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VITOR mazon,
VENCEDOR DO PRÊMIO GARIMPO DASARTES 2023 PELO VOTO POPULAR, O ARTISTA VICTOR MAZON PRODUZ FOTOGRAFIAS DE PAISAGEM QUE SE APROPRIAM DE ELEMENTOS DESCARTADOS DA MARCENARIA COMO FORMA DE FUNDIR EM UMA ÚNICA PEÇA TEMPOS DISTANTES DA EXISTÊNCIA DOS ELEMENTOS
Por Leandro Fazolla
Em 2020, durante a pandemia de COVID-19, Vitor Mazon recolheu algumas sobras de madeira da marcenaria de seu pai. Agrupou os pedaços em frente a uma parede e fotografou a imagem. A foto foi selecionada para o Festival de Paranapiacaba. Mais do que a reunião de formas abstratas, da maneira como foi agrupada e registrada pelas lentes do artista, a composição ganhou outros contornos e se assemelha aos prédios de uma cidade grande.
Aquele foi o início da carreira artística de Vitor Mazon, escolhido pelo voto popular no Prêmio Dasartes 2023. Os poucos anos de carreira, no entanto, não impedem que o artista crie uma trajetória sólida, tendo participado de diversas exposições coletivas desde então, e também feito sua primeira individual, , na Zipper Galeria, mostra com curadoria de Eder Chiodetto pelo programa Zip’Up, projeto experimental voltado para receber novos artistas, nomes emergentes não representados por galerias paulistanas.
Tendo cursado Jornalismo, foi durante a faculdade que Mazon se encantou pela fotografia e passou a trabalhar com projetos autorais e outros mais comerciais. Filho e neto de marceneiros, o artista nunca tinha pensado em seguir os passos de seus antecessores, até que, durante o período mais restritivo da pandemia de COVID-19, começou a explorar as possibilidades da marcenaria enquanto ofício, trabalhando com o pai.
A partir do momento em que a marcenaria começou a entrar enfaticamente na sua trajetória profissional, não demorou para que seus materiais invadissem também sua produção fotográfica. A partir de então, novas possibilidades de entendimento de sua matéria principal, a madeira, se abriram. Outros elementos do ofício, como lixas e ferramentas, também começaram a aparecer na produção de Mazon, como mostram as obras de sua exposição individual: xilogravuras, desenhos, esculturas e diversas outras linguagens artísticas passaram a ter lugar em sua produção, tendo sempre o interesse pela paisagem como força motriz.
Nas obras que o artista compõe, há um trabalho artesanal que inclui a escolha do objeto principal da obra, a interferência provocada na imagem capturada e, ainda, as relações tridimensionais que ela pode agregar, seja pela inserção de elementos reais sobre as fotografias impressas, seja na forma como suas molduras rompem o modelo tradicional e criam novas relações não apenas com as imagens, mas, também, com o próprio espaço.
Para Mazon, a madeira é símbolo, forma e conceito, e surge de diversas formas: desde seu estágio inicial, na forma de árvore na natureza, um dos motivos principais em seus registros, passando pela madeira “domesticada pelo homem”, como ele mesmo diz, até a madeira que sobra desse processo em forma de serragem. Quando analisada em conjunto, a produção do artista sugere uma espécie de ciclo da passagem do tempo, algo que se torna ainda mais forte e simbólico se considerarmos que a madeira é também o elemento que mantém uma ligação estreita entre ele mesmo, o pai e o avô, três gerações marcadas pelo mesmo ofício. Seu avô passou a maior parte da vida adulta trabalhando como marceneiro; o pai cresceu na marcenaria e seguiu o ofício; e ele, descobriu depois de adulto novas possibilidades para aquele ofício que sempre marcou sua trajetória, desde que era uma criança e brincava de afixar pregos em um banco de madeira enquanto via pai e avô trabalharem.
Paisagens Ásperas, 2021/2022.
Foto: © Vitor Mazon.
Sem título, 2022. Série Sarrafos. Foto: © Vitor Mazon.
Assim como as molduras, que ele mesmo cria e acompanham algumas de suas obras, subvertem seu uso tradicional utilitário, expandindo-se para além das geometrias comuns e fazendo elas mesmas parte intrínseca das obras, Mazon também subverte o utilitarismo relacionado ao ofício que marca a família, e expande essa madeira para outros caminhos que talvez nem o pai e nem o avô poderiam imaginar que ela poderia seguir. De forma poética, o artista permanece ligado ao ofício da família, não repetindo modelos préestabelecidos, mas encontrando, em seu gesto artístico, novas possibilidades. Neste mês de fevereiro, a partir do dia 15, o trabalho do artista poderá ser visto na exposição da residência da Galeria Luís Maluf.