Revista ECOLÓGICO - Edição 54

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O Apadrinhamento de Escolas é uma iniciativa que oferece soluções para a dura realidade de crianças que vivem em comunidades às margens dos rios do Amazonas. Com apenas R$ 25 por mês você leva a essas crianças educação transformadora, que une o ensino formal ao conhecimento tradicional, ambiente escolar acolhedor, material necessário para um bom aprendizado e capacitação adequada para os professores.


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Bicho do Mato Meio Ambiente contato@bichodomato.net.br ( 31 ) 3312 - 4374 www.bichodomato.net.br


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MARCELO PRATES

1 EXPEDIENTE

Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck CONSELHO EDITORIAL Angelo Machado, Antônio Claret de Oliveira, Célio Valle, Evandro Xavier, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Maurício Martins, Nestor Sant’Anna, Paulo Maciel Júnior, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pós.

CAPA Sandoval de Souza

MARKETING E ASSINATURA

EDITORIA DE ARTE André Firmino

IMPRESSÃO Rona Editora

DIRETOR GERAL E EDITOR Hiram Firmino

Sanakan Firmino

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REVISÃO Gustavo Abreu

EDITORA ASSISTENTE Valéria Flores valeria.flores@souecologico.com

REPORTAGEM Ana Elizabeth Diniz, Andréa Zenóbio Gunneng (Correspondente Internacional), Cristiane Mendonça, Fernanda Mann, Luciana Morais e Vinícius Carvalho

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PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte MG - CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755

DEPARTAMENTO COMERCIAL José Lopes de Medeiros

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Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

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VERSÃO DIGITAL A Revista Ecológico utiliza papéis Suzano para a sua impressão. Isto garante que a matéria-prima florestal provenha de um manejo econômico, social e ambientalmente sustentável.

Revista Ecológico

SSou Ecológico

REVISTA NEUTRA EM CARBONO www.prima.org.br



1 ÍNDICE O DILEMA DOS PROFETAS A paisagem natural de Congonhas, exibe uma nova discussão, além da expansão da CSN Pág 30

PÁGINAS VERDES As ideias do vice-prefeito de BH, Délio Malheiros, para melhorar a vida e a qualidade da gestão pública. Pág 24

E mais... ● IMAGEM DO MÊS 10 ● CARTAS DOS LEITORES 12 ● CARTA DO EDITOR 14 ● ECONECTADO 16 ● SOU ECOLÓGICO 18 ● GENTE ECOLÓGICA 20

A FARSA DO PLÁSTICO A luta para que BH não retroceda na questão do uso das sacolas plásticas, como em São Paulo Pág 40

● CÉU DE BRASÍLIA 22 ● ESTADO DE ALERTA 29 ● CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL 48 ● RECICLAGEM 50 ● JUVENTUDE X CONSUMO 52 ● ECONOMIA 56

MEMÓRIA ILUMINADA Abraham Lincoln: um político que todo político tem o dever de conhecer, além de ver o filme Pág 72

● EDUCAÇÃO AMBIENTAL 58 ● GESTÃO E TI 60 ● VOCÊ SABIA 62 ● AS RPPN’S DA VALE 64 ● NATUREZA MEDICINAL 68 ● OLHAR POÉTICO 70

ENSAIO FOTOGRÁFICO A beleza de uma primavera permanente que transborda em cada canto da Serra do Espinhaço Pág 78

● OLHAR EXTERIOR 71 ● CONVERSAMENTOS 82


A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA TTRABALHA RAB PARA TRANSFORMAR NOSSOS NOSSO SONHOS EM REALIDADE Você pode comemorar os resultados do trabalho da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Nos últimos dois anos, ela trabalhou pelo fim das desigualdades e pela promoção social, beneficiando todos os mineiros. Também lutou contra as drogas, buscou mais recursos para a saúde, promoveu a cidadania e defendeu um novo pacto federativo e a renegociação da dívida dos Estados com a União para garantir mais recursos para Minas. Acesse o portal www.almg.gov.br e conheça todas as realizações da Assembleia para que 2013 seja ainda melhor para todos os mineiros.

AAssista As sssiista sta à TTV Assembleia – st em BH, em BH canal 35 UHF


1 I M AG E M D O M Ê S DESECOLOGIA HUMANA

AFP PHOTO / DAGENS NYHETER / PAUL HANSEN

Vencedora da 56ª edição do World Press Photo, maior prêmio de fotojornalismo mundial, a foto de Paul Hansen revela o cenário impiedoso que impera nas intermináveis guerras que torturam as famílias em Gaza. O contraste da serenidade e pureza das crianças, mortas em um ataque de mísseis israelenses, com o desespero e sofrimento dos cansados homens que carregam seus corpos chamou a atenção do júri e comove pela dramaticidade deste momento real. A imagem foi capturada durante a ofensiva na região dominada pelo Hamas. Sete israelenses e mais de 60 palestinos morreram. Entre eles os dois jovens irmãos de 2 e 3 anos da foto e o pai dos pequenos. A mãe foi levada em estado grave ao hospital. A ofensiva só terminou após oito dias com um cessar-fogo assinado depois da intermediação do Egito.

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1 CARTAS DOS LEITORES

O Ensaio

Fotográfico Estrada Real “Vale muito a pena ir a Cachoeira do Tabuleiro! Mas não se esqueçam de recolher o lixo, conferir se não vai chover! Levar protetor, tênis, boné... Enfim, curtam o paraíso com consciência, paz e harmonia!” ROSANA SCHNEIDER, pelo Facebook

O Páginas

O Marilyn

Monroe “Está é a melhor capa da Marilyn Monroe que já vi! Ela está impressionante! Moro em Amsterdã, na Holanda, e faço coleção de revistas que têm a Marilyn na capa. Vocês poderiam me enviar um exemplar?” MARCO VAN DER MUNNIK, de Amsterdã - Holanda “Coleciono todas as publicações que saem sobre a vida de Marilyn Monroe. Gostaria muito de ter a Revista Ecológico na minha coletânea!” PETER GONZALEZ, de Miami – Flórida devastador “Conheci a Revista ECOLÓGICO há pouco tempo e estou encantada com a qualidade do seu conteúdo, com matérias dinâmicas e maduras. Sobre a matéria “Ela não sabia”, que trata do perfume Chanel nº 5, um dos meus preferidos, foi assustador saber que o óleo essencial, responsável pelo aroma, é resultado da derrubada de centenas de árvores das nossas florestas. Fiquei muito triste em saber que, sem querer, acabamos participando da dizimação do pau-rosa. A decisão é óbvia: parar de consumir. Parabéns à revista pelos esclarecimentos!” NATÁLIA CHAGAS

verdes: Evane Lopes “Reitero a excelência da ECOLÓGICO mas, como paracatuense, achei estranho a matéria/ entrevista da página 24, que não condiz com a nossa realidade aqui. Vocês mesmos são testemunhas que a nossa batalha como ativistas ambientais na região de Paracatu não é de hoje. Aqui têm sido implementadas muitas ações que, embora silenciosas, por estarmos longe da grande mídia, contribuem com a qualidade de vida de toda a biodiversidade do São Francisco. A bacia do Rio Paracatu tem uma área de mais de 45 mil km² e contribui com 26% das águas do Velho Chico. Nossas ações são desenvolvidas principalmente em parceria com empresas privadas do município, podendo citar a Votorantim Metais, a Bioenergética Vale do Paracatu, a Destilaria Vale do Paracatu e a Kinross. Convido, portanto, toda a equipe da ECOLÓGICO para comprovarem in loco o que temos feito.” TONHÃO, presidente do Movimento Verde de Paracatu (Mover) e representante das entidades ambientalistas no Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). O Ecológico

na web “Gosto muito de receber posts da Ecológico pelo Facebook. Deixam a vida da gente mais informada sobre coisas que as outras revistas não falam.” SARAH CAETANO, pelo Facebook

O Perfume

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O Edição

52 “Fui presenteado com a edição nº 52 da ECOLÓGICO pelo meu amigo Ronaldo Vasconcellos, presidente do PV. Ele falou e eu assino embaixo: “a revista é espetacular!” PAULO HENRIQUE DE CARVALHO

O A

lavra nova de Célio “Parabéns professor Célio, meu companheiro nos encontros espeleológicos. Fui o modelo do Lund nas ilustrações de seu livro! Já tenho um exemplar do livro com dedicatória dele.” ADRIANO FERNANDES


plantas e lágrimas “Parabéns ao Ronald Sclavi pelo lindo texto. Aliás, todos os trabalhos dele com os quais tive oportunidade de ter contato foram realizados com paixão e comprometimento. Este relato do resgate emociona.” ANTÔNIO MURENA JÚNIOR “Ronald, lindo texto, chorei também!” PATRÍCIA PINTO O Fiação

subterrânea “Sou totalmente a favor da implantação da rede subterrânea de fiação. É incontestável a melhoria estética da cidade. Estética não é luxo: ela atrai investimentos, valorização da região e, consequentemente, empregos. O melhor exemplo é a revitalização do centro de Belo Horizonte. Além disso, as árvores ficam livres de podas desnecessárias. Conclusão: a comunidade tem que se mobilizar e pedir à CEMIG para a rápida expansão da rede subterrânea em toda BH.” PAULO CÉSAR TEIXEIRA FILHO Edição 48 “Na ECOLÓGICO nº 48, a reportagem com o título “Derzu Uzalá do Cipó” deixa-nos perplexos e, mais que isso, estarrecidos. O que querem – de fato - os fazedores de tantas leis, normas, regulamentos, diretrizes e seus aplicadores? Os primeiros parecem-me estar deslocados da realidade e acima do chão. Os segundos, piores ainda, são meros paus mandados executando bem a função de levar a intranquilidade, a insegurança e estarem provocando aos poucos uma revolta no meio. O homem do campo é dócil por natureza e, por nela e dela viver, é pacífico. Ele tem que ser visto como um produtor de bem e não como um destruidor. Porque funcionários, como o da reportagem, não aproveitam a ocasião para levar informação e esclarecimentos a tantos “seus Gonzagas”. Com certeza, é mais fácil, compromete menos e conta na folha de serviço, usar a caneta e lavrar multas. Agindo de forma contrária, certamente, obteriam apoios do produtor rural para conseguir resultados com os quais preencheriam tabelas e quadros demonstrando a eficiência das administrações públicas, notadamente adepta de papéis e às reuniões em gabinetes refrigerados, radicalmente opostos à dura lida diária do campo. Corto árvores quando preciso, mas o tempo todo O

planto mudas. Preciso perpetuar nascentes, olhos d’água. Fazer barraginhas também, até mesmo pra conter enxurradas e a erosão e poder aumentar a disponibilidade de água paras as aves, répteis, insetos e demais bichos, inclusive pra mim. Até a própria EMBRAPA já viu que isso é uma boa medida e a recomenda! Mas parece que os ‘primos’ do IBAMA, IEF, IGAM e companhia não pensam assim.” JOÃO BOSCO BARCELOS Nota da Redação: Leia a matéria “Derzu Uzalá do Cipó” no link: http://goo.gl/Ze2Nj O Florence

ALEXANDRE SALUM

Nighthingale “Fiquei emocionadíssima com a “Memória Iluminada” que a última ECOLÓGICO publicou sobre Florence Nighthingale (“O outro nome da Enfermagem). Eu conheci in loco a obra fantástica desta mulher que até hoje nos ilumina com sua visão maior de amor ao próximo. Parabéns!” SOLANGE RIBEIRO PAIVA, no Museu Florence, em Londres

EU ASSINO “Desde o lançamento da Revista ECOLÓGICO me tornei assinante. Hoje tenho todas as edições em minha biblioteca. Sempre busco alguma revista para consultas pessoais e para partilhar com amigos boas leituras e belas imagens! Inclusive, presentear amigos com a assinatura da ECOLÓGICO tem sido uma ótima opção!”

ARQUIVO PESSOAL

O Sobre

FLÁVIA LAMOUNIER GONTIJO, pedagoga e professora na Universidade Fumec

FALE CONOSCO Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Faça contato também pelo nosso site: www.revistaecologico.com.br

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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO hiram@souecologico.com

A ESPERANÇA EM CARTAZ

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ma poluição atmosférica aqui, mesmo que político, ambiental ou social. É a derrota, sempre, do dentro dos padrões de licenciamento estabe- preconceito, do jeitinho brasileiro de se fazer o mínimo lecidos pela legislação ambiental brasileira, possível e pensar que sua consciência não lhe cobrará é bastante diferente de outras poluições ali e acolá, isso. Do “pra que vou gastar mais, se já estou dentro da agrupadas em uma só geografia. Se somadas, o efeito lei? Os ambientalistas e os promotores de Justiça estão socioambiental dessas fontes de poluição permitidas querendo agora que, além do previsto na constituição, passa a ser geométrico, exponencial. É disso que tra- eu também ame a natureza?” -perguntaria, irônico, altamos nesta edição, tendo como pano de fundo, real gum empresário do setor. e preocupante, a vocação mineroSim. É deste amor maior à ecometalúrgica da região de Congo“Tão inevitavelmente logia humana, mesmo que pelas nhas do Campo, a cidade dos prolinhas tortas e nada dignas da poquanto o encontro fetas, cujas emissões atmosféricas lítica tradicional,retratada no fildo oxigênio com o acima do permitido são apontame “Lincoln”, em cartaz em todos das em um inventário ambiental os cinemas inteligentes do planehidrogênio produz inédito, encomendado pelo Mita. A ECOLÓGICO o recomenda e água, a esperança é nistério Público de Minas Gerais. indica, como um bálsamo a toda Trata-se de um dilema, enfim, concebida sempre que a nossa insustentável desesperança. que o mundialmente famoso, imaginação se encontra Como esperam os Oséas de Aleipoluído e carcomido conjunto jadinho, os Lincolns que existem com o senso moral. histórico-religioso de Congonhas, dentro de cada um de nós, poluesculpido por Aleijadinho nos Antes de ser um Homo ídos e poluidores, um dia serão séculos XVIII e XIX, vive a cada escutados e limpos de si mesmos. sapiens, uma criatura novo dia, sob a ameaça de perder Se apenas um Lincoln conseo título de “Patrimônio Cultural guiu vencer o preconceito, abolir com pensamento, o da Humanidade” que a Unesco homem é uma criatura a escravidão, ver o negro como ainda lhe confere. E a ECOLÓGIseu semelhante e abrir o caminho com esperança.” CO revela aqui com acesso exclupara o voto também para as musivo aos autos da Justiça. lheres, o que juntos e de mente e Mas como essa poluição somada coração abertos, os governantes e ZYGMUNT BAUMAN envolve empresas grandes, sérias os empresários da mineração e da e comprometidas com a sustentabilidade de seus ne- siderurgia não podem fazer pela Cidade dos Profetas? gócios e o meio ambiente comum à sua volta, também É este filme que está e continua sempre em cartaz: vivenciado na pele e nos pulmões de seus empregados e A ESPERANÇA! todas as populações do entorno, nem tudo está perdido Boa leitura e até a próxima lua cheia. e na contra-mão do Planeta. Pelo contrário – e a ECOVINÍCIUS CARVALHO GEORGE PETER ALEXANDER LÓGICO também aborda nesta edição, sobre o filme “Lincoln”, de Steven Spielberg – a história dos avanços da humanidade por meio de suas empresas, seus políticos, suas instituições jurídicas e povos mais informados é sempre a vitória de um novo e mais amplo olhar para a realidade que construímos. É a vitória sempre difícil, mas infalível, das ideias emergentes, inovadoras e reconstituintes de cada direito humano conseguido, seja

OSÉAS E LINCOLN: UNIDOS CONTRA O PRECONCEITO E A INSUSTENTABILIDADE


A EDUCAÇÃO EM BH ESTÁ VIVENDO A MAIOR TRANSFORMAÇÃO DA SUA HISTÓRIA.

LIDIANE DA CRUZ E SEUS FILHOS BRUNO E LORENA, ALUNOS DA ESCOLA MUNICIPAL PADRE FRANCISCO CARVALHO MOREIRA

200 MIL KITS ESCOLARES ESTÃO SENDO DISTRIBUÍDOS A TODOS OS ALUNOS DAS ESCOLAS DA PREFEITURA E DAS CRECHES CONVENIADAS. SÃO KITS COMPLETOS, COM MOCHILA, AGENDA, CADERNOS, LIVROS DIDÁTICOS E LITERÁRIOS.

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Não para de trabalhar por você.

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SOU ECOLÓGICO

ANDRÉ RUAS

COMO ERA

O ANTIGO ESTÁDIO MAGALHÃES PINTO: VERDE PLANTADO COM O APOIO DOS TORCEDORES

O MINEIRÃO DO SAARA

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ue me perdoem o nosso cruzeirense senador Aécio, os atleticanos governador Anastasia, prefeito Marcio Lacerda, seu filho Tiago e o meu amigo Gustavo Penna, representando os arquitetos, engenheiros e urbanistas envolvidos na concepção do novo Mineirão recém-entregue a todas as torcidas do planeta. Eu fui lá outro dia, dia normal de semana. E como todo mineiro que se preze, e vê antes de assuntar, o tamanho e o jeitão do que se quer falar, fiquei horrorizado! Eu tinha ficado assim antes, olhando já desconfiado as perspectivas paisagísticas e sem verde do futuro Mineirão. Mas o que constatei agora ali, não tem explicação nem humanismo básico. Só cimento, desolação e aridez onde já havia muito verde. Todo o seu novo redor e espaços internos e vazios do novo estádio parecem ter sido planejados para se tornar palco de um culto profano e antiecologico: o de expor, de propósito, os torcedores ao sol inclemente de Minas – o Estado mais solar e com a temperatura em elevação do Brasil – e a todos os possíveis tipos de câncer que esse desamor provoca. Ali não há sombra natural pra ninguém. Seja para um torcedor idoso, já cheio de manchas suspeitas, escuras e vermelhas nas mãos, braços ou rostos. Seja para uma criança de colo, assando no carrinho de lona ou plástico sobre o asfalto ou cimento. Seja para os camelôs e barraqueiros, não há onde se refugiar. As únicas sombras possíveis são artificiais e personalizadas só pra quem trabalha sob tendas de

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plástico, que também não evitam a claridade, fazem arder os olhos e potencializam mais calor e desconforto ainda. O que os autores e paisagistas do novo estádio dos mineiros fizeram no lugar de milhares de árvores que existiam ali? Plantaram algumas mudas aqui e outras acolá, numa economia de gasto desumana. E onde podiam plantar, dentro e fora do Mineirão (e há áreas imensas pra isso, somente gramadas), também foram desecológicos. BCMF Simplesmente se esqueceram do verde, de tantos bougainvilles que, COMO FOI PROMETIDO possíveis e com baixo custo de manutenção, poderiam colorir e alegrar todos os muros de cimento do novo Mineirão. Por que isso? Seria uma ojeriza burguesa negarmos a nossa origem bucólica? Ou vergonha boba e colonizada de mineiro, de querer imitar a Europa, onde o clima e seus espaços públicos são diferentes? O PERDÃO É VERDE Esses nossos urbanistas não devem saber da história vergel e ambiental de BH. Não sabem que, quando as primeiras secretaria e lei municipal de Meio Ambiente da capital mineira foram criadas, fruto da luta dos ambientalistas nas gestões de Hélio Garcia e Sérgio Ferrara, a prefeitura fez uma pesquisa para descobrir porque 70% das mudas de árvore plantadas anualmente nas imediações do estádio, notadamente ao longo das avenidas Antônio Carlos e Carlos Luz, não


Acesse o blog do Hiram: hiramfirmino.blogspot.com

ECOLÓGICO

COMO FICOU

NOVO ESTÁDIO MAGALHÃES PINTO: VITÓRIA DA ARIDEZ E DO DESAMOR PAISAGÍSTICO

vingavam, eram todas quebradas após cada jogo. A resposta foi simples. Quando o Atlético perdia, seus torcedores, de raiva, descontavam nas coitadas das mudas. Quando era o Cruzeiro a perder, os integrantes da Máfia Azul faziam o mesmo. Como não podiam bater nos juizes e bandeirinhas, nem xingar mais do que já xingavam suas respectivas mães, ambas as torcidas agiam emocionalmente: quebravam todas as pequenas e futuras árvores que viam pela frente. O que a Prefeitura fez? Uma grande campanha de esclarecimento junto às torcidas, e nos próprios telões do estádio, antes de cada jogo. O resultado foi uma redução quase absoluta, com quase 100% de adesão, eliminando esse vandalismo. Mais. Seus torcedores passaram a plantar árvores junto com os funcionários da SMMA em todas as áreas de estacionamento. Isso explica porque, já crescidas, elas passaram a dar sombra para milhares de carros, amenizando sobremaneira o clima de deserto que já havia no projeto original do estádio. Árvores que, mesmo adultas, com flores e passarinhos morando, foram mutiladas sem dó nem piedade no novo projeto. Como Guimarães Rosa descreve em “Grande Sertão:Veredas”, mostrando o calor e a desolação humana no cenário devastado da caatinga baiana virando deserto, reproduzido no novo Mineirão, o Saara mineiro parecer ter mesmo uma sofrível e colonialista explicação. A de que a maioria dos nossos arquitetos e urbanista ainda sofre da chamada Síndrome Européia, que é querer repetir aqui, no continúo ensolarado e tropical país que vivemos, o mesmo modelo dos países europeus, onde neva e falta luz do sol em grande parte do ano. E, por isso mesmo, não existem nem fazem tanta falta árvores, bosques e florestas conjungados sobreando seus espaços públicos. AINDA QUE TARDE Não seria o caso de todos os responsáveis pelo novo, árido e indiscutivelmente cancerígeno Mineirão voltarem hoje ali e – sem preconceitos, mas com a humildade e sabedoria que as montanhas nos ensinam e

nos faz diferentes - terem um novo olhar sobre o seu antiecológico, desamoroso e socialmente injusto paisagismo? Será que eles sabiam que, na comparação com outras nove capitais, BH registrou, em 100 anos, um aumento médio de temperatura de 1,5 graus? E que, segundo um estudo da UFMG, desde 1911 a nossa umidade relativa do ar caiu 7%, chegando a 66,2%, e a temperatura mínima média aumentou 2,7 graus, passando de 15,2 para 17,9 graus? O que nos obriga a usar (e não usamos) filtro solar diariamente, haja sol ou apenas a sua claridade aqui severamente potencializada? Afinal, nós só temos esse Mineirão, e o amamos, tal como amamos os nossos times. E o que cabe de verde ali dá pra compensar todas as árvores que, atleticanos, cruzeirenses e americanos ajudamos a plantar e não existem mais, por insistirmos em sermos “cidadãos modernos” de uma Europa que, felizmente, não somos. Mesmo não tendo mar, BH já tem mais casos de câncer provocado pela nossa demasiada exposição ao sol que Florianópolis e oito outras metrópoles litorâneas no nordeste (Salvador, São Luís, João Pessoa, Recife, Natal, Aracaju, Fortaleza e Maceió). Isso mesmo. Esse dado alarmante é do Instituto Nacional do Câncer. E sua estimativa para 2013 – quando o Mineirão e seu entorno sem sombra atrairão um público imenso e permanente - é que mais mulheres que homens serão vítima de câncer de pele. Serão 95 delas, e muitas torcedoras, em busca de tratamento para cada 100 mil habitantes de BH, contra a média nacional de 68. Isso é triste, e também fere a nossa história bucólica. Cadê a Cidade Jardim, a Cidade Vergel dos versos de Olavo Bilac ou a Paris Brasileira, o Belo Horizonte de clima ameno que fez até um Noel Rosa, o poeta da Vila, buscar a cura de sua tuberculose aqui, e também apaixonar-se por ela? Cadê um Mineirão saudável, também verde por fora, com nossas torcidas protegidas naturalmente contra o sol e as doenças que, assim desrespeitado, ele pode nos provocar? Por amor, Aécio, Anastasia, Márcio, Tiago e Gustavo Penna. Liderem, ainda que tarde, esta reesperança!

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SOU ECOLÓGICO

ECOLÓGICO

PAROU POR QUÊ? Novos desafios para o futuro titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de BH: saber porque parou e retomar urgentemente o plantio das 54 mil novas árvores na paisagem árida da capital mineira. Esse avanço vergel foi prometido e iniciado na primeira gestão de Marcio Lacerda para compensar as 18 mil árvores já frondosas mutiladas por causa das obras de mobilidade urbana para a Copa do Mundo. Esse comprometimento ecológico corajoso, na base de três novas árvores para cada uma derrubada, com o voto de confiança dos ambientalistas que não podem ser esquecidos, valeu o “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, o “Oscar da Ecologia´2012, na categoria “Melhor Político” a Lacerda em meio à revolta da população, na época, contra a diminuição explicada, mas doída, da arborização da capital.

PRIMEIROS FRUTOS

“A partir dos recursos gerados pela atividade mineradora, estamos realizando um movimento que alavanca o desenvolvimento social, transformando em recurso finito, que é o minério de ferro, em um recurso renovável: o capital social.”. A afirmação é de Mariana Rosa (foto), gerente-geral de Comunicação e Responsabilidade Social da Ferrous. Ela também adiantou que os 50 novos caminhões adquiridos para ampliar as operações, nas minas de Brumadinho e Congonhas, serão batizados com nomes de árvores típicas da Mata Atlântica. E, para cada veículo desses, mais árvores serão acrescidas na reserva ambiental da empresa, aumentando também o seu capital verde.

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IMDA AVANÇA

DIVULGAÇÃO

FERROUS SOCIAL

ALEXANDRE MOTTA

Se o prefeito, em sua nova gestão, quiser recuperar o ânimo pelo verde, vide o inferno em vigor das mudanças climáticas, basta ele ir na Praça da Papa. Foi ali, bem-humorado e na companhia de jornalistas e ambientalistas, que ele inaugurou a promessa das 54 mil árvores. É ali, no ponto mais nobre da zona sul, que quase meia centena de ipês bem cuidados já esboçam um bosque vigoroso, dão sombra e prometem uma primavera inaugural este ano. Por que não em toda a cidade, onde este mesmo sonho pode ser real, democrático e inclusivo?

Mesmo em plena sexta-feira véspera de Carnaval, o Instituto Mineiro de Desenvolvimento Ambiental (IMDA) conseguiu reunir e dar posse a 22 dos seus 28 ambientalistas fundadores. A cerimônia, concorrida, aconteceu na sede do Ietec, em BH, onde, no próximo dia 1º de março, haverá uma nova reunião para consagrar as metas 2013. Segundo o presidente Ronaldo Malard (foto), a única mulher também fundadora da nova instituição é a ex-deputada e presidente da Associação das Caminhantes da Estrada Real, Maria Elvira, ungida para o conselho fiscal.


E C T AdD O 1 E C O NCristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

Twittando O “Você sabia? As mulheres ocupam apenas 6% dos cargos ministeriais na área de meio ambiente no mundo. Precisamos de mais #MulheresnaCiência”@UNESCOBrasil - UNESCO no Brasil O “Empresas que mudam modelo de negócio em prol do meio ambiente têm mais lucro” @abranches - Sergio Abranches, cientista político especializado em meio ambiente

“OURO DO XINGU: MPF recomenda à Secretaria de Meio Ambiente do PARÁ que não licencie mineradora canadense Belo Sun” @VerenaGlass – Verena Glass, jornalista

O

O “Sustentabilidade não ocorre por milagre nem decreto. Está em nós, nas nossas escolhas pela qualidade de nossas condutas” @beatrizdiniz – Beatriz Diniz, jornalista O “Sou a favor da internação compulsória. Por defender essa medida já fui chamado de autoritário, mas não me importo” @drauziovarella - Dráuzio Varella, médico O “Prédios argentinos pagarão menos imposto por ter jardins no telhado” @ecomeninas - Econexos por Ecomeninas

“Jovens sobem em árvores e impedem corte em Porto Alegre” @helpplaneta - Movimento ambiental

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ECO LINKS Os aplicativos para Android e Iphone são inúmeros. E essa diversidade também existe para os temas ambientais e sustentáveis, que vão desde dicas verdes às informações sobre turismo ecológico. Confira: O app Project Noah é dedicado aos aventureiros e amantes da natureza. Ele armazena em detalhes informações sobre viagens ou passeios ecológicos, com campos para imagens e descrições. A ferramenta também lista atividades relacionadas ao meio ambiente de uma determinada região. Gratuito, o download está disponível na Apple Store. Se para viajar existe um aplicativo, por que não um específico para o carro? Foi o que o Ministério do Meio Ambiente, em parceria com Ibama, projetou para orientar motoristas na busca de automóveis mais sustentáveis. O app Carro mostra o nível de emissões de poluentes de diversos modelos de veículos do mercado e dá uma nota verde para cada um deles. Ele também indica o preço médio dos veículos, que são divididos nas categorias carros, motos e caminhões. O aplicativo está disponível na App Store e custa US$ 1,99.

ECO PROMOÇÃO Quer ganhar os livros infantis “O tribunal dos bichos” e “Parábola da felicidade” do escritor Vilmar Berna? Basta seguir nosso Twitter www.twitter. com/sou_ecologico e twittar a frase: “Eu sigo @sou_ecologico e quero ganhar os livros O tribunal dos bichos e Parábola da felicidade” O sorteio será realizado dia 18 de março, e o resultado divulgado nas nossas redes sociais. Boa sorte!

REPÓRTER ECOLÓGICO Lixão a céu aberto: moradores de Baependi, no sul de Minas, estão indignados com a situação do lixo na cidade. Eles reclamam da forma inadequada como ele é descartado.

“Alguém está sentado na sombra hoje porque alguém plantou uma árvore há muito tempo.” W.Buffett @GuiaInvest - Guia de Investimentos

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ECO MÍDIAS O Sabe aquela dúvida que muitas pessoas têm sobre leis e questões ambientais? Agora toda semana a ECOLÓGICO, em parceria com o grupo “Econexos por Ecomeninas” falará sobre o assunto. Para começar você sabe o que é uma Reserva Legal? http://goo.gl/6aI3K

“O LIXO É LARGADO A CÉU ABERTO, PERTO DE RIOS E CÓRREGOS, ATRAINDO DIVERSAS PRAGAS URBANAS COMO URUBUS, RATOS, BARATAS E ESCORPIÕES”


JB ECOLÓGICO

1GENTE ECOLÓGICA

JB ECOLÓGICO

" A torcida do Cruzeiro é a China Azul."

"A gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente."

REPRODUÇÃO

GUIMARÃES ROSA, ESCRITOR

"Se houver uma camisa branca e preta pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento."

"Será, senhor, que é pecado ser velho assim como sou? Será que esta juventude pensa que o tempo parou?"

ROBERTO DRUMMOND, ESCRITOR E CRONISTA ESPORTIVO, QUANDO CARACTERIZOU O CRESCIMENTO DA TORCIDA DO CRUZEIRO FRENTE AO ATLÉTICO E IMORTALIZOU A GARRA DO GALO VINGADOR

SILVIO TANAKA

MARCELO CASAL JR / ABR

CARTOLA, COMPOSITOR

"Eu trato cachorros como gente. São os filhos que eu não tive." "So há uma coisa que faz com que um sonho seja impossível: o medo do fracasso" PAULO COELHO, ESCRITOR

20 Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

GAL COSTA, CANTORA


JB ECOLÓGICO

RUBENSTEIN

CRESCENDO

"Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa qualquer entendimento."

PETR MORRISON

CLARICE LISPECTOR, ESCRITORA

"Estou aqui para reconhecer meus erros e pedir desculpas. Os cinco que não se doparam naquelas Voltas da França foram os verdadeiros heróis."

MICHAEL BLOOMBERG O prefeito de Nova York, que proibiu fumar em espaços públicos, vender refrigerantes em copos gigantes e vender alimentos com gordura trans, agora tem um novo alvo: o isopor. Ele quer proibir o uso de copos, bandejas e caixas de isopor na Big Apple. As escolas públicas terão de remover embalagens desse gênero das lanchonetes. E os bares e restaurantes serão forçados a mudar seus estoques por produtos biodegradáveis.

LANCE ARMSTRONG, CICLISTA

"O problema do político sem mandato é que nem o vento bate mais nas suas costas."

"Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento." ADÉLIA PRADO, ESCRITORA

CARLOS MAGNO

LULA, EX-PRESIDENTE

RIO+20 A cada ano 1,3 bilhão de toneladas de comida próprias para consumo são descartadas no mundo todo. Para alertar sobre esse desperdício que causa grandes impactos ambientais, foi lançada a campanha global Pensar.Comer.Conservar. Diga não ao desperdício. Por meio do portal www.thinkeatsave.org serão reunidas diversas ações organizadas como parte do movimento. A página oferece dicas e informações para consumidores -sobre o que fazer para reduzir as perdas, e comerciantes, com ferramentas para mensurar o desperdício nos estabelecimentos e como combatê-lo. O lançamento da campanha é um resultado direto da Rio+20.

ECOLÓGICO /FEVEREIRO DE 2013 Q 21


CÉU DE BRASÍLIA VINÍCIUS CARVALHO

IGOR SPANHOLI

redacao@revistaecologico.com.br

DESASTRES NATURAIS Os produtores rurais atingidos por desastres naturais em 2010 ganharam mais um ano para reconstruírem as propriedades com empréstimos do BNDES. O Conselho Monetário Nacional (CMN) prorrogou até 31 de dezembro o prazo para a concessão de financiamentos do Programa Emergencial de Reconstrução (PER). São R$ 2 bilhões com juros de 5,5% ao ano.

CÓDIGO DE MINERAÇÃO O Planalto retomou as discussões sobre o novo Código de Mineração e deve mandar novo texto para o Congresso até março. Entre as propostas estão a elevação da Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), e a criação de uma agência de regulação específica para o setor.

PECUÁRIA VERDE CRIME AMBIENTAL O novo presidente do Senado, Renan Calheiros, assume a função respondendo a crime ambiental. O Ministério Público Federal ajuizou Ação Civil Pública contra o senador e a empresa Agropecuária Alagoas Ltda, por pavimentarem irregularmente com paralelepípedos uma estrada com 700 metros de extensão dentro da Estação Ecológica de Murici, sem a autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), gestor da área.

22 Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

Se fosse aumentada a produtividade em apenas 24% do pasto com potencial agronômico para intensificação da pecuária, seria possível aumentar o valor da produção do setor em cerca de R$ 4 bilhões, até 2022, sem desmatar. A projeção é do Imazon. O esforço dependeria de investimento de até R$ 1 bilhão por ano.

SEM ANISTIA

TORNEIRA FECHADA

O Novo Código Florestal não anula multas aplicadas com base na antiga lei, revogada em maio do ano passado. O entendimento da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) se baseia na decisão do próprio Tribunal, que rejeitou petição de um proprietário rural do Paraná que queria anular uma multa de R$ 1,5 mil recebida por ocupar irregularmente Área de Preservação Ambiental nas margens do rio Santo Antônio.

Entre 2008 e 2011, quase R$ 3 bilhões em créditos deixaram de ser contraídos por quem não estava em dia com as exigências fundiárias e ambientais na Amazônia. A restrição, assegurada por resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2008, teria impedido o desmatamento de mais de 2.700 km2 de floresta, ou 15% do total derrubado no período. A estimativa é da ONG Climate Policy Initiative (CPI).


JOSÉ LUIZ DA CONCEIÇÃO / AE

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA Por pressão de montadoras e da Petrobrás, foi adiado em três anos o uso obrigatório de diesel com menores teores de enxofre no Brasil. Pesquisadores do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP estimaram o impacto do atraso: pelo menos mais 13.984 mortes até 2040.

RECICLAGEM DESPERDIÇADA O Brasil joga no lixo, a cada ano, cerca de R$ 10 bilhões por falta de reciclagem e destinação adequada de resíduos sólidos e de uma política de logística reversa que gerencie o retorno de embalagens e outros materiais descartados de volta à indústria. Os dados são do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

MAIS ETANOL O percentual de etanol misturado à gasolina passará de 20% para 25% a partir do dia 1º de maio. O anúncio foi feito pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Segundo ele, a expectativa do governo é que a medida ajude a reduzir o impacto do aumento do preço da gasolina, que teve reajuste de 6,6% nas refinarias.


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PÁGINAS VERDES

“BH NÃO PODE SER A CIDADE DO MÉXICO” FERNANDA MANN

As ideias do vice-prefeito para melhorar a vida e a qualidade da gestão pública em BH Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

C

andidato a prefeito na última hora alçado ao cargo de vice, o ex-deputado e ex-vereador Délio Malheiros (PV) se diz à vontade na nova função. Com experiência política acumulada e fôlego renovado, ele – que se intitula ecologista por natureza, mas sem radicalismo – tem muitas ideias na cabeça e, nas mãos, a tarefa de ajudar a colocá-las em prática, contribuindo para tornar a gestão municipal e a vida em Belo Horizonte mais produtivas e sustentáveis. Sua pretensão é se firmar como o verdadeiro ‘braço verde’ do prefeito Marcio Lacerda. Convicto, Délio afirma que o desafio do momento é desatar o nó da mobilidade urbana. E para livrar BH do trânsito caótico e das intermináveis obras viárias, prega mudanças ousadas, como o fim da cobrança do IPVA nos moldes atuais, em vigor desde os anos 1970, e a sua substituição por um imposto embutido no preço do combustível, diretamente nas bombas. “Quem rodar mais e abastecer mais o carro, vai pagar mais. Quem optar por deixar o carro na garagem, pagará menos e impactará menos a cidade. Assim, seria possível criar um fundo, com parte desses recursos, para o investimento em transporte público. Algo em torno de R$ 0,50 em cada litro de combustível vendido.” Propõe, ainda, medidas alternativas à canalização de rios, o fim do uso do papel na administração municipal e a oferta de aulas virtuais por escolas da rede pública. Em entrevista exclusiva à ECOLÓGICO, Délio também falou sobre o seu sítio, em Nova Lima, onde construiu caixas coletoras de água da chuva e mantém horta e pomar livres de agrotóxico. Confira: LEILA: "A DELICADEZA, O RESPEITO E A CORDIALIDADE SÃO PRIMORDIAIS NO CARDÁPIO DA BOA CONVIVÊNCIA" XX

Q ECOLÓGICO/ABRIL DE 2012

MALHEIROS: “O CARRO TEM DE DEIXAR DE SER O SEGUNDO SONHO DO BRASILEIRO.”


DÉLIO MALHEIROS VICE-PREFEITO DE BELO HORIZONTE (PV)

O senhor tornou-se conhecido por atuar na defesa dos direitos do consumidor e de economia do dinheiro público. Como contribuir no novo cargo? ● Minha expectativa é retribuir tudo o que a cidade me deu, como vereador e deputado. Tive a felicidade de ser um dos deputados estaduais mais bem votados em BH. Estou certo de que, com meus conhecimentos e experiência nas áreas jurídica e de cidadania, poderei ajudar bastante. Na Câmara e na Assembleia, cumpri meu papel da melhor forma possível, fazendo de tudo para aprovar projetos sérios e defender a economia do dinheiro público. Fiz tudo com extremo zelo e pretendo seguir assim. Sei que posso contribuir, principalmente, para a melhoria da mobilidade urbana e conservação do patrimônio histórico, atuando em questões jurídicas, tributárias e ambientais. A cada dia abraço um novo desafio. Atualmente, estou envolvido com várias atividades, entre elas o apoio ao pessoal da Fundação Municipal de Cultura, para que BH apresente projetos e seja contemplada com recursos federais, do PAC das Cidades Históricas, para investimento na conservação de prédios e monumentos. Estamos em busca de soluções jurídicas e queremos acelerar as ações para que todos os projetos sejam concluídos no prazo previsto, que é apertadíssimo. Estou animado e muito feliz por poder contribuir. Há algum desafio que considere prioritário? ● Mobilidade urbana. BH tem a ‘marca da sustentabilidade’. Ano passado, sediamos o Encontro do ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade, e temos de dar exemplo. A começar pelo comba-

“Veneza, na Itália, passou por 30 guerras e perdeu 10% do seu patrimônio. Com 110 anos de circulação de carros, já perdeu mais de 30%, em razão da poluição atmosférica ” te à cultura do carro como símbolo de status e principal meio de locomoção na cidade. Essa mudança de mentalidade é urgente. Temos de superar paradigmas, como o exemplo do pai que promete ao filho um carro, se for aprovado no vestibular. Meu sonho é que esse jovem ganhe de presente um passe permanente do metrô, que precisa, claro, ser expandido. Mas a mudança também exige ações práticas, como uma nova forma de tributação do IPVA. Temos de criar mecanismos para financiar o investimento em transporte público de qualidade. Esse desafio de repensar o uso do automóvel é global: não apenas do ponto de vista ambiental, mas também dos nossos valores históricos. Veneza, na Itália, passou por 30 guerras e perdeu 10% do seu patrimônio. Com 110 anos de circulação de carros, já perdeu mais de 30% de patrimônio, em razão da poluição atmosférica (que contamina seus canais e ameaça erodir prédios históricos). Nosso modelo de deslocamento está no limite. Só em BH, são ‘despejados’ 70 carros por dia nas ruas. A estimativa é de que, em cinco anos, tenhamos 100 milhões de automóveis no Brasil. Hoje, são 60 milhões. Isso é insustentável.

Qual é a sua proposta de mudança no IPVA? ● Estamos começando a formatá-la. Andei estudando vários modelos e a ideia é substituí-lo por um imposto embutido no preço do combustível, diretamente nas bombas. Quanto mais o motorista rodar e abastecer o carro, mais vai pagar. Assim, seria possível criar um fundo, com parte desses recursos, para o investimento em transporte público. Estive em Brasília, no início deste mês, e apresentei essa ideia a dois ministros, que se mostraram surpresos. Nunca ouvi ninguém propor algo nessa linha. Se a opção for por manter o IPVA, temos de nos inspirar em modelos, como o da Alemanha, que adotou uma forma de cobrança completamente inversa à que vigora hoje no Brasil, a chamada parábola invertida. Com ela, carros mais velhos, mais poluentes e menos seguros, pagam IPVA mais caro; enquanto os mais novos, mais modernos e menos poluentes, pagam menos. Esse modelo certamente incentivaria as pessoas a deixarem o carro em casa. E mais, permitiria a redução do altíssimo custo arcado pelo governo estadual com a manutenção da máquina arrecadatória do IPVA. Mas essa proposta também requer uma inversão na atual política do governo federal, que incentiva a expansão da frota nacional ao assegurar a redução de IPI para a compra de carros novos... ● Sem dúvida. A questão tributária é crucial para o meio ambiente. A ideia é oferecer incentivo para a renovação da frota nacional – e subsidiar o investimento em transporte público – e não para a sua ampliação. Temos de

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ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 25


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PÁGINAS VERDES

acabar com o perverso modelo em vigor, capitaneado pelo governo federal. Com a renúncia fiscal para a compra de carros, estamos seguindo na contramão da história: um sistema que tira o passageiro do transporte público e o joga para o automóvel, inchando as cidades e criando uma concorrência desleal. O caminho é reduzir impostos e oferecer subsídios para a compra de novos ônibus, de pneus etc. O carro tem de deixar de ser o segundo sonho do brasileiro, depois da casa própria. Citaria exemplos de transporte público em outras capitais que sirvam de referência para BH? ● Não. Mas, temos de aprender com os erros dos outros. Curitiba (PR), por exemplo, sempre foi considerada modelo de transporte público, mas caminha para a mesma situação de caos, em relação ao transporte privado. O enfrentamento das questões citadas é o caminho para evitar que vivenciemos, em BH, realidade semelhante à da Cidade do México, onde se gastam até duas horas para percorrer um quilômetro de carro. E a velha fórmula de lá ainda se repete aqui: ausência de investimento em transporte público, carro subsidiado e gasolina relativamente barata. Portanto, não há como superar tudo isso sem enfrentar, com determinação, a questão tributária. Ela é espinhosa, gera discussões inclusive no Congresso Nacional, mas tem de ser encarada. Enquanto as mudanças não se concretizam, a palavra de ordem é: evitar deslocamentos. Criar condições para que o todo cidadão – inclusive eu, que moro perto e poderia vir a pé ou de bicicleta para o trabalho – abra mão do carro e adote outros meios de locomoção.

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Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

“Nosso modelo de deslocamento está no limite. Só em BH, são ‘despejados’ 70 carros por dia nas ruas” Mas essa mudança depende, mais que do desejo do cidadão, de verdadeiro compromisso e vontade política. BH não tem ciclovias suficientes, o metrô é precário... ● Sim, é verdade. Mas temos de começar de alguma forma. Nem que levemos dez, 20 anos para chegar ao modelo ideal. Tanto que incentivo meus filhos a adotarem hábitos mais saudáveis desde já. Meu filho, de 23 anos, e minha filha, de 17, andam de ônibus por toda a cidade. Além disso, há inúmeras outras questões em que nós, servidores públicos, temos o dever de ser indutores de mudança, para que o cidadão e a iniciativa privada façam o mesmo. Um exemplo é acabar, nas repartições municipais, com o uso do papel. Todos os processos têm de estar disponíveis por meio eletrônico. Internamente, a comunicação deve ocorrer por e-mail, acabando de vez com ofícios e outros documentos. Cartórios, órgãos e repartições estaduais e federais têm de fazer o mesmo. É um atraso de vida obrigar milhares de belo-horizontinos a cruzar a cidade todos os dias, em busca de papéis e certidões. E mais: sou a favor de que os servidores municipais, em funções que não demandem presença física, trabalhem em casa. Como, por exemplo, os responsáveis por responder a consultas pela internet. Basta registrarmos o IP de seus computadores. Num passo

ainda mais adiante, a ideia é fazer um censo em toda a PBH e, se for o caso, propor realocações, permitindo que a maioria dos servidores trabalhe o mais próximo possível de casa. As empresas podem fazer o mesmo. Em relação à administração municipal, vê outras oportunidades de avanço e aperfeiçoamento? ● Os processos licitatórios podem ser aprimorados. No Brasil, o poder público consome 30% de toda a riqueza nacional, por meio da compra e contratação de produtos e serviços. Portanto, tem de fazer o seu dever de casa, priorizando projetos e materiais ambientalmente recomendados. Vai construir uma nova escola? Tem de considerar, na licitação, se o projeto tem diferenciais ecológicos, como sistemas de aquecimento solar e de coleta de água da chuva; uso de madeira certificada; aproveitamento da luz e da ventilação naturais, para aumentar o conforto térmico e reduzir o consumo de água e energia elétrica. No critério de desempate e nas preferências, os quesitos de ecoeficiência têm de ser priorizados. Alguns desses diferenciais, como as caixas coletoras de água pluvial, também podem ser incorporados a prédios públicos já existentes, ajudando a diminuir o volume de água que chega aos rios e córregos da cidade. Concorda que, infelizmente, o que se vê hoje são medidas exatamente opostas? Prova literalmente concreta disso é a ainda canalização de córregos e rios. ● Realmente essa é uma área na qual ainda temos muito que fazer. Tanto em termos do amadurecimento de conceitos quanto da destinação da verba pública.


DÉLIO MALHEIROS VICE-PREFEITO DE BELO HORIZONTE (PV)

Como não temos dinheiro suficiente para ‘descanalizar’ os rios, a exemplo de cidades da Coreia – onde cursos d’água estão retornando aos leitos naturais e o asfaltamento de vias gradativamente reduzido – algumas medidas, relativamente simples e baratas, são urgentes. Uma delas é a instalação de caixas coletoras de água pluvial em todos os prédios públicos, inclusive escolas, que têm enormes telhados e pátios cobertos. Além de reduzir a quantidade de água que escoa para os rios e o sistema de drenagem, ainda daríamos um excelente exemplo de educação ambiental e de combate ao desperdício de água tratada, ao usar a água captada para a limpeza e a manutenção desses edifícios. Vê luz no fim do túnel? Alguma ação em andamento, um alento para quem sofre com as enchentes? ● Sinceramente, se dependesse de mim, nenhum córrego seria canalizado. Mas, infelizmente, essa é uma prática arraigada em nossa cultura, principalmente entre moradores da periferia, os primeiros a demandar essas obras, as avenidas sanitárias. Atualmente, a PBH tem um grande projeto, em parceria com a Copasa, para o tratamento de esgoto nas bacias de córregos que nascem em Contagem. Esse é, sem dúvida, um passo importante para evitar futuras canalizações. Mas, já que o Arrudas está canalizado e o Bulevar pronto, a saída é avançar nas políticas de ampliação e de incentivo fiscal para a manutenção das áreas ainda permeáveis, atuando, principalmente, ao longo dos rios. Hoje, o poder público é sócio majoritário na derrubada de casas antigas, que têm áreas verdes e quintais, essenciais para frear a crescente impermeabilização da capital.

Para quem nasceu em Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha, quais são seus sentimentos em relação a BH e os locais de que mais gosta? ● Cheguei com 16 anos e já morei em vários bairros: Centro, Floresta e mais de 20 anos no Gutierrez. O que mais gosto é da topografia, das montanhas que circundam a cidade. Segundo, do clima. Depois, da maneira como BH se tornou uma metrópole, sem perder o ar de interior. Aqui praticamente todo mundo se conhece. Do ponto de vista do calor humano, somos quase uma província. Também sou apaixonado pelo Mercado Central. Ele é a síntese do povo de BH, onde você encontra todo mundo e de tudo. E a maior preocupação? Qual é o gargalo da cidade? ● O excesso de carros. Isso é triste. Causa grande estresse e impede que a cidadão desfrute dos espaços públicos, tenha mais qualidade de vida. Temos de devolver a cidade ao povo, ao pedestre, ao ciclista. Ela é de todos e, por isso, cada um tem de fazer a sua parte. Sou ecologista por natureza e vocação, mas sem radicalismo. Acredito que todos podem contribuir para termos cidades melhores, mais verdes e agradáveis. Passo horas pensando em soluções para problemas e na adaptação de iniciativas que deram certo em outros países à nossa realidade. Nesse sentido, as Parcerias Público-Privadas (PPPs) são uma excelente ferramenta para alavancar novas operações urbanas. Quer um ótimo exemplo ocorrido em BH, há cerca de dez anos? A criação do Parque Rosinha Cadar, próximo à Assembleia. O dono de todo aquele quarteirão foi autorizado a construir dois prédios, na metade do terreno, na condição de doar o restante da área à municipalidade. O resultado está lá: um espaço verde e renovado,

QUEM É ELE

DÉLIO MALHEIROS Délio de Jesus Malheiros tem 51 anos. Casado, formou-se advogado em 1989 e, ainda estudante da Faculdade Milton Campos, dedicava-se ao Direito do Consumidor. Criou e foi o primeiro coordenador do Procon da Assembleia. Assessor jurídico do Movimento das Donas de Casa, de 1988 a 2004, elegeu-se vereador em 2005. Como deputado estadual, presidiu a Comissão de Defesa de Direito do Consumidor e do Contribuinte. Foi ainda, vice-presidente da Comissão de Administração Pública da ALMG. É presidente do PV de BH.

ponto de encontro e lazer para toda a cidade. Temos de reconhecer o direito à propriedade, mas também assegurar que as pessoas tenham um mínimo de compromisso com a cidade. Só assim teremos ganhos sociais e ambientais coletivos. É otimista em relação à maior conscientização do ser humano? ● Confio e acredito que a sociedade só tende a melhorar, a evoluir. Mas, repito, cada um tem de fazer a sua parte. As pessoas ainda esperam muito do poder público. É óbvio que temos nossas obrigações, mas a população pode e tem canais para cobrar e ajudar a melhorar a qualidade do serviço que prestamos. Pouquíssimas pessoas sabem, mas a PBH tem um programa, o Cidadão Auditor, por meio do qual 37 mil pessoas colaboram, informando como está a varrição e a qualidade da limpeza em sua rua e quarteirão. Temos de ampliar esse diálogo, a colaboração mútua. O cuidado com o lixo e outras boas práticas ambientais são atitudes simples, mas, quando somadas, fazem toda a diferença.

ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 27


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PÁGINAS VERDES

DÉLIO MALHEIROS VICE-PREFEITO DE BELO HORIZONTE (PV)

O SANTO DE CASA QUE FAZ MILAGRE FOTOS:FERNANDA MANN

PRESERVANDO NASCENTE

REAPROVEITANDO ÁGUA DA PISCINA

CAPTANDO ÁGUA DA CHUVA

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Mais que propor e cobrar a adoção de medidas ecológicas na administração pública, como cidadão, Délio Malheiros faz de tudo para fugir do ditado que diz: ‘santo de casa não faz milagre’. Com ele não funciona. É assim em seu sítio, o Alto dos Pinos, em Nova Lima, que ele só faz prosperar, desde que adquiriu a propriedade, há 12 anos. São 22 mil metros quadrados de área, com direito a muito verde, pomar e horta sem agrotóxicos, mimos para passarinhos e espaço para o cuidado com a água. Avesso ao desperdício, Délio conta que matutou até conseguir planejar e instalar caixas para a coleta de água da chuva, que é usada na irrigação de plantas, do gramado e até mesmo para o banho. A água da piscina, antes descartada em bicas, há tempos cai em uma caixa de filtragem – com areia, brita e carvão – e também ganha destino nobre, como a limpeza da casa e das áreas de lazer. Délio se considera privilegiado por ter pai e mãe vivos, com 87 e 74 anos, respectivamente. E as lembranças de sua terra natal são as melhores. “Cresci na roça e uma das nossas diversões era caçar passarinho. Hoje, ao contrário, tento retribuir ao máximo a dádiva do contato com a natureza. Faço tudo pela preservação. Os passarinhos até me conhecem. Quando chego, logo se amontoam e comem frutas na minha mão. Duas lembranças estão marcadas em minha memória: a beleza dos pés de ervilha, que tínhamos na horta lá de casa, e o delicioso perfume exalado durante a colheita do amendoim. Planto de tudo, sem um pingo de agrotóxico. Só uso esterco natural, que um dos meus irmãos traz lá de Itamarandiba.” COZINHA É HOBBY Um dos xodós do sítio, confessa, é a cascatinha construída num barranco, refúgio de inúmeras plantas e de frequentadores ilustres: oito sapos, todos eles conhecidos pelo nome. Tem ainda tartarugas, peixes e uma ‘sabiá’ que há três gerações procria por lá. Também não faltam orquídeas aninhadas em tronco de árvores e o cúmplice fogão a lenha, companheiro fiel enquanto Délio faz as honras de cozinheiro. “Faço até linguiça caseira. Compro tudo no Mercado, pico, tempero e coloco para defumar.” Para acompanhar, nunca falta uma aguardente das boas, vinda do interior. “Toda quinta, tem o tradicional happy hour. Jogamos sinuca, batemos papo, mas ninguém volta dirigindo. A gente tem de ter um lugar assim, para curtir o verde e descansar. Se passar mais de três dias sem ir ao sítio, sinto saudade.” E, resume, num trocadilho inspirado nos versos do mestre baiano Dorival Caymmi que, convenhamos, sabia como poucos aproveitar a vida: “Quem não gosta de natureza bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do coração.”


MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

POZZEOM / ABR

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ESTADO DE ALERTA

O VELHO CHICO: LIXO E TERRA A CORRER PARA O NORDESTE

POBRE SÃO FRANCISCO

À

s margens do Velho Chico, aguardando a balsa que o atravessa para o Jaíba, sentada em um tosco banco, embaixo de uma das poucas árvores que restou na mata ciliar, e cercada de lixo, contemplo o rio. Como choveu, seu volume aumentou. Mesmo assim, me diz uma velhinha que também espera, nem chega aos pés do que era há muitos anos. O operador da balsa conta que há alguns meses, ela agarrou num banco de areia e demoraram três horas para soltá-la. Um funcionário do Instituto Estadual de Florestas (IEF), que trabalha na região, opina que o assoreamento de seu leito tem como maior causa a degradação dos afluentes. E cita o Rio Verde Grande, que hoje é quase um riacho, seco em diversos pontos devido ao desmatamento e aos gigantescos pivôs de irrigação dos projetos financiados pelo Banco do Nordeste. E o Rio Pandeiro, que carregou e contiua carregando toneladas de terra de dezenas de voçorocas deixadas por empresas de reflorestamento financiadas pelo Fundo de Investimento Setorial (Fisete) no início da década de 60. E as nascentes que estão sendo detonadas por atividades agropecuárias de comunidades que habitam a região. Na chapada que abriga as nascentes do Rio Cochá, que desagua no Carinhanha, afluente do São Francisco, e divide Minas com Bahia, teve uma grande área arrasada pelo fogo. Além de mega projetos agro-

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pecuários que aguardam autorização para derrubar o Cerrado e implantar monoculturas de capim e eucalipto. Mesmas ameaças sofrem o rio Peruaçu, cuja integridade depende do fantástico complexo de cavernas do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, e cujas nascentes são protegidas pelo Parque Estadual Veredas do Peruaçu. E olhando o São Francisco a correr para o Nordeste, levando lixo e terra de Minas, me perguntei mais uma vez por que a proteção do meio ambiente ainda é considerada “coisa de ambientalistas” e tão odiada por muitos políticos. Como alguns deputados que na Assembleia Legislativa de Minas Gerais estão sempre de plantão para dizer que o meio ambiente “atrapalha” o desenvolvimento do Norte de Minas. Enquanto isso, a famigerada transposição do Rio São Francisco, à semelhança do Projeto Jaíba, continua a engolir dinheiro público que, também como o segundo, na “ponta do lápis” beneficiará talvez um pouquinho de gente pobre e um monte de quem não é. E a revitalização do rio continua sendo mentira falada pelo governo federal (e também, sejamos justos) por governos estaduais, incluindo o de Minas.

(*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda)


1 E S PE C I A L

QUATRO DOS 12 PROFETAS ESCULPIDOS POR ALEIJADINHO EM CONGONHAS TÊM A SERRA CASA DE PEDRA COMO PAISAGEM DESDE O SÉCULO XVIII

O DILEMA DOS

PROFETAS

Inventário inédito encomendado pelo Ministério Público de Minas Gerais revela as emissões de Congonhas, cidade Patrimônio Mundial da Humanidade e um dos principais centros minerossiderúrgicos do país Vinícius Carvalho redacao@revistaecologico.com.br

A

cada hora, as mineradoras e siderúrgicas da região de Congonhas emitem no ar um total de 2,5 toneladas de material particulado. É 15 vezes mais poeira do que emitem juntas todas as residências, estabelecimentos comerciais e veículos da cidade, que tem 48

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Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

mil habitantes. Os resultados constam do primeiro inventário de emissões do município, obtido com exclusividade pela Revista ECOLÓGICO. Realizado pela Ecosoft a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), é o primeiro estudo a trazer o impacto cumulativo das

emissões industriais de Congonhas, um dos principais centros minerossiderúrgicos do país. O documento aponta seis bairros da cidade com concentrações do poluente Partículas Totais em Suspensão (PTS) acima de 60% da concentração limite estipulada pelo Padrão Primário de Qualida-


FOT FFOTO OTO OS:: SANDO SAN AANDO ND VAL D DEE SOUZZA

REIVINDICADA PARA EXPANSÃO DA MINERAÇÃO, ÁREA JÁ SOFRE COM A REDUÇÃO DA VAZÃO DE ÁGUA QUE ASSEGURA O ABASTECIMENTO PÚBLICO DA CIDADE E O AUMENTO DA EMISSÃO DE POEIRA A NÍVEIS NÃO RECOMENDADOS PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS)

fluxo contínuo de caminhões nas estradas de terra que alimentam as mineradoras e o material particulado revolvido pelos veículos nas vias pavimentadas. “Em geral, a qualidade do ar da área de estudo é alterada pelos poluentes das classes PTS e Particulado Inalável (PI), e nos pontos de FERNANDA MANN

de do Ar (PQAr). As maiores concentrações de poeira estão nos bairros Pires, Plataforma, Santa Quitéria, Caetano Lopes, Motas e no Núcleo Central de Congonhas. O caso mais grave é o do bairro Pires, onde os limites mínimos de qualidade do ar já foram ultrapassados. Vivem no local cerca de cinco mil pessoas. No topo da lista, a Vale responde por 874 quilos de material particulado por hora, seguida da Gerdau Açominas (615,3 kg/h). Entre as mineradoras, destaque para a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Associada à Namisa, cujo controle acionário é da empresa, o grupo emite cerca de 845 toneladas de material particulado por hora, segundo o documento. Cerca de 95% das emissões deste tipo vêm de apenas três fontes: a poeira carregada das áreas de mina pelo vento, aquela levantada pelo

CARLOS EDUARDO: “TEMOS QUE ANALISAR OS LICENCIAMENTOS COMO UM TODO”

maior proximidade dos empreendimentos. Em relação aos poluentes gasosos (dióxido de enxofre, monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio e ozônio), Congonhas apresentou níveis equivalentes aos de cidades de mesmo porte”, resume o engenheiro ambiental e coordenador técnico do estudo, Luiz Santolim. O documento calcula também as novas emissões previstas para Congonhas. Se todos os empreendimentos atualmente em fase de implantação na cidade forem implementados, a Ecosoft estima que mais 370 quilos adicionais de material particulado serão lançados por hora, no ar da cidade, até 2016. Moradora do Bairro Pires, que já tem os índices de qualidade do ar ultrapassados, a presidente da Associação Comunitária do bairro, Ivana Gomes, reclama da falta de apoio. O bairro é vizinho de

ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 31


RETRATO DO MEDO: O QUE A CSN JÁ DESFIGUROU DE UM LADO DA SERRA E PRETENDE REPRODUZIR DO OUTRO...

de. À época, a prefeitura publicou nota alegando que o material “cobriu o céu da cidade, sujou ruas e calçadas e sufocou moradores”. Em outra ação, o Ministério Público mineiro conseguiu liminares obrigando Vale, Namisa e CSN a transportarem minério de ferro, em Congonhas, apenas em veículos e em áreas adequadas ao serviço. De acordo com a Central de Apoio Técnico do MPMG, as empresas, para o transporte de minério, devem usar caminhões Notificações Em setembro de 2011, a prefeitu- com caçambas metálicas, guardas ra já havia aplicado multa de R$ laterais fechadas e lonas que im5 milhões à CSN, Namisa, Vale e peçam o derramamento do maFerro+ por conta da emissão de terial transportado. As exigências material particulado. As notifi- estão, desde 2008, em uma resocações aconteceram após outra lução do Conselho Nacional de nuvem de poluição atingir a cida- Trânsito (Contran). Apesar das multas, Ministério Público e prefeitura alegam que as empresas não estão cumprindo o combinado. “A média tem sido de 13 autuações por mês”, resumiu a diretora de Meio Ambiente de Congonhas, Diana Sena. Segundo apurou o MPMG, cerca de 120 toneladas de poeira de minério de ferro ATÉ NAS PEÇAS DE TEATRO LOCAIS, A FIGURA DO PROFETA são retiradas das ruas OSÉAS É REPRODUZIDA COM UMA MÁSCARA DE INDIGNAÇÃO de Congonhas todo

DIVULGAÇÃO

empreendimentos de Namisa e Ferro+ e alvo de nuvens de poeira carreadas pelo vento. “É sempre pior quando não tem chuva e da última vez liguei no mesmo dia para a secretaria estadual de Meio Ambiente. Eu mesma tive uma crise de bronquite e muitas crianças sofreram com sangramento nasal e dificuldades para respirar. Está insuportável viver aqui”, declara Ivana.

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Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

mês pelo serviço de limpeza urbana do município. Procurada pela ECOLÓGICO, a Vale informa que o monitoramento realizado pela empresa segue critérios definidos em seu processo de licenciamento, com resultados dentro dos limites legais. Ainda segundo a Vale, os dados apresentados pelo estudo são uma estimativa do potencial de emissões com base em modelagem matemática e não resultado direto de monitoramento. “Os resultados seriam adequados para se propor uma rede integrada de monitoramento buscando abranger todas as fontes de emissão mapeadas sem, contudo, se prestarem para a atribuição real das emissões destas fontes”, argumenta a empresa em nota. A Gerdau informa que segue rigorosos padrões de proteção ambiental e que atua dentro dos limites e parâmetros de controle previstos na legislação em vigor. A empresa também informa possuir redes de monitoramento da qualidade do ar na região e diz que suas atividades não influenciam o nível de qualidade do ar identificado no bairro Pires. Procurada pela Ecológico, a CSN não quis se manifestar sobre o caso. Sistema público De olho no acompanhamento

VINÍCIUS CARVALHO

E S PE C I AL 1 XXXXXXXXXXXX 1


FOTOS: SANDOVAL DE SOUZA

...TEM LEVADO A POPULAÇÃO DE CONGONHAS A PROTESTAR CONTRA O SEU NOVO AVANÇO MINERAL

da poluição, o estudo da Ecosoft apresenta também planos de implementação do primeiro sistema público de monitoramento meteorológico e de qualidade do ar da região de Congonhas. São referenciados 40 pontos de monitoramento, incluindo todos os bairros da cidade. “Até hoje a região é desprovida de uma rede integrada que propicie o acompanhamento sistemático das condições de qualidade do ar e meteorologia. Isso é fundamental para planejar com eficácia medidas de controle das emissões”, afirma Santolim. O Ministério Público prepara também a primeira avaliação de impactos cumulativos de Congonhas. Encomendado com recursos de compensação da Ferrous, o estudo sistematizará, pela primeira vez, o impacto acumulado de todos os principais empreendimentos instalados no município. “O licenciamento ambiental trata os projetos caso a caso e tem dificuldade de ver o todo. O que isso significa? Que os empreendimentos analisados podem ter sua viabilidade ambiental atestada sem que sejam considerados os impactos dos empreendimentos já licenciados e a suportabilidade da região como um todo”, explica o promotor de Justiça do MPMG, Carlos Eduardo. A abordagem sistêmica é pioneira no setor.

SEGUNDO ENTIDADES AMBIENTALISTAS DA CIDADE, A PREFEITURA E A CÂMARA DE VEREADORES NÃO TÊM OUVIDO DEVIDAMENTE A POPULAÇÃO SOBRE O CASO

ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 33


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1 E S PE C I A L

PLACA QUE FAZ REFERÊNCIA À IMPORTÂNCIA MUNDIAL DE CONGONHAS, NA BR-040 (BH - RIO): TAMBÉM SUJA PELO PÓ DE MINÉRIO E ABANDONADA

Patrimônio

em risco

Tombamento parcial da Serra Casa de Pedra mobiliza Congonhas. Parte da área, que compõe o conjunto paisagístico do Santuário Bom Jesus de Matosinhos, é reivindicada para expansão de mina da CSN

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Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

ARQUIVO PESSOAL

O

inventário de emissões reacende o debate sobre o apetite do setor mineral em Congonhas, cidade assentada sobre algumas das principais jazidas de minério de ferro do mundo. O caso mais emblemático é a expansão da mina Casa de Pedra, que levou o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) a ameaçar entrar com pedido na UNESCO para retirar de Congonhas o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, conferido em 1985. O projeto prevê a mineração de parte da serra Casa de Pedra, conjunto de montanhas que compõe o conjunto paisagístico do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos. Além de servir de abrigo para diversas espécies da fauna e da flora,

ANDERSON, SANDOVAL, VINÍCIUS ALCÂNTARA E O DILEMA PROFÉTICO: "EQUIVALERIA A MINERAR A FACE DA SERRA DO CURRAL VOLTADA PARA BH"

como atesta laudo do Instituto Estadual de Florestas (IEF), a serra abriga 29 pontos de captação de água que respondem pela metade do abastecimento da cidade. O plano de expansão da mina está previsto desde 2007, quando o

dono da CSN, Benjamin Steinbruch, assinou com o então governador mineiro Aécio Neves (PSDB) um protocolo de intenções de investimentos no valor de R$ 9,5 bilhões. As metas incluíam a ampliação da produção de minério


de ferro na Casa de Pedra, uma siderúrgica e uma pelotizadora em Congonhas. Apenas para a mina, foram apontados, à época, mais de R$ 2 bilhões em investimentos. Não é à toa. As reservas minerais de Casa de Pedra são da ordem de 3,4 bilhões de toneladas, têm alto teor de pureza (de até 68%) e classificação do tipo world class mine, uma das melhores do mundo. Se aplicados, os investimentos poderiam levar a Casa de Pedra à condição de quarta maior mina de minério de ferro do planeta.

A LUTA PRINCIPAL DA POPULAÇÃO É PRESERVAR OS 29 PONTOS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PELA COPASA, QUE RESPONDEM PELA METADE DO ABASTECIMENTO DA CIDADE... VINÍCIUS CARVALHO

Polêmica Sancionada no apagar das luzes de 2012 pelo então prefeito Anderson Cabido (PSDB), uma lei municipal liberou 15% da área para estudos geológicos e fixou um prazo de três anos para que a empresa apresente, ao município, um plano sustentável de utilização da área. “Temos ali certamente a melhor reserva de Minas, em quantidade e qualidade, e não podemos simplesmente falar que vamos deixar isso para a eternidade”, disse Cabido à ECOLÓGICO. A decisão contraria projeto de lei, de iniciativa popular, que assegurava o tombamento de 100% da serra. O PL chegou a ser aprovado pelos vereadores de Congonhas, por unanimidade, a duas semanas das últimas eleições - mas foi modificado pelos parlamentares tão logo acabou o pleito. À época, munidos de faixas, cartazes e do grito de guerra “a serra é nossa”, dezenas de moradores pressionaram pelo tombamento integral da serra. Segundo o presidente da Câmara Municipal, Adivar Barbosa, a mudança respalda concessão de lavra já assegurada à CSN antes do tombamento. Ele alega também que a decisão não dá à empresa o direito de explorar a área. “O que aprovamos foi direito de pesquisa, não de explorar. Isso nem é da nossa competência, é dos órgãos que concedem as licensas”, argumentou. A mudança é contestada por entidades ambientalistas que traba-

...E EVITAR A CONSTRUÇÃO DE NOVAS BARRAGENS DENTRO DA CIDADE

lham na região. “Aprovaram o tombamento parcial e até agora não recebemos os pareceres jurídicos e técnicos que subsidiam a decisão. Isso não foi apresentado para a sociedade, é algo muito grave. Equivaleria a minerar a face da Serra do Curral voltada para BH”, compara o diretor de Meio Ambiente e Saúde da União das Associações Comunitárias de Congonhas, Sandoval de Souza. O Ministério Público de Minas Gerais alega que o Morro do Enge-

nho, parte da Serra da Casa de Pedra, já integra área destinada a reserva ambiental legal desde 2004. Segundo o MP, a CSN também estaria inviabilizada de levar adiante o negócio por propor a recomposição da área - que seria minerada - em outra microbacia, o que não é permitido. “Consideramos essa alteração impossível do ponto de vista legal. Aqui fica o ônus e outro local recebe o bônus? Não pode”, avisa o promotor de Justiça de Congonhas, Vinicius Alcântara.

ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 35


ENTRAVES Outro entrave para a expansão dos projetos da CSN diz respeito à água. Em laudo, a Copasa alerta para um “decréscimo preocupante” das vazões mínimas dos mananciais da região “nos últimos oito anos”. Apesar de possuir outorga de direito de uso de 100 litros de água por segundo na região, a empresa conseguiu captar apenas 60 l/s no ano passado. A Copasa também reclama da expansão das atividades minerárias nas cabeceiras dos córregos do Engenho e Mãe D´água, utilizados no abastecimento público de Congonhas, e nas cabeceiras da captação do córrego Bandeira, pertencente ao sistema João Pereira. “Independente de qualquer decisão com relação às poligonais propostas, a Copasa precisa ver atendidas as vazões por ela outorgadas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) para o atendimento das demandas no abastecimento público”, cobra o laudo. O interesse da CSN pela área é alimentado pelos lucros que o segmento de mineração têm garantido à empresa. Catapultada pelo apetite chinês, sua receita líquida de mineração atingiu R$ 5,9 bilhões em 2011, recorde da companhia e crescimento de 64% em relação a 2010. Com custo de produção quatro vezes menor que o da siderurgia, o setor mineral garantiu lucro bruto de R$ 1,2 bilhão para a CSN no primeiro semestre do ano passado. Neste período, o volume de vendas de produtos acabados de minério de ferro totalizou 12 milhões de toneladas, das quais 3 milhões foram destinadas para consumo próprio do grupo e o restante, para exportação. “Congonhas é a galinha dos ovos de ouro”, diz o advogado do Sindicato Metabase Inconfidentes, Jeronimo Castro. Ele se refere

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Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

OS TURISTAS NÃO ENTENDEM COMO CONGONHAS, MINAS E O BRASIL AINDA PERMITEM ESTA POLUIÇÃO

CONJUNTO AMEAÇADO A atividade mineradora e industrial na região também foi objeto de nota emitida pela Arquidiocese de Mariana. A Igreja é guardiã das obras reconhecidas pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, entre as quais se incluem as capelas dos passos, as estátuas dos 12 profetas de Aleijadinho, o Santuário do Senhor Bom Jesus e a Praça dos Romeiros. O conjunto foi construído nos séculos XVIII e XIX e tem a Serra de Pedra como paisagem. Em carta, o arcebispo metropolitano, Geraldo Rocha, diz que “toda atividade mineradora e industrial deve ter como parâmetro o bem-estar da pessoa humana, buscando a superação dos impactos negativos sobre a vida em todas as suas formas e a preservação do planeta, com respeito ao meio ambiente, à biodiversidade e ao uso responsável das riquezas naturais”. Para o Ministério Público, a mineração da face da serra voltada à cidade compromete o conjunto paisagístico inscrito na lista do Patrimônio Mundial. A tese é referendada, em parecer, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Histórico (Iepha).

ao fato de a mina Casa de Pedra e a Namisa terem gerado, em 2011, mais da metade de todo o lucro da CSN. É muito, considerando que a empresa também tem entre seus segmentos de negócio as áreas de siderurgia, cimento, energia e logística. Segundo contas do Metabase - que reúne os trabalhadores da mineração e também defende o tombamento -, há três anos Vol-

ta Redonda e seu polo siderúrgico respondiam por 67 centavos de cada real lucrado pela empresa, contra 20 centavos originados em Congonhas. A situação se inverteu. De cada real lucrado pela CSN em 2011, 55 centavos já vinham do município mineiro. Procurada pela ECOLÓOGICO, a empresa não quis se manifestar sobre o caso.

SANDOVAL DE SOUZA

1 E S PE C I A L



1 E S PE C I A L

SANDOVAL SAND OVAL DE D SOUZ SO OUZA

“...Por isso a Terra se lamenta, e tudo o que nela mora desfalece, juntamente com os animais do campo e as aves do céu.” PROFETA OSÉAS

Congonhas

sustentável? Com redução da vazão de água que assegura o abastecimento público, aumento da poluição do ar e ameaças ao patrimônio histórico, Congonhas recoloca o papel da mineração para o desenvolvimento local

E

m 2011, Congonhas recebeu cerca de R$ 30 milhões em royalties das empresas mineradoras. Pouco para que o município consiga absorver os impactos trazidos pela atividade e garantir a diversificação econômica necessária para quando as jazidas se esgotarem, avisa o ex-prefeito da cidade e presidente da Associação Brasileira de Municípios Mineradores, Anderson Cabido. O problema central, diz, está na disparidade entre os royalties do petróleo e do minério. Enquanto os royalties e participações espe-

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ciais referentes ao petróleo alcançaram a soma de R$ 25,8 bilhões em 2011, o valor arrecadado com a Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) foi de apenas R$ 1,54 bilhão. Todos os municípios mineiros produtores de minério receberam R$ 512 milhões, enquanto os municípios fluminenses produtores de petróleo receberam R$ 3,7 bilhões. Os royalties do petróleo chegam a até 10% do faturamento bruto. No caso do minério atingem, no máximo, 3% do faturamento líquido.

Defasagem “A CFEM não é suficiente para os municípios darem conta de todo esse impacto”, admite Cabido. A rota, explica, é conhecida. Municípios mineradores recebem grandes investimentos, mas precisam responder ao aumento da demanda por infraestrutura e por serviços como saúde, educação, assistência social e moradia. Cruzamento de informações feito pela ECOLÓGICO dá bem a dimensão desse desafio. Apesar de apresentar renda per capita de R$ 18 mil - uma das maiores do estado


Veto No ano passado, a presidenta Dilma Rousseff vetou emenda à Medida Provisória 563, que alterava as regras para a cobrança da CFEM. O texto vetado estabelecia que os cálculos do tributo devido fossem feitos de acordo com as cotações internacionais dos minérios e não nos valores de venda declarados pelas empresas. Para o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), autor da emenda, o modelo atual leva empresas a exportarem para subsidiárias por valores abaixo do real quando, fora do Brasil, refaturam para o consumidor final pelo preço de mercado da commodity. Segundo Ribeiro, as estimativas são de que o subfaturamento gire em torno de 40% do valor dos produtos. No texto em que explica as razões do veto, Dilma diz que “a extensão do uso do método do preço sob co-

WILSON DIAS / ABR

ANASTASIA E DILMA: A HORA DE RESPONSABILIZAR O LUCRO E A EXPANSÃO DO SETOR MINEROSSIDERÚRGICO COM O “SER ECONOMICAMENTE VIAVEL, ECOLOGICAMENTE CORRETO E SOCIALMENTE MAIS JUSTO”

FERNANDA MANN

-, Congonhas apresenta indicadores nas áreas de educação e saúde similares à vizinha Conselheiro Lafaiete, que tem o dobro da população e renda per capita quase três vezes menor. Foram comparados o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e o Índice de Desempenho do Sistema Único de Saúde (IDSUS). A defasagem também é alvo do governo do Estado, que defende dobrar o percentual da CFEM de 2% para 4% sobre o faturamento bruto das empresas mineradoras. “As atividades de exploração de petróleo e de minérios, produtos primários não renováveis, têm, ambas, alto impacto ambiental. Entretanto, são tratadas de forma muito desigual”, reclama o governador de Minas, Antonio Anastasia. A arrecadação estatal em relação ao minério de ferro também teve uma redução expressiva nas últimas décadas, alega o governador. Em 1988, era de US$ 1,30 por tonelada explorada. Hoje, equivale a apenas a US$ 0,26 por tonelada de minério de ferro.

“Torço para que a Serra seja preservada. Tem de haver um meio termo, um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a proteção da natureza” JOAQUIM CORDEIRO, 88 ANOS, NASCIDO E CRIADO EM CONGONHAS tação na exportação como forma de apuração da base de cálculo da CFEM sem que haja a caracterização detalhada das hipóteses que a ensejam abre espaço para interpretações divergentes sobre a amplitude do dispositivo. Dessa forma, se sancionado como está, o texto poderia desincentivar o desenvolvimento no país de atividades que agreguem valor aos minérios”. A presidenta diz ainda que o tema será tratado no novo marco regulatório da mineração. O texto deve ser enviado ao Congresso em março. Segundo estudo realizado pela Associação dos Municípios Mineradores (AMM), a arrecadação

total dos royalties do minério em Minas Gerais chegou a R$ 788 milhões em 2011. Com a nova legislação, a União passaria a receber R$ 254 milhões, Minas Gerais ficaria com R$ 635 milhões e os municípios produtores teriam o repasse de R$ 1,059 bilhão. Um dos principais objetivos, dizem especialistas, é tornar menos desigual a relação entre os municípios e as empresas. Para se ter uma ideia, o lucro bruto da CSN, na área de mineração, alcançou R$ 1,2 bilhão apenas no primeiro semestre de 2011, valor 400 vezes maior que o orçamento anual da diretoria de meio ambiente do município.

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1 CONSUMO SUSTENTÁVEL

A FARSA DO PLÁSTICO Quando o feitiço vira contra o feiticeiro e faz refém o próprio promotor que é a favor da volta do descarte de 450 mil sacolas plásticas/dia na natureza já degradada de BH Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

“E

SHUTTERSTOCK

que Deus nos ilumine para encontrarmos uma maneira de conciliar os interesses do meio ambiente e do consumidor” – com essa frase, o promotor de Justiça Amauri Artimos da Matta encerrou a audiência pública que ele mesmo convocou no último dia seis, na capital mineira, com a presença estranhamente maciça e interessada de representantes de toda a indústria do plástico do país. Seu objetivo de em nome do direito dos consumidores, barrar a venda de sacolas plásticas compostáveis por parte dos supermercados e obrigá-los a voltar com a distribuição gratuita das sacolas plásticas convencionais nocivas ao meio ambiente, parece não ter sido alcançado. Pelo contrário, ao final dos debates acalorados, mais que ficar evidenciado o interesse econômico e nada sustentável dos fabricantes de plástico, o promotor ainda recebeu um convite inusitado. O vereador Arnaldo Godoy, autor da lei que tornou BH a primeira capital do país a se ver livre do consumo e descarte antiecológicos de 450 mil sacolas plásticas por dia, o convidou para também optar pelas sacolas retornáveis toda vez que ele for ao supermercado. Ou seja, o

promotor também não comprar as discutidas sacolas compostáveis, que estão sendo vendidas à 19 centavos e constituem o único pomo de discórdia real entre os consumidores, os supermercados e os ambientalistas. Essa, enfim, é a grande pedra no sapato de toda essa discussão, ainda não encarada nem explicada convincentemente pelos supermercados. A de que, ao ter e vender essa opção de embalagens ecológicas, notadamente para os 13% de belo-horizontinos que não aderiram à nova cultura antidesperdício e ainda esquecem de trazer suas sacolas retornáveis de casa, no fundo, o que o setor quer é que as pessoas se revoltem mesmo. Se revoltem com a cobrança que não havia antes e, assim, passem a fazer o que 87% da população belo-horizontina já fazem, a exemplo da maioria dos países adiantados: trazer a sua sacola retornável de casa, tal como nossos pais e avós faziam naturalmente, mesmo antes do advento da consciência ambiental. É o que você confere nesta reportagem, com mais um capítulo contra a indústria do petróleo, que está por trás e interessada em toda essa discussão, tal como já conseguiu fazer retrocedecer a lei ambiental na natureza mais degradada ainda de São Paulo. Acompanhe!


Avançar sempre, retroceder jamais! Embate sobre capacidade de cumprimento de lei municipal pode levar BH ao retrocesso. Volume de unidades descartadas diariamente no comércio caiu de 450 mil para 13 mil/dia Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

distribuição poderia refletir “um retrocesso na conscientização da população, já acostumada a levar sua sacola retornável”. APRENDIZADO A lei que determina a substituição das sacolas convencionais, derivadas do petróleo, pelas biodegradáveis ou retornáveis, é de autoria do vereador Arnaldo Godoy (PT). Ele foi categórico ao defender os avanços experimentados em BH desde a sua promulgação. “O aspecto fundamental é a nossa reeducação. Não cabe questionar aqui se estamos parados para a aplicação da lei ou se as estruturas necessárias ao seu cumprimento ainda não funcionam de

FERNANDA MANN

É

uma pena, mas a polêmica ainda ameaça o cumprimento da lei municipal que regulamenta o uso de sacolas plásticas na capital mineira. Em vigor há quase dois anos, a Lei 9.529 tornou ilegal o uso das sacolas convencionais, fazendo com que 97% dos belo-horizontinos passassem a carregar consigo os modelos retornáveis ou aceitassem pagar pelas biodegradáveis vendidas no comércio, em especial nos supermercados. O assunto foi discutido em audiência pública, na sede do Ministério Público de Minas Gerais. Segundo dados da Associação Mineira de Supermercados (Amis), antes da lei eram consumidas, em média, 450 mil unidades/dia na capital. Hoje, cai para 13 mil/dia. Em dezembro do ano passado, o promotor de Justiça Amauri Artimos da Matta, que convocou a audiência e coordenou os trabalhos, entrou com uma ação administrativa contra a Amis, visando à volta da distribuição gratuita das sacolinhas. No entanto, em janeiro deste ano, o Tribunal de Justiça decidiu pela permissão da venda, mas proibiu o fornecimento gratuito, ainda que de sacolas biodegradáveis. A desembargadora responsável, Teresa Cristina da Cunha Peixoto, justificou que a

ARNALDO GODOY: “QUANTO MENOS SACOLAS MELHOR PARA BH, O BRASIL E O PLANETA”

forma plena. Quando é que nos preparamos para ser pais, se não na luta e no aprendizado diário?”, comparou. O mesmo se aplica, segundo Godoy, à educação e à saúde: “se faltam professores e auxiliares, a saída é fechar todas as escolas públicas ou, então, acabar com o SUS, porque ele não atende à totalidade do povo brasileiro?” E concluiu: “A intenção é fazer com que eu, o promotor, todos nós, levemos nossas sacolas retornáveis todas as vezes que formos aos supermercados. É o que se faz nos países avançados. Essa é também é uma lei vitoriosa, porque sinaliza na mesma direção da Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada em 2010, e que prevê, entre outros aspectos, a redução na geração de resíduos e a adoção de hábitos de consumo sustentáveis. Quanto menos sacolas forem consumidas, melhor para BH, para o Brasil e o planeta”, conclamou o vereador. COMPOSTAGEM O objetivo da audiência, segundo o promotor, foi colher opiniões e sugestões sobre três aspectos essenciais: a ausência de usina de compostagem para destinação correta do material em BH; a possível formação de cartel por parte dos supermercados, já que o preço cobrado pelas sacolas era

ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 41


1 CONSUMO SUSTENTÁVEL

42 Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

embutido nos custos dos estabelecimentos comerciais. “Com a nova medida, transferiu-se para o consumidor o custo da embalagem sem que tenha havido a correspondente redução nos preços dos produtos comercializados e muito menos benefício ambiental. As sacolas plásticas compreendem 1% das despesas dos supermercados, e essa margem não vem sendo abatida do preço final dos produtos, mas repassada aos consumidores.” AMADURECIMENTO COLETIVO Já a gerente de Consumo Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Fernanda Daltro fez coro às palavras de Godoy. “Belo Horizonte é modelo para o Brasil. O foco de todo esse embate é a necessidade de mudar hábitos e levar a população a adotar novos padrões de

consumo. A sacola plástica é um ícone do consumo exagerado, do desperdício e da cultura do descartável. Quando se discute um tema que interfere diretamente no dia a dia do consumidor, é natural que ele se incomode e reaja.” A expectativa, afirma, é de que essa discussão se estenda a outros produtos e setores como os de embalagens de isopor, vidro, aço e à coleta seletiva com um todo, levando paralelamente a mudanças em toda a cadeia produtiva e ao amadurecimento coletivo. Fica, agora, a torcida para que o embate dê lugar ao bom senso e à maior conscientização coletiva. BH não pode é ficar parada e se tornar refém da polêmica. Afinal, o planeta e a sua natureza não dependem de nós. Nós é que dependemos dele!

FOTOS: FERNANDA MANN

único, R$ 0,19, em todos os estabelecimentos; e o risco de falsificação de sacolas, com a venda de plástico comum como sendo compostável. “Nossa conduta está direcionada para a derrubada da liminar concedida.” A questão será decidida após a instrução do processo administrativo, encaminhado à Justiça no primeiro dia útil após o Carnaval. O secretário Municipal de Serviços Urbanos, Pier Senesi, contestou o MP. Informou que a prefeitura tem uma usina de compostagem e o que o município não é o ‘patinho feio’ da história. “Ela funciona no antigo aterro sanitário, na BR-040, e processa de cinco a oito toneladas de material orgânico/dia, recolhidas no Mercado Central e alguns supermercados.” A expectativa é que esse volume aumente, mas, para isso, reconhece, é preciso que a coleta seletiva se estenda a mais bairros de BH, permitindo a separação, por parte da população, do lixo reciclável e orgânico. Hoje, esse serviço está restrito a menos de 10% da cidade. “A meta é ter até 60% dos bairros atendidos, nos próximos quatro anos.” O representante dos consumidores, Luiz Felipe Lehman, lembrou que o custo das sacolinhas anteriormente fornecidas já está

PAUL WALKER

87% DOS BELO-HORIZONTINOS JÁ DISSERAM NÃO ÀS SACOLAS PLÁSTICAS

FERNANDA DALTRO: “BH É MODELO PARA O BRASIL”

PIER SENESI: “BH NÃO PODE SER O PATINHO FEIO DA HISTÓRIA”


TRÊS PERGUNTAS PARA...

O SENHOR FALOU SOBRE EXEMPLOS MUNDIAIS NO TRATO COM SACOLAS PLÁSTICAS QUE A ABRAS TENDE A SEGUIR. QUAIS SÃO, EM SÍNTESE, ESSAS EXPERIÊNCIAS? São ações adotadas em países como Alemanha e França. Os alemães foram os pioneiros a cobrar pela sacola plástica, como forma de reduzir seu consumo e o descarte inadequado. A partir daí, outros países iniciaram movimentos semelhantes. Recentemente, estive na França, onde visitei supermercados e conversei com consumidores de diferentes classes sociais. Na periferia de Paris, os moradores levam seus carrinhos de feiras, como os daqui, lá chamados de ecológicos. Ao chegar ao supermercado, eles são estacionados em locais apropriados. Após as compras, tudo é transferido do carrinho da loja direto para o do usuário, sem nenhum tipo de embalagem. Em bairros onde os consumidores têm maior poder aquisitivo, quem usa sacola plástica paga por ela, em especial nas compras de ocasião, para pequenos volumes. Há modelos de diferentes tamanhos e preços. O CUSTO SE COMPARA AO DE BH, ONDE ELAS SÃO VENDIDAS, EM MÉDIA, A R$ 0,19? Custam, em média, o equivalente a R$ 0,10. Em qualquer parte do mundo, a prática do preço explícito é sempre a melhor saída. Quem opta por usar tem de saber quanto está pagando. Uma dife-

FERNANDA MANN

Márcio Milan, vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras)

MÁRCIO MILAN: “NENHUMA MUDANÇA SE DÁ AOS SALTOS. TEMOS DE AVANÇAR A CADA DIA, COM PASSOS SEGUROS, UM APÓS O OUTRO.”

rença que percebi em algumas regiões de Paris é que, ao contrário daqui, as sacolas compradas não são reaproveitadas para descartar lixo doméstico. São lavadas e reutilizadas em novas compras. É comum ver várias sacolas secando nas janelas dos apartamentos. Tendência também crescente por lá é a venda de sacolas transparentes, sem qualquer logomarca, o que isenta o supermercado ou empresa de ter seu nome associado ao descarte incorreto. ACREDITA NA SACOLA RETORNÁVEL COMO SOLUÇÃO MAIS VIÁVEL E ECOLÓGICA? Sim. É a prática mais adotada

mundo afora. Nos EUA, sacolas retornáveis de grifes famosas custam até US$ 80. Viraram ícones da moda. Várias medidas vêm sendo estudadas e praticadas e, certamente, chegaremos a novos patamares. Nesse cenário, as sacolas permanentes, feitas de material mais resistente, têm tudo para se manter, numa logística já adotada em algumas cidades e que só tende a evoluir, sendo, por exemplo, usadas até se desgastar e, em seguida, automaticamente trocadas por novas junto aos seus fornecedores. Nenhuma mudança se dá aos saltos. Temos de avançar a cada dia, com passos seguros, um após o outro.

ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 43


ANA COTTA

1 CONSUMO SUSTENTÁVEL

AS SACOLAS PLÁSTICAS PODEM LEVAR DE 100 A 400 ANOS PARA SE DEGRADAREM, TORNANDO OS LIXÕES E ATERROS IMPERMEÁVEIS E DIFICULTANDO A BIODEGRADAÇÃO DE RECURSOS ORGÂNICOS: SÓ NÃO VÊ QUEM NÃO QUER

Briga verde na justiça Amda expressa discordância da ação e solicita fiscalização contra sacolas falsificadas

O

cumprimento da Lei 9.529/2008, que proibiu a distribuição de sacolas plásticas em supermercados, por enquanto está garantido em BH. Mas, devido a reclamações dos consumidores, o promotor de Justiça Amauri Artimos da Matta, em dezembro de 2012, entrou com ação administrativa, no Procon estadual, contra a Associação Mineira de Supermercados (Amis) para que as sacolinhas não sejam cobradas. Ele entende que sua venda fere o direito dos consumidores.

44 Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

Inconformada com a decisão do Procon, a Amis entrou com mandado de segurança e, em janeiro de 2013, a desembargadora Teresa Cristina da Cunha Peixoto, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, decidiu pela permissão da venda e proibição do fornecimento gratuito de sacolas. Ela justifica que esta distribuição poderia refletir em um retrocesso na conscientização da população, que já estava acostumada a levar sua sacola retornável. Em sua decisão, a desembargadora esclarece que o

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e saudável deve prevalecer sobre o direito do consumidor, “pois o primeiro tem repercussão no princípio da dignidade humana”, relata. A título de audiência pública, o promotor se reuniu com 16 instituições, majoritariamente ligadas aos interesses da indústria do plásticos, como Instituto Nacional do Plástico, Associação Brasileira de Polímeros Biodegradáveis e Compostáveis, Laboratório de Ciência e Tecnologia de Polímeros


BH É REFERÊNCIA NACIONAL O Ministério do Meio Ambiente instituiu Grupo Técnico de Trabalho (GTT) para sugerir ações de redução da produção e do uso de sacolinhas plásticas descartáveis. O grupo tem até maio para apresentar seu relatório e é composto por órgãos do governo Federal e representantes da iniciativa privada como as entidades da indústria do plástico, de ambientalistas, dos consumidores, da comunidade científica e também do comércio. A primeira reunião do GTT aconteceu em Brasília e o sucesso da redução do uso de sacolinhas plásticas, que ultrapassa a 90%, foi apontado como uma referência para o grupo. A readequação do seu uso está em consonância com a Lei Nacional de Resíduos Sólidos que prevê em seu artigo 7º a diminuição da produção, a redução do uso e a reciclagem. PRODUÇÃO DE PLÁSTICO CRESCE Dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), divulgados em seu site na internet, comprovam que ao contrário do que propõe a Lei dos Resíduos Sólidos, a produção de plástico no Brasil está em crescimento contínuo e atingiu em 2011 cerca de 6,5 milhões de toneladas, contra 6,4 milhões de toneladas em 2010. Essa produção gerou um faturamento para as indústrias do plástico de R$ 52,6 bilhões em 2011 contra R$ 51,1 bilhões em 2010. Já a reciclagem de plásticos permanece muito pequena ou mesmo em queda. Para se ter uma ideia, a capacidade de processamento para reciclagem de plásticos instalada no país, segundo a Abiplast em seu relatório, é de 1,1 milhão de toneladas, algo em torno de 17% da produção e nem tem sido utilizada na sua totalidade.Em 2011, por exemplo, segundo o relatório da Abiplast, foram processadas em reciclagem apenas 724 mil toneladas, ou seja, nada mais que cerca de 11% da produção nacional.

FERNANDA MANN

(UFMG), Instituto de incentivo e Desenvolvimento de Embalagens Ambientais, Inovação e Sustentabilidade e Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Da área ambiental, participaram a Promotoria de Meio Ambiente de BH, o Ministério do Meio Ambiente e nenhum representante da sociedade civil organizada. Para a Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), a decisão da desembargadora é exemplo elogiável para o judiciário e esperança para o meio ambiente. Segundo a superintendente-executiva da Amda, Dalce Ricas, ao dizer que não se pode deixar de levar em consideração a necessidade de se conscientizar o indivíduo para o consumo sustentável, que insere o consumidor em seara internacional, posto que as suas ações têm perspectiva global e quando afetam o meio ambiente, degradando-o e atentam contra o direito da coletividade, a desembargadora demonstra entendimento holístico da problemática ambiental. De acordo com informações da Amis, após a Lei 9.529/2008, o consumo das sacolas plásticas na capital mineira, que era de 450 mil diariamente, foi reduzido para 13 mil unidades. Dalce considera que à indústria de plástico não interessa essa redução, por afetar seu lucro. Em 2010, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), o faturamento da indústria brasileira de transformação do plástico, estimulado pelo consumo interno, foi de R$41 bilhões. “Lucro não pode mais ser o objetivo principal das corporações, das quais se esperam ações que contribuam para melhorar o mundo. O estrondoso crescimento da utilização de sacolas retornáveis foi responsável pela geração de renda para pessoas físicas e pequenas empresas, além do reaproveitamento de materiais que seriam jogados fora, como banners

DALCE RICAS: “LUCRO NÃO PODE MAIS SER O ÚNICO OBJETIVO DAS CORPORAÇÕES, DAS QUAIS SE ESPERAM AÇÕES QUE CONTRIBUAM PARA MELHORAR O MUNDO”

e retalhos de pano. As empresas, enquanto cidadãs, deveriam também comemorar isto”, explica. Em ofício enviado ao promotor, a Amda, reconhece sua atuação em defesa da sociedade, mas, considerando os benefícios resultantes da diminuição do uso de sacolas plásticas, expressa discordância quanto

à possibilidade de volta da distribuição gratuita: “que sejam fiscalizados todos os estabelecimentos que trabalham com o produto, visando impedir o uso de sacolas falsificadas, que são tidas como biodegradáveis mas não são. Isto, sem dúvida, constitui-se em lesão ao direito do consumidor e em crime”.

ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 45


DIVULGA;’AO

1 CONSUMO SUSTENTÁVEL

Retrospectiva

46 Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

Em janeiro de 2013, a desembargadora Teresa Cristina da Cunha Peixoto, do TJMG, decide pela permissão da venda, mas proibiu o fornecimento gratuito ainda que biodegradáveis, justificando que a distribuição poderia refletir em um retrocesso na conscientização da população que já estava acostumada a levar sua sacola retornável. Leia algumas de suas justificativas: “A lei municipal que proibiu a utilização das sacolas plásticas comuns, propiciando ao supermercado o repasse do custo das sacolas biodegradáveis ao consumidor fez ocorrer uma maior conscientização da população, que passou a levar a sua sacola retornável ao supermercado, para não ter que arcar com o custo financeiro da compra das sacolas biodegradáveis.”

FIQUE POR DENTRO

REPRODUÇAO INTERNET

Em abril de 2011, entrou em vigor a Lei 9.529/2008, tornado as sacolas plásticas ilícitas na capital. A medida determinou a substituição dos modelos convencionais, à base de petróleo, pelos feitos de material biodegradável ou retornável. De acordo com dados da Amis, em um ano, deixaram se ser utilizadas 180 milhões de unidades na cidade. Em dezembro de 2012, o promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) Amauri Artimos da Matta, alegando “possibilidade de os consumidores estarem sendo vítimas de propaganda enganosa a cada venda de sacola biodegradável quer pela distribuição de sacolas falsificadas no comércio, pela necessidade de descarte em usina de compostagem não existente no município para se obter as vantagens a ela atribuídas, consideradas na lei e decreto municipais”, entrou com ação administrativa contra Associação Mineira de Supermercados (Amis) visando a volta da distribuição gratuita das sacolinhas.

O Muitas sacolas, depois de descartadas, acabam em rios, lagos e oceanos, onde são confundidas com alimento e ingeridas por animais, como tartarugas e aves marinhas, causando a morte de mais de 100 mil por ano, em todo o mundo. O Quando descartadas de maneira incorreta, as sacolas plásticas poluem cidades e entopem bueiros, agravando situações de desastres como alagamentos e enchentes. Para a confecção de sacolas plásticas são utilizados recursos naturais não renováveis como petróleo e gás natural além de água e energia, e liberados efluentes (líquidos) e gases tóxicos, alguns dos quais acentuam o efeito estufa. O As sacolas podem levar de 100 a 400 anos para se degradarem, tornando os lixões e aterros impermeáveis e dificultando a biodegradação de recursos orgânicos, com consequente acúmulo de gás metano em bolsões. Quando a montanha de lixo é revolvida, esses bolsões são rompidos, e o metano – gás 21 vezes mais danoso que o CO2 – acaba liberado na atmosfera.

Fonte: MMA / Campanha “Saco é um saco”

SAIBA MAIS: http://www.sacoeumsaco.gov.br


INTEGRAÇÃO PELAS ÁGUAS

A AGB Peixe Vivo é uma Agência de Bacia, uma entidade técnica-executiva de apoio a Comitês de Bacia Hidrográfica. Tem atuação focada na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Avalia, executa e fiscaliza projetos, contrata empresas, organiza eventos, reuniões e viagens técnicas, propõe estratégias, dá apoio administrativo, jurídico e financeiro, realiza cursos, além de outras funções relativas às atividades dos Comitês de Bacia.

Projetos Hidroambientais Avaliação, elaboração, detalhamento, licitação, contratação e acompanhamento de projetos hidroambientais. Vistoria Vist oria e em m pr proj pro ojeto eto eto o hid hiidroamb hidr oamb oa oam ambie ient en nta all d do o Comitê d Comi da a Bacia Baci cia H c Hidrográ Hidr idrográ ográfica ográ gráffica ca do ca oR Riio Rio o São S Sã Francisc Fran ancisc ciis o – Gua cis cisc Guaracia Guar rac acia aci cia am ma a – MG G

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Reuniões e Eventos

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A AGB Peixe Vivo realiza a produção e presta apoio para a organização de eventos e reuniões dos Comitês de Bacia Hidrográfica.

Cursos e Seminários A AGB Peixe Vivo promove e apoia a realização de cursos e seminários relacionados a recursos hídricos. Curso Cu Curs rso d de Ca Capacit Cap C apa acit ac ciitação c cit tação ação a açã ção ão o de de A Agentes Agen Age ge tes Gest est e es s oress e em mR Recu Re ecu e ec curso cu rsos os H Híd ídrico ric rricos ico c s do d Es Esta E sta st tad do o de de M Min nas a ass Gerais Ger iss Ge Gera G

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1 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

O AÇO INOX ESTÁ PRESENTE NOS 2.300 PAINÉIS DA FACHADA DO CASTELÃO, EM FORTALEZA

APERAM ECOLÓGICA Siderúrgica mineira fornece mais de 200 toneladas de aço inox para estádios da Copa de 2014 redacao@revistaecologico.com.br

J

á utilizado em escala comercial na arquitetura urbana, seja em praças, casas, prédios e monumentos, o aço inoxidável mostra-se

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Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

cada vez mais indispensável em projetos sustentáveis e que prezem pela praticidade e durabilidade. Os novos e modernos estádios brasileiros

que irão sediar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo da FIFA utilizaram mais de 200 toneladas de aço inox produzidas pela Aperam,


FOTOS DIVULGAÇÃO

“A maior vantagem do aço inox é a durabilidade, principalmente quando é utilizado em ambientes externos, sujeitos às variações do meio ambiente.”

em Timóteo (MG). Por ser infinitamente reciclável, o aço inoxidável é um “material ecológico” por excelência. No recém-inaugurado Castelão, em Fortaleza, o aço inox esta presente nos 2.300 painéis que revestem 11 mil m2 da sua fachada. As chapas expandidas são submetidas a um processo de corte e repuxo mecânico com facas especiais, que a transformam em telas inteiriças, rígidas e uniformes. O inox também foi utilizado no Estádio Nacional de Brasília e no Maracanã, no Rio de Janeiro. A maior vantagem do aço inox é a durabilidade, principalmente quando é utilizado em ambientes externos, sujeitos às variações do meio ambiente. “Ainda se tem a ideia de que o aço inox é um material caro. Mas a durabilidade ao longo do tempo e os menores custos de manutenção justificam o investimento e asseguram a viabilidade econômica do projeto”, afirma o diretor co-

mercial da Aperam, Frederico Lima. Segundo ele, o aço inoxidável cumpre perfeitamente os requisitos de desenvolvimento sustentável, o que o torna uma das melhores escolhas em projetos que buscam o equilíbrio do homem com o seu entorno. Esse material também é reconhecido por suas qualidades estéticas e pelo desempenho técnico. Por isso, ele é perfeitamente adequado às necessidades modernas.

FIQUE POR DENTRO

A Aperam South América é a única produtora integrada de aços planos inoxidáveis e elétricos da América Latina, além de contar com avançada tecnologia na produção de aços carbonos ligados. Amparada pelo desenvolvimento sustentável, a empresa tem amplo portfólio de produtos para atender indústrias de óleo e gás, açúcar e álcool, utilidades domésticas, cutelaria, linha branca, construção civil, automotivos, arquitetura, saúde e alimentação. SAIBA MAIS: www.aperam.com

CONSERVAÇÃO AMBIENTAL Atualmente, a maior parte da produção mundial da Aperam é proveniente de sua própria reciclagem, o que contribui para a conservação dos recursos não renováveis. A empresa administra um patrimônio florestal de 126 mil hectares, sendo 20% dessa área como reserva ecológica, além de uma área de preservação permanente. Atualmente possui capacidade de produção de 1,4 milhão de m3 de madeira e carvão vegetal, com potencial de chegar a 2,2 milhões de m3 nos próximos anos. Com visual extraordinário e grande variedade de acabamentos de superfície, o aço inoxidável é um material esteticamente único. Sua resistência à corrosão, sua ampla variedade de propriedades mecânicas e a facilidade de processamento fazem do aço inoxidável um material recomendado em muitos setores do mercado.

ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 49


FERNANDA MANN

1R E C I C L AG E M

COLETANDO ÓLEO E

SUSTENTABILIDADE Inauguração de sala de capacitação multiplica iniciativas ecológicas da Recóleo em Minas Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

A

s empresas Recóleo Coleta e Reciclagem de Óleos e Icatu Meio Ambiente, entraram com pé direito em 2013, abrindo mais uma porta. Ricardo e Nivia Pinto Coelho, diretores das instituições, celebraram ai nauguração da sala Dr. Luiz Pinto Coelho, destinada a treinamentos e capacitação. A data também foi motivo de comemoração para os funcionários, que homenagearam os diretores, e para o meio ambiente, poupado mensalmente do despejo indevido de cerca de 240 mil litros de óleo reaproveitados pela empresa. O nome da sala foi escolhido em homenagem ao pai de Ricardo, Dr. Luiz Pinto, respeitado e admirado médico que em sua época já semeava junto ao amigo e colega de turma, Hugo Werneck, os conceitos de sustentabilidade. Atuante desde 2004, a Recóleo conta hoje com aproximadamente 5.780 fornecedores, entre restaurantes e diversos tipos de instituições, e seu

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Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

potencial de expansão é imensurável. “Nosso maior desafio é incluir os domicílios. Pode-se dizer que somos uma empresa que mudou comportamentos no Estado de Minas Gerais e esperamos alcançar esta meta também no dia a dia das pessoas”, afirma Nivia. Além de coletar e reciclar óleos vegetais e gorduras animais usadas, a Recóleo desenvolve um trabalho notável de educação ambiental

junto a escolas e universidades, por meio de palestras e visitas à empresa e na confecção e publicação de livros, cartilhas e folders educativos. Em 2010 a empresa venceu o I Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilide & Amor à Natureza, categoria “Melhor Exemplo de Micro e Pequena Empresa”. SAIBA MAIS: www.recoleo.com.br

OS DIRETORES RICARDO E NIVIA (E), COM O OSCAR DA ECOLOGIA 2010 EM MÃOS, RECEBEM O CARINHO DA FAMÍLIA


A Catedral é o lugar do encontro, do diálogo, da fé e da espiritualidade que alimenta o sentido da vida. Faça parte desta obra.

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X CONSUMO FOTOS REPRODUÇÃO

1J U V E N T U D E

VILÃO com poder de HERÓI Os mesmos jovens, hoje seduzidos pela pressão global do consumo exacerbado, têm o desafio de determinar o futuro – mais sustentável e equilibrado – do planeta Andréa Zenóbio Gunneng e Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

U

fa, as festas de fim de ano e o carnaval passaram! Para além da atmosfera comemorativa e afetuosa que vigora nessa época, sentimentos conflitantes diante do furor consumista natalino permeiam a mente e o coração de todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, estão envolvidos com a questão de sustentabilidade. Diante do impasse

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Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

de ceder à pressão social e regras culturais e se atolar no consumismo, ou ser coerente com um estilo de vida sustentável, praticado nos outros 11 meses, a consultora de sustentabilidade Vicky Grinnell-Wright, da empresa “O Melhor Passo Adiante” (Best Foot Forward – The Sustainability Consultants), da Inglaterra, questiona: “Será que as pessoas têm à sua

disposição, nas lojas, aquilo que desejam, ou desejam o que está à sua disposição nas lojas? Como podemos ir além das normas que criamos antes mesmo de nos lembrarmos de que os recursos do planeta foram e continuam sendo finitos?”. O Natal – e o nosso comportamento consumista relacionado a essa data e a outras datas, como o Dia das Crianças – é apenas um


exemplo exacerbado que aponta para a necessidade de promovermos uma revolução cultural, visando à mudança de certos paradigmas culturais. E por que isso? “Porque muitas das decisões que tomamos em nossas vidas são ditadas pelas tradições, sejam elas religiosas, ritualísticas ou familiares. Podemos aproveitar melhor essas tradições, redirecionando-as para reforçar modos de vida mais sustentáveis”. Essa visão é a mensagem central do recém-lançado guia “Ter mais ou viver melhor?”, uma versão teen do relatório do WWI – Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2010 – “Transformando Culturas, do Consumismo à Sustentabilidade”, publicado no Brasil em parceria com o Instituto Akatu (SP). Resultados reais e positivos Essa versão teen, desenvolvida em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), estimula adolescentes e jovens a liderarem uma transformação cultural em prol da adoção de um novo estilo de vida, socialmente mais justo, ambientalmente mais sustentável e economicamente viável. E propõe, com isso, uma reflexão sobre quanto nossa sociedade incentiva o consumismo. Com linguagem informal e direta, o guia traz informações sobre os impactos positivos e negativos dos atuais padrões de consumo e compartilha a certeza de que, na maioria das vezes, a qualidade de vida não está atrelada a ter mais dinheiro ou bens materiais. O principal destaque da publicação são os relatos de experiências de mudanças culturais em diferentes grupos e comunidades mundo afora, que reformularam a produção e o consumo de bens e serviços em seu cotidiano e, com isso, atingiram resultados positivos em termos da adoção de comportamentos mais sustentáveis.

“Os alunos refletem sobre questões práticas, do dia a dia, tais como: será que preciso ter sempre uma roupa de marca nova? Ou a mochila mais cara e chique?”, MARIA GERALDA LEÃO MACEDO, coordenadora pedagógica do Colégio Sagrado C. de Jesus, em BH Movimento global Várias iniciativas recentes estão sendo transformadas em hábitos celebrados simultaneamente em diferentes países. Por exemplo, “Dia Mundial Sem Carro”, “Dia de Ir ao Trabalho de Bicicleta”, “Dia Sem Compras” ou “Hora do Planeta” (que consiste em manter as luzes apagadas por uma hora em determinada data e horário). Esses movimentos mostram que é possível ter outro estilo de vida, estabelecer outras regras sociais e paradigmas culturais condizentes com o fato de que os recursos naturais do planeta são finitos. Que tal adotar, então, formas diferenciadas de celebrar o Natal, o Dia dos Namorados, e até mesmo funerais? Ou diferentes conteúdos de ensino escolar, modalidades de celebração de casamentos, métodos de gestão empresarial e até mesmo modelos de organização das cidades? Esses temas são abordados pelo guia “Ter mais ou

viver melhor?” de maneira didática, transformando-se em pontos interessantes de discussões a serem abordados em salas de aulas, levando a uma reflexão mais profunda, maior conscientização e mudança de comportamento por parte dos jovens e adolescentes. Tema nas escolas Para Maria Geralda Leão Macedo, coordenadora pedagógica do 6º ao 9º ano do Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Belo Horizonte, na sociedade atual, o consumismo está para alguns, como padrão de vida, e para outros, como sonho a ser alcançado. Considerando essa realidade, o tema consumo é anualmente trabalhado pela escola, durante o Momento Cívico, e conta com a participação de alunos do 7º ano, cuja idade média é 12 anos. Juntos, eles abordam questões ligadas ao consumo excessivo, aos apelos das marcas famosas e à influência das campanhas publicitárias. “O Momento Cívico é semanal e vários temas são debatidos. O 7º ano fica sempre encarregado de tratar do consumo. Os alunos fazem pesquisas, apresentam dados e, principalmente, refletem sobre questões práticas, que ocorrem no dia a dia, tais como: será que preciso ter sempre uma roupa de marca nova? Ou a mochila mais cara e chique?”, explica. Segundo Maria Geralda, a receptividade e a conscientização das

“ DIA MUNDIAL SEM CARRO”, “DIA DE IR AO TRABALHO DE BICICLETA”, “DIA SEM COMPRAS” OU “HORA DO PLANETA”, INICIATIVAS GLOBAIS TRANSFORMADAS EM HÁBITOS MOSTRAM QUE É POSSÍVEL TER OUTRO ESTILO DE VIDA, CONDIZENTE COM O FATO DE QUE OS RECURSOS NATURAIS DO PLANETA SÃO FINITOS ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 53


REPRODUÇÃO

O GUIA DA UNESCO/PNUMA IDENTIFICA OS JOVENS COMO DONOS DE “UM IMENSO PODER DE DETERMINAR O FUTURO DO PLANETA: CATALISADORES DE MUDANÇAS, COM PODERES DE CIDADÃOS, CONSUMIDORES,ATIVISTAS E AGENTES DE MUDANÇAS– PARA ENCONTRAR FORMAS ALTERNATIVAS DE VIVER BEM- SUCEDIDAS”

turmas são crescentes. “A maioria aceita muito bem as propostas debatidas, mostrando-se atenta e disposta a não ceder sempre a todos os apelos consumistas. Além disso, por filosofia da escola, fazemos questão de que todos usem o uniforme, como forma de evitar competições por roupas e tênis da moda. Equipamentos eletrônicos e celulares também são vetados em sala de aula, para garantir que todos se mantenham concentrados nos estudos e evitar comparações entre aparelhos”, frisa. Educação e sensibilização A escolha dos adolescentes como público alvo das mensagens de consumo sustentável se deve, primeiro, ao fato de que quase metade da população mundial tem menos de 25 anos de idade – e cerca de 90% deles vivem em países em desenvolvimento. Além, é claro, de os jovens serem considerados ‘determinados, criativos e esperançosos’, ou seja, têm energia e força de vontade para ajudar a tornar suas comunidades e o mundo em lugares melhores.

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“Ter mais ou viver melhor?”, uma versão teen do relatório do WWI – Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2010– “Transformando Culturas, do Consumismo à Sustentabilidade”, estimula adolescentes e jovens a adotarem um novo estilo de vida: socialmente mais justo, ambientalmente mais sustentável e economicamente viável. Também estão constantemente procurando as melhores oportunidades para o seu futuro. Esse é o ponto de partida para o livro “Jovens x Mudança – Guia de Mudanças Climáticas e Estilos de Vida”, o primeiro de uma série de publicações temáticas que apoiam a iniciativa “Jovens x Mudanças” (Youth x Change) da Unesco e do

Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (Pnuma). Ela foi criada em 2001 para promover estilos de vida sustentáveis entre os jovens de 15 a 24 anos, por meio da educação, do diálogo, da sensibilização e da capacitação. O público-alvo da série são jovens e profissionais que trabalham com a juventude, tais como educadores, professores e formadores de líderes que vivem tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. O guia da Unesco/Pnuma identifica os jovens como donos de “um imenso poder de determinar o futuro do planeta. Podem ser catalisadores de mudanças, usando seu poder – como cidadãos, consumidores, ativistas e agentes de mudanças – para encontrar formas alternativas de viver bem-sucedidas”. Padrões insustentáveis Por outro lado, um número crescente de jovens em diferentes partes do planeta ainda é consumidor insaciável de roupas, alimentos, aparelhos eletrônicos, dispositivos de comunicação, viagens e entretenimen-


O papel de cada um Um jovem que compreende o impacto de suas ações cotidianas sobre o planeta e a humanidade se transforma em um poderoso multiplicador de ideias sustentáveis. Da mesma maneira, um professor que se dedica a traduzir a mensa-

DIVULGAÇÃO INSTITUTO ALANA

REPRODUÇÃO

to. A publicidade, aliada à pressão social de outros adolescentes, vem induzindo muitos jovens a seguirem padrões de consumo que, na maioria das vezes, são insustentáveis – e extremamente prejudiciais, contribuindo para as mudanças climáticas e outros desafios ambientais – e que se perpetuam, muitas vezes inconscientemente, na vida adulta. Essa tendência é impulsionada pela globalização, com a multiplicação dos meios de comunicação, as viagens, as comunicações e o comércio, influenciando uma parcela cada vez maior de jovens. A estudante Clara Costa Ferreira de Castro Fonseca tem 16 anos e admite que nem sempre consegue resistir aos apelos da publicidade e ao desejo de compartilhar os mesmos equipamentos de ponta exibidos pelos colegas. “Costumo trocar de celular três vezes durante o ano. Na maioria das vezes, o antigo ainda funciona direito, mas acabo trocando por vaidade mesmo.” E completa: “A gente sempre ouve falar sobre movimentos ambientais, a necessidade de economizar os recursos naturais, mas, na prática, nem sempre é fácil agir. Acredito que quanto mais informações recebermos, inclusive em sala de aula, mais rapidamente vamos mudar e melhorar nosso jeito de viver e de consumir.” Em relação à alimentação, no entanto, Clara, que mora com os pais e um irmão, de 21, diz que a regra, dentro de casa, é o desperdício zero. “Valorizamos muito tudo o que temos à mesa, pois sabemos que muita gente não tem nada. Já o nosso consumo de água também pode ser reduzido. Alguns banhos ainda são muito demorados.”

“COSTUMO TROCAR DE CELULAR TRÊS VEZES DURANTE O ANO”, CLARA COSTA, 16 ANOS

“É NA INFÂNCIA QUE AS MUDANÇAS DE ATITUDES DEVEM SER INICIADAS”, LAIS FONTENELLE, MESTRE EM PSICOLOGIA CLÍNICA

gem do consumo sustentável para seus alunos – crianças e adolescentes – acelera o processo de mudanças de que tanto necessitamos. Na realidade, esse é o papel e a responsabilidade de todos nós. Com o acesso e o poder viral das redes sociais, todos nós temos condições de divulgar mensagens, histórias e experiências humanas, além de outras narrativas criativas que podem servir de antídotos potentes ao consumismo, buscando o caminho da sustentabilidade. Para Lais Fontenelle, mestre em psicologia clínica pela PUC-RJ e consultora do Instituto Alana (SP), a sociedade atual tem formado consumistas desde cedo. Por isso, é exatamente na infância que as mudanças de paradigma e de atitudes devem ser iniciadas. “Como a criança já nasce inserida nessa cultura, é normal pensar que ela está preparada para lidar com todos os apelos que lhe são ofertados. Não é verdade. Até os 12 anos, segundo os maiores especialistas em desenvolvimento infantil, ela não tem capacidade para entender, completamente, o discurso persuasivo da publicidade.” Se a publicidade tem impacto sobre nós, adultos, imagine sobre a criança. O caminho, afirma Lais, é prepará-la, o quanto antes, para que se torne uma consumidora mais consciente no futuro. Mas, como fazer isso? A resposta é: com educação. O papel dos pais é dar limites, controlar o número de horas

que ela passa sozinha, em frente à TV ou nas mídias sociais; e, principalmente, oferecer alternativas ao consumo, trocando passeios no shopping, por exemplo, por visitas a parques, museus e locais que ofereçam arte, cultura e oportunidade de contato com a natureza. “A frase parece clichê, mas é absolutamente real: o diálogo é a chave da transformação. É preciso conversar exaustivamente com a criança, todos os dias. Aos poucos, ela vai entendendo. O desafio é não confundi-la com o chamado duplo comando: a criança é concreta, aprende com modelos. Cabe aos pais terem um discurso coerente com a prática.” Ainda segundo Lais, o Estado também tem a importantíssima função de regular a publicidade destinada a crianças, para assegurar que os excessos sejam coibidos. Fica aqui, entretanto, um alerta. O segredo é não fixar a energia em resultados, mas sim nas ações visando influenciar e promover mudanças, ainda que pequenas. O fato de centrar nossa atenção no processo de transformação – e não nos resultados imediatos em si – nos ajudará a lidar com momentos de frustração e desânimo. Afinal, como expressou a antropóloga Margaret Mead (1901-1978): “Jamais duvide de que um pequeno grupo de cidadãos zelosos e compromissados pode mudar o mundo. De fato, essa é a única coisa que sempre funcionou.”

ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 55


REUTERS/RICKEY ROGERS

1 ECONOMIA

BC Sustentável Resolução 3.545 do Banco Central impediu que área de 2.700 km2 na Amazônia fosse desmatada entre 2008 e 2011 redacao@revistaecologico.com.br

I

ntroduzida no Brasil em 2008 pelo Banco Central, a Resolu- ção 3.545 condicionou a con-cessão de crédito rural, importan- te fonte de financiamento para produtores rurais, à comprovação de cumprimento das normas da legislação ambiental. Um novo estudo do Climate Policy Initiati- ve (CPI) - Crédito Afeta Desmatamento? Evidência de uma Política de Crédito Rural na Amazônia Brasileira - estima que aproximadamente R$ 2,9 bilhões deixaram de ser contraídos entre 2008 e 2011, devido às restrições impostas pela medida. Essa redução no crédito evitou o desmatamento de apro- ximadamente 2.700 km2 de área florestal no Bioma Amazônia, re- presentando uma redução de 15% de desmatamento no período. A análise do CPI também indica que o impacto da Resolução 3.545 sobre o desmatamento foi sig-

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nificante somente nos municípios cuja principal atividade econômica era a produção pecuária, e não agrícola. Isso sugere que pecuaristas são restritos a crédito e respondem mais a mudanças na disponibilidade de crédito subsidiado. Reforça, ainda, que produ- tores agrícolas podem estar usan- do os subsídios para intensificar a produtividade, em vez de expandir a fronteira agrícola. O estudo também conclui que grandes e médios produtores foram mais afetados pela legislação do que pequenos produtores submetidos a exigências menos restritivas para acessar crédito. “Nossa análise deixa claro que a Resolução 3.545 está contribuindo para a redução do desmatamento”, disse o diretor do CPI Rio e professor do departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Juliano Assunção. “Verificamos

também que detalhes de desenho e implementação da política influenciam seu efeito”. A taxa de desmatamento na Amazônia brasileira diminuiu substancialmente na segunda metade dos anos 2000, caindo de um pico de 27.000 km2 em 2004, para 5.000 km2 em 2011. Em um estudo anterior, o CPI Rio estimou que as políticas de conservação ajudaram a evitar aproximadamente metade do desmatamento ocorrido na ausência delas. Ao longo deste ano, o CPI Rio planeja anali- sar o efeito de dois outros grupos de políticas no Brasil: o fortalecimento das políticas de fiscalização e monitoramento, e a ampla expansão de terras protegidas - unidades de conservação e terras indígenas. SAIBA MAIS: Acesse a íntegra do estudo em www.climatepolicyInitiative.org



FOTOS LETICIA BESSA

1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

SAGRADO E SUSTENTÁVEL Marina Rodrigues redacao@revistaecologico.com.br

A

sanfona é colorida. E quem mostra como funciona é o Leonardo, um aluno do Colégio Sagrado Coração de Jesus, na capital mineira. Desembaraçado, ele exibe também um porquinho rosa feito de papel reciclado. Depois, é a vez de um jacaré verde com as pernas feitas de potinhos de iogurte. A mesa onde as crianças fazem trabalhinhos e brincam fica coberta de bichos, casinhas, foguetes, trens, e claro, a colorida

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sanfona. A atividade faz parte do projeto de reaproveitar sucata para fazer brinquedos divertidos. Ensinar crianças a criar e brincar é obrigação de toda instituição de ensino. Mas no Sagrado, como todos que estudam e trabalham lá chamam a escola, a sucata agora faz parte do dia a dia. Além dos brinquedos, ela serve para fazer aparelhos de ginástica na academia sustentável e os vasos na mini-horta da turma da Educação Infantil.

GESTÃO AMBIENTAL Enquanto os pequenos se divertem com trens e bichos feitos com potes e papéis, a diretoria coloca em prática um antigo plano: a implantação de várias ações sustentáveis. Adriana Vilaça, uma animada diretora administrativa, fala sobre as novidades. A primeira é a reforma do pátio central: o piso intertravado possibilita a absorção da água, evitando alagamentos. Nas laterais dos peque-


LETICIA BESSA

Eles são a força No início da reportagem, Leonardo mostrou a sanfona e o porquinho cor de rosa. Agora, os destaques são Fernanda, Isadora, André, Ana Laura, Giulia , Ohana e Natan. A consciência ambiental une essa turma com idade que varia de 12 a 15 anos. Mais que frases e discursos apaixonados em defesa do meio ambiente, eles apontam e

ADRIANA VILAÇA: ENTUSIASMADA COM AS AÇÕES SUSTENTÁVEIS NA ESCOLA

ELISANGELA MARA SILVA

ELIANA MELO

nos jardins, células fotovoltaicas abastecidas por energia solar iluminam a área. “É uma maravilha. O nosso pátio ficou um beleza”, diz empolgada. A captação é feita por painéis colocados no telhado de um dos prédios da escola. Eles vão aquecer também a água dos vestiários e piscina. E por falar em água, o projeto de reaproveitamento da chuva já é fato: dois enormes tanques com capacidade de 430 mil litros e 40 mil litros respectivamente estão sendo construídos. A água será tratada e usada na limpeza da escola e dos banheiros. Os banheiros também já passaram pela reforma: as descargas são de caixas acopladas que gastam em média 6 litros, bem menos que os 14 litros despendidos pelas tradicionais; as torneiras e mictórios têm controle automático de água.

REGINA CELLI FOLSTA VALLE: “TODO ESSE INVESTIMENTO É BEM APLICADO.”

sugerem ideias sustentáveis. E dão o exemplo: coleta seletiva em casa, banhos mais curtos; reaproveitamento de material escolar. E surpresa: a diminuição do desejo de consumo. Exemplo? Mostro para André meu celular antigo e muito usado. Ele sorri e mostra o dele: é igualzinho ao meu e, por isso, fora dos padrões da maioria de jovens da idade dele. Estimular essas atitudes e dar o exemplo são o foco da escola. É o caso do restaurante. Nele, as mesas e cadeiras são de madeira de florestas plantadas. Um outro exemplo está na sala dos professores. Em vez dos copos plásticos descartáveis, hoje são usadas xícaras de louça e copos reutilizados. Nesse item, os números falam alto: de doze mil copos usados em média por mês, o consumo passou para a média de setecentos e cinquenta. A proposta se estende aos alunos: todos ganham na hora da matrícula um squeeze. O gasto com papel também diminuiu 30%, porque os procedimentos de comunicação com pais e professores é feito agora pela web. Tarefas e trabalhos acadêmicos são postados no site do colégio diminuindo impressões e cópias. Para Regina Celli Folsta Valle, diretora edu-

PATRIMÔNIO CENTENÁRIO O Colégio Sagrado Coração de Jesus foi fundado em 1911 por seis irmãs da Congregação Missionárias Servas do Espírito Santo vindas da Alemanha. A princípio, o Colégio funcionava em uma casa alugada, na esquina das ruas Cláudio Manoel e Pernambuco. No mesmo ano foi fundada a sede que abriga o Colégio até hoje, na Rua Professor Morais. À época, era preciso passar por uma ponte sobre um rio, que seguia por toda extensão da rua, para entrar no Colégio. As alunas moravam no Sagrado, em regime de internato. Em 1992, o prédio do Colégio foi tombado oficialmente pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município. O Colégio Sagrado Coração de Jesus faz parte da Rede de Educação das Missionárias Servas do Espírito Santo, que mantém outras Unidades Educacionais no Rio de Janeiro, São Paulo e Juiz de Fora.

cacional, todo esse investimento é bem aplicado. Para ela, é uma forma de preservar a vida. E conclui enfática: “investir na valorização da vida é uma atitude de respeito ao planeta”.

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GESTÃO EMPRESARIAL & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

NÃO HÁ MÉTODO DE ENSINO QUE SUPERE UM BOM EXEMPLO! “É uma boa hora para professores se tornarem menos donos do conhecimento, mais tutores e colaborativos com seus alunos, refletindo com eles o que nenhum computador pode vivenciar de forma humana: o sentido e a prática de uma vida sustentável.”

F

az tempo que eu não escrevo sobre escolas e educação e digo assim, separadas, porque nunca achei que uma coisa fosse a outra. Calhou que este mês, num dos grupos de debate em que sou assistente na internet, o assunto das escolas 3w, aquelas que se pode acessar pela web, vicejou novamente e fez as pessoas tanto vociferarem contra a tecnologia, quanto se desmancharem em elogios. Das tais escolas do futuro, como alguns as chamam, talvez a mais polêmica seja a Khan Academy, um acidente educacional protagonizado por um americano de origem indiana que resolveu dar aulas particulares aos primos, pela web. Pelo visto, ele deve ter muitos primos. Passados alguns poucos anos, mais de seis milhões de pessoas já acessaram suas aulas. Países, inclusive o Brasil, o recebem, e ele conta que “quando começou tudo isso, pensava nas aulas como conteúdo complementar e nunca havia imaginado que elas estariam dentro das escolas”. Alguns vão acusar a educação pela web de insustentável, mas, tenhamos menos paixão para refletir: Por que será que os conteúdos de Khan ganharam a sala de aula? Pode ser que aqueles que os estavam usando não tivessem escrúpulos e urdiram um plano tenebroso para extinguir com a classe docente pela internet. Pode ser... Pode ser também que, desavisados, os alunos começaram a entrar lá na Khan e ver os conteúdos numa linguagem que entendiam e com a qual nasceram. Daí pensaram: é muito mais interessante do que aqueles caras chatos na sala de aula, com a vantagem que eu posso ver a hora que quero! Pode ser porque, é verdade, há um monte de professores bons e um monte de professores chatos! Pode ser ainda, que alguns professores preguiçosos, uma minoria, certamente, pensaram que, com esta mixaria de salário, melhor seria mandar a meninada para a web e depois dar um trabalho em grupo. Pou-

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pava tempo e trabalho. Pode ser... E olha, outra possibilidade é que alguns governos detectaram que com poucos professores com a intenção de morar em rincões afastados dos grandes centros, usar estes conteúdos fazia a diferença. Por isso, adotaram essa estratégia supondo que iriam melhorar a educação nas localidades mais distantes dos grandes centros como nunca antes na história deste país. Claro que pode ser... Pode ser um monte de coisas, boas e ruins. Não faço apologia de nenhuma. Sempre tive só uma certeza: o momento em que prosperam os conteúdos 3w de educação a distância, como eu disse que aconteceria, é uma boa hora para professores se tornarem menos donos do conhecimento, mais tutores e colaborativos com seus alunos, refletindo com eles o que nenhum computador pode vivenciar de forma humana: o sentido e a prática de uma vida sustentável. Esta escola sobreviverá! Afinal, dizem os sábios, não há método de ensino que supere um bom exemplo! (*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG e presidente do Comitê para a Democratização da Informática – CDI e diretor da Arbórea Instituto

TECH NOTES z Conheça a Khan Academy www.khanacademy.org z Governo Brasileiro e a Khan Academy http://goo.gl/eZKAc z Download do Livro “Plantando Conhecimento” http://goo.gl/1mspR



1V O C Ê

SABIA?

QUEM NÃO COMUNICA SE TRUMBICA,

OU TROMBA OU SE PREJUDICA Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

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ORIENTAÇÃO POR ECOS Os morcegos usam ondas sonoras para se orientarem. Eles soltam uma espécie de grito que ecoa pelo caminho e lhes es informa o que vão encontrar pela frente. E não se trata de uma informaçãozinha básica, tipo sai da frente e que aí vem gente. O intervalo de tempo entre a emissão do som e sua chegada ada informa a distância do obstáculo, ou da presa e o ângulo de chegada identifica o tamanho. E como é que isso acontece? O ruído emitido por esses mamíferos voadores possui uma frequência superior à 20.000Hz, maior que quase todos os sons à nossa volta. Assim, os morcegos vivem em um mundo de silêncio, exceto pelos sons emitidos por eles mesmos. Além disso, cada espécie emite sons numa frequência característica, o que colabora na sua identificação.

ALERTA VERDE Cientistas ingleses flagraram uma prova de que as plantas têm suas formas de comunicação. Através de câmeras e equipamentos especiais chegaram a conclusão de que quando atacadas elas liberam um gás invisível que serve de alerta às outras. Estas imediatamente passam a liberar toxinas capazes de deter alguns predadores herbívoros. Espertinhas, não?


ECOLOCALIZAÇÃO As baleias também usam de uma habilidade parecida, emitindo um som seco de alta frequência que, ao encontrar qualquer objeto, obstáculo ou ser em seu caminho, é rebatido voltando de encontro ao grande mamífero nadador. Esse efeito é chamado de ecolocalização.

PAPO-CABEÇA As pequenas e delicadas antenas das formigas são órgãos extremamente complexos, capazes de identificar o cheiro e informações sobre direção e intensidade. Como se não bastasse elas ainda participam da comunicação entre esses seres tão peculiares. Quando duas formigas se encontram elas tocam as antenas e os feromônios presentes chegam a informar sobre o estado de alimentação de cada uma delas, o que pode levar à trofalaxia, ou seja, uma delas regurgita a comida para a outra. Bom, cada um se vira como pode, né?

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SHUTTER STOCK

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AS A SRPPNS RPPNS R PPNSDA D DA AVALE V VALE ALE(XIII) ((1) 1) AS

FERNANDA MANN

EXEMPLO DE CARINIANA ESTRELLENSIS: BELEZA MAJESTOSA

A NEM TÃO SÓ MATA

DO JEQUITIBÁ Em meio a um cenário peculiar, a verde RPPN resguarda intacta significativa amostra da natureza local Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

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LETÍCIA LIMA VOIGT

A

Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Jequitibá está localizada na região do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, no município de Brumadinho. Com área de 70,30ha, a reserva de propriedade da Vale foi concebida como medida compensatória para a construção da Barragem VI, na Mina Córrego do Feijão, que lhe dá acesso. Apesar do tamanho reduzido, quando comparada às demais RPPNs da empresa, a reserva surpreende por sua exuberância que colore a paisagem, representando um refúgio verde de grande importância ecológica. Seu nome, inclusive, tem origem nas frondosas árvores de jequitibá, Cariniana estrellensis, abundantes na região. CARACTERIZAÇÃO Inserida na bacia do Rio São Francisco e na sub-bacia do Rio Paraopeba, a RPPN Mata do Jequitibá contribui para a conservação dos afluentes do Ribeirão Ferro-Carvão, localizados em sua porção oeste. Apesar de estar inserida nas proximidades da mineração, essa RPPN possui grande relevância em termos de conservação das espécies locais. A reserva faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA Sul) que abrange sistemas florestais inseridos em uma matriz natural que inclui o Parque do Rola Moça, compondo uma área de transição entre os importantes biomas brasileiros, o Cerrado e a Mata Atlântica. Localmente, a reserva é representada pela Floresta Atlântica com formação da Floresta Estacional Semidecidual, relacionada à dupla estacionalidade climática, com uma época de chuvas intensas de verão, seguida de períodos de estiagem acentuada. Sua característica principal é a proporção de árvores que perdem as folhas, variando entre 20% a 50%.

ÁRVORE QUE DEU NOME À RPPN: ESTUDOS APONTAM QUE O JEQUITIBÁ MAIS ESPECIAL DA RESERVA POSSUI CERCA DE 500 ANOS

HISTÓRIA O Bioma Mata Atlântica sofre pressões históricas, com processos de degradação ambiental, como plantio de eucaliptos para comercialização, extração de madeira, atividade mineraria e urbanização. Esse processo de ocupação resultou na fragmentação das florestas naturais, provocando diminuição e perda de hábitat, com consequente isolamento de ambientes. A RPPN representa a manutenção nestas áreas, sobretudo da diversidade biológica remanescente de espécies raras, endêmicas ou com perigo de extinção. A área da unidade apresenta boa integridade ambiental, mesmo com a existência localizada de alguns agrupamentos de espécies exóticas como, em especial, os eucaliptos.

DESAFIOS A topografia acentuada dificulta o acesso rápido à área, o que protege a reserva de invasões, mas dificulta os trabalhos de proteção ecossistêmica. Por isso, medidas de prevenção e controle como a construção e manutenção de cercas e aceiros, a implantação de placas, a criação de brigadas de prevenção e combate a incêndio e a realização de palestras e de campanhas educativas com os funcionários e com as comunidades do entorno são realizadas pela Vale, através de uma equipe sempre atenta aos desafios. O único incêndio que atingiu a RPPN ocorreu em 2011, um ano bastante crítico para o Estado de Minas Gerais, neste sentido. Qualificado como criminoso, ele atingiu cerca de 90% do Parque Estadual ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 65


FERNANDA MANN

AS A SRPPNS RPPNS R PPNSDA D DA AVALE V VALE ALE(XIII) ((1) 1) AS

“Trabalhar aqui traz grande satisfação. É um desafio emocionante e sem rotinas.” ANA LÚCIA DOS REIS, analista de meio ambiente

do Rola Moça e muitas áreas de sua zona de amortecimento. Ana Lucia dos Reis, trabalha na Vale há 18 anos e há três é analista de Meio Ambiente. Segundo ela, a Reserva Jequitibá é muito peculiar, por ser uma área verde ao lado de uma mina. Ela é a responsável pelo complexo que inclui a mina em plena atividade e a área verde intocada. “Meu trabalho é contribuir com o sistema de gestão da unidade operacional, que inclui ações de preservação e conservação da RPPN”, conta. RIQUEZA A RPPN Mata do Jequitibá, abrange sistemas florestais e abriga diversas espécies vegetais indicadoras de bom estado de conservação, a exemplo de cedros, Cedrela fissilis; jequitibá, Cariniana cf. estrellensis e jacarandás, Machaerium spp., além de aves como Pionus maximiliani, Basileuterus leucoblepharus e Dysithamnus mentalis. Sua vegetação composta por diferentes tipos de ambientes permite a ocorrência de várias espécies de mamíferos, que podem estar distribuídas também na área de entorno desta Unidade de Conservação. Vestígios encontrados e dados obtidos na literatura científica indicam que a Mata do Jequitibá é 66 Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

passível de abrigar em torno de 23 espécies de mamíferos, distribuídas em 11 famílias, divididas em 7 ordens, sendo elas: Didelphimorpha, Xenarthra, Primates, Lagomorpha, Carnivora, Artiodactyla e Rodentia. Dados obtidos em campo confirmaram a presença do tatu Dasypus sp e das ordens Rodentia e Carnívora, que apresentam o maior número de espécies com oito a seis exemplares. Também foram registradas duas espécies de anuros e, através do conhecimento prévio das espécies deste grupo que participam da formação vegetacional da região, é estimada a ocorrência de 51 espécies de anfíbios. Quanto aos répteis, apesar de registrada apenas uma espécie de lagarto, o teiú Tupinambis meriana, estima-se a possibilidades de ocorrência de 71 outras espécies na reserva. Resultados do diagnóstico de campo identificaram 13 espécies de aves. Na mata foram registradas espécies de aves típicas de ambientes florestais, entre elas: maitaca Pionus maximiliani, bico-chato Tolmomyias sulphurescens, pula-pulaassoviador Basileuterus leucoblepharus, juriviara Vireo chivi, choquinha-lisa Dysithamnus mentalis. A presença de porções mais conservadas no interior da floresta com-

FIQUE POR DENTRO

Algumas espécies amostradas são consideradas vulneráveis e constam da lista de espécies ameaçadas de extinção de Minas Gerais. Tanto espécies ameaçadas, quanto endêmicas, presentes somente naquela localidade, apresentam uma menor plasticidade ecológica, ou seja, maiores restrições e especificidade por habitat. Assim, a qualidade ambiental da região interfere diretamente nas populações desses grupos e a perda ou modificação do ambiente natural gera grande desequilíbrio, diminuição ou extinção dessas populações. Uma breve amostra de alguns exemplares dessas espécies guardadas generosamente pela reserva, comprovando sua importância:

UM ESPAÇO RESERVADO Flora O Dalbergia nigra (Fabaceae) O Melanoxylon braúna (Fabaceae) O Euterpe edulis (Arecaceae) O Vernonanthura diffusa (Asteraceae) Répteis O cágado-da-serra (Hydromedusa maximiliani) O lagarto cobra-de-pé (Heterodactylus lundii)

Aves O cuitelão (Jacamaralcyon tridactyla) O pavó (Pyroderus scutatus) O choquinha-de-dorso-vermelho

(Drymophi-

la ochropyga) Mamíferos O Guigó (Callicebus nigrifrons)

ENDEMISMO Répteis O Philodryas oligolepis O Tantilla boipiranga, ambas restritas à porção sul da Cadeia do Espinhaço.

porta a presença de espécies como pavó Pyroderus scutatus, jacupemba Penelope superciliaris e outras de hábitos florestais que apontam o valor de conservação dessa área.


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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

SALSAPARRILHA DO SERTÃO PARA O LABORATÓRIO

O

MARCOS GUIÃO

combinado se deu depois do telefonema de uma professora da universidade pedindo ajuda para acompanhar alguns estudantes na buscação de uma planta medicinal, a Salsaparrilha (Herreria salsaparrilha), como material de experimento para uma dissertação. Com o nome da planta em mãos, fui até a casa do amigo e mestre, Chico da Mata, para ver se ele conhecia aquela espécie e se seria encontrada na região. Depois de tomar um café coado na horinha, com grandes pedaços de bolo de fubá carinhosamente preparado por dona Lindaura, Chico se esticou todo na porta da cozinha, num gesto bem seu e disse: “Pode falá pra esse povo e pova que nóis tem de sungá essa serra inté a chapada e lá em riba nóis acha de um, tudo. Gasta procurá em outro lugar não, nóis tem ela aqui sim e é muita...” Daí a alguns dias chega a moçada num final de tarde, tudo com cara de curioso e paramentação completa para o dia de campo, com botas de cano alto, facão e chapéu de aba larga. Saímos no dia seguinte cedinho,

seguindo a trilha que leva até o alto da serra, com o sol brilhando no alto de nossas cabeças de forma implacável durante todo o dia. Mas o resultado foi alentador, pois encontramos a bem dizer “uma roça” de Salsaparrilha em seu hábitat natural, quando ela foi devidamente marcada com o GPS, fotografada por todos os ângulos e coletada cuidadosamente para manutenção do material o mais íntegro possível. A Salsaparrilha é uma trepadeira discreta, mas muito vigorosa que medra principalmente nos terrenos mais arenosos do cerrado. De caule espinhento, tem folhas resistentes que formam uma espécie de coroa disposta em toda a sua extensão. Mas seu tesouro fica é debaixo da terra, onde os rizomas se assemelham a um cacho composto de pequenos “dedos” macios e esbranquiçados. Chico olhava disfarçadamente aquele movimento diferençado de seu dia a dia de raizeiro. Perguntado sobre os usos dessa planta, ele se agachou debaixo da sombra de um Cinzeiro, e deu de falar vagarosamente sobre suas propriedades. “Bão, a mais das veis nóis usa ela pra depuração, quando o sangue tá remoso, dando-se perebas e muita cafubiragem, derivando uma coceira medonha. Otra prestação é pros casos de orina presa, mas o mió dela é quando o cabra anda assim esmurecido, sem palpite pra namorar... Ela é muito fortalecedora das parte do vivente. Nóis aqui ponhamos essas raízes num vinho branco, daquele seco, deixemo curti umas duas semanas e dispois dá de se tomar uns dois cálices por dia. É isso.” A garotada deu risada e voltou pra casa ouvindo outros casos do Chico, que foram devidamente anotados. Com uma despedida calorosa, eles retornaram para a cidade, felizes e realizados com o resultado do trabalho. Agradeci ao amigo Chico, por sua sabedoria, com um forte abraço e também me despedi com o coração leve. Inté a próxima lua!

SAIBA MAIS: www.naturezadosertao.com.br (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais. SALSAPARRILHA: TREPADEIRA DISCRETA, MAS MUITO VIGOROSA QUE MEDRA PRINCIPALMENTE NOS TERRENOS MAIS ARENOSOS DO CERRADO



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OLHAR POÉTICO ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br

FUTEBOL S/A (Pois bem. O primeiro capítulo da novela “Minas-na-Copa” quase chegou ao fim. Depois de uns 700 milhões gastos na obra, o Mineirão foi reinaugurado no dia 3 de fevereiro de 2013 com um Cruzeiro 2 X 1 Atlético. Belo espetáculo: mas faltou ar em campo. A gravata dos jogadores se confundiu com a gravata dos cartolas e das autoridades nos camarotes e no restaurante panorâmico. Para completar o “toque de caixa”, a torcida ficou sem água nos banheiros, sem água para beber e coisa para comer. Até o famoso “tropeiro do Mineirão” se escafedeu. Lanchonetes e bares fechados, nem um churrasquinho de gato, um refrigerante, uma água mineral. Nem uma pipoquinha para calar a boca das barrigas que, em uníssono, emitiam desesperadores borborigmos. E quem sofria do coração teve que engolir o remédio a seco. Com o estacionamento fechado, muitos motoristas ficaram duas, três horas de bobeira procurando informações. Onde ficar? Por onde entrar? Por onde sair? Mais uma: faltou papel higiênico. E cadeiras foram depredadas, vidros, portas, vasos e bancadas arrancadas e estilhaçadas. Parte da torcida, de ambos os lados, se revoltou com a falta de respeito com quem pagou a obra: eu, você, nós: o exemplar cidadão mineiriquim-belorizontal, órfão do mar, bebedor de cerveja, botequeiro inveterado e exemplar pagador de impostos. No fundo, apenas uma antevisão do que vem por aí. Por isso pulo o Campeonato Mineiro, pulo a Libertadores, pulo a Copa do Brasil, pulo o Brasileirão e já entro de sola na Copa da Fifa/2014. E deixo o resto com o narrador contumaz, que vai dar um repeteco noutro capítulo dessa renovela que já conhecemos de sobra): – Bra-sil-sil-sil-sil! Muita emoção, muito nervosismo, minha gente! Todo começo de decisão da Copa do Mundo é assim, meu povo... ...Mas olha lá, olha lá! O meia da Pepsi, de cara, já vai atrasando a pelota pro líbero da Tim que rola pro lateral da Nike... Bola com o central da Brahma, que avança pela esquerda. Tenta a finta no adversário, mas o atacante da Gillette que também é da Kaiser atrapalha. O zagueiro da Antárctica que já foi da Skol intercepta a bola espirrada. Faz um corte para a direita e inverte a jogada, buscando o ala avançado da Tam que já foi da Petrobras, na extrema. Mas o volante do Itaú que já foi do Bradesco pega ele por trás, na dividida, isolando a pelota pra lateral... Confusão no meio-campo. O armador da Topper que também é da Nike cospe no chão, esbraveja e exige mais atenção no lance. O centroavante da CVC que agora é do Extra reclama uma cotovelada do ponta recuado da Vivo que xinga alguma coisa pro Tim... Oi! Mesmo assim isola. Puxa a jogada e tenta sair com ela dominada. Mas o quarto-zagueiro do Pão de Açúcar dá um carrinho e o derruba na entrada da grande área... Que que é isso, minha gente! ...Nova confusão no miolo da zaga. O juiz da Vivo vai puxar o cartão Claro, digo, amarelo... Consulta o bandeirinha da Kia que gesticula alguma coisa pro juiz Ambev, digo, reserva. Tudo bem, tá tudo Nestlé

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Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

minha gente! Olha lá. O meia de ligação da Seara que já foi da Volkswagen cobra de trivela... Boniiiiiiito... ...Mas o líbero da Procter & Gamble que já foi da Traffic dá um Gatorade sem asa no Caracu da Sukita que agora é da Bohemiabrahma, que já foi da Reenike e também da Nettambok... Uff!... Faz o corta-luz pro lado errado. Tropeça noutro atacante da Parmolimpikus, impedindo a sequência do lance com o Pepsirider... Huuuummmmm... Parece que nessa ele Peugeot a grama, minha gente... ...Mas não conseguem passar da intermediária, meu Deus! O outro volante, o da Kaiserlat que também já foi da Brasiladidas, empurra o companheiro da Skoltopper que sola o companheiro da Petropepsiantárctica... Ufa!... ...Meu Deus, Schinqueisso? Nunca vi isso! Ele fuzilou contra o próprio gol! – Vai que é sua, Coca-Cola!!!


ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG De Pequim, China redacao@revistaecologico.com.br FOTOS: ANDRÉA ZENÓBIO

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OLHAR EXTERIOR

A CREDITE SE QUISER: NA POLUÍDA CHINA, AS SACOLAS RETORNÁVEIS JÁ FAZEM PARTE DA VIDA DE SEUS CIDADÃOS

A SACOLA CHINESA Exemplo para BH e o Brasil não se nivelarem por baixo

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m tempo de Olimpíadas, vale tudo para impressionar os estrangeiros – principalmente quando se trata de vender imagens de “amigos do meio ambiente” ou “ecologicamente corretos”! Em 2008, por ocasião dos jogos olímpicos, o governo chinês proibiu o uso de sacolas plásticas super finas nos supermercados. Mas, por não ter especificado na lei de qual setor dos supermercados elas estariam banidas, as sacolas plásticas super finas nunca mais foram usadas para embalar as compras como um todo, mas são abundantemente distribuídas para acondicionar aquelas duas cenouras, outra para as três cabeças de alho, mais uma para os quatro limões e por aí vai. Mas ao se direcionar para o caixa desses estabelecimentos, normalmente o que se observa, pelo menos aqui em Pequim, é o uso das sacolas de tecido, ou de nylon, ou de engradados desmontáveis que se transformam em caixas muito práticas etc. Esse comportamento, porém, tem uma explicação – educação e conscientização ambiental andam de mãos dadas. A grande maioria dos estrangeiros que mora em Pequim é de famílias de empresários multinacionais, de diplomatas, ou, professores universitários, especialistas profissionais, gente com um bom nível de educação. Os chineses pertencentes a um nível social mais alto, que também frequentam esses mesmos supermercados, seguem a mesma linha. E conscientização ambiental, da finitude dos recursos naturais, nesse caso, se traduz no uso de sacolas que podem ser reutilizadas.

COMPORTAMENTO O mesmo comportamento, porém, pode ser observado nos supermercados preferidos pelos chineses de classes média e baixa, que não estão dispostos a desperdiçar seu dinheiro comprando sacolas plásticas mais resistentes, oferecidas nos caixas. Também eles carregam suas sacolas de pano ou estão equipados com carrinhos de feira. Mas as famigeradas sacolinhas super finas ainda imperam nas feiras para acondicionar vegetais e frutas comprados em diferentes bancas, ou embalar alimentos oferecidos pelos vendedores ambulantes nas ruas. Em qualquer lugar, porém, em caso de carregar três ou quatro dessas sacolas plásticas fininhas, outra de pano ou reutilizável sempre aparece. Todos carregam uma na bolsa – um comportamento chinês comum. Depois de morar em uma sociedade tão “avançada”, como a Noruega, por seis anos, e agora vivendo na China, um país emergente como o Brasil, já há quase três anos, fica a constatação de que a adoção de sacolas reutilizáveis é uma questão de educação. Retroceder no quesito sacolas plásticas nos supermercados, como Rio de Janeiro e São Paulo já fizeram, e agora Belo Horizonte ameaça copiar, é no mínimo, se nivelar por baixo.

(*) Jornalista ambiental e consultora de comunicação, especialista em consumo sustentável e mudanças climáticas www.conexaoverde.com


1 M E M Ó R I A I L U M I N A D A : ABRAHAM LINCOLN

O LENHADOR DO

PRECONCEITO Conheça as ideias do político que afirmou: “o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da Terra”, retratadas no premiado “Lincoln”, de Spielberg Alexandre Salum redacao@revistaecologico.com.br

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Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

Ele continuava a frequentar as aulas de vez em quando, mas, mesmo assim, aprendeu a ler e escrever e a fazer operações simples de matemática. Em 1830, novamente a família se mudou para o território do Illinois, e Lincoln, não querendo mais trabalhar no campo, chegou a tentar várias profissões, estabelecendo-se finalmente em Nova Salem, trabalhando com o comércio. Tentou ser negociante por três vezes, mas não deu certo. Em 1832, foi capitão voluntário do exército para acabar com o levante dos índios, conhecido como “Black Hawk”. Os militares foram os vencedores, e Lincoln ficou muito popular. Em 1833, trabalhou nos correios, foi lenhador e peão de moinho. Estudou e aprendeu, em 45 dias, o mínimo para exercer a agrimensura e foi trabalhar em demarcação de terras e medições. Com uma ótima oratória candidatou-se à Assembleia de Illinois e foi eleito em 1834. Durante seu segundo mandato, Lincoln começou a estudar Direito com livros emprestados, e em 1836 obteve licença para exercer a advocacia. No ano seguinte, mudou-se para a nova capital do Estado, Springfield, onde constituiu um escritório coletivo. REPRODUÇÃO

E

le tinha tudo para não dar certo na vida, mas foi o maior presidente dos Estados Unidos. Um exemplo de superação e força de vontade para vencer na vida honestamente e com muita luta. Exímio orador, suas frases até hoje são lembradas, e você, caro leitor, possivelmente já o citou mais de uma vez, sem saber a autoria. Abraham Lincoln nasceu na cidade de Hodgenville, no estado de Kentucky, no dia 12 de novembro de 1809. Seus pais eram agricultores e sem instrução. Por isso, desde cedo, precisou trabalhar muito, tanto nas tarefas domésticas quanto no campo. Quando ele completou sete anos e começou a ir à escola, a família perdeu todas as propriedades e se transferiu para o estado de Indiana, com o objetivo de melhorar de vida, onde Lincoln viveu até os 21 anos. No novo estado, havia poucas escolas e era muito mais difícil estudar. Lincoln lia a Bíblia, talvez o único livro a que ele teve acesso naquela época. Ele o estudou a fundo e, no futuro, enriqueceria seus discursos com citações bíblicas. Sempre com o desejo de progredir, Lincoln pedia livros aos vizinhos e amigos, que lia após trabalhar na lavoura. Aos nove anos, sua mãe morreu e seu pai casou-se com Sarah Bush Johnston. Depois, arranjou emprego numa serraria e, mais tarde, nos barcos dos rios Ohio e Mississippi, onde foi contratado para transportar mercadorias. Contrariando os costumes de seu tempo, Lincoln evitava caçar e pescar, pois não gostava de matar animais.

A CASA DE LINCOLN REPRODUZIDA EM MUSEU SOBRE SUA VIDA

VIGILANTE DA LEI Em 1842 casou-se com Mary Todd, mulher ambiciosa, bonita e inteligente, com quem teve quatro filhos, mas só um deles chegou à idade adulta. Lincoln foi contratado pela Central Railroad, o que lhe deu uma estabilidade financeira. Além disso, ficou famoso em todo o país, quando ganhou um importante processo do


GEORGE PETER ALEXANDER

SUA BRILHANTE ATUAÇÃO COMO ADVOGADO TORNOU-O CONHECIDO EM TODO O ESTADO AMERICANO DO ILLINOIS. EM UM DOS SEUS CASOS, LINCOLN DEFENDEU E LIVROU UM CLIENTE DA PRISÃO PROVANDO, COM AJUDA DE UM ALMANAQUE, QUE SENDO A NOITE DO CRIME DE LUA NOVA, E POR ISSO MUITO ESCURA, A TESTEMUNHA NÃO PODERIA TER VISTO O ATO CLARAMENTE

ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013 Q 73


1 M E M Ó R I A I L U M I N A D A : ABRAHAM LINCOLN

PRIMEIRA LEITURA DA PROCLAMAÇÃO DA EMANCIPAÇÃO DO PRESIDENTE LINCOLN

foro criminal, onde defendeu e livrou o seu cliente da prisão, provando, com ajuda de um Almanaque, que sendo a noite do crime de Lua Nova, e por isso muito escura, a testemunha do crime não podia ter visto o ato claramente. Sua atuação como advogado tornou-o muito conhecido em todo o Illinois. Em 1846, conseguiu ser eleito para o Congresso Nacional, mas não ficou muito popular, pois recusava-se a arranjar empregos e vantagens para seus amigos políticos, e foi contra a guerra no México. Não tentou se reeleger e voltou a advogar. Mas uma mudança repentina, na questão da escravidão, o trouxe de volta à cena política. Em 1820, assinou o famoso “Acordo de Missouri”, que proibia a escravidão nos novos territórios situados no estado de Missouri. Em 1854, o senador democrata Stephen Douglas apresentou um projeto de lei para os territórios de Kansas e Nebraska que não concordavam com o Acordo. Nele, Douglas estabelecia que os colonos é que deveriam escolher se queriam ou não a escravidão. Quatro anos depois, Lincoln disputou uma vaga no senado contra Douglas e o chamou para uma série de debates sobre o tema. Lincoln perdeu a eleição, mas ficou famoso e transformou-se em uma figura de destaque. Em 1860, candidatou-se à presidência da República e venceu pelo então recém-fundado Partido Repuplicano dos Estados Unidos. Logo após a sua

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posse,em 1861, sete estados do sul se separaram da União, depois, mais quatro se juntaram a eles e formaram os Estados Confederados da América. Lincoln fez de tudo para a reconciliação, mas ratificou a soberania nacional e os convidou para a negociação. Não adiantou. No dia 12 de abril de 1861, os confederados atacaram o Forte Sumter, na Virgínia Ocidental, e começou a Guerra Civil Americana. Lincoln bloqueou os portos e aumentou o efetivo do exército. Começou perdendo várias batalhas, mas reequipou o exército e a marinha. O momento mais grave foi quando se deu na famosa batalha de Getteyburg em 1863, ganha pelo exército nortista. Meses depois, ao inaugurar o cemitério nacional naquela cidade, Lincoln pronunciou o seu memorável discurso sobre a significação democrática do “governo do povo, pelo povo e para o povo”, com repercussão mundial. Com o decreto presidencial de 1º de janeiro de 1863, Lincoln pôs em prática o que considerava serem os poderes do presidente em tempo de guerra, que ficou conhecido como a Proclamação da Emancipação: os escravos nos territórios do Sul, sob domínio confederado, eram libertos. O ato libertou 200 mil negros até o fim do conflito, e mostrou que a abolição da escravatura havia se tornado um dos objetivos da guerra, além da manutenção da unidade política. A medida foi seguida por uma Emenda Constitucional, a 13 ª, que proibiu toda a escravatura nos Estados Unidos da


O ASSASSINATO DE LINCOLN NO TEATRO FORD, EM WASHINGTON , NA NOITE DE 14 DE ABRIL DE 1865

América. Lincoln foi reeleito presidente em 1864 e ,um ano depois, em abril, o exército confederado se rendeu na cidade de Appomattox. Na noite de 14 de abril de 1865, o ator John Wilkes Booth, defensor da escravatura, não tolerou o que um ex-lenhador tinha feito na história político-social da humanidade. Booth protagonizou a cena que o eternizou na história americana. Sulista inconformado com a derrota na Guerra Civil, Booth assassinou o presidente Abraham Lincoln (1809-1865) durante uma apresentação da comédia Nosso Primo Americano, no Teatro Ford, em Washington. Ele saca uma pistola Derringer calibre .44 e dispara um único tiro contra a nuca do presidente. O crime fazia parte de uma conspiração que envolvia dez pessoas e tinha também outros alvos. O criminoso fugiu durante 12 dias, até ser morto na Virgínia. E Lincoln, que nasceu há 200 anos, tornou-se o primeiro chefe de estado americano assassinado. O crime aconteceu, logo após, vitorioso com a libertação da escravidão, Lincoln ter convidado sua conflituosa esposa a construírem juntos uma convivência melhor, apesar da política que os havia separado. O intolerante só não matou as ideias e convicções dele, retratadas parcialmente no filme “Lincoln”, de Spielberg, um dos premiados do Oscar, em cartaz em todos os cinemas inteligentes do planeta. Um político que todo político, em particular, tem o dever de conhecer.

Confira o famoso discurso pós-guerra e as principais ideias de Lincoln, selecionadas pela ECOLÓGICO:

DISCURSO DE GETTYSBURG “Há 87 anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma nova Nação, concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais. Encontramo-nos atualmente empenhados numa grande guerra civil, pondo à prova se essa Nação, ou qualquer outra Nação, assim concebida e consagrada, poderá perdurar. Os valentes homens, vivos e mortos, que aqui combateram já o consagraram, muito além do que nós jamais poderíamos acrescentar ou diminuir com os nossos fracos poderes. Antes, cumpre-nos a nós os presentes, dedicarmonos à importante tarefa que temos pela frente - que estes mortos veneráveis nos inspirem maior devoção à causa pela qual deram a última medida transbordante de devoção - que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que esta Nação com a graça de Deus venha gerar uma nova Liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da terra.”

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JEFF KUBINA

1 M E M Ó R I A I L U M I N A D A : ABRAHAM LINCOLN ECOLOGIA

● “Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais.” ● “Sou a favor dos direitos dos animais bem como dos direitos humanos. Essa é a proposta de um ser humano integral.”

ESTÁTUA DE LINCOLN DENTRO DO MEMORIAL

POLÍTICA

● “Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo.” ● “Quase todos os homens podem enfrentar a adversidade, mas se queres por o caráter de um homem à prova, dê a ele poder.” ● “Nenhum homem é bastante bom para governar a outro sem seu consentimento.”

DEUS

● “Senhor, minha preocupação não é se Deus está ao nosso lado; minha maior preocupação é estar ao lado de Deus, porque Deus é sempre certo.” ● “Eu entendo que um homem possa olhar para baixo, para a terra, e ser um ateu; mas não posso conceber que ele olhe para os céus e diga que não existe um Deus.” ● “Deus deve amar os homens medíocres. Fez vários deles.”

RELIGIÃO

● “Estou ultimamente ocupado em ler a Bíblia. Tirai o que puderdes deste livro pelo raciocínio e o resto pela fé, e, vivereis e morrereis um homem melhor.” ● “Quando pratico o bem, sinto-me bem; quando pratico o mal, sinto-me mal. Eis a minha religião.”

FELICIDADE

● “As pessoas são, em geral, tão felizes quanto decidem ser.”

MORAL

● “Pessoas sem vícios têm poucas virtudes.”

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● “Nenhum homem jamais se perdeu em uma estrada reta.”

DEMAGOGIA

● “A demagogia é a capacidade de vestir as ideias menores com palavras maiores.”

TRABALHO

● “O meu pai ensinou-me a trabalhar; não me ensinou a amar o trabalho.” ● “O trabalho mais importante é independente do capital. O capital é apenas o fruto do trabalho, e não existiria sem ele. O trabalho é superior ao capital e merece a consideração mais elevada.”

LIBERDADE

● “Os que negam liberdade aos outros não merecem liberdade.”

IMPERFEIÇÃO

● “À noite, quando começo a pensar nos meus defeitos, durmo imediatamente.”


O LINCOLN MEMORIAL É UM MONUMENTO NACIONAL AMERICANO CONSTRUÍDO PARA HOMENAGEAR O 16 º PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS , ABRAHAM LINCOLN

AMOR

● “O amor é a coisa mais alegre. O amor é a coisa mais triste. O amor é a coisa que eu mais quero.”

AMIZADE

● “Se a amizade é o seu ponto fraco, então você é a pessoa mais forte do mundo.” ● “Não estou destruindo os meus inimigos, quando os transformo em amigos?” ● “A perda de um inimigo não compensa a de um amigo.” ● “Não te esqueças que os estranhos são amigos que ainda não conheces.” ● “O amor é a coisa mais alegre. O amor é a coisa mais triste. O amor é a coisa que eu mais quero.”

CASAMENTO

● “Casamento não é o paraíso nem o inferno - é apenas o purgatório.”

CONSELHOS

● “Nunca conseguirás convencer um rato de que um gato traz boa sorte.” ● “Nunca devemos mudar de cavalo no meio do rio.”

CRÍTICA

● “Para você que está chegando agora, criticando o que está feito, deveria estar aqui na hora de fazer.”

● “Não sejas um especialista em usar a crítica ao que está feito como pretexto para nada fazer. Assina, aquele que fez, quando no momento de fazer, não sabia-se como.” ● “Antes de começar a criticar os defeitos dos outros, enumera ao menos dez dos teus.” ● “É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do quer falar e acabar com a dúvida.” ● “Só tem o direito de criticar aquele que pretende ajudar.”

VIVER

● “O êxito da vida não se mede pelo caminho que você conquistou, mas sim pelas dificuldades que superou no caminho.” ● “As coisas podem chegar até aqueles que esperam, mas são somente sobras deixadas por aqueles que lutam.” ● “O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer.” ● “E no final das contas não são os anos em sua vida que conta. É a vida nos seus anos.” FONTES: ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA, ENCICLOPÉDIA WIKIPÉDIA,NETSABER/ABRAHAM LINCOLN, WWW.PENSADOR.UOL.COM.BR/FRASES - ABRAHAM LINCOLN

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1 ENSAIO

FOTOGRÁFICO

LYCHNOPHORA SP

AS CORES QUE RESSUSCITAM

NO ESPINHAÇO J. Sabiá redacao@revistaecologico.com.br

N

EM[ILIA GOULART

atural de Belo Horizonte e formado em Medicina pela UFMG, 55 anos, Márcio Hamilton Protzner de Oliveira tem a fotografia da natureza como hobby. Autodidata e premiado em vários concursos de fotografia no país, é testemunha há muitos anos da beleza da Serra do Espinhaço, onde registra a diversidade de seus campos rupestres. Ecologista, é proprietário - com um grupo de amigos também ambientalistas - de duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) na região chamada Ermo das Gerais, vizinha do município de Santana do Riacho, logo após a Lapinha, na Serra do Cipó. “As flores da Serra do Espinhaço, em particular as do Cipó, fazem transbordar de alegria os meus olhos. Resistindo aos longos meses de seca, com altas temperaturas e, frequentemente, agredidas pelo fogo; quando

78 Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013

vêm as chuvas, elas como que ressuscitam em mil formas e em cores múltiplas” – diz ele, que, durante muitos anos foi um caminhante com os olhos atentos, porém “desarmados”, dessa maravilha. “Em determinado momento me armei, com o clique mágico da fotografia. Andando e fotografando nos campos rupestres e de altitude, nas grotas, nas matas de galeria, junto às cachoeiras, sempre me emociono diante de tanto esplendor” – completa, com uma amostra da diversidade da Serra da Lapa, pequeno trecho do maciço do Espinhaço, que a ECOLÓGICO registra aqui, como uma beleza sem fim. Confira!

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FOTOS JOSÉ ISRAEL ABRANTES FOTOS HAMILTON PROTZNER DE OLIVEIRA


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FOTOS HAMILTON PROTZNER DE OLIVEIRA


1

CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

AMOR E SOLIDÃO

O

ctavio Paz (1914-1998) nasceu no México. indivíduos e mesmo estando juntos seremos sempre Prêmio Nobel de Literatura em 1990, tratou uma exceção. Nos últimos momentos da vida poderede modo singular os temas do desamparo e mos dizer: venha comigo! Nem ela nem ninguém virá. do desejo incontidos de fugir desse destino por meio Podem estar certos, partiremos irremediavelmente sodo amor. Duas de suas obras tratam desses dois temas zinhos para entrarmos na eternidade do cosmos. constitutivos da condição humana: “O Labirinto da Solidão” e “Amor e Erotismo: A dupla chama”. Solidão Virtual Para o autor, não há escapatória. Nascemos e mor- A aparente saída contra a solidão hoje são as redes remos sozinhos e, nesse intermédio, buscamos deses- sociais. Elas são encontros programados para colorir peradamente encontrar no outro uma solução. Mas o nosso vazio. Daí seu sucesso, pois elas sabem como mesmo assim, no mais íntimo dos abraços e no mais ninguém encantar nosso sozinho ou fazer de conta que extremo dos gozos, nosso sozinho continua ele não existe. O mundo virtual nos ofereintato. Comunhão e solidão, socialidade ce iluminadas trilhas que, aparentemene pessoalidade se unem e se comprazem te, escondem armadilhas ou dissimulam ansiosamente. As pessoas se procuram, se abismos. As redes diluem nossas dúvidas, buscam porque o tormento da solidão é mas não choram nossas dores. E como está sufocante demais. Isso nos leva, frequendifícil ficar off-line atualmente! Entrem no temente, a fazer escolhas afetivas erradas. Faceboock e verão como a solidão é podeNa pressa para fugir da carência, fazemos rosa. Imediatamente a pessoa diz: “Agora poucas exigências, correndo o perigo de você é meu amigo”. E para milhares, vale a aumentar nossa cota de sofrimento. pena acreditar um pouco nesse faz de conA ideia básica do autor é que, ao nascerta encantador. Esquecemos que qualquer mos, saímos do grande Todo, onde éramos forma de amor só se consolida com o temOCTAVIO PAZ: "VOCÊ É tudo e nada, para entrarmos na pessoalidapo, mesmo sabendo que esse tempo também VOCÊ, E EU SOU EU." de e na mortalidade. O sexo constituiria um deforma, destrói e mata. modo especial de tentar superar essa ruptura contraConcluindo, esse autor afirma que é a vulnerabiliditória que é nascer. No gozo, os amantes sentem que, dade do amor que nos protege, pois o seus momentos por alguns segundos, o prazer instantâneo do eterno mais frágeis são os da entrega e os da promessa. Ouvios contagiou. Estão satisfeitos, pois experimentaram o mos felizes o celebrante dizer: antes de tudo sejam fiéis, gosto bom do feliz. Numa fração infinita do tempo, o vocês irão até o fim, pois só a morte pode separá-los. O gozo dos amantes vislumbra uma possibilidade de re- amor é essa contradição absurda: busca-se o eterno no conciliação corporal e espiritual com a totalidade cós- perecível, e o permanente, no efêmero. Apesar de tudo mica. É por isso que, para eles, a alma do corpo é algo isso, é preciso crer na continuação desse absurdo: Todo visível, tocável, apertável e beijável. Mas o sexo, por amor é para sempre, toda união é definitiva. Não há melhor que seja, continua sendo um modo frustrante retorno, não há escolha, pois liberdade e destino forde buscar a antiga união, já que, depois do gozo, você mam os contornos indecifráveis do nosso labirinto. E é você, e eu sou eu. Aquela unidade sentida desvanece- a comunhão e a solidão, o amor e a renúncia são os -se rápido demais. E não adianta espernear, pois somos marcos indeléveis da existência humana.

(*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.

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Q ECOLÓGICO/FEVEREIRO DE 2013


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