Revista ECOLÓGICO - Edição 59

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Somente o nosso contato com a natureza, com algo maior, é capaz de nos reensinar o amor ao planeta e a nós mesmos Hugo Werneck

Prepare a sua inscrição e indicação 15 de junho a 04 de outubro de 2013

Realização

Do pioneirismo de Azevedo Antunes...


IV Prêmio

Vem aí...

O Oscar da Ecologia 2013

...ao engajamento de Paul Mc Cartney!


Transformamos um sonho em realidade. -i UHFLFODPRV DoR VX¿FLHQWH SDUD FRQVWUXLU XP SUpGLR GH PLO DQGDUHV SRU DQR

Reciclar faz parte do dia a dia da Gerdau. Anualmente, transformamos mais de 15 milhões de toneladas de sucata em aço de qualidade. Uma atitude que está na essência do que produzimos e que contribui para a sustentabilidade do planeta.


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EXPEDIENTE

MARCELO PRATES

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Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck CONSELHO EDITORIAL Ângelo Machado, Antônio Claret de Oliveira, Célio Valle, Evandro Xavier, Fábio Feldman, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Maurício Martins, Mário Mantovani, Nestor Sant’Anna, Paulo Maciel Júnior, Pátricia Boson, Roberto Messias Franco, Ronaldo Gusmão, Sérgio Myssior, Vitor Feitosa e Willer Pos DIRETOR GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com EDITORA ASSISTENTE Maria Teresa Leal mariateresa@souecologico.com

GRUPO

REPORTAGEM Andréa Zenóbio Gunneng (Correspondente Internacional), Cristiane Mendonça, Fernanda Mann, Luciana Morais e Vinícius Carvalho

CAPA Foto: ShutterStock

MARKETING E ASSINATURA marketing@revistaecologico.com.br

EDITORIA DE ARTE André Firmino andre@souecologico.com Marcos Takamatsu marcos@souecologico.com Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com

IMPRESSÃO Log & Print

REVISÃO Gustavo Abreu DEPARTAMENTO COMERCIAL José Lopes joselopes@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com Silmara Belinelo silmara@souecologico.com

PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

Selo SFC REVISTA NEUTRA EM CARBONO www.prima.org.br


TRANSFORMAR NOSSA PAIXÃO NA PAIXÃO DOS OUTROS: ISSO É CONFIANÇA, ISSO É SER VALLOUREC.


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ÍNDICE

CÂNCER - APRENDA A LIDAR COM O INIMIGO ESPECIALISTA EM MEDICINA INTERNA E ONCOLOGIA CLÍNICA, ROBERTO PORTO FONSECA, DÁ DICAS SIMPLES DE COMO PREVENIR A DOENÇA QUE DEVE MATAR 17 MILHÕES DE PESSOAS POR ANO, EM 2030

16 Páginas Verdes JOSÉ CARLOS CARVALHO, EX-MINISTRO E SECRETÁRIO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE, FALA SOBRE OS BENEFÍCIOS DE UM NOVO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

104 Memória Iluminada NELSON MANDELA, O HOMEM QUE MUDOU A HISTÓRIA DA ÁFRICA DO SUL.

58 Saúde PRODUTOS ORGÂNICOS PRESERVAM A BIODIVERSIDADE E LEVAM SAÚDE À MESA DO CONSUMIDOR

64 A exuberância da Festa de Parintins SITUADA NO INTERIOR DO AMAZONAS, A ILHA DE PARINTINS REVIVEU, PELA CENTÉSIMA VEZ, A HISTÓRIA CULTURAL, ARTÍSTICA E ECOLÓGICA DE SEUS BOIS-BUMBÁS CAPRICHOSO E GARANTIDO

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E mais... 10 CARTA DOS LEITORES 12 CARTA DO EDITOR 14 PÁGINAS VERDES 16 SOU ECOLÓGICO 22 GENTE ECOLÓGICA 24 ECONECTADO 26 CÉU DE BRASÍLIA 28 ECONOTAS 30 ESTADO DE ALERTA 32 LICENCIAMENTO 34 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL 40 ECO CONSTRUÇÃO 44 GESTÃO E TI 74 MÍDIA 76 TECNOLOGIA LIMPA 84 OLHAR EXTERIOR 86 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 88 ARTIGO - LEONARDO BOFF 92 DEBATE 94 LITERATURA 96 VOCÊ SABIA? 98 NATUREZA MEDICINAL 100 OLHAR POÉTICO 102 ENSAIO FOTOGRÁFICO 110 CONVERSAMENTOS 114 IMAGEM DO MÊS


TRANSFORMAR NOSSA DIVERSIDADE NA DIVERSIDADE DOS OUTROS: ISSO É CONFIANÇA, ISSO É SER VALLOUREC.


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IMAGEM DO MÊS

AFP IMAGE FORUM

VERDE, MAS DE POLUIÇÃO... O chamado Mar Amarelo, na região costeira de Qingdao na China, ficou literalmente verde, graças à invasão de vinte mil toneladas de algas marinhas. O fenômeno conhecido como “maré verde” cobriu 17 quilômetros da costa. O fato, apesar de curioso, não intimidou os banhistas que se divertiram na gigantesca mancha. As algas, da espécie Enteromorpha prolifera, não são tóxicas para pessoas ou animais. No entanto, podem alterar o ecossistema das águas já que bloqueiam a entrada da luz solar e absorvem o oxigênio, o que acaba por asfixiar os organismos marinhos. Especialistas também admitem que a invasão se deva à poluição vinda de descargas maciças de fosfatos e nitratos provenientes da agricultura, de esgotos não tratados e outros resíduos.


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Fundada como Mannesmann, a V & M do BRASIL agora é Vallourec. Uma marca presente em 21 países, capaz de produzir, com paixão, diversidade e excelência, tubos de aço sem costura que ajudam o país na exploração e produção de petróleo, na infraestrutura de aeroportos, estádios, equipamentos e indústrias. Uma empresa com diversidade de culturas que permite resolver qualquer desafio, em qualquer condição, não importa o mercado, oferecendo soluções sob medida, de forma pioneira. É assim que conquistamos a confiança total dos nossos clientes. Vallourec. A solução para grandes desafios.


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CARTA DOS LEITORES

O NOVO PROJETO GRÁFICO “Desejo que as realizações de toda a brilhante equipe da ECOLÓGICO ultrapassem a nossa vã existência e se eternizem no intangível!” FERNANDO BENICIO, Belo Horizonte/MG

“Recebo toda lua cheia a Revista ECOLÓGICO. A última edição está muito bonita com novo layout, novo papel e mais sustentável. Parabéns aos editores e colaboradores, pois as matérias estão excelentes! Estou ansiosa pela veiculação do caderno Ecológico nas Escolas. Acho que será uma oportunidade ímpar para a divulgação de matérias relacionadas à temática ambiental e projetos interessantes desenvolvidos pelas escolas públicas. Além, é claro, de sugestões de atividades e dicas ecológicas para que possam ser multiplicadas nas comunidades.” INÊS TOURINO, Belo Horizonte/MG O ESTADO

O E AGORA, DRUMMOND? “Cheguei para trabalhar na Escola Municipal “João Olyntho Ferraz” em Congonhas-MG e perto da minha janela havia um exemplar da Revista ECOLÓGICO. Fiquei com os olhos marejados de tanta alegria ao ver meu amado Drummond na capa. E quero de coração parabenizá-los por isso! Drummond é o nosso poeta maior, crítico de tudo que acontecia e acontece em nossa realidade. E o mais interessante é que sua obra continua mais atual do que nunca. Queria ainda, compartilhar com vocês o meu apreço pela matéria e ressaltar que também fiz um trabalho relacionando algumas poesias dele à realidade da cidade de Congonhas, contemplando a serra de Congonhas, tão ameaçada pela mineração. Este trabalho acabou contribuindo para a confecção de um livro de retalhos com alunos, pais e familiares sobre o lugar vivido, a natureza e a mineração. Fica aqui pra vocês a minha admiração, respeito e carinho pela ECOLÓGICO, por fomentar nas pessoas um novo olhar sobre a natureza, o patrimônio e o desenvolvimento econômico. Abraços e até a próxima lua cheia!” JOSIANE CARLA DE MAGALHÃES, Congonhas/MG O EDIÇÃO 56 - OLHAR EXTERIOR – DE VOLTA A BH “Até que em fim (sic) existe alguma coisa pra gente falar bem em BH!” LAESTY GOMES, pelo Facebook 12 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

DE ALERTA – DESMATAMENTO AUTORIZADO “Lamentável a falta de compromisso e responsabilidade do nosso governo. Isso acarretará na diminuição da qualidade de vida das presentes e futuras gerações, o que poderia ser atenuado e minimizado com investimentos, apoios e parcerias à ONGs sérias que trabalham para o bem comum. Mas, infelizmente o trabalho sério e competente não é prioridade dos governantes.” WANDERSON NUNES DE ARANTES, Caxambu/MG O CAPAS DA ECOLÓGICO “Trabalho no Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) há três anos e curso 7° período de Bacharelado em Letras. Por observar a criatividade publicitária nas capas da Revista ECOLÓGICO, fui despertada por um grande interesse em pesquisar os dispositivos de imagens que são utilizados e qual o discurso promovido por elas ao longo do segundo semestre de 2012. Aproveito a oportunidade para parabenizá-los pelo excelente trabalho de edição!” FLÁVIA LEANDRO DA COTA, Belo Horizonte/MG O VELHO CHICO “Quero parabenizar a Revista ECOLÓGICO, edição de fevereiro de 2013, pelo texto Pobre São Francisco. A coluna foi ótima e retratou muito bem a situação do nosso São Francisco. Moro na Jaíba e trabalho numa empresa situada no projeto de irrigação. Sempre o atravesso de balsa indo para a cidade de Manga resolver assuntos no fórum e cartório. Lamento bastante a situação que o rio se encontra,


FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br

O NATUREZA MEDICINAL – SEMENTES QUE CURAM “Um texto muito bonito, com a descrição de uma viagem que deve ter sido superinteressante! Estou descobrindo agora a sucupira, pois comecei a sofrer de artrose... Tenho lido muito e até já mandei vir as sementes do Brasil, pois não conheço a árvore nem o país. Gostaria que publicassem uma matéria que distinguisse, com fotos, a sucupira branca da preta.” SUZETE BRITO, Setubal/ Portugal O PÁGINAS VERDES – CLÁUDIA PIRES “Sou novalimense e conheci a Cláudia em 2002 na Universidade FUMEC, onde fui aluna e tive a honra de trabalhar com ela. Mulher de garra e fibra, sua fala condiz com sua ação e isso me deixa muito feliz, por saber que hoje, a administração municipal

conta com um nome de peso dentro da área em que atua. Como nativa, cidadã, ex-colega de trabalho e funcionária da prefeitura, acredito em seu trabalho e em especial na sua honra. Nova Lima ansiava por ética no quesito habitação, como ainda anseia em outras áreas. Parabéns Cláudia!” NATALIA ROSA SILVA, Nova Lima/MG

EU ASSINO “Eu leio a Revista ECOLÓGICO porque tem ótimas reportagens e exemplos sobre os quais devemos refletir e seguir! Além de podermos compartilhar, com quem não conhece, o fato de que só a sustentabilidade, em todos os sentidos, é o caminho para nosso próprio bem estar. Aproveito para parabenizar toda equipe da revista! A minha família adorou a última edição!”

ARQUIVO PESSOAL

a mata ciliar sumiu, lixo e mais lixo é o que mais vemos descendo. Moradores antigos olhando para o céu e se perguntando o que aconteceu, alguns parecem não acreditar no que se transformou o Velho Chico. Chove, e o rio não enche mais! Quanta tristeza, quanta desolação nesse rio tão querido e importantíssimo para nós mineiros.” THÁUGELA MAYRA DE A. VIANA, Jaíba/MG

ANA CRISTINA MULATINHO - auxiliar de enfermagem. São Paulo/SP

GENIN

1 HUMOR

FONTE: Charge extraída do livro “Água Mole em Pedra Dura – o Humor nas Páginas do Ambiente Hoje”, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA).

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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

A TEIA DA ESPERANÇA

SOCIAL N

a entrevista concedida pelo físico e escritor austríaco Fritjof Capra, publicada em maio de 2012, na edição 44 da Revista ECOLÓGICO (ao lado), ele já havia vaticinado a revolução em curso das redes sociais, que tanto estão mobilizando e sacudindo o Brasil. Para o famoso autor de “”, que fez a cabeça da humanidade nos anos 60 e, mais recentemente, escreveu “Conexões Ocultas”, todas as forças de vida – das células mais primitivas aos seres humanos – se configuram seguindo um único princípio básico: o da organização em redes. Tal como a natureza é programada. Ao exemplificar as relações de interdependência na complexa teia da vida, ele propõe novas formas de interpretar o mundo radicalmente distintas do que se poderia pressupor diante do individualismo contemporâneo. Isso talvez explique a ausência, nas últimas passeatas, de faixas e cartazes falando explicitamente de meio ambiente e sustentabilidade. Não precisa. A questão ambiental está intrínseca em todos os reclamos de mais saúde, mais educação, mais mobilidade e transportes públicos feitos em rede, pelos manifestantes. A questão vital ou de mais qualidade de vida permeia tudo, mesmo que de maneira implícita. Do mesmo modo, quando Capra fala de “individualismo contemporâneo”, ele nos remete principalmente aos nossos políticos. Ou eles entram na rede de vida ou serão expulsos, naturalmente, da nova teia em formação planetária, tal como as redes sociais fizeram cair a ditadura de Kadafi, na Líbia. Os tempos são outros. A vida (leia-se a natureza que resta e nos protege) teve sua origem e está programada para dar certo.

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Quem não estiver do seu lado, negar que faz parte dela e sair da sua rede está próximo de ser expulso do paraíso chamado da Terra. Terá o mesmo destino dos governantes que não abraçarem a causa ecológica. Que nos confirme a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que, você vai ler nesta edição, está fazendo todo o país rediscutir, em rede física e virtual, o atual modelo de licenciamento ambiental. E o líder Nelson Mandela, mesmo em estado vegetativo, cuja mensagem de vida, de resistência e de política social, a ECOLÓGICO traz em sua memória iluminada. Ainda temos uma reportagem sobre a parceria amazônica da Coca-Cola Brasil com o Festival de Parintins, o maior espetáculo folclórico do planeta. E o esforço de toda a nossa equipe em melhorarmos, cada vez mais, o projeto gráfico e editorial da nossa ECOLÓGICO, para continuarmos defendendo a teia da vida, da qual dependemos todos nós, sem exceção. Boa leitura, até a próxima Lua Cheia! O



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PÁGINAS VERDES

“O LICENCIAMENTO TRIFÁSICO

TEM DE SER EXCEÇÃO” Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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s ecos do debate sobre a ‘falência’ do atual modelo de licenciamento ambiental brasileiro seguem repercutindo por todo o país. Enquanto ambientalistas e a sociedade civil criticam o fato de o licenciamento ter perdido, há tempos, o seu espaço como instrumento essencial à proteção do meio ambiente, entidades de classe e representantes do setor produtivo nacional se organizam e já enviaram a Brasília propostas de mudanças, por considerarem, entre outras questões, que o processo é moroso e resulta, na maioria das vezes, em exigências descabidas a serem cumpridas pelos empreendedores. Diante dos claros sinais de esgotamento do atual modelo trifásico – baseado na concessão das licenças prévias, de instalação e operação, muitos propõem a adoção de novas sistemáticas de licenciamento, capazes de dar à questão ambiental a relevância que ela merece, tornando-a uma aliada do lucro e do bem-estar coletivo, e não um entrave ao desenvolvimento sustentável. Uma das vozes mais experientes e lúcidas que se soma ao debate é a do ex-ministro e ex-secretário estadual de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho. Segundo ele, uma saída para superarmos o modelo vigente é a aplicação conjunta de outros instrumentos previstos, há mais de 30 anos, na Política Nacional do Meio Ambiente, em especial a Avaliação Ambiental Estratégica e o Zoneamento Ecológico-Econômico. Confira as principais ideias que a ECOLÓGICO garimpou de sua entrevista:

CARVALHO “O licenciamento é uma oportunidade para que as empresas incorporem, de fato e na prática, a variável ambiental aos seus negócios”


J O S É C A R LO S C A R VA L H O ex-ministro e ex-secretário estadual de Meio Ambiente

FALTAM CELERIDADE E EFICÁCIA “Quando um instrumento de política pública passa a ser alvo de críticas, praticamente generalizadas, como vem ocorrendo com o licenciamento ambiental, em todo o Brasil, é um claro sinal de que algo não vai bem e é preciso evoluir. No entanto, é essencial lembrar que ainda temos segmentos retrógrados no setor produtivo, que combatem o licenciamento não pelos defeitos e lacunas existentes, mas porque gostariam de ter, na prática, uma licença para poluir e degradar. Isso leva, a meu ver, a críticas exageradas e improcedentes. Também é preciso considerar que, do lado da sociedade civil, há entidades radicais e sectárias, que criticam o licenciamento na expectativa de que ele cumpra um papel que não lhe cabe: impedir a instalação de novos empreendimentos. Esses são dois polos minoritários, pois a grande maioria defende uma postura que, a meu ver, é a mais correta e ponderada: fazer com que o licenciamento cumpra, com celeridade e eficácia, seu papel central. Ou seja, tem de ser fortalecido e executado como uma importante ferramenta para a proteção do meio ambiente e, portanto, também é essencial ao desenvolvimento econômico e social em bases sustentáveis. O licenciamento é, ainda, uma oportunidade para que as empresas incorporem, de fato e na prática, a variável ambiental ao seu negócio, adotando medidas para tornar o empreendimento o mais sustentável e lucrativo possível. Afinal, no competitivo mercado global, esse é um diferencial indispensável.” INSTRUMENTO ISOLADO “Um dos caminhos para tirarmos o licenciamento da encruzilhada em que ele se encontra é por meio

USINA DE BELO MONTE Exemplo de empreendimento travado pelas dificuldades com o modelo atual de licenciamento ambiental

da aplicação conjunta de outros instrumentos já previstos na Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei Nº 6.938/1981. Infelizmente, o único instrumento que tem uma aplicação regular é o licenciamento ambiental, que há décadas vem sendo praticado de forma isolada, sem articulação com outras ferramentas legais, em especial com a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), o Zoneamento Ecológico-Econômico

1. GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO | 2. MARIZILDA CRUPPE/EVE/GREENPEACE

(ZEE) e os Planos de Bacias Hidrográficas previstos na Lei Nacional das Águas. É necessário que o licenciamento dialogue com as demais políticas públicas. Até agora têm prevalecido uma visão e uma prática equivocadas, como se a PNMA se restringisse ao licenciamento ambiental. O resultado disso, salvo raras exceções, é não termos ZEEs na escala necessária, capazes de incluir a dimensão territorial – com base,

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PÁGINAS VERDES

FIQUE POR DENTRO

ARQUIVO PESSOAL

VIDA NOVA

Depois de um período sabático – iniciado assim que deixou o governo de Minas, no fim de 2010 –, José Carlos Carvalho segue ativo no mercado de trabalho. Recentemente, criou a Seiva, empresa de consultoria em meio ambiente e desenvolvimento sustentável, pela qual mantém vários contratos de prestação de serviço em andamento. Integra ainda os conselhos de administração da Copasa e do Instituto Inhotim; além de atuar como professor convidado da Fundação Dom Cabral e consultor do Prêmio Sebrae Minas de Práticas Sustentáveis. “Estou feliz, com as energias renovadas e desfrutando também de momentos de grande alegria com a chegada do Caio, meu primeiro neto. Ele é um sopro de vida nova na família”, comemora.

EM FAMÍLIA O ex-ministro com Caio, seu primeiro neto

por exemplo, no conceito de Bacia Hidrográfica – para o licenciamento dos empreendimentos pleiteados. O ZEE reúne informações sobre a potencialidade socioeconômica e a vulnerabilidade natural de uma localidade. Pode e deve, portanto, ser aplicado como instrumento básico e referencial para o planejamento ambiental, contribuindo para a definição de áreas estratégicas ao desenvolvimento sustentável, subsidiando e direcionando as políticas públicas e as ações em meio ambiente. O mesmo acontece com a AAE. Por meio dela é possível identificar os impactos ambientais e as alternativas para minimizá-los durante a implantação de políticas e de projetos governamentais. A AAE subsidia a proposição de ações estratégicas, sistematiza resultados e reúne dados essenciais para a tomada de decisões ambientalmente seguras. Se esses e outros instrumentos forem aliados ao licenciamento, teremos um importante salto de qualidade, além de um incontável ganho 18 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013

de tempo na avaliação de processos e na liberação das licenças.” USINA DE CRISE “Temos de avançar com foco também na avaliação ambiental cumulativa e sinérgica dos impactos gerados por empreendimentos de diferentes naturezas, fortalecendo o conceito de planejamento territorial com base na divisão por Bacia Hidrográfica. Hoje, o licenciamento é pontual. Cada empreendimento solicita a sua licença, não há uma visão sistêmica. Se o objetivo é construir, por exemplo, cinco pequenas Centrais Hidrelétricas num mesmo curso d’água, abrem-se cinco processos distintos e concedem-se cinco diferentes licenças. Isso tem de acabar. A referência espacial tem de ser a Bacia na qual os empreendimentos serão instalados. Outra deformação do atual modelo é desconsiderar a variável ambiental nas fases anteriores ao licenciamento. Quando órgãos setoriais do governo decidem implan-

tar, por exemplo, uma hidrelétrica, uma mineração, ferrovia ou estrada, avaliam com lupa a viabilidade técnica e econômica do negócio, mas ignoram solenemente a variável ambiental, fazendo com que as demandas ambientais só apareçam no balcão do licenciamento.” Com isso, insatisfações da sociedade e impactos ambientais que poderiam ser efetivamente mensurados e prevenidos se acumulam em efeito cascata, criando uma bola de neve e transformando o licenciamento numa grande usina de crise. Belo Monte é um exemplo emblemático desta situação. Essa realidade também contribui para que muitos segmentos da sociedade ainda acreditem, de forma equivocada, que o licenciamento tem o poder de decidir pela não implantação de um empreendimento, o que só vai ocorrer em casos muito excepcionais. Isso é surreal e ilógico, uma vez que a decisão de construir ou implantar algo já foi tomada em outras instâncias e em momentos anteriores. Portanto, o licenciamen-


J O S É C A R LO S C A R VA L H O ex-ministro e ex-secretário estadual de Meio Ambiente

to não é o instrumento do ‘não fazer’. Em qualquer parte do mundo, seu papel é inventariar e mensurar os impactos ambientais. E com base em sua análise, estabelecer as medidas mitigadoras e compensatórias para evitá-los e atenuá-los.” DA REGRA À EXCEÇÃO “A inclusão do fator locacional na classificação dos empreendimentos pode representar, sem dúvida, outro importante avanço. Hoje, eles são classificados pelo porte e potencial poluidor. A ideia é lançar mão das novas tecnologias, e por meio de ZEEs, estabelecer previamente áreas e regiões restritas à instalação de determinados empreendimentos. Assim, no momento em que o empreendedor pleitear a licença, será informado, com rapidez e precisão, sobre a viabilidade de seu projeto ser aprovado num determinado espaço. Essa medida resultará em um significativo ganho de tempo na tramitação dos processos de licenciamento. Por isso, acredito que, se a questão ambiental for realmente considerada e analisada nas fases anteriores à tomada de decisão sobre a implantação de um empreendimento, não será mais necessário, a rigor, mantermos o atual modelo trifásico de licenciamento. Afinal, muitas das questões aferidas já terão sido dirimidas nas etapas anteriores.” ME ENGANA QUE EU GOSTO “Outra mudança urgente é a realização de consultas públicas ainda

na fase inicial dos projetos, assim que os órgãos setoriais decidirem por sua implantação. É nessa hora que a sociedade civil tem de ser ouvida e opinar sobre o empreendimento. No atual modelo, as audiências públicas se dão muito tarde, numa fase em que o projeto dificilmente será mudado ou adaptado às exigências e demandas das comunidades do entorno. Portanto, defendo a criação de um modelo de participação efetiva e direta das

comunidades afetadas, ao longo de todo o processo, legitimando da instalação à operação, com poder de atuar e acompanhar, inclusive, as atividades licenciadas, durante sua operação. Hoje, as audiências são absolutamente ineficazes. Funcionam na base do ‘me engana que eu gosto’. Essas reuniões têm, geralmente, quatro horas de duração, podendo se prolongar indefinidamente, sem nenhuma utilidade prática. A primeira hora e meia é destinada à apresentação do projeto pelo em-

preendedor. O tempo restante tem de ser dividido para que os participantes possam se manifestar. Em alguns casos, a lista de inscritos chega a ter 80, 100 nomes, sendo assegurados de dois a três minutos para cada fala. Esse tempo não é suficiente para ninguém exprimir, com um mínimo de ordem e fundamento, sua visão e críticas em relação ao projeto. Temos de avançar e oferecer à sociedade oportunidades de participação efetiva. O ideal seria que a comunidade afetada por determinado empreendimento indicasse representantes para acompanhar todo o processo de licenciamento, inclusive o pós-licenças, para checar se essas medidas estão sendo cumpridas. A compensação ambiental nem sempre se dá como previsto no licenciamento. Isso ainda ocorre porque as medidas mitigadoras e compensatórias não são incluídas no projeto executivo, ficam num apêndice, apartadas do processo. Não raro, quando o órgão público fiscaliza e exige o cumprimento das condicionantes, o empreendedor alega não ter orçamento para executá-las. Esse é um exemplo cabal da deformação do modelo vigente, pois as chamadas condicionantes não poderiam existir, na medida em que o projeto executivo, como é composto do projeto arquitetônico, hidráulico, elétrico, etc., teria de incluir também o projeto ambiental, contemplando todas as medidas mitigadoras e compensatórias.” EXPERIÊNCIA ESTRANGEIRA “Em outros países, onde a eco-

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J O S É C A R LO S C A R VA L H O ex-ministro e ex-secretário estadual de Meio Ambiente

PÁGINAS VERDES

“ Está claro que

a avaliação e a concessão de licenças para a instalação de empreendimentos, de forma isolada, contribuem para o desmatamento

AGENCIA PUBLICA / MARCELO MIN

ANÁLISE Correlação entre desmatamento e licenciamento é bastante procedente

nomia também é baseada na exploração de recursos naturais e na indústria de transformação, o licenciamento ambiental trifásico já foi superado há tempos. Avaliação de impactos ambientais é realizada no nascedouro dos projetos. Há vários modelos bem-sucedidos em países da Comunidade Europeia, no Canadá, na África do Sul e na Austrália. O Brasil é uma das únicas grandes economias mundiais a manter o licenciamento trifásico, e que ainda não incorporou a variável ambiental no momento de decidir pela execução de um conjunto de projetos de grande impacto ambiental.” DESMATAMENTO X LICENCIAMENTO “A correlação entre desmatamento e licenciamento é absolutamente procedente, mas, no caso de Minas Gerais, tem de ser avaliada com cautela. Alguns esclarecimentos são essenciais. Primeiro aspecto: conforme dados 20 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013

da Fundação SOS Mata Atlântica, Minas se mantém como o Estado campeão em desmatamento desse bioma pelo quarto ano consecutivo. No período 2011-2012, o Estado respondeu por metade do desmatamento de todo o bioma, totalizando 10.752 hectares perdidos. Os números atuais trazem um dado preocupante, pois demonstram que as taxas de desmate dispararam – foi registrado um aumento de 70%, se comparado ao período anterior. Contrariamente, nos anos anteriores, essas taxas estavam em declínio. Segundo aspecto: é essencial esclarecer que Minas tende a seguir na liderança desse ranking, porque ainda tem áreas remanescentes de Mata Atlântica superiores aos demais estados, com 500 mil hectares a mais que São Paulo, por exemplo, que vem em segundo lugar. No entanto, é óbvio que não podemos ‘tapar o sol com a peneira’ ou nos acomodar. Um dos

fatores apontados como causa do crescente desmatamento no Estado, segundo a SOS Mata Atlântica, é exatamente o fracionamento do licenciamento ambiental. Está claro que a avaliação e a concessão de licenças para a instalação de empreendimentos de forma isolada contribuem sobremaneira para o desmatamento. Portanto, repito, temos de aplicar ‘azeitadamente’ os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, hoje, relegados ao segundo plano, como ferramentas imprescindíveis à defesa da Mata Atlântica e de outros biomas nacionais. Afinal, estudos prévios e adequados de zoneamento e avaliação de impactos podem indicar como fator de restrição a instalação de projetos nesses berçários de biodiversidade. A única exceção são os casos em que ficarem comprovados a utilidade pública e o interesse social dos empreendimentos pleiteados.” O


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SOU ECOLÓGICO

SANTANDER BI-SUSTENTÁVEL

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DINIS PINHEIRO Saindo na frente

ECOLOGIA POLÍTICA “O voto simples já era. O voto secreto já era. Pela Constituição Mineira, tudo agora será pelo voto nominal e aberto, inclusive para a eleição da Mesa” – foi como o deputado Dinis Pinheiro, presidente da ALMG, comemorou o fim do voto secreto, com votação unânime, colocando Minas historicamente à frente dos demais estados brasileiros. Ainda acrescentou, em resposta à pressão popular: “Nosso compromisso não é com o erro, mas com o futuro, com a juventude e a sociedade”.

VALE HÍDRICA Conforme seu último Relatório de Sustentabilidade, a Vale avançou no uso eficiente da água em suas operações. Ano passado, o índice médio de recirculação hídrica foi de 77%, um aumento de sete pontos percentuais em relação a 2011. Com isso, a mineradora deixou de captar 1,227 bilhão de m3 de água de fontes naturais, equivalente a duas vezes o consumo anual da Cidade do Rio de Janeiro, resultado de sua aposta em novas tecnologias. Somente em 2012, foram investidos US$ 125,9 milhões na gestão ambiental e sustentável de seus recursos hídricos. 22 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

O Financial Times e o IFC (International Finance Corporation) elegeram o Grupo Santander, o banco mais sustentável do mundo em 2012; e o Santander Brasil, o banco mais sustentável das Américas. Com relação à instituição brasileira, em particular, a premiação é fruto dos seus avanços em três eixos fundamentais: inclusão social e financeira; educação; e negócios socioambientais. “Estamos no caminho certo” – comemorou Marcus Madureira, diretor-executivo de Comunicação Corporativa, Relações Institucionais e Sustentabilidade. O nome do seu cargo é coerente.

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR Uma promoção, diz o ditado, vale mais que mil palavras. Várias promoções repetidas e melhoradas ao longo do tempo, com foco, competência e profissionalismo, valem o sucesso repetido do Conexão Empresarial, já na sua quarta edição, que os jornalistas pai e filho Paulo César (PCO) e Gustavo de Oliveira (GCO), diretores e editores da Revista Viver, da VB Comunicação, conseguem fazer, envolvendo o mundo econômico, político e social mineiro e brasileiro à sua volta. O último evento, ocorrido mês passado, com toda a pompa e circunstância na beleza do Tauá Grande Hotel de Araxá, comprovou esta inegável competência. Densidade política (um ministro, três governadores e vários prefeitos discutido os rumos do Governo Dilma). Densidade econômica (vários economistas de renome debatendo corajosamente o fantasma da inflação). Densidade social (empresários, jornalistas e personalidades se reunuindo, fazendo negócios, contando casos, estreitando as parcerias e fortalecendo as amizades). Tudo isso, regado à boa música, atrações artísticas, massagens anti-estresse e banhos medicinais com a mesma lama preta que embelezou e preservou Dona Beja. Com um detalhe fundamental, pra não dizer etiqueta estratégica e necessária, a velha educação que os nossos pais e avós nos ensinaram de tempos idos e mais dourados: a arte de receber bem. Tudo em grande estilo! Este é o segredo revelado, simples e capaz de realizar milagres: prestigiar as pessoas, tratá-las bem. No caso, este ano, mais de 500 convidados, levados e trazidos de avião, durante quatro dias, no maior forum de debates do Estado. Um trabalho que envolveu 70 colaboradores, trabalhando quatro meses antes, uma vez que até os guardanapos, flores e velas que deram classe ao evento são levados de BH. Dar atenção para colher atenção, com qualidade, desde a ida até a volta, somado a um “Fiquem com Deus”! Fé, mineiridade e ecologia social é isso aí. Parabéns!


Acesse o blog do Hiram:

hiramfirmino.blogspot.com

ESTOU COM AS CAPIVARAS O prefeito Marcio Lacerda, o vice Délio Malheiros (que nem é citado pela imprensa e, mas deveria, como novo secretário de Meio Ambiente de BH), e o superintendente do Ibama, Evandro Xavier, estou do lado das capivaras e de todos os outros animais, pássaros e borboletas que voltaram à paisagem da Lagoa da Pampulha poluída. Se turistas brasileiros e de todo o mundo pagam caro para ver as capivaras, em estado de liberdade no nosso Pantanal cada dia mais urbanizado, os belo-horizontinos deveriam agradecer à natureza por tê-las aqui, sem custo algum para alimentá-las e protegê-las. Se a questão pontual é salvar os jardins de Burle Marx, que sempre foram abandonados, e a opinião pública pouco se lixava, que o poder público os cerquem e ponto final. Agora, como está sendo proposto, separar 75% das 140 capivaras que hoje enfeitam o redor da lagoa e levá-las não se sabe pra onde, possivelmente abatê-las, é como assistirmos uma versão animal dos campos de concentração nazistas, onde se separaram pais e filhos, nesta mesma matemática. Essa é a pergunta ecológica: os técnicos sabem

MINISTRA IRÁ PRESIDIR O “OSCAR DA ECOLOGIA´2013” A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, já tem data e local marcado para voltar a BH: será na lua nova, dia nove de dezembro, no exCine Teatro Brasil, em restauração pela Vallourec, logo após a sua inauguração com a exposição internacional “Guerra & Paz”, de Portinari. O novo espaço artístico-cultural em art-decor da capital mineira será o novo palco, para mil convidados, da solenidade de entrega do “IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”. As inscrições de projetos, exemplos e indicações de cases, empresas e personalidades do mundo ambientalista e sustentável brasileiro, já começaram e vão até o dia quatro de novembro, pelo site www.premiohugowerneck.com.br Durante visita no seu gabinete, em Brasília, Isabella garantiu à ECOLÓGICO que continua pensando em escrever suas memórias, intituladas “Os 50 Tons de Verde”, como brincou no evento do ano passado.

FOTOS: 1. OSMAR FREIRE | 2. ADRIANO FERNANDES | 3. WILSON DIAS/ABR | 4. REPRODUÇÃO

2.

LIBERDADE E DEMOCRACIA também para as capivaras da Pampulha

quem é quem no meio das capivaras? Gostariam que fizessem o mesmo com suas famílias? S.O.S. Lacerda, Malheiros e Xavier! Façam cair sobre todos nós a compreensão maior e aliada da natureza.

“O Prêmio Hugo Werneck é um compromisso não só pela vida e pelo planeta, mas um compromisso com os mineiros. E isso faz muita diferença no Brasil.” Izabella Teixeira

4.

Memória histórica O ex-Cine Brasil, na Praça Sete, em restauração pela Vallourec, que irá cedê-lo para a festa do “Oscar” deste ano. 3.

JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 23


1

GENTE ECOLÓGICA

"Decidi não esperar as oportunidades e sim, buscá-las. Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz." WALT DISNEY

"Acredito muito na sorte. E quanto mais trabalho, mais sorte tenho." CUCA, Treinador do Clube Atlético Mineiro 1.

"O que a memória aprende, a gente pode até esquecer. O que a memória ama, fica eterno." ADÉLIA PRADO, escritora

4.

2.

"Mulheres comportadas raramente fazem história."

"Na essência de tudo está a eterna busca por ser amado. O que a gente veste é para ser gostado!" RONALDO FRAGA, estilista

MARILYN MONROE, atriz 3.

24 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

1. JB ECOLÓGICO | 2. REPRODUÇÃO | 3. NÉLIO RODRIGUES VICTOR SCHWANER / DIVULGAÇÃO | 4. ALEXANDRE GUZANSHE / EM | 5. SÉRGIO SAVARESE | 6. ANTÔNIO CRUZ / ABR | 7-10. JB ECOLÓGICO | 8. ABR | 9. SANAKAN


CRESCENDO

"Se vocês tiverem alguma notícia ruim, mantenham o bom humor e tentem fazer de tudo para sair. Tudo! Eu acredito que assim se vive muito melhor!"

MALU NUNES É ELEITA LÍDER SUSTENTÁVEL 2013

OSCAR SCHMIDT, ex-jogador de basquete 5.

"Estou com 76 anos e vivo a melhor fase da minha vida. Tenho toda essa experiência e uma cabeça e corpo de 40 anos."

Malu Nunes, gerente de Sustentabilidade do Grupo Boticário e diretora da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, foi eleita a Líder 9. Sustentável, na categoria Executivo, pelo Prêmio ABF-Afras Destaque Sustentabilidade 2013.

ABÍLIO DINIZ, empresário MARINA SILVA

10.

A ex-senadora foi a única presidenciável a se dar bem, mesmo indiretamente, com os protestos de rua no país. Graças à mobilização popular, o governo teve de adiar a votação do projeto que inviabiliza a criação de novos partidos, como o Rede Sustentabilidade pretendido pela também exministra de Meio Ambiente.

6.

"Pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas." AUDREY HEPBURN, atriz

ALEXANDRE SION

Sócio fundador do escritório Sion Advogados, foi eleito como um dos “Advogados Notáveis e líder no segmento” na área de direito minerário, segundo a publicação “Chambers Latin America – Latin America's Leading Lawyers for Business. A Chambers é a maior e mais respeitada publicação internacional focada na identificação dos principais advogados globais. A equipe do Sion Advogados também acumula o título de um dos escritórios mais respeitados do Brasil na área ambiental, segundo o “Anuário 2012 – Análise Advocacia 500”.

"Sinto identificação espontânea com os manifestantes." CAETANO VELOSO, cantor

7.

"O Brasil precisava há muito tempo de uma manifestação como essa. A Constituição diz que 'o poder emana do povo' e não o contrário. Estou feliz!" JOAQUIM BARBOSA, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) 8.

JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 25


1

ECONECTADO CRISTIANE MENDONÇA

ECO PROMOÇÃO

TWITTANDO O “Última atualização da ‘lista suja’ do trabalho escravo tem oito políticos, todos ruralistas” @reporterb – Repórter Brasil O “Acabamos de receber a nova edição dos parceiros da @sou_ecologico de BH. Demos só folheada: relevante e linda como sempre! #jornalistas” @pluraleemsite - Revista Plurale O “75% dos paulistanos consomem carne além do recomendado” @drauziovarella – Dráuzio Varella, médico O “ ‘Tira a gravata e vem pra passeata’, diz a multidão para as pessoas nos prédios comerciais da av. Paulista” @afrabalazina – Afra Balazina, jornalista ambiental O “Além de gigante pela própria natureza, somos gigantes pela natureza da gente. #Brasil” @silva_marina – Marina Silva, ex-senadora O “Precisamos acabar com o voto secreto, em todos os Poderes, em todos os níveis. TRANSPARÊNCIA JÁ !” @smyssior – Sergio Myssior, arquiteto O “A violência maior é cometida diariamente contra o povo nas mais diversas formas. Agir com inteligência é o que vai nos fazer ganhar a guerra” @danisuzuki - Daniele Suzuki , atriz O “Há uma dimensão ambiental no #protestoBrasil, #VemPraRua?” @abranches Sergio Abranches, cientista político

1.

2.

Imagine, você e um acompanhante, num final de semana, de frente para a serra em Tiradentes (MG)? Basta participar da promoção da Revista ECOLÓGICO! Assine ou renove sua assinatura por um ano e concorra a uma diária para duas pessoas na Pousada Oratório. Mais informações: (31) 3481-7755.

ECO MÍDIAS CURSOS GRATUITOS E ON-LINE O Ministério do Meio Ambiente (MMA) oferecerá dez cursos a distância. O objetivo é capacitar 10 mil pessoas até o final do ano em cursos como formação de agentes e educadores ambientais na agricultura familiar, educação ambiental e comunicação social, gestão de resíduos sólidos, crianças e consumo, além de outros temas ligados à sustentabilidade. Mais informações: www.ava.mma.gov.br

GAME ECOLÓGICO Jogo on-line desafia o usuário a projetar um sistema de energia sustentável para uma cidade. Gratuito, o game de simulação Power Matrix tem como objetivo promover o entendimento dos mecanismos e regras do mercado energético, além de dar ao usuário conhecimento sobre a interação entre os diferentes tipos de geração de energia. No jogo, o usuário assume o papel de um gerente de energia 3. numa área rural, cuja tarefa é contribuir para o crescimento de uma cidade ao criar um mix energético inteligente e estável. As possíveis fontes de energia incluem tanto as tecnologias convencionais quanto as renováveis, como eólica e solar. Quanto melhor for o mix energético criado, combinando diferentes fontes de energia, mais rapidamentecrescerá a cidade. Criado pela Siemens, empresa de tecnologia, o game pode ser acessado em www.powermatrixgame.com

REPÓRTER ECOLÓGICO Minúcias Arthur Miguel, morador de Sabará/MG, é um bom observador dos pequenos detalhes. Entre eles, o que a natureza faz todo dia, silenciosa e muitas vezes despercebida. Na foto ao lado, ele registra num tronco abandonado o nascimento de um cogumelo. 4.

26 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

1. MAURICIO MERCER | 2. REPRODUÇÃO | 3. DIVULGAÇÃO | 4. ARTHUR MIGUEL



CÉU DE BRASÍLIA VINÍCIUS CARVALHO

2.

PAUTA INDÍGENA I

1.

NOVO CÓDIGO DA MINERAÇÃO I O governo federal enviou ao Congresso um projeto de lei que muda o marco regulatório para o setor mineral no Brasil. Uma das principais alterações é o aumento da alíquota da Contribuição Financeira sobre Exploração Mineral (Cfem), paga pelas empresas a título de royalties pela exploração dos recursos. Pelo novo texto, a alíquota máxima passará dos atuais 2% para 4%, incidindo sobre a renda bruta das empresas e não mais sobre o faturamento líquido. Os percentuais exatos das alíquotas de cada bem mineral serão definidos por decreto.

O número de índios assassinados no país passou de 51 para 60 entre 2011 e 2012, destaca relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Mais da metade desses casos - 37 - foi registrada em Mato Grosso do Sul, o principal foco de conflitos fundiários envolvendo produtores rurais e grupos indígenas. Ao todo, 563 índios morreram no Brasil entre 2003 e 2010. As principais vítimas são das etnias Guarani Kaiowá, Terena e Guarani Ñandeva.

PAUTA INDÍGENA II NOVO CÓDIGO DA MINERAÇÃO II O novo marco legal também prevê a criação da Agência Nacional da Mineração (ANM), que regulará o mercado, e do Conselho Nacional de Política Mineral, que determinará os blocos de minas e jazidas a serem concedidos, por licitação, ao setor privado. Segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o novo modelo deve estar implementado até o segundo semestre de 2014.

PORTARIA POLÊMICA O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) aprovou, este mês, a polêmica resolução 457. A medida permite que pessoas físicas em todo o país possam ter a guarda provisória de até dez animais silvestres, desde que os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama não tenham condições de cuidar do animal apreendido. Enquanto algumas entidades ambientalistas falam em oficialização do tráfico de animais silvestres, o conselho alega que a medida permite, ao menos, a responsabilização dos portadores na falta de centros especializados. Das 90 entidades presentes na votação, apenas uma foi contrária. 28 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

O cacique Raoni defendeu em Brasília manifesto assinado por 400 caciques e lideranças Mebengóhke/ Kayapó. Entre as reivindicações, a imediata suspensão da PEC 215 - que transfere para o Congresso a prerrogativa de aprovação e demarcação de Terras Indígenas -, da PEC 237 que autoriza o arrendamento de pasto em terras indígenas para o agronegócio -, da Portaria 303 - que limita o direito à consulta prévia aos povos tradicionais como assegurado pela Convenção 169 da OIT -, e do PL 1610 que autoriza a mineração em terras indígenas.


CONSERVAÇÃO PARADA

LICITAÇÕES VERDES

Há 14 processos de criação ou ampliação de unidades de conservação federais parados no Ministério do Meio Ambiente. Juntas, essas unidades acrescentariam mais 1,2 milhão de hectares às áreas protegidas do país. As informações são do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e foram obtidas pelo ISA por meio da Lei de Acesso à Informação.

A Câmara analisa o Projeto de Lei 5008/13, que determina o cumprimento de requisitos de sustentabilidade ambiental em licitações públicas. A proposta, que altera a Lei de Licitações, cobra a comprovação de atendimento de requisitos de sustentabilidade sempre que a obra, serviço ou produto licitado envolver potencial dano ambiental. O projeto determina também que bens e serviços com certificação ambiental tenham preferência em caso de desempate.

3.

PLANOS DE MANEJO Apenas 43 dos 68 parques nacionais brasileiros, que ocupam mais de 25 milhões de hectares, têm planos de manejo elaborados e em execução. Esses documentos reúnem informações imprescindíveis para a gestão das Unidades de Conservação, como o zoneamento da área, as espécies ameaçadas e as atividades permitidas nos parques.

ÓLEO MAIS LIMPO Desde 1º de julho, a comercialização do óleo diesel S-500, com menor teor de enxofre, tornou-se obrigatória em mais 385 municípios brasileiros. Atualmente, são três os tipos de óleo diesel comercializados no país, diferenciados pelos teores máximos de enxofre: S-10 (10 partículas por milhão – ppm), S-500 (500 ppm) e S-1800 (1800 ppm). A determinação é da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

4.

NOVA DIRETORIA Em sessão realizada em Brasília, os integrantes da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema) elegeram sua nova diretoria. A chapa única liderada por Hélio Gurgel foi eleita, por aclamação, para mais dois anos de mandato. A eleição ocorreu ao final do Encontro Nacional de Licenciamento e Governança Ambiental. 1. THIAGO FERNANDES | 2. MARCELLO CASAL JR / AGÊNCIA BRASIL | 3. EDUARDO ROCHA | 4. DIVULGAÇÃO

MEDIÇÃO DA ÁGUA A Câmara analisa proposta que obriga os condomínios a instalar instrumentos de medição individual de consumo de água. A medida está prevista no Projeto de Lei 5020/13, do Senado, e vale apenas para os condomínios construídos após a publicação da lei. JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 29


1

ECONOTAS

t A MAIS ECOLÓGICA

1.

t CAMINHADA Duzentas e vinte pessoas participaram da 1ª Caminhada Ecológica no recém-criado Parque Municipal da Serra do Curral, em Belo Horizonte, no início de junho. Promovido pela ONG Zeladoria do Planeta, dentro do conceito de “conhecer para preservar”, o evento teve o objetivo de sensibilizar as pessoas sobre a importância da prevenção de incêndios florestais. O grupo, composto por moradores da capital, além de turistas e representantes de empresas, realizou travessias completas e parciais no topo da Serra, que tem, no total, 2300 metros de extensão. Acesse o site: www.zeladoriadoplaneta.com.br

t CICLISMO NO PARQUE Os adeptos do ciclismo em BH têm mais uma opção de lazer. A Kibon, empresa de produtos alimentícios, disponibilizou 60 bicicletas e 40 capacetes personalizados para frequentadores do Parque Ecológico da Pampulha. Com 30 hectares de áreas verdes, o local oferece à população uma programação permanente de educação ambiental e cultural. “Pedalar em um parque como o da Pampulha é, sem dúvida, uma forma muito divertida de compartilhar felicidade. Es2. tamos muito felizes com essa parceria”, afirma Isabel Masagão, gerente de marketing da Kibon. A empresa será responsável pela manutenção das bicicletas nos próximos 14 meses. Acesse o site: www.kibon.com.br

A gráfica rápida Ekofootprint, localizada em Belo Horizonte, foi classificada entre as dez empresas mais ecológicas do Brasil, segundo o Ranking Benchmarking 2013. A iniciativa, que está em sua 11ª edição, possui um dos selos de sustentabilidade mais respeitados do país. O reconhecimento do trabalho da Ekofootprint veio graças à uma atuação diferenciada no mercado de gráficas. As impressoras da empresa não utilizam cartuchos, e a tinta é feita com 30% de base vegetal, o que faz com que ela gere 90% menos resíduos. O papel é produzido, a partir de bagaço de cana de açúcar ou reciclado, e a frota, incluindo motocicletas, é abastecida a álcool. A Ekofootprint também faz entregas de bicicleta, sempre que considera viável. Com a classificação no Ranking Benchmarking, o case da Ekofoot passa a integrar o maior banco digital de práticas sustentáveis do país.

3.

CLÁUDIO FONSECA diretor de marketing

SAIBA MAIS www.ekofootprint.com

30 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

1-2. DIVULGAÇÃO | 3. ARQUIVO PESSOAL


Assinatura dos Decretos de Monumentos Naturais. Nova Lima cada vez mais verde. Neste ano, Nova Lima tem um motivo muito especial para comemorar: a Prefeitura assinou os decretos que instituem quatro importantes Unidades de Consser erva vação ão Am Ambi bien enta tal: l: a Ser erra ra do Souza (em frente ao Po Post sto o da Pol olíc ícia ia Rod odo oviá iária i – MG-030), a Serra da Ca C lç lçad ada a (n ( a BR BR-0 040 4 ), o Mo M rr rro o do Pires e o Morro do o El Elef efan ante te. Po P rq rque ue gar a an nti t r a pr p ot oteç eçção e a pre rese serv se rvaç açã ão do pa patr atrrim imôn ônio io nat atur ural é promover o de ese senv nvol olvi vime m nto ec econ on nôm ômic ico ic o e sustten entá táve v l pa p ra a nos o sa cidad id dad ade. e.

APOIO:

Morro do Elefante

Morro do Pires

Serra da Calçada

Serra do Souza


MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

GENIN

1

ESTADO DE ALERTA

REGREDIR MENOS, EM VEZ DE AVANÇAR

C

ontinua tramitando na Assembleia Legislativa do Estado, o Projeto de Lei número 3915/13 que modificará a Lei 14.309/02, conhecida como Lei Florestal Mineira. Pela primeira vez, entidades ambientalistas conseguiram se reunir com deputados membros das comissões de meio ambiente e agropecuária para discutir o assunto. A discussão resultou do susto que o governo levou com emendas aprovadas na agropecuária, como permitir barramento em veredas, proibir fiscalização do transporte de carvão de florestas plantadas, (expediente utilizado por indústrias de ferro-gusa para “encobrir” o de origem nativa), autorizar extinção da reserva legal em loteamentos, abrir cascalheiras sem autorização ambiental e extinguir proteção legal para as áreas consideradas prioritárias para proteção da biodiversidade. A maior parte delas foi retirada, além de outras modificadas, em reunião às pressas realizada entre o governo e a ALMG, fato positivo para o meio ambiente. Mas “regredir menos”, até o momento, tem sido a esperança do que resta de natureza nas Minas Gerais. Deputados e mesmo membros do governo escudam-se no princípio de não alterar o Código Florestal aprovado pelo Congresso Nacional em 2012, repetindo artigos que não têm consistência ambiental nem econômica. Os segmentos da sociedade envolvidos na discussão invocam o prin-

32 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

cípio da competência concorrente, que permite aos Estados legislarem de forma mais restritiva à União. E, com base nele, propõem suprimir ou alterar artigos que permitem pastoreio em veredas e encostas (inclusive naquelas com inclinação acima de 45 graus). Extinção de Áreas de Preservação Permanente (APPs) em barramentos autorizados para produção de energia, exploração madeireiras para fins comerciais das reservas legais e de remanescentes florestais do Estado. Uso alternativo do solo (desmatamento puro e simples) para atividades não consideradas de utilidade pública ou interesse social. Declarar barramentos para irrigação comercial como de interesse público e abertura de vias em condomínios como utilidade pública. Em 2009, quando aprovou a Lei 18.365, o legislativo mineiro não teve dúvida em criar o conceito de uso consolidado em áreas de preservação permanente, adotado pela Lei Nacional aprovada em novembro de 2012, contrariando abertamente (porque flexibilizou ao invés de restringir) o Código Florestal então vigente (Lei 4.771/65). Tudo para proteger interesses econômicos, independentemente de sua legitimidade. Resta ver se agora utilizará a competência concorrente para proteger o meio ambiente. O

(*) Superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda)


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DANIEL BELTRÁ / GREENPEACE

1 LICENCIAMENTO AMBIENTAL

ALVO DE PROTESTOS Belo Monte é exemplo das dificuldades do licenciamento no Brasil. Regras devem mudar

MAIS JUSTO MENOS BUROCRÁTICO Processo de licenciamento ambiental vai passar por mudanças profundas Vinícius Carvalho redacao@revistaecologico.com.br

O

processo de licenciamento ambiental vai passar por mudanças profundas para tornar mais rápida e eficiente a liberação de grandes obras de infraestrutura no país. Este mês, representantes do governo federal e da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (ABEMA) estiveram em Brasília para debater o assunto. Desse encontro, foi extraída a contribuição a ser entregue pela Abema ao Congresso, ao Judiciário e demais órgãos competentes. A Ecológico teve acesso às propostas e mostra quais podem ser as principais mudanças.

34 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

O COMO É HOJE De todos os instrumentos previstos na Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), instituída pela Lei 6.938/81, o licenciamento é praticamente o único aplicado hoje de maneira regular e permanente - e, ainda assim, de modo precário. Significa dizer que outras iniciativas que deveriam ser adotadas antes e nos momentos iniciais do processo de definição dos empreendimentos - como a Avaliação Ambiental Estratégica e o Zoneamento Ambiental - simplesmente não foram implementadas, concentrando no licenciamento todas

as expectativas da sociedade sobre a atividade a ser implantada. Como pode ficar? Entre as propostas em discussão, está a de que as Agências Reguladoras, os ministérios e as secretarias de Estado assumam parte da responsabilidade ambiental, incorporando regras e condicionantes básicas já no momento de elaboração de seus projetos, editais e termos de referência. Ou seja, boa parte das medidas adotadas hoje durante o licenciamento já teria sido pensada, discutida e inserida no momento do planejamento de cada setor.


Isso anteciparia a avaliação dos impactos e o debate com a sociedade sobre a realização ou não de determinado empreendimento. O REGRAS CLARAS Hoje, sem regras claras, os técnicos - tanto do governo como das empresas - ficam reféns da subjetividade do processo. Como exemplo, está o conceito de "significativo impacto" - previsto na legislação e não regulamentado até hoje. Na falta de uma definição precisa, tudo passou a ser tratado como significativo, sobrecarregando os órgãos ambientais e igualando grandes empreendimentos de infraestrutura a coisas como postos de gasolina e quiosques de praia. A falta de clareza facilita também a judicialização dos processos de licenciamento pelo Ministério Público. Como pode ficar? Uma das propostas é definir claramente na legislação o que é significativo impacto e refazer a classificação das diversas tipologias de atividades efetiva e potencialmente poluidoras, de tal maneira que o licenciamento vá se tornando mais complexo à medida que aumenta a complexidade do empreendimento. Para isso, uma das propostas é acabar com a exigência de Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima), que valeria apenas para os empreendimentos mais impactantes. Os demais, segundo tipificação a ser decidida em lei, apresentariam um Relatório Ambiental Simplificado (RAS). O AS CONSULTAS PÚBLICAS Sem a retaguarda de outros instrumentos de gestão previstos na PNMA, as audiências públicas tornaram-se reuniões políticas onde prevalece o confronto entre participantes que são, desde antes da própria audiência, contra ou a favor do empreendimento. Esta falta

de objetividade acaba desvirtuando o real objetivo das audiências, que é qualificar o projeto tendo em vista a mitigação e correta avaliação dos impactos ambientais. Como pode ficar? As consultas sobre a realização ou não de determinado empreendimento ocorreriam em um momento anterior ao licenciamento. Deste modo, as audiências pertinentes às licenças seriam dedicadas exclusivamente para verificar se os impactos e condicionantes foram adequadamente aferidos e, a partir daí, definir e dimensionar as melhores medidas mitigadoras e compensatórias a serem atribuídas ao empreendedor. O O LICENCIADOR Entre os problemas do licenciamento, a questão das anuências representa um dos gargalos mais complexos na medida em que cabe ao empreendedor - e não ao órgão licenciador - a articulação dos órgãos e entidades responsáveis pelas anuências exigidas pelos órgãos públicos. Ao invés de uma via única, o sistema se abre em múltiplas vias, tantas quantas forem as instituições envolvidas. Como pode ficar? As anuências fazem parte da licença, razão pela qual deve ser obrigação de quem licencia. Entre as propostas, está a criação de uma Câmara de Anuências, sob a liderança do órgão licenciador, para reunir numa única instância todos os intervenientes. Entre os objetivos, está simplificar os procedimentos e direcionar a intervenção do Ministério Público para uma única via, ao contrário do que ocorre hoje. O A COOPERAÇÃO A legislação atual não estimula modelos de gestão compartilhada capazes de envolver as três esferas

FIQUE POR DENTRO O QUE É:

O licenciamento ambiental é uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente. Essa obrigação é compartilhada pelos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente e pelo Ibama. COMO É FEITO:

O Brasil adota o modelo trifásico, que exige três licenças. A Licença Prévia (LP) atesta a viabilidade ambiental do empreendimento e estabelece as condicionantes a serem atendidas nas fases seguintes. A Licença de Instalação (LI) autoriza a instalação após o cumprimento das medidas de controle ambiental e demais condicionantes previstas na LP, enquanto a Licença de Operação (LO) libera o pleno funcionamento do empreendimento. QUANTAS SÃO:

Não existe ainda levantamento geral das licenças nos estados. No Ibama, são quase 2 mil processos em tramitação hoje. As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) respondem por 17% do total, incluindo 590 projetos de rodovias.

de governo. Basta ver o exemplo de um mineroduto que faça parte de um complexo único que inclui também a mina e o porto. No modelo atual, o empreendedor tem de obter três licenças: uma do Estado onde está a mina, outra da União para o mineiroduto e a outra do Estado litorâneo onde o porto será construído, sem nenhum tipo de articulação entre eles. Como pode ficar? A reforma estimularia a ação conjunta de todos os entes diretamente envolvidos. Um dos objetivos é também desafogar o Ibama, que hoje é chamado para responder por todo o licenciamento em caso de empreendimentos que ultra-

2

JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 35


1 LICENCIAMENTO AMBIENTAL passem a fronteira de um único estado. Entre 1997 e 2004, segundo o Banco Mundial, um em cada três empreendimentos hidrelétricos no país tiveram que transferir seus processos de licenciamento ambiental dos órgãos estaduais para o Ibama. O O TERRITÓRIO Hoje, ao se julgar individualmente o impacto ambiental do empreendimento, perde-se o "contexto da obra" e a visão sobre o território. É o que ocorre, por exemplo, em Congonhas (MG). Individualmente, cada empreendimento minerário está devidamente licenciado. Quando somados, emitem juntos uma carga total de poluentes acima dos padrões estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Pelo modelo atual, esta avaliação cumulati-

va dos impactos simplesmente não existe. Como pode ficar? Uma das propostas é incluir a variável locacional e definir metas de qualidade ambiental vinculantes para o licenciamento, com fixação dos padrões de qualidade do ar, solo, água, flora e fauna a serem observados num determinado território (bacia hidrográfica, por exemplo). De acordo com o nível de saturação, as emissões de gases, o lançamento de efluentes e o descarte de resíduos passariam a ter padrões variáveis, sem necessidade de um padrão único válido para todo o território nacional. O AS COMPENSAÇÕES Atualmente, as instituições licenciadoras e as instituições intervenientes usam as compen-

sações para disputar recursos para todos os tipos de demanda, inclusive aquelas que não têm nada a ver com os danos ambientais a serem causados pela atividade. Isso faz com que coisas como mobiliário, carros e computadores sejam exigidos das empresas sem nenhum tipo de critério definido. Como pode ficar? Uma das propostas é vincular a compensação aos danos ambientais efetivamente causados pelo empreendimento, com regras definidas em Decreto Presidencial. O presidente da Associação Brasileira de Entidades Estaduais do Meio Ambiente (ABEMA), Hélio Gurgel, reconhece as demandas de adequação do marco legal do licenciamento e a importância do papel institucional dos estados.

1.

HÉLIO GURGEL "Temos um desafio grande e a responsabilidade de trabalharmos juntos e de modo objetivo."

36 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013


2.

3.

PROPOSTA PARCEIRAS Olavo Machado e Shelley Carneiro no encontro organizado pela CNI em Ouro Preto

A CONTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA*

R

epresentantes de federações das indústrias, associações setoriais e empresas também entregaram à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, 21 propostas de melhoria nos processos de licenciamento ambiental. O encontro, coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ocorreu em Ouro Preto (MG). "Este documento simboliza a presença da sustentabilidade no dia a dia da indústria. É necessário mais celeridade nos procedimentos e mais clareza nas normas. Mais do que um 'talvez' que dure por anos, queremos um 'sim' ou 'não'", afirmou Olavo Machado Júnior, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Entre as propostas, estão a criação de incentivos aos empreendimentos que adotem medidas

1. SEBASTIÃO JACINTO JR | 2. PAULO AUGUSTO | 3. BANCO DE MÍDIA CNI

voluntárias de gestão ambiental; a implementação de um balcão único, que concentre todos os procedimentos administrativos necessários para a emissão de licenças e a completa informatização do processo de licenciamento ambiental. O documento foi validado por mais de 100 representantes de federações das indústrias de todo país. "O histórico das políticas ambientais mostra que, quando a atuação é conjunta entre governo, sociedade civil e setores produtivos, ela é sempre mais rica e qualificada. E é essa nossa proposta", pontuou o gerente-executivo de Meio Ambiente da CNI, Shelley Carneiro. A íntegra do documento pode ser acessada em www.portaldaindustria.com.br * Por Rafael Monaco, do Portal da Indústria

2

JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 37


1 LICENCIAMENTO AMBIENTAL A PALAVRA DA MINISTRA IZABELLA

‘‘TEMOS DE SER UM PAÍS

MAIS SUSTENTÁVEL’’ Confira trechos do discurso da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, no Encontro Nacional dos Conselhos Temáticos de Meio Ambiente das Federações de Indústrias, em Ouro Preto SEBASTIÃO JACINTO

"O

Brasil deve muito a Minas Gerais na política ambiental e, certamente, é um exemplo que vai além da polarização Rio/São Paulo. Como não sou velha, e sim precoce, tombada pelo patrimônio ambiental, sou capaz de reconhecer todos os bons mineiros, outros nem tanto, que construíram a política ambiental no Brasil." "Começa em Minas um novo caminhar em torno da avaliação de impacto ambiental e do licenciamento ambiental no Brasil. O próprio Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) já estabeleceu este ano como prioridade, a partir da demanda dos estados, a realização deste debate nacional sobre o licenciamento." DIÁLOGO E INTERLOCUÇÃO "Temos de permitir que a envergadura política da questão ambiental dialogue com a envergadura política dos atores que querem fazer parte desse debate. E isso não pode se limitar aos espaços pré-definidos da área ambiental. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) tem de dialogar e ouvir todos, independentemente das suas origens e do seu compromisso com as questões da sustentabilidade."

IZABELLA "Como não sou velha, e sim precoce, reconheço os bons ambientalistas mineiros"

38 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

QUALIDADE DO DESENVOLVIMENTO "É equivocado acharmos que o debate sobre a questão ambiental

se limita a soluções de governo a cada quatro anos. E o empresário tem clara noção disso. Quando faz o seu mapa de risco e quando define a sua estratégia de negócios, ele tem uma visão de sustentabilidade. Quer que o seu negócio sobreviva e passe de geração em geração. Quer uma política pública como política de desenvolvimento. Nenhuma nação renuncia ao desenvolvimento." FORTALECIMENTO DA GESTÃO "A questão ambiental não é para ser tratada de maneira reativa, na pequenez do projeto dentro do licenciamento ambiental. Digo pequenez, porque ele já trata da decisão tomada, usualmente, a variável ambiental é a última a ser considerada. E no outro lado do muro, o empresário encontra órgãos ambientais: governador nenhum faz campanha dizendo que vai priorizar a questão ambiental e fortalecer a gestão ambiental." PRIORIDADE AMBIENTAL "Ninguém quer saber quem é o secretário de Meio Ambiente em primeira ordem. Querem saber quem é o secretário de Planejamento, de Desenvolvimento Econômico ou da Fazenda. Se as cobranças políticas fossem feitas com a mesma importância de outras áreas estruturantes do desenvolvimento na questão ambien-


tal, as condições de contratação de funcionários, de planos de carreira e da gestão de pessoas darse-iam de maneira muito distinta da que ocorre hoje." COMPETITIVIDADE "Sustentabilidade não é discurso, mas a prática do bom senso. É o que faz, ao contrário do que se pensa, o empresário cada vez mais competitivo. Não é à toa que várias empresas no mundo estão trilhando o caminho da sustentabilidade. As suas matrizes de risco já sinalizam que, se não fizerem isso, não terão água, energia, não serão competitivas." MINISTÉRIO PÚBLICO "O Ministério Público cobra, muitas vezes, sem saber o que está cobrando. A gente vai mudar isso. Não é assim que se trabalha o fortalecimento da gestão ambiental e nem de todas as questões envolvidas na tomada de decisão do licenciamento. Tem de mudar para fortalecer os órgãos e não para enfraquecê-los. Chamo isso, em tom pejorativo, de 'políticas de espelhinhos'. Não acredito nessas políticas. Quer construir uma escola? Faça. Mas, não diga que é uma mitigação de um impacto de empreendimento que nada tem a ver com a escola." RESERVA DE MERCADO "Muitos consultores fazem estudos excelentes, propõem uma série de coisas, porque querem continuar na fase seguinte do licenciamento. Isso é reserva de mercado também. Ou vocês montam boas equipes de meio ambiente - tanto quanto boas de financeiro e gestão estratégica de negócio -, ou vão ficar cada vez mais reféns de questões pelas quais não deveriam estar 'pagando'; e que não estão contribuindo em nada para a melhoria da qualidade ambiental no país."

"O debate que vigora, não tem sido de construir, mas de punir; de procurar o malfeito e não o benfeito. Só se fala dos entraves e não dos ganhos obtidos nos últimos anos. É preciso mudarmos a cabeça dos outros. O que estiver ruim a gente arruma e pune; mas posso assegurar que temos mais gente querendo fazer benfeito do que malfeito. É isso que nos sustentará como nação, lá na frente."

TREMENDO GOLAÇO “Citando palavras do Olavo (Machado, presidente da Fiemg), temos de ser pragmáticos do ponto de vista da política, da gestão e da governança. O pragmatismo não tira a área ambiental do centro da tomada de decisão, mas a fortalece, porque é irreversível. Quando reduzo o desmatamento na Amazônia e o Brasil tem a menor taxa de desmatamento da história, tiro da mesa as emissões associadas ao desmatamento e coloco as emissões relacionadas à energia, à indústria e à agricultura.”

SEM ‘ACHISMO’ AMBIENTAL “Se as pessoas dialogam a mudança de um marco legal, qual será o papel da questão ambiental? Ou nós vamos esperar aprovar a lei para depois descobrimos como é que a questão ambiental é tratada? Porque é isso o que acontece. E se vocês não se colocarem, parceiramente, conosco, como atores políticos, cobrando uma postura estruturante daqueles que são responsáveis pela tomada decisão sobre as questões de desenvolvimento, continuaremos tendo situações, como exemplo de, um concurso público federal de mil analistas ambientais sendo bloqueado por interesse de al-

guns parlamentares.” “Isso ninguém cobra. Isso não é normal, enquanto todos vocês demandam um maior número de funcionários para melhor atender a indústria, para gerar emprego, renda, desenvolver e ter competitividade. Portanto, temos um desafio enorme e, sem dúvida, a discussão do licenciamento vai trazer para o palco outras questões.” “O órgão ambiental não vai sair da matriz de risco, se não trabalharmos a questão ambiental de maneira propositiva, estruturante e estratégica do desenvolvimento. Isso significa dar visibilidade, entender que ninguém aqui é ‘bioestérico’ ou eco desagradável. Significa dizer que a discussão não se limita aos ambientalistas; não é reserva de mercado de grupo A, B, C, embora todos devam ser ouvidos. Significa que precisamos de conhecimento técnico e científico, para acabar com o ‘achismo’ ambiental.” MUDANÇA COLETIVA “O Ministério Público Federal e estadual são parceiros, mas há muitos exageros. Há exageros intoleráveis para um país que quer ser sustentável. O Brasil é, talvez, o único no mundo a reunir as condições para ser sustentável em curto prazo, sem adicionar custos à sociedade. Somos o único em condições de fazer uma transição mais rápida para uma economia de baixo carbono.” “Agora isso não está no debate, que pretendemos construir juntos. O debate não tem sido de construir, mas de punir; de procurar o mal feito e não o bem feito. Só se fala dos entraves e não dos ganhos obtidos nos últimos anos. É preciso mudarmos a cabeça dos outros. O que estiver ruim a gente arruma e pune; mas posso assegurar que temos mais gente querendo fazer bem feito do que mal feito. É isso que nos sustentará como nação, lá na frente.” O JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 39


1 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

MADEIRA BIOSSINTÉTICA Textura e cor semelhantes às da madeira natural

PARECE MADEIRA, MAS NÃO É Mercado traz opção ecológica e duradoura para a área da construção sustentável Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

I 1.

GABRIELA BORGES “O grande diferencial da ecomadeira é a sua baixa manutenção” 40 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

magine uma madeira que não sofre com a interferência de cupins, não apodrece, é mais resistente ao sol e à chuva, dura cerca de 50 anos e pode ser lavada com água e sabão. O material existe, e não se trata de uma árvore especial, mas de um composto reciclado conhecido como ecomadeira ou madeira biossintética. Feito à base de reciclagem de plásticos e resíduos, tal como o polietileno de alta densidade (PAD), a ecomadeira custa, em média, 20% mais

que as madeiras comuns. Mas, de acordo com especialistas, a diferença é compensada diante da baixa manutenção, já que dispensa lixamento, não necessita pintura e ainda tem uma pegada sustentável ao contribuir para a preservação do meio ambiente. Estima-se que, para cada 700 quilos produzidos de ecomadeira, uma árvore adulta seja preservada e 233 mil sacolas plásticas sejam retiradas da natureza. Toda matéria-prima utilizada para sua fabricação vem


DURABILIDADE Material é mais resistente ao sol e à chuva

de restos plásticos e fibras provenientes do lixo. Além de possuir um processo que não gera resíduo, já que a própria serragem retorna ao ciclo de produção, o que faz dela um produto reciclado e reciclável. PRODUÇÃO Em Belo Horizonte, a empresa Ecoblock, que atua há oito anos no mercado, trabalha exclusivamente na fabricação da ecomadeira. Segundo a assessora e consultora técnica, Gabriela Flister, “o empreendimento tem capacidade para reciclar 500 toneladas por mês de resíduos poluentes”. A ecomadeira produzida é composta por 70% de polímeros industriais e 30% de fibra vegetal, feitos a partir de passivos ambientais industriais e domésticos, que, na prática, são todos os tipos de plásticos. A consultora conta que “um dos benefícios da fabricação é o fato de não utilizar água nem química no processamento dos resíduos, além de não gerar subprodutos, já que toda a matéria-prima é reutilizada”. Esse processo é apontado, por ela, como diferencial em relação a ouFOTOS. DIVULGAÇÃO | 1. ARQUIVO PESSOAL

tros fabricantes de madeira plástica, como também é chamada. NAS OBRAS O resultado final do material também não deixa a desejar. Varandas, paredes e áreas externas construídas com a ecomadeira têm a mesma aparência, efeito e cor de uma madeira tradicional, além de não possuir restrição para produção de objetos. Bancos de praças, pisos, cruzetas para postes de iluminação e dormentes de linhas de trem são algumas das opções encontradas no mercado. O que faz com que empresários do setor de construção só apontem vantagens. Vladson Campos, proprietário da Ambientalle, empresa que oferece soluções sustentáveis para empreendimentos e pessoas, relata que, há seis anos, usa a ecomadeira. Pisos, revestimentos de paredes e mesas são algumas das opções já implementadas por ele. Questionado sobre o que o fez trocar a madeira tradicional pela plástica, Campos conta que “se apaixonou pelo projeto que leva em consideração o que se retira dos

Para cada “700 quilos de madeira plástica, uma árvore adulta é preservada e 233 mil sacolas plásticas são retiradas da natureza

” 2

JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 41


1 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL DADOS ALARMANTES COMÉRCIO MUNDIAL DA EXPLORAÇÃO DA MADEIRA...

30% 90% 100%

EXTRAÇÃO ILEGAL

100%

CRIME ORGANIZADO

...MOVIMENTAM RECURSOS DE ATÉ 100 BILHÕES DE DÓLARES POR ANO

EXTRAÇÃO ILEGAL Perda de áreas verdes afeta diretamente a biodiversidade e o clima

RECICLAGEM Processo da Ecoblock transforma 500 toneladas mês de resíduos plásticos em ecomadeira

aterros e no que se transforma o lixo”. E ressalta: “a ausência da necessidade de manutenção é o item mais valorizado pelos meus clientes”. A mesma vantagem é apontada pelo arquiteto Erick Figueira de Mello que utiliza a ecomadeira há um ano em obras externas, integradas ao paisagismo. “A madeira natural se deteriora com o tempo, já a ecomadeira é bem mais resistente, o que diminui os gastos." Para se ter uma ideia, árvores nobres como mogno, jatobá e jacarandá, consideradas mais resisten42 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

tes, precisam de cuidados e conservação, que vão desde tratamentos contra cupins, a cada cinco anos, à impermeabilização a cada um ou dois anos. Outro agravante é que muitas dessas espécies figuram na lista de árvores em extinção. Apesar das inúmeras vantagens e do perfil ecológico, não existem dados oficiais sobre a produção de ecomadeira no Brasil. Nos EUA, porém, a madeira biossintética é utilizada há 20 anos e 35% das varandas e pátios do país são feitas com o material.

VANTAGENS DA ECOMADEIRA EM RELAÇÃO À MADEIRA NATURAL: O Não forma farpas, não racha, não empena pelo secamento ou envelhecimento; O Não necessita ser pintada, pois é pigmentada; O Visualmente, pode ser idêntica a madeira convencional; O Substitui madeiras raras em determinadas aplicações; O Tem uma durabilidade de aproximadamente 50 anos. O Aplicação com ferramentas da madeira; O Maior agarre a pregos e parafusos, não apresentando, por exemplo, as rachaduras quando nela penetram pregos ou parafusos, pois não possui uma orientação de "fibras" como da madeira; O Limpeza feita com água e sabão.

O MEIO AMBIENTE AGRADECE Na região amazônica, a extração legal representa 15% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas, quando a origem é duvidosa, significa menos árvores, mais devastação e prejuízos para a flora e para o próprio homem. Segundo dados do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), 65% da madeira retirada da região, não tem autorização da Secretaria do Meio Ambiente, o equivalente a 78.941 hectares. O



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ECO CONSTRUÇÃO CRISTIANE SILVEIRA DE LACERDA (*) redacao@revistaecologico.com.br

MOBILIDADE URBANA

OBTENÇÃO DE CRÉDITO O uso da bicicleta pode fazer com que os empreendedores forneçam bicicletários maiores e mais seguros

O

s requisitos de construção sustentável presentes nas certificações LEED e AQUA vão ao encontro das questões de mobilidade urbana, incentivando e potencializando iniciativas como o transporte alternativo. A intenção é reduzir a poluição e os impactos gerados pela utilização de veículos particulares. A obtenção dessas certificações creditícias pode ser atendida quando os empreendimentos estão localizados próximos a pontos de ônibus. A distância deve ser de até 400 metros, medida a partir da principal entrada do edifício até a parada de ônibus, e atendidos por duas ou mais linhas diferentes. O ponto poderia ser alcançado ainda pelo fretamento de ônibus particulares, desde que estes estejam conectados ao transporte público e operem em horário de pico. Outro crédito pode ser obtido com o incentivo ao uso da bicicleta, fazendo com que os empreendedores forneçam bicicletários seguros e/ou armazenamento localizado, no máximo, a 183 metros de uma entrada do edifício de acordo com diretrizes (leia abaixo), com base na metragem quadrada do projeto.

RELAÇÃO M2/VAGA O Até

465 m² = duas ou mais vagas 466 m2 a 1.860 m² = três ou mais vagas O De 1.861 m2 a 4.650 m² = seis ou mais vagas O Mais de 4.650 m² = dez ou mais vagas. O De

44 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

A certificação ainda instrui uma das seguintes opções: a disponibilização de vestiários com armários e chuveiros, um programa de manutenção de bicicletas ou assistência nas ciclovias. Outras opções para a obtenção de créditos compreendem estratégias que apoiam a utilização do transporte alternativo com a intenção de reduzir a poluição e os impactos gerados pela utilização de veículos particulares. São elas: 1 - Reservar vagas preferenciais para veículos de combustível eficiente e de baixa emissão (5% das vagas de funcionários e 5% das vagas de clientes). 2 - Implantar estação de reabastecimento de combustível alternativo para 3% do total de vagas de garagem. 3 - Proporcionar aos ocupantes da edificação acesso a programas de compartilhamento de veículos de baixa emissão e combustíveis eficientes. Além disso, é importante que o número de vagas oferecidas não seja superior ao mínimo exigido pela legislação local. E que haja 5 % do total de vagas para car ou vanpools. Os programas de certificação das construções são iniciativas voluntárias que contribuem, e muito, para melhorar a mobilidade urbana. E, em seu contexto geral, mitigam os impactos ambientais nas nossas cidades. O (*) Diretora da EcoConstruct Brazil – www.ecoconstruct.com.br Professora Coordenadora do MBA Edifícios Sustentáveis: Projeto e Performance (FUMEC).


Os requisitos de construção sustentável presentes nas “ certificações LEED e AQUA vão ao encontro das questões de mobilidade urbana, incentivando o transporte alternativo

INOVAÇÃO EM TELHAS DE PVC

FRANKFURT Sede Commerzbank será um dos locais visitados pelos participantes

VEM AÍ O “IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL” EM BH A EcoConstruct Brazil e a Universidade Fumec, com apoio da Revista ECOLÓGICO, irão realizar, de seis a 14 de setembro, o IV Seminário Internacional de Construção Sustentável com uma seção especial na Alemanha. As visitas técnicas acontecerão nas cidades de Frankfurt, tendo como destaques o projeto do escritório do Norman and Foster, a sede do Commerzbank, em Frankfurt, e também na Cidade Verde de Freiburg. No pacote, estão ofertadas visitas técnicas aos principais cartões-postais de sustentabilidade construtiva da “Green City”, em especial às obras do escritório de arquitetura Rolf & Disch Solar Architektur: Heliotrope + Solar Settlement. E ainda, ao segundo maior laboratório de pesquisa de energia solar do mundo, o Fraunhofer Institute for Solar Energy Systems. Outro destaque é a visita ao Solar Info Center, um cluster de soluções sustentáveis e cujo edifício recebeu recentemente a certificação internacional LEED. O programa compreende ainda palestra da empresa Industrial Solar GmbH e visita técnica ao Hotel Victória, eleito em 2010 o mais sustentável do mundo. O evento é aberto a todos os públicos interessados no tema sustentabilidade: professores, estudantes, profissionais do campo de engenharia e arquitetura, ambientalistas, planejadores, gestores públicos, empresários e outros. Os participantes receberão certificado de participação no programa com a chancela da Universidade Fumec. Além dessa programação específica na Alemanha, já na sua quarta edição, o Seminário Internacional de Construção Sustentável terá sua agenda tradicional no Brasil. Ele acontecerá no Auditório Phoenix do Campus da Fumec na capital mineira, nos dias 31 de outubro e primeiro de novembro, com a participação e cobertura completa da Revista ECOLÓGICO.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

O plástico mais usado na construção civil também está nos telhados. Empresas como a Precon, sediada em Pedro Leopoldo (MG), têm investido na mais ecológica produção e comercialização das telhas em PVC. O novo produto, chamado PreconVC, é mais leve, resistente, ecologicamente correto e pode gerar economia nos sistemas tradicionais de cobertura. Embora já aceito na Ásia e Europa, é inédito no país. Para iniciar a sua comercialização internacional, a Precon desenvolveu parceiros, pesquisas e somou sua experiência, de quase 50 anos em coberturas, ao conhecimento da cadeia do PVC. “Não existe no mercado nacional produto com as características que estamos oferecendo, explica Cléber Borges, diretor de operações da unidade. Elas chegam a pesar entre 12 e 15% das telhas de barro; e, devido às suas dimensões e resistência, vencem vãos maiores, fazendo-se diminuir consideravelmente o uso de caibros, ripas e outras estruturas de sustentação. Os gastos nas obras são menores. A durabilidade do PVC também gera economia, ele completa: “Esse tipo de telha se mantém mais estável durante tempestades, granizos e outras intempéries. São mais fáceis de manusear, o que garante mais rapidez às obras. E nos casos de reposição, por serem mais leves, o proprietário mesmo pode fazer. Ainda proporcionam um maior conforto térmico e acústico. O acabamento do produto também evita o acúmulo da sujeira”.

SAIBA MAIS

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contato@ecoconstruct.com.br / (31) 3786-1760.

www.precon.com.br/preconindustrial

JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 45


1 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

FOCO NAS PESSOAS Rafael Tello (*) redacao@revistaecologico.com.br

46 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

definem o acesso da população de baixa renda a imóveis; as construtoras são responsáveis por grande parte dos resíduos gerados; e as distribuidoras de materiais de construção têm papel fundamental na promoção de produtos socioambientalmente corretos. ATUAÇÃO ORQUESTRADA Não apenas os problemas são dispersos na cadeia, como, muitas vezes, extrapolam as fronteiras organizacionais. A disseminação de edifícios sustentáveis depende da atuação orquestrada de governos municipais, empreendedores, financiadores e construtores, para a qual o primeiro define as regras de atuação, o segundo deve incluir o tema nos projetos, o terceiro deve dar incentivos financeiros, e o último rever processos e capacitar envolvidos na obra. A mesma situação pode ser observada para questões como: coleta seletiva e reciclagem de resíduos de construção e demolição, redução do déficit habitacional, maior SANAKAN

O

tema “sustentabilidade na construção” vem ganhando continuamente mais atenção da mídia, governos e cidadãos. Normalmente, são tratadas questões como geração de resíduos e acidentes de trabalho. No entanto, boa parte do público desconhece tanto a abrangência da Cadeia Produtiva da Construção, quanto seus impactos positivos e negativos. A Cadeia da Construção envolve, além da indústria da construção, as indústrias de extração mineral e não mineral, de transformação, e de serviços e comércio. Sua importância econômica é clara, uma vez que foi fundamental para reduzir os impactos negativos da crise global, devido ao aumento da atividade industrial e do emprego. No entanto, os impactos ambientais negativos, a divulgação de exemplos de baixa qualidade de construções e o crescimento desordenado das cidades têm gerado pressões por maior sustentabilidade de todos os agentes da cadeia. A abrangência e diversidade dos atores que compõem a Cadeia Produtiva da Construção resulta em uma grande dispersão dos impactos por ela gerados. As emissões de carbono são diretamente provocadas por empresas produtoras de materiais intensivos em energia; a extração de madeira se dá para produção de fôrmas, portas e revestimentos; serviços financeiros

industrialização das construções, redução de emissões. Aos profissionais do setor fica a tarefa de desenvolver duas habilidades. A primeira é a de ampliar o foco de atuação, de modo a vislumbrar com clareza todos os atores envolvidos com os desafios de sustentabilidade da Cadeia Produtiva. A segunda habilidade é a do engajamento efetivo desses atores no planejamento e execução de ações com foco na superação dos desafios setoriais. Ambas estão intimamente ligadas aos princípios da sustentabilidade: visão abrangente e diálogo com as partes interessadas. Esses princípios permitem que se delineiem adequadamente as questões de sustentabilidade e que se proponham soluções inovadoras e de maior qualidade, devido ao aproveitamento do conhecimento e experiência de diversas pessoas e organizações e debate aberto de divergências. Somente uma atuação profissional e organizacional que aceite a complexidade de sustentabilidade da Cadeia Produtiva poderá trazer alternativas novas e eficazes para seu alcance. Em resumo, a sustentabilidade na construção só será alcançada por meio de uma atuação sustentável dos seus profissionais. Portanto, é hora de mudar o foco das construções para as pessoas. O

(*) Diretor da NHK Consultoria

TELLO “Construções sustentáveis dependem de ações orquestradas”


Nosso Futuro

CONSTRUTIVO E SUSTENTÁVEL

SEGUNDO A ONU, ATÉ O FINAL DESTE SÉCULO, 95% DA HUMANIDADE ESTARÁ MORANDO NAS CIDADES. SERÁ, PORTANTO, NO MEIO URBANO QUE TODOS NÓS TEREMOS DE CONSEGUIR QUALIDADE DE VIDA. SERMOS SUSTENTÁVEIS, NO TRABALHO, NOS TRANSPORTES, NO NOSSO ESTILO DE VIVER. É POR ESTAS RAZÕES QUE, COM FOCO ESCLARECEDOR, JÁ A PARTIR DESTA EDIÇÃO, A REVISTA ECOLÓGICO IRÁ ABORDAR PERMANENTEMENTE O TEMA DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL.

O O QUE É MELHOR PARA A NATUREZA E O MEIO AMBIENTE QUE NOS RESTAM? O HORIZONTALIZAR A OCUPAÇÃO DOS POUCOS ESPAÇOS URBANOS QUE EXISTEM? O VERTICALIZÁR, SOB A ÓTICA DE UMA NOVA E ECOLÓGICA CONCEPÇÃO CONSTRUTIVA QUE CONVERSE MAIS CONOSCO, COM O SOL, O VENTO E UMA MELHOR VISÃO DE MUNDO?

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1 PREVENÇÃO


CÂNCER

A PRÓXIMA VÍTIMA PODE NÃO

SER VOCÊ Saiba como prevenir a doença que, em 2030, deverá causar a morte de 17 milhões de pessoas no mundo Maria Teresa Leal redacao@revistaecologico.com.br

H

á de se encarar. Os prognósticos a respeito da incidência do câncer no mundo não são bons. Afinal, estamos vivendo mais, o que aumenta as probabilidades da ocorrência de "defeitos" nas nossas células, durante suas mutações. De acordo com as projeções da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2020, a mortalidade em decorrência do câncer, deve ultrapassar o número de óbitos provocados pelas cardiopatias. Em 2030, é provável que essas mortes, em todo o mundo, cheguem a 17 milhões por ano, o dobro de casos relatados em 2008. Para o especialista em Medicina Interna e Oncologia Clínica, membro Efetivo da American Society of Clinical Oncology (ASCO), presidente do Conselho Superior da Sociedade Brasileira de Cancerologia e diretor da Oncomed, Roberto Porto Fonseca, a tendência é que o câncer se torne uma doença cada vez mais comum, como o diabetes ou a pressão alta. Cabe a nós, aprender a lidar com esse mal. A boa notícia é que estamos, cada vez mais, bem informa-

2.

ROBERTO FONSECA Mais informação científica e cuidado com o planeta

dos sobre as formas de prevenção. E essa é, com certeza, a melhor arma de que dispomos. Cuidar do nosso planeta, para que tenhamos uma melhor qualidade do ar, da água e do clima, é uma delas. Confira, a seguir, essa e outras dicas do especialista:

2

1.

1. SHUTTERSTOCK | 2. FERNANDA MANN

JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 49


O QUE NÃO FAZER O Fumar; O Beber em excesso; O Ser obeso; O Estar sempre estressado; O Fugir dos médicos e exames

preventivos; O Uso prolongado de anticoncepcional; O Reposição hormonal na menopausa.

É BOM SABER O 90% dos tumores de

pulmão têm relação com o tabagismo; O 30% dos tumores de bexiga,

esôfago e cavidade oral e garganta também têm relação com o tabagismo; O O câncer de colo do útero

é o segundo tumor mais frequente na população feminina, atrás apenas do câncer de mama, e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. Mulheres diagnosticadas precocemente, se tratadas adequadamente, têm praticamente 100% de chance de cura.

50 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

A quantas anda o câncer em nosso país e no mundo? Por que a incidência da doença tem aumentado tanto? Temos lidado bem com o inimigo, aumentando, significativamente, os potenciais de cura. Quando me formei, há 38 anos, a chance de sobreviver a um câncer, em sua fase inicial, era de 25%. Hoje, é de 65%. A incidência da doença aumentou, é verdade, porque estamos vivendo mais. O risco de desenvolver o mal cresce à medida que o tempo passa. Só para se ter uma ideia, 63% dos pacientes com câncer têm mais de 65 anos. Desses, 36% têm mais de 75 anos. O que acontece é que as células do corpo não param de se reproduzir - e cada divisão pode gerar alguma mutação e despertar um oncogene ou gene cancerígeno. Ou seja, quanto mais idade você tem, mais vezes o seu DNA foi copiado e, com isso, o risco de erros, é maior. É correto afirmar, então, que o câncer surge a partir de um defeito no DNA? Sim. Ele acontece a partir de uma mutação genética. Durante esse processo, acontece um "erro", que gera uma célula maligna. O importante é as pessoas entenderem que o câncer não é uma só doença. Quando falamos em câncer, estamos falando de mais de 100 tipos deles. Ou seja, dependendo de qual célula originou o problema, teremos um comportamento biológico, uma evolução natural e um prognóstico. Isso significa que talvez seja necessária uma cirurgia ou, quem sabe, que apenas antibióticos resolvam. É possível relacionar os principais fatores causadores de câncer? O câncer é multifatorial. Ele não nasce em decorrência de uma única questão. Não necessariamente pessoas que nasçam com

Quando me formei, há 38 anos, as chances de sobreviver a um câncer, em sua fase inicial, era de 25%. Hoje, são de 65%. Mas a incidência da doença aumentou, porque estamos vivendo mais. O risco de desenvolver o mal cresce à medida que o tempo passa

genes causadores de câncer vão apresentá-lo durante a vida. A maioria dos tumores malignos, tem causas adquiridas no decorrer da vida. Tabagismo, obesidade, sedentarismo e outros maus hábitos são os vilões na gênese da doença. Há relação entre o câncer e a poluição atmosférica? O ser humano precisa entender que ele é um grãozinho de vida num planeta maravilhoso e que, sem outros seres vivos (seja fauna ou flora), ele não consegue sobreviver. Por isso, a manutenção da harmonia e o respeito à natureza são fundamentais para a nossa sobrevivência comum. Hoje, há todo um aparato tecnológico para utilizarmos, por exemplo, fontes de energia alternativas como a solar e a eólica, que não degradam o meio ambiente. Por que não usar? Desde antes do nascimento até a velhice, as pessoas se expõem a incontáveis agentes cancerígenos por meio da comida, do ar, da água e de produtos de consumo em geral. O que nos resta é cuidar do planeta, que é nossa casa. Se conseguirmos melhorar a qualidade do ar e das águas, certamente, estaremos mitigando a ação de agentes cancerígenos.


1 PREVENÇÃO

Previna-se: Hábitos simples e diários que ajudam a diminuir as probabilidades do mal

O Exercícios físicos diariamente, pelo menos 30

minutos; O Ingestão de quatro a cinco porções de frutas

por dia; O Manter atividade de relaxamento, como a

meditação; O Manter atitude positiva diante da vida; O Desenvolver atividades que dão prazer,

elevando o nível de serotonina do cérebro, como dança, canto ou alguma atividade artística, como pintar ou tocar instrumento;

O A mulher deve considerar

a realização da mamografia aos 40 anos ou de acordo com orientação médica; O A mulher, a partir dos 20 anos, deverá

submeter-se, anualmente, a um exame preventivo do colo do útero (papanicolau); O O homem deve fazer avaliação da próstata

a partir dos 45 anos; O Evite exposição ao sol, principalmente das 10h

às 16h; O Use protetor solar.

2


1 PREVENÇÃO

Acredito na prevenção e no diagnóstico precoce. Dia a dia aparecem novas drogas para dar conta da explosão de casos da doença, mas o que funciona mesmo é a prevenção

O que mais podemos fazer para prevenir o câncer? É simples, é o que todo mundo já sabe, mas nem sempre coloca em prática. Fazer atividades físicas diariamente (pelo menos, meia hora); ingerir boa quantidade de frutas e verduras; dar preferência às carnes brancas; evitar estresse (não se deixar irritar por coisas à toa); cultivar atividades relaxantes como a meditação, por exemplo; enfim, procurar ser feliz, dançar, cantar... E, claro, não fumar. Isso não pode de jeito nenhum. E beber, apenas socialmente. Em suma, viver em harmonia com o meio ambiente e consigo mesmo. E sobre o potencial de cura do próprio organismo, o que podemos dizer? A resposta é simples. Não existe doença, existe doente. A evolução natural do câncer depende também do hospedeiro. Não só do ponto de visto emocional, como também do físico. O estado emocional do paciente, em tratamento, realmente faz diferença? Sim e muita. O que observamos no dia a dia é que os pacientes com atitude mais positiva, que valorizam a vida, respondem melhor ao tratamento. No caso de jovens, atingidos pela doença, percebemos que quase todos estão passando ou passaram por um grande sofrimento, conflito ou perda.

ISTOCK

Pessoalmente, o senhor acredita que os cientistas encontrarão, um dia, a cura para a doença? Eu não tenho dúvida que sim. Haja vista que, nos últimos 38 anos que luto contra a doença, curamos cada vez mais os nossos pacientes. Acredito na prevenção e no diagnóstico precoce. Dia a


dia aparecem novas drogas para dar conta da explosão da doença, mas o que funciona mesmo é a prevenção. Pelo amor de Deus, façam campanhas para as pessoas pararem de fumar! Também não aprovo o uso prolongado de anticoncepcionais e a reposição hormonal nas mulheres, no período da menopausa. Qual a importância de desconstruírmos o mito da doença? O câncer não é uma doença qualquer. É uma doença grave. Mas também não é uma sentença de morte. Dia a dia, os índices de sucesso aumentam. É sempre bom frisar que, o câncer, na maioria das vezes, pode ser curado. Ainda ouvimos as pessoas dizerem que não vão ao médico regularmente, porque "se tiverem com alguma coisa, preferem não saber". Isso é fruto da desinformação, de uma negação e do mito que se criou em torno da enfermidade. Posso afirmar que, entre as doenças degenerativas, como a cirrose, por exemplo, o câncer é a que menos mata. O senhor aprova a atitude da atriz Angelina Jolie, que retirou os seios para prevenir a doença, diante da identificação de um defeito em um gene? Aprovo que o médico forneça todas as possibilidades da incidência de câncer que o paciente tem. Nesse caso em particular, devemos entender que, apesar das chances do surgimento da doença ser alta na Angelina, a mastectomia não elimina, em 100%, a possibilidade de que ela ocorra. Além disso, os defeitos genéticos que ela carrega, aumentam também a chance de tumores ovarianos. Então, seguindo esse raciocínio, seria necessário tirar os ovários tam-

DECISÃO Gene de Angelina Jolie também pode favorecer a doença nos ovários

bém. Quem deve decidir é a paciente. Não critico, nem julgo. O que mais o gratifica, profissionalmente? É poder servir pacientes e familiares. Poder andar juntos, de mãos dadas, numa caminhada que nem sempre é bem-sucedida. E ainda a redução do sofrimento, com foco não somente na cura, mas também na melhoria da qualidade de vida. Em tempos de tantas manifestações populares, o

que impede que a gente tenha melhores condições de saúde em nosso país? São dois os principais problemas. O investimento destinado à saúde encontra-se aquém do desejado e a má gestão dos recursos. Se resolvêssemos isso, seguramente, o panorama seria outro. Se quiserem trazer médicos de outros países, tragam. Não sou contra. Mas eles terão que ser submetidos a exames de proficiência e precisam falar a nossa língua. Se não, como vão se comunicar com povo?

2

JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 53


1 PREVENÇÃO

CONTROLE Iêda Fadul enfrenta a radioterapia com bom humor e confiança, após a cirurgia de retirada do tumor

Prevenção é a palavra de Iêda Socióloga descobriu a reincidencia do cânçer graças a exames periódicos

A

socióloga e assistente social, Iêda Fadul teve câncer de mama há 15 anos. Na época, fazia reposição hormonal e, como estava muito ativa profissionalmente, realizando palestras no Brasil e exterior, andou sumida dos médicos. Numa viagem, a passeio, ao Rio de Janeiro, decidiu procurar um profissional para um "exame de rotina". Não tinha nenhum sintoma ou queixa. Mas, durante a consulta, veio o susto. O médico disse, sem rodeios, estar quase certo de que ela estava com câncer e, dois dias depois, Iêda já estava sendo operada. "Fui esperando uma coisa e era outra, bem mais grave. Fiquei muito apreensiva, porque, na verdade, os médicos não sabiam o que iam encontrar lá dentro", explica. Felizmente, a cirurgia transcorreu

54 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

bem, com retirada de apenas parte da mama e o chamado esvaziamento das axilas, que é a retirada dos linfonodos de defesa que, se contaminados por células malignas, podem espalhar a doença por todo o corpo. Mesmo assim, Iêda precisou enfrentar a quimioterapia por longos meses, com todos os seus indesejáveis efeitos colaterais. "Não foi fácil", admite. Tratamento concluído, inimigo vencido, vida normal, certo? Sim, mas foi necessário, no primeiro momento, acompanhamento trimestral da situação das mamas. Depois, semestral e, por fim, anual. Depois de anos sem vestígios da doença, Iêda recentemente descobriu um nódulo no outro seio. Mas, dessa vez, ela se assustou menos. Afinal, o "bicho-papão" já não parece tão assustador. Ela

passou por nova cirurgia e, agora, está em pleno tratamento radioterápico. "Como o problema foi descoberto em seu estágio inicial, não será necessário fazer a quimio, que é bem mais agressiva." Serena, aos 73 anos, ela segue normalmente sua rotina. Cuida da casa, dos netos, faz caminhadas, alimenta-se bem e aconselha, quem estiver passando por problema semelhante, a manter o bom humor e uma atitude positiva, porque o "estado de espírito ajuda, e muito, na evolução do tratamento. Outra boa nova são os inegáveis avanços na medicina como, por exemplo, a tomografia tridimensional ou o exame de imunoistoquímica, que informa qual tipo de medicamento é o mais indicado para o seu organismo.


BH contra o câncer Lacerda sanciona lei que possibilita construção de moderno Centro de Referência do Câncer, onde funcionava o antigo Instituto Hilton Rocha Agora é oficial. Belo Horizonte vai ganhar um completo e moderno hospital especializado em câncer, o Hospital da Oncomed. A unidade será instalada no antigo prédio do Instituto Hilton Rocha, no bairro Mangabeiras, com arrojado e ambientalmente sustentável projeto arquitetônico de Flávio Carsalade. A reforma e adequação será possível graças à aprovação do projeto de Lei 239/13, inclusive com um substitutivo, de autoria do vereador Doutor Nilton (PSB), que contempla o aumento de unidades hospitalares localizadas em áreas de proteção ambiental (ZP1, ZP2 e ZPAMs). A proposta, já sancionada pelo prefeito Marcio Lacerda, gerou polêmica e debates na capital mineira, em função do receio da população de que a paisagem da Serra do Curral fosse alterada e de que o novo hospital trouxesse transtornos ao bairro Mangabeiras, essencialmente residencial. Em função disso, a ampliação, agora garantida por lei, é apenas para as unidades já existentes nesses locais, excluída qualquer possibilidade de verticalização. O oncologista e também diretor da Oncomed (grupo que arrematou o prédio do IHR, em um leilão, em 2009) Amândio Fernandes, diz que o novo hospital permitirá a "realização de um sonho", que é oferecer a Belo Horizonte um Centro de Tratamento completo, integrado e multidisciplinar, com espaço para palestras e debates sobre prevenção à doença e qualidade de vida. Outra intenção é oferecer o que há de mais moderno em termos de exames diagnósticos, radioterapia, quimioterapia e tratamentos FOTOS: FERNANDA MANN |1: DIVULGAÇÃO

1.

VITÓRIA DA SUSTENTABILIDADE Projeto do futuro hospital da Oncomed

FERNANDES Felicidade médica

cirúrgicos. Além disso, o hospital manterá o atendimento oftalmológico, em homenagem ao visionário Hilton Rocha, e terá ainda um setor especializado em cardiologia, a pedido da comunidade vizinha. "Considero um privilégio termos o nosso hospital naquele local, cartão-postal natural de BH. Também estamos felizes porque contribuiremos para a melhoria

da saúde em nossa cidade e a revitalização do prédio e todo o seu entorno." disse Fernandes. Ele tanbém confirmou estár de pé o compromisso com a Fundação Biodiversitas de implantar um corredor ecológico, ligando os fundos da instituição com a fauna e flora dos parques das Mangabeiras e Serra do Curral. O próximo passo é submeter o projeto arquitetônico aos órgãos competentes, a fim de obter o alvará de construção. A expectativa do diretor é iniciar as obras no próximo semestre, com previsão de término no segundo semestre de 2014. De acordo com levantamento da Oncomed, cada leito do novo hospital deverá gerar cinco empregos diretos e dois indiretos. A unidade terá capacidade para 220 leitos. O JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 55




1 SAÚDE

SEM VEVENO, POR FAVOR Fernanda Mann

redacao@revistaecologico.com.br

L

onge do romantismo bucólico, os alimentos orgânicos são, muitas vezes, prescrição médica. Mas será que vale mesmo a pena optar por eles? O que têm de diferente dos outros alimentos? Não são mais caros? E como saber se estamos diante de um produto verdadeiramente saudável?

58 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

Segundo a professora Maria Clara da Silva, de 60 anos, sim. Vale a pena. Por causa de um câncer no ovário, o médico recomendou que ela se alimentasse, prioritariamente, de produtos orgânicos. Ela mesma, depois de curada, nunca mais conseguiu voutar atrás. Tornou-se cliente assídua da feirinha próxima

à sua residência e diz ser notável a melhora em seu estado geral de saúde. Outra vantagem, apontada por ela, é que “os molhos de couve e outras hortaliças, por exemplo, vêm mais caprichados. Pago um pouquinho a mais na alimentação, para economizar no médico e nos remédios. Acho que é uma troca justa!”


FERNANDA MANN

Produtos orgânicos preservam a biodiversidade e levam mais saúde à mesa do consumidor

CARO QUE SAI BARATO O maior custo dos orgânicos, em geral, também é compensado, pelo fato de terem maior durabilidade, como aponta Adriana Campos, responsável pela venda a supermercados e gerência das lojas Fito, empresa pioneira na produção de orgânicos, há 17 anos em Belo Horizonte. Ela explica que o

orgânico é mais caro porque não dispõe das estratégias e tecnologias utilizadas na produção dos alimentos convencionais. “Se uma praga ataca a plantação não orgânica, o produtor aplica o “remédio” com uma máquina e pronto! O pior é que esses são verdadeiros venenos à saúde. Muitos dos agro-

tóxicos utilizados no Brasil são proibidos em outros países”. Além da ausência de produtos químicos, os nutrientes da terra são “fabricados” de forma natural, por meio do processo de compostagem. No caso da Fito, as verduras e folhas que sobram são usadas nesse processo, dando origem a

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JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 59


1 SAÚDE É triste, mas é verdade!

JANIS E JOSÉ Produtores há 16 anos, estão sempre presentes nas feiras de orgânicos da prefeitura

um adubo mais rico e, consequentemente, a um alimento mais nutritivo. “A natureza gosta e dá retorno. Quanto mais se planta de maneira orgânica, melhor fica o ecossistema inteiro”, comenta Adriana. Em vez de agrotóxicos, a produção de orgânicos trabalha com a prevenção. Mas há sempre o risco. No caso das pragas, às vezes, só a prevenção não é suficiente, e toda uma produção pode ser perdida, encarecendo o produto. Além disso, as sementes são mais caras e o trabalho é totalmente manual. Por isso, há que se oferecer boas condições de trabalho aos funcionários. Tanto por respeito ao ser humano, quanto para atender aos quesitos exigidos pelos órgãos de fiscalização. A nutricionista e doutora em Ciência e Tecnologia dos Alimentos Rita Ribeiro concorda com Adriana. Ela acredita que o preço do produto se justifica por ser um alimento que não traz danos à saúde, é mais saboroso e crocante. Pondera ainda que “quem se alimenta de orgânicos faz uma escolha ética, pois, além de cuidar da própria saúde, preserva o 60 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

meio ambiente e ajuda os pequenos produtores rurais a ter melhor renda e condições de trabalho”. Adepta a esse tipo de alimentação, ela cultiva hortaliças, ervas e frutas em seu próprio apartamento. Uma opção criativa e que sai mais em conta. Fica a dica. PRODUTORES E PRODUÇÕES Janis dos Santos Avelar e o marido José Estevão Avelar trabalham na produção e venda de orgânicos, há cerca de 16 anos. Há 13, estão presentes nas feiras da prefeitura, em diferentes bairros de Belo Horizonte. José conta que, na horta deles, é fácil perceber que se trata de uma produção orgânica. “A gente ouve os insetos e vê passarinhos em volta dos girassóis. Esses atraem besouros que comem, cada um, mil pulgões por dia. Utilizamos também ervas, como a cidreira e o cravo, que espantam determinadas espécies. As lagartas, nós catamos a mão”. A cidade de Capim Branco, a 53 km de Belo Horizonte, onde eles têm a produção, “era conhecida como a terra do alho, mas de tanto usarem “remédio”, deu uma doen-

O Brasil é, hoje, o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Em média, cada brasileiro consome 5,3 quilos de veneno agrícola por ano. Pesquisas mostram que alguns produtos como tomate, alface e morango são contaminados por agrotóxicos proibidos para o consumo. Muitos deles podem causar problemas hormonais e até câncer. E não adianta lavar os alimentos ou mergulhá-los em soluções, porque muitos agrotóxicos penetram nos vegetais.

ça na terra que inviabilizou esse tipo de plantio. Com o orgânico é o contrário. A natureza só agradece e dá mais frutos”, conta José. Janis acrescenta que todo o cuidado não basta dentro de sua área. É necessário contar com a consciência dos vizinhos. “Não adianta meu sítio estar nos conformes, se meu vizinho utiliza agrotóxico no sítio dele. O veneno contamina a terra e, pior, os cursos d’água. Existem produtos que contaminam o solo por dezenas, e até centenas de anos. CONSUMIDOR TEM DIREITO DE SABER Existem duas maneiras de reconhecer um alimento orgânico. A primeira é conferir se, na embalagem dos produtos, consta o selo do governo. Muitas vezes, há também o selo de alguma empresa certificadora. Outros alimentos, como verduras e hortaliças, nem sempre vêm em embalagens, onde constaria o selo. Neste caso, trata-se de uma venda direta, que acontece entre o produtor e o consumidor final, sem intermediários. Uma das vantagens é que favorece preços mais justos.


E os industrializados? Parte em ingredientes orgânicos

Parte em ingredientes não orgânicos

5%

Para ter o nome “orgânico” ou “produto orgânico” no rótulo, o produto deve conter, no máximo, 5% de ingredientes não orgânicos e é obrigatória a descrição dos mesmos;

Parte em ingredientes orgânicos

Parte em ingredientes não orgânicos

Produtos que têm uma porção maior de ingredientes nãoorgânicos só podem ser chamados de “produtos com ingredientes orgânicos”. Ainda assim, a parte orgânica deve 2. ser, necessariamente, no mínimo 70%. "PRODUTO COM INGREDIENTES ORGÂNICO"

70%

1.

"ORGÂNICO"

Vende orgânico? Hoje praticamente todos os supermercados apresentam opções de alimentos orgânicos.Às vezes em um setor especifico, às vezes em meio aos alimentos convencionais. O importante é olhar a certificação.

Para orientar os clientes as informações podem estar: O No rótulo, se existir, em materiais de divulgação e em avisos colocados nos locais onde o produto está sendo vendido;

MUDANÇA a professora adotou alimentação orgânica e melhorou a saúde

O Em caso de venda direta, o produtor deve ser identificado, assim como a OCS a qual ele está vinculado; O Os produtos sem certificação não podem fazer uso do Selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. Mas a legislação permite que o agricultor coloque no rótulo do produto, ou no ponto de venda a expressão: produtos orgânicos para venda direta por agricultores familiares organizados, não sujeito à certificação, de acordo com a lei nº 10.831, de 23 de setembro de 2003. RITA RIBEIRO nutricionista mantém horta em casa e colhe orgânicos frescos FOTOS: FENANDA MANN | 1-2.REPRODUÇÃO

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JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 61


1 SAÚDE FEIRAS ORGÂNICAS CENTRO-SUL:

“noExistem Brasil

Belvedere Av. Paulo Camilo Pena, 400 - Terças das 7 às 12h

algo em torno de 10 mil produtores em uma área de aproximadamente um milhão de hectares.

Luxemburgo Avenida Guaicuí (esquina com Felipe Drummond) - Quartas das 7 às 12h

Mangabeiras Av. dos Bandeirantes (Praça. JK) Sextas das 7 às 12h

Savassi O SELO: marca do governo, para produtos orgânicos

Anchieta Rua Grajaú com Francisco Deslandes Terças e Sextas, das 7 às 12h

EM QUEM CONFIAR Considerando essa realidade, as leis brasileiras abriram uma exceção à obrigatoriedade da certificação pelo selo. Assim, os agricultores familiares podem vender diretamente seus produtos. Mas, para isso, precisam estar vinculados a uma Organização de Controle Social (OCS) de modo que o consumidor sempre possa tirar suas dúvidas sobre o processo de produção. A OCS pode ser formada por um grupo, associação, cooperativa ou consórcio, com ou sem personalidade jurídica, de agricultores familiares. Ela só será reconhecida se existir de forma organizada. Os objetivos são orientar os agricultores sobre a forma correta de produzir e exercer um papel fiscalizador, entre os próprios participantes do grupo, os consumidores e os órgãos governamentais. Uma vez formada, a organização é cadastrada nas Superintendências Federais de Agricultura ou em órgãos fiscalizadores. Esse procedimento garante que os direitos dos consumidores e bons produtores sejam respeitados e que os “maus produtores” não possam vender seus produtos, com a chancela de “orgânicos”.

62 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

Rua Cláudio Manoel; (entre Getúlio Vargas e Afonso Pena) - Terças das 12 às 18h

São Bento Barragem Santa Lúcia; (ao lado da Praça República do Líbano) Terças das 7 às 12h

CONTROLE RÍGIDO O coordenador da Comissão da Produção Orgânica em Minas Gerais, Gil Teixeira, ressalta que o controle dos órgãos fiscalizadores é bastante rígido. As exigências passam pelo registro de todos os que trabalham na produção, o recolhimento da declaração daqueles que se afastam ou saem do grupo, o controle de tudo o que é produzido, tanto da variedade, quanto da qualidade e da quantidade por unidade de produção familiar. Segundo ele, representantes do Ministério da Agricultura fazem vistorias anuais e chegam no local , sem prévio aviso. Existem no Brasil algo em torno de 10 mil produtores em uma área de aproximadamente um milhão de hectares. Somos o país com maior mercado consumidor de orgânicos da América Latina, mas a demanda ainda supera a oferta. Gil ressalta que, se mais produtores passarem a produzir orgânicos, os custos serão cada vez menores e, cada vez mais pessoas terão acesso, o que retroalimenta a dinâmica. “O mais importante é difundirmos essa consciência."O

OESTE Buritis Av. Prof. Mario Werneck; (esquina com Rua Aurélio de Miranda) Sextas das 7 às 12h

Gutierrez Av. Raja Gabáglia, 1626 - Quartas das 7 às 12h

PAMPULHA São Luiz Av. Alberto Dalva Simão - (esquina com Av. Santa Rosa) - Sábados das 7 às 12h

FEIRA REDE TERRA VIVA Santa Tereza Rua Capitão Procópio, 18; (Casa Mangaia) - A partir de agosto - 2º e 4º sábados do mês, das 9 às 13hs

SAIBA MAIS www.redeterraviva.org

LOCAIS DE VENDA DE PRODUTOS SEM AGROTÓXICOS DA AGRICULTURA URBANA Grupo Frutos da União Conjunto Ribeiro de Abreu Rua Serra da Boa Esperança, 91

Associação Comunitária dos Moradores da Vila Santana do Cafezal Aglomerado da Serra Rua Bela Vista, 56 (Vila Santana do Cafezal)

Jardim Produtivo do Cardoso Barreiro - Rua Robertson Pinto Coelho, s/n

SAIBA MAIS www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/organicos



1 ESPECIAL PARINTINS

MARAVILHA AMPLIADA Os bois-bumbás Garantido e Caprichoso festejam seu centenário inaugurando o novo Bumbódromo...

PARINTINS SUSTENTÁVEL No centenário do maior festival folclórico do planeta, a Coca-Cola Brasil também celebra 19 anos de patrocínio e parcerias socioambientais com a ilha mais famosa e desafiante da Amazônia Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

S

ituada no interior do Amazonas, a 400 km de distância da capital Manaus, descendo o maior rio do planeta até quase a divisa com o Pará, a ilha de Parintins reviveu em festa, pela 64 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

centésima vez, a história cultural, artística e ecológica de seus bois -bumbás Caprichoso e Garantido. Ao mesmo tempo, o segundo município mais populoso do Estado - com 104 mil habitantes e ainda

carente de quase tudo, pelo seu isolamento geográfico - recebeu, este ano, o mesmo número de visitantes e turistas de todas as partes do mundo. E confirmou, ao longo dos dias 28, 29 e 30 de


...Investimentos de R$ 40 milhões em obras de infraestrutura, luz e som no coração fluvial do Amazônas

junho, a beleza, a importância e o retorno que dá e recebe de seus patrocinadores. Somente a Coca-Cola Brasil, seu patrocinador mais antigo, que há quase duas décadas faz o Brasil e o mundo descobrirem, curvarem-se e aplaudirem a exuberância indescritível do seu “carnaval verde”, em plena selva e fartura d´água, investiu R$ 6,5 milhões no festival deste ano, sendo R$ 2,5 milhões diretamente no patrocínio de seus bois. Somados, seus investimentos já ultrapassam R$ 76 milhões ao longo dos 19 anos em que apoia o evento. “O patrocínio ao Festival de Parintins é um dos mais relevantes apoios culturais que fazemos no país, fruto de um relacionamento próximo e duradouro com o Amazonas e seus habitantes. Ao longo desses anos, já trouxemos milhares de formadores de opinião, bra-

homem sobre a floresta. Quando apoiamos instituições parceiras da causa, como a Fundação Amazonas Sustentável e, mesmo, quando investimos nesta que é uma das mais belas festas populares do mundo” - disse Marco Simões, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, durante o evento.

1.

MARCO SIMÕES Tudo colorido e ligado à sustentabilidade

sileiros e estrangeiros para conhecer esta rica manifestação artística do país. Tudo que fazemos ali está ligado à sustentabilidade, inclusive quando criamos milhares de empregos que diminuem consideravelmente a pressão ambiental do

COLORIR JUNTOS “Vamos juntos colorir Parintins” foi o nome escolhido para o conjunto de ações que a Coca-Cola Brasil criou para o último festival, neste ano mais que especial: o centenário de Caprichoso e Garantido, que se apresentaram no bumbódromo, totalmente reformado. Para quem não conhece, originários da cultura do nordeste brasileiro, os bois são uma versão folclórica, sem a malícia, a nudez e o rebolado das escolas de sam-

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JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 65 FOTOS: GASPAR NÓBREGA 1. DIVULGAÇÃO COCA COLA BRASIL


1 ESPECIAL PARINTINS

1.

ATRAÇÃO À PARTE O romântico Hotel-navio que desce 400 km no maior rio do planeta, de Manaus a Parintins. Com direito a ver boto e praticar a pesca ecológica de piranha, como fez o fotógrafo Bruno Simão

2.

66 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

3.


MARCA PARCEIRA O Sistema Coca-Cola Brasil, formado por 13 grupos fabricantes no país, emprega diretamente 66 mil funcionários, gerando cerca de 600 mil empregos diretos. Seus investimentos até o final de 2013 serão de R$ 2,6 bilhões. No período 2012 a 2016, o total investido será de R$ 14,1 bilhões, 50% superior ao montante investido entre 2007 e 2011. A sustentabilidade é um compromisso da marca e se reflete na forma como a empresa e seus fabricantes lidam com as pessoas e o meio ambiente. O índice de uso de água da CocaCola, por exemplo, é um dos melhores do mundo: 1,91 litro de água para cada litro de bebida produzido. Menos da metade do volume utilizado 13 anos atrás. Na reciclagem, ela desenvolve, por meio do Instituto Coca-Cola Brasil, o Programa Coletivo Reciclagem, anteriormente conhecido como “Reciclou, ganhou”. Desde 1996, colabora para que o país seja um dos mais eficientes na reciclagem de materiais. Hoje, mais de 98% das latas de alumínio e 56% das garrafas PET são recicladas. Para saber mais, visite os sites: www. institutococacolabrasil.com.br e www.cocacolabrasil.com.br

4.

ESPETÁCULO FOLCLÓRICO O vermelho e o azul dos bumbás concorrentes, versão ecológica do carnaval carioca

5.

ba do carnaval carioca. No lugar das mulatas provocantes, quem desfila são índias performáticas, vestidas e dançando de maneira primitiva e inocente. Quase que sem pecado. E, no lugar do samba, uma toada igualmente contagiante faz ambas as torcidas e a multidão de visitantes também dançarem cinco horas seguidas, em cada noite de apresentação distinta dos dois rivais. Multiplicado por três noites, são 15 horas de exaltação rítmica e cadenciada de amor à natureza e preocupação com o meio ambiente ainda pungentes na Floresta Amazônica.

1-2. DIVULGAÇÃO 3. ARQUIVO PESSOAL 4-5. BRUNO SIMÕES

Ao todo, mais de três mil moradores são envolvidos diretamente nos bastidores da festa. Mil em cada agremiação, confeccionando fantasias, adereços e alegorias. E outros mil a serviço da empresa, trabalhando na montagem do Kuat Club, no camarote do bumbódromo e nas operações de hospedagem e atendimento aos seus convidados. Como a cidade recebe turistas no mesmo número de seus moradores - 100 mil pessoas em média, durante o festival - e não há como hospedá-los, os turistas e visitantes dormem nas próprias embar-

cações que se atracam ao redor da ilha. No caso da Coca-Cola, seus convidados permanecem no navio-hotel Iberostar, uma espécie de Titanic reduzido, que os apanha em Manaus e os leva pelo Rio Amazonas abaixo, numa viagem deslumbrante ao longo de 14 horas. Também é indescritível, pra não dizer “eco-romântico”, ficar a dois em suas cabines privativas, tendo como cenário e companhia permanente durante toda a viagem: simplesmente o “maior, mais caudaloso, maravilhoso e ainda vivo curso d´água do planeta”.

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JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 67


1 ESPECIAL PARINTINS

SONHO REAL Taciara (Coletivo), Samyra Crespo (MMA) e Thaís Vojvodic (Coca-Cola) ouvem o testemunho de Patrícia Giovani e suas colegas


REVISITANDO A

ESPERANÇA Os depoimentos de quem reciclou sua própria vida e passou a agir pensando coletivamente no planeta

A

Revista ECOLÓGICO revisitou dois projetos da CocaCola Brasil que estimulam a reciclagem e a geração de renda na ilha. Eles integram, há mais de cinco anos, o que a empresa nomeia de “Coletivo”, por envolver e vir da própria população. E segundo sua diretora de Negócios Sociais, a jornalista Claudia Lorenzo, mais que capacitar seus moradores e criar mercado de trabalho para eles, o resultado medido em termos de ecologia humana tem um acréscimo impressionante: “A autoestima deles, como pessoas e cidadãos conscientes do estado ambiental do mundo, aumenta em 20% depois. Mesmo agradecidos e amantes da nossa marca e dos nossos produtos, eles dizem que também têm sede de outras coisas, passam a querer mais para si e o meio social onde vivem. Isso é o que mais nos gratifica”. Nós confirmamos isso em um dos galpões do “Coletivo das Artes”, que reúne cinco grupos familiares, cada um com quatro pessoas. Cada grupo é capacitado para produzir objetos artesanais como bolsas, utensílios domésticos e artigos de decoração, mesclando insumos e técnicas locais a materiais recicláveis como embalagens de refrigerantes. Tudo com supervisão

da consultora em design Mônica Carvalho, também contratada pela Coca, que os orienta na confecção de seus produtos ao gosto do mercado de arte dos grandes centros urbanos, auxiliando-os também no processo comercial. Quem nos recebeu em sua humilde metade casa, metade ateliê, foi a artesã local Patrícia Giovani. Firme e sorridente, ela se diz “um milagre vivo de Deus”. Primeiro por ter sido “descoberta” pela empresa, que lhe abriu os olhos para traba-

FÉ A artesã após ter recuperado os cabelos:“Sou um milagre vivo!”

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JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 69 FOTOS: BRUNO SIMÕES


1 ESPECIAL PARINTINS lhar com PET, o maior flagelo hoje da ilha, que recebe lixo de todos visitantes e da sua própria população e não tem como devolvê-lo à sua origem, devido ao isolamento geográfico: “O Coletivo abriu uma porta pra nós. Além de ser ecológico, hoje eu e minhas colegas vendemos tudo que fazemos”. Isto acontece via parceria também com a Asta (www.redeasta. com.br), uma rede cujo lema é “fazer histórias com as próprias mãos”. Um “negócio social” que promove e trabalha a vida das “produtoras do bem”, como são chamadas todas as artesãs, empresas e pessoas, enfim, envolvidas nessa cadeia de valor. O segundo milagre de Giovane é a sua própria história de vida e superação, fruto da autoestima aumentada pelo projeto: “Olhem eu careca, nessa foto aí, fruto de um câncer de mama que tive! Cheguei a ser dada como desenganada pelos médicos. Perdi tudo, menos o prazer de trabalhar com arte. Acredito que foi isso que ajudou a me salvar e me faz hoje, mais feliz, liderar outras colegas de profissão nessa direção” - exortou a artesã.

MÁRCIA IVONE “Meus filhos ainda vão viver num planeta menos poluído”

Uma de suas colegas, Taciara, de apenas 21 anos, confirmou a pegada sustentável do projeto: “Faz nos envolver com a reciclagem, que é o que o planeta mais precisa, torna a gente útil e importante”.

MOVENDO O PLANETA O próximo e também humilde galpão que visitamos, dentro do Coletivo, foi o da Associação de Catadores de Lixo de Parintins (Ascalpin), que processa um volume de 20 toneladas de material reciclado por mês, principalmente papelão. Desde 2006, sem banheiro e chuveiro, e ainda ameaçadas de despejo, por ocuparem um espaço público abandonado, 16 pessoas trabalham ali. Todas são mulheres, como a líder Márcia Ivone, mãe de quatro filhos, que almeja ainda se formar em Serviço Social. “Apesar das dificuldades, a gente sonha alto. Graças ao pouquinho que fazemos aqui, acredito que meus filhos vão poder viver em um planeta menos poluído” - disse ela, também agradecida por ter sido incentivada com a doação de equipamentos para prensar, pesar e tentar vender, na distante e fluvial Manaus, todo o papelão usado que conseguem recolher. E ainda é muito pouco do muito e incalculável volume que chega diariamente à ilha.

CLAUDIA LORENZO No meio das colegas de Ivone: “O que mais nos gratifica é aumentar a autoestima delas” 70 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013


1.

2.

ARTESANATO COLETIVO Parceria com a Asta ensina as artesâs misturarem elementos naturais da floresta com os lixos recicláveis que antes sujavam as comunidades ribeirinhas. Exemplo que vem do Rio Negro

Mesmo consciente disso, Márcia e suas colegas não se dão por vencidas. Apesar de não contarem com carro, carroça nem bicicleta para fazer esse serviço, elas se dizem melhor do que quando trabalhavam no lixão municipal. O próprio dizer estampado nas camisetas que vestem resume essa esperança em cada uma delas: “A minha vontade move o planeta”. SUSTENTANDO A ESPERANÇA O objetivo desses projetos socioambientais, demonstrado pela empresa, é transformar as vidas de milhares de outras Márcias e Patrícias, a partir da capacitação,

FOTOS: BRUNO SIMÕES 1-2. REPRODUÇÃO

geração de renda e valorização da autoestima. Trata-se, enfim, de um dos mais ambiciosos programas de valor compartilhado propostos pela iniciativa privada brasileira, cujo foco principal está nos jovens e nas mulheres de comunidades de baixa renda. O Coletivo Coca-Cola já tem 300 outras unidades em funcionamento em todo o país, em parceria com ONGs locais consideradas relevantes pelas suas comunidades, o que irá beneficiar cerca de 100 mil pessoas até o final de 2013. A meta global são cinco milhões. Com sua cadeia de valores, comunicação emocional e capilari-

dade geográfica - desde os insumos que preserva e utiliza até a reciclagem final - a Coca-Cola está presente em 80% dos lares brasileiros. Segundo Marco Simões, isso permite à empresa, por meio de sua rede de colaboradores, fabricantes e parceiros estratégicos, levar a mensagem da sustentabilidade em larga escalada. E, assim, ajudar a informar, educar ambientalmente, capacitar e transformar a sociedade. Como no exemplo belo e real, já há quase duas décadas, do maior espetáculo folclórico do planeta. O Festival de Parintins, em pleno rio e floresta amazônicos. Naturalmente. O JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 71


FOTOS DIVULGAÇÃO

INFORME PUBLICITÁRIO

RECICLAGEM: NO PROCESSO, EMBALAGENS USADAS SÃO TRITURADAS E LAVADAS PARA SE TRANSFORMAREM EM NOVAS

QUIMINOVA LIMPA A CASA E O PLANETA

Logística reversa e reciclagem de óleo são um dos diferenciais da empresa

O

ferecer produtos de limpeza com embalagem 100% reciclada, retornável e cujo conteúdo é baseado em essências naturais ou provenientes da reciclagem de óleo de cozinha. Esse é um dos diferenciais da Quiminova, empresa especializada em soluções de limpeza para casas, automóveis e indústrias de segmentos diversos. São detergentes, água sanitária, ceras, desengraxantes, uma série de itens, todos fabricados sob um princípio comum: ser susten-

tável (reciclando, reutilizando e promovendo a logística reversa). A missão ecológica surgiu de uma necessidade. Localizada em Paracatu, noroeste de Minas, a Quiminova encontrou, em um possível problema a solução sustentável para os negócios. Longe dos grandes centros urbanos, com a frequente necessidade de comprar polímero, componente químico para produção de embalagens, os cusWRV HVWDYDP ÀFDQGR DOWRV )RL TXDQGR a diretoria da empresa viu na recicla-

gem não só uma vantagem econômica, mas um diferencial em relação aos concorrentes. O primeiro passo foi ÀUPDU SDUFHULD FRP XPD DVVRFLDomR de catadores de materiais reciclados. O segundo, garantir a operacionalização do processo. Atualmente, a Quiminova recebe as embalagens usadas (de qualquer marca), depois as seleciona, tritura, lava e esteriliza. A partir daí, os novos recipientes são produzidos. O mesmo processo é adotado para os produtos da linha Quiminova


e os da Bona Beija - outra marca da empresa. A estimativa é que sejam reciclados, por mês, de 1500 a 2000 quilos de plásticos. Mary Léia Padilha, responsável pela área de marketing e assuntos ambientais, salienta que a empresa obviamente busca lucros, mas o novo processo de produção de embalagens agregou valor ao trabalho. “Ao pensarmos também na questão social, do trabalho conjunto dos catadores, das cooperativas, percebemos como a vida dessas famílias melhora consideravelmente”, avalia. O sucesso com a produção das embalagens incentivou a Quiminova a atuar em outro segmento: o da reciclagem de óleo de cozinha. Com apoio da Secretaria de Meio Ambiente, de Paracatu, foram realizadas nas escolas e empresas da região atividades de educação ambiental sobre os perigos do óleo, quando descartado indevidamente. Após essa intervenção, a empresa espalhou pontos de coleta em escolas e restaurantes. O óleo, coletado a cada quinze dias, é À OWUDGR H SDVVD SRU XP SURFHVVR GH correção de acidez. Quanto mais claro, menos impurezas e mais adequado para a produção de sabão em barra e detergentes. A Quiminova recolhe cerca de 2 mil litros de óleo por vez, que geram aproximadamente 1,9 mil litros de detergente. Até a água da chuva é usada na fabricação do produto. “O processo não é tão barato por causa da logística, mas foi a maneira que encontrei de reduzir os impactos do óleo na natureza, utilizando-o como matéria-prima do meu negócio”, diz o proprietário, Alcir Antônio Corso. Atualmente, a empresa também apoia boas práticas de sustentabilidade na comunidade do entorno, tais como ações sociais e culturais. Todas essas atividades garantiram à Quiminova, pelo segundo ano consecutivo o Prêmio de Empresa Ambiental de Paracatu, tornando-a um dos destaques do Prêmio Sebrae Minas de Práticas Sustentáveis. SAIBA MAIS: www.premiosebraemgsustentavel.com.br

A EMPRESA A Quiminova foi fundada em agosto de 2008 na cidade de Paracatu (MG) e emprega 11 funcionários. Especializada em produtos de limpeza, iniciou suas atividades fabricando produtos da linha automotiva e industrial. Atualmente, também possui soluções de limpeza e higienização para residências, laticínios, frigoríficos, clubes, condomínios, hotéis, lavanderias, restaurantes e escritórios.

MOTIVAÇÃO “Como a empresa é familiar, as ações são baseadas muito no que os proprietários pensam, no que sentem e gostam. Por isso, acredito que as ações e projetos voltados para a sustentabilidade também são prioridades da empresa, afinal temos filhos e nos preocupamos com o futuro deles! Outro ponto que nos fez optar pelas práticas sustentáveis, e que é muito importante, é que, hoje em dia, consumidores mais exigentes requerem cada vez mais serviços e produtos limpos, de empresas com ações voltadas para a preservação da natureza. Sendo assim, não podemos ter sucesso sem nos preocuparmos com o meio ambiente!” Alcir Antônio Corso, diretor


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GESTÃO & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

REVISITANDO

“Tá frio!

FORTUNATO

Eu não tenho compromisso nenhum aqui,

“T

á frio! Eu estou muito doente. Eu não tenho compromisso aqui, eu só olho as coisas.” Pensando em gestão, bateu uma vontade doida de relembrar o Fortunato. Vou explicar. Setenta e nove foi um ano importante pra mim, porque foi a primeira vez que eu pensei como gente grande. Tinha me formado na Escola Técnica Federal de Minas Gerais e virado um primeiranista de Engenharia. Tudo de bom! Podia olhar meus colegas por cima, porque eu era um técnico, e podia olhar por cima os que ficaram para trás, sendo só técnicos. O Brasil precisava de técnicos, mas eu queria mais. Um dia eu iria descobrir que eu queria era ser gente, mas isso é outra história... Entrei numa livraria, fazia isso sempre, e calhou de ser na Galeria do Ouvidor, Rua São Paulo de Belo Horizonte. Fico lembrando do meu primeiro shopping (risos). Daquela vez, eu procurava livros que ninguém quisesse ler. Uma espécie de jogo que eu também sempre fazia: encontrar livro bom no meio do nada duma liquidação. Encontrei! Livro fininho, noventa e nove cabalísticas páginas que eu podia comer em poucas horas. Chamava-se Colcha de Retalho, e Domingos Gandra, o organizador, contava que eram os fragmentos colhidos da vida de idosos em asilos da cidade. Foi lá que o Fortunato escreveu que estava frio o tempo, que estava doente o corpo, que a mente não tinha compromisso e que ele, ah, ele só olhava a vida, enquanto marcava a ferro minha alma. Já escrevi sobre ele e vi seu lado bom, tantos anos atrás. Agora revisito Fortunato, sentado no “caixotinho que puseram para ele sentar”. Mas Fortunato tem seu lado mau. Fortunato fica olhando a vida feito a gente fica olhando nosso trabalho, muitas vezes. A gente senta no caixotinho, a gente fala mal dos outros, a gente pensa que sabe tudo, que o jeito de fazer é o nosso jeito! Um concorrente, um colega de empresa sai com uma coisa boa e pahhh! Eu quis fazer a onomatopeia do tiro que eu dei com a minha inveja, querendo dizer que certo sou eu, errado, o outro. Tem outra vez que a gente é que toma tiro, aconte-

74 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

Eu estou muito doente. eu só olho as coisas.” ce, e sai resmungando que ninguém reconhece, que o mundo é cruel, donde deriva que somos santos. Quero te convidar a sair do caixote, olhar a vida com olhos novos e pensar que o mundo fica melhor se a gente se mexe em vez de ver o trem passar e o “outro” tentar, errar, acertar e fugir dos tiros que damos. Tenho vivido assim, baita esforço! Na Empresa Essencial batizei a ideia de Princípio da Alegria, “niente senza gioia”, nada sem alegria! Faça o que fizer, faça sem raiva, que dureza! Escute a crítica que escutar, faça para resolver, para ser melhor e para tornar boa a vida dos que te cercam. O resto é visão de caixote! Quando aquele livro saiu, o Fortunato tinha oitenta e oito anos e terminava dizendo, de novo, que estava muito doente e completava: - O meu fim é aqui. De boa? Na vida e no trabalho, mova-se! Não vale a pena só ficar sentado olhando as coisas... O (*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG e presidente do Comitê para a Democratização da Informática – CDI e diretor da Arbórea Instituto

TECH NOTES O Rubem Alves: “Se eu pudesse viver minha

vida novamente” www.ebookbrowse.com/livro-se-eu-pudesseviver-rubem-alves-rtf-d423488145 O Dirce Vieira e Maria Pires: O sofrimento

como vício www.integrareeditora.com.br/catalogo/sofrimento.asp O Christophe Dejours: O sofrimento no trabalho

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1 MÍDIA

NOVO CONSELHO ECOLÓGICO Ângelo Machado, Antônio Claret de Oliveira, Célio Valle, Evandro Xavier, Fábio Feldman, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Maurício Martins, Mário Mantovani, Nestor Sant’Anna, Paulo Maciel Júnior, Pátricia Boson, Roberto Messias Franco, Ronaldo Gusmão, Sérgio Myssior, Vitor Feitosa e Willer Pos

76 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013


UMA NOVA

ECOLÓGICO N

o início de sua carreira solo em 01 de outubro de 2008, no mercado editorial brasileiro, a ECOLÓGICO já trazia, em seu Conselho Editorial, a nata mais autêntica de ambientalistas históricos aliados a outros nomes representativos do mundo político, institucional e empresarial comprometido com a sustentabilidade. Eles são os conselheiros originais da revista, desde a morte de Hugo Werneck, considerado um dos pais do movimento ambientalista brasileiro, a quem a publicação é dedicada em todas as luas cheias. Quase cinco anos depois, no último dia 24, lua cheia de junho, a ECOLÓGICO lhes prestou uma merecida, singela e emocionante homenagem. A cerimônica aconteceu no Museu das Minas e do Metal, da MMX Mineração, na capital mineira. Foi quando eles também ganharam cinco novos companheiros ilustres, dentro do projeto de nacionalização da ainda hoje única publicação jornalística especializada em sustentabilidade na grande mídia impressa brasileira. São eles, os novos conselheiros empossados da ECOLÓGICO: o ex-deputado federal e ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo, Fabio Feldmann; o geógrafo Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica; a engenheira Patrícia Boson, secretária-executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da FIEMG; o engenheiro Ronaldo Gusmão, presidente do IETEC e coordenador da ECOLATINA; e o arquiteto e ur-

banista Sérgio Myssior, comentarista do Programa Mais BH, da Rádio CBN.

FOTOS: FENANDA MANN

PAUTA COMUM Sob o atual slogan "Sustentabilidade é a nossa pauta", a história tanto da revista quanto de seu mentor, Hugo Werneck, foi lembrada pelo jornalista e diretor da ECOLÓGICO, Hiram Firmino: "desde o Estado Ecológico, no jornal ESTADO DE MINAS, quando circulou durante nove anos, até a JB Ecológico, com outros nove anos no JORNAL DO BRASIL, e agora Revista ECOLÓGICO, há quase cinco anos e sem faltar uma lua sequer, já editamos e fizemos circular um total de 260 publicações jornalísticas sobre a temática ambiental". É esta a teimosia e missão da marca ECOLÓGICO desde a RIO/92, ele explicou: "mostrarmos, a cada nova edição, que o ser humano não destrói a natureza apenas por prazer e maldade. Mas por ignorância, egoísmo e escolhas equivocadas e escurecidas. Por desinformação. Por isso, a manutenção da nossa linha editorial, inspirada na visão apaixonada e no pensamento amoroso de Hugo Wernek: disponibilizar e democratizar a informação ambiental. Mesmo que utópicos, queremos ser como a lua, um ponto de luz impagável sobre a questão. Um olhar de Minas e do Brasil a refletir sobre o que também acontece no planeta".

ÂNGELO MACHADO E HIRAM FIRMINO Unidos na história werneckniana da nova publicação

TANTAS EMOÇÕES O biólogo, professor e escritor Ângelo Machado falou em nome de todos os conselheiros homenageados: "eu me emocionei com tudo o que foi falado sobre Hugo Werneck. Ele foi o nosso grande líder. Meu, do Célio Valle e de todos os que fundaram o Centro Mineiro para a Conservação da Natureza. Essa homenagem nos é muito cara. Todos nós gostamos muito da ECOLÓGICO. Primeiro, porque é uma revista bem equilibrada. Sabe premiar e homenagear, mas também denunciar e criticar sem jamais ser chata. Ser 'ecochato' é muito ruim; a chatice é uma forma grave de corrupção. Segundo, porque a revista tem como mensagem subliminar a beleza estética, mostrando sempre belas imagens. E aquilo que é bonito, Hugo também nos ensinou, a gente tende a proteger e preservar".

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JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 77


PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 1 MÍDIA

RESPONSABILIDADE "É uma honra e uma emoção muito grande estar neste conselho. Meu currículo agora ficou ainda mais completo, com essa nova e importante responsabilidade." Patrícia Boson

FÁBIO FELDMANN com o ex ministro José Carlos Carvalho: "O Brasil e o planeta devem à Minas Gerais. Quiséramos nós ter uma revista como esta em Sao Paulo"

GRATIDÃO "O Brasil e o planeta devem muito a Minas Gerais. A começar por José Carlos Carvalho que, em 2002, foi considerado o melhor ministro em toda a RIO+10, em Johannesburgo, na África do Sul. Depois, por estarmos aqui com Angelo Machado, com Célio Valle e por lembrarmos Dr. Hugo, que foi mestre não só para os mineiros, mas para todos nós, brasileiros. Portanto, reafirmo que o Brasil deve muito ao movimento ambientalista mineiro; e à ECOLÓGICO também. Como paulista, digo: quiséramos nós ter uma revista como esta em São Paulo. E como não temos, o desafio de vocês é torná-la cada vez mais nacional e internacional. Afinal, temos de trazer os jovens novamente para essa luta, envolvê-los na causa ambiental. Portanto, a ECOLÓGICO tem a grande responsabilidade de se fortalecer no meio digital, para atrair a moçada que, hoje, lê pouco. Assim, daqui a 40 anos, os jovens vão agradecer à revista e a Minas por tudo o que estão fazendo pelo planeta." Fabio Feldmann 78 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

DESAFIO "Pelo quarto ano consecutivo, Minas é o estado campeão de desmatamento deste bioma [Mata Atlântica] no país. O desafio é mudarmos essa história. Minas sempre nos inspirou na luta ambiental, graças a pessoas que estão aqui hoje e sempre nos ajudaram. Outro desafio é sabermos atuar neste que é o momento mais difícil da história do meio ambiente no Brasil. Nunca houve tantos retrocessos em tão pouco tempo, principalmente com o desmonte da legislação e do licenciamento ambiental. Essa voz vinda das ruas ainda não falou claramente sobre meio ambiente. Mas não há uma única ação vista nas ruas, pedindo transparência e fora corrupção, que não esbarre na área ambiental. Nosso papel, como conselheiros, é trazer todos esses temas para o debate, para que a luta iniciada desde o primeiro número da ECOLÓGICO seja mantida, e a Revista se torne cada vez mais a voz, a expressão dos movimentos sociais. Nós temos de mudar este país; e a mudança começa com informação correta e qualificada." Mario Mantovani


FOTOS: FENANDA MANN

VIGILÂNCIA "Sempre que encontro o Hiram, falo algo sobre a ECOLÓGICO, faço críticas com a intenção de melhorá-la. Agora, que sou conselheiro, agradeço a oportunidade, mas vou logo avisando: vou ficar mais ainda no seu pé." Ronaldo Gusmão

APRENDIZAGEM "A cada dia gosto mais da questão ambiental. Aprendo mais com ela e espero, ao longo da minha vida, ampliar esse aprendizado e 'contaminar' positivamente meus pares, colegas e familiares, para que se engajem cada vez mais nesta causa que é de toda a humanidade e do planeta." Sérgio Myssior

CARLOS GONZALES "A Mineiração sustentável é possível. Podemos minerar cuidando de toda a beleza que nos cerca"

PARCERIA DE FERRO O presidente da MMX Mineração, engenheiro e anfitrião do evento, Carlos Gonzalez, reforçou seu compromisso com a mineração responsável e a imprensa verde: "ainda como estudante, na Escola de Minas de Ouro Preto, já me envolvia com as questões ambientais, tinha amor pela natureza. Anos mais tarde, o destino me fez virar minerador. Depois de trabalhar no Pará, voltei a Minas e fui para Conceição do Mato Dentro, na Serra do Espinhaço, atuar no Projeto Minas-Rio, da Anglo American. Logo no

meu primeiro dia de trabalho, me sentei numa pedra, ao lado de um inglês, e ele me alertou para a importância de minerar, protegendo e cuidando de toda a beleza que nos cercava. Foi a partir dessas experiências que nasceu a nossa parceria com a ECOLÓGICO, quando decidimos apoiar o lançamento do primeiro número da revista, acreditando que a mineração sustentável é possível e que as questões ambientais devem ser tratadas de forma responsável especial."

PARCERIA NATURAL "Parabenizamos a ECOLÓGICO pela importante missão de unir jornalismo, cultura e defesa do meio ambiente." Helena Mourão, diretora do Museu das Minas e do Metal, lembrando que o espaço mantido pela MMX Mineração completou três anos de atividade e já recebeu 200 mil visitantes.

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JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 79


1 MÍDIA

ENCERRAMENTO VERDE No encerramento, o secretário ções. Isso comprova que não basta estadual de Meio Ambiente e De- o rigor da fiscalização para mudarsenvolvimento Sustentável, Adria- mos esse quadro. no Magalhães, destacou o fato de o É preciso que a mudança coevento reunir a nata da sustentabi- mece também pela necessidade lidade mineira e brasileira. E tam- de informação e pela educação. bém deu o seu recado, enfocando Isso reforça a importância da nosa reação do governo mineiro no sa parceria com a ECOLÓGICO, combate ao desmatamento: para que a revista chegue a todas "Caro Mario, tenho certeza de as nossas escolas. Temos de atinque a nossa relação com a SOS gir o imaginário de nossas crianMata Atlântica ças e jovens para não está estreque as próximas É importante mecida; e digo gerações tenham isso graças à atitudes diferenque a Revista origem da nossa ciadas. Temos de ECOLÓGICO amizade, quanfazer isso agora, do o conheci no no presente. chegue a todas as fogão da minha Essa reflexão nossas escolas casa, comendo é coletiva: para para atingir pão de queijo onde todos nós, feito por minha juntos, vamos leo imaginário saudosa mãe, var esse Estado? de crianças como amigo da Já anunciamos minha irmã e da um pacote de e jovens minha família. medidas duras. E Temos, sim, de agradecemos os olhar para Minas, mas para fren- dados informados por vocês, e a te. Desmatamento zero é algo que parceria com outras instituições, todos nós almejamos, mas sabe- como o Ministério Público (MP) e mos da impossibilidade de isso a Amda, que nós apontaram as faacontecer, em função das brechas lhas que precisam ser corrigidas. na legislação e das necessidades Não estamos contra a floresta de adequação econômica, mesmo plantada, contra o gusa ou a agroque sustentável. Sempre haverá pecuária em Minas. Afinal, se já intervenção nesse bioma. temos 17 milhões de hectares de Se olharmos o gráfico dos últimos áreas degradadas, não precisamos anos, veremos que reduzimos o desmatar Mata Atlântica, Caatinga, desmatamento em Minas em apro- Mata Seca ou qualquer outro bioximadamente 50% ao ano, resulta- ma, para sermos o maior estado em do de um esforço feito por diversas floresta plantada do mundo. instituições do governo. Se somos Temos um exemplo de grande campeões em desmatamento, isso aprendizado em Minas, um exemnão ocorre por omissão do Estado. plo de que ouvimos as vozes da Só em 2012, foram feitas mais de 40 sociedade e avançamos: é o Premil operações de fiscalização. Entre vincêndio. Em 2011, passamos por os munícipios apontados como os uma situação crítica, quando permaiores desmatadores, há um no demos mais de 60 mil hectares de qual houve mais de 500 fiscaliza- florestas para o fogo. Criamos uma 80 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

ADRIANO MAGALHÃES Promessa de governo na luta contra o desmatamento

força-tarefa, fizemos seminários, ouvimos críticas, sugestões e, por determinação do governador Antonio Anastasia, investimos 30 milhões no combate aos incêncios. É com essa mesma postura que vamos reagir agora, diante do clamor de vocês. Vamos criar uma força-tarefa dedicada ao combate do desmatamento em Minas, envolvendo todos os órgãos do governo. Com ela, esperamos também unir forças com a própria Fundação e as universidades federais de Viçosa e Lavras. Por isso, Mario, pode ter certeza: em 2014 não estaremos nas estatísticas da SOS Mata Atlântica."


OS HOMENAGEADOS Os conselheiros fundadores receberam o relógio ecológico com o canto das princípais aves brasileiras, de autoria do ornitólogo e ambientalista Dalgas Frisch

Nestor Santana, ex-presidente da Fundação Clóvis Salgado

Vitor Feitosa, ex-presidente do Conselho de Empresários da FIEMG

José Cláudio Junqueira, expresidente da FEAM

Guilherme Ramos representando Fernando Coura, presidente do IBRAM

Evandro Xavier, superintendente regional do IBAMA

Maria Dalce Ricas, superintendenteexecutiva da AMDA

Willer Pós, ex-presidente da FEAM e do IGAM

ARQUIVO PESSOAL

Hiram com Roberto Messias Franco, ex-presidente do IBAMA e da FEAM

FOTOS: FENANDA MANN

Célio Valle, fundador do Centro Para a Conservação da Natureza

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JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 81


1 MÍDIA

CONFRATERNIZAÇÃO LUNAR Evento proporcionou o encontro de companheiros do movimento ambiental

Evandro Xavier, Ricardo Caldeira, Valdo Mattos, Roberto Messias, Apolo Heringer e Muraí Caetano

Luiz Márcio Viana e José Luiz Magalhães Neto

Maria Teresa Leal (Tetê) e Ângelo Machado

Apolo Heringer e Mário Mantovani

Paulo Sérgio, Victor Corrêa e Carlos Gonzales

Roberto Messias, Hiram Firmino e Sérgio Motta

Marlene Machado, coordenadora comunicação da MMX

82 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

FOTOS: FENANDA MANN



PREFEITURA DE CONGONHAS

1 TECNOLOGIA AMBIENTAL

OBRA CONCLUÍDA Prefeitura aguarda resultado da licitação pública para início das operações no abatedouro

CONGONHAS CONSTRÓI

ABATEDOURO ECOLÓGICO Maria Teresa Leal redacao@revistaecologico.com.br

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prefeitura de Congonhas acaba de concluir as obras de um abatedouro “ecológico”, equipado com um biodigestor. O sistema transforma a matéria orgânica produzida pelos animais em adubo, com possibilidade de aproveitamento do gás metano, da água e dos biofertilizantes na agropecuária e na recomposição de pastagens. O secretário de desenvolvimento sustentável do município, Thales Gonçalves Costa, explica que o sistema usa um processo "vivo" para fazer essa transformação, fazendo a “digestão anaeróbica” de micro-organismos. O resultado é a energia produzida com gases ou biogás. “Daí o nome biodigestor”. Além disso, o equipamento, que custou R$ 300 mil (metade do preço do sistema convencional), oferece vantagens como redução do odor, menor custo de construção e manutenção, compensação de crédito de carbono e redução da área física. O novo sistema permitirá o reaproveitamento sustentável completo de todos os resíduos, antes devolvidos ao meio ambiente, pelo sistema convencional de tratamento de lagoas anaeróbias, aeradas e de decantação. De acordo com o secretário, o projeto inicial previa o consumo diário de aproximadamente 200 mil litros de água por dia. Material este que, posteriormente, seria lançado ao Rio Soledade. Com o biodigestor, será possível o reaproveitamento cíclico e contínuo de toda a água utilizada, sendo necessária a recomposição do volume perdido durante o processo de produção. Outra vantagem é a eliminação de odores. Todo transtorno proveniente da decomposição ocorrida

84 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

nas lagoas anaeróbias, aeradas e de decantação, será eliminado, evitando problemas como a atração de insetos, aves e outros animais que, inclusive, podem trazer doenças. Além disso, todo gás metano ou gás de cozinha, produzido pela decomposição de efluentes e liberado na atmosfera será armazenado pelo biodigestor e reaproveitado durante a etapa de processamento de animais, para fomentar a caldeira e outros equipamentos que necessitam de fogo durante o manuseio. EXEMPLO DE BIODIGESTOR Excremento animal e restos de alimentos são misturados com água no alimentador do biodigestor

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O gás metano pode ser encanado para alimentar um gerador ou aquecedor

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Dentro do biodigestor, a ação das bactérias decompõe o lixo, tranformando-o em gás metano e adubo

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As sobras servem como fertilizante

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OLHAR EXTERIOR ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE KUNMING, CHINA

CHINA Equipada com estradas de, no mínimo, duas pistas para cada sentido, chegando a oferecer em alguns pontos até cinco para cada lado

Nas estradas da CHINA

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or meses planejamos as nossas férias de verão (inverno aí no Brasil): explorar a província de Yunnan, no Sul da China, onde se reúnem o maior número de minorias étnicas chinesas, como os Hani, Bai e Yi, fantásticas áreas montanhosas e um clima muito agradável, o que torna Yunnan um dos principais destinos turísticos desse país. Discutindo os detalhes de nossa viagem, tive uma ideia: vamos atravessar a China, de Norte a Sul, de Pequim até Kunming, dirigindo? Sugestão que foi aceita prontamente. A perspectiva de viajar por várias províncias chinesas nos encheu de empolgação e excitamento, além do fato de simplesmente adorarmos dirigir. Apenas um detalhe me inquietava: não sabemos falar ou

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ler chinês. Como então iríamos ler as placas nas estradas indicando o caminho certo? Ler os mapas? Perguntar por direções? Nas áreas rurais, onde os cardápios não vêm com fotos dos pratos, como iríamos pedir comida? Confidente, meu companheiro de viagem me assegurava: “Não se preocupe. Tudo de que precisamos para nos auxiliar nessas questões práticas a gente encontra online. O trajeto será definido pelo aplicativo de mapas do Google. O website ‘Trip Advisor’ (em inglês, ‘Guia de Viagens’, um site onde turistas do mundo inteiro registram suas impressões sobre hotéis e cidades) nos dará a informação necessária de onde devemos nos hospedar. Através do aplicativo ‘Booking.com’ faremos todas as reservas, ou seja, nem precisamos

telefonar para os hotéis. E para nos comunicarmos, iremos utilizar o aplicativo de tradução do Google. Simples!”. Resolvi adotar uma atitude positiva e lidar com esses desafios à medida que eles fossem se apresentando. PLANEJAMENTO ON-LINE Antes da sair, entretanto, fizemos nosso dever de casa! Iríamos percorrer 2,8 mil quilômetros. Basicamente, iríamos dirigir de norte a sul, em uma única rodovia, a G5, de acordo com o trajeto estabelecido pelo ‘Google Maps’, seguindo também as direções fornecidas pelo GPS desse website (“Em dois quilômetros, vire à direita, depois, logo em seguida, à esquerda”, diz a voz feminina do GPS Google!) Escolhemos, então, nesse percurso, e de acordo com as distân-


“ Hoje a China é exemplo de que tudo é possível quando há vontade

política, mais dinheiro e mão de obra em abundância – principalmente quando o assunto é desenvolver infraestrutura

cias, as cidades em que iríamos pernoitar. Primeiro, Taiyuan, ao lado de Pingyao, berço do sistema bancário chinês. Depois, Xi’an, que abriga os guerreiros de terracota. A seguir, Chengdu, hábitat dos ursos pandas. Antes de alcançar nosso destino final, Kunming, teríamos de pernoitar em Xichang, base de lançamento dos satélites chineses. Escolhidas as cidades, passamos dias lendo as críticas de hotéis deixadas pelos turistas no ‘Trip Adivsor’. Selecionamos os hotéis em cada ponto de nosso trajeto, e fizemos todas as reservas pelo Booking.com. Nesse site, a confirmação de sua reserva vem acompanhada de um ‘link’ que, ao ser clicado, lhe direciona para o site do ‘Google Maps’ com a localização exata do hotel. Tudo pronto, colocamos, então, o ‘pé na estrada’! ESPETÁCULO ARQUITETÔNICO Foram cinco dias seguidos de viagem, de Pequim a Kunming. Atravessamos 2.763 km de pura via expressa o tempo todo. De norte a sul – e de Leste a Oeste também – a China está equipada com estradas de, no mínimo, duas pistas para cada sentido, chegando a oferecer em alguns pontos até cinco para cada lado. Asfalto impecável. Buracos inexistentes. Rios e vales são vencidos por pontes e viadutos que desafiam os limites da engenharia. Montanhas são atravessadas por túneis super bem iluminados, ventilados e sinalizados. Placas de sinalização em chinês e inglês indicam o caminho, as bifurcações, as atrações turísticas daquela região e as distâncias das próximas três paradas, ou seja, postos de gasolinas, todos equipados com oficina mecânica, restaurante self-service e um mini-supermercado. Câmaras controlam a velocidade a cada cinco quilômetros. FOTOS: ANDRÉIA ZENÓBIO

INVESTIMENTO Além do show de engenharia, as estradas chinesas são bem sinalizadas e equipadas com informações necessárias para uma viagem segura

Impressionante o investimento massivo em infraestrutura que a China vem realizando nos últimos 30 anos – uma das prioridades do governo chinês. Ainda mais chocante é notar o que esse povo conquistou – e o que ele construiu. Seguindo as metas definidas pelo modelo de desenvolvimento econômico idealizado no fim dos anos 70, quando o país se abriu para o mercado exterior, hoje a China é exemplo de que tudo é possível quando há vontade política, mais dinheiro e mão de obra em abundância – principalmente quando o assunto é desenvolver infraestrutura. Hoje, qualquer vila chinesa é palco de investimentos massivos em construção civil, principalmente relacionados a moradias, escolas e hospitais, mais transporte público. Nas cidades, então, esse investimento é brutal. Para se ter uma ideia, a cada ano, Pequim recebe duas novas linhas de metrô. Absolutamente toda a área urbana da cidade e seus subúrbios são aten-

didos por esse meio de transporte. São esses pensamentos que atravessam a minha mente ao dirigir pelas modernas e bem equipadas estradas chinesas. Penso nos milhares de brasileiros que estão saindo nas ruas reivindicando investimentos em infraestrutura de transporte, saúde pública e ensino (hoje, o índice de analfabetos na China é zero). Lembro das estradas esburacadas, do trânsito caótico e da falta de oferta de transporte público nas grandes cidades brasileiras. Ao olhar ao meu redor e constatar o que é possível se alcançar quando há vontade e verdadeiras diretrizes políticas, me sinto esperançosa pelo Brasil e pelo meu povo. Ah, e por falar em esperança, alcançamos nosso destino final sãos e salvos! O SAIBA MAIS Acompanhe a nossa viagem pela China no do blog nilsandrea.wordpress.com (*) Escritora, psicanalista e consultora internacional de Comunicação

JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 87


1 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

CAMPOS FLORIDOS repletos de suas típicas sempre-vivas, como as do gênero Paepalanthus

A RIQUEZA DOS CAMPOS RUPESTRES Seminário discute desafios e ações para proteção de ecossistema, único no mundo Fernanda Mann

redacao@revistaecologico.com.br

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s áreas mais altas da Cadeia do Espinhaço, conjunto de montanhas que corta o Brasil, de Minas Gerais até a Bahia, resguardam um ecossistema do Cerrado, único no mundo, os Campos Rupestres. Diante da importância em se preservar esses campos de vegetação associados a solos ricos em ferro, o Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais, Sindiextra, reuniu especialistas do tema no “Seminário de Conservação e Recuperação de Campos Rupes-

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tres”. O evento foi realizado no Memorial Minas Gerais Vale, em Belo Horizonte. No primeiro momento, foram apresentadas ferramentas e metodologias que permitem entender a distribuição e o estado de conservação dos Campos Rupestres. O professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Elpídio Inácio Filho explicou a utilização do dispositivo de sensoriamento por satélite, chamado Aster, para mapear as fitofisionomias, ou seja, os tipos vegetacionais que

compõem cada região. “Isso permite entender a distribuição dos ecossistemas e fazer o monitoramento dos mesmos”, justifica. O também professor da UFV e doutor, Cláudio Coelho de Paula, apresentou propostas para a identificação dos estágios de conservação de cada área. Segundo ele, para a conservação do bioma, seria ideal estabelecer um mapeamento de cada serra. Seus padrões florísticos e de fauna são específicos. “Isso significa mensurar a quantidade e os tipos de fa-


PALESTRA “O desafio de recuperação de Campos Rupestres”, do professor Geraldo Fernandes, da UFMG

mílias, gêneros e espécies típicas das várias regiões." CARACTERÍSTICAS ÚNICAS Em geral, o bioma ocorre em altitudes superiores a 900 metros, ocupa locais de relevo movimentado, sobre afloramentos rochosos, com solo fino ou cascalhento, ácido, pobre em nutrientes e com baixa retenção de água. Estima-se que existam no mínimo 3.000 espécies compondo sua vegetação, podendo chegar ao dobro. Desse número, 30% são espécies endêmicas, ou seja, exclusivas dos Campos Rupestres. Trata-se de um ecossistema extremamente frágil. Uma vez rompido o delicado elo de sua vegetação com o ambiente, o equilíbrio dificilmente será recuperado. São raras as chances de ocorrer uma regeneração espontânea. Apesar da rica variedade de espécies, muitas estão em via de extinção, em razão do forte impacto

FOTOS: FENANDA MANN

que vêm sofrendo. Para reverter a situação, é necessário controlar a multiplicação de espécies invasoras. Cláudio explica que “é possível retomar a proporção padrão que o campo apresentava em seu aspecto primário. Porém, isso exige o estabelecimento de um estágio de sucessão “artificial”, plantio, replantio e cuidado. E a experiência mostra que são necessários, no mínimo, nove anos de implantação de campos ferruginosos, para que se estabeleça o equilíbrio dinâmico”. Fato é que ainda muito pouco se conhece sobre esse ecossistema. Geraldo Fernandes, doutor em ecologia evolutiva, conta que, em 15 pequenos buracos em uma área de Campo Rupestre, foram encontrados 27% da diversidade mundial de micorrizas (associações entre fungos e plantas). “Sem elas não há como propagar as outras espécies de plantas”, ressalta. Para ele, os desafios para restau-

ração desse ambiente residem na ampliação dos conhecimentos sobre as espécies basais. Esse cuidado com os campos ferruginosos implica na preservação do bioma Cerrado. AMEAÇAS E DESAFIOS Atualmente, a principal atividade econômica de toda Cadeia do Espinhaço é a criação de gado. A destruição das áreas é acelerada pela pastagem desses animais e frequentes queimadas promovidas, muitas vezes, para renovar a vegetação. Essa prática resulta em um efeito seletivo. Embora muitas possuam adaptações para resistir ao fogo, sua regular aplicação desfavorece algumas plantas e ocasiona baixa diversidade. Outros impactos como a mineração, a especulação imobiliária, o turismo predatório, a pavimentação das estradas e a coleta extrativista de forma não sustentável, contribuem para o desaparecimento

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1 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL dos Campos Rupestres. Na visão dos órgãos ambientais, representada por Irene Maria Frayha, analista ambiental do IBAMA, e Maria Cláudia Pinto, subsecretária de regularização ambiental de MG, um dos desafios está na aplicação da legislação. “A utilização dos instrumentos de execução política, como o licenciamento ambiental ou a autorização para utilização de recursos naturais, tem de levar em conta a necessidade de preservação de ambientes, sobretudo, raros e ameaçados”, aponta Irene. Maria menciona ainda o fato de que não há como aplicar a lei, pois há muita subjetividade nela. “No caso dos Campos Rupestres, a preservação passa apenas pela compensação e não há um mapeamento satisfatório". RESGATE E RESTAURAÇÃO Existem ainda três grandes desafios. A retirada das plantas das áreas que serão degradadas, a manutenção dessa vegetação e sua reintrodução em áreas a serem recuperadas. Para tanto, algumas técnicas e metodologias inovadoras foram expostas. Lídia dos Santos, da empresa Bioma, apresentou a técnica do plantio nas pilhas de estéril, formadas por rejeitos de vários tipos de material. Tudo aquilo que não será utilizado, incluindo rochas e solos provenientes das áreas mineradas. “À medida que apareceram projetos maiores de restauração com espécies nativas, surgiu uma condicionante de licença solicitando o desenvolvimento de pesquisas voltadas para resgate de flora e uso de top soil, que é aquela camada mais superficial do substrato”, conta. Segundo ela, para restaurar é necessário ter as plantas nativas e solo propício. Esses elementos só estão disponíveis na época do licenciamento. “É o momento anterior à instalação da mina ou 90 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

TAPETES BIOCOLONIZADOS Técnica de manutenção das espécies resgatadas

qualquer outro empreendimento. Além disso, as plantas têm que ser mantidas em estado saudável até sua destinação final. Isso implica em dezenas de anos de cuidado e espera. No caso de uma mina, por exemplo, muitas vezes, seu fechamento demora mais de 70 anos. E a vegetação nativa fica aguardando para ser reintruduzida." Uma dificuldade com a vegetação do resgate é encontrar um local para replantá-la, até que seja levada, definitivamente, para a área a ser restaurada. Uma das soluções apresentadas no seminário foi a deposição dessas plantas sobre uma quantidade suficiente de top soil, na extensão das pilhas que passaram a servir como “berçário” para a manutenção da vegetação nativa. Os engenheiros agrônomo e

florestal da Vale Ramon Braga e Leandro Gonçalves apresentaram uma técnica para otimizar o resgate e a recuperação em áreas mineradas, denominada “tapetes biocolonizados”. Trata-se da deposição de uma camada de top soil em um tapete de fibra de coco e, sobre ele, colocam-se as plantas coletadas. Junto, são semeadas gramíneas que, ao brotarem, costuram, com suas raízes, as plantas resgatadas, sobre o tapete. Fixam toda a estrutura e não têm continuidade em novas gerações. JARDINS BOTÂNICOS Da Fundação Zoobotânica, Míriam Pimentel Mendonça apresentou os Jardins Botânicos como uma oportunidade para o estudo, documentação e manutenção das diversas espécies. “Servem como


VIVEIRO de plantas nativas

FOTOS: FENANDA MANN

acervo, para elaboração de guias, gem”, orgulha-se Miriam, que lande listas e pela conservação in çou, durante o seminário, o livro situ, com nossos bancos de cole- “O Resgate da Flora da Canga”. ções vivas, de sementes e germoplasma, que é o material genético O IMPACTO DO CAPIM GORDURA das espécies. Mantêm-se como Além do resgate e manejo dessas prioridade para a conservação plantas, há o trabalho de manudas espécies ameaçadas, de im- tenção das áreas restauradas. O portância econômica, taxonômi- doutor em ecologia Carlos Romeca e ecológica”, explica. ro Martins, analista ambiental do No mundo existem 2500 jardins Ibama, apresentou o impacto da botânicos. Todos eles importantes invasão de uma exótica. Mostrou na estratégia global para conser- o trabalho no Parque Nacional de vação de plantas e manutenção da Brasília para controle do capim biodiversidade. Uma das metas a gordura. Há 10 anos, um projeto serem atingidas é manter 75% das desenvolve técnicas para controle espécies ameaçadas de extinção dessa espécie nativa da África. “É em coleções in situ e incluir 20% um problema não só aqui, mas na delas em programas de restaura- Venezuela, EUA, Havaí e Austrália. ção e recupeEle toma conta ração. Miriam das áreas em reUma das metas a chama atenção cuperação e não serem atingidas é para o fato de permite que ouque cerca de tras espécies se manter 75% das 50% desses jardesenvolvam”, espécies ameaçadas explica. dins botânicos, e n c o n t ra m - s e Outra maneide extinção em na Europa e Esra de proteger coleções in situ e tados Unidos. os Campos Ruincluir 20% delas em pestres é criar “Isso torna nossa responsaUnidades de programas bilidade ainda Conservação de restauração maior, pois são que protejam poucos os jaras áreas nativas. dins botânicos em áreas tropicais, Fernanda Montebruni, analista enquanto a diversidade nessa re- de desenvolvimento e responsável gião do globo é enorme”, comenta. pelas atividades de educação amEm Minas Gerais, existem qua- biental do programa Germinar, da tro jardins botânicos. O da Funda- Guerdau, apresentou a importânção Zoobotânica de BH, o de Poços cia da consciência ambiental nesde Caldas, o do Museu de História te sentido. “A preservação depende Natural da UFMG e o de Inhotim. da transformação do conhecimenMiriam, contou sobre o traba- to em uma linguagem acessível à lho, iniciado há 13 anos na mina população. No trabalho na Serra Capão Xavier, na época, proprie- de Ouro Branco ficou evidente dade da MBR, hoje, pertencente essa força da mobilização social. à Vale. Após três anos de coletas O grupo, formado por líderes coe centenas de gêneros e famílias munitários e moradores da região, identificadas, 13 das 21 espécies impulsionou a criação de três uniameaçadas de extinção, são cul- dades de Conservação, o Parque tivadas no Jardim Botânico. “Essa Estadual da Serra do Ouro Branco, é apenas uma pequena parte des- o Monumento Natural Estadual de te trabalho. Agora tratamos da Itatiaia e a Reserva Particular do reprodução e reintrodução das Patrimônio Natural Luis Carlos Jumesmas em seus locais de ori- rovsky”, conta. O

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FOTOS DIVULGAÇÃO

1 ARTIGO

MANIFESTAÇÃO Milhares protestaram contra a corrupção, precariedade da saúde, da educação e do transporte público

O BRASIL SOCIAL Leonardo Boff (*) redacao@revistaecologico.com.br

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stou fora do país, na Europa a trabalho, e constato o grande interesse que todas as mídias aqui conferem às manifestações no Brasil. Há bons especialistas na Alemanha e França que emitem juízos pertinentes. Todos concordam nisto, no caráter social das manifestações, longe dos interesses da política convencional. É o triunfo dos novos meios e congregação do que são as mídias sociais. O grupo da libertação e a Igreja da Libertação sempre avivaram a memória antiga do ideal da democracia, presente, nas primeiras comunidades cristãs até o século segundo, pelo menos. Repetia-se o refrão clássico: "o que interessa a todos, deve poder ser discutido e decidido por todos". E isso funcionava até para a eleição dos bispos e do Papa. Depois se perdeu esse ideal, mas nunca foi totalmente esquecido. O ideal democrático de ir além da democracia delegatícia ou representativa e chegar à democracia participativa, de baixo para cima, envolvendo o maior número possível de pessoas, sempre esteve presente no ideário dos movimentos sociais, das comunidades de 92 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

base, dos sem-terra e de outros. Mas nos faltavam os instrumentos para implementar efetivamente essa democracia universal, popular e participativa. Eis que esse instrumento nos foi dado pelas várias mídias sociais. Elas são sociais, abertas a todos. Todos agora têm um meio de manifestar sua opinião, agregar pessoas que assumem a mesma causa e promover o poder das ruas e das praças. O sistema dominante ocupou todos os espaços. Só ficaram as ruas e as praças que por sua natureza são de todos e do povo. Agora surgiram a rua e a praça virtuais, criadas pelas mídias sociais. O velho sonho democrático, que prevê a participação de todos para opinar e alcançar um objetivo comum, pode, enfim, ganhar forma. Tais redes sociais podem desbancar ditaduras, a exemplo do Norte da África, podem ser usadas no enfrentamento de regimes repressivos, como na Turquia, e, agora, mostram no Brasil que são os veículos adequados de reivindicações sociais, sempre feitas e quase sempre postergadas ou negadas: transporte de qualidade, saúde, educação, segurança, BOFF "O Brasil quer outra forma de ser Brasil"


Creio que este autor captou o sentido profundo e, saneamento básico. São causas que têm a ver com a vida comezinha, cotidiana e comum à maioria dos para muitos, ainda escondido das atuais manifestações multitudinárias que estão ocorrendo no Brasil. mortais. Portanto, coisas da Política em maiúsculo. Anuncia-se um parto novo. Devemos fazer tudo Nutro a convicção de que a partir de agora se poderá refundar o Brasil a partir de onde sempre deve- para que não seja abortado por aqueles, daqui e de ria ter começado, a partir do povo mesmo que já en- lá de fora, que querem recolonizar o Brasil e condená-lo a ser apenas um fornececostou nos limites do Brasil feito para A partir de agora, dor de commodities para os países as elites. Elas costumavam fazer políticas pobres para os pobres e, ricas se poderá refundar centrais que alimentam ainda uma visão colonial do mundo, cegos para para os ricos. Essa lógica deve mudar o Brasil a partir os processos que nos conduzirão, daqui para frente. Ai dos políticos fatalmente, à uma nova consciência que não mantiverem uma relação de onde sempre planetária e a exigência de uma goorgânica com o povo. Estes merecem deveria ter vernança global. Problemas globais ser varridos da praça e das ruas. começado, a partir exigem soluções globais. Soluções Escreveu-me um amigo que elaglobais pressupõem estruturas globorou uma das interpretações do do povo mesmo país mais originais e consistentes, bais de implementação e orientao Brasil como grande feitoria e empresa do Capi- ção. O Brasil pode ser um dos primeiros nos quais tal Mundial, Luiz Gonzaga de Souza Lima. Permi- esse inédito viável pode começar a sua marcha de to-me citá-lo: "Acho que o povo esbarrou nos limi- realização. Daí ser importante não permitirmos que tes da formação social, empresarial, nos limites da o movimento seja desvirtuado. Música nova exige organização social para os negócios. Esbarrou nos um ouvido novo. Todos são convocados a pensar este novo, dar-lhe limites da Empresa Brasil. E os ultrapassou. Quer ser sociedade, quer outras prioridades sociais, quer sustentabilidade e fazê-lo frutificar num Brasil mais outra forma de ser Brasil, quer uma sociedade de integrado, mais saudável, mais educado e melhor humanos, coisa diversa da sociedade dos negócios. servido em suas necessidades básicas. O É a refundação em movimento". * Teólogo e sociólogo


1 DEBATE

1.

2.

PROTESTOS Manifestações no Brasil e momento histórico na Praça da Paz Celestial, na China: desejos de um mundo melhor

O DESAFIO DA ESPIRITUALIDADE SUSTENTÁVEL Evento propõe tema para discussão reflexiva, on-line e compartilhada Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

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uando o professor e teólogo Eduardo Machado foi convidado para aplicar em uma empresa a mesma dinâmica de “perspectiva de vida” que fazia com seus alunos de 17 anos, ele se mostrou resistente. O que afinal, perguntou; adolescentes em dúvida sobre qual carreira seguir teriam em comum com funcionários de uma grande empresa? A resposta era: “tudo, todos eram humanos”, descobriria Machado mais tarde, quando aceitou o desafio. Dos tempos de menino, em que a mãe o obrigava a ir à missa até iniciar a carreira de professor e apresentador do programa “Sobre todas as coisas”, da TV Horizonte, em Minas, o teólogo guarda boas experiências. Algumas delas foram compartilhadas durante o 2º Desafio Arborea realizado no início de julho, quando falou sobre “Sustentabilidade Humana - a Religiosidade para além da Religião”.

Em uma mesa com 10 participantes, de diferentes profissões, tais como psiquiatras, consultores, jornalistas e empresários, o tema "espiritualidade e religião" foi debatido. O evento, transmitido ao vivo pela internet, trouxe reflexões positivas sobre o destino comum do ser humano. “Na esperança do amor, a gente sente como quem nasce de novo”, comentou Machado ao se referir sobre diferentes momentos da humanidade. E completou: “Entre o homem da pré-história à procura do fogo, do rapaz que, em 1989, parou um tanque de guerra em plena Praça da Paz Celestial na China e um jovem em plena manifestação de 2013, existe algo comum: o desejo que o mundo seja um lugar mais amoroso”. Inspirado pelo jesuíta do século XVI Inácio de Loyola, cuja visão não ortodoxa do cristianismo 3. até hoje move pessoas, o

EDUARDO MACHADO Professor e teólogo 94 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

professor Eduardo pontua que a experiência do divino pode e deve ser vivida por meio das coisas do dia a dia. “Para mim, a melhor imagem de Deus é a família reunida num almoço de domingo”, finalizou. Ao encerrar a fala, o tema do 2º Desafio Arbórea foi aberto aos presentes e aos internautas. O vídeo completo pode ser acessado no endereço: www.youtube.com/ ArboreaInstituto.

FIQUE POR DENTRO

O QUE É O DESAFIO ARBÓREA? Tecnologia, espiritualidade, educação, informação e meio ambiente são os temas que o Arbórea Instituto - entidade que tem como missão dar voz a iniciativas que diminuam as diferenças sociais e contribuam para o sentimento coletivo - trata ao longo deste ano. A ideia é unir atores de temas afins para um debate propositivo e compartilhado por meio de vídeo nas mídias sociais.

SAIBA MAIS arboreainstituto.org

1. AGÊNCIA BRASIL | 2. REPRODUÇÃO | 3. ARQUIVO PESSOAL



1 LITERATURA

OS PORÕES REMEMORADOS

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aniela Arbex, repórter especial do jornal Tribuna de Minas, de Barbacena, uma das jornalistas mais premiadas de sua geração, iniciou por Belo Horizonte o lançamento nacional de seu último trabalho: “HOLOCAUSTO BRASILEIRO”, narrativa sobre o genocídio de 60 mil pessoas trancafiadas como doentes mentais no maior hospício do Brasil. Além de receber o terceiro Prêmio Esso de Jornalismo em sua carreira, seu livro já figura na lista dos mais vendidos da Revista Veja na categoria não ficção. O lançamento foi na livraria Café com Letras, na Savassi, onde estiveram vários personagens da revolução psiquiátrica ocorrida no sistema de saúde pública, há 34 anos, desde a vinda do psiquiatra italiano Franco Basaglia, que liderou a luta mundial contra os manicômios, trazido ao Brasil por Antônio Simone. Entre eles, o psiquiatra e escritor Ronaldo Simões Coelho, quem primeiro fez a denúncia pública; e o cineasta Helvécio Ratton, autor de "Em nome da razão", sobre os porões da loucura. UM PUNGENTE RETRADO DE ABANDONO E HORROR "Durante décadas, milhares de pacientes foram internados à força, sem diagnóstico de doença mental, em um enorme hospício na cidade de Barbacena (MG). Ali foram torturados, violentados e mortos sem que ninguém se importasse com seu destino. Eram apenas epilépticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, meninas grávidas pelos patrões, mulheres confinadas pelos maridos, moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento. Ninguém ouvia seus gritos. Alguns morriam de frio, fome e doença. Morriam também de choque. Às vezes, os eletrochoques eram tantos e tão fortes, que a sobrecarga derrubava a rede elétrica do município. A morrer, também davam lucro. Entre 1960 e 1980, 1.853 corpos de pacientes de manicômio foram vendidos para 17 faculdades de Medicina do país, sem que ninguém questionasse. Quando houve excesso de cadáveres e o mercado encolheu, os corpos foram decompostos em ácido, no pátio da Colônia, diante dos pacientes, para que as ossadas pudessem ser comercializadas. Nada se perdia, exceto a vida. O que praticou ali foi um genocídio, com 60 mil mortes. Um holocausto praticado pelo Estado, com a conivência de médicos, funcionários e da população." O 96 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013

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Daniela Arbex e Ronaldo Simões Coelho

Helvécio Ratton, Daniela e Antonio Simone

Hiram Firmino, Ronaldo Simões e José Március Valle FOTOS: BRUNO SIMÕES | 1.REPRODUÇÃO



1 VOCÊ SABIA?

ECOLOGIA URBANA Fernanda Mann

redacao@revistaecologico.com.br

GARRAFAS E MAIS GARRAFAS DE CERVEJA PARA OS MONGES Imagine monges budistas com mais de um milhão de garrafas de cerveja? Pois então... Monges tailandeses começaram a recolher garrafas vazias em 1984 e a fazer uso delas como material de construção. O resultado está no lindo templo verde e marrom, que demandou algo em torno de 1,5 milhão de garrafas de Heineken e Chang Beer para ser erguido. Nomeada Wat Pa Maha Chedi Kaew, também conhecida como “Templo de Um Milhão de Garrafas”, a edificação fica na província de Sisaket, próxima da fronteira com o Camboja. Com exceção das vigas de concreto necessárias à sustentação, todo o espaço de meditação, entre outras áreas, foi construído com as garrafas verdes e marrons, que conferem uma iluminação farta e bicolor ao templo.

RECARREGAR NA RUA Que tal recarregar o celular de graça, na rua, com energia solar? A ideia foi lançada em Nova York este mês com o início da instalação de 25 pontos de recarga em vários locais da cidade. Os postes de aço de 12,5 metros de altura, alimentados pela energia do sol, fazem parte do projeto “Charge Street”, fruto de uma parceria entre a empresa AT&T, a startup Goal Zero e o estúdio Pensa. Cada ponto de recarga possui saídas USB e pode acomodar até seis dispositivos ao mesmo tempo. Ficar sem bateria nunca mais. Dá um pulo ali na esquina!

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BOICOTE VERDE Antes mesmo de Belo Horizonte existir, dois meses antes da inauguração da capital mineira, seu Parque Municipal já havia sido definido. Implantado no local da antiga mineradora Ferro Belo Horizonte S/A, a Ferrobel, atualmente, a área verde recebe o nome de Parque Municipal Américo Rennê Giannetti. Nascido do sonho do arquiteto e paisagista francês, Paul Villon, a ideia era que representasse o maior parque urbano da América Latina. Inicialmente, possuía área de 555 mil metros quadrados. No entanto, a partir de 1905, teve início um processo de ocupação urbana naquele espaço com a construção, por exemplo, da Faculdade de Medicina, do Centro de Saúde do Estado, da Moradia Estudantil Borges da Costa, do Teatro Francisco Nunes e do Colégio Imaco. O resultado é que, hoje, restaram apenas 182 mil metros quadrados, menos de um terço da área original destinada ao parque. Uma pena!

1.

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área atual do parque

área destinada ao parque

MORRE O ATERRO, NASCE O PARQUE Imagine transformar um aterro sanitário em área verde? Imaginou? Bom, agora, se quiser conferir com os próprios olhos, curta um dia no Parque Ecológico da Pampulha. Denominado Promotor Francisco Lins do Rêgo, o local, hoje destinado ao lazer e à preservação da natureza, ocupa os 30 hectares, antes conhecidos como Ilha da Ressaca. Isso porque era preenchido, basicamente, pelos sedimentos retirados do fundo da Lagoa da Pampulha. Sua transformação em um lugar para apreciação dos belo-horizontinos foi viabilizada pelo programa da prefeitura “Pampulha para Todos”.

FOTOS: DIVULGAÇÃO | 1. GOOGLE EARTH

Concebido pelos arquitetos Gustavo Penna e Álvaro Hardy, o projeto da área verde refletia a preocupação em integrá-la ao traçado de Niemeyer, presente na região. A primeira intervenção na área se deu, em 1997, com o plantio de três mil mudas de árvores representantes dos ecossistemas: Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado. Seu espaço interno não permite a utilização de veículos automotores, mas incentiva a utilização de bicicletas, disponíveis para empréstimo, mediante a apresentação de um documento de identificação. A natureza agradece. Nós e as capivaras também!

JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 101


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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

O AÇAFRÃO O

MARCOS GUIÃO

dia passava ao largo e a caminhada pela chapada não terminava nunca. Aquilo era um sem fim de catação de plantas, miudezas aqui e acolá. O oco do mundo se abriu no meio de minha barriga e deu-se de barulhar de forma extremada, chamando atenção até mesmo de Chico da Mata, que caminhava incansável e atento ao meu lado. Ele se riu de minha zoada estomacal e acabou por dar fim a nossa empreita de buscação de plantas medicinais encomendadas por seus parentes moradores na longínqua capital. Apesar do peso do saco carregado de plantas, meu alento era chegar à casa do Chico o mais rapidamente possível, pois sabia que D. Lindaura tinha um almoço no capricho e farturento esperando por nós por riba do fogão a lenha. Já chegando, resolvi atalhar atravessando a cerca, mas tropecei e o arame farpado me rasgou o braço direito de forma considerável. Depois de avaliar o estrago, enrolei minha camisa ao ferimento

sai da cozinha e vai pra farmácia

buscando estancar o sangue e rumei em direção à bica no quintal da casa, lavando a ferida com a água gelada que, aos poucos, deixou de sangrar. Chico chegou resmungando “tu fica descabeciado com fome, num vê nem arame farpado na frente...” Ganhei a cozinha na esperança de almoçar logo, mas Dona Linda me conduziu até uma cadeira e deu de polvilhar delicadamente açafrão (Curcuma longa) em pó por sobre a ferida. Estranhei o procedimento e comentei que sempre soube das propriedades culinárias dessa planta, mas na medicina nunca a havia experimentado. Enquanto me enrolava o braço com uma faixa, foi soltando sua experiência: “pois ele é bão com força para cicatrizar essas feridas brabas. Mas tamém se dô muito com o cafrão, quando o causo é de espirro e escorrimento de nariz. Tomo um tiquim do pó na água, dispois fervo mais um tantim, espero esfriar e pingo no nariz muitas veis no dia. É bão dimais! Como sempre, o almoço estava delicioso e me fartei com as delícias de Dona Linda. Voltei para casa e, buscando mais informações sobre a utilidade do Açafrão, confirmei suas propriedades cicatrizantes e antialergênicas das vias respiratórias. Ele tem ainda grande atividade antinflamatória semelhante à da fenil-butazona, atuando também na diminuição da acidez gástrica, neutralizando o pH estomacal e agindo como imuno estimulante e hepatoprotetor, além de auxiliar na regulagem do metabolismo. Estes benefícios têm a ver com o poder antioxidante da curcumina, que é o pigmento de cor amarelo ouro. Mas o que mais me surpreendeu foi ler que na Índia, seu país de origem, a incidência de câncer em todo trato digestivo é insignificante por ele ser largamente utilizado. A dica é utilizar meia colher de chá por dia no preparo do arroz, de grãos, na sopa, no molho da salada ou, polvilhando, diretamente sobre a comida. Aqui em casa o açafrão agora saiu da cozinha e ganhou espaço na farmácia. Até a próxima lua! O

SAIBA MAIS www.naturezadosertao.com.br (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais 100 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013



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OLHAR POÉTICO ANTONIO BARRETO

CENTRO DA CIDADE

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A IDA. O poema grafitado no muro: Fique esperto:/ o Apocalipse/ pode dar certo. E o relógio eletrônico: 32°.-Ploc! -15:05-Ploc! (Morango, abacaxi e pêra! Graviola, cupuaçu, guaraná! Deus seja louvado! Axé, acarajé, cocada! Erva-de-bicho, espinheira-santa, garrafada! É remédio de pobre, é remédio nobre! Remédio que levanta tudo que cai... Remédio que derruba tudo que sobe! É caol! É pêéfe, es-pe-cial! Você come e não passa mal! Comer-se... comer-ci-al! Morando de alugué, ô Migué? Que ilso? Deixa dilso! Ô Miguel? Qualel? Jesus disse: - Eu te salvarei! Deus seja louvado! Jisuis te ama! Ô trem bão! Ô trem bão, sô! Pra lá de bão! Bão dimááááááiiis! Dimais da conta! Naváia! Rodadura! Blan! Blang! Skrank! Skrank! Skrank! Fom! Foooom! Foooooom! Bateu! Óia a cobra! Óia o cachorro! Óia a vaca! É a mãe! Dá barbuleta! Vai dá barbuleta hoje! Barbuleta! Corre hoje! Óia o macaco! Ai, Maricotinha! Tô com tanta farta de ar! Uffff! Pressão baixou! Dor nos quarto! Dor nas cadeira! Inxaquéca! Junta dueno! Riomatismo! Ô troquêro? Cadê meu troco? Bateu! Bateu! Vai dirigir máquina de lavá roupa, ô Donamaria! É a mãe! Bola múcha! Galôoo! Moça bonita não paga, mas também não leva! É pegar ou largar, madame! É três por um! É três por um! É de primeira! Aqui, madame! Faço quatro por um! Só pra senhora! Fiu-fiu! Boazuda! Gostosa! É quatro por um, dona madame! Peraí, fru-fru! Florzinha! Cumida de onça! Tudo do Paraguai, madame! E pro freguês aqui mais um vidrinho do nosso miraculoso Figadotil Composto! Figadotil Composto! Num é farsificado! Num é tira-gosto, mas é um colosso! Fiii-ga-doo-til! O remédio mais poderoso do Bráaa-ssil-ssssil! Chama o guarda! O cara tá fugindo! Anota a placa! Anota a placa! O cara fugiu! Quedê o fiscal? Tudo do Paraguai,

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“ Na volta. O poema grafitado no muro...

madame! Meia de seda, meia-calça, perfume, calculadora, calcinha e CD! Preço de banana! É três por um, é três por quatro! Rolex, caneta eletrônica, faca elétrica, camisinha e torradeira! Fóóóóm! Fóóóóóóm-Fóóóóóóómmmmmm! Sua cova no Parque do Sossego! Por apenas três prestações sem aumento! Sem correção monetária! Sem mais nada! Sai da frente, ô fubá de água! É a tua vó! Cê vai é no cardio... dio... logista, Abelardo? Vô... Onde é que é? Na rua do Zé, Maricotinha! No 612, 13-B... Plim-plim! Atenção! O plantão do Jornal Nacional informa, em edição extra... Tem pivete ali! Vííííííchi! Fiufiu! Au-au-au! É o pópa-ganha! É a mega-sena, é a quina, é a super-sena! É a teimosinha, é a surpresinha, é a raspadinha! Uma esmolinha, pelo amor dideus! Deixa o pivete entrá! Tem um real aí, moço? Pelo amor dideus! É pra ajudá na passage! Seu motorista? Esse ômbus passa lá na Nossa Senhora do Carme? Sandália! Sandálias maguenéticas! Cruza com ela! Cruza com ela! Curuz! Pur que será qui trocaro de novo os numbro dos ômbus? O 1001 agora é qual? Maguenéticas! Para a pranta dos pés! Pra lá quem vai é o 8204, minha senhora! Alivia o cansaço, dando um perfeito reléééééssss! Olha o pivete entrando! Quedê a polícia? Quedê? Oóóóóólha o jááááááá-caré! 1001 agora é 8402! 1501 é 2201! Nenão! Nenão! É o 2404 que era o 1502 e que agora é 8401! Nenão, nenão! Será que o Prefeito já decorô essa numbraiada toda? Político anda de buzum? Ai, miafia! Ando tão distraída! Esqueci de assinar o cheque e pus a

data do ano passado! Esqueci a bolsa na cabe-lei-rei-ra! Esqueci de botar o lixo pra fora! Esqueci de me separar do César! Memoriol! Memoriol! Madame? Madame? Memoriol! O pivete tá agarrado no para-choque! Deixa o pivete entrar! Ô Gonçalves, alivia! Alivia aí, Gonçalves! Deixa não! Deixa não! Se entrar eu chuto! Coitadas dessas crianças, Maricotinha! Para, Gonçalves! Para! Olha lá na escada da igreja de São José! Vai cair! O pivete vai cair! Tá cheirado! Tá cheirado de cola! Tá zoado! Assaltaram uma dona no Parque Municipal! Deixa pra lá! Dá um cacete nele aí! Ô troquêro, dá um cacete nele aí! “Sete vidas eu tivesse/ Se mamãe então me desse/ Uma vida pra leeeeevar”! Bang! Bang! Bang! Uóóóóóóóóóóóó! Bota ele na frente da Prefeitura! Leva pro prefeito! Bota ele na mesa do prefeito! Sssssssssssssss-crrrrrrrrraaaaaaachhhhhhh! Ô naváia! Ô rodadura! Óia a cobra, óia o cachorro, óia a vaca! Jesus te ama! É a mãe, é a mãe, é a mãe...) NA VOLTA. O poema grafitado no muro: Fique esperto:/ o Apocalipse/ pode dar certo. E o relógio eletrônico nem aí: 32°.-Ploc!-15:05-Ploc! O JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 103


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MEMÓRIA ILUMINADA | NELSON MANDELA

O GUERREIRO DA ÁFRICA DO SUL Alexandre Salum redacao@revistaecologico.com.br

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le é um gigante. E tem uma importância histórica, política e humanística tão grande quanto Gandhi. Só que sofreu mais. Ficou 26 longos anos preso. Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em Transkei, na África do Sul, em 18 de julho de 1918, e seu pai era o chefe Henry Mandela da tribo Tembu. Em 1925, começa a frequentar a escola primária existente na vila próxima de Qunu. É lá que passa a se chamar Nelson, em homenagem ao Almirante Nelson Horacio, herói inglês e vencedor da batalha de Trafalgar. Mandela estudou nas universidades de Fort Hare University e de Witwatersrand onde formou-se em Direito em 1942. Entrou para o Congresso Nacional Africano (CNA) em 1944 e se envolveu na resistência contra o apartheid (política de segregação racial). Preso, por traição em 1956, foi absolvido em 1961. Após a proibição do Congresso Nacional Africano, Mandela defendeu a criação de uma ala militar dentro do partido. Isto levou à formação do

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Umkhonto we Sizwe (Lança de uma Nação), o braço armado do CNA. Novamente preso, foi em 1962 condenado a cinco anos de prisão com trabalhos forçados. Um ano depois, quando muitos companheiros dirigentes do Congresso Nacional Africano e do Umkhonto We Sizwe também foram presos, Mandela foi levado a julgamento por conspirar para derrubar o governo pela violência. Em 12 de junho de 1964, oito dos acusados, inclusive ele, foram condenados à prisão perpétua. De 1964 a 1982, ficou encarcerado na prisão de Robben Island, perto da Cidade do Cabo. Sua cela media 2,5 por 2,1 metros e a janela tinha 30 centímetros. Depois, foi transferido para a penitenciária de Pollsmoor. Durante os anos na prisão, a reputação de Nelson Mandela cresceu de forma constante. Ele foi aclamado como o líder negro mais importante na África do Sul e tornou-se um poderoso símbolo de resistência do movimento contra o apartheid. Sempre se recusou a comprometer sua po-

sição política para obter liberdade e foi solto em 11 de fevereiro de 1990. Após a sua libertação, mergulhou inteiramente no trabalho de sua vida, esforçando-se para atingir os objetivos que ele e outros tinham enunciados quase quatro décadas antes. Em 1991, na primeira conferência do Congresso Nacional Africano, realizada no interior da África do Sul, depois que a organização tinha sido proibida em 1960, Mandela foi eleito presidente. Nelson Mandela e Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz em 1993. Mandela foi eleito o primeiro presidente negro da África do Sul e governou de maio de 1994 a junho de 1999. Comandou a transição do governo de minoria branca (regime apartheid) para a atual democracia, ganhando respeito internacional. Chamado pelo seu povo carinhosamente de Tata (pai) e Madiba (o nome de seu clã). A ECOLÓGICO selecionou frases e pensamentos deste homem, exemplo raro de coerência, luta e determinação. Confira.


REUTERS / PAUL MCERLANE

“ O bravo não é

quem não sente medo, mas quem vence esse medo.

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MEMÓRIA ILUMINADA | NELSON MANDELA

● EDUCAÇÃO

● PEDANTISMO

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”

“Há um estágio na vida de todo reformador social em que ele troveja nas tribunas, primeiramente para se aliviar dos fragmentos de informação indigesta acumulada em sua cabeça; é mais uma tentativa de impressionar multidões do que iniciar uma exposição calma e simples de princípios e ideias cuja verdade universal se evidenciou por meio da experiência pessoal e do estudo mais aprofundado. A esse respeito, não sou exceção e tenho sido vítima da fraqueza da minha geração, não uma, mas cem vezes. Quando volto a ler meus primeiros escritos e discursos, fico abismado com o pedantismo, a artificialidade e a falta de originalidade. A ânsia de impressionar e fazer alarde é evidente.”

● ALMA “Eu sou o capitão da minha alma.”

● MEDO “Devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito, e inspirar esperança onde há desespero.”

● PERDÃO “Perdoem. Mas não esqueçam!”

● A HONRA ● O AUTOCONHECIMENTO “O sucesso nas questões materiais, é perfeitamente compreensível que tantas pessoas se esforcem para obter . Mas os fatores internos são ainda mais decisivos no julgamento do nosso desenvolvimento como seres humanos. Honestidade, sinceridade, simplicidade, humildade, generosidade pura, ausência de vaidade, disposição para ajudar os outros – qualidades facilmente alcançáveis por todo indivíduo – são os fundamentos da vida espiritual. O desenvolvimento de questões dessa natureza é inconcebível sem uma séria introspecção, sem o conhecimento de nós mesmos, de nossas fraquezas e nossos erros... Não se esqueça de que os santos são pecadores que continuam tentando.”

● ERRO “Somente políticos de gabinete são imunes ao erro. Quem está no centro da luta política, tendo que lidar com problemas práticos e prementes, dispõe de pouco tempo para a reflexão, não há precedentes para guiá-los e estão sujeitos a errar muitas vezes. Mas, no devido tempo, desde que sejam flexíveis e preparados para um exame crítico do próprio trabalho, adquirem a experiência e a visão necessárias para evitar as ciladas mais comuns e podem seguir adiante em meio à palpitação dos eventos.”

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“Um novo mundo não será conquistado por aqueles que se mantêm a distância com braços cruzados, mas por aqueles que estão na arena, cujas vestes estão rasgadas por tempestades e cujos corpos são mutilados no decorrer da luta. A honra pertence àqueles que nunca abandonam a verdade, mesmo quando as coisas parecem sombrias e terríveis, que tentam de novo e de novo, que nunca são desencorajados por insultos, pela humilhação e, mesmo, pela derrota.”

● JULGAMENTO “Nossa vida tem suas inerentes salvaguardas e compensações. Nos dizem que um santo é um pecador que continua tentando ser limpo. Uma pessoa pode ser má por dois terços da sua vida e ser canonizada porque viveu uma vida santa pelo terço de vida restante. Na vida real lidamos não com deuses, mas com seres humanos comuns, como nós mesmos: homens e mulheres cheios de contradições, que são estáveis e instáveis, fortes e fracos, famosos e infames, pessoas em cuja corrente sanguínea os vermes lutam diariamente com potentes pesticidas. O aspecto no qual a pessoa se concentra para julgar outras depende do seu caráter em particular.” “Quando julgamos outras pessoas, também estamos sendo julgados por elas... Mas um


REUTERS - MIKE HUTCHINGS

LUTA Mandela tornou-se o mais importante líder negro da África do Sul, símbolo de resistência contra o Apartheid

realista, por mais chocado e desapontado que esteja com a fragilidade das pessoas a quem adora, irá olhar para o comportamento humano de todos os lados de forma objetiva e se concentrará nas qualidades edificantes da pessoa, aquelas que elevam o espírito e despertam o entusiasmo pela vida.”

● PAZ “Pode ser que ainda estejam longe os dias em que as nações irão transformar grandes exércitos em poderosos movimentos pela paz e armas mortíferas em lâminas de arado. Mas é uma fonte real de esperança e existência de organizações mundiais, governos e pessoas que lutam com ardor e coragem pela paz mundial.”

● VENDO O BEM NAS PESSOAS “É preciso reconhecer que as pessoas são feitas do barro da sociedade em que vivemos e, portanto, são seres humanos. Elas têm pontos fortes e pontos fracos. Seu dever é trabalhar com os seres humanos como eles são, não porque pensa que são anjos. Portanto, uma vez sabendo que um homem tem esta virtude e aquela fraqueza... você

trabalha com elas, se adapta à fraqueza e procura ajudá-lo a superá-la. Não quero viver assustado pelo fato de uma pessoa cometer determinados erros e ter fragilidades humanas. Não posso me permitir ser influenciado por isso. E é por isso que muitas pessoas me criticam.” “Costumam achar que só vejo o bem nas pessoas. É uma crítica à qual devo me acostumar e tenho procurado me adaptar a ela, porque, esteja eu certo ou errado, acho que meu modo de ser é vantajoso. É bom presumir que os outros sejam pessoas íntegras e honradas, porque você tende a atrair integridade e honra se olhar dessa forma para as pessoas com quem trabalha.”

● SAÚDE “Em um país doente, cada passo para a saúde é um insulto aos que vivem da doença. O propósito da liberdade é criá-la para os outros.”

● COLETIVIDADE “Um grande avanço nunca é o resultado do esforço individual. Ele é sempre um esforço e um triunfo coletivos.”

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MEMÓRIA ILUMINADA | NELSON MANDELA

SHUTTERSTOCK

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“ Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.

● AOS JOVENS

MEMÓRIA

“Esta é uma era de competição intensa e cruel, na qual as maiores recompensas estão reservadas para aqueles que passaram pela educação mais completa e conseguiram as mais altas qualificações acadêmicas em suas respectivas áreas. As questões que hoje agitam a humanidade exigem mentes treinadas e o homem que for deficiente neste aspecto estará paralisado, porque não possuirá os instrumentos necessários para garantir sucesso e a vitória no serviço ao seu país e a seu povo. Levar uma vida organizada e disciplinada e abrir mão dos prazeres cintilantes que atraem um rapaz comum, para trabalhar de forma árdua e sistemática em seus estudos durante todo o ano, irá lhe trazer no fim a recompensa cobiçada e muita felicidade pessoal.”

● MEIO AMBIENTE “O continente africano tem plena consciência da importância do meio ambiente. Mas a maioria dos problemas ambientais do continente é apenas o produto da pobreza e da falta de educação. A África não tem recursos nem capacidade para lidar com a desertificação, o desmatamento, a erosão do solo e a poluição.” “Nenhuma dessas questões deve ser tratada em separado, como se o mundo não fosse um só. A situação é agravada pelos países ricos que exploram a pobreza dos povos da África e despejam lixo tóxico no continente. Eles lhes dão dinheiro; literalmente os subornam para expor a população a todos os perigos da poluição.” O 108 O ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013

Nelson Mandela foi tema de capa da edição 18 da Revista ECOLÓGICO. A matéria retrata a vida do líder que mudou a história da África do Sul. E fala do filme “Invictus”, de Clint Eastwood, que reafirma a história e a luta social de um dos homens mais marcantes do século XX. Veja no site a matéria completa: www.revistaecologico.com.br

FONTE: “CONVERSAS QUE TIVE COMIGO”, MANDELA NELSON, RJ EDITORA ROCCO E WWW.NOBELPRIZE.ORG


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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

PARAÍSOS

AMEAÇADOS 110 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013


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Publicação retrata lugares em risco pelo clima e ação da humanidade Fernanda Mann

redacao@revistaecologico.com.br

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fotógrafo mineiro, Érico dos oceanos; o sul da Etiópia, peHiller é um cidadão do recendo diante dos novos tempos; mundo. Belo-horizontino, a Mata Atlântica, no Brasil, pressioradicado em São Paulo, formou-se nada pelo crescimento urbano; e o em Comunicação e fez pós-gradua- monte Kilimanjaro, cujo gelo está ção em Fotografia. Desde 2003, tra- desaparecendo. O fotógrafo explibalha para publicações como Na- ca que os escolheu pesquisando, tional Geographic, Rolling Stone, na internet, um termo genérico: Lonely Planet, Trip, Casa Vogue e “paraísos ameaçados”. De inúmeMarie Claire. Em seu último projeto ras listas que surgiram, ele elegeu traz à tona a questão ecológica do “as cinco histórias que sintetizam aquecimento global. a tensão ambiental do Reunindo um conjunnosso tempo”. to de belíssimas imaSeus projetos semgens e breves relatos, pre apresentam uma compôs a publicação temática humanide valor documental tária. “Meu objetivo “Ameaçados – Lugares é fazer com que as em risco no século 21”. fotos que produzo O livro revela regiões representem um ine culturas do planeta ventário do nosso que estão sendo alteminguante planeta; 3. daquilo que, infelizrados drasticamente em decorrência das mente, pode um dia ÉRICO HILLER: Fotógrafo mudanças climáticas só existir na memória e da ação do homem. A ponto de de poucos. Ou pior, apenas numa estarem ameaçados de desaparecer fotografia esquecida no fundo de em um futuro não muito distante. uma gaveta”, justifica. São esses lugares: o Ártico, que A ECOLÓGICO traz um esboço está derretendo em ritmo acele- dessa aventura planetária, que rado; as Maldivas, cada vez mais carece de atenção. Pelo olhar de vulneráveis ao aumento do nível Érico. Confira! O SAIBA MAIS www.ameacados.com.br

1. FOTOS: 1. ÉRICO HILLER 2. DIVULGAÇÃO 3. RENATO NEGRÃO

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

KARO: Ameaçada pela construção da barragem no Rio Omo

BAOBÁ: Árvore típica da região do Monte Kilimanjaro, onde o gelo está derretendo, resiste à ocupação predatória do homem 112 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013


FOTOS: ÉRICO HILLER

BRASIL: O crescimento urbano que pressiona a Mata Atlântica

MALDIVAS: Lixo sufoca ilhas do Oceano Índico JULHO DE 2013 | ECOLÓGICO O 113


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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

TEMPO DE AGRADECER

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empre que falamos de interações ou interde- vez em agradecer a essas pessoas que fazem você exispendências acreditamos que essas coisas estão tir? Veja como a gente agradece muito pouco ou quase somente ligadas ao mundo externo. Ledo enga- nada nessa vida. Agradecer é um segredo da felicidade. no. Elas também estão dentro de nós e são, em nós, E o mais louco ainda é que, sem essas pessoas, sua essência. É a ecologia interna do ser humano. Só nem eu nem você estaria aqui tendo essa conversa. que nosso narcisismo cultural e inconsequente nos Assim, te darei uma boa dica: agradeça de coração, impede de olhar com mais acuidade à nossa volta. e diariamente, a todas essas pessoas que estão te Eis o desafio: precisamos aprender a ver, pois temos fazendo, ser uma pessoa feliz, ser um profissional um compromisso visceral com nossa felicidade, que alegre e bem-sucedido... Ao acordar, agradeça. Agrasó se realiza no aqui e no agora da nossa existência. deça por existir nesse tempo galáctico. Agradeça por Essa atitude é o primeiro passo para entendermos ter essa oportunidade de sentir, de amar, de chorar essa loucura de que não precisamos dos outros e so- e de sorrir. Não esqueça de agradecer a sua empremos independentes em relação à natureza. gada, que faz todo dia aquela comidinha gostosa e Se educar é construir visões de lava com paciência a sua roupa suja. mundo mais justas e equilibraAo vestir sua calça e sua camisa, Você nada mais é que das. Está passando da hora de agradeça. Agradeça também a sua uma bonita estampa jogar pela janela algumas “versecretária por deixar todo dia seu dades” que aprendemos no coti- colorida com pedacinhos escritório bem arrumadinho e tudo diano. É esse pretenso “orgulho dos outros por todo lado funcionando numa boa. E lembreprogramado” que nos faz ignose de que essas pessoas sempre garar e, muitas vezes, ter antipatia nham menos do que a gente. O que pelo natural ou pelos nossos semelhantes menos é mais uma razão para agradecermos, de coração, a afortunados. Hoje, a ciência comprova que os sis- esses fiéis servidores. temas interativos se movimentam em tudo, desde o Agradeça também, diariamente à sua amada e micro ao macrocosmos, o que diz respeito também a todos os seus amores, amigos amados. Que bea nossa vida pessoal e social. leza! Agora você está preparado para trocar o resConcluindo esse papo, queria, caro leitor, conclamá sentimento, toda reclamação, pela gratidão! Sinta -lo a se olhar no espelho e ver, espantado, que você, como sua alma está bem mais leve e você respira externamente, nada mais é que uma bonita estampa com muito mais prazer. Vá em frente! Sei que não é colorida com pedacinhos dos outros por todo lado. fácil fazer essa troca, porque isso supõe algo muito Até tudo que você usa ou come foi feito pelos outros. penoso: compreender, para depois perdoar. E perMas vamos por detalhes: seu tênis, de boa marca, foi dão é coisa para os fortes. Isso tudo é um primeiro feito, pacientemente, por uma pessoa, assim como sua passo para a gente tentar mudar um pouquinho roupa. Tudo isso foi feito pelos outros. Dê uma olhada que seja nosso comportamento em relação aos sobre a sua mesa de café e note a presença de outros outros, à vida e ao mundo.O itens o tempo todo... Quem plantou, colheu e selecionou o feijão e o arroz que mata sua fome todo dia? Será (*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas que, enquanto saboreia o alimento, já pensou alguma 114 O ECOLÓGICO | JULHO DE 2013



Você faz tudo para ajudar a salvar o meio ambiente. E sabe quem também faz parte dele? As pessoas. Por isso, seja você também um doador de sangue e ajude a salvar a vida de milhares de brasileiros que, assim como a Márcia, precisam receber sangue. Coloque o assunto em pauta e leve essa mensagem para junto das causas sociais. O seu apoio vai aumentar a conscientização da população sobre a importância de tornar a doação de sangue um hábito e mostrar as pessoas que, seja para quem for, o importante mesmo é ser doador. Entre nessa com a gente. Participe da campanha e ajude o Ministério da Saúde a aumentar o número de doações de sangue em nosso país. Faça o download das peças da campanha no www.saude.gov.br e divulgue também. b Para sugestões e novas propostas de parceria, envie um e-mail pra gente: parcerias@saude.gov.br

Seja para quem for, seja doador.

Procure o Hemocentro mais próximo.

Márcia Fernanda, 15 anos. Tem talassemia e precisa de doação de sangue.


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