Revista ECOLÓGICO - Edição 56

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- Toda lua cheia

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA ANO 5 - Nº 56 - 25 DE ABRIL DE 2013 - R$ 9,80

www.revistaecologico.com.br

GRANDE MANUELZÃO: VELHAS

ANO 5 - Nº 56 - 25 DE ABRIL 2013


Hoje ĂŠ dia de quem nos inspira a buscar energia na natureza. E, mais do que isso, a conviver com ela em harmonia. 19 de abril, Dia do Ă?ndio.


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Há 25 anos, a Eletrobras Eletronorte desenvolve os programas Waimiri Atroari e Parakanã, referências mundiais na promoção da autonomia indígena. É assim que, todos os dias, transformamos desenvolvimento sustentável em energia para o Brasil. 19 de abril, Dia do Índio.


Marcelo prates

1 EXPEDIENTE

Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck Conselho Editorial Angelo Machado, Antônio Claret de Oliveira, Célio Valle, Evandro Xavier, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Maurício Martins, Nestor Sant’Anna, Paulo Maciel Júnior, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pós. Diretor geral E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

EDITORA ASSISTENTE Valéria Flores

valeria.flores@souecologico.com

reportagem Ana Elizabeth Diniz, Andréa Zenóbio Gunneng (Correspondente Internacional), Cristiane Mendonça, Fernanda Mann, Luciana Morais e Vinícius Carvalho

capa Foto: Germano Neto / Arte: Sanakan

Marketing e Assinatura

editoria de arte André Firmino

impressão Rona Editora

Marcos Takamatsu

Projeto Editorial e gráfico Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda

andre@souecologico.com marcos@souecologico.com

Sanakan Firmino

sanakan@souecologico.com

revisão Gustavo Abreu DEPARTAMENTO Comercial José Lopes de Medeiros joselopes@souecologico.com

Sarah Caldeira

sarah@souecologico.com

Silmara Belinelo

silmara@souecologico.com

@sou_ecologico

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marketing@revistaecologico.com.br

ecologico@souecologico.com

Redação Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte MG - CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

REVISTA NEUTRA EM CARBONO www.prima.org.br

versão digital

www.revistaecologico.com.br A Revista Ecológico utiliza papéis Suzano para a sua impressão. Isto garante que a matéria-prima florestal provenha de um manejo econômico, social e ambientalmente sustentável.

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A Samarco acredita que as escolhas feitas hoje constroem a realidade de amanhã. Acredita em uma mineração responsável, com respeito ao meio ambiente. Por isso, de forma voluntária, fez do seu projeto de expansão, o P4P, o primeiro desse porte, no Brasil, totalmente carboneutro durante a fase de construção. Isso significa que as emissões de gases de efeito estufa decorrentes da obra serão integralmente compensadas, por meio do plantio de árvores, recuperação de áreas verdes e apoio a projetos ambientais. Porque, afinal, nós somos feitos do futuro que escolhemos.

Samarco. Nós somos feitos daquilo em que acreditamos.

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1 índice A saga de Apolo Heringer, criador do projeto Manuelzão “Não temos mais de tentar salvar, nem curar os rios e as pessoas. O principal é evitarmos que fiquem doentes. Isso é revolucionário.” Pág 54

Páginas verdes Samyra Crespo confirma o flagelo socioambiental das sacolas plásticas. Pág 14

E mais... l Imagem do mês 08 l CARTAS DOS LEITORES 10 l CARTA DO EDITOR 12 l SOU ECOLÓGICO 20 l ECONECTADO 24 l GENTE ECOLÓGICA 26

Construção Sustentável

l CéU DE BRASÍLIA 28

l A Odebrecht Realizações

l Construção Sustentável 32 / 34

Imobiliárias estreia em BH com o Parque Avenida, primeiro complexo comercial mineiro a obter a Certificação Aqua. Pág 38 l Previsto para 2014, em Pedro

l ESTADO DE ALERTA 30

l Perfil: José Eduardo 50 l Preservação 64 / 74 l Pesquisa 68 l Saúde 70

Leopoldo (MG), o Fashion City Brasil (FCTY), ou ‘Cidade da Moda’, pretende tornar-se o primeiro polo ecofashion do país.

l Tecnologia 76

Pág 42

l Práticas Sustentáveis 84

l Gestão e TI 80 l Biodiversidade 82

l OLHAR EXTERIOR 86 l Você Sabia 88 l OLHAR POÉTICO 90

Memória iluminada

l Natureza Medicinal 92

A irreverência de Tim Maia, o Síndico do Brasil

l Conversamentos 102

l Ensaio Fotográfico 98

Pág 94

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1 I M AG E M D O M Ê S

Este ano, o abraço na Serra da Moeda, em Brumadinho (MG), que há seis edições reúne milhares de pessoas em um protesto a favor de sua preservação, tornou-se um ato comemorativo. O motivo é a expansão do Monumento Natural Natural Mãe D’água, que garante a proteção de 500 hectares, com 31 nascentes, da serra. Atendendo às reivindicações, o prefeito de Brumadinho, Antônio Brandão, assinou o decreto que aumentou o Monumento, até então restrito a uma área de 150 hectares. Mais de oito mil pessoas, subiram a montanha e celebraram a conquista, no último sábado, lua crescente de abril. Exemplo que mostra resultado em novas frentes. Durante a mobilização, o prefeito de Nova Lima, Cássio Magnani Júnior, anunciou a criação do Monumento Natural da Serra da Calçada, outro trecho da Moeda. A área de 3,8 mil hectares, situada entre o Bairro Jardim Canadá e o Condomínio Alphaville, já é tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas e constitui parte importante da serra. Segundo os ambientalistas, os dois monumentos são fundamentais para a proteção de sua biodiversidade, recarga hídrica, paisagem exuberante e cultura resguardadas nas comunidades vizinhas.

fernanda Mann

O ABRAÇO QUE DEU CERTO

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1 Cartas dos leitores

l Natureza

Medicinal “Adorei o texto! Viajei na sua história a ponto de achar que conheço cada canto do lugar e das pessoas de lá!” BEATRIZ, pelo site “Pensei que não havia benefício, uai! Agora não vou deixar estragar nenhuma lima-de-bico aqui em casa e ainda vou distribuir para os vizinhos. Também achei o site ótimo!” MONIQUE, pelo site l Cumprimentos

l VERTICALIZAÇÃO

“A melhor discussão sobre verticalização não é apontar o que é pior nem o que é melhor para o meio ambiente, a urbanidade e o entorno social. Mas, de maneira reflexiva e sustentável, o caminho do meio, o que ela pode trazer de bom, de bem e soluções coletivas, de infraestrutura e desenvolvimento regional, e não de interesses locais e individuais.” Roberto Messias Franco, ex-presidente do Pnuma, Ibama e Feam, ex-secretário de Meio Ambiente de BH e atual titular da pasta verde de Nova Lima l Memória

Iluminada “O artigo referente ao Charlie Chaplin foi simplesmente sensacional. Parabéns a ECOLÓGICO pelo reconhecimento a um grande artista. Talvez, não exista mais outro igual!” ALESSANDRA LEMOS, pelo site l Qualidade

de Vida “Muito legal a matéria sobre os 10 alimentos que combatem a ansiedade.” NILCE BARBOSA, pelo Facebook l Compartilho

“Acompanho sempre a Revista Ecológico e compartilho com meus amigos das redes sociais!” LUIZÃO ALVES, Sorocaba (SP)

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“Quero parabenizar os responsáveis pela Revista ECOLÓGICO por mostrar, de maneira simples e objetiva, questões tão importantes no contexto ambiental! A população precisa de uma leitura simples, objetiva e de fácil compreensão para transformar o pensamento “verde” em uma real “atitude verde”. Termos muito técnicos ou uma leitura muito complexa só diminui o interesse de leitura, aprendizagem e mudança de comportamento. Além disso, as matérias são muito bacanas! Sou bióloga e estou encantada com as curiosidades que a revista publicou! Vocês estão de parabéns!” LÍVIA DENILLI DE ARAÚJO, pelo site “Gostei muito do conteúdo da Revista ECOLÓGICO! Precisamos ler textos que nos alimentem o espírito, que nos acrescente algo de valor. Não conhecia a revista, mas agora sou fã!” MARIA LUISA PIRES NOVAIS, pelo Facebook “O velho mundo construído com a ganância extraída de combustíveis fósseis está desmoronando. É hora de aprender com outras civilizações a sabedoria de preservar sua própria espécie e tantas outras que nos foram presenteadas pela natureza.” LI CAVALIERE, pelo Google+ “A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais congratula-se com a Revista ECOLÓGICO por seus quatro anos de publicação, marcados pelo jornalismo comprometido com a qualidade e com os ideais da sustentabilidade e da construção de um mundo socialmente responsável.” DEPUTADOS DINIS PINHEIRO E DILZON MELO “A Revista ECOLÓGICO é muito boa. Chega na minha casa todo mês e leio toda! Tem muita informação!” LUCAS SILVA, pelo Facebook

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fazendo com que não tenha mais uma sombra fresca, tirando vidas de uma forma terrível. Que paisagismo é esse onde só se vê cimento e concreto? Onde está a beleza disso? E as árvores que foram retiradas, pra onde foram? l Mineirão do Saara Um grande absurdo!!” Anuncio Eco ABR 2013 b.pdf ISABELA 1 19/04/13 16:21 DEUNER DE RESENDE Turma 2ºC - ensino médio da Escola “Ao abrir a Revista Ecológico nº 54, li uma matéria Estadual Madre Carmelita sobre um assunto que há muitos meses Programas Ambientais l Edição 52 vem me chamando Páginas verdes – atenção, “O Mineirão Monitoramento e Resgate de Flora e Fauna Evane Lopes do Saara.” Passo em “Tenho o privilégio de frente ao estádio conviver com a Evane todos os dias e, Lopes. Somos amigas infelizmente durante e colegas no curso de as obras, já havia Direito da Faculdade percebido o que Atenas de Paracatu. relata a reportagem, Tenho muito orgulho “só cimento no dessa mulher, mãe lugar do verde”. e guerreira. Ela me Realmente é muito A Sete está desenvolvendo esse importante trabalho em Minas ensinou que a mulher triste! Parabenizo Gerais, Rondônia, Maranhão e Pará, de acordo com as metodologias negra tem sim seu o autor, Hiram recomendadas pelo IBAMA e os órgãos ambientais estaduais. papel de destaque na Firmino, e a Revista sociedade, batendo de pela publicação da frente na questão de matéria.” igualdade” RENATA SILVEIRA, pelo site Elisabeth Ribeiro, pelo site “É muito triste Novo endereço: Rua Pernambuco, 1000, 5o andar, Funcionários - Belo Horizonte/ MG - (31) 3287-5177 Páginas verdes – ver tantas árvores Evane Lopes no nosso antigo “Li a matéria e fiquei encantado com a Mineirão e depois ver que TODAS foram possibilidade de plantar o pau-rosa e até motivar arrancadas dessa forma. A única beleza que alguns amigos a fazê-lo. Agora só nos falta o existia ali foi retirada, agora está tudo em puro conhecimento para a liberação para o plantio e concreto e sem verde nenhum, um absurdo, onde se comercializa.” tanto para a beleza do nosso Mineirão quanto WILSON LUIZ RIVA, pelo site com as árvores que dali foram retiradas, “Agradeço à Revista ECOLÓGICO pela publicação de uma de minhas fotos na edição de março. Achei muito legal! Obrigado!” GEORGE LUNARDI, pelo Facebook

EU ASSINO “Em um mundo voltado para a informação e a sustentabilidade, a busca por conhecimento é fator culminante para aqueles que acreditam que, sim, é possível combinar desenvolvimento com sustentabilidade, biodiversidade com adversidade. E, sobretudo estabelecer uma relação harmônica entre homem e meio ambiente. Dentro desse cenário, a Revista ECOLÓGICO é mais que um artifício de leitura bem fundamentada, é ferramenta indispensável àqueles que acreditam que o conhecimento pode mudar o mundo. Eu acredito e você?” AILTON HELENO, acadêmico de Engenharia Ambiental do 8º Período

FA­LE CO­NOS­CO En­vie sua su­ges­tão, opi­nião ou crí­ti­ca pa­ra car­tas@re­vis­tae­co­lo­gi­co.com.br Faça contato também pelo nosso site: www.re­vis­taecologico.com.br

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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO hiram@souecologico.com

reprodução

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Os doentes somos nós

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de Guimarães Rosa, cuja história a ECOLÓGICO continua contando nesta edição. Sonho possível? Possível, sim, como você vai ver na entrevista de Samyra Crespo, do Ministério do Meio Ambiente: a gente deve livrar e salvar todos os nossos rios, peixes e populações ribeirinhas do descarte criminoso das sacolinhas plásticas. Ou seja, o que ela chama de “flagelo socioambiental” do país, que empresas e empresários fora da “realidade maior”, como a rede do Supermercados BH, insistem em promover, em pleno desrespeito à lei que tornou a capital do Estado considerado a “caixa d´água” do Brasil a primeira metrópole do país a abolir o uso e descarte antiecológico de sacolas plásticas no meio ambiente. Nem tudo está perdido. Pelo contrário, dentro do nosso “maya”, da nossa ilusão que somos maiores, mais sábios e espertos que a natureza, quem não aprende por amor, pela dor não escapará. Por isso, caro leitor, lembremo-nos de Tim Maia, o síndico do Brasil, também presente nesta edição, do seu não levar nada a sério demais. Lembremos que a natureza, o Deus ou o Criador de todas as coisas não é sério nem brincalhão. Ele apenas é. Mas como dói, diria Drummond, quando o desrespeitamos. Boa leitura! Até a lua cheia de maio e o dia cinco de junho, quando iremos circular com uma edição conjunta e especial da ECOLÓGICO, comemorativa ao “Dia Mundial do Meio Ambiente”. Ave Manuelzão! ACERVO MANUELZÃO

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doutrina sânscrita diz que tudo o que vemos e percebemos como realidade sobre o planeta, e inclusive ele, é ilusão, é “maya”. É exatamente o contrário do que costumamos pensar. E que toda essa “representação” da realidade tem um sentido: ser negada e desvendada para que cheguemos à verdade maior. Cheguemos ao nosso eu espiritual, ao ser verdadeiro que abrigamos dentro de nós. E através dele e dessa compreensão, aí sim, possamos fazer o nosso crescimento verdadeiro, dentro e fora, através da revolução evolutiva de uma nova maneira de ver e pensar o nosso ser e atuar no mundo. Difícil? Difícil é não aplicarmos essa mesma premissa, tal como os ativistas do Projeto Manuelzão, da Faculdade de Medicina da UFMG, há anos vêm tentando incutir na cabeça da nossa população e autoridades para trazer os peixes de volta ao Rio das Velhas: quem primeiro está doente somos nós, o nosso tipo de civilização e progresso. E somente depois, nessa ordem, estão adoecidos todos os rios de Minas e do planeta, com seus peixes agonizantes, morrendo de câncer, de sacolas plásticas, poluição e falta de oxigênio. É isso que o ex-subversivo médico, professor e hoje ambientalista Apolo Heringer Lisboa continua pregando como um João Batista ecológico, à frente deste projeto revolucionário. Deste sonho que ele fundou, tem o nome e já teve a companhia ativista do próprio vaqueiro Manuelzão, personagem real da obra

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PÁGINAS VERDES FERNANDA MANN

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samyra crespo: “Não podemos mais chamar o feio de bonito. As sacolas plásticas são um flagelo socioambiental”

“Temos de bater palmas para BH” Hiram Firmino e Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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rincipal representante do Ministério do Meio Ambiente na discussão sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos e uso das sacolas plásticas que toma conta do país, Samyra Crespo roubou a cena em sua última passagem por BH, no início do mês. Convidada para abrilhantar o Seminário “Em que mundo você vai viver?”, promovido pela Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) e a Revista ECOLÓGICO, com apoio da Associação Mineira dos Supermercados (Amis), ela não deixou pedra sobre pedra ao cobrar o apoio e a corresponsabilidade da indústria do plástico.

Doutora em história social pela USP, pesquisadora titular do MCT e ex-vice-presidente do Greenpeace Brasil, ela foi franca e direta, mas sem perder a elegância, tamanha sua afinidade de pensamento com a ministra Izabella Teixeira. E, na esteira, com as diretrizes do Governo Dilma: “Não existe mais espaço para, diante de uma decisão tomada pelo nosso ministério, por exemplo, um representante não parceiro da indústria do plástico procurar o ministro Fernando Pimentel, para ele interferir e mudar o encaminhamento. Felizmente, hoje nós agimos em bloco, alinhados.

Não existe mais uma decisão solitária desse ou daquele ministério. Mas uma decisão pensada e democraticamente discutida de governo. Somos coesos. E isso é bom, transparente e necessário para o país”. Samyra é mineira, natural de BH, onde viveu até os seis anos. Depois se mudou para São Paulo e o Rio de Janeiro, onde se profissionalizou. E agora, em Brasília, é uma das colaboradoras mais ilustres, competentes e reconhecidas do Ministério do Meio Ambiente, à frente da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental. Confira sua entrevista:

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secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente

REVISTA ECOLÓGICO: Como articular e dar solução a interesses tão difusos, no caso das sacolas plásticas? l Samyra Crespo: Aumentando o nível e a qualidade de informações sobre a questão. Isto ajuda todo mundo a tomar decisões mais amparadas, fazer escolhas melhores, bem argumentadas. Numa sociedade democrática, não se trata de sermos contra nem a favor da indústria do plástico. Isso é muito simplista. Todos os interesses são legítimos, até que provem o contrário. Todas as partes produtivas têm o direito de defender o seu negócio. Os ambientalistas também de acharem que o mundo e a natureza devem ser preservados. O mesmo vale para os supermercados e consumidores. Felizmente, eles também estão cada dia mais conscientes de seu papel no futuro sustentável que se busca para o planeta e todos nós. Qual é o papel do governo federal numa sociedade democrática e de direitos como a nossa? l São dois papéis principais. O primeiro é o papel regulatório. Com base nos insumos, nas opiniões que a gente coleta junto à sociedade, dos diversos interesses, se faz um corpo de lei. O outro papel é o de mediação de conflitos e criação de pactos. Se vocês tiverem um Ministério do Meio Ambiente (MMA) que só defenda os ambientalistas, isso não será bom para o Brasil. Se também tiverem um ministério que só defenda os

interesses da indústria, também não será bom para ninguém. Bom para o Brasil é ter um ministério com competência técnica e política para mediar conflitos e criar pactos: um jogo de ganha-ganha, em que cada um se sinta respeitado e contemplado no seu direito, e no qual possamos avançar rumo a um país mais desenvolvido e mais justo. Isso é essencial para esclarecer o papel do governo federal não só na disputa em torno das sacolas plásticas, mas em qualquer embate semelhante. Como se dá essa articulação no âmbito do governo? l Por meio do Grupo de Trabalho de Sacolas Plásticas que coordeno. Ele reúne representantes de todos os setores interessados: Ministério Público; Secretaria Nacional de Justiça, que faz uma espécie de ordenamento dos Procons no Brasil; indústria do plástico, que tem vários segmentos, entre eles, Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) – e também dos movimentos dos consumidores. Do governo federal, além do MMA, também participam profissionais de outros ministérios que têm interface ou competência nessa matéria: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio; Ciência e Tecnologia e de outras secretarias do MMA, como a de Resíduos Sólidos, porque é competência dela implementar a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Temos, então, um grupo diversificado, fazendo um grande esforço para estabelecer uma linha -base para que todos esses interesses que aqui se manifestam e que a gente considera, em princípio,

SHUTTER

“As sacolas estão em todo lugar, é lixo assinado”

legítimos, sejam avaliados, com clareza, em relação às suas reivindicações e pleitos. Por que o MMA, em 2010, tomou a decisão de fazer uma campanha nacional para a redução do uso de sacolas plásticas? l Esse tema se tornou controverso e muitos me perguntam por que a sacola plástica é o alvo, se há tantos outros produtos de plástico, tantas outras embalagens igualmente problemáticas. Primeiro, é preciso explicar a ideia da responsabilidade compartilhada, de que o governo não faz nada sozinho. É preciso haver engajamento do setor produtivo e da sociedade civil. Qual o arranjo institucional capaz, então, de permitir realmente que esses setores compareçam e cumpram seu papel? l Essa é a grande dificuldade, a verdadeira ciência de se estabelecer um marco regulatório, um pac-

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PÁGINAS VERDES

to nacional. Então, voltando, quais são as politicas que trabalham integradas na responsabilização dos consumidores e do setor produtivo? Uma é a Política Nacional Sobre Mudança do Clima, que surgiu em 2010, com o Brasil assumindo metas voluntárias de redução de emissões. Hoje, ela é um programa totalmente exitoso, porque não há modo mais barato e simples de reduzir emissões do que o combate ao desmatamento, como estamos nos esforçando. E num dos capítulos dessa política do clima estão previstos o reaproveitamento energético de resíduos, a educação dos consumidores, a conscientização sobre consumir ou não um produto que demanda mais energia para sua produção, que tem logística reversa estabelecida ou não, e assim por diante. A segunda é a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que ficou 20 anos tramitando no Congresso. Ela não foi aprovada antes porque não interessava ao lobby das empresas de limpeza urbana e das indústrias arcarem com a conta da logística. E logística reversa nada mais é do que o caminho para que uma empresa que gerou determinado resíduo se responsabilize por ele, desde o momento em que é produzido e chega ao mercado até a hora de sua destinação final ou do seu reaproveitamento. Essa nossa política foi finalmente sancionada em 2010, e o MMA trabalhou muito por ela. A nossa ministra Izabella Teixeira foi pessoalmente ao Congresso, inúmeras vezes, para defendê-la. Agora, estamos na fase de sua implementação. Trata-se de uma lei revolucionária. Ela determina que o Brasil nunca mais será o mesmo. Por quê? l Porque a indústria não poderá se comportar da mesma forma

“A lei é revolucionária. O Brasil nunca mais será o mesmo” com as embalagens que produz, e nem o governo, do mesmo jeito, na gestão dos seus resíduos e dos seus aterros. E os cidadãos também não vão pode continuar consumindo da mesma maneira. Eles terão, sim, de sair igualmente da sua zona de conforto. Essa lei também é revolucionária exatamente porque, se implementada de maneira efetiva, mudará comportamentos. E a terceira política? l É a que diz respeito mais diretamente à secretaria que ocupo. Permita-me informar que eu ‘não sou a secretária da sacola plástica’. Nós também cuidamos do Programa Nacional de Educação Ambiental, do Programa da Agenda 21 para Municípios, em especial os do Arco do Desmatamento na Amazônia, do Maranhão até Rondônia. Nós ajudamos as prefeituras a criarem planos locais de desenvolvimento sustentável. Cuidamos ainda da Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), resumindo. Todo esforço que estamos fazendo junto à sociedade é para que ela se engaje e faça a sua parte. Estamos procurando fazer isso também internamente, dando o exemplo no governo federal. Como assim? l Queremos que as autarquias, instituições federais e ministérios reduzam, por exemplo, o consumo de água e de energia, reciclem o seu lixo. Estamos criando uma lei de ‘desfazimento’, para tratar da correta destinação de móveis, utensílios, equipamentos eletroeletrô-

nicos usados e outros materiais ‘patrimonializados’. Até hoje não se sabe o que fazer com tudo isso após o uso. Temos também, em andamento, com base em decreto presidencial, a regulamentação das compras sustentáveis. Todos os ministérios e órgãos da administração direta terão de adotar critérios de compras sustentáveis nas suas licitações. Vamos criar ainda planos de logística sustentável, que vão abranger inclusive as frotas de veículos do governo e o deslocamento de pessoal. Explico tudo isso para vocês terem uma ideia da tarefa gigantesca que o governo jogou para si mesmo, e que estamos nos empenhando em cumprir. E, finalmente, temos ainda, a cargo da minha secretaria, o Plano de Produção e Consumo Sustentável. Como esse conjunto de ações é articulado pelo governo? Elas parecem soltas... l Em 2002, na Conferência de Johanesburgo, na África do Sul, foi feita uma avaliação do quanto os países haviam avançado desde a RIO/92, em termos de políticas ambientais e de desenvolvimento sustentável. Na ocasião, chegouse à conclusão de que muito havia sido feito pelo setor produtivo, com base no conceito de ecoeficiência – porque as indústrias entenderam rapidamente que aquilo que conseguem economizar nos processos se transforma em receita e não prejuízo, e isso andou pelas próprias leis de mercado –, enquanto os governos nada haviam feito. Nem para mudar o seu comportamento nem o dos consumidores. As pessoas continuavam com problemas para descartar e reciclar seus resíduos, etc. Diante dessa realidade, foi criada no âmbito da ONU, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), uma força-ta-

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secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente

refa para estimular os governos nacionais a elaborarem planos de produção e consumo sustentável. O Brasil aderiu a essa iniciativa em 2007 e criou um conselho gestor que reúne representantes da indústria, dos movimentos sociais e de consumidores, e foi criado um primeiro plano de ação. Esse documento foi lançado então no Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), onde todos os setores também estão representados. E um dos principais objetivos, formulado com clareza nesse plano, é estimular o varejo sustentável. Mas, por que varejo sustentável? l Porque não dá para mudar o comportamento dos consumidores sentado num gabinete em Brasília. Primeiro, porque não se tem capilaridade. Segundo, porque não temos tempo nem expertise de conversar com o consumidor no dia a dia. Quem tem essa capacidade é o setor comercial, do varejo. E porque, convenhamos, em relação às sacolas plásticas, não podemos mais chamar o feio – que o descarte antiecológico delas causa no meio ambiente – de bonito. Essa é a posição do MMA, e não vamos arredar o pé um milímetro dessa tese. Elas são um flagelo socioambiental. Quais os principais impactos causados por elas? l Entopem os bueiros, agravando as enchentes nas cidades; e matam a fauna aquática, as tartarugas, os peixes e outros animais. Porque, infelizmente, ao contrário de outras embalagens, com o vento elas voam, se agarram nas árvores, postes, fios elétricos, manguezais, cercas, por toda parte. E isso acontece de tal modo, que se um cidadão viajar hoje por uma

“Os consumistas somos todos nós, não os outros” cidade do Nordeste, não precisará de mais nada para se conscientizar contra as sacolas plásticas. Basta tirar fotos. Elas constituem um inegável flagelo desde a hora em que saímos das nossas capitais até chegarmos às menores cidades do interior. Estão por todo lugar, é lixo assinado, tem nome. Isso ocorre porque elas são distribuídas gratuitamente? l Pela maneira como foram distribuídas e introduzidas nos hábitos dos consumidores, as sacolinhas se transformaram em algo aparentemente gratuito, mas não são. Essa tese da gratuidade é uma falácia. Elas custam para o supermercadista que as compra e também para o consumidor, uma vez que seu custo está embutido na formação dos preços. Portanto, a primeira coisa com que nós precisamos acabar é com essa história de que a sacola é gratuita: não é. E o seu consumo ainda abusivo e excessivo é um desvio disfuncional à sociedade sustentável que queremos. Não podemos ter a utilização de um produto que, da porta para fora, não se importa, não tem responsabilidade com o que acontece. Para o MMA, a sacola é um problema. No entanto, não podemos, de maneira leviana, fazer uma campanha em prol de sua demonização. Não é essa a posição do nosso ministério. Em que contexto vocês chegaram a essa posição? l Quando escolhemos fazer campanha reeducando a população para o uso e descarte correto das

sacolinhas, as pesquisas nos mostraram que quase 98% da população brasileira tinha o hábito de reutilizá-las para acondicionar o seu lixo doméstico. Esse foi o primeiro dado de realidade e não de suposição, achismo. Portanto, não é da Classe C que estamos falando. Aliás, sou contra discursos como: ‘Vamos educar a Classe C...’. Isso é muito elitista. Quando ganha dinheiro e vai consumir, esse tipo de consumidor se mira no espelho que somos nós. Os consumistas somos nós, não os outros. Todo mundo usa sacolinha plástica para descartar lixo, seja rico, riquíssimo ou pobre. Então, por que escolheram um produto que é popular e que quase a totalidade na nossa população faz uso dele para esse fim? l Justamente porque queremos mudar comportamentos no Brasil. Se não soubermos abrir mão de uma sacola plástica, e de todas as mazelas socioambientais que ela causa, do que mais seremos capazes de abrir mão? Temos de nos fazer essa pergunta. Se para uma sacolinha plástica, para a qual temos dezenas de soluções e alternativas, tal como já acontece na maioria dos países adiantados – uso de carrinho, engradado, caixa de papelão, sacola retornável etc. – para nós ainda é tão difícil, imagine para outras questões em que realmente não teremos alternativa? Tínhamos consciência que ao trabalhar esse case da sacola, que é um ícone da sociedade de consumo, iríamos realmente tirar todo mundo da zona de conforto e conseguiríamos, assim, fazer o mais importante, o que estamos fazendo hoje no país: um amplo, democrático e não mais adiável debate com toda a sociedade.

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Em que mundo, como o seminário perguntou, a senhora acredita que viveremos? l Se todos nós resolvermos nos dar as mãos e caminharmos solenemente para o abismo, ok. Estaria tudo resolvido. Mas, me parece que não é assim que a sociedade brasileira está se movendo. Ela caminha sim, e isso é inevitável, para enfrentar e encarar as mudanças que se fazem necessárias, inclusive éticas, que estão à sua frente. Por isso, desde o início, a campanha do MMA é uma campanha destinada à redução do uso de sacolas plásticas, e não à sua eliminação. Mas, por quê? Em muitos países a sacola descartável já foi eliminada... l Porque sabíamos, como foi mostrado aqui e em outros debates, que muitas cidades não têm coleta seletiva, serviço ao consumidor, campanhas de consumo consciente. Por isso, muita gente não tem nem ideia de porque usa sacola plástica. Parece algo caído do céu. Outro dia, vi um programa em que uma criança perguntava à mãe que bicho era o pernil. Se uma criança não sabe que o pernil vem do porco, imagine se saberá a origem e a problemática das sacolinhas? Deve imaginar que é só abrir um compartimento e elas caem, que dá para consumir compulsivamente, levar aos milhares para casa. Desde o começo, o governo sabia que não seria possível fazer, da noite para o dia, uma campanha de banimento das sacolas plásticas, embora essa seja a tendência internacional, e não apenas em países pobres. A China, a Irlanda, a Índia e, inclusive, a Coreia do Sul, que é bem parecida com o Brasil, também estão nessa linha.

“Temos de divulgar o exemplo de BH para o Brasil e o Mundo” Quais os próximos passos? l Como em tudo na experiência humana, teremos de fazer uma transição para que as condições objetivas de soluções se apresentem. Hoje, elas não existem. Alguém lembrou que o Brasil é muito diverso. Evidente. O vereador Arnaldo Godoy (autor do projeto de lei que tornou BH a primeira capital brasileira a abolir o uso das sacolas plásticas), disse que a população daqui é muito progressista. Bacana. Vocês tomaram uma decisão com base numa sociedade progressista. Mas há lugares, e eles ainda são muitos, em que a sociedade não é nem pensa assim. Por isso, o MMA também defende a tese de que não existe uma única solução para esse problema hoje no Brasil. E que BH não está sozinha. Já temos 19 municípios em Santa Catarina que, sem leis municipais, apenas por acordos locais, eliminaram as sacolas plásticas. São cidades de diferentes tamanhos, umas têm 40 mil habitantes, outras 350 mil. Em São Paulo, subiu agora para 14 o número de municípios de grande porte, que também estão decidindo eliminar uso de sacolas plásticas com base em acordos locais, unindo prefeituras, Ministério Público, ambientalistas e movimentos de defesa de consumidores. Então, há um conjunto de municípios – possivelmente sociedades mais progressistas, como a de vocês – que se sentem

maduras para fazer essa mesma escolha. E é justo que a façam. O pacto que está para ser assinado agora pelo governo federal, com o setor da indústria do plástico, não prevê a logística de sacolas? l Não, porque ela simplesmente não existe. Hoje, apenas 0,4% das sacolas são recicladas no mundo. No Brasil, não se tem nem registro, porque não há tecnologia para pegar cada sacolinha com ‘cocô’ de cachorro, com poda de árvore, com casca de comida e fruta, lavar tudo e retornar para algum tipo de aplicação. E não existe também base para propostas do tipo: ‘Vamos fazer recuperação energética...’ Sabe quanto custa uma planta de incineração? R$ 50 milhões. Esse é o custo para uma prefeitura montar uma planta de recuperação energética. Que recado final e que esperança poderia nos dar? l Que o MMA é contra a criação de um marco regulatório em nível nacional. Nós acreditamos e defendemos a adoção de um mosaico de soluções, amparado na liberdade de escolha do povo brasileiro. Se existe uma sociedade consciente como a de BH – que aderiu a uma lei que tirou de circulação e da natureza quase 400 mil sacolas plásticas/dia, e que já mudou o comportamento de 85% da população, que passou a trazer sacolas retornáveis de casa – que sente que adotou uma atitude cidadã e se orgulha disso, temos mais é de bater palmas, apoiar e ajudar a divulgar esse exemplo para o Brasil e o mundo. Só não vamos bater palmas nem dizer, no contexto atual, que a sacola plástica é legal para meio ambiente, porque não é.

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S am y ra C resp o

FOTOS FERNANDA MANN

secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente

Alexandre Magrineli

Carlos Eduardo

Arnaldo Godoy

Ruthe Rebello

José Nogueira

Sacolas, nunca mais!

A

Um mundo sem sacolas plásticas foi consenso entre os palestrantes do Seminário “Em que mundo você vai viver?”

preferência por viver em um mundo sem sacolas plásticas, onde a cultura do descarte na natureza seja substituída pela do reuso, através das sacolas retornáveis, foi a tônica geral. Especialista em Direito Ambiental, Alexandre Magrineli considerou a posição do promotor Amauri Artimos, a favor da distribuição gratuita das sacolinhas em BH, uma ação do Ministério Público “contra” a sua população e o meio ambiente: “Quer discutir relação de consumo, discuta seu avanço e não retrocesso”. Para o promotor Carlos Eduardo Ferreira, atual presidente do Centro de Apoio Operacional das promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caoma) do MPMG, a lei de BH é constitucional e deve se tornar modelo para o país: “Digo isso com esperança, como ambientalista que também sou”. Para o vereador Arnaldo Godoy, autor da lei, não foi fácil vencer o lobby econômico e o principal perigo chama-se Coronel Piccinni, seu colega na Câmara Municipal: “Ele tem um outro projeto para

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a liberar a distribuição gratuita novamente. Mas, não creio que vai passar. A nossa população já está reeducada”. Sobre a alternativa das sacolas oxibiodegradáveis, a engenheira Ruthe Rebello, especialista no ciclo de vida do plástico, garantiu: “Este tipo de sacola apenas se degrada mais rapidamente na natureza. E também produz emissões de gases nocivos ao meio ambiente natural e humano”. No último dia 18, comemorou-se dois anos de vigência da lei que tornou BH a primeira capital do país a proibir o uso de sacolas plásticas. Seu descarte, até então, era de 450 mil sacolas/dia e já caiu para 35 mil/dia. Já 85% da população mudou sua cultura, adotou a sacola retornável, trazida de casa, como no tempo dos nossos avós. Segundo o presidente da Amis, José Nogueira Soares, não há possibilidade de os supermercados comprometidos com a sustentabilidade do planeta e da humanidade voltarem a distribuir esse “flagelo socioambiental”.

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SOU ECOLÓGICO

aviso aos governantes

Segundo o conferencista, autor do livro best-seller “Sustentabilidade Planetária, onde eu entro nisso?”, ninguém pode ser culpado por este contexto. No caso brasileiro, “nem a Dilma, nem os atuais governantes e políticos. De um modo geral, eles continuam imobilizados pela cultura política tradicional, ainda sem a consciência de que estamos vivendo a maior crise ambiental de todos os tempos. Daí a não urgência da sustentabilidade efetiva nas suas gestões públicas”. A esperança contra isso, da causa ecológica ainda não lhes gerar votos, apontou Feldmann, está na outra ponta do desenvolvimento sustentável, depositada em um novo tipo de consumidor global em expansão: “Em tempos de uma inevitável e bem-vinda economia de baixo carbono, quem influenciará o novo mercado mundial e o modo dos governantes fazer política doravante, é o consumidor consciente. Esse consumidor, cada dia mais informado do estado do planeta, já está tendo e terá um papel fundamental na mudança de comportamento”. Segundo o ambientalista, ao exigir e preferir produtos de madeira ambiental-

mente certificada, por exemplo, essa nova classe consumidora incorporará em sua consciência um novo recado político e exigência eleitoral: o de que ela não está mais somente consumindo, mas agindo, por exemplo, com cidadania planetária para proteger as florestas que nos restam: “Isso valerá o seu voto numa escala mundial, vide o poder ainda incomensurável das redes sociais. Será a vez dos eleitores-consumidores politizarem ambientalmente os seus candidatos e governantes, e não mais o contrário. Mobilizações como nas Diretas Já, no Brasil, dificilmente ocorrerão novamente. Mas mobilizações planetárias pela causa, via internet, isso sim, irá acontecer de maneira avassaladora e incontrolável . Será o futuro próximo. E todos nós, incluindo a classe política, que também tem filhos e instinto de sobrevivência, iremos aderir. Não existe realidade e esperança mais democráticas e necessárias do que isso. Só os políticos de uma outra geração ignorarão o poder eleitoral e irreversivelmente crescente das redes e das ONGs. Só o Greenpeace tem hoje mais de 2,8 milhões de filiados” – concluiu Feldmann. divulgação

Votos planetários

edu morais

Parece que nada adianta. Duas décadas depois da Conferência do Rio, a humanidade continua operando perigosamente o planeta, cujos limites e sinais de esgotamento são inegáveis. E o maior desafio em reverter essa tendência suicida continua locado nos mesmos endereços da esfera governamental. No caso brasileiro, uma tarefa difícil, encastelada nas assembleias legislativas, nos gabinetes dos prefeitos, nos palácios dos governadores e na Presidência da República: convencer os políticos e governantes que a causa ambiental é real, urgente e os vitimará também, democraticamente, como aos seus eleitores. Esse foi o recado maior do ex-deputado e ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo, Fabio Feldmann, durante o Ciclo de Palestras “A Informação e o Meio Ambiente”, promovido no auditório da Fumec, em BH, pela ONG Ponto Terra, em comemoração aos seus 13 anos de atividade. Segundo o ambientalista, nas democracias, como os mandatos em média duram somente quatro anos, os políticos são forçados a também pensar somente no curto prazo. Não conseguem propor nem realizar nada a médio e longo prazos. Daí, como num círculo vicioso, não planejam nem se comprometem efetivamente com a questão ambiental, a causa que hoje mais ameaça o planeta e preocupa a humanidade, vide os efeitos das mudanças climáticas e os estragos que elas têm feito indistintamente na vida de milhares de pessoas. FAbio Feldmann: onde os POLÍTICOS entram nisso? Só Obama, presidente do maior, mais democrático e poluidor país do planeta, ressaltou Feldmann, parece ter acordado para isso. E já está pagando um preço politicamente alto para mudar a cabeça de seus pares na Casa Branca: “O nosso futuro comum dirá que ele está certo. A nossa dúvida é se o relógio da natureza irá dar tempo para os EUA liderarem essa nova cultura na política”.

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RONALDO VASCONCELLOS

marcos takamatsu

Vasco Araújo

Marcio Lacerda

Ronaldo desdenha BBB e Vasco esverdeia Lacerda

Só Anastasia salva

Os moradores de Santana do Riacho estão certos ao quererem a retirada de tramitação do Projeto de Lei 142/2011 na ALMG, visto como uma pasma ameaça à vida do Rio Cipó e seus 104 afluentes considerados de preservação permanente. Eles são contrários ao substitutivo apresentado pelo deputado Almir Paraca (PT) que altera a Lei 15.082, de 2004, excluindo a sua proteção ambiental. “Nós não vamos aceitar manobra ou subterfúgio algum para prejudicar estes cursos d’água e o povo da região” – garantiu seu colega de partido, o deputado Pompilio Canavez, durante visita in loco da Comissão de Direitos Humanos da ALMG. Ele lembrou que é a segunda vez que isto é tentado, em nome de se alterar a classificação de outro rio, em Ponte Nova, na mesma bacia hidrográfica. A tentativa, frustada, ocorreu em 2011. O governador Anastasia vetou. Para o aplauso também póstumo de Hugo Werneck, que, aliado a Angelo e Célio, no início dos anos setenta, lutou e conseguiu uma vitória emblemática na história

tante, dois mil a mais do mínimo de qualidade de vida preconizado pela ONU. E de poder contribuir com o nosso prefeito na sua promessa, que vem sendo cumprida, de plantarmos 10.440 novas árvores na região da Pampulha, para compensar o que se tirou de verde ao redor do Mineirão. Acho que Hugo Werneck também ficaria feliz com esta informação.” Em tempo: Hugo, a quem a Revista ECOLÓGICO é dedicada e se inspira à cada lua cheia, também era dentista. E à frente do Centro para a Conservação da Natureza em Minas Gerais, a primeira ONG ambientalista na América Latina que ele criou na companhia de Angelo Machado e Célio Vale, tornou-se um dos “pais” do ambientalismo brasileiro. Para quem não conhece sua história, esse dentista-ambientalista também formado em amor, significa para Minas, o que Chico Mendes representa para a Amazônia e o país. Ambos, para o mundo.

divulgação site

o abrir o seminário sobre “A Informação e o Meio Ambiente, Ronaldo Vasconcellos, presidente da ONG Ponto Terra e ex-secretário municipal de Meio Ambiente foi conclusivo: “Ter acesso a qualquer informação transformadora é melhor que assistir BBB”. Já o atual secretário-adjunto de Meio Ambiente de BH, Vasco Oliveira de Araújo, roubou a cena, pela sua sinceridade e emoção. Segundo ele, esse tipo de informação, ambiental ou ecológica, só se efetiva na cabeça das pessoas transportando-as para uma nova visão de mundo se, ao mesmo tempo, ela for capaz de tocar o coração das pessoas: “Eu não sou especialista no assunto. Sou apenas cirurgião--dentista. Mas o pouco tempo envolvido com a área ambiental me modificou e me motiva de uma maneira profunda e surpreendente. Eu fico super-feliz, por exemplo, em saber que BH já tem 20 mil m2 de área verde por habi-

fernanda mann

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daniel paiva

Téo Scalioni

Acesse o blog do Hiram: hiramfirmino.blogspot.com

Anastasia e Pompilio: esperança em dose dupla

ambiental do país. A transformação de 33,8 mil hectares da porção mineira e maravilhosa do Espinhaço, que começa justamente no município de Santana do Riacho, no hoje legalmente preservado Parque Nacional da Serra do Cipó, protegido pelo Ibama e administrado pelo Instituto Chico Mendes.

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artigo sobre o “Mineirão do Saara”, publicado na penúltima edição da ECOLÓGICO, continua repercutindo com 260 comentários no blog. Alguns alunos, por exemplo, da Escola Municipal Madre Carmelita, da capital mineira, o levaram para ser discutido com os seus professores. Confira a reação e o recado de vários desses mestres:

IMITAÇÃO ERRADA “Infelizmente o nosso verde público continua sumindo e dando lugar a paisagens artificiais. É o que aconteceu com o novo Mineirão, onde todo o seu redor arborizado foi substituído por cimento e tendas que não permitem o seu sombreamento natural. O nosso estádio poderia ter ficado mais bonito com uma imensa área verde, mas talvez os envolvidos na construção queiram apenas imitar outros países, esquecendo-se do nosso clima e comportamento diferentes. Apesar de sua bela estrutura, a beleza natural de antes foi destruída de forma brutal. Não era necessária a retirada de tantas árvores!” Gabriel Araújo Ferreira SALVEM O MINEIRINHO! “Eu sou frequentadora da área do Mineirão e posso dizer, com convicção, que o ocorrido ali foi uma agressão ao meio ambiente e à população. Passo por lá todos os dias e a sensação que tenho é que a região passou por uma verdadeira desertificação. O calor tornou-se mais insuportável ainda, com sol batendo fortemente e diretamente em nós. Além de danos à saúde, isso também gera graves estresses e danos à nossa mente. Como o mal já foi feito, e jamais podemos nos calar, ainda há muito para ser feito e refeito. Uma sugestão é não permitirmos que isso se repita no Mineirinho, por causa das obras das Olimpíadas. Juntos e conscientes de nosso poder, nós podemos conseguir!” Ali Seghayer PREGUIÇA SOMBRIA “Dá até preguiça de ir agora aos jogos no Mineirão. O calor que já existia ali ficou insuportável! Você procura uma sombrinha qualquer para se refugiar e não acha nada, só os raios solares aquecendo tudo! Cadê as árvores grandes, e não mudas que demoram muito, que poderiam ter deixado ou transplantadas dentro de uma nova concepção paisagística? Espero realmente que os órgãos e profissionais responsáveis façam o reflorestamento dessas áreas, porque ninguém merece ir ao no estádio e ser obrigado a permanecer debaixo de um sol de 37 graus e não ter sombra alguma para se proteger. Ninguém merece, né?” Luana Lopes Rocha

ecológico

O Mineirão do SAARA A REVOLTA DOS PROFESSORES

MEDO DE CÂNCER “O que mais me intriga e me faz pensar todos os dias é: de que adiantará a medicina achar a cura para o câncer, se o próprio poder público, no caso quem permitiu um novo estádio assim tão árido, sem sombra e desprotegido dos raios ultravioleta, faz com que nós o tenhamos cada vez mais rápido?” Sasha Cristhie Ferreira MODERNIDADE? “O que estamos presenciando com esse novo cenário do Mineirão em BH é realmente chocante. Diferente do espaço coberto pelo denso verde que vinha das árvores, agora se destaca um grande monumento de concreto. A cor fria, sem vida e cinzenta, faz refletirmos sobre a perda de tantas árvores e seus benefícios. É isso que será exposto ao mundo inteiro? Até quando modernização deixará de ser sinônimo de destruição?” Laura Almeida Garcia REFLORESTAMENTO JÁ! “Esta atitude do poder público não está sendo bem aceita por nós aqui, professores e estudantes. Afinal, BH sempre foi caracterizada pelo seu verde. E não se concebe mais, nos dias de hoje, reformar um estádio de futebol ao custo de retirar todas as suas árvores, prejudicando a fauna que ali existia e os próprios torcedores. Reflorestamento! Isto é o mínimo que esperamos das autoridades envolvidas no projeto do novo Mineirão.” Amanda de Oliveira Matos

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O bom exemplo de Coura

Janice Drumond / Ascom Sisema

Nem tudo é só angústia no setor mineral responsável, ainda à espera de um novo marco regulatório postergado pelo governo federal. Aumentando sua coleção de reconhecimentos, o engenheiro José Fernando Coura (foto), duplo presidente do Sindiextra e do Ibram, e vice -presidente da Fiemg, foi eleito por unanimidade para receber, no próximo dia 14 em BH, o “Prêmio Bom Exemplo´2013”, na Categoria Economia e Desenvolvimento de Minas. A premiação é uma iniciativa da TV Globo Minas, em parceria com a Fundação Dom Cabral, a Fiemg e o Jornal O Tempo. Premiado, essa é a sua marca, já ampliou e ecologizou o seu agradecimento: “Esta distinção é muito mais do que um reconhecimeno pessoal. É uma homenagem pioneira à toda indústria da mineração. Reforça as condições para continuarmos atuando com sustentabilidade, cidadania e responsabilidade social”.

divulgação

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Marília aprovada

A engenheira civil com mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG, Marília de Melo (foto), foi aprovada por unanimidade pela comissão especial de deputados da ALMG no cargo de diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Indicada pelo secretário Adriano Magalhães, titular da Semad, ela ainda ouviu do deputado José Maia após a sabatina: “Além de adequada para o cargo, suas respostas demonstraram alto nível de conhecimento, clareza e objetividade”.

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E C T AdD O 1 E C O NCristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

Cine Cipó Cinema alternativo e independente. Esse é o perfil do “II Festival de Cinema Socioambiental da Serra do Cipó”, que será realizado nas cidades de Santana do Riacho e Jaboticatubas em Minas. Marcada para ocorrer entre os dias 24 e 27 de julho, a mostra irá exibir audiovisuais premiados no festival de produções com até 29 minutos. Com objetivo de estimular o debate e a preservação ambiental, o Cine Cipó abriga gêneros de ficção, documental, animação e experimental. Entre as diversas atividades do festival estão as apresentações para o público infantil. Saiba mais: www.cinecipo.com.br l

l “Telhado, Feliciano, Renan.... Por que os membros dos legislativos estão em tanta dissonância com a sociedade? Cientistas políticos, cadê vocês?” @FAngelico – Fabiano Angélico, blogueiro l “Presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, está certo. Preciso reconhecer. Jornalistas de Brasília chafurdam diariamente no Lixão Três Poderes” @clarafavilla – Clara Favilla, jornalista

“O império da lei não chegou no coração do Pará” @mariakubik – Maíra Kubik, jornalista l

“Não deixe que a comissão de direitos humanos e minorias sejam encaradas como comissão secundária!” @jeanwyllys_real – Deputado Estadual Jean Wyllys

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“Um dos grandes desafios contemporâneos é discutir a sinergia entre meio ambiente e saúde pública” @fabio_feldmann – Fa bio Feldmann,ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo

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“Curituba, interior de Sergipe. Não chove de verdade há três anos. Povo vive melhor que na cidade grande, mas jovens desistiram do cultivo.” @paulomarkun - Paulo Markun, jornalista

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“Professores brasileiros viajam pela América do Sul com carro movido a óleo de cozinha” @GDimenstein – Gilberto Dimenstein, jornalista

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ECO LINKS Notícia verde + acessada No mês de março, a notícia sobre o velho e bom filtro de barro renderam acessos. Ela foi a mais lida no site e a mais compartilhada no Facebook. Foram mais de mil compartilhamentos. Ainda não leu? l

Leia a reportagem na página 68 desta edição.

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Reuso fashion Sabe aquele vestido que não serve mais? Ou aquele par de sapatos que você não usa? O grupo virtual “Enjoei e desapega”, como o próprio nome diz, tem uma finalidade sustentável para todas aquelas peças esquecidas no armário: vender. Já são mais de 900 mulheres, interessadas em vender peças em ótimo estado de conservação, e outras tantas interessadas em adquirir peças, até mesmo de marcas, por um baixo preço. Quer desapegar? Basta acessar o Facebook e pesquisar pelo nome “Enjoei e desapega”. l

ECO PROMOÇÃO Quer ganhar o livro “Como fazer educação ambiental” de Vilmar Berna? Basta seguir www.twitter.com/sou_ecologico e publicar a frase: “Eu sigo @sou_ecologico e quero ganhar o livro Como fazer educação ambiental”. O sorteio será realizado dia 20 de maio; e o resultado, divulgado nas nossas redes sociais.

repórter ecológico l Morador de Congonhas/MG e ambientalista de carteirinha, Sandoval de Souza Pinto Filho, não só luta pela preservação do Morro do Engenho como também encontra tempo para registrar as belezas naturais da região. Nas imagens que ele batizou como “A flor da Terra”, Filho mostra os trilhos da ferrovia por onde se transporta o minério, no fundo, imensas áreas residuais de Mata Atlântica onde a Copasa faz a captação de aproximadamente 50% da água que serve Congonhas.

Quer também ser um Repórter Ecológico? Basta enviar foto sobre algum tema ambiental para redacao@revistaecologico.com.br com nome completo e colocar no assunto “Repórter Ecológico”. Sua fotografia pode ser publicada!

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l “Doa-se um brinquedo, gera-se uma troca e adquirem-se valores” @danisuzuki – Daniele Suzuki, atriz

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ECO MÍDIAS

SANDOVAL SOUZA PINTO

Twittando



Heldner costa / divulgação

1gente ecológica

"Um homem é rico na proporção do número de coisas que ele tem o poder de deixar intocadas."

REPRODUÇÃO

Henry David Thoreau, filósofo

"Nesses tempos de céus de cinzas e chumbos, nós precisamos de árvores desesperadamente verdes." Mário Quintana, poeta

"O bom jornalismo é aquele que sabe informar e entreter, com o objetivo, sempre, de melhorar a vida das pessoas." Gislaine Rodrigues Ferreira, jornalista da Globo Minas e ex-Miss Minas Gerais e Brasil

"Não podemos andar para trás, como os felicianos da vida."

Mahatma Gandhi

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CÉLIA SANTOS / DIVULGAÇÃO

"A natureza pode suprir todas as necessidades do homem, menos a sua ganância."

Daniela Mercury, cantora, ao assumir sua relação homossexual com a jornalista Malu Verçosa

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DIVULGAÇÃO

Margaret Thatcher Foundation

CRESCENDO

"Toda mulher que saiba cuidar do lar poderá entender os problemas de um país."

"Nossos padrões de consumo continuam incompatíveis com a saúde do planeta. Devemos agir agora, se quisermos que em 2050 a Terra continue a ser habitável para os seus nove bilhões de habitantes."

Miguel Andrade

Margaret Thatcher, ex primeira-ministra do reino unido

Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU

"A política é território dos que praticam a divisão. Mas o futuro pertence aos que praticam a cooperação. Com a união de forças, temos mais poder do que nunca para construirmos um mundo de valores e oportunidades compartilhadas."

"Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz." Tom Jobim, compositor

JB ECOLOGICO

Bill Clinton, ex-presidente dos EUA

Cassinho Magnani Filho do saudoso professor Cássio Magnani, formado em Direito, músico e servidor público, o atual prefeito de Nova Lima continua surpreendendo a política e o desenvolvimento econômico historicamente nada sustentáveis do município. Depois de convidar para assumir a Secretaria de Meio Ambiente, o ambientalista e hoje morador Roberto Messias Franco, que já foi diretor do Pnuma, Ibama e Feam, ele tomou outra atitude corajosa. Convidou como titular da pasta de Habitação e Desenvolvimento Urbano, a arquiteta e urbanista Cláudia Pires, ex-presidente do IAB-MG e atual conselheira do Conselho Federal de Arquitetura. Justamente uma das nova-limenses mais combativas da expansão imobiliária insustentável permitida pelo seu antecessor. História de luta ele tem. Sua trajetória começou em 1979, ao ser demitido por apoiar a greve dos operários da Mineração Morro Velho, atual AngloGold. Foi um dos mais jovens vereadores eleitos em sua primeira candidatura e, até hoje, nunca perdeu uma eleição.. E parece não querer perder também a causa que hoje mais comove a humanidade e pode significar a salvação do planeta.

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CÉU DE BRASÍLIA VINÍCIUS Carvalho

Desmatamento Amazônico

Os novos dados do Deter mostram que houve aumento de 26,82% no desmatamento na Amazônia entre agosto de 2012 e fevereiro de 2013, comparado com o mesmo período anterior. Em números absolutos, 1.695 quilômetros quadrados de floresta desapareceram, uma área equivalente a mais de 237 mil campos de futebol.

Desperdício

As empresas de fornecimento de água perdem 35,7% de seu faturamento devido a vazamentos, ligações clandestinas, falta de medição ou medições incorretas. Os dados são da pesquisa Perdas de Água: Entraves ao Avanço do Saneamento Básico e Riscos de Agravamento à Escassez Hídrica no Brasil, feito pelo Instituto Trata Brasil.

Multa milionária

O Instituto do Meio Ambiente e de Ordenamento Territorial do Estado do Amapá (Imap) multou em R$ 20 milhões a mineradora Anglo American, operadora do terminal portuário que desmoronou mês passado, no Porto de Santana, no Rio Amazonas, perto de Macapá. Três trabalhadores morreram durante o acidente e três permanecem desaparecidos.

Terras Indígenas

Em sua quarta edição, o documento Mineração em Terras Indígenas na Amazônia Brasileira mapeou o apetite das mineradoras na região. São 104 processos titulados e 4.116 interesses minerários que incidem sobre 152 Terras Indígenas. As informações são do Instituto Socioambiental (ISA).

Violência no campo 1

ARQUIVO CNS

redacao@revistaecologico.com.br

O Tribunal do Júri de Marabá (PA) absolveu, por falta de provas, o principal acusado pela morte dos extrativistas e militantes ambientais José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. O fazendeiro José Rodrigues Moreira era apontado como mandante do crime. Os dois acusados de executar o crime foram condenados. A decisão provocou revolta entre representantes de entidades ambientalistas que acompanharam o julgamento. A promotoria pública recorrerá da sentença).

Violência no campo 2

O agravamento da disputa por terras no Brasil tem aumentado o número de mortos em conflitos agrários. Somente no ano passado, o total de líderes locais assassinados, entre sem-terra, indígenas, ambientalistas e pescadores, subiu de 29 para 32. Os registros de violência no campo continuam. No último dia 2, Fábio dos Santos Silva foi assassinado com 15 tiros no município de Iguaí, no sudoeste baiano. O líder comunitário integrava a direção estadual do MST.

Prevenção de lado

Em 2012, o Brasil usou apenas um terço do orçamento autorizado para programas de prevenção de risco e de desastres naturais. De acordo com o levantamento realizado pela Ong Contas Abertas, apenas R $2,1 bilhões, de um total de R$5,7 bilhões disponíveis, foram investidos com tal finalidade.

Lavoura-Pecuária-Floresta

A Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que cria a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. O texto oferece benefícios da Lei de Política Agrícola para quem adotar sistemas integrados de recuperação de áreas degradadas. Pelo projeto, os sistemas integrados compreendem o uso do solo para atividades agrícolas, florestais e de pecuária de forma a melhorar a produtividade e o aproveitamento sustentável do solo.

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RODRIGO SOLDON

Segurança nuclear

Serão investidos R$ 300 milhões, até 2016, para aumentar a segurança das usinas nucleares do país. De acordo com a Eletronuclear, o primeiro objetivo do plano será avaliar a região onde estão situadas as usinas com relação a ameaças naturais como terremotos, tsunamis, chuvas torrenciais e deslizamentos de encostas.

Acordo agrário

Um acordo para regularizar os assentamentos de reforma agrária na região amazônica, dentro de padrões ambientais estabelecidos por lei, será assinado entre o Ministério Público Federal (MPF) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Segundo levantamentos realizados pelo Imazon, o Incra foi responsável por 133 mil quilômetros quadrados de desmatamento por meio dos 2,1 mil projetos de assentamento que existem na região amazônica.

Fiscalização hídrica

Em todo o país, apenas 67% das cidades dispõem de mecanismos para fiscalizar e avaliar a qualidade da água, informou o diretor do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Guilherme Franco Netto. Segundo ele, a meta é levar o serviço a 70% dos municípios neste ano. Até 2015, a taxa pode chegar a 75% das cidades do país.

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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

SEM “varinhas de condão” E aí essas indústrias terão de se adaptarem aos “novos tempos” mudando suas linhas de produção, sob o risco de sucumbirem e darem lugar àquelas que surgirão para fazer isso. Como ambientalistas, consumidores e instituições envolvidas na discussão do assunto nada têm contra elas, torcemos para a primeira opção, ou seja, para que elas tornem-se sujeitos desse processo transformador, e comecem a investir agora na busca de novos comportamentos e produtos. E torcemos ainda mais para que essa transformação seja irreversível e rápida. (*) Su­pe­rin­ten­den­te-exe­cu­ti­va da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda).

Svilen Milev

N

os tempos de militância política, lutando contra a ditadura militar, fazia parte dos grupos de jovens cujos corações e mentes palpitavam por justiça social. Acreditava piamente que a distribuição de riqueza fosse a varinha de condão que tornaria todos iguais e resolveria os problemas da sociedade. Eram dois erros simplórios: acreditar que os problemas resultam somente das diferenças ssocioeconômicas e que derrubar a ditadura e substituí-la pela “ditadura do proletariado” era a solução. Ingenuamente ouvíamos e repetíamos, como papagaios, slogans dogmáticos e vazios como “viva a ditadura do proletariado”, sem atinar que combatíamos uma ditadura, pensando em implantar outra. Em prazo bem curto, antes mesmo da queda de mitos como Mao Tse-Tung, Stálin, e outros ferozes ditadores, aprendi que ditaduras são todas iguais, e que a proteção da natureza depende de mudanças comportamentais da sociedade e não de “varinhas de condão”. E recentemente, num seminário sobre a lei que proibiu a venda de sacolas plásticas nos supermercados de BH, ao ouvir o representante da indústria plástica dizer que a fabricação delas representa percentual ínfimo de seu lucro, tive mais certeza disso. Eles opõem-se ferrenhamente à lei, alegando lesão ao consumidor (preocupação louvável, mas muito recente e coincidente com a Lei), dificuldade de higienização das sacolas retornáveis, vantagens ambientais das sacolas plásticas e outras. Mas, será que o motivo real não é o temor de que a redução do consumo possa ser o início de um processo de transformação e transição da “era dos descartáveis” para a “era da economia de recursos naturais”, que terá como base não-geração (fabricantes), redução e reutilização (fabricantes/ consumidores), reciclagem (poder público, fabricantes e consumidores) e, bem por último, destinação para aterros (consumidores e poder público)?

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Nosso Futuro

Construtivo e Sustentável Segundo a ONU, até o final deste século, 95% da humanidade estará morando nas cidades. Será, portanto, no meio urbano que todos nós teremos de conseguir qualidade de vida. Sermos sustentáveis, no trabalho, nos transportes, no nosso estilo de viver. É por estas razões que, com foco esclarecedor, já a partir desta edição, a Revista ECOLÓGICO irá abordar permanentemente o tema da CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL. l O que é melhor para a natureza e o meio ambiente que nos restam? l Horizontalizar a ocupação dos poucos espaços URBANOS que existem? l Verticalizár, sob a ótica de uma nova e ecológica concepção construtiva que converse mais conosco, com o sol, o vento e uma melhor visão de mundo?

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eCO CONSTRUÇÃO Cristiane Silveira de Lacerda (*) redacao@revistaecologico.com.br

Onde nasce a

SUSTENTABILIDADE? Os primeiros 10 passos na cadeia de suprimentos da construção civil

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setor da construção é um importante propulsor da economia brasileira. Emprega 3,4 milhões de trabalhadores em todo país e gera grande demanda de insumos e serviços. Ainda movimenta e afeta uma gama de outros setores. É uma indústria com forte poder de compra, com grande chance também de transformar a cadeia de fornecedores pelo seu notável padrão de articulação. Isto se forma através da sua cadeia produtiva, que liga desde fornecedores de matérias-primas, insumos diversos e equipamentos até serviços de consultoria, tecnologia e inovação. Tem, enfim, pela sua grande capilaridade, um campo de atuação e influência revolucionário. Daí a importância de se criar, neste setor tão estratégico para a melhoria da qualidade de vida do país e da sua população, o valor da sustentabilidade. Quais os passos, então, para os tomadores de decisão, incorporadores e compradores trilharem esta jornada juntos e responsáveis, sabendo que 95% da humanidade que somos todos nós, estaremos morando, trabalhando, locomovendo e vivendo nas cidades até 2050? Alguns deles são estes. Confira.

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Ética nas Relações Cumprir o que promete. Manter a palavra como no tempo em que os negócios se firmavam com um aperto de mãos. A estratégia de desenvolver relações saudáveis e de longo prazo com fornecedores poupa tempo, e tempo, como dizia Benjamin Franklin, é dinheiro! Já vimos pelo exemplo da crise econômica do mercado americano, o que acontece quando a confiança é perdida. Compras Sustentáveis Procurar sempre adquirir produtos com selos ambientais reconhecidos como o FSC (Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal) para a aquisição de madeira. O FSC é o sistema de certificação florestal de maior credibilidade internacional, e incorpora de forma igualitária os interesses de grupos sociais, ambientais e econômicos. Já nos perguntamos de onde vem a madeira das portas e rodapés de nossas casas e escritórios? Segundo o World Wind Fund for Nature WWF, 70% da madeira extraída ilegalmente da Amazônia é consumida no Brasil pela indústria da construção. Liberdade para adquirir produtos corretos também é responsabilidade.

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Comércio Justo A formalização dos fornecedores é necessária, o paralelo prejudica o justo. O valor de venda deve remunerar o capital investido. É preciso fortalecer quem trabalha de forma correta, isso dá segurança a quem compra e a quem vende. Trabalho desecológico, infantil ou escravo? Está fora de moda.

Redução das Emissões Qual o tamanho da sua conta? Já fez os cálculos? Conhece a sua realidade? Um bom começo é nos conhecermos para nos sabermos. E, então, estabelecermos as metas para a melhora de performance. O que nós não medimos, não temos como controlar. Esse é o princípio da boa gestão. Redução dos Desperdícios Quem economiza sempre tem. Há coisas que precisamos de-sa-pren-der. Não mais desperdiçar é uma delas. Basta olhar para os canteiros e veremos desperdícios em todos os lados, e nas inúmeras caçambas que lotam os aterros sanitários das nossas cidades. Isso é dinheiro jogado no lixo. Comece a separar os seus resíduos e terá grande chance de reusá-los e/ou destiná-los adequadamente, reduzindo também os custos ambientais. A cultura do país da fartura tem criado muitas mazelas sociais e ambientais.

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Durabilidade dos Produtos Obsolescência programada para os eletrônicos nós podemos compreender. A tecnologia precisa avançar. Mas, para um imóvel, um produto que pode levar de vinte a trinta anos para ser pago, durar apenas cinco ou dez anos, é um crime. A obra não foi entregue e já apresenta degradação estrutural. Muitas notícias nós temos lido a esse respeito. Sustentabilidade é, principalmente, durabilidade. Tanto que os franceses traduzem a nossa construção sustentável como construction/ bâtiment durable. Pensemos nisso quando formos selecionar os materiais de construção.

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divulgação

“95% da humanidade que somos todos nós, estaremos morando, trabalhando, locomovendo e vivendo nas cidades até 2050,”

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Valorização da Marca Peguemos a lista das melhores empresas para se trabalhar. Quase todas trazem, em sua estratégia corporativa, ações de responsabilidade social e ambiental. O que, acrescido do “economicamente viável”, forma os três pilares da sustentabilidade. Empresas admiradas ganham vendedores, marqueteiros voluntários e atraem os melhores talentos. Mas não pode ser só marketing. Caso contrário, não é sustentável. A postura tem de ser legítima.

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Racionalização e Produtividade Investimento em treinamento, qualificação da mão de obra e racionalização dos processos têm a marca da sustentabilidade. Empresas que optam pela industrialização, e que treinam constantemente seus funcionários, têm conseguido melhores resultados em termos de produtividade. É preciso pensar o processo em sua dimensão completa, na perspectiva investimento e retorno. Esse cálculo não será de 100%. Poderá ser de 60% ou 120%, sem garantias tangíveis de curto prazo. Mas trarão consistência e solidez corporativa no médio e longo prazo. A grande rotatividade do setor dificulta, mas não inviabiliza a excelência nos processos.

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Fazer o Bem faz Bem Quando nos tornamos empresários não deixamos de ser gente. Somos executivos, incorporadores em busca da sobrevivência empresarial e também pessoal, de forma que possamos honrar compromissos, salários e novas tecnologias. E ainda permanecer no mercado porque todas as formas de esforço foram colocadas em cena, recursos financeiros, materiais, técnicos, pessoais e emocionais. O coração fica lá pequenino, apertado no peito com as inúmeras interferências do público no privado, com a falta de apoio, de orientação em um país que ainda brilha a desorientação, a desorganização, a falta de seriedade e de meritocracia. A falta de sustentabilidade. Mas, saibamos, enquanto equilibristas, que a sustentabilidade traz em seu bojo um consolo gostoso para o coração. Ela cria apreço e não penaliza o bolso no médio e no longo prazos. Fazer o bem, enfim, é ser sustentável. E isso nos faz um bem planetário!

NOVA LOJA TETUM

O Escritório Eduarda Corrêa Arquitetura assina o novo projeto da loja Tetum. O projeto pretende obter a certificação de construção sustentável americana Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), a primeira em Minas Gerais. Com a nova loja, com 1.800 m2, construída na Rua Grão Mogol, no bairro Carmo-Sion, BH receberá um bom exemplo de edificação verde.

GREENBUILDING BRASIL 2013

O maior evento de construção sustentável da América Latina, o Greenbuilding Brasil 2013, está em sua 4ª edição. Ele acontece nos dias 27, 28 e 29 de agosto, em São Paulo. A conferência internacional ocorre paralelamente à exposição com produtos e inovações para o mercado da construção sustentável. Informações e inscrições: www.expogbcbrasil.org.br/Conferencia

NOVA LINHA DE VIDROS DE PROTEÇÃO SOLAR

Voltada para o mercado residencial, a recém-lançada Linha Habitat, apresenta atributos como redução de calor, segurança e acústica às obras. Os vidros de proteção solar são importantes para a eficiência energética das edificações por reduzirem a entrada do calor no interior em até 70%. Sua aplicação traz ganhos em iluminação natural, reduzindo a necessidade de utilização da luz artificial e promovendo a interação das pessoas com o meio externo. Importante ainda é a barreira aos raios ultravioletas, conhecidos pelos danos à pele, e por também prejudicarem móveis, pisos e tecidos, provocando o desgaste precoce. Carolina Pimenta (foto) atende aos profissionais interessados, em BH.

ARQUIVO PESSOAL

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Tecnologia para a Redução dos Custos O prazo de desenvolvimento de um empreendimento leva, em média, de dois a quatro anos. Depois de inaugurado espera-se uma vida útil de quarenta a cinquenta anos. Existem empreendimentos com cinco ou dez anos de existência que ainda são modernos, inteligentes e econômicos. Outros que ainda estão nas mãos dos arquitetos e já são obsoletos. O maior investimento quando observando o ciclo de vida da edificação, é na operação e manutenção. Assim sendo, as decisões tecnológicas devem ser tomadas na fase de seleção do terreno, e de projeto. Gastemos hoje para não sermos penalizados pelos próximos quarenta anos.

(*) Diretora da EcoConstruct Brazil – www.ecoconstruct.com.br Professora Coordenadora do MBA Edifícios Sustentáveis: Projeto e Performance da Universidade FUMEC.

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1 P ER F IL : G i l m a r

Dias dos Santos

diretor-presidente da EPO Engenharia

“Construir é

criar soluções” PEDRO VILELA

J. Sabiá redacao@revistaecologico.com.br

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iscreto, direto e consciente de seu papel como empreendedor e cidadão. Com 21 anos de estrada, o engenheiro formado pela Universidade FUMEC, Gilmar Dias, diretor-presidente da Construtora EPO, colhe os frutos de seu trabalho, que, para clientes, parceiros e colaboradores, é sinônimo de inovação, respeito e determinação. Ainda menino, esse mineiro de Martinho Campos, canceriano, casado e pai de dois filhos, aprendeu o ofício de construtor com a avó, Maria. E é enfático ao falar sobre grandes temas, entre eles sustentabilidade e verticalização na construção civil. “Ações sustentáveis também são aquelas em que se promove o crescimento dos colaboradores da empresa, assegurando mais educação e gerando qualidade de vida. Um meio ambiente sustentável está no modo de viver e não apenas na nossa relação com a natureza.” E completa: “A construção sustentável é um tema para ser debatido sem apelos emocionais, e com muita responsabilidade”. Segundo ele, as pessoas devem deixar de lado interesses individuais momentâneos, para valorizar o verdadeiro interesse do cidadão e, principalmente, “para que sejamos todos formadores de opinião e tenhamos alguma influência sobre o destino das cidades”. É o que você confere a seguir:

Qual é a filosofia de trabalho do Grupo EPO, no que se refere ao compromisso com as questões ambientais? l Determinação, responsabilidade, respeito e ética. Edificar com ousadia e inovação é o nosso desafio ao longo de já 21 anos de trabalho, que se traduzem em obras de alto padrão, com o objetivo de superar as expectativas dos clientes e ultrapassar o simples conceito de habitação. O viés da sustentabilidade está presente em diversos setores da sociedade e tem conquistado o respeito e a adesão da construção civil. Empreendimentos que contribuem para a preservação do meio ambiente têm despontado como tendência mundial, e esse é o caso dos novos empreendimentos do nosso grupo. Para nós, a sustentabilidade não é aplicada apenas nas obras, por meio do reaproveitamento de água da chuva para irrigação de jardins, da redução do consumo de água nos banheiros, do uso de energia solar e iluminação natural ou contratação de fornecedores idôneos e preferencialmente locais. Ações sustentáveis também são aquelas em que se promove o crescimento dos colaboradores da empresa, assegurando mais educação e gerando qualidade de vida. Um meio ambiente sustentável está no modo de viver, não apenas na nossa relação com a natureza.

Gilmar Dias: “Um meio ambiente sustentável está no modo de viver e não apenas na nossa relação com a natureza.”

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Como essa filosofia de trabalho é aplicada na prática? l Nós mantemos vários projetos de qualificação, entre cursos, encontros, incentivos à educação e programas de ensino. No ‘Construindo Talentos’ são trabalhados dois públicos distintos: gestores e estagiários. O objetivo é levar cada vez mais conhecimento e aprimorar a capacidade de cada colaborador. No projeto ‘Desdobrando a Obra’, de qualificação profissional, são promovidos encontros mensais, ministrados pelos engenheiros da EPO, que falam sobre gestão, novas tecnologias e técnicas de trabalho. Em relação ao Edifício Paisagem Escritório Parque, na Raja Gabáglia, quais são os diferenciais arquitetônicos e construtivos? l Localizado em um dos pontos mais estratégicos da nossa capital, o Paisagem tornou-se é um dos nossos maiores empreendimentos comerciais. Trata-se de um complexo composto por quatro edifícios: Panorama, Mirante, Horizonte e Vista. Reflete um novo conceito, com construções distintas e independentes em completa harmonia entre si, permitindo uma leitura de cada prédio de forma separada e, juntos, como um complexo empresarial. Os espaços são flexíveis e integrados, podendo ser comer-

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O Paisagem Escritório Parque, na Raja Gabáglia, é um complexo composto por quatro edifícios: Panorama, Mirante, Horizonte e Vista

cializados de forma alternativa. As salas podem ser vendidas individualmente ou em conjunto, assim como os andares ou até o prédio inteiro. Um dos Edifícios, o Vista, terá espaço para pouso de helicópteros. No prédio, que contará com 60 salas e quatro lojas, além de 159 vagas de garagem, o heliponto complementará ainda mais a gama de serviços oferecida. O heliponto será usado pelos clientes do edifício, garantindo comodidade e facilidade de acesso, mas poderá também atender à demanda da região. O Comercial Cayler, no Prado, e o Global Tower/Center Minas, no bairro União, também seguem essa mesma linha? l Sim. Para nós, pensar um empreendimento não é apenas projetar e executar, é cuidar do desenvolvimento sustentável, do crescimento do entorno e vislumbrar benefícios para a comunidade. Construir é criar uma solução para um espaço, dimensionando os impactos gerados. Desenvolvemos a ideia, transformando a vontade numa possibilidade, valorizando a cidade e movimentando a economia. Enxergamos o vetor de crescimento e potencializamos o local, atraindo os investidores finais. Pensando à frente de seu tempo e compreendendo que o morador do Edifício Sol, no Vale

do Sereno, por exemplo, é um cidadão com consciência socioambiental, nós já inovamos ao prever a instalação de pontos de tomadas para abastecimento de carros elétricos, com tarifadores e indicadores de consumo na garagem. Como é o Programa Desperdício Zero? l Ele foi criado em 2010, com o objetivo de estabelecer procedimentos simples que possam contribuir para que o processo diário de cada obra se torne mais eficiente e sustentável. Isso tem feito com que nossos colaboradores também abracem essa importante causa e contribuam para redução do impacto ambiental causado pela construção civil. Nosso foco tem sido evitar a geração de resíduos sólidos e, consequentemente, seu descarte e desperdício, além de promover o reaproveitamento e incentivar a coleta seletiva. Um primeiro passo para o desenvolvimento de projetos sustentáveis é a conscientização. Precisamos promover a educação de todos os envolvidos, de forma que entendam a importância de trabalhar com esse conceito. Talvez, o mais complexo seja fazer com que apreendam e multipliquem os conhecimentos.

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1 Gilmar

Dias dos Santos

diretor-presidente da EPO Engenharia

Quais os principais resultados já alcançados? l Entre as ações desenvolvidas, destacam-se a coleta seletiva de materiais como madeira, metal, plástico, papel e papelão. Eles agora não são mais descartados em caçambas destinadas aos aterros sanitários. Cada tipo de resíduo tem recipiente e destino específicos. Outro exemplo é o convênio firmado pela EPO com a Associação dos Catadores de Papelão e Material Reaproveitável (Asmare). Essa parceria é motivo de comemoração, pois tem assegurado a destinação correta do papel, papelão e plástico. Outra grande ação de sucesso desenvolvida é o reaproveitamento da madeira descartada nas obras que, em vez de virar lixo, é reaproveitada como insumo – e com eficiência energética –, para a fabricação de tijolos. Com este reaproveitamento, além de evitar novos desmatamentos, conseguimos também reduzir nossas emissões de gás carbônico, ao diminuir o número de viagens feitas para transportar o material. Qual o caminho das pedras, a receita de sucesso no setor da construção civil? l A nossa versatilidade na busca de soluções ideais e o atendimento diferenciado, somados à qualidade e à visão de mercado são alguns dos fatores responsáveis pelo crescimento da EPO. O uso de tecnologia de ponta, a implementação de produtos sustentáveis e as relações duradouras são outros ingredientes dessa receita do nosso sucesso. Isso sem contar a ética, a responsabilidade e o respeito aos clientes, parceiros e colaboradores. Afinal, o que verdadeiramente conta é a honestidade e o cumprimento da palavra com todos os nossos stakeholders.

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“O que verdadeiramente conta é a honestidade e o cumprimento da palavra com todos os nossos stakeholders” Qual sua opinião sobre verticalização: é contra ou a favor, e por quê? l Defendo a ocupação vertical com a preocupação com seu entorno, com espaços destinados à ventilação, à incidência solar e de convivência das pessoas com a natureza. Já imaginou se cada quarteirão tivesse apenas um prédio, com 50 ou 100 andares, onde haveria moradias, serviços, comércio, hotéis, lazer e outros equipamentos, e seu entorno seria reservado às áreas verdes, de convivência ou praças? Esse será um momento único para repensar o crescimento urbano. É uma discussão longa, para começar a corrigir os rumos e pensar na qualidade de vida dos cidadãos. Como é o relacionamento com os órgãos de controle e fiscalização? l Quando falamos em órgãos de controle, estamos falando principalmente do poder público instituído. E, nesse terreno, procuramos sucessivamente o caminho da legalidade e do diálogo. Buscamos, sempre que possível, trabalhar junto com o poder público, e respeitando as normas de controle, e no atendimento principalmente dos interesses e demandas do cidadão.

Quem vê a empresa hoje, com 21 anos de trajetória, pode pensar que tudo “são flores”. Mas já houve dificuldades... Foi veiculado numa entrevista que: ‘Houve meses em que perguntava a funcionários e fornecedores quanto eles precisariam para conseguir manter-se com suas famílias, pois seria impossível pagar todo o salário... l Quando voltamos um pouco no tempo, ficamos perplexos com as transformações ocorridas no Brasil. Em se tratando de economia, tudo era instável, a inflação muito alta e os planos econômicos mudavam tudo do dia para noite. Foi exatamente nesse contexto, quando todos os brasileiros foram surpreendidos com o confisco da caderneta de poupança ou de seus saldos em conta corrente, que a EPO nasceu. Então, passamos realmente por muitos desafios, e estamos certos de que no nosso meio não há espaço para a moleza. Somente com muito trabalho, dedicação e competência continuaremos a crescer. Sobre a revitalização da Barragem Santa Lúcia, este projeto foi feito em cumprimento à condicionante do licenciamento ambiental de qual empreendimento? l No dia 17 de dezembro de 2012, o Grupo EPO finalizou a primeira etapa da revitalização do Parque Municipal Jornalista Eduardo Couri, mais conhecido como Barragem Santa Lúcia. As obras contemplaram a construção de um parque com brinquedos e a revitalização e instalação de novos bebedouros. Tudo foi feito como parte da medida compensatória de licenciamen-

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to do Edifício Marly Viana, localizado na área hospitalar. Hoje está em andamento a restauração do seu paisagismo definido pela Prefeitura, bem como do monumento em homenagem ao jornalista Eduardo Couri. Essa etapa faz parte da medida compensatória de licenciamento de outro empreendimento do grupo, o Cayler Offices, localizado no Prado. A EPO também apoia projetos sociais e de educação ambiental em Martinho Campos. É uma forma de valorizar a comunidade local? O senhor nasceu na cidade ou apenas viveu lá? l Sou natural de lá e, com muito orgulho, boa parte de nossos familiares ainda vive lá. Temos uma estreita relação com a cidade, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional: mantemos as bases da S&D Florestal, com escritório central, unidades de produção e também algumas fazendas. O senhor vem de uma família grande. Quais são as lembranças e os valores aprendidos? Foi servente, pedreiro

e empreiteiro e aprendeu a negociar com a sua avó? l Gosto de contar alguns episódios da minha vida, e esse é bastante particular. Minha avó, Maria, era uma mulher baixinha, brava e muito determinada. Negociante e dona de pensão, também gostava de construir. Morei com ela dos 11 aos 18 anos. Nesse ambiente de austeridade, comecei a trabalhar como servente em suas obras. Virei pedreiro, aos 15 anos, e depois empreiteiro. Aos 17, minha avó me entregou uma casa para que eu construísse. Foi uma ótima convivência com ela e um grande aprendizado. Com a minha família, pais e irmãos, aprendi tudo o que sei sobre valores humanos, e mantenho ótima relação com eles. Pena que minha mãe se foi muito cedo. Vocês também se destacam por apoiar ações sociais, como o Salão do Encontro, em Betim. l Sim. Nós sabemos da importância de acreditar e incentivar ações culturais e históricas. Contribuir com cultura e a interação entre a sociedade é, para nós, uma questão de honra. O senhor é 2º Vice-Presidente

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projeto do edifício sol, em construção no vale do sereno: já prevê o uso dos carros elétricos

do Automóvel Clube. Também integra e apoia a Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (Adce/MG)? l Mantenho uma relação de boas amizades com a diretoria e vários integrantes do AC. Participo, quando possível, do Café com Fé, e de reuniões da Adce. Quanto à religiosidade, procuro seguir os ensinamentos católicos e, principalmente, acredito em Deus. Atuo, ainda, como diretor das Incorporadoras na Câmara do Mercado Imobiliário (CMI - Secovi/ MG). E em relação ao futuro? Que legado espera deixar para as próximas gerações, tanto por meio das ações de suas empresas quanto de sua pegada no planeta? l Penso que a nossa estada na vida é como se estivéssemos em uma fila, que não pára de andar; e na qual devemos aprender o máximo com quem está na nossa frente, e repassar conhecimento a quem vem atrás. Devemos aprender tudo com mais qualidade. Assim é a nossa caminhada. SAIBA MAIS: www.epo.com.br

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1 Co n struçã o su ste ntável

o projeto arquitetônico preserva a vista panorâmica da região

Escrevendo um novo

CAPÍTULO VERDE Depois do Vale dos Cristais, Odebrecht começa a construir seu primeiro empreendimento em BH, com certificação de “Alta Qualidade Ambiental”

história em Minas, deixando para traz o passado de embates que marcaram a recente polêmica do seu projeto Vistas do Vale, extensão pretendida do bairro Vale dos Cristais, na vizinha Nova Lima. Com vista panorâmica de boa parte da cidade e de um dos seus mais conhecidos cartões-postais, a Serra do Curral,

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aior incorporadora do Brasil, a Odebrecht Realizações Imobiliárias prepara a sua estreia no mercado de BH. No mês que vem, a empresa começa a construir, no alto Raja Gabáglia, o Parque Avenida, primeiro complexo comercial da capital mineira a obter a Certificação Aqua. Esse reconhecimento é concedido pela Fundação Vanzolini, que faz auditorias presenciais independentes ao longo do desenvolvimento de todo o projeto e da obra, atestando o atendimento a critérios de sustentabilidade e excelência. A chegada da Odebrecht na exCidade Jardim do Brasil renova a esperança de que a empresa possa escrever um novo capítulo de sua

Bia Fonte Nova redacao@revistaecologico.com.br

na Região Centro-Sul, o novo empreendimento terá duas torres, com nove andares cada, totalizando 668 salas e 40 lojas. O projeto arquitetônico vai integrar, em seus 24 mil m2, uma praça de convivência e um mirante, criando uma área de dois mil m2 aberta ao público. Espécies nativas O paisagismo é assinado pelo arquiteto Benedito Abbud, de São Paulo, e prevê o plantio de mudas do Cerrado e da Serra do Curral, favorecendo a conservação da vegetação nativa da região e a manutenção do microclima local. “Durante a fase de licenciamento, recebemos uma lista das espécies permitidas

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Túlio magri: "amadurecimento e compromisso"

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para plantio e repassamos imediatamente ao paisagista, que adaptou o projeto às exigências legais. Além disso, para cada árvore suprimida em função da obra, será replantada uma nova muda, exatamente da mesma espécie hoje existente no terreno. Uma das condicionantes do licenciamento determina que plantemos 190 novas árvores, mas com certeza vamos superar essa marca”, anuncia o engenheiro civil Tullio Magni, gerente de Incorporação do Parque Avenida. O uso de dispositivos destinados a gerar maior economia de água e de energia também é prioridade no projeto. As torres terão, por exemplo, elevadores mais eficientes, equipados com sistema de chamada antecipada, que reduz o tempo de espera dos usuários e o consumo de energia em até 30%, se comparado aos modelos convencionais. A fachada, toda em vidro, foi dimensionada para garantir melhor captação e aproveitamento

da iluminação natural, diminuindo os gastos com luz elétrica. Qualidade de vida Com previsão de entrega em janeiro de 2016, a proposta do novo complexo é oferecer mais qualidade de vida no ambiente de trabalho. Para isso, contará com restaurantes, lanchonetes e lojas de conveniência, evitando que os usuários tenham de se deslocar para fazer suas refeições e compras – e ajudando, assim, a reduzir o impacto sobre o já pesado trânsito na região. “A ideia é criar espaços agradáveis de convivência, incentivando a circulação das pessoas pelo empreendimento e preservando a vista panorâmica que se tem de boa parte da BH,”, frisa Magni. Estão previstas, ainda, a construção de um bicicletário e a instalação de tomadas para o carregamento de veículos elétricos. No lugar de ar-condicionado central, salas e lojas terão splits (apare-

fique por dentro

Gestão integrada

A Certificação de Construção Sustentável Processo Aqua demonstra, de forma inegável e inequívoca, a Alta Qualidade Ambiental do Empreendimento, comprovada por meio de auditorias independentes. Para o seu sucesso, é fundamental que o empreendedor esteja comprometido com o desenvolvimento sustentável desde o início do projeto, pois a certificação requer a implantação de um sistema de gestão do empreendimento (SGE) e o atendimento de 14 categorias de qualidade ambiental. Entre elas relação do edifício com o seu entorno, escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos, canteiro de obras de baixo impacto ambiental, gestão de água, de energia e de resíduos. O processo também contribui para a redução da poluição e das emissões de gases de efeito estufa.

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Este material tem caráter meramente ilustrativo por se tratar de bem a ser construído. O mobiliário e os equipamentos não fazem parte do contrato de compra e venda. Os materiais e cores representados poderão sofrer pequenas alterações sem prévio aviso em função da disponibilidade dos mesmos no mercado. Contrato padrão e demais condições estão disponíveis em nosso plantão de vendas. As condições ora indicadas poderão sofrer alterações sem prévia comunicação ou anuência dos interessados, para adequação ao mercado. Valor de mensal apresentado se ao imóvel de 2 quartos à unidade 804, bloco 04 do empreendimento Spazio Eco Vitta. Tabela março/2013. Plano composto de assessoria no valor de R$5454,00 para cobrir custos de corretagem + R$ 4446,00 de entrada para a construtora + 23 mensais no valor de R$ 1762,00 + saldo a ser financiado pela Caixa Econômica Federal. Taxa de juros do financiamento definida de acordo com a renda comprovada pela instituição financeira. Saldo corrigido mensalmente pelo INCC. Consulte regra e limites estipulados pela instituição financeira. Plano corrigido mensalmente pelo INCC. Oferta válida até 30/04/2013 ou enquanto durarem os estoques. Esta oferta não é cumulativa com outras promoções. RI: 106.836 do 1º ofício de registro de imóveis.

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interior do parque avenida: espaços agradÁveis de convivência e circulação humana

lhos) individuais, permitindo que cada proprietário/usuário controle a temperatura e o tempo de uso, medida que também vai contribuir para a redução do consumo de energia nos prédios. Além de dispositivos para economia de água em torneiras e válvulas de descarga, haverá sistema para captação e reuso de agua de chuva e recipientes específicos para a coleta seletiva de lixo. “Durante a fase de obras, vamos adotar um plano de contenção, visando reduzir a geração de resíduos e de ruídos. O objetivo é impactar o mínimo possível o meio ambiente e a vizinhança”, detalha o engenheiro. A mão de obra envolvida na construção também receberá atenção especial. Todos os operários que atuarem no canteiro de obras, em especial os terceirizados, passarão por treinamentos iniciais e rotineiros. Isto inclui orientações, cartilhas e material de apoio para que se mantenham sintonizados com a filosofia de trabalho da empresa e contribuam, de forma prática, para o maior cuidado com o meio ambiente, a reciclagem de materiais e o uso consciente dos recursos naturais. Evolução coletiva Em relação à pressão enfrentada 40

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pela Odebrecht Realizações com a implantação do Projeto Vistas do Vale, extensão pretendida do bairro Vale dos Cristais, em Nova Lima – que foi alvo dos ambientalistas e motivou inclusive a atuação do Ministério Público, diante da tentativa da empresa de fragmentar o empreendimento original e de se valer da permissividade da legislação municipal para verticalizar a região, aumentando o número de andares e altura dos seus prédios –, Tullio Magni admite que essa experiência contribuiu para o amadurecimento da empresa. Mas, frisa, que ele também é fruto da gestão focada na melhoria contínua e da consolidação da presença da Odebrecht no mercado. “A empresa foi criada em 2004 e, ao longo desses anos, crescemos e adquirimos experiência com a construção de diferentes tipos de empreendimento. Ano passado, a Odebrecht se tornou a maior incorporadora do Brasil, em volume de lançamentos. Portanto, a maturidade que estamos aplicando no Parque Avenida é a soma de um longo aprendizado. Temos empreendimentos urbanos, como este de BH, e outros localizados em áreas ambientalmente delicadas, como

a Reserva do Paiva, em Pernambuco, e a Costa do Sauípe, na Bahia. O compromisso de fazer o melhor é o mesmo em todos”, pondera. Para Magni, a questão ambiental é hoje uma preocupação nacional, não está restrita a Minas. E, felizmente, a evolução que se percebe é coletiva. “A sociedade está mais consciente e bem informada, sabe como exigir mais do incorporador; enquanto os órgãos públicos e a legislação ambiental também avançaram bastante, estão mais rigorosos que no passado. Cabe ao empreendedor fazer a sua parte.” E conclui: “Estamos dispostos a avançar, buscando sempre o equilíbrio e o bem-estar coletivo. Temos uma perspectiva de forte crescimento, em especial no mercado mineiro, e sabemos que para consolidar essa meta precisamos estar em sintonia permanente com o todo. Esse é o nosso compromisso e o único caminho possível rumo a um futuro mais digno e sustentável para todos.” SAIBA MAIS www.vanzolini.org.br www.orealizacoes.com.br

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1 ARTIGO

O futuro dos

empreendimentos José Miguel Martins (*) redacao@revistaecologico.com.br

Além disso, alternativas como o saneamento ecológico - que reutiliza a água e gases produzidos pelos moradores - e o tratamento do esgoto feito dentro do próprio terreno, são práticas eficazes para o benefício do meio ambiente, reduzindo substancialmente a poluição de rios, riachos e lagoas. Mecanismos como coleta seletiva - com a separação do lixo reciclável e seu correto descarte -, chuveiros aquecidos a gás, além de geradores eólicos, também são essenciais para a harmonia do local. Um bom exemplo onde práticas nesse sentido se estendem à escala urbana são as casas das BIOVILLAS, condomínio da Reserva Real no Vetor Norte de BH. Suas instalações possuem vias de circulação permeáveis, permitindo a utilização da água das chuvas para atividades dentro do condomínio, como irrigação, lavagem de pisos e descarga, além de evitar grandes poças nas ruas que ARQUIVO PESSOAL

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ntre todas as atividades humanas, a que mais se destaca em geração de resíduos e transtornos ao meio ambiente é a construção civil. Estima-se que esse setor, incluindo desde o fabricante de materiais até os usuários finais, seja responsável pelo consumo de 15 a 50% dos recursos naturais extraídos no planeta, 66% de toda a madeira, 40% da energia total utilizada e 16% da água potável. Além disso, é o maior responsável pela emissão de gases poluentes na atmosfera e causadores do efeito estufa. Como forma de amenizar os prejuízos causados pela construção civil ao meio ambiente, empresas desse setor estão concentrando muitos de seus investimentos em empreendimentos e práticas sustentáveis. Tais construções são pensadas de forma a aproveitar ao máximo os recursos naturais presentes no local como, por exemplo, empregar a incidência da luz solar no espaço e dispô-la de forma a ajudar na iluminação do ambiente e no aquecimento da água. A ventilação da casa também pode ser favorecida através de estudos do pé-direito e da orientação dos descolamentos de ar, dispensando o uso de aparelhos de ar-condicionado.

podem causar danos às moradias e seus habitantes. Infelizmente, o Brasil esbarra em grande obstáculo na hora de construir empreendimentos desse porte. Apesar do número de construções com esse perfil ter duplicado no último ano, o país ainda não possui empresas que fabricam materiais sustentáveis para esse tipo de produto, o que traz grande perda aos projetos. Certo é que o conceito de sustentabilidade deve ser cada vez mais incentivado e dissipado, de forma a angariar mais projetos que proponham suprir as necessidades ambientais e garantir uma melhor qualidade de vida para os moradores. Isso porque, além dos benefícios para o ecossistema, as casas erguidas a partir desses princípios e a vida mais sustentável trazem retornos positivos aos seus moradores, já que além de contribuírem para o bom uso das fontes não renováveis, tornam as condições de vida nesses locais bem mais acessíveis financeiramente, razão pela qual a valorização desses espaços vem crescendo exponencialmente.

(*)Presidente do Grupo Design Resorts e da Reserva Real José Miguel Martins: “o conceito de sustentabilidade deve ser cada vez mais incentivado e dissipado”

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1 Fashion City Brasil

O novo centro de compras será construído em Pedro Leopoldo, no Vetor Norte da Região Metropolitana de BH

Cidade da Moda põe

MINAS na passarela Fashion City Brasil, polo de negócios, turismo e capacitação em moda, será inaugurado em 2014, na Grande BH. Inovações tecnológicas, respeito à natureza e capacitação da população do entorno são diferenciais Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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m projeto inovador no segmento de moda, que promete catalisar iniciativas e tendências em prol não apenas do desenvolvimento do setor, mas, sobretudo, inspirar e disseminar os conceitos da sustentabilidade em todas as suas dimensões. Assim é o Fashion

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City Brasil (FCTY), também chamado de ‘Cidade da Moda’, empreendimento que ainda não saiu do papel, mas já chama a atenção pela proposta de se tornar o primeiro polo ecofashion do país, valorizando a construção sustentável, preservando os recursos naturais e investindo

em capacitação pessoal, numa alternativa à instalação de empresas e indústrias de setores tradicionais da economia. A localização é privilegiada. O novo centro de compras será construído em Pedro Leopoldo, no Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte,

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OMAR FREIRE / IMPRENSA MG

Parque Estadual do Sumidouro, em confins: entorno preservado

aporte restante, em instalações e estoque, a cargo dos fabricantes, totalizará R$ 280 milhões. O faturamento deve superar R$ 1 bilhão/ano, com potencial de gerar 1.500 mil empregos diretos e outros 10 mil indiretos.

Sérgio Myssior: “todo cuidado é pouco, por se tratar de uma área cárstica”

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distante quatro quilômetros do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, que deve receber este ano 13 milhões de passageiros. A facilidade de acesso rodoviário, por meio da Linha Verde, também contou pontos na escolha do terreno, de 200 mil metros quadrados, que terá 86 mil deles de área construída, em sua primeira etapa. A ideia é criar um complexo inteligente, reunindo num mesmo espaço 514 grifes, de 13 estados brasileiros e do Distrito Federal, integrando comercialização, informação e capacitação em moda. Com previsão de inauguração em 2014, o empreendimento está em fase de licenciamento. O pedido de Licença Prévia (LP) de instalação foi protocolado em fevereiro, junto à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), e as obras devem começar no segundo semestre. O projeto começou a ser idealizado há quase sete anos. Inicialmente, serão investidos R$ 140 milhões, numa parceria entre a MVD Empreendimentos, do Grupo Precon; a Atitude Inteligência e Gestão Estratégica; a Hamdam Associados e o Grupo Mega Polo Moda, de São Paulo. O

LUCIA SEBE / AGÊNCIA MINAS

Lapa Vermelha, local onde foi descoberto o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas

Impacto positivo E para se tornar mais que um novo destino de turismo de negócios e entretenimento em Minas, a ‘Cidade da Moda’ promete se destacar pelo cuidado com as questões ambientais, adotando sistemas e mecanismos de ecoeficiência construtiva e energética – e assumindo o compromisso de preservar a delicada região em que estará inserida. Uma área cárstica, ambientalmente rica e frágil, cercada por grutas e próxima a atrativos de extrema rele-

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1 Fashion City Brasil

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SANAKAN

vância na arqueologia e paleontologia mundiais, como o Parque Estadual do Sumidouro e a Gruta Lapa Vermelha, onde foi encontrado o crânio de Luzia, fóssil humano mais antigo das Américas, com 11,5 mil anos. Atentos à importância de impactar positivamente a vida das pessoas e o ambiente em seu entorno, os empreendedores do FCTY elegeram como primeira providência a realização de uma macroavaliação ambiental e urbana da região. Os estudos foram conduzidos pelo arquiteto e urbanista Sérgio Myssior, da Myr Projetos Sustentáveis, e resultarão na adoção de uma série de medidas e programas destinados a reduzir os impactos ambientais, ao longo de todas as fases de construção e operação do espaço. Um dos pontos altos do projeto arquitetônico, assinado por Gustavo Penna e André Sá, é o aproveitamento da iluminação e ventilação naturais em suas áreas comuns, reduzindo o uso de luzes artificiais e de ar-condicionado e, consequentemente, os gastos com energia elétrica e manutenção. A edificação será 100% horizontal, dispensando a instalação de elevadores e de escadas rolantes. Contará, ainda, com sistemas de reuso e tratamento de água, captação e armazenamento de água da chuva – para irrigação de jardins e limpeza de áreas externas –, estação de tratamento de esgoto (ETE) e usará tecnologia pré-fabricada, visando à mínima geração de resíduos e entulhos. “Todo o cuidado é pouco, pois se trata de uma área cárstica, cujo solo é bastante frágil. Por isso, é essencial evitar contaminações e impactos que afetem o equilí-

proposta ecológica

O conceito open mall é outro ponto-chave do Fashion City Brasil, com destaque para o bulevar central, que terá 16 metros de largura e será arborizado com espécies nativas da região, permitindo a reprodução do microclima regional. “A proposta é que seja um espaço descoberto, composto em sua maioria por vegetação, com espelhos d’água e áreas de descanso, proporcionando uma atmosfera agradável para os visitantes”, explica Gustavo Penna (foto). Também serão usadas na construção estruturas e vedações modulares e pré-moldadas, que não geram desperdício e são fabricadas perto do empreendimento – pela Precon –, reduzindo os gastos com transporte, poupando recursos naturais e diminuindo as emissões de gases causadores do efeito estufa.

brio hídrico e geológico da região, assim como a flora e a fauna. A primeira etapa da obra, a terraplanagem, foi planejada e será executada de forma a demandar a menor movimentação possível de terra no local. A drenagem também vai merecer atenção especial, incorporando elementos que permitam a máxima infiltração de água no terreno, mantendo mais de 70% de área permeável”, explica Myssior que, por duas vezes, foi finalista do Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza, na Categoria ‘Empresário do Ano’. População valorizada De acordo com o urbanista, o Fashion City Brasil está sinto-

nizado com o novo conceito de desenvolvimento previsto para toda a Região Metropolitana, baseado no fomento de novas centralidades, ou seja, na criação de regiões mais autônomas e dotadas de completa infraestrutura, onde seja possível morar, trabalhar, ter acesso a serviços essenciais, como saúde e educação, bem como a comércios e equipamentos de lazer, cultura e turismo, evitando longos deslocamentos e impactos sobre o trânsito da capital. Atualmente, afirma Myssior, o crescimento do Vetor Norte da Grande BH ainda se caracteriza pelo crescente parcelamento do solo, com foco na criação de condomínios e na venda de lo-

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Guilherme Pedreiro / Agência Minas

“Nossas grutas e pinturas rupestres estão para o Brasil assim como as pirâmides para o Egito” Cástor cartellE, paleontólogo e ambientalista

tes destinados, em sua maioria, à construção de moradias de fim de semana. Um modelo que infla boa parte de seus municípios, sem, no entanto, trazer ganhos significativos em termos de geração de riquezas e, principalmente, de oportunidades de capacitação e trabalho para quem já vive neles.

Renato Montenegro

Relevância mundial Sob esse ponto de vista, a ‘Cidade da Moda’ torna-se um projeto ainda mais emblemático. Além do baixo impacto ambiental, se comparado, por exemplo, à exploração de calcário, atividade bastante comum na região, criará milhares de vagas de trabalho, beneficiando moradores de diferentes faixas etárias e níveis de escolaridade. “Estamos traba-

lhando para provar que é possível conciliar desenvolvimento, conservação e respeito. Minas tem de diversificar sua economia, evitando tornar-se refém de commodities, que são exploradas à custa de fortes impactos ambientais e, na maioria das vezes, exportadas sem agregar real valor à nossa cadeia produtiva e econômica”, pondera Myssior. E completa: “Poucas regiões no país reúnem tantos ativos e diferenciais ambientais. Empreender aqui é um privilégio e também uma responsabilidade. Como já frisou inúmeras vezes o professor e paleontólogo Cástor Cartelle, nossas grutas, pinturas rupestres e toda a natureza que emoldura esses cenários pré-históricos estão para o Brasil assim como as pirâmides para o Egito. Não é justo, portanto, cumprir apenas as exigências impostas pelos órgãos de licenciamento. Cabe ao empreendedor sério e de visão ir além, vislumbrando lucros, mas também a proteção ambiental e o bem-estar coletivo.” Empreendimento catalisador Além de gerar empregos e incentivar o turismo de negócios na re-

gilson amaral: "é nosso dever sermos mais que criadores de tendência e estilo"

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VOCÊ SABIA

BRASIL TÊXTIL l O Brasil é o 5º maior parque têxtil do mun-

do? São 30 mil empresas formais registradas, empregando 8 milhões de pessoas.

l Uma pesquisa realizada pelo Grupo Mercadológica, com representantes de 800 multimarcas, de 15 estados brasileiros, mostra que, apesar de a cidade de São Paulo ainda ser considerada o principal centro de compras de moda do país, Belo Horizonte — que está em 2º lugar no ranking — tem futuro mais promissor. Quando questionadas sobre qual seria o lugar ideal para a implantação de um novo polo distribuidor de moda nacional, 23,2% dos entrevistados citaram a capital mineira como favorita, enquanto 12,6% mencionaram SP.

gião, a ‘Cidade da Moda’ também pretende se consolidar como um centro de referência e capacitação para todo o segmento fashion. Para tanto, contará com espaços para exposições de memória e história da moda, além de oferecer palestras, serviços de consultoria e cursos de formação e aperfeiçoamento. Serão construídos, ainda, biblioteca, café

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1 Fashion City Brasil cultural e espaços para feiras, e grandes desfiles. “Estamos convencendo mais de 500 empresas a deixarem suas bases e investirem aqui, essa é uma responsabilidade muito grande”, afirma o diretor-presidente do FCTY, Gilson Amaral Brito Jr. “Atuamos num segmento que está intrinsecamente ligado ao ser humano, ao longo de toda a sua vida. Portanto, é nosso dever sermos mais que criadores de tendência e estilo. Temos de ser catalisadores e difusores de boas ideias, de um novo padrão de vida e consumo mais responsável, sustentável e solidário.” Brito destaca ainda o enorme poder multiplicador do empreendimento, que vai ‘dialogar’ diariamente com 500 indústrias (os operadores do shopping) e mais de 15 mil varejistas especializados em moda, além de influenciar positivamente toda a força

de trabalho que empregará. Crescimento e respeito Goiano, Brito conta que passou muito de sua infância e adolescência em Minas. Tem família no estado e reafirma total disposição em contribuir para a conservação de seus atrativos naturais. “O que falo de Minas não é o que sei apenas ‘de ouvir dizer’; mas, sim, o que conheço de viver e realmente conviver. Há dois meses, visitei a Gruta da Lapinha, em Lagoa Santa, com minha esposa, e mais uma vez nos emocionamos, diante da grandiosidade e beleza do cenário. Quando me disponho, como empreendedor e cidadão, a fomentar um movimento em prol da conservação desse patrimônio, é porque acredito em Minas, e acima de tudo, a respeito.” Fortalecidos pelo apoio do governo de Minas e o aval de en-

fique por dentro

Conceito vindo dos Estados Unidos nos anos 80, os Open Malls estão ganhando força no mercado brasileiro. Uma tendência mundial, recriam os shoppings centers, transformando-os em centros comerciais a céu aberto, com solução arquitetônica que viabiliza a redução de custos de manutenção, devido ao aproveitamento de ventilação e luz natural com a criação das áreas verdes. Esse novo formato de centro comercial, com uma estrutura mais aberta e com mais áreas de convivência verdes, proporciona ao público uma maior interação com o meio ambiente (a sensação de estar passeando ao ar livre), porém com a mesma segurança e conforto que os shoppings centers oferecem. Além de estarem aliados à sustentabilidade, os espaços são agradáveis, geralmente, bem arborizados, com jardins e espelhos d’água, agregando as funções que os shopping centers tradicionais contêm, como praças de alimentação, opções de entretenimento e serviços, procurando atender às necessidades mais rotineiras dos consumidores.

ENTENDA MELHOR l A meta do Fashion City Brasil (FCTY) é proporcionar aos varejistas uma experiência diferenciada de compra no atacado, baseado no modelo one-stop-shop no qual o cliente desembarca praticamente dentro do shopping, assegurando agilidade, conforto, praticidade e eficiência aos negócios. l Para valorizar as riquezas naturais e fomentar o ecoturismo na

região, a ‘Cidade da Moda’ terá um mirante, aberto ao público, com vista panorâmica estrategicamente voltada para a entrada da Lapa Vermelha, uma das atrações da Rota Lund, idealizada pelo governo de Minas.

Estão sendo feitos, ainda, estudos de viabilidade para a instalação de painéis com células fotovoltaicas no teto do shopping, o que permitirá converter energia solar em elétrica, transformando o FCTY em uma usina de energia limpa, capaz de se autoabastecer e ainda comercializar o excedente. Esse sistema está sintonizado l

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com o projeto ‘Cidades do Futuro’, da Cemig, uma dos mais abrangentes iniciativas de pesquisa e desenvolvimento da arquitetura de redes inteligentes (smart grid) da América Latina. Será construído, ainda, um viveiro de mudas que empregará moradores de Confins e de Pedro Leopoldo, assegurando o fornecimento de espécies destinadas ao paisagismo interno, à recuperação de áreas degradadas e a reflorestamentos externos.

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No contexto das mudanças climáticas, dados do Sustainable Buildings & Climate Iniciative (SBCI) e do United Nations Environment Programme (Unep) mostram que as edificações respondem, atualmente, por 40% do consumo global de energia e por até 30% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, relacionadas ao consumo energético. l

Saiba mais: www.fcty.com.br

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FERNANDA MANN

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Proposta, preocupação e promessa verdes Maria Dalce Ricas (*)

open malls: shoppings centers a céu aberto e com áreas verdes

tidades como a Federação das Indústrias (Fiemg) e o Sindicado das Indústrias do Vestuário (Sindivest-MG), os responsáveis pelo Fashion City também têm se empenhado em dialogar e construir parcerias com diferentes instituições, entre elas o Ministério Público Estadual e a Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda). Para Brito, é preciso quebrar alguns tabus, entre eles a visão já superada, mas que ainda prevalece entre empresários de muitos setores, que consideram caro investir em sistemas e mecanismos de ecoeficiência e uso racional dos recursos naturais. “É exatamente o contrário. Não estamos adotando essas práticas só para ter um discurso ecológico bonito, mas porque está comprovado que elas são economicamente inteligentes e vantajosas.”

E conclui. “O que defendemos para Minas e o Brasil é um desenvolvimento holístico. Só acredito no crescimento que tenha o ser humano como foco. A indústria chinesa, por exemplo, está centrada apenas na questão econômica; cresce em ritmo vertiginoso, mas com custos ambientais e sociais absurdos. Aqui, mineiramente falando, estamos com a faca e o queijo na mão. Temos a chance de fazer a coisa certa, inovar e contribuir para que essa região se torne um dos ícones da nova economia mundial, aliando crescimento econômico com valorização do potencial humano e ambiental.” Que os compromissos assumidos pelos empreendedores do Fashion City se concretizem e frutifiquem. A economia, a natureza e a população de todo o Vetor Norte merecem – e agradecem.

“A proposta de construção civil da Cidade da Moda é realmente diferente. Ela pressupõe a adoção de elementos que, de forma geral, ainda não fazem realmente parte da cultura ambiental brasileira, como iluminação natural, drenagem pluvial planejada e captação de água da chuva. O empreendedor também assimilou nossa proposta de investir em medidas que eliminem a mortandade de pássaros por choque nos vidros, situação cada vez mais comum em áreas urbanizadas. Incorporar no seu funcionamento ações de prevenção a incêndios em áreas naturais, desenvolver atividades educativas ambientais como parte do negócio e inserir a temática ambiental nos cursos de treinamento de mão de obra, entre outras. Assim, entendo que se sua construção ocorrer de acordo com o previsto, os impactos diretos serão realmente minimizados ou eliminados. Nossa grande preocupação são os impactos indiretos sobre a região, cujo controle foge à competência dos empreendedores. O mais sério deles é o fato de o empreendimento ser mais um forte atrativo de processos migratórios para a região, com os graves impactos decorrentes. Em relação a isso, nos prometeram que o empreendimento será ativo e atuará em prol do planejamento do uso do solo e de outras medidas que protejam o valioso patrimônio científico e ambiental da região.” (*) Superintendente-executiva da Amda

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1 PERFIL: José Eduardo Ferreira Ramos presidente-executivo da Brennand Cimentos

“O CIMENTO É CINZA,

MAS PODE FICAR VERDE” Hiram Firmino e Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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ngenheiro de produção e economista, graduado pelas Escola Politécnica e Faculdade de Economia e Administração, ambas da Universidade de São Paulo (USP), com experiência de 20 anos no setor de cimento, José Eduardo Ferreira Ramos participou do projeto de implantação e atualmente está à frente da Companhia Nacional de Cimento (CNC), empresa do Grupo Brennand Cimentos sediada há dois anos em Sete Lagoas (MG). Trata-se de uma unidade moderna – não mais poluidora, como sempre foi caracterizada e vista pela população a produção de cimento em todo o Brasil e no mundo –, mas idealizada e construída dentro do estado da arte atual, como uma fábrica modelo. Detalhe ecológico: tal como a Samarco (“Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade’2011”) inovou no setor de mineração, reunindo pioneiramente produção e meio ambiente numa só diretoria, na Brennand a gestão ambiental também está ligada diretamente à presidência, via José Eduardo. Confira o que ele pensa sobre esse e outros desafios.

FERNANDA MANN

Nossa Origem l “O Grupo Ricardo Brennand é um desdobramento do antigo Grupo Brennand, sediado em

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Pernambuco, e reconhecido por sua atuação em diversos setores da economia, desde a produção de açúcar e álcool, cerâmica, vidro e cimento até o ramo imobiliário. Outro ‘braço forte’ é a Brennand Energia, que inclui 15 hidrelétricas e um parque eólico na Bahia.” l “A instalação desta fábrica, que completará dois anos de operação em maio, foi uma oportunidade, um desafio único. Tivemos a chance de começar um projeto efetivamente do zero, desde a compra do terreno, passando por todas as fases de construção, instalação e licenciamento ambiental, até conclusão das obras, tudo sob a ótica da sustentabilidade. Agora, estamos concluindo a primeira etapa de ampliação da fábrica, pois já atingimos o limite da nossa capacidade inicial de produção. Nossa produção saltará de 900 mil t/ano para 1 milhão e 600 mil t/ano de Cimento Nacional. Nossa meta é continuar produzindo com eficiência, qualidade e responsabilidade.” Estratégia de Instalação l “A primeira estratégia que adotamos aqui em Minas foi buscar uma área já licenciada. Nossa jazida pertencia à Mata Grande Mineração, empresa que já vendia brita em pequena escala. Ne-

josé eduardo: “ser sustentavél faz parte do nosso negócio. o difícil é comprar terra de mineiro”

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entrada da fábrica em sete lagoas (mg): poluir não é mais preciso

gociamos, fechamos a compra do terreno e adquirimos também outras jazidas vizinhas, para formar o nosso atual complexo mineral.” l “Inicialmente, a ideia era construir a fábrica mais perto da jazida. Mas, considerando questões ambientais, conforme excelente assessoria da Brandt Meio Ambiente, optamos por instalar a fábrica ao lado da BR-040 (Sete Lagoas-BH) em uma zona já industrial e menos sujeita a impactar a vizinhança.” Projeto Inovador l “Como a jazida fica do outro lado da rodovia, tivemos de elaborar um projeto inovador, com um custo mais elevado, mas retorno excelente, em termos de eficiência e de redução de impacto ambiental. Fizemos um túnel e construímos uma correia transportadora que passa por baixo da BR, levando o calcário extraído da mina. Na época do licenciamento, a Semad aprovou o transporte do calcário por correia aérea, passando sobre a rodovia, ou subterrânea. Decidimos pela segunda opção, mais limpa e segura, ainda que mais cara.” Diálogo Social l “Ainda durante a fase de insta-

lação da fábrica, contamos com uma consultoria que nos apoiou bastante na elaboração de uma estratégia de aproximação com a comunidade. Criamos uma base sólida, sustentada no diálogo e na busca de parcerias. Aprendemos, enfim, que valorizar a relação empresa-comunidade foi e é essencial para o sucesso de qualquer empreendimento.” l “Portanto, nossa chegada a Minas foi trabalhada de forma articulada e muito transparente. Desde o começo, nos preocupamos em fazer tudo muito bem feito, em sintonia com a legislação ambiental e ouvindo a comunidade.” l “Reunimos empresários, lideranças politicas, comunitárias e formadores de opinião num hotel e nos apresentamos, mostramos nosso projeto. Com isso, criamos um canal permanente de comunicação com a cidade. O resultado é um empreendimento que nasceu e está crescendo com muito apoio da comunidade local.” l “Até hoje mantemos uma agenda de contato, promovemos reuniões e encontros. Não esperamos ser chamados: nos antecipamos e nos oferecemos para colaborar em ações e projetos que já estão em andamento e necessitam de apoio para expandir ou consoli-

dar suas atividades. Nós nos antecipamos ao diálogo. Nunca vi uma cimenteira fazer isso.” Tecnologia como Aliada l “Essa fábrica foi concebida e construída para ser um empreendimento sustentável, privilegiando o uso de equipamentos de ponta, como forma de assegurar maior produtividade, eficiência ao processo e, claro, proteção ambiental. O filtro do forno, um dos nossos equipamentos mais importantes, é o mais moderno do mercado, recomendado inclusive pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam).” l “Hoje, esse filtro é um equipamento de instalação obrigatória. Mas quando inauguramos a fábrica, não. Isso sem contar que algumas fábricas ainda usam os antigos filtros (ou precipitadores) eletrostáticos, que costumam desarmar quando ocorre uma queima incompleta no forno, gerando grande quantidade de fumaça e poluentes. Aqui, praticamente não se vê fumaça saindo das nossas chaminés. Atualmente, temos 64 filtros de mangas em operação, equipamentos que garantem a recuperação da poeira gerada ao longo do processo produtivo.”

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1 PERFIL: José Eduardo Ferreira Ramos 1 presidente-executivo da Brennand Cimentos

presidente-executivo da Brennand Cimentos rppn lapa de orelha: preservação parceira

O Monitoramento l “Nosso monitoramento da qualidade do ar também não está restrito apenas à fábrica. Temos pontos de medição instalados na Gruta Rei do Mato, um dos principais atrativos turísticos de Sete Lagoas, e no bairro Morro Redondo. Todos os resultados são enviados à Superintendência Regional de Regularização Ambiental (Supram) e estão bem abaixo do permitido. No entanto, como o processo de fabricação de cimento envolve cada vez mais o manuseio de insumos a granel, como escória e moinha de carvão, é inevitável a movimentação de caminhões e a geração de particulados.” l “Para minimizar esse impacto, estamos investindo na pavimentação de vias internas e mantemos em plena atividade os sistemas de aspersão de água e de despoeiramento. Nosso pátio de insumos, cujo piso era coberto com brita, já foi cimentado. A expectativa é que, em seis meses, tenhamos outros pátios já pavimentados.” l “Estamos nos preparando, ainda, para dar início ao coprocessamento de resíduos em nosso alto-forno. Com isso, vamos dar destinação segura e adequada a resíduos gerados por indústrias de

DIVULGAÇÃO

P ER F I L : J o s é Ed u a r d o F e r r e i r a R a m o s

outros setores e também a pneus velhos, que serão queimados como combustível, proporcionando uma redução significativa no consumo de combustíveis fósseis tradicionais, como o coque de petróleo.” Visão verde l “Para muitos, ainda prevalece o velho jargão de que ‘meio ambiente é empecilho’. Aqui na Brennand, não. Reconhecemos que são muitas as exigências legais e burocráticas, mas nos empenhamos em cumpri-las, fazer o melhor. Tanto que temos uma equipe de dez pessoas dedicadas exclusivamente à gestão corporativa de meio ambiente e certificação. E ao contrário do que ocorre em várias empresas, de diferentes setores, a nossa gerência ambiental está diretamente ligada a mim. Não há intermediários. Tudo chega direto às minhas mãos e eu resolvo pessoalmente com o gerente. Procuramos atuar com uma ‘visão de ambientalistas’. É possível, sim, ter lucro, produzindo de maneira ecologicamente correta e valendo-se da tecnologia disponível.” Unidades de Conservação l “Criamos uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) no

fique por dentro

l O Brasil é o quarto maior mercado de cimento no mundo. De acordo com o Global Cement Report, lidera a produção e o consumo na América Latina. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), o consumo brasileiro alcançou 59,1 milhões de toneladas em 2010, o que representa uma alta de 14,8% em relação ao ano anterior. l De 1990 a 2005, a produção de cimento cresceu 50%, mas a emissão de CO2 variou apenas 38%, resultado da redução das emissões específicas do setor, que caíram 8%. Levantamento realizado pelo Cement Sustainability Initiative (CSI), considerando mais de 900 unidades fabris, de 46 grupos industriais no mundo, identificou o Brasil como o país de menor emissão específica de CO2. l A Brennand Cimentos tem entorno de 2% de participação no mercado nacional, e 6% no mineiro. Hoje, um terço das vendas da empresa é destinado ao mercado paulista. l A indústria brasileira de cimento é reconhecida internacionalmente por seu excelente desempenho energético e ambiental e pela reduzida emissão de gases de efeito estufa, principalmente quando comparada a países como Estados Unidos e Japão. Essa posição é fruto do esforço das indústrias que realizam, há anos, ações para reduzir emissões, contribuindo no combate às mudanças climáticas. Só em 2010, a indústria de cimento, com apoio técnico da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), incinerou em seus fornos 900 mil toneladas de resíduos, por meio da tecnologia do coprocessamento. Além de lixo urbano, produtos de alto poder calorífico podem substituir parcialmente o combustível que alimenta os fornos de cimento. Entre eles estão solventes, resíduos oleosos, óleos usados, graxas, pneus, resíduos plásticos e de fábrica de papel, ossos de animais, grãos de validade vencida, casca de arroz e bagaço de cana-de-açúcar. limite de Sete Lagoas com o município de Jequitibá. São mais de 65 hectares de vegetação nativa e centenas de pequizeiros, espécie protegida por lei estadual. Já estamos na fase final de regularização fundiária, aguardando apenas o parecer do Instituto Estadual de Florestas (IEF) para a formalização dessa

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Educação Ambiental Pioneira l “Em 2012, nosso Programa de Educação Ambiental envolveu oito escolas de Sete Lagoas, beneficiando mais de 4.000 alunos. Se considerarmos os pais, educadores e apoiadores das ações, o público atendido dobra. As ações foram realizadas em parceria com as secretarias de Educação, Cultura e Meio Ambiente do município, além de instituições como IEF, Polícia Militar Ambiental e Corpo de Bombeiros.” l “É um projeto inovador no município, capitaneado pelo nosso gerente corporativo de Meio Ambiente e Certificação, Murilo Laurindo, e que vem sendo implementado com a união de todos. Apoiamos projetos já existentes e ajudamos os envolvidos a realizarem o que acreditam ser o melhor para suas vidas e atividades. Não queremos mudar o que já funciona bem. Mas interagir com as comunidades do entorno, construindo soluções, melhorias e aprendendo juntos.”

“Minas é diferente. é desconfiada, mas funciona”

“Trabalhei em uma fábrica de cimento dentro de Brasília (DF) e desde que vim para Minas, percebo claramente o avanço, tanto da legislação quanto da conduta dos técnicos e servidores que atuam nos órgãos ambientais daqui. Mesmo considerando que trabalhei na Capital Federal no início dos anos 90, quando a legislação ambiental era bastante incipiente. É nítida aqui a diferença no relacionamento empresa e órgãos reguladores.” “Minas é um Estado onde ‘o meio ambiente funciona’. No governo estadual, Governo Anastasia: contamos com total apoio e orientação qualificado de todos os órgãos afins. Não tivemos maiores dificuldades em nenhum momento, apesar do rigor e das várias condicionantes propostas para o licenciamento. Entendemos isso como parte do negócio e, felizmente, temos ótimo relacionamento tanto com o governador Antonio Anastasia quanto, por exemplo, com os técnicos responsáveis pelo licenciamento.” “Esse é o diferencial. Ao contrário de outros estados, aqui há servidores públicos qualificados, com conhecimento técnico e de campo, sempre dispostos a dialogar e buscar soluções compartilhadas, com foco na conservação dos recursos naturais e nos ganhos sociais coletivos. Como Minas é o maior produtor de cimento do Brasil, o Estado está tecnicamente mais preparado para lidar com questões ligadas ao dia a dia do setor e às suas demandas. Você procura o órgão ambiental e consegue dialogar em pé de igualdade com técnicos que conhecessem a fundo a natureza do nosso negócio.” “Nossos acionistas também têm ótimas impressões do ambiente de negócios aqui. É incrível como o Estado recebe bem os investidores. Costumo brincar dizendo que a única dificuldade que tivemos foi comprar terra de mineiro. É preciso calma e persistência para negociar. Sem falar que alguns terrenos que compramos tinham vários herdeiros espalhados Brasil afora. A fama de desconfiado do mineiro é verdadeira.”

FERNANDA MANN

nova Unidade de Conservação.” l “Criamos também a RPPN Lapa de Orelha, que tem 3,6 hectares e fica próxima à nossa mina. Essa iniciativa foi solicitada pelos membros do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), como medida compensatória durante o licenciamento. Só dependemos do parecer do IEF para que ela seja averbada.” l “Agora, estamos iniciando os estudos para a criação de uma terceira RPPN, ao lado da Lapa de Orelha. Ela terá 26 hectares e vai assegurar a proteção de belezas naturais únicas, inclusive de cavernas, algumas com pinturas rupestres. Essa unidade está sendo criada por iniciativa da Brennand e não em cumprimento a condicionantes ambientais. Hoje, a Brennand Cimentos preserva uma área superior a 160 hectares.”

Otimista Contumaz l “Sou um otimista contumaz. Acredito num futuro melhor para a humanidade e o planeta. O ser humano tem grande capacidade e criatividade para encontrar soluções que equilibrem crescimento econômico, produtivo e proteção ambiental. No Brasil, ainda há muita coisa boa por acontecer e muito que construir, em especial no que se refere à melhoria da infraestrutura e garantia de acesso a serviços eficazes de saneamento, bem como de melhoria das estradas, portos e ferrovias.” l “E, para isso, felizmente, precisaremos cada vez mais de cimento, produto essencial para ‘alicer-

çar’ a maioria dos investimentos em infraestrutura. O cimento ainda continuará presente na cadeia produtiva e econômica por muitas e muitas décadas.” Futuro do Negócio l “Para nós, da Brennand, o cimento é cinza, mas pode ficar mais ‘verde’. Somos bem vistos e aceitos pela comunidade, pelos órgãos ambientais e isso é um privilégio. Nascemos com essa postura e queremos mantê-la. Só temos como avançar e evoluir.” SAIBA MAIS www.cimentonacional.com.br e www.abcp.org.br

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1 m e mÓ r i a ambi en tal

Manuelzão, o personagem real de Guimarães Rosa: cooptado pela causa ecológica

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O NASCIMENTO (FILOSÓFICO) DO PROJETO MANUELZÃO A primeira versão da história e luta de Apolo Heringer Lisboa para despoluir o Rio das Velhas e trazer os peixes e a saúde humana de volta Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

O

marcelo prates

procopio

mês e o ano ainda são os mesmos: junho de 1988. Como a ECOLÓGICO mostrou em sua última edição, no artigo “Pescaria no Rio Cipó”, assinado por ele, o médico, ambientalista e fundador do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, uma aventura iria mudar a vida dele e o engajamento e a esperança de milhares de pessoas. Era um final colorido de tarde. A Serra do Cipó, hoje Parque Nacional, cujo nome é uma homenagem ao maior rio que a serpenteia, já tinha ficado para trás. O rio, não. Como um saudoso professor do interior de Minas, ele tinha proporcionado e internalizado neste seu aluno especial uma visão diferente da natureza. A visão de um rio não apenas como um rio. Mas, sim, a percepção dele como um ecossistema que nos inclui também. Um ecossistema natural, a ser entendido e preservado por todos, do mais simples de seus companheiros de pescaria ao mais importante governador de estado e presidente da república.

Apolo Heringer: renascido pela visão maior da natureza

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JB ECOlÓGICO

1M e m ó r i a a m b i e n ta l

Ironia do destino e da história: os peixes sem vida e policiamento ambiental no ainda poluido Rio das Velhas...

Apolo voltava para a capital mineira, ainda maravilhado com a lembrança da qualidade das águas do Rio Cipó, quando, ao aproximar-se de Lagoa Santa, deparou-se com outro rio importante, porém feio e triste. Um rio viceralmente contagiado e afluente também da Bacia Hidrográfica do São Francisco, o Velho Chico: era o Rio das Velhas, após receber todos os esgotos humanos e industriais da Região Metropolitana de Belo Horizonte, via Arrudas e Onça. Ele redobrou seu olhar de médico para o Velhas. E viu um rio com peixes mortos e moribundos. As suas águas sem brilho, muito menos com gente pescando, nadando ou navegando. Um rio sem vida, apenas prateado pelo

cair ocultativo e enganoso do sol sobre as barrigas escamosas dos peixes virados. Horrorizou-se: “Eu era apenas médico, até esse dia. E me preocupava, como meus colegas de espécie, apenas com a saúde humana. Jamais tinha pensado na saúde dos peixes, na saúde dos rios e sua interface com as populações humanas ribeirinhas. Foi quando percebi que ambos os ecossistemas, o humano e o aquático, faziam parte de um único, interligado e maior ecossistema que é o Planeta Terra. E que nós, seres humanos, numa visão darwiniana, apenas fazemos parte da vida sobre ele. Embora especiais, pensantes e capazes de reconstruir seu destino, somos apenas mais uma

espécie da fauna terrestre. Nada mais que isso, para o desaponto e tristeza do nosso narcisismo.” Nosso destino é comum, Apolo continuou em sua reflexão: “Tudo ficou claro. Se os peixes do Rio das Velhas estavam morrendo, muitos deles com câncer e o olhos esbugalhados, é porque nós, que habitamos a sua mesma bacia hidrográfica, também estamos doentes e morrendo, ao lidarmos com as suas águas cancerígenas. A saúde ou não saúde das suas águas é coletiva, humana e ambiental. Não dá mais para vê-las como ecossistemas distintos e separados”. Ele passou a ver o recurso natural água, no seu sentido mais elementar, como elemento-eixo e estrutural do pensamento ambiental,

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reprodução

dentro do processo de transformação em curso da sociedade. “Não temos mais de tentar salvar, curar os rios, nem as pessoas. O principal é evitarmos que ambos fiquem doentes. Isso é revolucionário. Explica porque nunca seremos capazes de construir um número necessário de hospitais, de médicos e um sistema eficaz de saúde pública. Explica toda a frustação do SUS, o Sistema Único de Saúde, pois a lógica planetária, a lógica da vida e não da morte, é inversa. No futuro ideal e ecológico, precisaremos de menos médicos e estações de tratamento de água; mas de rios e populações sadias, com qualidade de vida e menos poluição.” PROJETO MANUELZÃO Voltemos, mais um pouco, aos primórdios da história política brasileira na década de 1960, quando também desenvolveu, embrionariamente, a ideologia do Projeto Manuelzão. Os anos eram de chumbo. Como subversivo, a exemplo de sua ex-companheira, a hoje presidente Dilma Rousseff, Apolo vivia o auge da sonhada revolução, como militante marxista que foi. Pegou em armas, participou de ações guerrilheiras, teve de se exilar, fez o diabo: “Eu achava que a questão político-ideológica era o único problema do mundo e da humanidade. Não era”. Após a volta dos militares à caserna, ele contabilizou vários de seus amigos e companheiros mortos. Viu que, no fundo, o socialismo de esquerda e o capitalismo de direita prognosticavam uma mesma e alienada dominação, quando investidos de poder. E que ter sido fundador e também militante dirigente do PT não lhe trouxe paz de espírito nem incendiou mais sua verve de agitador

... e Apolo (primeiro acima) , conforme cartaz no período militar, sendo procurado para proteger a vida da sociedade: “avise À polícia”

de massas, por falta de uma visão sistêmica e existencial homem-natureza: “Eu me desencantei com tudo, virei um alienado, principalmente comigo mesmo”. Nem o fato de ser filho de pais protestantes e ter lido a Bíblia seis vezes, o que lhe deu uma visão cosmológica de vida, o salvou. Desencantado até as vísceras da depressão, Apolo se recolheu num autopurgatório: “Resolvi ficar uns três anos sem fazer nada,

apenas esvaziar minha mente, o meu cérebro, de tudo que permiti meus pais, meus ídolos, a religião, a política e a cultura jogarem dentro de mim. Imaginei assim. Se eu prosseguisse neste esvaziamento, somente o que fosse verdade e essencial, tipo a maçã que cai demonstrada cientificamente por Newton na sua teoria da gravidade, iria ficar. E eu renasceria a partir de mim mesmo, da minha verdade”.

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fotos: NASA

1 m e mÓ r i a ambi en tal ‘‘Um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade’’ NEIL ARMSTRONG

em 20 de julho de 1969, ao pisar na lua, ARMSTRONG fez a humanidade redescobrir a única casa (eco, do grego “oikós”) com vida em todo o sistema solar

portuguesa, no gênero romance, pelo “Book of the year” de 1990, da Enciclopédia Britânica, publicação muito respeitada e reconhecida internacionalmente. Apolo estava com a sua autoestima tão baixa, que pensou: “Ué? Se alguém está me destacando por meu valor intelectual é porREPRODUÇÃO

SALVO PELAS FORMIGAS Ele fez isso. E o que o salvou preliminarmente até da ideia continuada de suicídio, na época, foi um trabalho forçado e irrecusável que bolou fazer: transformar em livro um escândalo político-financeiro real ocorrido em Montes Claros, no norte de Minas, envolvendo pessoas suas conhecidas e amigas. Além de distraí-lo de sua frustação política, o livro despretensiosamente elaborado sob o título “Escândalo no Arraial das Formigas”, numa alusão ao antigo nome de Montes Claros, trouxe-lhe um alento além das montanhas e do agreste semiárido daquela região. Publicado numa tiragem de dois mil exemplares pela Cooperativa Editora e de Cultura Médica, a obra foi incluída na seleção dos melhores livros publicados no mundo em língua

que ainda devo ter algum valor”. Mas esta experiência e uma autoanálise que faria depois causaram uma revolução na sua maneira de ver e agir no mundo, recuperando imagens como aquela quando, em 20 de julho de 1969, o homem desceu na lua e as tevês mostraram, pela primeira vez, a Terra vista do espaço. Ainda veio, na sequência, o deslumbramento em letra e música de Caetano Veloso, também exilado pelo regime militar e perplexo com tamanha e inaugural visão do cosmos: “Por mais distante, o errante navegante, que por ti não esquecerias... Terra, Terra!”. Quem não se lembra disso? Das célebres palavras ditas por Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar na lua e ter essa visão: “Um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade?”

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‘‘Quando eu me encontrava preso Na cela de uma cadeia Foi que vi pela primeira vez As tais fotografias Em que apareces inteira Porém lá não estavas nua E sim coberta de nuvens... Terra! Terra!’’ Caetano Veloso

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Anna Cláudia Pinheiro

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O velho lixão do Galo, às margens do Rio das Velhas, no município de Nova Lima: desrespeito humano...

CHOQUE DE VISÃO O renascimento do ex-guerrilheiro Apolo Heringer Lisboa, codinome “David” para os seus companheiros “aparelhos”, ocorreu aí: “A realidade ali mostrada na tevê de que o mundo tem lógica, se autossustenta de maneira sistêmica, independe do ser humano e ainda pode ser belo e bom para se viver me fez renascer com outra cabeça e sentimento. Que tal como eu fui erradamente catequisado com tantas heranças malditas, e me libertei delas; o planeta também não poderia mais ser visto sob a ótica da colonização cultural e educacional humana que lhe impusemos de maneira antiecológica até então”. Após esse episódio e trabalhando sua cabeça de forma compulsi-

va, Apolo passou a ver o Universo como um conjunto de sistemas e a Terra como vida ecossistêmica, propiciando ver e pensá-la não mais com base nas antigas referências geopolíticas. A ideia de o Estado e a sociedade gestarem a questão ambiental e as políticas públicas a partir das bacias hidrográficas e seus ecossistemas, e não desnaturadamente por municípios, estados e países, visão há tantos anos defendida pelo Projeto Manuelzão, nasceu junto: “Foi uma revolução no meu jeito de pensar e ser no mundo. Eu já era messiânico, fruto do meu aprendizado bíblico e protestante. E virei religioso, não de doutrinas e igrejas mais, mas de “re-ligare” à natureza do planeta que nos mantém vivos e merece

o nosso respeito. O nosso cooperar, e não mais colonizá-lo como se fôssemos um ser apartado que chegou de outra galáxia. A ciência já provou que somos daqui mesmo, que nossa origem é animal e que todos os demais seres vivos, tanto as árvores como os animais, são nossos irmãos e irmãs. É essa, e não outra, a nossa realidade. E é difícil mesmo, a nossa velha arrogância como filhos prediletos de Deus aceitar isso. Mas está aí a origem e solução de todos os nossos problemas”. A noção de pecado, da “queda do paraíso” que as religiões ensinam, passou a ser outra na vida e nova militância de Apolo: “Esse nosso descer ao inferno, o mal estar que nos aflige hoje, fruto da nossa desassociação histórica com o pla-

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Alexandre de Oliveira Souza

... e o mesmo rio, com suas águas já depuradas, na Barra do GUAICUÍ , onde encontra com o Velho Chico: recuperação natural

neta, aconteceu quando os seres humanos, se pensando superior e com origem diferente das outras espécies animais, começou a negar o seu pertencimento natural à Terra. Seu pecado e sua queda atuais tomaram forma quando ele rompeu sua relação com a natureza. Não soube conciliar sua mesma e comum origem biológica com a sua mente, consciência e cultura construídas. Ao se pensar como um extraterrestre, eu sou assim e assado, e posso manipular o planeta, como vimos fazendo até hoje, a humanidade rompeu sua ligação e visão sistêmica com a vida”. LISBOA-HAVANA O tempo passou. Veio o ano de 1978 e uma nova experiência marcou a trajetória do médico e

hoje ambientalista mineiro. Apolo estava fazendo a travessia Lisboa-Havana, onde iria participar do XXI Encontro Internacional da Juventude. Foram 20 dias no mar, quase três semanas de novas vivências e reflexões. Dessa vez, sobre o elemento natural que perfaz ¾ da superfície do planeta que, mais acertadamente, deveria ser chamado de Água. Não teve mais dúvidas. Respeitar esse elemento natural como uma referência importante de vida, saúde e cultura, passou a ser uma das suas bandeiras como médico e cidadão do mundo. Quando se dedicou ao estudo da epidemia de cólera que se alastrou em muitos países da América Latina, e chegou ao Brasil, principalmente em Fortaleza, ele se in-

dagou: “O que é a cólera senão a vingança da água enfezada? O que são e representam os esgotos que ainda jogamos nos rios, que não são nossos, mas que tomamos de todas as formas de vida com o mesmo direito no planeta?” Em 2012, uma dezena e meia de anos depois da criação e atuação do Projeto Manuelzão, sediado na Faculdade de Medicina da UFMG, as respostas para essas perguntas foram transpostas para uma tese vitoriosa de doutorado sob o título “Projeto Manuelzão: uma estratégia socioambiental de transformação da mentalidade social”. Levaram-no a ter um olhar mais crítico de si mesmo e do projeto Manuelzão que homenageia o ex-vaqueiro e companheiro de Guimarães Rosa.

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ARQUIVO PESSOAL

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Apolo Heringer em um de seus vários encontros com Manuelzão: “A gente logo ficou amigo”

POR QUE MANUELZÃO? Primeiro porque a ligação saúde e meio ambiente faz parte da área de medicina preventiva e social, dentro da disciplina de graduação Internado em Saúde Coletiva ou “Internato Rural”, ensinada e divulgada por Apolo, onde a ideia do projeto começou. O nome era outro, concebido no final dos anos oitenta. Ele se chamava Projeto Rio das Velhas e tinha o mesmo slogan e sonho atual, ambos possíveis e em curso para se transformar em realidade, como já aconteceu em alguns rios de alguns países: trazer os peixes de volta às suas águas gradativamente não mais poluídas. Segundo, porque nos anos 92 e 93, quando fazia a supervisão do

internato e do projeto na região de Andrequicé, município de Três Marias, na mesma bacia hidrográfica de Cordisburgo, terra natal do autor de “Grande Sertão: Veredas”, Apolo conheceu Manuelzão e se encantou: “A gente logo ficou amigo. Ele contava casos da década de trinta, quando existiam peixes grandes e se pescava em todo o Rio das Velhas, desde o seu deságue com saúde no São Francisco até o seu encontro com o Arrudas, em Belo Horizonte. Manuelzão representava assim, com legitimidade natural, o sertão não degradado. Era a cara do povo brasileiro, inteligente, indignado e esperançoso. Foi por isso que o convidamos, convidamos a

sua história e sabedoria para dar personalidade, um novo nome e um olhar diferenciado ao nosso projeto na UFMG”. Um olhar verdadeiramente revolucionário e desafiador. Um olhar infelizmente, e por isso mesmo, ainda hoje temido, não compreendido e não captado em toda a sua grandeza, pelas políticas públicas e seus gestores em Minas e no país. Mas uma esperança real e inegável, em construção. É o que a Revista ECOLÓGICO continuará mostrado em sua próxima edição especial, excepcionalmente no dia 5 de junho, “Dia Mundial do Meio Ambiente”. A troca da luta armada, por Apolo, por uma luta amada. Acompanhe!

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O SISTEMA FIEMG TRABALHA PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA E PARA MELHORAR A SUA VIDA. Você sabe o que é o Sistema FIEMG? O Sistema FIEMG é uma organização privada, ou seja, é como se ele fosse uma grande empresa formada por mais cinco empresas. O SESI, o SENAI, a FIEMG, o CIEMG e o IEL. Todas elas trabalham juntas para desenvolver a indústria e apoiar os empresários. E também para melhorar a sua vida. Quer saber mais? Acesse www.fiemg.com.br.

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ALEX PAZUELO

1 P RE S ERVAÇÃO

Adalberto de Almeida, Há dez anos, é um dos protagonistas do projeto

Cuidar para devolver

à natureza

A luta dos ribeirinhos para salvar quelônios no Amazonas Marina Guedes redacao@revistaecologico.com.br

A

pele castigada pelo sol não tira o ânimo do agricultor Adalberto de Almeida, de 55 anos, quando o assunto é cuidar dos milhares de quelônios que nascem nos arredores de Nossa Senhora do Livramento, comuni-

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dade ribeirinha onde vive, a cerca de 300 quilômetros de Manaus. Há dez anos, ele é um dos protagonistas do projeto Quelônios do Uatumã, que envolve conservação e integração socioambiental em áreas de proteção ambiental

no Estado do Amazonas. “Não sei expressar o tamanho da minha alegria quando chega o dia de devolver estes animais para a natureza, as palavras somem.” Com essa declaração, Adalberto sintetiza o que representa para

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ALEX PAZUELO

soltura das tartarugas, na reserva de Uatumã

ele o momento da soltura dos filhotes de quelônios - que há 15 anos acontece graças a uma iniciativa da empresa Eletrobras Amazonas Energia. Na 15ª edição do projeto que ocorreu no início deste ano, somente na comunidade onde vive Adalberto, mais de seis mil filhotes das espécies Tartaruga-da– Amazônia (Podocnemis expansa), tracajá (P.unifilis), iaçá (P. sextuberculata) e irapuca ou capirã (P. erythocephala) foram soltos. Em toda a reserva estadual - denominada Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã - foram mais de 24 mil filhotes inseridos no meio ambiente. Coordenada pelo Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (Cppqa) da área ambiental da Eletrobras Amazonas Energia, a iniciativa conta, anualmente, com o apoio do Governo do Estado do Amazonas, por meio do Centro Estadual de Unidades de Conservação (Ceuc), órgão que faz parte da Secretaria de Estado

de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS). Na avaliação da titular da SDS, Nádia Ferreira, o Governo do Estado vem formulando diretrizes para o manejo de quelônios em todo o Amazonas, buscando definir as áreas prioritárias de conservação, incentivando sistemas de criação e manejo comunitário, normatizando a comercialização e propondo programas de qualificação de gestores, técnicos e pessoas da comunidade. O coordenador do projeto, Paulo Henrique Oliveira, recorda que na trajetória de 15 anos de soltura, cerca de 120 mil filhotes já foram liberados. E acrescenta: “Percebemos um aumento nítido de algumas espécies de quelônios. A partir de agora, o que pretendemos fazer é um trabalho de marcação dos animais, além de melhorar a educação ambiental nas escolas e comunidades”. Soltura Tradicionalmente, o evento de

soltura ocorre como forma de finalizar o monitoramento sazonal de quelônios. São realizadas atividades educativas e esportivas para envolver e sensibilizar a comunidade na conservação de quelônios. Participam todas as pessoas que monitoram as praias e que queiram se envolver nas atividades lúdicas, abrangendo cerca de 400 pessoas. Na RDS do Uatumã, o trabalho é realizado nos complexos de lagos do Calabar, Maracarana e Jaraoacá, no Rio Uatumã, com as comunidades Bela Vista, Maracarana e Nossa Sra. do Livramento, além de outras praias, nas comunidades Caioé Grande e Jacarequara. Segundo a coordenadora do Ceuc, Therezinha Fraxe, a proteção das praias é acompanhada de perto pelos técnicos do Programa de Monitoramento da Biodiversidade e do Uso dos Recursos Naturais (ProBUC) na RDS do Uatumã. “O trabalho visa a participação efetiva das comunidades em todas as fases do processo, desde a

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ALEX PAZUELO

1 P RE S ERVAÇÃO

mais de 24 mil filhotes inseridos no meio ambiente

identificação dos ninhos, coleta dos filhotes após o nascimento, crescimento no berçário até a soltura”, detalhou Fraxe. Devidamente capacitado para o trabalho de monitoramento dos quelônios, Adalberto tem passado adiante aquilo que aprendeu sobre conservação ambiental não só para outros moradores como para sua própria família. “As crianças são as mais envolvidas, a esperança maior está nelas. Quero ficar com os cabelos brancos e deixar alguma coisa aos meus filhos e netos, que são meu braço direito neste trabalho com os quelônios. Que eles cuidem do local onde vivem e respeitem a natureza”, acrescenta. A julgar pelo envolvimento de um de seus filhos, Augusto, de 19 anos, o esforço tem dado certo. “Sempre ouvi meu pai falar da importância de cuidar destes animais. A gente acaba adquirindo um carinho e preocupação

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muito grande em manter o projeto para proteger as espécies. Não tem como não se envolver”, conta o rapaz. Locais de reprodução no Amazonas O coordenador do ProBUC, Pedro Leitão, explica que no Amazonas, atualmente, existem cerca de 138 áreas de reprodução de quelônios, em 10 calhas de rio, que recebem algum trabalho de proteção, principalmente de ninhos e filhotes. A maioria dessas áreas, diz Pedro, é protegida pelo trabalho de comunidades locais interessadas na manutenção deste recurso natural. “As ações de educação ambiental estão incorporadas nas atividades das escolas dos municípios das áreas de atuação, com ações de interdisciplinaridade e transversalidade integrantes dos programas de ensino fundamental e médio na região. As ações envolvem, ainda, a busca

VOCÊ SABIA

Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (RDS) – Criada em 2004, está localizada nos municípios de Itapiranga e São Sebastião do Uatumã, e detém uma área de 424.430,00 hectares. No local residem 20 comunidades, cerca de 364 famílias, que têm como fonte de renda atividades de pesca, manejo florestal madeireiro e não-madeireiro, agricultura e pecuária e, ainda, com potencial para investimentos em produção de óleos vegetais, turismo e piscicultura. pela inclusão social, por meio do trabalho com professores e alunos com necessidades especiais, e a organização e apoio aos grupos de idosos em cada município”, finaliza Pedro.

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1 Pe s qui sa

Filtro de barro

brasileiro

O bom e velho filtro ainda merece lugar de destaque no lar. Segundo estudos ele é o mais eficiente do mundo Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

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mos e sedimentos passem pelo sistema e cheguem ao copo das pessoas. A pesquisa também revela que muitas tecnologias lançadas para novos filtros não têm tanta utilidade, pois em geral não impedem que elementos perigosos como flúor e arsênio passem pela filtragem. Pelo visto, a aposentadoria do filtro de barro ainda está longe. O enfermeiro Maique Pelanda gostou tanto da pesquisa que se prontificou a comprar um para a sua casa. Já a gestora ambiental Adrielly Silveira Lima garante que para ela a pesquisa não é novidade. “Sempre disse ao pessoal da minha casa que o filtro de barro era o melhor, agora está comprovado cientificamente!” Limpeza Mesmo com tanta eficiência, o filtro de barro exige cuidados básicos e simples. A vela deve ser limpa a cada três meses, ou antes disso, caso esteja amarelada ou esverdeada. Não é recomendada a utilização de produtos para a limpeza da vela, basta água corrente e uma esponja nova e limpa.

Livro que apresenta a pesquisa realizada

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SAIBA MAIS

Sistema de filtragem: com minerais Objetivo: reter impurezas, como limo, lodo e ferrugem Como funciona: o processo é físico. Alguns minerais, como o quartzo e a dolomita, dispostos em camadas, formam uma espécie de peneira. Quando a água passa por eles, as impurezas ficam ali retidas.

fotos divulgação

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bjeto comum em muitos lares brasileiros, o filtro de barro pode até ser um antigo morador, mas ainda dá conta do recado. Estudos publicados no livro “The Drinking Water Book” de Colin Ingram apontam que o filtro tradicional de barro, com câmara de filtragem de cerâmica é bastante eficiente na retenção de cloro, pesticidas, ferro e alumínio. Além de também reter 95% do chumbo e 99% do parasita Criptosporidiose, espécie causadora de diarreias e dor abdominal. A eficiência na retenção de impurezas se deve a forma como o filtro faz a passagem de água impura para filtrada. A filtragem por gravidade, em que a água lentamente passa pela vela e goteja num reservatório inferior, garante que micro-organismos e sedimentos não desçam. Exatamente como funciona o filtro de barro. Em contrapartida, quando a água sofre uma pressão de passagem, tais como o fluxo da água da torneira ou tubulação, o processo de filtragem fica prejudicado, já que a pressão faz com que micro-organis-

Artigo comum nas casas brasileiras, o filtro de barro ainda é o mais eficiente, segundo pesquisa.

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Vesperata Faรงo Parte


1 S AÚ DE

Ora doce, ora amargo Em Lavras, pesquisadores comparam resultados do consumo dos principais adoçantes usados pelos brasileiros Susana Feichas redacao@revistaecologico.com.br

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Brasil possui cerca de 120 indústrias dedicadas à produção de alimentos light e diet, segmento que representa algo entre 3% e 5% dos gêneros alimentícios vendidos no país. O percentual pode parecer pouco significativo ao leitor, mas ganha volume se se considerar o fato de que mais de um terço (35%) dos lares brasileiros consomem algum tipo de produto com essas características. Para além dos índices, porém, o que chamou a atenção de pesquisadores de duas instituições de ensino superior de Lavras foi a descoberta de uma interpretação equivocada, por parte dos consumidores, sobre o uso dessas substâncias. A leitura de um artigo

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sobre o assunto despertou os estudiosos para a generalizada convicção dos usuários de que o consumo de adoçantes, sem mudanças adicionais de comportamento, seria suficiente para perder peso e regularizar a saúde. A constatação resultou em estudo comparativo entre alguns dos principais adoçantes consumidos no Brasil. Pesquisadores do Centro Universitário de Lavras (Unilavras) e da Universidade Federal de Lavras (Ufla) confrontaram as propriedades antiglicêmicas, dulcificantes e funcionais da estévia em relação à sacarose, à sacarina/ciclamato, à sucralose e ao aspartame. “Atualmente, existe crescente procura por alimentos de baixa

caloria ou, até mesmo, não calóricos, devido à preocupação com a saúde, em função dos riscos relacionados a obesidade, doença arterial coronariana e diabetes, mas também por questões estéticas”, observa a professora dos departamentos de Farmácia Generalista e Química Industrial do Unilavras, Patrícia de Fátima Pereira Goulart, coordenadora do projeto. Os adoçantes testados estão na base de diversas opções de edulcorantes – substâncias com poder de adoçar – encontrados no mercado nacional em substituição ao açúcar. Os pesquisadores escolheram a estévia como parâmetro comparativo por se tratar de substância natural e potencialmente menos propen-

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A estévia começou a ser utilizada no Brasil por volta de 1987, embora seja conhecida no Japão desde 1920. Nos Estados Unidos, aguarda aprovação há 27 anos, mas já é aceita como complemento alimentar pelo órgão regulador americano FDA (em inglês, Food and Drug Administration). Extraída da planta Stevia rebaudiana, a substância apresenta mistura de glicosídeos, entre os quais predominam o esteviosídeo (50%) e o rebaudiosídeo A (30%)

sa a efeitos adversos. “Mas não que pudesse ocasionar, de maneira isolada, o resultado do emagrecimento, por exemplo”, ressalva. A estévia começou a ser utilizada no Brasil por volta de 1987, embora seja conhecida no Japão desde 1920. Nos Estados Unidos, aguarda aprovação há 27 anos, mas já é aceita como complemento alimentar pelo órgão regulador americano FDA (em inglês, Food and Drug Administration). Extraída da planta Stevia rebaudiana, a substância apresenta mistura de glicosídeos, entre os quais predominam o esteviósido (50%) e o rebaudiosídeo A (30%). Dietas diferenciadas Os testes basearam-se em ensaios com ratos Wistar. Machos com sobrepeso – considerada uma proporção com valores que corresponderiam à obesidade em seres humanos – foram submetidos a dieta hipocalórica, em período de 160 a 180 dias, com os adoçantes. Os pesquisadores trabalharam com subprojetos e distribuíram os tratamentos entre ração pura, ciclamato/sacarina, estévia, aspartame e sucralose. “Todos os passos foram aprovados pela Comissão de ética no uso de animais, guardando os princípios éticos estabelecidos pelas Normas”, assegura a professora. Após o período estabe-

muscular ou cerebral) inferiores. As lâminas histológicas apontaram uma camada de gordura nos rins dos ratos tratados com sacarose, ao contrário do que se observou nos demais animais. “Neste contexto, a estévia apresenta características benéficas à saúde, principalmente quando comparada à sacarose, podendo substituir o açúcar”, concluíram os envolvidos na investigação. Estudos com metodologia similar se repetiram, contrapondo dietas de estévia com os demais edulcorantes avaliados. Os dados corroboraram a hipótese inicial proposta pelo artigo que motivou a investigação: os adoçantes, isoladamente, não foram capazes de reduzir o peso dos ratos. Os pesquisadores constataram, ainda, um resultado considerado interessante, fruto de discussões com outros profissionais da área, como cardiologistas e nutricionistas: após cerca de três ensaios, os estudiosos identificaram, nos exames bioquímicos de colesterol e frações, a tendência a valores mais dentro da normalidade nos animais que usaram estévia, quando comparados aos outros adoçantes e açúcar. “Além de melhorar esses padrões bioquímicos, a estévia não apresentou efeitos adversos, como o aumento da pressão arterial. E, por se tratar de planta medicinal imunoestimulante, alivia desconfortos digestivos, problemas na cavidade bucal, entre outros”, detalha a

FOTOS REPRODUÇÃO

VOCÊ SABIA

lecido, os animais tiveram seu sangue e órgãos submetidos a exames bioquímicos e centesimais. No caso do subprojeto que comparou o uso da estévia com o açúcar comum ou sacarose, por exemplo, analisaram-se o ganho de peso, o perfil lipídico, a glicemia de jejum, a função hepática dos ratos. Além disso, fez-se a avaliação histológica das vísceras. Para estabelecer o contraponto necessário às comparações, os animais haviam sido submetidos, por 45 dias, a dietas especiais, com os seguintes tratamentos: T1 (controle, alimentação simples de fubá); T2 (sacarose 4%); T3 (estévia 2%); T4 (estévia 4%) e T5 (estévia 6%). Não houve diferenças significativas para ganho de peso, consumo médio da ração, níveis de triglicérides, colesterol total e VLDLc, ureia e creatinina, independentemente da dieta. Porém, os animais alimentados com estévia a 2% e 4% apresentaram menores níveis de glicose. Por sua vez, os ratos que ingeriram sacarose 4% mostraram valor médio inferior para o HDLc, o chamado colesterol bom, enquanto que o valor médio de LDLc, o colesterol “ruim”, e de ALT (alanina transaminase, enzima liberada na corrente sanguínea quando há lesão hepática) foi superior aos demais. Os animais dos tratamentos T1 e T5 apresentaram níveis médios de AST (aspartato transaminase, detectada no sangue quando ocorre lesão hepática, cardíaca,

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1 S AÚ DE nutricionista Tatiana Abreu Reis, mestranda da Ufla que participa das pesquisas. A equipe conseguiu, ainda, definir a concentração dos adoçantes que apresentaram melhores resultados, reunindo todos no último ensaio. “Verificamos que a tendência é mesmo de melhores indicadores de glicose e colesterol com o uso da estévia. Já quanto ao emagrecimento, nenhum deles resolve algo sem atividade física associada”, revela a coordenadora, que há sete anos realiza estudos nessa área e já prevê: um próximo passo talvez seja propor os ensaios associados a exercícios. Perigo gota a gota Estima-se o consumo médio mundial de açúcar, per capita, em aproximadamente 200g por dia – incluindo bebidas em geral, doces e, até mesmo, cigarros –, o que somaria cerca de 72 kg anuais. Patrícia Goulart explica que o corpo humano não está preparado para processar essa grande quantidade de sacarose. Assim, o excedente ocasiona malefícios à saúde. A ingestão da substância em demasia, por meio de cereais, de frutas ou diretamente do açúcar e de doces que o contenham, sobrecarrega o pâncreas. Essa glândula é responsável pela produção da insulina, hormônio que transforma a sacarose em glicose – que, em excesso, se acumula no organismo na forma de gordura, causando diversas doenças, como obesidade, diabetes, hipertenção arterial e enfermidades cardiovasculares. “A mudança nos hábitos alimentares, com a introdução de adoçantes em substituição ao açúcar, por exemplo, pode exercer poderoso suporte à prevenção dessas doenças”, explica a estudante de mestrado, Tatiana Reis. Por outro lado, também há res72

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“O corpo humano não está preparado para processar essa grande quantidade de sacarose.” trições ao consumo exagerado dos edulcorantes usados em substituição ao açúcar. Um dos potenciais fatores prejudiciais seria a indução ao aumento do peso. Isso porque o adoçante atua no sistema nervoso, causando a sensação de insaciedade no organismo e ativando o sensor da fome. Existem, ainda, considerações sobre a própria composição dos produtos. A maioria das opções encontradas no mercado (tanto líquidas quanto em pó) é artificial e tem, como base, o ciclamato de sódio ou a sacarina sódica – cujo principal elemento químico pode resultar, por exemplo, em elevação da pressão arterial ou agravamento de quadros de predisposição a doenças renais. Além disso, adoçantes com as duas substâncias em sua fórmula não devem ser ingeridos por grávidas e crianças. Já o aspartame é contraindicado a pacientes com fenilcetonúria – doença hereditária que pode gerar problemas dermatológicos e neurológicos, caracterizada pelo acúmulo do aminoácido fenilalanina e seus derivados no organismo. Quanto ao açúcar light, embora apresente menor teor calórico, constitui-se de combinação entre a sacarose convencional e o adoçante. “O dano é ainda maior, já que os perigos acarretados pelo açúcar comum se juntam àqueles provocados pela sacarina e pelo ciclamato”, avalia a professora. Entre os adoçantes mais indicados estão aqueles que têm como base a esté-

via, cuja ingestão não demonstrou efeitos colaterais nos estudos. “Seu uso pode ser uma forma eficaz de reduzir as calorias de diversos alimentos, sem comprometer o sabor doce que os consumidores apreciam e sem prejudicar a saúde”, sinaliza Tatiana Reis. Segundo Patrícia Goulart, a sacarina e o ciclamato estão proibidos em países como Canadá e Estados Unidos, respectivamente, uma vez que testes feitos em ratos resultaram em câncer na bexiga dos animais. Embora não seja comprovado o risco em seres humanos, os estudos incentivaram a proibição em alguns países e a restrição no Brasil. A pesquisadora esclarece que a maioria dos limites de consumo de adoçantes é determinada a partir de análises com cobaias, sendo a dose máxima estabelecida para humanos 10% da porção mínima que mostrou qualquer tipo de toxidade em animais. “Inúmeros alimentos consumidos em excesso fazem mal, mas essas doses tóxicas são quantidades que, possivelmente, um indivíduo não ingeriria”, elucida. Como muitos pacientes não contam as gotas ou exageram na quantidade de sachês de adoçante, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reduziu a cota máxima, no caso da sacarina e do ciclamato, em bebidas e alimentos industrializados. Para estabelecer esses limites, a Anvisa se apoia em dados da Ingestão Diária Aceitável (IDA), que estima quanto um indivíduo pode ingerir de determinada substância por dia, e durante toda a vida, sem colocar sua saúde em risco. FONTE Estudo comparativo com aspartame, ciclamato/sacarina, sucralose e sacarose em ratos Wistar e seres humanos, coordenado por Patrícia de Fátima Pereira Goulart e reproduzido pela Revista Minas faz Ciência, edição 52, da Fapemig.

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1 Preservação

saulocoutinho.com.br

projeto visa preservar os últimos exemplares do maior primata das américas

ALERTA MURIQUI Iniciativa para salvar Eduarda, Zidane, Socorro e os que restam da sua espécie Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

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atenção necessária de investidores e apoiadores como a YKS. Com mais de 20 anos e 200 projetos desenvolvidos, a empresa sabe, com sua experiência, a importância de abraçar uma causa como essa e o grande desafio que ela representa. Para tanto, criou o Projeto Alerta Muriqui, que propõe difundir a situação de ameaça da espécie, de modo a sensibilizar a sociedade, articular diversos segmentos em ações e iniciativas de conservação e mobilizar esforços técnicos, operacionais, científicos e financeiros. Mas nada de ficar só divulgação

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iante da real ameaça de extinção do Muriqui, o maior primata das Américas, a empresa de consultoria estratégica e técnica na área ambiental, YKS, resolveu “arregaçar as mangas” e atuar na sua conservação, com esperança de reverter o quadro crítico atual. O número de indivíduos das espécies do Muriqui do Norte (Brachyteles hypoxanthus) e do Muriqui do Sul (Brachyteles arachnoides), corresponde a menos de 1% da população original. Representantes da Mata Atlântica, os mil indivíduos sobreviventes estimados habitam os fragmentos remanescentes do bioma e estão entre os primatas mais gravemente ameaçados de desaparecimento em todo o planeta. Uma situação que pode mudar se os esforços junto ao Plano de Ação Nacional para Conservação dos Muriquis receberem a

no papel ou nas ideias. Ações concretas comemoram passos largos nesta caminhada. CONSERVAR é preciso A YKS ofereceu apoio técnico-institucional na translocação de uma fêmea isolada de Muriqui do Norte, “Eduarda”, do fragmento florestal localizado em Santa Margarida (MG) para a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Sossego. Uma história que já rendeu importantes conhecimentos sobre técnicas e dados científicos no que diz respeito ao resgate, reintrodução e monitoramento dos animais. Conquista que virou livro infantil e um projeto de educação ambiental para fomentar a conscientização acerca da espécie. A diretora de projetos da empresa, Sabrina Lima, lembra que os muriquis são espécies-chave: “Preservando o muriqui, contribuimos

Sabrina lima: torcida para o muriqui ser o mascote das Olimpiadas 2016

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“hora do conto” sensibiliza jovens para protegerem o muriqui, a mata atlântica e o meio ambiente juntos

des de introdução dos filhotes na natureza”, conta Sabrina. Corrida contra o tempo Essas são medidas emergenciais, pois não há muito tempo diante da forte ameaça de extinção. A longo prazo é necessário constituir, de fato, corredores ecológicos que conectem os fragmentos de mata, onde animais e grupos encontram-se isolados, permitindo a migração dos especimes e as trocas genéticas fundamentais à sua conservação. Projeto no qual a YKS atua instruindo as empresas, às quais fornece consultoria, indicando espaços relevantes e constituindo um mapa de prioridades no que diz respeito a essas áreas, a exemplo da necessidade de se formar um corredor Caratinga- Sossego, onde existem grupos isolados de muriquis. A curto prazo, a translocação de fêmeas entre os grupos conhecidos revela-se uma ação fundamental na conservação da espécie. Além disso, a YKS também incentiva e apoia ações de conservação de outras espécies, como o Entufado Baiano (Merulaxis stresemanni), espécie de avifauna ameaçada ou a identificação do menor primata das Américas, espécie rara no Brasil, o Sagui-leãozinho (Cebuella pygmaea), encontrado no maior resgate de fauna, realizado pela empresa, às

margens do rio Madeira, em plena Amazônia Legal. O projeto “A Hora do Conto”, um trabalho voluntário, que visa sensibilizar crianças e jovens quanto à importância da proteção da Mata Atlântica, por meio de palestras, visitas ao viveiro do Zidane e atividades de leitura e dramatização que contam a história da Eduarda, é uma das iniciativas frente às metas do Plano de Ação Nacional para Conservação dos Muriquis. Mas para fortalecer ainda mais o Alerta Muriqui, em âmbito mundial, a YKS luta agora para que a espécie seja eleita mascote dos Jogos Olímpicos de 2016, um forte apelo para sua conservação. Ao abraçar todas essas causas, a YKS reafirma seu compromisso com a conservação da fauna brasileira. Um exemplo que precisa de apoio das instituições e empresas, peças fundamentais na construção do desenvolvimento sustentável. SAIBA MAIS: www.yks.com.br

fotos divulgação

para a preservação da biodiversidade como um todo; e se existem muriquis é sinal de que há esperança para a Mata Atlântica”. O projeto de translocação da fêmea isolada tornou-se possível em 2006, a partir do convênio firmado pela consultora com diversas instituições: o Centro de Estudos Ecológicos e Educação Ambiental (Ceco), a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UEMG Carangola e a MMX. Foram meses de preparação, algumas tentativas e um final feliz. Eduarda foi capturada em perfeitas condições de saúde. Antes de ser translocada, recebeu um rádio colar de telemetria. Isso permitiu seu monitoramento por nove meses dentro da nova área e do novo grupo de muriquis, onde se adaptou surpreendentemente bem, a ponto de já ter dado à luz a dois filhotes. Mais um passo largo em direção à recuperação da população desses primatas. Sabrina ressalta o fato de que isolados, os grupos remanescentes provavelmente seriam extintos pela falta de variabilidade genética, fundamental à sua conservação. Eduarda é um exemplo de ação de manejo bem-sucedido. Essa é uma entre várias histórias. A YKS também ofereceu apoio técnico-institucional no resgate do macho isolado de Muriqui do Norte, que hoje, conhecido como Zidane, é o único indivíduo em cativeiro para fins de pesquisa e conservação da Fundação Zoo -Botânica de Belo Horizonte. Além disso, houve diversas tentativas de captura da fêmea isolada de Muriqui do Norte, “Socorro”, no fragmento próximo à comunidade de Três Barras, na Mata do Sossego em Simonésia. Patrocinadas pela YKS, apesar de as ações de resgate ainda não apresentarem êxito, pretende-se fazer nova tentativa para levar Socorro, que recebeu esse nome por seu frágil estado de saúde, para ficar com Zidane. “Isso nos daria a oportunidade de estudar e analisar como se dá a reprodução em cativeiro e quais as possibilida-

CEBUELLA pygmaea: menor primata das américas

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1 T E C N O LO G I A

TAPETES DE VIDA Técnica de revegetação desenvolvida pela Vale permite a reconstrução do verde com ambientes próximos aos suprimidos. Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

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studo desenvolvido pela Vale possibilita a reabilitação de ambientes com as mesmas plantas retiradas de áreas impactadas, garantido não só a preservação das espécies, mas também das características gerais da flora local. A metodologia permite o transplantio das espécies sem perdas significativas e se aplica principalmente às espécies herbáceas de Campos Rupestres. A chamada técnica dos “tapetes biocoloniza-

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dos”, que consiste na fixação das plantas resgatadas sobre tapetes de fibra de coco , já mostra resultados positivos na preservação das espécies e da fitofisionomia natural. Ou seja, no conjunto de plantas característico de cada região. Localizado em Nova Lima, em meio há 11 unidades operacionais de extração de minério de ferro, o Centro de Produção de Mudas Nativas da Vale, é um espaço dedicado a manutenção, reprodução e

estudo das espécies vegetais recolhidas dos locais a serem explorados e utilizadas na reabilitação das áreas degradadas. É ali que esse estudo prossegue e poderá ser disponibilizado depois para toda a sociedade. Segundo ambientalistas, um dos maiores impactos no meio ambiente causados, de modo geral, pela expansão das atividades humanas é a retirada da cobertura vegetal nativa. Até então, o resgate

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Conservar e preservar Segundo o engenheiro Ramon Braga, um dos responsáveis pela área de reabilitação ambiental da Vale, “conservar é diferente de preservar”. Conservar, ele explica, significa manter os cenários naturais intocados, a exemplo das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) que a empresa criou, cujas áreas são mantidas por ela exatamente do jeito como sempre foram. “O que fazemos no nosso Centro de Produção de Mudas é preservar. É garantirmos que as espécie retiradas de um local não sejam eliminadas, mas reintroduzidas em um novo ambiente. Isso ocorre por meio de sua reprodução ou pela transferência do próprio indivíduo.” Para tanto, a equipe de reabilitação ambiental da empresa, formada por biólogos, engenheiros agrônomos e florestais, técnicos ambientais e especialistas em georreferenciamento, organiza e define o que vai ser retirado e para onde será levado. Os especialistas ocupam-se da preparação do resgate e elegem uma lista de prioridades sobre as espécies que exigem cuidados distintos ou são foco prioritário, como aquelas presentes nas listas de “ameaçadas de extinção”. Estas são integralmente coletadas.

fotos fernanda mann

da flora nessas áreas restringia-se à coleta de sementes, mudas e outros propágulos, o que culminava na perda de grande parte do material genético eliminado através da raspagem mecanizada do solo. Um estudo ecológico sobre as áreas nativas a serem suprimidas antecede todo o processo e reúne informações a respeito dos aspectos quantitativos e qualitativos das espécies vegetais ali existentes e de sua significância. Tais fatores são determinantes no planejamento de como efetuar o resgate e garantir a preservação das espécies e do bioma em que estão inseridas.

Ramon Braga: “FALAR EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NOS REMETE A GARANTIR A PRESERVAÇÃO DAS ESPÉCIES. ISSO É NOSSA OBRIGAÇÃO. TEMOS QUE PERMITIR QUE AS FUTURAS GERAÇÕES TENHAM ACESSO AO PATRIMÔNIO GENÉTICO EXISTENTE HOJE”

Nova esperança Há um ano, uma nova metodologia para coleta e revegetação de áreas impactadas começou a ser desenvolvida pelo Centro de Pesquisa da Vale. Normalmente as plantas coletadas eram colocadas em sacolas plásticas. E as principais, em caixotes de madeira usados, tipo “Ceasa”, forrados com substrato de origem local. Porém, esse sistema apresenta alguns inconvenientes como custos elevados, alta taxa de mortalidade, dificuldade na logística de transporte e acondicionamento e elevado espaço físico dos viveiros. Outros problemas são o estresse sofrido pelas plantas e a geração de resíduos nesse processo. Segundo Ramon, os caixotes que eram largamente utilizados na Vale, deverão ser substituídos por técnicas mais sustentáveis. Por isso, estamos desenvolvendo a técnica dos “tapetes biocolonizados”. Ao comparar o caixote com a biomanta, esta se mostra mais vantajosa. Ramon explica que no campo a diversidade é altíssima. O que coletamos ia para o

caixote com uma distribuição das plantas entre si, bastante diferente da forma natural. Torna-se impossível a reconstrução da mesma forma como estava na natureza, ao contrário do que ocorre com o tapete. Ele viabiliza a manutenção das espécies retiradas no próprio campo, mantendo as características anteriores à coleta. Trata-se de uma metodologia inovadora. A aplicabilidade desta técnica não se restringe apenas à expansão da atividade de mineração, mas a qualquer atividade humana que requeira supressão de vegetação nativa de porte herbáceo, como no caso da expansão imobiliária, construção de estradas, barragens, agropecuária, etc. A nova técnica utiliza uma fibra de coco largamente disponível no mercado, recortada em tapetes na dimensão desejada. Neles é colocada uma fina camada do substrato recolhido em campo, chamada “top soil”, que contém a microfauna do solo, sementes, fungos e microrganismos necessários à sobrevivência das plantas ali acomodadas. Muitas delas demoram ecológico/ABRIL DE 2013 n 77

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fernanda mann

1 T E C N O LO G I A

“ESTA ÁREA FOI INTEIRAMENTE RECONSTRUÍDA COM AS ESPÉCIES NATIVAS DO LOCAL. AO FUNDO, O PICO DE ITABIRITO, QUE A VALE PRETENDE REVEGETAR COM A MESMA TÉCNICA.”

dezenas de anos para se desenvolver, a exemplo de orquídeas e bromélias. Assim, não há tempo para enraizarem a ponto de estarem presas à fibra, cuja função é justamente estrutural, mantendo as plantas firmes e acondicionadas. A solução que viabilizou a técnica foi o grande “pulo do gato”, segundo Ramon. Para fixar as plantas desejadas, junto são semeadas gramíneas que durante seu crescimento e desenvolvimento permeiam suas raízes entre as raízes das plantas resgatadas, fixando-as no tapete e permitindo seu manejo e transporte sem que ela se desprenda. As gramíneas são anuais e morrem dentro de alguns meses, servindo de aporte de nutriente, sendo fonte de matéria orgânica e de carbono. Além disso, elas não se tornam praga, pois suas sementes são inviáveis, o que protege o ambiente reabilitado da inserção de espécies exóticas. A metodologia otimiza todo o processo, reduz os custos em

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60%, simplifica a logística, facilita a coleta, a sobrevivência dos indivíduos e permite começar a se pensar em resgate máximo, ou seja, cogitar a retirada da totalidade de plantas herbáceas de uma área que será alterada. O próximo passo do projeto é realizar todo o processo no próprio espaço da supressão. Tirar a planta, colocar no tapete e deixá-la no local de coleta, até que se estabilize e enraize, para só então ser transportada. Por enquanto os testes acontecem em viveiros, mas com estudo e planejamento a técnica poderá ser aplicada no próprio local de origem das plantas, ou seja, em campo. “Retirar a espécie de seu local de origem, levar para o viveiro e voltar com ela para campo requer acompanhamento e observação para que ela persista no novo ecossistema e se perpetue”, explica Ramon. Segundo ele, hoje é comum, em congressos e simpósios sobre recuperação de áreas degradadas,

cases de sucesso sobre reflorestamento com espécies nativas e reconstrução de matas: “Existe muita fartura de informação”, comemora. Entretanto, no bioma de Campo Rupestre são poucos os conhecimentos e técnicas existentes. Apesar das elevadas taxas de biodiversidade e endemismo próprias deste bioma, ainda são poucos os estudos quando comparados aos biomas de formações florestais. As técnicas de resgate e reintrodução de plantas de campo rupestre, conclui o especialista, necessitam de foco em pesquisas, aprimoramentos e trabalhos eficientes para reprodução e proteção das espécies. Muitas delas com elevado grau de endemismo, risco de extinção, potencial medicinal e paisagístico. Neste sentido, os tapetes biocolonizados representam um importante passo a favor da preservação da biodiversidade e das paisagens naturais sobre o planeta. São bem-vindos. E o planeta agradece.

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UM ESPAÇO INIGUALÁVEL André Firmino / Ecológico

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gestão empresarial & ti roberto francisco de souza (*) redacao@revistaecologico.com.br

Tecnologia e Pobreza No meio de tanta tecnologia, é preciso procurar a pobreza e não se esquecer de quem realmente somos

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uando Steve Jobs fazia seus concorridos lançamentos de produtos de alta tecnologia no Vale do Silício e a imprensa comemorava ou vociferava contra ele, a técnica estava transformando o mundo, mas fico pensando em que medida a transformação alcançava a pobreza. Trabalho por muitos anos com a causa da inclusão digital e, pouco a pouco, enquanto o Brasil se transformava, fui avisando, não sem muita resistência de meus pares, que essa era uma causa com data de validade. Em breve, muito mais pessoas estariam incluídas, e a questão se transformaria. Foi depois de desenvolver essa consciência que conheci a Social Innovation Exchange e foi quando também o próprio Comitê para a Democratização da Informática, uma das maiores ONGs mundiais de inclusão digital, passou a falar de inovação social - maneiras novas de resolver velhos problemas sociais por meio da tecnologia. Iniciativas como essas nos fazem aproximar, de novo, tecnologia e pobreza, mas temo não ser uma aproximação de coração. A eleição do Papa Francisco recoloca o problema: não se esqueçam dos pobres! - Mas, que pobres? Perguntarão os que comemoram o Brasil de plantão e por antecipação, do alto de suas redes sociais editadas em smartphones de última geração e maximizando sempre resultados que deveriam ser tratados como dolorosas conquistas. Basta olhar em volta. Outro dia fui a um jogo de futebol com meu filho, jogo internacional, casa cheia. Em nossa Belo Horizonte se come tropeiro antes dos jogos e nos sentamos para comer o nosso nos arredores do estádio, numa praça. Senta um senhor sujo e pobre, catador de latas de alumínio, bem do nosso ladinho. Algo estranho aconteceu comigo. Senti um cheiro forte e ruim, mas algo em meu íntimo me fez sentir o cheiro como perfume. Quis conversar com ele. Quis pagar um tropeiro para ele nos acompanhar, mas não deu tempo. Ele pegou as sobras de outra pessoa e sentou ali. Calado.

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Não pediu nada. Falou de seu cansaço. Disse que ia catar latas naquela noite para ajudar na passagem de ônibus para voltar pra sua terra. Quando terminei de comer, tirei uma nota de vinte reais e dei a ele, que continuou não me pedindo nada. Ele só olhou a nota, incrédulo, e seu olhar me encheu o coração de esperança, porque agradecia sem pedir nada. Merda de vinte reais! Eu sou um cara de tecnologia e acho que a tecnologia pode fazer mais pela pobreza, se procurar a pobreza. Eu? Tenho certeza de que ainda faço pouco. Subi a rua com meu filho e só me lembro de ficar repetindo para ele minha ladainha preferida: nunca se afaste tanto de Deus que ele não possa te ver e... Nunca se esqueça de quem você é! Naquele momento, já tinha decidido escrever esta crônica e premiar o leitor interessado em tecnologia com um pouco de pobreza. Faz sempre bem para a alma e para a disposição de ajudar a mudar o mundo! (*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG e presidente do Comitê para a Democratização da Informática – CDI e diretor da Arbórea Instituto

TECH NOTES l Social Innovation Exchange www.socialinnovationexchange.org l Social Good Brasil http://goo.gl/0Ey1p l Soluções que funcionam de verdade... para pobres! http://goo.gl/1Bsi4

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1 biodiversidade

De volta para casa Espécie considerada extinta na natureza, a Ararinha-Azul retorna ao país como uma esperança para a Caatinga redacao@revistaecologico.com.br

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Renaudsechet

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s dois primeiros exemplares da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) chegaram neste ano, logo após o carnaval, a São Paulo. As aves, mantidas em cativeiro na Alemanha, chegam ao Brasil como uma das ações do projeto Ararinha na Natureza. A proposta é devolver à caatinga brasileira essa espécie que desapareceu da região há mais de uma década. O procedimento de transferência das aves obedece às normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e é acompanhado diretamente pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que coordena o Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha-azul (Pan), e pela Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (Save-Brasil). “O objetivo é ter indivíduos suficientes em cativeiro para efetuar a reintrodução em seu hábitat natural daqui a alguns anos”, explica a coordenadora do Pan, Camile Lugarini. O Pan foi instituído pelo ICMBio em fevereiro de 2012 e prevê uma série de medidas para aumentar a população manejada em cativeiro, além de recuperar e conservar o hábitat de ocorrência histórica da espécie até 2017. Inicialmente, as aves passaram por exames clínicos, seguindo as exigências do Mapa e foram embarcadas em voo comercial, acondicionadas em caixotes especiais (imunes a contaminações). Após o desembarque, os espécimes serão levados para a Estação Quarente-

A espécie desapareceu da Caatinga brasileira há mais de uma década

nária de Cananeia (SP), onde ficarão em quarentena. Ao final desse período, as aves se juntarão a outros exemplares que estão em cativeiro no Brasil, para a reprodução. Em busca de novos espécimes A repatriação faz parte das ações do governo brasileiro e parceiros para reintroduzir a ararinha-azul na natureza, que é uma espécie brasileira nativa da Caatinga. Considerada extinta em ambiente natural desde 2000, atualmente há no mundo apenas 80 indivíduos, mantidos em programas de cativeiro. A maioria encontra-se em mantenedores no exterior (Espanha, Alemanha e Qatar). De acordo com o ICMBio, somente

quatro ararinhas compõem atualmente a população reprodutiva no Brasil. Iniciativa ousada e grandiosa, o projeto tem o objetivo de restabelecer uma população selvagem da espécie e garantir a proteção de seu hábitat. Atualmente a ararinha-azul é um dos animais mais ameaçados do planeta e, embora tenha sido sempre considerada rara, devido ao histórico de destruição de seu hábitat (Caatinga) e a intensa captura para o comércio ilegal, a espécie tornou-se símbolo mundial da importância de preservação da biodiversidade. Saiba mais: www.savebrasil.org.br

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Alain BarkI

Informe Publicitário

Receita de sucesso empresarial: iniciativas que não agridem o meio ambiente, evitam desperdícios, estimulam a reciclagem e apoiam a comunidade local

“Qualidade é a nossa marca,

sustentabilidade é o nosso lema” Evidência maior das boas práticas adotadas é a harmônica convivência de espécies da fauna e flora do Cerrado com o cafezal

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estaques da 2ª edição do “Prêmio Sebrae Minas de Práticas Sustentáveis”, empresas mineiras comprovam domínio de seus negócios. Elas têm conseguido manter a lucratividade conciliando as práticas diárias com várias ações em prol da sustentabilidade do pla-

Valéria Flores redacao@revistaecologico.com.br

neta. Promovida pelo Sebrae Minas, a premiação é um estímulo à inovação tecnológica e à busca de posturas e procedimentos que possam tornar as pequenas empresas mais eficientes, rentáveis e sustentáveis. Como as empresas conseguem ter resultados financeiros positivos e ain-

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da proteger a natureza e o futuro do planeta? É bastante simples: elas investem em iniciativas que não agridem o meio ambiente, evitam desperdícios, estimulam a reciclagem, apoiam a comunidade local e ainda consolidam ótimos resultados empresariais. A Fazenda Jatobá, no município de

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PAULO MOTTA

Saiba mais: www.grupojatoba.com.br

A fazenda já recebeu sete certificações em qualidade do café e boas práticas sociais, agrícolas e de manejo

Cafés especiais

Uma pequena unidade produtiva altamente especializada na produção de sementes de café e de especiais do tipo gourmet, a Fazenda Jatobá integra o grupo de 55 municípios produtores da mundialmente consagrada “Região do Cerrado Mineiro”. A propriedade, distante quatro quilômetros do centro da cidade, possui lavoura com doze variedades dos mais nobres cultivares já produzidos pela pesquisa de ponta na cafeicultura brasileira, sendo Coffea arabica: Catuaí Vermelho IAC 99; Catuaí Vermelho IAC 144; Catuaí Amarelo IAC 62; Catucaí Amarelo 2SL; Tupi IAC 1699-33; Bourbon Amarelo IAC J10; Icatu Precoce IAC 3282 (amarelo); Acaiá Cerrado MG 1474 (vermelho); Topázio MG 1190 (amarelo); Rubi MG 1192 (vermelho); Oeiras MG 6851 (vermelho); e Coffea canephora: Apoatã IAC 2258 (vermelho), cultivar resistente aos principais nematoides do cafeeiro, utilizado na enxertia de arábicas. THIAGO MOTTA

Alain BarkI

Patrocínio, no Triângulo Mineiro, é um grande exemplo de inclusão, no seu negócio, de ações sustentáveis, que reduzem custos e não agridem o meio ambiente. Evidência maior das boas práticas adotadas na fazenda é a harmônica convivência encontrada entre diversas espécies nativas da fauna e flora do Cerrado e o cafezal, onde se destacam coloridos tucanos, frondosas copaíbas e majestosos jatobás. A lavoura é separada por quadras e talhões, todos com placas de identificação do cultivar, variedade, número de plantas e data do plantio, além de espaço para anotações dos tratos culturais realizados. Produtora de café, a Fazenda Jatobá, além de manter a mata nativa plantou cerca de 900 árvores típicas do Cerrado dentro de suas lavouras. Já a água, usada para lavar o café, é coletada em tanques de decantação e reutilizada na plantação de banana. Além disso, recupera nascentes com o monitoramento e a intervenção nas matas ciliares. A irrigação é realizada com sensor, evitando o desperdício de água. A criação de abelhas garante maior eficiência na polinização das espécies nativas. A fazenda também faz a coleta seletiva, e os resíduos são doados ou vendidos. Mantém secagem natural, ao sol, lenta e gradual de seus cafés. Reaproveita os resíduos do café fazendo compostagem. A fazenda já recebeu sete certificações em qualidade do café e boas práticas sociais, agrícolas e de manejo. “O meu pai nos passou essa preocupação com o meio ambiente. Descobrimos que é um processo gratificante e retornável para o nosso negócio”, conta Thiago Veloso da Motta, que a administra.

água usada para lavar o café é coletada em tanques e reutilizada na plantação de banana

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olhar exterior ANDRÉA ZENÓBIO gunneng De Yangon, Myanmar redacao@revistaecologico.com.br

Mingalaba

‘Auspício para você’

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penas 10 dias depois do meu encontro com Allah (tema dessa coluna na edição passada, “Visitando Allah”), viajei para um novo destino espiritual: Myanmar, também conhecido como Burma, no Sudeste Asiático, fronteiriço com a China, Tailândia, Índia, Laos e Bangladesh. Seria a primeira vez em que teria a oportunidade de imergir em uma sociedade basicamente budista – dos seus 60 milhões de habitantes, 89% são budistas. Os 11% restantes são divididos entre cristãos (4%), muçulmanos (4%), crenças tradicionais animistas (1%), hinduísmo (1%) e outras religiões (1%). Quais as diferenças mais marcantes encontraria, baseando-me na experiência de ter crescido no Brasil, um país católico; ter vivido

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em uma sociedade secular, como a Noruega, ou muçulmana, como o Marrocos? Ou de morar hoje na China, país onde religião é controlada pelo governo e apenas uma ínfima parte da população observa os preceitos do budismo, hinduísmo ou religiões folclóricas chinesas, mas durante décadas esteve proibida a prática de qualquer culto religioso? Ou mesmo de experiências temporárias, como a multirreligiosa Índia? Desde 2011, quando o regime militar começou a afrouxar seu domínio sobre o governo (o país está sob controle militar desde o golpe de Estado, em 1962), inclusive liberando a ativista birmanesa de direitos humanos mais proeminente e Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi (chamada por todos de “A Senhora”), Myanmar se tornou o destino ‘exótico’ A tradição de 2.000 anos de aplicar ‘thanaka’ no rosto em diferentes designs é mantida até hoje

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preferido da comunidade estrangeira que vive em Pequim. “Vá, antes que seja tarde” é o conselho dominante. O ‘antes’ se refere: antes que a natureza seja destruída; antes que as redes de hotéis e resorts de luxo ocupem as praias e os destinos preferidos, deslocando as comunidades locais; mais especificamente antes que o ‘jeito de ser’ dos birmaneses seja ‘contaminado’ pelos hábitos e demandas dos ocidentais. Em paz e centrado Mulheres e homens vestindo longos sarongues, com parte de seus rostos cobertos por ‘thanaka’, uma pasta cremosa amarela usada pelos birmaneses há mais de 2000 anos, são encontrados por todo o país. Thanaka, produzido a partir da madeira de uma árvore de mesmo nome, tem um aroma perfumado semelhante ao sândalo. O creme é aplicado no rosto em diferentes designs, sendo a forma mais comum a de um círculo em cada bochecha, ou listras feitas com os dedos, ou ainda modelado no formato de uma folha. Além do efeito cosmético, thanaka também produz uma sensação refrescante e protege contra a queimadura solar, além de ser antifungicida. Tão interessante! ‘Mingalaba’ é a primeira palavra birmanesa que aprendi, a saudação a ser usada em todos os momentos do dia, significando ‘auspício para você’. Que você tenha êxito e boa sorte em todos os momentos de sua vida! Amáveis, delicados e sorridentes. Em paz e centrados. Assim são os birmaneses. Sem pressa, presentes no momento. Mas, uma coisa é encontrar um, dois ou um grupo de pessoas assim. Mas ser uma característica predominante de uma sociedade? Como assim, questiona qualquer mente urbana e turbulenta dos turistas ocidentais que se embrenham em meio àquele povo. A resposta – e a razão para tal harmonia pessoal – não tarda a se apresentar. Descalços (sapatos são sempre retirados ao adentrar em casas, monastérios e templos), visitamos alguns dos milhares de templos e ‘estupas’ (diferentes tipos de ‘torres’ com múltiplas beiradas construídas como um espaço religioso budista) espalhadas pelo país. Já o fato de estar descalço faz com que se diminua a velocidade do caminhar. Não se olha; se aprecia. O tempo adquire um ritmo mais calmo, mais contemplativo. Em meio às inumeráveis estátuas de Buda e estupas cobertas com pequenas folhas de ouro, produzindo um ambiente totalmente dourado; em meio aos sinos, aos turistas e ao falar sem fim dos guias

FOTOS ANDRÉIA ZENÓBIO

“Desde 2011, Myanmar se tornou o destino ‘exótico’ preferido da comunidade estrangeira que vive em Pequim. ‘Vá, antes que seja tarde’, é o conselho dominante”

Viagem espiritual: Templos para prestar homenagem a Buda são encontrados de todas as formas e tamanhos espalhados pelo país

turísticos, ali estão os birmaneses, pessoas comuns como eu e você, sentados, em silêncio interno, profundo. Eles meditam. Em Myanmar, budismo não é experimentado como religião, mas como um ‘estilo de vida’, um sistema para a formação da mente. Budismo é de natureza espiritual, não religiosa. Seu objetivo é autoconhecimento, não salvação ou acesso ao paraíso. Ele se baseia na razão e análise, contemplação e meditação, cultivando os valores de harmonia e compaixão. Com 89% de sua população focada em cultivar o silêncio interno, observar e descartar as armadilhas da mente, e também desenvolver uma atitude de misericórdia para com todas as formas de vida, o resultado não poderia ser diferente: os birmaneses têm e exalam uma natureza interna boa. Ter visitado Myanmar nesse momento de sua história e ter tido oportunidade de “expervivenciar” o povo birmanês como ele é hoje foi, definitivamente, um privilégio espiritual! (*) Jornalista ambiental e consultora de comunicação, especialista em consumo sustentável e mudanças climáticas www.conexaoverde.com ecológico/ABRIL DE 2013 n 87

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sabia?

EVOLUÇÃO Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

TEMPOS REMOTOS Os mais antigos fósseis de bactérias datam cerca de 3,5 bilhões de anos. Portanto, a origem da vida é no mínimo mais antiga do que isso. Há cerca de 160 mil anos viveu o mais antigo registro inquestionável daquilo que atualmente definimos como Homo sapiens. Em termos de semelhança genética, nossos ancestrais de 50 mil anos têm a mesma variabilidade genética que vemos pelo mundo atual, ao comparar, por exemplo, ale-

mães, brasileiros, chineses e pigmeus. Mas além da evolução biológica, quais mudanças ocorreram nas últimas dezenas de milênios? Um processo semelhante à evolução biológica, a evolução cultural e tecnológica. A escrita, por exemplo, foi inventada a cerca de cinco mil anos. Uma perspectiva interessante frente à moderna vida acelerada.

HOMENS E BACTÉRIAS, QUALQUER SEMELHANÇA NÃO É MERA COINCIDÊNCIA Todos os seres vivos têm guardado em suas células instruções genéticas que os definem e coordenam seu desenvolvimento. Cada espécie traz um texto longo e detalhado como uma receita, o DNA, que é transmitido fielmente através das gerações. Copiadas por milhões, às vezes centenas de milhões de anos com mudanças que ocorrem com extrema lentidão, essas informações constituem a história evolutiva guardada no tecido dos animais e vegetais modernos. Parentes muito próximos, como os seres humanos e os chipanzés, possuem muito DNA em comum. A seme-

lhança entre o idioma alemão e o holandês equivale à comparação entre o DNA de qualquer par de mamíferos. Já o DNA dos humanos é tão semelhante ao dos chipanzés que podemos fazer uma analogia com o inglês falado com sotaque ligeiramente diferente. Ao mesmo tempo que o inglês e o japonês são tão distintos que não servem de analogia, nem mesmo aos humanos e às bactérias, que possuem sequências de DNA tão semelhantes que parágrafos inteiros são idênticos, palavra por palavra.

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José Eduardo de Freitas Cezar

BERÇO DA CIVILIZAÇÃO E UMA ANTIGA LIÇÃO Há cerca de 10 mil anos os homens, eram caçadores-coletores –não plantavam, apenas tiravam da natureza o alimento-, o que caracterizava seu estilo de vida nômade, quando ocorreu a revolução agrícola entre os rios Tigre e Eufrates. Essa transição para uma vida agrícola sedentária pode representar a primeira vez que as

pessoas tiveram um conceito de lar. Antes, o homem parece ter usado seus conhecimentos para explorar ao máximo seu ambiente. Ao ponto de existirem registros de exploração excessiva da terra por agricultores primitivos que acarretou em colapso ecológico com a extinção dessas sociedades. Irônico, não?

A ilha de Madagascar é um fragmento de Gondwana, o supercontinente que incluía a maior parte do que hoje são os continentes do Hemisfério Sul. Separou-se do que hoje é a África há cerca de 165 milhões de anos e da Índia há cerca de 90 milhões de anos. Seus habitantes são descendentes da primeira flora e fauna de quando os continentes ainda encontravam-se unidos e desenvolveram-se em completo isolamento. A ilha abriga cerca de 5% de todas as espécies terrestres de plantas e animais do planeta, das quais mais de 80% não são encontradas em nenhuma outra parte do mundo. Além disso, chama a atenção pelo número de grupos totalmente ausentes. Em contraste com a África ou a Ásia, em Madagascar não existem cavalos, zebras, girafas, elefantes, coelho e nenhum membro da família dos cães e gatos. Atualmente o que se tem em fartura em Madagascar, assim como em todo o mundo, é a população de humanos. Aproximadamente 20 milhões de pessoas vivem na ilha,

fotos: Reprodução/ shutterstock

MADAGASCAR, UM JARDIM BÔTANICO E ZOOLÓGICO NATURAL

número que cresce cerca de meio milhão por ano. A floresta, que já chegou a cobrir 90% de sua superfície, hoje ocupa apenas 10% do território. Se continuar nesse ritmo, em 40 anos Madagascar não terá mais árvores. Mas e se a ilha desaparecer do mapa? Bom, neste caso apenas um milésimo da área terrestre total do planeta se perderia, mas ficaríamos sem 4% de todas as espécies da fauna e flora mundial.

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OLHAR POÉTICO Antonio Barreto redacao@revistaecologico.com.br

A COISA do respirava, ofegava e gargalhava em meio aos fogos de artifício que varavam nuvens, estilhaçavam vidros e entupiam seus ouvidos com chumaços escuros de algodão ensopado entre respingos de ácido sulfúrico. Era algo monstruoso que queria engolir sua cabeça. Ou levá-lo para algum lugar parecido com o Inferno. Ou parecido com o Paraíso. Não. Não sabia ao certo. Nada estava certo. Então, alguém gritou: – Olha lá... a Coisa! Algumas pessoas, surpresas, exclamaram: – Ohhhhhh... Outras, aterrorizadas, espantadas: Socorro! Cuidado! Cruz credo! Outras: – Virgem Maria! Nossa senhora! Deus me livre! E outras incrédulas, admiradas: – Caramba! Puxa vida! Que lindo... Mas o que seria? O que teria sido? Que Deus tivesse pena dele! Não sabia explicar nada. Só sabia que aquilo estava acontecendo sim, de verdade. Não tinha a menor dúvida. E essa coisa iria acompanhá-lo para o resto da vida. Enquanto ele dormisse. Enquanto ele acordasse. Ou enquanto estivesse pensando que as coisas desse mundo são sempre assim: uma espécie de cumplicidade mesclada a uma espécie de condenação. Então ele percebeu como a coisa funcionava. Era só fechar os olhos e pegar uma folha de papel e começar a escrever sobre ela e escrever e escrever mesmo que não houvesse sentido e escrever mesmo que não... “Meu amor, escrevo-lhe estas mal traçadas nuvens enquanto no céu tenebroso um meteoro explode em milhões de megatons. O Armagedon se aproxima e a vasta Terra, agora aniquilada...” Escreveu, escreveu e até hoje não parou. Mesmo sabendo que nunca saberá nada sobre ela. A coisa. E que ela nunca saberá nada sobre ele. A terra. A não ser que ambos, ele e a “coisa”, habitam o mesmo reino estranho e desconhecido. E que, nesse lugar, um não pode viver sem o outro. Mas ambos precisam de duas coisas para sobreviver: a imaginação e a palavra.

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le teve um pressentimento. Alguma coisa terrível iria ocorrer naquele dia, a qualquer minuto. Em vários lugares, ao mesmo tempo, a coisa estava acontecendo. Era algo indefinido, infernal. Um tanto nebuloso, porém, extraordinário. Mas o quê? Quem? Onde? Por quê? Tinha certeza apenas de que ninguém, nada, nenhum ser humano jamais havia presenciado aquilo, daquele modo, do jeito como... Foi então que se ouviu um estalo, uma explosão descomunal no céu. Tudo escureceu. Um apagão, um blecaute, um eclipse. O sol desapareceu. A energia se rompeu. As lâmpadas de todos os prédios e de cada casa se apagaram. A água acabou. Os elevadores estacionaram. O trânsito parou. Alguém caiu ao seu lado. Na outra margem da rua um pássaro estranho e gigantesco se desfez de suas penas como alguém que brincasse de despetalar margaridas tostadas. Sentiu o coração implodir. Mas logo retomou a respiração, compassada, como o relógio de um cego. Os automóveis então, paulatinamente, começaram a se transformar em árvores. As árvores brotavam e se enraizavam umas sobre as outras na medida em que se tocavam com os para-choques ensanguentados. Na avenida, agora habitada por seres semoventes, em slow-motion, os frutos das árvores cresceram e despencaram sobre a cabeça dos passantes. Os passantes, vagarosamente, se atropelavam. A fuligem negra das nuvens, por último, lhe ardeu nas retinas. A enxofria salgada e fosforescente do ar empestado invadiu seus pulmões já deteriorados. O celular, de repente, lhe explodiu nas mãos, se arrebentou no asfalto. Precisava de um lápis, urgente, de uma caneta, de uma folha de papel. Algo desmaiou em suas mãos... E então todas as pessoas, todos os animais, todas as plantas e pedras, de cada canto do mundo, ficaram em total silêncio. E no meio do silêncio tudo virou luz. Um clarão intenso que iluminou e cegou a todos. Outro estalo descomunal. A luz tenebrosa e contaminada. Um zumbido ensurdecedor que veio do centro da terra, do céu, dos lados, de cada ponto que pulsava ou de cada coisa que parecia ter vida. E agora essa luz-ruí-

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A informação que forma e transforma o seu ponto de vista. Os fatos que formam e deformam a realidade. As características que engrandecem e apequenam a política e a vida empresarial. As noticias que todo mundo quer ver e que muitos não gostariam de ver publicadas. As atitudes e as práticas sustentáveis e insustentáveis para o meio ambiente.

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A direção da Usiminas se orgulhava de ter sofrido uma única greve em seus 50 anos. Mas a siderúrgica era dona de tudo. Até da sede do Sindicato dos Metalúrgicos

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NATUREZA MEDICINAL marcos guião (*) redacao@revistaecologico.com.br

Contra a dengue A

marcos guião

dengue avança em Minas e algumas plantas medicinais podem ser utilizadas no tratamento dos pacientes, com resultados rápidos e eficazes. Os números alarmantes de casos de dengue no estado de Minas Gerais estão trazendo preocupação para as autoridades e instalando o medo no coração dos mineiros. E o pior sentimento que existe é o medo. Existem algumas possibilidades retiradas diretamente da natureza que podem e devem ser utilizadas como um recurso terapêutico simples, eficaz e de baixo custo. O Cravo de Defunto (Tagetes erecta) é um desses recursos. Seu nome advém da fama de espantar moscas quando o falecido fica muito tempo exposto no velório. Mas o chá das folhas tem aliviado muita gente que teve a vida transformada num sem fim de sofri-

Cravo de Defunto: recurso terapêutico simples, eficaz e de baixo custo contra a dengue

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mento. De acordo com o depoimento de doentes que fizeram uso do chá, os sintomas clássicos de dores nas articulações, de cabeça, atrás dos olhos, febre, além de muitas dores por todo o corpo como se houvesse tomado uma surra, num gasta duas horas para o cabra se animar e buscar logo alguma coisa pra fazer. Tradicionalmente suas flores e folhas são indicadas para combater a angina, a tosse, as cólicas uterinas, agindo ainda como antirreumático e antiespasmódico. O CHÁ O preparo do chá é simples. Basta colocar um litro de água no fogo, esperar levantar fervura e despejar o equivalente a dez folhas do Cravo de Defunto bem picadinhas. Em seguida abafe e apague o fogo. Quando o caso é mais sério e os sintomas são mais graves, a recomendação é diminuir o volume de água para meio litro e manter o mesmo número de folhas, deixando a bebida mais concentrada. A recomendação é tomar em grandes goles quando o chá estiver morno. Outra planta que também traz alívio e pode ser usada para diminuir os sintomas da dengue é o Anis Estrelado (Illicium verum) ou ainda o chá preparado com as sementes do Funcho (Foeniculum vulgare). Parece até coisa de “vovozinha”, mas funciona. Não é raro observar no povo e na pova que passou pela dengue, sequelas de hepatotoxicidade, com queixas de enjoo, semblante malicento, mal estar frequente e má digestão. Aí é chá de Melão de São Caetano (Momordica charantia) ou ainda o de Macaé (Leonurus sibiricus), também chamado de Rubim. Com paladar acentuadamente amargo, essas plantas, utilizadas juntas ou em separado, ajudam a restabelecer as funções hepáticas e torna a recuperação do doente mais rápida. Vale uma recomendação: antes de tomar o chá de Cravo de Defunto ou qualquer outra medicação, primeiramente procure saber se você tem mesmo dengue, tá bom? Até a próxima lua!

Saiba mais: w​ww.natu​reza​dose​rtao​.com​.br (*) Jor­na­lis­ta e consultor em plantas medicinais.

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1 MEMÓRIA ILUMINADA: TIM MAIA

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guto costa / sc

O síndico do

Brasil Dono de uma voz poderosa, mas de personalidade forte, irreverente e sem limites, Tim Maia marcou seu estilo na história da MPB

“Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita”

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Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

antor, compositor, produtor, multi-instrumentista e polêmico são apenas algumas das palavras que descrevem o homem responsável pela introdução do estilo soul na música popular brasileira: Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia do Brasil, que, mesmo após 15 anos de sua morte, está em evidência. Sua vida e carreira se transformaram no livro biográfico “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia”, escrito pelo jornalista Nelson Motta. E inspiraram um musical de mesmo nome, que tem ganhado destaque na mídia cultural e promovido o ator Tiago Abravanel. Nascido no dia 28 de setembro de 1942 e criado no bairro da Tijuca, subúrbio da zona norte do Rio de Janeiro, Tim foi o filho caçula e mimado de uma família de doze filhos. A mãe, Maria Imaculada Maia, seria até o final da vida dela, a única pessoa que o marrento Tim obedeceria cegamente, o “obrigando” a sempre aceitar os convites de Chacrinha, que a matriarca adorava -mas ele não-, para cantar no programa do Velho Guerreiro. Dono de uma voz poderosa e de personalidade forte, o cantor trilhou uma carreira de sucessos musicais como “Descobridor de sete mares”, “Réu confesso”, “Não quero dinheiro” e “Azul da cor do mar”, mas também ganhou a fama de não cumprir sua própria agenda de apresentações. Hábito que fez a cantora Sandra de Sá, amiga de Tim, declarar certa vez com humor: “Eu acho até que as pessoas se decepcionavam quando o Tim comparecia aos shows dele!”

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1 MEMÓRIA ILUMINADA: TIM MAIA

divulgação

juventude E CARREIRA Justiça seja feita, nem só de drogas e extravagânAos 14 anos, cantou e tocou bateria no grupo cha- cias a sua carreira foi feita. Aos 32 anos, o cantor mado Tijucanos do Ritmo, formado na Igreja dos experimentou uma fase religiosa e “careta”. Atraído Capuchinhos próxima a sua casa. Aos 15 anos, Maia pela doutrina “Universo em Desencanto”, Tim Maia fundou o grupo The Sputniks. Um dos componen- mergulhou na cultura racional. Disse não às drogas, tes era o jovem e desconhecido Roberto Carlos. às bebidas e às relações sexuais que não tivessem Com um Tim brigão e genioso, a banda não durou como finalidade a reprodução e convenceu toda a muito. E ainda, com Erasmo Carlos formou o grupo sua banda “Vitória Régia” a segui-lo. Resultado: conmusical The Snakes. seguiu emagrecer, a voz ficou mais nítida e compôs Aos 17 anos, após a morte do pai, foi em busca do músicas como “Que beleza!” e “O caminho do bem”. sonho de conhecer a “América” e partiu para os Esta- A fase religiosa, considerada por alguns fãs como a dos Unidos com 12 dólares no bolso e algumas men- melhor de sua carreira musical, e para outros, a pior, tiras para a família. Nos EUA aprendeu a falar inglês, não durou muito. Logo ele começou a criticar a seita conheceu o soul music, fez parte do e a retornar ao seu antigo e irreverengrupo chamado The Ideals e teve te estilo de vida. o primeiro contato com as drogas, que o seguiriam quase até a morte. Sucesso e MORTE Envolvido numa turma barra pesaO artista também colecionou ações da, chegou a roubar e foi preso por judiciais, que iam de quebra de conposse de drogas, voltando ao Brasil trato por não comparecimento aos deportado, em 1964. shows a inadimplência, muitas das De volta e sem um tostão, contou quais perdidas somente porque não umas “histórias” sobre a vida que lecomparecia às audiências. Paralelavara nos States e fez bicos como guia mente às dívidas, o cantor foi um dos turístico graças ao inglês fluente que primeiros a ter sua própria gravadoconquistara. Mas, não duraram muira, a Vitória Régia Discos e a editora to! O que Tim queria mesmo era canSeroma, soma das sílabas de Sebastar. A Jovem Guarda já explodia, e o tião Rodrigues Maia. E a estourar gordinho da Tijuca resolveu ir atrás com sucessos que lhe rendiam shodo antigo colega de banda: Roberto ws lotados, da zona sul às periferias. Carlos. Depois de muita insistência e Polêmico, Tim experimentou altos e Biografia: talento e irreverências de dobrar o coração de Nice Rossi, a baixos durante toda a carreira. Além esposa do Rei na época, Roberto gravou a composição de ter sido o famoso síndico da canção “W/Brasil” de Tim: “Não Vou Ficar”. Era o primeiro passo de um de Jorge Ben Jor. Mas, no fundo, tudo que ele queria, artista que ainda começava a brilhar. era um sonho bem comum, conforme escreveu certa vez na canção “Essa tal felicidade”: “De uma coisa eu Drogas e obesidade não desisto, sou fiel não abro mão. De ter filhos, ter Conforme a fama aumentava Tim Maia engordava amigos, companheira e irmãos”. alternando com épocas em que estava menos obeso. Tim Maia morreu aos 55 anos no dia 15 de março Famoso por “criar” receitas estranhas como misturar de 1998, após passar mal durante um show. Faleceu coca-cola, groselha, creme de leite e leite condensa- devido a uma hemorragia digestiva, seguida de uma do, além de ser fã de doces como quindins, o cantor infecção pulmonar e outra renal. Deixou dois filhos, ainda curtia coquetéis de misturas perigosas: dro- Telmo (Carmelo) Maia e o enteado Léo Dias, do regas e álcool, durante e pós-shows. Bebidas, muitas lacionamento com Geisa Gomes da Silva, o grande vezes, responsáveis pelas ausências de Tim em vá- amor de sua vida. rios shows e programas. Entre eles, o “Domingão do Confira a seguir as frases polêmicas e divertidas e Faustão”, fato que o fez ser vetado da programação trechos de músicas que marcaram a carreira do nosda Rede Globo. so “síndico”:

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Tristeza

Obesidade

l “A tristeza não existe. Quando estamos tristes, é porque a felicidade voltou a despistar-nos naquele longo caminho atrás dela.”

l “Fiz uma dieta rigorosa, cortei álcool, gorduras e açúcar. Em duas semanas perdi 14 dias.”

Brasil

Drogas

l “Aqui, música romântica se chama brega. Se fosse assim nos Estados Unidos, os cantores de blues e todos os grandes crooners românticos iriam morrer de fome.”

l “Não fumo, não cheiro e não bebo, mas às vezes minto um pouquinho.”

Dinheiro Música

“Roberto Carlos não é geniozinho. Ele é inteligente, batalhador e canta mais ou menos”

“Com os acordes que tem em uma música do Tom Jobim dá para fazer umas cinquenta”

“Isso é desumano. Nem no fundo musical do Xou da Xuxa eu posso cantar. Assim as crianças crescem sem saber quem é o Tim Maia”

Religião.

l “Vale mais, quem sabe mais.” l “Somos agraciados pela nossa capacidade de transformar nossos defeitos em nossas mais belas qualidades.Só basta usarmos a sabedoria.”

Família

l “Não está errado ser solteiro ou ser casado. O negócio é saber viver em paz.” l “De uma coisa eu não desisto, sou fiel não abro mão. De ter filhos, ter amigos, companheira e irmãos.” divulgação

divulgação

l “Metade de minhas músicas são esquenta-sovaco e metade, mela-cueca.” l “Levo o meu canto puro e verdadeiro. Eu quero que o mundo inteiro se sinta feliz.” l “Não precisa de dinheiro pra se ouvir meu canto. Eu sou canário do reino e canto em qualquer lugar.” l “Se eu pudesse, só cantava. Quando eu paro de cantar, faço besteira.”

Sérgio Savarese

Veto da Globo

l “O mundo só será bom no dia em que todo o dinheiro acabar, mas que não me falte nenhum enquanto isso não acontece.”

Amor

l “Amar é entregar o melhor de si a quem é o melhor pra mim” l “Não se sofre por amor, aí já é paixão... Não tem nada a ver com amor.” l “O amor é circunférico, não existe outro lado do amor. O outro lado do amor é o amor maior.” l “É engraçado, às vezes a gente sente e fica pensando que está sendo amado, que está amando e que encontrou tudo o que a vida poderia oferecer. E em cima disso a gente constrói os nossos sonhos, os nossos castelos e cria um mundo de encanto onde tudo é belo.” l “Quando a gente ama não pensa em dinheiro só se quer amar.”

Religião

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l “A humanidade deve ser limpa, pois os princípios da sociedade são sujos.” l “O caminho do bem é um só, é para todos.”

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Sandra de Sá: “Eu acho até que as pessoas se decepcionavam quando o Tim comparecia aos shows dele!”

Saiba mais: www.timmaia.com.br

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1 ensaio

FOTOGRÁFICO

A GEODIVERSIDADE DA SERRRA DO ESPINHAÇO CARACTERIZOU O PROCESSO DE OCUPAÇÃO, FUNDAMENTADO NA EXPLORAÇÃO MINERAL

AS VÁRIAS MINAS Livro sobre a Serra do Espinhaço promove conhecimento para gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais do estado

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rente ao grande desafio da sustentabilidade em gerir territórios cuja complexidade vai de deslumbrantes paisagens ainda naturais a extensos centros urbanos em constante expansão, os educadores mineiros Miguel Andrade, coordenador do Curso de Ciências Biológicas e o professor de educação ambiental Sérgio Augusto Domingues da PUC Minas deram uma contribuição sui generis, se não bastasse belíssima. Ambos são autores do recém-lançado livro “Serra do Espinhaço”, cujas páginas, com imagens estonteantes da sua porção mineira, tendo como epicentro geográfico o município de Conceição do Mato Dentro, confirmam o grande potencial a ser preservado da região reconhecida pela UNESCO como a Reserva Mundial da Biosfera. Uma região tanto riquíssima em biodiver-

sidade, com excelência em áreas representativas de diversos ecossistemas, quanto altamente impactada pela urbanização acelerada devido a novos projetos de mineração em implantação. Promover soluções para conciliar o que resta de natureza conservada com a necessidade do desenvolvimento sustentável é a proposta maior da publicação. Esta reserva da biosfera retratada e protegida por uma instituição de renome internacional, igualmente preocupada e vigilante, abrange mais de três milhões de hectares, que incluem 53 municípios e 11 Unidades de Conservação (UCs). Constitui um importante complexo socioambiental. Um cenário que, através do olhar fotográfico de Miguel, torna o livro mais que uma publicação de imagens. Mas o registro científico, histórico e artístico de uma região

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FOTOS MIGUEL ANDRADE

VILA DO MATO GROSSO, EM CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO. SURPREENDENTES VILAREJOS QUE PRESERVAM ANTIGAS CULTURAS FORAM RECONHECIDOS COMO COMUNIDADES TRADICIONAIS

em destaque por sua biodiversidade única, pelas elevadas taxas de endemismo e abundante presença de espécies ameaçadas. Soma-se a isso uma riqueza cultural traduzida desde os ancestrais indígenas aos traçados da história colonial de uma das áreas minerais mais exploradas do mundo, vide as cidades históricas que nasceram no ciclo do ouro e hoje renascem pelo ciclo do minério de ferro. Distribuído pela editora Empresa das Artes nas cidades, comunidades e bibliotecas locais, o objetivo do livro é ser um atrativo e estratégico instrumento de divulgação de valores, a princípio, conflitantes da Serra do Espinhaço. Segundo seus autores, para que a conservação aconteça, em meio à chegada do desenvolvimento e da urbanização associada, é necessário tornar conceitos como Reserva da Biosfera permeáveis em todos os níveis da sociedade, principalmente nas comunidades: “As pessoas da região são os elementos-chave para o reconhecimento e preservação desse caleidoscópio natural, econômico e cultural. Essa é a maior motivação do livro. Mostrar-lhes, por outro viés, a

obra será distribuida nas cidades, comunidades e bibliotecas locais

riqueza que guardam e representam e sobre as quais seus olhares já acostumados possam ser aguçados, bem como o de parceiros que vislumbrem possibilidades de investimentos em sua geografia.” A ECOLÓGICO compartilha alguns desses registros. Confira! SAIBA MAIS: miguelandrade@pucminas.br

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ensaio FOTOGRÁFICO

CAVA DE MINERAÇÃO NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO. DESAFIO PERMANENTE NA BUSCA DE DIÁLOGO ENTRE DIVERSOS SETORES

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serra da lapa, lapinha. Santana do riacho

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dona mariinha e o carro de boi. comunidade do parauninha, no peixe tolo

RIO CIPÓ. PARQUE NACIONAL DA SERRA DO CIPÓ. SANTANA DO RIACHO

ENCONTRO DE BELO HORIZONTE COM A SERRA DO CURRAL. OS FATORES DE PERTURBAÇÃO ANTRÓPICA VÊM SE INTENSIFICANDO NOS ÚLTIMOS ANOS

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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br ramzi hashisho

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Uma bananeira me contou...

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stava na sombra de um bananal lendo Spinosa, quando me deparei com a seguinte frase: Deus siva Natura. Isso significa que naturans (natureza criadora) é também naturata (natureza criada). Espantado pensei: Então Deus está em tudo, é também natureza? Esse filósofo ambientalista estava imerso em seus pensamentos quando uma bananeira do alto de seus dois metros de altura me falou: “Por que tamanho espanto reles hominídeo? Nós todas aqui nessa plantação, como tudo o mais, fazemos também parte do divino. Mas é um grande engano dos homens acharem que fomos criadas por Deus apenas para produzir deliciosos frutos para vocês se apetecerem. Vocês nunca imaginaram que por trás dessas bananas gostosas que lhes oferecemos há uma sutil estratégia de sobrevivência. Nós somos tão ou mais inteligentes que vocês. Os homens cuidam muito bem de nós, nos protegem dos predadores, de muitas pragas e melhoram continuamente nosso desempenho genético. Com a ajuda de vocês somos um sucesso completo”. “Antes vivíamos em alguns recantos da Ásia longe de tudo e hoje vocês nos espalharam pelo mundo inteiro. Agradecemos de coração essa parceria bem-sucedida. Não se esqueçam de que nós é que domesticamos a espécie humana há milhares de anos. Usamos esse animal bípede para perpetuar nossa linhagem gênica e ele, coitadinho, nunca desconfiou disso. Acha, todo convencido, que ele é quem nos domesticou. Nessa troca nós levamos uma vantagem enorme, pois vocês nos tiraram do meio de uma selva hostil para nos trazer para esse lugar bem protegido, sem competidores, bem adubado e com água à vontade. Lá na selva tudo era muito difícil, os nossos frutos eram mirradinhos e

o tempo todo atacado por pragas e predadores diversos. Agora não, vocês criaram um paraíso para nossa espécie. Pelo visto você está percebendo que somos muito mais astutos do que imaginava a vã espécie humana. Já não sabemos mais viver sem vocês e vocês também não sabem mais viver sem a gente. Não é dependência, é interdependência, pois a vida é um sistema de redes interconectado. Quando sair daqui pode dizer aos seus colegas tudo o que ouviu. E tenho certeza que seus amigos vão achar que você está delirando, mas não desanime, insista, insista o tempo todo.” Saí do bananal muito aturdido diante daquela aula de imenso conteúdo ecopedagógico. Como bom ambientalista tinha que transmitir essa experiência exemplar. Mas quem acreditaria que planta é inteligente? Portanto, acreditando ou não, seria de bom alvitre que todos nós aprendêssemos a escutar e a observar melhor as coisas da natureza. Sermos menos narcisistas na nossa relação com ela. Sabermos que a inteligência está em tudo, e que todas as coisas estão em uma contínua inter-relação e interdependência. Para finalizar é bom saber que temos apenas 100 mil anos de caminhada por esse planeta, enquanto as plantas estão aqui há milhões de anos. A consciência desses fatos deveria, em curto prazo, fazer parte do ideário cotidiano de todos os seres humanos. E creio que, com a ajuda da educação ambiental, conseguiremos atingir esse objetivo. E assim poderemos habitar um mundo onde as pessoas teriam uma melhor compreensão e vivência desse fluxo de acontecimentos inter-relacionados que forma o tecido vivo da nossa Mãe-Terra. (*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.

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TODAS AS PORTAS DA ASSEMBLEIA ESTÃO ABERTAS PARA VOCÊ. Participar da vida política é direito de todo cidadão. Por isso, a Assembleia facilita o acesso para você chegar à Casa do Povo. Você pode acompanhar o trabalho dos parlamentares, consultar os projetos e as notícias e apresentar sugestões. Acesse a Assembleia pela internet, TV ou telefone. Ou venha aqui pessoalmente. Fique à vontade, a Assembleia é a sua Casa.

Acesse: www.almg.gov.br Assista: TV Assembleia – em BH, canal 35 UHF Fale: Centro de Atendimento ao Cidadão – (31) 2108 7800 Venha: Rua Rodrigues Caldas, nº 30 – Santo Agostinho – Belo Horizonte. Atendimento das 7h30 às 20h.


O mundo precisa de estradas.

Mas também precisa das paisagens em volta delas.

O desenvolvimento de um país passa pela construção pesada. Mas é preciso vencer os desafios de infraestrutura sem comprometer os recursos naturais e o próprio futuro. Por isso, o SICEPOT-MG estimula práticas responsáveis e ambientalmente corretas entre seus associados. Temos um futuro inteiro para construir juntos. E vamos trabalhar muito por ele.

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