Estudos HOMEOPÁTICOS
Publicação Digital Quadrimestral Gratuita
Uma realização do Grupo Livre de Terapeutas Homeopatas do Centro -Oeste
Terapias Integrativas em alta e em risco no Brasil e no mundo! Leia, pense, posicione-se!
Pág. 29
Ano 3
N° 7
Agosto/2019
Revista de
ISSN 2965-3045
Editorial Olá, queridos leitores e mantenedores! Mais uma vez, estamos juntos!-Grupo Livre de Terapeutas Homeopatas do Centro-Oeste revistadeestudoshomeopaticos@gmail.com
Gostaria de parabenizar a revista pela publicação artigo da página 34, sexta edição "Homeopatia no tratamento de trauma e vítimas de bullying". O artigo traz um tema atual de grande projeção, mas, infelizmente, pouco estudado. Publicações que ofereçam estratégias para tratamento desse tipo de violência devem ser sempre encorajadas.
Dr. Andrea M Pobocik, São Paulo, SP
Excelente!!! Toda a equipe está de parabéns!!! Seriedade e competência!!
Andréa Mello, Brasília, DF
Parabéns à Revista por divulgar o atendimento voluntário no Jardim do Cerrado. Como voluntária, percebo como as pessoas dessa região são carentes de informação, de recursos e são esquecidas pelo poder público. Na experiência de atendimento vi o quanto a homeopatia pode contribuir para a melhoria de estados emocionais e físicos dessas pessoas!
Maria Aparecida Sousa, Goiânia, Goiás
Oi para todos terapeutas de Brasília e de Goiás! sei que tenho perdido muito por não ter participado tanto dos encontros com vocês, porém, estou muito feliz por saber que a nossa Revista de Estudos Homeopáticos está indo bem e começando a virar história, pois ela já tem tudo para nos passar aquisição de conhecimento sobre homeopatia. Percebi que ela nos ajudará a demarcar os limites da ação terapêutica para o nosso uso, o nosso profissionalismo e contribuir com a saúde do ser humano e do nosso planeta em geral. Só tenho a dizer parabéns para todos que estão contribuindo e trabalhando para a consolidação desta revista. Estou feliz com e por todos vocês!
Simone Oliveira, Goiânia. Goiás
Essa é uma iniciativa fantástica de colocar à disposição dos leitores a verdadeira arte de curar, em linguagem simples, fácil e acessível a todos. Parabéns!
Raimundo Guena, Vitória da Conquista, Bahia
Parabéns pela iniciativa!! A maior parte das revistas sobre homeopatia está relacionada a médicos, sendo que a homeopatia é de domínio popular, nada contra os médicos, apenas tenho tudo a favor dos terapeutas e desta ciência que está além do nosso tempo.
Debora Freitas, Rio de Janeiro, RJ
EXPEDIENTE
Jornalista Responsável
Editora-Executiva Conselho Editorial
Ramon Lobo
Projeto Grá co e Diagramação
Karine Santos
Redatores
Email:
Revisão
Contato
ÍNDICE EDITORIAL 1 CARTA AO LEITOR 2 EXPEDIENTE 3 SUMÁRIO 4 ANUNCIANTES 5 PRIMEIRA PARTE: HOMEOPATIA E NÓS 6 SEGUNDA PARTE: HOMEOPATIA TAMBÉM É CIÊNCIA 37 Revista de Estudos HOMEOPÁTICOS
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HOMEOPATIA E NÓS
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Revista de Estudos HOMEOPÁTICOS
RETROSPECTIVA
DO TRABALHO DO GRUPO LIVRE DE HOMEOPATAS DO CENTRO-OESTE: Como tudo começou...
Por Sheila da Costa Oliveira
Em novembro de 2016, mais uma turma do curso de Homeopatia para não Médicos da Homeobrás estava se formando, mas o grupo não queria se dispersar. Em conversas entre os membros desta turma, a ideia de continuar estudando juntos foi se fortalecendo, e, para marcar o início desse processo, foi programado um primeiro encontro em Brasília, no Espaço Via Luz.
Com a presença de 19 terapeutas de Brasília, Goiânia, Anápolis e Abadiânia, o grupo foi constituído e denominado Grupo Livre de Terapeutas Homeopatas do Centro-Oeste. A nomenclatura “grupo livre” foi adotada por carregar consigo os signi cados pretendidos pelos integrantes: sem identidade jurídica o cial, livre de burocracias pesadas, totalmente voluntário, autogestionado, sem hierarquias internas estabelecidas e comprometido com a importância social da Ciência da Homeopatia, sem dogmatismos separatistas.
Nesse primeiro encontro, ocorreram as seguintes atividades:
1. Dinâmicas de conhecimento mútuo;
2. Projeção de lme histórico sobre o Hospital de Medicina Alternativa, hoje funcionando em Goiânia, e cujo projeto teve seu início em Brasília;
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3. Estudo sobre a tabela periódica e sua aplicação em Homeopatia, conduzido por Júlio Aquino;
4. Apresentação de monogra as de dois integrantes: Osvaldo Dantas, que narrou seu experimento com cultivo de rabanetes com intervenção homeopática; e Suécia Damasceno, que apresentou sua pesquisa sobre o Amor e Não Amor à Homeopatia;
5. Lanche confraternativo e marcação do próximo encontro para fevereiro de 2017, em Goiânia.
Nesse primeiro encontro, foi também feita uma cerimônia simbólica de formatura, com certi cados provisórios elaborados pelo próprio grupo, enquanto se aguardava a chegada dos certi cados o ciais, emitidos pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Viçosa, parceira da Homeobrás no curso.
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A partir daí, cou decidido que as reuniões ocorreriam mensalmente, alternando-se entre Brasília e Goiânia, com exceção do mês de janeiro, tradicionalmente destinado a férias. Também foi estabelecido que começaria a ser pensada uma publicação para divulgar, de maneira popular e irrestrita, a Ciência da Homeopatia, sendo essa uma das pautas do próximo encontro.
Desde então, os encontros vêm se sucedendo sem interrupções. A comunicação cotidiana é feita por um grupo de WhatsApp, no qual, entre um encontro e outro, são compartilhados conteúdos relativos a Homeopatia e a ns, estudos de caso e pedidos de ajuda para atendimentos em curso.
Os deslocamentos entre as cidades são feitos por meio de caronas solidárias, e as trocas de conteúdo e contato, durante as viagens mensais, são um grande diferencial, aprofundando conhecimentos e contribuindo para a nizar os integrantes.
Durante os encontros mensais, são recolhidas as contribuições para a manutenção da Revista de Estudos Homeopáticos e também doações diversas para os projetos sociais de atendimento homeopático mantidos pelo grupo em Alto Paraíso (em parceria com o Instituto Ser Integral), em Goiânia (em parceria com o Centro Espírita Nova Era) e em Terezópolis de Goiás (em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde).
Em abril, foi de nida uma logomarca para o grupo, a qual se encontra reproduzida na página ao lado, e ajudará a divulgar as atividades desenvolvidas e a reforçar sua identidade. A forma circular foi escolhida por remeter à ideia de união. A cor verde, por trazer a simbologia da energia da cura, pelos princípios da Cromoterapia. No centro, o símbolo da Homeopatia e o letreiro relembrando a grandiosidade da missão do homeopata neste terceiro milênio.
Longa vida a este grupo e a suas realizações!
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Filha de Sir Henry Whatley Tyler, um importante inspetor de ferrovias e membro do parlamento britânico, e de Margaret Pasley, que cresceu vendo o pai praticar a Homeopatia, Margaret Tyler nasceu em 1957 e cresceu numa família in uente e privilegiada, mas sempre sentiu grande inclinação para cuidar dos menos favorecidos, o que a levou a se tornar uma das principais guras do tratamento homeopático durante o século XX.
Margaret foi a primeira de sua família a estudar medicina e, em 1903, aos 28 anos, formou-se em duas universidades, as de Edinburgh e Brussels.
Durante sua jornada como jovem universitária, ela nunca pensou em se casar e começar uma família. Ao invés disso, fez da Homeopatia seu projeto de vida.
Mas, que Homeopatia?
Hahnemann falecera em 1843, e, desde então, seu pupilo e amigo, o aristocrata Dr. Quin, havia fundado o Hospital Homeopático de Londres em 1849 e também divulgado a Homeopatia para a nobreza inglesa. Contudo, os avanços no tratamento homeopático estavam paralisados – resultado do conservadorismo das classes altas que escolheram mantê-lo como um privilégio restrito a círculos sociais.
Apesar desse cenário, Margaret estava decidida a provocar inovações. Ela estava fascinada com as palestras do homeopata James Tyler Kent, que se tornara popular no Novo Mundo, e queria encontrar meios de usar a medicina para curar pessoas de classes consideradas mais baixas.
Logo depois de se formar como médica, ela convenceu seu pai a mandá-la para os Estados Unidos, para que ela pudesse aprender o método homeopático de Kent. Com ele, Margaret manteve um longo relacionamento por correspondência, mas nunca o conheceu pessoalmente. Ainda assim, a convivência com grandes estudantes do homeopata norte-americano foi fundamental para que ela trocasse ideias e informações, e acabasse se aprofundando na atividade cultural a favor da Homeopatia em Chicago.
Em 1907, Margaret Tyler retornou para Londres e lá começou a trabalhar no Hospital Homeopático de Londres, que já enfrentava di culdades para acomodar todos os seus pacientes devido à superlotação.
Numa campanha para arrecadar fundos para a instituição, Sir Henry Tyler contribuiu com £$ 10 mil (libras), valor que hoje em dia corresponde a R$ 48.935
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mil (reais). A reforma trouxe um novo prédio de sete andares com 163 leitos, que foi inaugurado em 1911, três anos depois do falecimento do pai de Margaret. Em sua homenagem, a construção foi batizada de “Sir Henry Tyler Wing”. Além disso, o nome dele também foi usado para nomear uma bolsa de estudos para homeopatas que desejassem estudar nos Estados Unidos.
Depois de confrontar a vontade da alta sociedade da Inglaterra e de tanto tempo de estudo e trabalho, Margaret Tyler nalmente viu a Homeopatia se transformar numa literatura ágil e cientí ca, que passou a alcançar todas as camadas sociais e idades.
Com o objetivo de divulgar o tratamento homeopático para um público cientí co ainda maior, a cientista e estudiosa fundou a publicação “Homeopathy”, em 1932, a primeira dedicada à Homeopatia, e que chegou a circular por dez anos, até 1942. Além disso, ela também passou a organizar conferências para a Faculdade de Homeopatia de Londres e criou um curso de Homeopatia por correspondência, que formou homeopatas por anos, apenas reforçando a importância que ela enxergava no cuidado com os doentes e na transmissão de conhecimento.
Os principais nomes da Homeopatia que chegaram a usufruir da “Sir Henry Tyler Scholarship” foram os médicos Douglas Borland e John Weir, que tiveram a oportunidade de estudar com Kent entre os anos de 1908 e 1913.
Enquanto isso, Margaret continuou trabalhando no Hospital Homeopático de Londres, optando por se especializar no cuidado de crianças com de ciências mentais, enquanto sua mãe era responsável pela ala pediátrica.
Em 1929, Margaret tornou-se diretora do hospital, mas, logo conseguiu equilibrar sua necessidade de atuar como médica com o objetivo de ajudar na formação de novos homeopatas através da literatura cientí ca. Ela chegou a colaborar com os homeopatas mais importantes de sua época, como Weir, Clarke e Gibson Miller, e desenvolveu conceitos importantes para o tratamento homeopático, como o remédio constitucional, a hierarquia de sintomas (escala de importância dos sintomas físicos para mentais e emocionais) e também a utilização de métodos de vacinas para tratar traumas passados.
Margaret Tyler foi uma soma dos estereótipos femininos de sua época: o ser maternal que se importava com crianças e pobres e a religiosa que reconhecia a importância da fé; mas também a mulher independente que teve duas graduações em medicina e partiu sozinha para a América para se dedicar a estudos cientí cos, e a trabalhadora que dirigiu um hospital de mais de 300 leitos por 40 anos – e que ainda encontrou tempo para se tornar escritora, lançando as obras como “Homeopathic Drug Pictures” e “Pointers to the common remedies”
Ela continuou trabalhando ativamente pela Homeopatia mesmo depois de se aposentar do hospital e faleceu aos 86 anos, em 1943.
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Emergências Homeopáticas no Lar
Imagem: Reprodução.
FICHA TÉCNICA:
ISBN: 8585424060
Edição: 8ª
Ano: 2011
Idioma: Português
Autor: Castro, Alfredo
Páginas: 196
Encadernação: Brochura
Editora: Homeolivro
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Alfredo Castro. Foto: Divulgação
Sobre o autor
Alfredo Castro nasceu no dia 11 de julho de 1926, no Rio de Janeiro. Formou-se em medicina pela Escola Paulista de Medicina, em 1946, e iniciou sua carreira médica atuando como homeopata pela Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários do Estado de São Paulo.
Ele também foi professor de Homeopatia e chegou a presidir a Associação Paulista de Homeopatia (APH) entre 1973 e 1987, sempre colaborando para divulgar o tratamento homeopático através da publicação de artigos cientí cos.
Durante sua gestão, a APH adquiriu uma nova sede, localizada na Rua Estado de Israel, 639, que foi inaugurada na data do 244º aniversário de Samuel Hanhemann, em 10 de abril de 1999.
Nessa ocasião, o homeopata realizou um dos últimos discursos de sua vida, intitulado “Se fosse possível voltar no tempo, eu faria tudo de novo”.
Alfredo Castro também foi responsável pela criação e organização da Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB), que existe até hoje, na Rua Diogo de Faria, 839, em São Paulo.
Ele faleceu no dia 23 de outubro de 2003 aos 87 anos.
Onde encontrar a obra:
• Livraria Florence
• Mercado Livre
• Homeolivros
• Livraria Traça
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NOTÍCIAS
Projeto cria “Novembro Verde” em defesa da homeopatia
Proposta de autoria do vereador Dr. Lívio já foi aprovado em primeira discussão na Câmara
Foto: Reprodução
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O vereador Dr. Lívio (PSDB), presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Campo Grande, apresentou projeto de lei para ressaltar a importância da homeopatia no tratamento de doenças como asma, bronquite, depressão, ansiedade entre outras.
O Projeto de Lei 9.151/2018 quer instituir o Novembro Verde como o mês dedicado ao movimento de conscientização para a importância dessa opção terapêutica. Como médico especializado também em homeopatia, Dr. Lívio garante os benefícios e e cácia do uso de medicamentos homeopáticos.
A proposta foi aprovada em primeira discussão na terça-feira (11) de junho e seguirá para segunda discussão e votação.
Histórico
No dia 21 de novembro comemora-se o Dia da Homeopatia no Brasil, data em que a homeopatia chegou ao Brasil no ano de 1840, trazida pelo médico francês Dr. Benoit Mure. Em 2014, alguns homeopatas brasileiros se uniram e resolveram criar uma campanha para divulgar intensamente essa prática terapêutica bem como o resultado do uso dos medicamentos homeopáticos na prevenção de doenças.
A homeopatia é reconhecida pelo Ministério da Saúde, desde 2006, como umas das 29 práticas integrativas ofertadas no Sistema Único de Saúde (SUS). Ela foi incluída após a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimular o uso da medicina tradicional, complementar e alternativa, junto às técnicas utilizadas pela medicina ocidental moderna, com a observação dos requisitos de segurança, e cácia, qualidade, uso racional e acesso. É considerada uma medicina alternativa que não apresenta efeitos colaterais adversos.
Fonte: Diário Digital
Homeopatia traz benefícios na criação de galinhas caipiras
Tratamento livre de resíduos químicos proporciona controle das doenças de maneira natural e melhora produtividade
Remédios homeopáticos. Foto: Pixabay
A Homeopatia é uma forma de tratamento alternativo que estimula o sistema de cura natural. E desde o nal de 2018 a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) tem acompanho seu uso por dois criadores de galinhas caipiras. O objetivo é a avaliar seus efeitos e custos na produção.
Entre os benefícios observados até agora estão a melhor da qualidade dos ovos, com casca mais resistente e uniforme, melhor fecundação e eclosão (maior produção de pintinho), pintinhos mais sadios, bom desenvolvimento, resistência a doenças e ao estresse e permanência das aves no sistema de produção por mais semanas, com ovos de qualidade.
“A homeopatia veio para contribuir com o manejo sanitário, dando maior resistência aos animais, permitindo que eles corrijam seus próprios desequilíbrios”, diz a coordenadora do Programa de Agroecologia da Emater-DF, Isabella Belo. A homeopatia é de baixo custo e favorece o aumento das defesas naturais do organismo dos animais, além de estimular o metabolismo, fazendo com que se desenvolvam com rapidez e uniformidade.
“Proporciona o controle das doenças de maneira natural e não agride o meio ambiente, pois é um tratamento livre de resíduos químicos, o que também traz benefícios ao consumidor”, diz Isabella.
Há 10 anos a produtora Massae Watanabe, da região de Ceilândia, utiliza produtos homeopáticos para o controle corporal, estresse, postura e vermes. “Tive poucos problemas sanitários com as aves e acredito que a homeopatia me ajuda nessas questões”, conta.
A homeopatia pode ser adicionada na ração e o custo é de aproximadamente R$ 3,60 por ave, durante um ciclo de produção de 96 semanas.
Na AgroBrasília 2019, foi possível obter mais detalhes sobre o uso da homeopatia, no circuito da Agroecologia, no Espaço da Agricultura Familiar. A Emater-DF participou da AgroBrasília em parceria com a Secretaria de Agricultura (Seagri) e a Ceasa, órgãos que, juntos, integram o Sistema Agricultura do Distrito Federal.
Fonte: Agência Brasília
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Pacientes recebem medicação que alivia sintoma da dengue
Gotas homeopáticas produzidas pelo programa Farmácia Viva serão distribuídas de forma gratuita em nove postos de saúde em que foram registrados mais casos da doença
Medicamento Eupatorium perfoliatum ajuda a melhorar a saúde da pessoa para enfrentar a dengue
A guerra contra a dengue em Betim, que neste ano está prestes a enfrentar uma nova epidemia, ganhou um novo aliado. Nos próximos dias, um medicamento homeopático, produzido pelo programa Farmácia Viva, da prefeitura, e que auxilia no fortalecimento do sistema imunológico, ajudando, assim, a amenizar os sintomas dessa doença, começará a ser distribuído de graça em nove Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da cidade em que foram registrados mais casos da doença.
De acordo com balanço da Secretaria Municipal de Saúde, até as 12h da última quinta-feira (28), eram 5.992 noti cações – 12,1% a mais do que na semana passada – e 1.869 casos con rmados de dengue na cidade, além de três mortes em investigação.
O Eupatorium perfoliatum – fundamentado há mais de 200 anos, na Alemanha – é um medicamento homeopático que ajuda a melhorar a saúde da pessoa para que ela enfrente a dengue com mais tranquilidade. “Ele não é uma vacina, ou seja, a pessoa que tomá-lo, pode ter a dengue, de forma mais atenuada ou nem sentir os incômodos dela. Já pacientes que estão com os sintomas, como febre, dores e fraqueza, podem ser tratados com o medicamento homeopático, melhorando a saúde e reduzindo o tempo dos sintomas e complicações”, explicou Mônica Beier, médica homeopata da rede SUS Betim e coordenadora do Instituto Mineiro de Homeopatia.
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A estudante Isadora de Almeida, 15, moradora do bairro Espírito Santo, é uma das pacientes que tomou o medicamento homeopático, que já está sendo prescrito por homeopatas do município. “Usei em fevereiro deste ano e peguei dengue pouco tempo depois. Mas quei só um dia de cama e senti poucas dores no corpo. Acredito que isso aconteceu por causa dessa medicação homeopática que tomei”.
Inicialmente, a distribuição do medicamento homeopático, que pode ser diluído na água, vai acontecer somente nas UBSs Alterosas, Bueno Franco, Nossa Senhora de Fátima, Dom Bosco, Cruzeiro do Sul, Alterosas, Duque de Caxias, Angola e Homero Gil. “Como a Farmácia Viva ainda não consegue produzir o medicamento em larga escala, a distribuição será primeiro nessas unidades onde houveram mais registros de casos de dengue neste ano”, explicou a referência técnica em práticas interativas e complementares da Secretaria de Saúde, Camila Campos. “A medida que o programa conseguir aumentar a produção, o medicamento também pode vir a ser distribuído em outros postos de saúde da rede”, completou.
Orientação
A distribuição dos medicamentos homeopáticos será feita apenas a pacientes cadastrados no SUS e para aqueles que têm uma das noves UBSs contempladas como referência. Ele pode ser usado por qualquer pessoa, porém, é necessária orientação de pro ssionais capacitados. “A indicação é que o medicamento homeopático seja usado em dose única anual, podendo ser repetida após avaliação médica e caso seja necessária”, explicou a médica homeopata Mônica Beier.
A administração das gotas homeopáticas também deve ser feita por pro ssionais capacitados. “O medicando não apresenta riscos as pessoas se administrado adequadamente”, frisou. Pacientes atendidos na unidade de hidratação venosa, aberta no bairro Espírito Santo, estão sendo tratados com o remédio. “O resultado tem sido positivo”, nalizou a médica.
Ações de combate
Para combater a doença, a prefeitura criou um Comitê de Enfrentamento à Dengue. Agentes de saúde estão visitando os imóveis para eliminar as larvas, um carro do fumacê está percorrendo os bairros com mais focos, mutirões de limpeza, palestras e blitze educativas estão sendo realizados, além das vistorias nos terrenos.
Desde o dia 24 de fevereiro, foi aberta uma unidade de hidratação venosa, no bairro Espírito Santo. O espaço oferece tratamento aos pacientes com dengue, 24h por dia, todos os dias.
Fonte: O Tempo
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A homeopatia como aliada para reduzir o custo de produção do milho
Com toda essa tradição no setor, uma novidade vem chamando a atenção de toda cadeia produtiva: a utilização de homeopatia no manejo da soja e do milho. “Está começando agora, é uma experiência e os resultados precisam ser mais bem avaliados”, afirma com cautela Nelson Paludo, produtor rural que vem realizando o tratamento em doses sequenciais com produtos biológicos. O que já se sabe é que o custo de produção diminui bastante, mas sem afetar a produtividade.
Segunda safra em alta
A região de Toledo sofreu muito com a chuva que trouxe prejuízos irreversíveis para as lavouras de soja. A esperança dos produtores é a safrinha de milho que, pelo menos até agora, deu mostras de que terá uma boa produtividade.
“O milho verão praticamente não existe mais. O pessoal agora planta soja na safra de verão e milho na segunda safra. Antecipamos a janela da primeira safra e com isto favorecemos a safrinha. A expectativa este ano é de um bom desempenho no milho, o que deve amenizar os prejuízos com a soja”, relata o agricultor que conseguiu fechar contratos de R$ 30,00 pelo milho.
Assim como parece ser uma regra no agronegócio, a comercialização é também um grande desa o para os agricultores da região oeste do Paraná. “Isto é muito cultural, 70% dos nossos produtores não têm nem os custos de produção na ponta da caneta. Se ele não sabe quanto custa como vai vender no mercado futuro? Isto é um grande entrave”, a rma Silvanir Rosset, vice-presidente da Aprosoja do Paraná.
“A gente está falando em segunda safra, uma média boa de produtividade ca em torno de 120, 130 sacas por hectare. Se ele tiver esta produção e conseguir um preço na faixa entre R$ 26,00 e R$ 30,00 vai ter rentabilidade”, calcula Cévio Mengarda, produtor rural.
Foto: Mais Milho/Canal Rural
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Convidados
Segundo o vice-presidente da Aprosoja do Paraná, Silvanir Rosset, o maior desa o para quem produz milho é permanecer na atividade com rentabilidade.
“Temos o clima ideal, antecipamos a safra de verão e fugimos das geadas. Isto favorece a segunda safra que tem variedades de alta produtividade. Precisamos agora é de estabilidade no mercado”, a rma Rosset.
Fonte: Canal Rural
V Congresso Nacional de Terapeutas e II Congresso Internacional de Terapeutas
O V Congresso Nacional de Terapeutas e II Congresso Internacional de Terapeutas aconteceu em Brasília entre os dias 7 e nove de junho.
Durante o evento, terapeutas do Distrito Federal e de outras regiões tiveram a oportunidade de trocar experiências e participar de mesas redondas, concursos de teses, lançamentos de livros e palestras sobre técnicas e avanços cientí cos relacionados à Homeopatia.
Filiados ao Sindicato dos Terapeutas do DF - Sindte-DF, em dia com sua anuidade, tiveram 50% de desconto no valor da inscrição.
Mais informações sobre futuras edições dos congressos no site: www.congressoterapeutas.com.br.
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Grupo Sociedade dos Homeopatas
realiza conferência
anual em Lady Margaret Hall
O evento aconteceu após uma controvérsia, na qual a faculdade Lady Margaret Hall foi criticada pela e Good inking Society por falta de credibilidade ao apoiar o maior grupo de homeopatas da Inglaterra, chamado “Society of Homeopaths” ou, em português “Sociedade dos Homeopatas”. Na época, a LMH se defendeu, justi cando que passou a sediar o grupo graças a um acordo “puramente comercial”.
Intitulado ‘ ree Wise Women’, o tema da conferência deste ano foi uma celebração do “período mais primitivo da vida: concepção, gravidez, parto e amamentação”.
O evento aconteceu em maio e começou com Jackie Singer, que usou a música e a narração de histórias para transmitir seus conhecimentos homeopáticos. Depois disso, outros palestrantes principais como Karen Allen, Linda Gwillim e Patricia Hatherly marcaram presença.
Karen Allen falou sobre os tratamentos homeopáticos usados em casais com di culdades de concepção, enquanto Linda Gwillim lecionou sobre o uso da homeopatia durante a gravidez e o parto. Já a palestra de Patricia Hatherly focou no valor do leite materno e nos tratamentos homeopáticos que podem ser usados por mães que estão amamentando.
Para Mark Taylor, diretor executivo da Society: “Foi uma conferência muito bem-sucedida. Realizamos vários eventos na Lady Margaret Hall e este, em particular, se desenrolou muito bem.”
Fonte: Oxford Student
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Faculdade Lady Margaret Hall. Foto: Divulgação.
Nova clínica facilita o acesso à Homeopatia em Liverpool
Uma nova clínica que oferece tratamento homeopático de baixo custo foi inaugurada no centro de Liverpool, no dia 24 de abril deste ano.
A Liverpool Homeopathy é resultado de uma parceria entre duas instituições de caridade - a British Homeopathic Association e a North West Friends of Homeopathy - e tem como sede a Liverpool Medical Institution, localizada em Mount Pleasant.
A clínica, composta por uma equipe de três homeopatas altamente experientes, Dr. Hugh Nielsen, Emma McEvoy e Robin Grenfell Cowan, funciona nas manhãs de quarta-feira.
Cristal Sumner, diretor executivo da Associação Britânica de Homeopatia, disse: “Com a disponibilidade limitada de tratamento homeopático dentro do NHS, serviços como a Homeopatia de Liverpool são mais importantes do que nunca. Todos têm o direito de escolher cuidados de saúde de alta qualidade e estamos orgulhosos de poder trazer tratamento homeopático acessível para Merseyside.”
Consultas particulares de Homeopatia geralmente custam entre £ 90-£ 200, com retorno no valor de £ 45 a £ 100. Uma consulta inicial na Liverpool Homeopathy custa £20, com sessões adicionais de acompanhamento a £ 10.
As consultas são realizadas nas manhãs de quarta-feira, das 9h30 às 12h30, na Liverpool Medical Institution. Para mais informações, visite www.liverpoolhomeopathy.org.
Fonte: Real Wire
Canadá cancela ajuda externa homeopática a Honduras
O governo canadense deixará de nanciar terapias homeopáticas em Honduras.
A decisão foi tomada após um protesto contra o uso de dinheiro público para apoiar terapias alternativas que não se mostraram e cazes.
A Terre Sans Frontières (TSF) recebeu US$ 149.000 durante cinco anos para fornecer homeopatia ao país da América Central.
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Em todo o mundo, instituições de caridade de medicina alternativa, formadas segundo a estrutura do Médicos sem Fronteiras, continuam fortes.
A instituição de caridade com sede em Quebec foi nanciada por meio do Programa de Cooperação Voluntária da Global A airs, que ajuda a enviar voluntários quali cados para países em desenvolvimento.
“Não apoiaremos esses projetos no futuro”, disse Louis Belanger, porta-voz do ministério do desenvolvimento internacional.
O programa da TSF em Honduras enviou homeopatas para compartilhar informações com provedores locais de saúde básica sobre como incorporar a homeopatia nessa prática.
Eles também ofereceram tratamentos homeopáticos para a doença de Chagas, uma doença parasitária tropical que pode causar sintomas semelhantes aos da gripe e levar a doenças crônicas que ameaçam a vida.
A homeopatia é uma medicina alternativa fundada na Alemanha no nal do século XVIII, baseada no princípio de que diluir uma substância que causa sintomas pode ajudar a curar a doença subjacente.
Então, pólen ou grama poderiam ser usados para criar um remédio homeopático da febre do feno.
“Não é como se houvesse um debate cientí co em andamento”, diz Tim Caul eld, diretor de pesquisas do Instituto de Direito da Saúde da Universidade de Alberta. Segundo ele, é um choque que o governo canadense nancie tratamentos homeopáticos.
A TSF, que não pôde ser contatada para comentar, não é a única instituição médica alternativa a operar nos países em desenvolvimento.
A relação entre governos e provedores de medicina alternativa é complexa.
Em 2018, o NHS parou de nanciar alguns tratamentos homeopáticos no Reino Unido.
Em 2013, a Organização Mundial da Saúde recomendou a incorporação da medicina alternativa e tradicional nas políticas médicas convencionais. Contudo, desaconselhava a promoção da homeopatia como tratamento para infecções como a malária e o HIV.
Fonte: BBC
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Sou formada em psicologia, na qual trabalhei em diversas áreas. Minha grande motivação para estudar Homeopatia foi a minha lha, Yasmin. Quando ela estava com quase dois anos, começou a evidenciar sintomas de autismo.
Foi tudo muito rápido. Entre tantas terapias, ela também começou a fazer uso da Homeopatia e teve bons resultados.
Alguns meses depois, vi a propaganda de um curso de Homeopatia para pro ssionais não médicos e resolvi me inscrever. Como disse, a princípio foi para ajudar minha lha e, além desse curso, z outros para estudar muito do que era relacionado ao autismo.
No decorrer do curso de Homeopatia, eu fui me apaixonando pela terapia e também vi o quanto eu poderia ajudar na minha prática clínica.
Hoje, além de tratar a minha lha, atendo várias crianças com autismo.
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Caroline Cabral Macedo Brasília/DF, 45 anos
Foto: Arquivo pessoal/Reprodução
Há pelo menos cinco gerações, a minha família usa Homeopatia. Tudo começou quando a família de minha bisavó, Olga, veio da Alemanha, trazendo hábito de se tratarem com essa terapia.
Por coincidência, a minha outra bisavó, no início do século XX, era parteira no estado do Rio e também usava Homeopatia em seus atendimentos nas fazendas.
Quando meus avós Ida e Athayde se casaram, ambos tinham a cultura do uso doméstico da Homeopatia. Lembro muito bem de minha avó consultando um velho livro, tipo Vade-Mécum, sempre que um lho ou um neto precisava de socorro.
No início dos anos de 1970, quando criança eu tinha muita enxaqueca, e meu avô, Athhayde, me levou para o Dr. Luís, um homeopata antigo que clinicava na rua Marconi, no centro de São Paulo. Após algumas doses de Paulinia Sorbilis eu nunca mais soube o que era dor de cabeça.
Depois vieram as in ndáveis amigdalites... De novo, O Dr. Luís me ajudou e eu me safei da amigdalectomia...
Muitas vezes já adulta, médica, casada e com lhos, eu chegava na casa da vó Ida tossindo ou resfriada, e ela falava:
“sei que você conhece mais do que eu, mas, na minha casa mando eu. Vá tomar Allium Sativum para você melhorar”; e preparava um plus para mim.
Criei minhas lhas, que sempre tive-
ram muita saúde, com Homeopatia. E se qualquer amiguinho do prédio onde moramos se machucava, elas chegavam me pedindo pomada de arnica para passar neles.
Hoje, a minha netinha também se trata com Homeopatia e, inclusive, usou muita Chamomilla durante o nascimento dos dentes.
A Homeopatia é uma especialidade médica que tem o foco na qualidade de vida e na necessidade individualizada das pessoas.
Con ra a próxima edição para apreciar mais depoimentos. Caso deseje enviar o seu, entre em contato através do e-mail: revistadeestudoshomeopaticos@gmail.com
Liane Beringhs Brasília/DF, 55 anos
Foto: Liane e família. Crédito: Arquivo pessoal.
Terapias integrativas em ascensão
A procura por tratamentos complementares à medicina ortodoxa aumenta para 126% entre 2017 e 2018 no SUS
A popularidade das práticas integrativas e/ou complementares ofertadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) vem crescendo a cada ano. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o número de registros de procedimentos referentes às terapias integrativas no SUS aumentou para mais de 126%, o que signi ca que o número de atendimentos cresceu de 157 mil, em 2018, para 355 mil, em 2018.
Para atender a demanda, o Ministério da Saúde oferece, atualmente, 29 procedimentos de Práticas Integrativas e Complementares (PCIS) à população, com atendimentos que começam desde a Atenção Básica até tratamentos paliativos para aliviar os sintomas de doenças crônicas, e incluem Homeopatia, Terapia de Florais e Fitoterapia, entre outras.
“Todos os tratamentos são igualmente efetivos.”, garante a farmacêutica bioquímica e especialista em Farmacologia Básica e Clínica, Edna Santos. “Sejam alopáticos, orais, homeopatia ou toterápicos, os medicamentos vão agir de acordo com o tratamento desejado para suprir o esperado, se usados corretamente e seguindo orientações médicas e/ou terapêuticas adequadas”, complementa.
As PCIS são reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde, subordinada à Organização das Nações Unidas e, apesar de possuírem
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técnicas diferentes, todas têm algo em comum: baseiam-se na habilidade de cura do próprio corpo e usam recursos naturais para incitar o organismo a alcançar o próprio equilíbrio, ou seja, a saúde.
Para o professor Leonardo Guilardi, 27 anos, de Goiânia (GO), a maior vantagem de recorrer às terapias complementares é não sujeitar o corpo a efeitos colaterais.
“O leque da medicina natural é muito grande e está sempre aprimorando o ser humano, diferente da alopatia, que trata uma dor momentânea e até auxilia, mas que não é interessante a longo prazo.”, opina Guilardi. “Eu não adoeço desde 2015, não pego nem resfriado. De vez em quando aparece uma tosse, mas já a resolvo com a ajuda dos tratamentos naturais.”
Já segundo Joala da Silva Souza, promotora de vendas, 31 anos, de Salvador (BA), as terapias integrativas são únicas no sentido de que cuidam da mente, do corpo e do espírito.
“Partindo do princípio de que as doenças surgem através de pontos de energias bloqueadas, emoções mal resolvidas e doenças psicossomáticas, a medicina integrativa vem com esse sutil olhar, baseado principalmente na escuta e no atendimento humanizado”, aponta Souza. “Estudo e faço uso de orais há dois meses. Comecei depois de encerrar ciclos que foram muito dolorosos para mim. Eu estava com início de depressão e quei com síndrome do pensamento acelerado. Fazendo uso dos orais, eu me sinto mais con ante. Hoje, eu me sinto mais confortável comigo mesma e vejo o autoconhecimento como parte do tratamento”, conclui.
De acordo com Cícero Arruda, 42 anos, do Rio de Janeiro, nutricionista e toterapeuta, a alopatia não deve ser desprezada.
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“Vi nas ervas uma opção de mais fácil acesso à população e com menores riscos de reações adversas e intoxicações.”, a rma. “A minha experiência recorrendo à toterapia como tratamento de saúde é de satisfação plena. A resposta do meu organismo para debelar problemas com o uso de toterápicos é muito boa. Mas não menosprezo a alopatia. Ela tem sua importância e também é e caz. Quando preciso, uso. Mas não lanço mão da toterapia e de nutracêuticos concomitantemente.”, completa.
Sobre as principais características de medicamentos manipulados, especialmente
os alopáticos, homeopáticos, toterápicos e orais, a farmacêutica Aiessa Pagliarini Balest, 29 anos, traz observações importantes.
“É fundamental compreender que medicamentos manipulados são qualquer remédio tecnicamente elaborado sob demanda, de maneira personalizada e baseados numa prescrição médica.”, explica Balest. “Logo, os medicamentos manipulados podem ser alopáticos, homeopáticos, toterápicos e orais.”.
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Foto: Cícero Arruda. Arquivo pessoal.
Ainda de acordo com a farmacêutica, existem grandes diferenças entre esses medicamentos.
“As principais características dos remédios manipulados alopáticos são sua origem sintética e o fato de que são dispensados em doses descritas em literaturas cientí cas e de mecanismo de ação conhecido, que têm a nalidade de tratar qualquer tipo de doença, e normalmente é indicado após diagnósticos laboratoriais.”, esclarece. “Os remédios homeopáticos normalmente são de origem animal, vegetal ou mineral, são diluídos in nitas vezes, dinamizados, não possuem mecanismo de ação conhecido, têm a nalidade de tratar doenças que tem fundo emocional e mental, e não podem ser compartilhados, pois cada medicamento é elaborado conforme as características pessoais de cada paciente. Os medicamentos toterápicos tem a nalidade de tratar doenças que são bene ciadas pela sinergia de vários componentes ativos de uma planta medicinal, tais como gastrites, gases, insônia, ansiedade, traumas físicos e problemas hepáticos; são exclusivamente de origem vegetal, possuem mecanismo de ação igual ou semelhante aos alopáticos e são dispensados na forma de cápsulas, comprimidos e tinturas. Já os orais são soluções de brandy
ou álcool e água, contendo diluições extremas de ores ou outras partes de plantas, e com mecanismo de ação desconhecido, elaboradas conforme uma receita de um pro ssional habilitado com a nalidade de tratar doenças de fundo emocional.”, conclui Balest.
As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), denominadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como medicinas tradicionais e complementares, foram institucionalizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), aprovada pela Portaria GM/MS nº 971, de 3 de maio de 2006. A PNPIC contempla diretrizes e responsabilidades institucionais para oferta de serviços e produtos de homeopatia, medicina tradicional chinesa/acupuntura, plantas medicinais e toterapia, além de constituir observatórios de medicina antroposó ca e termalismo social/crenoterapia. Essas práticas ampliam as abordagens de cuidado e as possibilidades terapêuticas para os usuários, garantindo uma maior integralidade e resolutividade da atenção à saúde, além de trazer economias aos cofres públicos por evitar internações e custos com medicamentos mais caros.
Foto: Aiessa Pagliarini Balest. Crédito: Divulgação.
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A Homeopatia como aliada na luta contra agrotóxicos
O ritmo de liberação de agrotóxicos no Brasil aumentou consideravelmente nos últimos quatro anos. Contudo, segundo dados divulgados pelo Ministério da Agricultura, o número de pesticidas aprovado pelo governo entre janeiro e maio deste ano simboliza um marco dessa disparada: 169 produtos – entre eles, o Sulfoxa or, ligado ao extermínio de abelhas nos Estados Unidos, e o Imazetapir, que teve seu registro cassado na União Europeia em 2018 por afetar a saúde de trabalhadores e residentes de áreas próximas às lavouras, além apresentar riscos às aves.
De todos os agrotóxicos liberados, apenas 16 receberam a classi cação de “Pouco Tóxico”, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
E, seja através da água ou de alimentos, principalmente os comprados in natura, resíduos contaminados acabam chegando à mesa dos brasileiros.
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Imagem: https://escolakids.uol.com.br/geografia/agrotoxicos.htm
Para explicar como os medicamentos homeopáticos podem tanto proteger o organismo humano dos efeitos de agrotóxicos quanto ser eficazes para tratar casos de intoxicação, contamos com o terapeuta homeopata e técnico em química industrial Gilberto Gomes dos Santos.
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Gilberto Gomes dos Santos. Foto: Arquivo pessoal.
Como a Homeopatia pode fortalecer a imunidade e proteger o organismo humano dos efeitos de agrotóxicos?
Tudo que compõe o organismo do ser humano é parte ou derivado de tudo que existe nos reinos animal, vegetal, mineral etc. Usando essa linha de raciocínio, compreende-se que, ao fazer uso dos preparados homeopáticos, é possível observar as manifestações do organismo em se harmonizar perante aquilo que já faz parte dele, porém, de algum modo, lhe foi alterado, necessitando do seu semelhante em ultra diluições para seu equilíbrio. Por exemplo, ao se intoxicar com alimentos produzidos com agrotóxicos, o corpo vai dando sinais de que algo está errado e começam a surgir efeitos colaterais. Várias homeopatias têm tais sintomas com efeitos arti ciais idênticos ao do agrotóxico, no entanto, aquele que abranger maiores sintomas na escala de hierarquia será o mais adequado.
Qualquer pessoa pode usar a Homeopatia?
Sim, qualquer ser vivo. Levando em conta o cenário do trabalho com agricultura, os medicamentos homeopáticos são indicados tanto para quem trabalha em lavouras quanto para pessoas que moram perto de áreas onde os agrotóxicos são aplicados.
A Homeopatia Vegetal pode substituir o uso de agentes químicos em plantações?
Sem sombra de dúvidas. Da mesma forma que o ser humano é harmonizado de seus desequilíbrios, as plantas também serão, a nal, elas também são seres vivos. Basta saber entender o sofrimento desses seres.
É correto a rmar que medicamentos homeopáticos podem agir como agrotóxicos naturais?
Não. A Homeopatia é energia, não existindo massa na sua estrutura, o que a torna inofensiva. O que os preparados homeopáticos fazem é impor um limi-
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te, uma barreira energética em volta dos seres submetidos ao tratamento. Cria-se um campo energético que faz com que os predadores se afastem e procurem outro lugar onde não exista esse campo.
Quais medicamentos homeopáticos podem fortalecer a imunidade do organismo humano?
De início, eu indicaria os Sais de Schuessler e os constitucionais (calcárea carbônica, calcárea uorica e calcárea phosphorica). Assim, o organismo vai se nutrindo e absorvendo aquilo do que necessita para a recuperação de seus demais desequilíbrios.
Como a Homeopatia pode ajudar no tratamento de pessoas que já estão intoxicadas por agrotóxicos?
O tratamento homeopático visa restabelecer o equilíbrio tirando de dentro para fora aquilo que não faz bem ao organismo, uma desintoxicação por assim dizer.
Os primeiros medicamentos recomendados seriam Nux vomica e Carbo vegetabilis. Em seguida, a Homeopatia da própria substância que causou a intoxicação - não podemos deixar de lembrar que as homeopatias das constituições também empregam grandes resultados nesses processos. Os resultados vão de acordo com cada pessoa. Algumas melhoram logo no primeiro dia e outras levam mais tempo.
A Homeopatia pode ser usada para prevenir a intoxicação por agrotóxicos?
Sim. Antes de preparar alguns alimentos, como folhagens, deixe-os de molho com algumas gotinhas das homeopatias Carbo vegetabilis e Sulphur. Espere por, no mínimo, 15 minutos. Repita o procedimento duas ou três vezes e então o alimento estará pronto para ser consumido. O carvão vegetal (Carbo vegetabilis) age como ltro, tirando impurezas. Além disso, é recomendado tomar os preparados homeopáticos para fortalecer o sistema imunológico.
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HOMEOPATIA TAMBÉM É CIÊNCIA
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HOMEOPÁTICOS
Revista de
Estudos
De acordo com Carlos Brunini, o Gelsemium Sempervirens possui várias denominações: - Gelsemium nitudum, Jasmim-da-Vírgínia, Jasmim-selvagem ou Jasmim-amarelo. É um arbusto trepador da família das Logoniáceas, com belas ores que desabrocham na primavera, possuindo um delicioso perfume.
Originário da Virgínia, sul da América do Norte, pode ser encontrado no Texas, Flórida e México.
Assim como a planta, os pacientes Gelsemium necessitam de apoio físico para se desenvolverem, caracterizando, dessa forma, a fraqueza desses indivíduos. Mentalmente, também necessitam de apoio para combaterem eu núcleo de insegurança, que acarretam vários transtornos por antecipação.
O homeopata Eugene Beauharis Nash chama o medicamento Gelsemium Sempervirens de “Remédio do Tremor”.
Segundo Bernardo Vijnovsk, autor da reconhecida obra “Tratado de Materia Medica Homeopatica”, este é um dos medicamentos
mais importantes para transtornos psicossomáticos de causa emocional - agudos ou crônicos, cuja origem pode ser recente ou antiga. Entre as causas bruscas ou repentinas estão, em especial, as más noticias, que chegam a causar diarreia, aborto, debilidade, temores e insônia, entre outras reações físicas e emocionais; notícias excitantes e qualquer emoção dessa natureza, como susto, medo de enfrentar público, ira, ansiedade e surpresas.
Geralmente, o paciente Gelsemium se paralisa mental e sicamente no momento de um grande perigo e espera o fato acontecer. No trânsito, as consequências podem ser terríveis e desastrosas.
O medicamento é indicado a indivíduos que foram criados sob espreita rígida e violência psicológica de submissão, exercida pela força e brutalidade dos tutores, gerando medo de tudo e de todos. São pessoas tímidas, que falharam e temem nova falha. Por isso, ou não insistem ou sofrem branco mental no instante de se colocarem à prova, como durante um teste.
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Por José de Assis Marques, terapeuta homeopata e de Florais de Bach
Planta Gelsemium Sempervirens. Fonte: Amazon.Com
Segundo Clarke, o paciente Gelsemium é um grande paralisante. Ele ca num estado geral de paralisia mental e física, deixando a mente lenta, e o sistema muscular relaxado, mas com membros tão pesados que é difícil movê-los.
Ele prefere a solidão e não suporta outras pessoas perto dele, mesmo que elas quem em silêncio. É sensível, nervoso, excitável, irritável. Tem medo da morte e perdeu a coragem. Tem sonolência. Há nele fraqueza, lassidão, torpor, embotamento mental e tremores por todo o corpo. Fica apreensivo e medroso quando tem que aparecer em público. Sofre de depressão após insolação ou excesso de fumo. O calor do verão provoca-lhe fadiga. Ele passa por episódios de insônia quando enfrenta emoções de medo, apreensão ou susto.
O paciente Gelsemium apresenta piora quando pensa em seus padecimentos ou outra pessoa os menciona; e também durante o tempo úmido, antes de uma tempestade, com o calor do sol ou pelo fumo de cigarro. Já as melhoras acontecem se o indivíduo busca contato com o ar livre e movimento contínuo.
O Gelsemium age diretamente no Sistema
Nervoso Central (SNC), deixando-o mais controlado. Ele trata doenças paréticas, paralisantes progressivas e paralisias. É um dos principais ansiolíticos naturais, ao lado de Arsenicum Album, Argentum Nitricum, Aconitum Napellus, Belladonna; e o medicamento líder para tratamento de insônia e
alívio de tensão nervosa, assim como Arsenicum Album, Passi ora e Chamomilla.
Segundo Lathoud, só há perigo de intoxicação se a tintura mãe do Gelsemium for usada até a CH 03, havendo possibilidade de gerar a patogenesia do remédio no paciente. Nesse caso deve-se tomar bastante água para diluir o efeito e utilizar antídotos – China O cinalis, Co ea Cruda, Digitalis Purpúrea e Nux Moschata.
É possível encontrar o Gelsemium em farmácias homeopáticas na forma liquida ou em glóbulos, que devem ser ingeridos conforme prescrição do homeopata.
A forma líquida é mais e caz na resolução dos sintomas, uma vez que o remédio pode ser potencializado ao ser sucussionado antes de cada tomada, partindo do ponto nal da tomada anterior.
Os glóbulos apresentam uma desvantagem quanto a este procedimento, pois, mesmo que sejam dissolvidos e sucussionados, têm sempre a potencialização da energia do medicamento em estado latente e inicial como ponto de partida, não gerando um efeito potencializador progressivo.
Na forma líquida para crianças podemos utilizar o teor alcóolico bem baixo, ou seja, três por cento ou cinco por cento para não trazer inconvenientes. Mesmo que a forma líquida seja mais e ciente, se não houver alternativa, é melhor utilizar o glóbulo do que não usar a Homeopatia.
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Casos dos Mestres Traduzidos e Comentados
O presente artigo apresenta uma tradução, com comentários, de relatos de casos publicados por mestres homeopatas do passado, na época de ouro da homeopatia norte-americana, em The Medical Advance, em 1891. Trata-se de resgatar o saber de uma época quando se praticava uma homeopatia que lançou as bases da utilizada hoje e, ao mesmo tempo, ainda com fortes vínculos com o que se pode chamar, com alguma dose de certeza, de uma prática hahnemanniana clássica.
Caso 1: Tradução de “Eczema”, de A.T. Noe, em The Medical Advance 1891;26(3):201202
Desejo relatar um caso para a homeopatia e provar aos alopatas como estão perdendo ao não individualizar os sintomas de cada paciente. A Sra. M.G., 55 anos, loira, olhos
azuis, ansiosa acerca de sua boa aventurança espiritual, rezando diariamente, apresenta grande ansiedade, mas inclinada à tristeza e ao pesar, com humor mutável, irritabilidade e facilmente ofendida. Sentia-se muito mal, com pensamentos frequentes na morte e acompanhados de choro. Havia 10 ou 12 anos que estava acometida por uma doença de pele que a deixava nesse estado emocional. O quadro era de erupções secas e crostosas, de cor acobreada, pior nas dobras da pele, iniciando nas partes genitais e espalhando-se para cima até o pescoço, pior nessa região e nas mamas, também nas dobras de pele, abdome, nas virilhas, vulva e nos joelhos. A pele ficou com o tempo grossa e crostosa, eliminando um líquido viscoso que escoriava as partes onde escorria, além de seca e inclinada a rachaduras.
Vale salientar que os sintomas acima foram
Renato Sampaio de Azambuja
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fornecidos pela paciente na época em que fui chamado, há 4 anos. A história desse caso mostrou-se peculiar. Ela afirmava que “Eu tentei não menos do que 14 médicos, fui objeto de discussões clínicas, alopáticas e homeopáticas de todos os tipos. Eles todos tentaram suas terapêuticas com aplicações e lavagens, mas sempre o alívio foi pequeno e breve, para depois piorar severamente mais do que no início”.
O médico que a atendia quando fui chamado era um autodenominado homeopata que também praticava aplicações externas na forma de lavagens medicamentosas, 3x por dia; ela disse que estava quase por morrer com tal tratamento e, que se tivesse alguma maneira no mundo para se ver livre dessa queimação na pele sem usar esses tratamentos que a faziam sentir-se pior, ela faria qualquer coisa. Tais aplicações não lhe haviam feito bem, embora as tivesse usado por 3 meses ininterruptamente.
No momento que eu a vi, encontrei-a sentada na cama lamentando sua condição. Quando seu marido me apresentou, ela ficou desapontada ao encontrar-me um jovem médico. Ela disse: “Por quê? O senhor não é nada mais que um menino, o senhor não pode fazer nada por mim, eu tentei 13 ou 14 médicos, todos de larga experiência, e eles falharam em me curar. Na verdade, eu esperava um médico experiente”.
Após 40 minutos de queixas, entre lágrimas e soluços, relatando seus problemas do passado e maldizendo seu futuro, eu disse a ela que embora eu não fosse muito experiente
e não soubesse mesmo de tudo, pretendia oferecer a ela um alívio substancial de seu sofrimento e que poderia ser até permanente. Mostrei a ela a falácia do tratamento local que vinha recebendo e olhei tão clara e pacificamente em seus olhos que, após ter escutado todas suas queixas do modo como queria contar, ela já se sentiu melhor.
Com o caráter da paciente acima descrito, administrei-lhe uma dose de Graphites 200 e deixei uma dose de Sac. lac. em pó para tomar no dia seguinte. Solicitei que me procurasse em três semanas no meu consultório, se ela estivesse apta. Em 1º de julho ela veio ao meu consultório, conforme o combinado, dizendo: “Estou quase boa, melhor do que nunca estive nesses três últimos anos. A erupção quase desapareceu, somente alguma umidade permanece nas dobras da pele e a queimação que me atormentava cedeu quase totalmente”.
Eu administrei mais uma dose de Graphites 6m, era a potência mais alta que tinha em mãos no momento, junto com Sac. lac. para tomar na sequência e solicitei retorno em 30 dias, o que ela fez sentindo-se ainda melhor. Não administrei mais nenhuma dose. Esse quadro clínico e método de individualização, junto à doutrina, foi realizado à luz dos estudos do Organon e da Matéria Médica Pura. A cura ocorreu de acordo com os três primeiro parágrafos do Organon.
Caso 2: Tradução de “A Clinical Case”, de G. Pompili, em The Medical Advance 1891;26(2):144-146
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Caros colegas: encaminho a vocês um caso clínico. Não é muito, mas espero que vocês apreciem porque ele oferece uma boa prova da necessidade e do poder da individualização hahnemanniana. Eu estava de férias em Spoleto no verão de 1887. Era mês de agosto quando a Marquesa Lavinia Monold i-Toni adoeceu por vários dias e um médico homeopata da cidade começou a tratar dela. A enfermidade foi piorando seriamente e fui convidado a ver a paciente, uma vez que ela já tinha sido minha cliente e também porque ela sempre foi adepta da homeopatia. Tomei o caso junto com o colega que então a assistia. Era um caso que afetava profundamente os centros nervosos e que era difícil diagnosticar em termos de patologia nosológica. Mas não importava, já que a paciente apresentava sintomas bem homeopáticos e individualizantes.
Os sintomas eram: depressão e total prostração da força. Ela permanecia deitada na cama numa contínua e completa sonolência. Além dessa extrema fraqueza, também sofria de um tipo de estupor que nunca foi sua característica durante sua vida. Para alimentá-la era necessário colocá-la em uma posição semi sentada, no entanto não conseguia permanecer nela muito tempo, precisando em seguida deitar-se. Assim que engolia, mecanicamente, algumas colheradas de sopa e alguns goles de vinho, sempre contra sua vontade, ela voltava a seu estupor e sonolência, caindo em letargia. Era difícil para ela falar, respondia brevemente quando questionada e logo adorme -
cia. Não pedia nada, não falava e para tanto era sempre necessário acordá-la. Face sempre pálida. Expressão apática, estuporosa. Temperatura do corpo sempre fria. Pulso lento e fraco. Respiração lenta. Ficou nessa condição por alguns dias e eu, considerando especialmente a fraqueza em todos os sentidos (sensório) da paciente, que era o mais visível dos sintomas, administrei uma dose de Anacardium 3m, o qual de início pareceu fazer um bom efeito. Mas nem esse e nem Arsenicum 200, administrado na sequência, tiveram qualquer efeito e a condição da paciente piorava paulatinamente.
Aconteceu que, numa noite, a marquesa tentou sair da cama e logo caiu no chão como um cadáver; foi necessário colocá-la na cama, já que era incapaz de qualquer reação. Enquanto esses sintomas se intensificavam, outros se manifestaram, mais mortais, e que nesses casos podem revelar o prelúdio da morte, quais sejam a emissão involuntária de fezes e urina. Parecia que uma paralisia completa seria o último evento, pois ela era de uma constituição nervo-linfática e com mais de setenta anos. Não havia esperança e os familiares estavam certos da perda iminente. Eu também quase perdi a esperança, mas me devotei a um longo e diligente estudo da Matéria Médica e o resultado foi que, se existia um medicamento, pela manifestação dos sintomas, esse seria Hyosciamus.
Então, em 28 de agosto, eu administrei uma dose seca na língua de Hyosciamus 200, com a intenção de passar sucessivamente à
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potência CM. Mas não foi necessário, porque essa dose sozinha, após produzir uma exacerbação de todos os sintomas, foi, em pouco tempo, para espanto de todos, seguida de uma melhora gradual que, após dois dias, trouxe a paciente a uma recuperação completa.
Hoje em dia, em sua idade avançada, a marquesa ainda goza de uma excelente saúde, confirmando para todos os efeitos benéficos da homeopatia. Como comentário para esse episódio clínico, poderíamos deduzir os seguintes corolários: 1) Um bom médico homeopata não deve nunca ter pressa em fornecer a prescrição antes de ter estudado o quadro completo da enfermidade 2) Quando o medicamento responde para todos os sintomas peculiares e característicos do caso, uma única dose é capaz de curar, mesmo em casos muito graves.
Comentários
Os estudos de textos antigos, tais como esses que foram traduzidos diretamente dos arquivos do The Medical Advance, publicados na época áurea da homeopatia norte-americana, são deveras estimulantes. O comentário que ouso desenvolver não se presta a defender nenhum tipo de prática homeopática e nem é uma crítica específica a qualquer proposta moderna de abordagem de casos clínicos.
Antes de tudo, é um resgate de uma época quando se praticava uma homeopatia que lançou as bases do que fazemos hoje e, ao
mesmo tempo, ainda com fortes vínculos ao que se pode chamar, com alguma dose de certeza, de uma prática hahnemanniana clássica. Esses dois pequenos casos ilustrativos, como também os casos relatados no artigo publicado na revista Cultura Homeopática 2007;19:42-5, ou ainda em uma vasta gama de casos relatados em várias publicações da citada “homeopathic magazine”, revelam o equilíbrio exercido pelos médicos homeopáticos daquele tempo na busca de uma prescrição adequada ao paciente. Se por um lado rejeitavam peremptoriamente a prescrição pelo nome da doença ou do diagnóstico nosológico, por outro valorizavam sobremaneira os sintomas do doente. Nesse último quesito, o valor da individualização, é onde desejaria me demorar um pouco mais na interpretação. Apesar de não ser objeto desse comentário desenvolver críticas diretas a qualquer método propedêutico em homeopatia, não posso me furtar de observar que vivemos um período onde proliferam teses e teorias, com as assinaturas dos respectivos autores, de como se deve diagnosticar e prescrever homeopatia.
Esses casos vêm mostrar a importância da individualização baseada nos sintomas que são estranhos, raros e peculiares. Óbvio? Pode parecer. No entanto, fico refletindo em como temos buscado caracterizar essa peculiaridade do doente em nossa prática. Como nossa prática pode ter se contaminado com a ânsia de se definir personalidades medicamentosas e, imbuídos de sua busca no relato paciente que se revela em nossa frente, podemos deixar passar em branco
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o sintoma que caracteriza o quadro clínico que se apresenta.
Gosto de relatar uma experiência própria com um paciente agudo, com broncopneumonia de base direita, com inúmeros “sintomas mentais” onde eu procurava uma síntese característica para então encontrar um medicamento semelhante sem sucesso algum por 20 dias. É claro que o paciente apresentava melhoras parciais o que o encorajava, além de sua convicção na homeopatia, a continuar com o tratamento. Eu mesmo considerei com o cliente a possibilidade de entrar com antibióticos, o que ele rejeitou. As imagens radiológicas - foram três até o diagnóstico homeopático final - todas confirmavam a consolidação em base direita, sem evolução clínica de piora ou melhora. Diversos medicamentos foram testados. Foi quando prestei atenção ao sintoma que estava presente desde o início: sensação de uma barra de gelo nas costas. Se teria sido necessário todo esse processo para que o sintoma se abrisse claramente para mim, tenho certeza que não. Se eu estivesse com a mente impessoalmente aberta para a observação clara do fenômeno, ao invés de contaminada por uma hierarquia antes da observação pura, teria chegado ao sintoma mais cedo para benefício do doente. De qualquer modo, o quadro evoluiu maravilhosamente bem após uma dose de Agaricus 200c, sem necessitar outra. A evolução caracterizou-se por uma melhora rápida e suave e em 36 horas não havia mais sintoma algum. Saliento que foi a única vez
que esse paciente respondeu a Agaricus. Tentei retomar o medicamento sem sucesso algum.
De qualquer modo, a busca de um simillimum para o doente é um trabalho caracterizado por um processo que se constrói em comunhão com o paciente, na observação sem preconceitos das evoluções que se apresentam e na escolha dos melhores sintomas que reflitam o que é individual no caso. A busca do que é raro e peculiar nem sempre ocorre no que chamamos de “sintomas mentais”, em que pese que o método de hierarquização clássico aprendido em nossas escolas de homeopatia, é um guia seguro para se iniciar o processo de pesquisa e de construção de um tratamento homeopático. Se fôssemos aplicar nossos métodos de hierarquização, para esse último caso poderíamos levantar:
• Men: desejos, não pede nada • Men: responde, estupor volta após responder
• Gen: fraqueza paralítica • Gen: fraqueza com ausência de reação • Face: expressão estúpida • Sono: sonolência irresistível • Respiração: lenta • Reto: evacuação involuntária
• Bex: micção involuntária. Com esses sintomas temos os seguintes medicamentos: Hyosciamus, Opium, Arsenicum album e Helleborus niger.
Ars já havia sido utilizado sem sucesso e a
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paciente não apresentava a inquietude que caracteriza os seus quadros.
Hell, apesar de ser um medicamento que age profundamente nos centros nervosos, sua característica é mais de lentidão sensorial do que de paralisia e não apresenta a sonolência tão característica da paciente. Resta o diagnóstico diferencial com Op, que jamais poderemos ter certeza de que também não teria agido no caso. A possibilidade de que talvez Op pudesse também mobilizar o caso para a cura deve-se a que os sintomas são muito semelhantes.
No primeiro caso, poderíamos levantar os seguintes sintomas segundo uma hierarquização usual:
• Men: Ansiedade salvação • Men: Humor mutável • Men: Ofende-se facilmente
• Men: Pesar – Magoa • Men: Reza • Pele: Erupções acobreadas • Pele: Erupções crostosas e secas • Pele: Secreção corrosiva escoriante • Pele: Secreção glutinosa
Ao se realizar a repertorização (Repertorium Homeopathicum Digital), nenhum medicamento cobre todas as rubricas. Os três primeiros que aparecem são Ars (não cobre a secreção glutinosa), Calcarea carbonica (não cobre o sintoma “reza”) e Sulphur (não cobre erupções acobreadas).
Vale salientar que se fossemos considerar somente os sintomas mentais eleitos, os únicos medicamentos que cobrem a totalidade são Calc e Pulsatilla pratensis - o último entrando no diagnóstico diferencial
somente pelos dados psíquicos. Graphites aparece em sétimo lugar. O que importa observar é que provavelmente a escolha recorreu sobre Graph exatamente pela característica patogenética do medicamento, cujas características erupções de pele são, via de regra, as indicações mais relevantes desse medicamento.
É claro que lendo a matéria médica clínica de Graph, encontramos um quadro psíquico compatível com o relatado pela paciente, mas não se tratava do que realmente era singular no caso e, sim do quadro como uma totalidade sintomática singular, onde as erupções e suas características bem modalizadas tiveram parte relevante na escolha do medicamento. Por último, e não menos importante, vale um comentário sobre uma singela observação feita e relatada pelo Dr. Noe, quando ele ouvia atentamente e olhava com segurança para sua paciente descrente. Trata-se de uma das grandes virtudes que oferece a prática homeopática: uma relação médico-paciente profunda e intensa, que considera os diversos aspectos e humaniza o processo de enfermidade, além da construção pelo sujeito de sua própria cura, e leva para além da própria terapêutica medicamentosa o desenvolvimento do cuidado com o doente.
In: http://revista.aph.org.br/index.php/ aph/article/view/10/16
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Novas evidências documentais para a história da homeopatia na América Latina: um estudo de caso sobre os vínculos entre Rio de Janeiro e Buenos Aires
New documental evidences on the history of homeopathy in Latin America: a case study of links between Rio de Janeiro and Buenos Aires
Conrado Mariano Tarcitano Filho In memoriam
Silvia Waisse Pesquisadora, Centro Simão Mathias de Estudos em História da Ciência/ Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); professora, Programa de Estudos Pós-graduados em História da Ciência/PUC-SP. Rua Caio Prado, 102/salas 46-49
01303-000 – São Paulo – SP – Brasil swaisse@pucsp.br
RESUMO
A homeopatia começou a propagar-se logo após sua formulação por Samuel Hahnemann, nos primeiros anos do século XIX, chegando ao Cone Sul na década de 1830. Esse processo é tradicionalmente vinculado à gura de um “introdutor”, por vezes alcançando estatuto mítico. No entanto, pouco se sabe acerca da chegada da homeopatia à Argentina nesse período. Com base em trabalho de arquivo, identi camos uma clara circulação de homeopatas médicos e leigos no eixo Rio de Janeiro-Buenos Aires. Dada a conhecida atividade proselitista desenvolvida nos círculos ligados aos homeopatas leigos B. Mure e J.V. Martins no Rio de Janeiro, a documentação disponível aponta para a possível extensão desse movimento também na Argentina, o que não tinha sido evidenciado até o presente.
Palavras-chave: homeopatia; século XIX; Brasil; Argentina; documentação.
ABSTRACT
Homeopathy began to spread soon after it was formulated by Samuel Hahnemann in the early 1800s, responsible for introducing it, often attaining quasi-mythical status. Little is known, however, about how homeopathy reached Argentina at that time. Through archival research, we discovered that medical and lay homeopaths circulated between Rio de Janeiro and Buenos Aires. Given the well-known proselytizing of the circles gravitating around lay homeopaths B. Mure and J.V. Martins in Rio de Janeiro, the dountil now.
Keywords: homeopathy; nineteenth century; Brazil; Argentina; documentation.
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A homeopatia começou a se propagar pelo mundo logo após sua formulação por Samuel Hahnemann (1755-1843), na futura Alemanha, na primeira década do século XIX. De modo geral, esse processo seguiu um padrão identi cável nos diversos países e regiões: introduzida por algum médico ou a cionado leigo, rapidamente a homeopatia passa a interessar um grande número de médicos, assim como membros in uentes da comunidade – políticos, intelectuais, jornalistas, nobres, governantes, militares etc. Na esteira disso, são fundadas associações, periódicos, cursos de divulgação e de formação, e são oferecidos serviços de atendimento. Eventualmente, surgem movimentos solicitando a abertura de hospitais e cursos universitários, que, sistematicamente, confrontam a resistência das instituições da medicina convencional.
O mapa do circuito migratório da homeopatia (Figura 1) demonstra que ela chegou ao Cone Sul a partir da década de 1830, sendo desenvolvida no Brasil (1836), na Colômbia (1837), no Paraguai (1848) e no Uruguai (1849). Além disso, o Brasil se tornou um centro propagador não só regional, mas também para países da África e do Oriente (Tischner, 1939, v.4, p.727, 750). O mapa ilustrado na Figura 1 mostra a Argentina como área sem homeopatia no século XIX, embora seja reconhecida como um dos principais centros internacionais da homeopatia no século XX. Essa situação curiosa não é abordada na literatura internacional, tampouco na produzida na própria Argentina. De fato, a maioria de trabalhos sobre a história da homeopatia nesse país foi realizada por clínicos ho-
meopatas muito bem intencionados, mas sem os recursos conceituais e metodológicos da pesquisa em história da ciência, da tecnologia e da medicina. Além disso, esses estudos estão mais dedicados a celebrar efemérides e precursores do que a compreender uma determinada encruzilhada na história da medicina. Cabe destacar que esse não é um fenômeno incomum: na historiogra a da homeopatia, reconhece-se que, até recentemente, os estudos históricos foram basicamente realizados por clínicos homeopatas com o propósito de estabelecer a natureza cientí ca dessa disciplina diante dos ataques da medicina convencional (Dinges, 1996).
Figura 1: Difusão da homeopatia no século XIX (Fonte: elaborado pelos autores)
A única exceção ao quadro pintado antes é representada pelo trabalho de conclusão do curso de graduação em história de A. Walzer Vijnovsky (2008), neto de um célebre homeopata argentino. Meritória pela pesquisa documental, a obra, no entanto, mistura, sem qualquer ordem e critério, menções e transcrições de documentos com relatos, muitos deles míticos e contraditórios, transmitidos acriticamente como parte da tradição herdada. Além disso, a literatura internacional não faz qualquer menção à presença de atividade homeopática na Argentina no século XIX. No entanto, a nossa pesquisa identi cou nesse país elementos típicos da difusão no Oitocentos, com associações de classe, publicações, sucesso no combate a epidemias, apoio de personalidades destacadas e, é claro, ataques por parte da medicina convencional. Assim, foi possível produzir um novo mapeamento da chegada e da difusão da homeopatia na Argentina, com alguns resultados inéditos.
O mito do herói introdutor
Em geral, os estudos tradicionais destacam a gura de um “introdutor”, e a discussão, consequentemente, focaliza três pontos: a delimitação do papel desses introdutores, as evidências que permitem sustentar que a homeopatia foi propagada por um ou outro “introdutor” e a maneira como essa “introdução” teria sido realizada. Por vezes, os estudiosos chamam os introdutores de “emissários”, “missionários” ou, ainda, “apóstolos” (Tischner, 1939, v.4, p.722-723; Galhardo, 1928, p.554; King, 1905, v.1, p.20).
Nesse contexto, é possível identi car dois modelos gerais de difusão da homeopatia no século XIX. Um deles é baseado na participação de médicos, sendo que alguns deles teriam procurado Hahnemann para resolver problemas pessoais de saúde
e, diante do sucesso terapêutico, passaram a estudar a homeopatia e, em seguida, a praticá-la. Muitos desses médicos residiam fora da Alemanha e, ao retornar a seus países de origem, além de exercer, também ensinaram homeopatia.
O segundo modelo, embora similar, refere-se ao mediado por pacientes (não médicos), que também passaram a se interessar pela terapêutica hahnemanniana, divulgando-a em seus países de origem e, eventualmente, também clinicando. Podemos mencionar, apenas como alguns exemplos ilustrativos, o caso do dinarmaquês Hans B. Gram (1787-1840), considerado o “introdutor” da homeopatia nos EUA. Em viagem à Dinamarca, tratou-se e estudou com o médico Hans C. Lund (1765-1846), que, por sua vez, havia aprendido homeopatia diretamente com Hahnemann e, por ter traduzido os textos deste ao retornar à Dinamarca, é considerado o “introdutor” da homeopatia nesse país escandinavo. Já Gram é considerado o “introdutor” da homeopatia nos EUA, pois, ao retornar, em 1825, publicou um pequeno texto com intenção propagandística, sendo que, além de ensinar homeopatia aos médicos John Gray (1804-1882) e Federal Vanderburgh (1788-1868), não teve qualquer outra participação na disseminação da homeopatia nos EUA (Winston, 1999).
Curiosamente, no caso da Espanha, são identi cados vários “introdutores”. De acordo com Tischner (1939, v.1, p.728), a introdução da homeopatia nesse país teria sido realizada, em 1829, pelo médico italiano Cosimo M. de Horatiis (1771-1850), que, participando da comitiva real enviada pelo rei de Nápoles para o casamento de dona Maria Cristina com dom Fernando VII, proferiu uma palestra sobre homeopatia na Academia de Medicina de Madri. Apesar de ser, por isso, considerado o “introdutor” da homeopatia na Espanha,
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essa palestra não teve qualquer consequência. De acordo com W.H. King (1905, p.20), a homeopatia só teria começado a ser exercida no ano seguinte, quando um comerciante de nome Zuarte foi consultar Hahnemann na Alemanha e, satisfeito com o resultado de seu tratamento, levou vários exemplares dos livros de Hahnemann para a Espanha e os distribuiu entre os médicos da Andaluzia, onde o exercício da homeopatia se iniciaria de fato. Estudos mais recentes, no entanto, destacam que as primeiras notícias sobre a homeopatia, publicadas nos Anales de Ciencia, Literatura y Arte, em 1832, chamaram a atenção de Prudencio Querol, médico de Badajoz, que teria sido o primeiro a experimentar essa medicina em pacientes. Posto que o primeiro farmacêutico a preparar medicamentos homeopáticos, Juan Manuel Rubiales, também residia em Badajoz, onde foi fundado o primeiro periódico especializado no tema, os estudiosos espanhóis consideram essa cidade o berço da homeopatia espanhola (GonzálezCarbajal García, 2008).
Frequentemente, a gura do introdutor é rodeada de mitos e lendas, utilizados para legitimar a homeopatia. No relato-padrão, um grande personagem, em geral, um vulto histórico, um herói nacional ou um membro da aristocracia é quase que milagrosamente curado pelo “introdutor”, despertando o interesse da população. Como exemplos, podemos citar o médico Mathias Marenzeller (1765-1864), “introdutor” da homeopatia na Áustria, que teria tratado de um duque austríaco e, posteriormente, levado o célebre general Karl Philipp zu Schwarzenberg (1771-1820) a se tratar com Hahnemann (Tischner, 1939, v.4, p.722-723). Outro exemplo bem conhecido é o do farmacêutico transilvano Johann Martin Honigberger (1794-1869), que foi chamado à Índia para tratar o marajá Ranjit Singh (17801839) (Waisse, 2014).
Vale a pena ainda mencionar o caso de Portugal – sempre com implicações na cultura médica brasileira –, onde tudo indica que os primeiros práticos homeopatas foram tanto leigos quanto médicos diplomados (Pereira, Pita, Araújo, 2005), como, por exemplo, Florêncio Peres Furtado Galvão, professor de matéria médica e farmácia na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, que incluía elementos de doutrina homeopática em suas aulas. (1) No entanto, a introdução da homeopatia seguiria o padrão já descrito, particularmente graças ao apoio das elites, incluindo o próprio rei dom Pedro V, além de ministros do Império, como Manuel da Silva Passos (1805-1862) e o duque de Saldanha (1790-1876) e, igualmente, jornalistas como Camilo Castelo Branco (1825-1890) e Rebello da Silva (1822-1871). Nesse sentido, destaca-se a gura de Silva Passos, um mito político por si mesmo, que, doente desde a infância, achara alívio apenas na homeopatia, que passaria a promover, após denunciar que os médicos convencionais “não [estudam] nada, não [sabem] nada, mas [falam] de tudo” (Silva Passos, 1861, citado em Araújo, 2005, p.155).
A segunda gura pública que merece destaque é o lósofo, jurista e ministro de dom João VI, Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846), que, depois de ter conhecido Hanhemann durante seu exílio em Paris, em 1839, obteve para ele a nomeação como um dos vinte “membros honorários de 1a classe” da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa (Pereira, Pita, Araújo, 2005, p.573), (2) ao lado de guras como Anthelme Richerand (1779-1840), Gabriel Andral (1797-1876), Karl F. Burdach (1776-1847) e François Magendie (17831855). Não por acaso alguns dos candidatos a “introdutor” da homeopatia no Brasil, como Germon e Mure (discutidos mais adiante), alegariam contatos pessoais com
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Pinheiro Ferreira, precisamente para legitimar a pretensão ao “título”. Dessa forma, é pertinente rever o papel desempenhado pelos supostos “introdutores” em relação àquele desenvolvido pelos indivíduos que, efetivamente, promoveram a propagação, divulgação e solidi cação da homeopatia nos diversos países. Os padrões descritos também podem ser identi cados na América do Sul, como veremos a seguir.
Homeopatia no Brasil: para além do mito fundador
A literatura é unânime em apontar Benoit Jules Mure (1809-1858) como o introdutor da homeopatia no Brasil (Galhardo, 1928; Luz, 1996, p.58; Rosenbaum, 2002). O estatuto heroico do introdutor revela-se, por exemplo, no fato de que o Dia Nacional da Homeopatia, 21 de novembro, comemora a chegada do francês Mure ao Brasil em 1840. Igualmente, quase toda publicação produzida no país, sem foco histórico particular, começa por variantes da frase “A homeopatia foi introduzida no Brasil por Mure”. (3)
Não é o nosso propósito neste trabalho analisar a construção do “mito Mure”, visto se tratar de assunto extremamente complexo e que merece estudo à parte. Todavia, para o que nos interessa neste ponto, torna-se relevante indicar a natureza mítica da gura do “introdutor”, por meio de evidências agradas, com certa constância, na documentação disponível. Assim, de acordo com essa documentação, as primeiras evidências de atividade homeopática no Brasil estão vinculadas ao médico suíço Frederico Jahn que, já em 1836, defendeu uma tese intitulada Exposição da doutrina homeopática (Jahn, 1836) junto à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Nesse trabalho, o autor mostra um profundo conhecimento da teoria e da prática homeopáticas e, por
meio de um discurso in amado, revela mais interesse em fazer uma ardente defesa partidária do que em cumprir meras formalidades acadêmicas, como questionaria, quase um século depois, J.E.R. Galhardo (1928, p.273). De todo modo, o trabalho pioneiro de Jahn foi corroborado, em sua própria época, tanto por partidários quanto por opositores da homeopatia. Entre os partidários, por exemplo, o médico Domingos de Azeredo Coutinho de Duque Estrada (1812-1900) a rma que seu primeiro contato com a homeopatia foi, precisamente, mediado por Jahn, que lhe forneceu os primeiros livros para seu estudo (Duque Estrada, 1845). A rma ainda que, embora realizasse suas primeiras experiências com a terapêutica homeopática em 1840, “nos casos nos quais a alopatia falhava”, só passaria a utilizar essa modalidade preferencialmente a partir de 1842-1843, por ocasião de uma epidemia de escarlatina no Rio de Janeiro, durante a qual “até os médicos morriam” e “não tinha nada a se fazer”, mesmo com certo receio de ser perseguido, uma vez que ele se supunha “então ... o único homeopata no Rio de Janeiro ... pois os Srs. Drs. Mure e Lisboa ainda aqui não exerciam a nova doutrina” (p.5-7). Dentre os opositores, destaca-se José de C.R. de Andrade, fervoroso partidário da medicina de François-J.V. Broussais (1772-1836), que em 1842 defendeu a segunda tese sobre (e a primeira contrária) a homeopatia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (Andrade, 1842). Os alvos do autor foram, naturalmente, Jahn, além de José da Gama e Castro (17951893) e Emílio Germon (1799-?).
Gama e Castro, redator do Jornal do Commercio, publicaria em 1841 uma série de artigos em defesa da homeopatia a pedido de Mure – na época em Saí, Santa Catarina, como veremos mais adiante. Viajando à Europa em 1842, Gama e Castro
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foi sucedido por Germon nessa tarefa. O trabalho de Andrade – especialmente sua queixa “É inexplicável a rápida conversão dos nossos homeopatas!” (Andrade, 1842, p.22) – demonstra que a atividade homeopática desenvolvida no Rio de Janeiro, antes de Mure se estabelecer na cidade (1843-1848), já era notável, a ponto de ser atacada.
Germon era um médico francês que veio ao Brasil no início da década de 1820, em viagens de pesquisa sobre história natural por encomenda do então ministro do Império José Bonifácio de Andrada (17631838). Quando José Bonifácio perdeu o cargo, Germon deixou de contar com a proteção o cial e voltou à França, onde aprendeu homeopatia com Hanhemann. Nomeado pelo governo francês membro de comissões sanitárias, Germon foi um dos responsáveis pelo tratamento dos afetados pela epidemia de cólera que assolou Marselha em 1835, como atesta carta enviada pelo prefeito dessa cidade (Germon, 1848, p.311). Na sequência, em 1837, retornou ao Brasil, onde deu continuidade a sua prática clínica homeopática.
De acordo com meticuloso trabalho de arquivo, Raquel S. iago (1995) demonstrou que Mure não realizou qualquer atividade homeopática sistemática até pelo menos 1843, quando se estabeleceu no Rio de Janeiro. Foi precisamente nesse ano que Germon publicou a primeira edição do seu Manual de homeopatia, cuja importância pode ser medida pelo fato de que a primeira edição, de dois mil exemplares, se esgotou completamente, levando à produção de uma segunda (1848) e uma terceira (1858) (Silva, 1870, p.169). (4)
Cabe mencionar ainda que essa é uma das 43 obras de medicina, cirurgia e história natural publicadas no Brasil entre 1808 e 1843, excetuando traduções de três obras
estrangeiras e três publicações seriadas (Paula, 1998). Germon chegou a ser considerado, em 1847, junto com Frederico L.C. Burlamaque (1803-1866) e Alexandre A. Vandelli (1784-1862), para o cargo de diretor do Museu Nacional (Marques, Filgueiras, 2009).
Em 1822, os moradores da vila de Parati zeram uma subscrição a m de compensá-lo diretamente pelos cuidados médicos e cirúrgicos a serem prestados anualmente aos assinantes e suas famílias, quando o costume era que os médicos recorressem à Fisicatura-mor para receber seus pagamentos (Pimenta, 1997, p.30). Como é sabido, Mure, na verdade, veio ao Brasil em 1840 para fundar um falanstério fourierista, (5) o que tentou realizar em Saí. (6) Como observa Germon – con rmado na documentação recolhida por iago (1995, p.143) –, Mure não chegou a desenvolvê-lo nem a fundar instituições tais como a Escola Suplementar de Medicina e o Instituto Homeopático de Saí, que aparentemente nunca saíram do papel, apesar de anunciadas pelo Jornal do Commercio. Provavelmente, movido pela falta de sucesso em Santa Catarina, Mure decidiu transferir-se, em 1843, para o Rio de Janeiro, onde deu início a suas atividades homeopáticas e onde, também, já existiam antecedentes e condições para tanto, conforme vimos.
“O médico do povo”: práxis leiga e difusão da homeopatia
Apesar dos problemas mencionados, a delicada constituição do mito em torno da gura do “introdutor” merece ser analisada para além dos evidentes equívocos e contradições que lhe deram base. Nesse caso, seria interessante lembrar que a impressionante difusão da homeopatia no Brasil deve ser, efetivamente, atribuída ao trabalho conjunto de Mure e João Vicente
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Martins (1808-1854). Igualmente e por motivos que logo veremos, seria bom lembrar que esses dois homeopatas lendários não eram diplomados em medicina. De fato, a formação de Mure sempre foi um assunto altamente polêmico, desde sua própria época até os dias de hoje. (7) Assim, visando esclarecer essa questão polêmica, realizamos uma consulta junto à direção de arquivos da Faculdade de Medicina de Montpellier, cujo resultado permitiu veri car que Mure cursou um único semestre em 1837 (Figura 2). (8) Na verdade, tal resultado seria de se esperar, pois tudo indica que, para Mure, a homeopatia era uma prática alheia à medicina. Suas manifestações nesse sentido foram as mais variadas, chegando até mesmo a a rmar que os praticantes da homeopatia deveriam ser formados e treinados em instituições próprias, para que não se “contaminassem” com os conceitos e práticas da medicina acadêmica. Essa separação radical da medicina seria, aliás, o que justi caria o maior progresso da homeopatia no Brasil em comparação à Europa:
Chegou o tempo de revelar as causas profundas que entravaram durante 50 anos o desenvolvimento da homeopatia na Europa e de patentear a razão por que o Brasil tem em tão poucos anos sobrepujado os trabalhos de todos os homeopatas do mundo desde o princípio do século atual. A posição atual da homeopatia no Brasil não tem igual em nenhuma parte do velho continente. ... Enquanto a homeopatia for entregue a seus maiores inimigos, praticada e ensinada pelos médicos, o seu progresso será vagaroso e duvidoso o seu porvir. ... O golpe mais fatal que recebeu a homeopatia no seu país natal foi a fundação de cadeiras de homeopatia no seio das faculdades alopáticas (Mure, 8 abr. 1848). (9)
Figura 2: Registre des examens, 1837-1847, Montpellier (Fonte: Direction des A aires Générales, Université Montpellier 1, França)
Não se tratava de mero discurso. Ao contrário, com a colaboração de Martins, Mure lançou-se com todo ímpeto à fundação de instituições associativas, de ensino e atendimento clínico, como o Instituto Homeopático do Brasil e a Escola Homeopática do Brasil, enfatizando a formação de leigos e o caráter lantrópico e intrinsecamente cristão da homeopatia (Galhardo, 1928, p.514-518, 660-661).
Ângela Porto (1989) observou que esses esforços continuariam após o retorno de Mure à Europa, em 1848, inclusive com a criação de um laboratório homeopático no Rio de Janeiro, ocupado na preparação de boticas homeopáticas que eram enviadas para todo o país, acompanhadas de folheto com instruções para uso e preparo dos medicamentos. O uso leigo e doméstico da homeopatia foi particularmente enfatizado nas publicações produzidas por Mure, Martins e seus discípulos, a começar pela tradução brasileira de O médico do povo: instruções pondo ao alcance dos homens conscienciosos e de boa vontade os processos mais aperfeiçoados e as mais recentes descobertas da arte de curar, indicando os meios de tratar todas as moléstias segundo os princípios da homeopatia (Mure, 1853, 1868), assim como em outras publicações desse gênero. Entre essas, alguns dos exemplos mais notáveis seriam: Medicina doméstica homeopática ou Guia prático
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da arte de curar homeopaticamente (Cochrane, 1868); Homeopatia doméstica (Chidloe, 1853); e O médico das crianças ou conselhos às mães sobre a higiene e tratamento homeopático das moléstias de seus lhos (Almeida, Lemos, 1860). (10)
Desse modo, no Brasil, a homeopatia em sua vertente leiga e contestatória se automarginalizou da medicina o cial graças à ativa intervenção de Mure e Martins. Por meio de um sólido trabalho de arquivo, T.S. Pimenta demonstra a frustração do establishment médico, devida à incapacidade de coibir o desenvolvimento de uma rival cada vez mais poderosa.
Assim, por exemplo, durante a epidemia de cólera de 1855, a Secretaria de Polícia da Corte publicou uma listagem dos médicos habilitados por endereço e “sistema de curativo” (convencional ou homeopático), demonstrando o nível de reconhecimento governamental e a reputação da homeopatia na sociedade em geral (Pimenta, 2003, p.215-216; 2004, p.42). Por esses e outros motivos, impossível não concordar com Pimenta quando a rma que um dos principais motivos do con ito entre médicos acadêmicos e homeopatas foi a insistência inabalável de Martins de que não havia necessidade de formação médica para exercer a homeopatia.
Todavia, para o que se seguirá aqui, é necessário lembrar que uma parte signi cativa do projeto de Mure e Martins incluía o envio de “missionários catequizadores” a todas as províncias do Império e a diversos países vizinhos. Certos documentos apontam para o envio de “missionários catequizadores” também à Argentina. A omissão desse aspecto por quem se dedicou ao estudo histórico da homeopatia argentina poderia, inclusive, indicar que tais missionários não exerceram qualquer in uência nos desenvolvimentos posteriores. No entanto, nos deteremos, jus-
tamente, nesse aspecto histórico que com frequência foi esquecido, em parte porque ilustra claramente o projeto de Mure e Martins; em parte porque a compreensão mais ampla de tal projeto nos permitiu lançar luzes diferentes, ou mesmo inéditas, sobre o histórico da homeopatia argentina.
Esse histórico começaria, ainda no Brasil, a partir de um texto publicado no n.226 do Jornal do Commercio, de 17 de agosto de 1851, no qual Martins relata que o Instituto Homeopático do Brasil havia chancelado a ida de professores formados pela Escola Homeopática do Brasil a Montevidéu e à Argentina em janeiro de 1850.
Esses professores eram o padre Santiago Estrázulas y Lamas e João Christiano D’Korth, nenhum deles médico. (11) O único documento localizado que indica a possível presença deles na Argentina é uma carta de D’Korth para Martins, datada de 24 de julho de 1851 e publicada por Martins (17 ago. 1851) no Jornal do Commercio:
tendo passado em diversos pontos da Confederação Argentina, demorando-me em cada um deles tão somente o tempo necessário para dar a conhecer às vantagens da homeopatia e nunca o preciso para ganhar dinheiro, porque meu lema sempre foi o de – caridade sempre – em todo o tempo de minha missão de propaganda, o executei tão rigorosamente, que até os próprios habitantes do campo e povoados por onde passava se admiravam que pudesse haver um homem a quem se desse o nome de médico, que trabalhasse sem recompensa e com sacrifícios e despesas, todavia cheguei a receber reprovações de alguns comandantes dos povos onde exerci a homeopatia por praticá-la com tão absoluto desinteresse.
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A introdução da homeopatia na Argentina
Um primeiro aspecto que chama a atenção na historiogra a da homeopatia argentina é a falta da gura de um “introdutor” bem de nido, pois até o momento não se tem uma ideia clara de como nem por meio de quem a homeopatia aportou na Argentina. (12) O primeiro homeopata conhecido a clinicar no país foi o médico francês Guillermo Darrouzain (18021869). No entanto, sua atividade clínica na Argentina e no Uruguai, em 1837 e 1838, não foi homeopática. De acordo com um anúncio que publicou em 1855, nesse momento acabava de retornar à cidade de Rosário, tendo adquirido “novos conhecimentos”, isto é, os homeopáticos (Vijnovsky, 2008, p.355-356).
Em algum momento de sua trajetória, Darrouzain foi perseguido pelo governo de Juan Manuel de Rosas (1793-1877) e, tendo que suspender sua atividade pro ssional, é possível que tenha aproveitado esse intervalo para aprender homeopatia. Na época, as vias de difusão da homeopatia irradiavam a partir do Rio de Janeiro, de modo que é provável que Darrouzain tivesse aprendido inicialmente com discípulos de Mure e Martins no Uruguai, possivelmente o padre Estrázulas y Lamas.
Nesse sentido, deve-se apontar um fenômeno bastante signi cativo, embora não identicado pelos estudiosos até o momento. O governo de Rosas, especialmente seu segundo período (1835-1852), foi caracterizado por uma violenta intolerância política, diante da qual os opositores só encontravam saída no exílio (Luna, 2009, p.51) em Montevidéu, no Chile, na Bolívia e também no Rio de Janeiro. No último caso, alguns exilados aproveitaram o período transcorrido na capital brasileira para adquirir formação em homeopatia. O primeiro exemplo relevante é fornecido pelo caso de Amado Laprida (1823-1862), lho de Narciso de Laprida (1786-1829), presidente do congresso que decretou a independência da Argentina da Espanha em 1816. Fugindo
de Rosas, Amado se exilou no Rio de Janeiro, onde completou a formação no Instituto Homeopático do Brasil, entre 1844 e 1849 (Vijnovsky, 2008, p.361-362). De modo interessante, esse título foi o cialmente reconhecido na Argentina para a prática convencional da medicina. Outro caso ainda mais notável é o da reputada educadora Juana Manso (1819-1875), que, num artigo publicado em 1871, fez uma retrospectiva de sua experiência com a homeopatia (Manso, 1871). Manso, também exilada devido ao governo de Rosas, estabeleceu-se no Rio de Janeiro entre 1844 e 1846 e novamente entre 1848 e 1853, isto é, quando Mure ensinava e praticava a homeopatia na cidade. Manso fez relatos acerca de seus contatos com Mure e, mais especialmente, com Martins, além de outros, assim como do fato de que ela, sua mãe e uma de suas lhas haviam sido salvas da epidemia de febre amarela pelo tratamento homeopático. Além disso, o aparente sucesso de sua prática homeopática doméstica fez com que vários dos seus vizinhos a procurassem para a solução de diversas condições mórbidas. (13)
Os depoimentos de Manso são de grande relevância para a história da homeopatia argentina, porque dão evidências de trocas homeopáticas entre o Brasil e a Argentina e abrem espaço para que se desenhe a possibilidade de a homeopatia ter sido incrementada na Argentina a partir de conhecimentos obtidos com Mure e Martins no Brasil. Também merece destaque o caso de Domingo Matheu (18171870), cujo pai, com o mesmo nome, participou na Primera Junta de Mayo, que governou a Argentina após a independência. Matheu Filho também passou uma temporada de exílio no Rio de Janeiro, retornando a Buenos Aires em 1854, quando, a m de obter o título de doutor em medicina, apresentou uma tese intitulada Algunas consideraciones sobre la homeopatía (Matheu, 1854), na qual contesta os princípios homeopáticos, dos quais se mostra profundo conhecedor. Uma vez que, na época, conforme pontuado até aqui, não havia atividade homeopática detectável na Argen-
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tina (além da exata coincidência entre a data de sua chegada e a de sua tese), é mais que provável que também Matheu tivesse adquirido seus conhecimentos no Rio de Janeiro. Assim, embora identi cada, a circulação aqui descrita, bem como suas possíveis implicações para o desenvolvimento da homeopatia na Argentina, ainda demanda muita atenção. Essa observação se torna ainda mais intrigante ao se considerar que os exemplos citados dizem respeito a personalidades públicas.
Primeira instituição e primeiros problemas Embora tenhamos identi cado a presença e a atividade de homeopatas na Argentina pelo menos desde a metade do século XIX, a primeira instituição formal, a Sociedad Hahnemanniana Argentina, foi fundada apenas em 1869, sob o patrocínio do médico homeopata espanhol Antonio Álvarez Peralta, membro da Sociedad Hahnemanniana Matritense. As tarefas assumidas pela sociedade abrangiam a publicação do Boletín de la Sociedad Hahnemanniana Argentina, que circulou de maio de 1869 a outubro de 1872, com artigos sobre a teoria e a prática homeopáticas, dedicados ao público médico. Por esse motivo, também incluía matérias de interesse geral da classe médica, como a da criação contemporânea do Consejo Nacional de Higiene (CNH), a da regulamentação das casas de tolerância e, a partir de 1871, sobre a epidemia de febre amarela. Esta última foi exatamente o motivo para a redução na frequência de publicação do Boletín, a partir de janeiro de 1871, como informa o seu comitê editorial, no n.16, de 1871, e para o encerramento completo das atividades da sociedade em outubro de 1872 (Sociedad..., 1871, p.362-363; 1872, p.393394).
Nesse ínterim, a homeopatia sofria os primeiros ataques, como evidencia o debate em relação à criação do CNH. Assim, o editorial do Boletín, de 25 de agosto de 1870, alerta para o fato de que o projeto de fundação do CNH era uma “arma preparada para destruir a homeopatia em Buenos Aires, que é o pesa-
delo dos senhores homeopatas” (Sociedad..., 1870). O texto se refere aos artigos estatutários que outorgavam ao CNH o poder de scalizar o exercício da medicina e da farmácia. Em paralelo, um acirrado debate ocupou grande espaço na Revista Médico-quirúrgica, entre maio de 1860 e junho de 1870, fazendo com que, quinzenalmente, essa polêmica se reavivasse nas páginas da revista voltada para o público médico convencional. O estopim para tal debate foi a publicação da obra Reseña del sistema médico homeopático y dosis in nitesimales, acompañada de algunos documentos y datos estatísticos, pelo médico homeopata Juan Corradi (?-?), membro da Sociedad Hahnemanniana Argentina (Corradi, 1869). Tratava-se, evidentemente, de uma obra de divulgação, mas chamou a atenção do editor da revista, Pedro Mallo (18371899), que desa ou Corradi a um debate público no periódico. Não é nosso objetivo, aqui, descrever as posições de um e de outro com relação aos benefícios do tratamento homeopático defendidos por Corradi e fortemente atacados por Mallo, mas apenas evidenciar a presença da homeopatia no cenário médico argentino do século XIX, representado aqui pela mais prestigiada revista médica da época.
A segunda (e curiosa) instituição homeopática argentina
No ano em que a Sociedad Hahnemanniana fechava suas portas, foi fundada outra instituição, a Sociedade Homeopática Argentina (SHA), presidida por Juan Petit de Murat (1832-1888), responsável, a partir de 1875, pela publicação do periódico El Homeópata.
Aparentemente, a SHA dava continuidade à instituição anterior, já que entre seus membros fundadores constavam três da antiga sociedade ora extinta (Jonas,1951, p.134-135). Essa presumível continuidade, assim como a reputação adquirida por Petit de Murat durante o combate à epidemia de febre amarela, (14) parecia ter deixado estabelecido o status da SHA. No entanto, duas notas discordantes
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chamaram nossa atenção. Em primeiro lugar, o fato de uma instituição falir para reabrir imediatamente sob outro nome. Em segundo, a observação do conteúdo de El Homeópata, quando comparado ao do Boletín. Quanto aos aspectos formais, o Boletín é austero, sem imagens de capa, seu conteúdo é estritamente médico, incluindo aspectos da teoria e prática homeopáticas, discussões de casos clínicos e debates com a medicina convencional. Isto é, a publicação estava evidentemente destinada a um público médico. Levando isso em consideração, um lançar de olhos sobre El Homeópata já é capaz de captar um contraste marcante.
Como ilustra a Figura 3, El Homeópata não pretende ser um periódico médico, mas um veículo de divulgação cientí ca e literária, com fortes elementos religiosos, como denota a presença dos anjos nos dois lados do rosto de Hahnemann, um deles anunciando a homeopatia com uma trombeta, e o outro trazendo a coroa para consagrar seu triunfo. O rosto de Hahnemann está pousado sobre uma águia, animal utilizado como símbolo da homeopatia, também presente nas publicações do Instituto Homeopático do Brasil, presidido por Mure. Da mesma forma, há referências bíblicas explícitas a Malaquias 3:20 (Et orietur vobis timentibus nomen meum sol iustitiae et sanitas in pennis eius: Mas para vós que temeis meu nome, nascerá o sol de justiça e nas suas asas trará saúde) (Sacrosancti..., 1986), parafraseadas no subtítulo. Finalmente, o propósito manifesto de “defender a ciência sem privilégios”, praticar a “caridade sem limites” e “agir, em vez de falar”, de modo que se pode concluir que El Homeópata carregava um forte componente ideológico, muito similar ao projeto de Mure e Martins. A análise do conteúdo dos artigos publicados nesse periódico corrobora nossa hipótese.
Figura 3: Primeiro número de El Homeópata (Fonte: Biblioteca Nacional de la República Argentina)
À guisa de exemplo, pode-se citar uma seção reiterada nos vários fascículos, dedicada “Às mães de família e ao público em geral”, em que são oferecidos conselhos sobre nutrição, educação e higiene infantis, além de incentivada a prática leiga e doméstica da homeopatia. Há ainda uma série de artigos, muitas vezes intitulados “Lecciones de Homeopatía”, de autoria de Petit de Murat, que visavam difundir, de modo didático e prático, os fundamentos da prática homeopática entre o público leigo. Essa linha editorial é imediatamente evocativa do tipo de obras publicadas por Mure, Martins e discípulos, descritas anteriormente. Chama a atenção o fato de esta última seção também discutir a situação da homeopatia em outros países. A respeito do Brasil, na “Lição n.VI”, por exemplo, Petit de Murat (5 dez. 1875, p.2) descreve a situação da homeopatia no país, enaltecendo o papel que Mure desempenhara em tal contexto, e enfatiza que diversos alopatas e outras pessoas antes assumidamente contra a prática proposta por Hahnemann estavam agora trabalhando como homeopatas. Encontrase, também, a seção “Cartas edi cantes o instructivas sobre la homeopatía”, que traz textos sobre a vida de Hahnemann e a homeopatia no cenário médico internacional. No entanto, a maior parte do periódico está dedicada a um ataque acirrado, com termos por vezes violentos, à medicina convencional (alopatia), que che-
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ga a ser quali cada de trevas, em oposição à homeopatia, considerada a “luz”. A homeopatia, por compreender em qual “lado se encontram a verdade e a justiça”, poderia curar “para sempre uma doença ... evitar cirurgias ... curar de maneira radical enfermidades nervosas, inclusive a alienação mental” (Murat, 5 dez. 1875, p.1). Avançando nesse raciocínio, propõe-se que: “diminuirá o número de médicos, posto que cada pai de família, cada padre d’almas, cada Prior de convento ou chefe de Regimento poderá ser médico dos seus. Como já existem muitos exemplos. Tudo isso é e pode a ciência homeopática. Não é exagero” (Murat, 1875, p.1).
Literal e explicitamente, tem-se aí reproduzido o modelo de Mure e Martins, o que é referendado por um texto do último, publicado no Jornal do Commercio, em 17 de agosto de 1851, em que a rma:
um dia virá em que todo chefe de família compreenderá como não está fora do seu alcance, de sua inteligência, curar ele mesmo todas as moléstias de seus filhos, de seus parentes, de seus fâmulos e de seus vizinhos menos que ele cuidadosos. Essa convicção virá para todos quando se forem multiplicando os exemplos de curas homeopáticas alcançadas por quem não for médico; e essa multiplicidade de exemplos aí está o clero brasileiro a promovê-la dia a dia, aí estão os nossos discípulos (os que ficaram dignos de si e de nossa maior afeição) para explicar ao povo como facilmente pode ele ter à mão os remédios de seu emprego quando são apropriados (Martins, 17 ago. 1851).
Dada a circulação de homeopatas entre o Brasil e a Argentina e as profundas semelhanças entre os movimentos liderados por Mure-Martins e Petit de Murat, decidimos pesquisar de modo mais abrangente a biografia científica deste último. Com base na informação fornecida por descendentes de Petit de Murat em seminário apresentado no Departamento de Homeopatia da Universidade Maimônides, em Buenos Aires, Argentina, conseguimos estabelecer que Petit de Murat nasceu em 1832 no Rio de Janeiro, sendo seu nome Juan Jacinto Vieyra da Silva Denis Petit de Murat. Não se sabe muito acerca de sua vida, apenas que se casou aos 19 anos no Uruguai e que em 1871 aportou em Buenos Aires, para visitar familiares. Na ocasião, a epidemia de febre amarela estava no seu acme, e Petit de Murat teve atuação destacada, como já foi mencionado. Sendo estrangeiro, Petit de Murat precisava revalidar seu título de médico (Giampietro, 2011, p.207), contudo, não pudemos localizar a tese requerida para tanto. Em 1875, ele apresentou um diploma em antropologia e homeopatia, expedido pela Facultas Universitatis Americanæ apud Philadelphiam, da Pensilvânia, EUA – conservado no acervo familiar. A procura por essa escola na literatura especializada foi infrutífera, de modo que consultamos diretamente o Departamento de Educação do Estado da Pensilvânia, sendo informados de que, se essa escola realmente operou, o fez sem autorização nem acreditação. Desse modo, deve-se concluir que, assim como Mure e Martins, Petit de Murat também não era médico, o que talvez explique por que todos eles defendiam a prática leiga e doméstica e atacavam a classe médica. Tampouco pode ser descartada, embora não tenhamos conseguido localizar documentação confir-
matória, a ideia de que Petit de Murat tivesse adquirido seus conhecimentos homeopáticos no Brasil junto a discípulos de Mure.
Considerações finais
Os resultados de nossa pesquisa apontam para processos de difusão da homeopatia no século XIX que não se enquadrariam nos modelos de elaboração tradicional. Embora por razões bem diferentes, foi possível notar, por exemplo, que a figura do “introdutor” não seria pertinente, tanto no caso brasileiro quanto no argentino. Conforme demonstrado pela documentação, no caso brasileiro, ao menos três homeopatas pleitearam o título de “introdutor” da homeopatia: Germon, Mure e Duque Estrada, sem esquecer, ainda, F. Jahn, responsável pela primeira produção acadêmica sobre o assunto no país.
Por outro lado, essa documentação também demonstrou que os três contendentes principais tiveram destacadíssimo papel no estabelecimento da homeopatia no país, em diferentes níveis de atuação: Germon principalmente como autor, Mure como propagador popular, e Duque Estrada na interface com as instituições médicas oficiais. Ou seja, a nenhum deles poderia ser atribuída, isoladamente, a bem-sucedida implantação da homeopatia no Brasil. A bem da verdade, tudo parece indicar que o trabalho sucessivo ou conjunto de incontáveis personalidades teve, igualmente, papel crucial.
No caso argentino, o modelo baseado na figura do “introdutor” mostra ser completamente inaplicável, posto que sequer parece ter existido um candi -
dato adequado para o título. Talvez esse seja o motivo do marcante vazio no espaço ocupado pela Argentina no mapa da difusão da homeopatia no século XIX. Por outro lado – diferentemente do caso brasileiro, notável pela continuidade institucional até inícios do século XX –, a homeopatia argentina sempre foi dispersa, até a formação de um núcleo duro de estudiosos, práticos e ativistas na década de 1930. (15)
Essa mesma circunstância histórica também vai contra o modelo tradicional, que considera o século XIX o momento de vertiginosa expansão da homeopatia, em oposição ao declínio por ela experimentado no século XX, justamente, a partir da década de 1940, quando na Argentina tem início seu auge. (16)
A pesquisa documental também nos permitiu constatar a existência de uma circulação, ainda pouco conhecida, mas notável, de homeopatas, tanto leigos quanto médicos diplomados, no eixo Rio de Janeiro-Buenos Aires. Igualmente, foi possível verificar a influência dos chamados “missionários catequizadores” enviados por Mure e Martins para além das fronteiras do Império, como indicaria o caso de Darrouzain, um dos primeiros médicos a exercer, reconhecidamente, homeopatia na Argentina. Espera-se, assim, que essas vias de pesquisa, ainda pouco trilhadas, possam trazer novas contribuições para a elucidação do desenvolvimento histórico da medicina na América Latina no século XIX.
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1 Não conseguimos localizar seus dados b iográficos, exceto que deve ter concluído seus estudos de medicina na Universidade de Coimbra em 1835 (Universidade..., 1834, p.13).
2 Nesta e nas demais citações em língua estrangeira, a tradução é livre.
3 Para exemplos desse padrão em publicações, dissertações e teses, vide Monteiro, Iriart (2007); Galhardi, Barros (2008); Loch-Neckel, Carmignan, Crepaldi (2010); Ferreira (2010); Figueiredo, Machado (2011).
4 Notavelmente, essa obra não consta no catálogo de nenhuma biblioteca no Brasil. A cópia consultada para nosso estudo foi obtida junto à Biblioteca Nacional de Lisboa (BNL). Graças à intervenção do Centro Simão Mathias de Estudos em História da Ciência (Cesima), a obra foi digitalizada e na atualidade se encontra disponível on-line por acesso aberto no website da BNL.
5 Como afirma Mure num texto no Jornal do Commercio, de 17 de dezembro de 1840, e é registrado na primeira crônica sobre a história da homeopatia no Brasil, preparada por Alexandre J. de Mello Moraes (1816-1878), discípulo de Martins, para ser apresentada num encontro internacional de homeopatia, realizado em Filadélfia em 1878 (Mello Moraes, 1879, p.2).
6 Para detalhes inteiramente baseados em documentos conservados, ver Thiago (1995).
7 Ao aportar no Rio de Janeiro, em 1840, Mure informou ser médico formado na faculdade de Paris (Thiago, 1995, p.51). No entanto, em sua tese de doutoramento apresenta-se como graduado em Montpellier (Mure, 1843, p.6). Essa versão é corroborada na tradução de L’homéopathie mise à la portée des médecins et des gens du monde (1842), do doutor [Marie-Guillaume-Alphonse] Devergie (1843, p.11), feita por um anônimo membro do Instituto Homeopático do Brasil. No entanto, em 1847 ocorreu um cisma na incipiente comunidade homeopática brasileira, que resultou na criação da Academia Médico-homeopática, exclusiva para médicos e farmacêuticos oficialmente diplomados (Galhardo, 1928, p.424 e s.). Curiosamente, Mure não foi admitido na Academia, e o motivo é indicado pelo médico Maximiano Marques de Carvalho (24 jan. 1848) no Jornal do Commercio (24 jan. 1848): “M. Mure não foi nem é médico homoeopata, nem alopata, mas negociante em fitas, telas e brocados em Lyão, donde é natural”. A polêmica historiográfica seria iniciada por Galhardo (1928, p.475 e s.), que acusa Marques de Carvalho de má-fé e ratifica o grau em medicina de Mure com base num texto que este publicara no Jornal do Commercio em 23 de janeiro de 1848, no qual afirma explicitamente ter obtido seu “diploma alopático” em Montpellier (Mure, 23 jan. 1848). A defesa feita por Galhardo foi, desde então, assumida por toda a tradição de estudiosos e praticantes de homeopatia no Brasil.
8 Como é apontado na literatura disponível (Galhardo, 1928, p.654, 668-669, 677-678), J.V. Martins era cirurgião, e não médico. No século XIX, as atribuições específicas de boticários, cirurgiões e médicos eram bem definidas, cabendo aos primeiros a preparação de medicamentos, aos segundos o tratamento de moléstias externas, traumatismos e procedimentos cirúrgicos e aos últimos o diagnóstico e tratamento das moléstias internas (Prata, 2010).
9 Essa visão é corroborada pelos médicos homeopáticos contemporâneos. Assim, Germon (1845,
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NOTAS
p.13-14) observa, em termos muito violentos: “sans-culotte iluminados, intitulados ‘Instituto Homeopático’, que dirigidos ... por um maníaco Saintsimoniano... um homeopata [que] trata todos os médicos brasileiros de ignorantes e até de idiotas”. Por sua vez, Marques de Carvalho (24 jan. 1848, p.2) indica que “M. Mure insulta os homeopatas que estudaram nas antigas escolas, profanando assim ao nosso mestre [Hahnemann] que foi médico alopata”.
10 Além dos já referidos, valeria a pena ainda destacar: Matéria médica, ou, patogenesia homeopática, contendo a exposição científica e prática dos caracteres e efeitos dos principais medicamentos homeopáticos, coligida e posta ao alcance do povo (Mello Moraes, 1852); Guia prático de medicina homeopática para uso do povo (Mello Moraes, 1860); Dicionário de medicina e terapêutica homeopática, ou a homeopatia posta ao alcance de todos ... (Mello Moraes, 1872).
11 Eles são também mencionados como os “introdutores” da homeopatia no Uruguai por Tischner (1939, v.4, p.722-723), que não faz menção à Argentina. Martins, porém, é enfático ao afirmar que a Argentina também teria sido visitada por esses homeopatas. Sobre as atividades homeopáticas de Estrázulas y Lamas no Uruguai, ver Tunes (s.d.). A viagem de D’Korth ao Uruguai para difundir a homeopatia é testemunhada em Laemmert (1851).
12 Mitos, no entanto, não faltam. Assim, conta-se que o general José de San Martín (1778-1850) utilizou medicamentos homeopáticos ao cruzar os Andes para libertar o Chile e o Peru do reino espanhol. A suposta botica homeopática de San Martín está exposta no Museo Histórico General San Martín, em Mendoza. No entanto, essa botica pertencia a Ángel Correas, e, segundo a família do mesmo, este a teria cedido a San Martín. Inúmeros homeopatas argentinos dedicaram-se a especular, em função dos vidros mais cheios e mais vazios, para quais moléstias San Martín teria se utilizado de medicamentos homeopáticos. No entanto, nenhum deles fez a pergunta mais evidente: como a botica voltou para a filha de Correas? De acordo com outro mito, o general Bartolomé Mitre (1821-1906) teria levado consigo, na Guerra do Paraguai, uma botica homeopática atualmente conservada no Museo Mitre, em Buenos Aires. No entanto, nossa visita pessoal permitiu conferir que os medicamentos lá exibidos não são homeopáticos, sendo que quem fez essa atribuição (Belgrano, 1970, citado em Vijnovsky, 2008, p.49, 147) aparentemente ignorava que, na época, os medicamentos utilizados na medicina convencional eram os mesmos que os homeopáticos, só que em doses ponderais, além do fato de que sel digestif de Vichy, Cachon, Aromathique e Alun nem são nomes de medicamentos homeopáticos.
13 Aproveitamos para esclarecer aqui um erro sistematicamente reiterado na literatura argentina, que afirma que Manso havia obtido o título de médica no Rio de Janeiro, depois de se matricular no curso de obstetrícia da Faculdade de Medicina, em 1852. Ao que tudo indica, essas fontes ignoram que a carreira de parteira é separada até o dia de hoje da de medicina, inclusive na Argentina. Levando-se isso em consideração, lembramos que a primeira médica brasileira foi Maria Augusta Generoso Estrela (1860-1946), que se formou nos EUA apenas em 1879. Já a primeira mulher a se formar em medicina numa escola brasileira, em 1887, foi a gaúcha Rita Lobato Velho Lopes (18671954).
14 Sua atuação lhe valeu a nomeação como médico pela Comisión Popular Masónica e pela Prefeitura de Buenos Aires. Dados fornecidos por descendentes de Petit de Murat ao doutor José E. Eizayaga, que nos repassou amavelmente. Por esses motivos, Petit de Murat também se tornou
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médico de diversos presidentes da nação, como, por exemplo, o general Julio Argentino Roca, que presidiu o país entre 1860 e 1866.
15 Embora esse período não pertença ao escopo do presente trabalho, a verificação de como teria se constituído a institucionalização da homeopatia argentina, a partir de 1930, já se encontra em um de nossos estudos anteriores (Tarcitano Filho, 2013).
16 Essa progressão histórica vai de encontro a outro modelo identificado pelos estudiosos, de acordo com o qual a homeopatia experimentou uma expansão vertiginosa no século XIX, para decair no século XX, mais precisamente, a partir da década de 1940, até ressurgir a partir dos anos 1970, no contexto da crítica geral à medicina convencional em função do seu custo e desumanização, da produção de doenças iatrogênicas, do aumento do nível de educação global e do movimento New Age, entre outros fatores (Dinges, 1996).
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à professora doutora Ana Maria Alfonso-Goldfarb seus conselhos e a minuciosa revisão do manuscrito. Igualmente, agradecem ao professor doutor Martin Dinges, do Institut für Geschichte der Medizin der Robert Bosch Stiftung, Stuttgart, Alemanha, ter facilitado o uso dos arquivos do instituto e seu caloroso acolhimento. Finalmente, o reconhecimento ao doutor José E. Eizayaga, diretor do Departamento de Pós-graduação em Homeopatia da Universidad Maimónides, Buenos Aires, Argentina, por sua gentil colaboração. Parte deste trabalho é resultado da pesquisa de doutorado de Conrado Mariano Tarcitano Filho, realizada com auxílio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a quem os autores agradecem. O muito querido médico e doutor em história da ciência, apaixonado pelo seu Rio de Janeiro, Conrado Mariano Tarcitano Filho, nos deixou em 26 de novembro de 2014. Porém, com a imensa satisfação de saber que o presente artigo tinha sido aceito pela prestigiosíssima História, Ciências, Saúde – Manguinhos. A tal ponto estava orgulhoso e tal era seu cuidado no trabalho, que, impedido já de se locomover, não hesitou em solicitar a ajuda de amigos e familiares para voltar a verificar a literatura nas bibliotecas do Rio de Janeiro. Fica para nós o seu exemplo, o seu sorriso... e as saudades (Silvia Waisse).
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Revista de Estudos
HOMEOPÁTICOS