Revista Ecoaventura ed30

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ANO III - MARÇO - ED. 30

ECOAVENTURA - E D I Ç Ã O 3 0 - M A R Ç O D E 2 0 1 2

+ MEIO AMBIENTE, TURISMO E

BIOLOGIA

TR AÍR A E CAIA QUE I ATADOS I RIO P URUBA I PES CA NO CEARÁ I MOLINETES I MATRINXÃ I PAL ADAR DOS PEIXES I PES CA NOTURNA

EDITORA

R$10,90

TÉCNICA

Molinete para a pesca de praia

ROTEIRO

Robalo no rio Puruba

TÉCNICA

Receita de moscas “matadoras”

REMOS E RUMOS Traíra nos lagos do Sul

bilíngue

CEARÁ EM ASCENSÃO Cresce o número de pescadores que sonham em fisgar peixes esportivos no Estado. Saiba por quê

M AT R I N X Ã E M P E S Q U E I R O I P E S C A N O T U R N A C O M M O S C A I T U R I S M O E M PA R A N A P I A C A B A - S P




editorial Editora ECOAVENTURA PABX: (11) 3334-4361 - Rua Anhaia, 1180 Bom Retiro - SP - CEP 01130-000 www.grupoea.com.br Diretoria Farid Curi, Roberto Véras e Wilson Feitosa Diretor de redação Wilson Feitosa wfeitosa@grupoea.com.br Editora Janaína Quitério (MTb nº 45041/SP) jquiterio@grupoea.com.br Editor de fotografia Inácio Teixeira (MTb nº 13302/SP) fotografia@grupoea.com.br

Um salve ao rei ou salve o rei!

Q

ue pescador esportivo seria capaz de negar sua satisfação e prazer quando conquista como troféu alguma das espécies de Robalo? Predador voraz e altamente esportivo, proporciona muita adrenalina em qualquer que seja a modalidade praticada, portanto, não é à toa que ganhou a alcunha de “rei prateado”. Mas,

por qual motivo a pescaria desse peixe não se afirma de vez como uma alternativa para aqueles que não podem — ou não querem — viajar para os rincões do Brasil em busca de outros cobiçados peixes esportivos? Embora seja possível realizar incursões nas áreas costeiras e estuarinas, isto é, muito

DEPARTAMENTO DE JORNALISMO redacao@grupoea.com.br

próximo das principais capitais do País, a tarefa de fisgá-lo tem se tornado cada vez mais

Reportagem Bárbara Blas (MTb nº 64800/SP) bblas@grupoea.com.br

praticados por falsos pescadores esportivos — tem reduzido de forma drástica sua sobre-

Tradução David John Arte Glauco Dias e Mila Costa Ilustração Kid Ocelos Correspondentes internacionais Fabio Barbosa e Voitek Kordecki Colaboraram nesta edição Bruno Fronterotta, Guilherme Monteiro, Lawrence Ikeda, Oswaldo Faustino e Wilson Feitosa DEPARTAMENTO COMERCIAL Publicidade Salgado Filho comercial@grupoea.com.br

difícil. O motivo: a pesca predatória — ou mesmo os atos de matança indiscriminados vivência, a tal ponto que, nos locais mais acessíveis, tem se tornado uma verdadeira saga a busca pelo “rei prateado”. Foi pensando em todos esses aspectos, assim como em dezenas de cartas que recebemos mensalmente dos aficionados da pesca desse peixe, que, nesta edição, além de estampar um Robalão na capa, transcrevemos a dedicação de nossas equipes em encontrar o quase deposto monarca. E elas se empenharam ao máximo: enfrentaram a calada da noite fria no Porto de Santos, foram em busca de novos points no Nordeste e experimentaram a pesca desembarcada no litoral norte de São Paulo. O resultado você encontra em três matérias, nas quais compartilhamos a alegria — e técnicas — de realizar essa pescaria. Ainda que muitos exemplares tenham dado o ar de sua graça, é impossível deixar de fazer um apelo: é preciso salvar o nosso tão cobiçado “rei prateado”! Políticas públicas para a proteção do Robalo ainda são raras, mas uma, em especial,

Marketing Pedro Reis preis@grupoea.com.br

deveria ser replicada: a resolução 060/2009, de autoria da Secretaria do Meio Ambiente

Distribuição e edições avulsas atendimento@grupoea.com.br

odo de Defeso, que acontece entre novembro e dezembro, e limita, no restante do ano, a

Atendimento ao leitor Priscila Santiago sac@grupoea.com.br Assinaturas assine@grupoea.com.br

e Recursos Hídricos do Estado do Paraná, restringe a pesca dessa espécie durante o perícaptura a até sete exemplares, desde que respeitados os tamanhos máximos e mínimos estipulados. Para o Robalo-peva, as medidas vão de 40 centímetros (mínimo) a 50 centímetros (máximo) e, para o Flexa, de 60 a 70 centímetros, respectivamente. Infelizmente, dois anos já se passaram e a boa iniciativa dos paranaenses não correu a costa brasileira. Entretanto, como a persistência é uma das maiores virtudes do verdadeiro

A Revista ECOAVENTURA é uma publicação mensal da Editora ECOAVENTURA Ltda.. Distribuição com exclusividade para todo o Brasil: Fernando Chinaglia Comercial e Distribuidora S/A, Rua Teodoro da Silva, 907, tel. (21) 2195-3200. Os anúncios e artigos assinados são de inteira responsabilidade dos anunciantes e de seus autores, respectivamente. A Revista ECOAVENTURA está autorizada a fazer alterações nos textos recebidos, conforme julgar necessário. Nenhum colaborador ou funcionário tem o direito de negociar permutas em nome da editora sem prévia autorização da diretoria.

pescador, torcemos para que essa e outras providências se propaguem por todo o litoral. Só esperamos que não demorem a ponto de só serem postas em prática quando o “rei prateado” esteja, de vez, descoroado pelo infortúnio do aniquilamento. A pesca de Robalo, para se manter majestosa, necessita de políticas de proteção e fiscalização eficientes, e o pescador verdadeiramente esportivo também pode fazer a sua parte. Não vamos deixar que históricas brigas com esse rei se

Assinaturas: (11) 3334-4361

tornem apenas registros nos anais da memória.

Edição 30 — março de 2012

instituto verficador de circulação


ISCAS METÁLICAS No volume 9 da coleção “A Arte de Pescar — aprimore suas técnicas”, Denis Garbo mostra as principais características de sete iscas metálicas: colher, spinner, spinnerbait, buzzbait, chatterbait, metal vibration e tail spin. Equipamentos indicados, situações nas quais podem ser usadas, bem como os peixes que são atraídos por esses modelos, entre outros temas, são os assuntos abordados nesse DVD. Não perca!

jumping jig em água doce

Próximo volume:

TÉCNICAS” A cada mês, a coleção “A ARTE DE PESCAR — APRIMORE SUAS traz dicas e informações sobre o mundo da pesca. O DVD é parte integrante da Revista ECOAVENTURA só para

ASSINANTES.

Para adquiri-lo, está à venda na Editora ECOAVENTURA por

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Mais informações (11) 3334-4361 assine@grupoea.com.br www.grupoea.com.br facebook/RevistaECOAVENTURA


[ índice ]

foto: Bruno Fronterotta

30

capa bilíngue

Pesca esportiva no Ceará Destino sob medida para quem busca emoções tanto em água doce quanto salgada foto: inácio teixeira

42

roteiro Rio Puruba

No litoral norte de São Paulo, a fama de bom pesqueiro atrai aficionados do Robalo


08 Correio técnico 10 Correspondência 52 Pesque-pague A diversão é pescar Matrinxã

60 Turismo Vila de Paranapiacaba-SP

70 Biologia O paladar dos peixes foto: inácio teixeira

12

técnica

Faça sua própria mosca

Gerson Kavamoto ensina a montar três moscas “matadoras” foto: Carlos Eduardo Gonçalves

76 Pesca com mosca Para fisgar Robalos à noite

82 Técnica Molinetes para pesca de praia

86 Bicho Taturana

88 Vitrine 90 Saúde Como purificar a água

94 Radar 96 Folha, flores e frutos Cambuci

20

remos e rumos

Feitos um para o outro

A pescaria de Traíra nos lagos do Sul fica bem mais versátil com caiaque

97 Classificados


correio técnico Tralha para a pesca do Dourado

Cadê o minhocuçu?

Vou ao Pantanal em maio e gostaria que me indicassem qual o melhor conjunto para a pesca do Dourado.

Vou pescar peixes de couro em uma pousada na Amazônia, e o site da empresa indica o minhocuçu como uma das iscas mais eficientes para a maioria desses peixes.

Jonas Albuquerque — Curitiba-PR

Ocorre que eles não disponibilizam essas iscas para venda, e não sei como consegui-las. Poderiam me dar alguma

O equipamento para a pesca dessa espécie deve ser adequado ao

indicação de fornecedores?

porte dos peixes e à modalidade a ser empregada para sua captura. Em geral, um conjunto composto por vara para linhas entre 12 e 25 libras,

Jadson Meirelles — Uberaba-MG

com tamanho ao redor de seis pés, e molinetes ou carretilhas que comportem em torno de 100 metros de linha 0,40 milímetro ou multifilamento

De fato, não é muito fácil encontrar fornecedores des-

de 50 libras atende a maior parte dos estilos usados para a captura desse

se tipo de isca. Tente ligar para o telefone (31) 9971-2919

peixe. Não se esqueça de colocar um empate feito com fio de aço flexível

e falar com Carlos, de Paraopeba-MG, aí no seu Estado.

de 25 libras para proteger a linha dos dentes afiados do Dourado.

Segundo conseguimos apurar, ele vende os minhocuçus

foto: inácio teixeira

e entrega em qualquer parte do País.

Multifilamento na pesca de praia É produtivo usar linha de multifilamento na pesca de praia?

Vara para presente Recentemente, fui à loja comprar uma vara de pesca para presentear meu namorado, que pesca Tucunarés nos rios e represas de Goiás. Ocorre que, além da grande variedade de modelos e preços, fui questionada pelo balconista se ela seria destinada ao uso com molinetes ou carretilhas. Como sou leiga no assunto e quero fazer uma

Henrique dos Santos — Niterói-RJ

A linha de multifilamento tem algu-

surpresa, gostaria de saber qual a diferença entre elas. Aldeane Coelho — Goiânia-GO

mas características que podem fazer a diferença na pesca de praia. Entre elas,

Visualmente, a diferença é que as varas feitas para carretilhas possuem os

a baixa elasticidade, a alta resistência e

passadores de diâmetro menor e virados para cima, enquanto, nas destinadas

o pequeno diâmetro. São características

aos molinetes, os passadores ficam na parte de baixo e são maiores (diminuem de

que ajudam a conseguir arremessos

tamanho gradativamente do cabo para a ponta). Nos modelos destinados

mais longos, diminuem a barriga da

ao uso com carretilhas, há também uma espécie de gatilho na

linha e, consequentemente, aumentam a

parte inferior, cujo propósito é melhorar a empu-

sensibilidade durante a batida do peixe.

nhadura e dar firmeza na hora de trabalhar as

O único inconveniente que dificulta a

iscas. Entretanto, como diz que pretende fazer

sua popularização entre os pescadores

uma surpresa, aconselhamos que investigue

praieiros é o seu custo de aquisição.

com um amigo se ele usa molinete ou carretilha.

08 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Isca maluca Estive pescando em Serra da Mesa-GO em um final de semana na qual os peixes estavam pouco ativos — e quase ninguém se deu bem. Apenas um pescador não estava contrariado porque, segundo ele, conseguiu pegar vários peixes colocando um peso em uma isca artificial de meia-água. Será que essa estratégia é mesmo capaz de mudar o resultado de uma pescaria? Anderson Jardine — Assis-SP

Em pescarias, tudo é possível! Mas, se considerarmos com trabalhos diferentes e extremamente sedutores, é mais provável que tenha havido um exagero do sortudo pescador. Pegar um ou outro peixe utilizando esse artifício pode até ser verdade, especialmente por se tratar do Tucunaré. Porém, em situações normais, adicionar um peso a uma isca artificial tende mais a desequilibrar seu trabalho

foto: eribert marquez

que, atualmente, existem dezenas de modelos de iscas

e torná-la ineficaz.

Sul do amazonas, no encontro de dois grandes rios

ROOSEVELT X ARIPUANÃ

em breve

novo site


correspondência Pirarucu: um sonho! Poucas vezes, nós, pescadores esportivos, tivemos a sorte de admirar, em uma capa de revista de pesca, a foto desse gigante de escamas. Vi a revista na banca e, pela primeira vez, comprei. Qual foi a surpresa ao me deparar com matérias diversificadas, técnicas, bem explicativas e com ótimo material fotográfico! O Pirarucu foi, certamente, uma isca para me tornar leitor assíduo desta revista. Parabéns! José Eugênio Messias — Cuiabá-MT

Matérias bilíngues Gostaria de saber por que a ECOAVENTURA publica matérias também em inglês? Ela é distribuída em outros países? Leila Agostim Sant’anna — por e-mail

Cara Leila, A Revista ECOAVENTURA tem o compromisso edi-

Errata 1 Os autores da matéria “De caiaque no mangue” [páginas 24-31 da edição 29], André Sesquim e Fábio Fregona, alertam para a

edição errada de duas legendas. Na página 29, em vez de Xaréu, o peixe fisgado é um Carapau. Na página 30, trata-se de um Xaréu, não de um Sernambiguara.

torial de divulgar as belezas e a esportividade da pesca brasileira também em outros países. Todo mês, pelo menos uma matéria é traduzida com esse fim, e os PDF’s são enviados pelo nosso mailing a pescadores do mundo todo. Afinal, o que é bonito é para ser mostrado!

Errata 2 Há quatro meses, sou assinante da Revista ECOAVENTURA e acho-a muito boa, desde as reportagens até a qualidade do papel, fotografias etc. Estava lendo a matéria, da edição 29, intitulada “Encontre a sua praia”, e me deparei com um equívoco sobre as praias de Boiçucanga e Maresias. No texto, foi observado que a praia de Boiçucanga é sob medida para os surfistas, já Maresias, o point do agito para jovens e casais. Mas, é o contrário: Maresias é o paraíso dos surfistas e Boiçucanga é mais família, casais etc.

Parabéns a todos da equipe.

José Reinaldo Parmejani — por e-mail

Caro assinante, Agradecemos muito pela observação e publicamos esta errata para corrigir a informação. Continue nos acompanhando!

10 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo



[ técnica ]

Faça sua própria mosca

A pesca com mosca é uma modalidade para quem gosta de saborear cada detalhe na arte da pesca esportiva com iscas artificiais. O nosso consultor e estudioso Gerson Kavamoto nos ensina a montar três atados — moscas “matadoras” tanto para apanhar peixes predadores marítimos, tal qual o Robalo e o Tarpon, quanto para os de água doce, a exemplo de Tucunarés e Black bass Por: Oswaldo Faustino | Fotos: Inácio Teixeira | arte: Glauco Dias

12 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


N

a pesca com mosca, as iscas lembram

insetos, e os arremessos buscam imitar, da forma mais natural possível, como eles pousam na superfície da água ou realizam breves mergulhos. Mas Gerson nos alerta que, na pescaria de predadores, as iscas mais rendosas são as que imitam peixinhos. Em comum com as que se assemelham a insetos, elas têm leveza, que facilita o arremesso, e muitos fiapos que, em contato com a água, movimentam-se, e isso confere a elas a impressão de que são seres vivos. “Nessa modalidade, o importante é como você apresenta a isca ao peixe. O que faz com que ele abocanhe sua isca é colocá-la no local certo e de forma natural sobre a água”, afirma Kavamoto em palestras, workshops e cursos dados

mundo afora, onde ensina uma técnica desenvolvida por ele. No exterior, essas iscas têm o nome de tying (atado) e são confeccionadas com material que pode ser adquirido tanto em lojas de pesca quanto no comércio de artigos para fantasias: são tiras de pele e pelos de coelhos pintados, linhas de náilon — chatas e enceradas —, marabu, E.V.A., olhos pequeninos (de bonecas), cola epóxi, linha de monofilamento, além de uma morsa específica para o atado das moscas. O nome atado se deve ao fato de que esses materiais são amarrados ao anzol e modelados para que fiquem o mais parecidos possível com um peixe pequeno, de forma a atrair o predador na superfície ou ligeiramente abaixo. “Para arremessá-lo — alerta nosso consultor —, deve-se utilizar vara de numeração compatível com o porte e peso da isca. No caso do modelo citado, uma número 8.” Acompanhe, passo a passo, a receita para a confecção de três moscas eficientes e fáceis de serem feitas.

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[ técnica ] 1

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Sea Bunny (peixinho de cabeça vermelha e corpo branco)

Material 1. Anzol para atado (fino) de haste curta ou longa tamanho 2 2. Rabo: pelo de coelho branco 3. Colar: pelo de coelho vermelho 4. Linha vermelha 5. Olho: adesivo holográfico ou olho de boneca 6. Antienrosco: monofilamento de 40 libras 7. Epóxi (5 minutos) 8. Canudo de refrigerante

A – Amasse a farpa do anzol antes de prendê-lo à morsa

B – Inicie o atado pelo olho do anzol, encape a haste até onde começa a curva do anzol

C – Com alicate, achate a ponta da monofilamento e prenda em cima da haste

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D – Coloque oito centímetros de pelo de coelho branco, faça um furo de cerca de três centímetros e passe a monofilamento por ele. Forme uma alça com a linha no tamanho em que o rabo fique livre, corte-a e achate a ponta antes de prendê-la na haste. Com isso, é possível evitar que o rabo enrole no anzol durante o arremesso E – Coloque a pele de coelho vermelha com os pelos voltados para o anzol e forme o colar com, no máximo, duas voltas completas. Corte o pelo e forme uma cabeça para colocar o olho. Termine o atado com nó half hitch. O efeito, na água, assemelha-se ao movimento das guelras do peixinho

F – Com um pedacinho de canudo de refrigerante — o mais largo que encontrar —, aberto com um corte, prende-se os pelos do colar para afastá-lo do local em que serão colados os olhinhos, na lateral da cabeça G – Cubra a cabeça e olho com epóxi. Depois de seco, basta tirar o canudinho, pois a Sea Bunny está pronta! “Esse é um atado irresistível para qualquer predador”, garante.

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[ técnica ] 1

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Glass Minnow (peixinho com corpo furta-cor e barbatanas vibrantes)

Material 1. Anzol para atado (fino) de haste longa tamanho 1 2. Rabo: marabu 3. Linha bege 4. Corpo: papel adesivo holográfico 5. Olho adesivo 6. Epóxi de 5 minutos quando for usar a isca logo, ou epóxi de 12 minutos para deixá-la armazenada por alguns meses A – Trata-se de atado bem mais simples, mas não menos eficiente. O procedimento é o mesmo do anterior com relação à farpa do anzol B – O anzol é encapado com uma linha de cor menos chamativa C – Apanha-se uma penugem de marabu, cujo centro será picotado em V. Dessa forma, as partes externas da penugem vão simular as barbatanas e a cauda do peixinho

D – O marabu será atado abaixo do meio da haste do anzol e se continua encapando a haste com o náilon até junto ao olho do anzol

16 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


E – Apanha-se, então, um pedaço de papel holográfico, de uns sete ou oito centímetros, dobra-se ao meio e recorta no formato do corpo do peixe, que deverá ser bem barrigudinho, pois essa parte servirá de antienrosco para o atado F – Em seguida, é preciso fazer um pequeno corte em diagonal, em cada ponta do papel holográfico. Isso ajudará a encaixar, de um lado, o olho do anzol e, do outro, o marabu G – Tira-se o papel branco, que serve de suporte ao holográfico e tem uma cola natural. A haste ficará na dobra. Juntam-se os dois lados do holográfico

H – Colam-se os dois olhinhos, um de cada lado, e passam-se várias camadas de cola epóxi em todo o corpo do peixinho. Seca, a cola plastifica o holográfico e lhe dá volume. “Essa Glass Minnow é pegadora. Uma robaleira sem igual”, garante Gerson.

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[ técnica ] 1

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Gurgler (peixinho que mergulha ligeiramente e volta à superfície)

Material 1. Anzol para atado (fino) de haste longa tamanho 2 2. Rabo: pelo de coelho (zonker) 3. Tórax: hackle (pena do pescoço de galo) 4. Flutuador: tira entre 2 e 3 centímetros de largura de E.V.A. 5. Antienrosco: monofilamento de 40 libras 6. Linha de cor neutra

A – Como nos casos anteriores, retire a farpa antes de prendê-la à morsa B – Encape a haste a partir do olho do anzol até o início da curva

C – Coloque o antienrosco e rabo da mesma forma feita na Sea Bunny

D – Coloque duas penas (hackle)

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E – Prenda firmemente a tira de E.V.A. e deixe um pedaço cobrindo o rabo. Forme o tórax com as penas (hackle), prenda as penas perto do olho do anzol, mas deixe espaço para prender a tira de E.V.A.

F – Apare as partes excedentes do E.V.A. e deixe a parte frontal sobre o olho do anzol. Mantenha arredondada essa parte frontal, com o corte nas arestas. Ela é a cabeça do peixinho e, como está voltada para cima, será mantida na superfície quando trabalhada. E está pronta a mosca Gurgler! Boa pescaria!

Summer A nova lancha Malloy

“Nosso compromisso é tornar seu sonho realidade”

www.malloy.com.br


[ remos e rumos ]

Nas quentes tardes de janeiro no Sul, uma boa pedida Ê aproveitar a versatilidade que um caiaque pode oferecer ao pescador esportivo Por: Guilherme Monteiro | Fotos: Carlos Eduardo Gonçalves arte: glauco dias

20 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Dublês de Jacundás

ecoaventura 21


[ remos e rumos ]

Com a tralha arrumada, é hora de ir para a água Primeira ação da tarde

E

ram 16 horas, e a temperatura

e no vizinho Uruguai, tanto em rios, lagos,

malabaricus), ela atinge grande porte

estava em abafados 35º Cel-

como em açudes e barragens.

em barragens, entre sete e oito quilos,

sius, com pouquíssimo vento

Preparamos nossos caiaques para

e pode chegar a mais de 12 quilos em

entrando de norte — quase no

uma intensa tarde de pesca. Logo de

rios como o Negro (maior afluente do rio

fim do ciclo da Lua cheia — quando che-

saída, no segundo arremesso, um de

Uruguai, com nascente no Rio Grande do

gamos à represa localizada a 30 quilô-

nossos companheiros da equipe fisgou a

Sul), Tacuarembó (rio uruguaio, afluente

metros da cidade gaúcha de Bagé, pró-

primeira Tornasol da tarde — nome pelo

da margem direita do Negro), rio Sal-

xima ao rio Negro. Nosso objetivo eram

qual a Traíra, da espécie Hoplias lacer-

sipuedes (também afluente do Negro),

as duas espécies de Traíras, facilmente

dae, é conhecida regionalmente. Dife-

Queguay (afluente da margem esquerda

encontradas no sul do Rio Grande do Sul

rentemente da Traíra-laguneira (Hoplias

do rio Uruguai), entre tantos outros.

22 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


O peixe bateu muito próximo ao caiaque numa espécie de drop off que se formava pelo barranco, em uma twitch bait de cor cinza que nada a cerca de um palmo da superfície. A batida é um verdadeiro “coice” que chega a virar a frente do caiaque. Assim foi o início de uma tarde que prometia! Logo em seguida, apareceu um intruso em nossa isca: o Jacundá, que recebe o nome de Joaninha nessa região e apresenta algumas semelhanças com o Black bass, como ser briga-

Um grande Jacundá (Joaninha) ...

dor. Tratava-se de um cardume e, após vários ataques na meia-água, a maior Joaninha já fisgada por mim com isca

Os lagos de barragens localizadas no extremo sul do País são ótimos pontos para a pesca da Traíra, em especial, para a espécie conhecida regionalmente como Traíra-tornasol ... com cerca de 1kg de peso

artificial deu o ar da graça, com cerca de um quilo de peso. Decididos a encontrar uma grande Tornasol, remamos para o outro lado, onde o solo é de saibro argiloso. Aproveitamos o trajeto para fazer um corrico pela parte mais funda da barragem. Logo nos primeiros metros, uma grande batida. Era a Hoplias malabaricus, a mais comum das Traíras — um belo exemplar que veio atestar a qualidade de pesca desse lugar, já que, em pouco mais de 45 minutos, tivemos muita ação, e em dois estilos de pesca esportiva.

Primeira Tornasol da tarde

ecoaventura 23


[ remos e rumos ] O melhor ainda estava por vir

Traira-comum (Hoplias malabaricus)

Quando chegamos a um canto, já do outro lado, fisgamos outra boa Traíra — um indicativo de que fizemos a opção correta. Após remar cerca de 100 metros, o coração do pescador recebeu uma overdose de adrenalina: primeiro um espetacular estouro, depois a perseguição à isca quase na superfície, bem próximo do caiaque e, por fim, o ataque característico da Tornasol. Bruta e forte, ela leva grande quantidade de linha já em sua primeira corrida, o que é motivo de grande ansiedade para o pescador. Nesse momento, é preciso ter calma para aproveitar as nuances da briga, que se torna muito especial quando a bordo de um caiaque. Com a fricção um pouco afrouxada, ela literalmente me levou para passear. Foram necessários mais de quatro minutos para pôr as mãos nesse belo exemplar, que beirou os cinco quilos de peso. Um momento realmente espetacular, que enche qualquer pescador esportivo de emoção! Diria até que se trata do cume da relação de prazer entre o pescador e a pescaria — verdadeiramente, o ápice. Outra grande Tornasol

24 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Pescar de caiaque é uma explosão de adrenalina Depois de emoção, o grande troféu

ecoaventura 25


[ remos e rumos ] Após uma breve parada para nos hidratarmos, ainda com Sol forte sobre nossas cabeças, contornamos a barragem e passamos a explorar outro canto com iscas de meia-água. Próximo a uma estrutura mais densa formada por vegetação, fizemos o primeiro dublê da tarde — um par de Jacundás que, novamente encardumadas, disputavam as iscas com grande agressividade. Em seguida, repetimos o dublê com outra Joaninha e uma bela Tornasol. Seguimos arremessando até o entardecer e ainda entraram outras Traíras e Joanas, mas a ação foi gradativamente diminuindo com o cair da tarde. Por volta das 20 horas, com o Sol ainda alto — no Sul, durante o verão, ele se põe, aproximadamente, às 21 horas —, recolhemos a tralha e finalizamos mais uma pescaria emocionante a bordo de um caiaque, essa versátil embarcação que aumenta, sobremaneira, o prazer de praticar a pesca esportiva.

É preciso calma para tirar o peixe da água Jacundá e Tornasol — a dupla dinâmica

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Dublê de Joaninhas

Equipamentos • Varas de ação média para linhas entre 10 e 20 libras • Carretilhas de perfil baixo municiadas com linha de monofilamento entre 0,35 e 0,38 metro • Líder de fluorcarbono e empate de aço com cerca de 20 centímetros, ambos vitais para proteger a linha durante seus impressionantes saltos, assim como para evitar o risco de que a linha seja cortada pelos afiados dentes dessas espécies

Dica do autor Um bom caiaque pode oferecer importante vantagem ao pescador. Além de pescar confortavelmente sentado, torna a pesca mais emocionante e esportiva, já que proporciona acesso a lugares inatingíveis a outras embarcações

Melhor época Na época de cheia das represas, que, em geral, vai de setembro a dezembro Para pescar em rios, de setembro a abril

Serviços Pesca de caiaque Primos Pesca Esportiva Tel.: (53) 3247-3568 / 9946-7061 / (51) 9979-4148 primospescaesportiva@hotmail.com www.primospescaesportiva.com.br


[ capa I cover article I ceará ]

A destination on the rise Verdadeiro paraíso: esse é um dos qualitativos do Estado do Ceará para pescadores esportivos que buscam grandes emoções em água doce e salgada The state of Ceará may be aptly described as a Paradise for adventure-seeking fishermen both in fresh as well as saltwater por/by: Bruno Fronterotta tradução/translation: david john arte/design: Glauco dias ilustração/illustration: kid ocelos

30 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


ecoaventura 31

foto: Flรกvio Freitas


[ capa I cover article I ceará ]

C

onhecido internacionalmente de-

dade de verificar esse potencial na gran-

ra, com abrangência em outros muni-

vido à beleza de suas praias, o

de represa do Castanhão — formada pela

cípios, a represa apresenta uma bio-

Estado do Ceará, recentemente,

barragem do rio Jaguaribe — sentiu que

diversidade capaz de deixar biólogos

surpreende pelo crescimento do

os grandes Tucunarés não são um privilé-

e ambientalistas com “água na boca.”

gio do Norte do Brasil.

Para os pescadores esportivos, trata-se

turismo de pesca, tanto em água doce quanto salgada. Quem já teve a oportuni-

Localizada na cidade de Jaguariba-

de um ponto de pesca dos sonhos. Isso foto: Bruno Fronterotta

W

orld-famous for the sheer beauty of its beaches,

The reservoir has its shores in the town of Jag-

According to local guides, other species (apart

the State of Ceará is on the rise as a sportfishing

uaribara and covers other municipalities. Its

from Peacock Bass) are also present such as

destination both in fresh and saltwater. Those

biodiversity is so ample as to captivate biolo-

Piavuçu, Apaiari, Piapara, as well as rumours of

who have had the opportunity of fishing in the

gists and environmentalists. To anglers, it is a

the great Pirarucu.

Castanhão reservoir, formed by the damming of

dream spot as its structural diversity coupled

The Castanhão reservoir is a Marvel of mod-

the Jaguaribe river, will have had a taste for the

to natural beauty provides all the qualities de-

ern engineering. Commencing in the 19th

large-sized Peacock Bass.

sired by those in quest of great sportfishing.

century and ended by the 20th, its construc-

32 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


foto: Bruno Fronterotta

foto: Flávio Freitas

porque a diversidade de estruturas para

engenharia moderna. Iniciada no século

pesca, ao lado das belezas naturais, com-

19 e terminada no 20, sua construção vi-

tion envisaged the assurance of water sup-

pleta as qualidades desse local, hoje muito

sava à garantia de reserva de água para

plies to face the North Eastern droughts.

procurado pelos que buscam os grandes

enfrentar a irregularidade das chuvas no

It is a vital asset in drought as well as the

peixes esportivos. Segundo informações

semiárido nordestino. Trata-se de um im-

seasonal floods which affect the Jaguaribe

dos guias de pesca locais, nesse açude, há

portante mecanismo de controle das se-

valley and is, therefore, a key reservoir as far

ocorrência de outras espécies como Piavu-

cas e das cheias sazonais que atingem

as State water reserves and hydrographics

çus, Apaiaris, Piaparas e, ainda, circulam

o vale do Jaguaribe, bem como de uma

are concerned.

rumores da pesca de grandes Pirarucus.

relevante reserva hídrica para o restante

O Castanhão é uma obra-prima da

do Estado do Ceará. ecoaventura 33


foto: Bruno Fronterotta

[ capa I cover article I ceará ]

Conforme informações obtidas pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), as espécies de Tucunarés introduzidas nos açudes e represas monitorados por esse órgão são Cichla pinima e Cichla temensis, oriundas da Amazônia foto: Bruno Fronterotta

34 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo

foto: Flávio Freitas


Esportividade em água salgada Para fisgar os grandes Robalos-flexa e peva, os pescadores devem procurar as cidades de Fortim e Aracati — litoral sul do Ceará —, nos canais formados pelo delta do rio Jaguaribe, a 130 e 155 quilômetros, respectivamente, de Fortaleza. Seu entorno é formado por manguezais ricos em matéria orgânica, o que oferece um ambiente muito favorável para atrair cardumes de Robalos, Caranhas, Xaréus e Pampos. fotos: Bruno Fronterotta

Saltwater Angling To capture the large Atlantic as well as Fat

where canals are formed by the Jaguaribe

This area is formed by mangroves that are rich

Snook, anglers must go to the towns of Fortim

river 130 and 155 kilometers from Fortaleza

in organic material and provide the perfect environ-

and Aracati on the southern Ceará seaboard,

respectively.

ment for Snook, Snappers, Jacks and Pompano

ecoaventura 35


[ capa I cover article I ceará ] Já é grande o número de pescadores cearenses que têm tomado consciência da importância dos cuidados ambientais e, principalmente, da preservação de espécies mais nobres e esportivas — a exemplo do Robalo —, tanto que o pesque e solte é uma prática cada vez menos rara entre eles. Além de excelentes pontos de pesca, Fortim possui como atrativos naturais a praia do Pontal de Maceió e a Praia do Canto da Barra, situadas na barra do rio Jaguaribe, onde há um ancoradouro de jangadas. Já as praias de Aracati representam muito bem a beleza da costa nordestina. Canoa Quebrada é a mais procurada pelos turistas, principalmente por estrangeiros. Marcada por inúmeras dunas e falésias, a praia, na década de 1980, entrou nos roteiros turísticos internacionais e, hoje, é muito conhecida na Europa, Estados Unidos, Canadá etc. Possui

36 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo

fotos: Bruno Fronterotta


boa infraestrutura turística e programas interessantes durante o dia, como passeios de jangada, cavalgadas e percursos especiais em bugues. Quando a noite chega, o viajante pode escolher se vai se divertir na várias casas de forrós, sambas ou pagodes. Fontainhas, Retirinho e Retiro Grande também são praias de notável beleza selvagem e famosas pelo artesanato de cordas.

Com tempo bom, marés propícias e águas mais quentes, é frequente a ocorrência de Robalos de até 12 quilos Under good weather conditions, the right tide and warmer Waters, Snook up to 12 kilos are commonplace

foto: wellington bechk

foto: Bruno Fronterotta

Ceará fisherman have become increasingly

On the other hand, the Aracati beaches

a sound tourist infrastructure and interesting

aware of environmental safeguards and the

symbolize the beauty of the Northeastern sea-

itineraries for day tours such as Jangada trips,

need to preserve important sportfishing species

board. Canoa Quebrada is the most sought-af-

horseriding and sand buggy drive courses.

such as the Snook, so much that catch and re-

ter by tourists, especially those from overseas.

After nightfall, travellers may choose to enjoy

lease is commonplace. Other than its excellent

It is characterized by a large number of dunes

themselves in the several Forró, Samba or Pa-

fishing spots, Fortim hosts natural attractions

and cliffs and, in the 80’s, it was featured in

gode dance houses. Fontainhas, Retirinho and

such as Pontal and Canto da Barra beaches,

international tourist itineraries and is currently

Retiro Grande are also notoriously beautiful and

where Jangada boats are moored.

well known in Europe, USA, Canada etc. It has

wild beaches, famed for arts and crafts in rope.

ecoaventura 37


[ capa I cover article I ceará ] As agressivas Caranhas

iscas naturais (crustáceos e pequenos

ses para fisgar uma Caranha é algo

peixes) como as artificiais. Seu tempera-

notável. Usam equipamento de ação

O potencial hídrico do bioma Fortim-

mento tempestuoso faz dela um grande

média, médio-pesada e pesada, além

-Aracati — onde o rio Jaguaribe se mistura

desafio para o pescador esportivo. Habita

de linhas de 20 a 50 libras e anzóis

com as águas do mar — abriga grandes

as áreas rochosas, parcéis e corais, mas

de 2/0 a 10/0. Quando pescam com

cardumes de Caranha — peixe de esca-

os maiores espécimes preferem águas

iscas naturais, utilizam pequenos pei-

mas que, no Nordeste, pode atingir um

mais profundas, enquanto os menores vi-

xes que vivem no mesmo ambiente.

metro de comprimento. Trata-se de uma

vem em grandes cardumes na beira das

Os mais técnicos trabalham com iscas

espécie “faminta”, que não poupa esfor-

praias, entre algas e pedras.

artificiais, em geral, plugues de meia-

ços para atacar com violência tanto as

A paciência dos pescadores cearen-

-água e jigs.

Nessa região, a Caranha costuma bater, sobretudo, no final da tarde In this region, Snappers go on the prowl, usually at day’s end fotos: Bruno Fronterotta

38 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Yuri Mamede é presidente da APEECE (Associação dos Pescadores Esportivos do Ceará), que busca atualizar os pescadores da região

foto: Bruno Fronterotta

The aggressive Snappers

(crustaceans and small fish) as well as artificial

Patience as exercised by Ceará in fishing

The potential of the Fortim-Aracati water

lures. Its tempestuous temperament results in

for Snappers is to be marvelled at. They use

system — where the Jaguaribe river blends its

its being a great challenge to the sportfisherman.

medium, medium heavy and heavy tackle as

waters with the ocean — is shelter to large shoals

It inhabits rocky areas, coral reefs and other

well as 20-50 lb lines and 2/0-10/0 hooks.

of Snapper, which is a scaled fish reaching up

submerged ridges, but larger specimens prefer

When fishing natural or live bait, they bait with

to 1 meter in length in Brazil’s northeastern

deeper water while smaller ones are to be found

small fish from the same waters. Those that

seaboard. This is a constantly voracious fish that

in large shoals near beaches, among rocks and

are more technical use artificial lures which in

spares no effort in violently attacking natural bait

submerged vegetation.

general are swimming plugs and jigs.

ecoaventura 39


[ capa I cover article I ceará ] Pescadores interessados

dade. O presidente da entidade, Yuri

dos membros da associação. Palestras

Mamede, busca, nos grandes centros

constantes sobre a preservação am-

Os pescadores cearenses praticam

urbanos — como São Paulo e Rio de

biental fazem parte da pauta.

hoje o esporte dentro das mais moder-

Janeiro —, especialistas em iscas ar-

O Ministério do Turismo, por outro

nas técnicas. Isso porque a APEECE

tificiais, pesca com mosca e fabri-

lado, tem demonstrado interesse em

(Associação de Pescadores Esportivos

cantes de materiais para ministrarem

incrementar os esportes aquáticos no

do Ceará) promove durante o ano vá-

em Fortaleza cursos específicos, com

Ceará para o pleno aproveitamento desse

rios cursos de interesse da comuni-

o objetivo de promover a atualização

grande potencial hídrico do Estado. foto: Bruno Fronterotta

Equipamentos para pescar Robalo Tackle for Snook Fishing • Carretilhas de perfil baixo Low Os equipamentos normalmente usados pelos cearenses para a pesca dos Robalos são: Tackle normally used by

profile baitcast reels

Snook fishermen in Ceará is:

• Linhas de 20 a 30 libras e líderes de 25 a 35 libras 20-30lb lines and 25-35lb leaders

Enthusiastic Fishermen

• Varas de 5 polegadas 5’6” rods

• Iscas de meia-água de 7 a 12 centímetros e twitch baits de 8 a 10 centímetros Swimming Plugs in the 7-12cm range and 8-10cm twitchbaits

The Organization’s president, Yuri Ma-

promoting updates to members of the asso-

Ceará fishermen currently adopt the most

mede, searches in Brazil’s urban centers

ciation. Lectures on environmental preserva-

modern techniques as a result of the APEECE

such as São Paulo and Rio de Janeiro for

tion are constantly featured.

(Ceará Sportfishing Association), which pro-

specialists in lure use, fly fishing and tackle

On the other hand, the Ministry of Tourism has

motes several courses during the year that are

manufacturers, who come up to Fortaleza to

shown great interest in developing watersports in

of community interest.

lecture specific courses with the objective of

Ceará putting to full use its waterway potential.

40 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Serviços/Services Como chegar / How to get there Fortim e Aracati ficam no litoral sul do Ceará e são mais conhecidas como Costa do Sol Nascente. Para chegar a Fortim (130km de Fortaleza), os visitantes devem sair de Fortaleza e seguir pela rodovia CE-040. Aracati fica a 155km da capital, pela rodovia CE-040 e 180km utilizando a BR-116. Fortim and Aracati are on the southern Ceará seaboard and are best known as the Costa do Sol Nascente (Rising Sun Coast). To Fortim, travellers must depart from Fortaleza along the CE-040 highway. The municipality is 130kms from Fortaleza. Aracati is 155kms distant along the CE-040 highway or 180kms from Fortaleza if one takes the BR-116 highway.

Onde ficar / Where to stay Fortim Pousada do Raimundinho Tel.: (88) 9964-1090 / (88)9921-6091 Aracati Hotel Mirante das Gamboas O hotel possui pesqueiro próprio para uso gratuito dos hóspedes. No lago, o pescador vai encontrar Robalos de até 10 quilos. The hotel has its own lake for fishing Snook up to 10 kilos Tel.: (88)3421-6091 / (85) 3253-2929 www.mirantedasgamboas.com

Fortaleza

CE

Fortim Aracati

Jaguaribara

RN PB PE


[ roteiro ]

Pescar o rei prateado no litoral de São Paulo não tem sido tarefa fácil, em especial, se o objetivo for encontrar essa espécie sem a ajuda de embarcação. Mas há opções Por: Wilson Feitosa | Fotos: Inácio Teixeira | arte: Glauco Dias

42 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


ecoaventura 43


[ roteiro ]

E

ntre as mais de 25 praias de

a maioria dos caminhos que levam a

bém desenham aprazíveis visuais antes

Ubatuba, no litoral norte de

eles oferece cenários nos quais a Mata

de se encontrarem com o mar. Para o

São Paulo, é impossível não

Atlântica — exuberante e preservada —

pescador esportivo, isso é sinônimo de

achar, ao menos ­­uma, que seja

precipita-se por altas encostas e exibe

múltiplos ambientes propícios à prática

sob medida para os propósitos de cada

horripilantes desfiladeiros antes de de-

de seu esporte, sobretudo para aqueles

pessoa. E a busca por esses paraísos

saguar nas areias brancas da praia. Inú-

que preferem lançar suas iscas com os

tem ingredientes muito especiais, afinal,

meros rios, que cortam a estrada, tam-

pés no chão.

44 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


A fama de bom pesqueiro atrai para as margens do Puruba homens, mulheres e crianças

Para chegar ao mar, é preciso atravessar o rio (dependendo da altura, a água pode chegar até a cintura, mas a travessia costuma ser tranquila)

E um desses rios, em especial, desfruta a fama de ser o melhor destino do litoral norte para esse estilo de pesca: trata-se do rio Puruba — que, no idioma indígena, significa “lugar que ecoa” —, um paraíso rodeado de natureza exuberante e de gente hospitaleira. Lá há apenas uma pequena vila, e a maioria de seus moradores é caiçara. A praia do Puruba é de tombo, com areia branca, mar azul e ondas que quebram com força próximo às margens. Para atingi-la quando a maré está alta, é necessário fazer uma breve travessia, que pode ser de barco, por meio de serviço gratuito prestado pela Prefeitura de Ubatuba, ou a pé, com água pela cintura, orientada por marcações feitas pela Defesa Civil com bandeiras amarelas. O rio, com suas águas cristalinas, corre paralelo à praia até desaguar no mar.

ecoaventura 45


[ roteiro ] A face do paraíso

O Robalo — peixe que faz parte da preferência de muitos pescadores — é

O Puruba tem águas tão limpas que,

a grande vedete desse rio. São homens,

em determinadas marés, dá até para ver

mulheres e crianças que, fascinados pelo

cardumes nas partes rasas. Como dizem

esporte, acordam cedo, montam seus

os moradores locais, quando ocorre “ba-

equipamentos e lançam suas iscas na es-

tedeira” — expressão usada localmente

perança de boas capturas. A maioria pes-

para justificar a presença de cardumes —,

ca com iscas artificiais, mas não é raro ver

todo mundo corre para o Puruba e pega

pescadores que preferem usar o camarão

seu peixe. Sua foz, assim como suas

vivo — comprovadamente, a isca mais efi-

margens, é generosa em estruturas que

caz para grande parte dos predadores.

se transformam em mais um irrecusável

Quando morto, esse crustáceo se mostra

convite para os pescadores esportivos.

mais adequado à pesca de Bagres, BetaA esperança de encontrar um grande exemplar de Robalo é o motivo que atrai anualmente centenas de pescadores para o local

46 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


ras e outros peixes que perambulam pelo fundo em busca de comida. No caso dos Robalos, espécimes com peso ao redor de dois quilos são pegos o ano todo. Entretanto, a captura de grandes troféus já não depende apenas de técnica: culpa da falta de consciência ambiental e da pesca predatória, que promove a matança dos grandes exemplares, seja a praticada com linha e anzol, com arpão ou com redes que emboscam os peixes criminosamente quando tentam subir o rio.

O ponto onde o rio Puruba deságua no mar é um dos mais disputados pelos pescadores esportivos

ecoaventura 47


[ roteiro ] O melhor período para grandes peixes — acima de oito quilos — é de novembro a janeiro, o que coincide com as férias de verão e, consequentemente, com a invasão de turistas. Contudo, como diz Marcão, antigo morador da região e um dos pescadores que mais posaram para fotos ao lado de Robalões, “ainda entra muito peixe grande nesse rio, tanto que, todo ano, ao menos

e fundo, por onde, aparentemente, os es-

um, com mais de dez quilos, passa a fazer

pécimes de grande porte se sentem mais

parte de meu acervo de fotos”.

seguros em passar.

Ele revela seu segredo para quem qui-

Mas que fique claro: não é só o Robalo

ser conquistar seu troféu: “Quando vem

que frequenta as águas do Puruba. Bagres,

muita gente para cá, observo a altura da

Bicudas, Xareletes, Pampos, entre outras

maré e, sempre que possível, faço minhas

espécies, também fazem parte do elenco

pescarias nas primeiras horas da manhã,

que proporciona muitas alegrias ao apare-

quando a maioria dos turistas está dor-

cerem na outra ponta da linha. Nos meses

mindo. Muitas vezes, ainda está escuro”.

de frio, muitos pescadores buscam vencer

Assim como para os outros pescadores

outro grande desafio: fisgar Tainhas e Para-

citados, o local onde o Puruba deságua no

tis com vara e carretilha ou molinete. Trata-

oceano é seu ponto de pesca favorito. E

-se de um tipo de pescaria extremamente

não é para menos: além da presença de

técnica, que exige equipamento adequado,

rochas e outras estruturas, nesse lugar,

e que, por sua complexidade, será abordada

o rio se afunila e forma um canal estreito

em edições futuras.

48 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


DICAS • Existem poucas opções de hospedagem, porém, confortáveis e com preços bem convidativos. O grande forte do local é a estada em camping — exceto na praia, que é proibido para evitar a degradação do local —, como o da Dona Baía (o primeiro logo na entrada, com um atalho para o rio) e o da Dona Ivonete (ao final da estrada principal) • Dois restaurantes servem pratos tradicionais e à base de peixes • Quem for alérgico a picada de insetos terá problemas, pois os borrachudos fazem parte da programação. Não se esqueça de usar repelentes • O rio Puruba dista 24 quilômetros do centro de Ubatuba, e o acesso à praia é feito por uma estrada secundária de 1,5 quilômetro de terra batida e em bom estado, que parte da altura do quilômetro 34 da BR-101 (Rio-Santos)

Serviços Onde ficar Pousada Canto das Artes

Rua Rosa Alexandre de Oliveira, 07 - Praia do Puruba Tel.: (12) 3845-4000 (telefone público) Pousada Canto do Puruba

Rua Gervázio Alexandre de Oliveira, 08 - Praia do Puruba Tel.: (12) 9704-7103 www.ubatuba.com.br/cantodopuruba Purubar — Bar e Pousada

Rua Rosa Alexandre de Oliveira, 05 Praia do Puruba Tel.: (12) 9747-2823 www.purubar.com.br

Onde comer Purubar — Bar e Pousada Pousada Canto das Artes Bar do Seu Antônio

Avenida Principal, s/n Tel.: (12) 3845-4000 (telefone público)

ecoaventura 49


[ pesque-pague ]

Encontrado na maioria dos lagos destinados a pesque-pesque, o Matrinxã oferece muita emoção a pescadores que apreciam brigas boas — e nada escassas Por: Janaína Quitério | fotos: inácio teixeira | arte: Glauco Dias

52 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


ecoaventura 53


[ pesque-pague ]

S

e os espécimes de Matrinxã

de habilidade, além de equipamentos

queiros, é ávido pela maioria das iscas

tivessem pernas, podería-

adequados, caso contrário, suas cor-

apresentadas. Se, na natureza, sua dieta

mos dizer que eles “esper-

ridas desatinadas e suas acrobacias

compreende peixes, insetos, crustáceos,

neiam” quando fisgados.

para fora d’água deixarão o pescador

moluscos, flores e frutos silvestres, em

com as “linhas partidas”.

lagos de pesque-pague, o cardápio inclui

Isso porque seus saltos são tão astutos — e recorrentes — que o ato de

Mas, para entrar nessa batalha, não

salsicha, minhoca, massas, sementes e

fisgá-los torna-se uma tarefa descom-

há técnicas complicadas, já que — exce-

até beijinho! “Parece que eles se inte-

plicada se comparada ao desafio de

to nas ocasiões nas quais o peixe parece

ressam por qualquer coisa que caia na

domá-los. Por isso, para conseguir se-

que “empaca”, sem que nada o atraia

água”, ironiza nosso consultor de pes-

gurar um Matrinxã, é preciso boa dose

para o ataque — o Matrinxã, em pes-

que-pague André Correa.

54 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


ecoaventura 55


[ pesque-pague ] Não importa em qual ponto do lago a isca seja apresentada: o Matrinxã é ligeiro e, em geral, é o primeiro que ataca. Tanto que, quando o peixe-alvo são os redondos, é comum que eles nem consigam chegar à isca. Juliano Salgado salienta que o Matrinxã bate no lago todo: “Basta lançar a cevadeira — a uma distância de um metro para frente do barranco — que as ações são inevitáveis”.

56 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Evite usar o boga grip para tirar o Matrinxã da água, a fim de não rasgar a sua boca. O passaguá ajuda, além disso, a segurar o peixe enquanto o pescador retira o anzol fisgado, o que pode evitar acidentes

Dicas • Em geral, o Matrinxã ataca na superfície e na meia-água, mas, se a quantidade desse peixe for grande no pesqueiro, vale tentar pegá-lo no fundo, com uma chumbada oliva de 20 a 40 gramas • Como se trata de um peixe que pula muito — inclusive na mão do pescador —, utilize um passaguá para tirá-lo do lago • Para evitar acidente com o inquieto Matrinxã, é imprescindível tomar cuidado ao tirar o anzol da sua boca. Usar uma luva pode ajudar a evitar que ele escorregue das mãos ecoaventura 57


[ pesque-pague ] Na pescaria que nossa dupla de consultores fez, em um pesqueiro localizado em Itapecerica da Serra, a cerca de 30 quilômetros de distância da capital paulista, um deles começou com mafish, e o outro, com boia cevadeira. No primeiro arremesso, o Matrinxã bateu nas duas varas. Para testar outra estratégia, em seguida, usaram E.V.A. Mais uma vez, os peixes se entusiasmaram. Das 6h30 às 10h30, os dois pescadores fisgaram quase 20 Matrinxãs — e, entre uma ação e outra, alguns espécimes de tamanho surpreendente entraram. Portanto, quem estiver à procura de quantidade de ações no lago artificial, escolher a pescaria de Matrinxã é uma decisão acertada. Embora seu peso máximo seja de cinco quilos, pode ser considerado um “troféu de peso”, já que a briga e o espetáculo acrobático que proporciona quando fisgado fazem qualquer entusiasta de pesca esportiva terminar o dia com uma intensa sensação de felicidade.

Iscas artificiais, como spinners, metal vibration e pequenos plugues, também são eficazes na captura do Matrinxã

58 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


MONTAGENS

Nessa montagem, a boia fica solta na linha para ajudar no arremesso. Já o girador e snap auxiliam a troca rápida do chicote

Para a mafish (massa pronta vendida em lojas de pesca), use anzol de Robalo número 2 ou 3. Basta umidecê-la um pouco com água para que seja possível amassá-la. Na foto superior, a massa ainda na embalagem

Na montagem com ração, pode ser colocado encastoado fino. É usada para a pesca na meia-água

Tenha em maõs E.V.A. de cores diferentes, já que, a cada dia, é comum os Matrinxãs atacarem uma cor em detrimento de outra. Não colocar encastoado nessa montagem, caso contrário, o E.V.A. tende a afundar e não trabalhar corretamente na superfície

ecoaventura 59


[ turismo ] Ao abrigar um rico patrimônio histórico, arquitetônico e natural, a vila de Paranapiacaba, hoje pertencente ao município de Santo André-SP, busca conservar a herança inglesa e convida os turistas a percorrerem as memórias dos trilhos da primeira ferrovia do Estado de São Paulo Por: Bárbara Blas | Fotos: Inácio Teixeira | Arte: Glauco Dias | mapa: kid ocelos

60 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


ecoaventura 61


[ turismo ]

P

ouco antes de chegar a Paranapiacaba, o apito de uma locomotiva recepciona os visitantes à história da vila ferroviária ingle-

sa do século 19. Para quem vai de carro, após cruzar os trilhos em direção à Parte Baixa, onde se concentra a maioria das atrações, é preciso andar por uma estrada de terra batida em meio à mata, ao ar frio da serra — que demora a dissipar devido à neblina típica da região — e aos raios de Sol que dão bom-dia timidamente. Na entrada da vila localizada no alto da Serra do Mar, já é possível avistar a igreja, o relógio e alguns resquícios dos trens que outrora desfilavam até o porto de Santos. A seguir, notam-se algumas casas marrom-avermelhadas, todas iguais aos olhares leigos. A cor não é a original da época em que a vila foi construída, mas há uma explicação: era um hábito da extinta Rede Ferroviária reutilizar materiais, então a tinta que sobrava da pintura das locomotivas passou a colorir também as habitações da Parte Baixa. Somente ao chegar mais perto das construções é que são avistadas pequenas placas que distinguem restaurantes e pousadas das moradias. Isso porque há restrições quanto à sinalização para não destoar do patrimô-

Os vagões abandonados pertencem à inventariança da extinta Rede Ferroviária e à ABPF (Associação Brasileira de Patrimônio Ferroviário). A Prefeitura de Santo André aguarda o resultado de uma ação civil-pública para que seja dada uma destinação aos equipamentos A Igreja Bom Jesus de Paranapiacaba (1889) foi construída na Parte Alta para atender aos católicos, pois os ingleses, que eram protestantes, não permitiam outra instituição religiosa, senão a sua, na Parte Baixa

Após um levantamento histórico no qual ficou evidente que, antigamente, as casas eram coloridas por blocos, a Prefeitura busca um parceiro para a pintura nas cores originais

62 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


nio histórico e natural tombado em nível federal pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), estadual pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo) e municipal pelo Condephapaasa (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Artístico Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André).

O passeio de maria-fumaça é operado pela ABPF aos domingos e feriados em uma locomotiva a vapor inglesa de 1867, acoplada a um vagão de passageiros (1914) de primeira classe da SPR. O percurso é de um quilômetro na área do atual Museu Ferroviário, onde funcionava o quinto patamar da ferrovia

foto: Edmilson Magalhaes/Prefeitura de santo André

O Clube União Lyra Serrano, que hoje recebe eventos culturais, era o local de lazer dos trabalhadores, onde ocorriam os bailes, jogos de salão, teatro e exibição de filmes. O campo do Serrano foi o primeiro a ter medidas oficiais de competição graças a Charles Miller — pai do futebol no Brasil e ex-ferroviário da SPR

À esquerda, tanques do sistema de abastecimento de água da Parte Baixa construídos pelos ingleses. À direita, um trole, o único meio de transporte disponível para descer a serra quando o trem falhava

ecoaventura 63


[ turismo ]

O percurso de pouco mais de um quilômetro na Trilha do Mirante termina com a vista do polo industrial de Cubatão-SP [foto]. De lá, é possível avistar, também, o Pico do Jaraguá, a Serra da Cantareira e a Baixada Santista Local onde é guardada a maria-fumaça

O “lugar de onde se vê o mar” — signi-

região ficou conhecida como Alto da Ser-

ficado de Paranapiacaba para os índios

ra — só em 1907 o nome Paranapiacaba

tupis, os primeiros a povoar o local —

passou a ser utilizado — e foi escolhida

começou a ser habitado por brasileiros

estrategicamente para a instalação dos

e estrangeiros a partir de 1860 devido

trabalhadores por estar no topo da serra

aos acampamentos de trabalhadores

e ser próxima às obras. Com o incenti-

empregados na construção da ferrovia,

vo do Barão de Mauá, a empresa ingle-

que pretendia ligar Santos ao planalto. A

sa São Paulo Railway Company (SPR)

O Castelinho (1897) está localizado em um ponto estratégico da vila, do qual o engenheiro-chefe da SPR tinha visão de tudo o que acontecia. No auge da ferrovia, ele comandava cerca de 5 mil pessoas entre trabalhadores e familiares. O local onde foi sua residência e escritório hoje abriga um museu

64 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


ganhou o direito de construir e a con-

A fim de abrigar os trabalhadores

cessão de 90 anos para operar a ferro-

que permaneceriam para a manu-

via, que entrou em funcionamento em

tenção e a operação da ferrovia, foi

fevereiro de 1867. Naqueles trilhos, a

construída a chamada Parte Baixa,

produção brasileira, que antes viajava

uma vila planejada com sistema de

dias no lombo de burros para chegar ao

abastecimento de água, viela sanitária

porto, ganhava a agilidade de poucas

e casas de madeira com arquitetura

horas e passava a ser transportada em

inglesa agrupadas de acordo com os

uma quantidade que só aquela máqui-

cargos dos empregados. Do outro lado

na de alta tecnologia podia carregar. O

da linha, na Parte Alta, as construções

café era o carro-chefe da época, mas as

portuguesas serviam de moradia aos

locomotivas levavam todo tipo de carga

comerciantes e, com o passar do tem-

para outros países.

po, aos aposentados.

Inspirada no Big Ben britânico, a torre do relógio foi o único monumento que restou após o incêndio da estação de trem da Serra Velha, em 1981. O atual símbolo da vila era o marca-passo da pontualidade britânica dos trens

O sucesso da ferrovia e do café, bem A passarela (1899) é a ligação entre as partes Alta e Baixa para pedestres. Automóveis têm que percorrer um trecho de 12km de estrada por fora da vila

como a necessidade de expansão, levou à construção de uma segunda linha, a Serra Nova, e de um novo núcleo de moradia, a vila nova ou vila Martin Smith, em homenagem ao presidente da companhia inglesa. Com a fim da concessão em 1946, a SPR foi encampada pela União e mudou de nome para Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. O CDARQ (Centro de Documentação em Arquitetura e Urbanismo de Paranapiacaba) abriga uma exposição permanente sobre a formação urbana da vila, com maquetes e explicações sobre os diferentes tipos de casas concedidas de acordo com o cargo do trabalhador

ecoaventura 65


[ turismo ] A história da vila por um ferroviário Nascido na vila próximo ao final da concessão da SPR, o ex-ferroviário e aposentado Claudio Maria Marques acompanhou boa parte da história da ferrovia. Aos 69 anos, o filho de portugueses garante: “Sem menosprezar nenhum, não tem lugar melhor do que Paranapiacaba”. Sobre a estação, afirma que, na sua juventude, era a mais bonita da linha Santos-Jundiaí.

Atualmente, a MRS Logística possui a licença de uso da linha

Curiosamente, ele e o irmão são casados com duas irmãs, e o sogro, ferroviário, é quem o levou para o trabalho. Bolão, como era conhecido por gostar muito de jogar futebol — aliás, os ferroviários só eram identificados pelos apelidos —, começou a estagiar em 1971 e, sobre os trilhos, passou 28 anos de sua vida, tempo no qual a linha já era administrada pela RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.). Criada em 1957, ela consolidou 18 ferrovias brasileiras com o objetivo de promover e gerir os interesses do Estado no setor de transportes ferroviários. Entre elas, estava a Santos-Jundiaí. Vista do pátio da ferrovia

Claudio Maria Marques conta sobre o seu tempo de ferroviário

Claudio, como muitos adolescentes que cursaram o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) a partir dos anos 1940, saiu com emprego garantido na ferrovia. E ele era muito dedicado: “Às vezes, voltava para casa com 15 horas de trabalho e, no dia seguinte, estava de volta ao posto”, conta. Sempre teve orgulho da sua função de maquinista, muito respeitada na época, mas também não se esquece do coleguismo entre os ferroviários. Bolão aposentou-se três anos após a desestatização da linha, ocorrida em 1996. Desde então, a empresa MRS Logística S.A. é que opera no transporte de carga, e o ex-ferroviário vive na Parte Alta da vila.

66 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Novo Distrito de Santo André Em 2002, a Prefeitura de Santo André comprou a vila, que pertencia à RFFSA, e passou a dar novos rumos à administração de Paranapiacaba — degradada por mais de meio século —, a fim de preservar seu patrimônio histórico e natural, bem como incentivar o turismo. Desde então, foram feitas diversas restaurações com o

Dona Zilda Bergamini, de 59 anos, é proprietária de um dos points gastronômicos de Paranapiacaba, o Bar da Zilda. Moradora desde 1970, a ex-ferroviária atualmente se dedica ao estabelecimento comercial e ao cambuci — frutinha muito utilizada na região em doces e cachaças

investimento público e de parceiros. Aos domingos, é possível ir a Paranapiacaba de expresso turístico

[veja mais sobre o cambuci na pág. 96]

De acordo com o secretário de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense, Eduardo Sélio Mendes Junior, a pasta, criada há três anos, tem desenvolvido diversas ações para o fomento do turismo, como a volta do expresso turístico à vila, que hoje é um sucesso, a troca da iluminação pública, a organização de uma equipe de manutenção, a instalação de bases permanentes da Polícia Militar e da Guarda Municipal, cursos para profissionalizar os trabalhadores das pousadas e restaurantes, investimento nos foto: Norberto da Silva/Prefeitura de santo André

Conhecido como Antigo Mercado (1899), ele era, de fato, o centro comercial da vila. Hoje em dia, é utilizado principalmente durante os festivais

principais eventos — os festivais do Cambuci (em abril) e de Inverno (em julho) — e

foto: Guilherme Lazzarini/Prefeitura de santo André

projetos de restauros em andamento. Os principais eventos da vila são os festivais do Cambuci — fruta típica da região — e de Inverno. Este último atrai metade dos 200 mil turistas que visitam Paranapiacaba durante o ano

ecoaventura 67


[ turismo ] A evolução da ferrovia Em 1867, foi inaugurado o primeiro sistema funicular (Serra Velha), no qual a tração dos trens era feita por cabos. Possuía dez quilômetros e cinco patamares, o primeiro na baixada e o quinto em Alto da Serra — como era chamada a estação em Paranapiacaba. “Quando começou a operar o cabo de aço, era utilizado o serrabreque, e depois, para atender a demanda e sanar os defeitos da primeira experiência, veio o locobreque, então houve uma evolução da própria ferrovia”, conta Luis Carlos Machado Fernandes, ex-ferroviário do setor de eletrotécnica (manutenção elétrica de residências e pátio da estação) entre os anos 1979 e 1996. Carlos, que atualmente trabalha na gerência de turismo, explica que, no serrabreque, a locomotiva puxava a carga, mas ocorriam muitas perdas e acidentes, pois os vagões se desprendiam com solavancos. Por isso, foi criado o locobreque, no qual a carga ficava na frente.

Ecoturismo Além do patrimônio histórico, a vila está circundada por recursos naturais de Mata Atlântica do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba e do Parque Estadual da Serra do Mar. Só no municipal, são quatro milhões de metros quadrados, nos quais habitam cedros, bromélias, orquídeas, beija-flores, jararacas, pica-paus, entre outros animais e plantas que compõem o ecossistema. O parque administrado pela Prefeitura possui seis trilhas abertas ao público: dos gravatás, das hortênsias, do mirante, da comunidade, da pontinha e água fria.

O segundo sistema funicular, ou Serra Nova, entrou em funcionamento em 1900. Já a partir de 1974, passou a operar a cremalheiraaderência, construída sobre a Serra Velha com a utilização de uma tecnologia japonesa. Com oito quilômetros e quatro patamares, é a via utilizada até os dias de hoje. O Sr. Claudio Marques conta que, antigamente, a viagem de Santos a São Paulo demorava cerca de três horas. Com a cremalheira, o tempo foi diminuído para 23 minutos na subida e 27 no sentido inverso, diferença ocasionada pela frenagem da descida. A estação Alto da Serra, do primeiro sistema funicular, foi desativada em 1977 e completamente destruída quatro anos mais tarde por um incêndio. A Serra Nova parou de funcionar comercialmente em 1982.

De acordo com a gerente de recursos naturais Daniela Freire, um decreto municipal proíbe o camping em toda área verde de Santo André

Para garantir a conservação ambiental e a segurança dos visitantes, todos têm que ser acompanhados por monitores ambientais cadastrados pela Prefeitura. O período da manhã é o melhor para percorrer as trilhas, já que, por volta das 16 horas — quando boa parte do comércio fecha as portas —, a neblina característica da região começa a tomar conta da mata e da vila. O arvorismo, que está desativado temporariamente e em processo de licitação, é outra opção que O arvorismo está temporariamente desativado

deve ser reaberta em breve. O agente ambiental Ingo Grantsau apresenta a vista do mirante

Luis Carlos Fernandes

68 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Serviços Onde ficar A Prefeitura de Santo André disponibiliza em seu site (www.santoandre.sp.gov.br) uma lista de todos os estabelecimentos comerciais, como pousadas e restaurantes. Mais informações podem ser solicitadas no Centro de Informações Turísticas. Tel.: (11) 4439-0237

Como chegar De carro Seguir pela Rod. Anchieta até o Km 29, entrar na SP148 (Estrada Velha de Santos) até o Km 33 e pegar a Rod. Índio Tibiriçá (SP-031) até o Km 45,5, onde há um acesso à SP-122 (Rod. Dep. Antônio Adib Chammas). Depois de passar por Rio Grande da Serra, há uma placa “Paranapiacaba 5km”. Logo em seguida, há outra indicando o caminho para a Parte Alta e Parte Baixa da cidade. Como a maioria das atrações está na Parte Baixa, saia da estrada à esquerda, cruze a ferrovia e siga pela estrada de terra por cerca de 5km para chegar à vila. Vale a pena destacar que a sinalização é boa, porém, com chuva e neblina, a visibilidade na estrada fica muito prejudicada.

De expresso turístico Aos domingos, com exceção do segundo do mês, é possível ir a Paranapiacaba de trem, operado pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). A saída é às 8h30 da Estação da Luz, em São Paulo, ou às 9h da Estação Celso Daniel, em Santo André, e o retorno de Paranapiacaba ocorre às 16h30. A compra do bilhete é realizada nas bilheterias de ambas as estações. Para mais informações, acesse o site www.cptm.sp.gov.br

Sob nova direção.

Estrada do Enxadão, 800 Juquitiba - São Paulo - SP

Ônibus/trem No Terminal Rodoviário de Santo André, a linha 040 - Paranapiacaba, da Viação Ribeirão Pires, vai até a vila. Outra opção é embarcar na linha da CPTM Luz-Rio Grande da Serra e, nesta última, pegar um ônibus da Viação Ribeirão Pires. Tel.: (11) 4828-1019

O lugar ideal para você e toda a sua família praticar a pesca esportiva ou simplesmente se desligar da correria do dia a dia.

Tel.: (11) 4683-9110 /4683-2310 Quinta a segunda e feriados, das 7h às 18h.

Agora com pescaria noturna!


[ biologia ]

Para todos os gostos Conhecer e compreender os sentidos dos peixes é primordial para o sucesso das pescarias. Nesta edição, vamos explorar um universo pouco conhecido e de extrema importância para escolher qual a melhor isca para ir à água: o paladar Por: Lawrence Ikeda | arte: glauco dias | ILUSTRAÇÃO: KID OCELOS

foto: inácio teixeira

70 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


O

paladar do peixe, associado

lulas formadoras das papilas gustativas,

riais gustativas nessas estruturas, que

ao olfato, faz parte da ativida-

situadas na cavidade oral branquial. En-

recebem os estímulos da degustação

de sensorial química desses

tretanto, dependendo da espécie, podem

através dos nervos facial e glossofarín-

animais. Ambos atuam em

estar dispostas na parte externa da boca,

geo e enviam a mensagem para o cére-

conjunto e necessitam da água para o

lábios, barbatanas e na região anteroven-

bro — órgão responsável por interpre-

transporte de partículas até os órgãos sen-

tral do corpo (no ventre próximo à cabeça).

tar que tipo de alimento foi localizado.

soriais responsáveis por essas sensações.

Peixes que possuem barbilhões (Ba-

Posteriormente, tem início o processo

Nos peixes, o paladar fica a cargo de cé-

gres) também possuem células senso-

Papilas gustativas

de deglutição.

Peixes de couro de água doce, que habitam o fundo, são predadores que se alimentam de peixes, crustáceos, vermes e, em muitos casos, cadáveres desses animais. As papilas gustativas dispostas em seus barbilhões captam e associam as variadas moléculas diluídas na água e as diferenciam das que serão úteis à alimentação

ecoaventura 71


[ biologia ] Os que se alimentam no fundo possuem essas células na região ventral do corpo, próximas às nadadeiras peitorais e ventrais. Já em espécies oceânicas pelágicas, como é o caso dos Atuns, dos Xaréus, dos peixes de bico e muitos outros, o paladar é pouco desenvolvido, tanto que já foram encontrados em seu conteúdo estomacal plásticos, cordas, tampas de garrafa, isqueiros, entre outros objetos. Espécies costeiras possuem o sistema do paladar mais desenvolvido e rico em papilas gustativas — fato que se justifica pela biodiversidade presente nos ambientes próximos à costa, que inclui crustáceos, moluscos, peixes, vermes, algas e até mesmo o lixo. Nesse tipo de ambiente, o animal escolhe e localiza a presa por meio da visão e do olfato, e a seleciona através da sensação do paladar.

foto: roberto véras

Lixos boiando

72 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo

foto: inácio teixeira


foto: Bruno Fronterotta

É muito comum que, em um ambiente desses, encontremos apenas um tipo de alimento no estômago de determinada espécie. Estudos com Robalos indicam que eles se alimentavam apenas de caranguejos em determinada época do ano, mesmo sendo um ambiente rico em camarões e outros peixes que fazem parte da cadeia alimentar dessa espécie, o que deixa claro que seu paladar é bem desenvolvido.

Os peixes não fazem distinção entre sabores. Portanto, não reconhecem variações de doce, salgado, adstringente e ácido, apenas se são agradáveis ou não foto: inácio teixeira

Peixes que se alimentam de matéria vegetal, como folhas, flores, frutos, sementes, raízes e algas, possuem o olfato e o paladar ligeiramente apurados. A explicação é que esses vegetais liberam grande quantidade de substâncias químicas odoríferas e palatáveis, que se diluem no meio aquoso. Assim, as espécies herbívoras são muito seletivas no seu hábito alimentar. Um exemplo clássico de peixe de água doce com esses hábitos é o Pacu, que inclui em seu cardápio sementes e frutos, cujos açúcares e alcoóis, provenientes desses alimentos, são muito atrativos para eles. Consequentemente, a utilização desses frutos como iscas demonstra muita eficiência na pesca dessa espécie. Entender os sentidos mais utilizados pelos peixes e suas preferências alimentares farão a diferença na hora de escolher quais iscas usar. Aproveite essas dicas já em sua próxima pescaria! ecoaventura 73


[ biologia ] Curiosidades A aquicultura e piscicultura investem cada vez mais em pesquisas para a produção de rações e insumos que sejam mais atrativos ao paladar dos peixes. O objetivo é acelerar seu ganho de peso, assim como fazer com que sejam atraídos mais facilmente para as iscas dos pescadores. Alguns fabricantes de iscas soft (iscas plásticas maleáveis) adicionam sais na composição de seus produtos. A justificativa é que o sal imita o sabor do sangue dos alimentos naturais e, consequentemente, torna-as mais atrativas. Outra constatação é que os peixes predadores mantêm essas iscas na boca por mais tempo — fato que aumenta a chance de o pescador efetuar uma fisgada consistente. fotos: inácio teixeira

Iscas softs

74 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


TM

ecoaventura 75


[ tĂŠcnica ]

76 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Mosca nobreu Pescar à noite no mar ainda é um hábito relegado às trevas — mas não por falta de produtividade. Nesta matéria, Gerson Kavamoto conta quais horizontes podem ser vistos pelo pescador esportivo que procura fisgar Robalos com mosca depois que a claridade dá lugar à imensidão noturna Da redação | arte: mila costa | ilustração: kid ocelos

n

osso consultor de pesca com mosca já

havia se aventurado algumas vezes com

foto: thiago teixeira

do” para nadar próximo à superfície. Por outro lado, se os peixes estão

pescaria noturna em Miami, mas ainda

ativos, os pescadores esportivos pare-

era novato nessa incursão no litoral pau-

cem que se põem com o Sol. Além da

lista. Quando foi pela primeira vez pescar

falta de hábito, muitos têm receio de

Robalos com mosca na zona portuária

sair para o mar por não conseguirem

de Santos, entusiasmou-se. Isso porque,

perscrutar o horizonte. “Mas não é pre-

além de ser uma opção capaz de con-

ciso visualizar longe para pescar. Basta

ciliar o trabalho cotidiano e a paixão de

enxergar dentro do barco, onde se pisa,

pescar — já que pode ser feita após o ex-

para a pescaria ser feita sem dificul-

pediente —, a produtividade é animadora,

dades. E com mais uma vantagem: o

pois a pressão de pesca é menor à noite,

pescador não é castigado pelo calor do

além de o peixe estar menos “desconfia-

Sol”, encoraja Kavamoto. ecoaventura 77


[ técnica ]

foto: thiago teixeira

Técnicas noturnas Em qualquer pescaria, a informação mais relevante para definir as estratégias é onde encontrar o peixe. E, nesse ponto, a pesca de Robalo noturna tem muitas vantagens. Durante o dia, os espécimes estão espalhados, mas, à noite, o parâmetro para achá-los é um só: encontrar lugares nos quais há pontos de luz artificial acesos constantemente, a exemplos de marinas e píeres. A explicação para tal fato é simples: nos locais iluminados, é comum a confluência de insetos, que são presas fáceis para peixes forrageiros. Ali, esses pequenos peixes se reúnem, o que, por sua vez, atrai predadores como os Robalos.

Arremesse no escuro e trabalhe a isca, contra a correnteza, até os pontos de luz

78 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Ao identificar esses pontos, a segunda estratégia é o posicionamento do barco em relação à maré. Como o arremesso deve ser feito em direção à estrutura — com a colocação da isca no escuro para ser trabalhada até a luminosidade. Por isso, identificar o período de cheia (quando a maré entra sentido ao rio) ou vazante é fundamental para fazer o arremesso no sentido correto. Em geral, quando a isca chega ao ponto de luz, os Robalos atacam sem piedade, e a festa começa! Estruturas que podem ser exploradas no Porto de Santos

foto: denis garbo

ecoaventura 79


[ técnica ] Mas, qual mosca usar na pescaria

Com essas dicas, quem se aventu-

misteriosa da noite, com brigas que

noturna? Na primeira experiência de

rar na pescaria noturna trocará o re-

são mais sentidas do que vistas e, por

Gerson Kavamoto, ele lançou streamers

ceio da escuridão por emocionantes

isso, costumam dobrar a adrenalina do

nas cores branca com verde-limão e

e produtivas fisgadas na imensidão

pescador esportivo.

amarelo — que, segundo ele, costumam ser moscas matadoras no mar durante

foto: inácio teixeira

o dia —, mas não obteve resultado. Por isso, começou a testar as iscas escuras. Sea bunny, Glass Minnow e Glurgler pretos deram ótimos resultados. Nas duas incursões feitas, era arremessar e o peixe bater. Como o campo de visão à noite é curto, é importante que o pescador com mosca saiba ter controle da linha para acertar os arremessos e evitar acidentes. Por isso, nosso consultor indica modelos de linhas com cores chamativas, que podem ser visualizadas melhor na escuridão e, para pescar Robalos em especial, linhas de fly que afundem. foto: thiago teixeira

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fotos: thiago teixeira

Dicas • É importante levar lanterna de mão para preparar nós • Mesmo no verão, a temperatura cai bastante à noite, por isso, leve agasalho • Use óculos com lentes transparentes para evitar acidentes durante os arremessos

Serviços COM QUEM PESCAR Aurélio Lucas Tel.: (12) 7815-7411 id 119*61902 www.snookproteam.com

ecoaventura 81


[ técnica ]

Como escolher um molinete para a pesca de praia em meio a tantos modelos que são oferecidos? O que justifica a absurda diferença de preços entre eles, já que alguns podem ser encontrados por acessíveis R$20, enquanto outros requerem gasto de alguns milhares de reais para serem adquiridos? Todos servem para a pesca no mar, ou apenas os modelos mais caros? Essas e outras questões foram levantadas pela Revista ECOAVENTURA a nossos colaboradores no assunto Da redação | Fotos: Inácio Teixeira | arte: Glauco Dias

82 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


ualquer molinete — inclusive os mais baratos — serve para praticar os principais estilos de pescaria. Entretanto, não há milagre: para baratear o processo de fabricação, os modelos de baixo custo são feitos com materiais frágeis e de qualidade inferior, o que significa que podem apresentar defeitos já na primeira pescaria. Imagine a decepção do infortunado que fisga um peixe cobiçado e, na hora da briga, acaba perdendo o troféu porque o equipamento travou. Isso ocorre com frequência, afinal, aos olhos de quem está começando, todos os molinetes parecem iguais. Mas não são. Existem detalhes e características que os diferenciam, em especial, os que são fabricados para serem usados na praia. Para não comprar gato por lebre, fique atento às dicas a seguir.

ecoaventura 83


[ técnica ] Antes de qualquer coisa, observe o tipo, o diâmetro e altura do carretel. Carretéis de perfil baixo ou com diâmetro reduzido indicam baixo desempenho no lançamento, além de menor velocidade de recolhimento. Os modelos com carretéis de perfil mais alto, preferencialmente, cônicos, são mais eficientes. Outro fator de relevância é a relação giro de manivela versus voltas do eixo central — informação que, normalmente, vem grafada no corpo do próprio carretel. Caso não encontre esse dado, segure-o pelo pé e gire lentamente a manivela para completar uma volta, enquanto conta as voltas do eixo. Quanto mais voltas completar o eixo central, maior sua velocidade de recolhimento — isso é válido para molinetes com bobinas do mesmo diâmetro. Nos modelos mais lentos, há menos dentes na coroa e, por isso, eles costumam ser mais duráveis. Mas não se apegue apenas a isso. Para a pesca de praia, o molinete ideal não é o mais lento, tampouco, o mais rápido. Modelos com relação de recolhimento de uma volta da manivela para quatro ou cinco voltas do carretel são os que apresentam melhor relação durabilidade-velocidade de recolhimento.

84 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Escolher um bom modelo e cuidar de sua manutenção preventiva é garantir a longevidade de seu molinete para a pesca de praia

Outro indicativo de qualidade é o balanceamento e ajuste da máquina. Para testar isso, segure-o firmemente pelo pé e dê um forte impulso à manivela, de forma que ela gire velozmente. Se ocorrer forte vibração enquanto gira, é sinal de que suas peças internas não possuem bom ajuste — fator que ocasiona sua quebra prematura. Também dê especial atenção ao movimento de sobe e desce do carretel enquanto gira a manivela. Subidas e descidas muito rápidas e irregulares farão com que a linha não seja enrolada corretamente. Certifique-se, ainda, de que o molinete possua ao menos dois rolamentos — um no eixo central e outro no eixo da manivela —, pois eles serão os responsáveis pela leveza no recolhimento e menor desgaste do equipamento. Por fim, vamos deixar claro que um molinete de boa qualidade não é, necessariamente, o mais caro. Há modelos com preços intermediários que oferecem ótima qualidade. Já os mais baratos, ou de marcas desconhecidas, devem ser evitados.

CUIDADOS Após escolher e adquirir o novo equipamento, para que ele tenha durabilidade, serão necessários alguns cuidados: • Ao retornar da pescaria, lave-o com uma esponja — ou pincel — e detergente ou sabão neutro. Retire bem a espuma e o excesso de água, seque-o com um pano limpo e deixe-o ao ar livre para evaporar o restante de água • A cada cinco pescarias, é prudente fazer uma lubrificação nas peças móveis. Mas atenção: use apenas óleos específicos para molinete! • Uma vez por ano, desmonte-o e faça uma revisão geral. Limpe e lubrifique todas as peças. Caso não queira se envolver com essas tarefas, encaminhe-o para uma oficina especializada

ecoaventura 85


é o bicho

Espinhos de fogo Lagarta de mariposa da família Saturniidae

Biologia

Conhecidas como lagartas ou taturanas, as larvas de mariposas podem causar acidentes quando tocadas POR: bárbara blas I FOTO: INÁCIO TEIXEIRA ARTE: mila costa

se alimentarem das folhas. Com ciclo de vida semelhante ao das borboletas, a fase larval da mariposa, após a eclosão dos ovos, dura cerca de três meses, durante a qual aumentam de tamanho e trocam de pele

Nome popular: na forma larval, taturana e lagarta; quando adulta, é conhecida genericamente como mariposa Reino: Animalia Filo: Arthropoda Classe: Insecta Ordem: Lepidoptera Subordem: Heterócera Habitat: árvores Fontes consultadas: www.cit.sc.gov.br/index.php?p=lagartas www.scielo.br/pdf/abd/v80n6/v80n06a02.pdf Biólogo Lawrence Ikeda

várias vezes até se transformarem em pupa.

M

Depois do período de dormência no casulo,

algumas lagartas de mariposas são peço-

As principais espécies que causam

nhentas e causam intoxicação — o eru-

intoxicação pertencem a quatro famílias:

cismo. Isso ocorre devido às suas cerdas,

Saturniidae, Megalopygidae, Actiidae e

mecanismo de defesa contra predadores,

Limacodidae. É preciso ter cuidado especial

ções Toxicológicas de Santa Catarina reco-

que se assemelham a espinhos. Quando

com o gênero Lonomia, da família Saturnii-

menda lavar imediatamente a área afetada

penetram na pele e se quebram, secretam

dae — reconhecida pelas cerdas em formato

com água e sabão, fazer compressas com

um líquido urticante que causa dor intensa

de pequenos pinheiros. De forma geral,

gelo ou água gelada, que auxiliam no alívio

e queimação local, com inchaço e vermelhi-

as espécies desse gênero possuem corpo

da dor, e procurar o serviço médico mais

dão discretos.

marrom com espinhos verdes e são as mais

próximo. Se possível, deve-se levar o animal

perigosas, pois podem provocar hemorragias

para identificação, desde que seja recolhido

animal semelhante ao fogo — possuem

e complicações, como insuficiência renal.

com cuidado. Como as taturanas não pulam

cores variadas e costumam ficar agru-

Envenenamento por mariposas são mais

nem voam, é possível colocá-las em uma

padas. De dia, habitam os troncos das

raros, mas há casos documentados com

caixa de sapatos com a ajuda de um graveto,

árvores e, à noite, sobem até as copas para

fêmeas dos gêneros Hylesia e Anaphae.

por exemplo.

Para prevenir acidentes, é importante não

uito encontradas em

ganham a forma adulta e vivem, em média,

tocar em locais com rastros de taturanas: fo-

árvores ou próxima a elas,

15 dias — tempo suficiente para a reprodu-

lhas roídas na copa, casulos e fezes de lagar-

seja em locais de mata

ção. Em geral, possuem hábitos noturnos e

tas no solo (semelhante a grãos dessecados

fechada ou em quintais,

são grandes polinizadoras.

de pimenta-do-reino). Se for necessário pôr

As taturanas — nome que se refere a

86 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo

a mão nas árvores, como para jardinagem, o ideal é usar luvas de borracha. Em caso de vítimas, o Centro de Informa-



vitrine Vara Evolution Titanium

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88

ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo

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ecoaventura 89


FOTO: inácio teixeira

saúde

Com a utilização de métodos de purificação — entre eles, a adição de cloro —, é possí vel tornar a água de origem desconhecida própria para o consumo Por: Bárbara Blas | Arte: mila costa | Ilustração: kid Ocelos

90 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


FOTO: sxc/ ANN PETERSEN

C

om um exame de laboratório, é possível atestar que um rio cristalino percorrido na pescaria ou que corta uma trilha

pode esconder milhões bactérias, protozoários e vírus. Por outro lado, uma água visivelmente suja pode ser a única opção para se beber em uma emergência. Em ambos os casos, é fundamental saber tratá-la corretamente antes de ingeri-la, já que os microorganismos causam infecções gastrointestinais capazes de resultar em náuseas, vômito, febre e, principalmente, diarreia.

Não é recomendado beber água direto da fonte sem tratamento, mesmo que pareça limpa, pois ela pode conter microorganismos. As duas formas mais eficazes de purificação são ferver ou adicionar produtos à base de cloro

A Dra. Karina Takesaki Miyaji, médica infectologista do Ambulatório de Viajantes do Hospital das Clínicas, em São Paulo, orienta que as duas maneiras mais seguras de purificar a água de origem duvidosa são ferver ou FOTO: sxc/ DANIEL WEST

adicionar produtos à base de cloro. Caso se escolha a primeira opção, o tempo de aquecimento necessário é de, pelo menos, um minuto após a água começar a borbulhar. Durante pescarias e trilhas, entretanto, é mais prático utilizar o cloro.

Purificadores portáteis Recentemente, outros produtos têm sido amplamente divulgados por importantes veículos de comunicação nacionais e internacionais. Em forma de canudo ou garrafa (esta última utiliza a radiação UV), os chamados purificadores portáteis asseguram eliminar microorganismos ao tratar a água de origem indeterminada e torná-la própria para o consumo. Entretanto, a Dra. Karina revela que não possui informações suficientes para atestar que eles são eficazes. “Alguns deles podem até tirar a sujeira visível, mas microorganismos não é possível garantir”, previne. Ao procurar informações sobre a eficiência deles junto às instituições brasileiras, a Revista ECOAVENTURA não encontrou nenhuma que os recomendassem. “Não há regulamentação compulsória para esses produtos, portanto, eles podem ser comercializados sem certificação”, informa Danielle Assafin Vieira, técnica da Divisão de Programas de Avaliação da Conformidade do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Atualmente, o órgão só certifica aparelhos cuja fonte de água já é tratada, o que inclui filtros (de barro, porcelana, plástico), bebedouros, entre outros. Desse modo, a dúvida sobre a segurança dos purificadores portáteis permanece.

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saúde

filtrar

Disponíveis em pastilha e solução líquida, possuem igual eficácia e são os mesmos produtos utilizados para lavar frutas e verduras, embora a quantidade adicionada à água para beber seja menor. Por causa do cloro, ela pode ficar com um pouco de cheiro e gosto, mas a Dra. Karina afirma que isso não significa que não possa ser consumida. Aliás, a própria água que chega à maioria das casas brasileiras é tratada com cloro. FOTO: inácio teixeira

Mas, existiriam problemas causados pela ingestão dessa substância? Segundo a infectologista, como a quantidade diluída na água é muito pequena, não há risco à saúde, e reações são muito raras.

Utilização do cloro

A filtragem pode ser feita com um pano limpo de algodão (quanto mais fina a trama, melhor a filtragem) ou, até mesmo, com filtro de café

As pastilhas ou líquidos à base de cloro matam os microorganismos, mas não tiram

bastante o gosto da água. Portanto, o ideal

box da pág. 93]. Para a utilização dessa subs-

partículas maiores como terra, folhas, pedras

é que seja feito um pré-tratamento físico

tância, é imprescindível que sejam seguidas

etc. Em geral, essas últimas não causam

antes da adição do cloro [conheça as técnicas

as recomendações do fabricante quanto à

sintomas graves, mas podem modificar

indicadas pela Organização Mundial da Saúde no

quantidade e ao tempo de ação.

92 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


ferver

pronta para consumo

adicionar cloro

Recomendações de tratamento Em um trabalho elaborado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2011 (Technical notes on drinking-water, sanitation and hygiene in emergencies), estão descritas algumas opções de tratamento em emergências. Especialmente se a água estiver suja, deve ser feito um ou mais procedimentos de pré-tratamento antes da desinfecção:

Pré-tratamento

• aeração (agitar a água aumenta o oxigênio, melhora o gosto e reduz a quantidade de gases malignos) • decantação (mantê-la tampada no escuro e sem agitá-la por um dia ou mais mata parte das bactérias e propicia depósito das substâncias no fundo do recipiente) • filtragem (remove partículas sólidas e pode ser feita com um pano limpo de algodão, filtro de café ou filtro de água doméstico)

Desinfecção • ferver (por um minuto, após ebulição, em locais próximos ao nível do mar, e três minutos em altitudes elevadas) • desinfecção química (o cloro é o mais utilizado e mata vírus e bactérias, embora algumas espécies de vermes e protozoários sejam resistentes) A OMS menciona, também, a desinfecção solar (deixar a água exposta ao Sol em garrafas plásticas por cinco horas), produtos que combinam tratamentos físicos e químicos e a importância do armazenamento da água tratada em recipiente limpo, coberto e em local escuro e fresco.

ecoaventura 93


radar

A reprodução do jacaré-açu desvendar alguns mistérios do maior predador da América do Sul, o jacaré-açu (Melanosuchus niger). Mesmo com o porte que não o deixa passar despercebido — pode atingir mais de cinco metros e pesar uma tonelada —, ainda há poucas informações sobre a espécie. Por esse motivo, ela é considerada dependente de programas de conservação pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Em busca de detalhes que auxiliem na preservação, pesquisadores do instituto envolvidos no projeto Aquavert (Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos) monitoraram, desde outubro de 2011, 400 ninhos de jacaré-açu durante a época de reprodução, que ocorre na temporada de seca amazônica. Desses, 12 foram observados minuciosamente desde a postura dos ovos até o nascimento dos

Foto: Inácio teixeira

Um projeto de pesquisadores do Instituto Mamirauá promete

Novas regras da IGFA Para esclarecer e incentivar ainda mais a pesca

filhotes. Entre os diversos dados relevantes que os pesquisadores

esportiva consciente, a IGFA (International Game

esperam descobrir, está a confirmação da hipótese de que as fêmeas

Fish Association) estabeleceu novas regras para que

de jacaré-açu cruzam com vários machos e, portanto, geram filhos de

o peixe seja computado como pego e solto.

diferentes pais em uma única ninhada.

Atualmente, muitos torneios internacionais ado-

O trabalho desenvolvido na Reserva de Desenvolvimento Sustentá-

tam dois tipos de pontuação. A primeira é por peixes

vel Mamirauá, no Estado do Amazonas, está em fase de conclusão e

“pesados” (“Weight Fish”), na qual eles não são

contou com o patrocínio da Petrobras.

pesados de fato, mas têm seu peso estimado a partir Fonte: Instituto Mamirauá

da medição do comprimento e circunferência. Essa categoria se aplica aos peixes maiores, mas é estabelecido um número máximo que o pescador pode pesar (cinco, por exemplo). Depois de embarcados e medidos, devem ser soltos o mais rápido possível. Para a segunda categoria, denominada “Release” (solto), entende-se que o peixe não precisa ser embarcado para a medição e, de acordo com as novas regras da IGFA, a pontuação ocorre quando: (1) o parceiro consegue pegar o líder; (2) o girador atinge a ponta da vara; ou (3) a conexão entre o líder e a linha principal/ double line/linha de fly passa pela ponta da vara.

Foto: igor J. Roberto

As regras levam em conta que, para o peixe, é muito melhor que ele não seja embarcado, e sim liberto ainda na água. Com elas, a IGFA espera que mais espécimes sejam soltos vivos e nas melhores condições de saúde possíveis. Fonte: IGFA

94 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo


Pantanal ameaçado Um estudo inédito realizado em parceria pelo WWF, The Nature Conservancy e Centro de Pesquisas do Pantanal, com apoio do HSBC

Índice de Risco Ecológico Composto (IRE-C)

e Caterpillar, constatou que a conservação da bacia do rio Paraguai e a sobrevivência do Pantanal estão ameaçadas. O trabalho englobou os quatro países com território na bacia — Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina —, que cobre 1,2 milhão de quilômetros quadrados e abriga a maior planície inundável do planeta: o Pantanal. A denominada “Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio Paraguai” teve como objetivo compreender quais são os perigos atuais aos ecossistemas aquáticos da bacia do Paraguai, quais podem se intensificar no futuro se nada for feito e como podemos nos preparar. Além disso, é um grande alerta para a necessidade de repensar os modelos insustentáveis de desenvolvimento. Entre as principais ameaças à bacia estão o desmatamento e o manejo inadequado de terras para agropecuária; barramentos hidrelétricos, que alteram o regime hídrico natural do Pantanal; o crescimento urbano e obras de infraestrutura. Em três anos, os mais de 30 especialistas dos quatro países verificaram que metade da bacia pantaneira está sob alto e médio risco ambiental e 14% dela necessita ser protegida com urgência. As áreas

Baixo IRE-C

em maior perigo estão, principalmente, em porções elevadas nas bor-

Médio IRE-C

das da bacia, que são as maiores fornecedoras de água — recurso de

Alto IRE-C

vital importância para milhares de espécies de animais e plantas, bem

fonte: wwf

como para a economia local, baseada na agropecuária e na agricultura.

Projeto proíbe pesca no Pantanal Um projeto de lei do senador Blairo Maggi-PR prevê uma moratória de cinco anos nos rios do pantanal brasileiro tanto para pesca profissional como amadora. Entretanto, a ideia é delicada e divide opiniões. Os favoráveis à medida defendem que essa interrupção permitiria a conservação do bioma e o “repovoamento” dos estoques pesqueiros em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Por outro lado, muitos alegam que seria um grande prejuízo aos pescadores, profissionais e esportivos, bem como ao setor de turismo. Outros argumentos em oposição à moratória são que ela não atacaria as causas do problema, como a ocupação desordenada, e que não seria possível fiscalizar toda a área. Para solucionar a questão do desemprego, o Projeto de Lei do Senado nº 750 estabelece como dever do governo federal instituir um programa de apoio aos pescadores profissionais do Pantanal. De acordo com o senador, a intenção do projeto é iniciar um debate para que a proposta seja enriquecida. Fonte: Senado Federal

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folhas, flores e frutos

A volta do

cambuci

Fruta já conhecida pelos indígenas que habitavam o Sudeste brasileiro, a espécie — encontrada em fartura até a primeira metade do século 20 — tenta ser recuperada após longo período fora das mesas brasileiras

foto: Beto garavello

Por: Bárbara Blas | Arte: Mila Costa

O

16 e 17) e tropeiros (século 18 ao

tora de mudas e derivados do cambuci em

início do 20) também conheciam

Paranapiacaba, Distrito de Santo André-SP,

a iguaria adicionada à cachaça

o chá do broto da planta é anti-inflamatório.

— combinação tradicional até

Com objetivo de resgatar o consumo e

os dias de hoje —, muito apre-

cultivo da espécie, foi criada a Rota Gastro-

ciada nas paradas de descanso.

nômica do Cambuci, que, neste ano, está

Outra curiosidade é que, devido

na quarta edição e inicia-se em março. Os

à grande quantidade da fruta

locais que participam do evento são Mogi

encontrada, ela deu nome a um

das Cruzes, São Paulo (bairro Cambuci),

dos bairros mais antigos de São

Paranapiacaba (Distrito de Santo André),

formato delicado e sabor

Paulo, que era local de passagem dos tropei-

Rio Grande da Serra, Salesópolis, Parelhei-

agridoce chamam a atenção

ros em direção ao litoral. Acredita-se que ela

ros (Distritos de São Paulo), Paraibuna e

de quem não conhece o

também seja nativa da região carioca onde

Caraguatatuba. A capital paulista abre e

cambuci. Tradicional da Mata

hoje está a cidade de Cambuci.

fecha a Rota que convida os moradores e

Além da bebida, possui diversas fina-

Atlântica — em especial, do Estado de São Paulo, mas também encontrado em Minas

lidades gastronômicas, como em sucos,

Gerais e Rio de Janeiro —, a abundância do

geleias, sorvetes, mousses, iogurtes, bolos,

fruto caiu drasticamente com a devastação

trufas, licores, chás e até molhos salgados.

do bioma. Em muitas regiões, a árvore na-

O consumo in natura por humanos é menos

tiva praticamente desapareceu. Entretanto,

frequente devido à elevada acidez, mas

nos últimos anos, houve um grande incen-

atrai várias espécies de aves. É rico em

tivo de prefeituras e formação de cooperati-

vitamina C e agentes antioxidantes, e suas

vas para o seu cultivo e comercialização. A

propriedades medicinais têm sido alvo de

iniciativa tem dado frutos.

estudo. Segundo Zilda Bergamini, produ-

visitantes a conhecerem as mais diversas receitas preparadas à base do fruto.

Biologia Nome científico: Campomanesia phaea Família: Myrtaceae Distribuição geográfica: estados de São Paulo (principalmente na Serra do Mar) e Minas Gerais Nomes populares: cambuci Frutificação: fevereiro e março

Árvore da família da jaboticaba, o cambucizeiro atinge de três a cinco metros de altura, produz flores brancas e precisa de muita água para se desenvolver. Os frutos seis centímetros de diâmetro vistos de cima, cor verde a verde-amarelada, polpa suculenta e aroma cítrico. O nome da fruta é de origem tupi e significa pote, provavelmente em alusão ao formato do cambuci. Os bandeirantes (séculos

96 ecoaventura l Pesca esportiva, meio ambiente e turismo

fotos: inácio teixeira

têm forma levemente achatada, com cinco a

Árvore de cambuci

Fruto imaturo


classificados

0

9 9,

da

ca

$1

R

(11) 3334 4361 ecoaventura

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