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7. ENTREVISTA

ENTREVISTA

A Farmácia Homeopática

Foto ilustrativa - Michal Jarmoluk/Pixabay

Denomina-se “Farmácia Homeopática” todo estabelecimento de saúde e tecnologia que segue padrões de segurança normatizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que conta com profissionais farmacêuticos habilitados para produzir preparados homeopáticos, ou seja, fórmulas farmacêuticas elaboradas a partir de vegetais, animais, minerais ou extratos sintéticos, através de processos de dinamização e diluição. Para esclarecer o que está por trás das etapas de produção de um medicamento homeopático, assim como as principais diferenças entre remédios manipulados e homeopáticos, e outras questões específicas da farmacotécnica homeopática, a nova edição da Revista de Estudos Homeopáticos conta com a participação do professor e farmacêutico homeopata Murilo Ferreira de Carvalho, 46 anos, (CRF-GO: 2971), também doutor em Ciências Farmacêuticas e especialista em Farmacotécnica Homeopática pela Universidade Federal de Goiás - UFG.

REH: Professor, em primeiro lugar agradecemos a sua colaboração com a nossa revista. Para começar, como o senhor definiria o conceito de “farmácia homeopática”?

Murilo Carvalho: Aqui começamos com a distinção entre os termos farmácia e drogaria, pois a drogaria comercializa medicamentos e insumos na sua embalagem original, mas não existe a manipulação de medicamentos, enquanto que na farmácia (magistral), isso acontece. A farmácia homeopática é, pois, uma farmácia magistral que manipula medicamentos homeopáticos, em suas diversas formas.

REH: Quais são as diferenças entre as farmácias homeopáticas e as farmácias comuns?

Murilo Carvalho: As farmácias magistrais são aquelas em que se manipulam medicamentos alopáticos e/ou homeopáticos de acordo com a especificação de cada pessoa. Então toda farmácia homeopática é magistral, mas nem toda farmácia magistral é homeopática, uma vez que existem farmácias magistrais que manipulam somente alopáticos ou que manipulam alopáticos e homeopáticos.

REH: Quais são as diferenças entre os preparados homeopáticos e os remédios convencionais ?

Murilo Carvalho: Essa é uma pergunta muito importante, porque a maioria das pessoas entendem que preparados homeopáticos são “naturais”, como se tivessem origem apenas no reino vegetal, mineral ou animal. Mas os mesmos são feitos também de produtos fisiológicos, patológicos e até mesmo sintéticos. Já os medicamentos alopáticos são representados em sua maioria pelos sintéticos e os de origem vegetal. Em relação ao preço, alguns medicamentos alopáticos são mais baratos (Dipirona, AAS, Omeprazol), mas de forma geral, os medicamentos homeopáticos levam grande vantagem nesse quesito. E quanto ao processo de produção, é bom ressaltar que a manipulação atende aos critérios de cada tipo de medicamento, seja alopático ou homeopático, e consideramos que os homeopáticos também são produzidos em escala industrial.

REH: Todo “remédio manipulado” é considerado homeopático? Por quê?

Murilo Carvalho: Não necessariamente. Os medicamentos magistrais - ou manipulados - podem ser considerados homeopáticos ou alopáticos. Podemos dizer que a palavra “manipulação” diz respeito a produção, e “homeopatia” ao tipo de tratamento. Na produção, o medicamento pode ser manipulado de acordo com a necessidade de cada pessoa, ou pode ser industrializado, sendo feito em grande escala com milhares de unidades - comprimidos, cápsulas, etc. - ao mesmo tempo. Um medicamento, quando é industrializado, independentemente de ser alopático ou homeopático, não atende as necessidades individuais de cada pessoa, uma vez que sua fórmula ou dose não podem ser alteradas, pois a mesma já vem pronta da indústria.

REH: Quais são as etapas do processo de diluição dos preparados homeopá-

ticos, e quais são seus objetivos? 64

Murilo Carvalho: Para que um medicamento seja considerado homeopático, ele precisa, necessariamente, passar por duas etapas: diluição e agitação (sucussão) ou trituração. Ao conjunto dessas 2 etapas, Hahnemann chamou de dinamização, pois a palavra “dynamo” quer dizer força. O objetivo desse processo é, ao mesmo tempo, diminuir os efeitos colaterais das substâncias na sua forma original e aumentar seu poder de cura (resposta farmacodinâmica).

REH: Quais são as formas de dinamização e para que cada uma delas serve?

Murilo Carvalho: Chamamos de escala a proporção entre o insumo ativo e o insumo inerte empregada na preparação das diferentes dinamizações. E assim, as formas farmacêuticas derivadas são preparadas segundo as escalas Centesimal (1/100), Decimal (1/10) e Cinquenta Milesimal (1/50.000). Todas as escalas atendem ao mesmo objetivo, que é promover o equilíbrio e a cura, atendendo às necessidades individuais de cada pessoa.

REH: O que a farmacopeia orienta e por quê?

Murilo Carvalho: A Farmacopéia

Homeopática é um compêndio que tem por objetivo orientar a produção de medicamentos homeopáticos, de modo a conferir uniformidade e qualidade na produção dos mesmos e, além disso, regulamenta os setores farmacêuticos envolvidos na produção e controle de fármacos, insumos e especialidades farmacêuticas. 65

REH: Como é possível identificar/encontrar farmácias de manipulação homeopáticas confiáveis?

Murilo Carvalho: Todas as farmácias são fiscalizadas pela Vigilância Sanitária, que impõe rigorosas regras para a prática da manipulação, e por isso, devem possuir a licença que é emitida por essa agência. Normalmente não há um critério objetivo para se avaliar a “confiança” em uma farmácia magistral, no entanto, alguns fatores podem ser considerados, como a presença do farmacêutico e os canais de comunicação que essas empresas mantêm com seus clientes. Além disso, hoje em dia é fácil conferir as avaliações de uma empresa na internet, porém, esse critério nem sempre é confiável, devido às inúmeras variáveis que são levadas em conta, como por exemplo, disponibilidade em estoque de substâncias, taxa e horário de entrega, etc.

REH: Como o farmacêutico homeopata realiza sua formação?

Murilo Carvalho: De acordo com a Resolução 601/2014 do Conselho Federal de Farmácia (CFF), o farmacêutico homeopata é o profissional graduado em ciências farmacêuticas e registrado no Conselho Regional, com formação teórico-prática em homeopatia e/ou farmácia homeopática, por meio de disciplinas específicas em cursos de graduação em Farmácia ou de cursos de especialização, e cursos de aprimoramento reconhecidos pelo CFF. Esses cursos habilitam esse profissional nas áreas de manipulação, pesquisa, desenvolvimento, produção, controle e garantia da qualidade, farmacovigilância e questões regula-

tórias dos medicamentos e produtos homeopáticos, assim como do aconselhamento, indicação, dispensação e comercialização de medicamentos e produtos homeopáticos

REH: Que tipos de instrumentos são utilizados na preparação dos remédios homeopáticos?

Murilo Carvalho: Na produção dos medicamentos homeopáticos, não há muita exigência no que diz respeito à instrumentação do laboratório. Os itens indispensáveis são: balança de precisão, alcoômetro de Gay-Lussac, destilador e uma estufa ou autoclave para esterilização dos materiais de uso diário. Além desses materiais, outros podem ser adquiridos no intuito de facilitar a produção, como, por exemplo, o sucussionador (braço mecânico), o dinamizador de fluxo contínuo, micropipetas e repipetadores automáticos.

REH: Quais os benefícios do medicamento homeopático manipulado?

Murilo Carvalho: O medicamento homeopático, de forma geral, é mais vantajoso, por não trazer os efeitos colaterais que por vezes evidenciam os medicamentos alopáticos. Além disso, o mesmo pode trazer outras vantagens como, por exemplo, valorizar a pessoa como um todo e não apenas os sintomas da doença; estimular as reações defensivas do organismo aumentando sua vitalidade; preço reduzido no tratamento; e sobretudo por trazer uma “cura rápida, suave e duradoura”, utilizando as palavras de Hahnemann.

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