Revista Ecológico - Edição 108

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ANO 10 - NO 108 - 29 DE MAIO DE 2018 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


UM FI L ME DA CO N S E R VA

“Eu sou o mais antigo tem

THIAGO L A

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go templo da natureza.”

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sta falando.org.br


EXPEDIENTE

FOTO: LEONARDO MERÇON

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Tamanduá-de-colete Tamandua tetradactyla Instituto Terra - Aimorés (MG)

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

REPORTAGEM Fernanda Mann e Luciana Morais

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

MÍDIAS DIGITAIS Bruno Frade

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

EDITORIA DE ARTE André Firmino

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.

EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

COLUNISTAS (*) Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Shutterstock/Daniel Bianchini/ Divulgação/Arte: Sanakan DEPARTAMENTO COMERCIAL Sarah Caldeira sarah@souecologico.com MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte - MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br EDIÇÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br (*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

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A Cemig investiu

4 bilhões de reais na melhoria do seu sistema elétrico.

Sabe quem ganha com isso? Todos os mineiros. Rosano Figueiredo

Agente de comercialização da Cemig em Belo Horizonte

TRABALHO E INVESTIMENTOS

É assim que estamos construindo uma nova Cemig. A Cemig está trabalhando para reduzir as ligações irregulares e clandestinas. Sem esses problemas, a rede elétrica ganha mais qualidade e menos riscos de desligamentos acidentais. De 2015 a 2018, a Cemig investiu R$ 800 milhões em eletrificação rural. Milhares de famílias do campo agora têm acesso aos benefícios que a energia elétrica proporciona.

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CAPA

ÍNDICE

A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E HUMANA EXPOSTA EM MEIO À MAIOR MONTANHA DE LIXO DA AMÉRICA DO SUL: O LIXÃO DA ESTRUTURAL, EM BRASÍLIA (DF)

Pág.

20 PÁGINAS VERDES ANDRÉ TOLEDO, DOUTOR EM DIREITO E DIRETOR DO IBDMAR, FALA SOBRE O IMPACTO DO PLÁSTICO NA FAUNA E NA FLORA MARINHAS

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ECOLÓGICO NAS ESCOLAS TÉCNICA MILENAR DE CULTIVO SEM SOLO, A HIDROPONIA SE DESTACA PELO USO SUSTENTÁVEL DE ÁGUA E MENOR SUSCETIBILIDADE A PRAGAS

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MEMÓRIA ILUMINADA O PENSAMENTO ESTRATÉGICO E HUMANO DE ANITA RODDICK, FUNDADORA DA THE BODY SHOP

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E mais... CARTAS DOS LEITORES 10 CARTA DO EDITOR 12 ECONECTADO 14 GENTE ECOLÓGICA 16 SOU ECOLÓGICO 18 ESTADO DE ALERTA 24 SUSTENTABILIDADE 32 GESTÃO & TI 36 ÁGUA 38 LITERATURA 40 EMPRESA & MEIO AMBIENTE 44 ESTANTE VERDE 54 O VIÉS MÉDICO NA LITERATURA DE GUIMARÃES ROSA (IV) 55 PREMIAÇÃO NACIONAL 64 NATUREZA MEDICINAL 66


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Congresso Ambiental VIEX O grande encontro de líderes do setor de meio ambiente

19, 20 E 21 DE JUNHO BLUE TREE PREMIUM MORUMBI, SÃO PAULO - SP

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Alexandre Sion, Sócio, Sion Advogados · Alexandre Waltrick Rates, Presidente, FATMA - Fundação do Meio Ambiente · Aljan Machado, Diretor de Meio Ambiente, CTG Brasil · Ana Cristina Pasini da Costa, Diretoria de Avaliação de Impacto Ambiental, CETESB · Ana Maria de Oliveira Nusdeo, Presidente, Instituto O Direito por um Planeta Verde · Andrea Hafner, Gerente de Meio Ambiente, Vale · Claudio Klemz, Especialista em Políticas Públicas da Equipe de Àgua, TNC · Daniel Smolentzov, Procurador do Estado de São Paulo Chefe, MP SP · Evandro Mateus Moretto, Presidente, Associação Brasileira de Avaliação de Impacto · Flavia ResendeCoordenadora de Projetos em Práticas Empresariais e Políticas Públicas, Instituto Ethos · Isabel Peter · José Gouvêa, Gerente, CSN - Companhia Siderúrgica Nacional · Larissa Amorim, Diretora de Licenciamento Ambiental, IBAMA · Marcelo Sodré, Margarete Schimidt, Margarete Schimidt, Coordenadora do GT Carreiras Sustentáveis, ABRAPS · Marina Freire, Siqueira Castro Advogados · Patricia Iglecias, Superintendente de Gestão Ambiental, USP · Rafael Feldmann, Mattos Filho Advogados · Ricardo Ribeiro Rodrigues, ESALQ/USP · Roberto Stanchi, Coordenador da Coordenação Nacional de Licenciamento, IPHAN · Rodrigo Cury Bicalho, Advogado, Secovi-SP · Rogério Menezes, Presidente, ANAMMA · Simone Nogueira, Sócia, Siqueira Castro Advogados · Thomaz Toledo, Diretor Institucional, Ambientare · Walter José Senise, WSENISE Advocacia · Werner Grau Neto, Pinheiro Neto Advogados

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1 IMAGEM DO MÊS

A Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) concluiu este mês uma longa missão aérea para monitorar o gelo do Ártico e da Groenlândia. O objetivo é mapear as regiões polares terrestres e marítimas para compreender como os sistemas climáticos mundiais se interagem e qual o real impacto do aquecimento global nas geleiras.

08  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

FOTO: NASA

FUTURO MAPEADO


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“Nenhuma dor é para sempre”, é o que diz o olhar da Padroeira de Minas aos milhares de peregrinos que visitam o Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. Essa frase de fé e esperança inspira a campanha Faço Parte, que, há dez anos, se empenha em ajudar os que sofrem por abandono, exclusão e descaso e em Proclamar a Palavra, evangelizando a partir dos meios de comunicação católicos. Graças ao amor e à fé dos devotos de Nossa Senhora da Piedade, foi possível realizar

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CARTAS DOS LEITORES

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

mostrar o que os homens fizeram com uma das pessoas que foram importantes para Cristo: obscureceram e condenaram uma personagem que foi essencial para o Cristianismo e se doou para seguir o Filho de Deus e colocar seu evangelho em prática.” Marta Silva Rezende, por e-mail l O VIÉS MÉDICO NA LITERATURA DE GUIMARÃES ROSA (3) “Espero, de coração, que todos os médicos de Minas Gerais estejam acompanhando esta série sobre o nosso grande escritor. Que excelente profissional ele era. Que visão bacana ele tinha das pessoas e dos lugares!” Marcos Gama, por e-mail l ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS “Se levarmos em consideração as alterações e a destruição que o homem já fez ao meio ambiente, ele também pode ser considerado uma espécie invasora. Tem coisa mais agressiva do que jogar óleo no mar, poluir rios e exterminar espécies nativas inteiras?” Luiz Vasconcellos, por e-mail l OS MAIORES CRIMES AMBIENTAIS DO BRASIL (1) “Crime sem castigo é algo que não é novidade no país. É muito bom que a Ecológico revisite esses fatos com a série ‘O Ambientalista’ para que a sociedade possa, de fato, ir atrás e cobrar da Justiça que os responsáveis por esses atos sejam punidos.” Laura Mizzeratti, por e-mail

“Se tem uma coisa que falta no jornalismo hoje é denúncia. Tenho acompanhado a série ‘O Ambientalista’ na CineBrasilTV e é isso que falta na imprensa: seriedade e compromisso na defesa dos interesses da sociedade.” Marcos Oliveira Prates, por e-mail “Confesso que fiquei indignada ao ler o material publicado na Ecológico. Não pelo texto em si, mas por imaginar o quanto as empresas podem estar poluindo o meio ambiente e fazendo isso silenciosamente. Precisamos, urgentemente, de mais gente como Neylor Aarão.” Adrielly Mendes, por e-mail l ECOLOGIA INTERIOR “A matéria sobre o filme ‘Maria Madalena’ caiu como flores nas minhas mãos. Já era hora de

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“Perto da minha casa, há um monte de pínus. Fico impressionado como ele se alastra com facilidade nas paisagens naturais.” Lizandra Marques, por e-mail EU LEIO FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br

“Em tempos de mudanças ambientais, vejo a Revista Ecológico como uma fonte importantíssima sobre sustentabilidade. Acompanho-a há muito tempo e considero as matérias bem dinâmicas, deixando o leitor bastante informado sobre a realidade. Ainda temos tempo de recuperar as nossas nascentes, ampliar o acesso à energia limpa, promover a saúde e o bem-estar de todos. E a Ecológico nos mostra também como podemos construir cidades sustentáveis com foco na boa gestão dos espaços urbanos, mobilidade e saneamento básico.” Ana Carla dos Reis, vendedora


Você sabia que o papel é feito de árvores plantada s exclusivamente para es finalidade? Todos os dias sa no Brasil são plantados o equivalente a cerca de 500 campos de futebol de novas florestas para a produção de papel e outro s produtos.

O Brasil tem 7,8 milhões de hectares de florestas plantadas. As indústrias que usam essas árvores conservam outros 5,6 milhões de hectares de matas nativas.

ais impressos sabendo que o papel Você gostará ainda mais de revistas e jorn vel e biodegradável. que vem de árvores plantadas, é reciclá idor responsável. Descarte corretamente. Seja um consum

Fonte: Relatório Ibá 2017, Indústria Brasileira de Árvores Two Sides é uma organização global, sem fins lucrativos, criada em 2008 por membros das indústrias de celulose, papel e comunicação impressa. Two Sides promove a produção e o uso responsável da impressão e do papel, bem como esclarece equívocos comuns sobre os impactos ambientais da utilização desse recurso. O papel, por ser proveniente de florestas certificadas e gerenciadas de forma sustentável, é um meio de comunicação excepcionalmente poderoso, de fonte renovável, reciclável e biodegradável.


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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

NEM TUDO É LIXÃO notícia de outro parque industrial brasileiro com mais árvores plantadas interna e externamente, em meio aos seus altos-fornos. Idem a cidade, é hoje detentora dos maiores índices de áreas verdes por habitante do país – nada menos que 125 m2, quando o mínimo recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU) é de 12 m2 de área verde por habitante. Nem tudo, enfim, está perdido. Você vai ver nesta nossa edição outonal, já quase virando inverno, que a hidroponia (técnica de cultivo agrícola sem solo) é realidade crescente no país. Vai perceber que Guimarães Rosa continua nos passando a sua receita de como praticar a medicina pelo viés da ecologia humana em todo o Grande Sertão: Veredas que ainda não secou de vez. E que também temos a presença de Anita Roddick,

"Por mais que sejamos sujos com a natureza, a limpeza, começando pela ética ecológica, sempre vem."

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FOTO: WILSON DIAS / ABR

É

o que você vai conferir, caro leitor, caro internauta, na segunda reportagem da série “O Ambientalista”, sobre o fim em transe do Lixão Estrutural de Brasília, até então a maior montanha de lixo da América do Sul e a segunda do planeta. Isso significa que, por mais sujos que sejamos com a natureza e conosco mesmo, a limpeza, começando pela ética ecológica, sempre vem. E vence, custe o que custar. Essa esperança nossa, teimosa que nem burro empacado, também reportada nesta edição, revela o que de verde aconteceu com a histórica Usiminas, em Ipatinga, no Vale do Aço. Já chamados de “Cubatão” mineira, tamanha a devastação e poluição do ar, hoje o município e a siderúrgica são referência de desenvolvimento sustentável no país. Não se tem

fundadora da The Body Shop, uma das maiores redes de cosméticos produzidos de maneira sustentável do mundo, recentemente comprada pela Natura. Temos o seu pensamento, in memoriam, sobre como sermos empreendedores e consumidores e, ao mesmo tempo, éticos com o planeta. E para terminar: a convocação para mais uma edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, sob o tema, este ano, de “A Sustentabilidade na Floresta, no Campo e na Cidade - De Chico Mendes a Chico Bento”. Ou seja, já passados 30 anos do seu covarde assassinato, o líder seringueiro não morreu em vão. Ele será relembrado ao lado de Chico Bento, personagem ecológico criado pelo cartunista Mauricio de Sousa que, 16 anos antes da realização da ECO/92 no Brasil, se juntou à Turma da Mônica em defesa da natureza rural. Não à toa, nem sem precisão, como se diz na roça, no agronegócio e na realidade urbana das nossas cidades, as inscrições e indicações à maior e mais jornalística premiação ambiental do país (vide regulamento no site www.premiohugowerneck.com.br) já estão abertas desde o último 22 de maio, “Dia Internacional da Biodiversidade”. A porteira dos bons exemplos ecológicos não se fechará mais. Essa é a nossa esperança comum. Boa leitura! Até 05 de junho, que não vai ter lua cheia. Mas será mais um “Dia Mundial do Meio Ambiente”. É quando, com o mesmo vislumbre de esperança, estaremos nas bancas ou no seu celular, com mais uma edição especial comemorativa da sua Ecológico. 


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ECONECTADO

TWITTANDO

“As grandes potencialidades do desenvolvimento no Brasil passam pela sustentabilidade.” @ManuelaDavila - Manuela D’Ávila (PC do B), pré-candidata à Presidência da Republica

“Essa rivalidade entre mulheres é algo que a sociedade nos impõe desde criança. Sempre somos postas para disputar concursos de ‘miss’ na escola e coisas do tipo. Se você quer que isso seja mais leve, fique feliz quando uma mana alcança alguma vitória!” @GabyAmarantos Gaby Amarantos, cantora

“Não há idade ou época certa para aprender. A vida é um constante aprendizado e precisamos ampliar nosso olhar acerca do mundo, agregando novas lições que podemos carregar para sempre.” @gloriapires Glória Pires, atriz 14  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

ECO LINKS SAI DESSE BANHO! Quantas vezes você já disse ou escutou as frases “termina logo esse banho, menino!” ou “desliga esse chuveiro, menina”? Com a crise hídrica que vem assolando constantemente o país, gastar água não é nada ecológico: a cada minuto debaixo do chuveiro são gastos 9 litros desse precioso recurso natural. Pensando em contribuir para um banho mais econômico e sustentável, a empresa D3 Estúdio de Mídia Interativa criou o app “Sai desse banho”. Funciona assim: você tenta reduzir seu tempo de banho para 4, 8 ou 12 minutos. Se você ultrapassá-lo, uma música irritante irá tocar em seu celular até você desligar o chuveiro. Saiba mais no link goo.gl/nUGHgX ECO CHARGER Você costuma esquecer o telefone carregando por horas ligado na tomada? Pasme: após a carga completa do seu smartphone, ele continua consumindo em média 1 w por segundo! Tente imaginar, agora, a quantidade de celulares dos seus parentes, vizinhos, de todos os moradores da cidade e do mundo... Quanta energia é gasta à toa? Visando promover o consumo consciente de energia, o Eco Charger é um grande aliado. O aplicativo envia notificações quando o celular atingir 100% do carregamento. Além disso, também possui informações sobre a bateria, temperatura e mensagens sobre alta-tensão. Para fazer o download gratuito, acesse o Google Play por meio do link: goo.gl/HDLphM

MAIS ACESSADA A entrevista com o pesquisador e agricultor suíço Ernst Götsch, que estampou a última edição da Ecológico, foi o texto mais acessado no mês de abril no site da revista. Ernst foi o criador do conceito de “agricultura sintrópica”, conjunto de técnicas e práticas que conciliam produção agrícola e recuperação de áreas degradadas. Ele ressaltou, na entrevista, que o ser humano precisa parar de interferir de forma desarmoniosa nos ecossistemas. Para ler o conteúdo na íntegra, acesse: goo.gl/Vvkteh


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GENTE ECOLÓGICA

“A falta de amor é a maior de todas as pobrezas.”

FOTO: ALLAN WARREN

MADRE TERESA DE CALCUTÁ, líder religiosa

“O ativista não é o homem que diz que o rio está sujo. O ativista é o homem que limpa o rio.” ROSS PEROT, empresário norte-americano

“As emoções humanas são coisas que estão contidas em nosso corpo. São líquidas e se manifestam por meio de adrenalina, do suor, da bílis, do sêmen e outros fluidos. Não existe emoção seca, árida. Então, tudo é rio.”

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: DIVULGAÇÃO

CARLA MADEIRA, publicitária e autora do livro "Tudo é Rio"

“Não vivo só do lado racional. Há outras forças que regem o ser humano e a natureza.” “Primeiro foi necessário civilizar o homem em relação ao próprio homem. Agora é necessário civilizar o homem em relação à natureza e aos animais.” VICTOR HUGO, romancista francês 16  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

SAMUEL ROSA, músico e vocalista do Skank


PELÉ

O rei do futebol anunciou que irá lançar uma fundação para ajudar crianças carentes e para implementar e desenvolver projetos de preservação ambiental. Desejo antigo do craque, a fundação não será administrada por ele. Pelé participará do Conselho e de ações de marketing objetivando atrair apoiadores e público para as ações da instituição, ainda sem nome.

TOM WOLFE, escritor e "pai do novo jornalismo", que faleceu recentemente, aos 88 anos, de infecção respiratória

“A casa serve de alicerce, segurança se fizer chuva, sol, é comida, roupa, água, mãe, pai, irmãos, amigos. Já o quintal é você sozinho. Você fica solto. Lidando com o que a natureza te traz.”

EDSON DUARTE

FOTOS: DIVULGAÇÃO

MARIA BETHÂNIA, cantora

O ministro substituto de Meio Ambiente condenou o “Pacote do Veneno” - a flexibilização do licenciamento ambiental e da lei dos agrotóxicos, que podem ser votadas em breve na Câmara dos Deputados por pressão da bancada ruralista. Para ele, a judicialização vai trazer para a conta do agronegócio uma imagem muito mais prejudicial: “O atalho pode se tornar uma estrada ainda mais longa”.

MINGUANDO

ASHOKA

“A natureza não faz milagres; faz revelações.”

“Não há agenda econômica sem finalidade social. Precisamos de reformas para melhorar a qualidade de vida do povo.”

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, escritor e poeta itabirano

PEDRO PASSOS, fundador e copresidente do Conselho da Natura

Pegou mal, e ainda repercute, o veto que a ONG global fez à participação da ativista ambiental Raquel Rosenberg em um evento que antecedeu o Fórum Mundial da Água. O painel contava com o presidente da Nestlé, Ulf Mark Schneider, e representantes da Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação. A Ashoka temeu que o posicionamento forte da ativista, que relaciona a desigualdade social e nas relações de trabalho à falta de recursos básicos, como a água, pudesse deixar os outros participantes “desconfortáveis”. MAIO DE 2018 | ECOLÓGICO  17

FOTO: MARCELLO CASAL JR. / ABR

FOTO: SHUTTERSTOCK

CRESCENDO

“A questão do status é que ele está na cabeça de todo mundo, o tempo todo, sejam as pessoas conscientes disso ou não.”


CONFIRMAÇÃO AGRO

Além de ser o “Homenageado do Ano” da próxima edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, cujo slogan será “A Sustentabilidade na Floresta, no Campo e na Cidade - De Chico Mendes a Chico Bento”, o cartunista Mauricio MAURICIO DE SOUSA: de Sousa tem outra ecologia e finanças agenda à frente da Turma da Mônica: ensinar e ajudar as pessoas, desde crianças, com dicas sobre a administração futura das suas finanças pessoais. A ideia, firmada com a Sicredi, uma das maiores cooperativas de crédito do Brasil, é a produção de seis gibis sobre o assunto. E em outubro, a sua turma, hoje presente em 29 países, vai estrear, com personagens interpretados por crianças, mais uma aventura na tela grande: o filme “Laços”.

Mário Campos, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool do Estado de Minas Gerais (Siamig), será mesmo o novo titular do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da FIEMG, na gestão Flávio Roscoe. Familiaridade com o tema não lhe falta. Foi o que ele demostrou, MÁRIO CAMPOS: como convidado, etanol é energia solar no último almoçopalestra promovido pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE-MG), na capital mineira. Sua apresentação sobre a sustentabilidade do setor, dispensou perguntas. Ele citou que “sem o agro não há etanol, nem açúcar e bioeletricidade” para tocar o desenvolvimento econômico do país de forma sustentável. E lembrou que biocombustível, a exemplo do etanol, é energia solar capturada através da fotosíntesse: “Não existe outra energia assim armazenada e distribuída de forma tão eficiente, econômica e segura para o meio ambiente”.

FOTO: SIAMIG / DIVULGAÇÃO

TURMA ECOLÓGICA FOTO: LAILSON DOS SANTOS

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Acesse o blog do Hiram: hiramfirmino.blogspot.com

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PÁGINAS VERDES

"O plástico só existe pelo

interesse econômico"

S

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

egundo a ONU Brasil, a humanidade produz mais de 300 milhões de toneladas de plástico por ano e apenas uma fração é reciclada. O restante acaba despejado em cursos d’água e chega aos oceanos, impactando a vida marinha. Redemoinhos de água aprisionam grandes quantidades de resíduos nas correntes marítimas. No Pacífico Norte, por exemplo,

ANDRÉ TOLEDO: “A explicação para a eventual ineficácia normativa refere-se ao desinteresse do Estado em interromper, obstruir ou dificultar o exercício de atividades econômicas causadoras de poluição” 20  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

existe uma ilha de plástico, com 1,6 milhão de quilômetros, equivalente ao território de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás juntos. O plástico demora 450 anos para se decompor. Os animais marinhos não conseguem diferenciá-lo de comida e acabam morrendo de inanição. Caso isso não aconteça, ele pode ser pescado e parar no seu prato. Ou seja, o plástico volta para o início da cadeia e o ser humano termina comendo-o. É o que alerta o advogado André de Paiva Toledo, doutor em Direito pela Université Panthéon-Assas Paris 2 (Sorbonne). Professor da Escola Superior Dom Helder Câmara, ele também é diretor do Instituto Brasileiro de Direito do Mar (IBDMAR), entidade sem fins lucrativos que reúne pessoas interessadas em contribuir com o desenvolvimento do Direito do Mar (normas de regulação e preservação dos espaços marinhos). “A proteção dos oceanos contra a poluição por plástico é um desafio global por conta da sua quantidade que tem sido lançada ao mar”, ressalta Toledo, que em sua pesquisa de doutorado analisou as principais questões contemporâneas do direito internacional dos espaços marítimos e fluviais. Na entrevista a seguir, ele aborda os impactos do plástico nos cursos d’água e explica como a ausência de normatizações jurídicas sobre o tema contribui para o caos ambiental. Confira:

O que se tem feito no exterior para proteger os oceanos do plástico e o que poderia ser feito no Brasil? A proteção dos oceanos contra a poluição por plástico é um desafio global por conta da quantidade que tem sido lançada ao mar. Além disso, em virtude da homogeneidade dos oceanos, não se consegue restringir a poluição desse material a um espaço delimitado. Tem-se com esse tipo de poluição o que existe com a atmosférica e com o aquecimento global. Trata-se de um problema que afeta a todos e cujos mecanismos convencionais de responsabilização não são suficientes. Como aconteceu nos anos de 1990 com a questão da poluição por gases de efeito estufa, há agora um impulso grande por parte da ONU para colocar a temática da poluição marinha por plástico como tema de negociações internacionais globais. A proteção dos mares em face do plástico não se dá individualmente. Por quê? O Brasil é um país com um vasto litoral. O espaço marítimo brasileiro é tão vasto quanto o seu território terrestre. Por conta dessa vastidão, que se chama comumente de “Amazônia Azul”, interessa muito ao Brasil manter o meio ambiente marinho equilibrado, não apenas como compromisso com os direitos fundamentais de sua população ou os direitos de outros Estados, mas como estratégia de desenvolvimento econômico sustentável. Claro que há medidas que devem


A N D R É D E PA I VA TO L E D O

FOTO: TROY MAYNE / GREENPEACE

Doutor em Direito, professor e diretor do Instituto Brasileiro de Direito do Mar (IBDMar)

“Grande parte do plástico que está nos mares chegou ali pelos cursos d’água.” ser tomadas internamente, pois 80% do plástico dos mares têm como origem fontes situadas em terra. Mas aqui, como no caso do aquecimento global, uma proteção efetiva depende da cooperação internacional. Pesquisas indicam que 80% dos mais de 8 bilhões de toneladas de plástico produzidas nas últimas décadas estejam dispersas na natureza, principalmente nos oceanos. Como isso afeta a vida marinha e a humana? Grande parte do plástico que está nos mares chegou ali pelos cursos d’água. Trata-se de uma fonte importante de desequilíbrios dos ecossistemas hídricos, mas especialmente marinho, pois é ali que ele se deposita por muito tempo, desintegrando-se e sendo literalmente absorvido por elementos da biodiversidade. Essa absorção causa a morte desses indivíduos, mas implica também sua inserção na cadeia alimentar, o que é cau-

sa de problemas relacionados à saúde humana, tendo em vista que boa parte da alimentação vem dos mares. Promover a reciclagem seria uma alternativa para que o plástico não vá parar nos mares? Como isso poderia ser feito? Toda alternativa que retira o plástico do ambiente é bem-vinda. A reciclagem, por consequência, é uma alternativa. Para tanto, seria necessário investimento em tecnologia de reciclagem para que essa estratégia pudesse ser universalizada. Nesse sentido, tem papel fundamental o sistema de limpeza urbana, que impedisse que o plástico chegasse ao sistema de escoamento de águas. Logo, o poder público, em especial as prefeituras, têm uma responsabilidade direta na eliminação do material do meio ambiente. A falta de estrutura dos sistemas locais de limpeza urbana, aliada à baixa efetividade normativa e à quantidade de plástico produzida pelo setor

econômico, torna quase impossível essa alternativa. A obsolescência programada já se infiltrou no mercado capitalista, forçando-nos a comprar novos produtos, em períodos de tempo cada vez menores. Como reduzir a produção de lixo e, consequentemente, de plástico? A redução de plástico passa necessariamente por investimento em ciência e tecnologia que produza materiais de substituição economicamente viáveis. O plástico só existe porque é economicamente interessante. Ele só deixará de existir quando deixar de ser economicamente interessante, o que pode ser feito em tese por meio de norma jurídica, padrão de consumo ou substituição de menor custo. Em tempos de liberalização do comércio, austeridade fiscal e ausência do Estado das relações econômicas, ficamos nas mãos do consumidor ou do próprio sistema econômico. É por isso que as campanhas da

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MAIO DE 2018 | ECOLÓGICO  21


PÁGINAS VERDES

FOTO: THE 5 GYRES INSTITUTE

FOTO: BERND ARNOLD / GREENPEACE

FOTO: BERND ARNOLD / GREENPEACE

FOTO: ROBERT MARC LEHMANN / GREENPEACE

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A N D R É D E PA I VA TO L E D O

Doutor em Direito, professor e diretor do Instituto Brasileiro de Direito do Mar (IBDMar)

CICLO MORTÍFERO: a ave marinha come o plástico e morre por contaminação. O peixe do qual ela se alimentou também ingeriu o material. Segundo a ONG Sea Sheperd, mais de um milhão de aves e animais marinhos morrem anualmente por ingestão ou mutilação provocadas pelo plástico

ONU são todas direcionadas ao consumidor, que acaba agindo muito por interesse econômico e não ecológico. Por isso, há pesquisas muito sérias que identificam na modificação do modelo econômico globalizado a solução para o caos ambiental. Em especial, cito o professor Luiz Marques, da Unicamp, que escreveu um livro importantíssimo intitulado “Capitalismo e caos ambiental”. Concordo com ele: não há solução de curto prazo dentro do capitalismo. Temos tempo de sobrevivência até a superação desse modelo?  FONTE: Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) www.amda.org.br 22  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

l Segundo um estudo da

via útil do plástico. Uma das alternativas importantes é a reciclagem. Mas ela ainda é tímida, apenas 9% do plástico produzido é reciclado.

l Desde 1950, informa a Science, mais de 8,3 bilhões de toneladas de plásticos foram produzidos no mundo. Sessenta por cento deles foram parar na natureza, lixões ou aterros.

l Uma pesquisa publicada na revista Scientific Reports apontou que a ilha de detritos que flutua no Oceano Pacífico, entre a costa da Califórnia (EUA) e o Havaí, é 16 vezes maior do que se imaginava. Composta principalmente por embalagens de plástico jogadas no mar, a área tem 1,6 milhão de quilômetros quadrados (equivalente a quase o dobro do tamanho da Região Sudeste do Brasil).

PLANETA PLÁSTICO

Revista Science, estima-se que 155 milhões de toneladas de plástico serão jogados nos oceanos até 2025 (com base na média anual de 17,5 milhões de toneladas).

l É urgente o

desenvolvimento de novas estratégias para o fim da


UM ESPAÇO INIGUALÁVEL André Firmino / Ecológico

EM MEIO À NATUREZA COM CONFORTO E REQUINTE

EVENTOS AO AR LIVRE | TREINAMENTO EMPRESARIAL CONGRESSOS | WORKSHOPS | PALESTRAS | CONFRATERNIZAÇÕES

LOCALIZADO EM NOVA LIMA, VIZINHO DO VALE DOS CRISTAIS, A APENAS 10 MINUTOS DO BH SHOPPING, COM UMA EXUBERANTE ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL. AV. DO CONTORNO, 7450 | LOURDES | BELO HORIZONTE - MG | (31) 3292-6160 @ | WWW.NATURE.COM.BR


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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

O SILÊNCIO DAS

D

BORBOLETAS

iz-se simbolicamente que o mundo está tão globalizado, que o bater das asas de uma borboleta na China pode causar impactos no Brasil. E não é mentira. Assombradas com a poluição causada por suas indústrias, a China fechou siderúrgicas obsoletas e começou a comprar ferro-gusa do Brasil. E provavelmente, por lá, a qualidade ambiental melhorou e as borboletas voltaram. A exportação de ferro-gusa poderia ser 100% boa para o país e para Minas, se não representasse terrível ameaça aos ambientes naturais que nos restam. O setor siderúrgico mineiro, com raras exceções, de mãos dadas com o agropecuário, foi o grande responsável pela destruição da Mata Atlântica e do Cerrado em Minas, na Bahia, no Piauí e até no Paraguai. Milhares de hectares foram transformados em carvão, milhões de animais silvestres foram mortos. Trabalho escravo e burlar leis ambientais foram marcas registradas de décadas de atuação do setor. A crise econômica que começou em 2008 desestabilizou grande parte das empresas de ferro-gusa, que, não por coincidência, e sim por picaretagem, não plantaram florestas para alimentar seus fornos. Mas, tal qual vulcões, elas não morreram. Apenas entraram em compasso de espera,

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aguardando oportunidade para atacar. E ela chegou com a subida de preço do ferro-gusa. Segundo dados da Associação Mineira de Silvicultura (AMS), o nível de produção do produto, já em 2017, atingiu o mesmo patamar quando a crise começou e da mesma forma a necessidade de carvão. E, segundo a entidade, não há oferta suficiente para atender à demanda. Resultado: transformar o Cerrado e a Mata Atlântica, ou melhor, o que restou deles em Minas e outros estados, em carvão, volta a nos assombrar. Mas não são fantasmas: são empresas constituídas, dirigidas por pessoas comprometidas a qualquer preço com lucro. O art. 83, da Lei Florestal mineira, aprovada em 2012, determina que as empresas consumidoras de carvão, a partir de 2018, só poderão consumir até 5% do total deste insumo, provenientes de florestas nativas, desde que oriundo de uso alternativo do solo e autorizado pelos órgãos ambientais competentes, seja de Minas seja de outros estados. O que esperamos obviamente é que o Estado faça cumprir a lei, não concedendo licença a empresas que não comprovem lastro florestal, fiscalizando e fechando as que não cumprirem. O bater de asas das borboletas chinesas não pode significar a volta do desmatamento e o silêncio das borboletas brasileiras.  (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente.



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OS MAIORES CRIMES AMBIENTAIS DO BRASIL (2)

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O LIXÃO visto de cima: presença de animais, como o urubu, é reflexo da degradação humana vivenciada por catadores

O LIXÃO CENTRAL

DO BRASIL NO SEGUNDO DOCUMENTÁRIO DA SÉRIE O AMBIENTALISTA, O ATIVISTA AMBIENTAL NEYLOR AARÃO VASCULHA A HISTÓRIA DO LIXÃO DA ESTRUTURAL, EM BRASÍLIA (DF), ATRÁS DE EXPLICAÇÕES PARA A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E HUMANA EXPOSTA EM MEIO À MAIOR MONTANHA DE LIXO DA AMÉRICA DO SUL 26  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018


FOTOS: REPRODUÇÃO

Depois de quase seis décadas de existência, o segundo maior lixão do mundo, distante poucos quilômetros da Esplanada dos Ministérios, foi fechado em janeiro deste ano, meses após as filmagens feitas sob a direção de Marcello Marques. O local passou agora a se chamar Unidade de Recebimento de Entulhos, restrita ao armazenamento de resíduos da construção civil. É o que você confere, a seguir:

NEYLOR AARÃO registra exposição humana e ambiental em meio ao lixo

Neylor Aarão

redacao@revistaecologico.com.br

T

ambém conhecido como Aterro do Jóquei, em volta dele se formou uma grande vila, a Vila da Estrutural, uma ocupação que nasceu praticamente junto com a construção da capital federal. Ao longo dos anos, ele acumulou mais de 40 milhões de toneladas de lixo, gerando inúmeros problemas sociais, ambientais e econômicos. A catadora Lúcia Fernandes conta que chegou ao local devido à dificuldade de encontrar trabalho na cidade. “Meu marido já conhecia pessoas daqui. O começo foi difícil. No primeiro dia, trabalhei e ganhei somente R$ 1,50. Daí, falei: Ô meu Deus, é muito pouco.” No segundo dia, ela relembra, ganhou R$ 5. Daí em diante, as coisas foram melhorando, à medida que Lúcia começou a entender o processo e a conhecer melhor o que chegava junto com o lixo. “Eu não tinha noção do que era material reciclável, do que a gente podia ou não catar. Tudo que tenho aqui hoje, onde ficam os meus filhos, foi tirado lá do maciço do lixão.”

O Lixão da Estrutural sempre foi palco de uma prática proibida: a manutenção de catadores no local. Além de ser uma área perigosa, há risco de contaminação ambiental, de contrair doenças e infecções por causa de pessoas que morreram soterradas e atropeladas por máquinas e caminhões. Ninguém usa equipamento de segurança. O lixo causa um impacto ambiental grave, por meio da poluição atmosférica, da água, do solo etc. Lúcia compara os riscos de trabalhar na parte destinada à coleta seletiva e no lixão em si. “Aqui na seletiva é bem melhor. Mesmo ficando muito tempo parado, esperando material chegar, tem menos risco de vida, perigo de um trator passar por cima da gente igual acontece lá no lixão. Aqui o coletor chega e despeja, cada um tira o seu material.” Eliezer Félix, que trabalha na Estrutural há mais de 20 anos, mostra o local onde o material reciclável é selecionado. “Aqui na seletiva tem uns quatro, cinco

anos que estou. Mas trabalhei lá em cima durante muitos anos.” Outra catadora, Ana Cláudia de Lima, presidente da Associação Ambiente, conta que o lixão recebe várias “descargas” de resíduos da construção civil. “Tem também a coleta seletiva, as galhadas de poda e essa parte aqui em cima que a gente chama de maciço, que é o lixo orgânico. São vários setores.” Segundo ela, os catadores estão expostos a todo tipo de acidente. “Trator passar por cima de gente, atropelamento. Carreta tombar em cima de catador é o mais comum. Aqui é morte mesmo. Já perdemos oito colegas por morte com trator. Ano passado foram dois.” TRÁFICO E PROSTITUIÇÃO Diretora-presidente do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) do Distrito Federal (DF), criado em 1961, a engenheira civil e sanitarista Heliana Kátia Campos explica que o local é um dos 50 maiores lixões do mundo e o

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OS MAIORES CRIMES AMBIENTAIS DO BRASIL (2)

maior de todas as Américas. “Brasília nunca teve um aterro sanitário, estrutura que é exigida desde a legislação ambiental brasileira, de 1981. Além disso, desde 1989, é crime ambiental manter lixão. E a partir da Política Nacional de Resíduos Sólidos [instituída em 2010], só é permitido ter aterro sanitário. Não se pode mais enterrar resíduo em todo o território nacional.” Não é difícil confirmar que são vários os problemas ainda existentes no entorno do Lixão da Estrutural. Heliana Kátia explica que ao assumir o cargo, em 2015, deu prioridade à realização de um diagnóstico do local. Foram colocadas três pessoas não para ouvir os catadores, mas para ver e registrar informações sobre a realidade deles. “A situação é de uma gravidade – e complexidade – tão grande que interessa a muitas pessoas que ela permaneça. É um lugar onde se observa tráfico de drogas, prostituição, desova de carros roubados e ainda a descarga de alimentos vencidos e a vencer, que são recuperados para venda nas feiras do entorno.” Representante do Movimento Nacional dos Catadores, Rônei da Silva é categórico: “Tenho a impressão que a única preocupação do SLU é fechar o maior lixão da América Latina. E não resolver efetivamente os problemas que existem. São mais de 1.800 pessoas trabalhando e cerca de 2.800 toneladas de resíduos domésticos que entram aqui todos os dias.” Questionado sobre os principais pontos de conflito na transição do lixão para o aterro controlado, Rônei pondera e lembra que há a obrigação jurídica de se fechar o local. “Todos nós, cata28  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

"Trator passar por cima da gente, atropelamento. Carreta tombar em cima de catador é o mais comum. Aqui é morte mesmo. Já perdemos oito colegas com morte por trator." Ana Cláudia de Lima, catadora

dores, sabemos da importância e da necessidade do fechamento. Mas antes tem que se fazer o que é necessário para isso, ou seja, a implantação da coleta seletiva, a construção dos galpões, o pagamento pelos serviços prestados. A gente trabalha e sobrevive do material reciclável. Mas isso é muito pouco.” BOMBA-RELÓGIO Ainda conforme Heliana Kátia, após diagnosticar a dimensão dos problemas relacionados ao lixão, a direção do SLU procurou o go-

vernador de Brasília, Rodrigo Rollemberg. “Foi quando lhe perguntamos: Sabe por que temos um lixão na capital federal até hoje? Porque entendia-se que esse era um problema apenas de limpeza urbana, mas não é. É de segurança pública, de meio ambiente e social, pois envolve a Secretaria da Infância e da Adolescência e ainda o fato de as pessoas que estão lá serem cadastradas e receberem o Bolsa Família.” O promotor de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público do Distrito Federal, Roberto Carlos Batista, salienta que o próprio governo assentou populações em parte da área contaminada. Segundo ele, além do aspecto urbanístico e das questões que envolvem a segurança das pessoas, é preciso lembrar que o lixão fica ao lado do Parque Nacional de Brasília. Essa unidade de conservação, uma das mais visitadas da capital federal, foi reconhecida pela Unesco como um dos núcleos da biosfera do Cerrado. Portanto, tem importância fundamental para a preservação desse bioma e de todas as suas riquezas naturais, inclusive a água. “É uma área em que há grande concentração de recursos hídricos. Para se ter uma ideia, a Barragem de Santa Maria, que fica dentro do parque, abastece toda a parte norte da cidade e está ameaçada de contaminação, porque fica ao lado do lixão.” A analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Juliana de Barros Alves, fala sobre a localização da nascente do Córrego do Acampamento, uma das atrações do parque nacional, criado em 1961: “As piscinas na-


HELIANA KÁTIA: nova realidade para a atual e as futuras gerações

torna o processo ainda mais difícil. As lagoas de chorumes criadas na área são uma verdadeira afronta à questão sanitária e ambiental. Quando chove, elas transbordam e descem pelas ruas da Estrutural. A situação é caótica.”

AMEAÇA AO PARANOÁ Sérgio Koide, chefe do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UNB), afirma que, de modo geral, não há como recuperar uma área em que ocorre contaminação subterrânea intensa. No caso da Estrutural, a camada de lixo depositada sobre o solo é muito grande, chega a mais de 15 metros. “Quando chove, a água penetra no aterro e ele continua gerando chorume. Parte desse chorume é percolada pelas paredes do aterro, e o restante escapa pelo solo e desce por chácaras e loteamentos vizinhos, em direção aos córregos. Ou seja, temos severos problemas de saúde pública e de poluição. Tudo o que se gera naquele aterro, em termos de chorume, cai direto no Lago Paranoá.” Diretor-técnico do SLU, Paulo CONTRATOS com cooperativas de catadores vão assegurar, a partir de agora, a triagem e a coleta seletiva

FOTOS: REPRODUÇÃO

turais do parque são provenientes das nascentes desse córrego”. Segundo ela, há ocupações em áreas usadas pelo lixão, em cujos terrenos ocorre a circulação de gases, como o metano, gerados durante a decomposição de material orgânico. “Pode ocorrer problemas e explodir tudo isso. É uma bomba-relógio”, alerta. O promotor lembra que um colégio público foi fechado, porque a construção explodiu. Havia gás metano no subsolo e não houve qualquer controle. Após esse episódio, foram instalados queimadores no Lixão da Estrutural. “Quem visita o local vê as manilhas com queimadores que funcionam 24 horas, aquilo é gás metano.” Batista esclarece que ainda não foram apresentados estudos para a recuperação da área. “Há várias metodologias para isso, mas a presença de moradores

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OS MAIORES CRIMES AMBIENTAIS DO BRASIL (2)

FOTO: REPRODUÇÃO

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DURANTE décadas, o lixão abrigou prática irregular com a presença de catadores no local

Celso dá as dimensões da montanha de lixo existente na Estrutural. “Temos aqui uma montanha com aproximadamente um milhão de metros quadrados de base, por 55 metros de altura. Ela se parece com um bolo de marshmallow, e a tendência é se desmanchar. Por isso, mantemos a estabilidade dos taludes e das paredes com a ajuda de máquinas. O lixo vem sendo depositado de forma irregular há anos e estamos tentando corrigir. Mas não temos como resolver tudo de forma rápida, tem de ser gradualmente.” Para o diretor, além da questão ambiental, representada pelo lixão em si, e da social, caracterizada pela presença de catadores – que tiram sustento e renda do local –, a Estrutural envolve um terceiro pilar ainda difícil de ser entendido. “Para mim, o mais difícil é o

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pilar econômico. A Estrutural movimenta uma ‘indústria’ de 500 milhões de reais por ano, com toda a parte de manejo dos resíduos de Brasília. Há muitos interesses envolvidos, porque é uma cadeia muito grande. Envolve os caminhões que transportam, as empresas que contratam mão de obra, o pessoal que comercializa esse material etc.” Nem tudo está perdido. Pelo contrário. Procurada pela Ecológico, Heliana Kátia, que já foi superintendente de Limpeza Urbana de Belo Horizonte, fez uma síntese sobre a atual situação da Estrutural. “Agora é diferente. A população do Distrito Federal tem um aterro sanitário construído com técnicas ambientalmente adequadas, sem prejuízo ao meio ambiente, em conformidade com a lei e 28 contratos com

cooperativas de catadores para realizar triagem e coleta seletiva. Vencemos um desafio que respeita os catadores, a população e as futuras gerações.” Conheça, na próxima edição, a cidade de Venâncio Aires (RS), palco de uma investigação sobre correlação entre o uso de pesados agrotóxicos na lavoura de fumo e a ocorrência de mortes por suicídio.

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1 SUSTENTABILIDADE

TRÊS MOMENTOS DE

UMA ESPERANÇA Ações ambientais promovidas pela Usiminas e pelo poder público fazem de Ipatinga, no Vale do Aço, uma das cidades com maior índice de área verde por habitante no Brasil. Desde 1985, mais de 3 milhões de mudas produzidas no viveiro da empresa foram plantadas na região Hiram Firmino e Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br De Ipatinga-MG (*)

U

m oásis de biodiversidade aberto à visitação de estudantes e preservado também para o desfrute das gerações futuras. Estamos em Ipatinga, no coração do Vale do Aço mineiro, cidade que chama a atenção por suas inúmeras áreas verdes, praças e parques, contribuindo assim para a con-

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servação da fauna e da água em seu território. O foco da visita é o viveiro de mudas criado em 1985 pela Usiminas e reconhecido, em 2016, como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Estrategicamente localizado junto ao Centro de Biodiversidade da empresa, o viveiro ocupa uma

área superior a 200 campos de futebol (204 hectares), formando uma enorme floresta urbana no Bairro do Horto. “Não tem nada melhor do que mexer com plantação. Ela agradece e se multiplica”, revela, entre canteiros e mudas, o agricultor José das Graças, de 65 anos, 26 deles trabalhando no viveiro.


O bioma local é a Mata Atlântica. Preservada sob a forma de remanescentes florestais nativos, ela está presente também em trechos reflorestados com espécies da região, assegurando a recuperação de uma área antigamente usada para a criação de gado e a exploração de pedras. Além de sua reconhecida importância ecológica, o viveiro também é palco de atividades de um dos mais longevos e bem-sucedidos programas de educação ambiental do país. Trata-se do Projeto Xerimbabo que, em seus 33 anos de história, já atraiu nada menos que 2,5 milhões de visitantes à Usiminas, 33 mil deles só em 2017. NOVA CONSCIÊNCIA Descontração, aprendizado lúdico e formação de uma nova consciência de cuidado ambiental também florescem e frutificam no viveiro. Desde março do ano passado, a Usiminas

“O objetivo é que as crianças – e por meio delas suas famílias e a comunidade – conheçam as ações de conservação ambiental promovidas pela Usiminas. Assim, elas entendem, por exemplo, a importância do plantio de árvores e da proteção das áreas verdes como forma de garantir o abastecimento público de água, a manutenção do microclima local e, consequentemente, a melhoria da nossa qualidade de vida”, explica a engenheira ambiental e analista de Meio Ambiente da siderúrgica, Luziane Oliveira. DESTAQUE NO BRASIL Para este ano, a meta é ampliar o alcance das atividades, permitindo que moradores em geral e não apenas estudantes participem da Aventura no Viveiro. Mateus Pereira, um dos responsáveis pela manutenção do espaço, explica que lá são cultivadas mais de 150 espécies, entre nativas da Mata Atlântica, ornamentais e frutíferas. “Aqui, cuidamos de todo o processo. Desde a coleta, beneficiamento, secagem e seleção das sementes até o preparo do FOTOS: NILMAR LAGE

FOTO: MARCELINO MIGUEL/DIVULGAÇÃO

CHEGADA à hoje Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN): legado verde que transformou o passado e constrói o futuro

promove a Aventura no Viveiro, atividade gratuita de educação ambiental com programação voltada para estudantes de escolas locais e de municípios vizinhos, totalizando 545 alunos, de 15 instituições. A iniciativa é coordenada pelo Instituto Cultural Usiminas, como parte das ações do Projeto Xerimbabo. Brincadeiras e contação de histórias tornam a visita dos estudantes mais didática e divertida. As crianças e adolescentes são recepcionados pela personagem Flora Manga. Ela é uma boneca interpretada pela atriz Raquel Vieira, que surge de dentro de uma mala e aborda temas ligados à conservação ambiental e à relação da siderúrgica com as comunidades do entorno. Na visita orientada ao viveiro e ao berçário de mudas, os estudantes têm a oportunidade de conhecer espécies nativas da região, como o ipê e o jacarandá, além de manusear sementes de diferentes formatos e tamanhos. Eles também percorrem trilhas em meio à mata, visitam o apiário e degustam frutas colhidas no espaço.

ESTUDANTES durante visita à área do viveiro, através do Projeto Xerimbabo de educação ambiental: aprendizado e interação em meio à natureza

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1 SUSTENTABILIDADE tico Alvorada (CNA), 3.127 novas espécies arbóreas nativas, cobrindo uma área de 38.534 metros quadrados. E mais: 11 mil mudas foram doadas a instituições com atuação no Vale do Aço e aproximadamente 8 mil distribuídas em campanhas junto à comunidade. Não por acaso – e graças também a ações do poder público municipal, voltadas para a construção de praças, jardins e incremento florestal de bosques urbanos –, Ipatinga é uma das campeãs brasileiras entre as cidades com maior área verde por habitante: são 125 m2, ou seja, um índice mais de dez vezes superior ROBERTO MAIA: “Metade da nossa área ao preconizado pela Organização industrial é arborizada. Dá trabalho mantê-la assim. Mas os benefícios em Mundial da Saúde (OMS), que é termos de paisagismo, conforto térmico de 12 m2/habitante. e ambiental são imensuráveis”

FOTO: EULER JÚNIOR

substrato e produção das mudas. Elas são destinadas a plantios em áreas pertencentes à empresa, ao nosso programa de recomposição de mata ciliar, à arborização de espaços públicos e doadas a entidades parceiras”, detalha. Os números são expressivos. Desde a criação do viveiro, mais de 3 milhões de mudas produzidas no local ajudam a esverdear e recuperar terrenos degradados em Ipatinga e cidades vizinhas. Em 2017, a Usiminas plantou 4.787 novas árvores somente em áreas de sua propriedade. Outras 3.588 foram destinadas a espaços fora da empresa, entre eles a orla da Lagoa Silvana, conhecido cartão-postal da região, que recebeu, por meio de parceria com o Clube Náu-

Um dos diferenciais da manutenção do viveiro de mudas da Usiminas é o fato de ele ser abastecido com água fornecida pela própria Usina. A unidade mantém um sistema de captação, tratamento e distribuição interna de água, com 28 centros de recirculação. Como resultado dos investimentos em gestão e tecnologias de reúso, entre 2002 e 2017 a empresa reduziu em 45% a captação no Rio Piracicaba, atingindo um índice de 95,3% de recirculação hídrica em seu processo produtivo. Discreto e bom de prosa, o diretor-executivo Roberto Maia gosta de comparar a Usina a uma fazenda. A metáfora faz sentido. Afinal, ela é contornada por um cinturão verde com mais de 370 hectares. A área industrial, com seus 8 quilômetros de comprimento por 1,5 quilômetro de largura, é entremea34  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

FOTOS: DIVULGAÇÃO /USIMINAS

Recirculação de água e árvores por toda parte

A ÁREA INDUSTRIAL, com 8 quilômetros de comprimento por 1,5 quilômetro de largura, é entremeada por inúmeras árvores, gramados, jardins e fontes


da por inúmeras árvores, gramados, jardins e fontes. Também chama a atenção a Lagoa da Anta, com 4 km de extensão e 1,2 milhão de metros cúbicos, refúgio de vários animais, incluindo saguis, galinhas e patos-selvagens. “Praticamente metade da área industrial é arborizada. Sempre que vem chuva, temos de ficar atentos para evitar acidentes com quedas de árvores e galhos. Dá trabalho manter toda essa arborização, mas os benefícios em termos de paisagismo, conforto térmico e ambiental são imensuráveis. Além do mais, sem árvore não tem chuva: e a água é estratégica para nós”, pondera Maia. Consciente de que a disponibilidade de água está diretamente atrelada à conservação de nascentes e à proteção de áreas de recarga, como em topos de morro, a Usiminas tem apoiado projetos e iniciativas de instituições parceiras com foco na conservação hídrica. Um exemplo é a recuperação de nascentes em áreas pertencentes à Usina, em sintonia com as ações do projeto Mapa da Mina, iniciado em 2015. Capitaneado pelo promotor Rafael Pureza, da 9ª Promotoria de Justiça de Ipatinga, esse projeto possibilitou, em parceria também com a prefeitura e outras empresas, o levantamento georreferenciado de cerca de 600 nascentes existentes no município. “A conservação ambiental e hídrica é compromisso de todos: empresas, poder público e sociedade. Para nós, da Usiminas, promover ações de responsabilidade socioambiental é uma forma de validar a existência do nosso empreendimento. É mais do que uma licença social. Afinal, se o nosso trabalho em prol da natureza, das pessoas e do crescimento sustentável da cidade não for reconhecido, nossa presença aqui perde todo o sentido.” (*) A equipe viajou a convite da Usiminas.

ENTENDA MELHOR Com 62 anos de história e 13 mil colaboradores próprios, a Usiminas é líder nacional do mercado de aços planos e um dos maiores complexos siderúrgicos da América Latina. Confira alguns números relativos à empresa: l O viveiro de mudas começou a ser estruturado durante a construção da siderúrgica, na década de 1960. Uma área, já desmatada anteriormente, foi separada para replantio ao longo do tempo. Cerca de 60 anos depois, o que era pasto se transformou numa floresta urbana. A criação oficial do viveiro ocorreu em 1985 e, hoje, o local é uma RPPN. l A empresa tem duas plantas siderúrgicas: a Usina Intendente Câmara, com 10,5 milhões de m² de área, em Ipatinga (foto acima); e a Usina José Bonifácio de Andrada e Silva, com 12,5 milhões de m2, no Polo Industrial de Cubatão (SP). Juntas, elas têm capacidade nominal de produção de 9,5 milhões de toneladas de aço/ano. l 2,5 milhões é o número de visitantes recebidos pelo Projeto Xerimbabo, em seus 33 anos de existência. l Três milhões de mudas produzidas e plantadas na região desde a criação do viveiro. l Por meio de outra ação educativa, Conhecendo a Usiminas, a empresa recebeu, ano passado, 571 estudantes, de 18 instituições. Eles visitaram as instalações para entender o processo produtivo e a origem de vários produtos usados em seu dia a dia, além de participar de oficinas de pintura com agregado siderúrgico (escória), co-produto da fabricação do aço. Para cada tonelada de aço produzido são gerados 900 kg de resíduos. l Parte da escória gerada na Usiminas é destinada à pavimentação de estradas vicinais, por meio do projeto Caminhos do Vale. Em cerca de três anos, são mais de 900 km de estradas recuperadas e 850 mil pessoas beneficiadas, em 36 cidades do colar metropolitano do Vale do Aço. l O programa Mata Ciliar, criado em 1996, promove a restauração das margens dos rios Piracicaba e Doce, em parceria com a Fundação Relictos e o Instituto Estadual de Florestas (IEF), totalizando 22 km de extensão, em três municípios: Coronel Fabriciano, Ipatinga e Santana do Paraíso. 

SAIBA MAIS

As visitas de escolas podem ser agendadas pelo telefone: (31) 3824-3731. www.usiminas.com

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C

GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

PRESENTOLOGIA

FOTO: CHAKRIPIXMAKER

artomantes, ciganas e congêneres estão em alta. Por todos os cantos, todos os seminários, seja o tema que for, é cantilena igual, inclusive a minha. Falamos de futurismo, prevemos os dias que virão, não raro, com inconfundível sarcasmo de quem prevê um mundo, aqui caótico, ali incompreensível. Todos estamos ameaçados e nos ameaçando, todos dizendo que profissões e causas irão desaparecer na velocidade da luz. Eu mesmo já falei disso mais de vez. Mas futurismo cansa, não por estar errado, não por previsões apocalípticas ou paradisíacas, pois há verdadeiro espaço para todas. O futuro cansa porque, na verdade, não vivemos no futuro, mas no presente. É aqui, neste tempo fugidio de poetas e filósofos, que temos que viver. O lugar? Brasil. A nova moda: presentismo! Corria 2014, correu 15, 16, 17, 18 e parecemos não andar, tempo que não passa. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desliza seus índices para cima e para baixo e os governos de todos

os níveis raspam o fundo do tacho em busca de notícias que façam parecer que avançamos. Nossa produtividade parece saída de um verbete da Barsa, parada no tempo. Foi Copa, depois Olímpiada, foi eleição disso e daquilo... Agora Copa de novo e eleição de novo e não andamos mesmo. Assinamos uma Netflix de uma série só que, quando termina, volta pro começo. Olho pela janela e não vejo esperança genuína no povo, aquela que nos poria, a todos, na mesma direção e sentido. Enquanto o mundo é verdade que acelera, países se transformam, grandes e pequenos, Chinas e Cingapuras, cada qual posto numa grande corrida global para ser relevante. Enquanto isso, precisamos parar de olhar tão distante no horizonte e olhar mais de perto, no beiço de nosso olhar, e puxar o fio da meada. Fio de tão pouco recurso que o país não tem e que, se puxado, fará mover céus e terras. Fará com que sejamos uma nação renovada. Meu Deus, fico pensando, porque demoramos tanto pra chegar em lugar nenhum? Porque preferimos duvidar de tudo, feito um Tomé governante, enquanto a tecnologia cria para empresas e governos, mundo afora, educação nova, segurança nova, transporte novo, um povo que caminha com firmeza, braços esticados do presente, construindo o futuro, em lugar de só falar dele. É hora de não se perguntar mais para onde vamos. Já chega. É tempo de se perguntar onde estamos, pois parece que não sabemos. E só assim poderemos nos mover na direção de sermos um povo feliz de verdade. 

TECH NOTES l Entenda o que é futurologia

goo.gl/2ewkZZ goo.gl/ToJBPf (*) CEO & Evangelist da Kukac Plansis, fundador do Arbórea Instituto.


O câncer se manifesta de diversas formas. Sua solidariedade também.

Desde 1971, na luta contra o câncer.

Doe: 0800 039 1441 www.doemariopenna.com.br Instituto Mário Penna

@institutomariopenna


FOTO: DIVULGAÇÃO

1 ÁGUA

SEBRAE HÍDRICO

Campanha digital lançada pela instituição incentiva cidadãos, consumidores, empresários e empreendedores a se manifestarem sobre a relação com a água em suas vidas e atividades Bia Fonte Nova

redacao@revistaecologico.com.br

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escassez de água afeta 40% da população mundial. No Brasil, ela já impacta diretamente os pequenos negócios e, em Minas Gerais, o cenário não é diferente. Levantamento feito pelo Sebrae revela que 17% das Micro e Pequenas Empresas (MPE) mineiras foram atingidas pelo desabastecimento de água em 2017. Dessas, 54% adotaram alguma ação para reduzir o consumo. O estudo mostra ainda que 40% dos empresários mineiros temem enfrentar racionamento de água ao longo deste ano. Para ajudar na conscientização em prol do uso racional nas empresas, o Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS) lançou a campanha digital #eumeimporto. O objetivo 38  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

é mobilizar a sociedade em torno do tema água, mostrando o que cada um pode fazer. “Está na hora de admitirmos a nossa relação com a água. Vamos estimular as pessoas a falarem sobre como se relacionam com esse bem vital e também como a valorizam em seu dia a dia. As frases vão refletir como somos e vivemos, seja como cidadãos, consumidores, empresários ou trabalhadores”, explica Jessica Ferrari, analista e coordenadora da campanha digital do CSS. O hotsite da campanha (www. reflexodenos.com.br) também traz dados sobre consumo de água, dicas de boas práticas e conteúdos desenvolvidos pelo CSS voltados à conscientização e orientação dos

pequenos negócios. A iniciativa se justifica. Afinal, 98% das empresas brasileiras são micro e pequenas, ou seja, fundamentais para a economia e também para o desenvolvimento sustentável brasileiro. HISTÓRIAS INSPIRADORAS Apesar do cenário de escassez hídrica preocupante em diferentes regiões brasileiras, há bons exemplos de iniciativas adotadas por micro e pequenas empresas. Muitas estão revendo práticas produtivas, investindo em tecnologias e também em soluções simples para economizar água tratada e dar um basta no desperdício e na ineficiência de uso. São muitas as histórias que podem servir de inspiração para


to desnecessário, sem impactar a eficiência da descarga, economizando dois litros de água cada vez que ela é acionada.” A horta vertical, de onde saem todos os temperos para o preparo dos sanduíches, também chama a atenção dos clientes. “Temos ainda uma composteira orgânica e, com ela, convertemos todo o nosso lixo orgânico em adubo para as plantas”, explica Thiago. Em 2016, a Chega Lá na Filó participou do Festival de Gastronomia de Pirapora e ficou em segundo lugar com o sanduíche gourmet “Burgueju”, que combina tapioca e tilápia, entre outros ingredientes. Para 2019, a meta é transferir o negócio para uma nova sede, usando contêineres e com o mínimo possível de construção em alvenaria. “Já compramos o terreno e estamos na fase de elaboração do projeto com o arquiteto. Nosso objetivo é seguir avançando. Na nova sede, queremos coletar água da chuva e produzir nosso próprio gás de cozinha por meio de um biodigestor”, conclui Thiago. 

FIQUE POR DENTRO

PANORAMA HÍDRICO  Em 2025, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), 1,8 bilhão de pessoas viverão em países ou regiões com escassez absoluta de água.  Segundo pesquisa do Sebrae, 31% dos pequenos negócios devem ser afetados pela falta de água em 2018. O impacto deve ser maior nos empreendimentos da região Centro-Oeste, onde 44% dos empresários acreditam que sofrerão com a falta d’água.  Empresários do Distrito Federal (53%) e de Goiás (55%) são os que têm maior expectativa de sofrer com a escassez hídrica.  O levantamento foi feito em outubro, com 5.867 empresários de micro e pequenas empresas de todas as unidades federativas.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

outros empreendedores. É o caso da Chega Lá na Filó, localizada no Bairro Santo Antônio, em Pirapora, no Norte de Minas. Há dois anos e meio no mercado, a hamburgueria tem como diferencial a produção de sanduíches artesanais, com o uso de ervas frescas cultivadas no próprio local, beijus (tapiocas) e “burgueju”. A sustentabilidade também está presente na decoração do ambiente, que tem mesas, cadeiras e balcões feitos de pneus e paletes usados, além de caixotes de madeira que servem de nicho para bonsais e plantas, conta o proprietário Thiago Abreu de Sá, que tem três funcionários. A economia de água é outro destaque. Thiago adotou uma medida simples, mas que garante redução média de mais de 30% na conta mensal. “Colocamos duas garrafas plásticas de um litro cada, cheias de areia dentro da caixa acoplada. Elas ocupam o espaço que seria da água, fazendo com que o reservatório se encha mais rapidamente. Com isso, evitamos o gas-

SUSTENTABILIDADE da hamburgueria de Thiago Sá também está presente na decoração do ambiente, que tem mesas, cadeiras e balcões feitos com pneus e paletes usados

ENTENDA MELHOR  A campanha digital “Eu me importo” é nacional e totalmente aberta à manifestação de cidadãos, consumidores, empresários e empreendedores a respeito da água em suas vidas e atividades empresariais.  “Eu me importo com o desperdício de água”, “Eu me importo com o reúso de água”, “Eu me importo com a poluição dos rios”, “Eu me importo com o modo com que as marcas, que compro, usam a água na produção” são alguns exemplos de frases que a iniciativa pretende captar nas redes sociais: Facebook e Instagram. As manifestações devem ser feitas via #eumeimporto.

SAIBA MAIS www.reflexodenos.com.br www.sustentabilidade.sebrae. com.br/sites/Sustentabilidade MAIO DE 2018 | ECOLÓGICO  39


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LITERATURA

O AMOR QUE SENTI TAMBÉM Em seu primeiro livro romanceado, a jornalista Leila Ferreira mistura realidade e ficção para resgatar e reconstruir o amor entre filha e mãe Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

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GA FOTO: DIVUL

ÇÃO

s primeiros acordes da música anunciam que o amor está por vir. No palco levemente iluminado do Teatro Bradesco, no coração da capital mineira, um casal de bailarinos entra em cena. A coreografia é embalada pela canção “Lamento Cubano”, do pianista e compositor cubano Bebo Valdés. O silêncio da plateia – 600 pessoas lotam o teatro – mostra que os passos dos bailarinos cativam: paixão, dor, perdão e reconciliação se mesclam às luzes, que projetam nos cantos do palco as nuances dessa dança apaixonada. Quase no fim da performance, fechei brevemente os olhos na ingênua tentativa de projetar mentalmente essa cena acontecendo, de verdade, na Cuba que ainda não conheço, em uma espécie de Tropicana Club da minha imaginação. Fui interrompido pelas palmas que se seguiram à apresentação envolvente, mais intensas quando a jornalista Leila Ferreira surgiu no palco. Acompanhada do também jornalista Afonso Borges, ela estava ali para lançar seu mais novo livro – “O amor que sinto agora” (Editora Planeta), no projeto “Sempre Um Papo”. Foi Leila quem explicou, emocionada, por que escolheu iniciar o lançamento daquela forma: “A parte do livro que mais gostei de escrever foi a cena que retrata um dos últimos encontros da personagem Ana, que narra as histórias, com seu

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amante (Héctor). Certo dia, eles, que viviam casamentos em crise, se encontram na casa dele. Em um final de tarde, quando Héctor ensinava a ela como se prepara um mojito (coquetel à base de rum), Ana diz que só ‘faltava uma música cubana para acompanhar o brinde’. Ele então coloca para tocar essa versão de ‘Lamento Cubano’, que vocês acabaram de ouvir. Ao escrever essa parte, literalmente me senti vivendo a cena. E queria trazê-la aqui para vocês”. Ela conseguiu. Mas havia ainda muitas outras emoções para Leila compartilhar conosco. E ela começou falando sobre como surgiu a ideia do livro. “Minha mãe deixou uma carta para cada um dos seus seis filhos para ser lida depois que ela morresse. E me incumbiu de entregá-las. Meu irmão mais velho morreu antes dela. Ele e todos os outros não quiseram ler as cartas. Não deram conta, pois amávamos demais a nossa mãe.” Leila continua: “Depois de criar coragem, li a minha carta aos prantos. Escrevi vários livros de não ficção. Mas sonhava em escrever um romance e queria que, de alguma forma, a carta de minha mãe estivesse nele”. Durante uma semana, a jornalista se isolou em um apartamento na Cidade Maravilhosa para escrever o tal romance. Mas o livro ainda não havia nascido dentro dela. Leila pensou até em desistir,


FICÇÃO E REALIDADE Durante seu depoimento para a plateia já sensibilizada, Leila se emocionou em vários momentos. A decisão de trazer elementos fictícios para contar as histórias foi uma tentativa de tratar com leveza assuntos que lhe eram pesados e traumáticos, como a depressão, o arrependimento de ter optado por não ter filhos, as crises de pânico e a mais difícil tarefa que a mãe a delegara: viver a felicidade que ela não teve. “Quantas frases condenei ao silêncio e arquivei no cômodo da dor – porque eram suas. Agora vejo a chance de voltar a ser filha, de desenterrar o léxico do nosso afeto e devolver a cada sílaba e a cada sentimento o direito de existir. Eu me encarrego de garantir o estoque de envelopes pardos para guardar nossas conversas”, escreveu Leila (ou Ana?) na primeira carta, que leio rapidamente quando estou na plateia. “O amor que sinto agora” não é um baú de lamen-

tos. O livro trata da ecologia do amor, do perdão, da cura de medos, aflições e angústias por meio da palavra – a forma que criadora e personagem encontraram para dominar seus mundos ainda melancólicos. E, claro, torná-los mais alegres. Volto meus olhos para Leila. Ela agora conta à plateia que, ao terminar de escrever o livro, enviou os textos para alguns amigos. Três disseram que eles estavam tristes demais. Mas o conselho do escritor português José Eduardo Agualusa foi decisivo: “Se o que está dentro de si é triste e pesado, escreva triste e pesado”. Leila e Ana compartilham o mesmo sofrimento e as mesmas alegrias. E é uma delícia essa dúvida que o livro nos traz ao não permitir que o leitor identifique qual parte é ficção ou não. É uma maneira de vivenciar os detalhes com mais lucidez. Vale ressaltar, contudo, que todo ser humano vive os prazeres e as dores de ser quem é. Ainda que traga certa melancolia, “O amor que sinto agora” nos mostra que a tristeza não é uma escolha. E mesmo que as palavras de Leila e Ana nos façam chorar, no final elas provocam uma vontade imensa de viver. Assim como a dança envolvente do início da apresentação. FOTO: DANIEL BIANCHINI

tamanha a falta de inspiração. Com o computador ligado à sua frente, e sem uma linha preenchida, resolveu suplicar à alma da sua própria mãe para pedir a Deus que lhe desse uma ideia. Ao olhar novamente para a cópia da missiva em cima da mesa, seu pedido foi realizado: iria responder, em forma de várias cartas, às últimas palavras que a mãe havia deixado em papel. E esse conjunto de textos, narrados pela personagem Ana, se transformaria no romance que sempre quis escrever.

QUEM É ELA Exímia contadora de histórias, Leila Ferreira é formada em Letras e Jornalismo, com mestrado em Comunicação pela Universidade de Londres. Durante dez anos apresentou o programa Leila Entrevista (Rede Minas de Televisão e TV Alterosa), onde entrevistou mais de 1.600 personalidades. É autora dos best-sellers “A Arte de Ser Leve”, “Mulheres, porque será que elas...” e “Que Ninguém nos Ouça”, este em parceria com Cris Guerra.

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LITERATURA

A ECOLOGIA DO AMOR “Tudo o que Ana passou, sofreu, silenciou e descobriu, da infância até os dias atuais, é relatado com uma verdade dilacerante. A personagem reconstrói sua vida através da memória e nos convida a entrar num universo tão particular e íntimo que não há como não se sentir honrado por ela ter nos dado essa permissão.” É o que diz a escritora Martha Medeiros, que assina o prefácio da obra. Esse universo íntimo inclui episódios nebulosos, como a tentativa de violência sexual por parte do pai, um casamento fracassado, a dor de saber que o avô apostava a avó em jogos. E também momentos solares: as viagens para México, Egito e França. O nascer de um novo amor, a possibilidade de ver que a vida não está presa em um congestionamento. E, por fim, que a linhagem de mulheres infelizes da família terminou com ela mesma. Encerrado o evento no teatro, que contou com depoimentos emocionantes em vídeo de irmãos de Leila – uma surpresa afetuosa arquitetada pelo amigo Diego Trávez, da DMT Palestras –, sigo para casa. Não esperei para dar o abraço que queria nesta colega jornalista, cujo trabalho acompanho há mais de uma década. A fila dos admiradores saía do foyer do teatro e acabava na calçada da rua. No caminho para casa, só conseguia pensar: “O que vou fazer com tudo isso que ouvi e vivi agora?”. Abro a porta do apartamento, tomo um banho quente e me acomodo no sofá da sala para iniciar a leitura. Noventa páginas em uma hora, contabilizo atônito. Dois dias depois, chego à última página. Fecho o livro, penso no que já vivi, e chego à conclusão de que não há cura sem dor. Vou além. Lembro da sociedade individualista em que vivemos, que julga o sofrimento do outro sem entendê-lo, que nos limita a enxergar que a nossa dor é sempre maior que a do próximo. Que a nossa cura tem de egoisticamente vir primeiro. Leila e Ana compartilham suas tristezas de forma visceral, sem vitimismo e sem medo. E é aí que está a mágica da narrativa: o fio que a conduz é a busca da “cura” na resiliência do amor. “A sensação que eu tenho ago42  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

FOTO: DANIEL BIANCHINI

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OS BAILARINOS Marcus Lobo e Francis Nunes dançando o "Lamento Cubano": sensibilidade e paixão

ra, mãe, é a de estar, finalmente, arrancando os lençóis que encobriam minha casa interior. Você tinha pavor das tempestades. Eu escolhi outros medos. Mas agora estou arejando os cômodos e expondo todos os espelhos. Que chova. Que o vento arranque cortinas. Que a tempestade entre em casa e me encharque, e deixe trincas nas paredes. O que eu não posso mais é viver acuada, estendendo lençóis para não enxergar minha tristeza nos espelhos.” É assim que o livro termina, sinalizando que o pior já passou. E passou mesmo, Leila. No céu azul de seus sentimentos, e nos de Ana também, é hora de contemplar o sol que brilha pleno lá fora.  SAIBA MAIS

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FOTO: RONALDO GUIMARÃES/CEMIG

1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE

O PROJETO-PILOTO foi desenvolvido em três reservatórios da Cemig, a exemplo de Peti, em São Gonçalo do Rio Abaixo

INTEGRIDADE ECOLÓGICA Inovação para mapear as águas de Minas Gerais: Cemig planeja investir R$ 66 milhões em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, contribuindo para a produção de conhecimento e a formação de especialistas Cristiana Andrade

redacao@revistaecologico.com.br

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nvestimentos da ordem de R$ 66 milhões, em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), estão no escopo de planejamento da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) para os próximos anos. O novo ciclo de programas englobará os temas água, comunidade, peixes e florestas. Cerca de 95% da energia elétrica produzida pela Cemig vem de matriz hidráulica, ou seja, de fonte renovável. Já a matriz energética brasileira tem 67%

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de sua fonte no sistema hidráulico. Por isso, a interface entre os ecossistemas é tão importante, assim como valorizar os rios e suas biodiversidades. Dos novos projetos de PD&I, quatro estão relacionados à água; quatro a peixes; dois ao tema socioeconômico; e dois aos ambientes florestais. Esses trabalhos integram o Programa de P&D da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e devem ser desenvolvidos pelas empresas do setor de ener-

gia elétrica, de forma direta ou mediante repasse de recursos financeiros para a agência. “A Cemig, com o papel de liderança que desempenha no setor elétrico, prima por fazer o investimento diretamente com as instituições parceiras”, pontua o superintendente de Gestão Ambiental da companhia, Enio Fonseca. A Cemig já investiu R$ 43 milhões em 24 projetos de PD&I no Estado. Todos com interface entre geração de energia elétri-


RAIO-X DAS BACIAS Um dos projetos é uma ferramenta para lá de especial, que pode mudar o curso da gestão das águas no Estado. O projeto “Utilização do Índice de Integridade Ecológica para Classificar a Qualidade de Ambientes Aquáticos de Minas Gerais” dá um passo à frente da simples análise físico-química da água e avança ao propor um verdadeiro raio-x sobre o ambiente de uma bacia hidrográfica ou de um rio específico. A avaliação proposta abrange todo o ecossistema aquático ali presente, tanto animal (como os macroinvertebrados e peixes) quanto vegetal (plânctons e macrófitas, etc). A metodologia do Índice de Integridade Ecológica (IIE) foi desenvolvida pelo Centro de Inovação e Tecnologia Senai/Fiemg (CIT), por meio do Instituto Senai de Tecnologia em Meio Ambiente (ISTMA) – com financiamento da Cemig, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e Aneel. De acordo com Fonseca, o objetivo da Cemig é ir sempre além da simples “obrigação” e formalidade de cumprir as normativas da Aneel e dos órgãos ambientais: “A empresa quer compartilhar todo o conhecimento produzido para a sociedade e aplicar boa parte das metodologias e inovação propostas pela rede parceira”, frisa. GRANDE POTENCIAL O desenvolvimento do projeto-piloto do IIE se deu em três reservatórios da Cemig em Minas: Peti (São Gonçalo do Rio Abaixo), Cajuru (Divinópolis) e Rio de Pedras (Itabirito), e suas

FOTO: HELENA FERREIRA

ca e saúde ambiental de rios, comunidades aquáticas, florestas e sociedade.

COLETA de amostras no Reservatório de Rio de Pedras (MG): classificação da qualidade da água é essencial para definir ações de preservação e manutenção dos ecossistemas

Dos novos projetos que receberão investimentos da Cemig, quatro estão relacionados à água; quatro a peixes; dois ao tema socioeconômico; e dois aos ambientes florestais respectivas bacias de contribuição. O IIE levou em consideração seis itens: qualidade do hábitat, estado trófico (mede o nível de nutrientes no manancial), qualidade da água, integração da biocenose (conjunto de populações que coexistem em determinada região), toxicidade da água e toxicidade de sedimentos. A metodologia do IIE foi desenvolvida em bacias-piloto, com a vantagem de poder ser replicada nas demais bacias hidrográficas mineiras e de todo o território nacional. Esse é, inclusive, de acordo com a pesquisadora em Tecnologia do CIT/ ISTMA e coordenadora do projeto IIE, Helena Lúcia Ferreira, o grande potencial do método, que também é utilizado pelos setores de mineração, pelo agronegócio e instituições governamentais, como o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e a Copasa, bem como pelos comitês de bacias hidrográficas.

“O ganho de uma metodologia como essa é o fato de ela incorporar a avaliação das condições ecohidromorfológicas do hábitat, dos sedimentos e da composição e estrutura das comunidades aquáticas”, explica a coordenadora do projeto. Com essas informações completas, fica mais fácil compreender a capacidade de suporte dos ambientes aquáticos aos impactos causados pela presença ou atividade humana, bem como a proposição, priorização e implantação de ações de manejo para assegurar os serviços ecossistêmicos, a saúde das populações, a sustentabilidade e a saúde do ecossistema. O trabalho de pesquisa foi desenvolvido em quatro anos e meio. Recém-finalizado, foi transformado no livro Ambientes Aquáticos em Minas Gerais – Qualidade Ecológica, disponível para download no link goo. gl/P6hVkt.

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MAIO DE 2018 | ECOLÓGICO  45


1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE FIQUE POR DENTRO FOTO: EULER JÚNIOR/CEMIG

“Os instrumentos são de fundamental importância, pois nos dão uma visão ampliada dos locais em que estamos atuando. E a intenção é termos uma atuação sinérgica com os demais atores, em busca de resultados e benefícios coletivos.”

POR QUE A CEMIG INVESTE EM PD&I? No processo de desenvolvimento socioeconômico, os projetos de infraestrutura para geração de energia elétrica - considerados de utilidade pública -, apesar de planejados em benefício da sociedade, e respeitando os ecossistemas, resultam em transformações ambientais, econômicas e socioculturais. 

ENIO FONSECA, superintendente de Gestão Ambiental da Cemig

Nesse sentido, o represamento das águas determina alterações nas suas características físicas, químicas e biológicas e há necessidade de implementar ações para avaliá-las, monitorá-las e mitigá-las. O objetivo é promover o uso sustentável dos recursos ambientais, reduzindo os efeitos da degradação ambiental.

BENEFÍCIOS COLETIVOS Na visão de Enio Fonseca, o trabalho apresenta ganhos extraordinários para a sociedade. A Cemig, conforme explica, é usuária da água para geração de energia, mas também impactada por problemas causados por outros agentes e usuários. “Como parte de nossa responsabilidade socioambiental, e não apenas para cumprir as exigências da Aneel, que regula o setor, e dos órgãos ambientais, entendemos que é nosso papel nos inserirmos de forma responsável nos ecossistemas onde estão nossos reservatórios, bem como produzir e compartilhar conhecimentos de pesquisa, desenvolvimento e inovação com a sociedade. Afinal, somos uma empresa pública que utiliza de forma criteriosa os recursos públicos, visando melhorias socioambientais e econômicas para todos”, pontua. Para Fonseca, a adoção de metodologias como o Índice de Integridade Ecológica por mais atores da sociedade é uma forma de todos dialogarem pelo bem 46  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

comum. “Os instrumentos são de fundamental importância, pois nos dão uma visão ampliada dos locais onde atuamos. E a intenção é termos uma atuação sinérgica com os demais atores, em busca de resultados e benefícios coletivos.” TIPIFICAÇÃO DOS RIOS Outra vertente do trabalho capitaneado pela Cemig foi a classificação dos rios mineiros por tipificação. “Descobrimos que temos 21 tipos de rios em Minas, levando em consideração aspectos como: geologia, tipologia, litologia, altimetria, tipificação de terrenos e geoprocessamento. Isso significa que se quisermos comparar um rio com outro, não precisamos monitorar tudo e todos. É possível fazê-lo usando essa metodologia”, salienta a coordenadora do Núcleo de Qualidade de Água da Cemig, Marcela David. Além de aperfeiçoar o acesso a informações detalhadas e de qualidade das bacias hidrográficas, a pesquisa põe em prática a Deliberação Normativa

Para tanto, é primordial propor estratégias complementares às usualmente adotadas pela legislação ambiental para a gestão das águas. Entre elas, o uso de metodologias inovadoras que considerem os múltiplos fatores que condicionam a estrutura e o funcionamento dos ambientes aquáticos e interferem na dinâmica de sua integridade ecológica. 

Na avaliação do estado de preservação de um corpo de água, as respostas derivadas do uso de conceitos ecológicos podem ser mais acuradas comparativamente às dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos, como previstos pela resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente 357/05 e pela Lei 9.433/97. 


FOTO: HELENA FERREIRA

001/2008, do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) e do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH). Essa norma prevê a ampliação e o aprimoramento de ferramentas para avaliar e monitorar corpos d’água, incorporando novas tecnologias e sugestões para tratar problemas associados ao uso dos recursos hídricos. “O projeto possibilitou o desenvolvimento e a adequação de instrumentos inovadores aplicados à gestão dos ambientes aquáticos, considerando as ecorregiões aquáticas, a tipificação e a avaliação das condições ecológicas de cursos de água e de reservatórios em zonas tropicais, para medir a ‘saúde’ do ecossistema aquático e não somente a qualidade das águas”, acrescenta a pesquisadora Helena Lúcia Ferreira. Essas novas ferramentas metodológicas permitem, ainda, economia e otimização de monitoramento. E, consequentemente, de recursos. “Num ano em que monitoramos de forma aprofundada o local, se for detectado algum problema, é possível saná-lo no passo seguinte. Ou até mesmo identificar quais agentes estão impactando negativamente aquele manancial e sugerir que os órgãos públicos de fiscalização atuem pontualmente”, explica Marcela David, lembrando que esse tipo de análise global da água já é feito na Europa, mas ainda é bem raro por aqui. O foco da Cemig agora é a validação das novas metodologias junto aos órgãos públicos ambientais, para começar a aplicá-las de fato. “Quando obtivermos o aval, vamos incorporar todos os dados coletados ao nosso Sistema de Informação de Qualidade da Água (Siságua), um banco de dados aberto à consulta de todo cidadão interessado. Basta acessar www2.cemig.com.br/ SAG”, conclui Enio Fonseca.

RESERVATÓRIO Cajuru, em Divinópolis (MG)

Parceria e expertise A Cemig é responsável por 43 reservatórios de água para a geração de energia elétrica em Minas. Além de monitorar vazões e a qualidade físico-química em cerca de 200 pontos, a empresa também tem se dedicado a avaliar e ajudar a manter a qualidade ambiental de todos os ecossistemas onde estão inseridos os seus reservatórios. Para isso, tem desenvolvido projetos (incluindo o Índice de Integridade Ecológica) em parceria com centros de pesquisa e universidades, como as federais de Lavras (Ufla), Viçosa (UFV), Ouro Preto (Ufop), São João del-Rei (UFSJ), Minas Gerais (UFMG); Pernambuco (UFPE); Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec); PUC Minas; as universidades estaduais de MG (Uemg) e do Rio de Janeiro (Uerj), entre outros. VERTENTE SOCIAL Os projetos englobam desde pesquisa para controle da qualidade das águas de determinado rio, como o São Francisco e o Grande, passando pelo desenvolvimento de tecnologias e metodologias para revegetar áreas erodidas até o detalhamento do processo de migração e local de desova de espécies

de peixes do Rio Jequitinhonha. Na vertente social, um dos projetos de destaque é o que busca desenvolver ferramentas para monitorar e avaliar a sustentabilidade econômica, social e ambiental dos municípios que estão em área de influência de hidrelétricas da Cemig. Segundo o superintendente de Gestão Ambiental, Enio Fonseca, o processo é complexo e parte, inicialmente, da identificação de problemas que a empresa tem em campo e/ou em busca de melhorias de sua atuação no setor. “A partir daí, após identificadas as necessidades de onde atuar, lançamos editais para que interessados do segmento científico-acadêmico apresentem projetos e também estamos abertos a receber suas propostas que tenham a ver com nosso negócio.” Os resultados alcançados nos últimos anos foram espetaculares do ponto de vista ambiental, ressalta Fonseca, com redução de gastos, produção de conhecimento e ainda ações práticas para melhoria da qualidade da água, da biodiversidade e de florestas.  SAIBA MAIS www.cemig.com.br

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - HIDROPONIA ALFACE hidropônica está entre as culturas de maior destaque no Brasil

LAVOURA HÍDRICA

Limpa e menos impactante ao meio ambiente, a hidroponia também se destaca pela alta produtividade, menor suscetibilidade a pragas e maior durabilidade dos vegetais após a compra pelo consumidor Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

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erduras, hortaliças e frutas. São muitas as opções à disposição de quem opta por consumir alimentos hidropônicos. Técnica milenar na qual as plantas se desenvolvem na água, rica em nutrientes, a principal característica da hidroponia é o cultivo sem solo. As plantas crescem e se desenvolvem em soluções balanceadas e especialmente preparadas para nutri-las, circulando entre suas raízes e assegurando todos os elementos necessários ao desenvolvimento de cada cultura, tais como nitrogênio, potássio, fósforo, magnésio e outros. A produção geralmente é feita em estufas, o que também ajuda a proteger as plantas do ataque de pragas e de parasitas e bactérias 50  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

presentes no solo, além de reduzir os efeitos da variação climática e garantir a possibilidade de se produzir ao longo de todo o ano. Em nível mundial, a consolidação da hidroponia em escala comercial ocorreu na década de 1980. Países como Canadá e Austrália investiram significativamente nessa técnica de cultivo e, atualmente, o maior produtor global é a Holanda. No Brasil, sua popularização se deu a partir dos anos 1990, tendo o estado de São Paulo, desde então, como o seu maior centro produtor. Na região Nordeste, a hidroponia abrange desde a produção de verduras para consumo humano até a de forragem animal por pequenos produtores da Caatinga, assegurando trabalho, renda e

melhor qualidade de vida a inúmeras famílias. No Rio Grande do Sul, por sua vez, pecuaristas sustentam rebanhos de gado holandês com pastagem hidropônica e se destacam ainda com a produção de mudas de fumo. ORIGEM GREGA O termo hidroponia deriva do grego: hydro (água) e ponos (trabalho). É considerada uma técnica de cultivo limpa, com emprego de tecnologias modernas, de forma mais flexível e ágil. Conforme especialistas, é possível cultivar plantas de qualquer espécie, desde verduras e hortaliças de fruto – como tomate, berinjela e pimentão –, até mudas de diferentes espécies frutíferas e nativas.


FOTOS: SHUTTERSTOCK

FIQUE POR DENTRO

COMO AS PLANTAS SE DESENVOLVEM?

A

– Na fotossíntese, as plantas usam a energia luminosa do sol para transformar o gás carbônico (presente no ar) e a água (absorvida pelas raízes) em oxigênio e açúcar, produzindo assim sua própria fonte de energia.

B

– Na respiração, as plantas consomem oxigênio e eliminam gás carbônico. Por meio das raízes, absorvem a água que contém uma série de nutrientes liberados pelo solo e pela matéria orgânica que o compõe, ou seja, plantas não se alimentam diretamente de material orgânico, mas sim da solução nutritiva que retiram do solo.

CULTIVO de morango sem agrotóxicos já é uma realidade no LabHidro/UFSC

Entre as técnicas de cultivo hiNa adubação, além de produtos dropônico também há variações. prontos disponíveis no mercado, As raízes podem estar suspensas os mais usados em hidroponia em meio líquido ou apoiadas em são macronutrientes, entre eles substrato inerte (areia lavada, por nitrato de cálcio e nitrato de poexemplo). Outro diferencial é a tássio, e também micronutrienqualidade da tes (sulfato de água: quanto O termo hidroponia deriva manganês, zinmelhor, menos do grego: hydro (água) co, cobre etc). problemas para e ponos (trabalho). É quem produz REFERÊNCIA e menos ris- considerada uma técnica NACIONAL cos para quem O primeiro lade cultivo limpa, com consome os aliboratório de emprego de tecnologias hidroponia do mentos. Análises quíBrasil, o LabHimodernas, de forma micas da água dro (www.lamais flexível e ágil (quantidade de bhidro.cca.ufsc. nutrientes e sabr), é vinculado linidade) e microbiológicas (coli- ao Centro de Ciências Agrárias formes fecais e patógenos) devem da Universidade Federal de Sanser feitas com frequência, pois são ta Catarina (UFSC). Responsável fundamentais para a confiabilida- pela criação de tecnologias na de de todo o processo de produ- área, consolidou-se como uma ção hidropônica. das referências no Brasil e tam-

C

– Na hidroponia, as plantas são cultivadas flutuando em um reservatório com água (sistema floating), em um meio inerte, com brita, areia e outros materiais ou alojadas em calhas e tubos (tubetes), recebendo a solução nutritiva necessária ao seu desenvolvimento. Podem, ainda, ser cultivadas suspensas no ar, tendo como sustentação canos de PVC e recebendo água borrifada (as chamadas aeropônicas).

bém no exterior, atuando na pesquisa e extensão sobre o cultivo hidropônico e promovendo interface entre produtores, empresas e universidades. Este ano, a horta hidropônica do LabHidro está completando 20 anos de atividades. Desde 1998, foram promovidos mais de 50 cursos, além de 11 congressos e três simpósios nacionais. É exemplo positivo de como um trabalho bem feito, iniciado a partir de uma horta de 300m2, serviu de inspiração para remodelar o setor de hortifrútis no Brasil.

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MAIO DE 2018 | ECOLÓGICO  51


FOTO: DIVULGAÇÃO AGRILIFE

1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - HIDROPONIA

PRÁTICA de cultivo hidropônico em bancadas também garante mais conforto e melhoria da ergonomia para o produtor

Fique por dentro l Técnica de cultivo limpa e menos impactante ao

meio ambiente, a hidroponia também se destaca, entre outros aspectos, pela alta produtividade, menor suscetibilidade à ocorrência de pragas, melhoria da ergonomia e conforto para os produtores, graças ao trabalho em bancadas. Vale ressaltar, ainda, a maior durabilidade dos vegetais após a compra pelo consumidor final – dentro e fora da geladeira –, uma vez que a maioria deles permanece com suas raízes. l A hidroponia teve grande impulso a partir da

Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Na ocasião, as Forças Armadas norte-americanas se apropriaram da tecnologia para oferecer verduras e legumes frescos em porta-aviões, submarinos, desertos, bases militares e regiões polares. l Os primeiros cultivos em escala comercial

surgiram após o conflito, em países como Itália, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Suécia, Rússia e Israel. Em 1965, o inglês Allen Cooper criou um sistema prático, simples e que não exigia tanto volume de água. Tratava-se de uma primeira versão 52  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

do Nutrient Film Technique (NTF, na sigla em inglês). l Os sistemas hidropônicos são classificados quanto

à movimentação da solução nutritiva em estáticos ou dinâmicos, abertos ou fechados. No sistema estático, a solução nutritiva permanece estática junto ou próxima às raízes. l A maioria dos sistemas usados na produção é

do tipo dinâmico, nos quais há circulação forçada de água ou de ar para aeração da solução: floating, sub-irrigação, NFT, gotejamento e aeroponia. O mais difundido atualmente é o NFT, no qual um temporizador aciona a moto-bomba de forma intermitente, em intervalos pré-definidos (de 10 em 10 minutos, por exemplo), enquanto houver luz do dia. Como não há substrato entre as raízes, a solução circula e volta rapidamente ao reservatório. l Outra opção, que dispensa o uso de energia

elétrica, é o sistema de bancadas individuais, criado pelo LabHidro/UFSC. Nesse modelo, a energia solar é usada para o funcionamento de eletrobombas de pequeno porte. FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Laboratório de Hidroponia-UFSC, Embrapa e Sebrae.



ESTANTE VERDE

Luciano Lopes

As simpatias de Barreto Algum dia você pensou sobre a possibilidade de encontrar o amor de sua vida usando apenas algumas palavrinhas mágicas? Se pensou, então não pode deixar de ler “O Livro das Simpatias”, do escritor mineiro Antonio Barreto (foto abaixo). A obra traz uma coletânea de simpatias em um texto poético, com surpreendentes recursos literários que levam o leitor a conhecer os muitos rituais supersticiosos que perpassam nossa tradição oral e escrita. Um dos destaques do livro é a simpatia que ele escreveu para São Longuinho, uma de suas primeiras, logo após ter encontrado um guardachuva que cismou em sumir. A partir daí, não deu outra. A criatividade fez surgir no papel dezenas de outros textos sobre esses pequenos rituais que todo ser humano faz para conseguir o que deseja.

As belas ilustrações do designer gráfico Guili Seara também dialogam poeticamente com o texto de Barreto, que por mais de dois anos foi colunista lunar da Revista Ecológico. Natural de Passos, cidade do Sul/ Sudoeste de Minas, logo depois mudou-se para Belo Horizonte, onde estudou História, Letras e Engenharia Civil. Mas o coração estava mesmo nos livros: Barreto já escreveu mais de 40, e venceu várias premiações. Com “O Livro da Simpatia”, o autor nos mostra, mais uma vez, o seu jeito simpático e criativo de contar histórias que nos são afetivas. “O LIVRO DAS SIMPATIAS” 72 págs. / R$ 40 / Editora BAOBÁ

COMO OS ANIMAIS SALVARAM A MINHA VIDA Luisa Mell 224 págs. / R$ 34,90 globolivros.globo.com

AGRICULTURA IRRIGADA SUSTENTÁVEL NO BRASIL: Identificação de Áreas Prioritárias - FAO/MAPA/ANA www.fao.org/3/a-i7251o.pdf

Com um instituto que leva seu nome, trabalho pelos animais reconhecido internacionalmente e a admiração de milhares de pessoas, Luisa Mell passou por um longo e turbulento caminho. No livro, com honestidade e sem meias-palavras, ela escancara passagens polêmicas de sua vida e de sua luta pelos animais ao se envolver em brigas com famosos. Luisa detalha, ainda, como se curou de uma depressão profunda ao ajudar os animais.

O livro digital apresenta um panorama de áreas com potencial para o fomento da agricultura irrigada no Brasil por meio do uso adequado e sustentável das águas superficiais e subterrâneas. O estudo aponta que o país possui mais de 4,5 milhões de hectares que podem ser irrigados, com menor investimento e risco, por parte dos governos ou da iniciativa privada. E, se bem planejada e executada, a irrigação é capaz de contribuir sustentavelmente para o fomento da produção agropecuária. 

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

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ENCARTE ESPECIAL (IV)


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ENCARTE ESPECIAL (IV)

Tuberculose Eugênio Goulart

redacao@revistaecologico.com.br

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tuberculose é uma doença causada pelo risco de adquirir o mal, pois convivem de perto Mycobacterium tuberculosis, ou bacilo de com doentes contagiantes. Foi assim que a nova Koch, que atinge preferencialmente os pul- capital mineira recebeu grandes clínicos e cirurmões. No passado era conhecida também por tí- giões, vindos de vários estados brasileiros, que sica, e os pacientes acometidos, como héticos, escolheram a diminuta cidade para trabalhar. ou hécticos. Foi um grande flagelo para a huma- Esse foi um dos motivos da criação da Faculdade nidade e por muitos séculos vitimou incontável de Medicina de Belo Horizonte, já em 1911, por número de pessoas. A queda da mortalidade pela ilustres médicos, quase todos tuberculosos. tuberculose ocorreu mesmo antes do tratamento Até mesmo o famoso compositor Noel Rosa específico, pois a melhoria das condições de vida morou na jovem cidade, entre os anos de 1934 e a partir do início dos anos de 1900 diminuiu a pro- 1935, numa frustrada tentativa de curar sua tupagação da doença, assim como prolongou a vida berculose, adquirida na zona boêmia carioca. De daqueles que sofriam do mal. Além disso, ocor- Belo Horizonte, escreveu para seu médico, Edgar reu também um processo de Graça Mello, que residia no seleção natural ao longo de Rio de Janeiro: Atualmente, é grande o milênios, ou seja, indivíduJá apresento melhoras pois arsenal de medicamentos os mais suscetíveis morriam, levanto muito cedo e deitar geralmente precocemente, e apropriados, e seguramente às nove horas para mim é um assim tendiam a não deixar brinquedo. A injeção me toro paciente se cura com descendentes, que poderiam tura e muito medo me mete o tratamento, mesmo que herdar menor capacidade de mas minha temperatura não resistência à bactéria. este tenha que ser mantido passa de trinta e sete. [...] Na época em que não havia Creio que fiz muito mal em por vários meses. Isso desprezar o cigarro pois não tratamento para essa infecpermitiu a redução da há material para o exame de ção também não havia o esescarro [...] tigma atual. Uma boa solução incidência da tuberculose Guimarães Rosa viveu para a inevitabilidade do mal no Brasil numa época em que o trataera considerá-lo, por algum mento consistia apenas em aspecto, belo, já que atingia repouso, alimentação refora todos, ricos e pobres. Com efeito, nos anos de 1800 existiu a moda elegan- çada, resguardo contravento pelas costas e ares te do perfil esquio, da cútis pálida, das olheiras de montanha. O tratamento específico começou profundas e do ar soturno. E, lógico, uma tosse a partir da década de 1940, com o emprego da estreptomicina, um dos primeiros antibióticos constante fazia parte do quadro. Por um período, acreditou-se que o clima de utilizados em seres humanos. Atualmente é granmontanhas curava a tuberculose. Ficaram fa- de o arsenal de medicamentos apropriados, e semosos os sanatórios nos Alpes suíços, para onde guramente o paciente se cura com o tratamento, eram encaminhados os enfermos de situação mesmo que este tenha que ser mantido por vários econômica privilegiada. No Brasil, cidades de meses. Isso permitiu a redução da incidência da clima frio eram também muito procuradas. Belo tuberculose no Brasil, porém ainda estamos lonHorizonte, à época de sua fundação, em 1897, ge da resolução do problema. No conto Corpo Fechado, do livro Sagarana, com seu clima ameno e situada a mais de 800 metros de altitude, tinha fama de ser um local Guimarães Rosa faz referência à tuberculose, inipropício para a sobrevida dos tuberculosos. E os cialmente referindo-se à doença em animais, no médicos sempre estiveram entre os grupos de caso um pangaré raquítico da raça Tordilho, que 56  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018


Mycobacterium tuberculosis: a propagação da doença diminuiu no início dos anos 1900 os ciganos queriam vender como se fosse sadio: Depois, vieram pra mim, e me ofereceram dois cavalinhos: um pica-pau assim héctico, tordilho, e um matungo ruço, passarinheiro e de duas crinas... No conto Campo Geral, do livro Manuelzão e Miguilim, o garoto Miguilim se preocupa se estaria sofrendo de tuberculose e busca apoio na cozinheira Rosa, há tempos agregada à sua casa, como uma autêntica pessoa da família. Miguilim pergunta a Rosa: - “Rosa, que coisa é a gente ficar héctico?” - “Menino, fala nisso não. Héctico é tísico, essas doenças, derrói no bofe, pessoa vai minguando magra, não esbarra de tossir, chega cospe sangue...” Miguilim deserteia para a tulha, atontava. De fato, quando não havia tratamento, a infecção provocava cavernas pulmonares, por isso o emprego da expressão “derrói no bofe”. E, como referido, o emagrecimento era progressivo, a tosse persistente e os escarros sanguinolentos. Na sequência do texto anterior são descritos mais detalhes sobre a tuberculose e também sobre o personagem seo Deográcias, misto de professor, conselheiro e raizeiro, o único alfabetizado e com maiores conhecimentos terapêuticos no remoto Mutum, o pedacinho de sertão onde moravam: Miguilim corria, tinha uma dor de um lado. Esbarrava, nem conseguia ânimo de tomar respiração. Não queria aluir do lugar – a dor devia de ir embora. Assim instante assim, comecinho dela, ela estava só querendo vindo pousando – então num átimo não podia também desistir de nele pousar,

e ir embora? Ia. Mas não adiantava, ele sabia, deu descordo. Já estava héctico. Então, ia morrer, mesmo, o remédio de seo Deográcias não adiantava. No mesmo conto Campo Geral, mais uma citação de “héctico” e a descrição do emagrecimento extremo, da falta de recursos nas brenhas onde moravam Miguilim e sua família, do risco de uma simples febre complicar para um mal maior e da opção pelo tratamento à base das plantas medicinais disponíveis. Isso tudo, pela peculiar interpretação de uma criança, e junto com palavras inventadas e traduções literais de expressões sertanejas, que infelizmente estão se perdendo ao longo dos tempos, por desuso, e de uma maneira que somente Guimarães Rosa foi capaz de reportar com tamanha perfeição: - Miguiliiim!... A Chica gritava dessa forma, feito ela fosse dona dele. - ... Miguilim, vem depressa, Mamãe, Papai tá te chamando! Seo Deográcias vai te olhar... Seo Deográcias ria com os dentes desarranjados de fechados, parecia careta cã, e sujo amarelal brotava por toda a cara dele, um espim de uma barba. – “A-há, seu Miguilim, hum... Chega aqui.” Tirava a camisinha. - “Ahã... Ahã... Está se vendo, o estado deste menino não é p’ra nada-não-senhor, a gente pode se guiar quantas costelinhas Deus deu a ele... Rumo que meu, eu digo: caute-

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MAIO DE 2018 | ECOLÓGICO  57



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FOTO: DAVID MONTGOMERY

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MEMÓRIA ILUMINADA – ANITA RODDICK

A FUNDADORA da The Body Shop: "O mundo empresarial precisa encontrar a cordialidade e rejeitar o que é obsceno"


Anita PRESENÇA DE

J. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: DIVULGAÇÃO

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la dizia que ninguém tinha a coragem de falar de empreendedorismo como sobrevivência e defendia que era exatamente ele que alimentava o pensamento criativo. Que fazer campanhas e bons negócios não era apenas se opor a práticas destrutivas ou abusivas dos direitos humanos. E, sim, apresentar soluções sustentáveis. Ela foi visionária. No início da década de 1980, reconheceu a importância do meio ambiente e das pessoas para seu negócio. Em 1989, participou de um encontro de tribos indígenas na Amazônia, em Altamira (PA), para protestar contra um projeto hidrelétrico que inundaria milhares de hectares de floresta tropical. Foi uma das primeiras empresárias a investir em projetos para estimular as comunidades tradicionais a desenvolverem atividades de subsistência respeitando a natureza. Como fundadora da The Body Shop, uma das maiores empresas de cosméticos do mundo, juntou forças com o Greenpeace e organizações internacionais em uma campanha contra a ExxonMobil. A gigante do petróleo se recusava a aceitar um vínculo direto entre a queima de combustíveis fósseis e o aquecimento global, virando as costas para alternativas renováveis como as energias solar e eólica. Esta mulher, filantropa e mãe de duas meninas, também entrou na luta contra a caça às baleias, na década de 1980. Coletou mais de 4 milhões de assinaturas em suas lojas para defender o não uso de testes de cosméticos em animais. Fez doações a mais de 180 instituições de caridade em todo o mundo. Ela foi além: contribuiu para as mulheres se sentirem cada vez mais lindas. Estamos falando de Anita Roddick, nascida em Littlehampton, Inglaterra. Filha de imigrantes italianos, viu crescer em si um forte sentimento de indignação frente às injustiças do mundo. E esse

ANITA RODDICK durante protesto contra a realização de testes da indústria cosmética com animais: luta ecológica

foi o grande incentivo para criar uma organização que fosse rentável e, ao mesmo tempo, contribuísse para transformar o mundo em um lugar melhor. Mesmo tendo sido comprada pela Natura, a The Body Shop sempre é citada como referência em sustentabilidade. Anita Roddick faleceu aos 65 anos, vítima de uma hemorragia celebral, após complicações de uma hepatite C. Mas deixou um grande legado ao ser exemplo de como administrar uma empresa com foco nas relações humanas. Relembre conosco, a seguir, algumas de suas frases mais célebres:

2 MAIO DE 2018 | ECOLÓGICO  61


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MEMÓRIA ILUMINADA – ANITA RODDICK

l VIAJAR “Eu não gostava de minha cidade. Ela era velha e chata. Eu queria viajar. Sempre que via um avião, eu ficava encantada, porque ninguém viajava quando eu era jovem. Recebi treinamento para ser professora. Mas, para mim, educação não era ir à escola ou à universidade. Era viajar. Viajei por todo o mundo durante três anos. Vivi na Polinésia, na África, no Japão, na China. Isso me deu muito conhecimento e compreensão da vida.” l VELHICE “A parte mais emocionante da minha vida é agora – a velhice. Quanto mais velho você fica, mas radical se torna.” l HONESTIDADE X GANÂNCIA “Todas as grandes empresas hoje têm medo da nova linguagem dos negócios, porque estão totalmente voltadas para ganhar dinheiro para os acionistas. Quando você fala de alternativas – de ser honesto, transparente, aberto –, as pessoas perguntam: e como vamos ganhar dinheiro? Mas será que a única forma de ganhar dinheiro é sendo ganancioso?”

“Precisamos redefinir o lucro passando a medir o progresso com base no desenvolvimento humano, e não no produto nacional.” l CORDIALIDADE “O mundo empresarial precisa reencontrar a cordialidade e rejeitar o que é obsceno, como são obscenas, por exemplo, as remunerações dos CEOs. No meu ponto de vista, pecado é demitir milhares de pessoas e aceitar em seguida um bônus de 100 milhões de dólares. Deveria ser incluída no léxico empresarial a palavra frugalidade. Faria bem às empresas na mesma proporção em que o esbanjamento faz mal.” l ESPÍRITO CRIATIVO “Empreendedores odeiam hierarquia. Eles tentam destruí-la sempre que podem. Eles se irritam com planos de cinco anos, de um ano, qualquer plano. Eles não entendem por que essas coisas existem. Eles odeiam processos e todas as coisas de que os homens de negócios parecem gostar. Mas precisam dessas coisas. Precisam de um senso de propósito no negócio, de um plano, de descrições de cargos. Então, encontre alguém que faça essas coisas por você e mantenha o espírito criativo em ação. E apodere-se daquela que é a mais importante das ferramentas de liderança: a comunicação. Seja capaz de se comunicar com paixão, não apenas por meio de transparências aborrecidas que ninguém irá ler. Elimine essas coisas. Eu as odeio.”

“Se você pensa que é pequeno demais para ter qualquer impacto no mundo, tente dormir com um pernilongo no quarto.”

l REVOLUÇÃO “Fizemos coisas que nenhuma outra empresa faria. Chamamos índios caiapós, ativistas de direitos humanos e teólogos da libertação para conversar conosco. Permitíamos que nossos funcionários trabalhassem meio dia por semana em projetos voluntários. Para eles, a The Body Shop era um lugar onde podiam ter um trabalho, ser bem pagos e aprender sobre o mundo. Tudo na empresa era anárquico e revolucionário. Eu jamais me interessaria em ser parte de uma organização aborrecida, hierarquizada e gerida por homens que adotam um sistema militar.” l ESPERANÇA “Independentemente do que você faça, seja diferente. Este foi o aviso que minha mãe me deu e eu não consigo pensar em um aviso melhor para um empreendedor. Se você for diferente, você se destacará.” l TRANSFORMAÇÃO “Não precisamos apenas mudar o sistema, temos de mudar a nós mesmos.” 62  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

l EDUCAÇÃO “O que eu não gosto é do sistema de ensino, porque ele não mostra aos estudantes a realidade do ambiente de trabalho, ou seja, os viciados em drogas, os romances clandestinos, os dilemas humanos. Mas as pessoas com algo a dizer (e disposição para pôr em prática) serão sempre bem-vindas.” l SUSTENTABILIDADE “As empresas têm o poder de fazer o bem. É por isso que a Declaração de Missão da The Body Shop se abre com o compromisso principal de dedicar nossos negócios à busca de mudanças sociais e ambientais. Usamos nossas lojas e nossos produtos para ajudar a defender os direitos humanos e a natureza.” 



1 PREMIAÇÃO NACIONAL

VEM AÍ O...

PRÊMIO HUGO WERNECK 2018 “A Sustentabilidade na Floresta, no Campo e na Cidade - De Chico Mendes a Chico Bento” será o tema da nona edição da maior premiação ambiental do Brasil. O homenageado deste ano será o cartunista Mauricio de Sousa

E

stão abertas desde o último dia 22 - “Dia Internacional da Biodiversidade” -, as inscrições e indicações para a nona edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”. Sob o tema “A Sustentabilidade na Floresta, no Campo e na Cidade” – de Chico Mendes 64  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018

a Chico Bento”, o prêmio irá reconhecer projetos, instituições e personalidades que atuam e contribuem para reintegrar o homem à natureza, nos diversos ambientes em que vive, por meio do respeito e do conhecimento dos processos naturais que asseguram a sobrevivência da humanidade.

E que podem garantir um futuro mais sustentável e com mais qualidade de vida para todos. “A ideia de reunir em um mesmo tema a floresta, o campo e a cidade é uma oportunidade de identificar, incentivar e reconhecer ações e iniciativas ambientalmente responsáveis que


preservem a natureza e possam ser replicadas nesses locais”, afirma o jornalista e ambientalista Hiram Firmino, coordenador da premiação. SÍMBOLOS NACIONAIS Este ano, a preservação ambiental no Brasil estará representada no prêmio por dois símbolos nacionais, que coincidentemente têm o mesmo nome: o ambientalista Chico Mendes e o personagem em quadrinhos Chico Bento, criado por Mauricio de Sousa. Em 2018 completam-se 30 anos da morte, por assassinato, do ambientalista e líder amazônico. Natural de Xapuri, no Acre, Francisco Alves Mendes Filho passou a infância e a juventude ao lado do pai, lutando a favor dos seringueiros da Amazônia, cuja subsistência dependia da preservação da floresta. Como a atividade extrativa na Amazônia era pautada por relações de exploração pelos grandes proprietários e invasores de terra, causando grande miséria na região, o sonho de Chico Mendes consistia em mudar esta realidade, buscar mais direitos para os trabalhadores e preservar, de maneira sustentável, a Floresta Amazônica. Seu trabalho ambiental e político em prol da natureza foi reconhecido pela ONU, em 1988, quando recebeu o “Prêmio Global 500”. CHICO BENTO Mais ecológico personagem de Mauricio de Sousa, Chico Bento é fruto das observações de seu criador sobre o homem do campo. Seu nome foi emprestado de um tio-avô do desenhista, que ele não chegou a conhecer. Chico Bento foi criado para incentivar os leitores a preservarem os nossos recursos naturais, com um olhar mais voltado à terra, num reflexo da sensibilidade para a causa ambiental que Mauricio demonstra desde criança. Em sua atual

versão, voltada para os jovens, o personagem estuda agronomia e quer voltar ao campo para ajudar a resolver os problemas socioambientais da zona rural – uma questão que hoje já começa a se tornar realidade em todo o país. HOMENAGEM DO ANO Falando em Mauricio de Sousa (confira a entrevista exclusiva que ele concedeu à Ecológico no link goo.gl/MPLWXq), o desenhista, cartunista e criador da Turma da Mônica será o grande homenageado do ano na solenidade de premiação, que será realizada em novembro próximo. Meio ambiente é algo que sempre esteve associado à vida de Mauricio. Ele nasceu em 27 de outubro de 1935, em Santa Isabel (SP). Foi durante a infância em Mogi das Cruzes que Mauricio teve seu primeiro contato com a natureza. Adorava tomar banho de rio, desenhar e rabiscar cadernos escolares. Mais tarde, seus traços passaram a ilustrar cartazes e pôsteres para comerciantes da região. Aos 19 anos, mudou-se para São Paulo e ini-

O HOMENAGEADO: 16 anos antes de o Brasil sediar a ECO/92, ele e a Turma da Mônica já abordavam a questão ambiental e a preservação da natureza

FIQUE POR DENTRO

Em sua nona edição, o “Prêmio Hugo Werneck” se tornou uma referência nacional, de Minas para o Brasil. Acumula mais de 900 inscrições e indicações recebidas e 124 vencedores e homenageados. Parte integrante do calendário institucional, empresarial e político do país, visa reconhecer, divulgar e premiar os melhores exemplos de gestão, revitalização e preservação ambiental, bem como indicações de pessoas e instituições dedicadas à causa ambiental em todo o país.

ciou sua carreira como cartunista. Abordar a sustentabilidade nas revistas, vídeos e livros que edita para crianças e jovens foi um caminho natural para ele. A vocação para ensinar, orientar e informar, sempre de forma leve, ecológica e bem-humorada, colocou-o entre os mais admirados escritores e desenhistas do país e do mundo. E, portanto, o faz merecedor da homenagem que será realizada no “Prêmio Hugo Werneck” deste ano. COMO PARTICIPAR As inscrições e indicações à edição 2018 do prêmio serão encerradas em 27 de julho próximo. Elas devem ser feitas exclusivamente por meio do site www.premiohugowerneck.com.br, através do preenchimento completo do “Formulário de Inscrição” ou do “Formulário de Indicação”. Por isso, se você ou sua empresa desenvolvem um projeto ou iniciativa própria que atendam aos critérios do regulamento e cumpram a legislação socioambiental, não fique de fora: mostre seu exemplo para o Brasil e o mundo. Participe!  MAIO DE 2018 | ECOLÓGICO  65


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NATUREZA MEDICINAL

MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

ZEDOÁRIA

J

FOTO: MARCOS GUIÃO

á tava beirando o canto do fogão a lenha pra escapulir do frio, quando a cachorrada deu sinal e as palmas estralaram dando vestígio de gente diferençada na porteira. Depois de acender a luz da varanda, enfiei-me numa blusa e dei saída convidando pra entrar fosse lá quem fosse. Pra minha surpresa, adentra na sala uma bonita mulher de cabelos claros, num jeans surrado, blusa amarela e perfume suave. Assuntei ser ela a Sofia, filha mais velha de Dr. Herculano, fazendeiro que fazia divisa com as terras de Ademar de Cida. Com a voz macia e quase rouca, ela contou que tinha vindo com os filhos pra fazenda na intenção de aproveitar o feriado, mas durante sua fala, várias vezes o assunto foi entrecortado por fungadas e assopros num lenço já encharcado. “Desde que cheguei na fazenda ontem à noite, comecei a sentir o corpo dolorido e hoje minha cabeça

ZEDOÁRIA

Curcuma zerdoaria

tá pesada e tô espirrando alucinadamente. Foi o Divandro lá da padaria que me disse pra te procurar. Por favor, preciso que me ajude...” Fiz ainda algumas perguntas e encaminhei a prosa pra atenção sobre a entrada do outono, quando por mais das vezes se abre caminho pra uma tanteira de moléstias respiratórias. O frio aponta no final da tarde, a gente se alembra daquela blusa felpuda e gostosa que tá guardada no armário desde o ano anterior e basta entrar nela pra começar uma espirração comprida. Ambiente fechado associado a baixa umidade do ar, situação típica do outono, é caminho certo pros quadros alérgicos. Ainda lembrei a necessidade de colocar os cobertores e lençóis pra tomar sol antes de usá-los. Ela me olhava com os olhos arregalados e confessou ter mesmo usado uma blusa que tava no armário da fazenda há meses, além de ter fechado a casa pra manter o frio de fora e ter dormido com a roupa de cama encontrada nos armários. Enfim, enfiou o pé na jaca... Fui buscar nos meus guardados de plantas algo que pudesse trazer alívio na situação e topei com a zedoária (Curcuma zedoaria), planta de origem asiática da mesma família do gengibre, que solta belas folhas de verde intenso no início da primavera. E, pasmem, tem rizomas de cor azulada! Seu aroma é canforado e o sabor é levemente amargo, atuando no aumento do sistema imunológico, eliminando os sintomas das alergias respiratórias e acaba com as dores no corpo derivadas da gripe. Muita gente se serve dela pra situações de azia, úlceras gástricas, má digestão e mau hálito, além de gases do estômago e intestino. Dei-lhe zedoária em pó, explicando pra fazer uso de uma colherinha diluída numa xícara de água quente três vezes ao dia. Ela se foi muito agradecida e acabei por me esquecer do assunto. Meses depois andando por uma avenida da capital, uma mulher elegante me parou na rua pra agradecer a ajuda “daquela noite lá na fazenda”. Foi um custo pra lembrar, mas ali entendi que quem tá no sofrimento não se esquece de quem lhe ajudou. Até a próxima lua!  (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

66  ECOLÓGICO | MAIO DE 2018


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