ANO 9 - Nº 100 - AGOSTO DE 2017 - R$ 12,50
EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA
A Terra pede paz! Atire a primeira flor!
Sebastião Salgado & Lélia Wanick
FOTO: RICARDO BELIEL
Homenagem do Ano
“A destruição da natureza pode ser revertida.” Reserve esta data! Cerimônia de premiação
26 de outubro
www.premiohugowerneck.com.br
EXPEDIENTE
FOTO: JÚLIO HUBNER
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"Cachoeira - Serra do Cipó", obra de YARA TUPYNAMBÁ
Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com
REPORTAGEM Fernanda Mann, Juliana Pio e Luciana Morais
ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com
DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com
EDITORIA DE ARTE André Firmino
IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A
COLUNISTAS (*) Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza
PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.
REVISÃO Gustavo Abreu
REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br
EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com
CAPA Wendell Medeiros/TNC
CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior
DEPARTAMENTO COMERCIAL Sarah Caldeira sarah@souecologico.com
CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos
MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com
Igor Santos igor@souecologico.com
EDIÇÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br (*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.
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Idea ealilizado pelo Governo do Est s addo de Minas Gerais e coordenado pela Code Co demi m g, o prooje jeto Plant ntaando o Futuro visa ao pllanntitio de 300 mi milh l õees de árv rvor ores e , de div iversaas es espé péci c es, em 20 mil hect c ares, até 20188. ct A inniciativa buscaa també am ém reecu cupe p ra pe rarr 40 40 mill nas a ceent ntes es,, es 6 mil hectares de ma m ta t s ci c lilarres es e 2 mil hec ectarees de voçorocas. Contamos com a par arrtitici c pa ci p ççãão do doss mine miineiriros oss nes e se s pro roje jeto to. Porque todos queremos um estaddo am mbi b enta ennta talm lm men ente susteentáv nttá el para nós e nossos filho fi hoos. fil s
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ÍNDICE
CAPA ECOLÓGICO CHEGA À SUA EDIÇÃO 100 REVISITANDO FATOS E REPORTAGENS QUE MARCARAM A HISTÓRIA AMBIENTAL DO BRASIL E DO MUNDO.
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PÁGINAS VERDES
O SOCIÓLOGO SÉRGIO ABRANCHES FALA SOBRE A TRANSIÇÃO DA HUMANIDADE EM MEIO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
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TURISMO CONHEÇA A MAJESTOSA FLORESTA DOS CEDROS DE DEUS, NO LÍBANO, COM SUAS ÁRVORES DE ATÉ 35 METROS DE ALTURA
E mais... CARTAS DOS LEITORES 08 CARTA DO EDITOR 10 ECONECTADO 12 GENTE ECOLÓGICA 14 SOU ECOLÓGICO 16 TERRA BRASILIS 34 ESTADO DE ALERTA 38 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 40 A SERRA PEDE PAZ (3) 42
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ENSAIO FOTOGRÁFICO AS BELAS IMAGENS VENCEDORAS DO CONCURSO “QUAL É A SUA NATUREZA?”, DA ONG TNC
GESTÃO & TI 54 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 65 MEMÓRIA ILUMINADA 76
Pág.
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1 IMAGEM DO MÊS
O eclipse total do sol, ocorrido no dia 21 deste mês, gerou euforia internacional, principalmente nas redes sociais. No Brasil, Amapá e Roraima foram os estados com melhor visibilidade do fenômeno, que ocorre quando o Sol, a Lua e a Terra estão alinhados. Segundo a Nasa, o próximo eclipse solar total será em janeiro de 2019.
FOTO: NASA
ESPETÁCULO ASTRONÔMICO
AGOSTO DE 2017 | ECOLÓGICO O 07
CARTAS DOS LEITORES
O PÁGINAS VERDES - ANDRÉ TRIGUEIRO O jornalista falou à Ecológico sobre seu novo livro "Cidades e Soluções"
“Estamos precisando de mais gente como o André Trigueiro. Esse é o cara! Parabéns!” Selmal Araújo, via Google+ O DENÚNCIA - COCA-COLA Fábrica mais "verde e sustentável" da Femsa Brasil não tem árvores nem paisagismo
O MEMORIAL VALE DO SOL Instalação de crematório gera polêmica em Nova Lima
“Vale do Sol? Ou Vale dos Mortos? Incrível como pessoas se sentem poderosas a ponto de tentarem matar os sonhos daqueles que sonharam e investiram comprando terrenos e construindo suas casas em um Vale maravilhoso. Lugar este que se tornou um polo gastronômico. Esse crematório é uma imposição à lei, às pessoas de bem que com luta construíram seus lares. O empreendimento está na contramão dos valores éticos, desde a forma ilegal que estão tentando impor.” Silas Azevedo, via Facebook “O crematório no Vale do Sol não é bem-vindo! Os moradores não foram ouvidos!” Graça Carvalho, via Facebook “Péssima a matéria sobre o crematório. Um empreendimento com o objetivo de cremar o respeito e a opinião dos moradores do Vale do Sol. Todos no Vale estão enlutados com essa notícia.” Saimon Dias, via Facebook 08 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2017
“Algumas coisas estão totalmente fora da nova ordem mundial de sustentabilidade. A CocaCola e demais empresas desse tipo já nasceram sem nenhuma responsabilidade ambiental. Quanta água é consumida dos nossos mananciais? Como é possível que, para produzir cada litro de refrigerante eles consumam 1,45 litro de água? Eles vendem veneno - eu chamo de água poluída gaseificada, adoçada e com ingredientes secretos viciantes. Eles não plantaram nem vão plantar árvores espontaneamente, só com ordem judicial.” Luna Elizabeth Matos, via site EU LEIO
“Gosto muito de ler a Ecológico. Mais que uma simples leitura, é uma viagem. Uma degustação e, sobretudo, um convite à reflexão. Equilibra bem a posição, os pontos de vista e a informação jornalística, promovendo a sustentabilidade pelo chamado à tomada de consciência e engajamento. Considero a Revista Ecológico uma verdadeira instituição de Minas, e deveria também se tornar uma instituição brasileira.” FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES
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FLÁVIO AZEVEDO, consultor e ex-presidente da Vallourec do Brasil
FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
O NOTA DA REDAÇÃO - MATÉRIA VALE DO SOL A Ecológico, cumprindo seu dever jornalístico, vem a público esclarecer aos moradores do Vale do Sol que jamais publicaria uma matéria sensível e polêmica como esta, se não tivesse tido acesso a informações essenciais, cujos documentos oficiais reproduzimos aqui. A saber: 1 – “Declaração 014/2016” para a Supram Central Metropolitana da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Este documento foi assinado em 03 de maio de 2016 pelo então prefeito Cássio Magnani Júnior e seu secretário Municipal de Meio Ambiente, Roberto Messias Franco. Diz o ofício, textualmente: “A Prefeitura Municipal de Nova Lima declara, para fins de formalização de processo de Licenciamento Ambiental junto ao Copam, que o tipo de atividade desenvolvida e o local de instalação do empreendimento Memorial Vale do Sol, CNPJ 21.399.090/0001-05, para a atividade CREMATÓRIO com capacidade instalada de 12 Kg/dia, localizado na Quinta Avenida, 436, no bairro Vale do Sol, está em conformidade com as leis e regulamentos administrativos deste Município”. 2 – Consulta prévia processada em 01 de junho de 2016, para licenciamento de atividades junto à Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão, Departamento de Fiscalização de Obras da Regional Noroeste. Atividade consultada: “Crematório e espaço para velório”. E resultado da consulta (idem): “Permitido”. 3 - Relatório de Consulta de Viabilidade da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg), tendo como objeto social “Atividades de Velório, Crematório e Atividades de Administração”. Data de processamento: 15/12/2016. Resultado Geral da Viabilidade: “Deferida”. Análise do Endereço: “deferida ” também. Quanto à nova legislação municipal que, alegam os moradores, proíbe a edificação do Memorial, ela de fato existe. É a de número 2.572. Foi sancionada pelo atual prefeito, Vitor Penido, em 11 de maio deste ano. E dispõe, p , textualmente,, “sobre construção, ç ,o
funcionamento, a administração, a delegação e regulação dos serviços e da fiscalização de crematório público e privado no âmbito do Município de Nova Lima”. Porém, juridicamente, não pode ser retroativa. A lei proíbe a instalação de crematório em áreas residenciais e de Preservação Permanente (APPs). O projeto do Memorial Vale do Sol prevê a sua instalação ao longo da Quinta Avenida, que atravessa todo o bairro, na companhia de dezenas de outras atividades, como posto de gasolina, restaurantes, bares, depósito de material de construção, clínica médica, igreja, padaria, loja de locação de máquinas e floricultura. Importante ressaltar que a reportagem sublinha a vertente sustentável do projeto, mas não ignora o incômodo dos moradores. Mantemos o compromisso de fazer um jornalismo aprimorado pelas críticas e voltado para debates construtivos. O
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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com
100 NÚMEROS DE SOLIDÃO (E GRATIDÃO)
É
o que a nossa Revista Ecológico comemora nesta sua centésima edição, fruto de uma teimosia editorial que começou lá atrás, na RIO/92. Foi quando a humanidade, os nossos governantes e todos nós parecíamos ter aprendido a nova lição do “temos de pensar globalmente e agir localmente”. Foram, a partir daí, e sempre nos dias de lua cheia, nove anos de circulação como o suplemento Estado Ecológico, do jornal Estado de Minas. Depois, mais nove anos como a Revista JB Ecológico, no Jornal do Brasil. E agora, quase outros nove anos, em carreira solo, via impressa e digital, como Revista Ecológico, atingindo a sua centésima edição comemorativa. Por que solidão? Porque somos, no mar de tantos naufrágios, uma das poucas publicações sobreviventes hoje na gran-
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de mídia brasileira a abordar a questão ambiental que nos ameaça, a partir da ótica da sustentabilidade que ainda pode nos salvar. Porque ainda acreditamos que, por meio do amor e da democratização da informação ecológica, um novo leitor e também cidadão mais consciente do estado do mundo surgirá a cada edição nossa sobre o planeta já com tantos refugiados ambientais. E não somente pelo desamor à natureza - a sina pedagógica que a humanidade precisa reverter para evoluir como homo sapiens. A luta continua desigual no mundo recente da publicidade, das agências e seus grandes clientes que, mesmo cada dia mais sem água e árvores à sua volta, não são parceiros da causa planetária que defendemos em seus nomes também. E sem esta consciência de estarmos todos no mesmo barco da sobrevivência, não nos programam.
Ainda acreditamos no beija-flor tentando apagar o incêndio, no Davi bíblico vencendo o Golias Trump. No enfrentamento de Temer que, mesmo tendo nascido no município de Tietê, que hoje dá nome à podridão hídrica que faz feder São Paulo, a quinta maior cidade do planeta, não usa a caneta de presidente que tem em suas mãos para salvar o Rio Pinheiros junto. Mas, sim, em mentir e tentar ludibriar a nossa Gisele Bündchen quanto ao desmatamento caixa mil que seu governo prossegue fazendo na Amazônia (sobre o que também falaram o colega Marcelo Tas e o ator Enrique Díaz no vídeo disponível no link goo.gl/yv5m9m). Bobagem dele. Como nos ensinou o cientista Carlos Nobre, a natureza, seja ela amazônica ou franciscana, não reclama nem tem pressa. Mas não se esquece de uma só árvore que tinha e lhe arrancaram. E reage, matemática e infalível, a seu modo, vide as mudanças climáticas. NEM TUDO, ENFIM, ESTÁ PERDIDO É o que revivemos nesta centésima edição comemorativa da sua Revista Ecológico, sobre o valor cultural e como patrimônio histórico que o Estado do Tocantins, por exemplo, dá ao seu capim-dourado, que tem no desmatamento a principal ameaça à sua conservação e manejo sustentáveis. É o que vocês, caros leitores, anunciantes e parceiros, vão conferir. Seja com o sociólogo e cientista político Sérgio Abranches, nas nossas “Páginas Verdes”, abordando a era do imprevisto que estamos vivendo. Seja com as últimas estatísticas que ainda
A luta continua desigual no mundo recente da publicidade, das agências e seus grandes clientes que, mesmo cada dia mais sem água e árvores à sua volta, não são parceiros da causa planetária que defendemos em seus nomes conferem ao Brasil a liderança no ranking dos países que mais assassinam os seus defensores do meio ambiente. Nem tudo continua perdido, até mesmo na Serra do Curral, símbolo natural e maior da capital dos mineiros, ambiguamente dilacerada e preservada pela mineração. Na mão dupla da esperança também trazemos uma reportagem sobre o Líbano que, mesmo em guerra eterna, ainda preserva as suas florestas de “Cedros de Deus”, tal como o sábio Salomão plantou três mil anos atrás. Por último, ainda temos o recado de felicidade da escritora gaúcha Martha Medeiros. Ela nos ensina que o maior sucesso que cada um de nós pode almejar hoje no nosso país, que tem nome de árvore, “é chegar em casa com vida”. Isso justifica a nossa teimosia lunar. Discutir, entender e informar. Jogar luz onde é só escuridão. Boa lua cheia e boa leitura! Que venham outros 100 números ecológicos, na sua companhia! Muito obrigado. O
Inscreva-se. cursos.mg.senac.br 0800 724 4440 CAMPANHA VÁLIDA PARA O 2 O SEMESTRE DE 2017.
JULHO DE 2017 | ECOLÓGICO O XX
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ECONECTADO
FOTOS: DIVULGAÇÃO
TWITTANDO
“Nenhuma árvore a menos. Assinem a petição e compartilhem para proteger nossas florestas. #RESISTA.”
FOTOS: REPRODUÇÃO
@leticiaspiller Letícia Spiller, atriz
“É a hora do tudo ou nada. Todos os projetos para detonar a Floresta Amazônica estão sendo desarquivados.” @ElisNice - Elis Araújo, pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
ECO LINKS SEJA A MUDANÇA Em tempos de ceticismo e depressão generalizada, optar por uma vida mais saudável e sustentável pode ser o caminho para a mudança que queremos ver no mundo. É o que Raquel Rache, coach de Saúde e Espiritualidade, prega. Em seu site e redes sociais, ela apresenta várias dicas práticas e fáceis de serem seguidas, verdadeiras inspirações para aqueles que não sabem por onde começar essa transformação interior. São textos, fotos e vídeos sobre receitas veganas, espiritualidade, posturas de Yoga, cursos e curiosidades acessíveis e disponíveis em diferentes plataformas digitais. Acompanhe a @RaquelRache no Instagram, Facebook, YouTube e Twitter ou pelo site - www.raquelrache.com. E mude para melhor! CONECTE-SE À NATUREZA Para quem gosta de cachoeiras (e não sabe onde encontrálas) ou pretende conhecer novos lugares, a dica é baixar o aplicativo “Cachoeiras Estrada Real”. A plataforma é uma espécie de guia ou GPS virtual, em que são disponibilizadas informações, fotos, vídeos e rotas até as mais belas cachoeiras de um dos principais roteiros turísticos do Brasil: a Estrada Real. São 300 cachoeiras mapeadas e mais de 200 pontos turísticos de 35 cidades disponíveis. Vale lembrar que o aplicativo conta com navegação off-line e ainda dá dicas de hospedagem, alimentação, bancos, postos de gasolina, guias e telefones úteis. O “Cachoeiras Estrada Real” está disponível na Google Play e na APP Store. Para saber mais, acesse o Facebook, YouTube ou Instagram do @ cachoeirasestradareal ou o site cachoeirasestradareal.com.br.
FOTO: MARCOS GUIÃO
MAIS ACESSADA
“O afeto é uma arma poderosa.” @gilbertogil Gilberto Gil, músico 12 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2017
Já ouviu falar na azeitona-docampo? A planta foi tema da matéria mais acessada no site da Revista Ecológico em julho. No texto, o jornalista e consultor em plantas medicinais Marcos Guião conta o “causo” de como Chenopodium conheceu a famosa azeitona do ambrosioides Cerrado, na companhia do amigo Chico da Mata. “Pois fique sabeno, seu Marcos, que essa pranta tem muita indicação nas doradas de rins, inté mermo quando é caso de pedra.” Quer saber mais? acesse: goo.gl/udXVQb
Preservação ambiental. Um investimento com retorno garantido.
A CBMM atua de forma responsável e eficiente na gestão dos recursos naturais que utiliza. Por isso, investe continuamente na redução do uso, no controle de qualidade e no reaproveitamento da água em seus processos. Práticas que vêm dando resultado: a CBMM recircula atualmente 95% da água utilizada, e a meta é alcançar a marca de 98% nos próximos dois anos. Um compromisso da CBMM com a natureza e com o futuro de todos nós. CBMM. Aqui tem nióbio.
Os animais ilustrados fazem parte do CDA – Centro de Desenvolvimento Ambiental.
www.cbmm.com.br
GENTE ECOLÓGICA
FOTOS: DIVULGAÇÃO
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“O preço a pagar pela tua não participação na política é ser governado por alguém inferior.”
FOTOS: REPRODUÇÃO
PLATÃO, filósofo grego
“As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis: elas desejam ser olhadas de azul que nem uma criança que você olha de ave.”
“Isso é falta de respeito. Vamos aguardar e ver se todos esses compromissos serão realmente cumpridos, em consideração ao principal interessado na melhoria do transporte coletivo, que é o cidadão.” ARTHUR ALMEIDA, jornalista e âncora da Rede Globo Minas, in memoriam, ao opinar sobre a promessa das autoridades e concessionárias de transporte público na Grande BH
MANOEL DE BARROS, poeta
“O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende com a vida e os humildes.” CORA CORALINA, poeta e escritora
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“A cada segundo, um espaço igual a um campo de futebol é destruído na Amazônia. Coisas assim me incomodam muito. É por isso que escrevo canções, para despertar a consciência e a esperança nas pessoas.” MICHAEL JACKSON, cantor norte-americano (1958-2009)
CRESCENDO
O governador da Bahia encaminhou ao Ministério do Meio Ambiente uma autorização para criar o Mosaico de Unidades de Conservação no Boqueirão da Onça, em Sento Sé. O objetivo é criar um parque nacional de 348.258,91 hectares e uma Área de Proteção Ambiental (APA) de 497.626,89 ha.
“Tudo passa.” NEYMAR, jogador de futebol, que se inspirou no amigo surfista Pedro Scooby e também fez uma tatuagem com a frase no pescoço
GUILHERME COSTA
O veterinário brasileiro foi eleito novo presidente da Comissão Codex Alimentarius, organismo criado por agências da ONU para proteger a saúde do consumidor e garantir práticas justas no comércio de alimentos. Essa é a primeira vez que o cargo é ocupado por um brasileiro. Há mais de 30 anos, nenhum país das Américas chefiava a comissão.
FOTO: DIVULGAÇÃO
FOTO: LEONARDO-NONES-SBT
MILTON NASCIMENTO, músico e cantor
BERNARDO PAZ
WILSON BRUMER, ex-presidente da Vale e atual presidente do Conselho Curador da Fundação Renova
“Em casa, sou 100% orgânico. Na rua, faço como posso. Não sou radical, mas acho que o consumo de produtos básicos, como hortaliças, é muito importante.” MARCOS PALMEIRA, ator e agricultor ecológico
“Em contato com a natureza, eu sou feliz... Me renovo, me sinto livre.” PAULA FERNANDES, cantora, em entrevista à Revista Quem
FOTO: RONALDO NINA
“Só empresário burro não gosta de meio ambiente.”
O instituto, fundado pelo empresário, inaugurou a primeira exposição internacional sobre o impacto das atividades humanas na natureza e os perigos das mudanças climáticas, na sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington (EUA). A mostra "Inhotim: At The Crossroads of Global Change" reúne obras de arte e experiências audiovisuais da coleção do museu, localizado em Brumadinho (MG). São produções artísticas sobre como as águas, terras e plantas do planeta são afetadas pelo homem.
AGOSTO DE 2017 | ECOLÓGICO O 15
FOTOS: DIVULGAÇÃO
“A natureza é importantíssima na vida de toda a humanidade, mas parece que as pessoas ainda não descobriram do que ela é capaz se não a respeitarmos.”
FOTO: MANU DIAS
RUI COSTA
SOU ECOLÓGICO
ÊXTASE VERDE “Um prazer inenarrável!”. Foi assim que o exministro José Carlos Carvalho (foto) descreveu, nas redes sociais, sua recente visita ao Parque Nacional das Sequoias Gigantes, na Califórnia (EUA). Lá está a famosa “General Sherman”, considerada a maior e uma das mais velhas árvores do mundo, com mais de dois mil anos de idade, 32 metros de circunferência e 83 m de altura. Uma gigante verde equivalente a um prédio de 27 andares que, antes de ter sido atingida por um raio, já tinha ultrapassado o recorde dos 100 metros de altura. Daí a arroubo justificável do nosso companheiro verde e virginiano, que também tem sobrenome de árvore: “Como engenheiro florestal, gestor público de florestas e meio ambiente, e consultor ambiental, vivi um momento mágico!" – confessou Carvalho.
ALÔ RENOVA! Em que pese sua indicação e atuação mundial à frente da Fundação Renova, cabe ao companheiro Roberto Waack (foto) providenciar uma conversa e aproximação à mineira com os ambientalistas, jornalistas e empresários ligados ao setor. Nos bastidores, as queixas são recorrentes e crescentes: que a Renova ainda não veio a este seu público ideologicamente parceiro dizer da sua missão, nem informar quem é quem no seu organograma diretivo e consultivo. Que a Fundação tem dado preferência contratual a ONGs de relevância internacional, em detrimento de coligações com quem historicamente sempre lutou pela causa comum, em meio às montanhas de Minas ao devastado Rio Doce. E, por último, como o planeta e as pessoas continuam transitando no mundo off-line, é preciso comunicar-se mais, dar retorno eficaz e de mão dupla a seus pares, em vez de se restringir tão somente à informação digital. Em síntese, dizer o “oi” que todo mineiro e capixaba gosta de ouvir. Como o perfil de Roberto Waack é o de uma liderança reconhecidamente aberta ao diálogo, esperamos que essas queixas sejam logo dissipadas. 16 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2017
FOTO: DIVULGAÇÃO
FOTO: JOSÉ CARLOS CARVALHO
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Acesse o blog do Hiram:
SEM GIRINOS! Biólogos paranaenses acabaram de descobrir duas novas espécies de sapos no topo das montanhas da Serra do Mar no Paraná: Brachycephalus coloratus (foto superior) e Brachycephalus curupira (foto inferior). Pertencentes ao gênero Brachycephalus, os anfíbios foram localizados na região pertencente à floresta densa atlântica, e foram identificados pelo canto (coaxado). A pesquisa (publicada na revista científica PEERJ) que levou à descoberta foi realizada pela ONG Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Com medidas que variam de 10 a 12 mm de comprimento, os minissapos sofreram um processo evolutivo chamado miniaturização. E passaram por outras adaptações específicas no topo das montanhas: as espécies não sabem nadar, têm resistência ao frio, seu desenvolvimento é direto (não passam pela fase de girino) e contam com um número de dedos reduzidos, comparados a outras espécies. O OS MINISSAPOS descobertos
FOTOS: LUIZ FERNANDO RIBEIRO
hiramfirmino.blogspot.com
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PÁGINAS VERDES
FOTO: MIRIAM LEITÃO
A ERA DO IMPREVISTO
ABRANCHES: “A digitalização e as mídias sociais são a salvação da democracia”
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Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
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or que as sociedades se adaptaram tão bem ao avanço da tecnologia e, ao mesmo tempo, isso não aconteceu em relação à preservação do meio ambiente? Por que a política ainda não encontrou no meio digital uma forma de dialogar concretamente com a sociedade e, assim, permitir que ela possa refletir e fazer boas escolhas? A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris provocará um retrocesso na segunda maior economia do planeta e é uma ameaça à natureza global? “A Era do Imprevisto”, mais recente livro lançado pelo sociólogo, ambientalista e cientista político Sérgio Abranches não traz essas respostas. Sua contribuição é outra: dá subsídios, de forma positiva e abrangente, à discussão sobre as transformações e os rumos da sociedade em um século marcado pelas mudanças climáticas. Trata da readaptação social a um novo e urgente estilo de vida, para vivermos de forma equilibrada no planeta. É o que a Revista Ecológico registrou, no início do inverno, ao acompanhar a participação de Abranches no projeto “Sempre um Papo” (sempreumpapo.com.br), do jornalista Afonso Borges. “Meu livro não se aplica a nenhuma sociedade em particular. É um ensaio geral sobre essa situação de transição da humanidade. A gente tem uma situação que é global, acontece em todos os países, e alguns dos processos são rigorosamente gl obais – a mudança climática, por exemplo, é um problema. Você emite gases de efeito estufa aqui e produz uma catástrofe na Antártida. Tem a ver também se nós estamos preparados para fazer as melhores escolhas para a transição”, afirmou Abranches, que também condena a influência das oligarquias na sociedade e prevê o fim dos partidos políticos. A seguir, selecionamos alguns trechos de suas reflexões. Confira: Perplexidade como base “Esse livro nasceu com uma perplexidade: as grandes transformações que estão acontecendo na ciência e no clima. E tenta entender por que as sociedades se adaptaram tão bem à mudança tecnológica e, ao mesmo tempo, não reagem da mesma maneira à extinção da biodiversidade e ao aumento do aquecimento global. A quantidade de informação que as redes sociais torna disponível à sociedade indicava que o bom senso nos levaria a mais consciência e ação.” “Levei cinco anos para escrevê-lo. Nos três primeiros, pensei que o título seria o ‘Complexo de Prometeu’, essa ideia de que nós somos
SÉRGIO ABRANCHES Sociólogo, ambientalista e cientista político
capazes de domar a natureza, de colocá-la sempre a nosso favor. Então fiz algo que é comum para mim: quando a sociologia, a economia e a ciência política não me ajudam, vou até quem entende da alma humana: os escritores, a literatura. E fui estudar tragédia, para tentar entender como os atenienses conseguiram, através do teatro, ensinar Athenas a ter uma vida comunitária e coletiva virtuosa.” A grande transição “Nesse processo, eu me dei conta de que a questão era muito maior. Estamos diante de uma transformação gigante, com três eixos fundamentais: o socioestrutural, que atinge todo o planeta e tem efeitos sobre a estrutura social, econômica e política das sociedades. O científico e tecnológico, que se dá com o surgimento de novas fontes de energia e com a digitalização da sociedade. E o climático, que, pela primeira vez, nos coloca frente a frente com forças da natureza - as quais não somos capazes de controlar. Nesse caso, até nos parecemos um pouco com cidadãos da Idade Média, que não conseguiam controlar essas forças e atribuíam esse descontrole da natureza às divindades do mal.” “Esses três eixos se interagem. A transformação social acontece por causa das mudanças científico-tecnológica e climática. Esta última, por sua vez, não só decorreu do avanço tecnológico da sociedade, mas cria condições para superar a questão ao transformar nossos padrões de produção e consumo. E, por outro lado, a economia começa a mudar por conta de todas essas transformações.” “Estamos diante de uma transição tão radical que ela vai ser maior do que a da Idade Média para o Renascimento. Vai alterar
“A entidade ‘partido político’ hoje é tão nociva para a política quanto o carvão é para o clima. Um conluio de oligarquias, em geral corruptas, que traficam influência e decisões, completamente alheias à população. Certamente é uma forma de política que vai morrer.” radicalmente a nossa vida e a das próximas gerações. Estamos no ponto mais doloroso e desafiador desse processo: o intermediário, onde as coisas não funcionam direito e os modelos econômicos não conseguem fazer boas previsões, sobretudo de longo prazo.” “Esses modelos não funcionam mais porque o mundo para o qual foram formatados, os paradigmas dos quais eles foram retirados estão desmoronando. O novo mundo não está maduro o suficiente para produzir os eventos e os efeitos necessários à construção de um novo modelo. É um momento de muita instabilidade e perdas importantes. Quando Ronald Reagan fez a sua política de austeridade e de mudança econômica, se estabeleceu um paradigma de administração de negócios lá, que
depois se espalhou para o mundo, de que as empresas tinham que ser ‘magras e más’. Muita produtividade, o mínimo de trabalhadores, o mínimo de concessão para eles e o máximo de lucro. Isso acabou com 75 milhões de postos de trabalho. E criou um espaço na economia americana para um momento de crescimento. Quando os Democratas tomaram o poder nas eleições, eles começaram uma política de proteção social, de investimento diferenciado, que produziu a grande expansão da economia dos Estados Unidos que terminou na crise de 2008. Nesse período de expansão foram criados 135 milhões de postos de trabalho novos, quase o dobro do que foi destruído. Cinquenta por cento dos americanos no Governo Bill Clinton trabalhavam numa
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PÁGINAS VERDES ocupação que não existia antes do governo. E esse é o problema.” Mudanças tecnológicas “Na mudança tecnológica, não nos damos conta do que foi a revolução que aconteceu na nossa vida desde o primeiro celular até os smartphones de hoje. Fomos nos adaptando, porque todo esse processo também é de aceleração da história e do nosso tempo. A quantidade de coisas que fazemos hoje é completamente impensável para uma pessoa do início do século XX. Vivemos uma mutação psicossocial e genética. A pesquisa genômica já descobriu mais de 5.000 alterações genéticas relevantes em nosso DNA do início do século XX para cá. E isso é natural que aconteça, pois temos de nos adaptar a mais poluição, à velocidade da vida e nossa estrutura vai construindo essas mutações. O processo de evolução é isso. Você tem de se adaptar para sobreviver.” A sociedade digital “A questão da sociedade digital é que ela comporta uma quantidade absurda de informação e cria condições para que você consiga viver nesse mundo. Aí você adapta seu modo de vida, a sua predisposição psicológica para a mudança. Somos seres muito mais adaptáveis do que as pessoas do mundo exclusivamente analógico do século XX. E a gente não se dá conta, porque somos adaptáveis, naturalizamos coisas espantosas.” “Estamos em Minas Gerais, na terra do homem mais sábio que já existiu: Guimarães Rosa. Ele dizia: ‘O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia’. Ou seja, a qualidade do futuro é a qualidade da travessia.” “Acho que a digitalização e as mídias sociais são a salvação da
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“Guimarães Rosa dizia: ‘O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia’. Ou seja, a qualidade do futuro é a qualidade da travessia.” democracia. E aí tem muita gente que diz: mas lá só tem mensagem de ódio, notícia falsa, difamação. Esse é o pesadelo da rede. Mas há o lado virtuoso: tenho no Facebook um grupo que discute seriamente os problemas da democracia no Brasil e no mundo. Trocamos artigos, trabalhos, livros e formamos uma comunidade muito mais viva do que a acadêmica. E essa discussão ajuda a todos nós e é aberta a qualquer um. Basta não ofender ou não falar bobagens. Se a gente perde a capacidade de conversar digitalmente, porque uma parte da conversa é ofensiva ou interdita o outro, estamos jogando fora a saída para a construção de uma nova sociedade democrática no futuro, que é um dos nossos problemas.” “O digital veio para criar mecanismos novos de representação popular. Essa conversação pública geral que ele proporciona vai criando a identidade de novos grupos e setores sociais que poderão ser representados de forma mais orgânica no futuro. A sociedade já se digitalizou. A economia se digitalizou e globalizou. A hegemonia saiu das mãos do capital industrial e foi para o capital financeiro. O capital financeiro se globalizou e se pulverizou. Hoje não tem mais banqueiro. Qualquer banqueiro hoje é demissível
ad nutum, ele não é o proprietário do capital. Ele maneja dinheiro.” Democracia representativa “Ela está seriamente ameaçada, está perdendo legitimidade. Todos os partidos do mundo são controlados por oligarquias que não têm nada a ver com as suas bases sociais. Respondem apenas aos seus financiadores e aos grupos de interesse aos quais estão ligados. Se você for a qualquer sociedade e perguntar ‘você se sente representado?’, a maioria diz não. Por outro lado, os partidos que ainda tentam representar são de categorias da sociedade que estão acabando. Não são mais as categorias desprotegidas. Imaginem a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que representa a classe capitalista. Na verdade, ela não representa, porque a classe capitalista já desapareceu. Hoje o que se tem é um mercado financeiro globalizado hegemônico.” “A faixa da sociedade que se amplia é aquela que não cabe nas categorias que já estão representadas e são difusas, ainda não estão socialmente organizadas e não têm identidade clara.” “A população é teleguiada pelas oligarquias a tomar decisões sem saber o teor, a substância das decisões. Ela trabalha só na base das percepções. As oligarquias não revelam, não dão transparência, não põem em discussão. As audiências públicas no Brasil são todas fraudadas, em qualquer área. É jogo de carta marcada. E se você descobrir a hora e for lá com um grupo para questionar a audiência pública, eles melam. A forma de se fazer o povo ter escolhas conscientes é deixá-lo saber do que se trata, o que ele está escolhendo. Por isso defendo tanto a ideia de se abrir uma conversação. A democracia tem de ser
SÉRGIO ABRANCHES Sociólogo, ambientalista e cientista político
aberta, onde a informação circule. E a política tem de se digitalizar. É a coisa mais fácil do mundo hoje disseminar a informação sobre o que vai ser decidido. Inclusive fazer consultas.” “A democracia representativa, do jeito que ela existe, surgiu por causa do crescimento demográfico. Era impossível você consultar com a tecnologia da época todo mundo. Aí você escolhia um cara e dizia que ele iria representar a sociedade. Era um acordo. Hoje não precisa de ser assim. Pode ser melhor, transparente.” “O conflito é bom, não é uma coisa negativa, significa o embate de ideias. O que é disfuncional, ruim e destrói a sociedade é a violência, a intolerância.” Política “A política se digitalizou? Zero! Quem usou mais tecnologia digital na política recentemente? O Barack Obama, na campanha presidencial em que ele fez um crowdfunding. Entretanto, ele governou analogicamente. A política ficou analógica e a sociedade se digitalizou. Para ela se reconciliar com as pessoas, tem de se digitalizar.” “A ideia de se ter uma forma de conversação pública, que se possa discutir com todo mundo de forma civilizada os problemas da sociedade e encaminhar soluções para que o governo saiba para que lado ela quer ir, e ao mesmo tempo, se possa usar essa conversação para informar os mecanismos de representação adequadamente das correntes sociais e das opiniões, é uma das maneiras de salvar a democracia.” Brasil míope
“Meu livro não se aplica a nenhuma sociedade em particular. É um ensaio geral sobre essa situação de transição da humanidade. A gente tem uma situação que é global, acontece em todos os países, e alguns dos processos são rigorosamente globais – a mudança climática, por exemplo, é um problema. Você emite gases de efeito estufa aqui e produz uma catástrofe na Antártida. Tem a ver tam-
bém se nós estamos preparados para fazer as melhores escolhas para a transição. O Brasil tem tido governos anacrônicos há bastante tempo. Em vez de admitirem que a globalização é uma realidade que temos de nos adaptar e precisamos aproveitar, adotam medidas mais nacionalistas, mais protecionistas e que deixam o Brasil mais vulnerável à crise.” “Tanto o governo brasileiro quanto o americano e o francês são financiados pelo capital financeiro global. Não tem mais capital nacional no mercado financeiro. Se adoto medidas que
vão de encontro às tendências do mercado globalizado, esse capital foge e me produz uma grande recessão. E isso custa muito caro. A esquerda ainda não entendeu que há um limite nessa transição que será superada de alguma forma no futuro, que é o limite do equilíbrio fiscal.” “O Brasil gasta US$ 1 bilhão por ano subsidiando carvão do sul do Brasil que não serve para praticamente nada. É um carvão de péssima qualidade. É criminoso fazer mineração desse carvão, porque é extraordinariamente tóxico. Ele devia ficar no solo.” “O Brasil hoje dá mais dinheiro para empresas grandes que empregam pouco do que para empresas médias e pequenas que empregam muito. Não dá incentivo para inovação tecnológica nas empresas médias e pequenas e damos incentivo para as empresas grandes ficarem sem inovação tecnológica.” “Noventa por cento dos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) são exclusivamente para empresas que não deveriam ser financiadas com dinheiro público. Se eu fosse eleito presidente da república, a primeira coisa que iria fazer é cortar todos esses subsídios e gastar o dinheiro em saúde e educação, que estão aos frangalhos. É um problema de prioridade. Essa é a luta política que o Brasil não sabe fazer. Ele engana. Não tem um governo no Brasil que tenha feito
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PÁGINAS VERDES isso decentemente. Pode até ter feito mais pelo social, mas manteve os subsídios ao capital.” “No Brasil, há uma coisa arraigada de proteger o capital nacional. Aí você dá bilhões de dólares à JBS para ela comprar empresas nos EUA para dizer que é a maior empresa de carne do mundo. E daí? Não gera emprego pra gente e paga propina para praticamente todo o mundo político brasileiro. Qual é a vantagem? Precisamos de fazer melhores escolhas no Brasil.” Oligarquias “Precisamos fazer mudanças mais profundas e isso não vai acontecer se a sociedade brasileira não impuser essas mudanças. Temos de ir para a rua e dizer ‘basta’ aos políticos. Mas não podemos fazer isso divididos como estamos. Se não nos sentimos representados, temos de dizer: não queremos vocês!” “Há regras que precisam ser mudadas. Por que as oligarquias se perpetuam? Elas usam qualquer álibi para mudar as regras a seu favor. Quando Collor se elegeu, ficou claro que ele era uma fraude. Puseram a culpa nas regras de campanha, porque o tempo de televisão é igual para
todos os candidatos. Mudaram essas regras para impedir que um aventureiro como ele volte a ser eleito presidente. Aceitamos isso, dizendo que éramos indignados com Collor. Vejam bem: qual é a definição de aventureiro? O avô dele era político, o pai também e ele tinha sido governador. Collor era um político profissional. Mas aí mudamos: o maior tempo de campanha na TV teria de ser para quem fez a maior bancada nas eleições passadas. Os instrumentos de campanha são dados para aqueles que já ganharam, logo os que nunca ganharam não podem entrar. Se quisermos montar um partido para disputar as eleições e escolher a Carmen Lúcia para concorrer à presidência do Brasil, ela vai ter menos de um minuto de tempo de TV. Imaginar que as elites políticas brasileiras vão mudar as regras a seu desfavor é uma ilusão total. Quem muda as regras do jogo nesse caso tem de ser a sociedade. A gente caminha para uma Assembleia Constituinte, uma nova Constituição.”
Virtualidades desaproveitadas “A transição está correndo e estamos ficando para trás. E isso com todas as virtualidades que temos para o século XXI. Estamos no século da biologia e somos o país da biologia. Temos a maior biodiversidade do mundo em terra. Vivemos uma crise de água, mas ainda temos água. Inclusive, estamos cuidando muito mal dela. E temos muito talento desperdiçado.”
Globalização “Ela é inexorável, para sempre e vai se aprofundar. O Estado Nacional é que vai se esvaziar, não
“Trump é o cinturão da decadência dos EUA, o cinturão da ferrugem: defende carvão, aço movido a carvão, indústria automobilística obsoleta. Essa é uma economia que vai morrer.”
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tem muita função para ele nesse processo. Vamos ter muita relevância local, as cidades vão se tornar mais importantes e a democracia vai se enraizar nelas. Não sei como vai ser a ideia de nação no futuro, mas o Estado Nacional não será mais tão poderoso quanto foi no século XX. Vários problemas serão resolvidos em fóruns globais e outros no plano local. É o que os ambientalistas chamam de grow local, isso irá se generalizar. A democracia funciona melhor em menor escala, com mais descentralização.”
FOTO: DIVULGAÇÃO
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Donald Trump “Qual a consequência de Donald Trump sair do Acordo de Paris, do ponto de vista concreto das emissões americanas? Zero. Porque a economia americana já fez boa parte da transição de descarbonização. É claro que algumas coisas nessa transição são ruins, como o gás de folhelho, cuja retirada é ambientalmente agressiva. Do ponto de vista climático, ele é interessante porque é barato e emite pouco. Mas é um combustível de transição. A Califórnia está solarizada, o Texas também (e avança com a produção de energia eólica), os carros elétricos estão ganhando mercado. Na verdade, as emissões americanas já estão abaixo da meta de Paris. Os EUA fora do Acordo de Paris já obedeceriam às metas do acordo. É um tropeço, mas não é uma queda.” O
ECOLÓGICO 100 Luciano Lopes e Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br
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egundo a numerologia, o número 100 representa a excelência. Também é presságio de boa saúde, longevidade. E, melhor de tudo, significa um novo começo. Neste mês de agosto, a Revista Ecológico comemora sua chegada à centésima edição. São nove anos de circulação ininterrupta. Mais de dois milhões de exemplares distribuídos em 100 luas cheias. Pessoas, empresas, projetos e ações sustentáveis que se somam a uma infinidade de acontecimentos que marcaram o meio ambiente, a humanidade e o planeta para sempre. Dos exemplos inovadores que nos trazem esperança até os retrocessos nas leis ambientais, a destruição de florestas, a poluição dos rios, do ar, as 24 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2017
mudanças climáticas... Mostramos tudo. E apontamos também, dignas de nota, as mudanças que são necessárias em nós mesmos, a revolução sustentável interior que queremos ver no mundo. O filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (18131855) certa vez escreveu que a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás. E que só pode ser vivida olhando-se para frente. É alinhada a esse pensamento que a Ecológico, caros leitores, parceiros e anunciantes, faz este convite: revisitar a nossa história de luta ambiental, que vocês também ajudaram a construir. Vamos juntos, de mãos dadas, ousar um futuro ainda mais sustentável e inovador, com respeito à natureza, para todos nós.
“Ao procurar suprir as necessidades da vida contemporânea, sem comprometer os recursos naturais para as próximas gerações, o desenvolvimento sustentável vem se tornando vital para o futuro da humanidade. A Revista Ecológico é um exemplo de apoio e defesa do meio ambiente e de divulgação das ações que promovem a sustentabilidade. Cumprimentamos o diretor e editor Hiram Firmino, toda a equipe e parceiros pelo empenho e sucesso nesta valiosa missão.”
#número1 A luz que ilumina Minas Sob os ensinamentos do ambientalista Hugo Werneck, a quem a Revista Ecológico é dedicada, a nossa primeira edição teve o amor como abordagem principal. Mas também lançou luz sobre um assunto polêmico: o efeito que o uso de agrotóxicos e fertilizantes em plantações provoca na saúde dos trabalhadores rurais. A exposição às substâncias provoca tumores, esterilidade e depressão, podendo levar também ao suicídio. A entrevista de estreia foi com a ipatinguense Tamara Almeida, eleita à época “Miss Mundo Brasil 2008”, e que apoiou um trabalho de preservação ambiental realizado pela ONG Amigos da Terra, na Floresta Amazônica.
FOTO: RONALDO GUIMARÃES
Eles disseram...
Edições marcantes
“Somente se todos os agentes sociais se envolverem será possível reverter o quadro de insustentabilidade, especialmente, os veículos de comunicação, com seu enorme poder de disseminação. Com entusiasmo, vejo a Revista Ecológico chegar ao número 100, endereçando de forma séria, abrangente e consistente a sustentabilidade, com uma contribuição ímpar que nos enche de esperança. Parabéns pelo trabalho até aqui e que venham os próximos 100!”
#número19 Touradas proibidas Qualquer hábito ou comportamento humano - seja esporte, religião, tradição ou costume antiquados - que se baseie na ignorância, na violência e na covardia, não dura para sempre. O novo, já cantava Belchior, sempre vem. E vence. Foi o que a reportagem da Ecológico mostrou em agosto de 2010, depois de uma visita à Espanha, na mesma época em que o Parlamento de Catalunha decidiu, por 68 votos a 55, proibir o fim das touradas - uma prática histórica e sangrenta contra os animais do país.
Helio Mattar, diretorpresidente do Instituto Akatu
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FOTO: PAULO URAS
Ruben Fernandes, presidente da Anglo American no Brasil
#número75 A agonia do Velho Chico Na nossa edição de novembro de 2014, retratamos a agonia do Rio São Francisco - depois de 513 anos de desmatamento, queimadas, assoreamento e poluição -, que se agravou com a crise hídrica: pela primeira vez na história, a nascente do rio da integração nacional secou. A nossa reportagem foi mais longe: apontamos, ainda, quais os impactos humanos, ambientais, sociais e econômicos para os brasileiros caso o rio secasse. Com 2.700 km de extensão, o Velho Chico abrange sete estados. Quinhentos e quatro municípios compõem a sua bacia.
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FOTO: GLOBO / ZÉ PAULO CARDEAL
Maju Coutinho (Maju), jornalista e apresentadora da TV Globo
“Estamos colocando em risco a nossa própria sobrevivência. O único jeito de combater isso é com informação rigorosa e precisa, que é o que a Ecológico faz. Continuo sendo um leitor assíduo.”
FOTO: DIVULGAÇÃO
A eterna diva dos cinemas Marilyn Monroe dizia que para dormir usava “apenas duas gotas do perfume Chanel Nº 5”. À época garota propaganda da marca francesa, a loira mais famosa de Hollywood não sabia que centenas de milhares de árvores seriam derrubadas para produzir sua fragrância favorita. Nesta matéria de capa da edição que circulou em janeiro de 2013, a Ecológico mostrou que é do pau-rosa (Aniba rosaeodora), árvore nativa da Floresta Amazônica, que se extrai o óleo essencial de aroma de rosa, matéria-prima de vários perfumes famosos, entre eles o da estilista Coco Chanel. Utilizado na indústria de perfumaria a partir do início do século XX, estima-se que nas últimas quatro décadas mais de dois milhões de exemplares de pau-rosa foram abatidos em cerca de 10 milhões de hectares do bioma.
Fernando Meirelles, cineasta
“Através da Revista Ecológico acho que estou virando ecológico. Li um frase do doutor Hugo afirmando que você deve influenciar as pessoas. E eu fui influenciado.” Olavo Machado, presidente da Fiemg
FOTO: ALESSANDRO CARVALHO
#número53 Perfume nada ecológico
“Muito mais que falar sobre catástrofes, que a gente foque e preste mais atenção no amor à natureza. É o amor que conhece a verdade. É através do amor que conseguiremos cuidar bem da nossa casa planetária comum. Obrigada à Ecológico.”
O rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco, em cinco de novembro de 2015, levou 55 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério para a Bacia do Rio Doce. Soterrou mais de 1.400 hectares de florestas, comunidades a jusante, sonhos e o cotidiano de um povo simples. Foram 19 vítimas e milhares de cidades e pessoas sem água e sem renda. A Ecológico foi conferir a destruição in loco, ouviu moradores atingidos e especialistas em uma série de três reportagens iniciada na edição e que prosseguiu na 87 (“Rejeitos, nunca mais?”) e na 88 (“A esperança na parede”). O número 86 da Ecológico com a primeira reportagem especial sobre o desastre da mineração em Mariana também foi o que teve seu tema de capa mais abordado em quantidade de páginas: foram 48, cerca 40% do total.
#número94 A defensora das florestas A supermodelo Gisele Bündchen foi a personalidade feminina mais mencionada na Revista Ecológico em toda a sua história. E também a mais difícil de ser entrevistada: apenas no último ano, foram três tentativas. Desde novembro de 2008, a também ambientalista apareceu em mais de 40 edições. Embaixadora da Boa Vontade do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) desde 2009, ela já participou de diferentes campanhas em defesa do verde, da água e da biodiversidade. Ano passado, durante um sobrevoo de helicóptero (registrado na nossa edição 94) em Alta Floresta (MT), a convite do Greenpeace, a bela chorou ao ver a destruição da Amazônia.
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“O Brasil deve muito ao movimento ambientalista mineiro, e à Revista Ecológico também. Como paulista, digo: quiséramos nós ter uma revista como esta em São Paulo. A Ecológico tem a grande responsabilidade de se fortalecer no meio digital, para atrair a moçada que hoje lê pouco. Assim, daqui a 40 anos, os jovens vão agradecer à revista e a Minas por tudo o que estão fazendo pelo planeta, a partir de suas montanhas.” Fabio Feldmann, advogado, ambientalista e ex-deputado federal
“Sempre apostei na Revista Ecológico desde suas primeiras edições, com a certeza de que a lua cheia poderia trazer a luz que iluminaria mentes e debates a favor de uma consciência realmente sustentável.”
FOTOS: DIVULGAÇÃO
#número86 Lama nada doce
José Armando de Figueiredo Ramos , ex-presidente da ArcelorMittal Brasil e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), atual presidente do Conselho Diretor do Instituto Terra em Minas Gerais
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“É importante dar visibilidade a quem tem boas práticas. E a melhor forma de divulgar essas ações é trazendo-as a público, principalmente por uma organização tão respeitada como o Grupo Ecológico.”
Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos com um perfil desconstruidor: mandou retirar menções às mudanças climáticas do site da Casa Branca, flexibilizou a legislação de recursos hídricos do país e previu 30 bilhões de dólares adicionais em salários para os norte-americanos com a retirada de regulações ambientais “desnecessárias”. O motivo de tudo isso? Baratear a energia nos EUA, suspendendo essas regulações e liberando terras públicas para novos negócios em petróleo, carvão e gás. E, de quebra, aumentar ainda mais as 20 toneladas de carbono por segundo que o país lança na atmosfera.
“Apresento congratulações pelo padrão jornalístico, editorial e gráfico da Ecológico. Fico admirado como vocês conseguem editar uma revista com esse padrão nesta Minas Gerais. Parabéns e felicidades!”
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FOTO: DIVULGAÇÃO
Pedro Passos, sócio da Natura e conselheiro da Fundação Dom Cabral
#número98 O presidente desmatador?
“Todos nós gostamos muito da Ecológico. Primeiro, porque é uma revista bem equilibrada. Sabe premiar e homenagear, mas também denunciar e criticar sem jamais ser chata. Segundo, porque a revista tem como mensagem subliminar a beleza estética, mostrando sempre belas imagens. E aquilo que é bonito, Hugo Werneck também nos ensinou, a gente tende a proteger e preservar.” Ângelo Machado, biólogo, escritor e presidente da Fundação Biodiversitas
FOTO: MARCOS TAKAMATSU
Mauro Werkema, jornalista FOTO: LUIZ CHAVES / PALÁCIO PIRATINI
Michel Temer usou o meio ambiente, com o apoio da bancada ruralista, como moeda de troca para se manter no poder. Foi o que aconteceu, no primeiro semestre deste ano, depois da encenação que o governo federal montou para “vetar” as Medidas Provisórias 756 e 758, cujas propostas eram alterar os limites da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no Pará: mais de 600 mil hectares ficariam desprotegidos e abririam caminho para o desmatamento, a grilagem, o garimpo e a extração ilegal de madeira. A modelo Gisele Bündchen e o ator Leonardo DiCaprio pediram publicamente o veto das MPs. Temer “atendeu”, mas dias depois editou a MP 759, que permite legalizar terras públicas ou em disputa de até 2,5 mil hectares, incluindo áreas de grileiros. Qual é o sentido de tamanho retrocesso? Fato é que, com Trump no norte e Temer no sul da América, o ditado “os opostos se atraem” nunca fez tanto sentido.
FOTO: GUALTER NAVES
#número95 O inimigo climático
9 prêmios de jornalismo 31.500 sugestões de pauta 3.000 cartas de leitores 800 fontes entrevistadas A Amazônia foi o bioma que mais estampou nossas capas
respeitamos e acompanhamos o calendário da própria natureza. Quando a lua completa o seu ciclo a cada 28 dias, tal como os maias perceberam, ela faz os oceanos se elevarem. O mesmo deve ser o nosso cuidado com a questão ambiental. Diante da escuridão universal, a luz da lua, ao refletir o brilho solar, faz iluminar a nossa consciência sobre o estado do mundo. Mesmo tênue, ninguém consegue apagar esta luz. Quem é nosso público leitor?
3.800 escolas de Minas Gerais recebem a Ecológico em todas as luas cheias do ano 200 matérias de denúncia publicadas até aqui Por que a lua cheia? A decisão de escolher a lua cheia como data de circulação da Ecológico é recorrente:
61%
39%
Homens
Mulheres
Classes - A: 59% B: 20% C: 15% D/E: 6%
29% outros estados
Onde estamos?
In Interior:18% BH: 53%
FOTO: ALESSANDRO CARVALHO
15 profissionais são envolvidos na produção da revista, entre jornalistas, publicitários, designers, pedagogos e analistas.
Christina Carvalho Pinto, presidente e sócia do Grupo Full Jazz e empreendedora
“A Ecológico se reinventa jornalisticamente, informando seus leitores não apenas quando o meio ambiente é notícia trágica, mas tomando partido em relação àquilo que é mais essencial para a nossa sobrevivência. Ou seja, o desenvolvimento econômico com foco na sustentabilidade e defesa da natureza. Seu papel é fundamental na democratização da informação ambiental que tanto falta nas mídias convencionais, sensibilizando e ajudando as pessoas a saírem da letargia e alienação em relação às grandes questões do nosso tempo, como a realidade do efeito estufa. Vida longa.” José Carlos Carvalho, consultor e ex-ministro de Meio Ambiente
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FOTO: ECOLÓGICO
Curiosidades
“Sou uma grande admiradora da Revista Ecológico. Sou leitora e colecionadora há anos. É um conteúdo único e tem uma característica particular que todos nós conhecemos na linguagem da comunicação. Ao mesmo tempo em que é muito sofisticada na sua abordagem, porque traz informações com urgência e relevância grande, é palatável. Todo mundo pode ler a Ecológico. E isso mostra que os temas mais complexos, quando na mão de gente com qualidade, se simplificam.”
Publicidade verde Desde a primeira edição, mais de 200 anunciantes e parceiros participaram publicitariamente da Ecológico, totalizando 2.149 campanhas. Seguem alguns números:
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Quando a ra tecnologia melho s, a vida das pessoao. merece um prêmi
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30 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2017
organizações e IEL. São cinco é FIEMG, CIEMG é SESI e SENAI, mais O Sistema FIEMG a indústria produza os mineiros para que ao lado dos empresári privadas que atuam É tecnologi a e inovação. e saúde no trabalho. FIEMG é segurança e melhor. O Sistema FIEMG é mais Sistema O l. profissiona É educação e formação E para você. indústria. a Para todos. desenvolvimento para www.fiemg.com.br
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FOTO: DIVULGAÇÃO
Educação ambiental
“Além da consistência editorial, beleza gráfica e credibilidade da informação que divulga, a Revista Ecológico é feita por profissionais que realmente entendem do assunto. E mais: só ouço elogios sobre ela.”
Nosso conteúdo editorial sobre educação ambiental é trabalhado por professores de 3.800 escolas estaduais do Ensino Fundamental. Na última enquete realizada com 300 educadores por meio de formulário eletrônico, eles confirmaram que utilizam a Revista Ecológico nas salas de aula. Conheça os resultados:
90% dos educadores afirmaram que a revista é útil como material didático no planejamento de suas aulas;
96% das escolas que participaram da enquete têm a Ecológico como parte do acervo da biblioteca;
70% dos educadores desenvolvem ou participam de projetos de educação ambiental;
100%
deles demostraram interesse em continuar recebendo a Ecológico;
100% dos professores afirmaram que usam não
apenas as páginas de educação ambiental, mas toda a revista como fonte de leitura, pesquisa e trabalho escolar.
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“Existe um lado muito pouco visto, que é o trabalho de sensibilização mobilização dos nossos empresários, para a adequação ambiental e a responsabilidade social. Há 15 anos temos uma gerência de meio ambiente que coordena esse compromisso. Essa preocupação e resultados são latentes dentro da Federação e merecem uma publicação especializada, como a Ecológico, que retrate isto.” Wagner Soares Costa, gerente de Meio Ambiente do IEL/Fiemg
“Todos que fazem esta revista devem se orgulhar. Estão fazendo, de Minas para o Brasil, a melhor publicação sobre sustentabilidade do país. Parabéns!” Dídimo Paiva, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais AGOSTO DE 2017 | ECOLÓGICO O 31
FOTO: VERA GODOI
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FOTO: GUSTAVO AMORIM
Celso Castilho, ex-secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais e primeiro assinante da Ecológico
Pegada digital Desde que seu site oficial foi lançado, em 2009, a Revista Ecológico vem conquistando mais espaço na internet. Estamos presentes nas principais redes sociais (Facebook, Twitter, Google+, Instagram e LinkedIn), que somam juntas mais de 800 mil seguidores. E as boas notícias não param por aí: já estamos desenvolvendo um novo site, mais dinâmico e funcional, com mais conteúdo exclusivo e maior interação com nossos internautas. A previsão é que a nova página oficial seja lançada até o fim deste semestre. Atualmente, o site possui mais de 6.000 links, tornando-se uma forte referência e fonte de pesquisa sobre temas ambientais e de sustentabilidade.
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Em sua oitava edição, a maior premiação ambiental do país já homenageou 111 projetos, personalidades, empresas e entidades que desenvolvem e apoiam ações sustentáveis que garantam a preservação dos recursos naturais e proporcionam uma melhor qualidade de vida para a população. Mais de 800 iniciativas já foram inscritas no prêmio, lançado e idealizado em 2010 pela Revista Ecológico. Este ano, com o tema "A Terra pede Paz - Atire a primeira flor", o prêmio de "Homenagem do Ano" vai ser entregue ao fotógrafo de natureza Sebastião Salgado e sua esposa Lélia Wanick, pelos documentários fotográficos e editoriais mais audaciosos, importantes e esperançosos sobre o estado ecológico do planeta e pelo trabalho de recuperação ambiental desenvolvido no Instituto Terra, em Aimorés (MG). O
FOTO: RICARDO BELIEL
Prêmio Hugo Werneck
Sebastião Salgado e Lélia Wanick, os homenageados de 2017
Símbolos werneckianos O OSC OSCAR S AR R DA ECOLOGIA ECOLOG ECOLO O IA 2012 012 2
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AGOSTO DE 2017 | ECOLÓGICO O 33
1 TERRA BRASILIS
AMBIENTALISTA
PROFISSÃO MORTAL Brasil lidera, pelo quinto ano consecutivo, o ranking de países que mais matam os defensores do meio ambiente
P
or cinco anos consecutivos, o Brasil é o país mais violento para se lutar pelo meio ambiente e pelo clima do planeta. Segundo o relatório da organização Global Witness divulgado em julho último, o ano de 2016 bateu recorde de assassinatos de lideranças e ativistas defensores dos direitos ligados à terra e à proteção da natureza. Novamente no topo da lista, o Brasil contabilizou 49
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das 200 mortes mapeadas no ano passado. Segundo um dos responsáveis pelo estudo, esse número é provavelmente ainda maior, mas nem sempre os casos chegam ao conhecimento público, ou suas reais causas são relatadas. O avanço da fronteira agrícola, além da construção de grandes empreendimentos de infraestrutura, como barragens e hidrelétricas, são os vetores
por trás desse cenário. A maioria dos assassinatos ocorreu na região amazônica, principalmente em Rondônia, Pará e Maranhão, onde madeireiros e grandes proprietários de terras são os principais suspeitos. Segundo a organização, a falta de proteção aos ativistas, juntamente com o enfraquecimento das legislações ambientais e dos direitos indígenas, ajudou a alimentar a violência.
FOTO: DIVULGAÇÃO
Apesar de serem os mais afetados, esses estados não têm um programa de proteção que garanta a segurança das vítimas. O Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos da Secretaria da Presidência da República atende a sete estados do país, mas não àqueles que mais precisam. De acordo com a organização, a corrupção também desempenha um papel crucial, uma vez que garante a aprovação rápida e muitas vezes sem critério de projetos madeireiros e do agronegócio. “Os ativistas são forçados a se manifestar e, em muitos casos trágicos, são silenciados por seus atos”, sentenciou um dos organizadores do relatório. A tendência é que essa violência aumente, já que o agronegócio quer expandir suas atividades abrindo mais 15 milhões de hectares até 2026, segundo dados do próprio setor. “A Global Witness acredita que a situação de terras e, consequentemente, dos defensores ambientais no Brasil irá se agravar drasticamente caso os planos do governo para reverter os direitos indígenas e de proteção ambiental sigam em frente. Temer já diluiu leis e instituições ligadas aos direitos humanos e ao meio ambiente. Se ele continuar a ceder ao lobby agrícola os assassinatos de defensores provavelmente aumentará”, afirmou a organização. Para o cacique Roberto Marques, liderança do povo indígena Anacé, do Ceará, que também figura na lista de ameaçados de morte no Brasil, essa é uma questão muito séria, para além da vida individual de cada uma das vítimas. “Na minha luta diária a gente é ameaçado toda hora. Recentemente eu denunciei uma destruição dentro do nosso território. Temos que fazer
DOROTHY STANG: executada a tiros no Pará, em 2005, ela denunciava fazendeiros e madeireiros que destruíam a Floresta Amazônica
isso. É a única forma de proteger o homem dele mesmo. O risco se agrava quando abraçamos uma causa justa pelo coletivo, mas que vai de encontro a interesses de quem domina o capital.” Segundo ele, cujo território não é demarcado até hoje, a falta de agilidade da Funai (Fundação Nacional do Índio) e dos órgãos competentes se soma a outros fatores, como o poder das grandes construtoras, empresas petrolíferas e a permissividade das autoridades. “Nós lutamos na base. E não abrimos mão da nossa tradição, do nosso conhecimento, da nossa terra. Se o governo quer dessa forma matar a terra, então vai nos matar também. Pode já estar tudo perdido, mas nós vamos perder lutando”, frisou Roberto Anacé. A Global Witness atesta que, embora tenham sido encontrados poucos casos de mortes ligadas diretamente ao petróleo e gás na Amazônia brasileira, é preocupante que essas conces-
sões estejam sendo dadas sem o consentimento prévio e informado das comunidades locais. “Isto é o cerne da causa para os ataques contra os defensores. As pessoas se sentem obrigadas a combater projetos quando não têm poder de voz sobre o que acontece às suas terras e os recursos naturais nelas presentes. Conceder novas licenças para exploração de petróleo e gás sem a participação das comunidades locais nas decisões é a receita perfeita para atrair mais violência”, afirmou o porta-voz da organização. A instituição responsabiliza governos, empresas e investidores pelo pano de fundo que leva às mortes. “Eles precisam atacar as causas do aumento da violência, não autorizar ou participar dos projetos. Além disso, os assassinos precisam ser responsabilizados.” O SAIBA MAIS globalwitness.org AGOSTO DE 2017 | ECOLÓGICO O 35
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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br
O NÚMERO de propriedades cadastradas no CAR é positivo, mas de nada adianta sem conferência no campo
O CÓDIGO DO AGRONEGÓCIO
O
Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651), ou mais realisticamente do “Agronegócio”, fez cinco anos. Encomendado e articulado com o governo Dilma Rousseff, foi o primeiro e grande passo do segmento, representado pela “bancada do boi” no Congresso, com seus históricos saqueadores de florestas, água e terras, apoiado por grileiros de terras e entidades patronais como CNI e CNA, para também saquear a legislação ambiental. O processo, em consonância com os princípios e as posturas retrógadas de seus propositores e defensores, excluiu a comunidade acadêmica e a sociedade e foi chefiado pelo então deputado Aldo Rebelo, do Partido Comunista do Brasil (PC do B), posteriormente ministro do governo Dilma. Entre suas “pérolas” destacam-se não acreditar nas alterações climáticas e defender teorias antropocentristas que consideram estar a espécie humana acima da natureza. Paulo Piau e Marcos Montes, deputados mineiros, dividiram a liderança com ele, alegando argumentos ultrapassa-
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dos e inverídicos de que o código anterior atrapalhava o desenvolvimento econômico do país. Inúteis foram os argumentos técnicos e morais apresentados por entidades de peso como CNBB, SBPC, pesquisadores, ambientalistas, técnicos dos órgãos ambientais. A “turma da motosserra”, munida da certeza do poderio que tem num país que continua dilapidando seus recursos naturais, definitivamente não estava disposta a gastar tempo com reuniões, debates e audiências públicas. A anistia a quem desmatou até julho de 2008, independentemente dos impactos causados ao solo, à água e à biodiversidade, foi uma de suas grandes vitórias e tornou-se garantia de que o desmatamento pode continuar, pela certeza da impunidade. Passados alguns anos, outra lei os anistiará. Segundo Mario Mantovani, diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, o desmatamento aumentou em todos os biomas brasileiros e a anistia é um dos motivos disso. Os últimos dados publicados pela entidade, em
“Encomendado e articulado com o governo Dilma Rousseff, o Código foi o primeiro e grande passo do segmento representado pela ‘bancada do boi’ no Congresso, com seus históricos saqueadores de florestas, água e terras.” conjunto com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que a derrubada de Mata Atlântica aumentou assustadoramente, tendo Bahia e Minas como “líderes”. A causa maior continua sendo a mesma: agropecuária. O Cadastro Ambiental Rural (CAR), raro ponto positivo da lei, que prevê cadastramento e informações sobre as propriedades rurais e recuperação de áreas degradadas, foi concebido como ferramenta fundamental para gestão territorial do país, prevendo inclusive restrição de crédito para os não inscritos e controle de desmatamento. O número de cadastrados divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente é otimista. Mas de nada adianta sem conferência em campo, pois as informações são voluntárias e consequentemente sujeitas a mentiras. Seu uso político, entretanto, já começou. Evaristo de Miranda, chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, afirmou, em recente artigo, que “resultados preliminares do CAR apontam que, no final de 2016, mais de 170 milhões de hectares de vegetação nativa estavam preservados pelos agricultores dentro dos imóveis rurais, o que representa mais de 20% do território brasileiro”. Os satélites utilizados pela Embrapa não devem estar funcionando bem, porque se ela der um pulinho em Minas, verá um mar de morros pelados e talvez fique até preocupada com o nível assustador de degradação do solo pela agropecuária no vale do Rio Doce. PROPRIEDADES “RELAXADAS” Estudo publicado pelo Ipam no dia 03 de julho passado, conduzido pela bióloga Andrea Azevedo e pelo professor Raoni Rajão, da UFMG, compara-
ram o nível de preservação de mais de 20 mil áreas antes e depois do CAR e concluíram que apenas 6% dos proprietários de terra dizem estar tomando as medidas necessárias para cumprir as leis ambientais. Outros 76% afirmam que precisariam ser obrigados pelo governo ou receber incentivo. E 18% dizem que não buscariam a regularização ambiental “de jeito nenhum”. De acordo com Azevedo, o desmatamento variou segundo o tamanho da propriedade e no decorrer do tempo. “As propriedades menores diminuíram bastante o desmatamento logo que entraram no CAR e com o tempo foram relaxando nas medidas. No caso das médias propriedades, não foi possível verificar um efeito do CAR para o combate do desmatamento, assim como no caso das grandes, que até apresentaram aumento em alguns casos”, explicou. Para ela, é ruim para o produtor estar fora do CAR, mas é muito melhor participar e não fazer nada, porque se inscrito vai ter crédito e mais isenção de multas, já que muitos órgãos defendem proteger quem se cadastrou. Mas não pensem que os objetivos da “bancada do boi” foram atingidos. Outro grande passo está em curso: um Projeto de Lei do deputado Mauro Pereira (PMDB-RS) propõe que atividades agropecuárias (incluindo silvicultura, irrigação, pecuária bovina) sejam isentas de licenciamento. E assim, parafraseando o grande Castro Alves, enquanto “existe um povo que a bandeira empresta, para cobrir tanta infâmia e covardia”, a Amazônia, a Mata Atlântica, o Cerrado e a Caatinga estão indo “pro brejo”. Ou melhor, para o deserto, pois os brejos também irão juntos. O
QUEM MATA A MATA, mata mais que a mata. preserve a água (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).
1 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
VISTA aérea dos campos ferruginosos da Serra da Bocaina: novo parque integrará um mosaico de mais de 1,2 milhão de hectares de Floresta Amazônica
NOVO ATRATIVO
FOTO: FERNANDO SANTOS
NATURAL Criação do Parque Nacional dos Campos Ferruginosos, no Pará, coloca mais de 80 mil hectares sob proteção integral
O
Pará é um dos nove estados brasileiros que guardam a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. E agora tem um novo atrativo natural para também chamar de seu: o Parque Nacional dos Campos Ferruginosos, uma área de aproximadamente 80 mil hectares composta por lagoas, fauna e flora típicas, presentes somente em formações ferríferas (onde há presença de minério de ferro). O parque tem grande importância para a espeleologia, com 377 cavernas em formação ferrífera; além de registros arqueológicos das primeiras ocupações humanas na Amazônia. A proposta de criação do parque foi desenvolvida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em conjunto com a Vale, líder mundial na produção de minério de ferro. E atende a uma das condicionantes da licença ambiental concedi40 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2017
da pelo IBAMA para operação do mais novo empreendimento minerário da empresa: o Complexo S11D Eliezer Batista, em Canaã dos Carajás, sudeste do Pará. Com a criação do parque, a área passa a ser protegida de forma integral, onde não há a exploração de recursos naturais. Isso significa que somente atividades de educação ambiental, de lazer junto à natureza, pesquisa científica e turismo ecológico serão realizadas no local, sob a coordenação do ICMBio. REMANESCENTES FLORESTAIS Os campos ferruginosos vão se integrar a uma área de mais de 1,2 milhão de hectares de Floresta Amazônica no Pará, cuja proteção a Vale apoia desde 1985. Historicamente, o sudeste do estado é uma área de paisagem bastante modificada por atividades como a agropecuária. E, portanto, há poucos remanescentes florestais.
Imagens de satélite comprovam que praticamente todas as áreas de Floresta Amazônica ainda preservadas na região estão localizadas em um conjunto de unidades de conservação de Carajás, mantido pelo ICMBio com o apoio da Vale. “A criação do parque é resultado de um diálogo maduro, pautado em bases científicas que buscam o equilíbrio entre desenvolvimento e preservação. A Vale se orgulha de manter seu compromisso com o desenvolvimento sustentável nas regiões”, frisa a gerente-executiva de Meio Ambiente Gleuza Jesué. MARAVILHA BIODIVERSA As serras da Bocaina e do Tarzan têm em seu topo rochas ferríferas expostas há milhares de anos, formando uma densa carapaça. Esse tipo de ecossistema é conhecido como vegetação sobre canga ou campo rupestre ferruginoso e, localmente, como savana metaló-
FOTO: CLÁUDIA DANTAS/VALE
GLEUZA Jesué: compromisso sustentável
FIQUE POR DENTRO
O parque está localizado nos municípios de Parauapebas e Canaã dos Carajás. Serão cerca de 80 mil hectares formados por dois platôs ferruginosos: a Serra da Bocaina, também conhecida como Serra do Rabo, entre a Rodovia PA-160 e o Rio Parauapebas, e a Serra do Tarzan, próximo ao Projeto Sossego e a Rodovia 118.
domínios da Flona. Essas áreas passam a ter categoria de proteção integral, tendo a sua preservação assegurada. PROTEÇÃO INTEGRAL De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), as unidades podem ser de uso sustentável ou de proteção integral. O Parque Nacional Campos Ferruginosos de Carajás será uma unidade de proteção integral. A área será voltada para a preservação dos seus ecossistemas naturais de grande relevância ecológica, espécies de fauna e de flora raras e típicas da região e ecossistemas aquáticos. A Reserva Biológica Tapirapé, que integra o conjunto de Carajás, também é uma unidade de proteção integral. A outra categoria é a unidade de uso sustentável, ou seja, em que há possibilidade de usos e exploração dos recursos naturais, mas de forma a proteger a flora, fauna, nascentes, rios e cavernas. São assim, por exemplo, as unidades do conjunto de Carajás, como a Floresta Nacional de Carajás, que também contam com o apoio da Vale para proteção. Esse conjunto de unidades de conservação é composto pela Floresta Nacional de Carajás (Flona Carajás), Itacaiúnas e do Tapirapé-Aquiri. O SAIBA MAIS www.vale.com www.icmbio.gov.br
FOTO: ATALIBA COELHO
fila. H Há espécies de flora e fauna raras,, ameaçadas e endêmicas, além d de ecossistemas aquáticos. Diferentemente Difere ren de floresta, essas áreas área as têm t solos rasos, o que impede o d desenvolvimento e de espécies arbóreas arbó b re de grande porte, criando o “ilh “ilhas” de campos rupestres e ssavanas sa vana em meio à floresta tropical, co ca com espécies de gramíneas e arbustos altamente adaptados a arbust essas condições. c O parque também abriga fontes importantes para a proteção das águas da região, como cachoeiras e várias nascentes. A canga forma uma cobertura laterítica (com concentração de ferro), com fissuras e vegetação raleada. Quando essas áreas acumulam água, tornam-se pequenos lagos temporários. A couraça de canga tem um relevo levemente côncavo e, ao aparecer áreas de acúmulo de água de chuva, formam-se lagoas de grande beleza cênica. Nesses ambientes, as variações fisionômicas e florísticas são amplas, desde áreas de vegetação herbácea-arbustiva até campos graminosos e vegetação flutuante. Em áreas com acúmulo de sedimentos orgânicos e manutenção de inundação permanente, destacam-se os buritizais, palmeiras típicas da região. O parque também terá grande área de floresta nativa, principalmente ao redor da Serra do Tarzan, que se encontra dentro dos
CAVIDADE Natural Subterrânea em formação ferrífera na Serra do Tarzan
1 A SERRA PEDE PAZ (3)
O Parque
das Mangabeiras
O Mineração
Empabra
O Cava da ex-Mina de Águas Claras/Vale
O PROJETO CMST/COWAN O CAVA 2
O CAVA
1 O CAVA
O Pilhas de estéril da ex-Mina de Águas Claras
O Mata do Jambreiro
O Barragem
A NOVA REGRA DO JOGO Minerar, preservando a beleza e a importância vital da natureza acima do que já manda a legislação ambiental. Ou impedir o avanço da atividade, caso se repita o modelo da mineração tradicional, que carcomeu para sempre a Serra do Curral. Eis a repetida questão do lado de Nova Lima Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br
O
jogo e a regra para um novo projeto de exploração mineral pretendido pela Construtora Cowan, conforme a Revista Ecológico mostrou em sua última edição, ao redor do belíssimo Morro da Cascavel, atrás do símbolo natural da capital dos mineiros, na verdade não existem. Eles vêm sendo construídos pari passu e empiricamente nos bastidores oficiais, sob o acompanhamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
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(IPHAN) e o olhar ora desconfiado e vigilante ora esperançoso dos ambientalistas. Isto se deve a uma falha técnica, a nossa reportagem também já adiantou, ocorrida na década de 1970. Foi quando, ao fixar os novos e cada vez menores limites do tombamento da Serra do Curral, a Superintendência Estadual do IPHAN esqueceu de também notificar a Prefeitura Municipal de Nova Lima, do outro lado, a fazer o mesmo, em termos de demarcação e proteção ambiental.
Não fez. O tempo passou. E em meio a esse reconhecido lapso histórico, a própria empresa (ela mesmo, e não os órgãos públicos), conseguiu localizar os antigos marcos históricos da cumeeira da serra. Assim documentada, seguiu em frente. Recorreu em 2013, e conseguiu a anuência, em fevereiro de 2016, do Conselho Consultivo do IPHAN nacional, em Brasília (DF). E agora busca o seu licenciamento ambiental junto ao Estado. Trata-se do Projeto Complexo Minerário Serra do Taquaril
3
Área de atuação da Ex-MBR / atual Vale Área da Fazenda Ana da Cruz / Cowan Área de atuação da Empabra
O PILHA
DE ESTÉRIL 1
O CAVA
4
O PILHA
DE ESTÉRIL 2
A REALIDADE do que sobrou hoje da Serra do Curral em BH e Nova Lima, após 45 anos de ocupação urbana e de atividade minerária, que tanto rebaixou seu perfil quanto preservou o verde em volta. E o novo projeto da CMST, da Construtora Cowan, que negocia licença com o Estado para desmatar mais uma área natural equivalente a 150 campos de futebol (vide manchas em amarelo): a velha ou uma nova moeda de troca?
até então ameno da capital, de reconhecimento internacional.
O Rio
das Velhas
(CMST) da Taquaril Mineração, formada 83% pela construtora e 17% por pessoas físicas. Esse seu pedido de licença corre já há dois anos, ainda mineiramente em estudos, na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD). A nova frente de exploração mineral está prevista para acontecer em meio aos 1.400 hectares que perfazem a antiga Fazenda Ana da Cruz, pertencente à Cowan, do outro lado da Serra do Curral. Ainda quase 100% preservada, não fosse a tragédia dos motoqueiros abrindo feridas em seus vales e montanhas, a propriedade faz limite, ao leste, com o Rio das Velhas, no município de Sabará. Ao norte, é contígua à área explorada pela Empabra Mineração, no alto do Taquaril, conforme a Ecológico mostrou em sua última edição. Ao sul, a Fazenda Ana da Cruz faz divisa com terrenos da Anglogold Ashanti, que abrigam a Usi-
na do Queiroz. A oeste é limitada pela Mata do Jambreiro, a maior reserva de Mata Atlântica em toda a Região Metropolitana de BH, preservada pela ex-Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), atual Vale, sendo também contígua à ex-Mina de Águas Claras, divisa com o Parque das Mangabeiras, hoje em processo de descomissionamento pela Vale. Justamente onde, no início da década de 1970, quando o planeta e a humanidade ainda não haviam pronunciado as expressões “meio ambiente” e “desenvolvimento sustentável”, nem existia a consciência ecológica, aconteceu o inesquecível: a então The Saint John d’El Rey Mining Company, precursora da MBR e da Vale, uniu-se à Mineração Ferrobel, de propriedade de BH. E juntas, com a prefeitura também de Nova Lima, exploraram e rebaixaram o perfil natural da Serra do Curral, como se sabe, a ponto de alterar para pior e para sempre, o clima
FUTURO COMUM Voltemos ao futuro que nos espera, sustentável ou não, ao redor do Morro da Cascavel, no lado nova-limense da serra. E estamos nos referindo novamente à Fazenda Ana da Cruz, situada no município metropolitano com mais verde e água (mais de 800 nascentes registradas) da Grande Belo Horizonte. Sua preservação e não invasão continuada só foi possível graças ao empenho e à luta pessoal de seus proprietários, além de se tratar de uma região erma, ainda sem asfalto e longe dos olhos da população e do mercado imobiliário. Talvez, a única ameaça real seja o Conglomerado de Favelas do Taquaril virar a serra, rumo à Estação da Cemig, onde passa a estrada de terra ligando Nova Lima a Sabará. A Fazenda Ana da Cruz já teve 135 posseiros ao longo de sua história recente. A empresa negociou e conseguiu a saída de 129 deles. Apenas seis, também via diálogo, tornaram-se seus coproprietários. Foi ali, entre os anos 2007-2009, que uma pesquisa geológica feita pela Vale, que tinha a opção primeira de compra, confirmou a existência de mais de um bilhão de toneladas de minério de ferro de baixo teor no seu subsolo montanhoso. Trata-se, nos dias atuais mais
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AGOSTO DE 2017 | ECOLÓGICO O 43
1 A SERRA PEDE PAZ (3)
44 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2017
três fases, mas foi reduzido para duas, devido à inovação do setor em termos de segurança e tecnologia disponíveis”, observou o engenheiro, diante de tudo que aconteceu de ensinamento ao setor desde a tragédia de Fundão, da Samarco. Não haverá barragem de rejeitos. Eles serão filtrados a seco, de maneira mais segura e sustentável, como na Mina do Pau Branco, da Vallourec, já mostrada com exclusividade pela Revista Ecológico em sua edição 87, logo após o acidente de Mariana. A fase 1 de implantação prevê a retirada de um milhão de toneladas de minério de ferro durante 1,5 ano. Na fase 2, quatro milhões de toneladas ao longo de 10,5 anos. Estão previstos 422 empregos diretos e uma geração de impostos de R$ 1,8 bilhão durante os 12 anos de sua vida útil. DOR VERDE Voltemos à questão dos novos 150 hectares desmatados (área equivalente a cerca de 150 campos de futebol) e previstos no projeto. A dor verde, a ser compensada somente daqui a 12 anos, quando já tiver acabado a reserva de minério, vem daí. Foi o que a Amda e a Revista Ecológico apontaram e perguntaram ao representante da Taquaril: o que será oferecido, além do que exige a legislação para a compensação ambiental, entre os 90% de natureza que continuarão sendo de propriedade da empresa? E a maioria deles já considerados “Reservas legais” e “Áreas de Preservação Permanente (APPs)”, tamanha declividade do solo, matas e nascentes d’água serra abaixo? Que tamanho, enfim, para negociação democrática e sustentável, terá o coração verde do Projeto CMST versus o seu corpo mineral, econômico e social? Leandro
O SENTIMENTO DE DRUMMOND FOTO: REPRODUÇÃO
conscientes e tecnológicos, de um potencial para exploração de 25 milhões de toneladas/ano então pretendido, em segunda opção, pela Cowan. Existe solução. A luta por um sonhado modelo de “mineração sustentável”, sem barragem de rejeitos, mas numa região ecologicamente delicadíssima, continua. Foi o que Leandro Quadros Amorim, da Taquaril Mineração, engenheiro responsável pelo Projeto CMST, se disse consciente e se posicionou durante reunião recente com os ambientalistas mineiros na sede da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), em BH. Segundo mostrou e já consta de um Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente (EIA/Rima) protocolado na SEMAD, o projeto original teria uma vida útil de 30 anos, com a abertura de três cavas grandes, sendo uma colada ao lago da Vale (ex-Mina de Águas Claras). No entanto, Leandro esclareceu que o projeto foi modificado para uma versão bem menor (conforme mapa nas páginas anteriores), sem barragem de rejeitos. O novo projeto de mineração equivale, em termos de tamanho e impacto na natureza, a 10% do que foi a ex-Mina de Águas Claras. Juntas, e também somando os espaços das pilhas futuras de estéril, as áreas industriais requeridas pelo total do projeto ocuparão 150 hectares no costado da Serra do Curral, em Nova Lima. Exatos 149,17 hectares de novos desmatamentos na região. A ocupação e a alteração geográfica da natureza de um décimo da propriedade atual da Fazenda Ana da Cruz, cuja rica e belíssima biodiversidade acha-se preservada até hoje pela Cowan. “Originalmente, o desenvolvimento do Projeto CMST teria
Quem não se lembra do “Triste Horizonte”, de Carlos Drummond de Andrade (foto)? Trata-se do protesto-mor do poeta de Itabira. Ele jurou e cumpriu sua própria profecia de jamais voltar a BH, tamanha desfiguração da serra eleita pela população como o símbolo natural da ex-“Cidade Jardim” do Brasil, segundo versos de Olavo Bilac. Quem quiser se recordar disso, basta acessar a edição número 58 da Revista Ecológico, no link goo.gl/AiJqPB
respondeu: “Estamos aguardando o momento mais adequado para vermos e discutirmos isso com a sociedade, seguindo os passos regimentais do processo do nosso pedido de licenciamento ambiental junto ao Estado”. É o que a Ecológico continuará abordando, em sua próxima edição - “Quando o passado condena” -, na quarta reportagem da série “A serra pede paz”. O
“O mundo não foi feito em alfabeto. Senão que primeiro em água e luz. Depois árvore.” MANOEL DE BARROS, poeta
MINAS RUMO AO ENCARTE ESPECIAL (4)
FOTO: ALFEU TRANCOSO
FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA
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ENCARTE ESPECIAL FIEMG (4) ENTREVISTA: RICARDO VALORY, DIRETOR-GERAL DO IBIO/AGB DOCE
“CUIDAR DAS NASCENTES
É FUNDAMENTAL�
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FOTO: FABIANA CONRADO / ASCOM
O
Rio Doce ĂŠ um mundo dentro de Minas Gerais. Dele dependem mais de 3,5 milhĂľes de pessoas, distribuĂdas em 228 municĂpios ao longo de seus 879 quilĂ´metros de extensĂŁo. AlĂŠm disso, na sua bacia KLGURJUiĂ€FD WDPEpP VH FRQFHQWUDP DWLYLGDGHV LPSRUtantes para a economia nacional, como a agricultura, a pecuĂĄria e a mineração. 1mR p j WRD TXH WHQGR HP YLVWD D LPSRUWkQFLD HFROyJLca, econĂ´mica e social do rio, o Brasil e o mundo estejam indignados com sua realidade ambiental. Mesmo antes do rompimento da barragem de rejeitos de mineração GD 6DPDUFR HP QRYHPEUR GH D VLWXDomR Mi QmR HUD GDV PHOKRUHV R ULR Mi YLQKD VRIUHQGR FRP R DVVRUHDmento, a poluição e o desmatamento de sua mata ciliar. E o desastre de Mariana (MG), claro, potencializou de maneira dramĂĄtica todos esses problemas. e QD WUDQVIRUPDomR GHVVH FHQiULR WULVWH TXH R ,QVWLWXWR %LR$WOkQWLFD ,%,2 DJrQFLD GH iJXD GR 5LR 'RFH YHP WUDEDOKDQGR MXQWR DR FRPLWr H VXE FRPLWrV GH EDcia, alĂŠm da comunidade e entidades parceiras. Seja na recuperação de nascentes seja na cobrança do uso da iJXD RX QD JHVWmR UHVSRQViYHO GRV UHFXUVRV KtGULFRV R FDPLQKR SDUD WUD]HU GH YROWD R HTXLOtEULR QDWXUDO D XP dos rios mais importantes do paĂs ainda ĂŠ longo. e R TXH UHVVDOWD R GLUHWRU JHUDO GR ,%,2 5LFDUGR 9DORU\ 1HVWD HQWUHYLVWD j Revista EcolĂłgico, ele cobra, LQFOXVLYH TXH D )XQGDomR 5HQRYD FULDGD SDUD JHULU DV Do}HV GH UHSDUDomR UHVWDXUDomR H UHFRQVWUXomR DSyV RV impactos causados pelo rompimento da Barragem de )XQGmR WUDEDOKH GH IRUPD PDLV LQWHJUDGD FRP RV FRPLWrV QD UHFXSHUDomR GR 5LR 'RFH ´$ )XQGDomR SUHFLVD FRQVLGHUDU R TXH D DJrQFLD Mi YHP H[HFXWDQGR FRP DSURYDomR H SULRUL]DomR GRV FRPLWrV SDUD TXH FRQVLJDPRV UHVXOWDGRV DLQGD PHOKRUHVÂľ DĂ€UPD 9DORU\ WDPEpP ID] XP EDODQoR VREUH RV SURJUDPDV UHDOL]DGRV SHOR ,%,2 &RQĂ€UD
RICARDO VALORY: "A questĂŁo do Rio Doce nĂŁo ĂŠ mais local. Viramos pauta nacional"
MINAS RUMO AO FĂ“RUM MUNDIAL DA Ă GUA 2018
FOTO: FRED LOUREIRO/SECOM ES
O RIO DOCE e seu entorno devastado: desprezo histĂłrico
"Nem cinco dos 228 municĂpios possuem 90% de esgoto tratado, que ĂŠ um dos principais problemas da bacia. AlĂŠm disso, o solo, com baixa cobertura florestal, continua exposto a processos erosivos." Qual ĂŠ a situação atual da Bacia do Rio Doce? 8P GRV QRVVRV JUDQGHV GHVDĂ€RV p HQ[HUJDU LGHQWLĂ€FDU WRGRV RV SURblemas do territĂłrio da bacia. SĂŁo aproximadamente 86 mil km², em 228 municĂpios (202 mineiros e 26 capixabas). Desses, nem cinco possuem 90% do seu esgoto tratado, TXH p XP GRV SULQFLSDLV SUREOHPDV $OpP GLVVR R VROR FRP EDL[D FREHUWXUD Ă RUHVWDO FRQWLQXD H[SRVWR a processos erosivos. E isso consequentemente contribui para o DVVRUHDPHQWR GRV DĂ XHQWHV H GR prĂłprio Rio Doce. Embora a gestĂŁo de recursos hĂdricos tenha evoluĂdo, ainda temos muito a fazer. A bacia jĂĄ apresentava um cenĂĄrio de
alta degradação, agravado apĂłs o acidente de Mariana, que trouxe novos impactos e deixou ainda mais crĂtica a situação. Cabe Ă s entidades envolvidas – o comitĂŞ de bacia, a agĂŞncia, os ĂłrgĂŁos gestores e a comunidade – se organizarem na luta pela redução dos impactos ambientais. Como vocĂŞs avaliam as açþes de recuperação ambiental desenvolvidas pela Fundação Renova? O Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC), assinado entre os governos federal e estaduais (Minas Gerais e EspĂrito Santo), a Samarco e suas acionistas apĂłs o rompimento da barragem de rejeitos em
Mariana (MG), estĂĄ sendo cumprido GHQWUR GRV SUD]RV SUHYLVWRV 3RUpP ao longo de sua execução, novas linhas de açþes que nĂŁo estavam estipuladas no acordo podem surgir. É preciso que o ComitĂŞ Interfederativo (CIF) tenha a consciĂŞncia de que podem ser necessĂĄrios ajustes no termo para que as açþes, de fato, tenham o efeito esperado na recuperação do 5LR 'RFH $V Do}HV GHĂ€QLGDV GHYHP se manter alinhadas Ă s dos comitĂŞs GD EDFLD (VVD DUWLFXODomR p HVVHQFLDO para que os programas previstos no Plano Integrado de Recursos HĂdricos da Bacia do Rio Doce (PIRH-Doce), que o IBIO jĂĄ vem executando, tenham ainda mais força. A Fundação Renova precisa levar em consideraAGOSTO DE 2017 | ECOLĂ“GICO O 47
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ENCARTE ESPECIAL FIEMG (4)
ção o que a agĂŞncia jĂĄ vem executando com aprovação e priorização dos comitĂŞs, para que consigamos resultados ainda melhores, visando Ă garantia de ĂĄgua em qualidade e quantidade adequadas aos mais diversos usos. De que forma o IBIO estimula produtores agrĂcolas quanto ao uso racional de ĂĄgua? Quais as principais conquistas nesse sentido? O comitĂŞ investiu recursos da cobrança pelo uso da ĂĄgua no Programa de Incentivo do Uso Racional da Ă gua na Agricultura (P22). Foram instalados 240 irrigâmetros na Bacia do Rio Doce, equipamentos que contribuem para o manejo da irrigação, indicando ao produtor a forma e o tempo corretos para irrigar, melhorando a qualidade do produto e promovendo economia de iJXD H HQHUJLD HOpWULFD (OHV IRUDP distribuĂdos nas ĂĄreas da bacia que possuem o maior nĂşmero de irrigantes, de acordo com informaçþes do PIRH e seus respectivos Planos de Ação (PARHs). Esses primeiros HTXLSDPHQWRV IRUDP XPD HVSpFLH de projeto-piloto na bacia. Todas as propriedades contempladas reFHEHUDP DFRPSDQKDPHQWR WpFQLFR por meio da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Fundação Arthur Bernardes (Funarbe), contratada por licitação para a execução do programa. Como estĂĄ a adesĂŁo dos produtores rurais e das cidades abrangidas pela bacia ao Programa de Recomposição de APPs e Nascentes (P52)? &XLGDU GDV QDVFHQWHV p IXQGDPHQWDO para a recuperação da Bacia, pois elas representam um grande colaborador para o abastecimento dos lençóis freĂĄticos. A junção dos trĂŞs programas irĂĄ gerar maior prĂĄtica de conservação de solo, que, aliada 48 O ECOLĂ“GICO | AGOSTO DE 2017
RAIO-X O A BACIA HidrogrĂĄďŹ ca do Rio Doce tem 86.715 quilĂ´metros quadrados, dos quais 86% estĂŁo no Leste mineiro e 14% no Nordeste do EspĂrito Santo. Em Minas, ĂŠ subdividida em seis Unidades de Planejamento e GestĂŁo dos Recursos HĂdricos (UPGRHs), Ă s quais correspondem as seguintes sub-bacias e seus respectivos ComitĂŞs de Bacia HidrogrĂĄďŹ ca (CBHs): Rio Piranga, Rio Piracicaba, Rio Santo AntĂ´nio, Rio SuaçuĂ, Rio Caratinga e Rio Manhuaçu.
O NO ESPĂ?RITO SANTO, nĂŁo hĂĄ subdivisĂľes administrativas, existindo CBHs dos Rios Santa Maria do Doce, Guandu, PontĂľes e Lagoas do Rio Doce e Barra Seca e Foz do Rio Doce.
COM 879 QUILÔMETROS de extensão, suas nascentes estão em Minas, nas Serras da Mantiqueira e do Espinhaço. O relevo da Bacia Ê ondulado, montanhoso e acidentado. No passado, uma das principais atividades econômicas foi a extração de ouro, que determinou a ocupação da região e, ainda hoje, o sistema de drenagem Ê importante em sua economia, fornecendo ågua para uso domÊstico, agropecuårio, industrial e geração de energia elÊtrica. Os rios da região funcionam, ainda, como canais receptores e transportadores de rejeitos e euentes. O
A POPULAĂ‡ĂƒO DA BACIA, estimada em 3,5 milhĂľes de habitantes, estĂĄ distribuĂda em 228 municĂpios, sendo 202 mineiros e 26 capixabas. Mais de 85% desses municĂpios tĂŞm atĂŠ 20 mil habitantes e cerca de 73% da população total da Bacia concentra-se na ĂĄrea urbana, segundo dados de 2007. O
COM RICA BIODIVERSIDADE, a Bacia do Doce tem 98% de sua ĂĄrea inserida no bioma Mata Atlântica, um dos mais importantes e ameaçados do mundo. Os 2% restantes sĂŁo de Cerrado. Pode ser considerada privilegiada, ainda, no que se refere Ă grande disponibilidade de recursos hĂdricos, mas hĂĄ desigualdade entre as diferentes regiĂľes da Bacia. O
j PDLRU LQÀOWUDomR GH iJXD SHUPLWLUi a redução da erosão, diminuição do assoreamento dos rios e ao, mesmo tempo, contribuirå para que a nascente tenha mais ågua para jorrar. Os FRPLWrV WDPEpP SULRUL]DUDP UHFXUsos da cobrança pelo uso da ågua. Em Minas Gerais, o CBH-Santo Antônio foi precursor do programa, que con-
templarĂĄ, ao todo, 700 nascentes. JĂĄ no EspĂrito Santo foi feito um alinhamento entre os CBHs capixabas da Bacia do Rio Doce e o Programa ReĂ RUHVWDU GR JRYHUQR GR (VWDGR XPD empresa foi contratada para elaboração do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e do Projeto de Recuperação das propriedades. Nesse programa,
MINAS RUMO AO FĂ“RUM MUNDIAL DA Ă GUA 2018
FIQUE POR DENTRO
BACIA HIDROGRĂ FICA DO RIO DOCE
A cobrança pelo uso da ĂĄgua ĂŠ vista por especialistas como um instrumento importante contra a crise hĂdrica e futuros racionamentos. Qual a sua opiniĂŁo a respeito? Enxergamos a cobrança como um LQVWUXPHQWR TXH DOpP GH DUUHFDGDU recursos, representa uma oportunidade de mostrar ao usuĂĄrio a necessidade de utilizar a ĂĄgua de forma racional. A partir do momento em que
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o CBH investiu R$ 940 mil e, em conWUDSDUWLGD R 5HĂ RUHVWDU Ă€QDQFLRX RV insumos – mudas, murĂľes, arrames ² DOpP GR SDJDPHQWR DRV SURGXWRres rurais, por serviços ambientais prestados. Cerca de 600 produtores jĂĄ foram contemplados com esse arranjo. Trabalhamos hĂĄ um tempo com eles na recuperação dos mananciais e QDVFHQWHV 2 &%+ p SHoD FKDYH QD mobilização dos municĂpios e na disseminação do conhecimento da sua EDFLD KLGURJUiĂ€FD
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O Instituto BioAtlântica (IBIO) ĂŠ uma organização sem ďŹ ns lucrativos, criada em 2002 por indivĂduos, empresas e ONGs ligadas ao tema sustentabilidade. Trabalha com o poder pĂşblico, a sociedade civil e o setor produtivo para melhorar a qualidade de vida e do meio ambiente no Brasil. É formado por proďŹ ssionais qualiďŹ cados, com conhecimento e experiĂŞncia em restauro orestal, agricultura sustentĂĄvel, ecologia da paisagem, gestĂŁo de bacias hidrogrĂĄďŹ cas e adaptação Ă s mudanças climĂĄticas. Busca modelos que viabilizem investimentos em infraestrutura natural, como forma de aumentar a resiliĂŞncia de bacias hidrogrĂĄďŹ cas.
Regência Oceano Atlântico
Legenda à rea de atuação dos Comitês Rio Doce Divisão estadual
A BACIA DO RIO DOCE ĂŠ composta por seis comitĂŞs mineiros. SĂŁo eles: CBHs Piranga, Piracicaba, Santo AntĂ´nio, SuaçuĂ, Caratinga e Manhuaçu. E cinco CBHs capixabas: Guandu, Santa Maria do Doce, Santa Joana, PontĂľes e Lagoas do Rio Doce e Barra Seca e Foz do Rio Doce), alĂŠm do prĂłprio CBH-Doce, como comitĂŞ federal de integração
ele começa a pagar por determinado insumo, passa a regular seu uso H JDVWR (VVH p XP GRV SRQWRV LPSRUWDQWHV GD FREUDQoD WUD]HU XPD nova e sustentĂĄvel cultura para a regiĂŁo. Todo o recurso arrecadado volta para a bacia na forma de açþes de recuperação ambiental. $ FREUDQoD SHOR XVR GD iJXD p XP dos instrumentos de gestĂŁo dos recursos hĂdricos, instituĂdo a partir da compreensĂŁo de que a ĂĄgua representa um ativo capaz de gerar ULTXH]DV SDUD RV WHUULWyULRV 6LJQLĂ€FD SRUWDQWR XPD HVWUDWpJLD SDUD R desenvolvimento regional. O Brasil sediarĂĄ o “FĂłrum Mundial das Ă guasâ€? em 2018. Que contribuiçþes Minas Gerais e EspĂrito Santo, no
âmbito da Bacia do Rio Doce, poderĂŁo levar para o evento? 2V FRPLWrV GD %DFLD +LGURJUiĂ€FD GR Rio Doce podem contribuir com experiĂŞncias exitosas no fĂłrum, como os bons exemplos na gestĂŁo dos recursos hĂdricos. A execução dos programas, a integração dos comitĂŞs e o fortalecimento na bacia contribuirĂŁo com outros comitĂŞs que ainda nĂŁo possuem resultados sĂłlidos. Mas, WDPEpP YDPRV EXVFDU H[HPSORV que podem ser agregados Ă s nossas Do}HV $ TXHVWmR QmR p Vy ORFDO $SyV o rompimento da Barragem de FundĂŁo, passamos a ser pauta nacional.
SAIBA MAIS www.ibioagbdoce.org.br/ www.cbhdoce.org.br
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ENCARTE ESPECIAL FIEMG (4)
FOTO: RAQUEL MENDES SILVA
OURO PRETO e Mariana, berços do Rio Doce e da mineração no Estado...
BACIA DO RIO DOCE Aqui nasceram as Minas OctĂĄvio ElĂsio Alves de Brito (*) redacao@revistaecologico.com.br
Cidades consideradas patrimĂ´nios histĂłrico e cultural do Brasil, Ouro Preto e Mariana sĂŁo “documentos“ que contam a histĂłria de Minas e do paĂs, com a descoberta do ouro nas encostas do Itacolomi, no RibeirĂŁo do Carmo, TripuĂ e Funil. Na Bacia do Rio 'RFH HVWH SDVVDGR p SUHVHQWH FRPR consequĂŞncia do dinamismo colonial portuguĂŞs, na busca de ouro, prata e pedras preciosas. AĂ nasceu a economia mineira, com sociedade e cultura HVSHFtĂ€FDV H[SDQGLQGR VH QD GHĂ€QLção do territĂłrio nacional. Lembrar essa histĂłria reforça orgulho de herdeiro desse passado e o compromisso com sua valorização e preservação. Foi nas cabeceiras da bacia do Rio Doce que a Capitania de SĂŁo Paulo e Minas do Ouro teve sua primeira capital, a Vila do RibeirĂŁo do Carmo, que o Rei D. JoĂŁo V elevou Ă categoria de Cidade, com o nome de Mariana, em 50 O ECOLĂ“GICO | AGOSTO DE 2017
1745, para receber o Bispado, autorizado pela Bula PontifĂcia do Papa Bento XIV, a pedido do Rei. A fase ascensional da produção do ouro durou toda a primeira metade GR VpFXOR H GH JUDQGH LPSRUWkQFLD WDPEpP IRL D SURGXomR GR GLDPDQWH Como a ĂĄgua era fundamental no processo de retirada do ouro, em 1720, o Conde de Assumar produziu a ProvisĂŁo das Ă guas, legislação que garantia uso prioritĂĄrio aos mineradores. TĂŁo forte essa dependĂŞncia que VH WRUQRX FRQKHFLGR R D[LRPD “Sem ĂĄgua, de nada vale uma serra de ouroâ€? (Ferrand, Paul). De Minas Gerais, a expansĂŁo da produção do ouro foi a GoiĂĄs, Mato Grosso, MaranhĂŁo, Bahia..., consolidando a posse do territĂłrio brasileiro. ABERTURA DA BACIA Em 1808, com a vinda da FamĂlia Real
Portuguesa para o Brasil, foi editada SHOR 5HL ' -RmR 9, D &DUWD 5pJLD TXH permitiu a navegação no Rio Doce. Mas era forte a resistĂŞncia dos Ăndios Botocudos. Foi aberta a ColĂ´nia Ă s missĂľes de cientistas estrangeiros, inWHUHVVDGRV HP JHRORJLD Ă RUD H IDXQD para melhor se conhecer a privilegiada natureza brasileira e revelar uma imagem positiva e atraente do Brasil. Muitos vieram e produziram amplos relatĂłrios sobre as riquezas aqui encontradas. Um deles foi o franco-portuguĂŞs Guido Marlière, que estudou a regiĂŁo do Rio Doce e construiu conviYrQFLD SDFtĂ€FD FRP tQGLRV 0DUOLqUH IRL fundador de cidades e fundamental na ocupação da Bacia. Com a queda da produção do ouro GH DOXYLmR Ă€FDYD FODUR TXH DLQGD KDYLD ouro, exigindo pessoal, competĂŞncia tecnolĂłgica e equipamentos para produção. Com o imperador D. Pedro II, e
MINAS RUMO AO FĂ“RUM MUNDIAL DA Ă GUA 2018 8
FOTO: LISSES HK
...hoje agravadas com o rompimento da Barragem de FundĂŁo, da Samarco
apoio de cientistas franceses, em 1876, foi criada a Escola de Minas de Ouro 3UHWR HQVLQR WpFQLFR H SHVTXLVD SDUD desenvolvimento econĂ´mico pela exploração dos recursos minerais. Uma nova fase, com participação de empresas inglesas e apoio de mĂŁo de obra escrava, a mineração avançava na lavra de veios aurĂferos em rocha GXUD D FpX DEHUWR RX VXEWHUUkQHD $ mina de Passagem de Mariana, fundada por Eschwege em 1819, que funcionou DWp UHFHQWHPHQWH H D PLQD GH 0RUUR Velho, desde 1834, em Nova Lima, Rio GDV 9HOKDV DOpP GH DOJXPDV RXWUDV
ao norte de Ouro Preto e Mariana, no QuadrilĂĄtero FerrĂfero. Pressionado pelo governo norte-aPHULFDQR LQWHUHVVDGR QR PLQpULR GH ferro de Itabira, o presidente GetĂşlio Vargas, em 1942, criou a Companhia Vale do Rio Doce para produzir e exSRUWDU R PLQpULR SHOD (VWUDGD GH )HUro VitĂłria Minas, via porto no EspĂrito Santo. E o governo norte-americano, HP FRQWUDSDUWLGD Ă€QDQFLRX D &RPSDnhia SiderĂşrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ), nĂŁo em Minas Gerais, como era o desejo dos mineiros. 2 PLQpULR GH IHUUR GH ,WDELUD H RXtras jazidas ao longo da Bacia do Rio Doce provocaram o surgimento da MINÉRIO DE FERRO OcorrĂŞncias jĂĄ eram conhecidas na LQG~VWULD VLGHU~UJLFD LQWHJUDGD DWp D regiĂŁo das Minas, mas o aproveita- produção do aço, com uso do carvĂŁo mento permitido pela Coroa Portu- vegetal. Em 1937, foi instalada a Comguesa era apenas em pequena escala, panhia SiderĂşrgica Belgo Mineira e, em para atender Ă mineração. Desde o 1953, inaugurada a Acesita, CompaVpFXOR HVWXGRV LGHQWLĂ€FDUDP UH- nhia de Aços Especiais Itabira, nas margiĂľes com indicaçþes geolĂłgicas para gens do Rio Piracicaba. MD]LGDV GH PLQpULR GH IHUUR ( IRL QDV E dez anos mais tarde, poucos quicabeceiras da Bacia do Rio Doce, na lĂ´metros abaixo, entra em operação nascente do Rio Piracicaba, regiĂŁo de a Usiminas, pressĂŁo do empresariado Itabira, que as pesquisas indicaram PLQHLUR FRP PLQpULR GH IHUUR GH ,WDPLQpULR GH DOWR WHRU HP IHUUR FRP bira e carvĂŁo mineral importado e de grande demanda em nĂvel internacio- Santa Catarina. Formava-se, na Bacia nal. E o grande potencial de jazidas de do Rio Doce, o Vale do Aço, IpatinPLQpULR GH IHUUR VH WRUQRX UHDOLGDGH ga, Coronel Fabriciano, TimĂłteo. A nessa regiĂŁo central de Minas Gerais, HFRQRPLD GH 0LQDV *HUDLV VH Ă€UPDYD
como dependente dos setores de extração mineral e metalĂşrgico. VERDE DEVASTADO )RL QD YLUDGD GR VpFXOR SDUD R que se acelerou a ocupação da Bacia do Rio Doce, o “SertĂŁo Proibidoâ€?. Na GpFDGD GH FRP FDSLP JRUGXUD plantado na regiĂŁo de Porto Figueiras, hoje Governador Valadares, a introdução da pastagem extensiva provocou destruição da Mata Atlântica. Mineração, indĂşstria, agropecuĂĄria, produção de madeira e de carvĂŁo vegetal, com monocultura do eucalipto, urbanização desenfreada, sem planejamento e saneamento bĂĄsico, comprometeram a quantidade e a qualidade da iJXD GR 5LR 'RFH H VHXV DĂ XHQWHV H trouxeram forte processo de devastaomR GD %DFLD +LGURJUiĂ€FD Nesse cenĂĄrio, recentemente, deu-se o rompimento da Barragem de FundĂŁo, de retenção da lama do beneĂ€FLDPHQWR GR PLQpULR GH IHUUR SURYRcando novo impacto sobre a realidade ambiental, social e econĂ´mica da Bacia do Rio Doce, mortes e destruição fĂsica e cultural de populaçþes da regiĂŁo. Muito da histĂłria econĂ´mica, social e cultural de Minas Gerais e do Brasil, e muito do conhecimento da geologia e do aproveitamento de nossas
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riquezas minerais, aconteceram aqui, na Bacia do Rio Doce. Quando, em 1945, Mariana recebeu o tĂtulo de “Cidade Monumento Nacionalâ€?, pelo SUHVLGHQWH *HW~OLR 9DUJDV D MXVWLĂ€FDWLYD IRL ´2V KDELWDQWHV GH 0LQDV *Hrais tĂŞm na cidade de Mariana a fonte de sua vida civil e o marco inicial de seu trabalho pelo engrandecimento da PĂĄtriaâ€?. E a data de sua fundação, 16 de julho (de 1696), tornou-se o “Dia de Minas Geraisâ€?. )RL Dt WDPEpP TXH Ă RUHVFHX R PRvimento anticolonial pela uniĂŁo de um grupo de letrados, formados em Coimbra e Montpellier, artistas e artesĂŁos, donos de lavras e fazendas, servidores da administração e do clero, que Ă€]HUDP D &RQMXUDomR 0LQHLUD ´/LEHUtas quae sera tamenâ€?, Minas do sonho e da liberdade.
MINAS RUMO AO FĂ“RUM UM MUNDIAL DA Ă GUA 2018 18
Doce, com projetos de sustentabilidade, numa gestĂŁo integrada que respeite o uso mĂşltiplo dos recursos hĂdricos. O momento vem exigindo uma DPSOD GLVFXVVmR TXH YDL DOpP GRV impactos provocados pela lama de FundĂŁo e sua urgente recuperação, e reclama projeto amplo de desenvolvimento sustentĂĄvel, ambiental, social e econĂ´mico, em todo o territĂłrio GD %DFLD +LGURJUiĂ€FD GR 5LR 'RFH H exige ainda competente esforço de governabilidade. Uma nova mineração, que considere a sustentabilidade como instrumento de competitividade, nova agroindĂşstria, universalização GR VDQHDPHQWR EiVLFR TXH p VD~GH transportes ferroviĂĄrio e hidroviĂĄrio, energia renovĂĄvel, recuperação das nascentes e de ĂĄreas devastadas. 3URMHWR DPELHQWDO TXH GHĂ€QD iUHDV de preservação, valorizando o Parque DESENVOLVIMENTO do Rio Doce, e outros parques estaSUSTENTĂ VEL duais e municipais na bacia, o parque Cada pedaço do territĂłrio da bacia dos Ăndios Krenak, reservas de proteLQFRUSRUD SDUWH GHVVD KLVWyULD ´ GHFL- omR GD ELRGLYHUVLGDGH H GH HVSpFLHV GH frar a escrita de Ouro Preto (ou Maria- Ă RUD H IDXQD HP H[WLQomR OHPEUDQGR na...) fazendo uma leitura das ‘pedras TXH D 6HUUD GR (VSLQKDoR p 5HVHUYD GD da cidade’ que, quando permanecem, Biosfera pela Unesco. ÂśVXVWHQWDP D PHPyULD¡ (FOpD %RVL HP É momento de reunir competĂŞncias, Anastasia et al., Dos Bandeirantes aos trabalhar aproveitando experiĂŞncias e Modernistas)â€?. os conhecimentos de universidades e ( p IDVFLQDQWH UHFRUGDU HVVD KLVWyULD instituiçþes de educação e pesquisa, e recuperar memĂłrias. Aprender com os avanços de gestĂŁo dos ComitĂŞs de sua trajetĂłria de erros e acertos. Isso %DFLDV 2 WUDEDOKR HP UHGH p FDPLQKR mobiliza os compromissos com sua para construir soluçþes. recuperação e preservação, e provoca a energia criadora dos mineiros. Uma FIEMG MOBILIZADA trajetĂłria que valoriza o pioneirismo no A Federação das IndĂşstrias do Estado caminhar da indĂşstria extrativa mineral de Minas Gerais (Fiemg) vem mobilipara metalurgia, deixando a herança de zando o setor empresarial nessa direção, com a contribuição da Fundação uma sociedade muito especial. HĂĄ problemas. E como melhorar? É Dom Cabral e sua experiĂŞncia de edunecessĂĄrio avançar com propostas ino- cação para gestĂŁo do desenvolvimento vadoras, que respeitem as diversidades sustentĂĄvel, participação de instituiçþes e busquem a participação da comu- pĂşblicas e privadas, e das comunidades nidade. Aproveitar o momento para GD %DFLD +LGURJUiĂ€FD -RVp 0XULOR GH &DUYDOKR HP ´0LQDV o protagonismo de açþes efetivas de PXGDQoDV HQIUHQWDQGR R GHVDĂ€R GH e os Fundamentos do Brasil Moderreverter o estĂĄgio avançado de degra- no, Ă‚ngela de C. Gomes, Org. 2005â€?, dação socioambiental da Bacia do Rio com competĂŞncia sintetiza o que co52 O ECOLĂ“GICO | AGOSTO DE 2017
VLQWRORFD HP FRQFOXVmR ´9RX VLQWRes de nizar trĂŞs vozes marcantes a. A Minas ao longo da histĂłria. tuvoz do Ouro fala sobretudo de Liberdade, a voz da oz Terra, de Tradição, a voz do Ferro, de Progresso. A primeira se fez ouvirr quaVH VROLWiULD DWp D PHWDGH GR VpFXOR 19; a segunda sobressaiu-se nos 100 anos seguintes; a terceira compĂ´s um trio com as duas primeiras a partir da VHJXQGD PHWDGH GR VpFXOR 3HOD tonalidade, a voz do ouro era um ‘vibrato fortĂssimo’, a da terra, ‘baixa e pianĂssima’, a do ferro, ‘forte ma non troppo’. Grito, cochicho e conversa, combinados em arranjos variados, nem sempre harmĂ´nicosâ€?. $OpP GH UHYLWDOL]DU DV YR]HV GR ouro e do ferro, da liberdade e do progresso, Carvalho propĂľe como HVWUDWpJLD RXYLU DV PXLWDV YR]HV GD Minas moderna, pois “a tradição de modernização tem origens antigas em Minasâ€?. “Uma caracterĂstica comum aos mineiros modernizantes, todos eles, vieram da regiĂŁo mineradora, e ligados ao mundo urbanoâ€?. É a indicação para avançar com o “Plano de Desenvolvimento SustentĂĄvel da Bacia do Rio Doceâ€?, apresentado, pela Fiemg, Ă s empresas, Ă sociedade e aos governos, no Dia da ,QG~VWULD 2 GHVDĂ€R GD LPSODQWDção efetiva de instrumentos de gestĂŁo que garantam segurança hĂdrica para o desenvolvimento sustentĂĄvel da Bacia do Rio Doce. “GestĂŁo que impĂľe um equilĂbrio entre o imperativo de sua efetiva proteção e as necessidades de ordem sanitĂĄria, social e econĂ´micaâ€?. ( p XUJHQWH O (*) Consultor ambiental da Fiemg para o FĂłrum Mundial da Ă gua 2018.
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GESTÃO & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br
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se, de repente, você não tivesse função social, não pudesse mais ser treinado para nada de relevante? Vamos imaginar assim: uma cena apocalíptica, o mundo acabado e milhares de pessoas vagando pelas ruas, sem ter o que fazer, mas ainda sentindo fome e todas as necessidades de um algoritmo humano. É isso o que dizem, e digo também, que vai acontecer se não cuidarmos, se não pensarmos com a mais absoluta seriedade sobre a revolução que surge das telas que programam algoritmos não biológicos, bots para fazer o trabalho que muitos, mas muitos mesmo, de nós temos feito. Dizem que eles estão vindo. Eu digo que já chegaram. Mas não vou polemizar sobre o tempo do verbo. Quero falar de solução. São as paixões ideológicas que dominam o cenário quando se fala de trabalho e renda. Os capitães da indústria dos bits tomam posição em suas trincheiras. O resumo é taxar todo empregador que der guarida a robôs com impostos que tornem inócuo todo ganho de produtividade, certeiro eu diria, que vier de mãos inumanas. Países se posicionam. Especialmente a Finlândia, que está conduzindo projetos de renda mínima, um valor pago a uma população de teste, independentemente de retorno, para simplesmente não fazer nada. Eu defendo essa ideia da renda mínima. Mas toda ideia precisa de circunstância. De um lado, o debate alardeia precocemente seus resultados. Leio que o projeto finlandês de renda mínima está dando errado, leio que está dando certo. É preciso calma nessa hora. Recentemente, o ator Pedro Cardozo, morando em Portugal, respondeu uma pergunta provocativa: por que é bom morar em Portugal? Olhando que este não é destaque no ranking de qualidade de vida internacional, mas vai dando seus bons pulinhos, Pedro respondeu que “é muito bom morar num país onde não é preciso tornar-se rico para viver”. Uma clareza de fazer inveja. Países como Finlândia, Portugal, Suécia, Japão e
Dinamarca têm em comum uma base, maior ou menor, de bem-estar social. São pequenos, mas eficazes exemplos de como é mais barato viver nesses lugares, usufruindo de boa escola pública, saúde para todos, lazer e transporte. Eles têm problemas, é claro, quem dera fossem esses os do Brasil... Sim! A renda mínima começa aí. Começa quando um governo gasta a esmagadora maioria do que arrecada com seu povo e lhe dá condições de não precisar sonhar com a riqueza para achar que vai ser feliz. Renda mínima não é para ser gasta com as obrigações do Estado. É renda mesmo, a parte dela sobre a qual o cidadão decide o que fazer. Chame minha posição do que quiser. A natureza me proveu uma cabeça grande e pode-se colar pechas em minha testa, sem maior esforço. Não estou falando de posições ideológicas. Estou falando de fatos! Estou constatando que os robôs estão rindo de nós, nos vendo de longe, batendo cabeça em nossa frente de batalha, sem qualquer organização para sobrevivermos no mundo. Eles não entendem por que não priorizamos o que é essencial ao ser humano, a felicidade mínima. Eles nos acham tão incompetentes que, no jogo que agora ganham de lavada, seu treinador está aos berros, na beirada do campo: - Não precisam se defender! Ataquem! Esses humanos, a natureza marca... O
TECH NOTES O Entenda o projeto da Renda Básica Universal
goo.gl/qyRhxu O Conheça outros países que estão testando o
modelo goo.gl/U87BSY (*) CEO & Evangelist da Kukac Plansis, fundador do Arbórea Instituto.
54 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2017
1 TURISMO RESERVA NATURAL de cedros próxima a Becharre, no norte do Líbano: paraíso ecológico
NA FLORESTA DOS
CEDROS DE DEUS Líbano oferece surpresas e momentos divinais aos visitantes, como a reserva florestal declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, em Becharre, com cedros de até 35 metros de altura J.D. Vital Especial para a Revista Ecológico redacao@revistaecologico.com.br
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ó um passeio de barco, por dez minutos, nas águas da Gruta de Jeita vale uma viagem ao Líbano. E olha que são quase 15 horas de voo, com as pernas espremidas no avião da Turkish até Beirute, sua capital. Em um complexo de cavernas, com nove quilômetros, um rio subterrâneo corre a 1.750 metros 56 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2017
de profundidade dentro de um cenário de estalagmites e estalactites formadas há mais de 12 mil anos pela genialidade da natureza. Fotos são proibidas. As colunas calcárias, encorpadas pelo gotejamento da água, criam catedrais e abóbodas de humilhar o gênio do barroco italiano Gian Lorenzo Bernini, autor, dentre muitas obras,
da cúpula e do baldaquim da Basílica de São Pedro, em Roma. Quem conhece o Líbano apenas como a pátria de Amal Alamuddin, a bela advogada que enfeitiçou o coração do ator norte-americano George Clooney, vai levar um susto. Aqui, onde os padres da Igreja Católica podem casar, quatro milhões de habitantes
de gargantas profundas, cantadas pelo poeta da terra Khalil Gibran, exige um coração forte e confiança na habilidade dos motoristas. Porque os veículos margeiam perambeiras em caracol. O Líbano oferece surpresas e momentos divinais mais profundos que Jeita. A Floresta dos Cedros de Deus é a maior delas. No Vale Santo de Qadisha, povoado de monastérios e da espiritualidade semeada por eremitas da Igreja primitiva e por São Marun, fundador dos maronitas, fica Becharre. Os maronitas seguem um rito oriental em comunhão com o papa de Roma. Ali, a 1.800 metros sobre o nível do mar dos fenícios, os cedros do Líbano se apresentam em toda sua glória e esplendor. É uma reserva florestal, declarada “Patrimônio da Humanidade” pela Unesco. É vigiada e monitorada pelo governo libanês, com 1.100 árvores remanescentes do pouquíssimo que restou dos tempos em que cobriam 98 por cento do território nacional. Derrubar uma árvore milenar, hoje protegida por para-raios e pela lei, é crime de lesa-pátria, grave como assassinato, punido com prisão e multa.
VISITANTE diante de um cedro gigante: morte, vida e ressurreição milenar
FOTO: ELMÁS VITAL
convivem em harmonia apesar da diversidade de religião, representada por cristãos e muçulmanos, mesquitas e igrejas, e da proximidade com o mais conturbado pedaço do mundo formado por Síria, Israel e Palestina. Esse país, com 10 mil anos de história e apenas 10.452 quilômetros quadrados de área entre o Mediterrâneo e as montanhas, cabe 50 vezes dentro de Minas Gerais. Abriga quatro milhões de habitantes. Fala árabe, francês, inglês e uma mistura dessas três línguas muitas vezes na mesma frase. Uma sucessão de paisagens
QUANTIDADE COLOSSAL Algumas dessas relíquias, magníficas e longevas como Matusalém, são contemporâneas dos cedros, plantados não muito distantes dali, que três mil anos atrás o sábio Salomão, filho de Davi e terceiro rei de Israel, mandou buscar em Tiro para construir o templo de Jerusalém. O rei Salomão, conta a Bíblia, encomendou ao rei Hiram, de Tiro, no sul do Líbano, uma quantidade colossal de cedros para a construção do templo. Segundo os historiadores, teriam sido empregados 30 mil
trabalhadores para serrar as árvores e outros 70 mil para transportá-las até o porto e de navio até Israel. Atualmente, são necessárias cerca de oito horas de carro para percorrer a distância de 539 quilômetros de estrada entre Jerusalém e Tiro. Não foi apenas Salomão, cujo reinado durou de 970 a 930 antes de Jesus Cristo, que contribuiu para o quase desaparecimento do cedro do Líbano, reduzido à cobertura de apenas dois por cento do país. Antes dele, os fenícios, que fundaram Biblos, a cidade mais antiga do mundo, serraram as florestas para fabricar navios. E graças aos barcos, resistentes e atrevidos, os intrépidos fenícios dominaram o Mar Mediterrâneo, disseminando cidades mundo afora. Eles usaram também as toras para o fabrico de sarcófagos, que ainda podem ser vistos no Museu Nacional em Beirute. Os egípcios figuram como clientes preferenciais dos fenícios que forneciam púrpura e madeira. Os tronos dos faraós demandavam mais e mais toras de cedro para atender à frota de barcaças no Rio Nilo, à construção de palácios e confecção de sarcófagos
mento vem sendo tocado, com apoio da comunidade internacional de origem libanesa, dentre eles o bilionário mexicano Carlos Slim. BODAS DE CANÁ Padre Silvano Chamoun, um padre jovem e vibrante da Ordem dos Maronitas da paróquia de São Charbel em Campinas (SP), informa que um dos cedros em Becharre tem seis mil anos de idade. São testemunhas oculares veteranas da marcha dos exércitos de Nabucodonosor, de Alexandre Magno e dos romanos, bem como das andanças dos apóstolos como Pedro e Paulo pela região. Até Jesus teria andado por lá. Na época em que fez seu primeiro milagre, convertendo água em vinho numa festa de casamento em Caná, o Líbano integrava o território governado pelos romanos. Padre Silvano, que optou pelo celibato, organiza, anualmente, viagens de brasileiros ao Líbano. A maioria dos participantes é formada por descendentes de libaneses que, fugindo da invasão turca, vieram para o Brasil em fins do século 19 e início do século 20, a convite do imperador Dom Pedro II. O monarca brasileiro excursionou ao Líbano em 1876, acom-
VITAL com Francisco Araújo, de Itaúna
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O cedro-do-líbano (Cedrus libani) é uma árvore nativa da Ásia Menor, de folhas lineares verdeescuras ou azuladas. Da família Pinaceae, pode alcançar até 40 metros de altura. Na bandeira do país, adotada em dezembro de 1943, o cedro foi oficializado como sua árvore-símbolo.
FOTO: DIVULGAÇÃO
e aos processos de mumificação, mediante o óleo do cedro. Não fosse a rainha Vitória, da Inglaterra, o mundo em que vivemos não poderia se maravilhar com os cedros, citados mais de 80 vezes na Bíblia como símbolos da opulência, da resistência e da eternidade. Como no versículo 12, do Salmo 92: “O justo florescerá como palmeira; crescerá como o cedro do Líbano”. Ou no livro dos Cânticos, 5 – 15: “Suas pernas são colunas de alabastro erguidas sobre pedestais de ouro puro. Seu aspecto é como o do Líbano, imponente como os cedros”. Sensibilizada pelas notícias de que o cedro do Líbano corria risco de extinção, a rainha Vitória mandou construir, com recursos do tesouro inglês, um muro para proteger a espécie em Becharre. Segundo o Ministério de Turismo, quatro das 1.200 árvores ali existentes, com idade entre 1.500 e 2.000 anos, alcançam 35 metros de altura e seus troncos medem entre 12 e 14 metros de diâmetro. O pioneirismo ecológico de Sua Majestade de Londres deu certo. Hoje, os libaneses cuidam do cedro com idolatria e o código penal. Colocaram o cedro em sua bandeira nacional. E um robusto programa de refloresta-
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1 TURISMO
panhado da esposa, dona Tereza Cristina, e de uma comitiva de 200 cortesãos. Ele percorreu, a cavalo, longas distâncias no país, inclusive as ruínas romanas de Baalbeck, onde segundo anotou em seu diário, teve a ideia, hoje politicamente condenável, de escrever seu nome e a data na parede do Templo de Baco. Em 2015, 139 anos depois de Pedro II, o Grupo Corpo, de Belo Horizonte, apresentou-se no mesmo lugar, na esplanada dos templos de Júpiter e de Vênus, erguidos pelos imperadores romanos Augusto e Nero. Os guias turísticos se encarregam de imortalizar a passagem dos artistas de Minas, sem a necessidade de grafite. Com forte presença em Minas Gerais, a colônia libanesa no Bra-
sil conta, atualmente, com cerca de seis milhões de descendentes. Em Belo Horizonte, monsenhor Michel Bitar, também celibatário e maronita, zela pela comunidade como responsável pela capela de Nossa Senhora do Líbano, que funciona no Colégio Santa Maria, à Rua Pouso Alegre, 659, no bairro Floresta. Na missa maronita, as partes centrais, consagração e comunhão, são rezadas em aramaico, a língua falada por Jesus. Padre Silvano chama a atenção para a única capela, pelo que se sabe, dedicada a Deus em vez de a um santo. É uma construção em pedra branca, como a maioria dos prédios populares libaneses. A capelinha está situada bem na entrada da Floresta dos Cedros de Deus que têm esse nome por seu parentesco com a eternidade divina. SEM PRESSA O cedro cresce devagar. Sem pressa. Diz-se que nos primeiros três anos suas raízes chegam a crescer até metro e meio, buscando água no terreno rochoso, enquanto a planta mal alcança os cinco centímetros. Trata-se de um crescimento lento, mas firme e permanente. A parcos milímetros por ano. Outras reservas permanecem guardadas a chave e metralhadora: Yay, Tannourine, Ehden, Barouk e Maaser el-Chouf. A de Becharre é a mais importante. O cedro tem folhagem perene, mesmo no inverno. As árvores, com copas em forma de cone na adolescência, resistem com folhagem verde sob a neve que cobre as montanhas e os vales, em um espetáculo deslumbrante, segundo quem já o viu. A região de Becharre é invadida durante o inverno pelos praticantes de esqui. No verão, torna-se refúgio para o calor de até 40 graus que assola o país.
A IMAGEM de Nossa Senhora sobre o mar de Beirute: cartão-postal
Líbano significa “brancura da neve e do leite”. Desde a antiguidade, os sheiks que vinham do deserto ou os navegantes do Mediterrâneo maravilhavam-se ao avistar a neve do Monte Líbano, de onde escorriam leite e mel. Os dois produtos animam a culinária local, famosa pela riqueza de iguarias, como o quibe cru, a cafta, a coalhada seca, o homus de grão de bico e por uma infinidade de doces que os restaurantes expõem sobre a mesa para o turista, como a fartura do café colonial gaúcho. SANTUÁRIO MARIANO O encanto, porém, provém da geografia e da história. Dos castelos, fortes e templos levantados pelos cruzados a caminho da Terra Santa. Dos oratórios de Nossa Senhora instalados nas esquinas ao majestoso santuário mariano em Harissa, com a imagem de Nossa Senhora, tal qual o Cristo Redentor do Rio de Janeiro, vela sobre o mar de Beirute. Essa é uma terra de santos
católicos, como São Marun, São Charbel, Santa Rafqa e São Nimatullah, todos veneradíssimos pela população. Nem por isso deixa de embalar-se pela sensual dança do ventre e embriagar-se pelo prazer do narguilé, uma espécie de cachimbo árabe. Aqui viaja-se sempre com o mar à janela do carro. Do outro lado, plantações de oliveira, cerejas, damasco, peras e uvas. Finda a guerra civil, que de 1975 a 1995 promoveu a matança entre cristãos e muçulmanos, o Líbano respira em paz, ainda que em algumas regiões continuem a rufar os tambores do Hezbollah e o ódio contra sírios e israelenses que ocuparam o país em conflitos recentes. A propósito, se você pretende viajar ao Líbano, preste atenção: não conseguirá entrar se tiver um visto de Israel em seu passaporte. É melhor trocar por um passaporte novo. Os súditos de Salomão e de Hiram não se entendem mais como antigamente. O AGOSTO DE 2017 | ECOLÓGICO O 59
FOTO: ARQUIVO COPASA
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+2-( &20 de seu volume total, ReservatĂłrio 6HUUD $]XO FKHJRX D WHU apenas 5,7% de sua capacidade durante a FULVH KtGULFD GH
PLANTAR PARA NĂƒO SECAR Escassez de ĂĄgua em um dos principais reservatĂłrios da RegiĂŁo Metropolitana de BH demanda açþes de recuperação ambiental para manter capacidade de abastecimento e serviços bĂĄsicos Ă população
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Projeto Plantando o Futuro, com apoio da AgĂŞncia de Desenvolvimento da RegiĂŁo Metropolitana de Belo Horizonte, vai plantar 250 mil mudas de ĂĄrvores nativas e recuperar 48 nasFHQWHV GH DĂ XHQWHV GR 5LEHLUmR 6HUra Azul, localizado na Grande BH. 6HUmR LQYHVWLGRV FHUFD GH 5
60 O ECOLĂ“GICO | AGOSTO DE 2017
PLOK}HV QD LQWHUYHQomR DPELHQWDO A iniciativa ĂŠ fruto de um projeWR SLORWR SURSRVWR HP SHOD AgĂŞncia de Desenvolvimento da RegiĂŁo Metropolitana, visando recuperar e proteger mananciais da VXE EDFLD GR 6HUUD $]XO VLWXDGD QRV municĂpios de Mateus Leme, IgaraSp H ,WD~QD 2 6HUUD $]XO IRL HVFR-
lhido devido Ă forte queda de oferta GH iJXD SHOR ULEHLUmR TXH GHL[RX R reservatĂłrio com apenas 5,7% de sua capacidade durante o ĂĄpice da crise hĂdrica, hĂĄ dois anos. 3DUD H[HFXWDU R SURMHWR D &RPpanhia de Desenvolvimento EcoQ{PLFR GH 0LQDV *HUDLV &RGHmig), coordenadora do Projeto
FOTO: CARLOS GIOVANI TONET
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Atualmente, conforme informaçþes da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento SustentĂĄvel de Minas Gerais (Semad), hĂĄ restriçþes de uso e captação no RibeirĂŁo Serra Azul (Estação Jardim) e nos rios ParĂĄ (Estação Carmo do Cajuru) e Brumado (Estação Entre Rios de Minas). Como consequĂŞncia da declaração de escassez hĂdrica, foi determinada a redução de: O 20% do volume diĂĄrio outorgado para as captaçþes destinadas ao consumo humano, dessedentação animal e abastecimento pĂşblico;
5(81,Ž2 com a população em Mateus Leme para apresentar o Projeto Plantando o Futuro Plantando o Futuro, lançou, em maio deste ano, um edital de conFRUUrQFLD S~EOLFD TXH WHYH FRPR YHQFHGRUD D HPSUHVD 6LULHPD 3URGXWRV $PELHQWDLV /WGD 'H DFRUGR FRP R FRQWUDWR ÀUPDGR D 6LULHPD VHUi D UHVSRQViYHO pela realização dos plantios e reSODQWLRV TXDQGR QHFHVViULRV EHP como manutenção e cercamento GH QDVFHQWHV -i D &RGHPLJ UHVSRQGHUi SHOD DYDOLDomR H ÀVFDOL]Dção do contrato. $R ORQJR GH D $JrQFLD GH Desenvolvimento da Região Metropolitana e o Plantando o Futuro promoveram reuniþes com a participação de representantes das prefeituras e da população de Mateus Leme, IgarapÊ e Itaúna. Durante WRGR R DQR IRUDP ÀUPDGRV PDLV GH WHUPRV GH DGHVmR GH SURSULHtårios rurais interessados em receEHU RV SODQWLRV GH PXGDV H D SURWHção de olhos d’ågua em suas terras. Atualmente, o processo de diå-
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do volume diårio outorgado para irrigação;
logo com as comunidades e o poO 30% do volume diĂĄrio GHU S~EOLFR PXQLFLSDO FRQWLQXD HP outorgado para consumo curso e as ĂĄreas registradas alcanindustrial e agroindustrial oDP DSUR[LPDGDPHQWH KHFe 50% para as demais WDUHV 6HJXQGR R SODQR GH WUDEDOKR ďŹ nalidades e usos. GD 6LULHPD TXH Mi HVWi SURGX]LQdo as mudas, os plantios devem FRPHoDU D VHU IHLWRV QR SUy[LPR Azul, o Governo de Minas criou, perĂodo chuvoso. por meio do decreto 20.792 de juOKR GH D ÉUHD GH 3URWHomR (VPROTEĂ‡ĂƒO E QUALIDADE SHFLDO $3( 0DQDQFLDO 6HUUD $]XO 2 5LEHLUmR 6HUUD $]XO MXQWR FRP R (OD p FODVVLĂ€FDGD FRPR 8QLGDGH GH Rio Manso e a Represa Vargem das &RQVHUYDomR GH 8VR 6XVWHQWiYHO H )ORUHV FRPS}H R 6LVWHPD 3DUDRSH- protege uma ĂĄrea de 27 mil hecED UHVSRQViYHO SHOR DEDVWHFLPHQWR WDUHV 'HVVH WRWDO KHFWDUHV hĂdrico de 50% da RegiĂŁo Metropo- VmR GH UHVSRQVDELOLGDGH GD &RSDOLWDQD GH %+ (PERUD D WHPSRUDGD sa. AlĂŠm de ser um dos principais GH FKXYDV GH WHQKD DOLYLDGR D IRUPDGRUHV GR UHVHUYDWyULR 6HUUD VLWXDomR GH HVFDVVH] KtGULFD R 6HU- $]XO H DĂ XHQWH GR 5LR 3DUDRSHED R ra Azul ainda ĂŠ o reservatĂłrio que 5LEHLUmR 6HUUD $]XO WDPEpP p VXEDapresenta a menor capacidade do Ă XHQWH GR 5LR 6mR )UDQFLVFR 6LVWHPD 3DUDRSHED FRP DSHQDV GH VHX YROXPH WRWDO UHJLVtrados em julho deste ano. SAIBA MAIS Para proteger o manancial e mewww.codemig.com.br OKRUDU D TXDOLGDGH GD iJXD GR 6HUUD www.plantandoofuturo.mg.gov.br
2 AGOSTO DE 2017 | ECOLĂ“GICO O 61
FOTO: IMAGEM ILUSTRATIVA
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O valor que a natureza tem $WHQWR j XUJrQFLD H WDPEpP jV oportunidades advindas da melhoria da sua gestão com foco no uso sustentåvel dos recursos naturais, R VHWRU HPSUHVDULDO EUDVLOHLUR WHP procurado amadurecer e avançar. Em algumas empresas e indústrias, a trilha escolhida para pavimentar o caminho da ecoeficiência Ê a adoção de ferramentas para valoração do capital natural e dos serviços ecossistêmicos a ele vincuODGRV WDLV FRPR R DEDVWHFLPHQWR de ågua, a polinização de lavouras, a oferta de solos saudåveis e de paisagens de grande valor cênico, DPELHQWDO H FXOWXUDO SDUD DV FRPXnidades de seu entorno. 8P H[HPSOR p D LQLFLDWLYD HPSUHVDULDO 7HQGrQFLDV HP 6HUYLoRV (FRVVLVWrPLFRV 7H6( ODQoDGD HP
62 O ECOLĂ“GICO | AGOSTO DE 2017
SHOR &HQWUR GH (VWXGRV HP 6XVWHQWDELOLGDGH GD (VFROD GH $GPLQLVWUDomR GH (PSUHVDV GH 6mR Paulo, da Fundação Getulio Vargas *9FHV ($(63 )*9 6XD PLVVmR p DSRLDU R HPSUHVDULDGR EUDVLOHLUR QD EXVFD GD PDLRU FRPSUHHQVmR de sua relação de dependência FRP D ELRGLYHUVLGDGH GH PRGR D incorporar novas pråticas e valores à sua gestão, tendo o capital natural como um dos pilares na tomada de decisão dos negócios. 1D SXEOLFDomR ´9DORUDomR (FRQ{PLFD GH 6HUYLoRV (FRVVLVWrPLFRV 5HODFLRQDGRV DRV 1HJyFLRV¾ GH D )*9 DSUHVHQWRX GH] estudos de caso de empresas participantes de um projeto piloto de aplicação das chamadas Diretrizes Empresariais para a Valoração
(FRQ{PLFD GH 6HUYLoRV (FRVVLVWrmicos (Devese). 'HVGH HQWmR D 7H6( YHP GHsenvolvendo, por meio de um processo de construção conjunWD FRP VXDV HPSUHVDV PHPEUR ferramentas destinadas à quantificação, valoração econômica e reODWR GH GHSHQGrQFLDV EHP FRPR impactos sofridos pelas empresas H H[WHUQDOLGDGHV SRU HODV FDXVDdas, no que se refere a serviços ecossistêmicos. ´$SyV R GHVHQYROYLPHQWR H D SXEOLFDomR GH FDVRV HPSUHVDULDLV de valoração de serviços ecossisWrPLFRV HQWUH H H GH PDLV FDVRV GH TXH VHUmR SXEOLFDGRV QHVWH DQR HQWHQGHPRV que o grande desafio das empresas estå na inserção desses conceitos
FOTO: SHUTERSTOCK
e no uso concreto dos resultados como um dos elementos para emEDVDU DV WRPDGDV GH GHFLV}HVµ DYDOLD 1DWDOLD /XWWL JHVWRUD GH SURMHWRV GD 7H6( GR *9FHV )*9 1HVVH VHQWLGR D 7H6( YHP aprofundando suas pesquisas soEUH R XVR GD YDORUDomR GH VHUYLoRV ecossistêmicos como ferramenta de gestão empresarial em temas como gestão de riscos não somenWH VRFLRDPELHQWDLV PDV WDPEpP de imagem, financeiros e operaFLRQDLV 'HVGH D LQLFLDWLYD Mi FRQWRX FRP D SDUWLFLSDomR GH HPSUHVDV GLIHUHQWHV 1HVWH DQR VmR PHPEURV ´(P SDUFHULD FRP R SURMHWR 7((% RL, desenvolvido pela Agência de &RRSHUDomR 7pFQLFD $OHPm *,= 0LQLVWpULR GR 0HLR $PELHQWH &RQIHGHUDomR 1DFLRQDO GD ,QG~VWULD H federações estaduais das indústrias, GHVGH QRYHPEUR GH SURPRYHmos cinco treinamentos: no Paraná, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais e $PD]RQDV &HUFD GH SHVVRDV IRram capacitadas nos conceitos relacionados a serviços ecossistêmicos e jV GLUHWUL]HV GH YDORUDomR EXVFDQGR ampliar a compreensão e o uso da IHUUDPHQWD SHOD LQG~VWULD EUDVLOHLUD (P 0LQDV *HUDLV SRU H[HPSOR FRP o apoio da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), foram capacitadas 25 pessoas de diversos segmentos do setor produtiYRµ HVFODUHFH D JHVWRUD
É*8$ limpa e potável: valor inestimável no presente e no futuro
DOJXPDV UHJXODo}HV WDLV FRPR R &ydigo Florestal, a Lei da BiodiversidaGH H WDPEpP FRP DXWRUUHJXODo}HV como os projetos de Pagamento por 6HUYLoRV $PELHQWDLV 36$ 3DUD 1DWDOLD HQJHQKHLUD DPELHQWDO H PHVWUH HP (VWXGRV &OLPiWLFRV SHOD :DJHQLQJHQ 8QLYHUVLW\ QD Holanda, considerando a relevância DWXDO H IXWXUD GD UHVSRQVDELOLGDGH VRFLRDPELHQWDO SDUD R FUHVFLPHQWR da economia, o Brasil tem chance de ser uma potência no mundo da VXVWHQWDELOLGDGH 2 TXH FHUWDPHQWH trará ganhos de competitividade em XP PHUFDGR JOREDO FDGD YH] PDLV POTÊNCIA MUNDIAL 3RU PHLR GD LQLFLDWLYD 7H6( R *9FHV preocupado com essas questões. ´2V EDQFRV Mi HVWmR DWHQWRV DRV FGV participou, ainda, do comitê riscos relacionados ao capital natural consultivo de construção do Natural H WrP EXVFDGR DXPHQWDU VXD UHVLCapital Protocol Toolkit, plataforma que sistematiza diversas ferramen- OLrQFLD SRU PHLR SRU H[HPSOR GD tas de apoio à análise empresarial DQiOLVH GH ULVFRV DPELHQWDLV H KtGULGH FDSLWDO QDWXUDO 1HVWH DQR DOpP FRV H WDPEpP GD GHÀQLomR GH FULWpde atuar na disseminação do méto- ULRV VRFLRDPELHQWDLV SDUD D FRQFHVGR H GH FDVRV HPSUHVDULDLV D 7H6( VmR GH FUpGLWR D VHXV FOLHQWHV µ 6HJXQGR 1DWDOLD R VHWRU HPSUHVDWDPEpP WHP VH GHGLFDGR D SHVTXLsar e compartilhar com as empre- rial está atento a tais mudanças de VDV PHPEUR FRPR D YDORUDomR GH SDUDGLJPD H EXVFD FRQVWDQWHPHQWH serviços ecossistêmicos dialoga com responder às pressões, adequar-se e
LQRYDU 1R HQWDQWR DLQGD VmR GLYHUsas as iniciativas, temas e fóruns, e poucas as ações concretas voltadas para a inserção dos serviços ecossistêmicos na tomada de decisão. ´3DUD DYDQoDU QHVVD DJHQGD R primeiro passo, do ponto de vista empresarial, é entender e mensurar como os negócios dependem e impactam os ecossistemas para, então, pensar melhores alternativas de JHVWmR $WXDOPHQWH D 7H6( SUHWHQGH FRQWULEXLU SDUD HVVD HYROXomR D SDUtir dos métodos e casos empresaULDLV SXEOLFDGRVµ FRQFOXL O
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - CAPIM-DOURADO
CAPIM-DOURADO (Syngonanthus nitens): seu nome remete à beleza do ouro e nitens, que significa"que brilha"
Brilho e versatilidade da espécie, uma das estrelas do Cerrado brasileiro, inspiram a produção de peças artesanais que são sinônimo de beleza aqui e no exterior Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br
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egundo maior bioma em extensão do Brasil, depois da Amazônia, o Cerrado ocupa 24% do território nacional. Com enorme diversidade de plantas e animais, ele também se destaca pela força de trabalho e pela riqueza cultural de seus povos, tais como indígenas, quilombolas, sertanejos e ribeirinhos, que há várias gerações usam os recursos oferecidos pela natureza para subsistência e geração de renda. O potencial de uso dos produtos do Cerrado é enorme. São se-
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mentes, flores, frutas, folhas, raízes, cascas, látex, óleos e resinas destinados tanto à alimentação quanto à produção de remédios, utensílios domésticos, ferramentas e artesanato. Entre os chamados Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNMs) desse rico bioma, um dos mais conhecidos é o artesanato produzido a partir das hastes florais do capim-dourado (Syngonanthus nitens). Seu nome remete à beleza e ao brilho do ouro e nitens; em latim, significa “que brilha”.
O uso dessa espécie se popularizou no estado do Tocantins, onde é reconhecida como bem de valor cultural e patrimônio histórico, com base na Lei nº 2.106, de 2009. É de lá que se distribui para o restante do Brasil – e também para o exterior – a maior parte da produção de capim-dourado em forma de artesanato. Apesar de seu nome popular, o capim-dourado é na verdade um tipo de sempre-viva e pertence à família Eriocaulaceae. Encontrado em áreas de Campos Limpos
Úmidos em todo o Cerrado brasileiro, ele tem o formato de uma roseta e mede cerca de três a quatro centímetros de largura, mas pode atingir até o triplo desse tamanho e sobreviver por mais de 10 anos. Seus escapos, ou hastes florais, produzidos anualmente no centro da roseta são usados na manufatura do artesanato tocantinense há pelo menos 90 anos, costurado com a seda (ou fita) do buriti. O brilho dourado e a versatilidade da planta inspiram a produção de peças utilitárias e ornamentais, em especial cestos, objetos de decoração e de arte, além de bolsas e bijuterias. HERANÇA INDÍGENA Historicamente, o artesanato de capim-dourado do Tocantins era feito apenas por indígenas da etnia Xerente. As peças produzidas eram destinadas ao uso doméstico ou trocadas por outros produtos. Por volta de 1930, a arte de tecer o capim foi aprendida por famílias do Povoado da Mumbuca, na região do Jalapão, ao Leste do estado, quando um grupo de Xerentes acampou na região. Mas somente a partir de meados de 1990 as peças de capim-doura-
do se tornaram mais conhecidas e vendidas. Foi quando o governo estadual e as prefeituras da região, especialmente a de Mateiros, onde fica o Povoado da Mumbuca, iniciaram as primeiras ações de incentivo à produção do artesanato, levando os artesãos para exporem seus produtos em feiras na capital, Palmas, e em cidades vizinhas. Nos últimos anos, o interesse pelo artesanato feito com a planta cresceu muito, preocupando e mobilizando as comunidades extrativistas, em função do excesso de coleta e até mesmo da presença de contrabandistas de outras regiões. Isso fez com que buscassem apoio junto aos governos federal, estadual e a diferentes instituições, visando à realização de pesquisas e à criação de parcerias para assegurar a manutenção da atividade de forma segura, sustentável e rentável. Como resultado, o Sebrae, por exemplo, em conjunto com a Fundação Cultural do Tocantins, ofereceu cursos para ensinar os artesãos a confeccionarem novos tipos de peças, aprimorando o seu acabamento e a sua qualidade. Essa capacitação possibilitou
ENTENDA MELHOR
O Para assegurar que a colheita seja sustentável, o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) vem regulamentando o manejo do capimdourado desde 2004, por meio de três portarias. Suas hastes só podem ser colhidas depois de 20 de setembro, quando já estão secas e brilhosas. O As sementes já maduras ficam no campo para germinar e originar novas plantas, que não são arrancadas e, assim, produzem mais hastes nos próximos anos. As sementes são bem pequenas, têm cor marrom e medem menos de um milímetro (parecem uma poeira). O A colheita do capim-dourado ainda verde prejudica a espécie, pois impede a sua regeneração natural, podendo levar à morte da planta. O As principais áreas de colheita do capim-dourado ficam no interior de Unidades de Conservação (UCs) de proteção integral, principalmente no Parque Estadual do Jalapão e na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins. O Nesses locais, a prática é amparada pela assinatura de Termos de Compromisso entre as comunidades locais e as UCs, bem como em unidades de uso sustentável, como a Área de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão e a APA da Serra da Tabatinga. O Além de colher em Campos Úmidos perto de suas casas, as famílias extrativistas da região do Jalapão costumam montar acampamentos em áreas mais afastadas, onde trabalham por alguns dias. Um extrativista consegue colher, em média, cerca de 30 quilos de capim-dourado por dia trabalhado. O A seda usada para costurar o artesanato de capim-dourado é retirada das folhas jovens ainda não expandidas (ou olho) do buriti (Mauritia flexuosa). Típico das veredas do Cerrado, o buriti também é encontrado em Matas de Galeria, em áreas permanentemente inundadas. O Há registro de artesãos de capimdourado em atividade também no Norte de Goiás e no Oeste da Bahia.
HASTES só podem ser colhidas após 20 de setembro, quando já estão secas e brilhosas
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FOTOS: DIVULGAÇÃO-SECOM/TO
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - CAPIM-DOURADO a realização das primeiras vendas de produtos em maior escala. Paralelamente, o Jalapão também se tornou um novo e importante destino do turismo de aventura no Brasil, contribuindo para impulsionar ainda mais as vendas do artesanato local. USO SUSTENTÁVEL Desde 2002, a ONG Pequi – Pesquisa e Conservação do Cerrado, em parceria com o Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Universidade de Brasília e o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), desenvolve pesquisas na região do Jalapão, para promover a conservação e o uso sustentável do capim-dourado e dos Campos Úmidos, com o apoio de representantes de Unidades de Conservação (UCs) e
PRODUÇÃO de artesanato é garantia de renda para mulheres da região
das comunidades extrativistas. Atualmente, mais de 50 associações trabalham com artesanato em capim-dourado no Tocantins, totalizando cerca de 1.500 cadastrados. A comercialização dos produtos gera ganhos de até dois salários
mínimos/mês para cada artesão, sendo uma importante alternativa de renda, em especial para as mulheres. Os produtos podem ser encontrados em feiras, lojas e aeroportos de várias capitais brasileiras e também fora do Brasil.
O Berço de 5% de toda a biodiversidade do planeta, o Cerrado é reconhecido o como a savana mais rica do mundo. Abriga mais de 11 mil espécies de plantas nativas catalogadas e está presente sente nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas nas Gerais, Bahia, Maranhão, ão, Piauí, Rondônia, Paraná, á, São Paulo e Distrito Federal. l. Tem, ainda, encraves no Amapá, apá, Roraima e Amazonas. O Nos últimos 40 anos,, praticamente metade da a vegetação do Cerrado foi desmatada para dar lugar, em sua maioria, à implantação ação de grandes áreas de pastagem e agricultura. gricultura. Tais atividades ameaçam m sua conservação e equilíbrio o ecossistêmico, afetando o sobretudo as nascentess que formam as três maioress bacias hidrográficas da América ca do Sul: Amazônica/Tocantins, ns, São Francisco e Prata. 68 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2017
FICHA TÉCNICA
FIQUE POR DENTRO TRO Nome científico: Syngonanthus nitens Família botânica: Eriocaulaceae Nome comum: capimdourado Porte da planta: herbácea, rosetas de 3 a 4 cm de largura Área de ocorrência: Campos Úmidos do Cerrado Floração: julho a agosto Amadurecimento das sementes: setembro Dispersão das sementes: outubro e novembro Hastes por planta: duas (em média) Tamanho das sementes: menos de 1 mm
FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Cartilha “Boas Práticas de Manejo para o Extrativismo Sustentável do Capim-Dourado & Buriti”, Embrapa - Recursos Genéticos e Biotecnologia e Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), autores: Maurício Bonesso Sampaio, Isabel Belloni Schmidt, Isabel Benedetti Figueiredo e Paulo Takeo/MMA/Naturatins. Disponível em: goo.gl/gRDFzd
FOTO: DIVULGAÇÃO
QUATRO PERGUNTAS PARA...
ISABEL BELLONI SCHMIDT Bióloga, especialista em uso sustentável do capim-dourado, professora da Universidade de Brasília e doutora em Botânica pela Universidade do Havaí
LEI É IMPORTANTE A senhora participou da elaboração do Projeto de Lei de Uso Sustentável do Capim-dourado e do Buriti, aprovado no fim do ano passado pelo Conselho do Meio Ambiente do Tocantins (Coema). Qual o status atual do processo e a importância de se estabelecer essa regulamentação? O projeto de lei segue no Coema e deverá ser apresentado à Assembleia Legislativa quando a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) julgar oportuno. Transformar a regulamentação da colheita do capim-dourado e do buriti – atualmente resguardada por portarias – em lei é importante, porque a lei é um instrumento mais eficaz e poderá ser aplicada e fiscalizada por mais instituições. Com isso, a colheita do capimdourado em época inadequada e o transporte ilegal da matéria-prima para fora do Tocantins, que configura tráfico, poderão ser fiscalizados por outros órgãos além do Naturatins, entre eles a Polícia Ambiental, a Agência de Defesa Agropecuária (Adapec/TO), o ICMBio, etc. Qual é a realidade da espécie hoje em termos de conservação e das principais ameaças? Uma das principais ameaças é a mudança de uso da terra (desmatamento), que coloca em risco todas as espécies do Cerrado e o bioma inteiro, que hoje é devastado em uma taxa altíssima, sendo cinco vezes maior que o desmatamento da Amazônia! Além disso, a colheita precoce (antes de 20 de setembro), quando as hastes ainda
Nós apoiamos essa ideia!
não estão maduras, é o que causa maior impacto sobre o capim-dourado. Há ações destinadas a aperfeiçoar o seu processamento, visando tanto agregar maior valor a artesanato produzido quanto assegurar melhor retorno financeiro às famílias extrativistas? Quanto mais organizadas forem as associações de artesãos para que as vendas sejam feitas apenas por meio delas, inclusive para lojistas e outros grandes compradores fora do Jalapão, melhor será a renda dos artesãos. A Central do Cerrado é uma cooperativa que contribui muito para essa geração de renda e comércio justo (www.centraldocerrado. org.br/produtos). Poderia dar dicas de conservação para quem tem artigos de decoração ou acessórios de capim-dourado? Comprar sempre de fornecedores que respeitam as comunidades extrativistas e sabem a origem dos produtos que vendem. Isso pode ser feito por meio de contato com a Central do Cerrado ou com as próprias associações. O capim-dourado colhido fora de época (precoce) não é muito brilhante e tem variação de cores entre as hastes, com algumas parecendo quase verdes. Não compre esses produtos e informe o fornecedor que ele pode estar contribuindo para a extinção da espécie e a redução da geração de renda das comunidades que fazem extrativismo responsável e sustentável. As peças podem durar décadas, contando que não sejam molhadas. O
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1ENSAIO FOTOGRÁFICO
QUAL É A SUA NATUREZA? Brasileiro é destaque em concurso mundial de fotografia promovido pela The Nature Conservancy
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le ganhou o coração do público retratando... um coração! Estamos falando do formato da imagem clicada pelo fotógrafo Wendell Medeiros – que se destacou no concurso internacional “Qual é a sua natureza?”, da ONG The Nature Conservancy (TNC): uma belíssima vitória-régia. Mais de 10.600 fotógrafos profissionais e amadores (700 deles brasileiros, com 5.675 imagens) de 80 países participaram da competição. O Brasil foi o terceiro país em número de inscrições no concurso, que visa estimular a conservação das paisagens naturais e inspirar o maior número possível de pessoas a respeitar e cuidar do meio ambiente. A foto, vencedora na categoria “Escolha Popular”, em votação realizada pela internet, foi registrada no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, em 2013. Morador de Santarém (PA), o servidor público estadual, de 41 anos, diz que a “vitória” trouxe emoção e gratidão. “A sensação é maravilhosa, inacreditável. Inscrevi algumas imagens e não achava que elas ficariam nem entre as 100 escolhidas, justamente por ser um concurso internacional”, contou o paraense. Na categoria global, a foto “Anhinga se banhando” (Darter Bath), de Geo Jooste, foi a mais votada pelo júri técnico. Para Erick Lopes, coordenador do concurso no Brasil, a iniciativa é “uma grande oportunidade de compartilhar com pessoas de todo o planeta como cada um de nós enxerga a natureza e se relaciona com ela, em um mundo cada vez mais marcado pela influência do ser humano nas paisagens”. Os prêmios para os autores das melhores fotos incluem câmeras profissionais, vale-compras e divulgação nas redes sociais da TNC. Confira algumas delas:
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FIQUE POR DENTRO
A The Nature Conservancy é a maior organização de conservação ambiental do mundo. Está presente em mais de 60 países, adotando diferentes estratégias com a missão de conservar as terras e águas das quais a vida depende. No Brasil, onde atua há mais de 25 anos, a TNC promove iniciativas nos principais biomas, com o objetivo de compatibilizar o desenvolvimento econômico e social dessas regiões com a conservação dos ecossistemas naturais. O trabalho da TNC concentra-se em ações ligadas a Agropecuária Sustentável, Segurança Hídrica e Infraestrutura Inteligente, além de Restauração Ecológica e Terras Indígenas. Site: www.tnc.org.br
O JÚRI ESPECIALIZADO de fotógrafos de natureza escolheu a vitória-régia clicada por Wendell Medeiros como uma das 100 melhores fotos entre as 32 mil inscritas
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1ENSAIO FOTOGRÁFICO
THE EDGE Phil Lewis
HUG Thomas Chadwick
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DARTER BATH Geo Jooste
PRAIRIE SKYSCRAPERS Joel Porterfield
DANDELION AND FIELDMOUSE Hayley Whalvin
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MEMÓRIA ILUMINADA – MARTHA MEDEIROS
MARTHA: “Sou feliz e não admito que ninguém me acorde”
FOTO: CÍCERO RODRIGUES
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A FELICIDADE SEGUNDO MARTHA MEDEIROS Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
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escobrir. Está aí um verbo que me permito conjugar sempre. Ele pressupõe que ninguém deve se sentir constrangido por não saber alguma coisa. Sua essência é exatamente esta: a novidade, a delícia de descortinar o novo. Nesse caso, o novo para mim é a escritora gaúcha Martha Medeiros, minha mais recente (e confesso, tardia) descoberta literária. Foi por meio do livro “Que Ninguém nos Ouça”, de Leila Ferreira e Cris Guerra, que pela primeira vez li um texto dela, que assina o prefácio. Eu, mais tendencioso à leitura para o espírito, me rendi à força das palavras desta brasileira de Porto Alegre: um jeito leve e intenso, passional e, ao mesmo tempo, equilibrado de escrever sobre o mundo, as relações, a natureza, as pessoas, a poesia. De mostrar que o prazer está na invenção da alegria que criamos para nós mesmos. De que temos de fazer o necessário para sermos felizes. De escancarar que a felicidade é algo tão simples que pode passar sem ser percebida. Martha é pólvora. É ligada na tomada, mas sabe bem onde gasta e direciona sua energia. Questiona a felicidade sem sabotá-la, pede um olhar treinado para que a encontremos na delicadeza das coisas, desanuviando-nos da ru-
deza dos vícios. “A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter de responder ao mundo quais são as suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa. Feliz por nada talvez seja isso.” Do seu primeiro livro, “Striptease”, de 1985, até o mais recente “Um Lugar na Janela 2”, de 2016, a ecologia da felicidade é tema recorrente nas obras da escritora, que também é colunista do jornal Zero Hora. Martha nos aponta o caminho em que, no fim das contas, felicidade mesmo é viver. E dá um conselho: “Viver é a nossa única opção real. Antes de nascermos, era o nada. Depois, virá mais uma infinidade de nada. Essa merrequinha de tempo entre os dois nadas é um presentaço. Não seja louco de desperdiçar”. Eu não sou, Martha. E acredito que a maioria das pessoas gosta, e muito, de viver. Descobrir e gostar. Estão aí dois verbos que você, caro leitor, cara leitora, facilmente encontrará cada vez que abrir um livro de Martha Medeiros. Aprecie a seguir o chimarrão literário de boas reflexões e pensamentos que a escritora tem nos oferecido:
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MEMÓRIA ILUMINADA – MARTHA MEDEIROS O VIVER
O LAZER E PRAZER
“Viver é uma arte. A arte de conversar com desconhecidos, por exemplo. De se revelar em poucas palavras para uma pessoa que não sabe nada sobre você, e você nada sobre ela, e estabelecer um contato que seja agradável e frutífero para ambas as partes, evitando silêncios constrangedores ou, pior, o sono.”
“São duas palavras que rimam e se assemelham no significado, mas não se substituem. É muito mais fácil conquistar o lazer do que o prazer. Lazer é assistir a um show, cuidar de um jardim, ouvir um disco, namorar, bater papo. Lazer é tudo o que não é dever.”
O TEMPO “O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada. O tempo apenas tira o incurável do centro das atenções.”
O VIRGINDADE “Quando falamos em virgindade, logo pensamos em sexo, e a partir do dia que o experimentamos, o mundo parece perder seu mistério maior. Não somos mais virgens – que ilusão de maturidade.” “Virgindade é um conceito um tanto mais elástico. Somos virgens antes de voltar sozinhos do colégio pela primeira vez. Somos virgens antes do primeiro gole de vinho. Somos virgens antes de conhecer Nova York. Somos virgens antes do primeiro salário. E podemos já estar transando há anos e permanecermos virgens diante de um novo amor.”
O MORTE “Morre lentamente quem não troca de ideias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.” “Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir de conselhos sensatos.” “Morre lentamente quem passa os dias se queixando da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante.”
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“O prazer não está em dedicar um tempo programado para o ócio. O prazer é residente. Está dentro de nós, na maneira como a gente se relaciona com o mundo.” “O prazer está em tudo o que fazemos sem atender a pedidos. Está no silêncio, no espírito, está menos na mão única e mais na mão dupla.”
O INVEJA “Apenas se sentem agredidos aqueles que te invejam.”
O IDADE “Não importa a idade que temos, há sempre um momento em que é preciso chamar um adulto.”
O AFINIDADE “É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante. No mínimo, nos fazem dar boas risadas. Vale amizade com executivo e com office-boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido. Vale sempre que houver troca.”
O FELICIDADE “Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.” “Felicidade é a combinação de sorte com escolhas bem feitas.”
O VIDA “A vida não é um game onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.”
“Uma vida sem amigos é uma vida vazia. O mundo é muito maior que a sala e a cozinha do nosso apartamento. A arte proporciona um sem-número de viagens essenciais ao espírito. Amar é disparado a coisa mais importante que existe.” “Pessoas com vidas interessantes não têm fricote. Elas trocam de cidade. Investem em projeto sem garantia. Interessam-se por gente que é o oposto delas. Pedem demissão sem ter outro emprego em vista. Aceitam um convite para fazer o que nunca fizeram. Estão dispostas a mudar de cor preferida, de prato predileto. Começam do zero inúmeras vezes. Não se assustam com a passagem do tempo. Sobem no palco, tosam o cabelo, fazem loucuras por amor, compram passagens só de ida.” “Uma vida sem amigos é uma vida vazia. O mundo é muito maior que a sala e a cozinha do nosso apartamento. A arte proporciona um sem-número de viagens essenciais ao espírito. Amar é disparado a coisa mais importante que existe.” “Desmediocrize sua vida. Procure seus ‘desaparecidos’, resgate seus afetos. Aprenda com quem tiver algo a ensinar, e ensine algo àqueles que estão engessados em suas teses de certo e errado.”
O O NOVO “Procura-se, vivo: o novo. Morto não interessa. Procura-se a novidade que vai fazer o povo refletir, questionar, enlouquecer. Algo nunca visto, original, que desestruture, surpreenda, revolucione.” “Raios, temos que ser novos. Não se pode repetir fórmulas, não se pode reprisar o que dá certo, ficam proibidos todos os prazeres conhecidos. Música, literatura, cinema, moda, reinventem-se. Ai de quem não ousar.” “Fazer diferente, impressionar. Nada de ser lírico, nada de ser cru, transgrida, provoque a crítica, provoque o público, não caia no gosto popular, não seja excêntrico, não seja petulante, não seja o mesmo, não tenha estilo, não finja ser o que não é, não seja excessivamente confessional.” “Reclamar do tédio é fácil, difícil é levantar da cadeira para fazer alguma coisa que nunca se fez.”
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MEMÓRIA ILUMINADA – MARTHA MEDEIROS FOTO: REPRODUÇÃO
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Ele escolhe, dentro do mais rigoroso critério, os momentos de aparecer pra gente. Não sendo visível aos olhos, ele dá preferência à sensibilidade como via de acesso a nós. Não sou católica praticante e ritualística – não vou à missa. Mas valorizo essas aparições como se fosse a chegada de uma visita ilustre, que me dá sossego à alma.” “Deus me aparece – muito! – quando estou em frente ao mar. Tivemos um papo longo, cerca de um mês atrás, quando havia somente as ondas entre mim e Ele. A gente se entende em meio ao azul, que seria a cor de Deus, se ele tivesse uma.”
O ABRAÇO
“O prazer está em tudo o que fazemos sem atender a pedidos. Está no silêncio, no espírito, está menos na mão única e mais na mão dupla.”
“Somando os prós e os contras, as boas e más opções, onde, afinal, é o melhor lugar do mundo? Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.”
O GENTILEZA “Seja gentil, mas não a ponto de perder o tino. Se tiver que ferir suscetibilidades para salvar sua pele, paciência. Atravesse a rua. Desça pela escada. Dê no pé.
O O MUNDO “O mundo não se importa se estamos desagasalhados e passando fome. Não liga se virarmos a noite na rua, não dá a mínima se estamos acompanhados por maus elementos. O mundo quer defender o seu, não o nosso.”
O SUCESSO “Sucesso é chegar em casa com vida.”
O DISCRIÇÃO
“O mundo quer que a gente fique horas no telefone, torrando dinheiro. Quer que a gente case logo e compre um apartamento que vai nos deixar endividados por vinte anos. O mundo quer que a gente ande na moda, que a gente troque de carro, que a gente tenha boa aparência e estoure o cartão de crédito.”
“Não fale, não conte detalhes, não satisfaça a curiosidade alheia. A imaginação dos outros já é difamatória que chegue.”
“O mundo nos olha superficialmente. Não consegue enxergar através. Não detecta nossa tristeza, nosso queixo que treme, nosso abatimento.”
“Não subestime os outros, nem os idolatre demais. Seja educada, mas não certinha. Faça coisas que nunca imaginou antes. Não minta, nem conte toda a verdade. Dance sozinha quando ninguém estiver olhando. Divirta-se enquanto seu lobo não vem.”
O DEUS “Deus não está em promoção, se exibindo por aí. 80 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2017
O LIBERDADE
“Tenho juízo, mas não faço tudo certo. Afinal, todo paraíso precisa de um pouco de inferno.” O
Rosemar de Oliveira: um dos comunicadores mais tradicionais do rádio, em Minas Gerais, é destaque na programação da Rádio América. Toda semana, acompanhe os programas:
Domingo, às 12h15
Domingo, às 16h
Segunda a Sexta, às 04h
SINTONIZE AMÉRICA AM 750 A RÁDIO DA PADROEIRA DE MINAS GERAIS
americabh.com.br
radioamericaam750
(31) 3209-0750
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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
ECOLOGICAMENTE CALÊNDULA
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CARREAR um cesto de calêndulas é algo inesquecível
FOTO: MARCOS GUIÃO
o mais das vezes, trago pra cá prosa de raizada vivida lá no Cerrado, com presença de meu amigo e irmão Chico da Mata, dos cuidados maternais de Maria do Céu, ou ainda de muitas outras gentes que dividem comigo suas sabedorias calcadas na vivência do simples sertanejo. Desta vez trago flores para também enfeitar a centésima edição da Revista Ecológico. Flores semeadas, transplantadas, colhidas e oferecidas aos muitos amigos e leitores que fazem da revista a razão de ser. Cada história tem seu mote e, neste momento, o ponto é dividir a alegria de fazer parte desta equipe que vem sustentando o sonho de fazer de nossa casa planetária um mundo melhor, mais humano, integrado ao grande plano do Criador. E, por isso mesmo, pleno de amorosidade. Com o passar dos anos e das experiências vividas
nas lidas do aprendizado com a natureza, vez por outra me rendo diante das belezuras que ela nos oferece gratuitamente, sem nada pedir a não ser contemplação e respeito. É o caso de indagar se você já teve a oportunidade de se sentar diante de um campo coberto dos encantos da calêndula (Calendula officinalis). Se ainda não, procure um jeito de viver coisa desse tipo, é uma das experiências a serem perseguidas por qualquer vivente. Carrear um cesto de suas flores é tarefa pra num se deslembrar jamais, pois ela lava os zói e acalenta a alma, oferecendo-se faceira na singeleza de suas pétalas coloridas, que variam do amarelim quase branco até um laranja saturado. Mas, afinal, que serventia tem tão refinada flor? Originária do Velho Continente, por aqui ela pede mais dengo e reclama capricho do trato e um olhar mais atento de seu cuidador. Sua fama maior é na reconstituição dos delicados tecidos da pele, que por algum motivo foi dilacerado, mas também é usada como anti-inflamatória nas aftas e outras mazelas da boca, fazendo-se bochechos. Na forma de gel, é a primeira escolha no tratamento da acne, assaduras dos bebês e cicatrização em geral. Para a mulherada que tem menstruação escassa, o uso interno do chá de suas flores resolve essa mazela. Atrevo-me a dizer que até mesmo um coração despedaçado pela dor do amor pode tomar conforto com a calêndula, pois o belo ilumina a alma e dá brilho renovado ao olhar, trazendo novamente a alegria na observação dos pequenos mimos que compõem a teia da vida. Tem muito trem bão nesse mundo, mas nada se compara à gratidão expressa no alívio de uma dor ou sofrimento através do simples. Por isso, convido todos e todas para que sigamos juntos, levando flores para confortar quem necessita e deseja renovar seu olhar para a vida. Esse espaço é pequeno pra mudar muita coisa em tempos de tantas demandas, mas estejam certos de que a Ecológico não se afadiga de tentar, de batalhar, de sonhar em transformar nosso planeta num mundo melhor, mais justo e mais amoroso. Espero que vocês continuem nos acompanhando nessa empreitada. Inté a próxima lua! O (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.
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Contribuir para preservar a água é compromisso prioritário do Sistema FIEMG. Cuidar dos recursos hídricos é cuidar da vida, da indústria, do futuro.
BELO HORIZONTE OUTUBRO 2017 • Dia 6 - Sede do Sistema FIEMG Encontro de autoridades Seminário técnico: O estado das águas em Minas Gerais
• Dia 7 - Praça da Liberdade Atividades artísticas, culturais, e educação ambiental
PREPARAÇÃO PARA O 8° FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA
BH RUMO A BRASÍLIA INFORMAÇÕES: meioambiente@fiemg.com.br
fiemg.com.br