ANO 7 - Nº 75 - 06 DE NOVEMBRO DE 2014 - R$ 12,50
- Toda lua cheia
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XÔ, MORTE SEVERINA! ANO 7 - Nº 75 - 06 DE NOVEMBRO 2014 RevEco_Nov14_001 quinta-feira, 30 de outubro de 2014 11:51:53
EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA
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EXPEDIENTE
FOTO: ALFEU TRANCOSO
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Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Pedro Borrego, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais, Déa Januzzi e Vinícius Carvalho
REVISÃO Gustavo Abreu
ASSINATURA Alessandra Cristina alessandra.cristina@souecologico.com
CAPA Arte: Sanakan | Foto: Michel Gunther/ WWF-Canon
IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com
DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com Representante Comercial Brasília IBIS Comunicação ivone@ibiscomunicacao.com.br
REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br
Representante Comercial Rio de Janeiro Tráfego Publicidade comercial@trafegopublicidade.com.br
VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br
Assistente Comercial Silmara Belinelo silmara@souecologico.com
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MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com
EDITORIA DE ARTE André Firmino e Marcos Takamatsu COLUNISTAS Alfeu Trancoso, Andréa Zenóbio Gunneng, Antonio Barreto, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza
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Selo SFC
EMISSÕES CONTABILIZADAS
DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com
souecologico ecologico
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ÍNDICE
A AGONIA DO SÃO FRANCISCO
NA MATÉRIA DE CAPA DESTA EDIÇÃO, MOSTRAREMOS A DEGRADAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, ALÉM DOS IMPACTOS HUMANOS, SOCIAIS, ECONÔMICOS E AMBIENTAIS CASO ELE SE TORNE UM CURSO D’ÁGUA INTERMITENTE OU SECO.
20 PÁGINAS VERDES ENTREVISTA COM PAULO NOGUEIRA-NETO, O GRANDE HOMENAGEADO DO V PRÊMIO HUGO WERNECK
Pág.
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E mais... IMAGEM DO MÊS 10 CARTA DO EDITOR 12 ANIVERSÁRIO 14 CARTAS DOS LEITORES 16 ECONECTADO 18 SOU ECOLÓGICO 24 GENTE ECOLÓGICA 26 RECURSOS HÍDRICOS 38
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ECOLÓGICO NAS ESCOLAS NA TERCEIRA E ÚLTIMA REPORTAGEM DA SÉRIE “A ORIGEM DA VIDA”, O NASCIMENTO DA FOTOSSÍNTESE E AS GRANDES EXTINÇÕES NO PLANETA
CÉU DE BRASÍLIA 42 SETOR MINERÁRIO 44 GESTÃO & TI 56 PERFIL 60 ESTADO DE ALERTA 64 PRESERVAÇÃO 66 NATUREZA MEDICINAL 70 OLHAR INTERIOR 78 CORAÇÃO DA TERRA 80 NOS PORÕES DO RETROCESSO (IV) 82 MODA 84
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ENSAIO FOTOGRÁFICO A FRÁGIL EXUBERÂNCIA DA MATA ATLÂNTICA BRASILEIRA PELAS LENTES DO FOTÓGRAFO ANTONIO WUO
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OLHAR POÉTICO 88 EMPRESA & MEIO AMBIENTE 90 VOCÊ SABIA? 96 RESPONSABILIDADE SOCIAL 98 AS MUITAS MINAS NO MUSEU (10) 100 CÉU DO MUNDO 104 MEMÓRIA ILUMINADA 106 CONVERSAMENTOS 114
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IMAGEM DO MÊS
FOTO: ALFEU TRANCOSO
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DE VOLTA PRA CASA Helicóptero do Programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (PrevIncêndio), do governo estadual, retorna à sua base, em Curvelo, após mais um dia de intenso trabalho no início de outubro. No mês passado, dois brigadistas morreram ao tentar debelar as chamas de um incêndio criminoso na Serra de Carrancas, no sul de Minas.
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CARTA DO EDITOR
HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com
O DIA MAIS
TRISTE DO ANO
A QUESTÃO ambiental, é uma pena, ainda não faz parte da cartilha de Lula e Dilma. Aécio se esqueceu da natureza que sempre votou nele em Minas. Já Marina optou pelo silêncio acriano, quando poderia ter mudado o rumo das eleições. E a Natureza que, mesmo desmatada, não foi votada? Azar nosso, como diz Carlos Nobre, pesquisador do Inpe: “Ela sabe contar árvores, não esquece nem perdoa”
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FOTO: LUCIANO SOUZA
omo na canção “Oceano”, de Djavan, assim que o domingo da reeleição de Dilma amanheceu, deu pra ver o tempo ruir, mesmo voltando a chover em todo o Sudeste brasileiro. Nem ela, nem Aécio, muito menos Marina ou governador algum da secura da Cantareira às montanhas de Minas, se perguntou na hora de votar: - Cadê você, natureza? Que solidão! Foi uma solidão mesmo, o dia mais triste do ano, apesar de molhado. Desmedidos, esquecemos todos, eleitos e eleitores, de tudo que há de natural na Terra. Que não há nada, em lugar nenhum, que possa crescer sem a chuva voltar a cair. A natureza, coitada - pegando fogo e vendo seus rios secarem, como o Velho Chico, que é o tema da matéria de capa desta edição da Ecológico -, se viu como um deserto e seus temores. Nem uma declaração política, eleitoreira que fosse, dos candidatos fez livrá-la momentaneamente do aquecimento climático. Em forma de uma mãe pátria, que ama incondicionalmente até quem coloca fogo em suas matas e seca suas nascentes, a natureza que nos resta chegou a nos dizer, nas bocas de urna indecisas: - Se não sabe em quem votar, me dá teu calor! Não havia em quem votar naquele fatídico domingo. Nem Dilma, nem Aécio, nem Marina lembraram que lutar pela defesa da natureza é quase uma dor, sim, mas é esta a sua subversão. A subversão política do amor, que é o outro nome da sustentabilidade, uma das 10 palavras mais acessadas hoje no Google: sermos economicamente viáveis, ambientalmente corretos e socialmente mais justos. Nenhum deles se sensibilizou com o clamor público, nordestino, mineiro, paulistano e acriano, acima de todos os partidos, que ocorria no país quase inteiro pela falta de chuvas nos reservatórios e água nas torneiras das casas. Tanto eleitor, gente simples, chorando que nem criança pela água que não corria mais pelos rios de suas infâncias. Quantos brasileiros apareceram na televisão dizendo “me
dá uma dor no peito ver este rio seco, a plantação amarela, os bois morrendo, tudo se entristecendo em fumaça...”. Nada disso sensibilizou os candidatos. Dilma fez ouvidos moucos ao desmatamento que seu governo ainda permite triplicar na Amazônia, mesmo Lula tendo sido companheiro de Chico Mendes. Aécio caiu na cilada dos repetitivos temas “segurança”, “saúde” e “educação”. Mesmo tendo os ambientalistas a tiracolo, ele se esqueceu de convocar a população brasileira para defender a causa da segurança hídrica, da sustentabilidade econômica, ecológica e social. Muito menos a causa da educação ambiental, cujos votos a mais de professores, pais e alunos já sensibilizados poderiam ter feito a diferença. Além de necessária e vital, existe causa mais simpática, apartidária e amorosa hoje do que falar O VELHO CHICO e sua seca e defender a natureza? histórica em Pirapora: Algum eleitor, em sã ainda sem emocionar a consciência, é contra agenda política brasileira votar nela? Votar pelos nossos azuis, verdes e amarelos que se desbotam? Pela biodiversidade, a maior do planeta, que ainda temos? Nem Marina, em cima da árvore, se lembrou disso. Sem ou com Aécio, ela também deixou de convocar os eleitores para um mutirão cívico, toda a população brasileira a reflorestar o país, replantar as matas ciliares dos nossos rios, valorizar os comitês de bacia, economizar água, salvar as veredas e o grande sertão que o país está virando. Impressionante, ela não falou nada. Ainda (des)ensinou o que havíamos aprendido com ela na luta ambiental: sermos convictos naquilo que acreditamos. E que não existe causa maior que esta. Foi por isso que choveu naquele domingo triste. Chuva de dor, por tudo isso, quando as urnas, no mais profundo de suas expectativas, queriam tão somente o nosso amor natural. Vida que segue, na cela dessas dores. Boa leitura, nesta nossa edição especial de sexto aniversário! Até a lua cheia de novembro e ao V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza!
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1 ANIVERSÁRIO
A LUZ QUE ILUMINA
O BRASIL Revista Ecológico entra em seu sétimo ano de publicação consolidando-se como a mais respeitada publicação sobre meio ambiente do país Luciano Lopes
redacao@revistaecologico.com.br
A
cada lua cheia, a esperança se renova. Vinte e seis mil exemplares da Revista Ecológico chegam às mãos de autoridades, professores, ambientalistas e assinantes Brasil afora, trazendo reportagens informativas e marcantes. Conhecida pelo tom amoroso de suas reportagens, sem deixar de denunciar, ao mesmo tempo, a degradação dos recursos naturais, a revista teve sua primeira edição veiculada em novembro de 2008. Até hoje, mais de 1,3 milhão de exemplares já foram distribuídos em todo o país. A ideia de criar uma publicação de Minas para o Brasil surgiu bem antes de seu lançamento. A revista é, na verdade, uma evolução do suplemento “Estado Ecológico”, publicado entre 1992 e 2001 no jornal Estado de Minas; e da “Re-
vista JB Ecológico”, do Jornal do Brasil, distribuída nacionalmente entre 2002 e 2010. Nesse tempo de estrada, crescemos e evoluímos com nosso público – de todas as idades e formações. Na internet, reforçamos a nossa presença nas redes sociais e isso se traduz em números: temos mais de 10 mil seguidores no Facebook, quase mil no Twitter e outros 360 mil no Google+, que também geraram mais de 10 milhões de visualizações. Um breve passeio à nossa história nos faz recordar muitos momentos importantes, em que a luta pela defesa do meio ambiente e a reverência à sua beleza e onipotência transfiguraram-se pelo poder das palavras: em 2008, denunciamos o avanço insustentável da indústria de fertilizantes, que enche de veneno os nossos ali-
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mentos. Em 2009, viajamos para o coração da Serra do Espinhaço e a série especial sobre a jornada evolutiva da humanidade se tornou um sucesso editorial. Em 2010, o lançamento do Prêmio Hugo Werneck, em homenagem ao nosso ambientalista maior, e os desafios da mineração em meio à economia mundial em crise. Um ano depois, debatemos o impacto da expansão urbana e da explosão imobiliária, que devorou mais florestas e poluiu nossas águas. Quando 2012 chegou, foi a vez de nos decepcionarmos com a Rio+20, a conferência internacional em que, novamente, os países não chegaram a um acordo climático. E, por fim, 2013 e 2014, em que encabeçamos um movimento pela preservação dos biomas brasileiros, mostramos centenas de ambientalistas as-
sassinados pelo país, por lutarem apenas por uma natureza sem machados e motosserras, sem tráfico de animais e plantas, e pelo uso consciente dos recursos naturais. E fomos além, tratando dos mais variados assuntos. Nesses últimos seis anos, o meio ambiente colheu poucas conquistas e mais derrotas. Mas como o filho que não foge à luta, não esmorecemos. O que continua e nos move é a esperança e a sustentabilidade em nossos corações e mentes. É a companhia de nossos leitores, a orientação saudável de nossos conselheiros. E a parceria de tantas empresas que nos ajudam a manter o sonho de levar informação ambiental e conscientização a um público cada dia mais carente de natureza. Que venham outros seis anos!
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CARTAS DOS LEITORES
l HOSPÍCIO NUNCA MAIS! “Agora, os pacientes de Barbacena estão sem espaço público decente. O país que não trata da emoção, perde a razão. Logo, não tem a menor chance de desenvolvimento.” Mônica Mendes, via Google+ l ESTADO DE ALERTA – EM QUE PLANETA ELES VIVEM? “Nárnia?! Os candidatos à presidência vivem no reino da fantasia mesmo.” Jaime Maia, via Google+ “Um planeta chamado Brasil, onde se fecha os olhos para tudo: educação, saúde e desenvolvimento. E a cada quatro anos eles fazem novas aparições para os terráqueos eleitores!” Liana Carneiro, via Facebook l CORAÇÃO DA TERRA – TESTAMENTO VITAL “Eu, se soubesse escrever, escreveria esta carta, tal e qual, para minha filha. Desculpe, filha, não sei cozinhar. Nem escrever. Isso é coisa para Déa Januzzi.” Odette Castro, via site l CÚPULA DO CLIMA - POR QUE O BRASIL NÃO ASSINOU? “Medo do novo, mesmo que seja em defesa da vida. É incrível! É muito atrasado!” Paulo Coutinho, via Facebook l LEONARDO DICAPRIO - O MENSAGEIRO DA NATUREZA “Isso aí! Parabéns, Leonardo DiCaprio! Ajudando o meio ambiente, tua beleza será ainda mais viva!” Maria Pilar Arantes, via Facebook l PROTEÇÃO URGENTE! “Quantos animais já foram extintos, sem que ninguém perceba? Já que, quando existe um certo grupo de animais, existem também variações dessa espécie. Por exemplo: no caso dos tigres, existe o de bengala, o de sumatra, o siberiano e o branco. Será que ainda estão todos vivos?” Dimas J. de Oliveira, via Google+ l A CURA DO LIXO HOSPITALAR “Estou orgulhosa dos idealizadores mineiros deste incrível projeto de tratamento de resíduos. Gente da nossa querida Minas Gerais. Parabéns!” Josely Cimini, via Google+
l CONVERSAMENTOS – A CONCEPÇÃO ECOCÊNTRICA “O texto da coluna está lindíssimo, breve e bem conduzido. Meus parabéns ao professor Alfeu Trancoso! Ele nos faz pensar se já não é hora de descer do topo da pirâmide e dar espaço ao que reclama o seu lugar.” Michelle Siqueira, via Facebook l ÁGUA “Está faltando água em tudo o que é canto. Aqui em Alagoa (MG), que é uma terra de mananciais, estou estarrecido por ver nascentes diminuindo e secando. Antigamente, falávamos ‘economiza que a água pode acabar!’ Agora o mote tem de mudar: ‘economiza, pois já está acabando!’” Osvaldo Filho, via Facebook l CUMPRIMENTOS “Parabéns pelo trabalho de vocês! Revista informativa e importante para todos!” Everson Tuan, via Facebook “Já utilizei a Revista Ecológico para trabalhos escolares de meus filhos e acho o conteúdo muito importante e conscientizador!” Luciane Gomes, via e-mail
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ANUNC
FA L E C O N O S C O
Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
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EU ASSINO “Assino a Revista Ecológico para que tenhamos um mundo melhor, sustentável, com qualidade de vida para as atuais e futuras gerações. Já não basta apenas fazer sua parte, é imperativo influenciar outras pessoas, a família, a comunidade em que vivemos e aquelas com as quais interagimos. Para atingirmos esse objetivo é fundamental que tenhamos informações atualizadas, com qualidade, discernimento, análise crítica e credibilidade. Onde encontrar tudo isso em um mundo absurdamente globalizado, sugerindo às pessoas que os problemas ambientais não são nossos e sim coisa de governos? Assinando a Revista Ecológico.”
ARQUIVO PESSOAL
“Acompanho pela imprensa, há muito tempo, a trajetória da Ecológico a cumprir a inigualável tarefa do bem em favor do nosso lar - o planeta Terra. Acompanho, também, a missão de seus notáveis colaboradores, vocacionados e apaixonados pela causa universal da sustentabilidade. E, de modo especial, pelo saudoso e notável professor Hugo Werneck. Na pessoa do editor Hiram Firmino, foco meus sinceros ecônomos pela obra que vem desenvolvendo em favor de todos nós que ainda, dolosa ou culposamente, desconhecemos a enorme luta, diária e incansável, em prol da existência em quaisquer níveis e setores, para preservar todo e qualquer tipo de vida planetária.” Dr. Jadir Silva, juiz de 2º Grau da Magistratura Civil da Justiça Militar de Minas Gerais
Alison Coutinho, ex-superintendente do Ibama e atual diretor da Sempre Viva Consultoria Ambiental
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ECONECTADO
CRISTIANE MENDONÇA
ECO LINKS
FOTO: PAULO CHAFFIN
l “A divulgação
ambiental é a alma do negócio sustentável. Se o povo não sabe, não conhece e também não compra!” @BernaVilmar - Vilmar Berna, ambientalista
l “Para uma cidade mais sustentável: menos
carros, mais espaços para as pessoas.” @rubensborn - Rubens Harry Born, ex-coordenador da Vitae Civilis
l “Próximos governos
vão precisar de conservadorismo nas finanças, reformas na economia e ousadia na educação, ciência e tecnologia.” @Sen_Cristovam Cristovam Buarque, senador
FOTO: GERALDO MAGELA / AGÊNCIA ESTADO
l “A contagem regressiva para a extinção de elefantes e rinocerontes já começou! Vamos todos lutar por essas incríveis espécies do planeta!” @giseleofficial - Gisele Bündchen, modelo l “O crescimento econômico por si só não melhorará o bem-estar da população idosa!” @jorgemarfelix - Jorge Felix, escritor
CIDADANIA Em tempos de discussão sobre o futuro das cidades, um movimento chamado “Serviços Gerais” vem ganhando força em São Paulo. A iniciativa criada pelo artista plástico Rodrigo Machado, com os cineastas Filipe Machado e Gustavo McNair, propõe que as pessoas cuidem dos espaços públicos. Munidos de uma caixa de ferramentas, eles saem às ruas para realizar pequenos concertos, como pintar faixas de pedestres, reformar ladrilhos e reformar placas de sinalização. Todas as ações são filmadas por eles e postadas na página: www.servicosgerais.tumblr.com. Vale a pena conferir o trabalho e a reação de quem passa pelas ruas! E-BOOK Visitar a Serra do Mar, entre os estados de Rio de Janeiro e Santa Catarina, e se aproximar das aves que a habitam, ouvindo o som e admirando a peculiaridade de cada uma delas, sem sair de casa. Essa é a proposta do livro virtual “Aves da Serra do Mar”, que traz informações, vídeos e imagens de 40 aves nativas da Mata Atlântica, monitoradas ao longo de seis meses por um grupo de biólogos. O download da obra pode ser feito, de forma gratuita, em uma livraria on-line para os sistemas IOS e Android, tanto na Apple Store quanto no Google Play. Existe também a versão para computadores de mesa no link: http://goo.gl/e7J4wD. Vale a pena ler! FOTO: DIVULGAÇÃO
TWITTANDO
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l “Paz é mais do que a ausência de
l “Salve os nossos protetores, as
forças positivas da natureza, as boas influências do invisível, as energias que nos alegram e protegem em vida.” @vanessadamata - Vanessa da Mata, cantora
l “Brasil é o sexto país mais atrativo
para investimentos em geração eólica.” @Tolmasquim - Mauricio Tolmasquim, doutor em Física
MAIS ACESSADA COMER BEM Ansiedade não é só um problema ocasionado pela vida moderna. Mas, também proveniente do tipo de alimentação que escolhemos. Essa é a afirmação feita pelo médico psiquiatra Marcelo Caixeta, que aborda o assunto na matéria “Dez alimentos que combatem a ansiedade”. O texto, mais acessado no site da Ecológico em outubro, lista alimentos fáceis de serem encontrados nos supermercados e que podem fazer diferença no nosso humor e na nossa saúde. Confira: http://goo.gl/3laltR FOTO: LOGGA WIGGLER / PIXABAY
guerras. Educação é chave. Precisamos de Malala Yousafzay, uma moça de 17 anos para nos explicar isso.” @msantoro1978 - Maurício Santoro, cientista social
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PAGUE SUA DÍVIDA COM DESCONTO E AJUDE A PREFEITURA A FAZER MUITO MAIS POR VOCÊ E PELA CIDADE.
A Prefeitura de Belo Horizonte está lançando um programa para você que tem débitos com o município vencidos até 31 de dezembro de 2013. Esta é a sua chance de regularizar suas dívidas com até 90% de desconto nas multas e juros. A Prefeitura está fazendo muito pela cidade. E, com a sua contribuição, BH pode se tornar um lugar cada vez melhor para nossos moradores e para os turistas que nos visitam.
Não para de trabalhar por você.
NOVO MIRANTE DO MANGABEIRAS
PAMPULHA – CANDIDATA A PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE
CIDADE ONDE A CULTURA GANHA VIDA
Depois de ser reformado, o Mirante do Mangabeiras, que já tinha a mais bela vista da cidade, do Parque das Mangabeiras e da Serra do Curral, agora tem a melhor estrutura.
A orla da Pampulha está com nova iluminação, nova ciclovia, nova pista de caminhada e o trabalho de limpeza e despoluição da lagoa continua.
BH está vivendo o seu melhor momento cultural. A 2ª edição da Virada Cultural, um circuito com 24 horas de programação, atraiu um público de 400 mil pessoas.
MAIS PARQUES E PRAÇAS
NOVOS ESPAÇOS CULTURAIS
ZOO DE BH
Nossa cidade possui 60 parques municipais abertos ao público. O Parque das Mangabeiras foi classificado em recente enquete como um dos 10 melhores parques do Brasil.
A Prefeitura acaba de restaurar 3 importantes espaços culturais da cidade. Os Teatros Francisco Nunes e Marília estão novamente recebendo espetáculos. A Casa Kubitschek foi inaugurada com o conceito casa-museu.
Entre os 3 mil animais espalhados pela imensa área verde, estão os primeiros filhotes de gorila nascidos na América do Sul. O zoo da cidade está entre os mais completos da América Latina.
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PÁGINAS VERDES
FOTO: ELZA FIÚZA / ABR
“AMAR O PRÓXIMO É AMAR A NATUREZA” Hiram Firmino
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rimeira autoridade oficial em meio ambiente no Brasil, até pouco tempo ele também era o mais assíduo participante, em Brasília, das reuniões do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão que ajudou a criar. Aos 92 anos, o paulistano Paulo Nogueira-Neto segue colhendo reconhecimentos por ter semeado a vida inteira boas lições de convivência e medidas pioneiras de proteção ambiental. De 1974 a 1986, período que ele esteve à frente da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema) – embrião do atual Ministério do Meio Ambiente –, o Brasil ganhou, em pleno regime militar, 26 Unidades de Conservação, sob a forma de parques, reservas e estações ecológicas. Com dificuldades de locomoção, mas completamente lúcido e bem-humorado, ele recebeu a reportagem da Ecológico em sua casa, na capital paulista. Relembrou desafios, enumerou avanços e comemorou a sua escolha como o homenageado do V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza, por seu legado político e ambiental. Confira:
O senhor foi indicado pela ministra Izabella Teixeira como o principal homenageado da quinta edição do Prêmio Hugo Werneck, que será entregue este mês, em Belo Horizonte. Como se sente diante de mais esse reconhecimento? Fico muito agradecido e honrado, porque sempre tive bons contatos em Minas. Esse prêmio representa muito para mim, porque conheci Hugo Werneck, fomos companheiros de causa. Além disso, meus antepassados da família Nogueira eram de Baependi, no Sul de Minas. No momento, não tenho feito muitas viagens, mas espero poder comparecer à cerimônia de premiação. Este ano, o Cerrado será o tema do Prêmio, evocando o sertão de Guimarães Rosa, as veredas, os buritis e a água. Certa vez, Dr. Hugo questionou: ‘Quanto vale a sombra de um buriti?’. Em sua opinião, quanto ela vale? A resposta é muito fácil: ela não tem preço. O buriti é típico de locais onde há água, e a gestão dos recursos hídricos é um dos maiores desafios que estamos enfrentando atualmente. O maior exem-
PAULO: “Por mais que o homem avance em sua capacidade de explorar a natureza, ele tem de reconhecer os benefícios incomensuráveis que ela lhe presta”
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PA U LO N O G U E I R A - N E TO
Primeiro ministro de Meio Ambiente do Brasil
“Quanto vale a sombra de um buriti? Muito fácil. Não tem preço.”
FOTO: THIAGO FERNANDES
plo é a “guerra da água” entre São Paulo e Rio de Janeiro. Qual é a sua visão sobre esse impasse? Parte dessa briga se deve ao desvio de rios que nascem em Minas, como o Jaguari, para alimentar o Sistema Cantareira, que abastece várias cidades paulistas. Uma prática que foi adotada no passado, por ser considerada mais econômica, e que hoje se mostra insustentável. Acredito que SP, ao contrário do Rio – cuja água do Paraíba do Sul é absolutamente essencial ao seu abastecimento –, tem outras opções, entre elas o Rio Ribeira do Iguape, cuja água é usada em parte para a geração de energia e depois, lançada ao mar. No livro “Uma Trajetória Ambientalista – Diário de Paulo Nogueira-Neto”, o senhor descreve a descoberta de um
imenso buritizal, em plena Amazônia. Como se deu isso? Acredito que seja uma das maiores, senão a maior floresta de palmeiras do mundo. Eu costumava sobrevoar a região amazônica para identificar as melhores áreas a serem preservadas. Fiz inúmeras viagens em monomotores, que me renderam histórias pitorescas e também alguns sustos... Por problemas nos aviões? Sim. Viajávamos em aviões pequenos usados por garimpeiros. Um deles tinha a porta amarrada com arame. Certa vez, pouco depois de deixarmos Manaus, o motor começou a falhar em pleno ar. Sugeri ao piloto retornarmos, mas ele me tranquilizou, dizendo: “Doutor, o motor é assim mesmo, ele dá umas falhadinhas” (risos). Era uma aventura. Eu pedia ao piloto que se aproximasse mais e mais da floresta, em rasantes, e
QUEM É
ELE
Nascido em 18 de abril de 1922, Paulo Nogueira-Neto formouse em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Influenciado pelo avô e depois pelo sogro, interessou-se pela natureza, em especial pelas abelhas indígenas sem ferrão. Estudou história natural e se especializou no comportamento de aves. É professor-emérito do Instituto de Biologia da USP, presidente-emérito do WWFBrasil, integrante da ONG SOS Mata Atlântica e de outras instituições ambientais.
meus companheiros de voo chegavam a ficar mareados. Foi num desses sobrevoos que descobri o buritizal (depois preservado com a criação da Estação Ecológica Jutaí-Solimões). Sentia enorme prazer em fazer isso.
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PÁGINAS VERDES
Houve resistência diante da aprovação dessas leis? Representantes da indústria tentaram acabar com o Conama. Chegaram a criar o Conselho Superior do Meio Ambiente, mas ele nunca foi instituído. Naquele tempo, a maioria dos integrantes das altas esferas, tanto públicas quanto privadas, era contrária ao meio ambiente. Mas ninguém tinha coragem de assumir isso publicamente. O pessoal da indústria, em especial, considerava que estávamos destinando ao meio ambiente dinheiro que deveria ser aplicado no desenvolvimento. Considera que houve uma evolução de consciência, inclusive entre os setores produtivos? Sem dúvida. Tanto que, anos depois, me tornei conselheiro da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Durante a Rio+20, a Fiesp, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Fierj) e outras instituições ajudaram a construir
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Que estratégia o senhor adotou, à frente da Sema, para lidar com o governo militar? Não me metia em política. Tinha amigos na oposição, no governo e nunca perguntei a ninguém qual era seu partido ou religião. Como católico praticamente, acredito que todos têm o direito de ser ouvidos e bem atendidos. Graças a esse espírito cristão, consegui aquela que considero a maior vitória da minha trajetória profissional: a aprovação da primeira lei ambiental brasileira, a 6.902/81, que levou à instituição da Política Nacional do Meio Ambiente e à criação do Conama. Ela foi unanimemente aprovada por deputados do governo e da oposição, algo difícil de ocorrer.
HUGO WERNECK: mesma Kombi e companheiro de causa
uma grande estrutura, no Forte de Copacabana, que foi palco de exposições, palestras e seminários. Além de arcar com a compensação ambiental e pagar para ter seus empreendimentos licenciados, o empresariado hoje também colabora com a conscientização ambiental. O Prêmio Hugo Werneck tem categorias destinadas exatamente a valorizar empresas/empresários que se destacam por fazerem mais do que apenas cumprir as leis. Acredita que esse é um caminho sem volta? Com certeza. E chegamos a esse
ponto graças à sustentabilidade. Hoje, tudo o que vai ser feito tem de passar pelo crivo da sustentabilidade, ser pensado em longo prazo e visar ao bem-estar coletivo. Tive a felicidade de integrar a Comissão Brundtland (Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU), que nos anos 1980 instituiu o conceito de desenvolvimento sustentável em nível global. Quando criamos a Sema não havia nada, os estados tinham pequenos núcleos ambientalistas. Era o tempo das Kombis... Exatamente (risos). Eu dizia que havia, no máximo, uma Kombi
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PA U LO N O G U E I R A - N E TO
Primeiro ministro de Meio Ambiente do Brasil
de ambientalistas em cada estado, e essa expressão ganhou fama. Em SP, fazíamos encontros mensais com 10, 12 pessoas, a maioria funcionários de instituições públicas e universidades. Felizmente, a realidade hoje é outra. A sociedade brasileira se preocupa com a questão ambiental. Quando assumi a Sema, me deram seis funcionários para resolver todos os problemas de meio ambiente do Brasil. Em Minas, a poluição das fábricas de cimento era uma das preocupações. O senhor se lembra do impasse com a Cimento Itaú, em Contagem, fechada por causa da poluição? Foi no governo Geisel [Ernesto Geisel, 19741979]. Ele acompanhava pessoalmente tudo o que fazíamos. Naquele tempo, tinha a Kombi do Dr. Hugo (risos). Graças a ele e a outros ambientalistas foi criado o Parque Estadual do Rio Doce. Tudo começou lentamente e fomos avançando. Hoje, poucos países têm tantas áreas protegidas quanto o Brasil. E a sustentabilidade se tornou um conceito de domínio público. Todos reconhecem a sua importância, ainda que a preocupação do povo esteja mais voltada para dois componentes também interligados à conservação ambiental. Quais são eles? A educação e a saúde. Para termos recursos naturais preservados e um ambiente equilibrado, a saúde do povo e o acesso à
boa educação têm de ser prioridade. Acredito que o investimento nesse triângulo – meio ambiente, educação e saúde – dará origem a uma nova ideologia, a uma nova consciência. Há mais de dois mil anos, Jesus Cristo pregou a importância do amor ao próximo, mandamento que continua válido. A luta pela causa ambiental é absolutamente essencial para todos nós.
O meio ambiente está em toda parte e sem ele não há vida, não há nada. Assim como Dr. Hugo, está dizendo, então, que amar o próximo significa amar também a natureza? Isso mesmo. Por mais que o homem avance em sua capacidade de explorar a natureza, ele tem de reconhecer os benefícios que ela lhe presta. E podemos fazer isso reduzindo, por exemplo, as emissões de carbono que estão alterando o clima no planeta.
Tudo está interligado: para proteger a humanidade – e garantir a nossa sobrevivência – temos de preservar o meio ambiente. Estamos às portas de 2015, prazo estipulado pela ONU para o cumprimento dos “Objetivos do Milênio”. O que deve nortear o desenvolvimento sustentável? A questão mais importante e atual é a mudança do clima. Temos de reduzir o volume de carbono lançado na atmosfera, pois já ultrapassamos o limite suportável. O grande desafio é substituir as fontes tradicionais e investir nas alternativas, para gerarmos energia de forma cada vez mais limpa. Além, é claro, de manter as florestas existentes e plantar novas árvores. Que recado deixa aos nossos leitores? É otimista: acredita que o amor vai superar a ignorância do homem perante a natureza? Sim. E o Brasil é prova disso. Partimos do zero e hoje temos leis rigorosas, um Conama atuante, com inúmeras iniciativas regulamentadas. A simples existência do mandamento do amor ao próximo me faz crer que novas e melhores soluções serão encontradas. A civilização autossustentável conduz ao amor ao próximo, à erradicação da miséria e, assim, aproxima os homens de Deus. Com informações do livro “Uma Trajetória Ambientalista – Diário de Paulo Nogueira-Neto”, Empresa das Artes.
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SOU ECOLÓGICO
CEMIG CLIMÁTICA E A MAIS TRANSPARENTE A Companhia Energética de Minas Gerais é a empresa nacional que mais se destacou no quesito “Transparência” na divulgação de informações relacionadas a mudanças climáticas, em 2014. O questionário realizado pela ONG CDP, sediada em Londres, Inglaterra, foi respondido por 52 grandes empresas brasileiras. A Cemig obteve a maior pontuação em transparência, alcançando 98 pontos do total de 100. Segundo o superintendente de Sustentabilidade Empresarial da Cemig, Luiz Augusto Barcelos, esse desempenho expressivo “reafirma o comprometimento da empresa para uma economia de baixo carbono, informando, ao mercado de capitais do país e do exterior e à sociedade em geral, os esforços conseguidos para a redução dos efeitos causados pelo aquecimento global”. Aproximadamente 99% da geração de energia da Cemig é proveniente de fontes renováveis como hidráulica e eólica, proporcionando uma
baixa emissão de gases de efeito estufa. Ela também foi selecionada para compor a carteira do Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI World) pelo 15º ano consecutivo. A concessionária mineira é a única empresa do setor elétrico do Brasil e LUIZ AUGUSTO: da América Latina comprometimento a integrar esse índice com a economia de mundial desde a sua baixo carbono criação, em 1999. Para conhecer as ações da Cemig na área de mudanças climáticas, é só acessar www. cemig.com.br e clicar na aba “A Cemig e o Futuro”, link “Sustentabilidade”.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
PRESENTEI-VOS! Quer se dar um presente bacana, ainda podendo levar quem você ama, incluindo seus parentes e amigos? E sair todo mundo feliz, redescobrindo o prazer da música, os nossos sentimentos mais verdadeiros e a arte de sobrevivermos com sabedoria e gingado, entre o ciúme, o amor e boemia? Vá correndo assistir ao musical “Samba, Amor e Malandragem”, que ficará em cartaz no Teatro da Cidade, em BH, até 14 de dezembro. Com roteiro e direção brilhante de Kalluh Araújo, trata-se de um espetáculo refinado, empreendido pela teimosia e genialidade artística de Pedro Paulo Cava, que não fica nada a dever às produções e atores cariocas em se falando de samba. É impressionante a atuação do elenco mineiro, onde todos são bons atores e cantores, interpretando canções raras e belíssimas, com um toque de Chico Buarque. Dá um orgulho danado assistir a este musical poético. Nosso coração, tão sofrido nesses últimos tempos, sai preenchido de poesia novamente, e com gostinho de quero mais. Vale conferir! É às sextas e aos sábados e domingos no teatro mais charmoso e afetivo de BH. A Ecológico aplaude! Informações: www.teatrodacidade.com.br
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Acesse o blog do Hiram:
hiramfirmino.blogspot.com
MOSTRA RIGOLETTO Em ação conjunta com a Fundação Clóvis Salgado, a Vale apresenta a “Mostra Rigoletto” no Memorial Vale entre os dias 19 de novembro e 23 de dezembro. Estarão em exposição os figurinos concebidos pela argentina Sofía Di Nunzio para a ópera encenada, de 18 a 29 de outubro de 2014, no Grande Teatro do Palácio das Artes. Ambientada na Paris do século XIX, a montagem de Rigoletto, concebida pelo diretor cênico André Heller-Lopes, brindou o público mineiro com um espetáculo moderno e, ao mesmo tempo, clássico. Poderão ser apreciados trajes masculinos e femininos, com modelagem de época, que vestiram os personagens do drama de Verdi.
FIGURINOS da ópera "Rigoletto" serão expostos no Memorial Vale
MOSTRA RIGOLETTO Em ação conjunta com a Fundação Clóvis Salgado, a Vale apresenta a “Mostra Rigoletto” no Memorial Vale entre os dias 19 de novembro e 23 de dezembro. Estarão em exposição os figurinos concebidos pela argentina Sofía Di Nunzio para a ópera encenada, de 18 a 29 de outubro de 2014, no Grande Teatro do Palácio das Artes. Ambientada na Paris do século XIX, a montagem de Rigoletto, concebida pelo diretor cênico André Heller-Lopes, brindou o público mineiro com um espetáculo moderno e, ao mesmo tempo, clássico. Poderão ser apreciados trajes masculinos e femininos, com modelagem de época, que vestiram os personagens do drama de Verdi.
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GENTE ECOLÓGICA
FOTO: EDSON LOPES JR./GESP
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“Se você tem metas para 10 anos, plante uma árvore. Se você tem metas para 100 anos, então eduque uma criança. Se você tem metas para 1.000 anos, então preserve a natureza.” CONFÚCIO, filósofo chinês
FRITZ PERLS, terapeuta alemão, em “Oração da Terapia”
“Qualquer árvore é o silêncio mais bonito do mundo.”
LETÍCIA SABATELLA, atriz
FOTO: DAVID SHANKBONE
"Eu sou eu e você é você. Eu faço minhas coisas e você faz as suas. Não estou neste mundo para viver de acordo com suas expectativas e nem você está neste mundo para atender às minhas. Eu sou eu e você é você. Se nós nos encontrarmos assim, será maravilhoso, é o amor. Se não, o que posso fazer?”
“Se você só quiser tirar vantagens sobre a natureza e sobre o outro, vai haver desequilíbrio e acontecer uma reação em algum momento. Eu sei o quanto somos cegos e ao mesmo tempo podemos estar numa busca constante, num autoconhecimento e num autoaperfeiçoamento, tentando ter mais consciência. Uma hora a natureza fala e chama a nossa atenção.”
“É hora de virar o capitalismo de ponta-cabeça, mudar valores, sair do foco puramente no lucro e se preocupar com as pessoas, as comunidades e o planeta.” RICHARD BRANSON, bilionário americano fundador da Virgin
JACINTO FABIO CORRÊA, poeta mineiro
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“Eu agora me assemelho à natureza que me cerca. Aprendi com as árvores a crescer e me prover de energia solar. Deixei o vício das energias não renováveis. E observo muito mais meus semelhantes, animais e plantas.” LUIZ GOMIDE, ator, em seu texto futurista “Fim de Ciclo”
"O mundo pertence aos insatisfeitos."
CRESCENDO
FOTO: ANTÔNIO CRUZ / ABR
ELLEN JOHSON SIRLEAF A presidente da Libéria (vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2011), em parceria com o governo da Noruega, fez do país africano o primeiro do continente a se comprometer em ter 30% das suas florestas regidas sob leis de preservação até 2020. A Noruega irá pagar para manter as florestas liberianas em pé.
CARLOS SOLANO A campanha “Vamos Plantar Um Milhão de Árvores”, lançada pelo arquiteto em 2007, estará em breve chegando à marca de dois milhões de mudas plantadas Brasil afora. A ideia de criá-la surgiu em 2000, quando ele foi lançar um livro no Parque Municipal de Belo Horizonte e ficou encantado com as árvores do local.
FOTO: DIVULGAÇÃO
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ANDRÉ TRIGUEIRO, jornalista ambiental
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“É preciso disseminar o conceito de que é mais inteligente e lucrativo extrair a riqueza da floresta sem destruir a floresta. Não se faz isso por decreto ou medida provisória. É uma questão, acima de tudo, cultural.”
ROBERTO WOODRUFF, ex-presidente mundial da Coca-Cola
FOTO: DIVULGAÇÃO
MINGUANDO
“O clima é um juiz que sabe contar árvores, que não esquece e não perdoa.” ANTÔNIO NOBRE, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em entrevista à Revista Veja
ROVÍLIO MASCARELLO O empresário cascavelense está na mira do Ministério Público Federal (MPF). Ele é suspeito de estar envolvido na tentativa ilegal de apropriação de mais de 1,2 milhão de hectares de terras públicas no município de Altamira (PA). Denúncias apontam que Mascarello teria tentado se apropriar de três grandes áreas, inteiramente sobrepostas a unidades de conservação federais, criadas para deter o desmatamento e assegurar direitos de comunidades tradicionais.
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PÉ NA COVA? Um dos mais importantes rios brasileiros padece diante de um presente e um futuro tenebrosos. E também de governos que nada fazem, ou fazem muito pouco, para mudar essa realidade Cristiane Mendonça e Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
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os 2.700 quilômetros cortados Brasil afora pelo Rio São Francisco - da nascente no Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, ao deságue no Oceano Atlântico, entre os estados de Sergipe e Alagoas -, é possível fazer uma mesma constatação: as águas do Velho Chico estão minguando. E isso não é recente: há décadas, ambientalistas, entidades de proteção à natureza e comunidades ribeirinhas reclamam de sua degradação. Hoje, no rio que foi descoberto pelos colonizadores portugueses em 1501 (também chamado pelos indígenas de “opará”, que significa “rio-mar”), já é possível atravessá-lo em certos pontos caminhando de uma margem a outra. O cenário é desolador. Essa é a herança insustentável e histórica de
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Pesquisadores afirmam que o assoreamento e a poluição do Velho Chico tiveram início com a chegada dos navios a vapor (cujos fornos eram alimentados com madeira das matas ciliares) passando pela construção de fazendas e o início da criação de gado, em 1543. E ganharam ainda mais força com as primeiras hidrelétricas, que surgiram em 1901. Hoje já são nove ao longo de seu curso. Além do esgoto doméstico e industrial que colore de morte o “Rio da Integração Nacional”, a seca, que se agrava em ciclos, veio mais forte em 2014. Com a SECA pela primeira vez, a nascente destruição dos biomas Cerrado e ainda não voltou a verter água Caatinga pelo uso insustentável 513 anos de degradação causada do solo e pelas queimadas, mapor um Brasil que nasceu colônia nifestadas nos períodos de longa e depois trilhou os caminhos do estiagem, como tem ocorrido em toda a Região Sudeste do país, crescimento insustentável.
FOTOS: LEANDRO COURI / EM / D.A PRESS
A PAISAGEM destruída pelas queimadas, na nascente do Rio São Francisco, ao redor da imagem do santo homônimo, em São Roque de Minas (MG): cenário desolador
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1 RIO SÃO FRANCISCO: AGONIA SEVERINA
DÁDIVA EM PERIGO Em Minas Gerais, 116 municípios decretaram situação de emergência devido à falta d’água, sendo 77 situados na Bacia do São Francisco, região que abrange 639.219 km² de área de drenagem e compreende, além do Distrito Federal, seis estados: Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Goiás. Desde 1931, início das medições, o ano mais crítico com a ausência de chuvas e a seca prolongada foi 1971. Depois disso, houve a crise de 2001 e 2002, que acarretou no racionamento elétrico que afetou todo o país. Diante do cenário atual, comunidades ribeirinhas que historicamente têm suas vidas e renda
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dependentes das águas do Rio São Francisco estão em situação crítica. Os balseiros têm dificuldade para atravessá-lo com suas embarcações, pois a pouca água provoca encalhes em bolsões de areia no leito do rio. Pescadores perderam sua fonte de renda, com a diminuição da quantidade de peixes. Projetos agrícolas que necessitam de irrigação estão comprometidos. E prefeituras amargam prejuízos para readaptar serviços de captação da água. É o que relatou à Ecológico o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda. À FOTO: LULA CASTELLO BRANCO
esses fenômenos serão cada vez mais comuns. E fizeram acontecer o que muitos de nós temiam: esgotou a nascente do Velho Chico, que agora só corre 600 metros abaixo de onde brotava, quando começa a receber água de seus afluentes.
FOTO: JOAO ZINCLAR
ANTES E DEPOIS: as águas caudalosas do Velho Chico que passavam por baixo da ponte de Bom Jesus da Lapa (BA)...
frente da entidade há dois anos e meio e profundo conhecedor dos problemas que o Velho Chico enfrenta, Miranda propõe soluções que exigem união de setores governamentais e privados para demandas emergenciais e atividades a longo prazo, a fim de mitigar séculos de impacto sofridos pelo curso d’água. “Nesse momento de crise, a Agência Nacional das Águas (ANA), a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), o Governo Federal, por meio dos ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia, e o setor elétrico deveriam formar uma coordenação efetiva para atender as demandas emergenciais mais críticas da Bacia do Rio São Francisco. Isso está sendo feito de forma muito parcial. Queremos que, nos casos de maior emergência, como agora, a população seja melhor atendida no que diz respeito à captação de água, devido, em primeiro lugar, à estiagem prolongada, e, em segun-
FOTO: WILTON MERCES / ASCOM
...hoje deram lugar aos enormes bancos de areia que estão se formando ao longo de todo o rio
do, à redução da vazante”, afirma. Miranda conta que o CBHSF também pede que o “setor elétrico faça a contabilização e o inventário de todos os prejuízos que estão sendo causados aos usuários de água para fazer as devidas compensações financeiras, mas o segmento se nega a fazer isso”, relata. Ele admite que alguns dos prejuízos para a população e o meio ambiente são mais fáceis de calcular, mas outros não, como é o caso da foz do São Francisco, que vem sofrendo com a intrusão salina. “O rio perde a força, o mar adentra e você tem na região um processo de salinização das águas, o que interfere também nos aquíferos subterrâneos adjacentes, na biodiversidade e na cidade.” Em nota divulgada em seu site oficial, a ANA afirmou que “vem acompanhando a situação crítica da bacia e atuando de forma sistemática e em conjunto com os principais setores e usuários a fim de minimizar os impactos da atual estiagem”.
O Comitê defende para os grandes afluentes e a calha principal, que é o próprio São Francisco, ações imediatas de recomposição das matas ciliares, ordenamento na exploração de poços de água subterrânea e, sobretudo, tirar do papel os instrumentos da gestão que estão capitulados na Lei Nacional de Recursos Hídricos (Nº 9.433/1997). Vale lembrar que, segundo a legislação, a água é “um bem de domínio público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico”. Que a gestão dos recursos hídricos deve proporcionar “os usos múltiplos das águas, de forma descentralizada e participativa, contando com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades”. E frisa que, em situações de escassez, “o uso prioritário da água é para o consumo humano e a dessedentação de animais”. No caso da concessão de outorgas para uso da água em toda a Bacia do São Francisco, prioridade é, definitivamente, o que não
acontece. Para o presidente do CBHSF, esse sistema está devassado e precisa ser revisado rapidamente: “Na medida em que você não tem planos diretores de bacias e dos afluentes, ou que não se conhece a situação dos aquíferos, os estudos deixam muito a desejar. Além disso, levando em consideração que não há órgãos gestores convenientemente equipados, a concessão de outorgas ocorre deliberadamente. Na prática, em vez de se coibir o uso irracional, em verdade, ele está sendo legitimando”, denuncia. E completa: “Outorga mal feita é melhor não dar! Ou ela tem uma base técnica sólida para ser concebida ou, então, melhor não conceber, não fazer de olho fechado, porque aí você legitima a insustentabilidade”. DISPONIBILIDADE HÍDRICA Como forma de eliminar esses e outros problemas que o curso d’água enfrenta, o Comitê irá elaborar, em novembro, a segunda
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FOTO: LALO DE ALMEIDA / FOLHAPRESS
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ENQUANTO A PREVISÃO o rio demorre entrega emdas Minas, obraso da governo transposição federal já foi gastou adiada mais duas de vezes. R$ 8 bilhões Apenaspara 66,1% tentar estátranspô-lo pronto
fase do “Plano Diretor de Gestão dos Recursos Hídricos da Bacia do São Francisco”. O primeiro foi produzido em 2004. E, agora, dez anos depois, é o momento de reavaliar e sugerir novas propostas para o segundo decênio. Para tanto, a CBHSF irá investir R$ 8 milhões em um projeto que deve levar 18 meses para ficar pronto. O objetivo é dar vida a um “grande pacto em prol das águas, que reivindicará que a Bacia do São Francisco seja tratada de forma diferenciada em relação às demais, já que ela é mais vulnerável”. Essa constatação se baseia no fato de que o Velho Chico atravessa uma região semiárida de quase um milhão de quilômetros quadrados, sendo um dos mais importantes repositórios de água do país, além de responder por cerca de 70% da disponibilidade
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Segundo os ambientalistas, o Rio São Francisco é como um paciente doente, em que não é possível fazer uma transfusão de sangue. E sim tratálo, revitalizá-lo antes hídrica da Região Nordeste. Para o Comitê, a Bacia do São Francisco não pode ser submetida exclusivamente à lógica da geração de energia hidrelétrica, pois ela tem outras vocações. “Atualmente, nove hidrelétricas se servem das águas do rio: Paulo Afonso I, II, III e IV, Três Marias, Xingó, So-
bradinho, Moxotó e Itaparica. A proposta do Comitê é que se configure uma mudança radical da matriz e do modelo energético, visto que o Brasil não tem feito o dever de casa e nem investe em pesquisas ou indústrias desse setor”, ressalta Miranda. Opinião que vai ao encontro da de Roberto Malvezzi, membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade que luta há quase 30 anos pelo direito dos povos ao uso sustentável da terra e dos recursos hídricos. “Quem ainda está decidindo os destinos das águas do São Francisco é o pessoal da energia elétrica. Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é que decide o que vai ser liberado e o que não deve”, pontua. Atitude que, para Malvezzi, vai contra a prioridade do abastecimento humano e animal.
Para ele, não adianta mais se fazer barragens no Brasil. “Elas não garantem mais água nem geração de energia elétrica, porque é a situação do rio, durante o período das chuvas, que mudou”, declara. Malvezzi também critica obras como a da transposição do Rio São Francisco, que, para ele, têm a efetividade comprometida diante do cenário, cada vez mais comum, de estiagem. “Tanto é que a matriz que mais cresceu no Brasil ultimamente são as termelétricas, com 30% de geração de energia brasileira. O setor sabe que a energia de origem hídrica não garante mais a manutenção da geração”, afirma. A CPT, inclusive, se colocou contrária às obras de transposição por acreditar que ações mais simples, como fazer distribuição direta aos municípios, seriam mais eficazes. Em contato com a assessoria do Ministério de Integração Nacional, fomos informados sobre o andamento das obras da transposição. A disparidade começa pelo orçamento, que o órgão indicou como sendo de R$ 8,2 bilhões – quando, na verdade, o projeto foi orçado, em 2006, em R$ 4,7 bilhões. E termina com o novo prazo de conclusão do empreendimento, que já foi adiado duas vezes: agora, estima-se que a previsão de entrega seja em 2015. “Atualmente, as obras físicas do projeto apresentam 66,1% de execução”, afirma o texto repassado à Ecológico. Mas a pergunta que fica é: o rio terá força e água suficiente para preencher os 470 km de canais que abastecerão os 390 municípios a serem beneficiados no Nordeste Setentrional? O ministério diz que sim. Os ambientalistas dizem que não. REALIDADE TRISTE Em protesto a todo o cenário que
se delineia em torno da Bacia, a Articulação Popular São Francisco Vivo, entidade ligada ao CPT, protocolou, no final de setembro, uma representação junto às unidades do Ministério Público Federal na Bacia, exigindo moratória para o rio, com a suspensão de novos licenciamentos e outorgas de água para grandes e médios projetos e a revisão dos já concedidos. A representação foi assinada por mais de 70 entidades, entre associações, sindicatos, institutos, movimentos, pastorais, ONGs e comunidades ligadas à Articulação. Enquanto isso, a nascente do Rio São Francisco, no Parque Nacional Serra da Canastra, em Minas, permanece seca. A notícia, que repercutiu nacional e internacionalmente no início de outubro, veio reforçar o panorama preocupante em que se encontra toda a extensão do Velho Chico. Apesar de simbólica, visto que não significa necessariamente que o curso do rio será totalmente interrompido mais adiante, revela como a destruição do bioma Cerrado compromete a formação de novos repositórios de água para os lençóis freáticos. O chefe do parque, Luiz Arthur Castanheira, que assumiu a direção da área de preservação há pouco mais de 50 dias, foi quem teve a dolorosa missão de anunciar a notícia sobre a nascente. “Senti espanto e tristeza ao ver a situação, porque não tinha água. E o terreno, que antes era úmido, estava uma poeira seca”, lamenta. Ele também diz que, nos últimos dias, tem chovido na região e que, por isso, há uma boa expectativa de que a nascente volte a jorrar. “Precisamos ser esperançosos. Que Deus nos ajude!” Apesar da situação dramática, o parque continua aberto à visitação.
FIQUE POR DENTRO
PE AL SE BA GO
DF
MG Nascente
Conheça a bacia do Velho Chico: l 2.700 km de extensão. l Sete unidades da federação: Bahia (48,2%), Minas Gerais (36,8%), Pernambuco (10,9%), Alagoas (2,2%), Sergipe (1,2%), Goiás (0,5%), e Distrito Federal (0,2%). l 504 municípios (cerca de 9% do total de municípios do país) compõem a Bacia. l 639.219 km² de dimensão territorial estimada. l Em 1985, 24,8% da área da bacia já estava atingida pela ação antrópica. Desse total, as pastagens ocupavam 16,6%; a agricultura, 7%; o reflorestamento, 0,9%; e usos diversos, 0,3%. l A Bacia do São Francisco possui 58% da área do Polígono da Seca, além de 270 de seus municípios ali inscritos. l Cinco biomas: Floresta Atlântica, Cerrado, Caatinga, Costeiros e Insulares.
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IMPACTOS AMBIENTAIS O Rio São Francisco abastece cinco biomas brasileiros. Caso se torne um rio intermitente ou totalmente seco, o impacto na biodiversidade seria terrível – inclui desde a morte de espécies da fauna e da flora da região até a diminuição do volume de água dos lençóis freáticos. A redução da umidade do ar e das chuvas também elevaria as temperaturas na região da bacia.
IMPACTOS SOCIAIS O Velho Chico é responsável pelo abastecimento de mais de 15 milhões de pessoas em sete unidades federativas. Além da falta d’água para suprir necessidades básicas, haveria desemprego na região. Soma-se a isso, ainda, a migração em massa para outras cidades em busca de água e alimento, sobrecarregando os recursos naturais e potencializando os problemas sociais, de saúde e de infraestrutura.
IMPACTOS ECONÔMICOS Sem água, nenhuma atividade econômica existe. Com a falta do precioso recurso, grandes projetos agrícolas sofreriam com a seca e setores como o alimentício e o energético entrariam em colapso. O poder público também teria de desembolsar muito dinheiro para buscar novas alternativas de captação de água, bem como o transporte do recurso para abastecer à população atingida, amargando prejuízos com os projetos hídricos realizados anteriormente.
FOTO: WILTON MERCES / ASCOM
IMPACTOS HUMANOS A população brasileira tem um laço afetivo com o Rio São Francisco. Ele faz parte da história e da vida das pessoas e é referência para a arte, a música, a dança e o cinema brasileiros. Sua degradação, além de trazer muita tristeza, alteraria o modo de vida dos ribeirinhos e dos turistas, afastando-os dos lugares que lhe são cativos e familiares.
FOTO: DIVULGAÇÃO
FOTO: MONIQUE RENNE
FOTO: MIGUEL AUN
FOTO: MARIA HSU
E se o Velho Chico secasse?
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Realidade gritante José Carlos Carvalho, ex-ministro de Meio Ambiente e primeiro presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, aponta os caminhos para a salvação do rio
FOTO: FERNANDA MANN
É possível ser otimista hoje em relação ao futuro do Rio São Francisco? Vamos esperar, com muita crença no futuro, que o Velho Chico não se torne um rio intermitente, ou um curso d’água minguado, como outros que não conseguem chegar ao mar. O Rio São Francisco vem dando sinais, cada vez mais evidentes, de que sofre com a degradação de sua bacia, desde os primórdios da colonização. O que era tido como denúncia alarmista, hoje é uma realidade gritante e triste. Nascentes secando, pequenos afluentes se tornando intermitentes, inclusive no seu alto curso, poluição das águas, drástica redução da vazão, que expõe de forma ainda mais dramática o assoreamento visível com os bancos e “ilhas” de areia que se formam ao longo do seu leito. E, ainda, a de-
nominada “língua salina” - a penetração do mar rio acima, a partir da sua foz, chegando a alcançar mais de 15 km durante os períodos de maré cheia. Como sabemos, todos os grandes rios começam a morrer na sua foz. Não se pode esquecer que o São Francisco é o único grande rio que corta e banha a mais extensa região semiárida brasileira, o que lhe confere importância geopolítica singular para o Nordeste e para o nosso país. Razão pelo qual o seu aniquilamento terá desdobramentos ambientais e econômicos de alta gravidade, além de afetar diretamente a população que depende de suas águas para beber e que será castigada pela escassez dos recursos hídricos que ele ainda consegue disponibilizar de forma generosa, mas cada vez com uma vazão menor, combinada com o aumento da demanda, incluindo do Projeto de Transposição. Quais medidas o governo e a população devem adotar com urgência para garantir a conservação do rio? Durante os grandes debates que permearam todo o processo de discussão da transposição das águas do Velho Chico para outros estados nordestinos, sempre colocamos de forma clara a necessidade de revitalizar o rio, de promover a sua recuperação hidroambiental, diante das evidencias já manifestadas de sua penúria. Todavia, o que se viu foi uma ação intempestiva e açodada de levar avante a transposição, ignorando as iniciativas de re-
CARVALHO: "A transposição do Velho Chico não pode ocorrer antes de sua revitalização"
cuperação e conservação da sua bacia, a partir das suas cabeceiras e de seus afluentes em estágio de degradação mais adiantados. É lamentável ver, hoje, o abandono do rio, os investimentos bilionários na transposição sem a contrapartida na revitalização da bacia hidrográfica. Para que o rio possa “renascer”, é necessário recuperar as suas nascentes, reflorestar as áreas de recarga dos lençóis freáticos, as matas ciliares, adotar práticas agrícolas sustentáveis, despoluir os cursos d'água, promover o tratamento dos esgotos, a coleta e disposição final adequada dos resíduos sólidos, entre outras iniciativas que possam devolver ao rio e à própria bacia a vitalidade perdida. Entretanto, tudo isso deve ser feito na escala da bacia, com ações que correspondam à magnitude dos problemas a serem resolvidos. Nada de projeto piloto, de iniciativas experimentais. Afinal, seria uma estupidez investir mais de R$ 8 bilhões para captar água de um rio e não fazer os investimentos requeridos para assegurar que essa água possa estar disponível. Por outro lado, a população também precisa fazer a sua parte, tendo um convivência mais amigável com a natureza, preservando os biomas, ecossistemas terrestres e fluviais e nossos rios, desde os menores minadouros. Nunca podemos nos esquecer de que nenhuma sociedade, nenhuma civilização conseguiu, desde os tempos mais remotos, sobreviver à ruína dos seus territórios.
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Preservar o meio ambiente faz parte da natureza dos produtores de açúcar, etanol e bioeletricidade de Minas Gerais
Produção do etanol, combustível limpo e renovável, que emite menos 90% de gases do efeito estufa em relação a gasolina Eliminação da queima da cana nas áreas mecanizáveis, quase a totalidade da área de cana do estado Recuperação e manutenção das Áreas de Preservação Permanente (APPs)
Formação de corredores ecológicos na região canavieira
Preservação dos animais do Cerrado
Criação e manejo de mais de 27 mil hectares de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs)
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1 RECURSOS HÍDRICOS
O EXEMPLO DE RYAN HRELJAC Conheça o canadense de 23 anos que está fazendo uma revolução hídrica e humana na África e no Haiti
Luciana Morais
redacao@revistaecologico.com.br
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inha história é realmente muito simples. Um dia, em janeiro de 1998, minha professora explicou que, na África, as pessoas adoeciam e muitas até morriam por não terem acesso à água limpa. No meu caso, tudo o que eu tinha de fazer era dar dez passos para chegar ao bebedouro... Até esse dia, acreditava que todos vivessem como eu. Quando descobri que não era assim, decidi fazer algo.” O relato acima, sobre a vida do canadense Ryan Hreljac, resume bem o sentimento que norteia a sua ação e o seu desejo de fazer do mundo um lugar melhor. Para todos. Do dia em que juntou 70 dólares e com eles fez jorrar o primeiro poço de água em Uganda, já se vão 17 anos. Desde então, a sua fundação de ajuda humanitária, a Ryan’s Well Foundation, já levou água potável e saneamento a mais de 800 mil pessoas, na África e Haiti. Em sua passagem por Belo Horizonte – no auge da emblemática sequidão da terceira semana de outubro – Ryan deixou um recado aos jovens, em bate-papo exclusivo com a Revista Ecológico. “Seja ingênuo o suficiente para acreditar que você pode fazer a diferença, e corajoso o bastante para tentar. Você nunca sabe o que pode acontecer.” Leia, e inspire-se! Afinal, o mundo anda precisando de mais Ryans, Pedros e Anas. O nome e a nacionalidade não importam. O que conta é o olhar voltado para o outro – e para o planeta! POR MEIO de uma iniciativa simples, Ryan levou água potável e saneamento para mais de 800 mil africanos e haitianos
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FOTO: RYAN’S WELL FOUNDATION
QUEM É
ELE
Nascido em Ontário, no Canadá, Ryan Hreljac formou-se em Desenvolvimento Internacional e Ciências Políticas pela Universidade de King College, em Halifax. Viaja o mundo dando palestras e esteve em Belo Horizonte a convite da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas), onde participou do 18º Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, do 19º Encontro Nacional de Perfuradores de Poços e da 8ª Feira Nacional da Água, realizados de 14 a 17 de outubro, no Minascentro. A Ryan’s Well Foundation já ajudou a construir cerca de 880 projetos de água e 1.120 banheiros, beneficiando 824.038 pessoas.
Você tem ajudado a matar a sede de milhares de pessoas desde a infância. Como se sente realizando esse trabalho? Tem sido um prazer para mim ser voluntário nesses últimos 17 anos, sempre na tentativa de conseguir levar água potável para o máximo de pessoas possível. Sou apaixonado por esse trabalho e me sinto muito bem em realizá-lo. No entanto, ainda há muito a ser feito. Você diz isso por que aumenta a cada dia o número de pessoas com dificuldade de acesso à água em todo o mundo? Essa carência te preocupa? Sim. É fácil a gente se esquecer disso. Então, constantemente eu faço questão de lembrar a mim mesmo o quanto tenho sorte por ter nascido e viver numa situação confortável, na qual não teria de me preocupar com a falta d’água.
NO ANO 2000, com apenas U$ 70, Ryan abriu o primeiro poço de água em Uganda
Esta é a sua primeira visita ao Brasil e, infelizmente, pela primeira vez na história, a
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1 RECURSOS HÍDRICOS
Como você vê o futuro da água no planeta? Como o cidadão pode ajudar? Todos nós podemos e devemos fazer a nossa parte. Temos que ampliar a conscientização das pessoas. Usar menos água e arrecadar fundos para assegurar acesso a todos que dela precisam. Se fizermos um esforço, poderemos mudar essa situação! Quais as suas dicas para economizar água no dia a dia? É fácil economizar: tomando banhos mais curtos, usando a máquina de lavar na capacidade máxima e tendo mais consciência de quanta água estamos gastando. Em uma escala mais ampla, nos certificarmos de que os representantes dos governos e outras lideranças estão tomando as decisões corretas para ajudar a preservar e manter as nossas bacias hidrográficas. Diante de tudo que falamos sobre a água: você tem um sonho? Como torná-lo realidade? Meu sonho é continuar oferecendo água potável para o maior número possível de pessoas. Dessa forma, as crianças podem ir à escola e todos podem viver sem se preocupar em adoecer em função da má qualidade da água que bebem. Trilhamos um longo caminho para chegar até aqui. Então, para que esse sonho se torne re-
BH SAI NA FRENTE FOTO: MARIANA SEABRA
nascente do nosso maior rio, o Rio São Francisco, está seca. O que você pensa dessa situação, diante do cenário mundial de escassez de água? Essa realidade mostra que precisamos levar muito a sério as questões da água, especialmente antes que elas se tornem problemas. Por isso, considero essencial a educação sobre o recurso, o uso consciente, entre toda a população.
RYAN e Délio Malheiros durante a “Caminhada em Prol da Água”, em BH Ryan Hreljac participou ainda do lançamento da campanha “BH sai na Frente em Prol da Água” e da “Caminhada em Prol da Água”, promovidas pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Segundo estimativas da Agência Nacional de Águas (ANA), no ano que vem mais de 500 municípios mineiros poderão conviver com a falta d’água. “Esses números são alarmantes. Portanto, assuntos como escassez, captação e distribuição da água, bem como iniciativas ligadas à economia e combate ao desperdício devem ser sempre evidenciados”, frisou o viceprefeito e secretário de Meio Ambiente de BH, Délio Malheiros.
alidade, teremos de trabalhar ainda muito mais. O que você está achando de Belo Horizonte e das pessoas daqui? É uma bela cidade e tem sido um prazer conhecer tanta gente comprometida, preocupada e fazendo algo em prol da água. Isso é animador. Vai visitar outras cidades ou estados? Desta vez, não. Vou voltar para casa, no Canadá, mas viajarei ao México e à Espanha mês que vem. Qual é a sua mensagem final para os leitores, em especial os
jovens como você? Você não tem de ser alguém importante para fazer a diferença. Há pessoas verdadeiramente essenciais que estão trabalhando para fazer um mundo melhor, mas dificilmente você vai ouvir falar delas. Então, seja ingênuo o suficiente para acreditar que você pode fazer a diferença, e corajoso o bastante para tentar. Você nunca sabe o que pode acontecer.
SAIBA MAIS
www.ryanswell.ca www.abas.org http://goo.gl/QxKjeQ
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jo t a c am p elo
Proteção de 120 nascentes do rio Paracatu
INVESTIMOS EM PRESERVAÇÃO PARA GARANTIR MAIS ÁGUA DE QUALIDADE PARA A POPULAÇÃO. Em tempos de escassez de água, a Kinross se une a importantes parceiros da iniciativa pública e privada, terceiro setor e comunidade para resgatar a qualidade da água na região de Paracatu. Um bom exemplo disso é a recuperação de 120 nascentes do rio Paracatu. Iniciado em 2009, o projeto favorece o consumo consciente dos moradores no período de seca, além de regularizar a vazão de água na estação das chuvas e conservar as nascentes para as próximas gerações.
Essa é a Kinross. Esse é o nosso jeito de fazer mineração responsável.
CÉU DE BRASÍLIA FOTO: ECOLÓGICO
VINÍCIUS CARVALHO
LIXÕES POR MAIS TEMPO
A Câmara dos Deputados aprovou a ampliação em quatro anos do prazo para que as prefeituras acabem com os lixões e os substituam por aterros sanitários. O tema foi incluído na Medida Provisória 651.
NOVO COMANDO
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL (I)
O chefe da Procuradoria Federal Especializada da Fundação Nacional do Índio (Funai), Flávio Azevedo, é o novo presidente interino do órgão. Azevedo assume a presidência, em caráter temporário, no lugar de Maria Augusta Assirati, que ficou no cargo por 15 meses. Ela pediu exoneração com o objetivo de se mudar para Portugal, onde fará um curso de doutorado.
Avançar sobre a floresta pode levar à perda de até 2,5% do PIB agrícola nacional devido à escalada do aquecimento. A avaliação é de uma pesquisa da Unicamp e da Embrapa, que identificou 11 milhões de hectares de pastagens ociosas na região Norte, que poderiam abrigar 15 milhões de cabeças – ou quase 20% do rebanho da Amazônia Legal. Entre 2000 e 2012, a maior parte do desmatamento ocorreu para dar lugar ao gado e à soja.
APAGAR DAS LUZES
O governo federal anunciou, no mês passado, as três primeiras Unidades de Conservação (UCS) federais criadas na Amazônia desde que Dilma assumiu a presidência. São elas: a Resex Marinha Mocapajuba, com 21 mil hectares; a Resex Marinha Mestre Lucindo, com 26,4 mil ha; e a Resex Marinha Cuinarana, com 11 mil ha. O pacote incluiu também a ampliação da Resex Marinha de Araí-Peroba, que ganhou mais 50,5 mil hectares.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, negar recurso ao mandado de segurança que pedia a anulação da demarcação da Terra Indígena (TI) Yvy Katu, em Mato Grosso do Sul, onde vivem cerca de cinco mil Guarani Ñandeva. O recurso foi interposto por Pedro Fernandes Neto, proprietário de uma das 14 propriedades que incidiam sobre a TI.
A resposta do governo é o Programa de Recuperação de Áreas Degradadas na Amazônia (PRADam). Uma das suas metas será recuperar, até 2019, cinco milhões de hectares de pastagens degradadas na região. FOTO: ANA COTTA / FLICKR
TERRAS INDÍGENAS
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL (II)
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FOTO: ECOLOGICO
1 SETOR MINERÁRIO
MINERAÇÃO:
O QUE É ESTRATÉGICO
PARA O BRASIL Por Cláudio Scliar redacao@revistaecologico.com.br
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o artigo a seguir, a Ecológico apresenta um quadro histórico da mineração brasileira, os desafios atuais e reflexões sobre as políticas públicas necessárias para priorizar o que é estratégico no setor. E mostra que
o acesso, a produção e o comércio de bens minerais considerados estratégicos, essenciais ou críticos sempre fizeram parte da agenda dos governos nacionais, em especial dos países grandes produtores e consumidores. Confira:
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FOTO: THIAGO FERNANDES
A MAIOR ou menor demanda de bens minerais tradicionais acompanha a evolução positiva ou negativa dos ciclos econômicos
Minerais essenciais Nos últimos 30 anos ocorreram profundas mu- tre as matérias-primas disponíveis no mercado. danças nos blocos hegemônicos mundiais, que O grande desafio para os novos materiais, além tinham entre suas principais características o de provar suas vantagens técnicas, é garantir controle político e econômico de países com ja- o suprimento e a posse da tecnologia para seu zimentos de bens minerais considerados vitais aproveitamento na cadeia produtiva. O conceito “mineral estratégico” se associa, para sua indústria. O processo de descolonização na África e Ásia, o fim da Guerra Fria e o fortale- historicamente, aos objetivos políticos dos paícimento econômico e político da China são even- ses centrais, principalmente quando se prepatos que demarcam a paisagem política e econô- ram para a guerra. O conceito se consolidou durante a Guerra Fria em relação à escassez de mica do mundo atual. minérios para a fabricação de A maior ou menor demanda equipamentos utilizados peMineral estratégico dos bens minerais tradicionais las forças armadas, inclusive que constituem a base da rese refere àquele com a formação de estoques volução industrial e agrícola, como ferro, cobre, zinco, ní- considerado importante por alguns países. Atualmente, mineral estraquel, alumínio, carvão mineral, para um país, seja tégico se refere àquele consipotássio e fosfato, entre outros, por sua abundância derado importante para um acompanha a evolução positiva país, seja por sua abundânou carência ou negativa dos ciclos econômicia ou carência. Na literatura co mundial e nacionais. Como consequência das pesquisas da física acadêmica e de políticas públicas utilizam-se e da engenharia de materiais, cada vez mais se também os conceitos de minerais essenciais ou tornam importantes no comércio mundial subs- críticos que expressam a preocupação com o tâncias minerais para a fabricação de produtos suprimento de alguns bens minerais por fatores especiais e de alta tecnologia, tais como tântalo, como a exaustão dos depósitos conhecidos, o nióbio, titânio, terras-raras, lítio e vanádio. Cada controle da sua extração, beneficiamento ou conova substância ou uso diferente para substância mercialização por um país ou empresa e outros já conhecida traz no seu bojo a concorrência en- fatores econômicos e políticos.
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1 SETOR MINERÁRIO
MINERAÇÃO no Brasil: pintura de Carlos Julião, século XVIII
Interesses estratégicos Ao aportarem no novo continente, em 21 de abril de 1500, os portugueses foram recebidos por habitantes da região curiosos com a chegada de tão estranhas visitas pelo mar. Pero Vaz de Caminha descreve a ida a bordo de dois desses habitantes levados para encontrar o capitão Pedro Álvares Cabral. Segundo a Carta de Caminha, ao verem o colar de ouro do capitão e um castiçal de prata “acenavam para a terra
como nos dizendo que havia, em terra, ouro e também prata” (texto modificado de Pero Vaz de Caminha: “Carta a El Rey Dom Manuel”, versão de Rubem Braga, 1999). No entanto, os depósitos de ouro somente foram encontrados no final do século XVII, no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, e as minas de prata ainda não foram descobertas no território brasileiro. Considerando que em 1492 os es-
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panhóis, ao chegarem ao novo continente, logo encontraram povos mineradores que extraíam, beneficiavam e utilizavam ouro, prata, cobre e mercúrio, confirmam-se dois paradigmas fundamentais para se analisar o que é estratégico na mineração: a história geológica que permite a concentração do minério e, principalmente, o desenvolvimento técnico para encontrar, extrair, beneficiar e transformar nos produtos finais os minérios encontrados, o que os Maias, Astecas e Incas fizeram enquanto os habitantes da Ilha de Vera Cruz (Brasil) desconheciam. Portugal representava nessa época um importante polo comercial e necessitava de metais preciosos e gemas para financiar as viagens marítimas, a compra de especiarias e pagar dívidas com países vizinhos. Diversos estudos e ações de lavra e metalurgia foram realizados por José Bonifácio de Andrada e Silva, Wilhelm Ludwig von Eschwege e outros geocientistas para a extração e produção de ferro para a fabricação de equipamentos no país, quando houve permissão dos colonizadores. Assim, no Período Colonial (1500 a 1822), o interesse estratégico da mineração se direcionou para aproveitamento de ouro (1690) e diamante (a partir de 1720) com investimento e controle direto de Portugal. No Império (1822 a 1889), a presença inglesa se intensificou em todos os segmentos econômicos do país. No início do século XIX se constituíram diversas organizações societárias para arrecadar recursos com a venda de participações acionárias em minas de ouro situadas em Minas Gerais no já consolidado mercado inglês de capitais. Das muitas empresas criadas em Londres poucas se mantiveram e a maioria serviu para enriquecer os negociadores das participações, “sendo que a Mineração Morro Velho S/A é a única que ainda permanece” (Pereira da Silva, 1995). Fato importante para se avaliar a evolução da mineração no Brasil é que somente em 1876 foi criada a Escola de Minas de Ouro Preto. Em outros países das Américas, os colonizadores organizaram escolas de mineração desde o século XVI. No Império, o principal mineral procurado e extraído foi o ouro. Porém, já se organizavam diversas sociedades para lavra e aproveitamento de minério de ferro, em Minas Gerais, e carvão mineral, no Rio Grande do Sul, desde 1872, e em Santa Catarina, a partir de 1876. Na República Velha (1889 – 1930) as empresas
JOSÉ BONIFÁCIO e Wilhelm Ludwig: dois dos pioneiros nos estudos de extração e produção de ferro no Brasil
inglesas se mantiveram dominantes na produção de ouro e na pesquisa e lavra de minério de ferro que se tornava uma commodity importante no comércio mundial, pois os jazimentos europeus começavam a exaurir. Em 1910 foi apresentado um memorial sobre as jazidas de ferro no Quadrilátero Ferrífero no “XI Congresso Geológico Internacional”, realizado em Estocolmo, Suécia. Escrito por Gonzaga de Campos e Orville Derby, servidores do Serviço Geológico do Brasil, o documento atraiu investimentos de diversas mineradoras internacionais para o Quadrilátero Ferrífero. Como a Constituição de 1891 considerava os bens minerais propriedade do dono da terra, houve uma corrida pela compra das terras onde se situavam as jazidas e minas conhecidas. Na Primeira e na Segunda Guerra Mundial, ao serem estabelecidas prioridades para a obtenção de minerais considerados essenciais à indústria militar, os serviços geológicos tinham como missão sua descoberta e disponibilização, no próprio território ou em território de país amigo. Os EUA atuaram fortemente no Brasil por meio do Bureau Of Mines e do Geological Service (USGS), sendo o território brasileiro detalhadamente estudado pelo USGS. Destaca-se o aproveitamento de minérios de ferro, manganês, estanho, tungstênio, quartzo piezoelétrico e outros.
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FOTO: DOLLARPHOTOCLUB
1 SETOR MINERÁRIO
APÓS a democratização, em 1946, as políticas públicas e privadas para desenvolver projetos nacionais para aproveitamento de minério foram fortalecidas
Industrialização nacional
e competitividade mundial Durante os governos autoritários de Getúlio Vargas (1930 a 1945), mesmo mantendo e fortalecendo a influência das grandes mineradoras internacionais, com a presença cada vez maior de capitais dos EUA, um exemplo de política de integração da mineração com toda a cadeia industrial foi a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), criada em 1941. Mobilizaram-se investimentos para o aproveitamento dos depósitos de ferro, manganês, cromo, carvão mineral e outras substâncias minerais, tendo como objetivo a fabricação de aço de alta qualidade. A fundação da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em 1942, para assumir a pesquisa e lavra de ferro se tornou o marco maior para a indústria mineral brasileira. Também a produção de alumina e alumínio por iniciativa de Américo Renné Giannetti (Elquisa) e José Ermírio de Moraes (Votorantim), nos anos 1940, contaram com apoio de Getúlio Vargas viabilizando a instalação dessas indústrias que verticalizaram a produção desde a extração da bauxita até a metalurgia do alumínio. Após a democratização (1946) fortaleceramse políticas públicas e privadas para desenvolver projetos nacionais objetivando o aproveitamento de bens minerais tradicionais como ferro, manganês, alumínio, níquel, zinco, esta-
nho, cobre e outros que acompanhavam o crescimento da economia nacional, substituindo importações sempre que possível. Destacamse os esforços públicos e privados para a pesquisa, lavra, beneficiamento e transformação desses minérios, aplicando pacotes tecnológicos importados, pois eram minérios utilizados há muitos anos em todo o mundo. Essas ações são viabilizadas pela forte presença estatal através da CVRD, de empresas brasileiras como Votorantim (alumínio, cimento, zinco, chumbo, níquel, ferro) e de mineradoras internacionais associadas com empresas brasileiras, o que era obrigatório pelo Código Mineral vigente, como é o caso da Icomi (brasileira) e da Bethlehem Steel Company (EUA), que implantaram o primeiro grande empreendimento minerador na Amazônia, para a extração do manganês da Serra do Navio, no Amapá. Nesse contexto, é importante ressaltar os estudos realizados pelo geocientista Djalma Guimarães sobre o depósito de minério de nióbio no Barreiro de Araxá, no início dos anos 1950. O aproveitamento desse metal na indústria era limitado, pois somente se conheciam reservas associadas ao mineral columbita, que possui reduzida distribuição na natureza, comparativamente ao pirocloro. A descoberta dos depósitos
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1 SETOR MINERÁRIO de pirocloro nos carbonatitos de Araxá, Minas Gerais, tornou possível o aproveitamento do nióbio em larga escala. Nos anos 1960 ocorreu importante desenvolvimento tecnológico para o uso de nióbio no aço, em escala laboratorial, em Sheffield, na Inglaterra. Nesse momento, o grande desafio era criar um mercado para o uso industrial do nióbio. Em 1955 foi fundada a Distribuidora e Exportadora de Minérios e Adubos (Dema), que em 1965 torna-se a Companhia Brasileira de Metais e Metalurgia (CBMM), passando de distribuidora e exportadora de minérios para uma empresa voltada para tecnologia e inovação na mineração, metalurgia e comércio de produtos e subprodutos de nióbio. A história mundial do aproveitamento de nióbio se vinculou, desde
então, a essa empresa. A participação acionária da CBMM de 1965 a 2004 era de 55% do Grupo Moreira Salles (brasileiro) e 45% da Molycorp (EUA). E, a partir de 2006, o Grupo Moreira Salles assumiu 100% do controle da empresa. Hoje, o Grupo possui 70% das ações e consórcios compostos por empresas japonesas, coreanas e chinesas têm 30%. Em 1957 é criado o Programa para Formação de Geólogos (Cage), pelo Ministério de Educação e Cultura, para a criação de cursos de Geologia em todo o país. A indústria mineral influenciou o crescimento econômico de diversas regiões do país, destacando-se os estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. O Brasil se torna grande fornecedor mundial de minérios.
Base da competitividade brasileira no mundo Nos governos militares (1964-1985), a mineração foi considerada estratégica para fortalecer a economia nacional e os laços com os grandes grupos econômicos mundiais. As diretrizes do “I Plano Mestre Decenal para Avaliação de Recursos Minerais do Brasil” (I PMD), publicado em 1965, tinha como objetivo ampliar a produção mineral do país. A aprovação do Código de Mineração em 1967, a fundação da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e o fomento à Companhia Vale do Rio Doce, às empresas siderúrgicas e de produção de fertilizantes fortaleceram esse segmento econômico. O governo intensificou as políticas de fomento à mineração exportadora e, para isso, não poupou financiamento público, em especial para os empreendimentos direcionados para minério de ferro e bauxita. A descoberta da Província Mineral de Carajás em 1967, no Pará, e o desenvolvimento das pesquisas e dos arranjos público – privados para a construção da infraestrutura nessa região consolidaram o caminho para a ampliação e o fortalecimento da internacionalização do comércio dos minérios brasileiros.
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Na redemocratização (a partir de 1985) temos um novo período econômico e político no Brasil. Como consequência da desestatização das empresas de mineração, siderurgia e fertilizantes (a partir de 1995), o Estado perdeu os instrumentos de intervenção direta no setor, por meio dos quais eram executados os investimentos e o encadeamento do setor industrial com a mineração. Com o Programa Nacional de Desestatização, o Estado abriu mão da execução direta de políticas para o setor mineral sem, no entanto, compensar a perda de governança com uma regulação, como foi feito para os setores de energia e petróleo. Também nesse período se assistiu ao enfraquecimento orçamentário e de pessoal da Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM) e do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), vinculados ao Ministério de Minas e Energia. A aprovação, em 1996, da Lei Complementar nº 87, conhecida como “Lei Kandir”, consolida os mecanismos tributários para maximização dos lucros com a exportação de minério bruto, o que significa clara opção governamental de priorizar os ganhos com a competitividade dos bens minerais brasileiros no mercado mundial.
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Não se deixe enganar pelos galhos retorcidos! As sombras destas árvores valem muito para o Brasil. Se preservado, o Cerrado tem potencial para neutralizar 80% das emissões de GEE por desmatamento de todo o país.
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SAWYER, Donald. Fluxos de carbono na Amazônia e no Cerrado: um olhar socioecossistêmico. Sociedade e Estado, v. 24, n. 1, p. 149-171, 2009.
Fonte: SAWYER, 2009
ALÉM DO ÓBVIO INOVAÇÃO EM CONSULTORIA AMBIENTAL Vantagem sustentável para uma nova economia.
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Porque a solução para o desenvolvimento sustentável explora novos territórios.
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Fundamento do desenvolvimento integrado e sustentado A gestão dos recursos minerais nos governos de produtivo na indústria de mineração. Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (2003 a O Plano Nacional de Mineração 2030 (PNM 2014) priorizou ações para uma mineração gera- - 2030), publicado pelo Ministério de Minas e dora de renda e emprego com qualidade ambien- Energia (MME) em fevereiro de 2011, fundamental, ao mesmo tempo que aproveitou o expressivo ta-se em três diretrizes básicas: governança púcrescimento dos preços internacionais dos miné- blica eficaz para promover o aproveitamento dos rios para o equilíbrio da balança comercial do país. bens minerais extraídos no país pelo interesse Diversas ações foram desenvolvidas a partir de nacional; agregação de valor e adensamento de 2003 para fomentar a verticalização desde a ex- conhecimento em todas as etapas da atividade tração dos bens minerais, tais como, em 2004, a mineral; e sustentabilidade ao longo da cadeia Política Industrial, Tecnológica produtiva mineral. No PNM e de Comércio Exterior (PITCE), O PNME 2030 2030 foram definidos 11 objetipara fortalecer e expandir a base vos estratégicos, contando cada fundamenta-se industrial brasileira por meio da um com diversas ações para viaem três diretrizes melhoria da capacidade inovadobilizar uma política mineral susra das empresas. Em 2008, dando tentável e soberana para o país. básicas, incluindo continuidade à PITCE, a Política (PNM – 2030: www.mme.gov.br). a sustentabilidade de Desenvolvimento Produtivo Mesmo a mineração manten(PDP) foi instituída com o objetiao longo da cadeia do o foco principal no aproveivo de executar ações que sustentamento da competitividade produtiva mineral tassem o crescimento e incendos bens minerais do país, ditivassem a exportação. Dando versas ações do governo se disequência às políticas industriais, o Ministério do rigiram para apoiar e fomentar cadeias produtiDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior vas do setor mineral. Destacam-se a discussão, (MDIC) lançou o Plano Brasil Maior (PBM), que definição e implementação de ações previstas estabelece para o período de 2011 a 2014 a política em planos nacionais de curto, médio e longo industrial, tecnológica, de serviços e de comércio prazo para a indústria, ciência, tecnologia e exterior. A mineração está incluída no Bloco 2 do para a mineração que servem como referências PBM, denominado “Sistemas Produtivos Inten- para a construção de políticas públicas concasivos em Escala”, tendo como diretrizes o fortale- tenadas entre os setores públicos, privados e cimento da mineração no país e o adensamento organizações da sociedade.
Caminhos e travessias para além da competitividade A diversidade geológica do território continental de 8.500.000 km2 emersos e dos 3.500.000 km2 imersos na Plataforma Continental juridicamente brasileira tornou o Brasil importante produtor de bens minerais e com grande potencial para ampliar e diversificar sua produção. Aproveitar a competitividade dos bens mi-
nerais brasileiros é correto, mas a prioridade das políticas públicas deve ser a agregação de valor e conhecimento em todas as fases da cadeia produtiva. Agregar valor e conhecimento significa bem mais do que o aumento do preço, implicando também na maior geração de empregos qualificados, investimentos públi-
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cos e privados em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) e acompanhamento das mudanças de mercado em função dos novos usos das substâncias minerais. Considerando os minerais estratégicos elencados no PNM – 2030, foram alinhadas abaixo algumas observações quanto às suas políticas: 1) Bens minerais com reservas e produção expressiva no país Ferro: dos 400,8 Mt (milhões de toneladas) de minério de ferro produzido em 2012, 125,4 Mt foram consumidos no mercado interno. Ampliar a produção de aço e ligas especiais continua sendo o principal desafio para otimizar o aproveitamento desse minério. Nióbio: a produção brasileira, em 2012, representou mais de 90% do total mundial. A principal empresa produtora desenvolveu, desde 1955, tecnologias e agiu com agressividade na abertura de mercados para os produtos desse metal, até então considerado como não aproveitável pelas reduzidas reservas e desconhecimento das suas qualidades físicas e químicas na indústria. A CBMM (70% Grupo Moreira Salles, 30% capitais asiáticos) investiu em PDI em todas as fases de aproveitamento do nióbio, principalmente para siderurgia. Em 1972, a empresa assinou contratos conexos com o estado de Minas Gerais sobre os direitos minerários do carbonatito de Araxá. Por meio desses contratos, a CBMM explora a sua mina e a do Estado, tornando-se líder mundial na comercialização de produtos e subprodutos finais de nióbio, sem vender minério bruto. São conhecidas centenas de ocorrências e jazidas de nióbio no mundo, inclusive no Brasil, além da permanente concorrência com outras substâncias minerais. O exemplo da CBMM de forte investimento em PDI, parceria com Estado produtor através de contratos conexos que garantem 25% de participação nos resultados apurados na comercialização dos produtos e subprodutos de nióbio para Minas Gerais, deveria ser visto como um referencial para o aproveitamento de outros bens minerais. 2) Bens minerais com produção insuficiente para nossa indústria Potássio: as substâncias necessárias para a fabricação de fertilizantes e corretivos de solo
são de grande importância, em especial o NPK, que atualmente garante parcela significativa da grande agricultura brasileira. O PNM – 2030 define ações no sentido de reduzir a importação que, em 2013, chegou a US$ 3,325 bilhões. Além disso, é fundamental a regularização da Lei 12.890/2013 que inclui rochas e minerais na categoria de insumos destinados à agricultura, o que reduziria ou substituiria o consumo dos fertilizantes NPK em muitas regiões do país. Carvão mineral: a história geológica do Brasil não permitiu a formação de grandes depósitos de carvão mineral metalúrgico cuja importação implica em expressivos gastos para o Brasil (US$ 3,06 bilhões em 2013). O aproveitamento de carvão mineral pelas usinas termelétricas viabiliza a instalação de indústrias que utilizem seus subprodutos como insumos para a produção de cimento, fertilizante e vapor. O aproveitamento de gás carbono das minas em atividade ou abandonadas e dos rejeitos são alternativas que devem ser realizadas de maneira a garantir o desenvolvimento sustentável das regiões mineradoras.
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1 SETOR MINERÁRIO 3) Bens minerais cuja demanda tende a crescer muito no futuro
produtiva que articule produtores do minério, refinadores e fabricantes dos produtos comercializados, o que está sendo encaminhado por diferentes iniciativas público-privadas.
Terras-raras: diversas iniciativas públicas e privadas têm sido efetivadas para o aproveitamento de elementos de terras-raras conhecidas em muitos depósitos no Brasil. Destacam-se as concentrações dessas substâncias nas minas em atividade, como em Araxá (MG), Catalão (GO) e Pitinga (AM), pois o material a ser beneficiado faz parte do minério atualmente aproveitado. O desafio para a entrada no mercado mundial, dominado por produtores chineses, é conseguir estabelecer uma rota na cadeia
FOTO: DIVULGAÇÃO
Lítio: nos últimos anos se consolidou o aproveitamento de compostos químicos de lítio para a fabricação de baterias para telefones, computadores e outros equipamentos portáteis. Também as baterias para veículos elétricos utilizam o lítio como matéria-prima. A produção e o comércio de lítio no Brasil mantêm uma legislação diferenciada em relação aos outros bens minerais.
PLANTA INDUSTRIAL da CBMM em Araxá (MG)
Desafios O governo federal deve reforçar a presença do Estado na gestão dos bens minerais do país, sem o autoritarismo dos governos militares nem a omissão do Estado, como aconteceu nos governos de 1985 a 2002. Para isso é fundamental: cumprimento e revisão periódica das ações previstas no Plano Nacional de Mineração - 2030, rediscutindo com todos os interessados os objetivos estratégicos e as ações; aprovação do novo modelo para a mineração
proposto no PL 5.807/2013, após consolidar as discussões com todos os interessados; discussão, aprovação e implementação de planos estaduais de mineração de longo prazo, como fez o estado do Pará, lançando nesse ano o “Plano Estadual de Mineração 2014-2030”; fortalecimento do sistema geológico, mineiro e de pesquisa científica e tecnológica mineral nos Estados da federação e sua articulação com os órgãos federais. SAIBA MAIS
Geólogo formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1972), professor do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (1980 a 2010). Secretário-adjunto de Minas e Metalurgia do Ministério de Minas e Energia (2003), secretário nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral (2005 a 2012). Doutor em Política e Economia Mineral pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
FOTO: FÁBIO R. POZZEBOM / ABR
CLÁUDIO SCLIAR
O texto “Mineração: o que é estratégico para o Brasil” foi enviado para publicação no “Caderno da Série Estudos Estratégicos”, editado pelo Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados. FONTES: Plano Nacional de Mineração 2030 MME | Sinopse Mineral – MME | Sumário Mineral 2013 – DNPM | Livros: “Minerais Estratégicos”, L. J. Moraes; “A Mineração em Minas Gerais: Passado, Presente e Futuro”, O. Pereira da Silva; “Minerais e Rochas. Base Material da Vida Humana”, Cláudio Scliar; “Geopolítica das Minas do Brasil”, Cláudio Scliar.
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GESTÃO & TI
ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br
O OUTUBRO QUE DESEJO
Q
uando chegou outubro, algo estranho aconteceu. Era domingo, dia de eleição, e o povo saiu às ruas para se divertir, não para votar. Foram para parques, bares, foram ao futebol, almoçaram fora, descansaram. Era domingo e ninguém pisava nos santinhos dos candidatos. A cidade estava limpa. Nenhum cavalete de propaganda eleitoral na esquina. As escolas estavam fechadas. As emissoras de TV se transformaram em milhares de canais de dados de alto desempenho na web. Quando chegou outubro, como num campeonato de pontos corridos, os candidatos já não faziam mais campanha. Eles contavam os resultados dos anos de trabalho desde que foram escolhidos, e todos sabiam o que haviam feito, graças à longa campanha que ficou no ar, prestando contas de seu trabalho pela rede. Os novos políticos, de seu lado, em seus blogs e vlogs, tratavam de mostrar ao povo suas empresas, comunidades, igrejas, vizinhança e o muito que haviam feito em cada um desses lugares, para que fossem escolhidos. O dinheiro do povo não era mais objeto de debate. Não podia ser gasto sem que todos vissem e soubessem. Os plebiscitos, agora comuns, se tornaram mensais, sobre qualquer tema a respeito dos quais os partidos não apontassem decisão num prazo máximo de poucas semanas.
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Quando chegou outubro, o povo tinha consciência política, um 1984 ao contrário, um Big Brother feito irmão de verdade, ajudando o povo a participar e conhecer, escolher e cobrar, tudo em tempo real. Quando chegou outubro, tempo de televisão não fazia sentido. Candidatos falavam cada qual em seu canal, vinte e quatro horas por dia, e podiam debater diretamente com a população no programa das seis da tarde, de segunda a sexta, em permanente cadeia nacional, para quem quisesse ver, sem obrigação. Quando chegou outubro e um candidato disse que a escola não estava pronta, a gente visitou o prédio pela web e constatou o fato, viajando pela internet das coisas. Foi nesse tempo que as pessoas viram que podiam decidir de verdade, dizer aos governantes o que queriam fazer. Não havia pesquisas estatísticas. Todas eram reais e completas pra dizer aos governantes das mudanças na semana entrante, não daqui a quatro anos. Os partidos já não eram os mesmos. Seus membros discutiam todo o tempo propostas e as redes sociais dos apartidários davam o tom das campanhas e planos de governo. Quando chegou outubro, a imprensa cobriu a escolha do povo como se cobre o tal campeonato de pontos corridos. Era só a final de uma longa disputa coberta ao vivo por todos os canais, mas não havia canais. Quando chegou outubro, o governo era leve e econômico e a tecnologia, naquele outubro, fez com que todos nos tornássemos cidadãos de fato, cidadãos digitais de um mundo virtual onde o voto, dado o tempo todo, determinou a felicidade do mês que vem, no mundo real. Quando chegou outubro, havia realidade e utopia misturando-se na mudança que a tecnologia certamente vai trazer para ajudar a construir uma sociedade melhor.
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(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG, presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.
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Arga Vidros | João Pinheiro
A empresa Andarilho da Luz desenvolveu e implantou o projeto Turismo de Vilarejo no município de Capivari. Um projeto criado para incentivar o ecoturismo na região, gerando renda e qualidade de vida para os moradores. Através de parcerias estratégicas, a gestão e a infraestrutura dos empreendimentos locais foram aprimoradas. A cidade se mobilizou para receber os turistas de maneira ordenada e com foco na sustentabilidade, incentivando o desenvolvimento e fornecimento de produtos e serviços pelos próprios moradores.
A empresa Arga Vidros desenvolveu máquinas de corte, lixadeiras e trituradoras para a reutilização dos resíduos de vidro. Os resíduos, depois de processados, tornam-se matérias primas para a fabricação de tijolos, blocos, manilhas, artesanatos, artigos de decoração para jardinagem e outros produtos. Além disso, toda a área de processamento dos resíduos foi construída com material reciclado.
Trivelato Geradores | Uberlândia Fazenda Vista Alegre | Manga A Fazenda Vista Alegre desenvolveu um projeto de atividades integradas: produção rural, laticínio e padaria. A bovinocultura abastece o laticínio, que abastece a padaria. O resíduo orgânico da padaria é utilizado na compostagem da fazenda. Além disso, a partir da disponibilidade de água para irrigação, a fazenda passou a desenvolver a piscicultura.
A Trivelato desenvolveu um motor de gerador que utiliza biogás de dejetos bovinos. Com isso, ela se tornou autossuficiente em energia elétrica, além de fornecer a energia excedente para uma concessionária vizinha – por meio de permuta. A empresa também faz coleta seletiva e destina corretamente seus resíduos; divulga práticas sustentáveis para as comunidades da região; além de ter eliminado o uso de poluentes tóxicos.
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P E R F I L : L E O N A R D O B O R TO L E T TO
Diretor-presidente da Web Consult, vice-presidente-executivo e de Inteligência Digital da Sucesu Minas e diretor do Clube de Permuta
“NADA FICA ESCONDIDO NAS
REDES SOCIAIS” Luciana Morais
redacao@revistaecologico.com.br
À
frente da Web Consult, empresa mineira nascida praticamente junto com a internet, ele tem como clientes da área digital quase todos os veículos de imprensa de Belo Horizonte. Aos 36 anos, Leonardo Bortoletto, também vice-presidenteexecutivo e de Inteligência Digital da Sucesu Minas e diretor do Clube de Permuta, se destaca nas diferentes instituições em que atua. Referência quando o assunto é avaliar o poder das novas mídias e o caminho das pedras para se comunicar bem na web, ele é enfático: “Nada fica escondido nas redes sociais. As pessoas compartilham as informações com intensa agilidade, principalmente aquelas que elas percebem serem enganosas e prejudiciais à população. Quem souber escutar os usuários é que irá se destacar”. Confira, a seguir:
O FOTO: DIVULGAÇÃ
O que é e como se aplica a inteligência digital? Inteligência digital é uma maneira de pensar e agir que reúne qualidades e características de tecnologia, comunicação e gestão. Por meio dela, empresas e pessoas conseguem fazer uso do que há de melhor nesses três mundos, com eficácia e desempenho. Estar nas redes sociais não é suficiente, é preciso ter presença digital. E isso envolve estar no lugar certo, comunicando da maneira correta e dialogando com o seu público. Para isso, realizamos estudo do público-alvo, levantamento de onde ele está e de seus interesses, além de identificar os objetivos do cliente. A partir daí, elabora-se uma estratégia adequada – linguagem e um conteúdo que de fato interessem ao público potencial –, levando em conta também o posicionamento da empresa. Qual é a sua visão sobre a ética na web, em especial agora, em tempo de eleições? A ética é importantíssima em qualquer área de atuação. Mostra o que a pessoa é de verdade, o seu caráter. E na web, não é diferente. A pessoa tem de ter moral e agir corretamente. Nada do que não faria na vida pessoal ela também não deve fazer na internet. Muitos costumam acreditar que a vida off-line e a on-line podem ser pensadas separadamente, mas estão engaBORTOLETTO: “Agir com inteligência digital é o único caminho"
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QUEM É
ELE
Formado em administração de empresas, o belo-horizontino Leonardo Bortoletto é coordenador do curso de MBA em Marketing e Inteligência Digital da Universidade Fumec, onde se graduou. É, ainda, conselheiro titular do Programa MGTI (destinado a colocar o setor de tecnologia da informação mineiro em posição de destaque no cenário nacional); integrante do conselho deliberativo da Sociedade Mineira de Software (Fumsoft) e colunista de inteligência digital da Rádio Inconfidência. Tem ampla experiência em captação e relacionamento com clientes e, há vários anos, ministra palestras sobre marketing digital, e-commerce, internet e temas afins.
nados. Tudo está conectado, tudo se mistura e tudo é real. De que forma as novas mídias (redes sociais etc.) modificaram e estão moldando a relação entre políticos e eleitores, bem como entre empresas e consumidores? Elas chegaram para mudar definitivamente a forma de relacionamento entre as pessoas e marcas. E quando digo marcas me refiro a qualquer instituição que queira se promover nas novas mídias: empresas, políticos, atores, músicos etc. Os usuários que estão presentes nessas redes são muito mais exigentes, não querem mensagens prontas e esperam um contato mais humano e personalizado. Não adianta, portanto, estar nas redes e ser robótico; é preciso que as marcas se humanizem para alcançar o público esperado. Quanto mais seguidores, maior é o sucesso de uma página ou de um perfil? Essa equação tem fundamento? A maioria das pessoas acredita nessa máxima. Porém, uma página bem-sucedida não é aquela que tem mais “curtidas”, e sim
“A melhor forma de evitar armadilhas na internet é agir com transparência e ética. Não prometa o que não pode cumprir, não faça propaganda enganosa de seus produtos e não tente enganar o usuário.” a que alcança o maior número de pessoas com o seu conteúdo. Conseguimos mensurar a audiência de uma marca por meio da interação que ela tem com os seus usuários: quantidade de curtidas, compartilhamento e comentários por postagens. Geralmente, o que vemos por aí são páginas que têm mais de 100 mil fãs, mas cuja interação deles com o conteúdo é baixíssima. Isso significa que a marca não está “conversando” corretamente com os seus seguidores. Como “conversar” e comunicar sustentabilidade de forma eficiente, valendo-se das novas mídias para informar as pessoas, em especial os jovens? É preciso prestar muita atenção no que o público quer “ouvir” e despertar o seu interesse pela sustentabilidade. Para isso, é necessário demonstrar, por exemplo, como a sustentabilidade contribui, na prática, para a melhoria do nosso dia a dia. Para agregar valor
e aumentar a eficiência desse processo é essencial ainda mapear todos os públicos-alvo, identificar o nível e o tipo de informação a ser repassado a cada grupo de pessoas. A comunicação deve visar tanto a educação e a conscientização individual quanto o comportamento profissional. Em recente entrevista a uma rádio você afirmou: “Um político ou empresário que só fala de meio ambiente da boca para fora é mais fácil de ser desmascarado nas redes sociais”. Por quê? Porque, como expliquei anteriormente, vida on-line e vida off-line não se separam. Nada fica escondido nas redes sociais. Os usuários compartilham as informações com intensa agilidade, principalmente aquelas que eles percebem serem enganosas e prejudiciais à população. As novas mídias ampliam o acesso à informação e embasam a tomada
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P E R F I L : L E O N A R D O B O R TO L E T TO
Diretor-presidente da Web Consult, vice-presidente-executivo e de Inteligência Digital da Sucesu Minas e diretor do Clube de Permuta
de decisões. Que ferramentas podem ajudar um político ou o presidente de uma empresa a se comunicar bem na web? A melhor forma de evitar armadilhas na internet é agir com transparência e ética. Não prometa o que não pode cumprir, não faça propaganda enganosa de seus produtos e não tente enganar o usuário. Agir de má-fé não foi nem nunca será considerada uma atitude correta. Porém, no passado, muitas pessoas acreditavam no que era “imposto” e informado a elas sem maiores questionamentos. Hoje, a nossa realidade é completamente diferente. Todos querem ter certeza – exigem – veracidade e transparência nas informações que estão consumindo. Para você, o que difere o internauta do leitor de outras mídias? Como conquistá-lo? O internauta participa ativamente e quase em tempo real do que as marcas estão “falando”. Digo em tempo quase real, porque alguns interagem com determinado assunto depois que ele já foi ao ar. Mas nem por isso a sua importância é menor, isso deve ficar claro. O usuário de internet tem, portanto, voz mais ativa. Estamos diante de novos produtores de conteúdo, de pessoas que querem ser ouvidas e, acima de tudo, atendidas em seus questionamentos. As empresas e marcas devem ficar atentas. Afinal, os usuários da web têm o poder de fazer a melhor ou a pior publicidade, isso dependerá de como as empresas/marcas vão interagir com eles. É preciso dar atenção, entender os questionamentos e personalizar o contato. A força da internet é inegável. Mas há também muita informação distorcida e dados
"Uma página bemsucedida não é aquela que tem mais 'curtidas', e sim a que alcança o maior número de pessoas com seu conteúdo." incorretos que são publicados e replicados ad infinitum sem qualquer controle. Como aliar qualidade da informação e confiabilidade no mundo digital? Isso ocorre porque, como afirmei, estamos cada dia mais diante de novos produtores de conteúdo. Com a internet, as pessoas conquistaram o poder de se expressar para um grande público. Muitas fazem bom uso desse poder, informando e alertando os que estão conectados a elas. Infelizmente, outras fazem o uso maldoso. Para reconhecê-las, temos que ter “maldade”... Como separar o joio do trigo? Os usuários precisam saber realmente em que e em quem acreditar e confiar. É fundamental pesquisar, identificar, conferir a fonte e a veracidade da informação. Só assim é possível se resguardar de cair em golpes ou de acreditar em algo infundado. Acredita que haverá mais esperança de conservação do planeta na medida em que cresce o compartilhamento de notícias e de conceitos ambientais? Com certeza. Afinal, as pessoas só tomam consciência dos problemas quando somos capazes de mostrar a elas quais são os desafios a serem enfrentados. Precisamos informar o que está acontecendo e orientar os diferentes
públicos na busca das melhores soluções. É um trabalho de formiguinha, com um ajudando o outro até atingirmos o objetivo final: um mundo melhor e mais sustentável para todos. Em seu perfil no Twitter você se apresenta como cristão, marido, pai. Fale sobre seus valores de família e religião. Quantos filhos você tem? Tenho dois. Acredito que, sem Deus, nem estaríamos aqui. Ele me fez chegar onde estou e me concedeu uma família abençoada, que é a minha base. Um homem bem-sucedido precisa ter raízes fortes e um porto seguro onde renova as suas forças. “Se Deus disse que eu posso, então eu posso.” É otimista em relação ao futuro da internet? Para onde caminhamos? O mundo não está em constante mudança, ele já mudou. Empresas que simplesmente transferem informações de uma plataforma para outra estão perdendo seu tempo. É preciso ir além, reconhecer as oportunidades que o ambiente digital oferece. Quem souber escutar os usuários nas redes sociais é que irá se destacar. Estratégias empresariais com foco em negócios digitais, universo on-line e mídias sociais estão na ordem do dia em todos os setores da sociedade. Quem não se comunica de forma ágil, assertiva e eficiente na web está na contramão do sucesso. Agir com inteligência digital é o único caminho para crescer e expandir mercados, obtendo lucro na internet.
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FOTO: DOLLARPHOTOCLUB
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ESTADO DE ALERTA
FOI-SE O FOGO. E AGORA?
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arece que, para 2014, acabou a “temporada de fogo”. Mas não seu rastro de destruição. Não haverá contabilização dos prejuízos. Não existe metodologia nem a intenção de desenvolver uma. E realmente é difícil. Como expressar economicamente os danos aos rios causados pelas toneladas de cinza que serão levadas pela chuva aos cursos d´água? E quanto vale a vida dos passarinhos, cobras, lagartos, lobos, jaguatiricas, roedores e árvores que foram queimados vivos, tal como se fazia com os hereges na época da inquisição? Os danos sobre o solo exposto ao sol e à erosão? Só é fácil quantificar o lucro das empresas farmacêuticas pelo aumento da venda de remédios anti-alérgicos contra a fumaça que tornou cinza o azul do céu em Minas. A luta foi dura, de “amanhecer o dia” no combate ao fogo. De fazer lifting de graça no rosto com o calor das chamas. Mas os danos seriam maiores se não houvesse resistência. As brigadas profissionais mantidas por empresas em parceria com a Amda e a Terra Brasilis (Vale, Gerdau, Usiminas, AngloGold, Ferrous e Vallourec) foram fundamentais na região central do estado. E mais do que nunca, as brigadas voluntárias e os voluntários que “aparecem do nada” perguntando o que podem fazer. Em Carrancas, perto de São João del-Rei, morreram dois brigadistas. O governo atuou por meio do PrevIncêndio, que apesar dos esforços, mostrou-se insuficiente para enfrentar a situação. Se tivéssemos caminhões pipas disponíveis, o incêndio que consumiu grande parte do Parque Estadual do Rola Moça, nos dias 11 e 12 de outubro, teria sido muito menor. Logo que os campos queimados forem cobertos pelo verde do capim que substituirá grande parte das florestas destruídas, muita gente se esquecerá
dos incêndios. Mas, considerando a concentração das chuvas em períodos mais curtos e o alongamento dos meses de seca, consequências das alterações climáticas já anunciadas há tempos pelo Painel de Mudanças Climáticas da ONU e os incendiários de plantão, a lembrança será reavivada em 2015. Talvez ainda pior. O que fazer? É a pergunta feita por todos. É impossível acabar com os incêndios. Mas é possível diminuir a quantidade e seus danos. Prevenção, vigilância e combate são as três linhas de ação para que isso aconteça. Prevenção se faz com informação/educação pelo poder público, igrejas, escolas, empresas, clubes, associações e imprensa formando uma gigantesca corrente de intolerância social ao fogo. Emater, IMA, polícias rodoviárias, prefeituras, todos deveriam se unir. Belo Horizonte e Nova Lima recebem ICMS ecológico pelo Rola Moça e Estação Ecológica de Fechos. Mas não ajudam em nada. É preciso vigilância e combate com planejamento, muita melhoria do PrevIncêndio, formação e estruturação de brigadas voluntárias, aumento das profissionais e criação de batalhão especializado no Corpo de Bombeiros. A Região Metropolitana de Belo Horizonte bebe da água que brota das nascentes nas Unidades de Conservação e fora delas. São mais de quatro milhões de pessoas, das quais, grande parte acredita que incêndios são “naturais” e nem imaginam que danos eles causam e causarão às suas vidas. Elas estão blindadas pelo desconhecimento. O mesmo não se pode dizer daqueles que tomam decisões, propõem leis, gerenciam a educação, gastam dinheiro público e influenciam comportamentos da sociedade. Eles podem mudar isso. (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).
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PRISCILA FREIRE em sua Reserva Particular Ecológica (RPE) preservada no bairro Bernardo, em BH: alimento para a alma
FOTO: MARCOS TAKAMATSU
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UM VERDE PARA CHAMAR DE MEU Prefeitura de BH incentiva a criação de Reservas Particulares Ecológicas para aumentar a quantidade de áreas preservadas na capital mineira Cristiane Mendonça
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SMMA inicia, então, uma abordagem desses proprietários, que, caso aceitem o acordo, mantêm a área conservada durante a vigência do contrato, que tem um período mínimo de 20 anos, podendo ser renovado. Em contrapartida, os donos recebem isenção proporcional ao tamanho da área no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Os interessados também podem contatar a Secretaria e oferecer suas áreas, pois não existe uma exigência mínima para o tamanho do espaço verde. Basta apenas o aceite do proprietário e o cumprimento das etapas contratuais, por meio da apresentação de documentação legalizada, incluindo análise e aprovação feitas pelo Conselho Municipal do Meio Am-
MÁRCIA MOURÃO: “Nosso objetivo é formar mosaicos verdes em BH”
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FOTO: SMMA
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o cenário cinza e árido das cidades, desfrutar da sombra de uma árvore ou apreciar a presença dos pássaros faz uma diferença enorme para quem vive em ambientes estressantes. Afinal, a proximidade com a natureza traz benefícios para a saúde (isso já foi comprovado cientificamente), melhora o microclima e colabora para a preservação de espécies adaptadas à vida urbana. Em diversas cidades brasileiras, por meio de legislação ambiental específica, já foram criados mecanismos de incentivo e reconhecimento para aqueles que protegem e preservam o meio ambiente. E, no caso de BH, isso é feito por meio da Reserva Particular Ecológica (RPE). A iniciativa é, na verdade, uma “parceria ecológica” entre os proprietários de áreas verdes particulares, no perímetro urbano, e a prefeitura municipal. Funciona da seguinte maneira: agentes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) mapeiam, por meio de fotografias aéreas e observações de rotina, locais que possuam vegetação relevante. A
FIQUE POR DENTRO
A Reserva Particular Ecológica (RPE) é uma modalidade de área protegida específica do município de Belo Horizonte, criada e regulamentada pelas leis municipais 6.314 e 6.491, de 1993, para estimular a preservação de áreas de propriedade particular de grande relevância sob o ponto de vista ambiental. As RPEs são instituídas por iniciativa dos proprietários dos imóveis, que podem requerer ao Executivo a transformação, nesse tipo de reserva, por período mínimo de 20 anos, da totalidade ou de apenas parte de suas propriedades, com isenção proporcional de IPTU, uma vez identificados seus valores ambiental e ecológico, conforme estabelecidos pelas referidas leis.
biente do Município (Comam). Essas medidas já garantiram a criação de nove RPEs somando um total de 210.775,55 m2 de áreas verdes protegidas, que estão localizadas nos bairros São Bernardo, Engenho Nogueira, Braúnas, Jaqueline, Candelária
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1 PRESERVAÇÃO
MOSAICOS VERDES Segundo a gerente de Gestão Ambiental da SMMA, Márcia Mourão, “a proposta tem como objetivo formar mosaicos verdes em Belo Horizonte que garantam a sobrevivência da fauna e flora que vivem nesses espaços”. E comemora: “Além das nove RPEs criadas, existem sete novas áreas com potencial passando pelo processo de avaliação”. A aposentada Priscila Freire, de 80 anos, é proprietária de uma área de 53 mil metros quadrados no bairro São Bernardo, região norte da capital, um terreno que pertence à família há mais de cinquenta anos. Ela conta que o pai comprou a chácara em uma época que o espaço ainda pertencia à cidade de Santa Luzia e tudo em volta era, como ela mesma diz, “mato e estrada para carros de boi passarem”. Hoje o cenário é bem diferente. A cidade cresceu, e no entorno da área verde, barracos e casas surgiram. O ribeirão Pampulha que passa nos limites do terreno, segundo Freire, “era limpo e caudaloso, mas hoje é um córrego poluído”. Apesar da atual realidade, quem atravessa os muros que cercam toda a propriedade tem logo a sensação de ter entrado em outro mundo, totalmente diferente da urbanização desordenada que está do lado de fora. O terreno é repleto de árvores,
RESERVA NÚMERO UM A primeira RPE de BH - do Clube Veredas, no bairro Braúnas, instituída em 1994 - completou 20 anos em fevereiro deste ano. Para comemorar o marco e a elevada densidade de nascentes preservadas em sua área, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Zoo-Botânica (FZB-BH), doou 85 mudas de diversas espécies nativas da flora belo-horizontina para que fossem plantadas na reserva. Acompanhado do secretário municipal de Meio Ambiente, Délio Malheiros, Jairo Romulo da Silva, um dos proprietários da RPE, fez o plantio simbólico de uma das mudas.
FOTO: DANIEL PAIVA
e São João Batista. Atualmente, duas delas estão em fase de reavaliação e outras três passam por um processo de transformação em novas RPEs, representando mais 87.082,15 m2 de área verde. Todas as reservas são monitoradas, mensal ou bimestralmente, pela SMMA. Caso alguma medida de preservação não seja considerada pelos proprietários, agentes da prefeitura repassam orientações técnicas para que os ajustes sejam realizados.
algumas delas alcançam até 15 metros de altura. Espécies como ipê-amarelo, jacarandá-mimoso, acácia-imperial, mulungu, paineira, pitangueira e canela fazem do lugar um oásis verde. Todas plantadas ao longo das últimas décadas por Priscila e seu pai, já falecido. Pássaros como sabiá, tucano e saracura, além de micos e abelhas-jataí, também dão o ar da graça no local. “Todos os dias acordo cedo, por volta das seis da manhã, e caminho debaixo das árvores. Gosto de observar se há galhos secos, como as árvores estão e quais animais ou insetos surgem ou desaparecem do lugar. Isso faz toda a diferença na minha qualidade de vida.” Priscila conta que já conhece o tipo de pássaro pelo canto e que se surpreendeu, há pouco tempo, com um perfume adocicado entre as árvores, que descobriu depois tratar-se de uma pitangueira florida. “Esse lugar tem um valor enorme para mim. Não queria que fosse destruído de forma alguma,
DÉLIO Malheiros e Jairo Romulo na RPE: marco verde
que virasse loteamento”, revela. Por isso, partiu dela a iniciativa de propor à prefeitura uma parceria para tombar o local e transformá-lo em área de proteção ambiental. O “acordo” existe há 15 anos. “A redução no IPTU foi importante para que eu continuasse morando aqui, uma vez que, se não houvesse o desconto, não conseguiria me manter nesse lugar”, afirma ela, que irá renovar o contrato por mais 20 anos. O desejo de Priscila, no entanto, vai além da conservação ambiental: após sua morte, quer que a área seja transformada em um espaço de arte e cultura aberto ao público. Ex-diretora do Museu de Arte da Pampulha, ela doará toda a propriedade para a Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), para a criação de uma unidade museológica integrada à reserva ecológica.
SAIBA MAIS
www.pbh.gov.br
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UNIDADE BELO HORIZONTE - CIDADE JARDIM
MBA em Gestão do Ambiente e Sustentabilidade -3ª Turma O curso foi concebido de modo a refletir sobre a interdependência entre as necessidades e desejos humanos e os ciclos da natureza. O programa considera, ainda, que possuir conhecimentos sobre os processos naturais, práticas de gestão ambiental, responsabilidade social e sustentabilidade, aliados à capacidade crítica para construir ou analisar opções alternativas são competências diferenciadas que se tornam, a cada dia, mais essenciais para garantir competitividade no mercado de trabalho.
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MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
COPAÍBA
oi numa época de muita seca que me dei com uma copaíba (Copaifera langsdorffii) das grossas durante uma andança no ermo do sertão. Desci do animal e dei reparo no seu porte majestoso, de copa enfeitada por milhares de folhas minúsculas de coloração vermelho-alaranjadas. Suas ramas estavam encarangadas de bagas escuras escondendo negras sementes recobertas por um belíssimo arilo alaranjado de sabor adocicado. O geraizeiro trata ela de pau-de-óleo, nome derivado do óleo que corre em suas entranhas de grande serventia medicinal. Aboletado novamente na sela do animal, fiquei cismando de onde viria aquela força restauradora, já que a terra estava que nem um braseiro e a chuva sem sinal, há meses. Olhei pro céu e vi só uns “forro ramiado” nos barrados, sem esperança de água no breve, quem sabe no largo. Aqui em nossas paragens, a copaíba se mostra acanhada. Mas lá no meio da floresta, no norte do Brasil, ela se agiganta numa enormidade pra mais de 30 metros. Me alembrei de uma passagem vivida há tempos no meio daquele matão, história que se deu durante trabalho de campo realizado beirando o Rio Capim, no interior do Pará, quando tínhamos como missão colher óleo de copaíba. Acompanhado de Raimundo Santinha, mateiro experiente, eu me esforçava em seguir suas passadas largas. Mas era grande a dificuldade, pois o calor e a umidade faziam minha roupa grudar no corpo e o suor escorrer pela testa embaçando a visão. Uma nuvem de maruim zoava a minha
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volta entrando no ouvido, grudando no suor, picando e coçando, pra completar minha fadiga. Num demorou pra ele estancar e, com o desembaraço de quem tem força física privilegiada, destampou sua capanga, empunhou um trado dos grandes, que é uma ferramenta semelhante a um saca-rolha, e deu de furar o tronco de uma copaíba bem na minha frente. Eu já sabia que o óleo da árvore era muito usado antigamente para tratamento da gonorreia e acabou por ganhar fama como anti-inflamatório tanto interno quanto externo. Enquanto ele furava, fiquei ouvindo e admirando as recomendações na sua coleta, além de outras serventias do óleo: - Num pode vir buscar óleo com muié, pois o óleo dá de se escondê e num baixa por nada. E tamém dispois que ocê arrodeou a árvore, num estica os zoios prá riba não, pois tamém dá de secá o óleo cá em baixo... Nóis aqui usa dele pra quarquer tipo de inframação. Pode sê dos peito, inté com chiado, que ele arresorve. Quando é caso de dor nas junta ele é bão tamém, num dilata muito e o resurtado se apresenta. Tem vez que esfrego ele nos braço e no pescoço pra maruim num montá por demais, mas pode tamém misturar ele com mel e limão nos casos de tosse braba e dor de garganta. Fui anotando tudinho e agora passo pra vocês. Inté a próxima lua!
(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.
FOTO: MARCOS GUIÃO
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NATUREZA MEDICINAL
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FOTO: SHUTTERSTOCK
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - Série “A Origem da Vida” - Parte III
HÓSPEDES DO
PLANETA AZUL No último texto da série, o nascimento da fotossíntese, as grandes extinções e a certeza de que somos meros passageiros dessa imensa e maravilhosa nave Luciana Morais
redacao@revistaecologico.com.br
A
pesar de estudiosos ainda não saberem exatamente como a vida surgiu em nosso planeta, é possível decifrar a sua história ao longo dos bilhões de anos da Terra. Mas isso também não é tarefa fácil, pois, como vimos nos dois textos anteriores desta série, os seres vivos são frágeis e dificilmente deixam qualquer tipo de marca. Os corpos, tecidos e células, feitos majoritariamente de moléculas orgânicas, rapidamente se degradam no ambiente. No entanto, em circunstâncias muito especiais, processos geológicos podem agir, provocando a preservação de estruturas e moléculas biológicas, desde seres unicelulares a gigantescos dinossauros. Trata-se do processo de fossilização. A paleontologia é a área da ciência que estuda o passado da
vida no planeta, usando os fósseis como pistas para desvendar um quebra-cabeça de quase quatro bilhões de anos. Animais fossilizados são conhecidos há tempos. Há descrições deles séculos antes de Cristo, feitos pelo filósofo grego Xenófanes. Observando fósseis de peixes e conchas, ele propôs que locais secos haviam sido mares. Foi uma das primeiras interpretações do passado do planeta baseada nessas evidências. O estudo dos fósseis permitiu enxergar a vida na Terra não apenas como uma fotografia do presente, parada no tempo, mas como um precioso longa-metragem, com uma sucessão de diferentes formas que apareceram e desapareceram, ao longo de milhões, bilhões de anos. Para recontar essa história, houve um esforço extraordinário
de geólogos e paleontólogos, começando no século XVIII, com a catalogação e datação de fósseis por todo o planeta, organizando-os em grandes cladogramas (parecidos com as árvores genealógicas, porém de várias espécies). Esse trabalho permitiu que Charles Darwin (1809-1882) enxergasse que havia real continuidade na história da vida, e que cada espécie no registro descendia de outra anterior, em um lento processo de modificação. Essa demorada dinâmica levou à construção de toda a diversidade biológica que hoje conhecemos e chamamos de evolução. SELEÇÃO NATURAL Após séculos de observações cuidadosas do registro fóssil, geológico e mesmo de experimentos em laboratório, pode-se dizer que
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NASCE A FOTOSSÍNTESE Um passo evolutivo importante desses organismos se deu quando começaram a fazer algo totalmente inovador. Em vez de depender da energia de moléculas presentes nos mares, alguns desenvolveram a capacidade de captar a luz solar e transformá-la em energia química, que passou a ser usada, então, para suas atividades celulares: viver e se reproduzir. Havia sido inventada a fotossíntese: etapa crucial na história do planeta. Até há cerca de 2,1 bilhões de anos, a atmosfera da Terra era composta basicamente de nitrogênio, gás carbônico e vapor de água, sem oxigênio. Os organismos vivos unicelulares que existiam até essa época eram todos
anaeróbicos, ou seja, viviam sem precisar de oxigênio, ao contrário da maioria dos seres vivos que conhecemos hoje (incluindo nós mesmos), que são aeróbicos. A fotossíntese se mostrou um processo altamente eficiente de obtenção de energia; e os organismos capazes de fazê-la prosperaram e se multiplicaram pelo planeta. Mas, como tudo tem seu preço, além de energia, a fotossíntese também produzia oxigênio. Com isso, a química da atmosfera do planeta começou a mudar. E esse “ponto de mutação”, em 2,1 bilhões de anos, representou o primeiro momento em houve um grande aumento no volume de oxigênio, não apenas na atmosfera, mas nos oceanos e nos minerais, formando os óxidos pre-
FOTO: DOLLARPHOTOCLUB
a evolução é um dos fatos científicos mais bem comprovados. Sabemos que a vida é um longo processo de mudança, que ocorre de forma aleatória, baseado nas recombinações dos genes dos organismos parentais e por mutações. Apesar de a variação depender da genética dos indivíduos, é a interação com o planeta, com o ambiente onde vivem, que seleciona quais seres estarão aptos a continuar vivos e passarem seus genes adiante. É a chamada seleção natural. Ela fez com que, depois de bilhões e bilhões de anos, os organismos se tornassem tão bem adaptados quanto hoje: peixes respirando embaixo d’água, pássaros com ossos fortes e leves para voar e, nós, humanos com um grande cérebro e destreza manual. Todos ativos e capazes de lidar com um ambiente em constante mudança – e até mesmo com as bactérias cada vez mais resistentes aos nossos antibióticos. Os fósseis mais antigos já encontrados datam de cerca de 3,5 bilhões de anos atrás. São de organismos unicelulares, como as bactérias. Muito pequenos, com um centésimo do diâmetro de um fio de cabelo, só foram descobertos com o desenvolvimento das técnicas modernas de microscopia. Através dos fósseis, hoje sabemos que por bilhões de anos nosso planeta foi habitado basicamente por esses organismos unicelulares.
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FOTO: KBEIS
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - Série “A Origem da Vida” - Parte III ENTENDA MELHOR
FOTO: HEINRICH HARDER
O ABC DAS GRANDES EXTINÇÕES
A)
sentes em praticamente todos os solos e rochas da superfície. EXTINÇÃO EM MASSA Pequenos micro-organismos, dispersos pelos oceanos, causaram uma alteração global. No entanto, o oxigênio é um gás bastante tóxico para muitas espécies. Dessa forma, todos os organismos que não o toleraram morreram, numa grande extinção em massa. Só escaparam aqueles que conseguiram se adaptar ou viviam em regiões protegidas, como o fundo dos oceanos, lagos e do solo. Essa foi uma das primeiras grandes extinções do planeta. Infelizmente, poucas evidências ficaram preservadas, para nos permitir entender melhor a dimensão desse efeito. Adicionalmente, o oxigênio parece ter tido outro impacto importante. Organismos que usam oxigênio em seu metabolismo são capazes de liberar muito mais energia, que
pode ser usada para atividades mais complexas ou para produzir tecidos e corpos maiores. Evidências indicam que há relação muito próxima entre o aumento do oxigênio nos oceanos e atmosfera e o aparecimento, no registro fóssil, dos primeiros organismos multicelulares (feitos de várias células, formando tecidos). Os multicelulares foram se adaptando e, há cerca de 540 milhões de anos, surgiram indícios dos primeiros animais. Esse momento é de extrema importância na paleontologia, pois é quando aparece, no registro fóssil, uma enorme diversidade de formas vivas. Praticamente todos os grandes grupos de seres vivos que conhecemos atualmente surgiram naquela mesma época, e se irradiaram por todo o planeta, formando a base da biodiversidade que hoje conhecemos. Quer saber como se deram essas e outras mudanças? Leia a seguir:
O rápido aumento da diversidade de fósseis no planeta, 540 milhões de anos atrás, foi batizado de “Explosão do Cambriano”. Podemos separar o mundo antes dele, dominado por organismos unicelulares ou de estrutura corpórea simples (o PréCambriano) e depois, com toda a diversidade de formas e funções que conhecemos (o Cambriano). Tudo parece estar ligado ao aumento de oxigênio na atmosfera, gerado pelos micro-organismos fotossintetizantes. Outras importantes alterações viriam com o tempo. Espécies surgindo e desaparecendo de forma cíclica no registro fóssil, devido a diferentes fatores ambientais e genéticos.
B)
A biodiversidade é dinâmica no planeta, algumas espécies desaparecem, enquanto outras tomam seu lugar. De tempos em tempos, esse processo é muito intenso. Observando o registro fóssil, é possível distinguir claramente momentos com drástica diminuição na diversidade de formas – as chamadas “grandes extinções”.
C)
Nos últimos 540 milhões de anos temos registros de cinco delas: extinção do Ordoviciano, do Devoniano Superior, do Permiano, do Triássico-Jurássico e K-Pg (CretáceoPaleogeno). Os nomes são dados pelas eras geológicas em que aconteceram. O mais famoso é, sem dúvida, o K-Pg, ocorrido há cerca de 65 milhões de anos. Ele separou o período Cretáceo do Paleogeno. Anteriormente, o Paleogeno era conhecido como Terciário. Levou à extinção de grande parte dos dinossauros, além de outras classes de organismos. É uma das poucas grandes extinções que está diretamente relacionada a um evento astronômico.
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– Uma cratera de centenas de quilômetros de diâmetro foi descoberta no fundo do oceano Atlântico, na Península de Yucatán, próximo ao México, há mais de 60 milhões de anos. Por modelos teóricos, calcula-se que ela tenha sido formada pelo impacto de um asteroide de 10 km de diâmetro, viajando a centena de milhares de quilômetros por hora e que liberou energia equivalente a 10 bilhões de bombas atômicas! Os efeitos foram sentidos em todo o planeta, causando incêndios, fervendo oceanos, formando tsunamis e, o mais letal: lançando na atmosfera uma nuvem de poeira e destroços que permaneceu encobrindo o Sol, tornando inviável a fotossíntese por longo tempo.
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– Sem a possibilidade de fotossíntese, grande parte das plantas morreu, bem como herbívoros e carnívoros, alterando drasticamente o clima global. Os dinossauros não foram capazes de lidar com essa enorme
alteração do ambiente, e muitas de suas espécies se extinguiram. Poucos exemplares resistiram e continuaram seu caminho evolutivo, dando origem, por exemplo, aos répteis e pássaros atuais. Seus antepassados eram dinossauros!
3
– Apesar de parecerem trágicas (e para os dinossauros certamente foram), as extinções são eventos que fazem parte da história da vida em nosso planeta. A todo o momento, espécies são extintas, enquanto outras surgem. Mas só de tempos em tempos ocorre um evento de extinção de grandes proporções. E acreditem: após cada um deles a biodiversidade milagrosamente se recupera. E mais que isso: aumenta.
FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Texto original e supervisão científica: Douglas Galante – Laboratório Nacional de Luz Síncrotron/Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNLS/CNPEM) e Fabio Rodrigues – Instituto de Química / Universidade de São Paulo (IQ/USP).
FOTO: DOLLARPHOTOCLUB
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Eventos extremos
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ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - TRÊS PERGUNTAS PARA...
DOUGLAS GALANTE
FOTO: DIVULGAÇÃO
Doutor em Astronomia e pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS/CNPEM)
Evolução natural
Quer dizer, então, que a Terra seria hoje um lugar muito diferente do atual, e talvez nós, humanos, nem mesmo tivéssemos surgido? Pode-se dizer que extinções são ruins para as espécies que desaparecem, mas integram o processo natural da vida. E ao que tudo indica, essenciais para a manutenção da diversidade em escala global. Obviamente, isso não é desculpa para nós, seres humanos, acelerarmos o processo de devastação do planeta, dizimando florestas, explorando recursos vegetais ou animais de forma descontrolada. Isso implica em riscos muito sérios. O de desaparecermos da face da Terra, por exemplo? É praticamente impossível prever, mesmo como todo o nosso conhecimento científico, quais serão os resultados evolutivos e ecológicos da intervenção humana no planeta. Mas é fato que, extinguindo uma única espécie, corremos sim
o risco de gerar reações em cadeia, que podem tornar o planeta inabitável para nós. Portanto, é nosso dever cuidar o melhor possível de todo o ambiente e das inúmeras belezas e maravilhas da biodiversidade que nos cerca. REFLEXÃO - Para onde caminhamos? No encerramento dessa misteriosa viagem em busca dos conceitos e milagres sobre a origem do planeta e da humanidade, uma conclusão se destaca: a vida encontrou – e sempre encontrará – formas de manter seu lugar na Terra. Hoje, sabemos que é praticamente impossível extingui-la em toda sua completude e complexidade. Há seres vivos por toda a parte, do fundo das rochas até a alta atmosfera (e talvez até mesmo escapando lentamente para o espaço). Para destrui-los em seu conjunto teríamos que praticamente destruir o planeta, e isso só aconteceria com um impacto de asteroide muito maior que o dos dinossauros, ou ainda, em alguns bilhões de anos, quando o Sol se tornar uma gigante vermelha, varrendo a Terra do Sistema Solar. Sendo assim, no lugar da arrogância de nos considerarmos superiores às demais formas de vida, o que nos cabe é a reverência. E a eterna certeza de que somos hóspedes, meros passageiros dessa imensa e errante nave azul. Fica a esperança de que, com o tempo, consigamos desenvolver mais e mais tecnologias capazes de melhor preservar a habitabilidade do planeta. E, quem sabe, tenhamos até a chance de viajar a outros mundos, à procura de exoplanetas adequados para vivermos ou mesmo modificá-los, criando novas Terras através da galáxia. Por enquanto, o que aprendemos da vida na Terra é que ela sempre continua, talvez até mesmo após o fim do nosso Sistema Solar!
FOTO: YANN ARTHUS
Analisando o evento K-Pg é correto afirmar que, quando os dinossauros se extinguiram, eles liberaram espaço e oportunidades para os mamíferos prosperarem? Essa é uma questão realmente importante. Antes da extinção, mamíferos eram pequenos e raros, mantidos sob controle populacional pelos grandes predadores. Com a extinção destes, os mamíferos se espalharam pelo planeta, as populações cresceram e novas espécies surgiram. Inclusive, milhões de anos depois, nós, os Homo sapiens.
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OLHAR INTERIOR
ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE OSLO, NORUEGA
RECICLANDO
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á cerca de quatro anos, tínhamos uma infraestrutura, na porta aqui de casa, para reciclar papel, vidro e metal. Além, é claro, de receber dinheiro por garrafas PET e latinhas entregues nos postos autorizados. Agora, um sistema de reciclagem ainda mais elaborado e já em uso em várias regiões de Oslo, capital da Noruega, chegou finalmente ao nosso bairro. Três contêineres nem tão grandes, mas bem profundos, com um sistema muito eficiente de vedação – há algo pior do que mau cheiro de lixo? –, foram instalados na frente dos edifícios. Um recebe as sacolas verdes contendo restos de comida; as azuis, com plásticos; e qualquer outra sacola acondicionando o material que não pode ser reciclado. Os outros dois são: um para a disposição de papel e o outro para vidro e metal juntos. Porém, toda a cadeia de reciclagem se inicia na casa de cada cidadão. Debaixo da pia da cozinha há quatro pequenos contêineres para cada tipo de material a ser reciclado. O que mais me espanta é que, para cada sacola verde, cheia quase sempre só até a metade com restos de comida, se reciclam no mínimo três sacolas azuis estufadas de plástico. São as embalagens dos alimentos! E a matéria-prima disso é petróleo. Que desperdício absurdo de recursos naturais! Porém, em vez de focar minha atenção no desperdício ou no lado nem tão estético assim de ter na entrada do edifício contêineres de reciclagem, prefiro cultivar a satisfação de ter esse sistema instalado por toda a cidade, permitindo aos moradores de Oslo exercerem sua cidadania ambiental. É apenas uma questão de escolha de narrativa. Em qual história você decide investir sua energia? Com esse ato de seleção, é possível reciclar a série de pensamentos que determina seu comportamento – e guia a sua vida. Um exemplo? Eu tinha chegado em Nova York há três dias. Certa noite, acordei às quatro horas da madrugada e não consegui dormir mais. Meus pensamentos rodopiavam em torno das emoções que vinha vivenciando todos aqueles dias: o de estar sozinha, de não ter o olhar “do outro” para projetar mi-
FOTO: ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG
O LIXO E A MENTE
OS CONTÊINERES ecológicos de Oslo: instrumentos para exercer a cidadania ambiental
nhas identificações e obter algumas confirmações de, por exemplo, quem eu sou ou como eu me comporto... Tantas perguntas que, no fim, eu me vi em uma sala lotada de objetos. Essa imagem representava o meu “eu”, tão cheio, tão empoeirado, e todas as ideias que tenho sobre mim mesma... Lembrei-me, então, de duas frases de um livro da monja budista Pema Chödrön: “Seu senso de si mesmo é uma versão muito restrita de quem você realmente é”; e “não acredite em tudo o que você pensa”. Lá estava eu, contando uma história sobre mim mesma, como estava me comportando em NY, porque vivenciava aqueles sentimentos etc. Sorri e decidi reciclar também a minha história, construindo outra narrativa e refletindo: com que sabedoria eu estava vivendo minha experiência em NY; como eu vinha encontrando espaços que me permitiam relaxar; como eu procuro me conectar com a bondade de cada um; e como eu estava satisfeita e feliz comigo mesma. Eu estava, dessa forma, pronta – e ansiosa – para iniciar ali um novo dia! (*) Life coach, psicanalista e consultora internacional de comunicação.
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FOTO: ARQUIVO PESSOAL
le é que nem passarinho. Vive voando em solitário de repovoamento das regiões mineiras. busca de ninhos, cada vez mais elaborados. João sorriu e decidiu continuar o seu voo. PouVoa para lá e para cá e agora quer sobrevo- sou em Manaus, Amazonas, onde fez mestrado no ar a si mesmo. Aceitou o desafio de conquistar o Instituto de Pesquisas da Amazônia, sempre com título de doutor em Ecologia e foco em passarinhos. RecémEvolução das Espécies, na Unicasado, foi embora para Chiversidade de Illinois, Museu de cago (EUA). Está lá há poucos História Natural de Chicago, meses, batendo asas e formanEstados Unidos. Vai trabalhar, do um novo ninho com a mudesta vez, em inglês, com as lher Ana Luiza. aves das campinas amazônicas, Amiga desde os tempos do que têm características diferenmaternal, na Escola Albert ciadas de outras das florestas. Einstein e da Serra, Celeste, João Marcos Guimarães mãe de João Marcos, conta que Capurucho, de 30 anos, é igual ele começou a voar cedo. Foi passarinho. Louro, de olhos morar na casa do avô Alberto, azuis, se parece com um caque amava os canários-belgas. nário-da-terra. Estuda os pásJoão ajudava o avô a cuidar de saros desde que pousou lá na todos eles, porque eram muiUniversidade Federal de Viçosa tos. E, com certeza, começou aí (UFV) para se formar em Ciêno encantamento pelos pássacias Biológicas. ros. Celeste confessa que João Amigo do meu filho desde o não só aprendeu a voar alto, maternal, João Marcos um dia como também está ensinando JOÃO MARCOS: amor aos passarinhos me perguntou com seus olhos o ofício para ela. “Se algum dia azuis inquietos: “Para que estudar passarinho? eu tive asas, não me lembro. Ou, então, elas estaQual a importância para a vida prática?”. Na hora, vam quebradas. E precisei da ajuda de meu filho lembrei-me de um dos primeiros ecologistas que para voltar a voar.” É que João nunca quis ficar conheci: Dr. Hugo Furquim Werneck, dentista por preso numa gaiola sem cantar. formação e um apaixonado pela Assim que João voou para Chicago, deparei-me natureza (especialmente pe- com uma nova resposta para a sua dúvida inicial. los passarinhos). Descobri que Hugo Werneck é a inspiração para o Contei para João a história prêmio homônimo promovido pela Revista Ecolódesse homem nobre, que iniciou gico em sua homenagem. Na cozinha da sede da o movimento em favor do meio empresa, encontrei um banner com um lindo caambiente, quando ninguém nário-da-terra, onde está escancarada uma das franem imaginava o que isso era. ses que é, hoje, a resposta certa para João Marcos: Contei para João que esse ho- “Não há como separar a vida de um passarinho da mem especial cruzava o estado vida humana”, sentenciou Dr. Hugo, bem antes que com a ajuda de barbatanas, para o efeito estufa, a poluição, o consumismo, as murecolher pintassilgos e curiós nas danças climáticas, a devastação das florestas, dos matas mineiras. Depois soltava as rios e dos mares incendiassem a vida de cada um aves em locais onde tinham sido ex- de nós com esse calor infernal. tintas. Conduzindo uma Kombi, Hugo Werneck era conhecido como “o espa(*) Jornalista e escritora. lhador de passarinhos”, num trabalho
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1 NOS PORÕES DO RETROCESSO (IV)
UM RAIO EM CÉU AZUL Recrudesce a esperança da luta antimanicomial encabeçada há 35 anos pelo psiquiatria italiano Franco Basaglia, aqui rememorado. E uma boa notícia sobre o Museu da Loucura chega de Barbacena Virgílio de Mattos (*)
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os anos 1970, entre outros atores, o cineasta Helvécio Ratton produziu o icônico “Em Nome da Razão”, sobre a desumanidade que ocorria nos hospícios mineiros. O documentário, centrado principalmente no antigo Hospital Colônia de Barbacena, onde morreram 60 mil pessoas consideradas loucas, até hoje quando visto impacta todos nós. É um documentário que, ao mesmo tempo, é uma aula de cinema e é memória, faz história com suas histórias reais. Lembro-me de cenas do filme e dos trechos da série de reportagens “Nos Porões da Loucura”, que esperava ansioso serem publicadas no jornal Estado de Minas nessa época. Lamentavelmente aquelas cenas terríficas do filme e as belas composições nas matérias de jornal até hoje são uma realidade em várias instituições hospitalocêntricas, mesmo após a aprovação da Lei 10.216, de seis de abril de 2001. Trata-se da Lei Federal antimanicomial que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Afinal, não estão por aí, como mosquitos e cogumelos, os “manicômios com Deus”, que são as chamadas comunidades terapêuticas? Não estão espalhados pelo país, ainda contendo quase quatro mil homens e mulheres, os nefastos
FOTOS: REPRODUÇÃO
redacao@revistaecologico.com.br
FRANCO BASAGLIA: memória viva
manicômios judiciários; mesmo que rebatizados pelo Direito Penal de “hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico”, ou “alas de tratamento psiquiátrico”? Entendo que é necessário esquecer o filósofo francês Michel Foucault, que escreveu “A História da Loucura na Era da Razão”, mas o que dizer desses lugares senão as “cadeias que geram crimes” e os “hospitais que geram doenças”? O que representou a fala de Basaglia quando comparou o modelo hospitalocêntrico a um campo de concentração fascista, lócus em que ele próprio estivera contido em sua juventude, naqueles tempos sombrios dos quais nós, os “normais”, tivemos a sorte de escapar? Ele foi como “um raio em céu azul”. Arrepiava aquele militante italiano, em plena Avenida João
Pinheiro, no debate ocorrido no anfiteatro da Associação Médica de Minas Gerais, em Belo Horizonte, em 1º. de julho de 1979, um mês antes de conseguirmos arrancar a anistia, comparar nosso trato ao louco a um konzentrazionlager (campo de concentração nazista). Basaglia impressionava. Seu tipo físico, seu olhar, sua gesticulação. Parecia uma águia. “No lugar do pessimismo da razão nós propomos o otimismo da prática”, insistia. Tinha a clareza de que a primeira coisa que se encontra quando se entra em um manicômio não é o louco, ou a loucura, ou mesmo o louco infrator, ou o crime. Mas a miséria. Oriunda de uma sociedade desigual e dividida em classes. Ele nos legou a “Legge 180”, votada em 1978, ano em que esteve pela primeira vez no Brasil. A lei que fechou todos os hospitais psiquiátricos italianos, exceto os Ospedale Psichiatrici Giudiziari (OPG), é, em termos de legislação, a mais importante do mundo: foi a primeira a decretar o fim da instituição total que é o manicômio. Basaglia já premunia o fim das prisões, como escreveu e declarou em 1978, ao participar da Conferenze Brasiliana de São Paulo: “Paralelamente ao asilo, há uma outra instituição que tem uma função de integração similar, a prisão. Essa instituição, em todos os países do mundo, tem por fina-
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lidade a reabilitação do detento, como o asilo tem por finalidade o tratamento do doente mental. Penso que cada um de nós não pode deixar de sorrir ironicamente quando ouve dizer que a prisão e o asilo têm por objetivo a reabilitação de seus “hóspedes”. Na realidade, tanto o asilo quanto a prisão servem para conter o desvio dos pobres, marginalizar os que já são excluídos da sociedade. Em grande parte, asilo e prisão são intercambiáveis. Podemos pegar um detento e colocá-lo num asilo ou pegar um louco e colocá-lo na prisão, as funções institucionais são as mesmas.” EXEMPLO DE TRABALHO E LUTA A trajetória de Basaglia, logo após a Segunda Guerra Mundial (19391945), depois de 12 anos de carreira acadêmica na Faculdade de Medicina de Padova, é atravessada pelo ingresso no Hospital Psiquiátrico de Gorizia. Em 1961, assumiu a direção da instituição e começou a virá-lo do avesso, a princípio modificando as condições de hotelaria e no cuidado técnico com os pacientes. Foi quando percebeu que a humanização não seria suficiente. Mas, sim, transformações profundas, seja no modelo da assistência médico-psiquiátrica seja nas relações da sociedade com a loucura. Em 1970, quando nomeado diretor do Hospital Provincial de
CARTAZ do icônico filme de Helvécio Ratton
Trieste, cujo muro fazia a fronteira da Itália com a extinta Iugoslávia, Basaglia deu início ao processo de fechamento daquele hospício. Como fez isso? Criando uma rede territorial de atendimento, com empoderamento dos serviços de atenção comunitários, atendimento das emergências psiquiátricas em hospitais gerais, cooperativas de trabalho protegido, centros de convivência e serviços residenciais terapêuticos. Resultado: três anos depois, a Organização Mundial de Saúde (OMS) credenciou o Serviço Psiquiátrico de Trieste como principal referência mundial para a reformulação da assistência em saúde mental. Mais outros três anos se passaram e o hospital psiquiátrico de Trieste foi fechado ofi-
O MUSEU TAMBÉM VIVE Nem tudo está perdido. Pelo contrário, notícias alvissareiras dão conta que a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) vem procedendo não somente a recuperação, mas também a ampliação conceitual e construtiva do Museu da Loucura, marco da Revolução Psiquiátria Mineira instalado no ex-Hospital Colônia de Barbacena. O próprio museólogo Edson Brandão, autor do projeto original e hoje secretário municipal de Cultura de Barbacena, foi convocado pela Fhemig para reconstruir e ampliar as instalações, dentro de uma visão mais moderna de registrar, preservar e informar ao público visitante o que nunca mais deve voltar a acontecer. Na história recente, o genocídio de 60 mil pessoas no então maior ex-hospício do país, foi registrado no livro “Holocausto Brasileiro”, da jornalista Daniela Arbex, o que lhe valeu o “Prêmio Esso de Jornalismo” em 2012.
cial e definitivamente, passando a assistência em saúde mental a ser trabalhada, integralmente, na rede territorial montada por Basaglia e seus colaboradores mais diretos e diletos, como Ernesto Venturini, Domenico Casagrande, Franco Rotelli e Beppe Del’acqua. Basaglia era um sujeito impressionante em todos os aspectos, segundo a unanimidade daqueles que tiveram a honra e a sorte de conhecê-lo. Exemplo de trabalho e de luta, sobretudo um exemplo de luta a fazer avançar aqueles que acreditam nos sonhos: “Temos de acreditar neles!”, nos dizia sempre. Meu sonho brasileiro, ao lado de tantos companheiros e entidades de luta permanente, como o Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade e o Fórum Mineiro de Saúde Mental, é o de que ainda possamos viver um dia em uma sociedade sem manicômios e sem prisões. Temos feito praticamente o impossível para transformar esse sonho em realidade. O que nos anima é saber que não estamos sozinhos. Basaglia vive! (*) Especialista em Ciências Penais e Mestre em Direito pela UFMG. Doutor em Evolução de Direitos e Novos Direitos. Membro do Fórum Mineiro de Saúde Mental e do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade. Contato: virgiliodemattos@terra.com.br
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1 MODA
AMARRAS
NUNCA MAIS! Na coleção Verão 2015, a estilista Mary Design faz uma elegia à loucura Déa Januzzi
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ma rosa nascida no jardim da casa dela, no Bairro Mangabeiras, aos pés da Serra do Curral, na capital mineira, é o passaporte para chegar até Mary Figueiredo Arantes, sobrenome “Design”, como é conhecida no mundo da moda. Pois Mary é como essa rosa. Tem o frescor, o perfume e o fascínio das flores que ela cultiva e
que são ofertadas aos amigos em braçadas ou em cestas harmoniosamente compostas. Algumas delas vão para a jarra de uma das santas de sua devoção - a Imaculada Conceição. Respingada de orvalho das montanhas – vizinhas bem chegadas de Mary –, a rosa é um dos símbolos dessa mulher que nasceu no Vale do Jequitinhonha e cresceu ouvindo
da mãe que “de médico e de louco todo mundo tem um pouco”. Mais tarde, a mãe “dizia ter medo da loucura até que, já mais velha, a arteriosclerose chegou. E ela morreu sem saber que a loucura a visitava, entre grandes momentos de sanidade”. Sem saber se a loucura era sadia ou não, Mary foi vivendo, em princípio com medo e desconfiada, até que passou a
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MODELOS com roupas amarradas: contribuição artística à luta antimanicomial
se interessar pelo assunto, “antes mesmo de Bispo do Rosário ter ido à Bienal de Veneza e ter ficado cult”. Mary ouvia atentamente os comentários da doutora Nise da Silveira sobre o trabalho de terapia ocupacional. A psiquiatra substituía os tratamentos agressivos pela arte. E dizia coisas assim: “Não se curem além da conta. Gente curada demais é chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas muito ajuizadas”. Só Mary, uma mulher que planta rosas e orquídeas e tem uma horta com “um pouco de tudo”, pode colocar nas jarras da casa onde mora ramos de alecrim e
manjericão, “porque lembram vida”. Com gosto e olhar diferenciados para o mundo, a cada ano ela inventa moda em suas coleções. No desfile do Minas Trend Preview deste ano, ela fez uma elegia à loucura. Com o nome “Pedaço de Mim”, a coleção Verão 2015 de Mary Design levou para a passarela da moda colares, corações recheados, tramas de linhas coloridas e toda a loucura dessa criadora (que assim como Nise da Silveira) sabe que “só a arte pode nos salvar da insanidade”. As modelos da coleção de Mary desfilaram com roupas amarradas, como se tivessem acabado de ser colocadas numa camisa de força depois de um surto. Os arranhões no rosto, feitos com pente e tinta, eram gritos de dor.
Mary faz denúncia com moda, mesmo num mundo de aparências. Ela surpreende com bijus ousadas e estonteantes da nova coleção e indica usos inusitados para as peças. “Use-as no corpo, na sala, na cabeça, sobre um livro ou sobre um livro na cabeça. Não contêm bula, apenas uma tendência a serem fora de moda. A estética megalomaníaca, avantajada, de dimensões e contornos duvidosos, foi loucamente planejada. Até mesmo a postura, braços amarrados, a estética, o andar ensimesmado na passarela. O peso das peças, algumas delas em formas de bolas, como grilhões. O excesso como fardo, mas também como liberdade. Liberdade de criação. Enlouqueçamos, pois!”
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1 MODA
“EU TAMBÉM CONHECI O
MUSEU DA LOUCURA” Mary Figueiredo Arantes
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de compreendê-lo, o avilta. Toda vez que uma temática nos interessa, passamos a percebê-la em nosso entorno com uma constância muito maior do que antes. Assim que decidi fazer uma coleção sobre a loucura, deparei na internet com uma palestra que seria dada aqui em BH, por uma brasileira, psicóloga radicada nos Estados Unidos. Andrea Hunt, cujo tema era a arte e a loucura. A fala foi centrada na contenção dos artistas Yayoi Kusama e Bispo do Rosário. Ambos escolheram viver num manicômio. Andrea fez um paralelo entre a arte e a loucura de cada um deles. Eu ali, naquela plateia nada fashion, cercada de psicólogos, psiquiatras e entendidos das trevas da alma, fiz a ela todas as perguntas que “me atormentavam”, como a libertar ou certificar da minha parcela de anormalidade. Na cabeceira, o livro “Holocausto Brasileiro”, da jornalista Daniela Arbex, me levava, sempre à noite, a Barbacena. As fotos e os textos do livro me assombraram - era como FOTO: LECANOVO
O título é da artista franco-americana Louise Bourgeois. Como ela, sempre acreditei que a arte nos salva. Cresci com minha mãe dizendo que eu tinha um gosto estragado. O que poderia ter me marcado negativamente foi minha salvação. Graças a esse gosto nada comum, fiz um caminho diferenciado, criando o que seria futuramente a empresa e o conceito do estilo Mary Design. Segundo Antonin Artaud (18961948), artista e louco, “ninguém jamais escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu, inventou que não fosse para sair do inferno”. Que o diga, El Greco, Paul Gauguin, Caravaggio, Van Gogh e tantos outros. É de Artaud o depoimento, de 1947, sobre o mote da exposição de Van Gogh, que ficou em cartaz até seis de junho deste ano, no Dorsay, em Paris. De nome “O suicida da sociedade”, o depoimento, feito de um louco para outro louco, de forma brilhante e compulsiva, questiona a loucura de Van Gogh e culpa a sociedade que, diante da superioridade do gênio, incapaz
MARY: arte dedicada aos incomuns
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ter pesadelos acordada. Não, não eram tratados como seres humanos. A colônia era uma aberração, um depósito de cobaias para experimentos farmacológicos e pesquisas, numa época em que não havia nem diagnóstico nem tratamento para a loucura. Trocando e-mails sobre o livro com Stélio Lages, amigo e psiquiatra, ele me diz que “a segregação hoje em dia, embora sutil e disfarçada, é muito mais intensa. Desapareceram os campos de concentração, que foram substituídos por campos de refugiados. Acabaramse os locais de exclusão e segregação intramuros. As novas formas de encarceramento são agora químicas!” O que seria de nós e desse mundo louco, se não fosse a tal pílula da felicidade? Mais que falar de bijus, quis nessa coleção questionar o assunto, muitas vezes guardado por tantas famílias, sob mantos escondido. Afinal quem é louco e o que é ser louco?! Dediquei essa coleção aos marginalizados, aos esquisitos, aos mendigos, aos calados, aos tristes, aos melancólicos, aos que nasceram com o sexo trocado na cabeça, e a todos aqueles que se sentem incomuns. PS: Depois de finda a coleção, fui fazer o que antes o time do evento não permitiu. Fui a Barbacena conhecer o Museu da Loucura. Lá não existem mais os pátios, os gritos, o choro, o capim onde dormiam feito animais, as bocas sem dentes, os corpos nus e as almas em alvoroço. Os aparelhos de lobotomia, as pegemas (algemas de pés), os registros dos raios-x e fotos estão ali como marcas da verdade. A certeza de que o pesadelo aconteceu e que o museu hoje é um registro do que jamais deve acontecer novamente.
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ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br
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OLHAR POÉTICO
FALSO
Reflexões de um cidadão suspeito de ser acima de qualquer suspeita
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also é o olhar com que me acordo. Porque falso também é o galo que canta, no quintal onde quase sonho. E se falsos foram os sonhos que de madrugada quase tive, falsas também serão as horas de minha próxima jornada. Porque falsos são os minutos que o relógio marca e remarca. Porque falso é meu pescoço em sua corda, meu braço em sua pulseira. E sua pilha falsa. Falsa é a imagem com que me visto para o dia a dia. Porque falso é o espelho que reflete minha alegria, minha gravata e meu terno. E se falsas são as etiquetas dessa sedentária indumentária, falsas também serão minhas palavras, meus gestos e meus sorrisos. Porque falsas são as máscaras que uso para dissimular minhas fraquezas. E minhas ideias falsas. Falso é o andar com que caminho para o trabalho. Porque falsos são os sapatos que me levam para o burocrático inferno. E se falsos são os empregos, as funções, as reuniões, falsos também são os contratos e as promessas que farei ao povo. Porque o povo também é falso. Por ter acreditado em mim. E ter me colocado dormindo no lugar onde estou, falsamente acordado. Falsa é a fome que sinto na hora do almoço. Porque falsa é a comida que alimenta minha gula, minha alma, minha vitamina de lama, meu bolso falso. E se é falsa a moeda, o caviar também é falso. Se a cerveja é falsa, o uísque é falso, o vinho é falso: falsa também será a sede daqueles que me procuraram para matar a sede, porque minha água também é falsa. E assim sendo, o leite e o pão serão falsos: eis minha ciência. O ar que respiro é falso. E assim será, também, minha indiferença. Falsa é a tarde com que me embarco para casa.
Porque falso é o carro, o seguro e o motorista. E se falso é o caminho que me leva para um engarrafamento de latas falsas, num endereço falso: falsas também serão as ruas, os semáforos, os fiscais e as placas de trânsito. Porque falsas são as leis que fiz para os falsos cidadãos. Porque falsa também é a memória que há de ficar depois de mim. Porque falso é meu país, minha nação e seus bastardos (onde a fé é o diabo, o futebol é a muleta. Onde a política é a troca, o homem é o produto. Onde o sexo é a tecla, a educação é o jogo. Onde o trabalho é o encargo, a segurança é o bandido. Onde a saúde é a doença, a justiça é o embrulho). Falsa é a noite em que me durmo de remorsos. Porque falsa também é a cama onde ressono meus destroços. E se é falsa a amante que ao lado me cobra um cargo, falsos também serão seus homens e seus filhos, com suas doenças falsas. Porque falso é o remédio que ela clama. Porque falso é o laboratório dessa farsa. E imensa é a falsidade que me cerca pelos flancos: teatro é comédia, música é ruído, cinema é fita, dança é tombo, tela é lixo, livro é padre, notícia é fuxico. Tudo verdadeiramente falso. Por tudo isso, e por ser falso também o hospital, o médico, o cemitério, o coveiro e o cadáver, peço também, desde já, meu atestado de óbito. Porque falso é o verbo, a carne, a cova e a terra. Porque falso é o pesadelo que me leva ao eu-comigo, no coletivo. E falsa, também, é a morte com que me deixam vivo. (*) Autor de “A Noite é um Circo sem Lona” (Editora RHJ). antonioba@uol.com.br | facebook.com/antonio.barreto.12139
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1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE
TECNOLOGIA de concentração a seco: durante o processamento do rejeito, é possível economizar 350 mil litros de água por hora
A SUSTENTABILIDADE COMO VALOR AGREGADO Green Metals inaugura novo nicho de mercado ao viabilizar soluções sustentáveis para o reaproveitamento de rejeitos, estéril e minério de baixo teor Luciano Lopes
redacao@revistaecologico.com.br
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uando o assunto são os benefícios que a mineração trouxe para a humanidade, ao longo dos séculos, não há o que se discutir: ela está presente em tudo que utilizamos hoje, do carro à televisão e aos celulares, dos medicamentos à produção alimentícia. Mas, ainda que o setor tenha contribuído para uma melhor qualidade de vida e tenha participação essencial no crescimento da economia brasileira, a sustentabilidade continua sendo um assunto delicado, principalmente quanto ao descomissionamento de minas e às barragens de rejeitos.
Nesse cenário, a Green Metals, empresa de recuperação ambiental do Grupo de Mineração BioGold, vem se consolidando no mercado de mineração com uma
DENER DE SIQUEIRA: "A intenção da Green Metals é ser uma aliada das mineradoras na recuperação de seus passivos ambientais"
tecnologia pioneira e sustentável: o processo de concentração a seco. Por meio dela, é possível reprocessar e reaproveitar rejeitos, estéril e minério de baixo teor, gerando produtos e subprodutos de excelente qualidade e economizando água e energia. “Na Green Metals, a sustentabilidade é o viés do negócio e guia todas as nossas ações. Queremos ser aliados das mineradoras na recuperação de seus passivos ambientais. Por meio da tecnologia que criamos e patenteamos, é possível economizar água, diminuir riscos existentes e evitar problemas ambientais futuros,
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UTMs BH e Brumadinho: todos os processos realizados nas unidades são monitorados em tempo real
tendo em vista, principalmente, a finitude dos bens minerais”, afirma Dener de Siqueira, diretor de Desenvolvimento. Para se ter ideia, apenas em 2013, a Green Metals recuperou mais de dois milhões de toneladas de rejeito, o equivalente a 12 carretas do material por hora. O processo de concentração a seco é realizado nas Unidades de Tratamento de Minério (UTMs) e funciona da seguinte forma: a empresa compra pilhas de rejeito das mineradoras, que é composto por minério de ferro, argila e areia. Na sequência, ao serem processados a seco, os três materiais são separados, obtendo-se, assim, minério de ferro de alta qualidade, intitulado Minério Verde, e subprodutos com valor econômico potencial – que podem ser utilizados, inclusive, como matriz de produção de concretos, argamassas, peças de concreto para contenção de maciços, entre outros. “Geralmente, a areia comercializada para a construção civil, por exemplo, contém 11% de ferro. A que produzimos tem até 4%. Além de o resultado ser um material mais puro, também contribuímos
Já em avançada fase de implantação, a UTM Brumadinho contará com uma planta de processamento e concentração a seco com capacidade de produção nominal de 2,5 milhões de toneladas de minério/ano para evitar impactos ambientais maiores, como a extração de areia em córregos, que provocam o seu assoreamento”, explica Valéria Rocha, coordenadora de Meio Ambiente. O índice de pureza dos materiais resultantes do processo patenteado pela Green Metals é tão superior que já existem mineradoras que vendem as pilhas de rejeito para ela e depois compram o Minério Verde produzido. Em relação à água, a quantidade que vem naturalmente junto com o rejeito a ser processado é extraída ao secar o material, condensada e reaproveitada para umidificar as vias e o ma-
terial para transporte, evitando, assim, a utilização de água (outorgada) dos rios para mitigação desses impactos. TRABALHO PIONEIRO Atualmente, a Green Metals tem três UTMs: a de BH, que já está em operação; a UTM Brumadinho, em fase avançada de implantação no município homônimo; e a UTM Miguel Burnier, que será integrada a um terminal ferroviário próprio, evitando que caminhões com minério cruzem as rodovias ou impactem o cotidiano das comunidades de sua área de abrangência. Nessas unidades, também é desenvolvido um trabalho pioneiro de monitoramento – o Sistema Supervisor de Indicadores, que garante mais segurança e qualidade aos processos e à equipe. “Vamos monitorar os quesitos econômicos, financeiros, operacionais e ambientais em tempo real, incluindo a emissão de gases, consumo de água e turn out de empregados”, completa Siqueira. As operações na UTM BH lideradas pela Green Metals foram iniciadas em fevereiro deste ano, com média de produção mensal
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1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE
SIMULAÇÃO de possibilidades de uso futuro da área recuperada da antiga Mina Corumi, na Serra do Curral: exemplo da atuação sustentável da Green Metals
de 130 mil toneladas. Lá, está sendo feita a recuperação ambiental da antiga Mina Corumi, da Empresa de Mineração Pau Branco (Empabra). Paralelo à instalação dos canais de drenagem e à aplicação da hidrossemeadura, a Green Metals também está indo além da legislação e realizando outras benfeitorias nas comunidades da região da mina, que integra o complexo da Serra do Curral. Entre elas, estão a pavimentação de ruas, recuperação de estradas e reforma de casas e espaços públicos. Nos últimos dois anos, a empresa investiu um total de R$ 15 milhões em contrapartidas socioambientais nas áreas onde atua. Já em avançada fase de implantação, a UTM Brumadinho contará com uma planta de processamento e concentração a seco com capacidade nominal de produção de 2,5 milhões de toneladas de minério/ano (atualmente licenciada para produzir 1,5 milhão de toneladas/ano). A previsão é que
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a empresa obtenha a Licença de Operação (LO) ainda este mês, com as atividades sendo iniciadas até o fim do ano. A localização da unidade também é estratégica, uma vez que a região é um polo importante do setor mineral. Outro destaque é o “Lagoa Viva”, projeto de recuperação de lagoas patrocinado pela empresa em Brumadinho, que conta com a participação direta da população rural e o apoio do governo estadual (por meio do Instituto Mineiro de Gestão das Águas – Igam) e da Prefeitura Municipal (via Secretaria de Meio Ambiente). A iniciativa prevê a revitalização de 800 reservatórios naturais, que estão tomados por sedimentos e vegetação invasora, garantindo volume suficiente para atender as demandas da população local. “Brumadinho responde pela captação de 30% da água que abastece Belo Horizonte. Por isso, além de recuperar as lagoas, também estamos cercando e revegetando as nascentes da região, o que é impor-
FIQUE POR DENTRO Green Metals Fundada em abril de 2013 pelos empresários Bruno Luciano Henriques (Presidente C.A.), Lucas Kallas (CEO e Diretor-Executivo), Dener de Siqueira (Engenheiro e Diretor de Desenvolvimento) e Luís Fernando Franceschini (Diretor Financeiro), a Green Metals é uma empresa de recuperação ambiental do Grupo de Mineração BioGold. Baseia-se no conceito de sustentabilidade, aplicado nas tecnologias de processamento de rejeitos e estéreis de mineração, possibilitando a recuperação de áreas degradadas, com o aproveitamento dos produtos metálicos e não metálicos. Grupo de Mineração BioGold Tem foco primário em ativos gerados ou adquiridos pela Biominer, empresa de prospecção de projetos minerários que integra o grupo. A BioGold é responsável pela análise de investimentos de projetos que serão incorporados ao portfólio da empresa, que é dedicada a investimentos nos mercados de exploração, produção e logística mineral. Possui hoje mais de 200 processos minerários ativos, além de deter a integralidade das ações de 14 empresas do setor mineral, cada uma direcionada a um projeto específico, em diversos estados brasileiros.
SAIBA MAIS
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tantíssimo para a manutenção dos lençóis freáticos”, reforça o diretor. Essa preocupação com o fator água em toda a cadeia de produção da Green Metals é comprovada, principalmente, na economia que será feita ao não se utilizar esse recurso natural na tecnologia de concentração a seco: até o fim de 2014, as UTMs deixarão de retirar 4,3 bilhões de litros de água de mananciais. Em época de crise hídrica, um ótimo exemplo a ser adotado pelo setor de mineração.
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Benefícios comprovados Buscar a sustentabilidade em todas as etapas de operação, valorizando o meio ambiente, a sociedade, clientes e investidores, é um dos principais objetivos da Green Metals. E isso é fundamentado nos números apresentados pela empresa, em seus quase dois anos de atuação:
VIDA ÚTIL DAS MINAS
EMPREGOS
Cada UTM gera 500 empregos diretos, indiretos e terceirizados.
IMPOSTOS
Cada UTM gera R$ 34,9 milhões de ICMS e R$ 12,3 milhões de PIS e COFINS por ano.
PROJETO NACIONAL E INOVADOR
Resultou em três patentes depositadas no Brasil e no exterior (Alemanha, China e Austrália); possui somente investidores brasileiros; e toda a equipe de desenvolvimento, incluindo especialistas de universidades envolvidas, são do nosso país.
ECONOMIA DE ÁGUA E ENERGIA
Cerca de 4,3 bilhões de litros de água deixarão de ser utilizados nas UTMs e os ímas de terrasraras são ativos e consomem 10 vezes menos energia elétrica que os convencionais.
A tecnologia desenvolvida pela Green Metals proporciona uma sobrevida aos recursos minerais finitos, com a recuperação de barragens, pilhas de rejeito e também minério de baixo teor, antes considerados passivos ambientais.
APROVEITAMENTO DE SUBPRODUTOS
Este ano, 30% do volume de material processado pela empresa está sendo transformado em areia para a construção civil.
INICIATIVAS SUSTENTÁVEIS
Recuperação de mais de dois milhões de toneladas de rejeito em 2013 e R$ 15 milhões investidos em infraestrutura social e ambiental no entorno dos empreendimentos. Também evitou-se a implantação de novas barragens de rejeito pelo setor, por conta do processo a seco.
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1 VOCÊ SABIA?
JUNTOS
PARA SEMPRE Cristiane Mendonça
redacao@revistaecologico.com.br
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oje em dia, encontrar um parceiro (ou parceira) para a vida toda, alguém para ter filhos, viajar e dividir os bons momentos, é o sonho – e também a sorte – de muita gente. Mas, se para alguns seres humanos a tarefa de manter o mesmo parceiro por muito tempo parece soar difícil, há espécies que literalmente nasceram para isso! Confira:
FIÉIS POR NATUREZA A monogamia é uma forma de relacionamento em que o indivíduo tem apenas um parceiro durante toda a vida, ou por um período de tempo, conhecido como monogamia em série. Hábito comum em alguns bichos, estima-se que entre 3 e 5% dos mamíferos não humanos são monogâmicos, além de algumas aves, peixes, répteis, e até mesmo insetos, como as baratas.
QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA Mas, não pense que isso tudo é puro romance! Durante a evolução, algumas espécies viviam em locais onde seus pares ficavam dispersos ou em grupos pequenos. Logo, investir em uma única relação, e assim, gerar filhotes, era o caminho mais fácil. Outro ponto é que a monogamia permite que o progenitor dedique mais tempo aos filhotes, enquanto o outro companheiro sai em busca de alimentos.
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FOTO: JOHN GIUSTINA / DIGITAL VISION
AMOR E PODER “Até que a morte os separe!” é uma frase que traduz bem o modo de vida dos lobos cinzentos (Canis lupus). Comuns em florestas de clima temperado, juntos, eles formam um casal para a vida toda, que só é substituído caso algum deles morra ou seja expulso do bando. Além do longo relacionamento, o casal lidera uma alcateia que pode chegar a 20 indivíduos, sendo os únicos que podem se reproduzir no grupo.
FOTO: MATTHIAS KABEL
ROMÂNTICOS Postais com fotos de um casal de cisnes (Cygnus olor) formando um coração são bem comuns. Isso representa bem, inclusive, o hábito que essa espécie tem de encontrar um parceiro e permanecer com ele até o fim da vida. Juntos, eles constroem o ninho, encubam os ovos, e – acreditem – costumam regressar ao mesmo local nos novos períodos de acasalamento.
FAMÍLIA UNIDA O gibão (Hylobates lar) é uma espécie de primatas que sabe manter a família unida! Quando um novo casal se forma, eles ficam juntos até a morte. Andam sempre com os filhotes, formando um grupo que tem, em média, quatro membros. Frugívoros, eles defendem seu território e crias no grito, já que possuem um sistema complexo de chamamentos como forma de manter a família unida ou de sinalizar um perigo. O casamento duradouro, porém, tem uma justificativa racional: o gibão consegue tomar conta de um território suficiente para alimentar a si e a família, sendo, por isso, forçado a se unir a uma única fêmea.
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FOTOS: DIVULGAÇÃO
1 RESPONSABILIDADE SOCIAL
A PRIMEIRA loja da Associação ArteCarste, em Cordisburgo (MG): sonho antigo
ARTE QUE GERA RENDA Conheça o projeto ArteCarste, que está mudando a vida de artesãos do Circuito Turístico das Grutas
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esenvolver o artesanato como fonte de renda nas cidades que compõem o Circuito Turístico das Grutas – Cordisburgo (Maquiné), Sete Lagoas (Rei do Mato) e Lagoa Santa (Lapinha) –, fortalecendo a identidade regional e empoderando os artesãos por meio da criação coletiva. Esse é o principal objetivo do projeto “ArteCarste – Mãos Criativas
no Circuito das Grutas”, uma iniciativa da Associação do Circuito Turístico das Grutas e que nasceu no primeiro semestre de 2012. Após 18 meses de trabalho, o projeto, que envolve empreendedorismo e sustentabilidade e conta com patrocínio da Brennand Cimentos e da TAM Linhas Aéreas, foi concluído com a inauguração da primeira loja especia-
lizada em artesanatos exclusivos da região em Cordisburgo (MG). “O ArteCarste contribuiu para o desenvolvimento local, fomentou a geração de renda e fortaleceu o grupo. Graças aos apoiadores, o objetivo de fortalecer os artesãos para que o grupo caminhasse de forma independente e protagonizasse a sua própria história foi alcançado. O resultado
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OS PRODUTOS sustentáveis da associação: história cultural preservada
são produtos sustentáveis com o diferencial de valorizar, resgatar e divulgar nossas raízes, história e cultura através de qualidade e exclusividade”, analisa a artesã Cláudia Lima. O projeto foi dividido em três fases. Na primeira, foi feito o levantamento de mais de 150 artesãos de oito municípios. A segunda fase foi voltada para a capacitação, com uma turma de 37 artesãos selecionados. Mais de 200 horas de oficinas, que abordaram temas como gestão, empreendedorismo, desenvolvimento humano, marketing, associativismo e design foram realizadas. “Um dos grandes desafios foi a produção e a gestão conjuntas, considerando que envolve vários municípios. É muito gratifican-
te ver como eles se tornaram um grupo unido e coeso. Acredito que os excelentes resultados se devem à dedicação dos instrutores, ao apoio dos patrocinadores e ao talento e paixão dos artesãos”, afirma Mariana Madureira, sócia da Raízes, consultoria responsável por desenvolver a iniciativa. Com o sucesso do projeto, a Associação ArteCarste foi formalizada. Ela conta com um grupo de 24 artesãos engajados e empreendedores. E, assim, era hora de dar outro grande passo: abrir uma loja especializada com produtos desenvolvidos nas oficinas e encontros de artesãos. As peças criadas para a “Coleção ArteCarste” reúnem um pouco do cotidiano, das cores, das texturas e dos sabores locais. Artesanatos que carregam a identida-
de e a riqueza da região. A flor de pequi, os caminhos, as rotas e os desencontros são temas frequentes. A eles, se somam os materiais mais diversos e suas sensações: a firmeza da madeira, a flexibilidade da fibra, as cores do papel machê, a elegância do ouro, a simplicidade do cipó, a magia do barro. “O projeto ArteCarste também foi importante para o Circuito das Grutas, divulgando de forma criativa o conhecimento e a identidade de nossa região. A minha sensação é de dever cumprido e acredito que esse projeto terá continuidade”, completa a artesã Terezinha Silva. SAIBA MAIS
www.artecarste.com.br
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Memorial Vale AS MUITAS MINAS NO MUSEU (10)
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FOTOS: REPRODUÇÃO
ARTE EM BARRO do Vale do Jequitinhonha: a herança dos nossos antepassados indígenas que nos religa ao mundo natural
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DO BARRO VIEMOS, DO BARRO CRIAMOS A arte do Vale do Jequitinhonha que vem das manifestações da natureza e permanece viva nas mãos versáteis dos artesãos locais Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
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m uma de minhas passagens pelo Vale do Jequitinhonha, em 1992, guardei uma imagem na memória que nunca esqueci. Eu, meus pais e meus irmãos estávamos a caminho de Porto Seguro (BA) para nossas merecidas férias de meio de ano. Dessa vez, fizemos um roteiro diferente e acabamos passando por Almenara (MG), na época uma pacata cidade de pouco mais de 30 mil habitantes, quase na divisa com as terras baianas. Cortando o centro urbano, lá estava o Rio Jequitinhonha, caudaloso e imponente - o imperador de Almenara. Mas o que mais chamou a minha atenção foram as “pessoas” que estavam em cima das calçadas, ao longo da grade que as separavam da beira do rio: dezenas de esculturas em barro, representando homens e mulheres, grávidas ou não, noivas, noivos, namoradeiras, famílias inteiras... Fiquei imaginando em que os artesãos que as modelaram estavam pensando no momento da criação. Seria o amor não correspondido? O casamento que não deu certo? As lembranças do tempo de criança? Ou apenas um retrato do cotidiano local? Não importa. Ali, vi imaginação e razão, sonho e realidade, amor e dor envolvidos nas peças de cerâmica que pareciam ganhar vida. Mais de duas décadas depois desse momento, o cenário em que eu estava era diferente no propósito, mas similar na essência. Era a sala dedicada ao Vale do Jequitinhonha no Memorial Vale, em pleno coração cultural da capital mineira. Com as minhas memórias de barro – diz a Bíblia que dele os seres humanos foram feitos por Deus – recebi o sopro cul-
tural da vida para, mais uma vez, reviver as lembranças do Jequitinhonha. Todos aqueles bonecos de cerâmica – que também misturavam-se a trabalhos em tinta, madeira, cipó e papel – mostram que os artesãos, na verdade, são os tradutores e os escultores da natureza. Essas expressões artísticas derivam-se do meio ambiente, afinal, se da terra viemos, dela somos e para ela voltaremos. E o barro representa essa ligação. “Esculpir é a arte de traduzir o segredo da terra para nós”, afirmou certa vez o historiador Carlos Antônio Leite Brandão. E foi além: “O realismo científico e o psicologismo do inconsciente modernos interditam esse reencontro com nossa ancestralidade religiosa. Para os artesãos, as coisas são signos de uma realidade a ser reduzida, explicada e descrita, mais do que vivida, compreendida e adivinhada. Eles escutam o clamor do barro, da madeira, das pedras e das raízes. Seu sonho é material, ao contrário do que quando dormimos: faz-se da matéria das coisas bem presentes a seus olhos atentos e nervosos tesos.” DA ARTE PARA A VIDA A produção comercial dos bonecos de barro do Jequitinhonha começou com dona Isabel Mendes da Cunha, mineira de Itinga, nascida em 1924. Desde criança já criava pequenas figuras em barro, imitando sua mãe, que utilizava o material para fabricar panelas, gamelas e outros utilitários. Inicialmente, Isabel fazia cavaleiros, bois e pequenos presépios. A modelagem de bonecos maiores (alguns têm até um metro de altura) só começou na década de 1970,
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Memorial Vale AS MUITAS MINAS NO MUSEU (10)
quando procurou inovar a produção. Com suas peças sendo vendidas em feiras da região, ela conquistou reconhecimento e contribuiu para disseminar a tradição das esculturas em barro país afora. Essa genealogia cultural de dona Isabel é perfeitamente retratada por Brandão no livro “Minas Gerais”: “Na feitura da bilha, da moringa, do vaso, das panelas, da ‘botija’ ou ‘botica’, como costuma-se falar, os antepassados indígenas do Jequitinhonha fundaram seu trabalho com o barro. Mas esses utensílios – cansados de serem apenas úteis e postos no esquecimento tão logo esgotada a serventia, como foram os Botocudos, Maxacalis e Pataxós ancestrais – reivindicam, na imaginação material do artesão, alças metamorfoseadas em mãos de mulher apoiadas na cintura e que sugerem o corpo de uma boneca, o redondo de um rosto de
olhos abertos ou rasgados e as feições híbridas do índio, do branco, do negro e do mestiço. Essa é a genealogia das peças de dona Isabel, a mais antiga e talvez a mais famosa escultora do Vale; a primeira a compreender que o artista não esculpe o que quer, mas o que a ‘coisa’ quer, especialmente quando essa coisa é o barro”. Continuando a viagem pela sala do Memorial Vale, que guarda várias surpresas – entre elas, compartimentos em que se pode conhecer outras obras “escondidas”, como as cenas eternizadas em barro de uma cozinha ou de uma família e seu cachorro de estimação, além de flores e mulheres amamentando crianças – aprendi que o artista e o artesão são um só. E o criar é mais que um ritual. “Como nos alquimistas, o fruto do trabalho dele se dá pela fecundação do barro,
PROGRAMAÇÃO NOVEMBRO (ENTRADA FRANCA) 06/11 Orquestra Filarmônica de Minas Gerais - Quinteto de Sopros Interpretação de obras de Arnold, Callado, Abreu, Bandolim e Blumer Horários: 19h e 20h30 Local: Auditório (sujeito a lotação) * Retirada prévia de ingressos uma hora antes das apresentações
09/11 Tradições Mineiras: "Show Tempera Viola" Com Beth Leivas, Danuza Mendes e Marcello Dinis Horário: 11h Local: Auditório (sujeito a lotação) 12 a 16/11 Circuito Literário Praça da Liberdade *Acesse a programação completa no site www.memorialvale.com.br
De 19/11/2014 a 18/01/2015 Ciclo de Exposições de Jovens Artistas Mineiros 2014-2015 "Monumento Vidraça Monumento Ruína", de Daniel Bilac Horário: de funcionamento do museu Local: Sala de Exposição Temporária De 19/11 a 21/12
Exposição Figurinos da Ópera Rigoletto Horário: de funcionamento do museu Local: Escadaria do Memorial 20, 22 e 23/11 "Correntes e Naufrágios", com Paula Rettore Horários: 17h30 e 20h30, dia 20; 11h30 e 14h30, dia 22; e 11h30, dia 23. Local: Casa da Ópera (sujeita a lotação) 22/11 Lançamento do álbum "Plano Perfeito", de Bernardo Bomeny Horário: 16h Local: Auditório (sujeito a lotação) 30/11 Coral Canarinhos de Itabirito Horário: 11h Local: Auditório (sujeito a lotação) Até 11/01/2015 Exposição FotoMusic de Invenção Fotos de Fabiana Figueiredo Curadoria: Tibério França Horário: de funcionamento do museu Local: Café do Memorial
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FOTO: JOÃO MARCOS ROSA/NITRO
A SALA dedicada ao artesanato mineiro, no terceiro andar do museu, mostra por meio das peças a beleza, a diversidade e a força interior dos artesãos do Jequitinhonha
misto de terra e água, no qual se imprime a forma do espírito, do pneuma, do ar. Ar, artelho, artefazer, artesanato, harmonia: arte é a articulação daquilo que tinha potencialidades, mas não tinha estrutura; extração de um cosmos do magma caótico de matérias e ideias”, explica o pesquisador. E resume, de uma vez, que o trabalho dos escultores do Jequitinhonha é decifrar o universo e a sedução da natureza, ajudando a conquistar e retratar a própria ecologia interior: “Colocando a argila em contato com o ar e o fogo, esse sopro altera as suas substâncias e confere-lhe um acréscimo de ser em que se equilibram o úmido, o seco, o quente e o frio: a pretensão do equilíbrio total dá a cada obra de arte feita pelo artesão do Vale a composição almejada na pedra filosofal.” Ou seja: ele vê na argila uma matéria que “tem sonho e vontade de ser”, procurando traduzir-se na própria obra. Concordo e deixo a sala pensando que essa é a maior contribuição que a arte e a cultura podem dar a uma pessoa: a possibilidade de se transformar e evoluir. Porque o melhor da arte é o que ela provoca em nosso interior, nos ajudando a encontrarmos o artista que queremos ser. E é sempre
bom saber que cada um de nós pode remodelar a própria história, aquecendo a alma e o corpo, e reacendendo “a chama de possibilidades” que julgávamos esquecida. Até a próxima viagem!
SERVIÇO - MEMORIAL MINAS GERAIS VALE (*) Endereço: Praça da Liberdade, 640, esquina com rua Gonçalves Dias. HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO Terças, quartas, sextas e sábados: das 10h às 17h30, com permanência até as 18h. Quintas: das 10h às 21h30, com permanência até as 22h. Domingos: das 10h às 15h30, com permanência até as 16h. Entrada franca. Informações: (31) 3308-4000 Para visitas mediadas ou em grupo ligue: (31) 3343-7317 www.memorialvale.com.br (*) Mantenedor: Vale, por meio da Fundação Vale
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FOTOS: REPRODUÇÃO
VINÍCIUS CARVALHO
FOTO: PETER PARKS
CÉU DO MUNDO
INCÊNDIOS NA EUROPA
As mudanças climáticas podem levar a um crescimento dramático dos incêndios florestais na Europa, segundo novo estudo do Instituto Internacional para a Análise de Sistemas Aplicados. De acordo com a pesquisa, a alta nas temperaturas e as longas secas podem resultar em um aumento de até 200% nas queimadas até 2090.
POLUIÇÃO RECORDE (I)
A concentração de gases do efeito estufa atingiu níveis recordes em 2013, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Entre 2012 e 2013, a taxa de acúmulo de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera teve o crescimento mais rápido em um ano desde 1984.
POLUIÇÃO RECORDE (II)
FOTO: CHINAFOTOPRESS
Segundo a OMM, a concentração de CO2 atual é 142% maior que os níveis de 1750, antes do início da Revolução Industrial. O acúmulo de outro importante gás de efeito estufa, o metano, foi de 253%. O estudo também aponta que o crescimento não se deve apenas às emissões, mas também à redução na capacidade de absorção de carbono pela biosfera, devido ao desmatamento.
JAPÃO NUCLEAR PEQUIM POLUÍDA
O número de turistas estrangeiros que visitou a capital chinesa nos primeiros sete meses do ano caiu quase 6% em relação ao mesmo período de 2013. Segundo a imprensa oficial do país, um dos principais motivos foi a escalada da poluição do ar na cidade.
Duramente atingidos por um terremoto em março de 2011, os municípios japoneses de Fukushima, Futaba e Okuma aceitaram construir depósitos temporários para armazenagem dos detritos provenientes da central nuclear da região. O governo japonês levou meses para convencer os líderes locais sobre a necessidade de construir os depósitos nas cidades contaminadas.
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Pelo terceiro ano consecutivo a Ekofootprint é reconhecida por seu modelo sustentável de negócios. Em 2012 recebeu o Prêmio SEBRAE de Práticas Sustentáveis. Em 2013 recebeu o Prêmio Benchmarking Brasil, em São Paulo. Importante ressaltar que em doze anos deste Prêmio a única outra gráfica a recebe-lo foi a Casa da Moeda do Brasil. Agora, em agosto de 2014, recebemos no Rio de Janeiro a certificação do Prêmio IBEF - Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, na categoria "Marca Sustentável" . Nestas premiações figuramos consistentemente entre grandes empresas e gigantes multinacionais, mostrando que estamos alinhados com as melhores práticas do mercado, no que toca à sustentabilidade e "fair trade". Se sua empresa deseja transformar os gastos com impressão em investimento em sustentabilidade, basta nos procurar.
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MEMÓRIA ILUMINADA - CORA CORALINA
CORA, a escritora despertada por Drummond: “Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada e fecundada no ventre escuro da terra”
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"SOU UMA FORMIGA
" INCANSÁVEL Luciana Morais
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ulher simples e trabalhadora, ela teve sua humildade e modéstia recompensadas a peso de ouro. Afinal, coube ao poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, descobrir e apresentar ao Brasil a escritora que despertou cedo para as letras, mas cuja obra só lhe chegou às mãos quando ela já tinha quase 90 anos de idade. Sim. Ela é Cora Coralina. Nome sonoro e ritmado, assim como seus contos e poemas de tocante delicadeza. Sobre ela, Drummond sentenciou: “Na estrada que é Cora Coralina passam o Brasil velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis de hoje... Sua consciência humanitária não é menor do que sua consciência da natureza... Assim é Cora Coralina, repito: mulher extraordinária, diamante goiano cintilando na solidão.” Ela nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, em 1889, em Goiás. Embora escrevesse desde moça, seu primeiro livro só foi lançado quanto tinha 76 anos. Fiel contadora de histórias, transpôs dos tachos para os livros todo o sabor que apurou em seu ganha-pão de doceira. Com seus versos, Cora põe a mesa: descreve como corria a vida na velha Goiás, revela sua forte ligação com a terra e seu olhar sempre devotado para os excluídos. Mestra da sutileza, nos alerta para o valor do trabalho e celebra o prosaico da convivência entre vizinhos, hábito hoje tão esquecido, principalmente, nas grandes cidades. Viveu como muitas outras Anas e Coras. Casou-se. Teve filhos. Mudou-se para São Paulo e depois de 45 anos regressou a Goiânia. Morreu em 1985. Sua poesia segue renovada. Faz alguns meses, versos seus foram recitados na novela “Em Família”, da TV Globo, cuja parte da trama se desenrolou em Goiânia (GO), ampliando o número de admiradores da obra de Cora Coralina, que continua essencial e atemporal como ela. Confira alguns trechos:
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MEMÓRIA ILUMINADA - CORA CORALINA
"Sinto que sou a abelha no seu artesanato. Meus versos têm cheiro dos matos, dos bois e dos currais. Amo a terra de um místico amor consagrado... Sou árvore, sou tronco, sou raiz, sou folha, sou graveto, sou mato, sou paiol... Sou a espiga e o grão que retornam à terra."
l AUTORRETRATO “Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida. Não desistir da luta. Recomeçar na derrota. Renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos. Ser otimista.”
l MULHER-NATUREZA “Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando, é o arado milenário que sulca. Meus versos têm relances de enxada, gume de foice e peso de machado. Cheiro de currais e gosto de terra... Eu sou a terra.”
“Fiz doces durante 14 anos seguidos. Ganhei o dinheiro necessário. Tinha compromissos e não tinha recursos. Fiz um nome bonito de doceira, minha glória maior. Fiz amigos e fregueses. Escrevi livros e contei estórias. Verdades e mentiras. Foi o melhor tempo da minha vida. Foi tão cheio e tão fértil que me fez esquecer a palavra ‘estou cansada’.”
“Pela minha voz cantam todos os pássaros do mundo. Sou a cigarra cantadeira de um longo estio que se chama Vida. Sou uma formiga incansável, diligente... Em mim, a planta renasce e floresce, sementeia e sobrevive. Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada e fecundada no ventre escuro da terra.”
“Sou mulher operária e essa segurança me engrandece, é o meu apoio e uma legitimação do que sou realmente.”
l TRABALHO “A vida é boa. Saber viver é a grande sabedoria. Saber viver é dar maior dignidade ao trabalho. Fazer
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bem feito tudo que houver de ser feito. Seja bordar um painel em fios de seda ou lavar uma panela coscorenta. Todo trabalho é digno de ser bem feito.” “Ponha sempre nas mãos do trabalhador, mesmo fraco, uma ferramenta forte. Observe o resultado. A boa ferramenta estimula o trabalhador.” l PASSADO, PRESENTE E FUTURO “Criança não valia mesmo nada... Tudo de melhor para os adultos, para as crianças, prato feito, regrado e medido. Coisas boas, guardadas, defendidas no alto dos armários, fechados a chave e essas despenduradas no cós da saia das que mandavam... Digo sempre: ‘Jovens, agradeçam a Deus todos os dias terem nascido nestes tempos novos’.” “Tempo virá. Uma vacina preventiva de erros e violência se fará. As prisões se transformarão em escolas e oficinas. E os homens, imunizados contra o crime, cidadãos de um novo mundo, contarão às crianças do futuro estórias absurdas de prisões, celas, altos muros, de um tempo superado.”
Ninguém me espera no caminho. Ninguém acende a luz. A velha candeia de azeite de há muito se apagou... O tardio encontro. Passado o tempo de semear o vale, de colher o fruto. O desencontro da que veio cedo e do que veio tarde. A candeia está apagada e na noite gélida eu me vesti de cinzas. Meus olhos estão cansados. Meus olhos estão cegos. Os caminhos estão fechados.” “A estrada da vida pode ser longa e áspera. Faça-a mais longa e suave. Caminhando e cantando, com as mãos cheias de sementes.” l MÃE “Renovadora e reveladora do mundo. A humanidade se renova no teu ventre. Cria teus filhos, não os entregues à creche. Creche é fria, impessoal. Nunca será um lar para teu filho. Ele, pequenino, precisa de ti. Não o desligues da tua força maternal. Que pretendes, mulher? Independência, igualdade de condições... Empregos fora do lar? És superior àqueles que procuras imitar. Tens o dom divino de ser mãe. Em ti, está presente a humanidade.”
Sustentabilidade é a nossa pauta!
“Creio numa força imanente que vai ligando a família l DEUS humana numa corrente “Senhor, sois a luz da minha Leia e assine! luminosa de fraternidade vida. Que eu sinta a vossa universal. Creio na presença na água da minha solidariedade humana. Creio Untitled-1 1 sede e na paz da minha casa. 06/03/2014 14:40:38 na superação dos erros e angústias do presente. Creio Quem chama por Deus não cansa nunca e Ele se nos milagres da ciência e na descoberta de uma fará presente. Muito pedimos e pouco agradecemos. profilaxia futura dos erros e violências do presente.” Sentimento raro de se encontrar no coração humano: gratidão.” l APRENDIZADO “Aprendi que mais vale lutar do que recolher l BOM X RUIM dinheiro fácil. Antes acreditar, do que duvidar.” “Dizia meu avô: quando as coisas ficam ruins, é sinal de que o bom está perto. O ruim está sempre abrindo l CRIADOR X CRIATURA passagem para o bom.” “Melhor do que a criatura, fez o Criador a criação. A criatura é limitada. O tempo, o espaço, normas e costumes. Erros e acertos. A criação é ilimitada. SAIBA MAIS Pesquisa Bibliográfica: "Vintém de Cobre – Meias Excede o tempo e o meio. Projeta-se no Cosmos.” l CAMINHADA “A estrada está deserta, vou caminhando sozinha.
Confissões de Aninha" e "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais", ambos da Global Editora. Quer viajar pelo mundo de Cora Coralina sem sair de casa? Acesse: www.eravirtual.org/cora_br/
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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO
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EXUBERÂNCIA Livro do fotógrafo e artista plástico paulista Antonio Wuo traz 500 imagens de belezas naturais da Mata Atlântica feitas nos últimos dez anos
FOTOS: ANTONIO WUO
BEIJA-FLOR: imponência e perfeição colorida
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FOTO: DIVULGAÇÃO
ançado em setembro, o livro “Mata Atlântica: Frágil Exuberância”, do artista plástico, fotógrafo paulista e amante da natureza Antonio Wuo, é um compêndio de belezas naturais: reúne 500 imagens de relíquias da Mata Atlântica brasileira, acompanhadas de textos poéticos e descritivos feitos pelo autor. A obra, que tem patrocínio da Agrichem do Brasil e apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, é fruto de um trabalho realizado ao longo de mais de dez anos, apresentando um olhar sensível sobre a fauna e a flora atlânticas. O ensaio traz também desenhos em grafite e bico de pena e pinturas em aquarelas e nanquim, sempre com uma descrição sensível e inspiradora de Wuo, a fim de provocar o leitor e reconduzi-lo ao pensamento sobre a perfeição da natureza e a necessidade de preservá-la. “Seria quase que impossível mostrar todas as belezas da Mata Atlântica com sua prodigiosa variedade de vidas. Neste livro, é possível conhecer mais a fundo a fauna e a flora do nosso país e sensibilizar o leitor sobre o quanto é importante ter um olhar mais consciente em relação à natureza. Se não fizermos nada, talvez nossos netos e bisnetos não poderão mais usufruir dessa biodiversidade que ainda resta”, afirma o fotógrafo. Confira:
ELE FOTO: ARQUIVO PESSOAL
QUEM É
Antonio Wuo tem 63 anos e nasceu em Salesópolis (SP). É formado em Artes Industriais pela UNAERP de Ribeirão Preto, com especialização em Comunicação e Criatividade. Foi professor e Chefe do Departamento de Comunicação da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Já recebeu diversos prêmios como designer gráfico. Começou a se dedicar à fotografia de natureza em 1990. Desde então, participou de várias exposições demonstrando sua arte, incluindo fotos, esculturas, desenhos e pinturas. É autor dos livros “Ciribaí – A Maravilhosa Ilha Bela” e “Aves de Itapety”.
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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO
FOTOS: ANTÔNIO WUO
AS BORBOLETAS são um espetáculo à parte
FLORES E FRUTOS explodem em cores
NOS cogumelos, o azul que lembra a água que nos falta e temos de preservar
NAS PENAS do passarinho, a aquarela eternizada do Brasil
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EM SUA dança acrobática, a lagarta que tem "árvores" no corpo
SAIBA MAIS
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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br
HAJA TERRA! S
egundo o último relatório bienal “Planeta Vivo”, do Fundo Mundial para a Vida da WWF, elaborado neste ano, a demanda de recursos naturais da humanidade hoje é 50% maior do que os ecossistemas podem renovar. O que significa que para suprir a demanda desses recursos seria necessária uma Terra e meia. Se não houver uma mudança drástica nessa política, até 2030 a nossa demanda vai exigir uma produtividade equivalente a dois planetas Terra. Alguns países como a China já chegaram ao limite de sua biocapacidade. E o pior é que a demanda continua crescendo no país. A organização ainda alerta que estamos usando a água doce no mundo de maneira criticamente irracional. As águas subterrâneas não estão conseguindo repor o mesmo volume para as fontes de captação. A crise da água seria a primeira manifestação de alerta da ultrapassagem crítica desses limites. Além disso, o documento também nos adverte de que estamos cada vez mais emitindo CO2 do que a natureza consegue absorver. Isso equivale dizer que o aquecimento global é uma realidade indiscutível nos dias atuais. O documento também proclama que todos esses dados foram obtidos por meio de rigorosas investigações que levaram anos para serem efetuadas. Outra constatação espantosa apontada pelo relatório é que, pasmem, mais da metade dos animais que existiam há 40 anos já desapareceu. E o pior é
que, na América Latina, a pressão foi bem mais intensa, pois os pesquisadores demonstraram que houve uma perda média de 83% das espécies desde 1970. Este documento - “Espécie e Espaços, Pessoas e Lugares” -, também elaborado pela WWF, afirma que essa tendência não mostra sinais de diminuição. E que não há quase nenhuma preocupação mais clara quanto a isso por parte das autoridades. Infelizmente, como sempre, esses governantes pouco se sensibilizam pela questão ambiental. Todos preocupados com a ideia ecocida de progresso a todo custo. Vejam os conteúdos programáticos dos últimos candidatos à eleição, em que a questão ambiental é tratada de modo bastante superficial e generalista. Parece que é preciso mesmo uma catástrofe de grandes proporções para “acordar” os homens do poder do seu sono narcísico de querer crescimento a qualquer preço. Quase todos eles ainda visualizam as políticas ambientais como entraves ao desenvolvimento. Esse modelo consumista de progresso, gestado ainda no século XIX, está histórica e ecologicamente ultrapassado. Precisamos, com urgência, rever esses paradigmas que já não se ajustam mais às necessidades ecológicas do amanhecer deste século. Se querem escolher o caminho da catástrofe, ela, mais cedo do que muitos pensam, virá. Inevitavelmente. (*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.
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Nosso compromisso é apoiar as futuras gerações na transformação para um mundo melhor.
Um dos valores da Gerdau é a sustentabilidade. Por isso, só em Minas Gerais, apoiamos mais de 170 projetos, buscando contribuir com a educação, a qualidade em gestão e a mobilização solidária. Por meio dessa parceria e do compromisso com os mineiros, construímos juntos um futuro melhor.
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Ser sustentável é mais que preservar o planeta em que vivemos. É ajudar a construir uma nova consciência. Nos últimos anos, a MRV Engenharia plantou milhares de árvores e preservou centenas de áreas verdes; construiu escolas, postos de saúde e estações de saneamento; restaurou dezenas de parques e praças e gerou milhares de empregos. Com isso, melhorou a qualidade de vida em todas as comunidades onde atua. Mas precisamos e queremos fazer mais. Em 2014 dedicamos nossos esforços na consolidação de uma empresa ainda mais sustentável. Porque o futuro do planeta depende da construção de uma nova consciência. E tem que ser agora.
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