ANO 8 - Nº 88 - MARÇO DE 2016 - R$ 12,50
EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA
UM FILME DA CONSERV A
“Eu já cobri este pla n E eu posso cobri -
RODRIGO S
O OCE anaturezaesta fa
V AÇÃO INTERNACIONAL
a neta inteiro uma vez. ri -lo novamente.”
O SANTORO É
CEANO a falando.org.br
EXPEDIENTE
FOTO: ROBERTO MURTA
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Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
COLUNISTAS Antonio Barreto, Leonardo Boff, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza
DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com
REVISÃO Gustavo Abreu
EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com
CAPA Foto: Victor Moriyama/Greenpeace
DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com
DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com
CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior
Sarah Caldeira sarah@souecologico.com
CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Déa Januzzi, Luciana Morais e Vinícius Carvalho EDITORIA DE ARTE André Firmino
Representante Comercial Brasília Forza CM - Comunicação e Marketing sdonato@forzacm.com.br Representante Comercial Rio de Janeiro Tráfego Publicidade comercial@trafegopublicidade.com.br MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com
ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br (*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.
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revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS
DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com
ecologico
2,16 tCO2 e Dezembro de 2015
IMAGEM DO MÊS
RIO DE LIXO Após autoridades fecharem o aterro de Naameh, na periferia de Beirute, no Líbano, e não apresentarem um novo local para a disposição de resíduos, milhões de sacolas de lixo vêm sendo jogadas em uma rua da região. O "rio" que se formou no subúrbio da capital libanesa é um protesto da população que há seis meses convive com o problema.
FOTO: AZIZ TAHER / REUTERS
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ÍNDICE
CAPA NA TERCEIRA PARTE DA REPORTAGEM SOBRE A TRAGÉDIA DE MARIANA, UMA REFLEXÃO SOBRE O FUTURO DA REGIÃO E O ACORDO ENTRE A SAMARCO E OS GOVERNOS FEDERAL E ESTADUAIS PARA A RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DO RIO DOCE.
Pág.
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AS PEGADAS DE LUND PRIMEIRA PARTE DA SÉRIE RETRATA AS DESCOBERTAS DE FÓSSEIS EM MINAS GERAIS, DATADAS DE 1785
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E mais... CARTAS DOS LEITORES 08 CARTA DO EDITOR 10 GENTE ECOLÓGICA 12 ECONECTADO 14 ESTADO DE ALERTA 16 FELIS CONCOLOR 18 PÁGINAS VERDES 20
ECOLÓGICO NAS ESCOLAS
CÉU DO MUNDO 44
UMA AMEAÇA À SEGURANÇA ALIMENTAR, A DESERTIFICAÇÃO AVANÇA NO BRASIL. NO ENTANTO, HÁ COMO EVITÁ-LA
ALMA PLANETÁRIA 48
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SAÚDE 46
EMPRESA E MEIO AMBIENTE 50 AQUECIMENTO GLOBAL 56 BIODIVERSIDADE 60 GESTÃO & TI 62 EDUCAÇÃO AMBIENTAL 70
ENSAIO FOTOGRÁFICO
NATUREZA MEDICINAL 78
LIVRO “OS SERTÕES DO BRASIL” TRAZ SÉRIE DE FOTOS FEITAS POR JOSÉ ISRAEL ABRANTES SOBRE A NATUREZA AGRESTE
MEMÓRIA ILUMINADA 86
VOCÊ SABIA? 80
O SEGREDO (1) 92 OLHAR POÉTICO 98
FIEMG.COM.BR
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CARTAS DOS LEITORES
O ECOLÓGICO NAS ESCOLAS – BRASIL É CAMPEÃO! A reciclagem de latas de alumínio no país chega a 98,4% e bate recorde mundial “Só porque uma embalagem é completamente reciclável não é sinônimo de sustentabilidade. Deve-se observar os fatores mais importantes, que são os custos de sua fabricação, o consumo de água e energia para chegar ao produto final. Se pesquisarem mais sobre isso, vão se assombrar com a contradição de todo este processo de produção e sua logística. Além do que ninguém está levando em conta os custos ambientais e energéticos para a extração e produção do alumínio para esses fins.” Juan Mario Arenas Sandoval, via Facebook “O fato é bom, no entanto, só ocorre por conta dos catadores de latinha que as usam como fonte de renda. Para se comemorar mesmo, essa reciclagem teria de acontecer por conta da educação ambiental. Mas, acredito que estamos no caminho.” Lailla Coutinho, via Facebook O MATÉRIA DE CAPA - E AGORA, MARIANA? (2) Especialistas analisam a tragédia do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG) “Até agora, não vimos nada de concreto sendo feito, ministra Izabella Teixeira. O mundo inteiro já sabe quem são os responsáveis.” Neusa Costa Santos Saraiva, via Facebook “A tragédia só aconteceu porque as leis ambientais brasileiras são uma piada, somado à ineficiência dos fiscais corruptos, que culminou em um acidente de proporções desastrosas e inseparáveis. Tem algum culpado preso? Nem vai ter. No Brasil só vai preso bandido pé de chinelo!” Marcos Naval, via Google+ “Isso não foi um acidente, foi um crime de omissão, pois os fatos já estavam apontando que iria acontecer.” William Silva, via Google+ OMEMÓRIA ILUMINADA - CHICO SEM DESCULPAS Matéria sobre o documentário “Chico – Artista Brasileiro”, que fala da vida e carreira do cantor Chico Buarque “O documentário é imperdível! Assisti e adorei!” Christiane Carvalho Uchoa, via Facebook
08 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
O REFLEXÕES – O REGRESSO CLIMÁTICO O ator e ativista ambiental Leonardo DiCaprio fala sobre o papel da sociedade na questão das mudanças climáticas “Guarde esse discurso na gaveta! Aqui no Brasil precisamos é investir em educação, segurança, saneamento básico e na recuperação das matas e florestas. Gastar com energias renováveis num país que a duras penas vem estabelecendo sua matriz energética é só para alienados!” Aloisio Cotta, via Facebook “Que mais personalidades como Leonardo DiCaprio usem de sua arte para abrir a cabeça das pessoas sobre a questão ambiental. Investir em energia limpa é algo urgente e isso pode ser feito paralelamente ao oferecimento de uma melhor educação ambiental, projetos que fortaleçam a economia de água, a coleta seletiva, não desperdício de energia e, principalmente, fomentem o reflorestamento.” Kelly Lígia, via e-mail “Com a quantidade de impostos que pagamos, é possível investir em tudo isso. O problema é a corrupção dos nossos gestores, que não fazem nada pela sociedade.” Romilda Alves, via Facebook
FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
O RÉQUIEM DA IMPRENSA VERDE Mais longeva e educativa publicação do país, Folha do Meio Ambiente deixa de ser impressa por falta de publicidade e apoio governamental “Credito ao Silvestre Gorgulho não só o pioneirismo na imprensa verde no Brasil, mas também a motivação para que eu, ainda um publicitário, seguisse o incerto caminho do meio ambiente como profissão, lá em 1989, quando comecei. Silvestre é um dos mais cultos jornalistas que conheço, um grande especialista na história de Brasília e de seus construtores, e poderia estar em qualquer redação do país ocupando posição sênior. Silvestre, continue na internet - ou melhor ainda, reinvente-
“Como rotina da minha profissão, tenho contato diário com vários veículos de comunicação. Mas o prazer em ler a Revista Ecológico é o de sentir e saber sobre os movimentos de pessoas e empresas em direção à sustentabilidade. Os temas ligados à qualidade de vida, reciclagem, preservação da natureza, espiritualidade e ética são valores que tornam a publicação referência no setor. Para mim, ecologia sempre esteve na moda e faz parte dos meus princípios. E, por todos esses motivos, a cada lua cheia aguardo ansiosa por mais uma edição.” Cristiane Nobre, empresária e profissional de Relações Públicas
se e amplie-se nela, que é um espaço muito maior do que algumas páginas impressas, inclusive para promover educação.” Rogerio Ruschel, via site
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FOTO:OLÍCIO SILVEIRA
“Minas Gerais foi do período colonial até hoje vítima de violações de sua natureza. A importância de restabelecer nossas florestas vai refletir no futuro.” Renato Pereira, via Facebook
EU LEIO FOTO: ARQUIVO PESSOAL
O MINAS PLANTA O FUTURO Projeto liderado pela Codemig pretende plantar 30 milhões de árvores e recuperar 40 mil nascentes
FOTO: FERNANDA MANN
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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com
VELHO CHICO P
arece estar escrito, desde sempre, no dicionário da nossa travessia sobre a Terra: o que nos move, mesmo feito gado indo para o matadouro das mudanças climáticas, acelerando a colheita do que fazemos com a sua natureza, é a esperança. Quando estamos confusos e deprimidos, buscando um sentido na vida, seja em nós mesmos ou no que fazemos ao planeta, é ela que nos salva: a “velha” esperança, por nós compartilhada, de sobrevivermos. A confiança de que algo bom irá nos acontecer. De que quanto maior o desamor e a escuridão da noite, mais próxima está a chegada de um novo amanhecer, a luz de um novo amor, como poetizava Vinicius de Moraes. É com essa crença que, apesar de nossa escolha preferencial pela dor, parece estarmos condenados a dar certo. Predestinados a evoluir sempre, tal como todas as espécies vivas do planeta. É com esse pensamento de “re-acreditar” sempre na melhora natural do ser humano, que a Revista Ecológico acompanha, em mais uma edição especial sobre o “Dia Mundial da Água”, o desfecho/acordo federal que se esboça para enfrentar e sanar o ocorrido com a tragédia de Mariana. Um acordo de reparação ambiental de R$ 20 bilhões, seguido de governança pela própria Samarco, que causou o acidente, ninguém pode negar e tem o aval dos ambientalistas mais moderados: os: ele é melhor que a falta de acordo e governança a alguma, vide o perigo desse dinheirão entrar noss cofres públicos e nada chegar ao Rio Doce. Foi o que não aconteceu há 15 anos, na tragédia da Mineração Rio Verde, em Macacos, Nova Lima (MG), onde cinco operários morreram; e a Ecológico também recorda, com muita a dor, nesta edição. Um recado comparativo dito o pela própria ministra Izabella Teixeira, para se e manter a eterna vigilância: “O modelo do nosso acordo com a Samarco só vai ser exitoso se tivermos o engajamento da sociedade”. É o cha10 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
mado segundo passo que se espera do processo. Caro leitor, você também vai conferir uma outra tragédia anunciada, muito maior e silenciosa, prestes a acontecer, segundo o professor, doutor em Arqueologia e especialista em Cerrado, Altair Sales Barbosa: o fim anunciado deste bioma brasileiro, o maior ecossistema da parte central de toda a América Latina, incluindo as veredas e os buritis de Guimarães Rosa. Você vai saber ainda por que o arroto do boi no Brasil, hoje o maior criador de gado e exportador de carne do mundo, ameaça nos levar mais depressa ao inferno do aquecimento global. Vai entender o que se passa na mente do “Cabeça da Terra”, como é chamado Ailton Krenak, um dos maiores líderes políticos e intelectuais dos povos indígenas no país. E, por fim, para não perdermos de vez a velha esperança no mundo, no Brasil e em nós mesmos, vide a crise econômica e financeira que nos abate, além dos embates éticos e políticos, você vai reler o primeiro capítulo da série, acredite se quiser, de “O Segredo”, o best-seller de Rhonda Byrne, que publicamos originalmente na JB Ecológico, revista antigamente encartada no Jornal do Brasil. No mais, é aguardarmos para ver se a nova novela da Rede Globo também irá tratar, mesmo de leve, mas de forma esperançosa e educativa, a questão amf biental. O nome do seu personagem principal diz bi tudo: é o Velho Chico mesmo! Quando ainda lhe tu havia água abundante, antes da sua degradação, h como diria Drummond: 90% de água em seu curso e 80% nas almas das pessoas ribeirinhas. É dele, do Velho São Francisco, um dos temas do “VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, que também estaremos falando em nossa próxima edição, com a cobertura completa do evento, o registro de seus vencedores e recados de esperança hídrica. Boa leitura! Até o dia 22, lua cheia de abril. O
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FOTO: DANNY MOLOSHOK / REUTERS
GENTE ECOLÓGICA ILUSTRAÇÃO: GERALDINHO LEMOS
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“Toda crise é fonte sublime de espírito renovador para os que sabem ter esperança.”
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CHICO XAVIER, médium espírita
“O animal selvagem e cruel não é aquele que está atrás das grades. É o que está na frente delas.”
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AXEL MUNTHE, médico e escritor sueco
“Às vezes ouço passar o vento. E só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.” FERNANDO PESSOA, poeta português 12 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
“‘O Regresso’ foi sobre a relação do homem com a natureza, um mundo que teve em 2015 o ano mais quente já registrado. Nossa produção teve que se mudar para a parte mais ao sul do planeta só para achar neve. A mudança climática é real. Está acontecendo agora. É a ameaça mais urgente à nossa espécie. E precisamos trabalhar coletivamente e parar de adiar isso. Precisamos apoiar os líderes mundiais que não falam pelos grandes poluidores e grandes corporações. Mas que falam por toda a humanidade, pelos povos indígenas do mundo, pelos bilhões de pessoas desamparadas que serão as mais afetadas por isso. Pelos nossos netos e pelas pessoas que tiveram suas vozes afogadas pela ganância política.” LEONARDO DICAPRIO, ator norte-americano, ao receber o Oscar de “Melhor Ator” por sua atuação no filme “O Regresso”
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, ex-presidente da República
“A natureza tem uma estrutura feminina: não sabe se defender. Mas sabe se vingar como ninguém.”
“Não são poucos os exemplos de córregos canalizados, escondidos sob concreto, que transbordam causando transtornos sérios para a população. Esconde-se o curso d’água e sobre ele constrói-se uma avenida, que funciona bem até que a chuva destrua tudo novamente.” PAULO CÉSAR OLIVEIRA, jornalista e diretor-geral da VB Comunicação
FOTO: GUILHERME BERGAMINI / ALMG
MARINA SILVA, ex-ministra de Meio Ambiente
FOTO: BEBEL BALDONI / PBH
MALU NUNES, diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
DÉLIO MALHEIROS O vice-prefeito e secretário de Meio Ambiente de BH foi visto, e virou viral, descendo de seu carro em uma das avenidas menos verdes da capital mineira. Sozinho, ele levantou e "amarrou" várias mudas de árvores caídas no chão, que estavam soltas de suas estacas ao longo do canteiro central: “Estou dando o exemplo de que cada cidadão pode fazer o mesmo. E não ficar contando só com a prefeitura para zelar o verde da cidade”, disse ele em seu blog. GISELE BÜNDCHEN Embaixadora da Boa Vontade do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a modelo participou recentemente de um encontro na sede da ONU no “Dia Mundial da Vida Selvagem” (03 de março), cujo tema é “O futuro dos elefantes está em nossas mãos”. No evento foram debatidos os desafios e as novas iniciativas para os países acabarem com o tráfico ilegal de animais.
FOTO: LILI FERRAZ
FOTO: BEBEL BALDONI / PBH
FOTO: ACERVO FUNDAÇÃO BOTICÁRIO
“A pior guerra é a guerra contínua contra a natureza, que é silenciosa, que destrói ao longo do tempo.”
FOTO: ALESSANDRO CARVALHO
“A natureza não sabe fazer perguntas como nós. Mas tem respostas claras e diretas para o que fazemos com ela.”
CRESCENDO
SÉRGIO MYSSIOR Especialista em Meio Ambiente e Urbanismo, atual conselheiro titular estadual no Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais (CAU-MG) e do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte (Comam), Myssior foi nomeado diretor de Sustentabilidade do Sindicato das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva de Minas Gerais (Sinaenco-MG).
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O 13
ECONECTADO CRISTIANE MENDONÇA
ECO LINKS
O “Não há debate sobre
o clima; a mudança climática é inequívoca, verdadeira e urgente de resolver. As escolhas que fazemos agora asseguram ou eliminam o nosso futuro.” @JimCameron - James Cameron, cineasta canadense
FOTO: ANGELA GEORGE
TWITTANDO
O “Não há um só índio entre 513
O “Os jovens
desempenham um papel essencial para a construção de um novo futuro para o mundo árabe, integrado à economia global.” @Lagarde - Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI
FOTO: FONDS MONÉTAIRE INTERNATIONAL E
deputados e 81 senadores. Se a PEC 215 for aprovada, nunca mais haverá demarcação de terra no Brasil #PEC215Nao.” @silva_marina - Marina Silva, ex-senadora
O “Muito triste...O ser humano ainda tem
que aprender muito com a natureza.” @gewbank - Giovanna Ewbank, atriz O “Pelo menos uma a duas vezes
por semana, é preciso dar uma geral na casa. Água parada e descoberta, nunca!” #zikazero @drfernandoneuro – Fernando Gomes Pinto, neurologista
#ZIKAZERO As temidas doenças dengue, zika e chikungunya, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, têm causado grande apreensão nas pessoas. Para reforçar ações de prevenção, como não deixar água parada em nenhum recipiente, já existem aplicativos que ajudam a mapear focos de possível reprodução do Aedes. Um bom exemplo é o app AntiZika. Criado por universitários da Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (EST-UEA), o programa permite que você tire fotos de reservatórios de reprodução do mosquito e coloque no mapa. Ao acessar o aplicativo você também pode visualizar quais lugares no seu bairro são mais críticos e até mesmo utilizar a informação para denunciar às autoridades responsáveis. Em Belo Horizonte, o número é 156. O aplicativo é gratuito e pode ser baixado no Google Play. FICA A DICA! O site da Revista Ecológico é atualizado diariamente com notícias sobre meio ambiente e sustentabilidade. Política e educação ambiental, denúncias, bons exemplos, dicas e entrevistas com especialistas são alguns dos assuntos publicados. Acesse www.revistaecologico.com.br e cadastre-se para receber nosso conteúdo exclusivo!
MAIS ACESSADA CINCO PARQUES FLORESTAIS DE MINAS QUE VOCÊ PRECISA CONHECER Minas Gerais não tem mar, mas possui reservas naturais repletas de cachoeiras de encher os olhos (e a alma). Por isso, a matéria que indica cinco parques verdes do estado foi a mais acessada, no site da revista, durante o mês de fevereiro. Se você também deseja conhecer e visitar pontos turísticos mineiros ainda verdes e preservados, não deixe de se informar em: http://goo.gl/MMx3Kq FOTO: ANTÔNIO A. T. DE ALMEIDA
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O “62 pessoas têm a mesma renda de 3,5 bilhões, segundo a Oxfam! Alguma coisa está mesmo fora da ordem!” @ReinaldoCanto Reinaldo Canto, jornalista 14 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK
O “Pobreza global: obesidade supera a fome no Brasil e, na França, lei obriga a doar alimentos.” @AmeliaGonzalez8 - Amelia Gonzalez, jornalista
CACHOEIRA do Crioulo, Parque Estadual do Rio Preto: oásis turístico
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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br
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Samarco tem obrigação de arcar com a recuperação de tudo que causou com a ruptura da Barragem de Fundão. Mas isso, nem de longe, significa salvar o rio Doce. Esta tarefa depende do poder público - governos federal, estadual e municipal, do Legislativo - e da sociedade, que é cúmplice, omissa e também responsável por sua agonia. A população das cidades que foram atingidas pela lama da Samarco, ficaram sem água ou sofreram prejuízos, com exceção provável de alguns “gatos-pingados” e ambientalistas “chatos”, enxerga o rio como depósito de esgoto e lixo. Não tivemos acesso ao plano de recuperação apresentado pela Samarco. Mas sabemos que o Rio Doce e a maior parte de seus afluentes já estavam em processo de agonia antes da ruptura da barragem, em função de: mau uso do solo, representado pelo alto nível de erosão que entupiu seu leito de terra; destruição de suas matas ciliares e nascentes; ocupação urbana desenfreada; lançamento de esgotos domésticos e industriais; lixo; e construção sequencial de barragens para geração de energia elétrica. Estruturas que ameaçam matar o Rio Santo Antônio, um dos poucos afluentes que mantêm qualidade ambiental. Além de tudo isso, estão na lista de ameaças ao Rio Doce a abertura e manutenção de estradas por prefeituras e particulares, agricultura, minerações etc. A lama da barragem obviamente foi um duro e decisivo golpe nesse processo de morte. Mas atingiu muitas áreas que, sob ponto de vista ambiental, já estavam degradadas - como as margens do Rio Doce, onde a lama está agora depositada. É preciso então saber se a recuperação consistirá em voltá-las à condição de antes da lama. Ou se elas serão realmente recuperadas com plantio de mata ciliar. A segunda opção esbarra na concordância dos proprietários rurais que ocuparam as margens para atividades agrícolas ou criação de gado. E a empresa não pode obrigá-los a aceitar o plantio, que prevê, no mínimo, restrições de uso. Se o governo quer realmente recuperar o Rio Doce, o que duvido, a oportunidade deveria ser aproveitada. Mas, se assim for, terá de adotar medidas diversas e até conflitivas com os proprietários. Para a empresa, retirar a lama é provavelmente mais fácil e mais barato do que recriar a floresta que protegia as barrancas do rio contra desmoronamento 16 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTO: FRED LOUREIRO / SECOM ES
A LIÇÃO FOI APRENDIDA?
LAMA na foz do Rio Doce, no Espírito Santo: biodiversidade impactada
e criava condições para a vida aquática e terrestre. A recuperação da fauna terrestre, que foi duramente atingida, principalmente nas áreas de encosta onde ainda existiam ambientes naturais como florestas, é um ponto fundamental. CAMINHOS A SEGUIR Penso que não há muito que fazer em termos de diagnosticar o tamanho do impacto. E mesmo se é possível questionar a utilidade disso. Pragmaticamente, a Samarco deve assumir compromisso, com projeto executivo completo, incluindo monitoramento de resultados e proteção contra incêndios, de recriar esses ambientes e transformar a área em unidade de conservação de proteção integral. Se as terras não forem de sua propriedade, deve comprá-las. Como são impróprias para atividades econômicas pela declividade, qualidade do solo, áreas de ocorrência de Mata Atlântica protegidas por Lei, o custo é baixo. Penso também que as barragens devem ser definitivamente encerradas, com recuperação e anexação às unidades de conservação propostas. A recuperação da fauna aquática é fundamental e depende de fatores pouco controláveis. É preciso aguardar e monitorar a sedimentação e dispersão da lama ao longo de seu leito e no mar. A proteção de afluentes, principalmente o Rio Santo Antônio, é ação indispensável na recuperação. Será a partir deles que o Doce será recolonizado. Ele é um rio de piracema e o maior berçário de reprodução da bacia. Também não é demais lembrar: se a Semad conceder
“Não deixar ‘um tostão’ nas mãos do governo do Estado, da União e das prefeituras, criar instituição privada para administrá-los, com espaço institucional para acompanhamento pela sociedade, são parâmetros para acreditarmos que a tragédia causada pela Samarco servirá realmente de lição neste país.”
licença para construção das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHS) em “cascata” projetadas para ele, adeus fauna aquática! Adeus, recuperação do Rio Doce! Adeus, “demagogia ambiental”! Na verdade, o verbo “recuperar” é impróprio. O correto é “paralisar” a degradação. Recuperar suas matas ciliares, proteger nascentes e afluentes que o alimentam, recuperar os milhares de hectares de terra que se transformaram em deserto por causa do desmatamento, fogo e super pastoreio, agricultura em encostas, tratar esgotos e não jogar lixo é tarefa gigantesca, desafiadora, longa. Mas possível. Retirar a terra que durante séculos entupiu o leito do Rio Doce devido ao mau uso do solo e a lama que desceu da mineração e reduziu sua profundidade média para 90 cm é impossível. Mesmo assim, continua sendo um rio; e sua água, vital para as populações humanas que vivem em sua bacia, mesmo sem ter consciência ou preocupação com ele. Há muitos atores sérios atuando nessa discussão.
Mas seu número é bem menor que o dos oportunistas que enxergam nos recursos que a Samarco está aportando ou será obrigada a fazê-lo a chance de ganhar dinheiro ou desviá-lo para outros fins. Não deixar “um tostão” nas mãos do governo do Estado, da União e das prefeituras, criar instituição privada para administrá-los, com espaço institucional para acompanhamento pela sociedade, são parâmetros para acreditarmos que a tragédia causada pela Samarco servirá realmente de lição neste país. E o governo do Estado e a União teriam de garantir a execução das ações ambientais a serem realizadas, pois lhes cabe fazer cumprir a lei. Mas, alguém acredita que Fernando Pimentel considera que salvar o Rio Doce é “política de Estado”? Que contrariará interesses mesquinhos de ruralistas, prefeitos, políticos etc? Importante: essas interrogações valem para qualquer outro governo, de qualquer partido. O (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).
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SELVA DE CONCRETO
FOTO: SANAKAN
FELIS CONCOLOR redacao@revistaecologico.com.br
A TRAGÉDIA das 15 mil árvores condenadas, inspirada na canção de Toni Tornado: "A gente tambem morre na BR-3"
É O FIM DA PICADA!
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lô, alô, meus leitores de antigamente! Vocês se lembram de mim, Felis Concolor? Essa veia onça parda, suçuarana, que costumava infernizar quem estivesse fora da lei da vida? Pois é. Como naquela canção do Roberto... “eu voltei! Agora pra ficar, porque aqui, aqui é meu lugar...”. É verdade. Também conhecido como puma brasileiro, fui obrigado a voltar para conseguir confiar novamente na espécie humana, flagrada que fui outro dia mesmo, adivinha onde? Em plena Serra do Cipó, mais precisamente no Ermo das Gerais, logo depois da Lapinha, no município de Santana do Riacho. Tava subindo rumo ao Cruzeiro e ao Pico do Breu, em direção a Conceição do Mato Dentro, quando dois jovens ciclistas, Leandro Figueiredo e Paulo Henrique Moreira, me flagraram. Os dois esportistas acharam que me assustei. Assustei, não. Apenas saí de cena, faminta. Contornei o rio e fui até o acampamento deles para ver se ti18 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
nha sobrado algo de comer. E o que li numa edição já amarelada do jornal “O Tempo”, na porta da barraca? Que a empresa Via 040, nova administradora da Rodovia BR-040, já estava iniciando o corte de mais de 15 mil árvores frondosas nas margens e nos canteiros centrais, entre o trevo de Ouro-Preto e Curvelo, para implantar um novo deserto ao longo de... 145 quilômetros de distância entre os dois locais! A alegação dada pela empresa, de uma ignorância e desamor profundo pelo meio ambiente e a natureza que nos resta, é pior que soneto antiecológico: “Para diminuir a gravidade dos acidentes e aumentar a segurança dos motoristas naquele trecho”. E, o fim da picada: com autorização dada pelo Ibama, cuja tradução é “Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis”. Segundo a concessionária, o fim das árvores “irá permitir que sejam criadas áreas de escapes livres de obstáculos fixos aos motoristas”. E, assim, “que eles
FOTO: PAULO HENRIQUE MOREIRA
BEAGÁ SORTUDA “Nos anos 1990, a Prefeitura de BH planejou uma reforma completa para a Avenida do Contorno. Tudo seria revisto e melhorado. Mas, ao ser examinado pelos órgãos ambientais, notou-se um problema sério: o projeto incluía o corte de centenas de árvores. O objetivo era alargar a pista para os carros, sacrificando os canteiros centrais. Deu-se uma discussão em torno da escolha "árvores versus carros”. Ao fim, quase todas as árvores permaneceram. Boa parte delas, ipês." Paulo André Barros (*) Jornalista e geógrafo, colaborador da Arca Amaserra. Fonte: O Tempo
possam reduzir a velocidade dos carros ou mesmo retornar o controle da direção sem se chocar contra uma árvore, o que pode aumentar consideravelmente a gravidade de um acidente”. Em sua defesa, essa tal de Via 040 disse ter se baseado em vários estudos sobre o tema, o que cabe a essa suçuarana aqui perguntar: será que ela ou o Ibama contaram quantos passarinhos não terão mais onde fazer seus ninhos e se reproduzir, tal como soltar seus cocôs com sementes, que caem no chão e fazem a natureza recriar a biodiversidade, naturalmente? E a custo zero, para todos nós? Li também no jornal, e pasmei com o que disse o especialista em trânsito (e não na universalidade da vida) Silvestre de Andrade Filho (observem a ironia do nome dele - Silvestre): “O corte é algo praticado na engenharia mundial, em outros países, e faz parte do manual de segurança da engenharia”. Parece que ele não sabe que, há muito, já existe a “engenharia ambiental”, e ela é irreversível, se quisermos sobreviver neste planeta. Ele continuou: “A retirada das árvores não elimina um acidente, mas minimiza muito o impacto da batida. É uma medida válida”, ajudou a sentenciar. Nessa visão surrealista, ele, a Via 040 e o Ibama encarnam o mesmo pensamento que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, nos anos 2000, que criou polêmica internacional ao propor o corte das árvores das florestas públicas para evitar incêndios em seu país. O plano e o manual de Bush tam-
OLHEM EU aí, em carne e osso, flagrada por dois jovens ciclistas na região do Ermo das Gerais, logo depois da Lapinha, distrito do município de Santana do Riacho, no Parque Nacional da Serra do Cipó, a 160 km de BH: “Eu voltei...”
bém incluía a retirada das matas fechadas e de arbustos, para conter o avanço das chamas. Sem natureza, era a sua tese, o cidadão americano estaria salvo. Bush, então presidente do país considerado um dos maiores poluidores do mundo, entrou para a história como o inimigo número um da humanidade, por se recusar a assinar o Protocolo de Kyoto contra o aquecimento global e defender sua outra tese maior, mais antropocêntrica impossível: a de o ser humano estar acima da natureza e ser mais importante que ela, vide o aceleramento das mudanças climáticas que ele provocou. E a escola antiecológica e insustentável que ele continua fazendo. Fica, então, a sugestão dessa onça veia. A Via 040 prestar-lhe uma paritária homenagem, colocando uma placa de asfalto e cimento, com a foto e o nome dele, quando da inauguração da futura rodovia sem árvores. Passarinho algum estará presente, nem irá defecar sementes nas nossas cabeças, o que na roça interior significa “sorte”. Apenas o asfalto mais quente e a natureza morta na paisagem ensolarada, monótona e sonolenta. Azar nosso! O
PRIMEIRA EDIÇÃO da JB Ecológico, em 2002, com o Bush na capa: na época, ele declarou que os EUA eram o maior poluidor do mundo. E que, se fosse preciso, iriam "poluir ainda mais para evitar uma recessão na economia americana"
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A EXTINÇÃO QUE FOTO: WAGMAR ALVES / DICOM-PUC GOIÁS
AMEAÇA O BERÇO Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
Para quem acha que água saindo da torneira é sinal de infinitude, é melhor rever seus valores, porque a realidade e o futuro são desanimadores. A crise hídrica é um fantasma que veio para ficar. E será cada vez mais grave caso ecossistemas como o Cerrado, que abrigam grandes bacias hidrográficas no país, entrem em colapso. É o que diz o antropólogo e doutor em Arqueologia Pré-Histórica pelo Smithsonian Institution National Museum Of Natural History (EUA), Altair Sales Barbosa. Nesta entrevista concedida à Ecológico, ele alerta que qualquer dano feito ao bioma, como desmatamento para plantação de monoculturas, é irreversível e tem impacto direto na absorção de água pelos lençóis freáticos que alimentam os rios. Também denuncia as grandes empresas multinacionais que se apossaram das águas. E aponta que a privatização do recurso natural já está acontecendo. Sales, que é fundador do institutos Goiano de Pré-História e Trópico Subúmido em Goiânia (GO), não é um pessimista. O que ele nos mostra é a realidade cientificamente provada de que a revitalização completa do bioma já não é mais possível. E que os efeitos da degradação ambiental que todos nós permitimos poderão ser uma conta a ser paga com mais racionamento, desemprego, epidemias e miséria num futuro próximo. Confira:
Por que uma mudança de atitude em relação à preservação da água é tão difícil de acontecer? O homem atual é o resultado de dois processos evolutivos que se sobrepuseram ao longo do tempo: o biológico, que compartilha com os demais seres vivos e que fundamentalmente consiste na transferência de adaptações biológicas, que facilitam a sobrevivência e a seleção das espécies; e o cultural, resultado dos avanços tecnológicos logrados pela espécie humana em sua evolução biológica. A evolução cultural tem significado, por
um lado, a organização do homem em grupos sociais que tem gerado problemas demográficos, de saúde, educação, institucionais etc. E, por outro lado, agregou o fluxo do dinheiro como resultado dos intercâmbios e das transações, gerando assim uma série de variáveis econômicas relacionadas com produção, capital, trabalho, comércio, indústria, consumo, níveis de preços, maximização de ganho... A aplicação das diversas tecnologias sobre as biogeoestruturas naturais não só originou diversas manufaturas como também criou uma
ALTAIR SALES: “A extinção do berço das águas, como conhecemos o Cerrado, irá agravar a crise hídrica até à parte central da América Latina"
A LTA I R S A L E S B A R B O S A
grande quantidade de ecossistemas artificiais: cidades, metrópoles, campos de cultivo, pastagens artificiais, represas, canais de regadio, rodovias, vias férreas, aeroportos, grandes usinas, complexos atômicos, etc. E, para tudo isso funcionar, água é fundamental.
FOTO: SANAKAN
Antropólogo e doutor em Arqueologia Pré-Histórica
Mas não é infinita. Exato. O fato é que hoje temos conhecimento suficiente para afirmar que a água é um recurso finito, que em breve vai faltar em várias partes do mundo, que os aquíferos que sustentam os rios estão na base mínima de suas reservas e que com a retirada da vegetação nativa a recarga desses aquíferos se torna impossível. Sabemos que precisamos de água em nossas casas para a produção de alimentos e de energia, para a indústria, mas também sabemos que sem saneamento a água, que é fonte da vida, se transforma num veneno letal. Qual a avaliação que o senhor faz da crise hídrica que vem assolando o Brasil? A tecnologia, que possibilitou ao homem sair do seu planeta e fincar bandeirolas em outros rincões do Sistema Solar, trouxe também o consumismo voraz como modelo de desenvolvimento e progresso. E, em nome deste, uma pequena parcela da humanidade moderna, de posse dessa alta tecnologia, é representada por grandes empresas multinacionais desvinculadas dos estados. E, por isso, sem responsabilidade social e moral, se apossaram das águas modernas, poluindo os rios, construindo represas, desviando e transpondo os cursos dos corpos d’água, sem levar em consideração as histórias evolutivas particulares de cada lugar.
“Os buritis, eternizados na obra de Guimarães Rosa, levam até 500 anos para atingir 30 metros, em ambientes já degradados. Se o Cerrado morrer, eles não sobreviverão em outro lugar.”
A privatização das águas será então um caminho sem volta?
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“Sem saneamento, a água, que é fonte de vida, se transforma em um veneno letal.”
FOTO: SÉRGIO G. COUTINHO
Os donos do mundo já estão falando em privatização das águas, ou seja, querem considerá-la apenas um bem comercial, em contraposição aos que a veem como patrimônio da humanidade e que, por isso, deve ser preservada e não privatizada. E muito menos transplantada. Agindo dessa forma, os grupos poderosos, que em nome de um falso progresso já desestruturaram o território, orquestram agora o controle do planeta pela privatização da água. A crise hídrica é uma confirmação de que o Cerrado está em vias de extinção? Sim. O Sistema Biogeográfico do Cerrado, que ocupa desde a aurora do Cenozóico à parte central da América do Sul, também é conhecido como o “berço das águas” ou a “cumeeira” do continente, porque é distribuidor das águas que alimentam as grandes bacias hidrográficas da América do Sul. Isso ocorre porque, na área de abrangência do Cerrado, encontram-se três grandes aquí-
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feros responsáveis pela formação e alimentação dos grandes rios continentais. Um deles, e o mais conhecido, é o aquífero Guarani, associado ao arenito Botucatu e a outras formações areníticas mais antigas. Esse aquífero é responsável pelas águas que alimentam a bacia hidrográfica do Paraná, além de alguns formadores que vertem para a bacia Amazônica. E os outros dois? São os aquíferos Bambuí e Urucuia. O primeiro está associado às formações geológicas do Grupo Bambuí, o segundo está associado à formação arenítica Urucuia, que em muitos locais está sobreposta ao Bambuí. Em certos pontos, há até um contato entre os dois aquíferos, apesar de existir entre ambos uma imensa diferença cronológica. Os aquíferos Bambuí e Urucuia são responsáveis pela formação e alimentação dos rios que integram a bacia do São Francisco e as sub-bacias hidrográficas do Tocantins, Araguaia, além de outras situadas na abrangência
do Cerrado. Além dessas imponentes bacias hidrográficas de dimensões continentais, no bioma ainda nascem águas que dão origem a bacias hidrográficas independentes de grande importância regional. Assim, representada por uma complexa teia, as águas que brotam do Cerrado são as responsáveis pela alimentação e configuração das grandes bacias hidrográficas da América do Sul. Como esses aquíferos são alimentados? O aquífero possui área de descarga e recarga. A área de recarga se situa nos chapadões ou em suas áreas mais planas. Quem exerce a função de alimentar os lençóis profundos é a água da chuva, que penetra no solo por meio da vegetação, especialmente a nativa. No caso específico das plantas do Cerrado, elas possuem um sistema radicular extremamente profundo e complexo, muito eficiente na absorção das águas pluviais. De que forma uma área de
A LTA I R S A L E S B A R B O S A Antropólogo e doutor em Arqueologia Pré-Histórica
plantação ou criação de gado impacta a absorção de água pelo solo/aquíferos? Com a introdução da monocultura, as plantas do Cerrado são substituídas por vegetais com raízes subsuperficiais, que não sugam as águas como as plantas nativas. A consequência é que, com o passar dos tempos, as águas dos aquíferos foram diminuindo. Num primeiro momento, ocorre o fenômeno denominado “migração de nascentes”, que se deslocam das partes mais elevadas para as partes mais baixas. Num segundo momento, os cursos d’águas menores iniciam um processo de diminuição da vazão e, com o tempo, o desaparecimento. E assim por diante, são veias menores que deixam de irrigar as maiores. No caso do fantasma da crise de água que vem afetando grande parte do Brasil nos últimos anos, o problema então jamais será solucionado em sua totalidade? A situação está intimamente ligada a dois fatores: o primeiro é a estiagem prolongada provocada por fatores que independem da ação humana, como El Niño, por exemplo. O segundo é a vazão dos rios alimentadores das represas, que não ostentam mais a quantidade de água de tempos atrás. Consequência: mesmo com a normalização da precipitação pluviométrica, como aconteceu no início deste ano, depois de certo tempo é possível que os níveis das represas atinjam a plenitude. Entretanto, com o advento de
outra estiagem cíclica, a situação voltará a se repetir, tendendo a se agravar em função da diminuição da vazão dos rios. Historicamente, o que potencializou esse fato? A partir de 1970, uma nova matriz territorial foi implantada na área do Cerrado. Essa matriz tem raízes e consequências predatórias. A partir daí, foi só uma questão de tempo para que os problemas am-
bientais viessem a aparecer e se agravarem com o tempo. A questão atual do desaparecimento dos pequenos cursos d’água, alimentadores dos maiores, é apenas a ponta de um “iceberg” que tende a se tornar cada vez mais evidente. Em um futuro não muito distante, não haverá mais água para alimentar os rios. O Cerrado é um ambiente passivo de revitalização ou qualquer dano à sua biodiversidade é irreversível?
Em primeiro lugar, o Cerrado dos Chapadões Centrais do Brasil é um sistema biogeográfico com vários subsistemas. Eles se diferenciam por solos, fisionomia vegetal, quantidade de água nos lençóis, comunidades animais etc. Qualquer modificação nos elementos dos subsistemas provoca modificações no Sistema como um todo. Em segundo lugar, convém destacar que o Cerrado é uma das matrizes ambientais mais antigas da história recente do Planeta Terra, que tem seu início no Cenozóico. Isso significa que este ambiente já chegou ao seu clímax evolutivo, ou seja, uma vez degradado, não se recupera jamais na plenitude de sua biodiversidade. Em terceiro lugar, a maior parte das plantas do Cerrado tem um desenvolvimento lento, algumas levam séculos para atingirem a maior idade, fato que torna quase impossível um trabalho de recomposição vegetal. Sem mencionar que estas plantas estão condicionadas a um tipo de solo oligotrófico com balanço hídrico específico, fato hoje difícil de ser encontrado em equilíbrio no Cerrado. Isso faz dele o bioma que mais limpa a atmosfera, pois esse tipo de solo se alimenta de CO2. O bioma guarda importantes espécies da flora, como os buritis, que só vivem em ambientes com água. Existe alguma solução biotecnológica que possa garantir o crescimento e a manutenção dessa espécie, por exemplo, se o solo estiver seco?
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Até o presente momento as plantas nativas do Cerrado têm enfrentado grandes problemas com relação à produção através da biotecnologia. Eles estão relacionados essencialmente à existência de fungos, que no ambiente natural vive em simbiose com as plantas do Cerrado, mas, “in vitro”, constitui elementos inibidores do desenvolvimento das espécies. Portanto, não há solução biotecnológica para produção em massa de diversas espécies de plantas nativas do Cerrado, como também não há até o momento, soluções que mantenham o desenvolvimento de plantas nativas, como os buritis, que levam até 500 anos para atingir 30 metros, em ambientes já degradados. Ou seja: se o Cerrado morrer, os buritis não sobreviverão em outro lugar. No entanto, vale lembrar que não se mede a degradação ambiental apenas pela ocorrência de uma ou outra planta. Há de se considerar comunidades, tanto vegetais quanto animais, incluindo insetos polinizadores, água etc., e tudo isso já não existe no Cerrado de forma contínua. O que há são fragmentos que não representam 10% da área total. O que é preciso para garantir a preservação das poucas áreas ainda preservadas do Cerrado e de suas águas? A criação de novos espaços protegidos por lei é suficiente? Essas áreas são insignificantes em relação à grande biodiversidade que o Cerrado apresentava até bem pouco tempo. As existentes mais ou menos preservadas são relictos de um ambiente outrora muito mais diverso e representam apenas parcelas de um subsistema. Não há todos os elementos do sistema preservados. No
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“As empresas se apossaram das águas modernas, poluindo os rios, construindo represas, desviando e transpondo os cursos dos corpos d’água, sem levar em consideração as histórias evolutivas particulares de cada lugar.” entanto, para garantir a existência desses locais são necessários dois pontos importantes: primeiro deixá-los como estão. Segundo, demonstrar a importância do valor científico e econômico da vegetação ainda existente. Depois do Rio São Francisco, no Nordeste, agora é a vez do Rio Paraíba do Sul, no Sudeste, ser transposto. Fazer uma transposição é assinar o atestado de óbito dos rios? No caso específico do Rio São Francisco, já escrevi inúmeros artigos salientando os perigos da transposição, pois o fato significa a médio prazo a morte lenta dos rios, já que o Velho Chico tem mais de 90% de sua perenização regulada pelos cursos d’água que o alimentam pela margem esquerda. Esses rios existentes, principalmente no oeste de Minas e da Bahia, estão todos doentes e uma mudança significativa na sua dinâmica, provocada essencialmente pela transposição, poderá acelerar o processo de desaparecimento desses rios, fato que vem acontecendo de forma crescente. Como a urbanização pode impactar os rios do Cerrado,
tendo em vista que a maioria das cidades localizadas no bioma cresceu em função dos seus cursos d’água? Incrementada atualmente pelo processo de desterritorialização do homem do campo, a urbanização impacta os rios do Cerrado de diversas maneiras. Uma delas é a poluição generalizada (esgotos, resíduos sólidos, produtos químicos etc.), que afetam a qualidade da água e a vida nela existente. Outro impacto fundamental se dá em função da grande expansão das malhas urbanas que requerem a pavimentação dos solos, impedindo-os de “transpirarem”, como também impede a infiltração das águas que alimentam os lençóis freáticos, que na época da estação chuvosa, regulam os níveis desses rios. A pavimentação desenfreada provoca cheias e inundações violentas na época chuvosa trazendo graves transtornos sociais. Qual será o futuro hídrico do Cerrado e, consequentemente, do país? O potencial agrícola que ele tem demonstrado o transformou em uma das últimas reservas da Terra capazes de suportar, de modo imediato, a produção de grãos e a formação de pastagens. E o desenvolvimento das técnicas modernas de cultivo tem atraído, recentemente, grandes investimentos e criado modificações significativas do ponto de vista da infraestrutura de suporte. O fato da não existência de uma política global para a agricultura tem provocado a desterritorialização, trazendo as consequências amargas da desestruturação da população rural, que provoca migrações em massa e dão origem ao crescimento desordenado dos núcleos urbanos. Todos
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FOTO: ASCOM / IBAMA / EVERTON PIMENTEL
Antropólogo e doutor em Arqueologia Pré-Histórica
esses fatores, no seu conjunto, têm provocado situações nocivas ao meio ambiente, com perspectivas preocupantes. De todas as grandes matrizes ambientais brasileiras, o Cerrado é a que mais tem sofrido mudanças nos últimos anos. Quais são elas? Não são apenas transformações das técnicas de produção, mas outras muito mais profundas, isto é, transformações culturais, que têm afetado o próprio modo de vida das populações, desestruturando os valores e, muitas vezes, provocando um “vazio”. Não falo de algo que venha a preencher o espaço deixado pelos elementos que foram ou estão sendo subtraídos. Os antigos núcleos urbanos veem-se de repente transformados em polos regionais de inovações e agenciadores de “mudanças radicais” nos sistemas de relações, com seus inúmeros serviços, quase todos voltados para atividades agroindustriais e com preocupações imediatistas e consumistas. A retirada total da cobertura vegetal tem afetado de
“A retirada da cobertura vegetal tem afetado a já reduzida recarga dos aquíferos. Em um futuro não muito distante, não haverá mais água para alimentar os rios.” forma decisiva a já reduzida recarga dos aquíferos, cujas reservas chegarão a um nível crítico, pois as águas pluviais que conseguirem penetrar através do solo serão de imediato absorvidas por estes, dado seus estados de aridez em função da insolação. A pouca umidade retida se evaporará de forma rápida pelas mesmas causas. Por quê? No início, os problemas oriundos dessa situação serão contornados com a construção de barramentos, através de curvas de níveis e pequenos açudes, para reterem as águas das chuvas. Entretanto, os ambientes que surgem desse pro-
cesso têm caráter bêntico, fato que origina a argilicificação e a consequente impermeabilização do fundo dos poços, que, associada à forte insolação, resultará numa ação de nula eficácia, provocando a diminuição do nível de água dos lençóis subterrâneos. Essa situação começará a refletir de forma visível nos polos urbanos. O que acontecerá caso o cenário pessimista que vivenciamos duramente em 2015 retorne este ano? Haverá mais racionamento de água, em função da diminuição da vazão dos rios, que, por sua vez, provocará a redução do nível dos reservatórios. O racionamento de energia elétrica também será cada vez mais imposto pelas mesmas causas. O desemprego e os serviços, antes fartos e variados, afundarão numa crise sem precedentes. Os polos urbanos serão assolados por diversas epidemias, que provocarão índices alarmantes de mortalidade. E a maioria da população sucumbirá diante da miséria crescente. O MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O 25
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POR UM NOVO
FOTO: CIDAH CAMPOS
FUTURO
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“I Seminário Internacional sobre Direito Ambiental e Minerário” debateu as consequências da maior tragédia da mineração e ressalta como a mediação de conflitos é essencial para solucionar a reparação de danos sociais e ambientais J. Sabiá
FOTO: RICARDO GUIMARÃES
redacao@revistaecologico.com.br
O
dia 05 de novembro passado amanheceu ensolarado em Mariana. A vida na primeira capital de Minas e em seus distritos seguia normalmente. Por ser uma região rica em recursos minerais e muito explorada, ela teve seu crescimento impulsionado pelo pagamento de royalties das empresas que atuavam na região, notadamente a Samarco, que em 2014 teve lucro líquido de R$ 2,8 bilhões. Mas os R$ 20 milhões pagos em royalties à cidade se tornariam ínfimos perante a devastação provocada pelos 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos da Barragem de Fundão, que desceram vale abaixo na tarde do dia 05. E ceifaram 19 vidas, quase 1.500 hectares de florestas, levando também a memória cultural, histórica e social de comunidades como Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. Aquele passado ensolarado se tornou um presente enlameado. E um futuro incerto. “A catástrofe se abateu sobre Mariana. O acidente gerou perdas de receita, comprometendo os serviços essenciais para a população. Mariana clama por justiça”, afirmou o prefeito Duarte Júnior durante a abertura do “I Seminário Internacional de Direito Ambiental e Minerário”, promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) em Mariana, no mês passado. Na ocasião, foram debatidas a necessidade urgente de reparação
O EVENTO reuniu especialistas sobre meio ambiente, direito minerário e ambiental na primeira capital de Minas
dos danos ambientais e sociais, as questões jurídicas relacionadas ao meio ambiente e à atividade minerária, consequências e perspectivas pós-tragédia. Também foram feitos questionamentos quanto à segurança da disposição de rejeitos em barragens de contenção. CONTROLE, SEGURANÇA E FISCALIZAÇÃO “As barragens de alteamento a montante, como era a de Fundão, constituem a solução mais econômica para as mineradoras em geral, mas tais soluções apresentam também uma condição mais crítica em termos de segurança. Na disposição dos rejeitos na forma de polpa (mistura sólido-líquido), os materiais granulares são mais simples de controle tecnológico, ao
passo que os materiais mais finos (lamas) são muito mais complexos de manejo operacional e podem levar, por exemplo, a processos repentinos de ruptura da barragem por fenômenos de liquefação”, afirmou Romero César Gomes, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e doutor em Geotecnica pela Universidade de São Paulo (USP). Um dos palestrantes do seminário, ele afirmou que a alma da atividade minerária é a água. “Por isso, o monitoramento e o controle da drenagem interna da barragem são fundamentais, principalmente neste tipo de estrutura, que utiliza comumente os próprios rejeitos como materiais e construção.” Três aspectos principais devem ser observados na gestão de uma
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1 MARIANA? 3 barragem de rejeitos, aponta Romero: “A implantação de uma borda livre (free board) adequada, para evitar galgamentos; um sistema de drenagem interna eficiente para evitar problemas de piping, fenômeno de ruptura hidráulica induzida pela passagem descontrolada da água através do maciço da barragem; e a garantia da não ocorrência de situações críticas no caso de rejeitos que apresentam uma suscetibilidade ao fenômeno da liquefação”. Ele também destacou a importância da fiscalização ambiental de empreendimentos de mineração a céu aberto: “Barragens devem ser cuidadosamente monitoradas e estudadas de forma global. Elas são corpos dinâmicos, exigem manejo operacional criterioso e avaliações periódicas do seu comportamento. Uma questão relevante é esclarecer como os órgãos ambientais podem controlar e aferir comportamentos de barragens com múltiplos alteamentos. Estes empreendimentos envolvem uma sistemática contínua de acompanhamento e monitoramento. A Barragem de Fundão, por exemplo, foi alteada 11 vezes em um período de apenas sete anos!”. Soluções para o rejeito existem, como a Ecológico mostrou em sua edição 86, com o paviECO, piso ecológico feito de rejeitos sedimentados retirados de cursos d’água assoreados pela mineração, em substituição à areia e à brita. É enxergar o resíduo como oportunidade, transformando-o em produto industrial. Para as barragens de contenção, há inúmeras alternativas para o aporte sustentável de rejeitos. Uma bastante simples, informa o professor Romero Gomes, é a separa30 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTOS: RICARDO GUIMARÃES
E AGORA,
ROMERO GOMES: “Barragens devem ser extremamente monitoradas”
ção do rejeito total em suas frações granular e fina, dispostos de forma compartilhada em pilhas (inclusive com outros materiais). “Assim, evita-se a disposição dos rejeitos totais, envolvendo grandes volumes de água, em reservatórios de barragens.” Foram apresentadas na palestra diversas outras alternativas tecnológicas para a disposição de rejeitos de mineração, sem a opção por barragens de contenção, discutindo-se suas principais vantagens e limitações. APERFEIÇOAMENTO LEGAL Rinaldo Mancin, diretor de Meio Ambiente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), reconhece
"O princípio que rege o meio ambiente é o da precaução. Tem de se precaver para que não haja o dano ambiental. E como se faz isso? Através de uma estrutura de fiscalização efetiva e eficaz, que nós não temos em Minas Gerais." ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA, promotor de Justiça da Curadoria de Meio Ambiente da Comarca de Mariana
RINALDO MANCIN: “Há uma dissonância conceitual no setor sobre o que é rejeito”
que há uma dissonância conceitual no setor sobre o que é rejeito. Mas destacou a importância da Política Nacional de Segurança de Barragens (Lei 12.334) para nivelamento equitativo do setor. “Continuamos trabalhando nas regulamentações posteriores à legislação. Não como olhar de auditores, mas de oportunidade de melhoria do processo de gestão desses empreendimentos. Antes do acidente em Mariana, o Ibram estava atuando para o aperfeiçoamento de duas normas específicas da ABNT sobre barragens de rejeitos. O trabalho foi interrompido temporariamente, mas será retomado em breve. E envolve toda a sociedade, incluindo especialistas acadêmicos, projetistas, mineradoras e órgãos fiscalizadores.” Entre as novas exigências em discussão para a operação de barragens, segundo Mancin, estão a limitação da construção delas em sequenciamento de vales, reengenharia de minas e redução de rejeitos e uma maior interação com as comunidades, mineradoras e Defesa Civil em relação aos planos de emergência.
FOTO: TODD SOUTHGATE / GREENPEACE
SEGUNDO palestrante, toda crise nasce de uma percepção. No caso de Mariana, a população tem de convergir para uma visão coletiva mais forte
Mediação sustentável Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br
Mediar conflitos não é tarefa fácil. Principalmente quando a questão envolve não apenas duas ou três pessoas, mas uma comunidade inteira. Esse foi o foco da palestra inspiradora do presidente da Comissão Especial do Conselho Seccional de Direito Ambiental, Luiz Oosterbeek, em que ele propôs uma análise dos pontos culturais, sociais e econômicos que influenciam as tomadas de decisões em casos de crises. Para se ter uma ideia, o Brasil ocupa o terceiro lugar, ao lado da Nigéria, em conflitos ambientais, segundo um mapa divulgado pela Universidade Autônoma de Barcelona, em 2014. A pesquisa mostra que as comunidades mais impactadas por conflitos ecológicos são pobres e frequen-
temente não têm poder político para ter acesso à justiça ambiental e aos sistemas de saúde. Esses dados vão ao encontro das observações feitas por
LUIZ OOSTERBEEK: “Em vez de Mariana aparecer chorando, é hora de ela se tornar esperança para o mundo”
Oosterbeek. “A primeira coisa sobre um conflito é que ele é o seu próprio contexto. Não existem posições absolutas. Toda crise nasce de uma percepção. E essa percepção é sempre relativa a alguma coisa. Nesse caso, vamos ter múltiplas variáveis sociais, culturais, psicossociais e econômicas. Mas há, basicamente, duas cadeias que geram mais conflito: a desigualdade e a discordância.” Oosterbeek explica que a desigualdade pode ser tanto de atendimento de direitos quanto de acesso a recursos. “Estou falando do conhecimento daqueles que percebem que na vida encontrar um ponto de equilíbrio é o melhor para todos, porque o confronto de ruptura leva habitualmente à destruição”, reforçou, citando que
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Eles disseram “O desastre era muito possível de que viesse a acontecer. Mas não estamos procurando culpa. E sim responsabilidade.” Cármen Lúcia Antunes, ministra do Supremo Tribunal Federal
“O Direito está moribundo e suas fontes estão secas, reduzidas a leis, doutrina e jurisprudência. O Direito é diferente de lei e a justiça se aplica não só com o cumprimento da lei, mas com sensibilidade. A lei tem que respeitar o direito. O dano moral causado pelo acidente tem que ser compensado.”
FOTOS: RICARDO GUIMARÃES
o esforço em caso de conflitos deve ser o de “minimizar a desigualdade, mas, ao mesmo tempo, maximizar a discordância”. E explica: “A discordância não é ruim. Ter perspectivas e interesses diferentes é fundamental. A história do nosso sucesso de sete milhões de anos de evolução é a da diversidade. Ninguém que está vivo hoje sabe a estratégia para continuarmos vivos daqui a 100 anos. A humildade é isso: perceber que temos uma ideia e que devemos lutar por ela. Mas, ao mesmo tempo, levar em consideração que podemos estar enganados”. É o caso do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, e como se deve planejar o futuro a partir dele. “O problema da barragem que se rompeu aconteceu numa escala. Como enfrentar uma situação de conflito, de tensão, de contradição, de interesses divergentes, nesse modelo? Mudando de escala. Não existe solução de contradição de interesses que seja resumível na própria escala, porque é preciso encarar as dificuldades. As pessoas não são todas iguais, não têm os mesmos interesses, as mesmas ansiedades. Portanto, nunca vão estar de acordo unanimamente sobre o caminho a prosseguir frente a uma dificuldade”. E completa: “Como é que elas podem continuar divergindo e não romper? Construindo uma visão de futuro numa escala mais ampla, uma visão coletiva que seja mais forte. “Em vez de Mariana aparecer chorando, é hora de se tornar esperança para o mundo. Se fizer isso, ela será um exemplo positivo no mundo global. E aí, sim, ela terá investimentos.”
Eduardo Cruz, reitor da Universidade de Portugal
“O distrito de Bento Rodrigues é um retrato na parede. Esse seminário não se presta a ser um tribunal de condenação ou absolvição, e sim um fórum de diretrizes para balizar os interesses nacionais em relação ao meio ambiente e à mineração.” Roque José de Oliveira, presidente da Casa de Cultura e da Academia Marianense de Artes e Letras
“O marco regulatório de barragens no plano federal deve ser modificado. No estadual, a mudança já está acontecendo. É preciso diminuir os riscos da mineração com urgência.” Caetano de Souza, doutor em Fitotecnia e especialista em Geociências com ênfase em Hidrogeologia
“A expectativa que temos é que a discussão melhore e avance. É importante criar uma perspectiva de que as coisas possam ser solucionadas de forma consciente e sem radicalismos.” Mário Werneck, presidente da Comissão Especial do Conselho Seccional de Direito Ambiental da OAB
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Mesmo sob uma saraivada de balas disparadas pelos mais diversos movimentos e instituições sociais, ambientais e jurídicas da vida nacional, sob a alegação de que não participaram democraticamente da sua feitura, muito menos serão incluídos na sua aplicação, já existe um acordo. Um acordo, que se espera matricial, para a recuperação ambiental, social e econômica de toda a Bacia Hidrográfica do Rio Doce agredida pelo rompimento da Barragem do Fundão, da Samarco, há quase cinco meses da sua tragédia anunciada, na simbólica Mariana. Com valor total de até R$ 20 bilhões, a ser investido ao longo de 15 anos, ele foi assinado em Brasília, no último dia dois de março, entre a presidência da República, o Ministério do Meio Ambiente, os governos de Minas e do Espírito Santo, e representantes da Samarco, Vale e BHP Billiton, empresas responsáveis pelo custeio. O acordo prevê a criação, em até quatro meses, de uma fundação de direito privado para a sua governança junto à Samarco, a qual responderá pela execução de 40 programas de reparação socioambiental e socioeconômica. Somente nos primeiros três anos, haverá a liberação de R$ 4,4 bilhões e a destinação de outros R$ 500 milhões unicamente para serem aplicados na área de saneamento, tamanho o contraste de realidade entre os municípios banhados pelo Rio Doce – como Governador Valadares, que pouco investe. A prefeita Elisa Costa, todos se lembram, convocou os mais de 34 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTOS: MARIELA GUIMARAES / O TEMPO
Alô Rio Doce, temos um acordo!
DEPENDÊNCIA CRUCIAL: as manifestações pelo retorno da mineradora tiveram início 16 dias após o acidente
200 mil habitantes da cidade para ver a lama passar, à época da tragédia. Mas omitiu a informação que o mesmo município, administrado por ela, está no ranking dos “cinco piores” em saneamento básico do país. Ou seja, a lama apenas se somou – e fez piorar, como nunca antes na história de Valadares – a todo o esgoto humano e industrial “in natura” jogado no Velho Doce. O acordo foi um primeiro passo, sim, de cima pra baixo. Autoritário e excludente, à primeira vista, vide a reação da sociedade civil e o fato de não ter havido nas negociações o aval democrático e orientador do Ministério Público Federal, nem dos Ministérios Públicos de ambos os estados atingidos. Eles são, hoje, os principais protagonistas do debate da questão mineral no país. Mas, devemos também reconhecer, foi um passo importante e inegável para romper a inércia de recuperação e requalificação socioambiental do Rio Doce.
AGUARDAR OS DESDOBRAMENTOS “Temos um acordo!” já é melhor que somente “temos um problema!”. Os ambientalistas mais moderados comemoram mineiramente, com cautela e estratégia políticas de longo alcance. Diante da impossibilidade real e até ideológica de todas as partes interessadas, prós e contras, discutirem e apresentarem um acordo 100% participativo, uma delas é aguardar os desdobramentos. Acompanhar e verificar se a proposta governamental e empresarial vai, de fato, andar e funcionar. E, se positivo, conseguir que ela também seja gradativamente legitimada. Aí sim, pela sociedade civil, por meio de sua participação em programas específicos, somada à anuência do Ministério Público e dos comitês de bacia hidrográfica. Não apenas quem conhece e luta pela preservação do Rio Doce em sua
FOTO: ROBERTO STUCKERT FILHO / PR
Eles prometeram “Haverá reparação das condições socioeconômicas e do meio ambiente das regiões afetadas pelo desastre, sem limites financeiros, até sua integral reparação. Este acordo demonstra que é possível fazer justiça sem destruir empresas, empregos e modos de vida. É possível corrigir erros e, ao mesmo tempo, zelar pelos direitos da população.”
FOTO: VALTER CAMPANATO / AGÊNCIA BRASIL
Dilma Rousseff, presidente do Brasil
“As ações ainda estão sendo diagnosticadas e planejadas; e, por isso, não há um valor final. Os recursos serão repassados à fundação para financiar as ações programadas a cada período do acordo. Como ainda há coisas que estão sendo estudadas, pode ser mais ou menos de R$ 20 bilhões.”
“Todos nos mobilizamos para evitar aquilo que seria a segunda tragédia de Mariana e do Rio Doce; o início de uma disputa judicial infindável. Não faltou maturidade para que, num espaço de tempo curtíssimo, construíssemos o caminho que vai permitir o início quase que imediato dos trabalhos de recuperação da calha do rio e de toda a bacia do Rio Doce.” Fernando Pimentel, governador de Minas
“Vamos ter capacidade de avaliar a qualidade dessa caminhada daqui a um ano, dois, dez anos. Vamos ter que falar muito. Nosso objetivo é devolver à população uma bacia do Rio Doce melhor do que antes do desastre.” Paulo Hartung, governador do Espírito Santo
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Roberto Lúcio de Carvalho, novo presidente da Samarco
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calha maior. Mas, tão importante e sábio, a anuência e participação também dos comitês de seus rios menores, afluentes. Seria algo semelhante ao que ocorre na própria natureza que, a partir de suas nascentes, onde as águas brotam livres e limpas, antes do contato e da degradação humana, se refaz permanentemente. Um exemplo dessa possibilidade de inclusão a posteriori, que é democratizar o acordo, está expressa no que foi assinado em Brasília. Diz, textualmente, o documento: “Faz parte, a título compensatório, a recuperação de cinco mil nascentes a serem definidas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce”. Está, pois, nas mãos da Vale, da BHP e, principalmente, da Samarco, vide seus memoráveis conceitos de mineração e modelo de gestão levados e desacreditados junto à lama, a validação social, jurídica e ambiental do primeiro e maior acordo ecológico jamais assinado na história do país. Em nome de um rio chamado “Atu”, na língua Krenak, cujo vale mais verde e populoso trocou o “Doce” pelo “Aço”, depois dos ciclos na época nada sustentáveis do café, da cana e da pecuária extensiva que depredaram a natureza e empobreceram a qualidade de vida da sua população. Não deixaram nem árvores nas suas margens. Até tornou os seus morros “carecas”, tamanha a perda de vegetação e assoreamento. E trocaram suas nascentes por manilhas de esgoto ainda hoje jorrando a céu aberto. Que haja mais acordos, planos e projetos. Mais amorosidade e concretude, enfim, na nossa esperança. É o que a Revista Ecológico continuará acompanhando.
“O acordo é ímpar, mas é preciso dotá-lo de credibilidade. Não queremos uma nova Ingá no país. Quem é do Rio sabe disso. Ficou uma massa falida 20 anos na Baía de Sepetiba.” Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente
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“É urgente um plano de desenvolvimento”
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municípios em Minas e no Espirito Santo-, “embora possa parecer o contrário, o setor privado e a própria empresa têm muito mais capacidade de gestão e governança para o desafio da reconstrução que o Estado brasileiro. Seja o governo federal ou os governos estaduais de Minas e Espírito Santo, por meio de seus órgãos ambientais, a maioria deles depauperados. Além de agilidade, qualidade e preço melhor”. Acrescentou Olavo: “Se deixarmos uma soma dessa de recursos nas mãos do Estado, nós sabemos o que pode acontecer ou deixar de acontecer em termos de contingenciamento financeiro ou político. Entendo que não cabe à so-
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“A
Samarco era um exemplo de mineração sustentável para o país e o mundo. E, de repente, se transformou no patinho feio da nossa história socioambiental. Nós todos lamentamos o que aconteceu com o Rio Doce. Como também sabemos que acidentes podem acontecer. Não existe risco zero em qualquer atividade humana. Agora, a aludida prisão de seu ex-dirigente maior, o Ricardo Vescovi, que abraçou e valorizou a causa da sustentabilidade, não vai nos levar a lugar algum. Ele é um dos poucos líderes da mineração preparados para consertar o que aconteceu.” A declaração exclusiva à Revista Ecológico é do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado, ao comentar a decisão do acordo de R$ 20 bilhões anunciado pelo governo brasileiro com a Samarco e suas controladoras, a Vale e a BHP. Nele está expresso que quem irá gerir e fiscalizar a aplicação desse recurso na recuperação socioambiental e econômica da Bacia Hidrográfica do Rio Doce é uma fundação privada de direito público ainda a ser criada pela Samarco. Na visão dele, também a favor de que a mineradora volte logo a operar dentro da lei para manter os seus empregados e voltar a contribuir com 80% do orçamento arrecadatório do município de Mariana - e certamente de outros
OLAVO MACHADO: “Ao invés da aludida prisão, Ricarco Vescovi é um dos poucos líderes preparados para consertar o que aconteceu”
ciedade civil operar, executar, mas sim acompanhar, fiscalizar e participar da governança do acordo”. Em sua opinião, a crise causada pela tragédia de Mariana tem de ser vista imediatamente como oportunidade a mais do que está sendo previsto no acordo oficial. “As pessoas falam na aplicação acertada de R$ 20 bilhões como se isso não fosse dinheiro. É muito dinheiro. Acertadamente ele já tem as suas destinações específicas. O que precisamos fazer, e é para isso que a Fiemg está fixando parcerias com a Fundação Dom Cabral, o IBio, a Codemig e a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, é avançarmos além da recuperação do que foi degradado. Precisamos aproveitar esta oportunidade e desenvolver sustentavelmente toda a bacia do Rio Doce, que já estava ecologicamente degradada muito antes do acidente. Investir em barramentos, com eclusas ao longo do rio para transporte industrial e exploração do turismo, por exemplo. É isso que estamos preparando para propormos à nova Fundação e às empresas responsáveis. E depois, é claro, aos demais atores da iniciativa privada e dos governos federal e estaduais de Minas Gerais e do Espírito Santo. O que precisamos, doravante, é transformar o Vale do Rio Doce em um grande projeto nacional de oportunidades e investimentos.” O presidente da Fiemg lembrou
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do que aconteceu em Lisboa, Portugal, em 1755: “Nós temos que fazer o que o Marquês de Pombal disse e fez quando do terremoto na capital portuguesa. ‘Enterramos os mortos com todo o pesar e cuidamos dos vivos com todo o respeito’. Aproveitar a oportunidade de desenvolvimento criada, tal como também aconteceu no Vale do Tennessee (EUA), na década de 1930. Em plena recessão econômica, no Rio Mississipi, onde foram criados postos de trabalho que não só o preservaram, mas incentivou investimentos do governo e transformou toda a região”. “Não temos o direito de, tal como fazemos no Vale do Jequitinhonha, caracterizado por sua pobreza secular, criar obstáculos para a implantação de uma empresa do porte da Manabi, com investimentos canadenses capazes de gerar emprego, renda e desenvolvimento local. O Estado não se posiciona, e o projeto sob júdice e críticas permanentes acaba não acontecendo, perdendo todo mundo com isso.” Olavo Machado também listou os empecilhos deste processo em Minas e no Brasil: “Além da excessiva judicialização que temos visto do licenciamento ambiental, notadamente na área de mineração, o que afasta investidores internacionais, incluindo a constante falta do poder público, que não se posiciona nem contra nem a favor; ficamos reféns das leis e da interpretação do Ministério Publico que, com razão, exige o cumprimento da lei, que muitas vezes é obsoleta e atrasada. Tudo alinhado com a falta de informações e estatísticas oficiais, que gera desconfiança, ignorância e preconceito no mercado”.
RIO MISSISSIPI em Nova Orleans (EUA): investimentos e preservação em plena recessão norte-americana
“Isso nos aconteceu” – continuou ele – “quando implantamos o nosso Programa Minas Sustentável, em Contagem (MG). Preparamo-nos, do ponto de vista da legislação ambiental, para orientar as ditas 1.700 empresas fora-da-lei naquele município. E quando fomos lá, existiam somente em torno de 400 empresas. E onde existia ou passou a existir empresas e empresários 100% envolvidos e compromissados com a causa ecológica”. “Precisamos deixar de nos autodesvalorizar, de fazer comentários negativos, típicos ainda do nosso comportamento enquanto ser social. “Fulano de tal e sua empresa já fizeram isso e aquilo de exemplar na área de sustentabilidade, mas... Ou seja, há sempre um teor negativo, o que joga todos nós pra baixo. Isso é terrível, é real e acontece em nosso meio” – disse Olavo. Sobre mineração, ele voltou a citar o exemplo da Samarco, em Mariana: “Sangrá-la, mais ainda, com
novas multas e interdições, não é sustentável. Precisamos apoiar e acreditar na sua volta ambientalmente correta perante a Semad, logo ao mercado e à própria governança. Minerar é usar bem a riqueza mineral que temos no nosso subsolo e pertence à toda população. No caso do Rio Doce degradado, até os peixes nativos que não foram atingidos por estarem nas cabeceiras de seus afluentes estão nos ajudando naturalmente, no seu repovoamento natural”. E concluiu: “Somos mineradores e devemos nos orgulhar disso. Temos de agregar valor às nossas riquezas e nos preparar para o futuro, criando condições para que quando as reservas minerais se exaurirem nossos descendentes possam criar novas oportunidades. Quem vai nos ajudar a salvar o país ainda adormecido que temos?”. (*) Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
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ENTRE O ÓDIO
E O AMOR A “escolha de Sofia” que a mineração ainda não fez 15 anos depois da tragédia da Rio Verde em Macacos (MG) Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br
S
ão Sebastião das Águas Claras, distrito de Nova Lima, Minas Gerais, mais conhecido por Macacos, no coração geográfico da Área de Proteção Ambiental (Apa-Sul) da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Às 16h45 do trágico dia 22 de junho de 2001, o rompimento da barragem de contenção de rejeitos de minério de ferro da Mineração Rio Verde matou cinco trabalhadores. Eles foram soterrados e levados pela lama até seis quilômetros abaixo do Córrego Taquaras, afluente do Fechos, próximo à ponte que dá acesso ao vilarejo turístico - famoso por suas riquezas naturais. A exemplo do que aconteceu em Bento Rodrigues, na tragédia de Mariana, causada pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, um dos corpos jamais foi encontrado. Foi assim que o último número do então suplemento Estado Ecológico, do jornal “Estado de Minas”, precursor da hoje Revista Ecológico, noticiou em sua Edição Especial “Entre o ódio e o amor”, sob a lembrança do artigo 225, parágrafo 2º, da Constituição Brasileira: “Aquele que explora recursos
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minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público”. Reveja, caro (a) leitor (a), a atualidade da abordagem, já decorridos quase 15 anos do acidente que abalou a sociedade e fez piorar, mais ainda, a imagem pública do setor em um estado chamado Minas Gerais: “A Mineração Rio Verde, que degradou o Córrego Taquaras, cinco vidas humanas, dois caminhões e um trator sob uma lama cinza e mortal de rejeitos na ba-
Não é só a atividade minerária por responsabilidade solidária, do explorador ao comprador e exportador, que corre perigo. São as nossas nascentes, córregos, rios e mares que, juntos, podem morrer ou se recuperar. É a escolha final que o setor deve fazer
cia hidrográfica de Macacos, não está sozinha. A dor é e vem de todos. A mineradora, que se encontra no banco dos réus por não ter projeto, nem sabido operar uma barragem ecologicamente correta, já teve contrato com a MBR (antiga Minerações Brasileiras Reunidas, hoje Vale). Ela minera (50% da sua produção) para a Ferteco, que foi comprada pela Vale, em Brumadinho. A Vale, que também comprou a Samitre e estuda comprar a MBR, passou a ser vizinha, em Sabará, da AngloGold, antiga Mineração Morro Velho. A Mineração Brumafer, que herdou o passivo ambiental da Miprisa, que degradou metade da Serra da Piedade, quer explorar o seu outro lado, em Caeté, para atender à Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira, em João Monlevade”. Minas é assim. Vai por aí, como já foram, e eram várias, as suas montanhas. Curral, Cauê e Piedade, agora, já pela metade. Várias minas, crateras gerais. As mesmas e clonadas paisagens lunares onde a beleza era estonteante. Uma beleza que, querendo alcançar as estrelas, sempre se molhou
A ESCOLHA final que o setor deve fazer: acirrar mais ainda o ódio da população cada dia mais indignada com os danos causados pela mineração ou se abrir para o amor que advém, naturalmente, de tudo aquilo que é feito com respeito
FOTO: GUALTER NAVES
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de nuvens, mesmo quando tudo abaixo estava deserto e seco. Minas também é assim. De vez em quando, um oásis. Uma esperança. Um exemplo de recuperação ambiental. É a MBR, por exemplo, toda verde e atlântica, preservando a Mata do Jambreiro e devolvendo água limpa para Nova Lima. É a CBMM, em Araxá, que chega até a se confundir com um parque, de tão limpa, ajardinada e florida. Entretanto, o trabalho de reconstrução da imagem de um setor que, tradicionalmente, foi inimigo e desprezou a natureza, está apenas começando. Tem condições e promete bons frutos. Isso porque a feiura e o jeito antigo, nada ecológico e ainda degradante, que, infelizmente, caracteriza a maioria das nossas mineradoras, não têm como se sustentar mais. Não é só a atividade minerária, por responsabilidade solidária, do explorador ao comprador e exportador, que corre perigo. São as nossas nascentes, córregos, rios e mares que, juntos, podem morrer ou se recuperar. É a escolha final que o setor deve fazer. Acirrar mais ainda o ódio da população cada dia mais consciente, amedrontada e indignada com os danos causados pela mineração. Ou se abrir para o amor que advém, naturalmente, de tudo aquilo que é feito por respeito, e não apenas pela força de lei, no solo que é impactado para nos servir como consumidores – e não abrimos mão – de minério de ferro. Ódio ou amor à mineração? A escolha é mineral. É deles. É nossa! A torcida é da natureza, incluindo a natureza humana. O setor decide!
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Novo “divisor de águas”? Segundo o ambientalista Marcus Polignano, coordenador-geral do Projeto Manuelzão, a tragédia de Mariana, causada pela Samarco, será lembrada um dia como o “divisor de águas” na história da mineração brasileira: “O setor vai ter que se reinventar. Mariana é o grito de que não temos mais como caminhar com esse modelo”, disse ele. Será? Quinze anos atrás, tamanho o impacto visual causado pelas imagens dos corpos das vítimas boiando sobre a lama, o acidente da Mineração Rio Verde também foi anunciado como um “divisor de águas” para o setor. Na época, sob a coordenação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), os órgãos ambientais se juntaram ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e ao Ministério Público prometendo um basta a toda e qualquer atividade predatória em Minas Gerais. Foi o que o Estado Ecológico também registrou nessa sua mesma edição, sob o título igualmente esperançoso de “Nada será como antes” (veja na página ao lado), que reproduzimos a seguir, tamanha a sua indesejada e ameaçadora atualidade: “O tempo do xiismo ecológico passou. Ninguém vai proibir a mineração como atividade produtiva, responsável e ecologicamente correta. Mas o tempo da tolerância ecológica também passou. A mineração predatória, irresponsável ou com passivo ainda não acertado com o meio ambiente – esta, sim – está com os dias contados. Todas as suas licenças, planos de operação e pedidos de expansão passarão a ser revistos sob a nova
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ótica do licenciamento integrado. Isso significa análise, acompanhamento, fiscalização e pareceres a serem dados em conjunto, doravante, pelos técnicos da Feam, Igam e IEF. Isso antes de passar pela Câmara de Atividades Minerárias e, finalmente, à decisão final do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). A mudança mais profunda que pode entrar para a história, envolvendo e definindo mais os papéis do DNPM, Crea e Ministério Público é a aplicação, na prática, da ‘responsabilidade solidária’ do setor.” Esse foi também, em síntese, o posicionamento do então governo Itamar Franco quando Paulino Cícero era titular da Semad. Não apenas a Mineração Rio Verde, mas toda a situação da mineração, tanto na bacia hidrográfica de Macacos quanto na parte sul da Região Metropolitana de BH, passou por esta varredura. E o que se constatou nas vistorias é trágico, de meter medo mesmo na população.
A maioria das mineradoras ainda traz traços de uma cultura antiga, quando se jogava rejeitos de minério, esgotos industriais e humanos rio abaixo e o DNPM nem se importava. Depois, com o advento da consciência ambiental e a escassez das águas, que essas empresas provocavam, descobriu-se que era melhor construir barragens. Mas isso foi feito de qualquer jeito, sem técnicas apropriadas, na medida em que uma barragem (modelo) de água não é o mesmo que uma para conter sedimentos. Foi o que adiantou, na época, o então secretário-adjunto da Semad, Celso Castilho, ao Estado Ecológico: “O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que representa a maioria das grandes e médias mineradoras, também será convocado a sair do discurso para a prática ambiental de ajudar a recompor a paisagem das nossas montanhas degradadas indistintamente pelo setor ao longo do tempo”.
FOTO: TODD SOUTHGATE / GREENPEACE
REPORTAGEM vanguardista do Estado Ecológico, de agosto de 2001, já apontava a necessidade de monitoramento mais eficiente de barragens de rejeitos
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A gota que transbordou Um mês após o rompimento da barragem, o próprio diretor da Mineração Rio Verde, Pedro Lima, declarou ter sido o resultado trágico de “um copo que já estava prestes a transbordar”. Ou seja, cheio de outros acidentes na história nada ecológica da região com mais passivos ambientais acumulados do Quadrilátero Ferrífero do Estado. Vide a ruptura também, em 1986, 15 anos antes, da barragem de rejeitos da mina Fernandinho, da Itaminas, que provocou a morte de sete funcionários. “O nosso acidente, infelizmente, foi a gota d´água que faltava para transbordar este copo”, lamentou Pedro, lembrando que a barragem onde ocorreu a tragédia já vinha sendo impactada há anos por várias outras empresas e empreiteiros terceirizados que exploraram a região muito antes da existência da consciência ecológica e da legislação ambiental. O terreno da lavra explorada pela Rio Verde, ele explicou, foi comprado da MBR que, por sua vez, teve outros empreiteiros, como a Empresa Técnica de Mineração, que pertencia ao Grupo Caemi, hoje Vale: “Não quero, com isso, eximir a nossa responsabilidade. Pelo contrário, eu não desejo para empresa alguma o que nos aconteceu. Inclusive, isso nunca deveria acontecer em lugar algum. E como não temos mais como voltar no tempo, nossa única preocupação, doravante, é conseguirmos condições, novamen-
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te, para operarmos. E, assim, consertar o que causamos.” DO BERÇO AO TÚMULO A própria MBR, ele lembrou, já foi fornecedora de material para a Rio Verde. A Ferteco, então comprada pela Vale, correspondia com 50% de seu mercado: “O nosso relacionamento com ela é apenas comercial, o que significa que estamos sozinhos diante do ocorrido”. Ele refutou a posição, então defendida pelos ambientalistas e órgãos de governo na época, de que a responsabilidade quanto ao ressarcimento dos danos causados por acidentes ao meio ambiente deveria ser estendida a toda a cadeia produtiva, tal como prevê a norma de qualidade ambiental ISO 14.000, do “Berço ao Túmulo”. Quando do acidente em Macacos, uma média de seis mil toneladas de minério explorado pela Rio Verde seguia diariamente via
Na época do acidente em Macacos, uma média de seis mil toneladas de minério explorado pela Rio Verde seguia diariamente via caminhões para a planta industrial da Ferteco, na Apa-Sul
caminhões para a planta industrial da Ferteco, localizada também na Apa-Sul. Os outros parceiros da Rio Verde, enquanto seus compradores, eram a Açominas, o setor guseiro e a própria Vale. Segundo a nova política ambiental em estudo pelo governo estadual, isso significava que, a partir do acidente, também essas empresas deveriam, solidariamente, participar do plano de recuperação ecológica da região, impactada há anos pelo setor mineral como um todo. Quinze anos depois da tragédia, a hoje Revista Ecológico voltou ao cenário do Córrego Taquaras, em Macacos, Nova Lima, para ver o que de fato aconteceu. É o que você, caro (a) leitor (a), vai conferir e se estarrecer na nossa próxima edição, dia 22, lua cheia de abril. Nela, iremos trazer a recordação de uma entrevista concedida pelo consultor Joaquim Pimenta de Ávila, membro do Comitê Brasileiro de Barragens e representante do Brasil junto à ONU. O mesmo especialista envolvido na tragédia da Samarco em Mariana que, desde a dor e o desamor mineral ocorrido em Macacos, já defendia uma nova lei para o setor, a partir de Minas. “Só assim” – ele anteveu – “vamos obrigar as empresas a serem mais responsáveis. Afinal, as experiências comprovam que o conhecimento técnico disponível para evitar acidentes não é utilizado pelas mineradoras, seja por ignorância ou negligência”. Aguarde!
Todd Southgate / Greenpeace
FOTO: TODD SOUTHGATE / GREENPEACE
NO LIMITE DE DEUS Foi esse o artigo intitulado “Remissão Solidária”, que a repórter Luciana Morais escreveu durante a cobertura jornalística do acidente em Macacos: “Poucos setores produtivos têm uma relação tão estreita com a sociedade e a natureza como a mineração. Em Minas Gerais, então, estado minerador por vocação, esse vínculo é natural. Faz parte do trabalho de inúmeras empresas que extraem, de nossas montanhas, a riqueza que constrói divisas e sustenta a economia brasileira e mundial. Mas, ironicamente, muitas delas ainda fecham os olhos para a grandeza de seu ofício, degradando mais do que protegendo. A nossa mineração, que representa 30% do total da produção mineral do país, é a mesma que mostra o peso de sua mão ao devastar Macacos. Retira minerais preciosos e raros, mas não tem piedade suficiente para devolver a vida às suas crateras. Estamos no limite da natureza que Deus
nos deu. E o tempo da remissão é agora! Dizer não à mineração, como querem os ambientalistas extremistas, é negar que consumimos automóveis, geladeiras, garfos e facas. Queremos a mineração, sim. Sustentável, com seus empregos, com o seu dom de transformar metal em bens de produção. Mas queremos somente a mineração responsável, que proteja o meio ambiente e a vida humana. Queremos minério de ferro, bauxita, prata, ouro e todo metal necessário para sustentar nossas vidas. As tecnologias, estudos e levantamentos estão aí, à espera de serem aplicados, inclusive para garantir a segurança das barragens de rejeitos. O que falta, mais que tudo, é o desejo de minerar com respeito à natureza, em parceria com a vida. Mostrar o exemplo das empresas que têm o orgulho de abrir as suas portas e comunicar seus avanços. Ou seguiremos esse caminho juntos ou não haverá futuro para ninguém”. O
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FOTO: NASA
CÉU DO MUNDO
O ANO DO CALOR
FOTO: DAMIAN RYSZAWY
Segundo a Nasa, 2015 foi o ano mais quente registrado na história. A temperatura média da Terra e dos oceanos foi de 0,90ºC acima da média do século XX. O recorde anterior era de 2014, com 0,16ºC.
DESASTRES METEOROLÓGICOS
FOTO: NASA
Segundo um relatório do Escritório da ONU para a Redução dos Riscos de Desastres, o UNISDR, os desastres meteorológicos naturais foram responsáveis por 606 mil mortes nos últimos 20 anos. O clima foi responsável por 90% dos grandes desastres no período: foram registradas 6.457 inundações, tempestades, ondas de calor, secas e outros eventos.
CRIANÇAS AMEAÇADAS Mais de 500 milhões de crianças vivem em áreas com risco extremo de inundações e cerca de 160 milhões vivem em zonas afetadas por fortes períodos de seca por consequência dos efeitos da mudança climática, informa o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). A maioria das áreas com alto risco de inundação está na Ásia e as que estão em risco de maior seca se encontram na África.
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1 SAÚDE
#DENGUEZERO
#CHIKUNGUNYAZERO
SAÚDE EM PRIMEIRO LUGAR A Revista Ecológico também entra na luta contra o Aedes aegypti. Participe desse movimento conosco!
N
eymar? Roberto Carlos? Xuxa? Luan Santana? Não. Hoje, a “celebridade” mais famosa do Brasil se chama... Aedes aegypti. O que o diferencia dos outros nomes citados é que ele não tem nenhum fã, mas, ainda assim, vem causando comoção (e deixando muita gente acamada) por onde aparece. Para se ter ideia, apenas nos três primeiros meses deste ano, este mosquitinho de tamanho entre 0,5 e um centímetro foi responsável por provocar casos prováveis de dengue em mais de 124 mil pessoas em Minas. E há também o registro importante de outras doenças transmitidas por ele. Em relação aos casos de chikungunya, 413 foram notificados, sendo 233 descartados e 180 em investigação. Para os de zika vírus, informa a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG), “todos os 755 casos notificados em
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2016 seguem sob investigação”. “Os criadouros mais comuns do Aedes aegypti são aqueles criados pelo próprio homem”, afirma José Bento Pereira, pesquisador do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em vídeo publicado no site da instituição. Entre esses criadouros estão caixas d’água abertas e qualquer recipiente que possa acumular água, como pneus, vasos de planta e tampas de refrigerante. “Por ser um mosquito que vive perto do homem, sua presença é mais comum em áreas urbanas e a infestação é mais intensa em regiões com alta densidade populacional - principalmente, em espaços urbanos com ocupação desordenada, onde as fêmeas têm mais oportunidades para alimentação e dispõem de mais criadouros para desovar. A infestação do mosquito é sempre mais intensa
no verão, em função da elevação da temperatura e da intensificação de chuvas – fatores que propiciam a eclosão de ovos do Aedes aegypti. Para evitar esta situação, é preciso adotar medidas permanentes para o controle do vetor, durante todo o ano, a partir de ações preventivas de eliminação de focos de reprodução do mosquito. Como ele tem hábitos domésticos, essa ação depende, sobretudo, do empenho da população”, informa a Fiocruz. O Ministério da Saúde publicou vários materiais explicativos que podem ser baixados gratuitamente no site portalsaude.saude. gov.br, apresentando informações e dicas para se evitar a proliferação do mosquito (a seguir, reproduzimos algumas delas). São hábitos simples, que não levam mais que dez minutos, e que fazem grande diferença para que a epidemia não avance. Faça a sua parte! O
COMBATA O MOSQUITO
PERIODICAMENTE 1
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Mantenha bem tampados tonéis e barris de água.
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Encha os pratinhos de vasos de plantas com areia até a borda.
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Mantenha as garrafas com a boca virada para baixo, evitando o acúmulo de água.
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Remova folhas, galhos e tudo que possa impedir a água de correr pelas calhas.
Lave semanalmente por dentro com escova e sabão os tanques utilizados para armazenar água.
Mantenha a caixa-d’água bem fechada. Coloque também uma tela no ladrão da caixa-d’água.
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Outra opção para os pratinhos de plantas é lavar uma vez por semana.
Troque a água dos vasos de plantas aquáticas e lave-os com escova, água e sabão uma vez por semana.
Coloque o lixo em sacos plásticos e mantenha a lixeira bem fechada.
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Pneus devem ser acondicionados em locais cobertos.
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Não deixe água acumulada em folhas secas e tampas de garrafas.
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Não deixe água acumulada sobre a laje.
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Feche bem os sacos de lixo e deixe-os fora do alcance de animais.
15
Faça sempre a manutenção Se o ralo não for de abrir e de piscinas ou fontes fechar, coloque uma tela utilizando os produtos fina para impedir o acesso químicos apropriados. do mosquito à água.
18
Os vasos sanitários fora Limpe sempre a bandeja do de uso ou de uso eventual ar-condicionado para devem ser tampados e evitar o acúmulo de água. verificados semanalmente.
Coloque areia dentro de todos os cacos que possam acumular água.
19
Lonas usadas para cobrir objetos ou entulhos devem ser bem esticadas para evitar poças-d’água. APOIO:
TUDO QUE ACUMULE ÁGUA
É FOCO DE MOSQUITO. MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O 47
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ALMA PLANETÁRIA LEONARDO BOFF (*) www.leonardoboff.com
A SEDE ESPIRITUAL
HUMANA S
FOTO: KANTVER
e é verdade que os transtornos climáticos são antropogênicos, quer dizer, possuem sua gênese nos comportamentos irresponsáveis dos seres humanos (menos dos pobres e muito mais das grandes corporações industriais), então fica claro que a questão é antes ética do que científica. Vale dizer, a qualidade de nossas relações com a natureza e a Casa Comum não eram e não são adequadas e boas. Citando o Papa Francisco em sua inspiradora encíclica “Laudato Si: sobre o cuidado da Casa Comum”: “Nunca maltratamos e ferimos a nossa Casa Comum como nos últimos dois séculos. Essas si-
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tuações provocam os gemidos da irmã Terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo, com um lamento que reclama de nós outro rumo”. Esse outro rumo implica, urgentemente, uma ética regeneradora da Terra, que deve ser fundada em alguns princípios universais, compreensíveis e praticáveis por todos. É o cuidado essencial, que é uma relação amorosa para com a natureza; é o respeito por cada ser porque possui um valor em si mesmo; é a responsabilidade compartida por todos pelo futuro comum da Terra e da humanidade; é a solidariedade universal pela qual nos entreajudamos; e, por fim, é a compaixão pela qual fazemos nossas as
"Temos sede, num mundo feito deserto, de encontrar companheiros com os quais dividimos o pão."
dores dos outros e da própria natureza. Esta ética da Terra deve devolver-lhe a vitalidade vulnerada a fim de que possa continuar a nos presentear com tudo o que sempre nos presenteou durante todos os tempos de nossa existência sobre esse planeta. Mas não é suficiente apenas uma ética da Terra. Precisamos fazê-la acompanhar por uma espiritualidade. Esta lança suas raízes na razão cordial e sensível. De lá, nos vem a paixão pelo cuidado e um compromisso sério de amor, de responsabilidade e de compaixão para com a Casa Comum. O conhecido e sempre apreciado escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, num texto póstumo, escrito em 1943 – “Carta ao General X” – afirma com grande ênfase: “Não há senão um problema, somente um: redescobrir que há uma vida do espírito que é ainda mais alta que a vida da inteligência, a única que pode satisfazer o ser humano”. No texto “É preciso dar sentido à vida”, de 1936, quando era correspondente do jornal “Paris Soir”, durante a guerra da Espanha, ele retoma o tema da vida do espírito. Para isso, afirma que “precisamos nos entender reciprocamente; o ser humano não se realiza senão junto com outros seres humanos, no amor e na amizade. No entanto, os seres humanos não se unem apenas se aproximando uns dos outros, mas se fundindo na mesma divindade. Temos sede, num mundo feito deserto, de encontrar companheiros com os quais dividimos o pão”.
E assim termina a “Carta ao General X”: “Temos tanta necessidade de um Deus!”. Efetivamente, só a vida do espírito satisfaz plenamente o ser humano. Ela representa um belo sinônimo para a espiritualidade, não raro identificada ou confundida com religiosidade. A vida do espírito é mais, é um dado originário de nossa dimensão profunda, um dado antropológico como a inteligência e a vontade, algo que pertence à nossa essência. Sabemos cuidar da vida do corpo, hoje um verdadeiro culto celebrado em tantas academias de ginástica. Os psicanalistas de várias tendências nos ajudam a cuidar da vida da psique, de como equilibrar nossas pulsões, os anjos e demônios que nos habitam para levarmos uma vida com relativo equilíbrio. Mas, na nossa cultura, praticamente esquecemos de cultivar a vida do espírito, que é nossa dimensão mais radical, onde se albergam as grandes perguntas, se aninham os sonhos mais ousados e se elaboram as utopias mais generosas. A vida do espírito se alimenta de bens não tangíveis, como o amor, a amizade, a compaixão, o cuidado e a abertura ao infinito. Sem a vida do espírito divagamos por aí, desenraizados e sem um sentido que nos oriente e que torna a vida apetecida. Uma ética da Terra não se sustenta sozinha por muito tempo sem esse supplément d’âme (suplemento da alma) que é a vida do espírito. Ela nos convoca para o alto e para ações salvadoras e regeneradoras da Mãe Terra. O
Sustentabilidade é a nossa pauta! Leia e assine!
(*) Professor e teólogo.
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EMPRESA & MEIO AMBIENTE
%,2',9(56,'$'(
3527(*,'$ Parcerias e programas conduzidos pela mineradora Anglo American favorecem a criação de unidades de conservação e o aumento da disponibilidade hĂdrica na regiĂŁo da Serra do Espinhaço
Q
uanto mais ĂĄreas verdes se preserva e se cria, mais impactos positivos se tem sobre os recursos hĂdricos. É amparada nessa certeza que a Anglo American vem fortalecendo e ampliando a sua atuação em prol da conservação da biodiversidade. Em especial na regiĂŁo GH LQĂ XrQFLD GR 6LVWHPD 0LQDV 5LR que inclui a mina de minĂŠrio de ferUR H D XQLGDGH GH EHQHĂ€FLDPHQWR HP &RQFHLomR GR 0DWR 'HQWUR H $OYRUDGD GH 0LQDV QD SRUomR PLQHLUD GD 6HUUD GR (VSLQKDoR 3URYD GLVVR p R ´3URMHWR GH 5HFXSHUDomR GH 1DVFHQWHV H 0DWDV &LOLDUHV GD &DEHFHLUD GRV 5LRV 6DQWR $QW{QLR e Peixeâ€?, importantes tributĂĄrios da PDFUREDFLD GR 5LR 'RFH H HVVHQciais para manter o equilĂbrio hĂdrico
da regiĂŁo. Esse projeto foi aprovado com maioria expressiva na reuniĂŁo do &RPLWr GH %DFLD +LGURJUiĂ€FD GR 5LR 6DQWR $QW{QLR UHDOL]DGD HP RXWXEUR GR DQR SDVVDGR HP ,WDELUD 0* 6HX IRFR p D PHOKRULD DPELHQWDO GH ĂĄreas que hoje estĂŁo degradadas e FXMD UHFXSHUDomR WHUi UHĂ H[RV GLUHtos no aumento da oferta de ĂĄgua aos usuĂĄrios da bacia, alĂŠm de melhorar a TXDOLGDGH GHVVH UHFXUVR YLWDO H Ă€QLWR “O projeto de recuperação envolve uma sĂŠrie de atividades, entre elas o plantio de mudas, açþes de PDQHMR Ă RUHVWDO H D UHVWDXUDomR GH ĂĄreas de recarga hĂdrica. Nossas expectativas sĂŁo as melhores possĂveis. A ideia ĂŠ que ele possa se tornar inclusive um modelo de recuperação ambiental para toda a baciaâ€?, infor-
à REA de preservação próxima ao Rio do Peixe: a proposta da Anglo American Ê proteger quase 10 mil hectares de orestas em forma de RPPNs
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PD 7LDJR $OYHV TXH WUDEDOKD QD iUHD GH 'HVHQYROYLPHQWR 6XVWHQWiYHO QD $QJOR $PHULFDQ 0LQpULR GH )HUUR Brasil e representa a empresa como VHFUHWiULR GR &RPLWr GH %DFLD GR 5LR 6DQWR $QW{QLR $WXDOPHQWH Ki FLQFR HVWDo}HV Ă XYLRPpWULFDV QDV VXE EDFLDV GR 6DQWR $QW{QLR ORFDOL]DGDV HP XPD iUHD GH GH] TXLO{PHWURV SUy[LPD DR HPSUHHQGLPHQWR +i DLQGD XP SRQWR GH FRQWUROH QR 5LR GR 3HL[H GHVWLQDGR DR PRQLWRUDPHQWR GH YD]mR 7RGDV DV informaçþes coletadas sĂŁo analisadas em conjunto com os dados de moniWRUDPHQWR KtGULFR GD $JrQFLD 1DFLRQDO GDV ÉJXDV $1$ VISĂƒO SISTĂŠMICA No dia a dia de trabalho, alĂŠm de
HĂĄ ainda uma ĂĄrea de cerca de 200 hectares, localizada no municĂpio de Tombos, famoso por suas cachoeiras, na Zona da Mata, que tambĂŠm recebeu proposta de compensação ambiental
dimento. Com base nessas anĂĄlises, foi criado um plano de ação para a mitigação dos riscos. “PossuĂmos um processo de gestĂŁo DPELHQWDO VLVWrPLFR H LQWHJUDGR YLVDQdo alcançar a conservação dos recursos naturais e o ganho ambiental em nossas açþes de mitigação e compensação. Ou seja, desde o inĂcio do empreendimento, sempre procuramos ir alĂŠm. 0DLV GR TXH VLPSOHVPHQWH FXPSULU D legislação, estamos permanentemente em busca das melhores prĂĄticas susWHQWiYHLVÂľ IULVD $OGR 6RX]D GLUHWRU GH 6D~GH 6HJXUDQoD H 'HVHQYROYLPHQWR 6XVWHQWiYHO GD $QJOR $PHULFDQ 0LQpULR GH )HUUR %UDVLO COBERTURA VEGETAL AUMENTA Outro ponto forte da atuação da An-
glo American Ê o seu empenho em salvaguardar åreas representativas de 0DWD $WOkQWLFD XP GRV ELRPDV PDLV ULFRV H DPHDoDGRV GR %UDVLO 7RGD D atenção e cuidado demonstrados pela FRPSDQKLD VH MXVWLÀFDP $ÀQDO R 6LVWHPD 0LQDV 5LR HVWi ORFDOL]DGR QXPD região altamente estratÊgica para a formação de mosaicos de unidades de conservação. 6mR iUHDV TXH WDPEpP LQFOXHP IRUmaçþes vegetais de campos rupestres IHUUXJLQRVRV FHUUDGR H PDWD DWOkQWLFD DR ORQJR GD 6HUUD GR (VSLQKDoR WRPEDGD FRPR ´5HVHUYD GD %LRVIHUD¾ SHOD Unesco em 2006. Por meio da integração de projetos de relocação de iUHDV GH FRPSHQVDomR à RUHVWDO UHJXODUL]DomR GH 5HVHUYDV /HJDLV H FULDomR GH 5HVHUYDV 3DUWLFXODUHV GR 3DWULP{-
FOTO: ANGLO AMERICAN/DIVULGAĂ‡ĂƒO
seguir as diretrizes globais de conservação ambiental estabelecidas pela companhia, as equipes da Anglo American procuram adaptå-las à reaOLGDGH H jV QHFHVVLGDGHV ORFDLV 7XGR Ê feito com base em estudos criteriosos e com a chancela de universidaGHV EUDVLOHLUDV H WDPEpP GH 21*V mundialmente reconhecidas, como D )DXQD )ORUD ,QWHUQDWLRQDO )), considerada a mais antiga entidade internacional de conservação da natureza, fundada em 1903. 2V SHVTXLVDGRUHV GD )), SHUFRUUHUDP WRGR R 6LVWHPD 0LQDV 5LR H À]Hram uma completa avaliação dos recurVRV QDWXUDLV H[LVWHQWHV LGHQWLÀFDQGR DV åreas essenciais para a conservação e tambÊm os riscos de impacto à biodiversidade ocasionados pelo empreen-
2 MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O 51
O RIO SANTO ANTĂ”NIO tem 283 quilĂ´metros de extensĂŁo e passa por 29 municĂpios
QLR 1DWXUDO 5331 D $QJOR $PHULcan vem investindo de forma maciça no aumento da cobertura vegetal em toda a regiĂŁo. A proposta de criação de aproximadamente 10 mil hectares de ĂĄreas verdes – que estĂŁo sendo instituĂdas sob D IRUPD GH 5331V ² FRPSURYD HVVH compromisso da empresa. E o conceito-base que norteia todo o processo de criação e conservação dessas ĂĄreas ĂŠ exatamente o da conectividade. Assim, a cada proposta de reguODUL]DomR GH 5HVHUYD /HJDO RX GH FRPSHQVDomR Ă RUHVWDO TXH D FRPpanhia faz, o principal critĂŠrio de escolha das ĂĄreas ĂŠ a possibilidade de conectĂĄ-las a outras unidades de conservação existentes, fomentando D FULDomR GH FRUUHGRUHV HFROyJLFRV e, consequentemente, a proteção da IDXQD H GD Ă RUD ´7HPRV DOJXPDV iUHDV GHĂ€QLGDV H nas quais jĂĄ atuamos de forma efetiva na conservação, por meio de URQGDV GH YLJLOkQFLD H GH EULJDGDV GH FRPEDWH D LQFrQGLRV Ă RUHVWDLV SRU exemplo. Agora, estamos na fase de contratação dos planos de gestĂŁo, visando aprimorar o manejo e favorecer o enriquecimento ambiental desVDV UHVHUYDV 2 SUy[LPR SDVVR VHUi D
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formalização de todos esses processos junto ao Estado, para a criação HIHWLYD GDV 5331VÂľ GHWDOKD 5RJpULR 3LQWR 9DVFRQFHOORV FRRUGHQDGRU GH 0HLR $PELHQWH GD 8QLGDGH GH 1HJyFLR 0LQpULR GH )HUUR %UDVLO Os resultados obtidos atĂŠ agora sĂŁo animadores. “Quando analisamos as imagens de satĂŠlite da regiĂŁo do empreendimento, principalmente do HQWRUQR GD PLQD Ă€FD FODUR TXH GH 2008 atĂŠ agora, houve um aumento considerĂĄvel da cobertura vegetalâ€?, UHIRUoD 7LDJR $OYHV $ PDLRU SDUWH GDV ĂĄreas que serĂĄ protegida sob a forma GH 5331V Ă€FD QD %DFLD GR 5LR 6DQWR $QW{QLR +i DLQGD XPD iUHD GH FHUFD de 200 hectares, localizada no municĂSLR GH 7RPERV QD =RQD GD 0DWD TXH tambĂŠm recebeu proposta de compensação ambiental. ´6mR PXLWRV RV WUDEDOKRV H SURMHWRV que desenvolvemos. E esperamos colher, em conjunto com a comunidade, os melhores frutos de todo o nosso comprometimento com a conservação ambiental. Queremos ser reconhecidos como um agente ativo na busca do desenvolvimento equilibrado e sustentĂĄvel das regiĂľes onde atuamos. Essa ĂŠ a nossa visĂŁoâ€?, ressalta o GLUHWRU $OGR 6RX]D
FOTO: ÉZIO P. MORAIS
EMPRESA & MEIO AMBIENTE
FIQUE POR DENTRO O O Rio Santo AntĂ´nio nasce na Serra do Espinhaço, no municĂpio de Conceição do Mato Dentro, e se estende por 283 quilĂ´metros. O Criado em 2002, o seu ComitĂŞ de Bacia HidrogrĂĄďŹ ca ĂŠ formado por 64 membros, sendo 32 titulares e 32 suplentes. Sua composição inclui 18 representantes do poder pĂşblico, distribuĂdos de forma paritĂĄria entre o estado e os municĂpios inseridos na bacia; bem como representantes de usuĂĄrios e de entidades da sociedade civil. O A Bacia do Santo AntĂ´nio integra a macrobacia do Rio Doce e abrange uma ĂĄrea de 10,4 mil km2. Entre os seus principais cursos d’ågua estĂŁo ainda os rios GuanhĂŁes, do Peixe e Tanque, em 29 municĂpios mineiros, beneďŹ ciando uma população de 182 mil pessoas. O A Serra do Espinhaço ĂŠ uma das mais importantes cadeias de montanhas do Brasil, localizada entre Minas Gerais e Bahia. Tem mais de mil quilĂ´metros de extensĂŁo e reĂşne famosos cartĂľes-postais brasileiros, como a Serra do CipĂł, a Chapada Diamantina (BA) e a cidade de Diamantina.
FOTO: LUIZ CLÁUDIO OLIVEIRA
APOIO A PRODUTORES Para a Anglo American, o incentivo à atuação sustentável de pequenos produtores rurais nos municípios em seu entorno também é prioridade. Por isso, a empresa apoia a regularização ambiental das propriedades e promove a capacitação dos produtores, para que eles conheçam e adotem práticas mais amigáveis de uso dos recursos naturais. Atualmente, 17 proprietários rurais já aderiram de forma voluntária à iniFLDWLYD GH FULDomR GR FRUUHGRU HFROyJLco. “Essa adesão é essencial, uma vez que a responsabilidade de manutenção desse corredor não cabe apenas à empresa. Ela deve ser compartilhada por todos os atores envolvidos”, explica 7LDJR $OYHV
CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO, com a Serra da Ferrugem ao fundo, na cadeia do Espinhaço: terra-mãe do Rio Santo Antônio
ARTE: ANGLO AMERICAN
SISTEMA MINAS-RIO
O O Sistema Minas-Rio inclui uma mina de minério de ferro e unidade de beneficiamento em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas (MG); um mineroduto com 529 km de extensão, que atravessa 33 municípios mineiros e fluminenses; e o terminal de minério de ferro do Porto de Açu, no qual a Anglo American é parceira da Prumo Logística com 50% de participação, localizado em São João da Barra (RJ). O Atualmente, a Anglo American tem mais de 460 mil
hectares preservados sob o seu controle e gestão em todo o mundo, sendo que apenas 84.214 foram impactados de forma direta pelas atividades de mineração. O No Brasil, ela está presente com quatro negócios: minério de ferro, com o Sistema Minas-Rio; níquel, com operações nos municípios de Barro Alto e Niquelândia, em Goiás; nióbio, em Catalão e Ouvidor, em Goiás; e fosfatos, com operações em Ouvidor (GO), Catalão (GO) e Cubatão (SP).
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O 53
FOTO: ANGLO AMERICAN/DIVULGAĂ‡ĂƒO
EMPRESA & MEIO AMBIENTE
AÇÕES DE PROTEĂ‡ĂƒO
O EstĂŁo em execução atĂŠ o momento atividades de conservação, enriquecimento e plantio de ĂĄreas, em um montante de, aproximadamente, 1.300 hectares na regiĂŁo de Conceição do Mato Dentro, nos municĂpios de Tombos e Santo AntĂ´nio do Grama. O AlĂŠm disso, estĂĄ planejado um total de recuperação e manejo de cerca de 3.000 hectares contemplados nas compensaçþes orestais do Sistema Minas-Rio, alĂŠm de doaçþes de ĂĄreas em unidades de conservação de gestĂŁo pĂşblica, a exemplo do Parque Nacional de Jurubatiba (na vegetação de restinga) e do Monumento Natural da Serra da Ferrugem.
VEGETAĂ‡ĂƒO rupestre da Mata Atlântica: maravilha endĂŞmica e protegida
Na prĂĄtica, ele esclarece, o nome mais adequado seria “corredor agroeFROyJLFRÂľ ,VVR SRUTXH HP PRPHQWR algum, a criação dessas ĂĄreas de conectividade tem como objetivo paralisar ou impedir qualquer atividade produtiva tradicional na regiĂŁo. “A ideia ĂŠ fazer mais do que isso. Queremos seguir atuando em parceria com os produtores rurais, para que possam conhecer e aplicar os melhoUHV FRQFHLWRV GH VXVWHQWDELOLGDGH 6y assim conciliaremos conservação com desenvolvimento.â€? PROTEĂ‡ĂƒO E RESPEITO (P WRP RWLPLVWD 7LDJR $OYHV HVFODUHce que todas as açþes de conservação ambiental promovidas pela empresa – alĂŠm de trazer ganhos reais para a natureza – tambĂŠm fomentam a pesquisa FLHQWtĂ€FD H LQFHQWLYDP D PXGDQoD GH cultura, fortalecendo a conscientização das populaçþes vizinhas.
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"Queremos ser reconhecidos como um agente ativo na busca do desenvolvimento equilibrado e sustentĂĄvel das regiĂľes onde atuamos."
O TambĂŠm houve registro de Henochilus wheatlandii (andirĂĄ), espĂŠcie endĂŞmica de peixe da bacia do Rio Santo AntĂ´nio que teve um exemplar registrado nos estudos anteriores de monitoramento. De maneira geral, todas as açþes de conservação destinadas Ă s bacias beneďŹ ciam essas espĂŠcies que necessitam de ĂĄreas preservadas para manterem suas populaçþes viĂĄveis no longo prazo.
(VVD VLQHUJLD FRP R PHLR DFDGrPLco tem se mostrado valiosa para toda D VRFLHGDGH $ÀQDO TXDQWR PDLV VH conhece uma região e as suas riquezas naturais, mais se pode fazer para que elas sejam protegidas e respeitadas. ´1yV GD $QJOR $PHULFDQ DFUHGLWDmos que hå muitas formas de proteAldo Souza ger os recursos naturais. No entanto, poucas iniciativas nesse sentido são *UDoDV D FRQYrQLRV FRP DV XQLYHUVL- concebidas e implementadas numa GDGHV IHGHUDLV GH 9LoRVD 8)9 H GRV SHUVSHFWLYD KROtVWLFD H VLVWrPLFD FRPR 9DOHV GR -HTXLWLQKRQKD H 0XFXUL 8)- D DGRWDGD QR 6LVWHPD 0LQDV 5LR (VVH 9-0 &kPSXV 'LDPDQWLQD D iUHD GR p VHP G~YLGD XP GRV GLIHUHQFLDLV GH 6LVWHPD 0LQDV 5LR WHP VHUYLGR GH EDVH nossa atuação, tendo como principal SDUD LQ~PHUDV SHVTXLVDV TXH SHUPL- catalisador o envolvimento das comutem conhecer melhor toda a biodiver- QLGDGHV¾ FRQFOXL 7LDJR $OYHV O sidade e tambÊm as particularidades da UHJLmR 1RV ~OWLPRV DQRV DOJXQV GHVVHV SAIBA MAIS estudos jå resultaram em teses de meswww.angloamerican.com.br trado e de doutorado.
CY000116H-Olimpiadas de Matematica-AD Revista Ecologico-202x275 mm-FIN.indd 1
2/16/16 11:16 AM
1 AQUECIMENTO GLOBAL
O ARROTO QUE
ESQUENTA O MUNDO Arrotos bovinos são uma fonte importante de gases do aquecimento global; cientistas brasileiros colocaram tubos na boca do gado para medir quanto gás sai de lá e descobriram que, infelizmente, não será tão fácil cortar as emissões Reinaldo José Lopes (*) redacao@revistaecologico.com.br
A
char maneiras de minimizar o efeito dos arrotos de bois e vacas -por incrível que pareça, uma fonte importante de gases que aquecem o planeta- pode ser mais difícil do que se imaginava, indica um novo estudo. Esperava-se que, conforme a criação de bovinos ficasse mais eficiente - ou seja, com os animais ganhando o mesmo peso, mas consumindo menos comi-
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da-, seria reduzida a emissão de metano (CH4), gás causador do efeito estufa produzido durante a digestão dos bichos. Cientistas brasileiros descobriram, porém, que isso não acontece. Bois que engordam facilmente soltam tanto metano quanto os comilões. É uma notícia ruim, porque, de maneira geral, o gado brasileiro não é conhecido por ser econômico em gases. O fenô-
meno pode estar ligado à alimentação do rebanho, que é de qualidade relativamente pobre (rica em celulose) e levaria as bactérias do estômago dos bichos a trabalharem bastante e, assim, gerarem mais metano. O estudo, coordenado por cientistas do Instituto de Zootecnia de São Paulo, sugere, portanto, que vai ser preciso intervir em outros aspectos da criação de bovinos do país para diminuir as emissões.
Arroto complicado Entenda a relação entre gases de bovinos e aquecimento global
FIQUE POR DENTRO
DIGESTÃO Animais como os bovinos possuem um estômago altamente especializado para digerir matéria vegetal, que inclui o rúmen (daí a palavra "ruminantes") Intestino
O Segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) de Minas, o abate de bovinos cresceu 6,3% em 2014, totalizando 3,2 milhões de cabeças. O número representa quase 10% do total de bovinos abatidos no país.
Rúmen
O Em 2014, 33,9 milhões de cabeças de gado foram abatidas no Brasil, 1,5% a menos do que o recorde registrado em 2013. Segundo o IBGE, isso se deve à redução do consumo, já que, com a alta do preço da carne bovina, a população tem consumido mais frango e suínos. Esôfago Omaso Abomaso
20% é o potencial
Disso, cerca de
produzido pela ação humana ligado às emissões de metano
derivaria do metano dos rebanhos (há outras fontes do gás)
de mudança climática
um terço
MICRÓBIOS Nessas câmaras estomacais, vivem bactérias que ajudam bois e vacas a "quebrar" as moléculas complexas do capim. 0 problema é que, nesse processo, os micróbios também liberam metano (CH4), um potente gás-estufa.
1
QUANTIDADE Ao eructar (arrotar), cada bovino emite uma quantidade pequena de metano (150 gramas por dia). Mas, com um rebanho mundial na casa dos bilhões (cerca de 200 milhões só no Brasil), o metano emitido pelos bichos se torna um problema considerável .
2
3
MEDIÇÃO Pesquisadores brasileiros conduziram experimentos para medir os "arrotos" de metano do gado nelore na fase de crescimento. Verificaram que a emissão do gado brasileiro é elevada, mesmo entre os animais mais eficientes no ganho de peso por dia.
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O 57
1 AQUECIMENTO GLOBAL Calcula-se que o metano seja responsável por cerca de 20% do aquecimento global até agora. Mas o aumento de emissões da molécula preocupa porque seu efeito é dezenas de vezes mais potente que o do dióxido de carbono (CO2), o principal gás-estufa. A “usina” de metano no organismo dos bovinos é o rúmen, uma das estruturas que compõem o complexo estômago dos ruminantes. Para “quebrar” as moléculas mais complexas presentes nos vegetais que comem, o organismo dos bichos conta com a ajuda de bactérias que povoam o rúmen. É o metabolismo dos micróbios que acaba produzindo o metano. CÁPSULAS E CABRESTOS A coordenadora do estudo, Maria Eugênia Zerlotti Mercadante, explica que o método para medir as emissões do gado brasileiro (animais da raça nelore) envolve, antes de mais nada, a colocação de cápsulas de SF6 (hexafluoreto
XX O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
O procedimento foi realizado com 464 animais em fase de crescimento de enxofre) no rúmen dos bichos. Se as cápsulas estiverem funcionando direito, liberarão a substância num ritmo constante. O aparato de medição, que inclui um cabresto especial com um cano muito fino, vai sugando tanto o SF6 quanto o metano. Se a proporção de SF6 for a esperada, quer dizer que a medição está sendo feita corretamente. Esse cano desemboca num receptáculo de PVC, que guarda os gases que serão posteriormente analisados. O procedimento foi feito em 464 animais em fase de crescimento, junto com medidas de seu consumo de alimentos e de produção de fezes, no pasto e em confinamento. Os resultados: embora os animais mais eficientes consumis-
sem 10% menos alimento e tivessem uma capacidade de absorção de nutrientes 4% maior para ganhos equivalentes de peso, não houve diferenças significativas quanto ao metano nos arrotos. “A dieta dos nossos animais é muito mais fibrosa do que a dos bois nos EUA, por exemplo”, explica Maria Eugênia. “É possível que, no nosso contexto, os animais mais eficientes sejam aqueles cujo organismo ataca mais essas fibras, o que acabaria levando à maior produção de metano.” Segundo a pesquisadora, isso não significa necessariamente que os animais mais eficientes não teriam nenhum efeito benéfico para o clima ao consumir menos comida, por exemplo, eles poderiam contribuir para uma cadeia produtiva menos poluente, daí o interesse em entender o organismo deles para investir no melhoramento genético do rebanho. O (*) Colaboração para a Folha de São Paulo.
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1 BIODIVERSIDADE
A RPPN Mata do Passarinho agora tem 950 hectares de Mata Atlântica preservadas
FOTO: LUIZ FABIANO/PREF. OLINDA
MATA DO PASSARINHO
AMPLIADA
Reserva da Biodiversitas, que ganhou mais 300 hectares, é refúgio de aves ameaçadas de extinção, como o entufado-baiano A Mata do Pasarinho abrange os municípios de Bandeira e Jordânia (MG) e Macarani (BA). O FOTO: ARQUIVO BIODIVERSITAS
A
Fundação Biodiversitas, com o apoio da American Bird Conservancy (ABC), vem trabalhando intensamente para promover a conservação da Mata Atlântica e de sua fauna exuberante. A conquista mais recente é a ampliação da Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Passarinho, localizada na divisa entre Minas Gerais e Bahia, na região do Vale do Jequitinhonha. Foram incorporados cerca de 300 hectares, totalizando 950 hectares de área preservada.
GLÁUCIA DRUMMOND: “A RPPN protege uma infinidade de animais” 60 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
novo espaço inclui grandes áreas de floresta primária, bem como antigas zonas de criação de gado que, intocadas por mais de uma década, tornaram-se florestas secundárias robustas. De propriedade da Biodiversitas, a reserva foi criada em 2007 e passou a proteger o último remanescente de Mata Atlântica em bom estado na região. Um dos principais motivos de ter sido criada foi a presença de uma ave extremamente ameaçada de extinção – o entufado-baia-
Com mais de 25 anos de experiência no desenvolvimento de ações voltadas para a conservação da biodiversidade brasileira, a Fundação Biodiversitas é uma organização sem fins lucrativos. Com sede em BH e atuação nacional, vem implementando projetos de conservação e estudos científicos de espécies ameaçadas da fauna e da flora brasileiras. Reconhecida por suas publicações técnicocientíficas, entre elas, as Listas Vermelhas de Espécies Ameaçadas de Extinção, a Biodiversitas possui três reservas: Estação Biológica de Canudos, em Canudos (BA), dedicada à conservação da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), a RPPN Mata do Sossego, em Simonésia (MG), dedicada à conservação do muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), o maior primata das Américas; e a RPPN Mata do Passarinho.
no (Merulaxis stressemani). Até 2007, ela estava em vias de ser considerada extinta pelos cientistas. Estima-se que haja apenas 15 indivíduos na natureza. Segundo Gláucia Drummond, presidente da Fundação Biodiversitas, a RPPN Mata do Passarinho é considerada um baú de biodiversidade. “Além do entufado, provavelmente a espécie mais ameaçada da região, a reserva protege uma infinidade de outros animais, muitos deles ameaçados de extinção em grau regional, nacional ou mundial”, explica ela, que também é bióloga. São várias espécies de mamíferos, como o macaco-prego-do-peito-amarelo, o tatu-canastra e a onça-parda (ou suçuarana). Trezentas e trinta espécies de aves estão protegidas no local, tornando a reserva um paraíso para observadores – os birdwatchers.
FOTO: CIRO ALBANO / ACERVO BIODIVERSITAS
FIQUE POR DENTRO
ENTUFADO-BAIANO: só existem 15 exemplares da espécie na natureza
Após a publicação da "Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção" pelo Ministério do Meio Ambiente em 2014, a Mata do Passarinho teve sua importância elevada no que tange à proteção da fauna brasileira. O número de espécies ameaçadas na reserva passou de 39 para 46 OBSERVAÇÃO DE AVES A Fundação Biodiversitas investiu em infraestrutura para proporcionar o recebimento de turistas, observadores de aves e pesquisadores na RPPN. Além da reforma de algumas edificações que já existiam no local, foram construídos um quiosque na mata - ponto de parada das trilhas interpretativas que podem ser feitas na reserva-, um centro de visitantes multimídia e um alojamento para turistas. Este último tem uma característica peculiar: todo o esgoto produzido pelos visitantes é tratado na própria reserva por meio de um canteiro biosséptico, tecnologia ecologicamente correta e muito barata. GUIA FOTOGRÁFICO Recentemente, a Biodiversitas lançou o “Guia Fotográfico das Aves da Reserva Mata do Passarinho”, de autoria de Thais Aguilar e Alexandre Enout, ecólogo da
Fundação Biodiversitas, que tem apoio da Petrobras e da Fundação Grupo Boticário. Com imagens de um dos mais experientes guias de observadores de aves do Brasil, o fotógrafo cearense Ciro Albano, a publicação é inteiramente dedicada às espécies de aves que habitam a RPPN. São 140 fotos que registram a beleza de algumas das aves catalogadas na reserva. Cada foto vem acompanhada de informações da espécie, como hábitat, estrato, tamanho, dieta e peso, distribuição e os principais fatores de ameaça. O guia apresenta preferencialmente imagens de espécies de maior interesse para os observadores de aves, como as florestais, as ameaçadas de extinção ou de difícil identificação. O SAIBA MAIS www.biodiversitas.org.br
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GESTÃO & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br
O DESAFIO DE WATSON
“E
FOTO: REPRODUÇÃO
lementar, meu caro Watson!” A frase, de Sir Se pegarmos firme, é possível que Watson nos ajude Sherlock Holmes a seu médico e assistente muito a plantar corretamente, a prevenir doenças do John Watson, sempre deixou o segundo com campo, a conservar nascentes, a prevenir desastres cara de tacho. Lendo as histórias de Conan Doyle, fica ambientais. Não é à toa que a IBM comprou o The latente a intenção de idiotizar o médico, constante- Weather Channel, uma empresa de tecnologia que mente surpreso diante das brilhantes e inesperadas atua com... meteorologia! conclusões do amigo investigador. Feitas as contas, a computação cognitiva está sendo Mas Watson mudou. festejada como um fenômeno de muito maior impacEle não é mais um assistente periférico de Holmes. to do que tudo o que já se construiu em tecnologia, Fruto de homenagem ao fundador da uma espécie de extensão do fenômeno da IBM, Watson já recebeu o título de “Pessoa “uberização”, em que a próxima onda não do Ano” em 2011, indicado pelo Webby é termos outros motoristas mais gentis, Awards, prêmio de destaques na internet. mas carros sem motorista que, certamenJá ganhou um jogo de TV, o “Jeopardy”, diste, poderão conversar conosco enquanto putando com dois humanos, os mais quanos transportam, tratando de assuntos lificados do game em todos os tempos. que gostamos e nos distraindo a contento. Watson venceu! Feitas as contas, o desafio de Watson é Mas quem é Watson? o desafio da humanidade: ou a usamos Trata-se de uma solução cognitiva da bem, para justificar as ações que só huIBM, um computador que aprende, litemanos poderão tomar, ou sucumbiremos ralmente. Ao ter acesso a um conjunto de a um planeta em que o Fórum Econômico O ATOR Jude Law, que textos sobre determinado tema, Watson Mundial, em seu relatório de setembro de interpretou Watson no é capaz de ler, ler e ler sobre o assunto, 2015, prevê diretores-máquinas sentados em segundos, e apresentar as hipóteses filme "Sherlock Homes", em boards - aquilo a que chamo de CRO mais prováveis, de doenças a estratégias de Guy Ritchie: a tecnologia (Chief Robotic Officer). Isso até 2025. copiando a realidade de mercado. É tempo de pensarmos nisso. É tempo Watson é isso... só que não! Watson se transformou, de enfrentarmos, cada um de nós, em nossas indúsdesde então, num conjunto de dezenas de funções trias, esta profunda transformação. É preciso corafornecidas em nuvem que compõe os diversos aspec- gem e decisão. Sem elas, brevemente correremos o tos da computação cognitiva. Ver, falar, analisar perso- risco de ouvir, sem qualquer piedade, uma frase esnalidade e vai por aí afora. tranha: “Elementar, meu caro humano!”. Temos medo dessas coisas, é verdade. Não negue, Não aposto nisso. Estou a postos. Já me pus a camicaro leitor, que, saída de cenas da série Jornada nas nho. Deixo o convite. O Estrelas, a perspectiva de homens conversando e sendo aconselhados por máquinas é assustadora, principalmente no terreno da velocidade, onde é notória a capacidade das máquinas. Empresas brasileiras, como o Bradesco, já estão avançando para ensinar a Watson suas regras de neO O que é o Webby Awards e o prêmio de 2011 gócio e, por esta via, oferecer melhor atendimento a http://goo.gl/DeXfH9 seu público, livrando-os de respostas modorrentas em seu call center. O Computação cognitiva no call center Não se trata mais de ficção. A computação cognihttp://goo.gl/qXjLGZ tiva é uma realidade presente, expressa em produtos que podem ser comprados e instalados em poucos O O que quer uma companhia de TI com o meses ou consumidos como serviço na internet. Weather Channel? É possível que o meio ambiente agradeça um dia. http://goo.gl/p4DZ8A
TECH NOTES
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(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.
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AS PEGADAS DE LUND (1)
A SAGA DO
DESBRAVAMENTO Nesta edição, você acompanha os primeiros passos das descobertas do dinamarquês Peter Lund, o “pai” da paleontologia Cástor Cartelle redacao@revistaecologico.com.br
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a primeira metade do século XIX não poucos naturalistas escolheram a América do Sul como centro de suas atividades. Governos europeus subvencionavam essas pesquisas: Alemanha, Rússia, França, Espanha... foram responsáveis pelos trabalhos de naturalistas como Azara, Von Humboldt, Saint Hilaire, Spix, Martius, Agassiz, Wallace ou do mais célebre de todos, Charles Darwin, financiado pela coroa inglesa. Nesse período, coleções de numerosos museus da Europa tiveram grande incremento. Novos horizontes abriam-se para as ciências naturais. Na pequena Dinamarca, ao longo da história, surgiram notáveis cientistas, como Tycho Brahe e Ole Romer, astrônomos, Christian J. Thomsens, arqueólogo, ou Niels Stensen (=Nicolaus Steno), médico e mineralogista, o primeiro a interpretar corretamente a natureza dos fósseis. É consequência dessa tradição a existência no país de museus e coleções excepcionais. Podemos citar, na capital Copenhague, os a Museus de Zoologia, Geologia e Botânica, este com quase 2,5 milhões de espécimes. Não é
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de se estranhar que o dinamarquês Peter Wilhem Lund, como outros cientistas da época, chegasse ao Brasil para aqui realizar suas pesquisas. Pedro Guilherme Lund nasceu em Copenhague no dia 14 de junho de 1801. Seu pai era um dos mais prósperos comerciantes de lãs da cidade. Com 17 anos, iniciou o curso de medicina, que abandonou para estudar zoologia e botânica. Aos 23 anos publicou seus primeiros trabalhos científicos nas áreas da fisiologia médica e da zoologia, que tiveram grande destaque. Para realizar estudos botânicos
AOS 17 anos, Lund iniciou o curso de medicina, que abandonou para estudar zoologia e botânica. Aos 23, publicou seus primeiros trabalhos científicos
no Brasil, obteve financiamento de um fundo público, deixando Copenhague em 28 de setembro de 1825. Além do interesse pela botânica brasileira, o medo da tuberculose, que vitimara dois dos seus irmãos, o influenciou para deixar a Europa. Lund conservaria durante toda a sua vida grande preocupação com a saúde, tornando-se um tanto hipocondríaco. COLEÇÕES VEGETAIS Em 8 de dezembro, após penosa travessia de veleiro, chegou ao Rio de Janeiro em festa pelo nascimento daquele que viria a ser o Imperador Pedro II. Além da capital do Império, Campos e Nova Friburgo foram os principais locais nos quais realizou seus estudos e formou as coleções de vegetais que faria chegar ao Museu botânico de Copenhague, onde ainda se preservam. Em 1829 retornou à Europa, pretendendo dedicar-se ao estudo do material coletado. Chegando no mês de abril, já em outubro recebeu o título de doutor e iniciou viagens por diversos países, mantendo contato com destacados cientistas da época, como Humboldt, Ampère, Milne Edwards e Georges Cuvier.
Publicou então diversos trabalhos versando sobre aves, moluscos e formigas brasileiras. Cuvier, diretor do Museu de História Natural de Paris, além de hábil político, o que fez com que se mantivesse no cargo apesar do conturbado período pelo qual a França passava, foi um gênio científico. Excepcional anatomista, é considerado o pai da paleontologia. A influência de Cuvier sobre Lund foi intensa. A teoria catastrofista do cientista francês iria fornecer-lhe um parâmetro científico para interpretar as descobertas que realizaria na sua volta ao Brasil. Além de visitar diversos centros científicos, como Berlin, Viena, Roma e Paris, recebeu convites de diversas universidades para permanecer na Europa e estudar o material que coletara durante sua estadia no Brasil. A morte da mãe, o clima inóspito, a pobreza da fauna e da flora europeias e o desejo de conhecer mais amplamente as riquezas da exuberante
Para realizar estudos botânicos no Brasil, Lund obteve financiamento de um fundo público, deixando Copenhague em 1825. Além do interesse pela botânica brasileira, o medo da tuberculose também o influenciou para deixar a Europa natureza do Brasil o fizeram decidir pelo regresso. TIRADENTES E DIAMANTES Em janeiro de 1833, o naturalista dinamarquês desembarcou pela segunda e última vez no Rio de Janeiro. No ano anterior, Darwin permanecera vários dias nesse porto, na sua viagem ao redor do mundo. Retomou imediatamente seus estudos de botânica, associando-se ao alemão Ludwig Riedel.
Ambos programaram ambiciosa expedição para o estudo e coleta de plantas do Cerrado, partindo de São Paulo para o planalto central no mês de outubro desse mesmo ano. As cidades de Campinas, Franca e Catalão ficaram para trás. Mas as dificuldades aumentaram até que, finalmente, foi abandonado o projeto de chegarem à capital de Goiás. Passara-se um ano desde o início dessa aventura. A solidão inóspita do planalto central e doenças que atingiram Riedel abortaram a ambiciosa expedição. Iniciaram, então, o regresso ao Rio de Janeiro. A alquebrada caravana, com sua tropa de equinos, menos carregada do que o previsto ao iniciar-se a viagem, adentrou-se por território da então Província de Minas Gerais, dirigindo-se a Uberaba e daí a Paracatu para rumar em direção a Curvelo. Desde lá, a fatigada comitiva dirigir-se-ia a Ouro Preto, a capital da Provín-
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ILUSTRAÇÃO: AUGUSTUS EARL
RIO DE JANEIRO, Cais, Paço Imperial e Catedral: neste local, Lund desembarcou em 1833
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AS PEGADAS DE LUND (1) cia das Gerais e, pela Estrada Real, descendo serranias, chegaria até o Rio de Janeiro. Essa estrada, que se estendia por 1.200 quilômetros e da qual se preservam trechos calçados e pontes de cantaria, foi aberta no século XVII para escoar e controlar as riquezas minerais das Gerais e, em consequência, era a única via permitida para o transporte de mercadorias. No controle dos impostos, a metrópole Portugal era implacável. Em trechos estratégicos dela foram expostos membros do arauto da Independência, Tiradentes, após seu esquartejamento. Era essa a forma mais eficiente de espalhar a notícia da brutal punição. A Rota dos Diamantes ia de Diamantina a Ouro Preto. Daí bifurcava-se: até o Rio de Janeiro era o Caminho Novo; o outro ramo, o Caminho Velho, passava por São João d’El Rei, Tiradentes, Passa Quatro e finalizava em Paraty, no Estado do Rio de Janeiro. CRÂNIO DE TIGRE Mas em Curvelo, a casualidade estava à espreita para mudar planos e fazer história. Peter Claussen era conhecido pela população como Pedro Cláudio dinamarquês. Trabalhara para o botânico e naturalista alemão Sellow, que chegara ao Brasil em 1814 a convite de Langsdorff, médico e cônsul da Rússia no Rio de Janeiro, a fim de fazer parte da expedição científica que organizara para percorrer o país. No Rio Grande do Sul e no Uruguai chegaram a coletar fósseis, pelo que adquirira certa prática e tomara consciência da importância que os museus da Europa davam a essas peças. Sellow morreu afogado em 1831 no Rio Doce, perto da atual cidade de Ipatinga. Claussen permaneceu na região, adquirindo em Curvelo uma pequena fazenda, Porteirinhas, onde a abortada expedição botânica acabou se hospedando. Na época, numerosas grutas da região eram
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exploradas para a obtenção de salitre, nitrato de potássio de origem orgânica, usado como fertilizante e na fabricação de pólvora. Claussen, além de retirar esse produto, coletava fósseis que comercializava na Europa. Destaca-se, entre eles, o crânio de um tigre-de-dentes-de-sabre hoje guardado no Museu de História Natural de Paris e uma pequena coleção de peças depositadas no Museu Britânico em Londres. O inesperado encontro, ocorrido em 10 de outubro de 1834, com um compatriota na imensidão quase vazia
Em trechos estratégicos da Estrada Real foram expostos membros do arauto da Independência, Tiradentes, após seu esquartejamento. Era essa a forma mais eficiente de espalhar a notícia da brutal punição de habitantes do sertão mineiro, teve imediata reação de Lund. Ao contemplar os fósseis que Claussen lhe mostrou, certamente afloraram na sua memória os contatos havidos com Cuvier em Paris. CAVERNAS DE OSSOS Dez dias depois, a viagem prosseguiu em direção a Ouro Preto, passando por diversas localidades. Uma delas, o Arraial de Nossa Senhora da Saúde de Lagoa Santa. Tiveram também a oportunidade de conhecer a Serra da Piedade, onde fizeram grande coleta de plantas, e as minas de ouro dirigidas por ingleses nos arredores de Sabará. A expedição chegou, finalmen-
te, a Ouro Preto no final de novembro. Lund permaneceu na então capital da Província por dez semanas, até que seu amigo Ridel se restabeleceu e pôde prosseguir viagem pela Estrada Real até o Rio de Janeiro. Nesses dias de estadia em Ouro Preto, redigiu e enviou à Sociedade de Ciências de Copenhague uma memória sobre a vegetação dos planaltos do interior do Brasil. Em 9 de fevereiro retomou o caminho de volta para Curvelo, decidido a estudar as “cavernas de ossos”, como eram denominadas. As cidades históricas de Congonhas e Sabará foram visitadas na viagem de retorno e, pela segunda vez, Lagoa Santa. Em Curvelo iniciaria o trabalho na paleontologia, a nova ciência que Cuvier fundamentara. Permaneceu como hóspede de Claussen de março a setembro de 1835, conhecendo, então, o norueguês Andreas Brant, excelente desenhista, que viera visitar seu anfitrião e que se tornou seu secretário e melhor amigo. Realizou imediatamente sua primeira escavação, que ocorreu no admirável marco da Gruta de Maquiné, situada no atual município de Cordisburgo e que havia pouco, em 1825, sido descoberta. O resultado desse trabalho, que demorou três meses, foi ampla e poética memória escrita em 1836, mas publicada na Europa em 1837, o que dá a Lund a primazia ou paternidade na América no trabalho sistemático de três ciências. GUIMARÃES ROSA Pela magnífica descrição da gruta – que mais de um século depois seria apelidada de Mil Maravilhas pelo escritor Guimarães Rosa, filho de Cordisburgo – completada com minuciosa topografia, Lund é o fundador da espeleologia americana. Ao longo dos anos registraria numerosas grutas (escreveu que penetrou em mais de 800), faria outras descrições, como a do
FOTO: P.A. BRANDT. NATURAL HISTORY MUSEUM OF DENMARK
LAPA DO MOSQUITO, em Curvelo (MG): o desenho de Lund está exposto no Musel de História Natural da Dinamarca
conjunto de Cerca Grande (Matozinhos), e diversas topografias. Nessa primeira memória referida a Maquiné narra também o achado de instrumentos líticos e a presença de pinturas nas paredes do salão da entrada, que interpretou como feitos por primitivos moradores. No mês de dezembro de 1836 escreveu uma segunda memória sobre as cavernas, publicada também em 1837, na qual registra, pela primeira vez na história, uma figura com pinturas rupestres que observara no conjunto de Cerca Grande. E pouco depois, em 1841, anuncia a notável descoberta de fósseis humanos. Tudo isso permite considerá-lo o iniciador da arqueologia sistemática americana. As numerosas pinturas rupestres observadas por Lund foram inicialmente interpretadas por ele como manifestações de indígenas nômades que supôs seriam Caiapós. Ao descrever o conjun-
A expedição chegou, finalmente, a Ouro Preto. Lund permaneceu na então capital da Província por dez semanas... Nesses dias de estadia, redigiu e enviou à Sociedade de Ciências de Copenhague uma memória sobre a vegetação dos planaltos do interior do Brasil to de Cerca Grande, relata que lá ter-se-iam fixado “...encontrando abrigo nas grutas do imponente rochedo. Entusiasmados pela beleza da paisagem, tentaram imitar os objetos ali existentes, e o sopé
do rochedo se acha coberto de desenhos, que são, na verdade, toscos como a imaginação que os criou; também o Rochedo dos Índios... será sempre um lugar clássico para o naturalista viajante, em vista da extraordinária raridade de monumentos comemorativos dos selvagens do Brasil...”. Há diversos registros de achados paleontológicos anteriores a Lund nas Américas, como os de Darwin na Argentina e do citado Sellow no Uruguai. No Brasil, o Padre Cazal, em 1817, encontrou um grande esqueleto no Rio das Contas (BA) que seria de mastodonte. Saint-Hilaire, nesse mesmo ano, recebeu um dente, também de mastodonte, em Minas Novas (MG). Spix e Martius, em 1818, recolheram fósseis numa caverna de Montes Claros e, segundo Darwin, encontraram, nos arredores de Formiga, ossos que seriam de
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AS PEGADAS DE LUND (1) uma preguiça terrícola. Já foram referidos os achados do dinamarquês Claussen em Curvelo, na coleta esporádica de fósseis com a finalidade de comercializá-los. Além desses há outros registros de viajantes que encontraram fósseis em cavernas de Minas Gerais antes de Lund, como os geólogos Mawe, britânico, em 1809, e Eschwege, alemão, em 1816, e Pohl, médico e geólogo austríaco, em 1817. ARRAIAL DOS PRADOS O mais antigo registro de fósseis em Minas Gerais (e provavelmente do Brasil) teria ocorrido em 1785, no “Arraial de Prados”, próximo da já então importante cidade de São João d’El Rei. O governador da Capitania de Minas Gerais, Luiz da Cunha e Meneses, Conde de Lumiares, narrava em carta que “... no desmonte de uma lavra apareceu um esqueleto de 56 palmos de comprido e na altura de 46 palmos... e não me parecendo desprezível uma sempre extraordinária notícia... mandei indagar qual a sua origem... e sua qualidade...; os restos resíduos... tinham ficado em grande desordem que houve quando conheceram ser ossos de algum animal depois de três dias que... tinham andado quebrando os mesmos ossos com labancas, cuidando que eram raízes de pau. Já mandei ser avisado, logo que se encontrar mais algum... com vestígios que indiquem antiguidades por todos os grandes socavões que continuadamente se andam fazendo pelas lavras de toda esta capitania...”. Os restos foram enviados a Coimbra, juntamente com um relatório minucioso feito pelo tenente Sardinha. São poucos os dados descritivos contidos no arrazoado do relator, mas por algumas tênues pistas as peças, identificadas como “restos antediluvianos”, poderiam ser de mastodonte. Desconhece-se o paradeiro dessas peças. Nos Estados Unidos da Améri-
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ca do Norte, Caspar Wistar, médico e anatomista, citou alguns fósseis em seus escritos. Thomas Jefferson, que chegou à Presidência da República, teria descoberto ossos de uma preguiça terrícola. Richard Harlan, médico e naturalista referiu, numa monografia de 1825 sobre a fauna americana, alguns fósseis. Mas foram achados circunstanciais e nenhum dos citados teve dedicação continuada à paleontologia. Joseph Leidy (1823-1891) é considerado o pai da paleontologia norte-americana. Em 1844, graduou-se em medicina, iniciando em 1845 sua atividade científica, que incluiu a paleontologia, justamente quando Lund abandonava
Lund definiu Lagoa Santa como “um lugar bom para se viver”. Sua primeira viagem de pesquisa a partir desta localidade ocorreria em 1836, de meados de abril a meados de maio seus trabalhos de campo. Em consequência, Lund foi o primeiro a empreender o trabalho e o estudo sistemáticos, também nessa área, na América. Deve, pois, ser considerado o “pai” da arqueologia, espeleologia e paleontologia americanas. MUDANÇA PROFUNDA O paleontólogo iniciante pesquisou durante sua estadia em Curvelo algumas grutas como a Lapa do Saco Comprido e a Lapa do Mosquito. Em 2 de setembro de 1835, encerrou sua permanência nessa cidade, iniciando viagem rumo a Lagoa Santa. O lento des-
locamento foi aproveitado na pesquisa de diversas grutas, ao todo 19, mas somente em duas achou restos de animais extintos. Chegou, finalmente, a Lagoa Santa no dia 17 de outubro. Iniciava uma mudança profunda de vida, escolhendo para morar a então pequena vila de Nossa Senhora da Saúde de Lagoa Santa, que teria sido fundada em 1773 por um tropeiro e que consistia em poeirenta rua única, de onde se avistava a lagoa que hoje lhe empresta o nome. Era localidade estrategicamente equidistante de numerosos maciços calcários perfurados por grutas. No arraial não chegavam a 180 as casas ocupadas por cerca de 1.500 moradores. Lund definiu a localidade como “...um lugar bom para se viver”. Sua primeira viagem de pesquisa a partir de Lagoa Santa ocorreria em 1836, de meados de abril a meados de maio. Empregou dez árduos anos em trabalho sistemático de exploração, sendo o período da seca (abril a novembro) dedicado à coleta de fósseis nas grutas. Como já assinalado, mais de 800 foram pesquisadas por ele ou seus ajudantes. Somente umas poucas, em volta de 60, guardavam os fósseis que Lund tanto procurava, dos quais somente a metade tinha real importância científica. Trabalho hercúleo pelas dificuldades logísticas enfrentadas: deslocamentos distantes com tropas de equinos, abertura de caminhos em vegetação cerrada, transporte de ferramentas e alimentação, iluminação com lampiões e tochas... O
CONFIRA na próxima edição: "Uma picada de aranha e o embate de uma nova biologia na Europa".
Apoio cultural:
1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL SALA VERDE: as paredes são árvores e as aulas tratam de rios e plantas
APRENDENDO NA
FLORESTA Instituição educacional de Nova Lima (MG) mostra que é possível aliar teoria e prática de forma integrada à natureza Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br
A
fumaça do fogão a lenha sobe vagarosa, enquanto na horta o sol forte ilumina as ervas. A cigarra canta pedindo chuva quando, de repente, um esquilo sobe em uma árvore para buscar alimento. As crianças e adolescentes estão espalhadas: algumas na sala tocando flauta, enquanto outras, sentadas em círculo no meio da mata, debatem as últimas notícias. Se você acha que estou descrevendo um ambiente rural, errou. Na verdade, esse é o cotidiano de 70 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
uma escola diferente que a Ecológico visitou em Nova Lima, Região Metropolitana de BH: o Instituto Educacional Ouro Verde. Localizada no bairro Ouro Velho, a instituição tem princípios que se baseiam na Pedagogia Waldorf – que busca integrar de maneira holística o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos alunos. O ambiente da escola encanta à primeira vista. Situado em uma casa branca rodeada por uma Área de Proteção Ambiental (APA), o
espaço atende atualmente 130 alunos dos ensinos infantil e fundamental. E só nos remete à ideia de uma escola tradicional quando cruzamos com as crianças e adolescentes e ouvimos de uma delas algo sobre uma lição que será feita em alemão. Ou ainda, quando durante o recreio os meninos disputam uma partida de futebol. No resto, tudo destoa dos prédios de muros altos e das estruturas iguais das escolas que comumente encontramos pela vida. O Instituto Educacional Ouro
FOTOS: SANAKAN
OS CONTEÚDOS das disciplinas são dados de forma interdisciplinar e trabalham o mesmo tema em diferentes aspectos
Verde é uma associação sem fins lucrativos, criada por um grupo de pessoas que inclui pais na busca de um ensino mais integrado para os filhos. A escola foi fundada há dois anos e não apenas segue o modelo pedagógico desenvolvido pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner. Também se orienta pelos princípios da gestão participativa dos pais e da chamada “escola verde”, cujos conceitos de agricultura, resíduos e alimentação seguem uma lógica sustentável. Em pouco mais de oito mil metros quadrados, os estudantes aprendem disciplinas tradicionais, como matemática, português e física, conforme diretrizes do Ministério da Educação (MEC), intercaladas de forma interdisciplinar a aulas de marcenaria, modelagem, astronomia e agricultura biodinâmica, entre outras. AULA DE PLANTAR O professor de agricultura, Gustavo Passos, é quem ministra as aulas sobre como produzir hortas seguindo os preceitos da agrofloresta, que agrega as culturas agrícolas às florestais. Nelas, os jovens literalmente colocam a mão na terra para plantar, adubar, colher e até mesmo fazer compostagem. Reunido no meio da mata com os estudantes, ele não apenas “os ensina a cuidar das plantas, mas pesquisar sobre os nomes das bacias
hidrográficas e córregos que os rodeiam”. Mais. Instrui todos a plantar levando em consideração um hábito ancestral: respeitar as fases da lua e as constelações. Por meio dessa vivência, os alunos produzem, na sequência, relatórios com observações sobre a influência dos astros no cultivo das espécies. DA ESCOLA PARA A MESA Outra atividade que conquistou os estudantes do Instituto Educacional Ouro Verde é a oportunidade de levar o alimento que eles mesmos plantaram na horta da escola para ser preparado lá. Um bom exemplo é o trigo, que recentemente foi colhido e encaminhado para a cozinha para que os próprios alunos pudessem fazer massas e pães. Esta prática está diretamente ligada ao projeto de reeducação alimentar que a escola chama de “ecologia da boca para dentro”, que visa conscientizar os alunos sobre os benefícios de uma ali-
IZABEL Stewart: “No instituto nós pregamos que nosso corpo é nosso primeiro planeta!”
mentação saudável. Para se ter uma ideia, no cardápio não entra carne vermelha, mas apenas frango caipira, um dia, durante a semana. Izabel Stewart, diretora de Meio Ambiente da escola, conta que o instituto busca constantemente fazer uma reflexão sobre o que se come. “Servimos arroz integral e, de repente, um aluno chega contando que o intestino dele está funcionando melhor. Isso reflete o que nós pregamos aqui: de que seu corpo é o seu primeiro planeta!”, resume. A presença dos pais no ambiente escolar também é recorrente. Existem oficinas artesanais feitas exclusivamente para eles, incluindo feirinhas, onde as peças produzidas são vendidas. Izabel, que também é mãe de duas alunas do instituto, conta que a presença dos pais se dá em conselhos participativos que discutem e determinam temas ligados à escola, além de contarem com o apoio deles em outras atividades. “Estamos construindo uma nova sala e os pais de um aluno que são arquitetos colaboraram com o projeto”, afirma ela, apontando um exemplo prático de gestão participativa e sustentável que está consolidando uma nova forma de educar. PEDAGOGIA WALDORF O plano pedagógico anual do
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FOTOS: SANAKAN
1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL A presença dos pais no ambiente escolar também é recorrente. Existem oficinas artesanais feitas exclusivamente para eles, incluindo feirinhas, onde as peças produzidas são vendidas MODELAGEM: aula artesanal conta com a participação de alunos e pais
Instituto Educacional Ouro Verde é elaborado no início de cada ano letivo. Um assunto pode ser trabalhado em sala de aula durante três ou quatro semanas, de acordo com o desenvolvimento de cada turma. Se o tema é Idade Média, por exemplo, esse conteúdo será amplificado em todas as matérias, de forma a ser moldado ao perfil de cada uma delas. A Pedagogia Waldorf prevê que um mesmo professor acompanhe a turma do primeiro até o oitavo ano. Ele ministrará exclusivamente os conteúdos até a quinta série. Do sexto ano em diante, o professor poderá contar com o apoio de novos professores para ministrar os demais conteúdos. As avaliações e reprovações também são trabalhadas de forma diferenciada. Segundo a diretora pedagógica, Eliza Alves, no modelo Waldorf as avaliações são continuadas. “Ao contrário das instituições tradicionais, a nossa avaliação é feita quase que diariamente. A partir do momento que é dada a aula principal, fazemos uma recapitulação dos conteúdos ministrados no dia anterior. Isso funciona como uma sondagem. A todo o momento o professor convida o aluno a participar do conteúdo que ele está ministrando. Dessa forma, acre72 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
ditamos que a construção da avaliação é feita desde a oralidade até o momento em que ele tem um trabalho de ditado, de redação, uma cópia de texto.” A diretora também diz que os pais recebem boletins descritivos semestralmente até o quinto ano. E, trimestralmente, a partir do sexto ano - onde se registra todo o conteúdo dado e quais foram os avanços e deficiências do aluno em cada tema trabalhado. Dessa forma, Eliza explica que não existe o termo reprovação. “Como nós vamos destacando o que cada aluno alcança e não alcança, ele vai tendo um registro que fica para o instituto e para a Secretaria de Educação sobre suas conquistas. Para nós, isso não faz do aluno melhor ou pior
LUCAS Gallo sonha em ser biólogo e contribuir para um mundo melhor
que o outro. É um reconhecimento de aptidões”, conclui. Esta forma de aprendizagem vem deixando os alunos satisfeitos. Lucas Schneider Gallo, de 13 anos, é estudante do sexto ano e conta que sempre estudou em escolas tradicionais, mas que, este ano, optou por frequentar o Instituto Educacional Ouro Verde. Quando perguntado sobre a principal diferença entre a antiga escola e a nova, ele respondeu rápido: “Senti muita diferença no jeito de os professores darem as aulas. Onde eu estudava, o professor apenas repassava a matéria e saía. Aqui, sinto que os professores são mais envolvidos com o aluno, o que deixa a aula mais interessante! Temos também mais liberdade para dar opinião. Não é só sentar e ouvir”, afirma. Lucas, que integra a Comissão de Meio Ambiente da escola, quer ser biólogo quando crescer. Também disse que quis estudar no instituto por “gostar da paisagem e da natureza, além de querer contribuir mais com o meio ambiente”. E completou: “A gente vê tanta gente desmatando. O ser humano não precisa disso, ele pode viver com pouco, sem precisar destruir tudo!”. O SAIBA MAIS www.institutoouroverde.com.br
Nยบ 37
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS -DESERTIFICAÇÃO
UMA AMEAÇA
SILENCIOSA Causada por fatores que envolvem variações climáticas e atividades humanas, a desertificação tem repercussões social, econômica e ambiental. Boas práticas de uso e conservação do solo são saídas para interromper e reverter o processo de degradação Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br
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efinida como um processo cumulativo de degradação ambiental passível de ocorrer nas zonas de clima seco de todo o mundo, a desertificação é causada por diversos fatores que envolvem variações climáticas e atividades humanas. E requer ações de mitigação urgentes. No Brasil, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA), são 1.488 municípios suscetíveis a esse fenômeno, que necessitam de boas práticas para interromper e reverter o processo de degradação. O Semiárido brasileiro, com quase um milhão de quilômetros quadrados, é a região com mais áreas afetadas – particularmente nos estados do Nordeste –, além de alguns núcleos em Minas Gerais. A desertificação ameaça a segurança alimentar, pois reduz continuamente a superfície das terras agricultáveis e o rendimento das colheitas, fazendo com que moradores do campo se mudem para novos territórios em busca de
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melhor qualidade de vida. Afeta, portanto, as condições ambientais, econômicas e sociais de uma região ou país, comprometendo a produtividade do solo, os serviços ambientais (como a produção de água e a conservação das paisagens), interferindo no equilíbrio de toda a biodiversidade. Estudos feitos pelo MMA indicam que as áreas suscetíveis à desertificação englobam 16% do território brasileiro e 27% do total de municípios, envolvendo mais de 31 milhões de habitantes, exatamente no polígono em que se concentra 85% da população mais carente do país. Atualmente, estima-se que uma área maior que a do estado do Ceará já tenha sido atingida pela desertificação de forma grave ou muito grave. São seis os Núcleos de Desertificação do Semiárido onde o processo de deterioração dos solos se encontra em estágio avançado: Seridó (PB e RN), Cariris Velhos (PB), Inhamuns (CE), Gilbués (PI), Sertão Central (PE) e Sertão do
São Francisco (BA), correspondendo a 200 mil km2. OS GRANDES VILÕES O desmatamento é uma das práticas que contribuem para a degradação de terras e a desertificação. Em especial na Caatinga, expondo os solos ao sol, à água e ao vento, favorecendo assim a erosão. A agropecuária sem manejo adequado dos solos é outra causa de estragos, abrindo espaço para a erosão, que leva ao empobrecimento do solo e, consequentemente, ao maior escoamento superficial e ao assoreamento dos cursos d’água. A criação de gado (pecuária) também é vilã. O pisoteio contínuo de animais compacta o solo e dificulta a regeneração da vegetação. A todos esses fatores, soma-se ainda o manejo inadequado dos sistemas de irrigação, que podem levar à salinização dos solos. As áreas brasileiras suscetíveis à desertificação caracterizam-se por longos períodos secos, seguidos por outros de intensas chuvas. Em MG, elas com-
FOTOS: REPRODUÇÃO
FOTO: YURI KUIDIN
DESERTIFICAÇÃO: é um processo de degradação que resulta da ação humana e das mudanças climáticas.
DESERTO: ecossistema natural que ocorre em zonas áridas do planeta.
MITIGAÇÃO: medidas tomadas para reduzir causas ou consequências de um desastre ou de uma situação a um nível mínimo aceitável de riscos ou de danos.
prreendem mais de 50 cidades localizadas no Vale do Jequitinhonha e no Norte do estado. A baix ixa fertilidad de natural dos solos e a topografia acidentada da que ca ara ract cte eriz izam am boa par arte te do Je Jequitinhonha e do Norte de Mina as reduzem ainda mais a cap a accid i ade de suporte e das a pasta agens e aumentam a oco corrência de erosão. Extensas florestas plan nta tada d s co com eucalipto e a produção de so oja em regiime de mo mono nocu cult ltu ura ta também deg de gradam a inúmeros terrenos, assim como o garimpo rud udim men enta tarr de our uro o e de dia iama mant nte e a exploraçã ão de ardósia e de quartzo.
EROSÃO: desgaste progressivo do solo decorrente do arraste de partículas que o compõem. De modo geral, é provocada pela ação da água, do vento, do homem ou dos animais.
RECUPERAÇÃO E GERENCIAMENTO Com sede em Campina Grande, na Paraíba, o Instituto Nacional do Semiárido (Insa), criado em 2004, desenvolve uma série de estudos sobre a dinâmica do processo de desertificação, contemplando diferentes aspectos. Entre eles, destacam-se as estratégias de recuperação e gerenciamento das áreas afetadas. Um dos programas desenvolvidos pelo Insa, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), é voltado para o monitoramento sistemático da
SALINIZAÇÃO DOS SOLOS: processo resultante do manejo inadequado da irrigação e da drenagem em regiões áridas e semiáridas. Afeta a germinação, o desenvolvimento e a produtividade das lavouras.
desertificação e se fundamenta em dois focos. O primeiro é o estabelecimento de uma linha de investigação de base científica consistente e rigorosa sobre a situação dos processos de desertificação no semiárido. Já o segundo visa à geração de informações consistentes, sistematizadas e acessíveis a diferentes públicos-alvo, favorecendo a criação de políticas públicas adequadas e a elaboração de modelos de utilização que promovam a conservação e a sustentabilidade dos recursos naturais em toda a região semiárida brasileira.
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MARÇO M MA MAR ARÇ AR ÇO O DE DE 2016 20 201 2 01 01 16 6 | EC E ECOLÓGICO COL OLÓ O LÓGICO LÓ GIIIC GIC G CO O 75 75
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS -DESERTIFICAÇÃO ACORDO INTERNACIONAL Instituída na França em 17 de junho de 1994, a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês) é um acordo internacional que vincula juridicamente o meio ambiente e o desenvolvimento à gestão sustentável dos solos. Em vigor desde 1996, ela foi ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo nº 28, de 13 de junho de 1997. Ela é um importante resultado da implementação da
Agenda 21 e trata especificamente das zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas, onde podem ser encontrados alguns dos ecossistemas mais vulneráveis. Já o “Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação (PAN-Brasil)”, de 2005, visa identificar os fatores que contribuem para a desertificação e as medidas de ordem prática necessárias tanto ao seu combate quanto à mitigação dos efeitos da seca.
FIQUE POR DENTRO O O Semiárido brasileiro se estende por oito estados do Nordeste – Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe – e pelo norte de Minas Gerais. O As regiões semiáridas representam quase 1/3 da superfície do planeta. Abrigam mais de um bilhão de pessoas e são responsáveis por quase 22% da produção mundial de alimentos. O São áreas importantes pela extensão de terras, pelo contingente populacional e potencial econômico, bem como pelos desequilíbrios que podem provocar no clima e na biodiversidade, quando mal manejadas. O Apesar do grande potencial produtivo dessas regiões, uma série de fatores históricos e estruturais vem condicionando os padrões de organização social e exploração dos recursos naturais ali encontrados, provocando perdas econômicas e ambientais significativas, destruindo a produtividade da terra e contribuindo para o aumento da pobreza.
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FOTO: DIVULGAÇÃO
TRÊS PERGUNTAS PARA...
ALEXANDRE PEREIRA DE BAKKER Pesquisador titular III do Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI)
MANEJO SUSTENTÁVEL DA TERRA Quais foram, em termos de pesquisas e de ações práticas, os principais resultados alcançados pelo Insa em 2015? Destacaria a participação na UNCCD e a abertura de uma representação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o escritório do Nordeste, dentro do Insa. Acredito ser este um grande passo para que o instituto desenvolva mais ações de pesquisa e sobretudo de extensão na área de desertificação, que é de extrema importância para o Semiárido brasileiro. Em 2015, a FAO celebrou o “Ano Internacional dos Solos” e o Insa promoveu diversas ações em torno desse tema, por meio de parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a própria FAO. Um exemplo foi o “Dia Nacional da Caatinga”, que em 2015 foi focado em discussões ligadas à conservação e ao uso sustentável dos solos. O Insa desenvolve iniciativas ou projetos voltados para jovens, no sentido de evitar o êxodo rural em razão da desertificação? A principal missão do Insa é promover a convivência sustentável com o Semiárido brasileiro. Nesse sentido, busca promover de forma direta a permanência de homens e mulheres em seus territórios. Mais que isso, considera fundamental permitir o acesso à educação contextualizada à realidade do Semiárido, bem como o acesso a políticas que propiciem melhores condições de vida à população. Sob esse ponto de vista, todas as nossas iniciativas visam contribuir para evitar o êxodo rural. Os jovens também têm sido foco das ações. De 28 a 31 de janeiro passado, promovemos o “Encontro de Jovens Rurais do Semiárido Brasileiro”, em parceria com o governo da Paraíba, por meio do “Projeto de Desenvolvimento
Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú” (Procase), e com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (Fida). Nosso objetivo central é fortalecer as pautas das juventudes do Semiárido nos espaços de participação e no processo de construção das políticas de desenvolvimento territorial. Além de contribuir com subsídios e diretrizes para o Plano Nacional de Juventude e o Plano de Sucessão Rural. O senhor considera que há esforços suficientes por parte dos estados e prefeituras no combate e/ou controle da desertificação? Existem esforços variados por parte dos governos e da sociedade civil. O Insa, em parceria com o MMA, tem atuado no âmbito da Comissão Nacional de Combate à Desertificação (CNCD) para apoiar projetos em prol da conservação e sustentabilidade dos solos, além de mobilizar a população para a importância das boas práticas e do manejo sustentável de terras para a segurança hídrica, alimentar e energética. Cursos de capacitação técnica voltados para pesquisadores, técnicos agrícolas, líderes comunitários e agricultores são fundamentais para promover a conservação e o uso sustentável dos solos. No entanto, ainda observo que falta sensibilização dos gestores públicos, em sua grande maioria, sobre esse assunto de grande importância para o homem do semiárido. Há que se ter mais ações. Urge que nesta região e no país como um todo haja ações efetivas para se implantar um sistema educacional de boa qualidade, com escolas em tempo integral, nas quais as crianças aprendam desde cidadania à conservação dos recursos naturais, nacionais e territoriais. O
Não podemos mudar o passado, mas podemos iniciar um novo futuro. E ele começa pela educação. Junte-se a nós!
Nós apoiamos essa ideia! O 77 MARÇO MAR RÇO DE 2016 | ECOLÓGICO Ó
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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br
O AFAMADO ARATICUM D
FOTO: MARCOS GUIÃO
ia desses estava encarapitado no derredor de um braseiro, assoprando um enorme fole no intento de amolecer um feixe de mola de caminhão. A ideia era fazer daquilo um facão e a lâmina em brasa esticada, por riba da bigorna, recebia severas marretadas do Tião, mestre nessas artes aqui do sertão. Homem sério, dotado de muitas habilidades, ele aos poucos foi dando forma à ferramenta. O trem tava inté dando certo, quando João Barriga adentrou na oficina. Seu rosto estava vermelho qual o fogo da forja. E um dos pés descalços se apresentava igual uma pipa, de tão inchado. A cada passo, ele soltava uma praga e fazia uma careta, dando maior visibilidade ao seu sofrimento. Ele foi
ARATICUM (Anonna crassifolia) 78 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
me vendo e dizendo: “É essa danada da gota! Num tô me aguentando em pé. Passei essa noite em claro esperando amanhecer pra buscar recurso e dar fim nesse sofrimento. Pois chego na farmácia e num tem o remédio... Maria, valei-me!” Fiquei observando sua expressão injetada pelos olhos vermelhos da insônia e me alembrei que a Gota é uma doença que aparece derivada do excesso de ácido úrico circulando no sangue, fazendo com que cristais de sódio se depositem nos tecidos e articulações, gerando dor e inflamação que acompanha os “gotosos”. Tem uma planta afamada nas tratativas de casos como o do João, que é o araticum (Anonna crassifolia). Típica de nosso Cerrado, nessa época do ano esparrama seus frutos de paladar arenoso, cheiro adocicado (e até enjoativo) nas feiras sertanejas. Foi só o tempo de falar sobre essa possibilidade que ele logo se interessou. E foi se apoiando em meu braço enquanto dizia: “Por misericórdia, você sabe donde arranjo desse remédio aí? Num tô me aguentando de dor”. Maldade demais deixar um amigo em sofrimento! Prontamente me dispus a buscar um bocado da entrecasca da árvore, pois sabia de um pé dele beirando a cerca da casa de Mariinha de Antônio. Fui num pé e voltei noutro - gastei tiquim de tempo. Trouxe uns galhos e rapidamente raspei a parte morta da casca, se dei na entrecasca e bati forte com um porrete, até que ele deu de soltar grandes lascas, que fui picando em pedaços menores. A água já tava no fogo e joguei um punhado equivalente a pouco mais que uma colher de sopa das cascas, deixei ferver e esperamos até dar ponto de tomar. Num demorou um “tim” e ele já havia tomado todo o chá em grandes goles enquanto conversávamos. Aos poucos foi se acalmando e acabei por levá-lo em casa para evitar o sofrimento da caminhada. Poucos dias depois nos esbarramos na rua e ele fez festa agradecendo “santo remédio, que jogou água na fervura”. O facão até hoje ainda não tá pronto, mas o remédio do João Barriga até já deu resultado. Inté a próxima lua! O (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.
1 VOCÊ SABIA?
Flora aquática Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br
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o mês em que se celebra o “Dia Mundial da Água”, a Ecológico faz uma viagem pelo universo das plantas aquáticas, tipos de vegetação que adornam lagoas e rios e colaboram para o equilíbrio dos ecossistemas. E que, devido
à ação humana, podem se tornar um sinal de desequilíbrio ambiental e contaminar corpos hídricos. Ficou curioso? Então saiba mais, a seguir, sobre as plantas que podem desempenhar o papel de mocinhas e vilãs da natureza:
QUEM SÃO ELAS?
FLOR-DE-LÓTUS Uma das plantas aquáticas mais conhecidass no mundo é a flor-de-lótus (Nelumbo nucifera).. Seu hábitat natural são os pântanos, onde ela cresce esce se nutrindo das águas permeadas por lodo e lama. ma. Mas, ainda que “sua morada” possa parecerr um ambiente inóspito, a flor-de-lótus cresce bela la e imponente. Outra curiosidade interessante sobre esta espécie é que todas as noites sua flor se e fecha e ela submerge, voltando apenas no dia seguinte, tão bonita quanto no dia anterior. Tudo porque ela possui micro-organismos que repelem a sujeira. Características que fizeram am da flor um símbolo, principalmente, das religiões es orientais, que veem na espécie uma metáfora do progresso resso da condição humana ao superar as adversidades. es. 80 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTO: SIXTYBOLTS
FOTO: DOLLARPHOTOCLUB
Plantas aquáticas são vegetações adaptadas ao meio hídrico e classificadas pelos pesquisadores como macrófitas (macro = grande, fita = planta). Pelo fato de constituírem um grupo amplo de variações, essas plantas recebem sete diferentes classificações conforme seu modo de vida, que podem designar vegetais que habitam desde brejos até ambientes totalmente submersos. Esse grupo inclui desde macroalgas até plantas com folhas que podem atingir 2,5 m de diâmetro e suportar até 40 kg bem distribuídos, como a vitória-régia (Victoria amazonica).
BELEZA INTERIOR
FOTO: STAN SHEBS
Não tão bela como a flor-de-lótus, porém bem mais comum em terras brasileiras, é a taboa (Typha Domingensis). A planta é perene. Possui uma espiga marrom e seu caule cilíndrico pode atingir até três metros de altura. Seu crescimento desordenado pode representar risco de desequilíbrio, já que é capaz de abafar outras plantas e reduzir as áreas abertas de espelhos d’água. Ainda assim, é um vegetal que tem grande capacidade de absorver metais pesados, podendo servir para limpeza de águas contaminadas. Sua fibra é durável e resistente, sendo utilizada como matériaprima no artesanato de bolsas, caixas e até móveis.
SALVE O BURITI!
FOTO: HANS HILLEWAERT
O buriti (Mauritia flexuosa), reverenciado nas obras do escritor mineiro Guimarães Rosa, é também classificado como uma planta aquática. A palmeira, comum no Cerrado, cresce apenas em regiões úmidas - as veredas - e sua presença ú indica que a água é de boa qualidade. Infelizmente, a palmeira está incluída na lista de espécies ameaçadas de extinção, já que seu hábitat vem sofrendo com a crise hídrica e a expansão desordenada da agricultura. Mesmo ameaçado, do buriti tudo se aproveita: seus frutos são utilizados na culinária e na obtenção de óleos, tanto para indústria de cosméticos quanto na medicina natural, além do uso da madeira para construção de móveis.
INDICADORES BIOLÓGICOS Sabe aqueles rios cujas águas parecem estar literalmente verdes? Ou ainda outros completamente cobertos por aguapés (Eichhornia crassipes)? Esse fenômeno é chamado de “eutrofização”. Trata-se de um processo de multiplicação de plantas, comum em corpos d'água sem tanta movimentação, como lagos e represas. Quando as plantas aquáticas crescem de forma desordenada, elas indicam dois problemas: o primeiro é que a quantidade de nutrientes como nitrogênio e fósforo, comuns em esgotos domésticos, estão altas. O segundo é que ao formar uma cortina verde sobre a superfície, elas impedem a passagem de luz e a realização da fotossíntese. Assim, o nível de oxigênio diminui, causando a morte da biodiversidade aquática, como os peixes. Péssimo sinal! MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O 81
1 ENSAIO FOTOGRÁFICO - JOSÉ ISRAEL ABRANTES
GRANDE SERTÃO:
BRASIL Premiado fotógrafo registra a beleza dos sertões brasileiros com textos-poemas de Olavo Romano e Geraldo Amâncio
LAJEDO de Pai Mateus, Cabaceiras (PB)
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chel de Queiroz; “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna; “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto; e “Fogo Morto”, de José Lins do Rego. Foi no rastro desses cenários inspiradores que José Israel Abrantes empreendeu a sua jornada fotográfica. Com a experiência de mais de três décadas vasculhando o Brasil, ele mirou a sua lente com sensibilidade e precisão, nos entregando um livro memorável.
SAIBA MAIS (31) 99941-5152 contato@conceitocomunicacao.com.br (31) 3225-1888
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FOTOS: JOSÉ ISRAEL ABRANTES
ma viagem pelo Brasil profundo dos grotões distantes das grandes cidades. Esta é a proposta da obra "Sertões do Brasil", do fotógrafo José Israel Abrantes. Resultado de cinco anos de pesquisas e viagens pelo interior dos estados de Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Ceará e Alagoas, o livro faz um percurso de rara beleza pelos magníficos sertões do país. A obra é uma realização da Conceito Editorial, em edição bilíngüe (português/inglês), com patrocínio da Pottencial Seguradora, via Lei de Incentivo à Cultura/Ministério da Cultura. Em 184 páginas e mais de 100 fotografias, selecionadas especialmente para este projeto, encontramos a natureza agreste, os homens na lida do gado, os mestres do artesanato, as festas populares e as manifestações da fé. São imagens carregadas de força e simbolismo. Nos registros da vida cotidiana ou nos detalhes que saltam das caatingas, cavernas, rios e cerrados, o que se exprime é um Brasil profundo, pouco conhecido, mas exuberante. Três fotos do livro foram selecionadas recentemente no concurso Itaú BBA e no 11º Prêmio New Holland de Fotojornalismo. “Sertão é lonjura onde a terra azula, a vista mal alcança e vivente desiste de seguir adiante”, escreve Olavo Romano. O livro viaja por esse território mítico que já inspirou grandes clássicos da literatura brasileira, como “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa; “Memorial de Maria Moura”, de Ra-
FOTOS: JOSÉ ISRAEL ABRANTES
1 ENSAIO FOTOGRÁFICO - JOSÉ ISRAEL ABRANTES
PARQUE Nacional da Serra da Capivara, São Raimundo Nonato (PI)
SACA de Lã, Cabaceiras (PB)
VEREDAS do Rio Pandeiros, Januária (MG)
QUEM É
ELE
Graduado em Comunicação Visual pela Universidade Mineira de Arte, José Israel Abrantes começou a publicar seus trabalhos em 1980. A partir de 1982, passou a atuar no mercado publicitário como fotógrafo e editor de fotografia. Entre seus principais trabalhos autorais estão os livros "São Francisco Rio Abaixo" (2006), vencedor do "Prêmio ABIGRAF" do mesmo ano, "Retratos de Minas" (2007) e "Tesouros de Minas" (2014). Suas fotos integraram ainda o livro “Caminhos de Ouro e a Estrada Real”, vencedor do "Prêmio Jabuti" de 2006.
IPÊ-AMARELO, Parque Nacional Grande Sertões Veredas
IGREJA Senhor do Bonfim, Piranhas (AL)
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M E M Ó R I A I LU M I N A DA - A I LTO N K R E N A K
FOTO: VINÍCIUS CARVALHO
KRENAK: "O nosso território é o 'Atu', o rio que vocês chamam de Doce"
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O "CABEÇA" DA
TERRA
Principal líder do movimento indígena dos anos 1970 recebe o título de “Professor Honoris Causa” pela Universidade Federal de Juiz de Fora e tem sua história de luta rememorada Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br
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ualquer pessoa que estudar mais a fundo a vida e a obra do brasileiro-índio Ailton Krenak irá entender literal e verdadeiramente o sentido da palavra “líder”. Verá que liderar é um verbo que só faz sentido de ser conjugado se for para ajudar e unir os seres humanos. E, mais importante, tornar o mundo um lugar melhor – mais justo e igualitário – para se viver. Não há como separar a vida de Ailton Krenak do movimento indígena brasileiro. Ele nasceu em 1953, no Vale do Rio Doce. Aos 17 anos, mudou-se com a família para o Paraná, onde se alfabetizou e se tornou jornalista e produtor gráfico. A invasão e a destruição das terras indígenas pelo “povo branco” levou Krenak a se tornar um ativista de destaque a partir dos anos 1970, encabeçando a luta para que a Constituição brasileira contemplasse os direitos dos índios em sua totalidade. O discurso de Krenak no Congresso Nacional, em 1987, é histórico e também está registrado no livro (leia mais no box). “Queríamos ser respeitados na
nossa identidade. Que o índio continuasse a ser índio”, disse ele durante o lançamento do livro da série “Encontros” (Azougue Editorial), na capital mineira, que reúne entrevistas concedidas à imprensa entre 1984 e 2013. “A sociedade achava que tínhamos de evoluir quase que biologicamente para ter direitos humanos. Percebi isso e comecei a ‘espernear’.” Mesmo com as conquistas da Constituição Federal de 1988, a luta de Krenak não havia terminado: a repressão ao índio e as ameaças ao povo e ao território continuaram. Nas décadas seguintes, atuou, com a participação de representantes de outras tribos, na criação de ins-
tituições para lutar pelos direitos e garantir melhores condições de vida para os indígenas, como a ONG Núcleo de Cultura Indígena, que ele mesmo fundou. E, ainda, o Centro de Pesquisa Indígena e a Embaixada dos Povos da Floresta, centro cultural localizado na capital paulista que reúne povos indígenas e extrativistas da Amazônia com a proposta de divulgar a cultura e o conhecimento dos povos tradicionais. O trabalho de Krenak foi reconhecido no país e fora dele em várias ocasiões: em 1989, recebeu o “Prêmio de Direitos Humanos Letelier-Moffitt", nos Estados Unidos. E, na Grécia, foi homenageado pela Fundação Aristóteles Onassis com o “Prêmio Homem e Sociedade”. Recentemente, ele também foi condecorado com o título de “Professor Honoris Causa em Sabedoria Indígena” pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Confira, a seguir, alguns dos seus principais pensamentos deste grande líder indígena:
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M E M Ó R I A I LU M I N A DA - A I LTO N K R E N A K
O ETNIA KRENAK “Na nossa língua, ‘kren’, é cabeça. ‘Nak’ é terra. O nome do meu povo é ‘cabeça da terra’. Estávamos aqui antes de ganharmos o apelido de ‘índio’. A nossa autoidentificação é que somos ‘burum’, gente. Como quem sempre escreveu a história foram os portugueses, eles diziam que tinham encontrado índios. Mas somos gente mesmo.” “Esse nome – krenak – é o nome da minha tribo, de onde eu venho. E o nosso território é o Atu, aquele rio que, nos mapas, vocês conhecem como Rio Doce. Esse povo vive em uma região de Minas Gerais, que é o Médio Rio Doce e que chamamos de Uatu. Quando começaram a explorar essa região, passaram a chamá-la de Vale do Aço.” “Não somos sedentários. Mesmo o Estado tendo criado uma reserva para nós, nós circulamos por outros lugares. Uma das nossas fontes de conflito com os nossos vizinhos – os brancos –, foi exatamente porque eles queriam que ficássemos confinados dentro da reserva.” “Tanto os krenak quanto os maxacali, nas décadas de 1940, 1950 e 1960, foram retirados de seus territórios de origem e despejados em territórios distantes, pelo governo, como política de dissolução da família indígena. Fizeram isso intencionalmente, para os índios acabarem.” O SER BRASILEIRO “O Brasil diz que é formado por índios, negros e brancos. Mas a vida inteira ele tenta apagar da ‘foto’ os dois parentes que não são os brancos. Então, que família mais perversa é essa? Brasileiros somos todos, inclusive os índios.” O LUTA CONSTITUCIONAL “Estávamos definidos pelo Código Civil Brasileiro e pelas Constituições anteriores como relativamente capazes do ponto de vista jurídico. E essa situação de capacidade relativa jurídica é que nos colocava numa situação que não era 88 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTOS: VINÍCIUS CARVALHO
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"Mais de 250 indígenas foram assassinados nos dez primeiros anos do governo Lula/Dilma." vantajosa, assim como as mulheres e os doentes mentais.” “Teve uma época em que o jornalista Hiram Firmino teve que ‘apanhar’ para que tirassem as algemas daqueles que eram considerados doidos.Uma coisa que o Brasil fazia era achar, naquela época, que os índios eram incapazes de brigar por si mesmos eles também prendiam qualquer pessoa que eles achavam que era doida. O nosso Código Civil achava que os índios, as mulheres, os
doidos deveriam ser assistidos juridicamente. Isso denunciava que nós, até recentemente, éramos considerados uma sociedade atrasada, no sentido de se perceber como plural.” “Na Constituinte de 1988, liderei um movimento indígena que tinha vários povos, como os xavantes, ianomamis, guaranis, pataxós, os karajás, da Ilha do Bananal, os terenas, do Mato Grosso, os índios do Nordeste, xucuru-pariri, quiriri, pancaradu, os caingangue, do Sul do Brasil. Todos eles se sentiram ameaçados pela política do estado brasileiro. E, na década de 1980, com 26 anos, já estava engajado no movimento.” “Organizamos uma união das nações indígenas, com todos esses povos reunidos em um conselho de tribos. E foi representando esse conselho que fizemos uma intervenção na Constituinte de 1988, reivindicando os direitos aos nossos territórios, e sinalizando aos povos que não estávamos ali temporariamente para depois virar branco. Não temos interesse nenhum nessa perspectiva. Queríamos ser respeitados na nossa identidade. Que o povo indígena continue sendo índio. Que meus tataranetos possam sentar aqui e falar ‘eu sou Krenak’, contar a história de seus antepassados com orgulho.” O MEIO AMBIENTE “Se você for a uma nascente e se abastecer de água ali, é preciso ter certeza que, passadas cinco, seis gerações, a sétima também poderá ir àquele lugar e beber água com a mesma qualidade.” “A natureza não é uma fonte inesgotável de recursos naturais.” “Se perguntarmos para alguém o que é meio ambiente, cada um vai falar uma coisa. Quando o Brasil foi deixando de ser um país de economia agrícola e começou a acabar com nossas nascentes e percebeu que as florestas estavam sendo desmatadas – e, mais recen-
temente, começou a ver a crise de abastecimento de água e agravamento do clima - é que se percebeu que existia uma coisa chamada meio ambiente.” “Na cultura da maioria dos povos indígenas, a percepção de que o vento mudou é desde que o camarada nasceu. Meio ambiente, de povos que sempre viveram colados na natureza, é uma experiência mais do ambiente integrado a todo o ciclo da vida do que apenas à ideia do recurso natural. A grande diferença que existe entre o pensamento dos índios e o pensamento dos brancos é que estes acham que o ambiente é recurso natural, como se fosse um almoxarifado em que se tira as coisas. Para o índio, é um lugar que tem de se pisar suavemente, porque está cheio de outras presenças.” “Meio ambiente pode ser qualquer lugar, um depósito onde se tira minério, água, floresta, se exaure todo. Essa visão de recursos naturais, na qual foi consagrado o meio ambiente, é equivocada. Tentaram consertar isso com a expressão desenvolvimento sustentável, mas os recursos naturais devem ser renováveis. Para o povo índigena, não há nada de sustentável naquilo que chamamos de economia, porque esse termo supõe que se vai saquear a terra. Se você tira e não põe, não é sustentável.” “A natureza foi sendo configurada como um lugar perigoso para as crianças. Quando pequenos, a gente nem sabia andar direito, mas já se misturava a ela, entrando nos córregos, cachoeiras, brincando com os animais...” “Se somos capazes de nos desfazer da paisagem, a ponto de daqui a gerações nossos tataranetos não terem a oportunidade de vê-la, como é que podemos dizer que estamos sendo sustentáveis? Que sustentabilidade há nisso? Pode-se, por exemplo, roubar o que é imaterial, porque ele não conta? O que é espírito, o que dá sentido à vida,
‘surtou’ alguns de nossos governos estaduais e municipais de que é importante conservar a água. Eles estavam o tempo todo transformando os nossos rios em esgoto. E depois fazem campanhas para não abrirmos a torneira, tipo se você ver uma gota, recolha e guarde...” O SUSTENTABILIDADE “Hoje, é de uma convicção absoluta que o meio ambiente tem valor. Toda empresa bacana agora faz relatório de sustentabilidade, principalmente se ela for usuária e transformadora de matéria-prima visível que vira mercadoria. Ela tem de fazer propaganda para dizer que é sustentável, que se pode comprar carro, geladeira, porque para fazer aquilo não foi preciso tirar nada de lugar nenhum. Parece que são mágicos. É como se não tivessem depredando as montanhas, exaurindo os rios, o subsolo, mas têm relatórios de sustentabilidade.”
"A grande diferença entre o pensamento dos índios e o dos brancos é que estes acham que o meio ambiente é um almoxarifado em que se tira coisas." que é subjetivo, que só poetas e índios enxergam, se pode tirar?” “O meio ambiente que devemos pensar é a nossa casa comum. Não podemos desfazer de uma parte de nossa casa porque o sentido de comum nos obriga a cuidar dela. Não é a casa que a mãe cuida, cozinha, depois todo mundo suja e vai embora. É preciso cuidar da água, da floresta...” “Fiquei impressionado com o tanto de consciência ambiental que
O MÁRIO JURUNA “Muitos de vocês, principalmente os que têm a minha idade, se lembram do Mário Juruna, um xavante que saiu do Mato Grosso, comprou um gravador e gravava fitas e falas das autoridades. Um dia, ele gravou uma fala do então ministro do Interior Mário Andreazza, e percebeu que ele se contradisse, que era mentiroso. Naquela época, dizer que um ministro era mentiroso ainda não era moda.” “Mário Juruna não falava português e saiu da aldeia xavante depois de ter liderado, como chefe e guerreiro, a resistência dela contra a entrada dos gaúchos e dos catarinenses que estavam derrubando o Cerrado para promover campos de monocultura. Toda aquela extensão de florestas foi território indígena até o início do século XX. Quando os brancos entraram nas terras dos xavantes para tomá-las, o Juruna liderou uma resistência contra essa ocupação e ele aprendeu a falar português brigando com os
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M E M Ó R I A I LU M I N A DA - A I LTO N K R E N A K
brancos. Ele não teve professor, falava um português muito peculiar. Conseguiu se eleger deputado pelo Rio de Janeiro e viram que ele tinha potência mobilizadora.” “O primeiro discurso que Juruna fez no Congresso foi no idioma da tribo dele. E a presidência da casa cortou o microfone e disse que ele não podia falar línguas estranhas no Congresso, mas sim o português. O jeito do Juruna se comportar era uma flagrante contestação da babaquice que estava no Brasil naquele momento. Ele fez o discurso em xavante, sua língua materna, e exigiu que fosse registrado porque isso era maravilhoso, já que os integrantes do Congresso não sabiam falar a mesma língua que ele.” O HISTÓRIA “Se eu fosse escrever a história, seria como o poema ‘Erro de Português’, de Oswald de Andrade: ‘Quando português chegou/ debaixo de uma bruta chuva/ vestiu o índio./ Que pena!/ Fosse uma manhã de sol/ o índio tinha despido o português’.” O ESPIRITUALIDADE “Há uma banalização da vida. Se nós achamos que podemos tratar a água, o ar que nós respiramos, os alimentos, a terra de onde os suprimos, todas essas bênçãos que temos na nossa vida de uma maneira superficial, também estaremos tratando a nossa existência superficialmente. Só vamos levar um susto e mudar quando estivermos perto de ter uma tragédia.” “Quanta gente foi convencida de que quando uma pessoa está doente deve enfiá-la em um hospital? Isso porque as pessoas não querem admitir que a gente nasce, passa um tempo aqui na Terra e, com muita sorte, fica velho e morre. Parece que querem contar às crianças que morrer é chato. Então, cultivam essa ideia da espiritualidade como um recurso auxiliar para 90 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
DISCURSO HISTÓRICO NO CONGRESSO “Espero não agredir, com a minha manifestação, o protocolo desta casa. Mas acredito que os senhores não poderão ficar omissos, alheios, a mais esta agressão movida pelo poder econômico, pela ganância, pela ignorância do que significa ser um povo indígena. Temos um jeito de pensar, de viver. Temos condições fundamentais para a manifestação da nossa tradição, da nossa vida, da nossa cultura, que nunca colocaram em risco a existência dos animais que vivem ao redor das áreas indígenas, quanto mais a dos seres humanos. Nenhum dos senhores poderia apontar atos da gente indígena do Brasil que colocaram em risco seja a vida seja o patrimônio de qualquer pessoa, grupo humano, nesse país. Hoje, somos alvo de uma agressão que pretende atingir, na essência, a nossa fé, a nossa confiança de que ainda existe dignidade, de que é possível construir uma sociedade que sabe respeitar os mais fracos, aqueles que não têm dinheiro para manter uma campanha incessante de difamação. Que saiba respeitar um povo que sempre viveu à revelia de todas as riquezas, que habita casas cobertas de palha, que dorme em esteiras no chão. Um povo que não deve ser identificado como inimigo dos interesses do Brasil e nem coloca em risco qualquer forma de desenvolvimento. O povo indígena tem regado com sangue cada hectare dos oito milhões de quilômetros quadrados do Brasil. Os senhores são testemunhas disso.”
não aceitar que somos como as folhas das árvores, que florescem, ficam bonitas e depois caem e viram adubo na terra. Somos assim.” “Não é simpático lembrar que as pessoas morrem, por isso se fica despistando todo mundo. Quando uma avó, por exemplo, está com 93 anos e adoece, correm com ela para um hospital, porque não suportam ficar junto com ela. Aí dizem que ‘todo mundo trabalha’. Com a criança é a mesma coisa. São duas categorias de gente que se põem em algum lugar. Aí fica aquele pessoal achando que sempre terá saúde, correndo... Essa turma bacana não se preocupa com espiritualidade. Isso é para quem vai morrer.” O TRANSCENDÊNCIA “Todos os seres humanos naturalmente têm uma transcendência
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que nos põe além da mediocridade. Quando dormimos, o nosso espírito sonha. E é por isso que conseguimos acordar no outro dia e andar. Na minha tribo, temos essa coisa de perguntar para o outro com o que ele sonhou. Sonho é importante. Dependendo do que se sonhou, se tem material para decidir sobre o que você vai fazer durante o dia. Agora, se você não tem tempo de contar o que sonhou, saberá muito pouco sobre o que terá de fazer na vida.” “Viver é uma experiência que pode ser muito mais compensadora do que viver sem saber o que está comendo, fazendo, dormindo, sonhando. Talvez isso implica em renunciar algumas coisas que a vida moderna fez com que acreditássemos que é importante, que não conseguimos viver sem.” O
“Tudo que você deseja - alegria, amor, abundância, prosperidade, bemaventurança - está ali, pronto para você pegar. E você precisa ter fome disso. Precisa ter intenção. E quando você agir intencionalmente e deseja com ardor, o Universo lhe entregará cada coisa que você desejou.” Lisa Nichols, escritora
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PARA VENCER A
CRISE
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Em tempos de recessão econômica, ceticismo e depressão generalizada, a Revista Ecológico reedita a série de artigos que publicou enquanto “JB Ecológico”, no Jornal do Brasil e em parceria com a Ediouro, sobre o livro-filme “O Segredo”, da escritora Rhonda Byrne, best-seller mundial até hoje
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uem assistiu ao filme ou leu o livro “O Segredo”, de Rhonda Byrne, se surpreendeu com a simplicidade que é descobrir o poder dos pensamentos e sua influência em nossos corpos e na nossa vida. Mais que isso, é descobrir que eles são a mola propulsora da felicidade, funcionando como um escudo contra a tensão e outros males que assolam a humanidade hoje. Com uma filosofia ecológica e direta, “O Segredo” profetiza: você atrai, é e vive o que pensa. Mas como pode um filme ou um livro despertar tanta curiosidade e provocar uma comoção em escala mundial? Os números dizem por si: mais de 20 milhões de cópias foram vendidas em todo o mundo desde o seu lançamento, em 2007. Isso porque o “O Segredo” sagra-se por ser mais do que um instrumento de auto-ajuda. Traz uma grande quantidade de depoimentos, histórias reais que às vezes até parecem inacreditáveis. A ciência já havia provado que o pensamento positivo tem um efeito poderoso sobre o corpo, mas esses depoimentos parecem estar além. São casos em que o universo e as pessoas produzem e atraem tanta energia que todas as ações humanas têm resultados satisfatórios. Mais. Conclama a “Ecologia da Atração” como a grande esperança de um mundo melhor, com paz, igualdade e liberdade comuns à toda vida pulsante no único planeta com vida conhecido na Via Láctea. É isso que você, caro leitor, irá conferir aqui, na primeira das três partes da série especial sobre “O Segredo”, que a Ecológico apresentará até o mês de maio. Boas vibrações! Seja bem-vindo (a) ao segredo mais poderoso do universo para sair da crise. Desde que você acredite, é claro. E tenha fé em si mesmo, como Jesus nos ensinou. Boa e proveitosa leitura!
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O que é o segredo O segredo é a lei da atração. Tudo o que vem até você é atraído por você mesmo. É atraído pelas imagens que você mantém em sua mente. É o que você está pensando. Alguns povos, como os babilônios, sempre souberam disso. São grupos privilegiados de pessoas. Por que você acha que 1% da população mundial ganha cerca de 96% do dinheiro que é gerado em todo o planeta? Você acha que isso é um acidente? Isso não é um acidente! É planejado dessa forma. Eles entendem o segredo. Sabem que o modo mais simples de se encarar a lei da atração é imaginar a si mesmo como um imã. Um ímã atrai outro ímã. Basicamente, os semelhantes se atraem, tendo em vista que essa é uma lei que trabalha no nível do pensamento. Nosso trabalho, como seres humanos, é pensar no que nós queremos e deixar isso absolutamente claro em nossas mentes. A partir desse ponto em diante, nós passamos a invocar uma das leis mais poderosas do Universo ou de Deus, da Criação, como quiser: a lei da atração. Muitas pessoas não entendem que pensamentos possuem uma frequência. E nós podemos medi-la em um pensamento. Se você pensa em uma mesma coisa por várias e várias vezes, se mantém aquela imagem na cabeça: aquele carro novo, a casa ou o apartamento de seus sonhos, tendo o dinheiro de que você precisa, construindo aquela empresa, encontrando a sua cara metade, etc.
“O que está em cima é como o que está embaixo. O que está dentro é como o que está fora.” Tábua de Esmeraldas, cerca de 3.000 a.C. 94 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
Se você imagina como seriam essas coisas, você emite uma determinada frequência consistentemente. Pensamentos emitem um sinal magnético que atrai um sinal semelhante de volta a você. Imagine-se vivendo com abundância e você atrairá isso. Sempre funciona. Funciona a qualquer momento, com qualquer pessoa. Muitas pessoas pensam naquilo que não querem e se perguntam porque essas coisas aparecem repetidamente na vida delas. A lei da atração não quer saber se você busca algo que seja bom ou ruim ou se você quer ou não determinada coisa. Ela simplesmente responde aos seus pensamentos. Se você fica olhando para um monte de dívidas e sente-se mal a respeito, este é o sinal que você está enviando para o Universo: “Eu me sinto muito mal por conta desse monte de dívidas que eu tenho”. Você está afirmando isso para você mesmo. Você sente essa situação ruim profundamente em todos os níveis do seu ser. Assim, você terá mais dívidas ainda. LEI DA ATRAÇÃO Quando você olha para algo que quer e diz sim para esse algo, você está ativando o pensamento, e a lei da atração responde a ele. Ela lhe traz coisas que combinem com esse algo. Quando olhar para algo que você não quer e diz não para ele, você, na verdade, não o está afastando. Você está ativando o pensamento relacionado ao que você não quer e a lei da atração trata de trazer mais desse algo para você. Tudo está relacionado a ela. A lei da atração trabalha o tempo todo, quer você acredite nela, a entenda ou não. Você pode estar pensando em algo relacionado ao passado, presente ou futuro. Quer esteja relembrando, observando ou imaginando, ainda assim você ativa o processo do pensamento e a lei da atração responde ao seu pensamento. A Criação acontece o tempo todo. Toda vez que um indivíduo tem um pensamento, no processo de criação algo irá se manifestar. A lei da atração diz: nós lhe daremos o que quer que você diga e no que quer que você se foque. Então se você reclama de quão ruim uma situação é, você cria mais dessa mesma situação. Nós podemos ser muito positivos na nossa orientação e, assim, tendermos a atrair pessoas, eventos e circunstâncias positivistas.
Se nós formos negativos na nossa orientação, nós tenderemos a atrair pessoas, eventos e circunstâncias negativistas. Você atrai até você os pensamentos mais predominantes na sua mente. Quer eles sejam conscientes ou inconscientes. Se você prestar atenção no poder da nossa mente, no poder das nossas intenções, das nossas vidas diárias, o segredo está por todos os lados! Tudo o que nós temos de fazer é abrir os olhos e ver! Você vê a lei da atração evidente na nossa sociedade quando percebe que aqueles que mais falam de doenças as têm, quando você percebe que aqueles que mais falam de prosperidade a têm. A lei da atração é evidente ao nosso redor se você entende o que ela é. Tem a ver com você ser um ímã atraindo pensamentos, atraindo pessoas, atraindo eventos, atraindo estilos de vida. De fato, tudo o que você traz à sua experiência de vida você traz por causa dessa poderosa lei. Esse entendimento é básico e profundo. A física quântica diz que não se pode ter um Universo com a mente separada dele. A mente, na verdade, molda o tempo todo o que está sendo percebido por ela mesma. Geralmente quando as pessoas começam a entender isso elas ficam com medo por conta da quantidade de pensamentos negativos que normalmente têm. Há duas coisas das quais você precisa estar ciente: a primeira é que já foi provado cientificamente que um pensamento positivo é centenas de vezes mais forte do que um pensamento negativo. Isso, por si só, já elimina um certo grau de preocupação. Segundo, é que vivemos numa realidade onde nós temos um tempo de espera. E isso nos é útil. Você não gostaria de viver num ambiente onde os seus pensamentos se manifestassem imediatamente. As coisas vêm constantemente, mas a um certo prazo, o que é muito bom. Você quer estar ciente dos seus pensamentos, quer escolher os seus pensamentos cuidadosa-
“A imaginação é tudo. É uma prévia das próximas atrações da vida.” Albert Einstein, cientista
“Na há como escapar à lei do amor. É o sentimento que transmite vitalidade ao pensamento. Sentimento é desejo, e desejo é amor. O pensamento impregnado de amor se torna invencível.” Charles Haanel, empresário e escritor mente e ainda quer se divertir com isso. Porque você é a obra prima da sua própria vida. Você é o Michelangelo da sua própria vida. A obra que você está esculpindo é você! E você faz isso através dos seus pensamentos. Tudo ao seu redor nesse momento da sua vida, incluindo as coisas das quais você reclama, você atraiu. Isso é algo que você vai odiar ouvir. Você pode dizer que não atraiu aquele acidente de carro, não atraiu aquele cliente específico, não atraiu aquela dívida, não atraiu qualquer que seja a coisa da qual você reclama. Você atraiu, sim. Esse é um dos conceitos mais difíceis de absorver. Mas, uma vez que você aceite isso, é transformador. Faz parte do grande segredo. Costumamos pensar que nós não temos nenhum controle sobre os pensamentos, que eles funcionam em piloto automático. Mas tudo é trazido até nós por eles. ECOLOGIA EMOTIVA As emoções são um dispositivo incrível que nós temos para nos informar sobre o que temos atraído. Há apenas duas emoções: uma é boa e a outra, ruim. Você as chama por vários nomes diferentes. Mas, essencialmente, todas aquelas emoções negativas, quer você as chame de culpa, raiva ou frustração, todas elas carregam a mesma sensação: uma sensação ruim. E tais emoções mostram que o que você está pensando nesse exato momento não está alinhado com o que você realmente quer. De um outro ponto de vista isso pode ser chamado de uma frequência ruim ou uma vibração ruim ou qualquer outro nome que você queira. Aquelas emoções boas, aqueles sentimentos de esperança ou felicidade ou amor, aquelas emoções positivas, mostram que o que você está pensando nesse momento está alinhado com o que você realmente quer. Nossos sentimentos ou emoções são como um termômetro que informa se estamos nos trilhos ou não. Quanto melhor você se sente, mais alinhado está. Quanto pior você se sente, mais desalinhado está. O que você faz quando você passa pelas
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“A maioria de nós jamais se permitiu querer o que verdadeiramente queremos, porque não podemos ver como isso vai se manifestar.” Jack Canfield, escritor
variedades das experiências do seu dia-a-dia é oferecer pensamentos que, literalmente, dão forma às suas experiências futuras. Você pode saber pelo modo como você se sente se as coisas que você está buscando irão lhe agradar quando as conquistar. O que quer que você esteja sentindo é um reflexo perfeito do que está acontecendo no processo de criação. Você atrai exatamente o que sente, não exatamente o que pensa. Se uma pessoa levanta da cama e já tropeça em algo, ela tende a reclamar da má sorte e seguir assim o resto do dia. As pessoas não fazem ideia de que uma simples mudança na atitude e humor delas pode mudar um dia inteiro e até as suas vidas. Se você começa o dia se sentindo bem e se mantém nesse estado, contanto que você não permita que algo mude o seu ânimo, você passará o dia, continuamente, de acordo com a lei da atração, atraindo mais situações e pessoas que mantenham esse ânimo. Você pode passar a se sentir saudável nesse exato momento, ou próspero, ou mesmo sentir o amor que está ao seu redor. Mesmo que estas coisas ainda não estejam lá de verdade. O que acontece é que o Universo irá corresponder ao ritmo da sua música, do seu sentimento interior. Ele irá se manifestar simplesmente porque é assim que você se sente. Aquilo no qual você se foca com pensamento e sentimento é o que você atrai. Quer seja algo que você queira ou não. É duro de engolir. Mas quando nós conseguimos aceitar isso, as consequências são maravilhosas. Significa que o que quer que o pensamento já tenha feito na sua vida pode ser desfeito por uma mudança na sua consciência. “Você cria a sua própria realidade à medida que caminha.” É muito importante que você se sinta bem, porque esse sentimento é o que é disperso como um sinal para o Universo e começa a atrair mais desse mesmo senti-
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mento até você. Quanto mais você se sentir bem mais você irá atrair as coisas que o (a) ajudarão a se sentir bem e continuará elevando você cada vez mais. Quando você se sente para baixo, você já notou que é possível mudar isso num estalo de dedos? Coloque alguma música, comece a cantar, isso mudará o seu ânimo. Ou pense em algo lindo, pense em um bebê chorando ou sorrindo, talvez um que você ame. Se apegue a isso, mantenha esse pensamento na sua cabeça, se esqueça de tudo e se foque somente nesse pensamento. Você passará a se sentir bem. Você é o criador da sua própria realidade. O processo de criação é um processo que consiste em três passos. O primeiro é pedir o que você deseja. Você não precisa usar palavras para pedir, porque o Universo não ouve as suas palavras. O Universo (Deus) responde completamente aos seus pensamentos e à intensidade dos seus bons sentimentos. O que você realmente quer? Sente-se e escreva o que você quer num pedaço de papel, no presente do indicativo. Você pode começar assim: “Eu estou muito feliz e grato agora que tenho...” e então explique como deseja que seja a sua vida em todas as áreas. Isso é muito divertido. É como se você tivesse o Universo como o seu catálogo: você o folheia e pensa: “Puxa, gostaria de ter esta experiência, este produto, uma pessoa assim etc.”. É você fazendo encomendas com o Universo. É fácil assim! O segundo passo é responder. É provo-
“Você quer ficar ciente de seus pensamentos, escolhê-los com cuidado e também se divertir com isto, porque você é a obra-prima de sua própria vida. Você é o Michelângelo de sua própria vida. O Davi que você esculpe é você mesmo.” Joe Vitale, doutor em Metafísica
O: J FOT
car, atrair uma resposta ao que você está pedindo. Essa não é a sua parte, fisicamente falando. Essa é a parte do Universo. Todas as forças do Universo estão respondendo aos pensamentos e aos bons sentimentos que você enviou. Então o Universo passará a se rearranjar para fazer com que as coisas aconteçam para você. Muitas pessoas nunca se permitem querer o que elas realmente querem porque não conseguem ver como isso pode se concretizar. Se você fizer uma pequena pesquisa, verá como é evidente que todos que já conquistaram algo não sabiam como o fariam. Eles sabiam somente que iriam fazer. Você não precisa saber como as coisas virão. Você não precisa saber como o Universo vai se rearranjar. Você não sabe como, mas será mostrado a você. Você atrairá o caminho. Algumas pessoas irão dizer provavelmente que pedem, mas nada acontece. Então veremos: você está pedindo, está em dia com o passo um; o Universo está respondendo, - sempre responde, sem exceção - mas há uma outra coisa que você deve compreender. O terceiro passo é o da recepção. Esse é o passo no qual você deve se alinhar com o que está pedindo. Quando você está alinhado com o que quer, se sente esplêndido. Isso é o que se conhece por entusiasmo, alegria, gratidão, paixão. Mas quando você se sente desesperado, com medo ou com raiva, demonstra indicadores fortíssimos de que não está em alinhamento com o que está pedindo. Quando você passa a se dar conta de que o modo como se sente é tudo e passa a direcionar os seus pensamentos baseados no modo como eles fazem você se sentir, pouco a pouco consegue encontrar o pensamento e sentimento corretos. E passa a fazer com que o que pediu se manifeste em sua vida. Quando você fizer dessa fantasia um fato, estará em posição de construir fantasias ainda maiores e melhores. E isso é o processo de criação. O estudo e a prática da lei da atração consistem em descobrir o que pode lhe ajudar a gerar os sentimentos de já possuir o que deseja. Vá fazer o test drive do carro que você deseja, visite a casa que você quer comprar,
“Se você é contra a guerra, em vez disso seja pro-paz. Se você é antifome, seja pro-fartura.” Hale Dowoskin, escritor
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faça o que puder para gerar o sentimento de já possuir o que você quer! E lembre dessas pequenas sensações, guarde-as e irá atrair o que deseja. Pode ser que você acorde de manhã e o que você pediu já esteja lá. Ou você pode ter uma inspiração para alguma coisa que lhe levará até o que deseja. Pode ser solicitada uma ação sua. Você pode pensar nas ações que tenha que tomar e detestar ter que fazer tais coisas, talvez porque você não goste de tais atividades. Se você não se sente bem com as ações que tem que tomar, você está no caminho errado. Você não está alinhado com o que você pediu. Ações serão solicitadas de sua parte. Mas se você estiver em alinhamento com o que você quer, essas ações lhe serão prazerosas. O Universo gosta de velocidade. Não adie, não pense duas vezes, não duvide. Quando a oportunidade estiver lá, quando o impulso estiver lá, quando algo lhe cutucar por dentro, aja! É esse o seu trabalho. E é tudo o que você tem a fazer. Você irá atrair tudo o que você solicitar. Quer sejam grandes recursos financeiros que você queira atrair, quer sejam pessoas ou um livro. Você deve prestar atenção para o que você está sendo atraído. Você será atraído a coisas e elas serão atraídas a você. Elas se movem na realidade física com e através de você. E isso acontece seguindo uma lei. Você pode começar do nada. E partindo do nada, partindo de alternativa nenhuma, um caminho será construído. Pense nisso: um carro sendo guiado no meio da noite. Só é possível se enxergar cerca de 60 metros à frente. Mesmo assim, é possível que você vá de Porto Alegre até São Paulo dirigindo no escuro, porque tudo o que você precisa ver são esses 60 metros. É assim que a vida tende a se desenrolar para nós. Se você confiar que os próximos 60 metros estarão lá, a vida continuará se desenrolando. E você chegará ao destino, qualquer que seja ele, desde que realmente queira chegar lá. Você chegará lá, porque você quer. O
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Não perca, na nossa próxima edição, a segunda parte de "O Segredo". Para adquirir o livro, acesse www.ediouro.com.br. MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O 97
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OLHAR AR POÉTICO ANTONIO ONIO BARRETO (*) dacao@revistaecologico.com.br redacao@revistaecologico.com.br
NÓ D’ÁGUA água ainda da é tudo que nada no nada humano mano do mundo água é mundo o que ainda no humano nada a do mundo água é ainda o humano ano de mundo que nada no o tudo t água ainda é o mundo de tudo que nada no nada
nonada no nada nonada no nada nonada no nada nonada do nada
tudo que nada no mundo é água que ainda se acaba do nada humano de mundo que em mágoa se acaba em má nágua
nonada nonada nonada
tudo que ainda é mundo é água que ainda se acaba no nada humano da dor que em mágoa se acaba na mágoa de sede que pinga da água em nonágua em nó d’água em nonada
(jornada) (jorrada) (adornada) (amarrada) (nadágua)
(*) Autor de “A Noite é um Circo sem Lona” (Editora RHJ). antonioba@uol.com.br | facebook.com/antonio.barreto.12139
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Mais direitos. Mais participação. Mais poder. É assim que, nós mulheres, estamos construindo uma vida do jeito que a gente quer. Por isso, as políticas públicas são importantes para seguirmos conquistando ainda mais. Março. Mês da Mulher.
brasil.gov.br/mulheres
Secretaria de Políticas para as Mulheres
Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos
A Assembleia Legislativa trabalhou sem parar, desde o primeiro dia da tragédia do rompimento das barragens em Mariana. Ficou claro para os deputados de Minas o caminho a ser seguido: cobrar, fiscalizar e acompanhar todas as ações para restabelecer a qualidade de vida das vítimas, os empregos e o desenvolvimento econômico dos municípios atingidos. Depois de inúmeras visitas ao local para ouvir a comunidade, as autoridades públicas e a empresa, a Assembleia convocou agentes das polícias Federal, Civil e Militar, os empresários responsáveis e dezenas de outras autoridades. Os resultados já começaram a surgir, com indenização às vítimas, recurso para revitalização do meio ambiente, reconstrução da infraestrutura e apuração de todas as responsabilidades, como mostra o relatório final do laudo de peritos da Polícia Civil, apresentado no dia 23 de fevereiro, no Legislativo Mineiro. A Assembleia quer evitar novas catástrofes, mas não vai deixar que a maior de todas caia no esquecimento.
#nãoesqueçamariana.
CONHEÇA TODAS AS AÇÕES DA COMISSÃO EXTRAORDINÁRIA DAS BARRAGENS NO PORTAL ALMG.GOV.BR
O ER AT O. MB IT CO OSQU É A EI. M A L ESS OSSA N
O rastro da tragédia não nos deixa esquecê-la, mas há caminhos a seguir.