Revista dance in festival

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Revista

ANO l -N°2-MAI / JUN 2013

Dance in

Festival

COMPANHIA DEBORAH COLKER 20 ANOS DE SUCESSO CIA.NÓS DA DANÇA AUTORRETRATO DANIEL LACK QUANDO O CORPO FALA POR SI SÓ REGINA SAUER FALA DOS 32 ANOS DE GRUPO

FOTO SHEILA GUIMARÃES

F E S T I VA L

O Boticário na Dança


Espero que curte! Sheila Guimarães Diretora de redação

Índice

editorial

F

oi um mês agitado e muito feliz, para nós da redação. Graças a Deus, temos uma equipe enxuta, mas muito competente. Começamos os trabalhos com os quatro dias do Festival O Boticário na Dança e, logo em seguida, cobrimos o início da turnê comemorativa dos 20 anos da Companhia de Dança Deborah Colker. E, para continuar na vibe festeira, fomos também à estreia de Autorretrato, da Companhia Nós da Dança, de Regina Sauer, que marca os 32 anos do grupo. Ufá!!! Foi cansativo, mas valeu a pena. Assistimos e registramos para você belíssimos espetáculos. Está tudo nesta edição.

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Cia. Deborah Colker 20 anos de sucesso Autorretrato Cia. Nós da Dança Entrevista Regina Sauer 32 anos de Cia......pág.08 Na arte de dançar por Fábio Matheus........pág.16 Perfil Daniel Lack

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Festival O Boticário na Dança Saúde & Bem-estar.....pág.10

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Agenda dos festivais.......pág.34

Cartas Parabéns, Sheila Guimarães e toda a equipe da revista DANCE IN FESTIVAL pelo excelente trabalho! Adorei as notícias, entrevistas e todo o conteúdo que nos traz informações sobre o mundo da dança. Sucesso e boa sorte!!! Natalia Mastrange Que bom, Natalia, que você gostou. Estamos trabalhando duro para melhorarmos a cada edição. Obrigada pelo carinho. Beijos!

Parabéns pela revista, Sheila. Adorei! A dança precisa de pessoas incentivadoras como você. Arrasou pela iniciativa. Sucesso total! Beijos! Bianca Martins Obrigada, Bianca. Se depender de mim, a dança e os dançarinos brasileiros ganharão mais e mais espaço. Eles merecem! Beijos para você também!

Adoro!!! A revista DANCE IN FESTIVAL está de parabéns pela maneira impecável e digna que vocês estão tratando a dança. Sejam muito bem-vindos! Marcus Zouter Oi, Marcus! Ficamos muito felizes com a sua mensagem. Sinal de que estamos no caminho certo, pois é justamente esse o nosso objetivo: tratar a dança com a diginidade que a área merece. Abraços!



Cia. Deborah Colker

20 anos de sucesso Companhia comemora duas décadas com a remontagem de três espetáculos

te dos três escolhidos, teve sua estreia em 2011, e marcou uma mudança no rumo da companhia. É que este foi o primeiro espetáculo assinado por Deborah Colker baseado em uma história preexistente – o clássico russo Evguêni Oniéguin (1832), de Aleksandr Puchkin. Ao combinar elementos de dança clássica e contemporânea, ainda influenciou a rotina dos 18 bailarinos da companhia. “Hoje, nós temos cinco aulas por semana de dança contemporânea e cinco de balé clássico”, conta a coreógrafa, que remontou Tatyana na Cidade das Artes, entre 16 e 19 de maio. O terceiro espetáculo, Nó, de 2005, também simboliza uma virada. “Comecei a me Foto Sheila Guimarães

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implicidade e inventividade. Estas são as marcas da Companhia de Dança Débora Colker, que este ano comemora 20 anos em atividade. Mas quem foi presenteado foi o público, que ganhou a oportunidade de rever três importantes trabalhos do grupo: Velox, Tatyana e Nó. Velox foi encenado pela primeira vez em 1996, no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, para onde voltou, entre os dias 10 e 12 de maio desde ano, quando ganhou sua primeira remontagem na íntegra. O espetáculo abriu a turnê comemorativa, que passará por quatro cidades da América do Sul. Tatyana, o balé mais recen-

preocupar não só com a dança, mas a me perguntar quem é o sujeito que dança”, explica Deborah Colker. O resultado não poderia ter sido melhor. Nó foi o primeiro trabalho da coreógrafa a estrear no exterior, em Wolsburg, na Alemanha. E sua remontagem já está confirmada: será no Teatro João Caetano, no Rio, de 3 a 19 de outubro deste ano. E as comemorações não pararão aí. Para marcar os 20 anos da companhia, ainda serão lançados dois livros. O primeiro, previsto para outubro, será escrito pelo ensaísta Francisco Bosco e amplamente ilustrado. E o segundo, sem previsão de lançamento, uma espécie de diário de bordo de Deborah Colker, trará as suas impressões sobre a trajetória da companhia. E a coreógrafa já prepara o seu próximo espetáculo, Belle du jour, inspirado no livro do argentino Joseph Kessel e que ganhou versão cinematográfica pelas mãos de Luis Bruñuel (A Bela da Tarde), deverá estrear em 2014. O que podemos esperar? “Não sei como classificar um espetáculo meu hoje. Quero, como sempre quis, dar um passo novo, diferente, a cada espetáculo”, responde Deborah. Mas, com certeza, tem tudo para ser mais um sucesso.

Deborah posa após sua apresentação em Tatyana na Cidade das artes


TATYANA

Foto divulgação Flavio Colker


Cia. Nós da Dança Grupo faz um mergulho em sua própria trajetória no espetáculo Autorretrato, que marca seus 32 anos de atividade Fotos Sheila Guimarães

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Cia. Nós da Dança inova mais uma vez e, para comemorar seus 32 anos, leva aos palcos o espetáculo Autorretrato. E, como o nome já diz, usa como referência a própria experiência como base. Sob a direção artística e coreográfica de Regina Sauer, o novo trabalho constrói a autoimagem da companhia a partir de sonhos, projeções e perspectivas de seus integrantes. “O corpo que dança, que expressa o infinito é o mesmo que percebe e impõe os limites, definindo contornos e espaços possíveis ao expressar o universo de cada um e as relações estabelecidas consigo mesmo e com o grupo”, explica Regina. Autorretrato, que é o 22º espetáculo da companhia, foi concebido há um ano por Regina, mas sua construção contou com a participação dos 12 integrantes do Nós da Dança. “Buscamos refletir um pouco de cada um. Desde a produção musical, criação de textos autobiográficos e elaboração de roteiro”, conta a coreógrafa e diretora da companhia. O resultado foi aprovado já nas primeiras apresentações, que aconteceram no Centro Cultural Banco do Brasil-Rio, de 17 de maio a 2 de junho. Mas quem perdeu ainda tem chance de assistir a esse belíssimo trabalho, que passará pela Arena Carioca Jovelina Peróla Negra, a Arena Carioca Dicró, o Teatro Municipal Angel Viana e pelo Teatro Municipal de Niterói. E o melhor: a preços populares!


AUTORRETRATO – ONDE ASSISTIR Arena Carioca Dicró. Parque Ary Barroso, s/n, Penha, Rio. Tel.: (21) 3486-7643 - Sexta, às 20h (gratuito); sábado, às 20h; domingo, às 19h (R$ 1,00) - De 21 a 23/06. Teatro Municipal Angel Vianna – Centro Coreográfico do Rio de Janeiro. Rua José Higino, 115, Tijuca, Rio. Tel.: (21) 3238-0601 / 3238-0601 -Sexta e sábado, às 20h; e domingos, às 18h. - R$ 20,00 e R$ 10,00 - De 28/06 a 07/07. Teatro Municipal de Niterói. Rua Quinze de Novembro, 35, Centro, Niterói. Tel.: (21) 2620-1624 - Sextas e sábado, às 20h, e domingo, às 18h. - R$ 30,00 e R$ 15,00. - De 30/8 a 01/09.

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Entrevista

Regina posa momentos antes da apresentação com a sua Cia.

“O conceito de que a dança é elitista está ultrapassado” Regina Sauer não vê dificuldades para quem realmente deseja se profissionalizar na área. E fala com conhecimento de causa. Afinal, são 32 anos à frente da Cia. Nós da Dança Por Heloiza Gomes Fotos Sheila Guimarães

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ara falar da trajetória de Regina Sauer, precisaríamos de uma revista especial. Ainda assim, talvez, fosse pouco. A coreógrafa, que dança desde 18 anos e é especializada em Dança Moderna e Jazz, está à frente da Cia. Nós da Dança, desde sua fundação, em 1981. E só isso já seria material suficiente para dá um livro. Junte a essa experiência, o vasto currículo de Regina, que inclui coreografias para a TV Globo (Fantástico, Criança Esperança, Sandy e Júnior e novelas), escolas de samba (Salgueiro, Mangueira, Grande Rio, Porto da Pedra e Imperatriz), participações como jurada em diversos festivais, curadoria e produção de eventos ligados à área. Nessa entrevista, feita por e-mail, Regina Sauer fala da concepção do espetáculo Autorretrato, em cartaz no Rio, dos 32 anos da companhia e aproveita para desconstruir o mito para quem a dança ainda é uma atividade elitista. “Há muitas oportunidade para quem quer fazer dança se tornar profissional e não pode pagar”, afirma, do alto de sua larga experiência.


Regina Sauer Como surgiu a ideia do espetáculo Autorretrato? Desde que a Companhia Nós da Dança completou 30 anos de atividade, queríamos fazer um espetáculo que contasse a nossa história. A oportunidade surgiu quando ganhamos o Prêmio Fundo de Apoio à Dança – FADA 2012, da Prefeitura do Rio de Janeiro e da Secretaria Municipal de Cultura. Começamos os laboratórios e pesquisas em agosto de 2012. Foi um trabalho concebido por todos os integrantes da companhia e desenvolvemos juntos roteiro, trilha sonora, textos autobiográficos e construção coreográfica. Há algum risco de um espectador “novato”, ou seja, que nunca tenha visto um espetáculo da companhia, se sentir perdido? Quem conhece nossa história e os bailarinos vai entender e se identificar mais com os temas e textos, pois cada bailarino fala de sua personalidade, seus gostos, seus sonhos. Mas quem nunca viu um espetáculo da companhia também vai se envolver, primeiramente pelo lindo visual estético e pela sensibilidade, depois porque os assuntos são comuns a todas as pessoas, como cortar laços que nos prendem, dores que carregamos, a agitação da vida moderna e a luta para manter o peso. É possível destacar um espetáculo nesses 32 anos de atividade, aquele considerado um divisor de águas? Vários espetáculos são inesquecíveis, como o Rio in Consert, o primeiro da Cia Nós da Dança, em 1981, que mostrava um dia no Rio de Janeiro. Em 1985, a companhia, com o patrocínio da Shell, realizou o espetáculo João Joana sobre um cordel de Carlos Drummond de Andrade e músicas compostas especialmente por Sérgio Ricardo. Em 2001, Violência e Paixão teve uma carreira

imensa, representando o Brasil no Festival Internacional de Dança de Miami, com muito sucesso de público e crítica. Em 2006, com o apoio do prêmio Klaus Vianna, o Telas travava um diálogo entre as artes plástica e a dança. Estes são alguns dos espetáculos realizados por mim para a CND. A atividade cultural, de um modo geral, enfrenta muitas dificuldades para sobreviver no Brasil. Qual o segredo para se manter uma companhia de dança por 32 anos? O segredo é gostar de trabalhar, acreditar que a dança é uma forma expressiva que atinge a todos, independentemente da idade, da língua e do nível social. É uma linguagem universal. Importante também é a cumplicidade de todos os integrantes da companhia, que acreditam no trabalho desenvolvido e comungam do mesmo pensar sobre a dança. Os bailarinos/dançarinos brasileiros costumam reclamar da falta de incentivo, tanto de órgãos governamentais quanto da iniciativa privada. Você faz coro com esta reclamação? Sim, acredito que faltam políticas públicas para a dança. Também penso que a companhia Nós da Dança, em atividade há 32, a mais antiga do Rio e de reconhecido trabalho, deveríamos ter um espaço especial nessas políticas. Entrevistando bailarinos amadores, notei que todos reclamam muito do alto custo dos produtos da área. Fica-se com impressão que dançar – balé, principalmente – é uma atividade para quem tem dinheiro e que a dança é algo elitista. Até onde isso é verdade? E que conselho daria para os jovens, sem recursos financeiros, que desejam entrar no mundo da dança? Acho que o conceito de que a dança é elitista está ultrapassado. 9 Dance in Festival

Acredito que a dança é como o futebol, no que se refere a inclusão de pessoas de baixa renda e sua ascensão social. Hoje, vemos muitos projetos sociais com aulas de dança gratuitas. Todas as escolas de dança oferecem bolsas. O estado tem uma escola de danças clássicas gratuita. Portanto, há muitas oportunidade para quem quer fazer dança se tornar profissional e não pode pagar. No repertório da Cia. Nós da Dança, há muitos trabalhos inspirados em autores brasileiros, como o compositor Cartola. Esta opção é uma tentativa de popularizar a dança, aproximando-a de um público que não tem intimidade com o universo da dança? Gostamos de trabalhar sobre temas brasileiros, porque são a nossa realidade e achamos importante que estes temas tenham maior repercussão, chegando com mais abrangência a um público maior. Você também é produtora, curadora e jurada de festivais. Qual a importância desses eventos para área e para quem está começando? A importância é manter aquecido um mercado, proporcionando aos profissionais e aos alunos, a oportunidades de exercitar o aprendizado e a troca de informações estando em cena. Quais serão os seus próximos projetos? Dar continuidade ao espetáculo Autorretrato, levando-o a outras cidades do país, conseguir viabilizar a ida da Companhia ao Battery Dance Festival em Nova York, que há três anos somos convidados, e a projeção do novo espetáculo já em mente. Continuar desenvolvendo o trabalho pedagógico e artístico no Centro de Artes Nós da Dança, que, além de celeiro para a companhia Nós da Dança, inclui bailarinos em vários setores, como musicais e TV.


Saúde & Bem-estar

Pés

saudáveis e belos Nos cuidados com a saúde, os pés não podem ficar de fora. Ainda mais para quem é bailarino, já que eles são seu instrumento de trabalho. Portanto, não basta fazer as unhas na manicure toda semana – prática que é muito bem-vinda, mas não é suficiente. Por isso, a revista DANCE IN FESTIVAL selecionou cinco dicas para você manter seus pés lindos e saudáveis. 1. Mantenha-os sempre hidratados Pés ressecados podem resultar em rachaduras, que facilitam a entrada de bactérias. O uso diário de creme hidratante os protege. Mas prefira os cremes que contenham lanolina e vaselina. 2. Atenção aos sapatos usados Sapatos inadequados podem dar calos, bolhas e manchas avermelhadas. Por isso, antes

de comprar calçados, consulte um fisioterapeuta ou um preparador físico para saber qual é o seu tipo de pé e de pisada. É isso que determinará o sapato adequado para você. 3. Use sapatos flexíveis Prefira os calçados flexíveis, pois os de borracha dura e solados rígidos podem causar problemas. 4. Use amortecedor para caminhadas e corridas

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O tênis para essas atividades deve ser flexível, confortável e ter amortecedor, para amenizar o impacto que o corpo sofre durante esses exercícios. No entanto, o amortecedor não pode ser muito grande – o ideal é que tenha de 2 a 3 cm de altura. 5. Ande mais descalço Essa prática mantém os músculos ativos, as articulações móveis e as juntas saudáveis.



Perfil

Quando o corpo fala por si só

Daniel Lack só tem um objetivo: trabalhar para que a dança sempre faça parte da sua vida. E está indo muito bem em seu propósito


Daniel Lack Por Heloiza Gomes Fotos Sheila Guimarães

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le tem 26 anos de idade e começou a dançar há apenas oito. Um início tardio, como todo bailarino sabe. Mas isso não foi empecilho para Daniel Lack, da Cia. Dançar a Vida, da Petite Danse. O bailarino já participou e ganhou vários festivais. Por isso, não é à toa que o rapaz não tem dificuldade em apontar qual a sua maior alegria nesse tempo de carreira. “É ter conquistado em tão pouco tempo tudo que já realizei”, diz Daniel, que já teve de enfrentar muitos “nãos”. “Só que isso e renúncias fazem parte da formação de um bailarino”, pondera. O início foi despretensioso. “Comecei dançando na igreja, foi quando uma amiga, que também dançava, viu que eu tinha potencial e me convidou para fazer aula no Studio de Dança Com-Passos”, relembra. A partir daí, a vida de Daniel mudou. Hoje, ele trabalha na Cia Dançar a Vida e é um completo apaixonado pela área. “A dança me transporta para uma atmosfera de prazer, longe do caótico, me desliga de tudo e permite que meu corpo fale por si só”, diz. O amor é tanto que ele tem certeza que nasceu para isso. E a forma como descreve

o ato de dançar não deixa dúvida: “É como um sonho que você se permite, é liberdade! Ter meu momento num palco, onde ninguém pode interferir, sentir a energia de um bom aplauso, ou não! Ter a sensação de dever cumprido! Viajar por mundos que não são seus, mas são!”

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Mais que uma carreira, uma missão Daniel diz saber que tem outras aptidões e tem certeza de que poderia estudar e construir uma carreira em qualquer outra área. Mas não quer. Seu sonho é se estabilizar numa companhia renomada. “Trabalhando para que a dança não seja extinta em minha vida”, afirma. Para isso, o bailarino segue uma disciplina rigorosa. “Minha rotina de ensaio é bem intensa, trabalho de segunda a sábado, apoiado com a boa estrutura que possui a Petite Danse, malho, ensaio, faço aulas de pilates, ballet e contemporâneo!”, revela o bailarino que se espelha em Mayara Magri. “Pude trabalhar e vivenciar dias de trabalho com essa bailarina. Aprendi com ela o real sentido de humildade, trabalho e dedicação!”, explica. Perguntado como se vê no futuro, Daniel não deixa por menos. “Me vejo como coreógrafo, ensaiador e professor”, responde, sem titubear. Mas até lá ainda deve participar de muitos festivais, já que os considera fundamentais para a vida de um bailarino e para difusão da dança. “Neles, temos a oportunidade de ganhar experiência de palco, ter diversas referências de outros trabalhos, o que permite as escolas e seus diretores avaliarem o seu próprio!”, justifica. 14

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Daniel Lack em ensaio fotogrรกfico na Lagoa Rodrigo de Freitas


Na arte de dançar por Fábio Matheus

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Reformulação do ensino de ballet clássico a partir da observação da vida e da própria dança!

lunas que não me veem há muito tempo, veem uma mudança, um progresso no meu ensino. E por que isso acontece? Por causa da atenção fixa dedicada aos espetáculos da nova era. Pois na vida, por todos os lados, tudo cresce, tudo se movimenta para frente. Por isso, recomendo... observar a vida e a arte” (Agripina Vaganova)

Apesar de seu talento como bailarina, Vaganova era de alguma forma ofuscada pelos seus contemporâneos. Por não ser considerada bela como os outros artistas, não ter amigos ricos ou de grande influência, seu reconhecimento como primeira bailarina só ocorreu um ano antes de sua aposentadoria. Por não receber o louvor que era merecedora, ela se tornou ainda mais crítica para consigo mesma e, por consequência, procurou melhorar a sua dança e seus métodos de ensino, que culminou na criação do seu próprio método de ensino de ballet clássico! Observando a vida, o comportamento humano (principalmente o dos bailarinos em salas de aula e ensaios) e, em alguns casos, até o comportamento de determinados animais, Vaganova redirecionou a posição e direção que alguns movimentos eram executados, reorganizou a dinâmica de outros, simplificou as direções e posições da cabeça e deu mais maleabilidade aos braços e tronco. “Se não andamos de lado, por que realizar os giros feitos na diagonal do palco ou em manege de lado?”, questionou a mestra. Para ilustrar essa reformulação no sistema russo de ensino de bal-

let clássico, vamos exemplificar essa evolução. O piquet en tournant foi um dos passos que sofreu mudanças. Antes da reformulação da escola russa feita por Vaganova, ele era aprendido de lado, na diagonal. Com a mudança, passou a ser feito de frente para a diagonal. Sua preparação continua croisé, mas sua execução é feita com a perna estendida na frente do corpo, e o corpo totalmente voltado para a direção que o piquet en tournant será executado. O pas de chat também sofreu alterações em relação a sua direção. Anteriormente, era executado para o lado. Mas, observando que nem o próprio gato o faz de lado, na metodologia russa, ele passou a ser um passo que se desloca para frente e de frente para onde o corpo do bailarino está direcionado. Já as posições de braços, que antes eram cinco, com uma posição preparatória, Vaganova as simplificou, reduzindo-as a apenas três, com uma posição preparatória. E os arabesques, que anteriormente eram os mais variados, passaram a ser quatro, sendo dois effacées (primeiro e segundo arabesques) e dois croisées (terceiro e quarto arabesques). As posições de cabeça, que tinham características das escolas italiana e francesa, passaram a assumir um caráter diferenciado. Baseada em suas próprias observações, Vaganova concluiu que o rosto e o foco do olhar devem estar sempre na direção do público, pois, dessa forma, os bailarinos podem ser vistos em um ângulo mais favorável, onde o pescoço fica mais alongado e melhor alinhado com a pose como um todo. Quando os alunos estão no centro da sala executando os exercícios pe-

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didos, ao prestar-se a devida atenção à colocação do corpo e da cabeça nas posições croisée, effacée e écarttée, tanto de frente como de trás, logo se entenderá o porquê de Vaganova ter adotado em sua metodologia a cabeça que ora é levemente inclinada para trás, como se estivesse posicionada por cima do ombro, ou levemente inclinada para frente, com o foco do olhar na palma da mão. A permanência da cabeça voltada para frente é facilmente entendida quando os alunos estão en face. Nada passava despercebido aos olhos atentos de Vaganova. O pulo do gato, as asas do cisne, o movimento das pernas do cavalo, o voo das aves, a forma como andamos, pulamos e corremos, enfim, tudo era percebido, estudado, planejado e aplicado por ela. A mestra sempre orientava os professores a estarem atentos ao posicionamento das mãos, cotovelos e ombros. E estes jamais deveriam estar levantados, comprometendo a mobilidade do pescoço, fechados em demasia ou abertos demais, causando ou facilitando lordose, nem muito rígidos ou muito soltos. Só mesmo um gênio à frente de seu tempo e com uma extraordinária capacidade de percepção seria capaz de propor mudanças tão significativas que revolucionaram a arte de ensino do ballet clássico no mundo! Por hoje ficamos por aqui! Até a próxima! Abreijos! *Fábio Matheus é membro da Varna Foundation e pedagogo de ballet clássico



Capa

Festival O boticรกrio na Danรงa


Festival com toque internacional Fotos Sheila Guimarães

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país ganhou mais um evento de dança. De 4 a 8 de maio, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro abrigou a primeira edição do Festival O Boticário de Dança, que reuniu sete renomadas companhias, internacionais e nacionais. E quase que simultaneamente houve apresentações também em São Paulo (no Auditório Ibirapuera, de 1º a 6/5) e Curitiba (no Teatro Guaíra, de 7 a 9/5). Pelo Rio, única cidade a receber a programação completa, passaram a novaiorquina Shen Wei Dance Arts, o Grupo de Rua de Niterói, a goiana Quasar, a mineira Mimulus, a inglesa Hofesh Shechter, a Peeping Tom, de Bruxelas, e o esloveno Ballet Maribor – as três últimas se apresentando pela primeira vez na América Latina. E, na programação, os melhor do repertório de cada uma. A Shei Wei Dance Arts apresentou o espetáculo Folding e Rite of Spring (A Sagração da Primavera); a Hofesh Shechter, Political Mother, considerado o melhor espetáculo de dança criado no Reino Unido nos últimos 12 anos; a Peeping Tom, 32 Rue Vandenbranden (com a brasileira Maria Carolina Vieira no elenco); o Ballet Maribor, Radio and Juliet, montagem feita em homenagem à banda inglesa de rock Radiohead, baseada no clássico de William Shekespeare; o Quasar, No Singular. Já as brasileiros Mimulus e o Grupo de Rua de Niterói levaram aos palcos suas especialidades. O primeiro, uma apresentação de dança de salão, e o segundo misturou hip hop com dança contemporânea. Quem não foi não sabe o que perdeu. Sucesso total!


SHEN WEI DANCE ARTS


PEEPING TOM

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HOFESH SHECHTER COMPANY


MARIBOR BALLET


QUASAR CIA DE DANÇA

MIMULUS CIA DE DANÇA

GRUPO DE RUA



Notícias

Dance in Festival Famosos aplaudem novo evento de dança O primeiro Festival O Boticário de Dança não reuniu estrelas apenas no palco. Na plateia do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, chamava a atenção a quantidade de celebridades que foram prestigiar o evento, que contou com sete companhias, entre brasileiras e internacionais. Os atores Renata Sorrah, Marieta Severo, Déborah Evelyn, Chico Diaz, Christiane Torloni, Letícia Sabatella e a cantora Fernanda Abreu foram alguns que aplaudiram o evento, que misturou dança contemporânea, neoclássica, de rua, de salão, moderna e jazz.

Ana Botafogo e o bailarino Marcelo Misalidis

Louise Cardoso

Cheyla Costa curadora do festival e Carla Camurati,presidente do theatro municipal do Rio de Janeiro

Tatyana Lescova e Nora Esteves


Dance in Festival

NotĂ­cias

Chico Diaz e Renata Sorrah

Christiane Torloni

Marieta Severo

Beth Gofman

LetĂ­cia Sabatella

Fernanda Abreu Carolina Kasting

Deborah Evelyn


Notícias

Dance in Festival Festival O Boticário na Dança

Coreógrafo,Renato Vieira

Angel Vianna

AlexNeoral,coreógrafo

Carlinhos de Jesus

Pedro Pires,diretor da Cia. de Dança de Niterói



Publieditorial

Escola de Dança Santa Bárbara: 10 anos de amor à arte! Parece que foi ontem, mas já se vão dez anos. É este o tempo em atividade da Escola de Dança Santa Bárbara. E o aniversário redondo, claro, não poderia passar em branco, não é mesmo? Pois foi com uma grande festa que a data foi comemorada, no dia 26 de abril, na casa de festas Rei do Gado, em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro. O evento teve a presença de todos os professores e alunos da instituição, além de personalidades do mundo da dança, ex-funcionários e ex-alunos. Para a diretora e proprietária da escola, Patrícia Stevez,foi uma noite de muita emoção. Como comprova o depoimento da mesma, publicado abaixo. Com a palavra, a mestra!

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alar sobre a história da Escola de Dança Santa Bárbara é algo bem marcante, já que a mesma é fruto de muito trabalho, dedicação e comprometimento, não só meu, mas de todo corpo profissional, alunos, responsáveis e colaboradores que a cercam. Mais importante ainda é ressaltar que nossa escola foi e sempre será um lugar prazeroso e privilegiado para todos aqueles que buscam a arte da dança. Sinto-me muito feliz e realizada ao ver alunos, que passaram por nossa escola, hoje formados, atuantes em nossa unidade como profissionais, e outros, fazendo da dança a profissão almejada, seja atuando em musicais ou fazendo parte de companhias. Fico ainda mais feliz, quando olho o universo da Escola e observo a importância que tem para muitas pessoas! Perceber o primeiro contato da criança com a arte é uma experiência indescritível! Foram anos de luta, desafios, obstáculos, mas com sabor de vitória, troféus, encontros, amizades verdadeiras, reconhecimento e muito mais... crescimento! Eu só tenho a agradecer a Deus e a todos que fazem parte da família EDSB, por esse momento maravilhoso, o de festejarmos juntos os dez anos dessa linda trajetória! Muito Obrigada! Patrícia Stevez

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Artesanato

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em alta

nir artesanato, saúde e negócios. Esta foi a proposta da 7ª edição da Rio Artes Manuais, realizada de 3 a 7 de abril, no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio de Janeiro. E o objetivo se cumpriu com sucesso. Em cinco dias, o espaço recebeu 17.862 visitantes, que, além de conhecer o trabalho dos artesões do Brasil todo, ainda puderam contar com diversos serviços. No estande Ateliê Rio Artes Manuais, foram oferecidas 20 mil vagas em oficinas. Realizadas diariamente, cada aula recebeu cerca de 50 alunos. Mas o público que não conseguiu vaga também pôde aproveitar da oportunidade, já que as aulas foram transmitidas simultaneamente em um telão. Na praça do Bem Estar, os visitantes ainda puderam usufruir de serviços de saúde gratuitamente, como massagens, exames de medição de pressão e glicose. E para quem estava interessado em dicas de negócios... A parada obrigatória foi no estande do Sebrae, onde foram apresentadas palestras sobre o mercado de artesanato. O evento, realizado pela Caçula Artesanato, teve um resultado tão bom que já foi anunciada a sua próxima edição: de 19 a 23 de março de 2014. Anote na agenda. 33

Dance in Festival


Agenda DATA 8e9

AGENDA DOS FESTIVAIS CIDADE -UF

FESTIVAL

CONTATO

JUNHO

08 e 09

FEST DANCE DE INVERNO DARCY DUTRA PORTO

Rio de Janeiro-RJ

( 21) 7638-0535

08 e 09

DANCE IN RIO

Riode janeiro - RJ

(21) 7535-0794

15 e 16

FESTIVAL DA BARRA

Rio de Janeiro - RJ

(21) 3433-0226

Rio dejaneiro - RJ

(21) 2289-1542

JULHO 04,05,06 e 07 27 e 28

COM-PASSOS DANCE IN MINAS

Belo horizonte - MG

AGOSTO 03 e 04

DANCE IN RECIFE

Recife - PE

(21) 7535-0794

São Gonçalo - RJ

(21) 9519-0259

OUTUBRO 27 e 28

FEST DANCE

Divulgue aqui o seu festival E-mail : revistadanceinfestival@gmail.com

ANO 1 -Nº2 - EDIÇÃO: MAIO/JUNHO 2013 A Revista DANCE IN FESTIVAL é uma publicação bimestral editada pela EDITORA MANUAL LTDA Diretora de redação Sheila Guimarães Editora Heloiza Gomes Colaborador Fàbio Matheus Diagramação Carla Vaz Fotografia Sheila Guimarães Diretora Comercial Lenny Guimarães Publicidade Horácio P.Soares

EDITORA MANUAL não se responsabiliza pela opinião dos entrevistados,ou pelo conteúdo dos artigos assinados e anúncios publicados, que não expressam necessáriamente a opinião da editora. A reprodução total ou imparcial das matérias só será permitida após prévia autorização da editora.

Correspondência: Av. Rainha Elizabeth da Bélgica,540 - 202 Ipanema - Rio de Janeiro - RJ CEP 2081 - 032 Tels: 21 2247-9368/21 9612-5869 /21 9646 0720 Email: revistadanceinfestival@gmail.com




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