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2. BIOGRAFIA
Biografia:
Dias da Cruz: Médico, Homeopata e Espírita
Foto: Reprodução/Site do Centro Espírita de Caridade Dias da Cruz
Francisco de Menezes Dias da Cruz, mais conhecido como Dias da Cruz, nasceu em 27 de fevereiro de 1853, no Rio de Janeiro. Filho de Francisco de Menezes Dias da Cruz – chefe do partido Liberal do Rio e professor da Faculdade de Medicina – e Rosa de Lima Dias da Cruz, ele recebeu o exato nome do pai sem o tradicional acréscimo de “Filho” ou “Júnior”. Na época de seu nascimento, a Homeopatia já havia sido introduzida no Brasil graças a Bento Mure, no começo da década de 1840.
Dias da Cruz cresceu num ambiente religioso e sempre estudioso. Foi bibliotecário por dez anos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, e apenas foi demitido durante a época da Proclamação da República, por conta de uma denúncia feita por adversários políticos e religiosos, que o acusaram de ser monarquista. Pouco tempo depois de ingressar na Faculdade de Medicina, Dias da Cruz se casou com Adelaide Pinheiro Dias da Cruz. Assim que se formou como médico homeopata, recebeu a notícia de que seu pai fora ferido por um golpe de baioneta durante um atendado na Igreja do Sacramento.
O incidente deixou Dias da Cruz tão abalado que ele decidiu se afastar da prática religiosa. Contudo, os ensinamentos humanitários deixados por seu pai falaram mais alto e ele montou seu próprio consultório com o objetivo de acolher os menos favorecidos, assim facilitando o acesso a saúde de qualidade.
Em 1900, Dias da Cruz trouxe de volta o Instituto Hahnemanniano do Brasil, criado no ano de 1878 por Saturnino Soares de Meireles, um médico homeopata do Império. A sede do Instituto funcionava no centro do Rio de Janeiro, na Rua da Quitanda n. º 59, sob a direção do Dr. Joaquim Murtinho. Por alguns anos, os membros do Instituto ali se reuniram e, após a morte de Murtinho, o Dr. Teodoro Gomes foi promovido à presidente. Cerca de um ano depois, Gomes foi substituído pelo Dr. Licínio Cardoso, sob a vice-presidência de Dias da Cruz, iniciando uma época que ficou conhecida como o período áureo da Homeopatia no Brasil.
Foi durante a gestão de Cardoso e Dias da Cruz que os Anais de Medicina Homeopática, cuja publicação havia sido interrompida em 1884, reapareceram e ganharam prestígio entre as publicações periódicas de medicina.
Outro importante feito foi a fundação da Faculdade Hahnemanianna – posteriormente batizada como “Escola de Medicina e Cirurgia” e com sede atual na Rua Frei Caneca, no Rio de Janeiro. Dias da Cruz colaborou com a organização dos programas de ensino da Faculdade, onde também lecionou nas disciplinas de Farmacologia e Matéria Médica, tornando-se referência para toda uma nova geração de médicos homeopatas.
Dono de oratória e carisma impressionantes, ele também foi orador do Instituto Hahnemanniano do Brasil e, durante a inauguração do Hospital Hahnemanianno, no ano de 1916, fez um discurso brilhante em nome deste diante do Ministro da Justiça, do Barão Brasílio Machado e de representantes da Presidência da República.
Em 1926, Licínio Cardoso pediu demissão do cargo e Dias da Cruz foi eleito para substituí-lo. Durante sua gestão, ele organizou o 1º Congresso Brasileiro de Homeopatia, que aconteceu entre os dias 25 e 30 de setembro do mesmo ano.
Dias da Cruz ocupou o cargo de presidente do Instituto até o dia 29 de janeiro de 1930. Nessa data, ele convocou uma sessão extraordinária para anunciar que estava renunciando ao cargo por motivo de saúde. Em seguida, foi aclamado como presidente-perpétuo da instituição durante uma cerimônia simbólica.
Além de ser reconhecido até hoje por seu trabalho intenso no campo da Homeopatia, Dias da Cruz também foi um grande estudioso do Espiritismo, uma doutrina religiosa, filosófica e espiritualista de moral cristã.
O primeiro contato de Dias da Cruz com o Espiritismo aconteceu depois que ele recebeu a notícia de que seu pai, médico então falecido, estava distribuindo receituários após reuniões mediúnicas na sede da Federação Espírita Brasileira – FEB através de um médium. Incitado pela curiosidade, Dias da Cruz compareceu a uma dessas reuniões de forma anônima e, para sua surpresa, o espírito de seu pai se manifestou, pedindo para falar com ele.
Durante a conversa, que aconteceu por intermédio de um médium, o pai de Dias da Cruz relembrou um evento do qual apenas eles dois sabiam, convencendo o filho de sua identidade e da realidade de que a vida continuava após a morte. Desse dia em diante, Dias da Cruz se dedicou ao estudo da Doutrina Espírita de forma tão séria que, mais tarde, foi eleito presidente da revista espírita Reformador, pela qual escreveu muitos artigos doutrinários sob o pseudônimo de “Um Espírita”. Além disso, ele também foi escolhido como presidente da Federação Espírita Brasileira, cargo que exerceu de 1890 a 1895.
Segundo o escritor, historiador e homeopata José Emígdio Rodrigues Galhardo, Dias da Cruz foi aquele que, entre os homeopatas brasileiros, tinha o maior e mais perfeito conhecimento da doutrina hahnemanianna.
De acordo com Zêus Wantuil, grande pesquisador da história espírita, em sua obra “Grandes Espíritas do Brasil”, como professor, Dias da Cruz “jamais deixou de comparecer à hora certa em suas aulas. Como clínico no Hospital Hahnemanianno, não se fazia esperar pelos doentes. Eis, em síntese, a brilhante personalidade daquele que dignificou o Espiritismo e a Homeopatia no Brasil.”
O médico, homeopata e espírita faleceu no dia 30 de setembro de 1937, aos 84 anos.
Fontes: WANTUIL, Zêus. Grandes Espíritas do Brasil. FEB, 1ª edição. RJ. FebNet.Org.Br