profissionais conhecem as características de cada região, seus fatores socioeconômicos e, inclusive, a infraestrutura logística local e seus respectivos problemas. Eles são responsáveis por prestar uma consultoria especializada, por meio da qual efetuam a subscrição de riscos, prospecção de novos negócios, acompanhamento da performance de carteira e atendimento a corretores e clientes. Esse trabalho contempla atividades como fazer visitas a filiais, corretores e clientes com o objetivo de acompanhar o andamento da carteira.


13 Além disso, as equipes das empresas gerenciadoras de risco parceiras ficam locadas em um ambiente exclusivo voltado para esse fim, com toda a infraestrutura, em uma área que é da Sompo. Nossa equipe de Transportes, hoje supera a quantidade de 200 profissionais. CIST News – Qual o volume da carteira de transportes hoje? Qual a representação do market share em transportes, e onde pretende chegar? Adriano Yonamine – Transportes, índice cerca de 8 pontos percentuais acima do segundo no ranking do segmento. A companhia, que já havia alcançado a liderança desse mercado em 2017, consolidou essa posição no ano passado. CIST News – Como a seguradora tem investido no ramo de transportes? Adriano Yonamine – Continuamos investindo neste ramo e podemos dar como exemplo a solução inovadora da Sompo, a qual junto com empresas parceiras estratégicas da área de monitoramento, criou uma Central de Monitoramento própria em que profissionais dessas empresas parcerias estão alocados para efetuar atendimento exclusivo aos segurados da companhia. Cada profissional é responsável por um grupo de contas, as quais tem de monitorar, com toda a tecnologia disponível para esse fim. Isso permite um acompanhamento mais personalizado e qualitativo do trabalho de monitoramento. Além disso, dentre vários outros, a companhia disponibiliza um serviço de consultoria em gerenciamento de riscos, por meio do qual os segurados contam com soluções tailor made de gerenciamento de riscos para cada embarque, considerando produto, rota, motorista e demais variáveis. Com isso, são estabelecidos planos que contribuem para fazer com que toda carga chegue ao seu destino. Como resultado, a Sompo conta com uma sinistralidade inferior à média de mercado. CIST News – Qual expectativa da seguradora nos aspectos relacionados a prestação de serviços aos parceiros e clientes? Adriano Yonamine – Nossa solução encontrou o reconhecimento do mercado, que entendeu que o acompanhamento constante e a implementação de ferramentas que ajudem a evitar sinistros tem um impacto positivo relevante no resultado financeiro do segurado. Com isso, buscamos incrementar cada vez mais nossas soluções, além de sempre trabalharmos em muita sinergia com os parceiros corretores de seguros para garantir o melhor atendimento ao segurado. CIST News – Como funcionam as áreas de gerenciamento de riscos e de regulação de sinistros para evitar perdas no cenário de redução de gastos e adversidades da economia brasileira? Adriano Yonamine – A área de seguro de Transporte é muito dinâmica. Isso porque o cliente está no Brasil intei-

ro, 24 horas por dia, rodando desde estradas de terra em direção à fazendas ou efetuando entregas fracionadas em grandes centros. Às vezes, o mesmo caminhão que saiu de um centro de distribuição de alimentos instalado em um grande centro, vai rodar cinco dias nas estradas, ser embarcado em balsas etc, para chegar a Porto Velho (Rondônia) para entregar a carga. Ou seja, enquanto está em trânsito, essa carga passa por regiões absolutamente diversas em termos de riscos. E tudo isso tem de ser levado em consideração. Nossos processos de análise e subscrição de riscos são bastante dinâmicos, já que contamos com profissionais dedicados à área de Transportes e que trabalham em conjunto. Também acompanhamos de perto todos os aspectos que impactam o negócio, nosso e do cliente. Isso nos dá mais recursos para as tomadas de decisão e tem ajudado muito em entregarmos bons resultados. CIST News – Como a seguradora se prepara para a modernização do setor? Quais as demandas com a multiplicação das Insurtechs? Adriano Yonamine – O desenvolvimento da tecnologia pode contribuir muito, sobretudo na área de gerenciamento de riscos. A Sompo acompanha de perto as novidades do segmento e está atenta a qualquer oportunidade de contribuir com o incremento da qualidade dos serviços prestados na área de Seguro de Transportes. Acredito que, dentro em breve, novas soluções devem ser lançadas com o objetivo de minimizar vários dos problemas que enfrentamos hoje. Tudo o que trouxer mais eficiência, eficácia e ajudar a administrar os riscos com efetividade, será bem-vindo. CIST News – Como promove ações para melhorar a modernização do mercado de riscos e seguros? Adriano Yonamine – Muitas empresas já perceberam que as tecnologias voltadas para trazer uma maior segurança à carga transportada podem, na verdade, ser algo muito além disso e trazer ganhos ainda maiores em suas operações, além de melhorar o relacionamento com seus clientes. Com clientes cada vez mais exigentes e com a necessidade de reduzir continuamente os custos, muitas empresas investem em softwares de gestão, os quais permitem um maior controle operacional dos veículos e motoristas, o que contribui com a redução de custos com combustível, ociosidade, entre outros. Mas nem todos os veículos possuem um rastreador instalado ou se faz necessário, pelo seguro, o monitoramento do embarque. Por isso uma outra tendência são os aplicativos mobile para controle logístico. Investir em tecnologia no setor logístico é essencial e, dentre outros ganhos, traz reduções consideráveis aos riscos de transportes.

Um fator que deve influenciar substancialmente nessa tendência é a inovação tecnológica. A Inteligência Artificial, o aprendizado de máquina e a utilização estratégica dos dados que podem ser coletados vão contribuir muito com a evolução das técnicas de gerenciamento de riscos. Além disso, o desenvolvimento de novas tecnologias voltadas à segurança de transporte e dirigibilidade também devem contribuir para que a incidência de sinistros diminua num futuro de médio e longo prazo CIST News – Como avalia a aplicação das novas aplicações de tecnologias e metodologias de Analytics e Big Data aplicadas ao universo do seguro? Adriano Yonamine – Ter à mão dados que possam contribuir com as tomadas de decisão é sempre ótimo. Não é do hoje, por exemplo, que ferramentas de Business Inteligence (BI) são utilizadas. Mas elas têm conquistado cada vez mais importância nos tempos recentes. Mas é sempre importante ressaltar: sem o capital humano adequado, os dados podem não dizer absolutamente nada. Porque é necessário um profissional gabaritado e com visão estratégica e de mercado para interpretá-los. Para exemplificar, vou fazer uma alusão com a área da medicina. Hoje contamos com equipamentos de alta tecnologia e com recursos de imagem de última geração. Eles trazem muita informação e são um suporte essencial para o diagnóstico. Mas nada no mundo vai substituir a capacidade de análise e tomada de decisão de um bom médico. CIST News – Como mapear riscos emergentes, diversidade de produtos e oportunidade de expansão dos negócios? Adriano Yonamine – O profissional deve se valer de todas as ferramentas que tiver à disposição para fazer aferição e tomar suas decisões. Desde o diagnóstico in loco por uma equipe especializada em visitas ao cliente, até acompanhamento de séries históricas de incidência dos mais diferentes tipos de riscos (acidentes, enchentes, colisões, roubos etc). Cada vez mais as seguradoras serão parceiras do setor logístico voltadas a trabalhar para a mitigação de riscos. Isso vai trazer, com certeza, muitas oportunidades de negócios, além da economia de muitos recursos. CIST News – Sobre o desenvolvimento do ramo de transportes: O que poderá contribuir para ofertar produtos mais modernos? Adriano Yonamine – O Seguro de Transporte ainda é contratado em índices inferiores aos que deveria. Precisamos investir em fazer com que o mercado como um todo perceba o valor agregado e a relevância do seguro para o segmento logístico. Com mais volume de negócios e mais investimentos, o desenvolvimento de novas soluções de seguros se justificará.


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Combinando mindset feminino e masculino como estratégia de negócios: porque é importante também ter mulheres na liderança Por Thaís Ruco A diversidade, em seu significado mais amplo, tem ocupado um espaço importante na pauta de muitas empresas. Inclusive, já existem estudos que provam que a combinação de gêneros traz resultados financeiros positivos para a organização. Ter mulheres e homens atuando em conjunto significa ter cabeças diferentes liderando um negócio. A pesquisa “Delivering Through Diversity”, de 2018, afirma que companhias lideradas por mulheres têm 21% de chances a mais de performar financeiramente e que empresas com pouca diversidade de gênero e cultura têm 29% de chance de atingir menos lucro. No setor de seguros, as mulheres trazem uma nova visão e podem entender melhor como estas consumidoras vão comprar diferentes tipos de produtos, com o desenvolvimento de novas soluções. “Mulheres e homens pensam diferente e nós temos uma forma especial de lidar com as emoções das pessoas. Isto traz uma dinâmica diferente para atingir alta performance nas equipes. Para muitos negócios, hoje em dia, são as mulheres que decidem as compras dentro das famílias, são as grandes consumidoras. Assim, entender como a decisão de escolha de compra de um produto em detrimento a outro é fundamental para a sobrevivência destes negócios”, afirma Priscila Conduta Elias, CEO da Harmonia Corretora de Seguros.

As mulheres possuem algumas características de sua personalidade que poderiam ser consideradas como vantagens estratégicas para uma companhia. “Algumas delas são: versatilidade (conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo); habilidade para lidar com conflitos; habilidade para se expressar com as pessoas, preocupando-se com a forma de passar a mensagem; intuição aguçada, o que muitas vezes ajuda na hora de tomar decisões mais rápidas e assertivas”, defende Marcele Lemos, CEO da Coface Brasil.

O importante é lembrar que, além de homens, também há muitas mulheres competentes. “Toda instituição precisa focar nas qualidades do profissional e o mix é só uma consequência de um quadro de colaboradores formados por homens e mulheres capacitados. Se focarmos sempre nas qualidades pessoais e profissionais antes de tudo, teremos empresas indo cada vez mais longe”, declara Ida Patrícia de Sá, responsável pelo Gerenciamento de Riscos da Embraer.

Participação das mulheres no setor de seguros Estudo da Escola Nacional de Seguros (ENS), realizado em 2013 e atualizado em 2016, traz um panorama sobre a participação das mulheres no mercado de seguros no Brasil, mostrando de forma ampla as diferenças encontradas entre os gêneros. Conclui, por exemplo, que 56% de todos os funcionários em seguradoras são mulheres, porém os homens têm 3,5 vezes mais chances de chegarem a um cargo executivo na seguradora. Outro dado interessante da


15 pesquisa é que, em termos de formação acadêmica, 26% das mulheres possuem curso superior em comparação a 19% dos homens. De acordo com a CNSeg (Confederação Nacional das Seguradoras), em 2000 as mulheres representavam 49% de profissionais do setor e hoje são aproximadamente 59%, mas embora a maioria dos profissionais de seguros seja de mulheres a participação delas em cargos de liderança ainda é limitada. Elas estão concentradas, principalmente, em seguros de benefícios e de pessoas; enquanto os homens são maioria nos ramos elementares, seguros financeiros e transportes. “O setor de seguros ainda tem uma predominância masculina em cargos de liderança, e de forma lenta vamos observando mulheres assumindo essas posições. Na Coface Brasil o cenário é diferente: 58% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres”, aponta a CEO, Marcele Lemos. “De maneira geral, sempre sou minoria de gênero nas reuniões e quanto mais altos os cargos envolvidos no ‘C level’, muitas vezes sou a única mulher a participar da reunião”, comenta a CEO da Harmonia, Priscila Elias. Gisele Mangisfeste, superintendente de Operações Logísticas Marítimas da Total E&P do Brasil, diz que em seu setor a participação de mulheres é ainda menor. “Em painéis de discussão dedicados ao tema na última feira Rio Oil & Gas (ocorrida em setembro de 2018) foi citado que no setor de operações logísticas brasileiro a participação de mulheres em comitês de executivos de empresas é de apenas 14%, em conselhos de administração é de 11% e em nível de gerência 30%, índices que não evoluíram nos últimos dez anos”.

O que ainda falta para as mulheres assumirem mais o comando Na visão das executivas entrevistadas, para chegar aos cargos mais altos, de nível C (CEO, CFO etc) as mulheres devem se arriscar mais, acreditar mais em sua capacidade e não ter medo de assumir posições. Segundo elas, muitas mulheres não

pleiteiam cargos para os quais não estejam 100% preparadas, mesmo que tenha 80% dos requisitos solicitados pela empresa no momento da abertura da vaga, pois pensam que não atendem todas as qualificações. Enquanto isso, os profissionais do sexo masculino se candidatam para posições ainda que atendam 50% dos requisitos – ou seja, os homens confiam mais neles mesmos, não tendo medo se arriscarem. “No papel, não há nada que impeça as mulheres de atingir a liderança. Muitas vezes mais preparadas e qualificadas em nível de escolaridade e competências, elas, por vezes, deixam de se candidatar para posições executivas por acreditar que não estejam preenchendo 100% dos pré-requisitos para a posição. As mulheres deveriam acreditar mais no seu potencial e ter menos auto cobrança”, aconselha Patrizia Mastrapasqua, diretora Executiva da Lockton Brasil.

“O que diferencia a mulher do homem é, essencialmente, que a mulher precisa sentir-se capacitada para exercer suas funções, quaisquer que sejam elas. Por outro lado, a natureza masculina já impulsiona o homem naturalmente ao desconhecido, e portanto, estão sempre prontos a assumir posições de decisão com muito mais facilidade que as mulheres. Associa-se a isso, que os acionistas devem estar abertos a essa mudança de pensamento”, expõe Cristina Domingues, CEO da Starr Companies.

“As empresas precisam se mobilizar e colocar a diversidade como objetivo a ser alcançado, incluindo a questão da liderança feminina em cargos de alto nível. Hoje já vemos este movimento em muitas multinacionais, como por exemplo na Coface”, analisa Marcele Lemos. Para Simone Ramos, especialista em grandes riscos, o que falta é mais oportunidade e reconhecimento de fato do mercado de que a mulher tem plena competência para assumir cargos de nível C. “A mulher já se superou em todos os aspectos, tem cada vez mais se posicionado e atuado expressivamente no mercado e, desempenhado um papel fundamental, diferenciado e transformador. Contudo ser mulher nesta área ainda exige muito mais, ser mais forte e se superar diariamente”.

Na visão da CEO Priscila Elias, as mulheres precisam ter mais confiança nelas mesmas para conquistar níveis C e precisam também estar dispostas a querer galgar tais posições. “Parece um pouco contraditório, mas não é fácil para a mulher balancear carreira e vida familiar. Muitas, quando chegam a uma posição de diretoria bem remunerada acham que ali já está bom e não querem abrir mão de mais para atingir o nível superior, que muitas vezes, incluem mais horas de trabalho, mais viagens, mais responsabilidade, tudo em detrimento do tempo já escasso que elas têm para a família. As profissionais mulheres e mães se sentem eternas ‘devedoras’. Acham que estão sempre devendo algo, em geral, tempo para a família, filhos, marido, e nunca se sentem 100% satisfeitas”, analisa. Apesar de todo o espaço conquistado, as mulheres precisam evoluir ainda internamente para aceitar sem culpa que podem priorizar, sim, determinadas situações tanto no trabalho quanto na vida familiar. Atuando em um setor predominantemente masculino Todas usam a mesma palavra para descrever como é atuar em um ambiente no qual os homens saem à frente na largada: desafiador. Por mais que as mulheres estudem mais, elas precisam


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sempre comprovar sua capacidade de forma redobrada. “Não posso negar que já senti alguns olhares de diferença por gênero, mas sempre priorizei trabalhar arduamente para atingir o resultado esperado pela companhia na qual atuo. Acredito que fatos e dados demonstram a capacidade e o valor de todo profissional, independente do ‘x’ no campo feminino ou masculino”, afirma Ida Patrícia de Sá. “É um tanto desgastante, porque a minha capacidade e competências parecem estar sempre à prova simplesmente pelo fato de ser mulher e jovem”, completa Gisele Mangifeste. Outro desafio apontado é relacionado a ter e manter uma boa rede de contatos, o conhecido networking, algo essencial para qualquer profissional. “No início da minha carreira, o primeiro aspecto deste desafio foi conseguir ter tal rede sem ter lideranças femininas no mercado de seguros que pudessem de alguma forma me apoiar. O segundo aspecto foi conseguir ter uma rede de contatos com os mais diversos perfis, o que contribui para o desenvolvimento profissional. Este desafio continua existindo e ganhou um novo olhar: hoje em dia procuro ajudar as profissionais em início de carreira a criarem suas redes de contatos”, revela Camila Calais, sócia do escritório de advocacia Mattos Filho.

Ser mulher e atuar em um setor predominantemente masculino pode ser um desafio, mas ao mesmo tempo gratificante. “No meu caso, como eu também tenho a experiência tanto no quesito educacional quanto na prática, muitos colegas e segurados se surpreendem. Eles prestam muita atenção ao que lhes é comentado. Nós, mulheres, somos muito verdadeiras e não temos vergonha em dizer que não dominamos determinado assunto, o que torna a reunião agradável e transparente ao cliente”, comenta Mirian Alves, coordenadora de Gerenciamento de Riscos na Tokio Marine Seguradora.

meu desenvolvimento, crescimento, para ter oportunidades no meu negócio e sempre evoluir para ser melhor. Atuamos em um mercado competitivo e muito agressivo, por isso temos que estar preparadas para enfrentar com serenidade, eficiência e muita competência. Muitas vezes até nos espelhamos nos homens em alguns aspectos que são positivos para nossa evolução”, afirma Simone Martins, 2ª vice-presidente do Sincor-SP e proprietária da Facsi Corretora de Seguros.

Segundo Mirian, os principais desafios que enfrentou foram: trabalhar no período noturno e dar treinamento a motoristas experientes no transporte de cargas. “Para alguns clientes e corretores ainda é necessário ‘provar’ a experiência prática”. Daniela Tseimatzidis, diretora da Guy Carpenter Corretora de Resseguros, não vê grandes problemas em trabalhar num setor predominantemente masculino, está acostumada com este cenário desde que estudou engenharia. Mas reconhece que em algumas fases da vida enfrentou desafios, especialmente na maternidade. “Retornar da licença maternidade e retomar seu espaço na empresa não é tarefa fácil, o momento das recém-mães é diferente dos outros colegas, nós passamos a dividir nossas preocupações, tempo e disponibilidade entre trabalho e filhos”. Ela diz que alguns poucos pais também fazem jornada dupla e se envolvem fortemente na paternidade. “Meu marido, por exemplo, é super participativo, mas é coisa rara”.

Em igualdade com os homens

A condição de igualdade vem da competência e preparo. Excelentes profissionais sempre terão posição de destaque em qualquer mercado, independente do gênero. E não é preciso abandonar a feminilidade para crescer. “Não busco ser igual aos homens, busco o que considero ser bom para

“Não tenho que me posicionar de maneira diferente para me igualar a nenhum homem, na verdade não busco me igualar com ninguém, cada um tem sua forma de atuar, independente de gênero e isso é o que buscamos para termos maior diversidade, não é? Eu invisto em me atualizar, saber das inovações do mercado é fundamental em qualquer setor”, declara Daniela Tseimatzidis. “Comecei desde cedo desenvolvendo meu lado educacional dando o máximo de mim: falo três línguas fluentemente, além do Português (Inglês, Francês e Espanhol), fiz Engenharia Civil em uma das mais conceituadas escolas do país, a Politécnica da USP, fiz todos os cursos de seguros possíveis aqui no Brasil e fora do país. Li muitas apólices e clausulados. Tentei aprender com profissionais mais experientes e com as seguradoras que estavam dispostas a me ajudar e me ensinar. Desde 2001, viajo todos os anos para o RIMS e participo dos eventos e discussões que os grupos de risk managers estão tendo nos Estados Unidos”, ressalta Priscila Elias. “Quando estou no meu ambiente de trabalho, seja na empresa ou participando de eventos e ações, sou da política da troca de informações, de conhecimento, para que todos saiam ganhando. Ali, me posiciono como alguém de mercado que sabe o que está falando e ao mesmo tempo chega disponível para ouvir o colega e aprender. E é desta forma que percebo que imponho respeito, como ser humano e como mulher”, pontua Ida Patrícia de Sá.


17 Mercado em evolução

Além das diversas iniciativas das empresas do setor de seguros, há duas importantes associações do mercado que atuam em questões de diversidade de gênero: a AMMS (Associação de Mulheres do Mercado de Seguros) e o Instituto pela Diversidade e Inclusão no Setor de Seguros – IDIS. “Tais associações estão na vanguarda das discussões sobre gênero no mercado brasileiro de seguros e resseguros e contribuem para que cada vez mais empresas revejam a temática de mulheres”, lembra a advogada Camila Calais. Ela ressalta que há também o Dive In, festival global criado pelo Lloyd’s, que anualmente incentiva a realização de eventos em diversos países para tratar de diversidade, incluindo de gênero. Daniela Tseimatzidis é conselheira da AMMS. “A associação vem justamente para tratar de preparar mais mulheres para os cargos de liderança, dando oportunidades para que elas façam mais networking, se qualifiquem e se sintam mais seguras para assumir posições mais altas e também motivar as empresas a se engajarem nesse projeto para que tenhamos mais diversidade nas companhias, especialmente na alta gestão, melhorando o clima organizacional, motivando outras mulheres que estão em cargos menores e consequentemente trazendo maior rentabilidade para suas companhias”, defende. “As empresas tem empenhado um papel fundamental criando comitês de diversidade e valorizando a atuação da mulher no mercado. Associações como a AMMS – Associações das Mulheres do Mercado de Seguros – têm sido um grande incentivo para as mulheres da indústria de seguros e tem contado com o apoio de importantes empresas do setor”, frisa Simone Ramos, que recentemente apresentou palestra para as associadas da AMMS. O mercado de logística marítima também está mudando neste sentido. “Algumas empresas, que já se convenceram da importância da equidade de gênero para a construção de uma economia mais forte, sociedades mais justas e com melhor qualidade de vida para todos, vêm adotando medidas de incentivo à ampliação da participação feminina no ambiente corporativo. E também associações civis como a WISTA (Women International Shipping & Trading Association), da qual eu faço parte, promovem ações afirmativas que contribuem para o empoderamento da mulher”, afirma Gisele Mangifeste.

Dicas de quem chegou lá As executivas de sucesso dão sua visão para outras que pensem em seguir carreira no setor. “Estejam sempre preparadas, pois oportunidades podem surgir inesperadamente. Não tenham medo de arriscar, aceitem correr os riscos e acreditem mais no potencial de cada uma de vocês. Todas nós temos um grande potencial e você somente saberá o real tamanho da sua capacidade quando se puser à prova”. Marcele Lemos, CEO da Coface Brasil “É importante se preparar em termos de habilidades para que sua seleção ou sua promoção não seja uma questão de gênero e sim de competência. Deixe claro para seu superior seus objetivos e o próximo cargo que você quer alcançar. Peça ajuda para se capacitar. Feedbacks sinceros são a melhor arma para seu crescimento profissional”. Priscila Elias, CEO da Harmonia Corretora de Seguros “Nosso mercado é desafiador, há muita oportunidade de crescimento no mercado de seguros brasileiro e, portanto, ainda terá muito espaço para novas gerações fazerem a diferença no setor. Minha dica é estudar um pouco do mercado antes de começar, buscar cursos que tenham relação com seguros, se inteirar de tudo o que envolve este mercado como as ciências atuariais, resseguro, eu mesma nunca tinha escutado falar de nada disso antes de iniciar a carreira em seguros, enfim, se preparar para ter um crescimento sólido em algo que realmente te dê prazer e alegria em trabalhar. Dessa forma, o sucesso será certeiro e a jornada até a liderança uma consequência natural”. Daniela Tseimatzidis, diretora da Guy Carpenter Corretora de Resseguros “Busque qualificação, desenvolver habilidades necessária ao objetivo almejado, construir e alimentar relações profissionais de qualidade e realizar suas funções da melhor forma possível, expondo com sabedoria suas realizações bem sucedidas” Gisele Mangisfeste, superintendente de Operações Logísticas Marítimas, da Total E&P do Brasil “Qualquer que seja a carreira que uma pessoa decida seguir os meus conselhos são: 1) Identifique o que você realmente gosta fazer e tente ser o melhor no seu trabalho; 2) Abrace os desafios que se apresentarem no seu caminho; 3) Seja um exemplo para os outros” Patrizia Mastrapasqua, diretora Executiva da Lockton Brasil. “Para as mulheres que desejam entrar na área de gerenciamento de riscos, sugiro fazer uma imersão nos processos e procedimentos de gerenciadoras de riscos, visitar algumas empresas de tecnologias que são referências no mercado para entender o funcionamento entre tecnologia e gerenciadora de riscos (identificação de responsabilidades) e fazer cursos de aperfeiçoamento na área”. Mirian Alves, coordenadora de Gerenciamento de Riscos na Tokio Marine Seguradora “É incrível olhar para trás e ter presenciado essa transição cultural. É um prazer enorme poder compartilhar um pouco dessa experiência e estimular às novas gerações desse mercado incrível. Tenho muito orgulho por ocupar a cadeira que ocupo atualmente, e isso não seria possível, se não tivesse recebido a confiança de todos os meus Gestores. Então, aproveito para agradecer a todos que sempre me estimularam e de muitas formas me apoiaram e a ser a pessoa que sou hoje. A minha dica? Sejam fortes e determinadas. Sejam as melhores especialistas de suas áreas. Desenvolvam-se. Capacitem-se. Aventurem-se no novo” Cristina Domingues, CEO da Starr Companies. “A dica que sempre menciono é acreditar e nunca desistir dos seus sonhos e das oportunidades que a vida nos coloca. Desafios e obstáculos teremos sempre basta termos discernimento para saber enfrentá-los e seguir para atingir os objetivos. Nunca deixe que ninguém impeça que seus desejos sejam concretizados. A vida é feita de escolhas e muitas delas somos precursores do resultado. Seja feliz!” Simone Martins, 2ª vice-presidente do Sincor-SP e proprietária da Facsi Corretora de Seguros. “A diferença de gêneros nunca pode ser um empecilho para que qualquer pessoa, homem ou mulher, siga o que tem vontade de fazer. É claro que atuar num mercado predominantemente masculino tem alguns momentos de maior dificuldade, mas o que vai contar no final é competência, conhecimento e resultado. E quando você consegue atingir tudo isso dentro do que escolheu fazer, tudo fica muito mais gratificante. Então: desistir, nunca!” Ida Patrícia de Sá, responsável pelo Gerenciamento de Riscos da Embraer.


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Os desafios dos comissários de avarias em 2019

José Flávio Commandull Consultor, Regulador e Comissário de Avarias, FenSeg Cód. nº 780. Contatos: flavio.omega@ hotmail.com whatsapp (47) 99245 4745

Segundo o “Regulamento de Registro Nacional de Comissário de Avarias de Sinistros do Ramo Transportes”, Comissário de Avarias é o profissional certificado pela ENS – Escola Nacional de Seguros, que deve manter seu credenciamento e registro na FenSeg – Federação Nacional de Seguros Gerais, que edita o regulamento e o fiscaliza. Há cerca de 1.300 registros de profissionais que representam as sociedades seguradoras e resseguradoras, através das empresas Comissárias de Avarias prestadoras de serviços nas vistorias de sinistros, atividades consideradas essenciais para uma boa regulação de sinistro com perícia e imparcialidade na elaboração dos laudos. Em diversos países europeus e nos EUA, estes profissionais, também conhecidos como Surveyors, não mantêm qualquer vínculo de hierarquia ou de resultado com as sociedades seguradoras. Eles possuem seus registros e contratos diretamente com instituições internacionais e, com raras exceções, na FenSeg, como Comissário de Avarias, atuando no Brasil principalmente para os P&I Club – Clube de Proteção e Indenização, armadores e agentes de carga. Muitas pessoas não imaginam os riscos da atividade deste profissional, em especial nos atendimentos de S.O.S Salva Carga nas rodovias, ou embarcadas em navios, atuam 24 horas, dia e noite, em locais perigosos, inclusive com risco de morte, insalubres, nos finais de semana e feriados, tema que a ser tratado em outro artigo. Como desafios em 2019, temos que lutar para que o artigo 3º do Regulamento seja aplicado, que dispõe: atividade do Comissário de Avarias é indelegável e será exercida privativamente por pessoa física ou jurídica registrada nos termos do regulamento. O seu parágrafo 2º destaca: “A pessoa jurídica só poderá utilizar nos serviços de vistoria pessoas físicas registradas e credenciada nos termos deste regulamento”. Acreditamos que os contratantes originários ainda não perceberam o risco que correm quando contratam motoboy, taxista, guincheiro, uber e borracheiro, dentre outros, para atendimento. Eles atuam sem o devido conhecimento técnico, credenciamento e registos na FenSeg, pois falta fiscalização dos interessados em um bom atendimento de sinistro. Importante frisar para a categoria, que consta no art. 11 do Regulamento, no item 3, o direito de receber da seguradora interessada na vistoria por ele realizada, os honorários devidos pelo serviço prestado e o reembolso das despesas efetuadas no interesse exclusivo da vistoria, com base na Tabela de honorários elaborada pela Fenaseg, (atualmente FenSeg), após homologação do IRB, (que foi privatizado) sendo esta no interesse do resseguro. Desta forma, uma meta a ser alcançada em 2019, será assegurar as mesmas garantias existentes em tempos passados como a última tabela mínima, editada em 2007, em prol da categoria. Passados 12 anos, a categoria não foi prestigiada pelos órgãos competentes com uma regulamentação mais adequada às necessidades atuais. Alguns desafios constantes do Comissário de Avarias para 2019, são o seu aprimoramento para ter conhecimento técnico e científico e buscar ser expert nos assuntos de vistoria, perícia, logística, sinistro e avarias. Deve conhecer seus direitos e deveres e lutar por melhores condições de trabalho, mas isso não é tudo. Uma tarefa, ao meu ver das mais difíceis para o Comissário de Avarias, devido ao alto custo de formação, manutenção e distâncias geográficas do Brasil envolvidas, é criar uma associação ou um instituto independente, em rede nacional, para lutar para que a profissão seja regulamentada. Em 2015, tivemos grande avanço no novo Código de Processo Civil - NCPC Lei n. 13.503, nos artigos 149 e 150 e 707 e seguintes, com a inclusão do nome de Regulador de Avaria Grossa, como auxiliar da justiça, com os mesmos direitos e obrigações do perito, o que obriga a idoneidade e imparcialidade nos laudos apresentados pelo Comissário de Avarias sob pena de ser responsabilizado por práticas atípicas juntamente com a sociedade seguradora contratante. Diante desse cenário, você vai colaborar com esta categoria? De que forma? Pense nisso! Grande abraço!


PÓS-GRADUAÇÃO E M N Í V E L D E E X T E N SÃO

CURSO

LOGÍSTICA RISCOS E SINISTROS NA CADEIA DE SUPRIMENTOS Para promover qualificação especializada em transportes, a Escola Nacional de Seguros conjuntamente com o CIST (Clube Internacional de Seguros de Transportes) desenvolveu inédito Curso de Extensão em nível de Pós-Graduação em Logística, Riscos e Sinistros na Cadeia de Suprimentos. A proposta do curso é fornecer visão holística deste importante segmento econômico, abrangendo toda a cadeia de suprimentos, incluindo logística, gerenciamento de riscos, seguros, sinistros e resseguros. Os alunos, que operam ou pretendam operar nesta área, terão contato com pontos importantes deste mercado de especialistas.

SÃO PAULO Inscrições abertas!

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Para mais informações: São Paulo: (11) 2739-1029 / 1059 posgraduacao@funenseg.org.br


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O Brasil do descaso e das tragédias anunciadas

André Moraes Velleda presidente da Moraes Velleda, consultoria de prevenção de perdas e gestão de riscos.

Iniciamos o ano de 2019 com o sentimento de que algo vai muito mal em nosso país. Não bastassem as mortes com a violência ou a precariedade na saúde pública, vimos tantas vidas ceifadas pela imprudência e falta de cuidado com infraestrutura. O Brasil é o país que não tem desastres naturais, como terremotos e furacões, mas cujos habitantes conseguem provocar suas catástrofes ao mexer de forma inconsequente com a natureza. Na tragédia de Brumadinho (MG), nitidamente faltou cuidado com a infraestrutura da maior empresa do setor e do governo. A mineradora Vale foi 41,73% privatizada em 2017, mas a maior parte do seu poder ainda é público. E isso pode ser mais problemático. Assim como vemos a falta do governo com a saúde ou as estradas brasileiras, para nós que atuamos no segmento de transportes, há um descaso com a segurança das barragens no Brasil. O país não aprendeu nada com

a tragédia ocorrida em Mariana (MG), em 2015, e isso levou ao novo desastre, em Brumadinho, dia 25 de janeiro, quando uma barragem da Vale se rompeu, soterrando centenas de pessoas e destruindo com rejeitos tóxicos o Rio Paraopebas. Como é possível uma gigante como a Vale não investir no cuidado com as vidas? Imagine as empresas de menores estruturas então. Coisas simples, como o toque de sirene, simplesmente não funcionam. A empresa recebeu alertas de dados por e-mails de que algo estava errado e ninguém fez nada. Dói perceber que Brumadinho, como Mariana, não foi um caso fortuito, uma fatalidade. Ambas eram tragédias anunciadas, resultado da negligência. Nossa infraestrutura está sucateada. Existem demonstrações de pouco cuidado com essa área em todo o país. Veja, por exemplo, o estado das pontes na cidade de São Paulo, a prefeitura mais rica do Brasil. A queda de


viaduto na Marginal, no fim de novembro, expõe o péssimo estado dos elevados da cidade. Na última década, o orçamento para a manutenção de viadutos minguou: o então prefeito Gilberto Kassab gastou, em valores atuais, R$ 31 milhões entre 2009 e 2012, dos quais R$ 22 milhões no seu último ano de mandato. Fernando Haddad despendeu R$ 15 milhões em 2013 e nenhum centavo nos três anos seguintes. João Doria desembolsou mísero R$ 1,5 milhão no ano passado, e a gestão Bruno Covas, R$ 2,4 milhões neste ano. Nesse ritmo, a cada mandato, tal verba cai à metade. Com a falta de investimentos em conservação, muitos viadutos correm o sério risco de cair, levando mais vidas inocentes e prejudicando toda a população.

Estamos perdidos. Os problemas estão por toda a parte: barragens, pontes, aeroportos. O que mudou desde o último desastre em Congonhas, segundo maior aeroporto em movimento do País (perde apenas para o de Cumbica), mais de 10 anos após o voo 3054? Alguns ajustes na pista, uma nova torre de controle e exigência de mais treinamento pelos pilotos. Mas, sem dúvidas, falta melhorar muito ainda a cultura da prevenção de perdas. Logo depois do caso de Brumadinho tivemos o incêndio no alojamento dos meninos do Flamengo. Os absurdos são inúmeros e também evidenciam descaso, desta vez com a vida dos garotos do clube mais popular do país. A cidade do Rio de Janeiro foi

omissa diante de uma situação detectada, comprovadamente irregular. No dia 20 de outubro de 2017 foi emitido um edital de interdição do Ninho do Urubu, exatamente onde estavam os containers adaptados em dormitórios, que não foi cumprido. Para o local só estava liberado o funcionamento de um estacionamento. Dez vidas foram perdidas no incêndio, meninos entre 12 e 15 anos que morreram carbonizados ou intoxicados, e outros que seguiram hospitalizados. O Brasil que merecemos tem investimentos em infraestrutura e em programa de prevenção de perdas. Todas essas tragédias foram anunciadas. E agora quem fica responsável por este luto profundo de todos nós brasileiros, neste triste início de ano?


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Seguro ambiental obrigatório deve minimizar riscos de acidentes nos transportes de cargas e também como o da barragem de Brumadinho

Paulo Rogério Haüptli Sócio-diretor do Grupo Fox, que engloba as empresas: Fox Regulação e Auditoria, Haüptli Advogados Associados, One Risk Global Gerenciamento, EM Prevenção, Norn Engenharia de Risco, e MedFox Medicina e Perícias. É ainda professor de treinamentos contra fraude no seguro, e diretor de sindicância do CIST.

A tragédia de Brumadinho reacendeu os debates sobre a regulamentação do seguro ambiental obrigatório. Recentemente, foi aprovado pela Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado Federal, em decisão unânime, o projeto de lei PLS 767/2015, que pode tornar obrigatório a contratação do seguro ambiental. A proposta foi remetida à Câmara dos Deputados. A ação legislativa altera o art. 10 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências, e o art. 20 do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros Privados, regula as operações de seguros e resseguros e dá outras providências, para instituir o seguro mínimo obrigatório ambiental. O projeto exige contratação de seguro por dano ao meio ambiente e terceiros, caso o empreendimento necessitar de licença ambiental. O texto prevê que o valor do seguro mínimo será fixado pelo órgão ambiental licenciador. Além disso, relatórios sugerem a necessidade de se criar um consórcio de seguradoras. Para muitos, como eu, esta aprovação é fundamental para proteger as empresas contra eventuais sinistros. Com o desastre, foi ampliado o consenso de que se houver seguro ambiental obrigatório haverá menor risco de acidentes, não só desta magnitude, como os de transportes de cargas perigosas em geral. Atualmente, a contratação de seguro privado por parte de empreendedores é uma prática pouco comum e opcional. Por não ser obrigatório, nem todos os empreendedores o fazem, preferindo arcar com eventuais perdas e danos a terceiros em caso de eventuais acidentes. Na tragédia de Mariana, que aconteceu em 2015, o rompimento da barragem de rejeito de minas de ferro da Samarco causou, além de 19 mortes, fortes danos ao meio ambiente e a centenas de famílias, sendo certo que o

seguro da empresa foi insuficiente. A Samarco também não tinha um seguro ambiental específico. Porém, esse é um debate polêmico. Há quem analise que a simples obrigatoriedade de contratação de um seguro não significa que isto será feito da forma adequada, de modo que venham realmente cumprir sua finalidade, a de proteger as empresas contra eventuais riscos a que estão expostas. Outro problema é que, apesar da boa capacidade e conhecimento do mercado de seguros que opera com essa modalidade, o número de seguradoras ainda é de certa forma limitado, o que poderá gerar entrave na disponibilização de cotações em comparação ao aumento na demanda. O aumento da busca pelo seguro em um cenário de capacidade reduzida de atendimento pelo mercado poderá gerar também, em um primeiro momento, uma pressão pelo aumento do custo deste seguro, ainda mais com a obrigatoriedade. Porém, a massificação que ocorrerá deverá, em um médio prazo, trazer novas companhias e eventualmente aliviar a pressão de custo. Considero que ainda há necessidade de aprimoramento de alguns aspectos na Comissão de Meio Ambiente antes que seja aprovado. Hoje em dia, qualquer empresa está exposta a eventual penalização por algum dano ambiental e isso influencia diretamente o interesse de uma seguradora em colocar no mercado um produto que cubra riscos decorrentes do dano ambiental. Acredito que desenvolverá bastante nosso mercado segurador. Em um mercado desenvolvido, como é tendência aqui no Brasil, o seguro ambiental servirá como um instrumento de fomento de uma maior preocupação por parte das empresas com o meio ambiente. Veremos avaliações prévias realizadas pelas seguradoras e o incentivo de o segurado contratar um produto com um prêmio reduzido, em consequência da adoção de práticas mais zelosas de gestão ambiental.



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Há muito o que fazer. Com muita transparência, é oportuno aproveitar o momento de entusiasmo atual

Paulo Roberto Guedes Paulo Roberto Guedes é especialista em Logística, conselheiro da ABOL – Associação Brasileira das Operadoras Logísticas.

São enormes os desafios a serem enfrentados por todos nós, brasileiros, nos próximos anos. Em particular neste, com novo Executivo, um Congresso razoavelmente mudado e um País, sem qualquer dúvida, muito diferente. A pouca experiência dos novos dirigentes, a disposição e a competência dos partidos de oposição e o “fogo amigo”, criarão ainda mais obstáculos para que se chegue a bons termos, muitas das reformas e providências exigidas para “tirar” o Brasil da maior crise jamais vivida. O atual presidente já percebeu que a realidade que se apresenta tem características e variáveis muito distintas daquelas imaginadas antes das eleições, principalmente quando se trata de relações com o Parlamento brasileiro e nas prioridades de governo. O combate à corrupção e o aumento da segurança, por exemplo, são importantes para qualquer sociedade, mas não são, por si sós, soluções para os graves problemas pelos quais passa a economia brasileira. E se o País 2019 é mais “conservador” do que foi nos últimos 15 ou 20 anos, o fato é que os ‘ventos’ que favorecem o liberalismo econômico estão colaborando com um clima mais otimista junto à toda a classe empresarial que é, sem dúvida, responsável por grande parte dos investimentos necessários para o crescimento e o desenvolvimento econômicos. Ao ter que realizar um conjunto essencial de reformas, o novo governo também se obrigará a estabelecer prioridades, pois nem tudo poderá ser feito. Mas não poderá

esquecer, de forma alguma, que ainda existem 12 milhões de desempregados e outros tantos na posição de ‘desalentados’ ou produzindo abaixo de suas capacidades. Não é preciso, aqui, discorrer sobre os principais problemas econômicos que penalizam a sociedade brasileira, posto que são por demais conhecidos. Mas há alguns que precisam ser resolvidos (ou ter suas soluções encaminhadas), o mais rapidamente possível, tais como a reversão dos baixos índices de crescimento econômico, a diminuição do desemprego e o equilíbrio das contas públicas, no qual a reforma da Previdência tem precedência. Relacionados e interdependentes, precisam ter providências rapidamente elaboradas, aprovadas e implementadas o quanto antes. No prazo mais longo é preciso aumentar a produtividade nacional, talvez uma das formas mais eficientes de se aumentar a renda per capita do brasileiro. É momento, inclusive, do movimento conhecido como “Indústria 4.0” começar a fazer parte concreta e permanentemente, das agendas dos empresários, empreendedores, executivos e profissionais, sejam eles do setor público ou privado. Aqui a abertura da economia é um instrumento essencial, pois além de aumentar a competição interna, forçando todos a buscarem aumento de produtividade, ainda propiciará maior contato com as novas tecnologias do mundo atual. O Banco Mundial, em estudo recentemente publicado (“Em-


25 prego e Crescimento: A Agenda da Produtividade”, para o Brasil), elenca três principais responsáveis pela baixa produtividade brasileira: a) falta de concorrência, tanto interna como externa (ambiente de negócios interno difícil e existência de barreiras tarifárias – ou não – ao comércio); b) concentração de políticas públicas, benefícios e subsídios para empresas já instaladas e que poderiam “andar com suas próprias pernas” (não estimula nem a inovação e tampouco a concorrência); c) excesso de órgãos governamentais, não integrados e sem objetivos claros, e que não controlam corretamente a utilização dos recursos públicos e muito menos a eficácia das políticas públicas específicas implementadas. As relações internacionais e as novas circunstâncias que envolvem o mundo atual também precisam ser levadas em consideração. Queda dos preços das “commodities”, o Brexit, a guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais, uma certa preferência do Brasil pelos EUA em ‘detrimento’ da China, um pouco de “animosidade” brasileira com relação ao Mercosul e os países árabes (transferência da embaixada do Brasil para a cidade de Jerusalém), são assuntos que, se não administrados de forma correta, poderão criar dificuldades ainda maiores. Evidente que qualquer retomada econômica que se queira, irá exigir volumes significativos de investimentos que, em face dos se-

guidos déficits públicos e o tamanho da dívida pública, deverá ter participação importante do setor privado. Infraestrutura e construção civil, além de mais rapidamente trazerem resultados, também colaboram para resolver problemas específicos, tais como a melhoria de vida das pessoas, diminuição de parte do ‘custo Brasil’ e aumento da produtividade do produto brasileiro. O Programa de Parceria em Investimentos (PPI), com objetivos bem definidos e a decisão de que ele ficará subordinado à Vice-Presidência da República, são bons indícios. Especificamente, em infraestrutura, ratifique-se o que muito já se sabe: é preciso integrar todos os órgãos que tratam do assunto, pois não se pode esperar eficiência nos investimentos se cada ministério ou departamento ‘planeja’ de forma independente. A criação do Ministério da Infraestrutura é um bom indício.Se por um lado, o discurso pró-mercado, de diminuição do tamanho do Estado, de diminuição da burocracia e de racionalização das atividades públicas tem sido bem recebidas e melhorado o ‘humor’ de todos aqueles que acreditam em uma economia mais liberal, é também recomendável, e até para que o liberalismo funcione melhor, “um pouco” de planejamento. Aperfeiçoamento dos sistemas regulatórios e clareza na estratégia adotada são caminhos para que o setor privado sinta-se mais seguro – jurídica e contratualmen-

te – no momento de definir seus investimentos. São fartas as pesquisas que apontam a complexidade da legislação tributária e o excesso de burocracia, de leis e regulamentos, como os principais entraves para que as empresas brasileiras sejam mais competitivas. Se ainda há incertezas sobre a real possibilidade de o novo governo conseguir realizar as reformas e ajustes necessários, é fato que o novo governo ainda desfrutará de razoável período de estabilidade econômica, no qual a inflação, a taxa de juros e o câmbio se mantenham em condições extremamente favoráveis para o Brasil. O Balanço de Pagamentos, até pela bom desempenho das exportações, continua superavitário e tem colaborado diretamente para o aumento das reservas cambiais. E isso não é pouco, pois permitirá que o governo mantenha suas energias focadas naquilo que, além de necessário, é imprescindível. Portanto, a estabilidade que se verifica em vários dos indicadores econômicos, com previsão de manutenção ainda para este ano, o entusiasmo com o resultado das eleições, a confiança em significativa parte da equipe ministerial e a esperança de dias melhores ajudam muito. Mas essas “forças positivas” rapidamente se dissiparão caso haja qualquer dúvida quanto à capacidade política do novo governo para realizar, pelo menos em parte, tudo aquilo que precisa ser realizado. Bom trabalho a todos!


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Qual seguro deverá ser acionado primeiro?

Entenda como proceder no caso de eventual sinistro envolvendo cargas transportadas dentro do território brasileiro

Odair Negretti Corretor de seguros, advogado, professor universitário, sócio fun­dador e vice­ presidente da APTS (Associação Paulista dos Técnicos de Seguros) e do CIST, di­retor técnico e sócio proprietário da BC Business Center Consultoria e Assessoria em Seguros

Como sabemos, por força do artigo 20 do Decreto-Lei nº73/66, regulamentado pelo Decreto nº 61.867/67, os proprietários das cargas transportadas (embarcadores ou consignatários) e os transportadores dessas cargas de terceiros, precisam e são obrigados a contratar, de forma cogente, os seguros de Transporte Rodoviário Nacional (TRN) e de Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário-Carga (RCTR-C). Um cobre as perdas e danos à carga transportada e o outro a responsabilidade civil por perdas e danos causados à carga transportada, portanto, seguros distintos, um de danos e outro de responsabilidade, ambos obrigatórios por lei. Segundo a boa técnica, os seguros de TRN devem reparar os prejuízos sofridos pelos proprietários das cargas transportadas e os de RCTR-C, os reembolsos dos prejuízos pelas reparações das cargas transportadas. Via de regra, diferentemente do que ocorre em outros países, aqui entre nós, há uma inversão de valores, ou seja, antes de se acionar os seguros de TRN, aciona-se o seguro de RCTR-C. Na realidade, as regulações e as liquidações de um sinistro devem ser executadas através dos seguros de TRN, por serem este mais específicos do que os seguros de RCTR-C, estes devem servir, na fase de

recuperação, para fazer frente aos ressarcimentos a que tiverem direito as seguradoras das cargas perdidas ou danificadas. A prática adotada em nosso mercado de seguro não nos parece salutar e, em nossa modesta e basilar opinião, é merecedora de reparos, pelas seguintes razões: 1ª) tratam-se de seguros obrigatórios, que os proprietários das cargas e os transportadores precisam contratá-los de forma cogente; 2ª) a diferenciação entre ambos é nítida e dispensa qualquer discussão em torno de que possa haver duplicidade de cobertura; 3ª) as partes, ao estabelecerem os contratos de frete e de forma recíproca, deverão declarar e provar a existência dos dois seguros, indicando os números de suas apólices, suas vigências e seguradoras envolvidas, respondendo juridicamente pela eventual falsidade de suas declarações; e 4ª) ao estabelecerem esse modelo de regulação, liquidação e recuperação de sinistros, as seguradoras estarão colaborando para que não haja mais a nociva divulgação de que o seguro de TRN substitui o de RCTR-C, ou vice-versa. No mais, julgamos prudente que a Susep se manifeste sobre o assunto, se é que ainda não o fez.



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Carta ao mercado segurador sobre a Convenção de Montreal e limitação de responsabilidade Um tema ainda em discussão – sugestão de critérios para acordos

Paulo Henrique Cremoneze Advogado, sócio de Machado, Cremoneze, Lima e Gotas – Advogados Associados (SMERA-BSI), Presidente do IBDTrans – Instituto Brasileiro de Direito dos Transportes, Mestre em Direito Internacional Privado, Vice-Presidente da UJUCASP – União dos Juristas Católicos de São Paulo, Membro efetivo do IASP – Instituto dos Advogados de São Paulo, autor de livros e artigos publicados, Laureado pela OAB-Santos pelo exercício exemplar e ético da advocacia, Membro Consultor da Comissão de Direito Marítimo da OAB-SP.

Caríssimos, Sabemos que todos os profissionais do mercado segurador estão sobrecarregados de atividades e não têm tempo para leituras de textos longos, acadêmicos. Por isso, tanto quanto possível, fizemos um modesto e sumário arrazoado, enxugando ao máximo seu conteúdo, e reclamamos a especial atenção dos amigos e colegas, porque o tema de fundo é realmente muito importante. Agradecemos a honrosa atenção. Sobre a não incidência da limitação de responsabilidade: Desde a decisão de repercussão geral do Supremo Tribunal Federal (Recurso Extraordinário no 636331RJ) reconhecendo a primazia da Convenção de Montreal sobre o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, temos nos posicionado da seguinte forma: Referida decisão se aplica aos casos de transportes aéreos internacionais de passageiros com extravios de bagagens, não, necessariamente aos de faltas ou avarias de cargas. A Convenção de Montreal é, sim, aplicável, mas não o inteiro teor da decisão, muito menos a limitação de responsabilidade. A incidência da Convenção de Montreal nos casos de transportes aéreos internacionais de passageiros e de cargas não implica, necessariamente, a limitação de responsabilidade, isso porque só há que se falar no reconhecimento desta em casos de desastres, acidentes de navega-

ção, sem culpa grave (conduta temerária), dos transportadores. A despeito da questão do chamado frete “ad valorem”, a própria Convenção dispõe que a conduta temerária do transportador impede o benefício da limitação tarifada (ou limitação de responsabilidade), impondo-se lhe o dever de reparar integralmente os prejuízos derivados dos danos de sua ineficiência operacional. A norma da limitação de responsabilidade, independentemente da decisão de repercussão geral, é considerada anacrônica e contrária ao sistema legal brasileiro como um todo, sobretudo o princípio da reparação civil integral, insculpido na regra do art. 944 do Código Civil. Princípio, aliás, que também é constitucional, porque presente no rol exemplificativo dos direitos e garantias fundamentais do art. 5º, V, da Constituição Federal. No caso de uma seguradora legalmente sub-rogada na pretensão original do segurado, dono da carga avariada ou extraviada pelo transportador, ainda mais sem sentido é a eventual aplicação da limitação de responsabilidade – a par de quaisquer outras considerações – , pois o pagamento da indenização de seguro altera a dinâmica dos fatos e o próprio enquadramento jurídico da busca da reparação civil (ressarcimento em regresso), de tal modo que não há que se falar em qualquer outra coisa senão o império das regras da sub-rogação, notadamente o art. 786 do Código Civil, e a força do


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Enunciado de Súmula nº 188 do Supremo Tribunal Federal. Pois bem! Com base em tais considerações, escrevemos cartas abertas aos Magistrados brasileiros e aos membros do mercado segurador e começamos a enfrentar os temas nos litígios sob nosso patrocínio. Visitamos desembargadores nos casos concretos, apresentamos memoriais e sustentamos oralmente a não aplicação da limitação integral e o princípio da reparação civil integral, não mais questionado a Convenção de Montreal, porque inegavelmente incidente, mas sua correta aplicação quanto à questão da limitação de responsabilidade, bem como expondo que a decisão de repercussão geral em destaque não é cabível, ao menos em sua ontologia, aos casos todos de transportes aéreos internacionais. Felizmente, temos colhido muitos êxitos. Como exposto em mensagens outras encaminhadas ao mercado segurador, conseguimos em nossas postulações reiteradas vitórias judiciais, especialmente no Tribunal de Justiça de São Paulo, que, nos casos ainda em curso ou nos já julgados, mas submetidos ao critério do juízo de retratação, não tem reconhecido a limitação de responsabilidade em favor dos transportadores aéreos causadores de danos nas cargas confiadas para transportes. É bem verdade que existe uma decisão do Superior Tribunal de Justiça em sentido contrário ao que temos defendido, mas ela se deu em um contexto diferente do que ora é exposto e se fundamentou no antigo confronto entre a Convenção de Montreal e o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, fonte legal que sequer invocamos mais, como advogados, nos casos sob nossos cuidados. Nosso foco tem sido a correta inteligência da Convenção de Montreal, bem como o princípio

da reparação integral e a especial condição jurídica de uma seguradora legalmente sub-rogada, quem defende não apenas seus legítimos direitos e interesses, mas os do colégio de segurados, por conta do princípio do mutualismo. Acreditamos, com prudente segurança, que temos chances de prevalecer nos casos futuros na corte superior com base em toda essa linha de fundamentação. Pretendemos, em agosto, visitar os Ministros do Superior Tribunal de Justiça para expor, em termos gerais, os entendimentos em destaque, reforçando argumentos que já se lhe foram entregues por meio de trabalhos escritos. Outra coisa que aspiramos é encontrar um meio de rediscutir o selo de repercussão geral do Supremo Tribunal Federal no conteúdo da referida decisão, de tal modo que se lhe sejam feitos ajustes para ficar bem claro que a limitação de responsabilidade não tem cabimento em casos com a figura da culpa grave dos transportadores, especialmente nos transportes de cargas sem fretes “ad valorem”, já que os valores das cargas podem ser facilmente identificáveis por muitos documentos idôneos, destacadamente as faturas comerciais. Posto tudo isso, ainda que sumariamente, ousamos, diante do espírito de parceria que nos ata ao mercado segurador, sugerir que até que o tema seja definitivamente tratado pelo Poder Judiciário – o que demandará ainda muito tempo – que não sejam celebrados acordos com transportadores com base no critério da limitação tarifada. Os advogados das empresas transportadoras aéreas têm procurado os advogados do mercado segurador expondo que a questão da limitação de responsabilidade são favas contadas. Isso não é verdade. As decisões judiciais que

conquistamos para o mercado, somadas as obtidas por outros ótimos escritórios de advocacia, atestam a presente afirmação. O tema encontra-se literalmente aberto e os riscos são bilaterais. Por isso, em nosso modesto entender, nenhum acordo convém ser celebrado em patamar inferior ao de 50% (cinquenta por cento) do valor indenizado, devidamente atualizado. (Repetimos: patamar mínimo para acordos). Evidentemente que se trata de mera sugestão, talvez algo ousado da nossa parte (ao que nos desculpamos), mas o fazemos por dever de ofício, imantados de boa-fé, com vistas à saúde do conceito de ressarcimento e para o bem geral do mercado. Por fim, esclarecemos que isso cabe somente aos transportes aéreos internacionais, não aos nacionais, pois nem a Convenção de Montreal, nem a decisão de repercussão geral, se lhes são aplicáveis. Os transportes aéreos nacionais são submetidos ao Código Brasileiro de Aeronáutica e o seu art. 248 é taxativo ao dispor que a limitação de responsabilidade não tem lugar quando houver comprovada culpa do transportador. Exatamente por tais considerações é que também sugerimos, com máxima delicadeza, que nos casos nacionais ou internacionais de transportes aéreos sejam envidados esforços concentrados nas regulações dos sinistros para as identificações de condutas particularmente temerárias, culposas, dos transportadores, fortalecendo em muito as futuras pretensões de ressarcimentos. Agradecemos a especial atenção e nos comprometemos a organizar em agosto um evento especial para o mercado segurador sobre o tema, ao tempo em que estamos à disposição para esclarecimentos de dúvidas. Obrigado. Paulo Henrique Cremoneze


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Combate a roubo de cargas

David Silva diretor Nacional de Gerenciamento de Riscos da Servis e diretor de Segurança do CIST

Estamos passando por um momento caótico no cenário nacional no que tange ao crime organizado. O roubo e desvio de cargas vem se tornando uma verdadeira indústria, na qual marginais e receptadores fazem a verdadeira farra da criminalidade, vendendo cargas roubadas nos quatro cantos do Brasil e fazendo com que a população mais carente seja conivente ao comprar mercadorias mais baratas e de fácil comercialização. Chegamos ao absurdo de traficantes de drogas migrarem para o roubo e desvio de cargas, no qual, por incrível que pareça, os meliantes acabam dando a falsa impressão que viraram o Robin Hood da comunidade, pois comercializam produtos de necessidade básica abaixo do preço ofertados nos mercados e lojas varejistas. Sendo o 6º pais com maior roubo de cargas, ficando atrás apenas de países

em guerras como, Afeganistão, Síria, Líbia, Lêmen, Sudão do Sul, o Brasil lidera a triste lista que envolve este tipo de crime, obtendo em média 70 roubos por dia no território nacional, sendo uma média de 25 mil no ano. Temos que olhar com atenção para o mercado de transporte que fatura em torno de R$ 478 bilhões por ano, ou 8,1% do PIB, e investe entre de 8% a 12% em segurança para que suas cargas cheguem aos seus destinos em tempo hábil e com total segurança. Todo este investimento e mobilização da criminalidade, mostra que vivemos em um estado de guerrilha, no qual as quadrilhas especializadas utilizam de meios ilícitos para financiar o crime organizado que aterrorizam um país que nos últimos anos foi abandonado pelo poder público, cujas leis fragilizadas estimulam o criminoso a investir cada vez mais neste tipo de ação. Lembrando que 70% des-


31 tes, são reincidentes e 40% são soltos antes de serem julgados. Mediante esta situação, as empresas de Gerenciamento de Risco especializadas no transporte de cargas cada vez mais necessitam se preparar para combater o crime organizado, montando em seu portfólio setores especiais, os quais envolvem tecnologia, software, operacional, área de estratégica, pronto atendimento, análise de risco patrimonial, segurança eletrônica, uso de drones, entre outras áreas e ferramentas que contribuem para a mitigação dos prejuízos, mapeando locais de riscos, regiões com maior índice de roubo, horários mais vulneráveis, mercadorias mais visadas. Importantíssimo ter uma ação imediata do poder público e privado para integrar informações de inteligência mediante tecnologia, para qualificar nosso poder de reação e prevenção de perdas. Desta forma, teremos um sistema mais coeso e eficaz, atuando de forma intensa e proativa, o qual repulsará e irá coagir a ação de quadrilhas e marginais

especializados em roubo de cargas. A erva daninha de todo este processo delituoso é o receptador, o qual precisa ser combatido para manter uma normalidade, sendo eles que realizam as encomendas das cargas especificas, distribuem para os compradores e alimentam um mercado corrupto e lucrativo. Por outro lado, identificar funcionários que são extremamente coniventes para que estas ações tenham êxito, os quais entregam as cargas e fazem parte deste círculo criminoso. Temos a esperança de êxito na redução destes roubos pelo “PACOTE ANTICRIME”, o qual foi entregue ao excelentíssimo presidente da república Sr. Jair Bolsonaro pelo Ministro da Justiça Sr. Sergio Moro, o qual foi assinado pelo presidente e seguirá para o Congresso Nacional que deverá ser votado e aprovado pelos deputados e senadores, onde estão relacionados os seguintes itens: - Mudança para garantir a prisão após julgamento em segunda instância;

- Previsão de cumprimento imediato de penas após tribunal do júri; - Excludente de ilicitude para policiais; - Medidas para endurecer o cumprimento da pena; - Possibilidade de enquadrar as milícias como organização criminosa; - Confisco alargado de bens, incluindo de terceiros do produto do crime; - Criação do Banco Nacional de Perfil Genético. Desta forma, unindo forças e endurecendo a lei, bem como alterando conceitos éticos e morais, temos uma boa possibilidade de mudarmos este triste cenário que estamos envolvidos e caminharemos rumo a um país mais sério, honesto e digno. A força de muitos rumo à mudança, aliada a ideologias e condutas retas, tem o poder de alavancar e prosperar uma nação. Sejamos então a mudança constante que desejamos deixar como legado aos nosso filhos, netos e gerações posteriores.


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Cabotagem representa menos riscos para o transporte de cargas

Aparecido Mendes Rocha insurance reviewer

O transporte de carga no extenso território brasileiro é um serviço fundamental na cadeia de produção e distribuição de bens industriais e agrícolas. São mercadorias transportadas para o abastecimento interno, mercadorias destinadas à exportação e mercadorias importadas, em trânsito, no percurso complementar à viagem internacional. Os sistemas viários são formados pela malha rodoviária, ferroviária, vias fluviais e aéreas. O modal rodoviário representa 60% de tudo que é transportado no país, porém, o ônus para a sua utilização é demasiadamente alto e, inexplicavelmente, o governo não investe na melhoria de outros setores de transportes, como o hidroviário e o ferroviário. A indústria brasileira identifica que há espaço para outros meios de transporte de carga, e uma opção, é a cabotagem, feita por navios numa rota exclusivamente dentro dos limites do território brasileiro, entre portos nacionais pelo litoral ou por vias fluviais. Além dos benefícios econômicos, o transporte de cabotagem releva o aspecto social, já que a maioria dos acidentes ocorridos nas rodovias brasileiras, com vítimas fatais, envolvem veículos de transporte de carga. O transporte de cabotagem desperta muito interesse do mercado segurador, que acredita que esse sistema seja uma alternativa para o equilíbrio das contas do seguro no ramo de transportes. Com o transporte hidroviário, espera-se redução da sinistralidade das apólices, que é medida considerando os prêmios recebidos e sinistros in-

denizados. O número de acidentes e incidentes envolvendo o transporte rodoviário é maior que os ocorridos nos demais modais, razão pela qual, as seguradoras são muito exigentes na avaliação e aceitação de seguro de transporte rodoviário. Para classificar um seguro de transporte, as seguradoras consideram um conjunto de fatores, como o tipo de mercadoria, a viagem, medidas de segurança, valores transportados, percurso e meio de transporte. A taxa do seguro para os riscos de transporte de cabotagem é inferior ao rodoviário, uma vez que os riscos são menores e praticamente concentrados nos percursos rodoviários iniciais e complementares à viagem por água. O seguro de transporte de cabotagem garante cobertura contra os riscos de causa externa, operações de carga e descarga, perdas e danos dos bens transportados em navios e embarcações. Estão cobertos também os riscos de naufrágio; encalhe; abalroação; colisão; explosão, incêndio, raio e suas consequências; ressaca e tempestade; mudança forçada de rota (arribada) e falta ao dever do capitão e tripulantes (barataria). O sistema hídrico brasileiro é privilegiado. São cerca de 22 mil km de rios navegáveis, uma extensa faixa litorânea e condições climáticas favoráveis. Diante dessas condições naturais, a cabotagem se apresenta como uma ótima solução para o transporte nacional e pode contribuir, em muito, para o desenvolvimento do setor. Para isso, basta apenas o país saber fazer uso desse regalo da natureza.



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Vamos falar sobre dinheiro?(Parte II)

Evanilda Rocha Diretora de empresa Dinheiro Inteligente, consultora financeira, coach e palestrante, especialista em Planejamento Financeiro Pessoal.

Mantenho aqui o convite para você continuar nos acompanhando nos próximos artigos desse nova série que iniciamos sobre dinheiro e riqueza. Conto com sua companhia! Um abraço e até a próxima CIST News!

Na edição nº 28 da CIST News demos início a uma nova série sobre dinheiro e riqueza, chamada “Vamos falar sobre dinheiro?”. E nesta edição avançamos em nossa abordagem do tema de extrema importância. Portanto, se você é uma pessoa que deseja crescer financeiramente, ter dinheiro investido e conquistar seus sonhos, permaneça aqui comigo! Vamos juntos? Apenas boa vontade e sonhos, infelizmente, não são suficientes para que nós nos tornemos pessoas bem sucedidas e ricas. Pessoas que têm uma boa saúde financeira possuem comportamentos e hábitos que os diferenciam do resto das pessoas. E conhecendo esses comportamentos e hábitos, que começarei a explicar aqui, você poderá implantá-los na sua vida a partir de hoje mesmo. Pessoas ricas assumem o compromisso de serem ricas. Experimente perguntar para pessoas do seu círculo de amizades se elas querem ser ricas. A maioria delas vai olhar para você e pensar que você é ou está ficando doido. E elas responderão: “Sim! É claro que sim!”. Mas querem saber a verdade? Quase todas elas não desejam enriquecer. Não? Por quê? Porque elas têm dentro da cabeça muitos arquivos negativos que dizem que há algo errado em ser rico. Vou explicar. Uma das perguntas que faço a clientes durante meus treinamentos é a seguinte: quais são algumas das possíveis desvantagens em ser rico ou tentar ser rico? Vou colocar aqui algumas das respostas que meus alunos me dão. - “E se eu me der bem e perder tudo? Aí serei realmente um fracassado.” - “Nunca vou saber se as pessoas gostam de mim por mim mesmo ou pelo meu dinheiro” - “Vou pagar muito imposto de renda.” - “Dá muito trabalho.” - “O esforço vai acabar com minha saúde.” - “Todo mundo vai me pedir uma ajudinha.” - “Eu poderia ser roubado.” - “Meus filhos poderiam ser sequestrados.” - “É uma responsabilidade muito grande. Terei que administrar rios de dinheiro”. Acontece que cada um de nós tem arquivos de riqueza dentro do armário chamado mente. Esses arquivos, dentro da cabeça, contêm as nossas crenças pessoais e uma delas é a de que ser rico é maravilhoso. No entanto, no caso de muita gente, nessas pastas estão também informações que dizem que ser rico talvez não seja tão espetacular assim. Ou seja, muitas pessoas têm mensagens internas contraditórias a respeito da riqueza. O principal motivo que impede a maioria das pessoas de conseguir o que quer é não saber o que quer. Os ricos não têm nenhuma dúvida de que desejam e muito a riqueza. Os ricos são inabaláveis no seu desejo e totalmente comprometidos com a criação da riqueza. Para enriquecer de verdade, você precisa ter essa ideia, esse desejo muito bem definido dentro da mente. Pessoas ricas são pessoas que vivem sem reclamar. Pessoas ricas sabem que é preciso valorizar tudo o que possuem e o que ainda irão conquistar. As pessoas ricas já perceberam que a vida sempre dá mais do mesmo. Quando você se queixa, no que você está se concentrando: naquilo que está certo ou no que está errado na sua vida? Certamente, está dando destaque justamente ao que está errado. E uma vez que aquilo que é focalizado, floresce, se expande. Se aquilo que é focalizado aumenta, você só receberá mais do que está indo mal. Muitos especialistas na área de desenvolvimento pessoal falam sobre a lei da atração. Essa lei diz que “os iguais se atraem” – isso quer dizer que, quando alguém reclama, está na realidade atraindo coisas ruins para sua própria vida. Por acaso você já reparou como costuma ser difícil a vida das pessoas que vivem reclamando? Parece que tudo o que pode dar errado acontece para essas pessoas. Pessoas que reclamam muitas vezes dizem: “É claro que eu reclamo – olha só como minha vida é uma droga.” Agora você já sabe a verdade e pode até dar uma ajudinha para essa pessoa explicando o que realmente acontece dizendo: é exatamente porque você se queixa que sua vida é uma droga. Esse é um ponto tão importante para melhora da vida como um todo, que vou passar aqui uma tarefa para você. Será uma grande oportunidade de mudar sua vida! Eu desafio você a não reclamar de nada durante os próximos dois dias. Isso mesmo, reclamação zero! E não apenas em voz alta, na sua cabeça também. Então, o desafio está lançado, 48 horas sem reclamar de nada! Você vai perceber que isso é importante para começar a enriquecer e ter muito mais sucesso!



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Onde, mesmo, começa a comunicação?

J. B. Oliveira Consultor de Empresas, é Advogado, Conselheiro Estadual da OAB- SP; Jornalista, Presidente da API (gestão 2006-09); Professor de Comunicação e Oratória; Escritor, autor de “Boas Dicas para Boas Falas”, “Mostrando a Língua”, “Falar Bem é Bem Fácil”, “Homens são de Marte, Mulheres são de Morte” e outros.

A essa pergunta, não faltará quem responda, singelamente: na boca! Para muitos é ai que nasce a comunicação. Basta abrir a boca, expelir o ar, modulando-o e pronto! A pessoa já está a falar... A falar, sim. A comunicar-se, não! Falar é ato espontâneo, solto, desassociado de responsabilidades como lógica, pertinência e coerência. Em situações especiais, pode até ser comunicação, se não houver necessidade de comprometimento mais sério com as palavras proferidas, como em um bate-papo ao estilo de “happy hour” – aqui na capital – ou “prosa de beira de fogueira”, no interior. Ou nos casos de paixão amorosa! Afinal, como há muito tempo alguém já disse: “O primeiro sintoma de amor é o último bom-senso!” (Por isso, para os mais românticos, a comunicação começa no coração!). Comunicação, para merecer esse nome, exige mais do que falar: demanda dizer! Que falar e dizer são coisas diferentes, a prática do dia a dia nos mostra. Em épocas de campanha política, é comum ouvir este comentário acerca de algum candidato: “Fulano de tal fala e fala, e não diz nada”! Em sua poesia, o próprio “rei” Roberto Carlos deixa clara a distinção entre os dois vocábulos: “Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer...” Aí estão presentes: a emoção, que fala, se exterioriza com facilidade fluidez; e a razão, que se interioriza, vai ao cérebro, e busca termos coerentes para se exprimir. O que ambos os verbos têm em comum é o berço, a área de articulação! No passado, seus pontos de origem eram considerados distintos e distantes: a razão teria por sede a mente, no alto da estrutura física do ser humano. Respondia pelas ações e decisões pensadas, raciocinadas. Em uma palavra: “cerebrinas”. A emoção – dona dos sentimentos, da sensibilidade e da percepção extra-sensorial – ocuparia um espaço mais abaixo, “no lado esquerdo do peito”, como canta Milton Nascimen-

to. Assim, portanto, era entendido o “Triângulo das Bermudas humano”: boca, mente e coração! A mente, lá em cima, raciocinava; o coração registrava as emoções e a boca verbalizava o resultado dessa operação! Só que não! A partir do surgimento e desenvolvimento das neurociências, em associação com a implantação de equipamentos de alta tecnologia computacional, como ressonância magnética e tomografia computadorizada, tornou-se possível aprofundar o estudo do cérebro humano. O resultado disso foi a constatação de que o coração estava, há séculos, “usurpando” uma função do cérebro, quando lhe competia apenas e tão-somente bombear o sangue para o organismo! Os anos 1960 foram marcantes nessa área, pelo surgimento da International Brain Research Orgnization, voltada à pesquisa e estudo da matéria. Dezesseis anos depois, em 1976, foi criada aqui a Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento, registrando o interesse entre nossos cientistas. Por volta de 1962, o neurobiologista e fisiologista Roger Sperry demonstrou que se localizam no cérebro tanto a razão quanto a emoção! Seu trabalho científico permitiu demonstrar a separação e identificação das funções dos hemisférios esquerdo e direito como hoje conhecemos: razão e emoção, respectivamente, acabando de vez com a “função emocional do coração”! O mundo científico atribuiu a ele o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1981. Inicialmente inserida no campo da Biologia, a neurociência hoje se classifica como ciência interdisciplinar, e colabora com ramos como Educação, Química, Ciência da Computação, Engenharia, Antropologia, Linguística, Medicina e disciplinas afins: Filosofia, Física, Psicologia e Comunicação! Ao analisar tudo isso, pode-se perceber quão grande é a responsabilidade de um comunicador. E se Chacrinha alertou: “Quem não se comunica se trumbica”, é prudente acrescentar: Às vezes, quem se comunica também!



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Transporte rodoviário: o desperdício

Samir Keedi Economista, consultor e professor da Aduaneiras e diversas universidades, e membro do comitê da ICC-Paris de revisão do atual Incoterms. e-mail: samirskeconsultoria@gmail.com

Há décadas defendemos que o rodoviário é o modo de transporte mais caro que existe. Acima do aéreo. A priori, ficam todos surpresos. A ideia geral é considerar o aéreo o mais caro. Enquanto sempre se considerou que havia apenas uma categoria de custos, era verdade. Começamos a disseminar a ideia que havia outra categoria de custos, que tornava o rodoviário o mais caro. Antes se considerava apenas o que chamamos de custos visíveis, quais sejam, custo do veículo, depreciação, manutenção, custos operacionais, estrutura, etc. Mas, há outra categoria de custo nunca considerada. De custos invisíveis. Estavam lá, mas não eram vistos e computados. Ou seja, um frete indireto sobre o produto, não considerado no preço de venda, pois pago antes da compra. Assentamos esses custos invisíveis do rodoviário em três pernas. Utilização de estradas e vias públicas em geral, sem pagamento pelo uso. Produtividade do trabalhador. Poluição ambiental. A primeira perna é a utilização de vias públicas, que o transporte rodoviário usa de terceiros. Bem diferente do ferroviário, que além de ter as locomotivas e vagões, tem a sua via férrea. Ou seja, transita no que é seu e tem custo direto. E ainda assim é mais barato que rodoviário. Ao se produzir uma mercadoria, se usa matéria prima, energia, mão de obra, estrutura, etc. Aí são incluídos impostos, lucros, custos de transporte, distribuição, etc. Quando essa mercadoria chega ao ponto de venda ao consumidor, ela já recebeu os mais diversos custos e é vendida por um preço “X”. Aí se considera esse preço de venda como o pago pelo consumidor por aquela mercadoria. Um engano. Como vimos, nenhum caminhoneiro é dono de estrada. Assim, anda na estrada do governo. O governo é o povo. Assim, ao se pagar um preço “X” pela mercadoria, ele não é o preço total, pois, antes, já se pagou impostos e os governos construíram as estradas. Fora a manutenção. No qual os veículos andaram e quase nada pagaram por elas. Aqui nos permitimos um aparte, para não considerar os custos dos pedágios, embora caros. Pela simples razão de que temos no país cerca de 1,7 milhão de quilômetros de estradas. E “apenas” 21.000 são pedagiadas, pouco mais de 1%. Assim, não podemos considerar uma quantidade “tão pe-

quena” como relevante. Isso ocorrerá quando 20-30% das estradas o forem. Aí não se poderá mais construir qualquer veículo rodoviário por inviabilidade econômica no transporte. Assim, já vimos que o preço final do produto não é o pago pelo consumidor. Ele já pagou parte antes. E temos a segunda perna, a poluição, que é mais um custo invisível. O rodoviário é o modo mais poluente. E quem paga o “conserto” do meio ambiente é a sociedade e não os transportadores. A terceira perna é a produtividade do trabalhador. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, trabalhadores perdem no trânsito, facilmente, 3-4 horas por dia. Qual a produtividade do trabalhador que saiu de casa antes do sol e chegou depois dele se pôr, não brincou com o filho? Qual a produtividade do que saiu depois do sol, chegou antes dele se pôr, brincou com o filho, tomou aquela cervejinha com os amigos? A mesma? Claro que não. Quanto o país perde com isso? E sabemos que a produtividade do trabalhador brasileiro é até quatro vezes menor que a do norte-americano. Está claro que o preço da mercadoria pago pelo consumidor é muito maior do que aquele preço da prateleira. Em 2014 a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro fez um estudo mostrando que o país perdia R$ 98 bilhões por ano, 2% do produto Interno Bruto pelo uso do rodoviário apenas nas cidades de São Paulo e rio de Janeiro. Mas, isso faz do transporte rodoviário um modo ruim? Claro que não. Costumamos defende-lo como o melhor que existe. Somente ele pode fazer quase tudo sozinho, sem depender de outros modos. Com ele se pode fazer transporte para quase todo o mundo. E todos os demais dependem dele. Assim, o problema não é o transporte rodoviário, mas, o uso que fazemos dele. Cruzamos o país de norte a sul, de leste a oeste transportando carga por ele. E ele é um veículo adequado para distribuição de carga, pequenos trajetos, auxiliar dos demais modos que quase nada representam sem ele. Assim, precisamos mudar o uso desse veículo, e a nossa matriz de transporte, hoje talvez a pior da Via Láctea. Precisamos de mais logística, por mais trivial que seja, com a utilização da intermodalidade, e menos transporte direto com o rodoviário. Acorda Brasil!



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