ANO 8 - Nº 87 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2016 - R$ 12,50
EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA
UM FILME DA CONSERV AÇ
“Eu já cobri este pla net E eu posso cobri -lo
RODRIGO S
O OCE
anaturezaesta fal AFA-18369-03 CONSERVAÇÃO 404x275_Rev Eco.indd 1
RV AÇÃO INTERNACIONAL
pla neta inteiro uma vez. bri -lo novamente.”
O SANTORO É
CEANO
sta falando.org.br 10/14/15 10:18 AM
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EXPEDIENTE
FOTO: ROBERTO MURTA
Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior
COLUNISTAS Antonio Barreto, Leonardo Boff, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Fotos: Leo Santana e Paulo de Araújo/MMA DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com Representante Comercial Brasília Forza CM - Comunicação e Marketing sdonato@forzacm.com.br
CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos
Representante Comercial Rio de Janeiro Tráfego Publicidade comercial@trafegopublicidade.com.br
REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Déa Januzzi, Luciana Morais e Vinícius Carvalho
MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com
EDITORIA DE ARTE André Firmino
ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br (*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.
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revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS
DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com
2,16 tCO2 e Dezembro de 2015
ecologico
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IMAGEM DO MÊS
FOTO: GREENPEACE / KENNARD PHILLIPPS
SALVE O ÁRTICO! “A Song of Oil, Ice and Fire” (“Uma canção de Óleo, Gelo e Fogo”), novo vídeo da campanha internacional do Greenpeace, mostra como ficariam paisagens americanas clássicas – como essa nova versão da pintura “Cristina’s World”, de Andrew Wyeth, criada pelos artistas Peter Kennard e Cat Phillips – se elas fossem destruídas pela Shell e a indústria do petróleo. A contragosto de ambientalistas e da opinião pública mundial, a empresa está se preparando para perfurar o Ártico pela primeira vez.
JAN/FEV DE 2016 | ECOLÓGICO 05
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ÍNDICE
CAPA
A ECOLÓGICO FOI A CAMPO OUVIR OUTROS ESPECIALISTAS SOBRE A TRAGÉDIA DA MINERAÇÃO EM MARIANA (MG). ELES SÃO UNÂNIMES EM AFIRMAR QUE A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E O USO DE BARRAGENS DE REJEITOS DEVEM SER RAPIDAMENTE ALTERADOS.
20 PÁGINAS VERDES IZABELLA TEIXEIRA FALA SOBRE O PROTAGONISMO DO BRASIL DURANTE A 21a CONFERÊNCIA DAS PARTES NA CAPITAL FRANCESA
E mais... CARTAS DOS LEITORES 08 CARTA DO EDITOR 10 GENTE ECOLÓGICA 12 ECONECTADO 14 ESTADO DE ALERTA 16
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ECOLÓGICO NAS ESCOLAS A RECICLAGEM DE LATAS DE ALUMÍNIO NO BRASIL CHEGA A 98,4% E BATE RECORDE MUNDIAL
SOU ECOLÓGICO 18 CLIMA 24 CÉU DE BRASÍLIA 30 ALMA PLANETÁRIA 32 ENSAIO ARTÍSTICO 50 TECNOLOGIA LIMPA 54 JORNALISMO AMBIENTAL 57 POLÍTICA AMBIENTAL 60 SAÚDE (3) 64
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MEMÓRIA ILUMINADA A VIDA, A OBRA E A MÚSICA DE CHICO BUARQUE, AGORA REGISTRADAS EM DOCUMENTÁRIO
ROTA LUND 66 GESTÃO & TI 70 INOVAÇÃO 72 NATUREZA MEDICINAL 76 EDUCAÇÃO AMBIENTAL 78 VOCÊ SABIA? 84 REFLEXÕES 90
Pág.
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QUEM MATA A MATA, mata mais que a mata. plante รกrvores
Ecológico foi insuperável: várias opiniões de especialistas de plurais tendências, isenção e verdade no editorial e, complementando, bons temas, boas matérias. Este número extrapola a condição de mais uma edição e se afigura como um documento histórico que deve ser registrado e colecionado por instituições de ensino, administradores públicos, gestores culturais, ambientalistas e cidadãos responsáveis e atentos às tendências de 2016. Parabéns à equipe!” Nestor Sant'Anna, jornalista e produtor cultural, via e-mail
SANAKAN
CARTAS DOS LEITORES
CARTA EM DOR MAIOR Matéria da repórter Déa Januzzi com os moradores dos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, ambos atingidos pela lama da barragem
l MATÉRIA DE CAPA – “E AGORA, MARIANA?” A Ecológico ouviu os moradores dos distritos atingidos pelo rompimento da Barragem de Fundão e especialistas em meio ambiente e mineração “É com satisfação que me reporto a todos da Ecológico pela edição nº 86, que citou a terrível tragédia que atingiu nosso município e diversas cidades ao longo do Rio Doce. Tenho a convicção de que esta edição, com todo o trabalho de pesquisa realizado, contribuirá para a definição das consequências e soluções para esse desastre.” Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior, prefeito de Mariana “Agradeço a atenciosa edição especial 'E agora, Mariana?', da Revista Ecológico, cumprimentando com votos de sucesso à publicação.” Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais “Senhores e senhoras da Ecológico. Bravo, o exemplar da última revista. Difícil abordar assunto tão delicado e controvertido, especialmente quando a Samarco vinha sendo considerada modelar em termos de mineração sustentável. A abordagem do desastre pela 08 l ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
FOTO: ANTONIO CRUZ / AGÊNCIA BRASIL
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“Confesso, Déa, que jamais li uma reportagem tão bem elaborada, tão bem escrita, tão bem pensada e detalhada. Por isso, senti vontade de lhe escrever e dar meus parabéns! Precisamos de pessoas com seu espírito, sua vontade, com seu amor pelo que faz. Juro que conseguiu me emocionar! Não sei como tirou tanto sentimento e usou com tamanha maestria as palavras para pincelar um universo às avessas, de porta na cara, de desconfiança, de silêncio, de pressão psicológica e autoritarismo. Sou nascido e criado neste pequeno núcleo ferrífero chamado Mariana. É triste o que tenho presenciado, desde minha infância, onde vi minhas queridas cachoeiras e rios serem engolidos pelos desejos e rejeitos - o dito progresso. Pior que isso é saber que a elite (governantes) se beneficia dessas desgraças, vendendo suas indulgências a troco de status e poder. Confesso, Déa, quão indignado fiquei com a tragédia. Era frequentador assíduo do único restaurante de Bento, o da Sandra. Déa, você soube sentir toda a realidade difícil e miserável do lugar, aliás, de todo local que vive de mineração. Confesso que meu Rio do Carmo, aquele que corta Mariana ao meio, onde meu pai pescava e se banhava quando garoto, hoje morto e fétido por uma empresa de alumínio primário de Ouro Preto, há décadas de descaso e omissão pelo órgãos competentes, morreu primeiro que o Rio Doce! Às vezes, aqui, também levamos porta na cara, como você, por pensar diferente e não fazer parte da politicagem. Somos retaliados e descartados das discussões. É muito difícil vencer nos grandes
Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
interesses que proporcionam o caos. Mas acreditamos na bonança, na fé e em Deus, pois o homem vendeu a alma para o diabo a troco de um pedaço de papel chamado dinheiro.” Eduardo Henrique dos Santos, via e-mail QUANDO O REJEITO VIRA PRODUTO E SOLUÇÃO Ambientalista utiliza rejeitos de mineração para construção de pavimentos ecológicos “Mais uma iniciativa que se deve apoiar. Atenção, mineradoras: se destruírem o planeta, tudo morre. Atitude agora, para sobrevivência dos humanos.” Eduardo Araújo, via Google+
EU LEIO “Leio a Revista Ecológico porque ela vai além do seu papel de informar e nos conscientizar em relação ao meio ambiente. Destacase pela clareza e riqueza de argumentos sobre um tema tão discutido hoje. E o formato e a qualidade são evidentes e conseguem despertar a importância de que é possível melhorar o meio em que se vive com pequenas atitudes. Dentro da realidade socioambiental tão pouco preservada que vivemos, a revista faz toda a diferença!”
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
SANAKAN
FA L E C O N O S C O
Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br
Camila Castro, secretária-executiva
O SISEMA REPRESADO Texto aborda o fato de que Minas, estado brasileiro pentacampeão de devastação da Mata Atlântica, investe l PÁGINAS VERDES apenas 0,5% do seu orçamento no Meio Ambiente O ex-ministro de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, fala sobre a institucionalização da logística reversa na “A ganância humana está destruindo o planeta mineração e a gestão compartilhada dos rejeitos Terra e as autoridades nada fazem para reverter a situação. Todos só irão tomar providências quando “Infelizmente, meio ambiente e saneamento o planeta entrar em um colapso total.” são questões que estão muito longe de serem Orual Seixas, via Facebook prioridade nas pautas de políticos e acionistas. “Perdão, Senhor! Livrai-nos do mal! É horrível o que Primeiro, porque de fato a maioria deles não tem conhecimento técnico. E, segundo, porque se estamos fazendo com o que o Pai da Misericórdia está “debaixo da terra” (rede de esgotos) não gera nos deu!” votos, pois ninguém está vendo. Até o dia em que Teresa Monnerat, via Facebook outra grande calamidade aconteça, como foi com “Não curti! Coisa feia! Um estado lindo como Minas a peste negra. Na verdade, quando o reúso de água veio à tona, isso não significa uma preocupação Gerais, com um povo muito legal, e fazendo um com o meio ambiente, mas sim por questões papelão desses?” econômicas. Quanto ao caso de Mariana, quantas Luchele Candido, via Facebook tragédias e desastres terão que ocorrer para que as empresas com atividades que envolvam o uso “Triste saber que, em desmatamento do bioma, de materiais perigosos tenham a prevenção como somos pentacampeões!” centro de seus modelos de negócio?” Maria Jales, via Facebook Angela Bordonalli, via LinkedIn l DESPREZO À DEMOCRACIA l ESTADO DE ALERTA – O RETROCESSO Artigo da colunista Dalce Ricas analisa a posição do DO RETROCESSO governo diante da fiscalização ambiental A colunista Maria Dalce Ricas critica o PL 2.946/2015 que cerceia a participação da sociedade no Conselho “A mineração precisa de controle estatal. A Estadual de Política Ambiental (Copam) sociedade e a natureza exigem respeito!” Jaime Maia, via Google+ “Parabéns à incansável Dalce pela luta em defesa “São essas empresas que financiam as campanhas da vida! Texto muito coerente. Vamos compartilhar nas redes sociais para a sociedade entender de que políticas desses marginais engravatados. Por isso lado está o governo.” não querem regularizar nada.” Frederico Araújo Mesquita, via site Emerson Soares, via Google+ JAN/FEV DE 2016 | ECOLÓGICO l 09
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CARTA DO EDITOR
HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com
MINERAÇÃO E DESAMOR
À NATUREZA: ADEUS! A
cada nova entranha política e técnica, até mes- de maneira reverente e respeitosa. Olhar uma monmo de desamor à causa da educação ambien- tanha de ferro, pedir licença e agradecê-la, antes de tal que se disseca nos bastidores pós-tragédia explorá-la; e restitui-la depois, de maneira econoda Samarco, uma certeza vem à tona. Nunca mais os micamente viável, ecologicamente correta e socialmineiros e capixabas aceitarão conviver com o mode- mente mais justa. lo tradicional de mineração e suas perigosas e frágeis Mas, como sempre digo, nem tudo está perdido. A barragens de contenção de rejeitos perante a força mineração aprenderá, agora pela dor, e na parte mais descomunal da natureza. sensível, que é o bolso de seus acionistas, esse dever Essa é a verdade dos fatos que continua vindo à de casa que ela sempre negligenciou. tona, e vale repetir: fomos todos derrotados junto à Que ela sobreviva assim, tal como os representantes Samarco, na qual nos espelhávamos tanto, como mo- de 195 países se comprometeram ao final da COP-21, delo de mineração sustentável em Paris, sob a batuta do goa ser defendido e apoiado. Mas verno brasileiro, leia-se da nospodemos sair melhor, caso seja sa ministra do Meio Ambiente, “É nossa triste e ingênua aprendida a dura lição. Izabella Teixeira: salvarmo-nos ilusão acharmos que um Que lição é essa? todos do inferno do aquecimenQue o meio ambiente e a nato global, fruto da nossa ignoempresário da mineração tureza, enfim, que nos protegem rância e orgulho besta, por não poderia, um dia, agir e ameaçam, vide as mudanças sabermos ainda, nem termos idilicamente tal como os climáticas em curso, pouco ima humildade de aceitar, que o portam na pauta da mineração Criador de tudo que pulsa na nossos irmãos índios, tradicional, muito menos em Terra e no universo é melhor e no passado: explorar e seus organogramas e verbas. capaz do que nós. Nem que seja Acossados por seus acionistas com apenas 51% das ações, Ele viver da natureza, mas de que sempre querem mais e mais continua majoritário! maneira reverente lucros, e ainda só veem a quesÉ o que você também vai e respeitosa.” tão ambiental como despesa e conferir nesta edição da sua estorvo, os executivos das granEcológico, incluindo a comdes empresas de mineração prepanhia de Chico Buarque, na cisam produzir, produzir e produzir. E às suas barra- sabedoria de seus 71 anos, injusta e recentemente gens, idem: encher, encher, encher até se romperem hostilizado por patrulhas ideológicas no Rio de Jaem novas e anunciadas tragédias. neiro. Tal como a injustiça nossa com o Rio Doce. É disso, do desamor atávico e capitalista desse Boa leitura, enfim! setor à própria Mãe Natureza que lhe cede as suas Até a próxima lua cheia, nas águas de 23 de marmontanhas, vales e rios sem a justa contrapartida ço fechando o verão, quando acontecerá a soleniem termos compensatórios, que continuamos falan- dade de entrega do “VI Prêmio Hugo Werneck de do nesta edição. Da nossa triste e ingênua ilusão de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, adiado duas acharmos que um empresário da mineração poderia, vezes ano passado em solidariedade ao meio amum dia, agir idilicamente tal como os nossos irmãos biente agredido e às vítimas da tragédia de Mariaíndios, no passado: explorar e viver da natureza, mas na, que somos todos nós. 10 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
QUEM MATA A MATA, mata mais que a mata. preserve a รกgua
GENTE ECOLÓGICA
FOTO: TV GLOBO / ZÉ PAULO CARDEAL
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“Ninguém é suficientemente perfeito que não possa aprender com o outro. E ninguém é totalmente destituído de valores que não possa ensinar algo ao seu irmão.”
FOTO: JB ECOLÓGICO
SÃO FRANCISCO DE ASSIS
“O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.”
“O que me espiritualiza é estar na natureza, ficar em silêncio ou conviver com gente de verdade, que fala e age de verdade. Não preciso de templos, nem de rituais.” MAITÊ PROENÇA, atriz e escritora, em entrevista à Revista Caras
FOTO: DIVULGAÇÃO
MÁRIO QUINTANA (1906-1944), poeta e jornalista
“Amigos verdadeiros são aqueles que suportam a sua felicidade. Um inimigo jamais suportaria.” PADRE FÁBIO DE MELO 12 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
“A ciência trabalha com a natureza e com as pessoas. Ela tem tudo a ver com o dia a dia do cidadão, que vai viver melhor na medida em que fizer mais uso da ciência e da tecnologia.” EVALDO VILELA, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig)
ODED GRAJEW, idealizador do Fórum Social Mundial
VANDANA SHIVA, física e ambientalista indiana
FOTO: DIVULGAÇÃO
“O ser humano esqueceu que a água vem da chuva e a comida vem do solo. Passamos a acreditar que a água e o nosso alimento são produtos de uma corporação.”
PEDRO BORREGO Sensível à causa ambiental e em meio à crise internacional do setor, o executivo Pedro Borrego está de volta a Minas. Agora não mais como diretor de Sustentabilidade, Segurança e Recursos Humanos do Projeto Minas-Rio, do qual coordenou por sete anos. Ele retorna como presidente da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil da Anglo American. "Volto com o compromisso de realizar um trabalho comprometido com a geração de valor, dentro dos melhores padrões de segurança, ética e responsabilidade."
MINGUANDO
“Hoje, no Brasil, vejo todo mundo reclamando. Mas o que eu enxergo são as oportunidades. Aprendam, como eu aprendi, com os pequenos fracassos. É isso que vai salvar o Brasil.” JORGE PAULO LEMANN, empresário, considerado pela Revista Forbes como o mais rico do Brasil
MARCELO CASTRO Pegou mal a declaração do ministro da Saúde sobre os projetos de desenvolvimento da vacina contra a zika: "Vamos dar para as mulheres em período fértil. E vamos torcer para que, antes de entrar no período fértil, elas peguem a zika para ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí não precisa da vacina." Sem comentário. JAN/FEV DE 2016 | ECOLÓGICO 13
FOTO: FAME PICTURES
LEONARDO DICAPRIO O ator, ambientalista e Mensageiro da Paz da ONU anunciou durante participação no Fórum Econômico Mundial que irá doar US$ 15 milhões para projetos de proteção ambiental. Ele ainda criticou as grandes companhias de gás e petróleo por serem "gananciosas e contribuírem para as mudanças climáticas".
FOTO: DIVULGAÇÃO
FOTO: AUGUSTU BINU
FOTO: TV GLOBO / ZÉ PAULO CARDEAL
“Existe uma falta de sincronismo com as urgências, de repensar o modelo de desenvolvimento e o real compromisso, a visão dos governos do que tem de ser feito.”
CRESCENDO
ECONECTADO
CRISTIANE MENDONÇA
ECO LINKS
l “No mundo
conturbado em que vivemos, no meio de tanta notícia ruim, a gente precisa compensar com valores do bem.” @brunalombardi Bruna Lombardi, atriz
FOTO: DIVULGAÇÃO
TWITTANDO
l “Um mundo 100% movido por
l “Não há um só índio
entre 513 deputados e 81 senadores. Se a PEC 215 for aprovada, nunca mais haverá demarcação de terra no Brasil #PEC215Nao.” @silva_marina - Marina Silva, ex-senadora
FOTO: ROOSEWELT PINHEIRO / ABR
fontes renováveis de energia será ‘tecnicamente factível e economicamente viável’ em 2030.” @delcio_rodrigu - Delcio Rodrigues, pesquisador da Vitae Civilis
l “Descendentes precisam saber que
depende de nós. Se cada um de nós tentar, a próxima geração pode ver um mundo mais pacífico e mais feliz emergir.” @DalaiLama – Dalai Lama, líder religioso
l “A humildade também é essencial para mantermos a serenidade diante dos tropeços e retrocessos inevitáveis em qualquer processo de crescimento.” @Flavio_Gikovate - Flávio Gikovate, psquiatra
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FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE
l “Mudar o mundo
FOTO: VOA
história da África é tão bonita quanto a da Grécia.” @andrevallias - Andre Vallias, poeta
ONDE TEM FLORESTA? Você sabe quantos hectares de Mata Atlântica existem na sua cidade? E quais são as taxas de desmatamento registradas nos últimos anos? Pensando nessas questões a ONG SOS Mata Atlântica lançou o site “Aqui tem mata?”, uma página didática com informações ambientais preciosas sobre 3.429 municípios abrangidos pela lei que protege o bioma. O usuário acessa o site, digita CEP ou o nome da cidade, e a ferramenta disponibiliza informações como evolução do desmatamento naquela região, área de equivalência da mata em relação ao município e informa a bacia hidrográfica de que ele faz parte. Fácil, educativo e relevante! Acesse: www.aquitemmata.org.br RECICLAR É PRECISO O aplicativo “Rota da Reciclagem” existe há sete anos e facilita a vida de quem deseja dar uma destinação adequada para resíduos como embalagens longa vida, vidros, metais, papéis e plásticos. Basta você pode digitar no app seu CEP ou um objeto que deseja descartar e ele apresenta, por meio de mapa, quais são os pontos mais próximos para você fazer o descarte. Na sequência, são indicados pontos de entrega voluntária (PEV), cooperativas de catadores e qual percurso o usuário precisa fazer para chegar a esses locais. Disponível gratuitamente para download em celulares Android e IOS, a ferramenta também pode ser acessada pelo site www.rotadareciclagem.com.br. Enfim, acabaram-se as desculpas para não colaborar!
MAIS ACESSADA “E AGORA, MARIANA?” A matéria de capa da edição 86 foi a mais clicada no site da Ecológico no mês de dezembro passado. O texto apresenta a opinião de 21 especialistas das áreas ambiental, geológica e minerária sobre o rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG) e também conta a história e os prejuízos material e humano dos moradores da região. Para conferir a matéria na íntegra, acesse: www.revistaecologico.com.br
FOTO: DIVULGAÇÃO
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QUEM MATA A MATA, mata mais que a mata. seja sustentรกvel
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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br
OUTROS RETROCESSOS
NUNCA IMAGINADOS
ça. Elimina as três etapas do processo hoje vigentes (Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação). E retira dos órgãos ambientais a competência para paralisar empreendimento em caso de descumprimento de condicionantes. E, pasmem, o governo decidirá por decreto o que é “estratégico”. A justificativa é a de sempre – “são projetos fundamentais ao desenvolvimento do país”. Mas nem o senador e nem a presidência da República explicam o que tem a ver o desenvolvimento do país com degradação ambiental e exclusão da sociedade da gestão dos recursos naturais. Os interesses econômicos e políticos, verdadeira motivação do PL, ficam claros pelo fato de que inicialmente ele incluía a mineração como “estratégica”. A ruptura da barragem da Samarco, em novembro do ano passado, fez o senador e o governo recuarem, provavelmente devido à repercussão nacional e internacional do desastre. Mas, se for aprovado, a porta fica aberta para qualquer coisa. Limitar o licenciamento de atividades altamente impactantes sobre o meio ambiente natural e comunidades compromete, a priori, a possibilidade de estudos socioambientais bem-feitos que possam subsidiar a análise de viabilidade dos empreendimentos. Segundo o PL, o empreendedor poderá inclusive usar estudos antigos para comprovar outros que contemplem as quatro estações do ano. Retirar dos órgãos FOTO: CORPO DE BOMBEIROS / MG
A
história é um vaivém difícil de entender. O PT ganhou espaço no país alardeando, entre outras bandeiras, a democracia, o direito do “povo” de participar dos caminhos trilhados no país. Lenga-lenga, aliás, comum a outros partidos, até que consigam o poder. No entanto, o retrocesso da legislação ambiental que garante esse direito nunca foi tão grande. Aqui em Minas, ficamos assustados com a aprovação do PL 2.946 que, entre outras coisas, retirou o direito de a sociedade participar do licenciamento de projetos econômicos ou estruturais enquadrados nas classes 3 e 4 e a participação do Ministério Público na concessão de licenças. Com uma “canetada”, Fernando Pimentel livra o poder público e a iniciativa privada de dois incômodos. No âmbito federal, o Código Florestal, aprovado em 2012, foi outra demonstração. E agora o país pode assistir a outro retrocesso nunca antes imaginado. O Projeto de Lei 654/15, de autoria do senador Romero Jucá, apresentado ao Senado em novembro de 2015 quando ele ainda era líder do governo no Senado, e que já está pronto para ser votado em plenário, prevê que o licenciamento ambiental de grandes obras dos setores de transporte, energia e telecomunicações não mais serão sujeitos a audiências públicas. Determina prazo máximo de nove meses para concessão da licen-
BENTO RODRIGUES: retrocesso escancarado
“A ruptura da barragem da Samarco fez o senador Romero Jucá e o governo recuarem, provavelmente devido à repercussão nacional e internacional do desastre. Mas, se o PL 645/15 for aprovado, a porta fica aberta para qualquer coisa.”
ambientais a competência para embargar empreendimentos que não cumprirem condicionantes é torná-los decorativos e dar “cheque em branco” para empresas públicas e privadas. A exclusão das LP e LI previstas no PL transformará o licenciamento ambiental em um mero protocolo. A LP é fundamental para analisar a viabilidade ambiental de um projeto. Sua supressão instalará, na prática, o princípio de que qualquer empreendimento que o governo julgar estratégico, independentemente dos impactos sociais, econômicos e ambientais, será autorizado. Excluir audiências públicas era algo inimaginável. Além de ferir frontalmente a Constituição, traz de volta um dos princípios mais sagrados das ditaduras, largamente praticado pelos militares no Brasil: a sociedade não pode ter direito de questionar o que o governo decide. Se o PL for aprovado, comunidades atingidas por barragens, como no caso de Irapé, construída pela Cemig no Rio Jequitinhonha, que desalojou
dezenas de famílias, não teriam legalmente direito de discutir o assunto. Esta prática foi comum na ditadura militar, que implantou muitas vezes desastrados megaprojetos, entre eles, a represa de Itaipu, que “matou” as Sete Quedas do Iguaçu, a Rodovia Transamazônica, as usinas nucleares e o Projeto Jaíba. Em relação a este último, liminar da justiça conseguida pela Amda em 1988 obrigou a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco a solicitar licença ao Conselho de Política Ambiental (Copam). Romero Jucá poderia incluir em sua justificativa que a participação da sociedade é subversão, coisa “de comunista”, como diziam os militares. Assim, seria mais sincero em demonstrar sua aversão e a do governo à democracia.
(*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).
SOU ECOLÓGICO FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
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ALFEU TRANCOSO: agora retratista da beleza humana
ANGELA e Alfeu, companheiros de vida e amor: casal lunar
A ESCOLHA DO FILÓSOFO Por que é sempre é assim? Aos inimigos, tudo! E aos amigos queridos, companheiros de cruz e estrada... a gente vai deixando para depois. É o que aconteceu com o nosso articulista, filósofo e fotógrafo de natureza, Alfeu Trancoso. Desde outubro de 2015, ele não está mais conosco assinando a coluna “Conversamentos”. Mais sábio ainda, na altura hoje dos seus 72 anos, ele resolveu nos deixar para se dedicar totalmente à sua nova paixão: ser retratista, fazer retrato de gente, de tantos rostos que ele aprendeu a tornar mais belos, graças ao domínio da luz e aos enquadramentos naturais. Mesmo aposentado há mais de 20 anos, Alfeu continua dando aulas e encantando seus alunos como professor de Filosofia, Antropologia e Ética na PUC-MG. Vale lembrar que ele também ministrou educação ambiental para os nossos leitores desde a sua primeira coluna: “Reflexões no Cipó”, no então “Estado Ecológico”, suplemento que circulou em todas as luas cheias, durante nove anos, no jornal ESTADO DE MINAS. A gente se mudou para o JB Ecológico, no JORNAL DO BRASIL, onde também circulamos ao longo de outros nove anos. E o Alfeu continuou conosco, seja com suas fotografias ou falando sobre a natureza selvagem que se esconde e se protege mais bela ainda, distante do urbano e agressivo bicho homem. Discípulo de Hugo Werneck e sempre ao lado de sua mulher, a bióloga Angela Lutherbac, ele também é “bruxo” moderno e líder amoroso de uma geração de ambientalistas amigos que, a cada lua cheia, ainda costuma subir e “uivar” juntos na Serra do Cipó, atual Parque Nacional, que Alfeu ajudou a implantar com suas lentes e palavras de profundo alcance. Por fim, é dele também a famosa e romântica fotografia de uma lua cheia amparada sobre uma flor do campo (detalhe abaixo), que tanto embalou e ainda embala nossos sonhos de jogar luz e poesia no debate ambiental, diante da ignorância que insiste em nos manter nas trevas, vide a desamorosa tragédia de Mariana. Ao nosso mestre, com carinho, como Wando nos ensinou a cantar: "Você é luz, é raio, estrela e luar". SAIBA MAIS
18 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
facebook.com/AlfeuTrancoso
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PÁGINAS VERDES
FOTO: PAULO ARAÚJO / MMA
“PARIS FALA POR SI” Hiram Firmino
redacao@revistaecologico.com.br
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m meio à maior tragédia ambiental do Brasil – o rompimento da barragem de rejeitos de minério da Samarco, em novembro passado–, às reuniões com especialistas, técnicos ambientais e governadores, mais as quatro visitas à região de Mariana, a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira levou à “21a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP-21)” uma proposta ousada de redução das emissões de gases de efeito estufa (leia mais na página 27). Nesta entrevista exclusiva à Ecológico, Izabella adiantou algumas ações para atingir o compromisso assumido pelo Brasil perante outras 194 nações na capital francesa: “Temos que promover reflorestamento e restauração de florestas (12 milhões de hectares), recuperar pastagens e áreas degradadas e buscar uma matriz energética equilibrada entre renováveis e fósseis. Estamos falando de caminhos robustos para uma economia de baixo carbono, com novos instrumentos financeiros e tecnológicos.” E, claro, “acabar com o desmatamento ilegal até 2030”. Na contramão dos ambientalistas, ela afirmou que a meta traçada na COP-21 não é fraca, mas ambiciosa. “Negociar com tantos países não é trivial. E negociar buscando o consenso é mais complexo ainda. A ambição é definida como meta para o século.” Confira:
A senhora teve papel destacado na COP-21, reconhecido inclusive pela mídia internacional como uma das 12 autoridades que conseguiram desatar o nó desse acordo global histórico sobre o clima. Como recebe esses elogios? Recebo-os em nome do Brasil. Foi um trabalho de cinco anos, desde a Conferência de Durban, que não ficou restrito a mim e ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). Especialistas do governo federal de várias áreas (ministérios das Relações Exteriores; Ciência e Tecnologia; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; IZABELLA TEIXEIRA: “Não adianta pregar só para convertidos. Com a agenda ambiental, o Brasil pode crescer, incluir e proteger mais”
IZABELLA TEIXEIRA
FOTO: GREENPEACE
Ministra de Meio Ambiente
DURANTE A COP-21, ativistas do Greenpeace se reuniram no Arco do Triunfo, em Paris, e pintaram as ruas ao redor do monumento de amarelo para criar a imagem de um enorme sol brilhando. A tinta, à base de pigmentos não-poluentes, durou todo o período da conferência
Minas e Energia; e da Fazenda), cientistas brasileiros, empresários e lideranças socioambientais da sociedade civil estiveram diretamente engajados nesse processo. Enfim, muita gente do Brasil contribuiu de maneira competente e incisiva para o sucesso da COP-21. O Brasil apresentou uma proposta vanguardista de redução dos GEEs, com uma das INDCs mais ambiciosas. Estamos preparados para cumprir essas metas? A construção política das Intended Nationally Determined Contributions do Brasil – INDCs (em português, “Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas”) foi essencial para o protagonismo político do Brasil na COP-21. Não podemos ignorar que o país adotou uma trajetória voluntária ambiciosa pós-Copenhague, quando definiu a sua “Política Nacional sobre Mudança do Clima” em 2010 e possibilitou a maior redução de
emissões de gases de efeito estufa no mundo, por conta da queda consistente e constante do desmatamento na Amazônia. Teremos de fazer mais e melhor para implementarmos a INDC. Não é só fim do desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Aliás, o Brasil tem de reunir esforços para acabar com ele antes de 2030, referencialmente até 2020. Que tipo de reorientação de suas políticas nacionais o país deverá fazer a curto, médio e longo prazos para reduzir as emissões pretendidas? Temos que promover reflorestamento e restauração de florestas (12 milhões de hectares), recuperar pastagens e áreas degradadas e buscar uma matriz energética equilibrada entre renováveis e fósseis. Estamos falando de caminhos robustos para uma economia de baixo carbono, com novos instrumentos financeiros e tecnológicos. Temos que discutir e preparar o país nos próximos
FIQUE POR DENTRO A COP-21 foi um evento histórico. Pela primeira vez, quase todos os países do mundo assumiram compromissos efetivos para atenuar as mudanças climáticas e seus desvastadores efeitos sobre a vida na Terra. O Acordo de Paris foi aprovado por aclamação no dia 12 de dezembro passado por 195 países sensibilizados pelas projeções científicas de aumento entre dois e 50 metros no nível do mar, caso não mudemos a nossa trajetória atual. Dos 15 anos mais quentes da história, 2015 foi o que registrou as mais altas temperaturas médias.
quatro anos (até 2020) para as trajetórias possíveis (financiamento, tecnologias, infraestrutura de baixo carbono, por exemplo), os novos arranjos político-institucionais e a governança pública e privada para lidarmos com as questões sobre mudança do clima. É essencial prepararmos a
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“O Brasil tem que reunir esforços para acabar com o desmatamento ilegal antes de 2030, referencialmente até 2020.”
sociedade brasileira para lidar com o enfrentamento das mudanças climáticas. A sua gestão bateu sucessivos recordes de queda do desmatamento na Amazônia, com exceção do último ano, no qual as taxas voltaram a se elevar. Como enfrentar o problema daqui para frente, considerando nossos compromissos no âmbito do Acordo de Paris, de zerá-los até 2030, como a presidente Dilma anunciou e se comprometeu? Desmatamento ilegal é crime. Tem que acabar e quanto mais cedo melhor. O enfrentamento é diário. É preciso combater e trabalhar em parceria. Mas, isso não basta. Temos de criar as novas bases para a economia de baixo carbono. É importante que a biodiversidade seja reconhecida como um ativo da nossa sociedade e do nosso desenvolvimento. A regulamentação da Lei da Biodiversidade deverá oferecer novas bases para o desenvolvi22 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
mento da bioindústria no Brasil. Meio Ambiente, ciência e economia precisam andar juntos. E mais monitoramento de todos os biomas, não só a Amazônia (programa lançado em novembro de 2015), com a taxa de desmatamento para cada ecossistema. Eficiência na gestão ambiental pública. O Cadastro Ambiental Rural (CAR) implantado e a transparência nas autorizações de supressão de vegetação e de manejo florestal devem, em 2016,
“Nosso país teve relevante papel em trazer também para o contexto sobre temperatura, elementos sobre o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza.”
definir um novo escopo para a proteção ambiental. A produção sustentável e a implantação da taxa de restauração florestal também são bons instrumentos de políticas públicas. Temos de ir além da Amazônia. A proteção ambiental deve estar voltada para todos os biomas brasileiros. Há muito trabalho pela frente! A Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental considerou o acordo climático um documento ambicioso e fraco ao mesmo tempo. Ambicioso, porque se compromete com um limite entre 1,5oC e 2oC no aumento da temperatura global. Fraco, porque não traz compromissos que reflitam a meta. O que a senhora tem a dizer sobre isso? O Acordo de Paris é uma inovação no regime global sobre mudança do clima. É ambicioso porque envolve os países participantes em um único sistema de monitoramento e de acompanhamento global, com compromissos para todos eles. O que tínhamos antes
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PÁGINAS VERDES
IZABELLA TEIXEIRA
FOTO: GREENPEACE / RODRIGO BALÉIA
Ministra de Meio Ambiente
era o Protocolo de Quioto, com vários países desenvolvidos desembarcando do compromisso compulsório de redução de emissões. Paris determina que os esforços de todas as Partes representarão uma progressão com o passar do tempo, reconhecendo a necessidade de apoio às nações em desenvolvimento e incorpora a proposta brasileira sobre diferenciação entre países. Paris tem as diretrizes de não retrocesso (na ambição de cada país), de flexibilidade e de progressividade. Traz os novos caminhos com compromissos assumidos pelos países com as suas INDCs. Portanto, existem, sim, metas quantitativas nacionalmente determinadas que auxiliarão no cumprimento do objetivo sobre temperatura, o que sempre foi uma bandeira defendida pelo Brasil. Aliás, nosso país teve relevante papel em trazer também para o contexto sobre temperatura, elementos sobre o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza. O Acordo traz também o setor privado e a transparência quanto aos resultados a serem obtidos. Negociar com 195 países não é trivial. E negociar buscando o consenso é mais complexo ainda. A ambição é definida como meta para o século. As próximas COPs seguirão aprovando novas regras e aperfeiçoando os mecanismos para a implementação do Acordo de Paris, que se pauta por soluções e ações. E não mais por problemas e inação. E isso faz a diferença!
Qual foi a melhor decisão ou rumo da COP-21 que a deixou satisfeita e esperançosa; e a pior derrota, uma vez que não existe "plano B" para o planeta? A melhor decisão é ter progressividade, flexibilidade e não retrocesso como diretrizes para abordar a diferenciação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Não falo de derrota. Mas, seria importante um sinal político mais incisivo sobre as contribuições de
alguns países desenvolvidos e em desenvolvimento de redução de emissões até 2020. Ainda há uma lacuna sobre ambição no período pré-2020 a ser preenchida principalmente pelos países desenvolvidos, com destaque para o segundo período do Protocolo de Quioto. Precisamos ter estímulos para acelerarmos o enfrentamento da mudança do clima. Não podemos esperar 2020 para fazermos mais isso. Mas, continuarei a buscar isso nas próximas negociações.
A que a senhora atribui o fato de a posição defendida e liderada pelo Brasil ter tido mais divulgação na imprensa internacional do que aqui, onde também é inegável o inferno climático que vivemos no nosso cotidiano? Não há o que comentar sobre isso. Passei 2015 lendo na imprensa brasileira que o Brasil não tinha mais protagonismo na agenda global sobre mudança do clima. Paris fala por si, não? Considerada por muitos de seus companheiros ambientalistas como de temperamento forte, técnico e guerreiro, o que mais a move internamente para continuar à frente do MMA? A forte crença de que o meio ambiente é um ativo para o desenvolvimento do nosso país e a convicção de que o Brasil pode crescer, incluir e proteger. A sociedade brasileira exige isso cada vez mais. A agenda ambiental mudou muito desde 1984, quando comecei a trabalhar na antiga Secretaria Especial de Meio Ambiente com o Dr. Paulo Nogueira-Neto. Como servidora pública de carreira, como analista ambiental tenho de lutar para mostrar os novos caminhos políticos da questão. Não adianta pregar somente para os convertidos. Estamos construindo uma nova envergadura política do Ministério do Meio Ambiente. SAIBA MAIS
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CAMINHOS PARA UMA
ECONOMIA GLOBAL 21ª Conferência das Partes sobre Mudança Climática (COP-21) resulta em acordo global inédito para limitar o aumento da temperatura entre 1,5°C e 2°C acima dos níveis pré-industriais Dal Marcondes e Reinaldo Canto redacao@revistaecologico.com.br
ta de redução das emissões a partir de um pico em 2030. O presidente da conferência, Laurent Fabius, ministro de Negócios Estrangeiros da França, também foi pródigo em encontros bilaterais com os negociadores para ajudar a destravar o caminho do Acordo de Paris. Os primeiros rascunhos chegavam a mais de 100 artigos e um texto que mais parecia um tratado de detalhes do que um acordo capaz de encampar as aspirações e necessidades de todos os 195 países envolvidos. O texto final foi organizado em 29 artigos. A própria presença de Fabius à frente da organização e da direção da COP foi uma inovação, uma vez que a tradição
sempre apontou como responsável o ministro de meio ambiente do país anfitrião. Mas as duas semanas da COP-21 deixaram claro que não se tratou de um evento ambiental, mas, sim, uma reunião para desenhar o futuro da economia global. NOVA E DESCARBONIZADA O protagonismo das empresas é fundamental para a construção dessa nova economia descarbonizada. Isso ficou explícito pela participação de empresas globais de muitos setores e de suas representações organizadas. O Brasil levou a Paris a direção do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), BAN KI-MOON, secretáriogeral da ONU (ao centro), celebrou o acordo: "O planeta não tinha um plano B"
FOTO: IISD
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ela primeira vez em uma COP, os presidentes de algumas das nações mais poderosas do mundo se envolveram pessoalmente para obter os compromissos necessários para um acordo. François Hollande, presidente da França, apostou todas as fichas em encontros bilaterais com muitos dos 150 chefes de Estado que foram a Paris. Isso deu aos negociadores uma plataforma de diálogo consistente, pois já havia uma base negociada com seus líderes. Até mesmo o presidente Barack Obama gastou os dedos em telefonemas para aliados e para colegas relutantes, como o presidente chinês Xi Jinping, que acabou autorizando uma propos-
FOTO: PAULO DE ARAÚJO/MMA
da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e a Iniciativa Empresarial pelo Clima, além do tradicional Instituto Ethos. Para a maior parte dos empresários e executivos presentes, a participação das empresas nas conversas com os governos dos países onde atuam e durante a COP foi importante, porque as áreas que irão precisar de mais transformações estão justamente em cenários empresariais, como a geração e o uso de energias, meios de transportes de pessoas e cargas, produção industrial e o fomento a um agronegócio de baixo carbono. Para Marina Grossi, presidente do Cebds, a aproximação de temas como agricultura e florestas é estruturante em um país como o Brasil. “Temos um agronegócio forte e há muitas oportunidades em conduzir o setor para um modelo de produção de baixo carbono e de integração com os biomas naturais”, explicou. O mundo empresarial tem demonstrado o pragmatismo dos negócios, empresas globais, muitas delas presentes na COP de Paris, já incorporaram o horizonte de baixo carbono em seus cenários de presente e futuro. “Quando as empresas percebem uma tendência clara, redirecionam seus esforços para manter a competitividade”, explicou Ricardo Young, ex-presidente do Instituto Ethos e atual vereador em São Paulo. O mesmo tem acontecido com os grandes bancos brasileiros e globais, que terão uma responsabilidade importante na oferta de crédito para o setor privado nessa guinada para uma economia de menor impacto ambiental. Para Roberto Waack, coordenador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, não há soluções únicas para o avanço da descarbonização dos diversos setores da economia. “A diversidade
SUCESSO BRASILEIRO em Paris: o embaixador Luiz Alberto Figueiredo, a ministra Izabella Teixeira e o negociador-chefe da delegação, José Antonio Carvalho, foram reconhecidos até pelo presidente dos EUA, Barack Obama
de abordagens vai garantir enormes oportunidades para inovação e novos negócios”, explicou. PAPEL ATIVO Os representantes brasileiros na COP-21 tiveram um papel ativo na estruturação do Acordo de Paris. O embaixador Luiz Alberto Figueiredo e a ministra do meio Ambiente, Izabella Teixeira, foram reconhecidos em um telefonema do presidente norte-americano Barack Obama à presidente Dilma. Entre as contribuições importantes do Brasil está a adoção do modelo móvel de responsabilidade dos países pobres, que deverão assumir mais atribuições à medida que suas economias se fortaleçam. “É um acordo de longo prazo, é preciso haver mobilidade de metas e compromissos”, explicou Izabella. O Acordo de Paris não deve ser visto como um documento final, mas como um passo importante para dar início a uma transição econômica e a uma nova ordem no cenário multilateral. Para Carlos Rittl, do Ob-
servatório do Clima, “o acordo foi construído sobre compromissos voluntários em corte de emissões e financiamento. Tudo dependerá de se manter esse espírito de engajamento”. No encerramento da conferência, a brasileira Raquel Rosenberg, representante da organização Engajamento, falou em nome da juventude global sobre a importância do acordo para um futuro onde a economia será descarbonizada e as florestas estarão protegidas. Raquel lembrou que, desde a RIO-92, os países ricos não se moveram para ampliar o financiamento e a transferência de tecnologias limpas aos países pobres. E que agora isso não pode mais ser adiado. “Nesta geração, as mudanças climáticas saíram das projeções científicas para as tragédias dos eventos extremos”, disse a militante. E avisou: “Nós, jovens, estaremos acompanhando todos vocês em seus países”. SAIBA MAIS
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DEPOIMENTOS
FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE
SEM PLANO “B” “Como falou Barack Obama no seu inspirador discurso em Paris: nós somos a primeira geração a sentir as consequências das mudanças climáticas e a última geração que pode fazer algo para evitar que atinja níveis trágicos para a vida humana no planeta. É hora de agirmos rapidamente.” Virgílio Viana, superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS)
FOTO: JACKSON ROMANELLI-INFINITO
CAMINHO SINALIZADO
“Sendo assim, o que precisa ser feito para que o Acordo de Paris faça alguma diferença para a humanidade? A COP-21 sinaliza um caminho. Para segui-lo, é preciso realizar muito mais – e melhor – do que tem sido feito até agora. A quantidade de moléculas de CO2 na atmosfera já ultrapassou as 400 ppm (partes por milhão), indicador que confirmaria, segundo o IPCC, a progressão rápida da temperatura acima dos 2oC. A decisão mais urgente deveria ser a eliminação gradual dos US$ 700 bilhões anuais em subsídios para os combustíveis fósseis. Sem essa medida, como imaginar que a nossa atual dependência de petróleo, carvão e gás (75% da energia do mundo é suja) se modifique no curto prazo?”
ACORDO DECISIVO “Graças ao clima de compromisso prevalente na COP-21, ao contundente chamamento dos cientistas e ao peso político histórico dos anfitriões, foi anunciado um acordo decisivo, considerando os fracassos anteriores e os resultados efetivamente alcançados. Foi uma vitória da ciência sobre a política, ou melhor, da política
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FOTO: FERNANDA MANN
André Trigueiro, jornalista, escritor e ambientalista
agindo em sintonia com a ciência, pela primeira vez desde a RIO-92. Os interesses que gravitam em torno dos combustíveis fósseis e a estrutura política que os sustentam foram os grandes derrotados em Paris. Ainda que, embrionariamente, vamos iniciar um novo ciclo de energia limpa, deixando o petróleo em plano inferior. Para se ter uma ideia do que isso representa e para demonstrar como o celebrado Acordo de Paris continua descolado da situação mundial, basta citar que os subsídios ofertados à exploração, transformação e utilização dos combustíveis fósseis, com destaque para o petróleo, representam em torno de US$ 650 bilhões ao ano. Enquanto isso, as nações em desenvolvimento comemoram a ajuda anual de US$ 100 bilhões, seis vezes menor do que se gasta, atualmente, para sujar o planeta - como fez o Brasil subsidiando a gasolina, em detrimento do etanol. Registro o papel protagonista desempenhado pela ministra Izabella Teixeira nos eventos preparatórios e durante todo o transcurso da COP-21, dando uma contribuição decisiva para o sucesso do acordo. Veremos se um novo tempo está, de fato, começando.” José Carlos Carvalho, consultor e ex-ministro de Meio Ambiente CONSTRUÇÃO INTELIGENTE “Além da inteligência do processo preparatório, o sucesso das negociações deveu-se, também, à inversão do momento de participação dos chefes de Estado e de governo – do final para o início da cúpula – e à condução segura de Laurent Fabius, ministro de relações exteriores da França e presidente da COP-21. Fabius organizou, paralelamente à negociação oficial, uma série de consultas informais e, conduzindo as conversas com grande habilidade, assegurou um entendimento compartilhado. A metodologia “Indaba”, usada anteriormente em Durban (COP-17), foi uma das ferramentas aplicadas. Trata-se de uma tradição tribal de diálogo coletivo na qual cada parte é convidada a expor o que mais a incomoda ou que considera inaceitável, seguida de uma proposta de solução, o que permite avanços em que todos se sintam efetivamente representados.” WWF Brasil, em seu site oficial
AS PROPOSTAS DO BRASIL NA COP BIOENERGIA Aumentar a participação de bioenergia sustentável na matriz energética brasileira para aproximadamente 18% em 2030, expandindo o consumo de biocombustíveis; ampliando a oferta de etanol, inclusive por meio de aumento da parcela de biocombustíveis avançados (segunda geração); e majorando a parcela de biodiesel na mistura do diesel.
EXPANDIR a produção de energia eólica é um dos compromissos assumidos pelo país
SETOR FLORESTAL Fortalecer o cumprimento do Código Florestal, em âmbito federal, estadual e municipal. Fortalecer políticas e medidas com vistas a alcançar, na Amazônia brasileira, o desmatamento ilegal zero até 2030 e a compensação das emissões de gases de efeito estufa provenientes da supressão legal da vegetação até 2030.
Restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, para múltiplos usos.
Ampliar a escala de sistemas de georreferenciamento e rastreabilidade aplicáveis ao manejo de florestas nativas, com vistas a desestimular práticas ilegais e insustentáveis.
SETOR ENERGÉTICO Alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030. Expandir o uso de fontes renováveis, além da energia hídrica,
na matriz total de energia para uma participação de 28% a 33% até 2030. Expandir o uso doméstico de fontes de energia não fóssil, aumentando a parcela de energias renováveis (além da energia hídrica) no fornecimento de energia elétrica para ao menos 23% até 2030, inclusive pelo aumento da participação de energia eólica, biomassa e solar.
Alcançar 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico até 2030.
SETOR AGRÍCOLA Fortalecer o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC) como a principal estratégia para o desenvolvimento sustentável na agricultura, inclusive por meio da restauração adicional de 15
milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030 e pelo incremento de cinco milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-florestas (iLPF) até 2030. SETOR INDUSTRIAL Promover novos padrões de tecnologias limpas e ampliar medidas de eficiência energética e de infraestrutura de baixo carbono.
SETOR DE TRANSPORTES Promover medidas de eficiência, melhorias na infraestrutura de transportes e no transporte público em áreas urbanas. SAIBA MAIS
Para ler o texto na íntegra da Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (INDC, na sigla em inglês), acesse: http://goo.gl/HYeq2O
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O INFERNO JÁ COMEÇOU A CAPITAL federal já registra sua segunda maior temperatura: 35,1ºC
FOTO: DIVULGAÇÃO
De acordo com a ONU, 2015 foi o ano mais quente da história, por conta do aquecimento global, que já se sabe, é influenciado pelo homem. No Brasil, as altas temperaturas foram sentidas durante todo o ano. A cidade do Rio de Janeiro registrou 43ºC, com sensação térmica de 47ºC, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. A temperatura é a mais alta desde 1915, quando teve início a medição. Outras capitais também tiveram recordes, como Brasília (DF), que registrou a sua segunda maior temperatura da história, com 35,1ºC, e Manaus (AM), que atingiu 38,6ºC, maior registro desde 1925. Já Belém (PA) atingiu 38ºC, recorde de calor desde que se iniciaram as medições por lá em 1897.
CANTAREIRA: o fantasma do volume morto
3. ENCHENTES
2. FALTA DE ÁGUA
A crise da água no Sudeste não é mais novidade. Desde 2014 a queda na quantidade de chuvas já é realidade. Porém, a ação do homem na degradação da vegetação nativa no entorno dos rios e reservatórios, além da falta de investimento, contribuiu para potencializar a crise hídrica. Da mesma forma, essa redução das áreas naturais contribui para as alterações do clima, pois as vegetações nativas possuem papel fundamental na regulação do microclima, além de, quando são desmatadas, emitirem gases de efeito estufa. Apesar da redução do interesse desse assunto na mídia, os níveis nos reservatórios paulistas ainda são alarmantes. Segundo a companhia de água de São Paulo (Sabesp), o Sistema Cantareira, por exemplo, um dos mais importantes do estado, atingiu ano passado o nível de cerca de -10%, isto é, utilizando o chamado volume morto.
Se alguns estados sofrem com a escassez de água, o Sul do país foi atingido por chuvas devastadoras que causaram enchentes nos três estados. No Rio Grande do Sul, o lago Guaíba, que corta a capital gaúcha, atingiu números alarmantes nunca vistos, alagando diversos pontos da cidade. Em Santa Catarina, as perdas por conta das enchentes ultrapassaram os R$ 500 milhões, de acordo com a Defesa Civil. O Paraná registrou algo raro em 2015: vários tornados foram visualizados na cidade de Marechal Cândido Rondon em novembro, quando os ventos chegaram a 115 km/h. Com grande destruição, o prefeito da cidade decretou situação de emergência. Os eventos climáticos extremos são consequência direta das mudanças climáticas.
FOTO: PAULO PIRES
1. AUMENTO DA TEMPERATURA
FOTO: MARCELLO CASAL JR / ABR
Cinco evidências das mudanças climáticas no Brasil
LAGO GUAÍBA: cheia nunca vista antes
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CA
4. DESERTIFICAÇÃO
A falta de água que causa tantos transtornos para as pessoas também tem consequências enormes para a natureza. Com a alteração do clima e a redução na quantidade de chuva, o Brasil ampliou as regiões atingidas pela seca. No final de outubro, dados de satélite da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) mostraram que o Sudeste perdeu 56 trilhões de litros de água, na pior seca das últimas décadas na região. O Nordeste também perdeu 49 trilhões de litros. A falta de água no solo causa um processo chamado desertificação, no qual o ambiente vai se modificando até transformar-se em uma paisagem árida ou em um deserto propriamente dito.
5. EXTINÇÃO DE ESPÉCIES
Com essas mudanças na temperatura e ciclos de chuvas alterados, as biodiversidades mundial e brasileira sofrem cada vez mais. Segundo estudo publicado na revista Science, uma em cada seis espécies pode ser extinta por conta das mudanças climáticas, sendo que as regiões que devem sofrer mais são América do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Aqui no Brasil, especialistas calculam que metade das espécies de plantas da Amazônia pode desaparecer até 2050. Segundo eles, essa redução no número de árvores emite gases de efeito estufa, o que, por sua vez, alimenta as alterações do clima. É um ciclo vicioso.
FOTO: DIVULGAÇÃO
FOTO: LÉO NUNES
ÁREAS secas avançam no Nordeste
SEM EXPLICAÇÃO: em 2011, milhares de pássaros amanheceram mortos em diferentes regiões dos EUA
FONTES: André Ferrett, gerente de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza/Ecodebate/Colaboração de Maria Luiza Campos.
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CÉU DE BRASÍLIA
FOTO: (FÁBIO NASCIMENTO / GREENPEACE
ANÁLISE DO DESMATAMENTO
Os resultados dos Planos de Prevenção e Controle do Desmatamento Legal (PPCD) da Amazônia e do Cerrado, criados respectivamente em 2014 e 2010, começaram a ser analisados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em janeiro. A análise permitirá que o MMA construa novas estratégias de proteção aos biomas alinhadas aos compromissos assumidos pelo Brasil na COP-21.
BOLSA VERDE
AZEITE IRREGULAR
Em fiscalização feita em cinco estados brasileiros mais o Distrito Federal, o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) identificou irregularidades em 11 marcas de azeite, que tiveram a venda suspensa. No rótulo, constava a informação de que os produtos eram “extra virgens”, mas eram compostos por outros óleos comestíveis. Cada marca (conheça o resultado da fiscalização acessando o link http://goo.gl/WqgtNl) recebeu multa de R$ 5 mil mais acréscimo de 400% do valor comercial da mercadoria.
FOTO: ANGEL SIMON
O programa federal, que beneficia famílias rurais em situação de extrema pobreza, fechou o mês de dezembro de 2015 batendo um novo recorde: agora são 74.522 famílias cadastradas e atendidas, 1.522 a mais do que o previsto para o período. Essas famílias, que recebem a cada trimestre R$ 300 para desenvolver atividades de uso sustentável dos recursos naturais, vivem em 951 áreas localizadas em 69 Unidades de Conservação brasileiras.
BH TENTA TRICAMPEONATO
Duas vezes eleita “Capital Nacional” da Hora do Planeta, Belo Horizonte disputa pela terceira vez o título no “Desafio das Cidades” da ONG WWF Brasil. Considerada a capital solar do país, BH tem um milhão de metros cúbicos de painéis solares instalados. 30 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
FOTO: DIVULGAÇÃO
GERAÇÃO DE ENERGIA
A arrecadação da Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH) para geração de energia elétrica a municípios, estados e União, incluindo royalties, em 2015, chegou a R$ 2,4 bilhões. Foram distribuídos R$ 1,6 bilhão a título de CFURH e R$ 791,7 milhões em royalties do valor total. O montante recolhido foi arrecadado de 100 empresas pagadoras, responsáveis por 185 usinas hidrelétricas e 195 reservatórios.
O etanol tem um importante papel no cumprimento ĚĂƐ ŵĞƚĂƐ ĚĂ KW Ϯϭ ƉĂƌĂ ƌĞǀĞƌƚĞƌ Ă ŵƵĚĂŶĕĂ ĐůŝŵĄƟĐĂ
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Reduz em 90% as emissões dos gases do efeito estufa comparado a gasolina
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Contribuirá com a meta anunciada do governo de reduzir em 43% a emissão de gases do efeito estufa até 2030
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Necessidade de crescer de 30 bilhões de litros para ϱϬ ďŝůŚƁĞƐ Ă Įŵ ĚĞ ĂƚĞŶĚĞƌ Ă ŵĞƚĂ
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A energia da cana já representa mais de 16% da matriz ĞŶĞƌŐĠƟĐĂ ŶĂĐŝŽŶĂů
Eu uso etanol e você?
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ALMA PLANETÁRIA LEONARDO BOFF (*) www.leonardoboff.com
A NATUREZA
ESQUECIDA DA COP-21
A
“21ª Conferência das Partes sobre Mudança Climática” traz inegavelmente pontos positivos. Laurent Fabius, presidente da COP21, reafirmou que o “texto é diferenciado, justo, duradouro, dinâmico, equilibrado e juridicamente vinculante”. Muito bem. Mas isso não nos exime de fazermos algumas ponderações críticas, dada a gravidade do tema que afeta o futuro de todos. O primeiro ponto positivo foi a cooperação entre os 195 países participantes. Sua ausência foi lamentada na COP-15 de Copenhague, Dinamarca, por Nicholas Stern, assessor da rainha Elizabeth II em questões ecológicas, com estas palavras: “Nossa cultura não está habituada à cooperação, exceto em caso de guerra; de resto, impera a competição
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entre as nações. Enquanto perdurar este espírito nunca chegaremos a nenhuma convergência”. Agora ela ocorreu facilitada pelo reconhecimento de que não estamos indo ao encontro do aquecimento, já nos encontramos dentro dele. Ademais, “a mudança climática representa uma ameaça urgente e potencialmente irreversível para as sociedades humanas e para o planeta”. O segundo ponto positivo é a decisão de manter o aquecimento abaixo do teto de 2oC rumando até 2100 para 1,5oC como na era pré-industrial. O terceiro ponto positivo é a convergência na necessidade da adaptação e da mitigação a serem assumidas por todos os países, de forma diferenciada, consoante à participação de cada um na emissão de CO2.
“O que está em questão aqui não é o destino e o futuro da vida e da Terra ameaçados pelo caos climático, portanto, a ecologia. O centro do interesse é a economia sob o signo de um desenvolvimento sustentável.”
O quarto ponto positivo foi a decisão de os países ricos repassarem a partir de 2020 US$ 100 bilhões/ ano para os países menos apetrechados. Cabe, lateralmente, observar que essa quantia representa apenas 0,16% do Produto Interno Bruto (PIB) das 20 maiores economias mundiais. O quinto ponto positivo é a transferência de conhecimentos científicos e tecnológicos aos países carentes nesta área. O sexto ponto é a promoção de capacitação para os países mais necessitados a fim de implementarem a adaptação e a mitigação. O sétimo, o estabelecimento de “contribuições previstas e determinadas a nível nacional” por cada país para deixar clara a intenção de voluntariamente deter o avanço do aquecimento. E o oitavo ponto positivo é a criação de um organismo internacional dedicado a “perdas e danos” para compensar os países que serão mais afetados pelas mudanças climáticas. Não obstante a esses pontos positivos, cumpre fazer algumas ponderações impostergáveis. A primeira delas é o horizonte em que se elabora o enfrentamento ao aquecimento global, revelado no objetivo da Conferência: “Transformando nosso mundo: a agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável”. O que está em questão aqui não é o destino e o futuro da vida e da Terra ameaçados pelo caos climático, portanto, a ecologia. O centro do interesse é a economia sob o signo de um desenvolvimento sustentável. Essa opção se insere perfeitamente no mainstream atual no qual a macroeconomia mundialmente integrada define o rumo das políticas mundiais e nacionais. Importa enfatizar que o referido desenvolvimen-
to, na verdade, se trata de crescimento econômico material, medido pelo PIB mundial e nacional. Esse desenvolvimento/crescimento é notoriamente insustentável, como tem sido mostrado por economistas críticos e renomados ecologistas. Ele se funda em premissas falsas: o infinito dos recursos naturais e o infinito de desenvolvimento em direção do futuro. Essa infinitude é ilusória: os recursos não são infinitos porque a Terra é finita. E o desenvolvimento também não pode ser infinito porque um planeta finito não suporta um projeto infinito. Ademais, ele não é universalizável para todos. Mas o que causa verdadeira indignação e é inaceitável é o fato de que o texto em nenhuma vez cita o termo “natureza” (menciona “Terra” apenas uma única vez, no nº 140, ao se referir às culturas que chamam a Terra de “Mãe”). Tudo se concentra na economia e no projeto falido de um desenvolvimento (in)sustentável. A questão não é desenvolvimento e natureza, mas ser humano e natureza: relação não de exploração, mas de harmonização. O ser humano não se sente parte da natureza, respeitando seus ciclos, porém, o seu dono que pode explorá-la como quiser, sem medir as consequências para si e para as futuras gerações. Esse é o equívoco imperdoável da cosmologia rudimentar presente no texto. É esse antropocentrismo que subjaz à atual crise da Terra. Entendemos a reação imediata do maior especialista em aquecimento James Hansen, em entrevista ao jornal britânico The Guardian: o que a COP-21 propõe “é uma fraude, uma farsa”.
(*) Professor e teólogo.
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1 MARIANA? 2 E AGORA,
O PESADELO
CONTINUA C
omo pode o maior estado minerador do país, com mais de 180 milhões de toneladas de minério de ferro extraídas anualmente, e uma mineração até então considerada modelo em excelência, protagonizar a maior tragédia socioambiental brasileira? Três meses após o acidente, multas foram aplicadas e não pagas e as causas ainda não foram esclarecidas. Dando sequência à reflexão proposta pela Ecológico na edição anterior, sobre as lições a serem aprendidas pelo setor minerário, governos e sociedade a partir do rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco, em cinco de novembro passado, fomos a campo colher depoimentos de outros especialistas sobre o tema. Confira:
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FOTO: GUALTER NAVES
O DISTRITO de Paracatu de Baixo, próximo a Bento Rodrigues: história e natureza também soterradas pela lama
Relembrando a tragédia 55.000.000 m
3
02
17
??
desaparecidos
mortos
de rejeitos de minério lançados
1.469
hectares de florestas dizimados
120
nascentes soterradas
352
famílias desalojadas
11
toneladas de peixes mortos
800
pescadores e ribeirinhos prejudicados
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cidades de MG/ ES atingidas pela avalanche de lama
2 JAN/FEV DE 2016 | ECOLÓGICO 35
1 MARIANA? 2 E AGORA,
“Mais perguntas que respostas” O que dizer mais sobre a tragédia de Mariana? O que falar além, diante dos rostos desesperados de mães que perderam seus filhos? Crianças com a vida interrompida de modo profano? O que explicar diante de fatos, fotos e dados de uma devastação ambiental sem precedentes e que nos assusta? O que dizer? Por onde começar? Penso que o momento é de ação imediata para minimizar os efeitos agudos mais severos, mas, acima de tudo, de muita reflexão. É tempo de perguntas e não de respostas. Ruiu um equipamento intrínseco à atividade de mineração, legalizado, aprovado e reconhecido, e de uma empresa referência na agenda socioambiental. Por quê? Só através das perguntas pode se iniciar a busca pelo saber. Simplificar as perguntas com o objetivo de simplificar as respostas, exclusivamente para achar culpados, nos impele a rejeitar a responsabilidade e a oportunidade para a construção de um novo futuro. As perguntas certas para avançar e aprender deverão dar respostas para reflexão do papel do Estado. Deverão ainda orientar a Samarco no trato com o acontecido de modo a resgatar sua agenda de responsabilidade socioambiental. Que certamente não se reduz em termos de acordos bilionários, ou no pagamento de multas milionárias. Mas, na construção de soluções com muito diálogo, pleno de sabedoria e de humildade, dos que assumem suas responsabilidades, e com a grandeza, que lhe é peculiar,
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FOTO: ROBERTO STUCKERT FILHO
Patrícia Boson (*)
DILMA ROUSSEFF durante anúncio do Novo Marco da Mineração: onde ficará o meio ambiente nessa história?
dos que querem acertar. Soluções acolhedoras das justas demandas e consoladoras das perdas irreparáveis. Soluções de investimentos para mitigação e reparo ambiental e para inovação tecnológica, atrelando a importante atividade da mineração ao cenário do futuro. A consternação geral, entretanto, não é por uma empresa, mas pela mineração, e os seres humanos, que dependem dela, a querem, mas com maiores garantias de sustentabilidade. De modo que, empresas e empresários da mineração, juntamente com o poder público, devem aproveitar o
momento e refletir sobre o marco regulatório da atividade ora em discussão. Atentarem-se, a partir das respostas de tantos porquês, para a incorporação de novos regramentos. Regramentos estes que possam promover e incitar a adoção de soluções que deixem para o passado e para sempre tragédias, como essa, associadas à milenar e vital atividade da mineração que trazemos dentro e fora da gente, desde a Idade da Pedra.
(*) Secretária-executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da Fiemg.
FOTO: ROBERTO STUCKERT FILHO
”
ROBERTO DRUMMOND, em “O cheiro de Deus” (2001).
FOTO: FRED LOUREIRO / SECOM-ES
“Minas Gerais: amo em ti a contradição. És barroca em Ouro Preto, Tiradentes, Diamantina, Congonhas e Mariana, e moderna na Pampulha. Aqui, tu acendes o fogo, incendeias os corações. Ali tu és, Minas Gerais, a água na fervura, a água apagando o fogo. Tu és senão a cidade, és o passado e és o presente. És o Rio Doce e rios amargos, trágicos.”
2 NOV/DEZ JAN/FEV DE 2015 2016 | ECOLÓGICO 37 41
1 MARIANA? 2 E AGORA,
“A mineração não será mais a mesma” Lúcia Cardoso Paixão (*)
É inacreditável que um acidente dessa magnitude possa ter acontecido, em pleno século XXI, com a empresa que era considerada “excelência” em mineração no Brasil. Que nasceu sob a “estirpe da sustentabilidade”, por processar e dar um fim econômico, social e até mesmo ambiental ao itabirito. Esse minério de ferro de baixo teor anteriormente era disposto em pilhas rudimentares, aguardando destinação final e proporcionando maior longevidade às jazidas de minério de ferro com teor adequado de hematita para processamento direto em altos-fornos. A Samarco atingiu, com este acidente, cenários catastróficos em estudos de análise de risco, levando a destruição não só de vidas humanas e de ecossistemas inteiros. Mas também de histórias, patrimônios culturais, áreas de lazer, locais de trabalho, fontes de renda, sonhos e, o que é pior, a credibilidade tão demorada e arduamente conquistada pelo setor. Agora, após três meses, ainda pairam no ar as perguntas sobre as causas do acidente, os erros cometidos e, principalmente, os resultados dos estudos e análises realizadas, das variáveis de controle e de monitoramento definidas. Será que, em nenhum momento, eles não indicaram que havia grave e iminente risco de rompimento dessa barragem? Em sistemas de contenção de rejeitos minerários como o de 38 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
“O trato com a questão ambiental sempre foi um erro histórico do setor.” Fundão, os dados de projeto devem ser criteriosamente seguidos. Dispositivos de controle e de monitoramento ambiental, utilizando tecnologias de ponta, também. Houve negligência e inércia na operação e no controle dessa barragem de rejeitos, que trouxeram consequências sem precedentes na história da mineração brasileira. Nenhum sistema de contenção de rejeitos se rompe de um dia para outro sem ter dado algum indício prévio. O trato com a questão ambiental sempre foi um erro histórico do setor. Mas houve uma grande evolução: foram criadas legislações ambientais rigorosíssimas e, além de outras ações, desenvolvidos estudos, levantamentos e simulações capazes de detectar pontos potenciais de impacto ambiental, dando base para a implantação e operação de uma atividade “potencialmente poluidora” cada vez mais amigável com o meio ambiente. E as empresas de mineração acompanharam esta evolução, como foi o caso da Samarco: atravessou várias fases até chegar ao estágio de empresa “responsável
com o meio ambiente”, como colocava, orgulhosamente, em seus anúncios e publicações. As notícias sobre o acidente continuam presentes em todos os jornais, redes sociais e emissoras de TV, atingindo projeções internacionais. Observam-se, curiosamente, os promotores públicos discutindo e noticiando aspectos técnicos de barragem de rejeitos, tirando conclusões e emitindo multas das mais elevadas cifras, com riscos de inviabilizar a continuidade operacional da empresa e agravar, ainda mais, as consequências desastrosas desse acidente. Observam-se também, principalmente nos noticiários da TV, informações distorcidas, com erros técnicos e o aparecimento de aproveitadores e de pessoas de má fé que opinam sem conhecimento. Lembro-me de uma reportagem publicada na Revista JB Ecológico, do Jornal do Brasil, com a Dra. Maria Amélia Henriques (atual secretária-adjunta da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia – SEDEME – do Pará), cujo título foi: “Mineração: maldição ou dádiva?”. Sob o olhar atual, de decepção, de susto e de angústia com relação ao que ocorreu em Mariana, a resposta imediata para a pergunta da matéria seria maldição. Porém, analisando todo um contexto de desenvolvimento não só do município de Mariana, mas de todos
(*) Engenheira metalúrgica, especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho, e em Avaliação, Perícia e Auditoria Ambiental, mestre em Ciências Ambientais e ex-assistente da gerência da Ponta de Ubu para Assuntos de Meio Ambiente da Samarco.
FOTO: ANTÔNIO CRUZ / AGÊNCIA BRASIL
sob a influência da Samarco e de seus minerodutos, até chegar a Anchieta (ES), na Ponta de Ubu, prefiro ainda afirmar que a mineração é uma dádiva! O que falta são políticas públicas bem definidas e governança ambiental. Pois, como diz o economista norte-americano Joseph E. Stiglitz, “a maldição dos recursos naturais não é destino. É escolha”. O acidente ambiental de Mariana, infelizmente, já aconteceu. Não há como voltar no tempo. Agora, é necessário fazer a escolha de se considerar a mineração como uma dádiva, analisando e definindo ações efetivas e específicas de controle e de mitigação de danos, que possam minimizar o tempo de recuperação da degradação ambiental, ora em curso. As ações imediatas de apoio às famílias lesadas e penalizadas diretamente e fortemente pela tragédia ocorrida, até onde acompanhei, foram e estão sendo tomadas pela mineradora. Demais ações precisam ser devidamente planejadas, para que não haja despesas e gastos desnecessários e sem resultados efetivos. Não há mais tempo para isso. Acredito que, depois dessa tragédia, a mineração no Brasil não será a mesma. Aos empreendedores é importante direcionar as energias para a continuidade de estudos capazes de dar uma destinação econômica aos resíduos de processo armazenados em bacias de rejeitos (que nada mais são do que futuras jazidas de minerais) ou para eliminar, definitivamente, a utilização de barragens como as atuais em uso.
“A maldição ou dádiva dos recursos naturais não é destino. É escolha.”
BARRAGEM de Germano, da Samarco, em Mariana (MG): destinação econômica ou eliminação de rejeitos?
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1 MARIANA? 2 FOTO: VICTOR MORIYAMA / GREENPEACE
E AGORA,
“INGERÊNCIA política e a pressão do poder econômico falam mais alto no processo de licenciamento ambiental.”
Descaso com os riscos Carlos Eduardo Ferreira Pinto (*)
A Samarco Mineração, na sua história recente, foi homenageada com prêmios por sua suposta excelência em sustentabilidade ambiental, assim como conseguiu angariar selos que certificam a qualidade da gestão ambiental. Os prêmios e selos ambientais cumprem a importante função de atrair investimentos para as empresas e para os Estados e fazem um marketing positivo diante da sociedade. As instituições não podem, porém, iludidas pelo prestígio público, desatentar para o fato de que a questão ambiental é sempre urgente e prioritária, principalmente quando se está diante de empreendimentos de alto risco. A catástrofe ambiental prota-
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gonizada pela Samarco deita as suas raízes em ações e omissões que datam de muitos anos antes e foram se acumulando no tempo. Foi a negligência reiterada da empresa e das instituições públicas que provocaram o colapso da barragem. O colapso foi só estopim de inúmeros erros e ilegalidades anteriores. O que se vê é que as empresas muitas vezes não têm o compromisso de trazer informação qualificada ao processo de licenciamento ambiental, que é visto como mera etapa burocrática. No caso da Barragem de Fundão, o licenciamento, como tenho dito, é uma “colcha de retalhos”, eivado de inconsistências, omissões e graves equívocos. Sem dados
verídicos e completos, fica impossível se realizar uma avaliação rigorosa dos riscos ambientais trazidos pelo empreendimento e a fiscalização fica completamente maculada de vícios. Vê-se, ainda hoje, que a ingerência política e a pressão do poder econômico falam mais alto no processo de licenciamento ambiental e na fiscalização dos empreendimentos do que os problemas ambientais identificados. Desse jeito, não só Minas Gerais, mas o Brasil inteiro, torna-se celeiro propício a desastres ambientais como o que ocorreu em Mariana. Enquanto a Samarco obtinha selos e prêmios pelos seus projetos de sustentabilidade, a produção da empresa vinha aumentando
e, portanto, a produção de rejeito. A barragem vinha sofrendo alteamentos, otimizações, e várias obras que alteravam a sua concepção original. Qual dessas premiações avaliou a política de prevenção de desastres ambientais da empresa? Qual desses prêmios levou em consideração a segurança do empreendimento? A higidez do licenciamento ambiental foi considerada? Qual prêmio ou certificação foi até Bento Rodrigues? O que a catástrofe ambiental nos mostra é que as instituições e os governos agem com indiscutível descaso em relação aos riscos trazidos pelos empreendimentos. No caso do rompimento da Barragem de Fundão, a catástrofe já vinha sendo anunciada desde 2013, quando laudo técnico constatou trincas na estrutura. Mesmo assim, não se viu a Samarco preparar
“No caso do rompimento da Barragem de Fundão, a catástrofe já vinha sendo anunciada desde 2013, quando laudo técnico constatou trincas na estrutura.” um estudo de ruptura adequado ou um Plano de Ações Emergenciais que pudesse minimizar os impactos às populações envolvidas. Por incrível que pareça, contou-se com a sorte. A ética e a responsabilidade socioambiental das empresas que atuam no país precisa mudar com urgência. Assim como
política ambiental precisa de enormes reformas. Não basta só parecer sustentável. Cada vez mais, o licenciamento ambiental vem sendo fragilizado, deixando de cumprir seu papel para se tornar instrumento cartorário e arrecadatório, sendo oposto como uma salvaguarda absoluta para toda a sorte de empreendimentos em detrimento de uma real segurança ambiental e social. Como se viu, estamos todos expostos ao risco de acidentes ambientais decorrentes de atividades antrópicas “regulares”. Autorizações ambientais não são garantia de segurança ou sustentabilidade, como muitos querem crer. (*) Promotor e coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Meio Ambiente de Minas Gerais (Caoma).
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1 MARIANA? 2 FOTO: FRED LOUREIRO / SECOM ES
E AGORA,
Mais de 300 mil pessoas ficaram sem água potável depois que a lama chegou ao Rio Doce e ao mar
“O desastre de Mariana não pode ser esquecido!” Izabella Teixeira (*)
A tragédia de Mariana foi o maior desastre ambiental do país. Estive na região três vezes em 2015 e retornei em janeiro deste ano. Aliás, assim que voltei de Paris fui ao Espírito Santo e a Aimorés (MG). Fiquei muito impressionada com o que eu vi em Regência, com a população ainda sem assistência e reclamando muito da empresa. Por outro lado, tive esperança quando vi o que acontece com a recuperação de nascentes em propriedades rurais nos dois estados e a restauração da Mata Atlântica por conta do trabalho desenvolvido pelo Instituto Terra, do fotógrafo Sebastião Salgado. Vale lembrar que o desastre ainda está “vivo” do ponto de vista ambiental. Temos o período de chuvas e a
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lama continua no Rio Doce e nos ecossistemas estuarinos e costeiros. O MMA e suas entidades vinculadas (ANA, IBAMA e ICMBIO) estão envolvidas desde o dia cinco de novembro passado, quando a tragédia aconteceu. E seguimos trabalhando. Temos cinco frentes de trabalho: a primeira é de monitoramento do Rio Doce e das demais áreas afetadas e de apoio técnico direto aos governos de Minas Gerais e Espírito Santo para a avaliação dos impactos que ainda acontecem por conta do ocorrido. A segunda envolve o trabalho de laudos técnicos, fiscalização e de trabalho coordenado entre as instituições ambientais federais. É preciso coordenar informações e montarmos uma avaliação geral
dos impactos e dos danos ambientais. Observo, por exemplo, que os laudos técnicos do Ibama são base para a ação civil pública movida pela União e pelos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais contra a Samarco no valor de R$ 20 bilhões. E que o Ibama aplicou, até o momento, multas no valor de R$ 250 milhões (valor máximo previsto na legislação, sem reajuste há 17 anos pelo Congresso). A terceira é de natureza jurídica, juntamente com a Advocacia Geral da União e com as Procuradorias-Gerais dos Estados de Minas e Espírito Santo. A quarta linha de trabalho envolve a mobilização de grupos de especialistas (por exemplo, ICMBIO, com pesquisadores em fauna, e o pessoal do projeto Tamar) com vistas à recuperação da Bacia e
FOTO: FRED LOUREIRO / SECOM ES
dos ecossistemas marinhos e costeiros. E a quinta é de natureza político-institucional, com a participação no Comitê Intergovernamental criado pela presidente Dilma que busca a ação coordenada entre a União e os estados de Minas e do Espírito Santo. Cabe lembrar, ainda, que a legislação ambiental no Brasil define que a recuperação de dano e de degradação ambiental é de responsabilidade do agente causador. A Bacia do Rio Doce tem que ser recuperada. Estamos trabalhando em parceria com os governos dos dois estados para viabilizar isso. O desastre de Mariana não pode ser esquecido! Os responsáveis devem ser identificados e punidos, como prevê a legislação ambiental no Brasil. As causas devem ser esclarecidas com transparência. Na esfera do MMA, estamos trabalhando para termos uma estratégia de recuperação
“Os responsáveis devem ser identificados e punidos, como prevê a legislação ambiental no Brasil.” ambiental da Bacia do Rio Doce. O que a população mineira e capixaba, a natureza degradada na Bacia do Rio Doce e a mineração em busca de se reerguer de maneira sustentável, a partir de um novo e mais seguro modelo de tratamento e aproveitamento de seus resíduos, podem esperar do governo brasileiro, através do MMA? Dois caminhos: primeiro, a recuperação ambiental do Rio Doce, com base em um modelo participa-
tivo e inovador do ponto de vista de execução, monitoramento e avaliação (independente) por parte da sociedade. Os recursos para isso virão da Ação Civil Pública movida pelo governo federal com os estados de Minas e do Espírito Santo contra a Samarco, a Vale e a BHP. E, segundo, um amplo debate para o aperfeiçoamento da gestão ambiental pública e privada. Todos os questionamentos que a sociedade brasileira está fazendo sobre o acidente devem ser respondidos. Só com essas respostas é que poderemos avaliar o que precisa ser mudado, aperfeiçoado ou refeito na legislação e na gestão ambiental em nosso país. E esse é um trabalho de todos. No MMA, queremos respostas e soluções. (*) Ministra de Meio Ambiente.
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1 MARIANA? 2 E AGORA,
“QUE ESSA LAMA desperte em todos nós o desejo de limpar nossos corações e almas de toda ganância, de todo egoísmo e amor ao dinheiro.”
“Vejo um futuro melhor” Duarte Júnior (*)
Com muita dor estou aqui hoje, na COP-21, representando a primeira capital do estado de Minas Gerais. Cidade com uma história e arquitetura digna de ser respeitada e reconhecida como “Patrimônio da Humanidade”, algo que injustamente ainda não foi feito pela Unesco. Uma história que produziu riquezas não só para Mariana, mas para toda a humanidade. De 1800
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a 1850, metade do ouro que era destinado para a Europa saiu de Mariana. E hoje, o nosso minério de ferro cobre o mundo. Com todo respeito e temor a Deus, tenho consciência de que sou a voz do pai da Emanuele, que foi literalmente arrancada dos braços dele por uma onda de lama. No meu coração grita a voz dessa criança, que teve seu passado, presente e futuro engolidos por
essa lama que seria apenas de rejeitos de minério de ferro. Mas se tornou uma lama carregada de dor, tristeza e incerteza. Essa lama apagou a comunidade de Bento Rodrigues do mapa, mas não de nossos corações. Que essa lama desperte em todos nós o desejo de limpar nossos corações e almas de toda ganância, de todo egoísmo e amor ao dinheiro, que não nos deixa ver o
FOTOS: VICTOR MORIYAMA / GREENPEACE
futuro. Escolho essa criança para simbolizar todas as vítimas, pois na morte de uma criança morre todo um futuro. Não podemos mais ver nosso planeta morrer sufocado pelo aquecimento global, sendo corroído pelo câncer do desmatamento, gemendo pelos coágulos das barragens e aceitar passivamente um planeta doente. A lama que tem invadido a humanidade não é apenas a da mineradora Samarco. É a do consumismo desenfreado e desequilibrado. Somos todos responsáveis pela exploração em grande escala do minério de ferro, do petróleo, das madeiras encontradas cada vez em menor número na Floresta Amazônica do nosso amado país, o Brasil. Como fala o próprio Deus através do apóstolo Paulo, na carta aos Romanos: “A Criação geme com dores de parto”. Não podemos ignorar todo o meio ambiente olhando somente para o conforto de nossos ambientes particulares. Nós, marianenses, sabemos melhor que ninguém como é importante e bom ser rico em recursos naturais! Somos gratos a Deus pelos recursos naturais, e reconhecemos a importância da mineração. Sabemos dos benefícios na economia e na qualidade de vida. Não sou contra a mineração e nem contra empresas mineradoras. Sou contra o desequilíbrio, sou contra a má distribuição dos lucros, sou contra viver o presente matando o futuro, sou contra a ganância. Nada sem equilíbrio permanece em pé. Precisamos urgentemente nos equilibrarmos com o meio ambiente. Tornamo-nos literalmente pesados para natureza, e ela não está suportando mais. Temos que pensar e agir como pessoas movidas por sabedoria, e não por instinto. Hoje
“Não podemos mais ver nosso planeta morrer sufocado pelo aquecimento global, sendo corroído pelo câncer do desmatamento, gemendo pelos coágulos das barragens e aceitar passivamente um planeta doente.” sou a voz das vítimas, voz de uma cidade dependente da mineração, voz de uma cidade que acordou em favor do meio ambiente. Aprendi que, às vezes quando tudo dá errado, acontecem coisas maravilhosas que jamais aconteceriam se tudo tivesse dado certo. Com essa visão, quero em meio a toda essa lama que matou pessoas, peixes, tartarugas marinhas, aves, plantas e rios; em meio a toda essa morte, quero enxergar vida, ver uma nova forma de fazer barragens, de se reciclar o rejeito, uma forma de diversificar a economia, de se viver o presente sem esquecer o futuro. Nossa intenção agora é buscar parceiros que queiram ir para a primeira cidade das Minas Gerais. Parceiros que amam o meio ambiente. Empresas que queiram ajudar a cidade a ser um exemplo para o mundo
em desenvolvimento sustentável! Como uma águia que vê lá na frente e que olha por cima das nuvens, vejo um belo horizonte. Olho e vejo um novo Bento Rodrigues, uma nova Paracatu de Baixo, uma nova Mariana com amor e respeito pelo meio ambiente. Vejo um planeta bem melhor! É nosso dever defender e preservar a natureza, criado e entregue por Deus para desfrute e uso comum de todos os seres vivos! Quero agradecer a Deus por ter nos dado força nos momentos mais difíceis, a cada pessoa que nos ajudou de alguma forma. E também ao povo marianense pelo exemplo de garra e hombridade! Deus abençoe a todos! (*) Prefeito de Mariana. Trechos de seu discurso na “21ª Conferência das Partes Sobre Mudança Climática (COP-21)”, em dezembro passado, na capital francesa.
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1 MARIANA? 2 A COLETA das espécies de peixes bioindicadoras foi feita com envolvimento da academia e colônia de pescadores
Um ‘peixe guia’ para os Rios Doces Instituto Aplysia e Governo do Espírito Santo lançam guia inédito que pode contribuir para o planejamento da recuperação e monitoramento dos recursos hídricos
O GUIA inédito
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O Brasil já tem o seu primeiro “Guia Técnico de Monitoramento dos Efeitos Ambientais em Corpos Hídricos”. Trata-se de uma ferramenta criada no Canadá, mas inédita em nosso país, fruto de 16 anos de pesquisa. Ela foi lançada no apagar das luzes de 2015 pelo Instituto Aplysia no Palácio do Governo do Espírito Santo e traz artigos científicos baseados em pesquisas-piloto feitas em três rios capixabas estratégicos para o abastecimento da região metropolitana de Vitória (ES). O guia chega em um dos momentos ambientais mais delicados já vivido pelo ecossistema aquático brasileiro: a tragédia do Rio Doce provocada pelo rompimento da barragem da Samarco
em Mariana (MG). De acordo com a presidente do Instituto Aplysia, Tatiana Furley, especialmente nesse momento, o modelo se torna ainda mais adequado para adoção. “A ferramenta utiliza justamente a experiência do Canadá com os impactos provocados pela mineração nos recursos hídricos e pode auxiliar no acompanhamento da revitalização do Rio Doce.” Ao contrário do sistema brasileiro, em que as regulamentações federais que preveem o uso do monitoramento ambiental não padronizam os métodos utilizados pelos órgãos de controle para fiscalizar a descarga de resíduos nos rios, nem priorizam o impacto causado nas espécies atingidas, países como Estados Unidos, Sué-
FOTO: JOARLEY RODRIGUES
E AGORA,
FOTO: THIAGO GUIMARÃES
DENTRO
1º guia de monitoramento de recursos hídricos do Brasil. 28 envolvidos, sendo três pastas do Governo do ES (Cesan, Iema e Sectti). Quatro segmentos envolvidos: governo, academia, sociedade, empresa; instituições de dois países. Três estuários capixabas avaliados. O documento foi desenvolvido com base em 16 anos de pesquisas e estudos. O modelo foi baseado no Environmental Effects Monitoring (EEM), instrumento desenvolvido pela Agência Ambiental Canadense (Environment Monitoring) e pelo Canadian Rivers Institute, que existe há 23 anos.
cia, Austrália, Argentina e Chile já adotaram no sistema essa mesma metodologia do guia recentemente lançado no ES. Representando o governo canadense, o cientista Mark Ervin McMaster, especialista em estudos dos efeitos na saúde dos peixes, explica que o programa foi implantado há 25 anos no Canadá
O GOVERNADOR do Espírito Santo, Paulo Hartung, fez questão de lançar o guia no Palácio e irá levá-lo ao conhecimento da presidente Dilma Rousseff
e já está plenamente inserido no monitoramento de efluentes da indústria de celulose e de mineração do país. “Estamos em discussões para aplicar a ferramenta para acompanhar os impactos do esgoto doméstico e para controle de óleo de petróleo. Toda a análise fundamentada na saúde dos peixes. E FOTO: LEONARDO MERCON
FOTO: JOARLEY RODRIGUES
FIQUE POR
AS ANÁLISES também apontaram que os três estuários pesquisados no projetopiloto têm concentrações de compostos químicos típicos de esgoto doméstico
não importa o fator de estresse, ou a indústria que está causando transtorno, nós conseguimos monitorar pelo programa”, afirma McMaster. O documento desenvolvido no Brasil estabelece medições mais aprofundadas dos ecossistemas aquáticos, permite avaliar melhor se as regulações de proteção da vida marinha aplicadas na região são suficientes e padroniza a avaliação do impacto. De forma mais objetiva auxilia, ainda, no enquadramento e na recuperação de rios. Também pode contribuir, por exemplo, no mapeamento de ambientes hídricos que precisam de recuperação prioritária quando contaminados. PEIXE GUIA O projeto-piloto que utilizou o método do guia, avaliado no estuário de três rios capixabas localizados nos municípios de Anchieta, Vitória e Vila Velha, foi chamado de “Peixe Guia”. “Talvez não por coincidência, o Peixe Guia pode ser uma ferramenta de grande utilidade para
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1 MARIANA? 2 FOTO: DIVULGAÇÃO
E AGORA,
AS ANÁLISES padronizadas ajudam a agilizar pesquisas de qualidade da água e da vida em cada rio, e cria um histórico e indicadores comparativos
os Planos de Recuperação do Rio Doce, já que a saúde de qualquer rio é melhor avaliada pelos seus peixes. São várias as condições e estados de degradação ao longo da calha. E o peixe local é quem vai indicar, de fato e de direito, sobre a qualidade das águas para cada trecho, porque ele é de relevância social, cultural, ambiental e econômica. Que o digam os pescadores de cada lugarejo ao longo do Rio Doce”, completa o diretor de Relações Institucionais do instituto, Robson Melo. Para Tatiana Furley, o primeiro grande desafio desse estudo foi encontrar espécies de peixes que pudessem ser utilizadas como indicadoras ambientais e atendessem aos pré-requisitos. As espécies bagre-amarelo (Genidens genidens), cangóa (Ophioscion punctatissimus) e moreia (Eleotris pisonis) foram as escolhidas. Os resultados apontaram que entre os três rios capixabas, o estuário do rio Benevente esteve em melhores condições ambientais. Nele foram encontrados contami-
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O guia vai ajudar na padronização de metodologias para monitoramento dos rios brasileiros nantes químicos típicos de esgotos domésticos, entretanto, a saúde dos peixes e dos organismos bentônicos estão normais. O estuário do Jucu apresentou as maiores concentrações de compostos químicos e estes foram típicos de esgoto doméstico. Os peixes apresentaram alterações no fígado e a densidade de organismos bentônicos foi extremamente baixa, chegando a ausente em determinados pontos, indicando efeito ambiental. O rio Santa Maria da Vitória teve ampla variação da salinidade ao longo do projeto. Com o aumento da entrada da água salgada, maior diluição dos contaminantes ocorreu, mas mesmo assim ainda foram observados efeitos na comunidade bentônica, que serve de
alimento para os peixes. “Esses resultados podem orientar ações de recuperação e até mesmo ajudar na elaboração dos planos de bacia. E como as pesquisas seguem um padrão, teremos como acompanhar a evolução desses rios e da vida das espécies que habitam cada um desses estuários”, comemora Furley. Impressionado com a capacidade técnica do projeto, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, revela que vai levar o documento ao conhecimento do Governo Federal. “O objetivo é contribuir e propor uma padronização com essa metodologia de excelente qualidade para enfrentarmos um desafio que, atualmente, é de todos na criação de relação sustentável dos seres humanos com os recursos naturais e, particularmente, com os recursos hídricos”, salienta o governador.
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1 ENSAIO ARTÍSTICO
LEMBRANÇA TRISTE A Ecológico rememora, a seguir, o protesto artístico de Leo Santana, o escultor de Drummond, na praia de Copacabana (RJ), em resposta ao rompimento da barragem da mineradora Rio Verde na região de Nova Lima há quase 15 anos
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FOTO: LÉO SANTANA
inte e dois de junho de 2001. Eram 17h da tarde quando a barragem de rejeitos da mineradora Rio Verde, em São Sebastião das Águas Claras, Nova Lima (MG), se rompeu. Toneladas de lama desceram floresta abaixo matando cinco profissionais da empresa e interditando a principal via de acesso ao povoado. Quarenta e três hectares de mata atlântica foram devastados, e com eles, a biodiversidade que se perdeu ao longo do Córrego Taquaras. Depois de assinar vários termos de ajustamento de conduta (TAC), a mineradora (que mais tarde foi comprada pela MBR, hoje Vale) e seus diretores pagaram milhões em multas. A empresa indenizou familiares das vítimas. Mas a lama ficou presa na memória da população. Quem passa pela região hoje ainda pode encontrar as marcas da destruição. O Córrego Taquaras, que teve 12 quilômetros de sua trajetória cobertos pela lama de minério de ferro, guarda em seu leito grandes pedaços de rocha que desceram morro abaixo. O curso d’água foi, inclusive, o cenário que o artista plástico e escultor mineiro Leo Santana utilizou para protestar contra o desastre ambiental, em 1994, quando residia em São Sebastião das Águas Claras. Formada por 60 grandes esculturas com rostos agonizantes e mãos soterradas, produzidas com concreto celular revestido dos dejetos de minério de ferro lançados no rio, a instalação-manifesto, chamada de “Alquiminera”, foi lançada em 05 de junho daquele ano, data em que se comemora o “Dia Mundial do Meio Ambiente”. Confira:
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1 ENSAIO ARTÍSTICO
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FOTOS: LEO SANTANA
FOZ do Córrego Taquaras, após a tragédia de 2001: cemitério artístico do que os rejeitos da mineração insustentável podem fazer com os demais rios de Minas e Espírito Santo
ELE
Graduado em Publicidade/ Propaganda e em Desenho Industrial, Leo Santana trabalhou como designer gráfico. Posteriormente, dedicou-se às Artes Plásticas. Realizou exposições e criou esculturas e monumentos que podem ser encontrados nas principais cidades do país, na Europa e nos Estados Unidos. SAIBA MAIS
www.leosantana.art.br
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FOTO: DIVULGAÇÃO
QUEM É
1 EMPRESA & AMBIENTE
NIÓBIO
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS PARA UM
MUNDO SUSTENTÁVEL CBMM completa 60 anos em território mineiro fornecendo tecnologia limpa e produtos inovadores a mais de 300 clientes em 50 países
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ocê sabe o que é, e qual a importância do nióbio para o mundo? Ele é a solução para alguns dos desafios tecnológicos mais sofisticados da sociedade contemporânea. O nióbio é usado em produtos tão diversos quanto turbinas de avião e lâminas de barbear. Também é supercondutor. Quando exposto a temperaturas inferiores a -264°C, o nióbio conduz corrente elétrica livre de resistência em grandes densidades viabilizando aplicações práticas nas áreas de diagnósticos médicos, pesquisa de materiais e transportes. Mas é como elemento de liga em aços que o nióbio possui sua maior aplicação. Mais de 90% de todo o nióbio utilizado no mundo estão em aços como elemento de liga em proporções medidas em gramas de nióbio por tonelada de aço. Contido em um mineral chamado pirocloro, a sua utilização se dá pelas ligas de ferronióbio, que são aplicadas à produção de aço, tornando-o mais resistente e durável. Sozinho, o nióbio não faz muito, mas misturado com o aço ganha flexibilidade e infinitas aplicações, como na indústria automotiva, com a fabricação de carros mais leves e que consomem menos combustível. Uma quantidade mínima de 300 gra-
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mas de nióbio em um carro médio é capaz de reduzir seu peso em 200 kg, possibilitando economia de um litro de combustível a cada 200 quilômetros rodados, com menor emissão de gases. O mineral também desfila em projetos estruturais modernos, seguros e eficientes. Os aços microligados ao nióbio aumentam simultaneamente a resistência e a tenacidade, fundamentais para responder aos desafios da construção moderna, principalmente no caso de regulamentações quanto a incêndios e terremotos. Estruturas mais leves proporcionam custos mais baixos e construção mais rápida, fazendo dos aços com nióbio a melhor solução para projetos de infraestrutura, como aeroportos e pontes,
LINGOTE de nióbio metálico
além de prédios de arquitetura funcional e artística. Você, caro leitor, sabia também que o maior produtor de nióbio do mundo é brasileiro? Trata-se da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), com sede em Araxá, sudeste de Minas Gerais, que acaba de completar 60 anos de existência. Com mais de dois mil funcionários, fornece tecnologia e produtos inovadores de nióbio a mais de 300 clientes em 50 países. Além de quatro subsidiárias (na América do Norte, Europa e Ásia), a companhia mantém uma rede de depósitos terceirizados, estrategicamente posicionados ao redor do mundo. Os depósitos mantêm estoques suficientes para pronto atendimento de qualquer necessidade. Qual é o segredo de tanto sucesso? Segundo seu presidente, Tadeu Carneiro, ele se deve ao fato de a empresa não fazer “mineração no sentido clássico”: “Da jazida de Araxá, não sai nem um quilo de minério bruto. Não se enche vagão de minério e se manda para fora. Só produto acabado. Temos uma etapa de mineração, mas somos uma empresa de tecnologia”. É o que você confere na entrevista a seguir:
“A CBMM não é uma mineradora. É uma empresa de tecnologia.” FOTOS: DIVULGAÇÃO
O que é a CBMM, afinal? Talvez a empresa mais brasileira de todas. A mais mineira, com certeza. Ela nasceu brasileira e americana. 55% brasileira e 45% americana. A grande maioria da vida da CBMM foi assim: oriunda de uma empresa de petróleo americana que pertencia ao Grupo Unocal. Até que em 2006, a Unocal foi vendida para a Chevron. Era para ser vendida para os chineses, mas os americanos não quiseram. E esse é um detalhe importante, porque muita gente explora o fato de que a produção do nióbio é estratégica para os americanos. Fosse assim, eles não teriam deixado acontecer o que aconteceu. Quando a Unocal foi vendida para a Chevron, o Grupo Moreira Salles comprou os 45% dos americanos e a CBMM se tornou 100% brasileira. Passados alguns anos, em 2011, os controladores nos chamaram e disseram: se for para fazer a empresa ficar melhor do que é, se for um arranjo estratégico, nós concordaríamos em vender, no máximo, 30% dela. Isso nos fez desenhar um sistema em que venderíamos 15% para um grupo de japoneses e coreanos. Por que japoneses e coreanos? Porque eles tentam fazer aço, que é a principal aplicação do nióbio, sem adicionar coisa alguma. Só tecnologia. Então, se eles topassem comprar um pedaço da CBMM, seria um grande endosso tecnológico para o nióbio de Minas Gerais. E assim fizeram. Hoje, eles têm a reputação de obter o melhor aço do mundo. Uma vez que concordaram em comprar 15% da CBMM, nós oferecemos os outros 15% para um consórcio de empresas chinesas. A escolha da China foi estratégica? Sim, porque a China hoje produz metade do aço do mundo. Quando nós fomos pela primeira vez àquele país, em 1978, o Brasil produzia cerca de 25 milhões de toneladas de aço. E a China, 30 milhões. Eu não preciso continuar a história. Hoje nós estamos tentando fabricar 30 milhões passados esses anos todos, e a China já produz a metade do aço do mundo, 840 milhões de toneladas. Eles passaram a ser os maiores consumidores e, ao mesmo tempo, representam o maior potencial de mercado para a tecnologia do nióbio do nosso
TADEU CARNEIRO: “Não fazemos mineração no sentido clássico”
Estado. Ou seja, resumidamente, a CBMM é brasileira, sempre foi e continuará sendo. A quem pertence a jazida de nióbio de Araxá? São dois direitos minerários desde o início. O primeiro direito minerário foi do Estado de Minas Gerais; e o segundo, de uma empresa anterior à CBMM, chamada DEMA. Passamos a nos
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FOTOS: DIVULGAÇÃO
1 EMPRESA & AMBIENTE
PLANTA INDUSTRIAL da CBMM em Araxá: em vez de minério, produtos industrializados e de alto valor agregado
Recentemente, a ALMG aprovou um projeto colocando o nióbio dentro de uma taxa de fiscalização de impostos minerais, mas o governador vetou. Por quê? Ele não tinha outra saída, senão vetar. Se o projeto fosse aprovado do jeito que a lei foi escrita, a taxa resultaria em R$ 90 bilhões de reais. A receita da CBMM, em 2014, foi de R$ 4 bilhões, portanto, alguém errou ao fazer a conta. O que é mais interessante nessa história toda é que essas taxas de mineração não são substantivas, porque não somos uma mineradora comum. Temos produtos de valor agregado. Portanto, o mais
“Da jazida de Araxá, não sai nem um quilo de minério bruto. Não se enche vagão de minério e se manda pra fora. Só produto acabado.” importante é o imposto que a companhia paga aos governos federal e estadual. Dos R$ 4 bilhões, R$ 1 bilhão foi de imposto federal. E outros R$ 550 milhões para o governo de Minas. É um programa dos que mais beneficiam o país, referência mundial, orgulho dos mineiros e brasileiros, mas ainda não é entendido. Basta ver o que aconteceu na Assembleia Legislativa.
Primeira empresa do setor no mundo a obter a Certificação Ambiental ISO 14.001, a CBMM foi fundada em 1955, em Araxá, onde se localizam grandes reservas de minério de nióbio. Graças a décadas de investimentos na tecnologia do mineral e na prestação de serviços aos clientes, a empresa ostenta a posição de principal produtor mundial de nióbio, com reserva para mais 200 anos. É a única com presença em todos os segmentos do mercado de nióbio. O Grupo Moreira Salles é seu acionista majoritário desde 1965. De 2002 a 2006, aumentou seu controle acionário - de 55% para 100% - através de compras sucessivas de participações mantidas pelo acionista minoritário Molycorp (do Grupo Unocal). Em 2011, uma participação de 15% na companhia foi vendida a um consórcio japonês sul-coreano e outra, também de 15%, foi adquirida por um grupo de empresas chinesas. Em 2011, a CBMM foi indicada e venceu, com unanimidade de votos, o “II Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, na Categoria “Melhor Empresa”.
ENCARTE ESP ECI
AL
SAIBA MAIS
www.cbmm.com.br http://goo.gl/9dOmRf
A PONTE sobre o Lago Paranoá, cartão-postal de Brasília, é feita com liga ferronióbio
FOTO: XENIA ANTUNES
chamar CBMM a partir de 1965. Atualmente, os dois direitos estão aportados para uma companhia que foi criada pelas duas, a Codemig e a CBMM – para que a mineração seja feita de maneira disciplinada e equilibrada. Os direitos de extração têm dois donos e eles são explorados de maneira conjunta há 60 anos.
FIQUE POR DENTRO
1 JORNALISMO AMBIENTAL
RÉQUIEM PARA A IMPRENSA VERDE Mais longeva e educativa publicação do país, Folha do Meio Ambiente deixa de ser impressa por falta de publicidade e apoio governamental Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br
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rezados governantes, empresas e agências de publicidade que tanto abordam a questão ambiental, ganham votos, esperança da população e aumento de seus produtos e imagem institucional. Vocês não precisam negar mais qualquer pedido de parceria ao jornalista e editor da Folha do Meio Ambiente, Silvestre Gorgulho. Pelo menos de maneira impressa, nem ele nem a sua publicação existem mais, mesmo em se tratando de uma pauta que deveria fazer parte da preocupação maior da humanidade – principalmente dos políticos. É o que ele explica em seu último editorial impresso, ilustrado pelas araras-azuis-de-lear e com o subtítulo ainda teimoso: “A esperança é azul”. É o que, solidária, a Ecológico reproduz aqui:
FOTO: KATARINE ALMEIDA
“
Foram 26 anos de um tra trabalho pioneiro, intenso e ci cidadão. A primeira edição da Folha do Meio Ambiente saiu em junho de 1989. Três anos antes da RIO-92, a grande Conferência da ONU, no Rio de Janeiro, em 1992. Nesses 26 anos, a FMA plantou raí raízes profundas de cidadania e de conscientização ambien ambiental. O jornal nasceu longe de qualquer empresa ou fundação isoladamente. Sobreviveu essas quase três décadas graças, unica unicamente, ao apoio de seus assinan assinantes e de algumas parcerias pu publicitárias. Mais do que um lance de ousadia, foram 26 anos – por assim dizer – de crença. E de esperança. De quem, na aspereza do hoje, ainda tem tempo para se preocupar com o ama amanhã. E, diante do pesade pesadelo da destruição, acredi acreditou e acredita no valor da cidadania e da edu educação ambiental, como única fórmula capaz
NA ÚLTIMA capa, a esperança traduzida na preservação das araras-azuis-de-lear
de embalar os sonhos de um bem-viver. Dadas as imensas dificuldades, a FMA precisou se renovar. Por vários motivos. Além da diminuição dos assinantes, há também a forte e irreversível migração das edições impressas para a web. Sabemos da importância da edição impressa, especialmente para as seis mil escolas que recebem o jornal para qualificar suas aulas de educação ambiental. Mas a recessão do apoio publicitário, o alto custo do papel, da impressão, da manipulação e da postagem obrigou-nos a migrar para a edição on-line. Essa migração significa a sobrevivência de um veículo que continuará cumprindo seu papel em outra plataforma de mídia. A partir deste ano, a Folha do Meio Ambiente continuará tendo sua edição mensal, com atualizações diárias de notícias, apenas na web. E, o que é importante, oferecendo a seus leitores todo o acervo de notícias, reportagens, entrevistas e artigos publicados nesta rica e prazerosa história de 26 anos de edição impressa.”
SILVESTRE GORGULHO, o penúltimo dos moicanos impressos: agora, só na web
SAIBA MAIS
www.folhadomeio.com.br
“EU DESCOBRI QUE PODERIA DAR ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA ÀS PESSOAS.” Jozelita Maas Técnica de Processos atuando na assistência às famílias afetadas
É SEMPRE BOM OLHAR PARA TODOS OS LADOS. Dar assistência às pessoas. Reparar os danos. Fazer o que deve ser feito. Somos centenas de voluntários e empregados trabalhando desde o primeiro momento pelas comunidades, pelo Rio Doce, pelo mar, pelos animais e pelo meio ambiente. Para recuperar e reconstruir. O que você vê aqui são alguns resultados desse nosso esforço. Em números e nas palavras de quem está lá, participando diretamente das ações, enxergando esta história do lado de dentro.
• 99,7% das 365 famílias desabrigadas foram acomodadas em casas até o Natal. • Cerca de 2.500 cartões de auxílio financeiro distribuídos. • Cerca de 900 alunos das comunidades afetadas nas regiões de Mariana e Barra Longa retornaram às aulas e concluíram o ano letivo. • Monitoramento constante da qualidade da água: mais de 55 mil testes realizados em rios e mais de 39 mil no mar. • 6.893 animais assistidos. • Mais de 2,2 milhões de m² revegetados ao longo do Rio Doce em Minas Gerais – o equivalente a 304 campos de futebol. • Cinco pontes reconstruídas e duas em reconstrução. • Apoio técnico em 19 Estações de Tratamento de Água ao longo do Rio Doce e perfuração de mais de 10 poços artesianos.
E a gente vai continuar trabalhando, para fazer ainda mais.
Números atualizados em 1º/2/2016.
Para conhecer algumas histórias desta reconstrução, acesse:
www.samarco.com/historias
FAZER O QUE DEVE SER FEITO. ESSE É O NOSSO COMPROMISSO.
Central de Relacionamento: 0800 031 2303 Ouvidoria: 0800 721 0717
FOTO: DANIEL BELTRÁ / GREENPEACE
1 POLÍTICA AMBIENTAL
VINTE MIL hectares de matas serão recuperados por meio da iniciativa
MINAS PLANTA O FUTURO Projeto liderado pela Codemig, destinado a plantar 30 milhões de árvores e recuperar 40 mil nascentes, fomenta o desenvolvimento sustentável e a conservação hídrica em todas as regiões do Estado
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elecionado como modelo de gestão pela sustentabilidade durante a “21ª Conferência do Clima da ONU”, realizada em Paris, em dezembro, o projeto ‘Plantando o Futuro’, idealizado pelo governo de Minas, começa a dar os seus primeiros passos. Ele é fruto de um decreto instituído em agosto do ano passado e tem como objetivo recuperar 20 mil hectares de áreas em diferen60 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
tes regiões do estado, por meio do plantio de 30 milhões de mudas de árvores, além da revitali-
zação de 40 mil nascentes, de seis mil hectares de matas ciliares e de dois mil hectares de terras degradadas até dezembro de 2018. Sob a liderança da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), o “Plantando o Futuro” contou com a participação de mais de 25 profissionais em sua concepção, concluída em outubro passado. Um Grupo de Trabalho (GT)
FOTO: REPRODUÇÃO
1 POLÍTICA AMBIENTAL
O PROJETO contempla a recuperação de 40 mil nascentes
COMPROMETIMENTO E PARTICIPAÇÃO “Atentos à necessidade de melhorar a qualidade de vida de todos nós, itaguarenses, alinhamos com vários segmentos e a população um projeto de arborização urbana. Iniciado ano passado, após a realização de inúmeras pesquisas de viabilidade, ele contempla uma série de diretrizes. Desde a análise da vegetação, visando ao uso de espécies recomendadas para o meio urbano e que apresentem crescimento e vigor satisfatórios, até detalhes técnicos dos plantios, como distância entre as mudas, critérios de adubação, irrigação e controle da poda. Já fizemos a medição das vias e, no projeto, também listamos algumas árvores indicadas para plantio em calçadas, como ipê-mirim (Stenolobium stans) e resedá (Lagerstroemia indica), para evitar futuros conflitos com a fiação aérea (rede elétrica e telefônica), entradas de garagens, gasodutos, placas de sinalização de trânsito etc. Outro componente essencial é a educação ambiental. Afinal, o sucesso da implantação de qualquer programa de arborização é proporcional ao comprometimento e à participação da população. Estamos empenhados nas ações e convictos de que seremos bem-sucedidos. Portanto, nossas expectativas em relação à parceria com o projeto ‘Plantando o Futuro’ são as melhores possíveis. Esperamos que Itaguara seja contemplada com espécies específicas e com a delicadeza do apoio logístico por parte da Codemig.” Jordane de Oliveira, supervisora de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura de Itaguara 62 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
ENTENDA MELHOR
O terceiro capítulo do projeto ‘Plantando o Futuro’ lista mais de 40 ações e contribuições dadas pelos representantes do Grupo de Trabalho, a serem executadas ao longo de todo o projeto. Já o quarto capítulo é destinado ao plano de comunicação, que contém as estratégias e ferramentas necessárias para que o projeto alcance o máximo de engajamento da sociedade. Ele contempla, ainda, um plano de georreferenciamento para definição das áreas prioritárias de plantio, respeitando as necessidades e especificidades de cada região. Em parceria com o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que tem 44 assentamentos em MG, serão criados sete viveiros (Governador Valadares, Montes Claros, Campo do Meio, Uberlândia, Goianá, Novo Cruzeiro e Rubim) para a produção de mudas. Um trabalho que envolverá 1.660 famílias, visando ao plantio de mais de 5,4 milhões de novas árvores.
Com o apoio da Agência de
Desenvolvimento da Região Metropolitana de BH foi definida uma área de plantio para a recuperação de mata ciliar destinada a aumentar a capacidade de recarga hídrica do Sistema Paraopeba, operado pela Copasa. Uma ação semelhante será adotada no Sistema Rio Manso, com recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.
Está sendo firmado, ainda,
um convênio com o Instituto Espinhaço, com sede em Conceição do Mato Dentro, destinado entre outras ações à reativação da produção de mudas em viveiros do IEF. A iniciativa envolve mais de 50 cidades, ao longo de três importantes bacias hidrográficas: Jequitinhonha, Médio São Francisco e Alto Rio Doce.
FOTO: DIVULGAÇÃO
QUEM É
ELE
Mineiro de Bambuí, Cleber Consolatrix Maia é economista, com pós-graduação em Gestão Ambiental. Foi diretoradministrativo-financeiro da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) no governo Itamar Franco; coordenador do projeto “Uma Vida, Uma Árvore”, da Prefeitura de BH, e diretoroperacional da Fundação de Parques Municipais. CLEBER CONSOLATRIX: "Nosso maior cuidado foi definir o factível de ser executado até 2018"
O PROJETO EM NÚMEROS
20 mil hectares de matas a serem recuperados
30 milhões de mudas a serem plantadas 40 mil nascentes a serem recuperadas
6 mil hectares de matas
ciliares a serem recuperadas
2 mil hectares de áreas
degradadas, em diferentes regiões do Estado, a serem recuperados
20 milhões de pessoas beneficiadas
R$ 396 milhões de orçamento total
Dezembro de 2018 é o prazo de aplicação do orçamento
das pelo projeto. Surgiu, ainda, a ideia de fazer com que estudantes de cursos afins – tais como engenharia ambiental, florestal e agronomia – se tornem estagiários do “Plantando o Futuro” para atuar na fiscalização dos plantios. “Já participamos de reuniões em alguns comitês de bacia – como o dos rios Piranga e Manhuaçu –, na Federação das
Indústrias do Estado de Minas ENVOLVIMENTO COLETIVO Gerais (Fiemg) e na Federação Otimista e amparado na expeda Agricultura e Pecuária do Es- riência de ter coordenado o plantado de Minas Gerais (Faemg). tio de 31 mil árvores nos parques Também apresentamos o pro- da capital – apenas no último ano jeto aos responsáveis pela As- da gestão do então prefeito Fersociação Mineira de Silvicultura nando Pimentel, em 2008 – Cle(AMS), que têm ber Maia reafirgrande expertima: “Só com o O projeto prevê locais envolvimento se e podem nos apoiar por meio da sociedade prioritários para o da produção será possível seplantio de mudas, de mudas em guir avançando e seus viveiros. ampliar as ações como APPs e RLs de Em todos esses do projeto.” produtores rurais, segmentos, a E conclui: além de escolas re c e p t i v i d a d e “Qualquer ao ‘Plantando grande camie assentamentos o Futuro’ tem nhada requer legalizados de sido excelente. um primeiro Estamos anipasso. Esse proreforma agrária mados”, avalia o jeto é uma nova coordenador. semente rumo a Algumas prefeituras também um futuro mais sustentável para já acenaram, interessadas em todos nós, mineiros. Queremos firmar parcerias. Um exemplo é que ele se estabeleça e se torne a de Itaguara, a 97 quilômetros uma política pública com conde Belo Horizonte. Lá, a Secreta- tinuidade assegurada indepenria Municipal de Meio Ambiente dentemente das trocas de govere Desenvolvimento Sustentável no que ocorrerão. Só com boas já fez a medição das ruas e está parcerias o ‘Plantando o Futuro’ desenvolvendo um projeto de vai criar raízes e florescer. Quanarborização urbana, com indi- tas mais brotarem, melhor.” cação das espécies mais adequadas para plantio, a fim de evitar conflitos com a rede elétrica, teSAIBA MAIS lefônica e gasodutos. www.codemig.com.br
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FOTO: DANIEL BELTRÁ / GREENPEACE
FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE
“Para além do mérito de contribuir para o meio ambiente, o projeto ‘Plantando o Futuro’ constitui-se em um instrumento de educação ambiental e engajamento social, permitindo uma ampla aliança em favor do desenvolvimento de Minas.” Marco Antônio Castello Branco, presidente da Codemig, que apresentou o projeto no Pavilhão de Ações Transformadoras da COP-21, em Paris, em dezembro
reuniu especialistas de sete secretarias estaduais: Agricultura; Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; Educação; Fazenda; Governo; Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (por meio da Feam e do IEF) e Planejamento e Gestão, além de representantes da Copasa, Cemig, Emater e Epamig. O coordenador do projeto, Cleber Consolatrix Maia, explica que ele foi dividido em quatro capítulos. O primeiro contempla o cenário de degradação ambiental no estado, resultado de três séculos de ocupação humana e desenvolvimento econômico. No segundo são descritas as características dos três biomas que ocorrem em Minas (Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga) e das principais bacias hidrográficas, considerando a necessidade de sua recuperação no contexto dos 17 Territórios de Desenvolvimento definidos pelo governo. ESCOLAS E ASSENTAMENTOS O cronograma das ações também já foi definido. Na primeira etapa, a ser concluída até o fim deste ano, ocorrerão a implantação de viveiros de mudas, o mapeamento de nascentes, a distribuição
de mudas, além do cercamento das áreas e realização de plantios. Nos dois anos seguintes, as atividades serão focadas na manutenção das mudas plantadas e na realização de novos plantios. O orçamento total, a ser aplicado até 2018, é de R$ 396 milhões. O projeto prevê os locais prioritários para o plantio das mudas. Entre eles, Áreas de Preservação Permanente (APPs), áreas de Reserva Legal (RL) de agricultores familiares, plantios para a formação de sistemas agroflorestais e de pomares, bem como para a recuperação de áreas degradadas e arborização urbana. Haverá ainda plantios em escolas e em assentamentos legalizados da reforma agrária. “Nosso maior cuidado foi definir o factível de ser executado até 2018. Não pretendemos sanar em três anos o passivo ambiental resultante de três séculos de antropização. Temos cinco milhões de hectares de áreas degradadas no estado, mas nos comprometemos a recuperar só 2.000 ha”, frisa Maia. De acordo com ele, ainda que esteja aquém das necessidades reais do estado, o “Plantando o Futuro” é um primeiro passo. O
pontapé para envolver e ampliar a consciência ambiental de toda a sociedade, alertando para a urgência de equilibrar o desenvolvimento de Minas com a conservação dos recursos naturais. O caminho escolhido para alcançar todos esses objetivos é a construção de parcerias. Somando forças e criando alianças para ampliar paulatinamente o alcance do projeto, que vai beneficiar 20 milhões de pessoas. Para isso, estão sendo mobilizadas empresas, universidades e colegiados com forte viés de participação social, como os comitês de bacias hidrográficas, por exemplo. “Temos feito várias reuniões com empresas e instituições de diferentes segmentos. Num desses encontros, tivemos a participação de representantes de todas as universidades e institutos federais em Minas, que nos apresentaram valiosas contribuições.” EXCELENTE RECEPTIVIDADE Entre as propostas apresentadas pelas universidades estão a criação de um curso a distância, com orientações sobre plantio e cuidado com as mudas, voltado para as comunidades beneficia-
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JAN/FEV DE 2016 | ECOLÓGICO 61
1SAÚDE (3)
O SUICÍDIO À LUZ DA
ONDE A VIDA TEM AINDA MAIS VALOR Fundado há 54 anos, o Centro de Valorização da Vida (CVV) se tornou mais que uma referência e um porto seguro na prevenção do suicídio no país: é um amigo para todas as horas Luciano Lopes
redacao@revistaecologico.com.br
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emanalmente, 2.200 voluntários se revezam ao telefone nos 73 postos do Centro de Valorização da Vida (CVV) espalhados em 18 estados brasileiros para escutar, amorosamente, pessoas que querem conversar, desabafar ou compartilhar seus medos e sentimentos. Um trabalho que exige cuidado, atenção, paciência e muito carinho. “Quem liga para o CVV só se identifica se quiser. O sigilo e o respeito absoluto à sua autonomia orientam os atendimentos. Como a pessoa que nos contata está muito fragilizada, ela precisa encontrar um ambiente acolhedor para se sentir confortável. Ser acolhida de uma maneira que não envolva julgamento ou minimização do seu sofrimento. Ela procura um confidente, um amigo, alguém para abrir o coração. E é isso que o CVV, por meio de seus voluntários, oferece”, afirma Carlos Correia, voluntário da instituição. O trabalho do CVV vem sendo realizado ininterruptamente há
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54 anos, quando foi fundado na capital paulista para atuar na prevenção do suicídio. Anualmente, recebe mais de um milhão de ligações e se mantém com doações dos próprios voluntários (que promovem eventos como jantares beneficentes) e apoio financeiro de pessoas e empresas. O tempo médio de ligação é de 50 minutos, mas, em alguns casos, já chegou a horas. Até os trotes são tratados na instituição como algo sério. “Eles são uma tentativa de comunicação, porque quem faz isso sabe que está ligando para um lugar que atua na prevenção do suicídio”, diz Correia.
Para ser atendido por um voluntário, informa ele, basta ligar para 141 (que funciona 24 horas), ir pessoalmente a um dos postos de atendimento (para conhecer o endereço de cada um deles, acesse www.cvv.org.br) ou conversar com um voluntário via chat, Voip/ Skype ou via e-mail. As ligações para o 141, reconhecido como um serviço de utilidade pública federal pelo Decreto-Lei 73.348 de 20 de dezembro de 1973, ainda não são gratuitas (paga-se o preço de uma ligação local), mas em breve este cenário pode mudar. Como teste para posterior ampliação em todo o Brasil, o CVV reivindicou ao Ministério da Saúde autonomia para administrar o número de telefone 188 para atendimento na prevenção do suicídio no Rio Grande do Sul – estado com maior índice de autoextermínio no país – desde setembro passado. O resultado foi impressionante: em quatro meses foram 24,5 mil ligações. O período do teste será encerrado em março deste ano.
CARLOS CORREIA: “Sigilo e respeito são absolutos no CVV”
FOTO: ODERVAN SANTIAGO
Amigos do CVV
ESCUTA AMOROSA “A experiência do CVV confirma a credibilidade de um projeto que se escora em dois princípios fundamentais: sigilo e não diretividade. Os voluntários aprendem a perceber o valor da escuta numa sociedade onde a maioria absoluta das pessoas simplesmente não tem tempo, nem paciência para ouvir o outro.”
APOIO AO PRÓXIMO “Ao buscar uma frase, ou frases, para tentar definir a importância de um trabalho como o que é feito pelo CVV, percebi que o fundamental era dizer o quão definitiva tem sido na vida de tantos a presença amiga e clara dos voluntários, dedicados a uma causa: o amor e a preocupação com o próximo! Há que se apoiar sempre entidades como o CVV, criando possibilidades efetivas de sobrevivência para a instituição. Meus respeitos e votos de longa vida a esse trabalho tão lindo, que busca a VIDA e luta pela vida, com consciência e afeto.” Tony Ramos, ator
FRATERNIDADE ESPONTÂNEA “O mundo, para muitos parece desconcertante, e a vida, algo sem muito sentido. Os verdadeiros valores cristãos foram invertidos e criaram a sociedade com seus muros de concreto, suas leis tortas e suas bases materialistas, oprimindo assim a bondade, a generosidade e o amor, gerando aflições, guerras, fome e solidão. Algumas religiões corrompem o verdadeiro sentido da fé, levando os seres ao desligamento de Deus, restando somente o nada, o triste e o vazio. Mas o amor, que é a verdadeira religião, ilumina os homens de bem e inspira a caridade e a solidariedade. O CVV é o exercício da fraternidade espontânea abençoada por Deus e aplaudida por nós, que, de uma forma ou de outra, sonhamos com um mundo mais justo e digno do amor dos homens e de Deus. Meu abraço fraterno a todos do CVV e o desejo de que o amor de todos continue salvando muitas vidas.” Segundo Correia, os picos de atendimento foram em 30 de dezembro passado e na véspera do Natal. “Quando chega o período festivo do final de ano, existe um senso comum de que todos ficam felizes, mas isso é uma falsa percepção e torna-se uma pressão social às pessoas que não sentem essa felicidade toda”, ressalta Carlos, na expectativa para que o número 188 esteja disponível em breve para todos os estados. Entre as pessoas que ligam para o CVV, há também as que fazem contato para agradecer a instituição pelo apoio oferecido. E que celebram, com suas famílias, o fato de terem conseguido vencer suas angústias e estarem vivendo em paz e harmonia.
Nada ilustra melhor o trabalho do CVV como o depoimento emocionado da atriz Cássia Kiss, que o jornalista e ambientalista André Trigueiro citou no livro “Viver é a Melhor Opção”. “Há mais ou menos 20 anos, precisei de ajuda especial. Tinha vontade de desaparecer (coisa normal no mundo de quem não tem compromisso, responsabilidade comunitária). Chamei o CVV. Estou viva e integrada”, disse Cássia. Um exemplo, com final feliz, que traduz toda a filosofia da instituição: compreensão, fraternidade, cooperação, crescimento interior e o exercício da vida plena. SAIBA MAIS
www.cvv.org.br
FOTO: DIVULGAÇÃO
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André Trigueiro, jornalista
Elba Ramalho, cantora
FIQUE POR DENTRO O CVV é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal em 1973. Presta serviço gratuito de apoio emocional sob total sigilo e é associado ao Befrienders Worldwide (www.befrienders.org), entidade que congrega as instituições de apoio emocional e prevenção do suicídio de todo o mundo. O CVV também participou da força-tarefa que elaborou a Política Nacional de Prevenção do Suicídio do Ministério da Saúde. No site do CVV também é possível fazer o download da cartilha “Falando Abertamente sobre suicídio” (link http://goo.gl/AyfhMx). Afinal, conhecimento e debate sem tabus são a primeira ação para prevenir o autoextermínio!
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SÉRIE ESPECIAL
Do Rio das Velhas ao Espinhaço,
AS PEGADAS DE LUND A Revista Ecológico irá publicar, em capítulos, a saga do ser humano desde o seu início evolutivo, no Continente Africano, até sua chegada na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, pesquisada por Peter Lund e descrita no livro “Das Grutas à Luz”, do professor Cástor Cartelle. Acompanhe e colecione!
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O LIVRO é uma contemplação e um rico registro das espécies que viveram há milhares de anos nas grutas do território mineiro
Cástor Cartelle
redacao@revistaecologico.com.br
Ocorreu-me propor a Rota Lund para que muitos tivessem a oportunidade de descobrir, passar a amar FOTO: GUILHERME PEDREIRO
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écadas de trabalho no campo e no Conselho de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais propiciaram-me uma abrangente visão da região de Lagoa Santa que é fantástica, porém frágil. Continuamente avolumam-se as pressões sobre essa área: fábricas, mineração, desmatamentos, condomínios, poluição das águas, complexo do aeroporto, crescimentos urbanos, rodoanel... Para preservar é preciso conhecer e passar a amar a descoberta. Este livro permite algo conhecer.
CARTELLE: mostrando a história à luz da evolução
e, em consequência, preservar esse legado incomensurável. Imediatamente, com o apoio parceiro da Anglo American, o Governo do Estado converteu a ideia em projeto, que foi assumido e iniciado pelo então vice-governador Antonio Anastasia. A Rota Lund pretende ser mais do que um roteiro turístico-científico com equipamentos modernos e de qualidade. Nasce no Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, que muito de Lund guarda. Visita o seu cemitério em Lagoa Santa, onde se alça, ainda, o pequizeiro que ele plantou
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RIC
SÉRIE ESPECIAL
APOIO PARCEIRO Pedro Borrego (*)
“A Anglo American iniciou suas atividades na África do Sul há quase 100 anos. Nosso nome remete à origem do capital – inglês e americano – que nos constitui. Assim poderíamos começar a contar a história das nossas origens. Embora estejamos sempre com os olhos voltados para o futuro, como é natural no mundo dos negócios, sabemos da importância de conhecer o passado, sempre rico em conhecimento e lições. Esse é um dos motivos que ajudam a explicar o nosso interesse na obra “Das Grutas à Luz - Os mamíferos pleistocênicos de Minas Gerais”, resultado de anos de pesquisa do professor Cástor Cartelle, curador da coleção de paleontologia do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas. Mas não é o único. Temos um histórico comprovado por fazer diferença onde atuamos, garantindo a saúde e segurança dos nossos empregados e contratados, investindo em seu desenvolvimento e agregando valor aos países e comunidades nos quais estamos presentes. E, a bem da verdade, não o fazemos por simples altruísmo. Temos a ambição de ser líder na indústria de mineração, o que significa, para nós, ser o investimento, o parceiro e o empregador de escolha. Acreditamos que, para alcançar esse objetivo e garantir a longevidade dos nossos negócios, FOTO: RONALDO GUIMARÃES
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BORREGO com Cástor Cartelle (à esq.): “A obra resgata raízes e desvenda o patrimônio natural”
ECOLÓGICO 68 XX ECOLÓGICO || JAN/FEV JUNHO DE DE2015 2016
precisamos conduzir as nossas atividades com responsabilidade social e ambiental. Essa responsabilidade significa, entre outros fatores, entender e respeitar o que tem valor e significado para as nossas comunidades. É esse princípio que a Anglo American busca imprimir às suas atividades em todo o mundo. O trabalho do professor Cartelle resgata as raízes da ocupação e desvenda o patrimônio natural dessa região de Minas Gerais da qual agora fazemos parte, trazendo inquestionável contribuição à ciência, à história e à cultura do país. Por isso, não tivemos dúvida em prestar o nosso apoio para viabilizar a sua publicação. Somos uma mineradora empenhada em fazer a diferença também nas parcerias com pessoas que fazem a diferença. Quem conhece a história e o trabalho do professor Cartelle que, ao longo de sua trajetória, tem conciliado o rigor da pesquisa com o entusiasmo e o amor à ciência, entende do que estamos falando. Esperamos que este livro desperte em todos aqueles que tiverem a sorte de tê-lo nas mãos o mesmo orgulho que nós tivemos em contribuir para a sua publicação. Obrigado, professor Cartelle.” (*) Presidente da Anglo American Unidade Minério de Ferro - Brasil.
SANTIAGO DO ESPINHAÇO Com razão, a Rota Lund é como que nosso “Caminho de Santiago”. Nela há tradições, história, paisagens que incitam ao silêncio, à reflexão contemplativa e à paz. Há explosão da natureza que
LUND registrou suas pesquisas com fósseis em livro escrito em 1836
FOTOS: REPRODUÇÃO
há mais de 120 anos. Passa pela Gruta da Lapinha, Lagoa do Sumidouro e outras mais, beirando dolinas e maciços calcários de ásperas paredes, onde se abrem a Lapa do Baú e a Lapa Vermelha. Nela, “Luzia”, a brasileira primeira, aguardou quase 12 mil anos até que a encontraram. A Rota avança, escoltada por matas que acolheram espécies que Lund encontrou com ossos petrificados, e descobre em Sete Lagoas a Rei do Mato, gruta de colunas que parecem retiradas do palácio das “Mil e uma Noites”. Pela estrada, apelidada do tempo, reta e com a serra crescendo à medida que se chega, adentra a Rota em Cordisburgo. Sobe a curta estrada para ter, do topo da serra, a visão deslumbrante – quase – infinita – do sertão. E chega aonde Lund iniciou seu afazer na paleontologia: a Gruta de Maquiné, apelidada pelo cordisburguense Guimarães Rosa, “milmaravilha”. A GRUTA DA LAPINHA e Luzia, a primeira brasileira: relíquias do caminho de Lund
ainda resta, mística de caminhar ao encontro do nosso remoto passado; monumentos naturais singulares e assombrosas catedrais esculpidas - parece! - pelas mãos de Deus: Lapinha, Rei do Mato e Maquiné. É aqui, onde o peregrino do passado, quando chega, poderá ter a mesma reação que Lund experimentou ao penetrar nessa gruta pela primeira vez: “Milagre! Deus é grande!.. nunca meus olhos viram nada de mais belo e magnífico”. É repetição da atitude do peregrino do Caminho de Santiago quando divisa, finalmente, as torres da Catedral. Aqui, como lá, o peregrino do tempo passado irá guardar na sua lembrança o que seus sentidos captaram e ancoraram na sua
alma. Essa região, berço de nossa história, irá readquirir, assim, contornos quase sagrados e será protegida por tantos que, certamente, irão descobri-la e amá-la. Roteiro no qual, em cada passo, percebem-se as pegadas de Lund, cujo trabalho foi um contínuo cântico de admiração pelo território vivificado pelo Rio das Velhas e presidido pelas alturas da Serra do Espinhaço. Continua na próxima edição. Acompanhe!
Apoio cultural:
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GESTÃO & TI
ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br
A TERRA ONDE
TUDO SE PROVA A
utointitulado um escritor nervoso, o espanhol Javier Marías disparou recentemente, em entrevista ao jornal El País, que a internet “organizou a imbecilidade pela primeira vez no mundo”. Fiquei pensando que Javier tem razão. Mas, de assalto, uma ideia me assombrou: afinal de contas, o que é o imbecil? O pensador mineiro, decano de tecnologia da informação, Lúcio Fonseca, lembra num post recente, citando o jornalista e escritor norte-americano George Johnson (livro “Fogo na Mente”), que crenças religiosas e teorias científicas bem podem ser somente construções mentais, feitas pelo cérebro humano e que, normalmente, não têm a ver com a realidade. Meu gosto por desafiar o Google é notório. Vamos a ele! Digito “Obama is an asshole” (“Obama é um idiota”): 920.000 resultados! Depois, “Obama is a wise” (“Obama é um sábio”). Recebo 56.500.000 menções! Ponto pro Obama. Mas, atento, dirá o leitor que Obama não vale, que é tendencioso. Tentemos alguém acima de suspeitas... Que tal Cristo? Para imbecil, 2.500.000 resultados. Para sábio, 4.250.000... Concluo que Obama manda melhor que Cristo nesta terra digital onde tudo se prova. Em busca de mais respostas, tropeço em “O Mestre Ignorante, cinco lições sobre a emancipação intelectual”, de Jacques Rancière. Relembra a história de Joseph Jacotot, um professor do século XIX que rompe com o modelo de ensino quando prova que é possível ensinar sem conhecer a matéria ensinada, se nos dispusermos a libertar o espírito de quem aprende e o emanciparmos intelectualmente. Está lá, contado e provado. Está certo Javier Marías, quando diz que a imbecilidade foi organizada na web. Mas sua frase esconde uma verdade maior, a de que a imbecilidade política, cultural ou de qualquer matiz não é filha da internet, mas do caminhar da humanidade. Se tudo ia ser globalizado, por que não a idiotice? A missão de quem educa é emancipar, não doutrinar. É não se calar sobre suas convicções, mas ajudar o filho, o aluno, o membro de partido ou de igreja a ouvir e pensar e então concluir com sua própria cabeça. Por fim, a missão de quem instrui é discordar, 70 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
quando for o caso, sempre com respeito. No limite do que é direito humano (e, meu Deus, o que são mesmo os direitos humanos?), todo ignorante tem os seus quinze minutos de fama, como diria o artista plástico norte-americano Andy Warhol. Somos nós, os leitores, alunos da internet, esta mestre ignorante, que devemos nos emancipar intelectualmente e pensar sozinhos, não guiados. Junta um, junta outro, é certo que o cenário do filme Matrix é aqui. Difícil é saber, na terra onde tudo se prova, quem eu sou. Posso ser o escolhido Neo, o personalidade principal, mas bem posso ser o agente inimigo do sistema. É duro... Terei que decidir sozinho!
TECH NOTES Leia a entrevista de Javier Marías
http://goo.gl/QXB6QW
Fogo na Mente: uma resenha http://goo.gl/3CAyHD
Relembrando Matrix http://goo.gl/XqnIK
(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.
1 INOVAÇÃO
FOTOS: DIVULGAÇÃO
A AUTONOMIA de voo dos drones dura entre 30 e 45 minutos
DRONES NA GUERRA
CONTRA O AEDES
Empresa mineira oferece equipamentos de ponta para facilitar o mapeamento e identificação de focos de proliferação do mosquito Aedes aegypti. Governo federal já liberou recursos extras para ações emergenciais de vigilância
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inas Gerais conta com tecnologia de ponta e serviços completos de mapeamento aéreo capazes de ajudar as prefeituras no combate ao temido mosquito Aedes aegypti. Ele transmite a dengue, a febre chikungunya e também o zika vírus, apontado como o responsável pelo aumento do nascimento de bebês com microcefalia no Brasil. 72 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
Uma das “armas” usadas para fortalecer as ações de saúde pública na guerra contra o Aedes são os veículos aéreos não tripulados (Vants), popularmente conhecidos como drones ou aeronaves remotamente pilotadas (RPA), na sigla em inglês. Leves e ágeis, esses equipamentos fazem fotos e filmagens que permitem identificar criadouros do mosquito em lugares onde os agentes de saúde têm dificulda-
de de contato visual ou acesso. Diante da atual situação de emergência enfrentada por boa parte dos estados e munícipios – só no ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil registrou mais de 1,6 milhão de casos de dengue, com 863 mortes –, toda ajuda é bem-vinda. Ainda mais quando a tecnologia disponível permite o mapeamento tanto de um bairro
ENTENDA MELHOR
1 – Drone, em inglês, significa “zangão” ou “zumbido”. Esse termo faz uma associação ao som produzido por esses aparelhos durante o voo.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
2 – É controlado a distância por planos de voo, a partir de uma estação no solo, sob a supervisão visual do piloto/ operador, com ou sem a sua intervenção. 3 – Nas ações de combate ao Aedes aegypti, as imagens geradas pelo drone servem de prova documental para que as prefeituras notifiquem e/ou multem os donos de imóveis e terrenos com focos do mosquito. 4 – O uso de drones pode ajudar, ainda, a reduzir parte dos gastos com as ações de vigilância epidemiológica, concentrando o trabalho dos agentes nos locais onde há mais focos do mosquito, evitando assim deslocamentos desnecessários de pessoal e o desperdício de produtos, como larvicida. Experiência e Precisão Com 15 anos de mercado, a Topvil Engenharia é especializada no desenvolvimento e operação de drones/RPAs projetados para o mercado de aerolevantamento e sensoriamento remoto avançado. Oferece, entre outros, serviços de cartografia e mapeamento por meio de fotografias aéreas, monitoramento de propriedades rurais, bem como detecção de espécies invasoras e doenças em lavouras.
inteiro, quanto de um imóvel em específico, descendo ao detalhe de uma piscina sem tratamento e identificando até mesmo uma tampinha de garrafa com água parada no quintal. É exatamente essa a aposta da Topvil Engenharia, empresa especializada no desenvolvimento e operação de drones voltados
NO SOBREVOO, o drone fotografa locais onde há possíveis focos do mosquito, como piscinas sem utilização e caixas d'água destampadas
para o sensoriamento remoto avançado. Com 15 anos de mercado, ela está criando um banco de dados diferenciado, com imagens coloridas e de altíssima resolução, que pode ser usado para frear a proliferação de focos do Aedes aegypti, assegurando mais agilidade e precisão na identificação dos pontos críticos.
rápida e tomada de decisão dos gestores municipais. Oferecemos imagens coloridas de altíssima resolução e operamos em total sintonia com os padrões de segurança preconizados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)”, explica Saulo Santana, consultor aeronáutico civil e um dos sócios da empresa.
ANÁLISE RÁPIDA Os drones – que têm autonomia de voo de até 45 minutos e alcançam o teto máximo permitido pelos órgãos de regulação, que é de 120 metros de altura –, sobrevoam e mapeiam locais inacessíveis aos agentes de vigilância. Em especial, água parada em telhados e em calhas, caixas d’água destampadas, piscinas sem tratamento e lotes com terrenos acidentados. Imóveis abandonados ou aos quais os donos não permitam acesso também podem ser identificados, com a indicação exata do endereço. “Fazemos o mapeamento de geolocalização dos criadouros e nosso objetivo é oferecer um banco de dados para análise
EQUIPES ESPECIALIZADAS Outro diferencial da Topvil Engenharia, que tem escritórios na Região Metropolitana de Belo Horizonte, é o fato de contar com equipes especializadas tanto nas operações de campo quanto para a análise e processamento das imagens geradas. São 15 drones (hexacópteros e aviões de asa fixa) em operação. Um dos modelos usados, de formato circular, decola na vertical, tem várias hélices e quase um metro de envergadura de ponta a ponta. Equipado com piloto automático, GPS e transmite imagens em tempo real. Nos trabalhos de campo são designados de dois a quatro operadores, que monitoram todas as fases do voo, seja ela manual,
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FOTOS: DIVULGAÇÃO
1 INOVAÇÃO DECOLAGEM E POUSO São feitos na vertical, sem necessidade de pista específica. O drone decola automaticamente e executa um plano de voo. Caso haja alguma irregularidade ou falha no sistema, ele pousa automaticamente. A autonomia de voo dos equipamentos operados pela Topvil Engenharia varia de 30 a 45 minutos, mapeando, em média, dois bairros a cada dia. A altura máxima permitida para voo é de 120 metros. Todos os modelos usados pela empresa são de tecnologia limpa, ou seja, movidos a bateria, sem geração de poluentes e impacto ao meio ambiente.
semiautomática ou automática. “Mapeamos, em média, dois bairros a cada dia, voando preferencialmente nos períodos de estiagem e em horários entre 9h e 16h, pois a posição do Sol é importantíssima para termos imagens de alta qualidade.” Depois de geradas, equipes de cinco a até 15 analistas fazem o processamento das imagens, conforme a demanda exigida para cada trabalho. A Topvil usa um sensor de 24 a 32 megapixels, considerado um dos mais eficientes do mercado. Com isso, além de gerar imagens de elevada qualidade, consegue fazer um zoom e realizar uma análise profunda de todas as fotos, detalhando de dois a três centímetros de resolução espacial e esquadrinhando pixel por pixel em busca de possíveis focos de reprodução do Aedes. “Uma coisa é fotografar e simplesmente entregar as imagens para o cliente. No nosso caso, além de estarmos criando um banco de dados ainda inédito no Brasil também oferecemos ou74 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
“Temos como nosso pilar a segurança operacional. No caso do combate ao Aedes aegypti, é preciso um planejamento do mapeamento aplicado, onde analisamos e gerenciamos todas as informações que estão ligadas à operação, tais como: aeronave, espaço aéreo, condições de meteorologia, plano de voo e o pessoal envolvido. Estamos seguindo todas as orientações dos órgãos responsáveis: Anac, Anatel, Decea e Secretarias de Saúde. Essa resposta de emergência é muito importante, pois agora que estamos vivendo essa realidade em nível internacional e com grande números de casos no Brasil. Nosso objetivo é apresentar uma análise rápida de imagem de alta resolução para um banco de dados georreferenciados de alta precisão.” Flávio Roberto Moreira, sócio da Topvil Engenharia, piloto remoto e mecânico de aeronaves “A nossa empresa está empenhada em criar soluções para localizar e identificar possíveis criadouros do mosquito, dinamizando o trabalho das equipes em campo. Fornecendo a situação e o local exato em que se encontra o possível foco, em tempo real (pouco dinâmico) ou georreferenciado, sendo possível planejar o orçamento de combate ao agente transmissor. De maneira que, antes dos agentes sair a campo, será disponibilizado os locais com maior probabilidade, dando maior eficiência e resultado no combate ao ‘inimigo’.” Vilson A. Drumond, sócio da Topvil Engenharia, engenheiro agrimensor, pós-graduado em Estradas, Enfase em Drenagem, pela Faculdade de Engenharia de Minas Gerais (Feamig)
FIQUE POR DENTRO
A presidente Dilma Rousseff liberou R$ 500 milhões extras este mês para que estados e municípios intensifiquem as ação de vigilância, prevenção e controle à dengue, febre chikungunya e zika vírus. Desse montante, MG recebeu mais de R$ 16,3 milhões. Em 2015, foram registrados mais de 1,6 milhões de casos de dengue em todo o país – com 863 mortes. A região Sudeste concentrou a maioria dos registros (62,2%). De 1º a 26 de janeiro deste ano, Minas registrou 20.859 casos prováveis de dengue. Em relação à chikungunya, foram 80 os casos notificados. Atualmente, 84 municípios de 11 estados brasileiros estão com transmissão autóctone (circulação) do vírus da chikungunya. Três mortes foram confirmadas: duas na Bahia e uma em Sergipe. Em relação ao zika vírus, até nove de janeiro deste ano foram registrados 3.530 casos suspeitos de microcefalia no país. A morte de 46 bebês está sendo investigada, todos eles da região Nordeste. Em Minas, os 24 casos notificados ainda estão sob investigação. Fonte: Ministério da Saúde/ Secretaria Estadual de Saúde
tros produtos diferenciados. Entre eles, o chamado Modelo Digital de Elevação (MDE), que permite mapear os fundos de lotes e terrenos com fortes aclives e declives, onde os agentes de saúde não têm condições de chegar”, esclarece Saulo, que é formado em pilotagem profissional de aeronaves pelo Centro Universitário UNA. AUTORIZAÇÃO DA ANAC A regulamentação oficial para a operação de drones no Brasil ain-
FLÁVIO MOREIRA e SAULO SANTANA: usando a tecnologia contra o Aedes aegypti
da não foi definida pela Anac. No entanto, conforme explica Saulo, diante da situação de emergência em saúde pública enfrentada por muitas cidades, a Anac – após uma análise caso a caso –, tem emitido autorizações especiais às prefeituras para a realização de voos de combate ao Aedes aegypti. Mas, é preciso ficar atento. Afinal, como frisa o sócio da Topvil, há casos de empresas que usam drones vendidos em fronteiras ou em shoppings populares que, além de não gerar resultados confiáveis, ainda colocam em risco tanto a segurança dos operadores quanto das pessoas que por ventura estejam nas áreas de sobrevoo. “Felizmente, estamos nesse ramo há bastante tempo e acompanhamos de perto tanto a evolução das tecnologias ligadas à geração de imagens quanto as questões ligadas à regulamentação por parte da Anac, do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) e outros órgãos reguladores. Temos inclusive o Certificado Médico Aeronáutico (CMA), documento que atesta a aptidão física e mental dos pilotos e certamente estará entre as exigências mínimas para a operação desses equipamentos no país.” INVESTIMENTO E AÇÃO Prefeituras como as de Recife
(PE), São José dos Campos (SP) e João Pessoa (PB) já estão usando drones para conter infestações pelo Aedes aegypti. Em Minas Gerais, as prefeituras começaram a receber este mês um reforço de caixa, via Ministério da Saúde/Secretaria Estadual de Saúde, para intensificar as ações de vigilância, prevenção e controle da dengue, febre chikungunya e zika vírus. “Já apresentamos os nossos serviços e estamos em contato com diversas prefeituras. A verba federal já foi liberada e poderá ser usada ao longo de todo o ano. Nenhum prefeito poderá, em tese, alegar falta dinheiro para evitar ou conter uma epidemia de dengue em sua cidade”, informa. Para Saulo Elias, Minas e o Brasil têm tudo para vencer a guerra contra o Aedes. “O caminho é a união de esforços, aliando conscientização e cuidado por parte da população, com a ação dos municípios e a adoção da tecnologia que já temos nas mãos. O Aedes voa baixo, alcança no máximo 1,20 metro de altura, mas sua picada pode ser fatal. Temos, portanto, que agir rápido e voar literalmente mais alto do que ele.” SAIBA MAIS www.topvilengenharia.com.br (31) 3354-1798
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NATUREZA MEDICINAL
MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
CORINDIBA MILAGROSA
C
FOTOS: MARCOS GUIÃO
erta vez, eu andava pelos cantos do sul da Bahia em férias, caçando jeito de me esparramar numa praia em busca de descanso e lazer, quando se deu a seguinte história. Depois de um dia perfeito de sol e mar, no começo de noite acabei por participar de uma roda de samba no lar de um casal de advogados já idosos, sendo ele dr. Jomar, com seus 90 anos, homem de semblante sério, mas espirituoso, poeta e escritor, que encantava a todos ao declamar versos entremeados a excelente música executada. Dona Ruth, sua garota de 83, trazia no rosto um sorriso constante e um par de olhos miúdos que seguia a tudo e todos, sempre acompanhada de um celular de
SEU JOMAR e dona Ruth: a corindiba é “remédio do mato” dos bons
última geração, dando notícias aos ausentes da família pelo zapzap ou postando fotos no Facebook. Enquanto os músicos faziam a festa, as histórias escorriam infinitas, dando conta da sabedoria, experiência e humor dos dois nas lidas da vida, começada simples lá nas grotas de Nanuque (MG). Naquele tempo, a devastada Mata Atlântica ainda era soberana e se impunha, disponibilizando recursos muitos àqueles que dela necessitavam e sabiam o “como” colher, preparar e usar. Durante essa prosa despretensiosa, descobrimos o interesse comum pelas plantas medicinais e daí a programar uma singela excursão em busca de remédios do mato foi um pulo. Dia seguinte, bem cedo, seguimos até um capãozinho de mata na saída da cidade e logo nos demos com uma arvoreta de folhas ásperas, galhos macios e repletos de pequenos frutos esverdeados, que ficam avermelhados quando maduros. Seu Jomar foi logo dando nome e serventia: “Esta aqui é a corindiba (Trema micrantha), também chamada de candiúba, planta de alto poder curativo para as inflamações oftálmicas”. E daí discorreu as experiências por eles vividas: “Certa vez uma neta tava em tratamento num grande hospital da capital, já há quatro meses, sem sucesso para dar jeito numa inflamação dos olhos. Pois bem, colhi uns galhos de corindiba e piquei em pequenos pedaços. E quando se sopra com força o toletezinho em cima de um prato, aos poucos pinga uma seiva transparente, que é o remédio já pronto. Assim preparado, pinguei uma só gota no olho da garota e ela sarou!”. “De outra feita”, ele continuou, “nossa casa tava cheia de gente no verão e por aqui se espalhou uma epidemia de conjuntivite. Aquilo foi uma calamidade, mas pra quem conhece remédio do mato... Primeiramente tratamos nossos meninos e o resto do povo ficava olhando desconfiado. De um dia pro outro a meninada num tinha mais nada e daí se formou foi fila na porta de casa!”. Pois é assim. É no simples da vida que o vivente aprende. Mas pra isso tem que ter consideração e respeito pela natureza e por aqueles que muito têm pra nos ensinar. Inté a próxima lua!
(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.
Encontro remarcado! 23 de março de 2016 - 18h Teatro do Sicepot - Belo Horizonte
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1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL FERNANDO PIMENTEL e Macaé Evaristo, durante o evento: recursos para a sustentabilidade física e ambiental das escolas
ESCOLA SUSTENTÁVEL Programa lançado pelo governo de Minas destinará R$ 349 milhões para a melhoria e ampliação da infraestrutura da rede de ensino do Estado
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governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, lançou no dia 21 de janeiro, na capital mineira, o “Programa Escola Sustentável”, que destinará R$ 349 milhões para aperfeiçoar e ampliar a infraestrutura das redes de escolas estaduais ao longo deste ano. O lançamento do programa foi feito durante evento que marcou a posse de 2.500 diretores de unidades da rede estadual de ensino eleitos por suas comunidades escolares. E que também contou com a presença da secretária de Estado de Educação, Macaé Evaristo. O “Programa Escola Sustentável” será desenvolvido pela Secretaria de Estado de Educação para assegurar às escolas recursos financeiros para que possam implementar, de maneira ágil, adequações de infraestrutura e desenvolver iniciativas visando a transição para a sustentabilidade ambiental, além de auxiliar as escolas a cumprir as Diretrizes Curriculares Nacionais
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para a Educação Ambiental. Estão previstos recursos da ordem de R$ 100 milhões para o Fundo de Manutenção Predial, que vai contemplar todas as escolas, além de R$ 43 milhões destinados à construção de 688 salas de aulas em 336 instituições de ensino. Em um segundo momento serão liberados outros R$ 206 milhões para aproximadamente 700 escolas em 343 municípios que apresentarem projetos de reforma voltados à sustentabilidade ambiental. A seleção será feita
O programa prevê a liberação de R$ 206 milhões para 700 escolas que apresentarem projetos de reforma voltados à sustentabilidade
pela Secretaria de Educação segundo critérios de prioridade, urgência e relevância pedagógica. Durante o evento, Macaé Evaristo agradeceu o empenho do governador em priorizar a educação. “2016 será um ano difícil para nós, mas podemos ter certeza de que, na educação, teremos sempre um olhar de prioridade”, disse. Para ela, os diretores eleitos são merecedores do cargo e têm papel fundamental para o sucesso do programa, que também reforça a importância de se preservar o meio ambiente. “É uma honra podermos ter aqui diretores das mais diferentes regiões do Estado, porque muitas vezes a pessoa é eleita diretor, passa quatro anos e não consegue ver a cara da secretária de Educação, muito menos do governador. E nós não queremos isso. Queremos as escolas junto com a secretaria, porque a gente não faz educação sozinho”. SAIBA MAIS
www.educacao.mg.gov.br
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS -LATAS DE ALUMÍNIO
BRASIL É CAMPEÃO
Índice de reciclagem de latinhas de alumínio para bebidas chega a 98,4%. Acordo setorial assinado com o Ministério do Meio Ambiente prevê o fortalecimento de cooperativas e maior rentabilidade para catadores Luciana Morais
redacao@revistaecologico.com.br
É
Há mais de 10 anos somos o país com o maior índice de reciclagem de latas de alumínio, com desempenhos sempre superiores a 90%. Para especialistas do setor, isso demonstra não só a maturidade, mas sobretudo a estruturação do mercado de reciclagem brasileiro, cada dia mais representativo e benéfico não apenas para as empresas e indústrias, mas também para a sociedade e para o meio ambiente. A reciclagem também alavanca a economia brasileira. Em 2014, apenas na etapa da coleta da sucata, as latas de alumínio para bebidas injetaram R$ 845 milhões no mercado, gerando renda e emprego para milhares de catadores de materiais recicláveis. Esse valor é equivalente a 1,2 milhão de salários mínimos e corresponde, em média, à remuneração de um salário mínimo por mês para cada habitante de uma cidade com cerca de 95 mil moradores, como Itajubá, no Sul de Minas, por exemplo.
ECONOMIA DE ÁGUA Como é 100% reaproveitável, a lata de alumínio ajuda a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, reforçando o ganho ambiental positivo proporcionado pelo reaproveitamento do alumínio. Para se ter uma ideia, a reciclagem das 289,5 mil toneladas de latas em 2014 gerou uma economia de 4.250 GWh/ano. Energia equivalente ao consumo residencial anual de 6,6 milhões de pessoas, em dois milhões de residências. Essa conta é fácil de entender. Afinal, a reciclagem de cada tonelada de alumínio consome apenas 5% da energia elétrica que seria usada na etapa de produção do metal primário. Os benefícios ambientais da reciclagem foram atestados ainda em um recente estudo. Ele foi feito pelo Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea/Ital), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e sediado em Campinas, que analisou o ciclo de vida da embalagem. De acordo com a pesquisa, com um índice de reciclagem de 98%, as emissões de CO2 (dióxido de carbono) desde a extração da bauxita até o descarte da embalagem pelo consumidor final são 70% mais baixas do que no caso de um índice de reciclagem de zero. O estudo do Cetea foi bem
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FOT O: F OTO L
IA
gooolllll... deeee lataaaaaa!!! Sim. No campo da reciclagem de latas de alumínio, o Brasil está, há tempos, batendo um bolão. Não por acaso, é o campeão mundial no reaproveitamento dessas embalagens, uma das preferidas dos consumidores na hora das compras. Em 2014, o Brasil reciclou 289,5 mil toneladas de latas para bebidas, o que representa um crescimento de 12,5% em relação ao ano anterior. Dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas) e da Associação Brasileira do Alumínio (Abal) comprovam o novo recorde, que mantém o Brasil na liderança mundial, com o índice de reciclagem de latas para bebidas chegando a 98,4%. Quase 23 bilhões dessas embalagens – o equivalente a 62,7 milhões de latas por dia ou a 2,6 milhões a cada hora – foram recicladas em 2014. Madura, a indústria brasileira da reciclagem tem importantes conquistas a comemorar.
Ciclo de vida da lata 1
- O consumidor compra bebidas em latas de alumínio.
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– Após o consumo, a lata é coletada para reciclagem.
- As cooperativas de reciclagem e os depósitos reúnem as latas coletadas.
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- As latas passam por um enfardador onde são compactadas, seguindo para as recicladoras.
12 REPRODUÇÃO ABRALATAS
- Os produtos são encaminhados ao mercado.
32 dias
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- Na entrada das recicladoras, os fardos passam por detectores de radiação.
- As latas recebem novamente as bebidas.
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– Os fardos são fragmentados para retirada de impurezas.
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- As chapas são, então, transformadas em latas.
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- A laminação transforma os lingotes de alumínio em chapas finas.
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completo. Analisou todas as fases da produção e distribuição das latas, considerando os respectivos impactos ambientais do início do processo de produção do alumínio primário até a fabricação e distribuição dessas embalagens. O consumo de água e de energia elétrica no processo produtivo, bem como o uso de combustível no transporte das latinhas, também foram levados em conta na pesquisa. E indicam que o aumento da taxa de reciclagem reduz de maneira significativa o consumo de energia (em 71%) e de água (em 65%), bem como o de matérias-primas, como a bauxita, em 93%.
- Após derretimento, a qualidade do alumínio é atestada e o metal ganha forma de lingotes.
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- Os fragmentos isentos de impurezas são conduzidos ao forno para derretimento.
ENTENDA MELHOR
Segundo estimativas, mais de 75% de todo o alumínio produzido até hoje ainda está em uso, reciclado inúmeras vezes.
Resistente à corrosão, o alumínio é altamente maleável e tem na
leveza um importante diferencial. Seu peso específico é de 2,70 g/cm3, aproximadamente 35% do peso do aço e 30% do peso do cobre.
As primeiras latas de alumínio surgiram no mundo em 1963, produzidas pela Reynolds Metals Company. Elas foram usadas para embalar um refrigerante dietético chamado Slenderella.
Em 1982, o Brasil se tornou autossuficiente na fabricação de alumínio
primário – condição fundamental para a implantação de fábricas de chapas e, consequentemente, de latas de alumínio para bebidas.
Em 26 de outubro de 1989, a Latas de Alumínio S.A. (Latasa) iniciou as
atividades da primeira fábrica de latinhas do Brasil, em Pouso Alegre (MG).
2
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1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS -LATAS DE ALUMÍNIO LATA EM ALTA Índice de Reciclagem de Latas de Alumínio 98,4
Brasil Argentina
91,1
87,4
80,6
Japão
69,5 77,7
66,5
62,1
Média Europa EUA
50,0 43,0
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
FONTES: ABAL; Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade; The Japan Aluminium Can Recycling Association; Cámara Argentina de la Industria del Aluminio y Metales Afines; The Aluminum Association; European Aluminium Association - EAA
VOCÊ SABIA QUE...
Corpo:
No Brasil, o ciclo de vida da latinha (os 12 passos) dura apenas um mês?
PINDAMONHANGABA É DESTAQUE A capital nacional da reciclagem de alumínio é Pindamonhangaba (SP). Esse título foi concedido pela Abal, em 2003, em reconhecimento à importância da cidade para a atividade. Na ocasião, foi entregue uma escultura feita em alumínio, representando o símbolo internacional da reciclagem do metal. A obra, do artista plástico Hans Goldammer, tem 4,5 metros de altura e está instalada na entrada da cidade. O "Dia Nacional da Reciclagem do Alumínio" – 28 de outubro – também foi instituído em 2003.
82 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
Rebite:
parte da tampa da lata usada para fixar o anel. É feita curvando-se o centro da tampa ligeiramente para cima. Em seguida, é puxada para formar o rebite.
A primeira lata de cerveja feita com folhas-de-flandres nos EUA, em 1935, pesava 85g? A lata de alumínio atual pesa 13g. Para produzir uma tonelada de alumínio é preciso extrair cerca de cinco toneladas de bauxita na natureza? Em relação à produção do alumínio primário, a reciclagem reduz em 95% o consumo de energia e em 95% as emissões de gases de efeito estufa?
FOTO: DIVULGAÇÃO
parte da lata de alumínio que geralmente contém 1% de magnésio, 1% de manganês, 0,4% de ferro, 0,2% de silicone e 0,15% de cobre. É laminado até atingir uma espessura de 0,0001 polegada. Para maior segurança, é mais espessa na parte inferior. Resiste a uma pressão interna de 90 libras/polegada quadrada e pode suportar até 250 libras de peso.
FOTO: DEPHOT
TRÊS PERGUNTAS PARA...
RENAULT DE FREITAS CASTRO
Presidente-executivo da Abralatas
CATADOR VALORIZADO Pindamonhangaba (SP) é a capital nacional da reciclagem de alumínio. Qual é o panorama no restante do país? O mercado de reciclagem já está estabelecido em todas as regiões? Onde há lata de alumínio para bebidas há coleta tanto dessas latas quanto de outros resíduos recicláveis. Principalmente pelo seu alto valor como sucata, a latinha impulsiona a reciclagem de outros materiais e transforma a coleta em uma atividade econômica capaz de ajudar significativamente na manutenção de pessoas e até de famílias. Cooperativas de reciclagem são formadas em todo o país e essas organizações se tornam cada vez mais rentáveis. Muitas pessoas têm a coleta e a venda de resíduos recicláveis como profissão. E mais: quem não conhece o setor se surpreende ao saber que muitos não querem abandonar essa atividade. Essa é uma realidade que se observa em todo o Brasil; ainda que a maior parte dos resíduos de alumínio do país seja processada em Pindamonhangaba, onde estão localizadas as nossas maiores recicladoras. A Abralatas tem algum programa destinado à formação/qualificação de catadores de materiais recicláveis? Quais são as principais iniciativas destinadas à valorização desses profissionais? Além de realizar o evento “Ciclo de Debates Abralatas” desde 2010, que sempre manteve seu foco no bem-estar e na inclusão social dos catadores, a Abralatas integra uma coalizão, formada por 20 associações de
empresas do setor de embalagens, que acaba de assinar com o Ministério do Meio Ambiente um compromisso, chamado de “Acordo Setorial”. Ele se destina a fortalecer cooperativas de catadores de materiais recicláveis com equipamentos, capacitação e, principalmente, garantia de compra de toda sucata coletada a preços de mercado, com o objetivo de aumentar a produtividade e a renda dessas organizações. Esse acordo está previsto na lei que estabeleceu a Política Nacional de Resíduos Sólidos? Sim. E atende às exigências relacionadas às obrigações que cabem à iniciativa privada em relação ao recolhimento e ao reprocessamento de embalagens: a chamada logística reversa das embalagens descartadas. Entendemos que a melhor forma de coletar o material e retorná-lo ao ciclo produtivo é utilizando o modelo que deu certo com a lata de alumínio, investindo em cooperativas de reciclagem e no catador. É esse o modelo adotado pela coalizão. Tenho certeza de que assim vamos reduzir o descarte inadequado de embalagens em geral e também capacitar os catadores, ao mesmo tempo em que tornamos mais eficientes e mais rentáveis as cooperativas. SAIBA MAIS
www.abralatas.org.br www.abal.org.br
Não podemos mudar o passado, mas podemos iniciar um novo futuro. E ele começa pela educação. Junte-se a nós!
Nós apoiamos essa ideia! JAN/FEV DE 2016 | ECOLÓGICO 83
1 VOCÊ SABIA?
Siga aquela estrela! Cristiane Mendonça
redacao@revistaecologico.com.br
Janeiro, tempo de férias, você está na praia e, de repente, uma estrela-do-mar aparece na orla. Mas não é só a sua aparência harmônica que chama a atenção. Esse animal marinho, que pode ser encontrado em várias cores e tamanhos, guarda curiosidades muito interessantes, como a capacidade de regeneração. Confira:
HAJA “BRAÇO”!
As estrelas-do-mar são animais marinhos classificados como equinodermos (palavra grega que significa “corpo recoberto por espinhos”). Elas estão presentes em quase todos os mares do planeta – ao todo, são 1.900 espécies. Sua estrutura corporal é formada por um disco central e a quantidade de “braços” varia conforme a família, indo de cinco até 40!
CARACTERÍSTICAS ESTELARES
Se não há economia de braços, tampouco há de cores: elas podem ter tons vivos como o vermelho, o azul ou laranja, sendo que algumas são luminescentes. Ou seja, brilham tal como as xarás do céu. As estrelas-do-mar podem medir até um metro de diâmetro e vivem, em média, 30 anos. Tem para todo gosto!
SURGE UMA ESTRELA!
As estrelas-do-mar podem se reproduzir de duas formas: na sexuada, há liberação de gametas na água e a fertilização é externa. O ovo fecundado se desenvolve como larva de simetria bilateral, passando por uma metamorfose que a transforma num adulto de simetria radial. A reprodução assexuada, porém, é quando a estrela perde um dos braços e consegue criar outro membro no lugar. Em alguns casos, pode se formar uma nova estrela, totalmente completa!
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ALIMENTAÇÃO E DIGESTÃO
Nem só de plâncton vive as estrelas marinhas. Na verdade, esses animais são classificados como carnívoros, pois se alimentam também de crustáceos e moluscos. Na hora do “lanche”, as estrelas lançam o estômago para fora do corpo e utilizam enzimas digestivas, já que não possuem dentes e não são capazes de mastigar. O sistema digestivo, porém, não é assim tão simples, já que as estrelas-do-mar possuem boca, esôfago, intestino e ânus.
COMO FUNCIONA
A reprodução assexuada se dá por meio de célulastronco no corpo do animal, o que faz com que elas se regenerem ou se recriem do zero. Capacidade facilitada por sua fisionomia simplificada, sem sangue ou cérebro, e um sistema nervoso espalhado por todo o corpo. Como se não bastasse, todos os braços possuem órgãos vitais e as células do animal têm a capacidade de alterar suas funções originais para tomar o lugar das ausentes.
JAN/FEV 2016 | ECOLÓGICO 85
ARTE: SANAKAN
AMEAÇADAS
Infelizmente, as mudanças climáticas também ameaçam as estrelasdo-mar. Pesquisadores do estado americano de Washington (EUA) detectaram vários bichos sem um dos membros devido à ação de densovírus. Esse agente infeccioso, presente na costa do Pacífico da Califórnia ao Alasca, não é novo - mas os investigadores acreditam que o aquecimento das águas oceânicas pode ter contribuído para sua resistência e proliferação.
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MEMÓRIA ILUMINADA - CHICO BUARQUE
CHICO
SEM DESCULPAS Déa Januzzi
redacao@revistaecologico.com.br
A
ssistir o documentário “Chico: Artista Brasi- leira, que ele tenta entender até hoje, para desbraleiro” é refazer a história de toda uma geração var os mistérios da alma feminina, justamente por que bebeu no “Cálice” das profundezas des- desconhecê-los. se cantor, compositor, poeta, dramaturgo e escritor. Mais do que o documentário é preciso dizer que Aos 71 anos, 50 de vida artística, Chico Buarque se Chico Buarque é a trilha sonora da geração dos desnuda, se revela bem humorado, sorridente, sem anos 1970, da qual faço parte. Com ele, aprendi a tão divulgada timidez que ele desconhece. “Nunca a criar minhas próprias metáforas. E que as pafui tímido. Meus pais me chamavam de showboy”. lavras são revolucionárias – assim como todas as Do seu apartamento no Bairro Leblon, na Cida- formas de arte – principalmente se orquestradas de Maravilhosa, esse carioca com por esse monstro sagrado da passaporte para o mundo diz que MPB, com aqueles olhos vernão tem medo da solidão, gosta des. Com Chico aprendi que de ficar sozinho, apesar de reas palavras têm o poder de conhecer a atriz Marieta Severo derrubar muros, ditaduras e como “alma gêmea”. Chico e Macorações. Que Chico tem intirieta foram casados por 30 anos midade com as palavras e faz e tiveram três filhas que lhes depoesia sem o menor esforço. ram sete netos. O artista admite que não Dirigido por Miguel Faria Júnior foi fácil ser filho de Sérgio e com fotografia de Lauro Escorel, Buarque de Holanda, um dos o documentário mostra o artista e maiores sociólogos e historiao homem Chico Buarque, ambos dores brasileiros, com quem impecáveis. Foram 20 dias de enaprendeu o gosto pela litetrevistas, com direito aos bastidoratura, sobretudo a francesa. res da criação de algumas de suas Ainda jovem, já lia e falava principais composições, que são várias línguas com perfeição. interpretadas por grandes nomes O documentário mostra a da MPB e da música internacioamizade e a influência sobre nal, como Maria Bethânia, Milton Chico do maestro Tom Jobim Nascimento, Edu Lobo, Carmie do poeta Vinícius de Moraes O FILME tem depoimentos de Milton nho, Mônica Salmaso, Mart’nália que, de amigos do seu pai, se Nascimento, Ney Matogrosso, e Ney Matogrosso. tornaram seus amigos. Adriana Calcanhoto e vários outros O documentário abre as portas Graças a eles ficou sabendo artistas influenciados por Chico do apartamento de Chico para o de um segredo familiar guarpúblico. É como se ele estivesse dado a sete chaves: a existêndentro da casa da gente, tocando violão e cantan- cia de um irmão alemão, que cantava muito bem. do “Ah, se já perdemos a noção da hora, se juntos E a busca por esse ente desconhecido é registrada já jogamos tudo fora” – milhares de vezes ouvida e magistralmente em seu último livro “O irmão alerepetida no som das radiolas do Brasil em LPs. O mão” (Editora Companhia das Letras). Chico predisco era tão tocado que deixava ranhuras na bo- fere hoje mais escrever livros do que compor, pois lacha de vinil e na alma de qualquer mulher brasi- ficou praticamente um ano sem inspiração para a
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“Tudo é memória. Na música você trabalha com a memória. Pensar em como serei lembrado? Sinceramente, não tenho nenhuma preocupação com isso.”
FOTO: DARYAN DORNELLES - DIVULGAÇÃO
música. A crise musical o levou para a literatura. Com Chico Buarque virei adolescente, protestei contra a ditadura, lutei pela liberdade de expressão e conheci a língua portuguesa da forma mais direta e simples, sempre com a delicadeza e a elegância da poesia. Ouvindo Chico Buarque amei desesperadamente, a ponto de dizer: “E qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d’água”. Como Chico, lutei por muitas Genis, dei voz aos malandros, participei de rodas vivas. Com Chico, estou aprendendo a envelhecer. No documentário, ele usa um casaco vermelho, só permitido aos japoneses depois dos 50 anos. Como ele, vou usar a cor vermelha para mostrar que estou velha, mas que minhas emoções continuam pegando fogo. Vou seguindo com este grande artista de olhos verdes, cantando, amando, criando, trabalhando e escrevendo. Faço minhas as palavras da cineasta Elza Cataldo: “A limpeza formal do documentário ajuda a ressaltar a emoção dos intérpretes das suas canções e os depoimentos inteligentes e bem-humorados de quem tem o mérito de desfrutar da sua proximidade e do seu processo criativo. Comovente e engraçado. Faz chorar e rir. Sorte da Marieta Severo, tão linda e companheira. Sorte nossa. Vá ver Chico, você sairá do cinema melhor do que entrou.” Agora, convido a vocês, caros leitores, para entrar no mundo de Chico e saborear conosco algumas pérolas de sabedoria extraídas do documentário “Artista Brasileiro” e outras frases clássicas desse grande compositor brasileiro. Boa leitura!
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JAN/FEV DE 2016 | ECOLÓGICO 87
MEMÓRIA ILUMINADA - CHICO BUARQUE
FOTO: RICARDO STUCKERT/ABR
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“Cidade Maravilhosa, és minha. O poente na espinha. Das tuas montanhas, quase arromba a retina, de quem vê.” PÚBLICO DIVERSIFICADO “Tudo se renova. O cara chega e pede para fazer uma selfie comigo para mostrar para a avó que me adora.” VERGONHA NACIONAL “Existe uma vergonha de ser brasileiro, do que é nosso, acham que é brega. As pessoas querem viajar, pegar um avião e se esquecem que até avião hoje é brega.” ELITE INTELECTUAL “A Bossa Nova foi fruto de uma elite intelectual de Ipanema e se espalhou por todo o Brasil, como se fosse a música brasileira. Mas não é.” BRASIL “É um país único, fruto da colonização portuguesa, com emigrantes de todo o mundo, italianos, alemães, árabes, japoneses, com a marca dos escravos trazidos à força... E com origens indígenas, antes disso tudo. Em São Paulo, sem ir muito longe, você pode procurar nomes indígenas em muitas ruas. Essas circunstâncias criam um país único.”
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LITERATURA X MÚSICA “Sinto-me profissionalmente hoje mais escritor do que músico. Eu conheço mais da literatura do que de música. Eu não quero fazer o que já sei. Quero fazer exatamente o que eu não sei.” AMOR AOS LIVROS “Até os nove, 10 anos, e até o nível da quarta prateleira da biblioteca, durante toda a minha infância mantive uma relação sensual com os livros. Mesmo dos livros escolares eu tinha ciúme. Era uma lástima que me chegassem engordurados e rabiscados pelo meu irmão.” MUDANÇAS “As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem.” MORTE “Menino quando morre vira anjo. Mulher vira uma flor no céu. Malandro quando morre vira samba.” ESPERAR “Está provado: quem espera nunca alcança.”
MULHER “Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz. E atrás dessa mulher, mil homens, sempre tão gentis. Por isso, para o seu bem, ou tire ela da cabeça ou mereça a moça que você tem.”
leituras intermináveis e envolto em uma nuvem de fumaça de um cigarro continuamente aceso.” COMPOR “Componho hoje menos do que aos 20. É normal. A música popular é mais uma arte da juventude, com o tempo você vai perdendo, não sei, não o interesse, mas ela já não flui com a abundância daqueles primeiros anos. Tenho que me esforçar mais, procurar mais, é mais difícil. No começo você tem um milhão de ideias, tudo em torno serve para fazer uma canção. Depois vai ficando mais insípido, menos inspirador.”
INSPIRAÇÃO “Quando estou escrevendo um livro, não tenho o menor interesse por música, fico inteiramente fora. Quando eu me disponho a entrar na fase musical, requer um esforço. Não é do nada que aparece, não é assim. Tem que buscar. Minha primeira sensação, quando pego o violão depois de um longo tempo, é a de que não sei mais como se faz uma música.”
POSTURA POLÍTICA “Eu tomo partido e não tenho qualquer problema em declarar isso. Sempre apoiei o PT, agora a Dilma Rousseff e antes o Lula. Apesar de não ser membro do partido, de ter minhas desavenças e de votar em outros candidatos e outros partidos em eleições locais. Mas sempre soube que o problema deste país é a miséria, a desigualdade. O PT não resolveu tudo, mas conseguiu atenuar.”
ANOS DE CHUMBO “A ditadura encheu meu saco, mas eu também enchi o saco deles. Nada foi de graça. Para todos nós foi um desafio, mas não há mágoa.” CRIATIVIDADE “Circulo por toda parte. Converso com todo mundo, porque não tem essa de fama, de mito. Às vezes estou em casa escrevendo, compondo e me dá um branco, então, eu saio para caminhar, gosto de andar. Converso com um e com outro, ando, tiro de letra. Muitas das minhas caminhadas são de trabalho. Vou caminhando e pensando em como desenvolver melhor uma música.”
CRISE ECONÔMICA “A situação do país está muito confusa, não há nenhuma maneira de saber o que vai acontecer nos próximos anos. A crise econômica é forte. É preciso tomar certas medidas impopulares. Ao mesmo tempo, a oposição é muito dura. E depois há uma onda de manifestações nas ruas que, na minha opinião, não têm um objetivo concreto ou claro. Entre aqueles que saem às ruas há de tudo, incluindo loucos pedindo um golpe militar.”
FOTO: DIVULGAÇÃO
CORTINAS ABERTAS “Eu realmente não gosto muito de fazer shows não, mas tenho de fazer. Quando lanço um novo disco, me dá vontade de sair por aí e cantar em público. Depois posso passar dois anos escrevendo. Caso contrário, iria à falência.”
FAMA DE SEDUTOR “Não sei nada sobre ser o homem mais desejado do país. Sou um cidadão sério, um homem de família. Inventam histórias, criam lendas que não têm muito a ver com a realidade. Não sou o sedutor que comentam.” SOLIDÃO “Depois de um casamento de 30 anos fica muito difícil a essa altura da vida achar que você vai virar a esquina e se casar de novo. Não consigo nem me imaginar casado, convivendo com alguém o tempo todo, porque não tenho problema nenhum com a solidão. Gosto de ficar sozinho para criar.”
SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA “Era um pai amável, mas distante. Carinhoso, mas distraído. E um pouco ausente, sempre imerso em
“Se um dia não tem amigos, vinho, namorada... Ótimo, fico em casa. Não tenho problema nenhum com a solidão.” SAIBA MAIS
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JAN/FEV DE 2016 | ECOLÓGICO 89
1
REFLEXÕES
LEONARDO DICAPRIO* redacao@souecologico.com
O REGRESSO
CLIMÁTICO
FOTO: DIVULGAÇÃO
A
mudança climática é a mais impensável ameaça existente para nossa espécie. Pode tornar nosso planeta inabitável. As soluções exigem de todos nós mudanças reais no modo como vivemos nossas vidas, operamos nossos negócios e governamos nossas comunidades. Nosso futuro trará maior prosperidade e justiça quando estivermos livres das garras dos combustíveis fósseis. Para chegar lá, temos de agir. Devemos finalmente deixar para trás as tecnologias ineficientes de outros tempos e os modelos de negócios que eles criaram. Como Mensageiro da Paz das Nações Unidas e um cidadão preocupado, viajei para lugares como o Ártico, Antártida e Groenlândia, onde os cientistas ficaram surpresos ao encontrar geleiras antigas impermeáveis e sólidas rapidamente derretendo. No Canadá, vi a devastação deixada para trás na esteira dos gigantes de energia que derrubaram grandes faixas de florestas em uma busca insaciável pelo petróleo. Na Índia, encontrei-me com agricultores em uma vila fora de Nova Délhi que tiveram suas plantações e modos de vida destruídos por inundações sem precedentes. E também constatei: os mais pobres e menos privilegiados do mundo são os primeiros a sentir os efeitos devastadores das alterações climáticas. Não importa o país, região ou continente. A evidência da mudança climática é real. Não há dúvida de que este é um resultado das atividades feitas pelo homem. Em um ano como o de 2015, o mais quente já registrado na história, é difícil entender como alguns ainda se recusam a aceitar a realidade do aquecimento global. Cada ano em que nós impedimos o mundo de progredir nesse sentido é mais tempo perdido. É nas cidades que a mudança deve começar. Mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas, que geram mais de 70% das emissões globais e impulsionam a mudança climática. Vocês já imaginaram o que poderia ser alcançado se esses centros populacionais fossem transformados em 90 ECOLÓGICO | JAN/FEV DE 2016
modelos de sustentabilidade? Novas pesquisas mundiais comprovam que nós podemos atender à demanda global de energia com 100% de fontes limpas e renováveis, utilizando as tecnologias existentes em 2050. Para fazer isso, os líderes locais devem agir rapidamente para implementar políticas que apoiem uma transição para o transporte de baixo carbono, eficiência energética em edifícios, melhor gestão dos resíduos e das energias renováveis. Cidades-modelo como Vancouver (Canadá), Sydney (Austrália), Estocolmo (Suécia) e Las Vegas (EUA) já se comprometeram a usar 100% de energia renovável nas próximas décadas. Elas têm mostrado verdadeira liderança para enfrentar a crise climática. Essa mudança não requer avanços científicos. Para isso há tecnologia existente. Tudo o que precisamos agora é de vontade política e novos líderes. Por isso, eu imploro a todos vocês, prefeitos, governadores e presidentes: se comprometam a utilizar 100% de energia renovável o mais rápido possível. Eu desafio todos a fazerem mais. Se você é um funcionário público, um líder de negócios, uma mãe, um pai ou um estudante, deve se comprometer também, a partir de hoje, para tornar suas comunidades e empresas mais sustentáveis. O verdadeiro trabalho está por vir. Vocês são os catalisadores disso. Em um momento que nossas diferenças nos empurram para além, podemos encontrar uma causa comum que nos une: o nosso interesse por um futuro sustentável. Estamos agora em uma corrida para melhorarmos como seres humanos e melhorar o nosso planeta. Por favor, não deixem que o medo e a dúvida levem todos nós para baixo. Sejamos corajosos e fazedores de tudo que está em nosso poder para mudar o curso atual do aquecimento global. O mundo inteiro está nos vendo e aguardando isso. (*) Ator e ambientalista norte-americano. Trecho de seu discurso na COP-21.
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não para de trabalhar por você. pbh.gov.br