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Microlicia sp. Melastomataceae
Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Pedro Borrego, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais, Déa Januzzi e Vinícius Carvalho EDITORIA DE ARTE André Firmino e Marcos Takamatsu COLUNISTAS Alfeu Trancoso, Andréa Zenóbio Gunneng, Antonio Barreto, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza
REVISÃO Gustavo Abreu
ASSINATURA Alessandra Cristina alessandra@souecologico.com
CAPA Arte: Sanakan
IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A
DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Giuliano Le Senechal giuliano@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com
PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com
Representante Comercial Brasília IBIS Comunicação ivone@ibiscomunicacao.com.br Representante Comercial Rio de Janeiro Tráfego Publicidade comercial@trafegopublicidade.com.br Assistente Comercial Silmara Belinelo silmara@souecologico.com
REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br sou_ecologico revistaecologico
MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com
Selo SFC
EMISSÕES CONTABILIZADAS
DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com
souecologico ecologico
4,38 tCO2e Agosto 2014
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ÍNDICE
ELEIÇÕES 2014 A REVISTA ECOLÓGICO OUVIU OS DOIS PRINCIPAIS CANDIDATOS AO GOVERNO DE MINAS E APRESENTA AS PROPOSTAS DE CAMPANHA DE CADA UM DELES NA ÁREA AMBIENTAL. IMPLEMENTAÇÃO DO DESMATAMENTO ZERO, CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E FORTALECIMENTO DO SISEMA ESTÃO ENTRE OS TEMAS ABORDADOS.
14 PÁGINAS VERDES O ARQUITETO CARLOS SOLANO FALA SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS ÁRVORES E A CAMPANHA ECOLÓGICA QUE ESTÁ MOBILIZANDO O BRASIL
Pág.
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E mais... IMAGEM DO MÊS 07 CARTA DO EDITOR 08 CARTAS DOS LEITORES 10 ECONECTADO 12 GENTE ECOLÓGICA 18 SOU ECOLÓGICO 20 CÉU DE BRASÍLIA 30 GESTÃO & TI 32
40
CORAÇÃO DA TERRA 34 PHW 2014 37 ESTADO DE ALERTA 46
EM DEFESA DO CERRADO
SUSTENTABILIDADE 47
UM PANORAMA SOBRE A SITUAÇÃO ATUAL DO BIOMA, AS PRINCIPAIS AMEAÇAS E COMO A SUA DESTRUIÇÃO AFETA OS BRASILEIROS
TECNOLOGIA LIMPA 52
PRESERVAÇÃO 48 PROMOTORIA 50 NOS PORÕES DO RETROCESSO (II) 56 SAÚDE 62 SETOR MINERÁRIO 64 CÉU DO MUNDO 66 PERFIL 68
90 MEMÓRIA ILUMINADA O PENSAMENTO CIENTÍFICO E HUMANO DE RITA LEVIMONTALCINI, DAMA DA CIÊNCIA E VENCEDORA DO PRÊMIO NOBEL DE MEDICINA
NATUREZA MEDICINAL 72 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 73 VOCÊ SABIA? 80 OLHAR INTERIOR 82 OLHAR POÉTICO 84 AS MUITAS MINAS NO MUSEU (8) 86 ENSAIO FOTOGRÁFICO 94 CONVERSAMENTOS 98
FOTO: SUZIANE FONSECA
IMAGEM DO MÊS
MATERNIDADE FESTEJADA A gorila Lou Lou, de dez anos, deu à luz o primeiro filhote da espécie nascido em cativeiro na América do Sul. O bebê gorila é macho e não desgruda da mamãe primata. A notícia do nascimento, que aconteceu no Zoológico de Belo Horizonte, no início de agosto, ganhou repercussão nacional e internacional principalmente após a divulgação de que a outra fêmea da espécie no zoo, Imbi, também está grávida do gorila Leon. SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 07
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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com
QUEM MERECE O NOSSO VOTO? É
só folhear as páginas desta edição da Ecológico Essa verdade inconveniente é de fazer Guimarães que você, caro (a) leitor (a), conhecerá as su- Rosa chorar, se estivesse vivo e caminhante novagestões que os ambientalistas históricos e as mente entre nós. Daí termos escolhido o Cerrado, ONGs verdes mais atuantes e propositivas do país, que ele chamou de sertão, como tema do V Prêmio como a Fundação SOS Mata Atlântica, apresentam e Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natucobrarão do futuro ou futura presidente do país: Dil- reza. Mas, e este é o nosso refrão continuado, nem ma, Aécio ou Marina. tudo está perdido! Verá, no caso da disputa estadual, qual dos dois Ainda temos empresas, instituições e órgãos ofiprincipais candidatos – Pimentel ou Pimenta – me- ciais, como a Vale e o Sindiextra, se unindo ao golhor se posiciona diante dos reclamos da nossa Mi- verno de Minas para apagar o fogo que se alastra nas em chamas, sem chuva e com secas. E ainda com em nossas Unidades de Conservação (UCs). Temos, suas prioridades esquecidas não somente pelo gover- em termos de tecnologia limpa, a chegada anunno, como pela própria opinião pública, deveras mais ciada das Big Bellys ao Brasil, como são chamadas preocupada com saúde e segurança as ecolixeiras inteligentes movidas a que com a enfermidade da natureza energia solar. Apresentamos o segun"Os candidatos do país e do planeta. do capítulo da série Nos Porões do Reque perceberem a trocesso, sobre o abandono do Museu Apesar de míope, ou por questão de sobrevivência básica, é natural cada necessidade de uma da Loucura no hospício desativado um de nós querer primeiro a preservade Barbacena, onde morreram 60 mil mudança de visão brasileiros acusados de... nada. A esção da árvore humana, social, política e econômica que somos. E, somente não terão apenas o perança pública do Projeto Biomas, depois, pensarmos na sustentabilidade pelo Conselho Nacional nosso voto, mas a encabeçada das florestas que também somos e condo Ministério Público. E uma entretinuamos morrendo, em toda a face da torcida do planeta!" vista sobre educação ambiental com Terra. Os candidatos que mais perceJohn Parsons, o engenheiro e hoteleiberem a necessidade de uma mudança de visão não ro da histórica Tiradentes que prefere se intitular terão apenas o nosso voto, mas a torcida do planeta! como o “advogado do Planeta Azul”. É o que a Ecológico mostra, nesta edição também Pra terminar, você vai ver um belíssimo ensaio focomemorativa ao Dia da Árvore, na entrevista exclu- tográfico assinado por Júlio Toledo, sobre a “Cidade siva com o arquiteto e escritor Carlos Solano, que nos Jardim”, que a capital mineira continua sendo, tão teilembra por que as árvores são a pele do planeta. Uma mosa como a primavera que se aproxima. E vai rever pele aqui, ora chamada de vereda, ora de Cerrado. a memória iluminada de Rita Levi-Montalcini, a inesIsso pouco importa. Mesmo o atlântico ou o amazô- quecível dama da ciência, vencedora do Prêmio Nobel nico, todos os nove biomas brasileiros, incluindo os de Medicina em 1986. Pampas, o Pantanal e a Caatinga, estão em processo Seu ensinamento maior, pregado ao longo de 103 anos acelerado de degradação por falta dessa consciência. de vida, sempre em atividade, também é natural: “ManFalta de água advinda do desmatamento, de educa- ter o cérebro ativo é a fórmula da juventude eterna”. ção ambiental da população, de orçamento prioritáBoa leitura e boas eleições! rio e de políticas públicas de preservação. Até o próximo dia 8, lua cheia de outubro. O 08 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
Nao é preciso ser bailarina para dancar Foto: João Eugênio
no palco da vida. O que é preciso Pra Mudar o Mundo?
Toda terca às 20h na TV Horizonte. Horários alternativos: Quinta, 14h; sexta, 7h30; domingo, 6h15; segunda, 15h45; terca 6h45.
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CARTAS DOS LEITORES
O NOS PORÕES DO RETROCESSO “Abandonar o Museu da Loucura, em Barbacena, é a verdadeira loucura.” Gurgel Mendes, via Google+ “Com certeza eu irei conhecer o Museu da Loucura. Fiquei muito interessada nessa história!” Kamila Toledo, via Google+ “Todos deveriam visitar e conhecer esse pedaço triste da nossa história. Recomendo o livro Holocausto Brasileiro, da jornalista Daniela Arbex, que documenta a história do Colônia e todos os seus passivos.” Glênia Lourenço, via Facebook O O RIO DAS MORTES QUER VIVER “Só no além... Eis o cenário de um poder público incompetente e de uma sociedade conivente!” Mônica Mendes, via Google+ O ARTE E NATUREZA “Tem que fotografar e filmar tudo mesmo, para que as futuras gerações possam ver o paraíso que era o Planeta Terra no passado e que os seres humanos destruíram!” Dênis Giordano, via Google+ O A NATUREZA DE LÉLIA “Esposa do fotógrafo, amante do poeta!” Franca Rocha Geovanno, via Facebook “Uma forte, guerreira e linda mulher! Quando ouço falar de alguém com tais atributos, sinto satisfação por ser mulher! Parabéns pela determinação, Lélia!” Josely Cimini, via Google+ O ECOLÓGICO NAS ESCOLAS “Adorei as ideias que a matéria trouxe para cultivar plantas medicinais em casa!” Maria de Fátima Freitas, via Google+ O A GUERRA DO ESGOTO “Tomara que os responsáveis por essa poluição em Sabará (MG) bebam dessa água! Vergonha!” Alysson Uliana, via Google+ O MEMÓRIA ILUMINADA “Meu amigo Frei Betto, liberdade significa decifrar a ‘esfinge vadia’, e pelo menos, tentar se livrar das garras dela, se puder.” Aércio Miguel, via Google+
10 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
O CÉU DE BRASÍLIA “Faltam aprovação e punição mais severa, como multa e apreensão do veículo, em casos de poluição sonora!” Alichandre Farsil, via Facebook O SUGESTÃO "Um dos temas que gostaria de ver mais na revista é turismo. No entanto, além de apenas mostrar os lugares maravilhosos que existem pelo país, seria fantástico falar das possíveis ameaças às paisagens desses locais. Mais uma forma de evidenciar porque é importante preservar a natureza." Natanael Virgílio, por e-mail O LUZ NO FIM DO TÚNEL “Atualmente temos à nossa disposição inúmeras revistas de diferentes assuntos. Porém, como já preconizava Wolton (2006), a quantidade de informação não garante a comunicação, no caso, com o leitor. E assim, o que se vê, ou o que se lê, é uma repetição de pautas, falta de criatividade nas abordagens, revistas copiando outras, modelos editoriais americanos sendo replicados
FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
EU ASSINO “Assino a Revista Ecológico para dar meu apoio e contribuição à causa ambiental. Também a indico para meus amigos assinarem. Tenho uma preocupação grande com a natureza. Minha mãe foi criada em um sítio na região de Oliveira (MG) e nunca havia faltado água lá. Agora, a nascente que servia o lugar está completamente seca! Procuro sempre fazer a minha parte. Enquanto algumas pessoas cortam árvores, eu planto várias mudas no meu sítio. Afinal, tenho meus filhos e uma netinha que está para nascer e me preocupo como será o mundo deles daqui a 20 anos.”
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
no Brasil. Ao leitor, fica a sensação clara de que 'é tudo igual', com raras exceções. Paralelo a essa massificação no tratamento de uma revista, vemos crescer a incessante discussão sobre o papel da mídia na sociedade e as críticas fundadas sobre a manipulação da notícia, o direcionamento comercial e tantas outras questões que, ao final, trazem desinteresse e desconfiança ao leitor. Porém, há de se separar o joio do trigo, tarefa árdua, mas que traz um certo prazer. Deparei-me com uma matéria produzida e veiculada pela Revista Ecológico, um trigo editorial, que chegou para mim como ‘uma luz no fim do túnel’, um sopro fresco de esperança. Alargando a perspectiva do que é ecologia, a revista abriu espaço para um pensador contemporâneo da nossa sociedade, Frei Betto, fazer uma reflexão sobre várias inquietações da humanidade. Vocês arrasaram!” Cláudia Tanure, diretora-executiva da Press Comunicação
Antônio Geraldo da Silva, 61 anos, supervisor de transporte em Belo Horizonte (MG)
1 HUMOR QUE AMDA
FONTE: Charge extraída do livro “Água Mole em Pedra Dura – o Humor nas Páginas do Ambiente Hoje”, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA). SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 11
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ECONECTADO CRISTIANE MENDONÇA
ECO LINKS
TWITTANDO O “O poder público precisa parar
essa fábrica insana de desmatamento ilegal e desnecessário.” @paulogbarreto – Paulo Barreto, mestre em Ciências Florestais O “A maioria dos produtos vendidos
na nossa sociedade escondem na sua produção trabalho escravo, desmatamento e poluição.” @anabeatrizpsi – Ana Beatriz Barbosa, médica psiquiatra O “Eu, Alan Graça,
Marcelo Benincassa, Edu Mendes e equipe percorremos o Brasil pra mostrar que o Samu não atende muitas vezes por falta de maca!” @carlavilhenaa – Carla Vilhena, repórter O “O desafio da longevidade consiste
em manter-se indulgente e brando com quem debulha cólera como se dissesse uma prece.” @gondimricardo – Ricardo Gondim, teólogo O “Em meio à crise de água, Governo de SP quer desapropriar estação de pesquisa da USP que conserva 1.200 hectares em Itatinga.” @andreferretti – André Rocha Ferretti, engenheiro florestal O “Quem se lembra em quem votou
para deputado federal e deputado estadual nas duas últimas eleições?” @betomesquita - Roberto Mesquita, diretor para a Mata Atlântica da Conservação Internacional O “A fronteira entre Israel e a Faixa de
Gaza. Longo caminho até a paz.” @msantoro1978 – Maurício Santoro, cientista político O “É de Dostoievsky a frase: ‘O choro
de uma criança inocente não vale todo o desenvolvimento do mundo. Muito mais a morte de uma criança inocente!’” @LeonardoBoff – Leonardo Boff, teólogo
12 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
MÃO NA MASSA Nada mais sustentável do que a prática do faça você mesmo. Nome que se dá ao método de fabricar ou reparar algo por conta própria em vez de comprar ou pagar por um trabalho profissional. Atitude que representa economia no bolso, além de dar aos itens criados um caráter exclusivo, já que eles são feitos sempre de forma personalizada. Por isso, separamos aqui cinco dicas de sites que ensinam desde customizar uma parede até fazer uma revisão simples no motor do carro. Confira: www.goo.gl/xOVn4T BIG BROTHER DOS BICHOS A GreenFarm é um clube de sustentabilidade que, em troca de financiamento empresarial, presta serviços de preservação da flora e da fauna e dispõe todo o trabalho realizado por meio de câmeras ao vivo. Ligadas 24 horas por dia, as câmeras são instaladas na sede do negócio, no município de Itaquiraí (MS). No local são registrados o cotidiano de onças, papagaios, tucanos, macacos e outros animais vítimas de maus-tratos, tráfico ou posse ilegal - que recebem tratamento e depois são devolvidos à natureza. Confira: www.greenfarmco2free.com.br
MAIS ACESSADA O médico de casas. Essa foi a matéria mais acessada no site da Revista Ecológico em agosto. O texto fala sobre o trabalho do geobiólogo Allan Lopes, que defende a ideia de que toda construção é um ser vivo, composto de uma anatomia e de uma fisiologia particulares, que proporcionam benefícios ou não às pessoas que vivem nesses ambientes. Questões como diagnóstico da qualidade interna do ar, temperatura, som, iluminação, ondas eletromagnéticas e radioativas são consideradas. Ótima referência para quem deseja deixar o local onde vive ou trabalha carregado de boas energias. Acesse: www.goo.gl/3OYgyq
PÁGINAS VERDES
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
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CARLOS SOLANO: "Uma rua arborizada diminue em 30% a poluição"
CA R LO S S O L A N O Arquiteto e escritor
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AS ÁRVORES
SÃO A PELE DO PLANETA” Déa Januzzi redacao@revistaecologico.com.br
C
arlos Solano é um arquiteto com afeto. Quer um mundo saudável para todos e essa parece ser a sua missão. Ele acaba de lançar o livro Casa Natural, com práticas saudáveis para as cinco casas do ser humano – corpo, vestuário, morada, cidade e planeta. Um livro, segundo ele, feito para “folhear, ler, guardar, reler, cheirar, consultar, acariciar, inspirar, degustar e aplicar”. Depois de se formar pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) passou uma temporada em Findhorn, na Escócia, para aprender a viver sustentavelmente em uma ecovila pioneira. Depois estudou Arquitetura Antroposófica, na Escola Waldorf de São Paulo. Conheceu o Feng Shui, a medicina chinesa do ambiente, há mais de 20 anos, e viajou à Europa, China, Hong Kong, Taiwan, Tibete e Nepal para estudar o assunto. No entanto, ele também aprendeu muito por meio
O que é uma árvore para você? “É a maior cura ambiental.” Foi o mestre chinês Lin Yun, professor de terapias orientais nos EUA, quem disse isso. E eu concordo: elas se relacionam diretamente com o ar e a água, elementos fundamentais para a manutenção da vida, liberando oxigênio e atuando na dinâmica das chuvas. Mais que nos trazer todos esses benefícios, as árvores nos purificam. Você defende a ideia de que as árvores são a pele do planeta. Por quê? Porque elas cumprem, para a Terra, um papel semelhante ao da pele humana: proteção con-
da sabedoria popular. Com Dona Francisca, sua inspiradora faxineira “sabe-tudo”, ele aprendeu a purificar e abençoar a casa com águas de flores, chuva de rosas, ramalhetes dependurados nas portas, e a destralhar, ou seja, tirar da casa e do caminho, o que não serve mais: roupas, acessórios, revistas, medicamentos vencidos, muitas vezes até objetos lascados, mas que, por um valor estimativo, vamos deixando ficar. Nesta entrevista à Ecológico, Solano nos fala sobre outro tema que o comove: as árvores. Idealizador e coordenador da campanha Vamos plantar um milhão de árvores, ele diz que ecologia e bem-estar são inseparáveis. Nessas andanças pelo mundo, aprendeu a dialogar com a Terra e a olhar as árvores de forma mais fraterna. “Uma árvore é tão importante para a cidade quanto um tijolo”, diz ele. Confira:
tra intempéries e desidratação, regulação da temperatura, armazenamento (no caso da pele, de gordura; no caso das árvores, de vida: uma única árvore acolhe milhares de seres, entre musgos, fungos, líquens, insetos, animais e pássaros) e absorção de umidade. Qualquer organismo, seja pessoa seja animal, que perde um percentual grande da pele, inevitavelmente vem a perecer. O mesmo risco ocorre no nosso planeta atualmente. Esse, inclusive, é um alerta do livro O Chamado das Árvores, de Dorothy Maclean. Qual é a principal mensagem do livro?
Nesse trabalho pioneiro, Dorothy foi capaz de “ouvir” e registrar, com sensibilidade, mensagens incomuns recebidas das árvores. Ela, inclusive, usava a palavra deva (que em sânscrito, antigo idioma hindu, significa brilhante) para nomear a inteligência das árvores, das quais recebia essas mensagens desde 1965. O livro faz um apelo para que a humanidade refloreste a Terra em prol da sobrevivência do próprio ser humano. Para isso, será preciso mais ação por parte da sociedade, que parece aceitar a destruição do meio ambiente... Três quartos das florestas origi-
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SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 15
PÁGINAS VERDES FOTO: DANIEL BELTRÁ / GREENPEACE
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nais da Terra já foram cortados. No Brasil, as queimadas são uma das maiores fontes poluidoras da atmosfera, colocando o país entre os grandes poluentes do mundo. Só por isso a restauração das florestas já deveria ser encarada como uma prioridade. Não basta, entretanto, apenas plantar novas árvores. Temos de preservar as antigas, pois as jovens não conseguem realizar o trabalho que uma espécie adulta pode fazer. Como fazer isso em um mundo onde os homens derrubam árvores para criar gado? Comer carne é atualmente o maior responsável pela destruição das nossas florestas. Desmata-se para criar o gado. Além disso, bois e vacas também contribuem para aumentar o efeito estufa, pois eliminam gases (o metano) durante o processo de digestão. Isso, sem falar no pisoteio do solo, que impacta a regeneração da floresta, e na questão ética, pois os animais são abatidos cruelmente. Quando comemos carne, também co16 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
memos a floresta, o desequilíbrio climático, a dor dos animais, os pesticidas lançados no capim, os hormônios da ração. Em tempos antigos, os homens eram todos canibais e a sociedade evoluiu nesta direção. Hoje, os vegetarianos são a semente de um futuro mais digno e verdadeiramente humano. A campanha Vamos plantar um milhão de árvores se tornou um sucesso tão grande no Brasil que já foram plantadas quase dois milhões de mudas. Esperava que ela tivesse a adesão que teve? Idealizei a campanha como uma forma de atuar positivamente no dramático contexto atual. Ela busca não apenas o plantio de árvores, mas de boas atitudes e de consciência. Ela pede a participação ativa de cada pessoa, neste momento tão desafiador. O planeta é a verdadeira casa de todos nós. Podemos mudar de endereço, mas não de planeta. Queremos que cada um plante a sua árvore e perceba que as pequenas ações do dia a dia, quando multiplicadas por milhares de pessoas,
"Quando comemos carne, também comemos a floresta, o desequilíbrio climático, a dor dos animais, os pesticidas lançados no capim, os hormônios da ração."
é que fazem a diferença no contexto mundial. Como surgiu a ideia da campanha? Em 2000, fiz algumas fotos para divulgar o lançamento do meu livro Feng Shui/Kan Yu - Arquitetura Ambiental Chinesa, no Parque Municipal de Belo Horizonte. Uma delas me surpreendeu: o que era um pequeno agrupamento de árvores parecia, ao fundo, uma grande floresta. Eu, na frente dela. De repente, olhando a foto, me vi como um porta-voz das árvores, como se eu devesse falar em nome delas. Foi uma sensação de dever ou uma espécie de insight, não sei explicar. Esse fato permaneceu adormecido até 2006, quando a ONU sugeria o plantio de um bilhão de árvores para frear o acelerado e dramático aquecimento global. Na hora, aquela sensação antiga voltou. E eu me lembrei do Chamado das Árvores. Como as pessoas podem participar da campanha?
CA R LO S S O L A N O Arquiteto e escritor
Primeiro, elas devem escolher onde e que espécie plantar. Depois do plantio, é só acessar o site www.ummilhaodearvores.org.br e indicar no contador o número de árvores plantadas. Pode-se ainda deixar um depoimento, enviar uma foto. Conseguimos, em três meses, 25 mil árvores. Para o próximo ano, estamos preparando um grande evento para estimular o amor pelas árvores. É possível plantar árvores em apartamentos? Quais são as espécies mais adequadas? Muitas árvores se dão bem em vasos e embelezam os ambientes, como as jabuticabeiras, as pitangueiras, o ficus, a árvore da felicidade, a laranjinha kin kan. Nesses casos, é preferível utilizar vasos de barro porque, assim, as raízes “respiram”. Deve-se colocar brita no fundo para ajudar a saída da água. Misture areia (1/3) a uma boa terra adubada (2/3). A areia vai impedir que a terra vire um tijolo, dificultando a vida da planta. Deixe o vaso receber sol ou muita luz. E quais benefícios elas podem trazer nesses espaços? Árvores são purificadores naturais do ar, o que é muito útil nas cidades. Uma rua arborizada costuma ter 30% a menos de poluição. As plantas também absorvem a poluição caseira como a exalação dos produtos de limpeza, a fumaça do cigarro, o gás de cozinha, limpam o ar condicionado. Isso foi provado por pesquisas da Nasa, nos Estados
Unidos. Além disso, ter plantas em casa diminui o efeito das ondas eletromagnéticas emitidas por aparelhos elétricos e eletrônicos, e por torres de alta tensão, que também afetam a saúde. Há uma relação entre a degradação do meio ambiente e a do ser humano? Essa ideia foi lançada pelo arquiteto austríaco Friedensreich
Hundertwasser (1928-2000). Para ele, o ambiente nos circunda não só física, mas psiquicamente. As imagens que vemos, o ar que respiramos, os lugares que atravessamos dialogam conosco ininterruptamente. Daí a ideia de que o feio, o poluído e o degradado corrompem a alma humana e que o belo pode resgatar a saúde integral do ser. Estudos recentes indicam, inclusive, que quem contempla o verde vive mais. O belo é entendido como a presença da natureza viva. Nas cidades, seriam os parques e as praças, as
ruas arborizadas, os prédios e as casas com jardins. Outros pensadores compartilham dessa visão, como o filósofo austríaco Rudolf Steiner, criador da antroposofia. Poderia nos dar um exemplo? A cidade de Itabira (MG) apresenta o maior índice de suicídios do Brasil. Ela se localiza no centro de uma grande mineração. Pessoas que vivem em um meio ambiente constantemente agredido e degradado e contemplam todo o tempo a agressão ambiental, o desmatamento, a poluição e a fealdade podem ficar deprimidas. Já se fizeram estudos sobre os suicídios de Itabira, mas nunca encontraram uma resposta ou abordaram por esse prisma. Como foi viver na ecovila de Findhorn, na Escócia? O que você aprendeu lá? Aprendi que, vendo o caos atual que o mundo vive, tanto ecológica quanto espiritualmente, eu queria ser parte da resposta e contribuir nesse sentido. Estamos no mês em que se comemora o Dia da Árvore. Que recado você deixaria para os brasileiros nesta data? O de um antigo provérbio chinês, que diz: “A melhor época para se plantar uma árvore era há 20 anos. A próxima ocasião ideal é agora”. O
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SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 17
GENTE ECOLÓGICA FOTO: ALUÍSIO MOREIRA / SEI
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“Minha doutrina é esta: se nós vemos coisas erradas ou crueldades, as quais temos o poder de evitar e nada fazemos, nós somos coniventes.” ANNA SEWELL, escritora inglesa
“O conceito de sustentabilidade não é ter uma caixinha no governo que cuide de sustentabilidade. É ter sustentabilidade em tudo o que o governo faz.”
“Senhor, são os remos ou são as ondas o que dirige o meu barco?” EMÍLIO MOURA, poeta mineiro
FOTO: ABR
FOTO: LUDOVISI COLLECTION
EDUARDO CAMPOS, candidato à Presidência da República morto recentemente em um acidente aéreo
“A coragem é a primeira das qualidades humanas, porque garante todas as outras.” ARISTÓTELES, filósofo grego
18 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
“O empresariado moderno precisa ter uma preocupação social e ambiental forte, senão não sobrevive.” BENJAMIN STEINBRUCH, presidente da CSN e da Fiesp
FERNANDO COURA, presidente do Ibram e do Sindiextra
“Ficamos omissos até que algo nos choque. Aí, como um vagalume acende sua lâmpada, protestamos. Exigimos rigor e mudanças, menos em nós. E continuamos os mesmos.”
FOTO: REPRODUÇÃO
“Sou parte da criação do Prêmio Hugo Werneck. O segredo, ele também me ensinou, é não vermos a natureza como inimiga, mas parceira de todo e qualquer empreendimento feito com responsabilidade.”
JULIO IGLESIAS O cantor espanhol, que fará shows no Rio de Janeiro, este mês, como parte de sua turnê de despedida, fez duas exigências ecológicas. A primeira é que ele deseja passar o máximo de tempo possível no Jardim Botânico da cidade, pois ama plantas. E a segunda é que a produção deixe duas bicicletas à sua disposição, já que ele gosta de dar pedaladas noturnas pelas cidades onde se apresenta.
PAULO CÉSAR DE OLIVEIRA, jornalista e diretor da Revista Viver Brasil
NDO MINGUANDO
“Nossa vida é a gente que faz. O homem é Deus. Não é a gente que é feito à imagem e semelhança Dele. É o contrário. Tivemos que construir Deus para ter alguma paz interior.”
FOTO: PRICILA PRADI
FOTOS: DIVULGAÇÃO
GLÓRIA PEREZ, autora de novelas
BRUNA LOMBARDI Para conscientizar as pessoas sobre a importância do consumo sustentável de água, a atriz, de 62 anos, divulgou um vídeo na sua página oficial do Facebook em que aparece ensinando a tomar um banho rápido e reutilizar a água para outras finalidades, como lavar roupa íntima. O vídeo ganhou grande repercussão nacional e já foi visto mais de 115 mil vezes.
FOTO: JESÚS CARRERO / HOLA! MAGAZINE
FOTO: SILVIO TANAKA
“O mal existe. A vaidade é porta de abertura para todos os pecados.”
CRESCENDO
CANDIDATOS A maioria quase absoluta dos elegíveiss à presidência e aos governos estaduais tem falado pouco e, sobre meio ambiente, o que justamente a questão pá-los e mais deveria preocupá-los da na pode acabar com a vida Terra, incluindo eles e seus eleitores. Uma pena que o e. Pune, planeta não agradece. endo assim como está fazendo s. com as nossas águas.
WAGNER MOURA, ator O 19 SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO Ó
SOU ECOLÓGICO FOTOS: DIVULGAÇÃO
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DILMA, AÉCIO E MARINA: qual deles fará a subversão de visão estratégica e responsabilidade planetária que o Brasil precisa?
O PRESIDENTE QUE QUEREMOS H
á mais de duas décadas, desde a ECO/92 no Brasil – até hoje o evento que mais reuniu chefes de Estado na história da humanidade –, nós, ambientalistas e jornalistas militantes da chamada imprensa verde, jamais tivemos dúvidas, só esperança. O presidente em quem sempre sonhamos votar só precisa ter uma qualidade: ser um estadista com visão ecológica de mundo, e não apenas de Brasil. Collor foi só marketing, fogo de palha. Fernando Henrique quase foi. Lula teve tudo pra ser. Bastava ter colocado a Amazônia do seu companheiro Chico Mendes debaixo do braço e rodado o mundo, exigindo respeito e apoio financeiro internacional para preservá-la e explorá-la de maneira sustentável. Ou seja, criando emprego e renda para os 25 milhões de brasileiros, incluindo as populações indígenas que vivem ali, sem permitir a degradação da floresta. Foi uma pena, considerando a enorme popularidade de Lula. Ele trabalhou pela redução da pobreza, como nunca na história deste país. Mas se esqueceu do meio ambiente, da natureza que ainda resta no
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planeta, sem os quais eleitor ou ser humano algum, rico ou pobre, filiados a partidos políticos ou não, consegue sobreviver. Já Dilma, sua sucessora, foi uma decepção maior ainda, comparando sua firmeza em gerenciar tantas outras áreas e prioridades do país. Ela também olhou a árvore e não viu a floresta. O seu governo, e noticiamos isso não com prazer de criticar, mas com tristeza ecológica, foi o que menos fez pela natureza pátria, interligada planetariamente a todas as outras pátrias terrenas. Foi, infelizmente, a presidente que menos preservou e criou Unidades de Conservação (UCs), leia-se parques nacionais, reservas naturais, estações ecológicas e outras áreas de preservação. E a que, contrariando uma tendência mundial, mais permitiu a diminuição dessas áreas verdes então já criadas e protegidas oficialmente. E pior: ainda incentivou a criação de conselhos dos atingidos pelas UCs. O tempo não para! Agora temos Dilma, Aécio e Marina, presidenciáveis dessa terra amada e ainda verde esplêndida,
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querendo os nossos votos. É fácil tê-los, tamanha vida da população, do ser humano primeiro, e soa nossa carência e solidão num país e num plane- mente depois salvar e cuidar da natureza do país e ta que caminham juntos para o suicídio ambiental, do planeta, antevendo o nosso futuro comum e glovide o que apenas a morte de um rio chamado Para- bal. É cosmicamente o contrário. Um futuro presiíba do Sul causou de guerra hídrica entre os estados dente estadista tem de preservar antes e concomitantemente a natureza. Salvar, antes, o país e o único de São Paulo, Rio e Minas Gerais. Portanto, não basta que os candidatos apenas lem- planeta em que vivemos, nos dá vida, energia, água e comida. Aí, sim, sob um chão verde brem e falem da questão ambiental e azul, com três quartos de água, poem seus programas de governo e dis"Um futuro deremos continuar vivos e nos desencursos. É preciso que, humildemente volver economicamente de maneira (como todos os demais seres vivos do presidente sustentável. planeta já sabem e estão sentindo na estadista tem de Eis a bandeira do que precisamos e pele), eles também admitam que o preservar antes e chamamos de desenvolvimento susmeio ambiente é a questão transversal que mais deveria preocupar qual- concomitantemente tentável: sermos economicamente viáveis, ambientalmente corretos e quer futuro governante ou adminisa natureza, o país e socialmente mais justos. Existe sabetrador público. A nova e revolucionária ordem polítio único planeta em doria política maior e de mais longo e estratégico alcance do que esta? Exisca é esta. Não cabe mais a antiga visão que vivemos." te maior subversão de amor ao planeantropocêntrica, que até pouco tempo ta e a nós mesmos? nos fez achar que éramos primordiais e Portanto, prezada Dilma, prezado Aécio e prezada mais importantes que o sol, as estrelas e o universo. E Marina: quem de vocês se candidata a ser o futuro ainda achamos que tudo gira ao nosso redor. É insustentável tentar melhorar as condições de presidente estadista com visão ecológica do Brasil? O
Apoio
1 ELEIÇÕES 2014
QUE GOVERNADOR
QUEREMOS? N
FOTO: PAULO VITALE
o próximo dia 05 de outubro, 15 milhões de mineiros irão às urnas para eleger o novo governador do Estado. Muitos estarão atentos às propostas para áreas de saúde, educação e segurança, mas o eleitor preocupado com o futuro sustentável de Minas não vai definir seu voto sem saber quais são os compromissos do próximo gestor com o meio ambiente. Por isso, a Revista Ecológico ouviu os dois principais candidatos ao governo estadual para conhecer suas propostas na área ambiental, incluindo temas como gestão de resíduos sólidos, a questão hídrica e o fim do desmatamento. Confira:
FERNANDO PIMENTEL: "Comprometo-me a assegurar uma melhor política ambiental para o Estado"
Já está em vigor a Lei 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A norma torna os lixões ilegais e prevê multa de até R$ 50 milhões para os municípios que não derem uma destinação correta a seus resíduos. Segundo a Associação Mineira de Municípios (AMM),
2/3 das cidades mineiras ainda não estão legalizadas. O que o sr. pretende fazer, caso seja eleito? Fernando Pimentel: Minas Gerais precisa avançar com urgência no que se refere à destinação correta dos resíduos sólidos. No entanto, as dificuldades técnicas e financeiras de muitos municípios
FOTO: ALFEU TRANCOSO
SERRA DO ESPINHAÇO, um dos cartões-postais de Minas: o gigante ecológico também será testemunha da nossa escolha eleitoral
Pimenta da Veiga: Garantir soluções consorciadas intermunicipais como estratégia para aumentar o percentual da população atendida com sistemas de disposição adequada de resíduos. Pretendo apoiar os municípios com menos de 20 mil habitantes, que enfrentam muitas dificuldades técnicas e institucionais e ainda não alcançaram o mesmo pa-
tamar dos maiores, por meio da articulação entre o Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema) e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, Políticas Urbana e Gestão Metropolitana (Sedru). Vamos nos articular com o governo federal para obter financiamento destinado à implantação das infraestruturas de disposição adequada. E, por meio da articulação entre o Sisema, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) e Instituto de Desenvolvimento Integrado (Indi), implementar uma política de incentivos para a indústria de recicláveis descentralizada, como instrumento que garanta a inclusão dos catadores na cadeia produtiva. O licenciamento ambiental em Minas tornou-se um emaranhado burocrático e moroso que gera insatisfação na sociedade civil e completo desapontamento nos empreendedores, principalmente no setor de mineração, que hoje nos
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FOTO: HUGO CORDEIRO / NITRO
- principalmente dos menores - de cumprir as exigências da lei devem ser consideradas. O Estado deve se apresentar para ajudar as prefeituras a dar a destinação correta ao lixo produzido pela população, que não pode ser penalizada pelo descarte irregular. Minas precisa avançar na elaboração do Plano Estadual de Resíduos Sólidos e ajudar os municípios a elaborar seus projetos técnicos próprios ou reunidos em consórcios, e a viabilizar o aporte de recursos do governo federal. Ainda vamos criar um fundo específico e desonerar tributos para o setor de saneamento.
PIMENTA DA VEIGA: "A questão ambiental tem papel de destaque no nosso plano de governo"
FOTO: ALFEU TRANCOSO
1 ELEIÇÕES 2014
CACHOEIRA do Rio das Pedras, no ermo das Gerais, em Santana do Riacho (MG): as águas que ainda jorram na Serra do Cipó...
veem como um dos piores estados para se desenvolver empreendimentos. Qual a sua proposta para aperfeiçoar o atual processo de licenciamento ambiental? Fernando Pimentel: Uma das propostas do nosso plano de governo é articular a desburocratização e a descentralização do processo de licenciamento ambiental. Atualmente, apenas dez dos 853 municípios mineiros estão habilitados a realizar o licenciamento. Com conselhos municipais de Meio Ambiente, estruturados e devidamente qualificados, podemos ampliar esse número consideravelmente e fazer com que a documentação exigida não seja um entrave, mas, sim, uma ferramenta de desenvolvimento justo e sustentável. Pimenta da Veiga: Discordo dessa premissa de que o emaranhado 26 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
burocrático deve ser atribuído ao governo estadual. Minas fez um esforço vigoroso para criar alternativas eficientes e menos burocráticas. Do ponto de vista legal, esbarramos em um obstáculo importante, já que a estrutura do processo de licenciamento é definida em nível federal. Cabe ao Estado atuar decisivamente na revisão do licenciamento junto ao governo federal, em especial no Conselho Nacional de Meio Ambiente, discutindo os efeitos positivos da experiência mineira. Outro objetivo estratégico será o de ampliar a experiência que acumulamos na utilização de novos instrumentos de planejamento da qualidade ambiental, tais como o Zoneamento Ecológico Econômico e a Avaliação Ambiental Estratégica. Minas é considerada a “caixa d'água” do Sudeste, principal região industrial do país. Apesar disso, o órgão mineiro de gestão
das águas - Igam - encontra-se sem estrutura e sem capacidade operativa para coordenar a implementação efetiva de um sistema de gerenciamento de recursos hídricos. Sem o qual, em breve seremos um Estado também pobre em água, apesar da abundância relativa que temos. O que seu governo pretende fazer sobre isso? Fernando Pimentel: As políticas públicas adotadas em Minas pelo atual governo não têm se mostrado eficazes para tratar da questão da água. A prova dessa ineficiência é que, em muitos casos, por causa da falta de uma fiscalização mais constante, o índice de qualidade das nossas bacias hidrográficas tem piorado. Um dos motivos é o despejo de esgoto sem tratamento, que torna preocupante, principalmente, a situação das bacias dos rios Paranaíba, Doce, Jequitinhonha e Pardo. Por isso, é extremamente importante
FOTO: ASCOM/PIRAPORA
será sua política nessa área? Haverá orçamento específico para salvar o que nos resta de biodiversidade em Minas?
...não conseguem reverter a tragédia anunciada do Rio São Francisco, em Pirapora
e necessária a participação direta e atuante do poder público. Órgãos como o Igam devem ter condições adequadas de trabalho e também autonomia para agir. E isso está previsto no nosso programa de governo porque temos plena consciência da importância dos nossos rios, essenciais para o desenvolvimento de atividades como indústria, agropecuária, mineração, produção de energia hidrelétrica e turismo. Pimenta da Veiga: A questão das águas é tão estratégica que temos de encará-la, na verdade, como segurança hídrica. Pensando nisso, o principal objetivo estratégico das ações de governo será garantir a disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade compatível com os diversos usos, dandose precedência ao abastecimento humano, seguido da disponibilidade para agricultura, indústria e geração de energia. Para tanto,
vamos desenvolver um plano estadual de segurança hídrica, bem como um programa de melhoria de qualidade das águas no estado, incluindo ações de saneamento e parceria com o setor industrial com incentivos para o aprimoramento dos efluentes industriais. Do ponto de vista institucional, temos de consolidar todo o Sisema, e, no caso do Igam, vamos implementar um programa de fortalecimento institucional do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado. Minas ainda não dispõe de unidades de conservação em número suficiente para a proteção da sua ainda rica biodiversidade, na forma de parques, reservas, estações ecológicas etc. Também é significativo o número de unidades de conservação criadas, mas ainda não implementadas do ponto de vista fundiário. Como
Fernando Pimentel: A diversidade da fauna e da flora de Minas Gerais chama a atenção de brasileiros e estrangeiros e favorece a economia do estado, mas também aumenta o desafio e a responsabilidade sobre esse patrimônio. Nesse sentido, é extremamente importante a criação de novas áreas protegidas e também a devida manutenção das unidades de conservação já existentes. Atualmente, apenas 14% das unidades têm infraestrutura adequada e planos de manejo. No nosso governo, esse índice será ampliado, assim como a regularização fundiária das áreas já que 70% delas ainda não foram adquiridas pelo Estado. Também é importante que sejam implantadas políticas de educação ambiental que ajudem a preservar nossos parques e sítios arqueológicos. Pimenta da Veiga: O objetivo estratégico das ações de governo será justamente a implantação efetiva das unidades de conservação de proteção integral, promovendo a regularização fundiária, a elaboração e revisão de planos de manejo. A melhor forma de fazermos isso é utilizar os recursos da compensação ambiental da lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). Por outro lado, queremos focar a regularização de terras devolutas delas integrantes, que não implicam desapropriações onerosas para o governo, porque as terras já são públicas. Muito importante também é desenvolver um programa de criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), que permanecem como patrimônio privado, não custam ao governo e ainda trazem benefícios para quem as institui. Elas são uma opção factível para a preservação da biodiversidade.
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SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 27
FOTO: WILSON DIAS / ABR
1 ELEIÇÕES 2014 de maneira consciente para não comprometer as gerações futuras. Os recursos destinados à área ambiental devem acompanhar tal linha de raciocínio, sendo considerados investimentos para o desenvolvimento sustentável e suficientes para a adoção das políticas públicas necessárias. O ambientalista Hugo Werneck sempre afirmava que a consciência ambiental e a vontade política de um governante pode ser medida no orçamento que ele destina para a Semad, tradicionalmente um dos mais baixos, senão o menor em prioridade. Pretende aumentá-lo? Se sim, em quanto?
PELO QUINTO ano consecutivo, Minas encabeça a lista de estados desmatadores da Mata Atlântica, com 8.437 hectares destruídos entre 2012 e 2013
Vamos ainda ampliar o percentual de UCs abertas ao uso público, garantindo os investimentos para implantar a infraestrutura de visitação com o objetivo de torná-las acessíveis e autossustentáveis. Tanto os recursos vinculados à gestão ambiental em Minas quanto aqueles oriundos do licenciamento e fiscalização via Feam, Igam e IEF têm sido frequentemente retidos pelo Estado para outras destinações, incluindo a folha de pagamento do funcionalismo público. Se eleito, o senhor manterá o contingenciamento dos recursos na área ambiental? Fernando Pimentel: Se for eleito, estou ciente de que vou herdar um Estado com a maior dívida 28 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
do país: R$ 79 bilhões. Esse valor supera até mesmo o orçamento geral de R$ 75 bilhões aprovado para 2014. Esse cenário faz aumentar ainda mais a minha responsabilidade e o meu compromisso com o povo mineiro. Por enquanto, a única garantia que posso dar é a de que todos os esforços serão feitos para revisar as ações da atual administração, revendo-as sempre que necessário. Pimenta da Veiga: Não. A área ambiental tem papel de destaque dentro do nosso plano de governo. O desenvolvimento que pretendemos alcançar deverá ser alicerçado pela sustentabilidade. Nosso estado possui natureza abundante, mas os recursos naturais devem ser utilizados
Fernando Pimentel: Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Estaduais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2013 Minas Gerais foi o Estado com o maior percentual de recursos do orçamento destinados para o meio ambiente: 7%. Seria leviano dizer, sem ter acesso aos reais números das finanças, que vou aumentar esse percentual. Mas me comprometo a aplicar as verbas da melhor forma para assegurar a melhor política ambiental para nosso estado. Pimenta da Veiga: Os recursos para a Semad são fundamentais para a execução de políticas públicas que possam acompanhar os desafios do crescimento econômico e sustentável e assim serão tratados na nossa gestão. Mas nem sempre a importância desse tema está relacionada diretamente ao investimento específico na Secretaria de Meio Ambiente. Trabalharemos para que essa consciência ambiental esteja presente em todas as outras secretarias, como a de Transportes e Obras Públicas, a de Agricultura e a de Educação, por exemplo. A última edição do Atlas dos Remanescentes Florestais da
FOTO: SOM
A EFETIVA implantação de Unidades de Conservação pelo estado é a promessa e a esperança nestas eleições
Mata Atlântica, publicada pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em 27 de maio deste ano, apontou que Minas Gerais foi o estado brasileiro campeão de desmatamento pelo quinto ano consecutivo, com 8.437 hectares de áreas destruídas somente no período de 2012 a 2013. Qual sua proposta para reverter o atual ritmo de desmatamento deste bioma em Minas? Fernando Pimentel: Esses dados demonstram a urgência em se programar e implementar ações efetivas que reduzam essa devastação. Para isso, é preciso priorizar os mecanismos de fiscalização, monitoramento, controle e recuperação das áreas de ocorrência. A parceria com os municípios que abrigam áreas prioritárias, Ministério Público, entidades da sociedade civil, órgãos públicos e ainda aprimoramento das ouvidorias e agilidade no atendimento de denúncias são prioridade. Devese buscar também mecanismos eficientes de cobrança e impedimento aos infratores em relação às multas e penalidades aplicadas. Pimenta da Veiga: Primeiro é pre-
ciso informar que a própria ONG reconhece que houve uma diminuição no desmatamento da vegetação remanescente do bioma no estado da ordem de 22% na comparação do período 2012 com 2013. Para termos uma evolução mais favorável, precisamos atuar em duas frentes. Por um lado, vamos intensificar a fiscalização dos desmatamentos ilegais. No caso da Mata Atlântica já contamos com uma força-tarefa especial que precisa, no entanto, ser reforçada e ampliada. Por outro, vamos intensificar a recuperação da vegetação nativa, pois não basta não desmatar, é preciso recompor o que já foi devastado até aqui. Se eleito, o senhor terá coragem para adotar o Desmatamento Zero em Minas, incluindo outros biomas ameaçados, como o Cerrado? Fernando Pimentel: Na minha opinião, o poder público deveria considerar essa medida emergencial como um instrumento de proteção ao meio ambiente e de recuperação das áreas degradadas. Tal decisão dependeria de uma série de fatores, principalmente, do diálogo com os setores envolvidos e compreenderia áreas especificas de todos os biomas
mineiros, com prazos e períodos determinados. Devemos incluir entre nossos projetos a revitalização de áreas degradadas. Pimenta da Veiga: A ideia de desmatamento zero pressupõe uma paralisação absoluta das autorizações para a supressão de vegetação e isso é incompatível com a realidade. Sempre haverá necessidade de se suprimir alguma vegetação, como no caso das obras de interesse público para as quais não haja alternativa locacional. Prefiro pensar em um desmatamento líquido zero, que é aquele em que se zera a diferença entre as novas áreas eventualmente desmatadas e as que foram recompostas. E como quem deve decidir se quer ou não novas áreas desmatadas deve ser a sociedade, darei seguimento ao formato atual, em que a autorização para supressão de vegetação é compartilhada, caso a caso, entre poder púbico e sociedade civil, incluídos representantes do setor do agronegócio e das ONGs de proteção ao meio ambiente. O Por conta do espaço, as respostas dos candidatos foram editadas. Confira o conteúdo integral no site www.revistaecologico.com.br SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 29
CÉU DE BRASÍLIA FOTO: REPRODUÇÃO/IBAMA
VINÍCIUS CARVALHO
S.O.S. PAPA Pesquisadores e representantes de movimentos sociais pediram o apoio do papa Francisco para convencer o governo brasileiro a suspender todas as licenças ambientais que autorizam o cultivo e o uso de transgênicos no Brasil. A carta, enviada em abril ao Vaticano, foi assinada por pesquisadores de seis países.
GÁS DE XISTO A Câmara dos Deputados analisa Projeto de Lei que suspende a exploração do gás de xisto, no Brasil, por um período de cinco anos. Proibida em pelo menos dez países, a extração é conhecida pelos altos impactos ao meio ambiente, devido ao uso intensivo de água e produtos químicos.
POLUIÇÃO MATADORA
O Ibama publicou, este mês, instrução normativa que regulamenta a anistia de multas aplicadas por desmatamento ilegal até julho de 2008. O perdão das multas aplicadas contra a devastação de áreas de preservação permanente (APPs) e de reserva legal foi um dos temas mais polêmicos do novo Código Florestal, aprovado em 2012.
A poluição do ar vai matar cerca de 256 mil pessoas até 2020 no estado de São Paulo. A projeção é de pesquisadores da USP, que preveem também a internação de um milhão de pessoas e um gasto público de mais de R$ 1,5 bilhão devido à concentração de material particulado no ar. Ao menos 25% das mortes, ou 59 mil, devem ocorrer na capital paulista.
DESMATADOR ANISTIADO (II) Para ter direito à anistia, o desmatador ilegal precisará ter suas terras registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e aderir ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), um compromisso assumido pelo proprietário em recompor e manter áreas de preservação. Conforme levantamento do jornal Folha de S. Paulo, o governo deixará de arrecadar R$ 8,4 bilhões com a renúncia das multas.
Em defesa da água, vote Breno Carone.
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FOTO: DIVULGAÇÃO
DESMATADOR ANISTIADO (I)
ENERGIA NO BRASIL (I) A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) disponibilizou o Relatório Final do Balanço Energético Nacional. Segundo o documento, a oferta interna de energia atingiu 296,2 milhões de toneladas equivalentes de petróleo em 2013, um aumento de 4,5% em relação à oferta de 2012.
ENERGIA NO BRASIL (II) Gás natural, petróleo e derivados responderam por 80% do aumento. Segundo a EPE, isso se deve à redução na oferta de hidroeletricidade e ao aumento de geração térmica via gás natural, carvão mineral e óleo. Em decorrência do aumento, o total de emissões associadas à matriz energética brasileira atingiu 459 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente em 2013, alta de 6,9% em relação a 2012.
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CIDADANIA DIGITAL E
m 2017, o Brasil terá, por baixo, 70 milhões de smartphones. Feitas as contas, os institutos de pesquisa discordarão sobre o número, mas concordarão no essencial: impulsionado por modelos cada vez mais potentes e baratos, o aparelhinho equipará uma grande parte dos brasileiros, de todas as classes. E daí? Daí que eu costumava fazer inclusão digital. Daí que houve um tempo em que eu alertei meus pares nessa missão, como alerto agora, que uma combinação de estado da economia, desejo pessoal e a concorrência da Casas Bahia, vendendo “caixinhas” parceladas em 48 vezes, exige pensar a causa com visão de futuro, o que força a inexorável pergunta: mas, afinal, o que é inclusão digital? No princípio, era o vazio. Ter um computador, depois um notebook, depois um celular, depois um smartphone e um tablet era o desafio. Só os ricos podiam. Mas cada aparelhinho desses era um olho para o mesmo mundo da internet e, somados os olhos, em 2013 atingimos a marca de mais de 50% da população com acesso à rede. E seguimos crescendo. Como 50 não são 100, então inclusão digital ainda é dar acesso, é pensarmos e vigiarmos para que os governos, em todas as esferas, permitam, sem obrigar, que o restante da população tenha o direito de acessar esse novo mundo e usufruir dele. Eis a primeira dimensão! Reparou no permitir sem obrigar? A obrigação tem a ver com a ideia de permitir que as pessoas tenham acesso a serviços públicos e concessões sem serem obrigadas a fazê-lo digitalmente. Tem a ver com a necessidade de termos acesso ao conteúdo que desejarmos, sem prejudicar o outro e o bem comum. Tem a ver com a realização das potencialidades plenas desse novo mundo digital sem que ele se transforme em instrumento de dominação ideológica. Estamos falando de liberdade digital, a segunda dimensão! E, se navegamos de forma plena todos os mares da internet, é preciso fazer isso sem medo de bisbilhotices. Nosso direito de ir e vir e de nos expressarmos deve ser garantido pela lei. Mas ela não bastará num país onde, ainda inalcançada pela plena revolução dos bits, permanece lenta. Eis aí a terceira dimensão: segurança digital.
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E nosso quarto desafio é mais sutil. Ele vai tratar daquilo que acessamos. De nada adianta garantir acesso, liberdade e segurança digitais para pessoas que só acessarão as mesmas ideias, travestidas de retweets, mais do mesmo. A nós, do terceiro setor, cabe a luta pela diversidade e respeito culturais, pelo incentivo real à produção do maior número possível de conteúdos que permitam à população uma escolha genuína do que consumir e o acesso à cultura e ao entretenimento de qualidade. O que nos leva ao último desafio: protagonismo digital. Ao contrário da televisão, a internet é estrada de dois sentidos. Cada pequena comunidade, longínqua que seja, tem o direito de expressar-se e fazer que seja conhecida sua identidade digital, a face em bits da sua identidade cultural. É triste que viajemos no mundo cibernético para descobrir que populações inteiras de belos e interessantes lugares do Brasil estão tendo sua identidade sequestrada porque são analfabetos neste mundo, não sabem e não podem se expressar em seu próprio nome, transferindo a outros a missão de fazê-lo, muitas vezes somente com propósito comercial. Inclusão, liberdade, segurança, conteúdo e protagonismo digitais, tudo isso está na minha pauta. Há muito que ser feito em todas as áreas. Fico pensando que sua soma resume aquilo que a história testemunhou como luta de todos os tempos por todos os povos: cidadania ampla e plena, a expressão do que nos torna humanos, só que, agora, uma cidadania digital. O (*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG, presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.
TECH NOTES O Sobre o crescimento dos smartphones
no Brasil http://goo.gl/aW3q7m O Sobre o crescimento da internet no Brasil
http://goo.gl/bpwvy9
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CORAÇÃO DA TERRA DÉA JANUZZI (*)
DE VOLTA PRA CASA N
ão nasci em uma cidade de interior, com praça, igreja, cartório no entorno das casas com quintais e seus segredos, com árvores e frutas à mão. Nasci em Belo Horizonte e sempre fui considerada uma pessoa urbana. Aprendi com Amélia, minha mãe, a ter tempo para observar os ipês, os flamboaiãs, os bouganvilles que não respeitam nem os muros vizinhos, porque se esparramam em tons de vinho e roubam a cena. Gosto de flores e quando vou à feira do Colégio Arnaldo volto com braçadas de margaridas para enfeitar a casa. Mas foi com a erveira Magdala Ferreira Guedes, a Magui, minha irmã cósmica, que aprendi a ouvir o coração da Terra - que hoje está mais descompassado do que nunca. E, às vezes, precisa de marca-passo para sobreviver aos atentados. Certa vez, quando eu morava no alto do bairro Serra, em BH, acordei com o barulho de motosserras depenando as paineiras de um terreno ao lado. Do meu apartamento, eu as via em flor colorindo a paisagem. Era um amanhecer cor-de-rosa. Fui ver o que estava acontecendo e me surpre-
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endi. Uma construtora estava “limpando” o terreno pra construir dois prédios de 20 andares cada. Presenciei o assassinato das árvores – e sangrei com elas. Ninguém ouviu os pedidos de socorro delas nem seus gritos de dor. Conectada com a agonia daquelas árvores, entendi o porquê das enchentes na cidade grande, dos desmoronamentos, da queda de prédios que pareciam sólidos, do aquecimento global e de tantas outras insanidades contra a natureza. COMO JULIA HILL Tive vontade de ser uma ativista ferrenha, como a norte-americana Julia Butterfly Hill, que em 10 de dezembro de 1997, aos 23 anos, decidiu impedir o que parecia inevitável: a derrubada de uma das sequoias milenares do bosque da cidade de Stanford, na Califórnia (EUA). No final daquele ano, a madeireira Pacific Lumber Company irrompeu o bosque de 60 mil hectares para iniciar o desmatamento de um dos ecossistemas mais importantes do local.
"Aprendi que quem vive na natureza não precisa de religião. A natureza inspira, religa, é a grande oração. Aprendi que a Terra é a Grande Mãe, aquela que gera, acolhe, nutre, cuida."
O PIOR ESTAVA POR VIR No inverno de 1998 uma impressionante tormenta de mais de duas semanas esteve a ponto de separar Julia de Lua. Lufadas de vento acabaram com a lona e empurraram Julia para o vazio. Abraçada à sequoia e próxima à rendição, escutou a voz da Lua sussurrando aos seus ouvidos que “só os galhos rígidos se rompem”. Abandonou então o apoio estável para agarrar a flexibilidade dos galhos mais verdes que resistiram à investida e salvaram a vida de Julia. Passar por essa tormenta a obrigou a uma mudança de atitude. Julia livrou-se dos sapatos e fundiu-se com seu meio atingindo o apogeu espiritual. Jamais voltaria a viver com medo. Julia passou a conhecer cada inseto, cada folha de Lua, o que lhe permitiu encarar com certeza e vantagem psicológica a negociação com os desflorestadores que
FOTO: CARL- JOHN VERAJA
FOTO: SRT OLD / REUTERS
Mas, em seu caminho, encontrou Julia, uma obstinada e jovem borboleta, que teve de passar por uma metamorfose. Ela subiu na árvore e impediu o corte. Deu o nome à sequoia de Lua. Passou 738 dias entre seus ramos, e sem pôr um só pé em terra, obrigou a companhia madeireira, após duríssimas negociações, a indultar a árvore e todas as outras próximas. Ela teve o seu tempo de crisálida, pois a vida na árvore foi muito dura e mudou Julia por completo. A ideia era ficar duas semanas até o revezamento de um colega, o que nunca aconteceu. Uma pequena equipe fornecia-lhe cordas e víveres necessários, incluindo pequenos painéis solares para carregar o celular com o qual organizava as entrevistas, captava adeptos para a causa ou falava ao vivo com o senado norte-americano. Seu pequeno lar, a 50 metros de altura, consistia em uma plataforma de três metros quadrados coberta por uma lona impermeável, um pequeno fogareiro, uma caixa com uma bolsa hermética para fazer suas necessidades e uma esponja com a qual recolhia a água de chuva ou neve para se lavar. “A Pacific Lumber começou então a devastar árvores ao meu redor. Apareceram helicópteros que jogavam jatos de água em mim. Queimaram os bosques durante seis dias, a fumaça destroçou meus olhos e minha garganta, e fiquei cheia de bolhas. Depois montaram guarda dia e noite para que não pudessem me fornecer comida. Fiquei amargurada, gritando, dando cabeçadas, à beira da loucura. Para consolar-me pensava nas famílias de Stanford que, por causa da devastação do bosque, ficaram sem casa devido à inundação”, conta Julia.
JULIA passou 738 dias na copa da sequoia e impediu que ela fosse derrubada por uma madeireira, em Stanford, Califórnia (EUA)
deixaram então de chamá-la de “ecoterrorista”. Em 18 de dezembro de 1999, Julia desceu da sequoia com as mãos verdes de musgo e os pés cheios de calos, no meio de uma cerimônia. Com sucesso, culminaram as negociações com a madeireira que se comprometeu não só a respeitar Lua e todas as árvores próximas, mas também a incluir uma política ambiental em todos seus futuros trabalhos. Julia hoje tem 40 anos e continua como militante em defesa do planeta. SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 35
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CORAÇÃO DA TERRA DÉA JANUZZI (*)
FOTO: DÉA JANUZZI
Como não sou Julia, fui procurar abrigo no sítio Sertãozinho, aos pés das montanhas azuis de Moeda, aqui em Minas. Magui, irmã do coração, me recebeu de braços abertos e me ensinou a ouvir o coração da Terra. Assim como, quando criança, colocava uma concha no ouvido para escutar o barulho do mar. Ou na Semana da Desintoxicação e Revitalização e em vivências que realiza no fim de semana. COM A NATUREZA Com Magui consegui ouvir os gemidos da Terra, aprendi a dançar para o fogo, a entender as teias de aranha preservadas no caminho, a conhecer a beleza e o perfume da mirra que cai deixando um rastro prateado, um tapete de luz e perfume. Aprendi a ficar em silêncio, a ouvir o vento, a observar o movimento das nuvens, a conhecer cada erva do jardim de Magui. No silêncio da natureza, aprendi que a Terra não lida bem com o imediatismo, com a ganância, por isso existe o dia, a noite e as quatro estações do ano. Quando a gente quer intervir de forma autoritária, o coração da Terra dispara. Nessas horas, Magui conclama cada um para ouvir o nosso tambor interno que é o coração. E só fazendo isso é que a gente pode viver em uníssono com a Terra. Porque Magui é assim. Escuta a Terra chorar e canta para ela, seja por meio da alquimia seja pelo milagre do pão que ela realiza há mais de 20 anos, intencionando a massa disforme dos nossos dias. Aprendi que quem vive na natureza não precisa de religião. A natureza inspira, religa, é a grande oração. Aprendi que a Terra é a Grande Mãe, aquela que gera, acolhe, nutre, cuida. É a conexão com a vida, com o sagrado feminino. Todas as vezes que o meu coração sai fora do ritmo, corro para o Sertãozinho e tento resgatar os sons do meu tambor interno. É lá que eu encontro as minhas estações e sempre consigo estar na primavera dos meus dias. Hoje sinto que estou florescendo, mesmo no crepúsculo da vida, e que estou firme como uma árvore na floresta. Meus galhos se espalham quando encontro amigas como Celeste, que me convidam para ver a floração da pitangueira bem na entrada de sua casa, no Bairro Floresta. Ou Margarida Cardoso, que cuida sozinha da Praça Violeta Sotter Vargas, no bairro Serra. Ou quando ouço a voz das 13 Avós, grupo que roda o mundo rezando em prol do planeta. Ou das benzedeiras, que ajudam a purificar casas e sentimentos. Todas, personagens dessa nova coluna da Ecológico pelo pulsar do coração da Terra. O (*) Jornalista e escritora.
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"Com Magui, consegui ouvir os gemidos da Terra, aprendi a entender as teias de aranha preservadas no caminho, a conhecer a beleza e o perfume da mirra que cai deixando um rastro prateado, um tapete de luz e perfume."
1 PHW 2014
EM DEFESA DAS
VEREDAS
Uma das paisagens mais icônicas do Cerrado brasileiro, elas são caracterizadas pelos buritis, árvore-símbolo do V Prêmio Hugo Werneck
“C
FOTO: SANAKAN
onfia no Senhor de todo o seu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas.” A citação tem cerca de dois mil anos e está registrada no capítulo 3, versículos 5 e 6 do livro dos Provérbios, na Bíblia Sagrada. É uma alusão à transcedência do Criador, à influência que Ele exerce sobre as veredas de quem o segue. Pode ser entendida também como um aconselhamento, um aviso de que muitas das decisões que fazemos influenciam nos bons caminhos que escolhemos. E quando o assunto é meio ambiente, estar consciente da importância de se preservar os recursos naturais é o primeiro passo na trilha que nos garanti-
rá um futuro e uma qualidade de vida melhores para todos. É com esse espírito que o Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza defenderá, na edição deste ano, a preservação do Cerrado brasileiro - do pioneirismo de Paulo Nogueira Neto, primeiro ministro de Meio Ambiente do país, até as veredas de Guimarães Rosa. Elas, inclusive, são parte do cenário desse bioma, o segundo maior do país, presente em 14 estados brasileiros. E são formadas por aglomerações de buritis (Mauritia flexuosa) – árvores escolhidas como símbolo da quinta edição do prêmio – circundadas por campos típicos e úmidos. As áreas de veredas são produtoras de água e abrigam nascentes e comunidades bióticas. Também servem como “represas naturais”
do recurso para manutenção do bioma e funcionam como refúgio para importantes espécies da nossa fauna, como o lobo-guará e a ariranha. Consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs) pelo Código Florestal Brasileiro, por meio da Resolução Nº 303 de março de 2002, as veredas também se tornaram uma referência literária após serem retratadas na obra Grande Sertão: Veredas, do escritor Guimarães Rosa. E uma frase desse grande poeta de nosso tempo retrata bem a importância biológica delas e de sua vegetação típica: “O buriti é das margens, ele cai seus cocos na vereda. As águas levam, em beiras, o coquinho que elas mesmas replantam. Daí o buritizal, de um lado e do outro se alinhando, acompanhando, que nem por um cálculo”. O SAIBA MAIS
GUIMARÃES ROSA: "O buriti é das margens"
www.premiohugowerneck.com.br
*Outras categorias, acesse o regulamento no site do Prêmio.
REALIZAÇÃO
GRUPO
APOIO INSTITUCIONAL
Quanto vale a sombra de um buriti? Do pioneirismo de Paulo Nogueira Neto às veredas de Guimarães Rosa, em defesa do Cerrado brasileiro
Inscrições e indicações prorrogadas até 30 de setembro de 2014 www.premiohugowerneck.com.br
EM DEFESA DO CERRADO
FOTO: ANDRÉ POL
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MORTE
IMINENTE O segundo maior bioma do país agoniza em praça pública e sequer tem proteção garantida pela Constituição brasileira Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
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importância para isso. E o Cerrado pode ser ainda mais importante para o Brasil por causa da água que nasce lá e da riquíssima bioFOTO: MARCELO CASAL JR./ABR
S
e Dom Pedro II caminhasse pelo Cerrado brasileiro hoje levaria um susto. Dos 204 milhões de hectares originais do segundo maior bioma do país, preservados na época do Período Imperial, mais de 100 milhões já foram devastados. A área degradada é equivalente aos territórios da Suécia, Alemanha, França, Espanha e Portugal juntos. “O desmatamento foi grande na Amazônia, mas também é muito forte no Cerrado e ninguém dá
diversidade, que pode ser muito útil no contexto do aquecimento global”, afirma Donald Sawyer, pesquisador do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Segundo Sawyer, o desmatamento acumulado no bioma é de cerca de 50%, em comparação aos 20% da Amazônia. “Atualmente, a situação está mais crítica no Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia”, aponta. A pecuária e a soja despontam como os principais vilões do Cerrado, mas a lista de amea-
SAWYER: “A situação está crítica”
FOTO: MARCOS TAKAMATSU
ças é grande (leia mais a seguir). A solução para esses casos, indica ele, é aproveitar melhor as áreas desmatadas. “Hoje, a soja está ‘entrando’ nas áreas de pastagem. E a pecuária está se deslocando para o norte e oeste, na Amazônia. Para preservar o Cerrado, não é preciso extinguir o agronegócio. A pecuária tem uma densidade de cabeça por hectare menor que um. Dá para aumentar a sua produtividade, como também introduzir a soja e a cana-de-açúcar em áreas que já foram desmatadas, sem destruir outros locais com vegetação nativa.” IMBRÓGLIO CONSTITUCIONAL Para piorar a situação, a Proposta de Emenda Constitucional que eleva o Cerrado à categoria de Patrimônio Nacional, garantindo sua preservação por lei, ainda não foi aprovada pela Câmara dos Deputados. A proposta original foi feita há 18 anos (PEC 115/95), mas, com a inclusão da Caatinga no texto em 2010, ela foi alterada para PEC 504/2010. Com isso, o teor da nova proposta (parágrafo quarto, artigo 225 da Constituição Federal) passa a vigorar com a seguinte redação: A Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense, o Cerrado, a Caatinga e a Zona Costeira são Patrimônio Nacional, e sua utilização far-se-á,na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida da população. A expectativa era que a PEC, já aprovada pelo Senado Federal sem alterações, fosse votada na Câmara em julho. No entanto, é provável que ela só será apreciada no Plenário após as eleições. “Ainda há muitos desafios a serem vencidos para garantir a conservação do bioma, além da PEC.
O MONITORAMENTO e a fiscalização das áreas de Cerrado devem ser aperfeiçoados para garantir a preservação da fauna e da flora
"A preocupação é com a floresta, pois é muito mais fácil monitorá-las. No caso do Cerrado, é tecnicamente impossível distinguir um campo sujo (natural) de um pasto sujo (desmatado)." DONALD SAWYER, pesquisador do ISPN
Primeiro, é preciso dados mais consistentes sobre o desmatamento para entendermos melhor os impactos ecossistêmicos. Não se trata apenas de criar parques e reservas. Isso é importante, mas não resolve os problemas de água e carbono. É preciso uma visão mais ampla e menos pontual”, garante Sawyer. Além disso, reforça ele, é preciso superar a polarização, não colocar conservação e desenvolvimento em patamares dissocia-
dos. “Por último, temos a falta de prioridade. A preocupação é com a floresta, pois é muito mais fácil monitorá-la. No caso do Cerrado, é tecnicamente impossível distinguir um campo sujo (natural) de um pasto sujo (desmatado). Você não sabe o que é desmatado ou não, pois, por satélite, é difícil ver esses detalhes.” Enquanto o Cerrado não tem sua proteção garantida pela Constituição, o jeito é contar com as comunidades tradicionais. Para isso, sugere o consultor, é preciso enxergar o bioma como uma paisagem ecossocial. “Trata-se de uma área complexa, com presença humana, inclusive indígena, e agricultura familiar. Essas populações são importantíssimas para manter os fluxos de água, os estoques de carbono e a biodiversidade distribuída.”
SAIBA MAIS www.redecerrado.org.br
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SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 41
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EM DEFESA DO CERRADO
Os vilões do bioma FOTO: DANIEL BELTRÁ/GREENPEACE
primeira vez em 2006, durante a 8ª Conferência das Partes da Convenção de Diversidade Biológica (COP-8), em Curitiba (PR), em várias edições do Encontro dos Povos das Florestas e na Rio+20, atraindo mais de 10 mil visitantes. A seguir, confira algumas das informações e dados apresentados durante a instalação:
PECUÁRIA No Brasil, há pouco incentivo para o manejo de pastos, exigindo cada vez mais abertura de novas frentes e deixando um rastro de áreas degradadas e solos erodidos. No Cerrado, já são mais de 4,2 milhões de hectares de pastagens destruídas, o que equivale a 10% de toda a terra utilizada para pastagens no bioma. Nessas áreas, a biodiversidade foi perdida e não há mais produção agrícola nem pecuária. A revisão dos padrões de consumo e a adoção de novas técnicas produtivas são medidas que podem reverter o ciclo de desmatamento e melhorar a eficiência e a sustentabilidade da atividade pecuária.
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MONOCULTURAS No Cerrado, 22 milhões de hectares estão ocupados por cultivos agrícolas. As monoculturas de maior expressão são as de soja (para exportação), eucalipto (produção de celulose), cana-de-açúcar (produção de biocombustível) e algodão (indústria têxtil). Esses sistemas estão pautados em um modelo tecnológico que, além de desmatar grandes extensões de vegetação nativa e gerar poucos empregos, utiliza grandes quantidades de insumos químicos, o que levou o Brasil ao posto de maior consumidor de agrotóxicos do mundo. O resultado disso é a contaminação da água, do solo, dos alimentos e das pessoas. FOTO: QIU BO/GREENPEACE
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Rede Cerrado, que congrega mais de 300 organizações da sociedade civil que atuam na promoção do desenvolvimento sustentável e na conservação do bioma, criou a instalação multimídia "A Caixa Preta do Cerrado", que traz ao público um panorama do ecossistema de forma lúdica e didática. A instalação foi montada pela
FOTO: DIVULGAÇÃO
EROSÃO/ASSOREAMENTO O Brasil perde, por ano, cerca de um bilhão de toneladas de solo, aproximadamente um centímetro da camada superficial do solo de todo o país. Isso é provocado pela erosão e reduz a produtividade da terra devido à perda de nutrientes, à degradação de sua estrutura física e à queda nas taxas de infiltração e retenção de água. Por outro lado, solos cobertos pela vegetação conseguem reter, em média, 70% do volume das chuvas, evitando o rápido escoamento superficial.
FOTO: PETER CATON
ATROPELAMENTO DE ANIMAIS Quem viaja pelas estradas que cortam o Cerrado, frequentemente se depara com animais da fauna nativa atropelados. O desmatamento força cada vez mais o deslocamento de animais para novas áreas. Muitas vezes, a travessia de autoestradas é a única opção em busca de alimento e abrigo. O planejamento de corredores ecológicos (ligação entre os fragmentos florestais), a construção de pontos de travessia e a proteção dos hábitats são algumas das medidas que ajudariam a diminuir o risco de atropelamento de animais.
FOTO: ALDEM BOURSCHEIT
FOTO: SANAKAN
CARVÃO Nos últimos 10 anos, o consumo de carvão vegetal no Brasil cresceu mais de 50%. A nova “solução verde” anunciada pelo setor de siderurgia é a substituição do carvão do Cerrado pelo carvão de eucalipto. O governo anunciou a meta de ampliação dos plantios de eucalipto em 3,2 milhões de hectares no bioma. Repensar a forma de uso de carros pessoais e priorizar transportes coletivos e o uso de bicicletas são formas de reduzir a demanda por carvão.
FOGO Queimadas naturais são originadas por raios e sua frequência varia entre quatro e nove anos, sendo que são raras e não se alastram em fisionomias sensíveis ao fogo, como as matas de galeria e os buritizais. Hoje, os focos de incêndio no Cerrado são originados da utilização do fogo como ferramenta de manejo na agricultura e pecuária e dificultam o estabelecimento de novas árvores, pois as mudas não resistem à passagem das chamas. O uso na agricultura pode ser substituído por técnicas alternativas, que geram menores impactos socioeconômicos e ambientais.
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EM DEFESA DO CERRADO
ALFEU TRANCOSO
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Por que o bioma deve ser preservado É a savana mais biodiversa do mundo
O
Menos de 1% do Cerrado é protegido via unidades de conservação
O
80% do bioma já foi modificado pelo homem e apenas ainda está em bom estado de preservação
O
20%
837 espécies de aves
O
199 espécies de mamíferos
O
180 espécies de répteis
O
150 espécies de anfíbios
O
1.200 espécies de peixes
O
1.000 espécies de borboletas
O
500 espécies de abelhas e vespas
O
90.000 espécies de invertebrados
O
12.000 espécies de plantas, sendo 44%
O
endêmicas
Pato-mergulhão, arara-azul, arara-vermelha, lobo-guará, tamanduá-bandeira, onça-pintada e cachorro-vinagre estão
O
entre as 132
espécies ameaçadas de extinção
20% das espécies ameaçadas de extinção (flora e fauna) não
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ocorrem nas áreas legalmente protegidas
FOTO: SHUTTERSTOCK
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FOTO: REPRODUÇÃO
AUMENTO DE TEMPERATURA Com a queima das árvores, mais gás carbônico é liberado na atmosfera, provocando alterações no clima. DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS O Cerrado abriga e dispõe uma infinidade de frutas aos brasileiros, como pequi, pitanga-vermelha, palmitoda-mata, mangaba, araçá e cagaita (foto ao lado). Sua degradação afeta não só a comercialização responsável desses alimentos como os produtos feitos a partir deles. Sem contar a renda da população que sobrevive de sua fabricação e venda. IMPACTO SOCIAL Sem as florestas, os povos do Cerrado têm menos possibilidade de usufruir sustentavelmente dos benefícios que seus recursos naturais possibilitam. Isso se traduz em aumento da pobreza e êxodo rural. Sem contar que boa parte desses agricultores, ao chegarem nas cidades, não encontram emprego e renda e passam a viver em situações precárias.
FOTO: ANDRÉ POL
ANIMAIS NA CIDADE Assim como a Amazônia, o Cerrado também sofre com o tráfico silvestre. Segundo a WWF, 38 milhões de animais são retirados todos os anos da natureza brasileira. Desses, quatro milhões são vendidos no Sudeste. Além disso, a destruição das matas do Cerrado pode provocar um desequilíbrio ecológico, extinguir espécies e aumentar a fuga de animais para áreas urbanas.
FOTO: QIU BO/GREENPEACE
FOTO: SAGE ROSS
ABASTECIMENTO DE ÁGUA O Cerrado é a caixa-d'água do Brasil. Alguns dos mais importantes rios do país nascem ou passam pelo bioma. Com o desmatamento, as nascentes são afetadas, os afluentes secam e os rios tornam-se intermitentes, prejudicando o abastecimento de água para a população.
FOTO: THIAGO FERNANDES
Como a destruição do Cerrado afeta você
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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br
PERUAÇU AMEAÇADO
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ntre 2005 e 2008, o Instituto Estadual de bastante raras - sucuri, araras, águias, lobo-guará, Florestas (IEF) autorizou diversos desma- onça-parda, tamanduá-bandeira, tatu-canastra, tamentos nas chapadas em torno do Par- anta e centenas de espécies de pássaros. que Estadual Veredas do Peruaçu para plantios No entanto, há alguns outros aspectos em relade eucalipto. As autorizações foram dadas sem ção ao problema que vale mencionar. Primeiraestudos ambientais que identificassem possí- mente, os pontuais. Ou seja, os impactos e riscos veis impactos à unidade de conservação. Os pro- que correm toda a riqueza biológica e paisagística prietários dos plantios são conhecidos na região da bacia do Rio Peruaçu. Os plantios de eucalipto como “paulistas”. e outras monoculturas não estão causando imPassados menos de 10 anos, as nascentes do Rio pactos somente nas águas, pois ameaçam a intePeruaçu, completamente protegidas por densas e gridade das duas unidades de conservação, que extensas florestas de buritis e pindaíbas, habita- não podem ser ilhadas. das por bandos de araras e papagaios verdadeiO segundo aspecto é a concessão das autorizações ros, estão secando. Em função de dadas pelo IEF sem qualquer estudo, denúncias recebidas pela Amda, mesmo sendo ele o órgão responsá"Por que tanto equipes técnicas da Semad e do vel pela administração e proteção do descaso com Igam realizaram vistoria no local Parque Estadual Veredas do Peruaçu. em abril deste ano. E os laudos O ato revela incoerência, irresponsaas Unidades de apontam para uma relação direta bilidade, incompetência e descaso Conservação?" entre o desmatamento, os plantios com a proteção de uma área tão ime a redução drástica dos lençóis portante em termos ambientais, e freáticos que abastecem as nascentes. soma-se a outros milhares de exemplos do que toAs chapadas são áreas de recarga, ou seja, ne- dos nós sabemos: Minas nunca teve um governo calas as águas da chuva se infiltram e alimentam os paz de cuidar realmente dos poucos ambientes nalençóis, que, por sua vez, alimentam as nascentes turais que restaram em seu território; de tratar com do Rio Peruaçu. Os laudos recomendam que não seriedade a proteção da água. sejam “liberadas novas áreas para usos alternaE as perguntas são sempre as mesmas: como tivos do solo quando não precedidos de estudos justificar a substituição da vegetação nativa por e monitoramento de rebaixamento do nível dos plantios de qualquer natureza, com tanta terra lençóis freáticos”. De acordo com a equipe téc- desmatada? Para que o governo pagou à Univernica responsável pela fiscalização, o consumo de sidade Federal de Lavras (Ufla) para fazer o Zoneágua na parte baixa do rio também é muito signi- amento Econômico e Ecológico do estado se ele ficativo, pois existem centenas de poços tubulares não é utilizado para proteger as áreas frágeis e imque servem a comunidades da região. portantes nele indicadas? Por que tanto descaso O Peruaçu, último afluente mineiro à margem com as unidades de conservação? esquerda do Rio São Francisco, só não secou porA ampliação do Parque Estadual Veredas do Peruque está sendo alimentado pelo Ribeirão Forqui- açu, cercado por latifúndios, é uma das muitas prolhas. Além de fornecer água a diversas comunida- messas não cumpridas que ouvimos dos últimos godes, ele atravessa o fantástico complexo de grutas vernos. Vamos continuar tentando, é claro. Mas haja do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, sendo paciência, esperança e calma para aguentar tanta vital para o equilíbrio do mesmo. Os dois parques politicagem ambiental. O abrigam espécies da fauna que praticamente desapareceram do território mineiro, como queixa(*) Superintendente-executiva da Associação das, onças pintadas, cervo-do-pantanal, cachorMineira de Defesa do Ambiente (Amda). ro-do-mato-vinagre e inúmeras outras também já
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1 SUSTENTABILIDADE
PÉROLAS ECOLÓGICAS Na última edição do Fórum Internacional pelo Desenvolvimento Sustentável – Sustentar 2014, a Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) realizou um concurso de frases ambientais entre os visitantes de seu estande no evento. A seguir, conheça as vencedoras:
“Não marque sua passagem pela vida através das coisas que destruiu. Mas sim por um futuro diferente que ajudou a construir.” Luiz Artur Ribeiro, estudante
“Meio ambiente e sociedade humana devem andar juntos. Devemos tratar a natureza como aliada ao desenvolvimento. E não como empecilho.”
“Se nosso corpo é 70% água, os outros 30% devem ser consciência.” Talita Macedo, estudante
“É importante ser consciente sobre o meio ambiente, mas não basta se conscientizar se não for agir.”
“Quem define nosso futuro somos nós. Preserve o meio ambiente!”
Brayan Cristian, estudante
Evaldo Pedro Gomes, eletricista
Rafaella Salles, estudante
“Se a humanidade não economizar a água, a única que restará será de suas lágrimas.”
Maria Olívia da Silveira, estudante
“Só através do uso dos recursos naturais com respeito ao meio ambiente, a humanidade poderá conter as catástrofes do aquecimento global.”
“Fique feliz porque a natureza existe. Fique triste porque estão tentando acabar com ela. Fique esperto e nos ajude a mantê-la viva.”
Brígida Santos, estudante
“O que você deseja? Árvores vivas ou árvores de cimento? Pense, reflita! A escolha só depende de você...” Andréa Andrade Greis, gestora ambiental
“Usar os recursos de maneira sustentável é mais que uma obrigação; é uma atitude positiva para com as gerações futuras.”
“O consumo consciente está na maneira como as pessoas visualizam suas reais necessidades.”
Edgard Leal Braga, estudante
Webert César, engenheiro de produção
Francisco de Assis Nunes, comprador
SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 47
1 PRESERVAÇÃO
O ACORDO político e empresarial conseguiu suprimir mais de 300 focos de incêndio em 2013
FOTO: AMDA
UNIÃO CONTRA AS
QUEIMADAS Parceria firmada entre Vale, Sindiextra e Semad fortalece ações de combate aos incêndios florestais no Quadrilátero Ferrífero Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br
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investimento até o ano passado foi de R$ 13,79 milhões. O acordo com a atual formatação está em seu segundo ano e funciona da seguinte forma: com a interveniência da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), a Vale disponibiliza uma verba anual para o Sindiextra, que é repassada para as ONGs Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) e Instituto Terra Brasilis, duas instituições com histórico de atuação contra queimadas, para agir na prevenção e combate de incêndios florestais nas reservas da mineradora e em outras áreas FOTO: DIVULGAÇÃO
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esde maio, governo, empresas e sociedade estão com os olhos nas florestas de Minas: trata-se do período de alerta em relação às queimadas, que só termina em novembro. São sete meses de tempo seco e estiagem prolongada, que aumenta a incidência do fogo e coloca em risco matas, nascentes e animais. Preocupada com essa questão, a Vale, empresa de mineração presente no estado, renovou a parceria com o Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra) em 2013 para fortalecer ações de combate às queimadas florestais na região do Quadrilátero Ferrífero. Localizado na porção centro-sul de Minas Gerais, ele abrange 7.000 km2 e abriga duas das mais importantes bacias hidrográficas do estado: a do Rio Doce e a do Rio das Velhas. A iniciativa existe desde 2009 e o
naturais. Neste ano, a Vale renovará o acordo e repassará uma verba de R$ 3,5 milhões para esse fim. O gerente de Planejamento e Inteligência de Meio Ambiente da Vale, Flávio Café, conta que as brigadas, alocadas em cinco bases de apoio, atendem um raio de aproximadamente 50 quilômetros no seu entorno. A empresa também possui uma central de atendimento para receber as denúncias de queimadas, que, por sua vez, são direcionadas para a base mais próxima do foco. O projeto de combate aos incêndios também presta, sempre que necessário, apoio ao Programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Previncêndio) da Semad. “Graças a este trabalho, está sendo possível atuar de forma mais rápida e eficiente, já que as equipes estão estrategicamente distribuídas em toda a região do
FLÁVIO CAFÉ: “Integração entre diversos setores garante sucesso do projeto”
FOTO: FERNANDA MANN
RPPN Poço Fundo, da Vale, em Congonhas (MG), uma das áreas verdes monitoradas pelos brigadistas: seus 426,73 hectares preservam 44 nascentes
o combate aos focos de incêndio quase triplicaram. “Na minha visão como brigadista, melhorou muito em relação aos equipamentos e na forma como nós combatemos o incêndio, além do contato mais próximo com as outras bases”, ressalta. PARCERIA POSITIVA Outra instituição ativa no combate aos incêndios florestais é a Amda, uma das entidades ambientalistas do país com maior experiência em projetos desse porte. Ela mantém uma base em parceria com a Vale na cidade de Itabirito e conta com 10 brigadistas atuando nos períodos secos e seis em época de chuvas. Todos os profissionais são bombeiros civis e participaram de cursos de capacitação para proteger nossas florestas da ação do fogo. Em 2013, a brigada atuou no combate direto a 34 ocorrências de incêndios florestais. Em 2014, já foram combatidos sete focos. A equipe conta com uma caminhonete 4X4 adaptada com estrutura para acondicionar equipamentos, motobomba e bolsão de arma-
ADRIANO FERREIRA: “Conseguimos quase triplicar o número de atuações após a parceria”
FOTO: DIVULGAÇÃO
Quadrilátero, permitindo, assim, que o fogo não se alastre.” Segundo Fernando Coura, presidente do Sindiextra e vice-presidente da FIEMG, a ação perversa dos incêndios, ao longo das últimas décadas, vem provocando efeitos severos na vegetação natural da região. “Os sinais de queimadas estão presentes em toda a área do Quadrilátero Ferrífero, sendo que a atuação das brigadas apoiadas pelo acordo de cooperação entre a Vale e o Sindiextra permitiu uma redução significativa da área atingida pelo fogo no último ano.” Com a continuidade do convênio, as instituições conseguem investir na contratação de mais brigadistas, além de obterem mais recursos para a compra de veículos e materiais que tornam o serviço mais eficaz. Além desses benefícios, a presidente do Terra Brasilis, Sônia Rigueira, atribui o sucesso da iniciativa aos anos de experiência que a ONG tem na prevenção de queimadas. Ela conta, por exemplo, que os brigadistas aproveitam os períodos chuvosos para estudar os caminhos mais rápidos aos locais de possíveis focos. “Com isso, conseguimos diminuir o tempo de deslocamento às queimadas, o que nos ajuda a conservar a biodiversidade e apoiar a gestão das áreas naturais protegidas ou não”, ressalta. O Terra Brasilis conta hoje com quatro bases de combate, localizadas nas cidades de Itabira, Barão de Cocais, Mariana e no bairro Jardim Canadá, em Nova Lima. Nos períodos de seca, a equipe é composta por um coordenador e 20 brigadistas. No período chuvoso, quando a demanda cai, são mantidos de oito a 10 brigadistas. Os números demonstram o sucesso da iniciativa: em 2011, foram combatidos 332 incêndios. No ano seguinte, 302. E, em 2013, 308. O bombeiro civil Adriano Ferreira Guimarães atua na base de Mariana e conta que, graças à parceria, os atendimentos para
zenamento de água com capacidade para até 500 litros. Além de ferramentas para a atividade de combate direto ao fogo e caixa para acondicionamento de animais peçonhentos. A superintendente-executiva da Amda, Maria Dalce Ricas, considera que “a parceria com o setor privado é 100% positiva”. E salienta: “É importante dizer que, se por um lado os combates aos incêndios nas propriedades da Vale são uma obrigação da própria empresa, por outro, viabilizar projetos como esse mostra o interesse da companhia pela proteção de outras áreas naturais, já que a brigada pode ser acionada e atuar em outros locais que estejam no escopo do projeto de cooperação”. Maria Dalce também alerta para uma maior ocorrência de queimadas neste ano. “As chuvas foram poucas, o solo está muito seco, principalmente na região da Serra do Rola Moça, que sofreu com grandes incêndios em 2011, o que fez o capim aumentar muito e tornar-se ‘gasolina’, pronta para pegar fogo.” Condições que a superintendente avalia como preocupantes, levando em consideração, principalmente, a realidade do Previncêndio. “O órgão ambiental não tem estrutura suficiente para atender o número de incêndios que possam estar por vir, por isso, é fundamental o apoio das brigadas contratadas e voluntárias para proteção da biodiversidade”, conclui. O
SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 49
1 PROMOTORIA
NEDENS ULISSES, Alceu Torres, Antônio Sasdelli, Carlos André, Jarbas Soares, Carlos Eduardo e Sheila Pitombeira: união e atuação estratégicas
ESPERANÇA PÚBLICA Minas sedia primeira audiência pública do Projeto Biomas, do Conselho Nacional do Ministério Público, tendo a defesa da Mata Atlântica no centro dos debates J. Sabiá redacao@revistaecologico.com.br
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Nedens Ulisses Freire Vieira, presidente da Associação Mineira do MP; Alceu Torres Marques, secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad); Antônio Sasdelli Prudente, corregedor-geral do MPMG; Jarbas Soares Júnior, FOTOS: DIVULGAÇÃO/MPMG
F
oi no Salão Vermelho do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), na capital mineira, penúltima terça-feira seca de agosto. Na mesa, diante de uma plateia seleta de ambientalistas, um time de integrantes do Ministério Público mais que respeitáveis. Procuradores estratégicos que deram seus recados na causa que mais ameaça a sobrevivência da vida humana, e que ainda não está presente nas campanhas dos candidatos às eleições deste ano: a defesa do meio ambiente que ainda resta na paisagem natural do país, na forma de seus biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica (o único protegido por legislação específica), Pampas e Pantanal.
ALCEU TORRES: aposta no plano estadual de prevenção e combate ao desmatamento da Mata Atlântica
membro do Conselho Nacional do Ministério Público; Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador do Centro Operacional das Promotorias de Justiça (Caoma); e Sheila Pitombeira, do Ministério Público do Ceará, também membro colaboradora do Grupo de Meio Ambiente do CNMP, se revezaram ao microfone e alinharam um conjunto de ações a serem desenvolvidas na área de atuação de cada um deles. Por Minas carregar o vexatório título, já pelo quinto ano consecutivo, de estado campeão nacional de devastação da Mata Atlântica, o encontro de BH discutiu sobremaneira os problemas que ameaçam a preservação desse bioma em particular. Tanto que a Funda-
ção SOS Mata Atlântica, representada pela sua diretora-executiva, Márcia Hirota, e pelo diretor de Políticas Públicas, Mario Mantovani, levou e exibiu um diagnóstico histórico e sombrio do que resta da sua rica biodiversidade no país: apenas 8% de quando Cabral descobriu o Brasil. Márcia destacou, também, o trabalho em conjunto que o MPMG tem feito com o Governo de Minas, por meio da Semad, para a melhora desses dados. Segundo Carlos Eduardo, “a nossa ideia, como grupo, é atuar de forma cada vez mais rigorosa e coordenada. É contribuirmos, sermos agentes protagonistas na reversão desse quadro”. REAÇÃO EM CADEIA A Semad demonstrou os esforços do governo estadual para reduzir o desmatamento. Segundo Daniela Diniz, subsecretária de Controle
"Nós não nos furtaremos na proteção, cada dia mais, do que resta de biodiversidade no país." CARLOS EDUARDO FERREIRA, coordenador do Caoma
e Fiscalização, desde 2013, quando houve um aumento na área desmatada, em oposição à queda registrada em anos anteriores, foi implementada, pelo então governador Antonio Anastasia, uma força-tarefa para combater esse cenário antiecológico. Além da Semad, informou Alceu Torres, pela primeira vez foram incluídas neste esforço as pastas de Desenvolvimento Econômico e Agricultura, bem como as polícias civil e militar.
O Estado implantou a chamada “moratória”, impedindo todos os atos autorizativos para supressão de áreas de Mata Atlântica para silvicultura, que representavam 80% das ocorrências. Ele garantiu que operações repressivas também continuassem sendo deflagradas periodicamente em regiões identificadas como fortemente degradadas, com resultados expressivos. Ao final, a principal mensagem foi esta: o Ministério Público irá estudar e adotar uma série de providências para sensibilizar igualmente os demais órgãos do sistema judiciário brasileiro em relação às consequências da exploração ambiental predatória de todos os seis biomas ameaçados. As próximas audiências públicas do CNMP acontecerão ainda este ano, em Porto Alegre (Pampas), Natal (Caatinga) e Palmas (Cerrado). O
FOTO: BIN BRASIL
1 TECNOLOGIA LIMPA
SIMULAÇÃO das lixeiras instaladas na região da Pampulha: elas têm vida útil estimada em 15 anos
AS BIG BELLYS VÊM AÍ! Empresa de BH traz para o Brasil ecolixeiras inteligentes, uma alternativa para aprimorar a limpeza pública e reduzir a frequência da coleta e o volume de lixo destinado aos aterros sanitários
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aior poder de compra mais elevação do consumo é igual a mais lixo nas cidades. Essa equação tem tornado a gestão dos resíduos sólidos urbanos um desafio diário para a maioria das prefeituras brasileiras. Em 2013, segundo levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), foram gerados 76,4 milhões de toneladas de lixo em todo o país, 4,1% a mais que em 2012. Esse índice é superior à taxa de crescimento da população no mesmo período, que foi de 3,7%. A boa notícia é que o Brasil pode ganhar, em breve, um equipamento que promete aumentar a eficiência e a qualidade do serviço de limpeza urbana, essencial ao bom
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funcionamento das cidades, sendo que Belo Horizonte pode ser o primeiro município brasileiro a ter esse projeto instalado. São as lixeiras inteligentes e autossustentáveis movidas a energia solar, uma tecnologia limpa que já vem sendo adotada com sucesso há anos, em mais de 30 países. A responsável pela introdução dessa novidade no mercado nacional é a empresa Bin Brasil, com sede em BH, que detém a exclusividade na venda, locação (leasing) e concessão pública das ecolixeiras Big Belly. Além de usar energia renovável (solar) para o seu funcionamento, as novas lixeiras têm pelo menos outros dois diferenciais de sustentabilidade: o monitoramento permanente e
a capacidade de compactação do lixo. Com isso, reduzem o custo e a frequência da coleta dos resíduos, bem como o volume do material armazenado e a demanda por espaço nos aterros sanitários. AR MAIS PURO O monitoramento é feito por meio de sensores que informam ao operador do serviço – através de um aplicativo (Clean) para aparelhos Android e Apple ou ainda via e-mail e mensagens SMS – quando as lixeiras estão cheias. Graças a esse controle, a queda na frequência da coleta pode chegar a 70%, trazendo benefícios ambientais e financeiros imediatos. O principal deles é a diminuição do número de caminhões das con-
O Células fotovoltaicas alimentam a energia da lixeira e permitem o envio de mensagem (SMS), informando ao operador do serviço o seu percentual de enchimento ou se apresenta algum defeito. O Com vedação total, evita mau cheiro, retém o chorume gerado e impede a violação por animais. O Confeccionada em aço estampado e material especial desenvolvido pela Nasa, com altíssima resistência a impactos e calor. O Vida útil estimada em até 15 anos. As lixeiras convencionais, confeccionadas em plástico, costumam ser trocadas anualmente, a um custo médio de R$ 1.200/unidade. O Seus componentes modulares permitem adequação à necessidade específica de cada local/ambiente. O Possibilita a visão e o gerenciamento global das lixeiras espalhadas pela cidade (georreferenciamento). O Assegura, ainda, maior rigor e eficiência na alocação de recursos públicos para a gestão da coleta, destinação e reciclagem do lixo urbano.
cessionárias e terceirizadas que cuidam da limpeza pública em circulação pela cidade. Essa medida ajuda a desafogar o trânsito e ainda contribui para a melhoria da qualidade do ar, reduzindo a emissão de poluentes resultantes da queima de combustíveis, em especial do óleo diesel, que agravam o efeito estufa. “Hoje, os caminhões que fazem a coleta do lixo em BH chegam a passar até dez vezes por semana nos pontos de recolhimento instalados em locais de grande movimentação, como a Praça Sete, por exemplo. Com a Big Belly, essa frequência tende a cair para três vezes, pois o material só será recolhido quando a lixeira estiver realmente cheia”, detalha Paulo Mello Jr., um dos sócios da Bin Brasil. RESULTADOS ANIMADORES Com capacidade nominal de 120 litros, a ecolixeira solar é equipada com um compactador automático de 500 kg de força, o que lhe per-
FOTO: DIVULGAÇÃO
DIFERENCIAIS ECOLÓGICOS
A BIG BELLY tem capacidade para acondicionar até 660 litros de lixo
mite acondicionar até seis vezes o seu volume (leia mais a seguir). Só a título de comparação, as lixeiras convencionais atualmente usadas na capital mineira comportam, no máximo, 28 litros. “Isso sem contar que a nossa lixeira é camaleônica. Pode ser instalada em diversas configurações, com módulos independentes para acondicionamento de lixo orgânico, de plástico e metal, e ainda de papel e vidro que, óbvio, não são compactados. É possível acoplar até cinco recipientes, caso haja demanda real, ocupando praticamente o mesmo espaço físico das lixeiras tradicionais”, ressalta Mello. Os resultados alcançados com o produto no exterior são animadores. Em Boston, nos Estados Unidos, a instalação de 600 lixeiras assegurou, em apenas um ano, uma economia de US$ 13 milhões. Esse montante contempla tanto a economia obtida com a otimização dos serviços de coleta/transporte
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS/ BENEFÍCIOS DO PRODUTO Capacidade: acondiciona até 6 vezes o seu volume, totalizando 660 litros ou 30 quilos de lixo (o espaço equivalente aos 60 litros restantes fica livre para o funcionamento do compactador). Compactação: sensor identifica volume/enchimento e dispara a compactação, reduzindo o volume do material armazenado e também a demanda por espaço nos aterros sanitários. Autonomia: funciona por mais de 90 dias sem luz solar. Arrecadação: permite a exploração de publicidade em até quatro faces da lixeira. Trânsito/clima: a menor circulação de caminhões de coleta/destinação do lixo desafoga o trânsito e reduz as emissões de gases de efeito estufa, em especial do CO2.
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FOTO: LUCIANA MORAIS
1 TECNOLOGIA LIMPA
SEGUNDO Alexandre Davis e Paulo Mello, as lixeiras reduzem o custo e a frequência da coleta dos resíduos, bem como a demanda por espaço nos aterros sanitários
e destinação do lixo quanto o aumento da receita com a venda de materiais recicláveis, como latinhas de alumínio. A Big Belly está presente ainda no “coração” de Nova York. “A Alcoa Foundation doou 150 lixeiras com a sua logomarca, que foram instaladas na Time Square”, informa Alexandre Davis, também sócio da Bin Brasil. VITRINE SUSTENTÁVEL Outro ponto positivo é a possibilidade de uso das ecolixeiras inteligentes como espaço para mídia exterior. Assim, para compensar o seu preço ainda “salgado” – elas são importadas e custam, em média, R$ 11 mil cada –, a Bin Brasil já tem duas estratégias de atuação definidas. A primeira é fazer delas mais que um simples mobiliário urbano, transformando-as em verdadeiras vitrines para empresas que queiram associar sua marca ao “viés” ecológico do produto. “Foi exatamente essa a proposta que fizemos à Prefeitura de Belo Horizonte e estamos aguardando uma resposta. A ideia é instalar as nossas lixeiras sem um centavo de custo para o município, em troca do direito de explorarmos a publicidade. O Código de Posturas da 54 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
capital prevê essa possibilidade e a Big Belly já foi testada e aprovada pelos técnicos da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU)”, esclarece Davis. Outro caminho em estudo junto ao governo estadual, para baratear o custo das lixeiras, é a realização de sua montagem aqui no Brasil. Tal iniciativa permitirá o fomento de mais um importante braço da indústria da reciclagem no país, assegurando a geração de novos empregos, bem como a redução da carga tributária e a adoção das ecolixeiras em grande escala. CARTÃO-POSTAL Destinada prioritariamente a locais com grande circulação de pedestres, a expectativa é que a Big Belly seja instalada nas principais avenidas, parques e praças de BH, incluindo tradicionais cartões-postais da cidade, como a Praça da Liberdade. “Já temos centenas de propostas em negociação. Para nossa surpresa, várias empresas que procuramos para firmar contratos de publicidade se interessaram em instalar o produto em suas dependências. A aceitação entre os responsáveis pelos prédios que integram o Circuito Cultural da Praça da Liberdade foi unânime”, explica Davis.
FIQUE POR DENTRO
FIM DOS LIXÕES Terminou, em dois de agosto, o prazo para que os municípios brasileiros cumpram a determinação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/10) de acabar com os lixões e destinar seus resíduos a aterros sanitários. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, 59% das cidades ainda dispõem seu lixo de forma inadequada. A proposta do governo é articular, em parceria com o Ministério Público Federal, uma estratégia de renegociação do prazo por meio de Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) com as prefeituras.
A concretização do negócio, no entanto, ainda depende do desembaraço de alguns trâmites burocráticos, entre eles a necessidade de aprovação por órgãos públicos de diferentes esferas, tais como o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). COMPROMISSO COLETIVO A meta para 2015 é expandir a presença da Big Belly no mercado nacional, tendo Belo Horizonte como modelo e referência. “Nosso plano de atuação também contempla a realização de campanhas de educação ambiental, inclusive nas escolas, para orientação e conscientização dos jovens estudantes sobre o papel de cada um de nós em relação ao cuidado com o lixo. Seja consumindo menos, descartando os resíduos em locais adequados ou fomentando a indústria da reciclagem. A nossa qualidade de vida e a limpeza das cidades dependem dessa maior conscientização, desse compromisso coletivo”, conclui Paulo Mello. O
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1 NOS PORÕES DO RETROCESSO (II) FOTO: REPRODUÇÃO
NA ENTRADA do museu, a foto tirada por um soldado da tropa nazista em 1944, o mesmo local onde médicos faziam a seleção dos deportados. Os fortes e saudáveis eram separados dos idosos, doentes, grávidas e crianças. Os declarados aptos para trabalhar ficavam no campo. Os restantes (75%) eram conduzidos às câmaras de gás e exterminados
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UMA VERDADE
INCOMODA Como o exemplo polonês de Auschwitz pode ajudar o Museu da Loucura, em Barbacena, a preservar a memória das vítimas do holocausto brasileiro Jairo Toledo redacao@revistaecologico.com.br
JAIRO TOLEDO: “É preciso resgatar a dignidade dos pacientes cronificados”
não pode ser mudado. Mas, acima de tudo, o compromisso em não deixar acontecer de novo. Os fantasmas do passado não ameaçam aqueles que se permitem lembrar, mas os incautos que se abrigam no conforto do esquecimento. A sinistra presença das linhas férreas, a pequena plataforma de desembarque, os muros, a perda da individualidade, o martírio por ser diferente e não se encaixar em um modelo definido por governos e sociedade. Está tudo lá. Curioso é que ambas as tragédias, conceitualmente parecidas, mas diferentes em seus contextos e fatos, se desenrolam em épocas paralelas. Com seu auge quase que na mesma década. Coincidem também com períodos de autoritarismo político e muita dificuldade da sociedade em se posicionar. Ora tendemos a crer que poucos sabiam do que se desenrolava intramuros, ora desconfiamos que a sociedade se protegia da própria conivência FOTO: DIVULGAÇÃO
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m recente visita com minha família ao complexo de Auschwitz, na Polônia, de tudo o que vi e ouvi naquele lugar, uma frase não me saiu da memória: “Quem não se lembra da História está condenado a vivê-la novamente”. A frase clássica, do filósofo espanhol George Santayana, hoje nos parece óbvia. Enquanto caminhava por aqueles pavilhões silenciosos, era impossível não me lembrar de Barbacena e do antigo Hospital Colônia. Contextos diferentes, mas, a mesma carga simbólica. Ao visitar Auschwitz, vi os esforços de vários povos para que uma história fosse contada sem rodeios e capaz de nos induzir a questionamentos, mesmo com toda dor que tudo aquilo representou e ainda representa. Milhares passaram por ali vivendo o flagelo da guerra. Hoje, as pessoas passam por lá refletindo sobre ela. E se perguntando: por quê? Para quê? Percorrendo a linha do tempo, encontrei conexões entre Auschwitz e o Memorial do Holocausto, em Berlim, com o passado do nosso Hospital Colônia de Barbacena. Os conceitos de segregação, concentração, as consequências da superpopulação confinada, por fim, a face cruel da morte. E hoje a necessidade inadiável e moral de se lembrar disso, como forma de exorcizar o que já está feito e
em um silêncio comprometedor. Historicamente, o Hospital Colônia foi criado com o desejo de cuidar dos alienados mentais utilizando os procedimentos disponíveis na época, em especial, da Escola Francesa da Psiquiatria. Esse modelo funcionou por 30 anos sob a direção de Joaquim Dutra. Mas as coisas mudam. O sudeste brasileiro passou por uma acelerada urbanização e a industrialização mudou o ritmo da vida. A Era Vargas se impôs com seu centralismo estatal, logo a população de centenas de pacientes passou a ser contada aos milhares. A contenção passou a ser mais presente do que o tratamento, os trens de doido aceleraram uma superlotação incapaz de ser contida. A tragédia se estabeleceu. Já não havia critérios para a internação. Os indesejados pela sociedade simplesmente eram transportados e concentrados no hospício de Barbacena. Com a criação da Fundação Estadual de Assistência Psiquiátrica (Feap) e a primeira residência de Psiquiatria, instalada no hospital Galba Veloso pelo Dr. Jorge Paprocki, em 1960, as coisas começaram a se modificar. Um avanço que o Regime Militar iria refrear, assim como o serviço público de saúde mental, muito centrado no modelo asilar, muitas vezes privado, mas colocado a serviço do setor públi-
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FOTO: REPRODUÇÃO
1 NOS PORÕES DO RETROCESSO (II)
PACIENTES do Hospital Colônia, em foto de 1979: por trás do sorriso ingênuo, uma vida de eletrochoques e condições sub-humanas que jamais deve se repetir
co. Comercialmente, é claro. Somente em 1979, com os primeiros movimentos de abertura política, o retorno dos exilados e em um ambiente menos repressivo, é que acontece o histórico III Congresso Mineiro de Psiquiatria, no auditório da Associação Médica de Minas Gerais, na capital mineira. O então secretário estadual de Saúde, Levindo Coelho, abriu as portas dos hospícios públicos para a imprensa. Nesse momento, assim como em janeiro de 1945, nosso Auschwitz psiquiátrico abriu seus portões para os relatos do repórter Hiram Firmino, assim como para as lentes do cineasta Helvécio Ratton. E a sociedade ficando boquiaberta com o que via e ouvia. Todo esse ambiente de denúncias ferveu com a presença do psiquiatra italiano Franco Basaglia, que ousou comparar abertamente os hospícios mineiros aos campos nazistas. Um intenso debate se estabe-
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leceu naquele momento. Surgiu a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), que iniciou o processo de resgate da condição institucional do Hospital Colônia, que agora se autodenomina Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB). Corpo Clínico, profissionais da saúde e gestores se unem numa mobilização para o resgate da dignidade dos pacientes cronificados, enquanto o aparelho das internações definitivas vai sendo desmontado. ESFORÇO ESQUECIDO Também foi na temperatura elevada desse terceiro congresso que surgiu o primeiro esboço de recuperação da memória da psiquiatria mineira, por meio de um banco de dados e vestígios que pude colecionar orientado por César Campos, Ronaldo Simões Coelho, Francisco Paes Barreto, Hélio Alckmin e José Ribeiro de Paiva Filho. Em 1980, retornei a Barbace-
na numa convocação da direção da Fhemig. Ocupei a direção do CHPB conquistada por voto da comunidade assistencial em 1986. Dez anos depois, este acervo citado transformou-se num projeto ousado e compartilhado com a coragem de Maria da Glória Bittar e Edson Brandão, representando, ambos, a Prefeitura de Barbacena. E assim nasceu o Museu da Loucura. Assim como em Auschwitz, que apenas dois anos depois do fim da guerra era transformado em memorial, o torreão do Hospital Colônia de Barbacena, testemunha muda dos anos de sofrimento, passou a falar para o futuro sobre tudo o que aconteceu ali. O museu teve e ainda tem, se recuperado, papel preponderante para abrir corações e mentes da comunidade interna e externa ao CHPB, para que todos compreendessem seu papel nessa história. A partir dali, começaram outras propostas que abordavam novos
FOTO: ECOLÓGICO
"Quem não se lembra da História está condenado a vivê-la novamente." GEORGE SANTAYANA, filósofo espanhol
paradigmas, como a inclusão social, o fim da segregação e o isolamento da instituição, que deveria derrubar muros e abrir as portas para a comunidade. Como alegre desdobramento surgiu o bloco carnavalesco Tirando a Máscara e Vestindo a Fantasia; a galeria de artes José Ribeiro de Paiva, com a exposição inaugural Crimes de Guerra em Tempos de Paz, onde mais uma vez o artista Edson Brandão recuperou em textos e imagens as célebres reportagens da série Nos Porões da Loucura, de Hiram Firmino e Jane Faria, publicada no jornal Estado de Minas, um documento definitivo daqueles tempos. Quando da minha passagem pelo governo de Barbacena, como vice-prefeito da administração Martim Andrada, pudemos avançar em nossas propostas: surgiu o Festival da Loucura, conceituamos o Memorial de Rosas, um resgate simbólico do antigo cemitério de Barbacena, voltado para um olhar mais espiritual para as vítimas do seu Hospital Colônia. Enfim, um esforço para que o tempo não nos distanciasse de uma verdade incômoda, mas necessária. Sobretudo, para as futuras gerações. RISCO DESNECESSÁRIO Ao pesquisar sobre o holocausto dos judeus, pude perceber que o tema também gera embates ideológicos e antagonismos com os chamados revisionistas que tentam relativizar os fatos, questio-
O ANTIGO cemitério de Barbacena, onde as vítimas do Hospital Colônia foram enterradas: até o projeto dele, intitulado Memorial de Rosas, foi esquecido
nar e até negar o que ocorreu durante o avanço nazista na Europa dos anos 1930 e 1940. Mas os documentos, museus, filmes, livros e relatos surgem a todo instante como antídotos para o veneno dos detratores. Deixar de lado a tarefa de cuidar da memória da psiquiatria mineira é correr um risco desnecessário. Os gestores da atualidade e a comunidade não podem se furtar a esse compromisso. Vejo que muita coisa vem sendo desmontada e silenciosamente apagada. Algo tão inócuo, como querer mudar a história arrancando as páginas de um livro. Ainda há muito a ser feito e a inércia não pode se impor. Afinal, se todos sabemos que Cro-
nos, o deus do tempo, cobra seu preço, não devemos ignorar que Mnemosine, a deusa da memória, não se esquece dos juros. Barbacena ainda continua esperando que o governo estadual resgate a dívida que tem com a cidade por meio da revitalização e da modernização do Museu da Loucura e do Memorial de Rosas; e condições para o retorno do Festival da Loucura. A memória das 60 mil pessoas que morreram ali, antes que os porões de tamanha desumanidade fossem abertos, merecem isto! Por direito, respeito e amor à vida. (*) Médico, ex-vice-prefeito de Barbacena e autor do livro “Colônia – Uma Tragédia Silenciosa”.
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1 NOS PORÕES DO RETROCESSO (II)
"Nunca me passou pela cabeça
FOTO: DIVULGAÇÃO/SEPLAN MG
A Revista Ecológico foi checar com o atual presidente da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), em BH, as acusações feitas por vários profissionais da rede de saúde mental de que ele estaria por trás do abandono do Museu da Loucura, em Barbacena. Graduado em Medicina pela UFMG, Antônio Carlos de Barros Martins, mais conhecido como Foguinho, é anestesiologista e está no cargo desde 2010. Tem MBA Executivo em Saúde pela Fundação Getúlio Vargas e Gerenciamento Hospitalar pelo Ministério do Trabalho. Foi, ainda, diretor dos hospitais João XXIII, Galba Veloso e Maria de Lourdes Drumond, entre outros. Ele negou: “Nunca me passou pela cabeça acabar com o museu. Pelo contrário, este espaço deveria ser muito mais bem explorado e divulgado do que é, porque mostra o que tínhamos e éramos no passado, e o que somos e temos hoje. Mostra uma evolução da história da psiquiatria, da qual nos orgulhamos”. Confira:
ANTÔNIO CARLOS: “Nossa ideia é restaurar tudo. Quero ser o primeiro da fila a visitar o museu”
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FOTO: CARLOS DIAMANTINO
acabar com o museu"
MUSEU DA LOUCURA, em Barbacena: promessa de manutenção
O que explica o abandono e a atual descaracterização do museu? Temos dificuldades financeiras, inclusive ligadas à manutenção do seu acervo. E, é lógico, esse não é o foco de atuação da Fhemig. Temos 20 unidades assistenciais no Estado, o dinheiro para a saúde é curto e as demandas são infinitas. Se tivéssemos recursos ou se conseguíssemos alguém, algum parceiro da iniciativa privada disposto a investir no museu, isso seria a solução. Mas, o museu é pequeno, ocupa somente algumas salas diminutas em seus dois andares, e sempre funcionou com um ou dois funcionários, mesmo com as pessoas fazendo filas para visitá-lo... Eu sei que há museus no mundo inteiro e que as pessoas e as instituições ganham dinheiro com
eles. Poderíamos, quem sabe, cobrar ingresso, resgatar a Carteirinha da Loucura, que antigamente era entregue a todos os visitantes durante os festivais que Barbacena promovia. Mas, para isso, temos de envolver também a Secretaria Estadual de Cultura. O resgate do museu também é importante para a prefeitura. Afinal, ele é um ponto de referência na cidade, atrai muitos visitantes. Temos de restaurá-lo, mas faltam “pernas”, recursos da Fhemig para fazermos uma “exploração” mais profissional daquele espaço. Na antiga sala de exposição do Museu estão acontecendo outras mostras que não têm nada a ver com o espaço, nem com o tema. O que aconteceu com os painéis que reproduziam a série de reportagens Nos Porões da Loucura, feitas pelo jornal Estado de Minas, entre tantas outras
peças que não estão mais lá? Acreditamos que é possível apresentá-las de uma forma mais moderna, porque a estrutura do museu é antiga. Solicitei uma pesquisa e já tenho tudo aqui. A exposição foi programada para ser itinerante. Até no Palácio das Artes ela já foi montada. Mas, por infortúnio, em 1999, quando foi apresentada na Fiocruz, no Rio de Janeiro, parte do acervo foi destruída. Houve um grande imbróglio envolvendo a transportadora responsável, sem que se chegasse a qualquer resultado. Ninguém assumiu a responsabilidade pelo acontecido. Várias peças da exposição foram devolvidas com os vidros quebrados, parafusos tortos, os painéis das reportagens danificados. E em relação ao parque, um novo espaço verde ao redor do museu para os ex-pacientes e visitantes, prometido solenemente pela Prefeitura de Barbacena e até hoje não implantado? O projeto pode até estar descaracterizado. Infelizmente, assim como tudo na vida, quando não se tem um dono, um defensor de determinada ideia, as coisas se perdem, mudam com o tempo. Mas, nossa ideia é restaurar tudo sim. Até porque o custo será pequeno e já está previsto no nosso planejamento. Vamos valorizar o museu internamente e ajardinar a área externa. A Prefeitura de Barbacena, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, não poderia ajudar? Sim. Afinal, quem visita o museu gasta dinheiro na cidade, vai a restaurantes e se hospeda. Bastaria criarmos um folder explicativo, uma sala multimídia para que, em cinco minutos, o visitante assista a um vídeo e conheça toda a história do museu. A carteirinha já podia ser emitida junto com o ingresso. Acredito que tudo isso seja possível. Mas, dependerá, é
claro, das parcerias institucionais e privadas, de como o local será “explorado” e administrado. Temos de olhar tudo antes, inclusive a questão jurídica, se a cobrança para a visitação é possível. Fala-se que, com o fim do exhospício de Barbacena, surgiram muitas demandas judiciais contra o Estado. Famílias de ex-pacientes que se sentiram prejudicadas estão reclamando indenizações por danos físicos e morais. A tudo isso se junta aquela "visão antiga", que muitos moradores ainda têm – inclusive políticos locais –, de que manter o museu é manter uma história que envergonha a cidade... Isso não tem fundamento. É como se o Estado, através da Fhemig, juntamente com a Prefeitura de Barbacena, estivessem enviando a seguinte mensagem: "Vamos apagar essa história, porque ela não é positiva para nós"... Desde que estou aqui, governante ou secretário algum me convidou para discutir essa ideia. Esse assunto nunca foi cogitado. Tudo não passa de intriga, de boato. Jamais podemos nos esquecer do passado que tanto
nos ensinou. Temos de ter orgulho de tudo isso. Manter viva a memória, preservar todo o aprendizado e a evolução que houve em Barbacena. Eu quero ser o primeiro da fila a visitar o museu restaurado e a ganhar a minha carteirinha. Como pretende fazer isso? Uma opção é aproveitarmos o projeto original do Edson Brandão (artista plástico que criou o design original do Museu da Loucura e atual secretário Municipal de Cultura de Barbacena). Não o conheço pessoalmente, mas vou procurá-lo, saber o que podemos fazer juntos. E vou propor-lhe mais um desafio: criar um novo espaço, na saída do museu, para que a pessoa entenda a história toda, com princípio, meio e fim. Algo organizado, simples e sem burocracia para mostrarmos como Barbacena e a revolução da psiquiatria pública que ocorreu em Minas evoluíram e mudaram a história. O Leia, na próxima edição, o depoimento do psiquiatra e escritor Ronaldo Simões Coelho, quem primeiro se revoltou e denunciou publicamente o Hospital Colônia de Barbacena, solidarizando-se com seu colega italiano Franco Basaglia, na luta mundial pelo fim dos manicômios.
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FOTOS: DOLLARPHOTOCLUB
1 SAÚDE
NÃO AO SAL!
Projeto de lei que restringe a exposição de cloreto de sódio nas mesas de bares e restaurantes de BH já está em tramitação
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O comerciante que descumprir a legislação está passível de multa, com valor ainda a ser fixado. Para Caixeta, a intenção do PL é inibir o consumo excessivo da substância e garantir mais saúde à população, incentivando hábitos mais saudáveis. “Se não estiver exposto, o produto não será consumido por impulso, o que vai ajudar a combater o excesso de sal na alimentação das pessoas nos bares e restaurantes da capital”, completa. CUIDADO COM O EXCESSO! O sal já era usado na região que
FOTO: DIVULGAÇÃO
O
s males provocados pelo consumo de sal nos bares e restaurantes da capital mineira estão com os dias contados. De autoria do vereador Tarcísio Caixeta, o projeto de lei 1.195/2014 pretende proibir a exposição do sal de cozinha nas mesas e balcões de bares, restaurantes e estabelecimentos similares. A proposta está em tramitação na Câmara Municipal e deve ser regulamentada até o fim deste mês. Apontado por médicos e pesquisadores como uma das principais causas de doenças cardiovasculares, o sal de cozinha só poderá ser servido quando o cliente solicitar, de acordo com o projeto de lei. “O brasileiro consome perto de 30 vezes mais cloreto de sódio do que necessita. E quase a totalidade dessa substância, encontrada em diversos alimentos, provém da adição do sal de cozinha no preparo dos pratos”, ressalta Caixeta.
compreende hoje o Egito e a China há mais de cinco mil anos. Inicialmente, servia para conservar os alimentos da deterioração, pois ele retira água dos mesmos, impedindo a proliferação de bactérias. No início do século XX, com o advento da geladeira, é que o sal passou a ser utilizado como tempero. Ao mesmo tempo em que evidencia o sabor dos alimentos, o excesso de seu uso pode trazer vários problemas de saúde. O mais conhecido deles é a hipertensão, mal que acomete uma em cada quatro pessoas no país, abrangendo cerca de 25% da população. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, apenas 13% dos hipertensos sob tratamento consomem cloreto de sódio na quantidade ideal para manter a doença controlada . Veja mais informações a seguir:
TARCÍSIO CAIXETA: "a intenção do PL é garantir mais saúde à população"
5g
FIQUE POR DENTRO
Entre 2011 e 2012, 1.295 toneladas de sódio foram reduzidas em três tipos de alimentos produzidos no Brasil: pão de forma, bisnaguinhas e macarrão instantâneo. A medida faz parte de um acordo voluntário firmado entre o Governo Federal e a indústria alimentícia, em que foram traçadas metas para reduzir 28 mil toneladas de sódio em 16 categorias de produtos industrializados até 2020.
é o limite recomendado pela Organização Mundial de Saúde para o consumo de sódio por dia
12g g Atualmente, este é o consumo médio de sal de um adulto no Brasil, segundo o IBGE
Evite o glutamato monossódico, realçador de sabor utilizado em alguns
condimentos e sopas
Delícias perigosas Deve-se evitar produtos processados, salgadinhos, batata palha, bolos prontos e macarrão instantâneo, pois contêm grandes quantidades de sal
Segundo a OMS, 60% das mortes registradas anualmente em todo o planeta são em decorrência de doenças cardiovasculares
Temperos Naturais Substitua o sal por temperos naturais, como alho, salsinha, coentro e orégano
FOTOS: ALEX PAIVA
Mortes
Doenças Níveis elevados de sódio e baixos de potássio podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares e renais
FONTE: OMS / Ministério da Saúde /IBGE / Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) / drauziovarella.com.br
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1 SETOR MINERÁRIO
MUNICÍPIOS COM MINERAÇÃO TÊM MELHOR DESENVOLVIMENTO HUMANO J. Sabiá redacao@revistaecologico.com.br
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er incluído nos rankings mineiro e nacional de arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), que é o royalty pago pelas mineradoras às prefeituras dos municípios onde atuam, confirma o valor econômico agregado que a atividade proporciona às suas populações. Em termos de Brasil, o município de Parauapebas, no estado mineral do Pará, aparece em primeiro lugar, tanto em termos de Cfem quanto de Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Já em Minas, os municípios mais bem posicionados, pela ordem de repasse da Cfem, boa parte deles localizada na região do Quadrilátero Ferrífero, são: Mariana, Nova Lima, Itabira, São Gonçalo do Rio Abaixo, Itabirito, Congonhas, Ouro Preto e Brumadinho. Vizinha à capital mineira, Nova Lima aparece em primeiro lugar no ranking estadual em se tratando de IDHM, que é o somatório do padrão de vida da população (renda municipal per capita) mais longevidade (expectativa de vida) e acesso ao conhecimento (educação).
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Segundo o professor e pesquisador Cândido de Lima Fernandes, do Departamento de Economia da Faculdade de Ciências Econômicas (FACE-UFMG), outra característica considerada é o impacto, hoje positivo, das atividades de mineração nos municípios em que ela ocorre de forma responsável e sustentável. Ele lembra que, somente em Minas, o segundo maior estado produtor de minério, mais de 600 municípios possuem alguma atividade ligada à extração mineral. No entanto, especificamente no que se refere à extração de ferro, apenas em 21 deles estão concentradas mais de 99% de toda a produção do estado. Os principais produtores em Minas têm sido Itabira, Mariana, Nova Lima, Congonhas e Itabirito. Com o advento da consciência ecológica e da legislação ambiental, Cândido Fernandes advoga que “a mineração atual exerce um impacto econômico positivo inegável”. Muitos desses municípios produtores de ferro têm experimentado um rápido crescimento socioeconômico devido, entre outros aspectos, aos
NOVA LIMA, na Região Metropolitana de BH, com IDHM de 0,813: município mineiro com maior arrecadação de Cfem e melhor qualidade de vida
FOTO: MARCOS TAKAMATSU
efeitos multiplicadores gerados pela sustentabilidade da cadeia mínero-metalúrgica. Essa também é a expectativa das populações de cidades como Morro do Pilar, Conceição do Mato Dentro, Caeté, Santa Bárbara e Raposos, que têm projetos de novas minas em fase de aprovação governamental. “Trata-se de uma evidência inequívoca do que a atividade mineradora pode acarretar em termos de desenvolvimento social e econômico para os municípios com essa vocação natural. Entre as explicações para o bom desempenho deles, está a questão da melhoria dos indicadores urbanos de saneamento e habitação, além da preocupação, mais fortemente direcionada nesses municípios, com a questão ambiental”, diz Fernandes. Ao analisar o Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios com os 21 maiores Índices Municipais de Responsabilidade Social de Minas Gerais (IMRS), 10 deles também são produtores de ferro e ocupam posições intermediárias no valor total do PIB municipal, com destaque para os municípios de Itabira e Ouro Preto. Embora a opinião pública não esteja amplamente informada disso, daí o preconceito ainda arraigado contra a atividade, finaliza o estudioso, já se foi o tempo em que minerar significava só destruição: “O setor hoje não apenas tem preocupação socioambiental, como preserva e realiza, de fato, a sustentabilidade. Ainda induz outras atividades para os municípios onde atua em termos de emprego, renda e melhoria da qualidade de vida”. O
O QUE É IDHM? Em 2012, o PNUD Brasil, o IPEA e a Fundação João Pinheiro assumiram o desafio de adaptar a metodologia do IDH global para calcular o IDH Municipal (IDHM) dos 5.565 municípios brasileiros a partir de dados do Censo Demográfico de 2010. Também se recalculou o IDHM, a partir da metodologia adotada, para os anos de 1991 e 2000, por meio de uma minuciosa compatibilização das áreas municipais entre 1991, 2000 e 2010 para levar em conta as divisões administrativas ocorridas no período e permitir a comparabilidade temporal e espacial entre os municípios. O desafio já havia sido enfrentado nas edições do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil de 1998 e 2003. O IDHM brasileiro segue as mesmas três dimensões do IDH Global – longevidade, educação e renda, mas vai além: adequa a metodologia global ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais. Embora meçam os mesmos fenômenos, os indicadores levados em conta no IDHM são mais adequados para avaliar o desenvolvimento dos municípios brasileiros. Fonte: atlasbrasil.org.br
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PEQUIM SEM CARVÃO (I)
CÉU DO MUNDO
SALVE O TIGRE A ONG WWF pediu a sete países da Ásia para que realizem um censo de seus tigres selvagens. A instituição estima que a população de tigres tenha diminuído pela metade em um século. A solicitação foi enviada à Malásia, Indonésia, Tailândia, Mianmar, Laos, Camboja e Vietnã.
Autoridades municipais de Pequim anunciaram a proibição progressiva da venda de carvão para tentar diminuir a poluição do ar na capital da China. De acordo com o Departamento Municipal de Proteção Ambiental, até 2020 todas as termoelétricas abastecidas com carvão também serão fechadas.
PEQUIM SEM CARVÃO (II) Números oficiais indicam que o carvão representou 25,4% do consumo energético da capital chinesa em 2012, valor que deve ser reduzido para menos de 10% em 2017. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), Pequim registrou no ano passado uma concentração média de partículas PM 2,5 – as mais finas e prejudiciais para a saúde – de 89,5 microgramas por metro cúbico, mais do que o dobro do padrão indicado pela OMS.
FOTO: DIVULGAÇÃO
FOTO: DIVULGAÇÃO/WWF
VINÍCIUS CARVALHO
SHUTTERSTOCK
S.O.S. ELEFANTE Chefes de Estado africanos pediram, em Washington (EUA), mais helicópteros e aviões não tripulados para combater os caçadores ilegais de elefantes e rinocerontes. Em 2013, cerca de 20 mil elefantes foram mortos na África, enquanto 1.004 rinocerontes foram abatidos somente na África do Sul.
ZOOTOPIA Um novo zoológico na Dinamarca pretende permitir que seus visitantes passeiem entre os animais. No projeto futurístico do renomado arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels, o público entrará em cápsulas espelhadas, se esconderá atrás de troncos de árvores ou debaixo da terra sem ser visto pelos animais. O Zootopia ocupará um espaço equivalente a 120 campos de futebol.
EMISSÕES MUNDIAIS Um pesquisador da Universidade de Stanford (EUA) diz ter quantificado, pela primeira vez, as emissões mundiais decorrentes da queima de biomassa como os incêndios florestais, a abertura de terras agrícolas e a queima de resíduos. Segundo o estudo, quase 8,5 bilhões de toneladas de CO2 atmosférico, ou cerca de 18% de todas as emissões antrópicas, vêm da queima da biomassa. 66 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
EMISSÕES AGRÍCOLAS A Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO) alerta: as emissões de gases de efeito estufa provenientes da agricultura duplicaram na América Latina e no Caribe nos últimos 50 anos. A agência também informou que a região é a segunda maior produtora de emissões agrícolas no mundo, com 17% do total.
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Toda Lua Cheia
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P E R F I L : J O H N PA R S O N S Engenheiro, hoteleiro e ambientalista
JOHN: “Toda professora do século XXI tem de ser ecológica”
O ADVOGADO DO
PLANETA AZUL Conheça a história de John Parsons, o engenheiro que se tornou um ícone da luta ambiental na histórica cidade de Tiradentes Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br
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u já o conhecia de nome. Sabia de sua luta pela preservação da Serra São José, na encantadora Tiradentes (MG), que ele tanto ama e trabalha para a sua proteção e desenvolvimento sustentável. A maior ferida da cidade festejada internacionalmente com seus festivais de gastronomia, cinema e literatura sempre foi o córrego Santo Antônio, ainda correndo feito um triste esgoto a céu aberto ao olhar incompreendido de seus turistas. Mas, após duas tentativas fracassadas por administrações anteriores, o mu68 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
nicípio finalmente irá receber um projeto exemplar (leia box ao lado) de coleta e tratamento de esgotos, seguido da volta dos peixes. Inglês de nascimento, mas mineiro de coração e por casamento, o engenheiro John Parsons compartilha com sua esposa, a historiadora Anna Maria, a primeira e também uma das mais elegantes e emblemáticas pousadas de Tiradentes. Trata-se do Solar da Ponte, construído na década de 1960 e aberta ao público em 1974, vizinha à travessa do córrego Santo Antônio, num largo arborizado no
centro histórico da cidade. Ele foi um dos fundadores da Sociedade Amigos de Tiradentes. Entusiasta da causa ambiental, criou campanhas de meio ambiente, plantou árvores, preservou nascentes e se empenhou para a conservação do belo casario local. Visionário, o casal implantou um tipo de hospedaria que havia conhecido na Europa, sobretudo nos paradores de Espanha e nas pousadas de Portugal. Um tipo de hospedagem personalizada que, sem abrir mão do conforto moderno, reflete algo da magia do lugar que representa.
John e Anna também enterraram, por conta própria, os primeiros fios de eletricidade que afeavam Tiradentes, entre a praça central e a sua pousada. Até hoje, moradores e turistas lhe agradecem pelo gesto pioneiro como exemplo de turismo sustentável. ENCONTRO VERDE Eu e Eloah, minha mulher, conhecemos John um ano atrás, e de maneira inusitada. Logo ao entrarmos em Tiradentes, indo em direção à querida Pousada Oratório, do casal ecológico Lourenço e Malu, percebi um carro vindo apressado atrás da gente. E nele, um motorista magro e de cabelos brancos, gesticulando, buzinando e nos acenando sem parar. Estacionei logo o carro, que tem um adesivo da Revista Ecológico no vidro traseiro, e tudo se explicou. - "Vocês são da Ecológico? Sou assinante e leitor assíduo da revista! Que bom que estão aqui e os encontrei. Preciso muito lhes falar sobre o projeto Ecológico nas Escolas que, pelo que li, o ex-gover-
SOLAR DA PONTE: hospedagem personalizada e integração à natureza
nador Anastasia fez adotar em todas as escolas públicas de Minas." Não mais ofegante, horas depois, na quietude e sobriedade de sua pousada, John Parsons nos falou de seu sonho educacional, da sua decepção em não ter visto ainda essa consciência ambiental se generalizar em todas as escolas. Decepção compartilhada por amigos famosos, com os quais se rela-
TIRADENTES VERDE À véspera de esta edição ser impressa, o prefeito de Tiradentes, Ralph Justino, repassou uma boa novidade para John: a de que a prefeitura estava aguardando, já em fase final pela Caixa Econômica Federal, a apreciação de um projeto executivo para o município despoluir e sanear o córrego Santo Antônio. “A licitação da obra deve acontecer em setembro e os recursos, pouco mais de R$ 2 milhões, já estão na conta da prefeitura. É prioridade de nossa administração esta obra. Quero destacar ainda que já começamos a coleta seletiva em nossa cidade e vamos também desativar o nosso velho lixão a céu aberto”, informava a mensagem.
RALPH JUSTINO: festivais sustentáveis
Ralph ainda acrescentou: “Finalizamos igualmente a negociação com a Copasa para adquirir uma área para a construção da Estação de Tratamento de Esgoto, a nossa primeira ETE, o que evitará Tiradentes poluir mais (sic) o Rio das Mortes. Estamos nos preparando para ser a primeira cidade histórica do Brasil com 100% de esgoto tratado. Esse é nosso planejamento ambiental para transformarmos Tiradentes em uma cidade verde, limpa e sustentável.”
ciona até hoje, como Fritjof Capra, autor de O Ponto de Mutação e A Teia da Vida, e James Lovelock, pai da Teoria de Gaia, para quem a Terra é um organismo vivo, autossustentável e capaz de reagir a tudo que lhe ameaça a existência. Para John, a ciência ousada desses pioneiros de 30 anos atrás está mais que confirmada por astrofísicos e microbiologistas atuais. E agora se torna urgente trazer esse ensinamento para o ambiente escolar, mostrando a nossa relação de causa e efeito com a sobrevivência do planeta vivo de que fazemos parte. Para tanto se faria necessário uma espécie de alfabetização ambiental chamada ABC da Vida. O objetivo é incrementar e tornar mais fácil o entendimento da ciência que mudou nossa perspectiva de mundo e pertencimento responsável. Adotarmos, enfim, um viés mais científico ainda em todos os conteúdos de educação ambiental da revista. Ele foi enfático, dizendo-se como um “advogado do Planeta Azul”: “Essa notícia dada pelo Anastasia de a Ecológico estar a cada lua cheia em todas as escolas públicas do nosso estado é tão maravilhosa como de uma responsabilidade enorme. Só o
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conhecimento científico é capaz de iluminar nossa ignorância, responder às dúvidas e mudar a mente das nossas crianças, através das suas professoras, tornando a comunidade escolar nossa parceira na causa.” - “Como assim?”, perguntei. - “Além de focar nas professoras para, na sequência, elas repassarem e compartilharem esse conhecimento aos seus alunos, por que a Ecológico não cria uma comissão de cientistas para assessorá-la? Eu mesmo guardo e produzo conteúdo técnico e científico, e gostaria muito de ajudar. Afinal, não se tem árvore sem floresta; peixe sem cardume. Todos os seres vivos, juntos, formam uma estrutura única que dá vida ao planeta. Da mesma maneira, não existirá mais vida amanhã, se professores e crianças mais informadas não fizerem
parte da humanidade pensante atual. Vocês topam essa ideia? Vamos fazer isso?” A partir desse encontro, outros dois ocorreram em BH. Era o mesmo John entusiasmado. Mas, agora, lutando também bravamente contra um câncer. E sem reclamar. Apenas nos fornecendo cada vez mais seus escritos e anotações científicas sobre o milagre da vida no planeta, acompanhado de outras referências, textos e pensamentos de cientistas ilustres. O que a Ecológico fez? Convidamos dois jovens e famosos cientistas para fazer parte do sonho de John, a quem entregamos seus escritos e pautas, para discorrerem e transformarem em conteúdos pedagógicos. São eles: Douglas Galante, doutor em Astronomia e pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS/CNPEM), com
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P E R F I L : J O H N PA R S O N S Engenheiro, hoteleiro e ambientalista
PARA JOHN, só o conhecimento científico é capaz de iluminar a ignorância ambiental
sede em Campinas (SP); e Fabio Rodrigues, doutor em Química e coordenador do Laboratório de Astrobiologia da USP. A partir desta edição até a lua cheia de novembro, eles irão assinar as próximas séries do Ecológico nas Escolas, em homenagem a John Parsons, o ambientalista de Tiradentes, cujos pensamentos reproduzimos aqui. Confira!
O ideário de John DESTINO “Nem diante de um câncer, como me acontece agora, eu consigo rezar para algum Deus, mesmo através de São Francisco, meu santo favorito, para me salvar. Como posso pedir que um Ser maior prolongue a minha vida ou mude alguma coisa que Ele mesmo destinou para mim? A única coisa que lhe peço sempre, é que Ele me seja gentil e o processo menos doloroso. Quando chegar a minha hora, irei alegremente ao encontro desse mistério. Quero vivenciar, ser ou simplesmente me tornar parte desse nosso destino maior.” DEUS “Não existe maior milagre que Gaia, a Mãe-Terra, como os gregos chamavam o nosso planeta. Um milagre tão grande que nem Deus teria feito algo tão belo de uma só vez. Deus, aliás, é uma criação nossa. A gente olha as estrelas e se pergunta sobre a existência desse ser imenso e maravilhoso.” “O ser humano não pode deixar de se maravilhar diante de tamanho milagre e 70 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
inteligência que estão por trás de tudo que nos dá a vida. Mesmo o astrônomo britânico Fred Hoyle – que reduziu tudo à matemática, que negava o Big Bang e acreditava na continuous creation de um universo sempre mudando, aniquilando partes e criando outras – não precisava de um Deus Criador, mas nunca negou a existência de uma inteligência divina permeando o cosmos.” VELEJAR “Sempre gostei de velejar, porque no mar você navega sem saber o que vai encontrar pela frente. Ainda acredito que o caminhar é o mais importante na vida. Está lá na Bagavadguitá (Bíblia dos hindus). Todas as grandes religiões ensinam que você não deve se apegar aos frutos do trabalho nem ao destino da caminhada, o que vale é dar cada passo.” SALVAÇÃO “Quem tem de se salvar somos nós, pois o planeta já se salvou de desastres muito piores do que a nossa presença. Nossa grande preocupação agora deve
A PARCERIA LUNAR DE MINAS
Da Redação: Obrigado, Anastasia. Elas já estão recebendo. Tal como, em breve, as professoras municipais da capital mineira também irão, por decisão do prefeito, Marcio Lacerda, e da secretária de Educação, Sueli Baliza.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
“Reitero minha felicidade por conseguirmos fazer com que a Revista Ecológico chegue, a partir de agora, a todas as nossas escolas públicas distribuídas nos nossos 853 municípios. Afinal, sabemos que a formação de uma consciência coletiva, leia-se o imaginário da defesa ambiental, se dá é no âmbito escolar. Doravante, com acesso a uma publicação jornalística e educativa dessa qualidade, nossas crianças terão como base de sua formação intelectual um forte instrumento para assegurar que sejam, na juventude e, sobretudo, na idade adulta, também ardorosos e fortes defensores da nossa sustentabilidade. Espero ainda que, assim como eu, essas crianças, espalhadas pelas nossas 3.800 escolas por toda Minas, aguardem com ansiedade a chegada da lua cheia, para receberem o novo número da Ecológico.”
FOTO: GLAUTER NAVES
Durante a entrega do IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade, o então governador Antonio Anastasia surpreendeu o público presente ao anunciar a adoção da Revista Ecológico em todas as 3.800 escolas públicas do Estado. Rememore seu apoio à causa da educação ambiental:
MARCIO LACERDA e Sueli Baliza: futuros apoiadores
ser que o planeta não se salve sozinho: um sistema vivo saudável se salva expulsando ou eliminando o patogênico, mas esse patogênico somos nós.” “Desde que ganhamos essa camada adicional de cérebro e nos tornamos Homo Sapiens nos esquecemos de que, como biomassa, significamos menos que as formigas, quase nada. Agora, nos resta pouco tempo para aprender a viver e conviver com as outras espécies do planeta.” ESPERANÇA “Talvez parte da nossa esperança esteja numa coisa que li recentemente, e explica a expansão do universo como está observada e não como está calculada. Os cientistas descobriram que 85% da matéria, da energia (que constitui a teia cósmica que une as galáxias) é imperceptível para nós. Somos capazes de perceber apenas 15% do total, mesmo com o Hubble e outros avanços. Então, se desconhecemos tanto, como não imaginarmos que
possa haver lugar para a esperança? Há lugar para tudo, até para Deus.” EDUCAÇÃO “Se ainda houver esperança, ela está na educação ambiental. E precisaremos mais de 20 anos para ela dar frutos. Fritjof Capra disse que, se quando escreveu seus livros tivesse focado nas escolas, talvez hoje a consciência ecológica da humanidade estivesse bem mais avançada em termos de atitudes reais de preservação do planeta. Mas, precisava em primeiro lugar escrever os livros para chegar a uma visão coerente do mundo pósLovelock (o nosso Planeta Azul). É nesse novo saber, olhar, entender e processar a vida – de maneira respeitosa, solidária e democrática junto com todas as outras formas de vida – que está a força para mudarmos o rumo das coisas.” O SAIBA MAIS www.solardaponte.com.br SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 71
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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
MULUNGU
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FOTO: MARCOS GUIÃO
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é Goiaba era um caboclo teimoso que se arreliava por um nadico de discordância. Mas no fundo era bão e mesmo tosco carregava consigo uma delicadeza e uma simplicidade franciscanas. Logo depois de completar 60 anos, passou a sentir uma dor por baixo dos peitos que só piorava. Aquilo foi arruinando no lento, mas seguro e firme. Sua mulher Dorinha sempre foi assim, descabeceada, mas tinha uma delicadeza e uma ingenuidade ímpares, reveladas principalmente no trabalho de coletar enfeites de flores, palha de coco e capimdourado no campo para vender na cidade grande. Morando lá no meio do sertão, Zé Goiaba foi se amofinando inté chegar no limbo. Turrão, ele teimava em não buscar ajuda médica. Com custo, Dorinha finalmente conseguiu levá-lo para a cidade em busca de auxílio. Mas, daí já era tarde por demais e só deu tempo de ele se morrer por lá. A famiagem de Zé Goiaba investiu-se de grande revolta por morte tão repentina e deu-se início a acusações à esposa, vista por eles como culpada pelo acontecido. Na sua simplicidade, Dorinha num conseguiu se explicar a contento à família do falecido e o caldo ferveu. Abatida, ela que sempre foi alegre agora andava se acabando de tristeza pelos cantos e só tinha alguma paz quando partia em andanças pelos campos colhendo as flores para seu sustento e da filha. Foi assim que a encontrei na Serra do Jacu, variando e arrastando um saco com suas preciosidades. Eu a conhecia há tempos, mas daquela vez num gastou nem cumprimentá-la e ela se abriu num choro manso, pedindo ajuda a seu desconsolo. Ouvi sua história depois de sentá-la cuidadosamente numa laje próxima e busquei, com palavras mansas, lhe dar algum conforto pela dor da perda do companheiro. Mas faltava algo que pudesse reverter aquele estado de coisas. Foi quando corri os olhos no entorno e deparei com uma frondosa árvore de mulungu (Erythrina mulungu) completamente tomada pela florada avermelhada. Soltei o facão da cinta e cortei um dos galhos mais altos, raspando com zelo a casca externa curticenta até chegar na entrecasca. Piquei em pedaços pequenos enquanto a prosa com Dorinha se esticava em alegres volteios na tentativa de levar algum alívio à
O MULUNGU e suas flores avermelhadas: bucolismo
sua alma. Em seguida, dei-lhe a recomendação de preparar um chá fervido das cascas todos os dias, tomando pela manhã e à noite para ajudar no espanto da tristeza e fadiga daquela situação. Ainda lhe pedi para arrumar alguém que tivesse acompanhado os fatos de perto e que pudesse explicar melhor à família de Zé Goiaba o acontecido. Passado poucos dias, Dorinha me apareceu lá em casa cheia de agradecimentos, pois já se sentia melhor, inté já dando seus risinhos disfarçados. Sua mãe havia cumprido a missão de esclarecimento e o clima familiar já voltara à paz. Ufa! Que alívio ver que pequenas ações podem resolver situações de dor e incompreensão. Inté a próxima! O
(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.
FOTO: DOLLARPHOTOCLUB
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - Série “A Origem da Vida” - Parte I
O QUE É VIDA? Primeiro material da série, que será publicada em três edições, mostra como a evolução da ciência e da tecnologia foi essencial para decifrar as diferentes formas de vida no planeta Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br
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vida é um fenômeno complicado de explicar e definir. Ao mesmo tempo em que sabemos que estamos vivos e enxergamos inúmeros seres vivos ao nosso redor, todos eles nos parecem muito diferentes – animais, plantas, bactérias. Mas, será que existe um conjunto de características presente em todos nós e que nos torna semelhantes? Ou que talvez possa ser usado para nos diferenciar da matéria inorgânica?
ROBERT HOOKE (1635-1703), cientista inglês
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Afinal, o que é vida? Do que ela é feita? Como surge e evolui? Será que existe vida em outros planetas? Qual será seu futuro no universo? Essas são perguntas que há tempos intrigam filósofos e cientistas. Mas, apenas com o surgimento da ciência moderna e a evolução do conhecimento sobre as bases físicas e químicas do universo foi possível mudar de uma abordagem apenas especulativa para, de fato, observar esse fenômeno incrível com novos e
potentes microscópios e telescópios. Conectando, enfim, o mundo microscópio ao gigantismo das distâncias intergalácticas. Hoje, ainda estamos muito longe de solucionar todos os mistérios da vida no universo. No entanto, temos avançado. E, a cada passo, a natureza nos mostra uma riqueza de detalhes, com novos mistérios e mundos a explorar. Certamente, estamos apenas começando a entender de onde viemos e para onde iremos.
O AVANÇO ÓTICO Um dos avanços mais importantes para desvendarmos a natureza da vida foi a invenção dos instrumentos óticos, capazes de ampliar as imagens. Com os primeiros e rudimentares microscópios, já no século XVII, o cientista inglês Robert Hooke (16351703) identificou estruturas básicas dos organismos vivos, e cunhou o termo célula (pequena cela ou compartimento). Pouco depois, o cientista holandês Antonie van Leeuwenhoek (1632-1723) identificou diversas células biológicas, como as hemácias, os espermatozóides e, posteriormente, descobriu a existência dos microrganismos. Quase 200 anos mais tarde, no século XIX, o francês Louis Pasteur (1822-1895) conduziria uma série de experimentos que ajudariam a comprovar que a origem de várias doenças estava exatamente na atividade desses seres microscópicos, constituídos por uma única célula. E isso o levou à criação das primeiras formas efetivas de combatê-las.
ENTENDA MELHOR
O PARADIGMA DA CÉLULA Com o desenvolvimento da biologia, logo ficou claro que e todos os seres vivos, dos mais ais simples, como as bactérias, aos mais complexos, como os grandes animais, eram feitos itos de células. Ou seja, apesar de muito diferentes na aparência, as formas de vida da Terra são bastante parecidas em nível microscópico. Praticamente todos os organismos vivos que conhecemos têm células formadas por três elementos: um sistema para compartimentalização, outro de metabolismo e outro de informação. É óbvio que temos de lembrar também dos vírus, estruturas tipicamente bem menores que as células, e muito mais simples. No geral, os vírus são basicamente um envoltório (muito especial) que protege seu material genético. Por não ser uma célula, um vírus, sozinho, é incapaz de se reproduzir, pois não tem metabolismo ou uma maquinaria própria para produzir outras cópias de si mesmo. Para fazer isso, precisa infectar uma célula (usando seu envoltório especial) e injetar material genético em seu interior. Pode ser uma bactéria ou uma célula humana ou de outro animal ou planta. Dentro, o vírus pode confundir a maquinaria celular, induzindo-a a produzir cópias suas e, assim, se reproduzir. Em resumo: toda a vida como conhecemos depende de células. E todas as células têm seus sistemas básicos de funcionamento muito similares. Mais do que isso, se olharmos em detalhe a constituição de todos os seres vivos, notaremos que as moléculas básicas usadas por eles também são praticamente as mesmas! OS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS A vida em nosso planeta depende de água, que atua como solvente para as reações químicas; de lipídios e proteínas, usados na estrutura celular e no metabolismo; e também de DNA ou RNA como sistema informacional. Cada uma dessas moléculas é feita de partes menores, os átomos, os blocos básicos que constroem toda a matéria do universo. No caso da vida, seis elementos são fundamentais para que se formem todas as biomoléculas conhecidas: C (carbono), H (hidrogênio), O (oxigênio), N (nitrogênio), P (fósforo) e S (enxofre). Esse conjunto é chamado CHONPS. E, se queremos pensar em um planeta capaz de abrigar vida parecida com a que conhecemos, ele deve ter disponível ao menos esses elementos; além de outros compostos químicos, mas em quantidades muito menores. Entenda, a seguir, como esses elementos químicos se formam no universo. E, ainda, como é feita a datação da idade da Terra. A nossa jornada evolutiva continuará na próxima edição! Até lá!
UNIVERSO EM EXPANSÃO ● Hoje, sabemos que C (carbono), H (hidrogênio), O (oxigênio), N (nitrogênio), P (fósforo) e S (enxofre) não estiveram sempre presentes e que o universo tem mudado muito com o tempo. Apesar de Albert Einstein (1879-1955) ter preferido uma solução para suas equações gravitacionais que suportassem um universo estático e sem começo nem fim, as observações publicadas pelo astrônomo norte-americano Edwin Hubble (1889-1953), em 1929, e teorizadas pelo matemático e clérigo belga Georges Lemaître (1894-1966), em 1927, mostraram que o universo, na verdade, estava em expansão. ● Isso indica que, no passado, ele devia ser muito menor que atualmente. Retrocedendo no tempo, por meio do estudo das equações matemáticas que governam a estrutura do espaço-tempo, e de observações astronômicas de objetos muito distantes, sabemos que o universo era muito mais denso e quente que atualmente. ● A energia era tão grande que as moléculas, átomos, partículas fundamentais e até mesmo espaço e tempo estavam dissolvidos em um estado difuso. Logo após, não sabemos ainda bem por qual motivo, o universo começou a expandir rapidamente e, com a expansão, foi se esfriando, e as diferentes estruturas se formando. Os átomos mais simples – hidrogênio, hélio e lítio – foram os que se formaram nessa etapa, chamada de nucleossíntese primordial.
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SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO ÓGICO O 75
DISCO PROTOPLANETÁRIO, onde a gravidade está criando, no centro, uma estrela que começa a brilhar. E, ao redor, um disco de gás e poeira, onde nascerão os planetas
O nascimento do Sol 1 2 Os átomos se espalharam pela paisagem de espaço-tempo que estava se formando, obedecendo às forças fundamentais da natureza: nuclear forte, nuclear fraca, eletromagnética e, a menos intensa de todas – a gravitacional. Apesar de pouco intensa, a força gravitacional tem a propriedade de atuar por longas distâncias.
Tendo como principal fonte a matéria escura presente no universo, a gravidade foi moldando a distribuição desses átomos em grandes nuvens de gás. No centro das nuvens, a gravidade foi capaz de compactar o gás de tal maneira, que formou estruturas extremamente densas e quentes, onde a energia cinética dos átomos era alta o suficiente para aproximar os núcleos atômicos.
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Esses átomos eram tão próximos e tão energéticos, que começaram a se fundir, formando novos átomos, de diferentes elementos químicos. Dois átomos de hidrogênio podem dar origem ao hélio, e assim por diante. Nessas reações, acontece um fato interessante: a massa do átomo formado pela fusão normalmente é ligeiramente menor que a soma das massas dos dois átomos que lhe deram origem; e, essa massa excedente é convertida diretamente em energia! 76 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
Essa energia pode ser calculada pela famosa fórmula decorrente da Relatividade Restrita de Einstein (E = mc2) e se transforma em calor nessas estruturas de gás. A descrição acima – uma grande esfera de gás comprimida e aquecida pela gravidade, liberando energia térmica e luminosa devido às reações de fusão nuclear – nada mais é do que o nascimento de uma estrela, como o nosso Sol. FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA - Texto original e supervisão científica: Douglas Galante – Laboratório Nacional de Luz Síncrotron/Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNLS/CNPEM); e Fabio Rodrigues – Instituto de Química / Universidade de São Paulo (IQ/USP).
FOTO: NASA
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - Série “A Origem da Vida” - Parte I
Geração estelar: o fim de uma geração estelar fornece a matéria-prima de que os planetas são feitos. Em especial, dos elementos mais pesados que não estavam presentes no início do universo, tais como carbono, nitrogênio, fósforo etc. Além disso, nas nuvens gasosas esses átomos também podem se recombinar, passando de elementos isolados a moléculas. Hoje, através de estudos astronômicos e em laboratório, sabemos que há uma riquíssima química acontecendo nessas regiões, e já pudemos detectar centenas de diferentes moléculas: H2O (água), CO2 (dióxido de carbono), NH3 (amônia), e diversas moléculas orgânicas, ricas em átomos de carbono, e essenciais à vida, como os aminoácidos.
Poeira de estrelas:
VOCÊ SABIA?
FOTO: BASILICOFRESCO
As moléculas citadas acima irão se juntar ao gás e à poeira das nuvens protoplanetárias, formando planetas que já nascerão com uma constituição química variada. Um verdadeiro coquetel que poderá, em alguns casos, possibilitar o surgimento de vida. Esse foi exatamente o caso da Terra. Por isso, o astrofísico norte-americano Carl Sagan (1934-1996) afirmou: “Somos todos poeira de estrelas”. Nossos corpos e praticamente toda a matéria que nos rodeia é formada por átomos que foram sintetizados no interior de estrelas, que existiram bilhões de anos antes de o Sol começar a brilhar. Ou seja: nós já nascemos conectados ao universo!
● Que compostos orgânicos formados no meio espacial podem vir para a Terra, por meio de cometas e meteoritos? Um exemplo é o Meteorito de Murchison (foto), que caiu na Austrália, em 1969. Da classe dos meteoritos carbonáceos, era composto por 12% de água e por grande quantidade de matéria orgânica (aminoácidos, hidrocarbonetos, ácidos carboxílicos, álcoois etc.). Ele foi estudado por cientistas de diversas áreas e é considerado muito importante para a ciência, exatamente por mostrar como compostos orgânicos de interesse para a vida podem ser trazidos do espaço para a Terra.
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SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 77
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - TRÊS PERGUNTAS PARA... DOUGLAS GALANTE Doutor em Astronomia e pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS/CNPEM)
TERRA FERTILIZADA Nosso planeta (e todo o Sistema Solar) tem cerca de 4,6 bilhões de anos. Como essa idade é calculada? Graças à técnica de datação por isótopos radioativos. Um deles é o Carbono-14 (14C), que equivale a uma meia-vida de 5.730 anos. Os geólogos e cientistas planetários estudam as rochas mais antigas e recontam como era o ambiente do planeta nessas fases iniciais. Algumas dessas rochas aprisionaram, em seu interior, pequenas bolhas de ar da atmosfera primitiva do planeta e hoje podemos abri-las e estudar cuidadosamente a sua antiga composição. Diferentes minerais são formados em diferentes temperaturas, em diferentes composições dos mares e da atmosfera, e, assim, podemos vislumbrar como foram as primeiras centenas de milhões de anos da Terra. Em seu início, o planeta era muito quente. Como era a sua superfície?
Ela estava completamente derretida, aquecida pelo processo de sua formação. Ainda não sabemos exatamente em quanto tempo, mas, rapidamente uma fina camada de rochas, formadas principalmente por elementos como oxigênio, silício e alumínio, entre outros, cristalizou-se na superfície, devido à perda de calor para o espaço. Os oceanos primitivos se formaram logo depois, mas foram vaporizados e perdidos para o espaço, devido ao calor intenso e ao bombardeamento da superfície por meteoros, asteroides e cometas, resquícios ainda do processo de formação do Sistema Solar. Esse período, conhecido como Bombardeamento Pesado, durou até cerca de 3,9 bilhões de anos atrás, e teve um duplo papel. Quais foram esses papéis? Por um lado, manteve a superfície do planeta em constante estresse, aquecendo-a e vaporizando a água. Por outro, trouxe para o planeta uma diversidade molecular produzida no ambiente espacial, que estava aprisionada nessas rochas e no gelo, inclusive água e material orgânico. A Terra estava sendo “fertilizada”. Novos oceanos foram se formando, e talvez essa etapa tenha sido essencial para que a vida surgisse. Uma nova e importante etapa na história do planeta começava. A partir dali, tínhamos água, material orgânico e uma crosta sólida, ingredientes mínimos e que acreditamos essenciais para a origem abiótica da vida. O
SAIBA MAIS
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Vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), com sede em Campinas (SP), é responsável pela gestão dos Laboratórios Nacionais de Luz Síncrotron (LNLS), de Biociências (LNBio), de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e de Nanotecnologia (LNNano). www.cnpem.br
Av. Professor Mรกrio Werneck, 2.191, sala 104 | Buritis | BH MG |CEP: 30575-180 (31) 3225 8131 | syncstudio@syncstudio.com.br | www.syncstudio.com.br
1 VOCÊ SABIA?
ÁRVORE
ELEMENTO VIDA Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br
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eja nas cidades seja nas florestas, as árvores têm um papel biológico fundamental em nossas vidas. Embelezam, dão alimento e sombra e contribuem para purificar o ar. Uma espécie de árvore nativa da Mata Atlântica, por exemplo, absorve 163,14 quilos de CO2 ao longo dos seus primeiros 20 anos de vida. Motivo de sobra para repensarmos o valor que damos a esses seres vivos! Confira:
JANE SHELBY RICHARDSON
QUANTOS ANOS VOCÊ TEM? Ao cortar uma árvore é possível perceber círculos no interior do tronco. Cada um deles equivale a um ano de vida da espécie. Mas, esse período é bem diferente dos 12 meses do nosso calendário. Na verdade, ele corresponde às condições climáticas em que a espécie vive. Assim, se o clima é favorável durante a maior parte do tempo, o “ano da árvore” será mais longo. Se for ruim, com baixas temperaturas e poucas chuvas, o ano é menor.
MUITOS CÍRCULOS DE VIDA A árvore mais antiga do mundo tem mais de 4.700 anos e um nome que faz jus à sua idade: Matusalém, nome do personagem que, segundo a Bíblia, teve a vida mais longa. Trata-se de um exemplar da espécie Pinus longaeva, localizada na Floresta Nacional de Inyo, na Califórnia (EUA), em uma área não divulgada, para evitar que sofra vandalismo.
REPRODUÇÃO
REPRODUÇÃO DASNEVIANO
BRASILEIRÍSSIMA A maior árvore frutífera do mundo é brasileira e está localizada no Rio Grande do Norte, na praia de Pirangi do Norte. O cajueiro, da espécie Anacardium Occidentale, cobre uma área de 8,5 mil metros quadrados, o equivalente a 70 cajueiros de tamanho normal. E produz, na época de safra, de 70 a 80 mil frutas, oferecidas aos turistas que a visitam.
AS MAIS VERDES Goiânia (GO) tem o honroso título de cidade brasileira mais arborizada, com 94 metros quadrados de área verde por habitante. Curitiba (PR) está em segundo lugar, com 51 metros por habitante. A Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda que uma cidade tenha, pelo menos, 12 metros quadrados de área verde por habitante.
AS GIGANTES As sequoias são consideradas as árvores mais altas do planeta (para se ter uma ideia, compare o tamanho delas com o do alpinista em destaque à frente, na foto ao lado). Chamadas de “fósseis vivos” por serem um dos seres mais antigos da Terra, elas cresciam em grandes florestas espalhadas pelo mundo. Mas, atualmente, são apenas encontradas em três lugares da Califórnia (EUA): os parques Kings Canyon, Sequoia National e Yosemite National. Podem atingir mais de 90 metros de altura, aproximadamente um edifício de 30 andares, e os galhos mais baixos podem ficar a 45 metros do chão.
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OLHAR INTERIOR ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE VALPOLICELLA/VERONA, ITÁLIA
ITÁLIA DE VINHO E DOR O
lho para o passado que, de tão recente, há a possibilidade de ainda tropeçar nas lembranças. Minha despedida e partida da China, a chegada a Oslo, a travessia de barco até Kiel, na Alemanha; a aventura de cruzar de carro, e em alta velocidade, aquele país de Norte a Sul em um só dia até alcançar a Suíça. Às margens do Lago de Genebra, o privilégio de assistir a dois concertos durante o famoso Festival de Jazz de Montreux: do baterista Manu Katché e do guitarrista John Scofield. Nos Alpes Suíços, na fronteira com a Itália, a expedição até Matterhorn, a montanha mais famosa dos Alpes (4.478 metros de altitude), próxima de Monte Branco, ou Mont Blanc, a mais alta (4.810 metros). Além, é claro, a experiência de saborear um genuíno fondue de queijo suíço Gruyère, na vila medieval de mesmo nome, nos Alpes friburguenses. Da Suíça, levo a imagem de montanhas, igrejas e castelos. Sempre em trânsito, consecutivamente em movimento... até alcançar o território italiano. Enquanto revisitava o passado dos “romanos” e, particular82 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
mente, o meu – o retorno, após quatro gerações, à terra natal dos meus bisavós italianos, na região dos Abruzos, no centro da Itália – embrenhei-me no mundo literário sobre mindfulness, ou “atenção plena”, e dor. Mais especificamente, a dor nas costas. Todos nós, mamíferos, somos dotados de um antigo e sofisticado sistema de resposta de emergência muitas vezes chamado de luta-ou-fuga. Diante de uma ameaça, o sistema nervoso simpático e o eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA) são ativados, resultando em um aumento de adrenalina na corrente sanguínea que produz mudanças fisiológicas e nos prepara da melhor maneira para lutar contra um inimigo ou fugir do perigo. Quando o perigo passa, esse sistema é desativado. Só que a nossa capacidade simbólica e antecipatória (ou seja, nossa previsão de problemas, nossa contínua condição de estarmos preocupados) mantém esse sistema ativo o tempo inteiro, resultando em uma epidemia de dor crônica nas costas. Atravessei a Itália primeiro de Leste a Oeste, da
FOTO: ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG
NA BELEZA verde de Valpolicella, entre a atenção plena e a dor
"São os fatores psicológicos, e não as anormalidades estruturais, que na maioria das vezes causam a dor lombar crônica. Isso ocorre por meio de um ciclo – o ciclo da dor." vila medieval de Santo Stefano di Sessanio – de onde, eu escolhi acreditar, vêm os meus ancestrais, na província de L’Aquila (impossível saber exatamente em qual vila eles nasceram. Então, pensei, melhor eleger aquela que mais ricamente alimenta a minha imaginação. Por que não?) até Roma, o centro imperial da igreja católica e dos turistas. São os fatores psicológicos, e não as anormalidades estruturais, que na maioria das vezes causam a dor lombar crônica. Isso ocorre por meio de um ciclo – o ciclo da dor. Primeiro, o medo irracional (aquele ativado constantemente pelo sistema lutaou-fuga. Aflição mental persistente cria mudanças nos tecidos, o que por sua vez causa os sintomas). O medo não só exacerba a dor por meio do aumento da tensão muscular, como também amplia as próprias sensações de dor. A preocupação contribui para os ciclos de dor não só pela contração muscular, mas também por amplificar as sensações que os músculos tensos produzem. Na etapa seguinte, nos dirigimos para o Sul, em Sorrento, na província de Nápoles. Tempo de relaxar, apreciar o sol se pôr no Mar Mediterrâneo e prosseguir com a minha leitura. A recuperação requer interrupção do ciclo da dor. Primeiro, através de uma reestruturação cognitiva de como nos relacionamos com as questões da vida. Não são os próprios eventos, mas a interpretação que damos a eles, que determinam nossas reações. A prática de mindfulness, de centrar nossa atenção na experiência direta do momento presente, sem julgamentos, apresenta a possibilidade de observarmos a experiência de interação entre a dor, o medo e o nosso comportamento. Na maioria das vezes, não temos consciência do papel que os pensamentos e as emoções desempenham na dor. Com a prática de mindfulness, essa consciência pode ser aumentada. Próxima e última etapa de nossa viagem: Valpolicella, na província de Verona, famosa pela produ-
ção de vinhos. De fato, Valpolicella ocupa o segundo lugar, após Chianti, na produção total de vinho italiano em Denominazione di Origine Controllata. Vivendo literalmente no meio de campos agrícolas cobertos por parreiras, pulverizadas diariamente com suco de limão, “inseticida natural”, retomo ao meu tema: mindfulness e dor lombar. O segundo passo para interromper o ciclo da dor é a retomada completa de atividades físicas. Porém, quando os pacientes inicialmente começam a se exercitar novamente, geralmente a dor aumenta. Isso se dá porque é dolorido, a princípio, trabalhar com os músculos que estão tensos e fracos; sensação essa que é agravada com o aumento da ansiedade de desafiar a dor. A prática de mindfulness pode ajudar os pacientes a vencer essa etapa difícil, primeiro, tornando possível observar que as sensações de dor em si são distintas das respostas de aversão – pensamentos e sentimentos negativos sobre a dor, que constituem a experiência do sofrimento. Ao centrar a atenção no presente, a ansiedade antecipatória, que está no centro da maioria dos ciclos da dor, é reduzida, promovendo, por sua vez, o relaxamento da tensão muscular e a diminuição da intensidade da dor percebida. O ciclo da dor, então, é quebrado. Com certeza, nesse exato momento, a questão que se faz presente – e insistentemente – é: afinal, o que vem a ser a prática de mindfulness? Tema da próxima edição. Mas, fica aqui uma dica: ao que você resiste, persiste! O FONTES: Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde - mindfulnessbrasil.com Livro Mindfulness and Psycotherapy (2nd. Ed.) Germer, Siegel and Fulton.
(*) Life coach, psicanalista e consultora internacional de comunicação.
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OLHAR POÉTICO ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br
A PÁTRIA E O CIRCO
Para Selton Mello, conterrâneo e meu vizinho de circo, em Passos (MG).
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ão sei por que, mas durante a Copa fiquei pensando muito na palavra circo. Alguns leitores (pelo Facebook e por e-mail) chegaram a pedir que o estulto e abominável escriba alinhavasse pontos de vista sobre o tema. Outros, mais raivosos, remanescentes do Movimento dos Sem Copa (MSC), solicitaram que se detonasse, sem piedade, o sombrio Circo da FIFA, em julho último. Outros ainda, mais chegados, queriam que o pobre alfaiate palavral tecesse comentários sobre o futebol e o poder... Ou ainda costurasse conselhos sobre a famosa síndrome da DPC: a Depressão Pós-Copa. Não tenho competência pra nada disso. Não sou político, nem empreiteiro, nem cartola. E nem psicólogo da seleção. Pior: apesar da minha grande admiração por Nietzsche, aquele do Assim falou Zaratustra, confesso que ainda não aprendi a filosofar em alemão. De todo modo – e lá vou eu ladeira abaixo, refletindo com meus carrapatos – a história comprova que não existe pátria sem circo. Desde Nabucodonosor, na mítica Babilônia dos Jardins Suspensos, com seus intermináveis festins em homenagem à deusa Ishtar; desde a Grécia Antiga e o Império Romano; desde Asterix e seus valentes gauleses; desde as trupes ambulantes que percorriam a Ibéria em carroças-palco com seus autos e farsas; desde os carnavais mascarados de Veneza; desde os menestréis apaixonados e os bobos da corte... o circo existe, vem existindo e não vai deixar de resistir. Ele é carne e unha, aplauso e vaia. Corpo e alma. Paixão e plateia ao mesmo tempo. Assim como não existe arte sem artista, literatura sem escritor ou livro sem leitor, também não há circo sem plateia. E circo só é bom se essa plateia vier abaixo.
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Se ela morrer de rir ou de medo. A primeira, claro, fica por conta dos palhaços. A segunda, dos artistas que vão se revezando sobre a eterna palha-de-arroz do suspense: homens-bala, engolidores de fogo e espadas, atiradores de faca, motociclistas do globo da morte, equilibristas, trapezistas... Ah, os trapezistas! Esses: os que mais me davam arrepios na nuca quando os via voando lá em cima, pouco abaixo da lona, sem nenhuma rede ou corda para lhes sustentar as quedas. Que coragem! Ali sempre esteve o maior terror da minha vida: o salto mortal – duplo ou triplo. Até hoje, trinta anos depois do meu último circo, ainda me arrepio só de lembrar. Naquele momento eu tapava os olhos, ou virava as costas, pra não ver a tragédia... Lembro: todas as luzes se apagavam. Um pequeno holofote focava o trapézio, os taróis começavam a pipocar e todo mundo cerrava os dentes. Então, um atlético trapezista se lançava de um lado, a pequena-miudinha trapezista (coitada, pobrezinha!) se lançava do outro e... Plaft! Bem lá no meio, no voo sui-
"Tomara que o Brasil aprenda a conviver com o circo. E com a falta dele. Mesmo quando ele venha fantasiado de 'democracia', numa noite sem lona e sem estrelas, no céu imprevisível de nossa cidadania-trapezista."
cida, no alto da lona, sobre o coração do picadeiro de chão batido e coberto apenas com a serragem da sorte (ou do destino): o milagre acontecia! Uma mão agarrava a outra. E estava tudo salvo. Os timbales, os pratos de metal se chocavam desvairados. Começava então uma verdadeira fanfarra de sons e estalidos agudos, depois sufocados pelas palmas, urros e assobios da plateia aliviada! Ufa! Deu tudo certo! Ninguém se machucou. Ninguém se espatifou no chão! A noite estava completa. Eu já podia sonhar. Sonhar em ser também palhaço, malabarista, amestrador de pulgas ou até trapezista. Mesmo porque praticamente passei a infância (e parte da adolescência) convivendo com circos. Vários deles chegavam e se armavam num terreno que ficava bem ao lado da minha casa, num bairro de nome engraçado chamado Coreia, em Passos. E o terreno era do meu pai: isso me dava direito a uma “permanente”. Ou seja: ver os espetáculos de graça. Certa vez, aos 13 anos, me apaixonei por uma trapezista russa que apareceu na cidade com a trupe do Circo Nacional de Moscou. Ela se chamava Yelena Ekaterina Kamienska, mas gostava que eu a chamasse apenas assim: Ika. Era linda, uma fada. Tinha um furinho no queixo, um sotaque carregado de erres, e ria muito das palavras estranhas que eu dizia. Eu, idem. Não sacava nada do que saía da sua boca. A não ser a palavra amor. Essa, certa tarde veio totalmente desvairada num zum-zum-zum com gosto de bala-chita que escorreu de nossos lábios desajeitados. Era o primeiro beijo molhado, de línguas: português e russo. Smaaaack! Fiquei em febres por uma semana. Lá um belo dia, no entanto, ela foi-se embora do
mesmo jeito que chegou. Pluft! Uma agulha espetou a bolha-de-sabão do nosso sonho. E minha paixão-trapezista explodiu no ar, silenciosamente, sem nenhum tarol ou aplauso de plateia. Acho que foi por isso (ou quase) que acabei virando escritor: passei grande parte da vida pensando na minha platônica e inatingível Ika. E nas boas recordações que o circo me deixou. Afinal, a vida não é apenas isso? Um circo que anda, pra lá e pra cá – indo e voltando, ora chegando, ora partindo – dentro da gente? Pensando bem – se nunca cheguei a ser palhaço, nem mágico, equilibrista ou trapezista – talvez tenha conseguido me transformar num domador de palavras estranhas. Ou poeta de um poema só. O mesmo poema que me visita, toda noite e de repente, debaixo da mesma estrela que eu imagino ser ela: Ika, a trapezista-fantasma. Mesmo porque (e só agora, muitos e muitos anos depois, descobri a verdade) o Circo Nacional de Moscou nunca existiu. Aquele era um circo falso, de artistas “brasileiros falsos”, que perambulavam por pequenas cidades do interior do Brasil e se faziam passar por artistas estrangeiros russos. E então? Quem era realmente minha adorada trapezista-russa? Qual seria sua verdadeira identidade? E sua pátria? E a pátria daquele circo: era apenas o meu coração? Ou a pátria de qualquer circo é o coração das pessoas que aplaudem sua arte? Pode ser que tudo isso seja a mesma coisa, aqui ou lá, em russo ou em português. A poesia, como a noite ou o circo, não deve ter pátria. Mas a pátria pode virar um circo. Depende de quem a quer, como a quer. Tomara que o Brasil aprenda a conviver com o circo. E com a falta dele. Mesmo quando ele venha fantasiado de “democracia”, numa noite sem lona e sem estrelas, no céu imprevisível de nossa cidadania-trapezista. Senhoras e senhores, é verdade: foi-se o Circo da Copa. Mas vem aí, com toda a mentira, ficção e fazde-conta a que temos direito, o surrado e ruço Circo das Eleições! O
SAIBA MAIS antonioba@uol.com.br facebook.com/antonio.barreto.12139 (*) Autor de “A Noite é um Circo sem Lona” (Editora RHJ).
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Memorial Vale AS MUITAS MINAS NO MUSEU (8)
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MINAS RUPESTRE 2.
A história arqueológica de nosso estado guardada em seu subsolo e nas paredes de suas cavernas ernas 4.
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Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
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ontinuando a viagem da ECOLÓGICO pelo Memorial Vale, era o momento de entrar nas cavernas de nossa história e desvendar os segredos de nossos ancestrais. E isso ficou ainda mais interessante de se pesquisar e entender quando cheguei à “caverna” montada no segundo andar do museu. A sala dedicada à arqueologia e à arte rupestre mineiras tem a dimensão de uma gruta. À meia-luz, o visitante pode literalmente “viajar no tempo” e se imaginar em um dos sítios arqueológicos de nosso estado. E ainda andar pelas galerias dessa caverna cultural e apreciar réplicas de pinturas rupestres, uma das mais longevas formas de arte pré-histórica. Na Europa, os mais antigos registros têm mais de 30 mil anos. No Brasil, são datados entre 10 e 12 mil anos. Mas o que esses grafismos representam? Que mensagens eles deixam? Segundo o arqueólogo e doutor em Pré-História pela Universidade de Paris André Prous, assim como expressões contemporâneas como os grafites e pichações, os registros rupestres “carregam vários tipos de mensagens: afirmação da pessoa, participação de um grupo social, visão do mundo e valores da categoria de idade de quem os produziu. Com
efeito, a maioria desses sses desenhos não tinha apenas penas um valor estético. Tanto nto podiam expressar crenças as religiosas quanto marcar a posse de um território ou registrar eventos importantes para a sociedade dade (cerimônia, conflitos etc.)”. Uma ma mesma figura, no entanto, pode terr vários sentidos ao longo do tempo. Por um instante, pensei em Luzia, nossa mais célebre e antiga ancestral, cujo esqueleto foi encontrado na Lapa Vermelha IV, próximo à cidade de Confins. Teria ela deixado um diário pré-histórico de suas vivências pelas grutas de Minas? Ou, então, estariam ainda escondidas, no “mar” de terra aos nossos pés, as modelagens e peças em cerâmica que Luzia utilizava para colocar alimentos e beber água? As técnicas utilizadas para os registros rupestres são variadas e hoje ainda podem ser facilmente encontradas. “As pinturas que foram feitas com pigmentos vegetais (urucum vermelho e suco de jenipapo) não se conservaram. Apenas aquelas feitas com carvão e pigmentos minerais (óxidos de ferro – vermelhos e amarelos; dióxido de man-
1. João Marcos Rosa/Nitro Imagens | 2. Lapa dos Desenhos - Itacarambi | 3. Abrigo Capão das Éguas - Prudente de Morais | 4. Grande Abrigo - Santana do Riacho | 5. Lapa dos Desenhos - Itacarambi
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SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 87
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Memorial Vale AS MUITAS MINAS NO MUSEU (8)
ganês – marrom-escuro ou preto), elementos facilmente encontrados na natureza, chegaram até nós. Para o branco, usava-se argila (caulim), carbonatos ou osso calcinado. Os pigmentos os foram aplicados com pincéis (talos vegetais, chumaços de algodão) ou com m os dedos; mais raramente, as figuras uras foram carimbadas nas paredes”, afirma Prous, que também é professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Uma outra indagação me surgiu nesse momento: onde se encontram os sítios de arte rupestre em Minas? Com Luzia na cabeça, Lagoa Santa e a Serra do Cipó seriam os primeiros pontos. Na região daquela Cip cidade e de Matozinhos, há 50 km de BH, está cida o sítio Cerca Grande. Considerado o mais rico em figuras, foi registrado em texto e desenho por Peter Lund e seu assistente, se Brandt. É lá que foram encontrados os Br restos mortais de Luzia. rest Já o tex texto do folder para os visitantes inMINAS ARQUEOLÓGICA forma, ta também, que a Serra do Cipó guarda Em frente ao paredão rupestre re da sala outros locais, lo como o Grande Abrigo de Sando Memorial, minha caminhada hada pela tana do Riacho, “que serviu de cemitério há “gruta” foi interrompida por uma ma jomais de oito mil anos e onde foram registravem mãe e seu filho, que adentrou rou das mais de 2.500 pinturas”. o espaço correndo e logo posicio-Serra do Cabral e o Alto Jequitinhonha, Vale nou suas mãos sobre as pinturas do Rio R Peruaçu, do Rio Doce, do Rio Cochá, 6. da parede. Naquele momento, todos os em Montalvânia, e as cidades de Montes presentes pararam ali, e como “homens das caverver Claros, Varzelândia e Jequitaí, no norte de nas” contemporâneos, observamos a criança que Minas, também guardam preciosidades da arte também queria registrar seus sentimentos e des- rupestre. No Vale do Rio Cochá, por exemplo, focobertas na história. ram levantados cerca de 60 sítios. “No topo das
PROGRAMAÇÃO SETEMBRO (ENTRADA FRANCA) 13/09 Orquestra de Câmara Sesiminas Local: Auditório (sujeito a lotação) Horário: 10h30 Obs: Retirada de senhas uma hora antes da apresentação. 17 a 19/09 4º Colóquio Internacional - "Fantasmagorias" Núcleo Walter Benjamim Local: Auditório (sujeito a lotação) Horário: 9h30 às 18h 18/09 Leitura Rara: "Cachorro!" Cia. de Teatro Luna Lunera Curadoria: Anderson Aníbal Local: Auditório (sujeito a lotação) Horário: 19h30 Obs: Retirada de senhas uma hora antes da apresentação. 20/09 Performance no Memorial: "Natureza Morta e Preenchimento de Formas" Letícia Grandinetti, com participação do artista plástico Eugênio Paccelli Horta Curadoria: Marco Paulo Rolla Horário: 11h 25/09 Concertos de Câmara - Orquestra Filarmônica de Minas Gerais Quarteto de Cordas
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Local: Auditório (sujeito a lotação) Horários: 19h e 20h30 Obs: Retirada prévia de ingressos uma hora antes das apresentações, limitada a um par por pessoa. 26/09 Boa noite Memorial Música, leitura dramática, projeções, performances, gastronomia e ações interativas desenvolvidas pela equipe do Educativo Horário: 18h às 02h30 (do dia 27/09) 27/09 Sarau do Memorial, com Malluh Praxedes Participação da atriz Angela Xavier e do cantor Sérgio Moreira Curadoria: Wagner Merije Local: Casa da Ópera (sujeita a lotação) Horários: 11h e 13h Obs: Retirada de senhas uma hora antes da apresentação. 02/9 a 05/10 SIMBIO Participação dos artistas Brígida Campbell, Conrado Almada e Leonardo HBL Horário: de funcionamento do museu Até 06/10 Exposição "A Fotografia é um Espetáculo" Fotos de Paulo Lacerda / Acervo Fundação Clóvis Salgado Curadoria: Tibério França Local: Café do Memorial Horário: de funcionamento do museu
6. Lagoa do Gigante - Montalvânia | 7. Pedra Pintada - Cocais
FOTO: JOÃO MARCOS ROSA/NITRO
VÍDEOS e réplicas da arte rupestre ajudam o visitante a ccom compreender ompr pree eend nder er m mel melhor elho horr a pr pré pré-história é hi hist stór ória ia m min mineira inei eira ra
elevações residuais que dominam a planície do rio, nos abrigos da Serra Preta e da Serra do Cipó (não confundir com a serra homônima do centro mineiro), há numerosas pinturas evocando fenômenos astronômicos e aves, lembrando outras manifestações registradas perto de Unaí e na Chapada Diamantina”, informa o texto de André Prous no livro Minas Gerais, organizado por Heloisa Starling, Gringo Cardia, Sandra Regina Almeida e Bruno Martins, também disponível aos visitantes do museu para consulta. A bem da verdade, sabemos que tanto a arte rupestre quanto as peças históricas encontradas por arqueólogos nas terras mineiras são um alento para compreendermos melhor o mundo simbólico dos nossos ancestrais. E nos inspiram a aperfeiçoar, cada vez mais, nossa relação com o mundo, as pessoas e o meio ambiente, preservando a grande diversidade cultural e arqueológica que se estende e nos representa até os dias atuais. Afinal, olhar e valorizar a história e as tradições de nosso povo é a única forma de nos reinventarmos culturalmente em busca da evolução. O
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SERVIÇO - MEMORIAL MINAS GERAIS VALE (*) Endereço: Praça da Liberdade, 640, esquina com rua Gonçalves Dias. HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO Terças, quartas, sextas e sábados: das 10h às 17h30, com permanência até as 18h. Quintas: das 10h às 21h30, com permanência até as 22h. Domingos: das 10h às 15h30, com permanência até as 16h. Entrada franca. Informações: (31) 3308-4000 Para visitas mediadas ou em grupo ligue: (31) 3343-7317 www.memorialvale.com.br (*) Mantenedor: Vale, por meio da Fundação Vale
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MEMÓRIA ILUMINADA - RITA LEVI-MONTALCINI
FOTO: EFFIGIE / LEEMAGE
RITA: “Nosso futuro se encontra em nosso cérebro”
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A DAMA DA
CIÊNCIA Prêmio Nobel de Medicina, Rita Levi-Montalcini deixou mais que um legado científico: mostrou que deixar o cérebro ativo é a fórmula da juventude eterna Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br
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italiana Rita Levi-Montalcini é uma mulher memorável. Desafiou os limites de seu próprio tempo, nunca se casou nem teve filhos para, segundo ela, “se dedicar integralmente à vida científica” – sua grande paixão. De família judaica, nasceu na cidade de Turim, em 1909. Aos 20 anos, contrariando o pai que desejava vê-la casada, entrou na faculdade de Medicina. Os estudos foram interrompidos pelo início da perseguição aos judeus, que culminaria, anos mais tarde, na II Guerra Mundial. Refugiada em uma área rural de Piemonte, estado onde nascera, improvisou um laboratório na própria casa e estudou as células usando embriões de galinhas. Os resultados dessa pesquisa lhe renderam um convite, em 1947, para a Universidade de Washington, em St. Louis, Missouri (EUA), onde se formou em Neurologia. Em 1951, Rita veio ao Brasil para realizar experiências de culturas in vitro no Instituto de Biofísica da Universidade do Rio de Janeiro. Trazia, além da persistência de sempre, dois ratinhos portadores de um tumor que pretendia pesquisar. Foram neles que ela identificou o fator de crescimento das células nervosas, batizado de Nerve Growth Factor (NGF), feito que lhe proporcionou, em 1986, o Prêmio Nobel de Medicina, junto com seu então assistente, Stanley Cohen. Esses estudos tiveram papel determinante na compreensão das formas de evolução do câncer, além de doenças neurológicas como Alzheimer e Parkinson. Igualmente reverenciada por colegas e cientistas, Rita sempre frisava a importância da solidariedade. Pensava, antes de tudo, no que seu trabalho poderia proporcionar de melhor para a vida de outras pessoas. E alertava: para viver bem, manter a cabeça ativa, independentemente da idade, era a chave da longevidade. Em 2001 criou a Fundação Rita Levi-Montalcini, que ajuda meninas africanas, vítimas da violência e pobreza, a continuarem estudando. Viveu até os 103 anos em plena atividade profissional e deixou um trabalho inspirador. Em homenagem aos seus mais de 105 anos de nascimento, a Ecológico selecionou alguns pensamentos dessa grande dama da ciência. Confira:
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SETEMBRO DE 2014 | ECOLÓGICO O 91
MEMÓRIA ILUMINADA - RITA LEVI-MONTALCINI FOTO: DOLLARPHOTOCLUB
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"Todos dizem que o cérebro é o órgão mais complexo do corpo humano, e eu, como médica, posso até concordar. Mas, como mulher, asseguro que não existe nada mais complexo do que o coração." ● ORATÓRIA “Hitler e Mussolini souberam como falar ao povo, onde sempre prevalece o cérebro emocional por cima do intelectual. Conduziram emoções, não razões!” ● MULHER “A religião marginaliza muitas vezes a mulher perante o homem, afastando-a do desenvolvimento cognitivo. Mas algumas religiões estão tentando corrigir essa posição.” “Muitos descobrimentos científicos atribuídos a homens realmente foram feitos por suas irmãs, esposas e filhas.” ● CÉREBRO “Mantenha seu cérebro ativo com ilusões e pensamentos. Faça com que ele trabalhe. Assim, ele nunca se degenerará.” “O progresso depende de nosso cérebro. A parte mais importante dele, a região neocortical, deve ser usada para ajudar os outros e não apenas para fazer descobertas.” 92 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2014
● VITALIDADE “Perdi um pouco a visão, e muito a audição. Mas penso muito mais agora do que quando tinha vinte anos. Que o corpo faça aquilo que quiser. Eu não sou o corpo: eu sou a mente.” “A chave é manter curiosidades, empenho, ter paixões! Não me refiro às físicas especificamente, mas a qualquer uma. Simplesmente tenha paixões!” “O segredo da minha vitalidade é que eu vivo de hora em hora, constantemente envolvida com pesquisas científicas e com os problemas sociais. Não tenho tempo para pensar em mim. Minha vitalidade é derivada da total indiferença por mim mesma.” ● MÉRITOS “Minha inteligência é mais que medíocre. Meus únicos méritos são o empenho e o otimismo. A ausência de complexos psicológicos, a tenacidade de seguir o caminho que considerava justo, o hábito de subestimar os obstáculos – traço que herdei de meu pai – me ajudaram enormemente a enfrentar as dificuldades da vida. A meus pais devo
também a tendência a ver os outros com simpatia, sem desconfiança.”
incentiva os jovens a pensar como se fossem parte de uma raça superior a tudo.”
● GENEROSIDADE “É fundamental para as pessoas, do ponto de vista científico, ter um objetivo que inclua a ajuda àqueles que não têm o privilégio de pertencer à elite científica e tecnológica.”
● IMPERFEIÇÃO “A razão é filha da imperfeição. Nos invertebrados, tudo está programado: são perfeitos. Nós, não. E, ao sermos imperfeitos, temos recorrido à razão, aos valores éticos: discernir entre o bem e o mal é o mais alto grau da evolução darwiniana!”
“Desde jovem, meu desejo era ir para a África, encontrar o teólogo e médico alemão Albert Schweitzer, para cuidar dos leprosos. Hoje, dedicar-me a ajudar os outros é o que conta. Devemos ter uma total dedicação para com quem precisa de ajuda, especialmente as populações que são mais exploradas, como as da África. E, principalmente, as mulheres que foram arruinadas, física e psicologicamente.” ● FACISMO “Há o perigo de vivermos isso novamente. Em momentos críticos, prevalece o componente instintivo do cérebro, que camufla o raciocínio e
● APOSENTADORIA “Aposentar-se é destruir o cérebro! Muita gente se aposenta e se abandona. E isso mata seu cérebro. E adoece.” ● IMORTALIDADE “A vida não termina com a morte. O que restará de nós é aquilo que transmitimos às outras pessoas. A imortalidade não é o nosso corpo, que um dia fatalmente morrerá. O que importa é a mensagem que deixamos aos outros.” O
Sustentabilidade é a nossa pauta!
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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO: JÚLIO TOLEDO
SINFONIA PARA UMA
CIDADE JARDIM Hiram Firmino
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FLAMBOAIÃ na Avenida Francisco Sales
XX O ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2014
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DIVULGAÇÃO FOTOS: JÚLIO TOLEDO
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o Prêmio Concurso Cultura 2014, do Ministério da Cultura, a instalação audiovisual Sinfonia para uma Cidade Jardim, em parceria com a Voltz Design, conseguiu mais que o justo reconhecimento do Governo Federal. Deixou boquiabertas as milhares de pessoas que compareceram recenteJÚLIO TOLEDO: fotogramas mente ao Circuito Cultude uma Beagá colorida ral Praça da Liberdade, no Prédio Verde. O motivo, mais que natural, foi o público ter apreciado, por meio de reproduções gigantes, a beleza diversa das flores e da arquitetura da capital mineira. Não apenas na primavera que se aproxima, mas em todas as quatro estações do ano. O autor apaixonado desses registros é o engenheiro-fotógrafo Júlio Toledo, autor dos calendários sobre a Serra da Moeda e BH Cidade Jardim, além das cinco Coleções Ipês de cartões-postais, vencedoras do título Gentileza Urbana 2010, pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/MG), entre outros projetos de sucesso. Em seu trabalho, Júlio lembra que BH é a primeira cidade planejada efetivamente no Brasil, além de já ter ostentado o título de "Cidade Jardim", a exemplo de Paris, em cujo paisagismo se inspira e que possui mais de 500 bens tombados. “Diversos tipos de florações, com especial destaque aos ipês, cuja flor é o símbolo brasileiro, ainda colorem o nosso espaço urbano. Isso mostra que é possível buscar novamente o título que BH perdeu ao longo das administrações municipais”, provoca o fotógrafo. Seu sonho maior é ter seu premiado projeto BH Cidade Jardim (já aprovado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura) patrocinado pela própria PBH, como pelas empresas tradicionalmente incentivadoras da cultura em Minas, como a Cemig, na forma de um livro de arte visual, também assinado pelo seu parceiro, o arquiteto Flávio Carsalade, quem assina os haikais das árvores floridas. A Ecológico fez uma difícil seleção de suas fotos. Confira, a seguir, a emoção que elas transmitem!
"Durante as estações, as paisagens se tingem de cores que circulam pelas ruas, praças e avenidas. Com flores e delicadeza, a natureza vai bordando o tecido urbano." JÚLIO TOLEDO
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FOTOS: JÚLIO TOLEDO
1 ENSAIO FOTOGRÁFICO: JÚLIO TOLEDO
JACARANDÁ-MIMOSO com a Serra do Curral ao fundo
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SIBIPIRUNAS no Parque Guanabara, na Pampulha
IPÊ-ROXO defronte ao Glass Tower, na Praça Tiradentes
IPÊ-AMARELO na Praça da Liberdade, em frente ao Edifício Niemeyer
IPÊ-BRANCO emoldurando a lua, na Praça Milton Campos
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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br
ARTE: SHUTTERSTOCK
SAPIENS E DEMENS M uitos pensadores dos séculos XVIII e XIX cultivaram o mito do bom selvagem. Isto é, o homem é bom e é a sociedade que o perverte. Era preciso então mudá-la para mudar o homem. Os filósofos Jean Jacques Rousseau e Karl Marx foram os maiores incentivadores dessa ideia, que até hoje cativa muitas mentes e corações por meio de ideários pedagógicos e sociopolíticos. No período entre as duas guerras mundiais, impressionado com tamanha mortandade, Sigmund Freud vai defender a ideia de que o homem não é somente histórico, mas também pré-histórico. O irracional e o racional caminham juntos no processo evolutivo humano. Este não é somente sapiens, mas é também demens. A pulsão de vida (Eros) e a de morte (Thanatos) se digladiam no processo da existência humana. É lógico que muitos torcem para que o amor prevaleça sobre o ódio; e a sensatez, sobre o infortúnio. Essa atitude é apenas uma crença, já que crer não é uma certeza, mas uma confiança. A ciência sempre buscou o sonho de uma explicação universal que abarcasse o conjunto de todos os fenômenos humanos. Mas as explicações sempre deixam espaço para o inexplicável. As respostas sempre criam um campo maior de novas interrogações. E é por isso que a pergunta e a dúvida são as forças que alimentam a alma da reflexão filosófica. Desde Sócrates, aprendemos que é próprio das nossas certezas saber conviver com as angústias do incerto. A humildade socrática do sei que nada sei nos leva a desconfiar de que a mais convicta das pessoas ainda precisa duvidar. A dúvida é a primeira
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condição para o diálogo, razão pela qual é quase impossível conversar com uma pessoa muito convicta, a não ser apenas para ouvi-la. Essas reflexões podem nos ajudar um pouco a compreender essa loucura da expansão da violência humana nos dias atuais. Continuamos mais selvagens do que qualquer cultura anterior, pois os meios de destruição de vidas humanas se tornam cada vez mais fatais. Esses desastres fazem a festa dos meios de comunicação que se banqueteiam com os morticínios anunciados. As notícias sobre a morte subsidiam os espetáculos televisivos que alimentam o desejo do espectador. A pulsão de morte predomina sobre a da vida e a descrença no amor prevalece sobre a sensatez. O século XXI nos aponta temerosamente que o ser humano, confirmando as previsões de Freud, ainda continua dentro da caverna como no mito de Platão. Mas, infelizmente, também não podemos esquecer que é a divulgação contínua desses desastres que alimenta o negativismo perverso nas pessoas. Como a luta pela prevalência do bem, o predomínio do bom senso e a ampliação extensiva da esperança constituem o grande desafio para aqueles que acreditam na força do amor. E são essas dimensões construtivas de Eros que irão cimentar o sonho ecológico de podermos viver um dia numa sociedade mais pacífica e mais amorosa com a natureza, com os outros e com todos os seres vivos do planeta. O (*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.
Árvores? Que nada! As algas marinhas e de água doce são responsáveis pela produção do O2 de mais da metade do planeta.
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Fonte: Ecologia, de Ramón Margalef
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