Revista ECOLÓGICO - Edição 63

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A água a é essencia al para a vida no planeta a. Ela está á presen nte em tudo, princip palm men nte, na cozinha.


Por isso, voc├к tamb├йm pode contribuir com a qualidade da ├бgua, cuidando melhor do esgoto que ├й produzido na sua casa. ConямБra algumas dicas:

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┼Ф Jogue o lixo no lixo e n├гo na rede de esgoto.


EXPEDIENTE

MARCELO PRATES

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Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck CONSELHO EDITORIAL Ângelo Machado, Antônio Claret de Oliveira, Célio Valle, Evandro Xavier, Fábio Feldman, Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Maurício Martins, Mário Mantovani, Nestor Sant’Anna, Paulo Maciel Júnior, Patrícia Boson, Roberto Messias Franco, Ronaldo Gusmão, Sérgio Myssior, Vitor Feitosa e Willer Pos DIRETOR GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com EDITORA ASSISTENTE Maria Teresa Leal mariateresa@souecologico.com

GRUPO

REPORTAGEM Andréa Zenóbio Gunneng (Correspondente Internacional), Cristiane Mendonça, Fernanda Mann, Luciana Morais e Vinícius Carvalho Estagiário: Marcos Fernandes

CAPA Foto: AFP PHOTO PA/MARY MCCARTNEY DONALD EDITORIA DE ARTE André Firmino andre@souecologico.com Marcos Takamatsu marcos@souecologico.com Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com REVISÃO Gustavo Abreu DEPARTAMENTO COMERCIAL José Lopes joselopes@souecologico.com Mariana Mascarenhas mariana.mascarenhas@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com Silmara Belinelo silmara@souecologico.com

MARKETING E ASSINATURA marketing@revistaecologico.com.br IMPRESSÃO Log & Print PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br sou_ecologico revistaecologico

souecologico ecologico

Selo SFC REVISTA NEUTRA EM CARBONO www.prima.org.br



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ÍNDICE

PROTEÇÃO À FAUNA DEZESSETE ANIMAIS SELVAGENS SÃO ATROPELADOS E MORTOS, POR MINUTO, EM RODOVIAS DO PAÍS. AO MESMO TEMPO, O AGRONEGÓCIO COMEMORA RECORDE NO NÚMERO DE ANIMAIS ABATIDOS PARA CONSUMO. PREOCUPADOS COM ESSE CENÁRIO, PROMOTORES DO MINISTÉRIO PÚBLICO SE ESTRUTURAM PARA ACOMPANHAR CASOS DE MAUS-TRATOS, NEGLIGÊNCIA E TRÁFICO DE ESPÉCIES SILVESTRES.

Pág.

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16 PÁGINAS VERDES CONHEÇA O LEGADO FILOSÓFICO DEIXADO PELO ATOR CLÁUDIO CAVALCANTI, MORTO NO FINAL DE SETEMBRO. ELE DEDICOU A VIDA AO TEATRO, CINEMA E TV EM PAPÉIS MEMORÁVEIS.

E mais... IMAGEM DO MÊS CARTA DOS LEITORES CARTA DO EDITOR SOU ECOLÓGICO GENTE ECOLÓGICA ECONECTADO

56 SÉRIE ESPECIAL: MULHERES AMEAÇADAS (I) REPORTAGEM ESCANCARA O DRAMA DE DEZ MULHERES ENVOLVIDAS EM CONFLITOS AGRÁRIOS, NO PARÁ. ACUADAS, ELAS CONVIVEM COM A SOMBRA DA MORTE.

CÉU DE BRASÍLIA ECONOTAS ECO CONSTRUÇÃO CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL ESTADO DE ALERTA O ISIDORO DE HUGO (2) DIREITO DOS ANIMAIS LEI FLORESTAL OLHAR EXTERIOR RECICLAGEM GESTÃO & TI

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COMEMORAÇÃO MINERAÇÃO EVENTO

MEMÓRIA ILUMINADA

FAÇA VOCÊ MESMO

PAUL MCCARTNEY MOSTRA SUA PORÇÃO MAIS HUMANA: A DE DEFENSOR DO MEIO AMBIENTE. CONTA COMO SE TORNOU VEGETARIANO E DECIDIU APOIAR A CAMPANHA “SEGUNDA SEM CARNE”.

VOCÊ SABIA? OLHAR POÉTICO NATUREZA MEDICINAL ENSAIO FOTOGRÁFICO CONVERSAMENTOS

10 12 14 20 24 26 28 30 32 34 38 41 50 62 70 74 78 82 86 94 100 102 104 106 114 118


SUST SU US ST TEN ENT TA AB BIIL LIID DA A ADE DE DE É UM UM BOM OM NE EG GÓCIO ÓCIIO ÓC O PAR PA RA A TOD O OS OS:: ME M EIO O AMB MBIIE ENT NTE E,, SO S OC OCI CIIE ED DA AD DE ES SU UA EM EMP PR RE RES ES SA. A

Sorveteria Gosto do Cerrado (Montes Claros) A empresa fabrica sorvetes com frutos do cerrado e tem uma relação de Comércio Justo com as famílias extrativistas. A Gosto do Cerrado fomenta a prática extrativista sustentável: incentiva o pequeno produtor rural a manter a flora nativa da região, oferece apoio técnico e dá sementes das frutas. A empresa compra frutas apenas de pequenos agricultores e não de atravessadores.

Conheça as empresas que fazem da sustentabilidade um excelente negócio.

JeM Peças Serviços/Jov Car (Curvelo)

Fazenda Engenho d´Água (Ouro Preto) Para evitar atividades extrativistas em áreas de preservação ambiental, a Fazenda Engenho d´Água reuniu a comunidade feminina local para criar um projeto de geração de renda capaz de preservar as tradições e não agredir a natureza. Assim, as mulheres passaram a produzir o “porco na banha”, que relembra a antiga “carne na lata”.

Adota desengraxante biodegradável para a lavagem de peças, em substituição ao uso de diesel e gasolina, e um “sistema inteligente”, a granel e com bacia de segurança acoplada, para a troca de óleo de motor. Os resíduos recicláveis - papel, plástico, metal e vidro - são encaminhados para a ASCCAR (Associação Curvelana dos Catadores Recicláveis); os resíduos contaminados com óleo são coletados por empresa especializada. As baterias automotivas são devolvidas para o fornecedor e os pneus são coletados pela Prefeitura Municipal de Curvelo. O empreendimento conta com uma Central de Armazenamento de Resíduos Sólidos e adotou o reúso de parte dos resíduos sólidos gerados.

Fazenda Itaoca (Conceição do Rio Verde) Com nove áreas de Preservação Permanente e uma reserva particular do Patrimônio Natural, a Fazenda Itaoca realizou uma parceria com a SOS Mata Atlântica e plantou 9.700 mudas. Criou uma colônia para os colaboradores e passou a separar todos os resíduos da fazenda e as folhas do abanador do café, que voltaram para a lavoura como adubo. Passou a encaminhar os resíduos orgânicos para a criação de porcos da colônia e instalou uma estação de tratamento de esgoto, que é monitorado antes de ser lançado no córrego.

fb.com/sebraemg

Sítio Maritacas (Liberdade) Para a alimentação do gado, foi trocada a agricultura convencional pelo plantio direto, reduzindo custos e preservando uma área maior, já que este revolve menos a camada do solo. Utilizam espécies vegetais, que mantêm a nutrição e umidade do solo, e controlam as espécies daninhas evitando roçar o terreno. Ao substituir o uso de fertilizantes pelo adubo orgânico puderam preservar cerca de setenta por cento da propriedade, que vem sendo reflorestada e, suas nascentes, protegidas.

twitter.com/sebrae_mg

BLOG

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0800 570 0800 | www.sebraemg.com.br


ERICK DE CASTRO/REUTERS

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IMAGEM DO MÊS

TRAGÉDIA NAS FILIPINAS Pessoas entre os escombros e ruínas de casas destruídas pelo supertufão Haiyan na cidade de Tacloban, região central das Filipinas. Essa foi uma das tempestades mais fortes já registradas em todo o mundo. Pelo menos 10 mil pessoas morreram. De acordo com a ONU, 11 milhões foram afetados e 670 mil estão desabrigados. Cerca de 70 a 80 por cento da área atiginda, pelo fenômeno, foi destruída. A estimativa é de que serão necessários US$ 300 milhões em ajuda humanitária, ao longo de seis meses, para responder à crise.


O SISTEMA FIEMG TRABALHA PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA E PARA MELHORAR A SUA VIDA. Você sabe o que é o Sistema FIEMG? O Sistema FIEMG é uma organização privada, ou seja, é como se ele fosse uma grande empresa formada por mais cinco empresas. O SESI, o SENAI, a FIEMG, o CIEMG e o IEL. Todas elas trabalham juntas para desenvolver a indústria e apoiar os empresários. E também para melhorar a sua vida. Quer saber mais? Acesse www.fiemg.com.br.


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CARTA DOS LEITORES

Como é que eu posso ficar ‘posuda’ diante do outro, se somos todos farinha do mesmo saco? Somos humanos e temos que nos reconhecer nessa humanidade, no sentimento primeiro.’ (...)Adélia Prado. Como é bom aprender com uma pessoa de alma tão sábia, que é capaz de ensinar preciosas lições de vida de forma tão simples, mantendo sempre a coerência em suas atitudes. Sem dúvida, esse foi um presente especial que a Unimed e a Revista ECOLÓGICO deram para a sociedade.” Amanda Carvalho Montanari, BH/MG

O EDIÇÃO 62 “Que capa linda, esse sorriso é de alegrar o coração!” Cássia Miranda, via Facebook. O O ISIDORO DE HUGO WERNECK

“Pouca-vergonha! Crime contra a população. Cadê o Ministério Público?” Procópio de Castro, via Facebook. “Absurdo! E o moderno projeto de ocupação e desenvolvimento previsto para a região? Em que gaveta se encontra?” Cássia Miranda, via Facebook “Esse é um dos resultados de uma política petista que apoia o desrespeito à lei e à propriedade privada.” Odilon de Lima, via Facebook “Que pena! E a operação urbana? O que será das nascentes e córregos?” Dalva Lara, via Facebook

“Fiquei emocionada ao ler as falas da Adélia Prado em um texto maravilhosamente escrito. Afinal, quantas vezes nos deparamos nessas diversas situações relatadas. E quando estamos enfermos, então? Seja de doença física ou espiritual. Lembreime de diversos médicos aos quais já me entreguei, pois ao médico você se entrega, deposita toda a sua confiança e muitas vezes esperança... Mas, nem sempre somos correspondidos! Um, em especial, porém, marcou a minha vida e a de diversas amigas, inclusive a da minha mãe. Parabéns à Revista ECOLÓGICO! Espero que esse texto seja lido e refletido pelos diversos leitores.” Magna Pinheiro Reis, Pedro Leopoldo/MG O CUMPRIMENTOS

“Gostaria de parabenizar toda a família que compõe a Revista ECOLÓGICO! Acertaram em tudo, sem mencionar o Prêmio Hugo Werneck, tremenda homenagem! Continuem vivendo a vida, dividida com vidas, pois conhecimento só podemos adquirir por meio de informações como as que lemos nesta revista.” Carmem Silvia Franzin Janoski, via e-mail. “Inicialmente, gostaria de elogiar a Revista ECOLÓGICO pela excelente qualidade - não deixando nada a desejar em relação às revistas de grande circulação, seja no conteúdo, seja na diagramação. Na edição 61, chamou-me a atenção a matéria “Estratégia da Marca”, de Marco Piquini. Com base neste texto, queria sugerir que a ECOLÓGICO apresentasse mensalmente uma matéria sobre gestão de projetos sociais, pois há uma carência de publicações. No mais, parabéns novamente!” Edson Marinho, BH/MG

O LIÇÕES DE ADÉLIA

“(...) ‘E a minha vidinha não tem diferença alguma da vida da Rainha da Inglaterra, porque ela é feita de cotidianos. Isso tira a pose de qualquer pessoa. 12 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

O LIXO HOSPITALAR

“Agradeço, em meu nome e da Copagress, pela cobertura do “VI Ciclo de Palestras da Copagress


FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br

O EXPOSIBRAM’2013

“Li atentamente tudo que foi reportado pela ECOLÓGICO sobre a Exposibram’2013. Como estou em uma região onde o agronegócio domina, conheço muito bem os impactos que ele causa no nosso dia a dia: uso indiscriminado de venenos, morte das nascentes e veredas, dentre outros problemas. Sempre critiquei a forma com que as mineradoras divulgam as ações que desenvolvem. Mas, enfim, achei uma pessoa do setor, que tem a mesma ideia minha e que pode mudar tal procedimento. Ele é o novo presidente mundial da AngloAmerican, Mark Cutifani, que foi feliz em declarar: ‘A mineração tem um problema de reputação. De maneira geral, não contamos a nossa verdadeira história’. Ele está certíssimo!" Antônio Eustáquio Vieira (Tonhão), presidente da ONG Movimento Verde, Paracatu (MG)

EU ASSINO “Eu assino a Ecológico porque é uma revista que agrega valor à mim e à equipe da SOMMO BRASIL, nos mantendo atualizados com matérias consistentes e com conteúdo no qual se pode confiar. Conta com a sapiência de um conselho editorial exigente e respeitado. Parabéns ao Hiram Firmino, mentor dessa revista.”

ARQUIVO PESSOAL

- Resíduos de Serviços de Saúde” que resultou na matéria Lixo Hospitalar. O texto foi muito esclarecedor!” Maeli Estrela Borges, presidente da Copagress

Marisa Lapertosa, sóciodiretora da SOMMO Brasil.

ERRATA ● Na matéria “Dois olhos profundamente azuis”, da edição 61, a foto da página 44 é do maestro Luiz Aguiar, não de Sérgio Magnani, como foi especificado.

1 HUMOR QUE AMDA

FONTE: Charge extraída do livro “Água Mole em Pedra Dura – o Humor nas Páginas do Ambiente Hoje”, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA).

NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 13


DIVULGAÇÃO/WARNER BROS. PICTURES

REPRODUÇÃO/YOUTUBE

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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

PAUL MCCARTNEY com o louva-a-deus em Goiânia e Sandra Bullock com saudade dos latidos em “Gravidade”: a vida comum

GRAVIDADE ANIMAL

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REPRODUÇÃO

uem ainda não assistiu tem de se dar este presente: correr à sala de cinema mais próxima para se deslumbrar, em 3D, com o fascinante filme “Gravidade”, do diretor Alfonso Cuarón, com Sandra Bullock e George Clooney. Mais que proporcionar a experiência de nos sentirmos cidadãos cósmicos, muito além de cidadãos do mundo, o roteiro inclui uma passagem extremamente sutil. Solitária e à deriva na imensidão fria e sem oxigênio do sistema solar, o que mais toca a personagem-astronauta vivida por Sandra Bullock (fortíssima candidata ao Oscar de “melhor atriz” no próximo ano) não é apenas ouvir uma voz humana, mesmo que seja em chinês incompreensível, na cabine da nave em pane e desgovernada. Mas reconhecer, junto ao barulho, de fundo, da transmissão, o latido de cães. Tão somente isso: latido de cães. Esta surpresa a comove e humaniza tanto que ela solicita ao chinês na Terra para repetir o barulho dos cães, tamanha saudade, familiaridade e valor que esses animais – como todos os demais – têm em sua vida. Têm na nossa existência comum, como seres semelhantes que somos a toda a fauna e flora. Pena que, mesmo sendo vitais, companheiros e prestadores fiéis de serviços, continuamos a maltratá-los. É isso que nos remete à discussão sobre maus-tratos contra animais. Problema que o Brasil discute desde que um grupo de ativistas invadiu o Instituto Royal, em São Roque, interior de São Paulo, e resgatou cães da raça

beagle em protesto contra o uso deles em testes para empresas farmacêuticas. Uma causa que mobiliza até mesmo celebridades, como o ex-beatle Paul McCartney, hoje um dos mais ferrenhos defensores dos direitos dos animais, a ponto de ter abolido o consumo de carne e qualquer produto de origem animal e levado os integrantes de sua banda a fazer o mesmo. A questão não é só política, mas existencial. Ao se tornar vegetariano e garoto-propaganda da campanha mundial “Segunda Sem Carne”, o que o mais musical e romântico dos Beatles defende é a proibição da pecuária extensiva, que continua devastando a Amazônia, a última grande floresta do planeta, nas barbas do ainda insensível e medroso governo brasileiro. Talvez seja por isso, caros leitores, que a natureza tenha cercado Paul McCartey de uma quantidade impressionante de “louva-a-deus” quando ele se apresentou no Estádio Serra Dourada, na capital goiana, em seu penúltimo show no país. Por mais frágil que aparente ser, é a nossa mãe, pai, origem e destino comum. Enquanto existir um inseto particularmente verde, que é a cor da esperança, ainda por cima chamado “louva-adeus”, e que gosta de rock, a nave Terra ainda não se desgovernou de vez. Nós ainda podemos ter o mesmo destino que Sandra Bullock teve em “Gravidade”: a redescoberta do que somos, onde estamos e como devíamos proteger e agradecer de joelhos, todos os dias de nossa existência. Bom filme e boa leitura! Até a próxima lua cheia! O


A Record tem orgulho em apoiar um prêmio em que o mundo todo sai ganhando. IV PRÊMIO HUGO WERNECK DE SUSTENTABILIDADE & AMOR À NATUREZA

@tvrecordminas

TV Record Minas

r7.com/minas


PÁGINAS VERDES

“É ISSO AÍ, BICHO!” DIVULGAÇÃO

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J. Sabiá redacao@revistaecologico.com.br

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le era vegetariano convicto. Tinha profundo respeito por todas as formas de vida e, como um São Francisco urbano, lutava pela proteção dos animais. Não por acaso, vários deles foram levados para prestar-lhe justa homenagem em seu velório, dia 1º de outubro, no Memorial do Carmo, no Rio de Janeiro. Assim era o ator carioca e secretário municipal especial de Promoção e Defesa dos Animais, Cláudio Cavalcanti, que morreu aos 73 anos, vítima de complicações cardíacas. Vereador por dois mandatos, Cavalcanti era também diretor de TV, produtor teatral, escritor, tradutor, cantor, dublador e radialista. Marcou presença em mais de 50 novelas, minisséries e especiais na TV. Seu talento foi reconhecido ainda em 22 longas-metragens e dezenas de peças teatrais. Um de seus personagens mais famosos foi Jerônimo, protagonista da primeira versão da novela Irmãos Coragem. Seu último trabalho na TV foi na segunda temporada do programa Sessão de Terapia, do canal GNT. Autor de várias leis, assegurou a proibição de agressões e vilanias contra animais em rodeios, circos e o extermínio de bichos abandonados, bem como multas administrativas para maustratos. Outras normas propostas por ele contemplam a proibição da instalação de criadouros e abatedouros de animais para a comercialização de peles. Confira, a seguir, um pouco de seu legado, ideais e testemunho de vida:

CLÁUDIO CAVALCANTI: “Se eu comesse animais nada me impediria de comer seres humanos.”


C L Á U D I O C AVA LCA N T I Ator e defensor dos animais

● ESPERANÇA “Minha primeira identificação, quando muito pequenino, foi com um cavalo. Acho que percebi primeiro a beleza e, imediatamente depois, o sofrimento. Era lindo, o focinho macio, mas os olhos pestanudos tinham medo. Foi naquele momento que percebi que, por trás da beleza absoluta, existia também, como existia em mim, a dor e o medo.” “No respeito à vida, à moralidade e na defesa dos direitos dos animais minha atenção está diretamente voltada para as novas gerações. Para as novíssimas gerações. As crianças são a única esperança para a salvação do planeta.” ● BONDADE “A fábula da Branca de Neve, no imaginário infantil e na imagística dos contos de fada, é símbolo da relação dos animais com a bondade. Foram os bichinhos da floresta que salvaram Branca de Neve da morte, da injustiça e da ganância, enfim, da maldade. Levando Branca de Neve aos anões – também seres diferenciados, pequeninos, mas unidos –, restaurou-se o bem e todos foram felizes para sempre.” “Crianças e animais são parceiros naturais; e Branca de Neve representa esta parceria. Minha neta está comigo, vestida de Branca de Neve. É nela e em todas as crianças que tiveram a oportunidade de nos ver que deposito minhas esperanças de um futuro digno e feliz.”

● COMPAIXÃO “Crescer amando os animais é aprender a compaixão e o respeito por todas as formas de vida.” ● ANGÚSTIA “A todos os animais condenados à dominação e à torpeza humana, minha compaixão e minha angústia, por ver esgotados os recursos de que dispunha para evitar a tortura e o sofrimento que lhes são oficial e sistematicamente impostos.”

● CARNE x SAÚDE “Todos sabemos que a carne faz mal à saúde, que a pecuária e os pastos destroem o meio ambiente. Mas, o motivo que me faz radicalmente vegetariano é a impossibilidade de aceitar que se mate um animal para eu ou alguém comer.” “Reconheço que é difícil vencer as tradições e uma cultura que se baseia na exploração e no sofrimento dos animais. O chur-

rasco, os perus assados, os peixes recheados, as linguiças feitas de sangue, os presuntos com frutas e fios d’ovos, os blinis au caviar, os petit-fours com patê de foie gras, os tenros filés de vitelas ou mesmo um simples cachorro-quente ou hambúrguer estão ancestralmente associados à festa, reuniões de família, Natal, requinte, fartura ou simplesmente à saciedade, enfim, à alegria e ao prazer.” “Mas, basta que se pense que aquelas ‘iguarias’ são fruto da matança, do sangue, do berro de dor, do pavor, da tortura e do pânico, enfim, do sofrimento dos animais, para que tudo fique reduzido a uma sinistra e repugnante evidência da inconsciência em que se baseiam nossas tradições. Da mesma forma, o couro, as peles, os óculos de tartaruga e uma lista de produtos que enfeitam ou agasalham vêm da dor e do sofrimento dos animais.” “Tenho uma certeza absoluta. Nada justifica a tortura. Seja ela para alimentar o mito da saúde perfeita, por meio das experiências feitas com animais. Seja ela para proporcionar qualquer tipo de prazer estético. Seja ela para ‘deliciar’ o paladar.” ● TESTEMUNHO “E aqui dou o meu testemunho: quando se é vegetariano, nossa acuidade de paladar se transforma e se aguça a tal ponto, que passamos a ser capazes de distin-

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NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 17


PÁGINAS VERDES

SANDRA PAIVA

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“Amar os animais é aprender a compaixão e o respeito por todas as formas de vida."

guir o gosto do animal morto até mesmo num molho que aparentemente é apenas de tomate.” “Não julgo ninguém, não emito julgamentos morais, não gosto de controvérsias, mas confesso que sinto imediata e profunda identificação – uma identificação que dispensa palavras, discursos e pregações – por aqueles que não comem seres vivos. E faço mais uma confissão: se eu comesse animais nada me impediria de comer seres humanos.” “Faço tudo pelos animais, que são minha razão de viver. No meu obituário, gostaria que estivesse escrito: Cláudio Cavalcanti, protetor dos animais.”

ATOR LUTAVA pelo fim do sofrimento dos cavalos de Paquetá, por causado doloroso freio que colocam na boca do animal

18 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

● FALSOS DEFENSORES “A todos os verdadeiros defensores dos animais, passo o bastão, reiterando veementemente as seguintes recomendações: exerçam o sagrado direito de cidadania exigindo do Poder Executivo, na pessoa do prefeito, o cumprimento das leis de minha autoria, em vigor. São leis pioneiras que, se respeitadas, farão da cidade do Rio referência mundial no exercício dos direitos dos animais.” “Decorem os textos dessas leis, presentes na íntegra no meu site. Leis que, aprovadas e em vigor, passaram a ser de todos, cabendo a todos zelar para que sejam cumpridas.” “Lembrem sempre que na cidade do Rio deixei proibidos,


C L Á U D I O C AVA LCA N T I Ator e defensor dos animais

ANIMAIS NO VELÓRIO REPRODUÇÃO

QUEM FOI ELE

Nascido em 24 de fevereiro de 1940, Cláudio Murillo Cavalcanti era ‘bicho’ até no signo: peixes. Filho de um professor e contador e de uma dona de casa, fez teatro amador na escola e iniciou sua carreira aos 16 anos, depois de um teste no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Na mesma época, começou a trabalhar na televisão, ao ser convidado para o programa ‘João e Maria’, na extinta TV Tupi. Estava casado com a atriz e psicóloga Maria Lúcia Frota desde 1979. Autor de cinco livros, foi ainda deputado estadual.

entre outras agressões e vilanias contra os animais, rodeios, circos e extermínio de animais abandonados. Introduzi a esterilização gratuita como método oficial de controle populacional e de zoonoses, multas administrativas para maus-tratos, além de todo o resto que deve ser minuciosamente estudado por todos os interessados.” “E, sobretudo, tomem cuidado com os falsos defensores dos animais. Lembrem-se sempre das palavras de Hans Ruesch [1913-2007], o ‘papa’ do combate às experiências científicas com animais, quando advertiu severamente contra os falsos defensores – seres mais nefastos aos animais do que o são os inimigos declarados destes. Falsos defensores que, infiltrando-se entre os bem-intencionados, muito bem disfarçados e desprovidos de qualquer tipo de escrúpulo, difamam e mentem, tendo como função única servir ao Sistema, destruindo e aniquilando aqueles que são capazes de exercer a verdadeira defesa dos direitos dos animais.”

Antes da cerimônia de cremação do corpo de Cláudio Cavalcanti, fãs e amigos fizeram uma homenagem. Levaram cães, gatos e até um galo à cerimônia. “Vocês podem ter certeza de que é a melhor homenagem que o Cláudio poderia ter. Ele está aqui dentro, rindo”, disse a viúva Maria Lúcia Frota, que também atua em causas de defesa e proteção dos animais. A fã Maria de Lourdes Pereira da Silva, de 71 anos, fez questão de levar seu galo. “Há seis anos, tirei uma foto do Paquito Fred [o galo] com o Cláudio. Sempre acompanhei o trabalho dele. Não me esqueço da novela Irmãos Coragem. Era um grande homem.” Isabel Cristina Nascimento, presidente da Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa), lamentou a partida do ator. “Ele fez uma lei muito boa para a cidade do Rio, criando os centros cirúrgicos onde os veterinários fazem castração gratuita. Recentemente, Cláudio lutava para acabar com a escravidão dos cavalos de Paquetá. As pessoas não imaginam o sofrimento que é um freio daqueles na boca de um animal”, afirmou Isabel, que levou cinco cachorros da Suipa ao velório.

● AGRADECIMENTO FINAL “A todos os que me apoiaram, agradeço os votos com que me honraram durante os quase oito anos de atividade parlamentar, dedicados à defesa dos direitos dos animais. Agradeço as inúmeras manifestações de carinho que fizeram de minhas campanhas, e especialmente da última, um prazer, uma sucessão de alegrias que transcendeu a finalidade imediata de reeleição, para fazer com que me sentisse envolvido

e protegido por amigos, em número cada vez maior, antigos e novos. Irmãos que compartilham as mesmas ideias, amando os animais e desejando um mundo melhor para todos.” “Agradeço também e especialmente aos que manifestaram seu apoio através de e-mails, torpedos, telefonemas e, por onde quer que eu passasse, acenando de janelas de carros, de ônibus, de janelas de casas, com um sempre entusiástico e expressivo... É isso aí, bicho!” O NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 19


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SOU ECOLÓGICO

GLÁUCIA RODRIGUES

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LACERDA E DÉLIO, compromisso para BH reconquistar o título de Cidade Jardim

até o final do período chuvoso do próximo ano, que se somarão às já 34.920 mudas plantadas. Detalhe, além de tradição política em obra pública e terceirizada, o contrato assinado entre a PBH e as empreiteiras vencedoras da licitação garante que a cidade tenha mesmo as 54 mil árvores em todas as regiões da cidade. E não é só plantar, receber, abandonar e ir

ESPERANÇA NO ALTO Resgatado de um lixão na Índia, o filhote vira-lata Reppe (foto) se tornou o primeiro cão do mundo a escalar o Monte Everest. Ao lado de sua dona, a ex-jogadora de golfe, Joanne Lefson, ele puxou a “Expedição Vira-lata Everest 2013”. O objetivo é conscientizar as pessoas sobre o problema dos cães abandonados e a necessidade de mais adoções.

20 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

embora, como mais acontece. As mudas que não pegarem por deficiência do plantio, confirmou Délio, deverão ser repostas pelas mesmas empresas, com custo e prejuízo unicamente por conta delas. Já as que forem depredadas pela população, as empresas também serão obrigadas a repor, mas com o nosso dinheiro. Hugo Werneck agradeceria.

JOANNE LEFSON/ AFP

sta é a diferença entre ser político e ser político, técnico e empresário ao mesmo tempo: o que se promete é cumprido. Foi o que aconteceu com o prefeito Marcio Lacerda. Há dois anos, quando estava em meio a um tiroteio da opinião pública por ter cortado 22 mil árvores da paisagem urbana da capital mineira para viabilizar as obras de mobilidade pública exigidas pela FIFA para a Copa do Mundo, ele não titubeou: “Nós vamos plantar 54 mil novas árvores, mais que o dobro, para compensar o verde que estamos sendo obrigados a tirar”. Essa coragem ecológica, entre outras, fez com que ele ganhasse II Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza – O “Oscar da Ecologia” 2011 – sob o olhar desconfiado da plateia presente ao Auditório JK, na Cidade Administrativa de Minas. Palavra dada, palavra empenhada. Na última lua cheia de outubro, não a ele, do PSB, mas ao viceprefeito e secretário municipal de Meio Ambiente, Délio Malheiros, do PV, coube o plantio simbólico de um Ipê-rosa na poluída Avenida Amazonas, dando início ao terceiro e último módulo do Programa “BH + Verde”. Serão mais 19.080 árvores

BRENO PATARO/PBH

MUITO ALÉM DA POLÍTICA


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FERNANDA MANN

hiramfirmino.blogspot.com

MINERAÇÃO URBANA ARQUIVO PESSOL

Está sendo criada aquela que poderá se tornar a maior empresa de reciclagem de eletrônicos do Brasil, a e-Recicl@. A empreitada, em curso, terá como base a Região Metropolitana de BH. Seu objetivo é resolver de WILLER: agora à frente da Recicl@ vez a questão de descartes de computadores e celulares. Os criadores do projeto, Willer Pós (WHPos Ltda) e Francisco Souza (Brandt -Tecnologia de Resíduos) garantem que a iniciativa colocará Minas no mapa da reciclagem mundial de eletrônicos, com produção de metais básicos, preciosos. “Hoje, grande parte do lixo eletrônico do nosso estado é enviado para São Paulo, de onde é exportado para vários países da Europa e Ásia, ou descartada de forma inadequada”, explica Willer, que é membro do Conselho Editorial da Revista ECOLÓGICO e já presidiu o IGAM e a FEAM. A iniciativa mineira prevê a valorização do resíduo e gerará mais empregos e renda que muitas pequenas mineradoras do setor, com uma diferença: sem barragens de rejeito, sem cavas ou desmatamentos. É a chamada “mineração urbana” que, lentamente, se incorpora ao cotidiano das cidades. SAIBA MAIS

DEBORA FREITAS

e-recicla@whpos.com.br / (31) 3581-3972

MISS TERRA Duas luas depois de abrilhantar a abertura da Primavera & Semana Florestal, ao lado do governador Anastasia no Parque Estadual do Rola-Moça e pousar com o chapéu da ECOLÓGICO, a mineira Priscila Martins (foto), eleita Miss Terra Brasil 2013, embarcou para Manilha, nas Filipinas. É lá, no próximo dia sete de dezembro, que, apesar de tudo que a Mãe Terra fez acontecer na forma de um furacão sem precendentes, a representante do Brasil irá disputar o final do concurso Miss Earth.

SUCESU SUSTENTÁVEL O vice-presidente de Sustentabilidade da SUCESU e também presidente da Plansis, Roberto Francisco de Souza (E), recebe do secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Nárcio Rodrigues, a placa de “Selo Sustentável” outorgada pelo Governo de Minas durante o 29º INFORUSO. A Sucesu e a ECOLÓGICO são parceiras no julgamento da Categoria “Melhor Exemplo em TI” no Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade.

NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 21


SOU ECOLÓGICO

BOLSA RECICLAGEM reconhecimento para quem trabalha em prol do meio ambiente

TRI-FUMEC O vídeo “Fumec em dia de Sol”, produzido sob a coordenação do professor e jornalista da ECOLÓGICO, Alexandre Salum, conquistou pelo terceiro ano consecutivo o primeiro lugar no VI Concurso Sílvio Tendler de Vídeos Sobre Responsabilidade Social (2012), promovido pela ABMES – Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior. Em 2010, foi primeiro lugar em cobertura jornalística com “Sábado no Parque”; em 2011, vencedora na categoria videoclipe com “Fumec no Parque”.

ALEXANDRE SALUM recebe o prêmio de Sílvio Tendler, em solenidade na ABMES, em Brasília

22 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

REUTERS-BASSAM KHABIEH

MUNDO CÃO A ECOLÓGICO também registra o recente decreto religioso (fatwa) emitido por um grupo de clérigos sírios, permitindo que sobreviventes da guerra naquele país comam tipos de carne normalmente proibidos pelo Islã. Os moradores de Ghouta, uma região agrária próxima a Damasco, agora podem comer gatos, cães e burros para evitar que morram de fome. Os clérigos disseram que o fatwa é também um alerta para o mundo, acrescentando que, se a situação continuar a se deteriorar, os sobreviventes de ambos os lados não terão outra alternativa a não ser comer os mortos. Decretos semelhantes já foram emitidos em outras cidades sírias, como Homs e Aleppo.

RICARDO BARBOSA

CATADORES VALORIZADOS A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) comemorou este mês dois anos da BolsaReciclagem. O projeto de autoria do presidente da ALMG, deputado Dinis Pinheiro (foto), concede um incentivo financeiro a catadores de material reutilizável e reciclável em Minas Gerais. O valor é transferido semestralmente para as cooperativas, dos quais 90% são direcionados aos trabalhadores. Além disso, a bolsa tem o objetivo de incentivar a reintrodução de materiais recicláveis em processos produtivos, reduzir o uso de recursos naturais e insumos energéticos, com inclusão social de catadores de materiais recicláveis.

AUGUSTO (CAU) COELHO/COMUNICAMERA

ARQUIVO SISEMA

1

SOBREVIVENTES FAMINTOS se recuperam dentro de uma mesquita no bairro Duma de Damasco



DIVULGAÇÃO

GENTE ECOLÓGICA ALAOR FILHO

1

“Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas - é de poesia que estão falando.” MANOEL DE BARROS, poeta

“A proteção dos animais faz parte da moral e da cultura dos povos.” VICTOR HUGO, escritor

“Matar um animal para fazer um casaco é um pecado. Nós não temos esse direito. Uma mulher realmente tem classe quando rejeita que um animal seja morto para ser colocado sobre seus ombros. Só assim ela será verdadeiramente bela.” DORIS DAY, atriz 24 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

“Como zeladores do planeta, é nossa responsabilidade lidar com todas as espécies com carinho, amor e compaixão. As crueldades que os animais sofrem pelas mãos dos homens estão além da nossa compreensão. Por favor, ajudem a parar com esta loucura.” RICHARD GERE, ator


T MUGHAL

“Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça de que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.”

JAMES CAMERON

DIVULGAÇÃO SITE

MARTHA MEDEIROS, escritora

“Para combater a corrupção, temos de acabar com o voto secreto em todas as votações.” ANTÔNIO ROBERTO, deputado federal pelo PV-MG e integrante do Conselho de Ética da Câmara

JB DIVULGAÇÃO SITE JB

O diretor canadense, conhecido por filmes como Titanic e Avatar, está concluindo uma nova série para a TV americana sobre as mudanças climáticas. O programa, com previsão de estreia em abril de 2014 nos EUA, terá a presença de Matt Damon, Jessica Alba, Harrison Ford e Don Cheadle e vai mostrar como os efeitos do aquecimento global afetam populações e ecossistemas em diversas partes do mundo. MINGUANDO

JADER BARBALHO

“Sem fé e esperanças humanas não construiremos uma arca salvadora para todos.”

“Cuidar dos animais é cuidar da vida, é querer mais harmonia e amor para nossas vidas.”

LEONARDO BOFF, teólogo e filósofo

ZÉLIA DUNCAN, cantora

O senador do PMDBPA fez um discurso inflamado contra a aprovação da PEC que acaba com o voto secreto para todas as votações, inclusive de cassação de mandatos, no Senado. Em 2001, o parlamentar renunciou ao posto de senador para evitar cassação e a consequente perda dos direitos políticos.

OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 25

WALDEMIR BARRETO / AGÊNCIA SENADO

DIVULGAÇÃO VIVA

MALALA YOUSAFZAI, jovem paquistanesa vencedora do Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, do Parlamento Europeu, e indicada ao Prêmio Nobel da Paz

DIVULGAÇÃO

BILL GATES

O empreendedor por trás da marca Microsoft anunciou que vai utilizar resíduos de usinas nucleares para gerar eletricidade em todo o território norte-americano pelos próximos 800 anos. A iniciativa ousada vai custar cerca de 5 bilhões de dólares e pretende aumentar a matriz de energias limpas. O projeto será coordenado por Gates e Nathan Myhrvold, por meio da startup TerraPower, de Bellevue, EUA. Se sair do papel, o reator vai também diminuir os riscos ambientais nas usinas, já que o armazenamento de lixo nuclear não chega a ser totalmente eficiente. As estimativas são de que a empreitada fique pronta até 2030.

ANGELA GEORGE

“O melhor modo de lutar contra o terrorismo e o extremismo é fazer uma coisa simples: educar a próxima geração. Nossos livros e nossos lápis são nossas melhores armas.”

CRESCENDO


ECO PROMOÇÃO

TWITTANDO O “Precisamos de cidadãos,

não de consumidores” @Cacodepaula - Caco de Paula, Diretor de National Geographic Brasil O “Eis um teste para saber se você terminou sua missão na Terra: se você está vivo, não terminou (Richard Bach)” @andretrig – André Trigueiro, jornalista ambiental.

REPRODUÇÃO

1

ECONECTADO CRISTIANE MENDONÇA

A promoção desta lua cheia vem com dois presentes especiais! O livro As viagens do naturalista Saint-Hilaire por toda província de Minas Gerais mais um caderno do “Prêmio Hugo Werneck” para anotações. A obra fala sobre o trabalho do naturalista e botânico francês que durante o século XIX fez importantes relatos sobre os costumes e paisagens brasileiras da época. O sorteio será realizado dia 02 de dezembro e, para participar, basta acessar a aba PROMOÇÕES do Facebook Acesse www.facebook.com/souecologico e boa sorte!

O “O rio Tocantins pode perder até

FOTOS DIVULGAÇÃO

ECO LINKS

30% do volume neste século” @alexmansur – Alexandre Mansur, editor de Ciência & Tecnologia da Revista Época.

DIVULGAÇÃO

O “Cadê as condicionantes socioambientais de Belo Monte? Até a justiça já reconheceu que precisa cumprir.” @paulogbarreto - Paulo Barreto, mestre em Ciências Florestais.

MEMÓRIA A Fundação Municipal de Cultura disponibiliza de forma inédita, por meio do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), o acesso a diversas revistas publicadas entre as décadas de 1910 e 1980 em Minas Gerais. Entre os títulos estão Vita, Novo Horizonte e Semana Ilustrada, revistas que foram populares na capital. A digitalização da coleção é uma forma de garantir o acesso, além de preservar os originais. As revistas podem ser visualizadas pelo site do APCBH – www.pbh.gov.br/cultura/arquivo.

O “Ajude a proteger os #beagles do

RECICLAGEM

#institutoroyal . Assine a petição para proteger os testes em animais.” @leticiaspiller – Letícia Spiller, atriz

Do primeiro celular que pesava mais de um quilo aos modernos smartphones, muita coisa mudou! Menos, a necessidade de descartá-los de forma correta. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), dos 118 elementos químicos presentes na tabela periódica, o celular contém 43, como o mercúrio, o cádmio e o chumbo, que são metais tóxicos. Porém, no site da Revista ECOLÓGICO, você aprende como e onde descartar celulares de forma ambiental. Acesse: www.goo.gl/xb7lgE

O “Com o #BolsaFamilia 10 anos e

o #BrasilSemMiséria, a miséria foi reduzida em 89% em 10 anos” @dilmabr – Dilma Rousseff, presidente do Brasil. O “Menos um minuto de banho

economiza, em um ano, o equivalente a 15 dias de Itaipu em sua geração máxima.” @institutoakatu, Instituto Akatu pelo Consumo Consciente 26 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

MAIS ACESSADA “Como fazer tinta à base de terra” foi uma das matérias mais acessadas no site durante o mês de outubro. A ideia inusitada e ecológica chamou atenção pela simplicidade do processo e por ser 70% mais barata que as tintas convencionais. Ficou curioso? Confira: www.goo.gl/cwkiqL


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CÉU DE BRASÍLIA VINÍCIUS CARVALHO

BELO MONTE A pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) cassou a decisão que mandava paralisar as obras da usina de Belo Monte (PA). Os trabalhos não chegaram a ser interrompidos, segundo a Norte Energia. Em liminar, o próprio TRF-1 ordenara a paralisação das obras por ilegalidade no processo de licenciamento ambiental.

SANEAMENTO

INSTITUTO TRATA BRASIL

Apenas 30% das 5.570 prefeituras brasileiras devem concluir em 2013 o Plano Municipal de Saneamento Básico, segundo estimativa do IBGE. Se isso ocorrer, 70% dos municípios podem ficar impedidos de receber recursos federais para aplicar no setor. O decreto 7.217/2010 determina que, a partir de janeiro de 2014, o acesso a verbas da União destinadas ao saneamento básico estará condicionado à existência do plano.

AGROTÓXICOS A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos em 2011 e 2012. Nas 1.665 amostras de sete alimentos pesquisados (abacaxi, arroz, cenoura, laranja, maçã, morango e pepino), a pesquisa acusou altos índices de contaminação por inseticidas ou substâncias não permitidas em 59% das amostras de morango, 42% dos pepinos, 41% dos abacaxis e 33% das cenouras. 28 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

EMISSÕES Apesar da redução geral de emissões no Brasil, assegurada pela diminuição do desmatamento, as liberações de dióxido de carbono equivalentes dos setores de energia e agropecuária aumentaram 41,5% e 23,8% entre 1995 e 2005, e 21,4% e 5,3%, respectivamente, entre 2005 e 2010. Os números foram apresentados pela pesquisa Pegada de Carbono da Política Tributária Brasileira.

GASOLINA O teor de enxofre na gasolina comum comercializada no Brasil deverá ser reduzido dos atuais 800 miligramas por quilo (mg/kg) para 50 mg/kg, queda de 94%. A determinação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) começa a valer a partir de 1º de janeiro de 2014.


DMITRI SHAROMOV / GREENPEACE

ENERGIA 1 O governo federal estima que serão necessários investimentos de R$ 200 bilhões no Brasil, até 2022, para atender ao aumento da demanda por eletricidade. A previsão faz parte da proposta do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2022, que entrou em consulta pública. O documento considera uma expansão da capacidade instalada do país para 183 gigawatts (GW) no final de 2022, ante 119,5 GW em dezembro de 2012 – um acréscimo de 53%.

ATIVISTA BRASILEIRA É LIBERTADA A Justiça russa liberou na última terça-feira, 19 de novembro, sob fiança, a bióloga brasileira Ana Paula Maciel. Militante do Greenpeace, ela foi detida durante uma ação da organização de defesa do meio ambiente no Ártico e é a primeira ativista estrangeira liberada entre os 30 militantes detidos na ação. Ana responderá o processo em liberdade, mas não tem autorização para deixar o país. No início do mês, ela havia feito um apelo pelo Ártico e pediu às pessoas: "consumam menos, usem sacolas reutilizáveis, apaguem as luzes ao não usá-las, procurem produtos com menos embalagem, usem mais as pernas e menos os carros".

ENERGIA 2 A Energia Eólica deve puxar o crescimento de renováveis nesse período, avisa a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O potencial de energia eólica no país deve saltar de 1,8 mil MW, dado de 2012, para 17,4 mil MW em 2022. Haverá também um aumento de 34,1 mil MW na capacidade instalada de geração hidrelétrica e de 6,5 mil MW em novas fontes de biomassa. Com isso, a participação das renováveis pode chegar a 85,8% em 2022.

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DIVULGAÇ

ÃO

GUSTAVO LOURENÇÃO

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ECONOTAS CRISTIANE MENDONÇA* redacao@revistaecologico.com.br

t COSMÉTICOS VEGANOS

LÚCIA, catadora há nove anos, é uma das homenageadas

t DO LIXO À ARTE

DIVULGAÇÃO

O artista que se esconde por trás do cotidiano da reciclagem foi revelado na exposição multimídia Arte da Reciclagem (RECICLARTE), em São Paulo. A Biblioteca do Memorial da América Latina foi o palco de estreia para os ensaios fotográficos, vídeos, peças e depoimentos que fazem parte da mostra. O projeto é uma homenagem aos mais de 800 mil catadores existentes no país, envolvidos com a coleta de sucatas nas ruas, separação de material em cooperativas e produção de arte reaproveitável, entre outras funções. A exposição segue por Mauá, Paulínia e Sorocaba, encerrando as atividades em 21 de dezembro.

A Surya, marca de comésticos veganos, ganhou o selo VEGAN da instituição americana Vegan Action, combatente dos maus tratos aos animais, além de dois Prêmios Greenbest, o maior entre as iniciativas sustentáveis no Brasil. Há esfoliantes corporal e facial, hidratante, gel para depilação e sabonete líquido. Tudo à base de castanhas, frutas, ervas e cacau. Mas o carro-chefe da marca é uma máscara facial, feita com argila e a planta Amazônia Preciosa, que só existe na Amazônia. Mesmo com todo o reconhecimento, são as pequenas coisas que enchem de orgulho a proprietária da marca, Clélia Angelon, que, recentemente, se emocionou ao presenciar a reunião de cinco mil vegetarianos em São Paulo. “O mundo está evoluindo e as pessoas também. O fato de fazer um negócio sem crueldade me dá felicidade e confiança. Caminhamos na direção de uma sociedade mais justa”, disse.

t PEQUENOS AVENTUREIROS No último mês, trinta alunos da Escola Estadual Lamartine de Freitas, de Congonhas, realizaram o desejo de muitas crianças: tornaram-se cientistas. A Gerdau, em parceria com a UFMG, desenvolve o projeto “Dia de Cientista”, em que estudantes do ensino médio aprendem a teoria e a prática de diversas áreas da biologia, física e química. No primeiro dia, os educadores repassaram informações gerais sobre a água e apresentaram os animais que são bioindicadores da qualidade do líquido. No segundo, as crianças coletaram amostras de água nos córregos do Biocentro e no Lago Soledade. 30

O ECOLÓGICO

| NOVEMBRO DE 2013

TRINTA ALUNOS do ensino médio aprenderam como é o cotidiano de um cientista

t PAGANDO A CONTA Quanto mais econômico (e mais sustentável) melhor. Foi pensando nisso que a Loja Elétrica criou a série de luminárias com sistemas fotovoltaicos capazes de gerar energia por meio da luz do sol. Os aparelhos são de uso em jardins e áreas externas, todos de fácil instalação. A diversidade dos produtos permite que eles iluminem desde um arbusto ornamental a grandes palmeiras, fachadas de prédios ou até quadras poliesportivas. Sistemas fotovoltaicos utilizam células feitas de materiais capazes de transformar a radiação solar em energia elétrica. O (*) colaborou Marcos Fernandes


Você faz tudo para ajudar a salvar o meio ambiente. E sabe quem também faz parte dele? As pessoas. Por isso, seja você também um doador de sangue e ajude a salvar a vida de milhares de brasileiros que, assim como a Márcia, precisam receber sangue. Coloque o assunto em pauta e leve essa mensagem para junto das causas sociais. O seu apoio vai aumentar a conscientização da população sobre a importância de tornar a doação de sangue um hábito e mostrar as pessoas que, seja para quem for, o importante mesmo é ser doador. Entre nessa com a gente. Participe da campanha e ajude o Ministério da Saúde a aumentar o número de doações de sangue em nosso país. Faça o download das peças da campanha no www.saude.gov.br e divulgue também. b Para sugestões e novas propostas de parceria, envie um e-mail pra gente: parcerias@saude.gov.br

Seja para quem for, seja doador.

Procure o Hemocentro mais próximo.

Márcia Fernanda, 11 anos. Tem talassemia e precisa de doação de sangue.


CRISTIANE SILVEIRA DE LACERDA (*) redacao@revistaecologico.com.br

DIVULGAÇÃO FUMEC

1

ECO CONSTRUÇÃO

EVENTO NA FUMEC contou com expoentes nacionais e internacionais na área da construção civil sustentável

IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE

CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

D

isseminar conceitos e tecnologias para a promoção da sustentabilidade na construção civil. Esse foi um dos principais objetivos do IV Seminário Internacional de Construção Sustentável, realizado de 31 de outubro a 1º de novembro, no auditório Phoenix da Universidade FUMEC. Já em sua quarta edição, o evento reuniu importantes profissionais como Marcos Casado, do GBC Brasil (Conselho de Construção Sustentável do Brasil – Certificação LEED); Bruno Casagrande, da Fundação Vanzolini (Certificação AQUA); o Argentino Walter Lenzi, da W&R LENZI; o Italiano Marco Cagelli, da Universidade Politécnica de Milão; além dos portugueses Carlos Pedro Ferreira e Luis Conde Santos, da empresa Q3a. Outro diferencial do evento foi a preocupação com a sustentabilidade nos mínimos detalhes da organização, como coffee-break natural, coleta seletiva de resíduos, folder impresso em papel reciclado e hotel dos palestrantes a uma distância que poderia ser percorrida a pé até o local do evento. O

32 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

dia 1º de novembro foi inteiramente dedicado aos cursos de aprofundamento com os temas Comissionamento, Qualidade do Ar Interno e Acústica, novidade apresentada nesta quarta edição. Particularmente, como membro da Comissão Organizadora, percebi avanços, tanto em termos de proposições técnicas e acadêmicas, como de público participante. O público na primeira edição, em 2010, foi de 100 pessoas; na edição 2011, 180 participantes e nas edições de 2012 e 2013 contabilizamos mais de 200 participações cada. As palestras, devidamente autorizadas, serão divulgadas no portal da EcoConstruct Brazil: www.ecoconstruct. com.br. O seminário é uma iniciativa da própria FUMEC, da EcoConstruct Brazil, com o apoio da Revista ECOLÓGICO e patrocínio das empresas ISQ e COMIS, e do WTC. O

(*) Diretora da EcoConstruct Brazil www.ecoconstruct.com.br | Coordenadora do MBA Edifícios Sustentáveis (FUMEC).


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Início Beginning

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Área Externa Descoberta Uncovered area outdoors

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Obrigatório até 15 m² Mandatory up to 15 m²

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Término End

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720,00

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02/12/13

02/02/14

430,00

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770,00

250,00

03/02/14

07/11/14

520,00

730,00

910,00

290,00

02/12/13

02/02/14

520,00

730,00

910,00

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03/02/14

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550,00

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970,00

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03/02/14

07/11/14

550,00

780,00

970,00

340,00

MODALIDADES DE PATROCÍNIO (Preços em R$) - SPONSORSHIP CATEGORIES (Prices in R$) COTAS DE PATROCÍNIO - SPONSORSHIP QUOTAS

Diamante

Platina

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Diamond

Platinum

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200.000,00

150.000,00

100.000,00

70.000,00

40.000,00

17 a 20 de novembro de 2014 November 17-20, 2014 Local ¦ Venue: Hangar - Centro de Convenções da Amazônia - Belém - Pará - Brasil

Comercialização e Secretaria Executiva: Marketing and Executive Office:

Bronze

Realização: Realization:


FERNANDA MANN

1 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

CASA COR 2013: Albuquerque e a paisagista Nãna Guimarães que compuseram o cenário Eco Jardim

TIJOLOS BONS E CORRETOS Blocos modulares proporcionam economia de até 60% na obra redacao@revistaecologico.com.br

V

ai construir? Então considere a possibilidade de optar por tijolos ecológicos. Esses blocos modulares, compostos de areia, resíduos de construção e passivos ambientais, são bonitos, fáceis de manusear e representam uma economia no custo total da obra de 30 a 60% em relação ao sistema construtivo tradicional. Pelo menos, isso é o que garantem fabricantes e engenheiros. Fato é que o material é bom para o meio ambiente, pois o processo de produção não necessita de fornos, eliminando a utilização de lenha e a derrubada de cerca de dez árvores para a fabricação de mil tijolos. Sem lenha também não há fumaça e, 34 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

por consequência, a emissão de gases de efeito estufa. O gerente de projetos Ruston Albuquerque encantou-se pelo material há 15 anos, quando seu pai, Ernesto Albuquerque, decidiu construir uma casa que se diferenciasse pela adoção de técnicas de construção sustentável, como a captação e armazenamento de águas de chuvas, utilização de madeira certificada e, claro, o emprego dos tijolos ecológicos. Diante da falta de informação e de alternativas sustentáveis em materiais de construção, à época, a solução encontrada foi a produção caseira dos insumos e materiais sustentáveis na própria obra. Pai e filho arregaçaram

as mangas e aventuraram-se na fabricação artesanal dos tijolos ecológicos. Em apenas quatro meses, a casa, no litoral fluminense, ficou pronta. “Do jeitinho que a gente sonhava, com os tijolos aparentes, uma grande área de jardim e até um elevador panorâmico”, descreve. De lá pra cá, Ruston trabalhou em outros projetos, mas nunca abandonou a ideia de ter a sua própria empresa de tijolos ecológicos. Sonho que, agora, está sendo possível realizar em parceria com a publicitária Ethel Kacowicz. Há pouco mais de quatro meses, eles fundaram a Terramax Tijolos Ecológicos com uma produção inicial de cerca de 40 mil


REPRODUÇÃO

FIQUE POR DENTRO

POR QUE É ECOLÓGICO? O Por não usar o barro vermelho, evita a degradação do meio ambiente causada pela exploração de jazidas de argila; O Por permitir o uso de resíduos e passivos ambientais resultantes de atividades variadas em sua composição (transformando passivos ambientais em ativos econômicos); O Por se valer de uma técnica construtiva moderna e eficiente, reduz drasticamente o desperdício de recursos e a geração de resíduos;

TIJOLO ECOLÓGICO possui apenas dois furos, o que proporciona um isolamento acústico, diminuindo os ruídos externos

peças por mês. O que não é pouco para um negócio que está começando, mas ainda é insuficiente para atender a demanda das grandes construtoras. Mas o empresário garante já estar ampliando essa capacidade, por meio de novas parcerias. No entanto, o foco no momento é formar público e mostrar porque optar por esse tipo de tijolo é, realmente, uma opção mais inteligente e econômica. Na última edição da Casa Cor BH, a produção da empresa esteve presente em dois cenários: o Eco Jardim da paisagista Nãna Guimarães e o Deck Bar dos arquitetos Cristina Morethson e Ângelo Coelho. COMO É FEITO Para ficarem prontos para o consumidor final, os blocos modulares precisam ser “curados”. No início do processo, uma máquina trabalha o solo, que deve ter baixo teor de argila e material orgânico. O montante é triturado e peneirado para receber areia, cal

e cimento nas proporções ideais. O composto, então, vai para um homogeneizador e depois para outra máquina onde é prensado. Já no formato de bloco, os tijolos são “curados”. Assim, o material é coberto por uma lona e “descansa” por aproximadamente de 12 a 18 horas. Aí precisa ser reidratado e novamente “curado” por, no mínimo, mais oito dias com umidade controlada. “Parece complicado, mas não é”, garante Ruston. E por que é chamado de “ecológico”? Por não usar barro vermelho, ele evita a degradação do meio ambiente causada pela exploração de jazidas de argila. Também não necessita de fornos ou de outros meios de queima em seu processo. Estima-se que, para cada mil tijolos ecológicos, de sete a doze árvores sejam poupadas, eliminando a emissão de gases poluentes na atmosfera. Outra vantagem é que, por utilizar uma técnica construtiva moderna, reduz drasticamente o desperdício de recursos

O Por não necessitar de fornos ou outros meios de queima. Estima-se que, para cada mil tijolos ecológicos fabricados, de sete a doze árvores sejam poupadas, o que reduz o desmatamento e a emissão de gases poluentes na atmosfera; O Por exigir menor grau de especialização, a técnica construtiva facilita a inclusão de novos profissionais no mercado de trabalho, criando oportunidades de geração de renda para cidadãos com perfil de baixa empregabilidade.

e a geração de resíduos. “Podemos dizer ainda que a técnica de aplicação facilita a inclusão de novos profissionais no mercado de trabalho, criando oportunidades de geração de trabalho e renda”, lembra Ruston. Outra vantagem apontada pelo empresário é que os blocos são estruturais, o que os habilita a receberem cargas com segurança. Ao mesmo tempo, grautes de cimento embutidos nos tijolos reduzem o uso de concreto e ferragens. Isso faz com que o peso seja distribuído pela edificação de maneira mais equilibrada, conferindo mais estabilidade e segurança à obra. Ruston admite que a unidade do tijolo ecológico é mais cara que a convencional. Enquanto o primeiro sai ao consumidor por NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 35


1 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL APOSTE NO MATERIAL PORQUE: O Diminui o tempo de construção em 50% em relação à alvenaria convencional, devido aos encaixes que favorecem o alinhamento e prumo da parede;

ecológicos necessitam apenas de um impermeabilizante à base de silicone ou acrílico, e um rejunte flexível; O O assentamento de azulejos é direto sobre os tijolos;

O Estrutura - As colunas são embutidas em seus furos, distribuindo melhor o peso sobre as paredes; O Redução de uso de madeiras nas caixarias dos pilares e vigas; O Economia de 70% do concreto; O Não necessita de argamassa de assentamento entre os tijolos; O Economia de 50% de ferro; O Durabilidade maior do que o tijolo comum; O Alivia o peso sobre a fundação evitando gastos com estacas mais profundas e sapatas maiores; O Fácil acabamento. Os tijolos

FOTOS REPRODUÇÃO

OS FUROS propiciam o encaixe perfeito entre as peças, autoalinhando os tijolos, facilitando a estruturação da obra e as instalações elétricas e hidráulicas, e melhorando o desempenho térmico e acústico das paredes.

PROPOSTA TERRAMAX: construir a casa dos seus sonhos com o máximo de economia, segurança e rapidez. E ainda preservar a natureza e contribuir para um mundo mais sustentável.

O Obra mais limpa e sem entulhos; O Como o tijolo ecológico possui apenas dois furos, as paredes formam um isolamento acústico, diminuindo os ruídos externos; O Isolamento térmico – Os furos dos tijolos formam câmaras térmicas evitando que o calor externo penetre no interior da residência; O No inverno, acontece o contrário, pois a temperatura da casa fica mais quente do que a externa; O Os furos também propiciam a evaporação do ar, evitando a formação de umidade nas paredes e interior da construção;

cerca de R$ 0,90, o tradicional custa R$ 0,75. Mas ele assegura que essa diferença é compensada com folga, já que os blocos modulares, também chamados de “solo-cimento” dispensam a utilização de argamassas para assentamento, revestimentos de efeitos cosméticos como reboco para regularização e acabamento de paredes, além de acelerarem a obra com seus encaixes que facilitam o alinhamento e o prumo das paredes. “Todas essas características tornam o processo construtivo mais econômico, em especial com a redução significativa de materiais caros como o cimento, areia e brita, madeira, ferragens, mão de obra e tempo de construção”, explica Ruston. O SAIBA MAIS www.terramaxtijolos.com.br contato@terramaxtijolos.com.br

36 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013


Pampulha. 70 anos

e cada vez mais nova.

Nova iluminação na orla.

Pampulha, candidata a Patrimônio Cultural da Humanidade.

Recuperação dos jardins do MAP.

Novas atrações como a Casa Kubitschek.

Nova ciclovia.

Nova sinalização turística.

A Pampulha está completando 70 anos e a Prefeitura de Belo Horizonte está dando um grande passo rumo à tão sonhada limpeza e despoluição da Lagoa. Já começaram os trabalhos de desassoreamento da Lagoa. Serão retirados aproximadamente 800 mil metros cúbicos de sedimentos. A previsão é de que, até maio do próximo ano, o serviço esteja concluído, com um investimento de mais de 100 milhões de reais. Mas não é só isso. A Pampulha está ganhando também uma nova iluminação na sua orla, nova ciclovia, pista de caminhada revitalizada, patrimônios restaurados, sinalização turística e novas atrações, como a Casa Kubitschek, recentemente inaugurada. Um dos mais belos cartões-postais de Belo Horizonte está ganhando uma nova vida e vai ser candidato a Patrimônio Cultural da Humanidade. Pampulha. Pode se orgulhar.


1

ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

CONSULTEM O DR. GOOGLE!

N

JUCA VARELLA/FOLHAPRESS

o número anterior, meu artigo foi sobre maus-tratos a animais que eu mesmo considerei deprimente, apesar de ter como objetivo contribuir para que mais e mais pessoas saibam disto. Decidi que seria interessante dar continuidade ao assunto numa perspectiva mais otimista. Coincidentemente, enquanto a revista era impressa, pela primeira vez no Brasil, assistimos a uma ousada iniciativa de um grupo de defesa de animais que invadiu o Instituto Royal, na cidade de São Roque (SP), e resgatou 120 cães que eram utilizados em pesquisas. Imagens mostradas na televisão comprovaram claramente que eles eram maltratados. Aliás, é difícil imaginar que não, pois eram cobaias. No vídeo em que se defende, a empresa informa que uma das linhas de pesquisa é voltada para a cura de câncer e que, ao final, a maior parte dos cães é doada. Ou

seja, mesmo depois de submetidos a testes e testes, durante meses, acabam em perfeita saúde. Acredite quem quiser. Mas não é o meu caso. Os resultados foram imediatos. Diante da repercussão na mídia nacional e internacional e de um abaixo-assinado com quase 500 mil assinaturas, a Câmara dos Deputados aprovou em, regime de urgência, projeto de lei que agrava punições em casos de maus-tratos a cães e gatos. E no último dia 25 de outubro, a prefeitura suspendeu o alvará da empresa. Assim como proteger o meio ambiente é muito mais que “amar árvore, pássaros e flores”, a luta pela defesa dos animais vai muito além da compaixão que sentimos por cães e gatos abandonados ou maltratados. Antes de chegar a drogarias, hospitais e em nossas casas, remédios e diversos outros produtos de uso pessoal percorrem tenebrosos caminhos desconhecidos. Shampoos são testados em olhos de coelhos, mantidos abertos à força para verificar se não causarão lesões a nós humanos. E diversos outros produtos são aplicados sobre a pele raspada durante dias e dias, até que fique em carne viva para “garantir” sua eficiência. O site www.pea.org.br informa que, anualmente, cerca de quatro a cinco milhões de animais nos EUA são obrigados a inalar e a ingerir (por tubo inserido na garganta) loções para o corpo, pasta dental, amaciantes de roupa e outras substâncias potencialmente tóxicas. Não dá para entrar em detalhes, mas o fato é que muita gente qualificada afirma que existem alternativas a testes com animais e que os mesmos necessariamente não garantem segurança dos humanos. Um dos exemplos citados é a talidomida, que causou deformações em milhares de fetos pelo mundo. Indignação somente não resolve. Tem de virar ação. Redução de lucros é a única voz que o capitalismo ouve e entende. Nessa brecha é que podemos entrar enquanto consumidores. No Dr. Google há muitas informações sobre produtos que não fazem testes com animais. Optar por eles no que for possível significa atingir as empresas que não querem mudar sua postura. Mudanças só acontecem quando cada um faz a sua parte. O (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda)

XXX O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

PROTESTO EM SÃO PAULO: um dos beagles resgatados no Instituto Royal



Nosso Futuro

CONSTRUTIVO E SUSTENTÁVEL

SEGUNDO A ONU, ATÉ O FINAL DESTE SÉCULO, 95% DA HUMANIDADE ESTARÁ MORANDO NAS CIDADES. SERÁ, PORTANTO, NO MEIO URBANO QUE TODOS NÓS TEREMOS DE CONSEGUIR QUALIDADE DE VIDA. SERMOS SUSTENTÁVEIS, NO TRABALHO, NOS TRANSPORTES, NO NOSSO ESTILO DE VIVER. É POR ESTAS RAZÕES QUE, COM FOCO ESCLARECEDOR, JÁ A PARTIR DESTA EDIÇÃO, A REVISTA ECOLÓGICO IRÁ ABORDAR PERMANENTEMENTE O TEMA DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL.

O O QUE É MELHOR PARA A NATUREZA E O MEIO AMBIENTE QUE NOS RESTAM? O HORIZONTALIZAR A OCUPAÇÃO DOS POUCOS ESPAÇOS URBANOS QUE EXISTEM? O VERTICALIZÁR, SOB A ÓTICA DE UMA NOVA E ECOLÓGICA CONCEPÇÃO CONSTRUTIVA QUE CONVERSE MAIS CONOSCO, COM O SOL, O VENTO E UMA MELHOR VISÃO DE MUNDO?

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FERNANDA MANN

1 O ISIDORO DE HUGO (2)

AS ESTRADAS de acesso à Granja Werneck viram depósitos de entulho e desova de cadáveres, enquanto os invasores ateiam fogo até no ex-Sanatório que o patriarca dos Werneck construiu e arborizou

A AGONIA CONTINUA A família do ambientalista que mais lutou pela qualidade de vida dos mineiros ainda aguarda o socorro do governo Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

A

ECOLÓGICO mostrou, em sua última edição, a invasão devastadora da Granja Werneck, a última maior área verde da região norte de Belo Horizonte, iniciada por 800 famílias de supostos sem-terra no limite norte com o município de Santa Luzia, de onde foram expulsas pelo prefeito Carlos Calixto (leia matéria na pág. 42). O método de protagonizar a chamada “terra arrasada” ou “fato consumado” para não se ter mais o que se preservar depois, também continua o mesmo, e impune. Os invasores permanecem no local, primeiro ateando fogo, depois cortando o que sobrou de troncos de árvores, muitas delas plantadas há mais de século pelo patriarca dos Werneck, e até levantando pare-

des de alvenaria, sem qualquer ação por parte dos órgãos de segurança pública. O prefeito Marcio Lacerda se diz solitário e refém de uma série de outras invasões orquestradas para acontecer em regiões verdes da capital mineira, ainda preservadas para se tornar parques urbanos. Já o governador de Minas, Antonio Anastasia, em resposta aos familiares e descendentes de Hugo Werneck, voltou a garantir que o Estado está atento e irá agir na hora certa e dentro da legalidade. Enquanto isto não acontece, a memória literalmente verde do ambientalista que empresta seu nome ao “Oscar da Ecologia” continua perdendo a cor, a vitalidade e a esperança. Até quando? NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 41


1 O ISIDORO DE HUGO (2) Cidade Administrativa

GRANJA WERNECK

A última área verde da região norte de BH continua sendo degradada pelo crescimento urbano desorganizado, a apenas 4 km da sede do governo estadual

O SONHO DE DOIS HUGOS WERNECK Um pouco de história, sonho e realidade da Granja Werneck ainda ameaçada pela invasão e degradação criminosa Otávio Werneck (*) redacao@revistaecologico.com.br

“Com a doença e a morte de meu avô, em março de 1935, a situação financeira do Sanatório e da fazenda ficou crítica. A família adotou medidas drásticas de contenção de custos e fez acordos com os credores para garantir a manutenção desses preciosos ativos. Os filhos casados retornaram, com suas famílias, à casa da mãe para reduzir as despesas e, todos juntos, garantiram a continuidade do sonho paterno. Neste mesmo ano, foi constituída a Granja Werneck S/A. 42 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

Vencido o período de dificuldades financeiras, a propriedade manteve-se próspera, explorando as atividades agropastoris e se adaptando, na medida do possível, à crescente e desordenada urbanização do entorno. Durante muitos anos quase toda a família mudava-se para lá no período das férias escolares. Em 1967, após a morte de nossa avó Dora, a fazenda foi dividida entre seus filhos. Mas, no todo, manteve sua característica de

propriedade rural produtiva. Os anos correram e a ocupação urbana aproximou-se rapidamente de nossas divisas. Vieram os casos de roubos e agressões armadas. As margens das estradas passaram a ser locais de bota-fora de lixo e entulhos, até de desova de cadáveres. Na segunda metade da década de 80, fomos obrigados a reconhecer que a manutenção de atividades rurais nas nossas áreas se tornara praticamente impossível. Apesar disso, continuamos a usar


FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

e manter as respectivas propriedades, mais para la- diversos. Conhecemos e compreendemos os princizer, com produção artesanal de verduras e frutas. pais receios e desejos desses diversos agentes, para Em 1988, iniciamos conversas para encontrar a compatibilizĂĄ-los da forma mais proveitosa para a destinação mais adequada para a ĂĄrea original da população de BH e regiĂŁo metropolitana. Granja Werneck, levando em consideração as disposiçþes impostas pela legislação municipal. A partir OPERAĂ‡ĂƒO URBANA daĂ­, mantivemos entendimentos com autoridades A consequĂŞncia foi a inclusĂŁo da nossa ĂĄrea no perĂ­e tĂŠcnicos da PBH e com potenciais investidores. metro deďŹ nido em lei, em 2010, como “Operação UrO objetivo foi viabilizar um projeto de urbanização bana do Isidoroâ€?, instrumento legal que traça as direpara a ĂĄrea que, pela Lei de Uso e Ocupação do solo trizes gerais para sua ocupação de forma sustentĂĄvel. vigente, era considerada rural. O Projeto Granja Werneck ocupa pouco mais de Contrariando um um terço de toda a sentimento generaliĂĄrea da operação, prozado, sempre tivemos tege os patrimĂ´nios a convicção de que seambiental e histĂłrico, ria possĂ­vel implantar a criação de parques, na fazenda uma ocua implantação de equipação com padrĂŁo de pamentos pĂşblicos qualidade muito su(praças, escolas, etc.) perior ao existente nos e de um amplo prograbairros do entorno. Ao ma habitacional de inmesmo tempo, por interesse social, atravĂŠs uĂŞncia de meu pai, de um modelo ecolĂłgio ambientalista Hugo co. A proposta pretenWerneck, tĂ­nhamos de valorizar as relaçþes como princĂ­pio nĂŁo sĂł entre as pessoas, a vida manter as ĂĄreas verdes em comunidade e a que jĂĄ existiam como sustentabilidade. ampliĂĄ-las nos locais Da ĂĄrea total, de 350 marginais aos cursos hectares, 68% serĂŁo

d´ågua e de declividaintegralmente preserdes mais acentuadas. vados com as ĂĄreas deAo ďŹ nal de 2008, todos gradadas recuperadas os ďŹ lhos e seus descene os outros 32% objeto dentes assinaram um de urbanização, com contrato com as construtoras Rossi e Direcional para predominância de ocupação vertical, garantindo taxa a urbanização sustentĂĄvel da nossa propriedade. de ocupação reduzida e permeabilidade elevada. O inĂ­cio do processo se deu com as açþes de artiAs ĂĄreas com maior relevância ambiental serĂŁo culação entre proprietĂĄrios, construtores, vizinhos e transformadas em grandes parques pĂşblicos, sendo poder pĂşblico para deďŹ nir as caracterĂ­sticas de um o Parque Leste com 2,3 milhĂľes de m2 e Reserva Sul, empreendimento que compatibilizasse os interesses com quase 300 mil m2, alĂŠm de outros parques lineares ao RibeirĂŁo Isidoro e da transformação de uma pedreira desativada em ĂĄrea de manifestaçþes e eventos. A proposta prevĂŞ a implantação de 17.500 habitaçþes e, como parte do compromisso determinado pela Operação Urbana, das contrapartidas que constituirĂŁo a infraestrutura de educação, saĂşde, segurança, meio ambiente e mobilidade. A proposta maior ĂŠ revitalizar toda a regiĂŁo, buscando um grau de equilĂ­brio e de justiça socioambiental, dentro de uma visĂŁo inovadora de compensação ecolĂłgica e de um modelo sustentĂĄvel de urbanização. É isso que nosso pai queria e nosso avĂ´ certamente aprovariaâ€?. (*) Filho do ambientalista Hugo Werneck

OS HUGOS, pai e ďŹ lho: o mesmo amor Ă natureza, desrespeitado um sĂŠculo depois

NOVEMBRO DE 2013 | ECOLĂ“GICO O 43


JOÃO BOSCO NASCIMENTO/PMSL

1 O ISIDORO DE HUGO (2)

ANGELA GEORGE

OS INVASORES são os mesmos que a prefeitura limítrofe de Santa Luzia conseguiu expulsar. Por que Belo Horizonte, onde Hugo Werneck foi presidente da Fundação Municipal Zoo-Botânica, não consegue?

ESPERANÇA É VIZINHA O exemplo que vem de Santa Luzia A invasão de 200 hectares de área preservada na Granja Werneck, na região do Ribeirão Isidoro, no vetor norte de Belo Horizonte, também preocupa o prefeito de Santa Luzia, Carlos Calixto. “Todos nós temos extrema preocupação ao vermos o que a família de Hugo Werneck conseguiu preservar honestamente, ao longo de mais de um século. O terreno sendo invadido sem ação efetiva por parte da prefeitura de BH, do governo do Estado e do próprio Ministério Público”, destaca. No início de agosto, o prefeito de Santa Luzia também sofreu com as invasões de terra nos bairros São Benedito, Cristina B e Duquesa II. 44 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

Calixto relembrou os momentos tensos, que só foram contidos com uma ação eficaz entre prefeitura, judiciário, Polícia Militar e a sociedade local. “O grande diferencial que temos aqui, em Santa Luzia, é que a própria sociedade não aceita esse tipo de invasão. Quando este processo se iniciou, os moradores locais mais afetados e ameaçados passaram a nos ligar insistentemente pedindo para coibirmos e eliminarmos o perigo. Nós tivemos uma ação muito rápida e eficaz por parte do judiciário da cidade. A Polícia Militar também agiu com eficácia e nossos fiscais atuaram prontamen-

‘‘O grande diferencial que temos em nosso munícipio é que a própria sociedade não aceita esse tipo de invasão’’ Carlos Calixto, prefeito de Santa Luzia

te. Foi uma ação conjunta entre população, prefeitura, judiciário, Policia Militar e a própria promotoria. A capital mineira e a família Werneck também merecem isso”, afirma. O



RICARDO RIBEIRO

1 PROTEÇÃO À FAUNA

TAMANDUÁ-MIRIM, animal ameaçado de extinção, atropelado em rodovia no Triângulo Mineiro

ANIMAIS PEDEM

RESPEITO

Ministério Público se estrutura e incrementa atuação na área ambiental Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

O

Brasil perde 17 animais selvagens por minuto em suas estradas e rodovias. Por ano, são 450 milhões de bichos atropelados. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) quer acompanhar mais de perto casos como esses e ou-

46 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

tras tantas denúncias que chegam de maus tratos e crueldade a animais domésticos, tráfico e negligência com espécies silvestres. Para isso, está incrementando sua atuação, tanto na área da educação ambiental, quanto na fiscalização, com o objetivo

de promover o respeito a todas as formas de vida . Para tanto, criou a Delegacia Especializada em Crimes Contra a Fauna pela resolução 7.499, em janeiro deste ano, e o Grupo de Proteção Especial de Defesa da Fauna com o objetivo de unificar


quanto às demais. Mas ressaltou que o avanço do pensamento filosófico, científico e legislativo, pouco beneficia os animais, que continuam sendo perseguidos em seu hábitats, explorados em confinamentos e trabalhos forçados, além de submetidos a experiências científicas que lhes causam dor e sofrimento. O evento reuniu acadêmicos, policiais ambientais e sociedade civil num diálogo que gerou a Carta de Belo Horizonte, com 20 conclusões e recomendações a respeito do tema. Na opinião da promotora, o mais importante foi viabilizar o espaço para a discussão porque “fala-se muito em meio ambiente, biomas, biodiversidade”, mas quase não há debates e outras iniciativas em defesa da fauna. Ela lembra que essa questão influi diretamente na qualidade de vida do homem. Utilizamos os animais em nossa alimen-

FIQUE POR DENTRO

SERVIÇOS AMBIENTAIS Os “serviços ambientais”, que cada espécie presta, contribuem para a manutenção da vida na Terra. Nas palavras do mestre em ecologia, Sérvio Ribeiro, “os animais e todas as espécies da flora, não estão aqui para nos servir. Sua sobrevivência resulta em interações funcionais importantes à saúde ecossistêmica, muitas vezes, ainda incompreendidas ou desconhecidas pela ciência. Por isso, as modificações ambientais e o crescimento populacional urbano provocam a degradação ambiental, que resulta em maus-tratos para os animais e, inclusive, para o próprio homem.” Para refletir Há mais de seis mil anos, o homem cria animais para seu próprio benefício e influencia mudanças em seus hábitats. A urbanização e a redução de áreas verdes exigem novas estratégias na maneira como nos relacionamos com os animais. Coexistir com a fauna silvestre não é apenas uma obrigação legal, mas questão de bom senso, uma vez que representa condição primordial à nossa sobrevivência.

ARQUIVO PESSOAL

FERNANDA MANN

as ações institucionais e aprimorar os trabalhos. “Talvez nosso maior desafio seja conscientizar os profissionais envolvidos nesse processo, de que todas as formas de vida merecem um tratamento ético. É preciso haver um consenso entre os promotores de defesa da fauna. A sociedade tem nos cobrado isso e é, nessa linha, que vamos caminhar”, reflete a promotora de justiça, Luciana Imaculada de Paula. Em tempo: a delegacia foi criada a partir de um abaixo-assinado, com 60 mil assinaturas, entregue ao governador Antonio Anastasia. Em outubro, a Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público do Meio Ambiente (Abrampa), em parceria com o MPMG, realizou o Encontro Nacional de Proteção à Fauna. Participante do evento, Luciana destaca o fato de que a Constituição da República garante proteção legal tanto à vida humana,

LUCIANA DE PAULA: importante é viabilizar o espaço para a discussão

PROMOTORES DO MP encaram o desafio de conscientizar os colegas sobre a importância de tratamento ético para com os animais

2

NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 47


1 PROTEÇÃO À FAUNA TRÁFICO, TRIAGEM E REABILITAÇÃO DE ANIMAIS DIVULGAÇÃO

FIQUE POR DENTRO

Em três anos, de 2008 a 2010, 13.710 animais foram apreendidos no país. Em relação ao perfil desse contingente, quase 80% das aves pertencem ao grupo dos passeriformes, ou seja, passarinhos de gaiola, como sabiá, ticotico e canário. Enquanto 10% pertencem aos grupos dos psittaciformes, como papagaios e periquitos. Espécies raras, exóticas ou ameaçadas de extinção não chegam com tanta frequência ao Centro de Triagem do Ibama. Elas são muito facilmente destinadas aos criadouros. Espécies como Trinca-Ferro ou Canário da Terra, consideradas aves mais comuns, são apreendidas aos milhares. A maior parte desses indivíduos vai para programas de soltura. Ainda assim, cerca de 20 a 30% morrem no Centro.

FERNANDA MANN

tação, transporte, vestuário, pesquisas ou mesmo como companhia. Além disso, existem organismos que, apesar de desconhecermos, implicam na saúde do ambiente onde estamos inseridos e, consequentemente, na saúde humana. Presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária, Nival-

SÉRVIO RIBEIRO: "Nossa saúde depende de interações com os animais e o meio ambiente" 48 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

do Silva, afirma que a profissão que adotou traz, principalmente, benefícios para o homem, uma vez que, 80% das doenças humanas são transmitidas pelos animais. “A medicina veterinária se faz pelo homem e para o homem.” Em contrapartida, o mestre em ecologia da conservação e manejo da vida silvestre, Sérvio Ribeiro, explica que nossa saúde depende de uma série de interações que minimizam o perigo de adoecermos. E estas se dão com os animais e o ambiente que, juntos, construímos. “Para um leigo pode ser difícil entender porque precisamos de tantas espécies, mas elas se relacionam e nos são úteis. Se perdermos a noção de que somos apenas um dos organismos vivendo nesse planeta, perderemos a consciência do que há de mais sério: estamos definhando o hábitat que garante a nossa sobrevivência”, explica. O

PROJETO MALHA “Temos um projeto, denominado Malha, que envolve 18 unidades de conservação espalhadas pelo Brasil. Nesses lugares, as pessoas coletam dados e repassam para uma Central, onde serão feitas estimativas envolvendo todo o país. A ideia é avaliar o impacto das rodovias em pequenos e grandes mamíferos e também em espécies arborículas. Essas informações serão reunidas num banco de dados. Uma das utilidades será a análise da paisagem. A partir desse banco, serão geradas informações que respondem e colaboram na solução de problemas como, por exemplo, a morte de animais num determinado ponto”, explica Flávio Fonseca, do Instituto Prístino. POLÍCIA DE MEIO AMBIENTE A Polícia Ambiental é o braço executivo da fiscalização ambiental em Minas e no país. Cerca de 70% das apreensões de fauna em cativeiros irregulares são realizadas pela Polícia Ambiental. Segundo o major Valmir Fagundes, tanto a PM, a PC e o MP quanto o Juizado Especial Criminal contribuíram para a redução de 62% na quantidade de animais apreendidos de 2004 a 2012. “Há uma melhora na postura das pessoas em relação à manutenção ilegal de animais silvestres em cativeiro. O número de denúncias também aumentou”, conta. No segundo semestre de 2013, duas importantes leis federais foram promulgadas. A 2.830 dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia e a 2.850 combate as organizações criminosas. Ficou determinado que os delegados têm poder de investigação quando se trata de organizações criminosas. Assim, não precisam pedir quebra de sigilo bancário, telefônico ou fiscal por meio do judiciário. Denuncie: O A Delegacia de Meio Ambiente (31) 3212-1043 O Polícia Civil 197 O Disque-Denúncia 181


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ADILSON R. BISPO

FOTOS: REPRODUÇÃO

1 DIREITOS DOS ANIMAIS

O ABATEDOURO CHAMADO

BRAS L Em apenas três meses, o país abateu 17 milhões de bois, vacas e suínos, considerados os animais mais inteligentes já domesticados pelo homem, além de 1,4 bilhão de aves Marcos Fernandes redacao@revistaecologico.com.br

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a outra ponta da questão, o avanço da indústria de abate de animais para consumo acarretou alterações nos nossos modos de vida e dos bichos. Em 2013, o Brasil 50 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

obteve recorde histórico no número de abate – comemorado pelo agronegócio. Na soma de abril, maio e junho deste ano, foram sacrificados 8,5 milhões de bois e vacas, 9 milhões de

suínos (considerados os animais mais inteligentes já domesticados pelo homem) e 1,4 bilhão de aves. E não é só isso: a pecuária é responsável por 18% da emissão dos gases de efeito estufa, con-


"Há dois séculos, por exemplo, um porco levava, em média, cinco anos para alcançar 60 kg; hoje, chega a mais de 10 kg em seis meses e é abatido antes de os dentes de leite começarem a nascer."

A COMPULSIVA ALIMENTAÇÃO carnívora contribuiu para o alto índice de obesidade nacional, que hoje ultrapassa 53%, segundo o IBGE

ALEX LANZA/MPMG

tribuição maior que a do setor de transporte, que chega a 15%. Há dois séculos, um porco levava, em média, cinco anos para alcançar 60kg; hoje, chega a mais de 10kg em seis meses e é abatido antes de começarem a nascer os dentes de leite. A compulsiva alimentação carnívora contribuiu para o alto índice de obesidade nacional, que hoje ultrapassa os 53%, segundo IBGE. O panorama pare-

VÂNIA TUGLIO: preocupação com a segurança dos bichos vem mudando

ce desesperador. Mas ainda há chance de mudanças, desde que a sociedade, o governo e a escola façam, cada um, a sua parte. “Acredito ser a primeira vez na história que tantas vozes, de todos os segmentos da sociedade, se erguem em favor dos animais. E eles têm direito sim!” A frase, incisiva, é de Vânia Maria Tuglio, promotora de justiça do Estado de São Paulo e integrante do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Direito Animal. Na avaliação dela, o próprio interesse do MP em reunir profissionais da área ambiental para debater o assunto pode ser um reflexo dessa preocupação acerca da segurança dos bichos ao longo dos anos. O que chama a atenção na fala de Vânia é a questão da hipossuficiência dos animais – conceito atribuído a seres que não podem responder por si mesmos ou que são carentes de alguma forma. O que acontece é que, na maioria dos casos, o abuso é fa-

vorecido pela superioridade do homem, que detém de formas tecnológicas de organização e caça, contra indivíduos que não conseguem gritar por socorro. A lógica da ganância perversa dita a regra atual: os animais são facilmente explorados, por serem frágeis e silenciosos (uma vez que não falam a nossa língua) e, sobretudo, geram dinheiro para uma indústria poderosa. Além disso, o conflito envolvendo os bichos abrange a velha hipocrisia de quem finge se importar, mas não faz nada para mudar a situação. “Talvez o maior perigo seja o preconceito velado e disfarçado”, diz Vânia. Preconceito que se estende às leis: o respaldo legal oferecido à fauna ainda é parco em várias instâncias. Quando sofrem abusos, os animais não são considerados sujeitos passivos do crime (por não constituírem seres de direito sob a ótica do Código Civil) e não recebem atenção individual; na prática, quem é

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NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 51


REPRODUÇÃO

1 DIREITOS DOS ANIMAIS

"Cinquenta por cento dos atiradores em escolas e 98% dos serial killers, estudados nos EUA, têm histórico de abuso contra bichos." RITA DE CÁSSIA, médica-veterinária

REPRODUÇÃO

agredido é a coletividade, o bem natural. “O que inspira a proteção penal é a conservação daquilo que integra o meio ambiente e que deve ser preservado”. Para a médica veterinária Rita de Cássia Garcia, o modo como a legislação tende a ser vaga quanto ao direito dos animais pode ser exemplificado por meio do

RITA DE CÁSSIA: "Maus-tratos a bichos são sintoma de que algo não vai bem" 52 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

conto de um antropólogo que acompanha o cotidiano de uma sociedade onde não é possível estabelecer se os habitantes são homens ou animais. Um dia, ele tem um filho com uma das fêmeas e decide matá-lo para levá-lo aos tribunais, pois, só assim, acredita, solucionará seu problema. “Se, chegando lá, ele fosse preso, o filho poderia ser considerado um humano. Se não fosse preso, é porque seu filho era uma caça”, conclui. SUJEIRA DEBAIXO DO TAPETE Fazer uma verificação de abuso animal não é tão simples quanto parece porque os indicadores são muitos. Mas, em vários casos, passam despercebidos. Condição corporal ruim (indivíduo muito magro), infestação de parasitas, falta de cuidados com o pelo, queimaduras, oferecimento de bebidas alcoólicas ou coleiras

muito apertadas são alguns dos pontos que devem ser observados numa vistoria e que estão atrelados à conduta doméstica dos donos. De acordo com Rita de Cássia, os maus tratos a bichos são sintoma de que algo ainda mais grave pode estar acontecendo. “O abuso animal é apenas a ponta de um iceberg”. Muitas vezes, ela explica, vizinhos fazem denúncias de maus tratos contra os animais com a intenção oculta de chamar a atenção para um caso de violência doméstica – agressão às crianças ou às mulheres da casa, por exemplo. O clima de um lar interfere diretamente na qualidade de vida dos bichos que ali vivem. É por isso que o número de animais agressivos é bem maior numa família violenta. Outros índices que sustentam a relação violência humana/animal é o fato de que 50% dos atiradores


JEAN SCHEIJEN

"Acompanhar a construção de ninhos de pássaros em árvores, incluindo o tempo de chocar, os voos e o trabalho da fêmea seria um meio de transmitir conhecimento mais apropriado" ALELUIA HERINGER LISBOA, especialista em educação

em escolas e 98% dos serial killers estudados nos EUA têm histórico de abuso contra bichos.

FERNANDA MANN

E A ESCOLA NISSO TUDO? As instituições educativas podem dar grande contribuição para o assunto e oferecer um ótimo meio de lutar contra o abuso animal. Essa é a proposta de Ale-

ALELUIA HERINGER critica a cultura que coloca o ser humano acima de todas as coisas

luia Heringer Lisboa, doutora em Educação pela UFMG. “Somos criados numa cultura que coloca o ser humano acima de todas as coisas. Assim, ele desfruta e dispõe de bens naturais e todas as outras espécies animais conforme interesses estabelecidos por ele mesmo”. Para ela, a questão principal já não é mais exigir a presença da educação ambiental dirigida às crianças (pois ela já existe), mas verificar a qualidade desse ensino. Outro ponto importante para Aleluia é a natureza do que se discute dentro dos muros escolares. É que as escolas têm, além do currículo formal, um currículo oculto: são as práticas, as falas e os discursos daquele ambiente que excedem aquilo que foi programado. São os aprendizados do convívio, que também inserem valor nos alunos. “Todo espaço educa, informa e situa. As escolas deveriam

ensinar aos alunos onde encontrar proteínas, vitaminas e cálcio e não induzir e prescrever a dieta super proteica, com excesso de gordura saturada, imposta pela indústria da carne e do leite”, diz. Um exemplo de “currículo oculto” que forma conceitos nos pequenos é a existência de cativeiros em ambiente escolar, que passa a ideia de apreciação do bicho enjaulado. “As crianças ficam com a impressão de que animais engaiolados são engraçadinhos e ecológicos”, ressalta Aleluia. A lógica, segundo ela, devia ser ensiná-los a observar e interagir com a natureza sem causar grande interferência. Acompanhar a construção de ninhos de pássaros em árvores, incluindo o tempo de chocar, os voos e o trabalho da fêmea seria um meio de transmitir conhecimento mais apropriado. “O espírito da vida, repleto de ensinamento, respeito e beleza é que deveria habitar em nossas escolas”. O

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REUTERS / LUNAE PARRACHO

1 SÉRIE ESPECIAL: MULHERES AMEAÇADAS (I)

TÚMULO DA RELIGIOSA norte-americana Dorothy Mae Stang que buscava geração de renda com projetos de reflorestamento na rodovia Transamazônica: ícone da violência contra mulheres na região

MARCADAS

PARA MORRER Conheça os enredos de vida e morte de mulheres envolvidas em conflitos agrários no estado do Pará, norte do país Ismael Machado Agência Pública/Diário do Pará

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as diversas placas de sinalização ao longo das rodovias que ligam os municípios do sudeste e do sul do Pará, raras são as que não ostentam marcas de balas. Atirar nas placas pode ser o inusitado passatempo, sem maiores consequências, de quem trafega por aquelas estradas. Mas as marcas também sinalizam muito do espírito que sempre marcou a colonização daquela parte do estado, região de conflitos agrários, assassinatos de lideranças rurais e número um em índices de desmatamento e trabalho escravo. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), ocorreram no estado do Pará, entre 1964 e 2010, 914 assassinatos de trabalhadores rurais, religiosos e advogados por

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questões de terra. Desse total, 654 foram registrados no sul e sudeste do Pará. “Muitos dos trabalhadores rurais assassinados, não conhecemos os rostos e nem sabemos os seus nomes. Em muitos desses casos, a polícia negou o registro das denúncias formalizadas por sindicalistas e familiares das vítimas, e também o resgate dos corpos onde foram assassinados (sic)”, diz o advogado da CPT em Marabá, José Batista Afonso. A CPT divulgou no início do ano uma lista com o nome de 38 pessoas ameaçadas de morte por causa de sua luta pela posse da terra na região. Dez são mulheres. Num dossiê, a CPT avalia a violência que vitimou centenas de pessoas ligadas ao campo, dirigentes sindicais, religiosos,


advogados e parlamentares que lutam pela terra e pela reforma agrária. O documento nos remete ao governo militar que, no início da década de 1970, começou a investir na ocupação da Amazônia. O sul e sudeste do Pará, região de expressiva concentração de riquezas minerais e naturais, foi talvez onde esse processo se efetivou de maneira mais contundente. Para explorar as riquezas, o governo construiu estradas, como a Transamazônica, a BR-222, a BR-158, ergueu também hidrelétricas, como Tucuruí, e estimulou e financiou a implantação de grandes projetos, como a empreitada Ferro Carajás. “Ao mesmo tempo incentivou a vinda de grandes empresas e pecuaristas do Centro-Sul do Brasil para investir na criação de gado bovino. Não só concedeu terras, mas créditos subsidiados pela política de incentivos fiscais da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). Esses grupos econômicos, especialmente aqueles que investiram na implantação da pecuária extensiva, passaram a expulsar, de forma violenta, os povos indígenas e pequenos agricultores que há muito tempo ocupavam a região”, enfatiza o dossiê da CPT. A novidade da violência atual é que as mulheres estão cada vez mais na linha de tiro, alvo de ameaças. Algumas convivem com essa marca há mais de uma década. Outras começaram a sentir mais recentemente o peso da sina de estarem marcadas para morrer. Em comum, essas mulheres carregam a consciência da luta que travam; sentem medo, modificaram hábitos, convivem com a incerteza cotidiana. Houve quem decidisse se afastar da luta sindical, com medo das ameaças cada vez mais constantes. Outras permanecem, sabendo ser esse o destino a seguir. Uma das poucas que conseguiram alguma atenção nacional para o seu périplo foi Laísa Santos Sampaio. Irmã da extrativista Maria do Espírito Santo, assassinada em Nova Ipixuna, a 580 quilômetros de Belém em 2011. Laísa é o “alvo da vez” no município. Ela e o marido, José Gomes Sampaio, o Zé Rondon, estão sendo ameaçados de morte desde o assassinato de Maria e José Cláudio Ribeiro da Silva. Laísa já não dorme tranquilamente e não pode sair de casa

sem acompanhamento. A rotina pessoal mudou, desorganizando toda sua família, a relação com os filhos e o trato da lavoura e do extrativismo dentro do seu lote de terra. A Comissão Pastoral da Terra acredita que as ameaças têm sido feitas por pessoas que, provavelmente, fizeram parte do consórcio de proprietários de terras, madeireiros e carvoeiros que assassinaram José e Maria. As ameaças de morte foram registradas na Delegacia de Conflitos Agrários do Sudeste do Pará (DECA). Pouco mudou. “Não saio mais desacompanhada”, diz mais uma vítima da violência: Regina Maria Gonçalves Chaves. Regina é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de Eldorado dos Carajás. No dia 15 de junho de 2012, um grupo de fazendeiros invadiu a sede do sindicato e a ameaçou diretamente. “Deixaram um recado: estariam com grupos armados à espera de qualquer tentativa de ocupação por parte dos movimentos sociais”, diz ela. Dias depois, pessoas estranhas foram vistas rondando a sede do sindicato e à procura de Regina. Em Breu Branco, próximo ao município de Tucuruí, a 480 quilômetros da capital, Graciete Souza Machado convive com uma bala alojada a apenas dois centímetros da coluna vertebral. O alvo era o pai, Francisco Alves de Macedo, líder comunitário que defendia posseiros que ocuparam a fazenda Castanheira. Francisco Alves foi morto por pistoleiros. “Eu sou ameaçada de morte desde 2010. Não temos liberdade para sair de casa com nossas crianças. Vivemos totalmente inseguros e com muito medo, pois a qualquer momento, como aconteceu com o meu pai, pode acontecer comigo. Tenho muito medo”, diz ela. Mudam as personagens, mas as histórias são semelhantes. “As mulheres se tornaram lideranças que acabaram tomando a frente da luta, muitas vezes são responsáveis pelo sustento da família”, diz a advogada da Comissão Pastoral da Terra Vânia Maria Santos, 29 anos. Ela atribui a continuidade dos padrões de violência à impunidade. “Da ameaça à concretização é pouca coisa”, diz ela. Nos assentamentos, acampamentos, periferias dos municípios, nas entidades sindicais, uma dezena de mulheres segue a vida, à espera do assassino, cumprindo pena forçada.

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1 SÉRIE ESPECIAL: MULHERES AMEAÇADAS (I)

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KÉSIA FURTADO

Késia, de 32 anos, testemunhou em defesa de uma liderança e foi injustamente acusada de um crime. Foi presa e ameaçada de morte.

PRESA E AMEAÇADA DE MORTE, TESTEMUNHA AINDA TEME PELA VIDA Ismael Machado Agência Pública/Diário do Pará

De testemunha a ré. Essa é a situação atual de Késia Furtado de Araújo, 32 anos, em Santana do Araguaia. Mesmo sem ser uma liderança dos trabalhadores rurais ou diretora do sindicato, Késia foi presa e, na cadeia, ameaçada de morte. Seu crime: defender Nádia Pinho, a principal líder dos acampados, em depoimento sobre o assassinato de um pistoleiro no município. No presídio, Késia recebeu a visita da mulher do pistoleiro morto, que trabalhava ali. “No dia em que cheguei ela foi falar comigo. Disse que estava esperando pela gente”, conta Késia, que passou a viver assombrada na cela. Nem de longe era o que imaginava quando participou da primeira ocupação de terras. O sonho de Késia Furtado sempre foi o de possuir um lote. “Fui nascida e criada na roça”, conta. “Casei com 18 anos e trabalhei uns dez anos como vaqueira em muitas fazendas, de carteira assinada e tudo. Sei montar, sei vacinar boi, sou apaixonada por terra”, diz. A ‘vaqueira’ de fala ligeira e pele negra

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morava em Redenção, município vizinho a Santana do Araguaia, quando ouviu falar de ‘umas terras’ em Ouro Verde, uma fazenda no município de Medicilândia, no sudoeste do Pará. Como tantas cidades surgidas durante a construção da rodovia Transamazônica, não se sabia bem a quem pertenciam as terras de Medicilândia, por isso, alvo de grilagens, invasões, ocupações. A fazenda Ouro Verde estava nesse cenário. “Fiquei lá durante seis meses, até que veio a ordem de despejo e tivemos de sair da fazenda”, diz Késia. Separada do marido e desorientada pelo despejo, Késia mudou para Santana do Araguaia, ainda atrás de um pedaço de chão. “Fiquei sabendo das terras da Fazenda Nobel, conheci a Nádia (Pinho, coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santana do Araguaia) e consegui uma terra na Nobel para mim.” Késia ergueu um barraco, cultivou ‘uma rocinha’ e acreditou que ‘as coisas iriam se aprumar’ no novo chão. “Até que chegou a primeira liminar de despejo e nós


MARCONDES / DIÁRIO DO PARÁ

"De lá para cá, minha vida virou só tumulto. Estou respondendo processo e tive de enfrentar a mulher do pistoleiro morto. A família dele está jurando vingança e passei a ser alvo deles também"

saímos, mas a Nádia reuniu todo mundo, dizendo que se fosse para saírmos despejados que fizéssemos um acordo. A gente não entrava no pasto, nem o fazendeiro tomava nossa roça.” Durante um tempo, sob as bênçãos da Ouvidoria Agrária, em Brasília, o acordo foi cumprido. Até que jagunços a mando do fazendeiro entraram no acampamento, queimaram barracos e destruíram roças. Com uma liminar judicial favorável em mãos, os posseiros voltaram à fazenda. “Tornamos a levantar barracos e a plantar. Na época da colheita, fretamos um carro e fomos vender os produtos. Melancia, milho, abóbora estavam entre o que foi colhido”, conta. Apenas dois posseiros permaneceram no local, enquanto os outros foram comercializar a safra no centro de Santana. “Dois homens chegaram e atiraram nos pés deles, mandando que ‘vazassem’ de lá”, diz Késia. Foi o início de um ir e vir de mandados judiciais, ordens de despejo e liminares que ora permitiam, ora proibiam a entrada dos posseiros. “Fomos postos de lá para fora umas três vezes”, diz ela. “Eu es-

tava conversando com o Henrique, vice-presidente do sindicato, ouvindo sobre os processos da terra quando chegou um agricultor, o ‘seu’ Pedro chorando, dizendo que tinha sido humilhado por um jagunço. A partir daí, ele passou a repetir todo dia que ia matar o ‘cabra’. Até que matou mesmo.” Foi assim que o terror entrou na vida de Késia. Convocada para depor à polícia, defendeu Nádia Pinho, acusada de ter sido a mandante do assassinato. Quando soube do depoimento de Késia, ‘seu’ Pedro passou a acusá-la também, dizendo que ela, inclusive, teria fornecido a arma do crime. “De lá para cá, minha vida virou só tumulto. Estou respondendo processo e tive de enfrentar a mulher do pistoleiro morto. A família dele está jurando vingança e passei a ser alvo deles também”, diz. Késia já foi seguida uma vez. Não sabe dizer quem foi, mas passou a viver com medo. Em relação à fazenda Nobel, onde ainda espera ter um lote definitivo de terra, tudo é incerteza. “Ainda estamos esperando a decisão da Justiça. Por enquanto está tudo em suspenso para nós.”

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CLEUDE CONCEIÇÃO

1 SÉRIE ESPECIAL: MULHERES AMEAÇADAS (I)

A líder começou a lutar por terra aos 10 anos, numa marcha do MST; aos 22, ouviu de um pistoleiro que só conseguiria terra debaixo dela.

CLEUDE, COM MEDO, TENTA PEGAR NA MÃO DE DEUS Ismael Machado Agência Pública/Diário do Pará

Não é fácil encontrar Cleude Conceição. É preciso enfrentar a poeira e os buracos da rodovia Transamazônica, saindo de Marabá e indo em direção a Itupiranga, municípios ao sudeste do Pará. São 27 km vencidos com dificuldade até se alcançar um travessão que liga à localidade de Jovem Creane. A partir daí são mais 22 km em uma estradinha de terra estreita e tortuosa, marcada por pequenas pontes. Quando a reportagem chega ao pequeno vilarejo, quase quatro horas depois de ter saído de Marabá, precisa esperar por Conceição, que está pescando. Ela chega uma hora mais tarde, trazendo duas pequenas piranhas e um surubim. Aos 30 anos, é uma mulher magra, pequena, negra, de natureza desconfiada. Cleude Conceição já escapou de tiros, já viu companheiros tombarem. Junto ao pai Marcos Gomes, ela coordena um grupo de 70 famílias que ocupavam duas fazendas em Itupiranga. Tanto a fazenda Bandeirantes como a Potiguar são consi-

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deradas terras públicas da União, e estão em processo de arrecadação pelo Incra. É um litígio que já dura nove anos. As fazendas são contíguas e juntas alcançam 700 alqueires. A intenção dos trabalhadores rurais era dividir a terra em 10 alqueires para cada família. Assim, uma começou a produzir nas áreas ocupadas, até então, consideradas improdutivas pelo Incra. A reação dos proprietários foi imediata. Pistoleiros apareceram nas ocupações e iniciaram as ameaças. Barracões foram incendiados e famílias despejadas sob a mira de armas. A Justiça Federal de Marabá determinou que o Incra pagasse as benfeitorias que os fazendeiros supostamente haviam feito nas terras. O Incra recorreu e o caso ainda segue os trâmites judiciais. Sem definição a esse respeito, a Justiça Federal determinou o despejo das famílias ocupantes, que protestaram e ameaçaram enfrentar os oficiais de Justiça e a Polícia Militar. Os fazendeiros mostraram que não estavam dispostos a ceder.


ANTONIO CÍCERO / DIÁRIO DO PARÁ

"Uns desistem, outros não. A gente continua lutando. É difícil e eu vou dizer, não tem como pegar na mão de Deus quando a bala manda recado"

No dia 29 de janeiro de 2011, pistoleiros assassinaram a tiros a principal liderança dos posseiros, o agricultor Pedro Sacaca. A acusação de ser o mandante do crime recaiu sobre o fazendeiro João Ricardo, mas o inquérito segue a passos lentos. Ainda não houve julgamento. Assim, Marcos Gomes e a filha, Cleude Conceição, assumiram a liderança do movimento. As famílias decidiram acampar a sete quilômetros das fazendas. O acampamento de barracas de lona não durou muito tempo, devido às dificuldades encontradas pelos trabalhadores rurais. “Era muita pulga, seu moço”, resume Cleude Conceição. Dificuldades, aliás, fazem parte da vida de Conceição. Com dez anos de idade participou da primeira marcha com integrantes do MST, acompanhando a mãe, Domingas da Conceição. Com 22, fez parte da ocupação da fazenda Cabaceiras, em Marabá, mas não conseguiu um pedaço de chão para si. Ouviu de um pistoleiro à época que só conseguiria terra debaixo dela. A mãe Domingas separou-se do pai. E, com Marcos Gomes, Conceição partiu em busca de terra nas fazendas Bandeirantes

e Potiguar, sempre tendo o medo como companheiro. “A gente viu o Pedro Sacaca tombar. Me deu um ‘belo belo’ quando vi o corpo dele cheio de bala”, diz. ‘Belo belo’ é uma expressão usada para definir mal estar, tremedeiras, nervosismo. “Na época era muito tiro, os capangas dos fazendeiros andavam armados, intimidando. Já pensou, a pessoa matar o outro? Dentro de casa, nós fica é com medo pelo tanto que já sofremos (SIC)”, diz. No centro do vilarejo onde as famílias aguardam uma decisão definitiva, sobram histórias de luta pela terra. É uma luta protagonizada por mulheres. Muitas ‘marias’, como Maria Lúcia e Maria da Ajuda. “A gente tem esperança de ter um pedaço de chão nosso”, diz Maria da Ajuda. Junto ao pai, Cleude Conceição passou a sofrer ameaças. “Já veio recado dizendo que todas as lideranças estavam na mira”, revela. O processo que vai definir a situação das fazendas ainda está correndo na Justiça. Por três vezes os agricultores ocuparam a terra e foram despejados. “Uns desistem, outros não. A gente continua lutando. É difícil e eu vou dizer, não tem como pegar na mão de Deus quando a bala manda recado.” O

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SANAKAN

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'VETA ANASTASIA' SALVA

AS VEREDAS DE MINAS Ambientalistas comemoram avanรงos e vetos do governador na nova lei florestal mineira Bia Fonte Nova redacao@revistaecologico.com.br 62 O ECOLร GICO | NOVEMBRO DE 2013


FERNANDA MANN

ANASTASIA: não corajoso ao barramento das veredas

bientalistas continuarão desenvolvendo ações para proteger as áreas de Cerrado prioritárias para proteção da biodiversidade e da água em todo o estado. GARANTIA DE ÁGUA Após análise do governo de Minas, três artigos da nova Lei Florestal Mineira receberam veto parcial, por serem considerados inconstitucionais e contrários ao interesse público. As avaliações foram feitas pelas secretarias de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e de Fazenda. O primeiro ponto vetado foi o parágrafo terceiro do artigo 12, que define regras para intervenção e supressão em áreas de veredas. Tipo de formação vegetal do Cerrado, as veredas mantêm parte da umidade no solo, garantindo água mesmo em períodos de seca, tornando-se um refúgio da fauna e flora, bem como local de abastecimento hídrico para os animais. Elas ocorrem principalmente na porção Norte e Oeste do estado. O veto foi fundamentado após a constatação de que a redação proposta pelo legislativo permitia que áreas de veredas fossem submetidas a formas de intervenção e supressão de vegetação que tornariam vulnerável a proteção daquele ambiente, assegurada pelo parágrafo 7° do artigo 214 da Constituição mineira. “Para nós, o veto ao barramento de veredas foi jurídico e ambientalmente correto, além de coerente com a política de proteção das águas e da biodiversidade. O Rio São Francisco, por exemplo, depende delas. Populações tradicionais e a fauna que habitam o Cerrado nas regiões Norte e Noroeste de Minas, certamente, também estão gratas a ele”, afirma Maria Dalce Ricas, superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).

FERNANDA MANN

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iva as veredas e o que restou das ameaçadas florestas primárias em Minas Gerais! Após meses de mobilização e inquietação, foi publicada a nova Lei 20.922, que dispõe sobre as Políticas Florestal e de Proteção à Biodiversidade no estado. Para alívio e satisfação de ambientalistas – e da natureza que nos resta e protege –, o governador Antonio Anastasia ouviu o clamor de várias entidades e ONGs comprometidas com a causa verde. Ele vetou integralmente o artigo que mais temor e comoção causava. Aquele que autorizava o barramento das veredas, oásis de vida e biodiversidade altamente ameaçados e eternizados na obra-prima do grande mestre Guimarães Rosa. O movimento batizado de “Veta, Anastasia”, semelhante ao “Veta, Dilma”, que embalou o debate sobre o Código Florestal Brasileiro, felizmente, saiu vitorioso. Foi ratificado por cerca de dois mil pessoas e dezenas de professores e estudiosos da área ambiental. Com base nele, as entidades am-

“Perto da água, todo mundo é feliz” GUIMARÃES ROSA, escritor

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CERRADO: bioma que inclui a típica vegetação das veredas

da Reserva Legal e a formação de corredores ecológicos”, reforçou. Outro ponto importante, afirma Adriano, é a previsão de incentivos fiscais e especiais para a pessoa física ou jurídica que preservar e JANICE DRUMOND/ASCOM SISEMA

AVANÇO NA GESTÃO Na visão do governo estadual, a nova lei representa avanço na gestão ambiental, na recuperação de áreas de proteção permanentes e na formação de corredores ecológicos. Com 123 artigos, a norma define as regras de proteção ao meio ambiente, compreendendo as ações empreendidas pelo poder público e pela coletividade para o uso sustentável dos recursos naturais. A lei estabelece que a conservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado é essencial à qualidade de vida da população. Define, ainda, as Áreas de Preservação Permanente (APPs) no Estado, bem como o seu tamanho e regras para intervenção e proteção. E estabelece ainda as regras para a Reserva Legal em imóveis rurais, para exploração de produtos florestais, uso do solo e para aplicação de penalidades decorrentes de infrações às regras previstas na norma, além de classificar as Unidades de Conservação (UCs) mineiras. De acordo com o secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Adriano Magalhães, ainda não há estudos científicos suficientes que deem segurança técnica ao Estado para autorizar intervenções em veredas. “Por se tratarem de ambientes frágeis e de extrema importância histórica, cultural e ambiental para Minas, o veto assegura a proteção dessas áreas”, explicou. Assim, segundo ele, a definição das APPs e Reserva Legal representa segurança jurídica para a sociedade, em especial para os produtores rurais. “A regra clara permite que tanto o Estado quanto os particulares se planejem para suas atividades. É um avanço que vai melhorar a gestão ambiental, permitir a recuperação de APPs, a regularização

ADRIANO: “Foi um avanço. As veredas são frágeis e merecem segurança jurídica”

conservar a vegetação nativa e cursos d’água, recuperar áreas degradadas, praticar técnicas de agricultura de baixa emissão de carbono e contribuir para a implantação e manutenção de UCs estaduais. FUNDAMENTO TÉCNICO O segundo veto do governador é relativo aos parágrafos 1° e 2° do artigo 123, que trata da autorização para supressão de vegetação nativa nas áreas de importância biológica especial e extrema em Minas. Os parágrafos foram vetados porque a norma retirava restrições ambientais, acarretando possibilidades de supressão sem o devido fundamento técnico nessas áreas. “A lei prevê que o Conselho Estadual de Política Ambiental (Co-


ELZA FIÚZA

FIQUE POR DENTRO

O Em setembro, a Frente Mineira

“A regra clara permite que, tanto o Estado quanto os particulares, se planejem para suas atividades. É um avanço que vai melhorar a gestão ambiental, permitir a recuperação de APPs, a regularização da Reserva Legal e a formação de corredores ecológicos.” ADRIANO MAGALHÃES, secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

pam) irá revisar a definição das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade e para a criação de UCs prevista no documento Biodiversidade em Minas Gerais: um atlas para sua Conservação, dois anos após sua publicação. Para cobrir intervalo de tempo, publicamos, junto com a Lei, o Decreto 46.336, que normatiza as autorizações para corte ou supressão de vegetação primária ou secundária nos estágios médio ou avançado de regeneração”, esclareceu o secretário. O terceiro veto foi o do artigo 125, referente às parcelas de repasse do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), no critério ambiental. A Secretaria de Estado de Fazenda

(SEF) ressaltou que a alteração representaria impacto no orçamento dos municípios que teriam seus índices de repasse reduzidos. Ainda de acordo com a SEF, tais recursos já constam de seus orçamentos e alterá-los, nesse momento, acarretaria distorções ao planejamento municipal. TOMADA DE DECISÃO O Decreto nº 46.336/13 dispõe sobre o teor dos artigos vetados, além de complementar o disposto no parágrafo 8º do art. 44 da lei que foi aprovado, trata da necessidade de lei para desafetação de unidades de conservação. Seu art. 4º determina que para cumprimento do disposto na nova lei, deverão ser elaborados estudos

pela Proteção da Biodiversidade, composta por 17 entidades ambientalistas do estado, entre elas a Amda, lançou uma petição on-line, para que governador Antonio Anastasia vetasse artigos do Projeto de Lei (PL) 276/11, que modificou a Lei Florestal Mineira, de nº 14.309/02. Os itens autorizavam o barramento em veredas e permitiam o desmatamento em áreas consideradas prioritárias para proteção da biodiversidade no estado. O PL foi aprovado no começo de setembro pela Assembleia Legislativa de Minas. O A nova lei Florestal e de Proteção

a Biodiversidade Mineira foi reestruturada em decorrência da publicação, em nível federal, em maio de 2012, do novo Código Florestal Brasileiro que, por sua vez, alterou a Lei 4771 de 1945, vigente até então. O A partir da publicação da nova lei mineira, também tiveram início os trabalhos relativos ao Cadastro Ambiental Rural (CAR), que prevê o registro das informações ambientais das propriedades rurais com vistas à sua adequação. Em Minas, 550 mil propriedades deverão se registrar, sendo que, cerca de 450 mil pertencem a pequenos produtores, para os quais o estado irá prestar auxílio na realização do cadastro. O sistema já está pronto. Após a publicação do ato da ministra de Meio Ambiente, os registros serão iniciados em Minas.

técnicos na forma da legislação vigente, resguardado o processo consultivo. O governador atendeu solicitação das entidades ambientalistas que no processo de tramitação do PL na ALMG, propuseram a complementação. “Não somos contra, por princípio, à possibilidade de desafetação, pois há casos em que as alterações de limites em Unidades de Conservação podem trazer benefícios socioeconômicos, junto com ganhos ambientais. NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 65


FERNANDA MANN

1 LEI FLORESTAL

OUVIDOS POLÍTICOS: o governador vê, ouve e responde os protestantes no Parque Estadual do Rola Moça

As áreas de Cerrado consideradas prioritárias para conservação da biodiversidade estavam protegidas pelo art. 27-A da Lei 14.309, revogado pela nova lei, não foram contempladas pelo Decreto 46.336/13, o que causou certa apreensão entre as entidades ambientalistas. “A Mata Atlântica é bem mais famosa. Mas, o Cerrado é tão importante quanto ela e sofre o mesmo grau de ameaça. Esperávamos que o decreto incluísse a proteção das áreas desse bioma que fazem parte do Atlas para Conservação da Biodiversidade em Minas Gerais, elaborado pela Fundação Biodiversitas e ratificado pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Os ruralistas estão enganados: a destruição do Cerrado, em longo prazo, é ‘um tiro no pé’ da atividade agropecuária. É pena que não consigam pensar no futuro”, alerta Maria Dalce Ricas, da Amda. No entanto, o secretário de Meio Ambiente, Adriano Magalhães anunciou a criação de um grupo de trabalho, com a participação de representantes do governo e sociedade, para a definição de procedimentos e critérios visando à proteção do cerrado. “Esse importante bioma não tem lei específica, como no caso da Mata Atlântica. O grupo irá estudar o bioma para identificar e definir, entre outras questões, os estágios sucessionais de vegetação que fazem parte do cerrado. A partir daí, poderemos definir com mais precisão estratégias para a recuperação, conservação e uso sustentável do Cerrado”, pontuou.

FRANCISCO MOURÃO: “Não é por manter o que restou de florestas que o Estado terá prejuízos econômicos.”

FERNANDA MANN

MATA ATLÂNTICA O decreto determina ainda que a proteção e uso dos fragmentos de Mata Atlântica e ecossistemas associados que não fazem parte do mapa do IBGE serão feitos de acordo com a Lei Federal 11.428/06, Lei da Mata Atlântica. Esses fragmentos estavam protegidos pelo art. 27-A da Lei 14.309/02, por integrarem as áreas consideradas prioritárias para conservação da biodiversidade, revogada pela nova lei. “Também no que se refere a esse aspecto, ficamos gratos ao governador. A Mata Atlântica ocupava originalmente quase a metade do território mineiro. Hoje, toma menos de 10%, percentual que inclui fragmentos pequenos e isolados, com baixa qualidade ambiental e futuro incerto. Não é por manter o que restou que o Estado terá prejuízos econômicos”, conclui o biólogo Francisco Mourão Vasconcelos, integrante do Conselho Consultivo da Amda.

CERRADO SEM LEI

REPRODUÇÃO

Nosso temor é que isso aconteça para atender a interesses econômicos, com prejuízos ambientais aos parques e estações ecológicas no estado. A exigência da realização dos estudos e de audiências públicas garante a participação da sociedade na tomada de decisões”, frisa Maria Dalce.

MARIA DALCE: "A destruição do Cerrado é ‘um tiro no pé’ da atividade agropecuária.”


DIVULGAÇÃO/TV GLOBO

A decisão do governador Anastasia seguiu a inspiração da atriz global, Camila Pitanga, que, no ano passado, protagonizou o famoso “Veta, Dilma”, chamando a atenção do governo e da sociedade brasileira para o debate nacional sobre o novo Código Florestal brasileiro, tão combatido pela bancada ruralista. Durante um evento no Rio de Janeiro, com a presença da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, Camila não conteve sua consciência ecológica. Pediu licença para ir além da sua função de mestre de cerimônia e fez-lhe o pedido público, que se tornou emblemático também nas redes sociais, para vetar vários artigos considerados retrógados à questão florestal e ambiental do país. Isto lhe valeu a indicação “Destaque Nacional” no IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade – O “Oscar da Ecologia” 2012 – que ela não pode receber, por estar gravando uma novela, na época. Seu gesto fez escola. Por meio das redes sociais, os ambientalistas mineiros criaram o “Veta, Anastasia”, e o movimento deu certo. Democrata, ouvidor e também cotado à premiação deste ano, o governador revogou os dois artigos mais polêmicos da lei florestal mineira, devolvendo sua decisão para o aval revisional do parlamento. A questão continua. O que resta de natureza intacta em Minas ganhou uma batalha, mas ainda não ganhou a guerra. Continua respirando, porém, com mais esperança.

FERNANDA MANN

A INFLUÊNCIA DE CAMILA

A FORÇA DE PITANGA: o seu "Veta, Dilma" também virou "Veta, Anastasia" NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 67


1 LEI FLORESTAL

DECISÃO COERENTE José Carlos Carvalho redacao@revistaecologico.com.br

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decisão do governador vastação de nossas florestas, se esAnastasia de vetar disposi- quecem que não se faz agricultura tivos da nova Lei Florestal sem solo e sem água. Logo, proteger de Minas que afrontavam a Cons- estes recursos não é uma questão tituição Estadual e a Legislação Fe- exclusivamente ecológica. Significa deral é coerente com a sua trajetó- também proteger os dois principais ria politica de equilíbrio e sintonia fatores da produção agropecúaria, com o desenvolvimento sustentá- sem o quais não é possível a prática vel do Estado. Sua decisão deve ser da agriculttura. A ocorrencia dos escomemorada, uma vez que suaviza paços estratégicos para a proteção o retrocesso adotado pelos deputa- da biodiversidade não é aleatória, dos. Os sistemas hidrográficos do nem exclusiva de um bioma, pois Cerrado começam com as veredas ambos dependem de condições e não existiriam sem elas. Por isso, especiais reunidas num determia medida que ele adotou, alem de nado bioma e território, como Micrucial para a proteção desses frá- nas identificou pioneiramente, por geis ecossistemas, interessa a toda meio do Atlas coordenado pela a população. Em particular, aos Fundação Biodivérsitas e aprovado agricultores, pois volta a proteger as pelo nosso Conselho Estadual de principais fontes de recursos hídri- Política Ambiental (Copam). cos do bioma Cerrado que, no caso Lamentavelmente, a nova Lei de Minas, coincide com a nossa re- Florestal de Minas foi concebida a gião chamada semiárida. Por outro partir de uma abordagem equivolado, a decisão governamental de cada, reducionista e utilitarista da assegurar mais proteção às áreas maioria dos deputados da Assemde importância biológica especial bléia Legislativa, subtraindo do Goe extrema também deve ser louva- vernador as condições políticas neda, embora o Cerrado tenha ficado cessárias para adotar medidas mais fora das medidas que completam a consentâneas com a importancia Lei, uma vez que esta tipologia não do patrimonio natural de Minas e conta com legislação especifica, dos mineiros. Logo a ALMG que, como a Mata Atlantica. Tramita no desde o advento da Constituição Congresso Nacional PEC estenten- Federal de 1988, sempre atuou na do ao Cerrado e à Caatinga o mes- vanguarda em relação a tematica mo regime de proteção especial ambiental. Vamos torcer para que estabelecido na Constituição para a este pioneirismo, agora maculado e Floresta Amazônica, a Mata Atlanti- interrompido, possa voltar no futuca e o Pantanal. ro próximo, fazenÉ importante do com que o nosconcretizar estas so Estado retome a medidas, pois, lavanguarda da promentavelmente, teção ambiental no o Brasil tem tratapaís, sem prejuízo do o Cerrado e a do desenvolviCaatinga como se mento econômico fossem o lixo da e social, em bases vegetação brasileisustentáveis.” O ra, territórios sem (*) Ex-ministro do vida. Aqueles que Meio Ambiente e exfazem uma defesa, secretário de Estado de CARVALHO, ex-ministro do Meio ora ingênua, ora Ambiente: “Não se faz agricultura Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. interesseira da desem solo e sem água.” FERNANDA MANN

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ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE OSLO, NORUEGA

DIVULGAÇÃO

1

OLHAR EXTERIOR

ALIMENTOS CONSUMIDOS, durante uma semana por famílias de 25 países, estão retratados na exposição “O que o Mundo Come”, numa amostra dos diferentes hábitos alimentares das mais diversas culturas

ATLAS DE CULINÁRIA

A

DO PLANETA

ntes de minha partida para Oslo, capital da Noruega, agendei um encontro com a diretora-executiva do Centro Nobel da Paz, Bente Erichsen. O prêmio, de mesmo nome, é um dos cinco prêmios Nobel criados pelo industrial sueco e inventor da dinamite, Alfred Nobel. Os outros são de Física, Fisiologia ou Medicina, Literatura e Química, entregues anualmente em Estocolmo, capital da Suécia. Somente o da Paz é outorgado e entregue por um comitê norueguês, em Oslo. Estava supercuriosa para visitar a tão famosa exposição fotográfica “Planeta Faminto: O que 70 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

o Mundo Come”, que já rodou o mundo e se encontra em cartaz no Centro Nobel da Paz, onde permanecerá até 23 de fevereiro de 2014. Meu encontro com Bente aconteceu duas semanas depois da abertura da exposição. Ela estava radiante: “Mais de 5,5 mil pessoas visitaram o Centro Nobel da Paz nesse fim de semana. Tem sido muito interessante observar a reação dos noruegueses ao constatar como se alimentam as famílias ao redor do mundo – uma mistura de curiosidade e surpresa”. Realmente, é impressionante constatar a diversidade culinária do planeta regis-

trada pelo fotógrafo Peter Menzel e a jornalista Faith D’Aluisio. Desde 2000, esse casal de norte-americanos vem se convidando para jantar com 33 famílias, em 25 países, para documentar o mais básico comportamento humano e a mais antiga atividade social da humanidade – o ato de se alimentar. O projeto “Planeta Faminto” retrata tudo que uma família consome durante uma semana, acrescido de uma lista detalhada de todos os alimentos e o custo total. Por exemplo, a família Aboubakar da Província de Darfur, no Sudão, gasta US$ 1,23 por semana, enquanto


a família alemã Melander, de Bargteheide, tem despesa de US$ 500 com alimentos no mesmo período. Durante sete dias, Menzel e D’Aluisio fazem compras, plantam, cozinham e comem com as famílias, tomando nota de todos os vegetais descascados, de cada bebida derramada e embalagem aberta. Ao fim de cada visita, o casal retrata a família cercada por todas as suas compras de uma semana. Definitivamente, esse projeto é um atlas de culinária do planeta em um momento de mudança extraordinária. “Quem se lembra das compras de supermercado há 25 anos sabe que a dieta está mudando. Mas, poucas pessoas percebem que essa transformação é mundial. Algumas mudanças na dieta se devem à globalização e à grande escala do capitalismo que atinge novos lugares. Outras estão relacionadas ao aumento da afluência de pessoas que podem variar a sua dieta, começando primeiro a comer mais carne e peixe, e, em seguida, pizza e hambúrgueres. E algumas mudanças são atribuídas às ondas de migração, quando imigrantes, viajantes e refugiados importam sua própria comida para as novas terras ao mesmo tempo em que adquirem novos hábitos alimentares”, explica Bente Erichsen. “Essa exposição visa aumentar a conscientização sobre como ambientes e culturas influenciam o custo e as calorias dos jantares no mundo, bem como proporcionar um debate sobre a forma como consumimos e como o nosso consumo afeta a natureza e o meio ambiente”, explicou Bente. Dos 25 países visitados, do Butão a Bósnia, do México a Mongólia, do Kuwait a Noruega, o que mais impressionou o casal Menzel e D’Aluisio foi aprender como se alimenta a família de Okinawa, província mais ao Sul do Japão, onde vive a

FOTOS: ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG

"Essa exposição propõe um debate sobre a forma como consumimos e como isso afeta a natureza e o meio ambiente"

EM FRENTE ao Centro Nobel da Paz, em Oslo, caixas de madeira contendo solo e grama exemplificam a quantidade de terra necessária para se produzir, por exemplo, 500 gramas de manteiga ou um hambúrguer

EXPOSIÇÃO É COMPOSTA de fotografias das famílias com descrição detalhada de calorias e do custo semanal com alimentos

maior percentagem de centenários do mundo. Apesar de eles ingerirem alimentos saudáveis, como peixe e soja, o mais surpreendente é a atitude da família em relação à comida. Em vez de dizerem para seus filhos: “comam tudo”, eles recomendam: “hara hachi bu”, o que significa “comam apenas até que

você esteja 80% satisfeito”. Como o cérebro leva mais tempo do que o estômago para registrar que o corpo já recebeu os nutrientes necessários, é mais sábio parar quando você está 80% satisfeito. O (*) Life Coach, psicanalista e consultora internacional de comunicação NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 71


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1 RECICLAGEM

SEM COBERTURA e piso adequado: situação que acelera o envelhecimento e prejudica a reciclagem dos carros

CARRO VELHO

VALE OURO Pesquisa revela como órgãos públicos e recicladores tratam a sucata automotiva Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

O

Brasil experimentou nos últimos anos um crescimento econômico acelerado. E, graças às facilidades de crédito, ter um automóvel deixou de ser um sonho distante. Apenas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a quantidade de veículos passou de 1,08 mi-

ALUIZIO: "Falta estrutura e organização para o mercado de sucata automotiva em BH"

lhão em dezembro de 2002 para 2,28 milhões em dezembro de 2011, um crescimento de 8,87% ao ano, segundo o estudo “O crescimento da frota de veículos nas principais áreas urbanas brasileiras”, de autoria do mestre em engenharia de transportes Paulo Rogério da Silva Monteiro.


FALTA DE ESTRUTURA no armazenamento faz com que as peças se deteriorem, perdendo a possibilidade de serem recicladas

Com o aumento da frota, vie- (Detran), veículos são armazeram os problemas. Entre eles, a nados em lugares inapropriados. destinação correta de carros que A falta de cobertura e piso adenão podem mais circular, seja por quado deixam esses automóveis envelhecimento ou por aciden- ao relento, sofrendo com a ação tes que acarretam em perda total. do sol e das chuvas, aceleranMas, o que fazer com esses veícu- do a oxidação e o vazamento de óleos, lubrificanlos que estão fora tes e graxas que de circulação? "O sucateiro contaminam o Para o professor desmancha, solo. Prejuízo não do curso de Tecsó para o meio nologia em Gesvende as peças mas tão Ambiental do principais e fica com ambiente, também para Instituto UNATEC, Aluizio Dur- o restante do veículo, a economia, já ço Bernardino, a armazenado por anos, que componentes, como o aço, resposta é óbvia, se deteriorando." se deterioram e mas não simples: perdem valor no reciclar. Coordenador de uma pesquisa que, processo de reciclagem. Segundo junto com universitários, estuda a assessoria do Detran, os pátios o reaproveitamento da sucata au- utilizados são credenciados, sentomotiva na RMBH, ele conta que do de responsabilidade desses o trabalho revelou informações locais o processo de guarda dos pouco positivas. Nos pátios de veículos. A instituição informa leilões e no próprio Departamen- ainda que “atende às exigências to de Trânsito de Minas Gerais legais quanto à estrutura física e

FIQUE POR DENTRO

O De acordo com o Instituto

Nacional das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Inesfa), em média, 66% do material reciclável, de um carro antigo, é aço; O Além de evitar o descarte

irregular desses carros, a sucata de aço é 100% reaproveitável pelas siderúrgicas, e esse processo reduz a poluição do ar em 85% e o consumo de água em 76%, se comparado à atividade de mineração de ferro; O Para cada tonelada de aço

reciclado, há uma economia de 1.140 quilos de minério de ferro e uma redução no consumo de 154 quilos de carvão e 18 quilos de cal.

adequação, inclusive relacionada ao meio ambiente”. Outro agravante apontado pelo professor é a falta de estrutura-

2

NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 75


1 RECICLAGEM

VEÍCULOS ENFERRUJADOS, poluem o meio ambiente e suas peças têm menos chance de voltar ao mercado produtivo

ção por parte dos recicladores. Imagine um veículo que, para o seguro, não sirva mais. Destinado aos pátios de leilões, ele é vendido para um sucateiro, por exemplo. O sucateiro desmancha, vende as peças principais e fica com o restante do veículo, armazenado por anos, se deteriorando. “Um material que também poderia ser reciclado e não é! Verdadeiro desperdício, já que há um grande interesse das indústrias siderúrgicas nesse tipo de resíduo.” A informação é confirmada pela gestora ambiental Júlia Duarte Cunha, que fez parte da pesquisa, realizada entre 2011 e 2012. Os estudos apontaram que, nesse período, “a empresa Gerdau, por exemplo, utilizou a sucata como principal insumo em 75% de suas atividades. Outra grande empresa, a Belgo Mineira consome atualmente cerca de 120 mil toneladas por mês de sucata, metade proveniente de geladeiras e eletrodomésticos, e a outra, derivada da indústria automobilística, mecânica e naval”. Júlia visitou vários locais de acondicionamento e venda de sucata em BH 76 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

e constatou que a falta de estrutura e cuidado desses lugares prejudica a reintrodução do aço no processo produtivo. “Se ele estiver enferrujado, perde o valor.” LEGISLAÇÃO A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), prevê a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos. Isso significa que todos aqueles que estão envolvi-

dos na produção até a compra de um veículo, por exemplo, sejam responsáveis pela destinação correta dele quando for descartado. Determinação que traz esperança para o professor Aluizio. “A grande vantagem dessas políticas nacionais e estaduais são os capítulos que tratam da logística reversa. O que abre discussão para acordos setoriais de extrema importância para as indústrias recicladoras e montadoras fazerem pactos com sucateiros, leiloeiros e o Detran, promovendo, assim, o desenvolvimento de toda uma cadeia produtiva sustentável”, analisa. O RESULTADO Os relatórios das pesquisas desenvolvidas pelos alunos da UNATEC serão publicados em revistas científicas para mostrar a importância de uma política pública voltada para a sucata automotiva. O projeto já tem três anos e meio e envolve um aluno por ano na área de pesquisa e extensão do instituto. O

JÚLIA CUNHA: "A pesquisa me fez pensar para onde vão os carros quando chegam ao fim de sua vida útil"

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GESTÃO & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

MEU NOME, MEU TESOURO! Em tempos cibernéticos, seu nome pode não ser mais seu, mesmo que você não queira!

Q

uem já ouviu falar em reputação, levante a mão! Não estranharia se você, leitor, também levantasse. Reputação é coisa das antigas. Reis e rainhas de séculos distantes, poderosos como poucos, lá no fundinho, se preocuparam com ela. Heróis e semideuses morreram por ela, e até Pedro traiu Jesus para preservar a própria. É coisa antiga, combinemos! Dito isso, refaçamos a pergunta: e como anda a sua reputação digital? Não vá me dizer que uma palavrinha tão simples, di-gi-tal, muda tudo? Não me vá explicar que não entende nada da tal reputação na rede... Eu posso te lembrar que as más línguas podem colocar sua reputação a perder só por este medinho bobo de discutir reputação digital. Vai ver, você até acredita que não tem uma reputação digital. Deixa eu adivinhar: você fica fora do Facebook e do Twitter, de modo que não tem nada pra se preocupar. É isso? Deixa eu te contar uma coisa: em tempos cibernéticos, seu nome pode não ser mais seu, mesmo que você não queira! Tá certo! O “digital” não inventou a reputação, não faz a fama de alguém nem destrói o incauto.

TECH NOTES Conheça exemplos de avaliação de reputação na web: O Um instituto para avaliação da reputação

http://www.reputationinstitute.com O 12 casos reais de avaliação

Não, sozinho. O que ele fez foi acelerar a coisa toda, fez o bom ficar melhor e o mal ficar um horror, um passeio no inferno. Cuidar da reputação ficou mais difícil. Nunca valeu tanto o ditado que diz: uma vida pra construir um nome e um “tweet” o põe na lama! Recuperá-lo nem sempre é possível. Perdemos o direito de sermos esquecidos graças ao doutor Google, o mais pusilânime dos acusadores, com sua memória longa e sua capacidade de relacionar os fatos. Não são poucos os casos em que um pobre mortal é homem de bem no mundo real e seu avatar é um crápula no digital. O contrário, ao peso de ouro, também acontece. É tempo louco de verdade, mas não me aflijo, convencido de que a gênese de tudo começa em casa, na nossa casa, mais até, em nossas consciências. Estudos confirmam e teóricos do ensino já dizem que caráter pode ser aprendido, e eu fico na minha visceral esperança de que as empresas sigam o exemplo, pensem no cliente e também discutam, cada vez mais, o caráter de suas equipes, não apenas a capacidade de gerar lucro. Não será fácil! O que vão dizer de você talvez não lhe importe, mas poderá ser usado para auscultar sua alma binária nas redes sociais e decretar, sem sequer um contato físico, que você não sirva para um trabalho ou sua empresa não sirva para determinado fornecedor. Inquietante, deveras. Aprendi que não estamos no controle nesta matéria. Podemos até não gostar do que dizem a nosso respeito, mas somos, em grande medida, o que pensam de nós. É isso ou isolar-se. É isso ou trancar-se em casa, sem conexões externas, enquanto, saudosos, folheamos solitários o álbum de nossa história. Nele, inutilmente, estará gravado em letras de ouro o pomposo título: meu nome, meu tesouro! O

http://goo.gl/TgmXwM O Conheça empresas que cuidam da reputação

digital dos clientes http://www.reputation.com

78 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG e presidente do Comitê para a Democratização da Informática – CDI e diretor da Arbórea Instituto



FERNANDA MANN

1 TECNOLOGIA LIMPA

EQUIPE DA WAYCARBON, empresa especialista na redução de emissão de carbono, que se tornou parceira da Ecológico no controle da geração de poluentes

WAYCARBON E ECOLÓGICO

FIRMAM PARCERIA Trabalho da consultoria envolve compensação de emissões de gases de efeito estufa gerados pela impressão e distribuição da revista redacao@revistaecologico.com.br

R

ecém-estabelecida parceria entre a ECOLÓGICO e a empresa de consultoria em mudanças climáticas WayCarbon visa a efetivamente promover ações sustentáveis. A revista passa a contar, a partir desta edição, com um serviço especializado de análises e relatórios de compensação das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) gerados nos seus processos de produção, impressão e distribuição. A WayCarbon é hoje uma das principais referências no país em projetos que envolvem estratégias para economia de baixo carbono, GEE e comercialização de créditos de carbono. Ela é reconhecida pela “expertise” dentro da temática ambiental, com projetos integrados dirigidos a grandes empresas, como

80 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

Usiminas, Cemig e Banco do Brasil. A partir de agora, toda a geração de poluentes das produções mensais da revista será quantificada e compensada por meio de créditos de carbono. Da mesma forma, a emissão dos gases gerados para a realização do IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade e Amor à Natureza será ‘neutralizada’. Para o diretor de Novos Negócios da WayCarbon, Henrique Pereira, a parceria com a ECOLÓGICO é motivo de orgulho mútuo: “significa assumirmos responsabilidades e contribuírmos juntos para frear o aquecimento global”. A parceria firmada, acrescentou, representa a aproximação entre profissionais com alta formação na área ambiental e um veículo de comunicação de

importância na temática de sustentabilidade. “A ECOLÓGICO tornouse um espaço fundamental, pois não busca apenas explorar a beleza do tema ou reproduzir notícias factuais. Sua linha editorial é maior, focada na mudança de diretrizes dos setores públicos e privados, disseminando informações e análises dos acontecimentos.” Desde sua fundação, como Revista JB ECOLÓGICO, que circulou durante nove anos no Jornal do Brasil, até sua carreira independente, há cinco anos, como Revista ECOLÓGICO, a publicação tem os selos certificadores da Prima Mudanças Climáticas, FSC (papel produzido a partir de fontes responsáveis) e AGRI-WEB. O que se pretende agora é avançar nesse compromisso.


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1 COMEMORAÇÃO

CINCO ANOS

LAURENT LAVEDER

DE LUZ

Para comemorar seu 5º aniversário de circulação lunar, a ECOLÓGICO revisita, com seus leitores, parceiros e anunciantes, algumas das 63 capas e conteúdos mais significativos que já fizemos, lemos e compartilhamos juntos


AP PHOTO / FRANK AUGSTEIN

Da ex-Mineração na Alemanha aos JARDINS DE MONET (ll)

A INSUSTENTABILIDADE DO

ANTES

país, A realidade absurda vivida por um ento um povo e um modelo de desenvolvimgica econômico antes da consciência ecoló Hiram Firmino De Essen, Alemanha

representa o orgulho que os odo o horror ambiental desta foto ão Industr ial - quando a alemães tinham no auge da Revoluç falar em meio ambiente, humanidade ainda não havia ouvido bilidade. Estamos entrando no preserv ação da naturez a e sustenta e minerár ia de Essen, no antigo famoso Museu do Ruhr, na ex-cidad Aleman ha que hoje se esverdeia. coração mínero-metalúr gico da de carvão transfor mada em meImagine uma gigantesca usina u ali, piorado por duas guerras mória viva de tudo que se degrado mais. Uma ex-plant a industrial e bombardeios mundia is. Imagine e madas em espaços educativos transfor foram ões instalaç cujas pessoas anualmente vindas de de s milhare por s culturai s, visitada o ser humano é que do vação compro a É todas as partes do mundo. os ersua sobrevivência e reconhece capaz quando se vê no limite de que o sustenta . A prova maior, como ros que cometeu com o planeta até de apagar as estrelas com capazes somos que de , Caetano canta ruir coisas belas. E voltar a vêa poluição. Mas também de reconst al. de veneno e escuridão industri -las num céu natural, sem nuvens REPRODUÇÃO

T

VISTA ÁREA DO DISTRITO DE RUHR: IMAGENS DE UM PASSADO RECENTE

2

LEMBRANÇA DOS MINERADORES DE CARVÃO TRABALHANDO ABAIXO DA SUPERFÍCIE: ÉPOCA UMADE 2012 Q 37 ORGULHO E CONTRASTE DEGOSTO

ECOLÓGICO/SETEMBRO DE 2012

Q 61

ECOLÓGICO/A

N

ossa mais recente boa notícia ocorreu durante evento, em noite chuvosa do último dia sete de novembro, em São Paulo. A ECOLÓGICO foi uma das cinco finalistas na Categoria Linguagem Escrita / Impresso Nacional e Regional do 7º PRÊMIO ALLIANZ SEGUROS DE JORNALISMO, com a matéria “A Insustentabilidade do Antes” (reprodução acima), publicada em 30 de setembro de 2012, sobre o fim da mineração na Alemanha. Selecionada pelo crivo de 34 jurados entre 2.008 outras matérias concorrentes este ano, ela fez parte da série de reportagens intitulada “Da ex-mineração na Alemanha aos Jardins de Monet”, que a ECOLÓGICO publicou, ao longo de quatro edições, sobre como aquele país conseguiu ressurgir sustentável 200 anos depois da Revolução Industrial.

MUITO OBRIGADO! A NATUREZA AGRADECE MAIS AINDA NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 83


INFORME PUBLICITĂ RIO

MATA ATLĂ‚NTICA: compĂľe os 60 hectares preservados da Fazenda Engenho d'Ă gua, que ĂŠ exemplo em sustentabilidade

FAZENDA-MODELO NO MEIO DA MATA

(QJHQKR G¡Ă‰JXD p GHVWDTXH HQWUH RV Ă€QDOLVWDV GR 3UrPLR 6HEUDH

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possĂ­vel conciliar produção com preservação.â€? Este ĂŠ o lema da Fazenda Engenho d´à gua, propriedade rural, localizada em Ouro Preto, que foi destaque HQWUH DV Ă€QDOLVWDV GR ´3UrPLR 6HEUDH GH 3UiWLFDV 6XVWHQWiYHLVÂľ &RP KHFWDUHV GH 0DWD $WOkQWLFD SUHVHUvados, a fazenda desenvolve diversas iniciativas e projetos voltados Ă conVHUYDomR j HGXFDomR DPELHQWDO H DR desenvolvimento local com responsaELOLGDGH VRFLDO 8P H[HPSOR D VHU VHJXLGR QD EXVFD SHOD VXVWHQWDELOLGDGH $GTXLULGD HP D SURSULHGDGH foi escolhida com esse propĂłsito: foPHQWDU D VXVWHQWDELOLGDGH D SDUWLU GD FRQVFLrQFLD HFROyJLFD 6HXV GRQRV R SXEOLFLWiULR %UHQR 5RVVHWWL H R HQJH-

gida e preservada, o que lhe confere DOWR YDORU DPELHQWDO 7UDWD VH GH XPD DPRVWUD GHVWH ELRPD KRMH UHGX]LGR D DSUR[LPDGDPHQWH GH VXD iUHD RULginal. Inserida na Ă rea de Preservação $PELHQWDO $3$ GDV $QGRULQKDV HP R ORFDO IRL LQFRUSRUDGR DR 3URMHWR GH 3URWHomR GD 0DWD $WOkQWLFD GH 0LQDV *HUDLV 3URPDWD H HQULTXHFHX VHXV ERVTXHV FRP R SODQWLR GH PDLV GH quatro mil mudas de espĂŠcies nativas. &RPS}H XPD iUHD GH DPRUWHFLPHQWR H XP FRUUHGRU HFROyJLFR HQWUH 8QLGDGHV GH &RQVHUYDomR LPSRUWDQWH DR GHVORFDPHQWR GD IDXQD ORFDO 7DQRESERVA DA MATA ATLĂ‚NTICA WR TXH p FDGDVWUDGD SHOR ,EDPD FRPR Localizada junto Ă Floresta Estadual ÉUHD GH 6ROWXUD GH $QLPDLV 6LOYHVWUHV 8DPL t D (QJHQKR G¡Ă‰JXD HVWi HP $VDV H Mi UHFHEHX PDLV GH DYHV XPD iUHD GH 0DWD $WOkQWLFD SURWH- que fazem parte de seu ecossistema, QKHLUR DJU{QRPR +HOWRQ $JXLDU 1HYHV SURFXUDUDP XPD iUHD TXH YLDELOLzasse o desenvolvimento de projetos DPELHQWDOPHQWH FRUUHWRV 6HJXQGR Helton, a motivação nasceu quando ele WUDEDOKDYD QD (PDWHU H WHYH FRQWDWR FRP UHDOLGDGHV GH LPSDFWR DPELHQWDO QHJDWLYR FRPR R XVR H[FHVVLYR GH DJURWy[LFRV DVVRUHDPHQWRV GH FXUVRV G¡iJXD SUREOHPDV FRP OL[R IRJR H FDoD predatĂłria: “Imaginei fazer algo diferenWH TXH VH WRUQDVVH XP ERP H[HPSOR e irradiasse para os outros produtores. 8PD LQLFLDWLYD PRGHORÂľ H[SOLFD


FOTOS: HELTON AGUIAR NEVES

SDUD VHUHP UHDELOLWDGDV H SRVWHULRU mente reintroduzidas Ă natureza. $ iJXD WDPEpP p XPD SUHRFXSDomR TXH UHFHEH FXLGDGRV e IHLWD D PDQXWHQ ção das nascentes com a preservação das matas ciliares e nĂŁo utilizam nenhum WLSR GH XVR GH DJURWy[LFRV +HOWRQ VH orgulha em contar que, depois que assumiram a fazenda, o volume de ĂĄgua aumentou e a qualidade melhorou. INICIATIVA 1D SURSULHGDGH WDPEpP VmR GHVHQYRO vidos estudos e tĂŠcnicas para conservação do solo, programas de conscientização da comunidade e de geração de renda para os produtores locais. Essas Do}HV DFRQWHFHP SRU PHLR GH SURMHWRV prĂłprios e de associativismo envolvendo a iniciativa privada. 3DUD +HOWRQ HVWDV LQLFLDWLYDV SRVVLELOL tam a preservação de maneira real, por gerar o envolvimento das pessoas via UHVJDWH H FRQVHUYDomR GDV WUDGLo}HV UX UDLV GD UHJLmR ´3ULRUL]DPRV Do}HV HGX FDWLYDV FDSDFLWDomR GH PmR GH REUD JHUDomR GH UHQGD EXVFD SHOD TXDOLGDGH GH YLGD H SHUPDQrQFLD GDV IDPtOLDV HP suas comunidades de origem. Hoje a Ă RUHVWD HP Sp WHP YDORU PXLWR PDLRU do que cortada. É uma questĂŁo de senVLELOL]DU H PRELOL]DU DV SHVVRDV SRLV R JUDQGH SUREOHPD GR PHLR DPELHQWH p D IDOWD GH HGXFDomR DPELHQWDOÂľ MXVWLĂ€ FD 8P H[HPSOR GHVVDV Do}HV p D SDU FHULD GD ID]HQGD FRP D (OHWUR &RPHU FLDO 0HGUDGR -XQWDV DV GXDV LPSODQ taram um apiĂĄrio em meio Ă reserva Ă RUHVWDO $ SURGXomR DUWHVDQDO GH PHO GH DEHOKDV p IRQWH GH UHQGD SDUD RV pequenos produtores rurais e trĂĄs EHQHItFLRV j QDWXUH]D ´$V DEHOKDV VmR FRPR UHJHQHUDGRUHV QDWXUDLV $OpP de gerar o mel, a polinização feita por elas aumenta a produção das espĂŠcies IUXWtIHUDVÂľ H[SOLFD R SURSULHWiULR $ ID]HQGD DLQGD RIHUHFH FXUVRV GH IDEULFDomR DJUR DUWHVDQDO GH GRFHV H de processamento de carnes, que sĂŁo PLQLVWUDGRV SHOR 6(1$5 0* 6HUYLoR 1DFLRQDO GH $SUHQGL]DJHP 5XUDO $V aulas sĂŁo oferecidas Ă s comunidades de *ODXUD H GR (QJHQKR G¡Ă‰JXD ORFDOL]DGDV QR HQWRUQR GD )ORUHVWD (VWDGXDO 8DLPL t Esta iniciativa visa incrementar o desenvolvimento local, o resgate e a con-

CONHECENDO TRILHAS: mostra às crianças a importância da produção orgânica

VHUYDomR GDV WUDGLo}HV UXUDLV GD UHJLmR SULRUL]DQGR Do}HV HGXFDWLYDV DWUDYpV GD FDSDFLWDomR GH PmR GH REUD JH UDomR GH UHQGD EXVFD SHOD TXDOLGDGH GH YLGD H SHUPDQrQFLD GDV IDPtOLDV HP suas comunidades de origem. &RP D SDUWLFLSDomR GH HPSUHVDV universidades, governo e terceiro setor, a Fazenda Engenho d’ågua tem como “carro-chefeâ€? cinco projetos:

WDomR H 6ROWXUD GH $YHV 6LOYHVWUHV 6H gundo Helton, jå Ê possível notar uma mudança de atitude na população, diante da redução da captura.

OURO VERDE 2 SURMHWR 2XUR 9HUGH EDVHLD VH QD LPSRUWkQFLD GD 0DWD $WOkQWLFD H GR SDSHO H[HUFLGR SHOD SURSULHGDGH QD FRQVHUYDomR GHVWH ELRPD HP 0LQDV 7HP FRPR REMHWLYR GHVHQYROYHU Do}HV FAUNATIVA conjuntas visando a implantação de &RQMXQWR GH FULDWyULRV FRPHUFLDLV GH planos para redução dos impactos geDQLPDLV VLOYHVWUHV 6mR PDQWLGDV SDFDV rados pelas empresas parceiras, alĂŠm FDWLWXV TXHL[DGDV H FDSLYDUDV ,PSODQWD da criação de modelos inovadores de GRV VRE OLFHQoDV UHJXODPHQWDGDV UHVSHL FRQVHUYDomR GD ELRGLYHUVLGDGH H GR WDP UtJLGRV FULWpULRV GH VXVWHQWDELOLGDGH plano de manejo sustentĂĄvel da ĂĄrea. H[LJLGRV SHOR ,EDPD H XPD DOLPHQWDomR semelhante Ă dieta de vida livre dos ani- ECONHECENDO AS TRILHAS PDLV 7HP FRPR REMHWLYR D UHLQWURGX Em parceria com o Instituto XopotĂł, omR GH HVSpFLHV HP VHX KiELWDWV FRP ĂŠ desenvolvido o projeto “EconhecenLQFUHPHQWR GH VXDV SRSXODo}HV GR DV 7ULOKDVÂľ TXH SURSRUFLRQD D YLVL WDomR RULHQWDGD GH GLYHUVRV S~EOLFRV CONCERVO aos projetos e atrativos naturais da 2 SURMHWR &RQFHUYR &HQWUR GH &RQ ID]HQGD (P WUrV DQRV GH H[LVWrQFLD R VHUYDomR H (VWXGRV GH &HUYtGHRV %UD SURMHWR UHFHEHX FULDQoDV MRYHQV sileiros, realiza a reprodução monito- H XQLYHUVLWiULRV H SDUD R SUy[LPR DQR rada desses animais, hoje ameaçados YLVLWDV Mi HVWmR SURJUDPDGDV GH H[WLQomR 2 REMHWLYR p SHUPLWLU D Para agendar turmas de escolas e reintrodução e soltura dos mesmos universidades o contato por email ĂŠ: em ĂĄreas preservadas em todo o paĂ­s. KHOWRQ#HQJHQKRGDJXD FRP EU REVOADAS $ SDUWLU GH VHX FDGDVWUDPHQWR SHOR ,EDPD FRPR XPD ÉUHD GH 6ROWXUD GH $QLPDLV 6LOYHVWUHV $6$6 D ID]HQGD GHVHQYROYH R SURMHWR 5HYRDGDV ² 5HD ELOLWDomR 5HSURGXomR (VWXGRV $GDS

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JB ECOLÓGICO

1 MINERAÇÃO

DR. ANTUNES PRESENTEIA Juscelino Kubitschek com a medalha que celebrou sua visita ao Amapá

O PIONEIRISMO DE AZEVEDO ANTUNES Texto-documentário sobre a trajetória pessoal e profissional de Azevedo Antunes, um dos precursores da mineração sustentável Alexandre Salum redacao@revistaecologico.com.br

A

trajetória pessoal e profissional de Augusto Trajano de Azevedo Antunes (19061996), o empresário que implantou o conceito da sustentabilidade na história da mineração brasileira está eternizado no documentário “Dr. Antunes”. Este será distribuído na cerimônia do IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza – O “Oscar da Ecologia” 2013, no próximo dia 9 de 86 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

dezembro, no Cine Theatro Brasil – Vallourec, na capital mineira. Produzido pela Cinefor e dirigido por Sérgio Santos, com apoio da Associação/Fundação Caemi, traz depoimentos que comprovam como a região norte do país – pós Azevedo Antunes - deixou de ser explorada de maneira desordenada por garimpeiros e seringueiros. Expostos a todo tipo de perigo e risco, eles sobrevi-

viam em condições precárias. Uma realidade que o Dr. Antunes, como era mais conhecido ajudou a mudar, graças ao caráter humanitário de exploração de manganês que implantou sob os pilares da sustentabilidade: “economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente mais justo”. Confira alguns depoimentos que a ECOLÓGICO selecionou e reproduz a seguir:


FOTOS: REPRODUÇÃO

EM PLENA SELVA “Quando a Icomi chegou ao Amapá, o estado (que ainda era território) tinha 5 mil habitantes. A capital, Macapá, 2,5 mil moradores e Santana não tinha mais que meia dúzia de casebres na beira do rio. A empresa se propôs a criar duas cidades em plena selva amazônica. Uma em Serra do Navio, onde estavam as jazidas, a 200 quilômetros do canal norte do Rio Amazonas, e a outra, Santana, na área portuária. O sucesso da Icomi no Amapá foi pioneiro de fato, porque as obras começaram em 1954 e terminaram em 1957. Um tempo muito curto, no qual se construíram instalações industriais 200 quilômetros selva adentro e uma ferrovia de 192 quilômetros, ligando a mina ao porto. O primeiro trem de manganês desceu de Serra do Navio rumo a Santana do Porto em outubro de 1956. O primeiro embarque ocorreu no dia 3 de janeiro de 1957. Na ocasião, esteve no local o presidente Juscelino Kubitschek, dando início ao projeto colossal, que foi a Icomi. Inaugurou-se na Amazônia um estádio de futebol. A gente trabalhava muito, mas também havia tempo para o lazer.”

EM MEIO aos montes de minério em forma de pirâmides, a população local assiste à cerimônia de inauguração: testemunhas oculares

JOSÉ LUIZ ORTIZ

UM MILAGRE “A Icomi é um milagre dentro da região amazônica. Duas pequenas cidades que parecem o sonho de um urbanista lírico com 200 km de estradas de ferro e um porto onde encostam transatlânticos. Nas cidades há escolas, hospital moderno, supermercado, clube, piscina e cinema. As casas dos operários são tão boas e bonitas que a gente fica pensando com melancolia naqueles arruados, tipo vila de conferência vicentina, que se constroem no Rio de Janeiro para abrigar favelados. Água, esgotos, telefones e o que mais é preciso para garantir o conforto moderno naquelas duas ilhas abertas no meio da mata. Você anda meio km para lá da Serra do Navio e já está dentro da floresta onde, 15 anos atrás, só tinha onça e algum bugre. E doença braba na água parada dos igapós. E quem paga tudo isso é a mina.” RACHEL DE QUEIROZ, escritora, em artigo publicado na Revista O CRUZEIRO, em maio de 1965

NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 87


FOTOS: REPRODUÇÃO

1 MINERAÇÃO MEDICINA PREVENTIVA “O principal desafio era o abastecimento. A empresa mantinha duas cidades e uma população que podia chegar a 5 mil pessoas, com os dependentes. Mandávamos um navio por mês com comida e um avião por semana com ovos e tomates. O Dr. Antunes dificilmente avisava quando chegaria. Gostava de pegar o pessoal de surpresa. Um dia, estávamos almoçando, num grande restaurante para operários, e ele chegou com o governador. Entraram, cumprimentaram todo mundo e se serviram da mesma comida dos operários. Outro fato interessante mostra a percepção, sensibilidade e apurada visão do Dr. Antunes. Estávamos no trem da Serra do Navio e ele vinha na janela, olhando o horizonte. Ele, de repente, virou-se para o gerente, Oswaldo, e perguntou: ‘O que temos feito para esse pessoal que mora aqui?’ Daquele dia em diante passamos a fazer o que era chamado de ‘Trem de Colono’. Semanalmente, usávamos o trem para comprar tudo que os colonos tinham para vender. Fosse um saco de abacaxi, um cacho de bananas ou cinco goiabas. Não importava. A gente comprava tudo.” SUSTENTABILIDADE “Investir em sustentabilidade foi o grande mérito da Icomi, pioneira em cuidado ambiental. O investimento em saneamento foi o principal. Em 1957, Serra do Navio já tinha tratamento de esgoto e a água chegava ao rio mais limpa do que antes de passar pelas indústrias. Houve também a preocupação de fazer a recuperação das áreas mineradas. À medida que as minas iam se exaurindo, iniciava-se a recuperação. Isso se deu muito antes de existir uma legislação 88 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

ESCOLA CRIADA pelo Dr. Antunes: educação para todos, em plena selva

CENTRO CIRÚRGICO com o que havia de mais avançado no mundo

específica para áreas mineradas. Quando cheguei à Serra do Navio, fiquei surpreso ao encontrar uma vila totalmente estruturada e um moderno hospital, talvez o mais bem aparelhado da América do Sul. O forte era a medicina preventiva. A Icomi também contribuiu para a construção da

primeira hidrelétrica do Amapá, através dos royalties que pagou. Eles foram destinados a Cia. Elétrica do Amapá, que deu início à construção da usina ‘Paredão’, no Rio Araguari, que hoje se chama Coaracy Nunes.” ISRAEL COSLOVSKY – CAEMI


GERAÇÃO AMAPÁ

FERNANDA TAKAI, da banda Pato Fu: memória ilustre da Serra do Navio

LUCAS SECRET

“Educação sempre foi prioridade no Amapá. Trouxemos técnicos gabaritados e tínhamos que dar uma educação de qualidade para os seus filhos. Foram criadas duas escolas. O pessoal que estava acostumado a morar em palafitas ganhou casa, com água encanada e esgoto; e seus filhos se formaram engenheiros. Em um período muito curto, houve um avanço de muitas gerações no Amapá. Na Serra do Navio, 100% da juventude tinha escola. Há 50 anos, o Amapá era exemplo para o Brasil. Muitas famílias se formaram lá. Houve vários casamentos entre técnicos, professores e enfermeiros. Um exemplo é Fernanda Takai, da banda Pato Fu, filha de um geólogo com uma enfermeira na Serra do Navio, que morou ali até os seus oito anos.” BRUNO CEI

NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O XX


JB ECOLÓGICO

1 MINERAÇÃO

O EMPRESÁRIO em visita à Cachoeira de Santo Antônio, no município de Laranjal do Jari, a 270 km de Macapá, capital do Amapá: “Quem viver verá? Eu já vejo!”

PORTA DA RUA CRENÇA NO BRASIL

ÍCONE

“Precisamos mostrar para as novas gerações os cidadãos que acreditavam no Brasil. Pessoas que exerciam a atividade empresarial para trazer melhoria da qualidade de vida às comunidades, promovendo o desenvolvimento sustentável.”

“Dr. Antunes é um ícone. Ele é tudo aquilo que todo empresário gostaria de ser. Um realizador, uma pessoa com ousadia de pensar grande.” OLAVO MACHADO JÚNIOR

FERNANDO COURA EVANDRO FIUZA

“A Aços Anhanguera foi fundada em junho de 1962, com o objetivo de atender a nascente indústria automobilística brasileira. Era uma associação entre a Icomi, a Caemi e a SKF, da Suécia, empresa que também tinha interesse em estoques para a sua fábrica de rolamentos, em Guarulhos. Azevedo Antunes foi pioneiro na criação de uma fundação para os seus funcionários. Foi a primeira entidade de previdência privada a ser criada em uma empresa particular. Na empresa dele, falar em corrupção, em ‘molhar a mão’ de alguém’, era caminho certo para a porta da rua.” RICARDO MENDES

LINGUAJAR LOCAL “Para montar as apostilas dos cursos supletivos, foram contratados dois especialistas em Letras do Sul. Eles levantaram, nas oficinas e nos locais de trabalho o linguajar local, e os livros de alfabetização dos adultos foram feitos com base na linguagem que eles conheciam e usavam no trabalho ou em casa.” AMÉRICO MUNIZ 90 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

ARY PEDREIRA, Sérgio Santos, José Fernando Coura e Antônio Rocha, no pré-lançamento do documentário na Fiemg, em BH.



1 EVENTO

FOCO UNIVERSAL

CENIBRA 40 ANOS

A

importância da Cenibra no cenário mundial, quatro décadas depois da sua implantação e modernização em Belo Oriente, às margens do Rio Doce, no Vale do Aço, foi reconhecida durante solenidade concorrida na Assembleia Legislativa de Minas. A iniciativa de homenagear a empresa que deu a volta por cima (já fez parte da “Lista Suja” da Amda) e hoje é premiada em vários fóruns, com exemplo em sustentabilidade apontado pelos próprios ambientalistas, foi do deputado estadual Gustavo Valadares O

EQUIPE HOMENAGEADA: Róbinson Félix, diretor industrial e técnico, à esquerda; Paulo Brant, diretor-presidente; Naohiro Doi, diretor vice-presidente; Kazuhiro Yoshida, diretor comercial

IV Prêmio

O Oscar da Ecologia 2013

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FOTOS: GLÁUCIA RORODRIGUES

1 EVENTO

HELTON AGUIAR, Marcos Antônio Costa Filho, Lázaro Gonzaga, Luciano Magalhães, Glória Collares e Jucimar Moreira: premiador e premiados do ano

DESTAQUE SEBRAE´2013 Evento anuncia as cinco empresas vencedoras do 3º Prêmio Sebrae Minas de Práticas Sustentáveis redacao@revistaecologico.com.br

D

FÁBIO VERAS, diretor de Operações do Sebrae Minas: “A sustentabilidade está no nosso DNA”

94 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

uas micro e pequenas empresas do Sul de Minas, outras duas da região central e uma do Norte de Minas foram destaques entre as 11 finalistas do 3º Prêmio Sebrae Minas de Práticas Sustentáveis. O anúncio foi feito pelo presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Lázaro Luiz Gonzaga, durante a cerimônia de premiação realizada no dia 23 de outubro, na Casa Bernardi, em Belo Horizonte. As cinco empresas premiadas receberão consultoria técnica do Sebrae Minas. Elas e outras seis finalistas também terão suas boas práticas em sustentabilidade divulgadas em uma publicação especial.

Criada em 2011, a premiação é um incentivo à inovação tecnológica e à busca de posturas e procedimentos que tornem as pequenas empresas mais eficientes, rentáveis e sustentáveis. São elas as vencedoras do ano: Fazenda Engenho D’água (Ouro Preto) Está próxima a áreas de preservação ambiental. Para evitar atividades extrativistas, foram feitas reuniões e palestras de conscientização com a comunidade da região. O objetivo foi criar um projeto de geração de renda para melhorar a qualidade de vida, preservar as tradições e conservar os recursos naturais da floresta.


JeM Peças e Serviços/Jovcar (Curvelo) Adota desengraxante biodegradável para a lavagem de peças, em substituição ao uso de diesel e gasolina; uma bacia de segurança é acoplada para a troca de óleo de motor. Os resíduos recicláveis (papel, plástico, metal e vidro) são doados para a Associação Curvelana dos Catadores Recicláveis. Já os resíduos contaminados com óleo são coletados por uma empresa especializada. As baterias automotivas são devolvidas para o fornecedor e os pneus são coletados pela prefeitura. O empreendimento conta ainda com uma Central de Armazenamento de Resíduos Sólidos. Fazenda Itaoca (Conceição do Rio Verde) Possui uma reserva particular

do patrimônio natural registrada e nove áreas de preservação permanente. Em parceria com a SOS Mata Atlântica, plantou 9,6 mil mudas e criou uma colônia para os colaboradores. Todos os resíduos da fazenda são separados, e as folhas do abanador do café voltam para a lavoura como adubo. Os resíduos orgânicos são encaminhados para a criação de porcos da colônia. Além disso, foi instalada uma estação de tratamento de esgoto. Sítio Maritacas (Liberdade) A alimentação do gado foi trocada e a agricultura convencional substituída pelo plantio direto, reduzindo custos e preservando uma área maior, já que este revolve menos a camada do solo. Utiliza espécies vegetais que mantêm a nutrição e umidade do

solo e controlam as espécies daninhas, evitando roçar o terreno. Ao substituir o uso de fertilizantes pelo adubo orgânico, ainda preserva 60% da propriedade, que vem sendo reflorestada, incluindo as nascentes. Sorveteria Gosto do Cerrado (Montes Claros) A empresa fabrica sorvetes com frutos do cerrado e tem uma relação de comércio justo com as famílias extrativistas. Fomenta a prática extrativista sustentável e incentiva o pequeno produtor rural a manter a flora nativa da região, oferecendo apoio técnico e fornecendo as sementes das frutas. Depois, compra a matéria-prima de pequenos agricultores. SAIBA MAIS www.premiosebraemgsustentavel.com.br


1 EVENTO

F

FÓRUM AMBIENTAL

FOTOS: WHISTEFFANO SEBASTIÃO

oi bastante concorrido, no auditório da Fiemg, o último seminário sobre mineração sustentável promovido pela ONG Zeladoria do Planeta. Empresários, técnicos e autoridades do setor, além de estudantes, discutiram os desafios e perspectivas que envolvem a mais mineira e necessariamente sustentável atividade do Estado. Confira as presenças.

Pedro Borrego

Luis Márcio Vianna

“A vida em nosso planeta se propaga através de uma loteria da natalidade; onde a diferença de nascer um herdeiro do Principado de Mônaco e ser o terceiro filho da geração de um lavrador dos campos de arroz do Camboja é mínima” FERNANDO BENÍCIO, presidente da Zeladoria do Planeta Gabriel Bandeira

Rodrigo Dutra

Vasco Araújo

CIPÓ PREMIADO

Cristiano Parreiras

José Carlos Carvalho

96 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

O programa Viação Cipó, da TV Alterosa, comandando pelo jornalista Otávio di Toledo foi o vencedor como “Destaque do Ano” do PRÊMIO GESTÃO AMBIENTAL´2013 também promovido pela ONG Zeladoria do Planeta. O evento ocorreu prédio do Memorial da Vale, na Praça da Liberdade, com a presença de autoridades, personalidades e artistas. Na foto acima, Otávio di Toledo entre Toninho Horta e Alberto Bernardo.



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1 FAÇA VOCÊ MESMO

VASOS ECOLÓGICOS Para sua confecção são necessárias apenas duas caixas Tetra Pak, cola, pincel, tesoura, fita crepe ou durex, um bocado de jornal picado e papéis para a estampa

CAIXINHA de SUCO, LEITE, FLORES... Recipientes, antes descartados, viram criativos vasos de plantas Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

N

ada como flores para alegrar os ambientes. Muitas vezes não dá para investir em vasos, mas basta uma semente para o verde brotar. Assim, para tornar sua casa mais bonita, o ar mais puro e a cidade mais florida, a ECOLÓGICO ensina uma alternativa sustentável e criativa para armazenar flores e plantas. O vaso feito de embalagem Tetra Pak atende a vários gostos, formas, ambientes e bolsos, sendo ainda, uma possibilidade de distração - um incentivo extra para você também fazer o seu! A ideia vem de uma das oficinas oferecidas, gratui100 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

tamente, pelo Centro Mineiro de Referência em Resíduos (CMRR). Seguindo a proposta de educação, preservação e sustentabilidade ambiental, as oficinas têm foco na reutilização de materiais recicláveis, que são transformados em artigos de decoração, como caixas, vasos e porta-retratos, além de outros com utilidades variadas: agendas, embalagens para presentes e papel reciclado. Mãos à obra! SAIBA MAIS www.cmrr.mg.gov.br/escola-de-gestao-de-residuos/oficinas-cmrr


FOTOS: FERNANDA MANN

PASSO A PASSO

1- Retire a parte superior de duas embalagens e corte todas as laterais, de cima até a base.

4 - Nos 4 retângulos destacados, marcar um ponto bem no centro de uma das alturas.

8 - Distribua os recortes de triângulo ao lado dos seguimentos da cruz.

2 - O corte deve seguir as linhas de dobra, marcadas pelo encontro das paredes da caixinha. Ao final, teremos duas cruzes, uma continuará como está. A outra, terá as laterais desconectadas.

5 - Traçar uma linha do ponto central, até a quina lateral de ambos os lados da base oposta.

9 - Alinhe bem a parte de cima dos triângulos e retângulos.

12 - Com um pincel, 13 - Cubra essas partes com espalhe finas camadas de pequenos pedaços de jornal. cola em pequenas partes.

3 - A cruz que permaneceu intacta formará parte das laterais do vaso.

6 - Recortar o triângulo 7 - Agora estão prontas todas as partes que correspondem às demarcado. laterais do vaso.

10 - Cole as laterais, com fita adesiva, de maneira a não as sobrepor

14 - Após cobertos, os retalhos de jornal devem ser recobertos por outra fina camada de cola.

11 - Após colar todos os lados, está pronta a base do vaso.

15 - Após colar o jornal, passe outra camada fina de cola por cima, isso vai impermeabilizar o vaso.

16 - Pronto, o vaso está totalmente envolvido pelo jornal e coberto de cola. Neste momento, é possível optar por dois modelos de vaso. O primeiro fica com o formato original. Para conseguir o segundo, basta pressionar o centro e deixar secar assim. Depois, é só escolher um papel do seu gosto e utilizar a mesma técnica do jornal, passando uma fina camada de cola sob e sobre os pedacinhos aderidos. Se quiser, pode decorar o vaso com a cor de sua preferência ou até mesmo fazer uma pintura. NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 101


1 VOCÊ SABIA?

HÓSPEDES COMILÕES Marcos Fernandes redacao@revistaecologico.com.br

REPRODUÇÃO

POR TODOS OS LADOS Quem tem ou já teve cupim em casa sabe o tamanho do estrago que esses animaizinhos são capazes de fazer. Existem 2.200 espécies deles no mundo, mas somente 290 habitam o Brasil – e só duas delas vivem nas cidades. Medem apenas alguns milímetros e têm uma aparência semelhante à das formigas. Podem ser subterrâneos, com o ninho debaixo da terra, ou de "madeira seca", habitando armários, estantes e guarda-roupas e consumindo-os silenciosamente. Mas eles não gostam só dessa matéria-prima. Também se deliciam com tijolos, gesso ou papel. Por isso, é preciso ficar de olho.

LÁ DE ONDE EU VENHO O termo “sociedade secreta” pode ser usado para classificar a forma como os cupins vivem. Divididos em castas, cada um recebe uma função e trabalha da melhor forma para cumpri-la dentro do cupinzeiro, uma fortaleza que pode chegar a 60 cm de altura. Lá dentro, funciona uma verdadeira empresa, onde a rainha (que pode ter de 2 a 4 cm) e o rei desempenham a função mais importante: a da reprodução. Abaixo deles, estão as ninfas, indivíduos molengas e branquelos, que atuam como reprodutores secundários e podem, um dia, subirem de posição na época da troca de coroas. Depois, vêm os operários, que constroem, buscam comida e fazem a faxina. Já os soldados, claro, são responsáveis pela segurança.


UM CUPIM CAIU DO CÉU Em certos períodos, quando as ninfas já ganharam asas, elas se transformam nas aleluias ou siriris – aqueles bichinhos que perambulam em torno da lâmpada. Esse é o momento que elas têm para paquerar e tentar arranjar um parceiro. Se têm sorte em conseguir um namorado, erguem uma nova colônia. Se não, elas terminam numa queda desastrosa: as asas caem e elas voltam a ser meros cupins caseiros. Ou seja, a aventura alada tem prazo de validade.

B. NAVEZ

UM CHUTE NO TRASEIRO A forma mais comum de se livrar desses hóspedes indesejáveis são os inseticidas, que devem ser injetados nas perfurações que eles fazem pela casa. Entretanto, recentemente, cientistas descobriram que a Aroeira-do-Sertão, árvore presente no nordeste, centro-oeste, sudeste e sul do Brasil, contém uma proteína, chamada lectina, que é letal para cupins, o que pode significar uma nova e mais saudável forma de extermínio dos bichinhos. Mas atenção: é importante saber que os cupins, como todo ser vivo, são importantes para a natureza. Eles transformam madeira em húmus (adubo). Além disso, quando uma árvore cai, eles aceleraram a sua decomposição.

R

NOVEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 103

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1

OLHAR POÉTICO ANTONIO BARRETO

COM A PALAVRA, MERELO,

MEU PAPAGAIO O

COLAGEM DE ANTONIO BARRETO SOBRE DESENHO/ILUSTRAÇÃO DE ELVIRA VIGNA

s papagaios são mais importantes que os cronistas, ou poetas. Mais observadores, mais inteligentes, conseguem resumir o mundo em apenas três palavras: – Currupaco, papaco, paco! Síntese perfeita. Escritor nenhum faria melhor. Assim, antes de iniciarmos essa clônica (termo que consideramos mais apropriado ao repetitivo ofício de repeti-tir o que repetitivo estava), peço uma palavrinha pra falar do meu papagaio.

104 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

Ele se chama Merelo. Mesmo nome do primo famoso, aquele louro que pertenceu ao pintor Van Gogh, e que teve um fim trágico... Como todos sabem, essa é uma história repleta de percalços, contradições e lances folhetinescos. (Algum dia, nesse mesmo bat-espaço e bat-horário, prometo, lhes contarei tal dramalhão). Por ora, fiquemos com o Merelo. E já resumo sua ópera: é apenas um pobre papagaio verde que já desbotou, perdeu a cor. Não faz mais sua fotossíntese matinal. Sofre de insônia. E fica sempre com os nervos à flor das penas. Um estressado, enfim. Como o famoso papagaio de Van Gogh, também não conta mais piadas de papagaio. Não consegue paquerar as galinhas... decerto, um decadente, ou seja, um papagaio à flor das pétalas... (Ops! Que Feliciano, o Curagay, não nos ouça! Senão vai querer curar, também, o meu pobre psitacídeo que atualmente anda meio fraco, numa dúvida atroz e retrós sobre sua transcendente masculinidade). Eu, hein? A verdade é que as periguetes-papagaietes andam em polvorosa lá por perto de casa. – Tá faltando papagaio no pedaço! – elas tarameleiam, em uníssono. Mas o Merelo mantém uma qualidade ímpar: sabe tratar bem as pessoas depois das duas horas da tarde. Por isso, imagino, nunca será confundido com um gafanhoto, um tubo de dentifrício ou uma folha de bananeira. Além do mais, dia desses, ele pronunciou uma frase ótima. Uma frase que pode resumir o mundo: – Circulando, circulando, circulando! É meio enigmática, concordo. Mas querem coisa mais enigmática do que esse negócio de papagaio falar? E não me perguntem de onde Merelo tirou essa filosofia... quem a ensinou, quem a soprou. Garanto: não fui eu. São mistérios de papagaio. Quem sabe, não foi uma alma penada (ou depenada) do outro mundo? Quem sabe, algum galo-cronista da vizinhança, no ofício de orientar galinhas desviadas de seu ofício de ovalar o mundo: o Mesmundo? Quem sabe, ainda, a te-


"Que Feliciano, o Curagay, não nos ouça! Senão vai querer curar também o meu pobre psitacídeo (...) que anda numa dúvida atroz sobre sua transcendente masculinidade "

levisão? O Merelo passa horas vendo programas noturnos por causa da insônia e da alma boêmia, de poeta. E tem preferências: os filmes eróticos das duas da madruga, nos canais pagos. E também aqueles documentários geográfico-naturebas do NatGeo ou do GNT. Estes lhe dão êxtase total quando, em cena, aparecem apetrechadas gaivotas da Patagônia, garças do Pantanal (que ele imagina: vestidas de noiva), cegonhas da Eslováquia e portentosas galinhas legorne, italianas legítimas, de Livorno. De todo modo, “Circulando, circulando, circulando!” é uma frase que nenhum cronista conseguiria produzir, por mais que tentasse relatar, descrever, interpretar, palpitar ou florear um fato, uma notícia ecológica. Cá entre nós, hoje em dia, não há nada de novo sob o sol a não ser o dia a dia, não é? E o que seria do sol, se não fosse o amarelo? Pensando bem, cada dia pode ser amarelo, ver-

loja virtual

melho, negro, branco, cinza ou azul. Depende das cores que a gente usa para pintá-lo. Ou repintá-lo. Ou apagá-lo definitivamente de nossas memórias. Como um papagaio verde que vai perdendo a cor, feito o Merelo. Na verdade: um papagaio de estimação que nunca existiu. Como o famoso Ecoiris, o papagaio-camaleão-furta-cor do mestre Guimarães Rosa – que também nunca existiu. Mesmo assim (e segundo estudiosos recentes da Linguística Diacrônica), dizem que ele falava várias línguas. Verdade ou mentira, Ecoiris deixou para a eternidade uma frase inesquecível, e que também resume o mundo: “A vida vai, mas vem vindo.” PS: Na próxima edição, mais sobre o papagaio de Van Gogh... e outros papagaios. O O PAPAGAIO DE VAN GOGH (Ed. Lê). Capa e ilustrações de Elvira Vigna. Site: www.le.com.br. Link: www.le.com.br/catalogo-interna/papagaio-van-gogh

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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

O CARAPIÁ QUE CHEGA

A

pesar do tempo andar um tanto descabeciado, este ano as chuvas deitaram na terra no tempo relativamente esperado, deixando o homem do campo mais confiante. Nessa época, o cerrado desvela alguns segredos medicinais que somente se manifestam após a chegada das primeiras águas no início da primavera. Nos espaços sombreados e mais úmidos das modestas formações florestais que compõem o cerrado, surge uma “milúscula” espécie medicinal, o Carapiá (Dorstenia brasiliensis). Em meio a uma tanteira de folhas secas caídas no recesso invernal, achar uma plantinha dessas carece de olhar treinado e experiente para identificar suas pequenas folhas semelhantes às da uva, ornadas por pequenos botões florais arredondados. De acordo com Chico da Mata, raizeiro experiente nessa e outras tarefas remedeiras, “o cabra caça e dá inté de pisá no remédio, mas num arrepara que ele tá ali mermo debaixo da bota”. Enquanto ele falava, diligentemente esparramava a folharada amontoada debaixo de um frondoso Jatobá na busca do Carapiá. “Essa prantinha milúscula desaparece na seca e só dá rebrota quando a terra é regada pelo divino.” Ele falava enquanto descia o pesado enxadão para retirar pequenos torrões da terra úmida, que depois de sacudidos deixavam a mostra esbranquiçadas raízes nanicas, cheias de nódulos. Na tentativa de ajudar, fui destorroando uma plantinha aqui, outra acolá e surpreso constatei que, aos poucos, minhas mãos iam ficando impregnadas de um aroma suave e adocicado. De imediato, a memória reconheceu o aroma, mas de onde seria? Somente bem depois é que associei com o cheiro das sementes de Imburana e do Guaco. No gosto do Chico, “ela tem serventia naquelas doradas de dente que deixa o cabra arretado! Tamém num fica prá traz na tratação de dor nas junta ou qualquer otra qualidade de dor. Inté criancinha que tá na brotação dos premero dentinho, as mãe faz o chá, moiá um pedacim de pano a toa e dá ao bacuri prá chupa. Aquilo acarma e desenfeza os bichim...” Dei de procurar por mais informações e vi que tra-

MARCOS GUIÃO

COM AS ÁGUAS

O CARAPIÁ para dor de dente, dor nas juntas e outras dores

dicionalmente o Carapiá também é utilizado junto com o Tayuiá como um potente “liga-osso” nos casos de fraturas. Outra particularidade é sua indicação em praticamente todos os tipos de problemas pulmonares, combatendo a febre por atuar como anti-inflamatório, além de ser um tônico e estimulante formidável. Até hoje ainda me pego surpreso por descobrir tantas indicações numa única planta. E o Carapiá é uma das mió que tá tendo. Inté a próxima lua! O SAIBA MAIS www.naturezadosertao.com.br (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais

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Av. Professor Mรกrio Werneck, 2.191, sala 104 | Buritis | BH MG |CEP: 30575-180 (31) 3225 8131 | syncstudio@syncstudio.com.br | www.syncstudio.com.br


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MEMÓRIA ILUMINADA PAUL MCCARTNEY

REPRODUÇÃO

A PRIMEIRA ESPOSA, Linda, influenciou Paul em sua jornada vegetariana

“ SE OS MATADOUROS TIVESSEM PAREDES DE VIDRO TODOS NÓS

SERÍAMOS VEGETARIANOS Alexandre Salum redacao@revistaecologico.com.br

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A INFLUÊNCIA DE LINDA A primeira esposa teve papel fundamental na carreira musical do ex-beatle e também no seu O EX-BEATLE e hoje ativista da Peta: “Eu não consigo mais comer carne”

envolvimento com a causa animal. Ambos se tornaram ícones da alimentação vegetariana e da defesa dos direitos dos animais. Ela escreveu vários livros de cozinha vegetariana e iniciou a Linda McCartney Foods, empresa especializada em alimentos vegetarianos e veganos. “Eu não conseguiria imaginar ninguém com menos tendência para ser uma mulher de negócios, e, no entanto, ela trabalhou incansavelmente pelos direitos dos animais e se tornou um magnata da indústria alimentícia. Quando lhe disseram que um concorrente copiara um dos produtos, tudo que Linda disse foi: ‘Ótimo, agora posso me aposentar’. Não era pelo dinheiro que fazia aquilo”, relata Paul no texto que distribuiu para imprensa, quatro dias depois da morte da esposa, em 21 de abril de 1998.

DIVULGAÇÃO/PETA

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lém de vegetariano convicto há mais de 30 anos, Sir James Paul McCartney – a maior lenda viva da música mundial – é um ativista sincero na defesa do meio ambiente e dos animais. Sua história ecológica começou no final dos anos 1970. Era um domingo, e ele estava com sua família para o almoço em sua propriedade inglesa em High Park. Esperavam ansiosos para degustar um suculento carneiro assado, quando olharam pela janela e viram ovelhas pastando. Conversa vai, conversa vem, a discussão cresceu e chegaram à conclusão que comer aquelas criaturas pacíficas era errado. “Simplesmente olhamos para aquele pernil de carneiro e nos demos conta de onde ele viera. Não conseguimos mais comer”, relatou, à época, Linda McCartney, sua primeira mulher. Mas há outra versão: Paul diz que estava pescando num lago, quando sentiu que havia pegado um peixe: “Enquanto puxava o pobre peixe, entendi que eu o estava matando, pelo simples prazer que isso me dava. Alguma coisa fez um clique dentro de mim. Entendi, enquanto olhava o peixe se debater para respirar, que a vida dele era tão importante para ele quanto a minha é para mim.” O interessante é que ambas as versões têm relatos registrados em vídeos pelo próprio Paul, que nunca se sentiu “um peixe fora dágua”, quando o assunto é comida vegetariana. Não importa. O ex-beatle admitiu que, quando criança, olhava as pessoas vegetarianas como fracotes, mas que hoje, com seu estilo de vida, atribui o ótimo estado físico, demonstrado em shows com até três horas de duração, à sua condição de vegetariano.

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MEMÓRIA ILUMINADA PAUL MCCARTNEY

REPRODUÇÃO/YOUTUBE

MUITAS E BOAS CAUSAS Cantor, compositor, baixista, guitarrista, pianista, baterista, empresário, produtor musical e cinematográfico, pintor e escritor, Paul continua usando a sua música como uma poderosa ferramenta de conscientização. Atualmente, está engajado em campanhas contra o uso de minas terrestres e exploração de petróleo no Ártico, além de disseminar pelo mundo os seguintes movimentos: “Meat Free Monday” (Segunda sem Carne); One Voice (Uma voz), em favor da paz entre israelenses e palestinos; Nordoff Robbins, projeto de terapia por meio da música; P.E.T.A. (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais); L.I.P.A. (Liverpool Instituto de Performance e Artes), que patrocina a educação musical; e Cruelty Internacional Free (Crueldade Gratuita Internacional), que trabalha para garantir a proibição de testes em animais para cosméticos na União Europeia. Além disso, ele contribui anonimamente com diversos projetos e realiza grandiosos concertos beneficentes. Mas essa preocupação com os problemas mundiais não é de hoje. Em 1989, Paul lançou o dis-

co “Flowers In The Dirt” ( Flores na Sujeira) em que dedica a música a “How Many People” (Quantas Pessoas) ao seringueiro e ativista Chico Mendes. Ele ficou sabendo do assassinato do ambientalista por meio de um documentário da BBC e de telejornais da TV inglesa, que deram grande destaque ao homicídio e fizeram reportagens contando sua trajetória como sindicalista e ambientalista. “Fiquei impressionado com a luta de Chico Mendes pela floresta Amazônica. Como não lamentar sua perda? Trabalhava sozinho, era casado...Teria sido mais fácil tocar sua vida e não se preocupar com a floresta,” disse Paul à época. SHOWS BATERAM RECORDE Um ano depois, o ex-beatle se apresentou pela primeira vez no Brasil com dois shows no Maracanã, sendo que, no último, estabeleceu um recorde de público no Guiness Book of Record – ainda não superado –de mais de 184 mil pessoas pagantes em um show de artista-solo. Depois, Paul voltou ao país mais quatro vezes, em 1993, 2010, 2012 e este ano, quando iniciou a turnê mundial “Out There” no dia quatro de maio no estádio Mineirão, em BH. Depois

se apresentou no dia seis no Serra Dourada, em Goiânia (GO), e encerrou a excursão brasileira no estádio Castelão, em Fortaleza (CE). Na apresentação na capital de Goiás, aconteceu uma inusitada manifestação – que pode ser interpretada como uma reverência holística da natureza ao seu protetor internacional: houve uma invasão de esperanças, (ou Louva-a-Deus, como preferem alguns) quando Paul começou a tocar a canção “My Valentine”. O músico se surpreendeu, mas com muito humor e, brincando o tempo todo, deu até um nome para o inseto: “Harold”. Após o show em Goiânia, Paul foi para um resort em Itacaré (BA), onde conheceu projetos sociais e ambientais. Entre eles, o Txaitaruga, que trata da conservação de 10 mil tartarugas marinhas. Também plantou uma muda da espécie Juerana, ameaçada de extinção. Aos 71 anos, Paul McCartney não para. Acabou de lançar o CD “New”, com músicas inéditas, e tem vários planos para o futuro. Decorridos mais de meio século do surgimento dos Beatles, ele ainda reina. Absoluto e ecológico.

PAUL MCCARTNEY com vários “Harolds” no estádio Serra Dourada, em Goiânia: a natureza presente

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ORLANDO G. DA SILVA

PECUÁRIA EXTENSIVA na Amazônia: desmatamento para formação ilegal de pastos

Projetos que Paul McCartney apoia

NORDOFF-ROBBINS MUSIC THERAPY Baseia-se no conhecimento de que todos - não importa o quão doentes, deficientes ou traumatizados estejam - podem responder à música. Assim, musicoterapeutas usam a arte para ajudar as pessoas. www.nordoff-robbins.org.uk

“QUE TAL SEGUNDA

SEM CARNE?” “Olá, meu nome é Paul McCartney. A ideia me ocorreu originalmente quando li o relatório da ONU, lançado em 2006 chamado “Livestock’s long shadow”(A Enorme Sombra do Gado). O estudo afirma que a indústria da pecuária é responsável por 18% dos gases de efeito estufa que experimentamos. Então, comecei a pensar o que poderíamos fazer em relação a isso. Passei a escrever cartas para pessoas, como chefes de Estado e a quem eu achava que teria influência sobre os jovens. Quando ouvi falar sobre o movimento “Segunda sem Carne”, que estava crescendo em diversas partes do mundo, pensei: ‘esta é a maneira perfeita, porque não diz às pessoas que devem virar vegetarianas’. Isso é difícil e, talvez , até as deixasse mais resistentes à ideia. O que essa campanha sugere é que, só por um dia na semana, você considere não comer carne. Acho

que todos estão cientes sobre as mudanças climáticas no planeta, e algo precisa ser feito em relação a isso. E essa é uma ideia acessível. Temos indicado às pessoas que não sabem o que cozinhar para substituir a carne o site “www.meatfreemondays.com” e o livro de receitas “The Meat Free Monday Cook Book”, escrito por mim e minhas filhas Stella e Mary. Talvez não ficar loucamente fissurado em carne e olhar para uma mudança na dieta aqui e ali, vai ajudar as pessoas, tanto quanto o planeta. Eu que tenho sido vegetariano por mais de 30 anos, vejo o valor disso. É também uma forma de fazermos algo pelas nossas crianças e semelhantes. Eles vão herdar o que deixarmos para eles. Apelo a todos. Ajudem-nos a espalhar essa ideia e faça uma diferença considerável para o futuro deste planeta. Obrigado.”

(Trecho de uma mensagem de Paul McCartney para divulgar a campanha “Segunda sem carne”, disponível no You Tube)

P.E.T.A Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais Com mais de 1,8 milhão de membros e simpatizantes, é a maior organização pelos direitos dos animais no mundo. A PETA centra sua atenção em quatro áreas: na mesa, em laboratórios, no comércio de vestuário e no entretenimento. www.peta.org

MOVIMENTO ONEVOICE Movimento popular de cidadãos israelenses, palestinos e apoiadores internacionais que estão fartos com o conflito no Oriente Médio. O que torna o movimento OneVoice único é que ele não pede para cada lado gostar um do outro, mas para reconhecerem a natureza e a necessidade de abordarem as preocupações de ambos. Saiba mais sobre o OneVoice em: www.onevoicemovement.org

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MEMÓRIA ILUMINADA PAUL MCCARTNEY

MEAT FREE MONDAY Meat Free Monday destaca como ficar sem carne pelo menos um dia por semana pode fazer uma enorme diferença para o planeta, a nossa saúde e até mesmo para nossos bolsos. www.meatfreemondays.com

Pensamentos verdes

● “Chico Mendes me pareceu um bom homem, um chefe de família, e nós sentimos muita simpatia. Quando alguém que estava tentando fazer o bem é morto, assassinado, isso é um choque para todos nós.” ● “Chico, pode me ouvir? Esta canção é para você, por tudo o que fez”. Paul, durante a gravação de “How many people”, em homenagem ao ativista

● “Eu ainda sou um sonhador – não na política, onde você tem que ser muito prático. E um sonhador para escrever canções e imaginar que o mundo poderia ser um bom planeta e não uma esfera irradiadora de resíduos nocivos.” VEGETARIAN SOCIETY A Sociedade Vegetariana trabalha para reduzir o sofrimento e ajudar a criar um mundo mais compassivo, incentivando, apoiando e persuadindo as pessoas a tornarem-se e manteremse vegetarianoas. Além disso, destaca os benefícios de uma dieta vegetariana para o meio ambiente, o bem-estar humano e o dos animais. www.vegsoc.org

JB ECOLÓGICO

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CHICO MENDES: o aviso que

o Brasil ainda não ouviu ● “Pode parecer um pouco estranho para alguns, mas no futuro o natal vegetariano será considerado normal. Vai se tornar uma nova tradição. Muitas pessoas estão mudando seus hábitos alimentares por compaixão e outras por causa da saúde. Com tantas ‘carnes’ vegetarianas no mercado hoje em dia, não há necessidade de comer peru. Pode-se comer coisas com a mesma aparência no prato sem matar animais. Hoje isso é mais fácil do que nunca.”

● “O ato individual mais eficaz que uma pessoa pode realizar para reduzir os efeitos do aquecimento global é tornar-se vegetariana.”

REPRODUÇÃO

● “Eu não iria me apresentar na China, depois de assistir a sua matança de cães e gatos para tirar peles, da mesma forma que jamais iria a um país que apoiasse o Apartheid.”

LIVERPOOL INSTITUTE OF PERFORMING ARTS LIPA é uma universidade de alto nível de desempenho, que combina inovação técnica, consciência do negócio, compreensão e desenvolvimento intelectual. O objetivo é treinar as pessoas apaixonadas pelas artes e entretenimento para uma carreira sustentada. Os alunos são qualificados em diferentes áreas e, ao mesmo tempo, tornam-se especialistas na disciplina escolhida. www.lipa.ac.uk ANIMAL É PREPARADO para o “Festival de Comida de Cachorro”, na China 112 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013

FONTES: WWW.PAULMCCARTNEY.COM , FAB - A INTIMIDADE DE PAUL MCCARTNEY – HOWARD SOUNES – ED. BEST SELLER LTDA. 2011, MANY YEARS FROM NOW, BARRY MILES- ED. DBA


Uma nova Lagoa está nascendo.

nova Pampulha também.

E uma

Equipamentos de última geração, com tecnologia alemã, já começaram o processo de desassoreamento da Lagoa.

Revitalização da pista de caminhada.

Recapeamento de 18 km de vias na orla.

Nova sinalização turística.

A Pampulha está completando 70 anos e a Prefeitura de Belo Horizonte está dando um grande passo rumo à tão sonhada limpeza e despoluição da Lagoa. Já começaram os trabalhos de desassoreamento da Lagoa. Serão retirados aproximadamente 800 mil metros cúbicos de sedimentos. A previsão é de que, até maio do próximo ano, o serviço esteja concluído, com um investimento de mais de 100 milhões de reais. Mas não é só isso. A Pampulha está ganhando também uma nova iluminação na sua orla, nova ciclovia, pista de caminhada revitalizada, patrimônios restaurados, sinalização turística e novas atrações, como a Casa Kubitschek, recentemente inaugurada. Um dos mais belos cartões-postais de Belo Horizonte está ganhando uma nova vida e vai ser candidato a Patrimônio Cultural da Humanidade. Pampulha. Pode se orgulhar.


1 ENSAIO FOTOGRAFICO

BICHOS URBANOS Fernanda Mann

redacao@revistaecologico.com.br

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inda que passem muitas vezes despercebidos, eles estão por toda parte, no alto dos prédios, atrás da porta, na janela, no muro, nos fios de luz, nas ruas, carregando sementes, cuidando de seus filhotes, prestando a todos nós seus “serviços ambientais”. Não se pode negar: mesmo no asfalto dos centros urbanos, os animais fazem parte de nossas vidas e compartilham conosco as mesmas necessidades de sobrevivência. Precisam de ar puro, água limpa e um clima ameno para viver. Esta é uma homenagem da ECOLÓGICO para eles, que colorem nossas cidades e nos lembram da natureza que estamos perdendo, mas ainda podemos salvar.

ARRANHA-CÉUS, arranha aves


FOTOS: FERNANDA MANN LUIZ RICARDO BREDA

GATO PRETO em Glastonbury, Inglaterra

MORADOR DA FUNDAÇÃO Zoo-Botânica de BH

CAPIVARA VIZINHA, na Marginal Pinheiros, em São Paulo

OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O XXX


1 ENSAIO FOTOGRAFICO

MARCELO PRATES

MIMETIZANDO NO RÓTULO: besouro se camufla na embalagem

O JACARÉ DA PAMPULHA, em BH, espia por entre as algas e a poluição medonha 116 O ECOLÓGICO | NOVEMBRO DE 2013


FOTOS: FERNANDA MANN

SEM GRILOS: casal namora em um jardim no condomínio Retiro das Pedras, em Nova Lima (MG)

CABRA EM ENTULHO no Aglomerado da Serra, em BH

NINHO IMPROVISADO: Andorinhas nascem no buraco do muro na Revista ECOLÓGICO

IMITA MOITINHA: lagarta surpreendente

OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O XXX


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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

CONQUISTE A PAZ E

stamos presenciando o envolvimento cada vez mais constante de jovens em cenas de vandalismo intenso. Isso nos faz sentir a necessidade de fazer uma pequena reflexão sobre o tema. Desde sua origem, o ser humano traz em si estas dualidades irreconciliáveis: bem e mal, amor e ódio. Uma criança morde o peito da mãe não é somente pela fome, mas, depois de saciada, também pelo desejo nascente de agredir. Ao identificar o bem e o mal no mundo, uma cultura tanto pode incentivar ou inibir essas tendências. Como o ser humano tem uma grande atração pelo infortúnio ou pelo prazer de ver a miséria dos outros, uma grande parte da mídia, em busca de audiência, ainda incentiva mais essa nefasta tendência. Qualquer desastre com muitas mortes, por exemplo, é explorado até a exaustão durante meses. Como não custa repetir, a boa notícia continua sendo a má notícia. Há um gozo fatídico em falar da morte ou daquilo que não dá certo. Thánatos se vangloria diante de Eros. Banaliza-se o mal fazendo da violência uma coisa corriqueira. É urgente descobrir em cada um de nós as razões de tanta violência, constatar que é uma justificativa mentirosa dizer que violento é sempre o outro. É salutar fazermos a nós mesmos perguntas do tipo: com que tom de voz respondo a minha parceira, como é meu comportamento no trânsito, sou capaz de dizer “não” sem culpa ou “desculpa” para os meus filhos, tenho coragem de falar das minhas certezas, sou mesmo um pai presente, eu sou gentil comigo, com meus amigos e meus empregados? Algumas respostas a essas questões podem nos ajudar a ver que precisamos nos pacificar primeiro para depois ajudarmos os outros a serem pacíficos. Um dos grandes desafios da educação hoje é contro-

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lar a força desagregadora do desejo utilizando o poder formador dos limites e das regras de conduta. Infelizmente, são poucas as instituições pedagógicas que se preocupam com a formação ética do educando. Outro problema é que lidamos no cotidiano com um conceito errôneo de liberdade, que é entendido como aquele em que a gente pode fazer tudo o que se quer. Ora, liberdade não é fazer o que se quer (desejo), mas fazer o que se deve (valores). Liberdade é opção de escolha, e escolher é delimitar, alcançar, conquistar, mas também renunciar: escolho isso e não aquilo. Não existe amor sem renúncia, crescimento sem dificuldade ou escolha sem limitação. O amor à natureza, por exemplo, nos obriga a renunciar ao máximo aos desmatamentos, ao uso indevido de agrotóxicos e ao cômodo despejo de poluentes nos rios. É assumindo essas limitações que podemos ter uma vida mais saudável e coerente com nossos valores ecológicos. Concluindo, podemos afirmar que a conquista da paz está diretamente ligada à consciência da necessidade de nossos limites. São eles que fundamentam os valores e as normas que irão facilitar a criação de uma sociedade bem mais pacífica, em que uma boa notícia possa ser realmente divulgada e usufruída com prazer. Sem o cultivo desses valores de convivência, de contenção e de respeito à natureza, fica mais fácil para as pessoas, principalmente as mais jovens, serem atraídas pelo espetáculo colorido dos desejos consumistas e pela vontade narcísica de querer tudo e de ser tudo. Sem limites e nada feliz. O (*) Ambientalista e professor de filosofia da PUC Minas


SUSTENTABILIDADE. PARA A VALLOUREC, UMA ATITUDE QUE VAI ALÉM DO MEIO AMBIENTE. vallourec.com/br

A Vallourec produz tubos de aço sem costura com a energia proveniente de florestas plantadas, uma fonte renovável. Por isso, nossos tubos são conhecidos como Tubos Verdes. Mas nossa atuação sustentável também chega ao social com vários projetos socioculturais nas regiões de atuação da empresa. Além disso, a Vallourec entregou à cidade o Cine Theatro Brasil Vallourec, um espaço de cultura e arte para todos os mineiros. Cuidar do meio ambiente, auxiliar a sociedade, preservar o patrimônio público e resgatar a cultura. Para nós, isso é sustentabilidade. A Vallourec é líder na produção de tubos de aço sem costura no país e abastece a indústria petrolífera e os setores de energia, industrial, automotivo e construção civil. Vallourec. A solução para grandes desafios.



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