Revista ECOLÓGICO - Edição 62

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ELES JÁ SUSTENTAM A ESPERANÇA E

Carlos Eduardo /MPMG

João do Oculus / Peruaçu

Luciano Badini / Caoma

Paulo Cesar Vicente / MPMG

Maria Elvira / Acer

Roberto Márcio / Cowan

José Nogueira / Amis

Dilma Rousseff

Mônica Buono / Amanhágua

Camila PItanga / Destaque Nacional

Tonhão / Rio Preto

Do pioneirismo de Azevedo Antunes...

A NATUREZA AGRADECE. E VOCÊ?


Célio Vale / IEF

Marina Silva

Tadeu Carneiro / CBMM

Marcio Lacerda

IV Prêmio

O Oscar da Ecologia 2013 9 de dezembro – Cine Theatro Brasil Vallourec

...ao engajamento de Paul Mc Cartney!

www.premiohugowerneck.com.br


MINAS GERAIS UM CONVITE AO PALADAR

Minas Gerais é um estado rico por sua cultura, história e gastronomia. Um lugar onde é possível viver novas experiências, apaixonar-se por sua tradição e degustar os mais variados sabores. Com receitas que passam de geração a geração, Minas vem se posicionando no cenário mundial por sua vocação gastronômica. Descubra esses sabores e entenda porque nossa cozinha é tão admirada no Brasil e no mundo. W W W. M I N A S G E R A I S. C O M . B R

Se você tem instalado em seu celular um aplicativo de leitura de QR Code, aponte a câmera para o código impresso nesta página e comece a viajar agora mesmo por Minas Gerais.


Acervo Setur-MG


EXPEDIENTE

MARCELO PRATES

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Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck CONSELHO EDITORIAL Ângelo Machado, Antônio Claret de Oliveira, Célio Valle, Evandro Xavier, Fábio Feldman, Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Maurício Martins, Mário Mantovani, Nestor Sant’Anna, Paulo Maciel Júnior, Pátricia Boson, Roberto Messias Franco, Ronaldo Gusmão, Sérgio Myssior,Vitor Feitosa e Willer Pos DIRETOR GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com EDITORA ASSISTENTE Maria Teresa Leal mariateresa@souecologico.com

GRUPO

REPORTAGEM Andréa Zenóbio Gunneng (Correspondente Internacional), Cristiane Mendonça, Fernanda Mann, Luciana Morais, e Vinícius Carvalho Estágiario: Marcos Fernandes

CAPA Foto: Vinícius Carvalho

MARKETING E ASSINATURA marketing@revistaecologico.com.br

EDITORIA DE ARTE André Firmino andre@souecologico.com Marcos Takamatsu marcos@souecologico.com Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com

IMPRESSÃO Log & Print

REVISÃO Gustavo Abreu DEPARTAMENTO COMERCIAL José Lopes joselopes@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com Silmara Belinelo silmara@souecologico.com

PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br sou_ecologico revistaecologico

souecologico ecologico

Selo SFC REVISTA NEUTRA EM CARBONO www.prima.org.br



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ÍNDICE

QUESTÃO INDÍGENA Representantes de 100 etnias indígenas se manifestam, nos quatro cantos do país. Eles reivindicam a retomada das demarcações de suas terras e o fortalecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai) em documento entregue ao Congresso Nacional

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PÁGINAS VERDES MARCO ANTÔNIO CASTELO BRANCO, PRESIDENTE DO CONSELHO DA INDÚSTRIA DA FIEMG, PROPÕE A GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA COM MADEIRA PLANTADA

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E mais... IMAGEM DO MÊS CARTA DOS LEITORES CARTA DO EDITOR SOU ECOLÓGICO GENTE ECOLÓGICA

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DENÚNCIA

ÁREA DE 3,6 MILHÕES DE METROS QUADRADOS – DE PROPRIEDADE DA FAMÍLIA DO AMBIENTALISTA HUGO WERNECK NA REGIÃO NORTE DE BH – É INCENDIADA E INVADIDA POR SUPOSTOS “SEM-TERRA”

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EXPOSIBRAM A 15ª. EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE MINERAÇÃO E O CONGRESSO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO – EXPOSIBRAM’ 2013 – REUNIRAM EMPRESÁRIOS, POLÍTICOS, AMBIENTALISTAS E ESTUDANTES EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE

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MEMÓRIA ILUMINADA CONHEÇA A TRAJETÓRIA DE CÂNDIDO PORTINARI, UM DOS MAIORES PINTORES BRASILEIROS. SENSÍVEL E CONSCIENTE, ELE USAVA A ARTE PARA LUTAR PELAS CAUSAS SOCIAIS DE SEU PAÍS

ECONECTADO CÉU DE BRASÍLIA ECONOTAS ESTADO DE ALERTA ECO CONSTRUÇÃO OLHAR EXTERIOR ALERTA DA ONU ECOLOGIA HUMANA PROTESTO GASTRONOMIA COMPORTAMENTO PESQUISA GESTÃO & TI ECOLOGIA INTERIOR REVITALIZAÇÃO NATUREZA MEDICINAL VOCÊ SABIA OLHAR POÉTICO ENSAIO FOTOGRÁFICO CONVERSAMENTOS

10 12 14 22 24 26 28 30 32 34 36 38 42 46 76 80 82 83 84 94 98 100 102 110 114


A Pr Pref reeff eitu eituu ra ei ra de B Bee loo H or or iz izoonnte n te t e accaaaba bbaa de tra de r ans nsffoo rm ns nsfo maarr em muu seu seeu a ccaa sa sa ondd e Ju J u sc s cel scel elinn o Kuubits K bitssch bi c h eekk p aassssa sa vaa finn ai sa sava ais de de s em m an ana. na. a. C om om pro r o jeeto t o d e Ni N em m ey eyer er e ja ja rd rdin dinns ddee Burle uurr le le Maarrx, r xx,, a r es e iddêênn ci cia un une n e im i mppoo rrtt an a nte t e s pe p errsson s onal oonn aalliidd aaddeess e o es es ti tiloo m od oderni er nniist er st a pa sta para ra c oonn ta tar um um m od od o ddee viv iv er er dos os annoo s 119940 940 40 a 19966 00.. A ppaareça rree ça ça. mais i s noovva ccaa ndid nd id nd i dat dat at a a PPaatr t r im i môn môn ôn iioo Cul ultu t u rraa l ddaa H um m aann iiddade, ade, ad e, aguar g uaarrda gu r ddaa suuaa vissiitta. a. A Pa Pampul mpuull ha mp ha, a, a ma Av. O Av Ott ac a c ííllio l iio o N eg e g rrãã o d egrã de e L im m aa,, 4 ..1 1 88 88 A b eerr ta Aber Ab t a d e terç tee rç r ç a a sáá b ba ad do o, d da as 1 10 0h à àss 1 7h 7h www ww ww w.. bh b h fa f a zc z c uullltu zcul t u ra tu tura r a ..pp bh b h .gg ov o v.bb r ww w w w. w. faa ce c e bo b o ookk .c .com c om/C om m /C /C Cas a s aK as a Kub u b it i t sscc hek hek he


DMITRI SHAROMOV / GREENPEACE

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IMAGEM DO MÊS

LIBERTEM ANA PAULA! Presa na Rússia desde o dia 19 de setembro, a bióloga brasileira Ana Paula Maciel foi detida com outros 28 ativistas e dois jornalistas, durante uma manifestação pacífica contra um navio petroleiro no mar de Pécora. Ana Paula foi acusada de pirataria e corre o risco de ficar 15 anos presa. O GreenPeace conseguiu mais de 800 mil assinaturas pelo mundo com pedidos de libertação para os ativistas.


Av. Professor Mรกrio Werneck, 2.191, sala 104 | Buritis | BH MG |CEP: 30575-180 (31) 3225 8131 | syncstudio@syncstudio.com.br | www.syncstudio.com.br


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CARTA DOS LEITORES

americanos, japoneses.... Nossa população só cresce e a Terra não! E aí, cara pálida?! Será que botar a cerquinha nas terras da Funai, Incra e latifundiários vai durar até quando? Quem tem que levar? Alguém tem que ter mais direito que os outros? Afinal, não somos todos seres humanos? Ou eu sou menos?!” Antônio Barros, Brasília. “Muito boa a matéria. Adorei a palavra burum!” Sérgio Myssior, pelo Facebook. O DOIS

LITROS DE LUZ “Linda história!” Patrícia Evangelista, pelo Facebook. “Boa solução pra iluminar o ambiente! Os chineses já usavam essa técnica por habitarem lugares subterrâneos...” Jorge Itacaranha, pelo Facebook. O EDIÇÃO

61 “Caramba! Esse número está uma maravilha! “Verdebeijos” e “verdeabraços” pra todos!” Antonio Barreto, BH/MG. O LIXO

HOSPITALAR “Pouca-vergonha! Crime contra a população. Cadê o Ministério Público?” Procópio de Castro, pelo Facebook. “E aí gestores ambientais, o que vocês têm a dizer?! Aluízio Bernardino, pelo Facebook. O PÁGINAS VERDES – AILTON KRENAK “O título da matéria, que não reflete o conteúdo do texto (exceto por um trechinho final, não desenvolvido), parece dar ressonância à campanha ruralista que clama pelo fim da FUNAI, já bastante sucateada pelo governo PT. Realmente uma pena usar essa excelente entrevista concedida por Ailton Krenak, para atingir outros fins diferentes do que ele expõe.” Sônia Martuscelli, São Sebastião/SP.

“Entrevista lúcida! Sucesso em sua caminhada pela paz ambiental! Bravo!” Celeste Amorim, pelo site. “Que bonitinho né?! Tadinhos de nós. Brasileiros, brasilianos, indígenas, coreanos, chineses, 12 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

O MERGULHO

NA COMUNIDADE “Matéria super legal com a turma de Gestão Ambiental da UNA TEC!” Grazielle Bee Pinheiro, pelo Facebook. “Reconhecimento do nosso trabalho realizado no Instituto UNA TEC! Parabéns pra nós!” Gracielle Rodrigues, pelo facebook. “Recebi a Revista ECOLÓGICO e fiquei realmente satisfeita com a matéria e com o conteúdo da revista em si. Obrigada pelo apoio e incentivo!” Aline Vieira, BH, via email O O

CÃO NÃO É O VILÃO! “Fico indignada como eles sempre procuram o que é mais prático, no que diz respeito, ao sacrifício dos cachorros no combate à leishmaniose!” Angelina Bonente, pelo Facebook. O NATUREZA

MEDICINAL “Sou médico e tenho lido sobre a planta moringa. Gostaria de ter mais informações sobre os benefícios e efeitos colaterais no uso dela. Aguardo com ansiedade as vossas notícias! Obrigado!” Maurício Fernandes, Angola. O BLOG

DO HIRAM “Estou esperançoso com a possibilidade da criação


FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br

do “Turismo Religioso e Democrático”, da edição nº 60, página 24. Certamente será a redenção de nossa região e, de quebra, Caxambu estará inserida nesta peregrinação. Parabéns !” Avilmar da Silva Hemetério, advogado e morador de Caxambu/MG. O ECONOTAS “De trem é melhor! A nota sobre o uso de trens só veio reforçar minha paixão por eles!” Osvaldo Filho, pelo Twitter. O PERFIL SÉRGIO MYSSIOR “Excelente caminho! Apoio totalmente: primeiro a qualidade de vida, o respeito pelo meio ambiente e só depois o lucro como meta. O lucro como o que é necessário para viver bem. Parabéns! Eliana Bentes Castro, Rio de Janeiro/RJ.

“Eu assino a ECOLÓGICO porque a considero a melhor revista socioambiental e política de Minas Gerais. Sou professora pública e trabalho a geografia sob a ótica da educação ambiental, com projetos de intervenção. A ECOLÓGICO é uma das minhas principais referências. Através de uma de suas reportagens estou desenvolvendo atualmente o Projeto ‘Áreas Verdes e Fiação Subterrânea: uma realidade possível em BH?’ Os alunos a acompanham pela internet, com comentários”.

CÉSAR ALEXANDRE

EU ASSINO

Andrea Mello, professora, BH/MG

GENIN

1 HUMOR QUE AMDA

FONTE: Charge extraída do livro “Água Mole em Pedra Dura – o Humor nas Páginas do Ambiente Hoje”, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA).

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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

DE ÍNDIOS, HUGO E MINERAÇÃO Caro leitor,

ACERVO PROJETO PORTINARI

Três assuntos – dois tristes e um esperançoso – do- ver sem os produtos da mineração (carro, geladeira, minam esta edição primaveril. Primeiro, a situação marca-passo, etc.), como suas operações podem ser repetida dos índios brasileiros, ainda vistos com ambientalmente corretas e socialmente mais justas, preconceito, racismo e até ódio por parte dos ru- além de apenas economicamente viáveis? Esta pergunta foi respondida pontualmente pela ralistas e políticos obtusos, de olho em suas terras e riquezas. Uma chaga histórica que nos envergo- CBMM, a maior mineração de nióbio e ferro do planha, na medida em que ainda não os reconhecemos neta, que opera sem qualquer problema, com licencomo os mais legítimos dos brasileiros, mesmo que ça e aplauso socioambiental ao lado do Grande Hotel aculturados, doentes, alcoolizados e corrompidos e do Barreiro de Araxá, no Triângulo Mineiro, onde Dona Beja tomapelo homem branACERVO PROJE va seus banhos co, que somos nós. TO PORTINARI de saúde. A miO segundo asneração sustensunto, ironia do tável existe sim, destino, entristea CBMM emprece a memória de sa vencedora do Hugo Werneck, último “Prêmio um dos pais do Hugo Werneck”, ambientalismo mostrou isso, rebrasileiro e que produzindo seus dá nome ao “Osindicadores na car da Ecologia”, forma de um fojá na sua quarta lheto distribuído edição este ano. A durante o evento. Granja Werneck, O próximo a segunda maior passo, que os área verde da caecologistas sem pital mineira, prepreconceitos servada há mais aguardam e que de um século por desafia o setor, é sua família, arde saber se um dia em chamas e vem MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL e “Índia Carajá”, de Portinari: tudo a ver existirá a minerasendo desmatada criminosamente para a invasão iminente e mani- ção amorosa, aquela mineração e mineradores mais pulada de mil famílias ditas “sem-terra”. Isto, a 14 humildes e gratos à natureza, capazes de irem além km da prefeitura municipal de BH e a quatro da do simples cumprimento da legislação ambiental. Esta é a questão maior, que a ECOLÓGICO acrediCidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, ta e defende, na companhia in memorian do nosso sede do governo estadual. Já o terceiro tema principal desta edição é a cober- mestre maior, Hugo Werneck. No mais, leiam também a literatura rara de Elizatura jornalística dos vários recados deixados pelos CEOs das grandes empresas de mineração do pla- beth Bishop, a poesia de Adelia Prado e a “Memória neta, durante a 15ª Exposição Internacional de Mi- Iluminada” de Cândido Portinari, o mais social e poneração – a Exposibram 2013 – realizada em BH, sob litizado artista brasileiro de todos os tempos. Boa leitura! a ótica da sustentabilidade e da pergunta que não Até a Lua Cheia de novembro. O quer calar: já que a sociedade não consegue mais vi-

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Sustentabilidade ĂŠ a nossa pauta!

Toda Lua Cheia nas bancas ou onde vocĂŞ desejar

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(31) 3481-7755


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PÁGINAS VERDES

“CRIAMOS O IPOD DA ENERGIA” Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

STUDIO PONS

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sar tecnologia 100% nacional para repetir, na geração de energia elétrica com madeira plantada, o mesmo sucesso que o Brasil já alcançou na produção de combustível líquido, com o etanol e o biodiesel. Essa é a aposta da Diferencial Energia, empresa que, desde 2005, atua no desenvolvimento de projetos de geração termelétrica, comercialização de energia e realização de pesquisas, visando à inovação tecnológica e à melhoria da eficiência energética no país. Um de seus sócios é o mineiro Marco Antônio Castello Branco, ex-presidente da Usiminas. A iniciativa prevê a geração de energia por meio da queima do cavaco de eucalipto, interligando desde a produção desse combustível até a entrega da eletricidade na tomada da casa do consumidor. Dois projetos da Diferencial acabam de sair vencedores no Leilão de Energia Nova A-5, realizado em agosto. É o que você confere a seguir: Que proposta é essa de ‘criação’ de um novo combustível para a geração em termelétricas? Desenvolvemos projetos de geração com o uso do cavaco de madeira de floresta plantada, em especial de eucalipto. Para quem não sabe, cavaco é um recurso renovável, constituído por pequenos pedaços de madeira, proveniente do corte de lenha. Não estamos inventando nada, mas sim propondo uma configuração inovadora para incrementar a produção nacional de eletricidade. As energias eólica e fotovoltaica também são competitivas, mas serão sempre intermitentes. Acreditamos na complementaridade das fontes energéticas para atender às necessidades do mercado brasileiro, de maneira segura e confiável, com custos adequados e responsabilidade ambiental e social. A construção de hidrelétricas e o alagamento de grandes áreas

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Castello Branco:”Manter e investir na queima de combustíveis fósseis é uma visão ultrapassada”


M A R C O A N TÔ N I O CA S T E L LO B R A N C O Empresário e presidente do Conselho dda Indústria da Defesa e Compras Governamentais da Fiemg

estão cada vez mais difíceis, em razão do impacto ambiental. Além disso, o maior potencial de geração hídrica do país está concentrado na região Amazônica, onde o relevo não é favorável.

e replicável em diferentes localidades do país, pois não requer grandes obras de infraestrutura, como gasodutos, portos e ferrovias, e o melhor: com tecnologia 100% nacional.

da nossa experiência em reflorestamento para produzir esses reservatórios que chamamos de ‘chuva artificial’. O diferencial está no uso dessa biomassa que é renovável e será dedicada, ou seja, exclusiva. Um combustível que também é mais fácil gerir, pois você pode ver as árvores, acompanhar o seu crescimento. Não envolve as inseguranças típicas de um reservatório de recursos fósseis, como um poço de petróleo, por exemplo.

Em que configuração inovadora Considerando a viabilidade ela se destaca? econômica e ambiental, quais são A ideia é usar tecnologia e equi- as vantagens dessa iniciativa? pamentos de geração emprega- A primeira é ter um balanço de dos em usinas de açúcar e álcool. emissões bem próximo do zero, Adotamos o mesmo tipo de caldeira de alta eficiência – que tem elevadas pressão e temperatura – asseAs térmicas são gurando maior rendicriticadas por serem mento termelétrico. caras e poluentes. Essa tecnologia foi Com o uso do cavaco desenvolvida no Brade madeira plantada sil na época do apaserá diferente? gão (em 2001), para Sem dúvida. Exataassegurar a geração mente por isso prode mais eletricidade. pusemos algo novo. Avaliação Ambiental Integrada (AAI) Agora, pretendemos Quando faltar chuva para inventário hidrelétrico usá-la para queimar para encher as barĚĞ ďĂĐŝĂ ŚŝĚƌŽŐƌĄĮĐĂ cavaco de eucalipto. ragens, vamos usar a Vamos usar também a que está estocada sob A SETE conta uma equipe experiente para a realização da AAI ĚĞ ŝŶǀĞŶƚĄƌŝŽƐ ŚŝĚƌĞůĠƚƌŝĐŽƐ ĚĞ ďĂĐŝĂƐ ŚŝĚƌŽŐƌĄĮĐĂƐ͕ ĂƐƐĞƐƐŽƌĂŶĚŽ madeira de ‘florestas a forma de galhos, seus clientes nos estudos ambientais. energéticas’ – hoje, folhas e madeira. As essencialmente, emenergias fotovoltaica Saiba mais em: www.sete-sta.com.br pregadas na produe eólica são intermição de carvão vegetal tentes e, portanto, –, além de aproveitar precisamos de tera tecnologia e a memelétricas mais eficanização do setor de papel e em termos da geração de gases cientes. O consumidor não quer celulose. Estamos recombinan- de efeito estufa. Também é mais saber se vai ter vento, sol ou do esses três elementos. viável do que a energia gerada água: quer e precisa do abastecipor meio do bagaço de cana, mento. Aqui e no exterior ainda Qual o primeiro passo? cuja produção é sazonal e não há certa miopia, o ‘preconceiDois projetos de geração ter- pode ser estocada (leia o quadro to’ de acreditar que só é possímelétrica nossos acabam de a seguir). O eucalipto produz o vel gerar energia térmica com a vencer o Leilão de Energia Nova ano inteiro e pode ser armaze- queima de combustíveis fósseis A-5, realizado em 29 de agosto: nado sob a forma de florestas. (gás natural, carvão mineral e as usinas Canto do Buriti (Piauí) São verdadeiros reservatórios óleo diesel) ou de fontes radioae Campo Grande (Bahia). Pode- verdes, que desempenham o tivas, como o urânio. Estamos mos nos orgulhar de dizer que mesmo papel dos lagos das hi- provando que essa é uma visão criamos o ‘iPod’ da energia. Um drelétricas, mas com impactos ultrapassada. Queremos ajudar modelo facilmente configurável bem menores. Vamos nos valer o Brasil a repetir, na geração de

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PÁGINAS VERDES DIVULGAÇÃO/ARACRUZ

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Reservatórios verdes: eucalipto produz o ano inteiro e pode ser armazenado sob a forma de floresta

energia elétrica com madeira plantada, o mesmo sucesso que já alcançou na produção de etanol e biodiesel, em substituição à gasolina. É possível detalhar como os projetos estão sendo desenvolvidos? Eles são fruto de anos de investimento em pesquisa e de longa interlocução com órgãos reguladores e financiadores. O que estamos propondo representa um salto, tanto em termos de qualidade quanto de custo e eficiência. Afinal, vamos fazer exatamente o contrário das térmicas movidas a combustíveis fósseis: despoluir antes de poluir, pois, enquanto a floresta plantada estiver de pé, ela estará cumprindo seu papel como um reservatório de CO2. Esse é um diferencial de mercado extremamente valorizado dentro do conceito da economia de baixo carbono. Aliás, é 18 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

importante frisar que economia de baixo carbono não é apenas aquela que consome pouco carbono, mas, principalmente, a que fixa alguma quantidade de CO2 já emitido. Quando as usinas começarão a operar? A empresa foi criada em 2005 e atua em três segmentos: desenvolvimento de projetos de geração e de construção de usinas, comercialização de energia e realização de pesquisas, visando à inovação tecnológica e à melhoria da eficiência energética no país. Sou sócio desde 2010, ano em que ela passou a se dedicar mais a projetos de geração de energia térmica a partir de fontes renováveis. No entanto, a Diferencial já desenvolveu outros projetos de sucesso no Brasil. Entre eles, o da Termelétrica de Itaqui, no Maranhão (antiga Termo Maranhão), vendida ao

Grupo MPX, de Eike Batista, que hoje opera a unidade. No leilão A-3 de 2008, a Diferencial venceu com o projeto de outra térmica, em Linhares (ES), a gás natural, único empreendimento daquele leilão a entrar em operação no prazo previsto. Já os projetos de biomassa dedicada vencedores do último leilão entrarão em operação em 2018. Como funcionam esses leilões de energia elétrica? Como o próprio nome diz tratase de um Leilão de Compra de Energia Elétrica Proveniente de Novos Empreendimentos de Geração, ou seja, cuja energia será produzida em projetos que ainda serão iniciados (green field). O Brasil precisa comprar entre 3 mil e 5 mil MW de potência instalada todos os anos. Esses leilões se destinam à contratação da energia necessária para assegurar o pleno atendimento


M A R C O A N TÔ N I O C A S T E L LO B R A N C O Empresário e presidente do Conselho de Defesa e Compras Governamentais da Fiemg

QUEM É ELE

"Vamos fazer o contrário das térmicas movidas a combustíveis fósseis: despoluir antes de poluir. Enquanto a floresta plantada estiver de pé, ela estará cumprindo seu papel como um reservatório de CO2"

da demanda futura, no chamado ‘Ambiente de Contratação Regulada (ACR)’. Funciona basicamente assim: o governo abre uma licitação para a compra e dá um prazo que, geralmente varia de três anos (leilão A-3) até cinco anos (leilão A-5) para a empresa vencedora começar a fornecer a energia. Esse modelo, relativamente novo no Brasil, é fruto da reforma do setor elétrico e entrou em vigor em 2004, quando a presidente Dilma Rousseff era ministra de Minas e Energia. Quais as principais mudanças ocorridas desde então? Nesse novo sistema, todas as distribuidoras do país que atendem consumidores cativos – residenciais, pequenos industriais e comerciantes – estimam sua demanda por energia e apresentam à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A partir daí, organiza-se um leilão reverso, já

que as concessionárias não podem mais comprar energia diretamente do produtor. Graças a essas mudanças feitas pelo governo – que também instituiu o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), em 2004 – é que projetos como os nossos puderam ser incluídos nesses leilões. A partir daí, novas soluções surgiram e, agora, estamos introduzindo essa última inovação. Vocês tiveram de desenvolver esse mercado? Em parte sim. Afinal, no mundo inteiro, a história da produção de energia térmica com biomassa sempre esteve ligada ao uso de resíduos como combustível, por meio da queima de rejeitos agrícolas, como a palha de diferentes culturas, e de bagaço de cana. Criou-se, assim, o estereótipo de associar esse tipo de geração à dependência de resí-

Belo-horizontino, 53 anos, casado, dois filhos. Atual presidente do Conselho da Indústria da Defesa e Compras Governamentais da Fiemg. Formado em engenharia metalúrgica pela UFMG, é doutor em metalurgia pela Universidade Técnica de Clausthal, na Alemanha. Ingressou na Mannesman S.A. em 1989. Em 2000, assumiu a presidência da V&M do Brasil (agora Vallourec Tubos do Brasil). Em 2004, mudou-se para a França como presidente da Divisão de Tubos Laminados a Quente do Grupo Vallourec. Retornou em 2008 para assumir a presidência da Usiminas, onde ficou até 2010.

duos pelos quais, em tese, não se pagava e, portanto, não poderiam ser precificados para compor uma estimativa de custos, como a que temos de apresentar nos leilões. Qual foi a postura adotada pela empresa? Atuamos de forma direta junto ao governo federal, dialogando e mostrando a necessidade de mudar a regulação ligada à geração térmica com biomassa de madeira plantada, e que era preciso não confundi-la com o bagaço de cana, gerado como subproduto do açúcar e do álcool. Ao contrário do bagaço, a madeira do cavaco é plantada com o objetivo exclusivo de gerar eletricidade. Foram vários encontros nos quais apresentamos nossos projetos e reivindicações. Felizmente, a partir de 2011, o Ministério de Minas e Energia passou a permitir que usinas

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PÁGINAS VERDES

termelétricas movidas a biomassa pudessem declarar o custo de seu combustível, um passo decisivo para alavancarmos o nosso negócio. Também trabalhamos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que, finalmente, entendeu a dinâmica do processo e nos concedeu financiamentos em condições compatíveis, para que pudéssemos participar dos leilões. Vocês vão plantar florestas ou comprar ‘reservatórios’ já em ponto de corte? A viabilidade econômica dos nossos projetos está diretamente ligada ao valor que temos de pagar pela terra. Por isso, optamos por investir na Bahia e no Piauí, onde os custos são menores. Vamos plantar as florestas, uma decisão que traz vantagens e desvantagens. A vantagem é que teremos como estimar o custo exato da madeira, além de empregar modernas técnicas de plantio e manejo, produzindo madeira de qualidade e a preço competitivo. A desvantagem é que o eucalipto demora de cinco a sete anos para crescer. Em Minas, a dificuldade de negociação é grande, porque boa parte dos plantadores de florestas ainda é conservadora. Muitos não entendem a dinâmica do processo. A primeira coisa que me perguntam é quanto vou pagar pela madeira... Mas, não considera essa ‘resistência’ natural? Afinal, trata-se de um negócio novo... Sim. Explico que não sou comprador de madeira e que quem vai pagar por ela é o consumidor de energia. Então, quanto mais competitivo for o custo dela, mais 20 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

"Essa é uma alternativa extremamente bem-vinda em Minas, um negócio promissor para os produtores de florestas que estão perdendo mercado diante da queda nas exportações de ferro-gusa"

chances temos de sair vencedores nos leilões. A ideia que tem de prevalecer é a de parcerias para transformar parte dos 1,5 milhão de florestas plantadas em MG em combustível para gerar energia limpa. Assim, estaremos contribuindo para o amadurecimento de toda a cadeia, que tem de se adaptar às novas tecnologias e arranjos produtivos. Além disso, é essencial lembrar que essa é uma alternativa extremamente bemvinda em Minas. Pode se tornar um negócio promissor para os produtores de florestas que, atualmente, estão perdendo mercado diante da queda nas exportações de ferro-gusa. O governo estadual fortaleceu essa cadeia, com o lançamento do Programa de Energias Renováveis. Qual é a sua opinião sobre ele? É uma iniciativa espetacular. Prevê incentivos para a implantação de novos empreendimentos e, com isso, aumenta a cota de energias renováveis na matriz

energética mineira. Empreendimentos de energia gerada a partir das fontes solar, eólica, biomassas, biogás e hídrica terão tratamento tributário diferenciado para a produção de componentes e ferramentais usados na geração. O mais importante é que esse programa vai criar um novo mercado, ao viabilizar a venda da energia diretamente do gerador para os consumidores não cativos, como as indústrias, sem a necessidade de leilões. Vai consolidar uma nova mentalidade de produção e consumo, motivando as pessoas a optar pela energia gerada por fontes renováveis, como já ocorre em outros países. Na Holanda, o consumidor escolhe o tipo de energia que quer ter em sua casa e ainda recebe um certificado atestando a origem da geração. Estamos no caminho certo. Qual o custo dessa nova energia? Vai pesar ou aliviar o bolso do consumidor? Primeiro, é preciso esclarecer


M A R C O A N TÔ N I O C A S T E L LO B R A N C O Empresário e presidente do Conselho de Defesa e Compras Governamentais da Fiemg

ENTENDA MELHOR

"Queremos ajudar o Brasil a repetir, na geraçãode energia elétrica com madeira plantada, o mesmo sucesso que já alcançou na produção de etanol e biodiesel, em substituição à gasolina"

que quando se tem ciclos regulares de chuva, não é necessário acionar as térmicas por longos períodos. Três a quatro meses ao ano são suficientes para garantir a regularização dos reservatórios de água. No entanto, desde maio de 2012, praticamente todas as termelétricas brasileiras estão funcionando 24h. Só há alguns meses, as mais caras começaram a ser desligadas. Elas garantiram o fornecimento de 16 gigawatts de potência, o que corresponde a pouco mais de 10% da capacidade instalada nacional. Boa parte dessas usinas opera com diesel, cujo custo variável unitário de geração (CVU) oscila de R$ 700 até R$ 1 mil por MWh. No caso do gás natural, esse custo é superior a R$ 200 por MWh. Em função disso, o governo estipulou um ‘preço teto’ de largada no último leilão de R$ 140 por MWh. Com o cavaco de eucalipto conseguimos atender bem a esses limites. É óbvio que o nosso custo ainda é superior ao da energia hídrica e eólica. Afinal, o homem que

planta e colhe florestas ganha mais do que o que se ‘paga’ a São Pedro. Mas, caro mesmo é ficar sem energia. Sua saída da Usiminas teve grande repercussão. Como se deu a transição de executivo a empresário? Assumir a Usiminas, em 2008, foi uma boa oportunidade que encontrei para voltar ao Brasil e ficar mais perto da minha família. Apesar dos problemas que enfrentei, consegui levar meu mandato até o fim. Estava completando 50 anos e, confiando que Deus ‘escreve certo por linhas nem sempre tortas’, entendi que era hora de mudar, de sair da minha zona de conforto como executivo e ter a provocação de me tornar empresário. A experiência tem sido desafiadora e fascinante, em especial diante da dificuldade de empreender no Brasil. Ainda mais quando se é pequeno e tem uma ideia nova. Mas, sigo otimista. Ainda temos muito o que fazer e avançar. O

Desde o início dos tempos o homem queima biomassa para produzir calor e, quando aprendeu a semear e a colher, tornou essa fonte de energia, além de limpa, também renovável, passando a plantar árvores para se abastecer de lenha, madeira e fibra. Uma floresta de eucalipto ou pinus plantada para suprir uma usina termelétrica desempenha, enquanto fonte de combustível, o mesmo papel de um reservatório d’água e de um poço de petróleo ou gás natural. Todavia, somente o reservatório florestal agrega outros benefícios, pois: O Retira continuamente CO2 da atmosfera e não se esgota (basta replantar após a colheita); O Não tem limite de armazenamento: se a madeira não é cortada, a floresta continua a crescer; O Tem múltiplos usos: quando a usina não gera energia, a madeira pode ser destinada a outros fins; O Tem acesso flexível: a madeira

não é sazonal como o bagaço de cana e pode ser colhida o ano todo; O Gera empregos ao longo de toda a vida da usina, e não apenas no período de sua construção; O Além de tudo isso, a silvicultura brasileira aprendeu a produzir madeira com elevado poder calorífico e com grande produtividade. Por outro lado, caldeiras de biomassa de alta eficiência são fabricadas no país, assim como turbinas a vapor, fazendo com que a termogeração com cavaco de madeira plantada ofereça 100% de conteúdo nacional, desde a produção do combustível até a entrega da eletricidade na tomada da casa do consumidor.

OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 21


SOU ECOLÓGICO

FOTOS: DIVULGAÇÃO/PNUMA

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PRÊMIO “CAMPEÕES DA TERRA”PARA IZABELLA TEIXEIRA Devido à sua atuação pragmática na redução do desmatamento na Amazônia, a ministra do Meio Ambiente foi uma das principais vencedoras do prêmio “Campeões da Terra” 2013, categoria Liderança Política, outorgado pela ONU, em solenidade no Museu Americano de História Natural, em Nova York. Emocionada, ela deixou o seu recado: “Tudo que queremos, com amor e compaixão, é uma sociedade e um desenvolvimento mais justos e inclusivos, que protejam o meio ambiente. Este é o caminho para um mundo melhor, um planeta mais sustentável no rumo da economia verde”. Coincidência luminosa: A cerimônia, que contou com a participação de outra brasileira, a modelo Gisele Bündchen, embaixadora da Boa Vontade do PNUMA, foi no último dia 18, lua cheia de setembro.

22 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

GISELE BÜNDCHEN: prestígio duplo


Acesse o blog do Hiram:

REPRODUÇÃO

hiramfirmino.blogspot.com

O PRAZER DE CLARICE

Representando seus colegas fundadores Sebastião Cabral Filho e João Augusto Moreira (in memoriam), o diretor do Centro de Quimioterapia Antiblástica e Imunoterapia (CQAI), Eduardo Nascimento (foto), recebeu homenagem da ALMG pelos seus 40 anos de busca pelo trabalho humanizado e a excelência de seus profissionais, em uma história de coragem e solidariedade na luta contra o câncer.

LAGOA SECA VERDE Está nas mãos das construtoras Caparaó e Patrimar uma segunda chance de dialogarem com os ambientalistas em busca de um projeto imobiliário-ecológico, comum e sustentável capaz de revitalizar as crateras deixadas pela ex-Mineração Lagoa Seca (foto), na zona sul de BH. E, só assim, buscarem a licença social. A dica é do próprio prefeito Marcio Lacerda, que quer ouvir todas as partes, diante da falta de recursos e do radicalismo do local virar só prédios ou só uma área verde pública, prometida há meio século à população.

CLÁUDI GRECO

NA TRILHA DOS QUATIS É o nome do novo e audacioso projeto de corredores ecológicos abraçados pelas prefeituras de BH e Nova Lima, com apoio da Semad, através do IEF. Além de unir, primeiramente, todos os parques e fragmentos de biodiversidade ao redor da Serra do Curral, a ideia é abranger todos os mosaicos de flora e fauna existentes e a serem criados, até a Serra da Piedade, na versão leste. A informação é do diretor do Parque das Mangabeiras, Homero Brasil. Ao estudar um recente monitoramento por controle remoto dos quatis que vivem no parque, os funcionários confirmaram que eles passeiam, vão e volta sem problemas até o ponto mais alto da Região Metropolitana. Ou seja, nem tudo está perdido. Pelo contrário, muitas das demais espécies de animais podem fazer o mesmo e devem ser protegidas, bem como a flora reconstituída até lá.

GUILHERME BERGAMINI

RECONHECIMENTO PÚBLICO

REPRODUÇÃO

Maravilha o espetáculo “Prazer”, sobre a obra de Clarice Lispector, em longa temporada no novo Espaço Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade. Igualmente comovente é a justa homenagem que a Cia Luna Lunera presta ao final a três ícones da produção cultural que já nos deixaram: Marcos Vogel, Marcelo Castilho Avelar e Raul Belém Machado, os dois últimos com quem tive o privilégio de trabalhar junto. Merecidíssimo!

OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 23


JULIA LANARI

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GENTE ECOLÓGICA

“A mulher é um efeito deslumbrante da natureza."

INSTITUTO AYRTON SENNA

ARTHUR SCHOPENHAUER, filósofo alemão

“A felicidade depende das qualidades próprias do indivíduo e não do estado material do meio em que se acha.” ALLAN KARDEC, fundador do Espiritismo 24 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

DIVULGAÇÃO

AYRTON SENNA, piloto.

WANDER LEE, cantor, compositor, na música “Do Brasil”, de sua autoria.

WIKIPEDIA

“Deus é grande. Deus é forte. Quando Ele quer, não tem quem não queira.”

“Quem tem a comida na mesa, agradeça sempre a grandeza de cada pedaço de pão.”

“Envelhecer é inevitável. O que não quero é forçar a barra para estar no ar ou na mídia. Tenho que me guardar. Em respeito a mim mesmo.” CLÁUDIO CAVALCANTI, ator e exsecretário de Defesa dos Animais do Rio, recém falecido

“Seja alguém simples. Seja algo que você ama e entende. Esqueça o resto, tudo que você precisa está na sua alma e em seu coração.” FERNANDA YOUNG, apresentadora e escritora


“Não tenho mágoa. Quando algo me incomoda, procuro sempre ver o lado bom da coisa. Os problemas são para nos ensinar. A gente está aqui para aprender e procurar sempre melhorar!”

MINGUANDO

JAIRO LESSA VANUSA, cantora

“Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.”

DIVULGAÇÃO

FÁBIO PORCHAT

O humorista virou carroceiro por um dia. O intuito foi dar visibilidade ao projeto Pimp My Carroça, que busca chamar atenção das pessoas para o trabalho dos catadores de materiais recicláveis. O dinheiro obtido com a brincadeira (R$ 1,95 trocados por 13 quilos de papelão) foi doado a um dos trabalhadores.

O deputado estadual pelo Dem e ex-prefeito de Montes Claros perdeu as estribeiras quando confrontado pelos ambientalistas, com o Prêmio “Motosserra do Ano”, outorgado pela Frente Mineira pela Proteção da Biodiversidade: “O povo do meio rural está passando fome, tem de desmatar mesmo!” – defendeu aos gritos.

DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO

MARINA SILVA, ex-senadora

RENATO ARAUJO/ABR

“Indignação não é ódio. Só as pessoas que amam e respeitam a justiça são capazaes de se indignar com a injustiça.”

CRESCENDO

DIVULGAÇÃO

HASSAN ROUHANI

“Aprendi mais que ensinei. É uma realização muito grande poder ajudar a quem precisa, de forma espontânea e com amor.”

O recémempossado presidente do Irã executou 50 presos, por enforcamento, em apenas 14 dias. A média de seu antecessor nessa barbárie medieval era de uma morte por dia.

DONA LUCINHA, ex-professora, empresária e cozinheira.

OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 25

WWW.ROUHANI.IR

ARIANO SUASSUNA, escritor.


ECONECTADO CRISTIANE MENDONÇA

TWITTANDO

ECO PROMOÇÃO

REPRODUÇÃO

1

Concorra ao livro “O Direito de Bem Nascer”, do autor José Olavo Mourão Alves Pinto. A obra, que pode ser referência tanto para técnicos quanto para estudantes, aborda os desafios que o Brasil e o mundo precisam enfrentar para minimizar a pobreza. Para participar basta curtir a página da Revista ECOLÓGICO no Facebook e clicar na aba “promoção”. Acesse www. facebook.com/souecologico e boa sorte!

O “Em João Câmara, interior do

RN, crianças têm as mãos corroídas pelo óleo ácido presente na casca da castanha de caju” @_ihu - Unisinos, instituição. O “SP: Após protestos, Prefeitura

manterá 27 árvores no entorno do estádio do Palmeiras” @janetelimelo – Janete Melo, geógrafa. O “Nossa sociedade, que cultua a

juventude, poderia ser mais inclusiva com a terceira idade” @jeanwyllys_real - Jean Wyllys, deputado.

ECO LINKS

O “Até o mel pode ser do mau quando

O “Petrolina é

assim: de um lado o sertão e seu mandacaru, e de outro, o Sul da França e seus vinhedos” @dirapaescom Dira Paes, atriz.

DIVULGAÇÃO/ MARKOS FORTES

envenenamos as plantas e fazemos as abelhas o produzir mesmo a custo de suas vidas” (SIC) @procopiocastro Procópio de Castro, ambientalista

Quem gosta de pedalar pela cidade sabe que os desafios são muitos! E para facilitar a vida de quem tem a bicicleta como uma forma de transporte e lazer, o aplicativo “Conviva Bike” oferece informações que vão desde rota, distância e tempo de trajeto, às opções de eventos, além de estabelecimentos que possuam estrutura adequada para receber um ciclista. O aplicativo é gratuito e pode ser baixado no Google Play e na Apple Store.

FAÇA VOCÊ MESMO Sabe aquela caixa de papelão sem graça que iria para o lixo? No site da Revista ECOLÓGICO, você encontra um passo a passo bem simples e uma didático de como transformá-la num porta-objetos charmoso e até mesmo decorativo. Acesse: www.goo.gl/fIz2g7

FERNANDA MANN

prisão pelo assassinato de Dorothy Stang depois de 9 anos de luta e 4 júris. Justiça afinal!” @helenapalm - Helena Palm

DIVULGAÇÃO

CICLISTAS DE PLANTÃO

O “Bida condenado a 30 anos de

nacional. Não valorizamos materiais residuais de obras. Saber construir é tão importante quanto desconstruir!” @andretrig André Trigueiro, jornalista. O “Mobilização nas redes sociais

indicavam que milhares de manifestantes iriam ao STF no último dia do mensalão. Menos de 50 compareceram.” @cristilobo – Cristiana Lôbo, jornalista.

26 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

MAIS ACESSADA Que tal limpar os sapatos com pasta de dente? Essa foi uma das matérias mais lidas do site da Revista ECOLÓGICO, em setembro. O texto explica como produtos do nosso dia a dia podem ter mil e outras funções. Refrigerante de cola retira aquela mancha preta que o arroz queimado deixa na panela e maionese limpa algumas manchas de móveis. Quer saber mais, acesse: www.goo.gl/387l6K

MAUREN VERAS

O “Furto do aço no RJ expõe mazela



CÉU DE BRASÍLIA VINÍCIUS CARVALHO

COMPENSAÇÃO Prefeitos fazem, no Congresso, mobilização pelo aumento da arrecadação dos municípios que abrigam hidrelétricas. O foco está em duas propostas, em tramitação no Senado, que alteram a Compensação Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos (CFURH). Hoje, estados e municípios ficam, cada um, com 45% dos recursos dessa compensação, enquanto os 10% restantes vão para a União. Os prefeitos querem elevar a arrecadação dos municípios para 65% e reduzir a dos estados para 25%.

SANEAMENTO 1 Pouco mais da metade das residências no Brasil estão ligadas à rede coletora de esgoto, segundo o IBGE. São 35,8 milhões de domicílios que contam com esse serviço, o correspondente a 57,1% de todo o universo investigado. O dado consta da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2012).

SANEAMENTO 2

- O Conselho Federal de Medicina Veterinária lançou a Campanha Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Selvagens. Segundo estudo da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Selvagens (Renctas), 38 milhões de animais são retirados da natureza todo ano, o equivalente a 400 por dia. Cerca de 90% morrem antes de chegarem ao destino final.

SANAKAN

Em relação a 2011, houve avanço de 2,1 pontos percentuais na proporção de casas com rede coletora de esgoto. Na região Sul, 42,3% das casas tinham essa característica. Por outro lado, do total de domicílios da região Norte, 13% estavam ligados à rede de esgoto. Ao todo, o IBGE identificou 62,8 milhões de domicílios particulares em 2012.

TRÁFICO DE ANIMAIS

AGROTÓXICOS

DESMATAMENTO

Um dossiê lançado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) relacionou o uso de agrotóxicos e a expansão de cultivos transgênicos no país. Entre 2006 e 2011, época da implantação dos transgênicos, o volume consumido de agrotóxicos aumentou 72%: de 480,1 mil para 826,7 mil toneladas. O consumo médio de agrotóxicos por hectare passou de 7 kg em 2005 para 10,1kg em 2011.

O número de alertas de desmatamento na Amazônia aumentou em 35% entre agosto de 2012 e julho de 2013 na comparação com agosto de 2011 a julho de 2012. Segundo o Inpe, responsável pelo Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter), as áreas possivelmente devastadas chegaram a 2.766 km2 entre agosto de 2012 e julho deste ano, ao passo que a devastação alcançou 2.051 km2 de floresta entre agosto de 2011 e julho do ano passado.

28 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013


DIVULGAÇÃO

TRANSPOSIÇÃO

NX POWERLITE

O Ministério da Integração Nacional assinou o último contrato das obras complementares do Projeto de Integração do Rio São Francisco. Segundo o secretário de Infraestrutura Hídrica, Francisco Teixeira, “os dois únicos trechos que apresentavam problemas foram retomados”, disse ele referindo-se aos de Mauriti (CE) e de São José de Piranhas (PB). As obras custarão R$ 587,5 milhões e devem ficar prontas em 2015.

PECUÁRIA Boas práticas podem reduzir em 30% as emissões da pecuária, destacou este mês, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO). A atividade é responsável por emitir anualmente 7,1 gigatoneladas de dióxido de carbono (CO2), equivalente a cerca de 14,5% de toda a liberação de gases do efeito estufa (GEEs) resultante das atividades humanas. Em alguns países, como no Brasil, o setor e as mudanças do uso da terra, provocadas por ele e pela agricultura, são o principal contribuinte para as emissões nacionais.


CRISTIANE SILVA

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ECONOTAS CRISTIANE MENDONÇA* redacao@revistaecologico.com.br

• MÃO AMIGA O “Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias”, celebrado em 21 de setembro, foi comemorado em Belo Horizonte com uma ação que reuniu mil voluntários. Estudantes e professores de 20 escolas da capital e de Contagem coletaram e catalogaram 302 quilos de resíduos na orla da Lagoa da Pampulha e na bacia hidrográfica do Ribeirão do Onça. As equipes se dividiram em 20 pontos de coleta entre a orla, nascentes, córregos, ribeirões e lagoas da região. A ação foi promovida pela Coca-Cola FEMSA Brasil e coordenada pelos Núcleos Integrados Cascatinha, Brejinho, Engenho Nogueira e Projeto Manuelzão. Jovens dedicaram-se à limpeza da orla da Lagoa da Pampulha

• CULTIVO CONSCIENTE A extração do óleo de palma, importante elemento na alimentação básica de muitos países, aumentou consideravelmente nos últimos 20 anos. A utilização em diversos produtos alimentícios e não alimentícios, além da aplicação como insumo para a produção de biodiesel, contribuiu para o crescimento. O aumento da produção, entretanto, precisa ser O óleo de palma é extraído sustentável, como é o caso do da polpa da fruta Grupo Angropalma. Os esforços da empresa foram reconhecidos com uma certificação internacional, concedida pela Mesa Redonda para o Óleo de Palma Sustentável (do inglês Round Table on Sustainable Palm Oil – RSPO). A Angropalma também foi eleita pelo Greenpeace como a instituição mais sustentável entre os maiores produtores do óleo de palma no mundo.

REPRODUÇÃO

A educação brasileira está em crise. De sistema, de valores e de renovação. Mas, por onde recomeçar? Para a educadora e psicanalista Jane Patrícia Haddad, autora do livro “Educação e Psicanálise”, a resposta para essa pergunta “não passa por quem é o culpado”, mas “por todos corresponsáveis”. Haddad ministrou, em setembro, o 3º Desafio Arbórea, com o tema “Educar: cuidar de si”. No evento, transmitido em tempo real, pela internet, a educadora levantou questionamentos sobre o tema, em um ciclo com profissionais da área de gerência, teologia, educação e direito. Haddad pontuou como alunos, pais e professores enfrentam os desafios de um espaço educacional em crise. “Esse passar pela escola, sem que o aluno se sinta também responsável pelo próprio aprendizado, faz com que esse sujeito se torne um profissional sem autonomia, sem sentimento de pertencimento ao seu trabalho.” O debate completo pode ser acessado no canal “Arborea Instituto” do Youtube.

TIAGO RODRIGUES

• EDUCAÇÃO NA BERLINDA

Jane: “É preciso humanizar as relações”

• DOMINGO NO PARQUE O Grupo Husqvarna realizou uma pesquisa com 4500 pessoas, de diferentes países, sobre a interação de pais e filhos com espaços verdes. A pesquisa apontou que os pais gostariam de levar as crianças com mais frequência aos parques. 65% acreditam que as crianças passam menos tempo em áreas verdes do que eles passaram em suas infâncias. Além disso, 76% dos pais apontaram que as crianças precisam estar mais tempo em contato com a natureza. SAIBA MAIS www.husqvarna.com.br (*) colaborou Marcos Fernandes

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“Inovação é o processo de transformar ideias em coisas manufaturáveis e comercializáveis” (Watts Humprey)

Edital de Subvenção Econômica para microempresa e empresas de pequeno porte sediadas em Minas Gerais nas áreas de: Agronegócio Biotecnologia Eletroeletrônico Energias Alternativas Meio Ambiente Mineral-Metalúrgico Petróleo e Gás Tecnologia da Informação e Comunicação

APOIO

Envio de propostas até 18 de novembro de 2013 Informações e inscrições: www.fapemig.br/tecnova


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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

BASTA DE CRUELDADE

COM OS ANIMAIS! N

o Parque Nacional de Zimbabwe, 81 elefantes mente depois, esvaindo-se de dor e com o sangue jorforam envenenados com cianeto colocado na rando, são mortos. água por caçadores que queriam suas presas. E pelo mundo afora, continua a ser chique e conO marfim delas, em 2013 d.C., continua a valer muito siderada uma gastronomia refinada comer patê de dinheiro. Apesar dos esforços de diversas instituições foie gras fabricado com fígado de gansos e patos. Dee governos, a matança continua e é comum que, ain- zesseis dias antes de serem mortos, um tubo de cerca da vivos, eles tenham as presas arrancadas. de 40 cm é enfiado em seu pescoço e por ele enorme Faz parte da endeusada cultura chinesa produzir quantidade de cereais misturados com gordura é enremédios populares cujo processo nada fica a de- fiado nos animais. Nos últimos dias, isto acontece de ver à “santa inquisição”. Um deles é a extração de três em três horas. bile do fígado de ursos. Criados em No Brasil, o atropelamento e a comcativeiro, eles passam toda a vida pra de animais silvestres, que alimenta "A grandeza de apertados em pequenas gaiolas. Um tráfico, disputam o segundo lugar (o uma nação pode ser oprimeiro cateter é colocado em sua vesícula é o desmatamento) na lista julgada pelo modo de causas que ameaçam extinção de biliar, que armazena a bile produzida pelo fígado, ficando uma ponta como seus animais diversas espécies. para fora. Por ela, duas vezes ao dia, Disse Mahatma Gandhi que “a gransão tratados" são extraídos entre 10 e 20 mililitros deza de uma nação pode ser julgada Mahatma Gandhi de bile. A dor é tanta que os ursos pelo modo como seus animais são traurram e mordem as patas. tados.” E o ator Richard Gere fez um Os tigres que habitavam o sul da China estão pra- apelo: “Como zeladores do planeta, é nossa responsaticamente extintos, e a maior causa é a implacável bilidade lidar com todas as espécies com carinho, amor caça para retirada do pênis usado como remédio para e compaixão. As crueldades que os animais sofrem peimpotência. No mercado central de Belo Horizonte, las mãos dos homens estão além do nossa compreenpatos, marrecos, gatos e cachorros anoitecem e ama- são. Por favor, ajudem a parar com esta loucura.” nhecem sem ver a luz do sol, presos em gaiolas onde Caro leitor. Não considere este meu “escrito” como mal podem se mexer. um jato de pessimismo. Veja-o mais como alerta à No Youtube, para quem tiver estômago forte, circula necessidade de não nos esquecermos de coisas que vídeo mostrando o sangrento espetáculo do início da estão longe dos nossos olhos. Como você lê esta refabricação dos famosos travesseiros de penas de gan- vista, tenho certeza de que, assim como Gandhi e Riso. Cada animal, seguro entre as pernas de um “homo chard Gere, também respeita os animais e faz alguma sapiens”, tem suas penas brutalmente arrancadas. So- coisa para ajudar a protegê-los. O

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A ECOCONSTRUCT BRAZIL E A UNIVERSIDADE FUMEC TÊM A HONRA DE CONVIDÁ-LO.

Dias 31 de outubro e 01 de novembro de 2013

Inscrições limitadas www.ecoconstruct.com.br

Local: Auditório Phoenix Universidade Fumec Rua Cobre, 200, Cruzeiro, Belo Horizonte

Mais informações: EcoConstruct: Alameda da Serra, 322 - Sala 402, Vale do Sereno, Nova Lima / MG - (31) 3786-1760 / (31) 9981-3261 contato@ecoconstruct.com.br Seja um patrocinador deste prestigiado evento! Fale com a Revista ECOLÓGICO - (31) 3481-7755 comercial@revistaecologico.com.br

Apoio Institucional


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ECO CONSTRUÇÃO CRISTIANE SILVEIRA DE LACERDA (*) redacao@revistaecologico.com.br

PRÉDIOS VERDES ELES JÁ REPRESENTAM 8,3% DO PIB

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studo realizado pela consultoria da EY (antiga Ernst & Young) encomendado pelo Conselho de Construção Sustentável no Brasil, o GBC Brasil, braço local do americano Green Building Council, entidade que concede o selo LEED de construção sustentável, apresenta um importante dado sobre o crescimento do setor. O valor das construções com projetos registrados para receber a certificação de obra sustentável, os chamados prédios “verdes”, alcançou, em 2012, 8,3% do total do Produto Interno Bruto (PIB) de edificações – subdivisão do PIB da construção civil que exclui as obras de infraestrutura. Em 2010, ele não ultrapassava 3% do PIB setorial. Em 2010, o PIB da construção foi de 139 bilhões. Importante lembrar que todo esse movimento é muito recente no Brasil, tendo o primeiro certificado sido

Nova loja Tetum,no Sion, projeto em fase de certificação LEED 34 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

emitido em junho de 2007 para a Agência Granja Viana em Cotia – São Paulo. O valor total dos imóveis que reivindicam o selo sustentável atingiu R$ 13,6 bilhões em 2012, em comparação com um PIB de edificações de R$ 163 bilhões no mesmo período. A pesquisa levou em conta projetos registrados para a obtenção do selo LEED (Leadership in Energy and Enviromental Design). O levantamento evidencia um aumento substancial da participação de empreendimentos sustentáveis na composição do PIB de edificações ao longo dos últimos três anos. É que os empreendedores estão mais atentos à certificação como oportunidade de melhorar a imagem institucional e a reputação da empresa como também de obter melhores taxas de retorno, principalmente em empreendimentos comerciais de alto padrão. A certificação LEED tem demostrado que agrega valor às construções, ampliando a atratividade para o mercado imobiliário corporativo – principalmente por reduzir riscos operacionais e de investimento. Hoje, o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial de construções sustentáveis, e logo deverá alcançar a terceira posição, desbancando os Emirados Árabes e ficando atrás somente de EUA e China. A tendência do mercado das construções verdes é ascendente, mesmo com a previsão de estabilização do mercado das construções já confirmada em algumas regiões do país. Em momentos de retração no mercado, a diferenciação passa a ser um componente ainda mais importante, não só na fase de comercialização, mas também para aqueles que terão de tomar uma decisão de compra e arcar com os custos de operação e manutenção. Comprar um empreendimento obsoleto estará definitivamente fora de cogitação para os mais antenados. As vantagens deste mercado são a cada dia mais evidenciáveis por meio da economia de energia, de água, preocupações com a durabilidade e com os menores custos para a manutenção do empreendimento, além da valorização no longo prazo. O


Com crescimento de 33% no número de visitantes em relação ao ano passado, o maior evento relacionado à construção sustentável da América Latina, aconteceu entre 27 e 29 de agosto. Mais de 110 palestrantes, de renome nacional e internacional, compartilharam novidades e experiências sobre o mercado mundial com mais de 1.600 congressistas, entre esses o ambientalista internacional Paul Hawken. Com 113 empresas expositoras, mais de 9 mil visitantes conheceram as principais inovações tecnológicas e os serviços relacionados à sustentabilidade nas construções. A boa notícia, dada pelos organizadores da Conferência, é que o Brasil foi escolhido para sediar, em 2014, a edição global do Congresso do World Green Building Council, entidade presente em 97 países. Segundo o diretor do Green Building Council Brasil, “o evento atesta como o movimento da construção sustentável está sendo aceito pelo mercado, elevando os padrões técnicos de todos os setores da construção e o desenvolvimento de soluções focadas em eficiência e mitigação de impactos socioambientais".

FOTOS: DIVULGAÇÃO

IV GREENBUILDING BRASIL CONFERÊNCIA INTERNACIONAL & EXPO BATE RECORDE DE PÚBLICO

A colunista com Paul Hawken

PALESTRANTE DE DESTAQUE Paul Hawken, um dos palestrantes, ambientalista, escritor, educador e empreendedor norteamericano, deixou algumas mensagens. Colocarnos como instrumento do bem foi uma delas. “Pequenas coisas podem fazer uma grande diferença. Como? Vocês são projetistas. E é isso que têm feito até agora”, comenta. Na sequência, as imagens exibidas eram fotos de rios poluídos em São Paulo, incêndios próximos a Los Angeles e a destruição causada pelo furação Sandy, em Nova York. “Este não é o futuro. Fala-se sobre mudanças climáticas como se essas fossem o fim do mundo, na esperança de que esse medo catalise a ação. Não acho que esteja funcionando. Mas é mais fácil imaginar o fim do mundo do que um mundo transformado.” O ambientalista comentou ainda que, nos Estados Unidos, não se consegue financiamento para a construção de um edifício de alto padrão sem que ele tenha uma certificação de sustentabilidade. “No passado se você quisesse inovar com foco em eficiência e geração de energia em edificação dizia-se não ser comerciável. "O relato de Paul Hawken causou risos na plateia do IV Greenbuilding Brasil e serviu para explicar como o selo criado pelo Green Building Council estabeleceu um novo padrão para a construção.

SEMINÁRIO NA FUMEC Nos dias 31 de outubro e 1 de novembro acontece o IV Seminário Internacional de Construção Sustentável, uma realização da Ecoconstruct Brazil, da Universidade FUMEC e da Revista ECOLÓGICO. Quem aparecer por lá, vai conhecer as últimas tendências nacionais e internacionais, certificações, experiências, desafios e tecnologias. O evento traz os maiores especialistas do Brasil ao auditório Phoenix da FUMEC, em Belo Horizonte.

SAIBA MAIS As inscrições podem ser feitas pelo portal www.ecoconstruct.com.br (31) 3786-1760 (*) Diretora da EcoConstruct Brazil www.ecoconstruct.com.br | Coordenadora do MBA Edifícios Sustentáveis (FUMEC). OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 35


ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE XANGAI, CHINA

ANDRÉA ZENÓBIO

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OLHAR EXTERIOR

Torre de Xangai, o edifício mais alto da China: nova adição ao visual futurístico do ‘Bund’, atração turística da cidade

HONESTIDADE EM XANGAI

Z

ero, cinquenta, cento e trinta, duzentos e quarenta, trezentos, trezentos e vinte e dois, trezentos e trinta. Em poucos minutos, o trem-bala atinge sua velocidade máxima de 330km/h a caminho de Xangai. Olhando o ‘passar’ da paisagem através da janela, se tem a impressão de que nem tão rápido é assim; mas essa sensação é produto da estabilidade do trem – sem balanços, sem arrancos, suavemente deslizando pelos trilhos. Certamente, a viagem é mais longa do que as 2h30 de avião, mas se há a possibilidade de economizar algumas toneladas de gás

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carbônico e se sentir bem comigo mesma por estar fazendo minha parte no combate às mudanças climáticas, então as 5h15 de trem valem a pena. Claro que a esses argumentos adiciona-se também a oportunidade de viajar pela mais longa linha ferroviária de trem-bala do mundo. E tudo isso por um preço até que razoável – R$ 200 por assentos econômicos e R$ 340 e R$ 635 para a primeira classe e de luxo, respectivamente. Depois de apreciar por algum tempo a paisagem nem tão interessante que se desvela pela janela, abro meu livro. Após algumas páginas de leitura – que

por ser um livro acadêmico, demanda alta concentração – não é que meu vizinho do outro lado do corredor resolve assistir televisão em seu mini-computador – e claro, sem fone de ouvido?! Decido interpelá-lo delicadamente como já fiz em tantas outras situações, quando me encontro cercada por chineses em aviões ou trens – a noção de privacidade ou observância das normas sociais (ocidentais, devo frisar) de como se comportar em tais ambientes ainda está em processo de ser assimilada por essa cultura. Porém, observo que também sua mulher, sen-


"O que mais se destaca é a natureza humana dos ‘xangaíses’, famosa pelo quesito honestidade"

tada ao seu lado, se diverte com os programas de TV. Excelente oportunidade para exercitar tolerância e compaixão, penso eu, no topo da minha frustração. Fecho meu livro e volto a apreciar a paisagem. Chegamos a Xangai no início da noite, felizes e famintos – nunca viaje na China sem levar consigo seu próprio alimento. Sem ser capaz de reconhecer a comida congelada ofertada no restaurante do trem. As únicas opções para enfrentar a longa viagem foram sorvete e pipoca extremamente doce. Por ser hora do rush, por volta das 19h, temi o que nos esperava – um longo engarrafamento (baseado na minha experiência de Pequim) e de estômago vazio. Ledo engano! A enorme estação de Xangai, que recebe os trens-bala de todas as partes da China, se localiza ao lado do principal aeroporto daquela cidade. E dali, para proporcionar fluidez ao tráfego, o governo chinês construiu uma via expressa de 45 quilômetros totalmente composta de um único viaduto – ou seja, do início ao fim, se dirige sobre um viaduto, sem a interrupção de qualquer sinal de trânsito. Impressionante! COMPACTA E ALTA Xangai é linda, charmosa, muito mais densa do que Pequim. Enquanto na capital da China os prédios se concentram especialmente ao longo dos principais anéis rodoviários que circundam a cidade, em Xangai, os arranhacéus são construídos um ao lado do outro por todo o perímetro urbano. Explorar a cidade de dia ou à noite – segurança é um quesito garantido em Xangai, assim como em qualquer outra cidade chinesa – é sempre uma viagem

pelo túnel do tempo – para o passado ou o futuro. E a mais recente novidade urbana é a alteração do visual cênico de um dos principais destinos turísticos da cidade, o ‘Bund’ (um cais aterrado), formado por prédios de aparência futurística, na margem direita do Rio Huangpu, devido à construção, em sua etapa final, da Torre de Xangai – o mais alto edifício da China, com 121 andares, e o segundo do mundo, superado apenas pelo Burj Khalifa, em Dubai, com 829,8 metros e 163 andares. No entanto, já no próximo ano, o ‘Sky City’, que está sendo construído na cidade chinesa de Changsha, baterá todos os recordes ao alcançar a altura de 838 metros. Assim é a China! Mas de tudo e de todos, o que mais se destaca é a natureza humana dos ‘xangaíses’, famosa pelo quesito honestidade. Ao passar pela catraca do metrô, ocupada que estava em achar meu porta-moedas dentro da bolsa, coloquei minha carteira com todos documentos, cartões de crédito e dinheiro em cima da catraca e fui embora. Depois de meia hora viajando de metrô, recebo a ligação de uma amiga de Pequim, dizendo que a polícia de Xangai estava com minha carteira. Como assim? Aí é que fui me dar conta de que a tinha perdido. Voltei para a estação onde tinha iniciado meu trajeto, e lá estava o policial, todo orgulhoso, segurando minha carteira – com absolutamente tudo dentro. O que ele queria como agradecimento? Tirar uma foto comigo, segurando, toda feliz, a minha carteira. O (*) Life Coach, psicanalista e consultora internacional de comunicação


1 ALERTA DA ONU

O INFERNO DE DANTE VEM AÍ Relatório da ONU alerta para aumento da temperatura global Vinícius Carvalho redacao@revistaecologico.com.br

S

regiões costeiras do globo. O alerta foi feito pelos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), que divulgaram, na Suécia, a primeira parte de seu quinto relatório de avaliação (AR5). Com base na revisão de milhares de pesqui-

REPRODUÇÃO

e as emissões de gases do efeito estufa continuarem crescendo nas taxas atuais, a temperatura do planeta poderá aumentar até 4,8 graus ao longo deste século – o que pode resultar também em elevação de 82 centímetros no nível do mar e danos importantes na maior parte das

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sas realizadas nos últimos cinco anos, o documento foi apresentado a representantes de governo de 195 países e é a principal referência mundial sobre as bases científicas da mudança climática global. A revista Ecológico teve acesso ao documento. Confira os principais resultados:

OCEANOS O nível do mar já subiu 20 centímetros no século passado e os cientistas dizem estar 90% certos de que essa taxa vai aumentar. A linha de maré está subindo com o derretimento das geleiras, que despejam centenas de bilhões de toneladas de água nos oceanos a cada ano. Um fator igualmente importante é o aquecimento - e, portanto, a expansão - da própria água do mar. As novas projeções para o nível médio do mar, no período 2080-2100, variam de 45 a 82 centímetros acima do nível atual se nada for feito. Esse número cai para 26 a 55 centímetros de aumento caso as emissões de carbono sejam revertidas. No primeiro caso, o nível do mar poderá acumular um aumento de 98 centímetros até o final do século, ameaçando seriamente cidades que vão de Xangai a Nova York. A acidez do mar também está aumentando devido à grande quantidade de dióxido de carbono que os oceanos estão absorvendo, e isso irá continuar. A consequência é prejudicar a vida marinha que produz conchas, embora os cientistas ainda não saibam dizer em que medida isso acontecerá.

Nível médio do mar deve aumentar de 45 a 82 centímetros acima do nível atual


SHUTTERSTOCK

TEMPERATURA Os cientistas dizem também ter 66% de certeza de que as últimas três décadas são as mais quentes em 1.400 anos, com um aumento da temperatura global de 0.9º C ocorrido no século passado. Até a metade deste século, os cientistas preveem um novo aumento de 1,4º a 2,6º C se as emissões de carbono continuarem a subir na tendência atual. Se as emissões forem interrompidas quase imediatamente e uma quantidade de carbono significativa saísse da atmosfera, Cientistas dizem que as ondas o aumento até meados do século de calor serão mais frequentes seria de 0,4º a 1,6º C. Os cientistas preveem que a temperatura média entre 2080 e 2100 será de 2,6º a 4,8º C maior do que hoje, se as emissões não forem controladas. Eles têm 90% de certeza de que as ondas de calor serão mais frequentes e mais longas. Nos oceanos, o forte aquecimento da superfície - de até 2º C em 2100 - é esperado nas regiões tropical e subtropical, representando uma grave ameaça para os recifes de coral que sustentam boa parte da vida marinha.

FIQUE POR DENTRO

O QUE É O IPCC? O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) é um órgão das Nações Unidas composto por delegações de 130 governos para prover avaliações regulares sobre a mudança climática. Nasceu, em 1988, da percepção de que a ação humana poderia estar exercendo uma forte influência sobre o clima do planeta e de que era necessário acompanhar esse processo. Desde então, o IPCC tem publicado diversos documentos e pareceres técnicos. O primeiro foi publicado em 1990 e reuniu argumentos em favor da criação da Convenção do Quadro das Nações Unidas para Mudanças do Clima (em inglês, UNFCC), a instância em que os governos negociam hoje políticas referentes à mudança climática.

GELO O impacto do aquecimento é evidente pelo aumento das taxas de derretimento em praticamente todas as geleiras do mundo. Segundo o IPCC, as camadas estão derramando pelo menos cinco vezes mais água na década de 2000 do que na década de 1990. A cobertura de neve do hemisfério norte, por exemplo, caiu 11% por década desde 1967, e a temperatura do solo que congela sazonalmente, o permafrost , aumentou de 2º a 3º C na Rússia e no Alasca. O gelo do Oceano Ártico está derretendo entre 9-14% por década desde 1979, enquanto o gelo ao redor da Antártida, ao contrário, está aumentando de 1-2%, provavelmente devido a mudanças nas correntes marítimas. Os cientistas dizem ter 90% de certeza que o gelo do mar Ártico, a cobertura de neve e as geleiras continuarão a encolher. Em 2100, entre 35% e 85% do volume das geleiras restantes no mundo terão desaparecido se as emissões não forem cortadas. A probabilidade do permafrost também encolher é maior do que 99%. Aumento das taxas de derretimento em praticamente todas as geleiras do mundo

2

OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 39


1 ALERTA DA ONU BRASIL 2100 A primeira parte do novo relatório do IPCC não traz projeções específicas por países. Ainda assim, os modelos climáticos apontam para a elevação da temperatura em toda a América do Sul, com os valores mais altos para o sul da Amazônia.

o nível de precipitação vai subir na bacia do Prata e cair no Nordeste e na porção oriental da Amazônia. A tendência acompanha a mesma apontada no mês passado pelo 1º Relatório Nacional de Avaliação dos Impactos das Mudanças Climáticas no Brasil. O trabalho foi compilado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, a versão nacional do IPCC.

A projeção é de um aumento da temperatura média de 0,5°C (centro-sul) a 1,5°C (Norte, Nordeste e CentroOeste) até o final do século no cenário mais otimista; e de 3°C (sul e litoral do Nordeste) a 7°C (Amazônia) no pior cenário. Também é provável, segundo o IPCC, que ondas de calor se tornem mais frequentes na Amazônia e no Nordeste. O IPCC afirma ainda que é muito provável que

SAIBA MAIS

JB ECOLÓGICO

http://www.climatechange2013.org http://www.unfoundation.org http://havaspr.com

EVENTOS EXTREMOS Para os cientistas, é 90% certo que o número de dias e noites quentes aumentou globalmente e que ondas de calor se tornaram mais frequentes e mais longas na Europa, Ásia e Austrália. As secas também se tornaram mais frequentes e intensas no oeste da África e no Mediterrâneo. Já o número de chuvas intensas aumentou em mais regiões do que naquelas em que diminuiu. Os cientistas concluem que é 99% certo que a frequência de dias quentes e noites quentes aumentará nas próximas décadas, enquanto a dos dias frios e noites frias deverá diminuir. É muito provável também, segundo o IPCC, que a frequência e a intensidade das chuvas extremas aumentarão em várias regiões populosas.

REPRODUÇÃO

Secas se tornaram mais intensas na África e no Mediterrâneo

Alerta: quase a metade do dióxido de carbono possível já foi emitida 40 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

URGÊNCIA Os cientistas calculam que já foi emitida quase a metade de todo o dióxido de carbono possível sem elevar as temperaturas acima de perigosos 2º C. Segundo o IPCC, isso significa que os governos devem agir rapidamente para ter uma chance razoável de evitar o limiar de 2º C. É também muito provável que mais de 20% do CO2 emitido irá permanecer na atmosfera por mais de 1.000 anos após as emissões artificiais terem cessado. De acordo com o IPCC, uma grande fração das mudanças climáticas é, portanto, “irreversível em uma escala de tempo parecida com a da vida humana”, exceto se as emissões de CO2 produzidas pelo homem forem retiradas da atmosfera por um longo período. O


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RAFAEL MOTTA

1 ECOLOGIA HUMANA

BERENICE MENEGALE, ex-secretรกria municipal e estadual de cultura: idealismo jovial incomum


DOIS OLHOS PROFUNDAMENTE AZUIS Berenice Menegale comemora seus 80 anos de vida e 50 da Fundação de Educação Artística de Belo Horizonte Nestor Sant’Anna (*) redacao@revistaecologico.com.br

CASA AURORA Esse o ambiente familiar de Cid (falecido), Maurílio, Berenice, Julio e Danilo, cujo pai, que foi estudar na Escola de Agronomia do Sul do Estado, conheceu Odette e, trabalhando na gráfica montada pelo pai para ele – Casa Aurora - veio a ser jornalista, poeta, professor de história da civilização e de português. Estimulado pela esposa e apoiado pelo tio, o advogado J. Guimarães Menegale, assessor de Juscelino Kubitschek, que pesou na transferência de Guignard, Kurt Lange e Arthur Bosmans para Minas, o jovem professor Heli tornou-se bibliotecário do Colégio Estadual, onde foi professor e reitor.

ARQUIVO PESSOAL

I

ndicada ao IV Prêmio Hugo Werneck, pela ecologia cultural de sua obra, a pianista Berenice Menegale, pianista, professora e fundadora da Fundação de Educação Artística (FEA), é daquelas pessoas que consideram que o ser humano, enquanto não for capaz de harmonizar-se com cada metro quadrado onde habita, não poderá participar com êxito da preservação da vida e do meio ambiente. Norteou-se por esse ideal, convicta de que a música é revelação superior de toda sabedoria e filosofia, como ensinou Beethoven e ao que Nietzsche acrescentou: “sem a música, a vida seria um erro”. Há 50 anos, nas companhias privilegiadas dos professores e concertistas Eduardo Hazan e Vera Nardelli Campos, colegas na Academia de Viena, também de Venício Mancini e do Maestro Sergio Magnani, Berenice plantou seu sonho na capital mineira, acreditando na ecologia humana como causa primária que permite a todo ser humano compreender o que é viver sustentavelmente consigo mesmo, com os outros e com o universo. Nessa certeza, cuida da preservação da escola livre de música, sem fins lucrativos, que vem formando gerações de grandes expressões da música mineira e nacional, dentro de um modelo peculiar de ensino que valoriza a leveza natural de princípios artísticos, a liberdade de expressão, a experimentação inovadora e a criatividade. Berenice Régnier Menegale nasceu em BH, no primeiro dia do ano de 1934, filha do professor e Heli Menegale, ex-reitor do Colégio Estadual, e da pianista Odette Régnier, natural de Passa Quatro, no sul do Estado - é ícone inconteste de sustentabilidade da cultura musical das Minas Gerais.

BERENICE, aos cinco anos, com o professor Pedro de Castro

"A música fazia parte da minha infância. Eu tocava piano como brincava de boneca"

OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O XX


GERARDO LAZZARI

1 ECOLOGIA HUMANA quando Clóvis Salgado era ministro de JK. Em 1961, reconhecida como exímia concertista, fez turnê nacional promovida pelas Culturas Artísticas, iniciando a série em Belém, percorrendo as capitais do Nordeste e encerrando temporada em Salvador.

DIVULGAÇÃO

ECOLOGIA ARTÍSTICA A experiência muito rígida, vertical e tensa vivida em Paris no início da década de 50 fez Berenice idealizar outro estilo de aprendizado da música, que materializou-se em 1963, quando de volta a Minas e acompanhada por parceiros que somaram-se ao seu sonho de fazer nascer na capital uma escola livre, aberta, democrática, onde a criatividade e a experimentação pudessem ser amplamente estimuladas. Hazan, que veio de Santos, depois de conhecer Vera Nardeli, filha do professor Francisco Campos, diretor do Conservatório Mineiro de Música. Em seguida, chegaram Mancini e Magnani que, em 1950, deiGRUPO UAKTI: um dos ícones mineiros que xou as fileiras do exército italiano e veio ensinar sua nasceram na Fundação de Educação Artistica arte em meio às montanhas. Embarcaram na proposta de Berenice e o quinteto foi se alojar na casa Na sua trajetória de educador e homem de cultura, de Klaus Vianna, professor de dança clássica que se foi também mestre nos Colégios Marconi e Santo transferira para a Bahia. Um pequeno sobrado na Av. Agostinho. No Estadual, então na Rua Guajajaras, Bias Fortes, alugado com um piano e um telefone. 1930, a família Menegale residia na Casa do Reitor, Em 1963 o prof. Heli era chefe de gabinete de anexa ao estabelecimento, sempre aberta à gente da Darcy Ribeiro, ministro da Educação de João Gouarte e da cultura. lart. Darcy encantou-se com o projeto de BereniNuma dessas ocasiões, acolheu por três meses a ce e ofereceu todas as facilidades para que ela o ilustre figura de Josef Turczynski, músico e pianis- implantasse na UnB – Universidade Nacional de ta, integrante da comissão que trabalhou na edição Brasília. Falou mais alto a vocação montanhesa e completa das obras de Chopin. Em BH, encantou-se a escola ficou em Minas, com importante ajuda do com a musicalidade e execução da joministro, que garantiu um ano de aluvem pianista que, aos três anos e meio, guel adiantado e a aquisição de quaorientada pela professora paraense Jotro pianos Essenfelder. Estava criada sefina Aranha de Castro, apresentoue em funcionamento a Fundação de se no auditório da Escola Izabela HenEducação Artística, experiência ordrix, provocando calorosos aplausos ganizacional nova à época, como são na interpretação de peças do reperhoje as Organizações da Sociedade tório clássico infantil: “a música fazia Civil de Interesse Público (OSCIPs). parte da minha infância e eu tocava Seu estatuto foi redigido pelo jurista piano como brincava de boneca”, coCaio Mario da Silva Pereira, que prementa Berenice. sidiu a entidade por 10 anos. Outros Foi ele um dos principais incentivaendereços foram necessários para MAGNANI: patrono da FEA dores da carreira da jovem de olhos comportar seu crescimento e suas profundamente azuis que, aos 17 anos novas ideias: Alvarenga Peixoto, Maestudou no Conservatório Nacional de Paris. Foi tias Cardoso e finalmente a casa na Rua Gonçalaluna de Hans Graf e, para continuar seus estudos ves Dias, 320, em 1968. Muitos talentos, variadas com o grande pianista e professor, voltou à Euro- manifestações, inventividade e liberdade acontepa e matriculou-se na Academia de Viena, onde se ceram ali. Entre eles, Marco Antonio Guimarães, diplomou. Outros talentos nacionais foram seus que coordenou o Conjunto de Câmara da FEA, do contemporâneos nas lições de Graf, como Luiz Eça qual participaram Expedito Viana, Walter Alves de e, posteriormente, Nelson Freire. De volta, fixou-se Souza e outros grandes instrumentistas. Na comtemporariamente no Rio de Janeiro, onde seu pai panhia de engenhosos colegas, curiosos por difeera Diretor do Departamento Nacional de Educação, renciados sons e timbres, fez nascer o Grupo Uakti,

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oficina instrumental que ganhou o Brasil e foi fa- dade com o ambiente natural e exercício de amor zer sucesso na Europa, especialmente na Escandi- à natureza aconteceu no início dos anos 40. Foi návia. Sua primeira apresentação foi no pequeno na época de ouro da educação de base em Minas, Teatro Heloisa Guimarães – nome que homena- quando o Estado mantinha a Escola de Aperfeiçoamento de Professores, onde geou a mãe do músico - adaptafunciona o Minascentro. do de um barracão nos fundos "Minha mais marcante hoje Educadores do quilate de Helena da casa que, para ser adquirida, Antipoff e Jeanne Milde vieram contou com a ajuda dos profesexperiência de amor da Rússia e da Bélgica, respecsores. Eles doaram dois anos de à natureza aconteceu tivamente, trazer seu conheciseus salários para sacramentar a mento da ecologia humana para sede definitiva. Ajudas significano início dos anos 40, enriquecimento das docentes tivas foram chegando, entre elas quando me tornei mineiras. À época, existiam clasa do ex-deputado Israel Pinheiro ses primárias anexas à Escola Filho, matriculado na FEA, aluno amiga de Ângelo de Aperfeiçoamento e, indiretade técnica vocal de Geraldo Maia. Machado, produto da mente, bebíamos nessa fonte. Lá Meio século de desafios, corame tornei amiga de Ângelo Magem e construção. Sérgio Magnani mesma safra" chado, produto da mesma safra. é hoje patrono do novo Teatro da Hoje, os temas de nossa formaFEA. Hazan segue próximo, Vera e ção privilegiada são, felizmente, Mancini já são estrelas, e Berenice Menegale, ex secretária Municipal e Estadual de componentes obrigatórios da consciência univerCultura, sustenta, com idealismo jovial incomum, as sal”, lembra Berenice Menegale. O dificuldades e as alegrias de sempre, acreditando na importância de ensinar e difundir a música de qualidade em Minas. (*) Jornalista, músico, produtor cultural e membro do conselho editorial da Revista Ecológico “Minha mais marcante experiência de proximi-


DIVULGAÇÃO

1 PROTESTO

INDIGNAÇÃO CONTRA o PL 276/11: representantes da Frente Mineira na porta da ALMG com a motosserra de papel machê

PRÊMIO MOTOSSERRA Frente pela Biodiversidade critica atuação dos deputados estaduais e entrega ao governador Anastasia petições assinadas pela sociedade civil e por ambientalistas redacao@revistaecologico.com.br

A

s 17 entidades que compõem a Frente Mineira pela Proteção da Biodiversidade, entre elas a Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), entregaram simbolicamente, no início de outubro, à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), uma gigantesca motosserra feita em papel machê. O objetivo foi criticar a aprovação do Projeto de Lei (PL) 276/11, considerada pela Frente Mineira, uma regressão jurídica na área 46 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

ambiental e indutora de desmatamento no estado. Antes de ser entregue, o troféu circulou pelas ruas da capital em um trio elétrico, com faixas informativas. “De abril a agosto, tentamos mostrar aos deputados mineiros que o desmatamento é um tiro no pé da agricultura, atividade econômica que mais consome água. Porém, mesmo diante dos inúmeros exemplos de que a derrubada da vegetação nativa, traz consequências diretas sobre os recursos hídri-

cos, a ALMG preferiu aprovar uma lei que incentiva ainda mais esse caminho”, disse a assessora institucional da Amda, Elizabete Lino. A Frente também encaminhou ao governador de Minas, Antonio Anastasia, dois ofícios solicitando veto aos artigos da lei. Um deles, assinado por 1.965 pessoas, por meio da petição on-line “Veta, governador!”. E o outro assinado por instituições, professores e técnicos da área ambiental. Entre os signatários estão José Carlos Carvalho,


ANA COTTA

"De abril ao final de agosto, tentamos mostrar aos deputados mineiros que o desmatamento é um tiro no pé da agricultura" ELIZABETE LINO, assessora da Amda

OS AMBIENTALISTAS lembram que derrubar a vegetação aumenta a temperatura, diminui as chuvas, cria erosões e mata os animais silvestres

ex-secretário de estado de Meio Ambiente; Mario Mantovani, diretor da Fundação SOS Mata Atlântica; Ângelo Machado, especialista em Ciências Biológicas e membro da Academia Brasileira de Ciências; Henrique Paprocki, coordenador do curso de Ciências Biológicas da PUC Minas-Betim; e Yule Roberta Ferreira Nunes, professora da Universidade Federal de Montes Claros. “Um dos ofícios enviados ao governador foi assinado por pessoas que entendem de meio ambiente. Ao contrário da ALMG, entendemos que os temas que foram objetos dessa lei, pela sua importância ambiental e econômica, deveriam ter sido discutidos com quem estuda o assunto e não somente com as entidades que representam o setor ruralista que, infelizmente, ainda é completamente míope no que se refere à importância de se proteger a biodiversidade, solo e água”, afirmou a superintendente executiva da Amda, Maria Dalce Ricas. PEDIDO DE VETO As entidades pediram ao governador que vete os artigos 51, 121, inciso I, alínea “g” do artigo 3º e o pará-

grafo 3º do artigo 12 do PL 276/11. O artigo 51 refere-se às áreas consideradas prioritárias para conservação da biodiversidade pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente (Copam). No ofício, a Frente pondera que, apesar de não haver dados precisos sobre o percentual do território mineiro que essas áreas representam, certamente elas não são expressivas, pois são classificadas como prioritárias somente aquelas que conservam vegetação natural com qualidade ambiental efetiva para proteção da biodiversidade. O PL aprovado revogou a Lei 14.309, que no artigo 27-A permitia implantação somente de atividades consideradas de interesse social ou utilidade pública, vedada supressão de formações primárias nas áreas consideradas prioritárias. As entidades cobram do governador contratação de estudos complementares para detalhamento do mapa das mesmas em escala compatível com sua aplicação prática. Segundo a Frente, isso foi prometido em fevereiro de 2009, durante evento no Parque Florestal do Rio Doce, pelo então governador Aécio Neves e Antonio Anastasia, que era seu vice.

PREJUÍZO ECONÔMICO Os ambientalistas lembram ainda que a proteção dessas áreas gera benefícios ambientais e econômicos, como no caso de Manchas de Cerrado, localizadas no Norte do estado, existentes de forma geral em solos arenosos, inaptos para atividades agropecuárias, mas essenciais para proteção da fauna. “Derrubar a vegetação nativa nessas áreas, além da morte de animais silvestres, significa criar processos erosivos que degradarão ainda mais a bacia do São Francisco. Isso é um prejuízo econômico que nunca será quantificado”, disse Dalce. O inciso I, alínea “g” do artigo 3º, também objeto do pedido de veto, insere barramento de cursos d’água para fins comerciais na lista de atividades consideradas de interesse social. Combinado com o parágrafo 3º do artigo 12, permite barramento de Veredas, o que causou espanto em técnicos e ambientalistas, devido a importância desse ecossistema no estado. O SAIBA MAIS www.amda.org.br FONTE: Redação Amda

OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 47


TV Horizonte agora em Ponte Nova

Ponte Nova Canal 11


Agora, o telespectador da TV Educar terá a oportunidade de assistir a TV Horizonte. Programação local e a valorização da identidade regional continuam sendo destaques na TV Educar, agora em uma emissora católica e humanista.

Sintonize Ponte Nova canal 11 Belo Horizonte 19 UHF ¦ 22 NET ¦ 24 OiTV Sabará 15 ¦ Caeté 57 Formiga 31 ¦ Ibirité 58 Poços de Caldas 39

redecatedral.com catedralrededecomunicacaocatolica redecatedral


1 DENĂšNCIA

MÉTODO PERVERSO do fato consumado: primeiro colocam fogo, depois retiram a madeira e, sem mais natureza, promovem a posse ilegal


O ISIDORO DE HUGO WERNECK Cinco anos após sua morte, a última e segunda maior área verde de BH, preservada há quase um século por sua família, é queimada, degradada e parcialmente invadida por supostos sem-terra Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

urbana chamada Isidoro, em homenagem ao ribeirão poluído que corta a região, ser implantado ali um modelo inédito de urbanização sustentável, ecologicamente correta e socialmente mais justa. OPERAÇÃO ISIDORO Trata-se da Lei 9.959, também chamada "Área de Interesse Ambiental Isidoro", regulamentada desde 2010 pelo prefeito Marcio Lacerda. Ela declara como "perímetro urbano" não apenas os 3,6 milhões de metros quadrados da Granja Werneck, superior à área do Parque FOTOS: FERNANDA MANN

É

inacreditável, para não dizer triste diante de tamanha fragilidade e desesperança no poder público. A menos de 14 quilômetros do centro da capital mineira, e somente quatro da Cidade Administrativa Tancredo Neves, no limite com o município de Santa Luzia, a Granja Werneck criada pelo pai (de mesmo nome) do ambientalista Hugo Werneck e considerada a última fronteira de verde na região norte de BH - só não continua em chamas ateadas de maneira criminosa para ser totalmente invadida, porque as chuvas chegaram. Parece até que a própria natureza veio em socorro à sua memória. Há dois meses, depois de expulsos de Santa Luzia, pelo prefeito Carlos Calixto, onde tentaram se instalar de maneira ilegal e se apossar de terrenos públicos, vários movimentos organizados de sem-terra vêm sitiando a área também conhecida como a Mata do Sanatório. Exatamente onde, também numa ironia do destino, uma semana antes de morrer, Hugo Werneck assinou uma parceria com a prefeitura de BH para, por meio de uma operação

O FILHO Otávio Werneck observa a invasão iminente OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 51


FERNANDA MANN

1 DENÚNCIA

OS INCÊNDIOS CRIMINOSOS já atingem a Mata do Sanatório, onde os Werneck, pai e filho, sonharam uma história de amor e ecologia social

das Mangabeiras, a maior da capital, de 2,4 milhões, como vários outros terrenos vizinhos. Juntos, eles somam 9,5 milhões de metros quadrados; portanto, uma área superior à de Belo Horizonte antiga, de 8,5 milhões, sonhada por Aarão Reis, dentro do perímetro da Avenida do Contorno. É nesta área ambiental, chamada Isidoro e prestes a ser invadida, que Lacerda pretende implantar o Projeto Granja Werneck de ocupação sustentável, na ordem de dois metros quadrados de área verde para cada metro de área construída, assinado pelo arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba. O novo empreendimento desenvolvido pelo também arquiteto e urbanista Sérgio Myssior, pela Myr Projetos Sustentáveis, foi coordenado pelas secretarias municipais de Políticas Urbanas e Meio Ambiente, com a participação da Sudecap e da BHTrans, sob três diretrizes: incorporar todas as variáveis de sustentabilidade exis52 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

O MÉDICO e o ambientalista, que assinou a Operação Urbana Isidoro com a PBH, uma semana antes de sua morte: memória desrespeitada

tentes; proporcionar uma análise integrada das diversas disciplinas envolvidas; e proporcionar um ganho ambiental, social e econômico para a região. O objetivo macro é melhorar as condições ambientais locais e do entorno em razão do quadro vigente (até desova de lixo, de material de construção e de cadáveres ocorre ali hoje, ta-

manho o abandono), composto principalmente por ocupações irregulares e utilização não autorizada e predatória dos recursos naturais que ainda existem ali. Os 60 herdeiros da família Werneck, entre filhos, netos e bisnetos, aceitaram esta negociação com a prefeitura e a iniciativa privada, como única


MEMÓRIA ESQUECIDA Os terrenos da antiga granja e da Mata do Sanatório, também incendiada pelos sem-terra, foram comprados pelo patriarca que, aos 28 anos de idade, mudou-se do Rio para BH em 11 de novembro de 1906, para se curar de tuberculose. Aqui, entre outras atitudes de homem com visão pública, o "primeiro" Hugo Werneck fundou a Escola de Medicina, o Banco da Lavoura, o jornal Estado de Minas e o Automóvel Clube, além da Câmara Municipal, que ele também presidiu. Grato pelo clima da capital mineira que o salvou da doença, em 21 de junho de 1921, o avô dos Werneck adquiriu, de José da Paula Cota, a propriedade naquela época bastante distante do centro, de 523 hectares ou 5,23 milhões de metros quadrados chamada Fazenda Santa Isabel. Sua ideia inicial era construir um sanatório semelhante ao de Arosa, na Suíça. O terreno englobava um total de 174 hectares de matas, 19 de campos e 330 de capoeiras e pastagens. Depois comprou mais, para manter e preservar o sanatório e seus doentes em paz, distantes medicamente do contato humano. Em meados da década de 1940, a propriedade toda passou para 630 hectares. Ele plantou tantas árvores que o prédio do sanatório, hoje pertencente ao Recanto Nossa Senhora da Boa Viagem, é impossível de ser visto de qualquer ângulo, tamanho o crescimento de florestas à sua volta, igualmente incendiadas pelos invasores que também estão roubando a madeira, desde setembro último. A família Werneck tem a posse oficialmente garantida do que restou da antiga e original propriedade, por meio do Registro Torrens, datado de 20 de dezem-

FOTOS: DIVULGAÇÃO

forma de manter o que conseguiram preservar até hoje sem qualquer apoio oficial.

MAIOR PARQUE: somadas num só projeto de ocupação e urbanização sustentável, as áreas da Granja Werneck e de outros proprietários perfazem um planejado parque público de quatro milhões de m2, quase duas vezes o Parque das Mangabeiras, a maior área verde de BH

bro de 1921. Este instrumento legal torna insuscetível de reivindicação e garante a propriedade do Estado. O que se comenta, porém, na região também conhecida por "Serra Pelada", pela sua ocupação ilegal e desastrosa do ponto de vista socioambiental - e a Revista ECOLÓGICO esteve no local ouvindo os moradores - é que um vereador de BH, bastante votado na região, espalhou a notícia falsa de que se trata de terrenos públicos, o que vem incentivando ain-

da mais a invasão. Vários terrenos próximos, entre morros e vales que tiveram quase toda a sua vegetação original destruída, já estão sendo ocupados dessa forma, com barracos de madeira e lona ou casas com alvenaria, já com luz elétrica, nome e número. A invasão é orquestrada profissionalmente por interesses escusos e diversos que, primeiro, incentivam a ocupação e, depois, se tornam posseiros, implantando loteamentos clandestinos até OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 53


1 DENÚNCIA

A INVASÃO já acontecida próxima ao bairro chamado Serra Pelada: com direito à placa enganosa

gidos da invasão em curso, graças à presença de força policial própria e ou de contratação de milícias especializadas em afugentar os sem-casas ou ditos assim.

FOTOS: FERNANDA MANN

a aprovação da prefeitura. Dizem que muitos dos invasores não são sem-terra. Ficam no local somente durante o dia para garantir a posse ilegal do terreno. Mas dormem à noite em suas próprias casas, na vizinha Santa Luzia. Muitos terrenos vizinhos à Granja Werneck se mantêm prote-

SARGENTO GEDÉSIO, ao lado de seu colega Shesman: “O que estão fazendo com a memória desse homem chamado Hugo Werneck?” 54 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

PROTEÇÃO POLÊMICA Esta mesma proteção foi oferecida à Família Werneck. Há dois meses, a um custo de R$ 45 mil. Hoje, já passou para R$ 250 mil. Tal solução foi refutada pelos descendentes de Hugo pela sua desecologia em si. Segundo o filho Otávio, que está à frente dos acontecimentos, pelos princípios morais e éticos que nortearam sua vida, o dr. Hugo jamais aprovaria uma conduta desta, muito menos aceitaria recorrer à violência para conter a violência da qual estão sendo vítimas. Desde agosto, os Werneck têm recebido uma relativa proteção por parte do Ministério Público, do Governo do Estado e das Polícias Militar e Civil. Mas, sem uma vontade política maior e a presença in loco do governador

Antonio Anastasia e do prefeito Marcio Lacerda, para se sensibilizarem com a gravidade da situação, a iminente e não sustentável ocupação irá acontecer. E aí, será tarde demais. Como disse o sargento Gedésio, do 13º. Batalhão da PMMG que, em conjunto com o Grupo de Ação Tática, o GAT, do 16º. Batalhão estão protegendo a integridade física de alguns familiares de Hugo Werneck que ainda moram no local, se a prefeitura de Santa Luzia, com apoio da PMMG e da sua guarda municipal conseguiu tirar todos e não deixa mais ninguém entrar nas terras do seu município, fica a pergunta: por que a prefeitura de Belo Horizonte não consegue o mesmo com o apoio do Governo do Estado? "É triste - acrescentou o policial - o que estão fazendo com a memória desse homem chamado Hugo que, fiquei sabendo, foi o que mais lutou pelo verde na nossa capital, em Minas e até pelas florestas da Amazônia."


OMAR FREIRE

Esperança política LACERDA E ANASTASIA: dor e promessa de solução

O

prefeito Marcio Lacerda declarou à ECOLÓGICO que a prefeitura já esgotou todos os recursos possíveis e que, agora, a ação de retirada dos invasores é papel do Estado e não do município. Indagado se queria ver as últimas fotos da situação, uma vez que a Operação Urbana Isidoro é vista como a sua “menina dos olhos”, ele disse não: “Eu já estou bastante chateado e triste demais com o que já vi. Me dói o que está acontecendo ali. Invadir áreas verdes em BH tem sido um bom negócio, diante da fragilidade político-institucional. Trata-se de um movimento político e orquestrado de comercialização privada, sem riscos, do nosso espaço público, na forma de loteamentos impostos. Pessoas até de outros municípios e estados estão sendo trazidos para esta ocupação criminosa onde, quem perde é o próprio

povo, o social que o movimento defende. É o exemplo da Granja Werneck. Oitocentas famílias estão se alojando onde, por meio do Programa ‘Minha Casa, Minha Vida, temos planejado a construção’ sustentável de habitações dignas para 14 mil moradores. É uma pena não termos sensibilizado nem o Ministério Público para o que está por trás desse movimento”. Já o governador Antonio Augusto Anastasia garantiu que o Estado não está ausente de sua obrigação, nem vacilante em efetuar a reintegração de posse solicitada pela família Werneck: “Nossos serviços de inteligência e segurança estão atentos à questão e seguindo as providências de praxe”, garantiu. Nos meios políticos, porém, não se sabe o motivo oculto. Mas há um consenso de que o governador teme, pragmaticamente, autorizar a retirada dos invasores.


1 DENÚNCIA

Prejuízo para todos Apolo Hiringer Lisboa (*) “

ALAIR VIEIRA

Quando a Prefeitura de Belo Horizonte ainda era dirigida pela coligação PT/PSB, o staff do Marcio Lacerda me ligou pedindo para analisar a proposta da Granja Werneck. Eu estive na região, acompanhado pelos técnicos municipais ligados ao PT; e vi um vídeo sobre a proposta de criar no baixo curso do ribeirão da Izidora (também chamado Isidoro, integrante da bacia do Onça e Rio das Velhas) uma experiência nova em matéria de urbanização com preservação ambiental em boa parte do território e na concepção geral. Isso totalmente dentro do muni-

APOLO: testemunho ocular 56 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

cípio de BH. Fiquei conhecendo, então, o projeto, e predisposto a apoiá-lo.Por quê? Porque o amigo Hugo Werneck, companheiro das lutas ambientais, já havia me contado a história da sua família e daquela fazenda. Depois de tantas décadas, os Werneck já não podiam mais conservar a área nem impedir as invasões, lançamentos de entulhos e até de corpos durante as noites. Aquilo o incomodava muito, era sua história. Assim, ouvi do prefeito Marcio que o total do empreendimento abrangeria um território maior que o perímetro da Avenida do Contorno, sendo prevista a construção de prédios em 30% apenas da área. A verticalização faria parte de uma negociação necessária para que fossem possíveis os investimentos das construtoras. Tudo combinado com os proprietários daquelas terras e mantendo 50% da área totalmente preservada, em dois parques e todos os córregos sendo mantidos em seus leitos naturais, com as matas ciliares preservadas e ainda com os empresários construindo todos os equipamentos urbanos como escolas, creches, avenidas etc. Pensei comigo: neste caso, o ótimo é inimigo do bom. Nenhuma outra região de BH seria como esta estava sendo planejada. Por que não concordar? Manter preservação em 100% seria inviável diante da pressão demográfica e especulação imobiliária e as invasões com depredação ambiental. Percorrendo a região e olhando-a de um mirante que lá existe, se observava que ela estava se trans-

formando num grande caos urbano, sem qualidade de vida, sem acessibilidade e com a destruição dos cursos d’água. Um bolsão de miséria, enfim, caótico. Se nada fosse feito ali, dentro de uns 15 a 30 anos esse seria o destino de toda a área. Por isso achei que seria bom para BH apoiar o projeto da prefeitura. Ainda foi negociado que haveria a preservação de uma área quilombola e uma porcentagem para apartamentos destinados a pessoas de baixa renda, por meio do ‘Minha Casa Minha Vida’. Há algumas semanas, eu estive lá e vi as invasões se iniciando por grupos muito eficientes nas táticas de ocupações. Todas as matas em recuperação sendo retiradas. Um promotor decidiu que o empreendimento teria que ter licenciamento estadual e com isso paralisou o projeto da PBH. O Estado, temendo repercussões negativas em ano pré-eleitoral, cruzou os braços. E o caos continua se instalando nessa região que poderia se tornar a área ambientalmente melhor conservada de BH e de toda a Região Metropolitana. A omissão do poder público e a falta de decisão quanto à qualidade de vida urbana e solução dos problemas sociais criou esse quadro de prejuízo para todos. E assim, a cidade continua sucumbindo diante da especulação imobiliária em algumas áreas e, por invasões, em outras. Falta liderança e ideias na nossa capital. Falta credibilidade política.”

(*) Ambientalista, idealizadorfundador do Projeto Manuelzão


FOTOS: DIVULGAÇÃO

“Como é que se pode ocupar uma nova área, respeitando o meio ambiente, respeitando os conceitos de sustentabilidade, procurando trazer a cidade, e não separar as funções da cidade, morar aqui, trabalhar lá? E criar toda essa visão dentro de uma paisagem o mais natural possível, abrindo perspectivas para outras coisas que estão acontecendo na região, como o próprio Centro Administrativo. Essa é a característica desse projeto, manter as condições de encontro, manter as condições de diversidade. E dá trabalho fazer junto! E a sustentabilidade é uma equação entre aquilo que se poupa e aquilo que se desperdiça. Então, todos esses conceitos estão nessa proposta da Granja Werneck!” Jaime Lerner, arquiteto e urbanista, ex-prefeito de Curitiba e autor do Projeto Isidoro

GANHO SOCIOAMBIENTAL: a proporção de ocupação sustentável do projeto é de dois para um, em termos de área verde e de lazer, versus área construida

SAIBA MAIS Na próxima edição sobre a ameaçada operação urbana Isidoro e a história de amor e dor do patriarca dos Wernecks

OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 57


ESPECIAL: EXPOSIBRAM’ 2013

EVANDRO FIÚZZA

INTERAÇÃO: a 15ª edição do evento reuniu expecialistas de várias partes do mundo e foi visitado e discutido por mais de dois mil pessoas no Expominas


O recado da mineração sustentável

PARA ONDE CAMINHA A MINERAÇÃO? Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

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aior evento já realizado pelo setor, consolidando BH como a capital mineral do país, a Exposibram 2013 - 15ª Exposição Internacional de Mineração e o Congresso Brasileiro de Mineração – realizada na abertura da primavera, no Expominas, não apenas reuniu empresas e empresários, políticos, ambientalistas, pesquisadores, colaboradores e estudantes, mas também serviu para atualizá-los tecnologicamente e politizá-los em meio à discussão do novo marco regulatório. O evento organizado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) apontou-lhes um caminho sem volta: a necessidade do setor abraçar, internalizar e divulgar pra valer, via educação ambiental, a causa da sustentabilidade. Uma estratégia inteligente, irreversível e urgente para explorarem com mais responsabilidade nossas montanhas, vales e rios sob a licença da sociedade, cada dia mais ciente de sua força mobilizadora, via redes sociais e manifestações nas ruas. O presidente do Ibram, José Fernando Coura, confirmou esta tendência comum de sobrevivência: “Não é à toa que escolhemos o tema `Investindo em Sustentabilidade e Desenvolvimento´ para o nosso evento este ano. Daqui pra frente e sem este compromisso, as empresas mineradoras não terão muito futuro. Elas podem até mesmo desaparecer, se não atentarem, além da questão econômica, para a ambiental e social à sua volta, uma vez que estão inseridas no meio natural que ainda existe nos municípios. Elas terão de abraçar também o quesito competitividade, o que significa produzir menos rejeitos, contar com funcionários treinados, consumir menos energia e água e investir na modernização de tecnologias mais verdes”. É o que você confere, a seguir, nesta cobertura especial da ECOLÓGICO.

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OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 59


ESPECIAL: EXPOSIBRAM’ 2013

ROBERTO MURTA

MINA DE ÁGUAS CLARAS, já desativada pela Vale (ex-MBR) na Serra do Curral, em Nova Lima (MG): verde preservado e paisagem em recuperação

O desafio de compartilhar valor As empresas ainda não informam, como deviam, o que investem em conservação da natureza e preservação ambiental Bia Fonte Nova e Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

O

primeiro painel de debates do congresso foi o talk-show ‘A mineração do futuro e o futuro da mineração brasileira’. O bate-papo reuniu três grandes nomes do setor no Brasil para discutir desafios, tendências e oportunidades. No centro do palco, mediados pelo jornalista William Waack, estavam Hélcio Roberto Martins Guerra, vice-presidente sênior-Américas 60 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

da AngloGold Ashanti; Ricardo Vescovi de Aragão, diretor-presidente da Samarco e presidente do Conselho Diretor do Ibram; e Walter De Simoni, presidente da Anglo American Níquel. A apresentação foi dividida em três blocos, o primeiro deles dedicado a questões ligadas à sustentabilidade, mostrando também as estratégias de aproximação das três mineradoras com as comuni-

dades de seu entorno. O segundo bloco teve como foco o cenário nacional e internacional, e o terceiro tratou das expectativas em relação ao novo Código de Mineração em discussão no Congresso -, que preocupa executivos do setor, diante da possibilidade de alterações em contratos vigentes, aumento da carga tributária e maior burocracia no licenciamento ambiental e na fiscalização dos empreendimentos.


O recado da mineração sustentável

“O setor contribui para alavancar o Produto Interno Bruto (PIB), gera empregos, mas ainda é visto por muitas pessoas como destruidor do meio ambiente. Esse paradigma está sendo quebrado?" William Waack, jornalista

PROVOCAÇÃO “Para a maioria da opinião pública, não pode haver coexistência entre mineração e sustentabilidade. O setor contribui para alavancar o Produto Interno Bruto (PIB), gera empregos, mas ainda é visto por muitas pessoas como destruidor do meio ambiente. Esse paradigma está sendo quebrado ou não?”, provocou Waack, logo na abertura: “Se considerarmos a sustentabilidade em suas três dimensões - social, ambiental e econômica - fica claro que pode sim e já avançamos muito”, respondeu Hélcio Guerra. A mudança de percepção em relação à atividade minerária, segundo Guerra, tende a amadurecer e evoluir, a partir do maior entendimento da própria sociedade de que toda a demanda por mineração se destina a assegurar o fornecimento de bens de consumo e a garantir mais conforto à humanidade. “Temos caminhado a passos largos, e essa percepção sobre como

NOVOS RUMOS: Debate sobre o futuro da mineração foi destaque na programação

trabalhamos e produzimos tende a crescer cada dia mais”, disse. RESPEITO Questionado sobre como traduziria para o cidadão comum a ideia de que a mineração pode ser sustentável, Ricardo Vescovi, da Samarco, foi incisivo: “Não consigo imaginar um futuro sem a atividade. Todos desejam o fruto da mineração, mas rejeitam a produção, a exploração dos recursos naturais. A novidade é que cada dia mais a sociedade vai se outorgar o direito de decidir quem e como vai minerar. E, partindo dessa visão, o nome do jogo passa a ser eficiência.” De acordo com Vescovi, é preciso atuar com respeito ao meio ambiente e às pessoas que fazem a mineração e vivem no entorno das empresas: “Só com diálogo e convivência harmônica é possível compartilhar valor. E só assim que todos passarão a perceber a nossa atividade como positiva. Também é fundamental discernir e valorizar as em-

presas que operam com responsabilidade socioambiental daquelas que não o fazem”, ponderou. DESENVOLVIMENTO Já Walter De Simoni admitiu que falta conhecimento, por parte da sociedade, e maior divulgação, pelas empresas, das inúmeras ações ligadas à conservação dos recursos naturais e apoio ao desenvolvimento de programas sociais. “Quando se avaliam indicadores que não são mensurados pelo nosso setor, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), fica claro que os municípios mineradores estão sempre acima da média dos seus respectivos Estados. Se a sociedade prestar atenção no que a mineração faz de bom, vai descobrir que existe muito trabalho sério e benfeito, tanto na área econômica como social e ambiental. Afinal, cada emprego gerado é multiplicado por 13, quando se analisa toda a cadeia produtiva do setor em busca da sustentabilidade”, frisou.

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OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 61


ESPECIAL: EXPOSIBRAM’ 2013

O recado de Vescovi Diretor-presidente da Samarco e do Conselho do Ibram aponta a construção de confiança para mudar a reputação do setor perante a opinião pública

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CONFIANÇA “Quando se discute a percepção que a sociedade tem da mineração, estamos falando de reputação. Afinal, a percepção é uma alavanca da reputação. Já a chave para o sucesso é a construção de confiança. Para nós, isso se aplica num modelo de sustentabilidade baseado em quatro vertentes. A primeira delas é a liderança pelo exemplo, tanto como empresa quanto como setor. Fazer o que é certo, cumprir as leis e buscar padrões nacionais e internacionais de excelência para elevar o nosso grau de conformidade. A segunda é a criação de redes colaborativas, ouvindo e unindo as comunidades do nosso entorno, as ONGs, os governos das diferentes esferas e também o Ministério Público, que é um parceiro muito importante. Não 62 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

EVANDRO FIÚZA

itava maior exportadora do país e segunda maior empresa no mercado mundial de pelotas de minério de ferro, a Samarco gera 2,5 mil empregos diretos e tem um dos maiores investimentos da indústria mineral brasileira até o primeiro semestre de 2014, totalizando R$ 6,4 bilhões e com previsão de conclusão no primeiro trimestre do ano que vem. Em 2012, a empresa investiu R$ 238,2 milhões em projetos ambientais, 123% a mais que em 2011. Confira, a seguir, outras reflexões e ideias de seu diretor-presidente:

RICARDO VESCOVI: “diálogo e convivência harmônica, só assim todos passarão a perceber a nossa atividade como positiva.”

tem de prevalecer o que a empresa quer, mas o que nós, coletivamente, queremos. O terceiro pilar é o fomento ao empreendedorismo responsável, identificando e apoiando instituições e associações das comunidades vizinhas, para que elas possam se beneficiar dos investimentos da mineração. E, por fim, trabalhar e investir em inovação e tecnologia. A saída para a maior parte dos problemas de como a mineração ainda é vista e avaliada pela

sociedade, vem com o emprego de tecnologias mais limpas e mais eficientes para atenuar seu impacto. Neste aspecto, o Brasil tem se destacado bastante. Quando se consegue combinar esses quatro elementos, cria-se confiança e passa a existir um único lado, no qual estamos todos nós: empresas, poder público e sociedade.” FUTURO “Do ponto de vista econômico, não acredito que estejamos vi-


O recado da mineração sustentável

vendo o final de um ciclo. Digo isso porque as commodities minerais ainda são abundantes no Brasil e fizemos o nosso dever de casa - investimos em tecnologia, desenvolvemos processos e hoje somos mais produtivos que outros competidores. Minas abrem e fecham no mundo inteiro, e essa dinâmica, por si só, cria novas demandas. Além disso, a China, ainda que sob uma base menor, continua sendo um importante motor da economia, com seu modelo de crescimento e ascensão. Portanto, acredito que seremos os últimos a sair do jogo. Vamos apagar a luz, se é que um dia essa luz será apagada. Mas duvido muito: a sociedade continua se apoiando num modelo tradicional de crescimento, no qual o status ainda é medido pela aquisição de bens.” COMPETITIVIDADE “Quanto menor a intervenção do Estado na competitividade, melhor é para qualquer setor. Nas empresas, competitividade se conquista investindo, qualificando e retendo mão de obra. Na Samarco, 98% dos nossos colaboradores têm ensino médio completo; e mais da metade, cursos de graduação e pós-graduação. Para cada real que investimos em ideias dadas por nossos funcionários qualificados, o retorno é de R$ 8,00. Desconheço um negócio lícito mais lucrativo do que esse.” CÓDIGO “A primeira vitória da sociedade foi o novo código ter sido concebido sob a forma de projeto lei (PL) e estar tramitando no Congresso, que é o espaço do debate. Esse é um ponto importante, pois vivemos numa

democracia. Além disso, com o PL, nos livramos da armadilha de termos um código decretado como Medida Provisória (MP). A MP é unilateral, reflete o entendimento do Poder Executivo sobre determinada matéria. Como PL, é diferente. O novo marco está sendo discutido: as audiências públicas estão sendo realizadas em todos os estados brasileiros mineradores, e esse é um grande avanço.” SEGURANÇA “O atual código é bom, nos trouxe até aqui, mas pode ser melhorado. O ponto crucial de todo esse debate é: precisamos de regras estáveis e de segurança jurídica. O novo marco será ruim se rasgar os contratos existentes. Isso pode tornar a indústria brasileira altamente instável e nos jogar para trás, em termos de competitividade. Tem de haver respeito aos contratos existentes. Isso parece simples, mas não foi o que ocorreu, recentemente, em outros setores. Se esses contratos forem mantidos, daremos ao mundo a perfeita noção se estamos aqui para brincar de mineração ou para realmente respeitar o investidor.” INTERVENCIONISMO “A expectativa é que o novo marco regulamente o mínimo da atividade, em especial a concessão mineral, que é um direito e um dever da União organizar. Não acredito que haja uma sanha intervencionista por parte do Estado. Se fosse assim, teria sido baixada uma MP e já estaríamos sob o novo marco. O atual código tem defeitos, mas também virtudes. E a principal delas é estar sendo discutido e construído de forma participativa e democrática.”

QUEM É

ELE

Na Samarco desde 1993, Ricardo Vescovi é formado em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal de Ouro Preto, e pós-graduado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Espírito Santo. Sua trajetória na empresa inclui a chefia do Departamento de Pelotização, a gerência da Produção e as gerências gerais de Marketing e Operações de Pelotização. Além de ter criado, de forma pioneira, uma só diretoria de Operações e Sustentabilidade, substituindo as tradicionais diretorias de Produção e Meio Ambiente que, ainda comuns na maioria das empresas do setor, invariavelmente brigam entre si, com a questão ambiental sempre perdendo, por ainda não ser enxergada como investimento, gratidão e dever com a natureza. A adoção dessa gestão inovadora valeu à Samarco a estatueta de “Melhor Parceiro Sustentável” no II Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade, o “Oscar da Ecologia’ 2012”.

LICENCIAMENTO “A legislação ambiental brasileira já é completa. Ela peca por falta de gestão e, consequentemente, de celeridade. Alguns Estados, no entanto, têm dado bons exemplos, desobstruindo canais e trâmites de licenciamento e agilizando a aprovação de projetos. Mas, se tentarmos fazer um casamento perfeito entre o novo código mineral e o licenciamento ambiental, corremos o risco de criar um verdadeiro ‘Frankenstein’, algo completamente deformado e ineficaz.”

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OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 63


ESPECIAL: EXPOSIBRAM’ 2013

LI JIWEI/IMAGENECHINA

MERCADO FUTURO: seis novas megacidades deverão surgir no país, até 2028

A esperança que vem da China Antevendo um cenário global otimista, presidente da Vale detalha a expansão da produção e garante que: “não apostem contra a China. É perda certa”

N

o segundo dia, um dos destaques da programação foi a palestra magna “Perspectivas para a mineração brasileira na próxima década”, ministrada pelo diretor-presidente da Vale, maior mineradora brasileira e quarta do mundo. Murilo Ferreira lembrou que o Brasil é um dos países mais ricos em recursos minerais no planeta, com áreas de grande potencial de aproveitamento mineral

64 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste. “As reservas brasileiras estão entre as cinco maiores do mundo; e o Brasil, entre os dez países com maior investimento em exploração mineral.” A Vale, ele confirmou, está implantando vários projetos de mineração e logística no Brasil, com investimentos que totalizam US$ 34,2 bilhões, e expectativa de entrada em operação entre 2013 e 2016. Parte dos recursos será des-

tinada a projetos localizados em Minas, como o Conceição Itabiritos, em Itabira. “Temos uma capacidade de produção nominal estimada em 12 milhões de toneladas e pretendemos começar a operar ainda no segundo semestre deste ano. O investimento foi de US$ 1,2 bilhão.” Outro projeto em andamento, Itabiritos Vargem Grande tem capacidade de produção estimada em 10 milhões de toneladas e de-


SANAKAN

O recado da mineração sustentável

SERRA DO GANDARELA: última fronteira de biodiversidade e minério na Região Metropolitana de Belo Horizonte

MARCO HISTÓRICO Murilo Ferreira também detalhou os investimentos no Projeto S11D, no Pará. “Considero o S11D o terceiro marco da Vale na história da mineração global. O primeiro foi em 1966, com a construção do porto de Tubarão (ES); o segundo, em 1985, quando a empresa iniciou o projeto na Serra dos Carajás, em plena Amazônia, com a produção de 30 milhões de toneladas de minério de ferro. Agora, no S11D, a produção será de 90 milhões de toneladas.” E completou: “Tenho dito sempre que quero trabalhar numa empresa austera, simples e focada no retorno para o acionista, operando com sustentabilidade, diálogo com a comunidade e tendo o respeito como a palavra mais importante do nosso dicionário”. Ao fim da palestra, questionado pela ECOLÓGICO sobre a expectativa dos ambientalistas em relação ao Projeto da Mina Apolo, na Serra do Gandarela, em Minas, Ferreira foi sucinto: “Só depois que resolvermos o aspecto ambiental”.

Trabalho e Amizade Mineiro e falando para uma plateia formada em grande parte também por mineiros, Murilo Ferreira fez questão de dedicar alguns minutos, antes de sua apresentação, para reconhecer o ‘trabalho excepcional’ de José Fernando Coura à frente do Ibram e, em especial, na condução dos contatos com os diversos setores sociais, nas discussões sobre o novo Marco Regulatório da mineração. “Só num exercício de plena democracia é que se chega ao estágio em que estamos hoje. Coura tem se mostrado um baluarte extraordinário na defesa dos melhores interesses, não só das mineradoras, mas também das comunidades onde essa indústria atua. Sempre ouvindo as bases, os prefeitos, as comunidades, as pequenas, médias e grandes empresas envolvidas com o setor. Construir essa harmonia entre a sociedade e o setor de mineração é um trabalho dificílimo.” Murilo também homenageou o amigo mineiro Carlos Anísio Rocha Figueiredo, diretor de Relações Institucionais da Vale, que morreu em julho deste ano. “Ele era um amante da mineração e a pessoa que mais conhecia o sentido da palavra amizade.” DIVULGAÇÃO

ver ser concluído no segundo semestre do ano que vem.

FERNANDO COURA E CARLOS ANÍSIO: reconhecimento e afeto

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ESPECIAL: EXPOSIBRAM’ 2013

O recado de Murilo Empresário aponta investimentos em ações socioambientais e a geração de 2,2 milhões de empregos diretos no país

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NEOCONSUMIDORES “A urbanização das economias emergentes e o consequente crescimento das cidades se constituirão numa das alavancas da expansão econômica global nos próximos 15 a 20 anos. É esperado o surgimento de um bilhão de novos consumidores, especialmente na China e na Índia. Esses novos consumidores demandarão a construção de residências, shopping centers e de infraestrutura urbana, além de bens de consumo duráveis e proteínas. Para satisfazer o aumento de demanda, serão necessários consideráveis investimentos em mineração. Seis novas megacidades deverão surgir na China, em um período de 15 anos. São localidades que terão padrão populacional asiático, como Tóquio, por exemplo, que tem mais de 35 milhões de habitantes.” CRESCIMENTO CHINÊS “A demanda chinesa por minérios será motivada por fatores gerais, como a construção de arranhacéus, de prédios comerciais e in-

66 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

EVANDRO FIÚZA

aior produtora global de minério de ferro e pelotas, a Vale investiu, em 2012, mais de US$ 1,3 bilhão em ações socioambientais. Murilo Ferreira também lembrou a contribuição do setor mineral para a economia brasileira, em especial na geração de divisas. Confira, a seguir, outros trechos de sua apresentação:

MURILO FERREIRA: “A mineração é localizada, não se dá por acaso.”

fraestrutura e pela elevação do consumo de bens duráveis. O desenvolvimento da infraestrutura é prioridade, uma vez que a China se conscientizou de que a economia moderna depende de boa infraestrutura de logística, energia e telecomunicações. Em termos de ferrovias, em 2007, o país contava com 78 mil km de linhas e projeta chegar a 120 mil km, em 2015; em termos de rodovias, em 2007, havia 54 mil km e a expectativa é atingir 139 mil km; em relação aos aeroportos, em 2007, os chineses contabi-

lizavam 148, em 2015 deverão ser 240 terminais. Outro foco que abrirá oportunidades para a maior venda de minérios brasileiros é o total de habitantes com carro. Atualmente, de cada 1.000 chineses, apenas 43 têm carro, enquanto na Comunidade Europeia este número é de 487 habitantes, e nos Estados Unidos, de 626 e no Japão, de 452.” TRANSFORMAÇÃO “A maior transformação que se faz é aquilo que você tira da terra e é capaz de transformar a vida


O recado da mineração sustentável

de alguém ou de muitas pessoas. conjunto de setores industriais A mineração é localizada pela e de serviços é positivamente própria natureza, não se dá por afetado por ela. Apenas as comacaso. É fruto de um significa- pras da Vale no Brasil somaram mais de US$ 25 tivo investimenbilhões, em 2012. to em pesquisa e A maior Entre 2008 e 2012, desenvolvimenforam investidos to. Desde 2008, já transformação 42,6 bilhões, investimos US$ que se faz é aquilo US$ entre 2008 e 2012. 6,5 bilhões nessas que você tira da O setor mineral duas áreas.” terra e é capaz de requer investimento de voluBENEFÍCIOS transformar a vida mes substanciais “Nos últimos cinde capital. O total co anos, somente de alguém ou de de investimena Vale contribuiu muitas pessoas to no país, entre para o superávit 2008 e 2012, foi comercial acumulado do país com US$ 118 de US$ 42,6 bilhões. Dada a sua bilhões. As atividades de minera- abrangência nacional, estimação beneficiam vários setores da se que a mineração gere 2,2 mieconomia brasileira. Um amplo lhões de empregos diretos.”

QUEM É

ELE

Com mais de 30 anos de experiência em mineração, Murilo Ferreira foi nomeado diretor-presidente da Vale em maio de 2011. Ingressou na diretoria-executiva da empresa em 2005, à frente da área de Participações e Novos Negócios. Graduado em administração pela Fundação Getúlio Vargas (SP), tem pós-graduação em administração e finanças, além de especialização de executivos (Senior Executive) pela IMD Business School, de Lausanne, na Suíça.

Um país de ferro DIVULGAÇÃO

O

minério de ferro continua sendo o principal mineral brasileiro. Corresponde a 63,35% (US$ 32,4 bilhões) da produção mineral nacional, que atingiu US$ 51 bilhões em 2012. “Somos um país riquíssimo em outros minerais. Se investíssimos mais em pesquisas, para ampliar o atual mapeamento geológico, poderíamos expandir as reservas, como fizeram outros países, e alcançarmos uma posição estratégica no mundo da mineração, bem melhor do que temos hoje”. Foi o que apontou Cinthia Rodrigues, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Ibram. Segundo ela, 14.390 mineradoras operam no país (eram 8.870 em 2011) em regime de concessão de lavra e de licenciamento. Juntas, elas empregam 2,5 milhões de trabalhadores, dos quais 192,7 mil diretos. Nove mil empresas estão em atividade plena, mas apenas um grupo de 20 grandes companhias nacionais e multinacionais, como a Vale, Votorantim Metais, Samarco, Anglo American, CSN e CBNM, entre outras, respondem pela maior parte da produção que, este ano, deve cair para US$ 48 bilhões por causa da queda dos preços de minérios e metais no mercado internacional. Na balança comercial, minério de ferro, ouro em barras, nióbio e cobre são os quatro maiores. Só o minério de ferro respondeu por US$ 30,9 bilhões das exporta-

CINTHIA RODRIGUES: “Somos um país riquíssimo” ções brasileiras no ano passado, de US$ 242,6 bilhões. Em 2001, a receita bruta proveniente das exportações do minério alcançou US$ 41,8 bilhões. A China continua sendo o grande comprador, com mais de 45% de nossas exportações.

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LUÍZ CLÁUDIO

ESPECIAL: EXPOSIBRAM’ 2013

Vista geral de Conceição, dentro da Reserva Mundial da Biosfera: desafio de conciliação em curso

O papel da nova mineração global Novo presidente mundial da Anglo American diz como quer ser lembrado sobre o Projeto Minas-Rio, em Conceição do Mato Dentro

E

m sua primeira entrevista no Brasil desde que assumiu a presidência do grupo Anglo American, em abril deste ano, o australiano Mark Cutifani assegurou que manterá ativa a parceria de 40 anos com o país, que se tornou o maior e principal receptor global de investimentos da companhia. De 2007 até 2014, os investimentos da Anglo em projetos brasileiros terão totalizado mais de R$ 35 bilhões. Antes de proferir a palestra magna “Contribuição da mine68 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

ração para o desenvolvimento sustentável: o papel de uma moderna mineradora global”, Cutifani concedeu uma entrevista coletiva. Ele disse estar ‘bastante confortável’ com o andamento do Projeto Minas -Rio, em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, na região central de minas, a despeito do atraso no licenciamento ambiental e de vários entraves, inclusive judiciais, enfrentados pela empresa ao longo de sua implantação.

EQUIPE O início dos embarques de minério de ferro na nova unidade mineira foi confirmado para o fim do ano que vem. “Já obtivemos 98% das licenças do mineroduto e estamos satisfeitos com o processo de implantação da mina. Esse é um projeto que está sendo muito bem gerido, por uma equipe bastante dedicada”, pontuou. O Minas-Rio, criado em agosto de 2008, é o principal projeto global do grupo, e vai receber aportes de US$ 8,8 bilhões.


O recado da mineração sustentável

O empreendimento inclui uma mina de minério de ferro e uma unidade de beneficiamento em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas; o maior mineroduto do mundo, com 525 km de extensão, atravessando 32 municípios mineiros e fluminenses; além do terminal de Porto de Açu, em São João de Barra (RJ). Em sua primeira fase, o projeto, que já conta com 74% de avanço físico, terá capacidade de produção de 26,5 milhões de toneladas de minério. DIÁLOGO Questionado pela ECOLÓGICO sobre como a Anglo deseja ser lembrada por sua atuação na implantação e operação deste projeto, Cutifani avaliou que ele traz

benefícios muito maiores do que os impactos ambientais gerados. “Essa é uma pergunta excelente e bastante desafiadora para encerrarmos a nossa conversa”, frisou. Uma das coisas que a mineração não faz muito bem, explicou, é contar a sua história, mostrar o seu valor e importância. E enumerou alguns dados: “A mineração ocupa menos de 1% da superfície terrestre, movimenta 14% de toda a economia global e a sua pegada de carbono é de menos de 3%. Graças à mineração - em especial ao uso de fertilizantes - a produção mundial de alimentos duplicou e estamos usando metade do volume de terra necessário para alimentar as populações mundiais. Portanto, a minha

mensagem é que a mineração é a atividade mais importante no mundo”, ponderou. Ainda segundo o executivo, é essencial o respeito às pessoas que moram perto das minas e são as mais afetadas pelos processos de exploração mineral. “Queremos ser lembrados por termos consultado e ouvido as comunidades locais sobre o que elas querem para o seu futuro e o de seus filhos. Mais que um buraco no chão e caminhões que passam gerando poeira, estou convicto de que estamos ajudando a criar um mundo melhor para todos os brasileiros. Se conseguirmos realmente fazer isso, teremos alcançado nosso objetivo de ser uma empresa verdadeiramente sustentável.”

Desenvolvimento Humano

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FUTURO SUSTENTÁVEL Segundo Fernando Coura, presidente do Ibram, o congresso foi montado para debater os rumos da mineração mundial com base na sustentabilidade: “Daqui pra frente, as empresas mineradoras não terão muito futuro, podendo até mesmo desaparecer, se não atentarem para a sustentabilidade socioambiental, uma vez que estão inseridas nos municípios. Elas terão de abraçar também o quesito competitividade,

DIVULGAÇÃO

alculado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das cidades mineradoras é maior do que a média dos municípios dos respectivos Estados. O total da mão de obra empregada na mineração, em 2011, alcançou 175 mil trabalhadores. Estudo do Ministério de Minas e Energia mostra que o efeito multiplicador de empregos é de 1 para 13 no setor mineral. Para cada posto de trabalho na mineração, são criadas 13 outras vagas (empregos diretos) ao longo da cadeia produtiva. Isto representa que, naquele mesmo ano, foram empregados 2,2 milhões de trabalhadores diretos, desconsiderando as vagas geradas na fase de pesquisa, prospecção e planejamento da atividade.

O setor gera 2,2 milhões de empregos no país o que significa produzir menos rejeitos, contar com funcionários treinados, ter menor consumo de energia e água, e procurar a constante modernização.

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ESPECIAL: EXPOSIBRAM’ 2013

O recado de Cutifani

EVANDRO FIÚZA

Novo CEO adverte que o governo brasileiro deve refletir cuidadosamente para não repetir o mesmo erro da Austrália

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m dos maiores grupos de mineração global, a Anglo American mantém operações na África, Europa, América do Sul e do Norte, Austrália e Ásia, gerando mais de 107 mil empregos. Além do Projeto Minas-Rio, em implantação, a empresa produz níquel em duas unidades: Codemin, em Niquelândia, e Barro Alto, no município de mesmo nome, em Goiás, além de nióbio, nos municípios de Catalão (mina) e Ouvidor (operação), naquele mesmo estado. A seguir, outras ideias e considerações de seu novo presidente: REALOCAÇÃO “Sempre vai haver 1% ou 2% de pessoas não satisfeitas, porque não querem se mudar de suas casas. Entendemos essa dificuldade, porque eu também não gostaria de ser realocado contra a minha vontade. Como empresa, procuramos ouvir as famílias e nos colocar no lugar delas. No entanto, em alguns casos, cabe ao governo a responsabilidade de intermediar uma negociação que seja razoável a todos. Afinal, se não tivermos a mineração, não teremos combustíveis, energia, materiais para construção, nem medicamento outros produtos dos quais dependemos para viver.” “Se o percentual de insatisfeitos se mantém nesse patamar de 1%, fica claro que estamos fazendo o nosso trabalho de forma correta e, com o tempo, as pessoas vão acei70 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

MARK CUTIFANI: “A mineração tem um problema de reputação. De maneira geral, não contamos a nossa verdadeira história“

tar que esse é o preço que temos de pagar pelo progresso.” PARCERIA “Sem o apoio das comunidades locais, jamais teríamos sucesso como uma empresa que pretende sobreviver e se manter competitiva nesse setor. Se não pudermos convencer as comunidades locais de que somos bons parceiros e amigos, como faremos isso com qualquer outro ator social?” HISTÓRIA “O setor de mineração tem um problema de reputação. De ma-

neira geral, não contamos a nossa verdadeira história. Com isso, permitimos que terceiros, com interesses específicos e conflitantes, contem uma parte pequena e enganosa da história da nossa atividade.” “Como líderes no setor, temos o dever de fazer essa narrativa de forma correta. Não apenas nos orgulhar do que a mineração faz de bom, mas acima de tudo falar dos desafios e do que precisamos fazer para melhorar. E isso inclui mostrar ao mundo o que a moderna mineração faz e o quanto ela é importante para garantir que


DIVULGAÇÃO

O recado da mineração sustentável

Os primeiros 102 moradores capacitados e graduados pela Anglo American, em parceria com o Senai, para trabalharem no Minas-Rio: valorização da mão-de-obra local

nossos filhos e netos tenham um futuro melhor.” DESENVOLVIMENTO “A mineração é hoje a atividade industrial mais importante no mundo, embora tenha uma das menores pegadas de carbono. Sem ela, nosso planeta não será sustentável para os seus 7 bilhões de habitantes. Digo isso porque tenho filhos e netos, e temo por eles.” “Não podemos deixar que o desconhecimento e a falta de informação impeçam o desenvolvimento da mineração. Caso contrário, não teremos produtos e a tecnologia dos quais precisamos desesperadamente para viver. Temos muito que corrigir e melhorar, mas, com a mineração, estamos dando uma grande contribuição para o futuro do planeta.” INOVAÇÃO “Estamos ficando para trás em relação a outros segmentos da indústria. Hoje, investimos menos de 0,3% de nossas receitas em

inovação; no setor de petróleo, esse percentual chega a 5%. Se não mudarmos essa realidade, o mundo ficará mais empobrecido pela nossa omissão.” “Temos de estar na linha de frente. Melhorar nossas práticas e aprender com os outros setores, para que a mineração seja o mais eficiente possível.” ATIVISMO “O ativismo comunitário e das ONGs é consequência natural das atividades que realizamos mundo afora. Não devemos nos assustar com as cobranças. Mas, aqueles que nos criticam, não podem simplesmente se colocar contra tudo o que fazemos por princípio. Ao agirem assim, estão se opondo ao desenvolvimento da sociedade como a conhecemos hoje.” CÓDIGO “O Brasil tem recursos naturais, profissionais talentosos e um governo que apoia a mineração. Portanto, acredito que não comprometerá a competitividade do setor com o novo marco regula-

QUEM É

ELE

Com 35 anos de experiência na indústria de mineração, Mark Cutifani é formado em Engenharia de Minas e atual presidente da Câmara SulAfricana de Minas. Antes de assumir a Anglo American, foi presidente da Anglo Gold Ashanti e liderou com sucesso o desenvolvimento e a reestruturação dos negócios da empresa, que inclui operações em dez países, de quatro continentes. Foi, ainda, diretor de Operações da Vale Inco, empresa canadense de níquel.

tório. Só espero que não cometam aqui o mesmo erro da Austrália, onde 70% dos projetos em curso, há três anos, foram abortados em razão da incerteza e do aumento de custos. Espero que o governo brasileiro reflita cuidadosamente sobre a regulamentação que vai estabelecer para a nossa indústria.”

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ESPECIAL: EXPOSIBRAM’ 2013

Compromisso impresso Estudo desenvolvido pelo Ibram, acrescido de duas outras publicações, comprova resultado de ações de preservação do meio ambiente nas duas últimas décadas

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Ibram também comemorou o lançamento, na abertura do evento, da publicação do trabalho “Gestão para Sustentabilidade na Mineração: 20 anos de História”. Organizado e distribuído na forma de livro, o estudo é composto por uma análise comportamental da indústria da mineração em relação à evolução das práticas de gestão relacionadas ao tema sustentabilidade nas últimas duas décadas. A pesquisa revelou, entre outros dados, que, em 2011, as três maiores mineradoras brasileiras investiram mais de R$ 1,5 bilhão em ações voltadas para a melhoria da sustentabilidade e do meio ambiente. Ela foi elaborada com base em respostas de 79 empresas e quatro organizações associadas ao Ibram, segundo pontuou seu presidente, Fernando Coura. Os 72 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

resultados demonstram que a agenda de sustentabilidade é, sem dúvida, a que mais cresceu ao longo de 20 anos em todos os setores industriais. “No setor mineral não é diferente.” No começo dos anos 2000, ele demonstrou, a indústria mundial de mineração esteve sob intensa pressão para melhorar seu desempenho em aspectos ambientais e sociais, já que nem sempre ficava evidente a gama de benefícios que podem advir da exploração mineral. Ao longo dos últimos 20 anos, a percepção sobre sustentabilidade das empresas ganhou contornos mais aprofundados ao extrapolar a dinâmica ambiental e passar a incluir o desenvolvimento econômico e social. Evidenciar tal mudança é também um dos objetivos do estudo, que busca demonstrar como a atividade mi-

neral pode ser entendida de forma sustentável, quando realizada de forma a minimizar os impactos negativos, otimizando as potencialidades locais e garantindo o bem-estar econômico e social da comunidade envolvida. PREOCUPAÇÃO EVOLUIU De acordo com o estudo, no período 1990-95 a maior parte dos pesquisados indicou que conduzia estudos de impactos ambientais seguindo a legislação, mas nem todos (64%) implantavam as medidas de gestão incluídas nas condicionantes do licenciamento ambiental e demais medidas recomendadas pela avaliação. Mais da metade dos respondentes não consultava as partes interessadas e nem levava em conta suas preocupações ou os impactos avaliados na tomada de decisão sobre


O recado da mineração sustentável

Mais tecnologia, menos impacto

os novos empreendimentos. Em 2011, esse quadro mudou: a maioria dos entrevistados declarou consultar as partes interessadas e incorporar suas questões nos estudos. Aumentou também o número de empresas que passou a considerar os impactos socioeconômicos e ambientais para a tomada de decisão e implantar as medidas de gestão. A publicação mostra ainda como a mineração atua como transformadora de padrões de vida da sociedade, abordando temas como a gestão de recursos hídricos na atividade, a questão das barragens de rejeitos e os riscos, acidentes e passivos ambientais que envolvem a indústria de extração mineral. Além disso, apresenta os aspectos que envolvem toda a comunidade, especialmente relacionados à saúde e segurança, aos impactos sociais, à mineração em terras indígenas e às questões relacionadas à governança. Em relação à área econômica são tratados os investimentos sociais privados, o desempenho econômico e a atividade

Ambientais do Ibram. Segundo ele, mina nova alguma é aberta no Brasil sem um amplo estudo de impacto ambiental: “A legislação e a fiscalização são rigorosas”. Ele explica, porém, que, mesmo hoje dentro da lei, tal como não se faz um omelete sem quebrar os ovos, os impactos são intrínsecos à atividade do setor: “É claro que isto acontece. Mas, nesses últimos 20 anos, não podemos negar que a indústria da mineração conseguiu desenvolver uma série de tecnologias limpas e minimizantes, preservando a natureza, a fauna e a flora ao redor de suas produções localizadas”. Como acrescentou Alessandro Nepomuceno, diretor de Licenciamento e Sustentabilidade da Kinross Brasil Mineração, braço nacional da canadense Kinross Gold Company: “Nós não conseguimos mais dissociar a questão econômica da questão ambiental”.

ração também foram lançadas durante o evento. A primeira delas é o “Guia para Planejamento do Fechamento de Mina”, escrita pelo professor Luis Sánchez, em parceria com a USP, para orientar as mineradoras em relação à necessidade de adoção de boas práticas voltadas ao planejamento do fechamento ecológico de suas atividades, pós exaustão mineral, com a OUTROS LANÇAMENTOS Duas outras publicações rela- concomitante recuperação do cionadas ao universo da mine- meio ambiente impactado. O segundo livro, “Recursos Naturais e Desenvolvimento – Estudos sobre o potencial dinamizador da mineração na economia brasileira”, traz as assinaturas dos economistas e professores João Furtado, da USP, e Eduardo Urias, da United Nations University - Maastricht Economic and Social Research Institute on Innovation and Technology, da Holanda. Relaciona as experiências internacionais de cooperação entre os setores público e privado como forma de impulsionar as atividades mineradoras e o desenvolvimento, também sob a FERNDANDO COURA: “No setor mineral não é diferente“ ótica da sustentabilidade. das Junior Companies, pequenas empresas de exploração e pesquisa mineral. “Com esse livro, demonstramos a importância de ações que promovem geração de benefícios, riquezas e a melhoria da vida das comunidades relacionadas, direta e indiretamente, com as atividades da mineração”, finalizou Coura.

EVANDRO FIÚZA

P

oucos setores econômicos representaram de forma tão eloquente as demandas por preservação da natureza dos movimentos ambientais surgidos nas décadas de 60 e 70 do século passado, e que ganharam força ao longo dos anos 80 e 90, quanto o da mineração. Imagens de verdadeiras feridas abertas na floresta, como no caso do impressionante formigueiro humano de Serra Pelada, eternizado pelas lentes de Sebastião Salgado, ou das paisagens lunares das minas de carvão europeias, ainda são a representação estética da devastação natural. Nos últimos 30 anos, após serem eleitas uma das inimigas do movimento ambiental, as mineradoras entraram num longo processo de adequação às crescentes pressões por mais responsabilidade e por reparação aos impactos que geram ao meio ambiente: “Hoje, o maior impacto é visual”, defendeu Rinaldo Mancin, diretor de Assuntos

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FERNANDA MANN

ESPECIAL: EXPOSIBRAM’ 2013 “Somos a nação que tem os menores royalties cobrados sobre a mineração no mundo. Aqui, as mineradoras pagam de 0,2% a 3% do faturamento líquido. No caso do minério de ferro, sugerimos 5% sobre o faturamento bruto. Na Austrália e na Índia, esse valor é muito maior, 7,4% e 10%, respectivamente.”

OSMAR FREIRE

Antonio Augusto Anastasia, governador

“Os indicadores socioeconômicos mais elevados estão nos municípios onde ocorrem atividades minerárias sustentáveis. Temos que defender a mineração responsável.”

DIVULGAÇÃO

Dinis Pinheiro, presidente da ALMG

“Na exploração de bauxita, o minério é encontrado em profundidades que variam de um a seis metros, por largas extensões. O grande desafio é a reconstituição das áreas mineradas, deixando-as o mais próximo possível da condição original, minimizando, desta forma, o impacto da mineração.”

LEONARDO HORTA

João Batista Menezes, diretor-adjunto de Meio Ambiente & Sustentabilidade da Alcoa América Latina e Caribe

“Em Minas Gerais, a questão socioambiental é tratada de forma diferenciada e inovadora. A exploração mineral atual está associada ao desenvolvimento sustentável e à geração de qualidade de vida para seus habitantes.”

FERNANDA MANN

Paulo Sérgio Machado Ribeiro, subsecretário de Estado de Mineração

“Não violaremos a lei nem as regras existentes. Nossa política, de longo prazo, é assegurar a sustentabilidade do setor.” Edison Lobão, ministro de Minas e Energia

74 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013


“Sustentabilidade é um valor que precisa ser compartilhado com a sociedade. O ideal é que cada empregado esteja sempre pensando em como seu trabalho pode gerar benefícios não apenas para si mesmo e a empresa, mas também para a comunidade e o planeta.”

DIVULGAÇÃO

O recado da mineração sustentável

“Conciliar investimentos em expansão da produção e preservação do meio ambiente, mantendo o compromisso com a responsabilidade social, é o grande desafio contemporâneo das empresas de mineração e siderurgia.”

DIVULGAÇÃO

Antônio Padovezi, diretor de Ferrosos Sudeste da Vale

“Tratar do planejamento da cadeia produtiva das mineradoras de forma adequada significa menos emissão de carbono, mais eficiência e competitividade. Tal comportamento melhora, consequentemente, a vida das pessoas e torna a sociedade mais justa.”

ALEXANDER LANDAU

Rinaldo Mancin, diretor de Assuntos Ambientais do Ibram

“Na mineração de ouro ou de ferro, água é um componente essencial. Nós não conseguimos mais dissociar a questão econômica da ambiental.”

JUNE KELLER

Carlos Assis, líder da EY para o setor de Mineração e Metais

“Mineração e pessoas fazem a diferença.” Pedro Borrego, diretor de Desenvolvimento Sustentável da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil da Anglo American, reafirmando o lema da empresa na comemoração dos seus 40 anos no país

OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 75

FLÁVIA VALSANI

Alessandro Nepomuceno, diretor de Licenciamento e Sustentabilidade da Kinross Brasil Mineração


1 GASTRONOMIA

Princípio básico do movimento é a busca ao prazer da alimentação, utilizando-se produtos artesanais de qualidade, “bons, limpos e justos”

Camila Fróis redacao@revistaecologico.com.br

76 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

um escritório slow. Neste ano, o movimento internacional prevê abrir por aqui sua primeira sede latino-americana. Essa foi uma das decisões tomadas no último encontro do Conselho Internacional do Slow Food, realizado em Istambul (Turquia). Como o nome já sugere, o moCRIS TERRY

"É

inútil forçar os ritmos da vida. A arte de viver consiste em aprender a dar o devido tempo às coisas.” É com esse pensamento que Carlo Petrini, fundador do Slow Food, explica o conceito primordial da ONG italiana que tem espalhado pelo mundo a proposta de valorização da gastronomia tradicional e da experiência de se alimentar de forma, digamos, “mais cheia de sentidos”. O conceito vem ganhando espaço em um momento estratégico. Talvez guiadas pelo instinto de autopreservação, as pessoas estão cada vez mais atentas à qualidade de vida e isso inclui comer melhor. Essa parece ser uma tendência planetária e deve "pegar" no Brasil que é o próximo país a receber

vimento é um contraponto ao polêmico “fast food” que, vez ou outra, ganha os holofotes da mídia graças a algum novo estudo que instiga uma reflexão mais aprofundada sobre como temos banalizado o ato de nos alimentar. O recente documentário “Muito além do peso” traz à tona a história de crianças e adolescentes que têm sofrido com doenças como a diabete, o colesterol e a pressão alta graças aos hábitos alimentares modernos. A qualidade questionável dos alimentos ultraprocessados, porém, não é nenhum segredo. Ativistas americanos, como Jamie Oliver, denunciaram uma grande rede de fast food por uso do hidróxido de amônio para converter partes gordurosas da carne em recheio

O chef inglês Jamie Oliver denunciou rede de fast food que usava hidróxido de amônio nos alimentos


FIQUE POR DENTRO

Fundado em 1986, o Slow Food se tornou uma associação internacional sem fins lucrativos em 1989. Atualmente conta com mais de 80 mil membros e tem escritórios na Itália, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, França, Japão e Reino Unido além de apoiadores em 122 países. As atividades da associação visam a defender a biodiversidade na cadeia de distribuição alimentar, difundir a educação do gosto e aproximar os produtores de consumidores de alimentos.

sil. “Há dois meses, um grupo de estudantes da Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo e de jornalistas brasileiros está trabalhando na coleta de testemunhos da extraordinária diversidade de grupos étnicos, que formam o maior e mais belo patrimônio do Brasil. SABOR E TRADIÇÃO O princípio básico que norteia esses encontros é o direito ao prazer da alimentação, utilizando produtos artesanais de qualidade, produzidos com res-

peito tanto ao meio ambiente, quanto aos agricultores. Para isso, privilegiam-se alimentos “bons, limpos e justos”, conforme defende a associação. “Bom” refere-se, em especial, ao aroma e sabor, que devem ser naturais; “limpo”, aos métodos de produção sustentáveis, que respeitam o ambiente; e “justo”, à remuneração adequada e condições de trabalho dignas. Mais do que isso, a filosofia diz respeito ao ato de se sentar à mesa com tempo para desfrutar do cheiro e do sabor de alimentos frescos ou recém-preparados, com suas texturas e aromas autênticos e livres de venenos. Tem a ver também com estar ciente do caminho que esses alimentos fizeram até chegar ao prato. Inclui ainda conhecer a tradição alimentar de diferentes culturas, a história dos pratos mais simbólicos, o valor de cada tempero, receitas e técnicas de preparo transmitidas por várias gerações. Heloísa Mader, uma das chefs adeptas do movimento no Brasil, explica que “Slow”, portanto, não é uma questão de velocidade, de ritmo. “É muito mais fazer o rastreamento do FOTOS: FERNANDO ANGEOLETTO

para seus produtos. Com a divulgação, a empresa resolveu abandonar o processo. A marca símbolo da “comida rápida” no mundo foi também um incentivo para a criação do Slow Food. Tudo começou em Roma, com a abertura de uma loja McDonald’s em plena Praça de Espanha, berço da boa culinária tradicional. A inauguração gerou reações que repercutiram internacionalmente. A partir daí, um grupo liderado pelo jornalista Carlo Petrini fundou em 1986 a ONG. A ideia original era desestimular a padronização do sabor. “A forma como nos alimentamos tem profunda influência no que nos rodeia - na paisagem, na biodiversidade e nas tradições culturais, sendo impossível, para um bom gastrônomo, ignorar as fortes relações entre prato e planeta”, afirma Petrini. Essa é a filosofia que norteia a associação representada por um singelo caracol, que tem se consolidado pela convivência das pessoas em torno das refeições. Atualmente, são mais de 80 mil membros, incluindo representantes de escritórios na Itália, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, França, Japão e Reino Unido além de apoiadores em 122 países, organizados em grupos chamados de “convivium”. Estes articulam periodicamente eventos e atividades como degustações, cursos, jantares, piqueniques e roteiros de turismo enológico e gastronômico. Além disso, encorajam os chefs a usarem alimentos regionais, orgânicos e da estação, indicam produtores para participar de eventos internacionais e defendem as campanhas do movimento. Entre os dias 5 e 7 de novembro, São Paulo sediará um deles: o Congresso Mesa Tendências. Segundo o coordenador mundial do movimento, Georges Schnyder, a ideia é aprofundar o conhecimento das raízes gastronômicas do Bra-

Adeptos apreciam até o contato com a pessoa que fisgou o peixe que estará no prato deles

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OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 77


alimento do que levar horas numa refeição”, explica. Para quem resolveu desacelerar, investigar de onde vem a carne, como os animais são criados e abatidos, se consomem hormônios, se os vegetais foram tratados com insumos agrícolas e até mesmo se os agricultores que os cultivaram são valorizados são questões que têm tudo a ver com o sabor do prato a ser degustado. ARCA DO GOSTO Para proteger os alimentos e modos de produção artesanais e tradicionais ao redor do planeta, a ONG criou a Arca do Gosto, um catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores quase esquecidos de produtos ameaçados de extinção, mas ainda vivos, com potenciais produtivos e comerciais reais. “O objetivo é documentar produtos gastronômicos especiais, que estão em risco de desaparecer. Desde o início da iniciativa em 1996, mais de mil produtos de dezenas de países foram integrados à Arca”, afirmam os dirigentes da associação. Além disso, a associação defende que há motivos para ser otimista em relação ao futuro da alimentação, pois milhares de novas iniciativas e alternativas estão florescendo agora em todo o mundo para promover a agricultura ecológica, a defesa da subsistência dos pequenos agricultores, a produção de alimentos saudáveis, seguros e de culturas diversificadas, e a regionalização da distribuição, dos negócios e do comércio. “Uma outra agricultura não somente é possível, mas já está acontecendo”, afirma um manifesto da associação. O texto do documento refere-se a alternativas de pequena escala sustentáveis e produtivas traduzidas na agricultura familiar e agroecológica e com as simpáticas feiras 78 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

FERNANDO ANGEOLETTO

1 GASTRONOMIA FIQUE POR DENTRO

Como deve ser um alimento segundo o slow food 1) Bom: o sabor e aroma do alimento, reconhecido por sentidos educados e bem treinados, é fruto da competência do produtor e da escolha de matérias-primas e métodos de produção que não devem de maneira nenhuma alterar sua naturalidade. 2) Limpo: O ambiente tem que ser respeitado e práticas sustentáveis de agricultura, manejo animal, processamento, mercado e consumo devem ser levados em consideração. Cada estágio da cadeia de produção agroindustrial, incluindo o consumo, deve proteger os ecossistemas e a biodiversidade, salvaguardando a saúde do consumidor e do produtor.

Mais de 80 mil membros em vários países

livres, em que as pessoas trocam ideias, receitas e sabores, podem sentir a textura dos alimentos antes de serem processados, conhecer o pescador que trouxe seu pescado, saber em que rio foi fisgado, e apreciar o cheiro de pães, misturado ao de geleias e doces. Ir à feira, encontrar as pessoas e contemplar sua diversidade, por si só já é um banquete. Slow Food tem a ver com trocas em todos os sentidos, de experiências, saberes e sabores. No Brasil, há vários chefs de peso que aderiram ao movimento. Cada associado à rede Slow considera que deve se aliar e formar uma nova rede de fornecedores locais bons, limpos e justos. Dessa interação, contribuem com o “convivium” dando uma aula sobre isso aberta ao pú-

3) Justo: A justiça social deve ser buscada por meio da criação de condições de trabalho respeitosas ao homem e seus direitos e deve ser capaz de gerar remuneração adequada; seja pela prática da simpatia e solidariedade, seja pelo respeito às diversidades culturais.

blico. O resultado tende a ser criativo, saboroso, prazeroso e gerador de alianças em todo processo. Em Belo Horizonte (Minas Gerais) alguns entusiastas da alimentação mais saudável criaram o “slow food piquinique” e pretendem que se torne uma prática cotidiana. Organizam encontros periódicos em praças (como a Praça do Papa), parques e espaços públicos, reunindo gente com interesse na alimentação de qualidade e relações mais justas de consumo. Uma ótima forma de compartilhar ideias e o prazer mais autêntico de se alimentar com simplicidade, tempo e qualidade. O

SAIBA MAIS www.slowfoodbrasil.com


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1 COMPORTAMENTO

A POESIA RARA DE ELIZABETH BISHOP Eloah Rodrigues redacao@revistaecologico.com.br

É

mesmo rara a poesia de Elizabeth Bishop, poetisa norte-americana ganhadora do Prêmio Pulitzer de Literatura em 1956, com a obra “Norte & Sul – Uma Primavera Fria”. Tão rara e bela, que foi o ponto de partida e fio condutor do provocante e mais novo longa-metragem de Bruno Barreto: “Flores Raras”, ambientado no Rio de Janeiro nas décadas de 1950 e 1960. Aliás, muito própria a escolha do local, pois a história verdadeira se passou lá. Mas como dito pela própria poetisa durante sua vivência na atual capital fluminense, “o Rio de Janeiro não é uma cidade maravilhosa, é uma paisagem maravilhosa para uma cidade.” O belíssimo filme narra a história desta mulher que, em busca de sentido e alimento espiritual para sua vida e, consequentemente, para suas poesias, vem passar uma temporada no Rio, onde vivia uma grande amiga sua dos tempos de faculdade. Acontece que, por vários motivos, essa pretendida pequena temporada se transforma em 15 surpreendentes anos, vividos sob profundos sentimentos de amor, prazer e produção literária. É quando desenrola-se uma verdadeira, intensa e apaixonante história de amor entre ela (Elizabeth Bishop) e Lotta, Maria Carlota de Macedo Soares, arquiteta-paisagista, interpretada brilhantemente por Glória Pires. Mulher determinada, segura e 80 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

A POETISA na vida real (foto menor) e retratada na tela grande: frágil e forte ao mesmo tempo


salador, capaz de nos conduzir a atos geralmente impensados. O que mais nos toca em “Flores Raras” é a experiência do amor humano em si. É a força, a pulsão de vida e morte que todo amor pode nos trazer. Pulsão de vida, quando o vivemos de forma plena. Pulsão de morte, quando não mais o temos, e ainda que, por motivos que talvez nem saibamos explicar, o queremos tanto. É isso que se passa no filme, quando Bishop, de natureza delicada e indecisa, percebe que sua relação com Lotta já não é mais a mesma. Diante deste iminente sentimento de abandono, a poetisa vai se estruturando e tornando-se cada vez mais forte e objetiva na conquista de seus sonhos e desejos. Lotta, de outro lado, sem-

FOTOS: DIVULGAÇÃO/GLOBO FILMES

destemida, que vislumbrou e tocou a construção do Parque do Flamengo no Rio de Janeiro, Lotta não admitia derrotas. Já Bishop, estrelada pela atriz australiana Miranda Otto, era uma poetisa sensível, frágil e insegura que, para não correr o risco de uma decepção, dizia-se sempre “comprometida com o pessimismo”, de modo a jamais se decepcionar com as pessoas e com o mundo. Apesar de o amor retratado no filme ser vivido entre duas mulheres, tema tão em voga nos dias de hoje, mas tão raro de se permitir vivenciar naquele tempo, não é exatamente esta a tônica pretendida por Barreto. Segundo relatos do próprio diretor, o desafio é mesmo sobre a “perda”! Este sentimento cruel e às vezes tão avas-

pre dominadora e invencível, ao se ver preterida por seu grande amor, torna-se fraca, dependente. Incapaz de tolerar o necessário e imprescindível sentimento de perda inerente à vida. Fraqueja e escolhe a dor. Daí pode-se concluir que deve ter sido mesmo a perda, sempre presente na vida desta poeta, que perdeu o pai com poucos meses de vida e foi obrigada a se separar da mãe ainda criança, o que, ironicamente, a tornou mais forte e preparada para seguir em frente. Para coroar a importância deste sentimento trabalhado por Bruno Barreto no filme, reproduzimos abaixo a graciosa poesia de Elizabeth Bishop, que reflete a delicada arte de perder. O

A ARTE DE PERDER Elizabeth Bishop “A arte de perder não é nenhum mistério Tantas coisas contêm em si o acidente de perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouco a cada dia. Aceite austero, a chave perdida, a hora gasta bestamente. A arte de perder não é nenhum mistério. Depois perca mais rápido, com mais critério: lugares, nomes, a escala subsequente da viagem não feita. Nada disso é sério. Perdi o relógio da mamãe. Ah! E nem quero lembrar a perda de três casas excelentes. A arte de perder não é nenhum mistério. Perdi duas cidades lindas. Um império que era meu, dois rios, e mais um continente. Tenho saudades deles. Mas não é nada sério. Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo, que eu amo) Não muda nada. Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser um mistério por muito que pareça (escreve) muito sério.” (Tradução de Paulo Henriques Britto) AS ATRIZES Miranda Otto e Glória Pires, respectivamente Elizabeth e Lotta, em uma das cenas mais ternas do filme de Barreto OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 81


1 PESQUISA

BRASIL SHUTTERSTOCK

É O 24º PAÍS MAIS FELIZ DO MUNDO PIB real per capita e ter alguém com quem contar são alguns dos fatores observados pelo relatório

Agência ONU redacao@revistaecologico.com.br

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Organização das Nações Unidas (ONU) lançou, em setembro, o Relatório sobre a Felicidade Mundial 2013 (World Happiness Report). Dos 156 países analisados, o documento apontou Dinamarca, Noruega, Suíça, Holanda e Suécia como os TOP 5 do ranking – todos são países europeus. O Brasil aparece na 24ª posição. Para a ONU, medidas para alcançar o bem-estar populacional podem ser utilizadas de forma eficaz para avaliar o progresso das nações. “Cada vez mais os líderes mundiais estão falando sobre a importância do bem-estar como um guia para seus países e para o mundo todo. O documento oferece evidências de que a medição e análise sistemática da felicidade podem nos ensinar muito sobre as formas de melhorar 82 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

a qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável do mundo”, pontua o revisor do relatório, o professor Jeffrey Sachs. De acordo com o relatório, em uma escala que vai de zero a dez, em mais de 150 países entrevistados no período de 2010/12, a pontuação média ponderada pela população é de 5,1 de felicidade. Os fatores incluem o PIB real per capita, expectativa de vida saudável, ter alguém com quem contar, liberdade percebida ao fazer escolhas de vida, a corrupção e a generosidade. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que os países mais industrializados diminuíram os seus índices de felicidade. Prova disso, é que os números apontam aumento do bem-estar na África Subsaariana e na América Latina,

enquanto que os Estados Unidos, por exemplo, aparecem em 17° lugar no ranking. LIDERANÇAS Ainda, segundo o relatório, os líderes políticos devem atentar-se aos índices que afetam a felicidade. Os principais efeitos benéficos da felicidade são: pessoas felizes vivem mais, são mais produtivas, ganham mais, e também são melhores cidadãos. A ONU alerta que os governos do mundo inteiro devem medir o bem-estar da população. O documento também explica o raciocínio por trás de suas novas diretrizes de padrão internacional para medir a felicidade. SAIBA MAIS (EM INGLÊS) http://goo.gl/c7QpUY


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GESTÃO & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

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ão virei crítico de cinema! Tomo emprestado o romance de Joe Wright e insisto no tema teletrabalho. Falei disso no mês passado e falo novamente, porque o assunto fascina no campo da gestão e da tecnologia. Primeiro, o orgulho. Cena um: acordar quatro da manhã, banho de gato, roupas trocadas no escuro, taxi na porta chamando, tentar dormir no caminho, atrasar o embarque, trabalhar com computador no colo e sem tomada, avião sem lanche, fila de taxi no destino (em São Paulo, é certo), esperar o cliente que atrasou, fazer uma reunião de duas horas, taxi de novo, aeroporto, sanduíche no lugar do almoço, responder aos e-mails a bordo (com a aeromoça te enchendo o saco pra desligar), celular que não funciona, taxi pra casa, encontrar a família dormindo, ufa! Não é como no cartão de crédito: isso tem preço! Do lado do cliente, o orgulho é ser importante. O fornecedor pena dezoito horas para uma reunião de duas e é lembrado que seu concorrente tem escritório local e que isso vai contar ponto na hora de fechar o contrato. E se for pretendente a fornecedor a coisa é pior... Em resumo: quero me sentir importante e, por isso, você vem até a minha presença. Do lado do fornecedor, o orgulho é a missão cumprida. Apresentar numa bandeja de prata a cabeça ensopada de sangue (na verdade é suor, mas a gente valoriza) e dizer: eu o julgo importante demais e por isso, cumpro o ritual de vir até sua presença. É orgulho mais orgulho; e as companhias aéreas soltam foguetes de alegria, comemorando margens mixadas que deviam ser ganhas levando a gente pra curtir a vida. Falemos de preconceito. Eu podia falar de Go to Meeting, Webex, Sametime, Teamviewer, Freeconference, ISL, Mikogo, Meeting burner, Huddle, Meetin.gs, Fuze, Twiddla, Facebook, Tinychat, Google, contou aí, já falei quinze... Uns mais seguros, outros menos, vou ficar só no velho Skype. Você já fez uma apresentação com ele? Não vou dizer se é bom ou se é ruim. Partamos do princípio que, num mercado mundial com tanta solução, algo deve funcionar. Eu já usei Skype e muitos outros da lista que, graciosamente, ofereço ao leitor. Duro reconhecer: em alguns casos, é melhor que o presencial! Pronto, falei! Acho puro preconceito as pessoas não experi-

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mentarem. Você verá que a experiência virtual não tem preço quando é bem conduzida. Que não me matem os aeronautas, mas as empresas do futuro, interna ou externamente, vão usar muito mais a web. Elas vão economizar tempo e dinheiro e reunir pessoas de mais de uma parte do mundo num único encontro que, de outra sorte, nem aconteceria. Resolverão mais coisas, gastando menos recursos delas mesmas e do planeta. Resumo: comunicação sustentável! Sei que muita gente vai afirmar que empregos podem sumir, empresas de transporte ficarão prejudicadas e eu não vou negar. Tenho dito reiteradamente que tecnologias não tem sexo, nem credo, nem são boas, ou ruins. Somos nós os que tomam a decisão de usá-las para o bem ou para o mal. Eu usaria mais a web para encher menos aeroportos, ruas e estrada, para conservar pessoas e o planeta. Chamo para a moda e torço para pegar de vez. Anda! Vai, experimenta! É engolir o orgulho e acabar com o preconceito! O

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG e presidente do Comitê para a Democratização da Informática – CDI e diretor da Arbórea Instituto

TECH NOTES O Dez aplicativos para reuniões virtuais

http://goo.gl/POvB2G O Dicas para reuniões virtuais

http://goo.gl/i3l1ln O E saiba as diferenças entre reuniões virtuais

e presenciais http://goo.gl/8LuL9g

SXC

ORGULHO E PRECONCEITO


1 ECOLOGIA INTERIOR

LIÇÕES DE ADÉLIA Sensibilidade da poetisa mineira conquista plateia durante a 43ª Convenção Nacional da UNIMED, em Belo Horizonte Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

M

inascentro, tarde ensolarada de setembro, com céu de azul intenso e quase nada de nuvens, às portas da primavera. O tema da mesa-redonda era “Ética e Poesia na Relação Médico-Paciente”. Mas, a poeta mineira Adélia Prado, com sua simplicidade de sempre, foi além. Citou Guimarães Rosa, contou casos, recitou um poema, tocou e envolveu a plateia ao falar de afetos, de compaixão e do desafio de nos doarmos verdadeiramente ao outro. Reflexões que têm o poder de inspirar relações humanas muito mais ricas, independentemente da profissão que tenhamos. Leia e se emocione:

AFETOS “Quando falo em ética e poesia, estou falando de dois fenômenos humanos que nascem, como diria Guimarães Rosa, da ‘terceira margem da alma’, que é onde brota a criação artística e onde se estabelece em nós a sensibilidade. O senso moral e o senso estético da beleza não são uma invenção do homem, mas uma descoberta. Acredito que, para fazer e consumir poesia, assim como para tratar um doente, é absolutamente necessário considerar os afetos. Sou afetada em minha vida e aquilo que me faz feliz ou infeliz não é uma coisa que eu sei, mas algo que sinto. Do ponto de vista acadêmico, posso ser o melhor da turma, o que detém mais títulos, mas se eu não tiver o

olhar, uma atenção real para o outro, todo o meu saber científico não vai trabalhar em função da cura. As nossas doenças e dificuldades nascem nesse lugar onde eu me faço pessoa e, para existir de modo feliz, eu preciso ser amada e amar.” DOENÇA “Tive uma colega de trabalho que um dia falou assim: ‘Estou doida para arrumar um namorado. Nem que seja para me proibir de passar batom’. O que isso significa, do ponto de vista humano? Que aquela pessoa necessitava ser notada, apreciada e amada como ser singular que é. E a medicalização da vida torna quase impossível esse contato, tira esse espaço do afeto. O laboratório responde, a estatística comprova e a pessoa é esquecida como tal. Eu não sou uma doença, mas uma pessoa que, eventualmente, tem uma doença. E a maior doen-

A poetisa lembrou ao público que se não tivermos uma atenção real para o outro, o saber científico não trabalha em função da cura


AMOR “Trabalhei muitos anos no ensino público e, olhando as crianças, percebia o espaço dos afetos na casa e na família delas. Criança, se você der um pouquinho de atenção, ela se agarra a você a ponto de dizer: ‘A senhora não vai sair daqui, não, vai professora? Com isso, ela está dizendo: ‘Por amor de Deus, me ame, me enxergue. O mesmo acontece com as pessoas que vão ao médico para serem ouvidas.” TEMPO “Tive uma parente, ela já morreu, que ia constantemente ao médico e a doença era sempre a mesma. O doutor dizia: ‘Você aqui de novo?’ Eu também perguntava: ‘Mas, fulana, por que você vai tanto lá?’ Ela respondia: ‘Porque ele é muito atencioso e, ainda por cima, é bonito’. No fundo, o que faltava na vida dela era atenção real de parte dos familiares. Ela só existia como pessoa quando estava no consultório daquele médico, porque ele parava, dava conta de descansar a mão na cadeira e lhe dava um pouquinho do que ela queria: o seu tempo. Não tenho nada mais precioso para oferecer a alguém do que o meu tempo; porque o meu tempo sou eu mesma. Por isso, temos andando tão ansiosos. Agora, vou falar de mim. Outro dia, fui me consultar. Ainda conversando com o médico, comecei a juntar minhas coisas e colocar na bolsa

FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

ça do mundo hoje é a falta de afeto, de coração. Isso está tornando dissolúvel a família, e também a política e a religião. Nas igrejas, nos comportamos como funcionários do sagrado; na política, como recebedores de benefícios, e o povo, como contribuinte. E onde fica a pessoa? Aquela que tem paixões, que sofre, sente ódio, vergonha, que tem pudor ou que não tem? Onde fica esse fenômeno que é básico em nós?”

Adélia: “A coisa mais importante do mundo é o sentimento. A poesia é para a alma”

para sair. Ele disse: ‘Vou te receitar um calmante, você esta muito estressada’. Eu estava ansiosa, porque sabia que tinha mais gente na sala de espera... Não temos mais tempo, essa é a nossa doença.” ATENÇÃO “O nosso mundo padece de falta de atenção real. E as relações em família são prova disso. Os jovens não estão transviados – transviado é quem está fora da via – hoje, eles não têm via, estão à deriva, inclusive de afeto. A família tem delegado à escola uma educação que é dela: a primeira experiência parental: ‘Meu pai e minha mãe me amam’. Esse sentimento é levado vida afora, seja qual for a profissão que exerçamos. Acredito nisso como acredito no Sol: nada prospera nesse mundo se não for tocado pelo afeto. Tanto que a poesia não é destinada à inteligência. A arte, a música, o cinema, a dança, o teatro, a pintura... Nada disso é feito para a inteligência, mas para a ‘terceira margem da alma’, para o sentimen-

to. No caderninho de uma criança esquizofrênica estava escrito: ‘A coisa mais importante do mundo é o sentimento’. Saber-se amado e amar. Essa é a grande aventura humana; não tem nada que ganhe disso, isso é sempre primeiro.” SANATÓRIO GERAL “A medicalização não torna as pessoas mais saudáveis. É impossível seguir todas as determinações colocadas como boas para a nossa saúde. Níveis de colesterol que temos de nos esforçar para atender, mas que parecem ter sido decididos em gabinete. Parece que há um poder perverso por trás de muitas dessas prescrições, que carregam interesses outros que não o amor ao próximo... O interesse das farmácias, dos fabricantes de remédios. Mas, e a pessoa? Outro dia, presenciei uma cena engraçada. O marido disse: ‘Porque a minha rinite...’ A mulher logo retrucou: ‘Que ‘chatura’! É uma doença de estimação? Você está se confundindo com a sua rinite. Não me casei com uma ri-

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OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 85


JB ECOLÓGICO

1 ECOLOGIA INTERIOR FIQUE POR DENTRO

CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

Clarice Lispector: “Na minha hora final eu quero uma mão humana segurando a minha”

nite. Você é uma pessoa que, por acaso, está com o nariz entupido. Coloque a doença no seu lugar.’ Mas, o que estamos fazendo hoje é o contrário. É quase bacana ter uma doença. Para muitos é assim. Principalmente, se ela tiver um nome bem difícil de dizer e for rara. Tem pessoas que só existem depois que ficam doentes, porque ganham alguma atenção. Isso está adoecendo todo mundo: eu sou uma rinite, você uma úlcera, o outro tem varizes, câncer ou Mal de Alzheimer. É um grande sanatório geral, como disse Chico Buarque.”

de tudo aquilo que nos afasta da reverência ao Criador. E uma das coisas que nos dá mais descanso é nos reconhecermos como criaturas. Sou criatura, já nasci em pecado, já nasci bichada, como diz uma amiga minha. A condição humana é precária... Nesse livro, Marie descreve pessoas reunidas em um funeral chique, na França dos anos 30: ‘Debaixo das casacas, dos paletós engomados e das camisas de seda estão a úlcera, a dispepsia, a isquemia cerebral’... Parece terrível, mas ela quer dizer é que todo mundo está ou vai ficar doente, envelhecer e morrer.”

VIDA “A sensibilidade, tanto do médico quanto de nós, pacientes, tem que se deslocar para algo realmente importante: o sentido da vida. De onde eu vim? O que sou? Para onde vou? Tenho que fazer uma pergunta de ordem filosófica, teológica e espiritual que me dê uma resposta satisfatória para eu aguentar minha diabetes, meu colesterol alto.”

JUVENTUDE “Hoje, temos a ideologia da juventude perpétua, que passa por remédios, ginásticas, plásticas e pelo desespero final, porque nada responde à nossa profunda fome humana, que é de ordem espiritual. Eu não dou conta de aguentar minha velhice se eu não tiver uma fé. Não tem sentido. Morro de saudade da minha juventude e adolescência, mas não tem jeito... Outro dia, estava vendo TV com um menino, de 9 anos. Uma mulher de cabelos longos, rosto pintado, já entrada em anos, como a gente diz, cantava acompanhada por um violeiro. A criança falou:

REVERÊNCIA “Descobri recentemente uma poeta francesa, Marie Noel, absurdamente maravilhosa. Em seu livro ‘Notas Íntimas’ ela nos fala 86 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

Todo progresso precisa de estratégias sustentáveis para dar espaço à continuidade. Quem acredita na manutenção do ápice, sem alicerce, tem crença fundamentada na sorte. Por isso, agir para manter o crescimento é preciso. Por isso, cuidar para continuar é indispensável. Esse foi o clima da 43ª Convenção Nacional Unimed, realizada entre os 17 e 20 de setembro, em BH. O encontro reuniu mais de 1.200 dirigentes do Sistema Unimed de todo o Brasil e teve como tema central: “Cooperação, Crescimento e Sustentabilidade”. A mesa-redonda “Ética e Poesia na Relação Médico-Paciente” também teve como debatedor, ao lado de Adélia Prado, o médico João Gabriel Marques Fonseca, que atua no Hospital das Clínicas. A mediação foi feita por Nilson Luiz May, presidente da Federação Unimed Rio Grande do Sul.

‘Que mulher mais feia’. Perguntei: ‘Por quê’? Ele respondeu: ‘Porque tem essência de velho, mas fica querendo ser menininha.’ Ele percebeu que a mulher não estava centrada nela própria, queria aparecer de uma forma que não é.” MÁSCARAS “Hoje, tudo é fake (falsificado), de mentira: o sanduíche é proteína vazia, a minha juventude é fabricada, o meu comportamento gentil é um comportamento social apenas. Qual de nós está vivendo de verdade a sua realidade interior, a ponto de dizer: ‘Sou assim aqui, no meu quintal, no meu quarto, sozinha, acompanhada’. Temos uma máscara social, de certa forma necessária, para que as coisas possam fluir. Temos que dizer bom dia, muito obrigada e


TESOURO “Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo: ‘Coitado, até essa hora no serviço pesado’. Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra de luxo. A gente prega sobre o amor, mas o amor é coisa que se vive na poeira. É no encardido da vida que a gente prova as coisas. Quem não quer enfrentar está perdendo o tesouro da vida, porque é ali que sou provado. E a minha vidinha não tem diferença alguma da vida da Rainha da Inglaterra, porque ela é feita de cotidianos. Isso tira a pose de qualquer pessoa. Como é que eu posso ficar ‘posuda’ diante do outro, se somos todos farinha do mesmo saco? Somos humanos e temos que nos reconhecer nessa humanidade, no sentimento primeiro. Para mim, não ter afeto na vida é a pior adversidade que pode acontecer a alguém. E há pessoas que sobrevivem milagrosamente a isso, outras sucumbem, porque não existem como pessoas.” COMPAIXÃO “A poesia exige do poeta e daquele que consome poesia essa humildade, esse desarmamento. Num hospital de Divinópolis, minha cidade, fui visitar uma conhecida e fiquei comovida. Já no finzinho da vida, ela disse: ‘Esse doutor é bom demais. Sabe o que ele fez? Chegou aqui, olhou para mim, tocou minha mão e perguntou: Vamos lá pra capela?’ Fiquei estarrecida e pensei: esse é médico. Se o médico for ateu, não precisa ter fé, ir pra capela. Eu estou falando de compaixão humana. O médico já não tinha mais o que ofere-

UM MINUTO COM ADÉLIA (*) Procuro chegar sempre antes da hora marcada em todos os meus compromissos. É o jeito que tenho de acalmar minha mente tagarela e me concentrar naquilo que vou fazer. Nessa palestra de Adélia Prado, cumpri meu ritual e fui premiada. Ela também chegou um ‘tantinho’ antes e me permitiu abraçá-la, dizer da minha admiração e descer com ela um par de escadas, até a sala onde foi recebida pelos anfitriões. Praticou comigo ali o que pregaria minutos depois, em sua fala. Fez com eu me sentisse especial, me doou uma fração de seu tempo e ainda deixou um recado singelo, exclusivo para os leitores da ECOLÓGICO: “Não tem jeito de fazer ecologia sem olhar para dentro, sem cuidar primeiro da ecologia interior. Se o coração não está educado para essa compaixão de uma pessoa para com a outra, como é que alguém vai cuidar de planta e de água? Isso resume as leis e os profetas.” Ganhei meu dia.

CAROL MARTINEZ

até logo para facilitar a vida. Mas, o que interessa de verdade a uma pessoa é a felicidade.”

(*) Luciana Morais

cer à doente. Ela morreu longo em seguida, mas ficou extremamente confortada, porque foi e se sentiu olhada como pessoa, não como um canceroso a mais, sem recurso. Mudar o olhar para com a outra pessoa é fundamental, em especial para os médicos, porque o paciente já chega desolado. A doença nos deixa numa solidão muito grande. Então, a gente precisa de uma mão.” MISTÉRIO “Clarisse Lispector falava: ‘Na minha hora final, eu quero uma mão humana segurando a minha’. Essa é a coisa ‘mais boa’ [sic] que pode acontecer; é o médico se encontrar devotado ao paciente, e reconhecer: a algo maior que eu, esbarrei num mistério, no mistério da morte, do fim. Isso pede reverência e humildade. E essa atitude pode se dar de mil formas. Fazer isso com um paciente que, às vezes, só quer uma palavra. Como o professor que pergunta ao pior aluno de sua sala: ‘Você está tristinho hoje. O que foi?’ A criança acorda, os olhos brilham e ela sente: ‘Ele me enxergou. Que bom, eu existo’.”

HUMANIDADE “Então, o que fica para nós hoje, nesse seminário é: não tem ética nem salvação maiores do que estender a mão e doar o seu tempo. Quando estou escutando uma pessoa, tenho que escutar mesmo. Você não precisa dar esmola ao pedinte. Nem sempre a gente dá. Mas, olhe para ele, olhe-o nos olhos. Faça com que se sinta gente. Essa compaixão é a compaixão de Cristo, que chegou ao ponto de dizer: ‘Eu morro por vocês, eu me entrego’. Isso é muito bom. Porque como criatura a gente já descansa. Como criatura, não preciso fazer coisas que só Deus faz. Eu posso respirar, ser menos ansioso. Sou criatura: só faço o que dou conta. E o que nos cabe é despender-nos para o outro de maneira real. Se eu faço isso com meu o marido, com os meus filhos, com o meu pai, com a minha mãe e com qualquer um que está na minha frente, estou fazendo com que ele se levante na sua humanidade, fazendo com que seja gente, filho de Deus, eleitor, contribuinte e cidadão.” O OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 87


VINÍCIUS CARVALHO

1 QUESTÃO INDÍGENA

ADRIANA ASHANINKA, da aldeia Apiwtxa, no Acre: o rosto inocente de um massacre contínuo contra os índios brasileiros 88 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013


ÍNDIO QUER APITO No mês em que a Constituição Brasileira completa 25 anos, povos indígenas se mobilizam contra o maior risco de retrocesso aos seus direitos desde a redemocratização do país Vinícius Carvalho redacao@revistaecologico.com.br

Í

ndios Kaingang ocuparam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Porto Alegre (RS). Os Xavantes bloquearam a BR-070 em Mato Grosso; os Pindaré e Caru, a BR-317 no Maranhão; e os Guarani, a BR-101 em Santa Catarina. Em Brasília, o cacique Raoni Metuktire também preparava seus guerreiros com cantos de guerra, bordunas e flechas para confrontar os policiais que impediam sua entrada no Congresso Nacional, onde mais de mil indígenas, de pelo menos 100 etnias, acamparam para exigir

a derrubada de projetos que mudam as regras de demarcação de terras indígenas no país. “Repudiamos os ataques orquestrados pelo governo da presidente Dilma Rousseff e parlamentares ruralistas do Congresso Nacional, com expressiva bancada, contra os nossos direitos originários e fundamentais”, afirma o documento assinado por representantes destas etnias. Nele, os indígenas exigem o arquivamento da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000, o Projeto de Lei Complementar (PLP)

227/2012 e a Portaria 303/2012 da Advocacia-Geral da União, entre outros projetos. Reivindicam ainda a retomada das demarcações de suas terras e a manutenção dos atuais procedimentos demarcatórios, além do fortalecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai). Confira na página 93 a Declaração da Mobilização Nacional entregue nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. DESDOBRAMENTOS Por causa dos protestos, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), determinou a suspensão temporária da tramitação de projetos ligados à questão indígena. A presidenta Dilma Rousseff também afirmou que é contra a PEC 215 e orientou sua base parlamentar a rejeitar a proposta, embora não tenha se manifestado sobre as ações do próprio executivo criticadas pelas lideranças indígenas no documento. Os indígenas protocolaram também um documento no Supremo Tribunal Federal (STF) em que pedem a realização do julgamento dos embargos apresentados sobre as 19 condicionantes da decisão que autorizou a demarcação em área contínua da terra indígena Raposa Serra do Sol (RR), de 2003. Um dos embargos questiona se essas condicionantes poderiam ser aplicadas às outras terras indígenas. A decisão é importante porque algumas das condicionantes restringem drasticamente os direitos dos índios sobre essas áreas. “Os ruralistas e seus comparsas querem fazer o mesmo que fizeram em 2012, quando aprovaram um novo Código Florestal adequado a seus interesses e aos de multinacionais do agronegócio que os patrocinam”, destaca o manifesto.

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OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 89


1 QUESTÃO INDÍGENA

Entenda o caso

A

lvo dos protestos, o pacote legislativo liderado pela bancada ruralista atua em três frentes. A primeira, bem-sucedida, já interrompeu o reconhecimento e a demarcação das terras indígenas em curso no país. A segunda muda o regramento legal para dificultar a demarcação de novas áreas e a terceira permite a concessão de terras indígenas hoje intocáveis - para a mineração e o agronegócio. 90 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

LEOPOLDO SILVA

"Reafirmamos que vamos resistir, inclusive arriscando as nossas vidas, contra quaisquer ameaças, medidas e planos que violam os nossos direitos"

ENTENDA ALGUMAS DAS PRINCIPAIS POLÊMICAS:

mais de 170 deputados, não há sequer um congressista indígena.

Proposta de Emenda à Constituição 215: Transfere a competência das demarcações do Executivo para o Legislativo. Entre outras coisas, determina que toda e qualquer demarcação de terra indígena ainda não concluída deverá ser submetida à aprovação do Congresso Nacional e que as Assembleias Legislativas sejam obrigatoriamente consultadas em casos de demarcação em seus respectivos estados. Dos 16 deputados indicados até agora para serem titulares da comissão, nada menos que 14 são ligados aos ruralistas. O temor é quanto à sub-representação indígena no parlamento. Enquanto a bancada do agronegócio reúne

Portaria 303: Publicada pela Advocacia-Geral da União (AGU), estende as condicionantes estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do caso Raposa Serra do Sol a todas as terras indígenas do país. Se validada pelo STF, pode significar a revisão das homologações em curso. Das 1.046 terras indígenas identificadas pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Igreja Católica, 363 estão regularizadas, 335 terras estão em alguma fase do procedimento de demarcação e 348 são reivindicadas por povos indígenas. A maioria não poderá ser criada se os termos da portaria continuarem a valer, o que, segundo os indígenas, abri-


Projeto de Lei (PL) 1610: Dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas. Se aprovada como está, não será admitido o direito de veto dos povos indígenas. Não há também qualquer referência que proíba a lavra de recursos minerais em monumentos e locais históricos, culturais, religiosos, sagrados, de caça, de coleta, de pesca ou mesmo de moradia dos povos indígenas.

FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL

“Não estamos aqui para fazer nenhum tipo de violência. Dentro do Congresso estamos sofrendo ameaças contra nossos povos, contra nossa nação”

AGENCIA BRASIL/VALTER CAMPANATO

Portaria Interministerial 419/11: O texto regulamenta a atuação de órgãos e entidades da administração pública para agilizar os licenciamentos ambientais de empreendimentos de infraestrutura em terras indígenas. Neste sentido, concede prazo de apenas 15 dias para que a Funai se manifeste em relação a determinada obra que atinja terra indígena no país e determina que o governo só irá considerar como Terra Indígena atingida por obra de infraestrutura aquela que tiver seus limites estabelecidos pela Funai. Segundo o CIMI, a portaria desconsidera a existência de aproximadamente 370 terras indígenas ainda não delimitadas no Brasil com o objetivo de não inviabilizar projetos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.

DILMA ROUSSEFF, presidente, sem fazer menção ao PLP 227

CACIQUE RAONI

REPRODUÇÃO

Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 237/13: O texto altera o art. 176 da Constituição, permitindo a posse de terras indígenas por produtores rurais. Na prática, acrescenta parágrafo à Constituição para determinar que a pesquisa, o cultivo e a produção agropecuária nas terras tradicionalmente ocupadas pelos índios poderão ocorrer por concessão da União ao agronegócio, incluindo o arrendamento de pasto em terras que hoje são de usufruto exclusivo dos povos indígenas.

“Meu governo é contra a PEC 215, que retira da União o direito de demarcar as terras indígenas. Orientei a base do governo a votar contra a PEC”

“Entendemos que a medida é inconstitucional porque fere cláusulas do princípio de separações dos Poderes e fere direitos individuais dos índios em relação àquilo que está previsto na Constituição” JOSÉ EDUARDO CARDOZO, ministro da Justiça

LEOPOLDO SILVA

ria uma nova frente de conflitos no campo.

"Seguiremos resistindo e pautando as nossas vidas pelo que reza a Carta magna de 1988", afirmam lideranças em manifesto.

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OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 91


FOTOS: VINÍCIUS CARVALHO

1 QUESTÃO INDÍGENA

JUVENTUDE EM FOCO: em 93,6% das terras indígenas brasileiras, a população com até 24 anos ultrapassa os 50%

Os índios no Brasil

Índio Ashaninka durante manifestação em Brasília

O Aumentaram também os casos de assassinatos, ameaças de morte e espancamento contra indígenas no Brasil. Nos últimos 10 anos, levantamentos do Cimi mostram que pelo menos 563 indígenas foram assassinados no país. Mato Grosso do Sul lidera o ranking, com mais da metade das mortes.

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Censo 2010 aponta a existência de 305 etnias e 274 línguas no Brasil, uma das maiores diversidades étnicas e culturais do planeta. São 896,9 mil indígenas, dos quais 36,2% vivem em área urbana e 63,8%, na área rural.

O O Censo 2010 também identificou 505 terras indígenas que perfazem 12,5% do território brasileiro (106,7 milhões de hectares). A maior é Yanomami, localizada no Amazonas e em Roraima, com 25,7 mil habitantes. O Levantamentos do Cimi indicam a existência de 339 terras indígenas sem nenhuma providência e 293 terras em estudo, sendo 92 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

que destas 44 estão engavetadas no Palácio do Planalto aguardando apenas a assinatura da presidenta Dilma Rousseff. Em todo o ano de 2012, foram homologadas apenas sete terras indígenas.

O Em 2012, o governo federal liquidou apenas R$ 5,9 milhões, ou 37,63%, dos R$ 15,8 milhões previstos para a ação “Delimitação, Demarcação e Regularização de Terras Indígenas”. O valor equivale a 0,02% do orçamento previsto para a construção da Usina de Belo Monte.


A declaração Nacional Indígena Índios entregaram no Congresso Nacional documento em que registram suas principais revindicações Confira, a seguir, alguns dos pontos mais relevantes da Declaração de Mobilização Nacional Indígena em defesa da Constituição Federal: “(...) Reafirmamos que vamos resistir, inclusive arriscando as nossas vidas, contra quaisquer ameaças, medidas e planos que violam os nossos direitos e buscam nos extinguir, por meio da invasão, destruição e ocupação dos nossos territórios e bens naturais, para fins neodesenvolvimentistas e de interesses de uns poucos. Declaramos que se os ruralistas conseguirem mudar a Constituição ou se o Poder Executivo modificar os procedimentos de demarcação das nossas terras e continuar com a paralisia na demarcação dos nossos territórios, para nós, essas medidas serão nulas. Seguiremos resistindo e pautando as nossas vidas pelo que reza a Carta Magna de 1988 e os tratados internacionais assinados pelo Brasil referentes aos nossos direitos. Estamos mobilizados e dispostos a autodemarcar, proteger e desintrusar os nossos territórios, custe o que custar, em memória dos nossos ancestrais, dos nossos antepassados e líderes dos nossos povos que há 25 anos lutaram de forma aguerrida, junto com outros segmentos da população brasileira, contra a ditadura militar, por uma sociedade realmente plural, justa e democrática, e uma Constituição Cidadã que garantisse, por fim, o reconhecimento e garantia dos nossos direitos originários, coletivos e fundamentais. Por tudo isso, exigimos o fim de todos esses ataques aos nossos direitos e respeito irrestrito à Constituição Federal:

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O arquivamento imediato e definitivo de todas as iniciativas legislativas que afrontam os nossos direitos, sobretudo a PPEC 215/00, PEC 237/13, PEC 038/99, PL 1610/96 e PLP 227/ que buscam suprimir os nossos direitos originários, coletivos e fundamentais;

2

A aprovação do PL 3571/2008 de criação do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), do

Estatuto dos Povos Indígenas e da PEC 320/2013 que propõe a criação de quatro vagas para deputados federais indígenas;

3

A urgente revogação de todas as portarias e decretos editados pelo governo Dilma e que afrontam os nossos direitos, principalmente as portarias 419/2011, 303/2012, 2498 e o Decreto 7957/2013;

4

A retomada imediata da demarcação de todas as terras indígenas, assegurando a sua proteção, extrusão e sustentabilidade;

5

O fortalecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai), para que cumpra adequadamente a sua responsabilidade de zelar pelos direitos indígenas, principalmente no tocante a demarcação de todas as terras indígenas, conforme determinou a Constituição Federal de 1988;

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O respeito, por fim, ao caráter multiétnico e pluricultural do Brasil reconhecido pela Constituição Federal, assegurando para os nossos povos reais e efetivas políticas públicas, estruturantes e permanentes, específicas e diferenciadas, nas áreas da educação, da saúde e de todas as áreas do nosso interesse;

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Priorização pelo Poder Judiciário, sobretudo ao STF, do julgamento de processos de interesse dos nossos povos e comunidades, de forma especial a Petição 3388; Por fim, reiteramos a nossa determinação de permanecermos unidos e em aliança com outros movimentos e organizações sociais que como nós lutam pela construção de uma sociedade verdadeiramente democrática, justa e plural.

SAIBA MAIS Veja a declaração na íntegra, sistematizada pela Apib, em www.mobilizacaonacionalindigena.wordpress.com

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1 REVITALIZAÇÃO

94 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

Fachada atual do teatro, que tem 8,3 mil metros quadrados de área construída divididos em sete pavimentos: vida nova no coração de BH


FOTOS: ÁRVORE DE COMUNICAÇÃO

SUBA NESTE PALCO De Portinari a Hugo Werneck, arte e ecologia têm um encontro marcado no glamour do novo Cine Theatro Brasil-Vallourec: a cerimônia do “Oscar da Ecologia” 2013 Bia Fonte Nova redacao@revistaecologico.com.br

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uando dezembro chegar, mais precisamente na noite do dia nove, logo após o término da Exposição Internacional "Guerra e Paz", de Cândido Portinari, o novo espaço artístico-cultural da capital mineira, restaurado pela Vallourec, abrirá suas portas para anunciar e homenagear os vencedores do IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza, em mais uma edição do “Oscar da Ecologia”. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira e o governador de Minas, Antonio Anastasia,

que presidirão o evento, já confirmaram suas presenças. A premiação deste ano contará com homenagens de peso. Augusto Azevedo Antunes, um dos principais nomes da mineração brasileira que, pioneiramente, na década de 50 e em plena selva amazônica praticou o desenvolvimento econômico com sustentabilidade, será um dos nomes lembrados durante o evento. Outra celebridade homenageada será o ex-beatle e hoje ambientalista engajado Paul McCartney. O cantor mineiro Aggeu Marques,

considerado já duas vezes pelo Festival Internacional de Liverpool como a sua melhor voz cover, é quem irá interpretar as composições de Paul ligadas ao meio ambiente. Dentre outras causas humanitárias, Paul também está à frente do movimento global “Segunda sem Carne”, em protesto à pecuária extensiva que continua derrubando a Floresta Amazônica. PREMIAÇÃO VERDE Criado em 2010, o Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza é uma iniciati-

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OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 95


ÁRVORE DE COMUNICAÇÃO

1 REVITALIZAÇÃO FIQUE POR DENTRO

Projetado em 1930 pelo arquiteto Ângelo Alberto Murgel e inaugurado em 14 de julho de 1932, o Cine Theatro Brasil foi um marco na arquitetura da ainda provincial BH. Foi o primeiro prédio da cidade sob a influência do estilo ArtDéco, inspirado na arquitetura francesa, com volumes geométricos bem definidos, pouca ornamentação, vitrais de ferro e vidro martelado e revestimento das fachadas em pó de pedra. A construção também foi pioneira na utilização de concreto armado, contando com a assessoria técnica do engenheiro calculista Emílio Baumgart, que trabalhou no grupo modernista carioca integrado por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Todo o concreto utilizado foi importado da Inglaterra. CURIOSIDADES O O Cine Theatro Brasil foi inaugurado em 14 de julho de 1932. Antes de ser cinema, o espaço foi a Padaria Sete de Setembro. Fechou as portas em 1999. O Em seu primeiro dia de funcionamento, o Cine Brasil recebeu 5 mil pessoas, em duas sessões, apesar de o espaço contar com capacidade para apenas 1.827 pessoas. O primeiro filme exibido pelo espaço foi “Deliciosa”, romance musical da Fox-Movietone, que apresentava a vida de uma imigrante num transatlântico. A estreia contou com a presença do ator principal do filme, Raul Roulien, que saudou a plateia em duas sessões completamente lotadas. Cerca de 2,5 mil pessoas se amontoaram para assistir ao filme e observar os trajes, bailes e os costumes de uma época na qual a Europa ditava a moda em BH. 96 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

Durante um bom tempo, o prédio do antigo Cine Theatro Brasil foi o mais alto da capital: as pessoas pagavam ingresso para visitar o terraço

va de ambientalistas históricos ligados à memória de Hugo, que significa para Minas e o país, o mesmo que Chico Mendes representa para a Amazônia e o mundo. Na sua 4ª edição, o “Oscar da Ecologia” se tornou uma referência nacional, com inscrições de cases e indicações vindas de todo o Brasil. O evento tem a participação do Ministério do Meio Ambiente e do Governo de Minas, via Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. A parceria da Fiemg, por meio do Programa Minas Sustentável. A supervisão técnica da Fundação Dom Cabral, com o Núcleo Petrobras de Sustentabilidade. A companhia do Sistema Fecomércio. A legitimação do Centro Hugo Werneck de Proteção à Natureza e apoio da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda). Mais a fé e a esperança no desenvolvimento sustentável. AS CATEGORIAS Este ano, as categorias são: Melhor

exemplo em Água, Ar, Flora e Fauna; Destaque Municipal; Destaque Estadual; Destaque Nacional; Melhor Empresa; Melhor Empresário; Melhor Político; Melhor Exemplo do Comércio de Bens e Serviços; Personalidade do Ano e Parceiro Sustentável; Melhor Exemplo em TI; Melhor Exemplo em Educação Ambiental; Melhor Anúncio, Campanha Publicitária e Melhor Exemplo de Mobilização Social. O evento traz uma outra mensagem-guia de Hugo Werneck: “Somente o nosso contato com a natureza, com algo maior, é capaz de nos reensinar o amor ao planeta e a nós mesmos”. E a mensagem da ministra de Meio Ambiente, Izabella Teixeira: “o Prêmio Hugo Werneck é um compromisso não só pela vida e pelo planeta, mas um compromisso com os mineiros. E isso faz muita diferença no Brasil”. O

SAIBA MAIS www.premiohugowerneck.com.br


RECADO O tema-símbolo da premiação, escolhido este ano, é uma gravata borboleta. O objetivo é passar a ideia de que a sustentabilidade, a questão ambiental e o amor à natureza defendidos por Hugo Werneck, considerado um dos “pais” do movimento ambientalista brasileiro, deve ser tratada com respeito e prioridade na agenda governamental, o que ainda não acontece, uma vez que o desmatamento da Amazônia dobrou este ano, em vez de diminuir: “o desenvolvimento verdadeiramente sustentável tem que estar na agenda dos líderes mundiais. A saúde do planeta, que deixaremos para as próximas gerações, é um assunto que precisa ser visto com urgência e de forma séria. Sem planeta com vida, nem a democracia nem a economia se sustentarão”, defende o jornalista Hiram Firmino, coordenador do evento.

IV Prêmio

O Oscar da Ecologia 2013 9 de dezembro – Cine Theatro Brasil Vallourec

www.premiohugowerneck.com.br


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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

A DOR E A ALEGRIA DE TRABALHAR COM PLANTAS MEDICINAIS

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MARCOS GUIÃO

quele homem pequeno de cara redonda sempre protegida por um chapéu molenga trazia estampados no rosto sua alegria e também sua dor. Botei reparo que seu olhar era triste, mas suas feições se desmanchavam em gargalhadas com pequenas brincadeiras, revelando um coração generoso e ingênuo por trás de uma dor de alma. Este homem é Pedrinho Pica-pau, nome herdado do avô e eternizado no sertão, que tem destes zelos de manter apelidos nos descendentes de toda uma família. Sua alegria vinha do trabalho com as plantas medicinais, e sua dor tinha origem na separação de sua companheira ocorrida há três anos. Mirando nos afastados do céu, ele contou que a mulher não gostava de sua profissão de raizeiro. “Ela se avexava, pois viste que lá em casa se aportava gente rica e gente pobre, mulher grã-fina e esfarrapada, de mamando a caducando, a qualquer hora do dia e da noite, numa romaria de pedição de remédios sem-fim. Pois eu tinha isso como missão e profissão. Mas daí a mulher deu de inciumar e isso arruinou nossa vida.”

Tudo começou no início da implantação dos primeiros plantios extensivos de eucalipto nos sertões norte mineiro. Pedrinho foi contratado para chefiar grandes turmas de trabalhadores, muitas vezes composta de centenas de pessoas. “Aquele mundão de gente e de terra ficava tudinho na minha responsabilidade. Nóis ficava esperando as mudas de calipe, que chegava de milhão no caminhão. Daí saia uma turma fazendo cova, outra atrás colocando adubo, um grupo plantando, outro recolhendo os restos, trabaio de formiguinha... Tinha mulher, menino, menina e homem de tanteira. O caminhão deixava nóis no oco do sertão na segunda-feira com as matulagens de comida pruns 15 dias e dispois se arribava. Daí dava de arruiná a cozinheira com diarreia, o peão ulcerado, o menino com febre malina, as dona recramando de dor estúrdia e aquilo virava uma bagaceira sem-fim.” “O ricurso que tinha era o cerrado do entorno e minha valença era esse livrinho aqui, já todo desbagaçado. Eu já tenho ele todinho decorado na cabeça, de tanto sair na catação de planta saradeira. Vixe! Nóis era tudo curado com pau do mato tirado lá mermo. Era o cerrado na frente e Deus por riba agarantindo nossa vivença. Essa lida com as doença era dura, mas em dez anos de serviço nunca perdi um peão.” Conversávamos durante caminhada nos entorno de sua rocinha e Pedrinho não tardou em apontar um pé de Carobão (Jacaranda sp), que nessa época do ano fica pelado de folhas e revestido de belíssimas flores arroxeadas. Taxativo, ele afirmou que “essa pranta nóis usava nas tratativas de tudo quanto era tipo de alergia. Podia ser de pele, de purmão ou de quarqué trem. Era só fazer o chá das cascas desse Carobão e daí pocos dias aquilo tava encerrado”. Muitas outras histórias foram contadas e mais uma vez me encantei com as histórias de vida desses homens simples. Inté a próxima lua! O SAIBA MAIS www.naturezadosertao.com.br

Carobão que se enche de belíssimas flores arroxeadas

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(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais



1 VOCÊ SABIA?

Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

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população de abelhas vem diminuindo em todo o mundo – só no Reino Unido, ela caiu pela metade nos últimos vinte anos. Cientistas e apicultores desconhecem o motivo real desse fenômeno, mas apontam possibilidades, como alterações climáticas, uso de pesticidas, vírus e um ácaro conhecido como varroa. A situação é preocupante, já que, por meio da polinização, as abelhas contribuem com a geração de um terço da comida do planeta. Por isso, as cooperativas do Reino Unido desenvolveram um movimento que ficou conhecido como “Plan Bee” – uma brincadeira com a expressão plano b e a palavra bee, que significa abelha, em inglês. Algumas das estratégias são: campanha contra os pesticidas, fundo de pesquisa voltado para o tema e iniciativas de conscientização de modo que todos contribuam para a sobrevivência das abelhas em seus jardins.

VISITA ESTIMADA As famílias modernas das abelhas existem há, pelo menos, 80 milhões de anos. São mais de 20.000 espécies desse inseto, cujas estruturas do corpo são adaptadas especialmente para coleta e transporte do pólen e néctar das flores. As abelhas são exímias conhecedoras de cores, formas e cheiros. Entretanto, não enxergam o vermelho. Tais características são utilizadas pelas flores para atrair as abelhas que são seus mais importantes visitantes, sendo responsáveis pela polinização de mais espécies de plantas do que qualquer outro grupo de animais! De pétalas vistosas e vivamente coloridas, as flores apreciadas pelas abelhas são normalmente azuis ou amarelas.


COEVOLUÇÃO As abelhas se alimentam do néctar das flores. Essas, por sua vez, dependem de um meio de transporte para que os gametas de um indivíduo cheguem até outro da mesma espécie. Escolhidas as flores mais atraentes, seu néctar serve de alimento. O pólen, neste momento, fica depositado sobre a superfície do corpo do inseto. Assim, à medida que enchem a barriga, deixam esse material, que é fecundado e dá origem a novas flores. As flores mais vistosas e bem desenvolvidas são escolhidas pelas abelhas, sendo privilegiadas em detrimento das outras, o que alimenta o processo de evolução. Outra curiosidade é que elas possuem uma plataforma de pouso e as mais avançadas, evolutivamente - em particular- as orquídeas, desenvolveram formas e armadilhas complexas, que forçam as abelhas a realizarem a visita seguindo uma rota específica. É sério! Isto assegura que tanto as estruturas que contêm o pólen quanto as que o recebem para serem fecundadas farão contato com o corpo da abelha, num ponto definido e numa sequência que favorece a polinização.

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EU QUERO O MEL DA SUA FLOR Toda essa busca pelo néctar tem um porquê: o mel! As abelhas que colhem a matéria-prima para a “receita” são chamadas “abelhas campeiras”. Elas possuem uma espécie de bomba de sucção e uma região no estômago reservada para a estocagem do néctar. Assim, durante uma voltinha, podem visitar milhares de flores até preencher este reservatório. Quando retornam à colmeia, transferem o néctar para as “abelhas engenheiras”, responsáveis pela produção. Estas, após manipularem o mel dentro da boca, depositam-no na parte onde o produto será estocado, o favo. Mas, antes disso, as abelhas introduzem enzimas para converter o açúcar em glicose, frutose e ácido glicônico, que o torna ácido e o protege contra bactérias.

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DEFENDEM-SE COMO PODEM O ferrão é um prolongamento do abdômen, que se rompe no momento em que a abelha abandona a vítima. Esse ataque suicida acontece quando ela se sente ameaçada ou é importunada por cheiros fortes ou vibrações sonoras. Se a abelha vive em colônia, também pode atacar para proteger a colmeia: ao picar, ela solta um tipo de feromônio que serve de alerta para suas companheiras. Mas, essa é uma característica das operárias. A rainha raramente sai da colmeia e o zangão nem ferrão tem. As espécies de abelhas sem ferrão se protegem como podem: umas mordem, outras se enrolam nos pelos ou entram nos ouvidos, nariz e olhos. Uma delas, conhecida como cagafogo, solta uma secreção que, em contato com o suor, queima a pele.

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ANTONIO BARRETO

PAULO BERNARDO VAZ

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OLHAR POÉTICO

LUA NO VARAL O tempo é um fio que vale muito

(Henriqueta Lisboa)

A POÇA D’ÁGUA li, na janela da noite, onde a Lua é um queijo de mel, um menino lambe seus sonhos brincando com a lâmpada do céu. É um menino com asas de cera que entre as duas cadeiras do pequeno quarto onde mora estende um fio de cristal. E enquanto lê uma história vai pendurando a memória nesse fio, feito um varal. Do livro com seus labirintos saltam duendes, palavras. E assim, página por página, devora o que está escrito. Até que a noite infinita lhe traga o sonho

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mais lírico. E ele, sonhando ser Ícaro, escapa de sua gaiola munido de tinta e pincel. Na volta do sonho, em manhã, ele traz a Lua no laço e a dependura no espaço do quarto-crescente que é seu. E assim, sonhando acordado, o tempo vai sendo esticado no elástico varal do amanhã. (Que a vida, naquele tempo, tinha um sabor de maçã e o mundo andava de quatro em cada fase da Lua). Portanto, na Rua do Sono, começam essas memórias de um menino tímido e sonâmbulo, um Ícaro tísico e urbano que guardava nuvens de espanto nos paralelepípedos da rua.


"E qual era o tamanho do gato, olhando a cidade lá embaixo? Qual era o tamanho da noite, se de noite tudo é pequeno?"

Tardia, num dia sem pássaros – as pessoas cheias de siso –, na cidadezinha de Passos estourou então uma bomba: ali, onde a rua era curva como a pança de Papai Noel, um bumbo espantou a chuva (depois o trombone, o tarol) e numa algazarra as cigarras zuniram múltiplas guitarras. E logo depois desse aviso, no meio da Praça da Farra, surgiu a Banda Encantada do Circo Nacional de Milonga. E o palhaço atirou seu chapéu ao povo que via a fanfarra. E, desenrolando um papel, anunciou a chegada da temporada do riso: – Rinoceronte chifrudo, cadê seu chapéu de palha? – Mãe-do-céu, que coisa feia, o tigre fugiu da cadeia! – Olha lá a cobra voando que nem saracura de rabo! – E a onça com catapora, tá cheia de nove-horas? E o menino brincava sonhando em ir embora com o Circo, na rabeira de um caminhão qualquer, em riba da lona, se fosse, na cacunda do gorilão banguela, na corcova do camelo maluco ou na boleia de uma nuvem branca. Mas aí um peixe de penas, azuis como um tiziu novinho, passava na frente dos olhos, cheio de escamas, no pio. E o menino dormia e sonhava que o mundo era grande, e o que era? – Era a mágica música das fadas cantarolando no escuro? – Ou a rua que morava em tudo, no mundo que ele imaginava? E no mundo cabia o Circo, o peixe, o gorila. E no mundo cabia o riso, o palhaço, a nuvem e cabia também no mundo formiga lutando boxe... ... e a barata tirando a roupa, pra nadar na poça d’água... e a minhoca de patins, com seu penteado esquisito... e a lesma veloz que corria atrás de sua própria sombra... e o percevejo percebendo que a

perereca pulava... e a pulga de paraquedas descendo num cão deitado... ... e o pequinês pequenino, que nunca derrubava o poste... e aquele gambá perfumado, na estreia do Cine Roxy... e o perdigueiro fugindo do cheiro e do bafo da onça... e a onça que vinha no sonho, do caso contado primeiro... e o veado-galheiro já zonzo, de tanto passarinho na cuca! ... e a borboleta iletrada borboletrando na estrada... e o pica-pau-lenhador, da Escola de Datilografia, batendo nas teclas da infância aquilo que o tempo escrevia... ... e o tatu-bola bolando um plano pra chegar do outro lado... e aquela baleia de nuvem que o vento desenhava no céu... e o dinossauro correndo da lagartixa marrom... e o jacaré com ciúmes de antepassado tão bom! ... e o peru que bebia pinga, um dia antes do Natal... e o galo conferindo as horas, no seu relógio de bolso... e o pinhé trepado no boi, catando os seus carrapatos... e a cegonha que nunca teve filho, por falta de tempo e mais nada... e a alva elegância da garça, doendo de branco no verde! ... e o velho gato Merelo, caduco e aposentado da caça... e a tosse comprida de Chico, um cão que só comia banana... e o gato agarrado na estrela, pra não ser pardo na noite... E qual era o tamanho do gato, olhando a cidade lá embaixo? Qual era o tamanho da noite, se de noite tudo é pequeno? E o menino espichava a janela pra ver se era tudo verdade: era a Lua encurralada na rua enluarada dormindo bem fresquinha numa poça d’água. O

Este texto faz parte do livro LUA NO VARAL (Ed. Miguilim), recém-lançado pelo autor, com projeto gráfico, capa e ilustrações de Paulo Bernardo Vaz.

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MEMÓRIA ILUMINADA PORTINARI

PORTINARI

o artista social

"O alvo da minha pintura é o sentimento. Para mim, a técnica é meramente um meio. Porém, um meio indispensável"

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IMAGENS: ACERVO PROJETO PORTINARI

Alexandre Salum redacao@revistaecologico.com.br

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ândido Portinari, um dos maiores artistas da pintura brasileira, era filho de imigrantes italianos pobres e nasceu em uma fazenda na cidade paulista de Brodowski (homenagem ao engenheiro Aleksander Brodowski que construiu a estação de trem que deu origem ao município. Ele morreu em 1899 e tinha um hobby: a pintura). Coincidência? Talvez. Portinari nasceu em 30 de dezembro de 1905 numa fazenda de café. Ele estudou somente até o terceiro ano do curso primário, mas cedo se mostrou um artista. Aos 10 anos, fez seu primeiro desenho, um retrato do músico Carlos Gomes. O acaso desenhou seu destino. Três anos depois, uma turma de pintores e escultores italianos, que trabalhava na restauração de igrejas, passou pela região e contratou Portinari como auxiliar. Aos 15 anos, o menino pobre do interior foi para o Rio de Janeiro com uma família amiga, proprietária de uma pensão na então capital federal. Em troca da moradia, ele fazia pequenos serviços. No mesmo período, ingressou no Liceu de Artes e Ofícios e, depois, se matriculou na Escola Nacional de Belas Artes. Claro, em ambas, se destacou como um dos melhores alunos. Em 1922, participou, pela primeira vez, do Salão Nacional de Belas Artes. Em 1928, conquistou o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro da Exposição Geral de Belas Artes, promovida pela Escola Nacional de Belas Artes, com a obra “Retrato do poeta Olegário Mariano”. Em seguida, mudou-se para Paris. Os dois anos em que viveu por lá foram determinantes do estilo que o consagraria. A distância aproximou-o de seu país. Ele ficou saudoso e, consequente-

A obra “Café”, pintada em 1935, ganhou o prêmio da Fundação Carnegie

mente, mais sensível e atento aos problemas e injustiças que acometiam sua terra natal. De volta ao Brasil, mudou completamente a estética de sua obra, valorizando mais as cores e as temáticas de cunho social. Em 1935, com a obra “Café”, ganhou um prêmio da Fundação Carnegie de Nova York. Aos poucos, deixou de lado as telas pintadas a óleo e começou a se dedicar a murais e afrescos. Em 1936, pintou os painéis para o monumento rodoviário e começou a trabalhar nos murais do Ministério da Educação, no Rio. Dois anos depois, o Museu de Arte Moderna de Nova York comprou uma obra sua - a tela “O Morro”- o que o ajudou a ascender na carreira internacio-

nal. Ele ganhou fama na imprensa e expôs três quadros no Pavilhão Brasil da Feira Mundial em Nova York de 1939. No ano seguinte, Portinari participou de uma mostra de arte latino-americana no Riverside Museum de Nova York e expôs individualmente no Instituto de Artes de Detroit e no Museu de Arte Moderna de Nova York, com grande sucesso de crítica, venda e público. Numa fase extremamente produtiva, em 1941, executou quatro grandes murais na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso em Washington, com temas referentes à história latino-americana. No ano seguinte, foi convidado pelo governo norte-americano a pintar afrescos

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MEMÓRIA ILUMINADA PORTINARI

Causas e tragédias sociais influenciaram muito a sua sobra, como é o caso da série “Retirantes”, feita entre 1944 e 1946

da Biblioteca do Congresso, em Washington. De volta ao Brasil, realizou, em 1943, oito painéis conhecidos como “Série Bíblica”, fortemente influenciado pela obra “Guernica” de Pablo Picasso e sob o impacto da 2ª Guerra Mundial. Começa sua fase impressionista, de elementos extremamente deformados e temas dramáticos. Em 1944, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer, começou as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, com destaque para o mural “São Francisco” na igreja de mesmo nome. As linhas curvas da igreja escandalizaram as autoridades eclesiásticas mineiras. Durante 14 anos não permitiram a consagração da capela devido à sua forma inusitada e ao painel de Portinari onde se vê um cachorro representando um lobo junto à São Francisco de Assis. Para o arcebispo Dom Antônio

dos Santos Cabral, a igrejinha era apenas um galpão. SÉRIE RETIRANTES A ascensão do nazismo e as mortes da 2ª Guerra influenciaram o caráter social e trágico de sua obra, levando-o à produção das séries “Retirantes” e “Meninos de Brodowski”, entre 1944 e 1946. Nesta mesma época, Portinari ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCdoB) e se candidatou, sem sucesso, a deputado em 1945, e a senador, em 1947. Em 1946, voltou a Paris para realizar sua primeira exposição na Europa que teve grande repercussão. Ele foi agraciado com a mais alta e importante condecoração do governo francês: a Legião da Honra. Em 1948, exilou-se voluntariamente no Uruguai e lá criou “A Primeira Missa

do Brasil”. Um ano depois, criou o grande painel “Tiradentes”, com passagens do julgamento e a morte do herói brasileiro. Por causa desta obra, Portinari recebeu a medalha de ouro, concedida pelo Júri do Prêmio Internacional da Paz, reunido em Varsóvia, na Polônia. Em 1952, encomendado pelo Banco do Brasil pintou “Chegada de D. João VI ao Brasil” e começou a criar os dois murais “Guerra e Paz” para o edifício-sede da ONU em Nova York. Nessa obra de grandes proporções, ele alia sua estética expressionista a visões com temática bíblica e as lembranças de Brodowski. MORTE QUÍMICA Os murais foram os maiores pintados por Portinari, medindo cerca de 14 metros por 10 metros cada. Em 1953, foi internado no Rio de Janeiro com hemorragia intestinal. A causa era o uso de tin-

A convite de Oscar Niemeyer, o artista pintou o mural externo da Igreja de São Francisco de Assis na orla da Lagoa da Pampulha


DIVULGAÇÃO

IMAGENS: ACERVO PROJETO PORTINARI

Os painéis “Guerra” e “Paz”, de 14 metros de altura, estão atualmente em exibição no Cine Theatro Brasil Vallourec

tas contendo chumbo, cádmio e prata. Ele foi alertado pelos médicos sobre o risco que corria se continuasse o trabalho. Mas, decidiu não parar, numa atitude que abreviaria sua vida. Muito doente, continuou a pintar. Em 1956, os painéis “Guerra” e “Paz” foram presenteados pelo governo brasileiro à sede da ONU. Na época, as autoridades dos Estados Unidos não convidaram Portinari para a inauguração dos murais em função de suas ligações com o Partido Comunista Brasileiro. Em 1958, foi o único brasileiro a participar da exposição “50 anos de Arte Moderna” no Palais des Beaux Arts em Bruxelas. Depois, expôs em Buenos Aires e, no ano

seguinte, na Galeria Wildenstein em Nova York, com outros grandes artistas americanos, como Tamayo, Cuevas, Matta, Orozco e Rivera. Participou ainda da exposição Coleção de Arte Interamericana, do Museo de Bellas Artes de Caracas. Em 1961, realizou sua última exposição individual no Rio de Janeiro. Quando preparava uma grande mostra de cerca de 200 obras a convite da prefeitura de Milão, o mundo soube da sua morte. Ele faleceu no dia seis de fevereiro de 1962, aos 57 anos, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava. Irônico, não? O artista plástico brasileiro, que alcançou maior projeção internacional, foi morto precocemente por pintar sua arte imortal.

Cândido Portinari retratou as questões sociais do Brasil, utilizando elementos artísticos da arte moderna europeia. Suas obras têm influências do surrealismo, cubismo e da arte dos muralistas mexicanos. Os painéis “Guerra” e “Paz” só retornaram ao Brasil 53 anos depois, em 2010, sob a guarda do Projeto Portinari, juntamente com o Governo Federal, onde foi exibida no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e em 2012, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Atualmente, as obras estão expostas no Cine Theatro Brasil em Belo Horizonte. A ECOLÓGICO selecionou frases e pensamentos deste grande artista plástico nacional. Confira a seguir:

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MEMÓRIA ILUMINADA PORTINARI IMAGENS: ACERVO PROJETO PORTINARI

● ARTE E POLÍTICA “Arte brasileira só haverá quando os nossos artistas abandonarem completamente as tradições inúteis e se entregarem com toda alma, à interpretação sincera do nosso meio” “Estou com os que acham que não há arte neutra. Mesmo sem nenhuma intenção do pintor, o quadro indica sempre um sentido social” (Começando a flertar com o socialismo.) “Não vejo porque um quadro deva ser todo figurativo ou todo abstrato. Por que não um quadro figurativo com fragmentos abstratos ou vice-versa?” Painel “As Trombetas de Jericó”, exposto na Rádio Tupi de São Paulo

● POLÍTICA “Não pretendo entender de política. Minhas convicções, que são fundas, cheguei a elas por força da minha infância pobre, de minha vida de trabalho e luta, e porque sou um artista. Tenho pena dos que sofrem e gostaria de ajudar a remediar a injustiça social existente. Qualquer artista consciente sente o mesmo”

● IDA PARA O RIO “Quanto mais próxima a partida, mais aflito ficava. Olhava o chão, as plantas, os animais, as aves e aquela luz… Parecia que nunca mais iria ver tudo aquilo que era parte de mim mesmo. Quantas lágrimas derramei às escondidas. Vi e revi mil vezes todos os recantos. Saudade incontida do

que ficava. (…) Procurava ensaiar para não ser traído pela emoção. Ia à casa de minha avó, trocava duas palavras e saía vencido, qual, não era possível. Voltava para casa, falava com minha mãe e sentia-me impossibilitado de dizer palavras. Não poderia despedir-me. Preferia não ir, mas necessitava ir, estava na idade. O sol, a lua, as estrelas, as águas do rio, o vento, tudo ficaria lá e eu encontraria o escuro.” (Relembrando a viagem para o Rio de Janeiro aos 15 anos para estudar na Escola Nacional de Belas Artes.) ● EUROPA “A viagem à Europa para um moço que observa é útil. Temos tempo de recuar. Temos coragem de voltar ao ponto de partida. Eu sou moço.”

Quadro “Morro”, da fase em que o pintor registra muito o lirismo carioca 108 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013

● PARIS 1929 “Comecei a trabalhar, mas no meu quarto, porque não consegui ainda ateliê dentro de minhas posses. Contudo, não


● MURAL “A pintura moderna tende francamente para a pintura mural. Com isso, não quero afirmar que o quadro de cavalete perca o seu valor, pois a maneira de realizar não importa. No México e nos Estados Unidos, já há muitos anos, essa tendência é uma realidade, e noutros países se opera o mesmo movimento, que há de impor à pintura o seu sentido de massa.” (Entrevista de Portinari ao Diário de São Paulo, em 21 de novembro de 1934) ● HOMENAGEM “Aos homens honestos, aos brasileiros sinceros, aos patriotas de fato é que falo, para que analisem tal assunto com frieza” - depois de completar a série “Retirantes”. ● BRODOWSKI “Nasci numa fazenda de café. Meus pais trabalhavam na terra… Mudaram-se da fazenda Santa Rosa para a estação de Brodowski – onde não havia ainda povoado; eu devia ter dois anos de idade.” ● INFÂNCIA “O vigário João Rulli desejava encomendar uma porteira e não se entendiam, peguei um papel e desenhei a porteira. O padre ficou olhando para mim e disse: Amanhã chegará o frentista para ornamentar a fachada da nova igreja. Você deve ir vê-lo e aprender. Ricardo Luini era

HOMENAGEM DRUMMONIANA

O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade fez o poema “A mão” em homenagem a Portinari. Ele está no livro Lição de Coisas, lançado em 1962, ano da morte do pintor

JB ECOLÓGICO

estou triste, porque não estou perdendo tempo: pela manhã vou ao Louvre, à tarde faço estudos. Não pretendo fazer quadros por enquanto. Aprendo mais olhando um Ticiano, um Raphael, do que para o Salão de Outono todo”

A MÃO Carlos Drummond de Andrade Entre o cafezal e o sonho o garoto pinta uma estrela dourada na parede da capela, e nada mais resiste à mão pintora. A mão cresce e pinta o que não é para ser pintado mas sofrido. A mão está sempre compondo módul-murmurando que escapou à fadiga da Criação e revê ensaios de formas e corrige o oblíquo pelo aéreo e semeia margaridinhas de bemquerer no baú dos vencidos. A mão cresce mais e faz do mundo-como-se-repete o mundo que telequeremos A mão sabe a cor da cor e com ela veste o nu e o instável. Tudo tem explicação porque tudo tem (nova) cor. Tudo existe porque foi pintado à feição de laranja mágica não para aplacar a sede dos companheiros, principalmente para aguçá-la até o limite do sentimento da Terra domicílio do homem. Entre o sonho e o cafezal entre guerra e paz entre mártires, ofendidos,

o nome do meu escultor. (…) Quando terminou, deu-me uma prata de dois mil réis e uma viagem a Ribeirão Preto. Pessoa muito boa.” “À noite, deitávamos na grama ao

FONTES: ENCYCLOPEDIA BRITANNICA, WWW.PORTINARI.ORG.BR, WIKIPÉDIA/CÂNDIDO PORTINARI

músicos, jangadas, pandorgas, entre os roceiros mecanizados de Israel a memória de Giotto e o aroma primeiro do Brasil entre o amor e o ofício eis que a mão decide: Todos os meninos, ainda os mais desgraçados, sejam vertiginosamente felizes como feliz é o retrato múltiplo verde-róseo em duas gerações da criança que balança como flor no cosmo e torna humilde, serviçal e doméstica a mão excedente em seu poder de encantação. Agora há uma verdade sem angústia mesmo no estar-angustiado. O que era dor é flor, conhecimento plástico do mundo. E por assim haver disposto o essencial, deixando o resto aos doutores de Bizâncio, bruscamente se cala e voa para nunca-mais a mão infinita a mão-de-olhos-azuis de Cândido Portinari.

redor da igreja e de barriga para cima ficávamos vendo as estrelas e sonhando; um perguntava ao outro o que desejava ser – as respostas eram ambiciosas: um desejava ser rei; outro, general; aquele, dono de circo.” O OUTUBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 109


1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

A CADA CURVA,

UMA SURPRESA Exposição fotográfica “Trilhas Parque da Serra do Cipó” revela as riquezas e a importância de sua preservação Fernanda Mann

redacao@revistaecologico.com.br

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Seguindo o conselho de tantos conhecidos que sempre elogiaram suas fotografias, em especial um amigo, cuja pousada na Serra do Cipó era frequentada por Geraldo há quase 20 anos, ele resolveu fazer uma mostra fotográfica. Antes da exposição, Geraldo se lançou na expedição. Pôs o pé na trilha, dividindo o roteiro em viagens de três e quatro dias, num total de 150 km. “Em certos lugares me deparei com paisagens lindíssimas, mas faltava a luz ideal. Deime a oportunidade de voltar para captar essa luz. Isso gerou várias idas e vindas. Percorri caminhos que fogem dos lugares-comuns e a verdade é que a trilha semGELISSON AMARAL

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magine trocar o barulho dos carros, o zum-zum-zum da eletricidade corrente, a preocupação com assaltos, horários, compromissos, roupas, contas e o predominante acinzentado dos concretos por uma caminhada descompromissada em um mar de verde, com seus surpreendentes detalhes em mil cores e cheiros, numa trilha que reserva surpresas ao final de cada jornada. Esse é o sentimento vivenciado por Geraldo Rodrigues em suas andanças pela Serra do Cipó e compartilhado em suas fotografias. Elas foram reunidas na exposição “Trilhas”, que fez parte das atrações culturais do 7º Festival Outono na Serra. Ele conta que, numa virada de outono, quando se sentia cansado pela dinâmica do trabalho, começou a repensá-la e sentiu que era hora de desenvolver um novo projeto. Apesar de não ser sua profissão, o publicitário belo-horizontino é um exímio conhecedor da arte de fotografar. Estudante dedicado, adquiriu o primeiro equipamento na década de 1990 e, de lá para cá, seguiu registrando a luz e aprimorando a técnica aprendida de maneira autodidata.

RODRIGUES Um caminhante observador

pre guarda um presente no final. No Cipó, muitas vezes são as cachoeiras”, relata. Utilizou bicicleta e cavalo em alguns trechos, mas o que mais gostou mesmo foi de andar a pé, por conta do acesso e garantia de não perder os pequenos detalhes que se revelam pelo caminho. “A diversidade é tão vasta. São tantos seres, tantas espécies. E é essa busca que me encanta. Achar algo peculiar que ninguém viu. Pode ser em um cantinho, ou banhado por uma luz que muda todo o contexto.” Segundo Geraldo, a Serra do Cipó tem muito a nos oferecer e, para ele, a única maneira de preservá-la, é pela sensibilização. “Não há condições, nem existe interesse em se cuidar do que não se conhece. Aquele sentimento de querer retornar e poder desfrutar da mesma água limpinha, do cheiro de mato e das paisagens verdes... Vejo que o turismo consciente, sustentável, pode caminhar junto com a preservação.” Essa é a intenção da exposição, em parceria com o Parque Nacional da Serra do Cipó, que abre suas trilhas aqui na ECOLÓGICO para você percorrê-las. Sebo nas canelas!

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

FOTOS GERALDO RODRIGUES

Lagoa da Lapinha além das montanhas

TRILHA entre a Lapinha e a cachoeira Bicame 112 O ECOLÓGICO | OUTUBRO DE 2013


Recompensa ao final da trilha, a cachoeira Bicame

Pôr do sol na Serra do Cipó SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 113


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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

O EROS ECOLÓGICO H

oje, diante do frenesi consumista globalizante e da banalização da violência cada vez mais intensa, nada melhor do que filosofarmos um pouco sobre Eros – o deus do Amor. Desde os antigos gregos, Eros – Cupido para os romanos - significa uma força de união, um impulso energético que busca unir, continuar e reproduzir sempre no caminho do bom e do agradável. É um ato de união consentido. Objetivo maior a que, cremos, todo ser humano aspira para ser feliz. Em sua fase inicial, a da busca, Eros seria desejo, carência e falta. Na fase complementar, ele já seria encontro, diligência, gratidão e cuidado. Desse modo, o ser humano não seria apenas um ser de falta, mas, principalmente, de encontro e de complementação. E é nessa complementaridade que se iniciaria aquilo que é o mais desejado por todos: a experiência que une e nunca separa. Nesse amor, não sentiríamos mais a ansiedade da busca, mas sorveríamos com prazer a deliciosa sensação do encontro. E é ele que irá solidificar o nosso caminho e, consequentemente, criar uma família, uma sociedade, um grupo e um destino. O amor à natureza e aos outros é um amor verdadeiro, e tudo o que é verdadeiro é para toda a vida. Um Eros somente ligado à sexualidade ou às coisas materiais, como quer nos impor a sociedade consumista, se torna ecocida demais. Nessa sociedade, o desejo é visto apenas como a única força representativa de Eros. Utilizando a sedução como forma de manipular e iludir, ela cria e multiplica nossas carências, potencializando o ser humano na busca de uma satisfação impossível de ser alcançada pela troca contínua de objetos. Somam-se a isso uma erotização do cotidiano e uma glamourização da violência cada vez mais intensa. É uma inversão de Eros que, tristemente, se transforma em Anteros, que é um Eros pervertido. Basta assistirmos aos noticiários televisivos para constatarmos os efeitos negativos dessas inconsequentes perversões que afetam o cotidiano das pessoas. Não custa repetir que a má notícia se torna cada

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vez mais a boa notícia e o pior é desejado como o melhor. É a exploração consciente do lado sombrio do ser humano, que é o da consciência infeliz. Por outro lado, o Eros ecológico contagia cada vez mais corações e mentes, transformando-se, hoje, numa força política e cultural já bastante expressiva. Agradecemos aos bravos mensageiros da educação ambiental no caminho dessa nova iluminação. Percebemos satisfeitos o alto grau de sensibilização que atinge a humanidade nesse momento da história. Esse amor se manifesta quando descobrimos, satisfeitos, que tudo está em ligação com tudo e que estas redes de interconexões formam o tecido vivo de nossa Mãe-Terra. Sem nenhum privilégio de partes, começamos a nos sentir atraídos pela beleza das formas naturais, pelas simetrias mais íntimas das coisas e pelo equilíbrio dinâmico que existe em todas as formas de vida. É desse encontro e encanto feliz com o mundo que surge em nós a sensibilidade estética pelas coisas da natureza. Essa é a expressão maior do amor planetário que espiritualiza e torna positiva nossa relação com a natureza. Aprendemos convictos que amar a natureza é primeira condição para gostar de nós e, consequentemente, dos outros. Essa integração natureza/ ser humano incentiva a ampliação de uma nova sensibilidade capaz de construir, com certeza, um dos pilares da cultura ecológica deste início de século. É certo que ainda temos muitos pontos de resistência cultural. Mas somente o Eros ecológico vai tornar possível a cura das feridas dessa infeliz separação, que atualmente não tem mais sentido existir, entre natureza e cultura. O ser humano se define, hoje, como um entrelaçamento dinâmico entre o cultural e o natural. Felizmente cada vez mais nos convencemos de que o caminho do humano no mundo se faz pela união desses dois polos interativos. O (*) Ambientalista e professor de filosofia da PUC Minas


Você faz tudo para ajudar a salvar o meio ambiente. E sabe quem também faz parte dele? As pessoas. Por isso, seja você também um doador de sangue e ajude a salvar a vida de milhares de brasileiros que, assim como o Olívio, precisam receber sangue. Coloque o assunto em pauta e leve essa mensagem para junto das causas sociais. O seu apoio vai aumentar a conscientização da população sobre a importância de tornar a doação de sangue um hábito e mostrar as pessoas que, seja para quem for, o importante mesmo é ser doador. Entre nessa com a gente. Participe da campanha e ajude o Ministério da Saúde a aumentar o número de doações de sangue em nosso país. Faça o download das peças da campanha no www.saude.gov.br e divulgue também. Para sugestões e novas propostas de parceria, envie um e-mail pra gente: parcerias@saude.gov.br

Seja para quem for, seja doador.

Procure o Hemocentro mais próximo.

Olívio França, 46 anos. Tem doença falciforme e precisa de doação de sangue.



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