Revista Ecológico- Edição 102

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ANO 10 - Nº 102 - NOVEMBRO DE 2017 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


Project1_Layout 1 18/11/2017 09:47 Page 1



EXPEDIENTE

FOTO: SYLVIO COUTINHO

Anoitecendo - Vale do Tripuí obra de YARA TUPYNAMBÁ

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

REPORTAGEM Fernanda Mann e Luciana Morais

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

MÍDIAS DIGITAIS Bruno Frade

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

EDITORIA DE ARTE André Firmino

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.

EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

COLUNISTAS (*) Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza REVISÃO Gustavo Abreu

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

CAPA Foto: Sanakan

EDIÇÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

DEPARTAMENTO COMERCIAL Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

(*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

sou_ecologico revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS

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5,28 tCO2e Setembro/Outubro de 2017

souecologico ecologico


VAMOS MOSTRAR COM QUANTAS ÁRVORES PLANTADAS E ÁREAS RECUPERADAS SE FAZ O FUTURO.

www.codem i g .c om .b r

Idealizado pelo Governo do Estado de Minas Gerais e coordenado pela Codemig, o projeto Plantando o Futuro visa ao plantio de 30 milhões de árvores, de diversas espécies, em 20 mil hectares, até 2018. A iniciativa busca também recuperar 40 mil nascentes, 6 mil hectares de matas ciliares e 2 mil hectares de voçorocas. Contamos com a participação dos mineiros nesse projeto. Porque todos queremos um estado ambientalmente sustentável para nós e nossos filhos.


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ÍNDICE

CAPA

CONHEÇA OS VENCEDORES E AS MENSAGENS QUE MARCARAM A OITAVA EDIÇÃO DO PRÊMIO HUGO WERNECK DE SUSTENTABILIDADE & AMOR À NATUREZA.

20 PÁGINAS VERDES PARA CELEBRAR SEU DÉCIMO ANO DE PUBLICAÇÃO, A ECOLÓGICO REPRODUZ A ÚLTIMA ENTREVISTA DE DR. HUGO WERNECK

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ECOLÓGICO NAS ESCOLAS CONHEÇA MAIS SOBRE A AQUARIOFILIA, PRÁTICA DE CRIAR PEIXES E OUTROS ORGANISMOS AQUÁTICOS

E mais... CARTAS DOS LEITORES 10 CARTA DO EDITOR 12 ECONECTADO 14 GENTE ECOLÓGICA 16 SOU ECOLÓGICO 18 ESTADO DE ALERTA 24 A SERRA PEDE PAZ (FIM) 26 IN MEMORIAM 32 CULTURA 34 AS ÁREAS PROTEGIDAS DO MINAS-RIO (2) 36 ENCARTE ESPECIAL FIEMG (6) 63

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ENSAIO FOTOGRÁFICO LIVRO DESVENDA OS MISTÉRIOS DA ARARAAZUL-DE-LEAR E A DESCOBERTA DE SEU HÁBITAT

GESTÃO & TI 70 PERFIL 72 AMBIENTE NA REDE 82 MEMÓRIA ILUMINADA 94 NATUREZA MEDICINAL 98

Pág.

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FOTO: LUSO

1 IMAGEM DO MÊS

FOTO: BERND LAUTER / GREENPEACE

PLANETA TERRA PRIMEIRO! Milhares de ativistas do Greenpeace participaram da Marcha do Clima, no início do mês, que percorreu as ruas de Bonn, Alemanha, durante a 23a Conferência das Partes do Clima (COP-23). Carregando um balão com a expressão “O Planeta Terra primeiro!”, eles reivindicaram que os países participantes adotassem ações mais efetivas a favor da preservação ambiental, da redução do uso de combustíveis fósseis e do clima global. Segundo relatório apresentado na COP-23 pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para tratar das questões climáticas, em 2017 o planeta bateu recordes históricos de aumento e frequência de eventos como furacões, tempestades e enchentes.

08  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017


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É uma satisfação poder recebê-los de volta no aeroporto mais tradicional da capital mineira.

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Com 44 anos de história, a Infraero é uma das maiores operadoras aeroportuárias do mundo, sempre primando pelo seu bem-estar, com segurança operacional e compromisso socioambiental.

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Desfrute da nova fase da nossa Pampulha!

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Sejam todos bem-vindos!


CARTAS DOS LEITORES

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

personalidades brasileiras que ainda têm certa sensibilidade com a questão ambiental. No entanto, há artistas que vão na crista da onda de trabalhos que são desenvolvidos seriamente na causa e que acreditam que apenas postar uma frase 'Salve a Amazônia' com uma foto no Instagram já faz deles ambientalistas. Como é possível se dizer ativista de algo que eles são conscientemente alienados?” Ludmila Costa, via e-mail “É quase impossível recompor áreas degradadas pela mineração, ainda que as mineradoras tenham seus planos de recuperação aprovados. Mas a atividade está alçada e protegida na Constituição como interesse econômico. Fica a questão: como equilibrar o interesse social com o econômico do país?” Vera Chuery, via Facebook

 MATÉRIA DE CAPA – SANGUE VERDE/ O CHORO DE GISELE BÜNDCHEN O novo ambientalismo contra os retrocessos ambientais que ameaçam a soberania da maior floresta tropical do planeta, como o episódio da Renca

“Os apelos de Gisele e de muitos outros não adiantam, por conta da voracidade destruidora dos homens de poder.” Lídia Alves, via Google+ “Acima dos órgãos fiscalizadores há os mais poderosos. Não estou generalizando, existem muitas pessoas dentro desses lugares que realmente querem trabalhar pelo bem maior, mas infelizmente não têm vez ou voz. Quando eles conseguem falar, denunciar, logo são assassinados. As pessoas precisam se conscientizar de que precisamos da natureza para viver.” Irene Souza, via Google+ “Essa questão da Renca só fez reforçar a piada que o Brasil se tornou internacionalmente. Como podemos ter uma sociedade tão passiva frente a retrocessos ambientais como esse? Foi mais um jogo político insustentável.” Daniel Frota, via e-mail “Gisele Bündchen engrossa o coro de 10  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

 PÁGINAS VERDES - MARCIO ASTRINI Coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil fala sobre os retrocessos ambientais na legislação

“Os piores bandidos estão no Congresso. E são eles que fazem as leis em benefício próprio. Coitados de nós, brasileiros, que somos de classe baixa. Somos escravos desses bandidos.” Canal Mundaréu, via Facebook

NÓS LEMOS “O formato da Revista Ecológico traz, consigo, informações que conclamam setores da sociedade para a preservação e a sustentabilidade. A leitura nos leva aos projetos e estratégias públicas, institucionais e sustentáveis no país. De Minas para o mundo...” Agnelo Goulart, administrador e educador ambiental, e Maria de Fátima Veloso Goulart, pedagoga e professora de Português

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br


Café c/ Design

CRESCER E ATINGIR A PROSPERIDADE SEM PÔR EM RISCO A BIODIVERSIDADE A sustentabilidade não está controlada e isolada em processos fechados de indústrias e instituições; é algo próximo e expansivo que une os seres em torno de um objetivo: reconciliar homem e natureza, conciliar conceitos e recondicionar hábitos. Ser sustentável é viver a sinergia que se encontra nos elementos da natureza e no espírito solidário das pessoas de bem.

O futuro presente em cada ação


FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTOS: FERNANDA MANN

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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

DE HUGO WERNECK a Sebastião Salgado e Lélia Wanick, a mensagem maior da premiação este ano: “O Vale do Rio Doce tem 370 mil nascentes. É possível recuperar todas elas!”

O SAL (ECOLÓGICO)

DA TERRA D

uas frases significativas marcaram a 8a edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, cuja solenidade, este ano, levou às lágrimas várias autoridades e empresários presentes – algo raro no mundo político e econômico –, tamanha a emoção e o clima de gratidão dos premiados. A primeira frase é do dr. Hugo, fundador da primeira ONG ambientalista na América Latina, a quem a Revista Ecológico é dedicada à cada nova lua cheia no céu: “Só a beleza do mundo deveria bastar para preservarmos a natureza”. Já a segunda foi não apenas expressada, mas demonstrada no palco pelo casal Sebastião Salgado e Lélia Wanick, do Instituto Terra, os grandes home-

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nageados do ano: “A destruição da natureza pode ser revertida”. Foi o que eles comprovaram, referindo-se à iniciativa que protagonizaram no Vale do Rio Doce, recém-agredido pela maior tragédia mineral na história ambiental brasileira. Trata-se, ao mesmo tempo, do maior exemplo de recuperação de área degradada de Mata Atlântica no país, com o renascimento de milhares de nascentes d’água. A volta da natureza, enfim, na antiga Fazenda Bulcão, em Aimorés, onde Minas se encontra com o Espírito Santo. E que só foi possível com o plantio de mais de 2,5 milhões de árvores no solo desertificado pela seca e a pecuária insustentável na propriedade. Esta edição especial da Ecológico também traz outra marca significativa. Com ela entramos no 10o


FOTOS: FERNANDA MANN

Real e galopante, a falta de água já dura quatro anos seguidos, em Minas, a “caixa d’água do Brasil”, e até na Floresta Amazônica, o grande refrigerador natural do planeta ano de circulação da revista, mantendo o propósito de ser a mais jornalística e amorosa publicação sobre sustentabilidade e educação ambiental hoje da grande mídia impressa e digital brasileira. Um “parto” que acontece em meio às montanhas de Minas para o país, no ciclo lunar, a cada 28 dias, segundo o calendário da natureza. E não o do homem, onde principia toda a nossa animosidade com o planeta que nos sustenta. Tal como o recado da campanha “A Natureza está Falando”, da ONG Conservação Internacional, que parece não ter sido ouvido até hoje: “A natureza não precisa das pessoas. As pessoas precisam da natureza”. O recado maior desta nossa edição – que premia, mostra e replica para o mundo, as pessoas, empresas, personalidades e instituições que dão exemplo de amor e sustentabilidade – não poderia ser outro: a crise hídrica. Real e galopante, a falta de água já dura quatro anos seguidos, em Minas, a “caixa d’água do Brasil”, e até na Floresta Amazônica, o grande refrigerador natural do planeta ainda de pé. Duradoura tal como a teimosia de Sebastião e Lélia. Persistência compartilhada pelo filho do casal, Juliano, que também estava presente na cerimônia do Prêmio Hugo Werneck. É de sua autoria, em parceria com Wim

Wenders, o roteiro e a produção do pungente documentário “O Sal da Terra”, que conta a odisseia ambiental de seus pais em busca dos 46% de natureza ainda intocada pela mão humana nas partes mais primitivas do planeta. Imagine, caro leitor, você assistindo a cenas deste documentário durante a premiação. E se não fosse o bastante, ao som da canção homônima “O Sal da Terra”, de Beto Guedes, cantada à capela por um coral maravilhoso junto aos presentes à cerimônia, quando ouve: “Temos de recriar o paraíso agora, para merecermos quem vem depois”? Faz pensar que ainda somos, todos nós, ainda que tardia, o sal deste que “é o mais bonito dos planetas”. Como você vai conferir também neste nosso número especial, o artista plástico polonês e ambientalista Frans Krajcberg não morreu em vão. Nem o próprio Hugo, cuja última e histórica entrevista à Revista Ecológico, um mês antes da sua morte, reproduzimos aqui. Uma morte em paz, amorosa e agradecida. Tal como o tema da oitava edição do prêmio que leva seu nome e exemplo, e que o casal homenageado mostrou, de forma pragmática, ser possível. “A Terra Pede Paz – Atire a primeira flor!” Boa leitura! Até a próxima Lua Cheia. 


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ECONECTADO

FOTOS: DIVULGAÇÃO

TWITTANDO

“Ter conhecimento dos impactos das nossas escolhas alimentares na saúde, no meio ambiente e na vida do próximo, torna mais fácil ou mais difícil saborear um alimento.” @belagil – Bela Gil - chef de cozinha e apresentadora de TV

“S.O.S. Planeta. 15.000 cientistas avisam: “Em breve será tarde demais para deter as ameaças ao meio ambiente.” E destacam quais são: os combustíveis fósseis e o desmatamento.”

NUTRICIONISTA DIGITAL Seguir à risca as orientações do nutricionista é uma tarefa realizada com sucesso apenas pelos mais disciplinados. Mas imagine se ele acompanhasse você durante todo o dia, ensinando a preparar todas as refeições, e ainda exigisse fotos dos pratos para checar se está comendo corretamente? Essa é a proposta do Freeletics Nutrition, app que chegou ao Brasil com o objetivo de ser uma espécie de “nutricionista de bolso”. Para usar o aplicativo, é necessário antes fazer uma verdadeira consulta, respondendo uma série de perguntas sobre sua alimentação. O cruzamento de dados define o objetivo da dieta – seja para perder peso seja ganhar massa muscular –, até acompanhamento para criar um estilo de vida mais saudável. Com o foco definido, o aplicativo constrói o cardápio diário para todas as refeições e lanches, cada um deles acompanhado de receita e modo de preparo. Conheça mais em www.freeletics.com e www.facebook. com/freeletics. BANHO ECOLÓGICO O aplicativo “Banho rápido”, já disponível nas plataformas Android e iOS, é ideal para controlar o tempo gasto na hora de tomar banho. Possui usabilidade simples e permite uma configuração completa do momento e sugere tempos específicos para diminuir o desperdício de água. O usuário pode também acompanhar quando já economizou. O app possui várias funcionalidades, como: avisos visuais e sonoros; controle de economia; configuração para os usuários de cabelos curtos e compridos; suporte para quem não lava o cabelo todos os dias e para quem passa xampu mais de uma vez. Para fazer o download nas duas plataformas, acesse goo.gl/c8NFri e goo.gl/au2dts

MAIS ACESSADA FOTO: FERNANDA MANN

FOTO: LEANDRO DITTZ

@gerdwenzel – Gerd Wenzel jornalista

ECO LINKS

“Respirar em Nova Délhi por um dia equivale a fumar 44 cigarros. Escolas foram fechadas e o governo reconhece que a cidade parece uma grande ‘câmara de gás’.” @andretrig jornalista e ambientalista 14  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

A matéria “Cana verde e livre do fogo”, que mostra como um sistema anti-incêndio instalado no Triângulo Mineiro vem assegurando um monitoramento inteligente, evitando danos às plantações e à natureza, foi a matéria mais acessada no site da Revista Ecológico em outubro. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Associação dos Fornecedores de Cana da Região de Campo Florido (Canacampo) e a Usina Santo Ângelo. Por meio do georreferenciamento das áreas plantadas e graças à precisão das câmeras, a Central de Controle obtém informações exatas sobre cada coordenada geográfica e, ao menor indício de fogo, acionam as brigadas de combate. Para ler a matéria na íntegra, acesse: goo.gl/BjeUtD


Produtor Rural Mineiro Orgulho do que somos e do que fazemos.

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UINOS LEITE, CAFÉ, EQ

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AXI, BOVINOS, ABAC ABACATE

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NJA MEL, OVOS, LARA

A UNIÃO E A FORÇA DO CAMPO

Minas é famosa por sua culinária. E pelas conquistas do agronegócio também. Além do destaque nos rankings nacionais, recordes seguem sendo batidos. Em 2017, serão mais de 14 milhões de toneladas de grãos produzidos. Tudo isso é motivo de orgulho e gratidão a milhões de produtores rurais que se dedicam diariamente para levar até você a variedade, qualidade e sabor que fazem tanta diferença na nossa vida.

sistemafaemg.org.br

A UNIÃO E A FORÇA DO CAMPO sistemafaemg.org.br sistemafaemg.org.br


FOTO: FLÁVIO DE CASTRO

GENTE ECOLÓGICA

FOTOS: DIVULGAÇÃO

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“Uma coisa é plantar uma árvore. Outra é fazê-la sobreviver.” WANGARI MAATHAI, ativista ambiental queniana

“O homem é um animal inviável.” MILLÔR FERNANDES, desenhista e escritor

“Ninguém consegue controlar tudo. Mas agir com o coração pode ser transformador.” CRIS GUERRA, escritora, palestrante e publicitária

“Digo que minha música vem da natureza, agora mais do que nunca. Amo as árvores, as pedras, os passarinhos. Acho medonho que a gente esteja contribuindo para destruir essas coisas.” TOM JOBIM, compositor e cantor 16  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

“O que está faltando para o sucesso do Brasil - que é maravilhoso e riquíssimo - é simples: patriotismo.” CID MOREIRA, jornalista


PAPA FRANCISCO

“O Brasil tem um papel muito importante no combate às mudanças climáticas e na redução do desmatamento. E nós, noruegueses, temos muito orgulho de ser parceiros dos brasileiros nessa causa comum.”

O líder da Igreja Católica ordenou a proibição da venda de cigarros na Cidade do Vaticano. Eles deixarão de ser vendidos nas lojas internas, a partir de 2018, por onde passam diariamente seis mil funcionários. Desde 2002 já existia uma lei proibindo fumar em locais públicos no Vaticano.

NILS MARTIN GUNNENG, novo embaixador da Noruega no Brasil, cujo governo já investiu quase R$ 3 bilhões em projetos de proteção florestal e apoio a povos indígenas, por meio do Fundo Amazônia

TUTTI MARAVILHA

“Para a eleição do ano que vem a gente precisa encontrar vozes moderadas: que não estejam nem na Idade Média nem nessa tecnologia sem ética e sem moral.” FERNANDA TORRES, atriz

Na companhia de 16 artistas que se revezaram no palco do Grande Teatro Sesc Palladium, em BH, o apresentador mineiro comemorou os 30 anos do seu programa “Bazar Maravilha” na Rádio Inconfidência. E afirmou: “Embora eu fique confinado no estúdio todo dia, faça chuva, faça sol, sinusite, dor de cabeça, o que for, a minha proposta é a rádio aberta a todas as pessoas que gostem de música e tenham bom gosto. Tento transformar, enfim, esse meu tempo e espaço em uma fonte de cultura e entretenimento. E de me divertir também com os meus ouvintes”. MINGUANDO

KEVIN SPACEY

“As pessoas são o maior valor de qualquer empresa.” SAMUEL FLAM, diretor-presidente da Unimed BH

“Que em 2018 a gente garimpe mais as boas notícias que acontecem todos os dias. É claro que as coisas não estão nada boas, mas, por favor: nos mostrem o que ainda existe de bom aqui no Brasil.” FERNANDA TAKAI, cantora

O ator norte-americano, astro do seriado "House Of Cards", foi acusado de cometer dezenas de assédios sexuais, inclusive contra companheiros de equipe e atuação. Por conta da repercussão, a Netflix suspendeu as filmagens da nova temporada do seriado e afastou Spacey - que se internou em uma clínica de reabilitação - das produções da empresa. NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  17

FOTO: MAÍRA CABRAL

FOTO: FLÁVIO DE CASTRO

CRESCENDO


SOU ECOLÓGICO

VERDEMAR SUSTENTÁVEL A rede de supermercados mineira Verdemar inaugurou este mês uma nova unidade em BH. Desta vez, no shopping Pátio Savassi, localizado na região centro-sul da capital mineira. Com uma área de venda de 1.391 m² e 15 checkouts, a loja tem elevador de acesso ao novo estacionamento do shopping, conforto e acessibilidade. Assim como nas últimas lojas inauguradas, todo o projeto primou pela abordagem sustentável, como o sistema de refrigeração e troca de calor, a utilização de lâmpadas de LED em toda a área de vendas e de produção, coleta seletiva, sacolas retornáveis Ronaldo Fraga e caixas ecológicas. Atualmente, a rede conta com unidades nos bairros São Pedro, Sion, Buritis, Estoril, Lourdes, Savassi, Jardim Canadá (Nova Lima), Pampulha e Serra.

FOTO: ALEXANDRE MARCHETTI/ITAIPU BINACIONAL

FOTO: DIVULGAÇÃO

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ONU ELOGIA ITAIPU As ações sustentáveis que a Itaipu Binacional vem desenvolvendo há vários anos foram destaque na 23ª Conferência Mundial do Clima (COP-23) em Bonn, Alemanha. A empresa, parceira da Secretaria das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (United Nations Climate Change UNFCCC, em inglês) na conferência, é a única empresa latino-americana nessa condição. “Esperamos aprender o que Itaipu está fazendo e o que planeja fazer no futuro, na medida em que o mundo progride na implementação do Acordo de Paris”, afirmou Nick Nuttall, porta-voz da UNFCCC. 18  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

Uma das primeiras ações que a Binacional empreendeu para garantir a qualidade e a quantidade de água em seu reservatório, durante sua construção, foi a formação de uma vasta área de preservação ambiental no entorno, onde já plantou mais de 44 milhões de árvores. Somando as áreas protegidas, reserva e refúgios no Brasil e no Paraguai e faixa de proteção (que tem uma largura média de 200 metros), Itaipu preserva mais de 100 mil hectares de florestas, que respondem pelo sequestro de aproximadamente cinco milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente.


Acesse o blog do Hiram:

ENTERRAR OU CREMAR! A questão da polêmica construção do mais limpo e sustentável crematório da América Latina no Vale do Sol, em Nova Lima (MG), está perto de ser solucionada pelo prefeito Vitor Penido (foto). Político hábil e sensível à causa ambiental, ele tem ouvido várias outras pessoas, além dos moradores locais contrários ao empreendimento, que já se encontra 85% edificado e com todas as licenças exigidas. Sua carta na manga será atender, salomonicamente, tanto esses moradores quanto o interesse do município de contar com uma alternativa pós-morte de Primeiro Mundo, em vez dos antiecológicos e poluentes cemitérios tradicionais já superlotados na região.

FOTO: ZECA RIBEIRO

O ETANOL EM OUTDOORS O setor sucroenergético de Minas continua se mobilizando para promover o etanol e destacar suas externalidades positivas tanto econômicas quanto ambientais e sociais, por meio da instalação de outdoors em locais de grande circulação nas cidades onde atua. O momento é propício. Há três meses este combustível limpo e renovável está mais econômico para o bolso do consumidor, com uma relação de preço frente à gasolina em torno de 67%. Segundo Mário Campos, presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), essas peças gráficas chamam a atenção para a importância de a população abastecer com etanol. E, desta forma, contribuir para a geração de empregos e renda do município e região: “Além de ajudar na redução da poluição local, do planeta, e na prevenção à saúde humana”.

FOTO: DIVULGAÇÃO SIAMIG

hiramfirmino.blogspot.com

BIO EXTRATUS PREMIADA A Bio Extratus Cosméticos Naturais recebeu, em São Paulo (SP) o "Prêmio ABIHPEC Beleza Brasil" 2017, na categoria "Sustentabilidade", com o seu projeto "Sol Nascente" - maior sistema privado do Brasil em geração de energia solar fotovoltaica (com mais de 2.000 módulos instalados sobre a cobertura da fábrica), conectada à rede da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). André Alves (foto à dir.), coordenador do Sistema de Gestão Ambiental da Bio Extratus, recebeu a premiação em nome de toda a empresa. “Para nós, certamente, este reconhecimento é muito importante. Agradeço toda a equipe Bio Extratus que acredita e investe não somente em qualidade de seus produtos, mas na preocupação ambiental e no futuro do planeta”, afirma. O projeto "Sol Nascente" também levou a Bio Extratus a vencer o "VII Prêmio Hugo Werneck", em 2016, na categoria "Melhor Empresa". NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  19


PÁGINAS VERDES

"Só a beleza do mundo deveria

nos bastar para preservá-lo" FOTO: ECOLÓGICO

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HUGO WERNECK e sua última entrevista em vida: "O amor vencerá"

Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

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eu último encontro com Hugo Eiras Furquim Werneck, considerado por muitos o “Pai do Ambientalismo Brasileiro”, se deu em 2008. Foi há nove anos, antes da lua cheia de novembro de 2008, à vespera do lançamento da primeira edição da Revista Ecológico. Fui à sua casa, então no bairro São Pedro, em Belo HoriHori zonte, para apresentar-lhe a ideia da linha editoedito rial da nova publicação. E pedir-lhe autoauto rização não apenas para nos apadrinhar com a sua filosofia e amorosidade pela causa. Mas também para dedicar o nascimento e a existência da revista à sua história de vida e pioneirismo na luta ambiental.

Foi a forma que encontramos de homenageá-lo e agradecer permanentemente seus ensinamentos. Mesmo magro e andando com dificuldade, dr. Hugo nos recebeu com a doçura de sempre. À época, ele tinha 89 anos e estava acompanhado de Maria da Penha, sua segunda esposa e companheira fiel até o final de seus dias. Durante a entrevista, ele não se queixou uma só vez, mesmo debilitado pelo tratamento contra um câncer de pulmão. Também não se queixou de Deus, nem dos poluidores. Muito menos do estado igual da natureza, com o placar desfavorável. Para celebrar o início do décimo ano de publicação da Ecológico, reproduzimos, a seguir, o último recado do fundador e ex-presidente do Centro para a Conservação da Natureza em Minas Gerais, que pregava o amor e amava os pássaros e as borboletas:


HUGO WERNECK

Fundador do Centro para Preservação do Meio Ambiente em Minas Gerais

E aí, doutor Hugo? Você não morre tão cedo, rapaz! Tenho uma novidade pra te contar. Estou doido para receber alta, visitar e trocar umas ideias com o José Carlos Carvalho, e poder voltar ao trabalho que estava fazendo para a ArcelorMittal nas comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco. Meu objetivo agora é contribuir para formarmos cidadãos íntegros, falar dos valores da família, da escola e da sociedade. E do amor que também anda sumido nas relações atuais. Afinal, não nascemos humanos, nos tornamos humanos. Valores também tão presentes na natureza, nos pássaros... Como assim? Falo da importância do respeito mútuo e, sobretudo, no querer bem o outro, algo que existe genuíno e é mais visível nos animais. Hoje eu sou viúvo, casado outra vez e agradeço a companhia que Deus me deu. Mas sempre penso no primeiro casamento com Wanda, no qual eu vivi 56 anos na mais profunda felicidade. Nunca tivemos um atrito que estremecesse a nossa relação. Havia divergências, sim, e pensar diferente não significa ser inimigo, faz parte também da democracia doméstica. Graças a esse entendimento prévio, à tolerância mútua que é fundamental no convívio humano, nós aprendemos a transformá-las, mesmo de maneira errática, no caminho da perfeição. E o que o senhor fala sobre o amor em suas viagens? Que ele é tudo de melhor que temos de cultivar em nós. De resgatar, inclusive, o sentido da relação de intimidade entre o homem e a mulher, onde, com o tempo, o amor ultrapassa o valor da sexua-

"A família tem que formar pessoas dispostas, primeiro, a ajudar o mundo. Não nascemos humanos, nos tornamos humanos." lidade. Que essa transformação, tal como as borboletas que saem do estado larval para voar e ganhar a liberdade, ocorre de maneira absolutamente natural e na base do diálogo. Desejo bilateral, decisão bilateral. Isso é muito importante e deve ter ressonância. Todas as relações, em que prevalecem o afeto e o cuidado mútuos, verdadeiros, são assim. Veja os pássaros. Eles criam relações exemplares. Voam e cantam juntos, seja em tempos discretos como no inverno, ou eloquentes no verão. Comem juntos, têm tempo para si. E como já disse o mestre Jesus, nunca observamos um pássaro qualquer men-

digando ou morrendo de fome feito os humanos. Freud, que defendia que a cura pela psicanálise advém do ato do ser humano basicamente falar e tomar consciência de seus problemas, morreu de câncer na garganta. Gandhi e Lennon pregaram o pacifismo e ambos morreram vítimas da violência. E o senhor que só fala em amor e compreensão, agora também não pode falar, por causa de um câncer no pulmão. Como explicar isso? Não é injusto? Revoltar contra o quê, meu filho, se só tenho a agradecer? Nunca me preveni dessas coisas. Também nunca fumei um cigarro, a não ser nos meus primeiros tempos de casado. Acompanhava Wanda e tomava cerveja preta. Isso ocorreu a cada nascimento de nossos 11 filhos. Nunca vi minha mãe nem meu pai, que não eram ricos, se revoltarem com a vida, mesmo quando mudaram para Belo Horizonte em meio a todas as dificuldades. Na verdade, quando me disseram que eu

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NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  21


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PÁGINAS VERDES

tinha tuberculose ou câncer, eu logo pensei e resolvi: tenho de aceitar e seguir os caminhos de Deus. Tenho um enjoo permanente, sim, mesmo quando me alimento com pequenas coisas. E não tenho mais o apetite de antes. Mas é engraçado. Não faz falta. Olha aí outra vantagem de estar doente! Não sente dor? Só senti um pouco no início. Hoje tem remédio pra tudo. E tenho de confessar: meu final de vida está é muito suave, tranquilo. Estou tendo mais tempo para pensar na minha paternidade e meus filhos me enchem de ternura. Essa é a dádiva de ter, plantar e cultivar relacionamentos afetivos ao longo da vida. A colheita, como numa lavoura orgânica sem uso de pesticidas e outras deformidades, é certa. Onde o senhor, que agora não pode mais ter contato com a natureza, busca essa resignação? Não é resignação. É agradecimento. Hoje eu tenho e convivo com três médicos, rapazes ainda, de outra geração. São cheios de ideias diferentes, algumas até mais evoluídas que as minhas. Como aprendo a ser mais humilde com 22  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

"A pessoa que agride o meio ambiente merece o nosso apoio para mudar, e não o nosso julgamento." eles! Sou grato, enfim, pela oportunidade que Deus me deu para viver toda e qualquer experiência humana, positiva ou negativa, e a descoberta de um segredo. Que segredo? O de nunca se comparar ou fazer comparação com e entre as outras pessoas. É respeitar as diferenças, não impor nada. Deixá-las livres em seu livre arbítrio. Todos os meus filhos fumaram e a nenhum deles eu disse que parassem. Isso é responsabilidade de cada um, de cada ser humano consciente de sua missão consigo mesmo e com a saúde do planeta, se deve ou não cuidar da sua saúde, da sua própria vida. E não mais se poluir, poluir o outro. Que destino o senhor vislumbra para o planeta e a humanidade? A humanidade marcha com difi-

culdades. Desde Cristo, os grandes pensadores, só se ouve falar em crimes, só se aponta o erro, a corrupção. Tudo bem, isso é o mundo real e não podemos fugir dele. Mas ninguém fala de uma coisa chamada virtude. Nós precisamos de gente que saiba que está fazendo o bem, que tem a convicção que esse é o único caminho, a força e o instrumento poderoso que temos e pouco usamos e divulgamos. As pessoas devem repensar naquilo que acreditam. É por isso que me agarro com todos os dedos ao amor. Não existe maior dom e instrumento de mudança que ele. Saramago disse uma vez, e o senhor o contestou na época, que o ser humano é uma praga no universo, que o ego e o ódio, e não o amor, vencerão no fim, com a escalada da sua presença nada ecológica em todo o planeta. Continua pensando assim? Claro. O amor vencerá, sim. O mundo está mudando mais depressa do que somos capazes de perceber e encarar. A natureza se recomporá e existirá sem o homem; mas o contrário, não. Não há sentido na vida do homem sem a sua interação com a natureza. Ambos são gerados pelo mesmo Criador. Se a consciência ambiental chegar somente através do intelecto, a humanidade ficará apenas mais culta do ponto de vista ecológico. Mas se a tocarmos pelo afeto, pelo coração, a mudança e a salvação serão inevitáveis. Não existe outro caminho. Quando qualquer pessoa, rica ou pobre, branca ou amarela, enxergar uma borboleta e disser: “Que beleza!”, pronto. Ela estará sensibilizada. E jamais se negará a ajudar quando um seu semelhante, ainda num estado socialmente larvário lhe pedir esmola, mesmo que seja um impostor.


HUGO WERNECK

Fundador do Centro para Preservação do Meio Ambiente em Minas Gerais

O senhor acha mesmo que o amor, no fim, vencerá, apesar do desamor e o ódio parecerem mais organizados e determinados em seus objetivos? Não tenho dúvida. O que temos de mostrar é como ele é, já que não conseguimos defini-lo. O amor apenas ocorre e pode ser induzido. É como se uma pessoa chegasse diante de um espelho com uma lanterna e o iluminasse. O que acontece quando iluminamos um espelho? A luz volta e nos ilumina. Pois na questão ambiental é a mesma coisa. O amor que dedicamos à natureza e ajuda ao próximo é o que nos ensina. Essa é a beleza da natureza. Tudo o que fizermos por ela retornará a nós mesmos. Seu pai gostava da natureza também? Muito. Como eu gostava de pegar passarinhos, um dia ele inventou uma frase para os meus castigos, que não foram poucos: “Maltratar animais e plantas é indício de mau caráter”, que eu tinha de repetir escrevendo. Eu não sabia o que era indício. Escrevia 100 vezes e, quando tinha folga e sabia que ia desobedecê-lo outra vez, já deixava previamente escritas outras 100 dessas frases. Parece que aprendi o significado dela. Que recado o senhor mais gostaria de passar aos nossos leitores? Que eles se tornem pessoas pensantes, que usem não apenas sua inteligência, mas principalmente sua sabedoria, para se descobrirem e se tornarem capazes de amar, buscar novas

formas de expressar o amor e o encantamento possíveis em suas vidas cotidianas e nas profissões que exercem. Até na política ambiental não existe contraindicação para isso. Na política? Vou te dar um exemplo. O maior erro que existe na nossa legislação, ainda baseada nos mecanismos de fiscalização e contro-

le, é transformar os atos contra a natureza em crimes, é transformar o sujeito ou a empresa que a degrada em criminosos. Ao fazer isso, a nossa jurisdição transforma e consolida alguém que fez uma coisa errada em bandido. Perante a natureza que nos protege, alimenta e nos faz viver, quem a degrada o faz mais por ignorância ou falta de alternativas, por não ter podido aprender a sua grandeza, da qual depende para viver. Uma pessoa assim, por ignorar ou enxergar de maneira suicida tamanha obra de Deus, a ponto de

agredi-la, merece o nosso apoio e não o nosso julgamento. Como assim? Crime supõe intenção, e nem sempre existe isso. Se rotulada de bandida, criminosa, aí sim, ela pode se transformar nisso pelo resto da vida. Já o contrário, ao perdoá-la e esclarecê-la através do que chamamos de educação ambiental, podemos transformar esta mesma pessoa em uma defensora do meio ambiente. Veja o caso dos caçadores de ovos de tartaruga no Brasil. Hoje, em vez de depredar, os nativos ganham inclusive mais dinheiro, como funcionários ou prestadores de serviço ao Ibama, para defendê-las. Tal como uma borboleta em seu processo de transformação, uma criança ou adolescente delinquente não merece punição, mas que os ajudemos a se transformar em cidadãos dignos amanhã. Imagine se matássemos ou aprisionássemos todas as larvas de borboletas, por serem feias e nocivas neste estágio? Não existiriam as borboletas adultas, esvoaçantes em sua beleza, leveza e graça. Não existiriam as “cores que voam” a nos encantar, como uma criança um dia me ensinou a vê-las, visitando o borboletário da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte. Já pensou nesta criação de Deus? Uma cor que voa? Só isso, a beleza do mundo, deveria bastar para respeitarmos, amarmos e preservarmos a natureza.  NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  23


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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

LIXO E DESPERDÍCIO ON AIR

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ecentemente fiz uma viagem internacional numa aeronave em que cabem 272 passageiros, mais os pilotos e comissários de bordo. Durante o voo, foram servidos almoço e dois lanches. Em cada um, três talheres descartáveis e guardanapo, embalados em plástico, copos plásticos (e se o passageiro solicita qualquer outro líquido, um novo copo é trazido). A “comida de sal” é servida em embalagem própria. Durante o voo foram, então, utilizados 2.493 talheres plásticos, no mínimo 831 copos (se ninguém pediu algum outro líquido para beber), 831 embalagens de refeições e mais as embalagens de água e líquidos servidos (garrafas “pet”, “tetrapaks”), de frutas envoltas em plásticos e outros alimentos também neles embalados. Total, por baixo: 4.155 embalagens por viagem. Como as viagens são diárias, considerando lotação completa (como a do voo que fiz), por mês serão no mínimo 124.650 embalagens. Isso só na rota que fiz. E só em uma empresa aérea! No lanche da tarde, perguntei à comissária se a maçã (en-

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volta em película plástica) que eu não queria, seria guardada. Ela disse que não. Que todo alimento não consumido, mesmo intocado, é jogado fora por ordem da Anvisa. Quando saí do avião, dezenas de fones de ouvido foram deixados para trás pelos passageiros. Perguntei-me se algum outro passageiro havia se impressionado com tudo isso. Pensei na montanha de lixo gerada na viagem, no desperdício de alimentos, na inconsciência de todos, na irresponsabilidade do poder público e na quantidade de besteira e discursos demagógicos e mentirosos que ouvimos sobre sustentabilidade, enquanto as tragédias ambientais silenciosas e “ocultas” acontecem a cada minuto, comprometendo cada vez mais o futuro da humanidade. Peguei minha mala e dei “um jeito” de continuar acreditando que podemos mudar esta situação. 

(*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente.


COM O APOIO DO SENAI, A INDÚSTRIA GANHA FORÇA PARA CRESCER. As indústrias de Minas contam com uma Estação Móvel de Monitoramento da Qualidade do Ar. Uma iniciativa do Instituto de Tecnologia de Meio Ambiente, desenvolvida no CIT - Centro de Inovação e Tecnologia SENAI FIEMG, que possibilita uma produção mais limpa, menos poluente, de acordo com as normas da legislação ambiental. E uma inovação que está trazendo ainda mais competitividade para os negócios no estado. Hoje, o Instituto conta com uma equipe multidisciplinar com mais de 60 profissionais e uma estrutura laboratorial de medições e avaliações do meio ambiente. São mais de 90 mil ensaios físicoquímicos e biológicos realizados por ano. Tudo pelo futuro do nosso planeta. E, claro, das nossas indústrias. Esse é o jeito FIEMG de fazer Minas crescer.

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1 A SERRA PEDE PAZ (FIM)

QUANDO O PASSADO

CONDENA TODOS Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

Arquivo Central do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Pronabel. Como poetizou Fernando Pessoa, “navegar é preciso, viver não é preciso”, vamos tão somente à precisão desses documentos, na forma de um sumário. O ano é 1960 na capital das Minas Geraes. O mês é setembro. E o calendário realça: 21, “Dia da Árvore”, dois dias e duas noites antes da entrada da primavera. Nessa data, o livro de Tombamento do O QUE se preservou na paisagem do Pico de BH, na divisa ainda não tombada pelo município de Nova Lima: mineração abandonada, torres e antenas

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FOTO: SANAKAN

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ergulho profundo na história do tombamento da Serra do Curral comprova como a política, a mineração e a expansão imobiliária se uniram ao longo do tempo para diminuir a sua natureza ainda bela e ameaçada. Não é tarefa fácil entender os mapas que preservam a memória recente do mais simbólico conjunto de montanhas da capital dos mineiros, hoje salvaguardada pelo Arquivo Público Mineiro,

Conjunto Paisagístico do Pico e da parte mais alcantilada, despenhadeiro mesmo, da Serra do Curral, no município de Belo Horizonte, ganha o seu primeiro número no processo legal: 591-T-58. Esse número dava sequência e cumprimento a uma decisão dada dois anos antes, em 17 de dezembro de 1958. Foi quando o então governador José Francisco Bias Fortes solicitou ao Ministério da Educação e Cultura que promovesse a preservação legal da Serra, hoje monumento natural de BH, “supostamente” ameaçada pelas operações desenvolvidas pela Mineração Hannaco. Qual o motivo dessa preocupação contra a empresa recém-criada pela Hanna Minning Company para prestar serviços à St. John Del Rey Minning (depois MBR e hoje Vale) e à Companhia de Mineração Novalimense (ex-Mineração Morro Velho e atual AngloGold Ashanti)? Ela já tinha iniciado suas atividades de exploração mineral na vertente/crista sul da serra, fazendo divisa com o Parque das Mangabeiras que conhecemos hoje. De frente, portanto, aos olhos da opinião pública. Após ouvir o Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPN), Hanacco e Sylvio de Vasconcelos, chefe na época do 3º Distrito do ex-PHAN (hoje IPHAN), abriu-se oficialmente o processo do tombamento. Coube ao conselheiro Miran Latif o papel de relator do processo.


ERA ASSIM: no pré-estudo original, as três áreas a serem tombadas iam até à cumeeira da serra, de modo a proibir a sua exploração mineral e preservar toda a sua natureza

Área 1 – “Uma faixa de 1.800 metros de largura, tendo por eixo o prolongamento do eixo da Avenida Afonso Pena, faixa esta delimitada, embaixo, pela linha de nível à cota 1.100 metros. E, em cima, pela linha da cumiada (sic) da serra, estendendose de um e outro lado do eixo da avenida por duas retas paralelas, cada qual correndo a 900 metros de distância do mesmo eixo”; Área 2 – “Esta faixa se prolongará, rumo leste, por outra faixa que correrá compreendida entre a mesma linha de nível à cota de 1.100 metros. E outra à de 1.250 metros (sem atingir a linha da cumiada) “e estender-se a esta faixa até a estaca 187”. Isso no bairro Taquaril, onde funciona hoje a Mineração Empabra, fazendo divisa com o novo projeto da Taquaril Mineração, em Nova Lima, ambas já reportadas anteriormente nesta série da Revista Ecológico). Área 3 – “O Pico de Belo Horizonte, desde o seu cume até a cota 1.250, onde se junta com a faixa tombada acima descrita.”

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ERA ASSIM: no pré-estudo de tombamento original, as três áreas a serem tombadas iam até à cumeeira da serra, de modo a proibir a exploração mineral e preservar toda a sua natureza

Aí começou uma outra e estranha história. Latif propôs o tombamento de duas áreas físicas distintas e não contíguas na geografia natural da serra. Primeiro, a preservação de uma faixa de 900 metros de cada lado do prolongamento da Avenida Afonso Pena, tendo como limite inferior a curva de nível 1.050 metros. E, como limite superior, a cumeada da serra. Na sequência, as “faldas” (sopés, abas ou encostas montanhosas) do Pico de Belo Horizonte, na face inserida somente no seu município (o que deixou Nova Lima fora), acima da cota de 1.250 metros. Tudo ia bem e ficou melhor ainda. No dia 24 de junho de 1959, na reunião do Conselho Consultivo do PHAN, decidiu-se não somente pelo tombamento, acres-

cido de mais estudos detalhados sobre a serra. Mas, também ouvido e sugerido pelo conselheiro José Cândido Melo Carvalho, o primeiro fato ecológico, e não de desamor, em sua história de vida, agressão e preservação oficial: a criação, no local, de um parque municipal destinado à manutenção da flora e fauna da região. O que viria a ocorrer, duas décadas depois, com a criação do Parque das Mangabeiras, hoje a maior área verde de Belo Horizonte (para ler a matéria, acesse goo.gl/vMQHia). Sylvio de Vasconcelos foi além. Não satisfeito, após vários outros estudos, ele propôs uma área de tombamento bem mais ampla que a original. Sugeriu a preservação também de um trecho contínuo da serra, com nove quilôme-

tros de comprimento, justamente na face voltada para a capital. Miran Latif acatou algumas de suas propostas, mas rebateu outras. E, no fim, pelo caminho sempre mais sábio do meio, propôs um novo tombamento, agora com três áreas geográficas contíguas, sem separação entre si (vide quadro ao lado), de modo a permanecerem como um mosaico contínuo e protegido de biodiversidade. Memorável, a proposição foi aprovada na reunião do Conselho Consultivo do PHAN no dia 26 de janeiro de 1960. E isso, é bom lembrar, aconteceu 12 anos antes da famosa Conferência de Estocolmo, na Suécia. Foi quando, pela primeira vez a humanidade e seus governantes pronunciaram as expressões “desenvolvimento econômico” e “meio ambiente” juntas, também abreviadas como

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NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  27


1 A SERRA PEDE PAZ (FIM) EM MEADOS da década de 70, quando o domínio da Ferrobel ultrapassava a crista da Serra, ocorreu o trágico rebaixamento do seu perfil: indignação da opinião pública contra a MBR e o início da consciência ecológica e luta ambiental contra a mineração insustentável. A expressão “Olhe bem as montanhas” nasceu aí

“ecodesenvolvimento”. A proposição acatada pelos demais conselheiros definiu, assim, as seguintes áreas da Serra do Curral Del Rey para o seu tombamento e preservação oficial:

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– “Uma faixa de 1.800 metros de largura, tendo por eixo o prolongamento do eixo da Avenida Afonso Pena, faixa esta delimitada, embaixo, pela linha de nível à cota 1.100 metros. E, em cima, pela linha da cumiada (sic) da serra, estendendo-se de um e outro lado do eixo da avenida por duas retas paralelas, cada qual correndo a 900 metros de distância do mesmo eixo”;

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– “Esta faixa se prolongará, rumo leste, por outra faixa que correrá compreendida entre a mesma linha de nível à cota de 1.100 metros. E outra à de 1.250 metros (sem atingir a linha da cumiada) “e estender-se a esta faixa até a estaca 187”. Isso no bairro Taquaril, onde funciona hoje a Mineração Empabra, fazendo divisa com o novo projeto da Taquaril Mineração, em Nova Lima, ambas já reportadas anteriormente nesta série da Revista Ecológico).

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– “O Pico de Belo Horizonte, desde o seu cume até a cota 1.250, onde se junta com a faixa tombada acima descrita.” Opa! “Sem atingir a linha da cumiada” foi o mesmo que dizer “está liberado minerar sua crista” - o que de fato aconteceu. As diferenças, portanto, dessa proposição em relação à primeira proposta de tombamento feita por Miran Latif, foram estas: A inserção da “Área 2”, unindo as áreas 1 e 3. E a mudança no limite inferior da Área 1”, fazendo a cota 1.050 metros passar para 1.100 metros. Tudo parecia ir melhor ainda, não fossem os diversos interesses públicos e privados, propriedades e seus proprietários, tais como as pedras no caminho de Drummond. A Área 1 agora inserida no tombamento, em sua parte central, ocupava terrenos pertencentes à Prefeitura de Belo Horizonte. Terrenos estes que hoje abrigam o Parque das Mangabeiras. Já na parte sudoeste da serra, próximo da Afonso Pena, os terrenos pertenciam à Comiteco (Cia. Mineira de Terrenos e Construções), à Fundação Benjamim Guimarães e a Ubirajara Vianna – todos com

interesses imobiliários nada ecológicos nem sociais na região. Mas, sim, com medo do processo de favelamento já iniciado no alto do bairro da Serra chegar à zona sul da capital. E por fim, também contra o tombamento, os terrenos que pertenciam a Chaffir Ferreira e Navantino Alves, ambos com interesses minerários. Nove de fevereiro de 1960. Neste dia é publicado o esperado edital de tombamento. E dado o prazo de 15 dias para quaisquer eventuais impugnações. O que aconteceu de maneira nada eventual e tempestiva nesta data? À exceção da Prefeitura de Belo Horizonte, todos os demais interessados acima citados, incluindo a Hanna (Novalimense), apresentaram suas impugnações. Protestaram e venceram no primeiro round. A área de tombamento foi revista de maneira cirúrgica, sem alarde nem protesto público. E reduziu assim todas as tais três àreas previstas de preservação da serra, que ficaram com as seguintes, sutis e permissivas redações:

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– “Uma faixa de 1.800 metros de largura, tendo por eixo o prolongamento do eixo da Afonso Pena, faixa esta delimitada, embaixo pela linha de nível à cota 1.150 metros. E, em cima, pela linha de cumiada (sic) da Serra do Curral, estendendo-se um e outro lado do eixo da Afonso Pena por duas retas paralelas, cada qual correndo a 900 metros de distância do mesmo eixo.”

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– “Esta faixa se prolongará, rumo leste, por outra faixa que compreenderá os atuais terrenos pertencentes à Prefeitura de Belo Horizonte entre a cota 1.150m e 1.250m (sem atingir a linha de cumiada)”. Ou seja, permitindo a mineração em todo o dorso longitudinal da serra.


FOTO: REPRODUÇÃO

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DIMINUIU ASSIM... Como se pode ver, a proposição seguinte do tombamento deixou de fora todas as áreas reivindicadas pela Comiteco, mais o Palácio das Mangabeiras e os terrenos particulares impugnados na Área 2, na região do Taquaril, onde, mesmo recuperativa, a mineração continua. Prevaleceu o interesse privado

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– O Pico de Belo Horizonte desde seu cume até a cota 1.260.

Ao contrário do tombamento proposto em 26 de janeiro de 1960, esta nova delimitação atendeu assim, e tão somente, os interesses dos impugnantes: ÁREA 1 - Ao se elevar a sua cota inferior de 1.100m para 1.150m, retiraram-se do tombamento todos os terrenos loteáveis adjacentes à Avenida Afonso Pena, pertencentes à Comiteco. As áreas a sudeste da mesma avenida, pertencentes a Ubirajara Vianna e à Fundação Benjamim Guimarães. Bem como o próprio Palácio das Mangabeiras, que havia sido incluído no tombamento original. ÁREA 2 - Ao restringir os limites dessa área aos terrenos pertencentes à Prefeitura de Belo Hori-

zonte, os terrenos de Navantino Alves e de Chaffir Ferreira, abaixo da cota 1.260m, também foram excluídos do tombamento. Ao se elevar a cota mínima de tombamento do Pico de Belo Horizonte (Área 3) de 1.250m para 1.260m, os terrenos de Chaffir Ferreira também ficaram integralmente fora da área de tombamento. No caso da mineradora Hanna, a proposta final de tombamento então restrita à capital, não atingiu as suas propriedades, por estarem no município de Nova Lima. Só faltava o Livro do Tombo adequar a questão da Área 2. Representado em vermelho no mapa acima, ele dizia respeito aos terrenos pertencentes à Prefeitura de Belo Horizonte, que também pretendia desenvolver, como de fato o fez, por meio da Ferrobel, um projeto minerário. Desse modo, após negocia-

ções, a área tombada foi revista pelo Conselho que, em 13 de junho de 1961, emitiu a seguinte resolução também integrante do processo 591-T-58, item 1º, após verificação “in loco” da situação da Serra e de seus vizinhos: “O tombamento do conjunto paisagístico da Serra do Curral, no Estado de Minas Gerais, abrange uma área de mil e oitocentos metros e compreende a cumiada (sic) e a aba correspondente da serra, além do trecho em que está situado o Pico de Belo Horizonte até a cota já fixada”. AS TRÊS ÁREAS Com esta resolução final, os terrenos de propriedade da PBH que hoje abrigam o Parque das Mangabeiras foram oficialmente excluídos do tombamento. E ficaram assim as seguintes confi-

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FOTO: REPRODUÇÃO

1 A SERRA PEDE PAZ (FIM)

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O TOMBAMENTO real, como era antes e como ficou: a Área 2 simplesmente sumiu, reduzindo-se à atividade atual da Empabra, limitada pelos parques da Baleia e Mangabeiras. E pelo Pico de BH (Área 3), fazendo divisa com a Mineração Taquaril, em Nova Lima. Torres, antenas e nada mais

gurações destas áreas da serra até os dias atuais: A ÁREA 3, correspondente ao “trecho” da serra em que está situado o Pico de Belo Horizonte até a cota fixada de 1.260m, permaneceu como estava. Hoje abriga a feiura necessária das torres de telecomunicações. A ÁREA 2, excluída do tombamento, primeiro abrigou as operações minerárias da Ferrobel. E depois de exauridas as reservas, a área veio a constituir o Parque das Mangabeiras. Seguiu a recomendação inicial do PHAN. A ÁREA 1 - Apesar de tombada e tão defendida atualmente pelos seus moradores e alguns ambientalistas, a parte mais central e nobre no sopé da Serra não resistiu 30  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

à pressão imobiliária. Foi parcialmente ocupada pelas praças da Bandeira e do Papa, mais as residências luxuosas que as circundam, e continuam de pé, até o sopé da Serra. E não apenas pelo ex-Instituto Hilton Rocha, futuro novo hospital de câncer de Belo Horizonte, previsto pelo Grupo Oncomed, no mesmo local – algo equivocado de tanta, inócua e injusta discussão. Os moradores de onde é hoje o Bairro das Mangabeiras são, todos eles, vizinhos e ocupantes também históricos dessa área tombada da serra. Ou do que sobrou dela. Para o bem ou para o mal, saúde ou des(saúde), é tudo uma questão de escolha, de bandeira de luta ou mudança do ponto de vista. Nenhum desses moradores, a exemplo do que estão exigindo da Oncomed,

certamente aceitaria demolir sua residência hoje, por respeito à lei do tombamento ou amor à serra, aumentando a sua área verde. Tipo a velha, falsa e insustentável desecologia do “faça o que eu exijo. E não o que faço”. RESUMO DA ÓPERA A Lei do Tombamento da Serra do Curral aconteceu às avessas. O que ficou tombado dela, toda a Área 1, não foi respeitado. Continua ocupada – e ninguém discute isso - desde a Praça da Bandeira até o ex-Instituto Hilton Rocha, depois da Praça do Papa, subindo 900 metros à esquerda e à direita da Avenida Afonso Pena. O que não saiu de tombamento na Área 2, mas acabou sendo criado por outro instrumento legal, para assim colocar a Ferrobel no meio da história e na contra-


3 Parque das Mangabeiras

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A ÁREA 1, mesmo tombada, não resistiu à pressão política e imobiliária. Foi e continua ocupada por residências particulares, clínicas e prédios comerciais, tal como o ex-Instituto Hilton Rocha. Só o Parque das Mangabeiras sobreviveu, como área verde para a população. E não o interesse privado

mão da história, ficou protegido de fato, é o Parque das Mangabeiras que conhecemos hoje. A maior área verde e de lazer público hoje da população. E com uma ressalva que pouca gente sabe. Em grande parte, como abordamos no início desta série de reportagens, a primeira ideia de se criar um parque deste tamanho, para contrapor e compensar a agressão da mineração no alto da Serra do Curral, partiu de um acordo dos ambientalistas Hugo Werneck, Angelo Machado e Célio Valle. Na época, a Prefeitura e o Estado não eram apenas sócios, mas diretamente interessados também na atividade mineral, a ponto de terem criado a Ferrobel para isso. Como o revés de imagem negativa perante a opinião pública causada pelo rebaixamento

da Serra pela MBR não parava, o que a Prefeitura fez, já satisfeita de ter conseguido tantos terrenos públicos ficarem de fora do tombamento? De um lado, empunhando a bandeira ambiental, desistiu de explorar mineração. Mas, de outro, secretamente, tentou implantar um grande e continuado projeto imobiliário na região, chamado “Cidade da Serra”. Só não conseguiu, graças a um ambientalista ferrenho e pouco conhecido, chamado Bolivar Miranda, então anônimo e simplório diretor de Parques e Jardins, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, embrião da futura Secretaria de Meio Ambiente de BH. Quando ficou sabendo e comprovou a intenção, ele não convocou toda imprensa, na época. Apenas atravessou a Rua

Goiás, em busca de um repórter no prédio ao lado da Prefeitura, onde funcionava a redação verde do jornal “Estado de Minas”. De terno invariavelmente marrom, magrinho e decidido, ainda com um bigodinho ralo à antiga, Bolívar foi manchete nos dias seguintes. A Prefeitura e o Estado negaram a informação e, por baixo dos panos, desistiram de vez do negócio. Ambientalista com causa, o intransigente e vergel funcionário público municipal não voltou atrás. Foi sumariamente demitido. Entristecido, mudou-se da capital. Dizem que foi viver, mais anônimo ainda, na Serra do Itatiaiuçu. E o Parque das Mangabeiras, mesmo fora do tombamento, acha-se preservado para sempre. Em paz, como toda a serra ainda sonha um dia.  NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  31


1 IN MEMORIAM

Frans Krajcberg

UM ARTISTA INCONFORMADO Fabrício Fernandinho (*)

redacao@revistaecologico.com.br

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ascido na Polônia em 1921, Frans Krajcberg, brasileiro de alma, cidadão do mundo, tem uma trajetória singular pela sua luta em defesa da vida através da arte. Escultor e artista plástico de renome internacional e se autodeclara ambientalista, iniciou seus estudos com um dos mestres da Bauhaus, Willi Baumeister. O começo de sua carreira foi ceifado pelos horrores da guerra, onde perdeu toda a sua família, e tornou-se um refugiado do holocaus-

to. Em sua fuga, foi para a Rússia e, engajado, partiu para a luta na frente russa que invadia a Alemanha ao final da 2ª Guerra Mundial. Finda a guerra, transferiu-se para Paris, onde estabelece contato com artistas cujos trabalhos fizeram a história da arte do século XX. Teve relações de amizade com Braque, Lerge, Chagall, Vera da Silva e Dibife, entre tantos outros, o que o tornou uma referência desse momento tão revolucionário da história da arte contemporânea.

FABRÍCIO COM KRAJCBERG no Pico do Itabiro, em Minas: registro ocular

KRAJCBERG utilizou sua arte como forma de protesto ecológico

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Desiludido e inconformado com o mundo dos homens, transferiu-se para o Brasil em busca de silêncio e do distanciamento necessários para abrandar a sua revolta. Sem conhecimento do idioma português, com quase nenhum dinheiro, chegou a São Paulo. E lá, por um curto período, passou por dificuldades extremas. A convite de amigos, trabalhou como montador da “I Bienal de São Paulo”, em 1951, onde também expôs duas de suas pinturas. Neste mesmo ano mudou-se para o Paraná, onde sua casa na floresta foi destruída pelas queimadas. Já em 1957 conquistou o prêmio de “Melhor Pintor” e voltou para Paris, sempre ficando em contato com Minas e Ibiza. Em 1964, ganhou o primeiro prêmio da Bienal de Veneza, o que o torna um artista reconhecidamente internacional, permitindo-se dedicar inteiramente à sua arte. Na década de 1970, mudou-se para Catabranca, região de Itabirito (MG), onde morou por cinco anos dentro de uma Kombi e lá, ao ar livre, instalou seu ateliê. Até então, o artista vinha trabalhando intensamente com gravuras modeladas a partir do relevo de pedras e areias, desenhos e pinturas. Como ele declara, “em Minas Gerais foi onde criei as minhas primeiras esculturas”. Aqui, em meio às montanhas, foi o palco que per-


"Existe hoje uma consciência mundial em favor do meio ambiente. Graças a ela, reforça-se a ideia de que a sobrevivência da humanidade depende diretamente da sobrevivência do planeta. Essa dependência não é somente de ordem física. Ela é também uma fonte de inspiração espiritual, que nos permite antever um tempo infinito e dá maior sentido à vida."

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Frans Krajcberg

mitiu o desenvolvimento de sua obra escultórica, hoje uma referência internacional. Outro lugar que escolheu morar no Brasil foi Nova Viçosa, no sul da Bahia. Uma região de densa floresta, hoje extinta, foi lá que instalou definitivamente seu ateliê no sítio Natura. A partir daí, a obra de Krajcberg passou a ser um alerta, um grito de dor de uma outra guerra, não do homem contra o homem, mas do homem con-

tra a natureza. Paralelo às suas esculturas, desenvolveu um trabalho de fotografia de extrema sensibilidade a partir de um olhar preparado, poético e atento. Como um dedo em riste, sua arte comoveu o mundo. Mais que belas, são um documento da destruição. O trabalho de Krajcberg está representado nos principais museus e galerias internacionais. A partir dos anos 1980, mostras de grande vulto foram

produzidas, associadas a uma densa publicação que documentou a sua obra, cumprindo os objetivos da sensibilização humana nas principais capitais culturais do planeta. Sua morte, ocorrida no último dia 15, aos 96 anos, fez ecoar seu protesto diante do estado do mundo.  (*) Curador da exposição “Minas... Paisagens Devastadas” e ex-diretor do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG.

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1 CULTURA

AMOR À CONDIÇÃO

HUMANA

Novo espetáculo de Pedro Paulo Cava, “Intimidade Indecente” retrata com delicadeza a ecologia hilária, frágil, cruel e transcendente dos nossos relacionamentos afetivos na velhice Hiram Firmino

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Ecológico adverte: é imperdível! Assistir à peça teatral “Intimidade Indecente”, em cartaz até o dia 17 de dezembro no Teatro da Cidade, em Belo Horizonte, é benéfico ao coração. Só provoca poesia, risos e lágrimas de reflexão. E ainda lava a nossa alma no final. Como também advertido em sua sinopse, trata-se de um texto atual, escrito por Leilah Assumpção, que perpassa quatro décadas, com cenas do relacionamento de um casal após 20 anos juntos. Na primeira cena, eles têm 50 anos. Na segunda, já têm 60 anos. Na terceira, eles estão com um pouco mais de 70. E, na última cena, com mais de 80 anos de idade. A peça é interpretada por dois atores de primeira grandeza, também imperdíveis na história do teatro mineiro: Andreia Garavello e Geraldo Peninha. Como sugere o título “Intimidade Indecente”, ao se reencontrarem ao longo da vida, eles revelam a força do querer erótico, tal como acontece na natureza, com todos os seres vivos. Um querer afetivo entre os casais que, quase imperceptível, está por trás de tudo. Principalmente da nossa cômica fragilidade e bizarra di34  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

ANDREIA GARAVELLO E GERALDO PENINHA JUNTOS: brilhantismo, o tempo todo

ficuldade em comunicar nossos verdadeiros sentimentos, desejos e fantasias com o outro, mesmo o mais íntimo de nós. Entre tapas e beijos que não acontecem, essa discussão filosófica dura a peça inteira. Até que a vida e os corpos do casal de atores, enfim, envelhecem de vez. Tudo termina. Mesmo juntos e separados, eles não sabem mais onde estão. Só sentem que não têm nem pés nem mais planeta para pisarem. Somente que continuam buscando teimosamente o afeto e a companhia

um do outro, feito amantes e amigos, em outros palcos mais espiritualizados e felizes do que esse país e mundo, vasto mundo atual, sem amor nem delicadeza. Muito menos o hábito de ir ao teatro que já tivemos antes, e nos tornava melhores. Linda demais essa “Intimidade Indecente”! Tal como a direção brilhante, a trilha sonora romântica e a iluminação maravilhosa também assinadas por Pedro Paulo Cava. Tal como seu depoimento, a seguir. Desnundem-se!


Está tudo nas

entrelinhas Quando os atores Andreia Garavello e Geraldo Peninha me trouxeram o texto da Leilah Assumpção, fiquei completamente envolvido pelo primor da escrita, pela sua atualidade e emoções tão bem distribuídas pelas cenas e personagens. De quebra o bom humor, as frases e falas afiadas que me fizeram rolar de rir e ainda serviram para fazer uma reflexão sobre as incomunicabilidades dos seres humanos e os desencontros das relações afetivas. Lembrei-me de imediato da máxima do escritor Millôr Fernandes: “Casamento é como submarino: foi feito para afundar. Mas às vezes boia”. Como se nada disso bastasse, Intimidade Indecente traça um retrato hilário e contundente sobre a crueldade do envelhecimento, principalmente quando sabemos que estamos vivendo mais e com melhor qualidade de vida. Nem todos, é claro, mas a maioria daqueles que tem uma certa condição financeira de ir tratando da sua saúde depois dos 50 anos de idade. E podem entregar seus corpinhos à medicina e à ciência que alonga o tempo de pé sobre o planeta. Alguns morrem vendendo saúde e outros vivem tanto que apenas se dissolvem. No momento que vivemos no Brasil e no mundo, com tanta intolerância, violência, agressões desnecessárias e o avanço das forças mais retrógradas e atrasadas do conservadorismo e do fascismo, “Intimidade Indecente” é um oásis da delicadeza, da poesia e do cotidiano que teimosamente ainda sobrevive em algumas relações humanas. Todos nós estamos em cena, tenhamos oito ou oitenta anos. Ou estaremos lá num futuro não tão distante, pois a vida é mais veloz do que nunca. Apenas um suspiro e já acabou. Com certeza, conhecemos alguém que podemos identificar nas situações da peça, seja parente, amigo, conhecido ou apenas notícia de jornal. Ou nós mesmos. Afinal, teatro é assim mesmo: arte que emociona porque desnuda a intimidade da vida, decente ou indecentemente. Divirtam-se!

FOTOS: KIKA ANTUNES

Pedro Paulo Cava (*)

O CASAL já envelhecendo: o amor e o sexo nos tempos da transparência

A EQUIPE por trás do espetáculo: profissionalismo e sensibilidade

SAIBA MAIS

www.teatrodacidade.com.br Rua da Bahia, 1.341- Centro – Tel.: (31) 3273-1050 – sextas e sábados, às 20h30; e domingos, às 19h.

(*) Diretor e produtor teatral. NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  35


1 As Áreas Protegidas do Minas-Rio (2)

IMENSIDÃO VERDE Recuperada e ampliada pela Anglo American no Vale do Rio Doce, área de preservação ambiental Rio do Peixe tem papel essencial na manutenção de corredores ecológicos de Mata Atlântica Fernanda Mann

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área de preservação ambiental Rio do Peixe, entre os municípios mineiros de Carmésia (onde está sua maior parte) e Dom Joaquim, é uma imensidão verde no Vale do Rio Doce. Segunda maior das 18 áreas de preservação mantidas pela Anglo American em Minas Gerais, ela foi uma das primeiras a serem criadas pela empresa. E revela uma das suas premissas mais importantes quando o assunto é sustentabilidade: criar áreas com volume significativo de floresta contínua, em vez de pe-

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quenas ilhas verdes isoladas. Com aproximadamente dois mil hectares, Rio do Peixe é preservada pela Anglo American desde o início de sua atuação no Brasil. Seu mosaico verde exuberante contribui para a preservação de 47 nascentes. E também para a manutenção da biodiversidade local e a preservação de um dos biomas mais degradados do país: a Mata Atlântica, que hoje só tem 7% de sua cobertura vegetal original. Durante o processo de expansão das atividades conduzidas pela Anglo

American, medidas compensatórias contribuíram para ampliar ainda mais o território da área, aumentando a quantidade de matas preservadas. Rio do Peixe hoje só perde em tamanho para a RPPN Serra da Bocaina, também sob proteção da Anglo American, com seus quatro mil hectares. “Rio do Peixe possivelmente vai crescer ainda mais. Está sendo definido em breve o acréscimo de aproximadamente mais dois mil hectares à área já implantada”, comemora Josimar Gomes, analista ambiental da


FOTOS: FERNANDA MANN

LOCALIZADA entre Carmésia e Dom Joaquim, a área de preservação ambiental Rio do Peixe tem dois mil hectares

Em breve, Rio do Peixe poderá ganhar mais dois mil hectares. A ampliação está prevista na Fase 3 do Projeto Minas-Rio empresa, que acompanhou a Ecológico durante a visita. Essa ampliação se dará por meio da proposta de compensação florestal da Fase 3 do Projeto Minas-Rio. Josimar explica que a compensação ambiental é baseada na fitofisionomia das áreas. Ou seja, para toda região onde há atividade minerária, outra com características equivalentes será conservada. “Nem sempre é possível concentrar as áreas compensadas em um único lugar. Mas a empresa não mede es-

RIO DO PEIXE tem 47 nascentes é a segunda maior das 18 áreas preservadas pela Anglo American

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FOTO: GEORGE GENTRY

1 As Áreas Protegidas do Minas-Rio (2)

Rio do Peixe tem importância ambiental estratégica e integra os esforços da Anglo American para criar corredores ecológicos em benefício de espécies da Mata Atlântica. “Cada área verde que se constitui aos poucos vai, em conjunto, formando uma espécie de corredor ecológico. A ideia é promover a conectividade entre essas ilhas verdes para que a flora e a fauna não sejam impactadas, garantindo sua preservação", afirma Josimar Gomes. FOTO: FERNANDA MANN

ATÉ UM exemplar de PUMA concolor já foi avistado na área

NO LOCAL, também são produzidas mudas para recomposição de pastagens e enriquecimento de matas secundárias

forços para continuar estendendo os territórios já existentes na tentativa, inclusive, de promover a sua interligação por meio de corredores ecológicos”, diz Josimar. Ele explica: “Quanto menos conseguirmos recortar a massa florestal de uma área protegida, melhor. Menos efeito de borda, menor interferência externa. Se você tem uma área que é muito recortada, mesmo que o re38  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

corte seja pequeno, as espécies que vivem ali (por conta de características ambientais específicas como sombreamento, umidade, presença de outras espécies e de microambientes) vão migrar para outra região”. RIQUEZA ECOLÓGICA Em paralelo aos esforços de ampliação de Rio do Peixe, também é desenvolvido um minucioso trabalho

FIQUE POR DENTRO

para potencializar a biodiversidade, incluindo plantios de espécies nativas para recomposição de áreas de pastagem e para enriquecimento de matas secundárias. Duzentos e cinquenta hectares já foram revegetados. Para as áreas de pasto, são plantadas cerca de mil mudas por hectare. Para os ambientes em que é realizado o enriquecimento (que já foram pastagens e se recuperaram), a empresa atua na ampliação do número de espécies nativas, beneficiando todo o ecossistema. Em ambos os casos, ressalta o analista ambiental, são realizados o acompanhamento e o manejo das mudas plantadas até que elas atinjam maior porte. Para isso, é feita a limpeza do mato ao redor da planta, para não “sufocá-la”, a instalação de aceiros e a substituição da muda em caso de dano. São ações assim que contribuem para que Rio do Peixe seja um território tão rico e surpreendente em águas e florestas. Um lugar que, inclusive, já revelou a presença da onça-parda (Puma concolor) e tantas outras espécies, animais e vegetais, que merecem continuar preservadas.  SAIBA MAIS

brasil.angloamerican.com


Atire a primeira flor! Realização


O SAL DA TERRA Cerimônia do Prêmio Hugo Werneck 2017 reúne mais de 300 empresários, autoridades e finalistas na Fundação Dom Cabral, que se emocionaram com o exemplo e a mensagem de Sebastião Salgado e Lélia Wanick Luciano Lopes

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eixa nascer o amor, deixa fluir o amor.” A mensagem da canção “Sal da Terra”, de Beto Guedes, que ecoou no Teatro da Fundação Dom Cabral, em Nova Lima, não trouxe apenas mais emoção à cerimônia do “VIII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade

& Amor à Natureza” este ano, cujo tema foi “A Terra Pede Paz – Atire a Primeira Flor”. Regida pelo coral da Faculdade de Letras (FALE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a música, cantada em uníssono pela plateia de mais de 300 convidados – entre empresá-

rios, autoridades e finalistas – reforçou um convite feito há mais de 2.000 anos por Cristo: a humanidade é o sal da Terra, a força do querer bem este que é o mais bonito dos planetas. Este ano, foram mais de 100 projetos inscritos, representando estados das cinco regiões


FOTO: FERNANDA MANN

brasileiras. Oitenta e nove iniciativas atenderam plenamente às diretrizes do regulamento e foram encaminhadas para avaliação dos jurados, que elegeram os finalistas e os vencedores. A cerimônia, realizada em 26 de outubro último, atingiu seu ponto alto com a homenagem ao fotógrafo Sebastião Salgado e à diretora do Instituto Terra, Lélia Wanick. Responsável pelos registros fotográficos e editoriais mais audaciosos, importantes e esperançosos sobre o estado ambiental do planeta, o casal ambientalista recuperou a paisagem original da Fazenda Bulcão, em Aimorés (MG), com o plantio recorde de 2,5 milhões de árvores para restaurar uma

área de 7.000 hectares, antes degradada pelo desmatamento, pela seca e pela criação de gado. Mais de 300 espécies nativas da Mata Atlântica foram plantadas no local e contribuíram para trazer de volta a água e os animais. “Eu e Sebastião não conseguiríamos fazer todo esse trabalho sozinhos. Contamos com a ajuda de muitas pessoas, funcionários, voluntários e amigos, que gostaríamos de agradecer aqui. Muito obrigada!”, disse Lélia, que também estava acompanhada de Juliano Salgado, filho do casal e diretor do documentário “Sal da Terra”, indicado ao Oscar de 2015. Trechos do filme foram apresentados durante a cerimônia e emocionaram a

plateia e o próprio fotógrafo, que foi às lágrimas. “Reconstituímos um ecossistema que era muito parecido com aquele de quando éramos crianças e fico felicíssimo de receber o prêmio. Foi uma honra imensa estar aqui com todos esses companheiros sonhadores”, afirmou Sebastião, sensibilizado. Ele também falou da importância de envolver os produtores rurais na preservação ambiental e destacou o mais novo projeto (leia mais na página 64) do casal, “um sonho que começou a se materializar há mais de oito anos”: a recuperação de todo o sistema de águas da Bacia do Rio Doce. “A água é a essência da vida. Esperamos que este projeto seja um modelo para salvar todas as bacias hidrográficas do Brasil”. É esta esperança, em prol dos recursos hídricos e das florestas de Minas, do Brasil e do mundo, que a Ecológico compartilha com você, caro leitor, a seguir. São mensagens de paz que fazem um novo convite à humanidade, como prega a canção de Beto Guedes: “Vamos precisar de todo mundo, para banir a opressão, para construir a vida nova. A paz na Terra, amor!”. Confira:


Os vencedores de 2017 1. Homenagem do Ano Sebastião Salgado e Lélia Wanick 2. Melhor Exemplo de Iniciativa Individual Sítio Pindorama, do geólogo Gilson Essenfelder 3. Melhor Exemplo de Conhecimento Popular Projeto Fruta de Sabiá, do ambientalista José Renato Resende 4. Melhor Exemplo de Educação Ambiental Movimento Ecos, Escola Superior Dom Hélder Câmara 5. Melhor Exemplo em Biodiversidade Projeto Uçá, ONG Guardiões do Mar 6. Melhor Exemplo em Mobilização Social Projeto Dá Pé, de Estevão Ciavatta/Pindorama Filmes

7. Destaque Municipal Projeto Tiradentes Lixo Zero, da Associação Tiradentes Lixo Zero 8. Destaque Estadual Projeto Semente, Caoma/ Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) 9. Destaque Nacional Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), Governo Federal/ Ministério do Meio Ambiente 10. Melhor Projeto de Parceiro Sustentável “O Rima Tá na Rua”, da Anglo American Brasil 11. Melhor Empresário Rubens Menin, presidente do Conselho de Administração e fundador da MRV


A inteligência amorosa do querer bem o planeta

FOTO: FERNANDA MANN

Hiram Firmino (*)

HIRAM em seu discurso: a mensagem subversiva de Hugo

Permitam-me falar novamente de amor. Se o dr. Hugo Werneck estivesse aqui, ele não teria dúvida ao afirmar que quando o advogado e seu primo Mário Werneck, atual secretário de meio ambiente de Belo Horizonte, lembrou, em pleno seminário “Minas no Caminho das Águas”, promovido pela Fiemg na última lua cheia, que Jesus Cristo também foi um ambientalista... isso é amor! Que o primeiro milagre do filho de um carpinteiro que dividiu a história da humanidade, antes e depois Dele, foi transformar água em vinho. Que andava sobre as águas e

só pregava em montanhas, ou seja, em APPs - Áreas de Preservação Permanente. Que sua última caminhada rumo ao sacrifício partiu de uma Unidade de Conservação, o Jardim das Oliveiras. E quando o seu peito foi trespassado pela lança, de seu corpo não saiu sangue, mas... água! E que o caminho até o Criador de todas as coisas passa pela preservação da natureza, que é a face natural de Deus. Compreender isso é amor! Quando Roberto Simões, engenheiro agrônomo e mestre em Economia Rural, reeleito com 99% dos votos para continuar à frente da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais, declarou nesse mesmo seminário que virou um “pregador da sustentabilidade no campo”. Que 13 dos 17 ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estão ligados à água. Que por estarem próximos e em contato direto com o meio ambiente do qual dependem, mais que usuários, os produtores rurais também são produtores estratégicos de água... isso é amor! Dr. Hugo ainda diria que, quando um líder da mineração, como Ruben Fernandes, CEO da Anglo American Brasil, disse recentemente na abertura do 11º Seminário Internacional de

Sustentabilidade: “Num mundo vulnerável, incerto e ambíguo, o nosso maior legado é deixar à sociedade o sentimento de completude de sua existência”. E disse mais: “Que a nossa missão neste planeta que Deus nos entregou não pode ser só fazer buraco. Mas, sim, pensar no futuro dos nossos filhos e netos. Que vivemos numa só natureza e ela precisa continuar viva, para realizarmos esse propósito em comum”... Isso é amor! É inteligência amorosa! FELICIDADE E LUCRO Diria também que quando a gente ouve, neste mesmo seminário realizado pela Fiemg, o administrador Márcio Fernandes, CEO da Elektro e um dos líderes empresariais mais admirados hoje no Brasil, escrever, dizer e demonstrar que “felicidade dá lucro”; que sua Elektro, em São Paulo, já foi eleita “a melhor empresa para se trabalhar na América Latina”, com um índice de felicidade de 92,5% entre seus colaboradores, graças à ecologia humana também possível no mundo ainda frio, egoísta e calculista dos negócios... Isso é amor! É inteligência amorosa! E, para finalizar, dr. Hugo ainda afirmaria que, quando este mesmo líder empresarial encerrou sua fala, no Teatro


do Sesiminas, lembrando um pensamento vivo do psiquiatra Viktor Frankl, autor do livro “Em Busca de Sentido”, sobre o propósito da vida: “Quem tem um porquê, enfrenta qualquer como”. E disse mais: “Nós precisamos evoluir nossos negócios para algo maior, que seja bom pra todo mundo e não apenas para os nossos acionistas”. Ainda projetou na tela, ao fim da sua palestra, o desenho de um coração ao lado do seu endereço digital. E me confirmou

depois, em particular: “É sobre o amor mesmo que eu queria falar. É o que acredito, me faz feliz e ainda ter mais lucro”... Isso é amor, inteligência amorosa! Como o dr. Hugo pregava, no final da nossa travessia sobre o planeta, o amor vencerá! Tal como Paul McCartney nos fez recordar dos Beatles: “All you need is love”, a inteligência do amor é tudo o que precisamos. O amor ecológico ao planeta e à humanidade, tal como Lélia e Sebastião comprovaram ao mundo,

tema da nossa premiação este ano: “A destruição da natureza ainda pode ser revertida”. Tal como a consciência e o sentimento ético de “Sal da Terra”, cantada por Beto Guedes: “Paz na terra, amor. É recriar o paraíso agora, para merecermos quem vem depois!”. Isso é mais que amor! É mais que inteligência amorosa! É sabedoria, paz e subversão diante do estado do mundo. (*) Jornalista e diretor da Revista Ecológico.

O RECADO DE LÉLIA “É um imenso prazer estar aqui. Revendo agora o filme ‘Sal da Terra’ e a Fazenda Bulcão degradada, digo que é uma felicidade chegar lá e ver novamente a floresta e os animais. Nós temos até famílias de jaguatirica e onça de volta! São tantos bichos, tantos passarinhos, lá virou realmente um santuário. Quando tivemos a ideia de plantar uma floresta, nunca podíamos imaginar que seria desse jeito. Que iríamos chegar onde chegamos e, sobretudo, com a quantidade de pessoas que trabalham e sonham conosco. Este prêmio não é nosso. É de todos os funcionários do Instituto Terra, de hoje e que passaram por lá antes, desde o início. De todos os membros dos Conselhos - Diretor, Construtivo e Fiscal. Este prêmio é de todo mundo. Nós nunca conseguiríamos ter feito nada sozinhos. Quero agradecer esta homenagem, em nome do Instituto Terra inteiro. Muito obrigada!”

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

1. Homenagem do Ano Sebastião Salgado e Lélia Wanick

Juliano Salgado, Sebastião e Lélia, Rodrigo Dutra, Eloah Rodrigues e Hiram Firmino


ANTES- 2001

FOTOS: SEBASTIÃO SALGADO

O RECADO DE SEBASTIÃO “A nossa história, a história da humanidade, tudo o que temos, na realidade foi construído através de sonhos. A gente sonhou. Recebemos aquela terra, em Aimorés, inteiramente degradada. E isso aconteceu exatamente no momento da minha vida em que pensei em abandonar a fotografia e virar agricultor, trabalhar a terra. E assim começamos. Mas aquela terra estava cansada e doente, assim como eu. Cheguei doente da minha viagem à África, psicologicamente destruído. E Lélia teve essa ideia de refazer ecologicamente aquele pedaço de terra, plantar a mata que existiu ali. Era difícil, porque nós não somos ricos. Eu sou simplesmente um fotógrafo. A Lélia é designer e diretora artística. Começamos a procurar amigos em Belo Horizonte e encontramos tanta gente, assim como o José Carlos Carvalho [ex-ministro de Meio Ambiente] e o Célio Valle [biólogo e ex-diretor do IEF], ambos conselheiros da Ecológico. Célio foi o maior irresponsável do mundo [risos], ao conseguir e apostar que a nossa terra se transformasse em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN); a primeira RPPN implantada no Brasil em uma região sem verde e água inteiramente degradada. Aos poucos percebemos que a recuperação era possível. Então, corri o mundo passando o chapéu pedindo apoio e hoje conseguimos materializar esse

FAZENDA BULCÃO, antes e depois do plantio de 2,5 milhões de árvores: a primeira RPPN de Mata Atlântica no Brasil implantada em uma terra 100% degradada

DEPOIS - 2013

sonho. Chegamos a 2,5 milhões de árvores plantadas, sendo mais de 300 espécies nativas. Reconstituímos um ecossistema que ficou muito parecido com aquele que existiu quando eu era criança e havia sido inteira-

mente destruído. Estou felicíssimo de receber esse prêmio. Foi uma honra imensa estar aqui com todos esses companheiros sonhadores também premiados. Muito obrigado!”


2. Melhor Exemplo de Iniciativa Individual FOTO: FERNANDA MANN

Sítio Pindorama, do geólogo Gilson Essenfelder

VITOR PENIDO, Othon Maia, Jorge Raggi e Valéria Rocha: prêmio ao esplendor das palmeiras

Transformar uma área degradada em um oásis de palmeiras nativas e exóticas. Foi o que o geólogo Gilson Essenfelder fez logo após adquirir, há 23 anos, 50 mil metros quadrados de terra em Baguari, no Leste de Minas. Lá, ele plantou exemplares de mais de 500 espécies. O local é aberto ao público e também recebe estudantes, pesquisadores e colecionadores de todo o país. Apesar de sua beleza, as palmeiras brasileiras ainda são pouco conhecidas pelos paisagistas e administradores públicos nacionais. E, em consequência, pouco conhecidas e plantadas pelos brasileiros em geral. Dendês africanos, palmeiras imperiais colombianas, seafortias australianas, arecas africanas e outras palmeiras “alienígenas” são plantadas à exaustão em ruas e praças das cidades brasileiras, em prejuízo àquelas ligadas à cultura e à vida econômica brasileiras.

O Sítio Pindorama se propõe, assim, a sanar esta lacuna e tornar conhecidas as espécies tupiniquins, seja por meio de sua observação direta, do conhecimento de sua importância para a subsistência de milhões de brasileiros. Seja do seu valor para a biodiversidade, principalmente a fauna das suas regiões de origem. Mantido com recursos próprios e com a venda de sementes, o sítio preserva árvores conhecidas, como o buriti, tão retratado nas obras do escritor Guimarães Rosa. “Pindorama é o nome que os Incas chamavam o nosso território e os próprios indígenas que estavam aqui. Significa ‘terra de esplendor das palmeiras’. Precisamos resgatar esta mais valia”, afirmou Jorge Raggi, biólogo e consultor do Sítio Pindorama, que recebeu o prêmio em nome de Essenfelder. SAIBA MAIS

palmeiraseheliconias.com


3. Melhor Exemplo de Conhecimento Popular

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Projeto Cevadeil - Fruta de Sabiá/José Renato Resende

EMERSON DE ALMEIDA, José Renato e Mário Campos: em nome da sua majestade, o sabiá

A história deste projeto começou em Guaraqueçaba, município de oito mil habitantes no litoral do Paraná. Foi lá que o ambientalista José Renato Resende viu uma cena curiosa, que mudou a sua vida: índios locais jogavam pequenas e amareladas frutinhas de uma árvore na água para atrair os peixes. Indagativo, ele resolveu levar uma muda dela para reproduzir no seu sítio em Alvorada de Minas, no coração da Serra do Espinhaço. Deu certo. Mais que um chamariz para os peixes e passarinhos, principalmente os sabiás, que vinham comer as tais frutinhas, ele percebeu outro dado sustentável: as árvores de porte médio que produziam essas frutinhas também serviam para dar meia sombra. Assim, sem o sol a pino, elas facilitavam o melhor crescimento de árvores maiores na beira dos rios e faziam voltar rapidamente o verde que existia antes, recuperando as áreas degradadas. O que José Renato fez, entusiasmado com a descoberta e inspirado nessa sabedoria disponível da natureza? Por meio do Projeto Cevadeil, começou

a disseminar, reproduzir e comercializar, para todo o país, as sementes e mudas da espécie vegetal - a fruta-de-sabiá (Acnistus arborescens) que, ele descobriu depois, estava em extinção. Resultado: em oito anos, Renato transformou seu sítio em um grande viveiro. Já recebeu e entregou encomendas de mais de 100 mil mudas e 50 mil sementes. E, com o apoio ecológico dos passarinhos, que o ajudam a espalhar as sementes, mais de um milhão de novas árvores hoje vicejam pelas matas ciliares do país, como disse ao receber a estatueta: “Fui apresentado a esta planta pelos peixes. E a trouxe para tratar deles. Acabei envolvendo vocês, passarinhos, no meu projeto. Vocês é que roubaram a cena, conquistando 100% dos meus apoiadores. Essa iniciativa aqui reconhecida é para atender às pessoas maravilhosas que me procuram, querendo fazer a sua parte pelo meio ambiente”. SAIBA MAIS

frutadesabia.com.br


4. Melhor Exemplo de Educação Ambiental

FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

Movimento Ecos, Escola Superior Dom Hélder Câmara

ADILSON BRITO, Luiz Antônio Chaves e Francisco Haas: a ecologia em movimento e expansão

Trata-se de um projeto socioambiental jurídico, desenvolvido desde 2011, que está transformando o universo escolar nas montanhas de Minas. Baseado no ciclo da melhoria contínua, o projeto treina alunos bolsistas dos cursos de Direito e Engenharia, vindos de escolas públicas, que retornam a essas instituições para desenvolver ações de conscientização, abordando temas como economia de água, energia e geração de resíduos. No último ano, eles trabalharam a transversalidade da educação ambiental em 30 escolas públicas de ensino médio da Região Metropolitana de Belo Horizonte - muitas delas em áreas carentes da cidade. Também foram realizadas 95 palestras e 134 oficinas para um público de seis mil alunos e professores. “Quero agradecer e dedicar este prêmio a todos os nossos professores e alunos que abraçaram essa causa socioambiental. No próximo ano, com este incentivo que recebemos do Prêmio

Hugo Werneck, iremos duplicar o número de escolas atendidas, chegando a 60 em 2018”, ressaltou Luiz Antônio Chaves, coordenador-geral do projeto. A cada ano o ciclo se renova, convidando as escolas participantes do ano anterior a confirmarem sua participação e convidando novas escolas interessadas a participarem. Essa participação é formalizada por meio da assinatura de um Termo de Adesão pela diretoria da escola, que se compromete a apoiar o desenvolvimento do projeto, para as atividades de educação ambiental durante o ano letivo. E o projeto ainda renderá mais frutos em 2018. Segundo Francisco Haas, pró-reitor de Extensão da Escola Superior Dom Hélder Câmara, recentemente foi realizada uma reunião com a secretária de Estado da Educação, Macaé Evaristo, para “ampliar o projeto na Região Metropolitana a todas as escolas estaduais de Minas”. SAIBA MAIS

ecossocioambiental.org.br


5. Melhor Exemplo em Biodiversidade Projeto Uçá, ONG Guardiões do Mar

WENDEL GOMES, Célio Valle e J.D. Vital: em defesa dos caranguejos da Baía de Guanabara

Um exemplo que vem do mangue e do mar. É assim o Projeto Uçá, iniciado em julho de 2012, que atua para disseminar e aumentar o conhecimento sobre o caranguejo uçá (Ucides cordatus) e seu ecossistema, promovendo a sustentabilidade e contribuindo para a melhoria da qualidade ambiental e social da região leste da Baía de Guanabara. Por meio da Operação LimpaOca, as ações do projeto já contribuíram para a retirada de 13 toneladas de lixo dos manguezais da baía e de outros oito municípios fluminenses (Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Magé, Guapimirim, Cachoeiras de Macacu, Petrópolis e Teresópolis) apenas nos últimos quatro anos. O projeto também reflorestou 182 mil metros quadrados de manguezais com o plantio de 50 mil mudas de árvores nativas. A iniciativa também atua

em outras frentes: geração de renda e qualificação para pescadores e catadores de caranguejos locais. Realiza ações de educação ambiental que incluem pessoas com deficiência e que já contribuíram, por exemplo, com 20% dos 138.980 kg de recicláveis comercializados em 2016 pela Cooperativa de Catadores de Material Reciclável de Itaboraí. Além de preservar o uçá, ameaçada pela poluição dos manguezais, as atividades potencializam o desenvolvimento de pesquisas científicas sobre a espécie, viabilizam a criação de banco de dados para o ICMBio e promovem o manejo sustentável do caranguejo em regiões onde esteja sobre-explorado. SAIBA MAIS

projetouca.org.br


6. Melhor Exemplo em Mobilização Social

FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

Projeto Dá Pé, de Estevão Ciavatta/ Pindorama Filmes

ESTEVÃO CIAVATTA, Regina Casé e mais de sete milhões de pessoas envolvidas: “Viva la revolución atlântica”

A iniciativa vencedora tem um sonho que também é de todos os brasileiros: reflorestar o país. Por meio de uma campanha anual de crowdfunding, a cada R$ 20 doados uma árvore é plantada em áreas degradadas nos nossos biomas. Desde 2015, R$ 600 mil foram arrecadados, que representam o apoio de dois mil e duzentos cidadãos e empresas antenadas com a causa ambiental. E, sob supervisão da Fundação SOS Mata Atlântica, contribuiu para que mais de 30 mil novas árvores fossem somadas ao verde atlântico de Rio de Janeiro e São Paulo. As doações também ajudaram a disponibilizar, no site www.umpedeque.com. br, a íntegra dos programas “Um Pé de Quê?”, do canal Futura, um dos maiores acervos audiovisuais do país sobre áreas brasileiras. O idealizador do projeto, o diretor Estevão Ciavatta não pôde comparecer à cerimônia por

conta de uma viagem à Amazônia. Mas enviou uma simpática mensagem em vídeo: “Que felicidade receber o Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza! Amar a natureza é uma declaração de amor à humanidade. Sabemos que, em termos geológicos, para a natureza pouco importa o que vai acontecer nos próximos 100, 200 anos, e que serão fundamentais para a história dos homens definidores do nosso futuro. Foi pensando nisso que pensamos na campanha de crowdfunding, que se tornou uma das 10 maiores da história do país. Já impactamos mais de sete milhões de pessoas com as nossas três primeiras ações. Viva la revolución Mata Atlântica!”. SAIBA MAIS

www.kickante.com.br/dape www.umpedeque.com.br


Homenagem Especial John Parsons

JOHN PARSONS, o "educador de Tiradentes", e sua mensagem: “A esperança do planeta está na educação ambiental. Toda professora do século XXI tem de ser ecológica”

O jornalista Hiram Firmino e sua esposa Eloah Rodrigues conheceram o nosso homenageado especial de uma maneira inusitada. Ao passarem pela encantadora cidade de Tiradentes, há três anos, eles perceberam um carro vindo apressado logo atrás do deles. Era um motorista magro e de cabelos brancos, buzinando e acenando para eles pararem. Como havia um adesivo da Ecológico colado no vidro traseiro, tudo se explicou: “Custei para alcançá-los. Vocês são da revista? Sou assinante e leitor. Preciso muito lhes falar sobre o projeto Ecológico nas Escolas. Pelo que li na revista, o governador de Minas o adotou em todas as instituições públicas de ensino fundamental do estado”. Este nosso leitor grisalho foi entrevistado na hora. E tornou-se colaborador eventual da Ecológico até sua morte, em 2015. Duas frases dele se tornaram lemas da revista: “A esperança do plane-

ta está na educação ambiental”, é a primeira. E a segunda: “Toda professora do século XXI tem de ser ecológica!”. Estamos falando do engenheiro John Parsons, o educador de Tiradentes, inglês de nascimento e mineiro de coração. Ambientalista ferrenho, foi fundador da primeira pousada da cidade, o Solar da Ponte, nos anos 1970, e da Sociedade dos Amigos de Tiradentes. Ele também foi um dos responsáveis pelo tombamento da Serra de São José, que tanto amava, como patrimônio cultural e ambiental. John era casado com a historiadora Anna Maria Parsons, que faleceu este ano. Juntos, deixaram um legado de sustentabilidade e amor à natureza que, por coincidência, marcou outro grande momento na cerimônia do Prêmio Hugo Werneck de 2017: o projeto vencedor da categoria “Destaque Municipal”, também de Tiradentes.


7. Destaque Municipal Projeto Tiradentes Lixo Zero, da Associação Tiradentes Lixo Zero De algum lugar, John e Anna Parsons estão vendo que a missão deles continua. Agora pelas mãos da enteada de John, a artista plástica e educadora ambiental Andrea Dirickson, mais conhecida por Tancha. É ela quem idealizou o projeto vencedor desta categoria: o Tiradentes Lixo Zero. E é a história que nos mostra como a iniciativa nasceu: a primeira conquista de Tancha, por meio do projeto, foi legalizar a situação trabalhista dos catadores de material reciclável na cidade. Ao criar a Associação Tiradentes Lixo Zero, que incluiu em seu estatuto o apoio aos catadores, ela conseguiu buscar investimentos e também fundar a cooperativa Tiradentes Recicla. Resultado: através de campanhas junto a escolas, pousadas, estabelecimentos comerciais, população em geral e turistas, foi possível recolher mais de 93 toneladas de lixo reciclável em 16 de novembro do ano passado, sua primeira ação de educação ambiental, batizada como “o Dia do John”. Uma gincana ecológica que envolveu mais de 760 alunos do município, com a utilização de ecopontos doados pela associação. Assim, por meio do exemplo de John e da participação popular, Tancha mostrou que, através da educação ambiental, o “Dia de John” deve ser todos os dias. “Este nosso projeto é feito com muito amor. Uma tentativa de fazer algo positivo com os resíduos gerados em uma cidade histórica peculiar. Muitos eventos acontecem lá, que tem 7.600 habitantes, mas produz quantidade de lixo equivalente a uma cidade de 20, 25 mil. O John foi nosso grande inspirador. Era um aventureiro, no sentido bom da palavra, e sempre nos influenciou muito. Um espírito generoso, sempre preocupado em fazer do mundo um lugar melhor para todos nós”, disse Tancha.

CRISTINA MARGOTO, Júlia Padovezi, Andrea e Carlos Frederico Dirickson, e Márcio de Souza: em Tiradentes, todo dia é "Dia do John"

Ela subiu acompanhada do irmão, Carlos Frederico, e do presidente da cooperativa, Márcio de Souza, que fez um pedido: “Vinte toneladas de vidro estão lá na Tiradentes Recicla, pois não conseguimos ainda adquirir um triturador para conseguirmos vender o material. Estamos em busca de apoio para melhorar nosso serviço”. Mal sabiam eles que, minutos depois, a ONG e a cooperativa teriam uma outra surpresa (leia na página 60). SAIBA MAIS

www.facebook.com/tiradenteslixozero


8. Destaque Estadual

FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

Projeto Semente, Caoma/ Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)

JOÃO RUFINO, Jairo Isaac, Andressa Lanchotti e Marcela Giovanna: em honra de Carlos Eduardo Ferreira

Um dos destaques de 2017, o Projeto Semente é uma plataforma virtual que mobiliza e auxilia a sociedade civil organizada, o poder público e a iniciativa privada a apresentarem, de forma inclusiva e democrática, projetos de relevância socioambiental ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais. E que contribui também para democratizar o acesso da sociedade aos recursos oriundos de medidas compensatórias devidas por compensações ambientais. “Quero parabenizar à Revista Ecológico pela iniciativa. E também honrar meu antecessor no Caoma, dr. Carlos Eduardo Ferreira Pinto, que foi o grande idealizador do projeto. Como as boas práticas devem não apenas ser mantidas como ampliadas e aprimoradas, nossa gestão agora está iniciando a terceira fase do projeto”, afirmou dra. Andressa Lanchotti, promotora de Justiça e atual coordenadora do Caoma. Desde seu lançamento, em 2015, a plataforma con-

ta com mais de 330 proponentes cadastrados e quase 200 projetos socioambientais inscritos. Por meio dela foi possível recuperar áreas degradadas com vegetação nativa; reconstruir uma unidade do patrimônio histórico cultural mineiro; e envolver quase cinco mil estudantes em atividades voltadas à educação ambiental. No total, 285 mil pessoas já foram beneficiadas direta e indiretamente pelo projeto. “Acreditamos no diálogo entre o primeiro, segundo e terceiro setores e a plataforma traz a democratização e a possibilidade de investimento em ações em todo o estado. Assim, instituições que têm um ‘porquê’ podem desenvolver projetos para um mundo melhor e para o desenvolvimento sustentável”, completou a coordenadora do Projeto Semente e presidente do Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CeMais), Marcela Giovanna Nascimento. SAIBA MAIS

sementemg.org/semente


9. Destaque Nacional

Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), Governo Federal/Ministério do Meio Ambiente

FREDERICO MARTINS, Tony O'Neill, Silvana Canutto, Ruben Fernandes e José Carlos Carvalho: pela proteção da Amazônia

O vencedor desta categoria é a maior iniciativa de conservação de florestas tropicais do planeta. Tem um incalculável impacto positivo para o meio ambiente, o clima e toda a humanidade. E esse impacto é resultado das ações de proteção e preservação de quase 60 milhões de hectares de áreas protegidas, distribuídas em 114 unidades de conservação na Amazônia brasileira. O Arpa conta com o apoio de entidades estrangeiras e da iniciativa privada nacional. Hoje, pensando localmente e agindo globalmente, a única grande empresa brasileira a patrocinar o projeto é a Anglo American. E que ajuda, sobremaneira, a expandir e aperfeiçoar o Sistema de Unidades de Conservação na Floresta Amazônica, contribuindo para a prevenção do desmatamento e o cumprimento das

metas de redução de gases de efeito estufa, apresentadas pelo Brasil durante a Conferência do Clima, a COP-21, em Paris. “É um grande privilégio receber este prêmio, em nome do Ministério do Meio Ambiente, do ICMBio e dos estados abrangidos pelo programa. O Arpa beneficia não só UCs federais na Amazônia, mas também estaduais. O projeto tem 15 anos e tem tudo a ver com o que diz a Constituição Brasileira no artigo 225, quando preceitua que o ‘meio ambiente’ é um direito e um dever de todos, do Estado e da sociedade”, afirmou Silvana Canuto, presidente substituta do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), representando Ricardo Soavinski, presidente da instituição. SAIBA MAIS

arpa.mma.gov.br


10. Melhor Projeto de Parceiro Sustentável - “O Rima Tá na Rua”, FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

da Anglo American Brasil

FERNANDO CARVALHAES, Fued Abrão Júnior, Mariana Mello e Aldo Souza: trabalho de formiga que deu certo

A iniciativa vencedora nesta categoria surgiu no início deste ano, quando a Anglo American Brasil protocolou o pedido de licenciamento ambiental para a próxima etapa de operação do Projeto Minas-Rio, na região de Conceição do Mato Dentro, no coração ferrífero de Minas. Tudo seguia o processo legal. A Semad agendou uma audiência pública para o dia 11 de abril. Porém, uma liminar concedida em ação popular movida contra o Estado suspendeu sua realização nesta data. Uma das razões, segundo a Justiça, foi de que o EIA-Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) da empresa não havia sido devidamente divulgado à população. Em vez de contestar, o que a empresa fez, de maneira simples, pioneira e criativa, para se comunicar com as populações dos quatro municípios onde atua, além das dezenas de distritos rurais à sua volta?

Alugou e adesivou uma van. Isso mesmo! Estilizou uma van com a hashtag “O Rima Tá na Rua” e convocou uma equipe multidisciplinar de funcionários, munidos de todas as informações e meios de comunicação necessários, para informar a população. Também imprimiu e distribuiu cópias físicas do EIA-Rima. Em menos de um mês, eles percorreram 1.500 quilômetros entre serras e povoados afora de três municípios, compartilhando e sanando as dúvidas da população. Nas mídias sociais, posts segmentados alcançaram um público de 44 mil pessoas. Trabalhadores rurais, profissionais autônomos e aposentados, estudantes, funcionários públicos, empregados próprios e terceirizados fizeram várias sugestões sobre o empreendimento. Algumas delas, inclusive, já adotadas pela empresa. A iniciativa contribuiu para manter o seu pro-


LEMBRANDO GUIMARÃES ROSA “Nossa turma doou a outra face. Falou com centenas de pessoas e aprendeu muito. Entre mineração e meio ambiente parece haver um conflito constante. O benefício é difuso e nem sempre fácil de explicar. E o diálogo é a melhor maneira de fazer isso. Esse projeto tentou fazer um trabalho de formiga nessa direção. E vamos continuar tentando fazer o melhor”, afirmou

Aldo Souza, diretor de Saúde, Sustentabilidade e Segurança da Anglo American Brasil. Ele subiu ao palco acompanhado da coordenadora de Comunicação Interna da empresa, Mariana Mello, que deu um recado emocionado: “Essa ação foi vital para o nosso negócio. Uma ação estratégica, pois precisávamos suprir essa demanda e acabamos aprendendo muito com as pessoas. Seguimos o conselho do nosso presidente do Conselho de Administração da Anglo American, Stuart Chambers: ‘Vamos para a rua e conversar com as pessoas. É lá que a gente vai aprender!’. Queria encerrar lembrando uma frase de Guimarães Rosa: ‘Confiança, o senhor sabe, não se tira das coisas feitas ou perfeitas: ela rodeia é o quente da pessoa’.” SAIBA MAIS

brasil.angloamerican.com facebook.com/AngloAmericanBR FOTO: FERNANDA MANN

cesso de licenciamento com mais transparência e participação popular. E o adiamento da primeira audiência acabou qualificando e ampliando o debate democrático em torno da sua continuidade operacional. Foi o que se comprovou em 20 de julho deste ano, mais de três meses depois, na última e ainda mais concorrida audiência pública. Desta vez não houve liminar nem ação popular contra o Estado. Nem contra a empresa.


11. Melhor Empresário Mineiro de Beagá. Engenheiro e empresário da construção civil. Nosso premiado de 2017, o empresário Rubens Menin, declarou, em abril de 2011, numa entrevista exclusiva à Revista Ecológico, que, se um dia fosse presidente da República, ele “tornaria obrigatório o uso da energia solar em todas as construções doravante no país”. Seis anos depois dessa emblemática entrevista, mais precisamente no dia 25 de maio de 2017, “Dia da Indústria”, o nosso homenageado estava no Minascentro, recebendo das mãos de Olavo Machado, presidente da Fiemg, o reconhecimento público de seus pares como “o Industrial do Ano”. Ao agradecer a homenagem, Rubens deu seu recado maior e politizado, que fez jus à sua indicação ao Prêmio Hugo Werneck deste ano: “Em um país como o Brasil, empresa alguma hoje pode se dar ao luxo de querer apenas ganhar dinheiro. Se você não lucrar, é claro, a empresa não cresce. Em um país sofrido como o nosso, temos a obrigação de avançar não apenas no economicamente viável. Mas também no ecologicamente correto e socialmente mais justo. Devemos contribuir para o desenvolvimento sustentável, que é possível sim”. E falou do seu último sonho, após 37 anos como líder de mercado: até 2022, todas as próximas 200 mil unidades que a sua empresa irá construir serão totalmente equipadas com sistemas para captação de energia solar. “O Brasil que eu sonho vai ser o primeiro país a ter um projeto de instalação de energia fotovoltaica, 100% limpa, vinda do sol, para a habitação popular. Este é o grande projeto da nossa empresa.” E acrescentou: “Estou falando isso do fundo do meu coração”. O presidente do Instituto MRV, Raphael Lafetá, recebeu a estatueta em nome de Rubens, que também presidente o Conselho de Administração da MRV e estava em uma viagem internacio-

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Rubens Menin, fundador da MRV

MARINA SPÍNOLA, Raphael Lafetá e Luiz Fernando Pires: quebra de protocolo e a sustentabilidade na prática

nal. “O Rubens é tudo isso e essa promessa que ele fez será realizada. Agradecemos o prêmio, porque isso estimula todos a fazer o melhor. E também parabenizamos a esses exemplos simples que foram homenageados. É um trabalho de formiga, mas não podemos esquecer que a formiga também é importante para o meio ambiente”, afirmou ele, completando que, na MRV, “sustentabilidade é coisa séria”. SAIBA MAIS

www.mrv.com.br


FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES E FERNANDA MANN

Presenças Werneckianas José Renato e Ruben Fernandes

Marta Silveira, Ana Gontijo e Andréa Amaral

Lélia Wanick e Fernanda Mann

Vanda e Janaína Ribeiro, Sanakan e Beatriz Firmino

Rogério Miranda, Roberto Waack e Juliano Salgado

José Amaro Siqueira (Zinho), Hiram Firmino e Marcelo Ligere

Roberto Coelho (Betão), Hiram Firmino, Cristiane Malheiros, Rodrigo Dutra e Dennes Lott

Família Werneck

Geraldo e Maria do Carmo Moraes


José Luiz Fonseca e Raphael Lafetá

Lélia Wanick, Flávio Azevedo, José Carlos Carvalho, Sebastião Salgado e José Armando Campos

Sérgio Frade, Mariah Brochado, Ronaldo Simão e J.D. Vital

Alessandra Peixoto e Juliana Machado

Cristiano Parreiras, Marília Carvalho e Jairo Isaac

Marlon Andreluci, Ana Flávia e Eduardo Bandeira

Rosane Mann e Alexandre Melo

Breno Perillo, Emerson Costa e Alessandro Nepomuceno

Fabiana Lopes, Juliana Thomé e Janaína Perez

Fernando Carvalhaes, Martha Toffolo e Adriano Macedo

Evandro Xavier, Gláucia Drummond e Célio Valle


Nos bastidores da premiação SURPRESA 1 Até Sebastião Salgado e Lélia Wanick se surpreenderam ao saber, antes da cerimônia, que a nova fábrica da Cola-Cola Femsa, recém-implantada na vizinhança da Fundação Dom Cabral, vive o seu revés ambiental. Antes aplaudida por trazer emprego e renda aos municípios de Nova Lima e Itabirito, agora vem sendo temida por ameaçar o esgotamento dos recursos hídricos da região. Além de até hoje não ter plantado uma só árvore dentro e fora de sua planta industrial, a "fábrica mais verde do sistema Coca-Cola no mundo”, como se anuncia, tamanha preocupação se refere ao seu próprio e altíssimo consumo de água: 1,45 litro de água para cada litro de refrigerante produzido. O silêncio da empresa e a falta de verde continuam insustentáveis. O que Raphael fez? Escutou tudo. Pediu permissão para quebrar o protocolo. E quando terminou sua fala de agradecimento, acrescentou na lata, para o delírio da torcida da Associação presente: “Sustentabilidade pra gente é na prática. Vocês já podem contar desde já, com a MRV, na compra dessa máquina!” E de quebra, além da simpatia e intensidade dos aplausos que causou, ainda ganhou uma camisa "Sou Ecológico" em preto e branco, com o símbolo do Atlético. Com direito a levar uma outra para o presidente vencedor, igualmente atleticano. A Revista Ecológico, que também tem a camisa “Sou Ecológico” em azul e branco, do Cruzeiro, e em verde, do América, aplaude e agradece a todos os premiados. Ano que vem tem mais!

A alegria da torcida do Projeto Tiradentes Lixo Zero

Raphael Lafetá e Hiram Firmino: ecologia esportiva

FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

SURPRESA 2 Esta foi positiva e emocionou a plateia. Partiu do presidente do Instituto MRV, Raphael Lafetá. Antes de subir ao palco e, em nome de Rubens Menin, que estava em viagem ao exterior, receber a estatueta de “Melhor Empresário do Ano”, ele testemunhou a premiação mais festejada da noite: a vitória do Projeto Tiradentes Lixo Zero na Categoria “Destaque Municipal", tendo à frente da entidade de apoio aos catadores a ambientalista Andrea Dirickson, acompanhada do presidente da Cooperativa Tiradentes Recicla, Márcio José. Ambos agradeceram, é claro, a distinção. Mas lamentaram o fato de recolherem tantas garrafas de vidro, sem terem ainda uma máquina para triturá-las e gerar negócio e renda, como exige o mercado de reciclagem.


FOTO: FERNANDA MANN

Mensagem final “Precisei de um fim de semana para absorver toda a energia positiva e a emoção que esta edição do Prêmio Hugo Werneck nos proporcionou. Em tempos de tanta desilusão, conhecer, reconhecer e valorizar cidadãos e organizações que buscam fazer a diferença no mundo foi uma superdose de esperança! A presença do casal Sebastião e Lélia imprimiu marcas de generosidade, humildade e senso de propósito. No meu entendimento, essa foi a grande mensagem da premiação. Foi realmente emocionante. Parabéns pela iniciativa que a Revista Ecológico lidera com tanta dedicação e amor. É muito bom ter a oportunidade de conexão com ideias inovadoras e atitudes de ousadia. Marina Spínola, gerente-executiva de Comunicação Corporativa da Fundação Dom Cabral

O Sal da Terra “Vós sois o Sal da Terra” – disse Jesus. Sozinho, o sal significa muito pouco. Mas à medida que se relaciona com os outros alimentos, sua presença afeta tudo. Não podemos vê-lo, mas sabemos que está ali, porque sua força se faz sentir. Tal como a força do querer bem este que é o mais bonito dos planetas.

Nosso muito obrigado! SEBASTIÃO SALGADO e Lélia Wanick na Nature: a destruição da natureza pode ser revertida

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MINAS RUMO AO

FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA ENCARTE ESPECIAL (6)


ENCARTE ESPECIAL FIEMG (6) FOTO: FERNANDA MANN

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SEBASTIÃO SALGADO: "É preciso tornar o produtor rural um parceiro contra a crise hídrica"

O RECADO HÍDRICO Em encontro promovido pela Fiemg em Nova Lima, Sebastião Salgado e Lélia Wanick apresentam o programa “Olhos D’Água” aos empresários de Minas e mostram que é possível produzir água plantando árvores

U

m lugar com muito verde preservado à beira de um rio recuperado, no coração natural de Nova Lima. Foi nesse cenário, hoje Espaço Nature, que a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) deu mais um passo para levar a contribuição de Minas ao 8º Fórum Mundial das Águas, que será realizado em março de 2018 na capital brasileira. O encontro com os empresários mineiros, um dia após a cerimônia da 8ª edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, foi realizado por meio do “Minas no Caminho das Águas”, iniciativa idealizada pela Fiemg para mobilizar e debater com a sociedade a importância do cuidado com os recursos hídricos. Para mostrar mais um exemplo desse cuidado, a instituição convidou o fotógrafo Sebastião Salgado e sua esposa, Lélia Wanick, a apresentarem a metodologia e a tecnologia disponíveis no programa “Olhos D’Água”, do Instituto Terra, que vem transformando a região do Vale do Rio Doce, arra-

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sada pela tragédia da mineração em Mariana. Considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) um dos 70 melhores projetos de conservação de recursos hídricos do planeta, o “Olhos D’Água” atua diretamente na recuperação de nascentes, envolvendo diretamente os proprietários rurais, que se tornam produtores de água. E não apenas consumidores. Resultado: desde 2012, mais de duas mil nascentes já foram recuperadas no Vale do Rio Doce, por meio do programa que também oferece qualificação profissional a jovens da região. Durante um ano, eles participam de um curso sobre técnicas de reflorestamento no Instituto Terra, em Aimorés (MG). São 30 vagas. Após a conclusão dos estudos, eles assumem o compromisso de ajudar a proteger 150 nascentes, de cada vez. Confira, a seguir, o recado e o exemplo hídrico de Sebastião e Lélia:


MINAS RUMO AO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA 2018

"PODEMOS RECUPERAR AS 370 MIL

NASCENTES DO RIO DOCE" “A razão de estarmos aqui é falar de um projeto maior e exequível que temos hoje para todo o Vale do Rio Doce. O Instituto Terra foi criado por acaso. Recebemos um pedaço de terra e a primeira ideia era transformá-la em um projeto agrícola. Quando vimos que ela estava inteiramente degradada, optamos por criar uma instituição ambiental. Não éramos, mas recuperá-la nos transformou em ambientalistas. Criamos um projeto sustentado em algumas variáveis. A primeira foi a comunitária. Para nós, o ponto mais importante é a ideia de uma comunidade maior, começando no nosso município, na nossa sub-região, sub-bacia e depois na bacia hidrográfica. A segunda foi a solidária. Se não houver solidariedade entre todos os agentes, das pessoas que trabalham no instituto, seus parceiros e a sociedade como um todo, esse projeto não seria realizado. Outra variável é a ética. Todo o dinheiro angariado para o instituto foi totalmente aplicado nele. Hoje, somos a organização que mais plantou árvores no Brasil. Inclusive, um dos integrantes do nosso Conselho Diretor é a ex-ministra Izabella Teixeira, que é uma profissional do meio ambiente e afirmou sermos uma instituição ligada à parte rural da ecologia. A última variável é a ideológica. Conseguimos criar, com o instituto, o que deveria ser criado pelo Estado. Somos e agimos como servidores públicos. O que fazemos é um

FOTO: INSTITUTO TERRA/DIVULGAÇÃO

Sebastião Salgado (*)

MONITORES do Instituto Terra avaliam o retorno das nascentes na região

projeto voltado para a população do Vale do Rio Doce. Depois de recuperar a terra que tínhamos – a Fazenda Bulcão, onde plantamos 2,5 milhões de árvores–, criamos o maior viveiro de plantas nativas de Minas Gerais com capacidade para produzir mais de um milhão de plantas, de 100 espécies nativas por ano. Temos, ainda, um centro de formação profissionalizante, algo que precisa ser mais estimulado e multiplicado neste país. Vamos para as escolas técnico-agrícolas da região e selecionamos os filhos dos proprietários rurais que fazem cursos secundários nelas e têm maior identificação com meio ambiente. Eles residem por um ano no Instituto Terra para se especializarem

em técnicas de reflorestamento e recuperação de nascentes. Lá, participam de um curso que é 80% prático e saem do instituto, cerca de 95% deles, já empregados. Tivemos várias propostas de universidades para transformar esses jovens em universitários. Não aceitamos, porque a maioria é do interior e, se conseguirem diploma universitário, não ficarão no campo. E eles são essenciais lá. São preparados para serem jovens recuperadores de nascentes. ESPERANÇA HÍDRICA O projeto “Olhos D’Água” começou há cerca de oito anos. Temos três pessoas muito ligadas ao instituto: Eu, a Lélia e o José Armando Campos, que o preside. Todos fazeNOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  65


ENCARTE ESPECIAL FIEMG (6)

mos parte do Conselho Diretor e o instituto é gerido como uma empresa. Somos auditados pela PricewaterhouseCoopers e tudo funciona de maneira transparente. Nesse projeto, concebemos uma iniciativa maior para todo o Vale do Rio Doce, que tem cerca de 370 mil nascentes. Com base na nossa experiência, a nascente de um rio não é s aquela que fica na cabeceira. São todas as outras que compõem os córregos, que vão formar os rios médios e toda a bacia. É preciso recuperar todas essas nascentes para se restaurar um rio principal. Já recuperamos mais de duas mil delas. E estamos concluindo a recuperação de outras 500 para a Fundação Renova. Essa ação integra o projeto que propusemos ao governo brasileiro com o objetivo de criar um grande fundo para reparar os danos do acidente de Mariana. A proposta era muito maior do que o que foi exigido pelo governo brasileiro às empresas envolvidas no acidente, mas acabou ficando em torno de R$ 20 bilhões. Temos 370 mil nascentes para recuperar e a proposta da Renova é algo em torno de cinco mil, muito distante do necessário. Temos a tecnologia para recuperá-las – que é cercar, plantar árvores, assistir o proprietário rural e torná-lo um parceiro. Afinal, se ele não abrir a porteira, não recuperaremos nada. Formamos os jovens da região, que são filhos dos proprietários rurais. Eles se tornam responsáveis, durante três anos, pela recuperação de 150 nascentes. O Instituto Terra fornece aos proprietários rurais os mourões, os grampos e o arame farpado para cercar a nascente, para que ela não seja invadida pelo gado ou tenha o entorno usado pela agricultura insustentável. Eles entram com o trabalho: plantam, fazem a cerca e os jovens formados pelo instituto 66  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

FOTO: FERNANDA MANN

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PARCERIA FIEMG-CODEMIG "A Fiemg é nossa parceira estratégica desde quando iniciamos os primeiros diálogos para Minas participar do Fórum Mundial da Água. A preocupação hídrica, aqui mostrada por Sebastião e a Lélia, tem assento no Gabinete da Casa Civil. Estamos juntos e abertos, enfim, para novas parcerias e contatos. Em contato com Marco Antônio Castelo Branco, presidente da Codemig, ele disse estar à disposição para receber o Instituto Terra e integrar ambos os projetos - Olhos D'Água e Plantando o Futuro, este também calcado no plantio de árvores e, consequentemente, no retorno das nossas nascentes d’água." Mariah Brochado, secretária-adjunta da Casa Civil e chefe do Núcleo de Relações Internacionais do Governo de Minas

atuam na assistência técnica. Também instalamos uma fosse séptica em cada propriedade rural. É preciso manter um perímetro de proteção de cada fonte d’água. Por isso, plantamos também entre 400 e 500 árvores. Em uma recuperação ecossistêmica, são 2.200 árvores por hectare. A partir do segundo ano após o plantio, a nascente não seca mais, já produz água o ano inteiro. Qual é a grande crise que vivemos hoje? A hídrica. As pessoas discutem apenas sobre o reservatório que baixou o nível de água. Ninguém pensa antes dele. A maioria ustifica a escassez dizendo que não choveu. Não. Não tem água porque não tem fonte de recuperação! Quando chove, mesmo pouco, se você cria um perímetro de árvores que retêm a umidade, assegura a infiltração e a vida da nascente. Ela volta a existir se forem plantadas árvores em torno dela. A MISSÃO É PLANTAR O “Olhos D’Água” é o maior projeto hídrico hoje no planeta. E temos a proposta de levar os bons exemplos de Minas Gerais rumo ao Fórum Mundial das Águas. Convidamos a Fiemg, os empresários e as indústrias igualmente amea-

çadas pela falta d’água no estado a atuarmos juntos. A crise hídrica precisa ser resolvida hoje, porque começando a plantar as árvores agora, certamente teremos água daqui a 10 anos. Vamos fazer isso por partes. Se não começarmos logo, a segunda grande crise será a de eletricidade, porque ela é gerada nos grandes reservatórios, que só serão preenchidos se houver água nos rios. Imagina se a eletricidade tiver de ser produzida a partir de um derivado de petróleo? Qual será o preço dessa eletricidade? Protegendo o curso de água, protegemos naturalmente também os reservatórios. Este é o momento para nos unirmos. O Estado é um grande parceiro ideológico, informador. Mas, no momento atual, ele não pode ser nosso parceiro. Por isso, estamos em busca de outros parceiros, em especial as grandes indústrias que precisam sobremaneira de água para tocar os seus negócios. Boa parte do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil é gerado no Vale do Rio Doce. Vamos sim, nos unir e levar esse bom exemplo para o Fórum Mundial das Águas.”

(*) Fotógrafo e ambientalista.


MINAS RUMO AO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA 2018

Olavo Machado (*)

OLAVO MACHADO: "Abraçamos a causa hídrica e a sustentabilidade porque reconhecemos sua importância"

Naquela época, quando começou a preocupação com ecologia, ela e a equipe afirmaram que iriam me educar para a ecologia. E conseguiram. Passei a fazer parte do grupo e entender que, dentro daquilo que nós, industriais fazemos, era preciso um compromisso sério com a natureza e a preservação ambiental. E

buscamos praticar isso hoje. Negócio é negócio, mas é possível ganhar dinheiro respeitando e preservando a natureza. A preocupação com a água aumentou nos últimos dois anos, quando o governador Fernando Pimentel decidiu fazer uma adutora no Rio Paraopeba, para levar FOTOS: INSTITUTO TERRA/DIVULGAÇÃO

“Quero cumprimentar e parabenizar Sebastião e Lélia por todas as homenagens que estão recebendo aqui em Minas. Há pouco mais de um ano, vocês estiveram conosco na Fiemg. Você, Sebastião, não pregou no deserto: o que você mostra com suas fotos e ações tem nos inspirado e é o que temos procurado multiplicar aqui em Minas. Motivados também pela intransigência do consultor e ex-ministro de Meio Ambiente José Carlos Carvalho, criamos o “Minas Sustentável”. Lembro-me que, quando mostrei essa nossa ideia, ele disse que poderia dar certo. E deu. Foi assim que optamos por caminhar na trilha da sustentabilidade. Eu já havia sido doutrinado pela Patrícia Boson (hoje secretária executiva do Conselho de Empresários do Meio Ambiente/CEMA - da Fiemg), quando tive a oportunidade de ser presidente da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec).

FOTO: FERNANDA MANN

A CONTRIBUIÇÃO DA FIEMG

O EFEITO da pata do gado e a recuperação possível mostrada pela bióloga Cíntia Gomes, do Instituto Terra NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  67


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ENCARTE ESPECIAL FIEMG (6)

água à Região Metropolitana de BH. A partir dali, a Fiemg também se engajou na causa hídrica, porque havia um racionamento a ser feito e que traria muitos problemas para a indústria. Felizmente, conseguimos sensibilizar os empresários para que houvesse uma redução efetiva do consumo de água. Esse nosso compromisso ficou ainda mais forte em uma de nossas visitas a Governador Valadares, quando constatamos que era possível atravessar o Rio Doce a pé, de tão seco e tão poluído que ele estava. Logo em seguida, veio o desastre da Samarco. É óbvio que temos de lamentar muito, principalmente pelas vidas

perdidas e também punir os responsáveis pelo acidente. No entanto, acredito que não podemos abrir mão do retorno da empresa à operação. Isso é necessário para que as pessoas possam ter uma vida melhor, considerando principalmente os benefícios que uma empresa do porte da Samarco pode proporcionar. O prejuízo que as pessoas, Minas e o Espírito Santo estão tendo, em razão das contribuições que a empresa deixou de fazer, é enorme. Temos de aprender com o que aconteceu em Mariana para fazer renascer um Rio Doce diferente, com suas águas preservadas. Foi isso o que aprendi e tenho

tido total apoio dos empresários mineiros. Tenho certeza de que na Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), o propósito é o mesmo. Eles também sofreram muito com o que aconteceu. Abraçamos a causa hídrica e a sustentabilidade porque reconhecemos sua importância. Se não cuidarmos disso agora, teremos problemas ainda mais sérios no futuro. É com essa consciência que, juntos, transformaremos esse cenário. A Fiemg está dando a sua contribuição para construirmos um futuro mais hídrico e sustentável para todos.” (*) Presidente da Fiemg.

Sob a ótica do produtor rural “Tenho trabalhado em projetos ambientais no Rio Doce há mais de 30 anos. No Brasil, a situação das nossas águas é grave. Mas, em relação ao Rio Doce, ela é dez vezes mais séria e urgente. Neste sentido, o apelo feito pelo Instituto Terra é altamente pertinente. A Bacia do Doce enfrenta um acelerado processo de desertificação, além de so rer com o assoreamento e uma série de problemas que levam ao empobrecimento dos proprietários rurais. principal desafio do pro eto é não apenas engajar os produtores rurais, fazendo com que cerquem e protejam suas nascentes. Mas, sobretudo, pensar na recuperação das matas ciliares e nas áreas de recarga dos aquíferos. Sendo, então, necessário acrescentar contrapartidas que os estimulem nessa parceria maior. Ou seja, investir em pagamento por serviços ambientais, para que pequenos fazendeiros e agricultores, que á lutam com muita dificuldade para manter suas lavouras, tenham recursos para proteger a água e o 68  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

verde, sem comprometer o sustento de suas famílias. Também é preciso investir em reflorestamento e na recuperação de pastagens, permitindo renascer, através da infiltração no solo compactado pela pata do gado, a vegetação e os veios d’água. O Rio Doce só renascerá se tivermos programas que enxerguem e respeitem as diversidades

e demandas da Bacia também pela ótica e viés do produtor rural, de forma a assegurar seu desenvolvimento e sobrevivência.” PAULO MACIEL, diretor da Lume Ambiental, especialista em Gestão Ambiental e Recursos Hídricos e Meio Ambiente, excoordenador pelo Estado de Minas Gerais do “Projeto Rio Doce/Cooperação Brasil França” e do PIRHDoce – Plano Integrado de Recuperação da Bacia do Rio Doce.

PARA Paulo Maciel, o pagamento por serviços ambientais também contribui para o pequeno produtor rural ter recursos para proteger a água


MINAS RUMO AO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA 2018

FOTOS: FERNANDA MANN

Presenças hídricas

Adair Evangelista, Angela Flores Furtado, Patrícia Boson, Maria Amélia Monteiro e Luiz Fernando Pires

Olavo Machado e Lélia Wanick

Antônio Claret

Roberto Messias, Octávio Elísio e Wagner Soares

Mérito Ecológico FOTOS: SEBASTIÃO JACINTO JR.

Acoplado ao evento da Fiemg, a Revista Ecológico condecorou com a medalha “Mérito Ecológico” quatro personagens da cena hídrica atual

OLAVO MACHADO e José Carlos Carvalho: o "machado" e o "carvalho" juntos na causa hídrica

JOSÉ ARMANDO e Patrícia Boson, que lembrou a militância dele na causa ambiental desde a RIO-92

LÉLIA WANICK e Eloah Rodrigues, diretora de gestão da Revista Ecológico

SEBASTIÃO SALGADO e Hiram Firmino, diretor e editor da Revista Ecológico

NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  69


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GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

A FOGUEIRA DE UM TEDX

D

e repente, um convite inesperado. Toca o telefone e o Israel me convida a apresentar um evento TEDx. Fico empolgado com o convite do, carinhosa e respeitosamente, Pequeno Amigo. O tema? Brasil polifônico, vozes que ecoam na cidade. De tantas maneiras eu poderia falar do TEDx, que escolho esta: Vinte e seis anos mudando o mundo para melhor. Um bom tempo incentivando empreendedores sociais locais a mudarem sua realidade com os eventos independentes TEDx. Sou Roberto, Francisco por batismo e preferência, engenheiro, graças a Deus, empresário, ativista social e evangelista de tecnologia. Minha matéria é a tecnologia. Prego, mais que sua grandeza, a necessidade de construirmos com ela um mundo bom e novo. Meu laboratório é feito daquilo que todos gostam de chamar de Inteligência Artificial. Mas ali, no TEDx, não há inteligência artificial. Recebo o privilégio de conversar, por preciosos minutos, com cada um dos que vão falar, uma genuína polifonia de vozes em que encontro o tom: um mundo melhor. Humanos, acima de tudo! Cada um daqueles com quem falei deu sua contribuição visceral, cada um trouxe seu olhar para nossa realidade de brasileiros, como a gritar que nossa identidade nunca foi perdida, que somos um povo que segue e precisa continuar a seguir em frente, apesar de qualquer medo. Não dá para somar tudo o que se diz num TEDx: letramento, empreendedorismo, fé, inclusão, vida urbana, sexualidade, justiça, discriminação, educação, perdão, pacificação, política, governo, superação, combate à corrupção. Não é soma porque uma simples soma seria imperfeita e injusta. Para a parte cartesiana de meu espírito, foi preciso que elevássemos nossos corações e mentes à potência de quinze, os quinze que nos contaram de suas vidas, para então obter o resultado: encantamento com a vida! Foi como me senti, encantado! Não se sai de uma escuta com tanta diversidade sendo o mesmo. Coube a mim falar por último, honrosamente, não para ser gravado, mas para atar as pontas do que havia sido dito. Pontas densas, de sentimento intenso e sabedoria. Foi como fiz: Contei que, desde o início do século XIX, o homem constrói revoluções. Primeiro o vapor, depois 70  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

a eletricidade e o petróleo, mais tarde a internet e, agora, a computação cognitiva, a biotecnologia, a impressão 3D. Contei depois que nunca, de verdade, fizemos uma revolução pelo futuro, mas sempre pelo passado, transformando o que fazíamos com as mãos no que passamos a fazer pelas máquinas. Contei que agora é diferente, agora não compreendemos o que acontece à nossa volta e sabemos que o que fizermos pode determinar um mundo diferente, uma raça diferente, uma vida inteiramente diferente. Paramos de prever o passado. Estamos transformando o futuro, pela primeira vez e, pela primeira vez, encarando o genuíno desconhecido. Por isso o TEDx foi esperança. Ele me lembrou que qualquer um que estivesse ali, naquele sábado, e subisse ao palco, teria uma história de valor para contar. Diria de sua vida, de sua crença, de sua luta, de sua cultura. Falaria como se fosse sua vez de falar em torno do fogo, tarde da noite, contando histórias nas serras destas Minas Gerais ou em qualquer canto deste Brasil polifônico. Vozes ecoando na cidade, repetindo calma e intensamente: “Somos humanos, somos humanos, somos humanos”. 

TECH NOTES  Entenda o que é o TED

goo.gl/0qAxig

 Entenda o que é o TEDx

goo.gl/pqTvSj

 Veja o que foi o TEDx

goo.gl/u1BtLs

(*) CEO & Evangelist da Kukac Plansis, fundador do Arbórea Instituto.


DIÁLOGO

EQUILÍBRIO

TRABALHO p l a n e j a m e n t o . m g . g o v. b r

É ASSIM QUE O GOVERNO DO ESTADO MANTÉM MINAS GERAIS FUNCIONANDO. Apesar da crise, Minas está trabalhando e se preparando para um futuro melhor. Com planejamento, temos priorizado o que é importante. Contratamos 50 mil novos educadores, distribuímos 1 milhão de kits escolares, mais policiais estão nas ruas, a frota da PM foi renovada e o salário dos servidores está sendo pago. Em Minas Gerais, crise a gente enfrenta é com diálogo, equilíbrio e trabalho.


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PERFIL - VALTER BATISTA TEIXEIRA

O SONHO QUE NÃO ACABA Conheça a trajetória de sucesso do fundador e presidente da Rede Chromos de Ensino Bruno Frade

FOTO: DIVULGAÇÃO

redacao@revistaecologico.com.br

VALTER TEIXEIRA: "O nosso sonho é a inserção de jovens que nunca imaginaram entrar na universidade" 72  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

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le nasceu em Bom Despacho, na Região Central de Minas, e veio morar em Belo Horizonte com apenas um ano de idade. De origem humilde, passou por várias dificuldades junto com a família e, ainda pequeno, fez uma promessa para a mãe: quando crescesse, se tornaria-se catador de papel para poder comprar uma casa. Valter Batista Teixeira começou a trabalhar cedo: foi engraxate, jornaleiro e lavador de carros. O esforço valeu a pena. Mais tarde, formou-se em Estudos Sociais na Faculdades Integradas do Triângulo (Associação de Ensino do Triângulo) –, com licenciatura em Geografia e História pela Faculdade de Uberlândia. A partir daí a sua trajetória foi além da promessa feita à mãe, anos antes. Ele foi superintendente da Bemge Seguradora, assessor financeiro do grupo Algar e hoje preside uma das maiores redes de ensino de Minas Gerais, com mais de 10 mil alunos matriculados em suas 10 unidades (incluindo colégios, cursos preparatórios para vestibular, Enem e concursos). Em reconhecimento aos trabalhos realizados no campo da educação, foi homenageado com vários títulos, incluindo os de “Cidadão Honorário” de Belo Horizonte e de Contagem, concedidos pelas Câmaras Municipais de cada cidade, e de “Empresário do Ano”, pela Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte. Durante almoço-palestra realizado pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa de Minas Gerais (ADCE-MG) na Fiemg, Valter Teixeira falou de forma descontraída sobre as experiências e os desafios vencidos ao longo da carreira de empresário. E também dos novos investimentos e da tradição da Chromos no mercado de educação. Confira, a seguir, os principais trechos de sua fala:

O PRIMEIRO TRABALHO “Fui engraxate com cinco anos de idade, porque precisava ajudar em casa. Nas horas vagas, era jornaleiro e corria muito por Belo Horizonte. Na época existia uma instituição chamada ‘Pequenos Jornaleiros’ e eu saía vendendo pelas ruas. Também lavava carros. Um dia, estava limpando um táxi quando o proprietário me perguntou: ‘Menino, quando

você for grande, o que quer ser?’. ‘Quero ter uma quitanda’. Meu espírito de empresário estava começando ali. Naquela época, quitanda era o sacolão de hoje. Esse foi o meu primeiro sonho.” O COMEÇO “Entrei no grupo Algar em 1983 e permaneci até 1994. Cumpri a minha missão e decidi constituir a minha empresa. Fundei a


FOTO: WAGNER DILÓ COSTA

DT Assessoria e Planejamento e continuei assessorando o Grupo e empresas como MCDonald’s e Alimenta. Foi quando apareceu a Rede Chromos.” “O antigo proprietário não estava conseguindo quitar as dívidas da Rede. Ele então perguntou se não queria comprá-la e me deu 48 horas para pensar na proposta. Pensei quatro horas e decidi adquiri-la. Assumi a instituição em um momento difícil, com uma dívida fiscal muito alta, aluguel, funcionários, professores e fornecedores com pagamento atrasado. Com as reservas que acumulei em meus trabalhos anteriores, investi sem prejudicar outras áreas da minha vida, inclusive a minha família. No dia 8 de outubro de 1994, assumi a gestão do Chromos.” A PRIMEIRA PERCEPÇÃO “Quando comprei a Rede, a unidade do pré-vestibular funcionava no Bahia Shopping. Ela tinha 1.200 alunos, 17 professores e cinco funcionários. Quando entrei, a minha primeira percepção foi que era preciso conhecer mais o mercado da educação. Visitei os melhores pré-vestibulares na época e muitas pessoas chamavam os locais de ‘cursinhos’.” “Parei por um instante e refleti que uma instituição de ensino, com milhares de alunos, não poderia ser chamada de ‘cursinho’. Logo, mudei o nome para ‘Chromos Pré-Vestibular’. Também

“Fizemos um projeto social em 2001, a pedido de um amigo que elogiou o trabalho desenvolvido pela escola, sobre a inserção dos jovens que nunca imaginaram entrar na universidade. Esse é o sonho do Chromos. A partir dali, estávamos propondo o que os outros não fizeram. Preparamos melhor as escolas públicas da capital mineira. Ajudei a colocar 800 jovens na universidade.” percebi que o atendimento era ruim. Ao chegar na recepção de um dos principais pré-vestibulares solicitando matrícula para meu filho, pedi para conhecer o local. O atendente apenas me entregou um papel com os valores do curso e informou que não seria possível conhecer o ambiente, pois não havia funcionário para apresentar as dependências. Na hora pensei: vou deitar e rolar!” O DIFERENCIAL “Então, coloquei muitas mesas no salão da recepção. A recepcio-

nista ficava na porta para atender prontamente os pais e estudantes, e levá-los até uma das mesas para receber atendimento personalizado. Em vez de apresentar os valores em papel xerocado, utilizamos folderes. Com isso, já tínhamos um diferencial.” O MITO “O ano de 1995 foi um período de muito estudo. Avaliei todo o material que era produzido pelos professores e decidi criar uma editora. Outro fato também me chamou atenção: passei a observar o mercado e havia o mito de só serem aprovados na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) os candidatos que tinham pais com melhor qualidade de vida e estudavam nas melhores escolas particulares de Belo Horizonte.” “Mudamos essa realidade. O Chromos não seria apenas um pré-vestibular para a classe A e sim para todas as outras também. Decidimos colocar alunos das escolas públicas na UFMG e também em outras universidades públicas do Brasil.” O DESAFIO PÚBLICO “Temos um nicho de mercado que é a escola pública e ninguém quer. Contratei o professor Flávio Fonseca para ser o nosso diretor pedagógico e desenvolver um novo projeto. Criamos um simulado que era a cara da UFMG. Vi-

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NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  73


PERFIL - VALTER BATISTA TEIXEIRA FOTO: VALTER BATISTA

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FIQUE POR DENTRO

O Chromos foi fundado em 1992. A filosofia era ensinar e promover um aprendizado por meio das novas tecnologias em sintonia com as tendências do mundo globalizado. Essa visão moderna e dinâmica possibilitou o desenvolvimento e a implantação de técnicas de gestão diferenciadas, como as aulas interativas e estímulo constante na busca pelo conhecimento.

sitamos as instituições públicas de ensino, aplicamos a prova e depois passamos os resultados dos alunos à direção. Era uma tristeza, mas premiávamos os melhores alunos com bolsas de estudos. Também começamos a mostrar que a nossa equipe tinha condições de trabalhar com jovens que precisavam entrar em universidades públicas.” AS CONQUISTAS “Apesar de ter formação de professor, nunca lecionei. Minha vida sempre foi dedicada à área empresarial. Junto com o professor Flávio, formamos uma equipe disposta a vivenciar o desafio. Em 1996, conseguimos o primeiro lugar geral na UFMG com um aluno da escola pública.” “Também aconteceu mais um passo importante para o crescimento do Chromos, no dia 5 de fevereiro de 1996. Era uma sexta-feira, logo quando soubemos da conquista do primeiro lugar geral na UFMG. Recebi a ligação de um jornalista do Diário da Tarde. Ele 74  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

gostaria de tirar uma foto com o aprovado e saiu uma matéria de página inteira.” “No dia seguinte, em pleno sábado, cheguei bem cedo ao Chromos e já se formava uma fila de pessoas para fazer matrículas. De 1.200 alunos subimos para 2.400. Nesse processo rápido de crescimento, vieram muitas outras aprovações na UFMG. Para atender às demandas do mercado, foi necessário descentralizar o Chromos, porque os pré-vestibulares tinham endereços específicos na região central da capital.” A EXPANSÃO “Em 1997, foi aberta a primeira unidade do pré-vestibular na Pampulha. Sucesso. E, com quatro mil alunos, decidi que era o momento de abrir um colégio, mas de forma diferente.” “Aproveitamos o resultado do vestibular. Em vez de começar com o ensino infantil, fomos para o médio. Abrimos um colégio na região da Pampulha com três salas lotadas. Depois foi a vez da

unidade no Eldorado e, na sequência, avançamos com o ensino fundamental.” “Fizemos um projeto social em 2001, a pedido de um amigo que elogiou o trabalho desenvolvido pela escola, sobre a inserção dos jovens que nunca imaginaram entrar na universidade. Esse é o sonho do Chromos. A partir dali, estávamos propondo o que os outros não fizeram. Preparamos melhor as escolas públicas da capital mineira. Ajudei a colocar 800 jovens na universidade.” A PERSISTÊNCIA “Depois disso, muitas mudanças ocorreram na rede. Saímos da rua da Bahia e foi construída uma nova unidade e também chegaram outros segmentos. Todas as obras foram pagas por mim, já que o Chromos não tinha condições de arcar com os gastos. Enfrentei diversas situações, mas consegui, em janeiro de 2000, inaugurar o colégio na região do Eldorado.” “Passamos por uma crise pesada em 2005, que afetou demais as instituições de ensino. Mas fomos persistentes. Mesmo assim, abrimos a unidade infantil no Eldorado, o Pré-Vestibular em Venda Nova e o Pré-Concurso no Barreiro.” “Quando comecei no Chromos,


O CRESCIMENTO “Em 2004 convidei o meu filho Ivan para trabalhar comigo. O primeiro desafio dele foi montar os horários dos professores. Em nenhum momento ele foi tratado como filho do dono, mas como funcionário. Passou por vários departamentos, conhecendo vários processos, até chegar ao cargo atual de diretor-executivo.” “Foi ele que propôs criar o curso Pré-Técnico. E hoje temos um em cada três formandos do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet). Já no Colégio Técnico (Coltec) da UFMG, 50% dos alunos estudaram aqui. Além disso, com a chegada do meu filho foi possível estruturar

FOTO: WAGNER DILÓ COSTA

fiz um planejamento de dez anos. Depois outro, de mais dez anos. A ideia era ter um crescimento horizontal, fazendo tudo de melhor para dar certo.”

O ALMOÇO reuniu empresários e imprensa na Fiemg

um novo crescimento, agora vertical, sob a ótica interna de profissionalizar a empresa. Vamos continuar investindo no crescimento orgânico e sempre manter a nossa tradição de qualidade do ensino. ” O FUTURO “Agora em 2018 será inaugurado o colégio na região no Barreiro, além das novas aquisi-

ções de imóveis nas regiões de Venda Nova e Pampulha. Com isso, caminhamos para novos desafios. Atualmente estamos com mais de 10 mil alunos e a nossa expectativa é chegar a 15 mil até 2020.”  SAIBA MAIS

www.chromos.com.br

SETEMBRO/OUTUBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  65


Ficou ainda mais fácil acompanhar a programação da Rádio América e da TV Horizonte! Baixe o aplicativo “Rede Catedral” no seu smartphone e receba o conteúdo das emissoras da Arquidiocese de BH.

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INFORME PUBLICITÁRIO A INICIATIVA é coordenada pela Codemig e tem orçamento de R$ 396 milhões

FOTO: DIVULGAÇÃO/PLANTANDO O FUTURO

MINAS COMEMORA

O AVANÇO DO VERDE Projeto “Plantando o Futuro”, coordenado pela Codemig, segue firme em seu propósito de plantar 30 milhões de árvores e recuperar 40 mil nascentes, semeando desenvolvimento e sustentabilidade em todas as regiões mineiras

L

ançado pelo governo de Minas Gerais em março de 2016, o programa “Plantando o Futuro” encerra 2017 com inúmeras conquistas a comemorar. E mantém o compromisso de plantar 30 milhões de árvores, recuperar 40 mil nascentes, seis mil hectares de mata ciliar e dois mil hectares de áreas degradadas nos 17 Territórios de Desenvolvimento mineiros (veja box na página ao lado) até dezembro de 2018.

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Com orçamento total estimado em R$ 396 milhões, a iniciativa é coordenada pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) em parceria com diferentes organizações não governamentais e entidades do Estado. O foco das ações desenvolvidas desde o seu lançamento é assegurar um futuro mais verde, hídrico e sustentável para todos os mineiros, por meio da implantação

de viveiros de mudas, do mapeamento e do cercamento de nascentes. Bem como pela distribuição e o plantio de mudas de espécies florestais nativas dos tr s biomas existentes em Minas Gerais: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Um dos primeiros conv nios firmados pelo “Plantando o Futuro” foi com o Instituto Terra, que tem sede em Aimorés, no Vale do Rio Doce. Por meio do Fundo de Recupera-


do io Doce e de seus afluentes por esgoto doméstico.

FOTO: GRUPO DISPERSORES

ção, Proteção e Desenvolvimento ustentável das acias idrográficas do Estado de Minas Gerais (Fhidro), foram destinados R$ 5,5 milhões à entidade para a recuperação de mil nascentes na Bacia do Rio Manhuaçu, um dos mais importantes afluentes do Rio Doce, que banha 202 cidades em Minas Gerais e outras 26 no Espírito Santo. A parceria com o Instituto Terra envolve 500 proprietários rurais, com vistas ao incremento das ações de reflorestamento no entorno dos olhos d’água existentes, como forma de potencializar a recarga e a produção hídrica em toda a região. O plano do trabalho também contempla a instalação de fossas sépticas biodigestoras nas propriedades participantes, contribuindo para o enfrentamento de um grave problema: a contaminação das águas

O objetivo do programa é assegurar um futuro mais verde, hídrico e sustentável para todos os mineiros, por meio da implantação de viveiros de mudas, do mapeamento e do cercamento de nascentes

PERÍODO CHUVOSO Outra iniciativa de destaque do lantando o uturo” é o conv nio com o Instituto Espinhaço. O objetivo é assegurar a produção e o plantio de tr s milh es de mudas, em municípios integrantes da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, tombada como patrimônio natural pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a i ncia e a Cultura (Unesco) desde 2005. r s viveiros á oram instalados e estão em pleno funcionamento: em Itabira, na Região Central de Minas; na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), campus Sete Lagoas; e na cidade de Gouveia, no Vale do Jequitinhonha. A construção de um quarto viveiro, também fruto da parceria entre a Codemig e o Instituto Espinhaço, está sendo finalizada no município de Conceição do Mato Dentro, também na Região Central. Até o momento, o Instituto Espinhaço já plantou aproximadamente 400 mil mudas ao longo de tr s importantes bacias hidrográficas: Jequitinhonha, Médio São Francisco e Alto Rio Doce. Outras 1,8 milhão de novas árvores estão prontas para serem introduzidas na natureza e a ideia é aproveitar o atual período de chuvas que, conforme dados da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), teve início em outubro e deve se estender até o fim de março, com precipitações acima da média na maior parte do Estado. NOVAS ALIANÇAS Somando forças e criando alianças para ampliar paulatinamente o alcance do “Plantando o Futuro” em Minas erais, a odemig também firmou conv nio, em abril de , com o Centro de Formação Francisca Veras, sediado em Governador Valadares. A meta é plantar 2,88 milhões de mudas de diferentes espécies

ABRANGÊNCIA

17 Territórios de Desenvolvimento • Alto Jequitinhonha • Caparaó • Central • Mata • Médio e Baixo Jequitinhonha • Metropolitano • Mucuri • Noroeste • Norte • Oeste • Sudoeste • Sul • Triângulo Norte • Triângulo Sul • Vale do Aço • Vale do Rio Doce • Vertentes

florestais para a recuperação de terrenos degradados em 27 assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). As mudas estão sendo produzidas em quatro viveiros: Periquito (Vale do Rio Doce), Campo do Meio (Sul de Minas), Uberlândia (Triângulo Mineiro) e Montes Claros (Norte de Minas). Cerca de 40 mil mudas já vicejam em Campo do Meio, nos assentamentos Primeiro do Sul e Nova Conquista II. As cidades de Jampruca (Assentamento Manoel Ferreira Alves), Uberlândia (Assentamento Emiliano Zapata) e Governador Valadares (Oziel Alves) receberam o plantio de mil mudas cada. A previsão

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NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  79


INFORME PUBLICITÁRIO é que as mudas cubram uma área de 2,6 mil hectares. O plantio nos assentamentos é precedido da elaboração e aprovação dos Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADs), sendo um para cada região e priorizando áreas com maior passivo ambiental identificado, além do entorno de nascentes e margens de cursos d’água. Vale ressaltar, ainda, os resultados alcançados graças ao conv nio com o Grupo Dispersores, de Brazópolis, no Sul de Minas, que atua nos segmentos de reflorestamento, produção de mudas e educação ambiental. Essa parceria se destina à recuperação de 200 nascentes e ao plantio de 130 mil mudas de árvores nativas na Área de Proteção Ambiental (APA) Fernão Dias, na Serra da Mantiqueira, e na Região

Fique por dentro! O “Plantando o Futuro” surgiu a partir de um Grupo de Trabalho criado em agosto de 2015 que envolveu sete secretarias de Estado – Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Fazenda; Governo; Planejamento e Gestão; Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; Educação; e Agricultura, Pecuária e Abastecimento, além de diversas empresas públicas, autarquias e fundações ligadas ao Governo de Minas Gerais. 

A decisão de investir na preservação do meio ambiente por meio do plantio de mudas e recuperação de nascentes leva em consideração o compromisso firmado pelo Brasil junto à ONU, que visa à restauração e à recuperação de 12 milhões de hectares até 2030, bem como dados do relatório da entidade estimando que, em 2030, o mundo enfrentará um déficit de 40% no abastecimento de água. 

do Alto da Bacia do Rio Sapucaí. As equipes técnicas envolvidas já cadastraram metade das nascentes georreferenciadas, contando com a total anu ncia dos proprietários e

também com o engajamento social das comunidades beneficiadas. SAIBA MAIS

www.codemig.com.br www.plantandoofuturo.mg.gov.br

Agendamento eletrônico

é iniciado nas Suprams Novo sistema irá potencializar a eficiência do atendimento da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), reduzindo custos e agilizando processos

Tendo entre suas prioridades a qualidade na prestação do serviço público e o bom atendimento ao cidadão, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad) lançou, em outubro, o sistema de agendamento eletrônico para atendimento nas uperintend ncias Regionais de Meio Ambiente (Suprams), por meio do LigMinas 155. A iniciativa já está em funcionamento nas unidades do Alto São Francisco, Central Metropolitana e Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Deve ser estendida, até o ano que

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vem, às outras seis Suprams existentes no Estado: Jequitinhonha, Leste de Minas, Noroeste, Norte de Minas, Sul de Minas e Zona da Mata. O novo sistema visa aumentar a e ici ncia do atendimento da Semad, reduzindo custos, melhorando o desempenho das equipes e incrementando a produtividade. maior beneficiário do processo é a sociedade mineira, incluindo desde o grande empresário até o pequeno produtor rural, que podem usufruir de maior conforto, praticidade e agilidade em seu atendimento. Conforme balanço

da Semad, as primeiras semanas de agendamento eletrônico resultaram numa mudança na forma de relação das Suprams com os cidadãos. A média de ocupação dos balcões de atendimento está estimada em 83%, com as equipes conseguindo atender mais e melhor as demandas que surgem e ainda mantendo uma pequena margem de tempo para os casos excepcionais. Cada requerente pode fazer até dois agendamentos semanais. Em cada atendimento agendado, o interessado poderá realizar até tr s serviços distintos ou ter direito


FOTOS: IMAGENS ILUSTRATIVAS

a uma hora de atendimento. Em 2016, a Semad formalizou em seus balcões de atendimento mais de 69 mil processos, com uma média mensal de 5.750 serviços prestados aos cidadãos mineiros. FORMAÇÃO CONTINUADA Os serviços que necessitam de agendamento são: orientação para o licenciamento e preenchimento de Formulário de Caracterização do Empreendimento (FCE); caracterização de empreendimento para o licenciamento; emissão de Formulário de Orientação Básica (FOB); alteração de informações de empreendimentos (retificação de FCE); formalização de processos de licenciamento ambiental, Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF), outorga de direito de uso de recursos hídricos; e Autorização para Intervenção Ambiental (AIA/DAIA). Os demais continuam sendo realizados diretamente nos balcões. Em relação à implantação desse novo modelo de atendimento nas demais Suprams, o prazo estimado para a universalização dos serviços

O agendamento eletrônico nas Suprams pode ser feito por meio do LigMinas 155. A previsão de início do serviço de agendamento pela internet é para o primeiro semestre de 2018 é o primeiro semestre de 2018. Nesse mesmo prazo também começarão a funcionar os agendamentos via internet, por meio de um sistema que está sendo desenvolvido graças a um termo de cooperação técnica assinado entre a Semad e o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG). Atualmente, a Semad mantém um programa de formação continuada com a equipe do LigMinas 155, que está apta a esclarecer dúvidas de empreendedores e cidadãos, além de orientar e auxiliar os interessados no acesso aos serviços que a secretaria o erece. Durante o m s de setembro, foram feitas reuniões

com cidadãos, consultores e empreendedores para apresentar o projeto de agendamento eletrônico nas cidades de Uberlândia, Belo Horizonte e Divinópolis. De acordo com a Superintend ncia da upram ri ngulo ineiro e Alto Paranaíba, são formalizados semestralmente cerca de 10 mil processos no local. Já a Supram Central Metropolitana recebeu, de janeiro a julho de 2017, cerca de quatro mil processos, mesmo número registrado pela Supram Alto São Francisco. 

NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  81


1 AMBIENTE NA REDE

LEI.A

Observatório de leis ambientais vai acompanhar, com uma nova linguagem, a legislação estadual

FIQUE POR DENTR0

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lataforma digital criada para empoderar ainda mais cidadãos, coletivos, associações e entidades dedicadas às causas ambientais, o Lei.A - Conhecimento e Ação Pelo Meio Ambiente foi lançado em 07 de novembro pela Associação dos Observadores do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural de Minas Gerais e o Ministério Público de Minas Gerais. O evento foi realizado na “Casa do Jornalista”, em Belo Horizonte. O observatório é um instrumento de controle social, que usa a comunicação para tornar transparentes leis, temas e discussões ambientais no estado de Minas Gerais. Fornece ainda ferramentas para que o cidadão se informe, crie uma opinião consistente e possa evitar retrocessos na legislação ambiental. Na plataforma (www.leia.org. br) e nas redes sociais, o Lei.A oferece informações para ajudar representantes de diferentes setores a entenderem com mais clareza como o poder público e a iniciativa privada 82  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017

estão tratando as questões que envolvem o meio ambiente. Desta forma, todos poderão interagir, cobrar e influenciar as decisões dos poderes Legislativo e Executivo. Por meio da plataforma também é possível pesquisar dados ambientais georreferenciados em todos os municípios mineiros, além de interagir diretamente com os deputados estaduais sobre as leis e mudanças na legislação ambiental. O Lei.A também disponibilizará em breve um blog, com notícias atualizadas sobre os processos legislativos ambientais e outras informações sobre o tema, sempre de forma transparente e de fácil entendimento para todos. Neste primeiro momento, o observatório vai se dedicar a acompanhar a legislação vigente e os projetos de lei relacionados às barragens de rejeito. Na sequência, acompanhará outras temáticas, como resíduos sólidos, desmatamento e unidades de conservação. Também serão realizados encontros em cidades do interior do estado, promo-

O Lei.A é uma iniciativa da Associação dos Observadores do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural de Minas Gerais, com o apoio do Ministério Público de Minas Gerais. A Associação dos Observadores é uma entidade sem fins lucrativos, criada em 2016. Tem como objetivo a defesa e a conservação do meio ambiente e do patrimônio histórico cultural. A motivação de sua criação aconteceu após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em novembro de 2015. Frente à avalanche de informação produzida naquele instante, percebeu-se pouca sinergia entre os produtores de dados oficiais e estudos científicos (universidades, centros de pesquisa e órgãos públicos) e a população. Era preciso criar formas inovadoras de observar, decodificar e ampliar o entendimento sobre as questões ambientais em Minas Gerais. O Lei.A recebe o aval e o apoio do Ministério Público. Desta forma, busca desenvolver as atividades de controle social e empoderamento da população de forma independente, ou seja, sem precisar de patrocínios ou apoio de empresas privadas.

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - AQUARIOFILIA

Beleza submersa

Mercado mundial movimenta bilhões anualmente e peixes ornamentais são os primeiros, em quantidade, na lista de pets no mundo

Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

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ontemplação, bem-estar e menos ansiedade em meio à correria diária. Esses são alguns dos benefícios do aquarismo ou aquariofilia, prática de criar peixes, plantas e outros organismos aquáticos em aquários ou em tanques naturais ou artificiais para fim ornamental ou de estudo. Essa possibilidade de ter um pouco da natureza dentro de casa move uma infinidade de praticantes mundo afora. Além de excelente peça decorativa, o aquário, com sua diversidade de

peixes e plantas, proporciona aos aficionados uma agradável forma de terapia ocupacional. E pesquisas comprovam o seu efeito relaxante, aumentando o bem-estar humano e contribuindo para diminuir o estresse. Comparada a outros hobbies ou à manutenção de animais domésticos como cães e gatos, a aquariofilia é considerada uma opção mais econômica e menos trabalhosa. A grande variedade de equipamentos e de produtos oferecida pelas indústrias e lojas especializadas também vem contribuindo para tornar a atividade ainda mais fácil e prazerosa, podendo ser praticada por pessoas de diferentes idades. Em qualquer casa, apartamento e até mesmo em escritórios é possível encontrar um local adequa-

BETTA (Betta splendens)

do para a montagem de um aquário, que demanda pouco tempo de dedicação em sua manutenção diária e tem como recompensa o fato de proporcionar longas horas de contemplação. E mesmo quando o dono tira férias, o aquário pode permanecer sob cuidados especiais, proporcionados por equipamentos e rações próprios para essas ocasiões. Antes de montar um aquário, o primeiro passo é pensar onde irá colocá-lo. Dê preferência a locais onde a luz do Sol não incida direta ou indiretamente sobre ele, pois isso favorecerá a proliferação de algas, deixando a água verde e tornando necessário fazer manutenção com mais frequência. O passo seguinte é definir que tipo de aquário irá montar: comunitário ou com apenas uma


espécie e se será plantado ou não. Aquário comunitário é aquele no qual há várias espécies diferentes de organismos aquáticos (peixes, crustáceos – camarões, lagostas –, moluscos – caramujos, polvos) ou apenas diferentes espécies de peixes em um mesmo espaço. Já o aquário plantado é aquele que tem plantas naturais, plantadas ou apenas soltas na água. REGRAS BÁSICAS Escolhido o tipo do aquário, é hora de definir quais serão os seus ‘moradores’: se peixes grandes ou pequenos, se mais ou menos sociáveis e ainda qual a quantidade ideal de exemplares. Escolher os peixes que irão para o aquário nem sempre é uma tarefa fácil, primeiramente porque muitas pessoas têm vontade de comprar todos os que veem nas lojas, e também porque, de modo geral, algumas regras básicas são esquecidas. Uma delas é o hábito alimentar dos peixes: não é recomendado colocar peixes carnívoros em aquários com outros peixes menores ou próximos ao seu tamanho, pois com certeza eles irão comê-los. Assim, peixes como o oscar ((Astronotus ocellatus) e os bagres, por exemplo, não são recomendados para aquários comunitários. Deve-se tomar cuidado ainda com os peixes herbívoros, caso opte por um aquário plantado, pois eles irão comer todas as plantas! Outra regra essencial é conhe conhecer o comportamento soso cial do peixe. Isso porque algumas eses pécies são muito territerri torialistas, ou OSCAR (Astronotus ocellatus)

seja, estabelecem esum determinado es paço dentro do aquá aquário como sendo seu e o defendem até a morte. Um compor típico exemplar desse comportamento é o beta ((Betta splendens) macho. Machos dessa espécie não podem conviver com outros exemplares da mesma espécie em locais de pequeno espaço (menos de 10 a 15l por peixe), ao contrário das fêmeas de beta, que podem conviver juntas sem problema. Outro exemplo de peixe que tem esse comportamento territorialista são algumas espécies de ciclídeos, como o acará-do-congo (Archocentrus nigrofasciatus). FILTRO E AQUECIMENTO É válido lembrar também que cada espécie de peixe vive em uma faixa específica de temperatura e PH da água. Por isso, ao montar um aquário comunitário, prefira espécies que exijam tanto faixas de temperatura como de PH bem parecidos, pois colocar determinadas espécies em ambientes fora da sua faixa de conforto térmico e de PH pode levar o peixe ao estresse, afetando sua homeostase e tendo como consequência a sua morte. Peixes como o acará-disco (Symphysodon discus) são sensíveis a variações nesses parâmetros da água. Por fim, depois de decidir as espécies que residirão no aquário, o passo final é providenciar um bom filtro e cuidar do aquecimento. Os filtros têm dois papéis: retirar as sujeiras da água, como resto de ração e fezes dos animais, e remover os compostos nitrogenados da água, como a amônia e o nitri nitrito, que são extremamente tóxicos para os peixes. O primeiro tipo de filtro é chama chamado de filtro mecânico e o segun segun-

ENTENDA MELHOR

 A aquicultura é dividida em dois segmentos: o cultivo de organismos aquáticos para alimentação humana e animal e a produção de animais para ornamentação. Segundo dados do Laboratório de Aquacultura (Laqua) da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a produção de organismos aquáticos ornamentais vem crescendo cerca de 14% ao ano, desde a década de 1980.  Uma das vantagens da aquicultura ornamental é seu baixo custo de produção, normalmente operado em regime familiar, onde a maioria dos produtores cria em tanques escavados ou de alvenaria localizados nos fundos de sua propriedade ou dentro de suas próprias casas em aquários de vidro.  A prática de confinar peixes para fins contemplativos é antiga. Acredita-se que tenha começado com os egípcios e romanos, mas foi na China e Japão que ela se desenvolveu, entre os anos 970 e 1279. No Brasil, remonta ao fim do século 19.  O mercado mundial de peixes ornamentais movimenta cerca de US$ 3 bilhões/ano e a indústria de equipamentos e acessórios para aquários, incluindo a literatura especializada, ultrapassa os US$ 15 bilhões. Nos Estados Unidos, a aquariofilia é a terceira atividade de lazer mais praticada pela população, perdendo apenas para a fotografia e a filatelia (coleção de selos).  Em relação aos pets, o peixe hoje é o primeiro, em quantidade, na lista de animais no mundo. Nos Estados Unidos, os peixes de água doce ficam em primeiro lugar em quantidade também. Já aqui no Brasil estão em quarto lugar, atrás dos cães, gatos e aves.

do de filtro biológico. Normalmente, a maioria dos modelos encontrada nas lojas já tem os dois tipos de filtro ao mesmo tempo. Em relação ao aquecedor, dê preferência aos que têm termostato, ou seja, com ajuste e controle de temperatura. O cálculo para saber qual aquecedor usar é de aproximadamente um watt por litro de água, sendo ideal fazer esse cálculo sempre para mais.

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NOVEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  87


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - AQUARIOFILIA

FIQUE POR DENTRO  Tamanho do aquário: a escolha dependerá de fatores como espaço disponível, quantidade e porte/espécie dos peixes que irão habitá-lo, bem como de quanto se pretende investir em sua aquisição.

 Quando for limpar o aquário, tente não trocar a água totalmente, faça troca parcial de água (TPAs) de 30 a 60% da água apenas, para não afetar o ambiente biológico já criado.

 Independentemente da escolha, uma regra fundamental é: aquários grandes têm manutenção mais fácil e proporcionam chances de sucesso bem maiores que os pequenos. Isso acontece porque em maior volume de água é mais fácil alcançar e manter o equilíbrio biológico. As variações na qualidade da água são menos intensas e frequentes.

O PAPEL DA ILUMINAÇÃO

 O ideal é iniciar com tamanhos que comportem de 80 a 100 litros de água e evitar aquários com altura superior a 80 centímetros. Modelos muito altos dificultam a limpeza e a manutenção, além de não proporcionarem boas condições de iluminação.  A espessura do vidro tem de ser compatível com o tamanho do aquário. Opte por fabricantes/marcas confiáveis e desconfie de modelos grandes, com vidros de pouca espessura.  O substrato de fundo é um componente que três funções básicas: integrar o conjunto decorativo, servir de suporte às raízes das plantas e proporcionar condições para fixação dos microorganismos necessários à filtragem biológica. O recomendado é usar areia de rio para que a filtragem funcione adequadamente e as plantas possam se enraizar.  As pedras devem ser do tipo seixo rolado de rios. Evite pedras de origem calcária, conchas, cristais, mármores e outras variedades que possam alterar a qualidade da água, principalmente o ph. Acomode as pedras de modo a criar alguns esconderijos (locas) para os peixes.

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 Os aquários são geralmente instalados em locais fechados. Portanto, é imprescindível que sejam equipados com sistemas de iluminação artificial. Além do aspecto estético, contribuindo para realçar a decoração e a beleza dos peixes, a iluminação também desempenha papel fundamental no desenvolvimento das plantas, fornecendo energia para que realizem a fotossíntese.  Como a maioria dos peixes costuma se alimentar quando há claridade, a iluminação permite que eles aproveitem melhor o alimento fornecido. O tipo de iluminação mais usado é o com lâmpadas fluorescentes ou frias, como são mais conhecidas. Para determinar a potência e a quantidade de lâmpadas, deve-se seguir uma proporção aproximada de 1 watt para cada dois litros de água. GLOSSÁRIO  Aquacultura ou aquicultura: atividade zootécnica de produção de organismos aquáticos, como peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios, répteis e plantas aquáticas.  Homeostase: propriedade dos seres vivos de regular o seu ambiente interno, de modo a manter uma condição estável mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico, controlados por mecanismos de regulação inter-relacionados. FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Colaboração/redação: Daniela Chemim de Melo/Laboratório de Aquacultura da Escola de Veterinária da UFMG, guia Alcan Pet, Ciência Hoje e IBGE.


FOTO: DIVULGAÇÃO

QUATRO PERGUNTAS PARA...

DANIELA CHEMIM DE MELO

Pós-doutora pela Norwegian University of Life Sciences e professora do curso de Aquacultura da Escola de Veterinária da UFMG

DICAS NAS ONDAS DO RÁDIO De modo geral, como se deve calcular a quantidade ideal de ração, considerando tanto as demandas de cada espécie de peixe quanto a necessidade de manutenção da qualidade da água dos aquários? A quantidade ideal é aquela que os animais comam em cinco a 10 minutos. Caso perceba que eles comeram a quantidade fornecida muito rápido, na próxima alimentação ofereça uma quantidade um pouco maior. Por outro lado, se notar que sobrou ração após 10 minutos, o aconselhado é retirar esse excedente do aquário e fornecer uma quantidade menor da próxima vez. Isso evitará que o excedente da ração afunde e acumule na forma de matéria orgânica, deixando a água suja e alterando os seus parâmetros como PH, amônia e turbidez, por exemplo. Qual a importância/função das plantas aquáticas no conjunto do aquário e como escolher as mais adequadas? Os aquários que têm plantas naturais são denominados aquários plantados. Além de deixarem o aquário mais bonito e mais próximo do ambiente natural, elas servem de abrigo ou esconderijos para pequenos peixes e também para os filhotes de algumas espécies, como os guppies e espadinhas. Atualmente, há várias espécies de plantas que podem ser usadas: algumas ficam fixas (plantadas) e outras soltas. Na hora de escolher, pesquise e informe-se para

Nós apoiamos essa ideia!

saber se a planta cresce muito, evitando aquelas que ocupam muito espaço. Para quem tem espécies de peixes herbívoros, colocar plantas naturais não é uma boa ideia, pois os peixes comerão todas elas! Há alguma pesquisa que se destaque – no Brasil ou no exterior – em relação aos benefícios da aquariofilia para o bem-estar humano? Há sim! Vários trabalhos científicos mostram que ter e cuidar de um aquário desestressa, acalma e relaxa. A aquariofilia é tida como uma prática que tira a pessoa da rotina do dia a dia. Não por acaso, vários consultórios pediátricos e de dentistas têm aquários, como forma de distrair e acalmar as crianças. Vocês têm um programa sobre aquariofilia na Rádio UFMG Educativa: em que dias ele vai ao ar? Sim. Não só a aquariofilia como também a produção de organismos aquáticos vem crescendo ano após ano e, de olho nessa tendência, há oito anos o governo federal criou, na UFMG, o curso de graduação em Aquacultura, o único da região Sudeste. Como fruto de um projeto de extensão desse curso, temos um programa chamado “Na onda da Aquacultura”, veiculado aos sábados e domingos, às 10h. São programas curtos, de três a quatro minutos cada, com dicas sobre espécies de peixe, aquariofilia, nutrição, produção, qualidade de água, reprodução de organismos aquáticos etc. Os programas podem ser acessados no link: http://vet.ufmg.br/pesqextensao/projetos/31/.  http://vet.ufmg.br/pesqextensao/projetos/31/

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1ENSAIO FOTOGRÁFICO

UMA HISTÓRIA DE

resistência

Livro “Jardins da Arara de Lear” desvenda o maior mistério da ornitologia mundial em pleno sertão brasileiro Bia Fonte Nova

redacao@revistaecologico.com.br

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FOTOS: JOÃO MARCOS ROSA / NITRO

xímios contadores de histórias, os mineiros Gustavo Nolasco e João Marcos Rosa, ambos do coletivo NITRO, recriam, em obra lançada em setembro, a saga pela descoberta do hábitat da arara-azul-de-lear em pleno sertão baiano. Foi lá que, em 1979, o naturalista alemão Helmut Sick (1910-1991) encontrou a espécie (Anodorhynchus leari), que viveu misteriosa por 150 anos. A história é repleta de tentativas frustradas de descoberta e expedições pelos grotões do Brasil. Nela, os autores misturam fotografia, poesia e a vivência dura de campo para relatar de forma inédita a história visual da ave, dos cientistas e, principalmente, dos sertanejos que lutam pela continuidade da vida desse animal tão brasileiro. Durante quase um ano, João e Gustavo percorreram toda a região do sertão da Bahia, onde o alemão encontrou as primeiras pistas da existência da arara-azul-de-lear. Passaram pelos paredões e grotões da caatinga nas cidades de Jeremoabo, Euclides da Cunha e Canudos. Percorreram também o temido Raso da

Catarina, uma das áreas mais áridas do país. O fotógrafo e diretor Bruno Magalhães acompanhou a dupla durante todo o trabalho de pesquisa e vem trabalhando para transformar o projeto em um filme. FIM DO ENIGMA A busca pela arara-azul-de-lear era uma obsessão de Sick desde quando chegou ao Brasil, em 1940. Ele foi preso político durante a 2a Guerra Mundial. Libertado após o fim do conflito, resolveu permanecer no país e continuar a busca pela solução do “enigma”. Já doente, Sick descobriu o hábitat da espécie que – até então só havia sido vista em cativeiro e num misterioso desenho feito em 1830, na Inglaterra, pelo ilustrador Edward Lear – na caatinga do sertão baiano. O fim do enigma revela um misto de alegria e apreensão, já que ao se descobrir a arara, percebeu-se que ela estava “quase morta”, com apenas 21 aves e à beira da extinção. Mas, sertaneja que é, ela resistiu!

QUEM SÃO ELES

João e Gustavo integram o coletivo de histórias visuais NITRO, que completa 15 anos de estrada em 2018. João é fotógrafo, jornalista, colaborador da National Geographic e autor de outros dois livros: "Harpia" (2010) e "Arara-azul Carajás" (2015). Gustavo é de Mariana (MG), autor de outros dois livros: "Os Chicos" (2012) e "Nossa Sala de Troféus" (2016). SAIBA MAIS

www.nitroimagens.com.br 90  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017


FIQUE POR DENTRO

A arara-azul-de-lear foi descrita em 1856, porém sua área de ocorrência permaneceu desconhecida por mais de um século. Só em 1978 a espécie foi localizada no nordeste do estado da Bahia. Sua distribuição geográfica abrange os municípios de Jeremoabo e Canudos, onde as araras pernoitam e utilizam as cavidades existentes nos paredões de arenito, conhecidos como Toca Velha e Serra Branca, para se reproduzir. Alimenta-se basicamente de cocos da palmeira licuri (Syagrus coronata), podendo consumir em torno de 300 em um só dia. Fonte: icmbio.gov.br

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FOTOS: JOÃO MARCOS ROSA / NITRO

1ENSAIO FOTOGRÁFICO

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MEMÓRIA ILUMINADA – JACQUES-YVES COUSTEAU

O GUARDIÃO DOS MARES foi mais que um pioneiro da preservação marinha: também atuou na resistência ao nazismo, na década de 1940, e, nos anos 1980, no combate aos testes nucleares

FOTOS: DIVULGAÇÃO

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“A GUERRA DO FUTURO

SERÁ ECOLÓGICA”

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ste ano, completaram-se duas décadas desde que o oceanógrafo francês Jacques-Yves Cousteau foi navegar nos mares da eternidade. Também pesquisador, fotógrafo e cineasta, foi ele quem primeiro documentou explorações marítimas a bordo de seu navio, Calypso, que hoje infelizmente se encontra em péssimo estado de conservação em um estaleiro de Concarneau, França. Tudo isso por conta de uma disputa judicial, entre a segunda esposa e os dois filhos do primeiro casamento do oceanógrafo, que vem impedindo que a embarcação, considerada patrimônio cultural da França, seja revitalizada. Cousteau nasceu em Saint-André-de-Cubzac, vilarejo de pouco mais de 10 mil habitantes localizado no sudoeste da França, em 1910. Faleceu em 1997, vítima de infarto. A paixão pelo mar surgiu na infância: começou a mergulhar aos 10 e, três anos depois, comprou sua primeira câmera de filmagem. Chegou a estudar na Escola de Aviação Naval, mas abriu mão da carreira depois de um acidente automobilístico. Sua missão era o mar. Teve grande importância para a prática do mergulho. Quando foi oficial da marinha francesa,

Cousteau criou, junto com o engenheiro Émile Gagnan, o aqualung – revolucionário tanque de ar comprimido composto por tubo de ar, válvula e respirador –, que permitiu mergulhos autônomos e com mais segurança. A primeira ida de Cousteau ao mar com o equipamento foi uma experiência marcante: “Quando mergulhamos, sentimo-nos como se fôssemos anjos. Libertamo-nos do nosso peso”, contou ele em uma entrevista. Ninguém explorou e amou tanto os mares e oceanos do planeta quanto o explorador francês. Sua contribuição para a preservação da biodiversidade marinha pode ser conferida por meio de nove longas-metragens, 120 documentários (“O Mundo Silencioso”, de 1956, foi vencedor do Oscar) e mais de 50 livros lançados sobre o mundo submarino. Mais recentemente, a história de vida de Cousteau foi retratada no filme “A Odisseia”, do diretor Jérôme Salle, lançado em junho último. Para homenagear a obra e a importância de Jacques Cousteau para a conservação marinha, a Ecológico selecionou algumas de suas frases e pensamentos mais marcantes. Relembre conosco:

 NATUREZA

 MERGULHAR

“É a única que faz grandes coisas sem esperar nada em troca.”

“Eu costumava sonhar que estava voando. Era uma tentativa clássica de me afastar da realidade da Terra. Mas desde que eu mergulhei, parei de sonhar. O mergulho é a sensação mais fabulosa que se pode experimentar. Sinto-me infeliz quando estou fora d’água. É como se você tivesse entrado no Paraíso e, de repente, se vê de volta à Terra.”

“Nunca a natureza disse uma coisa e a sabedoria disse outra.” “O verdadeiro inimigo da natureza é o caçador de animais.”  AMAZÔNIA “Hoje, o mundo está preocupado com a guerra nuclear, mas essa ameaça vai desaparecer. A guerra do futuro será entre os que defendem a natureza e os que a destroem. E a Amazônia vai ficar no olho do furacão. Cientistas, políticos e artistas desembarcarão aqui para ver o que está sendo feito com a floresta.”

 DESENVOLVIMENTO INSUSTENTÁVEL “Nós estamos vivendo em uma sucessão interminável de absurdos impostos pela lógica míope de pensar a curto prazo.” “A água e o ar, os dois fluidos essenciais para toda forma de vida, tornaram-se latas de lixo globais.”

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MEMÓRIA ILUMINADA – JACQUES-YVES COUSTEAU FOTO: DIVULGAÇÃO

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Jacques Cousteau esteve no Brasil duas vezes: a primeira, em 1982, quando realizou uma expedição pelo Rio Amazonas. À época, ele fazia uma extensa pesquisa sobre como as águas de origem continental ameaçavam a saúde dos oceanos. E, na segunda, dez anos depois, para participar da RIO-92

 MORTE

 OCEANOS

“Aceito a morte não apenas por ser inevitável, como também construtiva. Se não morrêssemos, não apreciaríamos a vida.”

“Eu disse que os oceanos estavam doentes a cada ano, mas eles não vão morrer. Não há morte possível lá – sempre haverá vida.”

 SÉCULO XX

 FILMES

“Ao longo da história, o homem teve de lutar contra a natureza para sobreviver. Neste século, ele está começando a perceber que, para sobreviver, deve protegê-la.”

“A única ambição dos filmes que faço é mostrar a verdade da natureza.”

“A humanidade provavelmente fez mais dano à Terra no século XX do que em toda a história humana anterior.”

“Nós temos de amar a Terra. Só quando amamos algo é que o protegemos.”

 PEIXE “A melhor maneira de observar um peixe é ser um.”  VIDA “A vida é um trânsito e o mundo é uma sala de espetáculo, onde o homem entra, olha e sai.”  LIBERDADE “O homem leva o peso da gravidade em seus ombros. Mas basta ir ao fundo do mar para se sentir livre.”  CIENTISTA “O que é um cientista, afinal? É um homem curioso que olha através de um buraco da fechadura, o buraco da fechadura da natureza, tentando saber o que está acontecendo.”

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 TERRA

 MAR “Muitas pessoas atacam o mar. Eu faço amor com ele.” “No mar não há passado, presente e futuro. Só a paz.”  CURA “A verdadeira cura para os nossos problemas ambientais é entender que o nosso trabalho é salvar a Mãe Natureza.”  ESPERANÇA “O mar, o grande unificador, é a única esperança do homem. Agora, como nunca antes, a velha frase tem um significado literal: estamos todos no mesmo barco.”  SAIBA MAIS

www.cousteau.org


O Programa Amigo do Clima é uma iniciativa voluntária, voltada para a compensação de emissões de gases de efeito estufa (GEE). A plataforma conecta projetos de compensação brasileiros a empresas, eventos e pessoas, garantindo transparência e rastreabilidade na comercialização

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O mundo traz desafios. A WayCarbon, respostas.


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NATUREZA MEDICINAL

MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

CAJUZINHO-DO-CAMPO

O

FOTO: MARCOS GUIÃO

capim lanzudo dominava na fartura o campo ressecado, desconsiderando miudezas discretas que, sem sucesso, tentavam se mostrar. Cansado e com fome, dei assento no sombreado do pequizeiro no fofo da folhagem amontoada, não sem antes dar sentido de rastro de algum bicho mau. O saco que carregava tava inté leve e dispus de lado enquanto assuntava o tempo na busca de algum sinal de chuva, mas... quá! O céu limpo e a friagem daquela manhã sinalizava tempo seco. Carecia de esquentar o dia e a noite pra entrar a formação das nuvens carregadas, que tavam minguadas desde o fim do outono. Com tanta secura tava inté difícil de achar as plantas encomendadas, pois as folhas tavam judiadas no amarelado da insolação insistente. Lá, uma ou outra vinha na

CAJUZINHO-DO-CAMPO Anacardium humile

brotação sinalizando que as águas num tardavam. De longe corri os olhos na figura esguia de Chico da Mata barulhando na cata de umas folhas aqui outras acolá. Com o enxadão atravessado no ombro, o chapéu ensebado dava sombra ao rosto vincado pelos muitos ciclos vividos, mas o semblante enfeitado por um eterno sorriso dava leveza e acolhia a todos indistintamente. Disponível sempre, ele já tava há horas na cata e na arrancação de uma tanteira de planta, tudo encomenda de um bando de gente que bate na sua porta cotidianamente. Anota uma coisica aqui ou investiga mais fundo uma queixa, ouvindo com delicadeza e atenção a todos e todas. Com a cabeça lúcida, ali mesmo já tá viajando pelo Cerrado anotando o endereço de cada planta a ser buscada. E eu tava ali na rabeira da história aprendendo no fazer o sentido da serventia de cada planta e a alegria de servir ao próximo. De repente ele estacou, levantou a aba do chapéu e correu a cabeça prum lado e outro até cruzar o olhar comigo. Fez um leve sinal e num tim eu já tava do lado. Foi quando vi aquela tanteira de cajuzinho-do-campo (Anacardium humile), tudo vermelhim e estalando de maduro. Num me fiz de rogado e caí o queixo em cima de manjar tão meloso, enquanto ele arrodeava até se dar numa moita ao lado sem frutos ou flores. Com cuidado ele desceu o enxadão e foi separando as raízes avermelhadas do cajuzinho, enquanto explicava as aplicações da planta. - “Essa raiz tem servidão nos casos de mulher, principalmente. Aquilo de escorrimento, dor antes das regras ou inté inflamação dos útero ela repara. Carece só de butá as raiz bem picadinha numa garrafa de vinho seco, deixá uns dia e daí toma uns golinho todo dia. Num gasta muito tempo não e é inté chique tomá remédio de vinho, né mesmo?” Enquanto falava, Chico foi cortando as raízes em pedaços menores, colocando no saco e depois jogou terra por riba do buraco escavado “pra dá outra brotação aqui quando eu vortá”. Pois é assim, no simples, que o remédio dá. Inté a próxima lua! 

(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais. 98  ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2017


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Juntos. Em 2017, a Anglo American comemora seu centésimo aniversário. São 100 anos no mundo, e mais de 40 no Brasil, construídos pelas mãos de muita gente: empregados, parceiros, comunidades, poder público, entidades não governamentais... como é bom ter a nossa história compartilhada com vocês. Foram muitos aprendizados. Esse amadurecimento é o que nos fortalece para lidar com os desafios do futuro. Queremos uma mineração cada vez mais inovadora e sustentável. Mas só podemos chegar lá se construirmos nosso futuro juntos. Vamos?

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A Usiminas celebra seus 55 anos dando boas-vindas a uma nova fase. Mais que aço, nós produzimos soluções para os maiores desafios industriais do país. Com foco nas pessoas, clientes e resultados, construímos todos os dias o futuro que queremos. Hoje, olhamos pra frente com o mesmo brilho de quando começamos e a mesma paixão de seguir adiante. Juntos, rumo a novos desafios.

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Aço em dia com o futuro

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