Revista Ecológico- Edição 103

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ANO 10 - Nº 103 -DEZEMBRO DE 2017 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


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EXPEDIENTE

FOTO: SYLVIO COUTINHO

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Anoitecendo - Vale do Tripuí obra de YARA TUPYNAMBÁ

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

REPORTAGEM Fernanda Mann e Luciana Morais

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

MÍDIAS DIGITAIS Bruno Frade

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

EDITORIA DE ARTE André Firmino

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.

DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

COLUNISTAS (*) Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza REVISÃO Gustavo Abreu

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

CAPA Foto: Divulgação/Participant Media/ Actual Film

EDIÇÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

DEPARTAMENTO COMERCIAL Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

(*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

sou_ecologico revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS

EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com

2,73 tCO2e Novembro de 2017

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ÍNDICE

CAPA

DOCUMENTÁRIO "UMA VERDADE MAIS INCONVENIENTE", DO EX-VICE-PRESIDENTE DOS EUA AL GORE, MOSTRA OS AVANÇOS E OS DESAFIOS PARA SE REDUZIR OS EFEITOS DO AQUECIMENTO GLOBAL E DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS.

20 PÁGINAS VERDES GERMANO VIEIRA, NOVO TITULAR DA SEMAD, FALA SOBRE OS DESAFIOS FRENTE À PASTA MAIS ESTRATÉGICA DO GOVERNO ESTADUAL

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BIODIVERSIDADE

PROGRAMA DE ÁREAS PROTEGIDAS DA AMAZÔNIA (ARPA) COMPLETA 15 ANOS ATUANDO NA CONSERVAÇÃO AMBIENTAL DO BIOMA

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ENSAIO FOTOGRÁFICO

NOVO LIVRO DE MANU MALTEZ MOSTRA O EXÍLIO DE UM ELEFANTE EM MEIO À NATUREZA TRANSFIGURADA PELO HOMEM

E mais... CARTAS DOS LEITORES 10 CARTA DO EDITOR 12 ECONECTADO 14 GENTE ECOLÓGICA 16 SOU ECOLÓGICO 18 INOVAÇÃO AMBIENTAL 34 ESTADO DE ALERTA 37 RESPONSABILIDADE SOCIAL 38 ENCARTE ESPECIAL FIEMG (7) 41 RECURSOS HÍDRICOS 50 SAÚDE E MEIO AMBIENTE 56 EDUCAÇÃO AMBIENTAL 60 GESTÃO & TI 62 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 63 MEMÓRIA ILUMINADA 72 ESTANTE VERDE 77 NATUREZA MEDICINAL 78

Pág.

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João Carlos Leite PRODUTOR DE QUEIJO MINAS ARTESANAL E SUA EQUIPE

Queijo Minas artesanal. Orgulho de Minas, agora saboreado em todo o Brasil. Até há pouco tempo, o queijo mais famoso do país não podia ser vendido nem aqui nem em outros estados. Mas essa proibição caiu por terra. Para isso acontecer, a Assembleia mobilizou lideranças mineiras e nacionais, para, juntas, criar a lei que permite a venda de queijos feitos à base de leite cru dentro e fora do estado. Além disso, as regiões produtoras foram oficialmente demarcadas e o controle sanitário do rebanho e das instalações foi aprimorado, agregando maior valor ao produto. Essa é uma grande conquista para os produtores dos queijos artesanais mineiros, boa também para os milhões de consumidores brasileiros. Você nem sempre fica sabendo, mas a Assembleia está presente na nossa vida.


1 IMAGEM DO MÊS

FOTO: REPRODUÇÃO/PAUL NICKLEN

VÍTIMA DO CALOR GLOBAL A imagem de um urso polar desnutrido na Ilha de Baffin, no Canadá, causou comoção internacional no início deste mês. O registro foi feito pelo fotógrafo Paul Nicklen e mostra como as altas temperaturas e a estiagem têm prejudicado a espécie. Com os verões mais longos, as geleiras reduzem de tamanho e o predador passa mais tempo em terra. Com isso, fica longe de seu alimento principal: carne de mamíferos (especialmente focas) e peixes. Nicklen, que foi às lágrimas ao ver o sofrimento do urso, afirmou que o animal estava tão fraco e faminto que tinha dificuldade de caminhar e provavelmente deve ter morrido horas depois. O fotógrafo também não pôde alimentá-lo, pois dar comida a animais selvagens é crime no Canadá.

08  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017


A Rede Catedral de Comunicação Católica se mantém presente na vida em comunidade. A cada ano, nossa equipe se empenha em proclamar a fé, boas novas e o amor. Desejamos um feliz Natal e um próspero 2018.

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CARTAS DOS LEITORES

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

“Sou simplesmente apaixonada por peixes e aquários. Muitas dicas úteis e ótimas informações sobre a manutenção diária.” Eunice Alves, via Google+ “Tenho um aquário em casa e adorei ler sobre o tema na revista. Quem sabe vocês não voltam a falar sobre o assunto em outras edições? As dicas de como cuidar da água e dos peixes são imprescindíveis para quem curte aquariofilia.” Ludmila Marcone, via e-mail l PÁGINAS VERDES Reprodução da última entrevista de Hugo Werneck, em comemoração aos nove anos de circulação da Ecológico

l PRÊMIO HUGO WERNECK 2017 "O SAL DA TERRA" Matéria especial com a cobertura completa da solenidade de premiação, realizada em Nova Lima (MG)

“Parabéns a toda a equipe Ecológico por essa importante premiação. Que 2018 traga novos projetos e iniciativas com esse mesmo potencial de transformar o mundo, preservando a natureza que nos cerca e dá vida.” Dulcineia Campos Matos, por e-mail “É o amor e a gratidão de alguns que têm desacelerado a destruição de muitos. A Terra é o nosso lar. É preciso cuidar da casa. Parabéns a todos! Merecem mesmo o reconhecimento!” Flávia Faria, via Google+ “Fiquei feliz de ver projetos e iniciativas tão simples e eficientes sendo homenageados no prêmio. Eles foram merecedores!” Juliane Medeiros, via Google+ l ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - AQUARIOFILIA Prática de criar peixes, plantas e outros organismos aquáticos atrai multidão de adeptos em todo o mundo

“Muito completo e sempre diversificado o material publicado. A cada edição, vocês também se superam na escolha das imagens e ilustração das páginas. Excelente!” Ana Costa Santos, via e-mail 10  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

“Que maravilha a revista resgatar essa entrevista com o 'pai' do ambientalismo mineiro. As novas gerações precisam conhecer o trabalho que dr. Hugo desenvolveu para proteger nossas matas e conscientizar pessoas e empresas. Ele faz muita falta na luta ambiental, porque além de ser um motivador, sempre via as coisas pelo lado amoroso.” Túlio Ferreira, via e-mail “Hugo Werneck foi a primeira grande personalidade ambiental de destaque em Minas Gerais. Todos tinham um respeito imenso por ele. Tratava todos de igual para igual e tinha a natureza como grande inspiradora.” Marcos Antônio Oliva, via e-mail

EU LEIO “Como é bom poder contar com a Revista Ecológico como fonte confiável de informações variadas e intersetoriais das questões de meio ambiente e sustentabilidade. Parabéns a toda a equipe pelo trabalho!” Juliana Garcia, mestranda em Sustentabilidade e Políticas Climáticas

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br



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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

A AMPULHETA QUE ACELERAMOS

FOTO: DIVULGAÇÃO/PARTICIPANT MEDIA/ACTUAL FILM

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omo já nos ensinaram o teólogo Leonardo Boff e o ex-secretário de Meio Ambiente de BH Ronaldo Vasconcellos, os ambientalistas jamais devem ser vistos, aos olhos da população, como “ecochatos” ou “biodesagradáveis”. Agirem como se assim fossem, do ponto de vista ideológico e denunciativo, só faz a luta ambiental perder as suas poucas trincheiras já conquistadas. Significa não ganhar novos cidadãos com consciência de mundo, os quais deveriam ser todos os habitantes do mundo, a começar pelos nossos políticos e governantes, que ainda tapam os olhos e ouvidos para a realidade quase irreversível da vida em extinção na Terra. E, por isso, pela defesa do meio ambiente ser ao mesmo tempo um assunto democrático, desagradável e inconveniente, não fazem nada, vide o exemplo maior de Donald Trump, presidente do país mais poluidor do planeta. Vide a cegueira e a surdez do nosso presidente Michel Temer que, mesmo tendo nadado quando criança nas águas limpas e cheias de peixes do Tietê, jamais se comoveu e fez alguma coisa pelo maior rio morto do estado de São Paulo. Vide todos os nossos ex-presidenciáveis, - incluindo a nossa querida ex-ministra Marina Silva que, nas últimas eleições, em plena crise hídrica e o país envolto em queimadas não empunharam a bandeira 12  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

da causa ambiental. E muito menos a defesa da natureza em suas propagandas de governo. Vide todos nós, cidadãos comuns, que também falamos muito e fazemos pouco no nosso dia a dia para reverter o tempo que nos resta na ampulheta da vida terrestre, frente à realidade quase irreversível das mudanças climáticas. Daí a importância do novo e incômodo documentário “Uma Verdade Mais Inconveniente”, lançado pelo ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, no apagar das luzes de 2017, assunto principal desta nossa edição de fim de ano. Ele sabe, mais do que ninguém, o que a política internacional não quer saber e finge não ouvir dos “deserdados ambientais”, que hoje são toda a população mundial, sem mais o escudo natural que lhe provinha floresta e água em abundância. Por pior que seja o cenário, ainda há esperança. O uso da energia solar no Brasil, em substituição inteligente às fontes de energias fósseis e poluentes, por exemplo, subiu 26% este ano em comparação com o anterior. Em Minas, o empate continua. Somos o estado da Região Sudeste que ainda mais destrói a nossa Mata Atlântica. Mas também aquele onde a natureza mais se regenerou, por conta própria, ano passado. Quem vai ganhar ou perder nessa disputa global? A desesperança ou a esperança ainda no ser humano, mesmo que pela dor? Melhor ouvirmos Al Gore. Ele pode ser ecochato ou biodesagradável, sim. Mesmo inconveniente, ele continua falando a verdade. E só ela pode nos libertar do nosso destino comum, que também pertence às demais formas de vida restantes no planeta. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, apontou o Cristo, ambientalista muito mais político, sábio, inteligente e amoroso que já habitou a Terra e morreu por todos nós. E também não foi ouvido até hoje, vide também o nosso inferno climático interior, talvez a causa de todos os males. Boa leitura! Até a próxima Lua Cheia! 


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ECONECTADO

FOTOS: DIVULGAÇÃO

TWITTANDO

“A violência contra as mulheres é a violação mais generalizada dos direitos humanos. E o feminicídio é a sua expressão extrema.” @camilapitanga Camila Pitanga, atriz

“O Canadá, país que posa de bom moço no mundo, precisa se manifestar sobre o que está sendo feito em seu nome na Amazônia brasileira.”

FOTO: REPRODUÇÃO / INSTAGRAM

@brumelianebrum Eliane Brum, jornalista

“Nossas escolhas alimentares podem ajudar a salvar o mundo.” @giseleofficial Gisele Bündchen, modelo e ativista ambiental 14  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

ECO LINKS COMIDA INVISÍVEL Você sabia que 30% dos alimentos produzidos no mundo são desperdiçados anualmente? Mais de 1,3 bilhão de toneladas são descartadas por ano. Isso equivale ao PIB da Suíça, um dos dez países mais ricos. Uma solução para esse desperdício é a doação de alimentos, que, além de contribuir para um planeta melhor e mais saudável, impede que frutas, legumes e verduras acabem no lixo. O app “Comida Invisível” une pessoas que têm alimentos sobrando com quem precisa deles. O aplicativo é uma ponte entre restaurantes, supermercados, hoteis, buffets, bares e ONGs, facilitando a doação. Disponível na plataforma Android. Para fazer o download, acesse o link goo.gl/c4dDPY ZUMPY! Reduzir a quantidade de carros com poucos passageiros, diminuir a emissão de poluentes e economizar tempo no trânsito. Essas atitudes são essenciais para impactar positivamente a mobilidade e sustentabilidade urbana. Pensando nisso, o aplicativo Zumpy! visa promover o encontro entre pessoas que fazem determinada rota no mesmo horário. Você pode ir para o trabalho com um colega que vai na mesma direção ou voltar da escola com o vizinho. O app ajuda a se locomover de forma cada vez mais eficiente e funciona em todo o Brasil. Está disponível nas plataformas Android e IOS. Saiba mais: goo.gl/cEc34r e goo.gl/KwSvjN

MAIS ACESSADA A matéria sobre a polêmica da extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), que estampou a última edição da Ecológico, foi a mais lida em nosso site em novembro. O texto discutiu o impacto de uma possível exploração mineral na área. Dos 646 requerimentos para lavra de minério na Renca, 41 tinham como alvo terras indígenas e 600 miravam Unidades de Conservação.Para ler a matéria na íntegra, acesse: goo.gl/UKKzDE

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FOTO: LUCAS SECRET

GENTE ECOLÓGICA FOTO: IMPRENSA OFICIAL MG

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“Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta. Não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.” CECÍLIA MEIRELES, poetisa

“Sou feminista, sim, com orgulho da palavra. Sou ligada a essa causa pelo que eu sou e pelo que minha filha será. A gente põe filho no mundo para que todos sejam vistos como iguais.”

FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK

DÉBORA FALABELLA, atriz

“Só se pode vencer a natureza obedecendo-a.”

FOTO: ARQUIVO GERALDO L. NETO/VINHA DE LUZ

FRANCIS BACON, filósofo e ensaísta inglês

“Quem chuta ou maltrata um animal é alguém que ainda não aprendeu a amar.” CHICO XAVIER, médium espírita 16  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

“O Cruzeiro é uma plataforma de investimento, e não apenas uma paixão.” MARCO ANTÔNIO LAGE, novo vice-presidente executivo do Cruzeiro


FOTOS: DIVULGAÇÃO

PAPA FRANCISCO

SILVIO VIEGAS, maestro da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais

“Quero mostrar às pessoas a necessidade de amar uns aos outros.” ROGER WATERS, músico britânico, que virá ao Brasil com a turnê "Us+Then"

“A população brasileira precisa entender que a presença do índio protege a floresta melhor do que um exército de guardas florestais.” AÍLTON KRENAK, líder indígena, fundador da União das Nações Indígenas e da Aliança dos Povos da Floresta

O cofundador e presidente da Diretoria Estatutária da Fundação Dom Cabral foi o grande homenageado do “Prêmio ADCE Minas de Responsabilidade Social” de 2017. A honraria foi concedida em reconhecimento ao seu relevante estilo de liderança, pelo apoio no desenvolvimento de milhares de executivos e empresas, e também à sociedade, por meio de uma ferramenta única e indispensável: a educação.

MARCELO BELISÁRIO

O ex-superintendente do Ibama MG foi nomeado presidente do Comitê Interfederativo (CIF) criado em resposta ao desastre provocado pelo rompimento da barragem de Fundão. O objetivo do CIF é orientar e validar os atos da Fundação Renova, responsável por gerir e executar medidas de recuperação dos danos provocados pelo acidente. DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  17

FOTO: VANESSA SOARES

O cartunista, desenhista e membro da Academia Brasileira de Letras foi o grande patrono da segunda edição do “Prêmio IPL – Retratos de Leitura”, realizado pelo Instituto Pró-Livro. A premiação visa reconhecer iniciativas de estímulo à leitura que acontecem ao redor do país. Segundo Luís Antonio Torelli, presidente do IPL, os personagens criados por Mauricio “recheiam as páginas de muitos livros no país e seus gibis atualizam os leitores quanto às mudanças que acontecem na sociedade constantemente”. EMERSON DE ALMEIDA

“Vivemos no país dos escândalos, onde ser famoso é mais importante do que ser competente; e onde ser rico vale mais do que ser honesto.”

FOTO: VINÍCUS CARVALHO

MAURICIO DE SOUSA

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

“Acreditamos firmemente que aumentar investimentos em segurança alimentar, no desenvolvimento rural sustentável e em esforços para adaptar a agricultura às mudanças climáticas ajudará a criar as condições por meio das quais as pessoas, especialmente os jovens, não mais terão de ser forçadas a abandonar suas terras para buscar uma vida melhor em outro lugar.”

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: KOREAN CULTURE AND INFORMATION SERVICE

CRESCENDO


SOU ECOLÓGICO

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

ATITUDE POSITIVA A jornalista e bióloga da Revista Ecológico, Fernanda Mann, encerrou o ciclo de palestras de 2017 da BandNews FM, emissora na qual apresenta semanalmente a coluna “Atitude Positiva”. Comunicadora por natureza e defensora de um estilo de vida equilibrado e ecologicamente correto, Fernanda contou um pouco sobre sua trajetória e apresentou exemplos simples de como hábitos saudáveis podem trazer mais qualidade de vida e menos impacto ao meio ambiente. Sob a direção de Ike Yagelovic, o evento, realizado na FNAC do BH Shopping no final de novembro, fez parte de uma série de palestras mensais realizada pelos colunistas da emissora. FOTO: RICARDO MALLACO

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FAZENDO A DIFERENÇA Com o tema “Mudança Climática e Biodiversidade: Ideias e Atitudes que fazem a Diferença”, o seminário internacional realizado recentemente pelo Instituto Inhotim (foto) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Brumadinho (MG), foi além de sensibilizar o público e apresentar ações inspiradoras que contribuem para o desenvolvimento sustentável. Trouxe nada LEMBRANÇA PARA 2018 Obrigado ao colega jornalista Demóstenes Romano pela lembrança sempre atual da canção “Tocando em Frente”, de Almir Sater e Renato Teixeira. De preferência, este penúltimo trecho da letra, para agradecermos o ano que passou e recebermos bem 2018: “Todo mundo ama um dia, todo mundo chora. Um dia a gente chega, no outro vai embora. Cada um de nós compõe a sua história. E cada ser em si, carrega o dom de ser capaz, de ser feliz”. 18  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

menos que o botânico Ghillean Prance, consultor do Kew Garden Eden Project, do Reino Unido, e vários outros especialistas para falar sobre a importância dos jardins botânicos, o papel dos setores público e privado, as soluções locais e a interface entre ciência e tecnologia, e agroecologia. A cobertura completa do seminário, com a mensagem na íntegra e sempre atual de Prance, você irá conferir na próxima edição da Ecológico. Não perca!

RECOMEÇO LUNAR Obrigado à amiga e professora Denise Santana, por nos lembrar o trecho a seguir de Guimarães Rosa, em “Grande Sertão: Veredas”. Disse o personagem João, que existe dentro de cada mineiro que somos, para iluminar 2018: “Da mulher, que me chamaram: ela não estava conseguindo botar seu filho no mundo. E era noite de luar, essa mulher assistindo num pobre rancho. (...) Entrei no olho da casa, lua me esperou lá fora. (...) Digo o senhor: e foi menino nascendo. (...) Alto eu disse, no meu despedir: “Minha Senhora Dona: um menino nasceu – o mundo tornou a começar!... e saí para as luas.”


Acesse o blog do Hiram:

hiramfirmino.blogspot.com

FOTO: JANICE DRUMOND

GERMANO VIEIRA, Marco Antônio Castello Branco e Henri Collet, diretor de Áreas Protegidas do IEF, durante a inauguração: a discussão ambiental onde o povo está

NOVA SEDE DA BATALHA AMBIENTAL O Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam-MG) já tem sua merecida nova sede funcionando, desde o mês passado, no terceiro andar do Terminal Rodoviário “Governador Israel Pinheiro”, no centro de BH. A inauguração do auditório, todo reformado e equipado tecnologicamente, com capacidade para receber até 200 pessoas, aconteceu na popular Praça Rio Branco, onde começa a Afonso Pena, a principal avenida da capital mineira com vista para a Serra do Curral. Após a inauguração ocorreu também a 175a Reunião Ordinária do Copam, que tratou, entre outros assuntos, das ações de recuperação da Bacia do Rio Doce; do Plano de Gestão Integrada dos Resíduos de Belo Horizonte; do Plano de Fiscalização Ambiental 2018; e da apresentação da Plataforma Infraestrutura de Dados Espaciais (IDE) do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) para o licenciamento ambiental.

Presidida pelo secretário Germano Vieira, na presença de vários outros secretários estaduais, políticos e servidores da Semad, a cerimônia ganhou uma importância política e histórica “a mais”, nas palavras de Marco Antônio Castello Branco, presidente da Codemig, órgão responsável pelo planejamento, financiamento e execução das obras. Segundo ele, ao contrário de todo e qualquer preconceito, não existe local mais simbólico e justo que esse, em plena rodoviária da capital do estado, no meio do povo simples e do seu burburinho, onde os destinos de milhares de mineiros se cruzam diariamente. Muitos que sequer sabem que mudanças na qualidade de suas vidas são discutidas e decididas pelos membros do Copam, entre representantes do governo, do meio produtivo, da sociedade civil organizada de ambientalistas. Como reforçou Marco Antônio, em depoimento exclusivo à Revista Ecológico, “a batalha ambiental do futuro agora será travada aqui!”. 

DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  19


PÁGINAS VERDES

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018 FOTO: SANAKAN

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PARA GERMANO VIEIRA, reduzir o passivo dos processos de licenciamento ambiental no estado é uma das prioridades

"É PRECISO TER JUÍZO DE VALOR

SOBRE O MEIO AMBIENTE" Luciano Lopes, Luciana Morais e Bruno Frade redacao@revistaecologico.com.br

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izem os astrólogos que quem nasce sob o signo de Libra tem senso aguçado de justiça. Sente a necessidade de paz em torno de si e não assume compromisso sem antes ter uma opinião formada. O libriano também se adapta facilmente a ambientes difíceis e está sempre inclinado à conciliação. Germano Vieira, novo secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, tem esse perfil. Natural de Lavras, onde experimentou os primeiros contatos com a natureza, é o segundo servidor de carreira a presidir a pasta mais estratégica de Minas Gerais. Formado pela Faculdade de Direito Milton Campos, é especialista em Educação Ambiental e mestre em Direito Público pela Universidade Católica Portuguesa. Nesta entrevista à Ecológico, ele aponta a questão do passivo do licenciamento ambiental como um dos seus principais desafios à frente da secretaria.

20  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

“Licenciar não significa trazer punição. E sim qualidade ambiental para algo que é possível e necessário para a sociedade. Algumas dificuldades da pasta são atemporais e o acúmulo de processos tirou o foco da nossa verdadeira agenda ambiental. Não somos uma secretaria de licenciamento. E sim de meio ambiente e desenvolvimento sustentável”, afirmou ele, que também é professor da Escola Superior do Ministério Público Estadual. Germano falou ainda sobre outros temas polêmicos, como a greve dos servidores da Semad, em 2016, e o impacto que ela teve para o aperfeiçoamento das condições de trabalho. Também impressionou ao afirmar que a Samarco, responsável pelo maior desastre ambiental da mineração brasileira, merece uma chance no âmbito operacional. E destacou que um dos maiores desafios do setor é “enxergar que as comunidades não são das mineradoras”. Confira:


GERMANO VIEIRA

Como se deu o convite do governador para assumir a secretaria? Fiquei lisonjeado. Estar à frente dela é desafiante. Hoje, a Semad é reconhecidamente a pasta que mais tem dado respostas para o Governo. E quem reconhece isso é o próprio governador. Algumas dificuldades são atemporais e o acúmulo de processos tirou o foco da nossa verdadeira agenda ambiental. Não somos uma secretaria de licenciamento. E sim de meio ambiente e desenvolvimento sustentável. No primeiro semestre deste ano, a Semad tinha mais de 3.500 processos de licenciamento parados. Houve avanços desde então? A primeira coisa que fiz foi estabelecer as medidas gerenciais necessárias para que a Semad conseguisse, à medida em que os processos fossem entrando, fazer todas as análises necessárias. Isso contribuiu também para darmos uma resposta mais rápida e efetiva ao empreendedor, para ele se planejar melhor. A secretaria tem quase 26 anos. E 2017, foi o primeiro em que deliberamos mais processos. Então, o licenciamento será um tema prioritário em sua gestão... Certamente. Precisamos reduzir o passivo de licenciamento. Primeiro, porque, quando você licencia, retira o empreendimento da clandestinidade. Segundo, porque estabelece controle ambiental e monitoramento. Depois, há ainda o impacto socioeconômico positivo. E, quarto, os empreendimentos que estão regulares trazem compensações importantes em outras políticas. Têm uso adequado de água, porque é feito o monitoramento. Há destinação correta dos resíduos sólidos. A possibilidade de reunir

FOTO: ALFEU TRANCOSO

Secretário Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais

"2018 será o ano da água. Precisamos discutir as políticas públicas, a crise hídrica, a necessidade de recuperação das nascentes e a criação de corredores ecológicos para termos mais segurança hídrica." dados sobre a qualidade do ar e entender melhor o impacto das mudanças climáticas também surgem como benefícios. Licenciar não significa trazer punição. E sim qualidade ambiental para algo que é possível e necessário para a sociedade. Quais são os desafios para 2018? O maior deles é a racionalização da análise da nossa legislação. Ela precisa evoluir, considerando a própria evolução da tecnologia. Veja a questão do licenciamento trifásico, por exemplo. Ele não pode ser mais a regra uníssona

para todos os tipos de empreendimento, porque isso se torna uma dificuldade para entendermos a área ambiental na integralidade. Alguns desses empreendimentos devem ser analisados concomitantemente e isso não traz perda de segurança, tampouco em termos de análise técnica. Queremos agilidade, o que não significa fragilidade ou superficialidade. Se você perguntar a um técnico se ele prefere analisar uma Licença Prévia de forma isolada ou junto com a de Instalação, ele irá escolher a segunda opção. Sabe por quê? Porque ele se dedica mais

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DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  21


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PÁGINAS VERDES

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

à análise da viabilidade do empreendimento, uma vez que terá mais segurança para estudar as fases do processo de forma global. Para casos específicos, criamos a Licença Ambiental Simplificada (LAS) e abolimos a Autorização Ambiental de Funcionamento por meio da Deliberação Normativa 49. A partir de agora, todo licenciamento ambiental terá de apresentar Avaliação do Impacto Ambiental prévia. Não apenas de um ato declaratório. Há outros desafios ou gargalos? A gestão da água: 2018 será o ano dela. Precisamos discutir as políticas públicas, a crise hídrica, a necessidade de recuperação das nascentes, matas ciliares e a criação de corredores ecológicos para termos mais segurança hídrica. Temos de produzir água. Levar os bons exemplos de Minas Gerais para o “Fórum Mundial das Águas”, que acontecerá em Brasília (DF) ano que vem. Outro desafio importantíssimo é a recuperação da Bacia do Rio Doce. Falando em Rio Doce, antes de assumir a Semad, você foi secretário-adjunto. Como foi lidar com as questões relativas ao acidente da Samarco, em Mariana? Como servidor de carreira, já vivi alegrias e tristezas. A alegria foi a possibilidade de trabalhar na racionalização dos serviços que prestamos à sociedade. Poder modernizar esse processo é fantástico. A maior tristeza, sem dúvida, foi trabalhar com a pauta negativa do acidente no Rio Doce. Sinto um desconforto enorme diante da situação em que o rio se encontra hoje. Mas, ao mesmo tempo, vislumbro o desafio da superação. Em 2017, não fiquei satisfeito com a realidade da bacia, pois estou convic22  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

QUEM É

ELE

Germano Vieira, 36 anos, é advogado, professor universitário e servidor público estadual. Atuou como diretor de prevenção à Corrupção da ControladoriaGeral do Estado (CGE), foi procurador-chefe do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), chefe de gabinete e subsecretário de Gestão e Regularização Ambiental Integrada da Semad. Antes de assumir a pasta, também foi chefe de gabinete da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) e secretárioadjunto de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

to de que o Doce precisa – e pode – ficar melhor do que antes. Como avalia a atuação da Fundação Renova no que se refere aos programas de revitalização? Em um acidente sem precedentes como o ocorrido, o desenvolvimento de programas socioambientais e socioeconômicos é essencial. As respostas de como recuperar nascentes, matas ciliares, fazer a dragagem da lama, já temos. No entanto, o impacto socioeconômico também foi imenso e persiste. Afinal, nele temos as questões do subjetivismo e da valoração. Como mensurar o dano ambiental e socioeconômico de alguém que perdeu tudo: casa, vizinhança, modo e meio de vida? Para onde ele vai? Como vai viver? Não é algo fácil de resgatar e mensurar. É sob essa perspectiva que a Renova enfrenta mais problemas? Sim, porque é onde ela precisa se

relacionar com o lado humano, com o sentimento de perda das pessoas. Acredito que seus representantes estão na direção certa, sobretudo no que se refere à recuperação ambiental. Hoje, a Bacia do Rio Doce é a mais bem monitorada do Brasil. São mais de 120 estações de monitoramento – da área do acidente, em Fundão, até a foz, no Espírito Santo. Os indicadores nos mostrarão se as ações desenvolvidas pela Renova irão realmente se refletir na melhoria da qualidade da água nos próximos anos. E sobre o possível retorno da Samarco, qual a sua opinião? Todos merecem uma segunda chance no âmbito operacional, desde que, para empreender, cumpram todas as exigências da legislação. Para que essa nova oportunidade seja realmente benéfica ao meio ambiente e a toda a sociedade, conforme já pontuei junto aos dirigentes da empresa, três requisitos essenciais precisam ser considerados: a segurança das estruturas remanescentes das barragens, o uso de novas tecnologias e alternativas de disposição de rejeitos e a comprovação da recuperação ambiental. Em termos de imagem e opinião pública, qual considera ser o maior desafio da mineração? As mineradoras têm capital e acionistas estrangeiros, muitos deles de antigos países imperialistas. O grande desafio é enxergar que as comunidades não são das mineradoras. Os moradores é que estão recebendo a mineração. Quando se percebe essa lógica, a forma de diálogo se transforma radicalmente. A nova mineração que esperamos é aquela que mais saiba reconhecer a necessidade de uma licença social, não só a


GERMANO VIEIRA

Secretário Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais

Até que esse plano de carreira seja aprovado, o que será feito para motivá-los no cumprimento de metas? Elaboramos um Plano de Eficiência Ambiental, já publicado em forma de decreto, com objetivos e contrapartidas alinhadas ao plano de carreira. Agora, se o servidor bater a meta, receberá uma contrapartida, que será incorporada ao salário como ajuda de custo. Em dezembro, vamos estabelecer as metas para

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Esse perfil conciliador é uma característica do seu signo, Libra... Gosto de ser mediador, de me antecipar a tudo. Em um debate, todos devem sair satisfeitos. Se isso não acontece, é um atestado da ineficiência da discussão. Política não é a arte de convivência entre diferentes? Veja o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), por exemplo. É o melhor ambiente para se vivenciar isso. Por que temos um conselho com tamanha importância? Porque há a convergência de interesses de todas as ordens: setor produtivo, poder público, sociedade, universidades, entidades de classe. Na área ambiental, muitos conceitos são pré-concebidos e quando você senta à mesa para analisar, vai desconstruindo os discursos. É uma área em que não se pode criar dificuldades para vender facilidades.

Ano passado, servidores da Semad entraram em greve, reivindicando melhores salários e condições de trabalho. Houve avanços nesse sentido? Os servidores do Sistema Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) lidam com meio ambiente, com a vida. São uma categoria estratégica para o Estado e devem ser valorizados. Historicamente, a iniciativa privada sempre teve melhor condição de remunerar profissionais de meio ambiente do que o setor público. Isso foi um problema sério para a Semad, pois perdemos muitos colaboradores para empresas. Com isso, todo o conhecimento técnico também ia junto. Enfrentamos a greve durante dois meses. Depois disso, foi feito um acordo com o sindicato. O que os servidores mais queriam era a segurança na evolução profissional. Para isso, estruturamos um plano de carreira que vai virar lei. A proposta está pronta. Assim que sairmos do limite prudencial, o governo irá encaminhá-la à Assembleia, para votação em regime de urgência.

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O que o motiva a encarar o trabalho e os desafios diários? Sempre busquei liderar, justamente por essa facilidade de ouvir e buscar entender as pessoas. Tento fazer o melhor para que todos estejam satisfeitos, felizes. Sou assim por natureza. Na agenda ambiental, na maioria das vezes, não é possível agradar a todos com as decisões tomadas. Aprendi que, diante uma crítica, você não tem de olhar só o conteúdo. Mas, sobretudo, a origem. Muitas vezes, dependendo de quem parte a crítica, ela pode ser considerada um elogio. O que me motiva é o desejo de fazer algo diferente. Precisamos trabalhar mais, no serviço público, com a soma de esforços entre governos. E não com a descontinuidade. Avanços e conquistas devem ser sequenciais.

Você é filiado a algum partido? Meu partido é Minas Gerais. Trabalho para atender ao cidadão mineiro.

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técnica-ambiental. É preciso se colocar no lugar das pessoas.

TODO MUNDO PRECISA DE UM RESPIRO. Seu dia a dia flui melhor com o Sesc. Aqui você encontra tantos programas e serviços para sua saúde e qualidade de vida, que é capaz de até perder o fôlego. Siga no ritmo do Sesc. Você merece correr atrás de tudo que lhe faz bem.


PÁGINAS VERDES

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

FOTO: REPRODUÇÃO

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GERMANO VIEIRA

Secretário Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais

RECUPERAÇÃO DA BACIA do Rio Doce: desafio que persiste

os próximos anos e apurar tudo em 2018. Vale frisar que, em momento algum, os servidores da Semad afirmaram que o problema era só a remuneração. Eles queriam melhores condições de trabalho e isso já estamos oferecendo. Superamos as dificuldades enfrentadas na capacitação e no treinamento, aquisição de veículos, aquisição de computadores, mudança de sede, etc. De que forma isso se reflete no atendimento ao público? Agilidade e melhor eficiência. Hoje, não há filas nas Superintendências Regionais (Suprams). Os agendamentos são feitos por telefone. Lançamos também o serviço online de regularização da água, sem cobrança de taxa. Anualmente, recebíamos 20 mil pedidos de cadastros. Com a melhoria, de maio até agora foram 40 mil. Em termos de gestão, o que está sendo feito pelo governo estadual, por meio da Semad, que mereça destaque? Acredito que o mais importante foi termos criado, por determinação do governador Pimentel, a Força-Tarefa do Sisema. Por meio dela, identificamos os principais pro24  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

blemas ambientais existentes. Foi feito um diagnóstico profundo, que resultou na Lei 21.972/2016. Com ela, reestruturamos as unidades administrativas do Sisema e de todos os órgãos vinculados. Entre as novidades dessa legislação, estão o aperfeiçoamento dos mecanismos de defesa da população que vive no entorno de grandes empreendimentos, o fortalecimento do Copam, a volta das câmaras técnicas, a municipalização e a reformulação do modelo de licenciamento ambiental adotado no Estado. É esperançoso em relação ao futuro do planeta? Sou otimista. Vejo uma luz no fim do túnel. Mas, por outro lado, quando me deparo com as ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fico desiludido. A forma como ele tem lidado com as questões relativas às mudanças climáticas é um retrocesso. É claro que o mundo precisa avançar. Mas, em certos casos, mais importante que avançar, é lutarmos para não retroceder. Como avalia a importância da educação ambiental? Quando fiz pós-graduação nesta

área, estudei muito a questão do juízo de valor e sua aplicação no contexto do cuidado com a natureza. A educação ambiental é fundamentada na ética. Portanto, se não conseguirmos contribuir para que as pessoas tenham um juízo de valor sobre o meio ambiente e os recursos naturais, elas nunca irão protegê-los. Um menino que nasce hoje na cidade tem de ser educado ambientalmente. E temos de assumir nosso papel nessa formação. Que legado pretende deixar como secretário de Estado? O da modernização dos serviços. Meu sonho é que qualquer empreendedor ou demandante de serviços junto ao Sisema consiga fazer tudo de maneira fácil, rápida e prática. Todos têm o direito de serem atendidos com agilidade e saber em quanto tempo terão as licenças e as autorizações ambientais de que precisam, independentemente de elas serem concedidas ou não. A qualidade do serviço público também é uma forma de se respeitar o cidadão.  SAIBA MAIS

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1 MATÉRIA DE CAPA

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

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INCONVENIENTE (1)

É o que o ambientalista e ex-vice-presidente dos EUA Al Gore pede à humanidade em seu novo documentário: para resolver a crise climática, é preciso lutar contra a imoralidade de aceitarmos, ainda inertes, a destruição da natureza Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

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s céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas - tu e a tua descendência.” A famosa frase bíblica do Deu26  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

teronômio é a preferida do ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ativista climático Al Gore. Ela foi dita pelo profeta Moisés aos israelitas, anos antes do nascimento de Cristo, e se refere às boas escolhas como o melhor caminho para uma vida

sustentável e feliz. Desde a ECO-92, há 25 anos, Al Gore abraçou a missão de alertar o mundo sobre o perigo do aquecimento global e das mudanças climáticas. Foi testemunha de alguns retrocessos, como a saída dos Estados Unidos do


“Nós, parlamentares, temos a obrigação de acelerar o movimento para mudanças significativas nas políticas em todas as nações do planeta para deter a destruição do sistema ecológico global.” Durante discurso na ECO-92

“Tivemos a oportunidade de conseguir o apoio do público para a solução da crise climática, mas a perdemos. Agora temos uma nova chance. Não podemos perdê-la novamente.” Em trecho do novo documentário, 2017

Acordo de Paris, na véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano. Mas também de avanços, como a adesão da Índia e da China (ambos com matriz energética ainda baseada em combustíveis fósseis) ao tratado e o crescimento do uso de energias limpas, como a eólica e a solar. Mais de 10 anos se passaram desde o primeiro documentário de Gore, “Uma Verdade Inconveniente” (vencedor do Oscar em 2007), até o seu mais recente: “Uma Verdade Mais Inconveniente”, dirigido

FOTO: REPRODUÇÃO

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AL GORE EM DOIS TEMPOS por Bonni Cohen e Jon Shenk e lançado nos cinemas brasileiros mês passado. Em ambos os filmes, o também vencedor do Prêmio Nobel da Paz faz um alerta sobre a questão climática. A diferença é que, no mais recente, as preocupações expostas pelo ativista em 2006 não só se tornaram reais como mostram que o cenário pode piorar ainda mais: 14 dos 15 anos mais quentes da história foram registrados depois de 2001. O recorde é de 2016. O filme tem várias cenas marcantes: o desprendimento diário de geleiras na Groenlândia; a invasão da água do mar em Miami (EUA), que obrigou a prefeitura municipal a elevar o nível das ruas em 30 centímetros, para não afetar o cotidiano dos moradores; e entrevistas com sobreviventes de inundações. Impossível não ficar impactado com as imagens de desmatamento, poluição, enchentes e rios secos. E também do planeta Terra visto do espaço e da esperança que vem dos desertos, que estão sendo transformados em grandes usinas de captação de energia solar. REALIDADE INCÔMODA Por ano, mais de 12,6 milhões de pessoas morrem ao redor do mundo por conta de fatores como poluição do ar, da água, do solo, altas temperaturas e eventos climáticos extremos. O número, apresentado em 2016 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), revela uma realidade que incomoda, mas parece não ter efeito imediato quando o assunto é mudança de comportamento. “Desde que ‘Uma Verdade Inconveniente’ foi lançado há 10 anos, as variações do clima

pioraram. E continuei fazendo o meu trabalho mundo afora. Houve momentos em que tudo parecia sombrio, porque as forças para impedir essa mudança de atitude reagruparam-se e injetaram dinheiro para paralisar o sistema político dos países. Fiquei desmotivado. Em um momento, pensei que perderíamos a luta”, afirmou Al Gore. Mas ele preferiu ser... inconveniente. O alerta climático não poderia ser silenciado ali. Foi correr o mundo ressaltando a importância da adoção de fontes de energias limpas. Conversou com autoridades, cientistas e estudantes. E realizou uma série de treinamentos para líderes de vários países. O primeiro deles, inclusive, aconteceu na sua fazenda, no Tennessee, para 50 pessoas. O objetivo era preparar cada vez mais cidadãos para enfrentar e buscar alternativas sustentáveis comuns para se mudar a realidade climática. Com “Uma Verdade Mais Inconveniente”, Al Gore nos faz uma nova provocação, um convite mais que necessário: sermos protagonistas na luta contra o aquecimento global. Ir além de pressionar os governos. E, sim, liderarmos esse movimento: “Comprometa-se, #sejainconveniente e junte-se aos milhões de pessoas dispostas a resolver a crise climática. Use seu poder de escolha, sua voz, seu voto. Convença as pessoas de sua cidade, do trabalho, da universidade, a mudar para a energia 100% renovável. Lute como se seu mundo dependesse disso. E ele depende”. É este o novo recado de Al Gore que você confere a seguir:

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DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  27


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Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

GELEIRAS explodem por causa das altas temperaturas

l ESPERANÇA “Eu tinha um plano diferente para a minha vida. Mas a vida tinha um plano diferente para mim. Qualquer um que se prontifique a resolver a crise climática enfrenta uma batalha constante entre a esperança e a desesperança. Há esperança. Não se deprimam! A desesperança pode paralisar. Estamos ganhando força e vendo mudanças positivas, o que me faz sentir bastante otimista!” l GELEIRAS “Em abril deste ano, a temperatura na Groenlândia foi muito mais alta do que o normal. Um engenheiro fez um vídeo em um voo de helicóptero durante este pico de temperatura. Há partes da geleira explodindo com as altas temperaturas.” l ELEVAÇÃO DO MAR “Miami é a cidade mais ameaçada pela elevação do nível do mar no mundo inteiro. A projeção para o sul da Flórida foi de um aumento de 2,1 metros neste século. As dez cidades mais ameaçadas são Calcutá, Mumbai, Daca, Guangzhou, Ho Chi Minh City, Shanghai, Bangkok, Rangoon, Miami e Rai Phong.” 28  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

AL GORE em Miami: o mar invadiu a cidade


“Dez anos atrás, quando o documentário ‘Uma Verdade Inconveniente’ foi lançado, a cena mais criticada do filme foi a da animação mostrando que a elevação do nível do mar e as tempestades levariam a água do mar ao Memorial 11 de Setembro, que estava em construção. E isso aconteceu.” l DEMOCRACIA “Para tratarmos da crise ambiental, teremos de resolver a crise da democracia. O dinheiro exerce muita influência e a nossa democracia foi hackeada. Os grandes doadores é que tomam as decisões.” l POLÍTICA “Sobre me candidatar novamente, eu conto uma piada: sou um político em reabilitação. E, se quiser me afastar de vez, tenho de evitar uma recaída!” “Eu gostava da política, mas o ativismo climático é

uma missão. Há fome de informação sobre o que e por que está acontecendo isso com o clima. E sobre como podemos resolver.” l ESTADOS UNIDOS “Desde quando os EUA abandonaram o seu papel de líder mundial? Quando Xi Jinping, presidente da China, disse: ‘Reduziremos nossas emissões de gás carbônico e queremos criar modelos de eficiência solar e eólica’.”

FOTOS: REPRODUÇÃO

“Em ilhas de baixíssima altitude, como as Maldivas, há uma quantidade enorme de pessoas em risco por causa da elevação do nível do mar. O governo de Kiribati, país africano, já adquiriu inclusive terras para transferir a população.”

“O aquecimento global e as mudanças climátiXI JINPING: cas são o maior desafio discurso ecológico ambiental que já enfrentamos. Nenhum outro país pode fazer o papel dos Estados Unidos.”

MALDIVAS, um dos paraísos terrestres ameçados pela elevação do nível do mar

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1 MATÉRIA DE CAPA

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

“Liguei para a Nasa e perguntei: ‘Vocês não teriam outra foto da Terra? Que tal termos imagens diárias do planeta? Isso ajudaria as pessoas a se comprometerem com o equilíbrio climático. Mas descobri que não havia outra!" Al Gore

l SATÉLITE DSCOVR “Sempre começava os meus treinamentos com fotos do planeta. Quando vemos a Terra do espaço, estabelecemos uma conexão com o lar que compartilhamos. E a última imagem feita pelo programa Apollo (The Blue Marble, 07/12/82), da Terra toda iluminada, mudou a nossa forma de olharmos o planeta. Ela estimulou o movimento ambiental moderno. Coloquei aquela imagem na parede do meu gabinete, na Ala Oeste da Casa Branca. Olhava para ela todos os dias.” “Liguei para a Nasa e perguntei: ‘Vocês não teriam outra foto da Terra? Que tal termos imagens diárias do planeta? Isso ajudaria as pessoas a se comprometerem com o equilíbrio climático. Mas descobri que não havia outra! Foi assim que nasceu a ideia do satélite DSCOVR, não só dá para termos mais fotos maravilhosas do mundo que vivemos como também obter mais dados daquele ponto do espaço.” “O Congresso se opôs ao DSCOVR. Eu concorreria 30  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

à presidência e isso deve ter influenciado. Mas quando consegui a aprovação, outros instrumentos foram adicionados. Um deles foi o dispositivo de alarme para tempestades solares que ameaçam as redes de energia elétrica e os oleodutos. A Nasa construiu o satélite e marcou o lançamento. Mas após a posse de George W. Bush e de Dick Cheney, ele foi cancelado.” “A nova administração não entendeu que estavam cancelando um sistema global de alerta de tempestade solar. E as empresas que dependiam disso começaram a fazer barulho. Propuseram resolver o dilema tirando os instrumentos meteorológicos e a câmera do

BARACK OBAMA: o presidente sustentável


satélite, compensando o peso deles com sacos de areia e deixando apenas o instrumento que essas indústrias poderosas queriam em órbita. Quanto extremismo! O satélite foi para o depósito.

FOTOS: REPRODUÇÃO

“No norte da China, a expectativa de vida da população caiu cinco anos em razão da poluição.”

“Mas quando o presidente Obama foi eleito, fui vê-lo e contei a história do DSCOVR e de como foi cancelado. Ele alocou verbas e o foguete foi lançado em 2015.” l CHINA “Em 150 anos queimando combustível e recebendo os seus benefícios, a pobreza diminuiu e o padrão de vida subiu. Há quem diga que se deve continuar com a indústria de óleo e gás e até de carvão. Mas no norte da China a expectativa de vida caiu cinco anos e meio por conta da poluição do ar. O prefeito de Pequim, Wang Anshun, disse que ‘a cidade não era habitável’. Em várias partes do país já é mais barato obter a eletricidade pelo sol e pelo vento. É neste momento que é preciso apoiar a determinação do governo de investir ainda mais na energia renovável.” l O SOL QUE NOS SALVARÁ “Em apenas um dia, a Escócia obteve 100% de eletricidade eólica. Portugal teve quatro dias seguidos só de energia renovável. O vento sozinho pode fornecer 40 vezes toda a demanda global de energia.” “Para mim, a energia solar é a evolução mais emocionante que a humanidade conquistou. Quatorze anos atrás, as melhores projeções apontavam que teríamos instalado no mundo todo um gigawatt de eletricidade solar por ano. Quando chegamos em 2010, superamos essa meta em 17 vezes. Em 2015,

“A energia solar é a evolução mais emocionante que a humanidade conquistou.” DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  XX


1 MATÉRIA DE CAPA

“O vento pode fornecer 40 vezes toda a demanda global de energia.”

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

em 58 vezes. Em 2016, 73.” “Hoje há mais celulares do que pessoas no mundo. A maioria em países sem telefonia fixa. Esse avanço rendeu-lhes o primeiro serviço de telefonia. Há países em que a rede elétrica não é nada boa, como na África e no subcontinente indiano. Agora, vemos um painel solar em um telhado de palha na África. Laptops com energia solar. Os pais querem que os filhos tenham acesso à informação.” “Chile, um país em desenvolvimento, tem ótimos avanços. No final de 2013, eles tinham 11 megawatts de energia solar. No final de 2014, mais de 400 megawatts. No de 2015, mais de 800. E, em 2016, 13,3 gigawatts de projetos solares aprovados em construção. Há outras regiões do mundo ‘contaminadas’ por esse surto ecológico. Estamos vendo uma verdadeira mudança. Em termos globais, o planeta recebe mais energia do sol por hora do que toda a economia global usa em um ano inteiro. Se colhermos e a usarmos produtivamente, resolveremos essa parte da crise climática.”  SAIBA MAIS

www.algore.com Confira, na próxima edição da Ecológico, a segunda parte do especial “Uma Verdade Mais Inconveniente”.

Eric Schneiderman, procurador-geral do estado de Nova York

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“A relação entre o clima e a paz no mundo é evidente e não temos o direito de não obter êxito.”

FOTOS: INÊS DIELEMAN

“Algumas das companhias que negam as mudanças climáticas, como o Instituto Americano de Petróleo, distorcem o mercado para conter o investimento em renováveis com uma nova linha de propaganda: mesmo sendo verdade o que Al Gore diz desde 1980, isso seria muito caro, a ponto de arrasar a economia. É um tema insidioso que volta com força. Queremos saber que grupos são, quais as análises deles e que ações o governo está tomando. Isso é violação da lei contra o consumidor e o mercado. Mas está claro que eles, basicamente, tentaram arrasar a capacidade de a humanidade responder a essa ameaça exponencial.”

FOTOS: REPRODUÇÃO

DEPOIMENTOS CLIMÁTICOS

Anne Hidalgo, prefeita de Paris

“As mudanças climáticas se tornaram o desafio mais sério da humanidade.” Vladimir Putin, presidente da Rússia


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1 INOVAÇÃO AMBIENTAL Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

O PROJETO visa identificar demandas do produtor rural e buscar soluções para aumentar ganho de produtividade e competitividade, sob a ótica hídrica e ambiental

A NOVA ERA

DO AGRONEGÓCIO Faemg lança Projeto Novo Agro 4.0 para levar mais tecnologia e inovação sustentáveis ao homem do campo Bruno Frade

redacao@revistaecologico.com.br

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esde antes da aprovação da reforma trabalhista pelo Senado, que resultou na extinção da contribuição sindical compulsória, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) vem repensando suas estratégias para promover ainda mais o desenvolvimento

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do agronegócio sustentável por meio da inovação. “Daqui para frente, temos de nos reinventar. Porque vamos ter dificuldades para criar novas formas de arrecadação. E é exatamente por motivos dessa natureza que precisamos pensar juntos sobre o futuro do Sindicato e de nossas ações. Chegou

o momento de lançarmos um novo projeto que será a entrada definitiva do agronegócio no ecossistema da inovação”, destacou o presidente da Faemg, Roberto Simões. Trata-se do Projeto Novo Agro 4.0, uma iniciativa inovadora que visa conectar os produtores rurais com startups e instituições


EXEMPLOS INOVADORES Plantar ideias. Cultivar projetos. Colher inovação. São essas as bases da nova revolução que se desenha para o agronegócio por meio do Agro 4.0, que tornará a Faemg o principal agente incentivador da busca de soluções tecnológicas para o homem do campo. O projeto tem três eixos principais. O primeiro deles é fomentar junto às comunidades de startups e universidades o atendimento às demandas captadas e organizadas junto a produtores e demais agentes de cadeias produtivas estratégicas. O segundo, apoiar o desenvolvimento de projetos em fase de MVP (Produto Viável Mínimo, na tradução para o português, que é a versão de um produto com mínimas

ROBERTO SIMÕES: "O projeto é nossa entrada definitiva no ecossistema da inovação"

características necessárias para que seja inserido no mercado), através de uma rede de produtores e propriedades rurais que auxiliem o aperfeiçoamento de protótipos e testes. E o terceiro, colher e disseminar inovações técnicas e economicamente viáveis junto a produtores, sindicatos rurais e demais agentes das cadeias produtivas estratégicas do estado. Para Pedro Vidigal, diretor da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) e profesFOTOS: DIVULGAÇÃO

de ensino superior. Lançado pela Faemg no apagar das luzes de 2017 e desenvolvido pelo Instituto Antonio Ernesto de Salvo (INAES), seu objetivo é identificar e promover iniciativas ligadas à tecnologia para o desenvolvimento sustentável do setor. O resultado disso, na opinião de seu dirigente, será uma Faemg mais dinâmica, proativa, trabalhadora, prestadora de serviços que atraiam as pessoas e possam solucionar as suas principais necessidades, diminuir o desperdício no mundo agrícola e preservar o meio ambiente. O Agro 4.0 é robusto do ponto de vista ecológico: a intenção é abordar a questão da sustentabilidade com todas as famílias rurais. O programa também irá discutir a agricultura no âmbito das cidades e incentivar a participação de jovens engajados em aprender constantemente e contribuir nas soluções, gerando mais produtividade e práticas sustentáveis no campo.

PEDRO VIDIGAL: "O Agro 4.0 revolucionará a cadeia produtiva e os investimentos no campo"

sor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), essa nova revolução do agronegócio transformará não só a cadeia produtiva do país, como também as empresas e os investimentos no campo. “O Agro 4.0 tem o poder de falar diretamente com o produtor, identificar suas necessidades e buscar soluções para melhorar a produtividade e a competitividade com a ajuda da tecnologia. Ele permitirá, por exemplo, transformar os sistemas de transporte e logística de alimentos para se reduzir o risco de desperdício.” AGRITECHS Qual será o diferencial das startups no contexto do Novo Agro 4.0? A capacidade de armazenamento e transmissão de dados do campo, que poderão ser analisados mais precisamente. Esse novo modelo de empresa possui uma característica imprescindível para a inovação: a agilidade. Não apenas em entender e atender às necessidades do cliente (no caso, o produtor rural), mas também propor soluções eficientes que aperfeiçoem e potencializem sua produção. “Mostrar o seu valor de negócio, a enorme capacidade de

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DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  35


1 INOVAÇÃO AMBIENTAL mudar e depois crescer. Essa é uma característica que as grandes empresas não conseguem ter. Os processos das startups são mais rápidos, menos burocráticos”, ressalta Vidigal. Batizadas de agritechs, essas startups estão transformando a vida do trabalhador do campo. Trazem soluções que abrangem desde a escolha da melhor forma de se plantar, de criar gado, sistematização de logística e atividades em uma propriedade rural. Israel, que sempre sofreu com a crise hídrica, é o país com maior concentração de agritechs: são mais de 400. No Brasil, são cerca de 200. “As fazendas são um laboratório fértil de demandas para que as startups possam fornecer soluções acessíveis e eficientes, principalmente para os peque-

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Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

BRENO SIQUEIRA: "As fazendas são um laboratório de demandas para as startups"

nos e médios produtores rurais”, destaca Breno Mesquita, diretor da Faemg. No caso do meio rural, há alguns desafios, como a baixa aceitação das tecnologias por parte dos produtores. São pessoas mais velhas – estima-se

que 60% dos produtores tenham mais de 50 anos –, com pouca afinidade com o mundo digital e certa preocupação em investir em algo que não dominam. Mas este cenário tende a mudar com o Novo Agro 4.0. “Estamos vivendo uma nova era do agronegócio. Precisamos contar com a tecnologia e com os jovens para criar um sistema novo, real, sustentável e igualitário. Estou convicto de que isso irá adiante e dará certo”, completa Roberto Simões, presidente da Faemg. l SAIBA MAIS

www.novoagro.org.br www.faemg.org.br

Os produtores rurais, empreendedores e startups que têm interesse em participar do Novo Agro 4.0 e promover o desenvolvimento do agronegócio podem se cadastrar pelo site do projeto.


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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

FOGO DESTRUIDOR MARCA 2017

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rande parte das Unidades de Conservação (UCs) de proteção integral em Minas Gerais, que representam menos de 2% de seu território, foi destruída em 2017 por incêndios ateados por mãos humanas. Eles queimaram milhares de animais e árvores, com graves danos aos aquíferos e às paisagens. Falta de regularização fundiária, fragilidade de ações preventivas, deficiências no combate e impunidade são fatores comuns a todas as UCs. Fogos de artifício soltos durante a romaria anual de Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro, foram a principal suspeita do incêndio que queimou grande parte do Parque Estadual do Biribiri, em Diamantina. O Parque Estadual do Rio Preto, em São Gonçalo do Rio Preto, desde sua criação, há 21 anos, não enfrentava incêndios de grandes proporções. Isso graças a ações preventivas promovidas por seu gerente e equipe junto a moradores e comunidades de sua zona de amortecimento. Mas em 2017, um único incêndio destruiu quatro mil hectares do parque, dois mil dentro de sua área e os outros dois mil na zona de amortecimento. Há um movimento na região que pleiteia quatro mil hectares da unidade, alegando serem “terras quilombolas”, pretensão rejeitada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) e diversas instituições da sociedade civil.

TRAGÉDIA AMBIENTAL Em setembro, fogos de artifício também foram os responsáveis pelo incêndio que atingiu o Parque Estadual Serra do Rola Moça, eles foram soltos durante jogo de futebol ocorrido em campo próximo, que pertence à prefeitura de Nova Lima. Somente um incêndio registrado na Estação Ecológica de Acauã, situada em Leme do Prado e Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, foi suficiente para ser qualificado como uma grande tragédia ambiental, pois destruiu 1.945 ha de Mata Atlântica. As chamas subiram até a copa das grandes árvores, num espetáculo de horror e destruição. A Reserva Estadual de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari, em Serra das Araras, Chapada

37  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

Gaúcha, teve 1.300 hectares de veredas, preciosas nascentes que ocorrem no sertão fornecendo água a comunidades humanas, abrigo e alimentação a animais silvestres, destruídos pelo fogo. Araras e papagaios-verdadeiros fazem seus ninhos nos buritis – palmeira típica das veredas. Provavelmente, centenas de ninhos foram queimados com seus filhotes. Além da crueldade em si, a perda representa grave dano à população dessas espécies já ameaçadas. O gerente da Reserva, Cícero Barros, assim resumiu a tragédia: “Olhar para essa vereda, que era uma beleza, e vê-la agora toda cinza, toda preta, é uma tristeza. Estou com o coração doído”. O Monumento Natural Estadual Serra da Moeda registrou 17 ocorrências até setembro. Depois, perderam-se as contas em função de tantos focos. A gerente, Laudicena Curvelo, estima que aproximadamente 70% da área foi devastada. Ela entende que não houve tempo para treinamento dos novos guarda-parques, aprovados no concurso em março, mas contratados já no período crítico. O fogo consumiu todo o Parque Estadual da Serra do Cabral, que tem 22.494 hectares. Pastoreio extensivo e insustentável é a maior causa dos incêndios. Por 18 vezes, o Parque Estadual do Itacolomi, em Ouro Preto, com 7.543 hectares, ardeu em chamas este ano. O Parque Estadual do Sumidouro, em Pedro Leopoldo, que com pouco mais de dois mil hectares protege 53 cavernas e 157 sítios arqueológicos, enfrentou 42 incêndios até 14 de outubro: 18 em seus limites e 26 na zona de amortecimento. Acabou 2017. Minas foi vice-campeã em perda de Mata Atlântica, os incêndios queimaram nossos parques, diversos deles permaneceram fechados durante meses por falta de funcionários e nem um único hectare foi objeto de regularização fundiária. Para 2018, o governo prevê cortar R$ 43 milhões da área ambiental, apesar de a Semad gerar recursos suficientes para se manter. E daqui a sete meses o “inferno” começa de novo.  (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente.


1 RESPONSABILIDADE SOCIAL Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

PROJETO Rede Solidária Natureza Viva: educação ambiental, apoio a catadores e promoção da coleta seletiva

POR UM BRASIL MAIS SOLIDÁRIO E

SUSTENTÁVEL

Apresentação de projetos patrocinados pelo Instituto MRV, com sede em Belo Horizonte, mostra os resultados de ações sociais transformadoras em prol de crianças e adolescentes

E

moção, gratidão e relatos de superação marcaram a manhã de 14 de dezembro, no Museu Inimá de Paula, no centro de Belo Horizonte. Foi durante a cerimônia de apresentação dos resultados do “Educar para Transformar, 2a Chamada Pública de Projetos”, promovida pelo Instituto MRV, fundado em 2014 pela maior construtora da América Latina, a MRV Engenharia.

Ao longo dos últimos três anos, mais de 78 mil pessoas já foram beneficiadas direta e indiretamente pelas ações do Instituto. E os quatro projetos eleitos, por votação popular, mostraram resultados concretos de como a parceria com a entidade contribuiu para que cada um deles pudesse valorizar ainda mais o trabalho realizado nas comunidades em que estão inseridos. Com atuação em Contagem,

na Grande Belo Horizonte, um dos vencedores é o “Oportunidade para Brilhar”. Por meio dele, é ampliada a proteção dos direitos de crianças e adolescentes expostos a vulnerabilidade social, que participam de atividades esportivas fora do turno escolar. O Projeto “Gaia+Educação” de Piracicaba, em São Paulo, trabalha com educação complementar, possibilitando que os alunos atinjam o máximo de suas potencialidades por meio da educação, do esporte e da integração entre corpo e mente. O “Nadar para Desenvolver”, por sua vez, realizado na Obra Social Dona Meca, no Rio de Janeiro, promove a habilitação, EDUARDO Fischer e Raphael Lafetá (ambos de paletó), respectivamente presidente e diretor do Instituto MRV, acompanhados dos representantes dos projetos: transformando vidas pela educação


NOVOS SONHOS A 2ª Chamada Pública do Instituto MRV foi realizada entre 6 e 22 de março e abriu portas para instituições sem fins lucrativos e pessoas físicas apresentarem projetos sociais transformadores. As 845 iniciativas inscritas foram submetidas a uma seleção que resultou na indicação dos quatro vencedores. “Estamos muito felizes de poder contribuir com essas comunidades. A 2a Chamada Pública fez prosperar boas ideias e potencializou ainda mais as atividades das instituições beneficiadas. Os resultados conquistados darão mais fôlego para seguirmos investindo no que acreditamos, ajudando a construir um país mais solidário e sustentável”, destacou Raphael Lafetá, diretor do Instituto MRV. Para Lafetá, os vencedores são projetos sociais que abrem novos horizontes e possibilidades de sonho para jovens e crianças, além de contribuir de forma efetiva para promover a transformação social do Brasil por meio da educação. “A educação é o principal alicerce para o desenvolvimento de uma nação, preparando cidadãos para a vida e formando realizadores do futuro.” 

FOTOS: DIVULGAÇÃO MRV

reabilitação e a inclusão social e educacional de crianças e adolescentes com deficiência por meio de atividades aquáticas. Já o Projeto “Rede Solidária Natureza Viva”, de Governador Valadares, no Leste mineiro, trabalha a educação ambiental em escolas, apoiando o trabalho dos integrantes da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Natureza Viva. O objetivo é ampliar e melhorar a eficiência da coleta seletiva na cidade. OPORTUNIDADE PARA BRILHAR: prática esportiva para jovens em vulnerabilidade social

GAIA+EDUCAÇÃO: integração entre corpo e mente

SAIBA MAIS

Para conhecer mais sobre os vencedores, acesse: goo.gl/h6Lup5

NADAR PARA DESENVOLVER: habilitação, reabilitação e inclusão social

DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  39


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PARQUE Estadual do Rio Doce: beleza infinda

“A água nunca discute com os seus obstáculos. Mas os contorna.” AUGUSTO CURY, escritor paulista

MINAS RUMO AO

FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA ENCARTE ESPECIAL (7)


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ENCARTE ESPECIAL FIEMG (7)

LEI DAS ÁGUAS: 20 ANOS

Conquistas e desafios relacionados à gestão hídrica e ao papel dos comitês de bacia hidrográfica foram tema de seminário realizado em Belo Horizonte. Convite para influenciar as discussões do 8º Fórum Mundial da Água segue aberto a cidadãos do mundo inteiro Bia Fonte Nova

O

mesmo Brasil que comemora os avanços ocorridos em 20 anos da instituição da sua ‘Lei das Águas’, em janeiro de 1997, ainda arca com as consequências de não tratá-las como recurso estratégico e vital quando o assunto é a instituição de políticas públicas mais efetivas e a melhoria da governança hídrica. Para se ter uma ideia da força dessa constatação, basta olhar estatísticas relativas a apenas um dos itens relacionados à agenda hídrica brasileira – o acesso ao sanea-

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mento básico. Conforme dados do Instituto Trata Brasil, metade dos mais de 208 milhões de brasileiros não contam com coleta de esgoto em suas casas e apenas 42% dos esgotos gerados recebem algum tipo de tratamento. Esses e outros percentuais ainda deficitários colocam o país em 102º lugar no ranking de saneamento elaborado pelo Banco Mundial. E mais: de acordo com o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), seria preciso investir mais de R$ 300 bilhões em 20 anos para

FOTOS: BIANCA AUN

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WAGNER COSTA: "Ainda há lacunas de governança hídrica"


MINAS RUMO AO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA 2018

universalizar os quatro serviços do saneamento: água, esgotos, resíduos e drenagem. Na visão de ambientalistas e especialistas em gestão hídrica, para além dos avanços proporcionados pela Lei das Águas, na prática o Brasil ainda convive com a exclusão hídrica, a escassez, a poluição e o desperdício, agravantes que tendem a ser potencializados com a ocorrência de eventos extremos relacionados às mudanças climáticas em escala global. Sob a ótica das conquistas, quando se faz um balanço da Lei das Águas (Lei nº 9.433), um de seus méritos foi a introdução de novos atores no contexto da gestão dos recursos hídricos: os comitês e as agências de bacia hidrográfica. Essas e outras questões foram debatidas no “III Encontro Internacional de Revitalização de Rios” e “I Encontro das Bacias Hidrográficas de Minas Gerais”, realizado de 28 a 30 de novembro, no Minascentro, em Belo Horizonte. CONSCIENTIZAÇÃO SOCIAL No painel “20 anos da Lei das Águas”, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) foi representada por seu gerente de Meio Ambiente, Wagner Soares Costa. Ao mencionar as mudanças e expectativas relacionadas à norma, Costa – que também é integrante dos comitês de bacia hidrográfica dos rios São Francisco e Paraíba do Sul –, citou conquistas importantes, mas frisou que o Brasil deve seguir avançando. “A lei não deve ser imutável, precisa ser ajustada aos padrões atuais. Nos últimos 20 anos, avançamos no processo de conscientização da sociedade e no campo da inovação tecnológica, aspectos que por si só justificam a adequação da 9.433”, ponderou. A necessidade de revisão da Lei das Águas, frisou Costa,

"O Estado não pode tratar a crise hídrica como crise de reservação. Precisamos fazer gestão de rios vivos, que tenham peixes. Nos quais possamos nadar e ter usos múltiplos, inclusive para manter a biodiversidade. A sociedade tem de se mobilizar não somente para economizar água, mas para salvar os rios de Minas Gerais e do Brasil." MARCUS VINÍCIUS POLIGNANO, presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas

também se justifica pela existência de lacunas de governança hídrica. “De modo geral, há baixo nível de coordenação entre os organismos instituídos pela norma, além de pouca articulação entre estes e os ministérios. O governo federal tem 17 entidades públicas trabalhando com recursos hídricos. Infelizmente, não percebemos a existência de uma coordenação efetiva das ações, sobretudo no que se refere à definição de políticas públicas voltadas para melhoria do saneamento básico, aumento da oferta e do acesso à água.” BENEFÍCIOS COLETIVOS Pós-graduado em Gestão Ambiental e Produção Mais Limpa, Costa ressaltou ainda a necessidade de definir melhor, no contexto da lei, o papel da União, estados e municípios, levando-se em conta as diferenças ambientais. “Há situações que dificultam o gerenciamento, como o fato, por exemplo, de a água superficial ser da União e a subterrânea dos estados. Isso gera diferentes interpretações, conflitos e, portanto, precisa ser rediscutido.”

Para Wagner Costa, a capacidade de influência de um comitê de bacia está diretamente relacionada à representatividade/qualificação de seus integrantes. “Temos vários comitês com estrutura limitada e representantes sem conhecimento suficiente para influenciar as decisões necessárias. Seus integrantes devem se empenhar não apenas na busca de consenso, mas de caminhos que resultem em soluções e benefícios coletivos, tendo maior racionalidade em suas decisões.” Também é essencial, ponderou o gerente de Meio Ambiente da Fiemg, avançar na implementação dos planos de bacia e superar o ‘preconceito’ que ainda leva muitos a verem o usuário da água como vilão. “Felizmente, temos aqui em Minas um exemplo muito bom, no CBH Rio das Velhas, cujo presidente [Marcus Vinícius Polignano] tem feito um excelente trabalho de aproximação e obtido ótimo retorno em termos de cooperação com os usuários. Isso se traduz em mais segurança hídrica e benefícios permanentes para toda a bacia.” DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  43


ENCARTE ESPECIAL FIEMG (7)

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA "LEI DAS ÁGUAS" 

A água é um bem de domínio público.

É um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. 

Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais. 

A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas. 

A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e atuação do sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos. 

A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e das comunidades. 

Fonte: ANA/MMA/CBH Velhas

PIONEIRISMO HÍDRICO Publicada em oito de janeiro de 1997, a Lei 9.433 instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh). Um de seus relatores foi o ex-deputado e ambientalista Fábio Feldmann. Integrante do Conselho Consultivo FELDMANN foi um dos da Revista Ecológico, relatores da lei que instituiu Feldmann é pioneiro a Política Nacional de Recursos Hídricos na defesa dos direitos ambientais e um dos responsáveis pelo Artigo 225 da Constituição Federal, que trata do meio ambiente.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

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SÃO PAULO RUMO A BRASÍLIA 2018 O Brasil está fazendo bonito na preparação para o maior evento hídrico do planeta. Depois do evento "Minas no Caminho das Águas", realizado pela Fiemg na capital mineira em outubro último, foi a vez de a capital paulista promover mais debates sobre a questão hídrica. São Paulo recebeu, em 14 de dezembro, o evento “Rumo a Brasília 2018”, reunião preparatória para o "8º Fórum Mundial da Água". “Desafios e compromissos do setor privado com a sustentabilidade da água no planeta” foi o tema de um dos painéis, que contaram com as participações de especialistas e 80 representantes de diferentes setores. Entre eles, Jerson Kelman, presidente da Sabesp; Carla Crippa, diretora de Sustentabilidade da Ambev; Federico Lagreca e Andrea Mota, diretora de Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil. O objetivo do encontro foi integrar academia, governo, empresas, associações e organizações não governamentais e vozes da sociedade civil na produção de

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propostas e soluções hídricas nas esferas econômica, política, tecnológica e cultural para levar aos debates em Brasília. O evento foi fruto de iniciativa da Seção Brasileira do Conselho Mundial da Água e aconteceu em cinco capitais brasileiras e duas latino-americanas. Já foi sediado pelas cidades de Belém, Belo Horizonte, Tijuana (México) e Santiago (Chile). Agora, depois de São Paulo, será a vez de Foz do Iguaçu e Salvador. O "Fórum Mundial da Água" ocorre a cada três anos e é uma iniciativa do Conselho Mundial da Água, uma organização internacional com sede em Marselha, na França, composta por representantes de governos, academia, sociedade civil, empresas e organizações não governamentais. As sete edições anteriores foram realizadas em Marrakesh (Marrocos, 1997), Haia (Holanda, 2000), Quioto (Japão, 2003), Cidade do México (México, 2006), Istambul (Turquia, 2009), Marselha (França, 2012) e Gyeongju e Daegu (Coreia do Sul, 2015).


MINAS RUMO AO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA 2018

FOTOS: DIVULGAÇÃO

FAÇA OUVIR A SUA VOZ! Plataforma de consulta online abre nova etapa de debates e permite o envio de temas para o maior evento sobre água do planeta Está aberto o convite para que pessoas de todo o mundo participem da terceira etapa da “Plataforma Sua Voz”. O objetivo é discutir e reunir temas importantes para influenciarem as discussões do “8º Fórum Mundial da Água”, que será realizado em Brasília (DF), entre 18 a 23 de março de 2018. Os debates acontecem em salas temáticas virtuais e contam com a presença de mediadores. Mesmo aqueles que não são especialistas em meio ambiente podem contribuir com ideias, experiências e soluções a respeito do tema até março do ano que vem. As duas primeiras rodadas de debates atraíram mais de 20 mil pessoas e geraram mais de 500 sugestões. Nesta terceira edição, o foco estará nos “Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS)”. Eles formam uma agen-

da mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em setembro de 2015, composta por 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030. Cada meta tem um grupo de indicadores para avaliar se os resultados estão sendo alcançados. MUDANÇAS DO CLIMA A agenda estabelecida prevê ações mundiais nas áreas de erradicação da pobreza, segurança alimentar, agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades e energia. Padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres, bem como crescimento econômico inclusivo, infraestrutura e industrialização. O

objetivo 6 fixa as metas relacionadas à água e ao saneamento. A “Plataforma Sua Voz” é dividida em seis salas: “Clima”, “Pessoas”, “Desenvolvimento”, “Urbano”, “Ecossistemas” e “Financiamento”. Nelas, os participantes poderão debater os desafios e as oportunidades de implementação de ações para alcançar os ODS e as metas, conforme a realidade de cada cidade, estado ou país. Disponível em português e inglês, no site do 8º Fórum, a plataforma também conta com ferramenta de tradução para mais de 90 idiomas. 

SAIBA MAIS

Para participar e deixar sua contribuição para o Fórum Mundial das Águas, acesse a plataforma no site www.worldwaterforum8.org

DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  45


1 BIODIVERSIDADE

FOTO: RODRIGO BALÉIA / GREENPEACE

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

ATÉ 2039 serão investidos US$ 215 milhões na conservação de áreas verdes do bioma amazônico

ARPA: 15 ANOS

DE CONSERVAÇÃO AMAZÔNICA Maior programa de conservação de florestas tropicais do planeta chega à marca histórica com o apoio do Governo Federal e de empresas como Anglo American. Seu desafio é continuar atuando para manter a Amazônia em pé Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

C

riado pelo Governo Federal em 2002 para expandir e fortalecer o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa) é prova inconteste de que a união entre poder público e iniciativa privada pode,

46  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

de fato, garantir a preservação da Floresta Amazônica. Os números falam por si. Em 15 anos o Arpa já atingiu mais de 60 milhões de hectares protegidos, área equivalente a duas vezes e meia o estado de São Paulo. São 117 Unidades de

Conservação (UCs) atendidas. O programa oferece desde a implantação de plano de manejo, formação de conselho e equipe técnica até incentivos a pesquisa, monitoramento, aquisição de equipamentos e instalação. Trinta por cento dos recursos


SAIBA MAIS A AMAZÔNIA Maior floresta tropical do mundo, sua área total é estimada em seis milhões de quilômetros quadrados. Abrange o norte do Brasil, sul da Venezuela e Colômbia e norte do Peru e da Bolívia. Sessenta por cento do seu território está em terras brasileiras. O bioma abriga 40 mil espécies de plantas, 427 de mamíferos, 1.294 de aves, 378 de répteis, 427 de anfíbios e aproximadamente três mil espécies de peixes. Seus rios comportam cerca de 20% da água doce do mundo. Fonte: arpa.mma.gov.br

gestores atuantes nas unidades.” Outra expectativa é a ampliação do número de áreas verdes atendidas pelo programa. Vinte e três UCs encontram-se em fase de criação. O Parque Nacional do Viruá, localizado no centro-sul de Roraima, é um bom exemplo de como o Arpa tem contribuído para a manutenção das áreas de conservação brasileiras. Graças ao programa, o parque, de 227 mil hectares, recebeu R$ 4 milhões de investimento e agora tem plano de manejo, levantamento fundiário e incentivos FOTOS: DIVULGAÇÃO

do Arpa são direcionados para a fiscalização e proteção das UCs, que estão localizadas nos estados como Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Pará, Amapá, Mato Grosso e Tocantins. “O Arpa tem duas características muito fortes: a governança e a continuidade. Ele foi criado e muito bem planejado para resistir a toda série de intempéries políticas e econômicas. A prestação de contas é muito rigorosa, pois o programa foi feito para ser desenvolvido em longo prazo”, afirma Paulo Sodré, presidente do Comitê do Fundo de Transição do Arpa. Para ele, o grande objetivo da iniciativa é a preservação ambiental. “Manter a floresta em pé é a nossa missão e o programa está sendo muito bem-sucedido nisso. Há estudos que comprovam que os resultados de conservação da floresta por meio do Arpa são melhores que os das UCs que não são atendidas por ele. Para 2018, a nossa perspectiva é continuar com o pleno desenvolvimento do programa, que também conta com

PAULO SODRÉ: governança e continuidade são as principais características do Arpa

a pesquisa e monitoramento. Os gestores contam com novos equipamentos, serviços e materiais, como barco, carro e GPS, e os recursos permitiram ainda a estruturação de novos programas de gestão. O Arpa também possibilitou que o parque atendesse a mais de 600 pesquisadores, tornando-se um dos mais importantes polos de pesquisa da Amazônia. Além de combinar biologia da conservação com a excelência das boas práticas de planejamento e gestão, o Arpa ainda vem gerando benefícios para as áreas do entorno das UCs apoiadas. A gestão descentralizada também estimula a participação e o desenvolvimento sustentável de comunidades tradicionais da Amazônia, transformando a realidade dos seus habitantes. APOIO PRIVADO Uma das principais engrenagens do programa é o apoio do setor privado. Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e gerenciado financei-

2

DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  47


1 BIODIVERSIDADE

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

“A mineração faz parte da sociedade há três mil anos e vai continuar fazendo. Para nós, o Arpa é muito importante e mostra o comprometimento da empresa e do setor com a preservação da natureza. Apoiar iniciativas assim só comprova que a mineração pode sim conviver em harmonia com o meio ambiente e a sociedade. A importância da Amazônia é algo que não dá para medir nem calcular em dólar por tonelada.”

FOTO: FERNANDA MANN

COMPROMISSO SUSTENTÁVEL

Ruben Fernandes, presidente da Anglo American Brasil

48  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

rio viabilizar políticas de longo prazo para a preservação ambiental. “O que percebemos em projetos de cooperação internacional é que a maioria deles fica restrita a quatro anos de duração, no máximo cinco. Para que você obtenha resultados de conservação e de restauração de áreas verdes, ou ganhos de biodiversidade, é preciso um longo prazo. A parceria com o setor privado é um diferencial. Não só agrega recursos financeiros adicionais mas também FOTO: FUNBIO

ramente pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), ele é financiado com recursos do Global Environment Facility (GEF) – por meio do Banco Mundial; do governo alemão, através do Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KfW); da Rede WWF (WWF-Brasil); da Moore Foundation; e do Fundo Amazônia, por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDES). Empresas como Natura, O Boticário e Alcoa já contribuíram com o programa, que atualmente está em sua terceira fase. “O Funbio tem a missão de aproximar o setor privado da conservação ambiental. Para isso, estamos em uma busca constante de parcerias. Neste momento, por exemplo, contamos com o apoio da Anglo American”, afirma Manoel Serrão, superintendente de Programas do Funbio. A mineradora é a única empresa privada no Brasil a apoiar a terceira fase do programa. Ele explica que o protagonismo do Arpa é um exemplo de como é possível e necessá-

A terceira fase do Arpa, iniciada em 2014, tem duração de 25 anos. A meta é consolidar 60 milhões de hectares de UCs federais e estaduais na Amazônia e apoiar a criação de novas unidades. A partir de 2039, o Governo Federal assumirá 100% do custo de manutenção das áreas uma perspectiva de gestão que muitas vezes não está presente no setor governamental. Nem no terceiro setor.” Ele cita a própria Anglo American. “Ela está possibilitando que a gente vá além. Que entenda e melhore a nossa performance, por exemplo, no setor de Compras do Funbio. Estivemos em Minas Gerais recentemente conversando com os especialistas de compras da mineradora e acompanhamos uma capacitação para transferência de tecnologia em termos de compliance das aquisições de bens e serviços. Essa troca foi muito positiva para nós. Essa aproximação com as instituições é tão importante quanto o aporte financeiro”, ressalta o superintendente.

SAIBA MAIS

arpa.mma.gov.br funbio.org.br

SERRÃO: “A parceria com o setor privado é um diferencial do programa”

Para doar recursos para o Arpa, seja financiando a infraestrutura das UCs ou contribuindo com o Fundo de Áreas Protegidas (FAP), que busca garantir a sobrevivência das unidades do programa no longo prazo, contate arpa@mma.gov.br.


ENTENDA MELHOR FOTO: VINÍCIUS CARVALHO

O Arpa está alinhado com as principais políticas e estratégias do governo brasileiro para a conservação da Floresta Amazônica. Entre elas: 1. PLANO AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL (PAS), cuja integração com o Arpa acontece a partir da consulta e envolvimento de diversos setores das sociedades regional e nacional, além de permear os cinco eixos temáticos prioritários do PAS: produção sustentável com tecnologia avançada, novo padrão de financiamento, gestão ambiental e ordenamento territorial, inclusão social e cidadania e infraestrutura para o desenvolvimento. 2. PLANO DE AÇÃO PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA LEGAL (PPCDAM), cujas contribuições e interfaces com o Arpa estão na sintonia entre os objetivos e diretrizes gerais de ambos, incluindo as metas do PPCDAM de ordenamento fundiário e territorial da região, através da criação e consolidação de UCs. 3. PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS (PNAP), com o qual o Arpa colabora para o cumprimento de diversas diretrizes, como a de assegurar a representatividade dos diversos ecossistemas e a de promover a articulação de diferentes segmentos da sociedade para qualificar as ações de conservação da biodiversidade.

SUSTENTABILIDADE para o povo amazônico é também prioridade do Arpa

4. PLANO NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA (PNMC), que tem no Arpa um apoio importante para sua consecução. Somente a criação de 13 UCs na Amazônia entre 2003 e 2007 com o apoio do Arpa evitará, até 2050, a emissão de 0,43 bilhão de toneladas de carbono na atmosfera. Dessa forma, a expansão futura do SNUC na Fase II do Arpa e a melhoria na gestão das UCs poderão aumentar a contribuição do Programa para a redução das taxas de desmatamento na Amazônia Legal. 

Fonte: arpa.mma.gov.br

QUEM MATA A MATA, mata mais que a mata. preserve a água

QUEM MATA

Q A m q p


1 RECURSOS HÍDRICOS

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

ÁGUA CORRENTE PARA

UM RIO MANSO

Projeto pretende recuperar 410 hectares em Áreas de Proteção Permanente (APP) em parte da bacia hidrográfica

A

Fundação Biodiversitas, organização da sociedade civil de caráter técnico-científico sem fins lucrativos que atua na conservação da biodiversidade brasileira, já deu início às atividades do projeto “Água Corrente: Recuperação florestal das áreas de Preservação Permanente que contribuem para o Abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte”. A iniciativa abrange os municípios mineiros de Rio Manso, Brumadinho e Itatiaiuçu. O projeto, financiado pelo Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA) tem como objetivo restaurar 410 hectares de vegetação natural em Áreas de Preservação Permanente (APP) do entorno de nascentes e faixas marginais dos cursos d’água em parte da bacia do rio Manso. A restauração florestal será feita de forma inteÁREA DE ATUAÇÃO

grada com a realidade local, con- monstrar a importância de cada tribuindo para a adequação de propriedade para a produção de pequenas propriedades à luz da água e para a melhoria da qualinova Lei Florestal brasileira. Em dade de vida, que serão alcançanenhum momento haverá desa- das principalmente por meio da propriação ou qualquer tipo de recuperação florestal. “Esta parimposição aos proprietários das ceria é vista como crucial, pois áreas a serem reflorestadas. são os proprietários dessas áreas A equipe do Projeto Água Cor- que farão o plantio das mudas e a rente vai selecionar as áreas a manutenção das áreas recuperaserem recuperadas – com base das. Além de serem os primeiros em critérios técnicos – e definir a perceberem os benefícios do quais métodos serão emprega- reflorestamento promovido em dos na restauração florestal, que suas propriedades.” vão desde o simples cercamento O projeto Água Corrente tem de nascentes ou cursos d’água prazo de conclusão previsto até o plantio efetivo de mudas para dezembro de 2020 e reúne de espécies nativas. As ativida- uma equipe multidisciplinar de des serão realizadas em conjun- técnicos, parceiros e profissioto com a comunidade local, que nais sob a coordenação da Funserá mobilizada por meio de pa- dação Biodiversitas.  lestras e capacitações. SAIBA MAIS Segundo Gláucia Drummond, diretora-presidente da Funda- projetoaguacorrente@biodiversitas.org.br comunicacao@biodiversitas.org.br ção Biodiversitas, a ideia é de-


Foto: © Russell A. MITTERMEIER / WWF-Canon * O minuto da ligação a partir de telefone fixo é de R$ 0,036 + impostos e a partir de celular é de R$ 0,44 + impostos

Nós precisamos de sua ajuda. Nossas grandes riquezas naturais, a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica são destruídas a cada dia. E para frear esta situação, precisamos do seu apoio. O WWF-Brasil é uma organização brasileira que, com a sua ajuda, desenvolve projetos de conservação da natureza e uso sustentável dos recursos naturais. Contribuindo para o WWF-Brasil, você colabora diretamente com ações para construir uma vida melhor para as gerações de hoje e do futuro.

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INFORME PUBLICITÁRIO ATÉ O FIM de fevereiro de 2018, o Grupo Dispersores irá plantar 68 mil novas árvores no entorno de nascentes protegidas pelo projeto

DE OLHO

FOTOS: GRUPO DISPERSORES/DIVULGAÇÃO

NOS OLHOS Parceiro do programa “Plantando o Futuro”, coordenado pela Codemig, projeto executado pelo Grupo Dispersores em 12 cidades do Sul de Minas foi um dos finalistas do Prêmio ANA 2017

B

oas notícias e novos avanços esperados em 2018. Parceiro do programa “Plantando o Futuro”, o Grupo Dispersores foi destaque como um dos finalistas do “Prêmio Agência Nacional de Águas (ANA)” 2017, que seleciona os melhores trabalhos em gestão e uso sustentável de recursos hídricos no Brasil. O foco do reconhecimento foi o projeto “De Olho nos Olhos – Pro-

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teção e Recuperação de Nascentes”, cujas ações são desenvolvidas em 12 municípios da região Sul de Minas: Brazópolis, Paraisópolis, Gonçalves, Sapucaí-Mirim, Delfim Moreira, Piranguçu, Wenceslau Braz, Itajubá, Piranguinho, Pedralva, São José do Alegre e Santa Rita do Sapucaí. Iniciado em 2007, o “De Olho nos Olhos” concorreu com mais de 600 projetos, de diferentes

regiões brasileiras, na categoria “Organizações Civis”, cujo vencedor foi o Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS), com sede em Teixeira, na Paraíba. Atualmente, aproveitando a chegada da estação chuvosa, a equipe do Dispersores tem dado prioridade ao plantio de novas mudas. Até o fim de fevereiro de 2018, cerca de 68 mil novas árvores serão plantadas no entorno das nascentes


protegidas pelo projeto. A meta é restaurar 157 hectares de Mata Atlântica e revitalizar 200 nascentes, totalizando, até dezembro do ano que vem, o plantio de 130 mil mudas na região da Serra da Mantiqueira, berço de importantes cursos d’água, entre eles o Rio Grande. A cooperação entre o Grupo Dispersores e o programa “Plantando o Futuro”, coordenado pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), beneficia centenas de proprietários rurais, financia a produção de mudas, fomenta o reflorestamento e incentiva o envolvimento de estudantes com a promoção da educação ambiental, a conservação da água e de toda a rica biodiversidade da região. REGENERAÇÃO NATURAL A maioria dos municípios participantes do projeto “De Olho nos Olhos” está inserida em Unidades de Conservação, tais como a Área de Proteção Ambiental (APA) Fernão Dias e a APA Serra da Mantiqueira, além de outros na região do Alto da Bacia do Rio Sapucaí, que provê 48 cidades mineiras e três paulistas, abastecendo aproximadamente 620 mil pessoas. As nascentes são cercadas com mourões e arame farpado, assegu-

rando a proteção de um raio de 50 metros, no qual são plantadas mudas nativas que contribuem para a regeneração natural do solo e a recomposição da vegetação desmatada. As ações são executadas sem qualquer custo para os produtores rurais e agricultores participantes, que também contam com toda a assistência técnica necessária. “Uma nascente protegida e reflorestada garante a conservação da água na propriedade e, consequentemente, alimenta nossos rios e nossa Bacia, assegurando água para o abastecimento humano nos centros urbanos”, explica o vice-presidente do Grupo Dispersores, Evandro Negrão. Coordenador do projeto “De Olho nos Olhos”, Negrão comemora mais um reconhecimento. “Estar entre os finalistas do Prêmio ANA 2017 é motivo de muito orgulho para nós. Significa que o nosso trabalho de conscientização e preservação do meio ambiente está no caminho certo. Ser reconhecido nacionalmente pelo que fazemos nos deixa ainda mais motivados a seguir nesta luta pela conservação ambiental.” Em 2018, o objetivo do Grupo Dispersores é aumentar o número de nascentes protegidas na Bacia do Rio Sapucaí, bem como ampliar o

FIQUE POR DENTRO

Lançado pelo governo de Minas Gerais em 2016, o programa “Plantando o Futuro” tem como objetivo plantar 30 milhões de árvores, recuperar 40 mil nascentes, seis mil hectares de mata ciliar e dois mil hectares de áreas degradadas nos 17 Territórios de Desenvolvimento mineiros até dezembro de 2018.

trabalho de conscientização ambiental junto à população da região, sobre a importância de proteger e usar os recursos naturais, em especial a água, de forma racional. “O que mais nos motiva é poder contribuir para a conservação da natureza, conscientizar as pessoas para que vivam de forma sustentável e garantir um futuro ambientalmente equilibrado para a atual e as futuras gerações”, completa Negrão. SAIBA MAIS

www.codemig.com.br www.plantandoofuturo.mg.gov.br www.dispersores.org premio.ana.gov.br

AÇÕES de educação ambiental também são realizadas pelo Grupo Dispersores para conscientizar crianças e jovens

2 DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  53


INFORME PUBLICITÁRIO

FOTOS: DARIUS DAN/FLATICON/IMAGENS ILUSTRATIVAS

Adequação à legislação ambiental Iniciar 2018 com todas as informações e a programação necessária para cumprir prazos, entregar documentos requeridos, evitando multas e prejuízos à competitividade dos negócios. São esses os objetivos do calendário de Obrigações Legais Ambientais, documento elaborado anualmente pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), para orientar empreendedores a se manterem em dia com cadastros, registros e pagamentos de taxas em âmbito federal e estadual. As obrigações ambientais aplicáveis às indústrias têm vencimento de 31 de janeiro a 31 de dezembro

e incluem prazo para revalidação do Licenciamento Ambiental, Cadastro Técnico Federal e Estadual, Taxa de Controle de Fiscalização Ambiental, Relatório Anual de Atividades do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Inventário de Resíduos Sólidos Industriais, Declaração de Carga Poluidora e Declaração de Áreas Contaminadas. No caso do Cadastro Técnico Federal, registro obrigatório para pessoas físicas ou jurídicas feito por meio do site do Ibama, a Lei nº 6.938/1981 prevê multa para quem for obrigado a se inscrever e não o fizer. Os valores variam de R$ 50 a

R$ 9.000, de acordo com o porte do empreendimento. “Planejar e manter um processo de gestão ambiental melhora a competitividade e o acesso a novas oportunidades de desenvolvimento de processos, produtos, serviços e mercados em todos os setores de negócio”, ressalta a advogada da Gerência de Meio Ambiente da Fiemg, Silvia Xavier. Segundo ela, os documentos e providências ambientais cabíveis também envolvem aqueles relacionados à gestão de recursos hídricos, tais como outorga de direito de uso, declaração de carga poluidora e cobrança pelo uso da água.

PROGRAME-SE! Confira alguns dos prazos para cadastros, registros, pagamentos de taxas e outras obrigações de natureza ambiental para o primeiro semestre de 2018: JANEIRO (Vencimento até 31/1)

Obrigações Legais Estaduais (IEF)  Renovação anual do Registro no Sistema de Registro de Categoria, de que trata a Resolução Conjunta SEMAD/IEF nº 1.661/2012. O Sistema de Registro de Categoria está disponível no site sisemanet.meioambiente.mg.gov.br. MARÇO (Vencimento até 31/3)

Obrigações Legais Federais (Ibama e Conama)  Atualização do Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais (CTF/APP), conforme Lei Federal nº 6.938/1981 e Instrução Normativa Ibama nº 06/2013. O cadastro é feito

54  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

uma única vez, mas as informações devem estar atualizadas. O cadastramento é gratuito, mas a sua falta gera a aplicação de penalidades.  Pagamento da 1ª parcela de 2018 da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA), conforme a Lei Federal nº 10.165/2000 e a Portaria Interministerial MF/MMA nº 812/2015. O boleto deve ser emitido através do site do Ibama.  Entrega do Relatório de Atividades Potencialmente Poluidoras e Utilizadoras de Recursos Ambientais (RAPP) referente ao ano de 2017, conforme a Instrução Normativa Ibama nº 06/2014. O Relatório deverá ser preenchido através do site do Ibama no Cadastro Técnico Federal.  Elaboração e protocolo na Secretaria de Saúde e no órgão ambiental licenciador da declaração de


EFLUENTES E RESÍDUOS Em janeiro, a primeira dica é conferir o prazo de validade da licença ambiental. Isso porque a formalização do processo de revalidação da Licença de Operação (LO) precisa ser feita até 120 (cento e vinte) dias antes do vencimento da licença em curso, para que seja concedida a sua prorrogação, a partir da data de vencimento, até a manifestação final do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) ou da respectiva Superintendência Regional de Meio Ambiente (Supram). É essencial, ainda, ficar atento ao prazo de atendimento das condicionantes (incluindo o monitoramento de efluentes, resíduos, emissões, ruídos, etc.), cujo descumprimento pode gerar multa e até mesmo levar à perda da licença concedida. Além disso, o atendimento às condicionantes precisa ser comprovado ao órgão ambiental, tanto no prazo específico da condicionante quanto na revalidação da licença. O empreendedor também deve conferir o prazo de validade das

outorgas para uso de recursos hídricos e suas condicionantes, assim como os procedimentos para renovação a serem observados. Outra providência importante é o preenchimento das planilhas de monitoramento de captação, de acordo com a Resolução Conjunta da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad)/Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) no 2.302/2015.

vez que as mesmas poderão demandar tempo e investimento. Apesar de não estar vinculada ao licenciamento ou à legislação ambiental, outra medida indispensável às empresas e indústrias é a conferência da validade e adequação do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros, atestando que a edificação apresenta todas as condições e equipamentos de segurança contra incêndio e pânico exigidos pela legislação em vigor. 

EMISSÕES ATMOSFÉRICAS Com relação às emissões atmosféricas, a Deliberação Normativa Copam no 187/2013 estabeleceu novos limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para fontes fixas e determinou prazos para seus atendimentos. “Alguns prazos se encerrarão em 2018, mas a norma prevê limites que deverão ser atendidos em 2019, 2020 e 2021”, afirma Silvia Xavier, também especialista em Direito Processual. Ela ressaltou ainda a importância do planejamento para a implantação das adequações necessárias, uma

atendimento das exigências da Resolução Conama nº 358/2005, que dispõe sobre tratamento e disposição dos resíduos de serviço de saúde.

Obrigações Legais Federais Estaduais (Sisema)  Como houve a integração do Cadastro Técnico Estadual e do Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais, o seu preenchimento deve ser realizado através do site do Ibama. Se a empresa já efetuou o Cadastro anteriormente, é bom conferir se o mesmo está vigente e se as informações prestadas precisam ser atualizadas.  Pagamento da 1ª parcela de 2018 da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental do Estado de Minas Gerais (TFAMG), conforme Lei Estadual nº 14.940/2003.  Entrega do Inventário de Resíduos Sólidos Industriais, conforme Deliberação Normativa COPAM nº 90/2005. O formulário eletrônico está disponível no Banco de Declarações Ambientais (BDA) no site sisemanet.meioambiente.mg.gov. br. Ele deve ser preenchido e enviado à FEAM

exclusivamente em formato digital.  Entrega da Declaração de Carga Poluidora, conforme Deliberação Normativa Conjunta COPAM/ CERH nº 01/2008. O conteúdo do formulário consta no anexo único da Deliberação Normativa. O formulário eletrônico está disponível para preenchimento e entrega no Banco de Declarações Ambientais (BDA) no site sisemanet.meioambiente.mg.gov.br. JUNHO (Vencimento até 30/6)

Obrigações Legais Federais (Ibama)  Pagamento da 2ª parcela de 2018 da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA), conforme a Lei Federal nº 10.165/2000. O boleto deve ser emitido através do site do Ibama. Obrigações Legais Federais Estaduais (Sisema) • Pagamento da 2ª parcela de 2018 da TFAMG - Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental do Estado de Minas Gerais, conforme Lei Estadual nº 14.940/2003. 

DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  55


1 SAÚDE E MEIO AMBIENTE

AS ERVAS DE GUIÃO

Jornalista e especialista em plantas medicinais mostra como os chás são aliados simples e poderosos para se viver de forma saudável Fernanda Mann

redacao@revistaecologico.com.br

J

GUIÃO: "A natureza é nossa maior parceira" 56  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

ornalista de formação, o mineiro Marcos Guião tem um olhar curioso e atento por natureza. E isso o ajudou a desenvolver seu projeto de vida mais ecológico e audacioso: montar uma ervanaria para disseminar os conhecimentos sobre plantas medicinais, que aprendeu ao longo de 25 anos. Durante esse tempo, Guião aprofundou seus estudos e pesquisou a complexidade e as diferentes possibilidades de se trabalhar com fitoterápicos.

Em suas andanças pelo sertão e pelas matas verdes das Minas Gerais - principalmente em São Gonçalo do Rio das Pedras, onde mora com a esposa e os dois filhos -, descobriu a força poderosa, benéfica e complementar das plantas, por meio dos chás, no tratamento de doenças. Uma sabedoria milenar que pode ser uma aliada à medicina tradicional. A ideia da ervanaria nasceu com a intenção inocente de zelar pela saúde da família de forma


O processo de beneficiamento das plantas segue um padrão que visa otimizar a conservação de suas propriedades medicinais: elas são desidratadas quase que integralmente

CONHECIMENTO COMPARTILHADO Há 12 anos Guião trabalha como instrutor de plantas medicinais e aromáticas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que promove a formação de profissionais rurais. Esse trabalho lhe deu a oportunidade de reunir um vasto conhecimento popular adquirido nas FOTOS: MARCOS GUIÃO

mais amorosa e simples. Depois veio a necessidade de estudar mais para beneficiar um número maior de pessoas. “Queria proporcionar a todos uma melhor qualidade de vida, um outro olhar sobre as plantas e suas propriedades. Acabei me enveredando também pela acupuntura, massoterapia e o shiatsu para agregar mais conhecimento.” Para Guião, a ervanaria é a “cereja do bolo” de todo o valioso acervo de conhecimento que guardou até hoje. E, ainda, uma forma de manter vivas as tradições do povo do interior de Minas. “Chá é algo de domínio público. Todo mundo pode fazer. Quando as pessoas entram em contato com a simplicidade, elas encontram a felicidade. O chá tem esse poder!”, conta. Na ervanaria, cuja sede é em São Gonçalo do Rio das Pedras, cada chá é preparado cuidadosa-

mente pela equipe. Um trabalho minucioso desenvolvido com muito carinho, desde o reconhecimento, identificação e coleta de espécies medicinais nativas e exóticas, que obedecem às boas práticas de manejo sustentável, até o plantio e preparo de mudas de espécies medicinais. O processo de beneficiamento das plantas segue um padrão que visa otimizar a conservação de suas propriedades medicinais: elas são desidratadas quase que integralmente por meio da “secagem solar”, a partir de uma tecnologia simples que pode ser

adaptada à realidade local. No site www.ervanariamarcosguiao.com é possível conhecer toda a linha de chás e seus usos, além de informações sobre as plantas e o organismo humano. Uma oportunidade de tratar da saúde de maneira natural e sustentável, complementando tratamentos médicos convencionais. “Não há disputa com as linhas terapêuticas existentes. Elas são importantíssimas. A ideia é somar, em prol da saúde, e não dividir”, ressalta o especialista. Os produtos da ervanaria também podem ser encontrados na Casa Horta, loja localizada no Boulevard Shopping em Belo Horizonte.

AULA de campo: quando o conhecimento está na floresta

DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  57


FOTOS: MARCOS GUIÃO

1 SAÚDE E MEIO AMBIENTE Os participantes podem escolher entre cursar todos os módulos ou escolher aqueles que mais lhe interessam comunidades por onde passou. “Como vou onde o agricultor está, viajo pelos núcleos e interiores do estado, escuto muitos causos e tenho contato com diversas plantas diferentes. Foi assim que me especializou em espécies da flora do Cerrado, bioma considerado a farmácia brasileira por ter o maior número e variedade de espécies medicinais vegetais”, conta. A sabedoria adquirida com as idas e vindas ao campo é generosamente compartilhada por Guião durante as aulas que ministra pelo Senar e também nos cursos vivenciais que promove aos finais de semana em São Gonçalo do Rio das Pedras. São dois formatos de cursos: um mais abrangente, com duração de uma semana, onde são repassadas informações básicas para quem pretende começar a trabalhar com os fitoterápicos. E outro distribuído em módulos, que são realizados nos finais de semana. Neste curso, a relação das plantas com os sistemas orgânicos são trabalhados e separados por temas específicos. Os participantes podem escolher entre cursar todos os módulos ou apenas os que mais lhe interessam, como, por exemplo, a contribuição das plantas medicinais para o sistema respiratório, digestivo ou músculo-esquelético. A metodologia de trabalho é to-

58  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

BENEFICIAMENTO do açafrão: nutrientes preservados

PLANTIO e capina correta das ervas são algumas das atividades do curso

talmente prática: os estudantes são colocados em contato com as plantas em todas as partes do processo. Desde o reconhecimento das espécies na mata, sua colheita, propriedades das plantas utilizadas até o processamento e a utilização das técnicas e metodologias de aplicação, como o chá. “A natureza é nossa maior parceira e ensinar o ‘simples’ aprendido na lida com ela é outra

paixão. Trabalhar na produção, coleta e beneficiamento de plantas para produção de chás medicinais, mais que um trabalho, é uma alegria”, afirma Guião.  SAIBA MAIS

www.ervanariamarcosguiao.com

Entre os dias 22 e 27 de janeiro de 2018 será realizado o “Curso Vivencial de Plantas Medicinais”, em São Gonçalo do Rio das Pedras (MG). Para mais informações, acesse o site da Ervanaria ou contate (38) 98823-6119.



1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Extra! Ecológico no Enem 2017

ERNESTO NETO. Dengo. 201 O. MAM-SP, 201 O. Disponível em: http://espacohumu s.com. Acesso

em: 25

abr. 2017. A instalação Dengo transformo u a sala do MAM-SP em um ambiente singular, explo rando como principal CAST característica artística a 8 participação do público na intera ção lúdica com a obra. O comentário do uma valsa mais a 0 distribuição de obstáculos no espaço da exposição. mas bonita que (B representação simbólica de objeto s oníricos. de que essa val @ interpretação subjetiva da lei da gravidade. linguística @ valorização de técnicas de artes anato. 8 detentora de QUESTÃO 32 0 específica da Naquela manhã de céu limpo e ar <B previsível par torrencial da noite anterior, saí a caminleve, devido à chuva @ constituída de escondido para tomar tenência dos har com o sol ainda @ valorizadora d da vida na roça. Num demorou nem primeiros movimentos QUE STÃO 34 intenso do café passado por Dona um tiquinho e o cheiro Linda me invadiu as A lavadeira co narinas e fez a fome se acordar daqu ela impõe rema letárg respeito e ica derivada da longa noite de sono. Levei as mãos até a água regalia súbita foi e que corria pela bica feita de bamb u e desliz o conta es to gelado foi que adu de arrepiar. Mas fui em frente e levei eram até o rosto. Com o impacto, recue as mãos em concha supor dardejados p i e me faltou o fôlego taram de bom por alguns instantes, mas o despe na mesa da sala, u aceso, entrei na cozinha na busca rtar foi imediato. Já comprimind o com e me acercar do aconchego do ção de derrubar a fome a mesma porce Foi quando dei reparo da figuracalor do fogão à lenha. asco e repulsa lan esgui ting a e discreta de uma senhora acompanhada de mesma saciedade uns cinco anos de idade já aboleum garoto aparentando de picadinho de ca em proseio íntimo ,com a dona tada na ponta da mesa e o arroz com amê da vigoroso "Bom dia!", de um vapor casa. Depois de um de cebola tostada. oso aperto de mãos nas apresentações de praxe, fiquei saben o rosto rastreado d Maio levava o filho Adão para tratam do que Dona Flor de o odor dos alimento pipocavam por seu corpo, provocandoento das feridas que se o seu silêncio o pequenas pústulas impedisse de 'bordas avermelhadas. o outro d

Conteúdo da maior publicação sobre sustentabilidade de Minas Gerais é lido e analisado por mais de seis milhões de candidatos inscritos

U

m dos textos produzidos pelo jornalista Marcos Guião, colunista da Revista Ecológico, foi tema de uma das questões da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) aplicada no dia 05 de novembro em todo o país. Trata-se do artigo “Que tal chá de rosas brancas?”, publicado na edição 64, que circulou na lua cheia de dezembro de 2013. Em sua coluna “Natureza Medicinal”, Guião, que também é especialista na produção, coleta e beneficiamento de plantas para a fabricação de chás, falou das propriedades medicinais das rosas brancas. Elas contribuem para reduzir o colesterol e controlar a pressão sanguínea, além de serem ricas em vitaminas e minerais. “Fiquei lisonjeado em ver o tex-

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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

QUE TAL CHÁ DE

ROSAS BRANCAS? leve deviaquela manhã de céu limpo e ar saí do à chuva torrencial da noite anterior, para a caminhar com o sol ainda escondido s da vida tomar tenência dos primeiros movimento cheiro tiquinho e o na roça. Num demorou nem um invame Linda Dona por intenso do café passado daquela rema diu as narinas e fez a fome se acordar de sono. Levei as letárgica derivada da longa noite feita de bambu mãos até a água que corria pela bica Mas fui em frente e o contato gelado foi de arrepiar. Com o impace levei as mãos em concha até o rosto. alguns instantes, to, recuei e me faltou o fôlego por entrei na comas o despertar foi imediato. Já aceso, fome e me acercar zinha na buscação de derrubar a lenha. do aconchego do calor do fogão a esguia e discreta Foi quando dei reparo da figura de um garoto apade uma senhora acompanhada já aboletada na rentando uns cinco anos de idade com a dona da ponta da mesa em proseio íntimo dia!”, de um vacasa. Depois de um vigoroso “Bom es de praxe, apresentaçõ nas mãos de poroso aperto Maio levava o filho fiquei sabendo que Dona Flor de que pocavam por Adão para tratamento das feridas pústulas de borseu corpo, provocando pequenas acompanhava das avermelhadas. A estes sintomas menino, distraído, uma cafubiragem retada, que o suja sem dó, buslevava a mão e carcava a unha era uma criança cando aliviar a coceira. O resultado emperebada por demais. encaminhar aliDona Lindaura tava na fadiga de já estavam no mentação pros trabalhadores que Chico, e numa campo colhendo o milho junto com e disse: “Veja o atitude espontânea virou pra mim se livrar desela pra que pode se dá a essa criança escafedendo foi-se dizendo assim e sas mazelas...” da peãozada. matulagem a levando cerrado, pelo de ajudar o garoto Fiquei feliz com a oportunidade opções existentes e dei de matutar sobre as muitas os olhos pelo para casos como este. Mas ao correr Rosa Branca (Rosa quintal, se dei com a touceira de 116  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE

MARCOS GUIÃO

N

NÃO CARECE de adoçar, pois o gosto

do chá é bem suave

por Dona Lincentifolia) caprichosamente cuidada logo me encamida. Pronto! Tava ali a resposta e fui mãe que arrasnhando pra lá seguido de perto pela tava a criança com cara de malina. das flores Recomendei tomar o chá das pétalas em jejum, num catodos os dias pela manhã ainda quase num existe, recendo de adoçar, pois o gosto vigorosa, quase mas o resultado é uma depuração intestinal. Oriensempre acompanhada de limpeza alguns alimentos tei ainda pro garoto se afastar de do ano, como mais remosos comuns nessa época agradeceu muio pequi e a manga. Dona Flor me pela mão e se foi to, agarrou novamente o menino i-me lentamenlampeira ladeira acima. Encaminhe pela oportunidade te para a varanda, agradecendo pessoas também de cuidar de maneira simples de tão simples. Inté a próxima lua! SAIBA MAIS www.naturezadosertao.com.br

(*) Jornalista e consultor em plantas

medicinais

2013

O TRECHO utilizado na prova foi publicado na edição de dezembro de 2013 da Ecológico 60  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

to em uma prova dessa dimensão. Procuramos fazer um trabalho simples e ter isso reconhecido e valorizado é muito bom”, afirmou o jornalista. A questão número 32 do Enem, que trazia o trecho da sua matéria, foi incluída no Caderno de Provas Amarelo (Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Redação; Ciências Humanas e suas Tecnologias). Ou seja, foi lido e respondido por mais de seis milhões de candidatos inscritos. ECOLÓGICO NAS ESCOLAS Esta não é a primeira vez que o conteúdo da Revista Ecológico é utilizado em iniciativas educacionais, principalmente como fonte de consulta, referência e pesquisa escolar. Desde 2012, via acesso impresso e digital, a seção Ecológico nas Escolas disponibiliza informações educativas a professores e pedagogos de 3.800 escolas públicas de ensino fundamental em Minas Gerais. O projeto tem apoio do Governo do Estado, por meio da Codemig. Levantamento feito junto à Secretaria de Estado da Educação demonstrou que 100% dos professores não usam somente as páginas específicas sobre educação ambiental; mas “toda” a revista que, há 26 anos circula sempre nos dias de lua cheia, seguindo o calendário da natureza. Além de democratizar a informação ambiental, a proposta com linguagem jornalística do Ecológico nas Escolas é ajudar os educadores a trabalharem a questão da sustentabilidade local e planetária com seus alunos em salas de aula.

QUESTÃO 33 Zé Araújo aos curiosos qu tinha se ajoelh nome de Jesus fingiu e me en você pecou, o desconhece, faz O caboclo canção que arre uma valsa mais mas bonita que boneca encanta soberbo pedesta a voz: Seus cabel Fulvos raios de Do romantismo braços divinais, muito pequenos Vênus.

GUIÃO, M. Disponível em: www.rev istaecologico.com

.br. Acesso em: 10 mar. 2014 (adaptad

HATOUM, M. Re

o}. Ao apres A variedade linguística da tiva é adequada à narrador entar uma descrição dos fatos. Por isso, anarra destila, ne escol ha de deter minad as relações humanas e palavras e expressões usadas no texto está a serviço da 8 predomínio dos 8 localização dos eventos de fala no tempo ficcional. intimidade da co 0 composição da verossimilh ança do ambiente 0 discurso retratado. da ma contra (B restrição do papel do narra dor à observação das <B desej a subvers cenas relatadas. o de supe @ construção mística das perso prol do pr,esente nagens femininas pelo autor do texto. @ sentimento de @ caracterização das preferência representada pe s linguísticas da personagem masculina. @ rancor com a ing mudanças nas re °

LC - 1 dia I Caderno 2 -AMARELO - Página

14

A QUESTÃO foi incluída no caderno de provas do primeiro dia de avaliação (05 de novembro)

Sempre validados por um especialista acadêmico, os assuntos abordados na seção são variados: desde os biomas brasileiros, suas floras e faunas, até poluição atmosférica, energia limpa e a questão hídrica, entre outros. E acompanham também sugestões de atividades práticas de preservação ambiental a serem realizadas pelos professores tanto no âmbito escolar quanto, por extensão, nas casas dos alunos.  SAIBA MAIS

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Para ler o texto “Que tal chá de rosas brancas?” na íntegra, acesse goo.gl/JaS7oy


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GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

DEUS, O ANTES E O DEPOIS

P

assei os dois últimos anos evangelizando. Bem que eu queria, mas não mereço, ter a sanha do Senhor, meu Deus, para evangelizar em praça pública, gritando que o fim está próximo e na próxima esquina nos espera o arrebatamento. Mas não foi bem isso. Sou, triste de mim, evangelista de tecnologia. Sou e, por ser, não foram poucas as vezes em que me perguntaram do que eu estava falando, o que faz um louco com um trabalho desses. Sempre respondi que falo do que virá, do futuro e do quanto ele será diferente desta vez. Digo “desta vez” por conta de uma pesquisa que fiz. Cansei de ouvir falar de quarta revolução industrial e me meti a estudar tudo quanto foi revolucionário na história da humanidade. Conclui que previmos o futuro, na verdade, apenas duas vezes. Na primeira, foi quando Deus, ou o Acaso, que, a propósito, é só mais um dos nomes Dele, criou o Homo Sapiens - uma espécie que dominou o planeta e que, daquela vez, tinha aprendido a contar a História. Foi uma revolução! Se a tal História fosse uma fábula, então eu poderia dizer que os outros animais ficaram horrorizados, que diziam entre eles que um tal de Homem ia dominar todo o mundo e transformar o futuro como nenhum bicho tinha visto antes. Um horror! Só que não é fábula, porque fábula é só mais uma das presunções do Homo Sapiens, querendo que todo bicho aja e fale feito ele. Daquela vez mudou tudo, de verdade. Recém-saído do ovo, o Homem iniciou a lenta, mas firme, destruição do planeta e reinou fagueiro pelos séculos. Cada revolução que fazia não era bem uma revolução, era mais uma melhoria de processo. A gente caçava e passou a plantar e pastorear. E foi esta a revolução da agricultura. Até a revolução da fé, aquela em que, pela primeira vez, pelas mãos de Constantino, imperador de Roma, uma religião teve o propósito de ser global. Era só um jeito novo de crer, mas já acreditávamos no inefável. Eis que os séculos passam e chega aquilo que chamo de revolução da inteligência e algo novo acontece. Pela segunda vez temos que lidar com um futuro sobre o qual não temos muito o que dizer, quase tudo para especular. Se da primeira vez a inteligência foi inventada, é como se desta ela fosse desinventada. 62  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

Ou, se preferir, deixasse de ser propriedade de humanos para poder habitar também as máquinas. Éramos algoritmos biológicos. Agora poderemos ser... não biológicos! No meio de tudo, toda vez que falo em palestras me perguntam: “E o que será de nós? O que faremos, agora que as máquinas podem pensar e já achamos que traçam planos de domínio de nossa raça?” A vida me ensinou a não dizer aos outros o que devem fazer, mas eu sei o que eu faço e sinto. Nunca encontrei cientista que me convencesse de que antes do primeiro pentelhésimo de tempo do Cosmos possa ter havido somente o Nada. Se me afirmam isso, digo que o Nada é só outro dos tantos nomes de Deus. E tudo se resolve. A verdade é que, quanto mais busco a ciência, mais creio em Deus. O Deus em que creio é o Depois e o Antes. Meus pensamentos viajam mais rápido que a luz para DEPOIS de todo o espaço conhecido. Estaciono no cosmo vazio, cansado da viagem e lá está Deus. Ele me envolve e me dá paz. Volto num respiro e busco a causa de tudo, a causa elementar, o ANTES. De novo encontro Deus. O ANTES e o DEPOIS: eis o Senhor, meu Deus. Sem conflitos científicos, sem qualquer medo ou dúvida. 

TECH NOTES l Vale a pena ler “Origens”, de Dan Brown, para os

que creem e os que não creem (para saber mais, acesse goo.gl/shq9ZP). Um trecho provocante: “Um colega de Langdon em Harvard, um solene professor de física, tinha ficado tão farto dos estudantes de Filosofia que compareciam ao seu curso sobre ‘Origens do Universo’ que, finalmente, colocou uma placa na porta da sala: Na minha sala T>0. Para todas as indagações em que T=0, visite, por favor, o Departamento de Religião”. (*) CEO & Evangelist da Kukac Plansis, fundador do Arbórea Instituto.


Nยบ 51


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - MEL

Néctar dos deuses

Uso abusivo de pesticidas, eventos extremos causados por mudanças climáticas, poluição do ar e desmatamento aceleram perdas de colmeias em todo o mundo, ameaçando abelhas e, consequentemente, a produção de mel Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

H

á tempos ele inspira citações na literatura e na música. Ingrediente “mágico” na culinária, dá vida a múltiplas e deliciosas combinações, seja acompanhando saladas, molhos e carnes ou fazendo a festa do paladar em sobremesas. No dicionário, é descrito como fluido viscoso e açucarado, de cor amarela a amarronzada, produzido pelas abelhas. Sim. Ele é o mel. Alimento natural e de grande valor nutritivo, contém açúcares, água, sais minerais, vitaminas e outros nutrientes. É elaborado pela abelha a partir do néctar coletado das flores e também das secreções provenientes das plantas, desidratando e adicionando enzimas. Sua composição média equivale a 18% de água (não podendo ser maior que 20%) e cerca de 81% de 64  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

açúcares (principalmente frutose, glicose, sacarose e maltose). O restante é composto por aminoácidos, vitaminas, enzimas e sais minerais. Facilmente assimilado pelo organismo humano, o mel fornece bastante energia. Cada 100 gramas equivalem a cerca de 320 calorias. Largamente empregado na produção de fármacos e cosméticos, é indicado para manter e restaurar a beleza da pele. Graças às suas enzimas naturais, limpa a pele de forma profunda e elimina toxinas, atuando também na esfoliação e hidratação. Rico em antioxidantes, tem ainda efeito antienvelhecimento, ajudando a controlar rugas precoces. PERDA DE COLÔNIAS Considerado um dos produtos mais nobres da apicultura, a ofer-

ta de mel está diretamente ligada a um tema que é motivo de preocupação em todo o mundo: a perda de colônias de abelhas. Nos últimos anos, o impacto do uso de agrotóxicos, o monitoramento dos polinizadores em ambientes naturais e agrícolas e o efeito das culturas transgênicas para as abelhas estão entre os assuntos debatidos por especialistas de diferentes países. Além do uso de pesticidas, outros fatores como eventos extremos causados por mudanças climáticas, poluição do ar e desmatamento seguido pela ocupação do solo por extensas monoculturas (milho, trigo e cana) também contribuem para o chamado Distúrbio de Colapso de Colônias, ou CCD, na sigla em inglês.


ENTENDA MELHOR

A preocupação faz meias no Brasil sentido. Afinal, contambém já acenforme matéria publideu o sinal vercada pelo Ecológico melho. Há regisnas Escolas em detros de perdas de 50 zembro de 2014 (leia a 80 mil colônias em São acessando o link goo.gl/ Paulo, entre 2008 e 2017. hzxT45), as abelhas são Em Santa Catarina esse responsáveis pela ponúmero ultrapassou 100 mil somente em 2011. Em Minas Gelinização de mais de 70 das 100 espécies vegetais que for- rais as perdas oscilam entre 20% necem 90% dos alimentos consu- e 40%, principalmente na região midos no planeta. do Triângulo Mineiro. Poucos sabem, mas espécies Há ainda relato de um caso escomo o maracujá, a berinjela e o pecífico, na região de João Monpimentão, por terem flores mais levade, com a perda de duas mil fechadas, precisam de poliniza- colmeias em 2013. No site Beealert dores específicos. No entanto, também são citados casos nas cia lista de frutas, vegetais e se- dades de Frutal, Passos, Lavras, mentes que dependem das abe- Barbacena, Entre Rios de Minas e lhas para se reproduzir é ainda Jaboticatubas. No entanto, nesses maior, incluindo também uva, locais, segundo pesquisadores, limão, maçã, melão, cenoura, não há dados sobre o número de colmeias afetadas amêndoa e casAbelhas são nem mesmo comtanha-do-pará. provação das cauProdutores de responsáveis pela sas da mortalidade. abelhas em todo o mundo, em es- polinização de mais de A Empresa Brapecial nos Estados 70 das 100 espécies sileira de Pesquisa Unidos, relatam (Emvegetais que fornecem Agropecuária perdas de até 50% brapa) mantém 90% dos alimentos em suas populabancos de germoções de abelhas consumidos no planeta plasma em várias em colmeias. Em regiões do país, nos algumas regiões da China, elas quais são conservadas colônias de nem existem mais. Uma das prin- mais de 20 espécies de abelhas. cipais causas do desaparecimento Ações voltadas para a conscientidesses insetos é o uso abusivo de zação coletiva sobre a importância inseticidas e agrotóxicos. delas, resgate de enxames em risco Substâncias presentes nesses e incentivo à criação em ambienprodutos atingem o sistema ner- tes urbanos têm sido promovidas voso e digestório das abelhas, de- por diversas ONGs, a exemplo da sestabilizando seus voos e deslo- Bee or Not to Be e da SOS Abelhas camentos. Quando não morrem Sem Ferrão. intoxicadas, elas perdem o camiO controle do uso de agrotóxinho de volta, deixando a colmeia cos e a substituição desses por vazia. Em casos mais graves, não defensivos biológicos também conseguem se alimentar e mor- têm papel decisivo para reverter rem por inanição. essa realidade, somados ao estímulo à produção familiar e ao consumo de produtos orgânicos CONSCIENTIZAÇÃO COLETIVA A velocidade da perda de col- pela população em escala global.

l O mel deve ser conservado em embalagens bem fechadas, armazenadas em local fresco, livre de odores e sem receber luz direta do Sol. Sua coloração, aroma e sabor variam de acordo com a sua origem (florada). l A cristalização do mel é um processo natural e também está associada à florada, concentração de glicose, teor de umidade, temperatura ambiente e presença de partículas, como grãos de pólen. O mel cristalizado não perde suas propriedades nutricionais. Para descristalizar, basta colocá-lo em banho-maria, com temperatura inferior a 40ºC. l Em todo o mundo, há cerca de 20 mil espécies de abelhas. No Brasil, cálculos indicam a existência de duas mil a três mil espécies. A mais conhecida é a Apis mellifera, popularmente chamada de abelha de mel ou africanizada, que não é nativa do país. Ela foi introduzida nos séculos passados, com diferentes linhagens vindas da Europa e África. Aqui, se reproduziram e originaram a abelha africanizada. As abelhas nativas do Brasil são os meliponíneos ou abelhas sem ferrão (jataís, irapuãs, uruçus, mandaçaias), as mamangavas (Bombus e Xilocopas) e outras espécies de abelhas solitárias. l De acordo com a Confederação Brasileira de Apicultura, o setor gera 450 mil ocupações no campo e outros 16 mil empregos diretos no setor industrial. A produção mundial de mel é da ordem de 1,2 milhão de toneladas, tendo o Brasil como o sétimo maior produtor e o quinto em exportações. Cerca de 80% do mel brasileiro é produzido em pequenas propriedades rurais. O Piauí é o maior produtor da Região Nordeste, que beneficia 10,9 mil toneladas/ano. l No Norte de Minas, a produção de mel recebe incentivos da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Novos equipamentos apícolas estão fortalecendo a atividade de 45 famílias vinculadas à Associação dos Apicultores de Bocaiuva (Apiboc), que produz 180 toneladas de mel/ano.

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DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  65


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - MEL

Características de cada florada

ASSA-PEIXE As folhas são indicadas para tratar resfriados e bronquite. Seu mel tem efeito tônico, depurativo do sangue e calmante.

LARANJA Mel de efeito calmante, atua no controle da febre e como regulador intestinal. Tem coloração clara e sabor suave.

CIPÓ-UVA Popularmente conhecido como croapé e cipótrês-quina, seu mel tem ação antioxidante e favorece o bom funcionamento do fígado.

EUCALIPTO Combate bronquite, tosse e asma.

Apitoxina:

veneno da abelha. É produzido em glândulas localizadas no abdômen das fêmeas e introduzido no corpo humano por meio do ferrão.

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Germoplasma:

material que constitui a base física da herança transmitida de uma geração a outra; soma total dos materiais hereditários de uma espécie.

FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Colaboração: Osmar Malaspina (Unesp) / Embrapa, Ministério da Agricultura, Codevasf e Confederação Brasileira de Apicultura (CBA).


FOTOS: DIVULGAÇÃO

TRÊS PERGUNTAS PARA...

KARIN HONORATO

Nutricionista clínica, esportiva funcional e fitoterápica, diretora Técnica e Administrativa da Clínica Trinutrix, em Belo Horizonte

ALIMENTO INTEGRAL O mel é rico em açúcares simples (glicose e frutose etc.). Quais os seus diferenciais nutritivos quando comparado, por exemplo, ao açúcar cristal? O açúcar cristal não é um alimento integral, ou seja, puro. Ele passa por várias etapas de processamento, o que acarreta perdas nutricionais. O mel, por sua vez, é um alimento puro, rico em minerais como selênio, cobre, fósforo, ferro e também vitaminas (complexo B e C), além de conter substâncias antioxidantes (flavonóides e fenólicos). Quanto mais escuro, maior a concentração de minerais. Quanto mais claro, maior a concentração de vitamina C, com ações antibacterianas e várias outras funções terapêuticas que o açúcar não tem. Diabéticos podem consumir mel ou há restrição? E para quem está fazendo dieta: qual é a recomendação? Tanto o diabético quanto quem quer perder peso precisa controlar a quantidade de carboidratos consumidos (o mel é um carboidrato); e para cada pessoa e para cada objetivo ou necessidade há um limite de quantidade de carboidrato ao

Nós apoiamos essa ideia!

dia ou por refeição. O mel é um carboidrato simples que deve ser bem controlado em ambos os casos, mas não precisa ser eliminado se a quantidade para a pessoa estiver correta. A recomendação dos carboidratos, para ambos os casos, deverá ficar abaixo de 40% da necessidade diária. Isso deve ser considerado não só para o mel, mas para todos os carboidratos juntos. Em relação às crianças, a partir de que idade é indicada a inclusão do mel na alimentação e quais os benefícios dele? A recomendação é usar somente a partir de um ano, pois o mel é um alimento cru. Ele é antimucolítico, ou seja, diminui catarros e combate tosses e inflamações respiratórias. A ação dos flavonóides ajuda a diminuir o risco de desenvolver doenças cardiovasculares e melhora a resposta imunológica. Atua, ainda, como antibiótico natural e anti-inflamatório, além de melhorar o funcionamento do intestino, graças à presença das fibras solúveis e à sua ação prebiótica, agindo beneficamente sobre a flora intestinal. 

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1 ENSAIO ARTÍSTICO

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

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JORNADA MÍTICA Livro de imagens do escritor e ilustrador Manu Maltez mostra o exílio de um elefante em meio à natureza transfigurada pelo homem

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palavra Cambaco significa, num dos dialetos mais falados em Moçambique, na África, “elefante velho, solitário, afastado da manada”. Essa é a metáfora explorada pelo premiado artista paulistano Manu Maltez em seu novo livro de imagens, no qual recria o trajeto de um elefante rumo ao seu derradeiro destino. Em meio a paisagens devastadas MANU MALTEZ: reflexão filosófica e figuras mitológicas, o animal e referência a Drummond caminha alheio ao que ocorre em torno dele. Uma jornada mítica que provoca reflexões sobre o ciclo da vida, a memória, o fazer artístico e, fundamentalmente, sobre as consequências das ações das pessoas no meio ambiente e entre seus pares. A África, com sua rica simbologia, é um dos eixos centrais da narrativa, destinada aos jovens, e que põe em cena questões existenciais, éticas e filosóficas sob a forma de desigualdades sociais, guerras e extinção animal. As ilustrações, plenas de referências culturais, que alternam esboços e desenhos altamente elaborados, fazem uso de closes e combinam técnicas variadas, entre outros aspectos formais, acentuando a intensidade dramática da história. A fusão do homem com o elefante, que resulta no personagem Cambaco, condensa vários sentidos, remetendo aos mitos de criação e aos seres mitológicos híbridos como o minotauro. Entre as inúmeras referências presentes na obra, de forma direta ou indireta, está ainda o poema “O elefante”, do mineiro Carlos Drummond de Andrade. O livro “Cambaco” surgiu de um curta-metragem de animação criado por Maltez e é também nome de uma música feita pelo autor, em parceria com o compositor Vicente Barreto. A publicação traz ainda texto de apresentação assinado por Angela Lago, nome consagrado da literatura infantojuvenil.

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1 ENSAIO ARTÍSTICO

ILUSTRAÇÕES: MANU MALTEZ

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

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QUEM É ELE

Manu Maltez nasceu em São Paulo, em 1977. Artista polivalente, ele trabalha com diversas linguagens: artes visuais, música, texto e cinema. Tem vários livros publicados, entre eles a adaptação livre em imagens para o poema "O Corvo", de Edgar Allan Poe (Prêmio Jabuti de Ilustração 2011) e "Desequilibristas" (Prêmio FNLIJ Melhor Livro Jovem, 2015). SAIBA MAIS

www.edicoessm.com.br www.manumaltez.com

DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  71


MEMÓRIA ILUMINADA – MÁRCIO FERNANDES

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

FOTOS: DIVULGAÇÃO

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A FELICIDADE LUCRATIVA

DE MÁRCIO FERNANDES 72  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017


Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

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onsiderado um dos líderes empresariais mais admirados do Brasil, Márcio Fernandes, que foi CEO da Elektro até setembro deste ano, causou sensação ao participar do “17º Seminário Internacional de Sustentabilidade” promovido em BH pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), no Teatro do Sesiminas. Sua mensagem ao mundo empresarial foi revolucionária. Autor do que chama de “Nova Filosofia de Gestão”, ele defende a ideia de que a melhor maneira para aumentar a rentabilidade de uma empresa não é fazer cortes. E sim investir na valorização e no engajamento diário de seus colaboradores. Ou seja, a satisfação deles tem influência direta no lucro e na sustentabilidade do negócio. As estatísticas confirmam sua tese. Em 2012, sob sua batuta, a Elektro alcançou pela primeira vez a posição mais cobiçada do “Guia Você S/A” como a “Melhor Empresa do Ano”, com Índice de Felicidade no Trabalho de 92,5%. No ano seguinte, foi eleita a “Melhor Empresa para se Trabalhar” do Brasil, pela Great Place to Work, instituição global de pesquisa, consultoria e capacitação. Em 2014, a Elektro alcançou outra conquista inédita: o primeiro lugar nos rankings da “GPTW/Época” e do “Guia Você S/A”, com a maior nota já alcançada em 18 anos da pesquisa: um índice de satisfação dos colaboradores de 98,3%. Em 2015, na 19ª edição do GPTW, esse índice subiu para 99%. Destacando-se entre 20 países, a Elektro foi eleita a “Melhor Empresa para Trabalhar na América Latina”. Em seu livro “Felicidade dá Lucro”, Fernandes alia lições extraídas de passagens autobiográficas, que ressaltam sempre a importância da família em sua formação, a ensinamentos que vão na contramão do tradicional e quebram paradigmas. Márcio Fernandes acredita, por exemplo, que injetar capital na formação dos colaboradores pode gerar o péssimo hábito da inércia. Ele acredita, conforme demonstrou com simpatia e amorosidade, que investir no próprio aprimoramento liberta qualquer empresa do chamado “obstaculismo”. E a faz vencer. Dessa forma, garante, esses colaboradores e “não funcionários, máquinas que funcionam”, certamente serão notados, ganhando lugar de destaque na estrutura da empresa. Acompanhe os melhores pensamentos desse empresário autossustentável, ousado e provocador em essência, aqui selecionados pela Revista Ecológico:

l FELICIDADE “Ser feliz é o melhor negócio que você pode fazer na vida. Quem está satisfeito com o que é e faz cresce profissionalmente e consegue ganhar mais. O lucro é consequência da sua felicidade.” “Ninguém aumenta a própria eficiência e a produtividade geral da empresa quando se sente descrente, impotente e infeliz.” “É a satisfação de cada pessoa que, em conjunto, gera a prosperidade do grupo. A felicidade é lucrativa para todos.” “Você não pode se conformar com a infelicidade. Ser feliz tem de ser a regra, não a exceção. A felicidade dá lucro sim.” l LUCRO “A melhoria contínua é contagiante e incontrolável: um resultado provoca outras consequências positivas; um efeito colateral gera mais dois ou três; uma pessoa estimula as outras, e nós ficamos mais felizes, porque todos lucram.” l EXEMPLO “Reconheça publicamente e garanta que aqueles que fazem o melhor sejam reconhecidos por todos. O exemplo constrói uma corrente muito positiva e faz com que outras pessoas também saiam da inércia.”

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MEMÓRIA ILUMINADA – MÁRCIO FERNANDES

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

“Se você quer que seu time tenha determinada atitude, seja sempre o primeiro a dar o exemplo. Não adianta cobrar sem antes oferecer o modelo.” l AUTONOMIA “Ter autonomia é ser protagonista da sua vida e avançar na direção dos seus próprios sonhos.” “Se você quer ser feliz, o primeiro passo é romper a própria inércia. Pare de dizer que os outros são os responsáveis pelo que acontece em sua jornada. Você tem sua autonomia e toda a responsabilidade pela própria vida.” l DELEGAR “Aprender a delegar é uma forma de o líder estimular o desenvolvimento da autonomia nas pessoas de sua equipe.” “Elimine a centralização do poder, o individualismo e o imediatismo. Abra espaço para a valorização das pessoas, a participação genuína e o coletivismo.” “Quando você descentraliza o poder, valoriza, respeita e cuida das pessoas, um dos resultados positivos é a oferta absolutamente igualitária de oportunidades – sem preconceitos e com meritocracia.” l PLANEJAMENTO

superar metas.” “Por mais que os planejadores saibam calcular riscos e avaliar incertezas, a gestão da empresa (e da sua vida) nunca será absolutamente racional e previsível. Por isso, mais cedo ou mais tarde, o melhor plano precisará ser revisto, flexibilizado e adaptado. Mudar de ideia pode ser nobre; desistir, nunca.” l COLABORADOR “Não chamo ninguém de funcionário, porque o que ‘funciona’ é máquina. Quem trabalha comigo dá sua contribuição diária para o próprio sucesso e para o negócio. Por isso, chamo de colaborador e espero bem mais do que a simples retribuição pelo salário recebido a cada mês. Os resultados mútuos são incríveis!” l LÍDER “O melhor líder oferece o seu melhor e recebe o melhor dos outros. Assim, ele desenvolve e atrai os colaboradores com alto desempenho, com autonomia e que são protagonistas do próprio sucesso.” “O líder não é ‘bonzinho’, não é condescendente, não deixa para lá, não esquece, não finge que não viu.” “Seu dia a dia de trabalho deve ter um propósito maior do que simplesmente ‘ganhar a vida, pagar as contas e sobreviver’. É inspirar as pessoas na busca da própria felicidade. Aja assim, mesmo que ainda não seja um gestor. Se assumir seu protagonismo, logo será um líder.” “Para liderar, o primeiro passo é manter aberto um canal de escuta ativa. Todo colaborador pode e deve expressar sua opinião, sugestão, crítica ou reivindicação. O líder ouve tudo e age com interesse genuíno, sem ser paternalista.” “O diálogo franco e aberto depois, entre o líder e sua equipe, tem de ser sistemático. Conversar de vez em quando não adianta – defina uma periodicidade e a cumpra.” “O chefe paternal quer ajudar, mas acaba aumentando o problema; o líder indica o caminho para a pessoa encontrar a melhor solução viável, andando com as próprias pernas.”

“Planejar é se antecipar aos fatos. É ver o fim desde o começo. Defina primeiro onde quer chegar e depois trace a trajetória de trás para a frente, etapa por etapa. Esse é o melhor jeito para viabilizar e 74  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017

l SUCESSO “Metas muito bem definidas são o primeiro passo para o sucesso.”


“O pacto que se estabelece entre líder e colaborador tem a seguinte regra implícita: a meta é NOSSA. O sucesso vai ser atribuído ao colaborador. Se alguma coisa der errado, o líder sempre será o responsável.” l ERRO X INOVAÇÃO “Não fico nem um pouco satisfeito quando uma meta não é alcançada ou superada. Só que, em vez de sentir raiva ou de procurar o culpado, minha reação é buscar uma saída. Aprender com o erro, e não repeti-lo mais pode ser uma oportunidade de inovação.” “Quando erro, assumo as consequências negativas e penso: ‘Desse erro me livrei’.” “Toda vez que você propõe algo diferente e inovador – mesmo que seja simples e pareça óbvio –, as pessoas vão oferecer alguma resistência. É da natureza humana, e o líder não pode ignorar a tendência à inércia nos outros nem em si mesmo.” l RELACIONAMENTOS “Na posição de CEO, dedico 70% da minha agenda aos relacionamentos. Sobram 30% para cuidar da estratégia, das finanças, enfim, para fazer com que a empresa permaneça nos trilhos da boa governança.” “A coerência entre o discurso e a prática é a base da construção de relações de confiança.” l COMPORTAMENTO

l TEMPO “A tão alegada falta de tempo é apenas mais um dos disfarces da inércia. Abra espaço na agenda para estar mais próximo e conquistar a confiança dos integrantes da sua equipe.” l INSATISFAÇÃO “Se a insatisfação dos colaboradores mata uma empresa aos poucos, a dos clientes pode matá-la instantaneamente!” l CORAÇÃO “A naturalidade facilita a confiança. Abra o coração e deixe os outros perceberem que você também é humano.” “Respeitar é olhar no olho, falar com o coração, estar presente e tratar as pessoas sem distinção. Primeiro, respeite a si mesmo e seus próprios valores. Depois, estenda esse respeito ao próximo, aos seus valores e crenças.” l CONHECIMENTO “Ninguém é dono de nada. Temos de ser e não apenas ter. Tudo o que for criado, qualquer novo conhecimento, deve ser compartilhado com todos e por todos.” l DINHEIRO “Não há dinheiro no mundo que pague o sacrifício de trabalhar em um emprego que a gente detesta. Não adianta, você pode fazer todo o esforço e receber o maior salário do mundo, mas vai continuar infeliz.” “Quando os recursos financeiros estão escassos, o melhor é aumentar o investimento em inteligência.” “Já vi programas de retenção de talentos virarem um saco sem fundo: quanto mais se investe para criar uma algema de ouro e reter os profissionais, menos eles ficam satisfeitos com a política de remuneração.” “Um salário maior pode ter um efeito positivo, provável e desejável do seu engajamento no trabalho diário, mas é passageiro. O dinheiro não é o único objetivo – nem da pessoa nem da empresa.”

“Conforme avança na carreira, você vai precisar cada vez mais das competências comportamentais e cada vez menos das técnicas.”

l EFICIÊNCIA “Está mais do que provado: a melhor resposta para

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DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO  75


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MEMÓRIA ILUMINADA – MÁRCIO FERNANDES

Retrospectiva 2017 & Perspectivas 2018

QUEM É

ELE

Márcio Fernandes nasceu em Campinas, no interior de São Paulo, em 1975. Filho de um metalúrgico e uma cabeleireira, seu primeiro trabalho foi como empacotador em uma rede varejista, aos 12 anos. Atuou em grandes empresas antes de ingressar na Elektro, em 2004, como gerente de controladoria. Transitou por diversas áreas até assumir a presidência da empresa em 2011, aos 36 anos. É graduado em Administração de Empresas pela PUC-Campinas, com MBA em Controladoria pela FEA- USP e passagens por Stanford, Insead e IMD.

- que não causem danos colaterais às pessoas e ao ambiente.” l CELEBRAÇÕES a necessidade de aumentar a eficiência de um negócio não é a gestão do ‘corta-corta’.” l GESTÃO “A nova filosofia de gestão desmente os seguintes ditados: ‘Manda quem pode, obedece quem tem juízo’; ‘Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço’. E, no nosso dia a dia, eliminamos também o ‘Tudo que é bom é mais caro’ e o ‘Em time que está ganhando não se mexe’. Grandes equívocos.” l ENCANTAMENTO “Encantar o colaborador e fazer com que ele permaneça na empresa por livre e voluntária escolha exige pouco dinheiro e muito interesse genuíno por parte dos líderes.” l EVOLUÇÃO “A inércia é a maior adversária da melhoria contínua. É a morte em vida. O que não está em evolução já está involuindo. O que fica estagnado não é sustentável.”

“É possível sonhar mais alto e querer que o local de trabalho seja uma grande família. Envolva os familiares do seu time nas celebrações. Procure encantar também as pessoas que contribuem para que a esposa, o marido, os pais e os filhos cheguem diariamente motivados para trabalhar.” “Comemore muito; cada pequena conquista deve ser comemorada.” l ALMA VIVA “Não faça mais aquela tradicional separação entre vida pessoal e vida profissional. Você é o que é dentro e fora do trabalho. Por isso, para vencer, goste de quem é e do que faz e seja feliz.” “Ser feliz é o melhor negócio. O lucro é mera consequência de se acreditar e praticar isso.” “Uma frase não sai da minha memória: o corpo e a alma não morrem juntos. Em algumas pessoas, a alma morre muito antes do corpo. O trabalho criativo, realizador e prazeroso mantém a alma viva.”

l FIDELIDADE “Os clientes são naturalmente fiéis às marcas que oferecem qualidade por preço competitivo - desde

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SAIBA MAIS

www.filosofiadegestao.com.br fernandes.marcio@gmail.com


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ESTANTE VERDE

Luciano Lopes

PARA FRANCISCO, PARA TODOS NÓS O poeta português Fernando Pessoa dizia que “sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência”. Mais que sentir, mais que guardar, às vezes é difícil extrair forças para transformar a própria vida quando a flor arrancada do jardim é alguém que você ama incondicionalmente. Foi o que aconteceu com a escritora mineira Cris Guerra. Ela perdeu o marido, Guilherme, o Gui, em janeiro de 2007, quando estava grávida de sete meses. E decidiu escrever cartas, que foram publicadas em um blog, para apresentar ao filho Francisco o pai que ele não conheceria. São essas cartas que compõem o livro “Para Francisco”, sucesso de vendas que agora ganha uma edição especial, revista e ampliada para celebrar seus 10 anos de publicação. Engana-se quem pensa que a obra se ancora na tristeza: ela tem momentos ensolarados, celebra os renascimentos e polvilha sentido e amor nessa massa às vezes dura que é a vida. A diferença, no caso de Cris, também publicitária e palestrante, foi que ela escolheu ver a vida com olhos de sândalo: ao escrever, restabeleceu

A VINGANÇA DE PLATÃO William Ophuls 264 págs. / R$ 60 www.sescsp.org.br/livraria A obra traz o debate sobre os cinco males da civilização: “exploração ecológica”, “poderio militar”, “desigualdade econômica”, “opressão política” e “mal-estar espiritual”. Aponta que a essência política do homem é fator decisivo para reconquistar a maturidade ética e social, que será capaz de preservar o planeta para as gerações futuras. O título remete a Platão porque, para Ophuls, a filosofia política ensejada em "A República" vislumbra a busca de uma vida melhor e mais consciente.

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contato com as próprias emoções para redescobrir a essência de ser quem é, do que viveu com Gui e do que viveria com o filho – a felicidade, percebeu ela, também está no futuro, esse balaio das renovações mais íntimas. Dez anos depois, fomos todos nós, seus leitores, que nos aconchegamos de novo no ninho dessa sua narrativa inspiradora. “Para Francisco” é onde a vida se encarregou de reunir Cris, Gui e Francisco para nos mostrar que o amor é sempre o melhor contador de histórias.

PARA FRANCISCO – EDIÇÃO ESPECIAL: 10 ANOS DEPOIS Cris Guerra - 240 págs. / R$ 44,90 www.record.com.br

AS RAÍZES DA ECOLOGIA HUMANA Ronaldo Gomes Alvim e Juracy Marques (org.) 230 págs. / R$ 50 ecohumano@yahoo.com.br A proposta do livro é trazer ao leitor um conhecimento básico da Ecologia Humana, com foco nas áreas que influenciaram e ainda influenciam na sua evolução em nosso país. Para isso, foram convidados pesquisadores de renome nacional e internacional, que vêm trabalhando com essa temática ao longo dos últimos anos. A Ecologia Humana trabalha a relação do homem com seu entorno, seu reflexo sobre o ecossistema e a resposta que este dá na qualidade de vida do indivíduo.


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NATUREZA MEDICINAL

MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

BATATA-DE-PURGA

O

FOTO: MARCOS GUIÃO

sol queimava implacavelmente naquele meio de mundo e a caminhada seguia célere na buscação das raízes de batata-de-purga (Operculina alata). Distraído, num havia levado sequer um bonezinho e minha careca tava ardendo com força. Sem esmorecer, segui adiante de olho garrado na figura esguia de Chico da Mata, que desviava de um arbusto espinhento aqui ou descia o facão afiado por riba de um galho mais atrevido que cortava o caminho acolá. Fui disfarçando a trilha procurando conforto de algumas sombras das poucas árvores existentes por ali, sem muito sucesso. Quando, de repente, ele estacou ao lado de um pé de mulungu e disse: - “Cheguemo... Essa batata se dá melhor nessas áreas de várzea, nas baxas. Ela gosta de terra boa, mais moiada. Agora nosso serviço é dá sentido donde ela tá...”

BATATA-DE-PURGA Operculina alata

Havíamos descido da chapada e entrado exatamente naquele ambiente descrito por Chico. A partir daí, dei de abrir bem os olhos na procura por algum amontoado de cipó que estivesse se escorando num pau. Já tinha visto fotografia das flores secas nos livros. Mas ao vivo e em cores era a primeira vez. E a ansiedade é parceira dessas horas, né mesmo? Quando penso que não, óia que se dei com ela ali purinha, lindona, logo ali do lado, emperiquitada num freixo de assa-peixe. Chamei pelo Chico. Enquanto esperava dei reparo na boniteza de suas flores secas. Mas ele chegou num tim pra vaticinar que finalmente a gente tinha achado a perseguida. Empunhando o enxadão, deu de cavar com cuidado pra num ofender as batata debaixo da terra macia, pois ela se guarda na rasura. Enquanto ia cavando e arrodeando-as, foi desfiando as serventias e os jeitos de preparar a batata-de-purga: - “Dispois daqui, tem que deixa ela murchá em antes de fazer o remédio, senão a “rema” dela fica muito forte e o cabra pode se acabá de tanto cagá. Dispois de lavá bem direitinho, se tira as rodelas e passa num cordão, fazendo um rosário. E daí deixa secar. Quando o caso é de pereba pelo corpo, carecendo de depuração, ela afina e limpa o sangue, deixa a pele saudia e lisa. Mainha fazia o doce dela pra livrá nóis dos verme. Ralava aquela tanteira e dispois levava no tacho com rapadura, um poquito d´água, inté dá ponto. Aquilo ficava numa panelão e vez por outra a gente rapava uma colherada. Mas tinha que segurar a mão, senão a caganeira era certa. Pode tamém fazer o porvio, que dá mais trabaio, mas de resurtado é mió.” Sem parar de cavar, ele foi falando e eu anotando: “Rala as batatas numa gamela, joga água por riba e aperta aquela massa inté a água fica bem leitosa. Dispois espreme a massa num pano e recolhe a água, deixando ela depurar um tempo. Daí escorre a água de riba e leva o porvio que fica garrado no fundo direto no sol pra secar. A dose é uma colherinha todo dia. Dá trabaio, mas o resurtado é bão.” Ter conhecimento desse tipo de prática é que faz do trabalho com as plantas medicinais uma gamela de sabedoria. Inté a próxima lua!  (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

78  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2017



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