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8. NARRATIVAS TERAPÊUTICAS
NARRATIVAS TERAPÊUTICAS:
Estudo de Caso
Um caso tratado por Hanhemann (Extraído do livro Receituário Homeopático, de John Clarke, resenhado nesta edição, na seção Homeopatia e Cultura)
Hahnemann publicou pouquíssimos casos seus, porque, como explicava, não desejava dar a seus alunos uma desculpa para tratarem seus casos segundo o nome das queixas, tal como Nux Vomica para indigestão, Bryonia para o reumatismo, e assim por diante. Cada caso deveria ser tratado com base em suas próprias características, qualquer que fosse o seu nome. Mas, como seu processo de repertorização é único e muito eficiente, resolvemos reproduzir aqui um de seus casos, para que ele nos inspire na resolução dos nossos.
“Sch.- lavadeira, cerca de quarenta anos de idade, já estava há mais de 3 semanas sem poder ganhar seu sustento, quando veio me consultar em 1º de setembro de 1815.”
1. Ao menos movimento, especialmente a cada passo, e pior ainda se pisa em falso, sente um choque na boca do estômago, vindo sempre do lado esquerdo, segundo ela afirma.
2. Sente-se muito bem ao deitar-se, assim não sente dor em lugar algum, nem no lado nem na boca do estômago.
Não consegue dormir a partir de 3 horas da manhã.
Tem bom apetite, mas sente-se mal após ter comido um pouco.
A seguir, começa a juntar água na boca, terminando em arrotos ácidos.
Tem frequentes eructações secas após qualquer refeição.
7. É de temperamento arrebatado, predisposta à raiva. Quando a dor é forte, fica coberta de suor. A menstruação apresentou-se normalmente há duas semanas.
Quanto aos demais aspectos, a saúde é boa.
Com relação ao sintoma 1, Belladona, China e Rhus Toxicodendron produzem pontadas na boca do estômago quando se dá um passo em falso, mas nenhum deles ao menor movimento, como no presente caso. A Pulsatilla, certamente, causa pontadas na boca do estômago quando se dá um passo em falso, mas apenas como uma ação alternativa pouco frequente, e também apresenta os mesmos distúrbios di-
gestivos mencionado no item 4, comparados com 5 e 6, ou o mesmo estado de ânimo.
A Bryonia sozinha apresenta entre seus principais efeitos alternativos, como demonstra a lista completa de seus sintomas, dor originada pelo movimento, especialmente pontadas, e agulhadas abaixo do esterno (na boca do estômago) quando se levanta o braço; ao se dar um passo em falso, ocasiona pontadas em outras partes.
O sintoma negativo 2 aqui encontrado reage especialmente à Bryonia; poucos medicamentos dão alívio completo às dores durante o repouso ou quando se está deitado, mas a Bryonia faz isso de uma maneira especial.
O sintoma 3 é encontrado em vários medicamentos, e também na Bryonia.
O sintoma 4 certamente está presente em vários outros medicamentos, no que se refere ao mal-estar depois de comer (Ignatia, Nux vomica, Mercurius, Ferrum, Belladona, Pulsatilla, Cantharis), mas não de forma tão constante e comum, nem associado com o prazer pela comida como na Bryonia.
Com referência ao sintoma 5, muitos medicamentos com certeza produzem aumento de salivação com arrotos ácidos, mas nenhum deles, como a Bryonia, produz sintomas similares aos restantes.
Quanto ao sintoma 6, eructações secas depois de comer são encontradas em poucos medicamentos, e em nenhum de maneira tão frequente e comum como na Bryonia.
Quanto ao estado de ânimo descrito no sintoma 7, a Bryonia também é o remédio que mais o ocasiona. Então, como a mulher era muito robusta, a força da doença devia ser considerável para impedi-la de trabalhar por causa da dor; mas como seus poderes vitais não estavam comprometidos, prescrevi-lhe uma das doses homeopáticas mais fortes: uma boa gota do suco concentrado de raiz de Bryonia, a ser tomada imediatamente, e pedi a ela que retornasse depois de 48 horas.
Disse a meu amigo E., que estava presente, que dentro desse período a mulher, com certeza, estaria completamente curada. Ele, ainda não convertido à homeopatia, expressou dúvidas.
Cinco dias mais tarde, ele voltou para saber o resultado, mas a mulher não tinha retornado, e nunca mais voltou. Para acalmar sua impaciência, dei-lhe o nome e o endereço da paciente, e ele foi visita-la. Ao indagar por que não havia voltado, a resposta dela foi: “Pra que é que eu precisava voltar? Logo no dia seguinte estava completamente boa, e ainda estou. Sou extremamente grata ao doutor, mas gente como eu não pode parar de trabalhar, e nas 3 semanas que se passaram minha doença impediu-me de ganhar qualquer coisa.”
Nesse caso, da forma mais inequívoca, o nome acadêmico da doença nada interessou ao médico, e o nome do medicamento nada interessou ao paciente. Mas Hahnemann encontrou a substância na qual a Natureza concentrou as vibrações correspondentes às vibrações da doença, e a primeira venceu a segunda. Que seu exemplo possa nos inspirar sempre!