Capítulo 1 A infância e a descoberta da dança
O
que uma menina negra, no século XX, nascida de uma família sem recursos, poderia esperar para o seu futuro? Muito pouco, além de dar continuidade à saga de pobreza da família e se contentar em ser empregada doméstica, cozinheira ou costureira. Eram essas as perspectivas que o destino apresentava para Mercedes Baptista. Nasceu em Campos,1 filha de João Baptista Ribeiro e Maria Ignácia da Silva. De sua infância pouco se sabe, apenas que sua mãe era uma costureira na cidade e que não vivia com o pai. Dentre as poucas lembranças dessa fase de criança, Mercedes diz que sua diversão predileta era subir em árvores: “Não havia uma árvore em Campos que fosse difícil para subir, trepava em qualquer uma e com uma rapidez maior do que qualquer moleque”. Com o intuito de oferecer uma oportunidade melhor para a filha, Maria Ignácia mudouse para a Capital Federal. O ano de chegada também é impreciso. Veio para trabalhar como empregada doméstica em casa de família, no Grajaú. Assim, pôde matricular Mercedes no Colégio Municipal Homem de Mello, na Tijuca. Era o início de uma nova fase na vida de Mercedes. No Rio de Janeiro, a nova escola permitiu-a conhecer diversas pessoas e vislumbrar novos horizontes. Nesse período, começou a assistir alguns filmes no cinema. Era o momento em que Shirley Temple e Judy Garland (1922-1969) encantavam o mundo; consideradas como grandes estrelas mirins, serviam como mo-delo para meninas que queriam ser artistas. Assim, nasceu o grande sonho de Mercedes: ser famosa. Como suas musas inspiradoras, queria ser artista, aparecer nos cinemas, ser vista por muitas pessoas. Contudo, passou despercebido, para a jovem sonhadora, o tom da pele de suas estrelas. Talvez Mercedes ainda fosse muito jovem para perceber a diferença que essas pequenas sutilezas poderiam provocar. O importante era dar asas ao sonho, pensou em ser cantora,