ANO 10 - Nº 104 -JANEIRO/FEVEREIRO DE 2018 - R$ 12,50
EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA
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EXPEDIENTE
FOTO: WEVERSON ROCIO
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Sede do Instituto Terra, em Aimorés (MG)
Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com
REPORTAGEM Fernanda Mann e Luciana Morais
ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com
DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com
MÍDIAS DIGITAIS Bruno Frade
IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A
EDITORIA DE ARTE André Firmino
PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.
EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos
COLUNISTAS (*) Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Foto: Mauricio Seidl DEPARTAMENTO COMERCIAL Sarah Caldeira sarah@souecologico.com MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com
REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br EDIÇÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br (*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.
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Vamos mostrar com quantas árVores plantadas e áreas recuperadas se faz o futuro.
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Idealizado pelo Governo do Estado de Minas Gerais e coordenado pela Codemig, o projeto Plantando o Futuro visa ao plantio de 30 milhões de árvores, de diversas espécies, em 20 mil hectares, até 2018. A iniciativa busca também recuperar 40 mil nascentes, 6 mil hectares de matas ciliares e 2 mil hectares de voçorocas. Contamos com a participação dos mineiros nesse projeto. Porque todos queremos um estado ambientalmente sustentável para nós e nossos filhos.
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ÍNDICE
CAPA
CONHEÇA O EXEMPLO E A CONTRIBUIÇÃO DE EMPRESAS, CIDADES E ASSOCIAÇÕES NA BUSCA DE UM MUNDO SEM RESÍDUOS.
Pág.
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MRV DOA triturador de vidros para a Cooperativa Tiradentes Recicla
20 PÁGINAS VERDES NILS GUNNENG, EMBAIXADOR DA NORUEGA NO BRASIL, FALA SOBRE SOBRE A COOPERAÇÃO SUSTENTÁVEL ENTRE OS DOIS PAÍSES
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MUDANÇAS CLIMÁTICAS CONFIRA A SEGUNDA PARTE DO ESPECIAL SOBRE O NOVO DOCUMENTÁRIO DE AL GORE
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ENSAIO FOTOGRÁFICO
O FOTÓGRAFO FABRÍCIO QUEIROGA MOSTRA AS MARAVILHAS DAS FAUNAS BRASILEIRA E INTERNACIONAL
E mais... CARTAS DOS LEITORES 10 CARTA DO EDITOR 12 ECONECTADO 14 GENTE ECOLÓGICA 16 SOU ECOLÓGICO 18 MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL 30 ESTADO DE ALERTA 34 ENCARTE ESPECIAL FIEMG (8) 35 AS ÁREAS PROTEGIDAS DO MINAS-RIO (3) 44 RECICLAGEM 48 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 61 ESTANTE VERDE 66 PERFIL - JOSÉ MENDONÇA 68 ECOLOGIA INTERIOR 78 MEMÓRIA ILUMINADA 80 NATUREZA MEDICINAL 86
VOCÊ JÁ FOI ENGANADO POR UM CONTEÚDO FALSO? REVISTAS
Eu acredito!
Os jovens estão preocupados em buscar informações confiáveis, revela a pesquisa Trust in News, realizada em 2017 pelo Kantar Ibope Media. E 72% dos entrevistados confiam mais em revistas que em outras mídias. As revistas impressas, online, no celular ou em vídeo, fornecem conteúdo relevante, investigativo e em um ambiente seguro. AssociAção NAcioNAl de editores de revistAs #revistAeuAcredito i www.ANer.org.br
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1 IMAGEM DO MÊS
FOTO: DÊNIO SIMÕES/AGÊNCIA BRASÍLIA
FIM DE UMA ERA SUJA Desativado em 20 de janeiro, após 60 anos de funcionamento, o Aterro do Jóquei - mais conhecido como “Lixão da Estrutural”, em Brasília (DF), já recebeu as primeiras coberturas de terra e resíduos da construção civil. Diariamente, 2,8 mil toneladas de lixo doméstico eram depositadas irregularmente no local e “disputadas” por mais de dois mil catadores. O ex-Lixão, uma área de 200 hectares, está localizado a 15 km da Praça dos Três Poderes, centro político do país. Nessas seis décadas, estima-se que 40 milhões de toneladas de detritos tenham sido lançadas no local, apontado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o maior lixão a céu aberto da América Latina (e o segundo maior do planeta). Os detritos produzidos na capital federal agora serão encaminhados para o Aterro Sanitário de Brasília.
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VOCÊ ACREDITA EM TUDO O QUE LÊ? REVIsTAs
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As pessoas estão confusas por receberem grande quantidade de notícias falsas. Sejam impressas, online, no celular ou em vídeo, as informações divulgadas pelas revistas são reais e baseadas em pesquisa e investigação jornalística. Leitores de revistas são mais envolvidos e propensos a recomendar suas matérias nas redes sociais. AssociAção NAcioNAl de editores de revistAs #revistAeuAcredito i www.ANer.org.br
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CARTAS DOS LEITORES crime merece segunda chance... A ideia de modernização, de empreendedorismo... Assim será difícil uma mudança que realmente consiga uma transformação socioambientalmente justa.” Michele Silva, via Facebook “É preciso olhar de perto as grandes empresas agropecuárias que estão destruindo o meio ambiente para plantar cana e soja!” Hélio Andrade de Sousa, via Facebook “Mais que juízo de valor e ética, é preciso respeito ao ser humano.” Gerson Antônio Tasca, via Google+ “É preciso ter juízo pra dar valor ao meio ambiente.” Beatriz Diniz, via Facebook
l MATÉRIA DE CAPA - MUDANÇAS CLIMÁTICAS Novo documentário de Al Gore mostra os avanços e os desafios para se reduzir os efeitos do aquecimento global
“É uma pena constatar que, dez anos após o lançamento do primeiro documentário, avançamos relativamente pouco para evitar os efeitos do aquecimento. É preciso que os governos invistam mais em energias limpas.” Marcos Eduardo Miranda, por e-mail “Defender os danos causados à natureza hoje é ser inconveniente. Só Deus na causa!” Cristina Bahia, via Facebook l ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - MEL Rico em minerais e vitaminas, o mel é apreciado por seu sabor e suas propriedades terapêuticas
“Lamentável e triste que esteja acontecendo a diminuição das colmeias. É preciso preservar as abelhas e o mel, este alimento tão maravilhoso.” Lídia Alves dos Santos Abreu, via Google+ l PÁGINAS VERDES - GERMANO VIEIRA Novo titular da Semad fala sobre os desafios frente à pasta mais estratégica do governo de Minas Gerais “Complicada essa visão de meio ambiente: uma empresa [Samarco] que comete um
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l CUMPRIMENTOS “Foi com grande satisfação que revi a Ecológico da lua cheia de novembro. O Centro de Referência em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável José do Carmo Neves (CREADS), sediado em São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto (MG), agora está oficialmente registrado como uma organização social. Reencontrar a Ecológico, como há muito não o fazia, foi como reencontrar uma velha amiga e bater um longo e caloroso papo. Li com carinho e atenção todas as matérias. Parabéns, mais uma vez, à dedicada e competente equipe. Desejo a todos um 2018 pleno de realizações em defesa da nossa ‘Casa Comum’.” José Geraldo Rivelli, diretor de Relações Institucionais do CREADS
“Sou jornalista, fotógrafa amadora e leitora do conteúdo online da Ecológico. Já tive a alegria de ter foto de flores publicada nas redes sociais da revista e até ganhei um exemplar! É estranho receber cartas escritas a mão, não é? Mas queria fazer algo diferente àqueles que tive contato durante 2017. Queria desejar a todos da publicação um 2018 incrível, repleto de boas notícias! E parabenizá-los pela revista, que conheci por meio de outra (Plurale). Tomara que um dia eu possa conhecer pessoalmente o trabalho de vocês. Jamais desistam! Lutem sempre!” Keli Vasconcelos, por carta
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FA L E C O N O S C O
Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
“A coluna de Marcos Guião é um patrimônio da Ecológico. Em cada causo a gente se identifica com alguma coisa, é o passeio no mato, o chá de alguma planta que nos trouxe momentos saudosos com a família...” Divaldo Luz, via e-mail l ECOLÓGICO NO ENEM 2017 “Gostaria muito de parabenizar a equipe da Revista por ter parte de seu conteúdo utilizada na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do ano passado. Isso significa que ela já é uma referência no meio educacional.” Ítalo Oliveira Marques, via e-mail
“São poucas as publicações que têm seus textos referenciados no Enem. Parabéns à Revista Ecológico. Passei a respeitar ainda mais o trabalho de vocês.” anuncio meia pagina_Layout 1 09/02/2018 10:16 Page 1 Cláudia Erony, via e-mail
EU LEIO “Pensar no futuro é impossível sem considerar a preservação da natureza. O cuidado com o meio ambiente é essencial para entregar às próximas gerações a Terra que elas merecem. Nesse contexto, divulgar informação com qualidade é fundamental. Por isso eu leio a Ecológico. Ela traz um jornalismo engajado, responsável e isento. Em um ponto de vista pormenorizado, traz à luz o que pode ser feito no dia a dia de cada um, com a contribuição de todos, para garantir o respeito ambiental. Tudo isso observando todos os lados da notícia, assegurando a ética e apostando no jornalismo virtuoso e compromissado, seguindo as premissas básicas e norteadoras do trabalho por trás dos fatos.” FOTO: CARLOS ALTMAN/ARQUIVO PESSOAL
l NATUREZA MEDICINAL - MARCOS GUIÃO A cada lua cheia, a coluna mostra, por meio de casos regionais, a cultura tradicional de utilização das plantas medicinais
Joana Tavares, jornalista
Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais
FOTO: ESCOLA DE IMAGEM | MODELO: BEATRIZ FIRMINO
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CARTA DO EDITOR
HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com
A DEPRESSÃO AMBIENTAL Não é só o planeta e a sua natureza que sofrem em razão do que a raça humana continua a lhes fazer. Também estamos ficando mais tristes e sem esperança
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aja entusiasmo em quem se preocupa e de- Ciência Familiar e Consumo, e uma das pesquisadofende a natureza nos dias ferventes de hoje, ras envolvidas no estudo, essas pessoas que se preorumo ao matadouro climático e democrático cupam com a natureza tendem a ter uma perspectiva que a espécie Homo sapiens vem construindo. Segun- mais planetária. do “O Globo”, pesquisas feitas pela Universidade do “Nós já falamos sobre a extinção de determinadas Arizona (EUA) e publicadas recentemente no perió- espécies e sabemos que isso está acontecendo. Quem dico científico “Global Environmental Change”, a mu- se preocupa com a biosfera, não há como evitar nem dança do clima também está nos levando à depressão. esconder, enxerga o problema ambiental em todos os É triste, mas é real. Os cientistas lugares. Ele está presente no nosso chegaram a identificar três tipos de a dia, na nossa rotina, na nossa "Melhor ficarmos com dia preocupações ambientais. saúde mental.” 'a pureza da resposta O primeiro é de caráter “egoísta”. Mas onde podemos buscar alguÉ aquela pessoa que teme pelo que ma esperança, algum antidepressivo das crianças'" acontece ao meio ambiente, pornatural, num mundo em que o maque ela própria pode ser impactada. níaco não depressivo Donald Trump, Isso ocorre, por exemplo, quando as pessoas se preo- presidente do país mais rico, poluidor ambiental e cupam com a poluição do ar, pensando na sua saúde. destruidor da natureza ainda vira as costas para o O segundo tipo, “altruísta”, refere-se a um temor Acordo de Paris? pela humanidade. Já o terceiro tipo tem a ver com a Esse antídoto já nos foi prescrito por Gonzaguibiosfera terrestre. É aquela pessoa que pensa, em pri- nha. Melhor ficarmos com “a pureza da resposta das meiro lugar, na natureza. crianças.” E apesar de toda a realidade antiecológica Em qual tipo, caro leitor (a), você se encaixa? à nossa volta, continuarmos cantando pra elas, como Em pesquisa feita com 342 pais e mães de crian- eternos aprendizes, que “a vida é bonita, é bonita e é ças pequenas aqueles que reportaram maiores níveis bonita. Que ela deveria ser bem melhor. E será!”. de preocupação com a biosfera se mostraram mais É este o recado de esperança que a Revista Ecolóestressados em função do aquecimento global em gico aborda nesta edição dedicada à reciclagem: o curso. Além disso, as pessoas que externaram grande novo sempre vem. E ainda pode nos dar alta, tirar da preocupação com a biosfera também demonstraram depressão e nos salvar. sinais de depressão forte. Boa leitura! Segundo Sabrina Helm, professora associada de Até a próxima Lua Cheia. 12 ECOLÓGICO |JAN/FEV DE 2018
VOCÊ JÁ COMPARTILHOU NOTíCIA FALSA? ReVISTAS
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Você sabe de onde vêm as notícias que recebe? Checa as informações? Antes de compartilhar notícias você consulta se foram publicadas em uma mídia clássica? Disfarçadas, com linguagem alarmante e sem apuração jornalística, elas estão influenciando leitores que não conseguem identificar o que é verdadeiro e o que é falso. Não compartilhe informações sem checar a fonte! Com conteúdo comprovadamente consistente, as revistas produzem reportagens seguras e confiáveis, seja na versão impressa, on-line, no celular ou em vídeo. AssociAção NAcioNAl de editores de revistAs #revistAeuAcredito i www.ANer.org.br
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ECONECTADO
ECO LINKS
“Vejam até onde vai a ignorância em torno da febre amarela: até cadáveres de micosleões-dourados (espécie ameaçada de extinção) foram encontrados nas proximidades de Silva Jardim (RJ) com lesões causadas por agressões. Por que isso? A doença é transmitida apenas por mosquitos!”
FOTOS: DIVULGAÇÃO
@andretrig - André Trigueiro, jornalista
“O ano está só começando! Aproveite os ensinamentos da vida e aprenda que tudo serve para fazer de nós pessoas melhores.” @gloriapires Glória Pires, atriz
“A vida é redondinha. Tudo que vai, volta para a gente. Os ciclos são assim. O karma. Tudo. A gente emite, a gente recebe. Essa é uma das maiores leis da natureza. Da existência. Do destino.” @neologismo - Matheus Rocha, blogueiro e escritor 14 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
FOTO: LEANDRO DITTZ
TWITTANDO
BH SEM MOSQUITO Os casos de dengue em Belo Horizonte tiveram redução de 99,4% no ano passado em comparação a 2016. Por outro lado, neste ano o avanço da chikungunya promete atingir índices alarmantes. Pensando nisso, a prefeitura de Belo Horizonte criou o app “BH Sem Mosquito” para ajudar a população na luta contra o Aedes Aegypti. Disponível nas plataformas Android e IOS, a ferramenta indica quais locais da casa precisam ser verificados com frequência para evitar a presença de água parada. Saiba mais em: goo.gl/qiLaVc (Android) e goo.gl/WAoB2G (IOS). BTL FIT ME Ingerir água regularmente todos os dias é essencial para a nossa saúde e também contribui para o corpo humano responder melhor aos exercícios físicos. O app BTL Fit Me, da BTL Industries, auxilia no regime de hidratação, possibilita que você defina se o dia está quente ou frio, para informar quando e a quantidade que precisa ingerir de líquido. Para fazer o download, acesse os links: goo.gl/nRhRjm para IOS; e goo. gl/6y5ZEW para Android.
MAIS ACESSADA O texto “Batata-depurga”, do jornalista Marcos Guião, publicada na seção “Natureza Medicinal” foi a matéria mais acessada em dezembro no site da Revista Ecológico. O texto mostrou os benefícios da planta para a saúde, que é indicada para o tratamento de vermes, prisão de ventre e inflamações. Para ler o conteúdo na íntegra, acesse: goo.gl/JaED3m
FOTO: MARCOS GUIÃO
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Quando o sítio é ecológico, em se plantando, dá.
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GENTE ECOLÓGICA
FOTOS: DIVULGAÇÃO
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“A ideia de que as empresas devem apenas lucrar está ultrapassada. Elas precisam, acima de tudo, fazer do mundo um lugar melhor.” RICHARD BRANSON, bilionário inglês, fundador do Grupo Virgin
“O tal progresso, fruto do desgoverno que não dá exemplo nem impõe limite, tem acabado com a natureza. Algumas ações coisas básicas, como reciclar o lixo, as novas gerações estão fazendo. Mas ainda falta muita coisa para frear tamanha depredação ambiental.” TETÊ ESPÍNDOLA, cantora e compositora
“A gente transforma água tratada em esgoto, quando a usa na descarga. Poderíamos usar ali água de chuva ou sistema a vácuo.”
“Iniciamos 2018 mais confiantes. O Brasil passou a ser o protagonista mundial no processo de tornar o mundo mais verde, com menos emissões e intrinsicamente ligado às metas estabelecidas pela Conferência do Clima, a COP-21, em Paris.”
“O vazio interior somente é preenchido com autoconhecimento.” DIVALDO FRANCO, médium espírita 16 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
FOTO: DIVULGAÇÃO SIAMIG
AMYR KLINK, navegador e escritor
MÁRIO CAMPOS, presidente da Siamig, sobre a nova política nacional de combustíveis (RenovaBio) recém-sancionada pelo governo federal
MIA COUTO, escritor moçambicano
FOTOS: DIVULGAÇÃO
“Já me falaram que, se eu fosse brasileiro, certamente seria mineiro. E questionei o motivo. Aí me responderam: ‘Porque você nunca responde o que te perguntam’.”
CRESCENDO
HOMENAGEM ESPECIAL
Ilma Maria Batista, falecida aos 60 anos, foi reverenciada com um minuto de silêncio por mais de 42 mil torcedores, na abertura do jogo entre Cruzeiro e Tupi, no Mineirão, em BH, no último dia 17 de janeiro. Tia e mãe, respectivamente, dos jornalistas Luciana Morais (Revista Ecológico) e Michel Angelo (Rádio Itatiaia), Ilma foi em vida um exemplo de ecologia humana, solidariedade e caridade. Com sua simplicidade, bom-humor e fé, acolhia e cativava a todos, vivenciando na prática a máxima contida no versículo bíblico de Romanos (12:15): “Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram.” Descanse em paz, Ilma. BRIGITTE BARDOT
“Para mim, é uma alegria. Sou daquelas que ficam doidas para chegar em casa e encontrar com eles.” ERIKA JANUZA, atriz mineira, sobre seus dois cães adotados: Preta e Uili
Em seu recente livro-testamento, a atriz e ambientalista francesa, de 83 anos, não poupou o governo do presidente Emmanuel Macron: “Estamos mal. Ele não tem a menor compaixão pelos animais e a natureza. Acaba de parabenizar publicamente caçadores ante suas presas abatidas, ainda quentes. É escandaloso!”
MINGUANDO
GILMAR MENDES
“O Brasil se devastando e as autoridades preocupadas com quem queremos nos relacionar.”
“Com a educação, podemos mudar e salvar o Brasil. Não haverá indústrias se não tivermos pessoas preparadas para trabalhar.”
ANITTA, cantora, contra a chamada “cura gay”
OLAVO MACHADO, presidente da Fiemg
O ministro do STF e presidente do TSE ganhou os seguintes e nada edificantes versos na nova marchinha de João Roberto Kelly para o Carnaval de 2018: ”Alô, Alô, Gilmar/eu tô em cana/vem me soltar”. JAN/FEV DE 2018 | ECOLÓGICO 17
SOU ECOLÓGICO
ADEUS LILIANE, O “ANJO DO SINDIEXTRA” O mundo da mineração e a impressa especializada continuam abalados com a morte de Liliane Carrieri Xavier (foto), vítima de um câncer reincidente, no último dia seis, na capital mineira. Braço direito operacional e “low profile” de José Fernando Coura, presidente do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra), ela deixou dois filhos e uma lição de vida, o que explica tamanha comoção: ainda vale a pena a gente “vestir a camisa” de onde trabalha, ser simples, humilde, comprometido e prestativo. Sempre receber bem e ajudar quem nos procura. Por isso, ela era querida por todos à sua volta. A Revista Ecológico, que já promoveu vários eventos com o Sindiextra, sempre com o apoio eficaz e mineiramente discreto de Liliane, assina embaixo e toma como suas as palavras de Coura, quando da comunicação da morte dela: “Os anjos não são feitos para habitarem a Terra. Por este motivo, Liliane retornou ao céu, atendendo ao chamado de Deus. A sua convivência conosco sempre foi uma bênção”. LILIANE: sempre uma palavra amiga, um sorriso, elegante e no salto
NOVO DESAFIO Reconhecimento profissional e vida que segue. O capixaba Fernando Künsch, ex-Samarco, considerado o gentleman da comunicação tanto no Espírito Santo, onde começou sua carreira, quanto em Minas, onde “construiu pontes”, parcerias e amizades além da área de mineração, é o novo gerente de Relações Institucionais da Norte Energia (Usina Belo Monte), em Vitória do Xingu (PA). RUMO AO FÓRUM Luiz Cláudio de Oliveira, presidente do Instituto Espinhaço (foto) e Sarney Filho, ministro do Meio Ambiente, durante encontro em Brasília. Na pauta, a apresentação do “Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável”, que será implantado em seis municípios mineiros contíguos da Reserva da Biosfera, na região do Parque Nacional da Serra do Cipó. E o “Seminário Internacional Compartilhando Águas: do local ao global”, realizado em Ipatinga, nos dias 20 e 21 de fevereiro, com a participação de especialistas de 18 países. O evento foi preparatório para o 8º Fórum Mundial da Água, no próximo mês, em Brasília”. 18 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
A ÚLTIMA TRINCHEIRA Portal da Serra/Parque Nacional do Gandarela, o maior e último manancial hídrico ainda intacto em todo o quadrilátero ferrífero da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Aqui, segundo os ambientalistas, será travada a mais aguardada luta em prol da sua sustentabilidade. FOTOS: REPRODUÇÃO
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Acesse o blog do Hiram:
hiramfirmino.blogspot.com
O”GRANDE SERTÃO: MÉDICO” DE GUIMARÃES ROSA
FOTOS: REPRODUÇÃO
O DOUTOR ROSA que poucos conhecem: “Sim, fui médico, rebelde, soldado. Como médico, conheci o valor místico do sofrimento”
A ecologia humana do “ser mineiro”, sob a ótica da medicina social descrita na obra literária de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. Este é o tema da nova série cultural de encartes especiais que Revista Ecológico irá publicar, em capítulos, a partir da sua próxima edição. Trata-se de “O viés médico na literatura de Guimarães Rosa”, livro-homônimo do ambientalista e naturalista-médico Eugênio Marcos Andrade Goulart (foto), membro do Instituto Biotrópicos, professor de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenador de publicações do Projeto Manuelzão. A iniciativa tem o apoio do Governo de Minas, com distribuição da revista impressa e acesso digital de seu conteúdo a todas as 3.600 escolas públicas de ensino fundamental do Estado, bem como para os leitores colecionarem. Aguarde!
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DEZEMBRO DE 2017 | ECOLÓGICO 19
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PÁGINAS VERDES
"A cooperação Noruega-Brasil
é estratégica para o planeta" Luciana Morais
redacao@revistaecologico.com.br
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FOTO: FERNANDA MANN
E
le é servidor do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Noruega há 23 anos e diplomata de carreira desde 1994. Mestre em Ciência Política pela Universidade de Oslo, onde nasceu, Nils Martin Gunneng desembarcou em agosto, em Brasília (DF), para um mandato de quatro anos. Com a experiência de quem já ocupou vários cargos de gestão na capital norueguesa, tendo servido também na China, Inglaterra e Marrocos, ele espera afinar ainda mais a harmônica parceria Brasil-Noruega, iniciada em 1842. Uma de suas prioridades à frente da Embaixada Real da Noruega no Brasil é amplificar o esforço comum em prol da conservação da maior floresta tropical do planeta, a Amazônia, e na luta contra as mudanças climáticas. “Nosso atual acordo expira em 2020. Quando finalizar minha missão no país, em 2021, espero ter contribuído para a elaboração de um novo e forte acordo que terá o Brasil, a Noruega e o mundo mais próximos do nosso objetivo comum, que é limitar o aquecimento global a 1,5oC”, frisa. Em relação ao mundo empresarial, sua meta é deixar o país com novos e promissores projetos de energia sustentável, tanto hidráulica quanto solar. Casado com a jornalista e psicóloga brasileira Andréa Zenóbio Gunneng há
NILS GUNNENG, no Viaduto Santa Tereza, em BH: “Cada um de nós tem o direito de escolher um futuro próspero – ou depressivo – e também o dever de trabalhar na direção dos objetivos que estabelecemos”
15 anos, Nils é fã de música. Toca piano desde os três anos de idade e adora a aura musical e boêmia que faz “pulsar” o bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte. Aos 55 anos e com seus 2m de altura, ele impressiona pela gentileza e simplicidade. Foi o que demonstrou, sem hesitar, ao abrir
mão de parte de seu tempo de férias para atender com exclusividade a Ecológico e posar para fotos sob o sol escaldante de janeiro. “A natureza e o movimento da paisagem de Minas Gerais são muito especiais. Em Santa Tereza, me sinto em casa.” É o que você confere a seguir:
NILS GUNNENG
Como e quando se deu a sua designação para essa nova missão e que desafios e perspectivas vislumbra? No sistema de governo norueguês, você se candidata à posição de embaixador. Foi meu o desejo de ser embaixador no Brasil, e para minha grande satisfação, após um processo de seleção, fui escolhido. Eu sabia que Brasil e Noruega tinham uma longa história de relações diplomáticas e que o Brasil estava passando por tempos político-econômicos difíceis, ao mesmo tempo em que a Noruega sentia os efeitos de um longo período de preços baixos do petróleo. Essas situações estabeleceram o palco de minhas preparações para assumir o cargo de embaixador, apontando quais seriam os desafios que encontraria aqui e em que pontos deveria focar meu trabalho. O anúncio do corte de recursos destinados ao Brasil, ano passado, para projetos de combate ao desmatamento por meio do Fundo Amazônia estremeceu de alguma forma a relação entre os dois países? A Noruega repassa fundos ao Brasil baseada em resultados, ou seja, de acordo com a redução do desmatamento no país a cada ano. Ano passado, esse repasse foi reduzido porque o desmatamento em 2016 aumentou. A redução desse pagamento anual não deve ser entendida, de forma alguma, como um enfraquecimento de nossa parceria com o Brasil. A cooperação entre Noruega e Brasil na região da Amazônia é estratégica e muito importante para o planeta e uma das agendas que priorizarei durante meu trabalho aqui. Esse repasse está de acordo com o modelo de cooperação no
FOTO: RODRIGO BALÉIA / GREENPEACE
Embaixador da Noruega no Brasil
A REDUÇÃO do desmatamento na Amazônia e o desenvolvimento econômico sustentável podem - e devem - caminhar juntos
qual a Noruega paga por resultados... Exatamente. Inclusive, é muito importante ressaltar, que esse modelo foi desenhado pelo próprio Brasil. Se o desmatamento for reduzido novamente, nossos pagamentos voltarão a aumentar. Por isso, estou muito satisfeito de constatar que o desmatamento no Brasil está reduzindo outra vez, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente. A Noruega tem uma cooperação com o Brasil até 2020 nesse setor. E o nosso governo está 100% comprometido com essa parceria. Entre os seus primeiros compromissos oficiais no Brasil o senhor visitou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Centro Integrado de Monitoramento Ambiental (CIMAM), da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, no Pará. Que impressões teve do trabalho desenvolvido para frear
o desmatamento naquele estado? Para combater o desmatamento, é necessário ter um sistema de monitoramento confiável e preciso sobre a floresta, identificando onde estamos perdendo esse bioma. Em termos globais, o Brasil está liderando o trabalho com seu sistema de monitoramento eficiente. Fiquei realmente impressionado ao visitar o INPE e o CIMAM. Também nos meus primeiros dois meses como embaixador, visitei o Pará e o Mato Grosso. O que mais me chamou atenção foi que diferentes estados brasileiros apresentam desafios distintos quanto ao desmatamento, demandando soluções diversas. O senhor fez uma imersão de cinco dias na Floresta Amazônica, subindo o Rio Negro. Como essa experiência impacta seu trabalho na defesa da floresta em pé? O que mais me surpreendeu nessa viagem foi constatar como são e vivem as pessoas que moram na
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JAN/FEV DE 2018 | ECOLÓGICO 21
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PÁGINAS VERDES floresta. É essencial desenvolvermos uma maneira de proteger a floresta ao mesmo tempo em que se promove também a prosperidade dos povos que vivem desse bioma. Precisamos de soluções econômicas sustentáveis para os povos da floresta. Algum fato ou acontecimento o marcou nessa mesma viagem? Claudete! Uma ribeirinha. Ela mora há três dias de viagem de barco do povoado mais próximo. Com 33 anos, é mãe de três crianças, dona de uma pequena fazenda de mandioca, vive da caça e, de vez em quando, guia turistas como nós. Durante nosso contato, pude testemunhar que ela é uma excelente goleira. Jogamos futebol com pessoas de outras duas famílias de ribeirinhos. Pude ainda vê-la ‘cantando’ a língua das lontras, que emergiam do rio para observá-la; e localizando, em meio à escuridão, uma jararaca enrolada em um galho de árvore. Isso sem falar em seus dons como artesã, quando presenteou minha esposa com um golfinho esculpido por ela mesma em madeira. Claudete é, sem dúvida, a parte humana da floresta. Ela realmente pertence à floresta. Como é a linha de ação da Embaixada da Noruega nos projetos de defesa da floresta e de sua biodiversidade por meio dos povos indígenas? Eles são os melhores guardiães da floresta. Em seus territórios quase não há desmatamento. Por isso, apoiá-los é uma política climática eficiente. A Noruega apoia os povos indígenas por meio do Fundo Amazônia, em projetos que, por exemplo, auxiliam essas culturas a monitorar seus territórios. A Embaixada também tem um “Programa de
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"Sou muito grato por estar em uma posição que me permite trabalhar em parceria com o Brasil e com os brasileiros, que têm o mesmo sonho que eu: o de encontrarmos maneiras de reduzir o desmatamento e promover um futuro econômico sustentável e próspero para todas as pessoas e, em especial, para os povos da floresta." Povos Indígenas”, pelo qual fortalece associações indígenas e suas capacidades de desenvolver e implementar projetos de qualidade. Como curiosidade, gostaria de citar que o atual rei da Noruega, Harald V, foi o primeiro chefe de Estado a visitar o território Yanomami, na Amazônia. Posteriormente, o líder indígena Davi Kopenawa Yanomami foi recebido pelo rei em Oslo. Como o governo norueguês se relaciona com os povos indígenas de seu país? Como qualquer outra nação, a Noruega levou tempo para estabelecer uma política adequada e ética em relação aos nossos povos indígenas. O povo Sami (um dos maiores grupos étnicos da Europa, totalizando cerca de 70
mil pessoas, espalhados em territórios setentrionais da Noruega, Suécia, Finlândia e da península de Kola, na Rússia) quase perdeu sua língua e cultura. Felizmente, entendemos nossos erros antes que fosse tarde demais. Atualmente, temos, na Noruega, uma comunidade Sami próspera, com seu próprio parlamento e autonomia em relação às questões mais importantes para aquele povo. Inclusive, a língua Sami é hoje uma língua oficial da Noruega, ao lado do norueguês. Em termos de imagem, como avalia que o Brasil é visto no exterior, em especial nos países nórdicos, no que se refere a questões como crescimento sustentável e adaptação às mudanças climáticas? Nos países nórdicos, o Brasil é famoso por seu carnaval, futebol, café e, é claro, por ter a maior floresta tropical do mundo. É reconhecido ainda por ser um dos poucos a ter conseguido reduzir o desmatamento tão significativamente. E mais: o Brasil não só mostrou que é possível reduzir o desmatamento como, ao mesmo tempo, aumentar a produção agrícola e crescer economicamente. Veja o exemplo do Mato Grosso. Entre 2004 e 2014, período de grande crescimento da produção agrícola, aquele estado também apresentou uma redução de cerca de 90% do desmatamento. Isso comprova que ambições no combate ao desmatamento e desenvolvimento econômico podem – e devem – andar lado a lado. Em novembro, o senhor participou pela primeira vez de uma Conferência do Clima (COP-23). Que avaliação faz do encontro em Bonn? A enorme dimensão do even-
NILS GUNNENG
Embaixador da Noruega no Brasil to me impressionou. Também o fato de que cada pessoa ali presente faz parte de um esforço global único para encontrar soluções para o maior desafio que a comunidade internacional já enfrentou. Entendo que muitos estão decepcionados com a falta de progresso. Para mim, no entanto, foi encorajador ver tantas mentes brilhantes trabalhando em uma meta comum global: salvar o planeta e todos os seres vivos, entre eles, a humanidade. O senhor já afirmou que um dos melhores aspectos de seu trabalho é a diversidade, tanto em relação a temas quanto a lugares e pessoas. Que cartãopostal brasileiro considera imperdível em termos de visitação? Essa é uma pergunta muito difícil, já que o Brasil tem muitos cartões-postais (risos). Mas se tiver que escolher um, diria: “Visite a Amazônia”. A peculiaridade daquela floresta e as pessoas que vivem lá são muito especiais. Também ressaltaria a Ilha de Boipeba (BA), com suas praias belíssimas e remotas. Tem enfrentado algum desafio relacionado às diferenças culturais para lidar com o povo brasileiro no dia a dia? Olha, não vejo as diferenças culturais como desafio. Esse é mais um presente que a minha profissão me oferece, o de poder experimentar culturas diversas e tomar consciência de nossas diferenças. Nós, noruegueses, somos mais reservados do que os brasileiros – em todos os aspectos, eu diria (risos). Mas ao mesmo tempo, os brasileiros podem ser surpreendentemente formais, enquanto os noruegueses não são. Mesmo assim, acredito que brasileiros e noruegueses se
AMIZADE HISTÓRICA Embora o petróleo e o gás sejam vitais para a economia da Noruega, o país trabalha para tornar-se um líder climático global. Ela foi a primeira nação a comprometer-se com o desmatamento zero e anunciou que será carbono zero até 2050.
A Noruega foi o primeiro país contribuinte do Fundo Amazônia, iniciativa lançada pelo Brasil em 2008. Por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), são captadas doações para investimentos não-reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento. Bem como de promoção da conservação e uso sustentável das florestas no bioma amazônico. O valor dos repasses é baseado nos resultados que o Brasil oferece em relação à redução do desmatamento a cada ano.
O Consórcio de Pesquisa em Biodiversidade Brasil-Noruega (BRC), formado por instituições de pesquisas dos dois países, renovou parceria por mais cinco anos em 2017. Seu foco é a produção de estudos e de novos conhecimentos como base para o desenvolvimento sustentável. O BRC é formado por especialistas das universidades de Oslo, Federal do Pará, Federal Rural da Amazônia e do Museu Paraense Emílio Goeldi, com apoio do conglomerado Norsk Hydro.
Em 1842, o primeiro barco norueguês “A Estrela do Norte” chegou ao Rio de Janeiro carregado de bacalhau. E voltou para a Noruega com açúcar e café. Isso marcou o início de uma sólida parceira. Atualmente, os brasileiros estão entre os maiores consumidores de bacalhau norueguês e, os noruegueses, entre os maiores consumidores do café brasileiro.
Atualmente, seis das dez maiores empresas da Noruega têm presença significativa no Brasil, com mais de 100 companhias estabelecidas em terras brasileiras. A Noruega é o oitavo maior investidor estrangeiro no país. E o Brasil é o principal destino de investimento norueguês, depois da União Europeia e dos Estados Unidos.
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PÁGINAS VERDES
NILS GUNNENG
Embaixador da Noruega no Brasil
Brasil e Noruega mantêm uma amizade de mais de 170 anos, iniciada com a importação do bacalhau norueguês. E o senhor é casado com uma paulistana de alma belo-horizontina. Que produtos ou pratos da nossa culinária mais gosta? Pão de queijo, sem dúvida alguma. Aliás, pão de queijo deveria ser um item indispensável no cardápio de qualquer bufê do mundo. Ah, e por falar em queijo, você sabia que o cortador de queijo foi inventado pelo norueguês Thor Bjørklund? Além do Bairro de Santa Tereza, que locais gosta de visitar quando está em BH? Sempre que possível, tentamos visitar Inhotim, em Brumadinho: é esplêndido! Também aprecio qualquer cachoeira que Andréa, minha esposa, me apresenta. A natureza e o movimento da paisagem de Minas Gerais são muito especiais. Porém, ao fim do dia, é mesmo em Santa Tereza que me sinto mais em casa. Sou fã da música brasileira e tudo no bairro me atrai, especialmente sua história cultural e musical – com Milton Nascimento, o Clube da Esquina, Beto Guedes, entre outros –, além da imensa quantidade de bares, botecos e restaurantes de excelente qualidade. A vida em Santa Tereza é pulsante. Muito interessante ver como os brasileiros aproveitam de maneira prazerosa suas vidas cotidianas. Afirma isso por alguma razão especial? Sim. Para você ter uma ideia, em nossa última estada em BH, enquanto caminhávamos no Boulevard do Arrudas, por volta das 19h 24 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
FOTO: MARCOS WESLEY/ISA
dão muito bem, e apreciam as peculiaridades de cada cultura.
O ATUAL rei da Noruega, Harald V, e o líder indígena Davi Kopenawa Yanomami na Amazônia, em 2013
de uma quarta-feira, assistimos ao ensaio de bateria de uma escola de samba local por mais de uma hora. Ver homens e mulheres, de todas as idades, vibrando seus instrumentos, foi uma experiência única. Que legado espera deixar ao fim de sua missão diplomática no Brasil? Nosso atual acordo com o Brasil sobre a cooperação na luta contra as mudanças climáticas expira em 2020. Quando finalizar essa missão, em 2021, espero ter contribuído para a elaboração de um novo e forte acordo que terá o Brasil, a Noruega e o mundo mais próximos do nosso objetivo comum que é limitar o aquecimento global a 1,5oC. Em relação ao mundo empresarial, espero deixar o Brasil com uma parceria próspera entre os dois países no setor de petróleo e também com novos e promissores projetos de energia sustentável, tanto hidráulica quanto solar. Como você mesma destacou, Brasil e Noruega são parceiros antigos e, como parte do meu trabalho, espero contribuir para fazermos bom uso das novas oportunida-
des que surgirem para fortalecer ainda mais essa cooperação. É otimista em relação ao futuro do planeta e da humanidade? Para onde caminhamos? Nasci otimista. Acredito que o futuro, muitas vezes, se assemelha àquilo que imaginamos ser ele. Meu pai me ensinou a ser responsável por minhas próprias ações e também que temos uma escolha sobre como agir. Sempre. Isso significa que cada um de nós tem o direito de escolher um futuro próspero – ou depressivo, a escolha é individual –, e também o dever de trabalhar na direção dos objetivos que estabelecemos. Sou muito grato por estar em uma posição que me permite trabalhar em parceria com o Brasil e com os brasileiros, que têm o mesmo sonho que eu: o de encontrarmos maneiras de reduzir o desmatamento e promover um futuro econômico, sustentável e próspero para todas as pessoas e, em especial, para os povos da floresta. SAIBA MAIS
www.norway.no/brasil Facebook: embnoruegabrasilia
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1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS AL GORE: "É errado poluir a Terra e destruir o equilíbrio climático. É certo dar esperança à geração futura"
S E J A #
INCONVENIENTE (2)
Nesta segunda e última parte da matéria especial sobre o novo documentário “Uma Verdade Mais Inconveniente”, do ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, veja como o aumento da temperatura vem impactando mortalmente a biodiversidade planetária e o cotidiano de todos nós
l AQUECIMENTO GLOBAL “Quando andamos lá fora e olhamos o céu, temos a impressão de que ele se estende vasta e ilimitadamente. Sem fim. Na verdade, a atmosfera da Terra é uma capa muito fina que envolve o planeta. Neste momento, 26 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
estamos emitindo 110 milhões de toneladas de carbono que retêm o calor do aquecimento global. Usamos isso como um esgoto aberto para todo o lixo gasoso da civilização. A agricultura é uma das grandes contribuintes, com as queimadas de
florestas e lavouras. Mas o principal são as emissões de dióxido de carbono da queima do carvão, petróleo e gasolina. Elas intensificam a energia térmica e elevam a temperatura.” “A Índia bateu o próprio recorde de calor em maio de 2016: 51
FOTO: MARCELLO CASAL JR / ABR
COM A SECA prolongada de 2015, o Reservatório de Sobradinho, em Remanso (BA), chegou ao nível mais baixo da história: vários animais que dependiam de suas águas morreram de sede
l TEMPESTADES “Quando a temperatura aumenta, o vapor que sobe dos oceanos para o céu cresce expressivamente. Isso significa que as tempestades são diferentes agora porque acontecem num mundo mais quente e úmido. O vapor se afunila por milhares de quilômetros do oceano para o conti-
nente e grande parte dele cai ao mesmo tempo.” “Uma análise global no aumento das temperaturas e na energia térmica extra mostra que 93% de toda essa energia vai para os oceanos. Isso gera várias consequências, como quando as temperaturas marítimas atravessam oceanos mais quentes e se transformam em eventos climáticos destrutivos. Há poucos anos, a supertempestade Sandy cruzou áreas do Atlântico 5oC mais quente do FOTO: GREENPEACE
graus. As ruas estão derretendo. Recordes de temperatura também foram batidos este ano na Tailândia, Camboja e Laos. No Paquistão, 1.200 pessoas morreram durante a onda de calor. Este ano, eles abriram covas antecipadamente para os que devem morrer por conta do calor.” “Estamos vendo que as altas temperaturas estão alterando o equilíbrio entre os micróbios e os seres humanos. Veja o zika vírus. O calor acelera a sua incubação dentro do mosquito Aedes Aegypti, causando uma explosão no número de casos de pessoas contaminadas. Pela primeira vez na história, mulheres grávidas foram avisadas a não irem a uma parte dos EUA.”
que o normal. E causou uma tremenda destruição em Nova Jersey e Nova York.” “Anos antes, os cientistas previram isso. Um ano depois, nas Filipinas, o supertufão Haiyan atravessou áreas do Pacífico 3oC mais quente. Tornou-se a tempestade marítima mais destruidora a chegar no continente. Na cidade de Tacloban e áreas adjacentes, havia 4,1 milhões de refugiados ambientais. Milhares morreram.” “Foi uma benção o Papa Fran-
“Temos de descarbonizar nossas economias.” CHRISTIANA FIGUERES, secretáriaexecutiva da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima da ONU
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1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS
PELA PRIMEIRA VEZ seca e queimada, em 2015, a nascente do Velho Chico, na Serra da Canastra, tornou-se símbolo do que o aquecimento já está fazendo no estado conhecido como “a caixa d'água do país”
l COP-21 “Um dos segredos de ser humano é o fato de que o sofrimento nos une. Aqueles 150 chefes de Estado foram levados a falar de uma forma que normalmente não falariam. Cada um deles começou com os pêsames e depois com a solidariedade. E ao discursarem sobre o que esperavam da Conferência, enfatizaram que é uma oportunidade
FOTO: SUBRATABISWAS
l SECA “O mesmo calor que traz todo vapor d’água dos oceanos suga a umidade do solo. As estiagens ficam mais severas e longas. A vegetação seca e os incêndios aumentam.” “Na Síria, de 2006 a 2010, ocorreu uma seca recorde. Muitos fazendeiros perderam suas fazendas. 60% delas foram destruídas. 80% do gado morreram. Dois milhões de pessoas passaram a ser extremamente pobres, além de terem um ditador bandido e viverem uma guerra civil multilateral. Foi a pior seca em 900 anos.” “Se as próximas gerações viverem num mundo de inundações, tempestades, com milhões de refugiados fugindo de condições inabitáveis e países desestabilizados, elas se voltarão a nós e irão perguntar: ‘O que estavam pensando?’. ‘Não ouviram os cientistas?’ Não ouviram os gritos da Mãe Natureza?’.”
FOTO: LEANDRO COURI / EM / D.A PRESS
cisco vir a Tacloban, o marco zero dessa tragédia, e dar a mensagem que ‘os mais graves efeitos da crise climática são sentidos pelos mais pobres’. Isso é uma verdade em todo o mundo.”
A ONDA DE CALOR que atingiu a Índia em 2015 deixou mais de 2.200 mortos. Na Síria, entre 2006 e 2010, 80% do gado bovino morreu por causa das altas temperaturas 28 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
de tornarmos essa solidariedade tangível e real.” “O Acordo de Paris não teria acontecido sem o presidente Obama, o secretário de Estado John Kerry e o presidente da França, François Hollande. Sem tantas pessoas que se dedicaram a isso. Quase todos os países do mundo concordaram em zerar as emissões de gases do efeito estufa ainda na metade deste século. É um ótimo sinal para os mercados e para os investidores. E resultou no maior empréstimo de energia solar da história, para a Índia avançar mais rapidamente. O trabalho é contínuo. E o papel de todos nós é fazê-los cumprir o acordo e manter a pressão.” l ECO-92 “Estive em todas as conferências do clima desde 1992. O otimismo era grande no Rio, mas o jogo empacou. O mundo tem tido dificuldade de se estruturar e conectar a ciência à política. Para mim, os últimos 20 anos
foram uma experiência dolorosa. Não só pela falta de resultado favorável, mas porque não havia uma forma de realmente controlar o processo e dizer: ‘Deixe-me ajudá-los’.” l VERDADE CLIMÁTICA “Com tantas novas ameaças, nunca foi tão importante dizer a verdade aos que detêm o poder. Faço o melhor que posso para falar em nome do interesse do povo para resolver a crise climática. Pode parecer meio pretensioso, mas tento me ater à verdade do que precisa ser feito. E cada um de nós, a seu modo, tem a obrigação e a capacidade de sentir o que está mais perto da verdade. Não é arrogância, é apenas um sentimento que creio ser familiar a todos. Trabalho nessa questão climática há tanto tempo que tenho certeza do que é certo para todos.”
DALE ROSS, prefeito de Georgetown (EUA). Em 2008, a prefeitura queria abastecer a cidade com 30% de energia renovável até 2030. Conseguiram 90% em 2016
missário de Segurança Pública de Birmingham, no Alabama, lançar jatos d’água nos jovens afro-americanos por se opor aos direitos para cidadãos negros, e perguntamos aos mais velhos por que as leis discriminavam pela cor da pele. Quando não eles conseguiram mais responder à pergunta, as leis
mudaram. O movimento para resolver a crise climática é mais um grande passo moral para o avanço da humanidade.” “Nenhuma mentira dura para sempre. O arco moral do Universo é longo, mas ele se curva à Justiça. Estamos perto do ponto crucial quando este movimento, como o da Abolição, o Feminino, o dos Direitos Civis, do Antiapartheid, e como o LGBT, se resolverá na escolha entre certo e errado. Baseado em quem somos como seres humanos, o resultado está predeterminado. É certo salvar o futuro da humanidade. É errado poluir a Terra e destruir o equilíbrio climático. É certo dar esperança à geração futura. Não será fácil. Nós também, neste movimento, enfrentaremos uma série de ‘nãos’. O grande poeta norte-americano Wallace Stevens, no século passado, escreveu: ‘Após o último não, vem um sim. É desse ‘sim’ que o mundo futuro depende.” SAIBA MAIS www.algore.com inconvenientsequel.tumblr.com
FOTO: DIVULGAÇÃO
l MOVIMENTO MORAL “Lembro claramente quando o Movimento dos Direitos Civis Americanos começou a ganhar força. Vimos Bull Connor, co-
“Não basta ter bom senso para saber que quanto menos poluição se jogar no ar, melhor é. Não é preciso cientista para dizer isso. Temos a obrigação moral e ética de deixar o planeta melhor do que o encontramos.”
O AMBIENTALISTA franciscano Tonhão, presidente do Movimento Verde de Paracatu (Mover), ao centro com outros ribeirinhos, documenta a primeira vez em que o maior afluente do São Francisco secou completamente. O rio não resistiu. Virouestrada, como a maioria dos cursos d'água do noroeste e norte de Minas, na grande estiagem de 2017
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1 MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL
QUANDO DIÁLOGO E COMUNICAÇÃO
FAZEM A DIFERENÇA A
inda repercute no mundo da mineração o acontecido na última sexta-feira de janeiro passado. Com um placar histórico de 11 votos a favor e apenas um contra, ao fim de um debate público que durou sete horas, na sede da Supram Central, em Belo Horizonte, a Câmara Técnica em Atividades Minerárias do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) aprovou o parecer técnico da Semad. E com isso, concedeu as Licenças Prévia (LP) e de Instalação (LI) para a expansão (Step 3) do Projeto Minas-Rio, da Anglo American, na região de Conceição do Mato Dentro, no coração férreo do Estado. A mineradora dependia das autorizações para iniciar as novas obras que permitirão a continuidade do negócio, elevando a produção para 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro/ano, com um novo investimento estimado da ordem de R$ 1 bilhão. Segundo a empresa, no pico das obras serão criados 800 novos empregos. E depois de concluída, essa nova fase irá criar outros 100 postos de trabalho. Eles integrarão o atual quadro de empregados próprios da empresa, hoje da ordem de 4.800 pessoas diretas e indiretas, das quais aproximadamente 1.600 são mão-de-obra local. Como garantiu Ruben Fer30 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
nandes, presidente da Anglo American no Brasil, as novas estruturas necessárias ficarão situadas em áreas internas ou vizinhas às outras estruturas já licenciadas, o que significa menos impacto socioambiental. A maior parte delas planejada em áreas já adquiridas pela empresa. A nova expectativa é de que a Licença de Operação (LO) seja votada no segundo semestre deste ano. RAZÕES DO PLACAR Do ponto de vista ecológico e de contrapartidas compensatórias exigidas pela legislação ambiental brasileira, quem acreditou e já esperava uma votação assim tão positiva, mesmo depois da tragédia de Mariana (MG), foi o diretor de Sustentabilidade da Anglo American, Aldo Souza. Junto de seus pares, sempre comprometido e presente nas inúmeras audiências públicas já realizadas, ele não se fez de rogado: se inscreveu também para falar ao microfone e deu o seu recado. Ressaltou que, localmente, a AngloAmerican já assumiu a preservação não somente de 12 mil hectares hoje de flora, fauna e recursos hídricos na forma de Áreas de Proteção Permanente (APPs), leia-se corredores ecológicos interligados ao redor das atividades de mineração. Como também, globalmente,
FOTO: ANGLO AMERICAN / FLAVIA VALSANI FOTOGRAFIA
Aprovação quase unânime de licenças ambientais pela Anglo American, para expansão do Projeto Minas-Rio, confirma o valor da transparência
ajuda a proteger 60 milhões de hectares de floresta amazônica, leia-se 117 Unidades de Conser-
APOSTA NA PARCERIA Ex-ativista ambiental e crítico feroz da mineração predatória no Estado, José Fernando Aparecido de Oliveira, atual prefeito de Conceição do Mato Dentro, também deu seu recado antes da votação. Reeleito pela segunda vez, ele ressaltou que assumiu novamente o governo municipal com o firme propósito de fazer com que a mineração possa ser,
INVESTIMENTOS VITAIS
FOTO: RONALDO GUIMARÃES
Desde o início da implantação do Sistema Minas-Rio, a Anglo American se comprometeu a aplicar mais de R$ 425 milhões em investimentos institucionais. Desse valor, um montante da ordem de R$ 380 milhões já foi executado em prol dos municípios da área de influência do empreendimento. Os recursos foram direcionados à mobilidade urbana, educação e treinamento, saúde e bem-estar, esportes, lazer, turismo, artes, cultura, patrimônio, água e saneamento, segurança pública, desenvolvimento da comunidade e patrocínios, entre outros. Já há previsão de mais R$ 62,6 milhões em investimentos institucionais. Junto aos empresários dos quatro municípios mineiros onde atua (Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas, Dom Joaquim e Serro), a empresa realiza programas sociais, entre eles o Programa de Desenvolvimento de Fornecedores Locais de Médio e Pequeno Portes (Promova) e o Crescer, voltado para produtores locais. Somadas, as duas iniciativas já movimentaram R$ 340,5 milhões nos municípios vizinhos ao empreendimento. De outubro de 2014, início das operações, até dezembro de 2017, o Minas-Rio gerou mais de R$ 151,1 milhões em recolhimento de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). No mesmo período, foram mais de R$ 311,8 milhões pagos sob a forma de impostos, taxas e contribuições. Somente no último ano, o projeto gerou R$ 70,8 milhões em CFEM, um dos principais tributos pagos pela atividade minerária, sendo R$ 65,5 milhões para Conceição do Mato Dentro e R$ 5,3 milhões para Alvorada de Minas.
FOTO: MIKE ELLIS PHOTOGRAPHY
vação (UCs), por meio do Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA). “Somos hoje a única empresa brasileira a apoiar financeiramente o ARPA. E fazemos isso porque, conforme nosso lema mundial, acreditamos nas pessoas e no modelo de mineração sustentável. Nunca nos furtamos ao diálogo social e político, seja com os órgãos ambientais, com os ambientalistas, o governo, as comunidades impactadas ou com o Ministério Público”, disse ele. Aldo reforçou, enfim, que a mineração é feita não somente pelos seus colaboradores, mas também, indiretamente, por todos os funcionários das empresas terceirizadas, instituições e associações locais, tanto nas comunidades rurais quanto nas urbanas, envolvidas direta e indiretamente no projeto. “São pessoas que querem, de maneira legítima e de boa fé, saber de seus direitos e também deveres na construção de um futuro melhor e sustentável para elas mesmas, incluindo, principalmente, a melhoria da sua dignidade cidadã. Assim pensa a Anglo American”, concluiu o diretor de Sustentabilidade, faltando três horas para o resultado final da votação do Copam pela continuidade do Projeto Minas-Rio.
RUBEN FERNANDES E ALDO SOUZA: mais uma etapa vencida
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1 MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL
NOTA DA REDAÇÃO Invertendo o resultado da votação, a Revista Ecológico acredita que a Anglo American ganharia mais crédito ainda se não subestimasse o apenas um voto contrário que o Copam computou. Pelo contrário, sem necessidade de consultoria externa, mas de maneira simples e direta, por meio de seus próprios profissionais de comunicação, a empresa deveria ouvir, mesmo sem obrigação legal, os seus ainda contrários. E ver se são legítimas suas reclamações pontuais de sempre. Aumentar o relacionamento com essas pessoas e comunidades simples que, influenciadas ou não por outros interesses (e como isso ocorre!), sempre comparecem às audiências públicas e são só ouvidas. E após uma radiografia geográfica e social, aí sim, atendêlas e ajudá-las no que for possível. Ou encaminhá-las a outras esferas e responsabilidades de poder.
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JOSÉ FERNANDO: vocação natural
nível estadual quanto federal”. Segundo o prefeito, todas as prefeituras envolvidas, além da de Conceição, vêm tendo diálogo permanente com a Anglo American, a fim de identificar iniciativas a serem patrocina-
das pela empresa e gerenciadas pelo município. “Em especial aquelas que tenham o condão de perenizar os benefícios propiciados pela mineração como, por exemplo, os investimentos já feitos em infraestrutura urbana, patrimônio histórico, turismo e na aquisição de mais de 11 mil hectares de áreas florestais para preservação”. E concluiu: “A mineração é uma realidade na nossa cidade. Faz parte das nossas vidas e cabe agora, a todos nós, fazer com que seus benefícios sejam os maiores possíveis. A prefeitura apoia a Etapa 3 do Minas-Rio, desde que seja um processo transparente e sustentável”. SAIBA MAIS
www.angloamerican.com.br
FOTOS: DIVULGAÇÃO
ao final de seu ciclo produtivo, relembrada “não negativamente perante a cidade e a opinião pública”. Mas positivamente, como uma atividade que “elevou toda a nossa região a uma condição independente de sustentabilidade, sob o ponto de vista social, econômico e ambiental”. Ele confirmou que, desde a implantação do Minas-Rio, a Anglo American tem propiciado inúmeros benefícios para o município, induzindo a melhoria nos serviços públicos. “Não obstante tal relevância, temos de ter ciência também dos impactos ambientais inerentes à atividade. Eles estão previstos nos estudos contemplados no processo de licenciamento, monitorados pela prefeitura e fiscalizados pelos órgãos responsáveis, tanto em
É este o amor social “até doer” que Madre Teresa de Calcutá defendia. O “acima das leis” que o ambientalista Hugo Werneck (a quem a Ecológico é dedicada a cada lua cheia) também defendia em vida. “Podemos pensar diferente, ganhar ou perder,
e isso é bom. Mas nunca nos tornar inimigos e separados uns dos outros, diante do estado do mundo.” É o que ele dizia sempre. Sob a ótica da ecologia humana, não deve haver perdedores. Mas, sim, só vencedores perante a natureza que nos resta.
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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br
LIÇÃO NÃO APRENDIDA
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m novembro de 2017, participei de um grupo de visitantes à região de Mariana, no âmbito do programa VimVer, da Fundação Renova. A degradação provocada pela lama que desceu da barragem de Fundão ainda é visível nas ruínas dos dois primeiros distritos e na cor da água do Rio Gualaxo do Norte. Mas, grande trecho de suas margens foi revitalizado. A vegetação estava luxuriante. Tomamos conhecimento de fatos como solicitação de indenização por parte de areeiros (muitos atuavam ilegalmente), que informam quantidades extraídas antes do desastre muito acima da realidade. De casas reconstruídas na área urbana, quase dentro do rio, por exigência dos proprietários, sem que os órgãos ambientais ou a prefeitura se importassem. A Renova informou que não tem autoridade para recusar. E ninguém imaginava que o Rio Doce, já em processo de agonia antes da lama, tivesse tanto pescado. Vi o que já sabia: na área rural, o quadro predominante é erosão do solo pela prática de pecuária extensiva e insustentável (superpastoreio, fogo, pisoteio de nascentes e margens de cursos d’água pelo gado). A maior parte dos proprietários sobrevive com aposentadorias, pequenos plantios para uso próprio e venda de leite para laticínios que coletam o produto. A Renova informou que estão cadastradas 226 propriedades (39.000 ha), que serão objeto de readequação ambiental e econômica. A aceitação dos proprietários decorre de trabalho de convencimento dos técnicos, mostrando que a produtividade econômica aumentará devido à recuperação dos pastos. É um programa que deveria existir em todo o Estado, para recuperar e salvar nossas bacias hidrográficas. A readequação ambiental, conforme nos informaram, contempla planejamento de paisagem, recuperação de APPs, reservas legais, proteção da fauna silvestre, conectividade florestal, diversifica-
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ção econômica (incluindo busca de mercado). É um grande desafio, considerando a cultura arcaica sobre meio ambiente que ainda predomina nas áreas rurais. E, se vencido, será um grande ganho ambiental pela recuperação de áreas de Mata Atlântica. Em Barra Longa, o Rio Gualaxo do Norte, correndo lento e leitoso de tanto esgoto, encontra-se com o do Carmo e continua seguindo com este nome até encontrar o Piranga e formar o Doce. Segundo a Renova, no trecho entre Bento Rodrigues e Barragem de Candonga foram reconformados 106 km de margens. No que se refere à demora da reconstrução de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, a Renova informou que a modelagem do processo estendeu-se por quase dois anos dentro do Comitê Interfederativo que define o que tem de ser feito. E mais alguns meses para que os atingidos escolhessem o local. Mapeamento, estudos técnicos, compra da área, levantamento de expectativas e aprovação do projeto urbanístico (no caso de Bento), foram as atividades realizadas ao longo dos dois anos. Com relação à biodiversidade atingida, fomos informados que somente agora foi terminada a modelagem dos estudos que deverão ser feitos sobre o impacto à fauna e que apontarão as ações. Antes da tragédia ambiental causada pela Samarco, outra, silenciosa, mas constante e sorrateira, matava o Doce e seus afluentes dia a dia, ano após ano. A lama completou e escancarou sua agonia. Que ninguém se engane: a área atingida poderá ser recuperada, mas é apenas um pedaço da bacia do Rio Doce. O restante, outras bacias que estão em processo final de agonia como a do Velho Chico e outras como Paracatu, Pandeiros, Pardo, Urucuia, onde a tragédia silenciosa cresce a cada dia, continuarão abandonadas à sua triste sorte. A lição não foi aprendida pelo poder público, iniciativa privada e sociedade. (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente.
“O mundo não foi feito alfabeto. Senão que primeiro em água e luz. Depois, árvore.” MANOEL DE BARROS, poeta
MINAS RUMO AO
FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA ENCARTE ESPECIAL (8)
FOTO: ALONSO ALVES DOS REIS NETO
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ENCARTE ESPECIAL FIEMG (8)
POR MEIO do Programa Minas Sustentável, indústrias mineiras ampliam compromisso com a melhoria da qualidade da água ao longo da Bacia do Velhas
NOVAS ESPERANÇAS PARA O RIO DAS VELHAS Parceria entre a Fiemg e o Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas potencializa esforços em prol da revitalização do mais importante e castigado afluente do Velho Chico em Minas Bruno Frade
redacao@revistaecologico.com.br
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sforços em prol da revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, o maior e mais poluído afluente do Rio São Francisco, seguem seu curso em Minas Gerais. A Região Metropolitana de Belo Horizonte ocupa apenas 10% da área territorial da Bacia do Velhas, mas
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é a principal responsável por sua degradação, devido à elevada densidade demográfica, processos de urbanização e atividades industriais. Em julho do ano passado, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas
(CBH Velhas) assinaram um termo de compromisso destinado à adoção de ações conjuntas, em parceria com diversas empresas. O objetivo é dar continuidade aos trabalhos de conservação e recuperação da qualidade da água. Analista ambiental da Gerência de
FOTO: DIVULGAÇÃO
MINAS RUMO AO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA 2018
“Percebemos avanços na melhoria de alguns parâmetros na Bacia do Velhas à medida que mais empresas aderem ao ‘Minas Sustentável’. No entanto, dados comprovam que um dos problemas crônicos da Bacia é a ausência de tratamento do esgoto doméstico.” Meio Ambiente da Fiemg, Deivid de Oliveira lembra que a primeira iniciativa da federação foi a contratação da consultora ambiental Irany Braga. Em parceria com a equipe da Gerência, ela foi a responsável por desenvolver um completo relatório sobre os índices da qualidade das águas na Bacia do Velhas. O levantamento de dados incluiu uma avaliação sobre a atuação das indústrias na bacia, identificando os impactos positivos e negativos, bem como as oportunidades de melhoria da gestão e uso da água. “Adotamos como base de dados o Água de Minas, programa da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad)”, explica Irany. Por meio dele, é feito o monitoramento da qualidade de todos os cursos d’água do estado, sendo gerados relatórios trimestrais que incluem avaliações
IRANY BRAGA, consultora ambiental
precisas em termos, por exemplo, de contaminação por tóxicos, entre outros indicadores. “Ele funciona como uma espécie de termômetro, indicando se o resultado das ações de controle ambiental por parte das indústrias está sendo efetivo”, frisa a consultora. PROBLEMA CRÔNICO Para estimular a conscientização e o engajamento da indústria com a revitalização do Velhas, a Fiemg tem se valido também de programas de destaque, entre eles o “Minas Sustentável”. Criado em 2010, o programa é considerado um divisor de águas para micro, pequenas e médias empresas no que se refere ao tratamento de seus efluentes. Também oferece um amplo mapeamento de
impactos ambientais e sociais, consultorias para regularização ambiental e ecoeficiência, além de capacitações e ações educativas. “Percebemos avanços na melhoria de alguns parâmetros na Bacia do Velhas à medida que mais empresas aderem ao ‘Minas Sustentável’. No entanto, dados comprovam que um dos problemas crônicos da Bacia é a ausência do tratamento do esgoto doméstico”, ressalta Irany. Essa constatação fica clara quando se avalia a qualidade dos efluentes lançados por alguns setores, como a mineração, por exemplo, que graças às tecnologias adotadas e ao controle sistemático dos parâmetros legais exigidos, devolvem aos cursos naturais uma água com qualidade superior àquela encontrada na Bacia. “Na maioria das vezes, a indústria capta água com qualidade bem inferior à que ela própria lança de volta à natureza”, enfatiza Deivid de Oliveira. CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL Outro ponto importante, segundo a consultora ambiental, diz respeito à contribuição positiva das indústrias que fazem o tratamento de esgoto e, com isso, ajudam significativamente na melhoria da qualidade da água. “Ainda assim, há trechos com índices ruins, sobretudo no eixo que começa depois de Sabará e se estende até Santa Luzia. Temos estações de tratamento de esgoto (ETEs) importantes, como a do Onça e a do Arrudas, no entanto, elas ainda operam bem abaixo da sua capacidade: 40% no Arrudas e 50% do Onça.” Isso acontece porque parte da população não faz a ligação dos esgotos às redes coletoras que levam a essas ETEs, sendo lançados in natura no leito do Velhas. “É preciso desenvolver um amplo trabalho de JAN/FEV DE 2018 | ECOLÓGICO 37
ENCARTE ESPECIAL FIEMG (8)
FOTO: GIULIANA VINCI
FOTO: MARCELO ANDRÊ
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“A indústria mineira tem uma gestão eficiente. Ainda assim, procuramos incutir na mente do empresariado a importância e as vantagens de seguirem avançando no aprimoramento de seus processos e no controle ambiental.” DEIVID DE OLIVEIRA, analista ambiental da Fiemg
conscientização ambiental com um público estimado de 40 mil pessoas e também entre os responsáveis por algumas indústrias”, pondera Irany. A partir da criação do “Minas Sustentável” e graças a ações de fiscalização estadual, houve melhora também em relação ao lançamento de contaminantes tóxicos, tais como zinco, chumbo, cádmio e cobre. Parte do trabalho desenvolvido pela Fiemg prevê, ainda – em atuação conjunta com o CBH Velhas –, iniciativas de conscientização para o tratamento de esgotos gerados por condomínios residenciais ao longo do Velhas. Boa parte deles não trata os efluentes gerados, e a proposta é que haja uma mobilização maior, visando melhorar a qualidade da água na Bacia como um todo. 38 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
ENTENDA MELHOR Com 801 quilômetros de extensão, o Rio das Velhas (foto) nasce em Ouro Preto e deságua no Velho Chico no distrito de Barra do Guaicuí, município mineiro de Várzea da Palma. A população da Bacia é estimada em 4,4 milhões de habitantes. Ao esgoto doméstico e lixo descartado às margens do Velhas e de seus afluentes também se misturam resíduos de indústrias têxteis, de alimentos e mineradoras, além de óleos, graxas, soluções de baterias energéticas, tintas e produtos químicos provenientes de postos de gasolina, lava-jatos e oficinas mecânicas.
www.fiemg.com.br www.cbhvelhas.org.br
MAIOR COMPETITIVIDADE Por meio do “Minas Sustentável”, a Fiemg faz visitas periódicas aos empreendimentos, identificando pontos positivos e negativos da gestão ambiental. Posteriormente, as impressões e dados coletados são enviados à empresa, por meio de um relatório, indicando as providências e adequações necessárias. Para este ano, estão sendo desenvolvidas ações mais específicas, voltadas para a Bacia do Velhas. “De modo geral, a indústria minei-
ra tem uma gestão eficiente. Ainda assim, procuramos incutir sempre na mente do empresariado a importância e as vantagens de seguirem avançando no aprimoramento de seus processos e no controle ambiental. Afinal, equilibrar desenvolvimento econômico, respeito ao meio ambiente e comprometimento social é um ótimo negócio para as empresas, diminuindo custos e aumentando sua competitividade”, conclui Deivid de Oliveira.
MINAS RUMO AO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA 2018
A necessidade de uma aliança global pacífica pela conservação e uso consciente dos recursos hídricos foi um dos lemas da palestra do líder espiritual brasileiro Sri Prem Baba, no dia 11 de janeiro, durante o “Águas pela Paz – II Seminário Internacional Água e Transdisciplinaridade”, em São Paulo (SP). O evento faz parte das preparações para o 8º Fórum Mundial da Água, em março, e reuniu cerca de 600 pessoas interessadas em ouvir o recado do idealizador do movimento global Awaken Love. “Precisamos criar uma nova revolução, mas de consciência. Temos que conseguir superar crenças limitantes que têm nos feito reféns do sofrimento. Precisamos ter coragem de reescrever o nosso destino. Estamos no clímax dessa revolução. Daqui a pouco vamos olhar para trás e não reconhecer esse nosso mundo.” O líder espiritual destacou que a água tem sido a precursora e a mapeadora da jornada evolutiva do homem. E ressaltou que a sociedade sempre se organizou em torno dos rios, ou seja, das águas. No entanto, segundo ele, o desenvolvimento desordenado tem afastado a sociedade dos recursos hídricos. “Fomos nos afastando das águas e a grande maioria da população só a conhece da torneira para dentro. Desconhece o percurso da água da fonte até que ela possa chegar em casa e isso criou uma desconexão. Buscamos encontrar soluções apenas técnicas.” Ele lembrou, ainda, que a água é a causa da vida e deve estar dis-
FOTO: FÁBIO POZZEBOM / AGÊNCIA BRASIL
LÍDER ESPIRITUAL DEFENDE UMA NOVA REVOLUÇÃO
SRI PREM Baba: "A água enseja o diálogo, a cooperação e a paz; ela é para todos"
ponível para todos. “Há também aspectos subjetivos que precisam ser considerados na busca por esse objetivo maior. Temos muito que aprender sobre cooperação e compartilhamento. Água enseja o diálogo, a cooperação, a paz. Ela pode, de fato, nos levar a uma nova realidade da geopolítica tendo a negociação, a cooperação e o compartilhamento como base para atender o entendimento ancestral de que a água é para todos.”
Prem Baba também frisou a importância de “plantar” água e fazer renascer as florestas. “Tudo está interligado: proteger nascentes, gerar energia limpa e renovável, cuidar do lixo. A água precisa ser tratada e respeitada como uma entidade viva, como fazem muitos povos antigos, que ainda mantêm a tradição do espírito vivo”, alertou. SAIBA MAIS
www.sriprembaba.org JAN/FEV DE 2018 | ECOLÓGICO 39
FOTOS: PLANTANDO O FUTURO/CODEMIG/DIVULGAÇÃO
INFORME PUBLICITÁRIO
MUDAS PRODUZIDAS em viveiros do programa “Plantando o Futuro” vão revegetar áreas em diferentes Territórios de Desenvolvimento
REFLORESTAMENTO FOMENTA
COMPENSAÇÃO AMBIENTAL Coordenadora do “Plantando o Futuro”, Codemig atua como interveniente em convênios a serem celebrados pela Cemig Distribuição para o cumprimento de condicionantes vinculadas ao licenciamento de seus empreendimentos
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no novo, novas parcerias em andamento e esperança também renovada de um futuro mais verde, hídrico e sustentável para todos os mineiros. A Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) e a Cemig Distribuição S/A assinaram um termo de cooperação técnica visando à utilização de propostas do programa “Plantando o Futuro” para o cumprimento de condicionantes ambientais vinculadas ao licenciamento de empreendimentos
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da concessionária de energia. O termo de cooperação, publicado no Diário Oficial de Minas Gerais em 15 de dezembro passado, tem vigência até 31 de dezembro de 2018. No total, foram apresentadas à Cemig Distribuição 30 propostas de projetos de reflorestamento, abrangendo diferentes bacias hidrográficas no Estado. De acordo com o plano de trabalho, o passo em andamento é a análise das propostas pela Cemig Distribuição, com base em critérios técnicos e classificatórios.
A concessionária de energia adota uma fórmula especial de avaliação de projetos que contempla diferentes critérios e pontuações específicas, tais como: agrupamento, no qual considera a proposta que contemple o maior número de bacias hidrográficas a serem beneficiadas; a metodologia a ser adotada; o potencial de participação social da iniciativa e também o valor do financiamento pleiteado pela entidade executora. Uma vez aprovados os projetos, a Cemig Distribuição fará o repasse
do dinheiro necessário à sua implantação e execução pela entidade proponente, ficando a Codemig – por meio do programa “Plantando o Futuro” –, responsável pela fiscalização da execução de todas as ações previstas, bem como do acompanhamento das prestações de contas. Atualmente, a Cemig Distribuição tem 54 medidas compensatórias a serem cumpridas, vinculadas a autorizações ambientais emitidas pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), órgão que também será responsável por validar as compensações ambientais que resultarem do novo termo de cooperação assinado entre as duas companhias. OBRIGAÇÃO LEGAL Além de ser uma obrigação legal, o licenciamento ambiental das atividades da Cemig visa garantir que sua expansão e operação ocorram em observância aos critérios de sustentabilidade e em consonância
com a política ambiental da companhia. O licenciamento pode ter caráter preventivo (para empreendimentos novos) ou corretivo (empreendimentos já instalados). Conforme dados de seu “Relatório Anual e de Sustentabilidade 2016”, para o licenciamento ambiental dos empreendimentos instalados antes de 2007, a Cemig Distribuição fez um agrupamento por região, dividindo o sistema em sete malhas regionais: Centro, Leste, Oeste, Norte, Sul, Mantiqueira e Triângulo. Cinco das sete malhas já têm licenças e duas estão em processo de análise pelo órgão ambiental. Nos últimos dois anos, a Cemig, em parceria com o Governo de Minas Gerais, levou energia para mais de 40 mil novas famílias no campo. Foram 9.897 km de redes, 35.747 transformadores e 109.665 postes instalados em localidades rurais. Maior distribuidora de energia elétrica do Brasil em extensão de linhas e redes, a Cemig totalizou, em
FIQUE POR DENTRO
Lançado pelo governo de Minas Gerais em 2016, o programa “Plantando o Futuro” tem como objetivo plantar 30 milhões de árvores, recuperar 40 mil nascentes, seis mil hectares de mata ciliar e dois mil hectares de áreas degradadas nos 17 Territórios de Desenvolvimento mineiros até dezembro de 2018. 2016, R$ 52,7 milhões aplicados em meio ambiente. Desse montante, R$ 49,3 milhões foram destinados a investimentos e despesas relativas ao cumprimento de condicionantes e melhorias ambientais. SAIBA MAIS
www.plantandoofuturo.mg.gov.br www.cemig.com.br
O novo Auditório do Tergip, localizado na Rodoviária de Belo Horizonte, é a nova casa do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). A primeira reunião do conselho realizada no local, em 14 de dezembro passado, contou com a presença dos secretários estaduais de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Governo, Educação, Cultura e Cidades, além de representantes da Codemig. O espaço, totalmente revitalizado e modernizado com investimentos estimados em R$ 700 mil, vai atender a dois objetivos principais: garantir mais qualidade de trabalho aos conselheiros do Copam e mais conforto aos participantes das reuniões que deliberam sobre importantes temas da agenda ambiental mineira. Órgão colegiado, normativo, consultivo e deliberativo, o Copam é subordinado administrativamente à Semad. Além de sediar as reuniões do conselho – anteriormente realizadas na sede da Supram Central Metropolitana, na Rua Espírito Santo, 495, no Centro de BH – o auditório também está aberto à comunidade em geral.
FOTO: DIVULGAÇÃO
Copam em nova sede
Auditório do Tergip, na Rodoviária de BH: reforma assegura mais conforto Com capacidade para até 134 pessoas, o espaço tem completa estrutura de apoio e poderá ser locado para a realização de palestras, congressos, seminários e demais eventos socioculturais e artísticos. A locação, conforme disponibilidade, deve ser feita mediante reserva antecipada. O formulário eletrônico de solicitação pode ser acessado no seguinte endereço: www.codemig.com.br/atuacao/ terminal-rodoviario/auditorio/.
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INFORME PUBLICITÁRIO
Em janeiro de 2015, o Governo de Minas Gerais anunciou a primeira grande ação para combater a escassez hídrica no Estado. Uma força-tarefa mobilizou diversos setores da administração pública estadual e envolveu, inclusive, a sociedade. Na ocasião, a seca agravou problemas de abastecimento urbano, obrigando 174 cidades mineiras a decretarem situação de emergência. Também em 2014/2015, a Região Metropolitana de Belo Horizonte sofreu os impactos da diminuição dos volumes dos reservatórios, principalmente, de Rio Manso, Vargem das Flores e Serra Azul, o que exigiu a tomada de medidas para assegurar o abastecimento da população. Como resposta, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) construiu um sistema de captação de água do Rio Paraopeba, com investimento total de R$ 128,4 milhões, aportados pelo governo estadual. A força-tarefa foi encerrada com êxito, tendo sido as obras de captação no Paraopeba, na cidade de Brumadinho, inauguradas em dezembro de 2015. Sempre atento ao cenário de escassez que se mantém no Estado, o governo mineiro criou, em novembro de 2017, o Grupo de Acompanhamento da Segurança Hídrica. Após a indicação dos representantes das instituições participantes, os trabalhos do grupo foram iniciados em janeiro deste ano. O plano de trabalho inclui as seguintes linhas temáticas: governança e regulação; gestão de dados e informações; intervenções de infraestrutura; uso sustentável de água subterrânea; eficiência de uso (na bacia hidrográfica e consumo urbano doméstico e perdas) e reú-
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FOTO: DIVULGAÇÃO PMC
Crise hídrica: MG une esforços e compartilha bons exemplos
Reservatório Vargem das Flores
so; bem como conservação da bacia hidrográfica e reabilitação ambiental de áreas degradadas. PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO Com essas linhas temáticas, foram estabelecidas atividades de curto, médio e longo prazos que vão desde apoio aos municípios para elaborar planos de contingência para abastecimento público até um programa de revitalização de bacias hidrográficas, definindo áreas prioritárias de conservação. Outro foco de atenção do governo estadual, por intermédio da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), é o fato de 2018 ser considerado o “ano hídrico”, cujo ponto alto se dará em março, com a realização, em Brasília (DF), do 8o Fórum Mundial da Água. Para tanto, a Semad tem se dedicado a fortalecer as ações do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e de outros órgãos vinculados ao
Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema). A agenda inclui como prioridade a informação de base de qualidade, com aprimoramento do monitoramento hidrometeorológico, modernização do monitoramento de qualidade das águas, além de um importante trabalho de consistência da base de dados de uso da água no Estado. Conforme especialistas do Igam, sem informação de qualidade não é possível uma gestão hídrica eficaz. Além disso, é obrigação do governo mineiro disponibilizar dados e informações à sociedade, garantindo a transparência de todos os resultados e ações. Outra medida prevista é a retomada do repasse de recursos do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado (Fhidro) aos comitês, para que se estruturem e bem desempenhem suas funções. COMPARTILHAMENTO No que se refere especificamente aos preparativos para o 8o Fórum
ENTENDA MELHOR De forma pioneira no Brasil, o Igam aprovou no Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH) a Deliberação Normativa no 49, em março de 2015, estabelecendo diretrizes e critérios para a definição de situação crítica de escassez hídrica e de restrição de uso das águas em Minas.
Desde então, vários avanços na gestão das águas foram observados no Estado. Após a aprovação da norma, especialistas do Igam acompanharam sua aplicação em uma fina articulação com a fiscalização da Semad, considerando que a norma sem fiscalização da restrição estabelecida não teria eficácia.
Atualmente, estão em fase de publicação as portarias que restringem os usos na área de contribuição do reservatório de Juramento e no Ribeirão Todos os Santos, que abastecem Montes Claros e Teófilo Otoni, respectivamente. Em 2017, conforme dados da Defesa Civil, foram gerados 172 processos de situação de emergência por seca, referentes a 126 municípios.
Mundial, o Igam está elaborando uma publicação para o compartilhamento de boas práticas da gestão das águas em Minas. O material vai contemplar exemplos dos setores públicos, privados, ONGs e instituições de ensino. Uma das abordagens temáticas do fórum é exatamente o compartilhamento, o que justifica e amplifica a iniciativa do Igam de mostrar o que vem sendo feito, coletivamente, em prol da melhoria da gestão hídrica no Estado. No contexto da manutenção do abastecimento público na Região Metropolitana de Belo Horizonte, alguns desafios persistem, uma vez que a mesma tem sofrido com os baixos índices pluviométricos nos últimos quatro anos. A título de exemplo, em janeiro deste ano choveu um terço da média histórica nos sistemas produtores Rio das Velhas, Rio Manso e Vargem das Flores. Contudo, o cenário ocorrido em 2014/2015 não é esperado para os próximos anos. A obra para implantação da captação do Rio Paraopeba, em Brumadinho, permitiu a recuperação dos reservatórios. A intervenção consiste na captação de 5.000 litros de água bruta por segundo do Paraopeba, que é bombeada para a Estação de Tratamen-
to de Água (ETA) Rio Manso. Do ponto de vista da infraestrutura para garantia de segurança hídrica para a população, a solução de um reservatório no Velhas não pode ser descartada, mas obviamente precisa ser aliada a uma política de conservação da bacia. A conservação das bacias produtoras dos sistemas da RMBH é considerada um fator decisivo para a segurança hídrica. Assim, em conjunto com a Semad, o Igam vem trabalhando no pacto do Sinclinal Moeda, além de acompanhar, na UFMG, pesquisas de modelagem de mananciais metropolitanos estratégicos para apoiar a gestão de recursos hídricos nessas regiões (Projeto Moma).
dos recursos hídricos em seus processos, chegando próximo de 8%. Essa redução contínua se baseia em diferentes medidas, em especial na melhoria da gestão e na adoção de tecnologias voltadas para a recirculação e o reúso. “A questão da água é uma preocupação coletiva. As grandes indústrias estão atentas e bastante avançadas nesses processos. Mas, durante a crise hídrica de 2014/15, fomos procurados por várias empresas de menor porte, que foram obrigadas a paralisar suas atividades por falta d’água e, hoje, muitas ainda enfrentam situação de escassez”, explica o analista ambiental da Gerência de Meio Ambiente da Fiemg, Deivid Lucas de Oliveira. Segundo ele, a Fiemg conscientiza e apoia o setor por meio de diferentes ações. Uma delas é a realização de workshops destinados a orientar os empresários em relação ao cumprimento do calendário de Obrigações Ambientais Legais, para que se mantenham em dia com cadastros, registros e pagamentos de taxas, incluindo aqueles relacionados às questões hídricas. “No início de cada ano, fazemos rodadas de atendimento em todas as nossas regionais, porque são várias as obrigações a serem cumpridas. Em Minas, a legislação está cada vez mais restritiva e é preciso se manter atento”, salienta.
INDÚSTRIA AVANÇA No segmento industrial, o alerta em relação à crise hídrica permanece aceso. Conforme dados da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), entre 13% e 17% da captação de água dos mananciais brasileiros são destinados a abastecer o setor. O volume é considerado baixo, se comparado a outros, como a agricultura, por exemplo, responsável por 60% a 70% da captação total. A meta mineira, entretanto, é reduzir ainda mais o uso
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1 As Áreas Protegidas do Minas-Rio (3)
O FUTURO QUE REVELA
O PASSADO
Criação em curso de uma RPPN em Morro do Pilar já promove preservação ecológica e histórica na beleza da Serra do Cipó Fernanda Mann
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ocalizada no município mineiro berço da siderurgia nacional, a Fazenda Volta da Tropa está em vias de ter parte de sua área transformada na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de Morro do Pilar. A iniciativa, que integra o projeto de compensação ambiental da Anglo American, tem um objetivo maior: preservar a integridade natural dos campos rupestres ferruginosos que surpreendem e encantam os visitantes. Com a aquisição da área em agosto de 2016, 112 hectares da Fazenda serão protegidos pela empresa. E, com eles, vários tesouros espeleológicos identificados nas pesquisas realizadas pela Anglo American na região. Trata-se de cavidades subterrâneas intactas, muitas delas abrigo de comunidades antepassadas, como os índios Botocudos [leia mais a seguir], que habitaram todo o Vale do Rio Doce. O bioma que guarda esses tesouros
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ecológicos e históricos (leia-se toda a Serra/Parque Nacional do Cipó) tem fitofisionomia única. Ele é extremamente frágil e de baixa resiliência. “Isso significa que, uma vez impactado, dificilmente retoma sua estrutura original. Daí sua grande importância em termos de preservação sistêmica”, afirma Josimar Gomes, analista ambiental da empresa. Ele ressalta que para compensar as áreas onde é realizada a exploração de minério de ferro, a Anglo American busca e preserva territórios próximos e equivalentes àqueles onde a atividade é realizada. “No caso dos campos rupestres ferruginosos, essa grande diversidade é extremamente específica. E, em termos de complexidade vegetal, o município de Morro do Pilar corresponde a uma área de preservação riquíssima”, explica. IMPORTÂNCIA HISTÓRICA Faustino Souza, ecólogo, técnico
FOTOS: FERNANDA MANN
redacao@revistaecologico.com.br
FAUSTINO SOUZA: "Mais conscientização ambiental na região"
agrícola e também analista ambiental da Anglo American, foi um dos primeiros contratados pela empresa para atuar na região. Ele conta que, há nove anos, quando chegou ali, ficou tão impactado com a beleza e a quantidade de florestas fe-
FOTOS: DIVULGAÇÃO ANGLO AMERICAN
A ANGLO AMERICAN vem desenvolvendo ações para garantir a preservação e a qualidade da água do Córrego do Pilar, que corta a futura RPPN
chadas que por um momento imaginou ser impossível que alguém tenha habitado o local. “Quando foi feita a análise do terreno, descobriu-se que muitos povos antigos habitaram ali. Depois, eles deixaram a área. Mas os vestígios das presenças permaneceram. As pesquisas arqueológicas apontam que houve ocupações na região des-
de o período colonial, na época da mineração do ouro e até antes disso”, afirma. Em Conceição do Mato Dentro, cidade vizinha a Morro do Pilar, a preservada Lapa do Fogão (que recebeu este nome por causa da existência de um primitivo fogão a lenha no local) é um dos sítios arqueológicos de maior relevância do país: apenas lá foram en-
contradas mais de 44 mil peças e utensílios históricos. As pesquisas apontam que comunidades viveram ali há mais de 10 mil anos, na fase de transição do Pleistoceno ao Holoceno. Para Faustino, a arqueologia tem um apelo ético, sendo também uma ferramenta preciosa de educação para a preservação ambiental e o turismo. “Imaginar há quanto tempo
Após a criação da RPPN, a empresa irá estruturar de forma efetiva e sustentável o seu uso público, incluindo a realização de ações de educação ambiental
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FOTO: FERNANDA MANN
1 As Áreas Protegidas do Minas-Rio (3)
CANELA-DE-EMA (Vellozia squamata Pohl): a beleza, em extinção, que encantou Saint-Hilaire
PRESENÇA INDÍGENA A região que abrigará a futura Unidade de Conservação da Anglo American foi significativamente ocupada por grupos indígenas no passado. Relatos históricos reportam a extensa ocupação por índios Botocudos nas imediações de Conceição do Mato Dentro. Lá, eram reunidos sob a alcunha de “tapuias”. Ou seja, os “bárbaros”, em tupi-guarani. 46 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
FOTO: REPRODUÇÃO
esse território vem sendo ocupado e descobrir a história e os costumes de pessoas que não tiveram a oportunidade de transmiti-los é uma grande oportunidade de conhecer mais sobre nosso passado. Assim, nós e as gerações futuras saberemos que ali viveram muitos povos de culturas diferentes. Isso promove a consciência e nosso senso de responsabilidade com a natureza e a nossa história”, ressalta.
OS BOTOCUDOS ocuparam grande parte do Vale do Rio Doce e se alimentavam de carnes e hortaliças
Esses povos, habitantes do Sertão, eram considerados agressivos pelos invasores portugueses, tendo ocupado todo o Vale do Rio Doce. Economicamente, os Botocudos, assim como
os demais povos indígenas à época da invasão bandeirante, dependiam da horticultura e da caça e pesca para sobreviver: plantavam milho, mandioca, amendoim e consumiam carnes de pequenos mamíferos e peixes. Milhares de anos depois, neste mesmo território onde viviam os Botocudos, passaram naturalistas que cruzaram oceanos para desfrutar das belezas naturais e descobrir/ identificar novas espécies da fauna e da flora de nosso país. É o caso do botânico francês August de SaintHilaire, que há aproximadamente 200 anos esteve na região. Ele ficou encantado com algumas plantas típicas dos campos rupestres, como a canela-de-ema (Vellozia squamata Pohl), que hoje, infelizmente, encontra-se ameaçada de extinção. PRESERVAR É PRECISO Localizada em área limítrofe do mu-
nicípio de Conceição do Mato Dentro, a parte da Fazenda Volta da Tropa que abrigará a futura RPPN vem sofrendo alguns impactos por conta da proximidade com a zona urbana. O espaço é utilizado frequentemente por moradores e visitantes locais para uso recreativo e turístico. Por isso, a conscientização da população para a necessidade de se preservar o local é constante na região e é uma das preocupações da empresa. A questão do esgoto lançado no córrego Pilar, que corta a área adquirida, já tem solução à vista. Em novembro de 2017, a Anglo American assinou um protocolo de intenções que prevê a elaboração de um diagnóstico específico sobre o lançamento irregular de efluentes sanitários na calha do córrego Pilar e ações para reversão desse impacto. O protocolo prevê também a elaboração e a execução de um Programa
FOTO: REPRODUÇÃO
AUGUST DE SAINT-HILAIRE: ele identificou várias espécies da fauna e da flora na região
de Educação Ambiental e Patrimonial específico para o município, com envolvimento do poder público municipal e sociedade civil. Atualmente, a empresa não possui um programa de monitoramento socioeconômico específico para Morro do Pilar. Com
a obtenção das licenças Prévia e de Instalação para a Etapa 3 do Minas-Rio no dia 26 de janeiro, a execução das atividades será iniciada em breve. O próximo passo para manter essa riqueza natural e histórica viva e preservada, logo após transformá-la definitivamente em RPPN, é estruturar de forma efetiva e sustentável o seu uso público. E isso inclui atividades de educação ambiental para promover e viabilizar o cuidado com os recursos naturais da região. A Anglo American também irá alinhar, em conjunto com as comunidades próximas à nova RPPN, como elas poderão se beneficiar dos serviços ambientais oferecidos pela floresta preservada. E torná-la um local seguro, protegido e sinalizado para ser desfrutado com respeito e amorosidade. Tal como toda a Serra do Cipó e suas belezas naturais, a futura RPPN Morro do Pilar ainda tem muito a nos revelar. SAIBA MAIS
brasil.angloamerican.com
Morro do Pilar é o berço da siderurgia no Brasil, com a primeira fusão de ferro-gusa em alto-forno do país. O Intendente Câmara entrou para a história como o construtor do primeiro alto-forno para a produção de ferro na América do Sul. Essa façanha se deu com a implantação da Real Fábrica de Ferro do Morro do Pilar ou de Gaspar Soares, em 1814. Conforme historiadores, Câmara, que estudou na Universidade de Coimbra, em Portugal, era contemporâneo de José Bonifácio, o Patriarca da Independência. Quando jovens, eles integraram um grupo que percorreu minerações da Alemanha, Rússia, Suécia, Noruega, Escócia e País de Gales, custeado pelo governo português, para conhecer mais sobre o assunto. A descoberta de ouro motivou a fundação da cidade, por volta de 1701, pelo minerador Gaspar Soares. Localizada na região central de Minas Gerais, Morro do Pilar tem várias atrações
FOTO: JEFFERSON SOARES
FIQUE POR DENTRO
naturais, como a Cachoeira do Tombo, tem 3,3 mil habitantes (IBGE, 2015), 475,6 km2 de área e fica a 151 km da capital mineira.
Para mais informações, acesse: www.morrodopilar.mg.gov.br
JAN/FEV DE 2018 | ECOLÓGICO 47
1 RECICLAGEM
ILHA DE LIXO equivalente a 70 campos de futebol, Thilafushi é a faixa de terra mais desconhecida, controversa e poluída do paraíso tropical das Ilhas Maldivas
POR UM MUNDO SEM DESCARTE Maior fabricante de bebidas do planeta, a Coca-Cola assume compromisso de zerar em 100%, até o ano 2.030, toda a poluição causada pelo descarte de suas embalagens não recicladas na natureza
HENRIQUE BRAUN: "Temos de fazer o que as pessoas esperam de uma empresa líder como a nossa"
lhão para garantir a entrega desse objetivo, com ações em três frentes: design, coleta e parceria. FOTO: COCA-COLA BRASIL / DIVULGAÇÃO
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em tudo está perdido no mundo da reciclagem. A The Coca-Cola Company anunciou, neste início de ano, sua nova política de embalagens, com um objetivo ambicioso: ajudar a recolher o equivalente a 100% das embalagens que coloca no mercado, até 2030. O compromisso é o mesmo para todos os países onde atua. Aqui no Brasil, a empresa vai chegar ao fim de cinco anos (2016-2020) com investimento de R$1,6 bi-
Atualmente, a Coca-Cola Brasil já garante a destinação correta para 51% das embalagens produzidas e trabalha para chegar a 66% até 2020. Em 2016, esse percentual era de 36%. Esse avanço se deu graças ao aumento de participação de embalagens retornáveis, uso de resina reciclada para a confecção de novas garrafas (Bottle to Bottle) e apoio a mais de 200 cooperativas de reciclagem em todo o país.
“Os números mostram que temos trabalhado de forma consistente, o que nos dá confiança e estímulo para alcançarmos, aqui no Brasil, o objetivo de termos 100% das nossas embalagens destinadas corretamente em 2030. Temos que fazer isso porque é o certo e é o que as pessoas esperam de uma empresa líder como a nossa.” afirma o presidente da Coca-Cola Brasil, Henrique Braun. Como parte da visão de crescimento consciente, a empresa está investindo em infraestrutura, entre ampliação de linhas de retornáveis, equipamentos de fábrica, compra de vasilhames e engajamento do consumidor, e também em cooperativas de reciclagem. Do total de R$ 1,6 bilhão previsto entre 2016 e 2020,
FIQUE POR DENTRO
O Sistema Coca-Cola Brasil é o maior produtor de bebidas não alcoólicas do país e atua em nove segmentos — água, café, chás, refrigerantes, néctares, sucos, lácteos, bebidas esportivas e à base de proteína vegetal — com uma linha de mais de 152 produtos, entre sabores regulares e versões zero ou de baixa caloria. Composto por nove grupos parceiros de fabricantes, o Sistema emprega diretamente 62,6 mil funcionários, gerando cerca de 600 mil empregos indiretos. Em 2017, foram investidos R$ 3,2 bilhões, 10% acima da média dos últimos cinco anos. O Sistema Coca-Cola Brasil está empenhado em incentivar iniciativas que melhorem o desenvolvimento econômico e social das comunidades em que opera. Para isso, conta com uma plataforma de valor compartilhado, o Coletivo CocaCola, que já impactou a vida de mais de 175 mil pessoas por meio de toda a cadeia de valor da empresa.
FOTO: COCA-COLA BRASIL / DIVULGAÇÃO
R$ 1,2 bilhão representa o investimento de hoje até 2020. Entre as iniciativas da empresa, as ações de reúso de embalagens estão voltadas para o objetivo de dobrar, em cinco anos (2016-2020), a participação de retornáveis no portfólio, chegando a 30%. Na frente de redesenho, atualmente, as garrafas de plástico têm cerca de 20% menos peso do que as produzidas há 10 anos. E, desde 2008, a Coca-Cola Brasil investe continuamente na capacitação de cooperativas de reciclagem e em iniciativas de inclusão dos catadores. A estratégia de embalagens sustentáveis no Brasil conta com uma visão completa da cadeia produtiva. Na lógica da chamada economia circular, nenhum componente de um produto deve ser encarado como resíduo. As embalagens são desenvolvidas considerando todo seu ciclo de vida e são 100% reaproveitáveis, ou seja, podem e devem voltar ao ciclo industrial.
O OBJETIVO do projeto é reciclar todas as embalagens produzidas
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1 RECICLAGEM
FOTO: CAROL COELHO / INOVAFOTO
As três frentes de atuação para “O Mundo sem Resíduos”
COLETIVO RECICLAGEM: através das cooperativas, inserção, emprego, renda e ambiente digno aos catadores; todos ganham com a causa planetária
2- REÚSO Hoje, cerca de 20% do seu portfólio é composto por embalagens retornáveis (RefPET e vidro). Esse formato oferece ao 50 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
consumidor uma opção mais acessível e sustentável, uma vez que cada garrafa é reutilizada até 25 vezes, e não gera resíduos ao final de seu ciclo de uso. 3- RECICLAGEM E PARCERIA Desde 2008, a empresa investe em cooperativas de catadores de materiais recicláveis, tanto em
FOTOS: COCA-COLA BRASIL / DIVULGAÇÃO
1- DESIGN A Coca-Cola diz buscar, continuamente, a redução da quantidade de insumos utilizados. De 2008 a 2016, reduziu, em média, a gramatura das embalagens PET em 20%. A Coca-Cola Brasil aumentou também o uso de matéria-prima reciclada nas embalagens produzidas. Mais de 60% da composição de novas latas de alumínio e de garrafas de vidro é proveniente de embalagens recicladas. Juntas, representam 31% do volume de material colocado no mercado, anualmente. E 35% das embalagens PET também já são compostas por resina reciclada.
infraestrutura quanto em metodologia e gestão, em linha com o que prevê o “Acordo Setorial de Embalagens”, assinado em 2015. Em 2017, a Coca-Cola Brasil anunciou sua nova plataforma em reciclagem, o “Reciclar pelo Brasil”. Em parceria com seu principal concorrente, passou a coinvestir de forma mais eficiente e gerando um aumento de até 25% nos aportes recebidos por elas. Coordenado pela Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT), o programa “Reciclar pelo Brasil” impacta, inicialmente, 110 cooperativas e 5 mil famílias. Ao todo, a empresa apoia 200 cooperativas. A meta é ampliar essa aliança já em 2018, com outras indústrias parceiras.
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1 RECICLAGEM
O "Imagine" reciclável de
James Quincey “Quando você acordou esta manhã, pode ter passado cerca de uma hora se arrumando. Escovou os dentes, tomou banho e vestiu-se. Com fome, talvez você tenha preparado o café da manhã e assistido às notícias do dia. Alguns de vocês deixaram as crianças na escola. Outros responderam aos e-mails que chegaram durante a noite. Eu? De novo me cortei fazendo a barba. Independentemente de quem você seja ou onde viva, uma coisa é certa: durante aquela hora, cerca de 900 toneladas de resíduos plásticos chegaram a nossos oceanos. Essa massa é equivalente a quase 600 sedãs de tamanho médio. Isso é inaceitável. Também é insustentável. Se não for controlado, o desperdício de plástico JAMES QUINCEY, PRESIDENTE DA COCA-COLA COMPANY: “Um mundo sem lixo é possível”
irá sufocar lentamente nossos oceanos e hidrovias. Este desperdício traz perigos claros para a vida marinha, que vemos em imagens perturbadoras de animais que sofrem. E não se engane, esse desperdício provavelmente terá um impacto ainda mais amplo, não somente na vida selvagem.
O problema mundial das embalagens é um sintoma de uma condição mais séria. Estamos usando a nossa Terra como se houvesse outra na prateleira, apenas esperando para ser aberta. Inclusive, o uso de recursos naturais em todo o mundo cresceu duas vezes mais rápido que a população durante o século XX. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), espera-se que o uso global de materiais atinja quase 90 bilhões de toneladas em 2017 — três vezes a quantidade usada em 1970. Estamos usando (e desperdiçando) nossos recursos naturais a uma velocidade cada vez maior, agindo como se nunca fossem se esgotar. Este não é apenas um problema para tartarugas marinhas
a manter as pessoas vivas. E isso só foi possível graças a modernas tecnologias de engarrafamento de água e plástico. É TENTADOR ROMANTIZAR UM MUNDO SEM EMBALAGEM.
Presumir que, se nos livrarmos de garrafas de plástico e latas, a vida será melhor — para os animais, para os humanos, para o nosso planeta. Essa ideia erroneamente ignora tudo o que as embalagens podem fazer. Os recipientes modernos de alimentos e bebidas reduzem a deterioração e o desperdício de alimentos, limitam a propagação de doenças e podem ajudar a salvar vidas. Em suma, garrafas e latas podem beneficiar a sociedade se forem projetadas adequadamente e descartadas de forma responsável. Para isso, empresas como a The Coca-Cola Company podem nos desafiar a fazer mais. A liderar. A assumir riscos. E a crescer de modo consciente, FOTO: DICULGAÇÃO
sem sorte ou comunidades costeiras que têm de lidar com garrafas plásticas que aparecem em suas costas. É um problema para todos nós, em todos os lugares. E, como a maioria dos problemas, este proporciona uma oportunidade. Temos a chance de repensar o plástico, as embalagens e até nossas economias com a intenção de fazer melhorias. Há décadas, embalagens de alimentos e bebidas são parte importante da vida moderna. Garrafas e latas facilitam nossa hidratação no dia a dia. Fazem com que as bebidas permaneçam seguras e limpas para consumo humano. Ajudam a fornecer água potável em tempos de necessidade. Na verdade, em 2017, nós e nossos parceiros engarrafadores doamos mais de 1,4 milhão de garrafas de água para comunidades necessitadas, logo após os furacões Irma, Harvey e Maria. Essa água limpa e segura ajudou
TARTARUGA VÍTIMA das 900 toneladas de resíduos plásticos que são descartados, a cada hora, nos nossos oceanos: imagem perturbadora
conduzindo os negócios do jeito certo, não apenas do jeito fácil. Por isso, anunciamos uma meta ousada e ambiciosa: ajudar a coletar e reciclar uma garrafa ou lata para cada uma que a empresa vende, até 2030. Independentemente de onde vier, queremos que cada recipiente tenha mais de uma vida. Esta é a nossa visão de um mundo sem resíduos. Trabalhar para criar um mundo sem resíduos não é fácil e envolve muitas etapas dinâmicas. Entre esses passos, as empresas têm que fazer sua parte, certificando-se de que suas embalagens são realmente recicláveis. As pessoas têm que fazer sua parte, efetivamente encaminhando os materiais para reciclagem. E todos nós temos que fazer o que podemos — não importa o tamanho da ação — para garantir que as embalagens não acabem descartadas onde não devem. Para atingir essa meta, estamos repensando todo o ciclo de vida de uma embalagem — do momento em que é projetada até como é feita. Em 2009, apresentamos a PlantBottle, uma garrafa inovadora composta por até 30% de materiais à base de plantas. Há anos estamos trabalhando para tornar nossas embalagens 100% recicláveis. E você provavelmente notou que algumas de nossas garrafas são mais leves do que costumavam ser. Embora sejam passos na direção certa, não pretendemos parar por aí. Estamos procurando novas maneiras de tornar o plástico cada vez mais inovador e sustentável, e estamos trabalhando para incluir mais material reciclado em nossas garrafas plásticas. Fazer nossas garrafas e latas mais sustentáveis e recicláveis é apenas parte da resposta. Se
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JAN/FEV DE 2018 | ECOLÓGICO 53
1 RECICLAGEM algo pode ser reciclado, deve ser reciclado. Por isso, queremos colaborar para que pessoas de todos os lugares entendam como fazer sua parte. ECONOMIA CIRCULAR Nosso objetivo é incentivar mais pessoas a reciclarem com maior frequência. Para fazer isso, pretendemos investir nossa verba de marketing e habilidades para ajudar as pessoas a entenderem o que reciclar, como reciclar e onde reciclar. Acreditamos na economia circular, na qual plástico, vidro e alumínio são reutilizados muitas vezes, em vez de serem usados apenas uma vez e jogados fora. Queremos que os outros acreditem nisso também.” Queremos também trabalhar com comunidades locais, nossos concorrentes e até com nossos críticos para ajudar a resolver esse problema crítico. Em algumas comunidades, a reciclagem é simples. Você simplesmente deixa sua garrafa ou lata na cesta de coleta seletiva mais próxima, e acabou. Em outros locais, a reciclagem é um trabalho árduo. Pode não haver uma cesta de reciclagem, ou a lata mais próxima pode estar a duas horas de distância. Quem tem tempo para isso? Mais importante ainda: ninguém deveria ter que ir tão longe para reciclar uma garrafa. Como a nossa empresa está em muitas comunidades no mundo, podemos compartilhar nossas melhores práticas. Podemos colaborar com governos, comunidades, setor privado e ONGs para ajudar a desenvolver sistemas de reciclagem mais eficientes que atendam às necessidades exclusivas de cada comunidade. Na verdade, podemos ajudar a tornar a reciclagem mais fácil e acessível para todos. 54 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
“O problema mundial das embalagens é um sintoma de uma condição mais séria. Estamos usando a nossa Terra como se houvesse outra na prateleira, apenas esperando para ser aberta. Inclusive, o uso de recursos naturais em todo o mundo cresceu duas vezes mais rápido que a população durante o século XX." No México, ajudamos a fazer exatamente isso. Os nossos engarrafadores parceiros juntaram-se à indústria mexicana de plásticos e outros, em 2002, para criar a Ecology and Corporate Compitment — ECOCE (Ecologia e Compromisso Corporativo, em tradução livre). Uma organização não-governamental dedicada a incentivar a cultura da reciclagem, e financiou a criação de duas estações de reciclagem de plástico PET para utilização em embalagens de alimentos e bebidas: IMER e PetStar. Esses investimentos estão dando retorno. Em 2016, o México reciclou 57% do plástico PET que produziu (bem acima dos 9% de 2002), tornando-se o país líder no mundo em reciclagem de PET. É EXATAMENTE ISSO QUE QUEREMOS FAZER.
“Mas e todas as garrafas e latas que já estão lá?”, você pode perguntar. “O que você está fazendo sobre isso?” Fico feliz que você tenha perguntado. Só porque anunciamos esse objetivo para 2030 não significa que estamos começando do zero. Desde 1995, a The Coca-Cola Company é a principal patroci-
nadora do Ocean Conservancy’s International Coastal Cleanup, o maior esforço de voluntariado do mundo em benefício do meio ambiente marinho. Ao longo dessa parceria, ajudamos a mobilizar 11 milhões de pessoas que retiraram 103 mil toneladas de lixo de quase 580 mil quilômetros do litoral. E HÁ MUITO MAIS QUE PODEMOS FAZER JUNTOS.
Nenhuma empresa, organização, governo ou pessoa pode resolver esse problema sozinho. Imagine se todas as empresas que vendem embalagens juntarem-se a nós nesta jornada. Imagine se todos colocarmos à disposição nossos conhecimentos e recursos para resolver esse problema. Imagine se todos trabalhamos para mantermos as embalagens longe dos lugares onde não devem estar. De repente, é possível um mundo sem resíduos. Quando nos unimos em uma ação coletiva, podemos fazer uma diferença significativa e duradoura. Essa deve ser a nossa mentalidade. O princípio que guia o modo como operamos. Porque até você chegar a este ponto do texto, cerca de 40 mil garrafas de plástico já adentraram nossos oceanos. Juntos, podemos reduzir esse número. Juntos, talvez possamos transformá-lo em zero. Isso exigirá trabalho duro, dedicação e investimento de muitos setores da sociedade, mas estou certo de que os frutos para o nosso planeta, nossas comunidades e nossos negócios compensarão o esforço. Agora, vamos trabalhar!” (*) Presidente e CEO da The Coca-Cola Company, autor deste artigo publicado originalmente no Medium.com
QUEM MATA A MATA, mata mais que a mata. plante รกrvores
1 RESPONSABILIDADE SOCIAL
APÓS TRITURADOS, os vidros armazenados no fundo de um tambor de plástico azul parecem ganhar a forma de um planeta reciclado e esperançoso
SOB A INSPIRAÇÃO DE MENIN Com a doação de um triturador pelo Instituto MRV, Tiradentes se torna a primeira cidade da região do Campo das Vertentes a agregar valor à reciclagem de garrafas de vidro descartadas 56 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
Luciana Morais
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“Em um país sofrido como o nosso, temos a obrigação de avançar não apenas no economicamente viável. Mas, também, no ecologicamente correto e socialmente mais justo. Devemos contribuir para o desenvolvimento sustentável, que é possível sim.” RUBENS MENIN, em 26 de maio de 2017, no Minascentro, ao ser homenageado como o "Industrial do Ano"
zado em agosto do ano passado. A enorme pilha de garrafas – que sem o trabalho dedicado de uma equipe de oito catadores seguiria diariamente para o insustentável lixão da cidade – vai ganhar, a partir de agora, destinação segura e, sobretudo, mais rentável e sustentável. FOTOS: MAURÍCIO SEIDL
ustentabilidade para nós é na prática. Vocês podem contar desde já com a MRV na compra dessa máquina”. A promessa feita pelo diretor do Instituto MRV, Raphael Lafetá – que representou o presidente do Conselho de Administração da construtora, Rubens Menin, anunciado como o “Melhor Empresário” do ano, durante cerimônia da 8a Edição do Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza, ocorrida em outubro–, foi cumprida. No dia 03 de janeiro último, pouco mais de dois meses depois de ter pedido licença durante a premiação para quebrar o protocolo e anunciar a doação surpresa de um triturador de vidros ao Projeto Tiradentes Lixo Zero – vencedor na categoria “Destaque Municipal” –, Lafetá fez mais. Acompanhado do gestor executivo de Segurança, Saúde, Meio Ambiente, Qualidade e Sustentabilidade da MRV, José Luiz Esteves, ele foi até a charmosa Tiradentes selar publicamente o compromisso: comemorar a instalação do equipamento, que já está em funcionamento na usina da Cooperativa Tiradentes Recicla, parceira da Associação Tiradentes Lixo Zero, ajudando a transformar a realidade econômica, social e ambiental da cidade, a 192 quilômetros de Belo Horizonte, no Campo das Vertentes. Logo na chegada ao pátio de estocagem de materiais recicláveis, a “montanha” de vidro à espera de um destino nobre chamou a atenção. Lá estavam cerca de 35 toneladas, recolhidas e acumuladas desde a última edição do tradicional festival de gastronomia da cidade, reali-
FOTO: DIVULGAÇÃO MRV
De Tiradentes (MG) redacao@revistaecologico.com.br
Com o triturador, a cooperativa conseguirá agregar valor ao vidro coletado, além de reduzir o volume e também os custos relativos ao seu transporte até uma empresa fabricante de vidros, localizada no interior de São Paulo, para a qual o material passará a ser vendido.
O MAQUINÁRIO já em operação na usina da Cooperativa Tiradentes Recicla: gratidão ecológica
JAN/FEV DE 2018 | ECOLÓGICO 57
1 RESPONSABILIDADE SOCIAL FOTO: LUCIANA MORAIS
EQUAÇÃO SUSTENTÁVEL E AMOROSA
CAPRICHO E FÉ: mesa ornamentada pelos catadores para assinatura do termo de doação, com destaque para o VIII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza, recebido pelas duas entidades em 2017
Vencedoras do "Prêmio Hugo Werneck 2017", a Tiradentes Lixo Zero e a Tiradentes Recicla reforçam dia a dia sua luta em prol da causa sustentável na charmosa cidade histórica. O município, que comemora 300 anos em 2018, tem característica bastante peculiar. Em razão do elevado fluxo de eventos e de turistas, mesmo tendo pouco mais de 7.500 moradores, produz volume de lixo equivalente ao de uma cidade de 20 mil habitantes. Apaixonada pela equação que ilustra as logomarcas e norteia o trabalho das duas entidades (Associação Tiradentes Lixo Zero + Cooperativa Tiradentes Recicla = Cidade Limpa e Consciente), a fundadora e presidente da associação é a artista plástica Andréa Dirickson. Mais conhecida como Tancha, ela segue apostando na educação ambiental como mola propulsora de novos comportamentos.
“R$ 140 a tonelada do verde, R$ 180 a do âmbar (marrom) e R$ 200 a do branco. Esse é o valor do vidro moído entregue lá na fábrica. Vai melhorar demais a nossa vida. Se eles viessem buscar aqui, descontando o carreto e o combustível, não ia sobrar praticamente nada pra gente”, explica o presidente da 58 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
“Fazemos tudo com dedicação e amor. Estamos convencidos de que o diálogo com todos os setores envolvidos e sobretudo as ações de educação ambiental têm de ser permanentes. Um trabalho sério e alimentado diariamente, a cada nova parceria e reconhecimento que conquistamos, como o Prêmio Hugo Werneck.” Tancha frisa que os catadores merecem ser vistos de forma mais solidária e respeitosa pela sociedade, em razão do importante serviço ambiental que prestam. “O catador não é um pária da sociedade. É uma profissão de valor, uma categoria profissional reconhecida por lei. A maioria dos cooperados é arrimo de família, gente que supera desafios diários na coleta de resíduos e nunca se refere a eles como lixo, porque sabe seu real valor, uma vez que retornam às diferentes cadeias produtivas como novas matérias-primas.”
cooperativa, Márcio David. NOVOS APRENDIZADOS Proprietário da Villa de Antonio, Alysson Cardoso Guimarães visitou a usina pela primeira vez no dia da instalação do triturador. “Fiz questão de vir, porque valorizo e sei a importância do trabalho do pessoal da cooperativa,
que coleta o material na minha pousada toda semana. Tenho três funcionários e percebo que, ao fazer a coletiva seletiva, eles se conscientizam mais, passando também a compartilhar os novos aprendizados com suas famílias. Essa troca é valiosa para todos.” Conselheira da Tiradentes Recicla, Heloísa Edwards lamentou
Uma das metas para este ano, destinada a agilizar e ampliar o alcance do serviço de coleta seletiva na cidade é obter apoio para a compra de um veículo Cargo 200. “É um triciclo com carroceria basculante e bastante econômico em termos de consumo de combustível. Com ele, a equipe deixará de usar o caminhão e poderá circular com mais facilidade e baixíssimo impacto ambiental pelas vielas do centro histórico. Seguimos abertos a novas parcerias e doações”, salienta Heloísa.
SAIBA
Além de poupar recursos naturais, a reciclagem do vidro consome menor quantidade de energia e emite menos material particulado do que a fabricação de novos produtos sem a incorporação de cacos. Com um quilo de vidro se faz outro quilo de vidro com perda zero. A reciclagem também aumenta a vida útil dos aterros sanitários. Quer saber mais? Leia o Ecológico nas Escolas, na página 61 desta edição.
CONVOCAÇÃO COLETIVA A presença do gestor executivo José Luiz Esteves na inauguração reafirmou o cuidado da MRV com a segurança e o bem-estar dos catadores. “Além do maquinário e do treinamento introdutório, também doamos todos os equipamentos de proteção individual necessários, tais como óculos, abafadores de ruídos, luvas, botas e uniformes. Esperamos que, com mais segurança, eles também tenham maior produtividade, gerando melhor renda para suas famílias e contribuindo para uma Tiradentes mais limpa.” Movido pela mesma emoção demonstrada na cerimônia de entrega do Prêmio Hugo Werneck, Raphael Lafetá contou que o processo de compra do trituraMárcio, José Luiz, Tancha e Raphael: parceria ativa em prol da sustentabilidade na prática
MAIS
Educação ambiental
FOTO: MAURÍCIO SEIDL
pelo fato de o trabalho das duas entidades não contar com maior apoio da administração municipal, que colabora apenas cedendo o espaço onde funciona a usina e pagando a conta de luz do imóvel. Os catadores atuam em praticamente toda a cidade, coletando material em cerca de 80 estabelecimentos, entre pousadas, hotéis, restaurantes, bares e escolas. Para Heloísa, a conscientização tanto do poder público quanto dos comerciantes, empresários e da população em geral precisa amadurecer. “Ao permitir a coleta do reciclável em seus estabelecimentos, muitos pensam que já estão fazendo demais pelos catadores. Não. Eles são apenas um elo da cadeia. O desafio é planejar e consolidar tanto a coleta seletiva quanto a reciclagem de forma integrada.” Para isso, pondera a conselheira, é preciso investir em planejamento, logística, novas tecnologias e treinamento da mão de obra envolvida. “Isoladamente, a coleta e a venda dos materiais não asseguram os salários dos catadores. Desde abril do ano passado, quando a cooperativa foi fundada, foram vários os meses em que eles ficaram sem a complementação mínima de renda, sobrevivendo apenas com o pouco que conseguem com a venda dos recicláveis.”
dor, que totalizou investimentos de R$ 16 mil, foi simples e rápido. “Estamos extremamente felizes em ver como um equipamento relativamente simples tem grande potencial de transformação para toda a comunidade. Agora, a cooperativa e a associação darão um novo direcionamento – econômico, social e ambiental – ao importante trabalho que já desempenham em prol da cidade.” Determinado a manter viva a parceria com as duas entidades, Lafetá convocou a administração local a também abraçar a causa e unir esforços. “Todo governante deveria ter a sustentabilidade como uma das bases da gestão pública. O mesmo vale para a população. Uma cidade limpa e ordenada demonstra o seu grau de conscientização e de maturidade em relação ao descarte adequado dos resíduos que gera, em especial daqueles com elevado potencial de reciclagem, como o vidro. Quantos mais conhecerem, entenderem e apoiarem essa causa, melhor para todos”, concluiu. SAIBA MAIS
www.institutomrv.com.br No Facebook: CooperativaTiradentes-Recicla e Tiradenteslixozero Leia entrevista exclusiva de Rubens Menin, publicada em 2011 https://goo.gl/rzaeAf
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - VIDRO
Vidro pode ser infinitamente reciclado sem perder suas características físicas e químicas. A cada tonelada reciclada evita-se a retirada de 1,2 tonelada de matéria-prima da natureza Luciana Morais
redacao@revistaecologico.com.br
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qualidade da limpeza urbana e a destinação adequada dos resíduos sólidos gerados seguem entre as prioridades a serem alcançadas por administrações públicas das diferentes esferas e regiões do Brasil. E não é por acaso. Hoje, mais de 80% da população brasileira vive em áreas urbanas. No entanto, a melhoria de infraestrutura e a oferta de serviços essenciais não acompanham o acelerado ritmo de crescimento das cidades. Em consequência desse descompasso, os impactos do manejo inadequado de resíduos sólidos e da limpeza urbana deficiente são os mais variados sobre o dia a dia da população. Eles se refletem no lixo acumulado nas ruas e lançado em cursos d’água, nas sacolas plásticas que entopem bueiros e agravam enchentes, e na indignidade humana e ambiental dos lixões a céu aberto, com crianças e adultos expostos a doenças. Apesar dessa realidade, expe62 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
riências internacionais e locais mostram que é possível avançar na gestão de resíduos nobres, entre eles alumínio, vidro, plástico e papel, sobretudo quando tecnologia, vontade política e conscientização caminham de mãos dadas. Atualmente, a taxa de reciclagem das embalagens de vidro no Brasil é de 40%. Entre os países com os melhores índices de reaproveitamento desse material estão Suécia (95%) e Alemanha (87%). O Brasil produz cerca de 980 mil toneladas de embalagens de vidro por ano, usando cerca de 40% de matéria-prima reciclada sob a forma de cacos. ORIGEM E USOS A invenção do vidro é atribuída aos fenícios, tendo sido usado também por sírios e babilônios desde 7.000 a.C., em adornos pessoais, joias e embalagens para cosméticos. No Brasil, a primeira oficina foi construída no século 17, em Pernambuco. Nela artesãos produziam janelas,
copos e frascos. A automatização das fábricas, em escala industrial, se consolidou a partir do século 20. Obtido a partir da fusão de matérias-primas, principalmente minerais, resfriado até uma condição de rigidez sem se cristalizar, o vidro resiste a temperaturas de até 150ºC sem deformar. Por isso, quando reciclado, mantém suas características físicas e químicas. O principal cuidado deve ser tomado no momento de separá-lo por tipo e cor, e de outros materiais. É preciso deixá-lo livre de impurezas para que possa ser 100% reutilizado. Sua composição varia conforme a aplicação, mas basicamente ele contém: sílica, óxido de cálcio e óxido de sódio. O acréscimo de outros materiais e variadas técnicas de produção permitem criar tipos específicos, com características diferenciadas e adequadas a cada necessidade de aplicação. Assim, pela adição de produtos e variação nos processos de produção, também são
determinadas sua forma, espessura, cor e transparência. ECONOMIA DE ÁGUA Versáteis, as embalagens de vidro permitem visualizar o produto nelas contido e, ao mesmo tempo, protegem contra radiações que o deterioram. Dependendo dos elementos introduzidos em sua composição, o vidro adquire a capacidade de filtrar a luz, deixando passar raios de certos comprimentos de onda e retendo outros. Exatamente por essa característica, são usadas garrafas de cor âmbar (marrom) para cerveja e verdes para o vinho, pois elas impedem a passagem de radiações ultravioleta que podem afetar a qualidade das bebidas. O uso do vidro para embalagens é uma de suas mais antigas e frequentes aplicações. Por ordem de consumo, os setores líderes são, nesta ordem, o de bebidas, a indústria de alimentos e a de produtos farmacêuticos/cosméticos. Nos últimos anos, muitos investimentos têm sido feitos pela indústria vidreira para viabilizar e es-
timular o retorno de embalagens à cadeia produtiva do setor. Quando os cacos são agregados na etapa de fusão, diminui-se consideravelmente a retirada de elementos, tais como areia, calcário e dolomita, da natureza. Além de poupar recursos naturais, a reciclagem de vidro consome menor quantidade de energia e emite menos material particulado quando comparada à fabricação do vidro sem a incorporação de cacos. A conta é simples: com um quilo de vidro se faz outro quilo de vidro com perda zero. Para cada 10% de cacos de vidro na mistura, economiza-se 4% da energia necessária para a fusão nos fornos industriais e 9,5% no consumo de água, além da redução nas emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Outras vantagens ambientais da reciclagem são a menor geração e, consequentemente, a redução do descarte de resíduos sólidos, bem como a queda nos custos da coleta urbana, contribuindo ainda para aumentar a vida útil dos aterros sanitários.
ENTENDA MELHOR
l A qualidade do caco de vidro é decisiva para a indústria. Cacos com impurezas ou contaminados podem danificar equipamentos, principalmente fornos, e levar à produção de embalagens com defeitos. l Para evitar que isso ocorra, é preciso que as embalagens sejam beneficiadas, ou seja, tenham suas tampas e rótulos retirados, além de passarem por um processo de lavagem. Garrafas de vidro novas têm, em média, 40% de vidro reciclado em sua composição. l A energia economizada com a fabricação de uma única garrafa de vidro com material reciclado é suficiente para alimentar uma TV por 20 minutos ou uma máquina de lavar roupas por 10 minutos. l Uma tonelada de cacos permite a economia de 1,2 tonelada de matériaprima. Para cada metro cúbico de vidro fabricado a partir de fontes primárias, é necessário extrair pelo menos 7 m³ de rocha. l No Brasil, todos os produtos feitos com vidros correspondem, em média, a 2% do peso dos resíduos urbanos coletados. Nos programas de coleta seletiva o material responde por cerca de 7% do total recolhido. l A integração dos serviços de coleta, triagem e beneficiamento do vidro para reciclagem gera empregos, promove inclusão social e garante renda a milhares de famílias. Em todo o país, catadores de materiais recicláveis têm papel fundamental na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída em 2010. Desde 2002, é uma atividade profissional reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, com base na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), além de um importante serviço ambiental prestado a toda a sociedade. l Na Alemanha, a população aprende a importância da separação dos vidros conforme sua cor, por meio de campanhas de educação ambiental nas escolas, empresas e locais públicos. Em todo o país há mais de 300 mil pontos de coleta de vidro, alcançando 97% dos domicílios.
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - VIDRO
VIDRO É BOM O programa ‘Glass is Good’, idealizado em 2010 pela Diageo, empresa líder no segmento de bebidas alcoólicas premium, já assegurou a reciclagem de mais de 14 mil toneladas de vidro. Esse volume equivale a cerca de 30 milhões de garrafas de um litro de vodca. Só em Belo Horizonte, onde o programa opera há um ano, foi reciclada uma tonelada e meia de vidro, com o apoio de bares, restaurantes e em parceria com a Rede Sol, Central Cooperativa Rede Solidária de Trabalhadores de Materiais Recicláveis de MG. A iniciativa reúne as maiores fabricantes de destilados no mundo – Diageo e Pernod Ricard –, além das cervejarias Heineken e Cia Muller e a Owens Illinois, líder mundial na fabricação de embalagens de vidro, cobrindo todo o ciclo do vidro. www.diageo.com
FOTO: ABIVIDRO
Fique de olho: e faça a sua parte!
SISTEMA DE RECOMPENSA Que tal trocar garrafas de vidro usadas por descontos em contas de luz, passagens de ônibus ou livrarias? Assim funciona o novo modelo da Retorna Machine, solução que incentiva a atitude sustentável e recompensa o cidadão pela colaboração com a logística reversa. O equipamento, criado pela Triciclo, foi pensado em conjunto com a Owens Illinois e implantado nas três fábricas e no escritório matriz da empresa no Brasil. Ao todo, são quatro máquinas distribuídas em São Paulo (2), Rio de Janeiro (1) e Recife (1). À medida que o consumidor adquire pontos pelas garrafas depositadas, pode trocá-los por dedução em contas de luz da AES Eletropaulo, crédito no Bilhete Único ou transferência de pontos para o programa de fidelidade da livraria Saraiva. www.triciclo.eco.br GARRAFAS RETORNÁVEIS Máquinas da Ambev que coletam garrafas de vidro retornáveis receberam 120 milhões de vasilhames desde o início de 2017. Minas Gerais registrou o segundo maior volume coletado em todo o Brasil, totalizando mais de 24,2 milhões de cascos. Esses números indicam uma mudança de comportamento do consumidor brasileiro, atento ao melhor custo-benefício dessas embalagens, que são até 30% mais baratas. Para encontrar o ponto de entrega mais próximo acesse: www.miniretornaveis.com.br COMO DESCARTAR EM BH? Para encontrar um dos 77 Locais de Entrega Voluntária (LEVs) para recolhimento de papel, metal, plástico e vidro, acesse: goo.gl/Z9Bfl
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FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Sites Abividro e Cempre, Portal Resíduos Sólidos, Cadernos de Educação Ambiental – Resíduos Sólidos/Governo de SP.
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FOTO: ABIVIDRO
TRÊS PERGUNTAS PARA...
STEFAN DAVID
Engenheiro com MBA em Gestão Ambiental, consultor de Reciclagem e Meio Ambiente da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro)
INTEGRAÇÃO E PARTICIPAÇÃO Numa comparação com o papel e o plástico, quais as principais vantagens e/ou diferenças do processo e das possibilidades de reciclagem do vidro? As possibilidades do vidro são infinitas, pois ele não perde suas propriedades e características ao longo dos diversos ciclos de reciclagem. Por esse motivo, afirmamos que o vidro tem um ciclo infinito. No caso do plástico, a reciclagem contínua faz com que ele perca elasticidade e plasticidade, tornando-se duro e quebradiço após vários ciclos de reciclagem. Já no caso do papel, o contínuo processo de reciclagem faz com que as fibras se quebrem ao longo dos diversos ciclos, ocorrendo assim a perda das suas propriedades originais. Conforme dados do setor, apesar de economicamente viável e com grande potencial de lucratividade, a reciclagem do vidro ainda é pouco explorada no Brasil. Além da maior conscientização da população, por meio da educação ambiental, que caminhos vislumbra para se chegar ao reaproveitamento integral das embalagens? É importante entender um aspecto: para atingirmos índices de reciclagem mais elevados somente o valor pago pelo material (qualquer que seja ele) não viabilizará todo o sistema de logística reversa. Ou
Nós apoiamos essa ideia!
seja, é necessário que toda a cadeia de consumo participe desse sistema, desde quem fabricou o produto e o colocou no mercado, passando pelo varejo que o vendeu e o consumidor que o comprou, até o município que deve providenciar a coleta seletiva. Sem a integração e a participação de todos esses elos, ainda teremos modelos frágeis e precários, com dificuldades de ampliação dos índices de reciclagem. E no que se refere especificamente à coleta seletiva nos municípios brasileiros, quais são as estatísticas atuais? O que esperar em termos de avanços, investimentos e ações para fomentar o desenvolvimento do mercado da reciclagem do vidro? Podemos constatar uma melhora na estrutura de coleta seletiva e de triagem nos municípios acima de 100 mil habitantes, principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Norte e Nordeste ainda precisam desenvolver melhor essa estrutura, bem como os municípios menores. As expectativas para o mercado de reciclagem do vidro são positivas, em função de um maior envolvimento de todos os elos da cadeia. Entretanto, não podemos esperar grandes investimentos em coleta seletiva nos municípios, em função das dificuldades econômicas pelas quais a maioria deles passa atualmente no país.
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ESTANTE VERDE
Luciano Lopes
São Francisco para crianças Em 29 de novembro de 1979, o Papa João Paulo II declarou São Francisco o “Padroeiro da Ecologia”. Foi pela pregação do evangelho e da poesia, principalmente ao escrever o “Cântico das Criaturas”, em que proclama amor a Deus e ao meio ambiente, que o santo católico deixou sua mensagem mais ecológica e atual. De família rica, Francisco abandonou todos os seus bens para viver uma vida simples, tendo sempre Jesus Cristo como sua referência. Mais de 835 anos depois do nascimento de Francisco, foi a vez de a Turma da Mônica, sob a alcunha do desenhista Maurício de Sousa, trazer aos leitores mirins a “Oração de São Francisco” em forma de livro. Cada trecho da prece atribuída ao santo, que nasceu na cidade italiana de Assis, em 1182, é acompanhada de uma ilustração especial do desenhista. "Seria tão bom se cada pessoa pudesse rezar essa oração, buscando transformar o mundo em um lugar de paz, amor e fraternidade. Não
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PRINCÍPIOS E PRÁTICAS Genebaldo Freire Dias 551 págs. / R$ 85 www.editoragaia.com.br O livro reúne as informações conceituais básicas sobre educação ambiental, traz um histórico internacional sobre o tema e sugere mais de 100 atividades para sua prática. Fornece subsídios para a ampliação dos conhecimentos sobre EA e expõe diferentes formas legais de ação individual e comunitária para melhor exercício de cidadania, visando uma melhor qualidade de vida. É uma obra inovadora pelo seu pioneirismo como documento para estudiosos e leigos.
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esperemos que os outros façam aquilo que só nós podemos fazer. Se queremos um mundo novo, é preciso que o renovemos em nossos gestos mais simples, e esta oração será nossa inspiração”, afirmou Maurício de Sousa. "Oração de São Francisco"é o quinto título da Turma da Mônica publicado em parceria com a editora Ave Maria. As cinco obras anteriores venderam 1,3 milhão de exemplares. ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO - TURMA DA MÔNICA 40 págs. / R$ 17,91 / Editora Ave Maria www.avemaria.com.br
AS TRÊS ECOLOGIAS Félix Guattari 230 págs. / R$ 29,90 www.papirus.com.br Ao registrar três ecologias - a do meio ambiente, a das relações sociais e a da subjetividade humana -, o autor manifesta sua indignação perante um mundo que se deteriora lentamente. Questiona os paradigmas vigentes e nos ajuda a refletir como viver de forma sustentável a partir de agora. Condena o enriquecimento do modo de vida e propõe uma reinvenção, um novo jeito de ser e viver no seio familiar, na cidade e no trabalho. Com "As Três Ecologias", Guattari acerta na tentativa de mostrar ao ser humano que ele é interligado ao mundo, e não isolado, como o capitalismo propõe.
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QUEM MATA A MATA, mata mais que a mata. seja sustentรกvel
PERFIL – JOSÉ MENDONÇA
AO MESTRE, COM CARINHO A vida festejada, aos 100 anos de idade, do jornalista e professor José Mendonça, um dos fundadores do curso de Jornalismo da Fafich-UFMG
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FOTO: REPRODUÇÃO
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FOTO: ARQUIVO FAMILIAR
JOSÉ MENDONÇA, o “formador de jornalistas”, cercado por alguns de seus ex-alunos no Clube Nacional de BH, por ocasião de sua aposentadoria: jornalismo e ética no exercício da profissão Hiram Firmino
redacao@revistaecologico.com.br
benção de cinco filhos e treze netos. Sua carreira profissional começou no jornal “O Diário”, conhecido como “Diário Católico”, em 1938, onde permaneceu até 1965. Foi também correspondente da “Folha de S. Paulo”, chefe de redação e, em seguida, diretor da sucursal mineira de “O Globo”, além de um dos fundadores do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais e seu segundo presidente. Confira aqui alguns dos seus pensamentos e ideias-guias que ilustram a sua trajetória intelectual e humanística sobre a ética, o dever e papel do bom jornalismo. Conheça, igualmente, o lado “latinista emérito” de José Mendonça, assim consagrado pelo fato de ter traduzido, em prosa, o original “A Nogueira”, escrito por Ovídio, décadas antes de Cristo. Provavelmente, o primeiro poema ecológico escrito na história da humanidade, que a Ecológico recorda a seguir. Boas lembranças do mestre! O FOTO: REPRODUÇÃ
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omo recordam seus ex-alunos Flávio Friche e Manoel Marcos Guimarães, e a historiadora Maria Auxiliadora de Faria, autores do livro “José Mendonça – A Vida Revelada”, hoje acervo da família, ele é a memória viva do bom e saudoso jornalismo que sempre sonhamos. Foi o que se rememorou no apagar das luzes de 2017. Ao lado de dois outros grandes mestres ainda vivos, críticos e produtivos – Anis José Leão e Adival Coelho, que também integraram a comissão responsável pela criação do curso de Jornalismo na UFMG – Mendonça recebeu seus convidados, parentes e amigos para um almoço de confraternização no Espaço Floricultura, na capital mineira. Uma recepção digna de nota, como nos velhos tempos, mais cavalheiros, boêmios e românticos: ele chegando, ao som de um bolero, de braços dados com Maria Tereza, sua “companheira e cúmplice de vida” há 60 anos, mais a
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PERFIL – JOSÉ MENDONÇA
FOTO: GUI MACHALA
COMPLETANDO 100 anos ao lado da esposa Maria Tereza e seus cinco filhos e 13 netos
Entre Adival Coelho e Anis José Leão: a trinca de mestres que criou o curso de Comunicação Social da UFMG
FOTOS: ARQUIVO FAMILIAR
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AUTOGRAFANDO seu livro, como um jovem jornalista. E de mãos dadas com Maria Tereza, sua companheira de vida
l VALOR DA IMPRENSA “Ernesto Hello escrevia que o valor da imprensa é das poucas coisas em que não pode haver exageros. A imprensa dispõe da sociedade como o vento dispõe duma folha. Por isso é que é tão grande como terrível a sua força. Pode ela multiplicar o pão ou multiplicar os 70 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
venenos. E, assim, semear a vida ou espalhar a morte.” “É realmente curioso que o jornalista, sempre pronto a bater-se pelas causas alheias, frequentemente se mostre tão entorpecido na propugnação de suas próprias reivindicações.”
l A INFLAÇÃO PARTIDÁRIA “Não há, efetivamente, quem não reconheça que temos partidos políticos em número excessivo. Ora, essa multiplicidade quase abusiva, entre outros inconvenientes, pode apresentar – para ficarmos no campo estritamente político – o de enfraquecer as próprias instituições. Pois, quando a democracia se divide, o totalitarismo é que se robustece.” “Mas não será tão cedo que alcançaremos a legislação ideal (...) que ponha fim a essa verdadeira indigestão de legendas de que padece a vida política nacional.” l O PAPEL DA COMUNICAÇÃO “Viver em sociedade é comunicar. Se um grupo não troca informações, ideias, emoções, desaparece o liame social: nada mais há de comum entre seus membros. E, por consequência, não há mais comunidade. Cada qual sabe apenas um pouco e tem necessidade do que os outros sabem. A reunião desses conhecimentos parciais torna possível o acesso a um saber mais geral. E, portanto, mais eficaz. Eis o papel prático da comunicação.” l MISSÃO DO JORNALISTA “Do ponto de vista estritamente técnico, o jornalista, educado no culto à liberdade, está na obrigação profissional de dar publicidade a toda notícia comprovada, ainda a mais chocante, que lhe chegue às mãos.” “Acontece, por outro lado, que lhe ocorre a obrigação moral de prever as consequências sociais da divulgação dos fatos. Balancear os dois elementos antagônicos, sem que sofram nem a liberdade de informação – e informar bem é a missão primacial do jornalista – nem a liberdade de consciência, é uma tarefa dramática, desafio permanente.” l SEGREDO PROFISSIONAL “O segredo profissional há de ser, de um lado, rei-
l O QUE É NOTÍCIA “Notícia é o relato de tudo quanto, por se ter verificado no último instante, é desconhecido pelos que não o viram nem ouviram, e estão interessados em conhecê-lo porque tem significação.” “Notícia é aquilo que a gente não sabia e fica sabendo.” l MINEIRIDADE “Para preservar a autêntica cultura regional, tomada da palavra cultura no abrangente sentido da totalidade do modo de ser dos mineiros, isto é, de suas formas de pensar, sentir e agir, importa conservar ou restaurar o apreço pelas humanidades clássicas.” ÇÃO
“Além do cuidado para não propagar o que se crê falso, deve o jornalista tomar precaução para não ser traído pelos enganos da ligeireza e da defeituosa percepção dos assuntos que formam a matéria jornalística.”
vindicado como incondicional e ilimitado. E, de outra parte, reconhecido pela lei como válido sempre em qualquer circunstância.”
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l DEVER DO JORNALISTA “Sabemos que a liberdade tem seus limites. Uma errada interpretação desse dom de Deus conduz em filosofia ao indiferentismo, em moral à libertinagem, em economia ao capitalismo e ao pauperismo, todas essas coisas ruinosas e contrárias a um sentido humano da vida.”
l MILTON CAMPOS “Milton Campos fez um governo intransigentemente honesto e indesviavelmente respeitador das liberdades asseguradas pelo estado de direito. Foi, assim, o avesso de certos governantes que escolhem colaboradores corruptos e atribuem os próprios desacertos à mídia, de tal modo que até estimariam viesse uma ‘lei da mordaça’ a coibir os pretensos abusos do direito/dever de informar.”
l QUESTÕES MAIORES “Procure interessar-se pelas questões do mundo, além das da família.” l ECOLÓGICO “Não plantei árvores, mas ajudei muito minha mulher a plantar, a cuidar de suas árvores e folhagens.” l VELHICE “O pior da velhice é saber que ela dura pouco.” l SABEDORIA “Supere perdas. Sinta-se feliz com suas realizações. Seja realista. Tenha consciência do limite da vida. Relativize o bom e o ruim.” l RECADO FINAL “Tenha gratidão pela vida. Seja alegre.” SAIBA MAIS
O livro “José Mendonça - A Vida Revelada” foi publicado pela Editora UFMG, onde pode ser adquirido.
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PERFIL – JOSÉ MENDONÇA
“A Nogueira” de Ovídio” A tradução, em prosa, de “A Nogueira”, de Públio Ovídio Naso, é provavelmente o primeiro poema ecológico escrito pela humanidade antes de Cristo
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“Nogueira plantada à beira do caminho, sem culpa alguma sou atacada com pedras pelos transeuntes. Tal é a pena habitualmente infligida aos malfeitores identificados, porque o ódio popular não aceita justiça tardia. Quanto a mim, não cometi pecado algum, a menos que se considere pecar oferecer os frutos anuais ao seu dono. Os frutos teriam então prejudicado a árvore materna, a menos que longa forquilha ajudasse o trabalhador a arrancar os ramos apodrecidos. Por sua vez, em certa época as mulheres imitavam nossa fecundidade, mas não a mulher que então ainda não fosse mãe. Depois, entretanto, que aos plátanos, cuja sombra é estéril, foi tributada honra de certo modo mais abundantemente do que a qualquer outra árvore, nós também, árvores frutíferas (se é que a nogueira pode de algum modo incluir-se entre elas), começamos a desenvolver com vigor amplas ramagens. Também não nascem mais frutos todo ano; a uva e a azeitona chegam mirradas ao celeiro. Agora as mulheres, por seu turno, corrompem o germe da própria fecundidade e é rara aquela que deseja ser mãe (...). Na verdade, não sou invejosa, mas por que foi ferida apenas a árvore cuja inútil ramagem deve ser poupada? Olhai, uma a uma, todas essas árvores incólumes, que nada têm para que sejam atacadas. Quanto a mim, pelo contrário, cruéis feridas danificam os ramos já mutilados e as cascas nuas mostram a cortiça despedaçada. Não é o ódio que me dá esse tratamento, mas a esperança de pilhagem. Se as outras árvores produzirem frutos como eu, do mesmo modo se queixarão... Fui, pois, a única árvore atacada porque só a mim valia a pena agredir. As outras verdejam com suas fo-
lhas intactas (...). Feliz a árvore que nasce em um campo distante e somente tem de prestar contas ao seu dono! Ela não ouve o vozerio dos transeuntes nem o ranger das rodas, nem é coberta pelo pó do grande caminho, e pode oferecer ao lavrador todos os frutos que carregou e deles prestar-lhe conta exata. Quanto a mim, nunca me é permitido ver os frutos amadurecidos, pois são abatidos antes do tempo, quando seus invólucros, ainda moles, apenas cobrem o germe leitoso que está dentro deles. Assim, meus frutos não serão de proveito algum para as pessoas que deles me despojarem. Entretanto, sempre encontro quem me apedreje e, através de golpes prematuros, conquiste uma dádiva inútil. Desse modo, feita a conta dos frutos que me são roubados e dos que me sobram, tu, viajor, terás parte maior do que a do meu senhor (...). Oh! Quantas vezes me veio o tédio da longa vida e optei por morrer de sede! Quantas vezes desejei ser lançada ao chão por um furacão tenebroso, ou ser atingida pelo violento fogo de um raio vindo do alto. Praza ao céu, sobretudo, que muitas tempestades arrebatem meus galhos de um só golpe, ou que eu mesma possa derrubar meus frutos (...) Mas o que posso decidir quando o viandante toma suas armas e antecipadamente mira o lugar em que deve golpear-me? Não posso evitar suas varas ferozes mudando de lugar o meu tronco que as raízes, como vínculos possantes e tenazes, mantêm debaixo da terra. Exponho o corpo aos golpes do viandante, do mesmo modo que um criminoso se expõe às flechas da populaça que reclama que sua vítima seja garroteada, ou como a branca novilha quando vê levantar-se sobre sua cabeça o pesado machado ou o cutelo ser desembainhado em seu pescoço. Mais de uma vez acreditastes que era só o vento que fazia tremer minhas folhas, mas era o medo a causa do meu tremor. Se o mereci e sou tida como culpada, lançai-me às chamas e queimai meus restos em fornalhas fúmidas. Se o mereci e sou tida como culpada, derrubai-me com o cutelo e, em minha desdita, tenha eu de sofrer o suplício apenas uma vez. Se, entretanto, não tendes motivo para me queimar nem para me derrubar, poupai-me e prossegui a viagem que começastes.” SAIBA MAIS
Para ler o texto na íntegra, acesse www.revistaecologico.com.br XX ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
Acompanhe, toda segunda-feira, Ă s 20h, na RĂĄdio da Padroeira de Minas Gerais.
americabh.com.br
radioamericaam750
(31) 3209-0750
App: Rede Catedral
1 ENSAIO FOTOGRÁFICO
TICO-TICO (Zonotrichia capensis insularis) Ilha de Curaçao Antilhas Holandesas
MARAVILHAS SELVAGENS
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inegrafista e fotógrafo de vida selvagem, ele também é biólogo e fascinado pela natureza. Sua paixão por registrar em vídeos e fotos a beleza de aves, mamíferos, répteis e invertebrados se soma à alegria de gravar e compartilhar seu trabalho com seguidores no YouTube e nas redes sociais. Fabrício Queiroga é graduado em biologia pela Universidade de Brasília (DF), onde vive. Cearense de Ubajara, ele relembra a infância e as visitas ao parque nacional de mesmo nome, existente na cidade, com suas trilhas, mirantes, grutas e cachoeiras. “O parque era perto de uma fazenda dos meus pais e toda aquela beleza natural aguçava minha curiosidade e encantamento. Daí, surgiu FABRÍCIO Queiroga: encantamento, fotografia e preservação ambiental
o meu interesse em trabalhar para preservar e restaurar áreas, para que mais pessoas e as gerações futuras possam se beneficiar de tudo o que a natureza pode nos fornecer”, ressalta. Atualmente, Fabrício trabalha no Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Distrito Federal, cuidando de ações para mitigar o atropelamento de animais silvestres nas rodovias e pesquisa de fauna. “Felizmente, aqui em Brasília há muitas áreas de preservação ambiental. Não preciso ir longe para tirar fotos da vida selvagem”, comemora. Confira, a seguir, algumas de suas imagens: SAIBA MAIS
www.fabricioqueiroga.com facebook.com/queiroga.fabricio youtube.com/fabricioqueiroga twitter.com/fabricioqueirog fabricioqueiroga@gmail.com
FOTOS: FABRÍCIO QUEIROGA
FLAMINGO (Phoenicopterus rubber) Ilha de Aruba - Antilhas
BASILISCO OU LAGARTO JESUS CRISTO (Basiliscus basiliscus) Parque Nacional Manuel Antonio Costa Rica
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1ENSAIO FOTOGRÁFICO
MACACO-PREGO (Sapajus libidinosus) Parque Nacional de Brasília (DF)
ÍBIOS-BRANCO-AMERICANO (Eudocimus albus) Flórida (EUA)
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CANÁRIO-DA-TERRA (Sicalis flaveola) Pirenópolis (GO)
LIBÉLULA-VERMELHA (Orthemis discolor) Pirenópolis (GO)
FOTOS: FABRÍCIO QUEIROGA
SAVACU-DE-COROA (Nyctanassa violacea) Flórida (EUA)
1 ECOLOGIA INTERIOR
O TERAPEUTA D'ALMA Massagem de Carlos Alberto da Silva, o Carlinhos, vai além do corpo físico, acessando informações ocultas também nos nossos corpos energéticos e sutis Ana Elizabeth Diniz
redacao@revistaecologico.com.br
car maluco/ ou morrer na solidão.” Foram estas as primeiras palavras que ouvi ao entrar no pequeno mas concorrido consultório do massagista Carlos Alberto da Silva, o Carlinhos, no bairro Carmo-Sion, em BH. E foi assim que este terapeuta corporal, 56 anos, leonino com ascendente em câncer, me deu as boas-vindas logo ao abrir a porta. Cantando e dedilhando, ao violão, a alegre canção “É Preciso Saber Viver”, de Roberto e Erasmo Carlos. Um bálsamo para a alma. A partir dali, nada mais seria como antes. A voz firme, as palavras assertivas, o bom humor e o alto astral deram o tom da consulta. Carlinhos honrou o divino em mim. E isso fez toda a diferença durante um atendimento nada convencional, em que as mensagens que chegaram por intermédio do meu guia espiritual foram desveladas com clareza absurda. A massagem profunda de Carlinhos tem sim, como já tinha ouvido dizer, o dom de acessar os nossos recônditos internos, sejam eles mentais, emocionais, energéticos ou espirituais. E revelar informações sobre quem somos, quem pensamos ser, nossas crenças limitantes, nossos bloqueios e nossos potenciais. Ao massagear fortemente, da ponta do dedão do pé aos fios de cabelos, ele dialoga com os corpos energéticos que todos nós temos, sabendo ou querendo ignorá-los. Torna-se um intérprete de um mundo, por vezes, inacessível para nós. 78 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
FOTO: SANAKAN
uem espera que a vida/ seja “Qfeita de ilusão/ pode até fi-
CARLINHOS: “O nosso corpo emocional também é fadado a buscar felicidade e bem-estar”
Ele me conta que desde criança conversava com seu “amiguinho azul”, que podemos chamar de anjo da guarda ou guia espiritual. Com dez, onze anos, já gostava de benzer as pessoas. Para ele, benzer era como brincadeira de criança, apenas seguia as orientações do “amiguinho”, tipo “essa pessoa precisa de folha da mangueira”, “aqui você deve usar folha da laranjeira” e “esse é caso de usar terra”. As orações correlacionadas também eram transmitidas pela mesma fonte ou o mesmo ser, conta ele: “Algumas eram cantadas e só pediam para que o mal fosse retirado daquela pessoa. Quando eu chegava perto de alguém que não estava com a energia boa, eu me sentia
desconfortável e passava mal. O jeito era benzê-la, porque assim eu também melhorava”, relembra Carlinhos, que nasceu e viveu em um lar católico, em Betim (MG), o que não lhe foi fácil. Seus pais não entendiam aquelas suas conversas com o plano espiritual: “Eles se sentiam envergonhados por ter um filho esquisito, que fazia coisas estranhas às suas crenças. Do meu lado, eu também não entendia aquela situação. Achava que, igualmente, todo mundo via os espíritos como eu. Uma pessoa assim, primeiro é criticada e depois vangloriada. Nessa época, meu tio era gerente de uma escola de artes marciais e halterofilismo; e meu pai me mandou lá, para ver se eu
virava homem. Fui apresentado ao kung-fu, mas desisti quando vi um chute. Também não me identifiquei com o halterofilismo. Adorei o balé. Mas meu tio disse que meu pai jamais iria gostar de seu filho de colam e sapatilha”. DESCOBERTA INTERIOR O que lhe salvou? “Descobri uma aula de ioga, fui lá e não parei mais. Aos 16 anos me formei como professor de ioga pelo mestre Sri Krishna kashyap. Foi o que equilibrou minha sensitividade e meu desconforto em relação a ela”, relembra o terapeuta. A caminhada não foi fácil. Ele passou a ser exigido. Sua frequência vibratória foi mudando e quando se recusava a crescer, a se lapidar interna e externamente, vinha sofrimento. Do mesmo jeito, sempre que fazia alguma escolha errada, era duramente cobrado por seu guia espiritual, a quem consulta todo dia, sempre que necessita: “Ele me deu um ultimato. ‘Olha aqui’, - me disse de maneira segura - ‘quando você evolui eu também evoluo. Quando você cresce, eu também cresço. O amor, em verdade, é um processo egoísta e não tem nada a ver com merecimento ou justiça. Por meio de pessoas como você, estamos ajudando muita gente em seus processos de evolução espiritual, mental e emocional’” conta Carlinhos que resolveu acatar de vez as palavras de seu guia. A partir daí, o terapeuta corporal, que se tornaria conhecido, leu muitos livros. Fez muitos cursos, para se capacitar tecnicamente. Trabalha como voluntário no grupo Científico Ramatis, além de fazer palestras em empresas e instituições. Mas é a intuição e a capacidade de transitar por realidades sutis e de se comunicar com mentores espirituais que dão o tom do seu trabalho. “Quando estou massageando uma pessoa, é muito difícil para mim trabalhar só com o corpo físico dela. Muitas vezes, só de tocá-la, consigo fazer uma
"Quando alguém se senta à minha frente, logo me pergunto o que essa pessoa está fazendo inconscientemente para impedir o processo natural de autorregulação de sua própria felicidade. Muitas vezes são princípios antigos, crenças, valores e preconceitos limitantes." anamnésia, levantar seu passado, suas recordações e reminiscências ocultas. Confio muito no que vejo e leio na aura das pessoas, tal como nas informações que me são passadas pelos seus respectivos mentores. São eles, no fundo, que conduzem a sessão. E eu consigo acessar seus corpos físicos, emocionais, mentais e espirituais. A entidade, que é meu guia, projeta sua energia em mim, assim como as informações do cliente, sobre sua vida, saúde, momento e as dificuldades que está passando”, revela. EXPLÍCITA GRATIDÃO Voltemos à minha massagem misturada com entrevista. Chove lá fora. Já estou deitada de costas na maca. Uma bolsa de água quente aquece e relaxa minhas costas. A massagem começa vigorosa e profunda. Parece atingir as camadas adormecidas, bloqueadas
e insuspeitas do meu corpo físico e astral. Profundas são também as mensagens que vêm como decretos, sentenças, que selam portais que teimavam em ficar entreabertos, sem mais nenhuma função de ser. Pessoas, emoções, situações das mais corriqueiras são colocadas diante de mim e acontece um processo revelador de fechamento, perdão, desapego, humildade e aceitação de minha condição de ser imperfeito. O alívio acontece junto, no corpo e na alma. Carlinhos vai explicando: “O nosso corpo também emocional é fadado a buscar felicidade, saúde e bem-estar. Sendo assim, o que acontece para que impeçamos esse processo? Quando alguém se senta à minha frente, logo me pergunto o que essa pessoa está fazendo inconscientemente para impedir o processo natural de autorregulação de sua própria felicidade. Muitas vezes são princípios antigos, crenças, valores e preconceitos limitantes. No fundo, a dor e o desequilíbrio físico-mental são avisos de que esta pessoa não é vítima de ninguém e de nada. Sem saber, ela própria está se sabotando e impedindo seu processo de evolução. Nosso compromisso maior ali, durante a massagem, tem que ser com a felicidade e a paz. Afinal, e no fundo, isso é tudo o que o ser humano mais procura realizar nesta sua reencadernação, pra não dizer reencarnação”, finaliza Carlinhos, brincando. A sessão vai chegando ao fim. Eu recebo um copo de água de côco. A chuva continua caindo lá fora. Aqui dentro, pássaros, riachos e um decreto de William Shakespeare sobre a sabedoria de viver, que acabo de ouvir. Minha consciência está mais presente, relaxada, feliz e em paz. As percepções nutrem todos os meus diversos corpos além da massagem física. Eles também vibram em explícita gratidão. Namastê, Carlinhos! SAIBA MAIS (31) 99263-5435
(31) 3223-1274
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MEMÓRIA ILUMINADA – WINSTON CHURCHILL
O “CEDER JAMAIS” DE
Winston Churchill 80 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
J. Sabiá
redacao@revistaecologico.com.br
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ste ano, completam-se 53 anos da morte do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill. Conhecido por ter comandado a resistência inglesa ao nazismo na Segunda Guerra Mundial, ele era dono de um senso de humor irônico e sarcástico. Controverso, foi criticado por defender o uso de armas químicas contra povos como indianos e revolucionários russos e até foi acusado de racismo. Parte da vida do orador e estadista venerado pelos britânicos foi retratada recentemente no filme “O Destino de Uma Nação”, que tem sua história centrada no período em que, já eleito primeiro-ministro, Churchill instigou a resistência da Europa contra a tirania de Adolf Hitler. Mesmo com os companheiros políticos se mostrando inflexíveis em defender um acordo com o líder nazista e acreditando numa possibilidade remota de derrotá-lo, o filme evidencia o que Churchill fazia de melhor: mostrar coragem e disciplina. Principalmente depois da derrota militar de Dunquerque, em 1940, quando tropas britânicas bateram em retirada na costa atlântica francesa. Churchill, que serviu ao exército britânico e atuou em conflitos em Cuba, Índia e África do Sul, nasceu em 30 de novembro de 1874, em uma família nobre. Seu pai, Lorde Randolph, foi ministro da Fazenda da Grã-Bretanha em 1885, cargo que o filho ocuparia 40 anos mais tarde. Casado com a socialite norte-americana Jennie Jerome e pai de dois filhos, Churchill se destacava pelos discursos memoráveis, como o que proferiu a alunos da Harrow School, em Londres (leia a seguir), anos depois de vencida a guerra. Foi lá que ele disse sua frase-conselho mais famosa: “Ceder, jamais!”. Ele também se destacou na literatura: foram mais de 40 livros publicados. Em 1953, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura pela série “A Segunda Guerra Mundial”, um volume de seis obras em que descreve suas memórias da época do conflito. Confira, a seguir, alguns pensamentos deste grande líder político, eleito em pesquisa realizada pela rede de TV inglesa BBC como o “maior britânico de todos os tempos”:
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MEMÓRIA ILUMINADA – WINSTON CHURCHILL
O premiado Gary Oldman, que interpretou Churchill (à direita), em "O Destino de Uma Nação": o ator chegou a passar mal de tanto ter de fumar charutos durante as filmagens
l PROBLEMAS “Problemas que vêm com a vitória são mais agradáveis do que os da derrota. Mas igualmente difíceis.”
l TRABALHO “Não tenho outra coisa a oferecer a não ser sangue, sofrimento, lágrimas e suor.”
l VITÓRIA “Vocês perguntam: ‘Qual é a nossa meta?’ Posso responder numa única palavra: vitória. Vitória a todo custo. Vitória apesar de todo o terror. Por mais longo e difícil que o caminho possa ser, se, pois, sem vitória não há sobrevivência.”
l HITLER “Se Hitler invadisse o inferno, eu, pelo menos, faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Deputados.”
l CAPITALISMO x SOCIALISMO “O vício inerente ao capitalismo é a distribuição desigual de benesses. O do socialismo é a distribuição por igual das misérias.” l PREFERÊNCIA “Eu prefiro ver as finanças menos arrogantes e indústria com mais capacidade.” l FAZER “Não adianta dizer ‘estamos fazendo o melhor que podemos’. Temos de conseguir o que seja necessário.” 82 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2018
“Hitler sabe que terá de nos vencer nesta ilha ou perder a guerra. Se pudermos resistir a ele, toda a Europa será livre e a vida no planeta poderá seguir adiante para horizontes abertos e ensolarados. Mas, se nós cairmos, então o mundo inteiro, incluindo os Estados Unidos, incluindo tudo o que conhecemos e o que gostamos, vai afundar no abismo de uma nova Idade das Trevas, ainda mais sinistra e talvez mais prolongada pelo uso de uma ciência pervertida. Que nós nos unamos para cumprir nosso dever, e desta forma nos elevemos de tal forma que, se o Império Britânico e sua comunidade britânica durarem mil anos, as pessoas ainda digam: ‘aquele foi seu melhor momento!’.”
FIQUE POR DENTRO
O General Montgomery estava sendo homenageado, pois venceu Rommel na batalha da África, na 2ª Guerra Mundial. Dizem que era até um bom general, mas não tanto quanto ficou famoso por ter dito: “Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói”. Churchill, que estava próximo, comentou com um colega: “Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele”.
l DEMOCRACIA “É a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.” “A democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela.” l POLÍTICA “É quase tão excitante quanto a guerra, e quase tão perigosa quanto. Na guerra, você morto uma vez, mas, em política, várias vezes.” “A política é a habilidade de prever o que vai acontecer amanhã, na semana que vem, no mês que vem. E ter a habilidade de explicar depois porque nada daquilo aconteceu.” l GRANDEZA “O preço da grandeza é a responsabilidade.” l VERMES “Todos nós somos vermes. Mas acredito que sou um verme com brilho.”
Câmara dos Comuns, em Londres, onde Churchill fez seu discurso que mudou a 2ª Guerra Mundial
l BAJULADOR “Um bajulador é aquele que alimenta um crocodilo e que espera comê-lo no final.” l INIMIGOS “Você tem inimigos? Bom. Significa que você brigou por algo alguma vez na vida.” l VERDADE “Durante a guerra, a verdade é tão preciosa que ela deveria ser sempre acompanhada de mentiras como guarda-costas.” “Uma pessoa de vez em quando tropeça sobre a verdade, mas na maioria das vezes se levanta e continua andando.” l FANATISMO “Um fanático é uma pessoa que não pode mudar de opinião e que não muda de assunto.” l MENTIRA “A mentira roda meio mundo antes da verdade ter tido tempo de colocar as calças.”
“A política é a habilidade de prever o que vai acontecer amanhã, na semana que vem, no mês que vem. E ter a habilidade de explicar depois porque nada daquilo aconteceu.”
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MEMÓRIA ILUMINADA – WINSTON CHURCHILL l PRINCÍPIOS “Algumas pessoas mudam de partido em defesa de seus princípios. Outros mudam de princípios em defesa de seu partido.” l ZOMBARIA “Não zombe das bobagens que os outros dizem. Podem representar uma oportunidade para você.” l PALAVRAS “As palavras antigas são as melhores. As breves, as melhores de todas.” “Engolir as más palavras que não se dizem nunca fez mal a ninguém.”
“Minha conquista mais brilhante foi persuadir minha mulher a se casar comigo.” O DISCURSO “Tenho, pessoalmente, plena confiança de que se todos cumprirem o seu dever, se nada for neglicenciado, e se os melhores acordos forem feitos, como estão sendo, provaremos que somos, mais uma vez, capazes de defender nossa ilha. De enfrentar a tempestade da guerra e de sobreviver à ameaça de tirania, se for necessário durante anos, ou sozinhos. De qualquer forma, é isso que vamos tentar fazer. Essa é a vontade de Vossa Majestade e de cada homem. Essa é a vontade do Parlamento e da nação. O Império Britânico e a República Francesa, unidas em sua causa e sua necessidade, que defenderemos até à morte como nosso solo nativo, ajudando uns aos outros como bons camaradas no máximo de sua força. Iremos até o fim. Lutaremos na França, lutaremos nos mares e oceanos, lutaremos com crescente confiança e força no ar, para defender nossa ilha a qualquer custo. Lutaremos nas praias, lutaremos nas pistas de pouso, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nas montanhas. Nunca nos renderemos! E mesmo que, embora não acredite em nenhum momento, essa ilha ou parte dela esteja subjugada e faminta, então o nosso império além-mar armado e guardado pela esquadra britânica, continuaria a luta. Até que, no tempo de Deus, o Novo Mundo, com toda sua força e poder, caminhe adiante para o resgate e a libertação do Velho."
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“Ninguém tem dor de estômago por engolir as palavras cruéis que deixou de dizer.” l SABEDORIA “Nunca cedas, exceto a convicções de honra e bom senso.” l PRISIONEIRO “Um prisioneiro de guerra é um homem que tenta lhe matar e falha. E então pede a você que não o mate.” l SEGREDO “O meu segredo de longevidade é o esporte. Nunca o pratiquei.” l ÁRVORES “As árvores solitárias, quando conseguem crescer, crescem fortes.” l SUCESSO “O sucesso consiste em ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo.” “Sucesso não é o final. Fracasso não é algo fatal. É a coragem para continuar que conta.” l EXEMPLO “Vivemos com o que recebemos, mas nossa vida é marcada pelo que damos.” l OTIMISTA “Sou um otimista. Não parece adiantar muito ser outra coisa qualquer.” “O otimista vê uma oportunidade em cada calamidade. Um pessimista vê uma calamidade em cada oportunidade.”
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NATUREZA MEDICINAL
MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
ROSMANINHO
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FOTO: MARCOS GUIÃO
assava da meia-noite quando o celular tocou. Acordei esbaforido tentando distinguir o que estava acontecendo e custei a associar aquele barulho alucinante com o telefone. Já ligado na possibilidade de ser alguma notícia maligna, atendi com os pelos do pescoço eriçados. Num primeiro momento, não consegui identificar quem seria o insano que ligava naquela hora prum morador da roça. Mas aos poucos deu ponto de clareza ao ouvir a voz anasalada do outro lado da linha. - Aqui é a Madalena de Honório. Tá lembrado de mim? Depois que respondi com um grunido, ela continuou: - Pois é, tô com uma insônia danada, num drumo por nada deste mundo. Já tem semana que num prego os zóios. Cê podia me indicá uma pranta, que desse jeito nessa situação... Já tomei muita cidreira mas num deu jeito.
ROSMANINHO
Lippia rotundifolia
Madalena é uma mulher muito simples, moradora lá na comunidade das Abóboras, lavradora e mãe de uma penca de filhos. Certamente, ela tava descabeceada por demais pra tá me ligando naquele horário reclamando de insônia. Trouxe-me à memória a casa onde ela morava e as plantas que havia visto lá na última visita, que ainda num tinha se passado um mês. Estiquei um pouco o proseio na buscação de uma solução, perguntando se havia acontecido algo diferente que pudesse ter detonado essa crise de insônia. Daí passei a ouvir os soluços entrecortados por algumas palavras soltas: - É Manuel que se foi... Tá na capital... Diz que quer fazer vida lá... Mas ele só tem 16 ano... Se foi com Josias meu irmão... Ele mora lá... Honório num deu ligança... Mas ele é só um menino... Tava explicada a razão de tanto alvoroço. Pacientemente fui dando corda e a fazendo ver que tava tudo bem, este é o ritmo da vida. Cria-se os filhos e eles se vão na primeira oportunidade. Mas e a insônia? O que fazer naquela altura da madrugada? Depois de confortar e ouvir suas preocupações maternas, dei de achar solução pro problema. - Madalena, você vai lá pra baixo dos últimos canteiros de sua horta e busque um maço de rosmaninho (Lippia rotundifolia) na entrada daquela matinha e faça um chá das folhas. Você vai dormir como criança. - É o “pedestre”? Depois de confirmar, ela agradeceu muito, se desculpou pela hora, justificou os motivos novamente e finalmente desligou. Daí quem não conseguiu conciliar o sono novamente fui eu... Os dias se passaram e, quando penso que não, dei-me com Madalena lá na venda de Mariquinha. Perguntei pela insônia e ela se desmanchou em agradecimentos e na exaltação do chá de “pedestre”. - Pois olha que a gente tem o remédio ali na pareia do quintal e num se dá por ele. Foi só tumar o chá, que deu precisão de Honório me sacudir pra acordar. Também deu notícias de Manuel, que já tava fichado numa firma e muito feliz, deixando ela mais confortada. Pois é... a vida é assim. Inté a próxima lua! (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.
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