Revista Ecológico Fevereiro

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ANO 7 - Nº 78 - 03 DE FEVEREIRO DE 2015 - R$ 12,50

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EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA

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GM-0008-14 ANUNCIO.indd CAMPEONATO 1 MINEIRO 2015_AD RV. ECOLÓGICO 41x27.5cm.indd 1

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EXPEDIENTE

FOTO: ALFEU TRANCOSO

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Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Pedro Borrego, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais, Déa Januzzi e Vinícius Carvalho

REVISÃO Gustavo Abreu

ASSINATURA Alessandra Cristina alessandra.cristina@souecologico.com

CAPA Arte: Son Salvador

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com Representante Comercial Brasília Forza CM - Comunicação e Marketing sdonato@forzacm.com.br Representante Comercial Rio de Janeiro Tráfego Publicidade comercial@trafegopublicidade.com.br

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

Assistente Comercial Silmara Belinelo silmara@souecologico.com MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

EDITORIA DE ARTE André Firmino e Marcos Takamatsu COLUNISTAS Alfeu Trancoso, Andréa Zenóbio Gunneng, Antonio Barreto, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

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Selo Cerflor

VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

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EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

souecologico ecologico

4,26 tCO2 e Janeiro 2015

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ÍNDICE

CAPA

Pág.

GREENPEACE ALERTA PARA O IMPACTO DO DESMATAMENTO NOS RECURSOS HÍDRICOS E NA AGRICULTURA E EXPLICA POR QUE A MINISTRA DA AGRICULTURA, KÁTIA ABREU, É CHAMADA DE “MISS DESMATAMENTO” PELA ORGANIZAÇÃO

52 NOS PORÕES DO RETROCESSO FHEMIG RECUPERA O MUSEU DA LOUCURA, EM BARBACENA, E ANUNCIA ATUALIZAÇÃO DO ACERVO HISTÓRICO

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E mais... IMAGEM DO MÊS 06 CARTA DO EDITOR 07 CARTAS DOS LEITORES 08 ECONECTADO 10 PÁGINAS VERDES 12 GENTE ECOLÓGICA 18 SOU ECOLÓGICO 20

64 INTERNACIONAL CIENTISTAS AJUSTAM O “RELÓGIO DO APOCALIPSE” E ADVERTEM PARA O RISCO IMINENTE DE UMA CATÁSTROFE GLOBAL

ESTADO DE ALERTA 23 CLUBES UNIDOS PELO PLANETA 24 CÉU DE BRASÍLIA 32 FAUNA 48 COMPENSAÇÃO AMBIENTAL 58 EMPRESA & MEIO AMBIENTE 60 CÉU DO MUNDO 62 OLHAR INTERIOR 68 GESTÃO & TI 70

71 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS ENTENDA POR QUE AS BORBOLETAS SÃO CONSIDERADAS O TERMÔMETRO DA CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

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CORAÇÃO DA TERRA 76 VOCÊ SABIA? 78 NATUREZA MEDICINAL 80 OLHAR POÉTICO 81 ENSAIO FOTOGRÁFICO 82 MEMÓRIA ILUMINADA 86 CONVERSAMENTOS 90

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IMAGEM DO MÊS

ECOLOGIA CÓSMICA

No início deste mês, durante o encontro de inverno da Sociedade Americana de Astronomia, a Agência Espacial Americana (Nasa) publicou uma nova imagem dos “Pilares da Criação”, apelido dado para o conjunto de três colunas de gases localizado na Nebulosa de Águia. O primeiro registro foi feito em 1995, mas não apresentava tanta riqueza de detalhes quanto o atual. O cientista Paul Scowen, da Universidade do Estado do Arizona, afirmou que a imagem atualizada sugere que as colunas também são os “Pilares da Destruição”, pois as estruturas gasosas são muito transitórias e a neblina azulada das bordas é composta de material que rapidamente se aquece e evapora no espaço. 06  ECOLÓGICO | FEVEREIRO DE 2015

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FOTO: DOLLARPHOTOCLUB

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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

CRISE HÍDRICA?

BEM FEITO PRA NÓS!

N

ão é de hoje que a natureza vem avisando. Mas ninguém quis escutar. Desde quando Pedro Álvares Cabral aportou aqui devastadoramente, cortando pau-brasil - a árvore de cor vermelho-brasa que deu nome ao nosso país -, e Pero Vaz de Caminha, na prometida Nova Terra, anunciou que “plantando, tudo dá”, a nossa tragédia atual teve início. Tanto Pedro quanto Pero não sabiam, e a gente ainda não aprendeu, soberbos que somos, que para plantar, colher e nos mantermos vivos, dependemos de uma única fórmula mágica e frágil, criada pelo universo: H2O. E, junto dela, a menos que prefiramos o deserto, outro ser planetariamente básico chamado árvore. É como o médico e escritor Guimarães Rosa nos ensinou. Onde tem buriti tem água. E onde tem água, a gente é mais feliz. O que equivale a dizer nos dias de hoje: onde só há boi e soja, cimento e asfalto, no lugar da floresta e da natureza, seremos infelizes. E, mais infelizes ainda, caso o meio ambiente continue sendo a pasta mais esquecida e desprezada pelos nossos governantes, dos vereadores e prefeitos aos ministros e presidente da República. Haja vista que os novos eleitos já dão palpite em tudo pra resolver a crise hídrica: transpor rios mortos, construir barragens etc. Menos, é claro, ouvir os ambientalistas, os cientistas e estudiosos, quem sempre avisou, lutou e indicou caminhos ecológicos e não antropocêntricos para preservar a sustentabilidade própria e parceira da natureza.

É disso, da relação devastação-falta d’água, que tratamos nesta edição da Ecológico, com o intuito de contribuir para o debate, e cuja capa faz uma alusão ao jornal satírico francês “Charlie Hebdo”. Segundo a memória iluminada do filósofo frânces André ComteSponville, você também lerá aqui, o intuito maior do ser humano, além de se manter vivo, é ser feliz. E isso se traduz, simplesmente, em desejarmos e amarmos, desesperadamente, o que já temos e não valorizamos. A natureza sabia disso bem antes da nossa presença predatória no planeta. É esse o cerne da questão ambiental. O que a gente não faz por amor às suas árvores e águas (e não nossas), faremos pela dor. É o que está nos acontecendo agora, de maneira democrática, outra qualidade que esquecemos da Mãe Natureza. O que podemos fazer de ecologicamente heroico, quando toda e qualquer crise, que também é sinônimo de oportunidade, bate à nossa porta e, agora, à nossa torneira? Segundo Sponville, “não é a esperança que faz os heróis: é a coragem e a vontade”. É os nossos governantes agirem com o coração, em vez de somente com suas mentes técnicas e partidárias. E terem uma vontade política maior. Uma vontade verde, líquida e amorosa que nunca tiveram. Desesperadamente, como aponta o filósofo. Boa leitura! Até março, quando faremos circular a nossa Edição Especial comemorativa ao “Dia Mundial da Água”. 

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CARTAS DOS LEITORES

urbanizada, é necessário o apoio de todos!” Jean Medero, via Facebook “O ano de 2014 foi péssimo para o nosso país. Não avançamos em nada. Projetos de lei importantes foram engavetados, a Copa nos deu prejuízo e a eleição pareceu briga de comadres. Em vez de se preocuparem em resolver os problemas do país, os políticos passaram o ano arrumando outros para resolvermos em 2015.” Daniel Menduzy, por e-mail l ESPAÇO LIVRE - DILMA SUSTENTÁVEL “[Sustentável?] Mentira! Como quase tudo que o governo diz. O Brasil tem se negado a implantar ações de preservação rotineiramente, além de permitir grandes agressões à natureza, como aqui na Chapada do Araripe, região Nordeste do país.” João Augusto Rocha, via Google+ l ECONECTADO – VAQUINHA VIRTUAL “Ajudem também a cidade de Carrancas (MG), que tem um excelente potencial de turismo ecológico!” Beto Teves, via Google+

l ESTADO DE ALERTA – SERÁ CINZENTO O NOVO GOVERNO? “Cinzento? Como assim? A coisa está é preta! Cinzento é o céu em dias de chuva, só se for.” Joana Felício, via Google+ l RETROSPECTIVA 2014 “Realmente, 2014 foi um ano marcado pela falta: de ética, de vontade política, de caráter... A Revista Ecológico está de parabéns, pois suas matérias são muito interessantes, informativas e conscientizadoras.” Elizandra Batista dos Reis, via Google+ “Na verdade, um ano pra lembrar, pois não devemos esquecer as coisas difíceis. E sim, temos que usá-las como motivação para algo melhor! Obrigado, 2014!” Renato Souza, via Facebook “Até quando isso? Se não colocarmos as nossas reivindicações, a cada dia nos chocaremos com essa banalização que tanto aflige a nossa cultura, a nossa personalidade e dignidade. Para uma civilização

l POR UM FUTURO MELHOR “A ONU já tem esse papel de incentivar a reflexão sobre os rumos do desenvolvimento sustentável. Ao restante, fica a responsabilidade de executar o que os fóruns determinam. Esse blá-blá-blá é desnecessário, não transforma o cenário!” Mônica Mendes, via Google+ l OLHAR INTERIOR - GRATIDÃO “Parabéns à colunista Andréa Zenóbio pela lúcida abordagem da gratidão na Ecológico. Que 2015 seja um ano em que, ao final, você se sinta plenamente grata a Deus por ter realizado bons e revigorantes sonhos.” João Batista Filho, via site “Lealdade, sinceridade... Ser você mesma do fundo do coração! Parabéns pelo texto!” Inês Tourino Teixeira, via Facebook l OLHAR POÉTICO “Não há nem o que argumentar! Simplesmente nunca ri tanto em minha vida, a melhor coisa do ano de 2015! Crônica ecleticamente engraçada e ao mesmo tempo com tantas verdades e um linguajar ao nosso alcance. Adorei!” Vera Lúcia, via site

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FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

l NATUREZA MEDICINAL – SEMENTES DA RENOVAÇÃO “Lendo o texto de Marcos Guião, fica a pergunta: será que já aprendemos a viver cada um no seu lugar?” Audrei Helena Monti Macedo, via Facebook “Sementes? Crescer? Renovação interior? Taí algo que poucas pessoas hoje dão importância. Ninguém está preocupado em se renovar, tanto física quanto espiritualmente, para evoluir. As pessoas só pensam em viver o momento. Não se preocupam com o futuro da humanidade e da natureza.” Marcos Oliveira Ritti, por e-mail l CUMPRIMENTOS “A Ecológico de 2015 traz perspectivas boas, palpáveis, de forma positiva e realista. Gostei desse tom, mostrando que não há nada impossível de ser feito: há várias soluções ao alcance de nossas mãos. É só querermos. Simples assim.” João Costa, por e-mail

“Sou assinante da Revista Ecológico porque tenho uma grande preocupação com as questões relativas à preservação do planeta e à sobrevivência da espécie humana. Considero-a a melhor publicação brasileira da área, assim como seu editor, Hiram Firmino, o responsável pelo início da humanização - leia-se ecologização -, no tratamento das pessoas com transtorno mental tanto em Minas quanto no Brasil, com sua obra ‘Nos Porões da Loucura’.”

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

EU ASSINO

Aloísio Andrade, psiquiatra homeopata e presidente do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas (Conead-MG)

ERRATA l Na matéria “Por um futuro melhor”, da edição 77 da Ecológico, há um equívoco na legenda da foto da página 62. A capital da Colômbia é Bogotá, e não Medellín, como foi afirmado.

FOTO: SON SALVADOR

1 HUMOR

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ECONECTADO

CRISTIANE MENDONÇA

ECO LINKS

l “O problema não

é mais só a falta d’água, mas sim, como limpar a água que ainda temos.” @DaniSuzuki – Dani Suzuki, atriz

FOTO: MAURICIO MERCER

TWITTANDO

l “Quando acordo, tento enxergar o

l “Ter

responsabilidade com a natureza. Não maltratar animais ou qualquer outro ser vivo. Carinho com o todo. Amor à vida.” @vanessadamata cantora

FOTO: REPRODUÇÃO

dia como um poeta surpreso com a natureza.” @danielamercury – Daniela Mercury, cantora

MUITO ALÉM DO RÓTULO Quer identificar quais substâncias estão nos alimentos que você consome? Isso já é possível de se fazer por meio do aplicativo Readditive. Gratuita para celulares, a ferramenta fornece, por meio da leitura de códigos QR e de barra, informações sobre os ingredientes listados nos rótulos de produtos, como refrigerantes, biscoitos etc., apontando seus benefícios e riscos para a saúde humana. Achou útil? O aplicativo está disponível para download no site da AppleStore.

FOTO: DIVULGAÇÃO

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SOU ECOLÓGICO O Facebook da Revista Ecológico é atualizado diariamente com notícias, fotos e vídeos sobre meio ambiente, sustentabilidade e inovação. Além de promoções mensais com sorteios de brindes e assinaturas. Se você ainda não curte a página, acesse www.facebook. com/souecologico e fique por dentro de tudo que acontece!

l “A ministra do Desenvolvimento

Social disse que seu desafio maior é lutar contra o preconceito contra os pobres. Ela tem razão.” @BresserPereira - Luiz Bresser Pereira, economista

l “Quanto vale um

africano? Qual a importância de um palestino? Por que somos tão parciais? O terror se tornou uma questão midiática?” @gondimricardo Ricardo Gondim, téologo

MAIS ACESSADA

l “Dado alarmante: a contribuição

FOTO: SONIA D’ALMEIDA

l “Banco Mundial

estima que quatro milhões de latinoamericanos vivam do lixo reciclado.” @axelgrael - Axel Grael, engenheiro florestal

FOTO: DIVULGAÇÃO FACEBOOK

do Brasil para o aquecimento global avançou 7,8% em 2013. Principal fator: desmatamento.” @fabio_feldmann, consultor e ambientalista

A vida do cantor Tim Maia ganhou as telas do cinema e da televisão, dando mais visibilidade à obra do astro falecido em 1998. Mas, como polêmica também era o “sobrenome” de Maia, não faltaram nas redes sociais comentários que envolvessem o nome dele e do rei Roberto Carlos, já que, antes da fama, eles cantaram juntos. Por isso, a seção “Memória Iluminada” que relata a vida de Tim foi a mais acessada em nosso site no mês de janeiro. Ficou curioso? Leia aqui: www.goo.gl/UCgkiu.

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PÁGINAS VERDES

“NÃO É CULPA DE

SÃO

” PEDRO Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

A

KIMURA: “Um país que não prioriza a água, que é um elemento essencial à vida, paga o preço cedo ou tarde”

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FOTO: WWF - BRASIL

pouca chuva que tem caído nos últimos dias em algumas partes do país tem sido muito celebrada pelos brasileiros. No entanto, ela ainda não é suficiente para aumentar o nível de água nos reservatórios do país, principalmente no Norte e no Sudeste, onde a situação é mais crítica. Na entrevista a seguir, o coordenador do “Programa Água para a Vida” do WWF-Brasil, Glauco Kimura, aponta vários fatores que desencadearam a crise hídrica que hoje assola o Brasil, como o desmatamento e a má gestão da água. Formado em Ciências Biológicas e mestre em Ecologia pela USP, ele alerta que o país não investiu adequadamente em recursos hídricos nos últimos anos e colhe as consequências disso. Em São Paulo, por exemplo, denuncia que, dos “seis sistemas de reservatórios que não estão atendendo às demandas, pelo menos a metade está poluída e assoreada”. Ele aponta também o risco de uma crise ainda maior no Rio de Janeiro, com a transposição do Rio Paraíba do Sul: “Transpor água entre estados é transpor também problemas. O Rio está começando a sentir os efeitos da estiagem. A transposição deve ser uma solução temporária, mas há risco de acelerar a crise hídrica lá”. Kimura também alertou sobre a passividade da população frente aos recentes problemas: “A crise já havia sido anunciada há dez anos. O cidadão brasileiro nunca esteve tão distante dos temas e das políticas ambientais”. Confira: O Brasil vivencia uma crise hídrica sem precedentes em sua história. Na sua opinião, quais são os fatores que mais contribuíram para isso? A crise já estava anunciada há pelo menos uma década. Ela é decorrência de um conjunto de fatores (leia no box da página 15), principalmente ligados à gestão e à negligência do tema na agenda política. O país avançou até o final da década de 1990 na questão

hídrica, quando foi sancionada a Política Nacional de Recursos Hídricos (também chamada de “Lei das Águas”) e criada a Agência Nacional das Águas (ANA) em 2000. Em 2006, o Brasil tornou-se o primeiro país da América Latina a ter uma legislação específica de recursos hídricos. Cerca de 200 comitês de bacia foram criados desde a promulgação da Lei das Águas em 1997. Porém, o que temos presenciado é um baixíssimo

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GLAUCO KIMURA

FOTO: DANIEL BELTRA / GREENPEACE

Coordenador do Programa Água para a Vida do WWF-Brasil nível de implementação dessa política, o enfraquecimento das agências de água dos estados e dos comitês de bacia. Especificamente no caso de São Paulo, muitos afirmam que o governo estadual cometeu graves erros em relação à gestão da água. Um deles seria a falta de interligação do Cantareira com outros sistemas. Se ela tivesse sido feita há mais tempo, o sistema não enfrentaria o risco de colapso. Que medidas emergenciais poderiam contribuir para reverter essa situação no estado? A respeito da interligação do Cantareira com outros sistemas, vale lembrar que o próprio sistema já é uma transposição de uma bacia vizinha – a do Piracicaba-Capivari-Jundiaí (PCJ) –, distante mais de 100 km da capital paulista. Ela já “empresta” água para a região metropolitana há mais de 30 anos. Agora que o Cantareira está à beira de um colapso, a solução é “solicitar empréstimo” de outras bacias? Não dá mais para se comportar como aquela família que gasta mais do que pode e pede dinheiro emprestado cada vez mais caro e mais longe. É preciso rever a forma como essa família lida com dinheiro, que não é sustentável. Essa crise criou uma oportunidade para lidarmos melhor com nossos recursos e admitir que eles são finitos e escassos. Portanto, neste momento, até que as obras do sistema São Lourenço e Paraíba do Sul estejam prontas, é preciso diminuir o consumo e continuar multando quem gasta mais, assim como bonificar quem economiza. Além disso, a Sabesp está considerando utilizar a terceira cota do volume morto, que adicionaria 41 milhões de metros cúbicos ao sistema... A ANA autorizou, recentemente,

“As matas ciliares funcionam como barreiras naturais de proteção aos rios e corpos d'água. Diminuí-las foi um grande equívoco.”

a ligação do Rio Paraíba do Sul ao Sistema Cantareira. O rio já abastece 57 municípios fluminenses. Nesse momento de crise, a transposição de suas águas não comprometeria a dinâmica hídrica das fontes que o alimentam? Certamente, mas é uma situação delicada. O Rio de Janeiro é totalmente dependente do Sistema Guandu, que é uma transposição do Paraíba do Sul. Na verdade, transpor água entre estados é transpor também problemas. A escassez de água atingiu não somente São Paulo, mas outras metrópoles do Sudeste, incluindo o Rio, que está começando a sentir os efeitos da estiagem. Essa deve ser uma solução temporária, sob o risco de acelerar a crise hídrica lá. Tal transposição deve durar um curto período de tempo até que as obras de outros sistemas estejam concluídas. O setor industrial está entre os maiores consumidores de água

e também entre os que mais poluem os rios do país. Por que não se fala em racionamento para as empresas? O que falta para que elas deem mais valor tanto para a água que captam quanto para a que descartam de suas instalações e processos? O racionamento para empresas deve ser sim considerado neste momento de crise, porém não é tão simples quanto racionar água nas casas. Geralmente as empresas possuem outorga (licença) de uso para um determinado volume do recurso natural, que foi emitida pelo órgão regulador de água. O processo deve envolver o órgão regulador para que as outorgas sejam revistas caso a caso e até mesmo suspensas temporariamente, se for o caso. Também cabe a esse órgão fiscalizar os grandes usuários empresariais para avaliar se o volume outorgado está sendo fielmente utilizado. A fiscalização é ineficiente na maioria dos casos e a outorga também é concedida sem informações. O aspecto que

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GLAUCO KIMURA

Coordenador do Programa Água para a Vida do WWF-Brasil

PÁGINAS VERDES

falta para que as empresas passem a ser mais eficientes em relação à água não é apenas fiscalização, mas incentivos. O WWF vem trabalhando com várias outras organizações num processo de certificação de boas práticas do uso da água no setor empresarial, a “Alliance for Water Stewardship” (AWS). A versão 1.0 já está sendo testada com sucesso, porém é preciso maiores esforços para ampliar e dar escala ao selo AWS. Como essa metodologia poderia contribuir nesse sentido? Em que ela é baseada? O WWF-Brasil, por meio de Water Stewardship, atua com governos e empresas para que eles conheçam suas pegadas e tornem-se melhores administradores de água, trabalhando em conjunto para melhor gerir esse recurso essencial. Praticamente todos os setores de negócios dependem da água, no entanto, vários segmentos de mercado, como supermercados, fabricantes de roupas, de microchip, enfim, estão apenas começando a entender o que este elemento, do qual a vida é gerada, significa para eles, seus lucros e sua viabilidade a longo prazo. Stewardship significa ter uma atitude responsável, realizar e promover a gestão sustentável dos recursos de água doce. Essa metodologia contribui em propor iniciativas de engajamento empresarial em torno da água: consumo responsável, cálculos da pegada hídrica, dos riscos atuais e futuros nas bacias hidrográficas e atuação para reduzi-los ou mitigálos. Além de projetos de proteção das bacias hidrográficas. Poderia citar alguma experiência bem-sucedida de outro país que vivenciou uma crise hídrica e conseguiu

revertê-la? Que estratégias utilizaram? Há bons exemplos, como o da cidade de Nova York, que adotou uma política de proteção do cinturão verde no entorno da cidade. Eles compensaram fazendeiros que tinham nascentes em suas propriedades, resultando numa economia anual expressiva, especificamente reduzindo de 6 a 8 bilhões de dólares em tratamento de água para 1 a 1,5 bilhão de dólares em 10 anos com água pura direto da fonte para a população. Esse mesmo modelo está sendo desenvolvido e adotado pela ANA aqui no país por meio do Programa “Produtor de Água”. Ele já está sendo implementado por meio de quase 20 experiências Brasil afora e deve ser replicado em escala, principalmente no entorno das grandes regiões metropolitanas brasileiras. Cerca de 95% dos brasileiros conhecem métodos para economizar água. Por que ainda há tanto desperdício? Por várias razões. A primeira é que o Brasil é detentor de 12% da água doce superficial do planeta e o país tem dimensões continentais. Isso acabou criando uma cultura da abundância e desperdício no cidadão brasileiro. Muitas pessoas acham que a água nunca irá acabar, pois o regime de chuvas é abundante. Porém, como estamos vendo, a água pode se tornar escassa localmente. Também é necessário conceder mais incentivos para quem economiza. Não apenas em momentos de crise, mas de forma constante. A multa é um ótimo instrumento regulador, porém deve ser usado em momentos de crise, como o que estamos vivendo agora. Já é possível vislumbrar os

impactos ambientais do novo Código Florestal nos recursos hídricos? Sim, com a redução da faixa de matas ciliares ao redor de rios, corpos d’água e outros reservatórios prevista no novo Código, eles estarão mais vulneráveis à poluição, erosão e assoreamento. Um reservatório assoreado perde água por evaporação e diminui sua vida útil. Portanto, gasta-se muito mais dinheiro para despoluí-lo e recuperá-lo. As matas ciliares funcionam como barreiras naturais de proteção aos rios e corpos d’água Diminuí-las foi um grande equívoco. Além disso, a desobrigação de proteção de vegetação ao redor de nascentes intermitentes (que secam em parte do ano) foi um equívoco ainda maior. Com essa grave seca, a pior em 85 anos no Sudeste, muitas nascentes que não eram intermitentes secaram. E, nesse caso, desmatá-las passou a ser legal, de acordo com o novo Código. A proteção de nascentes deveria ser totalmente obrigatória, haja vista que são as fontes de água dos rios e reservatórios. Está havendo um grande equívoco e que deve ser corrigido urgentemente. O novo Código Florestal irá agravar a crise hídrica atual e permitir que novas crises ocorram num futuro próximo. Nesse momento de tensão hídrica, que conselho sustentável deixaria para nossos leitores? É preciso se informar mais sobre o tema. A crise hídrica não é culpa de São Pedro, e sim de todos nós (governos, sociedade e empresas). Portanto, somos parte da solução também. A proteção das nascentes e mananciais é absolutamente essencial. Devemos protegê-los e cobrar que sejam protegidos.

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FOTO: REPRODUÇÃO

OS 5 FATORES QUE DESENCADEARAM A CRISE PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DEFICIENTES “Não há a integração dos planos de bacia e de recursos hídricos com os de ordenamento territorial, de geração de energia hidrelétrica e outras políticas e instrumentos. Por exemplo: o Plano Diretor de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista apontava a necessidade de investimentos entre 4 e 10 bilhões de reais em novos mananciais, meios de captação e transferência de água em cinco anos (2008 a 2013). Dois projetos em curto prazo atrasaram e só ficarão prontos em 2018 (caso do sistema produtor de águas São Lourenço).”

repentino, resultando em enchentes. As matas ciliares servem como ‘filtros’ para barrar contaminantes e sedimentos que poluem os rios. Sem elas, os rios ficam contaminados e os reservatórios assoreados. Essa relação floresta-água é desconhecida pela população e pelos tomadores de decisão. Exemplo disso é o novo Código Florestal, que reduziu a faixa de proteção de matas ciliares nos rios e corpos d’água para apenas 15 metros. E São Paulo, no meio da pior crise hídrica da história, está prestes a regulamentar a lei para o estado, o que irá contribuir para o agravamento do problema.”

FALTA DE INVESTIMENTOS “O país não investiu adequadamente em segurança hídrica. Em 2011, a ANA publicou o ‘Atlas de Abastecimento Urbano’, que previa investimentos da ordem de R$ 22 bilhões até 2015 para garantir abastecimento de água em 55% dos municípios brasileiros que já estavam sob risco. Esses investimentos não ocorreram e serviram para financiar a Copa do Mundo de 2014. Um país que não prioriza a água, que é um elemento essencial à vida, paga o preço cedo ou tarde. O estado de São Paulo, por exemplo, é responsável por um terço do PIB brasileiro e recebeu em 2013 mais de R$ 12 bilhões do orçamento federal, mas não investiu nem 10% do seu orçamento anual em segurança hídrica.”

MUDANÇAS CLIMÁTICAS “Estamos preparados para enfrentar os extremos climáticos que estão acontecendo e vão continuar a acontecer? O “Plano Diretor de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista” trazia uma forte recomendação a respeito do preparo para enfrentar períodos de seca, mas faltaram políticas públicas de prevenção nesse sentido. Os gestores estão considerando a construção de novos reservatórios como a solução para combater os efeitos do aquecimento global e uma forma de aumentar a oferta de água. No entanto, essa solução, que pode parecer efetiva em curto prazo, é temerária no longo. No caso de São Paulo, são seis sistemas de reservatórios que não estão atendendo às demandas, pois pelo menos a metade está poluída e assoreada. É preciso rever o modelo de oferta de água de forma a incorporar a proteção das fontes de água, suas nascentes e olhos d’água.”

DESMATAMENTO “Hoje, mais de 80% da população brasileira vive nas cidades e o desmatamento tem ocorrido com grande intensidade e velocidade. As bacias que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo perderam 70% da sua cobertura florestal nas últimas décadas. As florestas servem como ‘esponjas’, armazenando água no solo e retroalimentando os aquíferos. Estes, por sua vez, reabastecem as nascentes e os reservatórios. Ou seja, a floresta tem papel fundamental no suprimento de água. Como as florestas estão sendo substituídas pelas cidades, o solo vai ficando impermeabilizado, aumentando a evaporação da água ou seu escoamento

DESCONHECIMENTO DO PÚBLICO SOBRE O TEMA “O cidadão nunca esteve tão distante dos temas e das políticas ambientais. As pesquisas de opinião que realizamos a cada quatro anos com o Ibope mostram que o cidadão desconhece o nexo água-florestas-cidades. Apenas 1% dos entrevistados relaciona o problema de água com desmatamento. Mais de 80% nunca ouviram falar da Agência Nacional das Águas, dos comitês de bacia e da Lei de Águas. Isso é um grave problema a ser enfrentado.” 

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FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK

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GENTE ECOLÓGICA

“O mundo tornou-se perigoso porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de se dominarem.”

FOTO: STEFANO MARTINI

ALBERT SCHWEITZER, filósofo e médico alemão

FOTO: UNIVERSITÀ REGGIO CALABRIA

BABY CONSUELO, cantora, durante show no Circo Voador, no Rio de Janeiro, para pessoas que fumavam maconha perto do palco e, depois do sermão, pararam

“Justificar tragédias como vontade divina tira da gente a responsabilidade por nossas escolhas.”

“Torna-te quem tu és: sou um jatobá, a árvore 'faxineira' do ar, que sequestra o carbono.” ROSANA JATOBÁ, jornalista, em entrevista sobre autoconhecimento e sustentabilidade ao UOL

“Foi crime bárbaro. Inaceitável. As pessoas querem massacrar um tipo de humor e acabam fazendo o mundo se virar contra elas. Eles deram foi mais força aos cartunistas.”

FOTO: DIVULGAÇÃO

“Galera, por favor, afasta de mim esta fumaça! Não dá para ficar queimando neurônio.”

RENATO ARAGÃO, humorista, sobre o atentado ao jornal satírico francês “Charlie Hebdo”

UMBERTO ECO, filósofo e escritor 18  ECOLÓGICO | FEVEREIRO DE 2015

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“Os animais existem por suas próprias razões. Eles não foram feitos para humanos, assim como negros não foram feitos para brancos ou mulheres para homens.” ALICE WALKER, escritora norte-americana

FOTO: NASA

LOUIS PASTEUR, cientista francês e exdiretor-geral do Instituto de Pesquisas Científicas da Universidade de Paris

BUZZ ALDRIN, segundo astronauta norte-americano a pisar no satélite natural em 1969

FOTO: DIVULGAÇÃO

SINARA MEIRELLES É alta a cotação da nova presidente da Copasa que, na primeira gestão de Pimentel na PBH, foi superintendente da SLU e integrante do Conselho Municipal de Meio Ambiente. A ministra Izabella Teixeira disse ter ficado muito impressionada com a determinação dela durante encontro recente em Brasília (DF).

“Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima.”

“Minha espiritualidade mudou após comungar na Lua.”

GERALDO ALCKMIN O governador de São Paulo sancionou a Lei 15.684, que institui o Programa de Regularização Ambiental (PRA) e visa recuperar áreas desmatadas ilegalmente ou além do limite estabelecido pelo novo Código Florestal. Pela lei, os produtores devem aderir ao programa logo após fazerem o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e têm até 2017 para apresentar um projeto de regeneração, recomposição ou compensação ambiental.

ALEXANDRE PONI O Verdemar, que ele administra em Nova Lima, é o primeiro supermercado da América Latina a utilizar somente gás carbônico (CO2) comprimido para alimentar geladeiras e aparelhos de arcondicionado, proporcionando 20% de economia de água e zero de emissão de poluentes.

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: VIRGINIA DEBOLT

CAROLINA OLIVEIRA, presidente do Servas, à Revista Viver

CRESCENDO

FOTO: RENATO COBUCCI / IMPRENSA MG

FOTO: CARLOS ALBERTO / IMPRENSA MG

“Quanto mais eu for a mesma, mais serei feliz.”

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SOU ECOLÓGICO

FOTO: BRENO PATARÓ

O governador de Minas, Fernando Pimentel, conquistou o público presente à concorrida posse do presidente da Fiemg, Olavo Machado Júnior, como novo dirigente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas. Citando uma lição de vida passada por um ministro chinês, de quem se tornou amigo enquanto esteve à frente da pasta de Desenvolvimento, Indústria e Comércio do governo Dilma, Pimentel enfatizou que o Brasil não tem problemas graves para resolver. Mas, sim, desafios de mesma dimensão. “Quem tem problemas, ele me ensinou, são países como a China, que não tem autossuficiência nem em alimentos nem em energia para atender à sua imensa população. E, com isso, depende da economia, parceria e apoio comercial de outros, e não de si mesmo” – enfatizou o governador. “Eu passei a ser otimista depois que ouvi isso. E ele está certo. A realidade do Brasil, com tantos recursos naturais e fontes de energia disponíveis, é diferente da realidade da China. Ela confirma uma série permanente de desafios que a nossa sociedade vem resolvendo ao longo de sua história política e econômica. É esse o sentimento que também me move agora, à frente do governo de Minas. E é com esse otimismo que convido a todos para resolvermos juntos tudo o que tiver de ser enfrentado” – concluiu Pimentel, com a mesma e aplaudida convicção. Convenceu.

MARCIO LACERDA ladeado por Laudemar Aguiar (à esq.), secretário de Relações Internacionais da Prefeitura do Rio, e Ciro Biderman, da SPTrans: gestão sustentável e inclusiva

FOTO: WELLINGTON PEDRO / IMPRENSA MG

PIMENTEL OTIMISTA

FERNANDO PIMENTEL, acompanhado de Olavo Machado: convicção transmitida

LACERDA SUSTENTÁVEL

BH recebeu, no último dia 13, o Prêmio “Transporte Sustentável 2015”. Concedido pelo Instituto de Transporte e Desenvolvimento desde 2009, ele reconhece as experiências bem-sucedidas na área de mobilidade urbana, por meio de programas ousados e comprometidos com a melhoria do transporte público. Ou seja, avalia a segurança e o acesso de ciclistas e pedestres no espaço urbano e a redução da emissão de gases do efeito estufa. A solenidade da premiação foi realizada durante a "Conferência do Conselho de Pesquisas em Transportes", em Washington (EUA), com a presença de 10 mil participantes de diversos países. Pela primeira vez, três cidades brasileiras receberam a condecoração. Além da capital mineira, homenageada pela implantação do BRT Move e das ciclovias, Rio de Janeiro e São Paulo também foram premiadas. “Estamos implantando um novo modelo de políticas públicas de transportes no Brasil mais sustentáveis e mais inclusivas”, discursou Lacerda, que já recebeu vários outros prêmios internacionais na área, desde que incorporou a causa do “ambientalmente correto e socialmente justo” em sua administração.

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O Palácio do Planalto confirmou, em plena lua cheia de janeiro, que Izabella Teixeira seguirá à frente do Ministério do Meio Ambiente, no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Com perfil técnico e sem qualquer filiação partidária, Izabella passou a comandar a pasta ainda no Governo Lula, em abril de 2010, quando o então ministro Carlos Minc deixou o cargo para concorrer a deputado estadual do Rio de Janeiro. Natural de Brasília, Izabella, 53 anos, é formada em Biologia pela Universidade de Brasília (UnB), com mestrado em Planejamento Energético e doutorado em Planejamento Ambiental. Funcionária de carreira do Ibama desde 1984, após mudar-se para o Rio ocupou a Superintendência de Estudos Ambientais, foi coordenadora do Programa de Despoluição da Baía da Guanabara e subsecretária de Meio Ambiente no governo estadual. Em 2013, veio o reconhecimento internacional. Graças ao seu trabalho para reduzir o desmatamento da Amazônia, ela recebeu o “Prêmio Campeões da Terra”, na categoria "Liderança Política", entregue pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Um ano antes, já havia sido nomeada pela ONU como integrante do “Painel de Alto Nível para a Agenda de Desenvolvimento das Nações Unidas pós-2015”, com base nos acordos alcançados na “Conferência Mundial Rio+20" e nos “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”. Continuar no MMA não era o que Izabella

FOTO: DIVULGAÇÃO / PNUMA

O SEGUNDO TEMPO DE IZABELLA TEIXEIRA

RECONHECIMENTO INTERNACIONAL: em 2013, a ministra recebeu o "Prêmio Campeões da Terra", da ONU, por contribuir para a redução do desmatamento na Amazônia

queria. Mas, militante e fiel escudeira de Dilma, ela não titubeou. Aceitou voltar à luta de sempre (leia mais sobre os desafios da ministra neste novo mandato na página 34). Ganhou a questão ambiental, que, como ela, é suprapartidária. Resta saber se o novo ministro de Comunicação, Ricardo Berzoini, que acumula a Secretaria de Comunicação (Secom), irá ajudar o MMA, tradicionalmente com o pior dos orçamentos, a criar campanhas publicitárias de utilidade pública, incentivando os brasileiros a ajudarem Izabella na sua difícil tarefa e solitária missão reassumidas: preservar, na contramão de muitos de seus colegas de governo, a natureza. Mais: a biodiversidade cada dia mais ameaçada pelo processo de urbanização antiecológica de nossas cidades, onde 95% dos brasileiros viverão até 2030.

FOTO: MÁRIO MIRANDA

PRECON TRICAMPEÃ

MARCELO MIRANDA: “Estamos no caminho certo”

Ainda repercute nacionalmente a mais recente conquista da Precon Engenharia, que foi agraciada com o Prêmio ECO pelo terceiro ano consecutivo. A cerimônia, promovida pela Câmara Americana de Comércio (Ancham-Brasil), ocorreu no apagar das luzes de 2014, em São Paulo, onde a empresa mineira foi congratulada em duas modalidades: “Estratégia, Liderança e Inovação” e “Práticas de Sustentabilidade”. Na última, o destaque maior ficou para o seu Sistema de Habitação (SHP), hoje um modelo para o país de gestão e construção de prédios mais rápida, barata e ambientalmente limpa, que descarta 80% menos recursos do que o método artesanal de juntar tijolo por tijolo com argamassa. “Estamos no caminho certo. A sustentabilidade, mais industrialização e inovação, constroem o nosso DNA”, comemorou Marcelo Miranda, CEO da Precon Engenharia.

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SOU ECOLÓGICO FOTO: ARQUIVO PESSOAL

SION RECONHECIDO

Alexandre Sion entrou 2015 acumulando mais prêmios. Desta vez, como um dos melhores advogados do Brasil. O reconhecimento foi feito pela publicação norte-americana “The Best Lawyers International”, que avalia os profissionais líderes em seus segmentos. Com vivência jurídica em empreendimentos de mineração, energia, construção civil, óleo & gás, construção offshore, logística e siderurgia, ele já tinha conquistado vários outros prêmios nos últimos três anos. Em 2012 e 2014, a Sion Advogados, sediada em BH, foi apontada pela publicação “Análise Advocacia 500” como um dos 15 escritórios jurídicos mais admirados do país na área ambiental. Por dois anos consecutivos (2014 e 2015) Alexandre foi agraciado com o “Chambers Latin American”, nas categorias “Advogados Notáveis” e “Líderes de Advocacia”; sem contar o “M&A Awards”, conquistado no ano passado, em que a Sion Advogados foi premiada como a “Banca do Ano em Fusões e Aquisições”.

Sustentabilidade é a nossa pauta!

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FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

HÉLCIO GUERRA: novo reconhecimento

COM MAIS de 20 anos de vivência jurídica, Alexandre Sion é um dos advogados mais premiados do país

ANGLOGOLD ECOLÓGICA

Apesar da crise, a mineradora AngloGold Ashanti virou o ano em festa: foi escolhida pelo “Guia Exame de Sustentabilidade” como uma das empresas mais sustentáveis do setor no país. Esse foi o reconhecimento público mais recente da empresa, guiada pelo princípio da inovação, respeito ao meio ambiente e parcerias com as comunidades no seu entorno. Somente em 2013, ela investiu mais de R$ 27 milhões em projetos socioambientais. “São essas diretrizes que nos permitem realizar investimentos nessas comunidades de forma mais consistente e coordenada, para que elas também alcancem os seus objetivos de desenvolvimento” – festejou Hélcio Guerra, vice-presidente sênior Américas. 

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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

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ditado “das crises nascem as soluções” pode ser aplicado à crise da água que assola Minas. Em entrevista coletiva, o governador eleito Fernando Pimentel anunciou medidas relativas à estrutura de abastecimento e consumo que são, sem dúvida, necessárias em curto prazo. Mas que, no máximo, amenizarão a crise, porque o risco que corremos é muito maior do que não ter água em casa: é ficarmos sem ela nos rios devido ao mau uso do solo, ao desmatamento e à poluição. Provavelmente nos relatos que o governador recebeu da Coordenadoria de Defesa Civil e da Copasa não está mencionado que praticamente todas as bacias dos cursos d’água, com suas respectivas áreas de recarga e nascentes que abastecem a barragem do Rio Manso, estão desprotegidas, sem cobertura vegetal. Que em Várzea das Flores, a especulação imobiliária e as invasões correm soltas comendo um pedaço da área de proteção da barragem a cada ano. Uma das medidas mencionadas por ele na entrevista foi transpor água do Rio Paraopeba para a barragem do Rio Manso. Se a possibilidade for acompanhada de estudos de impacto ambiental, técnicos e sérios, como determina a lei, eles dirão o que dá para ser visto por qualquer leigo: o Paraopeba e seus tributários também estão morrendo, assolados pela ocupação desordenada do solo, incêndios, pisoteio de gado, minerações irresponsáveis, despejo de esgoto e lixo e desmatamento. E dirão que a transposição pode encher novamente a barragem, por algum tempo. Até o dia em que o Paraopeba se tornar um filete de água suja. Segundo a Copasa, 80% da água que ela vende corresponde ao consumo residencial. A indústria responde por cerca de 5%, pois a maior parte das empresas têm captação e tratamento próprios. Pela lei, na falta de água, a prioridade é o abastecimento humano. Mas, em entrevista à imprensa, a presidente da Copasa, Sinara Meirelles, disse que a empresa está avaliando a possibilidade de sobretaxar o excesso de consumo, medida que seria adotada somente em último caso. A afirmativa é curiosa, porque, se há excesso, há possibilidade de economia e desperdício. O desper-

FOTO: ROOSEWELT PINHEIRO / ABR

S.O.S. AO GOVERNADOR

FERNANDO PIMENTEL: ele vai precisar de coragem para enxergar e fazer o que os rios sempre pediram e nunca foram ouvidos

dício, inclusive, deve ser banido com crise ou sem crise e a forma mais efetiva é encarecê-lo. Talvez as contas reais que a Copasa esteja fazendo refiram-se aos prejuízos financeiros que teria com a medida, pois muita gente passaria a economizar água para economizar dinheiro. E o lucro dela diminuiria. Assim, a Copasa pode ficar num beco, cuja única saída (em longo prazo) será fazer o que nunca fez de forma séria: proteger seus mananciais para garantir oferta de água capaz de continuar permitindo o desperdício e garantindo seus lucros. O governo acabou de criar um Grupo de Trabalho (GT), composto por diversas secretarias e aberto à participação da sociedade mediante solicitação, para estudar e propor medidas. Entre seus objetivos, consta “debater medidas necessárias à preservação e recuperação dos recursos hídricos”. O GT não terá muito trabalho. As medidas são óbvias e há muito vêm sendo propostas por ambientalistas “chatos”, técnicos e cientistas. Trabalho, ou melhor, coragem, terá de ter o governador para implementá-las, porque há interesses a serem contrariados!  (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).

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Os adesivos também podem ser adquiridos* gratuitamente no Setor de Assinaturas da Revista Ecológico. Para mais informações, ligue (31) 3481-7755 ou envie e-mail para alessandra.cristina@revistaecologico.com.br (*) Enquanto durar o estoque.

FOTO: MARIUSZ BLACH

Clubes Unidos pelo Planeta

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Campanha “Clubes Unidos pelo Planeta”, de democratização da informação ambiental, une as torcidas do América, Atlético e Cruzeiro em uma nova cultura de paz e amor à natureza Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

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crise hídrica está aí para comprovar. Não existe causa maior, apartidária, urgente e necessária para a humanidade abraçar, até mesmo das paixões futebolísticas, que defender e proteger a natureza e o meio ambiente que mantêm a vida no planeta. Se ainda não estamos ganhando o jogo contra o “Degradação Mundial Futebol Clube”, é porque ainda falta informação e educação ambiental às respectivas torcidas sobre o motivo desse placar negativo continuar se ampliando. Foi pensando nisso que, durante todo o ano passado, sem alarde para não ferir a rivalidade de suas torcidas, a Revista Ecológico procurou as diretorias dos três principais clubes mineiros para propor uma parceria. A proposta era colocar a ecologia em campo. Muito simples, foi aceita por todos os dirigentes. Os clubes cederam suas marcas históricas e amadas pelos torcedores para integrar a mensagem associada à proposta da nossa publicação. Com isso, foram confeccionados adesivos, que serão distribuídos gratuitamente em dias de jogos: “Sou América. Sou Ecológico”, “Sou Atlético. Sou Ecológico” e “Sou Cruzeiro. Sou Ecológico”.

EDIÇÃO COMEMORATIVA sobre a sustentabilidade do novo Mineirão

Já a nossa contrapartida, pra não dizer gratidão pela confiança, é recíproca e objetiva. Ao acessar o souecologico.com, o torcedor terá acesso para ler todo o conteúdo da Revista Ecológico, a mais respeitada e desejada publicação sobre Sustentabilidade, Responsabilidade Social e Educação Ambiental hoje na grande mídia impressa e digital brasileira. Feita em Minas, sua circulação também é ecológica: em todas as luas cheias, nas bancas ou via assinatura.

LANÇAMENTO VERDE O projeto “Clubes Unidos pelo Planeta” teve início experimental após o final do Brasileirão e da Copa Brasil 2014. O lançamento foi no jogo América e Boa, na Arena Independência, com os jogadores do Coelho entrando festivamente em campo com a faixa “Sou América. Sou Ecológico” e a exibição de mensagens no telão. A segunda vez em que a campanha entrou no gramado foi com o Cruzeiro, em setembro passado, no seu jogo contra o Atlético. Foi uma divulgação discreta e rápida, uma vez que havia o temor de, mesmo pequena, a torcida do Galo não gostar de ver somente o Raposão ecologicamente paramentado e em festa no campo. Só falta a nova direção do Atlético aderir também à campanha. Procurado pela Ecológico, às vésperas de sua substituição, o ex-presidente do Galo, Alexandre Kalil, não apenas mandou fazer e assinou um contrato de parceria, como declarou à sua maneira, curto e grosso: “Se é bom pra natureza, é bom pro Atlético. Estamos juntos!” A conferir, agora, com o novo presidente do Galo, Daniel Nepomuceno.

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Clubes Unidos pelo Planeta

O recado verde e de esperança do América... No Independência e no Mineirão, verdes e celestes, os jogadores de América e Cruzeiro deram o pontapé inicial para a conscientização e educação ambiental de suas torcidas Déa Januzzi

redacao@revistaecologico.com.br

A

Revista Ecológico entrou e continua em campo para convocar os clubes mineiros a darem um exemplo para o país. E formarem uma seleção de jogadores e ídolos, mais amados ainda por suas torcidas, na defesa da natureza. O objetivo é conseguir uma goleada nos atentados contra o meio ambiente, conscientizando cada torcedor de que é preciso unir força e jogar limpo diante da realidade de um adversário internacional que se anuncia invencível: as mudanças climáticas, vide o calor infernal cada dia maior nos nossos estádios cimentados, sem árvores nem sombras. O primeiro a vestir a camisa pela causa ecológica foi o jogador Obina, de 31 anos, ex-atacante do América Futebol Clube, time que adotou o verde como cor oficial. “Quem nasce num lugar como a

Ilha de Itaparica (BA), na Bahia, como é o meu caso, já vem ao mundo com essa consciência ecológica, pois na casa de cada nativo há muitas espécies de árvores que precisam de cuidado permanente. Isso faz com que cada morador estimule outras pessoas a proteger esse paraíso natural”, orgulha-se. Para Obina, que recentemente se desligou do time e mantém sua posição de defensor da causa ambiental, a campanha da Revista Ecológico é um bom exemplo para crianças e adolescentes, e até mesmo para quem não tem ainda essa consciência ambiental. “É preciso olhar o nosso ambiente e o mundo em que vivemos de um outro jeito. Como algo maior, que nos beneficia e nos abriga, e não para destruir. Nas cidades, há vários meios de poluição, como os carros, os prédios, o

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FOTOS: SANAKAN

CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA: América, Atlético e Cruzeiro se irmanam pela causa maior da sustentabilidade

asfalto. E a gente ainda vai poluir mais? Todos precisam da natureza, que é muito importante para a vida no planeta, e essa iniciativa corrobora isso.” E completou: “Quando a gente precisa de uma sombra vai para debaixo de uma árvore, coloca uma rede e dá uma descansada. É muito agradável e relaxante, pois onde tem árvore tem sombra também. Então, para quê cortar, poluir, destruir?” Pai de dois filhos, uma menina de sete anos e um garoto de quase dois, o atacante sabe o quanto a natureza traz benefícios para as futuras gerações. “Acredito que todos nós, jogadores, e os torcedores que são pais querem um ambiente limpo e saudável para os filhos. Para isso, devemos dar o exemplo

para eles desde cedo. São coisas simples, desde economizar água até descartar o lixo no lugar certo, para que não venham a poluir os rios, os mares, as nossas cidades.” E, depois de ressaltar a importância de a torcida abraçar a causa ecológica, ele vestiu a camisa da campanha e, categórico, repetiu: “Eu visto essa camisa. Sou Ecológico”. COMO COMEÇOU Tarde ensolarada de sábado, Arena do Independência, jogo do América contra o Boa Esporte. Os jogadores entraram em campo segurando a faixa “Clubes Unidos pelo Planeta”. A torcida, vibrante, aplaude a iniciativa. E mostra que está disposta a participar também. Em uma das fileiras da arquibancada está Alexandre Arantes,

de 50 anos, gerente do “Onda Verde”, programa do sócio torcedor do time. O apoio à iniciativa da Revista Ecológico foi imediata: “Vejo com bons olhos, pois é uma causa nobre a que o América está ligado, já que a nossa cor é verde”. Professor universitário, Arantes diz que faz parte de uma família com consciência ecológica. “Minha mulher também é professora universitária e meu irmão engenheiro sanitário na Universidade de São Carlos, em São Paulo. Agimos sempre em defesa do planeta, até quando estamos viajando. O meu filho, de 17 anos, está sempre em contato com a natureza. Ajudamos a limpar o meio ambiente, seja recolhendo o lixo, lavando e separando-o para a coleta seletiva seja catando garrafas e copos joga-

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FOTO: SANAKAN

Clubes Unidos pelo Planeta

O ENGAJAMENTO do artilheiro Obina: “Para quê cortar árvores, poluir, destruir?”

dos na areia ou nas pedras.” Além disso, ele garante que em casa só usa as lâmpadas ecologicamente corretas e orienta todos sobre o desperdício de água. Como se fosse o gol do América que não veio no jogo, Arantes comemorou quando a faixa da campanha foi levada até o gramado verde. Tirou fotos com o celular para mostrar à família. “Participar da campanha é um gol de placa”, afirmou. O pequeno Jhansey, de nove anos, aluno do Colégio Tiradentes, foi uma das crianças que entraram junto com os jogadores que carregaram a faixa. Seus olhos brilhavam de alegria. Mesmo com pou28  ECOLÓGICO | FEVEREIRO DE 2015

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ca idade, mostrou que as crianças estão bem conscientes de seu papel como cidadão. E mandou seu recado: “Adoro as árvores e os animais, mas muita gente ainda nem liga para a natureza. O futuro presidente deveria baixar mais decretos em defesa do meio ambiente!” Sob um calor de 30º graus e o sol que brilhava no céu da capital mineira, estava o mascote do América, com sua roupa de pelúcia. Depois de tirar a “cabeça” do coelho, símbolo do time, ele revelou seu nome de anjo: Rafael, de 24 anos. E foi taxativo: “Sem a preservação da vida no planeta, não haverá jogadores nem times de futebol.” Da sua parte, o mascote do Amé-

rica diz que faz a coleta seletiva do lixo em casa e “indiretamente contribui para a salvação dos rios e dos mares”. Na arquibancada, os irmãos Thales e Thalita Maciel, de 36 e 25 anos, respectivamente, também aprovaram a postura do América de golear a devastação da natureza: “É válida e, muito interessante essa iniciativa, pois induz os torcedores a preservarem o planeta”. Em termos de consciência ambiental, os torcedores e jogadores americanos mostraram que o placar não poderia ser outro: nesse campo, a natureza sempre estará em primeiro lugar. E é impossível vendê-la.

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FOTO: SANAKAN

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Clubes Unidos pelo Planeta

...e o azul da cor do mar do Cruzeiro

FOTO: REPRODUÇÃO CRUZEIRO

Ex-campeões e ídolos do time celeste afirmam terem se tornado ecológicos porque “o Brasil está em falta de bons exemplos”

Nesta batalha não há adversários. Nem violência nem faltas, muito menos cartão vermelho. Todos os times unidos pelo planeta, por um mundo sustentável, em que a natureza dá de goleada. No Centro de Treinamento do Cruzeiro Esporte Clube, na Região da Pampulha, antes de se despedirem da torcida celeste, os dois meias e ex-ídolos Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro deixaram seus depoimentos

ÉVERTON RIBEIRO e seu recado: "O poder de um ídolo é dar o exemplo"

pela causa que hoje mais preocupa a humanidade: a preservação da natureza. Se pudesse, Goulart, de 23 anos, faria outra tatuagem no braço esquerdo: “Salvem o planeta!”, entre as muitas que ele já tem, inclusive, com o nome de Diane, sua mulher, com quem está casado há cinco anos. Olha aí a ecologia do amor: é para ela que o jogador dedica todos os gols marcados, além de beijar a aliança e

fazer o tradicional coração com as mãos para homenageá-la. Nascido em São José dos Campos (SP), o artilheiro do campeonato passado, também reverencia a natureza: “Eu visto essa camisa. Sou Ecológico”, repetiu ele, como se fosse um mantra. Confessou que exemplos como esse estão em falta atualmente – e se engaja, com naturalidade, na campanha da Revista Ecológico. Como ídolo de um time cam-

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FOTOS: MARCOS TAKAMATSU

NO PEITO e nas costas, de cada jogador e torcedor celeste: a natureza em primeiro lugar

peão, Ricardo Goulart sabe que um jogador de futebol pode “mover montanhas” e despertar a consciência dos torcedores. Ele confessa não ter um momento especial junto à natureza há algum tempo, porque todas as vezes que tem uma folga, além dos treinamentos e da concentração, corre para junto de sua família em São Paulo. Mas sonha em conhecer a Amazônia e estar perto de uma natureza exuberante. Sem filhos, Goulart disse querer um “mundo correto, ético e sustentável para as futuras gerações”. Reconhece que um ídolo não pode ficar apenas nas palavras, “tem que colocar a sua influência junto à torcida em prática”. E completou, antes de se despedir no Mineirão: “Isso é educação ambiental”. RICARDO GOULART em seu adeus: “Eu também quero um mundo sustentável”

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ECOLOGIZAR A CAMISA Já seu ex-colega Éverton Ribeiro, de 25 anos, casado há um ano com Marília Nery, ainda não tem filhos, mas acha que um jogador de futebol pode fazer muito pela natureza. “Devemos usar a nossa imagem e conceito em defesa do planeta, pois o futebol envolve muita paixão. Podemos ser exemplo de como tratar melhor o meio ambiente. Os

torcedores confiam na gente.” Paulista, ele reconhece o quanto estar perto da natureza faz bem. “Em Minas, há muitos lugares bonitos, onde você pode relaxar, se recuperar e ficar em paz.” Ele cita as grutas, o Topo do Mundo, mas adora mesmo é andar de bicicleta na Serra do Cipó. “Percorro seis quilômetros de bike, um caminho verde, de flores, árvores e pássaros. É incrível.” Depois de literalmente vestir a camisa e também recitar o mantra da campanha, ele repetiu com fé: “Sou ecológico porque o Brasil está em falta de bons exemplos. E o poder de um ídolo é dar o exemplo. Espero que as torcidas de todos os times se unam na defesa do planeta” – ele convocou, antes de sua despedida das montanhas de Minas. 

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CÉU DE BRASÍLIA CRISE HÍDRICA EM SP

O novo presidente da Sabesp, Jerson Kelman (foto), afirmou que a segunda cota do volume morto das represas do Sistema Cantareira pode acabar em março. A empresa já projeta usar uma terceira reserva de 41 bilhões de litros, que ainda precisa de aval dos gestores do manancial. Até o fechamento desta edição, o sistema – que garante o abastecimento de 6,5 milhões de pessoas operava com apenas 5,1% da capacidade.

FOTO: MARCELLO CASAL JR. / ABR

FOTO: LUCIANO SOUZA / FLICKR

VINÍCIUS CARVALHO

CRIMES AMBIENTAIS TRANSPOSIÇÃO

FOTO: USAF

Com seis anos de atraso, a transposição do Rio São Francisco será concluída no primeiro semestre de 2016. A promessa é do ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi. Ambientalistas, contudo, alertam que as águas podem não chegar mesmo com as obras concluídas se a seca se prolongar no Sudeste, onde estão concentradas as principais nascentes do São Francisco.

FOTO: ANA COTTA / FLICKR

A Câmara dos Deputados analisa Projeto de Lei que elimina a modalidade culposa dos crimes contra a administração ambiental cometidos por funcionários públicos na concessão irregular de licença ou descumprimento de obrigação de relevante interesse ambiental. Atualmente, a Lei de Crimes Ambientais permite penalizar os agentes que praticarem o ilícito ambiental na modalidade culposa – agir com imprudência e imperícia, mas sem a intenção de cometer crime.

NORDESTE RENOVÁVEL

Até 2023, a geração de novas fontes de energia renovável - como eólica e solar - vai representar 60% da matriz elétrica do Nordeste. A afirmação consta do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), segundo o qual as usinas vão somar 22 mil megawatts (MW) de potência instalada, mais que o dobro da atual capacidade hídrica do Nordeste (de 10,8 mil MW) e quase metade da geração alternativa prevista para o país. 32  ECOLÓGICO | FEVEREIRO DE 2015

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FOTO: STAN SHEBS

CADASTRO RURAL

FOTO: DIVULGAÇÃO / UFLA

O Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) recebeu até agora o cadastramento de apenas 40% da área útil agrícola do Brasil. Segundo o balanço parcial, há cerca de 130 milhões de hectares inscritos, de um universo de 329 milhões de ha de área útil agrícola no país. O Sicar foi instituído pelo novo Código Florestal e o fim do prazo para que todos os produtores rurais se inscrevam termina em menos de quatro meses.

MAIS ECLUSAS

A presidente Dilma Rousseff sancionou lei que obriga a construção de eclusas junto a hidrelétricas em rios de potencial energético. As eclusas corrigem o desnível causado pela barragem das hidrelétricas e restabelecem a navegação dos rios. Pela lei, a exigência de construir a eclusa deve estar prevista nos contratos entre o poder público e a iniciativa privada para exploração energética. O custo do licenciamento ambiental será arcado pelo Ministério dos Transportes.

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SERVIÇOS À COMUNIDADE

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara aprovou Projeto de Lei que inclui a recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) entre as medidas socioeducativas de Prestação de Serviço à Comunidade (PSC). A proposta altera a Lei 9.605/08, que trata das sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

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ESPECIAL

DESMATAMENTO E CRISE HÍDRICA

FOTOS: WILSON DIAS / ABR / CHRISTOPHE LIBERT

E O “VERDE”, C

IZABELLA TEIXEIRA: a destruição das florestas e a crise hídrica serão dois de seus principais desafios à frente da pasta

A ministra Izabella Teixeira revela as prioridades para os próximos quatro anos, suas expectativas em relação aos novos colegas de primeiro escalão – especialmente Kátia Abreu e Aldo Rebelo – e o fim do desmatamento ilegal André Trigueiro/Mundo Sustentável redacao@revistaecologico.com.br

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zabella Teixeira me disse que já havia se programado para dar aulas em 2015 na Universidade de Stanford (EUA) como professora visitante. Mas o projeto teve que ser adiado, segundo ela, por uma “convocação” da presidente Dilma. No dia 18 de dezembro último, logo após a cerimônia de diplomação, Dilma avisou a Izabella que contava com ela à frente do Ministério do Meio Ambiente por mais quatro anos. Pedido feito, malas desfeitas. Sobre os rumores dando conta de que o senador Jorge Vianna (PT-AC) seria o nome preferido de Dilma até que o irmão dele, o governador reeleito do Acre, Tião Vianna, apareceu na lista de políticos denunciados na Operação Lava-Jato, Izabella foi taxativa. “Em nenhum momento isso foi falado comigo. Ela me convidou para darmos sequência àquilo que iniciamos no primeiro mandato, com algumas novas atribuições, como o enfrentamento da crise hídrica e a aprovação do novo marco de acesso a recursos genéticos.” Um dos raros quadros técnicos do primeiro escalão do governo, Izabella não representa nenhum partido político e aparece no seleto grupo de mulheres (apenas seis) que figuram na foto oficial do ministério de Dilma neste segundo mandato, dividindo espaço com 33 homens. E é justamente nesse núcleo feminino da Esplanada que a presidente reuniu duas protagonistas de uma APERFEIÇOAR o licenciamento ambiental, segundo André Trigueiro, é outro desafio da ministra

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antiga batalha política que vem sendo travada há anos. Agora, Izabella Teixeira e Kátia Abreu pertencem ao mesmo time. A nova ministra da Agricultura – principal liderança do agronegócio no Brasil – foi uma das principais defensoras do novo Código Florestal (cujo texto final desagradou amplos segmentos do ambientalismo brasileiro). Kátia Abreu também vem apoiando a mudança constitucional que prevê a transferência do Poder Executivo para o Congresso Nacional (onde a bancada ruralista é forte) da responsabilidade por novas demarcações de terras indígenas e Unidades de Conservação. Esses não são os únicos pontos divergentes entre ela e Izabella Teixeira. Guerra à vista? Não necessariamente. “Eu já conversei com a ministra Kátia Abreu. Estarei na cerimônia de posse dela. Nós nos falamos na cerimônia de posse da presidenta Dilma e combinamos de nos reunir para acertarmos uma agenda de trabalho comum. KáFOTO: ARQUIVO PESSOAL

FOTOS: WILSON DIAS / ABR / CHRISTOPHE LIBERT

, COMO FICA? tia Abreu também considera prioridade a implementação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e me disse que deseja modernizar a legislação que rege a recuperação florestal.” Outro colega de primeiro escalão com quem Izabella Teixeira conversou no dia da posse foi Aldo Rebelo, da Ciência, Tecnologia e Inovação. Relator do Código Florestal – a quem dedicou aos “agricultores brasileiros” –, Aldo foi criticado por ambientalistas e cientistas de apresentar um texto desprovido de embasamento científico e sem o aval de importantes instituições referenciais para o setor, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Agência Nacional de Águas (ANA). A impopularidade de Aldo Rebelo junto aos ambientalistas alcançou um ponto crítico em 2011 com a publicação de um texto, assinado por ele, intitulado “A trapaça ambiental”. Nele, afirmou que “o chamado movimento ambientalista internacional nada mais é, em sua essência geopolítica, que uma cabeça de ponte do imperialismo”. Ao comentar o agravamento do efeito estufa, foi taxativo: “Não há comprovação científica das projeções do aquecimento global, e muito menos de que ele estaria ocorrendo por ação do homem e não por causa de fenômenos da natureza”, opinião que contraria frontalmente

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ESPECIAL

DESMATAMENTO E CRISE HÍDRICA

sobre a agenda do clima e os assuntos da biodiversidade. É bom lembrar que foi a própria presidenta Dilma quem destacou o protagonismo do Brasil nas negociações climáticas e que esse é um tema prioritário deste mandato. É uma ação articulada de governo onde estamos todos envolvidos”, ressaltou a ministra do Meio Ambiente. AS PRIORIDADES Ao ser convidada por Dilma para

permanecer no cargo, Izabella ouviu da presidenta a lista de prioridades na área ambiental. A posição brasileira na COP-21 – a Conferência do Clima que acontecerá em dezembro deste ano em Paris – é uma delas. A expectativa é a de que o encontro estabeleça novas metas e prazos para que todos os países – exceto aqueles mais pobres – reduzam suas emissões de gases estufa. O Brasil promoverá consultas públicas antes de fechar uma proposta. FOTO: DANIEL BELTRÁ / GREENPEACE

a posição histórica do Brasil nas negociações do clima. O ministro do PC do B acaba de assumir um ministério que vem subsidiando o governo brasileiro com informações estratégicas nas negociações climáticas patrocinadas pela ONU e que buscam a redução imediata das emissões de gases estufa. Negociações em que Izabella é liderança ativa. E agora? Para que lado vamos? “Aldo Rebelo manifestou interesse em conversar comigo

SEGUNDO o Greenpeace, a indústria da pecuária na Amazônia brasileira é o maior vetor de desmatamento do mundo 36  ECOLÓGICO | FEVEREIRO DE 2015

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Outra prioridade é a implementação do Código Florestal, especialmente a conclusão do Cadastro Ambiental Rural (CAR) que hoje, segundo o governo, alcança 130 milhões de hectares dos 329 milhões de hectares possíveis. Para que os proprietários de terra sejam cobrados em relação ao cumprimento das regras de proteção ambiental, é preciso conhecer a real situação de cada propriedade. Quem também procurou Izabella (na mesma cerimônia de posse de Dilma) para unir forças na conclusão do CAR foi o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias. Aperfeiçoar o licenciamento ambiental é outra meta para os próximos quatro anos. O assunto incomoda os ambientalistas, que temem a flexibilização dos atuais protocolos em favor dos interesses econômicos. Em relação a esse ponto, Izabella lembra que a maioria absoluta dos licenciamentos hoje é oferecida pelos estados (no caso das obras do PAC, 82% dos licenciamentos são estaduais) e diz que o Ibama se modernizou e virou referência. Segundo ela, o órgão conta hoje com 400 funcionários concursados para cuidar dos licenciamentos federais em uma estrutura mais ágil e informatizada. “Precisamos avançar nessa agenda. Não é possível, por exemplo, encomendar um novo estudo de impacto ambiental a cada dragagem de porto. Pode-se licenciar em blocos, como já se faz nas unidades de exploração de petróleo, sem nenhum prejuízo ambiental.” Outra questão importante, segundo ela, é “acabar com o desmatamento ilegal em todos os biomas, não apenas na Amazônia”. Izabella garante que não faltarão recursos para isso, mesmo

CRISE HÍDRICA: a ordem é conter o desmatamento, produzir e economizar mais água. Mas todos farão isso?

sabendo que 2015 será um ano de severas restrições orçamentárias para todo o governo. “Não sei de quanto será o corte, mas nunca faltou dinheiro para fiscalização e combate ao desmatamento. Quando assumi o Ministério, o orçamento era de 560 milhões de reais por ano. Hoje é de aproximadamente 1,1 bilhão”, afirma. Izabella lembra que conhece o atual dono do cofre – leia-se, Joaquim Levy, novo todo-poderoso do Ministério da Fazenda – desde que os dois participaram do governo Sérgio Cabral (ele na Secretaria de Fazenda, ela na

Secretaria do Ambiente). Vem de lá uma afinidade em relação aos assuntos ambientais, muito por conta da militância da mulher de Levy, Denise, a ambientalista da família, que trabalha no BID e mora em Washington (EUA). PAUTAS COMUNS Sem ser política profissional – portanto, desamparada dos “apadrinhamentos” que aceleram processos e abrem caminhos nas redes de interesses que orbitam o Poder Central –, Izabella Teixeira desenvolveu seus próprios métodos para tentar fugir do os-

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MODÉSTIA VERDE Sobre as críticas de que Dilma foi a chefe de Estado que menos criou Unidades de Conservação (UCs) desde os governos militares, Izabella defende as novas diretrizes adotadas pelo governo. “Criar UCs em áreas onde existam conflitos fundiários não adianta. É preciso regularizar a situação primeiro. A propósito, nos últimos quatro anos, nenhum governador da Amazônia criou novas UCs. E ninguém menciona isso. Implementamos planos de manejo em 60 dessas unidades, mais do que foi feito nos oito anos de governo Lula.” A maioria das medidas citadas por Izabella não teve visibilidade nem repercussão. O que não quer

FOTO: ELZA FIÚZA / ABR

tracismo em pleno exercício do cargo. “O importante é o diálogo, não se isolar e definir pautas comuns entre os ministérios”, diz ela, reconhecendo que é preciso comunicar melhor o dia a dia do seu ministério junto à sociedade. Segundo a ministra, as fortes críticas dirigidas ao primeiro mandato da presidenta Dilma na área ambiental – principalmente as que partem das próprias organizações ambientalistas – não levariam em consideração um numeroso pacote de realizações que ela enumera, sem disfarçar uma certa indignação. Um dos assuntos mais controversos, por exemplo, é a taxa de desmatamento da Amazônia. “Registramos as quatro menores taxas de desmatamento da Amazônia. Realizamos mudanças importantes nos mecanismos de fiscalização e controle em parcerias com o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).”

FOTO: GERALDO MAGELA / AGÊNCIA SENADO

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ESPECIAL

DESMATAMENTO E CRISE HÍDRICA

KÁTIA ABREU e Aldo Rebelo: a hora e a vez de eles aderirem à causa maior

“Izabella sabe também que boa parte de seus colegas de primeiro escalão – a maioria absoluta, vá lá – ainda vive, pensa e age como se não experimentássemos uma crise ambiental sem precedentes na história da humanidade. E aí, o que fazer?” dizer que não sejam importantes. Na lista dela não aparece, talvez por modéstia, a contribuição efetiva da delegação brasileira (chefiada por ela) para que o mundo alcançasse, depois de 18 anos de negociações o Protocolo de Nagoya – o mais importante acordo ambiental internacional desde o Protocolo de Kyoto –, que versa sobre as regras de uso e proteção da biodiversidade. Também não mencionou a conquista do “Prêmio Campeões da Terra”, que lhe foi oferecido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), na categoria

“Liderança Política”, pelos “esforços bem-sucedidos em reverter o desmatamento da Amazônia”. Leal a Dilma, Izabella sabe que o governo não entende a sustentabilidade como “eixo matricial das políticas públicas”, conforme tem defendido há décadas o colega e amigo jornalista Washington Novaes. Sabe também que boa parte de seus colegas de primeiro escalão – a maioria absoluta, vá lá – ainda vive, pensa e age como se não experimentássemos uma crise ambiental sem precedentes na história da humanidade. E aí, o que fazer? A ex-ministra Marina Silva pediu demissão alegando que perderia o pescoço, mas não o juízo. O ex-ministro Carlos Minc bateu boca em público com mais de um ministro que lhe deixou “verde” de raiva pelo atropelamento das mais básicas cartilhas ambientais. Izabella vai ficando. Que incomode bastante. SAIBA MAIS

mundosustentavel.com.br EXCLUSIVO O desabafo e a esperança de Izabella Teixeira. Na próxima edição. Não perca!

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FOTO ANDRÉ SENA

Ser gigante é ter a grandeza de preservar as pequenas coisas.

LIMOEIRO

Itabira/MG

Gigante pela própria natureza.

IEF facebook.com/ParqueEstadualMataDoLimoeiro RevEco_Fev15_DESMATAMENTO ZERO.indd 6

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ESPECIAL

DESMATAMENTO E CRISE HÍDRICA

“Sem floresta não tem chuva” Bia Fonte Nova, Luciana Morais e Luciano Lopes

FOTO: DIVULGAÇÃO

redacao@revistaecologico.com.br

O Brasil conseguiu reduzir as taxas de desmatamento nos últimos anos. Mas, ainda assim, estamos longe de assegurar a proteção urgente e necessária às florestas que regulam o clima e asseguram a água essencial à nossa sobrevivência, inclusive nos grandes centros urbanos. “Para diversos estudiosos, o desmatamento da Amazônia é uma das possíveis explicações para essa preocupante escassez de água no Sudeste. Devemos nos mobilizar e exigir dos nossos representantes que o Desmatamento Zero seja transformado em lei. Sem floresta não tem chuva.” É o que afirma o biólogo Rômulo Batista, da Campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil. A seguir, suas reflexões, críticas à nova ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e expectativas em relação ao segundo mandato da presidente Dilma. A Revista Nature acaba de publicar uma pesquisa sobre os impactos do desmatamento de florestas tropicais na agricultura. Quais são as principais conclusões? O estudo das pesquisadoras da Universidade de Virgínia (EUA) conclui que o desmatamento aumenta as incertezas e os riscos para a produção de alimen-

tos, seja perto ou longe das áreas desmatadas, em função das mudanças de temperatura e da alteração nos regimes de chuvas. Entre os principais fatores que promovem a degradação e destruição desse bioma estão a atividade madeireira ilegal, a pecuária e a agricultura. Essas conclusões estão em sintonia com as bandeiras de mobilização do Greenpeace... Sem dúvida. Acreditamos que desmatar, sob qualquer pretexto, não faz mais sentido algum e inclusive temos uma campanha para encaminhar um projeto de lei que instituiria o Desmatamento Zero em florestas no Brasil. Felizmente, não estamos sozinhos nessa, mais de um milhão de pessoas já assinaram para apoiar essa iniciativa. Além disso, em 2013, publicamos o relatório “Tempestade Iminente”, com algumas das mais recentes pesquisas científicas mostrando como as florestas (e seu desmatamento) influenciam o clima global. O estudo da Nature corrobora o nosso trabalho, inclusive nos exemplos citados. E quais são esses exemplos? Mostra que o desmatamento da Amazônia e das florestas tropicais

BATISTA: “Desmatar, sob qualquer pretexto, não faz mais sentido algum”

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FOTO: PAULO PEREIRA / GREENPEACE

da África central reduziu as precipitações no centro-oeste norte-americano na temporada de plantio. Do mesmo modo, o completo desmatamento da floresta da Bacia do Congo, na África, deve intensificar as monções no oeste africano, enquanto o aumento de temperatura – que deve ficar entre 2 e 4˚C – e a redução em até 50% nas chuvas devem afetar toda a região. Essas e outras mudanças afetariam enormemente as áreas de produção agrícola, por exemplo, se as florestas fora de terras indígenas e unidades de conservação fossem desmatadas. A produção de soja, maior commodity agrícola brasileira, teria perdas de 25% na produção devido à alteração das chuvas. As pesquisadoras fazem alguma sugestão? Sugerem que, para a Amazônia, e possivelmente para a África Central, o ponto de inflexão pode ser alcançado com os níveis de desmatamento entre 30-50%. Esse ponto pode ser bem menor em algumas florestas costeiras que são importantes na condução de umidade do oceano para o interior dos continentes. A evidência científica apontando para o fato de que todos dependemos das florestas tropicais – independentemente do lugar no mundo em que vivamos – é cada vez mais forte e reforça a urgência de preservá-las. Só assim, elas continuarão a regular o clima e a temperatura do planeta, mantendo a nossa capacidade de produzir alimentos e de conservar a biodiversidade.

realidade encontrada? A paisagem é de destruição. Desmatamentos de pequena e grande extensão, produção de soja e de milho, criação de gado em áreas embargadas pela Justiça e incêndios florestais – inclusive em terras indígenas – estão entre os principais crimes e irregularidades flagrados. A falta de governança na Amazônia, aliada à certeza de impunidade trazida pela anistia dada pelo Código Florestal e ao alto preço das commodities, continua a impulsionar a expansão da fronteira agrícola sobre a floresta.

Em outubro passado, vocês fizeram um sobrevoo de monitoramento no norte do Mato Grosso e no Leste de Rondônia, uma das principais fronteiras da agropecuária no Brasil. Qual foi a

Há alguma localidade ou ponto mais crítico? O “nortão” do Mato Grosso, como é chamada essa região, que faz parte do bioma Amazônico, integra o arco do desmatamento,

O BRASIL, informa o Greenpeace, reduziu as taxas de desmatamento. Mas ainda é o segundo país que mais destrói florestas no mundo

QUEM É

ELE

Rômulo Batista é biólogo. Durante sete anos trabalhou no projeto de criação de unidades de conservação no estado do Amazonas. Também atuou em projeto de recuperação florestal no sul da Bahia e, há três anos, faz parte da campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil.

cinturão que vai do norte do Maranhão ao sul de Rondônia. Atualmente, o triângulo entre os municípios de Brasnorte, Alta Floresta e Gaúcha do Norte já não lembra em quase nada uma verdadeira floresta, devido à intensa atividade agropecuária. Lá, o que resta está seriamente ameaçado.

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ESPECIAL

DESMATAMENTO E CRISE HÍDRICA

O que exatamente vocês viram? O que mais se avista são imensas áreas de pasto degradado com baixíssima concentração de bois. Vimos também pecuaristas em plena atividade em áreas embargadas por crimes ambientais pelo Ibama. Além dessa região, os últimos dados de desmatamento da Amazônia apontaram os municípios de Porto Velho e Altamira como grandes desmatadores e é justamente lá que ocorrem as obras das grandes hidrelétricas. Isso não é coincidência. Essa realidade contradiz, então, os dados de que o desmatamento vem caindo no Brasil... O Brasil conseguiu reduzir as taxas de desmatamento nos últimos anos. Saiu de 25.000 km2 para 5.000 km2. Ainda assim, somos o segundo país que mais destrói florestas (o primeiro é a Indonésia), perdendo nossa rica e única biodiversidade. O retrato da destruição que avistamos durante o monitoramento não condiz em nada com a imagem de país desenvolvido e protagonista do combate às mudanças climáticas, repercutida internacionalmente. Algumas correntes de pensamento argumentam que, filosoficamente, o Desmatamento Zero é uma necessidade real para o Brasil. Mas, do ponto de vista prático, não se aplica. Qual é a sua visão? O Greenpeace não só acredita que do ponto de vista prático é possível, como extremamente necessário. Não só para a manutenção da biodiversidade e dos modos de vidas das populações tradicionais, que dependem das florestas, mas também como fator essencial à manutenção do clima e enfrentamento das mudanças climáticas

– o maior desafio ambiental deste século para a humanidade. Diversos estudos científicos já demonstraram a viabilidade do Desmatamento Zero aliado ao incremento de produção. Como avançar e promover mudanças na prática? Devemos adotar técnicas mais modernas de produção, principalmente na pecuária, o que “liberaria” terras agricultáveis. Também é preciso combater a especulação de terras, que ainda é muito forte e deixa enormes áreas improdutivas. A isso deve se somar a valorização da floresta em pé, por meio do incentivo ao extrativismo de produtos florestais madeireiros e não madeireiros de forma sustentável e os serviços ambientais prestados pelas florestas e demais ecossistemas naturais. Há exemplos bem-sucedidos de Desmatamento Zero aqui e em outros países? Aqui temos experiências para a soja e o gado; e na Indonésia com o óleo de palma, nas quais o Desmatamento Zero foi adotado como critério de comercialização por diversas empresas que negociam essas commodities. Japão e Alemanha também são exemplos importantes. Lá a cobertura da vegetação atualmente é maior do que há dez anos. É claro que a realidade deles é bem diferente da nossa. Neles, além de um processo de ocupação bem mais antigo, foi preciso que as florestas fossem quase extintas e a população passasse por situações de adversidade ambiental para que entendessem a importância das florestas e exigissem que elas fossem repostas.

O Brasil pode aprender com eles? O Brasil tem de aprender com essas histórias e, acima de tudo, com a sua própria. Basta ver a crise hídrica em São Paulo. Para diversos estudiosos, o desmatamento da Amazônia é uma das possíveis explicações para essa preocupante escassez de água no Sudeste... Devemos nos mobilizar e exigir dos nossos representantes que o Desmatamento Zero seja transformado em lei. Sem floresta não tem chuva. Além da ciência, o próprio governo federal chegou a apresentar estudos demonstrando a viabilidade do Desmatamento Zero... Exatamente. E por incrível que pareça a atual ministra da agricultura, Kátia Abreu, declarou em 2009, quando ainda era presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA): “Nós acreditamos no Desmatamento Zero. E acreditamos já, imediatamente”. Seria muito bom se ela mantivesse a palavra e, como agora tem as condições, devido ao cargo que ocupa, implementasse essa política como carro-chefe de seu ministério. Falando na ministra, o Greenpeace foi veementemente contrário à nomeação dela. Por quê? Em 2009, a tentativa de entregar a ela a faixa “Miss Desmatamento” (leia mais a seguir) nos rendeu uma ação na Justiça por danos morais. Mas ela perdeu em todas as instâncias. Na época, ela era relatora da Medida Provisória 458, conhecida como “MP da Grilagem”, por permitir

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E em relação à presidente Dilma? O que esperar dela nos próximos quatro anos? Em sua campanha para o segundo turno das eleições, Dilma assumiu um compromisso com a mudança. “Governo Novo, Ideias Novas”, foi seu slogan. Pois é isso que esperamos: que nos próximos quatro anos ela repense a forma como o governo vê a Amazônia: como grande fonte energética e de terra. Já passou da hora de o atual governo reconhecer a importância de investir em novas fontes renováveis, como a eólica, a biomassa e, sobretudo, a solar, para diversificar e descentralizar a nossa matriz elétrica. Além disso, é preciso acelerar os processos de criação de unidades de conservação (UCs) e de terras indígenas, que são a melhor forma – cientificamente comprovada – de proteção das florestas e da riqueza socioambiental. Nós, do Greenpeace, continuaremos cumprindo a nossa missão de investigar, expor e combater pacificamente qualquer crime e dano ambiental que ameace a Amazônia.

FOTO: DANIEL BELTRÁ / GREENPEACE

a legalização da invasão de terras na Amazônia. Para nós, Kátia Abreu protagoniza a defesa de um modelo de produção predatório e não sustentável, que estimula o desmatamento. Suas primeiras declarações como ministra, afirmando que no “Brasil não há latifúndio” e que os “indígenas desceram da floresta para áreas de produção”, indicam que sua gestão continuará desvalorizando a diversidade socioambiental do Brasil, representada pelos conhecimentos e culturas dos povos brasileiros originários.

POR QUE A AMAZÔNIA É IMPORTANTE? l O Brasil abriga 60% da bacia amazônica, bioma que cobre 4,2 milhões de quilômetros quadrados (49% do território nacional) e se distribui por nove estados (Amazonas, Pará, Mato Grosso, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, parte do Tocantins e do Maranhão). l Às margens dos rios amazônicos vivem mais de 24 milhões de pessoas, incluindo 342 mil indígenas de 180 etnias distintas, ribeirinhos, extrativistas e quilombolas. Além de assegurar a sobrevivência desses povos, fornecendo alimentação, moradia e medicamentos, a Amazônia tem relevância que vai além de suas fronteiras. l Ela é fundamental no equilíbrio climático global e influencia diretamente o regime de chuvas do Brasil e da América Latina. Sua imensa cobertura vegetal estoca entre 80 e 120 bilhões de toneladas de carbono. A cada árvore que cai, uma parcela dessa conta vai para os céus. l Maravilhas à parte, o ritmo de destruição segue par a par com a grandiosidade da Amazônia. Desde que os portugueses pisaram aqui, em 1550, até 1970, o desmatamento não passava de 1% de toda a floresta. De lá para cá, em apenas 40 anos, foram desmatados 18% da Amazônia brasileira – área equivalente aos territórios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Para o Greenpeace, o modelo econômico escolhido para a região deixa de fora os dois elementos essenciais na grandeza da Amazônia: o meio ambiente e as pessoas.

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ESPECIAL

DESMATAMENTO E CRISE HÍDRICA

Quatro soluções para um futuro verde e hídrico

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FOTO: LUANAE PARRACHO / GREENPEACE

DESMATAMENTO ZERO

FOTO: OTÁVIO ALMEIDA / GREENPEACE

Ao zerar o desmatamento na Amazônia até 2020, o Brasil estará fazendo a sua parte para diminuir o ritmo do aquecimento global, assegurar a biodiversidade e o uso responsável desse patrimônio para beneficiar a população local. Atualmente, o "Projeto de Lei de Iniciativa Popular pelo Desmatamento Zero no Brasil" já conquistou o apoio de um milhão de brasileiros. Não é preciso derrubar mais florestas para que o país continue produzindo. Ações contra o desmatamento e alternativas econômicas que estimulem os habitantes da floresta a mantê-la de pé devem caminhar juntas.

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ÁREAS PROTEGIDAS

FOTO: PAULO PEREIRA / GREENPEACE

Uma parte do bioma é protegida legalmente por unidades de conservação, terras indígenas ou áreas militares. Mas a falta de implementação das leis faz com que mesmo essas áreas continuem à mercê de criminosos.

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

FOTO: TAYLOR WEIDMAN

É a definição, pelo Estado, de quem tem direito à posse de terra. O primeiro passo é o mapeamento das propriedades particulares para possibilitar o monitoramento de novos desmatamentos e a responsabilização de toda a cadeia produtiva pelos crimes ambientais ocorridos.

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GOVERNANÇA

Para todas essas medidas se tornarem efetivas, o governo precisa estar na Amazônia, com recursos e infraestrutura e, assim, fazer valer as leis de preservação. A proteção do bioma e a criação de um modelo de desenvolvimento sustentável e justo para a região podem gerar oportunidades para os povos que dependem da floresta. FONTE: Greenpeace Brasil

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Na visão dos representantes de diferentes ONGs ambientalistas – em especial do Greenpeace –, ao escolher Kátia Abreu como ministra da Agricultura, a presidente Dilma Rousseff expressa o caminho que seu governo seguirá nos próximos anos e reafirma que os interesses do agronegócio ainda estão acima das questões socioambientais. Entenda os motivos: Como senadora, Kátia Abreu – eleita pela primeira vez em 2006 – foi uma das principais representantes dos interesses do agronegócio e da bancada ruralista no Congresso Nacional. Como presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), é porta-voz de bandeiras consideradas reacionárias e polêmicas. Conduziu pautas que acarretam desde a destruição de florestas até a supressão de direitos dos trabalhadores rurais e povos indígenas.

FOTO: FÁBIO POZZEBOM / ABR

A origem do título “Miss Desmatamento” tais e fundiárias têm Kátia Abreu entre os protagonistas. Como, por exemplo, nas questões ligadas à diminuição da mata ciliar para aumento das áreas de monocultura e sua posição contrária à ampliação de terras indígenas. Além de defender a redução de Áreas de Preservação Permanente (APP), a nova ministra abraçou, junto com o então relator do Código, Aldo Rebelo, a anistia aos desmatadores. Em 2013, o MST a denunciou por ter grandes quantidades de terra registradas em nome de laranjas, em Tocantins. Ela também já teve propriedades embargadas pelo Ibama, por desmatar APPs.

As Terras Indígenas (TIs) e as Unidades de Conservação (UCs) são considerados os mais eficazes instrumentos no combate ao desEM 2009, ativistas do Greenpeace foram matamento – mais da metade do detidos por tentar entregar à então que sobrou da Floresta Amazônica senadora a faixa de “Miss Desmatamento” está dentro de UCs e TIs. Tudo indi Alguns episódios tornam mais ca que após a pressão sobre o Cóclara a sua trajetória política e os interesses que ela defende. Em seu site, ela se “apresenta” digo Florestal, o próximo passo da bancada ruralista será usando adjetivos como “combativa” e “obstinada”. Em 2009, a tentativa de fragilizar tais instrumentos. processou o Greenpeace após ser alvo de protestos quando era relatora da Medida Provisória 458, conhecida como MP  Kátia Abreu defende, ainda, a suspensão dos processos da grilagem, que legalizou a invasão de terras públicas na de demarcação de terras indígenas e da aprovação da PEC Amazônia Legal. Na ocasião, ativistas tentaram entregar a 215/2000 (que visava atribuir ao Congresso a responsabiela a faixa de “Miss Desmatamento”. Ela perdeu o processo. lidade exclusiva de demarcar UCs e TIs), uma ameaça à criação de novas áreas no país. Durante a corrida eleitoral,  A ministra e a bancada ruralista trabalharam duro para Dilma afirmou, em carta aberta aos povos indígenas, que a aprovar o novo Código Florestal. Apesar dos vetos cla- PEC 215 é inconstitucional. mados pela sociedade, a presidente Dilma acatou a anistia àqueles que desmataram ilegalmente antes de 2008,  Agora, com a presença dela no governo, resta saber se diminuindo o volume de florestas a serem replantadas e a presidente Dilma agirá para que projetos como a PEC não sejam aprovados ou se fechará os olhos para as “maabrindo novas áreas para serem desmatadas legalmente. nobras” da bancada ruralista. A julgar pela atuação quase  Desde a gestão de Marina Silva no Ministério do Meio nula do governo federal na demarcação de novas UCs e TIs Ambiente, os entraves em relação às questões ambien- nos últimos quatro anos, o cenário não é nada favorável. 

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ESPECIAL

DESMATAMENTO E CRISE HÍDRICA

Declarações polêmicas “Ela (reforma agrária) tem de ser pontual, para os vocacionados. E se o governo tiver dinheiro não só para dar terra, mas garantir a estrutura e a qualidade dos assentamentos. Latifúndio não existe mais.”* CONTRAPONTOS

Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Agrário Segundo dados do Cadastro de Imóveis Rurais do Incra, o Brasil tem cerca de 130,3 mil latifúndios ou grandes propriedades rurais, que concentram área superior a 244,7 milhões de hectares. O tamanho médio é de 1,8 milhão de hectares (ou 18 mil quilômetros quadrados), ou seja, 2,3% dos proprietários concentram 47,2% de toda área disponível à agricultura no país.

“Apenas no governo Lula (2003-2010), os latifúndios ganharam 100 milhões de hectares. Com isso, em 2010, as terras improdutivas representavam 40% das grandes propriedades rurais brasileiras, segundo dados do Incra. Ao todo, 228 milhões de hectares estão abandonados ou produzem abaixo da capacidade, o que os torna sem função social e, portanto, aptos à reforma agrária de acordo com a Constituição.”

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: LINDOMAR CRUZ / ABR

“Ignorar ou negar a permanência da desigualdade e da injustiça é uma forma de perpetuá-las. Não basta continuar derrubando as cercas do latifúndio; é preciso derrubar também as cercas que nos limitam a uma visão individualista e excludente do processo social.”

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente

“Os índios saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção.”*

Fernando Meirelles, cineasta, ao jornal Estado de Minas

“A ministra tenta deslegitimar o direito dos povos indígenas sobre suas terras tradicionais, com essa tese absurda. Quem realmente conhece a história de nosso país sabe que não são os povos indígenas que saíram ou saem das florestas. São os agentes do latifúndio, do ruralismo e do agronegócio que invadem e derrubam as florestas, expulsam e assassinam as populações que nela vivem.”

FOTO: CHRISTOPH WIDER

“Minha questão com a Kátia Abreu não é pessoal, é pelo fato de ela considerar produção só o que é plantado, colhido e vendido (para a China, de preferência). Para a ministra, uma floresta não é área produtiva, apesar de cada árvore ali estar produzindo 180 mil litros de chuva por ano. Produção, no pensamento ruralista, é apenas o que pode encher um navio para virar dólares. Ao apoiar com fúria o novo Código Florestal, aliás, criado pelo nosso ministro da Ciência e Tecnologia (que piada), a longo prazo nossa ministra da Agricultura deu o maior tiro no pé da história. Os ruralistas reescreveram a fábula da galinha dos ovos de ouro. Eles optaram por secar as nascentes para faturar o ouro. Já não está dando certo. Qualquer fazendeiro hoje te dirá que suas águas vêm diminuindo ao longo dos anos. São Paulo que o diga. Hoje, com a ajuda da ciência e da tecnologia, era a hora de reverter esse caminho equivocado de décadas.”

FOTO: REPRODUÇÃO

CONTRAPONTOS

Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

* Declarações da ministra Kátia Abreu, em entrevista à Folha de São Paulo, no início de janeiro.

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FOTO: MARCELO CAMARGO / ABR

A ATUAL ministra da Agricultura declarou à frente da CNA, em 2009: “Nós acreditamos no Desmatamento Zero. E acreditamos já, imediatamente”

Kátia por Kátia  “Aristóteles

dizia que a lei é a razão livre de paixões. Não foi o que praticou Marina Silva ao longo dos cinco desastrosos anos em que comandou o Ministério do Meio Ambiente.”

 “A

mata ciliar é de importância vital, mas não pode virar um santuário. Eu faço um comparativo com a APP de morro, no Rio de Janeiro. É bom morar no morro? É péssimo. É irreversível? É. Não vão tirar a Rocinha de lá. Nessa hora, para nós, é igual.”

 “A

agropecuária brasileira trabalha para que a nutrição seja uma escolha, ofertando sabor e qualidade em alimentos seguros, por um preço competitivo. Transgênicos, convencionais ou orgânicos é o consumidor quem faz sua opção – e paga o preço da escolha.”

devemos separar, sem confundir, causas e efeitos, verdades cientificamente comprovadas e afirmações sem aval da ciência.”

Brasil está cumprindo todos os acordos ambientais internacionais, garantindo produção com preservação. Por onde se olha, veem-se avanços. Nos últimos 40 anos, a produção de grãos multiplicou-se por seis, enquanto a área de lavoura aumentou apenas uma vez e meia. Isso é inovação e tecnologia. É sustentabilidade em sua forma mais cristalina.”

 “No

 “Queremos

 “Na questão do aquecimento global, acredito que

fundo, a atual luta dos ambientalistas contra os produtores brasileiros é apenas um capítulo de sua guerra contra as formas de viver e de produzir que a ciência e a tecnologia permitiram, e que os homens naturalmente escolheram. Essa visão tem graves consequências éticas, uma vez que implica limitar o jogo do consumo, quando a maioria da humanidade ainda vive com baixa qualidade de vida e bem-estar.”

 “A

presidente Dilma foi a primeira chefe de governo a se dispor a atender a agenda do agronegócio, para além dos condicionamentos político-partidários.”

 “O

que os produtores de alimento no Brasil também sejam produtores de água. Ela será o mais novo produto da cesta do agronegócio brasileiro.”

NOTA DA REDAÇÃO A Ecológico tentou ouvir a ministra da Agricultura. Mas, até o fechamento desta edição, não houve retorno. O espaço continua aberto.

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1 FAUNA

PROTEGER É PRECISO Projetos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) garantem aumento da população de quelônios e de pirarucus no Amazonas Jucier Costa Lima e Luis Carlos Lopes redacao@revistaecologico.com.br

N

a Floresta Amazônica tudo é imenso. Tem-se a impressão de que seus recursos são inesgotáveis. Mas duas espécies de animais que corriam risco de desaparecer devido a esse pensamento equivocado encontraram proteção no Ibama. O “Projeto Quelônios da Amazônia” (PQA) é um deles. Trata-se da iniciativa ambiental que mais proporcionou a volta de animais à natureza: em seus 35 anos de existência, mais de 70 milhões de filhotes de quelônios foram soltos e, agora, retornam às praias

de nascimento para dar origem a novos exemplares. Outro projeto do Ibama também vem se destacando na proteção de um dos maiores peixes de água doce do mundo: o pirarucu (Arapaima gigas), atualmente na lista "Cites" de animais sobre-explorados. A autorização de pesca apenas para áreas de manejo e piscicultura está permitindo a reposição do peixe na natureza. Ao contrário de locais onde a pesca é realizada sem este tipo de controle, no estado do Amazonas o número de pirarucus está aumentando anu-

almente. Com isso, há também uma melhora na vida de ribeirinhos e pescadores. Mais peixes, mais renda. Embarque nessa viagem conosco: SOLTURA DE QUELÔNIOS A cidade amazonense de Itamarati, a 983 km de Manaus, é considerada uma das mais bem administradas do estado. Nenhum de seus quase 12 mil habitantes está sem renda. As ruas são limpas e a prefeitura comprou latas de tinta para pintar as casas. Seu colorido incomum dá um charme

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FOTOS: JUCIER COSTA LIMA

NOS 35 ANOS de atuação do projeto, mais de 70 milhões de filhotes de quelônios foram soltos na natureza

diferente ao local. O município fica à beira do Rio Juruá, de águas barrentas e piscosas, que dão sentido e sabor à vida daquela gente amazonense. Esta foi uma das primeiras regiões em que foi implantado, em 1979, o PQA, hoje sob coordenação da Diretoria de Uso Sustentável de Biodiversidade e Florestas (DBFlo/Ibama) e espalhado pelas bacias do Amazonas e do Tocantins-Araguaia. O programa, que já devolveu à natureza milhões de filhotes de quelônios (tartarugas-da-amazônia, tracajás, pitiús etc), realizou, no fim de 2014, a soltura de mais 100 mil tartarugas nos tabuleiros de Walterbury, Nova Olinda e Vista Alegre, administrados pela prefeitura de Itamarati. O PQA nasceu da necessidade de proteger os quelônios da Amazônia. Muito utilizados na culinária, do indígena e do amazonense em geral, os números relativos a essas espécies vinham diminuindo frequentemente. O governo federal criou o projeto e coube ao Ibama gerenciá-lo por meio de

parcerias com prefeituras, ONGs e comunidades locais. Na época da desova, que ocorre entre agosto e setembro, os guarda-praias passam a madrugada de tocaia para saber onde as matrizes colocarão seus ovos. Eles também cuidam dos ninhos durante a incubação, contra invasores e predadores. Cada postura pode chegar a ter mais de 180 ovos, mas a média computada é de cem por ninhada. No local, são fincados paus contendo informações de data. Após 60 dias, a areia é escavada e os filhotes já nascidos são colocados em piscinas, onde passam mais 20 dias à espera da soltura. Nessas piscinas, eles perdem o cheiro característico, que atrai predadores, e ganham mais força e agilidade, o que lhes confere maior potencial de sobrevivência. Os resultados até agora atingidos permitem que o Brasil seja reconhecido como o único país da América do Sul que ainda possui estoques significativos de quelônios passíveis de recuperação e viáveis para programas de uso sus-

tentável. O programa consegue, além de promover a reintegração das espécies a seu hábitat, fixar o homem no campo, com a geração de emprego e renda, e proporcionar o bem-estar socioeconômico e ambiental das comunidades ribeirinhas. Na primeira edição do programa nos tabuleiros da região de Itamarati, havia apenas 54 tartarugas. Esta última edição contou com mais de 4.300 matrizes. No total, foram soltos no estado cerca de 2,1 milhões de quelônios em 2014, contra 1,2 milhão em 2013. MANEJO DO PIRARUCU Após a soltura dos quelônios, seguimos para Tefé, onde pudemos conhecer o manejo do pirarucu na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM), a primeira implantada no país, considerada também a maior reserva florestal brasileira dedicada exclusivamente à proteção da várzea amazônica. Criada há 15 anos, é gerida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

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FOTO: JUCIER COSTA LIMA

1 FAUNA

O MANEJO SUSTENTÁVEL do pirarucu garante não só a preservação da espécie como proporciona renda para a população ribeirinha

do Amazonas (SDS) por meio do Centro Estadual de Unidades de Conservação (Ceuc). A cidade de Tefé fica às margens de um grande lago de mesmo nome e é polo da região do triângulo Jutaí-Solimões-Juruá, sendo o principal local de recebimento de pessoas e mercadorias que vão para os grandes centros ou para o interior do estado. Para chegar a Mamirauá, subimos o rio Jarauá por cerca de duas horas e meia na “voadeira” (lancha rápida) com o chefe da RDS Amanã, Aroldo Xavier. O rio serpenteia com suas águas escuras num corredor margeado por florestas que, em alguns trechos, chega a quilômetros de distância. A exceção são as pequenas comunidades à beira do rio, com crianças brincando na porta das casas e, vez por outra, algum ribeirinho aportando sua canoa. Chegamos a São Raimundo do Jarauá, povoado no qual acompanhamos a pesca do pirarucu. Cerca de 40 casas, algumas flutuantes, enfileiram-se à esquerda e à direita da maior construção local: a escola. O local de limpeza e tratamento do grande peixe é um flutuante e está localizado estrategicamente na entrada da comunidade, que, como outras, participa do processo. De maneira geral,

os homens pescam e as mulheres limpam. As crianças observam e já sabem que o manejo significa a existência do pirarucu em seu próprio futuro. Depois de conhecermos o povoado, subimos um pouco mais o rio e fomos até a casa flutuante do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), organização não governamental que tem parceria com o estado do Amazonas e com o Ibama para ajudar as comunidades locais em projetos financeiros e sociais. Cada uma das áreas que realiza o manejo possui uma instituição parceira, que se comunica diretamente com o Ibama ao enviar o projeto técnico e os requerimentos solicitando guias de transporte e os relatórios anuais, feitos após a pesca, bem como o monitoramento da captura dos indivíduos nos lagos, a colocação dos lacres e o preenchimento das planilhas com os dados dos pescados. Após retirarmos a bagagem, fomos procurar os pescadores. De várias comunidades, eles estavam reunidos em um lago. As comunidades ribeirinhas de diversos locais e pescadores profissionais da cidade estabelecem acordos de pesca e trabalham

em conjunto, dividindo os lucros. Se, antes, havia tentativas de invasão nas áreas de manejo para a realização de pesca ilegal, gerando conflitos entre moradores das comunidades próximas e invasores, várias das áreas contam, atualmente, com um objetivo comum: a sua própria manutenção. Para chegar ao lago onde ocorre a pesca, subimos o rio, cheio de bifurcações, e encontramos o local do acampamento rudimentar das canoas, ancoradas em um trecho solitário do Jarauá. Após entrarmos em uma trilha aberta na mata pelas passadas dos pescadores, vimos uma pessoa com passo apressado e um enorme pirarucu nas costas, que deveria pesar uns 80 kg. Os pés descalços afundavam no solo de várzea escorregadio. O calor e a umidade são imensos, mas os mosquitos não chegavam a incomodar. Mais à frente, vários pescadores em suas pequenas canoas procuravam encurralar o próximo peixe. Vez por outra, a cumbuca que retira água das embarcações era acionada para evitar que elas afundassem. Pausa apenas para o almoço: tambaqui, assado no jirau feito de paus, e farinha de mandioca, refeição típica dos ribeirinhos. Do lago, os pirarucus pescados são carregados até a canoa com motor de rabeta, que os leva ao local onde serão limpos, medidos, pesados e colocados em um barco especial, que os manterá congelados até chegarem aos grandes mercados. Normalmente, a produção é vendida antecipadamente. Os resultados indicados pelos dois projetos (PQA e pirarucu) provam que, somada à ação empenhada, a conscientização ambiental, aos poucos, pode transformar uma realidade devastadora em uma outra, promissora, em que a convivência harmoniosa com a natureza é, para além do desejável, perfeitamente possível. 

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O TORREÃO do ex-Hospital Colônia, onde fica o museu, totalmente recuperado: vitória da luta antimanicomial

FOTOS:SCIS/PREFEITURA DE BARBACENA

1 NOS PORÕES DO RETROCESSO (VI)

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FINAL FELIZ! Fhemig cumpre promessa e recupera o Museu da Loucura, em Barbacena Anni Luise Sieglitz

redacao@revistaecologico.com.br

A

promessa feita pelo ex-presidente da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) Antônio Carlos Martins se cumpriu. O novo Museu da Loucura, pertencente ao Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB), foi inaugurado em dezembro último, quando a edição de janeiro da Revista Ecológico já havia sido impressa. O local, famoso por abrigar um acervo que conta a história do primeiro hospital psiquiátrico de Minas Gerais, teve suas obras concluídas após passar por uma reestruturação que durou seis meses, desde as denúncias de abandono e desconstrução política feitas pela revista. O prédio, tombado pelo patrimônio histórico, foi completamente reformado, tornando-se mais moderno e acessível à visitação pública. Com esta atitude, Minas volta à vanguarda da saúde mental no país, como protagonista da reforma psiquiátrica. “Esta inauguração é emblemática, pois neste museu estão preservados fragmentos da memória de um passado triste, quando a internação era o tratamento. E hoje, mesmo com as melhorias conseguidas, ainda é necessário avançarmos. Graças a bons exemplos, como a implantação da Rede de Atenção Psicossocial, Minas já vem trabalhando o conceito da saúde mental além dos sintomas. Garantindo respeito aos direitos humanos e proporcionando autonomia e liberdade aos doentes mentais”, afirmou o então secretário estadual de Saúde, José Geraldo Prado. Para Antônio Carlos Martins, presidente da Fhemig à época, a revitalização do Museu da Loucura é um marco para a história da saúde mental no estado: “Tudo foi feito com muito cuidado, por uma equipe especializada que respeitou a estrutura original do prédio”. REFORMA E PROMESSA Esta é a segunda reforma realizada no local desde a inauguração, em agosto de 1996, por meio de uma parceria entre a Fhemig e a Fundação Municipal de Cultura de Barbacena. “Todas as adequações foram feitas preservando-se os moldes da arquitetura de uma época”, confirmou Lucimar Pereira, coordenadora do museu. O projeto de revitalização do Museu da Loucura ainda não foi concluído, pois inclui a ampliação e a atualização do acervo, indo além da história do CHPB para mostrar a evolução da psiquiatria em Barbacena e em todo o Brasil.

ANTÔNIO MARTINS e José Geraldo Prado (primeiro e segundo à direita) acompanham exposição do projeto cenográfico apresentado por Edson Brandão: contribuição à memória

Uma comissão com representantes do CHPB, da sociedade civil e da Prefeitura de Barbacena foi formada. Os membros têm participado de pesquisas históricas para o desenvolvimento do projeto. O grupo, presidido por Lucimar Pereira, conta também com a colaboração da analista de memória institucional do Sesc, Vânia Matos de Souza, e do artista gráfico e vice-presidente da Agência de Desenvolvimento Integrado de Barbacena, Edson Brandão, que será responsável pelo novo projeto cenográfico, o próximo passo a ser dado já no governo de Fernando Pimentel. Segundo Brandão, a recuperação física do prédio era indispensável para a instalação do novo projeto: “Em 2016, o museu completará 20 anos e a instituição já estará preparada para a data”, garantiu. “A revitalização do museu propicia a oportunidade de contar a história da evolução do tratamento dos portadores de sofrimento mental, além de pontuar o modelo assistencial vigente”, salientou a diretora do CHPB, Mônica Chartuni. O museu recebe, em média, 1.100 visitantes por mês. Desde sua criação até os dias atuais, mais de 130 mil visitantes passaram pelo local. O acervo é constituído de textos, fotografias, documentos, objetos, equipamentos e instrumentação cirúrgica, que relatam a história do tratamento cruel que era dado aos pacientes.

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FOTOS: SCIS/PREFEITURA DE BARBACENA

1 NOS PORÕES DO RETROCESSO (VI)

AS DENÚNCIAS feitas pela imprensa contra o tratamento desumano aos pacientes voltaram a ser expostas no museu revitalizado

Revisitando o passado A Ecológico foi ao Hospital Colônia de Barbacena e mostra, em primeira mão, o novo Museu da Loucura em implantação pelo governo de Minas Déa Januzzi

redacao@revistaecologico.com.br

Companheiros de geração e de redação no jornal Estado de Minas dos anos 1970, Hiram Firmino e eu éramos jovens, rebeldes, cabelos ao vento, muitos sonhos na bagagem. Fazíamos parte de um bando de “loucos” hippies, de bichos grilos que amavam a natureza, os banhos de cachoeira, o cheiro de mato, os acampamentos selvagens – e queríamos mudar o mundo. Nenhuma profissão melhor do que o jornalismo para cumprir essa missão durante os anos de chumbo, que nos amordaçava, mas que nos permitia lutar contra um inimigo comum – a ditadura militar. A gente acreditava na utopia, nossos ídolos faziam músicas de protesto, tomavam a Sierra Maestra. E cada um de nós, jovens repórteres, também recitava o mantra

“endurecer sem perder a ternura” de Che Guevara. Lírico, poeta, rebelde e também com faro de repórter investigativo, de repente, caiu nas mãos de Hiram a denúncia sobre o estado de calamidade dos hospícios de Belo Horizonte e Barbacena. Mesmo em tempos de ditadura, de censura à imprensa e de um silêncio estridente, o então secretário estadual de Saúde, Eduardo Levindo Coelho, abriu as portas de todos os hospícios públicos para o repórter, que promoveu uma verdadeira revolução no tratamento da loucura. Hiram não só revelou o que se passava atrás dos muros do então Hospital Colônia de Barbacena, como fez com que a sociedade ouvisse os gritos de dor dos internos naquela espécie de campo de concen-

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FIQUE POR DENTRO

1995 O conjunto arquitetônico do Hospital Colônia de Barbacena foi tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal e ratificado segundo normas do IEPHA pelo Decreto 6.041/2006. 1996 O prefeito Toninho Andrade autoriza, em convênio com a Fundação Municipal de Barbacena (Fundac) e a Fhemig, a construção do Museu da Loucura, no antigo Torreão da Colônia. FOTO: ALAIR VIEIRA / ALMG

2016 É o prazo para que a nova direção da Fhemig, hoje dirigida por Jorge Raimundo Nahas (foto), tem para concluir todo o projeto arquitetônicodocumental e devolvê-lo à história. Reintegrá-lo não somente à história de Barbacena, Minas e do Brasil, mas à história da psiquiatria pública mundial, para que nunca mais se repita o que aconteceu ali: a morte de 60 mil pacientes considerados “loucos”.

DETALHES renovados: a escada e o piso original também foram recuperados, assim como o sistema elétrico

REFORMAS O Torreão passou por três grandes reformas: 1996, 2006 e 2014, essa última a mais abrangente de todas já feitas, com reforma total do telhado e eliminação de instalações do prédio e do anexo (auditório). Recuperação integral do sistema elétrico e substituição do cabeamento de distribuição, tomadas, disjuntores e uso de lâmpadas LED na iluminação geral e direcional. Recuperação do piso original de ladrilhos hidráulicos em todas as salas. Adaptação de instalações sanitárias para pessoas com limitações de mobilidade.

tração da psiquiatria brasileira. Conseguiu que as denúncias de maus-tratos, venda de cadáveres dos pacientes mortos para as faculdades de medicina, os tratamentos brutais, com choques elétricos, algemas e lobotomia fossem vistos e sentidos por todos. A sua série de reportagens “Nos Porões da Loucura”, publicada no jornal Estado de Minas e vencedora do Prêmio Esso de Jornalismo de 1980, foi responsável pelo movimento que libertou os loucos encarcerados, dando início à luta antimanicomial em Minas e no Brasil, a exemplo do que o psiquiatra Franco Basaglia já tinha feito na Itália: “Com a maestria de um cirurgião, o repórter dissecou a opressão, a miséria e a tortura que os hospícios escondem atrás de seus muros. O internamento não tem a intenção de recuperar, mas de esconder a degradação a que o louco é submetido nos quase 150 anos da instituição psiquiátrica”, disse, na época, o presidente da Associação Mineira de Saúde Mental, Antonio Soares Simone.

CAUSA MORTIS Trinta e cinco anos se passaram desde a revolução da saúde mental em Minas. Somente em dezembro do ano passado eu pisei, pela primeira vez, no antigo Hospital Colônia de Barbacena para fazer a matéria de reabertura do novo museu prometido pela Fhemig. Sim, hoje, a história da loucura e das 60 mil pessoas que morreram ali voltou a estar registrada, fotografada, exposta em jornais e nos equipamentos de opressão da época. E ficará para sempre no torreão do antigo prédio da administração do Hospital Colônia, uma construção de 1920, na também chamada “Cidade das Rosas”. Pela primeira vez na história da medicina brasileira, os aparelhos de eletrochoque se transformam em peças de museu e são expostos ao público, sem restrições, graças ao projeto de revitalização. Dá calafrios ver tudo isso, apesar da beleza do prédio e do novo projeto visual de Edson Brandão.

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1 NOS PORÕES DO RETROCESSO (VI) Apesar de entregue a parte arquitetônica toda restaurada, o museu não conta ainda com todos os equipamentos, que só vão ficar prontos em 2016, já no governo de Fernando Pimentel. Mas Edson Brandão já projetou o cenário de cada sala. A Sala 1 vai abrigar os primórdios da psiquiatria no Brasil, a ferrovia e o “trem dos doidos” - da assistência às residências terapêuticas. A Sala 2 vai mostrar as formas de contenção e a laborterapia. Na 3, os descaminhos do hospital e a eletroconvulsão, as grades e as algemas. A perda da individualidade. Na 4, a burocracia da loucura. A 5 será reservada ao auditório. A 6 terá como tema “Saúde não se vende, loucura não se prende”, com todas as denúncias da imprensa de frente com a loucura. Vão estar lá as fotos da revista O Cruzeiro, feitas por Luiz Alfredo, que retratou a tragédia silenciosa. E também mostrará “O Estranho no Ninho”, filme interpretado por Jack Nicholson, a série de reportagens “Nos Porões da Loucura” e a “Carta de Bauru”. Na 7, a luta antimanicomial. Na 8, o “Programa de Volta para Casa”, com os serviços substitutivos e os centros de convivência. A Sala 9 será a cirúrgica, sobre a lobotomia, quando operavam o cérebro dos doentes mentais na tentativa de mudar o comportamento deles. A Sala 10 vai ser aberta para a memória virtual, quiosques digitais e acervo documental digitalizado. Será um quiosque multimídia, com conteúdo audiovisual.

Mais que calafrios, entrar no Museu da Loucura é levar um choque. “Lembrar, se for preciso. Esquecer, jamais!”, o antigo refrão sobre a ditadura militar se encaixou como luvas na visita ao Museu da Loucura. Tendo como guias Mônica Chartuni e Lucimar Pereira, fui visitar os dois andares e as 10 salas restauradas da nova instituição. Antes de entrar, noto alguns ex-internos passeando pelos jardins. São 150 ex-pacientes do antigo hospício, hoje transformado em hospital geral. Eles moram em residências terapêuticas e ainda perambulam, mas sorriem para os visitantes e pedem uma moedinha, sinal de que querem puxar conversa. De cara, logo na entrada, um banner, que é como um soco no estômago, diz como e porquê se morria tanto ali: “Causa Mortis: diarréia, astenia geral, sífilis cerebral, anemia perniciosa e aguda, excitação maníaca, cachexia simples pós diarréia verminosa por avitominose, ancilostomíase, frio, tristeza, abandono, fome, omissão, ignorância, repressão, falta de verbas, exclusão, preconceito, miséria. Ninguém morre de loucura”. Paro, leio, releio e anoto. Mas Mônica e Lucimar me incentivam a prosseguir, enquanto dizem: “O tratamento para pacientes com transtornos mentais evoluiu

FOTOS: SCIS/PREFEITURA DE BARBACENA

COMO FICARÁ?

A REVITALIZAÇÃO não terminou: várias salas ainda terão seus acervos atualizados Só Franco Basaglia, o precursor do movimento internacional contra os hospícios. Quando esteve em Belo Horizonte e Barbacena, em 1979, e se horrorizou com o que viu, ele se dirigiu a todos dizendo: “Cabe a vocês, trabalhadores da saúde mental, mudarem essa história”. E a equipe do Museu da Loucura está mudando-a , lembrando que “o paciente com transtorno mental é um cidadão com direitos sociais”.

muito. Antes, o modelo era de exclusão, hoje a grande diferença é a inclusão social. Com a regulamentação da legislação a partir de 2001, surgiu um novo e mais humano modelo de tratamento psiquiátrico. Criaram-se serviços substitutivos aos internamentos asilares, como os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), que são portas de entrada. Os pacientes são conduzidos de acordo com as suas necessidades, aos ambulatórios ou aos Centros de Convivência (Cersans), depois de atendidos por uma equipe interdisciplinar composta por psiquiatras, neurologistas, psicólogos, assistentes sociais. Para fazer uma internação hoje, o psiquiatra não pode mais decidir sozinho. A equipe de saúde mental atualmente é uma clínica ampliada, onde há oportunidade para vários saberes. O novo museu vai contar a história passada, mas não quer ficar presa a ela. “Pretendemos avançar, com esse novo olhar para a saúde mental e a evolução dos medicamentos. O prédio está pronto para receber o mundo tecnológico, com a participação interativa do público, que pode ter informações até pelo celular. Não vamos apagar o passado, quando os hospícios tinham portas abertas somente para entrar, mas estavam trancadas na saída.” 

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O CHEF EDUARDO AVELAR ESTÁ NO NOVO JORNAL HOJE EM DIA. VIVA A INFORMAÇÃO.

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FOTO: AGENCE DER

1 COMPENSAÇÃO AMBIENTAL

AMIGA DO CLIMA

Com parceria e orientação da WayCarbon, a Ecológico faz inventário e mantém compensação da emissão de gases de efeito estufa produzidos em suas atividades Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

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mente do que na década anterior, sobretudo em razão do aumento do uso de carvão para geração de energia. Atualmente, a concentração de gases na atmosfera é a mais alta dos últimos 800 mil anos”. Isso sem contar a possibilidade de um aumento na temperatura média global até 2100... A boa notícia, porém, é que o número de empresas preocupadas FOTO: DIVULGAÇÃO

“T

oda ação gera uma reação.” A frase do físico inglês Isaac Newton ilustra bem o impacto das atividades do ser humano no planeta. Para irmos ao trabalho, muitas vezes utilizamos um transporte à base de combustível fóssil. Ao tomarmos banho, consumimos energia, e, no dia a dia, produzimos resíduos de diversas fontes. Se multiplicarmos essas ações pelas bilhões de pessoas que existem no mundo e fazem isso diariamente, pode se ter uma ideia da quantidade de gases nocivos que são liberados no meio ambiente. Segundo o último relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), “entre 2000 e 2010 as emissões de gases de efeito estufa (GEE) cresceram mais rapida-

em mitigar seus impactos também tem crescido, ainda que gradativamente. E já existem instituições renomadas para orientá-las nesse sentido. Um bom exemplo é a WayCarbon, sediada em Belo Horizonte (MG), que desenvolve estratégias para economia de baixo carbono, gases de efeito estufa e comercialização de créditos. Funciona da seguinte forma: a empresa faz parcerias com pessoas, organizações ou eventos. Em seguida, faz um inventário de emissões de GEE produzidos pelo parceiro, baseado nas atividades exercidas por ele. Feito esse levantamento, é elaborado um projeto ambiental para a compensação desses gases. É o que acontece na Revista Ecológico. Toda a geração de poluentes das produções mensais da publicação, provenientes da utilização de gráfica, consumo

HENRIQUE PEREIRA: “As emissões de gases da Ecológico estão sendo compensadas”

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FOTO: LAUBELSTOCKPHOTO

VOCÊ SABIA? Gases de Efeito Estufa (GEE) são substâncias gasosas naturais responsáveis pelo aquecimento do planeta. Os raios solares, ao serem emitidos para a Terra, têm dois destinos: 35% são refletidos e direcionados ao espaço, como radiação infravermelha, e os outros 65% são absorvidos pelo planeta e transformados em calor. Os GEEs são os responsáveis por reter esses raios, transformando a Terra em uma espécie de estufa. Sem eles, a temperatura média seria 30 graus mais baixa, impossibilitando a vida no planeta tal como conhecemos hoje. Para especialistas, o fenômeno anormal é causado pela queima de combustíveis fósseis, o desmatamento, a agricultura, a pecuária e a ação das indústrias, impedindo os raios de voltarem para o espaço, o que altera o clima natural e desregula os ecossistemas de todo o planeta. Fonte: EcoDesenvolvimento

A CONCENTRAÇÃO de gases na atmosfera hoje é a mais alta dos últimos 800 mil anos

de papel ou mesmo manutenção de aparelhos de ar-condicionado em sua sede, é quantificada e compensada por meio de créditos de carbono. Da mesma forma, também são neutralizadas as emissões dos gases gerados pela realização do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade e Amor à Natureza”, outra iniciativa do Grupo Ecológico. O diretor da WayCarbon, Henrique Pereira, conta que “somente em relação às atividades realizadas pela Ecológico entre outubro de 2013 e setembro de 2014, foram contabilizadas 55 toneladas de dióxido de carbono equivalente”. Todas já compensadas com a aquisição de créditos de carbono por meio do “Programa Amigo do Clima”. RESPONSABILIDADE CLIMÁTICA O “Amigo do Clima” visa garantir a transparência e a rastreabilidade de atividades de responsabilidade climática. Pessoas, empresas

e eventos podem aderir ao programa, desde que conheçam seus impactos, estabeleçam e cumpram metas de redução de gases de efeito estufa, formulem políticas relacionadas ao tema ou compensem suas emissões de GEE. Após quantificá-las, o participante terá acesso a vários projetos de geração de créditos de carbono disponibilizados pelo programa. E, depois de selecionar os mais adequados e a quantidade de crédito necessária para compensar a produção de GEE, é emitido um certificado contendo as informações sobre a compensação. No caso da Ecológico, o projeto escolhido foi o “Manaus Landfill Gas Project”. Desenvolvido na capital amazonense, ele atua na coleta do gás de aterros sanitários e no seu aproveitamento para geração de energia elétrica, em substituição à eletricidade convencional, produzida por meio de combustíveis fósseis. Dessa forma, é possível produ-

zir energia renovável e reduzir as emissões de GEE por meio da destruição do metano (CH4) presente no biogás. Além da redução nas emissões, a queima do biogás promove melhoria da qualidade local do ar, beneficiando a população do entorno, além de minimizar os riscos de incêndio e a contaminação das águas subterrâneas. Os projetos de redução de emissões apresentados pelo “Amigo do Clima” foram desenvolvidos a partir de padrões internacionais. Além disso, o programa faz um registro público das ações amigas do clima que comprovam as práticas sustentáveis dos participantes. Atualmente, ele contabiliza 14 compensações realizadas, totalizando aproximadamente 53 mil toneladas de dióxido de carbono equivalente.  SAIBA MAIS www.waycarbon.com.br

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1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE

CNH Industrial: a fábrica reutiliza quase 100% da água consumida no complexo

FOTO: JOMAR BRAGANÇA

REFERÊNCIA EM

SUSTENTABILIDADE CNH Industrial, em Sorocaba (SP), torna-se a primeira montadora latino-americana a ser certificada como edificação sustentável Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

O

stentar o título de primeira montadora na América Latina a receber a certificação LEED Gold, o mais importante selo internacional de meio ambiente para edificações sustentáveis. Esse é um dos mais recentes orgulhos da CNH Industrial, multinacional especializada na produção de bens de capital, como caminhões e máquinas agrícolas. Para se ter uma ideia, apenas 44 empresas no mundo possuem essa certificação. O reconhecimento veio graças a

uma série de ações realizadas no Centro de Distribuição de Peças, localizado na planta de Sorocaba, interior de São Paulo. A unidade certificada possui 66 mil m² de área construída e agrupa 530 colaboradores. Construído sob o conceito do Green Building, uma organização não governamental que atua no fomento à construção sustentável, o edifício adota uma série de soluções inteligentes, que melhoram o conforto térmico, economizam energia elétrica e ra-

cionalizam o consumo de água. A área do Centro de Distribuição (CD) conta com três unidades de tratamento de efluentes e resíduos, que permitem a reutilização de quase 100% da água consumida no complexo. A capacidade instalada de tratamento de água é de 480 m³ por dia. A estrutura conta ainda com seis poços artesianos que garantem autossuficiência para a fábrica, sem a necessidade de contar com o abastecimento da rede pública. A água da chuva também

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

FIQUE POR DENTRO

Criada em setembro de 2013 a partir da fusão da Fiat Industrial e a CNH Global, a CNH Industrial, consolidada entre as líderes de mercado mundial de bens de capital, congrega no Brasil as marcas: Case IH, CASE Construction Equipment, New Holland Agriculture, New Holland Construction, Iveco, Iveco Bus, Iveco Defesa e FPT Industrial. A companhia tem sete plantas no país – Contagem (MG), Curitiba (PR), Piracicaba (SP), Sorocaba (SP) e três em Sete Lagoas (MG).

é captada e enviada para um reservatório que abriga até 6.000 m³, abastecendo o sistema de combate a incêndio, os vasos sanitários e a jardinagem, o que otimiza o uso dos recursos hídricos no complexo. No quesito reciclagem, o CD também reutiliza a madeira de embalagens de grande porte. Em outubro do ano passado foram iniciados o processo de desmontagem de caixas de madeiras e a reutilização do material na carpintaria interna, para expedição de novas peças. A estimativa é que sejam reutilizadas, neste ano, 20 toneladas de madeira por mês, superando as 15 toneladas mensais recicladas em 2014.

REUSO de água: investimento de R$ 1,5 milhão gerou economia de 30% no uso dos recursos hídricos

ECONOMIZAR É A CHAVE E os progressos ambientais não pararam por aí. Segundo o diretor de Operações da CNH Industrial Parts & Service, José Roberto Manis, “com a mudança das operações para o novo prédio, reduzimos o consumo de eletricidade em 47% em relação ao antigo galpão, graças às diversas atribuições sustentáveis incorporadas à nova construção”. Manis também conta que foram investidos R$ 1,5 milhão somente no sistema capaz de reutilizar a água, que também gerou economia de 30% para a empresa. Também preocupados com o

COMUNIDADE: projetos sociais envolvem jovens em atividades educacionais e esportivas

pilar social da sustentabilidade, a CNH Industrial desenvolve projetos comunitários em Sorocaba e Piracicaba (SP). Batizado de “Case Multiação”, o projeto que existe desde 2009 reúne outras marcas do grupo, tais como CASE Construction Equipment e Case IH, e oferece atividades de educação para jovens em situação de vulnerabilidade social, além de programas esportivos. Um deles é o “Projeto Social São José” que atende 700 crianças em Sorocaba. A iniciativa bus-

ca diminuir a permanência de crianças nas ruas nos horários alternativos à escola, propiciando atividades de socialização, educação e cultura. Outro bom exemplo é o projeto “Arremesso para o amanhã”, em parceria com o projeto Social da Liga Sorocabana de Basquete (LSB), para formação de atletas das categorias de base do time e que atende 200 crianças da região.  SAIBA MAIS cnhindustrial.com FEVEREIRO DE 2015 | ECOLÓGICO  61

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FOTO: SCENERY1

CÉU DO MUNDO VINÍCIUS CARVALHO

CRISE DA ÁGUA O impacto da crise da água apareceu, pela primeira vez, no topo da lista de riscos do Fórum Econômico Mundial. Há nove anos, o Fórum submete a seus participantes duas listas com os principais riscos para o planeta nos próximos dez anos. Uma se refere aos

riscos mais prováveis e a outra elenca os de maior impacto. No topo da lista dos mais impactantes, “Crise da Água” apareceu em primeiro lugar, seguida por “Rápida e Maciça Disseminação de Doenças Infecciosas e por Armas de Destruição em Massa”.

FOTO: U.S. AIR FORCE PHOTO - STAFF SGT. SAMUEL MORSE

CATÁSTROFES AMBIENTAIS

As tragédias naturais registradas no planeta em 2014 provocaram menos mortes e danos materiais, informa a resseguradora Munich Re. A gigante alemã dos resseguros calcula que os custos acumulados pelas catástrofes no ano passado chegaram a US$ 110 bilhões, valor menor que o registrado em 2013 (US$ 140 bilhões).

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FOTO: SCENERY1

POLUIÇÃO EM PEQUIM

Os níveis de poluição dispararam na capital chinesa e chegaram a atingir, em janeiro deste ano, um pico 20 vezes superior aos limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A espessa nuvem de fumaça reduziu a visibilidade na capital chinesa e obrigou motoristas a ligar os faróis durante o dia.

METANO YANKEE

A Casa Branca anunciou medidas para reduzir as emissões de metano, que representam quase 10% dos gases causadores do efeito estufa emitidos pelos Estados Unidos. O objetivo é reduzir entre 40% e 45% o lançamento de metano relacionado à produção e à distribuição de gás e de petróleo, até 2025, em relação aos níveis de 2012.

FOTO: REHMAN

FOTO: ERIC ISSELÉE

MAIOR DO MUNDO

A usina de Três Gargantas, na China, superou a usina de Itaipu e tornou-se a maior infraestrutura de geração hidrelétrica do mundo. Foram produzidos 98,8 milhões de megawatts por hora (MWh) em 2014, contra 87,8 milhões de Itaipu.

OURO DE TOLO

A proliferação de minas de ouro conduziu a um aumento significativo do desflorestamento das selvas tropicais na América do Sul. A afirmação é da revista científica Environmental Research Letters, segundo a qual 1.680 km² de florestas tropicais foram derrubadas nos continentes para exploração de ouro entre 2001 e 2013.

ENERGIA

O condado de Caithness, no litoral nordeste da Escócia, está prestes a ganhar uma estrutura no fundo do mar que vai gerar energia suficiente para abastecer 175 mil casas. A maior usina de energia das marés do mundo, com potencial total de 400 MW, começará a ser construída este mês.

NÍVEL DOS MARES

O aumento do nível do mar está ocorrendo a uma velocidade 2,5 vezes maior do que durante o século passado. Pesquisadores da Universidade de Harvard (EUA) calculam que, desde 1990, os oceanos crescem até três milímetros por ano - índice que será ainda maior sem ações de redução do aquecimento global.

PAPA FRANCISCO

O líder da Igreja Católica pediu aos líderes mundiais mais coragem nas negociações para chegar a um acordo global sobre a mudança climática na cúpula de Paris, no fim deste ano. “Esperemos que os governos sejam mais corajosos em Paris do que foram em Lima”, afirmou. Na capital peruana, delegações de 196 países aprovaram, em dezembro, o “rascunho zero” de um futuro acordo global do clima. FEVEREIRO DE 2015 | ECOLÓGICO  63

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1 INTERNACIONAL

A TRÊS MINUTOS DO FIM Relógio do Apocalipse é adiantado para 23h57 e possibilidade de uma catástrofe global é cada vez mais evidente Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

M

eteoro? Planeta Nibiru? Choque de cometa? Invasão extraterrestre? Esqueça todas essas supostas teorias apocalípticas a que você tem assistido nos filmes científicos dos últimos anos. Hoje, é mais provável que o fim do mundo seja provocado não pelo que está fora da Terra, mas sim pelo que acontece nela. É o que apontaram, no fim do mês passado, representantes do Boletim de Cientistas Atômicos (BAS, na sigla em inglês), quando adiantaram o “Relógio do Apocalipse” em três minutos: hoje, ele marca exatamente 23h57. Criado há 67 anos para apontar riscos de catástrofes mundiais que sinalizariam uma possível extinção da humanidade, o relógio simbóli-

co utiliza como analogia o fato de os seres humanos estarem a “minutos para a meia-noite”, sendo que esta hora significava, inicialmente, a destruição por uma guerra nuclear. No entanto, essa última “atualização” de nossa caminhada para o fim foi provocada por mais dois outros fatores, além da corrida armamentista: ameaças tecnológicas e... mudanças climáticas! “Apesar de alguns avanços modestos neste campo em 2014, que refletem o progresso contínuo de tecnologias de energias renováveis, os esforços atuais são insuficientes para evitar um aquecimento catastrófico da Terra”, afirmaram os cientistas do BAS. Num último apelo, eles alertaram: “Imploramos aos líderes políticos

do mundo uma ação coordenada e rápida para reduzir drasticamente as emissões globais de gases do efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono, e encolher os arsenais de armas nucleares. Também imploramos aos cidadãos do mundo para que exijam ação de seus líderes. A ameaça paira sobre toda a humanidade”. Em 2014, o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) divulgou seu mais recente relatório afirmando que, caso não fosse feito um acordo global para reduzir as emissões, a temperatura média do planeta poderia aumentar de três a oito graus Celsius até o fim do século. As consequências? Elevação do nível dos mares, acidificação dos

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FOTO: STR / AFP

oceanos, secas, variações bruscas de temperatura, tempestades severas, impactos na produção de alimentos, energia, e, na esteira disso, fome, doenças, guerras... Além de as emissões de carbono estarem alterando o clima da Terra, os cientistas afirmaram também que as mudanças climáticas e a proliferação nuclear são fatores inter-relacionados. “O esforço para reduzir emissões de carbono está abastecendo o interesse na geração de energia nuclear, o que levará à propagação de dupla utilização dessa tecnologia. Esse cenário aumentaria as chances de uma guerra de proporções internacionais”, afirmou Kennette Benedict, diretor-executivo do BAS. No caso da inteligência artificial, os riscos decorrem do aumento de crimes virtuais e ataques cibernéticos, ameaças potenciais para “desestabilizar as instituições governamentais e financeiras e servir como um meio para novas tensões

CRISE HÍDRICA: o início do fim?

internacionais”. No documento publicado em seu site, o BAS também demonstra preocupação com a defasagem entre os avanços científicos no campo tecnológico e com a capacidade de a sociedade civil controlá-los. “A comunidade internacional

precisa fortalecer as instituições que regulam tecnologias emergentes e criar novos fóruns para explorar os potenciais riscos. Há uma preocupação sobre a capacidade de comando e controle humano sobre a inteligência artificial.”

para reconstruir praticamente todas as suas tríades nucleares nas próximas décadas. Outros países com armas nucleares estão seguindo o exemplo. Os custos projetados dessas “melhorias” são injustificados e põem a iniciativa de desarmamento global em risco.

futuro da indústria de energia nuclear em todo o mundo, também haverá uma necessidade de se construir instalações provisórias e permanentes para o armazenamento seguro desses resíduos.

O QUE FAZER? Com o fracasso dos líderes em evitar tais catástrofes, os membros do BAS indicaram cinco medidas emergenciais que a população deve exigir dos governantes de seus países para evitar o colapso global. São elas: l Tomar medidas que limitem as emissões de gases de efeito estufa em níveis suficientes para impedir o aumento da temperatura média global para mais de dois graus Celsius: a meta de dois graus é um consenso entre os cientistas - é alcançável e economicamente viável, principalmente se os líderes mostrarem mais interesse em proteger seus cidadãos do que em servir os interesses econômicos da indústria de combustíveis fósseis. l Reduzir drasticamente os gastos com programas de modernização de armas nucleares. Os Estados Unidos e a Rússia têm eclodido planos

l Reestimular o processo de desarmamento com foco em resultados. Os Estados Unidos e a Rússia, em particular, precisam iniciar as negociações para reduzir suas estratégias e arsenais nucleares. O mundo e seus cidadãos estarão muito mais seguros sem essas armas. l Lidar sustentavelmente com a questão dos resíduos nucleares. A expansão da geração de energia elétrica movida a energia nuclear pode ser um componente importante do esforço para limitar as alterações climáticas. Independentemente do curso

l Criar instituições para analisar e combater o mau uso de novas tecnologias. O avanço científico pode prover a sociedade com grandes benefícios, mas o potencial para uso indevido de novas e potentes tecnologias é real. A menos que o governo e os líderes empresariais e científicos tomem medidas adequadas para explorar e abordar eventuais consequências devastadoras dessas tecnologias logo no início do seu desenvolvimento.

SAIBA MAIS

thebulletin.org

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FOTO: REPRODUÇÃO CTBTO

FOTO: GERALD R. FORD

1 INTERNACIONAL

1972 - 23:48

EUA e União Soviética assinam dois acordos: “Limitação de Armamentos Estratégicos” e “Tratado Anti-Míssil Balístico”

1963 - 23:48

113 países assinam o “Tratado Internacional de Proibição Parcial de Testes Nucleares”

1949 - 23:57

A União Soviética testa sua primeira bomba atômica

1981 - 23:56

1953 - 23:58

Estados Unidos e União Soviética desenvolvem a bomba de hidrogênio

Intensificação da corrida armamentista e conflitos na Europa e na África. Os EUA sinalizam que as armas nucleares são a melhor forma de acabar com a Guerra Fria

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FOTO: LEAR 21

1991 - 23:43

EUA e União Soviética assinam o “Tratado de Redução de Armamentos Estratégicos” e ambos diminuem seu arsenal nuclear

1995 - 23:46

1990 - 23:50

Com o aumento das despesas militares globais, os EUA agora mostram-se relutantes em reduzir seu arsenal. Esta foi a última vez que o “Relógio do Apocalipse” ficou acima de 10 minutos para a meia-noite

Queda do Muro de Berlim, na Alemanha, e a Guerra Fria começa a caminhar para o fim

1984 - 23:57

Piora a relação entre EUA e União Soviética. Ronald Regan, então presidente norte-americano, anuncia a criação do programa “Strategic Defense Initiative” (Iniciativa Estratégica de Defesa, em português), com sistemas de radares de longo alcance para detectar e destruir mísseis

2015 - 23:57

Tic-toc

apocalíptico Desde quando foi criado, em 1947, o “Relógio do Apocalipse” foi ajustado 22 vezes. O momento mais crítico se deu seis anos depois, quando marcou apenas dois minutos para a meia-noite. Isso se deu devido aos testes que Rússia e EUA estavam realizando com a bomba de hidrogênio – até hoje a arma mais letal que o homem construiu. Para se ter ideia, seu

Mudanças climáticas, ameaças tecnológicas e falhas na luta contra o armamento nuclear

potencial destrutivo é até 750 vezes maior do que a bomba atômica que destruiu Hiroshima em 1945. O momento em que um colapso global esteve mais longe de nossa realidade foi em 1991, quando a Rússia e EUA (eles, de novo) assinaram o “Tratado de Redução de Armamentos Estratégicos”: nessa época, o relógio marcou esperançosos 17 minutos para a meia-noite.  FEVEREIRO DE 2015 | ECOLÓGICO  67

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OLHAR INTERIOR

ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE OSLO, NORUEGA

REGANDO OS

BROTOS DE 2015

P

FOTO: TSACH

ara direcionar 2015 no sentido que você deseja, sugeri na coluna de janeiro “semear intenções”. Um mês já se passou e espero que seus brotos já estejam germinando. Se ainda não, e considerando as dificuldades comuns a todos nós, gostaria de dividir com você a minha experiência. Depois das férias, leio novamente o texto que escrevi intitulado “A melhor versão de mim mesma”. Ali, descrevo como desejo me encontrar no final deste ano, usando os verbos no presente (“eu estou”, “eu pratico”). Me parece um bom plano. Porém, ao analisar janeiro, percebo que, vagarosamente, venho renovando antigos hábitos. Poucas ações foram colocadas em prática. Entretanto, em vez de reprimir a frustração pela minha inércia, faço uma escolha consciente pelo meu bem-estar. Em primeiríssimo lugar, imagino o que a minha melhor amiga me diria carinhosamente ao ouvir as minhas frustrações. “Não seja tão rigorosa com você mesma. Dificuldades de mudar padrões de vida e estabelecer novos hábitos são comuns a todos nós. Nada mudará da noite para o dia. E lembre-se: mais interessante do que chegar à reta final é percorrer o caminho – com alegria e paz de espírito.” Em meu exercício de imaginação, troco de lugar com ela e repito suas palavras para mim mesma. Adoto um tom afetivo e meigo. O efeito é imediato. Ao me sentir acolhida e aceita por mim mesma, renovo minhas intenções de me tornar “a melhor versão de mim mesma”. Segundo passo: escrevo uma lista contendo todas as coisas que adoraria fazer e aquelas que devo cumprir. Ao relê-la, levei um choque. Tomei consciência de

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que, entre as minhas 15 intenções de vida para este ano, atualmente só pratico duas. Como assim? Muitos dos intuitos ali descritos venho me propondo a adotá-los há anos. E as autocríticas felinas se iniciam. Espera aí! Quanta condenação a mim mesma. Cá estou eu, novamente, rigorosamente me julgando, censurando. Esse padrão de pensamentos negativos e críticos eu já conheço. Você já observou essa tendência mental que temos de nos olhar através de um prisma negativo? Porém, quando somos capazes de ver que nossos pensamentos são apenas pensamentos e não “quem somos”, nos libertamos da tirania mental e de sua realidade distorcida, permitindo maior lucidez e capacidade de gerenciamento de nossas vidas. Parto para o terceiro passo. Crio um plano semanal, minucioso, contendo quase todas as atividades de minha lista. Essa é a primeira semana em que estou colocando-o em ação. Ajustes estão sendo feitos. Observo uma certa ansiedade em relação ao tempo, mas me pego no pulo do gato. O objetivo do plano semanal é nortear meus dias, me dando a oportunidade de praticar as minhas intenções; e não ser uma fonte a mais de estresse. Ao mesmo tempo, reconheço um sentimento de alegria e prazer a cada tarefa cumprida. Um gostinho de vitória por saber que, momento a momento, estou praticando a “melhor versão de mim mesma”. Se nossos brotos vão vingar em 2015, ainda está cedo para afirmar. Tudo dependerá dos padrões de pensamentos e do carinho e aceitação para conosco mesmo, com os quais iremos regá-los.  (*) Life coach, psicanalista e consultora internacional de comunicação.

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1 T

GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

O MAR RECUOU

eóricos do marketing moderno e institutos de pesquisa respeitáveis como o Gartner apontaram que o mundo dos negócios nunca mais será o mesmo. Ele será varrido por um tsunami digital que não deixará pedra sobre pedra na praia da comunicação. Afirmam com segurança profética: quem viver, verá. Não discordo, mas reflito. Será o tsunami digital um verdadeiro algoz das organizações nos próximos anos? Prefiro encarar essa revolução digital como um recuo de mar que antecede a grande onda e que, com seu aviso, salva as populações mais antenadas que correm para lugares altos antes do desastre. É certo que estamos sofrendo uma overdose de informação. Que eu e muitos com quem convivo já quase não assistimos mais à TV e a seus noticiários e que a web nos garante informação sobre os fatos recentes, atualizada a cada minuto. É certo que compramos cada vez mais pela internet. É certo que as experiências do mundo físico são cada vez mais parte do negócio do entretenimento, seja ir a um supermercado, ao shopping ou à escola - isso mesmo, aquela escola onde os alunos irão muito mais para brincar, aprender convívio e inspirar-se com bons mentores que para obter o conhecimento que lhes chega, fluido, pela rede. Mas também é certo que as pessoas desejam qualidade: de vida, de serviços, de produtos. O que faz o tsunami digital é iluminar a marca das empresas, não a marca gráfica, mas a do relacionamento, aquela que nos impregna e permanece em nossas mentes.

TECH NOTES l Entenda o impacto da revolução digital

nas organizações http://goo.gl/iJaTn9

l Os caminhos do Gartner para o marketing digital

Em nosso tempo é permitido conhecê-las a priori: hotéis de boa qualidade ou os que queremos esquecer; produtos superiores ou aqueles que devolvemos e criticamos... Tudo comprado de forma simples e garantida, sem que tenhamos que fazer tentativas, com erros ou acertos, sempre tão caras. Sabemos da experiência com uma marca quando perguntamos sobre ela a quem nem conhecemos, aos que, antes de nós, usaram, compraram, comentaram, se encantaram ou se decepcionaram. Nesses tempos, conhecer o que se passa na cabeça de nosso cliente e o que ele pensa de nós deixou de ser missão do Ibope. Não são mais semanas de pesquisa estatística de opinião. Saber que sentimentos uma marca provoca em seu público ficou instantâneo como leite em pó! É aí que prosperam as dezenas de ferramentas do novo marketing digital. São muitos caminhos, estratégias, ideias e formas novas de falar com o público numa relação “um para um”, não mais “um para n”. Ferramentas são importantes, mas nenhuma empresa deve se esquecer de que precisa encantar o cliente, surpreendê-lo, cumprir suas expectativas e ir além. E, se errar, desculpar-se e compensá-lo. Sempre foi assim, mas agora temos voz e lugar para falar das marcas. Não é por acaso que mais acordos sobre disputas comerciais estejam sendo feitos em sites como o “Reclame Aqui” que nos tribunais. Por quê? Porque podemos produzir e consumir informação precisa sobre o que compramos em tempo recorde. Podemos constatar, estando dentro de uma loja física, que o preço de qualquer coisa não está bom e decidir não levar. Isso assusta as empresas da economia presencial. Elas argumentam que nada substitui o contato humano (também concordo), mas temem a nova realidade em que seus erros de entrega vão ser visceralmente debatidos em questão de minutos. Se há um tsunami digital, você pode correr para a montanha. Parece seguro. Mas há sempre a possibilidade de se valer dos avisos e entender o caminho a percorrer para sobreviver a ele. Seja rápido. O mar já recuou. 

http://goo.gl/tY6ZBs

l O que é Gestão de Marca

http://goo.gl/hIgYgy

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG, presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - BORBOLETAS

BELEZA ALADA

Consideradas um dos seres vivos mais belos e frágeis, as borboletas são termômetro da conservação ambiental e encantam por sua impressionante combinação de cores e pela delicadeza de seu “balé” aéreo Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

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ainha das cores e da delicadeza, a borboleta é considera por muitos um dos mais belos exemplares do reino animal. Símbolo de transformação, é raro encontrar alguém que não se renda à perfeição de suas formas e à leveza de seus movimentos. Não por acaso, o doutor Hugo Werneck, considerado o “pai” do movimento ambientalista brasileiro, se referiu a elas como “cores que voam”, definição aprendida com uma criança, durante visita ao borboletário da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, na Pampulha. Juntamente com as mariposas, as borboletas são representantes da ordem Lepidoptera, cujo nome remete a uma característica única e exclusiva desse grupo: as asas cobertas por minúsculas escamas, do grego lepido (escamas) e pteron (asas). Essas escamas determinam a coloração de suas asas e também são as responsáveis pela formação das mais diferentes combinações de cores que distinguem cada espécie. Segunda maior ordem entre os insetos, a Lepidoptera totaliza cerca de 160 mil espécies conhecidas em todo o planeta. O Brasil está

entre os três países mais ricos em lepidópteros – perde apenas para Peru e Colômbia –, com 26 mil espécies descritas. Entre todos os lepidópteros do mundo, apenas 20 mil são borboletas, mais de três mil delas no Brasil. Todo o restante das espécies é de mariposas. SETE FAMÍLIAS Os lepidópteros não ocorrem apenas nos polos terrestres. E há registros de sua presença desde altitudes ao nível do mar até pouco mais de cinco mil metros. Bem mais conhecidas e estudadas que as suas companheiras de ordem, as borboletas se distribuem em apenas sete famílias: Nymphalidae, Papilionidae, Pieridae, Riodinidae, Lycaenidae, Hesperiidae e Hedylidae.

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O corpo é dividido em três partes: cabeça, tórax e abdômen. A cabeça é bem destacada, dotada de um grande par de olhos formado por diversas partes menores (os chamados olhos compostos), além de um par de antenas. Na cabeça fica ainda o aparelho bucal típico de todas as borboletas e de quase todas as mariposas: uma estrutura em forma de tubo isolado, conhecida como espirotromba, por meio da qual são sugados os líquidos. No tórax estão localizadas a musculatura e as estruturas ligadas à locomoção. Essas estruturas locomotoras são formadas por três pares de pernas (em muitas borboletas o primeiro par é reduzido e pouco visível, dando a impressão de que elas só têm quatro pernas), além de dois pares de asas. A maior parte do aparelho digestório e os órgãos ligados à cópula e reprodução ficam no abdômen. Os adultos da maioria das espécies se alimentam do néctar de flores, mas diversas borboletas tropicais conseguem seu alimento em frutos em decomposição, fezes, seiva fermentada e animais mortos. RISCO DE EXTINÇÃO Além de comporem a base de inúmeras cadeias alimentares importantes em todos os biomas terrestres, os lepidópteros, assim como boa parte dos insetos, têm grande valor para a humanidade, graças aos serviços ambientais que prestam. Afinal, os insetos de modo geral atuam como polinizadores, decompositores, controladores de micro-organismos e pragas, além de serem essenciais à produção de alimentos, cera, seda, mel e remédios.

Sua relevância é tanta que os lepidópteros representam quase a metade dos invertebrados terrestres incluídos na mais recente “Lista Oficial de Espécies Ameaçadas de Extinção”. No Brasil, das 130 espécies inicialmente avaliadas, 48 foram consideradas em risco. A urgência de esforços para a preservação de borboletas e mariposas motivou o Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, a publicar, em 2011, o “Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Lepidópteros Ameaçados de Extinção”. Uma das espécies listadas no documento – elaborado com a participação de pesquisadores e gestores estaduais – é encontrada em Belo Horizonte. Trata-se da Nymphalidae Actinote quadra. A conservação dos hábitats da Actinote quadra, que incluem boa parte dos remanescentes de matas de altitude de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, é considerada a principal medida para a sobrevivência dessa espécie. Recentemente, a sua presença também foi registrada em Rosário da Limeira, na Zona da Mata mineira, em Santa Bárbara, perto de Ouro Preto, e no Parque Nacional da Serra da Bocaina. Conheça, a seguir, outras características e peculiaridades das borboletas:

ENTENDA MELHOR

l Em todos os hábitats terrestres e de água doce, os insetos totalizam quase um milhão de espécies conhecidas. Para cada 100 espécies conhecidas de organismos multicelulares, mais de 60 são insetos. l Mesmo considerando-se que muitos deles têm menos de um milionésimo do peso de um vertebrado do nosso tamanho, a soma do peso de todos os insetos na Terra é certamente bem maior do que o de todos os outros animais juntos. l As borboletas são excelentes modelos para estudos biológicos, ecológicos e evolutivos e têm sido muito importantes no desenvolvimento da teoria da biologia da conservação. Também são usadas em estudos bioquímicos e de outras áreas do conhecimento para o desenvolvimento tecnológico, especialmente na área de genômica. l Geralmente, as borboletas têm hábitos diurnos. No entanto, há algumas espécies, de cores escuras, que voam do crepúsculo até o início da noite. Os Hedyliae (foto à esquerda, no centro da página) até pouco tempo eram considerados mariposas, mas estudos recentes mostraram que são na verdade borboletas noturnas e, por isso, se parecem tanto com mariposas.

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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - BORBOLETAS

METAMORFOSE E MIGRAÇÃO

– Ao longo de seu 1desenvolvimento, crescimento e

semana até dois anos), os adultos ainda têm asas muito pequenas, que precisam ser expandidas. Por cerca de uma hora, o animal fica parado, enquanto suas asas crescem – graças à ação da hemolinfa (o sangue dos insetos) – e secam.

herbívoras. Alimentam-se de folhas, flores, ramos e frutos. Há espécies detritívoras (comedoras de fungos e líquens) e ainda as carnívoras e parasitas de outras espécies. A escolha da planta para a deposição dos ovos é feita pelas fêmeas. FOTO: MARCUS GUIMARÃES

os lepidópteros passam por quatro estágios distintos: ovo, larva (ou lagarta), pupa (ou crisálida) e adulto (ou imago).

Após saírem – As lagartas dos – Exemplares – Algumas 2que–davaria pupa (período 3lepidópteros são, 4adultos de 5 espécies são de uma em sua maioria, borboletas vivem de migratórias poucos dias a mais de seis meses. No caso do gênero Heliconius, o tempo médio de vida oscila de três a quatro meses na natureza, podendo chegar a quase um ano em borboletários.

e podem voar centenas de quilômetros ao longo da vida. Um exemplo são as borboletasmonarcas (Danaus plexippus), comuns na América do Norte, que migram no inverno para o México e a costa oeste dos Estados Unidos.

Holometábolos:

são os insetos que, assim como as borboletas, as mariposas, as moscas e as pulgas, têm metamorfose completa.

Ecdise:

COLEÇÕES E BORBOLETÁRIOS Seis instituições brasileiras abrigam as mais relevantes coleções de borboletas e mariposas. As mais conhecidas são a do Museu Nacional do Rio de Janeiro (foto acima), a da Universidade Federal do Paraná, a do Museu de Zoologia da USP e a do Museu de Zoologia da Unicamp, todas com cerca de 200 mil insetos cada. Um dos pioneiros na coleta desses insetos foi o alemão Fritz Müller, que viveu em Santa Catarina e publicou inúmeros trabalhos, entre 1876 e 1884. Também merecem destaque a criação e a manutenção de borboletários, como o da Fundação Zoo-Botânica de BH (atualmente fechado para reforma) e o do Parque Mangal das Garças, em Belém (PA); e do Jardim para Borboletas, mantido pela Fiocruz, em Petrópolis (RJ), que incentivam a visitação, o estudo e a conservação das diferentes espécies. 74  ECOLÓGICO | FEVEREIRO DE 2015

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processo de troca de “casca” durante o crescimento das lagartas. Comum a todos os artrópodes, consiste na troca do esqueleto externo formado pelo polissacarídeo quitina, que é rígido e não cresce com o animal.

FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Livro “Lepidoptera – Borboletas e Mariposas do Brasil”, de Almir Cândido de Almeida e André Victor Lucci Freitas / Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Lepidópteros Ameaçados de Extinção – André Victor Lucci Freitas e Onildo João Marini-Filho, ICMBio/MMA.

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TRÊS PERGUNTAS PARA...

ANDRÉ VICTOR LUCCI FREITAS

Especialista em borboletas e chefe do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Unicamp

MARAVILHA AMEAÇADA Quais são, em síntese, as principais causas de mortalidade de borboletas e mariposas? Na natureza são a predação, o parasitismo e doenças causadas por fungos, vírus e bactérias. Todas especialmente importantes nas fases imaturas. Recentemente, causas ligadas às ações humanas se somam a essas, principalmente o uso de venenos na agricultura, e a degradação dos seus ambientes. O uso abusivo de pesticidas nas lavouras, que está levando ao desaparecimento de abelhas em várias partes do mundo, ameaça também as borboletas? Certamente. É notável como algumas florestas grandes e bonitas cercadas por plantações são “desertos de insetos” se comparadas a algumas menores e até aparentemente degradadas. O correto seria que fossem demarcadas áreas livres de pesticidas no entorno dessas florestas remanescentes, para que a aplicação de defensivos ficasse pelo menos 50 a 100 metros distante das bordas das matas. Acredita que há esforços suficientes no Brasil para a conservação desses insetos? Levando-se em conta que o principal problema afetando lepidópteros (bem como outros insetos) é a perda de seus hábitats, o Brasil ainda precisa investir mais nesse campo, já que ainda estamos vivendo uma era de corte de florestas. Entretanto, alguns esforços já existem, especialmente por parte dos pesquisadores, que se uniram numa rede de colaboração (a RedeLep) e estão tentando viabilizar as ações propostas no “Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Lepidópteros Ameaçados de Extinção”.  SAIBA MAIS

www.lepidoptera.com.br www.icmbio.gov.br

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CORAÇÃO DA TERRA DÉA JANUZZI (*) redacao@revistaecologico.com.br

ainda não estava na hora de sair do casulo confortável que a protegia do mundo? Da falta de ar, de vento e de céu para voar? Será que ficaria para sempre na forma de lagarta, até conseguir o voo da plenitude? Será que, um dia, poderia encontrar o seu lugar no mundo? Ela, então, pensou no tempo em que ficara encapsulada até chegar à beleza da borboleta. Lembrou-se de que permanecera por muito tempo no casulo, sem espaço interior para se mexer. Atenta à própria natureza, ela esperou. Sabia que o casulo era necessário para virar borboleta, porque ela ainda tinha medo de uma vida livre, de poder voar sem destino. Tinha medo de sugar a energia do girassol, de absorver a doçura do lírio, a leveza da margarida. Ela já fora lagarta, rastejando pelas folhas verdes, decifrando os mistérios da vida. Sabia que não podia lutar contra a predestinação de ser borboleta. Sabia que a saga de lagarta a borboleta era demorada. Mas tinha paciência, tempo e idade para aprender. Mas também percebia que era difícil encontrar lugar no mundo para ser borboleta, pois há lagartas demais por todos os lados. Há pessoas escondidas em casulos perfeitos, de onde se recusam a sair. Há uma escuridão que não deixa ninguém perceber o balé das borboletas. Ela também já conhecera o escuro e o silêncio do casulo, propícios para a criação. Enquanto esteve lá, aprendeu muito, inclusive a tecer os fios da existência. Lembra-se do momento em que saiu do casulo. De ter sacudido os restos do invólucro. De ter se desvencilhado do emaranhado de fios, de ter aberto, com cuidado, seus olhos de borboleta, de ter acordado mansamente para um novo mundo. De ter experimentado, pela primeira vez, a liberdade de voar.  (*) Jornalista e escritora.

FOTO: JPS

la estava igual à borboleta que tentava entrar pela janela fechada, que batia o corpo contra o vidro e se contorcia como se ainda estivesse presa ao casulo. Como se vivesse num mundo sem vento e cheiro de jasmim. As asas, desenhadas com cores vivas, esvoaçavam inutilmente. Ela batia a cabeça, o corpo, ligava as antenas, mas nada. Muitas vezes, ela se esquecia de voar. Nessas horas, ficava presa ao vidro da janela, sem poder voar tão alto como imaginara. Então, tentava de tudo para deixar de ser lagarta e completar a metamorfose. Em vão: inquieta, sobrevoava de um lado para o outro, mas sempre encontrava um vidro fechado. Nem uma fresta nem um canteiro de flores silvestres, nem sinal de tardes perfumadas. Era como se tivesse voltado ao invólucro, como se virasse lagarta outra vez, para aprender a crescer, se desenvolver e amadurecer. Nessas horas, era uma simples crisálida. Nada era fácil na vida dessa borboleta presa à janela de vidro. Ela tinha um medo danado de ser confundida com uma bruxa cinzenta, dessas que provocam espanto e horror por onde passa. Tinha medo de ser pega no ar por um chinelo retumbante. De não ter tempo suficiente para escapar da pancada e de ficar, definitivamente, sem as suas asas. Era assim todas as vezes que encontrava uma janela fechada. Tinha que reaprender a voar, provar que podia chegar bem perto do céu. Podia sentir o calor do sol, dançar entre as nuvens, ver a queda da cachoeira lá do alto. Às vezes, ela se sentia uma borboleta sem asas, que saíra do casulo antes do tempo, toda amarrotada. Borboletas assim vão, invariavelmente, parar nas janelas fechadas dos apartamentos, sem direito a voos altos. Mas ela sabia da sua capacidade de voar, de encontrar um jardim inteiro de antúrios, margaridas, lírios, gerânios, girassóis e orquídeas. De estar junto à natureza. Tinha certeza de que era possível chegar até a linha do horizonte que separa céu e mar. Ela conhecia a beleza das suas asas, mas estava sozinha naquele momento, sem os filhos de asas azuis, as filhas voadoras, as irmãs borboletas que sempre andavam em bando. Presa à janela do vidro, ela se perguntava: será que

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Impressionado com o calor neste verão? Então se prepare. Mesmo mantendo a atual concentração de poluentes na atmosfera, a temperatura no Brasil aumentará de 2ºC a 3°C nos próximos 50 anos. Fonte: Primeiro Relatório de Avaliação Nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (RAN1)

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1 VOCÊ SABIA?

AMIGOS DO PEITO Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

B

ELES ENTENDEM VOCÊ Quando se repreende o cachorro com um gesto ou voz mais forte, ele se intimida. E se você apontar para algum lugar, ele imediatamente irá olhar! Essa habilidade de compreensão da linguagem corporal, que os cães possuem, é extremamente rara entre os animais. Nem mesmo os chipanzés podem interpretar tão bem os gestos humanos quanto eles!

E VOCÊ, OS ENTENDE? Segundo pesquisa desenvolvida pela Universidade da Flórida, o ser humano também consegue compreender os sentimentos de um cachorro. Nela, cinquenta pessoas, com e sem experiência com cães, analisaram diferentes fotografias de um pastor belga com diferentes “caras”. As imagens foram feitas fazendo experiências com o animal que correspondiam a diferentes sentimentos caninos. 90% dos participantes acertaram quando o cachorro estava feliz - boca bem aberta, língua para fora e olhos arregalados -, 45% descobriram a cara de medo, 37% apontaram a foto de tristeza e 13%, a de nojo.

FOTO: MDOROTTYA

FOTO: SHUTTERSTOCK

asta dar uma volta na praça mais próxima da sua casa para observar: tem sempre alguém passeando com um cachorro de estimação. O bicho, considerado o “melhor amigo do homem”, conquista pelo afeto e pela inteligência. Se você é um dos donos dos 37 milhões de cães que existem hoje no Brasil, confira, a seguir, cinco curiosidades sobre esse animal:

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FOTO: VIOREL SIMA

OUVIDOS AFIADOS Se não bastasse um nariz tão potente, nossos melhores amigos também ouvem muito bem! Para se ter uma ideia, pessoas conseguem captar sons entre cerca de 20 hertz e dois quilohertz. Já os cachorros alcançam sons muito mais agudos, com frequências de até 45 quilohertz. O suficiente para ouvirem distâncias quatro a cinco vezes maiores que nós. Por isso, eles sabem quando alguém está chegando em casa, muito antes de qualquer outro ser humano.

CÃES TÊM ALMA? Se considerarmos um comentário do Papa Francisco, parece que sim. Em dezembro do ano passado, em aparição na Praça de São Pedro, no Vaticano, um garotinho disse ao pontífice que estava triste, pois seu cachorro tinha morrido. Para consolá-lo, Francisco disse que “o paraíso estava aberto a todas as criaturas do Senhor”. Declaração que foi muito bem recebida por ONGs internacionais de proteção aos animais, como Humane Society e PETA. Outras religiões, como o Espiritismo, também defendem a ideia de que os animais têm um princípio inteligente (espécie de alma) que sobrevive à morte do corpo.

FOTO: REPRODUÇÃO

FOTO: PATRYK KOSMIDER

BONS DE FARO Que os cachorros são excelentes farejadores, muita gente sabe! Mas o motivo biológico, você vai conhecer agora: os cães têm a capacidade de reconhecer o cheiro de moléculas de ácido butanoico – odores que produzimos e se espalham por onde passamos. E, com base nos compostos exalados pela pele e pelas glândulas, eles conseguem até montar um perfil psicológico do farejado, sabendo até mesmo o quanto de medo sentimos ao nos aproximarmos deles. Tudo porque os seres humanos têm apenas cinco milhões de receptores nasais, enquanto os cães chegam a 300 milhões.

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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

MAMONA S

eu Jair é um homem pequeno, de cabelos completamente brancos e olhos bem vivos. Dotado de mãos habilidosas, quando moço fazia balaios, esteiras e peneiras, arte aprendida com o pai nos tempos de infância e adolescência, na lida dura daquela época de vida na roça lá pros lados de Santa Bárbara. Com o tempo vieram as oportunidades de trabalho na capital, onde foi gerente, por quase 20 anos, das lojas da Inglesa Levi. Quem aí se lembra dessa loja? Depois ela virou Embrava e, por fim, acabaram-se tanto as lojas quanto suas forças. Hoje ele vive de lembranças. Outro dia conversávamos sobre plantas e suas aplicações e lá foi ele buscar no fundo do baú a seguinte história: - “Antigamente, as pessoas levantavam suas próprias casas na roça e com meu pai num foi diferente. Ele mandou eu e meus irmãos colhermos a mamona (Ricinus communis), separar sua madeira ocada e deixar pra secar lá no meio do mato. Depois juntamos tudo e fizemos uma fogueira com os paus. Todos FOTO: MARCOS GUIÃO

MAMONA (Ricinus communis)

ficamos atentos, arrodeando o fogo pra escolher os pedaços mais inteiros do carvão de mamoneira, que em seguida foram socados dentro de uma gamela. O pó do carvão bem misturado com água vira uma tinta usada no dia a dia da roça e uma de suas serventias era na marcação de madeira pra serrar. Sabe como se faz não? Então explico.” Sentado na varanda de casa e olhando para dentro de suas memórias, pausadamente foi contando seu caso: - “Primeiramente meu pai escolhia a árvore que serviria ao propósito de ser a linha do telhado, por exemplo. Depois de descascá-la, a gente mergulhava um bolo de barbante no mingau do carvão da mamoneira e, com ele molhado, um segurava firme de um lado, enquanto outro ia esticando até o final da madeira. Com a linha bem esticada e quase colada no pau, meu pai suspendia e soltava o barbante como uma corda de viola e então ficava marcando certinho onde o machado, o serrote e a enchó iam dar forma à linha do telhado. Naquele tempo, num tinha essas facilidades de ir ali na venda e buscar sua precisão. Cada um resolvia seus problemas lá no mato mesmo.” Acrescentando a essa utilidade tintorial da mamona que eu desconhecia, sempre a indiquei para os casos de dores nas juntas e articulações. Para isso, basta aquecer uma folha de mamona numa frigideira untada com azeite e depois aplicar sobre o local dolorido que o resultado vem rápido. O azeite obtido de suas sementes, o famoso óleo de rícino, até hoje é utilizado no tratamento de prisão de ventre. Antigamente, as parteiras untavam o umbigo dos recém-nascidos com ele. A medicina indiana ensina que o pó obtido da casca das raízes de mamona ajuda a manter os intestinos funcionando corretamente, afastando o mau humor e o azedume dos enfezados, além de limpar a pele e o sangue. Agradeço aqui aos mais antigos a partilha de sua sabedoria e experiência. Inté a próxima lua! 

(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

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OLHAR POÉTICO

ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br

arnaval. Além do sol escaldante de 50 graus, a reinação no Sambódromo carioca é um “império dos sentidos” que emana da culinária mineira. Mormente, pela magia que se evola do fabuloso livro de receitas de Maria Lúcia Clementino Nunes (Dona Lucinha): “História da Arte da Cozinha Mineira”, lançado em 2001 e agora devidamente lembrado (ou recuperado) pela G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro. Tal obra-prima, recheada com as belas imagens do fotógrafo Miguel Aun e o texto da historiadora Márcia Clementino Nunes – com assessoria de Doia Freire – serviu de base para o delicioso samba-enredo da Escola e o resultado não poderia ser melhor: Samba ao Molho Pardo na Marquês de Sapucaí. Sem exageros: esse é o cigano “espírito de Minas”, condensado numa catedral milagrosamente linguística, onde o quase-profano das falas, dos gestos e dos saberes se mesclam ao filosófico quase-religioso, devoto e místico dos aromas e dos sabores. Em 180 páginas de pura água na boca, percebe-se que os perfumes exalam pelos poros das paredes brancas, cobertas de bules de latão, estribos, canecas, tachos de cobre, colheres de pau, escumadeiras, peneiras e utensílios antigos da cozinha das fazendas e dos tropeiros. Encorpados, tais olores parecem pender dos lampiões a querosene, das guirlandas, dos vasinhos de antúrio. Ou emanam do teto coberto com esteiras de palha crua e dali escorrem em caldas doces. Sinestesias, imagens que se evaporam e ganham gosto, textura, cheiro. Gramática de Papilas. Verbos que salivam e substantivam o gargaléxico palavral finamente pespontado por essa exímia costureira de sentidos, pois sabem à melhor arte que permeia a comida típica das montanhas. Simples e generosa, como o coração de sua dona. Essa feiticeira que engendra condimentos pra temperar os ingredientes da mineiridade que ela própria criou, desde criança. Eis que, num relance, antevejo o desfile. O delírio das delícias vindas de África e Portugal atravessa

o Atlântico, sobe a Serra do Mar e se mistura (Estrada Real afora) à sabedoria ancestral do indígena tupidiminas. E cai no samba! Então, sem querer, ouço com a língua, com as papilas, as sinfonias que vão se sucedendo entre as ervas frescas, os brotos de bambu, as couves e as azedinhas bem cortadas: Frango ao Molho Pardo com Suã de Porco e Mamão Verde, na cuíca. Feijão-Tropeiro com Lombo de Panela e Vaca Atolada em Torresmo, no tamborim. Costelinha com Ora-Pro-Nóbis, Tutu “Bebo” e Rabada com Agrião D’água, no reco-reco. E o Amor-empedaços, a Ambrosia e o Espera Marido, no agogô coletivo do nosso gogó! Ah! E depois, fechando a avenida, o docedelírico das quitandas e dos cremes com gemas crocantes, sob o calor do fogo crepitado em fagulhas desse espírito libertário de Minas. Que rufem bumbos, surdos, taróis e tambores! Estamos todos já concentrados (antes do fenomenal desfile no Sambódromo de Nossas Línguas e Narinas Salgueirais), naqueles poucos minutos que antecedem aos murmúrios das minas d’água em nossa boca. Sim. Pode haver, também, outros pecados: uma lépida Leitoa à Pururuca que puxa o samba. Ou ainda, de mestre-sala, um surrealista Frango Atropelado com cenourinhas, toucinhos e linguiças imperiais... Nham-nham! Coisas de tirar do sério qualquer transeunte metido a pós-moderno-futurista, desses que gostam (como eu) de se expressionar em cubos e enxugar o gelo redondo da Lua com a toalha manchada de suor, amizade e alegria. Essa alegria que aqui se vê, se sente, se cheira, se toca, se sabe, se lê e se dança. Como no trecho majestoso do samba-enredo da Salgueiro: “É de dar água na boca, se lambuzar/ visitar o Paraíso... e sonhar./ Prepara a mesa, bota a fé no coração/ Numa só voz vai meu samba em louvação/ É o meu Salgueiro com gosto de quero mais/ Oh, Minas Gerais!”. Evoé, Salgueiro! Evoé, Dona Lucinha! E vamokivamo que esse trem tá bão demais!  (*) Escritor e poeta. FEVEREIRO DE 2015 | ECOLÓGICO  81

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

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FOTOS: EVANDRO RODNEY / DIVULGAÇÃO

PARQUES

GERAES Guia inédito traz belas fotografias e um mapa completo das áreas protegidas de Minas, além de informações detalhadas para quem quiser visitá-las

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o apagar das luzes de 2014, os mineiros e os turistas de outras partes do país e do mundo ganharam um presente para conhecerem melhor as maravilhas naturais de Minas. Trata-se do “Guia Parques de Minas”, fruto de uma parceria entre o MPMG, o Instituto Estadual de Florestas e a Editora Horizonte, que reúne informações e incentiva a população a visitar ativamente 16 parques e dois monumentos naturais do estado. Entre os conteúdos apresentados no guia estão dezenas de atrações, como sugestões de trilhas ecológicas e atividades ao ar livre, além de curiosas histórias locais. O leitor poderá se informar sobre como chegar às unidades e os horários de funcionamento dos parques, além de ter à disposição textos sobre os biomas nos quais as áreas estão in-

seridas, suas características e os cuidados que são precisos para um turismo responsável. Com 256 páginas, o guia conta, ainda, com um mapa completo (tamanho 60 cm x 75 cm) do estado com estradas e suas 91 Unidades de Conservação (UCs). “A visita aos parques é uma das principais estratégias para conscientizar a sociedade sobre a importância da conservação da natureza. Esperamos favorecer o turismo sustentável de forma que, ao conhecer os cenários naturais protegidos do estado, a população se torne uma aliada na proteção desse vasto patrimônio natural, que é de todos os brasileiros”, afirma Peter Milko, diretor-geral da Editora Horizonte. Confira algumas das imagens que ilustram o guia: SAIBA MAIS

www.edhorizonte.com.br/guiaparquesmg

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO LOBO-GUARÁ: símbolo do Parque Nacional da Serra da Canastra

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

"O IEF tem como uma de suas competências a proposição de criação, implantação e administração de Unidades de Conservação (UCs) que não devem ser apenas estratégicas para a conservação da biodiversidade, mas também que colaborem com a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Estamos nos mobilizando para que essas áreas sejam abertas à visitação pública. O guia é um desses esforços." Bertholdino Apolônio Teixeira Junior, diretor-geral do IEF

FOTO: FERNANDA MANN

"O presente guia é resultado de medida compensatória obtida por meio da atuação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) na defesa do meio ambiente, objetivando, por meio da divulgação de importantes UCs do estado e de sua biodiversidade, contribuir para sua valorização e preservação." Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais (Nucam) GRUTA REI DO MATO: maravilha subterrânea 84  ECOLÓGICO | FEVEREIRO DE 2015

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FOTOS: EVANDRO RODNEY / DIVULGAÇÃO

CACHOEIRA DO TABULEIRO, no Parque Estadual Intendente Câmara, em Conceição do Mato Dentro: terceira maior queda d'água do país

FORMAÇÕES ROCHOSAS que já foram fundo de mar no Parque Nacional da Serra do Cipó: deslumbre ecológico

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MEMÓRIA ILUMINADA - ANDRÉ COMTE-SPONVILLE

FOTO: WIKINADE

COMTE-SPONVILLE: “Não é a esperança que faz os heróis: é a coragem e a vontade”

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A FELICIDADE,

DESESPERADAMENTE Eloah Rodrigues

redacao@revistaecologico.com.br

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Como diria o também filósofo francês Blaise Pascal, “todos os homens procuram ser felizes; isso não tem exceção. É esse o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar”. Portanto, caros leitores, vivemos em função da busca desse estado de felicidade. É aí que nos deparamos com outro grande desafio: o encontro de nós mesmos com nossos valores e nossas verdades. Ouvir nossos corações para saber o que realmente nos faz bem. Talvez, assim, encontraremos a felicidade que procuramos. É o que Comte-Sponville nos ensina de modo simples e sincero. Confira:

FOTO: JAMES THEW

filósofo francês André Comte-Sponville nasceu em Paris, em março de 1952. Estudou na conceituada École Normale Supérieure, onde se tornou professor de filosofia e mestre de conferências da Universidade de Panthéon-Sorbonne. Autor de obras como “Valor e Verdade”, “A Vida Humana” e do celebrado “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, em que fala de virtudes como a fidelidade, a prudência, a generosidade, a compaixão e o humor, Comte-Sponville tem um discurso sustentável, contemporâneo. Em comemoração aos 15 anos de lançamento de “A felicidade, desesperadamente”, um de seus livros mais expressivos, a Ecológico apresenta, a seguir, alguns trechos da obra, oriunda de uma conferência proferida pelo autor em outubro de 1999 em Bouguenais, na França. No livro, Comte-Sponville defende que, para se obter a tão sonhada felicidade, é preciso querer. E muito. Mas não é um querer passivo. É um “querer desesperado”. Não no sentido extremo de infelicidade, mas na acepção literal da palavra querer. “Quase etimológico”, como ele mesmo diz. O filósofo nos ensina, ainda, que a felicidade tem que ser construída. E que o ser humano tem que saber o que deseja e lutar por esse desejo. A felicidade é, para ele, um estado onde o que se deseja está presente, e não ausente, como defendido por outras formas de pensamento. Não é um assunto da filosofia: a felicidade é algo que define a própria filosofia.

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MEMÓRIA ILUMINADA - ANDRÉ COMTE-SPONVILLE

l A BUSCA NA FILOSOFIA

“Precisamos da sabedoria? A tradição responde que sim, mas o que nos prova que ela tem razão? Nossa infelicidade. Nossa insatisfação. Nossa angústia.”

“ Se a filosofia não nos ajuda a ser felizes, ou a ser menos infelizes, para que serve a filosofia?”

“Por que a sabedoria é necessária? Porque não somos felizes.”

“Filosofar serve para aprender a viver, se possível antes que seja tarde demais, antes que seja absolutamente tarde demais.”

“A felicidade é a meta da filosofia.”

“O que nos falta para ser feliz, quando temos tudo para ser e não somos? Falta-nos sabedoria, no sentido profundo do termo, no sentido em que Montaigne dizia que ‘não há ciência tão árdua quanto a de saber viver bem e naturalmente esta vida’.”

l SABEDORIA

l FELICIDADE E VERDADE

“Se a sabedoria é uma felicidade, não é uma felicidade qualquer! Não é, por exemplo, uma felicidade obtida à custa de drogas, ilusões ou diversões. A sabedoria seria a felicidade na verdade.”

“A felicidade é a meta da filosofia, mas não é sua norma, porque a norma da filosofia é a verdade, pelo menos a verdade possível (porque nunca a conhecemos por inteiro, nem absolutamente, nem com tal certeza).”

“Compreendamos que a filosofia – isto é, a vida, já que a filosofia nada mais é que a vida tentando se pensar; é um processo, um esforço.”

“É uma felicidade verdadeira ou uma verdade feliz. Podemos ser mais ou menos sábios, do mesmo modo que podemos ser mais ou menos loucos. Digamos que a sabedoria aponta para uma direção: a do máximo de felicidade no máximo de lucidez.” FOTO: GALYNA ANDRUSHKO

"Toda alegria tem uma causa: toda alegria é amor."

“Trata-se de pensar não o que me torna feliz, mas o que me parece verdadeiro – e fica a meu encargo tentar encontrar, diante dessa verdade, seja ela triste ou angustiante, o máximo de felicidade possível.” “A felicidade é a meta; a verdade é o caminho ou a norma. Isso significa que, se o filósofo puder optar entre uma verdade e uma felicidade, ele só será filósofo, ou será digno de sê-lo, se optar pela verdade.” “Mais vale uma verdadeira tristeza do que uma falsa alegria.” l ESSENCIALIDADE “O essencial é não mentir, e antes de mais nada, não se mentir. Não se mentir sobre a vida, sobre nós mesmos, sobre a felicidade.” “Trata-se de aprender a viver; apenas isso é filosofar de verdade.” “Nunca é nem cedo nem tarde demais para ‘assegurar a saúde da alma’, em outras palavras, para aprender a viver ou para ser feliz.” l DESEJO “Há prazer, há alegria, quando desejamos o que temos, o que fazemos, o que é.” “É a felicidade em ato, que outra coisa não é senão o próprio ato como felicidade: desejar o que temos,

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o que fazemos, o que é – o que não falta. Em outras palavras, gozar e regozijar-se.” “Mas essa felicidade em ato é ao mesmo tempo uma felicidade desesperada, pelo menos em certo sentido: é uma felicidade que não espera nada.” l ESPERANÇA E VONTADE “Uma esperança é um desejo cuja satisfação não depende de nós, como diziam os estóicos – diferentemente da vontade, a qual, ao contrário, é um desejo cuja satisfação depende de nós.” “Só esperamos o que somos incapazes de fazer. Quando podemos fazer, não cabe mais esperar, trata-se de querer.” “Esperar é desejar sem gozar; esperar é desejar sem saber. Posso acrescentar: esperar é desejar sem poder.” “O contrário de desejar sem poder é desejar o que podemos, logo o que fazemos.” “O contrário de esperar não é temer; o contrário de esperar é saber, poder e gozar.” l CONHECIMENTO “O contrário de desejar sem saber é desejar o que se sabe. É, portanto, o próprio conhecimento, pelo menos para quem o deseja, para aquele que ama a verdade, e tanto mais quanto ela não falta.” “O sábio é um conhecedor. Não apenas aquele que conhece, mas também aquele que aprecia. O sábio é um conhecedor da vida: ele sabe conhecê-la e apreciá-la!” l NÃO ESPERAR “A felicidade desesperadamente: uma sabedoria do desespero, da felicidade e do amor.” “O sábio não espera nada. Ele não deseja mais que o real, de que faz parte, e esse desejo, sempre satisfeito – já que o real, por definição, nunca falta: o real nunca está ausente, esse desejo pois, sempre

satisfeito, é então uma alegria plena, que não carece de nada. É o que se chama felicidade. É também o que se chama amor.” “O contrário de esperar é conhecer, agir e amar. Não o desejo do que não temos ou do que não é, mas o conhecimento do que é, a vontade do que podemos, enfim, o amor do que acontece.” “Só esperamos o que não depende de nós; só queremos o que depende de nós. Só esperamos o que não é; só amamos o que é.” l A NÃO FALTA “Amar o que não lhe falta, regozijar-se com o que é.”

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“Não mais a falta, mas a potência. Não mais a esperança, mas a confiança e a coragem. Não mais a nostalgia, mas a fidelidade e a gratidão.”

“Existem casais felizes, que haja um amor que não seja de falta mas de alegria. Que não seja de frustração, mas de prazer. Que não seja de tédio, mas de carinho, que não seja de ilusão, mas de verdade, de intimidade, de confiança, de desejo, de sensualidade, de gratidão, de humor, de felicidade...” l ALEGRIA E AMOR “Trata-se de aprender a desejar o que depende de nós, isto é, aprender a querer e a agir; trata-se de aprender a desejar o que é, isto é, a amar; em vez de desejar sempre o que não é (esperar ou lamentar).” “Não se trata de se impedir de esperar: trata-se de aprender a pensar, a querer e a amar! Trata-se de esperar um pouco menos e de agir um pouco mais; enfim, na ordem afetiva ou espiritual, trata-se de esperar um pouco menos e amar um pouco mais.” “Não há sabedoria que não seja de alegria; não há alegria que não seja de amar.” “O verdadeiro conteúdo da felicidade é a alegria, pelo menos a alegria possível.” “Toda alegria tem uma causa: toda alegria é amor.” “Só há sabedoria verdadeira no amor e pelo amor.” 

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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

“Fevereiro nos incita a caminhar descalço na natureza para sentir a energia da Terra fluir pelo nosso corpo.”

FEVEREIRO, O TEMPO

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FOTO: LIANDSTUDIO

DOS PARADOXOS

evereiro vem do latim Februarius, cujo nome está ligado a Februus, o deus bipolar da morte e da purificação salvadora na mitologia etrusca. Bipolar porque nos aponta os dois caminhos decisivos da vida humana: nos ajudaria a expandir ou encurtar nosso destino, trazendo coisas boas e más para a nossa existência. Por ser também um mês aziago, isso é, propenso a muitos acontecimentos funestos, é necessário que nos preparemos espiritualmente para vivenciá-lo de forma positiva, já que suas energias também nos apontam para o bem. Fevereiro já foi um mês de 30 e 29 dias. E, agora, chegou a 28, exceto nos anos bissextos. Essas mudanças variavam de acordo com a conveniência dos imperadores romanos. Tanto que o dia de São Nunca estaria ligado a essas supressões ou acréscimos periódicos, como “o dia que não mais iria ocorrer”. Desde o início, Fevereiro é um tempo de festas orgiásticas, como o Carnaval, que subsiste até hoje. E, por ser também um período de purificação espiritual, ele nos convida intensamente para uma reclusão interior onde poderíamos iluminar melhor nossos labirintos. O contato direto com a natureza

é uma boa oportunidade para uma meditação em grupo, por exemplo. Fevereiro cumpre realmente a tradição bipolar de Februus. Enquanto muitos se esbaldam em danças permissivas, excesso de drogas e outras formas de violências ligadas diretamente ao risco de morte, outros buscam lugares aprazíveis para um aprofundamento espiritual. Para esse deus etrusco, vida e morte são caminhos que se atraem e se repelem e dependem da escolha de cada um de nós. Complementando a parte purificadora desse período, Fevereiro nos incita a caminhar descalço na natureza para sentir a energia da Terra fluir pelo nosso corpo. Além de nos convidar a abraçar, dançar e amar, ele também nos incita a andar, com os pés nus, sentindo e apreciando as ondas chegarem numa bela manhã de uma praia deserta. Mas o mais sedutor ainda é escalar uma montanha para alargar nossos horizontes espirituais. E, finalmente molhados de suor, sentirmos a água de uma cachoeira cair sobre nossos corpos, em uma bela tarde de Fevereiro, alegres e bendizendo a vida.  (*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.

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