Revista Ecológico - Edição 92

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ANO 8 - Nº 92 - 16 DE SETEMBRO DE 2016 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


UM FILME DA CONSERV

“Eu alimentei espécies Eu já fiz espécies maiores do

MARIA BE

~

A MAE NA anaturezaesta


AÇÃO INTERNACIONAL

maiores do que vocês. que vocês passarem fome.”

THÂNIA É

ATUREZA falando.org.br


IMAGEM DO MÊS FOTO: ELENICE REZENDE

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EUGENIA A APAIXONANTE Este tapete de flores clicado pela fotógrafa Elenice Rezende, proprietária da Pousada da Terra, em Caraíva, no sul da Bahia, é de encher os olhos e o coração. Trata-se da espécie Eugenia jambolana, oriunda da Índia Oriental, uma planta-árvore imensa da família Myrtades, popularmente conhecida por jamelão. Seus frutos, semelhantes à azeitona preta, contêm vitamina C, ácido gálico, taninos e antocianinas. Estas últimas são responsáveis pelas cores rosa, vermelho, violeta e azul encontradas em muitas de suas flores e folhas. Não bastasse sua beleza, as antocianinas em Eugenia apresentam forte atividade antioxidante, além de efeitos inibitórios no desenvolvimento de algumas linhagens de células cancerígenas. Ela é linda, apaixonante e boa para a saúde. O que não justifica é transformar seu tronco e suas pétalas em depósito de garrafas vazias, como fizeram alguns turistas que passaram pelo vilarejo, que fica a 74 km de Porto Seguro.


O ponto de encontro dos

profissionais da

sustentabilidade

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CUÍCA-LANOSA (Caluromys philander)

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

EDITORIA DE ARTE André Firmino

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

COLUNISTAS Antonio Barreto, Leonardo Boff, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com

EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com

REVISÃO Gustavo Abreu

DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com

CAPA TV Globo/Zé Paulo Cardeal Gilberto Soares/MMA Arte: Sanakan

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior

DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com

VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br (*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

REPORTAGEM Cristiane Mendonça e Luciana Morais

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com

sou_ecologico revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

souecologico ecologico

5,18 tCO2 e Abril e Maio de 2016


AMBIENTE É O NOSSO MEIO SUSTENTABILIDADE

FOTO ALFEU TRANCOSO

É A NOSSA ESTRATÉGIA

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ÍNDICE

CAPA O RECADO SUSTENTÁVEL DA CERIMÔNIA DE ABERTURA DAS OLÍMPIADAS 2016 CONTRASTA COM A REALIDADE POLUÍDA DA CIDADE MARAVILHOSA.

20 PÁGINAS VERDES MARIA JÚLIA COUTINHO FALA À ECOLÓGICO SOBRE SUA PREPARAÇÃO DIÁRIA PARA FALAR SOBRE METEOROLOGIA E CLIMA NA TV

E mais... CARTAS DOS LEITORES 10 CARTA DO EDITOR 12 GENTE ECOLÓGICA 14 ECONECTADO 16 SOU ECOLÓGICO 18 ESTADO DE ALERTA 24

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ECOLÓGICO NAS ESCOLAS ENTENDA COMO OS JARDINS SENSORIAIS PODEM AGUÇAR OS SENTIDOS E AUXILIAR NA APRENDIZAGEM E NO EQUILÍBRIO EMOCIONAL

CÉU DE BRASÍLIA 42 EMPREENDEDORISMO 44 CLIMA 50 EMPRESA & MEIO AMBIENTE 60 RESPONSABILIDADE SOCIAL 62 INOVAÇÃO AMBIENTAL 64 NATUREZA MEDICINAL 68 EDUCAÇÃO AMBIENTAL 74 GESTÃO & TI 76

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ENSAIO FOTOGRÁFICO A RIQUEZA E A BELEZA CULTURAL E AMBIENTAL DOS PATRIMÔNIOS HISTÓRICOS DAS MINAS GERAIS

VOCÊ SABIA? 78 FAUNA E FLORA 80 PANORAMA 82 MINERAÇÃO 84 MEMÓRIA ILUMINADA 90 ARTIGO 98

Pág.

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MINAS GERAIS. ONDE A NATUREZA TAMBÉM É PATRIMÔNIO .

Com uma das maiores diversidades naturais do país, Minas Gerais é o lugar perfeito para todos os tipos de viajantes. Terra de cerrado e mata atlântica, rios e cachoeiras, trilhas e serras. Para quem busca aventuras ou para quem busca uma inspiração. Seja qual for o seu estilo, sempre haverá uma opção incrível para você. Um lugar com tanta variedade, que a sua viagem, com certeza, será única. Descubra mais em: minasgerais.com.br @visiteminasgerais

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CARTAS DOS LEITORES

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

setor, estaremos mortos! Os médicos nem sequer levantam de suas cadeiras pra nos examinar. Parece que estamos com doença altamente contagiosa e ainda têm coragem de perguntar ‘O que você tem?’. Se eu soubesse, não precisava de um médico.” Geralda Aparecida de Souza Silva, via Google+ O ESTADO DE ALERTA – “NOBREZA” INSUSTENTÁVEL Texto sobre o PL 3.571/2015, do deputado federal Toninho Pereira (PP/MG), que interfere nas Unidades de Conservação “Definitivamente esses políticos necessitam de aulas sobre o meio ambiente e o futuro que a natureza representa para nós. Depois, não sabem por que os desastres naturais acontecem!” Rodinéa Monteiro, via Facebook

O CAPA “A maior tragédia ambiental, escondida na gaveta de uma sala escura, de nome burocracia e má gestão. Lute pelo verde que te quero verde, Brasil!” José Antônio Pepe, via Facebook O ENSAIO FOTOGRÁFICO “MATAS DO RIO DOCE” A artista Yara Tupynambá mostra, por meio de suas pinturas, o dever pátrio de preservar as florestas atlânticas mineiras levadas pela lama da Barragem de Fundão “Yara Tupynambá é uma artista que nos dá muito orgulho. Sua arte nunca teve essência comercial. Dá pra notar que Yara tem um lado espiritual muito bem desenvolvido. Para pintar daquela forma tem de ter a alma muito nobre.” Luciano Pereira, via e-mail O VOCÊ SABIA? Matéria traz curiosidades sobre os lhamas, animais típicos dos Andes “Que fofo! Desde criança, meu sonho é ver um lhama de perto!” Josely Cimini, via Google+ O GESTÃO & TI – SOMOS TODOS MÉDICOS? O uso da internet para pesquisar avanços nos tratamentos das doenças “Deus e a internet que nos ajudem, porque se formos esperar pelos órgãos incompetentes do 10 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

“Os políticos fingem não saber por que a natureza se revolta contra o homem descontroladamente com seus terremotos, tsunamis, temperaturas além do comum e outros fenômenos que, se fossem relatados aqui, não caberiam na página...” Mônica Ramos, via Facebook O CUMPRIMENTOS “Recebi a última Ecológico e gostei muito. A revista está de ótimo padrão!” Maurício Roscoe, engenheiro, ex-presidente da Fiemg e presidente do Conselho Consultivo da UBQ EU LEIO “Repletas de temas atuais, abrangentes e relevantes, a Revista Ecológico oferece mensalmente a seus leitores matérias de altíssimo nível e de espetacular design. Minhas aulas têm sido grandemente enriquecidas por meio dos conteúdos e das belíssimas imagens apresentadas, especialmente da fauna e da flora. Aguardar cada edição é para mim motivo de grande expectativa! Compartilhar e espalhar a boa semente da conscientização ambiental, no coração de meus alunos, é aguardar a colheita de um mundo melhor, mais consciente, mais humano, mais digno.” Simone Sarlo, professora de Ensino Religioso, Colégio Batista Mineiro (BH)

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br



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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

A TERCEIRA CHANCE

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omo bem registrou Maurício Lima, colunista da Revista Veja, não fosse a burocracia, a poluição da Baía de Guanabara poderia ter sido reduzida drasticamente para a Rio 2016. Foi isso que o Brasil se comprometeu, perante a opinião pública mundial, a fazer como dever de casa e pré-requisito para sediar a maior de todas as olimpíadas. E, infelizmente, não cumpriu, como a Revista Ecológico registra nesta edição. Segundo Lima, somente a ONG americana Second Chance ofereceu US$ 500 milhões para a limpeza e a construção de uma rede de esgotos nos rios da região. A empresa ATS foi contratada para o serviço e fez um projeto para quatro anos, com início em fevereiro deste ano. Mas o plano, entre vários outros anunciados e fracassados, perdeu-se igualmente entre as gavetas do governo do Rio e da Cedae, empresa estatal de água e saneamento dos cariocas. Detalhe final acrescentado pelo colega jornalista: “O dono da ONG morreu. Bye, bye, US$ 500 milhões”. Esse é o país que temos e sabe brilhar, acima de tudo e de todos os problemas, quando há consciência e vontade política para fazer as coisas. Até dinheiro que não existe, nessa hora aparece, como aconteceu no Rio; e para as duas olimpíadas. É essa esperança, mesmo pífia, que o Brasil e o Governo Temer têm nas mãos com a questão ambiental, após ter ratificado o Acordo de Paris, contra a ameaça galopante das mudanças climáticas. Este evento aconteceu com toda a pompa e conteúdo no Palácio do Planalto, na manhã do último dia 12. Ouvir um ministro como José Serra, que a priori não é da área, falar tão embasado de economia e combustível verde dá esperança mesmo. Até o presidente Temer fez uma

revelação “ecológica”, vista pelos ambientalistas como um combustível natural e aliado. A de que ele nadou, quando criança, nas águas ainda limpas do Rio Tietê, no município de mesmo nome onde nasceu. E hoje não há nem como chegar perto, tamanha a poluição, fedor e abandono em que o rio se encontra. O presidente vai entrar no clima por causa disso? Junto à lembrança bucólica que todo e qualquer ambientalista que se preze traz dentro de si e o faz militante, em busca do paraíso perdido da nossa infância? O próprio Temer respondeu, lembrando a sua participação recente no último encontro da Cúpula do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo, em Hangzhou, na China: “Fiquei impressionado. Não ouvi um só dirigente desses países que não falasse de clima e meio ambiente”. Ele deixará seu governo ouvir também a mensagem de sustentabilidade que foi passada na abertura inesquecível da Olimpíada 2016, com a urgência que todos nós merecemos para continuarmos vivos sobre o planeta em transe? É o que a nossa colega Maria Júlia Coutinho, a Maju, repórter global do tempo, também responde nesta edição: “Não podemos sugar o sangue da Terra!” E ela não está sozinha! Tem até o Galvão Bueno, a Glória Maria e o Marcos Uchôa, incluindo o André Trigueiro, mais o biológo Mario Moscatelli e o cineasta Fernando Meirelles de companhia. A terceira chance começará pelo Rio ou Brasília? É essa a nova e climática questão que abordamos nesta edição de setembro. Boa leitura! Até a lua cheia de outubro! O FOTO: MARIO MOSCATELLI / OLHO VERDE

LIXO flutuando na Baía de Guanabara: a face oculta da Rio 2016 que de longe nem lembra a ecológica abertura das Olimpíadas

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FOTO: RMAZUR / CATHOLICNEWS.ORG.UK

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GENTE ECOLÓGICA

“Você quer ser feliz por um instante? Vingue-se. Você quer ser feliz para sempre? Perdoe.”

FOTO: RONALDO GUIMARÃES

TERTULIANO, escritor cristão e teólogo tunísio

“Deus nos deu um jardim abundante, mas nós o transformamos em uma terra devastada e poluída de destroços, desolação e sujeira. Economia e política, sociedade e cultura não podem ser dominadas pelo pensamento único no curto prazo e nos ganhos financeiros e eleitorais imediatos.”

“Não se pode poupar empresas avessas à preocupação social e ambiental em seus empreendimentos. E o amor é mesmo, como dizia Hugo Werneck, o instrumento mais estratégico para mudar isso.”

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: INÈS DIELEMAN

FOTO: BETO NOVAES / EM

DINIS PINHEIRO, ex-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais

PAPA FRANCISCO

“O nosso futuro será uma praça ou um shopping. A escolha é urgente.”

“Estamos contra a parede e temos de implantar atos que permitirão evitar uma desregulação climática irremediável.”

JOÃO PAULO CUNHA, jornalista, presidente da Diretoria Cultural do BDMG

ANNE HIDALGO, prefeita de Paris

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“Ratificar o Acordo de Paris é a prova de que o Brasil está dentro da história, é protagonista. Estive na COP-21 e agora a gente está realmente se comprometendo. ” MARIA PAULA, atriz


“Ao contrário das competições nas arenas olímpicas, a corrida contra as mudanças climáticas não pode ser ganha por um único país. É necessário que todos trabalhemos juntos para vencer.” GISELE BÜNDCHEN, modelo, ativista ambiental e embaixadora do Pnuma

“Ser sustentável, tal como o casamento, não é obrigação. É merecimento!” ALFEU TRANCOSO, filósofo e fotógrafo da natureza

RONALDO FRAGA O estilista mineiro criou os trajes para a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos do Rio e mais uma vez acertou na mosca. Os figurinos se adequaram perfeitamente a cada momento da cerimônia, incluindo a parte das geometrias de praia e o uso do color blocking. E reforçaram a mistura de tradição e modernidade que é uma de suas marcas registradas na moda.

CAMILA PITANGA A atriz emprestou sua voz para o vídeo “Amazônia”, que integra a segunda parte da campanha “A Natureza Está Falando”, da ONG Conservação Internacional. A campanha dá vida a elementos da natureza, que em primeira pessoa, conversam com o espectador. E o convida a refletir sobre como a ação do homem tem alterado o meio ambiente e como ela, a natureza, seguirá evoluindo - com ou sem a presença dos seres humanos.

MINGUANDO

“Romântico é uma espécie em extinção.” “A sensualidade apelativa do momento só mostra o vazio existencial que as pessoas estão atravessando.” VANDER LEE, músico e cantor, falecido em 05 de agosto

JÚLIO CÉSAR DA SILVA Responsável pela morte de 20 animais (16 onças, duas suçuaranas, uma jaguatirica e um jacaré) no Pará, o caçador foi preso pela Polícia Militar em Curionópolis (PA) em 26 de agosto, durante apuração de uma denúncia por porte ilegal de armas. Depois de preso, ele foi autuado em R$ 460 mil por matar, mutilar e manter animais silvestres em depósito e ainda terá de pagar mais R$ 34 mil pela apreensão de sete aves silvestres.

SETEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO O 15

FOTO: MARCELO SOUBIA

FOTOS: DIVULGAÇÃO

CRESCENDO


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ECONECTADO CRISTIANE MENDONÇA

TWITTANDO

“Eu acredito na ciência. E acredito que a mudança climática é real!” @HillaryClinton Hillary Clinton, candidata à presidência dos EUA

INSTAGRAM VERDE FOTO: INSTAGRAM / OFICIAL

Além de ser considerada uma supermodelo, Gisele Bündchen também é super ecológica! Embaixadora da Boa Vontade do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), ela faz questão de levantar a bandeira da sustentabilidade, não somente nos compromissos profissionais, mas em todos os seus canais de mídia social. Por isso, não pensou duas vezes antes de vestir a camisa da campanha “Desmatamento Zero” liderada pela ONG Greenpeace. Na foto publicada em seu Instagram @gisele, ela escreveu: “Todos nós - água, florestas, plantas, animais e seres humanos - que dividimos esse lindo planeta, somos conectados. Não podemos danificar uma parte desse conjunto sem ferir o todo. Nós dependemos desse equilíbrio para nossa sobrevivência. Espero que possamos acordar para esta realidade antes que seja tarde demais!”.

FOTOS: REPRODUÇÃO FACEBOOK

ECO LINKS

“Paixão é se declarar. Amor é manter a promessa.” @CARPINEJAR Fabrício Carpinejar, escritor

SABOR E SUSTENTABILIDADE A “Campanha Segunda sem Carne” é uma iniciativa global que propõe que as pessoas abram mão do consumo deste alimento pelo menos uma vez por semana. Afinal, para se produzir um quilo de carne são gastos, em média, 15 mil litros de água, sem contar as áreas verdes que precisam ser desmatadas para o pasteio do gado. Por isso, a Revista Ecológico publica semanalmente, às segundas, uma receita vegetariana saborosa como forma de apoio ao movimento e incentivo para quem deseja participar. São mais de 50 receitas publicadas, como cogumelos recheados e risoto de legumes. Deu água na boca? Basta digitar “Segunda sem Carne” na área de pesquisa do site www.revistaecologico.com.br e escolher a sua preferida!

FOTOS: DIVULGAÇÃO

MAIS ACESSADA

“Sustentabilidade? De 2011 a 2013, a China usou mais cimento do que os Estados Unidos usou em todo o século XX.” @jprcapo - João P. R. Capobianco, biólogo 16 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

Boas notícias são sempre bem-vindas! Por isso, a matéria mais acessada no site da Revista Ecológico, no mês de agosto, foi “Programa flagra movimentação de animais do Cerrado”. O texto conta a bem-sucedida iniciativa da concessionária Rumo. A empresa construiu 87 passagens subterrâneas, instaladas ao longo dos 752 quilômetros de linhas férreas entre Aparecida do Taboado (MS) e Rondonópolis (MT), que permite que animais nativos do Cerrado possam atravessar de um lado da mata para o outro em segurança. Há registros de espécies como lobo-guará, tamanduá-bandeira, cervo-do-cerrado, onça-parda e onça-pintada atravessando os túneis. Para ler o texto na íntegra, acesse o link: goo.gl/uJcyjk


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SOU ECOLÓGICO

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MUTUM-DE-PENACHO

RODRIGO PERPÉTUO

ICLEI, UAI! Minas são muitas e seus talentos também. Mais um mineiro acaba de assumir um importante cargo na principal associação internacional de governos locais e subnacionais dedicados ao desenvolvimento sustentável, o ICLEI – Governos Locais para a Sustentabilidade, com sede em São Paulo (SP). Rodrigo Perpétuo, 41 anos, é o novo secretário-executivo do Secretariado Regional do ICLEI para a América do Sul, que apoia uma rede de mais de 40 cidades sul-americanas comprometidas com o desenvolvimento sustentável, que representam mais de 100 milhões de habitantes em oito países. Ao longo de sua trajetória profissional, Perpétuo, que é economista, foi chefe da assessoria de Relações Internacionais do Governo de Minas e braço sustentável de Marcio Lacerda, na Prefeitura de BH.

CENIBRA EM ALTA O novo diretor-presidente interino da Cenibra, Naohiro Doi, pode ganhar ainda mais pontos com o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, no apoio parceiro contra a extinção de várias espécies de aves no Vale do Aço, onde a empresa atua. Vários ambientalistas presentes à solenidade de ratificação do Acordo de Paris, pelo presidente Temer, estiveram depois no gabinete do ministro em nome desta causa nobre. Liderados pelo ator e também ativista ambiental Victor Fasano, eles não apenas elogiaram como também se disserem preocupados com o futuro do “Projeto Mutum”, sediado e patrocinado na sua RPPN Fazenda Macedônia. Desde 1990 ele é desenvolvido pela Crax, entidade não governamental dirigida por Roberto Azeredo, um dos mais importantes especialistas em reintrodução de fauna silvestre do país. Ambos, empresa e criador, já foram várias vezes premiados por isso. Diante da devastação crescente ao redor das florestas protegidas pela Cenibra, os ambientalistas querem que ela aumente o seu apoio. NAOHIRO DOI

SISEMA PRESENTE Representado pelo secretário-adjunto da Semad, Germano Vieira, Minas também se fez presente na solenidade de ratificação do Acordo de Paris, em Brasília (DF). Segundo ele, através do "Plano Estadual de Energia e Mudanças Climáticas", as ações que já vêm sendo implementadas desde 2009, nas áreas de energia, agricultura, florestas e outros usos do solo, transportes, indústria e resíduo vão garantir uma redução de 17% a 20% das emissões dos gases de efeito estufa entre as nossas montanhas até 2030. GERMANO VIEIRA

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AT CRIÇ É ÕES E D I IN A DICA 14 Ç Õ /1 E S 0

MUDANÇAS

CLIMÁTICAS Qual a sua contribuição?

Homenagem Especial

Chico Xavier


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PÁGINAS VERDES

FOTO: TV GLOBO / ZÉ PAULO CARDEAL

“SINTO UMA IMENSA ESPERANÇA”

MAJU: “Não podemos sugar o sangue do planeta”

20 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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legante, espontânea e sorridente, ela conquista o público com seu carisma e, sobretudo, pelo jeito simples e direto com que traduz conceitos e expressões climáticas. Assim é a jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju. “Garota do tempo” do Jornal Nacional, da Rede Globo, ela vem ganhando cada dia mais a confiança do telespectador e conquistando uma legião de fãs Brasil afora. Não por acaso, participou da cobertura da Conferência do Clima (COP-21), realizada em Paris, no passado, a convite da Organização Mundial de Meteorologia. Dedicada e atenta, Maju conta – nesta entrevista exclusiva à Revista Ecológico –, que leva cerca de três horas para preparar a sua apresentação diária para a TV. E, sempre que pode, envia seus textos para serem conferidos por especialistas. Otimista, ela afirma que a solidariedade, o compartilhamento e o consumo consciente são a chave para a construção de relações mais sustentáveis com o outro e com o planeta. “Cada vez que vejo pessoas compartilhando carona, casas para se hospedar em viagens, sinto uma esperança imensa. Concordo com uma frase que ouvi do ex-presidente do Uruguai, José Mujica: ‘Se aprendermos a viver com o necessário, não sugaremos o sangue do nosso planeta, nem iremos jogar fora nossos dias’.” É o que você confere a seguir:

Antes de ser a “garota do tempo” e falar sobre meteorologia no Jornal Nacional, você cobriu assuntos diversos em outros jornais da emissora e foi apresentadora da TV Cultura. Como foi a sua preparação para a função atual? Conto com a orientação dos meteorologistas que acompanham nosso trabalho na Globo: Alexandre Galvão, que trabalha diretamente comigo à tarde; Wando Amorim, no período da manhã; Naiane Araújo (da turma dos madrugadores) e Juliana Suleiman (plantonista). Consulto também as fontes que fiz no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no Instituto de Astrono-

mia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP), na Marinha do Brasil e em outros institutos ligados à meteorologia. Creio que é fundamental manter o espírito de repórter na elaboração da previsão do tempo. É essencial questionar, investigar, deixar a chama da curiosidade sempre acesa. Poder tratar de um tema tão preocupante e urgente para a humanidade – a mudança climática e os seus impactos – em rede nacional é um privilégio. Como se sente, sabendo do grande alcance e da repercussão de seu trabalho junto ao público? Sinto-me honrada e feliz. A res-


MAJU COUTINHO Jornalista e apresentadora de TV

QUEM É ELA

Paulistana, filha de professores e leonina, Maria Júlia Coutinho é bacharel em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (SP). Iniciou sua carreira como estagiária na TV Cultura (SP). Trabalha na Rede Globo desde 2007 e assumiu em 2015 a apresentação fixa da previsão do tempo do Jornal Nacional. Foi eleita entre os TOP 100 dos “+Admirados Jornalistas Brasileiros/2015”. Venceu, ainda, o “Prêmio Faz a Diferença 2015”, iniciativa do jornal O Globo e da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), na categoria “Segundo Caderno/+TV”. Adepta da ioga e dos alimentos orgânicos, é casada com o publicitário Agostinho Moura.

explicações devem ser compreensíveis para o público leigo e não podem desagradar aos cientistas. Sempre que posso, envio o texto que escrevo para os especialistas conferirem os conceitos. Quanto tempo, em média, você e a equipe de meteorologistas da TV levam para preparar a sua apresentação diária para o JN? Como é a sua rotina de trabalho? Levamos cerca de três horas entre a reunião, a elaboração das artes e do texto. Chego à redação entre 14h e 14h30. Faço uma pesquisa na internet, nos sites

ponsabilidade é enorme. A questão da mudança climática é urgente. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que nove em cada dez desastres naturais estejam relacionados com a mudança climática. Por isso, sempre que há oportunidade, procuro abordar o tema na previsão do tempo. Quais são os conceitos, termos climáticos e meteorológicos mais difíceis de serem traduzidos para o telespectador? Todos os fenômenos: as frentes, frias ou quentes, os fenômenos que surgem das nuvens de tempestades (como tornados, microexplosões, granizo) exigem muita atenção para serem explicados. As

de previsão do tempo, para conferir as notícias. Às vezes, ligo para as afiliadas da Globo para verificar se há algum destaque meteorológico, confiro o trabalho das minhas colegas também e converso com fontes do INPE, da meteorologia da USP e de outros institutos para verificar se há algum assunto que mere-

ça destaque. A partir das 15h30, participo da reunião com o meteorologista e com ilustradores do Departamento de Arte da Globo São Paulo. Nessa reunião, o meteorologista informa quais são os destaques do dia e, com o ilustrador, definimos quais artes explicam da melhor forma os fenômenos que iremos destacar. Definimos também artes especiais para feriados e grandes shows, ou seja, para eventos em que todo mundo quer saber como ficará o tempo. Terminada a reunião, escrevo o meu texto para o SPTV, o Jornal Nacional e para a previsão que é feita para a internet. Passo pela maquiagem, gravo a previsão para o G1 e, entre 18h e 20h30, preparo-me para entrar ao vivo no SPTV e no JN. Como foi a experiência de acompanhar as negociações da COP-21, em Paris, ano passado? Recebi um convite da Organização Mundial de Meteorologia (OMM) para participar da primeira semana da COP-21. A OMM acredita que os apresentadores do tempo podem ser importantes agentes para falar sobre mudanças climáticas, tanto que vários de nós, de diversos lugares, fomos convidados para esse evento. Qual o maior desafio enfrentado durante a cobertura? O maior desafio na cobertura é entender o que chamo de “copês”, ou seja, a linguagem da

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SETEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO O 21


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PÁGINAS VERDES

Homenagem Musical A repercussão do trabalho de Maju fez com que ela fosse homenageada pelo compositor baiano Jarbas Bittencourt com uma música chamada “Tempo Firme”. Conheça a letra: TEMPO FIRME “Não há um dia de sol uma noite de chuva não há se Maria Júlia não passar. Nenhuma gota d’água no céu nenhum arco-íris no olhar se Maria Júlia não passar.

Ela anuncia se o que veste o dia é uma ventania, um raio, um trovão. Musa do meu clima, fácil me explica o que é uma chuvica ou um furacão. Sem ela não há tempo firme em meu coração. Sem Maju não há tempo firme em meu coração.

Mistura as cores da temperatura traduz a pintura do meu mapa astral tão bela, na dela, na tela, no telejornal.

Profetiza uma máxima de alegria poetiza uma mínima de solidão. O jogo da sacerdotisa de elemento fogo prevê a paixão.

Vestido colorido sobre a pele escura ela captura versos e canções e é a mais linda moldura pras quatro estações.

Me diz ainda com que roupa que eu vou sair que por conta dessa preta eu presto atenção se é primavera, inverno, outono ou verão.”

É otimista em relação ao futuro do planeta e da humanidade? Como construir relações mais sustentáveis e amorosas entre o ser humano e os recursos naturais? A solidariedade, o compartilhamento e o consumo consciente são as saídas para a construção de relações mais sustentáveis. Cada vez que vejo pessoas compartilhando carona, casas para se hospedar em viagens, sinto uma esperança imensa. Concordo com uma frase que ouvi do ex-presidente do Uruguai, José Mujica: “Se aprendermos a viver com o necessário, não sugaremos o sangue do nosso planeta, nem iremos jogar fora nossos dias”.

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VERSÃO BONECA FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK HEBERTH SOBRAL

COP. Trata-se de um mundo de siglas. É preciso participar de várias COPs para compreender todo o jogo. Contei com a ajuda de colegas experientes, como o jornalista Sérgio Abranches, para aprender o básico.

No embalo de seu sucesso na TV, Maju também ganhou vida numa exposição artística, no Rio de Janeiro. O artista visual Heberth Sobral a transformou numa simpática boneca Playmobil.


MAJU COUTINHO

“Santa Bárbara de trovões e trovoadas” Qualquer um afirmaria que falar do tempo é facil, basta recitar o texto de um meteorologista. Não é. Maju trocou a TV Cultura pela Globo em 2007, cobriu, em São Paulo, favela, governador, rebelião, incêndio, festival de rock. O apresentador Faustão, que a acompanha desde o jornal Bom dia Brasil, ao recebê-la no júri da Dança dos Famosos, erroneamente resumiu o esforço da profissional em seus atributos físicos: “Você era mais gordinha”. E ela: “Gordinha?!”. Faustão então se corrigiu: “Você está com esse corpão, melhorou a dicção, a voz. É um exemplo de tenacidade”. Faltou dizer que Maju se enfiou no laboratório, estudo cartas meteorológicas, mapas e traduz bem da seca à chuva de granizo. E não despreza a crença popular. “Uma certa Maria das Vacas, entrevistada no Nordeste, disse: ‘Quando vê bezerro novo correndo no curral, em carreira, já sabe: o dia amanhã está chovendo’. É lindo, parece Guimarães Rosa, mas é

a sábia fazendo a previsão. Dou ouvido a isso.” Os vestidos coloridos que usa também viram notícia. Xico Sá falou deles na crônica que dedicou a ela em “O Livro das Mulheres Extraordinárias”. “Como é linda, minha Santa Bárbara de trovões e troO JORNALISTA e escritor Xico voadas (...). Essa Sá: “Ela é a senhora das minhas moça deveria ser tempestades mais íntimas” dona da televisão inteira, como é a senhora das minhas tempestades mais íntimas”, derrete-se. O

FOTO: DIVULGAÇÃO

Jornalista e apresentadora de TV

Fonte: Revista Cláudia

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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

AMEAÇAS NADA VELADAS

A

lém do descaso do poder público com a criação e implantação de Unidades de Conservação de proteção integral, mais uma ameaça paira sobre elas: a reivindicação ou invasão de suas áreas por “populações tradicionais”, apoiadas e estimuladas por diversas instituições, inclusive públicas. Em alguns casos, chama a atenção os aspectos ideológicos de suas lideranças, resumidos no “tudo pelo social” e a intolerância e rotulação contra qualquer um que ouse discordar ou criticar. No governo de Itamar Franco, o Parque Estadual da Jaíba foi invadido com apoio de instituições “sociais” e financiamento de empresas de ferro-gusa. Mil hectares de Mata Seca foram transformados em carvão, centenas de animais silvestres foram mortos e para o parque sobraram algumas toneladas de lixo. Os invasores foram retirados somente no início do governo Aécio Neves. O Serviço de Patrimônio da União pleiteia, junto ao Instituto Estadual de Florestas (IEF), entregar a essas “populações tradicionais” extensas áreas marginais do rio São Francisco localizadas nos parques Lagoa do Cajueiro, Verde Grande e Mata Seca, alegando serem propriedades federais. Mas o pleito não se estende às grandes fazendas que existem na região e mantêm gigantescos pivôs centrais na beirada do rio. O mais novo episódio é a reivindicação de um terço do Parque Estadual do Rio Preto, que tem 12 mil hectares, justamente onde estão as nascentes do rio Preto, alegando serem área de coleta de sempre-vivas, e grande parte do Parque Nacional das Sempre Vivas. Até aí tudo bem. Pleitear é ato legítimo, democrático e direito incontestável. Mas, em reunião realizada no dia 23 de agosto em FOTO: EDERSON GUEDES

PARQUE Estadual do Rio Preto: reivindicação de um terço da área para “populações tradicionais”

Diamantina, quando defendemos o Parque do Rio Preto e propusemos que qualquer decisão sobre o assunto deve se basear em estudos técnicos e imparciais que apontem soluções sociais e ambientais, enfrentamos desrespeito, raiva e ameaças. Ficou claro que discordâncias não são aceitas. Um advogado chamado André Alves, que se identificou como representante de populações extrativistas, teve o desplante de perguntar por que a “Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) estava presente e disse que ouviu falar que a entidade é sustentada por grandes fazendeiros degradadores”. A coordenadora da mesa lembrou a ele que a reunião é pública, mas infelizmente não nos permitiu lembrar que o meio ambiente é direito difuso, cabendo à sociedade o dever de defendê-lo, conforme previsto na Constituição. A reação foi ainda pior quando o diretor do IEF, em resposta à sugestão de que a cerca do parque fosse derrubada, respondeu que mesmo que concordasse não poderia fazê-lo, pois ele é bem público, protegido por leis. Minas Gerais tem menos de 2% do território protegido por Unidades de Conservação de proteção integral, única categoria capaz de realmente manter amostras de ambientes naturais protegidos das ações humanas. Elas, bem como a implantação de políticas públicas condizentes com direitos e dignidade dessas populações, devem ser vistas e tratadas no mesmo nível de importância, responsabilidade e seriedade, tanto pelo Estado quanto pelos segmentos da sociedade envolvidos. E, quando se quer, sempre se encontra soluções que sejam boas para todos. O (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).


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ESPECIAL OLIMPÍADAS

A MENSAGEM MARAVILHOSA Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

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mundo inteiro que nos assiste, de como o Brasil mudou e todos nós, sem exceção, também precisamos mudar. O Brasil mudou? Marcos Uchôa, companheiro de reportagem de Galvão, completa: - Estamos iniciando a Olimpíada mais original de todas, por nos permitir falar de um problema grave que ameaça toda a humanidade, que é o aquecimento global. E de quem é a culpa? O próprio Galvão responde: - De todos nós! Todos somos responsáveis pelo que está acontecendo com a natureza, com o meio ambiente e o planeta onde vivemos.

Uchoa ameniza. E vai além: - Nós temos culpa, sim. Mas, por outro lado, também temos a Amazônia, em verdade, a possibilidade de salvação do tanto que já se perdeu em outras partes do mundo. É o que iremos mostrar aqui, com imagens fortes, um Brasil com esperança. Galvão também faz referência à Amazônia, trocando o ecologicamente correto “refrigerador” por “pulmão” natural. - Ainda somos, sim, o grande pulmão do mundo. E é por isso que vamos falar de meio ambiente. Esta é a grande oportunidade que temos para divulgar a menFOTO: REPRODUÇÃO GLOBO

P

laneta Terra, dia cinco, lua nova de agosto de 2016 depois de Cristo. O palco é o Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, Brasil. Exatos quatro dias antes do “Dia Internacional dos Povos Indígenas” – justamente de onde viemos e nos desmerecemos tanto –, três bilhões de seres humanos de todos os quadrantes da Terra viram, ouviram e se encantaram com a abertura dos Jogos Olímpicos. Sob a benção do Redentor esverdeado no alto do Corcovado, tratou-se da mais monumental, criativa e necessária mensagem ambiental e de sustentabilidade já registrada na história da humanidade. Vide o inferno das mudanças climáticas que já ocorre de maneira fatídica no único planeta habitável em todo o sistema solar conhecido. Todos ainda se lembram das palavras emocionadas dos apresentadores de TV, como as de Galvão Bueno, da Globo, durante a transmissão ao vivo da abertura dos Jogos: - Esta não é apenas mais uma olimpíada na história dos Jogos Olímpicos que começou lá atrás, na Grécia. Mas, sim, um apelo. Um grito e um pedido forte ao

GALVÃO BUENO, ao lado de Glória Maria e Marcos Uchôa: “A culpa pelo aquecimento global é de todos nós”


FOTO: FERNANDO FRAZÃO / AGÊNCIA BRASIL

sagem da sustentabilidade. Afinal, temos 206 países e quatro bilhões de espectadores, o mundo inteiro a partir daqui, para nos ouvir; exceto, infelizmente, os 65 milhões de refugiados e pessoas em guerra. Ao som de “Aquele Abraço”, de Gilberto Gil, começa o movimento de ondas projetado na tela sobre o gramado do Maracanã, já fazendo referências mil aos jardins de Burle Marx e aos traços de Niemeyer. É por onde desfila, na sequência, a estrela de primeira grandeza e também ambientalista confessa, Gisele Bündchen, agora ao som de “Garota de Ipanema”, a caminho de Tom Jobim. A contagem regressiva de tamanho encantamento termina com a projeção do famoso símbolo da paz criado por Ziraldo em 1988, ainda nos tempos do Pasquim, quase três décadas antes da ECO/92, também na Cidade Maravilhosa: uma árvore estilizada do movimento hippie chama a atenção para a necessidade de preservarmos as florestas, rios e cascatas que nos restam. Da água, enfim, que cada dia brota menos e corre mais poluída no chão ressequido do planeta e de sua humanidade, ambos sedentos e enfermos.

A bandeira do Brasil é hasteada, como convém, pelo Comando da Polícia Ambiental do Rio de Janeiro, sem a presença do nosso ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, nem a lembrança ou representante de tantos Chicos Mendes assassinados que se foram por defenderem a Floresta Amazônica em transe. Não dá tempo de se lamentar. É Paulinho da Viola todo de branco e sem gravata, acompanhado de um octeto de cordas interpretando o Hino Nacional. A tela pintada de azul no chão do Maraca, conectada por mais de 20 quilômetros de cabos, volta a se agitar em ondas, nos trazendo a saudade dos mares limpos. A vida tem início no planeta, desde a chegada dos primeiros organismos até as bactérias atuais. Criaturas e formas inimagináveis se evoluem no palco cibernético, então transformado na crosta inóspita do planeta, bilhões de anos atrás. Tudo pulsa e se transforma a partir do DNA que a história universal do Cosmos nos ungiu no único planeta ainda com vida ao redor do sol. A CRIAÇÃO DA VIDA Graças ao trabalho de cinco mil

voluntários, 200 dançarinos, 5,5 mil figurinos e 50 mil metros de tecidos, as primeiras florestas aparecem e ganham sua primeira tradução em tupi-guarani: Pindorama, a Terra das Palmeiras. Grudado nas tevês, o mundo vê nascer o país onde, antecipou Pero Vaz de Caminha, “em se plantando, tudo dá”. E se preservando, tudo aumenta, como pôde ser visto na grande tela sobre o gramado, com a imagem formada por uma miríade de microprojetores. Graças à atuação de 25 mil jornalistas credenciados, mais de três bilhões de caras-pálidas mundo afora continuam assistindo ao espetáculo da criação da vida, sugerindo por centenas de painéis se transformando em ramagens, árvores e depois em florestas. Simbolizando a multiplicação da flora, aparecem as primeiras borboletas em amarelo. Como o ambientalista mineiro Hugo Werneck (a quem a Revista Ecológico é dedicada em todos os dias de lua cheia) as via, amava e defendia, as “cores que voam” dão um show à parte. E logo se vão, dando lugar a dezenas de índios reais, vindos dos festivais de Parintins, no coração ainda pre-

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ESPECIAL OLIMPÍADAS servado do Amazonas. Com garantia e capricho, eles reproduzem como era o Brasil antes da sua descoberta pelos chamados povos civilizados. Um território riquíssimo em biodiversidade, coberto 100% por densas florestas e vida natural. E não apenas os seus 13% de matas atlânticas que conseguiram sobreviver até os dias atuais. A sua natureza em chamas virando cerrado, depois semiárido e o sertão sofrível que conhecemos hoje, onde as árvores, rios e cascatas deram lugar a cidades, vilas e favelas onde vivem 72% da atual população brasileira. São 19 horas oficiais em Brasília. Os povos das florestas, encenados por meia centena de índios parintins, montam três ocas no centro do Maracanã, simbolizando a sua própria existência, junto com a formação do mundo, dos céus e das estrelas. A repórter e comentarista global Glória Maria antecipa, o que eles vão sinalizar, dançando em círculo e esticando fitas plásticas que recebem luzes verdes e amarelas, tal como a nossa bandeira primitiva. O próprio termo “Carioca” também vem do tupi-guarani “maracas”, que os indígenas da tribo utilizavam para reproduzir o som de um pássaro e tocavam ao redor do Corcovado, antes da construção do Cristo Redentor, para chamar os deuses. Para pedir e agradecer a natureza que tinham. A formação do povo brasileiro e o fim da grande floresta que o cobria têm início. É o primeiro encontro do homem branco com os indígenas. São as primeiras três caravelas portuguesas invadindo artisticamente o estádio. Primeiro chegam os africanos, depois os árabes e, logo atrás, vêm os japoneses. E todos eles enganam e não respeitam os povos primitivos que 28 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

os acolhem em sua ingenuidade e desigualdade tecnológica. A abertura da Rio 2016 frisou isso: os invasores que atracam, cada vez mais, no litoral paradisíaco da nova e violentamente penetrada terra brasilis. E dão início, sem dó humano nem piedade cultural, à dizimação das florestas e, em seu lugar, ao processo de urbanização caótico e nada sustentável que conhecemos hoje. Tal como fizemos com os negros caçados como bichos na África e trazidos em navios também repletos de banzo. O Brasil está entre os últimos países a abolir oficialmente a escravidão em seu processo de colonização.

ESPERANÇA RENOVADA A história não pode parar. Continua a chegada da “geometrização”, que é o repartimento, com “régua e compasso”, do solo devastado, sem verde nem flora, do novo país em crescimento. É a chegada num ritmo alucinante, desbravador e antiecológico das primeiras cidades brasileiras. A tragédia, mostrada em 3D, do nosso contato também nada amistoso com a natureza e o meio ambiente ao redor tem início. Tudo que é verde cede lugar ao cinza. A paisagem agora é urbana, onde não mais gorjeia o sabiá. Mas o Maracanã não se prende


FOTO: BETH SANTOS / PCRJ

OS POVOS da floresta abordados na abertura das Olímpiadas: ode à mais pura cultura preservacionista

a isso. O congraçamento humano prestes a explodir ali de tamanha emoção, sonho e canção nas arquibancadas de gente de todos os lugares do mundo acendendo a luz de seus celulares, frente à escuridão prevista pelas mudanças climáticas: - A mensagem maior e grande verdade hoje é que somos um imenso planeta vivendo um momento de grandes dificuldades – diz Galvão Bueno. - Chega de briga, gente! – convoca Regina Casé, numa aparição rápida e precisa: “Nós estamos aqui hoje para buscar e valorizar as nossas semelhanças. Mas, principalmente, para celebrar-

mos as nossas diferenças!”. A esperança renovada aparece com a iluminação dos anéis que formam o símbolo das Olimpíadas Rio 2016. Eles são formados originalmente em diversas tonalidades de verde. E pelas mesmas “plantas, árvores e florestas que podem tornar o planeta vivo novamente; tornar, enfim, o nosso futuro sustentável. Um futuro preservado e com mais qualidade de vida para todos os povos aqui representados”, profetiza Bueno. Quando o comentarista enaltece esta mensagem de esperança, as imagens projetadas são mais espetaculares ainda. Criada pelo artista plástico america-

no Anthony Howe, com base na energia eólica, a pira olímpica é acesa, com esta mensagem ambiental. Ao contrário dos jogos antigos, ela tem o seu tamanho intencionalmente pequeno, com baixa combustão, consoante aos desafios atuais de reduzirmos as emissões de poluentes causadores do efeito estufa na atmosfera planetária: “Com o que sabemos hoje, não é mais possível continuarmos queimando toneladas desses gases, e acharmos isso bonito.” O comentarista global também se emociona, com a imagem do Cristo Redentor projetado em verde no telão, por onde passeia um Santos Dumont legitimado em seu famoso 14 Bis: - Começamos a solenidade dizendo que somos todos olímpicos e vamos continuar assim. Afinal, temos 206 nacionalidades aqui presentes ouvindo esta mensagem, tendo o esporte como ferramenta para isso. O importante é mesmo competirmos saudavelmente. E preservarmos este país que temos e somos. A exemplo do que foi a ECO/92 no Rio de Janeiro, a realização das Olimpíadas 2016 pode significar um divisor de águas na conscientização ecológica da sociedade brasileira e mundial. Um tempo mais drummondiano, de união e mãos dadas, tal como aguarda o poeta de Itabira, assentado mineiramente na calçada de esperança de Copacabana. Tal como Galvão concluiu: - Que este festejado e emblemático encontro aqui no Rio não seja um fim em si mesmo. Nem o fim deste sonho global. Mas o início de um tempo melhor, em paz com a natureza e nós mesmos. Um tempo presente, onde, sempre valha a pena sonharmos!

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ESPECIAL OLIMPÍADAS

A REALIDADE DESASTROSA Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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FOTO: MAZUR / CATHOLICNEWS.ORG.UK

N

uma tarde considerada memorável pelos integrantes da Academia Brasileira de Letras (ABL), ele foi aplaudido por longos minutos, após encerrar a sua apresentação no ciclo de conferências “Utopias contemporâneas”, realizado no Rio de Janeiro logo após o fim das Olimpíadas. Convidado a falar sobre o tema: “Legados olímpicos ambientais: promessa e realidade”, o biólogo Mario Moscatelli – um dos mais aguerridos defensores dos manguezais e das lagoas do Rio de Janeiro – pôs o dedo em várias feridas. E não poupou críticas às autoridades que, mesmo com os olhos do mundo voltados para o Brasil, simplesmente viraram as costas para o meio ambiente, contrariando toda a apologia à sustentabilidade que embalou o show de abertura das Olímpiadas 2016, no Maracanã. Num misto de determinação e revolta, Moscatelli escancarou em fotos o estado de penúria em que se encontram cartõespostais mundialmente conhecidos, como a Baía de Guanabara e a Enseada de Botafogo. “Não dá mais para usar eufemismo diante do grau de degradação ambiental impetrado na cidade do Rio. O que se vê aqui é terrorismo ambiental. Ou seja, o estado se dá ao direito de degradar os re-

MOSCATELLI pedirá ao Papa Francisco para alertar autoridades sobre a drástica situação ambiental do Rio

cursos naturais quando, na intensidade e onde quer, e nada acontece.” Cansado de bater de porta em porta, lutando para salvar o que ainda resta do valioso patrimônio hídrico e paisagístico da Cidade Maravilhosa, Moscatelli decidiu, literalmente, se queixar ao Papa Francisco. “Espero que, em sua grandiosidade moral, ele possa ao menos alertar as nossas autoridades, lembrando-as de que não dá mais para tratar a água como latrina. É o que me cabe fazer como cidadão.” Confira, a seguir, as feridas que ele remexeu:


QUEM É ELE Nascido em Copacabana, Mario Moscatelli, 51 anos, é biólogo com mestrado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Especialista em ecossistemas costeiros e professor do Centro Universitário da Cidade, é também responsável técnico da Manglares Consultoria Ambiental. Desde 1997, registra em fotos de sobrevoos a acelerada diminuição das áreas verdes e a poluição das águas cariocas. Fã de "Star Wars", plantou e recuperou várias áreas de manguezal, como na Lagoa Rodrigo de Freitas, totalizando uma área estimada em 200 hectares.

SAIBA MAIS facebook.com/mario.moscatelli.98

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AS MARGENS da Baía perderam seu colorido natural e original

ESPECIAL OLIMPÍADAS O POÇOS SEM FUNDO

“Na ocasião, as autoridades brasileiras e cariocas nos asseguraram que a situação ambiental caótica, tanto na baía quanto no Sistema Lagunar da Baixada de Jacarepaguá [leia mais a seguir], seria resolvida, tornando-se o grande legado ambiental para a cidade do Rio de Janeiro. Mas, infelizmente, nada foi cumprido, desde então, em relação à despoluição dos nossos rios, lagoas, manguezais e demais ecossistemas.”

FOTOS: MARIO MOSCATELLI / OLHO VERDE

“Em 2009, com o Brasil surfando economicamente na crista da onda, vencemos a indicação para sediar as Olímpiadas 2016. Já havíamos tentado uma vez, mas um dos fatores que inviabilizaram a nossa candidatura foi justamente a questão ambiental. A Baía de Guanabara, apesar de ser, há anos, um poço sem fundo de aplicação de recursos internacionais, continuava bastante degradada.”

atenção a mensagem que passaram sobre sustentabilidade e respeito ao meio ambiente: tudo mero blá-blá-blá.”

O DE PARAÍSO A LATRINA

“Em 1936, o naturalista Magalhães Corrêa descreveu em seu livro ‘Sertão Carioca’, o cenário paradisíaco da região da Baixada de Jacarepaguá, alertando, já naquela época, para o perigo que esse patrimônio ambiental corria.”

“Quero esclarecer aqui que achei ótimo sediarmos as Olimpíadas. E, como todo brasileiro, torci pelo Brasil – e também pela Itália. Achei o show de abertura maravilhoso, mas me chamou bastante

“De 1936 para 2000, instalou-se uma verdadeira cidade na Baixada, sem qualquer investimento em saneamento, com os governos repetindo, sistematicamente, a forma predatória com que o OCUPAÇÃO irregular no Morro no Banco: o verde perdendo o seu lugar para o concreto

carioca lida com os seus recursos naturais, desde a fundação da primitiva cidade.” “Hoje, todo esse fantástico sistema de lagoas – com seus manguezais, brejos, restingas e demais ecossistemas – foi convertido, em quase toda a sua extensão, em latrina, em grandes valões de esgoto e de lixo. Mesmo nas áreas ocupadas de forma desordenada – e que a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) afirma estarem 100% saneadas –, a situação é crítica. Quem mora perto do Canal de Marapendi sabe disso, porque sente o cheiro podre que exala a cada maré baixa.” O BOMBAS-RELÓGIO “Os mesmos erros cometidos em outras áreas do Rio, como em São Conrado e Botafogo, se repetem de forma criminosa na Baixada de Jacarepaguá, região que mais cresce na cidade. São vários os problemas. Muitas vezes, ao passar pela Favela da Rocinha, eu me perguntava como ela havia crescido tanto, sem que nenhuma autoridade tomasse qualquer medida de ordenamento urbano. Nunca encontrei resposta.” “Agora, o Morro do Banco será a

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futura Rocinha a se instalar na Barra da Tijuca. Uma comunidade que cresce a olhos vistos e onde toda a massa arbórea – responsável pela estabilidade dos taludes da Pedra da Gávea – está sendo transformada em um queijo suíço, por causa da ocupação desordenada.” “Em Itanhangá, na Zona Oeste, acontece o mesmo. Ou seja, são todas bombas-relógio socioambientais prestes a explodir, por falta de atuação do poder público. Ficamos à mercê da vontade de São Pedro, com as conhecidas chuvas torrenciais que, de tempos em tempos, atingem o Rio, fazendo tudo desabar.” “Isso acontece porque as encostas estão sendo ocupadas de forma descontrolada, sem qualquer ação efetiva do poder público, que deveria fiscalizar essas áreas. A ocupação desordenada e a degradação generalizada de toda essa bacia hidrográfica também causam inundações. A exemplo das ocorridas em 1996 e 2010 quando, independentemente da classe social, todo mundo perde, é afetado.” O DINHEIRO x VOTO “Outro exemplo é a comunidade de Muzema, próxima à Lagoa da Tijuca. As pessoas estão desma-

O ENCONTRO do Arroio Fundo, com suas águas negras de esgoto, e o verde das cianobactérias do Lagoa do Camorim: cenário triste

tando as encostas e construindo casas em áreas de risco. Sobrevoei a região e denunciamos a situação numa reportagem de TV, veiculada em rede nacional. No entanto, duas semanas depois, quando voltamos ao local, uma das casas mostradas já estava em estado adiantado de construção, inclusive com laje.” “No meu entendimento, o poder público não toma providências, porque simplesmente não se sente obrigado a fiscalizar essas áreas. Em contrapartida, se no outro lado da Barra da Tijuca alguém fecha uma varanda, os fiscais acionam satélites da Nasa e só faltam chamar as tropas da Otan para monitorar o ‘puxadinho’. Por que isso acontece? Porque de uma área o poder público quer dinheiro e, da outra, voto.”

ocupação foi iniciada na década de 1980, a situação se repete.” “Hoje, cerca de 50 mil pessoas vivem lá e é praticamente impossível ordenar a ocupação. Como sanear uma comunidade que está ao nível do mar, se estudos alertam para a elevação global do nível dos oceanos nos próximos 20, 30 anos? Não tem jeito, Rio das Pedras vai se transformar numa Veneza.” “E apesar disso, a região continua a crescer em cima de lixo – com os resíduos sendo usados para aterrar áreas de brejo, contaminando o lençol freático, impermeabilizando o solo e aumentando o risco de inundações. Esse é o modelo de ocupação urbana que impera para as classes menos favorecidas no Rio. Tudo na base do salve-se-quem-puder e do cada um por si e Deus por todos.”

O RIO DAS PEDRAS x VENEZA “Temos uma metástase no tecido sócio-urbano-ambiental do Rio e ninguém faz nada. Eu desconheço qual é a política de habitação do município. As pessoas precisam de moradia, é óbvio, mas não podem viver em condições subumanas como acontece na maioria dessas comunidades. Na região do Rio das Pedras, cuja

O CIDADE DE DEUS “Esse é outro protótipo que não deu certo e continuou sendo repetido. Na Cidade de Deus, todo tipo de lixo e resíduo é lançado nas águas do Rio Arroio Fundo. As construções engolem a bacia hidrográfica, que virou um valão de esgoto. Lá, assim como em outras áreas da cidade, a irmã gêmea da degradação ambiental – além da ausência de políticas de habitação – é a não universalização do saneamento.” O RIOS MORTOS “Temos aqui o equivalente ao encontro dos rios Negro e Solimões. O Solimões, no caso, é a Lagoa do Camorim, completamente tomada por cianobactérias, microrganismos que, no verão, se multiplicam de forma descontrolada. A espécie existente é a Microcystis aeruginosa, que produz uma substância chamada microcistina, que causa câncer de fíga-

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ÁGUAS poluídas da praia da Barra, no Sistema Lagunar de Jacarepaguá: banho impróprio

FOTO: MARIO MOSCATELLI / OLHO VERDE

ESPECIAL OLIMPÍADAS do toda essa degradação. Mas, efetivamente, nada acontece. Nem no sentido de reverter essa realidade e tampouco no que se refere à atuação do poder público – nas diferentes esferas –, para colocar os delinquentes governamentais responsáveis por tudo isso em cana.” “Não dá mais para usar eufemismo diante do grau de degradação ambiental impetrado na cidade do Rio. O que se vê aqui é terrorismo ambiental de estado. Ou seja, o estado brasileiro se dá ao direito de degradar os recursos naturais coletivos quando, na intensidade e onde quer, mas nada acontece.”

do. Ou seja, toda a fauna residual da Baixada de Jacarepaguá está contaminada, condenada a ter algum problema hepático.” “Já o Rio Negro, é a união do Arroio Fundo e do Anil, ambos completamente tomados pelo esgoto, alimentando as cianobactérias. Os últimos dois rios que ainda sobreviviam nessa bacia – o Itanhangá e o Cachoeira, são esgoto puro. Em resumo: nos oito rios que chegam ao Sistema Lagunar da Baixada de Jacarepaguá não há mais vida.” “As pessoas sempre me perguntam o que quer dizer um rio morto. Eu explico: é aquele em que a água tem oxigênio zero e onde nada que dependa de oxigênio sobrevive. No Arroio Pavuna, que fica ao lado do Parque Olímpico, o descaso se repete. Assim como na Lagoa da Tijuca, que foi transformada num canal raso e pútrido, cercado por ilhas de lama e lixo, com mais de 7,5 milhões de metros cúbicos.” 34 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

O VINGANÇA DA NATUREZA “Como esse sistema lagunar se conecta ao mar pelo Canal da Joatinga, durante a maré baixa, toda a porcaria jogada dos rios para dentro das lagoas aflora. É o momento da vingança da natureza. Toda essa sujeira escoa para a Praia da Barra, deixando suas águas completamente contaminadas o ano inteiro, no trecho que vai do Quebra-Mar ao Pepê, onde os moradores pagam um IPTU altíssimo, com direito a pegar hepatite e outras doenças.” “Para se ter uma ideia das dimensões dessa mancha de esgoto e lixo, dependendo do padrão de maré, da direção do vento e de estar chovendo ou não, ela alcança vários quilômetros, atingindo até as Ilhas Tijucas, localizadas em frente à Praia da Barra.” O TERRORISMO AMBIENTAL “Infelizmente, nada disso é novidade. Faz pelo menos 20 anos que venho fotografando e denuncian-

“Já perdi a conta de quantas vezes me reuni com o Ministério Público. Nem sei mais o que dizer aos procuradores. Acho que eles devem estar esperando receber uma carta de Netuno ou de Iemanjá, autenticada em duas vias, para agir. Só pode ser isso...” O TESTOSTERONA DO MP “Vale lembrar que o governo estadual tinha projeto e também recursos, da ordem de R$ 650 milhões, para a recuperação do sistema lagunar. No entanto, em 2014, quando o Estado tentou iniciar as obras – a parte que lhe cabia no projeto era dragar as lagoas –, o Ministério Público Estadual suspendeu os trabalhos, por não concordar tecnicamente com alguns aspectos.” “Moroso, o MP levou um ano para assinar um termo de ajustamento de conduta (TAC) com o governo estadual. Quando a obra seria enfim iniciada, o MP Federal entrou em cena e embargou tudo, alegando que o trâmite legal não havia sido cumprido. Em resumo: quando os dois MPs se deram por satisfeitos, os R$ 650 milhões haviam sido reduzidos para R$ 70


“Enquanto os dois MPs devem estar bem satisfeitos, agora que têm bastante papel e todos os trâmites legais foram cumpridos, a sociedade segue penalizada, com todo o sistema lagunar podre por tempo indeterminado. Gostaria que o MP Federal e o Estadual demonstrassem essa mesma testosterona contra a Cedae e contra o atual prefeito, em relação à ausência de saneamento e à não ordenação do uso do solo.” O MATRIZ DE RESPONSABILIDADES “Ainda com base nesse projeto de recuperação ambiental que mencionei, a prefeitura seria a responsável por revitalizar os rios – pelo menos quatro deles –, enquanto o governo estadual cuidaria das lagoas. Esse acordo consta na Matriz de Responsabilidade Olímpica, assumida publicamente diante do Comitê Olímpico Internacional (COI) e de toda a sociedade.” “Ou seja, não estou tirando nada da minha cabeça. Temos um documento oficial, por meio do qual as autoridades brasileiras se comprometeram a atacar os passivos ambientais que ameaçavam a realização dos jogos olímpicos no Rio. Mas, infelizmente, nossas autoridades não têm vergonha. Nem com toda a exposição mundial que o evento alcançou, elas cumpriram o acordado.”

no dia em que as lagoas forem despoluídas. Isso é surreal. A prefeitura, baseada num processo que eu ainda desconheço, acredita que são as lagoas que poluem os rios, e não o contrário.”

Oeste, para ver a sujeira deixada. Parece que uma horda de porcos usou aquele espaço público.” O COLI E FORME

O POPULAÇÃO É PORCA

“O marketing da Rio 2016 é uma coisa e a realidade da degradação ambiental na cidade é outra. Por isso, como biólogo, me senti bastante ofendido por toda aquela apologia do show de abertura dos jogos, reverenciando a nossa fauna e flora. Sei que me chamam de chato e de negativo. Mas é realmente difícil não ser negativo trabalhando com águas e animais em petição de miséria.”

“O cenário em todo o Sistema Lagunar da Baixada de Jacarepaguá é a eliminação de gás sulfídrico e de metano, que causa um borbulhamento durante 24 horas por dia. Na Lagoa da Tijuca, repito, a população joga todo tipo de lixo, sofás, brinquedos, eletrodomésticos...”

“Para mim, os mascotes olímpicos não foram Tom e Vinícius, mas sim o Coli e o Forme. No lugar das famosas argolas olímpicas, o que fotografei nas lagoas da Baixada de Jacarepaguá foram pneus boiando nas águas, em meio à sujeira, ao lixo, aos peixes mortos, às capivaras e aos jacarés contaminados.”

“Então, de um lado temos uma classe política totalmente alheia às questões ambientais e, do outro, boa parte da nossa população, que é porca, independentemente da classe social. É fácil comprovar isso. Basta ir a qualquer praia do Rio, no fim da tarde, seja na Zona Sul ou na

“E as pessoas também são afetadas. Pode não parecer, mas somos parte da fauna. Estamos vivendo em condições degradantes, respirando gás sulfídrico e metano 24 horas por dia. Pena que as fotos que faço não exalam o cheiro de morte com a qual

“O nosso prefeito foi eficiente na reurbanização da zona portuária da cidade – que aliás ficou belíssima – e também na construção de novas vias de transporte. Mas, infelizmente, a questão ambiental não é do seu agrado. Ele simplesmente chutou esse assunto para algum lugar e fica tudo por isso mesmo.”

FOTO: TOMAZ SILVA / AGÊNCIA BRASIL

milhões, devido à crise econômica. Em seguida, esse valor foi arrestado pela Justiça para quitar a folha de pagamento do Estado. O que sobrou para as lagoas? Nada.”

O LÓGICA INVERSA “Como se não bastasse, a Prefeitura do Rio, invertendo completamente a lógica da natureza e contrariando uma de suas principais leis, a da gravidade, informou que só irá recuperar os rios

EDUARDO PAES: a questão ambiental não é a praia dele. Uma pena

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SETEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO O 35


FOTO: DIVULGAÇÃO CEDAE

ESPECIAL OLIMPÍADAS toral de São Gonçalo, engolindo os manguezais. Do outro lado da baía, em Duque de Caxias, segundo município mais rico do Rio, a situação é a mesma. A ocupação descontrolada avança sobre as faixas de proteção dos rios, para onde todo o esgoto é jogado.” O LAVA LATRINA

ETE ALEGRIA: desde sua inauguração, em 2009, 50% dos equipamentos estão parados

convivo o ano inteiro, nos meus locais de trabalho.” “Nem mesmo na base daquela célebre expressão: ‘Para inglês ver’, as autoridades brasileiras foram capazes de agir, e sanear os rios que passam ao lado do Parque Olímpico, na Barra. O Arroio Pavuninha é esgoto puro. O Arroio Pavuna recebe dejetos dia e noite e há peixes mortos por toda parte. O mesmo se repete na chegada do Aeroporto Internacional. Sobrevoei todos esses locais com várias equipes da imprensa internacional. O mundo inteiro viu essa realidade.”

mos bilionários para hipotéticos projetos de limpeza e reabilitação ambiental.” “Mas ninguém fiscaliza como o dinheiro é empregado. O que impera é a indústria da degradação, que faz a felicidade dos políticos e de seus apoiadores. O resultado dessa inoperância é a sujeira, o lixo e o crescimento desordenado que se alastram, como no li-

O MÁQUINA DE DINHEIRO “Nos últimos 20 anos, foram investidos cerca de R$ 6,5 bilhões em programas de despoluição da Baía de Guanabara e dos municípios do entorno. No entanto, a meu ver, não há interesse político em recuperar a baía, porque ela se transformou numa máquina de fazer dinheiro, com os sucessivos governos obtendo emprésti-

36 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

OCUPAÇÃO desordenada da bacia hidrográfica da Baía de Guanabara continua, sem qualquer tipo de fiscalização

“Outro ícone da delinquência político-ambiental no Rio é a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Alegria, construída com parte dos recursos destinados à despoluição da Baía de Guanabara. Ela foi inaugurada em 2009, mas até hoje metade de seus equipamentos continua parada. Enquanto isso, toda a bacia hidrográfica no entorno é esgoto puro. Por que isso acontece? Simplesmente porque os canos que deveriam conduzir o esgoto até a ETE não foram instalados.” “Tem muita coisa errada... Tudo isso fede e não é só a esgoto, não. Se em nível nacional temos a Operação Lava Jato, aqui no Rio deveríamos ter a Lava Latrina. Já passou da hora. E para quem achou o exemplo da ETE Alegria uma tristeza completa, eu digo que temos outro ainda pior. O da ETE de São Gonçalo, inaugurada


em 1998, que nunca tratou uma única gota de esgoto.”

mesmo com a obra inaugurada, a situação não havia sido resolvida. Outro cartão-postal que comprova a degradação ambiental criminosa perpetrada no Rio é a Enseada de Botafogo, foz dos rios Banana Podre e Berquó, também completamente podres e tomados pelo esgoto. Dia desses, recebi de um amigo uma gravação feita pelo Chico Anysio, em 1976, na qual ele fazia piada sobre o mau cheiro da enseada. Essa é, portanto, mais uma história velha e até hoje não resolvida.”

“Sabe qual foi a explicação que ouvi de um ex-presidente da Cedae? A de que ‘houve equívoco técnico’. Se eu fizer uma obra lá em casa, e o pedreiro cometer um ‘equívoco técnico’, com certeza ele vai ter que arcar com o prejuízo. Imaginem então, no caso dessa ETE, que custou 1,2 bilhão de dólares? Mas vocês acham que alguém foi punido ou investigado? Não, nunca.”

O ESGOTO MARAVILHA

O ECOBARCOS INEFICIENTES

“Quando a classe política se dispõe a fazer algo, aparece dinheiro, projeto, tecnologia e até cronograma de obras. A revitalização da zona portuária do Rio é prova disso. É claro que fico feliz por ver essa área da cidade recuperada. Mas também fico extremamente revoltado, porque mais uma vez a questão sanitária foi esquecida por nossas autoridades. Temos o Porto Maravilha, mas, no dia a dia, continuamos a conviver é com o esgoto maravilha.”

“Há também os ecobarcos, que considero ineficientes e caros em termos de escala, quando se compara o tamanho deles em relação às dimensões da baía. São 10 barFOTOS: MARIO MOSCATELLI / OLHO VERDE

“Eu flagrei vazamento de esgoto nessa área, que é a mais nova coqueluche da cidade, com o Museu do Amanhã etc. Quer dizer, os responsáveis refizeram toda a parte viária, elétrica, urbanística etc., mas se esqueceram outra vez do saneamento. Cadê a fiscalização? Só vejo uma explicação para isso: as nossas autoridades têm um problema freudiano, alguma encrenca mal resolvida em relação ao esgoto. O marketing, repito, não combina com a nossa amarga realidade.”

“Todas as soluções adotadas até agora, na tentativa de despoluir a Baía de Guanabara, foram paliativas. Entre elas, a instalação de ecobarreiras. As atuais, instaladas há cerca de cinco meses, realmente retêm mais o lixo do que as antigas e a retirada do material é mecanizada. Antes, isso era feito manualmente, ou seja, uma verdadeira piada.”

cos para uma área equivalente a 20 vezes o tamanho desta sala [a Baía de Guanabara tem 412 km2]. Como resultado, temos milhares de metros cúbicos de lixo se acumulando nas áreas de mangue, praias, costão, no fundo e na sua superfície.”

O CULTURA DO PAU-BRASIL “Dizer que falta dinheiro para o meio ambiente também não cola. Só na Arena do Maracanã foram gastos, para a Copa do Mundo de 2014, cerca de R$ 1,2 bilhão. Com esse dinheiro, daria para recuperar todo o Sistema Lagunar da Baixada de Jacarepaguá, melhorando a qualidade de vida de um milhão de pessoas.” “Mas, pelo que percebo, o país tem outras prioridades. O governo preferiu gastar todo esse dinheiro para embelezar uma verruga, enquanto o Rio tem uma metástase ambiental. Esse tipo de decisão é fruto do que chamo de cultura do Pau-Brasil, ou seja, a cultura do usar até acabar. No que diz respeito aos recursos naturais, o Brasil do século 21 continua sendo uma colônia de exploração do século 17. E toda a sociedade, infelizmente, parece comungar dessa filosofia.”

NA ENSEADA do Botafogo, o esgoto é lançado dia e noite

O CLOACA DA GLÓRIA “Na Marina da Glória, que costumo chamar de ‘Cloaca’ da Glória, a Cedae gastou R$ 14 milhões para impedir o lançamento de esgoto no local. Mas em julho, SETEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO O XX


FOTO: ZAK NOYLE

ESPECIAL OLIMPÍADAS FIQUE POR

DENTRO

O A região hidrográfica da Baía de Guanabara compreende os municípios de: Niterói, São Gonçalo, ltaboraí, Tanguá, Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Belford Roxo, Mesquita, São João de Meriti e Nilópolis, além de parte Maricá, Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, Petrópolis, Nova Iguaçu e Rio de Janeiro.

O FACE MALÉVOLA “Outra face malévola do terrorismo ambiental no Rio é a poluição da Praia de São Conrado. Há cerca de 15 anos, o esgoto da Favela da Rocinha era lançado bem em frente ao Hotel Intercontinental, numa famosa ‘língua negra’. Isso aconteceu até um determinado governo decidir instalar uma tubulação para jogar o esgoto no mar, através do costão rochoso da Avenida Niemeyer.” “Os responsáveis por essa barbaridade se esqueceram, no entanto, que o coliforme fecal é um ‘cara revoltado’ e volta todinho para a praia. O resultado que se vê hoje é o esgoto escoando pelo costão, exatamente no ponto onde se tem as melhores ondas para surfe. Os jovens pegam onda no meio de um mar de fezes, correndo risco de contrair hepatite, conjuntivite, gastroenterite... Isso é um crime de saúde pública. Mas, para variar, nada é feito, ninguém é punido.” O PAPA FRANCISCO “Em protesto, no período pré-Olimpíadas, fizemos o enterro simbólico da Enseada de Botafo38 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

go e da Baía de Guanabara. Mas, repito, parece que a sociedade não está interessada em assuntos ambientais, quer apenas pão e circo. Também encaminhei uma representação ao Ministério Público Federal, via Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Até agora, não recebi resposta.” “Depois de tentar falar com o atual Presidente da República, também sem sucesso, decidi apelar ao arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta. Entreguei a ele um dossiê sobre a degradação generalizada que assola a cidade e solicitei sua ajuda para marcar uma audiência com o Papa Francisco.” “Acredito que o atual Sumo Pontífice tem preocupação real com as questões ambientais. A escolha do nome Francisco certamente não se deu à toa, assim como a publicação da encíclica ‘Laudato Si’. Estou aguardando o encontro com o Papa. Espero que, em sua grandiosidade moral, ele possa ao menos alertar as autoridades brasileiras, lembrando-as de que não dá para tratar a água como latrina. Não vou me acomodar diante dessa degradação generalizada. É o que me cabe fazer como cidadão.”

O São cerca de 18 as bacias hidrográficas existentes, entre elas, as contribuintes às Lagunas de Itaipu e Piratininga, Guaxindiba-Alcântara, Caceribu, Guapimirim-Macacu, PavunaMeriti, Ilha do Governador, Irajá e as contribuintes à Praia de São Conrado e ao Complexo Lagunar de Jacarepaguá. O A Baixada de Jacarepaguá é um ambiente costeiro formado por uma planície litorânea, situada na Zona Oeste do Rio. A sub-região hidrográfica é limitada pelas encostas atlânticas do Maciço da Pedra Branca, a oeste, pelo Maciço da Tijuca, a leste, pelas Lagoas de Marapendi, Lagoinhas (ou Taxas), Jacarepaguá, Camorim e Tijuca, ao sul, e pela Serra do Valqueire, ao norte. O O conjunto lagunar de Jacarepaguá tem cerca de 13 km2. A Lagoa de Jacarepaguá é a mais interiorizada do conjunto, com 4 km2. Camorim comporta-se como um canal de ligação entre as lagoas da Tijuca, a leste; e de Jacarepaguá, a oeste. A Lagoa da Tijuca é a maior desse conjunto, com 4,3 km2. A menor, por sua vez, é a Lagoinha (ou Taxas) com 0,7 km2. O A Região Lagunar de Jacarepaguá é formada pelos rios Guerenguê e Passarinhos, provenientes do Maciço da Pedra Branca, pelo Rio Grande (Maciços da Tijuca e Pedra Branca) e pelos rios Pedras e Anil (Maciço da Tijuca). Toda a área dessa subregião hidrográfica está inserida nos bairros de Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Grumari.

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Localizado a 30 minutos da capital mineira, o vilarejo de Macacos é um paraíso ecológico, cercado por rios e montanhas que conquistam turistas de todo o país. E, se além disso você também procura descanso e diversão em meio à natureza, os passeios de quadriciclos são uma ótima sugestão para trazer mais adrenalina para sua viagem!

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ESPECIAL OLIMPÍADAS

Precisamos agir As consequências do uso do petróleo, degelo polar, elevação dos oceanos e importância do reflorestamento para conter o aquecimento global

O aquecimento global tornou-se enfim um fenômeno de percepção. Os organizadores da Olimpíada do Rio aproveitaram a audiência cativa de mais de três bilhões de pessoas para dar uma aula sobre por que o planeta está esquentando, o que está em jogo se não agirmos – e mais ou menos o que dá para fazer a respeito. Foram cinco minutos de um vídeo produzido pelo cineasta

Fernando Meirelles (“Cidade de Deus”), projetado na imensa tela na qual o piso do Maracanã foi convertido para a festa. Do degelo do Ártico aos recordes de temperatura deste século, do aumento do nível do mar à importância das florestas para o ciclo de carbono, estava tudo lá. Todas as mensagens importantes que os cientistas tentam entregar desde

FOTO: DIVULGAÇÃO

Cláudio Angelo, do Observatório do Clima

FERNANDO Meirelles: alerta contra o aquecimento global

O SONHO ADIADO

O sonho maior que não foi sonhado junto, como se referiu Galvão Bueno: segundo legenda da foto acima, de Custódio Coimbra, publicada em “O Globo” oito dias depois da abertura das Olimpíadas, “a promessa era o Estado do Rio e a Cidade Maravilhosa reduzirem em 80% o total de esgotos despejados ainda sem tratamento, dia e noite, no espelho d’água da Baía da Guanabara”. Promessa que o governo brasileiro, vide o silêncio encabeçado pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes, fez para a população e o Comitê Olímpico aceitar o Brasil como sede do evento. E não cumpriu solenemente, como mostra a história nada ecológica de um país que tem nome de árvore. É o que lembra na pág. 98, o jornalista global e também carioca André Trigueiro, indicado e eleito “Personalidade do Ano” no “VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”.

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1990, quando o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) começou a publicar seus relatórios, foram transmitidas na abertura. O vídeo mostrou a conexão entre o uso de petróleo e o aquecimento, destacando que 15 dos 16 anos mais quentes já registrados ocorreram neste século. E trouxe as consequências do problema para perto da audiência ao mostrar projeções de aumento do nível do mar em várias regiões costeiras – Rio, Xangai, Amsterdã, Dubai, Lagos e Flórida – no caso de um aumento de temperatura de 4oC. Várias delas são praticamente engolidas pelo oceano. Segundo o físico Paulo Artaxo, da USP e do IPCC, a opção foi por mostrar o chamado “aumento comprometido” do nível do mar caso as emissões de carbono não sejam drasticamente reduzidas até 2050. “Quisemos ir além de 2100 e mostrar o que aconteceria no longo prazo no cenário ‘business as usual’ [caso as emissões atuais sejam mantidas]. A mensagem é que precisamos agir.”


Esperança na flor Aqui, o poema que foi lido na maior das Olimpíadas Ao drama seguiram-se imagens da solução no vídeo de Meirelles: recompor florestas no mundo inteiro para sequestrar carbono. Imagens de reflorestamento na China, na Austrália e na África se sucederam enquanto as atrizes Fernanda Montenegro e Judy Dench (a M. dos filmes 007) recitavam, em português e inglês, o poema “A Flor e a Náusea”, de Carlos Drummond de Andrade. Confira, a seguir, um trecho do texto do poeta mineiro: "Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor. Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura. Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.

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FOTO: FERNANDO FRAZÃO / AGÊNCIA BRASIL

FOTO: TONY HISGETT

É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio." O

Judy Dench, Fernanda Montenegro e Drummond: no meio do caminho ainda tem a nossa poluição SETEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO O 41


CÉU DE BRASÍLIA

PÂNTANOS Segundo dados da Convenção de Ramsar, tratado intergovernamental que estabelece marcos para ações nacionais e cooperação entre países para promover a conservação e o uso racional de zonas úmidas, estima-se que mais de um bilhão de pessoas ao redor do mundo dependem diretamente dos pântanos para subsistência, incluindo a pesca, o cultivo de arroz e artesanatos. Sessenta e quatro por cento das áreas pantanosas originais desapareceram do planeta desde 1900 – muitas convertidas para uso agrícola ou desenvolvimento urbano, colocando modos de subsistência em risco. Cerca de 40% dos pântanos costeiros, marinhos e de interior foram degradados nos últimos 40 anos.

CAMPO ECOLÓGICO Para propor a inovação nas políticas públicas voltadas à sustentabilidade no campo e dar visibilidade a projetos de sucesso nesse segmento, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) foi reformada e ganhou novo fôlego. A ideia é transformar modelos viáveis em política pública agroambiental que financie e remunere o produtor rural brasileiro pelos serviços ambientais prestados por propriedades rurais bem manejadas.

MULTA MERECIDA O proprietário de uma fazenda no entorno da Terra Indígena Bakairi, em Mato Grosso, terá de pagar multa de R$ 9,7 milhões por um incêndio que invadiu a área ocupada por índios e dizimou 1.356 hectares. A denúncia foi feita por um brigadista integrante do Programa de Brigadas Federais do Ibama e a perícia apontou que o fogo foi utlizado no manejo do campi para atividade pastoril. 42 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016


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1 EMPREENDEDORISMO

A GRANDE VIRADA DE

FOTO: FLÁVIO DE CASTRO

CRIS GUERRA: “Coragem é agir com o coração. É trocar o medo de errar pela vontade de acertar”

CRIS GUERRA 44 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016


Em nova palestra, a jornalista, escritora e blogueira de moda fala sobre como momentos de crise podem se transformar em boas oportunidades Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br

A

cordei naquela quarta-feira ensolarada de inverno pontualmente às seis da manhã. Depois da oração matinal, um breve balanço dos compromissos e dos momentos que viveria naquele 24 de agosto me deixou mais animado: “Hoje é dia de Cris Guerra”, lembrei. A primeira vez que li um texto desta publicitária e escritora belo-horizontina foi na extinta Veja BH. A cada frase, sentia exatamente o que as palavras dela expressavam. Deixei-me levar. A imaginação falava alto, me guiava para longe. Cris parecia descrever o que eu pensava, momentos que também havia vivido, mas que estavam escondidos em alguma parte da minha memória. E isso me trouxe para bem perto de lembranças que eu não trocava um aperto de mão há tempos. Dizem que todo sagitariano, quando gosta de algo ou alguém, se entrega ao máximo à novidade. Saí, então, em busca de Cristiana Guerra, mineira da nossa capital vergel, 46 primaveras vividas – nem todas tão floridas quanto ela gostaria. Quem era aquela moça de sorriso iluminado? Que escreve com

uma inteligência e charme que vêm cativando homens e mulheres Brasil afora? Que derruba qualquer deselegância com a gentileza de uma frase? Comprei seus livros “Para Francisco”, “Moda Intuitiva”, “Que Ninguém Nos Ouça” (escrito em parceria com a jornalista Leila Ferreira) e o recente “Mãe”, que tem ilustrações de Anna Cunha. E percebi que Cris é uma mulher que não teme as próprias imperfeições. Nos momentos mais críticos de sua vida, soube domá-los com lucidez. É uma sobrevivente de si mesma, transformou a dor em oportunidades. Transcendeu a angústia escrevendo uma nova história. Talvez por isso, “gratidão” tenha sido a palavra que ela escolheu para abrir a sua nova palestra, “A Grande Virada”, que levou mais de 400 pessoas ao auditório do Teatro Sesiminas naquela noite estrelada de agosto. GRATIDÃO E EXEMPLO Ano passado, Cris realizou 52 palestras, quase uma por semana. Soube que ela estaria no Sesiminas pelo Facebook. Para acompanhar a nova palestra, era preciso

QUEM É

ELA

Cris Guerra começou sua trajetória na internet há nove anos, escrevendo o blog “Para Francisco”. Em 2008, criou o primeiro blog de looks diários do Brasil, o “Hoje Vou Assim”. Foi cronista da revista Veja BH por três anos e atualmente escreve nas revistas “Pais&Filhos” e “Canguru”. Seu livro “Moda Intuitiva” figurou na lista dos mais vendidos da Revista Veja e, este ano, ganhou uma reedição moderna e ampliada. Cris ainda tem um canal no YouTube, colunas em várias rádios do Brasil e faz palestras sobre moda, autoestima e maternidade em todo o país.

fazer a inscrição e doar um livro. Não havia convite melhor para um evento do que esse. Cheguei cedo ao teatro. Peguei meu ingresso e doei um livro de Manuel Bandeira. Sentei-me na primeira fila. O palco estava adornado com arranjos de flores brancas. Cris começou a palestra falando sobre a gratidão que tem pela vida. E, acredite, a dela não foi fácil. No primeiro casamento, o, sofreu dois

2

SETEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO O 45


1 EMPREENDEDORISMO abortos espontâneos. Chegou a pensar que o sonho de ser mãe havia sido, literalmente, “abortado” de sua vida. As provações se seguiram: perdeu a mãe, de 52 anos, para um câncer. Sete anos depois, perdeu o pai, também para um câncer. E, após outros sete, quando tudo parecia estar no trilho certo – tinha encontrado o grande amor de sua vida e estava grávida de sete meses -, o trem descarrilou: uma parada cardíaca silenciou o Gui, pai do filho que esperava, a apenas dois meses do nascimento do bebê. Vivia um paradoxo doloroso – a morte lhe recolhendo do convívio pessoas próximas e distribuindo lenços para chorar a ausência e os silêncios; e a vida, que ela carregava na barriga e iria transformar a sua própria existência, dando-lhe uma nova razão para seguir em frente. “Eu não queria colocar os pés no chão. Não tinha mais chão. Eu tinha a minha vida e não sabia o que fazer com ela. Medo do pior? Não. O pior já tinha acontecido. Eu visualizava o mapa do meu futuro, desenhado na minha cabeça, e olhava para uma estrada que já não existia mais. Terra, mato, pedra. Eu teria que construir outro caminho. Mas a minha dor parecia maior que eu. E agora? Meu corpo havia virado uma pergunta. Agora é agora. Não é ‘amanhã’. Não é ‘já passou’. Não é com o outro, é comigo. Depois de um tempo, a dor começou a agir sobre mim. Do desespero nasceu uma coragem que eu desconhecia. Eu não tinha alternativa. E não há nada mais mobilizador do que não ter alternativa”, afirmou ela. Como catalisar a dor das perdas? Cris tinha duas coisas a seu favor: a paixão por escrever e o amor que sentia pelo filho, Francisco, que acabara de nascer. “Escrever foi o que me salvou. Depois de perder o Gui, precisava encontrar uma forma de apresentar ao Fran o pai maravilhoso 46 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

SUCESSO na internet e na literatura, Cris Guerra está rodando o país proferindo palestras sobre empreendedorismo, moda e maternidade

que ele não conheceria e que foi um ser humano tão amoroso e gentil.” Foi assim que ela deu à luz o blog “Para Francisco”. O sucesso veio na mesma proporção da entrega. Tanta gente se identificou com a história que as crônicas foram reunidas em livro que virou best-seller e está sendo adaptado para o cinema. No blog, lançado em 2007, morava uma Cris triste, mas que falava com uma saudade madura das lembranças, das mensagens, dos e-mails trocados com o companheiro, da dança na sala, dos abraços. A vida deles era uma poesia completa e o Fran, o verso mais bonito, merecia conhecer bem suas raízes. Mas a autora também tinha outra mulher dentro de si, que morava em um lado colorido capaz de rivalizar com a dor e sobressair: o da moda. Cris sempre teve bom gosto para se vestir. E foi com o blog “Hoje Vou Assim”, onde mostrava

as roupas e acessórios que usava diariamente para trabalhar em uma renomada agência de publicidade de BH, que ela amealhou mais admiradores e amigos. Neste outro hemisfério do planeta Cristiana Guerra, a viúva dava lugar aos tecidos coloridos, brincava de mesclar tons e formas, e se dava o direito de reconstruir a vida na companhia do filho. E sorria. Muito. Havia chegado a hora de vestir novamente a camisa da felicidade. Era essa mulher que estava ali, contando sua história de superação a apenas um metro e meio de mim. Com desenvoltura (ela confessou que adora estar no palco), Cris sabe como levar a vida com bom humor. Essa é outra receita para a grande virada que ela propõe: “Não há beleza que substitua o charme de carregar com classe as suas imperfeições”. Durante o evento, ela resgata fotos antigas, ri de suas roupas, de si mesma. E avança, determi-


nada e inovadora. Mais que refletir sobre o sentido da vida por meio da superação, Cris aponta um caminho que poucos conseguem acertar a entrada: o sofrimento e os obstáculos que cruzam nossa trajetória podem ser oportunidades camufladas. Fala da importância do fracasso para o crescimento pessoal e as escolhas que fazem a diferença para quem deseja sair de qualquer crise ainda mais forte. “Somos todos atletas, a vida é um treino. O sucesso inspira, mas o fracasso ensina”, garante Cris. Para ser empreendedor, ser corajoso também é essencial, ela reforça. “A vida é feita de duas partes e devemos cuidar muito bem daquela que cabe a nós mesmos. Por isso, quando sentirmos que não é possível mudar as coisas, podemos alterar nossa forma de vê-las. Coragem é agir com o coração. É trocar o medo de errar pela

vontade de acertar. Está em cada um de nós fazer, de uma curva no caminho, a grande virada.” RESGATE DA DELICADEZA Poucos dias antes da palestra, encontrei-me com Cris Guerra pela primeira vez. Na ocasião, ela participava, junto com Leila Ferreira, do projeto “Bordando no Banquinho PDD”, uma iniciativa da empresária Patrícia de Deus. Trata-se de um encontro de adeptos à prática do bordado para troca de ideias e vivências, com bate-papo descontraído, convidados e boas reflexões no banquinho instalado em frente à sua papelaria, no coração da Savassi. Foi lá que Cris e Leila, as donas de todos os sorrisos, me mostraram que a gentileza e o afeto com o próximo, ainda não morreram. Pelo contrário. Não podemos

mais perder a chance diária de sermos gentis. Saí da palestra da Cris pensando nisso, que vale também para quem quer empreender. Quando uma pessoa passar por sua vida, você tem de fazê-la ser e se sentir melhor do que antes de a ter encontrado. O SAIBA MAIS www.crisguerra.com.br www.dmtpalestras.com.br

1 DEPOIMENTO

LEMBRANÇA GLOBAL e a defesa do Velho Chico, cujo comitê de Bacia ajudei a criar e presidir. Só mesmo um rio tão generoso poderia servir de túmulo a uma alma que tinha a sua grandeza fincada na simplicidade, como a maioria dos nossos compatriotas pobres, deserdados e despossuídos que vivem no semiárido, generosamente banhado pelo rio da integração nacional. Passadas as emoções das exéquias, quero ver a TV Globo assumir, definitivamente, a defesa do Rio São Francisco, cobrando das autoridades, mobilizando a sociedade e colaborando para a sua revitalização. (*) Ex-ministro do Meio Ambiente

FOTO: DANIEL MANSUR

O

personagem Santo dos Anjos, construído e interpretado pelo magistral Domingos Montagner, representa o herói que o Brasil procura e reúne as qualidades de uma liderança que o país não tem. Daí a comoção e a frustração do povo. Vivemos um momento histórico tão ruim, tão devastador, tão medíocre e mesquinho, que até na ficção nossos anseios de justiça são interrompidos. Normalmente, a ficção imita a vida, mas os mistérios do destino, por vezes, fazem a vida imitar a ficção. Recolho, como legado de Santo dos Anjos e de Montagner, a proteção do meio ambiente

FOTO: DIVULGAÇÃO

José Carlos Carvalho (*)

DOMINGOS Montagner e o Velho Chico: destino comum


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1 CLIMA

BRASIL RATIFICA PARIS Ministro Sarney Filho recebe apoio ideológico de Michel Temer, José Serra e ambientalistas históricos durante solenidade de ratificação do tratado internacional contra o aquecimento global Hiram Firmino De Brasília (DF) redacao@revistaecologico.com.br

B

quanto da sua humanidade, ele primeiro assinou o documento em que o governo brasileiro se compromete a reduzir a emissão de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030, tendo como parâmetro as emissões registradas no país em 2005. Enfatizou o fato de o Meio Ambiente já estar contemplado na Constituição Federal de 1988, com um capítulo específico sobre o tema: “Esta é uma política de Estado determinada pela soberania popular. Portanto, a obrigação dos governos é exata e precisamente defender àquilo que a nossa Carta Magna determina”. Mas foi no quesito memória pessoal que Temer, olhando para o ministro Sarney, mais se FOTOS: GILBERTO SOARES / MMA

rasília fervente, com sensação térmica de 31ºC, no último 12 de setembro. Mesmo com a agenda oficial concorrida - da agonia de Eduardo Cunha à posse da nova presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, no dia - o presidente Michel Temer conseguiu não apenas sensibilizar. Mas dar esperanças concretas ao meio político-ambiental e não-governamental que compareceu, bastante representativo, à sua convocação, via ministro Sarney Filho, no Palácio do Planalto. Numa cerimônia afetiva, marcada pela ausência de vaias e qualquer outra forma de protesto diante do tema da sobrevivência climática tanto do planeta

TEMER entre Serra e Sarney: da infância bucólica no Tietê ao G20, a irreversibilidade da questão ambiental que o Brasil pode liderar 50 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

aproximou da plateia e da causa maior do ambientalismo, que é conhecer, gostar e defender a natureza que nos resta e protege. Ao reafirmar o compromisso que o Brasil deve ter com o desenvolvimento sustentável, especialmente com as reservas de água doce, ele compartilhou uma experiência ecológica marcante na sua infância: “Nasci numa pequena cidade no interior de São Paulo e morei numa chácara, que era margeada pelo Rio Tietê. Muitas vezes, quanto tinha nove, 10 anos, eu pegava a toalha e ia nadar nas suas águas cristalinas, límpidas e transparentes. Hoje, quando volto para lá, lamentavelmente só me lembro do passado. Não dá mais para fazer esse mesmo ato que fazia muitos anos atrás.” Isso explica outro fato que o presidente testemunhou de seus pares no último encontro da Cúpula do G20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo), em Hangzhou, China, entre 04 e 05 de setembro, onde teve sua primeira experiência e participação como presidente não mais interino do Brasil: “Foi impressionante. Em meio a tantas e diversificadas falas oficiais, não vi um só dirigente desses países que não falasse de clima e meio ambiente. Daí a minha satisfação cívica, este belíssimo gesto de governo que fazemos aqui, ratificando a esperança que acordamos juntos”.


Congraçamento climático O mundo oficial e os ambientalistas voltam a sorrir no Palácio do Planalto

Alfredo Sirkis comemorando a vitória do “Ratifique já”

Ronaldo Simão

Mario Mantovani, Luiz Soraggi e Sarney Filho

Rodrigo Maia, Michel Temer, Fabio Feldmann e Sarney Filho

Victor Fasano


1 CLIMA COM A FALTA de chuva na nascente do Rio São Francisco, o reservatório de Sobradinho vive a maior seca de sua história

FOTOS: MARCELLO CASAL JR-AGÊNCIA BRASIL

“O preço de não fazer nada” Sarney Filho (*)

“Nenhum assunto da atualidade requer maior transversalidade e coerência entre políticas econômicas, sociais e ambientais do que a questão do clima. O engajamento de toda a sociedade brasileira nesse esforço demonstra a maturidade que atingimos como país, para entender a estreita e inevitável relação entre economia e meio ambiente. Quero registrar minha satisfação e minha gratidão ao Congresso Nacional pela aprovação do Acordo de Paris em regime de urgência. A aprovação, promulgação e ratificação céleres do Acordo sinalizam à comunidade internacional o empenho contínuo do Brasil no enfrentamento do aquecimento global.

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A mudança do clima é um dos maiores problemas da atualidade, o maior desafio do século. Mas é também uma oportunidade. Um novo projeto de desenvolvimento, que coloque o Brasil e o mundo no rumo certo de uma economia limpa, de baixas emissões, gerará empregos qualificados e disseminará uma cultura de respeito e integração ao meio ambiente. Esse projeto precisa ser encampado por toda a sociedade. Sabemos que o preço de nada fazer em relação à mudança do clima será muito alto para todos, especialmente os mais desassistidos. São justamente os mais pobres que mais sofrerão, se não agirmos com uma visão integrada ambiental, econômica e socialmente para

enfrentar esse problema. O Papa Francisco, em sua bela ‘Encíclica Verde’ (‘Laudato Si’), critica as formas imediatistas de entender a economia e as atividades comerciais e produtivas. Ao falar da preservação dos ecossistemas, ele nos ensina que “(...) o custo dos danos provocados pela negligência (...) é muitíssimo maior do que o benefício econômico que se possa obter”. Temos convicção de que as ações para reduzir emissões são plenamente compatíveis como crescimento econômico e o combate à pobreza. Mais que isso, pode dinamizar nossa economia, gerando empregos de qualidade, promovendo o desenvolvimento tecnológico e a inovação e atraindo investimen-


tos “verdes” que nos conduzam à construção de uma verdadeira economia de baixo carbono. As políticas ambientais não podem ser vistas como entraves ao crescimento econômico. Elas são a verdadeira solução para obtermos um padrão de desenvolvimento sustentável com inclusão social e respeito ao meio ambiente. Em linhas gerais caminhamos no rumo certo para colocar a produção e a geração de riqueza do mesmo lado da defesa do meio ambiente. O Brasil é o país mais biodiverso do planeta, com 1,5 milhão de quilômetros quadrados em Unidades de Conservação (UCs) de proteção integral e de uso sustentável. Essa característica deve ser valorizada por todo cidadão! Precisamos aliar o crescimento econômico ao aumento da produtividade, e não à expansão da fronteira de ocupação. Temos tecnologias desenvolvidas por pesquisadores competentes que nos ajudarão a fazer essa mudança. Até o final do ano, vamos es-

tabelecer o Nível de Referência para a redução de emissões por desmatamento no Cerrado, além da Amazônia. Vamos também abrir os dados do desmatamento em tempo real, para que toda a sociedade possa acompanhar e apoiar os esforços de combate ao desmatamento. Nossa determinação em enfrentar a mudança do clima deve ir além. No setor agropecuário, fixamos a meta de fortalecer o Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC) como a principal estratégia para o desenvolvimento sustentável, inclusive por meio da restauração adicional de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e pelo incremento de cinco milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-florestas até 2030. No setor de transportes, há amplo espaço para implantar medidas de eficiência, melhorias na infraestrutura de transportes e na mobilidade em áreas urbanas. A promoção dos bio-

SAIBA

MAIS

AGENDA CLIMÁTICA O Brasil vai apresentar este documento ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no final deste mês. O Acordo de Paris foi concluído em dezembro de 2015 pelos 197 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Agora, cada um dos signatários precisa transformar este pacto global em lei nacional, com a ratificação do acordo, pensando nas gerações futuras.

combustíveis, em particular do etanol, oferece grande potencial para lograrmos os objetivos de uma economia limpa.” (*) Ministro de Meio Ambiente.

CRIANÇAS subnutridas em um orfanato da Nigéria. A fome, que sempre assombrou a humanidade, e que hoje ainda aflige mais de 800 milhões de pessoas, deve piorar se o aquecimento global não for combatido

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FOTO: ZARDETO

1 CLIMA

RIO TIETÊ: a tristeza que ainda desafia São Paulo e governo algum enfrentou e resolveu

“A questão ambiental tem de ser uma obsessão do governo” José Serra (*)

54 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

vel desfrutam hoje na sociedade brasileira. Isso é indiscutível. Nós queremos um país com crescimento pautado na responsabilidade ambiental, econômica e social. Há um consenso nacional, enfim, de que é esse o caminho que nós devemos trilhar. A escolha do deputado Sarney Filho pelo presidente Temer para o Ministério do Meio Ambiente foi muito feliz. Eu convivi com FOTO: RENATO ARAÚJO / AGÊNCIA BRASIL

“O Brasil conclui um processo que exigiu não apenas árduas e extensas negociações com outros países, mas também um longo trabalho de formação da posição nacional. Quero congratular-me com o Congresso pela aprovação do Acordo em período tão breve. Graças ao engajamento dos parlamentares, a tramitação foi bastante célere. E a unanimidade prevaleceu nas duas Casas em um curto espaço de tempo, o que não é fácil de se observar com nenhum acordo, com nenhum projeto. Até a data de hoje, apenas 27 países já haviam depositado seus instrumentos de ratificação. O Brasil está, portanto, na primeira leva de signatários a concluir o processo interno de aprovação do Acordo. A celeridade com que o tema foi tratado aqui reflete a importância que as questões relacionadas ao desenvolvimento sustentá-

SERRA: “Não há mais espaço para os climacéticos”

o Zequinha, ele titular do MMA e eu ministro do Planejamento, no governo Fernando Henrique. Desde aquela época, venho assinalando minha opinião a respeito da excelente escolha. O Zequinha é um grande batalhador, agitador, dá nó em pingo d’água e sabe trabalhar em equipe. Sob a sua liderança e apoio do presidente Temer, o Brasil tem um inegável papel de liderança nas questões da mudança do clima. Contribuímos ativamente em todos os estágios da negociação – desde a RIO/92, e agora somos uma das primeiras grandes economias a ratificá-lo, ao lado de outros 180 países também signatários do Acordo de Paris. Não há mais espaço no mundo hoje, sem qualquer sectarismo, para “climacéticos”, que vão, cada vez mais, sair de moda. Determos a elevação da temperatura média global, cujo impacto sobre a nossa


SAIBA

MAIS

APOSTA NO ETANOL "Temos igualmente um dos maiores programas de biocombustíveis do planeta. O Brasil já é, no contexto mundial, uma economia de baixo carbono. E a questão bioenergética, inclusive, é um cacife muito grande de que dispomos para trabalhar daqui por diante. Nós já estamos agindo, no plano diplomático, para incentivar e criar os canais para a difusão do etanol de segunda geração, o E2G. Temos que transformar o etanol numa commodity. Para o Brasil, não é ruim que outros países do mundo produzam etanol, seja o de primeira ou de segunda geração, este último, que é produzido a partir da celulose, em última análise, de resíduos. Por quê? Porque ao criarmos um mercado mundial de etanol: na medida em que mais países produzam – e nós vamos ser os líderes –, o etanol poderá transformarse numa commodity, o que será uma grande vitória. Não apenas econômica daqueles que faturam em cima, que produzem cana, que produzem resíduos, mas uma vitória do mundo e uma alavanca importante para que o Acordo de Paris possa chegar mais rapidamente aos objetivos a que se propôs. Isso coincide plenamente com o interesse econômico brasileiro."

gente, sobre a saúde de crianças e idosos, sobre nossos biomas, nossas cidades e nossa economia em geral, poderá ser devastador. Esta negociação global gera compromissos, mas também um grande número de oportunidades. Poderemos ter investimentos em

“A transformação do etanol em uma commodity será uma vitória do mundo”

tecnologias que facilitem as ações é um ativo potente que se soma de adaptação e de mitigação, às vantagens competitivas natuatrair recursos resultantes da con- rais do nosso país. Isso significa servação de nossas áreas verdes. vender nossa produção agrícola, Há uma fortuna de dinheiro para o alimento brasileiro, como fruto trazer se nós formos competentes. de uma agricultura que pode ser Podemos avançar, inclusive, mais sustentável no mundo. Isto em modalidades de transporte é fundamental. Nós temos que menos poluentes e na construção impor e criar uma marca brasileide edifícios sustentáveis. Essa ra para isso. A marca da sustennão é uma utopia de gente poli- tabilidade ajuda a vender, agrega ticamente correta que está preo- mais respeito à nossa conhecida cupada apenas qualidade. Isto com o ouvido da é, algo em que “Ele dá nó em pingo rãzinha no inteestamos tod'água e sabe rior do país. dos unidos: a Nós estamos trabalhar em equipe." agricultura, a vivendo uma agricultura de JOSÉ SERRA, elogiando a escolha de verdadeira revoexportação, os Sarney Filho pelo presidente Temer lução industrial ambientalistas, menos depenos defensores dente de combustíveis fósseis. O do clima, o governo. Temos aí Brasil tem todas as credenciais uma união potencial de interespara estar na vanguarda dessa ses muito importante que precisa revolução e dela obter resultados ser aproveitada. ainda mais promissores. Temos Como dizia Winston Churchill, cerca de 75% de nossa matriz elé- “estamos no começo do cometrica renovável; somos campeões ço”. A ratificação do Acordo de mundiais nessa matéria. Alcança- Paris representa só o início de mos resultados expressivos para uma jornada. Não dá ainda para evitar o desmatamento da Ama- sentir o cheiro da vitória, mas dá zônia e no desenvolvimento de para se ter a intuição de que ela uma agricultura sustentável. Essa virá. E esta vitória na batalha requestão bem presente precisa se nhida contra a mudança do clima transformar também numa ob- nos ajudará a ter um Brasil e um sessão de governo. Mais ainda, nós mundo cada vez melhores. precisamos ter, acima de tudo, a ideia de que a questão ambiental (*) Ministro de Relações Exteriores.

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1 CLIMA

A MAIOR taxa de emissão de gases de efeito estufa do Brasil ainda vem do desmatamento

FOTO: PAULO PEREIRA / GREENPEACE

Restauração e reflorestamento para frear o aquecimento Para reduzir em 43% suas emissões, o Brasil terá de recuperar 12 milhões de hectares de florestas. Isto equivale a metade da área total do estado de São Paulo

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posturas nocivas ao equilíbrio climático. “Ainda planejamos novas termelétricas a carvão, enquanto outros países fecham as suas. Ainda apostamos alto no FOTO: GILBERTO SOARES / MMA

Para Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, o acordo climático trouxe como avanço o fato de os próprios países apresentarem suas contribuições, o que aumenta as chances de que sejam cumpridas. “A nossa meta de redução das emissões de gases do efeito estufa (GEEs) é pouco ousada, se levarmos em conta a degradação ambiental já ocorrida no país. Mas é realista e pode trazer uma contribuição efetiva se somada à mudança na matriz energética e ao combate contra o desmatamento, por envolver custos”, afirma Mantovani. O secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, que discursou representando a sociedade civil, destacou que o Brasil tornou-se uma das primeiras grandes economias a ratificar o Acordo de Paris; porém, o país ainda precisa rever diversas

RITTL: “Há muito o que avançar”

petróleo, enquanto o mundo já se deu conta que a maior parte das reservas de combustíveis fósseis ficará no subsolo do planeta. Falamos em flexibilizar o licenciamento ambiental, enquanto outros países ampliam a regulação de atividades poluentes. Queremos reduzir a proteção dos nossos parques e reservas, enquanto as Unidades de Conservação são conhecidamente nosso porto seguro contra um clima cada vez mais hostil. Há muito o que avançar”, declarou. Com apenas 12,5% da vegetação original, a Mata Atlântica é o bioma que deve ser mais beneficiado por esta meta de restauração. Desde 2000, os projetos da SOS Mata Atlântica de restauração florestal já foram responsáveis pelo plantio de mais de 36 milhões de mudas, o que ocuparia uma área de 21.228 hectares, tamanho equivalente à cidade de Recife.


Parceria climática Sarney Filho é convidado para presidir a maior premiação ambiental do país

Para saber mais sobre o “VII Prêmio Hugo Werneck” e conhecer os vencedores das edições passadas, acesse: www.premiohugowerneck.com.br

MUDANÇAS

CLIMÁTICAS Qual a sua contribuição?

Homenagem Especial

Chico Xavier FOTO: GILBERTO SOARES / MMA

Após a cerimônia no Palácio do Planalto, o ministro recebeu em seu gabinete o jornalista Hiram Firmino, diretor e editor da Revista Ecológico. O objetivo foi se inteirar da realização do “VII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, tradicionalmente apoiado pelo MMA, cuja parceria e tema este ano coincide com o Acordo de Paris: “Mudanças Climáticas: qual a sua contribuição?”. Acompanhado de Marcelo Cruz, secretário-executivo do MMA, Sarney Filho ficou de buscar uma data e agenda em comum para estar presente à solenidade que tradicionalmente ocorre em novembro. Considerado o “Oscar da Ecologia” brasileira, o “Prêmio Hugo Werneck” foi criado em 2010, após uma caminhada de 26 anos. Primeiro como “Prêmio Minas Ecologia”, no jornal Estado de Minas e, depois “Prêmio Brasil de Meio Ambiente”, no Jornal do Brasil. As seis primeiras edições da premiação já somam 111 vencedores e homenageados, entre mais de 800 inscrições e indicações vindas de todos os estados brasileiros. A cada ano é abordado um tema emergente, sob o ponto de vista da conservação, reaproximando-nos da natureza e promovendo o desenvolvimento de baixo carbono, alinhado ao tema revolucionário que mais ameaça e deveria preocupar a humanidade: a salvação, primeiro, do planeta. E não o contrário, o ser humano e sua travessia ainda errática sobre ele.

MARCELO CRUZ, secretário-executivo do MMA, ministro Sarney Filho e Hiram Firmino, afinando a temática em comum das mudanças climáticas

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Conh Co n eç nh eça al a gu guns s dos s hom omen enag nag a ge ea ado dos os ep pe ers rson on nal aliid dad ades es já ag es agra acciia ad das as com co m o "O Osc scar arr da Ec a Ecol olog log ogia ia a"

LEO SANTANA

VIRGÍLIO VIANA

PAULO BRANT

ANDRÉ TRIGUEIRO

MANOEL VITOR

MÁRIO CAMPOS

VITOR WANDERLEI

PEDRO PASSOS

GUIMARÃES ROSA

ALEXANDRE GOMES

MARCELO MATTE

IZABELLA TEIXEIRA

ALDO SOUZA

PE. GERALDO MAGELA

TADEU CARNEIRO

CARLOS EDUARDO FERREIRA

DUARTE JÚNIOR

OLAVO MACHADO

CÉLIO VALLE

ALICE GODINHO


VÂNIA SOMAVILLA

AZEVEDO ANTUNES

REGINA BERTOLA

CLÉO PIRES

PAUL MCCARTNEY

MARCO ANTÔNIO LAGE

CAMILA PITANGA

ADRIANA MACHADO

DALCE RICAS

CÁSTOR CARTELLE

JOSÉ CARLOS CARVALHO

MARCIO LACERDA

VICTOR BICCA

TAVINHO MOURA

ANGELO MACHADO

MARINA SILVA

JOSÉ NOGUEIRA

PAULO NOGUEIRA-NETO

APOLO HERINGER LISBOA

FERNANDA TAKAI

ROBERTO AZEVEDO

NELTON FRIEDRICH

DOM JOAQUIM MOL

PAPA FRANCISCO

CARLOS DRUMMOND


FOTO: DIVULGAÇÃO

1 EMPRESA & MEIO AMBIENTE

EQUIPE da WayCarbon: fomento ao desenvolvimento de novos produtos voltados para as necessidades e demandas da economia de baixo carbono

ANIVERSÁRIO SUSTENTÁVEL WayCarbon completa uma década de trabalho buscando ainda maiores desafios para o futuro

E

m dia 16 de agosto último, a WayCarbon completou 10 anos. Desde 2006, a empresa mineira trabalha com o desenvolvimento de soluções e tecnologias voltadas para a sustentabilidade e o meio ambiente. Além da sede, situada no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHtec), a WayCarbon possui escritórios na cidade de São Paulo e no Rio de Janeiro. A inovação, área que ganhou corpo na empresa nos últimos três anos, fomentou o desenvolvimento de novos produtos voltados para as necessidades e as demandas da economia de baixo carbono. O Climas, software de gestão de indicadores de ecoeficiência, já é utilizado por uma significativa cartela de clientes e promete ganhar uma versão ainda mais robusta nos próximos meses. Da mesma forma, segue em fase de aplicação e aprimoramento o MOVE (Model for Vulnerability Evaluation), uma poderosa plataforma

computacional para análise de vulnerabilidades às mudanças climáticas e do risco ambiental, e o “Programa Amigo do Clima”, uma iniciativa de compensação de emissões de gases de efeito estufa (GEE) que atende empresas que buscam diminuir o próprio impacto climático. Henrique Pereira, um dos co-fundadores, reforça que o perfil dos produtos desenvolvidos hoje pela WayCarbon vai ao encontro das necessidades corporativas contemporâneas, tomando base na grande bagagem de mercado trazida pela empresa ao longo de uma década: “À medida que a gestão da sustentabilidade em ambientes corporativos atinge a maturidade, as demandas do

mercado tornam-se mais complexas. As restrições ambientais passam a impactar os negócios materialmente, demandando a contextualização da gestão ambiental no território no qual as empresas estão inseridas. Outra megatendência é a transparência, que passa a ser exigida em todos os níveis da operação. Sem a tecnologia é impossível acompanhar os requisitos atuais para coleta e processamento de dados e para disponibilização de informações”. O resultado da aliança que une os anos de experiência e o desejo por firmar-se como referência no desenvolvimento de soluções tecnológicas para a área ambiental reflete-se como estímulo para a equipe da WayCarbon, um conjunto plural e competente de profissionais, envolvidos em projetos desafiadores e instigados pelo trabalho em um mundo em transformação. O SAIBA MAIS www.waycarbon.com

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ANOS, TUDO PRA VOCÊ FICAR MAIS PERTO DE BH.

O Tudo BH está completando 5 anos. Nesse tempo, o formato mudou, a logomarca mudou e a tiragem aumentou para 40 mil exemplares. A distribuição é feita nos aeroportos, além de pontos estratégicos, deixando a informação mais perto dos leitores. Na versão impressa ou digital, Tudo BH traz tudo o que você precisa saber sobre esporte, economia, cultura, política, gastronomia e agitos sociais em Belo Horizonte.

Tudobh /Tudobh

Acesse tudobh.com.br e conheça os pontos de distribuição i i do jornal.


ARTE: WILSON OLIVEIRA

1 RESPONSABILIDADE SOCIAL

AMAR, ACOLHER E ENCANTAR Programa de inclusão social de ex-pacientes com transtornos físicos e mentais dá exemplo de superação humana em BH Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

M

eu primeiro encontro com a enfermeira e pedagoga Rita de Cássia Dória, 53 anos, foi em 19 de agosto, Dia Mundial da Luta Antimanicomial, durante um debate televisivo sobre a loucura. Ex-paciente psiquiátrica, hoje assistida ambulatorialmente com medicamentos, ela me impressionou. Tanto pela assertividade e clareza de seus pensamentos, quanto pela autoaceitação da sua condição e gratidão pelo retorno à sociedade e ao mercado de trabalho. Meu segundo encontro com ela também foi acidental. Agora, em uma das padarias do SupermerRITA DE CÁSSIA: acolhida e feliz, ela trabalha como atendente em uma das padarias do Verdemar 62 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016


cado Verdemar, no bairro Sion, na capital mineira. Fui comprar pão e lá estava Rita, uma atendente afetiva e brincalhona. Acolhida carinhosamente pelas suas colegas, ela faz parte dos 150 funcionários – de um total de três mil – integrantes do programa de inclusão social de pessoas com deficiência mantido pela empresa. Ou seja, além da cota exigida pela legislação trabalhista brasileira, que obriga as empresas a contratar 5% de portadores de alguma deficiência física ou mental, nos estabelecimentos com mais de mil funcionários. Meu terceiro encontro com ela foi no início de setembro, durante a “Semana de Inclusão Verdemar”, realizada dentro do próprio supermercado. A convite dela, fui ao evento que culminou em uma amostra festiva e artística de trabalhos de todos os seus funcionários PTMs. É como são catalogados os portadores de transtornos mentais ressocializados no país. A felicidade de Rita se estampou em palavras: “Puxa vida! Ninguém consegue imaginar o que significa uma atendente de padaria poder construir uma nova história de vida e convívio social”. Tal como a cara

WILSON OLIVEIRA, com orgulho: “Eu sou as pipas”

boa do seu colega Wilson Luis de Oliveira, também ex-interno psiquiátrico, que hoje trabalha como apoiador da área industrial da empresa, graças à assistência de um centro de convivência que o acolhe no próprio bairro onde mora. Como artista plástico autodescoberto e valorizado novamente, ele é o autor orgulhoso da pintura que abre esta matéria, onde duas pipas parecem querer alcançar o sol: “Pra mim, esses papagaios no céu são eu mesmo. Sou eu agradecendo a liberdade e a confiança que ganhei da empresa, que me deixou trabalhar aqui”- apontou Wilson.

RITA com Cyntia Drummond durante a mostra engajada: artista valorizada

ACOLHIMENTO E FORÇA Segundo Cyntia Drummond, coordenadora de treinamento e desenvolvimento dos Supermercados Verdemar, este programa de inclusão de pessoas com deficiência física ou mental faz parte da própria filosofia matricial da empresa, que é receber e encantar todos os seus públicos, sem exceção, desde os seus próprios funcionários, como seus clientes, ambos formadores de opinião: “Nossa filosofia, como diferencial de mercado, é alcançarmos a excelência e o encantamento em tudo que fazemos com nossos públicos. Ou seja, fazer da compra de qualquer produto ou serviços que oferecemos, não um simples e mecânico ato de venda, mas de emoção, prazer e diversão. Como poderíamos encantar os nossos clientes, se não tivéssemos os nossos próprios funcionários, deficientes ou não, conscientes e também encantados com o que fazem?”. Em tempo: pelo seu protagonismo, Rita foi recém-convidada para falar dessa sua experiência em Trieste, na Itália, onde o psiquiatra Franco Basaglia, há mais de 40 anos, criou o movimento mundial pelo fim dos manicômios em todo o planeta. Já falecido, foi esta a sua última mensagem, quando ele esteve em BH, em outubro de 1979, também liderando a luta contra os porões da loucura que, até a década de 1980, a sociedade não sabia existir e fez tantas vítimas jamais recuperadas: “É no interior de vocês que se encontra a força capaz de romper essa cadeia infernal”, disse Basaglia. Rita e Wilson encontraram esta força. Com o apoio de um supermercado. O SAIBA MAIS goo.gl/mws5OO www.superverdemar.com.br

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INOVAÇÃO AMBIENTAL

TECNOPARQ, na UFV, que também abriga a Rizoflora: empreendedorismo e inovação tecnológica

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

ALIADO À INOVAÇÃO Desenvolvida na UFV e com aporte estratégico do Fundo Criatec, a Rizoflora teve sua venda formalizada para a Stoller do Brasil após ciclo de oito anos Renata Rocha redacao@revistaecologico.com.br

A

Escola Superior de Agricultura e Veterinária (ESAV) nasceu há 90 anos e deu origem mais tarde à Universidade Federal de Viçosa (UFV), uma das instituições mais prestigiadas do país, principalmente na área de Ciências Agrárias. A universidade conta com o trabalho de professores e pesquisadores estrangeiros de renome na comunidade científica, que colaboram com o seu corpo docente, ao mesmo tempo em que executa um programa de treinamento que mantém diversos profissionais se especializando tanto no Brasil quanto no exterior. 64 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

Considerada uma das instituições brasileiras com índices mais elevados de docentes com qualificação em nível de pós-graduação, a UFV é referência na contribuição científica, econômica, social e tecnológica. Um exemplo disso é o Parque Tecnológico de Viçosa (tecnoPARQ), inaugurado em 15 de abril de 2011, sendo o primeiro de Minas Gerais a entrar em operação. O tecnoPARQ é um ambiente de inovação diferenciado, seja no que diz respeito ao seu funcionamento e estrutura, seja nos produtos, serviços e benefícios oferecidos para a comunidade empresarial, acadêmica e a socie-

dade em geral. Instituições e empresas de base tecnológica, cuja competitividade está relacionada ao uso intensivo de conhecimento científico e tecnológico, podem usufruir das vantagens de estar em um ambiente privilegiado de empreendedorismo e inovação. Para se tornar uma empresa residente no tecnoPARQ é necessário que a proponente seja caracterizada como instituição de base tecnológica e esteja engajada em pesquisa, projeto e desenvolvimento de produtos, processos ou serviços; além de ter vínculos de parceria com áreas de conhecimento de atuação da UFV em en-


FIQUE POR DENTRO

Linha do tempo 2006 - Nasce a Rizoflora, criada com o objetivo de oferecer alternativas ecológicas aos defensivos químicos tóxicos.

2009 - Início das operações no Parque Tecnológico de Viçosa (MG). Primeira biofábrica para produção do fungo Pochoniachlamydosporia é construída no Brasil. 2013/2014 - Produção intensiva. Devido ao sucesso dos primeiros testes, processos internos são aperfeiçoados com o objetivo de aumentar a capacidade produtiva e evoluir. 2016 - Obtenção do registro do Rizotec pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, para produção e comercialização do produto no Brasil. A qualidade final do produto. Venda efetiva para a Stoller do Brasil.

sino, pesquisa ou extensão. São consideradas empresas de base tecnológica (EBT) as legalmente constituídas, cuja atividade produtiva seja direcionada para o desenvolvimento de novos produtos ou processos, de alto valor agregado, com base na aplicação sistemática e intensiva de conhecimentos científicos e

A RIZOFLORA obteve a aprovação de registro no Brasil para uso comercial do Rizotec – produto 100% natural e orgânico de controle biológico de nematoides

tecnológicos. E utilização de técnicas avançadas ou pioneiras, ou que desenvolva projetos de ciência, tecnologia e inovação. RIZOFLORA A história do Parque Tecnológico de Viçosa vai ao encontro da Rizoflora Biotecnologia, empresa spin-off do Laboratório de Controle Biológico de Nematoides da UFV, que fabrica produtos biológicos para controle de nematoides (vermes microscópicos que atacam as raízes das plantas, diminuindo a absorção de água e nutrientes e que chegam a impossibilitar a comercialização de algumas espécies comestíveis como cenouras e batatas). FOTO: DIOGO BRITO / FAPEMIG

2008 - O Fundo Criatec aprova investimento na Rizoflora. A empresa foi selecionada por apresentar “uma tecnologia inovadora, que soluciona um problema claro e economicamente relevante”.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

2007 - A Universidade Federal de Viçosa (UFV) assina o contrato de compartilhamento de infraestrutura com a Rizoflora.

EVALDO VILELA: “A Rizoflora é um exemplo de sucesso de transferência de tecnologia via conhecimentos científicos”

Criada em 2006 em sociedade com o Instituto Inovação - que atua no segmento de inovação tecnológica estabelecendo um elo entre desenvolvimento científico e mercado e derivou-se anos depois na Inseed Investimentos -, a empresa é resultado de mais de 20 anos de pesquisas do professor Leandro Grassi de Freitas, do Departamento de Fitopatologia da UFV. E foi apoiada por um programa financiado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-MG) e a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), que tinha o objetivo de mapear novas tecnologias na universidade. A Rizoflora participou da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (IEBT), programa do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (CENTEV/ UFV), implementado na universidade pelo professor Evaldo Vilela, atual presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e ex-reitor da UFV. O CenTev é um órgão vinculado à universidade e tem a missão de promover a interação entre a academia, o setor público, as empresas privadas e a sociedade,

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INOVAÇÃO AMBIENTAL criando caminhos para o desenvolvimento de Viçosa e região. “A Rizoflora é um exemplo de sucesso de transferência de tecnologia via conhecimentos científicos. Por toda a tradição da UFV de transferir tecnologia para o setor agrícola, já esperávamos que a trajetória da empresa fosse render benefícios para o pensador e para a universidade. Com certeza será um fator incentivador para que os laboratórios cada vez se abram mais para o mercado”, pontua Evaldo Vivela. Em 2008, a Rizoflora recebeu apoio financeiro do Fundo FMIEE Criatec, primeiro fundo de capital somente brasileiro, lançado em 2007 pelo BNDES e co-gerido pela Inseed Investimentos. O aporte de R$ 1,8 milhão foi o primeiro investimento do Fundo. “Transformar o conhecimento em produto. É isso que a Inseed busca quando está selecionando as empresas que vão receber apor-

tes que gerem empreendimentos inovadores e capazes de superar o formato acadêmico e ganhar o mercado. A Rizoflora é um exemplo disso e reflete ainda toda a jornada do Criatec. A história dela se conecta com o primeiro ciclo de cinco empresas investidas no Instituto Inovação e a criação da própria Inseed. E faz parte da história do venture capital no Brasil, já que é a primeira biofábrica do Parque Tecnológico de Viçosa”, ressalta Alexandre Alves, diretor da Inseed. Em maio deste ano a empresa obteve a aprovação de Registro no Brasil para uso comercial do Rizotec – produto 100% natural e orgânico de controle biológico de nematoides, sem risco para a saúde das pessoas e do meio ambiente. Dois meses depois, em julho, foi formalizada a venda da empresa para a Stoller do Brasil, multinacional, especialista em fisiologia e nutrição vegetal, presente em 56 países, que desenvolve e oferece

FATURAMENTO RIZOFLORA ● 2010 – R$ 371 mil ● 2011 – R$ 470 mil ● 2012 – R$ 618 mil ● 2013 – R$ 1,262 milhão ● 2014 – R$ 1,812 milhão ● 2015 – R$ 2,144 milhões ● 2016 – R$ 3,741 milhões

soluções inovadoras de qualidade para aumentar a rentabilidade das lavouras, reduzir os impactos no meio ambiente e custos. “Só na soja, as perdas são de R$ 16 bilhões ao ano, que é quanto o produtor deixa de ganhar por causa dos vermes. As soluções até então utilizadas eram paliativas. Esta é inovadora, eficaz e ainda biológica, resultado de 15 anos de pesquisa”, comemora Roberto Risolia, gerente de Novos Negócios da Stoller Brasil. O



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NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

CHUMBO NO BORORÓ D

MUTAMBA (Guazuma ulmifolia)

CASCA DO PACARI (Lafoensia pacari)

68 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

FOTOS: MARCOS GUIÃO

ia desses esbarrei lá nos barrados de Serra Mineira e cheguei numa comunidade por nome de Cafundó. É um amontoadinho de casas com vielas empoeiradas e um povo bão, onde conheci Pedro Souza, personagem dos mais interessantes. Dotado de voz anasalada e arrastada, ele ia debulhando conversas soltas e contação de socorro dado a um e outro da região, numa roda de prosa com outros companheiros de catação de plantas. Os companheiros de faina vez por outra enriqueciam os causos com detalhes deslembrados

por seu Pedro e assim ouvi essa história que agora divido com vocês. “Teve um tempo aqui” – disse seu Pedro – “que morou um sujeito assim esquisito, maniado no roubo de galinha, e o povo deu de se armar pra combate do larápio. Maria Viúva, mulher séria e trabalhadeira, fadigada com tanta roubalheira no seu galinheiro, se enfezou e acabou por arrumar uma garrucha porveira, daquelas antiga que se carregava pela boca. Por premeiro deu um bocado de tiro nos tronco de bananeira para ganhar treino e numa noite de minguante se botou em espera nas beira do galinheiro. Lá pelas tantas da noite, as bichinhas deram sinal de mexida e ela correu o dedo no gatilho. No pipoco da garrucha o ladino saiu vazado. E foi assim que Tião de Arlita teve uma banda da popa da bunda prejudicada pelo tiro, que esparrodou aquela chuva de pórva”. Continua seu Pedro: “No raiá do dia, ele me procurô buscano recurso pra uma queixa antiga de amorróida. Nem desconfiei da encrenca e dei-lhe umas cascas de mutamba (Guazuma ulmifolia) para tomar e banhar ofensa de tamanho desconforto. O tratamento consta de ponhá nove pedaço da casca nuns dois litros de água fervente, tomá três golos e depois fazer um banho nas partes com o restante. Isso no premero dia. E já no outro, se usa só oito pedaço. E no outro só sete e assim por diante, até chegá num pedaço só. Notei outra moléstia nele não e ele se foi. Pois mais tarde, me aparece a muié dele, Arlita, com converseiro arrodeado, até que sem jeito, contou o sucedido. Bão, aí mudei a receita, pois o veneno do chumbo fica garrado nas entranhas e a dor é muita”. “Saí de pronto em busca de casca do pacari (Lafoensia pacari) e arranquei umas lascas arrumada. Expriquei que ele devia encher uma gamela de água, ponhá uns pedaço da casca e com as lasca maió era pra bater na água do mermo jeito que se faz omeleta. Aquilo dá uma espuma sem igual e é essa espuma que se deva banhá a popa cheia de chumbo. No começo a espuma escorre pretinha e aos pouco vai ficando mais alvinha, já dando ponto de que o veneno do chumbo se foi. Pronto, assim ele fez e assim sarou. Num delatou muito e ele se mudou daqui com a famía, acho que de vergonha...” Inté a próxima lua! O (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.


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FOTO: TWIN ALVARENGA

1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS – JARDINS SENSORIAIS

Abertos a visitantes de qualquer idade e com as mais variadas condições físicas, jardins sensoriais permitem vivências e descobertas que aguçam os cinco ssentidos, favorecendo a aprendizagem e o equilíbrio emocional Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

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enti entir e en ntiir a natureza natu na natu ur em toda a sua intensidade e desvendar as diferentes formas que ela assume para marcar presença na vida das pessoas, através da visão, sons, sabores, aromas e texturas. Para permitir que o visitante vivencie essas sensações num único espaço, é preciso fazer bem mais do que apenas reunir plantas ou combinar os elementos certos. É necessário apontar o caminho para que cada um redescubra – a seu modo e no seu tempo – o desejo de interagir com as belezas naturais e, com isso, também reflita sobre a importância de conservá-las. Essa é a proposta dos jardins sen70 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

soriais, espaços de conhecimento, lazer e experimentação que vêm ganhando terreno em várias cidades Brasil afora. Abertos à visitação pública, esses oásis de verde e de vida, ao contrário do que muitos pensam, não são voltados apenas para pessoas com deficiência. Pelo contrário. São um passaporte para que o visitante, de qualquer idade e com as mais variadas condições físicas e emocionais, vivencie e explore os mil e um tons de verde que colorem uma planta, o gosto amargo de uma erva, o aroma adocicado de uma orquídea, a maciez de uma folha ou o barulhinho bom da água jorrando numa

fonte. Do ponto de vista conceitual, a proposta do jardim sensorial é apresentar ao visitante mais do que os olhos estão acostumados a ver, estimulando e aguçando todos os seus sentidos por meio do contato com plantas e outros elementos naturais. A maioria desses espaços combina plantas e estruturas simples e bastante conhecidas, tais como canteiros com ervas aromáticas e temperos caseiros tradicionais, entre eles alecrim, manjericão e orégano. Oferecem, ainda, plantas mais propícias a serem “decifradas” pelo toque dos dedos, como espécies que têm folhas lisas e ma-


ENTENDA MELHOR

ciass, co ci c mo m a gyn ynurra a,, pop pul u arme arrm me ente con onhe he h eci c da d com mo ve ellu udo do-r -rroxxo. o.

O O jardim sensorial se destina a estimular os cinco sentidos: visão, olfato, tato, gustação e audição. O Para estimular a visão, são indicadas espécies como: camélia (Camellia japonica), gerânio (Pelargonium peltatum, hortorum ou domesticum, etc), crisântemo (Chrysanthemum morifolium e outras variedades), flor-de-cera (Hoya carnosa), violeta (Violeta odorata), calêndula (Calendula officinalis), cavalinha (Equisetum giganteum ou hyemale), hibisco (Hibiscus sabdariffa), entre outras.

À FLOR DA PELE Um dos mais conhecidos jardins sensoriais brasileiros é o do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Totalmente acessível e adaptado com rampas, ele tem áreas com piso táctil e informações sobre as diferentes espécies disponíveis em braile. Criado em 1989, ele foi reaberto ao público ano passado, depois de ficar mais de um ano fechado para revitalização e reforma. Entre as plantas escolhidas para compor o espaço destacam-se suculentas, orquídeas, manjericão, alecrim e hortelã. Todas as visitas são guiadas. Usando vendas, os visitantes circulam pelo local e experimentam as mais diferentes sensações, em total comunhão com a natureza e com os sentidos à flor da pele. Outra atração é o jardim sensorial da

O Para o olfato: ervas aromáticas, como as usadas para chás e temperos: camomila (Matricaria chamomilla), orégano (Origanum vulgare), alecrim (Rosmarinus officinalis), manjericão (Ocimum basilicum) e hortelã (Mentha). Podem ser usadas, ainda, espécies com flores perfumadas, a exemplo das gardênias (Gardenia jasminoides), da orquídea Sherry baby (aroma de chocolate), diplodenia (aroma de tutti frutti), alisso (aroma de mel) e erva-luísa e tuia-limão (aroma de limão). O Tato: para o contato direto com as plantas, pelo toque, são ideais as suculentas ou crassulaceaes, como o bálsamo, plantas com folhas aveludadas, como a gynura (veludo-roxo) e coraçõesemaranhados (Ceropegia woodii); florde-maio (Schlumbergera truncata) ou de outubro (Rhipsalidopsis rosea). FOTO: DIVULGAÇÃO / JBRJ

E UB EX BE ER RÂN ÂNCI CIA CI A E BIOD BIOD BI ODIV DIV IVER ER E RSI SID DA ADE D S gu Se gun nd do es espe peci ciial a is ista tass em m pai aisa aisa agi gissm e bot mo o ânic ânic ân ica, a, des esde sde de a an nttig gu uiida d de de oss jar o ardi dins di ns são ns ão re eccon nhe heci c do ci d s co como mo i po im p rt rtan an nte es esspa p ço os d de e laz azer err e de prraz p azer e , me er esccla land nd n do um m par arad a ig ad igma gma ma q e os qu osci cila a ent n re r o sonho onho e a rea on e li li-d de da de.. Sã São o lo loca ca ais is, po is, port rrttan a to t , id de ea aiss para pa para a re ev verren enci nci c arr a nattur u ez eza a em e to oda d a sua u exu x be berâ ânc n ia e des esfr frut fr u ar ut ar dass bo da boas as sen nsa saçõ ções çõ ões e qu ue e o co on nta tato to o c m e co ella pr p op o ic i ia a. Pr P in nci cipa palm pa palm men e te te para quem pa uem vi ue v ve v na ass gra rand nd n des cid ida ade es, s boa a par arte te e del el a ass en nccap psu ula lada lada da pe p elo o cin inza z do co za onccre r to t e pel e a po polu uiçção o ger erad ad ada da pe pelo lo o trâ râns nsit ns i o pe it p sa ad do o. No cas No aso o do doss jja ardin rd din inss sse ens nsor oria or iais ia iiss, s, toda to d s essa da esssa as ca c ra r ct cter ter erís ísti ís t ca c s se e soma mam am a ou utr tros o cui os uida ado doss es e se en nccia cia iais iss. Em m esp pe eccia iall àq que eles le es vo v lt ltad ad dos par ara a a ad deq equa quaçã uaçã ua ç od do os esspa aço ç sp pa ara a recebe ce be b er cr cria ianç ia nçça nças ass, idos id dos osos os e tam os ambé b m pess pe ssoa ss oass co com m de de alg gum m tip ipo de de limita mi ta ação çã ão ffíísi sica ca a. Ou Ou sej eja, ja a,, são pro oje etoss qu to que ag agre re ega gam m di dife ere en ncciia ais i cons onson trrut u iv vos o , fa f vo v re r ce end ndo o a ci circ rccul ulaç ação ã ão do os viisi sita tanttes ta es, s, po porr me m io o de ramp ra amp mpas a , p r exem po exem ex mpl p o, o e tam mbé ém de d can nte t ir s co ro om a alltu tura r pré ra ré-d det eter e mi er mina nada na da a, po p oss ssib ib bil ilit ittando an nd do o ass s im m a pas assa sage sa ge em e o cont co ont ntat atto de cad ato adei eiira rant ntes nt e com as es pllan nta tas as exxisstent te ent ntess. Ca C amp peã ão mu un nd dia iall em m bio i di dive dive ers da si d de de,, o Br Bras assil i dá um um ban anho ho de co co--

res, texturas e possibilidades quando o assunto é a vasta paleta de espécies que podem ser escolhidas para compor um jardim sensorial. A instalação de fontes e de cascatas tornam a experiência dos visitantes ainda mais completa, reproduzindo sons que remetem ao correr de riachos, trazendo sensação de paz e de relaxamento. Alguns circuitos sensoriais também permitem explorar outros sons naturais, como o canto de pássaros livres que habitam o local.

O Gustação: para despertar esse sentido, basta experimentar as ervas aromáticas do canteiro olfativo. Pode-se, ainda, optar por canteiros de frutíferas (para chamar os passarinhos), com tomatinhos e morangos. O Audição: o barulho da água de fontes e cascatas tem poder terapêutico e acalma. Plantas que fazem barulho com a passagem do vento podem ser outra opção ou pequenos sinos de vento pendurados nas árvores.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL inclusiva: em agosto, 40 atletas paralímpicos brasileiros visitaram o Jardim Sensorial do Jardim Botânico, no Rio

O Outros locais com jardim sensorial: Jardim Botânico de Brasília e Jardim Zoobotânico da Amazônia (também conhecido como Bosque Rodrigues Alves).

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SETEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO O 71


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS – JARDINS SENSORIAIS Vale, que fica no Parque Botânico da mineradora, em Vitória (ES). Em Belo Horizonte, vale a pena conhecer a Trilha dos Sentidos e o Jardim Sensorial do Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no bairro Santa Inês. Eles foram criados em 2006/2007 por meio do projeto “Do macro ao micro: uma viagem pelo mundo vegetal” e têm como foco a popularização da botânica e a inclusão do deficiente visual em atividades relacionadas ao meio ambiente. Funcionam de terça a sexta-feira, das 10h às 16h, sábados e domingos, das 10h às 17h, e recebem, em média, 4.600 visitantes por mês.

CONHEÇA E EXPERIMENTE Quem quiser criar um jardim sensorial doméstico pode incluir também as chamadas PANCs (Plantas alimentícias não convencionais), tais como o ora-pro-nóbis e a taioba, verduras típicas da culinária mineira. Conheça outros exemplos de PANCs: Beldroega – Portulaca oleraceae: indicadora de boa fertilidade do solo. Refogados ou crus, os talos e as folhas são comestíveis. As flores podem ser usadas em saladas. Dente-de-leão – Taraxacum officinale: refogado com alho e sal. Capuchinha – Tropaeolum majus: as flores são usadas para colorir saladas. Jambu – Acmella oleracea: essencial no tacacá, prato típico da culinária amazônica. Taioba – X. sagittifolium: refogar os talos os os verdes e as folhas. Salicórnia – Sarcocornia perennis: dela é produzido um fito sal que tem baixíssimo mo percentual de sódio, ômega 6 e 3. Goya – Momordica charantia: muito usada na culinária japonesa.

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) também abriga um jardim sensorial. Inaugurado em 2014, ele faz parte de uma ação de extensão organizada pelo professor do Departamento de Botânica, Daniel Sales Pimenta. “Com as visitas guiadas, os interessados exploram da maneira correta as inúmeras possibilidades que esse jardim oferece. O principal objetivo do espaço é trazer à tona a sensibilidade em meio ao racional, quebrando a rotina e a pressa do dia a dia”, explica. O jardim, que já recebeu mais de seis mil visitantes, é dividido em quatro partes: fogo, água, terra e ar. Em cada uma delas o ambiente apresenta variações no tipo de plantas – são mais de 30 espécies – e também no terreno em que se pisa. Durante a visita guiada, os participantes são convidados a tirar os sapatos e a vendar os olhos para ampliar, assim, a gama de sensações que o percurso pode causar. 72 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

MAIS SENSIBILIDADE DEPOIMENTO “Como monitor, vivi incontáveis experiências com os visitantes, em sua maioria acontecimentos e batepapos inspiradores e muito emocionantes. Em uma delas, um homem adulto, acompanhado da mulher e do filho, depois PAULO HENRIQUE: “O de ouvir a explicação jardim traz sensibilidade em meio ao racional” sobre o local, se propôs a fazer o percurso. Disse estar estressado com o patrão e que a visita o ajudaria a ‘melhorar a cabeça’. Ao fim, maravilhado com as sensações experimentadas, mas meio sem jeito de me abraçar, ele me estendeu a mão. Falei para não ter vergonha e me abraçar. Caímos na gargalhada! Agradecido e chorando, ele prometeu voltar.” Paulo Henrique Brasileiro Silvério, mestrando em Ecologia na UFJF e ex-monitor do jardim sensorial

FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Marizeth Estrela Paisagismo, sites IBDA/Fórum da Construção, Vale, UFJF e Agência Brasil.


FOTO: ARQUIVO PESSOAL

TRÊS PERGUNTAS PARA...

MARIZETH ESTRELA Paisagista, especialista em Feng Shui e jardinagem orgânica

HARMONIZAÇÃO E

BEM-ESTAR Como e quando surgiram os primeiros jardins sensoriais no mundo? Os jardins costumavam ser concebidos mais para serem vistos do que sentidos. Na maioria das vezes, eram símbolo para demonstrar riqueza e poder. Atualmente, o jardim sensorial tem outra função, a de retomada dos sentidos que se perdem na correria do dia a dia, em meio às construções dos grandes centros. Aproximar-nos da natureza, avivar a percepção adormecida e torná-la real são agora funções primordiais. As origens dos jardins sensoriais estão ligadas a costumes asiáticos e orientais, a jardins japoneses (que formam desenhos na areia para serem contemplados), jardins zens, jardins persas e dos monastérios. Esses modelos de jardim vêm sendo usados desde as primeiras décadas do século XX, quando profissionais da área da saúde começaram a se preocupar em desenvolver ambientes funcionais, espelhando uma nova visão científica e tecnológica. E quais são os principais benefícios desses espaços para a saúde humana? Alguns desses jardins são chamados de jardins terapêuticos, jardins sensoriais ou jardins feng shui. Todos têm a mesma premissa de harmonização e visam promover o bem-estar físico, emocional, psicológico e espiritual, para nos religar com o divino em nossas vidas, levando-nos a dar maior importância ao ser do que ao ter. O jardim sensorial é um espaço de inclusão social de pessoas com diversos tipos de necessidades e também uma importan-

te ferramenta para a reabilitação de pessoas que necessitam fazer fisioterapia para o tratamento de distúrbios como alterações na forma de caminhar, equilíbrio e fala. Eles sociabilizam as pessoas, o corpo médico, terapeutas e familiares que convivem no espaço. No caso de jardins sensoriais domésticos, é possível, ainda, desenvolver a paciência, permitindo que a germinação aconteça no devido tempo de cada espécie. A perseverança é outro ponto que pode ser melhorado, para recomeçar algo que deu errado, um amor, por exemplo. E em relação às crianças? Quais são as possibilidades pedagógicas e de conscientização ambiental? O respeito à natureza também é parte importante nesse processo de aprendizagem e interação. Os jardins sensoriais são um recurso para despertar o conhecimento de crianças e de adultos, com deficiência ou não. Casos de depressão podem ser até curados com o manejo de plantas e ervas. Crianças muito agitadas podem se sentir mais calmas. Pode-se estimular também o aprendizado pela leitura e escrita dos nomes das plantas com que as crianças mais se identificam, estabelecendo um paralelo entre o comportamento das espécies e o da criança. Outra opção é ressaltar o que influencia o bom desenvolvimento da planta para ser saudável (clima, tipo de solo, umidade necessária), local adequado e suas origens. Compreender as mudanças da vida através das estações do ano e suas peculiaridades, efeitos da Lua sobre plantas e raízes são outros assuntos “mágicos” que podem ser trabalhados em sala de aula. O

Não podemos mudar o passado, mas podemos iniciar um novo futuro. E ele começa pela educação. Junte-se a nós!

Nós apoiamos essa ideia! SETEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO O 73


1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A ESTAÇÃO CIÊNCIA, em Conceição do Mato Dentro (MG): 8.000 m2 de área e cinco núcleos temáticos que abordam espeleologia, arqueologia e informações sobre a fauna e a flora da região

OÁSIS DO CONHECIMENTO Estação Ciência da Anglo American, no coração da Serra do Espinhaço, é o tema da série que a Revista Ecológico iniciará na edição de outubro

I

magine um espaço interativo de educação ambiental, em plena Reserva Mundial da Biosfera, na porção mineira da Serra do Espinhaço. Um espaço que preserva a cultura das comunidades locais e a paisagem da região por meio de um acervo memorialístico que abriga projetos e exposições de pesquisas espeleológicas, arqueológicas, além de informações sobre a fauna e a flora. Pois é. Esse lugar existe. Ele se chama “Estação Ciência” e, a partir de outubro, você, caro (a) leitor (a), poderá conhecer ainda mais sobre esse oásis de conhecimento na série especial de três

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partes que a Revista Ecológico publicará até dezembro. Construída e mantida pela Anglo American no Km 185 da Rodovia MG-10, a Estação Ciência foi inaugurada em 2014 e atende as comunidades de Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas, Dom Joaquim, Serro e outras. Tem oito mil metros quadrados e é dividida em cinco núcleos temáticos: o Espeleológico, com exposições de trabalhos realizados no âmbito da área de abrangência do Projeto Minas-Rio; o de Memória Natural das Serras do Sapo e Ferrugem, com recursos tecnológicos que permitem ao visitante vi-

sualizar características geológicas e geomorfológicas e informações sobre a fauna e flora locais. O Núcleo Arqueológico, que apresenta materiais pré-históricos locais, como cerâmicas, resgatados nas prospecções. O de Registro da Memória das Comunidades Tradicionais, que valoriza e preserva a cultura regional, com peças doadas pelas próprias comunidades rurais. E, finalmente, o Núcleo Ambiental, criado para disseminar os estudos ambientais realizados nas serras do Sapo e da Ferrugem. Referência nacional como centro de preservação do patrimônio cultural e ambiental em áreas de


FOTOS: ANGLO AMERICAN/DIVULGAÇÃO

“A maioria dos nossos visitantes não são apenas alunos das escolas locais; mas também os nossos empregados com suas famílias.” ALDO SOUZA, diretor de Saúde, Segurança e Desenvolvimento Sustentável da Anglo American

exploração de minério, “o espaço já recebeu mais de dez mil visitantes nesses primeiros dois anos de existência. A maioria deles são alunos de escolas locais, mas também empregados da empresa e suas famílias”, afirma Aldo Souza, diretor de Saúde, Segurança e Desenvolvimento Sustentável da Anglo American. Também já passaram por lá educadores de todo o estado, pesquisadores e estudantes de universidades de ensino superior. SUSTENTABILIDADE NO DNA Durante a construção do empreendimento, a Anglo American adotou e seguiu uma série de diretrizes sustentáveis. Todos os telhados receberam coletores de água da chuva, que é utilizada para regar os jardins. Os postes de iluminação externa têm fotocélulas para captar energia solar, reduzindo o consumo de energia elétrica. Rejeitos oriundos da planta piloto do Projeto Minas-Rio se transformaram em matéria-prima para a fabricação de bloquetes intertravados na pavimentação da área externa. A preocupação com a natureza não para por aí. Há outras três

MAIS DE 10 mil visitantes já passaram pelo espaço, incluindo estudantes de comunidades do entorno do Projeto Minas-Rio e pesquisadores

instalações que vêm conquistando os visitantes da Estação Ciência: o jardim temático de 1.000 m2, com espécies típicas de campo rupestre ferruginoso, o borboletário e o viveiro educativo, onde são reproduzidas sementes e mudas de árvores da Mata Atlântica e do Cerrado. Apenas na etapa inicial de implantação do projeto, mais de 350 mil mudas de árvores nativas foram produzidas e 900 espécies da fauna local foram monitoradas. O espaço tem curadoria do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas e apoio da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) na execução de serviços de manutenção, jardinagem, atendimento e recepção de visitantes no local, que são acompanhados por educadores ambientais. CONVITE ECOLÓGICO E você, ficou interessado em sa-

SAIBA

MAIS

A Estação Ciência é aberta gratuitamente ao público de terça a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 16h. Para visitas de grupos acima de 15 pessoas, é preciso agendar com antecedência através do e-mail estacaociencia@ angloamerican.com

ber mais sobre a Estação Ciência? Então não perca a primeira parte desta viagem ao coração mineiro da Serra do Espinhaço, onde conhecimento, cultura e sustentabilidade têm lugar marcado. Ela será na próxima edição da Ecológico, no dia 16, lua cheia de outubro. Até lá! O

SETEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO O 75


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GESTÃO & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

CARTA AO AMIGO

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rezado Pokémon Go,

Escrevo estas mal traçadas linhas, imbuído da mais profunda consternação pela sua situação: perseguido, humilhado, capturado e mantido em cativeiro. E, ainda por cima, enxovalhado de tantas formas pelos que o classificam como marginal de quinta. Uma voz precisava surgir em sua defesa. Pois que seja a minha! Olho no tempo as tantas vezes em que a tecnologia nos ofereceu símbolos que pudéssemos destruir e atacar para o bem de nossas consciências. Sabe, amigo, o avanço dessa tal ciência tem este condão: olhamos nesse horizonte intrigante, ou na ponta do presente, o que conecta este mundo de possibilidades com a realidade do hoje. Sempre para dizer a frase tão carcomida: “No meu tempo? No meu tempo tudo era melhor, brincávamos na rua, não havia violência”. Dita assim, repetida, a frase flutua entre a falsidade e a confirmação de uma tese. Se todo o tempo passado fora melhor, então há que se concluir, amigo, que a humanidade deseja andar de ré, num flashback enlouquecido. Concluo pela falsidade: não desejamos andar para

TECH NOTES O Lembra de Second Life?

goo.gl/48dsh2 O Sobre a imortalidade

goo.gl/DCeuzt O As possibilidades do Pokémon Go na Educação

http://goo.gl/vUkLTc 76 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

trás, apenas tememos o futuro. Quanto mais a ciência falar em imortalidade neste século XXI, e isso nos assusta, não morrer será assustador. Se assim for, a fronteira final... Você não é um jogo, Pokémon. É um teste, uma espécie de avant-première de uma das faces da mais profunda transformação que a humanidade já viveu, quando deixamos de nos adaptar à tecnologia para que ela se adapte a nós. Chamo isso de “a revolução da interface”. Em 2007 previ que o mundo virtual de “Second Life”, que pode ser criado pelo próprio internauta, transformaria a internet em 2011. Atrasei cinco longos anos para, agora, você, seu pequeno danado, conseguir em dias que milhares de pessoas depurem, inteiramente de graça e de forma voluntária, a tecnologia da realidade aumentada. Estou assustado! Enquanto brincam e discutem o quanto você afastará as pessoas da realidade, vozes se levantam, a minha em coro, para dizer que um mundo de possibilidades se abre para a educação, a ciência, a arquitetura, as artes, o crescimento da humanidade. Imagine desfrutar de uma trilha cultural sem sair do lugar? Imagine as possibilidades para estudantes, em todo lugar, poderem vivenciar o que só uma imensa quantidade de dinheiro poderia proporcionar com visitas presenciais? Imagine criar desafios e jogos para achar não você, Pokémon, mas pedras, metais, vegetais, coisas sem-fim que estudamos hoje em quadros brancos (sem graça de tão brancos)? Saio em teu socorro, Pokémon, e digo, numa fúria poética: quem és tu, afinal? Serás futuro, experimento ou completo marginal? Entre dúvidas e assombro, continuo a acreditar na boa escolha de avançar sempre. Continuo a crer que a única chance de provarmos nossa humanidade é enfrentarmos, até a última cena, a ciência que a desafia. O (*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.


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1 VOCÊ SABIA?

Papagaios Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

E

FOTO: SILVIA LINHARES

m algumas cidades é possível avistar, ao entardecer, papagaios em bando voando para alguma direção. A cena chama atenção não somente pela beleza do voo em grupo, mas pelo barulho que eles fazem quando estão juntos. Porém, mais do que barulhentos, esses animais são uma das aves mais inteligentes e longevas do reino animal. Confira, a seguir, algumas curiosidades desses bichinhos tão populares:

ANO DO PAPAGAIO Os papagaios pertencem à família Psittacidae e alguns podem viver até 50 anos. No Brasil, muitas espécies, como o de-peito-roxo (Amazona vinacea), de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) e o charão (Amazona pretrei), estão ameaçadas de extinção. Uma das principais causas é a perda de hábitat, principalmente de remanescentes de Mata Atlântica. Já outras espécies sofrem com o tráfico ilegal que transforma animais silvestres em bichos de estimação. Foi por este motivo que a Sociedade de Zoológicos do Brasil (SZB) instituiu 2016 como o “Ano do Papagaio”.

COMUNICAÇÃO TURMA REUNIDA Os papagaios são considerados uma espécie sociável e que gosta de andar em bando. Quando estão juntos, costumam co cos ost stumam am ttrocar roca ro car ca ar in info informações, form rmaç aççõe õ s, s p por orr m o meio eio do o cant canto, sobre sso obre a alimentos lim mentos to ou ameaç ameaças, aça as, por e exemplo. xem e plo o. Eles se ccomunicam com omunicca am de de u uma ma só ve vez ez g gerando erand do uma a algazarra lgazar daquelas! daq da aqu quelas! E En Entendeu nte tend ndeu eu ua agora gora gor go ra p por orr q que ue u e as pr professoras rofes e sora reclamam àss ve que alunos estão rec ccllamam am à vvezes eze zes qu q ue seus seuss a se llu uno uno os es estã tão “conversando papagaios”? “co onve vers rsan sa an ndo ccomo nd omo om mo pa p apa paga gaio aio ios” s”?

“Dá o pé, louro!”. Quem nunca ouviu a frase de alguém que tem um papagaio em casa? O bichinho, que atrai o interesse das pessoas graças a sua inteligência e capacidade de reproduzir palavras humanas, repete os sons mais por frustração do que por alegria. O ornitólogo francês Jacques Veillard, da Unicamp, afirma que isso acontece quando eles são colocados em cativeiro – têm sua comunicação natural interrompida. Como solução, essas aves começam a imitar os sons domésticos pronunciando palavras ditas pelas pessoas com as quais convivem.

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PERFIL Além do bico, os papagaios utilizam as patas para segurar os alimentos. Esse comportamento é justificado pelo fato de possuírem dois dedos voltados para frente e outros dois para trás. Outra curiosidade é que algumas espécies, quando estão em cativeiro, podem ficar deprimidas e apresentar conduta autodestrutiva, tais como arrancar as penas do próprio corpo e se ferir com o bico. Má alimentação, solidão, rotina e até a falta de atenção do dono também levam a essas atitudes.


PAPAGAIO-DE-CARA-ROXA PAPAGAIO-D O Amazona brasiliensis tem esse nome científico não por acaso, já que o único lugar do mundo encontrado é na Floresta onde ele pode ser enc estreita faixa litorânea de Atlântica, numa estr aproximadamente 285 km entre o sul de extremo norte de Santa São Paulo e o ex Sociedade de Pesquisa em Catarina. A Socie Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) realiza há 14 anos um censo mostrando que os da espécie espé projetos de conservação têm projeto dado resultado. O estudo dad anual proporcionou a saída “ameaçada” da categoria c para “vulnerável” em 2015, uma conquista importante para a conservação desse tipo de papagaio.

FAMOSO O papagaio mais famoso do mundo é o personagem de cinema e TV Zé Carioca, da Disney. Criado pelo próprio Walt Disney quando visitou o Brasil na década de 1940, o desenho é inspirado no cartunista J. Carlos, que desenhava as versões brasileiras de personagens da empresa na revista “O Tico Tico”. A primeira aparição do papagaio nos desenhos da Disney foi no filme “Alô, Amigos”, de 1942, que teve a participação de Aurora Miranda, irmã da famosa cantora Carmen Miranda. Ao som de “Aquarela do Brasil” e “Tico-Tico no Fubá", Zé Carioca apresentava o país, a cachaça e o samba para o Pato Donald.

SETEMBRO SET SE ET E TEMB MBR R DE 2016 | ECOLÓGICO O 79


1 FAUNA E FLORA

FRUTA-DE-SABIÁ: alimento para pássaros como o corrupião e regeneração para as florestas

A ÁRVORE-PÁSSARO Conheça a fruta-de-sabiá, espécie vegetal que ajuda no reflorestamento e atrai dezenas de aves para sítios e jardins Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

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guntar que espécie vegetal dava aquelas frutas e levou uma muda para seu sítio em Alvorada de MiFOTO: ARQUIVO PESSOAL

O

mineiro de Conceição de Mato Dentro José Renato Resende andou por muitos lugares do Brasil nos anos em que trabalhou, seja na construção de barragens seja na indústria da moda. Mas foi quando se aposentou que seu ofício rendeu, literalmente, frutos. Ou melhor: frutos, flores e pássaros, espalhados por cada canto deste país. Tudo começou em Guaraqueçaba, cidade do litoral do Paraná, ladeada por uma área de Mata Atlântica ainda preservada. Lá, Resende viu uma cena curiosa: índios jogavam pequenas frutinhas alaranjadas na água para atrair peixes. Logo, resolveu per-

JOSÉ RENATO RESENDE: “Quando plantei a primeira muda, os pássaros invadiram minha propriedade!”

nas, região central do estado, para também alimentar seu cardume. Passados alguns meses, a pequena árvore começou a dar frutos. Como num passe de mágica, o sítio, rodeado por uma carvoaria e carente de pássaros, se viu invadido por sabiás. Todos ficavam em volta da tal arvorezinha. Entusiasmado com a aparição dos “novos vizinhos”, José Renato decidiu comercializar as mudas pela região e espalhar a “passarada”. Um dia, porém, foi surpreendido por uma fiscalização do Ibama. Na ocasião, a planta que ainda continuava sem nome foi levada pelo órgão para análise. Uma semana depois, o biólogo da


FOTOS: DIVULGAÇÃO PROJETO FRUTA-DE-SABIÁ

FIQUE POR DENTRO

instituição retornou não só com as informações técnicas, mas com elogios à iniciativa de Resende de comercializar a espécie. Tratava-se da Acnistus Arborescens, popularmente conhecida como fruta-de-sabiá. Uma planta quase em extinção e considerada pioneira, por ser ideal para reflorestamento de áreas degradadas. Além de também ser um chamariz para pássaros, como o próprio nome diz. Em questão de oito meses ela produz pequenos frutos apreciados por sabiás, tico-ticos-rei, saíras, tiês, sanhaços, gaturamos, juritis, chocões-barrados, tucanos, bem-te-vis, entre outros. Era o incentivo que José Renato precisava para distribuir, sem receio, a espécie. Seis anos se passaram. José Renato estima que mais de 100

DIVERSIDADE: saí-andorinha fêmea e o pássaro-preto são atraídos pela frutinha

DEPOIMENTO ECOLÓGICO “Realmente, o cultivo da fruta-de-sabiá é uma forma muito positiva para que sítios, fazendas, e até mesmo os jardins das cidades atraiam não só o sabiá, mas pássaros como o bem-te-vi, sanhaços, gaturamos e mais dezenas de espécies de aves frugívoras. No litoral do Brasil é o principal atrativo do tiê-sangue, uma das aves mais belas encontradas no território nacional. Na década de 1960, ao lançar o LP ‘Cantos de Aves do Brasil’, tive apoio dos mais prestigiados jornalistas, radialistas e apresentadores de TV, pedindo que as pessoas na cidade de São Paulo plantassem nos seus jardins, pelo menos, um pé de pitangueira, amoreira e jabuticabeira. E o resultado foi que agora, cerca de mais de meio século depois, a metrópole de São Paulo se transformou na maior concentração de sabiás-laranjeiras do planeta. A introdução da fruta-desabiá em praças da cidade ajudou muito também.”

FOTO: REPRODUÇÃO

A fruta-de-sabiá, também conhecida em outras regiões do Brasil como marianeira, é um arbusto com altura entre um e dois metros, mas que pode chegar até quatro. Tem galhos finos, madeira leve e pouco resistente. Destaca-se pela abundância de flores brancas em cachos, que logo se transformam em pequenas bagas alaranjadas. De fácil cultivo, aprecia solos organoargilosos que retenham um pouco de umidade. Precisa de luz solar direta ou indireta para vegetar com vigor. Desenvolve-se bem em climas subtropicais e tropicais, podendo também ser cultivada em vasos. Inicia a frutificação em aproximadamente oito meses. A planta ainda alimenta dezenas de espécies de peixes, podendo ser cultivada em beiras de córregos.

Johan Dalgas Frisch, ornitólogo e autor do livro “Aves Brasileiras”

mil mudas e 50 mil sementes foram comercializadas. Os maiores clientes são de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Fregueses que, segundo ele, o deixaram “bilionário em agradecimentos e parabenizações”. Brincadeira que se confirma nos comentários deixados na rede social do projeto, onde os seguidores escrevem como a fruta-de-sabiá vem alterando positivamente a biodiversidade local. Defensor entusiasta do cultivo da planta, José Renato conta que

atualmente tem duas mil mudas no seu sítio de 97 hectares. Resultado de anos de muito sonho. Ele diz que deseja se dedicar à venda da fruta-de-sabiá “pelo resto de sua vida”, e que se sente muito feliz com esse trabalho, já que “sabe que ajudar no plantio de árvores traz recompensações futuras”. O SAIBA MAIS As sementes da fruta-de-sabiá podem ser adquiridas por meio do site www.frutadosabia.com.br e são enviadas em embalagens especiais via Correios, para qualquer lugar do país.

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FOTOS: SANAKAN

1 MINERAÇÃO

PARTE da água resultante da filtragem dos rejeitos retorna limpa ao processo produtivo

A META É

BARRAGEM ZERO Planta operacional da Vallourec, em Brumadinho, usa filtros-prensas e peneiras desaguadoras para tratar rejeito, reaproveitando parte dele na produção de artefatos para a construção civil Bia Fonte Nova redacao@revistaecologico.com.br

U

ma planta operacional destinada ao desaguamento e o consequente reaproveitamento de parte dos rejeitos da mineração de ferro, que deixam de ser um passivo ambiental e passam a ser usados como matéria-prima na produção de artefatos para a construção civil e industrial. Esse foi o importante salto de inovação dado pela Vallourec Unidade Mineração, que inau-

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gurou na Mina Pau Branco, em Brumadinho, na Grande BH, um sistema de peneiramento, filtragem e empilhamento a seco dos rejeitos. Ele permite que parte deles seja reaproveitada na própria unidade e destinada à produção de bloquetes de concreto para pavimentação de ruas e estradas, meios-fios e leiras ou alas, estruturas usadas como anteparo e sinalização em vias internas da mina, em substituição

às leiras de terra. O novo sistema começou a operar em novembro do ano passado. Mas as primeiras sementes do projeto foram lançadas lá atrás, em 2010, quando se iniciaram os estudos de alteamento da Barragem Cachoeirinha e a empresa optou por buscar uma alternativa para a destinação dos rejeitos gerados diariamente. O superintendente-geral da Unidade Mineração, Pedro Na-


buco, explica que a Barragem Cachoeirinha foi criada em 2003. Ocupa uma área de 18 hectares e fica próxima dos condomínios Lagoa do Miguelão e Alphaville Lagoa dos Ingleses. Para Nabuco, a nova unidade é um dos mais valiosos projetos em andamento na empresa. Não só pelo pioneirismo, mas sobretudo por ser um importante passo para que a Vallourec continue avançando na busca de soluções técnicas e ambientais cada vez mais seguras e eficazes. O objetivo é alcançar a ousada meta da “barragem zero”, prevista para ocorrer num futuro próximo. Para Alexandre Mello, assessor de Sustentabilidade, Comunicação e Assuntos Corporativos do Grupo Vallourec, a prática reforça o princípio da sustentabilidade em todas as unidades da empresa. “O Grupo Vallourec tem o compromisso, e como princípio, buscar soluções inovadoras aliadas à sustentabilidade dos seus negócios, por meio da economia circular. Como nos tubos que produzimos, essa atitude conduz uma grande energia motivacional entre os empregados”, observa.

ENTENDA MELHOR

O Em 2010, quando foi constatada a necessidade de se fazer o primeiro alteamento – aumento de sua capacidade para receber mais material –, a empresa decidiu buscar uma alternativa. Nascia, assim, o projeto de tratamento de rejeito.

PEDRO NABUCO: “Desaguamento de rejeitos é uma alternativa às barragens”

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR Os equipamentos do novo sistema custam cerca de R$ 20 milhões. São seis peneiras desaguadoras (EVO Wash), um espessador e dois filtros-prensas horizontais, que filtram e drenam a lama resultante do beneficiamento do minério de ferro, permitindo que o material, depois de transportado por caminhões, seja empilhado a seco e reaproveitado. Apesar de não ser uma solução técnica ou industrial nova, essa é a primeira vez, segundo a Vallourec, que ela está sendo aplicada numa mineradora que beneficia minério de ferro. Depois de apro-

“O projeto da Vallourec surge em um momento bastante oportuno, em que se procura desenvolver tecnologias alternativas e economicamente viáveis para armazenar os rejeitos de mineração. Considerando que sua proposta inovadora elimina a necessidade das tradicionais barragens de rejeito de minério de ferro - e todo o risco envolvido com essa forma de armazenagem -, que a metodologia desenvolvida traz benefícios socioambientais claros e que ainda há redução de custos com a operação, entendo que o trabalho é um marco na busca de soluções para viabilizar as atividades minerárias numa sociedade ambientalmente responsável.” Marcone Freitas Souza, reitor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e doutor em Engenharia de Sistemas e Computação

FOTO: THIAGO BARCELOS/UFOP

DEPOIMENTO

O O alteamento de barragens de rejeito de minério de ferro a montante é mais barato que o alteamento a jusante. Mas, como envolve uma série de riscos associados, é considerado bastante controverso pela maioria dos especialistas no assunto.

O O desaguamento por filtrosprensas e o peneiramento de alta frequência permitem a separação da parte sólida e líquida do rejeito. Portanto, é possível fazer seu empilhamento a seco (dry stacking), evitando que a parte sólida seja destinada à barragem. Por determinação técnica, para ser empilhado a seco o rejeito tem que apresentar umidade inferior a 20%. Na Vallourec, esse percentual hoje fica abaixo do limite permitido.

O O mesmo se aplica ao coeficiente de estabilidade exigido para o empilhamento do rejeito. O mínimo estabelecido é de 1.5. E os valores registrados pela empresa atendem às normas NBR.

O Do ponto de vista financeiro, a empresa também economizou. O sistema custou 30% do valor que teria de ser investido, caso a Vallourec optasse por fazer o alteamento da Barragem Cachoeirinha.

O Na Europa, o filtro prensa horizontal é um equipamento largamente empregado na reciclagem de materiais de construção e na lavra de granito.

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FOTOS: SANAKAN

1 MINERAÇÃO

SISTEMA de peneiras desaguadoras e filtros-prensas drenam a lama resultante do beneficiamento do minério de ferro, permitindo que o material, depois de transportado por caminhões, seja empilhado a seco e reaproveitado

vado e abraçado como prioridade pela direção, a instalação dos equipamentos demandou muita pesquisa. Envolveu uma equipe multidisciplinar, que reuniu profissionais de diferentes setores, entre eles, produção, engenharia e meio ambiente. “O desafio da barragem zero é conseguirmos tratar e empilhar todo o volume de rejeito gerado.

Hoje, estamos começando a caminhar nesse sentido. O maior aprendizado foi, sem dúvida, customizar algo que já existia à nossa realidade”, frisa Pedro Nabuco. Uma prova disso é que parte da equipe envolvida no desenvolvimento e instalação da nova planta fez várias viagens ao exterior, para visitar projetos semelhantes. Além, ainda, de inúmeras pes-

BENEFÍCIOS AMBIENTAIS O Maior estabilidade nas pilhas de rejeito, com coeficientes de segurança bem superiores aos das barragens. O As pilhas de rejeito são reflorestadas, reduzindo o impacto visual e trazendo benefícios às comunidades locais. O

Permite a reutilização da água recuperada no processo produtivo.

O O reaproveitamento de rejeitos de mineração como insumos na cadeia da construção civil possibilita, ainda, reduzir o volume de materiais dispostos em pilhas, diminuindo, consequentemente, a área de supressão de vegetação para construção das pilhas. Dispensa também a abertura de novas áreas de mineração específicas para a obtenção de agregados para a construção civil. O Menor risco socioambiental (alívio e maior vida útil para a barragem existente), além de evitar o impacto da construção de outra barragem para a disposição de rejeitos.

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quisas e testes de material com o apoio de instituições como a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), até chegar ao estágio atual de operação e produção. “Estamos confiantes e ganhando experiência a cada dia, mas plenamente conscientes de que ainda é preciso amadurecer todas as fases do processo. Outro aspecto essencial para o sucesso da nossa iniciativa é a integração com o elo seguinte da cadeia produtiva: o setor de construção civil. Portanto, estamos abertos ao diálogo e às parcerias”, pondera o superintendente-geral da empresa. ECONOMIA DE ÁGUA Os resultados alcançados de novembro até agora são animadores. Estão sendo recuperadas 100 mil toneladas de rejeito por mês nos dois filtros; e 33 mil toneladas/mês no sistema de peneiramento. Quando há interrupção da planta para ajustes ou manutenções corretivas, a perda/saída para a barragem é mínima. Diante do cenário global de


Apesar de não ser uma solução técnica ou industrial nova, é a primeira vez que ela está sendo aplicada numa mineradora que beneficia minério de ferro

MINA PAU BRANCO EM NÚMEROS Produção de minério de ferro: 4,2 milhões de toneladas/ano. Total de rejeitos gerados: 1,8 milhão de toneladas/ano. BARRAGEM CACHOEIRINHA Área: 18 hectares. Capacidade: 3,2 milhões de metros cúbicos. Data de criação: 2003. ESTRUTURA DO SISTEMA 2 filtros-prensas horizontais, com capacidade para filtrar e drenar 100 toneladas de rejeito/mês. O 6 peneiras. O 1 espessador. O

escassez hídrica, a economia de água é outro ponto de destaque da nova estrutura operada pela Vallourec. Com seu funcionamento, além de a Barragem Cachoerinha não receber mais o sólido contido na polpa do rejeito, apenas parte da água resultante da filtragem e prensagem é descartada no local, depois de passar por tratamento (clarificação). Com isso, somente parte da água captada é descartada pela empresa, o que corresponde a 200 m3/hora. O restante, que equivale a aproximadamente 400 m3/hora, é recuperado e retorna ao processo produtivo. Visando à melhoria contínua da gestão da água e à otimização da operação, a equipe responsável pelo sistema já está fazendo novas adequações nos equipamentos para aumentar o volume de água que hoje é recuperado. “Representantes do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) estiveram aqui e ficaram muito bem impressionados com a nossa solução, que é modular e pode ser customizada tanto para mineradoras de médio porte, como é o nosso caso, quanto para empreendimentos de pequeno e grande porte. Basta fazer a adequação do número de equipamentos e da estrutura”, esclarece o superintendente-técnico da Vallourec Unidade Mineração, Reinaldo Brandão. COMPARTILHANDO SOLUÇÕES A repercussão do conjunto de equipamentos da Vallourec en-

O A operação se dá em três fases: alimentação (o rejeito é bombeado para o sistema de filtragem); descarga (um sistema pneumático com placas recobertas por tecido se abre e libera o material prensado/ drenado) e transporte/empilhamento (o material é transportado em caminhões até as áreas de empilhamento). O Cada ciclo dura, em média, 17 minutos. Os dois filtros-prensas horizontais tratam 100 toneladas de rejeito/mês. O Os filtros-prensas retêm a fração mais fina do rejeito. A fração mais grossa é retirada nas peneiras (EVO Wash). Na minifábrica, instalada próximo aos equipamentos, parte dos rejeitos é reaproveitada como matéria-prima – em substituição à areia – sendo usada para a produção de bloquetes de concreto para pavimentação, meios-fios e leiras/alas.

tre as empresas do setor mineral também tem sido positiva. “Queremos continuar aprendendo e compartilhando soluções e ideias, tanto com as universidades quanto com nossos pares. Acreditamos que esse é o caminho capaz de levar as novas e seguras soluções para a disposição e reaproveitamento de rejeitos de minério, assegurando a viabilida-

REINALDO BRANDÃO: “A mineração tem que atuar de forma segura”

de econômica do negócio e ainda gerando benefícios ambientais e sociais”, ressalta Nabuco. Reinaldo Brandão lembra que o projeto foi a base de sua tese de doutorado, recentemente defendida na UFOP. “Felizmente, ela foi muito bem-recebida por todos, inclusive pela reitoria. Esperamos que essa iniciativa possa ser replicada e extrapole as fronteiras da Vallourec. Com projetos assim, a mineração comprova seu empenho e responsabilidade em atuar de forma segura, em benefício não só do meio ambiente, mas de toda a sociedade.” Otimista, Brandão conclui: “A busca de soluções para o tratamento de rejeitos é o assunto do momento e todas as empresas do setor estão conscientes de que serão cada dia mais cobradas por isso. Esse é um caminho sem volta. E Minas Gerais, por sua vocação mineral, tem muito a contribuir e avançar.”

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1 MINERAÇÃO

FOTOS: SANAKAN

PRODUÇÃO de bloquetes e meios-fios dá destinação nobre aos rejeitos e ainda beneficia as comunidades vizinhas

Parceria com Alphaville Na minifábrica instalada na Mina Pau Branco, a produção de bloquetes de concreto para pavimentação, meios-fios e leiras/alas segue a pleno vapor. A estrutura é simples. Envolve basicamente betoneiras, formas plásticas e moldes feitos com madeira e sucata industrial. A analista química Isabella Morais explica que o trabalho mobiliza uma equipe de dez pessoas. Até chegar ao traço (composição ideal) de cada um dos produtos, foram feitos inúmeros experimentos e testes, entre eles de resistência a

ISABELLA: “Produtos em total conformidade com as normas técnicas” 88 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

compressão, abrasão e absorção de água. A partir daí, determinou-se a proporção ideal de cada matéria-prima: rejeito (em substituição à areia em 100%), cimento, brita e água. Tudo foi desenvolvido com bases nos parâmetros exigidos para o atendimento das normas técnicas específicas para cada produto (ABNT/NBR). Desde março, estão sendo produzidos, em média, 350 m2 de bloquetes por mês. Por meio de uma parceria com a administração do Alphaville Lagoa dos Ingleses, a Vallourec doou: 400 m2 de bloquetes para pavimentar uma área destinada ao recebimento do material resultante da coleta seletiva realizada no condomínio; 120 meios-fios e dois caminhões com cerca de 20 toneladas de rejeito para substituição da areia no assentamento dos bloquetes. “O próximo passo será fazermos uma pavimentação interna aqui na área da mina. Assim, teremos como testar e verificar na prática a resistência e o desempenho dos nossos bloquetes ao serem

FIQUE POR DENTRO

Desde o início dos anos 1980, a Vallourec Unidade Mineração concentra as suas operações exclusivamente na Mina Pau Branco, abastecendo com minério de ferro as unidades Tubos, no Barreiro, e a VSB, em Jeceaba. O excedente da produção, cerca de 50%, é comercializado no mercado interno. O minério extraído no local está entre os mais ricos do mundo, devido à localização privilegiada de sua zona de extração no Quadrilátero Ferrífero, na Serra da Moeda. Lá são extraídos e beneficiados três tipos de minério: hematita, goethita e itabirito.

expostos tanto ao trânsito de caminhões aqui dentro, quanto ao impacto da circulação de pessoas e de veículos mais leves lá no Alphaville. Serão duas importantes frentes de monitoramento e de avaliação”, finaliza Isabella. O SAIBA MAIS www.vallourec.com/br


1 PANORAMA

REENCONTRO MINERAL FOTO: SEBASTIÃO JACINTO JR.

A mineração brasileira se reconecta ao Estado que leva seu nome

A

partir de agora, qualquer cidadão, desde o jovem estudante até o profissional mais gabaritado ou autoridade pública, que pretenda produzir informações ou mesmo debater temas sobre o setor mineral de Minas Gerais poderá recorrer a um documento que consolida bases técnicas, científicas, econômicas, sociais e históricas sobre a mineração. Trata-se do Panorama da Mineração em Minas Gerais apresentado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), pelo Sindicato da Indústria Mineral de Minas Gerais (Sindiextra) e pelo Sindicato Nacional da Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (Sinferbase), em evento especial no Museu das Minas e do Metal, em BH. Esse trabalho inédito reúne dados oficiais compilados e analisados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE). O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho, prestigiou a solenidade de lançamento para mais de 300 convidados, entre os quais, re-

MINISTRO Fernando Coelho (ao centro), acompanhado do presidente do Ibram, Fernando Coura, e demais autoridades: compromisso prestigiado do setor

presentantes de todos os poderes do Estado e de vários municípios mineiros. Além de ser um evento técnico, a cerimônia se transformou em um dos mais impactantes atos políticos dos últimos tempos em prol do setor mineral. Ao se dirigir ao presidente do Ibram, José Fernando Coura, o ministro Fernando Coelho disse que quer “estar muito mais próximo do setor mineral e colocar o Ministério de Minas e Energia a favor do setor que tanto con-

PANORAMA DO CONHECIMENTO O Revela à sociedade a importância da atividade mineral no Estado de Minas Gerais, a partir de dados oficiais e públicos do setor, compilados até 2013. O Aborda aspectos econômicos, demográficos, geográficos, ambientais e históricos. O Fornece informações para a elaboração de plano de ação em prol da imagem do setor, com atuação em frentes variadas como: comunicação, imprensa, relacionamentos (institucional e com comunidades), jurídico, poder público, medidas socioeducativas etc.

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tribuiu ao país e tanto haverá de contribuir para que a gente possa viver dias melhores”. “Esta publicação é fruto de um trabalho vigoroso, um marco para que o verdadeiro papel da mineração empresarial seja conhecido a fundo, com detalhamento técnico e referências históricas. Daqui para frente, debater a mineração será algo muito mais relevante, sendo impossível minimizar a importância das contribuições decisivas deste segmento empresarial para a população de Minas e do Brasil”, ressaltou o diretor-presidente do Ibram. A expectativa do setor mineral é de que a sociedade passe a utilizar este documento para atingir vários objetivos, tais como: trabalhos escolares, reportagens da imprensa, debates acadêmicos, artigos científicos, conteúdo para aulas nas escolas públicas e privadas, realização de audiências públicas, elaboração de projetos de lei e de políticas públicas. O SAIBA MAIS www.ibram.org.br



Empresaretranqueira retranqueira Empresa

Dica de futebol para as empresas:

Quer vencer ou vai escalar 10 zagueiros?

A comparação pode ser simplĂłria, mas a crise ĂŠ como XP MRJR GH IXWHERO 8P MRJR TXH Ć“FRX PXLWR PDLV duro do que vocĂŞ esperava. O gol adversĂĄrio parece menor que o seu, o outro time parece ter mais jogadores. E, para piorar, vocĂŞ estĂĄ perdendo. Mas lembre-se: vocĂŞ ĂŠ o tĂŠcnico. E jĂĄ venceu vĂĄrias outras partidas. E tem mais: continua sendo uma partida de futebol. O que vocĂŞ vai fazer? Vai tirar todos os atacantes e montar o time com 10 zagueiros, todo mundo OÂŁ DWUÂŁV HVSHUDQGR" 6H Ć“]HU LVVR D FHUWH]D TXH resta ĂŠ uma sĂł: vocĂŞ vai perder. Se vocĂŞ quer aumentar a sua chance de vencer, continue jogando. Mude a tĂĄtica da sua empresa, repense os jogadores – mas nunca pare de jogar. A histĂłria comprova que anunciar em tempos difĂ­ceis reforça sua posição de negĂłcio e ajuda a perder menos vendas – atĂŠ porque seus concorrentes podem estar

parados e hå menos disputa pela atenção do consumidor. Ou seja, hå ainda mais espaço para seu investimento trazer maior retorno. Em todas as recessþes que o Brasil enfrentou, sempre houve empresas que ganharam mercado e vendas. Empresa Empresa que vai quecima. vai para

para cima

1HQKXPD GHODV IH] LVVR Ć“FDQGR OÂŁ DWUÂŁV Veja os cases de quem nĂŁo temeu a crise em: www.facebook.com/abapnacional

Anuncie. E deixe a crise para os outros. uma iniciativa


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MEMÓRIA ILUMINADA – MUHAMMAD ALI

MUHAMMAD, que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1960, em Roma: “Não divido o mundo entre os homens modestos e os arrogantes. Divido o mundo entre os homens que mentem e os que dizem a verdade”

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MUHAMMAD ALI A ECOLOGIA OLÍMPICA

DA VITÓRIA O mais importante lutador da história do boxe disse não à guerra e venceu o preconceito. Sua luta extrapolou os ringues e fez dele um ícone do movimento negro

U

m lutador inesquecível. O melhor de todos, definitivamente. Sua presença no ringue era tão forte que o nocaute era um detalhe. Para quem pregava que “campeões não são feitos em academias”, desenvolveu uma técnica construída com muito suor e dedicação. E que se tornou quase uma religião no esporte. Muhammad Ali encarou 62 lutas, foi ao chão em cinco, mas permaneceu 57 delas em pé, com o cinturão de campeão nas mãos. O grande vencedor era negro – e isso era fantástico, principalmente naquela época, em que a sociedade era tão opressora e racista. Junto com Martin Luther King, Ali contribuiu para o avanço dos direitos civis da comunidade negra em todo o mundo. Foi um homem que peitava o impossível. E que o venceu a maior parte do tempo. Nascido em Louisville, Kentucky (EUA), em 17 de janeiro de 1942, Cassius Marcellus Clay Jr. teve seu primeiro contato com o boxe depois que o técnico Joe Martin o viu na rua batendo em um ladrão que roubou sua bicicleta. Ele tinha apenas 12 anos. Sua determinação nos treinos era tão grande que, aos 18, venceu os Jogos Olímpicos em Roma, Itália. Aos 23, foi convocado pelo Exército norte-americano para a Guerra do Vietnã. Islamita, recusou-se a ir para o conflito por ser contra suas crenças religiosas. “Não vou viajar 10 mil milhas para ajudar a matar outras pessoas pobres”, disse ele

a uma autoridade militar que veio prendê-lo. E emendou: “Eu não tenho problema algum com os vietnamitas... Eles nunca me chamaram de crioulo”. Pela recusa, foi preso, e a Comissão Atlética de Nova York suspendeu sua licença do boxe e revogou seu cinturão. Foi sentenciado a cinco anos de prisão e ao pagamento de US$ 10 mil, mas depois permaneceu livre enquanto a condenação foi apelada. Suspenso do esporte, visitou vários centros universitários para se manifestar contra a guerra. Com o crescente apoio a Ali, a Suprema Corte reintegrou sua licença e anulou, em decisão unânime, sua condenação. Casado e pai de nove filhos, o pugilista anunciou sua aposentadoria em 1981, após conquistar sua 57ª vitória nos ringues. Diagnosticado com Mal de Parkinson em 1984, passou a se dedicar a causas humanitárias: chegou a se encontrar com Saddam Hussein no início da década de 1990, para negociar a libertação de reféns americanos, e visitou o Afeganistão em 2002 como Mensageiro da Paz da ONU. Muhammad Ali faleceu aos 74 anos, de complicações do Parkinson, dois dias antes da data comemorativa ao Dia Mundial do Meio Ambiente – 05 de junho. Em sua homenagem, a Revista Ecológico revisita o legado filosófico e humano deste grande campeão olímpico, no ano em que o Brasil sediou os jogos. Confira suas mensagens mais célebres:

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M Ó MEMÓRIA ILUMINADA - MUHAMMAD MUHAMMAD ALI

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

“VOE como uma borboleta, mas ferroe como uma abelha”, aconselhava Muhammad Ali

O IMPOSSÍVEL “O impossível é apenas uma grande palavra usada por gente fraca, que prefere viver no mundo como ele está, em vez de usar o poder que tem para mudá-lo, melhorá-lo. Impossível não é um fato. É uma opinião. Impossível não é uma declaração. É um desafio. Impossível é hipotético. Impossível é temporário. O impossível não existe.” O TREINOS “Eu odiava cada minuto dos treinos, mas dizia para mim mesmo: Não desista! Sofra agora e viva o resto de sua vida como um campeão.” O VISÃO DE MUNDO “Aquele que vê o mundo aos 50 anos da mesma forma que o via aos 20 desperdiçou 30 anos de sua vida.” O FORÇA DE VONTADE “A força de vontade deve ser mais forte do que a habilidade.” O CORAGEM “Aquele que não tem coragem de assumir riscos não alcançará nada na vida.”

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RECEITA DE VIDA Certa vez, perguntaram a Muhammad Ali o que gostaria que as pessoas pensassem sobre ele depois que morresse. Eis a sua resposta: “Eu gostaria que eles dissessem: ‘Ele pegou alguns copos de amor. Pegou uma colher de sopa de paciência, outra de chá de generosidade. Tomou um litro de bondade e deu um litro de sorrisos. Colocou uma pitada de preocupação e depois misturou vontade com felicidade. Ele acrescentou muita fé e mexeu tudo isso muito bem. E, então, serviu para cada pessoa merecedora que encontrou pelo caminho’.”

O DEUS “Deus não coloca um peso nos ombros de um homem se souber que ele não pode carregá-lo.” O AMIZADE “É a coisa mais difícil do mundo de se explicar. Não é uma coisa que se aprende na escola. Mas, se você não aprendeu o significado da amizade, na verdade você não aprendeu nada na vida.”


O BOXE “O boxe é um monte de brancos vendo como um negro vence outro negro.” “Não há prazeres em uma luta. Mas algumas das minhas lutas me trouxeram um prazer de vencer.” “É apenas um trabalho. A grama cresce, os pássaros voam, as ondas acabam na areia. Eu bato nas pessoas.” O CAMPEÕES “Campeões não são feitos em academias. Campeões são feitos de algo que eles têm profundamente dentro de si - um desejo, um sonho, uma visão.” O FRATERNIDADE “Servir aos outros é o custo que você paga para a sua estadia na Terra.” “Quanto mais ajudamos os outros, mais ajudamos a nós mesmos.” O CERTO E ERRADO “Quando você está certo, ninguém se lembra. Mas quando você está errado, aí ninguém se esquece.” O CONSELHO “Suas mãos não podem atingir o que os seus olhos não podem ver.” O MODÉSTIA “Eu sou tão rápido que ontem à noite eu desliguei as luzes do meu quarto e estava na cama antes de ficar escuro.” “Eu não tenho medo de morrer. Eu tenho fé. Eu faço tudo o que posso para viver bem minha vida; e eu acredito que morrer vai me aproximar de Deus.” O PRISÃO [Em resposta a um policial que foi prendê-lo em 1965 por ter se recusado a lutar pelos EUA na Guerra do Vietnã]

“Você quer me colocar na prisão? Tudo bem, vá em frente. Estou na prisão há 400 anos. Posso ficar lá por mais quatro ou cinco, mas não vou viajar 10 mil milhas para ajudar a matar outras pessoas

FOTO: MARCELLO CASAL JR. FOTO: DAVID SHANKBONE

O SILÊNCIO “O silêncio vale ouro quando não se consegue achar uma boa resposta.”

“O universo do esporte perdeu muito sem ele. Muhammad Ali era meu amigo, meu ídolo, meu herói. Passamos muitos momentos juntos e sempre mantivemos contatos todos esses anos.” Pelé, ícone mundial do futebol “O que está acontecendo? Nós estamos perdendo todos os nossos tesouros nacionais. Os pilares de nossa humanidade. Muhammad Ali foi o maior, esse homem, rei, herói e ser humano! Palavras não podem expressar. Ele mexeu com o mundo. Que Deus o abençoe!” Madonna, cantora norte-americana “Além de ser um grande boxeador, ele era um belo e gentil homem com um grande senso de humor, que frequentemente poderia tirar cartas da manga, não importasse quão luxuosa a situação, e fazer um truque para você.” Paul McCartney, ex-beatle

FOTO: DIVULGAÇÃO

O HOMENS “Não divido o mundo entre os homens modestos e os arrogantes. Divido o mundo entre os homens que mentem e os que dizem a verdade.”

ELES DISSERAM...

“Muhammad Ali foi o maior. Ponto. Se você perguntasse a ele, ele teria dito isso a você. E diria que foi duplamente o maior, que seria ‘relâmpago algemado, um trovão jogado na cadeia’.” Barack Obama, presidente dos EUA

FOTO: PETE SOUZA

O DERROTA “Somente um homem que sabe o que sente ao ser derrotado pode ir até o fundo de sua alma e tirar dali aquilo que lhe resta de energia para vencer um combate equilibrado.”

pobres. Se eu quero morrer, morro aqui mesmo, agora, lutando contra você. Você é o meu inimigo, não o chinês, o vietcongue, o japonês. Você é o meu oponente quando quero liberdade. Você é o meu oponente quando eu quero justiça. Você é o meu oponente quando quero igualdade. Você quer que eu vá a algum lugar para lutar por você? Você nem se levanta por mim aqui na América, por meus direitos, meus credos!” O LIBERDADE “Eu sei para onde estou indo e conheço a verdade. Não tenho de ser o que você quer que eu seja. Sou livre para ser o que quero.” O VIVER E MORRER “Viva como se cada dia fosse o último, porque um dia você estará certo.” O

SAIBA MAIS www.muhammadali.com

SETEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO O 93


1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

MINAS DE

TANTOS GERAES

Sete fotógrafos e quatro redatores reúnem o maior e mais diversificado acervo de informações e imagens já publicado sobre a riqueza e a beleza dos patrimônios histórico, cultural e natural do estado mais mineral do país

O

FOTO: EDUARDO ROCHA / RR

rganizado pelo jornalista Cézar Félix, da Veredas Editora, co-assinado pelos seus colegas Silvia Laporte e Fernando Calais, o segundo volume do livro “Minas de Tantos Geraes” foi lançado com mineira pompa e circunstância na última lua nova de agosto, no Museu das Minas e do Metal (MM Gerdau), no conjunto cultural da Praça da Liberdade, em BH. Patroci-

nada pela empresa por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, a publicação contempla 320 páginas com textos em inglês e ensaios fotográficos que reúnem 220 imagens inéditas e exclusivas do Estado. É de encher os olhos e emocionar os corações mais reticentes. Com muita informação, poesia e beleza juntas, o livro foi distribuído a 500 escolas da rede estadual de ensino da Região Metropolitana, bem como às prefeituras e instituições do mundo empresarial, cultural, artístico e ambiental do Estado, como fonte privilegiada de leitura, pesquisa e multiplicação da consciência ecológico-preservacionista. É o que você confere aqui, caro leitor, de maneira sintetizada, neste ensaio cujas fotos foram difíceis de serem escolhidas, em meio ao maravilhamento que elas provocam. Confira!

FOTO: MARCOS AMEND

SAIBA MAIS

ALOYSIO PEIXOTO, diretor-executivo de Mineração Américas da Gerdau, Cézar Félix e Angelo Oswaldo, secretário de Cultura: Minas de tantas parcerias

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www.revistasagarana.com.br www.facebook.com.br/revistasagarana Instagram: @revistasagarana cezarfx@veredaseditora.com.br Telefones: (31) 3344-2245 ou (31) 99951-3380.


FOTO: TOM ALVES

RIO PANDEIROS, em paisagem do sertão no norte de Minas, município de Januária

FOTO: ANDRÉ DIB

FOTO: TOM ALVES

CAPELA DE SANTA QUITÉRIA, Catas Altas

CENA TÍPICA: café, fogão e cavalo na janela

2

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FOTO: JEAN YVES DONNARD

1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

POVOADO DE CAPIVARI, distrito do Serro; ao fundo, o Pico do Itambé, na Serra do Espinhaço

FIQUE POR DENTRO

Site: www.mmgerdau.org.br

96 O ECOLÓGICO | SETEMBRO DE 2016

FOTO: MARCOS AMEND

Com 18 salas e 44 atrações, o MM Gerdau abriga um importante acervo sobre mineração e metalurgia. E utiliza recursos tecnológicos para destacar, de forma lúdica e interativa, a importância dos metais e minerais no cotidiano das pessoas. Marca também a relação entre a história e as expressões culturais de Minas Gerais com a riqueza de seus recursos naturais. O museu foi aberto ao público em 22 de junho de 2010 e, desde 1º de dezembro de 2013 está sob a gestão da Gerdau, líder no segmento de aços longos nas Américas e uma das principais fornecedoras de aços especiais no mundo. O MM Gerdau integra o Circuito Cultural Praça da Liberdade, na capital mineira, e ocupa o antigo edifício da Secretaria de Estado da Educação, inaugurado em 1897 e tombado pelo Iepha. Tem o certificado de excelência do TripAdvisor e foi a primeira instituição museológica do Brasil a receber a certificação do Instituto Herity em gestão de qualidade do patrimônio cultural. VALE DA BABILÔNIA


FOTO: EDUARDO GONTIJO

FOTO: ANDRÉ DIB

IGREJA de São Francisco de Assis, Ouro Preto

IGREJA de São Francisco de Assis, obra-prima de Niemeyer e símbolo maior de BH reconhecido pela Unesco

FOTO: EDUARDO GONTIJO

O VELHO fogão a lenha no interior mineiro

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FOTO: PLATINUM

1

ARTIGO ANDRÉ TRIGUEIRO (*) redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: ROBERTO CASTRO / BRASIL 2016

NEM PEQUIM, nem Londres: a cerimônia de abertura mais verde da história das Olimpíadas teve o Rio de Janeiro como palco

"ECOCHATICE" ABENÇOADA

Q

uis o destino que a cerimônia de abertura mais ecológica da História dos Jogos acontecesse na cidade que desprezou o legado ambiental mais importante (o avanço do saneamento básico na Baía de Guanabara) e num país ameaçado por vários projetos de lei que tentam inutilizar a ferramenta do licenciamento ambiental. Contradições à parte, foi a cerimônia mais bonita que já vi sobre a riqueza da cultura brasileira. Mostrou a nossa cara, fugindo dos clichês que remetem às “caricaturas”. Mas foi na parte ambiental que o evento esbanjou coragem e inovação. No momento esteticamente mais exuberante do espetáculo, mostramos os povos originais do Brasil ocupando o Maracanã (palavra que vem de “Maraca”, o som de um pássaro em tupi-guarani), embora Brasil afora prossigam os massacres contra os povos indígenas sem que haja qualquer resposta à altura dos governos. Destacou-se a força de um povo miscigenado nossa verdadeira identidade nacional - embora a representatividade política esteja fortemente (e tragicamente) concentrada num segmento muito específico: homens, brancos e ricos. Mais de três bilhões de telespectadores receberam

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uma aula sobre a maior tragédia ambiental do nosso tempo, o aquecimento global. E viram os atletas de todos os países serem convidados a depositar sementes em pequenos tubetes que serão a gênese de uma nova floresta no bairro de Deodoro, na zona oeste do Rio. A semeadura ocorre num momento em que boa parte do país arde em chamas com a proliferação das queimadas, as taxas de desmatamento voltam a crescer de maneira preocupante, e muitos projetos absurdos - inclusive o do atual Ministro da Agricultura, Blairo Maggi - tentam implodir a exigência de licenciamento ambiental. O orçamento da festa (R$ 40 bilhões, 57% do setor privado e 43% do público) correspondeu a apenas 10% do que foi gasto na cerimônia de abertura dos Jogos de Londres. Ponto para os responsáveis pela concepção do evento, entre os quais, o cineasta Fernando Meirelles, que recentemente, ao ser indagado por um jornalista como se definiria, respondeu sem titubear: “Quando não sou ecochato, sou biodesagradável”. Abençoada seja toda a ecochatice que denuncia as gigantescas contradições do único país do mundo com nome de árvore. O (*) Jornalista, escritor e palestrante. Fonte: G1


Foto meramente ilustrativa. Todos os empregados desta empresa cumprem rigorosamente todas as normas de segurança e saúde no trabalho.


NÃO PROVOQUE INCÊNDIO. BASTAM ALGUNS SEGUNDOS PARA O FOGO ACABAR COM TUDO.

sistemafaemg.org.br


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