ANO 9 - Nº 98 - MAIO/JUNHO DE 2017 - R$ 12,50
EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA
FOTO: LEONARDO MILANO / GREENPEACE
1 IMAGEM DO MÊS
PELA FLORESTA EM PÉ! Em manifestação realizada em 16 de maio último, a ONG Greenpeace colocou uma motosserra inflável de oito metros na frente do Congresso Nacional, em Brasília (DF), com a mensagem "O fim da floresta começa aqui". A iniciativa denunciou a infame votação de duas Medidas Provisórias (756 e 758 de 2016) - infelizmente aprovadas posteriormente pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal -, que reduzem em quase 600 mil hectares áreas florestais protegidas como a Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará. E que também abre precedentes perigosos para a diminuição de áreas verdes em outros biomas do país (veja matéria completa na página 40). MAIO/JUNHO DE 2017 | ECOLÓGICO 03
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EXPEDIENTE
FOTO: JÚLIO HUBNER
YARA TUPYNAMBÁ Montanhas de Minas
Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com
REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais e Vinícius Carvalho
ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com
DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com
EDITORIA DE ARTE André Firmino
IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A
COLUNISTAS Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza
PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda. ecologico@souecologico.com
DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos
REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Arte: Sanakan / Shutterstock
REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br
DEPARTAMENTO COMERCIAL Sarah Caldeira sarah@souecologico.com
EDIÇÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br (*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.
MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com
sou_ecologico revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS
EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com
4,77 tCO2e Mar/Abr de 2017
souecologico ecologico
VAMOS MOSTRAR COM QUANTAS ÁRVORES PLANTADAS E ÁREAS RECUPERADAS SE FAZ O FUTURO.
Idealizado pelo Governo do Estado de Minas Gerais e coordenado pela Codemig, o projeto Plantando o Futuro visa ao plantio de 30 milhões de árvores, de diversas espécies, em 20 mil hectares, até 2018. A iniciativa busca também recuperar 40 mil nascentes, 6 mil hectares de matas ciliares e 2 mil hectares de voçorocas. Contamos com a participação dos mineiros nesse projeto. Porque todos queremos um estado ambientalmente sustentável para nós e nossos filhos.
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ÍNDICE
CAPA
ENTIDADES AMBIENTALISTAS SE UNEM CONTRA MEDIDAS PROPOSTAS PELO GOVERNO FEDERAL QUE VIOLAM DIREITOS HUMANOS E COLOCAM EM RISCO A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE.
18 PÁGINAS VERDES LEONARDO DEPTULSKI, PRESIDENTE DO CBH DOCE, FALA SOBRE A RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DO RIO
E mais... CARTAS DOS LEITORES 08 CARTA DO EDITOR 10 ECONECTADO 12 GENTE ECOLÓGICA 14
75
ECOLÓGICO NAS ESCOLAS COMO FUNCIONAM E POR QUE AS LÂMPADAS LED SÃO MAIS EFICIENTES E ECOLÓGICAS
SOU ECOLÓGICO 16 ESTADO DE ALERTA 32 PERFIL 50 SUSTENTABILIDADE 56 INOVAÇÃO AMBIENTAL 62 VIII PRÊMIO HUGO WERNECK 70
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VOCÊ SABIA?
SAIBA CURIOSIDADES SOBRE OS TAMANDUÁS, ANIMAIS TÍPICOS DO CERRADO BRASILEIRO
BIODIVERSIDADE 74 ENSAIO FOTOGRÁFICO 82 MEMÓRIA ILUMINADA 86 NATUREZA MEDICINAL 90
Pág.
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CARTAS DOS LEITORES
que os seres humanos não nasceram para permanecerem carnívoros ao longo da sua existência. Para provar isso é só comparar a nossa arcada dentária com a dos felinos. Projeções apontam que, a partir de 2050, a única saída para garantir a manutenção da vida humana com dignidade no planeta é nos tornarmos vegetarianos. Afinal, não teremos água suficiente para produzir alimentos vegetais para nove bilhões de habitantes e mais de 90 bilhões de animais que terão que ser criados para nos servir de alimento. Não somos todos irmãos, viemos do mesmo lugar? Nossa cultura de felicidade é totalmente equivocada. São Francisco conversava com os bichos, acredito, não apenas porque era uma pessoa especial. Mas porque os bichos eram dóceis e não sentiam o peso da maldade humana, como são sentenciados hoje nos nossos abatedouros, fato que o naturalista Charles Darwin já observava em suas andanças pela América do Sul.” Antônio Eustáquio Vieira (Tonhão), presidente da ONG Movimento Verde (Mover), de Paracatu (MG) “ONDE ESTÁ A CARNE VERDE, MAGGI?” As promessas polêmicas não concretizadas pelo ex-governador de Mato Grosso e atual ministro da Agricultura Blairo Maggi
“Se é que há alguma possibilidade de sustentabilidade pensando em nosso planeta e em nossa saúde...” Thais Scognamiglio, via Facebook “Todos fomos surpreendidos com o escândalo da carne e do governo que, em vez de agir como Estado, preferiu abafar o caso. O mais intrigante foi o não questionamento da origem da carne. Em quais áreas são criados os bovinos abatidos? Seus produtores respeitam as Áreas de Preservação Permanente (APPs) nas propriedades? E os desmatamentos irregulares? E a utilização da água para a criação desses animais, sob o olhar da legislação ambiental brasileira? Como são produzidos os grãos que alimentam o gado e qual a dosagem de produtos químicos, desses venenos aplicados para acelerar o seu processo de crescimento e abate? Que mal faz para a saúde de quem consome essa carne? Existem estudos irrefutáveis que mostram
08 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
ECOLÓGICO NAS ESCOLAS – FONTES JORRANTES! Texto explica o que são e como funcionam os gêiseres
“Temos uma riqueza dessa em nossa cidade...Caxambu!” Graça Pereira, via Facebook UM CÁLICE, CINCO ANOS Stella Artois lança campanha para ajudar a promover o acesso à água potável no Brasil em parceria com a Water.org
“Para mostrar meu apoio à campanha, comprei três taças!” Milena Alana, via Facebook NATUREZA MEDICINAL – ERVA-DE-SANTA-MARIA Texto fala sobre erva usada na recuperação de fraturas
“Meu pai batia esta planta no liquidificador com água e sabão para acabar com as pulgas do cachorro.” Daniele Barbosa, via Facebook “No Tocantins temos esta planta, é uma rainha da nossa cultura! Muito utilizada em receitas empíricas.” Alan Paiva, via Google+
FOTO: NAUH MELO
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FA L E C O N O S C O
Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
“Fiquei impressionado com a matéria. Sempre vi os corvos como aves meio estranhas, mas o bichinho é danado de bom! A natureza é perfeita, não é mesmo?” Lucas Villaça, via e-mail
FOTO: NAUH MELO
ESTADO DE ALERTA – E ASSIM CAMINHA O RETROCESSO Artigo aborda o Projeto de Lei do deputado Valdir Colatto, que libera a caça no Brasil
“Um absurdo isso. A política anda tão desorientada que o que mais se vê é deputado propondo absurdos. Mas não dizem que a natureza dá o troco no tempo certo? Todos esses políticos insustentáveis um dia cairão e serão cassados (ou caçados) e pagarão por seus crimes, ambientais ou não!” Marília Vieira, via e-mail
EU LEIO “As matérias da Revista Ecológico são analíticas, atuais e nos levam a uma reflexão interior sobre o nosso papel na preservação ambiental. Além disso, nos coloca a par sobre como nossos governantes e empresários estão trabalhando a questão da sustentabilidade nas esferas pública e privada - que infelizmente, neste caso, estamos nos deparando com alguns retrocessos. Minha filha adora a revista, principalmente as seções ‘Ecológico nas Escolas’ e ‘Você Sabia?’, que sempre trazem imagens e informações interessantes sobre reciclagem, conservação da água e sobre os animais. Desejo vida longa à Ecológico.”
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
VOCÊ SABIA? – CORVOS As notas da seção retrataram a inteligência dessas aves
Leonardo Fonseca, engenheiro ambiental
Vida para as populações locais e para a biodiversidade. As áreas preservadas pela CENIBRA abrigam mais de 4.500 nascentes que fornecem água limpa para a fauna, flora e para uso das comunidades situadas próximas às propriedades da Empresa.
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CARTA DO EDITOR
HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com
FAROESTE CLIMÁTICO A
saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, anunciado de forma boba e egoísta pelo presidente da maior democracia mundial, nos faz lembrar dos velhos filmes de faroeste. O mocinho, coitado, apanhava o tempo todo. Mas, no final, ele se agarrava a um arbusto salvador. E o bandido fanfarrão é quem ia pro fundo do abismo, do desfiladeiro de sua... fanfarrice. O nosso bandido climático já temos. É ele mesmo, o agora famigerado Donald Trump. O grande responsável por ter retirado o segundo país e povo mais poluidores do planeta, depois da China, do maior acordo internacional já negociado na história político-ambiental da humanidade. Abandonaram, estupidamente, a companhia dos 194 países que se alinharam solenemente na última Cúpula da ONU sobre Mudanças Climáticas (a COP-21), em dezembro de 2015. O filme (que abordaremos na próxima edição da Ecológico) com seu roteiro esperançoso de salvar a vida de todos os habitantes atuais e futuros do planeta, incluindo os próprios americanos que votaram no bandido, continua em cartaz em todos os cinemas inteligentes da Terra: reduzir as emissões de efeito estufa na atmosfera, para que o aquecimento global fique muito abaixo de 2oC, buscando limitá-lo a 1,5oC em relação aos níveis pré-industriais. Ao não se apropriar deste que seria o novo e ecológico sonho não apenas americano - but of all the united states of the world -, Trump conseguiu o que não considerou no script do seu bangue-bangue aclimático: o surgimento não de um, mas de vários mocinhos ao mesmo tempo, tão rápidos quanto ele no gatilho. 10 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
SISTEMA FECOMÉRCIO MG, SESC E SENAC
REPRODUÇÃO da capa, mais que atual, da Revista Ecológico número 95 sobre a chegada de Trump à presidência dos EUA
Ao declarar atirando “fui eleito para representar os cidadãos de Pittsburgh, e não de Paris”, Trump já levou uma bala ricocheteada do presidente francês Emmanuel Macron: “Ele fez os EUA darem as costas ao mundo. Em vez de ‘fazer a América grande de novo’, ele deveria ter preferido tornar o ‘nosso planeta grande’ outra vez”. O segundo tiro de volta partiu do seu antecessor, Barack Obama, em nome dos americanos defensores do clima: “Os EUA de Trump estão rejeitando o futuro”. Mas a bala mais certeira, no melhor estilo Billy The Kid, saiu do coldre do ambientalista e ex-vice-presidente Al Gore, protagonista do corajoso documentário “A Verdade Inconveniente”. Já com a continuidade (cartaz à esquerda) do seu consagrado libelo cinematográfico sobre a realidade das mudanças climáticas no gatilho, Gore chamou Trump para o duelo público. Lembrou ao bandido que “pensar a América em primeiro lugar” significa pensar “apenas nos Estados Unidos”. Não pode ser assim. E detonou, o que também deveria acontecer com o nosso Brasil e os governantes que temos, capazes até de destruírem a Amazônia, como a Ecológico aborda nesta edição comemorativa a mais um Dia Mundial do Meio Ambiente: “Não importa o que Trump faça. A nossa transição para uma economia de energia limpa é inevitável”. Que o Brasil faça as suas apostas também no nosso faroeste caboclo. Como os americanos ou não de Trump, só nos resta combinar primeiro com a natureza. Será que ela vai aguentar assistir ao filme sobre o seu próprio e infernal aquecimento? Lutemos com ela até o the end. Boa leitura, até a próxima lua cheia!
Com a missão de consolidar e impulsionar o comércio de bens, serviços e turismo, o Sistema Fecomércio MG, Sesc e Senac atua de forma integrada, disponibilizando uma rede exclusiva de proteção e serviços para empresários, trabalhadores, suas famílias e comunidades. São ações que visam fortalecer a economia e também promover a transformação social por meio de capacitação profissional, e da oferta de serviços de cultura, esporte, lazer, educação e saúde.
www.fecomerciomg.org.br
www.sescmg.com.br
www.mg.senac.br
ECONECTADO
CRISTIANE MENDONÇA
FOTO: TOMMY WIKLIND
TWITTANDO
“Mecânico australiano descobre quatro planetas fuçando dados disponíveis na internet.”
FOTO: DAVID SHANKBONE
@mulherestrelas Duilia de Mello, astrônoma
“A mente é um ecossistema de memes. Isso explica a origem da linguagem e tudo o que torna os seres humanos únicos.”
FOTO: PLATINUM
@RichardDawkins - biólogo e escritor americano
INSTAGRAM VERDE Para quem gosta de cultivar um cantinho ecológico, o perfil do Instagram @minhasplantas é uma ótima dica! Atualizado por Carol Costa, jardineira e colunista da Rádio BandNewsFM, a página traz dicas sobre como plantar uma horta, as ferramentas necessárias, o passo a passo para montar um vaso e até informações sobre pragas e doenças. Além de informações sobre diferentes espécies, tanto ornamentais quanto comestíveis. Com 62 mil seguidores, a página é informação confiável para quem curte o assunto.
ECO LINKS Abacate, aguapé, capivara e maracujá são apenas algumas das palavras comuns no nosso dia a dia. Mais que conhecer a raiz da nossa língua brasileira, é importante também entender as raízes etimológicas das nossas palavras. Você sabia, por exemplo, que apesar de o português ser o idioma oficial do Brasil, aqui são faladas mais de 200 línguas? A maioria delas – 180 – por comunidades indígenas. Se você quer aprofundar mais seu conhecimento sobre o assunto, que tal acessar o site www. dicionariotupiguarani.com.br? Apesar do nome “tupi-guarani”, o dicionário não se restringe às línguas dessa família. Então, vá lá e pesquise, por exemplo, o que significa jaguaracambé...
MAIS ACESSADA
“Trump entra para a história como o presidente dos EUA que mais afrontou a Ciência, e também, o mais subserviente à indústria do petróleo.” @andretrig André Trigueiro, jornalista 12 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
O texto mais clicado no site da Revista Ecológico, no último mês, foi “Conheça o aplicativo que te ajuda a identificar espécies de plantas”. O app funciona por meio de um sistema de informações colaborativo - ou seja, vários usuários podem se habilitar para abastecer o banco de dados. Para saber mais, acesse a notícia pelo link goo.gl/a2LNSU
FOTOS: REPRODUÇÃO
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CONSTRUIR HOJE O FUTURO QUE QUEREMOS
#ÉDANOSSANATUREZA Valorizar as pessoas é a melhor forma de levar o desenvolvimento sustentável para as comunidades onde estamos presentes. Exemplo disso é o Caminhos do Vale, programa que pavimentou 700 km de estradas rurais, beneficiando mais de meio milhão de moradores do Vale do Aço. Essas ações se juntam a outras iniciativas, como o Xerimbabo, projeto de educação ambiental que já recebeu mais de 2,4 milhões de visitantes. E os programas Mata Ciliar e Áreas Verdes, responsáveis pelo reflorestamento de uma área de 249 hectares, equivalente a 230 campos de futebol. Construir o futuro junto com as comunidades. É da nossa natureza.
5 de junho. Dia Mundial do Meio Ambiente.
GENTE ECOLÓGICA FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE
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“O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. ”
FOTO: TV GLOBO - ALEX CARVALHO
APÓSTOLO PAULO, em carta a Timóteo
“Se não houver frutos, valeu a beleza das flores. Se não houver flores, valeu a sombra das folhas. Se não houver folhas, valeu a intenção da semente.”
“O Brasil tem hoje mais de 900 mil índios. E eles só querem ter o direito de existir. É por isso que eles pedem a demarcação de suas terras. O modo de vida deles preserva a floresta. E a floresta, o clima. Mexeu com o índio, mexeu com o clima.” CLÉO PIRES, atriz, que encabeçou a campanha “Mexeu com o índio, mexeu com o clima” junto com a mãe, Glória, e a irmã Antônia
FOTO: DIVULGAÇÃO
FOTO: JB ECOLOGICO
FOTO: DAVID SHANKBONE
HENFIL, cartunista
“Nesses tempos de céus de cinzas e chumbos, precisamos de árvores desesperadamente verdes.”
“O segredo da felicidade é estar satisfeito com o que você tem e não se aborrecer por não possuir aquilo que não está ao seu alcance. Meu único desejo é ter uma casa no meio do mato.”
“Precisamos da Amazônia como ela precisa de nosso cuidado para sobreviver. Sem o respeito, como nos ensinam os índios, não haverá dinheiro capaz de comprar a nossa sobrevivência.”
MÁRIO QUINTANA, poeta
RODRIGO SANTORO, ator
LETÍCIA SPILLER, atriz
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“Caminho do desenvolvimento sustentável: segurança jurídica. Brasil ainda precisa evoluir muito nesse quesito.” RUBENS MENIN, empresário e dono da construtora MRV
O prefeito de Campinas (SP) não está sozinho como novo presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP). Cheio de elogios, quem será seu companheiro de luta pela continuidade da bandeira da sustentabilidade na política municipalista brasileira é o ex-prefeito de BH, Marcio Lacerda. Tal como o também elogiado e companheiro Fernando Coura no IBRAM, Lacerda já preside o Conselho de ex-presidentes da FNP.
FOTO: DIVULGAÇÃO
ALEXANDRE KALIL
“No escritório em que eu trabalho e fico rico, quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor.”
ROBERTO WAACK, presidente da Fundação Renova, constituída para reparar os danos causados pela tragédia de Mariana
FOTO: DIVULGAÇÃO
“Passado o caos, o nosso olhar é para o futuro.”
O prefeito da capital mineira resolveu ouvir a voz da sensatez e fazer justiça social com relação à crescente onda de furtos e roubos nas escolas municipais. Autorizou a recontratação dos 500 profissionais de segurança, entre vigias e porteiros que sempre fizeram as rondas nesses estabelecimentos de ensino, parques e jardins. Eles haviam sido demitidos e substituídos por câmeras de videomonitoramento. MÁRIO FONTANA
BELCHIOR, cantor e compositor, falecido em 30 de abril passado, na música “Paralelas”
FOTO: DIVULGAÇÃO
JONAS DONIZETTE
O jornalista do Estado de Minas, um dos raros colunistas da grande mídia brasileira atentos à causa ambiental, recebeu um convite especial do Greenpeace, dentro das comemorações dos 25 anos de fundação da ONG no Brasil. Foi para visitar o combativo navio Rainbow Warrior (Guerreiro do Arco-Íris) ancorado no Rio de Janeiro, que há mais de 20 anos percorre os mares e costas do planeta em suas campanhas denunciadoras e ecológicas. MAIO/JUNHO DE 2017 | ECOLÓGICO 15
FOTO: BRUNO CANTINI
MACAÉ EVARISTO, secretária de Estado de Educação de Minas Gerais
FOTO: DIVULGAÇÃO
FOTO: CARLOS ALBERTO / IMPRENSA MG
“Ninguém deveria ser pobre ou morrer de fome num planeta com a natureza que temos.”
CRESCENDO
NOVOS ARES E DESAFIO Fernando Café Carvalhaes (foto) é o novo gerentegeral de Relações Institucionais e Sustentabilidade da ArcelorMittal Brasil, em substituição a Sidemberg Rodrigues, que se aposentou. Carvalhaes iniciou carreira em 2008, dando suporte técnico às empresas do Grupo na questão trabalhista. Em 2011, foi designado gerente-jurídico de Aços Longos e de Mineração, incluindo meio ambiente, dentre outras áreas. E, em 2014, passou a atuar como gerente-geral Jurídico. O novo rosto ambiental da Arcelor é graduado em Direito pela UFMG, pós-graduado em Direito da Economia e da Empresa pelo Business Institute/FGV e pós-graduado em Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho pela Universidade Gama Filho. À frente, ele tem o novo desafio de fortalecer as ações “economicamente viáveis, ambientalmente corretas e socialmente mais justas” do Grupo, que é o outro nome da sustentabilidade. EM PROL DO VELHAS Esperança renovada para as águas de Minas. Em pleno "Dia Mundial do Meio Ambiente", o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Velhas), Marcus Vinícius Polignano, a presidente da Copasa, Sinara Meirelles, o governo de Minas e 16 prefeitos assinaram, em Belo Horizonte, um documento coletivo que define a atuação sistêmica e coordenada de vários atores, com o objetivo de promover ações que garantam a disponibilidade de água em quantidade e qualidade, para a segurança hídrica de toda a Bacia do Velhas, especialmente para a Região Metropolitana de BH. A Carta de Compromisso está focada em três pontos principais: melhoria da qualidade da água e redução da poluição (tratamento de esgotos), conservação e produção de água, bem como gestão ambiental e participação social para execução do Programa “Revitaliza Rio das Velhas”. 16 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
LUTO NA COPASA A notícia, postada no blog do colega Chico Maia, assessor de imprensa do prefeito de BH, Alexandre Kalil, chocou toda uma geração de jornalistas dos velhos e bons tempos em Minas: “Aguardando um pulmão, que não chegou, lá se foi o Henrique Bandeira de Mello (foto), o nosso Bandeirinha da Copasa". E foi assim, em pleno quatro de junho, véspera do "Dia Mundial do Meio Ambiente", que o nosso colega querido e atleticano perdeu a luta contra o mal que o cigarro lhe fez, em pleno gozo de gourmet aposentado. Mesmo tendo conseguido parar de fumar há vários anos, de tanto que a gente enchia a paciência dele, um raro tipo de fibrose pulmonar lhe reapareceu mortal. A ecologia e a Copasa também perdem com a sua morte. Ser humano da melhor qualidade, afável e profissional competente, ele ficou famoso por ter se mantido no cargo de superintendente de Comunicação da empresa, independentemente de quem fosse o novo presidente, partido ou indicação política. A companhia de água e esgoto dos mineiros deve muito a ele por sua imagem pública e ambiental de hoje. Coube ao Bandeirinha, como eminência parda (ou hídrica) que era, conscientizá-la e tirá-la, em definitivo, da famosa “Lista Suja” que os ambientalistas mineiros denunciavam anualmente, sob o comando da Amda, com os nomes das 10 empresas e instituições mais poluidoras do Estado. Grande Bandeira!
FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK
SOU ECOLÓGICO FOTO: ARCELORMITTAL/ROBERTO ROCHA
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ITAIPU INOVA NO BIOMETANO Itaipu Binacional acabou de inaugurar a primeira planta de produção de biometano com o uso de mistura de esgoto, restos orgânicos de restaurantes e poda de grama. A estimativa de produção é de 4.000 m³ de biometano por mês. O custo também é bastante vantajoso: na comparação com o etanol, é 25% mais econômico. Leia a reportagem completa na próxima edição da Revista Ecológico.
Acesse o blog do Hiram:
hiramfirmino.blogspot.com
O HORROR DO DESMATAMENTO É de doer o que a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) acabaram de divulgar sobre o aumento da devastação da Mata Atlântica no Brasil, como nunca visto nos últimos 10 anos. Os números alarmantes verificados, contemplando o período entre 2015 e 2016, colocam Minas na vice-liderança do ranking suicida, perdendo somente para a Bahia, onde toda a nossa história de vida, civilidade e destruição começou. Por conta dos governos que temos e da população ambientalmente deseducada que somos, mais 7.410 hectares de florestas atlânticas com todos seus bichos, flores e passarinhos deixaram de existir em Minas Gerais. Suas águas também, já quase na escassez permanente. Os municípios mais devastadores são Águas Vermelhas, São João do Paraíso e Jequitinhonha. Pior na nossa história como “Caixa D'Água do Brasil”, por nascerem aqui todos os rios do país, exceto da Região Amazônica: esses índices fazem de Minas, até então, o líder nacional de desmatamento há sete anos consecutivos. Ou seja, os governos e órgãos ambientais subsequentes sabem onde a tragédia mais acontece, e não fazem nada, por não se tratar de prioridade política. E assim seguem o Brasil e seu maior, hídrico e montanhoso parceiro, com um total de quase novos 30 mil hectares de florestas, água e fauna riscados da nossa memória ambiental.
NEM TUDO ESTÁ PERDIDO Graças à mineira e brasileira pesquisadora Carla Silva Guimarães, da Universidade Federal de Viçosa, uma nova espécie de sapo foi encontrada no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. O nome científico escolhido está em sintonia com a realidade que vivemos, tal como a natureza em processo de obscuridade: “Brachycephalus darkside” (a última palavra significa “lado negro”). Detalhe: o bioma onde esse anfíbio vive também é a... Mata Atlântica.
FOTO: PESB
Para saber mais: www.sosma.org.br
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PÁGINAS VERDES
“A SITUAÇÃO DO RIO DOCE
É CRÍTICA” FOTO: TATI BELING/ALES
Bia Fonte Nova
redacao@revistaecologico.com.br
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m ano e meio após o maior desastre ambiental da história do Brasil – o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015 –, o Rio Doce, um dos mais importantes e castigados cursos d’água do país, continua em situação de penúria. A degradação acumulada ao longo de décadas na Bacia do Doce, em razão do desmatamento, da expansão urbana e da poluição por esgotos domésticos e industriais, foi ampliada com a tragédia mineral e se agrava ainda mais com a estiagem recente. “O rompimento da barragem ocorreu em novembro de 2015, quando o rio atingia a menor vazão de sua história. Hoje, a qualidade da água ainda está comprometida com os rejeitos, que estão espalhados pela margem e calha dos rios Gualaxo do Norte, Carmo e Doce. Dos 228 municípios da Bacia, sendo 202 em Minas e 26 no Espírito Santo, apenas 18 têm sistemas para tratamento de esgoto.” É o que atesta, em entrevista exclusiva à Revista Ecológico, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH Doce), o capixaba Leonardo Deptulski. Segundo ele, as primeiras ações emergenciais após o acidente foram iniciadas sem coordenação e isso comprometeu bastante os resultados. “O Termo de Transação e Ajustamento de Conduta foi assinado em março de 2016 e a Fundação Renova, criada para executar as ações, somente concluiu sua constituição em agosto de 2016, quando efetivamente começou a atuar. A meu ver, o maior desafio hoje é dar velocidade no atendimento das pessoas atingidas que ainda não puderam retomar suas atividades. Outro desafio é dar transparência e discutir com a sociedade as ações em curso e os resultados alcançados.” Confira:
DEPTULSKI: "Já houve melhoria nos sistemas de tratamento de água ao longo do Rio Doce e na estruturação da Fundação Renova" 18 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
Desde quando o senhor está à frente do CBH Doce e quando se encerrará o atual mandato? Fui presidente nos mandatos 2009/2010, 2014/2015 e 2016/2017. O atual mandato se encerra agora em outubro. Qual é hoje, com base em
sua visão e experiência, a realidade do Rio Doce em termos ambientais, de qualidade da água, um ano e meio após a tragédia de Mariana? A realidade na Bacia é crítica. A situação já era grave antes do desastre ambiental da barragem
LEONARDO DEPTULSKI
Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH Doce) FOTO: ANTÔNIO CRUZ/ AGÊNCIA BRASIL
“O rompimento da barragem da Samarco foi o maior desastre ambiental ocorrido no Brasil – e um dos maiores do mundo – e a empresa não tinha um plano de contingência para enfrentar a gravidade da situação gerada.” de rejeitos e foi ampliada com a tragédia. A Bacia do Doce passou por um processo drástico de desmatamento, a partir da década de 1940, que reduziu a cobertura florestal da Mata Atlântica a menos de 10%. No Médio e Baixo Doce, essa cobertura é inferior a 5%. Ao mesmo tempo, avançou o processo de industrialização, com destaque para a mineração e as áreas urbanas, aumentando o lançamento de efluentes domésticos e industriais, piorando a qualidade da água do Doce e também de seus afluentes.
Quais os principais impactos do desmatamento? O desmatamento comprometeu o reabastecimento do subsolo, reduzindo a vazão nos períodos de estiagem e ampliou o volume de água nas cheias, que passaram a ser mais frequentes. Em janeiro de 2016, por exemplo, a vazão na foz do Doce, no Espírito Santo, atingiu a sua menor marca: 110 metros cúbicos por segundo, sendo que a média dos últimos 10 anos é de 800 metros cúbicos por segundo. O rompimento da barragem ocorreu em cinco de novembro de 2015, quando o rio atingia a menor vazão de sua história.
Com o acidente, o Rio Doce foi integralmente atingido... Sim, em toda a sua calha, desde Ponte Nova (MG) até Linhares (ES), onde deságua no Atlântico, além dos rios do Carmo e Gualaxo do Norte, em Mariana. Ao todo, foram cerca de 600 km de área impactada diretamente, com 19 pessoas mortas, danos gravíssimos à biodiversidade, destruição de matas ciliares, suspensão do abastecimento de água em várias cidades e o comprometimento do trabalho/ renda de milhares de pessoas ao longo da calha, especialmente pescadores e agricultores, bem como os arranjos produtivos de comércio e turismo. Hoje, a qualidade da água ainda está comprometida com os rejeitos, que estão espalhados pela margem e calha dos rios Gualaxo do Norte, Carmo e Doce. Que ações têm sido promovidas, pelo CBH Doce e outros comitês, em prol da melhoria da qualidade da água no rio e em seus afluentes? O CBH Doce se organiza como comitês integrados com um comitê federal da calha, seis comi-
QUEM É ELE
Engenheiro industrial mecânico e bacharel em Ciências Contábeis, Leonardo Deptulski, 56 anos, é natural de Santa Teresa (ES) e residente em Colatina. Professor e auditor fiscal da Receita Estadual (Secretaria da Fazenda do Estado do ES) desde 1984, foi viceprefeito, entre 2005 e 2008, e prefeito de Colatina (2009/2016). tês de afluentes mineiros e cinco comitês de afluentes capixabas, com uma única agência de Bacia, que é exercida pelo Instituto BioAtlântica (IBIO-AGB Doce), entidade delegatária [associação civil sem fins lucrativos que recebe delegação de funções de Agência de Água]. A cobrança pelo uso da água na Bacia começou em 2012 e, desde então, estamos executando as ações previstas no Plano Integrado de Recursos Hídricos (PIRH). Nosso Plano de Aplicação Plurianual é de cinco anos (2016/2020) e
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MAIO/JUNHO DE 2017 | ECOLÓGICO 19
PÁGINAS VERDES prioriza programas de uso racional da água.
Quais têm sido as principais medidas com esse enfoque? Estamos elaborando 160 Planos Municipais de Saneamento Básico e trabalhando com ênfase nos programas hidroambientais: recuperação e preservação de nascentes e de Áreas de Preservação Permanente (APPs)/ controle das atividades geradoras de sedimentos. Trabalhamos com um orçamento anual de R$ 35 milhões para os 11 comitês. Após o desastre de Mariana, o CBH Doce intensificou sua atuação no monitoramento das condições da Bacia e tem participado como membro do Comitê Interfederativo (CIF), criado no Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC), firmado entre os governos Federal, de Minas e do Espírito Santo e as empresas Samarco, Vale e BHP Billiton, com a função de gerenciar a execução dos programas de recuperação, mitigação e compensação pelos danos socioambientais causados. Que análise faz sobre o andamento das ações de recuperação ambiental do Rio Doce, considerando tanto a atuação da Samarco, quanto dos demais órgãos e entidades envolvidos na questão, desde o acidente? O rompimento da barragem da Samarco foi o maior desastre ambiental ocorrido no Brasil – e um dos maiores do mundo – e a empresa não tinha um plano de contingência para enfrentar a gravidade da situação gerada. Os rejeitos levaram quase 20 dias para percorrer a calha do Doce e chegar ao Atlântico. As primeiras ações emergenciais 20 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
ENTENDA MELHOR FOTO: CIDAH CAMPOS
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PARQUE Estadual do Rio Doce: a "Amazônia mineira"
A Bacia Hidrográfica do Rio Doce tem área de drenagem de 86.715 km2, 86% deles no Leste mineiro e 14% no Nordeste do Espírito Santo. Em Minas, é subdividida em seis Unidades de Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos (UPGRHs), às quais correspondem as seguintes sub-bacias e seus respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica (CBHs): Rio Piranga, Rio Piracicaba, Rio Santo Antônio, Rio Suaçuí, Rio Caratinga e Rio Manhuaçu. No Espírito Santo, não há subdivisões administrativas, existindo CBHs dos Rios Santa Maria do Doce, Guandu e Pontões e Lagoas do Rio Doce. Com 879 km de extensão, o Doce tem suas nascentes em Minas, nas Serras da Mantiqueira e do Espinhaço. O relevo da Bacia é ondulado, montanhoso e acidentado. No passado, uma das principais atividades econômicas foi a extração de ouro, que determinou a ocupação da região e, ainda hoje, o sistema de drenagem é importante em sua economia, fornecendo água para uso doméstico, agropecuário, industrial e geração de energia elétrica. Os rios da região funcionam, ainda, como canais receptores e transportadores de rejeitos e efluentes. A população da Bacia, estimada em 3,5 milhões de habitantes, está distribuída em 228 municípios, sendo 202 mineiros e 26 capixabas. Mais de 85% desses municípios têm até 20 mil habitantes e cerca de 73% da população total da Bacia concentra-se na área urbana. Nos municípios com até 10 mil habitantes, 47,75% da população vive na área rural. A atividade econômica na área é diversificada. Na agropecuária, lavouras tradicionais, cultura de café, cana-deaçúcar, criação de gado de corte e leiteiro, suinocultura, entre outras. Na agroindústria, sobretudo a produção de açúcar e álcool. A região abriga, ainda, o maior complexo siderúrgico da América Latina, ao qual estão associadas empresas de mineração e reflorestadoras. Rica em biodiversidade, a Bacia do Rio Doce tem 98% de sua área inserida no bioma Mata Atlântica, um dos mais importantes e ameaçados do mundo. Os 2% restantes são de Cerrado. Uma pena ter chegado ao estado antiecológico atual.
LEONARDO DEPTULSKI
Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH Doce)
mais poluído do país. Qual é a realidade da Bacia em termos de saneamento básico? A Bacia do Doce é composta por 228 municípios, sendo 202 em Minas e 26 no Espírito Santo. Apenas 18 municípios têm sistemas para tratamento de esgoto, com percentuais diferenciados. A cobertura de água tratada é superior a 90%. Porém, com o desastre ambiental de 2015, a desconfiança com o uso da água tratada nas ciRESGATE A TRADIÇÃO DO FOGÃO A LENHA, dades que captam COM RESPEITO AO MEIO AMBIENTE no Doce é grande. A maioria dos muniE quanto à contenção cípios também não dos rejeitos? tem aterros sanitáFOGÕES Houve avanços nas rios licenciados. FOGUEIRAS ações, com a recupeLAREIRAS ração da Barragem de Como o senhor CALEFATORES Fundão e a construção avalia a atuação FORNOS DE PIZZA de diques no Rio Gualadas prefeituras xo do Norte, bem como em relação aos no monitoramento da esforços para a qualidade da água e na universalização implantação das captado saneamento? ções alternativas nas ciAs prefeituras não dades que se abastecem PRODUTOS ECOLÓGICOS, ENERGIA RENOVÁVEL, SUSTENTABILIDADE têm capacidade do Rio Doce. Houve, de investimento e Tel. 31-3586.9068 ou 9069 ainda, melhoria nos sissão totalmente dewww.ecofogao.com 9.8444-9606 temas de tratamento de pendentes dos goPARA OS USUÁRIOS DE ECOFOGÕES, TODO DIA É DIA DO MEIO AMBIENTE água e na estruturação vernos estaduais e da Fundação Renova. federal. Uma ação importante dos coPoderia identificar e mineiros, um representante dos mitês foi a elaboração dos 160 detalharaspectos em que vê municípios capixabas e um re- planos municipais de saneamenavanços, bem como os desafios presentante do CBH Doce. O CIF to básico, que estão em fase de é o gestor dos programas, com conclusão. Mas, infelizmente, que ainda permanecem? O Termo de Transação e Ajusta- o apoio de 11 câmaras técnicas faltam recursos para elaborar os mento de Conduta é composto temáticas. Ele se reúne mensal- projetos e executar as obras de por 41 programas, sendo 23 so- mente, delibera sobre as priori- coleta e tratamento de esgoto. cioambientais e 18 socioeconô- dades e também acompanha a micos. A meu ver, o maior desafio execução dos programas. Hoje, No contexto da educação amhoje é dar velocidade no atendi- há um esforço dos comitês junto biental, como o CBH Doce tem mento das pessoas atingidas que à Fundação Renova para um tra- atuado junto às comunidades? ainda não puderam retomar as balho conjunto, visando fortale- Temos procurado participar suas atividades. Outro desafio é cer a atuação dos comitês. de debates nas escolas, na codar transparência e discutir com munidade e por meio também a sociedade as ações em curso e Segundo dados do IBGE, o da promoção de atividades de os resultados alcançados. Rio Doce é o 10º manancial plantio de mudas em áreas de foram iniciadas sem coordenação e isso comprometeu muito os resultados. O Termo de Transação e Ajustamento de Conduta foi assinado em março de 2016 e a Fundação Renova, criada para executar as ações, somente concluiu sua constituição em agosto de 2016, quando efetivamente começou a atuar. A ação de maior alcance foi a de cadastramento dos cidadãos atingidos, para pagamento e indenização, que chegou a mais de 10 mil pessoas.
E sobre a atuação da Fundação Renova, qual é a sua opinião? O CBH Doce tem algum tipo de contato ou parceria com a entidade? O CBH Doce compõe o Comitê Interfederativo (CIF), que é formado por 12 membros: quatro do governo federal, dois do governo de Minas, dois do governo do Espírito Santo, dois representantes dos municípios
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LEONARDO DEPTULSKI
PÁGINAS VERDES
proteção, cercamento de nascentes e outras atividades.
Quais são as metas/ perspectivas do CBH Doce para o segundo semestre deste ano? Este ano, teremos eleição nos comitês estaduais e no federal. O mandato da atual diretoria se encerra em outubro, e esse é um momento importante para trazer novos participantes e fortalecer a nossa atuação. Estamos vivendo um período de seca bastante severo, com muitos rios afluentes secando no período de estiagem e várias regiões sendo abastecidas com caminhões-pipa. Por isso, nosso principal objetivo será trabalhar nos projetos de aumento da produção de água, aumentando a cobertura florestal, monitorando e apoiando a Fundação Renova para que as metas dos programas de recuperação sejam cumpridas, melhorando assim a qualidade do Rio Doce.
Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH Doce)
“A situação já era grave antes do desastre e foi ampliada com a tragédia. A Bacia do Doce passou por um processo drástico de desmatamento, a partir de 1940, que reduziu a cobertura florestal da Mata Atlântica a menos de 10%.” É otimista? Que futuro vislumbra para o Rio Doce, num cenário de curto/médio prazo? Nessa perspectiva de futuro poderemos ter dois cenários. Um primeiro, positivo, se houver o cumprimento dos programas de recuperação e compensação, com a Bacia recuperada e revitalizada. Ou um segundo, ne-
gativo, sem o cumprimento dos programas. Vamos nos empenhar para que a ação conjunta dos comitês de Bacia, da Fundação Renova e dos governos seja capaz de devolver a vida ao Rio Doce, resgatando as décadas de agressão e desrespeito que fizeram da nossa Bacia uma das mais degradadas do Brasil. Agora em 2017, completamos 20 anos da Lei das Águas (Lei 9.433) e já temos 218 comitês de Bacia funcionando no país. Precisamos acelerar esse processo e consolidar os comitês, envolvendo a sociedade na gestão das águas. Esse é o caminho. A Revista Ecológico tem feito a sua parte, ao divulgar informação de qualidade. Especialmente no que se refere à cobertura das ações na Bacia do Doce. SAIBA MAIS
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“Perto de muita água tudo é feliz.” GUIMARÃES ROSA
MINAS RUMO AO
FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA ENCARTE ESPECIAL (2)
ENCARTE ESPECIAL FIEMG (2)
DIVERSÃO E INFORMAÇÃO: salões de dança e dicas de conscientização também mobilizaram participantes
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CIDADANIA E ÁGUA ONDE O POVO ESTÁ Espaço Viva Água, uma das atrações mais concorridas da Ação Global, realizada na cidade de Brumadinho, conscientiza 12 mil visitantes para o consumo correto do recurso natural mais precioso do planeta
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idade militante da discussão hídrica na Região Metropolitana de BH, Brumadinho acolheu, no último sábado de maio, mais uma edição do “Ação Global”, resultado da parceria entre o Sesi e a Rede Globo. O evento ofereceu diversos serviços gratuitos para a comunidade local nas áreas de saúde, lazer e cidadania. As atividades, destinadas a todas as famílias do município, divulgaram temas emergentes, como conscientização ambiental e alertas sobre saúde humana e planetária. O presidente do Sistema Fiemg/ Sesi/Senai, Olavo Machado Junior, não apenas prestigiou o mutirão de cidadania e ecologia, como se
OLAVO MACHADO: "Nosso dever e esperança são locais e globais"
MINAS RUMO AO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA 2018
"Estamos determinados a proteger o planeta da degradação, sobretudo por meio do consumo e da produção sustentáveis, da gestão sustentável dos seus recursos naturais e tomando medidas urgentes sobre a mudança climática, para que ele possa suportar as necessidades das gerações presentes e futuras." Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável - ONU
e utiliza. Ressaltamos o cuidado que se deve ter com o seu consumo”, disse Zenilde Viola, pesquisadora de águas e efluentes do Centro de Inovação e Tecnologia do Senai. Professora da rede municipal de Brumadinho, Marilda Rodrigues Alves Miranda também visitou o Espaço Água Viva e gostou muito do que viu, em termos de conscientização e educação ambiental. Ela contou que está trabalhando com o tema água com seus alunos e veio buscar inspiração. A comunidade onde sua escola está instalada capta água de uma nascente FOTO: DIVULGAÇÃO
emocionou. “A população carente precisa e fica satisfeita por ter acesso a esses serviços. Isso é efetivamente trazer cidadania para onde o povo está. E, em se tratando de água, de esperança também para toda a humanidade, em um planeta que já responde tragicamente pelo que continuamos fazendo com a sua natureza.” Perto de mil voluntários garantiram mais de 24 mil atendimentos para os visitantes, que puderam ainda se divertir nos salões de dança, mudar o visual na tenda de corte de cabelo e levar mudas de plantas para as suas casas. Tudo de graça. E uma das atrações que mais fez sucesso foi o Espaço Viva Água, criado e instalado pelo Sesi. Trata-se de uma tenda onde foram instalados quatro ambientes. Em cada um, o visitante encontrava uma situação simulada (com painéis, sons e luzes) em relação ao uso da água: abundância, escassez, mau uso e um mini-laboratório onde se podia ver como a água pode ser infectada e também tratada. “Trouxemos equipamentos para análise química e biológica da água que a população bebe
VISITANTES fizeram simulações sobre o uso da água na tenda interativa
que não recebe o tratamento adequado. A partir destas informações temos, sim, de despoluir e cuidar das nossas fontes. Achei o espaço muito criativo e bem montado. Gostaria de ter trazido meus alunos para verem”, enfatizou. No fim da visita, Olavo Machado Junior assinou um documento em que a Fiemg se compromete a doar mudas de ipês para compensar a emissão de carbono da Ação Global, avaliada em 11 toneladas. Marquito Pinta, artista plástico da região, vai receber as futuras árvores como doação, e plantá-las num terreno de 30 mil m2 já cedido pela Prefeitura de Brumadinho. “Quero fazer um desenho misturando ipês de diversas cores e que seja possível avistar de cima pelo Google”, disse ele, agradecido e enxergando longe. A Ação Global e o Espaço Viva Água fazem parte dos preparativos do Projeto “Minas Rumo ao Fórum Mundial da Água 2018” , capitaneado pela Fiemg, que a Ecológico continua mostrando nesta edição. Acompanhe. MAIO/JUNHO DE 2017 | ECOLÓGICO 25
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Água mobiliza ação conjunta Maior evento hídrico mundial, que será sediado no Brasil, abre oportunidade para construir parcerias, fazer negócios e mostrar cases de sustentabilidade e esperança para o planeta e sua humanidade Minas Gerais, estado considerado a “caixa d’água” do país, segue empenhado em ser uma das grandes vitrines do maior evento hídrico global: o 8° Fórum Mundial da Água, que será realizado de 18 a 23 de março de 2018, em Brasília (DF). Por meio de ações tanto de entidades ligadas à indústria, sob a liderança da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), quanto dos governos, o Estado onde nascem as mais importantes águas nacionais, fora a Bacia Amazônica, e a capital dos mineiros estão se mobilizando para mostrar exemplos de boas práticas e subsidiar as discus26 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
sões do encontro, que deve reunir cerca de 60 mil representantes de mais de 100 países. Durante seis dias, serão debatidas questões relacionadas aos recursos hídricos, tendo como missão promover a conscientização popular sobre a gestão das águas, construir compromissos políticos e também fomentar ações voltadas para a solução de problemas críticos nos diferentes setores. E o incentivo à participação social, capitaneado em Minas pela Fiemg, é um dos grandes diferenciais da oitava edição do evento. Numa proposta pioneira, o Comitê Diretivo Inter-
nacional do Fórum criou, em seu site oficial (www.worldwaterforum8.org/ pt-br), uma plataforma de consulta aberta chamada “Sua Voz”. Ela permite que cidadãos de todas as partes do planeta com acesso à internet – especialistas ou não no tema – compartilhem ideias, experiências, soluções e influenciem nas discussões do Fórum (leia mais a seguir). A primeira das três rodadas de discussões previstas já foi encerrada. Ela teve início em fevereiro e se estendeu até abril, tendo recebido mais de 10 mil visitantes, que postaram cerca de 360 contribuições, vindas, por exemplo, de estudantes,
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de integrantes de comitês de bacias hidrográficas e de representantes de diferentes entidades brasileiras e estrangeiras. A segunda rodada de debates começou em maio e se estenderá até julho. E, a terceira, de agosto a outubro. ENGAJAMENTO EMPRESARIAL Ancorado no tema-geral “Compartilhando Água – Sustentabilidade”, o Fórum Mundial da Água ocorrerá pela primeira vez no Hemisfério Sul e será norteado por seis temas principais e outros três transversais. Os seis assuntos centrais, contidos na plataforma “Sua Voz”, estão divididos também em seis salas de debate: Clima, Pessoas, Desenvolvimento, Urbano, Ecossistemas e Financiamento. “A Fiemg vem acompanhando todo esse processo participativo, mobilizando todo o setor empresarial a se engajar e articulando, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e outras Federações, uma série de ações conjuntas. Agora, encerrada a primeira rodada de discussão global, foi feita uma síntese do item ‘Desenvolvimento’ e destacadas algumas participações nos outros temas”, esclarece o consultor ambiental da Fiemg para o Fórum, Octávio Elísio Alves de Brito. Segundo ele, o tema Desenvolvimento diz respeito à forma como os diferentes setores usam a água. Portanto, é considerado fator-chave para alcançar desenvolvimento sustentável, crescimento econômico, justiça social e proteção dos recursos naturais. Em Clima, é abordada a questão da água e das mudanças climáticas com foco na identificação dos riscos climáticos, na garantia da segurança hídrica e na proteção das pessoas e dos meios de vida. Para isso, foram definidos quatro tópicos, que pretendem abarcar as questões para discussão desse tema. São eles: gestão de risco e da incerteza para resiliência e preparação para desastres; água e adaptação à mudança climática; água e mitigação da mudança climática e ciência do clima/gestão dos recursos hídricos. Com isso, contempla, por exemplo, o preparo e as adaptações necessárias para lidar com as inundações e secas cada vez mais frequentes e já observadas em diferentes cantos do planeta.
"A água é o princípio de todas as coisas." Tales de Mileto
FALTA SANEAMENTO No tema Pessoas, por sua vez, o acesso à água potável, apesar de ser um direito humano, ainda não é realidade para milhões de pessoas ao redor do mundo. Os debates estão centrados na falta de água/acesso ao saneamento e como ela ameaça di-
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ENCARTE ESPECIAL FIEMG (2)
FOTO: THOMAS EINBERGER / ARGUM / GREENPEACE
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Segundo dados da ONU, mais de cinco mil crianças morrem, por dia, em todo o mundo, vítimas de doenças evitáveis relacionadas à água
SUA VOZ A plataforma ‘Sua Voz’, disponível em português e inglês para toda e qualquer cidade, empresa, cidadãos ou governos interessados, tem ferramenta de tradução para mais de 90 idiomas. Cada sala temática conta com três ou quatro moderadores, sendo ao menos um brasileiro. A ideia é levar para o evento de Brasília as contribuições de toda a sociedade, inclusive das vozes não ouvidas usualmente, já que a água está presente na vida de todos. Realizado a cada três anos, o Fórum Mundial também tem como missão aumentar a importância da água na agenda política dos governos e promover o aprofundamento das discussões, em busca de propostas concretas para os desafios hídricos globais. No Brasil – que concentra 12% de toda água doce do planeta – o Fórum é realizado e organizado pelo Governo Federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente; pelo Governo do Distrito Federal e pelo Conselho Mundial da Água, com apoio da ANA e da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa). Em Minas, as ações são capitaneadas pela Fiemg/Governo Estadual, com apoio da PBH e de instituições parceiras, como a Belotur. As edições anteriores do Fórum ocorreram no Marrocos (1997); Holanda (2000); Japão (2003); México (2006); Turquia (2009); França (2012); e Coreia do Sul (2015).
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retamente a saúde e a dignidade humanas, principalmente entre as populações mais pobres. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de cinco mil crianças morrem, por dia, em todo o mundo, vítimas de doenças evitáveis relacionadas à água, enquanto 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso a serviços de saneamento básico, como banheiros. Vale ressaltar, ainda, que a tarefa de garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e do esgotamento sanitário para todos integra os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS 6), que devem ser mundialmente alcançados até 2030. O viés Urbano das discussões do Fórum está associado à concentração da população nas cidades, o que influencia o consumo, a qualidade e a disponibilidade de água. O elevado percentual de pessoas
MINAS RUMO AO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA 2018
bém é crucial aprofundar o debate para melhorar o aporte de recursos destinados às tecnologias inovadoras, apoiando negócios com uso eficiente da água. BENEFÍCIO COLETIVO De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), entidade que coordena as discussões online do 8º Fórum Mundial da Água – em articulação com a Secretaria e demais instâncias organizadoras do evento –, os três temas transversais que nortearão as discussões de 2018 são: Compartilhamento, Capacidades e Governança. O primeiro se baseia no fato de que toda água é compartilhada por diferentes regiões, governos, atividades humanas e grupos de pessoas. Sendo assim, a gestão e as decisões relacionadas ao seu uso e conservação devem envolver todos para a
partilha equitativa de benefícios, soluções e adoção de boas práticas. Capacidades tem a ver com fornecer aos usuários, governos, tomadores de decisão e pessoas ao redor do mundo a informação adequada, educação e ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável e equitativo. Em Governança, o contexto é a água como tema transversal entre fronteiras, setores, grupos e níveis de governo. Por isso, abordar problemas hídricos integrando todos esses aspectos envolve a proposição de novas diretrizes, práticas, processos e decisões em benefício da coletividade. Confira, a seguir, algumas iniciativas da Fiemg que podem contribuir para Minas e sua capital se destacarem no Fórum 2018 que se avizinha: FOTO: FERNANDO FRAZÃO
vivendo em áreas urbanas sem infraestrutura e sem serviços adequados é um dos aspectos mundiais mais preocupantes. O quesito Ecossistemas aborda o fato de a água – em quantidade e qualidade adequadas – ser fundamental para a manutenção da biodiversidade e subsistência tanto dos organismos e do ambiente físico e químico no qual vivem, quanto das pessoas. Quatro tópicos deverão se transformar em sessões temáticas e palcos de debates durante o encontro de Brasília. Entre eles, o manejo e a recuperação de ecossistemas para serviços hídricos e a garantia da qualidade da água doce das nascentes até os mares. Finalmente, em Financiamento, o objetivo é alcançar a segurança hídrica, que depende do adequado financiamento público e privado para a sua infraestrutura e gestão. Tam-
SECA no Nordeste brasileiro: sem água, morrem os animais e as plantas
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OLAVO MACHADO e o governador Fernando Pimentel durante solenidade de assinatura do "Pacto de Minas pelas Águas", em 2015: compromisso hídrico
BOAS PRÁTICAS Internamente, a Fiemg também adota medidas com foco na sustentabilidade em seus mais diferentes aspectos. O prédio-sede da entida-
de tem o “Selo BH Sustentável” na categoria “Ouro”, certificação ambiental concedida pela Prefeitura a empreendimentos ecoeficientes. Esse programa de certificação tem como meta promover a redução do consumo de água e de energia elétrica, incentivar a reciclagem de resíduos sólidos e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Os bons exemplos também vêm de outras entidades do Sistema Fiemg. No Senai de Ponte Nova, na Zona da Mata, foi construída uma canalização para coletar e armazenar toda a água produzida pelos aparelhos de ar-condicionado. Na unidade integrada Sesi/Senai de Ipatinga, no Vale do Aço, foram instalados redutores de pressão/vazão da água que ajudam a diminuir o consumo a cada descarga nos vasos sanitários. E mais: as torneiras de todos os banheiros foram substituídas por modelos com fechamento automático, evitando assim o desO PRÉDIO-SEDE da Fiemg é referência perdício de água e aumentando o de construção sustentável em BH conforto dos usuários. FOTO: DIVULGAÇÃO FIEMG
Inspirada no vanguardismo ambiental do Estado e empenhada em contribuir de forma efetiva para o sucesso do maior evento global sobre recursos hídricos – o Fórum Mundial da Água 2018 –, a Fiemg segue fazendo a sua parte. Prova disso foi a realização do “Seminário Ciência e Tecnologia, Água e Produção”, realizado entre os dias 30 de março e 1° de abril passados, em Belo Horizonte. Durante o evento, o presidente da Fiemg, Olavo Machado Junior, alertou: “A escassez hídrica é uma enorme ameaça ao desenvolvimento sustentável não apenas entre as nossas montanhas, mas a todo o planeta e sua humanidade”. Outro exemplo da proatividade e do compromisso da Fiemg em prol da segurança hídrica local foi o lançamento do “Pacto de Minas pelas Águas”, entregue desde março de 2015 ao governador Fernando Pimentel. O documento contempla 15 medidas, entre elas a busca de soluções tecnológicas visando à melhoria dos processos produtivos, apoio à cadeia de fornecedores para alcance da performance hídrica mais adequada, além de um trabalho com as comunidades do entorno das empresas para maior conscientização sobre o uso racional da água. Na ocasião, em discurso enfático e emocionado, Olavo Machado lembrou que há mais de dez anos a indústria mineira vem se preparando para a escassez de água e convocou o governador Pimentel a ser um “estadista hídrico”: “O momento é de encontrar soluções e não de buscar culpados. É hora de estadistas se apresentarem. Lidere-os, caro governador!” – disse ele perante o auditório lotado da Fiemg.
FOTO: SEBASTIÃO JACINTO JR
A convocação é hídrica
MINAS RUMO AO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA 2018
Depoimentos
Confira, a seguir, algumas participações, após a primeira rodada de oito semanas de discussão global: DOS JARDINS À DESCARGA
RIQUEZA VITAL
“A organização da sociedade civil é um dos caminhos para garantir um futuro melhor para os jovens de hoje e de amanhã. No Brasil, muitas pessoas nas cidades já estão cientes de como é essencial a reciclagem e a reutilização da água. Muitas famílias reciclam suas águas residuais para regar jardins e/ou abastecer a descarga sanitária. No entanto, essas pequenas iniciativas não são suficientes. Precisamos de mais empenho dos governos e campanhas educacionais sobre o custo da água para a sociedade como um todo.”
“A água é uma das maiores riquezas que temos. Sem ela, é impossível a existência de vida em nosso planeta. Devemos economizá-la e incentivar toda a população a usá-la sempre com moderação.”
Daniela Cestarollo, geógrafa e moderadora da sala “Desenvolvimento”
“É necessário controlar o uso dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos com mais rigidez. Durante um longo período, parte da população brasileira foi educada com a visão de potencial infinito desse recurso. É preciso reeducar.”
ALUNOS SENSIBILIZADOS “A participação de vocês (estudantes) é de grande importância para as mudanças e controle social que precisamos ter e fazer, frente aos problemas que estamos atravessando no Distrito Federal. Meus alunos do Centro de Ensino Médio Taguatinga Norte estão participando das discussões virtuais e estaremos no Fórum Mundial.” Davi Silva Fagundes, coordenador no Brasil do Fórum Internacional da Juventude sobre a Água e Mudanças do Clima/ Bacia Hidrográfica do Rio Descoberto, Brasília (DF)
RECADO DA ÍNDIA “O grande desafio no contexto global, e particularmente no setor de irrigação do Sul da Índia, é a distribuição equitativa da água de irrigação. Elaboramos um modelo de alocação de água e os usuários e partes interessadas foram treinados. Sinto que eles estão mais confiantes sobre sua participação no processo de tomada de decisão e querem saber mais sobre ferramentas de sustentabilidade.” Shashidhar Shirahatti, professor da Universidade de Ciências Agrícolas de Dharwad/Índia
Ludmila Santos Magela, estudante, Taguatinga Norte/Brasília (DF)
RECURSO FINITO
Alex da Silva Lima, coordenador de projetos e integrante do Fórum Baiano de Comitês de Bacias Hidrográficas/Prefeitura de Castro Alves (BA)
VOZ DA ÁFRICA “O tema infraestrutura para a gestão sustentável dos recursos hídricos/serviços é de grande interesse para nós aqui em Uganda, África. As alterações climáticas e a seca têm imposto cada vez mais desafios aos pequenos agricultores. Poderíamos aprender muito com a experiência sul-americana em infraestrutura de irrigação, esquemas de água e estruturas para apoiarem o crescimento e a produtividade na agricultura.” Nicholas Agaba Rugaba, gerente de projeto da Electricity Generation Company Limited/Uganda
SAIBA MAIS
www.worldwaterforum8.org/pt-br twitter.com/WaterForum8
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MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br
O MUNICÍPIO de São Gonçalo recebe mensalmente mais de R$ 70 mil pelo Parque Estadual do Rio Preto
ICMS ECOLÓGICO VIROU
“INDÚSTRIA DE APAS”
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usência de fiscalização por parte do Instituto Estadual de Florestas (IEF), descaso vergonhoso das prefeituras pelas Unidades de Conservação que lhes permitem aumentar arrecadação e uma indústria de Áreas de Proteção Ambiental (APAs). Esse foi o cenário encontrado pela Amda ao investigar a destinação do ICMS ecológico em 12 municípios de Minas Gerais. As pesquisas foram feitas na gestão municipal que terminou em 2016. A entidade constatou que as APAs municipais não têm sede, programa de prevenção e combate a incêndios, fiscalização, funcionários e nem mesmo um gerente que responda por elas. E os municípios que recebem o imposto por abrigarem unidades de conservação de proteção integral (parques, estações ecológicas, refúgios de vida silvestre, monumentos naturais), com apenas uma exceção, não estão nem aí para o que lhes acontece. Não destinam um real 32 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
para ajudar no combate a incêndios ou melhoria de acessos. Ao contrário, alguns, como Ibirité, estimulam sua degradação. O ICMS ecológico foi criado pela Lei Estadual nº 12.040/2000, conhecida como “Lei Robin Hood”, e prevê destinação de percentual do total do imposto arrecadado pelo Estado a municípios que abriguem unidades de conservação. Um de seus objetivos é estimular proteção da biodiversidade e da água, por meio da criação de áreas protegidas. Porém, passados 17 anos, o que se viu foi uma explosão de APAs com a única finalidade de receber o recurso. A lei não obriga que o recurso arrecadado seja investido nas UCs, mas o município pode destiná-lo ao que quiser e há regras para repasse dos recursos que não estão sendo observadas pelo IEF. A DN Copam 86/05 determina que sejam vistoriadas anual-
FOTO: EDERSON GUEDES
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ESTADO DE ALERTA
“As Áreas de Proteção Ambiental (APAs) municipais não têm sede, programa de prevenção e combate a incêndios, fiscalização, funcionários e nem mesmo um gerente que responda por elas.” mente pelo menos 20% das unidades cadastradas pelas prefeituras, o que não é feito. O IEF alega que não tem estrutura, mas continua aprovando o repasse dos recursos. São Gonçalo do Rio Preto recebe mensalmente mais de R$ 70 mil pelo Parque Estadual do Rio Preto, que inclusive protege as nascentes do rio de mesmo nome que abastece o município e é balneário frequentado em toda a região. Além disso, o parque, dotado de raras belezas naturais, estimula pousadas e comércio na cidade, que tem menos de 4.000 habitantes. Mesmo assim, a prefeitura não o ajuda em nada. Córrego Novo recebe cerca de R$ 15 mil mensais por uma APA de mesmo nome, que não tem funcionários, sede, gerentes e nenhuma ação contra fogo. E Buenopólis recebe cerca de R$ 30 mil por uma APA, na mesma situação. Somos integralmente favoráveis ao ICMS ecológico, mas é preciso urgentemente moralizá-lo. Utilizando os poucos e precários canais de participação na gestão dos recursos naturais que restam à sociedade no Brasil, cada vez mais excluída pelos poderes Legislativo e Executivo, propusemos e foi aceito, com apoio da Semad e IEF, criação de Grupo de Trabalho no âmbito da Câmara de Proteção da Biodiversidade do Copam para discutir mudanças na DN 86. Entrega-
mos o documento e solicitamos reunião técnica ao presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Glaycon Franco, e enviamos solicitação de abertura de inquérito civil aos promotores das comarcas dos municípios investigados. A Amda apresentou algumas propostas, como: reavaliação da destinação dos recursos, revisão dos parâmetros que regulam o repasse do ICMS, mais rigor na avaliação dos municípios que devem recebê-lo, previsão de exclusão ou suspensão do cadastro de municípios que descumprirem as regras ou serem indutores de degradação das unidades de conservação e de sua zona de amortecimento. Além disso, a exigência de Plano de Manejo implantado para inscrição no cadastro, fiscalização efetiva para comprovação das informações prestadas pelos municípios e de atividades econômicas ou de infraestrutura implantadas dentro das APAs municipais. E previsão legal de transparência por parte do IEF do processo de apuração dos valores a serem repassados e das prefeituras no que se refere à aplicação dos recursos. O documento foi enviado às prefeituras mencionadas, que até o momento estão “fingindo de mortas”, talvez achando que a situação nunca mudará. (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).
1 DEBATE VISTA DA SERRA com o Parque das Mangabeiras a seus pés: vitória da luta ambiental e do amor à natureza
FOTO: RODRIGO QUEIROGA
A SERRA PEDE PAZ Eleita democraticamente o cartão de visitas natural de BH, a Serra do Curral vive mais um falso dilema ao longo de sua polêmica história de agressão e preservação Hiram Firmino
redacao@revistaecologico.com.br
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omo é triste. E como desconstrói continuar assistindo à radical polêmica envolvendo a construção do novo e sustentável Hospital de Câncer da Oncomed no lugar dos escombros até hoje permitidos do ex-Instituto Hilton Rocha, já passados 14 anos de abandono nas franjas do mais querido monumento natural da capital dos mineiros. Essa tristeza ecológica me ocorreu novamente. Foi durante 34 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
a última e tumultuada audiência pública sobre o assunto realizada pela Câmara Municipal de BH. De um lado, com torcida menor, os consultores e representantes técnicos da Oncomed. E de outro, em número massivamente maior, com cartazes denunciativos e aguerridos, os representantes da Associação dos Moradores do Bairro Mangabeiras e seus parceiros ideológicos, encabeçados pelo Ministério Público. Tristeza contábil. No final da
audiência, nenhum futuro e consensual vencedor. Se conseguir implantar seu projeto, sem ações mitigadoras e, principalmente, bastante compensatórias, para não dizer generosas a favor da natureza da Serra (incluindo uma passagem para a fauna local), a Oncomed terá construído um hospital com a pecha de maldito para sempre na história ambiental da ex-Cidade Jardim do Brasil. Já os moradores próximos e o
TRISTEZA PONTUAL Foi o que senti quando, a exemplo dos demais oradores e com o tempo irrisório de apenas três minutos para cada um, o biólogo Célio Valle foi chamado para também dar o seu depoimento. Pouca gente ali, principalmente os mais jovens, sabia quem ele é, já na altura dos seus 84 anos de militância e os cabelos totalmente brancos. Ao lado de Hugo Werneck, já falecido, e Angelo Machado, 88 anos, Célio e seus olhos da cor do céu integram o triunvirato mais notável até hoje na história pre-
FOTO: ECOLÓGICO
Ministério Público, se vencerem a disputa, também serão lembrados para sempre como aqueles que, olhando para o próprio umbigo, impediram a construção de um avançado e necessário hospital de tratamento de câncer, com capacidade para 220 leitos. Uma nova trincheira de assistência e luta científica também contra a doença que hoje, superando as do coração e muito além das nossas montanhas, mais mata seres humanos no planeta. O que fazer, então, para que só haja ganhadores? Enquanto ministra do Meio Ambiente, a senadora e mulher da floresta Marina Silva já apontou o sábio caminho do meio, conforme a Revista Ecológico já mostrou. Segundo ela, eleita pela Revista Time como uma das 50 personalidades mundiais capazes de influenciar e mudar o comportamento ambientalmente suicida dos governos e da humanidade, sob a ótica da sustentabilidade não nos cabe mais nos posicionarmos contra ou a favor de qualquer interferência na natureza. Mas, sim, como fazê-la, de maneira economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente mais justa, que é o outro nome da sustentabilidade.
MANIFESTAÇÃO pela construção do novo hospital tem mobilizado também a população
servacionista de Minas e do país. Em termos nacionais, sem as redes sociais nem celular, foram eles que mais lutaram – via diálogo e amor de verdade à natureza - pela salvação e criação do hoje Parque Nacional da Serra do Cipó. Idem, pelo Parque Estadual do Rio Doce, no Vale do Aço, considerado a “Amazônia Mineira”, a maior área preservada de Mata Atlântica do país, fora da Amazônia Legal. E, em termos locais, pela preservação do que hoje conhecemos como Parque das Mangabeiras, a maior área verde e de lazer da capital mineira. Em seu curto depoimento longe do microfone, Célio Valle não conseguiu informar a plateia de que, junto de seus dois velhos companheiros e sem a modernidade hoje de vídeos dirigidos ou manipulados na internet, somente na saliva e com o coração verde, ele também conseguiu evitar a implantação de um grande loteamento e construção imobiliária pretendido pela pró-
pria Prefeitura de BH em toda a área do Parque das Mangabeiras que conhecemos. E, na época, para conseguir esse êxito ambiental histórico para BH, eles tiveram de negociar à exaustão, inclusive, com o governo. Ganhar aqui, perder ali. E o que perderam, em troca de tudo que conseguiram, foi grande parte da área que é hoje o Bairro das Mangabeiras, das praças da Bandeira e do Papa até o pé da Serra do Curral, justamente onde se trava a atual discussão. Toda esta área, e não apenas o Instituto Hilton Rocha, foi edificada, portanto, dentro do limite maior do tombamento. PANO CAÍDO Enfim, quando Célio Valle conseguiu ser ouvido pela plateia inflamada, o pano caiu de vez. Para a surpresa geral, ele disse que, como ambientalista, em vez de estar contra a construção do novo hospital, tinha outras duas missões ali.
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1 DEBATE A primeira, é que ele estava representando, nesse dia, o adoentado professor Angelo Machado, atual presidente da Fundação Biodiversitas. Instituição científica de credibilidade e reconhecimento públicos, a fundação foi consultada pela Oncomed para ajudá-la a conseguir o licenciamento ambiental, via implantação compensatória de um corredor ecológico capaz de ligar as áreas verdes dos parques da Baleia, Mangabeiras e Serra do Curral até os parques do Jambreiro e Rola
Moça, na região sul de BH. O objetivo maior é consolidar um cinturão de vida, fauna e flora também atrás da serra, no município de Nova Lima, incorporando o que restou de natureza ali, igualmente ameaçada pela mineração, invasão de favelas e abandono tanto pelo Estado quanto pela Prefeitura - o que a Revista Ecológico irá mostrar em sua próxima edição. A segunda missão de Célio foi propor não a vitória sozinha da Oncomed, nem da opinião pública local regida pela Associa-
ção dos Moradores e o Ministério Público, ambos contrários ao novo empreendimento hospitalar. Ele só não foi vaiado, suponho, por causa da cor dos seus cabelos e seu jeito “Daniel Boone” de ser. Nem vencidos, nem vencedores - o ambientalista propôs. Mas, sim, o diálogo entre as partes. E a paz na serra, conforme o depoimento que ele acrescentou à Revista Ecológico, também presente à audiência, que apresentamos a seguir. Confira!
“Até o João-de-Barro mexe na natureza. E ambos sobrevivem”
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cada lugar é uma coisa diferente. É solução sim, e faz a diferença. Do outro lado, dizer que a faixa de construção do novo hospital vai atrapalhar a passagem da fauna local é uma besteira, tem tecnicamente como contornar isso e para melhor. A mesma coisa é o vídeo contra o hospital que anda circulando por aí. Ele é maldoso. Eu fiquei horrorizado, porque não vai à essência das coisas. É como se o hosFOTOS: DIVULGAÇÃO
“Hospital é vida. E uma das doenças que mais matam, acometem as pessoas hoje é o câncer. Eu sou, sim, a favor da instalação do hospital e acredito que não irá atrapalhar nada. As pessoas hoje estão perdendo a oportunidade de se juntar, de dialogar e conhecer mais a verdade. É a verdade que liberta. É essa a atitude que os novos ambientalistas devem tomar, assim como no passado, quando nos unimos para criar o Parque das Mangabeiras naquela mesma região tombada. Lembro até que o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) brigou conosco na época, dizendo que éramos ‘contra o progresso, contra a civilização’, porque eles queriam criar um conjunto imobiliário e habitacional lá. A Serra do Curral precisa de paz. A Oncomed, inclusive, está mudando a sua forma de diálogo com os ambientalistas. Nós mostramos a ela que não adianta ficar em guerra com ninguém. Ela passou a usar essa expressão de corredor ecológico, que parece ser demagogicamente boba. Mas, em
CÉLIO VALLE: “Não adianta mais ficarmos em guerra”
pital fosse a continuação da mineração. Eles colocam uma linha de construção cortando o verde da Serra. Aquilo não é verdade. Temos de ter a visão de que somos um bicho da natureza. Somos da natureza e temos de mexer nela. Um joão-de-barro tira terra de um lugar, leva pra outro, faz a casinha dele, mora lá. Pois é. Ele mexeu na natureza, continua e sobrevive nela. O porco-do-mato não abre o próprio caminho nas matas ao pisar nas plantas? A natureza não é um jardim que podemos fazer da forma que queremos, por isso existem as leis para controlar o ser humano. A questão é como fazer. Podemos, sim, conviver de forma harmoniosa com a natureza resiliente da serra. O hospital pode ser instalado, sim, desde que de maneira sustentável”. (*) Biólogo e professor, fundador do Centro para a Conservação da Natureza em Minas Gerais. Já foi presidente do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e diretor do Ibama/Ministério do Meio Ambiente, reconhecido como a “Melhor Personalidade Ambiental” na segunda edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, em 2011.
Telhado de vidro... Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Secretaria Municipal de Meio Ambiente confirmam a legalidade do empreendimento Já dizia o sábio e pacifista provérbio português, “quem tem telhado de vidro não atira pedras ao do vizinho”. É o que defende o professor Flávio Carsalade, ex-presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Segundo o arquiteto, que assina o projeto do Hospital da Oncomed, caso os moradores contrários ao empreendimento queiram ir fundo na questão, eles vão ver que, de uma maneira geral, o hoje edificado bairro Mangabeiras está todo construído em área de preservação ambiental. “Pela lógica, tal como o ex-Instituto Hilton Rocha, quase todas as casas do bairro teriam que ser demolidas”. ISSO FAZ SENTIDO HOJE? Esta mesma questão é compartilhada pela superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/ Regional Minas Gerais), Célia Corsino: “Se formos levar ao pé da letra, o mesmo procedimento deveria acontecer com as edificações do bairro das Mangabeiras hoje existentes na área tombada”. Para ela, nem prédio poderia ser construído no bairro. “Muito menos casas de até três andares, como se vê atualmente, burlando a concepção permitida pelo poder público. E ninguém fala nada”. Foi o que aconteceu com o Hilton Rocha, mesmo com a serra já tombada. Ele teve “permissão” da própria prefeitura, na época para ocupar um lote, depois ampliado, e construir o seu hospital no pé da serra, até o
PROPOSTA do Hospital da Oncomed: requalificação ambiental com a Serra
abandono atual das edificações após a sua desativação.
dição, esse mesmo direito, em nome da saúde pública”.
RITO NORMAL Sobre o processo de legalização e licenciamento do futuro hospital de câncer, pretendido pela Oncomed, a representante do Iphan foi enfática: “Não pense a população que é assim imediato, sem estudos e sem rito, obter as devidas licenças nos órgãos oficiais. Somente aqui junto ao Iphan, em resposta às análises, críticas e exigências que fizemos, a Oncomed já foi obrigada a refazer e apresentar cinco novas versões do seu projeto arquitetônico original. Ou seja, até concordarmos com a requalificação ambiental compensatória que o novo empreendimento propõe à região. Isso significa que, quem tem telhado de vidro, por morar igualmente dentro da área original de tombamento e preservação da Serra do Curral, não deve continuar atirando pedras em quem também adquiriu, por direito e tra-
SEM PRECEDENTES Para o secretário municipal de Meio Ambiente de BH e também presidente da Comissão de Direito Ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Minas Gerais, Mário Werneck, a reforma do ex-hospital Hilton Rocha é legalmente correta e os moradores próximos não devem se preocupar: “Juridicamente, a decisão a favor do novo hospital da Oncomed não cria precedentes para outras liberações de obras na região”. A estrutura já existe, lembrou ele, e foi permitida à época da sua criação: “A única alteração que a função do antigo edifício sofrerá, em termos de prestação de serviços, será a da ampliação do atendimento. Além de oferecer tratamento de câncer, irá prestar serviços de oncologia e cardiologia, a pedido da própria comunidade do Mangabeiras”. EM TEMPO: não perca, na próxima edição, a reportagem “O perigo mora ao lado”, sobre o verdadeiro crime ambiental atrás da Serra do Curral.
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1 O IMPEACHMENT NATURAL
FOTO: PAULO PEREIRA / GREENPEACE
#VETA! AS MEDIDAS provisórias 756 e 758 são um prato vazio para as comunidades tradicionais e a biodiversidade amazônica
A Câmara dos Deputados e o Senado Federal já aprovaram medidas provisórias que poderão ceifar quase 600 mil hectares da Amazônia. Será que o presidente Michel Temer terá a grandeza de impedir esse ecocídio? Luciano Lopes
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101 mil hectares do Parque Nacional do Jamanxim, no oeste do Estado, ficarão desprotegidos para, FOTO: MARCELO CAMARGO / AGÊNCIA BRASIL
de Área de Proteção Ambiental (APA). Com isso, 486 mil hectares da Flona (37% do total) e mais de FOTO: VALTER CAMPANATO / AGÊNCIA BRASIL
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lbert Einstein, o famoso cientista alemão, dizia que “a verdadeira crise é a crise da incompetência”. Pois bem. Só ela pode explicar o maior retrocesso ambiental da história recente do nosso país, desde a redemocratização, que foi o Senado Federal aprovar em 23 de maio, na esteira da Câmara dos Deputados, duas Medidas Provisórias (MPs) que ameaçam a proteção da Floresta Amazônica e os compromissos climáticos assumidos solenemente pelo Brasil no Acordo de Paris. Trata-se das MPs 756 e 758, que alteram os limites da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, localizada no município paraense de Novo Progresso, desmembrando parte de sua área para a criação
MICHEL TEMER: segundo a WWF, as “ameaças” partiram do gabinete dele
SARNEY FILHO: com o orçamento mais reduzido do país, o desmatamento só aumenta
FOTO: U.S. DEPARTMENT OF STATE
ATÉ o ator norte-americano Leonardo DiCaprio criticou a ação da Câmara dos Deputados e do Senado brasileiros: em seu twitter, que tem 17,7 milhões de seguidores, ele pediu ao presidente Temer para vetar as MPs
respectivamente, “acomodar” legalmente invasões ocorridas depois da criação da Flona e dar lugar às obras de construção da ferrovia Ferrogrão, paralela à BR163. Um prato cheio para empreiteiras, mineradoras, construtoras e ruralistas gananciosos, além de posseiros e grileiros ilegais. E um prato vazio, como sempre acontece neste tipo de situação, para as comunidades tradicionais e a biodiversidade amazônica. “Essa ofensiva contra as Unidades de Conservação (UCs) vem ganhando força desde o ano passado, com a edição pelo governo das medidas provisórias para reduzir áreas protegidas no oeste do Pará. As MPs 756 e 758, especificamente, significam um dos maiores retrocessos socioambientais dos últimos tempos. É um crime contra o meio ambiente do Brasil, pois coloca em risco toda a Amazônia”, afirmou Michel Santos, coordenador de Políticas Públicas da WWF Brasil, à Revista Ecológico. Se sancionadas pelo presidente em exercício, afirma Santos, as MPs vão abrir caminho para o des-
matamento na região, pois essas áreas ficarão à mercê da grilagem e de outros crimes ambientais, como o garimpo e a extração ilegal de madeira. “Estamos vivendo uma situação atípica no meio político, um verdadeiro caos para área ambiental. As perdas têm sido constantes e aumentaram nos últimos dias. O Planalto escancarou a estratégia de usar as pautas ambientais no Congresso como moeda de troca para tentar impedir a queda de Michel Temer ou, pelo menos, ter alguma influência na eventual escolha do próximo presidente”, alerta o coordenador da ONG. O Ministério do Meio Ambiente (MMA), sob a batuta do ambientalista Sarney Filho, já recomendou à presidência do país vetar as medidas provisórias. É o que o MMA defendeu, com base em estudos e pareceres técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Em nota, o MMA afirma que o texto “sinaliza contrariamente aos esforços do Governo Federal em conter o desmatamento na Amazônia, cujos índices voltaram a subir, tendo atingido, em 2016, a marca de 7.989 km2, o que representa um aumento de 29% em relação ao ano anterior”. O próprio ministério reconhece que a Flona do Jamanxim está localizada em uma área que con-
centra as maiores taxas de desmatamento ilegal em UCs federais na Amazônia, chegando a 68,48%. “A região tem sido palco de frequentes conflitos fundiários, de atividades ilegais de extração de madeira e minérios, associadas à grilagem de terra e à ausência de regramento ambiental, com reflexos na escalada da criminalidade e da violência contra agentes públicos. O texto aprovado não colabora com a implantação das políticas de governo adequadas para enfrentar essas questões, notadamente o Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento na Amazônia (PPCDAm), que prevê, entre outras medidas, a ampliação, consolidação e fortalecimento de unidades de conservação na Amazônia”, destaca a nota. Ela termina ressaltando o retrocesso que a medida representa para o cumprimento dos compromissos assumidos na COP-21, em Paris. Na ocasião, o Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de gases de
Entre as medidas do retrocesso estão o enfraquecimento do licenciamento ambiental, a anulação dos direitos indígenas e de seus territórios e a redução de Unidades de Conservação FOTO: MARCELO CAMARGO / AGÊNCIA BRASIL
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"O Planalto escancarou a estratégia de usar as pautas ambientais no Congresso como moeda de troca." Michel Santos, da WWF Brasil
efeito estufa (GEEs) em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025, com uma contribuição indicativa subsequente de reduzir as emissões de GEEs em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030. Cabe agora ao presidente Temer navegar na maré contrária aos lobistas do setor agropecuário e aos ruralistas - que discretamente comemoraram a aprovação das medidas na Câmara e no Senado - e rejeitar tamanha insanidade à natureza de nosso país. O meio ambiente não pode mais ser cabide da ganância. E, lembrando o escritor e poeta italiano Dante Alighieri, que dizia que “no inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise”, fica a pergunta: para onde irá a alma dos deputados, senadores e do presidente que, conscientemente, atuam para deixar uma crise ambiental mais crítica ainda? SAIBA MAIS
www.wwf.org.br 42 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
FOTO: BRUNO KELLY / GREENPEACE
QUE VERGONHA!
“Enquanto a sociedade se concentra no debate das reformas trabalhista e previdenciária, o Congresso age celeremente para atacar os direitos indígenas e para mutilar a legislação ambiental, por meio de um ataque direto ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e a flexibilização do licenciamento das atividades efetivas e potencialmente poluidoras. A bancada da motosserra só consegue enxergar o horizonte da próxima safra. Se tivesse percepção de longo prazo, como algumas lideranças do setor têm, saberia que proteger floresta, solo e água não é uma questão exclusivamente ecológica e ambiental. Mas a forma mais inteligente de cuidar dos fatores de produção do seu próprio negócio. A denominada bancada ruralista atua sem sentimento de pátria, colocando seus interesses pessoais acima do interesse público. Agora é fundamental dar todo apoio ao Ministro Zequinha Sarney para evitar que esses retrocessos sejam perpetrados. A reconhecida necessidade de modernizar a legislação não pode significar o seu desmantelamento. Acompanhando a legislação que protege o patrimônio natural brasileiro, desde a era Vargas, nunca tivemos um Congresso tão anacrônico e retrógrado como o atual. Por incrível que pareça, já tivemos uma aristocracia rural mais esclarecida. Em pleno século XXI, os representantes do agronegócio, cuja importância para o país não se discute, estão pautados pela agenda do século XIX. Que vergonha!” José Carlos Carvalho, ex-ministro de Meio Ambiente
FOTO: FERNANDA MANN
FOTO: BRENO PATARÓ / PBH
1 O IMPEACHMENT NATURAL
OUTRAS MEDIDAS INSUSTENTÁVEIS PEC 215/2000 – Acaba com demarcação de Terras Indígenas (TIs).
O ATAQUE a direitos de populações ribeirinhas e quilombolas (MP 759/2016 e PL 3.729/2004).
PL 2.289/2007 – PL 4.059/2012 – Venda de terras para estrangeiros.
A FACILITAÇÃO da grilagem de terras, ocupação de terras públicas de alto valor ambiental e fim do conceito de função social da terra (MP 759/2016).
Quase 150 entidades socioambientais se unem contra o Governo Federal e os ruralistas para denunciar medidas que violam direitos humanos e põem em risco a Amazônia Diante do retrocesso ambiental vivido pelo Brasil, um conjunto de organizações decidiu se unir e fazer uma frente de resistência contra a ofensiva do governo Michel Temer e da bancada ruralista. São diversas entidades ambientalistas, indígenas, de direitos humanos e do campo que aderiram ao movimento #RESISTA. Até o momento, quase 150 organizações já assinaram o documento, entre elas o WWFBrasil, Greenpeace, Instituto SocioAmbiental e a Fundação SOS Mata Atlântica, além do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Imazon, Imaflora e Comissão Pastoral da Terra (CPT). “Não atuamos especificamente contra as MPs 756 e 758, mas contra o conjunto de retrocessos que está em curso pelo governo e pela bancada ruralista. As medidas colocam em risco a
proteção ambiental, soberania alimentar e direitos constitucionais já conquistados. Como é um grupo diverso de organização, de vários setores, as ações para estimular o veto das MPs serão mais independentes e virão, principalmente, das entidades da área socioambiental. Atuaremos em frentes parlamentares, jurídicas e de engajamento social. E não pouparemos esforços para impedir que façam o Brasil retroceder décadas em termos de preservação ambiental e de direitos humanos”, ressalta o coordenador de Políticas Públicas da WWF Brasil, Michel Santos. “Este pacote de medidas [veja ao lado] atinge diretamente o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), influenciando negativamente a imagem conquistada após esforços bem-sucedidos no combate ao desmatamento e às mudanças climáticas”, destacou.
A FLEXIBILIZAÇÃO das regras de Mineração (PL 37/2011 – Código de Mineração).
O ENFRAQUECIMENTO do licenciamento ambiental (PL 3.729/2004 – Lei Geral de Licenciamento). O ATAQUE a direitos de trabalhadores do campo (PL 6.422/2016 – Regula normas do trabalho rural, PEC 287/2016 – Reforma previdenciária e PLS 432/2013 – Altera o conceito de trabalho escravo).
OS CORTES orçamentários de órgãos de proteção ambiental e social.
(*) Para ler o documento na íntegra, acesse goo.gl/0qSQ9c FONTES: WWF / Amazonia.org / ISA / Greenpeace Brasil / ABR
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FOTO: FÁBIO NASCIMENTO - GREENPEACE
#RESISTA!
PEC 132/2015 – Indenização a ocupantes de TIs.
1 O IMPEACHMENT NATURAL
#ENTENDA! Confira, a seguir, dez fatos e impactos que a redução de florestas causa ao meio ambiente e à população. E que as MPs podem agravar
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- A falta (ou excesso) de chuva no Brasil é influenciada pela Amazônia:
É no bioma que são formados os rios aéreos ou voadores, que são massas de ar carregadas de vapor d’água. A Floresta Amazônica atrai a umidade evaporada pelo oceano e cria correntes de ar que transportam essa umidade em direção ao CentroOeste, Sudeste e Sul do Brasil.
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- A conservação da natureza não está na lista da maioria dos governantes: É uma triste verdade.
As recentes mudanças anunciadas pelo governo brasileiro (MPs 756 e 758) demonstram que as regras atendem aos interesses de poucos e não a vontade de muitos. É o caso dos limites do Parque Nacional do Rio Novo, Parque Nacional do Jamanxim e da APA do Tapajós, que correm sérios riscos de serem alterados. E, também, a área do Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina.
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- Não estamos reduzindo o desmatamento: Por cerca de 10 anos,
até a celebração do Acordo de Paris na Conferência de dezembro de 2015 (COP-21), a redução de desmatamentos na Amazônia era destaque global ano após ano: a taxa anual foi reduzida em 83% e oscilou entre cinco a seis mil km²/ano até 2015. Em 2016, no entanto, os desmatamentos medidos pelo sistema PRODES do INPE registraram quase 8 mil km² na região. Entre as causas, pode-se apontar tanto as reduções orçamentárias dos órgãos ambientais reguladores, como mudanças do Código Florestal Brasileiro, em 2012, que anistiaram desmatamentos ilegais do passado, encorajando o descumprimento da lei. 44 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
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- O Brasil é um país que não cumpre acordos internacionais: O Acordo de
Paris foi assinado em 2015 por dezenas de países que se comprometeram a parar e reduzir o aquecimento global e suas consequências. O ideal é que as nações signatárias promovam mudanças para que o aumento não supere 1,5°C. O Brasil foi protagonista nas negociações que concretizaram o pacto e se comprometeu a reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa até 2025, 43% até 2030 em relação às emissões de 2005, e zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Ou seja, até lá, o Brasil está dizendo que continuará tendo desmatamento ilegal na Amazônia; e, quanto aos demais biomas, o compromisso brasileiro não traz metas específicas. De acordo com o climatologista Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, com as constantes reduções de áreas protegidas e o aumento do desmate, dificilmente chegaremos à meta de desmatamento zero, que já era desafiadora. “A relação entre o desmatamento, a floresta e o clima é real e nos afeta diariamente. Não podemos perder o trem da história, pois o custo será o futuro de nossa e das próximas gerações”, analisa Nobre.
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- O clima do planeta está esquentando: A temperatura média do
planeta está aumentando e isso é perigoso! Dados divulgados pela Nasa, agência espacial americana, e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), em janeiro deste ano, confirmam que a temperatura do planeta bateu recordes pelo terceiro ano consecutivo. Em 2016, o planeta estava 0,99 grau Celsius mais quente que a média do século XX. Há grande consenso científico de que a maior
FOTO: PAULO PEREIRA - GREENPEACE
parte do aquecimento observado nos últimos 60 anos é devido ao aumento da concentração de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), decorrente da emissão de combustíveis fósseis, do desmatamento, entre outros. Quanto menos áreas naturais tivermos, pior ficará a situação.
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- Quando uma floresta é derrubada, as outras regiões também são afetadas: Além do impacto no regime
de chuvas, as florestas também atuam como reguladores do clima, proteção de rios e das espécies que vivem nelas, entre muitos outros fatores. O recente surto de febre amarela que alarmou o Brasil é consequência do desmatamento da Mata Atlântica, por exemplo.
7
- Pecuária é uma das atividades mais poluentes: A Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) lançou o relatório Estado das Florestas do Mundo 2016 e concluiu que, no Brasil, mais de 80% do desmatamento está ligado à conversão de terras em terrenos de pasto. Além disso, o relatório analítico do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) do Observatório do Clima mostra que as emissões diretas e indiretas do agronegócio representam dois terços das emissões brasileiras de gases de efeito estufa.
8
- Medidas provisórias deveriam ser usadas com mais cautela: Na hora de
mudar ou propor normas, o governo tem três caminhos possíveis: as medidas provisórias (MPs), os decretos e os projetos de lei. Os decretos podem ser feitos apenas pelo presidente, governadores e prefeitos para determinadas leis. Os projetos de lei são a maneira mais tradicional e “certa” de se propor uma mudança, mas também são mais lentas e burocráticas. É aí que surgem as MPs, que devem ser usadas apenas em casos relevantes e urgentes. E quem define isso é o presidente da República.
Uma medida precisa ser aprovada em no máximo 120 dias e tem força de lei imediata. Usar uma MP para alterar a área de uma unidade de conservação, por exemplo, é uma distorção grave da lei, de acordo com o advogado especializado em causas ambientais, Marcelo Dantas, que é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza. “Se as alterações sugeridas na Amazônia são urgentes a ponto de pedir uma medida provisória, certamente elas atendem a interesses específicos e que divergem da opinião da população. Essa manobra foi feita para driblar a burocracia e reduzir a resistência na aprovação”, explica.
9
- Florestas e áreas de preservação podem gerar emprego e renda:
Acreditar que desmatamento e danos ambientais estão ligados ao desenvolvimento é um pensamento, no mínimo, atrasado. Carlos Eduardo Young, economista e que também integra a Rede, defende o conceito de economia verde: uma prática que estimula atividades associadas à preservação ambiental, uso eficiente de recursos e inclusão social. “As atividades ‘verdes’ tendem a ser mais intensivas em mão de obra e em produtos manufaturados com maior conteúdo de inovação.”
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- O desmatamento das áreas naturais induz a mais violência no campo: Há no Brasil uma tradição
de que, se for estabelecido um uso produtivo da terra, é possível ter direito à sua posse. Nesse ponto de vista, a taxa de desmatamento tende a aumentar e dar a oportunidade para que grileiros reclamem para si o direito à posse; e o resultado: violência. De acordo com o artigo “Direitos de Propriedade, Desmatamento e Violência: Problemas para o Desenvolvimento da Amazônia”, publicado em 2014, nos municípios onde há mais desmatamento, a taxa de homicídios também é maior. Para o pesquisador Carlos Eduardo Young, que também é membro da Rede e um dos autores do artigo, “há inúmeros estudos que apontam como o processo de desmatamento é acompanhado por atos de violência, que vão do conflito entre posseiros e grileiros até a expulsão dos antigos moradores da floresta. Casos, ainda, que podem resultar em homicídio”, explica. FONTES: Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza / Rede de Especialistas de Conservação da Natureza.
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#DEMARQUE!
INDÍGENAS protestam em frente ao Palácio do Alvorada: pelas terras, pela história e pela natureza
Astros da música brasileira se unem em canção a favor da demarcação das terras indígenas no país Resultado de uma parceria das organizações Greenpeace, Instituto Socioambiental (ISA) e Bem-Te-Vi Diversidade com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e as produtoras Cinedelia e O2 Filmes, a canção “Demarcação Já” ganhou vida graças ao trabalho de mais de 25 artistas. Eles doaram seu talento para apoiar os direitos indígenas, em especial a garantia do território, que é vital para a sobrevivência física e cultural desses povos. Com mais de 100 versos divididos em 21 partes, a canção escrita por Carlos Rennó e Chico César foi lançada com um videoclipe produzido pelo diretor André D’Elia, em 24 de abril passado,
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como parte da “Semana de Mobilização Nacional Indígena”, em Brasília (DF). Com um texto belo e contundente, a música traduz
VENCEDOR do VI Prêmio Hugo Werneck, Andre D’Elia é o diretor do videoclipe da canção
poeticamente os principais aspectos da questão indígena no Brasil, conectando-a com a importância da proteção das florestas. Como afirma Rennó, “a canção parte de um espírito solidário em relação a esses povos, que muitas vezes são tão ignorados por parte da nossa sociedade, para expressar as implicações disso para o restante da humanidade e para o mundo”. Para Gilberto Gil, “Demarcação Já” é um chamamento, “um grito de luta”. Um grito que ocorre no momento em que os direitos indígenas estão sendo atacados na forma de projetos de lei em tramitação no Congresso e medidas administrativas que propõem dificultar as regras para
FOTO: LULA MARQUES / FOTOS PÚBLICAS
NATURAL DENÚNCIA 11O IMPEACHMENT
CHICO CÉSAR “Já que depois de mais de cinco séculos / E de ene ciclos de etnogenocídio, / o índio vive, em meio a mil flagelos, / já tendo sido morto e renascido. / Tal como o povo kadiwéu e o panará. / Demarcação já!” MARIA BETHÂNIA “Já que diversos povos vêm sendo atacados, / sem vir a ver a terra demarcada. / A começar pela primeira no Brasil, / que o branco invadiu já na chegada: A do tupinambá. / Demarcação já!” NANDO REIS “Já que, tal qual as obras da Transamazônica, / quando os milicos os chamavam de silvícolas. / Hoje um projeto de outras obras faraônicas, / correndo junto da expansão agrícola, / induz a um indicídio, vide o
povo kaiowá, / demarcação já!” ZECA BALEIRO “Já que tem bem mais latifúndio em desmesura, / que terra indígena pelo país afora. / E já que o latifúndio é só monocultura, / Mas a T.I. é polifauna e pluriflora, / ah!, demarcação já!” MARGARETH MENEZES “E um tratoriza, motosserra, transgeniza. / E o outro endeusa e diviniza a natureza. / O índio a ama por sagrada que ela é. / E o ruralista, pela grana que ela dá / Hum… Bah! / Demarcação já!” ZÉLIA DUNCAN “Já que por retrospecto só o autóctone mantém compacta e muito intacta, / e não impacta, e não infecta, / e se conecta e tem um pacto com a mata / – sem a qual a água acabará –, / Demarcação já!”
FOTO: REPRODUÇÃO
a demarcação de terras indígenas. A demora na demarcação não só deixa territórios de florestas vulneráveis à invasão de grileiros, madeireiros e garimpeiros, como também acirra conflitos, colocando os povos indígenas em perigo, como ocorre com os Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. A demarcação é essencial para garantir o modo de vida dos povos indígenas. Negar essas terras a eles é negar seu direito de existir. Atualmente, segundo dados do ISA, há no território brasileiro mais de 250 povos, falantes de mais de 150 línguas diferentes. Ainda segundo dados do Instituto, estima-se que, na época da chegada dos europeus, eram mais de mil povos, somando entre dois e quatro milhões de pessoas. Confira a letra da canção:
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FELIPE CORDEIRO E DONA ODETE “Pra que não deixem nem terras indígenas, / nem Unidades de Conservação, / abertas como chagas cancerígenas. / Pelos efeitos da mineração / e de hidrelétricas no ventre da Amazônia, em Rondônia, no Pará… / Demarcação já!” ELZA SOARES “Já que ‘tal qual o negro e o homossexual, / o índio é ‘tudo que não presta’, como quer quem quer tomar-lhe tudo que lhe resta, / seu território, herança do ancestral. / E já que o que ele quer é o que é dele já, / demarcação, ‘tá’? / Demarcação já!” LENINE “Pro índio ter a aplicação do Estatuto, / que linde o seu rincão qual um reduto. / E blinde-o contra o branco mau e bruto, / que lhe roubou aquilo que era seu. / Tal como aconteceu, do pampa ao Amapá, / demarcação lá!” ARNALDO ANTUNES “Já que é assim que certos brancos agem, / chamando-os de selvagens, se reagem. / E de não índios, se nem fingem reação. / À violência e à violação de seus direitos, / de Humaitá ao Jaraguá, / demarcação já!” CÉU “Pois índio pode ter iPad, freezer, TV, caminhonete, ‘voadeira’, / que nem por isso deixa de ser índio. / Nem de querer e ter na sua aldeia cuia, canoa, cocar, arco, maracá. / Demarcação já!” ZECA PAGODINHO “Pra que o indígena não seja um indigente, / um alcoólatra, um escravo ou exilado, / ou acampado à beira duma estrada, / ou confinado e no final um 48 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
FOTO: ANTONIO CRUZ / AGÊNCIA BRASIL
1 O IMPEACHMENT NATURAL
suicida, / já velho ou jovem ou – pior – piá. / Demarcação já!” GILBERTO GIL “Por nós não vermos como natural, / a sua morte sociocultural / em outros termos, por nos condoermos. / E termos como belo e absoluto / seu contributo do tupi ao tucupi, do guarani ao guaraná. / Demarcação já!” NEY MATOGROSSO “Pois guaranis e makuxis e pataxós estão em nós. / E somos nós, pois índio é nós, / é quem dentro de nós a gente traz, aliás, / de kaiapós e kaiowás somos xarás, Xará. / Demarcação já!” TETÊ ESPÍNDOLA “Pra não perdermos com quem aprender / a comover-nos ao olhar e ver as árvores, os pássaros e rios. / A chuva, a rocha, a noite, o sol, a arara. / E a flor de maracujá, / Demarcação já!” MARLUI MIRANDA E DJUENA TIKUNA “Pelo respeito e pelo direito à diferença e à diversidade. / De cada etnia, cada minoria. / De cada espécie da comunidade. / De seres vivos que na Terra ainda há, / demarcação já!” LETÍCIA SABATELLA “Por um mundo melhor ou, pelo menos algum mundo por vir por um futuro. / Melhor ou, oxalá, algum futuro. / Por eles e por nós, por todo mundo / que nessa barca junto todo mundo
‘tá’, / demarcação já!” LIRA “Já que depois que o enxame de Ibirapueras e de Maracanãs de mata for pro chão, / os yanomami morrerão deveras. / Mas seus xamãs seu povo vingarão, / e sobre a humanidade o céu cairá./ Demarcação já!” ZÉ CELSO MARTINEZ CORREA “Já que, por isso, o plano do krenak encerra. / Cantar, dançar, pra suspender o céu. / E indígena sem terra é todos sem a Terra. / É toda a civilização ao léu / Ao deus-dará. / Demarcação já!” CRIOLO “Sem mais embromação na mesa do Palácio, / nem mais embaço na gaveta da Justiça. / Nem mais demora nem delonga no processo. / Nem retrocesso nem pendenga no Congresso. / Nem lengalenga, nenhenhém nem bla-bla-blá! / Demarcação já!” RUSSO PASSAPUSSO “Pra que nas terras finalmente demarcadas, / ou autodemarcadas pelos índios. / Nem madeireiros, garimpeiros, fazendeiros. / Mandantes nem capangas nem jagunços, / milícias nem polícias os afrontem. / Vrá! / Demarcação ontem! / Demarcação já! / E deixa o índio, deixa o índio, deixa os índios lá.” SAIBA MAIS Assista ao vídeo completo no link: goo.gl/5gkMbk
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PERFIL - SERGIO LEITE
“TEMOS DE VOLTAR
A SONHAR” Hiram Firmino e Luciana Morais
FOTOS: DIVULGAÇÃO/USIMINAS
redacao@revistaecologico.com.br
SERGIO LEITE: “A Usiminas está no meu sangue, nunca trabalhei em outra empresa”
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a sacada de sua sala, no sexto andar, ele tem vista privilegiada de parte do campus da UFMG, do Mineirão, dos jardins, ipês e lago que emolduram a Praça Pedro Melo, principal cartão de visitas da empresa na qual ele trabalha há mais de 40 anos. Erguida a partir de agosto de 1958, quando o então presidente da República, o também mineiro Juscelino Kubitschek, plantou a primeira estaca para a construção da Usina Intendente Câmara, em Ipatinga, no Vale do Aço, a Usiminas está superando um dos momentos mais turbulentos de seus 60 anos de história. E novamente à frente da empresa, com o desafio não só de recuperar a sua saúde financeira, mas sobretudo de fazer os seus 12 mil funcionários voltarem a sonhar, está o belo-horizontino Sergio Leite. Diplomático e equilibrado – como convém a um bom libriano –, ele tem se amparado no diálogo, na reaproximação com as comunidades e na força do trabalho em equipe para fazer a Usiminas dar a volta por cima. Otimista, Leite cita ações que estão sendo empreendidas em diferentes áreas da companhia e reafirma sua postura conciliadora, confiante na superação do impasse entre os principais acionistas da companhia, a japonesa Nippon Steel e a ítalo-argentina Ternium/Techint. “Aos 15 anos de idade, quando estava no curso científico, fiz um acordo comigo mesmo e por escrito: o de conduzir a minha vida sempre em busca da felicidade. E hoje, à frente da Usiminas, essa motivação se tornou ainda mais forte. A Usiminas é fruto de um sonho e nós temos de voltar a sonhar.” É o que você confere a seguir, nesta entrevista exclusiva à Revista Ecológico: No último ano, a Usiminas enfrentou o momento mais turbulento de sua história, em 60 anos de fundação, em função de dívidas e de dificuldades de gestão de caixa. Quais foram as ações adotadas pela companhia para que esses desafios começassem a ser superados? Na vida de qualquer empresa, duas vertentes são essenciais para a sua sobrevivência: uma é a financeira; a outra, a geração de resultados. Para resolvermos a questão de caixa, em-
preendemos duas ações básicas. A primeira delas foi o aumento de capital. Em julho do ano passado, conseguimos aprovar por unanimidade, junto aos nossos principais acionistas, um aporte de R$ 1 bilhão. Ou seja, essa foi a primeira e maior demonstração de confiança deles em nossa gestão. A segunda ação, finalizada também no ano passado, foi a renegociação da nossa dívida com os bancos. Desde então, estamos cumprindo com todas as cláusulas do acordo estabelecido
QUEM É ELE
Diretor comercial na gestão dos últimos quatro presidentes da Usiminas, Sergio Leite tem 63 anos e um casal de filhos. É graduado em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestre em Engenharia Metalúrgica pela UFMG. Ocupou, ainda, os cargos de diretor-vicepresidente de Negócios e diretorvice-presidente de Siderurgia; engenheiro pesquisador; engenheiro do Controle Integrado de Chapas Grossas; chefe da Unidade de Metalurgia de Aciaria e Laminação de Placas; chefe da Unidade de Padronização e Coordenação; presidente da Comissão de Qualidade e superintendente de Marketing. É cidadão honorário de Ipatinga.
com os credores, inclusive o acesso ao caixa da Mineradora Usiminas, efetivado em 11 de maio, que representa a injeção de mais R$ 700 milhões no caixa da Companhia.
Quais foram as bases dessa renegociação? Nos foram concedidos três anos para dar início às amortizações dos R$ 6,3 bilhões, sendo que o primeiro ano vence em setembro. No balanço financeiro fechado em 31 de março de 2016, considerando os 12 meses anteriores, a Usiminas apresentava EBITDA negativo – com custos e despesas maiores que as suas receitas –, e não tinha, portanto, a menor condição de arcar com os compromissos de amortização da dívida. Conseguimos, então, um refinanciamento em 10 anos. Nos três primeiros, pagaremos apenas os juros. A amortização em si começará a partir do quarto ano. E do ponto de vista da geração de resultados, o que foi feito? Foi realizado um intenso trabalho
NO ENTORNO da Usina de Ipatinga, a conservação de um cinturão verde de 377 hectares simboliza o equilíbrio entre desenvolvimento e preservação ambiental. A Lagoa da Anta abastece a planta, que recircula 95% da água utilizada no processo industrial
“A conscientização ecológica tem avançado. Se fizermos a nossa parte, a natureza fará a dela. Nossa sobrevivência no planeta depende disso.” de equipe, focado na revitalização da Usiminas, que incluiu uma série de medidas para ampliar a nossa competitividade, desde diminuição de custos e controle de despesas até a priorização de investimentos, passando pelo incremento do volume de vendas e de preços. Esse trabalho desempenhado nos últimos doze meses possibilitou a reversão, entre abril de 2016 e março deste ano, do resultado negativo de EBITDA sobre o qual mencionei. Os principais reflexos foram percebidos nos números do primeiro trimestre deste ano. Voltamos a registrar lucro líquido depois de onze trimestres
e alcançamos um resultado positivo de R$ 108 milhões. Da mesma forma, o nosso EBITDA Ajustado atingiu R$ 533 milhões, o melhor resultado desde o segundo trimestre de 2014.
Para que esses resultados continuem sendo alcançados, quais são as principais medidas em andamento? Nosso desafio é construir o presente e o futuro, revitalizando a Usiminas para que todos, em especial os nossos funcionários, possam voltar a sonhar. Com os pés no chão e a consciência de que, para construir o futuro, é preciso investir em novos projetos, elaboramos um sólido plano de trabalho, que contempla ações em diferentes áreas da companhia. São cinco frentes de trabalho, com soluções voltadas para aumentar a competitividade e a geração de receita da empresa. Essas frentes são respaldadas por três grandes pilares: foco nas pessoas, foco nos clientes e geração de resultados.
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PERFIL - SERGIO LEITE
FOTOS: DIVULGAÇÃO/USIMINAS
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FIQUE POR DENTRO Com operação iniciada em 1962, a Usiminas atua em diversos segmentos da cadeia de valor do aço, como mineração e logística, bens de capital, centros de serviços e distribuição e soluções customizadas para a indústria. Privatizada em 1991, é líder do mercado de aços planos do Brasil. Seus produtos e soluções estão presentes nos segmentos de: automóveis e autopeças, eletrodomésticos, energia, máquinas industriais, construção civil, etc.
ESTACA inicial da construção da usina, em 1958: a Usiminas completa 55 anos de operação no Brasil em 2017
Poderia detalhar esses projetos? No projeto Cubatão, desenvolvemos um novo modelo de negócio para a unidade, a fim de torná-la sustentável por meio da laminação de placas. Para a frente Ipatinga, a meta é aumentar a eficiência e a rentabilidade da usina, alcançando resultados cada dia melhores. Já o Comercial é focado nas oportunidades de vendas, especialmente por meio do incremento do nosso portfólio, da agregação de valor aos nossos produtos, da presença em novos nichos de mercado e do atendimento de excelência aos clientes. Em Clima Organizacional, o objetivo é promover um ambiente propício para que os nossos empregados possam desenvolver o máximo de seus potenciais e se sintam motivados a inovar e a entregar resultados cada vez melhores. Por fim, no projeto Produtividade, vamos adotar mecanismos para reconhecer os empregados que desempenham um trabalho diferenciado, garantindo aos gestores maior autonomia para tomarem decisões nesse sentido. 52 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
O senhor falou em voltar a sonhar. Essa é uma referência à origem da Usiminas, que foi idealizada por estudantes, empresários e políticos na década de 1940, aqui em Belo Horizonte? Exatamente. Cresci ouvindo essas e outras histórias contadas pelo meu pai, que também era engenheiro. Na época, BH tinha cerca de 200 mil habitantes e se restringia aos limites da Avenida do Contorno. Ainda assim, já era uma cidade vibrante, tanto do ponto de vista intelectual quanto do empreendedorismo, graças à forte presença estudantil. Foi assim que surgiu um movimento de estudantes, empresários e políticos, acreditando ser a hora de Minas ter uma siderúrgica de porte, capaz de agregar valor e gerar riquezas na cadeia do minério de ferro e do aço. O grande responsável por catalisar esse sentimento e transformá-lo em realidade foi o então prefeito da capital, Juscelino Kubitschek. O presidente JK participou, inclusive, do lançamento da pedra fundamental da empresa...
Em 2016, as empresas Usiminas investiram R$ 8,5 milhões por meio das leis de incentivo/benefícios fiscais (Leis de Incentivo à Cultura, ao Esporte e Sociais), atuando em cerca de 60 projetos incentivados, todos sob a gestão do Instituto Cultural Usiminas. A Companhia direcionou seus investimentos para ações que promovem a participação social, a democratização da cultura e do esporte, além do desenvolvimento social e humano. Instituída pela Usiminas em 1969, a Fundação São Francisco Xavier (FSFX) atua nas áreas de saúde e educação e mantém esforços constantes pela excelência na prestação de serviços, a partir de ações que extrapolam os limites do Vale do Aço. Atualmente, é composta por cinco unidades: Hospital Márcio Cunha (HMC), Colégio São Francisco Xavier, planos Usisaúde, Centro de Odontologia Integrada e Serviço de Segurança do Trabalho, Saúde Ocupacional e Meio Ambiente, além de ser responsável pela gestão do Hospital Municipal Carlos Chagas (HMCC), em Itabira (MG). Em maio, a entidade inaugurou novas instalações do HMC. Foram investidos R$ 25 milhões na estruturação da primeira unidade de Oncologia Pediátrica do Leste de Minas, na ampliação e modernização da Unidade de Oncologia e do Centro de Terapia Renal Substitutiva, e na criação do Centro de Reabilitação e da Casa das Mães.
SAMURAIS reunidos: eles visitaram o Japão, em 1958, para aprenderem técnicas de siderurgia
Além dos desafios financeiros e de gestão da empresa, o senhor também enfrenta um impasse com a Nippon Steel, que move uma ação na Justiça, pedindo a sua destituição da presidência, por considerar ilegal a decisão do Conselho de Administração da Usiminas em reconduzi-lo ao cargo. Qual tem sido a sua postura diante dessa situação? Em primeiro lugar, quero esclarecer que respeito a decisão da Nippon, com a qual tenho uma relação de mais de 35 anos, assim como também tenho um relacionamento profissional de mais de 25 anos com o grupo Techint. Porém, o meu foco tem sido trabalhar de maneira conjunta, integrada, de forma a encontrar saídas para resolver esse conflito, que é de conhecimento público. A minha prioridade é a Usiminas e o meu compromisso é com a união das três forças que compõem a companhia: brasileiros, japoneses e ítalo-argentinos. Dentro da empresa, somos todos Usiminas. A que fatores ou iniciativas o senhor atribui a confiança do Conselho de Administração da Usiminas? Parte dessa confiança advém do fato de termos apresentado um plano de trabalho sólido, logo que assumimos. Também criamos, como uma de nossas primeiras iniciativas, o chamado Grupo dos 10.
FOTO: LEONARDO GALVANI
Sim. A Usiminas foi oficialmente criada em 25 de abril de 1956. E em agosto de 1958, num momento histórico, registrado em uma foto especial de nossos arquivos, temos o JK, já como presidente da República, instalando a primeira estaca para a construção da Usina Intendente Câmara, em Ipatinga. A visão desenvolvimentista e o legado dele foram, sem dúvida, decisivos para o surgimento da empresa.
SEDE da Usiminas na capital mineira
Quando esse grupo foi criado e quais são os seus objetivos? Esse grupo começou a trabalhar em junho do ano passado. Ele reúne executivos e técnicos de todas as vice-presidências, com representantes das três forças sobre as quais falei anteriormente, e foi criado para conceber e implementar projetos que viabilizem a retomada da companhia. E, para minha felicidade, no ano passado, a Usiminas viveu mais um de seus momentos históricos com esse Grupo dos 10 e, eu, um dos dias mais emocionantes da minha carreira profissional...
Que momento foi este? O ano de 2016 não poderia ser mais emblemático para a Usiminas. Foi quando comemoramos 60 anos de fundação e 54 anos de operação em Belo Horizonte. E para vencer os obstáculos que existiam, decidimos buscar referências em nosso próprio passado. Entre as homenagens pelo sexagésimo aniversário da empresa, promovemos na sede o encontro entre os “Sete Samurais” – equipe de notáveis engenheiros enviados ao Japão, em 1958, para conhecer técnicas de siderurgia que alavancaram a implantação da empresa – e os inte-
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PERFIL - SERGIO LEITE
grantes do Grupo dos 10. Do grupo original de samurais, apenas quatro estão vivos e foram homenageados. Com todos eles reunidos aqui nesta sala, assumi o compromisso de trabalhar para que a Usiminas se apresentasse ainda mais forte e vibrante nos próximos anos. E um dos samurais me emocionou de modo muito especial, ao dizer, do alto de seus quase 90 anos que, após a homenagem recebida, estava pronto para viver mais 10 anos, porque sentia-se revigorado. Foi emocionante.
E do ponto de vista tecnológico: a Usiminas está atualizada? Algum tipo de defasagem ou a ausência de investimentos contribuiu para agravar a crise enfrentada pela empresa? Posso afirmar com total segurança que não. Pelo contrário. Além de pessoal altamente qualificado, somos referência de qualidade em nível mundial. Estamos no estado da arte, ou seja, no mais alto nível de desenvolvimento tecnológico e, portanto, totalmente atualizados. Entre 2008 e 2014, investimos cerca de R$ 14 bilhões em projetos de modernização e ampliação de nossas principais unidades, metade deles com recursos próprios. É claro que não prevíamos uma crise econômica tão impactante como a atual, mas o potencial de
retorno desses investimentos no futuro é enorme. Isso sem contar a confiança de nossos clientes. A Usiminas continua sendo um ícone: somos os líderes na produção de aços planos no Brasil.
A Usiminas está presente em 28 cidades, de seis estados, nas quais têm grande influência econômica. As relações com o poder público, comunidades e demais entidades foi de alguma forma abalada, diante do momento turbulento vivido pela empresa? Felizmente, não. O diálogo, a confiança e a proximidade têm norteado todos os contatos com os nossos principais públicos de relacionamento, que incluem, além de nossos 12 mil funcionários, os clientes, fornecedores, comunidades, poderes públicos e acionistas. Em relação às comunidades, mesmo sem a pujança econômico-financeira do passado, temos procurado apoiá-las ao máximo, em tudo o que podemos. O senhor tem visitado as usinas e se reunido também com o pessoal do chão de fábrica? Sim. Em Ipatinga, fui o único presidente a me reunir, às 23h, com operadores que trabalham em revezamento de turno. Até então, as reuniões só aconteciam durante A USIMINAS está presente em seis estados brasileiros, contemplando toda a cadeia produtiva do aço – da produção do minério até as grandes estruturas metálicas
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o expediente convencional. Em maio, fui novamente a Ipatinga e a Cubatão e realizei encontros com os empregados para agradecer o empenho da equipe, que se traduziu nos melhores resultados alcançados, e falar sobre temas como os focos de gestão e as perspectivas tanto para a Usiminas como para o mercado siderúrgico. Também promovemos, junto a diretores da Usiminas, uma intensa agenda de encontros para reforçar o diálogo com os nossos principais públicos de relacionamento. Somente em Ipatinga, realizamos 18 encontros em apenas dois dias.
FOTO: DIVULGAÇÃO/USIMINAS
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Em dezembro de 2015, o senhor completou 40 anos de Usiminas, numa trajetória profissional que inclui a passagem por diferentes setores. Se fosse para sintetizar o seu estilo de gestão em uma única palavra ou mote qual seria? A busca da felicidade. Aos 15 anos de idade, quando estava no curso científico, fiz um acordo comigo mesmo e por escrito: o de conduzir a minha vida sempre em busca da felicidade, daquilo que me trouxesse realização plena em todas as atividades desenvolvidas. E hoje, novamente à frente da Usiminas, essa motivação se tornou ainda mais forte. Não sou um sonhador. Mas, sim, um homem movido a sonhos. É diferente. Acredito em sonhos que são capazes de nos levar à ação e a construir projetos importantes, sempre com metas claras e meios para alcançá-los. Meu maior sonho é tornar a Usiminas uma empresa de pessoas cada vez mais realizadas e motivadas. Tudo isso reforça a cultura de pertencimento, renovando o entusiasmo das equipes. A Usiminas está no meu sangue, nunca trabalhei em outra empresa. E tenho convicção de que, ao reconhecermos as pessoas que trabalham nela e por ela, ao colocarmos a equipe como um dos focos da nossa gestão e darmos ferramentas
Com mais de 20 anos de história, o Instituto Cultural Usiminas gerencia projetos de apoio à cultura e ao esporte, com foco na garantia dos direitos sociais das pessoas e das comunidades onde a companhia atua. Contribui, assim, para o desenvolvimento dessas regiões, gerando soluções, experiências, aprendizagens e conhecimentos. O uso consciente e eficiente dos recursos naturais é outra prioridade da empresa. A Usiminas foi a primeira siderúrgica do Brasil a receber a certificação ambiental ISO 14001. Outro exemplo prático desse esforço pela sustentabilidade é o foco na redução do consumo e no reaproveitamento da água em seus processos produtivos. Em 2016, o índice médio de recirculação de água nas usinas foi de 95,6%. O Xerimbabo, programa de educação ambiental criado em 1984, que está em sua 33ª edição, já recebeu mais de 2,4 milhões de visitantes. O Projeto Caminhos do Vale, por sua vez, é voltado para o reaproveitamento de resíduos siderúrgicos na pavimentação de vias em cidades do Vale do Aço. Foi vencedor, ano passado, do “VII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” na categoria “Melhor Projeto de Parceiro Sustentável”. Até agora, mais de um milhão de toneladas desses materiais pavimentaram cerca de 700 km de estradas rurais e 50
para que cada um ofereça o melhor de si, os resultados que precisamos conquistar para garantir a sustentabilidade da empresa virão como uma consequência.
Por falar em felicidade, a Fundação Dom Cabral fez um estudo que resultou no livro ‘A (in) felicidade dos executivos’. Nessa pesquisa, foi constatado que 87% deles estavam infelizes e, 13%, felizes no mundo corporativo. Além da infelicidade crescente, eles também tinham a sensação de que seu trabalho estava desalinhado em relação aos seus valores e crenças mais íntimos. O senhor se considera, então, parte da minoria citada na pesquisa? Com certeza, e me orgulho muito disso. Afinal, é exatamente o que estamos fazendo na Usiminas: apostando em princípios e valores nos quais mais acreditamos – a começar pela nossa gente, assim como na união e na busca da realização individual – para reerguermos juntos a empresa. Sei que ain-
FOTO: NILMAR LAGE/USIMINAS
CULTURA E MEIO AMBIENTE
km de vias urbanas, beneficiando mais de meio milhão de moradores. A Usiminas desenvolve, ainda, os programas "Áreas Verdes" e "Mata Ciliar". Em seu viveiro, são produzidas mudas para plantio e revitalização do Cinturão Verde da Usina de Ipatinga e de áreas degradadas, além de parques e margens dos rios Piracicaba e Doce. No total, são mais de 249 hectares de área reflorestada, o equivalente a 230 campos de futebol.
da há muito a ser feito, mas sigo tranquilo e confiante. Diante das circunstâncias atuais, não nos é dado o direito de trilhar outro caminho, senão esse. Por isso, repito: estou convicto de que a Usiminas vai se revitalizar, porque temos nas pessoas o nosso grande valor.
O senhor é belo-horizontino, mas tem forte ligação com o Rio de Janeiro, onde se formou. Ainda divide a sua rotina entre as duas cidades? Quais são as suas paisagens preferidas aqui e lá? BH e o Rio são duas cidades que amo e fazem parte da minha vida. Enquanto viver, quero manter as duas casas que tenho: uma aqui e outra lá, na Praia da Bica, na Ilha do Governador. Ambas têm natureza privilegiada, como as montanhas e o verde que avisto da varanda da minha sala aqui. No Rio, tenho paixão por Copacabana e pela Baía de Guanabara, uma das mais belas paisagens do Brasil, que espero, em vida, ver despoluída e revitalizada.
Gostaria de deixar alguma mensagem diante do estado atual e planetário de degradação ambiental? A minha mensagem é a da união e do respeito às pessoas. Por isso, ando sempre de mãos estendidas e de braços abertos. Mesmo diante de todas as adversidades, nunca fiz qualquer declaração acusando ou criticando alguém. Para mim, fazer o bem é sempre a melhor escolha. É assim que procuro viver e, se Deus quiser, pretendo chegar aos 100 anos. Sou otimista. Sigo acreditando no ser humano e em nossa capacidade de preservar as riquezas naturais que nos cercam. A conscientização ecológica tem avançado e precisa se traduzir cada dia mais em práticas reais. Se fizermos a nossa parte, a natureza certamente fará a dela. Nossa sobrevivência no planeta depende disso.
SAIBA MAIS
www.usiminas.com MAIO/JUNHO DE 2017 | ECOLÓGICO 55
1 SUSTENTABILIDADE
ARCOS DE ESPERANÇA
Rede de empresas que opera a marca McDonald’s em 20 países da América Latina adere à “carne verde”, o outro nome da pecuária sustentável Hiram Firmino
redacao@revistaecologico.com.br
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xatamente uma semana após a circulação da última edição da Revista Ecológico, “E a carne verde, Maggi?”, a primeira resposta positiva a favor da pecuária sustentável no país não partiu do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, como era de se esperar. Mas, sim, de maneira surpreendente, da Arcos Dorados, rede de empresas operadoras da marca e produtos McDonald’s no Brasil. Pioneira no segmento, ela anunciou que, 56 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
DAVID GRINBERG: "O McDonald's é a primeira rede de fast-food a adquirir carne bovina sustentável"
doravante, seus parceiros passarão a comprar somente carne produzida em áreas com práticas sustentáveis. O anúncio de um McDonald’s não apenas “feliz”, como diz seu tradicional slogan, mas também “ecológico”, foi confirmado em Belo Horizonte pelo jornalista David Grinberg, diretor de Comunicação Cooporativa do Mc Donald’s Brasil. Durante almoço com a mídia especializada, a exemplo de várias outras práticas socioam-
PARCEIROS SUSTENTÁVEIS: Fernando Sampaio (GTPS), Francisco Beduschi (ICV), Daniel Scheleigner e Leonardo Lima (Arcos Dorados) e Laurent Micol (Pecsa)
bientais já adotadas internamente, como a compra de produtos somente orgânicos e sem agrotóxicos, advindos de agricultores familiares de subsistência, ele garantiu o pioneirismo da decisão tomada pela divisão brasileira da Arcos Dorados. A empresa, que administra a marca McDonald’s em 19 outros países da América Latina, será a primeira do segmento de serviço rápido a adquirir carne bovina proveniente de regiões verificadas como sustentáveis. O projeto iniciará com a compra de 250 toneladas por ano até atingir 100% em toda a rede de lanchonetes. Via material informativo distribuído durante o encontro com os jornalistas, a Arcos demonstrou já ter um longo histórico de investimentos em iniciativas sustentáveis e tem como desafio diário encontrar novas oportunidades dentro de sua área de atuação. McDonald’s ecológico? Confira os depoimentos dos principais
executivos da Arcos Dorados e alguns de seus parceiros: COMPROMISSO VERDE “Somos uma empresa cujo principal produto é feito de carne bovina, por isso ocupamos um papel fundamental nessa cadeia produtiva. Com esse projeto de pecuária sustentável, vamos contribuir diretamente para a conservação do meio ambiente, além de estimular o seu consumo responsável. Essa conquista só foi possível graças à histórica preocupação do McDonald’s com a sustentabilidade, um assunto prioritário dentro da companhia. Prova disso são as certificações que foram conquistadas junto a entidades de relevância no setor, como a MSC para o peixe do McFish, a FSC para as nossas embalagens, e a Rainforest Alliance para o nosso café. Temos orgulho por sermos pioneiros em mais um avanço sustentável, sempre contando com o indispensável apoio de nossos parceiros e do Grupo de
ENTENDA MELHOR Maior franquia A Arcos Dorados é a maior franquia McDonald’s do mundo, tanto em vendas totais do sistema como em número de restaurantes. A Companhia é a maior rede de serviço rápido de alimentação da América Latina e Caribe, com direitos exclusivos de possuir, operar e conceder franquias de restaurantes McDonald’s em 20 países e territórios, incluindo Argentina, Aruba, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Curaçao, Equador, Guiana Francesa, Guadalupe, Martinica, México, Panamá, Peru, Porto Rico, St. Croix, St. Thomas, Trinidad & Tobago, Uruguai e Venezuela. A Companhia opera ou franqueia mais de 2.100 restaurantes McDonald’s com mais de 90.000 funcionários e é reconhecida como uma das melhores empresas para se trabalhar na América Latina. A Arcos Dorados está listada na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE: ARCO). Para saber mais: www.arcosdorados.com/ir
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MAIO/JUNHO DE 2017 | ECOLÓGICO 57
1 SUSTENTABILIDADE Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS). A primeira remessa de carne será proveniente do Programa Novo Campo, que fica no município de Alta Floresta, no norte de Mato Grosso. O projeto foi implementado pela empresa Pecuária Sustentável da Amazônia (Pecsa), responsável por captar recursos financeiros e implantar as boas práticas nas fazendas, conjuntamente com o Instituto Centro de Vida (ICV), responsável pelo monitoramento das práticas. A JBS é parceira do Novo Campo, garantindo a compra e o processamento da carne.” LEONARDO LIMA, diretor de Sustentabilidade da Arcos Dorados NOVO VALOR “A iniciativa tem grande valor. A cada dia está mais difícil para o produtor rural continuar na atividade sem se preocupar com sustentabilidade. E isso é sentido até pela própria demanda do consumidor, que já começa a exigir carne com rastreabilidade, que não tenha origem em áreas ilegalmente desmatadas ou de qualquer exploração irregular.” FERNANDO SAMPAIO, presidente do GTPS FUTURO NOVO “Temos orgulho de ter iniciado e contribuído efetivamente na construção do Programa Novo Campo. Nossos esforços agora são para consolidar essa cadeia de pecuária sustentável. Atuaremos diretamente no monitoramento dos requisitos legais, produtivos, ambientais e sociais, bem como dos compromissos assumidos por todos os envolvidos, para o estabelecimento de uma pecuária sem desmatamento. Assim, garantimos a segurança e a confiança necessárias para agregarmos parceiros de todos os elos da 58 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
A ESPERANÇA DE UMA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL
Os desafios mais relevantes da pecuária no Brasil são evitar o desmatamento (foto acima) e aumentar a eficiência e produtividade - produzindo mais na mesma quantidade de terra, respeitando os aspectos éticos, humanos e ambientais. Em 2011, o McDonald’s desempenhou um papel fundamental de liderança na criação da “Mesa Redonda Global para Carne Sustentável (GRSB)”, responsável por desenvolver um conjunto global de princípios e critérios para a carne bovina sustentável. Para ser considerado sustentável, o pecuarista deve cumprir os requisitos abaixo: atender aos critérios de desmatamento zero; não estar localizado em Unidades de Conservação (UCs) e áreas indígenas; não ter trabalho análogo ao escravo ou trabalho infantil; atender aos indicadores e critérios do GTPS; passar por auditoria de verificação por terceiros. cadeia produtiva, como aconteceu com o McDonald’s, que compartilham desse mesmo objetivo.” FRANCISCO BEDUSCHI, coordenador da Iniciativa de Pecuária Sustentável do ICV PARCERIA PROMISSORA “Para a Pecsa, que é pioneira na Amazônia em dar garantia total da origem dos animais, a parceria com a McDonald’s é muito pro-
missora, pois é uma empresa líder de mercado que está se colocando para ser parte da solução da cadeia da pecuária. Isso abre um caminho que outros grandes compradores de carne poderão seguir.” VANDO TELLES, diretor-executivo da Pecsa. SAIBA MAIS
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GESTÃO & TI
ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br
BOTANDO BANCA
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nquanto o mundo discute o fim da economia e das revoluções industriais revisitadas, enquanto empresas pregam seu sermão da montanha da inovação, fingindo que se reinventam, estou andando na Savassi, em Belo Horizonte, rua Paraíba cruzando Gonçalves Dias. E vejo que ali tem uma banca. Explico melhor: não é uma banca. Foi uma banca, pelo menos daquilo que se espera de uma banca cheia de jornais, revistas Contigo, Palavras Cruzadas e montes de coisa nenhuma. A banca falia. Verdade verdadeira, ela tinha virado depósito das bugigangas dos distribuidores. Entrava semana, saía semana, Seu João (vamos chamá-lo assim) recebia e devolvia o que ninguém mais queria ler. João bem podia ser um informante do Ibope, sempre pronto a responder que hoje “jornal vende menos”. Nas horas vagas, ele toureava achacadores que cobravam o espaço de mídia no costado da banca e, como desgraça pouca bem fosse bobagem, uns anos antes um douto diretor da Escola de Arquitetura, bem em frente, obra do arquiteto mineiro Shakespeare Gomes, deu de torrar o saco do João e argumentou que a pobre coitada da banca tava plantada bem na frente dos olhos do dono do sacolão, do outro do lado da rua, o que impedia vistas ao conjunto da obra e ofendia os brios do já defunto projetista e a honra da cidade. Procurou a Secretaria Municipal de Cultura, processou a banca que deu com os burros n’água para, incontinente, ser lançada na clandestinidade. Nosso João resistia cada dia menos, de modo que estava por jogar a toalha quando apareceram os loucos. Saídos da mesma ofendida escola em frente, uns arquitetozinhos resolveram reinventar a banca. Quem afinal somos nós, pensaram eles, para mudar assim o destino do deletério comércio? Não sendo nada de nada, só estudantes, nada havia que se pudesse perder. Daí... Reinventaram a Banca! E ela, que voltou a ser banca de verdade, devolveu com choro e ranger de dentes o estoque que tivesse das edições reunidas de coisa nenhuma, passou um Veja nas prateleiras e começou a povoá-las de sonhos. A meninada maluca me explicou que agora a nova banca publica Zines, criação que minha dileta ignorância denunciou que eu nem sabia o que era. E era
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legal pra caramba quando eu entendi. Chamaram pessoas que recriaram os livros e eles agora não eram só para ler: agora esculpidos, misturavam a forma com o conteúdo, produzindo loucura ainda maior que a deles próprios. Como loucura atrai as gentes, logo logo a praça em frente se viu cheia de visitas em lançamentos dos metalivros, regados por escassas doses de cerveja já que, além de loucos, eram duros. Vieram jornais e TVs para entender no que a Banca havia se tornado. Eu mesmo quis ver com esses olhos que a terra não há de comer, pois eu quero é ser cremado. E vi! Vi um negócio renascer. Vi uma banca viçar de novo. Vi seu dono acreditar! Também atravessei a rua e, lá da calçada do sacolão, vi que a banca conversava com a obra do Gomes. Ela agora não agredia, mas fazia parte, em forma e espírito, daquela Escola. Foi nesta hora que eu disse para mim mesmo que ia assustar os exploradores que quisessem destruir a vida que renasce e os fiscais-de-p***-alguma, doidos para multar o ato da criação. Que venham prefeitos e secretários. Que venham hordas de achacadores e intelectuais complexados, querendo dizer que banca não é cultura. Que venham empresas, querendo ensinar ao João e a seus arquitetos o que é inovação! Venham e toco todos a correr, sem medo algum. Enquanto correm, gritarei, plagiando o Ibrahim Sued: os cães ladram e a banca segue, drummoneamente, no meio do caminho.
TECH NOTES Para conhecer a Banca
goo.gl/tGNHHF
Aprenda o que é um Zine
goo.gl/UD92Od
Um pouco da história da Escola de Arquitetura de Belo Horizonte goo.gl/6Uzb43 (*) CEO & Evangelist da Kukac Plansis, fundador do Arborea Instituto.
A melhor maneira de mudar o futuro do planeta é contribuir para transformar a vida das novas gerações.
Acreditamos que a responsabilidade social e o respeito ao meio ambiente podem transformar o futuro do planeta. Por isso, somos os maiores recicladores de aço da América Latina e nossos índices de recirculação de água se tornaram referência mundial. Em Minas Gerais, conservamos importantes áreas de Cerrado, Mata Atlântica e Campos Rupestres, como a RPPN Luis Carlos Jurovsky Tamassia e o Monumento Natural da Serra da Moeda. Colaborar com a construção de um mundo melhor é um dos nossos compromissos com o desenvolvimento sustentável.
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INOVAÇÃO AMBIENTAL
A FAZENDA Urbana da BeGreen no Shopping Boulevard, em BH: estímulo à alimentação orgânica
O CAMPO NA CIDADE Projeto sustentável da startup brasileira BeGreen transforma área externa de shopping da capital mineira em uma fazenda urbana
I
magine como é a trajetória de uma alface até chegar ao prato do consumidor final. Cultivada em uma grande fazenda, a alface convencional é colhida e armazenada de forma incorreta para então ser transportada por centenas de quilômetros em um caminhão, no qual outros pés ficam pelo caminho, até chegar a um centro de distribuição. Só então ela será entregue a uma feira ou supermercado e ficará à disposição do cliente final. Tamanho desperdício tem origem na estrutura da cadeia de suprimentos agrícolas brasileira, que faz com que os alimentos só cheguem à mesa do consumidor, na melhor das hipóteses, dois dias após serem colhidos. Além disso, o excesso de transporte e baldeações entre os diversos elos da ca62 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
deia aumenta ainda mais o desperdício. Essa complexa cadeia de suprimentos, além de prejudicar a qualidade do produto final, também impacta no valor total pago pelo consumidor. Agora imagine se a alface tivesse sido cultivada bem ao lado da casa de quem vai consumi-la? Esta é a proposta da startup BeGreen: cultivar novas experiências, fazer uma produção sustentável e não prejudicar o meio ambiente. Essas também são algumas das premissas que sustentam o conceito de “fazenda urbana”, que possui poucas unidades em todo o mundo. E é por meio de uma parceria inédita entre a BeGreen e o Boulevard Shopping que BH agora tem a primeira Fazenda Urbana da América Latina. Trata-se de um espaço inaugurado em 11 de
maio último, na área externa do shopping, para a produção de hortaliças sem agrotóxicos por meio de um sistema inovador de cultivo em consórcio com a criação de peixes. Além disso, traz um conceito alicerçado na sustentabilidade e na produção em consórcio de peixes e hortaliças. Não haverá emissão de gás carbônico, pois o consumidor final vai adquirir os produtos da fazenda in loco, sem serviços de logística e entrega. A Fazenda Urbana da BeGreen ocupa uma área de 2.700 m², com uma estufa de 1.500 m² e capacidade para produzir até 50 mil pés de mini-alfaces, temperos e ervas por mês. Além da estufa, o Projeto contemplará o primeiro hortifrúti de produtos agroecológicos e locais de Belo Horizonte e um
FOTOS: DIVULGAÇÃO
FIQUE POR DENTRO
SETE VANTAGENS DE UMA FAZENDA URBANA
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. Redução de custo de logística: os consumidores irão adquirir o produto diretamente do produtor, eliminando os custos e problemas de logística da cadeia de suprimento tradicional que atualmente representam 25% do preço final.
2 A ESTRUTURA é um “parque de diversões” da vida saudável
. Diminuição de perdas: a Fazenda Urbana da BeGreen visa aumentar a vida útil das culturas e reduzir as injúrias sofridas pelos cultivos no transporte. Isso acarretará na redução significativa do desperdício.
3
. Não utilização de agrotóxicos: segundo o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo há sete anos.
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. Controle Inteligente de Variáveis de Cultivo (como pH, O2, CO2, iluminação, condutividade elétrica, umidade e temperatura): será possível reduzir os custos de cultivo e aumentar a taxa de produtividade.
5 PEDRO GRAZIANO e Giuliano Bittencourt: resgatando e conectando o homem ao campo
restaurante de alimentação saudável pioneiro no conceito “farm to table” no Brasil. PARQUE DA VIDA SAUDÁVEL O local será um verdadeiro parque de diversões para quem segue uma vida saudável e terá uma série de benefícios para os visitantes. No espaço, além de operar a primeira fazenda urbana do Hemisfério Sul, o projeto irá produzir, mostrar, conscientizar e distribuir seus produtos direta-
mente ao público consumidor. “Nosso principal objetivo é demonstrar que é possível ser sustentável e produtivo gerando mais empregos, menos lixo e sem prejudicar o meio ambiente. É um projeto inovador, que segue um movimento global que aproxima a produção do consumidor final. Aqui na BeGreen, teremos a produção e o consumo num mesmo local e o consumidor saberá a procedência de tudo que está consumindo”, explica um
. Produção aquapônica: Cultivo integrado com peixes e hortaliças, com o objetivo de criar uma produção orgânica e aumentar o aproveitamento de espaço.
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. Emissão Zero de Gás Carbônico: com a autossuficiência elétrica e a ausência de transporte logístico, a BeGreen produz 100% do seu cultivo com zero de emissão de gás carbônico.
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. Qualidade, sabor e frescor: com o produto colhido diariamente e entregue diretamente ao consumidor, suas características são preservadas deixando-o mais saboroso e fresco.
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INOVAÇÃO AMBIENTAL dos idealizadores do projeto, Giuliano Bittencourt. “Os centros urbanos estão crescendo muito rapidamente e a pressão urbana de grandes cidades tem empurrado os cinturões produtivos para cada vez mais longe do centro consumidor. Com uma distância cada vez maior, o preço dos alimentos sobe e a qualidade despenca. É por isso que a BeGreen iniciou esse movimento no Brasil – vamos resgatar e reconectar o homem ao campo, aproximar as pessoas de seus alimentos. E trazer, acima de tudo, conscientização às novas gerações”, completa o sócio cofundador Pedro Graziano. Na fazenda, além do cultivo de hortaliças e legumes, outros produtores locais poderão vender seus produtos agroecológicos. “A intenção é que aconteça um comércio justo para os produtores e clientes que procuram
O projeto da BeGreen contempla ações ambientais de conscientização de crianças e jovens, além de eventos e treinamentos de produção sustentável por alimentos saudáveis, frescos e locais. O frequentador da BeGreen terá a oportunidade de ter uma alimentação mais saudável, com garantia de procedência, ao alcance das mãos sem precisar sair do shopping”, conta Paulo Ceratti, gerente de marketing do Boulevard. E o projeto contempla várias ações integradas, como a realização de ações de conscientização de crianças e jovens de escolas públicas e pri-
vadas, e eventos e treinamentos de produção sustentável que pretendem atingir pelo menos um milhão de pessoas por ano. “Os visitantes terão a oportunidade de fazer visitas guiadas, comprar os produtos cultivados na fazenda e até consumi-los na hora”, acrescenta Paulo. A sustentabilidade também fez parte da construção do espaço. O projeto primou por utilizar o mínimo de novos produtos, tendo como norte a reutilização de materiais. Para isso, toda a obra será feita de contêineres que virariam sucata; as mesas e cadeiras do espaço terão como matéria-prima a madeira plástica, que sofre um processo de transformação do plástico jogado fora; e todo o piso será feito com material de rejeito de mineração. SAIBA MAIS
www.begreen.farm
ALÔ, INSTITUIÇÕES DE ENSINO! SE NÃO PODEMOS MUDAR O PASSADO, PODEMOS COMEÇAR UM NOVO FUTURO.
INCENTIVEM SEUS PROFESSORES E PEDAGOGOS A SE APODERAREM DO MELHOR CONTEÚDO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PAÍS.
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PRESERVAÇÃO tem como resultado o aumento da vazão de água nas nascentes. Mais de 1.000 já foram cadastradas
REVITALIZANDO
NASCENTES Restauração da capacidade hídrica em olhos-d’água da Bacia do Rio Manhuaçu vai beneficiar a saúde do Rio Doce e garantir oferta de água a produtores rurais
C
om o apoio do Projeto Plantando o Futuro, o Instituto Terra está recuperando nascentes de afluentes da Bacia Hidrográfica do Rio Manhuaçu, que banha municípios e deságua no Rio Doce A iniciativa, que chamada de Programa Olhos D gua , vai beneficiar inicialmente 500 proprietários rurais da região, e está sendo executada por meio do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento ustentável
66 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
das Bacias Hidrográficas do stado de Minas erais (Fhidro) Os recursos do fundo foram liberados a partir da assinatura de convênio entre o Instituto erra e a ecretaria de stado de Meio Ambiente e Desenvolvimento ustentável ( emad) O termo prevê o investimento de R , milhões para restituir a Bacia do Rio Doce, o que beneficia diretamente o Rio Manhuaçu, que nasce na erra da eritinga, na ona da Mata A em-
presa ArcelorMittal Brasil tamb m está apoiando as atividades, ao doar parte dos materiais usados para cercar os olhos d água Após o cadastramento inicial de 1.043 nascentes, técnicos do Instituto erra reali aram, ao longo de , os diagnósticos ambientais para determinar as unidades rurais participantes, bem como os olhos d água que necessitam de intervenção A maioria das nascentes mapeadas está em áreas degradadas, as-
O Instituto Terra também vai doar mudas de espécies nativas da Mata Atlântica para os plantios ao redor dos olhos-d'água soreadas e cobertas por gramíneas A partir do diagnóstico, o programa entrou na fase de finali ação do pro eto t cnico, que vai apontar as ações de proteção necessárias em cada nascente, bem como delimitar a área que será isolada ao redor do ponto de recarga hídrica
FOTOS: INSTITUTO TERRA/DIVULGAÇÃO
PARTICIPAÇÃO DIRETA A partir do envio dos estudos finais ao Fhidro, será apresentado um plano de trabalho para dar início distribuição dos insumos para construção das cercas, tais como estacas,
grampos e arame A construção das cercas feita pelos próprios produtores rurais, com o apoio de técnicos do Instituto erra Os proprietários têm participação direta em todas as etapas do projeto. Desde o momento da mobili ação, para garantir a adesão ao programa, eles tornam-se parceiros estrat gicos do Instituto erra Recebem capacitação e assistência t cnica para unir produção e conservação, com a devida gestão dos recursos hídricos , destaca a diretora e ecutiva do Instituto erra, Isabella alton, lembrando que, nesse pro eto, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Manhuaçu foi um importante parceiro, atuando na mobilização dos produtores. O Instituto erra tamb m vai doar mudas de esp cies nativas de Mata Atl ntica para os plantios ao redor dos olhos d água, visando proteção das reas de Preservação Permanente (APPs), e garantindo, assim, a manutenção das condições hidrológicas na região O plano do trabalho vai contemplar ainda a instalação de fossas s p-
MUNICÍPIOS BENEFICIADOS
Lajinha Chalé Manhuaçu Reduto Simonésia São João do Manhuaçu Durandé Martins Soares Santana do Manhuaçu Luisburgo Pocrane Alvarenga Mutum Itueta Resplendor Santa Rita do Itueto Ipanema Conceição do Ipanema Taparuba
ticas biodigestoras nas propriedades rurais selecionadas, contribuindo para o enfrentamento de outro grave problema que atinge as águas do Rio Doce e de seus afluentes a contaminação por esgoto doméstico não tratado. A falta de saneamento uma realidade que ainda afeta quase da área rural da bacia. Para mensurar os resultados alcançados com a proteção de nascentes, será realizado o monitoramento dos recursos hídricos, com avaliação dos ganhos obtidos em relação va ão e qualidade da água.
TÉCNICOS realizaram mapeamento e diagnóstico dos olhos-d’água em propriedades rurais
SAIBA MAIS
www.codemig.com.br www.plantandoofuturo.mg.gov.br
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FOTOS: IMAGENS ILUSTRATIVAS
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Melhoria ambiental e
competitividade industrial Responsável por do Produto Interno Bruto (PIB) do stado, a ind stria mineira segue atenta import ncia de produ ir em sintonia com os princípios da sustentabilidade Prova desse compromisso o Programa de Fiscali ação Ambiental Preventiva na Ind stria (FAPI) , lançado em novembro de Fruto de uma parceria entre a ecretaria de stado de Meio Ambiente e Desenvolvimento ustentável ( emad), o istema Fiemg e a Polícia Militar, o FAPI tem metodologia diferenciada Prima pela orientação na primeira abordagem, oferecendo aos empresários de diferentes setores produtivos a oportunidade de conversar, sanar d vidas e receber orientações relacionadas regulari ação e fiscali ação udo feito com vistas melhoria da qualidade ambiental, redução dos riscos/impactos ambientais e ao 68 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
aumento da competitividade do setor industrial O programa será reali ado ao longo deste ano em todo o stado, organi ado conforme a regionali ação da Fiemg e das uperintendências Regionais de Meio Ambiente ( uprams), em três etapas distintas orientação, fiscali ação e monitoramento A primeira fase, de orientação s empresas, contou com a realização de 15 workshops, entre sete de março e nove de maio Montes Claros e Diamantina foram as primeiras cidades beneficiadas pela iniciativa, al m de ui de Fora, Itabira, naí, Pouso Alegre, overnador aladares, Ipatinga, Ituiutaba, berl ndia, beraba, Divinópolis, Belo Hori onte, Patos de Minas e ete agoas PRÓXIMA ETAPA As fiscali ações preventivas têm como foco os empreendimentos de atividades potencialmente po-
luidoras e degradadoras do meio ambiente, bem como aqueles que usam recursos naturais no desenvolvimento de suas atividades produtivas A pró ima fase será a de fiscali ação, prevista para ocorrer dias após cada etapa de orientação, estendendo se de unho a agosto A ltima etapa, por sua ve , será o monitoramento dos resultados anteriores, entre setembro e dezembro de A avaliação tem sido a mais positiva possível á conseguimos falar para mais de pessoas que, esperamos, se am divulgadoras dessa iniciativa de regulari ação das ind strias em Minas erais Nessa primeira fase, mobili amos e sensibili amos as empresas passíveis de regulari ação a fa ê lo, pois estando avisadas de que haverá fiscali ação, nada ustifica permanecerem fora do processo , e plica
FIQUE POR
DENTRO
Apenas indústrias que não
possuem regularização ambiental podem aderir ao programa. Porém, a adesão não as isenta da aplicação de penalidades administrativas por parte da Semad, no caso da constatação de irregularidades.
Desde 2011, a Subsecretaria
de Fiscalização Ambiental (Sufis), vinculada à Semad, vem adotando novas diretrizes nas ações de fiscalização ambiental, sendo uma das mais relevantes a valorização do papel educador do fiscal ambiental, por meio de ações com foco em atividades orientativas, educativas e preventivas, obtendo ótimos resultados.
Como exemplo, vale citar o Projeto Serra da Moeda. Realizado em parceria com a Fiemg e o Sindicato da Indústria Mineral (Sindiextra MG), seu objetivo foi acompanhar os sistemas de controle de emissão de particulados de empreendimentos mineradores da região. As mineradoras instaladas ao longo da BR-040, entre o trevo de Ouro Preto e o acesso a Congonhas, eram alvo de denúncias constantes, por causa da emissão de particulados e do lançamento de lama na pista de rolamento da rodovia. Devido ao caráter difuso da poluição, as ações de fiscalização tradicionais não permitiam identificar objetivamente os responsáveis. O problema só foi resolvido por meio de uma ação de fiscalização articulada com o setor produtivo, na qual não foi necessário aplicar um auto de infração sequer. Saiba mais: www.fiemg.com.br/fapi/ www.meioambiente.mg.gov.br
o gerente de Meio Ambiente da Federação das Ind strias (Fiemg), agner oares Costa Os balcões itinerantes de atendimento foram instalados medida da realização dos workshops e cada
região adotou uma sistemática de atendimento obre a e pectativa da Fiemg em relação segunda fase do FAPI, Costa pondera Como o brasileiro infeli mente tem o hábito de deixar tudo para a última hora, esse período de dias exatamente para que as empresas possam se preparar para receber a fiscali ação A demanda está boa, mas poderia estar melhor De toda forma, aqueles que nos procurarem terão toda a orientação necessária para a sua regulari ação Ter a licença ambiental é uma obrigatoriedade desde sua e igência vem sendo feita tamb m por outros meios, como os bancos oficiais, por exemplo, que não podem financiar atividades que este am ambientalmente irregulares, e as empresas de grande porte, que criam e igências maiores para a seleção de seus fornecedores, entre outros Para Wagner Costa, no atual cenário, em que as empresas estão trabalhando com um flu o de cai a bastante apertado, uma multa pode desequilibrar suas contas, levando at mesmo ao seu fechamento Al m disso, operar sem licença ambiental pode levar suspensão da atividade produtiva Portanto, o risco de não se regularizar é muito grande para as empresas , frisa
aos empreendedores, por desenvolverem suas atividades sem os respectivos atos autori ativos, tais como Autori ação Ambiental de Funcionamento (AAF), icença Ambiental, Outorga, Documento Autori ativo para Intervenção Ambiental (Daia), etc Conforme dados da uperintendência de strat gia e Fiscali ação Ambiental da emad, o FAPI tem permitido uma reconstrução da relação entre o setor produtivo e a fiscali ação ambiental Afinal, tradicionalmente, sempre prevaleceu uma visão distorcida da ação fiscali adora Nela, o fiscal era tido como um agente público com o único objetivo de aplicar penalidades e, assim, prejudicar as empresas, quando, na verdade, a ação fiscal uma prerrogativa da Administração P blica para garantir que o interesse coletivo se sobreponha ao individual, prevenindo danos/degradações ambientais e incentivando o uso racional dos recursos naturais. No atual contexto do FAPI, o setor empresarial compreendeu o papel educador do fiscal ambiental que, em razão do contato direto com a população, tem a oportunidade de orientar os usuários e a comunidade sobre a legislação ambiental, bem como sobre seus direitos, deveres e responsabilidades para com o meio ambiente.
PAPEL EDUCADOR No que se refere atuação da emad, com a realização de workshops em diversas cidades do interior, o FAPI tem contribuído para potencializar a regularização ambiental e diminuir a aplicação de penalidades MAIO/JUNHO DE 2017 | ECOLÓGICO 69
FOTOS: REPRODUÇÃO
Atire a primeira flor! COMEÇA A CORRIDA À MAIOR PREMIAÇÃO AMBIENTAL DO BRASIL Lançada digitalmente no último 22 de abril – Dia do Planeta Terra –, a oitava edição do Prêmio Hugo Werneck terá como tema “A Terra pede Paz”. E irá homenagear o casal Sebastião Salgado e Lélia Wanick J. Sabiá
redacao@revistaecologico.com.br
70 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
PACIFISMO ECOLÓGICO “A cultura da paz é muito importante para estimular a conscientização ambiental. Adotando e multiplicando atitudes e valores éticos, como o respeito, a igualdade e o amor ao próximo e à natureza, nós ainda podemos transformar o mundo em um lugar melhor para todos”, afirmou o jornalista Hiram Firmino, diretor da Revista Ecológico e coordenador da premiação. Inspirado no ativismo amoroso
FOTO: REPRODUÇÃO
FOTO: AMAZONAS IMAGES
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esde que foi criado, em 2010, o “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” premiou 111 projetos, instituições e pessoas em todo o Brasil. Foram mais de 800 inscrições e indicações recebidas, contemplando todas as regiões brasileiras, e abrangendo ações exemplares em preservação da flora, fauna e da gestão responsável e sustentável do ar e da água. Este ano, sob o tema “A Terra Pede Paz!”, a premiação reconhecerá cidadãos, projetos e instituições que desenvolvem iniciativas sustentáveis capazes de contribuir para a promoção da paz por meio de um planeta mais verde, preservado, socialmente mais justo e ecologicamente correto. Um mundo biodiverso e humanizado. Uma humanidade menos egoísta e violenta. Uma sociedade mais solidária e amorosa para com o próximo e a natureza. As inscrições e indicações à maior premiação ambiental brasileira focada em sustentabilid ade terminam no dia 21 de julho próximo, às 23h59. Este ano, há uma novidade: elas devem ser feitas exclusivamente pela internet por meio do preenchimento completo do formulário de “Inscrição” ou de “Indicação” no site www. premiohugowerneck.com.br.
HUGO E O CASAL SEBASTIÃO E LÉLIA, responsável pelos registros mais audaciosos, importantes e esperançosos, a exemplo de "Genesis", sobre o estado ambiental do planeta
de Hugo Werneck – um dos precursores do ambientalismo brasileiro–, o prêmio é fundamentado em três critérios: “conhecer”, “gostar” e “cuidar”. O primeiro, porque realmente é preciso conhecer, de maneira científica e vivencial, os mecanismos de funcionamento e autoperpetuação da natureza. Segundo, que só a partir do contato que é possível nos fazer gostar do meio ambiente que nos dá vida e protege. Já o cuidar fala por si: precisamos dar o exemplo, respeitando a natureza e seus ciclos, e recuperando-a quando necessário. Esses critérios são os mesmos que nortearam com sucesso
GENESIS, lançado em 2013, foi editado por Sebastião e sua esposa Lélia
e credibilidade, durante nove anos, o “Prêmio Minas Ecologia”, do Caderno Estado Ecológico, do jornal ESTADO DE MINAS, em parceria com a Fiemg e a Amda. E, posteriormente, o “Prêmio Brasil de Meio Ambiente”, promovido pela Revista JB Ecológico, do JORNAL DO BRASIL, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Idealizado pela Revista Ecológico em conjunto com o Sindiextra, em 2010, o “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade” tem participação do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Governo de Minas, através da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e seus órgãos colegiados (Igam, IEF e Feam). Tem a parceria do Ibram e os Sistemas Fecomércio MG/Sesc/Senac e Fiemg/ Sesi/Senai. A supervisão técnica da Fundação Dom Cabral. A legitimação do Centro Hugo Werneck de Proteção à Natureza. O apoio da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda). O engajamento da Fundação SOS Mata Atlântica. E, ainda, a fé e esperança no desenvolvimento realmente sustentável e amoroso.
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MAIO/JUNHO DE 2017 | ECOLÓGICO 71
Homenagem do Ano
FOTO: RICARDO BELIEL
SEBASTIÃO SALGADO E LÉLIA WANICK
O CASAL na Fazenda Bulcão, em Aimorés (MG), onde foram recuperados mais de sete mil hectares de Mata Atlântica
O CASAL TERRA Sebastião Salgado é daquelas pessoas que tudo vê. De olhos plugados no universo ao seu redor, não perde um instante, um detalhe. Conta histórias pelo olhar. O fato de ter nascido perto de Aimorés, no Vale do Rio Doce, e ter se tornado referência internacional por meio do Instituto Terra, ao transformar a Fazenda Bulcão - uma área superior a 7.000 hectares, degradada pela pastagem de gado e herdada pela família, em um recanto preservado de Mata Atlântica -, dá uma ideia de sua delicadeza no trato com a ecologia natural e humana. Esse trabalho, inclusive, é amorosamente desenvolvido na companhia da esposa Lélia. “Uma das razões que me levou a dedicar parte da minha vida a fotografar a natureza é o meu profundo amor por nosso
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planeta. Um amor que consegui descobrir, desenvolver e nutrir através do projeto de recuperação da Mata Atlântica que minha mulher Lélia e eu iniciamos em Aimorés”, disse ele, em uma de suas entrevistas. Natural de Vitória (ES), Lélia é formada em Arquitetura e Urbanismo e conheceu Sebastião quando cursavam a Aliança Francesa. Sabe aquele ditado que diz que “atrás de um grande homem sempre há uma grande mulher”? Ele não se enquadra quando estamos falando de Lélia – ela não cansa de dizer que sempre esteve “ao lado” de Tião, com quem tem dois filhos. São mais de quatro décadas de casamento – na vida e nos negócios. É Lélia quem dirige o escritório do fotógrafo em Paris e que organiza as exposições
internacionais do marido. Também edita os livros com as fotos extraordinárias de natureza que ele faz e o acompanha na maioria das viagens. Sebastião e Lélia serão os grandes homenageados do “Prêmio Hugo Werneck 2017”. Dois seres humanos que fazem a diferença no mundo. Que compartilham sonhos em comum, que os levam para longe. E que moram em Aimorés, na capital francesa e onde a natureza mais distante precisar deles. Será um privilégio, enfim, estar com eles no dia 26 de outubro, quando serão conhecidos os vencedores, este ano, da maior, mais jornalística e amorosa premiação ambiental do país. SAIBA MAIS
goo.gl/HwX42R
“Empresas britânicas exigem ações pelo clima.” - THE NEW YORK TIMES 26 de novembro de 2007
“Pela primeira vez desde 1800, Grã-Bretanha passa um dia sem queimar carvão para produzir eletricidade.” - THE NEW YORK TIMES 21 de abril de 2017
A WayCarbon completa 10 anos. E, assim como o mundo, vivenciamos grandes transformações. Promova hoje as melhorias que desejamos ver no futuro. A mudança começa no espaço de um dia.
05 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. www.blog.waycarbon.com
1 BIODIVERSIDADE
BOLSA VERDE REATIVADO Minas retoma pagamentos do programa a proprietários rurais
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FOTO: EVANDRO RODNEY / IMPRENSA MG
O
governo de Minas Gerais retomou, por meio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), os pagamentos a 851 proprietários e posseiros rurais. O montante de recursos disponibilizado para esses beneficiários somou, apenas em abril, pouco mais de R$ 5,04 milhões e é destinado à regularização dos repasses que estavam suspensos. Durante todo o ano de 2016, o IEF demandou à Secretaria de Estado da Fazenda (SEF) a liberação dos recursos financeiros necessários para o pagamento dos beneficiários do Programa. Como resultado desse esforço, está programada, para o primeiro semestre deste ano, a liberação de R$ 19,8 milhões referentes a recursos que foram empenhados (reservados no orçamento) de 2015 e que se destinavam a áreas visitadas por servidores do IEF e nas quais foi constatada a manutenção da área conservada. Serão beneficiados os inscritos nos editais 2010 e 2011 do Programa Bolsa Verde. “A liberação desse recurso é uma conquista sem precedentes em todos esses anos de Programa Bolsa Verde. Até o final de 2016, somados todos os pagamentos realizados a participantes do Bolsa Verde de todos os editais abertos, havíamos pago cerca de R$ 12,8 milhões e, apenas nesse primeiro semestre de 2017, conseguiremos repassar quase R$ 20 milhões. É um passo significativo em direção à regularização do Programa e cumprimento do compromisso do Governo do Estado com esses proprietários e posseiros rurais, verdadeiros guardiães da cobertura vegetal de Minas Gerais”, ressaltou Fernanda Teixeira, diretora de Conservação e Recuperação de
R$ 19,8 MILHÕES foram programados para pagamento a proprietários e posseiros rurais pelas iniciativas de preservação ambiental
Ecossistemas do IEF. A previsão é de que o valor total disponibilizado seja repassado pela SEF em quatro cotas mensais, entre março e junho, havendo uma escala de pagamentos com prioridade de contemplação para os proprietários para os quais foi reservado o recurso em 2015. Assim, serão iniciados os pagamentos por aqueles beneficiários cuja soma das parcelas alcançam os menores valores e será dada continuidade até se alcançar todos os demais. Os pagamentos estão sendo processados pelas Unidades Regionais do IEF em que estão situadas as propriedades ou posses inseridas no Bolsa Verde. Teixeira ressalta, no entanto, que a efetivação dos pagamentos também depende de algumas providências dos beneficiários. “Os proprietários e posseiros rurais com Termos do Bolsa Verde vigentes deverão manter suas contas correntes individuais no Banco do Brasil ativas para poderem receber os benefícios. Caso ocorra alguma alteração nesses dados, orientamos que eles informem o mais breve
FIQUE POR DENTRO
O programa foi criado pela Lei Estadual nº 17.727/ 2008, e regulamentado pelo Decreto nº 45.113/2009, para a concessão de incentivos financeiros visando à identificação, preservação e recuperação de áreas necessárias à proteção das formações ciliares e à recarga de aquíferos, bem como de áreas essenciais à proteção da biodiversidade e de ecossistemas especialmente sensíveis. Desde sua implementação, foram abertos dois períodos para inscrição no Programa, em 2010 e 2011, propiciando a aprovação e manutenção de 2.726 beneficiários. Eles são responsáveis pela conservação de 88.271,76 mil hectares em áreas de Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica.
possível às Unidades Regionais do IEF, para que não ocorra a rejeição do pagamento pelo banco. Como informamos ao longo da implementação do Bolsa Verde, não é possível realizar repasses de outras formas, nem em contas com outras características, nem em outros bancos”, afirmou.
Nยบ 46
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - LÂMPADAS LED
Consideradas a melhor opção em todas as aplicações, quando de boa qualidade, lâmpadas LED se destacam pela maior durabilidade, acendimento instantâneo, regulagem de fluxo luminoso e qualidade de reprodução de cores Luciana Morais
redacao@revistaecologico.com.br
A
s mudanças climáticas têm sido foco de debates no mundo inteiro, levando à adoção de novas políticas públicas. Parte delas está voltada para investimentos em energias renováveis, capazes de reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa, em especial do dióxido de carbono (CO2), considerado um dos vilões do aquecimento global. Atento a essa realidade, o Brasil tem centrado esforços na busca da maior eficiência energética de equipamentos, veículos e edificações, por meio, por exemplo, do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), coordenado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). O PBE fornece informações úteis para os consumidores tomarem melhores decisões de compra, considerando atributos como a eficiência energética, o consumo de eletricidade, de gás e 76 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
de combustível, e também outras características, tais como o consumo de água, no caso das máquinas de lavar, e a potência sonora dos aparelhos atestada pelo Selo Ruído (Conama/Ibama). Com tais iniciativas, o país também estimula a competitividade da indústria, que passa a fabricar produtos cada vez mais econômicos e vantajosos do ponto de vista da ecoeficiência. O mercado de iluminação reflete bem esse movimento em prol da sustentabilidade. MAIOR EFICIÊNCIA Até recentemente, a maioria das lâmpadas destinadas à iluminação residencial era do tipo incandescente, que consumia muita energia e durava curto período de tempo (no mercado, as incandescentes com potência de 41W até 60W não podem mais ser vendidas desde julho do ano passado). Gradativamente, elas foram subs-
tituídas pelas fluorescentes compactas, ou lâmpadas chamadas de “eletrônicas”, quatro vezes mais eficientes e seis vezes mais duráveis, porém causadoras de maior impacto ambiental. Mais recentemente, percebeu-se o início da popularização das lâmpadas LED (Light Emitting Diodes, diodos emissores de luz, na tradução livre). O baixo consumo de energia, a vida útil mais longa e o menor impacto ambiental são as principais características desse tipo de lâmpada. Regulamentadas pelo Inmetro, elas devem ser certificadas, atendendo a requisitos mínimos, tanto com foco no desempenho energético quanto na segurança elétrica, dos consumidores e na compatibilidade eletromagnética. Com grande diversidade de modelos, as LEDs têm características específicas, diferenciando-as de produtos que estão no mercado
há mais tempo. Considerando que o desconhecimento sobre suas peculiaridades pode gerar uma frustração em relação ao bom funcionamento do produto, o Inmetro reuniu as principais dicas e informações sobre as LEDs numa cartilha, lançada em março do ano passado. Por meio dela, o consumidor fica sabendo, por exemplo, que nas embalagens das LEDs há sempre três tipos de informação: o fluxo luminoso em lúmens (lm), que é a quantidade de luz emitida; a potência em Watts (W), que representa o consumo de energia elétrica e, por fim, a eficiência luminosa (lm/W), que se refere à relação do fluxo luminoso com a potência.
FOTO: APLIQUIM BRASIL RECICLE
MENOR IMPACTO Mas por que a lâmpada LED é mais econômica? Porque sua eficiência luminosa é maior, ou seja, ela gasta menos energia para gerar a mesma iluminação. Ela pode durar, dependendo do modelo, até 25 vezes mais do que as lâmpadas incandescentes e quatro vezes mais do que as fluorescentes compactas. Mais modernas, as LEDs convertem energia elétrica diretamente em energia luminosa, através de pequenos chips. Entretanto, o tempo (em horas de funcionamento) estimado na embalagem não equivale ao tempo que a lâm-
pada levará para queimar e sim ao período que passará a funcionar com menos de 70% da sua capacidade luminosa original. É importante lembrar, ainda, que alguns fatores não relacionados à qualidade do produto podem afetar sua durabilidade, entre eles a ocorrência de oscilações da rede elétrica e mau contato no ponto de instalação. A garantia da LED também é mais longa do que a das lâmpadas comuns. Sendo assim, caso o produto pare de funcionar ou tenha a sua eficiência luminosa reduzida além do máximo prescrito dentro do prazo de garantia estipulado pelo fornecedor - configurando um defeito -, o consumidor pode solicitar a sua substituição. Mas, para usufruir desse direito, é preciso guardar a embalagem e a nota fiscal do produto. Entre os diferenciais sustentáveis das lâmpadas LEDs também contam pontos a seu favor o fato de apresentarem menor risco para a saúde dos consumidores e menor impacto ambiental. Afinal, não contêm mercúrio na sua constituição, como é o caso das fluorescentes compactas. Além disso, não emitem radiação ultravioleta e infravermelha (sendo mais confortáveis para os olhos) e não demoram ao serem acesas novamente, quando são desligadas.
ENTENDA MELHOR
O custo das LEDs ainda é mais alto do que o das outras lâmpadas (até cinco vezes mais do que uma comum). Porém, considerando o baixo custo de sua manutenção – em função da maior durabilidade – e a redução no valor da conta de luz, o gasto maior investido na sua compra é sempre compensado. Na hora de escolher a LED, fique de olho. Há dois tipos: as de baixo fluxo luminoso, usadas para sinalização, árvores de Natal, decorações e situações que demandam baixa luminosidade, e as de alto fluxo luminoso, que emitem mais luz, devendo ser usadas para a iluminação de ambientes que exigem maior luminosidade; também são ideais para spots (sobre bancadas, objetos decorativos), arandelas (para criar efeitos na parede), balizadores (iluminação de corredores e escadas) e para iluminação de fachadas. As tonalidades de cores das LEDs podem ser identificadas nas embalagens como “temperaturas de cor”, expressas em Kelvin (K). Essas temperaturas de cor não estão associadas diretamente à quantidade de calor gerado pela lâmpada. A luz emitida passa por uma sequência de cores que vai desde o branco alaranjado até o branco azulado. Nas LEDs atualmente disponíveis no mercado, é comum encontrar as seguintes tonalidades: A) Quente ou morno, tom amareloalaranjado considerado mais próximo da cor emitida pela lâmpada incandescente, sendo mais apropriado para ambientes aconchegantes, como uma residência, quartos e salas de TV (2.700K). B) Intermediário ou neutro, tom branco mais comum em ambientes de trabalho (entre 3.800 e 4.200K). C) Frio, tom branco-azulado, mais usado em cozinhas, áreas de serviço e locais que demandem plena iluminação (acima de 6.000K).
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - LÂMPADAS LED FIQUE POR DENTRO No que se refere à tensão ou voltagem das lâmpadas LEDs, é possível encontrar no mercado quatro opções: 12 volts (para luminárias), 127 volts, 220 volts ou bivolt. Por isso, antes de escolher um modelo, é importante verificar qual é a compatível com a sua rede elétrica. Com a certificação, as LEDs disponíveis no mercado têm que conter a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia, também encontrada em outros aparelhos. Ao usar a informação da etiqueta, o consumidor deve observar a equivalência
entre as diferentes tecnologias de lâmpadas. Por exemplo: uma incandescente de 60W corresponde a uma fluorescente compacta de 15W que, por sua vez, equivale a uma LED de aproximadamente 10W. Como todas proporcionam fluxo luminoso semelhante, é justamente a menor potência que faz com que as LEDs tenham a melhor eficiência luminosa. Com base na Política Nacional de Resíduos Sólidos, os fabricantes de lâmpadas são obrigados a implantar sistema de logística reversa para lâmpadas com mercúrio, como as
fluorescentes compactas, assegurando destinação final segura e ambientalmente adequada. O Brasil conta hoje com tecnologia para descontaminar e reciclar mais de 90% dos subprodutos presentes nas lâmpadas. As LEDs também podem ser recicladas, mas ainda não há legislação específica. O ideal é descartá-las em locais apropriados, como os postos de coleta de lojas, revendedores e/ou fabricantes. O descarte adequado e a reciclagem de lâmpadas promovem a economia de recursos naturais e evitam contaminações. O mercúrio, metal tóxico e volátil presente nas lâmpadas fluorescentes compactas, quando liberado no meio ambiente, contamina água, solo e ar, além de ameaçar a saúde da população. A tecnologia LED também está presente em telefones celulares, aparelhos de TV, leitores de Blu-ray e flashes das câmeras fotográficas.
Em 2016, a Efficientia, empresa do Grupo Cemig, substituiu cerca de 22 mil lâmpadas incandescentes por lâmpadas LED em todos os semáforos de Belo Horizonte, proporcionando uma economia de 85% para a cidade. O projeto visou racionalizar o uso de energia e proporcionar mais segurança a pedestres e motoristas nas operações de trânsito, otimizando o consumo de energia e reduzindo a demanda de potência do sistema, bem como gastos com manutenção pela troca de lâmpadas queimadas. Com a mudança, aumentou também a segurança nos cruzamentos, por meio da eliminação do “efeito fantasma”, fenômeno ocorrido quando a luz solar incide diretamente sobre o semáforo, dificultando a distinção da cor acesa. Esse projeto foi fundamental para que a capital mineira conquistasse o 1º lugar na categoria “Meio Ambiente” do prêmio Connected Smart Cities (Cidades Inteligentes do Brasil), promovido pelas empresas Urban Systems e Sator. De 2002 a 2014, a Efficientia gerou uma economia de energia de 160 mil megawatts-hora/ano, o suficiente para abastecer uma cidade de até 350 mil habitantes. Graças a essa economia, 45 mil toneladas de CO2 equivalente deixaram de ser lançadas na atmosfera. 78 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
FOTO: DIVULGAÇÃO PBH
TRÂNSITO DE BH DÁ SEU EXEMPLO
FOTO: ABILUX
TRÊS PERGUNTAS PARA...
ISAC ROIZENBLATT
MESTRE EM ENERGIA PELA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), ESPECIALISTA EM ILUMINAÇÃO PELA TECHNOLOGICAL UNIVERSITY OF EINDHOVEN (HOLANDA) E DIRETOR-TÉCNICO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ILUMINAÇÃO (ABILUX)
FOTO: DIVULGAÇÃO PBH
CIDADE INTELIGENTE A iluminação pública responde por cerca de 4% do consumo total de energia elétrica no Brasil. Quais são as vantagens do uso da tecnologia LED nesse segmento? Esse percentual de 4% pode ser reduzido em mais da metade com modernas tecnologias de fontes de luz, luminárias e comunicação digital. Empregamos hoje fontes de luz de descarga com eficiências da ordem de 50 lumens por Watt, com as lâmpadas de mercúrio, e aproximadamente 100 lumens por Watt, com as lâmpadas de sódio. Já é possível também trocar ambas por LEDs com mais de 140 lumens por Watt e, num futuro próximo, com mais de 200 lumens por Watt. A iluminação antiga é ultrapassada. Caminhamos para a cidade inteligente ou “smart city” e para tal necessitamos da iluminação digital oferecida pelos LEDs com a telegestão. A cidade passa a contar com Wi-Fi, WiGig, Li-Fi, comunicação pelos sistemas de telefonia existentes ou outros sistemas de comunicação para acender, apagar ou regular a iluminação das vias, controlar os semáforos em função do volume de pessoas e veículos trafegando, propiciando segurança às pessoas e boa iluminação ao comércio. O que é a telegestão e quais os seus benefícios? A comunicação pela telegestão propiciará a medição em tempo real do consumo do ponto de luz, e mesmo do consumo de energia, água e gás das unidades próximas, parquímetros e abastecimento elétrico de automóveis. Permitirá ainda o controle entre a alimentação da rede e os sistemas autônomos foto-
Nós apoiamos essa ideia!
voltaicos. A comunicação na cidade inteligente deve permitir a conexão wireless dos cidadãos nas vias públicas. É preciso que aqueles que instalam sistemas modernos e eficientes de iluminação pública com LEDs integrem – se possível e desde já – sistemas de comunicação provados em países tecnologicamente avançados e não tentem “reinventar a roda”. Isso só trará prejuízos aos cidadãos e ao país. “Smart city” é uma realidade que deve ser implantada com a telegestão de iluminação a LED, pois só traz benefícios. Qual é a realidade atual e quais as expectativas da Abilux em relação à aceitação da tecnologia LED pelos brasileiros? O consumo de lâmpadas LED no Brasil, em unidades, saltou de 27 milhões, em 2014, para 81 milhões, em 2015 (20% delas tubulares). Para este ano, a estimativa de crescimento é de 30% em lâmpadas LED, módulos e luminárias. As LEDs são a melhor opção em todas as aplicações, pois, quando de boa qualidade, oferecem alta eficiência, longa vida, acendimento instantâneo, regulagem de fluxo luminoso e qualidade de reprodução de cores, além de terem baixa depreciação e serem amigáveis ao meio ambiente. Suas vantagens energéticas, estéticas e ambientais têm motivado a transformação do mercado. Há uma quebra de paradigma. Segundo previsões, por volta de 2020, cerca de 70% do faturamento em iluminação no mundo virá de produtos com LED.
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1 VOCÊ SABIA?
O tamanduá E SUAS DIFERENTES VERSÕES Cristiane Mendonça
redacao@revistaecologico.com.br
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ocê já viu um tamanduá de perto? Consegue descrever com detalhes como ele é? Não responda ainda! Antes disso, leia as curiosidades incríveis que apresentamos a seguir. Sabia que existem apenas quatro espécies de tamanduá? E que uma delas, inclusive, não é encontrada no Brasil e outra é bem diferente da que estamos acostumados a ver no Cerrado? Se você ficou curioso, confira as informações a seguir sobre esse animal que também é símbolo de um dos ecossistemas mais devastados do país:
MODO DE VIDA
Nativo da América do Sul e América Central, o tamanduá-bandeira é um animal típico do Cerrado. Solitário, ele só anda acompanhado na época da reprodução. A fêmea tem um filhote por ano, em uma gestação que dura, em média, 190 dias. O filhote nasce pequeno, pesando cerca de 1,3 kg, e fica no dorso da mãe se alimentando apenas de leite durante os primeiros nove meses. Classificado como espécie “vulnerável” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), ele já é considerado “extinto” em regiões do Uruguai, por exemplo. 80 ECOLÓGICO | MAIO/JUNHO DE 2017
FOTO: REPRODUÇÃO
CARACTERÍSTICAS
FOTO:QUINTEN QUESTEL
O tamanduá-bandeira enxerga pouco se comparado à visão humana, mas tem um olfato 40 vezes mais potente que o nosso. Recurso que permite a ele encontrar - com precisão – formigas e cupins, alguns de seus alimentos prediletos. Com as patas dianteiras, dotadas de garras longas e fortes, o tamanduábandeira consegue escavar as duras paredes do formigueiro e esticar sua língua pegajosa em até 60 centímetros para garantir a refeição. Estima-se que ele possa comer até 30 mil insetos em um dia!
FOTO: GIOVANNA COLOMBI
Cyclopes didactylus Tamandua tetradactyla
DEFESA
Se você avistar um tamanduá-bandeira apoiado nas patas traseiras, como se estivesse em pé, cuidado! Este é um gesto que o animal faz quando se sente acuado e tende a atacar envolvendo o opositor com as patas dianteiras. Este comportamento deu origem à expressão “abraço de tamanduá”, que se refere ao abraço ou cumprimento de um falso amigo. Com certeza, ninguém gostaria de experimentar!
DIFERENTÃO
O “primo” mais diferente dos tamanduás é o tamanduaí. Sua pelagem é bege. Ele passa os dias dormindo enroscado no alto as árvores e só sai do lugar durante a noite. O peso varia entre 300g e 400g e o tamanho gira em torno de 35 cm.
CODINOMES
Não por acaso, o nome tamanduá é de origem tupi-guarani - ta-monduá - e significa “o caçador de formiga”. Mas, o nome popular da espécie pode mudar de acordo com as diferentes regiões onde ele é encontrado, podendo ser chamado de iurumi, jurumim, tamanduá-açu, tamanduá-cavalo, papa-formigas-gigante ou urso-formigueiro-gigante.
PARENTES
Tamandua mexicana
No Brasil, existem três de tipos de tamanduá: o tamanduaí (Cyclopes didactylus), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o tamanduá-mirim ou tamanduá-decolete (Tamandua tetradactyla). A única espécie existente que não ocorre em nosso país é o tamanduá-do-norte (Tamandua mexicana). MAIO/JUNHO DE 2017 | ECOLÓGICO 81
1 ENSAIO ARTÍSTICO
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ARVOREAR Em sua recente exposição, o artista plástico mineiro Braulio Bittencourt escolheu as árvores como inspiração
E
a arte, mais uma vez, cumpre seu papel ecológico de reconectar o ser humano à natureza. Essa foi a sensação que “brotou” nos olhos e na alma de quem esteve recentemente no Espaço Cultural Otto Cirne, na Associação Médica de Minas Gerais, para conferir a exposição “Arvorear”, do artista plástico belohorizontino Braulio Bittencourt. BITTENCOURT: O tema árvore, inclusive, é vontade de ser árvore uma constante nos trabalhos de Bittencourt. “Em 2011, fiz uma exposição na Vallourec chamada 'Árvores e Raízes'. Ao montá-la, percebi que desde 2005 eu já vinha pintando árvores de diversas formas. Resolvi então reunir as obras que tratavam disso. Eu usava as árvores como metáforas para uma necessidade de pertencimento e de elevação, conexão espiritual”, afirma. Na exposição deste ano, no entanto, o artista disse que não pintou árvores, mas a “vontade de ser árvore. Quando você olha para os quadros, vê que elas querem a leveza do ar. Dei muita ênfase na transcedência”. E completa: “No meu processo de criação, faço uma espécie de meditação para me esvaziar e começo a pintar quase que inconscientemente. São árvores que vêm de uma paisagem interior, que guardam o encantamento com o primordial, porque a árvore remete à essência do planeta. É o símbolo da vida. Essas obras foram brotando de um lugar sagrado que está dentro de mim, de cada um de nós”. Confira:
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1 ENSAIO ARTÍSTICO
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QUEM É ELE
Braulio Bittencourt é artista plástico autodidata com formação em Ciências Econômicas pela UFMG e mestrado pela Universidade de Wakayama, Japão. Fez curso de aperfeiçoamento na Accademia d'Arte em Florença, Itália, e tem formação em Biodanza pela International Biocentric Foundation. Já fez exposições individuais no Museu Casa dos Contos e na Galeria Fiemg, ambos em Ouro Preto, no Centro Cultural do Minas Tênis Clube, na ALMG, em BH, além de outras. Também participou de exposições coletivas em Brasília (DF), Nova York (EUA), Miami (EUA) e Roma (Itália). SAIBA MAIS
www.flickr.com/photos/ brauliobittencourt E-mail: bvbitt@yahoo.com.br (31) 98801-0149
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MEMÓRIA ILUMINADA – PADRE FÁBIO DE MELO
QUEM É ELE
FOTO: DIVULGAÇÃO
Fábio José de Melo Silva é mineiro de Formiga (MG), filho de Dorinato Bias Silva e Ana Maria de Melo. Nasceu em 03 de abril de 1971 e ordenou-se sacerdote em 15 de dezembro de 2001. Formado em Teologia na Faculdade Dehoniana, é pós-graduado em Educação e mestre em Teologia Sistemática. Recentemente, ele foi biografado pelo repórter Rodrigo Alvarez: o livro “Humano Demais”, que conta a história do padre desde o nascimento até o reconhecimento nacional, pode ser encontrado em todas as grandes livrarias do país.
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O SEMEADOR DA
PALAVRA Transgressor? Galã? Esqueça os rótulos. Padre Fábio de Melo é um dos maiores pensadores e comunicadores da atualidade quando o assunto é fé, fraternidade e ecologia interior Luciano Lopes
redacao@revistaecologico.com.br
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uando vi o Padre Fábio de Melo pela primeira vez na TV, fiquei incomodado por ele frequentemente não usar o vestuário comum aos sacerdotes católicos, incluindo batinas, túnicas, alvas ou colarinhos romanos. Na minha cabeça, essas vestimentas eram algo indissociável da figura que um padre é e do que representa. No entanto, não quero entrar no mérito da obrigatoriedade do uso porque sou leigo nesse assunto. Sendo essa minha visão conservadora ou preconceituosa (ou nenhuma das duas), ela me impediu de enxergar uma lição que se desdobrava frente a meus olhos naquele momento: ninguém deve ser ou pensar como desejamos. Ninguém deve ser julgado pelo que veste. O mundo e a humanidade devem evoluir, a cada dia, para que possamos compreender o outro dentro do todo. Temos de olhar as pessoas com um olhar, primeiro, descontruído. E, assim, construí-las conforme os tijolos que elas nos dão. Padre Fábio é um evangelizador. Ele tem alma e currículo de professor, veio a este mundo para pregar, ensinar, ser ouvido. Ser farol, um guia a levar as pessoas para seguirem o exemplo do Cristo. É um ser humano sensível às causas sociais, à arte, às Sagradas Escrituras, à justiça, à música que enobrece. Respei-
ta o próximo. Resumindo: ajuda os outros a se construírem na Verdade. Quando ele fala, há um cuidado com a palavra. “Tenho aprendido que o amor é o melhor jeito de responder às questões do mundo. Experimento isso na carne. Eu fico melhor cada vez que amo. Digo isso como religioso que sou”, afirma ele em um dos muitos artigos que escreveu. Sim, ele é escritor – lançou 13 livros e vendeu 3,5 milhões de cópias. E também compositor e cantor: são 20 discos e dois milhões de CDs vendidos ecoando mensagens evangélicas no som do carro, do computador e na estante de milhares de brasileiros. “Tudo o que eu faço, eu faço como padre.” Assim como todo ser humano, Padre Fábio é um rio. E rio é lugar de encontro. A humanidade precisa se reencontrar, respeitar suas margens, seus afluentes, matar a sede de quem pede apoio na caminhada da vida. Enfim, fazer merecer a chuva que abençoa o caminho para semear e colher bons valores. “Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo”, já dizia ele. E cada um de nós pode perpetuar “na esperança das confluências” que o futuro nos guarda. Sejamos abertos e atentos para as mensagens e lições que Padre Fábio compartilhou conosco. Confira algumas delas:
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MAIO/JUNHO DE 2017 | ECOLÓGICO 87
MEMÓRIA ILUMINADA – PADRE FÁBIO DE MELO FOTO: ALFEU TRANCOSO
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“Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo.” PODER DA PALAVRA “Retire a poeira de um móvel e o mundo ficará mais limpo por causa de você. É sensato pensar assim. Destrua o poder de uma calúnia, vedando a boca que tem ânsia de dizer o que a cabeça ainda não sabe, e alguém deixará de sofrer por causa de seu silêncio. Que cada um cuide do que vê. Que cada um cuide do que diz. A razão é simples: o Reino de Deus pode começar ou terminar na palavra que escolhemos dizer.” CELIBATO “Fico indignado quando a sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do ‘pode ou não pode’.” AMOR “Gosto de conjugar o verbo ‘amar’ no imperativo – ‘Ame!’. Não há necessidade de complementos. Ame este ou aquele. Ame agora ou depois. É só amar. É só seguir a ordem que o verbo sugere: ‘Ame!’.” PRIMAVERA “Primavera é tempo de ressurreição. A vida cumpre
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o ofício de florescer ao seu tempo. O que hoje está revestido de cores precisou passar pelo silêncio das sombras. A vida não é por acaso. Ela é fruto do processo que a encaminha sem pressa e sem atropelos a um destino que não finda, porque é ciclo que a faz continuar em insondáveis movimentos de vida e morte.” “A primavera só pode ser o que é porque o outono lhe embalou em seus braços. Outono é o tempo em que as sementes deitam sobre a terra seus destinos de fecundidade. É o tempo em que à morte se entregam, esperançosas de ressurreição. Outono é a maternidade das floradas, dos cantos das cigarras e dos assovios dos ventos. Outono é a preparação das aquarelas, dos trabalhos silenciosos que não causam alardes, mas que mais tarde serão fundamentais para o sustento da beleza que há de vir.” SEXUALIDADE “A sexualidade é apenas um detalhe (da questão de ser padre). Castidade é muito mais. É um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo. Não poderia privar meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço.”
“Eu não sou um homem solitário. Apenas escolhi ser só. Não vivo lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Não tenho medo das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o significado da misericórdia.” SEMENTE “O florido sobre a terra não é acontecimento sem precedências. Antes da flor, a morte da semente, o suspiro dissonante de quem se desprende do que é para ser revestido de outras grandezas. O que hoje vejo e reconheço belo é apenas uma parte do processo. O que eu não pude ver é o que sustenta a beleza.” “A arte de morrer em silêncio é atributo que pertence às sementes. A dureza do chão não permite que os nossos olhos alcancem o acontecimento. Antes de ser flor, a primavera é chão escuro de sombras, vida se entregando ao dialético movimento de uma morte anunciada, cumprida em partes.”
“Casamento não resolve os problemas do mundo. Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras, nem olhares.”
INFLUÊNCIA “É mais fácil que alguém nos roube de nós mesmos, porque cada vez que nós somos influenciados – e existe uma força para levar de nós aquilo que temos de mais precioso, que é a nossa liberdade – então, já estamos sendo roubados. Cada vez que você percebe que tem de deixar de ser você mesmo para estar num grupo, quando percebe que a sua vontade está fragilizada ou que o outro tem um acesso inescrupuloso às suas decisões, você está sendo roubado.” VIVER “A vida é fruto da decisão de cada momento. Talvez seja por isso que a ideia de plantio seja tão reveladora sobre a arte de viver. Viver é plantar. É atitude de constante semeadura, de deixar cair na terra de nossa existência as mais diversas formas de sementes. Cada escola, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos. Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos de plantar em nós, será plantação que poderá ser vista de longe.” FOTO: ISTOCK
SOLIDÃO
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MAIO/JUNHO DE 2017 | ECOLÓGICO 89
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NATUREZA MEDICINAL
MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
AZEITONA-DO-CAMPO
M
FOTO: MARCOS GUIÃO
inha amizade com Chico da Mata já remonta de muitos anos e vez por outra a gente se separa por uns meses, mas quando se esbarra novamente, nem parece que demorou. A prosa segue no natural, sem se dar conta do intervalo. Aqui já narrei uma vez que consegui arrancar Chico da Mata de seu rincão pra uma viagem de poucas horas até nossa casa na intenção de lhe apresentar as plantas que me arrodeam nos altos do Espinhaço. Naquela ocasião, seu maior encanto se deu com a Oliveira (Olea europaea) que cultivamos na intenção de um dia preparar nosso próprio azeite. Depois dessa visita, a vida me enredou na faina de atividades muitas e durante meses fiquei sem correr os olhos na cabeleira agrisalhada e farta de meu amigo Chico. Afinal, chegou o dia e dei retorno lá no
Chenopodium ambrosioides
seu canto de mundo. Logo de cara, ele foi desfiando um rosário de lembranças e minúcias ocorridas durante nossa agradável viagem. Confesso que fiquei perplexo, tamanha a miudeza de recordações. E daí a chegarmos na Oliveira foi um tim. Mas ele num tardou a me intimar num jeito bem seu de desafio: - Inhô zelô deu com cuidado inté no luxo naquelas andanção de carro lá na sua comunidade. Mas agora quero lhe ver amuntado naquele alazão folgado e gordo, pois vou lhe mostrar a azeitona de nosso Cerrado, belezura de pranta. Diante de intimação comparativa tão convincente, gastei pouco tempo pra largar meus trem no quarto e rompemos pro quintal na buscação dos animais. Quando dei por mim, já tava no passo, seguindo o balanço leve do animal e acompanhando Chico naquelas berada de mundo. Solto, ele contava caso, dava risada enquanto sua cara de lua cheia ficava atenta ao derredor na buscação da azeitona. - Pois fique sabeno, seu Marcos, que essa pranta tem muita indicação nas doradas de rins, inté mermo quando é caso de pedra. Cê sabe que o cabra inté inverga de dor, né mermo? Pois as folhas da nossa Azeitona-do-Campo (Vitex taruma) dá um chá assim gostoso, bão de tumá. E daí a dissolver as pedras é um tim, um nadica. Mas tem de tomar muita água, pois é as águas que vão lavar os rim. Tendeu seu Marcos? Fiz cara de assentimento e logo que passamos um colchete no final de uma manga, tinha um afloramento de pedras maiores e no pé de uma delas tava lá a azeitona carregada de frutos. Curioso, peguei alguns e comi. O gosto num é dos melhores, meio apertento, mas dá pro gasto. As folhas são aveludadas de coloração ferruginosa e o chá é realmente gostoso. Depois de coletar um bocado das folhas, voltamos pra casa a tempo de aproveitar um delicioso almoço preparado carinhosamente por dona Linda. Dei uma pesquisada e vi que ela também é indicada para inflamação dos rins e bexiga, é depurativo, cuida de reumatismo e até artrite. Bão, por hoje é só. Inté a próxima lua! (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.
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Os animais ilustrados fazem parte do CDA – Centro de Desenvolvimento Ambiental.
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5 de Junho
Dia Mundial do Meio Ambiente A G EN TE AC R ED ITA Q UE O R ESPEITO AO MEIO A MBIEN TE É O MELH OR CA MIN H O PAR A UM FUTUR O SUSTEN TÁV EL. N OSSA S EQU IPES D ESEN VOLVEM AÇÕES D E GESTÃO A MB IEN TAL Q UE PR O MOV EM A SU STEN TA BILIDA D E N A PRÁTICA E QU E FA ZEM PA RTE DA HISTÓ R IA DO S N O SSO S PROJETOS D E TRA N SMISSÃO E G ERAÇÃO D E EN ERGIA . P E N SAR E M SU STENTA BILIDA D E TOD OS OS D IA S.
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