Revista ECOLÓGICO - Edição 61

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ELES JÁ SUSTENTAM A ESPERANÇA E

Alexandre Poni / Verdemar

Ângelo Machado / Biodiversitas

Adriana Machado / ABAP

Fernando Künsch / Samarco

Alice Godinho / Codema Mucuri

Marcelo Mate / TV Globo Minas

Cléo Pires

Do pioneirismo

Djalma Morais / Cemig

José Carlos Carvalho e Maria Dalce

Hélcio Guerra / Anglogold

José Aparecido Gonçalves / CMRR

Ernesto Soares (“Seu” Nonô)

Vitor Wanderley / Usina Cururipe

Luzia Ferreira

Marcos Polignano / Manuelzão

de Azevedo Antunes...

A NATUREZA AGRADECE. E VOCÊ?


Tavinho Moura

Ministra Isabella Teixeira

Paulo Brant / Cenibra

IV Prêmio

O Oscar da Ecologia 2013 9 de dezembro – Cine Teatro Brasil Inscrições e indicações até 4 de outubro

...ao engajamento de Paul Mc Cartney!

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EXPEDIENTE

MARCELO PRATES

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Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck CONSELHO EDITORIAL Ângelo Machado, Antônio Claret de Oliveira, Célio Valle, Evandro Xavier, Fábio Feldman, Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Maurício Martins, Mário Mantovani, Nestor Sant’Anna, Paulo Maciel Júnior, Pátricia Boson, Roberto Messias Franco, Ronaldo Gusmão, Sérgio Myssior,Vitor Feitosa e Willer Pos DIRETOR GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com EDITORA ASSISTENTE Maria Teresa Leal mariateresa@souecologico.com

GRUPO

REPORTAGEM Andréa Zenóbio Gunneng (Correspondente Internacional), Cristiane Mendonça, Fernanda Mann, Luciana Morais e Vinícius Carvalho

CAPA Foto: Divulgação Arte: Sanakan Firmino EDITORIA DE ARTE André Firmino andre@souecologico.com Marcos Takamatsu marcos@souecologico.com Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com REVISÃO Gustavo Abreu DEPARTAMENTO COMERCIAL José Lopes joselopes@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com Silmara Belinelo silmara@souecologico.com

MARKETING E ASSINATURA marketing@revistaecologico.com.br IMPRESSÃO Log & Print PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br sou_ecologico revistaecologico

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Selo SFC REVISTA NEUTRA EM CARBONO www.prima.org.br


“Todos os centros de saúde terão o mesmo padrão de qualidade.”

QUALIDADE NOS CENTROS DE SAÚDE A Prefeitura de Belo Horizonte está transformando antigas unidades em verdadeiras clínicas. Mais de 100 novos centros de saúde serão construídos, para substituir antigos e para ampliar a rede de 147 para 173. Assim, todos os centros de saúde da Prefeitura terão o mesmo padrão de qualidade.

UPAs A Prefeitura está ampliando a rede para 11 UPAs, com a construção de 7 novas unidades. Cada uma delas com estrutura completa para atender cerca de 300 pacientes por dia. 4 já estão em obras.

PROFISSIONAIS DE SAÚDE A Prefeitura retomou a política de concursos públicos para ampliar o número de profissionais de saúde. Nos últimos 12 meses foram 2.400 contratações.

LEITOS HOSPITALARES A Prefeitura reabriu vários hospitais e criou 915 novos leitos. Também está aumentando a capacidade do Odilon Behrens para 600 leitos. E no ano que vem entra em funcionamento mais um grande hospital.

OS NÚMEROS DA SAÚDE EM BH

Os centros de saúde de BH realizam mais de 2,5 milhões de consultas médicas por ano. BH tem hoje 59 Academias da Cidade, que atendem mais de 23 mil pessoas. São cerca de 416 mil consultas odontológicas e mais de 100 mil tratamentos por ano. Mais de 29 mil cirurgias eletivas realizadas em 2012. O Programa Saúde na Escola atende em média 100 mil alunos/ano nas escolas da Prefeitura. Mais de 580 mil atendimentos por ano nas UPAs. 96% dos casos são resolvidos nas próprias UPAs, sem encaminhamento para hospitais. pbh.gov.br

É A PREFEITURA TRATANDO A SAÚDE DE MANEIRA INTEGRADA PARA CUIDAR MELHOR DE VOCÊ.


ÍNDICE

COMPORTAMENTO O filme “Hannah Arendt”, que trata do julgamento do nazista Adolf Eichmann, alerta que não devemos nos acostumar à “banalidade do mal” e trás à tona a importância libertadora do pensamento humano.

16 Páginas Verdes AILTON KRENAK, UMA DAS LIDERANÇAS INDÍGENAS MAIS ATIVAS DO BRASIL, DESTACA O LUGAR DA ESPIRITUALIDADE, HOJE, E DIZ QUE A FUNAI ESTÁ MORTA

36 Lixo Hospitalar SEMINÁRIO DA COPAGRESS EXPÕE QUE 32 DOS 70 GRANDES HOSPITAIS DE BH IGNORAM O PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA ANVISA E DO CONAMA

50 Mineração PREFEITA DE MORRO DO PILAR, VILMA DINIZ, CONTA COMO PRETENDE RECEBER A MINERADORA MANABI QUE PLANEJA INVESTIR R$ 6,25 BILHÕES PARA EXPLORAR MINÉRIO DE FERRO NA REGIÃO JB ECOLÓGICO

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104 Memória Iluminada O LEGADO DO EMPRESÁRIO AZEVEDO ANTUNES QUE CHEGOU A LIDERAR UM IMPÉRIO DE 30 EMPRESAS E É CONSIDERADO O “PRECURSOR DA MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL”

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E mais... 10 CARTA DOS LEITORES 12 CARTA DO EDITOR 14 SOU ECOLÓGICO 20 GENTE ECOLÓGICA 24 ECONECTADO 26 CÉU DE BRASÍLIA 28 ECONOTAS 30 ESTADO DE ALERTA 32 ECO CONSTRUÇÃO 34 ESPAÇO LIVRE 44 AGENDA EXPOSIBRAN 48 RECICLAGEM 56 PAMPULHA 60 RECURSOS NATURAIS 64 OLHAR EXTERIOR 68 GESTÃO & TI 70 PERFIL 72 PESQUISA 76 INOVAÇÃO SOCIAL 78 AMEAÇA 80 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 86 JORNALISMO 92 PUBLICIDADE 97 VOCÊ SABIA 98 NATUREZA MEDICINAL 100 OLHAR POÉTICO 102 ENSAIO ARTÍSTICO 110 CONVERSAMENTOS 114 IMAGEM DO MÊS


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IMAGEM DO MÊS

Derreter parte da lateral de um carro Jaguar e fritar um ovo na calçada não é mais mérito da visão de raio laser do Super-Homem. Um prédio londrino, que está sendo construído em formato curvo e recoberto por vidros espelhados, tem funcionado como um verdadeiro aquecedor. Os raios de sol, que atingem o prédio em determinado horário, transformam-se em um feixe de luz direcionado a uma rua próxima, o que causa calor e o aumento da temperatura no local. O jornal “The Times” explicou que as temperaturas perto do prédio alcançaram 45 graus no início deste mês, e um físico mediu a temperatura do solo que chegou a 92 graus. Imobiliárias responsáveis já informaram que adotarão medidas para que o episódio não se repita.

LEON NEAL/AFP

CONSTRUÇÃO ANTI-ECOLÓGICA


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CARTA DOS LEITORES O FICA, CAPIVARA!

“O problema maior que eu acho é a qualidade da água da lagoa. É uma covardia você deixar qualquer ser vivo viver no meio de lixo, fezes e podridão. Sou a favor da retirada, não pelos jardins de Burle Marx ou pelos incômodos criados, mas sim pelas próprias capivaras.” Ramont Barroso Costa, BH/MG “Por que R$ 2.333,33 por capivara? Elas têm de ir de avião de primeira classe?” Ana Márcia Rodrigues, pelo Facebook. “Ah não, não levem minhas amiguinhas. Fiquem, capivaras!” Cris Rubi, pelo Facebook “Removidas e levadas para outro local, ou vão para as panelas?” Amilton Rosa, pelo Facebook O LÁ VÊM OS PATOS “Já tive o prazer de ver de perto os patos-mergulhões, são ariscos demais! Na Cachoeira do Rolinhos, na Serra da Canastra, pode se dar a sorte de encontrá-los, mas o lugar fica interditado no período de reprodução.” Rogério Frias, pelo Facebook

O YANN

ARTHUS-BERTRAND “A Exposição “A Terra vista do Céu”, de Yann Arthus-Bertrand, me tocou de maneira especial. Eu já tive a oportunidade e o privilégio de mergulhar no Grande Buraco Azul, como é chamado o maravilhoso atol do Recife Lighthouse, em Belize. Como Yann mostrou, trata-se de uma singularidade geológica com 300 metros de diâmetro e 124 de profundidade. Um abismo cárstico que se forma com o desabamento do teto das cavidades subterrâneas esculpidas pela água na rocha. Um local paradisíaco que, adorado pelos mergulhadores, integra o vasto recife coralino que se estende por quase mil km, da Ponta do Yucatán, no México, até o litoral nordeste de Honduras, beirando a costa de Belize e da Guatemala. Mais uma maravilha desse planeta que, nessas fotos deslumbrantes reproduzida pela ECOLÓGICO, nos pede para ser preservado.” Marcio Lacerda, prefeito de BH

O GASTRONOMIA SUSTENTÁVEL “Vou fazer as dicas da matéria sobre gastronomia sustentável! Lindo o prato apresentado! Não sabia da existência do capim São José, descrito na coluna Natureza Medicinal! Adorei saber que na minha terra tem um capim assim tão poderoso!” Telma Maria Negri, pelo Facebook

DIVULGAÇÃO

O PAPAGAIOS DEVOLVIDOS À NATUREZA “A vida se compõe de milhões de pontos! Tudo é muito maravilhoso!” Conceição Júdice Paiva, pelo Facebook O RIO PARACATU - A EXPEDIÇÃO DA ESPERANÇA “Salve, Tonhão!” Raul Miguel, pelo Facebook

“Parabéns, Paracatu!” Cássia Miranda, pelo Facebook O MEMÓRIA

ILUMINADA “Minhas amigas professoras, onde foram parar os ideais do imperador Dom Pedro II? Quando foi que eles se perderam?” Jana Mendes, pelo Facebook.


FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br

ARQUIVO PESSOAL

“Esta revista é o máximo. Deveria ser leitura obrigatória nas escolas e no mundo corporativo, que pensa só em dinheiro e se esquece da nossa fonte maior. Parabéns pelo trabalho! Sintome orgulhosa por ser assinante! Na minha casa, a ECOLÓGICO é uma sensação!”

ARQUIVO PESSOAL

1 FOTO DO LEITOR

EU ASSINO

Jaine Arantes, jornalista - Campo Belo-MG

O SAUDAÇÕES

“Parabéns pela Revista ECOLÓGICO. Obra sublime, cheia de inspiração. Fico agradecida e honrada em ler e comentar com os amigos os belos e profundos artigos da Revista. Espero continuar a lê-la por muito tempo ainda!” Lúcia Resende, Bom Despacho-MG “Cumprimento à Revista ECOLÓGICO, nº 59, com várias matérias de interesse, que reiteram minha admiração pelo trabalho de toda a equipe.” Bonifácio Andrade, deputado federal

ATACAMA ROAD A psicanalista Regina Teixeira da Costa e a estilista Thalita Rodrigues caminhando e cantarolando Cartola na estrada sem fim do deserto chileno: “...deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar”.

1 HUMOR QUE AMDA GENIN

“Parabéns pela Revista Ecológico! Uma boa iniciativa!” Ercindo Mariano Junior, pelo Facebook “Pauta de valor, revista de importância para criar um futuro sustentável. Paz na luta!” Antônio Pádua Silva Padinha, pelo Facebook O ECO

CONSTRUÇÃO – MOBILIDADE URBANA “Li o artigo da Cristiane Lacerda e quero dar os parabéns a ela pelas coerentes colocações. Como sociólogo, muitas vezes analiso por outros ângulos. Não podemos mais falar de transporte alternativo, mas sim de uma solução imediata para o caos dos grandes centros urbanos , principalmente aqueles, como BH, que estão acordando tardiamente para a questão da ‘mobilidade urbana’. Acredito que tanto as intervenções quanto o transporte têm que mudar urgentemente! ” Fernando Cardoso, BH-MG

FONTE: Charge extraída do livro “Água Mole em Pedra Dura – o Humor nas Páginas do Ambiente Hoje”, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA).

SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 13


BRUNO MAGALHAES/NITRO

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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

A MINERAÇÃO EM TRANSE

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om a protelação, já há dois anos, pelo governo Dilma Rousseff, do anúncio de um novo, viável, ecológico e social marco da mineração, o setor e o subsolo mineral do país parecem estar em transe, como no filme de Glauber Rocha. Minas que o diga. Idealizado para ser um modelo de mineração sustentável, o projeto Minas-Rio, da Anglo American, em implantação na emblemática Conceição do Mato Dentro, ainda não é visto com essa referência. Do Projeto Apolo, da Vale, na Serra do Gandarela, pouco se fala. E neste vácuo de visão, parece recrudescer boa parte da imagem positiva que o setor já conquistou junto à opinião pública. Maior exemplo disso é a criação recente, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), de uma frente parlamentar radicalmente contra a implantação de novos minerodutos no estado, em vez discutir se há outras alternativas ambientalmente melhores. Para um estado que, como poetizava Drummond sobre Itabira, tem “90% de ferro nas calçadas e 80% nas almas”, nada deveria se perder, e sim se transformar. É o que aposta o presidente do Ibram, Fernando Coura, de volta à ativa e à frente do 15º. Congresso Brasileiro de Mineração, que terá 70 especialistas de 10 países debatendo o tema “Investindo em Sustentabilidade e Desenvolvimento”, a partir da próxima entrada da primavera na capital mineira. É o que também acredita

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Vilma Diniz, prefeita de Morro do Pilar, sobre o Projeto Manabi, em implantação na natureza do município que ela promete administrar com mãos de ferro. Outras “minerações”, incluindo as de caráter humano, caro leitor, você também vai ler nesta edição. Como a entrevista do líder indígena, Ailton Krenak, que não deixa pedra sobre pedra a respeito da Funai “cara-pálida”. E uma reportagem sobre os rejeitos ainda sem destinação final correta, acredite se quiser, dos nossos hospitais e seus médicos. Temos ainda, a garimpagem do pensamento humano contra a banalidade do mal, denunciada e atualíssima, no filme “Hannan Arendt”. E a recuperação, mais que mineral, da memória e pensamento incríveis do Dr. Azevedo Antunes, o homem que, no século passado e em plena selva amazônica, já realizava a mineração ideal, antes mesmo de o planeta ouvir falar em “sustentabilidade”. Não por acaso, uma das 10 palavras mais acessadas hoje na rede mundial de computadores. Daí a sua escolha para ser homenageado na próxima cerimônia do “IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza – O “Oscar da Ecologia” 2013 - marcada para nove de dezembro, no novo Cine Theatro Brasil, no coração da capital mineira. Boa leitura e até o próximo dia 18, lua cheia de outubro!


NOVA LIMA, A MELHOR CIDADE DE MINAS PARA SE VIVER. A QUALIDADE DE VIDA NÃO PARA DE CRESCER EM NOVA LIMA.

Segundo o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM divulgado pela ONU/ PNUD neste ano, Nova Lima ficou em 1º lugar em toda Minas Gerais. Em muito pouco tempo, o município deu um salto na classificação de “médio desenvolvimento humano” para “muito alto desenvolvimento humano”. Isso quer dizer que, com os investimentos da Prefeitura, os moradores estão vivendo cada vez melhor, a cidade não para de gerar novas oportunidades e o desenvolvimento está crescendo como nunca e para todos. Em Nova Lima é assim: a gente faz, você participa e o futuro acontece.

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PÁGINAS VERDES

VINICIUS CARVALHO

A Funai virou a filha feia que a família esconde no porão. Esse é o lugar que o Estado brasileiro reservou para os índios

“A FUNAI ESTÁ MORTA!” Vinícius Carvalho redacao@revistaecologico.com.br

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ilton Krenak é uma das lideranças indígenas mais ativas do Brasil. Esteve ao lado de Chico Mendes na Aliança dos Povos da Floresta, participou da fundação da União das Nações Indígenas (UNI) e se tornou símbolo da luta pelos direitos dos povos tradicionais na Assembleia Nacional Constituinte, quando pintou o rosto de preto com pasta de jenipapo, enquanto discursava no plenário do Congresso, em sinal de luto pela lentidão na tramitação das pautas indígenas. Em entrevista concedida à ECOLÓGICO às margens do Rio Cipó, Ailton alerta para uma crise de civilização, destaca o lugar da espiritualidade hoje e critica algumas das principais ameaças aos povos indígenas em curso no Brasil. “Estamos caminhando para um desastre comum, porque não conseguimos mais nos reconhecer uns aos outros”. 16 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

O ÚLTIMO CENSO APONTOU A EXISTÊNCIA DE 305 ETNIAS DIFERENTES NO BRASIL. EM MEIO A TANTA DIVERSIDADE, O QUE DEFINE O ÍNDIO? Só somos índios para os outros. Para nenhuma de nossas famílias nós somos os índios. Quando uma pessoa do meu povo quer se identificar, entre nós, ele chama o outro de burum. E se você for traduzir o burum, quer dizer “ser humano”. Então, nós nos reconhecemos como seres humanos; e, talvez, a crise de civilização que vivemos seja um grande liquidificador que vai permitir que todas estas alcunhas generalistas – os amarelos, os índios, os brancos, os pretos – se dissolvam neste caldeirão para que aprendamos, de novo, a ser a velha e ótima humanidade. Aceitar todos como irmãos – mesmo que ele não fale sua língua ou tenha hábitos diferentes dos seus – é um recurso de aproximação maravilhoso. O


A I LTO N K R E N A K Líder indígena, ambientalista e escritor

que acho que estes povos têm de beleza para contribuir com o arranjo da humanidade é justamente esta percepção sutil de que somos todos seres humanos. Somos coloridos, o mundo é colorido.

que somos mais do que animais que se reproduzem e dominam territórios. Somos capazes de ideias, percepções e sentimentos que restabelecem para nós mesmos o sentido de sagrado. E sagrado pode ser tudo aquilo em que botamos os olhos a depender dos olhos com que enxergamos o mundo. Se vemos uma monta-

CORRENTEZA? Quando você me pergunta como nadar contra a correnteza, o que eu digo é que não devemos nadar contra a correnteza. A lição da água é você acompanhar o movimento dela. Agora, acompanhar o moviQUAL A ESSÊNCIA DA CRISE? mento da água como uma tábua Estamos caminhando para um é uma coisa, e acompanhar esse desastre comum, porque não movimento como um peixe vivo é conseguimos mais outra. Há uma parábonos reconhecer uns la muito bonita sobre aos outros. É como se isso que ouvi da Gurua gente estivesse em mai, continuadora de uma corrida maluca uma tradição de granque já não tem mais a des gurus. Meses antes motivação da largada, da tsunami na Ásia, ela mas que prossegue, sonhou que estava no porque alguém tem mar com as amigas. Era que chegar primeium mar de corais, e o ro. Os chineses têm céu estava tão maravique chegar primeiro. lhoso e azul. De repenWhW Ͳ WůĂŶŽ ĚĞ hƟůŝnjĂĕĆŽ WƌĞƚĞŶĚŝĚĂ Os americanos têm te, elas foram surpreenque chegar primeiro. didas por um turbilhão Os europeus têm que que não deu a elas temchegar primeiro. Mas po de fugir para a praia. ^ d ĞůĂďŽƌĂ WhW Ͳ WůĂŶŽ ĚĞ hƟůŝnjĂĕĆŽ WƌĞƚĞŶĚŝĚĂ Ğ não estamos indo a As amigas que sabiam ĂƐƐĞƐƐŽƌĂ ƐĞƵƐ ĐůŝĞŶƚĞƐ ŶŽ ƉƌŽĐĞƐƐŽ ĚĞ ŽďƚĞŶĕĆŽ ĚĞ lugar nenhum e é essurfar jogaram a pranĂƵƚŽƌŝnjĂĕĆŽ ƉĂƌĂ ŝŶƚĞƌǀĞŶĕĆŽ ĂŵďŝĞŶƚĂů͘ candaloso o tanto de cha para cima e seenergia que capturaguiram a onda. Ela, ao ǁǁǁ͘ƐĞƚĞͲƐƚĂ͘ĐŽŵ͘ďƌ mos da natureza para contrário, ouviu uma imprimir nela um sigvoz que disse: ‘Respire nificado cultural. e mergulhe o mais fundo que puder’. É UM DILEMA ESPIRITUAL nha como toneladas de minério a Quando finalmente retornou do TAMBÉM? serem transformadas em carros e fundo das águas, viu que as amiMuita gente tem problema com a outras bugigangas, então ela não gas que pegaram a primeira onda palavra sagrado e acha que apli- pode ser sagrada. Se olhamos uma estavam esmagadas no rastro de car esse termo à natureza é um floresta e não conseguimos vê-la toda aquela destruição. A lição da exagero, como se fosse uma ten- com algum significado transcen- água não é nadar contra a correntativa equivocada de estender à dente, então ela vira só um esto- te, é mergulhar fundo. Quem quer natureza conceitos que são só da que de recursos naturais. É qua- nadar contra a corrente é o velho cultura. É difícil, muita gente tem se o que acontece no Brasil hoje homem. E mergulhar fundo signivergonha do sagrado ou de de- com relação à energia, todos os fica aceitar os nossos defeitos, as monstrar alguma sensibilidade nossos rios estão sendo calcula- nossas incapacidades. Enquanto que não tenha a ver apenas com dos em quilowatts. Então, alguém não fizermos isso, aceitaremos seu umbigo. Se reproduzir e se olha um rio e só pensa em quanta que somos capazes de sermos bancar com o máximo de consu- energia pode ser retirada dali. São maiores que nós mesmos. mo, qualquer idiota pode fazer, verdadeiros vampiros que olham mas não é qualquer idiota que a natureza com as presas de fora. E O QUE DEFINE ESTE NOVO consegue transcender à fissura de HOMEM? si mesmo e ter uma percepção de COMO NADAR CONTRA ESSA Esse homem não quer subir no

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SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 17


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A I LTO N K R E N A K

PÁGINAS VERDES

pódio, não quer ser presidente da empresa, não quer ser maior do que ninguém. Ele está desconfiado de qualquer coisa que não pode ouvir ou enxergar sem binóculo. Ele quer relações transparentes, quer falar e ser ouvido, quer ser visto como um ser humano que erra, que chega atrasado, que pega gripe, que morre de câncer, que tem defeitos. Essa é a nossa possibilidade: acertar a partir de nossos próprios erros, sem ter vergonha de reconhecê-los. É não achar que meu erro precisa ser escondido e o do outro mostrado. Gandhi já dizia: ‘comece a mudança por você mesmo’. Começar a mudança por você mesmo é ser transparente com seu pais, seus companheiros, seus erros, seus medos. Se você conseguir ser transparente com todos esses lados da sua vida, é bem possível que vá desvendar uma coisa divina na sua frente. Porque o divino é transparente. COMO ANALISA HOJE O QUADRO INDÍGENA NO BRASIL? A agulha que está fazendo do-in na cabeça dos índios é a do Iniciativa para Integração de Infraestrutura Regional Sul Americana (Irsa), que quer construir hidrelétricas em todos os rios. É a do Brasil que quer exportar 200 bilhões de toneladas de grãos, transformando o Cerrado em soja, cana-de-açúcar ou qualquer outro bagulho que o mercado queira comprar. É como se não importasse o que nós somos capazes de fazer, mas o que o mercado quer que a gente faça. E agora, no Brasil, querem tirar debaixo do pé dos índios minério, gás e petróleo. Meteram a mão no Xingu, estão construindo barragens e usinas no rio Tel18 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

Líder indígena, ambientalista e escritor

A agulha que está fazendo do-in na cabeça dos índios é a do Irsa, que quer construir hidrelétricas em todos os rios do Brasil les Pires e em tudo quanto é curso d’água que tenha potência, sendo que potência para eles significa quilowatts. Se você fizer isso em todos os rios indígenas, você mata os índios. Uma das coisas que os tecnocratas dizem, por exemplo, é que Belo Monte está a centenas de quilômetros do parque do Xingu, só que ele está no rio Xingu, e o rio é um organismo vivo. Se você cortar o pé de um desses tecnocratas será que ele não sente dor porque o pé está longe do coração? É de uma burrice sem fim. Isso não é governar, é desgovernar. E do Fernando Henrique Cardoso para cá, incluindo todos os governos, parece que a gente decidiu alugar o Brasil. É MOMENTO DE UM PRESIDENTE INDÍGENA NA FUNAI? O auge da política indigenista ocorreu na ditadura militar. Você tinha generais no comando da Funai. Quando o Figueiredo saiu e entrou o Sarney, continuamos ainda com os coronéis e gente do Serviço Nacional de Informação (SNI), um antro de arapongas. Daí, na virada da década de 80 para 90, começa a era dos antropólogos. Estamos há 20 anos testando a experiência dos

antropólogos à frente da Funai, enquanto ela vai se mumificando. Porque é isso: a Funai está morta. Eles administrativamente a vincularam ao Ministério da Justiça, onde virou a filha feia que a família esconde no porão. Este é o lugar que o Estado brasileiro reservou para os índios. Há 10 anos, um antropólogo que iria assumir a direção da Funai me perguntou o que eu achava. Eu disse: compra uma caixa de dinamite, assina o ato de posse e implode aquela coisa. Daí, você talvez obrigue o Estado brasileiro – não uma autarquia confinada ou uma só pasta – a dialogar de verdade com os povos indígenas. Eu acredito que o ideal seria um Estado plurinacional. INSPIRADO EM ALGUMA EXPERIÊNCIA? Já temos experiências assim na Bolívia e no Canadá, onde estas etnias, independentemente do tamanho de sua população, são reconhecidas na sua capacidade de se autodeterminar e governar seus territórios. No Brasil é que as pessoas querem pensar pequeno. Não tenho mais paciência para essa conversinha fiada, deixo ela para os antropólogos que ainda querem continuar trocando figurinhas sobre como vão acompanhar o aniquilamento do que ainda existe de decência no governo brasileiro no trato com os povos indígenas. Fico triste e tenho vergonha dos antropólogos continuarem aceitando fazer esse jogo sem vergonha do toma lá dá cá com os partidos políticos. Eles deviam fazer uma declaração pública de que a Funai está extinta e de que precisamos de outro patamar de relação com as sociedades indígenas. É preciso uma ruptura com tudo isso que foi feito até aqui. O


Você faz tudo para ajudar a salvar o meio ambiente. E sabe quem também faz parte dele? As pessoas. Por isso, seja você também um doador de sangue e ajude a salvar a vida de milhares de brasileiros que, assim como o Olívio, precisam receber sangue. Coloque o assunto em pauta e leve essa mensagem para junto das causas sociais. O seu apoio vai aumentar a conscientização da população sobre a importância de tornar a doação de sangue um hábito e mostrar as pessoas que, seja para quem for, o importante mesmo é ser doador. Entre nessa com a gente. Participe da campanha e ajude o Ministério da Saúde a aumentar o número de doações de sangue em nosso país. Faça o download das peças da campanha no www.saude.gov.br e divulgue também. Para sugestões e novas propostas de parceria, envie um e-mail pra gente: parcerias@saude.gov.br

Seja para quem for, seja doador.

Procure o Hemocentro mais próximo.

Olívio França, 46 anos. Tem doença falciforme e precisa de doação de sangue.


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SOU ECOLÓGICO

FERNANDA MANN

A desimportância do verde na Cidade Jardim do Brasil

O MINEIRÃO DO SAARA CONTINUA Minas Arena não consegue captar a alma do mineiro, que gosta de árvore, sombra, banco e um clima mais ameno para conversar e se divertir

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triste, mas é verdade. De nada adiantou o protesto e a esperança dos milhares de leitores da Revista ECOLÓGICO, multiplicados via redes sociais, contra o processo de desertificação do novo Mineirão. Além de não ter aprendido a fazer feijão tropeiro, o Minas Arena também não sabe plantar árvores. Ao invés de um prometido e dialogável paisagismo ambiental, dentro e fora do estádio, que livrasse os torcedores, visitantes e frequentadores do calor infernal e do sol cancerígeno devido à falta de sombras, o que acaba de ser feito ali, naquela imensidão de asfalto e cimento? O plantio em toda a área externa do Mineirão, na Esplanada e na passarela que liga o estádio ao ginásio do Mineirinho, de apenas... apenas 44 árvores em... caixas de cimento! E pior: da inadequada espécie Triplaris brasiliensis, há anos condenada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, por causa de suas floradas atraírem abelhas e moscas varejeiras. Quem atesta isto é Sérgio Tomich, um dos mais respeitados biólogos e paisagistas mineiros, exdiretor de Parques e Jardins da SMMA, inspirador e criador do convênio PBH-Cemig para dirimir a eterna briga entre a fiação elétrica e a arborização pública da capital. Segundo ele, também conhecida como Pau-Formiga ou Pau-de-Mulato, a Triplaris é uma espécie de árvore típica de solo fértil, profundo, úmido, en20 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

riquecido com matéria orgânica e irrigada regularmente. Ou seja, ela ocorre perto de cursos d’água ou lagos, ao longo das matas ciliares, onde se beneficia naturalmente da umidade do solo, justamente o que falta nos 80 mil m2 de área livre cimentada do novo estádio, onde pessoas de todas as idades, velhos e crianças frequentam, independentemente de se há jogo ou não. Ao contrário de tantas espécies mais adequadas da Mata Atlântica, como jequitibás, faveiros, pau-reis e até fícus, que tanto já esverdearam e humanizaram a história da capital mineira, o Triplares brasiliensis tem motivos para ter sido banido de toda arborização pública. Ele não dá sombra, não é majestoso, é esteticamente feio quando não está florido, e fraco por ter o seu cerne oco. É uma árvore linda, que se sobressai e colore as matas, na beira de rios. Nunca de deserto urbano, solitária e aprisionada numa caixa de cimento. Uma pena, enfim, o Minas Arena não ouvir os mineiros, nem a sua natureza, como nos foi prometido. E lembrar o que Tancredo Neves disse uma vez quando, irritado com as línguas-de-cimento áridas que estavam transformando todos os canteiros centrais de BH, ele mandou “furar” toda a extensão da Avenida Antônio Carlos, igualmente reformada como o novo Mineirão, e plantar árvores: “Só os ortodoxos não gostam do verde!”.


Acesse o blog do Hiram:

FERNANDA MANN

hiramfirmino.blogspot.com

GABEIRA COMPANHEIRO Reforçando o time que já conta com o ex-deputado federal e ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo, Fábio Feldmann, e o ativista Mário Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, a Revista ECOLÓGICO ganha, de volta, um companheiro de longa data: o jornalista, escritor, ex-deputado federal, e agora, blogueiro e comentarista da CBN, Fernando Gabeira (foto). Durante nove anos, ele integrou o Conselho Editorial do JB Ecológico, no JORNAL DO BRASIL, feito por nossa equipe, e agora integra novamente o conselho da publicação de Minas para o país. O convite foi aceito durante o Ciclo de Palestras “Abralatas, 10 anos”, onde ele palestrou para os estudantes da UFMG (pág. 56). Em tempo: a ECOLÓGICO, agora com 26 mil exemplares, também voltou a ser reconhecida como “publicação nacional” pela Secom federal, por manter o mesmo mailing de distribuição que tinha acompanhando o extinto JB. SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 21

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APOIO AO VETO O líder do Partido Verde na Câmara, deputado Sarney Filho (PV-MA), pediu ao senador Aécio Neves (PSDB- MG) que interceda junto ao governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, para que sejam vetados dispositivos da nova lei florestal mineira. Entre eles o barramento de Veredas e a revogação do artigo da lei vigente (14.309/02), que protege áreas consideradas prioritárias para conservação da biodiversidade no estado. Participaram da reunião realizada em Brasília, o deputado Antônio Roberto (PV-MG) e o diretor da SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani. Aécio Neves se solidarizou com a proposta dos ambientalistas, que anunciaram uma ampla campanha pelo veto à lei mineira. Sarney Filho afirmou que a flexibilização do novo Código Florestal, aprovado pelo Congresso Nacional, está causando o aumento dos desmatamentos. “Esta situação ficará ainda mais grave com a iniciativa de alguns estados, como Minas Gerais e Goiás, que estão aprovando leis estaduais”, alertou o líder.

GEORGE GIANNI

VETA, ANASTASIA Atlas da Fundação Biodiversitas, elas Pela segunda vez na história ambiental já ocupam um percentual exíguo do de Minas, está nas mãos do governador território mineiro, apontado como maior Antonio Augusto Anastasia, e de mais devastador de Mata Atlântica do país. ninguém, a salvação do que resta de Ecologia do destino: durante o governo florestas naturais no estado, incluindo Aécio Neves, os representantes do as famosas veredas do Grande Sertão agronegócio tentaram essas duas decantadas por Guimarães Rosa. Isso só permissões e não conseguiram. José será possível, segundo Maria Dalce Ricas, Carlos Carvalho, então secretário de superintendente da Associação Mineira de Meio Ambiente e Desenvolvimento Defesa do Ambiente (Amda) se ele vetar o Sustentável, defendendo que a lei tinha Artigo 3º.(inciso 1, letra G) que, combinado de proteger essas áreas, chegou a “bater ANASTASIA com o Artigo 12 (parágrafo 3º.) da nova boca” publicamente com Gilmam Viana, A última esperança legislação florestal mineira encaminhada secretário de Agricultura. Sábio, quem para a sua sanção, permite “barramento comercial Aécio convocou para dirimir o conflito? O seu vicepara fins de irrigação” de toda e qualquer vereda ainda governador, Anastasia, a quem volta-se novamente a existente. Mais. Se ele também vetar o artigo 51 que única esperança dos ambientalistas. passa a permitir desmatamento, inclusive de vegetação O documento que solicita os vetos, na íntegra, primária, nas áreas consideradas “prioritárias para pode ser acessado no endereço: proteção da biodiversidade” no estado. Segundo o hiramfirmino.blogspot.com


SOU ECOLÓGICO

INHORÉ COMEMORA

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uas luas cheias depois, o Instituto Cultural Inhoré ainda colhe os frutos do seu primeiro “Encontro Cultural”, de resgate dos valores e da história da comunidade de Capão Grosso, distrito de Jaboticatubas (MG), no sopé do Parque Nacional da Serra do Cipó. O evento contou com a presença de membros da comunidade local, colaboradores da Fundação Dom Cabral (FDC) e lideranças políticas da região, incluindo o prefeito, Fábio Santos. Alunos CONFRATERNIZAÇÃO Presidente do Instituto Inhoré, Emerson de Almeida das escolas Dom Orione, Benfica (ao centro) posa com a comunidade e colaboradores da FDC Moreira Marques e Padre Candinho e artistas locais se com trabalho, educação e outras necessidades apresentaram trazendo à tona particularidades dignas”. Shirley Rodrigues, diretora da Escola da cultura local, enquanto 26 expositores tiveram Municipal Dom Orione e vice-diretora do a oportunidade de comercializar seu artesanato e Instituto, destacou a “riqueza e a importância da comidas típicas. preservação da cultural local”. Para Dom Serafim O presidente do Inhoré e fundador da FDC, Fernandes de Araújo, presidente de honra do professor Emerson de Almeida, ressaltou que Inhoré e do Conselho Curador da FDC, o que já seu sonho é “criar um ambiente no qual as acontece de maneira sustentável na região é “a famílias queiram permanecer na comunidade semente de tudo que ainda irá acontecer”.

ENGENHARIA PREMIADA de resíduos, 80% a menos que A Precon Engenharia, empresa do as construções convencionais Grupo Precon, recebeu mais um e o prazo. O empreendimento é importante prêmio que reforça os construído na metade do tempo três principais pilares da empresa: se comparado às construções industrialização, sustentabilidade convencionais. e inovação. O CEO Marcelo Miranda Sob o ponto de vista social, apresentou o case durante a também é muito eficiente. Conferência Ethos 2013, realizada O sistema construtivo tem entre os dias 3,4 e 5 de setembro, estrutura com pilares e vigas em São Paulo. Ela foi a grande – com paredes de vedação, vencedora na categoria “Casos sem função estrutural – o que de Negócio Sustentável”, durante propicia flexibilidade para seus MARCELO MIRANDA evento presidido pela ministra do proprietários alterarem ou case premiado Meio Ambiente, Izabella Teixeira. A retirarem as paredes de acordo contribuição premiada foi “Solução com as suas necessidades. Habitacional”, um sistema construtivo inovador Esta “solução” também elimina o risco de que também virou case da Fundação Dom Cabral. desabamentos, caso as paredes internas do imóvel Dentre seus diferenciais sobressaem a geração sejam modificadas. 22 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

FOTOS DIVULGAÇÃO

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Acesse o blog do Hiram:

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PROPAGANDA FELIZ

O SECRETÁRIO E A ÁRVORE DE NÚMERO 165 MIL O vice-prefeito e secretário de Meio Ambiente de BH, Délio Malheiros (foto), acompanha o registro de uma quaresmeira, a de número 165 mil, entre as mais de 360 mil já plantadas na paisagem urbana. O ato simboliza o inventário em curso da única capital brasileira que já foi chamada de “Cidade Jardim” ou “Cidade Vergel”, segundo os versos do poeta Olavo Bilac. A PBH também garante concluir, até 2014, o plantio de 54 mil novas árvores prometidas pelo prefeito Marcio Lacerda, para repor (três vezes mais) todas aquelas que tiveram de dar lugar às obras de mobilidade urbana (leia-se a Copa das Confederações, que já passou; e Copa do Mundo, que vem por aí).

DIVINO ADVINCULA

Foi de tirar o chapéu o segundo evento “Criatividade que Gera Resultados – A Marca Registrada das Grandes Histórias”, voltado para o mercado mineiro da comunicação, lotando o Palácio das Artes, na segunda noite de lua cheia de agosto. Quase 1.500 profissionais, fornecedores e estudantes do mundo da propaganda, incluindo donos de agências, veículos de comunicação e diretores de empresas anunciantes responderam o chamado do Sindicato das Agências de Propaganda do Estado (SinaproMG), leia-se seu presidente, Adolpho Resende Netto: “As CRIATIVIDADE Euler Brandão, Malu, Adolpho Resende Netto e Gustavo Greco: recados criativos mudanças estão acontecendo rapidamente, e o mercado tem novas exigências a da Fiat, mais conhecida como Malu, arrasou ao cada dia”, ressaltou. mostrar o case do modelo Mio, lançado no último Euler Brandão, diretor de Relações Externas, Salão Mundial do Automóvel, onde se comprovou o lembrou que as marcas também “precisam crescente e irreversível “empoderamento” do novo estar no coração e não apenas na mente das consumidor – não mais, e, somente, da indústria – pessoas”. Gustavo Greco, diretor da Greco Design ditando o que as pessoas desejam e querem em e o gentleman da cerimônia, relevou a gratuidade todo o planeta. do acesso ao evento e, por consequência, a “um As demais “cerejas do bolo” da segunda edição conteúdo de altíssimo e internacional nível”, o que do Criatividade que Gera Resultados foram as gerou grande e privilegiada presença de estudantes, palestras do arquiteto e designer inglês Adam Scott, futuros profissionais e criadores. da empresa Free State; e o diretor de novelas e Já Maria Lúcia Antônio, gerente de Publicidade minisséries da Rede Globo Marcos Schechtman.

SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 23


DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

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GENTE ECOLÓGICA

“Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui), um anjo pornográfico.” NELSON RODRIGUES, jornalista, escritor e dramaturgo.

“Nós, artistas, também estamos juntos aos movimentos das pessoas nas ruas por um país melhor, mais justo e democrático.” MATEUS SOLANO, ator.

ACERVO RACHEL DE QUEIROZ

CHARLES READE, romancista inglês.

“A gente nasce e morre só. E talvez por isso mesmo é que se precisa tanto de viver acompanhado.” RACHEL DE QUEIROZ, escritora. 24 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

“Foi maravilhoso. Gosto de ficar em contato com a natureza: é a melhor forma de encontrar Deus." BRUNO GAGLIASSO, ator, sobre as gravações da novela 'Joia Rara' nas montanhas do Himalaia.

“Diga-me como vão teus jardins públicos que te direi como tua cidade está." SIMONE SILVA JARDIM, jornalista

REPRODUÇÃO FACEBOOK

“Semeie um ato, e você colhe um hábito. Semeie um hábito, e você colhe um caráter. Semeie um caráter e você colhe um destino."


IZABELLA TEIXEIRA

MURILO ANTUNES, compositor

“Devemos ser gratos a Deus pelos pequenos detalhes. Nos detalhes descobrimos o valor de uma realidade. Olhar as miudezas da vida faz a diferença.” FÁBIO DE MELO, padre, escritor e cantor

A ministra do Meio Ambiente foi uma das vencedoras do prêmio Campeões da Terra 2013, oferecido pelas Nações Unidas. Ela receberá o prêmio na categoria Liderança Política por, entre outras conquistas, ter desempenhado um papel-chave na redução do desmatamento na Amazônia e por conta de sua atuação internacional na defesa do meio ambiente.

FÁBIO VERAS

“Se a mulher só vive para o tempo da produtividade, que é diferente do tempo de educar uma criança, está pensando errado sobre a vida familiar.”

O diretor do Sebrae Minas recebeu a condecoração “Medalha Dia de Minas” das mãos do governador Antonio Anastasia. A comenda foi criada para homenagear personalidades e instituições que contribuíram para o desenvolvimento sustentável do Estado.

ANA PAULA PADRÃO, jornalista SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 25

ROBERTO STUCKERT FILHO / AGENCIA BRASIL) DIVULGAÇÃO

“Trinca-ferro, alma de gato e saci da mata tempera viola. Os seres vivos que há, o homem não tem razão da própria vida matar.”

ZÉ PAULO CARDEAL / DIVULGAÇÃO / TV GLOBO

REPRODUÇÃO

CAZUZA, cantor

DILMA ROUSSEFF

A avaliação do governo e a aprovação pessoal da presidenta melhorou em setembro, beneficiadas principalmente pelo programa federal que traz médicos estrangeiros ao país e pela queda dos preços de alimentos e transportes, apontou pesquisa feita pelo instituto MDA, encomendado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).

WELLINGTON PEDRO / IMPRENSA MG

CAFÉ SIMONE PEDAÇOS

"As melhores coisas da vida são invisíveis. É por isso que fechamos nossos olhos quando nos beijamos, dormimos e sonhamos.”

CRESCENDO


TWITTANDO

ECO PROMOÇÃO

O “#Vergonha! Entregar o galinheiro ao

lobo dá nisso! Justiça isenta juízes de desconto do imposto de renda nas férias” @EdsmarResende - Edsmar Resende, advogado O “A escola sempre será compatível com a governança da espécie de plantão!” @cnepomuceno – Carlos Nepomuceno, professor

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ECONECTADO CRISTIANE MENDONÇA

Quer ganhar o livro “A Crise da União Europeia”, dos autores Cláudio Gontijo e Fabrício Augusto Oliveira? Basta seguir a página da Revista ECOLÓGICO no Facebook www.facebook.com/souecologico e clicar na aba “promoções”. O sorteio será realizado no dia 1º de outubro. E o resultado será divulgado no nosso site e redes sociais.

O “‘Caráter = unidade entre pensamento,

palavra e ação’ Sri Sathya Sai Baba” @Larissaocbarros - Larissa Barros, especialista em Agroecologista

ECO LINKS EMPRESA FELIZ

no PA sem transparência de informação.” @brenda_brito - Brenda Brito, pesquisadora do Imazon O “Belo Monte: indenização irrisória

e casas com ‘prazo de validade’ assustam moradores de Altamira.” @VerenaGlass - Verena Glass, jornalista O “Enquanto Cid e convidados

comem caviar e lagosta... 60% da água distribuída por carros-pipa no Ceará é contaminada” @janetelimelo - Janete Melo, geógrafa

O “A extrema

arrogância do império: a espionagem universal.” @LeonardoBoff - Leonardo Boff, teólogo

26 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

DIVULGAÇÃO JB

O “A partir do dia 19 de agosto, quem jogar lixo no chão no Rio de Janeiro pode ser multado de 157,00 até 3.000,00 dependendo do tamanho do lixo.” @Rene_Silva_RJ Rene Silva Santos, editor do jornal Voz da Comunidade

CHIP SOLÚVEL A destinação do lixo eletrônico ainda é uma pauta precária nas políticas públicas de vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. Mas, pesquisadores da Universidade de Illinois, nos EUA, criaram um chip que se dissolve ao entrar em contato com a água. Fabricado com seda, o pequeno dispositivo é produto de uma pesquisa que pretende fazer com que celulares, tablets e outros gadgets também se desintegrem em meios líquidos, a fim de combater o acúmulo de lixo eletrônico ao redor do mundo. Porém, a pesquisa ainda precisa avançar já que apenas transfere, do solo à água, a contaminação por metais pesados.

REPÓRTER ECOLÓGICO Que tal ser “Repórter por um dia” da Revista ECOLÓGICO? Basta enviar texto, foto ou vídeo para o e-mail redacao@revistaecologico.com.br, colocando no assunto “Repórter Ecológico”. Participe!

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Medir a felicidade dos funcionários para garantir a produtividade e a permanência deles na empresa. Esse é o objetivo do site Tiny Pulse. A ideia é que os colaboradores façam comentários anônimos por meio da página da ferramenta, de forma a expressar opiniões sobre o que gostam e não gostam na empresa. O site gera gráficos baseados nas informações colhidas que podem nortear gestores para novas ações. E garantir assim que o quadro de colaboradores seja mais estável e satisfatório, já que pesquisas revelam que funcionários felizes produzem mais! Disponível em inglês, o Tiny Pulse pode ser acessado em www.tinypulse.com

O “Será difícil resolver o caos fundiário



REUTERS / RICKEY ROGERS

CÉU DE BRASÍLIA VINÍCIUS CARVALHO

AUMENTO DE TEMPERATURA I Segundo relatório assinado por 345 cientistas brasileiros, a temperatura média no país subirá pelo menos 3 graus até 2100 na comparação com o fim do século 20. No pior cenário, o aumento pode ser de até 6 graus. Os dados fazem parte do primeiro documento de avaliação nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. O trabalho também mostra como as mudanças climáticas podem afetar o regime de chuvas nos biomas do país. Enquanto nos Pampas (Região Sul) e na Mata Atlântica do Sudeste pode haver um aumento de até 30% na precipitação, na Amazônia e na Caatinga, o cenário será de seca, com redução de até 40% das chuvas.

JAYANTA DEY / REUTERS

DESMATAMENTO

AUMENTO DE TEMPERATURA II O relatório também indica que a agricultura será o setor mais afetado por conta da mudança nos regimes de chuvas. As culturas de milho, arroz e mandioca tendem a ter quedas importantes de produtividade. Uma pesquisa feita pela Embrapa também prevê perdas à agricultura provocadas pelas mudanças climáticas da ordem de R$ 7 bilhões, em 2020, e de R$ 14 bilhões em 2070.

28 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

O desmatamento na Amazônia aumentou 92% e atingiu 2.007 km² entre agosto de 2012 e julho deste ano, alerta o Instituto Imazon. O Pará ficou em primeiro lugar, com 810 km², o equivalente a 40% do total desmatado. Em seguida vieram Mato Grosso, com 621 km² (31%), Amazonas (14%) e Rondônia (13%). Um destaque é a escalada da devastação no Amazonas. O desflorestamento no estado cresceu 223% em relação ao ano anterior, atingindo 273 km²

ASSENTAMENTOS O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) se comprometeu com o Ministério Público Federal (MPF) a diminuir os desmatamentos em assentamentos localizados na Amazônia Legal. A meta é, até 2020, diminuir em 80% os índices verificados em 2005, o equivalente a cerca de 25 mil quilômetros quadrados. Em contrapartida, o Ministério Público extinguirá sete ações ajuizadas na Justiça contra o instituto por danos ambientais. Até 2010, 133.644 quilômetros quadrados foram desmatados na área dos 2.163 projetos de assentamento.

LICENCIAMENTO O governo federal quer criar um "balcão único" de licenciamento ambiental para os empreendimentos do setor elétrico. A ideia é ter uma estrutura que reúna todos os órgãos de anuência ambiental vinculados ao processo liderado pelo Ibama: Funai, Fundação Palmares, Anvisa e Iphan. Hoje, o empreendedor precisa consultar cada um desses órgãos.


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A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou proposta que declara o ambientalista Chico Mendes patrono do meio ambiente brasileiro. A medida consta do Projeto de Lei 3341/12, da deputada Janete Capiberibe (PSB-AP).

JB ECOLÓGICO

PATRONO BRASILEIRO

Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por fraude em licitações, o senador Ivo Cassol (PP-RO) foi denunciado por crime ambiental em outro inquérito que tramita na Corte. Ele responde por impedir ou dificultar a regeneração de florestas e demais formas de vegetação. O crime começou a ser investigado em 2010 e tem como pena até um ano de prisão. NOAA PHOTO LIBRARY

AMEAÇA

RAIOS Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) levantaram dados de tempestades de 1910 a 2010 em 14 cidades brasileiras, todas com mais de 500.000 habitantes. Os resultados mostram que houve aumento de 79% no número de dias de tempestade nos últimos 60 anos em comparação à primeira metade do século 20. De 1910 a 1951, havia, em média, 43 dias de tempestade por ano nelas. Em 2010, esse número saltou para 77 dias.

A Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA) divulgou manifesto que repudia os crimes contra ambientalistas que defendem o bioma. Entre eles estão o assassinato do biólogo Gonzalo Alonso Hernandez, ocorrido nas proximidades do Parque Estadual do Cunhambebe, em Rio Claro (RJ), e as agressões sofridas pelo casal Wigold Schaffer e Miriam Prochnow, em Atalanta (SC), ambos membros da Apremavi (Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida).

DEMARCAÇÕES O governo federal mantém parados 21 processos de demarcação de Terras Indígenas (TI): 14 aguardam a assinatura de decreto de homologação pela presidenta Dilma Rousseff e outros sete, a portaria declaratória do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. As áreas somam quase dois milhões de hectares. As informações são da Fundação Nacional do Índio (Funai).

REAPROVEITAMENTO IMPOSTO VERDE A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural aprovou proposta que isenta do Imposto Territorial Rural (ITR) as áreas dos imóveis rurais consideradas de preservação permanente e de reserva legal, desde que sejam atendidas as novas exigências do Código Florestal.

A Comissão de Minas e Energia da Câmara aprovou projeto de Lei que institui o Programa Nacional de Conservação, Uso Racional e Reaproveitamento das Águas. A proposta prevê que novas edificações residenciais e comerciais serão obrigadas a possuir sistema integrado de captação e reutilização de águas pluviais. O projeto segue para análise das comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e de Constituição e Justiça.

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DENUNCIADO


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ECONOTAS CRISTIANE MENDONÇA redacao@revistaecologico.com.br

• ALUMÍNIO SUSTENTÁVEL

Em iniciativa inédita, o HSBC monitora 60 pontos em rios de São Paulo e Curitiba. Ao final da pesquisa, os resultados poderão ser usados para a criação de políticas públicas, contribuindo para o gerenciamento dos recursos hídricos locais. A iniciativa reúne 44 colaboradores voluntários. Até 2016, o objetivo é que 663 pessoas sejam treinadas e recebam material para coletar dados sobre a qualidade da água. Eles vão analisar corpos d´água importantes para as duas capitais como Iguaçú, Barigui e Belém, em Curitiba; e Tamanduateí, Aricanduva e Ipiranga, em São Paulo. O projeto global de preservação dos recursos hídricos e acesso à água e saneamento terá investimentos de US$ 100 milhões entre 2012 e 2016. O programa HSBC pela Água (HSBC Water Programme, em inglês, que ocorre em 25 cidades de 14 países onde o banco atua), conta com a parceria de três organizações não governamentais (ONGs) internacionais: Earthwatch Institute, WaterAid e WWF.

A Alcoa Brasil, empresa especializada na produção de alumínio, conquistou pela terceira vez consecutiva a certificação Ouro do Programa Brasileiro GHG Protocol que se refere às emissões de 2012. A classificação foi em função da melhora contínua da companhia na gestão de dados relativos às emissões atmosféricas, mais especificamente aos gases de efeito estufa. Em 2008 e 2009, a Alcoa havia recebido as certificações Bronze e Prata, respectivamente, para as ações realizadas. A Alcoa foi auditada pela Fundação Vanzolini, entidade privada referência internacional em temas de destaque para as empresas privadas e órgãos do setor público que buscam alcançar padrões elevados de desempenho.

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• EM PROL DAS ÁGUAS

VOLUNTÁRIOS Pesquisa sobre a qualidade da água envolve 44 colaboradores

SAIBA MAIS

SAIBA MAIS

www.thewaterhub.org

www.alcoa.com/brasil

“O cão não é o vilão.” Esse é o lema da campanha encabeçada pela ONG Arca Brasil, cujo propósito é provocar a reflexão sobre como o poder público trata a questão da Leishmaniose Visceral Canina (LVC), principal zoonose do país. Atualmente, sempre que um cachorro tem suspeita ou tem a doença é sacrificado. O objetivo é incentivar que o problema seja tratado do ponto de vista do controle do mosquito causador da doença, e não com o sacrifício dos animais. As atrizes Cléo Pires e Fiorella Mattheis, além da modelo Yasmin Brunet, são algumas das defensoras e garotaspropaganda da ação. SAIBA MAIS www.ocaonaoeovilao.org.br 30 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

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• SALVE SEU CÃOZINHO!

• NO PÉ, SUSTENTABILIDADE Tênis e sapatos produzidos por fios de garrafa PET, lona 100% algodão e cola à base de água. Esses são os diferenciais da marca Ahimsa, cujo trabalho é imbuído pelo espírito de respeito aos animais e a uma forma de viver sustentável, já que a empresa não oferece nenhum produto feito de couro e tem como missão questionar hábitos. Localizada em Franca, interior de São Paulo, a marca foi fundada, há um ano, por Gabriel Mattos de Souza, de 23 anos, e apresenta uma linha de produtos com estilo jovial. Os itens podem ser conferidos no site www.useahimsa.com.br com valores médios de R$166.


Av. Professor Mรกrio Werneck, 2.191, sala 104 | Buritis | BH MG |CEP: 30575-180 (31) 3225 8131 | syncstudio@syncstudio.com.br | www.syncstudio.com.br


MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

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ESTADO DE ALERTA

INCOERÊNCIA Lei aprovada avaliza continuidade do desmatamento, degradação do solo e da água

DEMOCRACIA CINZENTA A democracia teve diversas caras ao longo da história. Na Grécia Antiga tornou-se famosa pelo pioneirismo. Mas os escravos não estavam incluídos no conceito. E, assim, caminhando pelos séculos, lá foi ela tomando espaço e, felizmente, melhorando algumas coisas nas relações humanas. A gente precisa sempre se lembrar disso para não perder a esperança. No mundo atual, seu charme está no diálogo entre segmentos sociais e entre o poder público e a sociedade. E aí, fazendo analogia bem chinfrim (vejam definição no Dr. Google) com a Grécia Antiga, podese dizer que nós (escravos) podemos palpitar junto ao governo e aos parlamentares (nobres), e os palpites transformam-se em “diálogo”, eufemismo para legitimar o que eles fazem em nosso nome. No momento em que escrevo esta coluna, ainda estou sob choque emocional da Lei aprovada na As32 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

sembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que traz o pomposo dizer: “Dispõe sobre as políticas florestal e de proteção à biodiversidade no Estado”. Se fosse verdadeiro, diria: Dispõe sobre interesses do setor agropecuário para continuidade do desmatamento no Estado de Minas, degradação do solo e da água. E quando a ECOLÓGICO for publicada, muitos de seus leitores já terão, provavelmente, ouvido deputados, o secretário de Meio Ambiente e, quem sabe, o próprio governador dizer que a Lei foi democraticamente discutida com todos os segmentos da sociedade e que seu texto concilia interesse de todos. Mas a verdade é bem diferente. Participamos de três reuniões sobre o assunto nas quais alguns pontos foram acordados e, quase todos, descumpridos. Um dos acordos foi que, nas áreas consideradas de extrema e especial importância para proteção da biodiversidade no Estado, seria proibida a supressão


ACERVO AMDA

de vegetação nativa. No dia 27 de agosto, a Secreta- na região Norte de Minas e apaixonado por elas , reria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimen- solveu estudá-las em seu doutorado, com base em to Sustentável (Semad) nos convidou para reunião pesquisa “in loco” onde compara através de dados, na ALMG às 19h30, informando que o artigo estava a situação de uma Vereda preservada e de outra que causando pânico entre os proprietários rurais, que sofreu intervenção humana. A conclusão não é surconsideravam suas propriedades completamente preendente: a natureza a custo zero e com muito desvalorizadas. Confiantes no diálogo, lá fomos nós, mais eficiência construiu as Veredas, mãe das águas, mais uma vez, “participar do processo democrático”. para gerar rios, armazenar água, abrigar animais e A proposta alternativa era remeter ao Conselho ajudar os seres humanos. Estadual de Política Ambiental (Copam) a obrigaAcompanhei a votação pela internet. O deputado ção de revisar e regulamentar essas áreas para se- Pompílio Canavéz, do PT, saltitante de alegria, foi ao rem legalmente protegidas, microfone louvar a nova Lei conforme, aliás, já previsto como salvadora da agropeno Art. 27-A, da Lei 14.309, cuária em Minas e dizer, com ainda vigente. Conversa vai, orgulho, que a extinção de conversa vem, ficou entenAPP para barramentos regisdido que o licenciamento trados até 2001, que consta para implantação de prodo Código Nacional, e repetijetos seria mais rigoroso e da na Lei Estadual, foi grande seria estabelecido um prazo vitória dos produtores rurais para a mencionada revisão. e, ele, seu principal orquesO deputado Célio Moreira, trador. E sorrindo, revelou o presidente da Comissão de apoio recebido dos deputaMeio Ambiente, disse que tedos Domingos Sávio e Odair ríamos prazo até o outro dia Cunha e a grande receptivipara apresentar proposta de dade do Aldo Rebelo. Produredação. E foi o que fizemos. tores rurais, não sei. Mas o Mas o que foi aprovado é pior setor energético deve estar do que o Art. 27-A citado. realmente feliz! Podem cauSabíamos a priori que a sar gigantescos impactos amnova Lei seria muito ruim, bientais, sem ter nem mesporque o governo e os depumo obrigação de proteger as tados decidiram repetir inmargens dos reservatórios tegralmente o que consta da contra erosão. Lei Nacional aprovada pela O deputado Leonídio VEREDAS No auge da seca, elas abrigam ‘turmona’ do deputado Aldo Bolças (PMDB) declarouararas e águas cristalinas Rebelo e Kátia Abreu. Mas se eufórico, pois agora os resolveram acrescentar algumas coisas. Entre elas, agricultores não mais serão tratados como bandiconsiderar como de interesse público barramentos dos e o Ministério Público (MP) não mais poderá comerciais para irrigação (o que é prerrogativa da avocar a Lei 14.309/02 para processá-los. Os dois União) num artigo e, em outro, permitir intervenção artigos mencionados estão sendo apoiados pelo em Área de Proteção Permanente (APP) de Veredas. governo. Como não podemos desistir, enviamos Juntando os dois, o resultado não poderia ser pior: ofício a Antonio Anastasia, rogando, mais uma autorizar barramento em Veredas. vez, que pelos menos em relação aos mesmos, seBoa parte da população mineira e brasileira não jam ouvidas pessoas que conhecem tecnicamenconhece uma Vereda e não pode imaginar sua bele- te a situação. E se o governo mantiver seu apoio, za e importância. No auge da seca, quando o ser- que o faça conscientemente do crime ambiental tão está esturricando, elas estão lá, com seus belos que estará avalizando. O buritis, morada de araras-vermelhas e amarelas, jorrando água cristalina. O engenheiro Valter Ne(*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) ves, técnico do Instituto Estadual de Florestas (IEF)


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ECO CONSTRUÇÃO CRISTIANE SILVEIRA DE LACERDA (*) redacao@revistaecologico.com.br

MATERIAIS ECOLÓGICOS

ACERTE NA ESCOLHA O mercado hoje oferta materiais como tijolos ecológicos, pisos de borracha de pneu reciclado, madeira plástica, telhas de Tetra Pak, tintas minerais, carpetes de PET e outros produtos que podem ou não ser ecológicos. A questão da escolha é bem mais ampla e deve levar em conta desempenho, durabilidade, critérios de produção, legalidade na contratação dos trabalhadores e relações éticas com os fornecedores. E se, além de tudo isso, contemplar componentes reciclados em sua confecção, será o ápice da sustentabilidade. Como não nos deixar levar pela emoção do apelo dito ‘ecológico’, pelo consumo dito sustentável? Cuidados são importantes para que não percamos a essência do que é, de fato, relevante em um processo de escolha ou na especificação técnica dos materiais. A sedução pelos produtos alternativos, às vezes mais caros, deve ser fruto de uma análise criteriosa. Morando no Brasil, com sua vastidão territorial e diferenças culturais e climáticas, devemos pensar, localmente, as decisões de compras de materiais classificados como ecológicos. Para alguém que mora no Sul, materiais de melhor vedação climática para evitar a perda de calor são essenciais, daí o uso intensivo de revestimentos de madeira e vidros duplos para o melhor conforto dos usuários. Já no Norte, pisos frios, materiais claros e aberturas são importantes para refrescar os ambientes e mitigar o uso do ar-condicionado. Portanto, ser ecológico é pensar o contexto global que inclui as adequações de uso. Importantíssimo também é o atendimento às Normas Técnicas Brasileiras. É esse crivo que irá comprovar os critérios mínimos de desempenho, como resistência, adequação do material ao uso, durabilidade etc. Para a sustentabilidade, a durabilidade é a melhor amiga e, inegavelmente, a maior de todas as virtudes. Assim, devemos solicitar dos fabricantes o envio da documentação que comprove essa condição. Outra questão que deve ser levada em conta é o fato de a beleza nos ambientes trazer bem-estar para os ocupantes da edificação. Materiais de qualidade e bem-acabados conferem prazer e bem-estar aos

usuários do ambiente e, com isso, aumento de produtividade e, claro, benefícios econômicos. É preciso ter cuidado ainda com o importador que anuncia um equipamento bacana, ecológico e com desempenho fantástico! Mas, se ele estragar e não tiver como fazer a manutenção, ou se não houver peças de reposição? Será, portanto, descartável, o que acarretará em custos econômicos e ambientais. Então, é hora de indagar: o produto ecológico, mas importado, é, de fato, sustentável? É preciso para esse julgamento toda uma análise quanto à cadeia de produção. A fábrica se preocupa com a saúde dos trabalhadores? As pessoas, os funcionários são tratados com respeito e dignidade? Emprega trabalho infantil ou escravo? E os descartes ambientais do processo pós-produção? E os custos de logística e transporte? Às vezes, um produto confeccionado em uma fábrica próxima à nossa obra, que tem um ciclo produtivo fechado, ou seja, que reutiliza a água, possui certificação ambiental ISO 14001, que se preocupa com a mitigação das perdas e dos desperdícios e que ainda remunera de forma ética e adequada seus fornecedores pode ser uma boa escolha sustentável. Em resumo, o que quero dizer é que a sustentabilidade não pode estar afastada da técnica. Se for sustentável ou ecológico, deve apresentar benefícios econômicos ligados à durabilidade e à competitividade em relação a outros materiais de igual desempenho, além de benefícios de economia nas fases de operação e manutenção da edificação. Sem falar nos benefícios ambientais como, por exemplo, a certificação FSC (Forest Stewardship Council) dos produtos de madeira - que nos garante que eles foram retirados de forma legal das nossas florestas. É desafiador, mas não é impossível, bastam o desejo e as ações sinceras em prol da sustentabilidade de todos nós! O

(*) Diretora da EcoConstruct Brazil www.ecoconstruct.com.br | Coordenadora do MBA Edifícios Sustentáveis (FUMEC).


Nosso Futuro

CONSTRUTIVO E SUSTENTÁVEL

SEGUNDO A ONU, ATÉ O FINAL DESTE SÉCULO, 95% DA HUMANIDADE ESTARÁ MORANDO NAS CIDADES. SERÁ, PORTANTO, NO MEIO URBANO QUE TODOS NÓS TEREMOS DE CONSEGUIR QUALIDADE DE VIDA. SERMOS SUSTENTÁVEIS, NO TRABALHO, NOS TRANSPORTES, NO NOSSO ESTILO DE VIVER. É POR ESTAS RAZÕES QUE, COM FOCO ESCLARECEDOR, JÁ A PARTIR DESTA EDIÇÃO, A REVISTA ECOLÓGICO IRÁ ABORDAR PERMANENTEMENTE O TEMA DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL.

O O QUE É MELHOR PARA A NATUREZA E O MEIO AMBIENTE QUE NOS RESTAM? O HORIZONTALIZAR A OCUPAÇÃO DOS POUCOS ESPAÇOS URBANOS QUE EXISTEM? O VERTICALIZÁR, SOB A ÓTICA DE UMA NOVA E ECOLÓGICA CONCEPÇÃO CONSTRUTIVA QUE CONVERSE MAIS CONOSCO, COM O SOL, O VENTO E UMA MELHOR VISÃO DE MUNDO?

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NOSSOS HOSPITAIS

FORA DA LEI Dos 70 hospitais públicos e particulares da capital mineira, 32 descumprem determinações da Anvisa e do Conama Maria Teresa Leal redacao@revistaecologico.com.br

B

elo Horizonte gere mal seu lixo hospitalar. Essa foi uma das principais constatações de um seminário realizado pela Comissão Permanente de Apoio ao Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (Copagress), no final de agosto, no auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-MG). De acordo com a presidente da Copagress, Maeli Estrela Borges, dos cerca de 70 grandes hospitais públicos e privados de Belo Horizonte, pelo menos 32 ignoram o Plano de Gerenciamento de Resíduos dos Serviços de Saúde (PGR-

SS), aprovado pela prefeitura em 2000, em consonância com as determinações legais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Isso significa, basicamente, que eles não separam o resíduo comum do infectante. E a principal consequência é que toda essa “massa” passa a ser considerada “infectante” e não pode ir para o aterro sanitário licenciado. Precisa ser tratada por meio de processos térmicos. Maeli explica que isso é ruim para os hospitais porque encarece o serviço, a car-

go - por força de lei - dos próprios estabelecimentos de saúde. Além disso, é péssimo para o meio ambiente, uma vez que é incinerada uma quantidade muito maior de lixo do que necessária, consomese mais energia, geram-se mais efluentes gasosos e, consequentemente, lança-se na atmosfera uma dosagem extra de poluentes. Em 2005, hospitais que estavam em desacordo com a lei, assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), junto ao Ministério Público. O compromisso fez-se necessário para que as instituições conseguissem a Licença Ambien-


MISSÃO Maeli Estrela, 42 anos de experiência em gestão de resíduos

da Lei dos Resíduos dos Serviços de Saúde, podem ser aplicadas penalidades tanto pela Vigilância Sanitária Municipal, quanto pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e Secretaria Municipal de Fiscalização. Maeli diz que, até há algum tempo, existiam fiscais da SLU exclusivos para as unidades de saúde. Depois da criação da Secretaria Municipal de Fiscalização, houve uma integração do serviço com outras áreas e “a impressão que ela tem é que isso sobrecarregou o corpo de funcionários, o que está fazendo com que eles andem sumidos dos hospitais”. A arquiteta defen-

de que a fiscalização aconteça com periodicidades mais curtas e que, no primeiro momento, haja apenas a “notificação pedagógica”. Caso ocorra reincidência, aí sim, aplicase a multa com encargo financeiro. Por meio de nota, a Feam informou que fiscaliza apenas a concessão de licenças ambientais dos empreendimentos que realizam a coleta, o transporte, o tratamento e a disposição final dos resíduos. A verificação do cumprimento do PGRSS cabe à Secretaria Municipal Adjunta de Fiscalização e Vigilância Sanitária. A assessoria de comunicação da prefeitura, por sua vez, informou que a fiscalização integrada substituiu a feita por área, a partir de novembro de 2011. Nessa nova modalidade, todos os aproximadamente 400 fiscais estão aptos a realizar ações nas áreas de posturas, vias urbanas, obras, controle ambiental e limpeza urbana. Essas ações ocorrem dentro da rotina de trabalho dos agentes sanitários e são planejadas a partir de demandas de órgãos internos, em geral SLU e Secretaria Municipal de Meio Ambiente, e da população, via Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC), 156. Qualquer pessoa que observar alguma irregularidade, pode ligar e fazer a denúncia.

ENCARGO A coleta de resíduos em hospitais deve ser feita por empresas especializadas, mas hospitais têm de arcar com os custos

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ARTE SOBRE FOTO DE BETO MAGALHAES E MARCOS TAKAMATSU

DESIRÉE MAINART

tal do Estado e município. Mas, 32 ainda continuam funcionando de forma irregular. “Acho que falta uma consciência da redução dos custos e dos danos para o meio ambiente”, avalia Maeli. A constatação do descumprimento foi feita por meio de inspeções técnicas realizadas pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). Funcionários especializados, devidamente protegidos, abriram saquinho por saquinho de lixo coletado e constataram a presença de resíduos comuns misturados com infectantes, identificando a procedência do material. Maeli diz que a SLU (à qual a Copagress está vinculada) não divulga a lista dos hospitais em desacordo com a lei porque a “intenção não é constranger, mas sim, conscientizar”. Por outro lado, ela que é arquiteta, urbanista, sanitarista e trabalha com a gestão de resíduos há 42 anos, reconhece que, se houvesse um maior investimento na fiscalização, a situação poderia se reverter. “Quem não se lembra do episódio do cinto de segurança? Só aprendemos a usar, quando o não uso tornou-se passível de multa”, rememora. No caso do descumprimento


1 LIXO HOSPITALAR

UNIDADES DE SAÚDE têm que fazer jus ao nome

PERIGO Material infectante precisa ser separado em sacos e contêineres especiais

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O que mais causa indignação na a construção de um abrigo para presidente da Copagress, Maeli resíduos intermediários: local reEstrela, é o descaso dos hospitais servado para a guarda temporária com a gestão de seu próprio resí- dos recipientes, antes de eles irem duo. Ela lembra que um estabele- para o abrigo externo e serem recimento de saúde tem que fazer colhidos pela empresa responsájus ao nome e não ser gerador de vel. “Precisamos incrementar o doenças (via infecções) e de im- estoque”, pontua Desirée. pactos ambientais. “Preocupo-me Ela diz ter apoio da diretoria muito com o trabalhador, em es- do Alberto Cavalcanti que tem se pecial aquele da fase extra-esta- esforçado no sentido de viabilibelecimento, como é o caso dos zar os recursos e as campanhas garis que podem se ferir com se- de conscientização internas. Mas ringas ou lâminas de bisturis mal Desirée reconhece que ainda há acondicionadas e, com isso, correr um longo caminho pela frente. o risco de contrair Há menos de um doenças graves”. O ano no hospital, Um dos mitos é Ciclo de Palestras a enfermeira cono de que separar seguiu “capacitar” no CREA contou com a participação apenas 30% do coro resíduo é uma de representantes de funcionários. perda de tempo, po das Secretarias Es“Já estou com o crotadual e Municipal porque, quando for nograma pronto. O de Meio Ambiente, para o aterro, ele difícil é encontrar Fundação Hospidatas que sejam talar do Estado de será misturado ao boas para todos os Minas Gerais (Fhecolaboradores de lixo comum mig), SLU, Fundacada setor, consição Ezequiel Dias (Funed) e Co- derando que os treinamentos espasa, entre outras instituições. tão sendo realizados in loco para A enfermeira Desirée Mainart toda a equipe multiprofissional.”. participou do evento represenA enfermeira ressalta a importando a Fhemig. Membro do Nú- tância do envolvimento de todos, cleo de Risco e coordenadora do desde os médicos, ao pessoal da PGRSS do Hospital Alberto Caval- limpeza até os funcionários adcanti, ela conta que o maior desa- ministrativos. Embora satisfeita fio é acertar os processos interna- com a boa aceitação dos treinamente, “afinando os instrumentos mentos, ela constata que ainda há para que a orquestra não não saia muita desinformação em torno do do tom”. Em plena elaboração de tema. Um dos mitos, por exemplo, um “diagnóstico situacional”, ela é o de que separar o resíduo é uma já identificou a neperda de tempo, porcessidade de compra que, quando for para de equipamentos e o aterro sanitário, ele de materiais básicos, será “misturado” ao como lixeiras, conlixo comum. “Procuro tenedores e sacos de mostrar porque selixo, além da readegregar é fundamental quação da estrutura para a saúde pública e física do hospital, com o meio ambiente”. DESAFIO Desirée e sua missão no Alberto Cavalcanti


FOTOS FERNANDA MANN

COMPROMETIMENTO Érica (de camisa branca) e sua equipe: Túlio, Márcia, Roberta, Aretuza e Silvana

REDE FHEMIG realiza diagnóstico A coordenadora do Núcleo de Gestão Ambiental e Núcleo de Risco da Fhemig, Érika Oliveira, é outra defensora da importância da segregação dos resíduos em suas origens. Tanto que ela e sua equipe - formada pela médica Zelita Rajão, pela bióloga Ana Cássia, as engenheiras sanitaristas Silvana Rodrigues e Aretuza Simão, a farmacêutica Márcia Advíncula e os funcionários administrativos Roberta Fantini e Túlio Fernandes – acabaram de concluir um diagnóstico envolvendo todos os 21 hospitais da rede. A ideia é checar pendências e processos de trabalho, identificando as não conformidades e as necessidades de obras. Uma das prioridades é a aquisição de contentores próprios para que os resíduos possam ser separados por grupos A, B, C, D, e E , conforme determina a legislação. “Essa é uma providência sim-

ples, mas fundamental porque antes de cobrar que as pessoas façam a correta segregação, precisamos dar-lhes condições para que o façam”. Outra boa notícia é que a Rede Fhemig acaba de aderir ao programa AmbientAÇÃO, que é um conjunto de ações de comunicação e educação socioambiental coordenado pela Feam e desenvolvido em parceria com as instituições públicas. O programa já foi implantado no prédio-sede da Fhemig e, dentro de 30 dias, começará a fazer parte do dia a dia de todos os hospitais da rede. A iniciativa visa a sensibilizar as pessoas para a adoção de atitudes, efetiva, e ecologicamente corretas. “A intenção é associar o que preconiza a lei, via PGRSS, com a separação dos recicláveis, seguindo a lógica de que são duas iniciativas complementares”, diz Érika.

DESCARTE ESPECIAL Seringas e agulhas também são consideradas material infectante

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FOTOS FERNANDA MANN

1 LIXO HOSPITALAR

TREINAMENTO Colaboradores do Alberto Cavalcanti passam por cursos para correta segregação dos resíduos

Legislação é ABRANGENTE E COMPLEXA Outro problema apontado pelos participantes do seminário é que o texto da legislação, complexo e excessivamente detalhista, dificulta a compreensão por parte de encarregados de limpeza, enfermeiros e técnicos de enfermagem. “A ponto dos servidores não saberem interpretar qual o recipiente apropriado para cada tipo de material. A gente tenta acertar, mas há muitos grupos e subgrupos de produtos”, diz Solange Leite Bahia, técnica de segurança do trabalho do grupo CTI Medimig. A legislação é abrangente, pouca clara e objetiva. Por exemplo, no item “resíduo contendo sangue na sua forma livre”, uns interpretam que um chumaço de algodão não tem sangue nessa forma (líquido), outros que sim; uma luva, se tem sangue é considerada infectante; se não tem, vai para o lixo comum. Já há hospi40 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

tais em que todo o material proveniente de enfermarias e blocos cirúrgicos é considerado resíduo especial. “Ou seja, é preciso simplificar a lei porque, do jeito que está, cada um faz ‘a leitura’ que quer”, alerta a técnica. Solange sabe da importância da boa gestão dos resíduos, mas se sente impotente diante da falta de recursos para campanhas internas nos hospitais ou de qualquer outra iniciativa com esse fim. Mesmo assim, com 20 anos de profissão, ela contabiliza avanços. Lembra que, há 15, não havia sequer uma legislação ou regulamento com diretrizes básicas. A criação da Copagress foi um divisor de águas. Em 1999, a Comissão editou o Manual de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde que foi distribuído aos geradores de RSS. Os órgãos públicos se movimenta-

ram, dando condições para que as grandes redes de saúde como - Fhemig e Funed - implantassem e monitorassem o trabalho. O problema é que, de acordo com Solange, os pequenos hospitais privados pararam no tempo, continuam a funcionar como se não houvesse legislação. “Não há recursos financeiros, nem adesão dos responsáveis”. Ela denuncia ser comum, nos hospitais de menor porte, não haver, sequer, contêineres adequados para a separação do lixo, balança para pesar o resíduo ou mesmo um local correto para o depósito, enquanto o caminhão da SLU ou de outra empresa terceirizada, chega. Sentindo-se limitada em seu dia a dia, a técnica diz não ver saída em curto prazo. A não ser que haja uma maior fiscalização por parte dos órgãos públicos. “Hoje, as instituições


SAIBA MAIS

COMO DEVE SER FEITA A SEPARAÇÃO O treinamento para a separação desse tipo de resíduo é uma exigência do CONAMA. O órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente oferece subsídios para que os hospitais e clínicas elaborem planos de gerenciamento de resíduos do serviço de saúde. O objetivo é adequar a estrutura das unidades para o tratamento correto dos resíduos.

fazem o mínimo do que se espera delas. Mas não monitoram. Como vamos saber, de verdade, como andam os acidentes com objetos perfurocortantes, as infecções com materiais contaminados ou a assiduidade na adoção dos procedimentos corretos? Ninguém sabe, nada é feito e fica tudo por isso mesmo”, desabafa. Uma enfermeira do Hospital Risoleta Neves - que esteve presente ao seminário, mas tem sua identidade preservada - corrobora o depoimento de Solange. Assim como a técnica em segurança do trabalho, ela enfrenta dificuldades em cumprir o PGRSS e reafirma que a principal resistência vem dos médicos e da diretoria da instituição. “O que eu vejo é um total descaso,” disse. A coordenadora do Setor de Gerenciamento de Resíduos do Risoleta, Eliane Costa, reconhece que a instituição encontra obstáculos e se depara com a “resistência de alguns colaboradores”, mas não da diretoria. Ela garante que a maior parte das pessoas têm persistido e muitas conquistas já foram feitas. “Os resíduos gerados são tratados com responsabilidade, procuramos reduzir sua produção e fazemos um encaminhamento seguro, visando à proteção

dos colaboradores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente.” Além disso, Eliane garante que todas as ações estão de acordo com a legislação e a segregação é realizada corretamente, não havendo mistura do resíduo infectante com o resíduo comum. O hospital tem seu Plano de Gerenciamento aprovado pela Vigilância Sanitária (VISA) e pela SLU. E possui ainda o Programa de Recebimento e Controle de Efluentes para Usuários Não Domésticos (PRECEND). A coordenadora relatou ainda que são feitos treinamentos anuais e inspeções nos setores para observar o descarte dos resíduos. Outras providências recentes foram a contratação de novos colaboradores para realizar a coleta, a construção de um abrigo final de resíduos e a aquisição de insumos como lixeiras, suporte para álcool gel, sabonete, carros coletores e contêineres para acondicionar os resíduos no abrigo final. “Nos preocupamos até em orientar os acompanhantes dos pacientes para descarte correto dos resíduos gerados nas enfermarias”, pontua, contra a omissão generalizada de boa parte dos hospitais.

Segundo as normas sanitárias, o lixo hospitalar deve ser rigorosamente separado e cada classe deve ter um tipo de coleta e destinação. A segregação deve acontecer conforme um sistema de classificação que inclui os resíduos infectantes - lixo classe A, como restos de material de laboratório, seringas, agulhas, hemoderivados, entre outros; perigosos - classe B, que são os produtos quimioterápicos, radioativos e medicamentos com validade vencida - e o lixo classe C, que é o mesmo produzido nas residências, que pode ser subdividido em material orgânico e reciclável. Os estabelecimentos devem se adequar às novas normas de tratamento do lixo hospitalar, estabelecidas na Lei Federal nº 237. SLU

ETAPA FINAL Hospitais devem ter cômodo próprio para armazernar o lixo antes da coleta definitiva

IMPORTANTE SABER O sistema de construção de um aterro sanitário para resíduos contaminados é diferente de um aterro comum porque existem mais condicionantes a serem cumpridas. Por serem aterrados resíduos com grau de risco biológico ou químico, o aterro não é do tipo convencional para resíduos sólidos urbanos. É um aterro Classe I ou Classe II, que é construído com mais tecnologia de proteção ambiental.

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SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 41


1 LIXO HOSPITALAR

FUNCIONÁRIOS ALEGAM RESISTÊNCIA DOS MÉDICOS Questão em que também se precisa avançar é a resistência dos próprios médicos em relação à correta gestão dos resíduos. Segundo o relato de vários profissionais durante o seminário, eles não participam de palestras e capacitações sobre o assunto, alegando “falta de tempo” ou de identificação com o tema. Para Maeli Estrela, seria interessante que eles partici-

passem mais, assimilando melhor a importância da segregação dos resíduos na origem. Afinal, são esses profissionais que extraem tumores, fazem cirurgias, lidam com sangue, restos mortais e material contaminado. “Quando se envolvem com o tema, eles até gostam e se tornam ótimos parceiros”, elogia a presidente da Copagress. Mas, Solange, do Grupo Med-

mig, disse já ter presenciado vários “doutores” fazerem o descarte de materiais contaminados da forma errada, sem segregar... “Eles sabem o que têm que fazer, mas simplesmente, não aderem, não se sensibilizam, não pensam no risco que a moça da limpeza vai correr ou no gari que levará o material a seu destino final”. A técnica em segurança do trabalho

AVANÇOS A PARTIR DO DR. CÉLIO *Apesar dos problemas envolvendo a questão, muitos avanços já aconteceram em BH, desde que o então médico e prefeito Célio de Castro, em 1998 aquiesceu aos apelos de uma comissão da SLU e do Hospital das Clínicas e criou a Copagress; *No ano seguinte, foi concluído o Manual de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde. Segundo Maeli, esse documento foi fundamental na formulação de uma nova concepção para a gestão dos RSS, uma vez que estabeleceu a segregação dos resíduos, em sua origem, e a separação do lixo por grupo de resíduos gerados; *Em 1999, a COPAGRESS editou o Manual de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde, com duas edições, que foi distribuído aos geradores de RSS;

*Depois foram criados, na SLU, Grupos de Trabalho para elaborar as normas técnicas de Acondicionamento de RSS, de Coleta e Transporte de RSS e a Norma de Características Construtivas, de localização e uso de abrigos de armazenamento de RSS;

CÉLIO DE CASTRO

*Em seguida, foi criado um Grupo de Trabalho, com representantes da SLU, Secretaria Municipal de Saúde e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente para elaborar um decreto que “Estabelecia as

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Diretrizes Básicas e o Regulamento Técnico para Apresentação de Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde”;

*Belo Horizonte passou a ter, então, sua legislação e normas específicas. Foi criada uma Comissão para análise da fase extraestabelecimento de saúde dos Planos de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (hoje já existe um Departamento dentro da estrutura da SLU para essa função);

De lá pra cá, já foram protocolados mais de 11.000 planos na SLU. Planos analisados e aprovados, tinham que ser implantados criteriosamente. Isto é o que não está ocorrendo.


É complicado falar em 'resistência dos médicos', o que existe, na verdade, é a necessidade de se trabalhar uma mudança de cultura avalia que, em parte, essa postura predomina em função da falta de vínculo dos profissionais com as instituições. Ela relata que a maior parte dos médicos trabalha em vários hospitais, ao mesmo tempo, duas ou três horas, por dia. “E como percebem que a questão não é prioridade para a própria diretoria dos hospitais, eles acabam se eximindo.” Para Érika de Oliveira, da Rede Fhemig, é complicado falar em “resistência dos médicos”, o que existe, na verdade, é a necessidade de se trabalhar uma mudança de cultura. “E isso não se consegue da noite para o dia. Trata-se de um processo demorado e que exige treinamento contínuo”. Ela defende ainda a ideia de que a gestão do lixo, seja ele de qual tipo for, deveria ser matéria obrigatória nos ensino fundamental e médio. “Só assim teremos cidadãos realmente conscientes a respeito da questão ambiental no futuro”. A reportagem da ECOLÓGICO procurou a Associação Médica de Minas Gerais para repercutir a questão. A assessoria de comunicação do órgão informou que essa postura de distanciamento, em relação à gestão dos RSS, não reflete o pensamento da categoria e que seria “complicado responder pela postura isolada de alguns profissionais”. Procuramos também a Associação dos Hospitais de Minas Gerais, mas não obtivemos resposta. ATERRO ESTÁ SATURADO Na outra ponta do problema, te-

ESGOTADO Aterro Sanitário na 040 não tem mais vida útil: apenas uma célula recebe os resíduos dos hospitais

mos o Aterro Sanitário na BR 040, região noroeste da capital mineira, que está com sua vida útil esgotada. De acordo com a SLU, lá, hoje existe apenas uma célula para os RSS correspondente ao montante do lixo hospitalar que não precisa de tratamento e é selecionado, conforme manda a lei, pelas próprias casas de saúde. Já o lixo comum, proveniente das casas e do comércio, está sendo levado para o Aterro Macaúbas, em Sabará. Todas as expectativas de resolver o problema da falta de um aterro em BH - estão voltadas para uma verba do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), cuja empresa vencedora da licitação, para administração do serviço, deverá assinar o contrato, até o final do ano. “No entanto, ainda não há local definido. Sabemos apenas que deverá ser num dos municípios da região metropolitana, ou do cha-

mado colar metropolitano, porque BH não tem área disponível. A presidente da Copagress, Maeli Estrela Borges, explica ainda que as alternativas para o tratamento e disposição dos resíduos de saúde devem ocorrer por grupos de municípios, assim como as localizações e tecnologias de tratamento mais adequadas. Enquanto isso, grande parte de resíduos infectantes e químicos dos serviços de saúde está sendo levada para Montes Claros e outra, para duas unidades, em Contagem. Por meio de sua assessoria de comunicação, a SLU informou que o montante do lixo que vai para essas cidades é aquele que “precisa de tratamento” (incineração e outros métodos) e não é responsabilidade da superintendência. “Trata-se de uma demanda proveniente de um contrato dos próprios hospitais com empresas terceirizadas”, informa a nota oficial. O SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 43


SHUTTERSTOCK

1 ESPAÇO LIVRE

Guinada verde começa com a

ESTRATÉGIA DA MARCA Marco Piquini (*) redacao@revistaecologico.com.br

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O vetor ambiente organiza o espaço físico e o trabalho em fábricas, escritórios etc. O vetor comportamento dita a política de recursos humanos e a maneira com a qual empresa e seus empregados se relacionam com fornecedores e clientes. Esta estratégia influencia a forma como a empresa idealiza, desenvolve, produz e vende seus produtos e/ou serviços. E estabelece um padrão de comunicação que expresse os valores dessa nova fase da empresa. À medida que as mudanças começam a acontecer num todo coerente, o processo segue adiante e se fortalece dentro de um ciclo virtuoso que reforça o conceito inicial, sua prática cotidiana e a imagem projetada da empresa, para dentro e fora de seus portões. Bem-feita e estruturada, a estratégia da marca é o começo ideal para a empresa que quer realmente mudar. Ela é o mapa que a conduzirá a um futuro mais verde. Com ela, a mudança fica mais fácil de ser enxergada, planejada e executada. Afinal, não adianta a empresa querer ser uma coisa se em seu âmago ela for algo diferente. Esta é uma tarefa que deve ser confiada, idealmente, à comunicação, por ser esta uma área transversal. A empresa REPRODUÇÃO

O

empresário sabe que sua empresa não está preparada para o desafio do futuro sustentável. Seus produtos exigem muita água e eletricidade para serem feitos. Pouco ou quase nada do resíduo industrial é tratado ou reciclado. As embalagens feitas com derivados do petróleo terminam em depósitos de lixo. O empresário sabe que a guinada para o verde não é fácil de ser feita e que o desafio vai afetar toda a empresa. E a mudança pode até não fazer sentido econômico no curto prazo. Mas mesmo com tudo isso, ele está determinado a mudar. Sua grande dúvida é: por onde começar? O salto para o mundo sustentável exige uma base conceitual sobre a qual a nova corporação será construída. E essa base é o que se chama de Estratégia da Marca, em que tem de se levar em conta a história, a cultura, as forças e as fraquezas da empresa, bem como sua nova proposta sustentável. Ela é, portanto, a soma das verdades da empresa com a nova e desejada diretriz verde. Seu resultado é uma bússola com a qual se pode conduzir os quatro vetores de mudança: ambiente, comportamento, produtos/serviços e comunicação.

PIQUINI "O empresário sabe que a guinada para o verde não é fácil"


costumam acionar a comunicadeve estruturar um sólido processo A comunicação vê hoje ção muito tarde no processo de imde comunicação integrada, interna e a floresta e não plantação da estratégia de mudança. externa. Dentro de casa, ela vai proE colocada ao final do processo, o mover o engajamento de seus empreapenas a árvore, potencial de influência da comunigados diante da nova realidade; fora dela, conduzirá essas mudanças tra- trabalha pelo grupo cação no sucesso da transformação diminui consideravelmente. balhando as relações com fornecedoe para o grupo. Por sua transversalidade nos prores e clientes. O segundo é a organiMetaforicamente, cessos internos e sua abrangência de zação da área de comunicação, que deve ser reposicionada para cima no pode ser vista como atuação no mundo externo, a comuorganograma e provida de profissioum lobo que vive e nicação tem um ponto de vista único e pode enxergar e analisar o todo – e nais competentes para a tarefa. trabalha em função não somente partes do todo. Vê a floO terceiro passo é estruturar a coresta e não apenas uma árvore. Demunicação interna, que deve trabade seu grupo senvolve, assim, uma visão holística lhar, em conjunto, com o recursos humanos. O quarto passo é promover a comunica- da mudança, em toda a sua dimensão e alcance. A ção externa em 360 graus, mapeando os públicos de comunicação trabalha para o grupo e pelo grupo. interesse e estabelecendo as linguagens e as políti- Metaforicamente, pode ser vista como um lobo, que cas de relacionamento com cada um deles. O quinto vive e trabalha em função de seu grupo, de sua alcapasso é criar métricas de qualidade na comunicação teia. Participando desde o início, por meio dos cinco passos descritos, a comunicação passa a ser peça e investir no modelo. A mudança para o verde é um processo que exi- fundamental da mudança. O ge tempo para ser consolidado e deve ser nutrido e sustentado a longo prazo com esses cinco passos da *Jornalista, desde 1994 dedica-se ao mundo da comunicação comunicação integrada. É dessa forma que a moempresarial. Trabalhou por quase 18 anos no Grupo Fiat. Hoje, dirige sua própria empresa, a Três Meia Zero, especializada em derna comunicação empresarial gera valor para as comunicação para a gestão da mudança. Contato: piquini@gmail.com empresas. Mesmo assim, entretanto, as empresas

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Vegetação de Canga na Floresta Nacional de Carajás, Pará

SUSTENTABILIDADE & DESENVOLVIMENTO Ibram realiza seu 15º. Congresso Brasileiro de Mineração, a Exposibram 2013, debatendo os rumos da atividade

48 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

No primeiro dia, segunda-feira, o debate sobre os rumos, desafios, tendências e oportunidades do setor mineral será a atração de um talk-show moderado pelo jornalista William Waack. EsFOTOS DIVULGAÇÃO

C

omo investir no economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente mais justo para alcançar o desenvolvimento sustentável? Este é o tema central da próxima Exposibram 2013, evento que irá reunir de 23 a 26 de setembro, em BH, a Exposição Internacional de Mineração e o 15º. Congresso Brasileiro de Mineração, com a presença já confirmada de dois mil congressistas, além de autoridades, políticos, personalidades e especialistas debatendo as perspectivas do setor.

tão previstas as participações de Hélcio Guerra, vice-presidente sênior das Américas da AngloGold Ashanti, de Ricardo Vescovi Aragão, diretor-presidente da Samarco Mineração e presidente do Conselho Diretor do Ibram, e Walter De Simoni, Presidente da Anglo American Níquel. A programação de terça-feira, dia 24, reunirá especialistas internacionais para analisar os cenários da economia mineral para os próximos anos. Participarão deste painel: Magnus Ericsson, da empresa

LIDERANÇA RESPONSÁVEL Fernando Coura, mais uma vez à frente da Exposibram´2013


WILSON DIAS/ABR

sueca Raw Materials Group, Paul Robinson, diretor de Multi-Commodities da CRU Group, e Ronaldo Valiño, sócio da PriceWaterhouseCoopers Brasil. Essa sessão plenária será moderada pelo deputado federal Arnaldo Jardim (PPS/SP). Em seguida, será a vez de Murilo Ferreira, diretor-presidente da Vale, ministrar uma palestra sobre as “Perspectivas para mineração brasileira nas próximas décadas”. Ainda neste dia, o Congresso apresentará o painel “Planejamento para Fechamento de Mina: desmistificando e tornando realidade”. O assunto é entendido como um instrumento de planejamento territorial e uma excelente ferramenta para a construção do diálogo e participação das comunidades e governos nos projetos de mineração. Participarão deste debate, Jeff Parshley, diretor de Fechamento de Mina da SRK, e Luis Enrique Sánchez, professor da Universidade de São Paulo (USP). Hernani Mota de Lima, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (MG), será o moderador. Mark Cutifani, presidente da Anglo American, vai ministrar a palestra magna “Contribuição da mineração para o desenvolvimento sustentável: o papel de uma moderna mineradora global”. O terceiro dia de evento, quarta-feira, o evento começará com a sessão plenária “Evolução nos modelos regulatórios da mineração no mundo: lições aprendidas”. Harry Robinson, Líder Global de Indústria Mineral da Mckinsey & Company, vai palestrar sobre o tema “Lições aprendidas na análise dos últimos movimentos globais em regulação do setor mineral”. Em seguida, entra em cena Pierre Gratton, presidente da Associação Mineira do Canadá, que irá mostrar os desafios enfrentados pelas empresas de seu país em investimentos externos, no contexto de mudanças nos marcos regulatórios da mineração. Para fechar o

A PRESIDENTA Dilma Rousseff durante promessa de regulamentação do setor

debate, Hans Flury, ex-ministro de Energia e Minas do Peru, apresentará um panorama sobre o marco regulatório da mineração em seu país e seus resultados na atração de investimentos. O congresso também vai exibir o painel “Interface mineração & mercado global de aço: o presente e o futuro”. Nele, Sigurd Mareels, da McKinsey & Company, falará sobre a perspectiva global do mercado de aço. O debate terá ainda a participação de Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho do Grupo Gerdau e da Câmara de Gestão e Competitividade do Governo Federal, que vai mostrar os desafios da mineração e siderurgia no Brasil. MARCO REGULATÓRIO O novo Marco Regulatório da Mineração brasileira será tema de um painel específico. Entre os participantes do debate estão: Guilherme Simões Ferreira, ge-

PALESTRA MAGNA Mark Cutifani, presidente mundial da Anglo American

rente-geral jurídico da Votorantim Metais e coordenador da Comissão Jurídica do Ibram, Marconi Tarbes Vianna, conselheiro titular do Conselho Diretor do Ibram, diretor operacional de Ferrosos da Vale, e o deputado federal a ser nomeado relator do projeto de lei do novo Marco Regulatório da Mineração na Câmara dos Deputados. Marcelo Ribeiro Tunes, diretor de Assuntos Minerários do Ibram, será o mediador. Segundo Fernando Coura, presidente do Ibram e coordenador do evento, por trás de toda segurança jurídica, atratividade e respeito aos contratos discutidos no novo marco regulatório, prometido há exatos dois meses pela presidenta Dilma Rousseff, está a questão da sustentabilidade: “Sem a licença da sociedade, do meio ambiente e da natureza - e o setor da mineração brasileira é pioneiro nisso - nós sabemos que não se pode falar em desenvolvimento sustentável. Daí o tema feliz, atual, urgente e necessário do nosso evento, que é investir em sustentabilidade e desenvolvimento verdadeiros” – conclamou Coura. SAIBA MAIS www.exposibram.org.br

SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 49


1 MINERAÇÃO

UMA PREFEITA

DE ‘FERRO’ Nascida em Morro do Pilar, Vilma Diniz quer tornar a cidade modelo de mineração sustentável para Minas e o Brasil Bia Fonte Nova redacao@revistaecologico.com.br

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FERNANDA MANN

mineradora Manabi planeja investir R$ 6,25 bilhões para explorar minério de ferro em duas cidades da região central de Minas: Santa Maria de Itabira e Morro do Pilar. Ainda sob o empacto da ‘dor de cabeça’ que, segundo sua prefeita se tornou o Projeto Minas-Rio na vizinha Conceição do Mato Dentro, o pequeno município, com seus 3,5 mil habitantes, está se valendo do título de ‘berço da siderurgia no Brasil’, com a primeira fusão de ferro-gusa em alto-forno do país – para se agigantar, de maneira sustentável, diante do desafio de receber esse megaprojeto. Nada menos que a produção de 25 milhões de toneladas de minério/ano. Quem comanda a retomada desse ciclo é Vilma Diniz (PTC) que, após 35 anos à frente da empresa que criou, a Biosan, voltou à sua terra natal disposta a transformar a cidade e a vida das pessoas para melhor. Determinada, ela afirma: “Vivemos um novo tempo, um tempo de oportunidades e, sobretudo, de muita responsabilidade. É preciso equilíbrio, muito trabalho e sabedoria para conciliarmos a proposta do desenvolvimento econômico com a efetiva melhoria da qualidade de vida. Nossa gestão tem o compromisso de fazer com que esse novo ciclo minerário da nossa região seja um exemplo para Minas e para o Brasil.” Confira: A SENHORA TOMOU POSSE EM JANEIRO. É EMPRESÁRIA EXPERIENTE, MAS PELA PRIMEIRA VEZ OCUPA UM CARGO PÚBLICO. COMO SURGIU A IDEIA DE SE CANDIDATAR? Nasci em Morro do Pilar, de onde saí aos 15 anos para estudar e trabalhar, mas sempre mantive vínculos com a cidade e uma presença constante com todos os meus amigos. Minha mãe tem 84 anos e ainda vive aqui. Como a cidade é pequena – e, à época, com poucas oportunidades de trabalho –, a maioria das pessoas se muda para estudar e não volta. Comigo foi diferente. O meu sonho de transformar a cidade e mudar a vida das pessoas para melhor é antigo. Essa questão sempre surgia nas conversas e reuniões com VILMA DINIZ “Estou convencida de que a Manabi está disposta a protagonizar uma nova história mineral em Minas”


JEFFERSON SOARES / MORRODOPILAR / WORDPRESS.COM

DESAFIO A pequena Morro do Pilar, berço da siderurgia nacional: esforço para criar desenvolvimento regional e sustentável

amigos meus. Otimistas, sempre falávamos que, para ocorrer uma mudança verdadeira, alguém que amasse a nossa terra teria de assumir a prefeitura. Há cerca de dois anos, esse assunto voltou à baila. Como estava aposentada, pois comecei a trabalhar muito cedo, decidi que havia chegado o momento. Nunca tinha me filiado a um partido e não tive qualquer apoio político. Fiz minha campanha com recursos próprios. A vontade do povo prevaleceu e fui eleita. SUA CIDADE TEM 3,5 MIL HABITANTES, VIVE DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA E VAI SEDIAR UM MEGAPROJETO DE MINERAÇÃO. ELA ESTÁ PREPARADA PARA RECEBER UM EMPREENDIMENTO DESSA ENVERGADURA, QUE DEVE ATRAIR UM NÚMERO DE TRABALHADORES DUAS VEZES SUPERIOR À SUA POPULAÇÃO? O desafio é grande. Ainda estamos colocando a casa em ordem, organizando e estruturando o proces-

Nossa cidade é pequena, não tem dinheiro, mas ninguém aqui nunca deixou de ser feliz antes da mineração so de gestão, pois assumimos uma prefeitura completamente esfacelada. No entanto, estamos confiantes. Nossa expectativa é ajudar a construir, com modéstia, respeito e parcerias sérias, um modelo de mineração que seja de fato sustentável e responsável. Não vamos deixar que Morro do Pilar repita o que aconteceu em outras regiões e até cidades vizinhas, como Conceição do Mato Dentro. Desde o primeiro momento, fui clara com a direção da Manabi: nossa cidade é pequena, não tem dinheiro, mas ninguém aqui nunca deixou de ser feliz antes da mineração. A felicidade não está nas coisas, mas, sobretudo, na nossa relação com o

mundo que nos cerca. A empresa está chegando e tem de nos ajudar a estruturar a cidade para melhorar a vida de quem já mora aqui e também para receber o empreendimento. Se o projeto não fizer bem para o povo do Morro, não fará bem a ninguém que por aqui chegar. O empreendimento, além do lucro para os investidores, tem o dever de tornar as pessoas mais felizes, melhorando suas vidas em todos os sentidos. COMO A SENHORA MESMO COMPAROU, O QUE A SUA ADMINISTRAÇÃO PRETENDE FAZER DE DIFERENTE? Desde que assumi, a condução do processo aqui tem sido diferente. Estamos atuando de forma preventiva, planejando, preparando e estruturando um projeto de longo prazo, criando condições para que a mineração nasça e se consolide de forma sustentável e sem sobressaltos. Nosso lema é: ‘transformação sustentável e participativa’. A introdução des-

2

SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 51


1 MINERAÇÃO

DURANTE O LICENCIAMENTO DO PROJETO MINAS-RIO, VÁRIOS ACORDOS TAMBÉM FORAM FIRMADOS NA TENTATIVA DE LEGITIMAR O PROCESSO. QUE GARANTIAS EFETIVAS A SENHORA TEM DE QUE SERÃO CUMPRIDOS? Não se obtém resultado diferente fazendo a mesma coisa. Por isso, estamos nos cercando de todos os cuidados agora, antes de a mineração se instalar. A Manabi promoverá uma grande mudança no município, desde a natureza até no modo de vivermos. Portanto, nada mais justo que a empresa colabore efetivamente para estruturarmos a cidade e minimizarmos os impactos que já se iniciaram. E, nesse aspecto, é essencial a participação ativa do governo estadual no processo. O Estado apoia o projeto e, naturalmente, é preciso que as várias secretarias voltem suas políticas públicas e programas para ajudar o município a se organizar. Somos uma prefeitura com recursos financei52 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

ros e humanos limitados. No entanto, há um ponto favorável, se comparado ao projeto de Conceição: é o fato de que a operação da Manabi estará 100% concentrada em nosso território, com a área de cava e planta industrial.

e o trabalho constante nos possibilitarão chegar aonde queremos. Atentos a essas questões, firmamos convênios com a Manabi que vão assegurar o repasse de recursos para nos reestruturarmos em diferentes áreas.

ACREDITA QUE ISSO FACILITARÁ A GESTÃO TANTO DO PROCESSO QUANTO DO ESPAÇO TERRITORIAL? Sim, além de evitar conflitos e disputas com outros municípios. No caso da Anglo American, cuja direção está distante de Minas, em outro continente, e que não comungou com o projeto de preparação da cidade, além de um processo de licenciamento confuso e com um número exagerado de condicionantes – somadas a disputas internas na sociedade de Conceição e a uma crise política que durou quatro anos – culminou-se num projeto que hoje enfrenta um quadro de difícil solução. Morro do Pilar, ao contrário, busca conjugar os esforços de todos para a construção de um novo modelo. Um modelo em que todos têm um papel a cumprir: o município, com seus setores sociais e o poder público, a empresa e, é claro, o governo estadual. Somente a união

DURANTE A CAMPANHA ELEITORAL A INSTALAÇÃO DA MINERAÇÃO JÁ ESTAVA SENDO NEGOCIADA? Sim. Sabia que o processo já havia sido iniciado, mas não tive contato com a empresa antes ou durante a campanha. Só quando assumi soube que o prefeito anterior já havia fornecido a primeira e mais importante Declaração de Conformidade para a mina, para que a Manabi desse início aos trâmites de licenciamento, sem garantir, no entanto, qualquer conquista para cidade. Diante disso, determinei que nenhum outro documento sairia da prefeitura até que estivéssemos completamente inteirados sobre o processo. Chamei a empresa à mesa para apresentar o novo modelo que seria iniciado desde então, com outras perspectivas e novas formas de lidar com algo tão sério como a mineração.

SANAKAN

sa nova identidade não é apenas na imagem. Nossa nova logomarca, com uma borboleta colorida, que voa sobre o contorno de uma montanha, representa a mudança e o nosso compromisso com Morro do Pilar. Queremos alçar novos voos. E, para isso, estabelecemos um plano de desenvolvimento e criamos uma plataforma de convênios destinados a organizar e estruturar a cidade. Após meses de intensa negociação com a Manabi, assinamos, em agosto, quatro blocos de convênios. Eles preveem contrapartida prévia e efetiva, através do apoio a programas e projetos estruturantes municipais, para que possamos dotar a cidade dos elementos necessários a uma cidade sustentável e preparar os serviços públicos. O objetivo é minimizar os impactos da mineração por meio de projetos e parcerias.

PLANEJAMENTO Prefeitura quer assegurar que Morro do Pilar tenha 50% de seu território coberto pelo verde, interligando-se à Serra do Cipó


E QUAL FOI A REAÇÃO DOS PORTA-VOZES DA EMPRESA? Desde que iniciamos as reuniões, percebo que eles estão empenhados em construir uma experiência diferenciada. Parece inacreditável, mas o prefeito anterior condicionou a liberação da primeira declaração de conformidade à reforma, por parte da Manabi, de apenas três veículos usados e ao repasse de dinheiro para a realização de um show sertanejo na cidade. Só agora, com os convênios assinados, é que vamos emitir os outros documentos de que a empresa precisa. Temos uma visão clara do que queremos para o nosso território e estamos estruturando um projeto que enxergue uma relação múltipla e inteligente com os nossos patrimônios; e o minério é um deles. Se não preservarmos o que temos de melhor: as belezas naturais com que Deus nos premiou, as raízes e a cultura de nossa gente, nem a mineração nem o Estado fará isso por nós. COMO A SENHORA AVALIA A POSTURA DO GOVERNO ESTADUAL EM RELAÇÃO AO EMPREENDIMENTO? O Estado está convencido de que tem de oferecer – e está iniciando – um tratamento diferenciado a Morro do Pilar, discutindo com a prefeitura o que vai acontecer e como planejar as políticas públicas para minimizar os impactos do projeto. Felizmente, conseguimos reunir representantes de diferentes secretarias numa mesma mesa, com uma agenda de discussões rotineiras. Não estamos mais sozinhos. Participamos do programa Cidades Sustentáveis, voltado para a melhoria da qualidade de vida e ordenamento territorial, e de grupos de trabalho da Secretaria de Desenvolvimento Regional e Política Urbana (Sedru). Fomos enfáticos lembrando a importância de não repetir os erros de Conceição. De forma trans-

Se não preservarmos o que temos de melhor: as belezas naturais, as raízes e a cultura de nossa gente, nem a mineração nem o Estado fará isso por nós parente, listamos as responsabilidades do município, da empresa e do governo, deixando claro que o projeto só será exitoso se trouxer ganhos coletivos. Frisamos isso, porque as cobranças e problemas sempre caem no colo das prefeituras. O cidadão não bate à porta do governador para reclamar. Procura é o prefeito para cobrar providências e melhorias. DURANTE PESQUISAS PRÉVIAS FEITAS PELA ANGLO AMERICAN, TRÊS EXPECTATIVAS DAS POPULAÇÕES A SEREM IMPACTADAS SE MOSTRARAM PRIORITÁRIAS EM CONCEIÇÃO: EMPREGO, SAÚDE E PRESERVAÇÃO DA NATUREZA. EM MORRO DO PILAR, ACREDITA QUE ELAS SEJAM AS MESMAS? Sem dúvida. E digo isso por mim, que sou morrense. A ideia é preservar a paisagem que cresci vendo e vou defender para sempre. Nenhum cidadão deve abrir mão disso. A relação das pessoas passa também pela cultura, pela troca com as montanhas e a paisagem social e geográfica. Há preocupação ainda em relação às nossas águas e áreas verdes. Vamos propor a preservação do que entendemos ser fundamental para a manutenção da biodiversidade local e, sobretudo, das nossas águas, especialmente por meio da formação de corredores ecológicos que se conectem à Serra do Cipó. Também já fomos à Agência Nacional de Águas (ANA), em Brasília, propor um amplo programa

de preservação hídrica Queremos atingir o patamar de mais de 50% do nosso território coberto por unidades de conservação, percentual infinitamente superior à média brasileira. O governo estadual também nos ajudará nessa iniciativa, sobretudo na região que concentra a maioria das grandes cachoeiras e campos rupestres no município. O PROJETO DA MANABI PREVÊ, ASSIM COMO O DA ANGLO, A CONSTRUÇÃO DE UM MINERODUTO. O QUE ACHA DISSO? Não posso responder pela empresa, mas acredito que, além da inviabilidade econômica, em função do alto custo do transporte por ferrovia, a Manabi também enfrentaria dificuldades logísticas, dependendo de negociações com outras mineradoras para escoar sua produção. De toda forma, há informações de que o governador Antonio Anastasia teria solicitado à empresa a conjugação do mineroduto com uma ferrovia. Temos de aguardar para ver como essa equação poderá ser fechada, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental. Mas, só o fato de esse assunto estar motivando discussões e a busca de novos arranjos, já representa um avanço. QUANDO A MANABI PLANEJA INICIAR AS OBRAS DE INSTALAÇÃO? Assim que obtiverem a licença de instalação, o que acredito, deverá acontecer no fim do primeiro semestre do ano que vem. A operação, propriamente dita, está prevista para 2016. Até lá, ainda há muito que fazer. Temos de nos preparar por meio de melhorias também na saúde e na segurança pública. Hoje, temos três médicos, um posto do Programa de Saúde da Família (PSF) e uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), que deve ser inaugurada

SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 53


1 MINERAÇÃO em outubro. Só atendemos casos de baixa complexidade. Nas demais situações, os pacientes são levados para Itabira ou BH. Policiais também são apenas três. Seriam necessários pelo menos oito. Mas, por enquanto, segundo o comando da PM, não há como aumentar esse efetivo. COMO ESTÁ A ACEITAÇÃO DO PROJETO ENTRE OS MORADORES? A maioria não conhece uma mineração, não tem noção do caos que pode ocorrer, se sua instalação não for bem planejada. Mas o povo quer emprego. Todos têm expectativa de ganhar dinheiro com a chegada da mineradora, de lucrar com o aluguel de imóveis, o que é muito natural. A questão é convencer as pessoas de que isso pode acontecer, mas com responsabilidade e com uma justa distribuição das riquezas geradas por um processo como esse. Por isso, estamos fazendo todo esse exercício de divisão de tarefas e responsabilidades, unindo prefeitura, Estado, sociedade, entidades locais e envolvendo 100% dos vereadores no processo de discussão.

MORRO DO PILAR JÁ TEVE MINERAÇÃO NO PASSADO. QUE LEGADO E MEMÓRIAS ELA DEIXOU? Somos o berço da siderurgia nacional, com a primeira fusão de ferro-gusa em alto-forno do Brasil. Este ano, o município completa 200 anos. Estamos nos articulando para resgatar nossa importante memória minerária, unindo passado e presente num ciclo que está sendo reaberto agora e do qual pretendemos nos orgulhar. No passado, o teor do minério aqui encontrado não justificava a exploração. Agora, com as novas tecnologias disponíveis, tornou-se plenamente viável. Nosso propósito é recuperar essa memória com responsabilidade e iniciativas que também beneficiem cidades do entorno, como Santo Antônio do Rio Abaixo, Carmésia e Itambé do Mato Dentro. Toda essa região, nobre e estratégica para a conservação da Serra do Cipó, está há tempos esquecida pelos governos. Daí, o nosso desejo de criar, a partir de Morro do Pilar, um processo de desenvolvimento regional que seja benéfico para todos.

ECOLÓGICO

A FELIZ COINCIDÊNCIA DAS BORBOLETAS

“Estou feliz e surpresa, pois não sabia que a Revista ECOLÓGICO é dedicada à memória do Dr. Hugo Werneck, um dos mentores da criação do Parque Nacional da Serra do Cipó e apaixonado por borboletas. Minha gestão tem uma borboleta como símbolo e essa é uma feliz coincidência. A borboleta representa o processo de transformação que dá forças para voar. Foi com essa frase que começou todo o trabalho de desenvolvimento da nova identidade visual da nossa administração. Simboliza e sintetiza a mudança que todos os morrenses querem, tanto em suas vidas quanto na vida da cidade.”

54 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

“NOVENTA POR CENTO DE FERRO NAS CALÇADAS. OITENTA POR CENTO DE FERRO NAS ALMAS.” OS VERSOS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, EM “CONFIDÊNCIAS DO ITABIRANO”, TRADUZEM A TENACIDADE DO MINEIRO. A SENHORA SE CONSIDERA UMA MINEIRA ‘FORJADA A FERRO’? PENSA EM SE REELEGER? Prefiro acreditar, humildemente, que essa seja a minha missão. Costumava dizer que mudaria minha vida quando fizesse 50 anos, mas não imaginava que seria dessa forma. Quando quero algo sou determinada e me empenho. Também sou muito fervorosa. Oro bastante e agradeço a Deus por tudo. Nossa Senhora das Graças é a santa da minha proteção. Tenho uma antiga medalha dela, que nunca tiro da bolsa e, recentemente, ganhei outra. Não me candidatei pensando em reeleição. Infelizmente, ao contrário do meio empresarial, de onde venho, e no qual o costume é preparar seu sucessor, na administração pública boa parte dos políticos ainda acha que a história começa e termina com eles. O que mais quero é ser lembrada e poder me orgulhar de ter dado o pontapé inicial para a transformação sustentável de Morro do Pilar. É OTIMISTA EM RELAÇÃO AO FUTURO DA HUMANIDADE E DO PLANETA? Sim. Acredito na transformação a partir da educação, notadamente ambiental, que leva à mudança de mentalidade e à maior conscientização que já vemos hoje entre as novas gerações. Se todo governante tiver a educação como prioridade, em alguns anos vamos mudar o mundo para melhor. Pequenos gestos e atitudes, quando somados, fazem uma grande diferença. Cada um tem de fazer a sua parte. Basta querer e começar. O



1 RECICLAGEM

ABRALATAS,10 ANOS

Ciclo de Debates promovido pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclagem confirma a sua “inovação para a sustentabilidade” Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

“C

om 98,3% de eficiência, o Brasil e os brasileiros continuam sendo os campeões mundiais na reciclagem de latas de alumínio pelo 10º ano consecutivo”. Foi o que confirmou o novo presidente da Abralatas, Carlos Medeiros, durante recente evento no Campus da UFMG, em BH, sobre a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos em vigor. Na presença da secretária de Estado de Desenvolvimento Econômico, a ex-ministra do Trabalho Dorothea Werneck, e do jornalista Fernando Gabeira, ex-deputado federal e palestrante convidado do evento, ele apontou a economia sustentável que o setor consolida para o país. Além de dar dignidade, cidadania e renda (até R$ 2,3 mil reais mensais, em média), às milhares de pessoas que hoje vivem do recolhimento e encaminhamento ecológico desse tipo de resíduo. “No dia em que descobrirmos, tal como acontece com o alumínio, um jeito de também agregarmos valor econômico aos outros tipos de resíduos sólidos, o panorama socioambiental do nosso país será outro. Daí a importância de investimos em pesquisa e inovação tecnológica”, frisou Medeiros.

Medeiros e Gabeira: conjulgando o reciclar pessoal e planetário

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ECONOMIA E DESPOLUIÇÃO Segundo dados da Abralatas, a produção de uma tonelada de alumínio a partir da sucata de latas consome apenas 5% da energia necessária para produzir o mesmo volume de alumínio proveniente da bauxita. Em 2001, a reciclagem representou econo-

mia de 3.780 GWh/ano ou 0,9% do total da energia consumida no país. Isso significa que atenderia ao consumo residencial anual de 6,6 milhões de brasileiros em dois milhões de residências. Medeiros também enfatizou a redução de emissões atmosféricas. Lembrou que o processo de reciclagem de alumínio libera apenas 5% das emissões de gás de efeito estufa, quando comparado à produção de alumínio primário. As latinhas têm as mais baixas emissões de CO2 no transporte da bebida (57%, em média, menor do que outras embalagens. Coube a Fernando Gabeira, o recado mais filosófico e politicamente correto à plateia de estudantes presentes. Segundo ele, mais que as leis que costumam “pegar e não pegar no Brasil”, cabe ao cidadão planetário hoje conectado com o mundo via redes sociais o papel determinante de modificar e ecologizar os seus atos de consumo e descarte do que antes era conhecido somente como lixo e poluição na natureza: “O compromisso atual das pessoas é consigo mesmas, com suas consciências enquanto parte da natureza e cidadãos do mundo. É o eu comigo mesmo e com o planeta, com o meio ambiente à minha volta, dentro da visão de sustentabilidade. É o que eu, cidadão real e agora também virtual, replicado e compartilhado aos milhares, tenho o dever de saber e agir de maneira econômica, mais ecológica e socialmente justa” – frisou Gabeira.


O LUXO DO LIXO Renault de Freitas Castro (*)

Diz o Aurélio, nosso mais famoso dicionário, que lixo reconhecida na nova versão da Classificação Brasileira é aquilo que é jogado fora, tudo o que não presta, não de Ocupações (CBO), em vigor desde outubro de 2002. serve mais para nada. Mas dicionários se atualizam, reMas, infelizmente, ainda são vistos com olhares desveem conceitos, se modernizam na busca de interpre- confiados. Não é raro encontrar, por exemplo, quem tações novas para palavras que passaram a fazer parte associe o sucesso da atividade de reciclagem no Brasil do vocabulário popular e que são assimiladas por meio à pobreza da população, principalmente daquela parte da vivência e da cultura. As pessoas começam a ver as que vive nas ruas. Segundo esses, somos campeões de coisas com outros olhos, de acordo com suas necessida- reciclagem somente porque essa seria uma atividade de des e interesses. Todos os dias surgem novos significados “segunda categoria”. Será que é isso mesmo? que acabam virando sinônimos em dicionários. Verificando o que aconteceu nos últimos anos no país, Hoje, lixo é luxo, como escreveu um dia o poeta con- temos certeza de que está equivocada essa forma de encreto Augusto de Campos. Virou “resíduo sólido”, algo xergar os recordes alcançados pela lata de alumínio. A que pode ser reaproveitado, reciclado. Vale dinheiro, reciclagem não para de crescer, enquanto a pobreza digera emprego, movimenta a economia. minui, sugerindo que a reciclagem não Alguém pode até argumentar – com certem uma relação direta com o nível de ta razão – que ganhou esse significado renda da população. O índice de reciclaporque a sociedade percebeu que precigem da latinha, por exemplo, cresceu, a sava se preocupar um pouco mais com partir de 2004, período em que a pobreo meio ambiente, com o impacto diário za, claramente, diminuiu, coincidindo de toneladas de lixo em áreas imprócom o incremento dos programas soprias, em aterros improvisados, contaciais, com o aumento do nível de emminando o subsolo. prego e da massa salarial. Mas não há como negar o aspecto Como representantes da embalagem econômico. Lixo virou resíduo sólido mais reciclada do mundo, temos comporque seu reaproveitamento se torpartilhado experiências e debatido com nou rentável. O melhor exemplo é o da vários setores, como as universidades, lata de alumínio, que aqui no Brasil, ao para encontrar soluções mais adequalongo dos últimos 10 anos tem o maior das ao trabalho dos catadores e cooíndice de reciclagem do planeta com perativas. Os mais conceituados ecopercentuais bem próximos dos 100%. Renault: pela dignidade do catador nomistas identificam a baixa eficiência Claro, há benefícios ambientais. Com a como o principal freio ao desenvolvireciclagem da lata gasta-se menos energia, menos ma- mento da economia brasileira ao longo da história. E a téria-prima, emite-se menos CO2. Mas, acima de tudo, produtividade mede a eficiência com que a tecnologia, percebeu-se que a lata usada tem valor. Um quilo de o capital humano e as máquinas são combinados e utilialumínio de lata descartada, vale a mesma coisa que um zados na produção. quilo de arroz! O que é necessário, além de reciclarmos nosso “dicioOra, alguns perceberam isso antes que outros, por nário pessoal”, aquele onde guardamos conceitos e prenecessidade. Na ausência de empregos formais, cata- conceitos, é atuar para que os catadores se organizem dores descobriram um emprego informal. Encontraram ainda mais e, principalmente, que contem com inovano lixo descartado o dinheiro necessário para pagar as ções para torná-los mais produtivos. Que ganhem comdespesas básicas. Sem perceber, passaram a dizer para a petitividade, lucratividade, deixando claro que não estão sociedade que aquele trabalho informal pode se tornar fazendo bicos. Mas, sim, que são profissionais que suslegal. Há pouco mais de 20 anos, os catadores criaram as tentam suas famílias com o suor de seu trabalho, digno primeiras cooperativas, há 10, ganharam, oficialmente, como o de qualquer outro trabalhador brasileiro. o reconhecimento de que são uma atividade econômica, como qualquer outra. Homens e mulheres, até então invisíveis aos olhos da sociedade, tiveram sua atividade (*) Diretor-executivo da Abralatas SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 57


1 RECICLAGEM

CAVALO DE LATA Invento facilita a vida do catador de materiais recicláveis e dispensa o uso de animais no transporte urbano Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

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disco nas quatro rodas e suspensão a molas com amortecedor. O motor elétrico, movido por duas baterias, evita a necessidade de esforço físico, embora haja pedais para auxiliar na tração. A autonomia é de 60 quilômetros, enquanto o tempo de recarga está estimado entre seis a oito horas. Depois dos primeiros testes em Santa Cruz do Sul (RS), cidade onde Vargas e Knak moram, a intenção é levantar o que pode ser melhorado no Cavalo de Lata para efetivar a homologação. A produção em escala será o próximo passo. Estima-se que o valor fique entre R$ 10 e R$ 12 mil. “Hoje o governo federal tem condições de custear esse investimento para a cooperativa. A iniciativa privada também pode financiar a construção dos modelos”, aposta o engenheiro que também precisará da aprovação dos órgãos de trans-

SAIBA MAIS

Segundo estimativas do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) existem no Brasil cerca de um milhão de catadores que vivem do trabalho de coleta, triagem e comercialização dos recicláveis. Grande parte da categoria trabalha em condições extremamente precárias, onde estão submetidos a diversos riscos de contaminação, incêndio e acidentes, entre outros.

porte que analisarão qual categoria o veículo se encaixa, se ele atende todos os itens de segurança ou precisará de modificações.

DIVULGAÇÃO

figura do catador de resíduos puxando sozinho, ou com a ajuda de um cavalo, um carrinho carregado de materiais recicláveis é bem comum nos centros urbanos. O esforço exigido, tanto do profissional quanto do animal, para puxar pesos que vão de 90 a 150 quilos por dia, custa muitas vezes a integridade física deles. Preocupados com essa questão, o engenheiro de produção, Jason Duani Vargas, e a publicitária Ana Paula Knak, criaram, em 2012, um veículo utilitário para a coleta de material reciclável. Batizado de “Cavalo de Lata”, o modelo foi uma criação brasileira adaptada de veículos motorizados que o casal conheceu no exterior. O carrinho é feito com aço carbono, pesa 180 quilos e tem capacidade para transportar 350 quilos. Atinge velocidade máxima de 20 quilômetros por hora, tem freio a

DIVULGAÇÃO Vargas também percorrerá algumas cidades brasileiras, por meio do 4º Ciclo de Debates, promovido pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas) e cujo tema é o fim dos lixões a céu aberto, previsto para 2014, conforme a Lei 12.305/2010. Os outros temas do Ciclo são os impactos desta Lei na vida dos catadores de materiais recicláveis, além das inovações e soluções sustentáveis para coleta seletiva de resíduos sólidos. No início de setembro, Vargas se apresentou em Belo Horizonte e as próximas cidades serão Fortaleza (CE) e Curitia (PA), além de outras 30 cidades. O SAIBA MAIS

O engenheiro Jason Duani e a publicitária Ana Paula Knak: criadores e criatura 58 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

www.facebook.com/CavaloLata www.abralatas.org.br/ciclodedebates



1 PAMPULHA

‘‘NÃO QUEREMOS UMA LAGOA DA PAMPULHA MAQUIADA PARA A COPA. QUEREMOS UMA BACIA REVITALIZADA’’ Pelo menos R$ 333,1 milhões já foram investidos em despoluição da lagoa, sem resultados; população cobra solução definitiva em nova tentativa que vai custar mais R$ 210 milhões Giulia Afiune

Agência pública

O

aspecto da Lagoa da Pampulha é péssimo. Cheia de lixo, algas, esgoto, com muito mau cheiro. Nem dá vontade de ir lá”. É assim que a jornalista Nirma Damas descreve a lagoa perto de sua casa. Nirma mora há 44 anos às margens de um córrego que deságua na Pampulha, em Belo Horizonte (MG). A menos de um ano da Copa do Mundo, a situação dessa paisagem de cartão postal da capital mineira é preocupante. A maior parte das águas que banham o entorno do estádio Mineirão – que vai sediar jogos do evento – e da Igreja de Santo Antônio, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e um dos principais pontos turísticos de BH, apresentam um índice de qualidade ruim (45%) ou péssimo (32%); o restante tem qualidade média. Os números são de um relatório do Igam (Instituto Mineiro de Gestão de Águas) referente ao quarto trimestre de 2012.

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Nenhuma das amostras coletadas atingiu qualidade boa ou excelente, já que todas (100%) continham coliformes fecais. “Desde a década de 60, a Lagoa é um depósito de lixo, esgoto, sujeira, sedimentos. Tudo que é carregado pelos córregos que formam a bacia da Pampulha fica lá, depositado”, explica o médico e professor Marcus Vinícius Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão, iniciativa interdisciplinar da Universidade Federal de Minas Gerais que estuda as águas do estado. A origem do problema está na ocupação desordenada em torno dos afluentes, ele explica: “A partir da década de 60, muita gente foi morar no entorno da Lagoa. Enquanto parte das ocupações foi feita com construções de qualidade por pessoas de classe mais alta, muitas foram absolutamente desordenadas, principalmente em direção à cidade de Contagem (município vizinho de Belo Hori-

zonte). Por isso, grande parte do esgoto da região passou a ser depositado diretamente nos afluentes que iam para a Lagoa.” O geógrafo Rodrigo Lemos explica que, até hoje, a desigualdade marca a região da Bacia da Pampulha, que abrange Belo Horizonte e Contagem. “A orla da Pampulha tem um dos metros quadrados mais caros de Belo Horizonte, mas as comunidades no entorno dos afluentes são frágeis, do ponto de vista social, e ocupam essas áreas de risco por necessidade.” ALTO INVESTIMENTO, RESULTADO DUVIDOSO Para a Copa do Mundo, a Prefeitura e o governo do Estado decidiram realizar uma ação conjunta para despoluir o local. Em maio deste ano, a Prefeitura emitiu a ordem de serviço para o desassoreamento da Pampulha. Durante oito meses, o fundo da lagoa será escavado para retirar lixo e sedimentos,


JAIR AMARAL / EM / D.A PRESS TAVINHO MOURA

POLUIÇÃO Águas da lagoa apresentam um índice de qualidade ruim (45%) ou péssimo (32%); o restante tem qualidade média

TONHÃO Ambientalista, conhecedor e defensor do rio

MOVIMENTAÇÃO DO SOLO A lagoa sofre assoreamento contínuo em função de ocupação irregular na região, afetando tambem as quase 200 espécies de aves que vivem ao redor SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 61


que serão transportados por tubulações até as margens, onde serão desidratados e levados para um aterro sanitário situado na rodovia BR-040. Essa operação custará R$ 108 milhões aos cofres da cidade. O problema é que enquanto o projeto pretende retirar 800 mil m3 de terra e sujeira, os afluentes continuam depositando 500 mil m3 desses materiais por ano, segundo o professor Polignano. “Vai ter uma melhora parcial no ano que vem, mas a durabilidade vai ser muito curta e a eficácia muito pequena para a dimensão do problema que a gente tem. Questionamos a validade desse tratamento por entender que ele é paliativo e ineficaz para cumprir o que ele tem que atingir”, diz o professor. Essa não é a primeira vez que o poder público decide tomar uma iniciativa como essa. Segundo levantamento do jornal Estado de Minas , feito com base em dados do Igam, R$ 333,1 milhões foram investidos, entre 1997 a 2011 para limpar a lagoa. Um bom motivo para que a população desconfie da efetividade da obra atual. “Pelo menos três vezes gastaram uma verba grande no trabalho e aí, 5, 6 anos depois, o problema voltou e tiveram que fazer de novo”, critica Nirma Dias, que também coordena o Programa Pampulha Viva, integrante do Projeto Manuelzão. “Quando foi anunciado que a Copa seria aqui e o governo começou a falar em revitalizar a Lagoa, nós do Projeto Manuelzão colocamos: não queremos uma Lagoa maquiada para a Copa, e sim, toda a Bacia revitalizada”, ela defende. Para o professor Marcos Polignano, a solução tem de englobar toda a bacia, evitando a entrada de sedimentos nos rios que a compõem, controlando o uso do solo e impedindo a ocupação das áreas de proteção do entorno: “Para resolver o problema da Lagoa, tem que garantir a qualidade da água que chega lá, 62 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

ACERVO / PROJETO MANUELZÃO

1 PAMPULHA

PÉSSIMO ASPECTO Lixo, esgoto, algas e mau cheiro fazem parte do cenário

pelos afluentes”, diz. TRATAMENTO DE ESGOTO E QUALIDADE DAS ÁGUAS Assegurar a qualidade das águas é responsabilidade do governo do estado, por meio da Companhia de Saneamento de Minas Gerais. Desde setembro de 2012, a Copasa diz estar investindo R$102 milhões para construir 80 km de redes coletoras de esgoto e 20 km de interceptores e tubulações que impedem que ele caia dentro dos córregos da Bacia da Pampulha. O esgoto será levado para a estação de tratamento do córrego do Onça, já em funcionamento. A meta é aumentar de 95% para 97% o esgoto tratado na área da bacia em Belo Horizonte e de 80% para 95%, em Contagem. “As obras da Copasa, associadas ao desassoreamento e à limpeza das águas da Lagoa feitos pela prefeitura, têm como objetivo tornar as águas da Pampulha em classe 3, ou seja, próprias para esportes náuticos, como remo, canoagem,

pedalinhos, até junho de 2014. Não vai poder nadar, porque ainda não tem condições para contato primário.”, diz Valter Vilela Cunha, engenheiro da Copasa responsável pelo empreendimento. Segundo a classificação do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), as águas de classe 3 também podem ser usadas para pesca, para irrigação de plantas, para saciar a sede de animais e para consumo humano, após tratamento. O pior índice da escala são as águas de classe 4, destinadas somente à navegação e à harmonia paisagística. “Atualmente as águas da Pampulha não são de classe nenhuma por causa da poluição”, diz o engenheiro da Copasa. As obras deveriam ter acabado em junho desse ano, mas o prazo foi esticado para dezembro de 2013. “O maior desafio tem sido trabalhar em áreas carentes, em que muitas pessoas moram praticamente dentro dos cursos d’água. Então para fazer as obras foi necessário remover essas pes-


soas e transferir para prédios que nós estamos construindo. Como esses processos são complexos, demorou mais do que estava previsto”, diz Cunha. As famílias terão que pagar para ligar o esgoto da cozinha e dos banheiros de sua casa à rede coletora.“O valor dessa obra depende do tamanho da casa, de onde estão as instalações sanitárias. Mas nós estamos fazendo a ligação de graça para a população de baixa renda”, diz o engenheiro. A reportagem entrou em contato com associações locais de moradores para confirmar a informação, mas não obteve resposta até o fechamento. "O PROBLEMA MAIS GRAVE NÃO É O ESGOTO", DIZ GEÓGRAFO Mas, segundo o geógrafo Rodrigo Lemos, que está fazendo mestrado na UFMG sobre planejamento e gestão territorial e gestão dos

O maior desafio tem sido trabalhar em áreas carentes, em que muitas pessoas moram praticamente dentro dos cursos d’água

recursos hídricos na Pampulha, o principal problema não é o esgoto, e sim, o assoreamento contínuo, causado pelas construções na beira da Lagoa e dos afluentes. “A lagoa continua sendo assoreada porque as ocupações regulares e irregulares que existem na região movimentam o solo e retiram a vegetação ciliar, que “seguraria”

a terra”, explica. “A erosão leva os sedimentos para os córregos e estes, até a lagoa, onde o material fica depositado.” “A Pampulha é um reservatório artificial, o que quer dizer que ele tem uma vida útil. Em 1989, quando o volume de sedimentos depositados no fundo da Lagoa era cerca de 380 mil m3 por ano, foi feita uma projeção de que, em 2000, o número saltaria para 600 mil m3. Mas não foi feito outro levantamento para afirmarmos, com certeza, qual é esse número hoje”, conta. Lemos criticou os sucessivos programas de desassoreamento e tentativas de limpeza da Pampulha por não atacarem a origem do problema. “Se a Copasa cumprir sua meta, teremos uma lagoa sem cheiro. Mas se não acabarem com o assoreamento, daqui a pouco não teremos lagoa nenhuma”, alerta.

Amda Há 34 anos trabalhando pela preservação do meio ambiente. Parabéns a todos que fazem parte desta história!

www.amda.org.br

AGOSOTO DE 2013 | ECOLÓGICO O 59


JB ECOLÓGICO

1 RECURSOS NATURAIS

PLANETA

NO LIMITE Voracidade do consumo humano já levou ao esgotamento, neste ano, da capacidade de renovação da Terra Bia Fonte Nova redacao@revistaecologico.com.br

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m 20 de agosto, a humanidade esgotou o orçamento da natureza previsto para este ano e o planeta passou a operar no vermelho. Os dados são da Global Footprint Network - GFN (Rede Global da Pegada Ecológica), instituição internacional parceira da rede WWF, que gera conhecimento sobre sustentabili-

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dade e tem escritórios na Califórnia (EUA), Europa e Japão. O chamado Overshoot Day (Dia da Sobrecarga da Terra) é a data aproximada em que a demanda anual da humanidade sobre a natureza ultrapassa a capacidade de renovação possível da Terra. Para chegar a essa data, a GFN faz o rastreamento do que a hu-

manidade demanda em termos de recursos naturais (tal como alimentos, matérias-primas e absorção de gás carbônico), ou seja, a nossa Pegada Ecológica, e compara com a capacidade de reposição desses recursos pela natureza e de absorção de resíduos. Os resultados demonstram que, em pouco mais de oito meses,


KLAUS / HENNING GROTH WWF CANON

JIM LEAPE, diretor-geral da Rede WWF

utilizamos tudo o que a natureza consegue regenerar durante um ano. O restante ficou descoberto em nossa conta. À medida que aumenta nosso consumo, cresce o débito ecológico, traduzido na redução de florestas, perda da biodiversidade, colapso dos recursos pesqueiros, escassez de alimentos, diminuição da produtividade do solo e acúmulo de gás carbônico na atmosfera. Tudo isso não apenas sobrecarrega a capacidade de recuperação e manutenção do meio ambiente, como também debilita a nossa própria economia. “O enfrentamento de tais restrições impacta diretamente as pessoas. As populações de baixa renda têm dificuldade em competir por recursos com o restante do mundo”, afirma Mathis Wackernagel, presidente da Global Footprint e co-criador da Pegada Ecológica. FUTURO SEGURO Hoje, somos 7,2 bilhões de pessoas e, se a população ainda está crescendo, as tecnologias da informação e de transporte permitem mul-

tiplicar a economia mundial num ritmo ainda mais acelerado. Apesar disso, em muitos casos, as restrições legais e os cuidados ambientais são vistos como obstáculos ao crescimento econômico, ainda traduzido diretamente em desenvolvimento social e progresso. Por isso, para a Global Footprint Network e a Rede WWF, em lugar de dilapidar os recursos, é mais sábio tratá-los como uma fonte contínua de riqueza a ser usada de forma sustentável e estratégica, garantindo um futuro seguro para toda a humanidade. “Para assegurar um futuro limpo e saudável para nossos filhos, é preciso preservar o capital natural que nos resta e cuidar melhor do planeta que chamamos de lar”, afirma Jim Leape, diretor-geral da Rede WWF. EQUILÍBRIO AMBIENTAL Com o objetivo de ampliar o debate sobre o consumo e equilíbrio ambiental, o WWF-Brasil iniciou em 2010 um trabalho pioneiro no Brasil, em parceria com a GFN, prefeitura de Campo Grande (MS) e parceiros locais. Realizou

FIQUE POR DENTRO

A Global Footprint Network é uma instituição nacional de geração de conhecimento que trabalha para tornar fundamental a consideração dos limites ecológicos na tomada de decisão, por meio da Pegada Ecológica. Essa ferramenta de gestão de recursos permite mensurar quanto de recurso ecológico a natureza dispõe, quanto utilizamos dela e quem usa o quê. Juntamente com seus parceiros, a GFN coordena pesquisas, desenvolve padrões metodológicos e oferece aos tomadores de decisão uma contabilidade dos recursos naturais, visando à ajudar a economia humana a operar dentro dos limites ecológicos do Planeta. O WWF-Brasil, criado em 1996 e sediado em Brasília, desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede WWF, a maior organização independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários. COMO É FEITO O CÁLCULO DO OVERSHOOT DAY No intervalo de um ano, a GFN calcula o número necessário de dias para a biocapacidade do planeta suprir a Pegada Ecológica da humanidade nesse mesmo período. O restante do ano corresponde ao uso excessivo global. Para calcular o Overshoot Day, divide-se a biocapacidade mundial (a quantidade de recursos ecológicos que o planeta é capaz de gerar naquele ano) pela Pegada Ecológica mundial (a demanda da humanidade naquele ano) e multiplica-se por 365.

o cálculo da Pegada Ecológica da capital sul-mato-grossense, primeira cidade brasileira a desenvolver essa iniciativa. Em 2011, realizou o cálculo para o estado e para a capital São Paulo.

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1 RECURSOS NATURAIS BRASIL NA LIDERANÇA Felipe Bottini (*)

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Em Campo Grande (MS), as ações de mitigação para ajudar a reduzir a Pegada Ecológica estão em curso e o estudo de São Paulo, lançado em 2012, durante a Rio+20, ainda carece de uma ação concreta dos poderes estadual e municipal. “O cálculo traz informações importantes que ajudam no planejamento da gestão ambiental das cidades com o direcionamento das políticas públicas de forma a reduzir esses impactos”, explica o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Michael Becker, responsável pela condução dos estudos. De acordo com a secretária-geral do WWF-Brasil, Maria Cecília Wey de Brito, cidadãos e governos têm papel fundamental na redução dos impactos do consumo 66 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

RICHARD STONEHOUSE WWF CANON

DIVULGAÇÃO

dia 20 de agosto é a data em que o consumo acuO Brasil é superavitário em biocapacidade. Isso quer dizer mulado no ano dos recursos naturais esgotou a que acumulamos mais do que gastamos, diferentemente de capacidade do planeta de se reciclar. Isso quer dizer outros países, principalmente os mais desenvolvidos, que, que tudo que consumimos até esse período (ou seja, nos há alguns anos, têm déficit ambiental. Mas, o fato é que a primeiros 231 dias do ano) precisa de 365 dias para ser renossa biocapacidade também tem caído. ciclado pelos ciclos naturais da Terra. A pergunta é: daqui Como fazer para premiar países como o Brasil, que pra frente, o que acontece? prestam um serviço de biocapacidade O planeta tem uma capacidade de ao restante do mundo? Por que não renovar os recursos naturais (biocapacriar um mercado de alocações que cidade) que é dada pelas áreas disposirvam para financiar a manutenção das níveis e capazes de reciclar, princiáreas geradoras de biocapacidade à luz palmente o ar e a água. À medida que do que foi feito no mercado de certifiaumentamos o consumo, a quantidade cados de carbono? Quem sabe o Brasil de consumidores e a capacidade de não passe a ser remunerado pelas depredarmos as áreas capazes de gerar atividades que já realiza, como exportar biocapacidade, reduzimos drasticamenar puro e água limpa. te nossa poupança ambiental. Um excelente caminho é nosso país Qualquer dona de casa sabe que assumir a liderança de um debate quando se gasta mais do que se ganha, global para valorar esses serviços o caminho não é bom. E antes do que se de biocapacidade. Alinhar-se com os espera, a poupança pode acabar. No caso países “produtores” e mostrar dispodo planeta, não há crédito facilitado nem sição em priorizar essa agenda, já que um parente abastado próximo que possa o benefício desses serviços é global. nos ajudar. BOTTINI Biocapacidade em queda Definir objetivos de preservação com O que mais chama a atenção é, que no base em contrapartidas junto às Nações ano passado, o Dia da Superação Ambiental foi em 22 de Unidas e, quem sabe, monetizar a preservação de forma agosto; e, em 2011, em 27 de setembro. É assustador como, sustentável, onde uma árvore de pé tenha verdadeiraano a ano, reduzimos a capacidade de o nosso planeta de mente mais valor que a mesma árvore cortada. gerar vida e, em última instância, arriscamos a nós mesmos. Se fosse fácil resolver esse problema, provavelmente (*) Economista formado pela Universidade de São Paulo, com eu nem estaria escrevendo sobre o tema. Mas, é preciso especialização em Sustentabilidade por Harvard. Fundador da realizar esforços mais contundentes nesse sentido e atribuir Greendomus e da Neutralize Carbono, é Consultor especial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento responsabilidades adequadas aos agentes responsáveis.

MARIA CECÍLIA WEY, secretáriageral do WWF-Brasil

sobre os recursos naturais do planeta. “Políticas públicas voltadas para esse fim, como a oferta de um transporte público de qualidade e menos poluente, construção de ciclovias, e o estímulo ao consumo responsável, por exemplo, são essenciais para reduzir a

Pegada Ecológica. E esse é um papel dos governos”, ressalta. Já os cidadãos, de acordo com Maria Cecília, devem cobrar dos governos e dos políticos a criação e aplicação de politicas dessa natureza. “Mas, enquanto elas não existem, podemos fazer escolhas mais sustentáveis, lembrando que o planeta é finito, como é a nossa conta no banco”, salienta. Além do trabalho com a Pegada Ecológica, a Rede WWF também é parceira da GFN na edição do Relatório Planeta Vivo, documento publicado a cada dois anos. A próxima edição ficará pronta em setembro de 2014. SAIBA MAIS www.wwf.org.br/natureza_brasileira/ especiais/pegada_ecologica/


O futuro do planeta está em nossas mãos.

A Assembleia de Minas trabalha pela qualidade de vida de todos os mineiros. Por isso, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável promove debates, estudos e projetos voltados para o correto gerenciamento dos recursos hídricos, visando ao melhor tratamento da água, ao desenvolvimento sustentável e à justiça social. Um dos exemplos do nosso trabalho é a Lei Estadual 14.309, que protege as nascentes do Estado. É hora de parar de falar e começar a preservar. Não só hoje, mas todos os dias do ano.

www.almg.gov.br @assembleiamg Assista à TV Assembleia


ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE BANGKOK, TAILÂNDIA

ANDRÉA ZENÓBIO

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OLHAR EXTERIOR

LADO A LADO o Skytrain e os viadutos são uma alternativa inteligente para aliviar o tráfego pesado da cidade

BANGKOK: DE VIADUTO EM VIADUTO

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ssa seria a minha primeira vez em Bangkok. Apesar de ter informações sobre as praias paradisíacas tailandesas, o que esperar da capital do vigésimo país mais populoso do mundo, com cerca de 64 milhões de pessoas? Principalmente considerando que Bangkok é a cidade mais populosa da Tailândia, reunindo nove milhões de habitantes, mais os 14 milhões de tailandeses que vivem em sua região metropolitana? Será Bangkok tão poluída quanto Pequim? Pensei, ao constatar, pela janela do avião, o véu marrom que cobria a cidade. Num esforço para acalmar minha ansiedade – definitivamente não é fácil viver em uma das cidades mais poluídas do planeta, como é Pequim,

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e, ainda por cima, escolher passar uns dias de nossas férias em outra cidade que me pareceu, lá do alto, tão poluída quanto – pergunto: “Então, o que esperar de Bangkok?” “Um trânsito horrível...”. Definitivamente, essa não era a resposta que esperava! “... mas que tem melhorado muito com a adoção de políticas de transporte público pelo governo tailandês”, completam. Em Pequim, por exemplo, os engarrafamentos são infernais, desesperadores. É normal, às vezes, passar horas dentro de um carro sem mover um metro, não só por causa da quantidade absurda de veículos nas ruas, mas também pela mentalidade chinesa no volante: primeiro, eu; segundo, eu; terceiro, você para e eu passo – o

que certamente não colabora para a fluidez. Cientes do problema, o governo chinês vem investindo pesado em transporte público, principalmente em metrô, construindo e inaugurando duas linhas por ano. Impressionante! E em Bangkok? Aterrissamos em uma sexta-feira, final de tarde. Esperando o pior, pegamos um táxi – que, aliás, são de diferentes cores: totalmente rosas ou verde e amarelos. Ao sair do aeroporto, pegamos direto uma via expressa lotada de carros. Enquanto me distraio observando um pôr do sol coloridíssimo em um horizonte cortado por super modernos arranha-céus, constato duas coisas. A primeira, que nem de longe a poluição de Bangkok pode ser


Uma rede complexa de vias expressas ‘elevadas’ conduz o “tráfego para dentro e fora do centro da cidade. Mas ao ‘descer’ para o nível das ruas... é aí que mora o problema” comparada à de Pequim. Afinal, consigo ver os prédios ao longe, o sem-fim da cidade. Não é como na capital chinesa onde, em seus piores dias, a visibilidade não alcança 20 metros. E a segunda observação é que, mesmo sendo 18h de uma sexta-feira, nosso táxi trafega a uma velocidade de 120 km/h. Tráfego pesado, devo dizer, mas que flui livremente. Bem, pelo menos enquanto nos mantemos a 50 metros do chão, ou seja, nos viadutos. Uma rede complexa de vias expressas ‘elevadas’ conduz o tráfego para dentro e fora do Centro da cidade. Mas ao ‘descer’ para o nível das ruas... é aí que mora o problema. As ruas são estreitas, onde mais de 7,5 milhões de carros – quase um para cada mo-

rador – dividem espaço com motocicletas (1.272 novas motos são registradas por dia em Bangkok), ônibus e tuk-tuk (pequenas carroças motorizadas), mais pedestres, já que os passeios são tomados por barraquinhas, vendendo isso e aquilo. Tudo em meio a um calor insuportável. A solução? Ir para ‘cima’ novamente e se locomover através das duas linhas do ‘Skytrain’ (metrôs elétricos de alta velocidade que correm em viadutos, inaugurados em 1999), com 30 estações ao longo 30,95 km. Ele é conectado com o metrô subterrâneo de 20 km e 18 estações (aberto em 2004). Sendo essas duas opções conectadas à linha ferroviária especial para o aeroporto, inaugu-

rada em 2010, que abrange uma distância de 28 km com oito estações. Ou, então, fazer uso das balsas que operam no Chao Phraya, principal rio que corta a capital, e em outros dois canais. Muito longe de ter resolvido o problema de tráfego em Bangkok, certamente o investimento pesado em transporte público vem melhorando e muito a qualidade de vida de seus cidadãos – inclusive diminuindo os níveis de poluição. Os políticos tailandeses já entenderam que sistema de transporte inteligente significa saúde para a população! Alô, alô, políticos brasileiros: precisando de uma inspiração?! O (*) Life Coach, psicanalista e consultora internacional de comunicação


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GESTÃO & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

TODO DIA, TUDO IGUAL Cuidar do jardim, ouvir música, falar mais com seu marido ou esposa? Deus o livre! Parece pressão demais para um ser humano...

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izia o Chico Buarque que todo dia ela fazia tudo sempre igual. Diz a lenda da internet que insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes, frase posta na boca e cachola de Albert Einstein. Entre versos, verdades e mitos, clamo por poetas e cientistas para falar de trabalho, mais precisamente teletrabalho porque “há dias que não sei o que me passa” e o poetinha Vinícius me faz ficar em casa metido em inconfessáveis pijamas para trabalhar e trabalhar e trabalhar muito mais do que trabalho normalmente, sem ônibus, sem trânsito, pontual como um britânico e produtivo como um rato no cio. Sou do setor de serviços. Trabalho 99,99% do tempo com a cabeça, tomando decisões e orientando pessoas. Fico conectado com elas e essa é verdade que já não se contesta: pouco importa onde estou, a sensação de produzir é a mesma ou até maior. Você dirá que um atendente de supermercado não pode trabalhar em casa, não pode arrumar os produtos nas prateleiras de cuecas e descalço, pela net. Eu sei que não pode. Eu sei que muitos setores vão continuar a existir fisicamente porque estão se tornando puro entretenimento. Basta ir ao Google Imagens e digitar: “supermercado antigo” e depois “supermercado moderno”. Vai lá! Imagens não mentem. Eu sei que a indústria também precisa de braços que não sejam virtuais. Mas, façamos uma conta. Há quem diga que o setor de serviços representa 60% do PIB nacional. Se metade dessas pessoas estiver em teletrabalho em 10 anos, então haverá menos carros na rua, menos demanda de transporte público e conservação das cidades. Todos ganharão tempo, aquele tempo precioso de duas horas ou mais em que nos metemos em ônibus, metrô ou em nossos carros, em congestionamentos insuportáveis. É certo que há desafios para o trabalho em casa. Mudamos nossa relação familiar tanto quanto a de laborar, às vezes para pior, mas isso não é novo. Desde tempos imemoriais, as pessoas trabalhavam em casa

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e saíram de lá principalmente na revolução industrial. Agora, cada vez mais, estão voltando. Certamente a história tem muito que nos ensinar nessa matéria. De meu lado, acredito que as empresas estão perdendo definitivamente o medo do teletrabalho. Cada vez, elas o entenderão como um ganho e tratarão de estabelecer as ligações entre trabalhador e escritório com algo mais que uma sala, uma cadeira e um relógio de ponto. Terão que encantar verdadeiramente as pessoas e fazê-las sentirem-se parte de algo importante. Acho que a verdade é o que os trabalhadores têm medo de voltar para casa. Imagine passar mais tempo com seu filho, trabalhar enquanto ele estuda ou brinca e dar conta de separar as coisas? Colocar a mesa para o almoço, lavar os pratos depois? Cuidar do jardim, ouvir música, falar mais com seu marido ou esposa? Deus o livre! Parece pressão demais para um ser humano...O (*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG e presidente do Comitê para a Democratização da Informática – CDI e diretor da Arbórea Instituto

TECH NOTES O Setor de serviços tem papel fundamental na

economia brasileira http://goo.gl/LDOYmY O A recuperação do tempo perdido O transpor-

te público nas áreas metropolitanas do Brasil http://goo.gl/511o6K O TeleTrabalho: O Trabalho Sustentável Ecolo-

gicamente www.teletrabalhador.com


Desde 2011, você está na TV. Pode ver a sua cara, do seu jeito, por toda a cidade. E ver a cidade toda com a sua cara, do seu jeito. Com a BH News, o que Belo Horizonte tem de melhor chega para toda a região metropolitana. E também para os quatro cantos do planeta, através da internet. Notícia, esporte, cultura, tecnologia, arte, gastronomia, política e economia: tudo isso na única TV feita pra gente se ver.

* *Sintonize de 12h às 22:30h em Belo Horizonte, Contagem, Nova Lima, Ribeirão das Neves, Sete Lagoas, Betim, Vespasiano, Santa Luzia, Sabará, Pará de Minas e Ibirité.


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PERFIL | SÉRGIO MYSSIOR

Urbanismo a SERVIÇO DO BEM Arquiteto e urbanista, novo conselheiro da ECOLÓGICO destaca-se com suas ideias de como transformar as cidades em lugares melhores para se viver Maria Teresa Leal redacao@revistaecologico.com.br

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om dia, ouvintes da Rádio CBN!”, diz, pontualmente, às 10h05, de segunda a sexta-feira, uma voz pausada, quase tímida. É do arquiteto e urbanista Sérgio Myssior, respondendo à saudação do apresentador-âncora Marcelo Guedes. No ar pela 106,1 FM, desde fevereiro deste ano, à frente do quadro “Mais BH”, Myssior se diz impressionado com a força do rádio. “A cada dia me surpreendo com a audiência, o retorno e o carinho das pessoas que me ‘reconhecem’ nos mais diferentes lugares”. E ele não exagera. A jornalista Adriana Ferreira, produtora do programa, diz ser “enorme” a quantidade de mensagens que chegam via twitter ou pelo site do programa. “Não saberia precisar quantas porque depende do tema que está sendo abordado, mas são tantas que seria impossível mencioná-las no ar”. Para Guedes, a boa audiência do quadro se deve, em parte, ao carisma do arquiteto e sua capacidade de “interligar os assuntos com uma visão global e em tom coloquial”. Adriana acrescenta que Myssior tornou-se uma espécie de porta-voz da população, porque fala, quase sempre, de temas que interessam a muita gente de um jeito descomplicado. “Agora, sei onde o calo aperta para cada um e tento ajudar”, diz. Quando aceitou o convite da rádio - meio reticente, porque sabia que lhe tomaria tempo considerável -, nem de longe imaginou que teria tão boa aceitação. “O Marcelo é muito crítico e, de vez em quando, solta sprays de pimenta nos meus olhos - diz ele, referindo-se às perguntas mais ácidas do âncora. Mas, ao mesmo tempo, reconhece que isso é bom, porque não o deixa se acomodar.

EXEMPLO Myssior com sua bicicleta elétrica na Praça JK: “Deixo o carro na garagem sempre que posso. Assim, ajudo a mim mesmo e ao meio ambiente”


FOTOS FERNANDA MANN

Não gosto da crítica pela crítica. O combate é bom, mas tem de ser feito de forma pontual e construtiva

QUALIDADE DE VIDA O arquiteto e a esposa Luciana ensinam aos filhos a importância do contato com a natureza

Descendente de poloneses, assumidamente introvertido, o ex-estudante de arquitetura que nunca foi caxias, agora se vê debruçado sobre livros, jornais e revistas todos os dias. Por pelo menos duas horas, ele revê temas relacionados ao meio ambiente, urbanismo, mobilidade, sustentabilidade e qualidade de vida. E o que é melhor: com prazer. “Estou adorando”, diz ele, abrindo o sorriso. Outra decisão foi adotar, no programa, o mesmo tom conciliador e otimista que molda sua personalidade. “Não gosto da crítica pela crítica. O combate é bom, mas tem que de feito de forma pontual e construtiva.” Aos 41 anos, recentemente empossado como conselheiro da Revista ECOLÓGICO, Myssior parece ter encontrado sua “praia”. Mas, o caminho, até aqui, teve percalços. Em 1996, quando concluiu a faculdade, deparou-se com um mercado, pós-Collor, recessivo e sem perspectivas. Não viu outra saída que não fosse se colocar de forma diferenciada para os

clientes que haviam sumido. Ao concluir a pós-graduação pela Fundação Getúlio Vargas (FGV ), viu aflorar um lado empreendedor que desconhecia e entendeu que não bastava ter boas ideias e conhecimento técnico, se não soubesse traduzir suas propostas para a linguagem do cliente. Investiu, então, num escritório voltado ao gerenciamento de projetos. Desde essa época, martelava-lhe a ideia de como poderia usar a arquitetura e o urbanismo para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Era a busca de um nicho e de um viés que coincidissem com suas crenças. Mas, ele e alguns familiares, com quem formou uma sociedade, enfrentaram preconceitos. Afinal, era “feio” ser arquiteto-empresário, quase um demérito. Os bons eram os “artistas”, intelectuais, discípulos dos mestres contemporâneos, como Oscar Niemeyer, Arthur Casas e Ruy Ohtake. Em 1997, com a aprovação da Lei do Licenciamento, em Belo Horizonte, Myssor teve um insight.

DIVISOR DE ÁGUAS Naquele ano, a capital mineira instituiu, de forma precursora, o Licenciamento Ambiental. Quando leu o texto da normativa, Myssior se deu conta de que a questão ambiental e a urbana andavam juntas, não eram conceitos dissociados. Entendeu que não tinha como pensar em cidades, sem envolver o meio ambiente. Até então, segundo ele, havia uma concepção equivocada de que o licenciamento era necessário apenas para grandes empreendimentos, como hidrelétricas e mineradoras. “Essa mudança de paradigma foi um divisor de águas para mim, porque entendi que era com isso que eu queria trabalhar. Como o ambiente poderia se inserir na cidade e como a cidade poderia ser mais ambientalmente amigável.” Um dos exemplos dessa filosofia foi o trabalho desenvolvido, recentemente, por Myssior e sua equipe, junto à concepção e reforma do Estádio Independência. A proposta era que o local não fosse apenas um equipamento esportivo, mas um espaço mul-

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SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 73


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PERFIL | SÉRGIO MYSSIOR

tiuso com a oferta de cursos, palestras e apresentações culturais. Eles convocaram a população e encontraram conflitos de interesses e associações de bairro que não dialogavam. Nos primeiros encontros, as pessoas se mostraram desconfiadas, acreditando que tudo já estava definido e que as conversas não fariam diferença. Aos poucos, perceberam que, de fato, poderiam interferir no processo. Começaram a conversar entre si - primeiro só sobre a obra e a confusão que enfrentariam nos dias de jogo - mas, depois, extrapolaram para os problemas do bairro Sagrada Família, que tem apagões de energia constantes, e faltam praças e espaços de lazer e convivência. “Trabalharam coletivamente a região, legitimando o empoderamento da população”, relata o arquiteto. O resultado é que conseguiram incluir no edital de concessão do estádio a participação permanente da Comissão dos Moradores. Isso significa que eles têm assento cativo na decisão em relação ao uso e operação do local. Ou seja, em todas as decisões relacionadas ao estádio, a comunidade opina e interfere. “Se os gestores decidirem que vai haver um jogo à meia-noite, eles podem se posicionar e dizer que não”, explica Myssior. Outra conquista foi o compromisso do governo de viabilizar um prédio anexo para atividades sociais e culturais. FILOSOFIA DE VIDA “Não sou um workaholic e quero trabalhar cada vez menos no sentido formal da palavra”, declara Myssior. Casado com a também arquiteta e mestre em preservação do patrimônio histórico, Luciana Rocha Féres, pai de David, de 11 anos, e de Pedro, de 8, ele planeja 74 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

Segundo a ONU, até o final deste século, 95% da humanidade estará morando em cidades. Será, portanto, no meio urbano que todos nós teremos de conseguir qualidade de vida dar mais vazão à criatividade e se envolver menos com questões administrativas. “Não me interessa ser só gestor de um bom negócio e perder o contato com a essência do meu trabalho. Desfiz sociedades lucrativas, dei mil passos pra trás em termos empresariais, mas mil passos ao encontro da minha filosofia de vida.” Em seus tempos de menino, Myssior passou longe do aluno “certinho de ótimas notas”. Era bagunceiro, da turma do fundão. Estudou numa escola que dava tanta liberdade a seus pupilos, que eles se sentiam confortáveis para jogar a diretora na piscina no final do ano. Não havia ênfase no boletim, e sim nas ideias, pesquisas e experimentações. “Talvez, por isso, na minha história, nunca estive pronto pra nada, fui me aprontando ao longo do desafio e acho que isso é bom. Sou perfeccionista, mas não extremamente planejado. Gosto da surpresa. Tenho um pré-plano e deixo a vida ir me levando. Acho que a rotina de trabalho é emburrecedora quando é apenas um exercício de variação sobre o mesmo tema.” No dia a dia, o arquiteto adota

práticas coerentes com seu discurso “sustentável”, como a do revezamento de carona para buscar os filhos na escola, a coleta seletiva do lixo doméstico e o uso de uma recém-adquirida bicicleta elétrica. “Deixo o carro na garagem sempre que dá, assim cuido de mim e ajudo o meio ambiente.” Outra inovação passa pela forma de administração de sua empresa. Lá, não existe meta de crescimento, e sim de transformar o meio ambiente, por meio da prestação de serviço. “O lucro é importante para manter o negócio ativo. Mas ele não é um fim em si”, frisa. Myssior admite ser uma visão romântica, mas defende que vale a pena adotá-la pela identificação. “Não atendemos clientes quando percebemos que não há compromisso verdadeiro com a causa ambiental. Se quiserem pura e simplesmente uma licença para viabilizar um empreendimento, não é com a gente”, avisa. A POLÊMICA DO LICENCIAMENTO Quando o assunto é “licenciamento”, o arquiteto adota a máxima de que “ruim com ele, pior sem...”. Defende que a lei é a melhor oportunidade que o empreendimento tem para se planejar. E quem o critica, de forma radical, o faz justamente por não ter a cultura do planejamento. Uma dica é inserir a questão ambiental no nascedouro dos projetos. “Além disso, é preciso haver uma mudança de consciência: não basta desenvolver um estudo, criar metas e deixar tudo só no papel. Deveria ser uma obrigação do empresário provar que está cumprindo tudo a que se propôs publicamente, independentemente de o fiscal aparecer ou não.” Outra crítica é que há uma fra-


NA CONTRAMÃO Rua Padre Belchior, no Centro de Belo Horizonte, foi pavimentada por cima do Córrego do Leitão

gilidade em relação à análise das metas e dos indicadores. Tanto que a impressão que se tem é que, para se conseguir uma aprovação, basta - pura e simplesmente - cumprir a lei. E o ideal seria que os empreendedores fossem além, incrementando os projetos e pensando neles a longo prazo. “Estamos numa sociedade que valoriza, cada vez mais, a questão ambiental. Se bem trabalhada, ela pode até mesmo ser um diferencial de marketing”, lembra. NOVA LEI FOI RETROCESSO Uma das maiores decepções de Myssior foi a mudança na Lei Ambiental do município de BH em 2010. É que, até essa data, todo empreendimento não residencial, acima de 6 mil metros quadrados, e os residenciais acima de 150 unidades, eram objeto de licenciamento. Só que na Conferência Municipal de Política Urbana de 2009, um grupo de empresários conseguiu aprovar uma tese de que meio ambiente era meio ambiente e o urbano era urbano. A partir daí, passaram a existir dois tipos de licenciamento: um urbano e outro ambiental.

A rotina de trabalho é emburrecedora quando se torna um exercício de variação sobre o mesmo tema “Ou seja, voltamos 15 anos no tempo. Isso virou o nosso Plano Diretor”. Ele alerta que, ao desatrelarmos essas duas questões, abrimos mão da legislação ambiental, da necessidade de audiências públicas e de todo o arcabouço que dá suporte às iniciativas de defesa do meio ambiente. “Já estamos vendo por aí as consequências, como a participação restrita das comunidades no processo de licenciamento urbanístico.” Myssior diz que o modelo ideal é aquele que tem a participação da população e convoca todos a participarem das reuniões dos conselhos deliberativos. “É você, cidadão, quem vai ser afetado ou beneficiado, portanto, tem que estar no centro das atenções, ser corresponsável”. A ideia é trans-

formar uma cidade “centrada nos carros” em uma cidade centrada nas pessoas, valorizando a vida em comunidade. A CIDADE IDEAL Para Myssior, Belo Horizonte se distanciou da natureza, na medida em que encobriu seus rios. A Copasa também comprova que “quase todas as grandes avenidas da cidade já foram córrego”. Com isso, a cidade foi ficando impermeável. A água que, antes, passava pelo solo, agora cai diretamente nos rios”. Então, para que voltássemos a ter uma relação simbiótica com a natureza, deveríamos ter os rios como espinha dorsal do processo de reinvenção da cidade. “Não é utopia, porque já tem algumas cidades fazendo, como na Coreia, por exemplo. Trata-se de uma ação de renaturalização e revitalização dos nossos cursos d’água”, defende o arquiteto. Assim, resolveríamos parte dos problemas com as enchentes e teríamos mais qualidade de vida com a criação de corredores ecológicos e parques lineares. “Eu sonho sempre. Nunca perco a esperança.” O SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 75


COMUNIDADE DANDARA Região não possui destinação adequada de esgoto

MERGULHO NA

COMUNIDADE

Projeto incentiva alunos a conhecerem a realidade ambiental das periferias Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

A

nalisar como algumas regiões da capital estão distribuídas no espaço geográfico, descobrir se possuem esgoto e água tratada ou entender como destinam os próprios resíduos são algumas das propostas que norteiam as pesquisas realizadas por alunos do curso de Gestão Ambiental da Instituto Unatec, em Belo Horizonte. O objetivo é fazer com que os universitários, baseados em suas próprias observações, sugiram propostas de melhorias sob a ótica ambiental em regiões consideradas com alto índice de vulnerabilidade social. Entre esses locais, no início de 2012, foram pesquisadas as comunidades do bairro Dandara, Vila Jardim São José e Nossa Senhora de Fátima no Aglomerado da Serra. Coordenado pelo professor da dis76 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

ciplina de Projeto Aplicado, Isaac Medeiros, o trabalho permitiu que os estudantes fizessem diferentes sugestões para cada uma das regiões. “A proposta é fazer com que o aluno lance um olhar sobre o território com o viés da proteção ambiental, e isso envolve aspectos da vida das pessoas, do cotidiano, da infraestrutura e do saneamento”, explica Medeiros. Ele cita como exemplo o caso da Vila São José, na região da Pampulha, que passava por alterações estruturais devido às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O educador diz que o contexto das obras influenciou a linha de pesquisa dos alunos que trabalharam na região. Um deles foi Fábio Barbosa da Penha. Ele conta que a região passava por mudanças não só vin-

das das obras do PAC, mas feitas pelos próprios moradores. O que resultou no descarte indevido do entulho de construção, tema que chamou atenção de Penha e dos colegas. “Víamos alguns moradores colocando restos de obras nas calçadas e percebíamos que muitos deles não sabiam qual a melhor forma para descartar esse resíduo.” A equipe de Fábio também observou que os moradores descartavam outros tipos de lixo e até mesmo móveis velhos nas próprias calçadas. A proposta do grupo foi, então, trabalhar a educação ambiental na Vila São José a partir do tema reciclagem e descarte correto do lixo. “Fizemos uma cartilha com telefones da prefeitura que recolhiam entulhos de obras, além de explicarmos como o problema do lixo

COLECTIVO XIBALBA

1 PESQUISA


ARQUIVO PESSOAL

As pessoas acham que têm conhecimento ambiental, mas não têm. E um pouquinho que você não sabe faz um estrago muito grande na natureza! ALINE DOS SANTOS, gestora ambiental

ATUAÇÃO Grupo de Aline dos Santos (primeira da direita para a esquerda) pesquisou a Comunidade Dandara e propôs o uso de fossas verdes na região

terra e que contamina o solo. Santos e o grupo propuseram, no relatório apresentado em sala de aula, o uso das chamadas fossas verdes. “Trata-se basicamente de uma fossa séptica, abaixo do solo, impermeabilizada com brita e areia. Por cima, são colocadas plantas não comestíveis cujas raízes são responsáveis por filtrar a água”, relata a profissional, ressaltando que o projeto é de baixo custo. A gestora conta que, graças ao trabalho, foi possível perceber como o ser humano faz diferença no meio ambiente. “As pessoas acham que têm conhecimento ambiental, mas não têm. E um pouquinho que você não sabe faz um estrago muito grande na natureza!”, conta. OUTROS EXEMPLOS Os trabalhos também foram realizados em outras regiões. No primeiro semestre, deste ano, foi a

FERNANDA WASNER “O trabalho dos alunos fomenta a pesquisa e a extensão da universidade”

ARQUIVO PESSOAL

descartado indevidamente poderia trazer doenças como leptospirose e dengue em períodos chuvosos”, conta. Os universitários também fizeram uma ação efetiva na escola da comunidade. “Criamos um jogo educativo e passamos uma manhã com as crianças abordando o tema da reciclagem e os malefícios do lixo quando descartado incorretamente”, relata Medeiros, que diz ter percebido como as crianças estão mais abertas e cientes da necessidade do cuidado ambiental. Já na comunidade Dandara, de quase cinco mil habitantes, localizada no bairro Trevo, a proposta de intervenção dos universitários foi bem diferente. Os moradores da região estudada lutam na Justiça para se tornarem donos, de fato, de um terreno ocioso de 40 hectares, propriedade de uma construtora que, desde a década de 1970, acumula uma dívida em IPTU não recolhido. Segundo a gestora ambiental, Aline Vieira dos Santos, que na época foi uma das alunas que fizeram a pesquisa na comunidade, os moradores da Dandara despejam o esgoto nas chamadas fossas negras. Um sistema arcaico de esgoto onde os dejetos são depositados diretamente num buraco feito na

vez do professor Cícero Catapreta coordenar mais três grupos de estudantes. Os locais estudados foram as regiões do Barreiro e Pampulha. Baseado nas informações relatadas pelos alunos, o educador conta que é possível fazer uma comparação entre as duas áreas. “No Barreiro existem poucos parques, já na Pampulha, temos a Lagoa. A presença ou ausência de áreas de lazer interferem diretamente na qualidade de vida dos moradores do entorno”, analisa. Diante dessas observações e dos dados valiosos, a Unatec pretende aproveitar as informações colhidas pelos alunos para ações efetivas no futuro. Segundo a coordenadora do curso de Gestão Ambiental, Fernanda Wasner, os universitários desenvolveram um plano estruturado em um catálogo com linguagem acessível para obter apoio. “Estamos no segundo semestre desse estudo, por isso, não efetivamos parcerias com empresas. Mas, na proposta, os alunos entram em contato com entidades, como ONGs e associações de bairros.” Wasner também conta que as atividades realizadas pelos estudantes fomentam a pesquisa e extensão da universidade. O SAIBA MAIS www.una.br SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 77


SAMUEL MOSER

1 INOVAÇÃO SOCIAL

Moser e sua criação pop

DOIS LITROS DE LUZ Mecânico mineiro cria lâmpada solar que já ilumina a casa e a vida de milhares de pessoas pelo mundo Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

78 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

mecânico precisava de luz para trabalhar durante o dia. Em busca de uma solução, começou a encher garrafas para fazer pequenos círculos de luz refletida. Ao ver como elas clareavam ao propagar a luz do sol, criou uma técnica para colocá-las no teto ANTONIO LUCENA / JB

M

ineiro de Uberaba, o mecânico Alfredo Moser encontrou-se, um dia, casualmente, com Chico Xavier. O médium, então, profetizou: “Moser, você vai ter uma luz na sua vida. E não vai ser só sua, vai ser do povo!” Tempos depois, o prenúncio se concretizou. Com uma garrafa PET afixada no teto, cheia de água e duas tampinhas de cloro, o mecânico criou uma lâmpada que, sem saber, iluminaria a vida de milhares de pessoas mundo afora. A ideia veio em 2002 durante os apagões que o Brasil vivia. O racionamento de energia deixou muitos lugares na escuridão, e o

da borracharia onde trabalhava. O experimento deu tão certo, que Moser também trocou as luzes da oficina que tinha em casa pela criação. Logo a luz engarrafada ficou popular entre os vizinhos que começaram a pedir que o mecânico instalasse nas casas e nos comércios deles. O inventor conta que, muitas vezes, fazia o serviço de graça ou cobrava valores baixos, como cinco ou dez reais. A criação batizada de “lâmpada de Moser” ganhou o bairro e logo outros estados. Primeiro, seu irmão, de Santa Catarina, levou a ideia para os vizinhos dele lá; depois,

Chico Xavier: "você vai ter uma luz e não vai ser só sua, vai ser do povo"


JAY DIRECTO / AFP

SAIBA MAIS

COMO FUNCIONA 1. A garrafa, encaixada no teto, leva água pura e duas tampinhas de cloro ou água sanitária; 2. A água concentra a luz do sol, como se fosse uma lente. E essa luz se espalha no ambiente escuro com a força de uma lâmpada fluorescente; 3. A água sanitária impede que cresçam fungos lá dentro. E a lâmpada funciona por anos enquanto houver sol lá fora; 4. Fazer a limpeza da garrafa anualmente garante mais claridade.

o cunhado, que mora em Brasília, instalou o invento em uma instituição perto de sua casa na capital do país. Quando percebeu que a luminária de PET fazia sucesso, o mecânico chamou a TV local para fazer uma reportagem sobre o assunto. De mídia em mídia, Moser ganhou fama nacional, e a lâmpada ficou conhecida até em outros países. IDEIA ULTRAPASSOU FRONTEIRAS No ano passado, estudantes do Massachusetts Institute of Technology (MIT) apresentaram, durante a Rio+20, uma experiência onde a criação do mecânico tinha sido usada em favelas de Manila, capital das Filipinas. A iniciativa deu tão certo por lá, que a meta do estudo é implantar a luz engarrafada nas casas de quatro milhões de pessoas pelo mundo até o final deste ano. Objetivo importante visto que segundo as avaliações do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), mais de 1,3 bilhão de pessoas vivem sem luz elétrica em todo o mundo e pagam 23 bilhões de dólares por ano para abastecer as lâmpadas

AÇÃO SOCIAL Soldados filipinos instalam a lâmpada solar em região pobre de Manila

BRASIL O consumo de energia elétrica no país, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) - do Ministério de Minas e Energia –, cresceu 3,8% em maio de 2012, em relação ao mesmo período de 2011. Boa parte dele se dá durante o dia, quando a luz solar poderia ser mais bem aproveitada. É o caso do setor de comércio e serviços que apresentou crescimento de 7,1% no consumo de eletricidade no período e cuja maior parte do funcionamento é em horário diurno.

com o antigo método da queima de querosene. Com a lâmpada de Moser, só é possível clarear locais que precisam de luz mesmo durante o dia. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) avalia que o invento tem uma potência de 40 a 60 watts, dependendo se o dia está mais ou menos ensolarado. Outro benefício da luz engarrafada é a economia. Segundo o mecânico, a conta de luz da oficina, oscilava entre R$ 70 e R$ 80. Depois que passou a usar o invento, o valor baixou para cerca de R$ 24. Uma economia de até 70%! Apesar da fama e do sucesso da criação, o inventor continua com a mesma vida modesta de antes. Ele brinca que não ficou rico com a lâmpada de Moser, mas que se

sente muito feliz ao saber que o invento dele tem melhorado a vida das pessoas pelo mundo. Generoso, demonstra profundo interesse em democratizar a invenção, frisando sempre o passo a passo simples de instalação da lâmpada. Uma das alegrias dele é ter ouvido de um casal, que graças à economia de luz alcançada em dois meses, conseguiu comprar o enxoval do filho. Outro homem, emocionado, foi à casa dele dar os parabéns pessoalmente pela descoberta. A esposa, Carmelinda Moser, conta que sente orgulho do marido. “A lâmpada faz uma economia muito grande, foi um trabalho solidário. Até mesmo quem tem condições financeiras utiliza as luzes!”, diz, animada. O SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 79


1 AMEAÇA

LISTA VERMELHA DA EXTINÇÃO Relatório alerta para o risco de desaparecimento de mais de 200 espécies e subespécies de animais e pássaros na Amazônia

José Antônio Orlando redacao@revistaecologico.com.br

O

(COP11). O megaevento reuniu, no final de 2012, chefes de Estado e ministros de 170 países, incluindo o Brasil, para avaliar o progresso em direção às metas para proteger a vida na Terra. Entre os relatórios internacionais impactantes apresentados em Hyderabad, está a lista de espécies declaradas oficialmente extintas neste começo de século e milênio. Ainda que possa haver um ou outro representante em zoológicos, centros de pesquisa ou locais ermos pelo mundo afo-

ra. São 10 espécies, incluindo dois pássaros da Amazônia, o João-de-Barba-Grisalha (Synallaxis kollari) e o Chororó-do-Rio-Branco (Cercomacra carbonaria), e o lendário Demônio da Tasmânia (Thylacinus cynocephalus). A Conferência das Nações Unidas, concebida para proteger os recursos naturais do planeta, começou com o impacto das listas de espécies em extinção e muitos apelos para assegurar que a biodiversidade não se torne uma vítima da crise financeira global.

REPRODUÇÃO

aumento do desmatamento na Amazônia colocou mais de 200 espécies e subespécies de animais e pássaros em risco maior de extinção, segundo a União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês). Os dados, que fazem parte do relatório de atualização da lista vermelha de espécies ameaçadas em todo o planeta, foram atualizados em Hyderabad, na Índia, durante a 11ª Conferência das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica

RINOCERONTE-NEGRO Caça implacável dizimou a espécie no continente africano

80 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013


REPRODUÇÃO

Quase a metade das “espécies de anfíbios,

Segundo a Agência Brasil, os delegados brasileiros e de outros países que participam da reunião de cúpula da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), um dos tratados resultantes da Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, alertam que o mundo tem apenas uma década para evitar uma extinção generalizada das espécies. Os números, compilados a cada quatro anos pela União Internacional pela Conservação da Natureza, são impressionantes: quase a metade das espécies de anfíbios, um terço dos corais, um quarto dos mamíferos, um quinto de todas as plantas e 13% das aves do planeta correm risco de extinção, segundo a “Lista Vermelha” das espécies ameaçadas. A relação incluiu 402 espécies na categoria “ameaçado de extinção”, totalizando 20.219. A lista completa tem 65.518 espécies, considerando outras categorias, como “quase ameaçado” e “extinto”. CRITICAMENTE AMEAÇADOS Entre as muitas espécies da Amazônia incluídas na “lista vermelha” está o Chororó-do-Rio-Branco

GREENPEACE / DANIEL BELTRA

ZIMBÁBUE Nativos posam com crocodilo gigante caçado por tribo no início de 2012

QUEIMADAS Prática ilegal na Amazônia ameaça conservação de fauna e flora DIVULGAÇÃO

um terço dos corais, um quarto dos mamíferos, um quinto de todas as plantas e 13% das aves do planeta correm risco de extinção

APREENSÃO Filhotes de papagaio apreendidos pela Polícia Federal: prática comum

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SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 81


(Cercomacra carbonaria), marcado como “próximo da extinção”. De acordo com a associação internacional BirdLife, a espécie ocupa áreas muito pequenas entre o Brasil e a República da Guiana, antiga Guiana Inglesa. As maiores ameaças são a construção de novas estradas em seus hábitats para servir à economia de gado e soja. De acordo com projeções atuais, estes hábitats terão desaparecido completamente em 20 anos. A BirdLife também rebaixou o João-de-Barba-Grisalha (Synallaxis kollari), da mesma região de Rio Branco, na Amazônia, de “ameaçado” para “criticamente ameaçado.” A organização afirma que o pássaro tem apenas 206 quilômetros quadrados de hábitat adequado, e eles podem encolher 83,5% nos próximos 11 anos. O relatório culpa o enfraquecimento do Código Florestal do Brasil pela taxa de desflorestamento na Amazônia e em todo o território brasileiro. A “lista vermelha” da BirdLife cobre mais de 10 mil espécies de pássaros no mundo, 197 dos quais aparecem como “criticamente ameaçadas”. Além disso, 389 aparecem como ameaçadas, 727 como vulneráveis e 800 como “quase ameaçadas”. Apenas uma espécie da lista melhorou sua condição na atualização: um dos pássaros mais raros do mundo, o Pomarea (Pomarea dimidiata), avançou de “ameaçado” para “vulnerável”. Endêmico nas Ilhas Cook, no Pacífico Sul, tinha apenas 35 indivíduos em 1983. Esforços de conservação, incluindo programas de criação em cativeiro e remoção de predadores, aumentaram a população para 380 indivíduos. ORIGEM DAS ESPÉCIES Na época em que o termo “ecologia” foi descrito pelo biólogo alemão Ernst Haeckel (1834–1919), no seu livro “Generelle Morpholo82 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

FOTOS MARCELO CAMACHO

1 AMEAÇA

RISCO Chororó-do-Rio-Branco, marcado como “próximo de extinção”, de acordo com a BirdLife

TRISTEZA João-de-Barba-Grisalha passou de ameaçado para “criticamente ameaçado”

gie der Organismen” (1866), para designar o estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, o mundo natural, considerado estático e sem mudanças, já havia sido questionado pelo estudo genial do naturalista britânico Charles Robert Darwin (1809–1882). A teoria de Darwin, que ainda hoje soa como revolucionária, conseguiu convencer a

comunidade científica da ocorrência da evolução ao reunir algumas hipóteses para explicar seu raciocínio sobre como o processo aconteceu durante milhares de anos. Segundo Darwin, a evolução, ao passo da seleção natural, deu origem à diversidade de espécies vegetais e animais pelos quatro cantos do planeta Terra. Em seu livro de 1859, “A Ori-


ALVARO SEVILLA

JORGE SOLITÁRIO Última das tartarugas gigantes que dão nome às Ilhas Galápagos

gem das Espécies” (em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), Darwin introduziu ideias que, em sua época e no século seguinte, levariam a comunidade científica a perceber que as novas descobertas do naturalista acabavam com a importante distinção entre homem e animais. Em

JONH COLLIER

PUTNEYMARK

IGUANA-MARINHA Espécie foi uma das estudadas por Charles Darwin durante sua experiência em Galápagos

DARWIN introduziu ideias que fariam os cientistas fazerem novas descobertas

paralelo a outras revoluções científicas em curso em seu tempo, o naturalista inglês marcou um capítulo dos mais fundamentais na civilização contemporânea. Mais de 150 anos depois da publicação dos estudos revolucionários de Darwin, a lista atualizada de animais, definitivamente extintos, coloca em evidência o maior desafio que se impõe em nossos

dias à espécie humana: a preservação da vida no planeta Terra. A lista de animais e plantas ameaçados de extinção é extensa e, potencialmente infinita, ainda que mídia e opinião pública concentrem referências somente a baleias, ursos polares e pandas. Veja, na listagem abaixo, alguns tristes registros de espécies que entraram para a “lista vermelha” da extinção.

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SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 83


1 AMEAÇA

PUTNEYMARK

REPROUÇÃO

EXTINTOS NO SÉCULO 20 RINOCERONTE-NEGRO Subespécie que teve por hábitat Camarões, na África Ocidental, o Rinoceronte-Negro-Africano (Diceros bicornis longipes) foi oficialmente declarado extinto em 2011. O motivo: caça implacável para a venda de seus chifres no mercado negro. Aos chifres são atribuídas propriedades terapêuticas e afrodisíacas, embora não haja comprovação científica.

experiência em TARTARUGA-GIGANTE DE GALÁPAGOS Última das tartarugas-gigantes (subespécie Chelonoidis Nigra Abingdon) que dão nome às Ilhas Galápagos, do Equador, o mundialmente famoso Jorge Solitário morreu em junho de 2012, aos 100 anos de idade. Outras espécies de tartaruga da ilha também estão sob risco, devido à baixa taxa de crescimento da população, a maturidade sexual tardia e o endemismo da espécie.

DEMÔNIO-DA-TASMÂNIA Nativo da Austrália e da Nova Guiné, o Tigre ou Demônio-da-Tasmânia (não confundir com o Diabo-da-Tasmânia, retratado como Taz no desenho animado) é considerado o maior marsupial dos tempos modernos. Foi extinto pela ação de caçadores e perda de hábitat. Podia realizar um salto bípede, de uma forma similar à do canguru. Os últimos exemplares morreram no Zoológico de Hobart, na Austrália, em 1936, mas apesar de ser oficialmente classificado como extinto, ainda há relatos de encontros em áreas ermas da Austrália.

HUIAS Nativas da Nova Zelândia, essas aves de plumagem preta, com a ponta das asas e cauda branca, papos laterais de cor laranja, foram extintas pela caça desenfreada. O exotismo das Huias (as fêmeas tinham bicos longos e curvados, enquanto nos machos eles eram radicalmente curtos) e de outras espécies locais levaram os exploradores britânicos a fomentar a crença de que toda a flora e a fauna da colônia neozelandesa eram ruins e deveriam ser substituídas por variedades dos países europeus. O último registro visual confirmado da Huia ocorreu no final da década de 1970.

84 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013


BUCARDO A subespécie de cabra Bucardo (Capra Pyrenaicatem) tem uma das histórias mais interessantes entre os animais extintos, uma vez que foi a primeira espécie a ser “ressuscitada” por meio de clonagem, em 2003, morrendo apenas sete minutos depois de seu nascimento por insuficiência pulmonar. Era natural da Cordilheira dos Pireneus, entre Andorra, França e Espanha. Sua população foi reduzida devido a uma perseguição lenta, mas contínua. No final da década de 1980, a população foi estimada entre 6 e 14 indivíduos. O último a nascer, naturalmente, morreu em 6 de janeiro de 2000, aos 13 anos.

PARDAL-MARINHO Subespécie não migratória encontrada no sul da Flórida, nas salinas naturais de Merritt Island e ao longo do rio St. Johns. O último PardalMarinho (Ammodramus Maritimus Nigrescens) morreu em 17 de junho de 1987, mas só em 1990, o animal foi declarado oficialmente extinto. A população começou a declinar em 1940, quando as autoridades locais passaram a pulverizar a região pantanosa com pesticidas, para controle dos mosquitos. O veneno contaminou a cadeia alimentar das aves que, gradativamente, entraram em extinção.

FOCA-MONGE-DO-CARIBE Espécie descoberta por Cristóvão Colombo em sua segunda viagem à América, em 1494. A Foca-monge-do-Caribe foi declarada oficialmente extinta em 1952. Sobre ela, escreveu Colombo: “Descobri um tipo maravilhoso de foca. São médias, tímidas e, aparentemente, têm boa pele, o que dá pra fazer casacos”. Daí em diante, o animal foi explorado como fonte de alimento (sua banha também era usada para iluminação e lubrificação) e para o comércio de peles. Desapareceu completamente a partir de 1952.

TIGRES-DE-JAVA Subespécie imponente, o maior dos felinos vivia na ilha indonésia de Java. No início do século 19, eram tão comuns que chegaram a ser considerados pragas e tornaram a ilha um tabu para navegadores. Com o aumento da população humana, a maior parte da ilha tornou-se área de cultivo, resultando em uma redução grave no hábitat do animal. Para se livrar do perigo, os homens caçavam os tigres. Os safáris de matanças, com o passar do tempo, foram transformados em programa de lazer para a aristocracia da Europa. O último Tigre de Java foi morto no final de 1972.

SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 85


1 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

EDUCAÇÃO AMBIENTAL Projeto já envolveu mais de 8,5 mil estudantes da região

GRANDES SALTOS Projeto Golfinho Rotador completa 23 anos de atividades em Fernando de Noronha Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

N

ão é à toa que os golfinhos nos são tão simpáticos. Sobretudo, a espécie Stenella longirostris, da família Delphinidae. Considerados animais muito inteligentes, apresentam complexa estrutura social, avançado sistema de comunicação e características surpreendentes. A área cerebral responsável pelo pensamento abstrato e conceitual nos humanos, é maior, nos golfinhos-rotadores. Esses mamíferos aquáticos vivem em agrupamentos sociais que podem variar de três a mais de dois mil indivíduos, sendo o golfinho mais abundante do mundo. Em Fernando de Noronha, arquipélogo localizado no litoral de Pernambuco, a manutenção da espécie é fruto de 23 anos de atividades de pesquisa e preservação. O projeto “Golfinho Ro86 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

tador”, comemorou seu aniversário neste mês, com saldo positivo. O projeto, patrocinado pela Petrobras, já realizou mais de seis mil dias de observação e 1.500 mergulhos com os golfinhos. Seu desafio constante é equilibrar as ações de preservação com o turismo local. Os golfinhos utilizam o conjunto de ilhas para descanso, reprodução e cuidado com filhotes, entre outras atividades importantes para a manutenção de sua população. Ainda assim, as pesquisas apontam que o turismo náutico tem impacto direto sobre os animais, resultando em seu deslocamento para novas áreas do arquipélago, como a Baía de Santo Antônio e a Entre Ilhas. De 1991 a 2005, os golfinhos ocupavam a Entre Ilhas durante 30% dos dias do ano. Hoje, há

golfinhos-rotadores descansando na região em 93% dos dias. Já na Baía dos Golfinhos, área ambiental protegida desde 1987, o tempo de permanência caiu para menos de três horas por dia, contra oito horas, nos primeiros dez anos do projeto. “Em curto prazo, a possível reação é o abandono da área e, em longo prazo, a diminuição da população”, alerta o coordenador do projeto, José Martins. “Por isso, medidas de proteção aos golfinhos precisam ser urgentemente implementadas em Fernando de Noronha. Entre elas, limitar a velocidade das embarcações em todas as áreas de concentração dos animais e não permitir o acesso de barcos às áreas de descanso preferenciais deles”, ressalta. A população de golfinhos no arquipélago é estimada em cerca


O golfinho-rotador, espécie mais numerosa do mundo, vive em agrupamentos sociais que podem variar de três a mais de 2 mil indivíduos

SAIBA MAIS www.golfinhorotador.org.br AGOSTO DE 2013 | ECOLÓGICO O 71

FOTOS PROJETO GOLFINHO ROTATOR

de dez mil indivíduos. O programa de pesquisas atua por meio de observações do comportamento da espécie, da análise dos registros de imagens e sons, da coleta de material genético e do estudo sobre as interações dos golfinhos com o turismo e a pesca. O projeto também promove, atividades para preservar o comportamento natural dos animais e iniciativas que estimulam o desenvolvimento sustentável na região, assim como a conscientização ambiental de moradores e visitantes. Em 2007, a iniciativa passou a integrar o Planejamento Estratégico Integrado de Biodiversidade Marinha - Rede Biomar - criada pela Petrobras em parceria com o Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade. Atualmente, também fazem parte da Rede, os projetos Tamar, Baleia Jubarte, Coral Vivo e Albatroz. O objetivo é fortalecer as políticas de conservação marinha, no âmbito nacional e no internacional, com linhas de atuação que ampliem o conhecimento científico sobre as espécies e promovam a inclusão social das comunidades que vivem nas áreas de atuação dos projetos. Por meio de atividades de educação ambiental, o projeto “Golfinho Rotador” atendeu mais de 8,5 mil alunos da região. Além disso, promoveu, de forma gratuita, a capacitação de jovens noronhenses em profissões relacionadas ao turismo local, como instrutor de mergulho e conversação em inglês. E também realiza um programa de consultoria gratuita em gestão sustentável aos meios de hospedagens, pelo qual tem registrado melhora na gestão do uso da água, eficiência energética, resíduos sólidos, efluentes líquidos e insumos. O


DIVULGAÇÃO

1 COMPORTAMENTO

Barbara Sukowa no papel de Hannah, fumante inveterada numa época sem a consciência ecológica de hoje

O poder do pensamento versus a banalidade do mal Eloah Rodrigues redacao@revistaecologico.com.br

"Q

uerer entender não é o mesmo que perdoar." Essa é a mensagem central do filme de Margarethe von Trotta, que retrata a vida da filósofa e professora alemã Hannah Arendt, já visto por quase 100 mil pessoas no Brasil. Mulher de fibra e personalidade forte, principalmente para a época em que se passa o filme, na década de 1960, quando já defendia a ética na política, “Hannah Arendt” vai mais fundo. Traz à tona a necessidade e a importância libertadora do pensamento humano. Propõe que somente através do pensar, e não do agir inconsciente, é que nos individualizamos e, portanto, nos tornamos autores de nossas ações. No filme que trata do julgamento do nazista Adolf Eichmann, acusado de ser um dos responsáveis pelo extermínio de seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial, Hannah faz a cobertura jornalística da audiência em Jerusalém para a revista norte-americana The New Yorker. Embora de origem judaica, ao escrever e publicar seus artigos, ela propõe novas e corajosas formas de analisar a violência do criminoso, enxergando-o também como um ser desprovido da humanidade de pensar, ou seja, um mero cumpridor de ordens. 88 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

Com isso, a intelectual, autora de obras como “A Condição Humana”, promove a revolta e a repulsa de toda uma sociedade que ansiava pela condenação implacável do acusado, inclusive dos judeus. Assim, o diretor do filme é perspicaz. Talvez sejam mesmo coisas diferentes, tentar entender e perdoar e, portanto, as indagações suscitadas no filme, um tanto atuais. Podemos até compreender os motivos que geram tanta violência e revolta popular nos dias de hoje, no Brasil e no mundo, vide as manifestações públicas coordenadas pelas redes sociais. Porém, segundo Hannah, isso não significa perdoar aqueles que, sem querer querendo, comprometem com seus atos o bem-estar e a dignidade alheias. Logo, quem sabe, ao procuramos ser mais responsáveis e coerentes, estando no mínimo mais atentos aos nossos pensamentos e reflexões, poderemos ter uma sociedade mais organizada e justa? Afinal de contas, como é mostrado magistralmente no filme, não podemos e nem devemos nos acostumar com o que Hannah Arendt chamava de “a banalidade do mal", mesmos que ainda enraizada no comportamento humano! Confira algumas de suas reflexões, que a ECOLÓGICO selecionou:


REPRODUÇÃO

● HUMANIDADE “Quem habita este planeta não é o Homem, mas os homens. A pluralidade é a lei da Terra.” “A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos.” “É somente através do discurso e da ação que os seres humanos se manifestam uns aos outros, não como meros objetos físicos, mas enquanto homens.”

● SER RADICAL “O mais radical revolucionário torna-se-á um conservador no dia seguinte à revolução.”

● EDUCAÇÃO “A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele.” “A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver.”

● DOR “Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história.”

● VIVER “Há uns que nos falam e não ouvimos. Há uns que nos tocam e não sentimos. Há aqueles que nos ferem e nem cicatrizes deixam. Mas, há aqueles que simplesmente vivem e nos marcam por toda vida.”

● PENSAR “Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência. Ela não é apenas sem sentido, ela não é totalmente viva. Homens que não pensam são como sonâmbulos.”

PERSONAGEM Intelectual e contestadora na vida real (1906 - 1975)

singular do nosso aparecimento físico.” “Uma existência vivida inteiramente em público, na presença de outros, torna-se, como diríamos, superficial.” “O conservadorismo, no sentido da conservação, faz parte da essência da atividade educacional, cuja tarefa é sempre abrigar e proteger alguma coisa.”

● BONDADE “Só a bondade deve esconder-se de modo absoluto e evitar qualquer publicidade, pois do contrário é destruída.”

● REALIZAÇÃO “É na esfera política e pública que realizamos nossa condição humana.” “Com palavras e atos nos inserimos no mundo humano, realizando um segundo nascimento, no qual confirmamos e assumimos o fato original e

● MENTIR “As mentiras sempre foram consideradas instrumentos necessários e legítimos, não somente do ofício do político ou do demagogo, mas também do estadista.” SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 89


1 COMPORTAMENTO ● REALIDADE “Somente quando as coisas podem ser vistas por muitas pessoas, numa variedade de aspectos, sem mudar de identidade, de sorte que os que estão à sua volta sabem que veem o mesmo na mais completa diversidade, pode a realidade do mundo manifestar-se de maneira real e fidedigna.”

● VIDA PÚBLICA “Ser visto e ouvido por outros é importante pelo fato de que todos veem e ouvem de ângulos diferentes. É esse o significado da vida pública.”

● VIOLÊNCIA “A violência é capaz de destruir o poder, mas nunca de substituí-lo.” “A violência não reconstrói dialeticamente o poder. Paralisa-o e o aniquila.”

“A violência aparece onde o poder está em risco. Mas, deixada a seu próprio curso, conduz à desaparição do poder.”

● PODER “O poder só é efetivado enquanto a palavra e o ato não se divorciam, quando as palavras não são vazias e os atos não são brutais. Quando as palavras não são empregadas para velar intenções, mas para revelar realidades. E os atos não são usados para violar e destruir, mas para criar novas realidades.” “O poder é, de fato, a essência de todo governo, mas não a violência.” “Poder e violência são opostos; onde um domina absolutamente, o outro está ausente.” “O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e existe somente enquanto este se conserva unido.” O MARCELO CAMARGO / ABR

“Onde quer que a violência domine de forma absoluta, como nos campos de concentração e nos

regimes totalitários, não apenas as leis, mas tudo e todos devem permanecer em silêncio. Somente a pura violência é muda.”

“O poder emerge onde quer que as pessoas se unam e ajam em conjunto”

90 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013


anos

Evangelho, Cultura e Educação há 15 anos na programação da TV Horizonte.

redecatedral.com catedralrededecomunicacaocatolica redecatedral


1 JORNALISMO

ARQUIVO PESSOAL

CELIUS AULICUS Como JK, a prova de que ninguém nasce, impunemente, em Diamantina

NOS TEMPOS DO GENERAL Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais lança o livro “O muito amado”, em homenagem a Celius Aulicus

E

m Belo Horizonte, os jornalistas da chamada “velhaguarda” o conheceram. Já entre a geração jovem, o nome Celius Aulicus Gomes Jardim, praticamente, não evoca lembranças. Nem mesmo quando é informada de que se trata do “General”, apelido com o qual ficou conhecido um dos mais versáteis e talentosos profissionais da imprensa brasileira, também escritor, poeta, humorista e cozinheiro de mãocheia. O apelido vem do pseudô-

92 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

nimo General da Banda, com o qual assinava uma coluna de humor no extinto jornal “Binômio”. Dono de um estilo elegante, por vezes crítico, irreverente e mesclado de humor, Celius Aulicus foi um mestre na arte de retratar o cotidiano de Belo Horizonte em suas crônicas, algumas das quais reunidas no livro “Podem dizer que não falei de flores”, lançado em 1991. Também se destacava pela ampla cultura geral. Numa época em que não havia internet,

era a ele que os colegas recorriam como fonte para esclarecimento de dúvidas sobre temas diversos para as quais tinha sempre uma resposta correta. Com o propósito de resgatar sua obra e memória, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais lançou neste mês, na abertura da 3ª Mostra de Arte dos Jornalistas Mineiros, o livro “Celius Aulicus, o muito amado General”. A obra contém parte do vasto legado deixado pelo jornalis-


DIVULGAÇÃO

ta e depoimentos de parentes e pessoas que conviveram com ele. Dessa lista fazem parte Cyro Siqueira, Dídimo Paiva, Mauro Werkema, José Maria Rabelo, Dinorah do Carmo, Hélia Ventura, Hiram Firmino, Mirthes Helena, Bley Barbosa, Délio Rocha, Arnaldo Viana, Clara Arreguy, Beatriz Lima, Juliana Gouthier, Cássius Jardim (Bareta) e Júlia Jardim. A capa do livro é ilustrada com uma charge de Ziraldo em homenagem a Aulicus pelos 50 anos de militância jornalística comemorados em 1984. Naquela data, foi realizada uma festa intitulada “Noite do General I”, no ex-Cine Santa Tereza, situado no bairro de mesmo nome na capital mineira. Na reprodução, podem ser conferidas assinaturas dos vários colegas e amigos que foram prestigiá-lo in memoriam. O evento teve apoio da Prefeitura de Belo Horizonte, da Secretaria de Estado da Cultura e da Cachaça Coluninha, com patrocínio do BDMG Cultural, Copasa, Cemig, CBMM e Revista ECOLÓGICO.

MEMÓRIA Capa criada por Ziraldo e assinada por seus colegas: lembranças vivas e afetivas

Um escorpião de pessoa Délio Rocha

Celius Aulicus Gomes Jardim nasceu na terra de Juscelino em 28 de outubro de 1918, sob o confuso signo de escorpião, exatamente 15 dias antes do fim da Primeira Grande Guerra. Aliás, tem muita gente que afirma que ela acabou exatamente por isso: “ficaram com medo que ele a avacalhasse”. Estudou, ou melhor, matriculou-se em muitos grupos, ginásios, pré-médico (que era o único cursinho oficial daquele tempo) e em quase todas as faculdades de Niterói (RJ) e em outras ainda piores. Entrou

para o jornal como repórter e logo passou a redator-secretário da “Revista da Semana”, no Rio, e secretário da oficina de diversos jornais. Na “Última Hora” mineira, chegou a escrever quatro colunas por dia, além de trabalhar na Rádio Inconfidência, “Jornal da Cidade”, de ser chefe de oficina do “Diário de Minas” e redator do “Binômio”, onde era o General da Banda. Chegou a trabalhar, aos 14 anos, como tipógrafo. Aos 16, fez sua primeira reportagem no dia 17 de dezembro de 1934. Contra a vontade, trabalhou até

o fim. No “Estado de Minas”, assinava a coluna “O Homem Que Ri”. Continuou na casa, como cronista e redador da 2ª Seção. Começou em literatura infantil, escrevendo para a Editora Comunicação e para a Universidade Popular da Manhã, da antiga TV Itacolomi. Também escreveu contos e poesias secretas. “Aliás, ainda penso poesias até hoje, mas afasto logo os maus pensamentos” – dizia. Este foi Celius Aulicus, responsável pela formação de muitos bons jornalistas que ainda trabalham até hoje.

SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 93


1 JORNALISMO

Meu pai adotado Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

E

u conheci e virei “filho” auto-adotado do General pelas conhecidas linhas tortas de Deus. A primeira delas aconteceu no “Jornal da Cidade”, do velho Jofre Alves Pereira, onde Celius Aulicus fazia o copydesk. Recémchegado de Caxambu para fazer cursinho, eu trabalhava de office -boy no ex-Banco Mineiro do Oeste (hoje Bradesco), de propriedade do famoso empresário João do Nascimento Pires, amigo e anunciante contumaz dos “Diários e Emissoras Associados”. O banco ficava no mesmo quarteirão do jornal “Estado de Minas”. Como havia conseguido esse emprego por meio de “pauzinhos” políticos, através deles também consegui uma ordem de cima para baixo para poder escrever no Jornal do Jofre. Ou seja, o General tinha que aceitar goela abaixo as crônicas que eu costuma escrever na minha terra natal e as julgava geniais ao chegar a BH. Pronto. O meu futuro pai passou a rabiscar meus textos, sem me conhecer. O tempo passou, a segunda linha torta aconteceu. Recém-formado, comecei a trabalhar como “foca” no “Estado de Minas” e com quem me deparo? Com o iráscivel, em carne e osso, Celius Aulicus Gomes Jardim, copydesk da valorosa Editoria da Cidade. Foi a vingança esperada por ele. Eu escrevia minhas matérias cheias de efeitos e palavras bonitas, com “narizes de cera” enormes, achando sempre que, no mínimo, iria ganhar o Prêmio Esso 94 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

Ele era o cara mesmo, considerado e admirado como a 'última reserva moral' da profissão e de todos nós, naquela época de Jornalismo, derrubar o governador, fazer a revolução no mundo e... quando elas chegavam às mãos do General, ele berrava pra toda redação ouvir: - De quem é o texto deste burro, que não sabe ler nem escrever, deveria é voltar pro curso primário? - É meu! Eu respondia. E ele riscava mais ainda. Reduzia minhas brilhantes e extensas linhas em apenas o necessário. Reduzia toda a matéria, enfim, à essência jornalística do que o texto tinha de informar. Isso, quando não amassava todas as laudas e, literalmente, as jogava no lixo, na frente de todo mundo, fulo da vida. Foi duro, mas exemplar. Leonino da gema, tive de ficar humilde na marra. E aprender, bem mais tarde, depois de enfrentá-lo e perder todas as brigas, que ele era “o cara”. Tinha experiência, talento e o que mais falta em um profissional de jornalismo: poder de síntese, dó do leitor. RESERVA MORAL Mesmo atrás da sua cara fechada, do seu mau humor e da sua fran-

queza franciscana em não transigir ou dourar qualquer pílula, ali existia o verdadeiro jornalista e ser humano, culto, ético e incapaz de fazer qualquer concessão que ferisse seus princípios. Ele era o cara mesmo, considerado e admirado por todos como a “última reserva moral” da profissão e de todos nós, naquela época. Resultado: sem mais aquele meu orgulho que ele detonou, eu passei a ser seu fã. Adotei-o como pai e ele me aceitou, sem nunca dizê-lo. Viramos amigos, de copo, de mesa e de vida. Minha única tentativa de contra-vingança, que também não deu certo, ocorreu quando, de sacanagem, eu busquei no dicionário e enfiei o verbo “incrustar” numa matéria qualquer, só para desafiá-lo, ver a reação dele. Não deu outra. Logo seu gritou ecoou pela redação inteira ouvir: - Ô burro, iletrado, volte à escola para aprender escrever certo. Isso aqui não existe! - Existe sim! Eu o enfrentei com uma coragem calculada. O tempo ferveu. Eu, jovem e pretensioso. E ele, o mais antigo, intelectual e respeitado profissional de impressa mineira. Para resolver a briga, alguém teve a ideia de buscar o dicionário, o “pai dos burros”, para dirimir a contenda. Silêncio na redação. Eu ganhei. Mas o General, que era do signo teimoso de escorpião, não se deu por vencido. Disse, em alto e bom tom, que quem estava errado era o... Aurélio!


ARQUIVO PESSOAL

Olha lá, o Roberto Drummond! O Carlos Herculano também, saindo de fininho!

- Ok, General. Você venceu! Eu lhe respondi e nunca mais o enfrentei novamente. Pelo contrário, a nossa relação tornou-se mais profunda e companheira, a ponto de vesti-lo e ajeitar sua barriga dentro do caixão apertado que nos roubou, para sempre, o seu convívio. MUITAS EMOÇÕES Foram muitas as emoções, histórias impagáveis e curiosidades jamais explicadas ao seu lado. Como nós, então jovens, petulantes e tão diferentes, gostávamos de conviver com uma pessoa assim, bem mais velha, ranzinza por fora e cômica por dentro? Um homem surdo (de tanto levar “telefone” da ditatura militar), que só ouvia o que lhe interessava? Só falava o necessário, tinha a cara feia e, além de crítico e humor ácido, não se esforçava jamais para agradar a ninguém? A sua humanidade, o seu não preconceito, o ser criança peralta e verdadeiro que ele era. O Batista, a Déa Januzzi, o Rogério Perez e o Arnaldo Viana e tantos outros companheiros queridos que o digam, afortunados e felizes que fomos. Quando começou a novidade dos filmes pornô no Brasil, ele foi o primeiro a liderar a turma. A gente ia escondido no Cine Candelária logo após o almoço, para voltar ainda cedo pro jornal, e ninguém notar a nossa ausência. Ou matávamos o final da tarde pra dali mesmo, da Praça Raul Soares, cheios de tesão, vergonha e culpa cristã, irmos paras nossas casas.

PRESTÍGIO Celius Aulicus, ao lado de Olympio Coutinho, no lançamento de seu livro de crônicas

Era surrealista, engraçado demais! Cinco minutos antes de o filme acabar, todos saíamos do cinema ainda escuro, pra ninguém nos reconhecer. E, mesmo quem se via e iria se reecontrar minutos depois no jornal, fingia que não estava vendo. Menos o General, que denunciava todos, esquecendo-se de que ele também estava ali: - Olha lá, o Roberto Drummond! O Carlos Herculano também, saindo de fininho! Quantas vezes dei carona para ele até a sua casa, após assistirmos às Emanuelles da vida. Com o dobro da minha idade, ele não dava uma só palavra durante o percurso. Mas, chegando no portão da sua casa, ficava pensativo, existencialista, e repetia sempre ao se despedir: - É! Deixa eu entrar na minha gaiolinha de ouro! VELHA GRUTA DA RUA GOIÁS Do lado do jornal, na Rua Goiás, existia o Bar do Chico, onde a maioria de nós tinha conta, pendurava boa parte de nosso salário. Um dia eu cheguei mais cedo e fiquei sabendo que, na noite ante-

rior, ele tinha aprontado. Mesmo com diabetes, surdez, excesso de peso, dor na coluna e por aí afora, ele bebia pinga, tomava cerveja e comia os pastéis mais gordurosos possíveis que o Chico fazia. Mas, o que houve de novidade? O General tinha ficado bêbado (quesito que sempre fora discreto ou ninguém percebia) e brigado com todo mundo. Quando, no dia seguinte, ele apareceu com a cara limpa na redação, como se nada tivesse acontecido, eu tentei lhe dar uma lição de moral: - O que você fez ontem, General? Na sua idade, ficar bêbado, brigar com os outros e passar mal?!. Ele me esperou, pacientemente, desfilar todos os adjetivos. E foi sintético, sem meias verdades, como fazia com os nossos textos: - Ué?! Você acha que eu bebo, gasto dinheio e penduro a conta, porque a pinga causa acidez, a cerveja é amarga e o pastel é ruim? Eu bebo é pra ficar bêbado mesmo e... aguentar ocêis! Este era o nosso General da Banda, o pai querido e adotado por todos nós. SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 95


Orthomyxoviridae Organismo parasita que vive em associação com outro organismo do qual retira os meios para a sua sobrevivência. Normalmente o parasita prejudica o seu hospedeiro, podendo levá-lo à degradação e à morte, em um processo conhecido como parasitismo. É comum que o parasita morra com o seu hospedeiro.

Homo Sapiens Organismo parasita que vive em associação com outro organismo do qual retira os meios para a sua sobrevivência. Normalmente o parasita prejudica o seu hospedeiro, podendo levá-lo à degradação e à morte, em um processo conhecido como parasitismo. É comum que o parasita morra com o seu hospedeiro.

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VEM AÍ O 5º PRÊMIO ABAP

DE SUSTENTABILIDADE -MG, Alexandre Moreira (foto), a iniciativa vem se modernizando e, este ano, está mais criteriosa com os métodos de avaliação. “Uma grande preocupação que temos com o Prêmio ABAP é, a cada nova edição, aperfeiçoar sua metodologia e critérios de julgamento. Um passo importante agora é a avaliação em separado das campanhas publicitárias, os projetos de comunicação e as ações isoladas, de forma que uma peça brilhante GLAUCIA RODRIGUES

C

ada empresa é um sistema, que influencia amplamente a economia, a vida de seus empregados, o meio ambiente e a comunidade em que está inserida. Para que sua atuação tenha um padrão sustentável, é preciso considerar o impacto causado por seus produtos e processos, incorporando práticas efetivas de compromisso com o desenvolvimento socioambiental. Pensando em apoiar essas iniciativas voltadas para a sustentabilidade, a Associação Brasileira de Agências de Publicidade, estadual Minas Gerais (ABAP-MG) abriu as inscrições para a sua quinta edição que, este ano, será realizada em 25 de novembro. Criado em 2009, o prêmio se destaca por reconhecer empresas e agências que melhor comunicam práticas sustentáveis. De acordo com o presidente da ABAP-

não deixe de ser premiada em função de uma campanha multiplataforma”, explica. As categorias continuam as mesmas: “Melhor Anunciante”, “Educação”, “Mobilização” e “Institucional”. Porém, os trabalhos inscritos serão subdivididos dentro de cada categoria, como: OCampanha publicitária: veiculada em dois ou mais meios de comunicação (jornal, revista, TV, rádio, out of home, mobile marketing, etc.). O Peça ou ação isolada. O Projeto de comunicação: deve utilizar uma ou mais das seguintes plataformas de comunicação: comunicação interna, eventos e ações promocionais e ações de relações públicas. SAIBA MAIS As inscrições estão abertas até o dia 11 de outubro pelo site www.premioabapsustentabilidade.com.br


1 VOCÊ SABIA?

BIORRITMOS Fernanda Mann

redacao@revistaecologico.com.br

REPRODUÇÃO

QUANTO TEMPO O TEMPO TEM? O tempo é relativo. Um piscar de olhos e sete batidas de asa de um beija-flor duram um décimo de segundo. Em um minuto, o coração de um camundongo bate mil vezes. Em um segundo, o coração de uma pessoa saudável bate uma vez e a Terra percorre 30 km de sua órbita em torno do sol. A luz dessa estrela chega ao nosso planeta em cerca de oito minutos. A rotação da Terra diminui constantemente devido à ação da gravidade da lua e a outras influências, durando atualmente 23 horas, 56 minutos e 4,1 segundos. A lua completa sua órbita dois milissegundos mais devagar a cada ano, pois está se afastando de nosso planeta. E este levou um bilhão de anos para esfriar, desenvolver mares, assistir ao nascimento do primeiro organismo vivo, composto por apenas uma célula, e trocar sua atmosfera inicial, rica em dióxido de carbono, pela atual, abundante em oxigênio.

MARCIAL

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RELÓGIOS NATURAIS O momento em que a ipomeia abre suas pétalas ao amanhecer. O outono, que chega de mansinho, e com ele os gansos que alçam voo em direção ao equador. Os gafanhotos que formam nuvens a cada 17 anos e o ciclo diário de um simples bolor na formação de seus esporos. As ondas mensais dos hormônios que levam à menstruação e os acessos de melancolia do inverno. Se a civilização moderna não respeita esses ritmos sazonais é, em parte, porque os seres humanos estão entre as criaturas menos sensíveis aos relógios biológicos. Mas, a verdade é que nosso corpo está cheio deles.

O CICLO CIRCADIANO Como parte de um organismo maior, que é o planeta Terra, os seres vivos têm um ritmo de sincronismo compartilhado. O chamado ciclo ou ritmo circadiano é o compasso sobre o qual se baseiam os ciclos biológicos dos seres. Influenciado, principalmente, pela variação de luz, temperatura, marés e ciclo lunar, regula os ritmos fisiológicos dos organismos. Exerce influência sobre a digestão, o estado de vigília e de sono, a renovação das células, o controle de temperatura, a mudança de plumagem e as temporadas de acasalamento. Relacionam-se à dinâmica climática da Terra, às estações do ano, às correntes eólicas e às migrações de animas que cruzam oceanos, por água e por terra. 98 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013


HIPOTÁLAMO

COM AS PLANTAS NÃO É DIFERENTE Da mesma forma que nos demais seres vivos, o ritmo circadiano das plantas está diretamente ligado aos processos fisiológicos, como seu adormecer e despertar e o abrir e fechar das flores. Ele é orientado por níveis baixos de luz e comprimentos de onda específicos, indicando que é provavelmente mediado por fotorreceptores, tais como os fitocromos (sensíveis à luz vermelha) e os criptocromos (sensíveis à azul).

GD08

GLÂNDULA PINEAL Houve uma época em que essa glândula era considerada um órgão vestigial, ou seja, sem função alguma. No entanto, parece não haver dúvidas quanto à sua atuação direta na regulação do compasso dos ciclos vitais aos ritmos circadianos. A glândula pineal é grande na infância e reduz de tamanho na puberdade, mas exerce, continuamente, um papel importante no sono, no desenvolvimento sexual, na hibernação, no metabolismo, na procriação sazonal e nas migrações. Reconhecida pela ciência como o centro de relacionamento com esse ritmo abrangente de toda a vida, o órgão já chamava a atenção das mais variadas correntes religiosas e místicas, há milhares de anos. O filósofo e matemático René Descartes (foto), em carta ao contemporâneo Marin Mersenne, datada de 1640, afirma que existia no cérebro uma glândula que seria o local onde a alma se fixaria mais intensamente. O “terceiro olho”, para os praticantes de ioga.

FRANS HALS

MAS COMO É POSSÍVEL? No corpo humando, a área sensível às interferências rítmicas naturais e biológicas está localizada no hipotálamo, na base do cérebro, chamada núcleo supraquiasmático. Esse é o centro primário da regulação dos ritmos circadianos. Através da sensibilidade à luz, a retina o comunica por fotorreceptores. A informação que atinge o núcleo supraquiasmático é interpretada por ele e encaminhada à glândula pineal.


MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

MARCOS GUIÃO

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NATUREZA MEDICINAL

A planta é indicada nos quadros de arritmia cardíaca, regulariza as funções renais e o excesso de ácido úrico

Coração retoma ritmo com saboroso chá de

CONGONHA-DE-BUGRE C om um facão na cinta e um saco de linhagem nas costas, eu penava para acompanhar as largas passadas de Chico da Mata, enquanto a gente se embrenhava por um Cerrado cada vez mais denso. Os galhos desviados por ele, vez por outra, me alcançavam de cheio e, por isso, dei de andar mais na larga, recuado de seu poderoso enxadão sempre dependurado nos ombros. Na descida de uma grota, enquanto me equilibrava para não me arribar com as pernas pro ar, dei reparo numa lindeza de planta, com folhas de um verde profundo e brilho incomparável. Parei e indaguei ao Chico, que já caminhava bem à frente, se ele tinha ciência daquela planta. Grande conhecedor dos segredos sertanejos, fez uma pose estudada, se virou e, com as mãos na cintura, me deu uma esnobada... - Uai, cê num conhece uma tanteira de prantas? E essa coisica daí cê num sabe? Tô te estranhando... Meio sem graça, dei reparo nos detalhes daquela folha de nervuras bem definidas, dura, pendurada num pau seco e fino, formando mais uma moita que uma árvore. Resignado, rendi-me a minha absoluta insignificância: - Conheço não Chico, pare de mistério e me diga logo o que é... - Pois antão! Tu tá com a Congonha-de-Bugre nas mão. Eita que isso dá um chá gostoso sem base! Carece de você colher um bocado das foias, que loguinho

100 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

vamo tumar um chá lá em casa. Tendeu? Assenti com a cabeça e, humildemente, fiz a coleta, enquanto matutava como é que aquele homem conseguia distinguir tantas plantas no meio de outras tão parecidas. Ao final da tarde do mesmo dia, pude comprovar o sabor agradável do chá que veio acompanhado de generosos pedaços de queijo fresco. Ainda com perguntas na cabeça, mas sem querer “entregar” minha ignorância ao Chico, voltei pra casa e me lancei na busca de mais informações sobre as propriedades medicinais da Congonha-de-Bugre (Rudgea viburnoides). São muitas as indicações, e a mais conhecida é, talvez, sua ação tônica cardíaca, com clara indicação nos quadros de arritmia. Outra qualidade é o estímulo à diurese, regularizando as funções renais ou o excesso de ácido úrico circulante, que, invariavelmente, provoca fortes dores nas articulações das sofridas crises de “gota”. De quebra, ela também atua nos casos de aumento das taxas de colesterol, triglicérides e, até agora, todos os testes farmacológicos apontam que seu uso é extremamente seguro. Foi assim que se dei com essa coisica, que além de ser gostosa, tem uma tanteira de indicações. Até a próxima lua! O SAIBA MAIS www.naturezadosertao.com.br (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais



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OLHAR POÉTICO ANTONIO BARRETO

ISCA DE PÁSSARO É

PEIXE NA GAIOLA I

sca de pássaro é peixe na gaiola mas isca de peixe é pássaro preso na vitrola? Silêncio de pássaro é realejo e viola mas silêncio de peixe é pássaro quando vai embora? Relógio de pássaro é fora de hora mas relógio de peixe é pássaro cheio de nove-horas? Canto de peixe é minhoca na isca mas canto de pássaro é peixe na correnteza arisca? Tempo de peixe é o que o pássaro trisca mas tempo de pássaro é o peixe que a água cisca? Na casa do poeta: gaiola e aquário E a música antiga de um realejo Só ele não sabe que o tempo é vário E o peixe é o pássaro <<<(quase imaginário)>>> ...)apenas com penas(... do seu desejo

(*) Este poema faz parte do livro ‘Isca de Pássaro é Peixe na Gaiola’, lançado em agosto de 2013 no Salão do Livro de BH, com projeto gráfico, capa e ilustrações do designer italiano Maurizio Manzo 100 O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2013



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MEMÓRIA ILUMINADA

104 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013


AZEVEDO ANTUNES O minerador humanista Hiram Firmino e Alexandre Salum redacao@revistaecologico.com.br

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FOTOS REPRODUÇÃO

ugusto Trajano de Azevedo Antunes. O sabe muito, é quem aprende rápido”. Em 1965, criou nome de batismo, pomposo e mitológico de a MBR –Minerações Brasileiras Reunidas, hoje Vale, imperador romano, nada teve a ver com a resultado da junção de reservas da Caemi e da St. origem modesta do paulistano filho de educadores, John Del Rey Mining. que nasceu em 20 de setembro de 1906 e morreu em Seu grande feito, em termos ecológicos, foi ter seis de agosto de 1996. Em seus quase 90 anos de vida, tornado realidade, pela primeira vez no Brasil, um construiu, com esforço e trabalho, uma biografia projeto de preservação ambiental e desenvolvimento invejável de empresário pioneiro, ético e visionário, sustentável em plena selva amazônica, quando o principalmente na mineração. Tinha nervos de aço. mundo ainda não falava sobre isso. Precursor do Por causa de seu estilo empreendedor, independente conceito de empresa-cidadã, através de ações de e nacionalista, é comparado ao “Barão de Mauá” do educação e programas sociais, seus empregados século 20, referência a Irineu Evangelista de Souza, e a natureza local tinham direito até aos esgotos banqueiro, armador e criador da primeira ferrovia tratados, fato pouco comum à época. do Brasil, símbolo da industrialização do país. Sem O livro “Mineração no Brasil: História e Seus nenhuma herança de capital, o engenheiro Azevedo Grandes Vultos”, lançado em 2006 pelo Instituto Antunes ou Dr. Antunes chegou a liderar um império Brasileiro de Mineração (Ibram), em parceria com de 30 empresas - cuja memória será reverenciada a MBR e a Vale, enfoca a vida e obra de Augusto no IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Trajano de Azevedo Antunes, “O Homem que Amor à Natureza “O Oscar da Ecologia 2013”. realizava”, conhecido como o “rei do ferro”- título Em 1942, quando a mineração no Brasil era uma de que ele não gostava-, um dos maiores ícones do atividade rudimentar e pouco atraente, ele criou setor no país. Segundo lembra o ex-presidente do a Icominas, Indústria e Comércio de Minérios na Instituto, Paulo Camilo Penna, na orelha do livro, cidade mineira de Itabirito. No início da década de produzido pela Léo Christiano Editorial, “há mais de 1950, já comandava a Caemi Companhia Auxiliar de meio século, o Dr. Antunes, como ele era chamado, Empresas de Mineração, que incorporou a Icomi e deu teve a audácia de empreender, o primeiro grande partida na exploração de manganês projeto de mineração na Amazônia, na Serra do Navio, no Amapá. Bem na época mais inóspita ainda, humorado, gostava de dizer que dois provando ao país e à comunidade estadistas marcaram profundamente internacional ser possível minerar a sua vida: Gamal Abdel Nasser com responsabilidade social e (1918-1970), o presidente egípcio ecologia humana”. que fechou o Canal de Suez em 1956, “Antunes era um brasileiro purodificultando as exportações da Índia sangue”, também prefacia Eliezer de manganês e disparando o preço Batista da Silva, ex-presidente da Vale, no mercado. E Nikita Kuruchev seu amigo e companheiro de anos: (1894-1971), primeiro ministro “Profundo conhecedor de pássaros e, soviético, porque com a Guerra Fria em especial, amante de beija-flores, cancelou a venda de manganês para Azevedo Antunes, o mais patriota dos os Estados Unidos, fazendo subir homens que conheci, foi a jazida mais vertiginosamente o preço do minério, valiosa que Deus colocou em terras viabilizando ainda mais a exploração brasileiras”. Baseado nesta publicação, no Amapá.Também gostava de citar confira aqui o pensamento iluminado LIVRO vida e obra de Guimarães Rosa, “sábio não é quem do Dr. Antunes. Augusto Trajano

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MEMÓRIA ILUMINADA DIVULGAÇÃO

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“Profundo conhecedor de pássaros e, em especial, amante de beija-flores, Azevedo Antunes, o mais patriota dos homens que conheci, foi a jazida mais valiosa que Deus colocou em terras brasileiras” ELIEZER BATISTA

● NEGÓCIO “Negociador esperto é o negociador honesto. Só argumenta com a sinceridade e a sinceridade sempre transparece.” ● CAPITAL “Capital é muito mais do que recursos materiais. Cada um de nós detém uma parcela de capital, é capitalista no sentido da experiência que acumulou.” “Tudo e todos se confundem em capital e trabalho. Capital é aquilo que sobrou do que foi gasto.” “A noção de capital está na experiência adquirida ao longo da vida, em nossos relacionamentos humanos, no patrimônio artístico e cultura. Está na sabedoria.” “O importante é reconhecer que a origem do capital. Seja ele qual for, é social. Mas social não é só a origem do capital, mas também o seu fim. O capital, até pelo seu destino, precisa ser social. E isso não são palavras vazias.”

● TRABALHO ESCRAVO “É certo que a humanidade 106 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

viveu do trabalho escravo. Mas é preciso, por isso mesmo, eliminar as desigualdades e injustiças. Na medida em que o indivíduo tenha consciência disso, terá mais humildade e consciência de que do mundo nada se leva.

● NATUREZA “As plantas são os únicos seres vivos que não nos agridem.”

● EMPRESA E EMPRESÁRIOS “É preciso que os empresários se deem conta da sua missão social e reconheçam que representam uma pequena minoria a serviço da grande maioria que compõe a sociedade humana”. “Deixai aos demagogos impiedosos a tarefa de semear a confusão e a discórdia. Vossa missão é o trabalho paciente, fecundo e criador.” “A missão do empresário é conjugar e harmonizar o capital e o trabalho, em benefício da coletividade. Não há que dar prioridade nem ao capital nem ao trabalho. A prioridade número um é e só pode ser a da sociedade.”

“Cada empresa, dirigida por empresários esclarecidos e imbuídos de elevado espírito social, significa uma célula sadia de resistência à obra avassaladora da destruição e negação.”

● INICIATIVA PRIVADA “A democracia não conseguiu ainda sobreviver em um único país em que tenha sido eliminada a iniciativa privada. Onde não há livre iniciativa para o trabalho, não há, não pode haver livre iniciativa para o pensamento e a fé.” ● ESTADO “Ao Estado não compete substituir-se aos homens de empresa, anulando a livre iniciativa para colocar-se na posição totalitária, como juiz de seus próprios atos.” “É para esse perigo do estatismo que chamo vossa atenção. Quando os tentáculos do Estado onipotente começam a se estender por toda parte, para sugar, absorver e destruir a livre iniciativa, consequentemente, a liberdade de pensar e agir passa a


“Cabe aos homens de empresa o papel de deter a marcha do gigantismo estatal, do estatismo cego e fanático servido pela ingenuidade de alguns e por interesses escusos e ambições políticas espúrias de muitos.”

● BRASÍLIA “Brasília é uma típica chapada. É tão porosa que, quando bate chuva, não se forma lama nem se veem enxurradas. A água se infiltra rápida, sem deixar vestígios.” JOSÉ CRUZ / AGÊNCIA BRASIL

ser ameaçada e o caminho fica aberto para os extremismos de toda natureza.”

“Contra o gigantismo estatal oponhamos a força de nossa capacidade criadora, orientada no sentido do bem comum. Contra o nacionalismo sectário e estéril, levantemos o nosso patriotismo sadio, a nossa disposição de lutar pela emancipação e soberania nacionais, sem xenofobia e sem medos alucinatórios.”

● PERSEVERANÇA Só a perseverança pode propiciar. Os perseverantes não conhecem a derrota, mas apenas insucessos transitórios.” ● PRIVILEGIADOS “Já pensastes nos milhões de brasileiros analfabetos, nas crianças que nunca frequentaram escola e puseram os olhos num livro de histórias infantis? Nas dezenas de milhões de brasileiros que nunca tiveram acesso ao curso secundário e, ainda menos, a um curso superior? Na multidão de nossos semelhantes que vegetam na miséria infra-humana, condenados à subnutrição que ofende os direitos e avilta a própria natureza humana?” “Dentro deste quadro constrangedor e real, não vos considerais como verdadeiros privilegiados? O que já fizestes para merecer tal privilégio?”

● PAÍS “Lembrai-vos que o nosso país é um arquipélago econômico.

● MARCOS REGULATÓRIOS “O governo, interpretando os sentimentos e as aspirações do povo, deve definir claramente o rumo que há de tomar o país. Ele deve decidir-se pela liberdade de iniciativa em justa associação com o poder público para a consecução do bem comum ou pela estatização dos meios de produção e, através dela, de toda a vida social.” “Sem essa definição, não é possível criar-se, em nenhum país, o clima de ordem política e social indispensável à associação. Da desconfiança provém a desordem. Da desordem surge o medo, engedrando-se a paralisia.”

A dissonância do progresso nas várias regiões brasileiras, e até mesmo dentro de cada Estado, trouxe como conseqüência grandes desníveis sociais”. “Vivemos hoje em um país onde ainda existem grandes massas carentes e lideranças quase sempre despreparadas para despertar nossas potencialidades. Entretanto, esse quadro será mudado quando dermos prioridade à valorização do homem, principalmente pela saúde e educação.

“O Brasil nunca será grande se o empresariado brasileiro não for prestigiado pelo governo.”

● RESPONSABILIDADE SOCIAL “No fundo da filosofia empresarial deve estar presente o sentido de responsabilidade social, para que o lucro, fruto do trabalho da empresa, tenha sua justificativa econômica e moral, contribuindo para o enriquecimento da nação e bem-estar de seu povo”. “Não é de um choque capitalista

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MEMÓRIA ILUMINADA SANAKAN

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● VEREDA “A vereda é um oásis... de longe, a gente avista os buritis, e já se sabe: lá se encontra água”. que o país precisa, mas de um choque de responsabilidade”. “Quanto maior o empresário, maior sua responsabilidade. E se ele é um líder, ela avulta ainda mais. É uma ilusão pensar que ninguém nos vê. Cada empresário tem que ser um exemplo. Tem que ser inatacável em sua consciência.”

● PODER “A detenção do poder, seja político, seja econômico, ou de qualquer natureza, antes que um privilégio, constitui um ônus que, assumido voluntariamente, deve trazer ao seu detentor constante algum senso de responsabilidade para com a sociedade. Quem detém o poder provisório de ser capitalista tem a obrigação de usá-lo da melhor forma possível para a sociedade em que vive.” ● DINHEIRO PÚBLICO “Governo não tem dinheiro. O dinheiro que está nas mãos dos homens de governo provém do povo. Eles têm o dever de bem gerir esse dinheiro. É gestor, 108 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013

não dono. A solução para o Brasil é esta: trabalhar mais e gastar menos.”

● LAMENTO “Lamento a acentuação de alguns males crônicos, como a crescente estatização, a concentração das decisões econômicas e a escassez de recursos nos estados e municípios em proveito da União.” ● CRENÇA “Creio na reversão da tendência inflacionária, no fortalecimento do parque industrial brasileiro, na modernização e dinamização dos setores agropecuários e de mineração, assim como na definitiva afirmação de nossa vocação exportadora.” ● PROSPERIDADE “Estou certo de que estamos no limiar de um novo tempo, de estabilidade política, econômica e social de pleno aperfeiçoamento democrático, da liberdade econômica e de prosperidade, para o bem do Brasil e dos brasileiros.”

“Não é de um choque capitalista que o país precisa, mas de um choque de responsabilidade. Tenho confiança no país.” “Podemos e devemos ser agentes e co-autores de nosso próprio destino”.

● RIQUEZA “Você fica rico, não pelo que ganha, mas pelo que você não gasta”. ● NETOS “Aos meus netos, não pretendo escrever sobre minha vida, nem desejo que outros o façam. Existem, entretanto, alguns documentos que retratam fatos que influíram decisivamente no destino de cada um de vocês. Eventualmente, algum dia, um filho seu poderá desejar olhar para traz – para suas origens e meditar sobre a transitoriedade da vida e a permanência, grandeza e transcendência dos valores humanos. Talvez então, esses documentos ainda venham a ser úteis”. O


anos

Cultura e fé cada vez mais fortes

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1 ENSAIO ARTÍSTICO

GOLFINHO (Delphinus delphis)

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DA CIÊNCIA

NASCE A ARTE Biólogo argentino encontra inspiração na natureza e torna-se artista autodidata Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

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ARQUIVO PESSOAL

argentino Ric Weigel está ligado às artes desde cedo, pelo ofício do pai, Don Robert Weigel, conservador de obras de arte do Museu do Louvre, em Paris. Descobriu sua paixão pela natureza durante a educação primária e secundária. Aos 18 anos, recebeu o Prêmio Hörlein da Sociedade Alemã de Biólogos, por um trabalho no delta do rio Paraná, na Argentina. No mesmo ano, realizou as primeiras filmagens subaquáticas da vida marinha na Península Valdés. A partir de então, teve certeza de que queria ser biólogo. Graduou-se no curso de ciências biológicas da Univer-

PAIXÃO Natureza desperta artista em Ric Weigel

sidade de Córdoba e, quatro anos mais tarde, interessou-se pelas artes plásticas, definitivamente. A união das duas paixões, arte e biologia, consagrou a diversidade de temas que aborda em suas pinturas. De sua paleta de cores, surgem a fauna, a flora, naturezas mortas e paisagens urbanas, em uma contínua experimentação e aperfeiçoamento de técnicas. Expôs suas obras em Buenos Aires, Córdoba e outras cidades argentinas. Também puderam apreciar seu trabalho os norteamericanos de Phoenix, Tucson e Miami. Pouco depois, do outro lado do oceano, expôs na Alemanha, em Frankfurt, Heidelberg, Mannheim e Ludwigshafen, na França e no Japão. Recentemente, divulgou seu trabalho no Brasil, no Projeto Tamar, em Florianópolis. O biólogo, autodidata no campo da pintura, declara sua motivação ao lançar seus traços sobre a tela “Tive a revelação de que uma ordem estética da natureza vai mais longe e é mais sutil do que a meramente física. Permite uma releitura, uma nova visão que está na tentativa de capturar um momento único”. Surpreenda-se!

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1 ENSAIO ARTÍSTICO

ORCA (Orcinus orca)

ORCA (Orcinus orca) 112 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2013


FOTOS RIC WEIGEL

ELEFANTE-MARINHO (Mirounga leonina)

PINGUIM-DE-MAGALHÃES (Spheniscus magellanicus)

BALEIA-AUSTRAL (Eubalaena australis) SETEMBRO DE 2013 | ECOLÓGICO O 113


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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

O OFÍCIO DE PERGUNTAR

“As crianças e os filósofos têm algo em comum: fazer perguntas” RUBEM ALVES

sempre é tachado de burro. Por essas e outras é que num grupo, quem levanta muitas questões pode se tornar antipático aos demais. Para a filosofia, em toda resposta, por mais objetiva que seja, ainda restaria o interrogável e em toda clareza subsistiriam as dúvidas. Também crentes e descrentes, por mais convictos que sejam, em alguns momentos de suas vidas, fraquejam em suas convicções. Portanto, não devemos nos espantar se, de repente, passássemos a descobrir grandezas no ínfimo ou até mistérios no óbvio. Ou, melhor ainda, se depois de amar perguntássemos à amada: o que é o amor? Assim, juntos, concluiríamos que a resposta para essa pergunta poderia nos ajudar a amar bem mais e melhor. E nos sentiríamos satisfeitos ao descobrir que nosso amor não é somente desejo, mas gratidão e consentimento. E que gostar de nós seria a condição primeira para gostar dos outros e do mundo. Realmente, o filósofo não fica satisfeito em saber somente as horas, ele quer saber o que é o tempo. Por que tudo flui tão irreversivelmente, como se o acontecer fosse uma seta avançando pela singularidade desse tempo? Outra consequência dessa atitude inquiridora é que também nos surpreenderíamos fazendo perguntas a nós mesmos, como: até onde eu me permito ir? Sou gentil comigo? Por que eu me maltrato tanto? Podemos viver em harmonia com a natureza? Finalmente, a filosofia nos ajudaria em algo muito interessante: aprender a escutar com paciência os nossos pensamentos. Eles nos dizem a todo instante: ser feliz é uma sabedoria que depende o tempo todo das perguntas que a gente faz. O (*) Ambientalista e professor de filosofia da PUC Minas SHUTTERSTOCK

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esde os antigos gregos que a filosofia se constitui numa atividade interrogante que, muitas vezes, como no caso de Sócrates, incomoda bastante o poder constituído. Para Platão, por exemplo, o espanto, a admiração e a dúvida faziam parte do saber filosófico. Assim, levantar perguntas, sentir-se insatisfeito com as respostas prontas, eis o instrumental primeiro do ser reflexivo. Para a filosofia, o alcance de toda resposta deveria propiciar às pessoas a liberdade de perguntar, duvidar e questionar. É lógico que as respostas são essenciais na vida, mas elas podem barrar a capacidade criativa de cada um de nós, nos fechando num ciclo enfadonho de rotinas. É a avidez pelo perguntar que forma a respiração da filosofia. Essa atitude é a espinha dorsal de toda atividade criativa. Vejam a alegria de perguntar nas crianças, essa delicada atitude que, nós adultos, chamamos de inconveniência. Podemos até arriscar a concordar com Maturana, quando ele diz que a filosofia deveria ser a arte de responder perguntas feitas por crianças. Elas habitam em nós a vida toda, podem estar adormecidas, mas a qualquer hora, dependendo da nossa decisão, podem emergir e se tornarem afeto, ânimo e criação. Em alguns casos, a reflexão filosófica nos leva mais longe ainda quando ela pergunta pelo próprio perguntar. E, mais ainda, o grau de desenvolvimento de uma cultura está diretamente ligado ao tipo de questões que seu povo formulou. Não fomos educados a elaborar questões, levantar dúvidas, mas quase que somente a aprender respostas já prontas de há muito. Já pensaram numa prova em que o aluno elaborasse suas próprias interrogações a partir de respostas dadas? Na realidade, fomos educados a ter vergonha de perguntar, pois quem faz isso


Juntos, Sesc e Senac se completam para integrar o Sistema Fecomércio MG.

O Sistema Fecomércio MG trabalha para fortalecer o comércio de bens, serviços e turismo, além de oferecer um mundo de possibilidades para os trabalhadores, empresários e todos os mineiros.

Sesc • cultura • educação • saúde • turismo social • esporte • meio ambiente • lazer Senac • capacitação profissional • curso técnico • graduação • pós-graduação • educação a distância Sistema Fecomércio • 3,3 milhões de postos de trabalho • presente em todo o Estado de Minas Gerais

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