Revista Ecológico - Edição 94

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ISSN 1984-316X

ANO 9 - Nº 94 - DEZEMBRO DE 2016 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA


Coca-Cola Brasil devolve para o meio ambiente o dobro de água que usa em suas fábricas. Este é o resultado do apoio a programas de restauração e conservação de bacias hidrográficas somado à eficiência e reúso nas fábricas. Ainda há muito a ser feito, mas você já pode ter certeza: cada vez que bebe um produto Coca-Cola Brasil, está escolhendo uma empresa comprometida com o uso responsável da água. Saiba mais em: cocacolabrasil.com.br

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IMAGEM DO ANO FOTO: REPRODUÇÃO

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LÁGRIMAS DE GISELE A imagem da supermodelo Gisele Bündchen chorando ao sobrevoar áreas desmatadas da Amazônia, durante a gravação do documentário "Years Of Living Dangerously" ("Anos de Vida Perigosa"), da National Geographic, expressa exatamente a dor que todos nós, brasileiros, compartilhamos ao ver a destruição contínua de nossas florestas. Nas filmagens, Gisele, que é embaixadora da Boa Vontade do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), também soube que a pecuária extensiva é responsável por 65% do desmatamento da ainda maior floresta tropical do planeta (leia mais na página 28). DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  03


EXPEDIENTE

FOTO: LUIZ PAULO OLIVEIRA

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VENTANIA

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

REPORTAGEM Cristiane Mendonça e Luciana Morais

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com

EDITORIA DE ARTE André Firmino

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

COLUNISTAS Leonardo Boff, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Fotos: TV Globo/Zé Paulo Cardeal Divulgação

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda. ecologico@souecologico.com REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

DEPARTAMENTO COMERCIAL Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

(*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

sou_ecologico revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

2,81 tCO2e Novembro de 2016

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VAMOS MOSTRAR COM QUANTAS ÁRVORES PLANTADAS E ÁREAS RECUPERADAS SE FAZ O FUTURO.

Idealizado pelo Governo do Estado de Minas Gerais e coordenado pela Codemig, o projeto Plantando o Futuro visa ao plantio de 30 milhões de árvores, de diversas espécies, em 20 mil hectares, até 2018. A iniciativa busca também recuperar 40 mil nascentes, 6 mil hectares de matas ciliares e 2 mil hectares de voçorocas. Contamos com a participação dos mineiros nesse projeto. Porque todos queremos um estado ambientalmente sustentável para nós e nossos filhos.

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ÍNDICE

CAPA

CONFIRA A COBERTURA COMPLETA DA SÉTIMA EDIÇÃO DO "PRÊMIO HUGO WERNECK".

20 PÁGINAS VERDES EM EVENTO REALIZADO NA FDC, O EMBAIXADOR DO PNUMA PAVAN SUKHDEV FALA SOBRE AÇÕES DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL APÓS DESASTRES COMO O DE MARIANA (MG)

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ECOLÓGICO NAS ESCOLAS PARE DE OLHAR PARA O CÉU, POR UM MINUTO, E CONFIRA A REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE A LUA, NOSSO SATÉLITE NATURAL

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ENSAIO FOTOGRÁFICO LIVRO “PARQUES E RESERVAS - PATRIMÔNIO DAS MINAS GERAIS” RESSALTA A RIQUEZA AMBIENTAL E HISTÓRICA DO ESTADO

Pág.

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E mais... CARTAS DOS LEITORES 08 ECONECTADO 12 CARTA DO EDITOR 14 GENTE ECOLÓGICA 16 SOU ECOLÓGICO 18 ESTADO DE ALERTA 24 CLIMA 26 SAÚDE 30 ALMA PLANETÁRIA 36 INOVAÇÃO AMBIENTAL 80 GESTÃO & TI 84 VOCÊ SABIA? 90 NATUREZA MEDICINAL 92 EDUCAÇÃO AMBIENTAL 94 MEMÓRIA ILUMINADA 102


Mais uma vez, a Gerdau se transforma. Afinal, essa é a nossa tradição.

Para uma empresa de 115 anos, inovar é um processo fundamental. Atender às demandas de um mercado mais dinâmico e colaborar com o avanço do mundo dependem dessa atitude. É por isso que transformamos nossa forma de produzir aço. Com aplicativos e sistemas inteligentes, otimizamos processos industriais. E nossas usinas e a interface online com clientes estão cada vez mais eficientes. A Gerdau já é uma indústria 4.0. E não vamos parar por aqui.

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CARTAS DOS LEITORES l A AMAZÔNIA QUE ARDE Matéria fala sobre desmatamento, queimadas e uso inadequado do fogo para “limpar” terrenos, ações que intensificam o El Niño

“Cadê o Ibama? Eu resido na Amazônia, especificamente no Marajó, e vejo com extrema apreensão dezenas de balsas navegando os rios com imensas pilhas de toras de madeira. Para quê? Isso é a Saccanallia brasillis.” Jaldemir Cardias, via Facebook “Enquanto não derrubarem a última árvore, não vão parar! Isso é culpa desses políticos corruptos, que estão destruindo o Brasil por completo. Devem estar lucrando com o desmatamento.” Karine Clauber, via Facebook

l VII PRÊMIO HUGO WERNECK “Recebam meus sinceros cumprimentos por mais essa edição do 'Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza', realizado em BH. Parabéns à toda equipe da Revista Ecológico por contribuir com o desenvolvimento de nosso país ao tratar temas de tamanha importância sobre sustentabilidade e preservação socioambiental.” Gabriel Guimarães, deputado federal (PT-MG)

“Nós, da Siamig, ficamos honrados e orgulhosos com as palavras de Hiram Firmino sobre a sustentabilidade do setor sucroenergético. E nos sentimos verdadeiramente premiados na cerimônia, tão bacana e com ‘cheiro’ de natureza! Que Deus continue iluminando a Ecológico e dando forças nessa dura caminhada em prol do meio ambiente. Parabéns a toda a equipe!” Mônica Santos, gerente de Comunicação da Siamig, via e-mail “A festa do Prêmio foi linda! Um sucesso! Fiquei muito feliz de ter recebido a homenagem pelas mãos da diretora de Gestão da Ecológico, Eloah Rodrigues. Aproveito para desejar a vocês da revista muito sucesso em 2017!” Weber Coutinho, gerente de Planejamento e Monitoramento Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de BH, via e-mail 08  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2016

“A Amazônia é o último refrigerador do mundo. Partes da cidade de Haifa, em Israel, estão ardendo em chamas. Incêndios terríveis queimam mansões de artistas renomados nos EUA, na Austrália e Espanha. E a Ásia já perdeu a parte mais significativa de suas florestas. Querem mais o quê?” Luiz Antonio Mauro, via Facebook “Nenhum governo do Brasil, até hoje, levou a sério a questão da Floresta Amazônica, que representa vida.” Fernando Almendra Freitas, via Facebook l PERFIL - A ECOLOGIA ESPIRITUAL DE FRANCISCO A relação entre o médium Chico Xavier e a natureza, contada por amigos próximos, e o andamento de iniciativas em sua memória

“Interessante a matéria sobre Chico Xavier. As pessoas polemizavam tanto sobre a Doutrina Espírita, tentaram (em vão) denegrir a imagem de Chico, e o que a gente vê é que, longe dos olhos de todos, ele era tão humilde e respeitoso com a natureza a ponto de conversar com formigas. Muitos já disseram que ele era louco. Loucos somos nós, de não levarmos seu exemplo no coração e não ajudarmos o próximo tanto quanto ele fez. E sem pedir nada em troca!” Angel Fonseca, via e-mail “Por favor, palestrantes espíritas! Já está passando da hora de colocar o assunto meio ambiente em pauta.” Elis Trevisan, via Facebook

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CONSTRUÍMOS O FUTURO COM ATITUDES DE HOJE.

O Programa de Gerenciamento Ecológico da AngloGold Ashanti tem como objetivo monitorar espécies nativas da fauna e da flora inseridas nas áreas da empresa e no seu entorno, proporcionando maior conhecimento e adotando medidas para preservação da biodiversidade.

O LOBO-GUARÁ É UMA DAS ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO E MONITORADAS PELO PROGRAMA DE GERENCIAMENTO ECOLÓGICO.

Transformar o agora pensando no amanhã.


CARTAS DOS LEITORES

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

“Chico Xavier, Papa Francisco, Dalai Lama, Mahatma Gandhi, Alá. Tantos exemplos bons na Terra e o homem prefere dinheiro e violência.” Lucas Montevani, via e-mail “Quem leu esta matéria sobre Chico Xavier não pode deixar de assistir à palestra do jornalista André Trigueiro sobre a ecologia na obra do médium. É de encher o coração e a alma.” Luciana Dutra, via e-mail l ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - CADÊ O SANEAMENTO QUE NÃO ESTÁ AQUI? Matéria fala sobre a situação atual do saneamento básico e os impactos que a falta dele causa na saúde e no meio ambiente

“Obra de saneamento ninguém vê. Não é uma rua, avenida, um viaduto, uma praça, um prédio ou uma escola. Vai ficar onde os olhos não alcançam! E que governador, prefeito, ou o que for, quer seu nome numa galeria de esgoto ou qualquer que seja a obra de saneamento? Viaduto ‘x’ é lindo! Mas, galeria de esgoto ou água pluvial ‘xx’ não é interessante. Infelizmente é assim que funciona aqui no nosso país!” Aline Vieira, via Facebook

EU LEIO “Adoro ler a Revista Ecológico. Sempre me encanto pelas matérias e pelas imagens. Além de leitora, também me considero divulgadora. Após ler a revista, faço questão de repassar a publicação, com intuito de que mais pessoas conheçam esse rico material. Além disso, o Brasil precisa de mais revistas como a Ecológico, que colaboram para um país mais verde e justo.” Maria Beatriz Ribeiro, professora aposentada, assinante e moradora de Juiz de Fora (MG)

“Saneamento evita doenças por contaminação, o surgimento de mosquitos, do zika vírus e elimina as enchentes, se tiver esgoto pluvial! Só não faz saneamento governo que vive recapando rua e esquece que o importante é a saúde da população!” Dulcina Enio Schievelbein, via Facebook

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Toda Lua Cheia

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br

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ECONECTADO

CRISTIANE MENDONÇA

INSTAGRAM VERDE

@mulhernaciencia Mulheres na Ciência FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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FOTO: MARCOS OLIVEIRA / AGÊNCIA SENADO

@brunocalixto - Bruno Calixto, jornalista ambiental

@anaamelialemos - Ana Amélia Lemos, senadora pelo PP/RS

FOTO: RONALDO NINA

ECO LINKS

“Preço do gado e clima extremo fizeram desmatamento da Amazônia explodir em 2016.”

“Sociedade deu um recado claro e direto a nós políticos e às autoridades: quer punição aos corruptos e não punição a quem investiga corruptos.”

Quem acompanha o instagram do ator Marcos Palmeira, @marcospalmeiraoficial, tem a oportunidade de assistir diariamente a websérie “Manual de Sobrevivência para o Século XXI”, em que ele atua como apresentador. O programa tem o objetivo de mostrar como podemos sobreviver na mata, estabelecer sistemas de troca e moedas solidárias, desenvolver máquinas com tecnologia de código aberto, casas ecológicas por meio da bioconstrução, além de conhecer comunidades resilientes e sustentáveis, em diversos lugares do Brasil. Detalhes de uma viagem ecológica que Palmeiras faz questão de registrar: “#manualdesobrevivencia21 passando por Piracanga, uma ecovila no sul da Bahia. Mais aprendizado!”, declara.

Bioconstrução é o termo utilizado para definir construções onde a sustentabilidade está presente desde a concepção até a sua ocupação, em busca do menor impacto ambiental possível. A técnica combina práticas milenares com inovações tecnológicas, contemplando matérias-primas de origem sustentável, melhor aproveitamento da luz solar, reaproveitamento da água da chuva, reciclagem de lixo e outras práticas ecológicas. Por isso, com objetivo de disseminar o método, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) disponibiliza em seu site uma cartilha que orienta interessados nesse tipo de construção. Saiba mais: goo.gl/97WlHg FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

“Pequena cientista Maanasa Mendu, 13 anos, criou aparelho que obtém energia renovável por apenas U$ 5.”

FOTO: DIVULGAÇÃO YOUNG SCIENTIST CHALLENGE

TWITTANDO

MAIS ACESSADA Em tempos de descrença na política e questionamentos sobre a superficialidade das relações e aparências estabelecidas no mundo digital, faz sentido que a matéria “A vida líquida de Bauman” tenha sido uma das mais acessadas no site da Ecológico. O texto rememora a biografia e as frases mais relevantes do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, considerado “um pessimista” sobre os tempos atuais. Quer ler também? Acesse: goo.gl/YWVMYB FOTO: NARODOWY INSTYTUT AUDIOWIZUALNY

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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

CLIMÁTICAS

MUDANÇAS S

e vocês, caro leitor e cara leitora, estiverem horrorizados e sem esperança diante do que ocorre no cenário atual da nossa terra brasilis, preparem-se para o pior. É triste, mas é verdade. Muito além do jardim pisoteado da nossa realidade política, econômica e social, o que as mudanças climáticas já fazem acontecer ao redor do planeta é só calor, calor e mais calor. A terra ressecada, as fontes de água minguando, o verde em agonia, tal como já perdemos 20% da Floresta Amazônica. E a gente morrendo junto à natureza, ainda achando que se trata de outro planeta. Não é. Se vocês não acreditam nisso, tudo bem. O nosso “cozimento”, junto, não vai parar. Mas, se assistirem ao documentário “O Planeta em Perigo”, da National Geographic, aí, sim, vão chorar todas as lágrimas do mundo. Até o final desta década, apenas no norte da África, nós seremos um bilhão de refugiados ambientais. Seres famintos, sem pátria nem água, invadindo a Europa. O que fazer diante da realidade galopante das mudanças climáticas, tema central do “VII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”? 14  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2016

Qual a contribuição que cada um de nós, políticos, empresários e cidadãos comuns, pode dar pelo planeta e à humanidade, para refrear o aquecimento global que nós mesmos continuamos a agravar, vide combustíveis fósseis, desmatamento, poluição e Donalds Trumps da vida errática? É o que a Revista Ecológico responde e mostra, muito singelamente, nesta edição, com exemplos sustentáveis e multiplicativos de um Brasil teimoso e na contramão do desenvolvimento insustentável. Um país que respeita e ama a natureza, lucra e sobrevive com ela. Simples assim. Tal como é nossa esperança, ainda pequena, no futuro próximo e comum. A exemplo das prefeituras de Paris, Cidade do México, Madri e Atenas, que acabam de anunciar o fim do uso de óleo diesel nos carros de todos os seus habitantes até o ano 2025. Nem tudo está perdido. O jogo climático não acabou. Haverá sangue e ranger de dentes. Muita dor, em vez do amor. E muito amor, se soubermos dar, em vez de roubar, saquear, aceitar propinas. Hugo Werneck vive! Boa leitura, bom ano novo! 


BELO HORIZONTE. UMA CIDADE COM MAIS QUALIDADE DE VIDA.

Aqui a gente cuida das pessoas. A Prefeitura de BH realizou uma grande transformação no cuidado com a saúde das pessoas. São programas e projetos voltados para a prevenção, e obras que ampliaram e humanizaram o atendimento a quem precisa.

SAÚDE DA FAMÍLIA

O Programa Saúde da Família tem 588 equipes e a maior cobertura entre as capitais do Brasil. São quase 4 milhões de visitas domiciliares por ano.

DUAS NOVAS UPAS

Duas novas UPAs foram entregues para a cidade: a Leste e a Odilon Behrens. Ao todo são mais de 600 mil atendimentos por ano nas 9 UPAs da cidade.

SAÚDE NA ESCOLA

Com a criação do Programa Saúde na Escola, mais de 100 mil alunos recebem anualmente atendimento médico e odontológico nas escolas da Prefeitura.

ACADEMIAS DA CIDADE

A Prefeitura ampliou as Academias da Cidade: agora são 70 espalhadas por BH, com atividades físicas gratuitas para milhares de pessoas.

GRANDE HOSPITAL DO BARREIRO

O novo hospital é 100% SUS. Quando estiver em pleno funcionamento, terá capacidade para 20 mil atendimentos e 700 cirurgias/mês. 90 leitos já estão em funcionamento.

pbh.gov.br


FOTO: CHRISWEGER

GENTE ECOLÓGICA Retrospectiva 2016 FOTO: .A. E MARIA JOSÉ DE LENCASTRE

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“Às vezes ouço passar o vento. E só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.”

MÁRIO QUINTANA, poeta e jornalista

MADONNA, cantora norte-americana, durante discurso no "Billboard Women In Music Awards 2016", ao receber o prêmio de "Mulher do Ano"

FOTO: DIVULGAÇÃO

“O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.”

“Mulheres têm sido oprimidas por tanto tempo que elas acreditam no que os homens falam sobre elas. Elas acreditam que precisam apoiar um homem. E há alguns deles que são bons e dignos de serem apoiados. Mas não por serem homens, e sim porque eles valem a pena. Como mulheres, temos de começar a apreciar nosso próprio mérito. Procurem mulheres fortes para serem amigas, aliadas. Para aprenderem com elas, para serem inspiradas, apoiadas. E serem instruídas.”

“Minha doutrina é esta: se nós vemos coisas erradas ou crueldades, as quais temos o poder de evitar e nada fazemos, nós somos coniventes.” ANNA SEWELL, escritora inglesa 16  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2016

“Temos um compromisso com a sociedade. Nossa meta é que as regiões impactadas voltem à situação que estavam antes do acidente. Nos casos em que não for possível, haverá uma compensação.” ROBERTO CARVALHO, diretorpresidente da Samarco

FOTO: VALTER CAMPANATO / AGÊNCIA BRASIL

FOTO: JB ECOLÓGICO

FERNANDO PESSOA, poeta português


MARCO ANTÔNIO CASTELLO BRANCO, diretor-presidente da Codemig

FOTO: TOMAZ SILVA / ABR

FOTO: THORE SIEBRANDS

LETÍCIA SABATELLA, atriz

“Devemos ajudar o Brasil a repetir, na geração de energia elétrica com madeira plantada, o mesmo sucesso que já alcançou na produção de etanol e biodiesel.”

SÔNIA ARARIPE A jornalista e editora está comemorando os nove anos de existência da sua Revista Plurale, especializada em meio ambiente, ação e cidadania. Para celebrar o aniversário, está lançando a TV Plurale, com vídeos abordando esses temas, e que contará com entrevistas do craque do futebol Raí, e do fundador da Natura, Guilherme Leal.

MINGUANDO

“Precisamos apoiar os líderes mundiais que não falam pelos grandes poluidores e grandes corporações. Mas que falam por toda a humanidade, pelos povos indígenas do mundo, pelos bilhões de pessoas desamparadas. Pelos nossos netos e aqueles que tiveram suas vozes afogadas pela ganância política.” LEONARDO DICAPRIO, ao receber o Oscar de “Melhor Ator” por sua atuação no filme “O Regresso”

“Deus nos deu um jardim abundante, mas nós o transformamos em uma terra devastada e poluída de destroços, desolação e sujeira. Economia e política, sociedade e cultura não podem ser dominadas pelo pensamento único no curto prazo e nos ganhos financeiros e eleitorais imediatos.” PAPA FRANCISCO

MAURO PEREIRA O polêmico substitutivo do deputado (PMDB/RS) ao PL 3.729/2004, de delegar aos estados e municípios, autonomamente, a definição de quais empreendimentos estarão sujeitos ao licenciamento ambiental, sofreu mais um revés na Câmara. Segundo deputados que retiraram a votação do substitutivo da pauta, o texto flexibiliza o licenciamento e pode criar uma "fábrica de Marianas". O PL ainda dispensa o agronegócio do licenciamento e reduz os prazos dos órgãos ambientais para a análise das licenças.

DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  17

FOTO: TIM RUSSO

BERTA CÁCERES Defensora comunitária dos direitos dos povos índigenas, a ambientalista hondurenha, assassinada no início do ano, foi homenageada no prêmio "Campeã da Terra", promovido pelo PNUMA, na categoria "Inspiração e Ação". Berta também é um ícone na luta contra o desmatamento ilegal, a construção de minas e hidrelétricas.

FOTO: ISABELLA ARARIPE

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

FOTO: EDSON LOPES JR. GESP

FOTO: CHRISWEGER

“Se você só quiser tirar vantagens sobre a natureza e sobre o outro, vai haver desequilíbrio e acontecer uma reação em algum momento. Uma hora a natureza fala e chama a nossa atenção.”

CRESCENDO


A ESPERANÇA É VERDE No último e tradicional almoço com os jornalistas, o presidente da Fiemg, Olavo Machado, não deixou por menos sua capacidade crítica de, com a maior naturalidade, ir do inferno ao céu quando se fala sobre o momento político-econômico brasileiro. Do inferno, entende-se a carta aberta intitulada “Basta”, que ele fez circular na mídia sobre os desmandos denunciados pela Operação Lava Jato e seus tentáculos, sem separar o joio do trigo no mundo empresarial e industrial. Do céu, o que se deslumbra pela frente, apesar de toda crise também institucional pela qual passa o país, culminando nos mais de 12 milhões de desempregados. Aí, Olavo apostou no futuro: “Somente pela educação, principalmente dos nossos jovens, vide o que estamos fazendo em Minas, teremos o Brasil, o governo e os brasileiros que merecemos ser um dia”. É o que a Revista Ecológico irá mostrar na sua primeira edição de 2017, saudando o Ano Novo. Para completar seu otimismo, o presidente da Fiemg, cujo nome já está lançado para emplacar um terceiro mandato, foi além. Vestiu uma camisa “Sou América, sou Ecológico”, da Campanha “Clubes Unidos pelo Planeta”, e se confraternizou, assim esverdeado, com seus convidados. Alfinetado tanto pelos jornalistas atleticanos quanto pelos cruzeirenses, ele ainda se saiu bem no placar de fim de ano, mesmo com nada de bom para o Coelhão no Campeonato Brasileiro: “Nós saímos da primeira divisão para sermos campeões da segunda divisão”.

FOTOS: SEBASTIÃO JACINTO JR.

SOU ECOLÓGICO

OLAVO MACHADO em três tempos: recebendo a camisa auriverde de Hiram Firmino. Vestindo-a na hora. E saindo ecologicamente engajado, sem tirá-la durante o almoço FOTO: EDY FERNANDES / O TEMPO

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PRESENÇAS CLIMÁTICAS NO VII PRÊMIO HUGO WERNECK

TRAJANO BARROSO e Ana Gabriela Cardoso (Usiminas)

PAULO HENRIQUE SOARES, novo diretor de Comunicação do IBRAM, ladeado por Fernanda Zebral (Anglo American) e Cristiane Aguiar (AngloGold Ashanti)

MUDANÇA WERNECKIANA NA CBMM O empresário Tadeu Carneiro, a quem a CBMM deve a conquista, em 2012, do “III Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, na categoria “Melhor Empresa”, não é mais o presidente da mineradora. Seu sucessor é Eduardo Antunes Ribeiro, que já respondia pela Diretoria de Operações. Detalhe werneckiano: em 2013, na quarta edição do prêmio, o homenageado especial, in memoriam, foi o Dr. Antunes, como era chamado Augusto Trajano de Azevedo Antunes, o primeiro empresário da mineração a pensar e praticar a sustentabilidade na Floresta Amazônica. Isso há mais de meio século. Leia-se o Projeto Serra do Navio, no Amapá, onde, além de acesso igual à educação em plena selva, os seus engenheiros, técnicos e peões tinham a mesma qualidade de água e esgoto tratado à montante da operação industrial e de suas casas, para obrigá-los a não poluir os cursos d´água. Foi Eduardo Antunes Ribeiro, seu sobrinho, o novo presidente da CBMM, quem recebeu a estatueta “Hugo Werneck” em nome do Dr. Antunes. Lembrou ele, na ocasião: “A história do meu tio começou em Minas Gerais. Daí essa premiação ter um valor especial para toda a nossa família”. Quem lhe entregou o troféu, acompanhada de Luís Márcio Vianna (Sindiextra), foi a cantora Fernanda Takai, que viveu parte de sua infância também no projeto Serra do Navio. Como nada acontece em vão...

FOTO: GUALTER NAVES

FERNANDA MANN e Rosane Azevedo

EDUARDO ANTUNES RIBEIRO, ladeado por Fernanda Takai (Pato Fu), e LuísMárcio Vianna (Sindiextra) FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

FLÁVIO AZEVEDO e Eunice Rodrigues

TADEU CARNEIRO e Dr. Antunes: histórias sustentáveis

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PÁGINAS VERDES

"A ESPERANÇA EXISTE" Bia Fonte Nova

redacao@revistaecologico.com.br

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FOTO: MARCUS DESIMONI

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mbaixador do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o professor e economista indiano Pavan Sukhdev foi a estrela de um encontro seleto promovido pela Fundação Renova, na lua nova de novembro, na sede da Fundação Dom Cabral, em Nova Lima (MG). Especialista em desenvolvimento sustentável e economia verde, ele ressaltou a importância do diálogo no relacionamento com as comunidades afetadas pelo rompimento da Barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana, em 05 de novembro de 2015, bem como a criação de parcerias para a reconstrução das áreas devastadas pela maior tragédia socioambiental já ocorrida no Brasil. Na plateia, estavam representantes do poder público, de órgãos ambientais, movimentos sociais e ONGs, além de integrantes da governança da Renova, das empresas mantenedoras e lideranças de algumas comunidades impactadas, como Barra Longa. As palavras “esperança”, “diálogo” e “resiliência”, mencionadas em diferentes momentos, por diferentes participantes, deram o tom do encontro. “Devemos seguir adiante, acreditando que há esperança, e trabalhando de forma colaborativa em direção a um novo futuro”, frisou Pavan. Confira, a seguir, suas principais reflexões, cuja experiência também inclui a participação em ações de reconstrução após desastres ocorridos mundo afora, entre eles o terremoto de 2011, no Japão, que matou mais de 15 mil pessoas:

PAVAN SUKHDEV: "Aprendi cedo na vida que só conseguimos gerenciar aquilo que podemos medir e mensurar"

l SOBREVIVÊNCIA E REABILITAÇÃO “Estamos aqui para falar sobre como seguir adiante com as ações de reparação, restauração e reconstrução, previstas na missão da Fundação Renova. Cada uma dessas atividades requer muito raciocínio, consulta e discussão, pois não se trata de uma obra apenas de cimento e concreto. Mas sobre pessoas, comunidades, sobrevivência, trabalho e reequilíbrio de todos os ecossistemas afetados.” “Reabilitação tem significados

distintos para diferentes pessoas. Para mim, significa construir uma nova vida. Ela inclui elementos da vida antiga, mas precisa incorporar também inovação e melhorias. Deve, ainda, conter elementos de esperança, comprovando a importância tanto da criatividade humana quanto da resiliência das pessoas e da natureza de encontrarem saídas e novas soluções diante de uma situação extrema, como a enfrentada aqui. Portanto, a reabilitação jamais será alcançada sem colaboração, consulta e cooperação.”


PAVA N S U K H D E V

QUEM É ELE Físico e economista, Pavan Sukhdev é CEO e fundador da Gist Advisory, consultoria que capacita governos e corporações a medir e gerenciar seus impactos sobre o capital natural e humano. É autor do livro “Corporação 2020: como transformar as empresas para o mundo de amanhã”, cuja campanha de mesmo nome, lançada na Rio + 20, ressalta a importância de incluir os serviços ambientais – água, florestas, solo e ar – na contabilidade das atividades econômicas e produtivas. Em 2008, ele liderou um estudo global sobre os benefícios econômicos dos ecossistemas e as consequências sociais e econômicas de sua perda e degradação. Defensor da economia verde, recebeu, em 2013, o “Prêmio Gotemburgo para o Desenvolvimento Sustentável" (Suécia), por seu esforço em ampliar o reconhecimento de políticas voltadas para a valorização dos serviços prestados pelos ecossistemas globais.

l PLANO VIVO E DINÂMICO “O plano de ação da Samarco deve se basear nas necessidades, demandas e opiniões das comunidades impactadas e também na redução dos impactos ambientais causados pelo acidente. Sua elaboração tem de envolver todas as partes interessadas e afetadas, assegurando que todos estejam falando a mesma língua.” “Sabemos que todos querem fazer o melhor, mas a ideia do que é bom e correto a se fazer numa situação complexa como essa, muda muito de um grupo para outro. Por isso, é essencial

FOTO: ELOAH RODRIGUES

Especialista em Desenvolvimento Sustentável e Economia Verde

“Em respeito aos que morreram na tragédia, devemos aprender com as comunidades afetadas, por meio do diálogo contínuo.” que se tenha um amplo processo de consulta às comunidades e, sobretudo, um pensamento colaborativo e cooperativo. Ninguém tem um conhecimento perfeito sobre as diferentes situações que vivenciamos. Todos vamos aprendendo à medida que vivemos.” “Esse plano de reabilitação também não pode ser um documento estático, criado apenas para ser colocado numa vitrine. Deve ser um documento vivo e dinâmico. Um plano de ação que tenha as comunidades afetadas como coautoras será certamente mais especial e mais eficaz do que um

documento escrito apenas por um comitê de especialistas.” l SEM SOLUÇÃO ÚNICA “Jamais teremos uma solução única para nos prevenirmos de desastres ou para nos recuperarmos da ocorrência deles. E o trabalho de recuperação das áreas afetadas é, por si só, uma reafirmação da resiliência humana, da criatividade na construção e na busca de soluções mais eficientes.” “Em respeito às 19 pessoas que morreram na tragédia, devemos aprender com as comunidades

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PÁGINAS VERDES

afetadas, por meio do diálogo contínuo. Problemas complexos requerem soluções complexas. Diante deles não se tem apenas um ângulo, uma perspectiva ou lente única pela qual se possa olhar. Sempre haverá inúmeras perspectivas e, para avançar, será preciso encarar cada uma delas.” “No caso da Renova, acredito que a perspectiva mais importante – e que deve ser o pontapé inicial de todas as ações – é a tristeza das comunidades afetadas. Não podemos fechar os olhos para o sofrimento das pessoas diante do que aconteceu.” l SUCESSO X IMPACTOS “Num processo complexo como esse, que envolve inúmeros parceiros e representantes de diferentes setores da sociedade, outro desafio é medir o sucesso das ações. Aprendi cedo na vida que só conseguimos gerenciar aquilo que podemos medir e mensurar.” “É essencial, ainda, avaliar o que chamo de externalidades, ou seja, os impactos causados por uma transação ou empresa em qualquer pessoa ou instituição que não tenha concordado, de forma explícita, com essas atividades.” “Um dos desafios da Renova é fazer com que o capital humano – formado pela riqueza da sociedade local, com seus valores e tradições – seja resgatado paralelamente às ações de recuperação ambiental e de infraestrutura dos locais atingidos. Medir essas externalidades vai permitir que a fundação demonstre, daqui a algum tempo, se as iniciativas adotadas foram realmente positivas e trouxeram resultados palpáveis, ou se foram apenas superficiais.” l LIÇÕES INTERNACIONAIS 22  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2016

FIQUE POR DENTRO

“O objetivo primordial de todo o trabalho que vem sendo e ainda precisará ser feito é criar uma nova vida por meio da reconstrução. Esse é o objetivo maior da Fundação Renova e ele deve ser conquistado por meio da resiliência.”

“Também é importante aprender com as lições e experiências adquiridas em desastres naturais mundiais. Conhecer as soluções e as saídas adotadas por outros governos, empresas e comunidades. Ao visitar Bento Rodrigues, imagens com as quais me deparei no Japão, após o terremoto/tsunami de 2011 – que devastou Minamisanriku, uma das principais cidades costeiras na região de Tohoku/Fukushima – voltaram à minha memória.” “Lá, nossos colaboradores, em parceria com a empresa Amita, criaram um plano de reconstrução baseado no reaproveitamento de recursos e insumos locais. Investiram, por exemplo, na geração de energia elétrica por meio de uma planta de biogás alimentada por resíduos orgânicos (restos de alimentos e rejeitos da indústria de pescados).” “Além de energia elétrica para alimentar vilas rurais, a usina de biogás também gera fertilizante líquido, que é usado para pulverizar as lavouras da região, fomentando a retomada dos postos de trabalho perdidos

A FUNDAÇÃO Constituída para reparar os danos causados pelo rompimento da Barragem de Fundão, a Fundação Renova foi criada em março de 2016. Seu foco é garantir transparência, legitimidade e senso de urgência a um processo complexo e de longo prazo, tendo sido estabelecida por meio de um Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC), firmado entre a Samarco, suas acionistas – Vale e BHP Billiton –, os governos federal e dos estados de Minas e Espírito Santo, além de outras autarquias. www.fundacaorenova.org

com a tragédia. Criaram, ainda, certificações para o carvão vegetal e para pescados produzidos na cidade.” “Durante a visita a Bento Rodrigues, vi matas de eucalipto em trechos da estrada, e pensei que, talvez, elas possam ser usadas para produzir carvão vegetal de forma sustentável, gerando uma nova atividade, renda e empregos na região.” l GUIA DA ONU “No caso do tsunami da Indonésia/Oceano Índico, as lições de reconstrução também estão sendo compartilhadas. Passados mais de 10 anos da tragédia que matou cerca de 230 mil pessoas, a ONU lançou, em 2015, um ‘kit de ferramentas’ voltado para profissionais responsáveis pela implementação de programas de recuperação. Ele reúne experiências relativas ao tsunami de 2004 e também a outras tragédias naturais ocorridas na região, entre 1993


PAVA N S U K H D E V

Especialista em Desenvolvimento Sustentável e Economia Verde

Eles disseram... FOTOS: DIVULGAÇÃO

“Essa é a primeira de uma série de encontros que faremos, voltados para ouvir, aprender e somar esforços com profissionais, acadêmicos, sociedade civil e, principalmente, com as comunidades impactadas. Sabemos que a realidade do nosso trabalho é complexa e ambígua, mas seguimos confiantes, valorizando a riqueza que brota da diversidade de ideias e opiniões. É assim que esperamos encontrar as melhores saídas e soluções para os desafios que temos pela frente. Esse é o compromisso da Renova.” ROBERTO WAACK, diretor-presidente da Fundação Renova

“Cabe aos envolvidos na reconstrução entender e aceitar que a opinião principal é a das comunidades afetadas. Elas têm que decidir o seu próprio destino e todo o trabalho dever ser conjunto, com diálogo. Nesse processo, toda ajuda é bem-vinda: não apenas a de empresas e fundações, mas de qualquer parceiro verdadeiramente interessado em construir um novo futuro.”

FOTO: DIVULGAÇÃO / FDC

SATYA TRIPATHI, coordenador da ONU para a reconstrução da região de Aceh e Nias, na Indonésia, em participação por vídeo

“A causa de estarmos aqui não é uma causa feliz. No entanto, olhando para frente e vendo um grupo como este aqui reunido, a palavra que me vem à mente é esperança. A esperança num tempo melhor. Como diz o professor Cortella [Mario Sergio Cortella, filósofo e escritor] não a esperança do verbo esperar, acreditando que algo dará certo ou será resolvido. Mas a esperança do verbo esperançar, que implica agir para conseguir algo, sem desistir. É para isso que a FDC se propõe a também ser parceira nesse processo.” ROBERTO SAGOT, diretor-executivo de Desenvolvimento de Grandes Organizações, Internacionalização e Pessoas da Fundação Dom Cabral

e 2013. O objetivo é servir de guia para o desenvolvimento, implementação e gerenciamento de programas complexos de recuperação pós-desastres.” l DOR E PERDAS

colaborativa em direção a um novo futuro. Quero lembrar, ainda, que não há substituição real para a dor, para as perdas e para a tristeza das vidas perdidas. Jamais poderemos compensar isso.”

“Devemos seguir adiante, acreditando que há esperança e trabalhando de forma

“Contudo, o objetivo primordial de todo o trabalho que vem sendo e ainda precisará ser feito

é criar uma nova vida por meio da reconstrução. Esse é o objetivo maior da Fundação Renova e ele deve ser conquistado por meio da resiliência. Ou seja, da habilidade de resistir, lidar e reagir de modo positivo diante de situações adversas. Espero, sinceramente, que vocês sejam bem-sucedidos.”

DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  23


MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

FOTO: REPRODUÇÃO

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ESTADO DE ALERTA

QUE VERGONHA, SR. PRESIDENTE!

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o final de novembro, o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, anunciou que quase todos os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) seriam tornados públicos. A exceção seriam os nomes dos proprietários. Coordenadas e nome da propriedade, sim. Confesso que fiquei impressionada com o gesto, que supus ter sido acordado com o próprio presidente Michel Temer. Sem dúvida uma “ousadia democrática”, pois, conforme consta do Artigo 25 da Constituição, os recursos naturais, base única de qualquer atividade econômica, são bens públicos, apesar dos títulos de propriedade que levam os proprietários a reivindicarem o direito de fazerem o que bem entendem com os mesmos. Quanto ao aparente conflito jurídico - os juristas que expliquem -, porque se é que a natureza tem dono, certamente não é o agronegócio. Somos todos nós. Inclusive, mas não somente, eles! No dia 05 de dezembro, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) voltou atrás e o diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Raimundo Deusdará, veio a público dizer que foi um “erro técnico” divulgar os nomes das propriedades. Na prática, o governo estava cedendo à pressão da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e de outras poderosas instituições que representam o agronegócio no país. O motivo é claro: temor de que a divulgação facilite ação da sociedade civil em fiscalizar desmatamentos, poluição, mau uso da água e erosões. Mas, quem não deve não teme. E parece que o número de quem teme é infinitamente maior. Se o “meio ambiente equilibrado é direito de to-

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dos”, conforme institui o Artigo 25 da Constituição, porque nós cidadãos não podemos saber o nome das propriedades e assim verificar se estão sendo bem usadas? O MMA perguntou à população, que é muito maior do que os proprietários rurais, se ela concorda com o recuo? Para que o CAR se a sociedade não pode utilizá-lo como ferramenta de cidadania? O Cadastro Ambiental Rural está previsto no Código Florestal, Lei 2.651/2012, redigido 95% pelos ruralistas, que se recusaram até mesmo a ouvir estudiosos do assunto, liderados por Aldo Rebelo (aquele que não acredita em efeito estufa e acha que a espécie humana é o centro do universo). No bojo de uma lei que tem como objetivo proteger interesses econômicos diversos, menos a preservação do meio ambiente, o CAR é uma pequena exceção e já deveria estar terminado. O prazo determinado na Lei para sua finalização seria maio de 2015, mas foi prorrogado duas vezes. A última para 2017, por projeto do deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS). Aquele que disse no filme “A Lei da Água” que “o povo tem os parlamentares que merece”. Porém, nem terminamos 2016 e já existe um Projeto de Lei na Câmara dos Deputados para prorrogar o prazo de cadastramento para 2018. A medida está prevista no PL 4.550/16, do deputado Heitor Schuch (PSB-RS). Assim, o pouco que ganhamos no “código ruralista”, corremos grande risco de não levar. Que vergonha, senhor presidente!  (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).



1 CLIMA

DO IBAMA PARA IBAMA Socorro Michel Temer, Sarney Filho e Acordo de Paris! Sobe em 29% o desmatamento da Amazônia

FOTO: MARCOS TAKAMATSU

governo federal. A carta ressalta desde o impacto dos cortes orçamentários até a nomeação de gestores que não têm experiência ou comprometimento com a causa. E destaca, também, medidas urgentes para garantir a preservação da Floresta Amazônica e o protagonismo do Brasil no controle das emissões de gases de efeito estufa. Confira:

“Considerando a divulgação, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no dia 30/11/2016, do aumento, em um ano, da taxa de desmatamento da Amazônia em 29%, nós, chefes, gestores de núcleos e responsáveis pela Fiscalização do IBAMA nos Estados, reunidos em Brasília (DF), vimos por meio desta Carta Aberta, alertar que: Após quatro anos de luta no controle das taxas de desmatamento na Amazônia, avaliamos que o aumento nos dois últimos anos é reflexo da falta de prioridade que a agenda ambiental tem no Brasil com os sucessivos cortes de investimentos, enfraquecimentos legais e ausência de concursos para recomposição do quadro de servidores do IBAMA, bem como nomeações de gestores estaduais cuja experiência não se fez na carreira ambiental e tampouco possuem qualquer comprometimento com a causa. Como gestores responsáveis diretamente pela execução das atividades de combate ao desmatamento, alertamos que sem a adoção de medidas governamentais concretas o quadro que se desenha para o próximo ano é o de continuidade do aumento do índice, situação que tira do Brasil o seu protagonismo no controle da emissão de gases de efeito estufa. Anualmente, o contingente operacional empregado na Amazônia é reforçado por equipes de outros Estados e, com isso, há um prejuízo no funcionamento das superintendências em matérias de fauna, pesca, qualidade ambiental, comércio exterior e as ações de proteção dos demais biomas que têm índices de degradação ainda piores. Ademais, lamentavelmente o contingenciamento orçamentário destinado ao órgão interrompeu o planejamento de 2016 e comprometeu as ações de fiscalização, resultando na retirada das equipes que atuam no combate aos crimes ambientais in loco, e permitindo assim o avanço do desmatamento. Entendemos que muitas medidas são necessárias para a manutenção do controle do desmatamento na Amazônia, mas as principais fogem à governança da direção do IBAMA, que mesmo com todos os esforços ainda concorre com pressões advindas de outros setores que objetivam seus respectivos interesses econômicos e privados em detrimento do bem de uso comum SUELY Guimarães, presidente do Ibama: de um povo e ainda um bem fundamental à sadia qualidade de missão impossível? vida, malucando a Constituição Federal de 1988. 26  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2016

FOTO: DIVULGAÇÃO

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o início de dezembro, os gestores de núcleos e responsáveis pela Fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) nos estados enviaram e divulgaram uma carta aberta à presidente do órgão, Suely Guimarães. O pedido de socorro tem vários motivos, sendo o principal deles a pouca atenção que a pasta vem recebendo do


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AMOR À CAUSA Alertamos que tais medidas são necessárias, mas não suficientes. A preservação da Floresta Amazônica depende ainda do envolvimento de toda a sociedade, que pode contribuir com o consumo responsável, buscando informações do mercado produtor e evitando os grandes fornecedores de produtos de origem vegetal e animal que são responsáveis direta e indiretamente por grandes áreas desmatadas na Amazônia. Lembramos que escolhemos defender o meio ambiente por amor à causa e conscientes da importância para as presentes e futuras gerações da humanidade. Todavia, não venceremos esta luta sem instrumentos, infraestrutura e valorização. Continuaremos nossa luta dentro de nossas capacidades.”

Quanto vale o desamor?

Em apenas um ano, a Amazônia perdeu 7.989 km². Essa área equivale a:

1,4 milhão de campos de futebol; • 7 vezes a cidade do Rio de Janeiro; • 5 vezes a cidade de São Paulo; • 30 mil Praias de Copacabana.

FOTO: VINÍCIUS MENDONÇA / ASCOM / IBAMA

FOTO: RODRIGO BALÉIA / GREENPEACE

OS SOCORROS - Reforço do orçamento para as atividades de fiscalização que vêm sofrendo redução nos últimos anos: no ano de 2016 o IBAMA já arrecadou com taxas e multas mais de R$ 436 milhões e tem despesas discricionárias em torno de R$ 250 milhões/ano. Ou seja, o IBAMA é um órgão superavitário, não justificando a redução e contingenciamento do seu orçamento. - Recomposição do quadro de fiscais por meio da realização de concurso público: o último concurso foi realizado em 2009 e houve uma redução significativa de fiscais; sendo que atualmente 36% dos profissionais já atingiram o tempo de serviço necessário para aposentadoria. - Valorização do servidor que atua na fiscalização com atendimento dos pleitos estruturantes: atualmente, os agentes de fiscalização são designados por uma Portaria e não possuem quaisquer direitos diferenciados ou mesmo uma carreira específica regulamentada.


1 CLIMA

O dia em que a

bela chorou

A modelo brasileira Gisele Bündchen vê com os seus próprios olhos a destruição da Amazônia. E se emociona

FOTO: MARCOS TAKAMATSU

Foi no dia 18, lua cheia de novembro, que a nossa Gisele Bündchen viveu na pele o recado da sustentabilidade transmitido durante a abertura das Olimpíadas Rio 2016 para 3,5 bilhões de seres humanos em todo o mundo. Nesse dia, em vez do estádio iluminado do Maracanã, onde caminhou divinamente sobre um chão com traços desenhados por Oscar Niemeyer, a modelo estava em Alta Floresta (MT). Quem a recebeu não foi uma multidão, como no maior estádio do mundo sob o olhar do Cristo Redentor. Mas Paulo Adário, estrategista sênior de Florestas do Greenpeace, e a própria natureza selvagem, em nome de todos os ambientalistas. Ele a aguardava para um combinado sobrevoo a última grande floresta tropical do planeta: a nossa Amazônia. Não mais o pulmão, como erroneamente pensávamos. Mas o refrigerador da Terra e de sua humanidade. O helicóptero ganha o céu e descortina a triste realidade da Amazônia Legal brasileira. Tem início o diálogo entre eles. É Adário que aponta uma amarronzada estrada de terra, clandestina e difícil de distinguir em meio ao verde exuberante: - Vê aquela estrada? É assim que tudo começa. Com pequenas estradas para exploração de madeira. Eles cortam somente as árvores que têm valor comercial. E, então, vão embora. A estrada permanece lá. O fazendeiro chega, corta todas as árvores restantes e bota fogo em tudo para virar pasto e colocar o seu gado. Gisele se indigna: - O gado não deveria estar aqui! - Não, definitivamente não. A pecuária predatória é responsável por 65% de todo o desmatamento da Amazônia – acrescenta Adário, para espanto da bela: - Você deve estar brincando... 28  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2016

FOTO: REPRODUÇÃO

Hiram Firmino

GISELE ao final do sobrevoo: lágrimas pelo desacordo climático brasileiro

- Não, não estou - responde o representante do Greenpeace. O que você vê ali são pastos, restos da floresta... Olhe lá embaixo, de novo. Há gado por todos os lados, ocupando a terra já seca! Imagine a destruição desta linda floresta para produzir gado! Quando você come um hambúrguer não se dá conta de que o seu hambúrguer... - Veio daqui? - Gisele aponta. - Vem da destruição da floresta. Nós já perdemos 20% da Amazônia - Adário lamenta. Gisele aprofunda seu olhar no verde em transe lá embaixo e se emociona, num choro que se pronuncia junto. O ambientalista lhe pergunta: - É chocante, não é? Ela concorda com a cabeça. Leva as mãos até o canto dos seus olhos verdes. E, elegantemente, contém as lágrimas, que são as lágrimas da natureza da Terra, tão bela e frágil quanto ela. (*) Para assistir ao documentário “Years Of Living Dangerously” na íntegra, acesse: goo.gl/FlXmun


O Papa e o futuro da Amazônia Virgílio Viana (*)

V

ivemos um período crítico para o futuro da humanidade. As mudanças climáticas podem ter efeitos disruptivos, com o colapso de sistemas de produção, migrações em massa e conflitos armados. Uma pequena mostra da ameaça que temos pela frente é a guerra da Síria, cuja origem está ligada a uma série de secas prolongadas que levaram ao colapso da produção rural, seguida de êxodo para as cidades, conflitos sociais agudos e guerra civil. Pela primeira vez na história da humanidade estamos diante da necessidade de uma revolução guiada pela ciência. Estamos acabando com a capacidade do planeta de produzir alimentos e serviços ambientais essenciais para a vida humana. Exemplos disso são as enormes extensões dos oceanos, rios e lagos mortos pela poluição. A Amazônia não foge a esse cenário, com seus igarapés urbanos poluídos e suas florestas empobrecidas pelas queimadas e desmatamento. O mundo carece de líderes capazes de conduzir a humanidade para a necessária mudança nos sistemas de produção e padrões de consumo. É preocupante a escassez de líderes com lucidez sobre a urgência de promover essas mudanças em nossas sociedades. O Papa é hoje o mais importante líder global, acima das questões religiosas. Sua Encíclica,

“Laudato Si”, lançada em 2015, pode ser vista como um manifesto ecumênico sobre a necessidade de todos os povos reverem sua relação com a natureza e as desigualdades sociais. É um documento com forte embasamento científico, cuja elaboração foi apoiada pela Pontifícia Academia de Ciências, que possui mais de 30 prêmios Nobel e é liderada pelo brilhante Monsenhor Marcelo Sorondo. É leitura obrigatória para todos, independentemente de religião ou credo. É por esta razão que procurei D. Sérgio Castriani, Arcebispo de Manaus, com a proposta de escrevermos uma carta convidando o Papa para vir à Amazônia. Tive a honra e o privilégio de entregar este convite pessoalmente ao Papa Francisco no dia 30 de outubro de 2016. Uma visita do Papa à Amazônia terá grande importância para o futuro da região. Precisamos urgentemente de um projeto nacional para o bioma que fique acima dos interesses políticos e econômicos de curto prazo. A degradação ambiental, a pobreza e as desigualdades podem e devem ser superadas até 2030 – data limite para alcançarmos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.  (*) Superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS). Site: fas-amazonas.org

DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  29

FOTO: RODRIGO BALÉIA / GREENPEACE

FOTO: GABRIELLA C MARINO

ENTREGA do convite ao Papa Francisco: a maior floresta tropical do mundo precisa dele


1 SAÚDE

O ANTIGO Instituto Hilton Rocha, em ruínas, e a proposta ao lado de sua adequação ambiental em discussão: manter o abandono ou revitalizá-lo? Eis a questão

FRIEZA LEGAL

Procuradora que suspendeu as obras do futuro hospital de câncer da Oncomed, onde funcionava o ex-Instituto Hilton Rocha, se diz cerceada pela legislação Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

“S

ou escrava da lei.” Assim mesmo, de maneira sucinta, e várias vezes, foi como a procuradora de justiça Mirian do Rosário Moreira, integrante do Ministério Público Federal em Minas Gerais, respondeu à maioria das colocações feitas pela Revista Ecológico sobre o seu recente ato, impossibilitando a construção de um novo hospital especializado em câncer na capital mineira. Trata-se de uma velha polêmica na Serra do Curral envolvendo a Associação dos Moradores do Mangabeiras e o Grupo Oncomed: 30  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2016

uma nova e ambientalmente adequada casa de saúde onde hoje só restam as ruínas de um antigo hospital oftalmológico agredindo o meio ambiente. Perguntamos: - O que a senhora, acompanhando o voto do promotor Marcos Paulo Miranda, que não quis nos dar entrevista, acredita ser melhor tanto para população belo-horizontina quanto para a natureza da Serra do Curral: os escombros e o abandono atual do antigo hospital ou a sua revitalização/adequação ambiental para continuar atendendo à sociedade sem agredir o cartão de

visitas natural da capital? - “Não entro nesta discussão. Sou escrava da lei.” - Se for assim, seguindo o pé da letra todo o processo legal de tombamento patrimonial e ocupação desordenada da Serra do Curral, a senhora teria de também paralisar as atividades do Hospital da Baleia, na extensão do Parque das Mangabeiras. E até tirar as antenas que poluem visualmente o alto da Serra. Por que não fazê-lo, ao contrário de impor a lei somente no caso da Oncomed? - “Ninguém me pediu isso. Eu sigo a lei, sou escrava dela, e em um processo específico.”


FOTOS: DIVULGAÇÃO

- A exemplo do Hospital da Baleia, várias ruas e casas hoje ocupadas no Alto do Mangabeiras, cujos moradores são contra o novo Hospital da Oncomed, também teriam de ser demolidas para dar lugar ao verde original invadido. A senhora tem conhecimento dessas implicações? Ou seja, que existem outros interesses em jogo, nada ambientais nem de amor à natureza? - “Repito. Eu me atenho à lei e ao processo em curso para o qual fui designada.” - A senhora sabia que, para conseguir o licenciamento ambiental junto à prefeitura, via Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam), a Oncomed contratou a Fundação Biodiversitas, cujas ações compensatórias previstas culminam com a implantação de um corredor ecológico de flora e fauna capaz de restabelecer a conectividade natural entre os

parques das Mangabeiras e o Paredão da Serra? Que haverá mais ganho que perda de verde, de biodiversidade? A procuradora ficou incomodada nesse momento. Perguntou se a entrevista estava sendo gravada (o que não foi formalmente solicitado antes, mas demonstrado naturalmente na presença de seu assessor). Ela pediu que também não fizéssemos fotos dela, alegando motivação de segurança pessoal. E, novamente, por mais duas vezes, repetiu tecnicamente o mantra da sua entrevista, quando perguntada sobre o que achava melhor e mais justo para a cidade, a serra e a população: - “Não estou entendendo até onde você quer chegar. Não me cabe responder o que acho ou sinto. Já disse que sou escrava da lei” – repetiu ela, até na última pergunta que lhe fizemos:

- Se o doutor Hilton Rocha, seu hospital e sua fundação estivessem vivos e em funcionamento hoje, atendendo a milhares de pessoas, incluindo uma parcela pobre da população, naquele mesmo e polêmico pedaço da Serra, a senhora decidiria, do mesmo jeito, pelo seu fechamento e paralisação das atividades médicas e sociais? Não houve mais clima. Até propus passar toda a gravação, e a própria matéria, enfim, à apreciação da sua assessoria antes de publicá-la. Mas desisti. Se dizer, taxativamente, “escrava” de uma lei imutável, independentemente da realidade atual, ambiental e humana à sua volta, bastou. Não iria contribuir para mudar e melhorar as coisas. Nem fazer todas as partes ganharem, que é a causa maior da sustentabilidade. Triste assim. Data venia.

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DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  31


1 SAÚDE

#TODOSPELAVIDA: Mitos e Verdades sobre o Hospital da Oncomed A Oncomed acredita que é a partir da união das forças que se alcança projetos benéficos para a cidade. O novo hospital para tratamento e prevenção do câncer é um deles. Por isso, o abraço à causa do futuro centro de excelência contra a doença em Minas Gerais é tão simbólico. O novo Hospital da Oncomed vai trazer para Belo Horizonte aproximadamente 220 leitos, com tecnologia de ponta para o tratamento do câncer e uma proposta totalmente pioneira de harmonização com a natureza que compõe a Serra do Curral.

ambiente, uma vez que tem características que o harmonizam com a paisagem da Serra do Curral. Além disso, será um hospital com selo verde que irá recuperar a área vegetal perdida e incrementará o potencial de absorção e reserva de águas das chuvas.

Mais que um projeto inovador na área da saúde, o novo hospital é uma necessidade. A capital mineira possui uma carência de cerca de dois mil leitos e hospitais com idade média de 40 anos. Em BH e Região Metropolitana, a média de leitos por mil habitantes é de 1,5, sendo que o coeficiente recomendado pelo Ministério da Saúde é de, pelo menos, 2,5 leitos por mil habitantes. A luta contra o câncer no Estado será intensificada com o Hospital da Oncomed. Um projeto a favor da vida como este não pode ficar apenas no papel.

MITO 03: O novo hospital vai prejudicar o trânsito local nas ruas vizinhas e dificultar o acesso ao Parque das Mangabeiras.

O novo Hospital obteve, em 2015, a licença ambiental emitida pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente. Também possui o Alvará de Construção da Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana, que regulamenta a construção do empreendimento, emitido em maio deste ano, bem como a autorização do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para realizar a revitalização no local. Tudo isso só foi possível graças à proposta respeitosa e integrada com o patrimônio imaterial local. Mesmo com todos os processos de construção do Hospital da Oncomed vigorando dentro da legislação, várias informações falsas foram disseminadas na comunidade local. Veja abaixo os MITOS E VERDADES sobre o projeto:

MITO 01: A verticalização do novo hospital causará grande impacto para a paisagem da região. VERDADE: O novo projeto arquitetônico prevê a utilização da estrutura do antigo prédio sem acréscimo de pavimentos acima dos existentes, integrando-o à paisagem. Ou seja, não haverá verticalização e sim revitalização horizontal.

MITO 02: Trará mais prejuízos ambientais à Serra do Curral, já degradada pela mineração. VERDADE: O novo prédio será benéfico ao meio

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A reforma do prédio está em total conformidade com a legislação e a licença ambiental foi obtida em fevereiro de 2015 junto ao Conselho Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte.

VERDADE: Ele não contará com unidades de prontosocorro, portanto não haverá fluxo de ambulâncias na região, nem ruídos de sirene e fluxos intensos, em respeito à vizinhança. O projeto de ampliação prevê a construção de 335 vagas de estacionamento (para carros, motos e bicicletas) nos subsolos, que atenderão a funcionários e familiares.

MITO 04: Atrairá para o bairro Mangabeiras ambulantes e flanelinhas, além de marginais. VERDADE: A frequência atual da região, atraída pelo atendimento público do SUS realizado na Fundação Hilton Rocha, e também pelo Parque das Mangabeiras, Praça do Papa, imediações da Praça Estado de Israel e pista de caminhada, pouco será alterada. Não se trata de uma fábrica ou escola, com concentração de pessoas em determinados horários. Além disso, a expectativa é de que a ocupação e o fluxo do novo hospital inibam infrações e crimes, atualmente atraídos pelo abandono do entorno. O bairro Mangabeiras vem sendo alvo de ações de bandidos, justamente por ser escuro e pouco movimentado. A nova instituição médica trará movimento e segurança 24h para a população local.

MITO 05: Existe vinculação de uso da oftalmologia e o Hilton Rocha deve continuar sendo um hospital oftalmológico, nada mais que isso. VERDADE: O local continuará prestando atendimento à população através da Fundação Hilton Rocha, localizada e preservada no prédio ao fundo. O novo hospital também realizará atendimento oftalmológico e terá tratamento oncológico e cardiovascular.


FOTO: DIVULGAÇÃO

NA FRENTE do pretendido hospital de tratamento do câncer: interação paisagística com a Serra do Curral A oftalmologia se modernizou e, hoje, atende procedimentos de alta complexidade em clínicas pela cidade, sendo esta uma das razões para o esvaziamento do antigo Instituto Hilton Rocha que, por ser superdimensionado para a nova realidade da especialidade, ficou abandonado durante anos.

MITO 06: A Oncomed justifica o desejo de transformar o antigo Instituto de Olhos Hilton Rocha em hospital de múltiplas atividades, o que é proibido em áreas preferencialmente residenciais. VERDADE: A Lei do Uso e Ocupação do Solo de Belo Horizonte - 9.959/10 garante o direito de funcionamento de hospital naquela área. E a proposta em discussão é transformar um hospital abandonado, com estrutura física obsoleta e que agride o meio ambiente, em um centro de prevenção e tratamento do câncer, promovendo a adequação da edificação para as novas atividades e valorizando a sustentabilidade ambiental ao seu redor. Além disso, em conformidade com o novo Plano Diretor de BH, que tramita na Câmara dos Vereadores, a Oncomed se compromete a utilizar apenas o coeficiente 1 de construção, para que a revitalização torne o edifício ainda mais harmonioso e benéfico para meio ambiente e sociedade.

MITO 07: Ao consultar o Ministério Público Estadual, em 2011, sobre a legalidade da pretensão, a Associação dos Moradores constatou que a encosta foi tombada por lei federal em 1960 pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), proibindo edificações no local. VERDADE: Em qualquer área tombada por um órgão público específico, a lei determina que mudanças podem ser realizadas nesta área desde que sejam aprovadas pelo órgão que regulamenta o tombamento. Em maio deste ano, o Iphan aprovou as mudanças realizadas no projeto de revitalização do antigo prédio do Hospital Hilton Rocha. O órgão já havia dado o aval

para o projeto em 2012, quando informou ter recebido o plano de adaptação do imóvel, cuja revitalização foi considerada adequada, inclusive, à necessidade de redução do impacto paisagístico na Serra do Curral. O Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município (CDPCM-MG) também aprovou as mudanças propostas pela Oncomed no antigo hospital Hilton Rocha. O Ministério Público (MPMG) fez cuidadoso estudo, por meio de consulta a diversos outros órgãos e, em 30 de janeiro de 2012, por sua Promotoria de Justiça de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, comunicou o arquivamento do referido procedimento. A legislação local também corrobora com a construção do centro de excelência em câncer. A Lei Nº 10.630/2013, publicada no Diário Oficial do Município em 06/07/2013, permite a ampliação de hospitais localizados em áreas de preservação ambiental, desde que já existentes antes da data de publicação da Lei, como é o caso do Hospital da Oncomed.

MITO 08: O novo hospital se tornará inimigo da comunidade vizinha. VERDADE: Como se verifica em diversas capitais e grandes centros do mundo, a presença de hospitais especializados em áreas residenciais é perfeitamente compatível, benéfica e harmoniosa. A proposta da Oncomed é criar uma relação aliada e amigável com a vizinhança, não apenas na sua assistência diária, como também na questão física, já tendo proposto, inclusive, a recuperação paisagística de toda a serra, ao longo da avenida desde a entrada do Parque das Mangabeiras até a Praça Estado de Israel, além da instalação de equipamentos médico-esportivos para uso da comunidade, preferencialmente de terceira idade. 

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MÃE TERRA AMEAÇADA

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á quatro ameaças que pesam sobre a nossa Casa Comum e que exigem de nós especial cuidado. A primeira é a visão pobre da Terra sem vida e sem propósito dos tempos modernos. Ela foi entregue à exploração impiedosa em vista do enriquecimento. Tal visão, que trouxe benefícios inegáveis, acarretou também um desequilíbrio em todos os ecossistemas que provocaram a atual crise ecológica generalizada. Nesse afã foram eliminados povos inteiros, como na América Latina devastaram a Floresta Atlântica e, em parte, a Amazônia e o Cerrado. Em janeiro de 2015, 18 cientistas publicaram na famosa revista Science o estudo “Os limites planetários: um guia para um desenvolvimento humano num mundo em mutação”. Elencaram nele nove dados fundamentais para a continuidade da vida. Entre eles estavam o equilíbrio dos climas, a manutenção da biodiversidade, a preservação da camada de ozônio e o controle da acidificação dos oceanos. Todos os itens encontram-se em estado de erosão. Mas dois são os mais degradados, que eles chamam de “limites fundamentais”: a mudança climática e a extinção das espécies. O rompimento dessas duas fronteiras

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fundamentais pode levar a civilização ao colapso. Cuidar da Terra nesse contexto significa que ao paradigma da conquista que devasta a natureza devemos opor o paradigma do cuidado que a preserva. Este cura as feridas passadas e evita as futuras. O cuidado nos leva a conviver amigavelmente com todos os demais seres e a respeitar os ritmos da natureza. Devemos, sim, produzir o que precisamos para viver, mas com cuidado e dentro dos limites suportáveis de cada região e com a riqueza de cada ecossistema. À Terra como baú de recursos, devemos opor a sua compreensão atual como Grande Mãe e Gaia, superorganismo vivo. A segunda ameaça consiste na máquina de morte das armas de destruição em massa: armas químicas, biológicas e nucleares. Elas já estão montadas e podem destruir toda a vida do planeta por 25 formas diferentes. Como a segurança nunca é total, devemos cuidar para que não sejam usadas em guerras e que os mecanismos de segurança sejam cada vez mais severos. A essa ameaça devemos opor uma cultura da paz, do respeito aos direitos da vida, da natureza e da


“Se não começarmos com mudanças substanciais, o futuro comum Terra-Humanidade corre risco. Vivemos tempos de urgência e de irreversibilidade. A Terra nunca mais será como antes.”

Mãe Terra, da distensão e do diálogo entre os povos. Em vez do ganha-perde, viver o ganha-ganha buscando convergências nas diversidades. Isso significa criar equilíbrio e gerar o cuidado. CUIDAR É PRECISO A terceira ameaça é a falta de água potável. De toda a água que existe na Terra apenas 3% é doce, o resto é salgada. Destes, em torno de 10% vão para a dessedentação humana e animal. É um volume irrisório, o que explica que mais de um bilhão de pessoas vivem com insuficiência de água potável. Cuidar da água da Terra é cuidar das florestas, pois são elas as protetoras naturais de todas as águas. Cuidar da água exige zelar para que as nascentes sejam cercadas de árvores e todos os rios tenham sua mata ciliar, pois são elas que alimentam as nascentes. Ocorre que mais da metade das florestas úmidas foram desmatadas, alterando os climas, secando rios ou diminuindo a água dos aquíferos. O que melhor podemos sempre fazer é reflorestar. A quarta grande ameaça é representada pelo aquecimento crescente da Terra. Pertence à geofísica do planeta que ele conheça fases de frio e fases de calor que sempre se alternam. Ocorre que este ritmo natural foi alterado pela excessiva intervenção humana em todas as frentes da natureza e da Terra. O dióxido de carbono, o metano e outros gases do processo industrial criaram uma nuvem que circunda toda a Terra e que retém o calor aqui em baixo. Estamos próximos a 2oC. Com essa temperatura pode-se ainda administrar os ciclos da vida. A COP-21 de Paris criou um consenso entre as 192 nações de fazer tudo para não chegar a dois graus

Celsius, tendendo a 1,5oC ao nível pré-industrial. Se ultrapassá-lo, a espécie humana estará perigosamente ameaçada. Pena que tais decisões não tenham valor legal. Mas sejam apenas voluntárias. Não sem razão os cientistas criaram uma nova palavra para qualificar nosso tempo: o antropoceno. Este configuraria uma nova era geológica, na qual o grande ameaçador da vida, o verdadeiro satã da Terra, é o próprio ser humano em sua irresponsabilidade e falta de cuidado. Outros aventam a hipótese de que a Mãe Terra não nos quer mais vivendo em sua Casa. Ela arranjaria um modo de nos eliminar, seja por um desastre ecológico de proporções apocalípticas seja por alguma superbactéria poderosíssima e inatacável, permitindo assim que as outras espécies não se sentissem mais ameaçadas por nós e possam continuar no processo da evolução. Contra o aquecimento global devemos buscar fontes alternativas de energia, como a da biomassa, a solar e a eólica, pois a fóssil e o petróleo, este o motor de nossa civilização industrial, produz, em grande parte, o dióxido de carbono. Devemos viver os vários erres (Rs) da Carta da Terra: reduzir, reutilizar e reciclar, reflorestar, respeitar e rejeitar todo o apelo ao consumo. Tudo o que possa poluir o ar deve ser evitado para impedir o aquecimento global. Se não começarmos com mudanças substanciais, o futuro comum Terra-Humanidade corre risco. Vivemos tempos de urgência e de irreversibilidade. A Terra nunca mais será como antes. Temos que cuidar para que as transformações que lhe temos introduzido sejam benéficas para a vida e não o seu holocausto.  (*) Professor e teólogo.

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FOTO: TV GLOBO - ZÉ PAULO CARDEAL

FOTO: MANFRED WERNER

FERNANDO MEIRELLES e MAJU COUTINHO: roubando a cena no enfrentamento das mudanças climáticas

SOMOS TODOS

VENCEDORES A mente criativa da abertura das Olimpíadas Rio 2016 e a repórter do clima do Jornal Nacional foram os homenageados "top" da sétima edição da maior premiação ambiental do país J. Sabiá

redacao@revistaecologico.com.br

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á são sete anos reconhecendo projetos, instituições e personalidades engajadas na luta em prol da sustentabilidade. Mais de 900 inscrições e indicações, contemplando as cinco regiões brasileiras. Cento e vinte e nove premiados. E um

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objetivo: promover o amor e o respeito à natureza como premissa básica para uma melhor qualidade de vida. A edição de 2016 do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, com o tema “Mudanças Climáticas –

Qual a sua Contribuição?” - foi além. De Minas para o Brasil, um lotado MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal, no coração verde da capital mineira, pareceu pequeno para tantos exemplos sustentáveis. E, ao mesmo tempo, tornou-se grande para as

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"Se a semente não suportasse a terra que a asfixia, não teríamos a germinação promissora." manifestações sinceras, ecológicas e necessárias em favor do meio ambiente (leia mais a seguir) e do planeta. O cineasta Fernando Meirelles, a mente criativa por trás da abertura das Olimpíadas Rio 2016, e a repórter do clima do Jornal Nacional, da TV Globo, Maria Júlia Coutinho (Maju), estavam entre os homenageados desta edição. Ambos, que não puderam estar presentes, enviaram vídeos de agradecimento e foram ovacionados pelos 300 convidados - incluindo empresários, autoridades e ambientalistas - que acompanharam a cerimônia no MM Gerdau. “Tenho 60 anos e deveria estar me tornando uma pessoa mais tolerante, compreensiva. Mas estou me sentindo um adolescente. E cada vez mais fico irritado e revoltado quando vejo a quantidade de pessoas que ainda acha que vale a pena comprometer o nosso futuro, o futuro da humanidade, dos nossos netos, em troco de alguns dólares. O jeito de combater isso é com informação rigorosa e precisa, que é o que a Revista Ecológico faz”, afirmou Fernando Meirelles, vencedor na Categoria “Destaque Nacional”. Já a jornalista Maria Júlia Coutinho, a “Personalidade do Ano”, reiterou que responsabilidade é a primeira palavra que vem em sua mente com a homenagem recebida no "VII Prêmio Hugo Werneck". “Responsabilidade em pesquisar, em refletir mais sobre mudanças climáticas, sobre os impactos do homem no planeta Terra.

Este ano, 116 projetos e indicações de vários estados brasileiros, como Paraíba, São Paulo e Santa Catarina, foram selecionados e avaliados pela Comissão Julgadora. Um aumento de 48% de participação nacional em relação à edição anterior do prêmio Muito mais que falar sobre as catástrofes, que a gente foque e preste mais atenção no amor à natureza. É através do amor que conseguiremos cuidar bem da nossa Casa Comum.” Este convite ao amor foi ainda mais reforçado com a apresentação dos vídeos da campanha “A Natureza Está Falando”, da ONG Conservação Internacional. Lançada em 2015, a iniciativa visa inspirar a humanidade a promover o debate da importância do meio ambiente para o ser humano e conta com uma série de vídeos narrados por personalidades famosas, como Maria Bethânia, Gilberto Gil, Camila Pitanga e Thiago Lacerda. Neles, cada artista incorpora um elemento natural para transmitir a mensagem: “A natureza não precisa das pessoas. As pessoas precisam da natureza”. Outro momento emocionante da noite aconteceu durante a homenagem prestada ao médium Chico Xavier, eleito “o maior brasileiro de todos os tempos” em uma votação nacional. Chico, que desencarnou em 2002, foi representado por sua sobrinha Maria Marta Xavier, acompanhada de Célia Diniz, presidente do Centro Es-

pírita Luiz Gonzaga, de Pedro Leopoldo (MG). Há mais de cinco décadas, Chico já alertava para a urgência de se evitar o aquecimento global. Sua revelação climática - que aponta 2019 como a data limite para as nações respeitarem as diferenças, evitar a III Guerra Mundial e, assim, deixar de destruir a natureza para viver em paz -, tornou-se um alento para a evolução espiritual da humanidade. E uma orientação máxima para o ser humano deixar de aquecer o planeta. “Fico honrada em receber este prêmio, que é para reconhecer uma pessoa tão linda e tão importante para todos nós aqui na Terra. Agradeço, com muito carinho, por toda a família Xavier”, afirmou Maria Marta, 80 anos. A Revista Ecológico agora convida você, caro leitor, a rememorar conosco a premiada noite do dia 29 de novembro. Confira, a seguir, as mensagens ecológicas que marcaram o evento e conheça os vencedores e suas iniciativas, que merecem ser replicadas pelo Brasil e pelo mundo afora. Até a oitava edição, que terá como tema “O Planeta pede Paz”!

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“Pelo desmatamento zero, dentro e fora da gente”

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“Meu último encontro com o ministro Sarney Filho foi em Brasília (DF), quando da ratificação do Acordo de Paris pelo governo brasileiro. Nesse dia, lembro-me de estar suando, por conta dos 31ºC, à sombra, que fazia na capital do país. Foi quando o Brasil se comprometeu, oficialmente, a reduzir as suas emissões de gases de feito estufa em 37% até 2025; e em 43% até 2030, tendo como parâmetro as emissões registradas no país em 2005. Lembro-me bem das palavras do ministro, conscientes e esperançosas, registradas na penúltima edição da Revista Ecológico: ‘Nenhum assunto da atualidade requer maior transversalidade e coerência entre políticas econômicas, sociais e ambientais do que a questão do clima. O preço de nada fazermos em relação às mudanças climáticas’ - ele observou – ‘será muito alto para toda a humanidade, especialmente aqueles mais desassistidos. Serão justamente as pessoas mais pobres e vulneráveis, o que já vem acontecendo, quem mais sofrerão, se não agirmos com uma visão integrada ambiental, econômica e social para enfrentar esse problema’. Lembro-me também das palavras de apoio à nossa luta em comum, feita naquela ocasião pelo ministro de Relações Exteriores,

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Hiram Firmino (*)

Hiram: "A nossa contribuição é premiar e reportar o Brasil e os brasileiros que têm soluções para o aquecimento global"

José Serra: ‘Estamos vivendo uma verdadeira revolução industrial menos dependente de combustíveis fósseis. O Brasil tem todas as credenciais para estar na vanguarda dessa revolução e dela obter resultados ainda mais promissores. Temos cerca de 75% de nossa matriz energética renovável, limpa. Somos campeões mundiais nessa matéria’. Serra se referia ao etanol como uma commodity bioenergética capaz de nos transformar, no contexto mundial, em uma economia de baixo carbono.

CANA VERDE Neste sentido, a sétima edição do Prêmio Hugo Werneck tem uma contribuição pragmática para levar ao governo brasileiro, através do ministro Sarney Filho (leia nas páginas seguintes).Ela é encabeçada pelo Fórum Nacional Sucroenergético, que engloba cerca de 400 empresas produzindo energia limpa e renovável entre os nossos vales e montanhas. E ainda planta cana-de-açúcar, sua matéria-prima, de maneira ambientalmente correta - tam-


bém chamada de ‘cana verde’. Este setor é estratégico tanto para o desenvolvimento sustentável do país quanto para a redução das emissões de gases de efeito estufa no planeta. E também ecológico, uma vez que, a exemplo de Minas Gerais e graças às tecnologias limpas, já eliminou o antigo e predatório método de queimar os canaviais, escurecer os céus e apagar as estrelas. Ele já reusa quase toda a água necessária em seu processo industrial. Reaproveita 100% de todos os resíduos que gera, a exemplo do vinhoto que já não polui os nossos rios e virou fertilizante natural. E por aí afora, até à volta dos animais silvestres em suas vastas áreas de cultivo hoje consorciadas com as áreas naturais que preserva. Permitam-me ressaltar também outro assunto que o ministro José Serra lembrou naquele dia climático em Brasília. É sobre o desmatamento da Amazônia. Desde criança, mesmo morando no interior, sempre ouvi falar de três dados reais que sempre me entristeceram e que hoje ainda continuam sem solução. São eles: o baixo preço do litro de leite pago ao produtor. O baixo salário dos professores. E a Floresta Amazônica sendo devastada. Jogada ao chão e queimada governo após governo, desde que o único país do planeta com nome de árvore foi descoberto. MAIOR DESAFIO Precisamos de alguma esperança! Quando e como conseguiremos implantar o desmatamento zero não apenas na Amazônia, mas em todo o nosso país? Uma

FOTO: GREENPEACE / MARIZILDA CRUPPE

"Antes do homem surgir na superfície do planeta, o vegetal, há muito, seguia as leis existentes. Assim, toda ação humana contrária à natureza constitui caminho ao sofrimento."

A Amazônia, já destruída em 20% de sua área original, ainda não é prioridade pelo governo brasileiro

nova esperança, que nos motive para continuarmos o bom e desigual combate! Tal como nos disse o ministro Sarney Filho, naquela manhã superaquecida em Brasília: ‘A mudança do clima é um dos maiores problemas da atualidade, o maior desafio do século. Mas é também uma oportunidade de colocar o Brasil no rumo certo de uma economia verde e limpa, que não deprede mais o verde de nossa bandeira. Uma oportunidade capaz de gerar empregos qualificados e disseminar uma cultura de respeito e integração ao meio ambiente. Um projeto que precisa ser encampado por toda a sociedade’. Tal como nos fazem crer, in memoriam, as mensagens dos nossos dois ambientalistas, Chico Xavier e Hugo Werneck. Um da alma, outro do coração. Segundo Chico, por maior que

sejam as dificuldades, como as continuadas na última COP em Marrakech, no Marrocos, mais o fenômeno Donald Trump, nos Estados Unidos, jamais devemos nos desanimar: ‘O nosso pior momento na vida é sempre o momento de melhorar’, dizia ele, irradiando perfume de rosas à sua volta. Já segundo o mestre Hugo Werneck, ‘o planeta ainda tem jeito. Não podemos perder a esperança’. É esta a mensagem maior do Prêmio Hugo Werneck neste ano, já considerado o mais quente da história humana sobre o planeta: desmatamento zero, ainda que tarde, fora e dentro da gente!” (*) Diretor e editor-chefe da Revista Ecológico e coordenador-geral do Prêmio Hugo Werneck.


Contribuição energética

O RECADO DO ETANOL

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Agenda prioritária do setor sucroenergético brasileiro pode contribuir para o governo brasileiro cumprir o Acordo de Paris

André Rocha; José Carlos Carvalho; Jadir Oliveira e Mônica Santos, respectivamente gerentes de Meio Ambiente e de Comunicação da Siamig; e Bertholdino Apolônio, gerente de Sustentabilidade da Usina Coruripe l O setor abrange cerca de 370 unidades produtoras

l Brasil é o maior produtor e exportador mundial de

e mais de 1.000 municípios com atividades vinculadas à indústria sucroenergética no país.

açúcar (responde por 20% da produção global e 40% da exportação mundial) e o 2º maior produtor de etanol.

l Mais de 950 mil empregos formais diretos na

l Frota de 25 milhões de automóveis (70% da frota de

produção e 70 mil produtores rurais de cana-deaçúcar independentes.

veículos leves) habilitados a utilizar qualquer combinação de gasolina e de etanol – os chamados veículos flex.

l US$ 8,5 bilhões em divisas externas em 2015 (2º segmento na pauta de exportação do agronegócio brasileiro).

l Consumo de etanol reduziu a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em mais de 350 milhões de toneladas de CO2eq entre março de 2003 e meados de 2016.

l Valor bruto movimentado pela cadeia sucroenergética supera US$ 100 bilhões por ano, com um PIB de aproximadamente US$ 40 bilhões (2% do PIB brasileiro).

l 1ª fonte de energia renovável do país (15,7% da matriz

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nacional). Além do etanol, o setor produz energia elétrica, com potencial estimado em 18,8 GW médios até 2024 (equivalente a mais de quatro usinas de Belo Monte).

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"Veremos uma era extraordinariamente maravilhosa para a humanidade. Mas isso terá um preço. Será o preço da paz."

1. DIRETRIZ DE LONGO PRAZO PARA OS BIOCOMBUSTÍVEIS l Os compromissos brasileiros assumidos na COP-

21 colocam o setor de energia em posição central e representa sólida referência para a estratégia de longo prazo de investimento nessa área. l É imprescindível uma definição sobre o papel do etanol na matriz de combustíveis do país, seja do ponto de vista do abastecimento doméstico, seja do ponto de vista dos compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa assumidos pelo governo brasileiro durante a COP-21 (21ª Conferência do Clima realizada em Paris). Tais compromissos incorporam o aumento da participação dos biocombustíveis na matriz energética nacional para 18% em 2030.

Essa meta representa um aumento dos atuais 28

bilhões de litros de etanol combustível consumidos anualmente para 50 bilhões de litros em 2030. Para isso, será necessário construir, aproximadamente, 75 novas unidades produtoras de etanol, gerando 250 mil novos postos de trabalhos diretos, 500 mil empregos indiretos, e com investimentos da ordem de US$ 40 bilhões. Além disso, estima-se uma redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) da ordem de 570 milhões toneladas de CO2eq e um recuo das importações de gasolina em aproximadamente 95 bilhões de litros entre 2015 e 2030 - uma economia de US$ 45 bilhões à balança comercial do país. Assim, há que se adotar ações que tornem possível a aplicação de mecanismos que evitem as frequentes e intensas mudanças de regras do jogo observadas ao longo da última década e as quais afastam os investimentos para expansão da capacidade produtiva.

Confira o conteúdo do documento na íntegra, com as demais diretrizes, no site www.revistaecologico.com.br

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José Carlos Carvalho

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

O recado energético

O ex-ministro Carvalho recebendo de André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, o documento-contribuição do setor ao Acordo de Paris: “Sem uma nova revolução industrial, particularmente no campo energético, a humanidade não conterá o aquecimento global”

A Ecológico selecionou, a seguir, os melhores momentos da fala do ex-ministro José Carlos Carvalho na premiação. Ele foi indicado pelo próprio ministro Sarney Filho, que não pôde sair de Brasília em função da crise política e da comoção provocada pela queda do avião da Chapecoense no mesmo dia, para representá-lo. Carvalho deu o seu recado também inspirado em Hugo Werneck. Confira!

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“Só vamos contribuir e construir um país sustentável à medida que caminharmos com mudanças mais profundas na nossa estrutura econômica. O grande debate da sustentabilidade sem mudanças na estrutura e na visão tradicional da economia clássica ou neoclássica, que não incorpora a natureza como valor e que externaliza os custos ambientais, não vai propiciar, nunca, a possibilidade de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável. Este é

o momento para se fazer essa discussão. A sociedade brasileira e a planetária precisam ter a compreensão da necessidade dessas mudanças. Por outro lado, em relação ao Acordo de Paris e aos compromissos da MDC brasileira e dos demais países, nós não vamos, jamais, chegar ao objetivo de um aumento médio de 1,5ºC até o fim do século mantendo o atual modelo de desenvolvimento. Pela qual, se afigura absolutamente necessária uma nova revolução industrial, particularmente no campo energético. ETANOL Recebo com satisfação, e farei chegar às mãos do ministro, a proposta do nosso setor sucroenergético. E, a respeito disso, gostaria de dar um exemplo: o Pró-Álcool no Brasil tem 40 anos. Há uns dez anos, o presidente da República viajou o mundo


vendendo o etanol. Até que surgiu a descoberta do pré-sal. A partir dela, o Brasil praticamente enterrou as suas estratégias de energia renovável baseadas no álcool. E pasmem: quando o Brasil começou a divulgar o álcool - e o país hoje é o segundo maior produtor do mundo – como um grande combustível renovável, ele era o primeiro produtor. E nós entendíamos, como estava correto e continua-se achando que está correto, era a oportunidade do Brasil de se tornar uma potência econômica também no campo energético através da produção de álcool para consumo interno e para exportação. Nesses últimos dez anos, os Estados Unidos se tornaram o maior produtor de álcool do mundo e desbancaram o Brasil do primeiro lugar. Teve um período que chegamos a importar álcool dos EUA. Precisamos sair da retórica da sustentabilidade. Não podemos continuar adotando-a apenas como um slogan. Não adianta uma discussão dogmática entre ambientalistas e setor produtivo não levar em conta o conhecimento. Adoramos discutir dogmas e, para cada dificuldade, queremos ter uma lei. O Brasil, em vez de pensar que o problema tem uma natureza e a solução dele requer conhecimento, tecnologia e inovação, achamos que resolvemos com uma lei. Por isso é que temos um extenso portfólio de legislações prolixas e contraditórias, em alguns casos, o que cria um emaranhado de problemas que enfrentamos. Precisamos ter uma nova economia em que o desenvolvimento sustentável não seja uma proposta estéril e infrutífera. Mas que valore os recursos naturais, que internalize os custos da degradação do meio ambiente. AMAZÔNIA Com relação à Amazônia, infelizmente acontece no bioma que acontece na Mata Atlântica. O Brasil está levando para lá praticamente o mesmo modelo de ocupação que ocorreu no Vale do Rio Doce, no início do século 20, e no Vale do Paraíba, no século 19. Não aprendemos com a história nem com nossos erros. Nosso modelo de ocupação territorial continua o mesmo. Estamos no século 21 cumprindo uma agenda do século 19 com relação ao desenvolvimento agropecuário. É isso que temos de mudar. Os índices de desmatamento da

FOTO: GREEN PEACE / DANIEL BELTRÁ

"Toda crise é fonte sublime de espírito renovador para os que sabem ter esperança."

SECA NA AMAZÔNIA: "Se não mudarmos o modelo econômico, não mudamos as consequências"

Amazônia têm aumentado nos últimos dois anos. Celebramos, três anos atrás, a queda das taxas. Mas voltamos a atingir o piso e elas não vão cair mais só com políticas de fiscalização. Se nós não mudarmos as políticas econômicas e de ocupação da Amazônia vai continuar havendo desmatamento. O desmatamento zero vai ser uma quimera. O Brasil é uma das poucas grandes nações do mundo que tem uma fronteira econômica móvel, sobretudo no setor agropecuário, em direção ao Centro-Oeste e à Amazônia. Se não mudarmos o modelo, não mudamos as consequências. Estamos todos aqui impactados pelos acontecimentos envolvendo o time da Chapecoense e esperamos que suas famílias possam ser confortadas. Mas também estamos aqui inspirados pelo dr. Hugo Werneck, que é o nome deste prêmio, que trata de amor numa era em que falar disso é coisa piegas. A nossa sociedade está tão robotizada que, quando falamos de amor, ternura e afeto, parece que estamos falando para extraterrestres. Isso significa que nós temos de mudar o comportamento e as atitudes dos cidadãos, mas também de nós mesmos, para sermos mais fraternos entre nós humanos, e entre os humanos e a natureza. Isso não pode ser outra quimera!”




Os vencedores de 2016 1. Destaque Nacional Fernando Meirelles, cineasta

10. Melhor Exemplo em Resíduos Projeto Ciclo Novo, Danone

2. Homenagem do Ano Chico Xavier, médium espírita e filantropo

11. Melhor Exemplo em Mobilização Social Projeto Convivência com a Realidade Semiárida, Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS)

3. Homenagem Especial José Sarney Filho, ministro de Meio Ambiente 4. Melhor Projeto de Parceiro Sustentável Projeto Caminhos do Vale – Usiminas 5. Melhor Parceiro Sustentável José Fernando Coura – SINDIEXTRA – FIEMG 6. Destaque Municipal Projeto Re-Nascer, Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Muriaé

12. Melhor Exemplo em Flora Programa Condomínio da Biodiversidade (ConBio), Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) 13. Melhor Exemplo em Biodiversidade Projeto Sustentabilidade na Vereda, Oi Futuro/Instituto Biotrópicos

14. Melhor Exemplo em Fauna Projeto Alunos do Médio Rio Doce numa Aventura com o Chauá, Aliança Geração Weber Coutinho, gerente de Planejamento Energia/Usina Hidrelétrica Eliezer Batista e Monitoramento Ambiental, Secretaria Municipal de Meio Ambiente de BH 15. Melhor Exemplo em Água Projeto Mutirão de Reflorestamento da 7. Melhor Empresa Cantareira, GED – Inovação, Engenharia Bio Extratus e Tecnologia 8. Destaque Estadual Programa Replantando Vida, Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae)

16. Melhor Exemplo em Educação Ambiental Programa Limoeiro em Ação, Parque Estadual Mata do Limoeiro

9. Melhor Exemplo em Inovação Ambiental Sistema Vetiver, João Henrique Eboli

17. Personalidade do Ano Maria Júlia Coutinho (Maju), jornalista

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"A natureza consubstancia o santuário em que a sabedoria de Deus se torna visível. Preservai a pureza das fontes e a fertilidade do solo. Campo ajudado, pão garantido."

FOTO: DIVULGAÇÃO

Destaque Nacional: FERNANDO MEIRELLES

MEIRELLES: dividindo com Daniela Thomas e Andrucha Waddington o sustentável e premiado recado das Olimpíadas Rio 2016

Graças ao talento associado de seus dois colegas cineastas Daniela Thomas e Andrucha Waddington, o que Fernando Meirelles criou para a abertura das Olimpíadas Rio 2016, na lua nova de agosto, encantou e mexeu com os corações e mentes de mais de três bilhões de pessoas em 206 países. Grande parte da humanidade foi tocada pela sua mensagem como diretor criativo, um recado de tolerância, respeito e cuidado com a nossa terra mãe gentil. Nunca a nossa história nacional foi mostrada de maneira tão bela, em um estádio como o Maracanã e sob o olhar do Cristo Redentor. Para, assim, contextualmente, entendermos tudo o que aconteceu com o nosso país desde que a primeira árvore de pau-brasil, cujo nome se deriva da palavra “brasa”,

pela cor vermelha, tombou no chão da nossa ignorância e desamor à natureza, ligando o aquecedor climático. Mente criativa por trás de filmes como “Cidade de Deus”, Fernando Meirelles se autodeclarou, recentemente, não ser mais apenas um cineasta. “Agora sou também um ambientalista.” No vídeo de agradecimento (leia o depoimento completo na pág. 70) apresentado no Prêmio Hugo Werneck, ele também afirmou: “Gostaria de dividir este prêmio com Daniela e o Andrucha, que também criaram e dirigiram a cerimônia de abertura das Olimpíadas. Conseguimos passar a mensagem que queríamos e criamos uma pira olímpica com menos emissão de carbono. Mais de três bilhões de pessoas em todo o planeta viram o nosso recado ecológico”.

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FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Homenagem do Ano: CHICO XAVIER

Maria Marta Xavier e Célia Diniz, ladeadas pelos jornalistas Luciano Lopes e Cristiane Mendonça, da Ecológico

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O homenageado deste ano já foi eleito, em votação popular, o “Maior Brasileiro de Todos os Tempos”: Chico Xavier. É dele uma declaração, feita em 1971, no programa “Pinga Fogo”, da Rede Tupi, quando o mundo ainda não falava em meio ambiente e sustentabilidade: “A destruição dos recursos da natureza, mesmo a título de progresso, é uma triste tendência dos homens da atualidade. Cremos que semelhante agressão à vida natural se fará seguida por amargas consequências de que o tempo trará notícias à humanidade terrestre”. Segundo revelou Chico, temos diante de nós dois caminhos a seguir. De um lado, a continuidade do desamor à natureza e a nós mesmos. De outro lado, o caminho do amor e da sabedoria. Se escolhido, levará a humanidade à sua mais rápida ascensão espiritual e coletiva. Maria Marta Xavier, sobrinha do médium, e Célia

Diniz, presidente do Centro Espírita Luiz Gonzaga, fundado por Chico em Pedro Leopoldo em 1927, receberam o troféu em nome do médium. “Esta noite nos fez sentir orgulho de sermos brasileiros, mineiros, pedro-leopoldenses e conterrâneos de Chico Xavier”, afirmou Célia. Ela fez, ainda, um apelo político-ecológico que emocionou a todos: “Peço licença para trazer um clamor de minha cidade, que passarei às mãos das autoridades. A revitalização do Açude do Capão e a abertura de uma trilha na mata nativa passando por uma linda cachoeira, em pleno centro da cidade, e que está fechada para o público. Creio ser esta também uma homenagem a Chico Xavier: colocar em condições de visitação o local que ele tanto apreciava e onde lhe apareceu pela primeira vez seu guia espiritual, Emmanuel”. Confira a mensagem climática feita há 50 anos pelo médium brasileiro: goo.gl/Vsa3q3


"A destruição dos recursos da natureza, mesmo a título de progresso, se fará seguida por amargas consequências de que o tempo trará notícias à humanidade terrestre."

FOTO: GUSTAVO LIMA / CÂMARA DOS DEPUTADOS

Homenagem Especial: SARNEY FILHO

O ministro de Meio Ambiente foi homenageado por sua atuação histórica na defesa do meio ambiente no Congresso Nacional

Em sua segunda gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente – a primeira se deu entre os anos de 1999 e 2002 –, Sarney Filho é deputado federal do Partido Verde, eleito pelo Estado do Maranhão. O ministro é um veterano da luta ambiental no Brasil, tendo contribuído para a inclusão do artigo 225, que trata de Meio Ambiente, na Constituição Federal de 1988. Ao longo de seus nove mandatos legislativos, atuou de forma decisiva na discussão e elaboração das proposições mais avançadas na área socioambiental. Criou e coordenou a Frente Parlamentar Ambientalista, formada em parceria com a sociedade civil. Nas últimas legislaturas, municipalista que é, Sarney Filho se destacou pela resistência a várias iniciativas que tramitam no Congresso Nacional com o intuito de desfazer importantes conquistas legais da sociedade brasileira na área ambiental. Isso fez seu gabinete se transformar numa espécie de fortaleza informal da sociedade civil, em defesa da proteção da natureza e na luta contra os retrocessos que têm assombrado os defensores do meio ambiente no país. No seu primeiro mandato, entre importantes iniciativas de dimensão nacional que impulsionaram a política nacional de meio ambiente, merece destaque a regulamentação da “Lei Nacional de Crimes Ambientais”, que instituiu uma legislação

específica para a educação ambiental, a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e da Agência Nacional de Águas (ANA). Em seu segundo mandato, Sarney Filho retomou a iniciativa de criação de novas unidades de conservação, depois de um longo período de inércia governamental nessa área, além do seu empenho no aperfeiçoamento do licenciamento ambiental. Querido e respeitado pelos seus pares como um executivo e companheiro de causa, que gosta de trabalhar em equipe, seu segundo maior desafio agora, em meio à crise política e econômica do país, mantém o mesmo verbo e predicado que o acompanha ao longo de sua carreira: frear o desmatamento na Amazônia, a última grande floresta tropical do planeta. Além de justa homenagem, este reconhecimento do “Prêmio Hugo Werneck” é uma forma de apoiá-lo nessa esperança, que é hoje de toda a humanidade, frente à realidade das mudanças climáticas.

Convocado de última hora pelo presidente Michel Temer para permanecer em Brasília (DF), diante da comoção nacional provocada pelo acidente da Chapecoense, o ministro Sarney Filho enviou uma mensagem em vídeo. Veja no link: goo.gl/zEXh0X


FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Melhor Projeto de Parceiro Sustentável CAMINHOS DO VALE - USIMINAS

Aloysio Peixoto, diretor-executivo de Mineração Américas da Gerdau; Rômel Erwin, diretor-presidente da Usiminas; Henrique Hélcio, especialista de Processos da Usiminas; e Rodrigo Perpétuo, secretário-executivo do Secretariado Regional do ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) para a América do Sul

No meio do caminho de uma grande siderúrgica, no Vale do Aço, havia uma montanha com 2,5 milhões de toneladas de escória de aciaria, acumulados e estocados há anos. Que caminho a empresa optou para dar uma destinação sustentavelmente correta a este seu passivo ambiental? Primeiro chamou as prefeituras de municípios à sua volta e lhes propôs doar a tal montanha de rejeitos, na forma de agregado siderúrgico para a pavimentação de suas estradas rurais, encostas e pontes rudimentares. As prefeituras, em contrapartida, tinham de fazer a sua parte. A mais exigida: preservar os seus recursos naturais, reduzindo os efeitos dos processos erosivos e assoreamento dos cursos d'água, mais o replantio de matas ciliares às margens desses caminhos. A parceria deu certo. Um milhão de toneladas do que antes era só rejeito não existe mais no pátio da empresa.

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Foram pavimentados 590 quilômetros de estradas rurais e encostas. Mais de 500 mil habitantes beneficiados. Também já foram ecologicamente pavimentados 50 km de vias urbanas. Com tudo isso, o nome dado a este projeto vencedor não tinha de ser outro: “Caminhos do Vale”. E Usiminas, a empresa que vem transformando esta sua montanha de escória em mais qualidade de vida para meio milhão de pessoas no coração siderúrgico do país. Em seu agradecimento, o diretor-presidente Rômel Erwin disse ser “exatamente este tipo de conhecimento que impulsiona a busca de melhores e sustentáveis resultados. Cumprimentamos a Revista Ecológico pela escolha tão feliz deste prêmio, em memória do dr. Hugo Werneck. Ele falava que, somente pelo amor, o homem vai mudar as suas atitudes em relação ao meio ambiente”.

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"Por maior que seja a dificuldade, não desanime. O nosso pior momento é sempre o momento de melhorar."

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Melhor Parceiro Sustentável JOSÉ FERNANDO COURA

Coura e Olavo Machado, presidente do Sistema FIEMG, acompanhados dos sete bisnetos de Hugo: Thiago, Diana, Elisa, Marina, Bernardo, Leonardo e Carlos

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Como cantaria Roberto Carlos, o empresário Fernando Coura é o parceiro “mais certo das horas incertas” e difíceis. E o mais incerto nas horas fáceis. Isso explica a sua presença, pela primeira vez, nesta sétima edição da premiação. É fato. Quando acabou a temida e revolucionária “Lista Suja” dos ambientalistas mineiros, liberada pela nossa conselheira Dalce Ricas, à frente da Amda, esse parceiro não pensou duas vezes, e nos disse:

- Vocês já nos bateram demais, e isso foi necessário até aquele momento. Mas agora, não. Precisamos fazer algo positivo que diferencie e estimule também, perante a opinião pública, as empresas, pessoas e instituições sérias que adotam o caminho da sustentabilidade. Essa sua ideia virou realidade oito anos atrás. Foi quando o ambientalista Hugo Werneck, mas não a sua luta através do amor incondicional à natureza, nos deixou. Seu espírito se libertou do corpo can-


"Mesmo no ápice da civilização, precisamos de amor para sobreviver a todas as calamidades necessárias ao processo evolutivo em que estamos envolvidos na Terra."

sado de tanto viajar e pregar a educação ambiental às populações ribeirinhas do também velho e fatigado São Francisco. - Precisamos fazer alguma coisa em memória do doutor Hugo! Algo que faça seus ensinamentos permanecerem vivos! – incitou Coura. - Quem sabe criarmos uma premiação anual, tipo uma “Lista Limpa”, em substituição à “Lista Suja”, para nos lembrarmos sempre dos seus ensinamentos? - A Revista Ecológico lhe propôs. E ele respondeu: - Topo! E assim nasceu o “Prêmio Hugo Werneck” e seu melhor parceiro. Por tudo isso, Fernando Coura foi chamado ao palco. Não apenas como presidente do Sindiex-

tra e vice-presidente da Fiemg. Mas também presidente do Conselho Curador da Fundação Biodiversitas. Espeleólogo e engenheiro de Minas, ele é natural da “Grande” Dom Silvério, como gosta de se referenciar. Onde já proseou, tomou pinga e muito aprendeu com o Velho Manuelzão, personagem de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas.

Em seu agradecimento, Fernando Coura preferiu compartilhar uma mensagem viral abaixo de solidariedade à tragédia da Chapecoense. Em tempo: a premiação foi aberta com audição da "Ave Maria", de Charles Gounod, o que também emocionou o público. Confira a reflexão:

#SOMOS TODOS CHAPECOENSES “Quando um avião cai a gente cai junto. Um avião transporta mais do que vidas, transporta sonhos. É o pai que está indo reencontrar os filhos, é a mãe que está indo buscar o sustento de sua família, são pilotos que planejam estar em casa ao jantar e a aeromoça que leva na bagagem o perfume favorito do namorado. Quando cai um avião a gente cai junto, pois quantos de nós viram os sonhos começar dentro de um avião. A viagem tão esperada, a assinatura de um contrato, o encontro com alguém que tanto sonhamos estar junto. Aviões partem rumo a sonhos, e era isso que cabia também neste trágico voo que quase chegou a seu destino. Jogadores que representavam o sonho do menino que quer ser jogador, jogadores que representavam seus familiares, seus torcedores. Quando um avião cai todos nós caímos juntos.

Morrem sonhos, morrem encontros que não vão mais ocorrer, morrem saudades que não vão ser vencidas e que dali por diante vão apenas crescer e se tornar um buraco junto a quem nunca chegou. Quando um avião cai a dor é compartilhada, pois todos nós somos torcedores, torcemos para quem amamos, torcemos para logo poder dar o abraço, torcemos, pois ninguém sonha sozinho. Hoje esse humilde time de Santa Catarina tem a maior torcida do mundo. Pois quando sonhos despencam do céu, a solidariedade é a única camisa que todos vestem. E essa é a única camisa que, nesse momento, nos conforta. Fica meu abraço e sincera dor a familiares e torcedores desse triste voo. O resto é silêncio.” Felipe Sandrin


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Destaque Municipal (1) PROJETO RE-NASCER - MURIAÉ

Vasco Araújo, secretário de Meio Ambiente de BH; Valmir Barbosa, coordenador do Núcleo Regional de Regularização Ambiental de Muriaé e Juliana Aquino, secretária de Meio Ambiente; Sueli Baliza, secretária de Educação de BH; e Gilberto Garcia Bonato Filho, engenheiro agrícola e ambiental

Em 2014, produtores rurais da região de Muriaé, município da Zona da Mata mineira, observaram que a quantidade de água que brotava das nascentes estava diminuindo. Algumas delas, inclusive, até secaram. A partir daí, a Secretaria Municipal reuniu parceiros como o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a Emater para buscar uma solução conjunta para o problema. E percebeu que mobilizar e despertar o sentimento do cuidado com a natureza, en-

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tre os próprios produtores, era a saída. A exemplo do programa “Cultivando Água Boa”, de Itaipu Binacional, que venceu o “Prêmio Hugo Werneck” no ano passado, o objetivo alcançado foi trazer a água de volta, fazê-la renascer. Para isso, após a definição das propriedades, 35 nascentes foram cercadas nas áreas de preservação ambiental de Pontão, Itajuru e Rio Preto. E os produtores rurais também receberam mudas para plantio próximo a elas.

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"Não adianta estarmos rodeados de computadores, que sabem o que há em Marte ou em Júpiter. E vivermos aqui sedentos de carinho, morrendo à míngua de assistência espiritual."

Destaque Municipal (2) FOTO: DIVULGAÇÃO

WEBER COUTINHO

Weber Coutinho, gerente de Planejamento e Monitoramento Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de BH; e Eloah Rodrigues, diretora da Revista Ecológico

Integrante do grupo de grandes cidades para a liderança do clima, BH é reconhecida internacionalmente por sua política de sustentabilidade. A capital dos mineiros já tem estabelecido, em seu planejamento estratégico para 2030, uma meta de redução de 20% de suas emissões de gases de efeito estufa. Essa política começou em 2012, com a criação do Comitê Municipal sobre Mudanças Climáticas e Ecoeficiência, modelo hoje copiado por outras capitais brasileiras. São 40 programas em andamento na área de sustentabilidade em Belo Horizonte. Um deles é o “Selo BH Sustentável”, que já certificou 90 em-

preendimentos. Juntos, eles evitaram a emissão de um milhão de toneladas de gás carbônico. BH também foi eleita pela terceira vez consecutiva a “Capital Nacional da Hora do Planeta”, reconhecimento outorgado pela WWF. Todo esse trabalho, sob a batuta do prefeito Marcio Lacerda, também tem um leão de chácara ecológico: o engenheiro Weber Coutinho, gerente de Planejamento e Monitoramento Ambiental de BH. Fiel escudeiro, espécie de eminência verde, mais mineiro impossível, que cuida e faz tudo isso acontecer, ele é respeitado e querido pelos seus pares, dentro e fora da prefeitura.

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FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

Melhor Empresa BIO EXTRATUS

Hiram Firmino, editor e diretor da Revista Ecológico, Thiana e Janaína Gomes, diretoras de Marketing e Industrial da Bio Extratus; e Fued Abrão Júnior, superintendente de Sustentabilidade da Infraero, representando o presidente Antônio Claret

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Cem por cento brasileira, especializada na fabricação de cosméticos, a Bio Extratus foi eleita “Melhor Empresa” de 2016 devido à sua exemplar iniciativa em eficiência energética. Trata-se de um moderno sistema solar fotovoltaico, com 2.159 módulos instalados no telhado de seu centro de apoio logístico em Alvinópolis, no centro-leste de Minas. E de um outro prédio, em construção, que abrigará também o

processo produtivo. Os módulos têm a capacidade de gerar mais de 68 mil quilowatts por dia, que ultrapassa a média mensal de consumo de energia da empresa e é suficiente para abastecer 530 residências por mês. Com isso, a empresa deixou de utilizar uma quantidade de energia, proveniente de hidrelétricas, equivalente ao consumo de 11,45% das casas do município.


"Nenhuma atividade no bem é insignificante. As mais altas árvores são oriundas de minísculas sementes."

Destaque Estadual CEDAE - RJ

NÍSIA WERNECK, professora associada do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral; Alan Henrique Abreu, engenheiro florestal da CEDAE; e Jairo Isaac, secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas

Imagine centenas de presidiários deixando suas unidades prisionais todas as manhãs para produzir e plantar mudas de árvores. E, assim, ajudarem a reflorestar a Mata Atlântica, bioma que hoje só tem 12% de sua cobertura vegetal original, aumentando e retendo também a água no solo. Por meio do “Programa Replantando Vida”, da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, isso se tornou realidade. E já acontece em 22 municípios do estado.

Com o objetivo de reflorestar áreas prioritárias para recuperação e proteção de mananciais hídricos de abastecimento público, este programa emprega 300 presos em regimes aberto, semiaberto e em prisão albergue domiciliar. Através de suas mãos, mais de 700 mil mudas já foram plantadas nas bacias dos rios Guandu e Macacu. Desde que foi criado, em 2007, mais de 2.700 presidiários já foram beneficiados com a redução de suas penas.


Melhor Exemplo em Inovação Ambiental FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

JOÃO EBOLI - ITAIPAVA (RJ)

PATRÍCIA BOSON, secretária-executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da Fiemg e conselheira da Revista Ecológico; João Eboli; e Evaldo Vilela, presidente da FAPEMIG

Durante o deslizamento de terras que atingiu a Região Serrana do Rio de Janeiro, durante fortes chuvas em 2008, João Henrique Eboli, que é morador de Itaipava, distrito de Petrópolis, viu a encosta adjacente à sua residência vir abaixo. Mas, em vez de lamentar a destruição de sua casa, ele foi procurar uma solução coletiva de sobrevivência. Após o deslizamento de terras e sem o apoio dos órgãos públicos, procurou o Centro Integrado de Educação Rural (CIER), no município capixaba de Boa Esperança (ES). Foi onde recebeu a doa-

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ção de três mil mudas do capim vetiver, espécie de gramínea muito utilizada para controle de erosão. Com apoio e supervisão de especialistas, técnicas de bioengenharia do solo foram associadas ao vetiver e, oito anos depois, a encosta que levou sua casa e ameaçava seus vizinhos se encontra plenamente revegetada e estabilizada. João hoje presta assessoria voluntária às pessoas atingidas por deslizamentos que o procuram não só no Brasil. Ele já esteve até na Índia, convidado pelo governo, para multiplicar seu exemplo naquele país.

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"As calamidades geológicas sempre existiram, porque a Terra ainda está sendo criada. Isso aconteceu sempre. Agora, a modificação do mundo, na essência, é de ordem moral."

Melhor Exemplo em Resíduos PROJETO NOVO CICLO, DANONE

Ruston Albuquerque, presidente da Terramax e do Conselho de Administração da Associação Nacional da Indústria do Tijolo Ecológico (Aniteco); José Borges, coordenador do projeto Ciclo Novo; e José Cláudio Junqueira, ex-presidente da Feam e conselheiro da Revista Ecológico

Implementar a coleta seletiva em municípios do Sul de Minas Gerais e fortalecer o trabalho dos catadores de materiais recicláveis da região é o objetivo deste projeto. Desenvolvido por uma grande multinacional de produtos alimentares e iniciado em 2012, ele é baseado em três pilares: criação de uma rede de cooperativas, implantação da coletiva seletiva dos munícipios e fortalecimento das cooperativas, por meio de treinamento e assistência técnica local.

Inicialmente implementado em 23 cidades mineiras, hoje já foi replicado para 60, sendo uma delas Sorocaba (SP). Os resultados são surpreendentes: 70 cooperativas fazem parte da rede. A renda média dos catadores passou de R$ 450 para R$ 1.136. O projeto encerrou 2015 com 40% de recuperação do volume de embalagens colocadas no mercado. E o aumento da coleta seletiva passou de 5% para 26% nos municípios.

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Melhor Exemplo em Mobilização Social

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CONVIVÊNCIA COM A REALIDADE SEMIÁRIDA - CEPFS - PARAÍBA

José Dias, coordenador-executivo do projeto; e Germano Vieira, secretário adjunto da Semad-MG

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Este projeto é desenvolvido pelo Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS) desde 1994, nas comunidades rurais dos municípios de Teixeira, Cacimbas, Desterro, Maturéia, Princesa Isabel, Imaculada e São José do Bonfim, no sertão ressequido da Paraíba. Promove o desenvolvimento rural sustentável a partir de inovações sociais, contemplando tecnologias de captação e manejo da água da chuva. Os resultados são animadores: a criação de 30 bancos de sementes comunitários, com capacidade para armazenar 40 toneladas. Construção de 966 cisternas de placas tipo tapioca, para armazenar mais de 15 milhões de litros de água, beneficiando quase 5.800 pessoas. Recuperação de áreas degradadas, com a distribuição de mais de sete mil mudas de árvores. E implantação de 419 hortas ecológicas com economia de água.

ESPERANÇA NO SERTÃO Depoimento de José Dias, coordenador do projeto: “É com muita alegria que recebemos este prêmio, que dedicamos aos agricultores e agricultoras familiares do semiárido da Paraíba. Temos um papel. Somos uma organização de mais de 30 anos e trabalhamos com amor e dedicação para ajudar essas pessoas a compreenderem que elas são capazes de transformar a realidade local, incidir na realidade regional e mudar a realidade nacional. E, quem sabe, mundial. É essa a experiência que temos desenvolvido, mesmo com todos os desafios e dificuldades, para tornar mais digna a vida de quem vive naquele sertão sofrido. Queremos agradecer à Revista Ecológico por este importante reconhecimento e dizer que nossa experiência pode ser replicada e inspirar outras pessoas a fazer algo diferente. O semiárido da Paraíba agradece!”


"Se estivéssemos atentos à preservação dos valores do espírito, segundo Jesus nos ensinou, a poluição da natureza, nas cidades e nos campos, não seria hoje esse flagelo no seio das metrópoles."

Melhor Exemplo em Flora

PROGRAMA CONBIO - SPVS - CURITIBA (PR)

Maria Elvira, presidente da Associação das Caminhantes da Estrada Real; Alessandra Xavier Oliveira, engenheira florestal e técnica do Programa Desmatamento da SVPS; e Hiram Firmino, editor e diretor da Revista Ecológico

Um dos projetos mais bem avaliados pela Comissão Julgadora, trata-se de um programa realizado na Região Metropolitana de Curitiba, no coração do Paraná, e visa implantar uma grande rede de áreas naturais, públicas e particulares, criando condomínios de florestas verdes e protegidas em ambientes urbanos. Além de atuar no aperfeiçoamento da lei de RPPNs municipais, por meio des-

ta iniciativa foram criadas 17 reservas, que somam 15,5 hectares. Vinte outras, totalizando 200 mil metros quadrados, estão em fase de implementação. E mais: apresentado na 21a Conferência do Clima em Paris, este programa também ofertou cursos de formação para 3.480 professores de ensino público municipal, atingindo indiretamente mais de 130 mil alunos.


Melhor Exemplo em Biodiversidade

FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

SUSTENTABILIDADE NA VEREDA

Sérgio Ricardo Pereira, coordenador de Cultura da Oi Futuro BH; Joaquim Araújo, presidente do Instituto Biotrópicos; Roberto Waack, presidente da Fundação Renova; e Celso Castilho, ex-secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas

Desenvolvido na região do Rio Carinhanha, afluente do Rio São Francisco, no Norte de Minas, divisa com Bahia, o projeto promove o monitoramento ambiental de suas lagoas marginais e, assim, vem contribuindo para preservar as veredas e os buritis que nosso mestre Guimarães Rosa tanto descreveu. Finalizado em março deste ano, mais de mil pessoas direta, e 100 mil, indiretamente, foram beneficiadas pelo

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“Sustentabilidade na Vereda”. Elas receberam incentivos e capacitação para o uso de aquecedores e fornos solares, projeção de vídeos em espaços públicos sobre a preservação das veredas, e ainda participaram de palestras sobre eficiência energética e aproveitamento de recursos hídricos. Tudo isso com envolvimento comunitário: os próprios participantes fizeram o monitoramento das lagoas.

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"Se a plantinha tenra não tolerasse a enxada que lhe garante a limpeza, embora, por vezes, dilacerando-lhes as folhas, não conseguiríamos a floração."

Melhor Exemplo em Fauna

AVENTURA COM O CHAUÁ

Maria Dalce, superintendente da Amda; Leonardo Barreiros, gerente de Meio Ambiente da Aliança Geração Energia - Usina Hidrelétrica Eliezer Batista; Marcelo Werly, gerente de Relações Sociais; e Marcos Leandro, apresentador da TV Record Minas

Intitulado “Alunos do Médio Rio Doce numa aventura com o Chauá”, da Aliança Geração S/A Usina Hidrelétrica Eliezer Batista, este projeto vem sensibilizando alunos e comunidades vizinhas da Usina em Aimorés, no Vale do Rio Doce, divisa com o Espírito Santo, sobre a importância de se preservar o papagaio chauá. Depois de realizar mais de 800 horas de monitoramento da espécie, que sofre com o desmatamento e o comércio ilegal, as informações

reunidas entre 2011 e 2015 foram transformadas em conteúdo educativo, no formato de uma revista. Ela foi distribuída para alunos das escolas municipais de Resplendor, Itueta e Aimorés, em Minas Gerais, mais Baixo Guandu, no Espírito Santo. Mais de 460 alunos de 16 escolas foram desafiados a produzirem trabalhos artísticos, que renderam até um curta-metragem de animação sobre a conservação do papagaio chauá.

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Melhor Exemplo em Água

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MUTIRÃO DA CANTAREIRA - SP

Marcos Morais, gerente de Meio Ambiente da Kinross; Danilo Fernandes, engenheiro ambiental do projeto; Gabriel Estevam, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da GED; e Danilo Vieira, ex-titular adjunto da Semad, atual secretário de Meio Ambiente de Nova Lima

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A crise hídrica que assolou o Sistema Cantareira em São Paulo, no ano passado, se deu principalmente pela estiagem. Mas também foi agravada pela falta de matas ciliares: dos 2.270 km² das áreas das bacias hidrográficas que compõem o Sistema, apenas 21,5% têm cobertura vegetal. No entanto, este cenário está mudando. Por meio de três mutirões de reflorestamento desenvolvidos pelo projeto da GED

Inovação, Engenharia e Tecnologia, foi possível plantar milhares de mudas de árvores nativas, utilizando toneladas de adubo orgânico produzido com restos de alimentos de restaurantes de Cubatão (SP). Todo o lixo acumulado há anos nas margens do Reservatório Paiva Castro foi retirado. E mais de 20 mil metros quadrados de áreas degradadas no seu entorno foram recuperadas.


"Sem a renúncia da flor em benefício da colheita, o celeiro seria relegado à secura."

Melhor Exemplo em Educação Ambiental

PROJETO LIMOEIRO EM AÇÃO

Alex Amaral, gerente do Parque Estadual Mata do Limoeiro; ladeado por Aldo Souza e Ruben Fernandes, respectivamente, diretor de Sustentabilidade e presidente da Anglo American Brasil

A iniciativa premiada foi criada para sistematizar os programas de educação ambiental do parque, um dos 11 de Minas Gerais com infraestrutura para receber visitantes. Realizado na região do distrito de Ipoema, em Itabira, o projeto engloba 32 iniciativas, incluindo formação de agentes verdes, caminhadas ecológicas, oficinas de reciclagem, aulas de observação lunar e estelar e campanhas preventivas de incêndios florestais.

Com a crise que assola os governos federal e estadual, muitos dos recursos para a execução das ações vêm de parcerias com as comunidades e da própria equipe do parque. Uma luta que levou mais de 25 mil pessoas a participarem das ações do programa, que mostra na prática a máxima ecológica tão defendida pelos ambientalistas: pensar globalmente e agir localmente.


Informação X Alucinação FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

O RECADO DE MEIRELLES

Fernando Meirelles virtual: "Vida longa à Revista Ecológico. Continuo sendo um leitor assíduo"

“Infelizmente não pude estar em Belo Horizonte porque tinha um compromisso em São Paulo. Mas estou aí de maneira virtual para agradecer a indicação. Queria de cara dividir este prêmio com Daniela Thomas e Andrucha Waddington, que foram os dois outros diretores que criaram e dirigiram a cerimônia de abertura das Olimpíadas Rio 2016, pela qual estamos ganhando este prêmio. Na verdade, a nossa ideia era, em certo momento, passar um powerpoint para explicar claramente os riscos que a humanidade está correndo por causa das mudanças climáticas. Mas era uma cerimônia de abertura, não era hora de baixo-astral. Conseguimos passar a mensagem que queríamos e criamos uma pira olímpica com menos emissão de carbono. E demos um pequeno recado. E valeu, porque mais de três bilhões de pessoas viram esse recado. Pessoalmente, está acontecendo uma coisa muito estranha comigo. Já estou ficando velho, tenho 60 anos, e deveria estar me tornando uma pessoa

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mais tolerante, compreensiva. Mas estou me sentindo um adolescente. E cada vez mais fico irritado e revoltado, que nem um moleque, quando vejo a quantidade de pessoas que ainda acha que vale a pena comprometer o nosso futuro, o futuro da humanidade, dos nossos netos, em troca de alguns dólares. Vejo toda a movimentação dos países que têm território no Ártico, animadíssimos porque se abriram canais de navegação por lá com o degelo. E com isso, será possível explorar mais óleo e fazer mineração pesada na Groenlândia. Isso é uma total alucinação. Se a Terra é um planeta vivo, esse ser vivo está completamente alucinado. Estão colocando em risco a sobrevivência da espécie. O único jeito de combater isso é com informação rigorosa e precisa, que é o que a Ecológico faz. Vida longa à revista. Continuo sendo um leitor assíduo. Obrigado pela premiação!”

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"O homem pode começar a III Guerra Mundial. Mas quem irá terminá-la são as forças telúricas da natureza, da própria Terra cansada dos desmandos humanos."

Poesia e Amor X Degradação O RECADO DE MAJU

O poeta Bernardo Caldeira recebe de sua mãe, a publicitária Sarah Caldeira, da Revista Ecológico, a estatueta que será enviada para a repórter do clima

“Responsabilidade é a primeira palavra que me vem à mente ao receber esta indicação e homenagem do 'VII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade e Amor à Natureza'. Responsabilidade em pesquisar mais, em refletir mais sobre mudanças climáticas, sobre os impactos do homem no planeta Terra, na nossa Casa Comum. Ano passado fui convidada pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM) para acompanhar uma parte da Conferência do Clima em Paris, a COP-21. O convite veio justamente pela OMM acreditar que jornalistas que tratam do tempo, que cuidam da previsão do tempo, que falem sobre clima, serem importantes veículos para se falar sobre mudança climática. Espero fazer jus a este convite e que a gente atente para uma questão importante: muito mais que falar sobre as catástrofes, que a gente foque e preste mais atenção no amor à natureza. É o amor que conhece o que é a verdade. É através do amor que conseguiremos cuidar bem da nossa Casa Comum. Obrigada pela homenagem!”

METEOROLOGIA* - Bernardo Caldeira Intempestivo De céu azul Logo passo a tempestade Os olhos chovem Emoções nubladas A garganta troveja O silêncio de palavras sufocadas Torno-me a fúria Da natureza Derrubo árvores Destruo casas Escoo tristezas Em vastas enxurradas E vento Para afastar os sentimentos... Mas de repente eu estio E a mim mesmo sobrevivo Quando o céu se abre Abro também o meu sorriso Atravesso as minhas nuvens E então desanuvio PATROCÍNIO BRONZE

(*) Poesia gravada por Maju e ouvida por todos no encerramento da cerimônia.


Família Werneck X Invasão

EM NOME DA LEI

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

A família do mais histórico e amado ambientalista brasileiro pede justiça e apoio ao Governo de Minas

RODRIGO WERNECK: em nome do pai, do avô, da natureza e do social

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Foi Rodrigo Werneck, um dos filhos de Hugo Werneck, quem pediu a palavra, logo na abertura da solenidade, para ler um manifesto que comoveu a plateia. Ele relembrou a invasão criminosa que perdura de maneira devastadora e sem solução, já há três anos, na última e segunda maior área verde da capital mineira, preservada até então pela família. Trata-se da Granja Werneck, cujo destino será a implantação de um modelo inédito de urbanização sustentável, ecologicamente correto e socialmente mais justo. Dando sequência ao compromisso da família com o meio ambiente, aliado à preocupação social, foi negociada com o poder público municipal uma Operação Urbana, consolidada com a publicação da Lei 9.956. A área, chamada de “Área de Interesse Ambiental Isidoro”, foi regulamentada em 2010 pela Prefeitura de BH. É nesta área, 1,5 vez o tamanho do Parque das Mangabeiras, a maior área verde da capital

mineira, que se pretende implantar o “Projeto Granja Werneck” de ocupação sustentável (com um metro quadrado de área verde para cada metro de área construída), assinado pelo arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, incluindo, de maneira planejada, o “Minha Casa, Minha Vida”, mais escolas, comércio e áreas de lazer abertas à população. A implantação do projeto esbarrou em uma invasão, de estranha origem, uma vez que foi levada a cabo pelas mesmas pessoas que seriam beneficiadas pelo projeto. Nas negociações foram oferecidas diversas condições para uma desocupação pacífica e organizada, como a oferta de outra área e o retorno daqueles que se encaixam nos critérios do “Minha Casa Minha Vida”. “Assessores” e ditas lideranças têm atuado inviabilizando o acordo. Sendo assim, cabe ao Governo do Estado autorizar a reintegração de posse, cuja ordem judicial foi inicialmente


FOTO: FERNANDA MANN

"Temos diante de nós dois caminhos a seguir. O caminho do amor e da sabedoria nos levará à mais rápida ascensão espiritual coletiva."

SONHO INVADIDO: primeiro colocaram fogo, depois retiraram a madeira e, sem mais natureza, promoveram a posse

dada em agosto de 2013, contestada pelos invasores, mas reiterada pelo pleno do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em novembro último, pelo placar de 18 a 1. Acionado várias vezes pelo Poder Público Municipal, pela família e pelos sócios empreendedores, o então governador Antonio Anastasia hesitou e não deu a ordem esperada. Coincidência ou conspiração do destino, em 29 de novembro último, mesmo dia da divulgação dos vencedores do “VII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, o ex-presidente Lula esteve no Isidoro. E prometeu à população assentada que iria pedir ao governador Fernando Pimentel a busca de uma solução negociada. A mesma solução e apoio que a família Hugo Werneck pediu durante a premiação, dirigindo-se ao secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Jairo Isaac, presente à cerimônia:

EM NOME DO AMOR “Em nome da família de Hugo Werneck, desejo boa noite a todos e agradeço pela presença e pelas homenagens a nosso pai, avô e bisavô. Agradeço especialmente ao Hiram, pelo carinho com que cuida deste Prêmio e por manter vivos os ensinamentos do dr. Hugo. Há 110 anos seu pai, também chamado Hugo Werneck, chegou a Belo Horizonte, em um mês de novembro. Aqui construiu sua vida profissional e contribuiu para fazer crescer a cidade que abraçou como sua. Há 95 anos, comprou uma antiga fazenda onde construiu um sanatório para tratamento da tuberculose. Ficava no limite de Belo Horizonte com Santa Luzia, na região hoje chamada de Isidoro. O Sanatório cumpriu sua função social por mais de 50 anos. Depois tornou-se um asilo, gerido pelas obras sociais da Igreja da Boa Viagem. Com a morte de Hugo Werneck, meu avô, a


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FOTO: FERNANDA MANN

fazenda foi dividida entre seus filhos, hoje todos falecidos. Desde 1988, tornou-se difícil mantermos as atividades rurais no mesmo nível anteriormente praticado, devido à pressão urbana. Começamos a estudar e negociar com o poder público municipal a possibilidade de dar outro destino à propriedade. Foram muitos estudos e dificuldades. Qual o conceito adequado? Como definir a área perante a legislação? Como conseguir empreendedores que estivessem sintonizados com nossas expectativas? O desafio era, com planejamento e responsabilidade, desenvolver um empreendimento economicamente viável que enfrentasse outras grandes questões: moradia para a população de baixa renda, acesso a serviços públicos para toda a região e qualidade ambiental para a cidade. Em 2010, conseguimos finalizar os processos de aprovação do projeto Granja Werneck. Nele estão previstas 13.500 moradias, no programa 'Minha Casa Minha Vida', prioritariamente para famílias com renda de zero a três salários mínimos. Estão reservados 140 hectares para parques, correspondendo a cinco novos parques do tamanho do nosso parque municipal. Serão construídas três UMEIs, três escolas de ensino fundamental e uma de ensino médio, três unidades básicas de Saúde, Academias da Cidade, unidades do BH Cidadania, espaços de lazer, capela velório e uma unidade de Polícia Integrada. Realizávamos assim o desejo de papai, homem íntegro e ambientalista de primeira hora que muitos de vocês conheceram: enfrentar as graves questões sociais e reservar a parte possível à preservação ambiental. Hoje, nós, 58 proprietários, respondendo por quase 200 descendentes, nos vemos frente a uma situação que nos constrange e entristece. Parte da área foi invadida. A todo momento, pessoas sem o menor conhecimento da história, insultam a memória de nossos antepassados. Acusam-os de grilagem e outros crimes. A nós, de especuladores e desonestos. Com a invasão, que teve início em agosto de 2013, um terço da propriedade está ocupado. Toda a vegetação dessa parte foi destruída. As características ambientais da área, identificadas nos estudos que culminaram na concessão da Licença

Os incêndios criminosos também atingiram a Mata do Sanatório, de propriedade da família Werneck

Prévia pelo COPAM em maio de 2014, estão sendo continuamente modificadas. A invasão, insistimos em chamá-la assim, está gerando mais um enclave urbano com habitações precárias. Áreas destinadas ao uso público foram ocupadas, privatizando-se o espaço. Prevalecem interesses políticos e objetivos ideológicos. Desde então nossa indignação tem aumentado. Foram emitidas e confirmadas sentenças de reintegração de posse e feitas inúmeras tentativas de negociação, com mediação do Ministério Público, Defensoria Pública, Governos do Estado e da Prefeitura. Não tivemos sucesso nas negociações e a reintegração não foi efetivada. Não alcançamos as medidas necessárias para concretizar o projeto. Não somos especuladores, somos uma família que quer dar um destino digno e justo a uma propriedade. Queremos fazer isso contribuindo para uma cidade melhor e convidamos a todos que se juntem a nós, buscando garantir a preservação ambiental e a realização do projeto, de forma pacífica e respeitosa, mas determinada e eficaz. Gostaríamos de hoje, perante todos vocês, pedir ao secretário de Meio Ambiente de Minas Gerais, Jairo Isaac, que seja portador de nossos anseios junto ao Governo do Estado. Secretário, ajude-nos a fazer cumprir a lei, a tornar realidade o projeto Granja Werneck e demonstrar que moradia para a população com qualidade de vida pode ser uma realidade.” SAIBA MAIS

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UM FILME DA CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL

“Eu alimentei espécies maiores do que vocês. Eu já fiz espécies maiores do que vocês passarem fome.”

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FOTO: SHUTTERSTOCK/IMAGEM ILUSTRATIVA

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MINAS GERAIS

MAIS VERDE Projeto liderado pela Codemig atrai novos parceiros para atingir meta de plantar 30 milhões de árvores nativas até 2018. Transição energética e Acordo de Paris trazem oportunidades e desafios para o Estado

O

alerta da ONU é claro: os países devem unir esforços para reduzir de maneira urgente e radical as suas emissões de gases de efeito estufa a fim de evitar uma tragédia humana e ecológica. A boa notícia é que, felizmente, a maior parte deles já tem tecnologias e ações capazes de limitar os impactos das mudanças climáticas e redirecionar a sua “pegada” no planeta. No Brasil e em Minas Gerais, inúmeras iniciativas voltadas para a conservação ambiental, com foco na proteção das florestas, água e solo, renovam a esperança de um futuro mais

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sustentável e próspero. Um exemplo é o projeto “Plantando o Futuro”, lançado em março deste ano pelo Governo do Estado. Já se conquistou, por meio de convênios e termos de cooperação, a viabilização de aproximadamente 25% da meta a ser atingida em dezembro de 2018, ou seja, em torno de 7,5 milhões de mudas a serem produzidas e plantadas em vários Territórios de Desenvolvimento. O foco da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) – responsável pela coordenação e apoio logístico do projeto – é a mobilização dos diferentes

setores para compatibilizar o crescimento da economia mineira com a conservação da natureza, incentivando a adoção de novos modelos de produção, o envolvimento da sociedade e, sobretudo, a formação de uma nova consciência ambiental. No último dia sete de novembro, o “Plantando o Futuro” foi apresentado a ambientalistas e representantes de ONGs ligadas ao meio ambiente, visando atrair novos parceiros institucionais para a iniciativa, que também prevê a recuperação de 40 mil nascentes, seis mil hectares de matas ciliares e dois mil hectares de áreas degradadas.


O PROGRAMA vem contribuindo para reforçar e multiplicar a cobertura vegetal do Estado

para restauração dos ecossistemas no curto e longo prazo. Conforme afirmam especialistas, um diagnóstico eficiente se reflete, por exemplo, na definição mais precisa do número de mudas necessárias para se conduzir um projeto de restauração bem-sucedido.

“PLANTANDO O FUTURO” EM NÚMEROS

PROCESSO PARTICIPATIVO Diante da magnitude dos impactos e das oportunidades relacionadas às mudanças climáticas, a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) – que é parceira do “Plantando o Futuro” desde a sua concepção, em agosto do ano passado – adotou como resposta o “Plano de Energia e Mudanças Climáticas de Minas Gerais” (PEMC). Trata-se de uma política transversal de curto-médio prazo (2020-2030), construída por meio de um processo participativo. Seu objetivo é promover a transição para a economia de baixo carbono, reduzir a vulnerabilidade às mudanças climáticas no território mineiro e articular com coerência as diferentes iniciativas já desenvolvidas e planejadas, com base em uma estratégia territorial integrada. No que diz respeito à transição energética, o PEMC apresenta ações específicas. Entre elas: ampliação do uso de tecnologias de aquecimento solar e geração de energia fotovoltaica, bem como de produtos eficientes

20 mil

hectares a serem preservados

30 milhões

de mudas de espécies nativas a serem plantadas

40 mil

nascentes em processo de recuperação

6 mil

hectares de matas ciliares serão revitalizados

FOTO: VIKTOR SILVÉRIO MARQUES

FOTO: SHUTTERSTOCK/IMAGEM ILUSTRATIVA

CAPITAL NATURAL Um dos destaques do trabalho já realizado até agora pela Codemig é o mapeamento das áreas de interesse ambiental. As áreas prioritárias foram definidas pelo setor de Diagnóstico, considerando o elevado déficit de terrenos a serem revitalizados em todo o Estado. O plantio de mudas tem como prioridades as áreas de nascentes e de recarga hídrica, contribuindo, assim, para o reflorestamento e a recuperação ambiental, bem como para o aumento da qualidade e da quantidade de água nas principais bacias hidrográficas de Minas Gerais. O “Plantando o Futuro” parte da constatação científica de que é necessário investir na restauração do capital natural (florestas, recursos hídricos, ecossistemas naturais, etc.) para se mitigar as mudanças climáticas. Nesse sentido, recuperar áreas degradadas, principalmente terrenos originalmente cobertos por florestas, favorece tanto o sequestro de carbono pela regeneração da vegetação nativa quanto o aumento da resiliência local para adaptação a um novo contexto climático. Vale ressaltar, ainda, a importância de cada área a ser recuperada passar por um diagnóstico, de modo a se identificar as estratégicas mais custo-efetivas

2 mil

hectares de áreas degradadas, em todo o Estado, serão recuperados

20 milhões

de pessoas beneficiadas

R$ 396 milhões de orçamento total

2 DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  77


INFORME PUBLICITÁRIO

e de baixo carbono; adoção da eficiência energética como requisito nas licitações para compra de equipamentos e produtos nas entidades públicas; concessão de benefícios e isenções fiscais para a produção de energia renovável (biomassa, eólica e solar); entre outras ações. Nesse mesmo contexto, a Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves foi palco da “1ª Conferência Internacional de Transição Energética” em Minas Gerais, realizada nos dias 21 e 22 de novembro. Na ocasião, foram apresentados os resultados e a perspectiva da cooperação técnica firmada entre o Governo de Minas Gerais e a França, sobretudo em relação ao PEMC, que foi elaborado em parceria com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). O encontro contou com a presença de especialistas da iniciativa pública e privada e também de universidades. Além de questões relativas à transição energética como pré-requisito para mitigação das mudanças climáticas globais, foram apresentados relatos sobre o processo de transição energética

conduzido pela França, onde as ações uniram especialistas do Governo, cientistas e a população. A exemplo da AFD, a conscientização e o envolvimento da sociedade têm norteado a atuação da Feam, que promove capacitações nos 17 Territórios de Desenvolvimento definidos pelo Governo. Somente em 2016 foram feitas 12 capacitações, além de parceria com a Coordenadoria de Defesa Civil e o Gabinete Militar do Governador para o treinamento de gestores locais e moradores sobre os principais conceitos e práticas voltados para adaptação às mudanças do clima. Mais de 250 pessoas já foram beneficiadas. Outro foco de atuação da Feam é a parceria com universidades. Uma delas, com o Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais (Lagesa/UFMG), vem contribuindo para o melhor entendimento e aprimoramento dos inventários de gases de efeito estufa em escalas regionais. Graças a esse trabalho em conjunto, já foram publicados artigos científicos em revistas internacionais de renome.

ENTENDA MELHOR

l O “Plantando o Futuro” surgiu a partir do Grupo de Trabalho criado em agosto de 2015. Ele envolveu sete secretarias de Estado: Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Fazenda; Governo; Planejamento e Gestão; Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e Ensino Superior; Educação; e Agricultura, Pecuária e Abastecimento, além de três grandes empresas públicas: Cemig, Copasa e Codemig. l A decisão de investir na preservação do meio ambiente por meio do plantio de mudas e recuperação de nascentes leva em consideração o compromisso firmado pelo Brasil junto à ONU, que visa à restauração e recuperação de 12 milhões de hectares até 2030, bem como o relatório da entidade que prevê que, em 2030, o mundo enfrentará um déficit no abastecimento de água de 40%.

SAIBA MAIS

www.codemig.com.br www.plantandoofuturo.mg.gov.br

Outro assunto da “1ª Conferência Internacional de Transição Energética” foi o Acordo de Paris, ratificado por 195 países e em vigor desde quatro de novembro. Com mais de 15 anos de experiência na área de mudança do clima e sustentabilidade, Fábio Marques, diretor da Plantar Carbon, com sede em Belo Horizonte, ressalta que o Acordo trata não somente dos compromissos de redução de emissões estabelecidos nacionalmente, mas também prevê meios de implementação para que sejam cumpridos. Entre esses meios de implementação, há esforços de mobilização de financiamento, desenvolvimento tecnológico e um novo mecanismo de mercado, chamado informalmente

78  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2016

de Sustainable Development Mechanism (SDM), que deverá substituir o atual Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). “O mecanismo de mercado é de grande relevância, já que permite a internalização da variável clima em novas decisões de investimento, ou seja, valoriza o carbono para que haja de fato mudança na base econômica”, afirma Marques. Vale lembrar que, segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o mundo precisa reduzir as emissões em pelo menos 70% até 2050 para haver chances de que o aquecimento médio do planeta não ultrapasse os 2ºC. Para Marques, Minas pode ter oportunidades relevantes. Afinal, além de um terço de toda a matriz

FOTO: DIVULGAÇÃO

Sustentabilidade climática

PARA FÁBIO Marques, da Plantar Carbon, a siderurgia a carvão vegetal renovável deve ser tratada de maneira holística


FOTO: REPRODUÇÃO / IMAGEM ILUSTRATIVA

O USO DE CARVÃO VEGETAL de florestas plantadas na produção siderúrgica gera um ganho ambiental de três milhões de toneladas de CO2 para cada tonelada de ferro produzida

energética do Estado vir da biomassa, incluindo a forte relação com atividades de reflorestamento e produção sustentável de carvão vegetal, também há potencial nas áreas voltadas para energias renováveis e práticas industriais mais eficientes. No entanto, esclarece o executivo, para que esse potencial se realize é fundamental ir além do comando e controle. “Um dos desafios é garantir que a regulamentação dos meios de implementação do Acordo de Paris, por exemplo do SDM, e de outras políticas públicas em nível nacional (inclusive precificação de carbono), contemple os incentivos adequados e aplicáveis ao contexto de Minas Gerais. Outro desafio é avançar na regulamentação da Política Estadual de Mudança do Clima, que também prevê interação com instrumentos diversos dentro e fora do Estado.”

CARVÃO VEGETAL O Grupo Plantar foi o primeiro no mundo a produzir 100% de ferro-gusa baseado em carvão vegetal (renovável). O uso de carvão de florestas plantadas na produção de gusa gera um ganho ambiental de aproximadamente três toneladas

de CO2 para cada tonelada de ferro produzida. Esse cálculo considera as emissões evitadas no processo industrial e também o estoque de carbono propiciado pelos plantios sustentáveis, que fica armazenado na floresta. A primeira operação no mercado de carbono ocorreu em 2002, derivada de um esforço coletivo e inovador que se iniciou alguns anos antes. Segundo Fábio Marques, é importante que os desafios do setor de siderurgia a carvão vegetal renovável sejam tratados de maneira holística, uma vez que há grande relação com o uso da terra e com diferentes cadeias produtivas, além de ser uma atividade com forte diferencial de sustentabilidade climática do Brasil em relação ao mundo. “No lado da oferta, é importante garantir condições favoráveis à produção, que passam por melhorias na base regulatória/licenciamento, por instrumentos financeiros adequados, considerando que são necessários sete anos entre o plantio e a colheita, entre outros. Mas tão ou mais importante que esses aspectos é assegurar que, no lado da demanda, a siderurgia a carvão vegetal seja de

fato reconhecida na rotina de mercados e investidores pelos seus diferenciais climáticos.” Apesar da crise e de haver atualmente grandes excedentes de produtos siderúrgicos em nível mundial, o executivo lembra que é essencial buscar esse tipo de diferenciação, como uma espécie de nicho. E conclui: “Claro, existem limites, mas seu pleno potencial só será exercido quando instrumentos econômicos adequados, como o SDM e outros, gerarem a base para que o comprador final tome a decisão econômica”. 

DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  79


1

INOVAÇÃO AMBIENTAL

ESTÍMULO INOVADOR E

SUSTENTÁVEL Inseed anuncia parceria com SENAI para impulsionar o desenvolvimento de startups de base tecnológica Iaçanã Woyames

redacao@revistaecologico.com.br

G

estora de recursos focada em empresas inovadoras com alto potencial de crescimento, a Inseed Investimentos firmou parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) para impulsionar o desenvolvimento de startups de base tecnológica. O acordo de cooperação abrange o apoio no desenvolvimento de inovações de produto ou processo de startups de base tecnológica, micro, pequenas e médias empresas industriais. Também faz parte o desenvolvimento de ações conjuntas para a disseminação da cultura da inovação e o fortalecimento de ecossistemas locais. Alexandre Alves, diretor da Inseed Investimentos, explica ainda que a parceria se concretizará na utilização dos centros de tecnologia do SENAI pelas empresas já investidas pela Inseed. “Com a aproximação, a utilização desta infraestrutura será facilitada. Além disso, as empresas investidas pela Inseed têm inovação em seu DNA e algumas delas trabalham em cima da pauta de inovação industrial”, destaca. Outro momento que a parceria se desenhará é na entrada de startups para o ambiente do SENAI, seja por meio dos editais de inovação promovido pela Insti-


FOTO: DIVULGAÇÃO SENAI

FIQUE POR DENTRO

O ministro Gilberto Kassab; Pedro Wongtschowski, do Grupo Ultra, representando o presidente da CNI, Robson Andrade; Alexandre Alves; e Rafael Lucchesi, diretor do Senai e do Sesi: cooperação sustentável e tecnológica

tuição seja pela atração das empresas que buscam seus centros de tecnologia. A ideia é que o convênio facilite o acesso dessas empresas que participam do “Edital SENAI/ SESI de Inovação” aos fundos geridos pela Inseed, como o Criatec 3 e o FIMA. “A parceria, além de contribuir com os programas de inovação do sistema CNI/SENAI, favorece a análise e a seleção de empresas que receberão investimentos desses fundos. O Fundo de Inovação Ambiental (FIMA) foi o primeiro destinado ao segmento de inovação tecnológica sustentável do Brasil, com R$ 165 milhões de capital comprometido. E tem foco em negócios que possuem soluções aplicadas ao meio ambiente. Já o Criatec 3 é considerado o maior fundo de apoio ao empreendedorismo e inovação para o desenvolvimento de empresas early stage no Brasil”, explica Alexandre. Desta forma, a parceria além de contribuir com os programas de inovação do sistema CNI / SENAI,

favorece a análise e a seleção de empresas que receberão investimentos desses fundos. Para o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, o objetivo do acordo é estimular o crescimento dessas empresas, que são motores do desenvolvimento da inovação no país. SENAI E MEIO AMBIENTE Avaliar e auxiliar os projetos de viabilidade técnica das investidas da Inseed é outro trabalho previsto no acordo de cooperação. E, para isso, alguns dos Institutos que serão muito utilizados pelo FIMA são os de tecnologia para o Meio Ambiente do SENAI. Com destaque para o de Belo Horizonte (MG), localizado no bairro Horto. O espaço oferece soluções integradas em medições ambientais, tecnologias sustentáveis aplicadas a processos e recuperação ambiental, com foco nas indústria de mineração, metalurgia e alimentos. O Instituto, por meio de consultores e de uma rede de labora-

O Fundo FIP INSEED FIMA - Fundo de Inovação em Meio Ambiente tem R$ 165 milhões de capital comprometido para aportar em até 20 empresas de tecnologias limpas. Desde 2012, a INSEED Investimentos, gestora do Fundo, prospectou 1.271 empresas e 12 desenvolveram seu projeto de investimento. Já foram aprovados R$ 36,2 milhões em sete empresas. Alexandre Alves, diretor de prospecção da INSEED, explica que a estratégia Fundo contempla três eixos de investimento: Soluções Ambientais: gestão e recuperação de resíduos sólidos, reúso e tratamento de água e efluentes, descontaminação do solo e recuperação de paisagens e despoluição do ar e redução da poluição sonora. Tecnologias Avançadas: gestão e uso sustentável de energia, materiais alternativos, construções verdes e agropecuária sustentável. Novos Modelos de Negócios: serviço de logística e mobilidade urbana, ecofranquias e novos projetos e desenho de produtos e serviços sustentáveis. Informações e inscrições pelo site: www.inseedinvestimentos.com.br/fima

tórios, recebe demandas de empresas que buscam se adequar à legislação e à necessidade de preservação ambiental. “Como principal desafio, o Instituto busca associar sustentabilidade ao fortalecimento econômico, atuando em setores de significativa representatividade para a economia mineira, como a mineração e a metalurgia”, explica

DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  81


1 FOTO: JOÃO BOSCO P. C. VILAÇA

INOVAÇÃO AMBIENTAL

MARCOS TANNÚS, diretor do Instituto SENAI de Tecnologia em Meio Ambiente: “Nosso desafio é associar sustentabilidade ao fortalecimento econômico”

Marcos Tannús, diretor do Instituto SENAI de Tecnologia em Meio Ambiente. Segundo ele, o SENAI oferece consultoria e tecnologia para empresas crescerem de forma eficiente e sustentável em um mundo cada vez mais competitivo. O corpo técnico do SENAI dá área de Meio Ambiente ajuda a iniciativa privada a obter, por exemplo, licenças ambientais, certificação de padrões internacionais de qualidade e implementação de políticas de preservação ambiental com maximização dos resultados. Segundo ele, o Instituto atua ainda em projetos de pesquisa e inovação, diagnósticos e serviços na área ambiental, promovendo o desenvolvimento sustentável associado ao incremento econômico. “Em razão da sua inerente transversalidade, promove soluções integradas para a melhoria dos processos produtivos e na recuperação ambiental em consonância à legislação vigente,

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atua na difusão e transferência de tecnologias e na resolução de gargalos das distintas cadeias produtivas mineiras, em especial nos segmentos de água, mineração, metalurgia e de alimentos e bebidas”, destaca. Um dos exemplos de trabalho do Instituto no último ano foi junto ao Instituto Mineiro das Águas (IGAM) para o monitoramento das águas do Estado de Minas Gerais, no âmbito do projeto Água Minas. O IST, por exemplo, é o responsável pelo monitoramento emergencial da bacia do Rio Doce. Desde o acidente com a barragem do Fundão, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, o Instituto realiza a coleta e análises da água. O Centro possui uma infraestrutura laboratorial moderna, bem equipada, realizando ensaios acreditados junto ao Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO). O IST em Meio Ambiente possui ainda uma carteira expressiva de clientes incluindo variados setores da economia: indústria extrativa mineral, alimentícia, indústria metalúrgica, comércio, instituições de saúde, concessionária de água e esgoto, concessionárias de energia elétrica, instituições públicas, laboratórios, entre outros. Segundo Tannús, “a área de meio ambiente é um vasto campo para a inovação, uma vez que parte do princípio da interdisciplinaridade, inerente à questão ambiental. A busca pela sustentabilidade é urgente e demanda eficiência tecnológica, experimentação constante e inovação, instigada sobretudo pela crescente demanda por produtos menos agressivos ao meio ambiente e processos mais limpos”.

FIQUE POR DENTRO

EDITAL SESI SENAI DE INOVAÇÃO A iniciativa visa valorizar a prática de inovação no país, financiando o desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços. 

O edital é voltado a empresas de todos os portes e startups de base tecnológica que, em parceria com pelo menos uma Unidade Operacional do Senai ou Sesi, desejam desenvolver e implementar um projeto inovador. 

Os interessados em participar poderão enviar propostas durante todo o ano. Os resultados serão divulgados em três momentos e as ideias não aprovadas podem ser aprimoradas e reenviadas. 

O SENAI e o SESI vão disponibilizar, respectivamente, R$ 20 milhões e R$ 3,6 milhões divididos em projetos de até R$ 400 mil. 

Os interessados podem acessar o link a seguir para fazer a sua inscrição: goo.gl/VdBwMg

O diretor acrescenta ainda que o Instituto poderá agregar muito aos Fundos geridos pela Inseed, já que o Instituto tem expertise de apoiar os projetos de inovação devido ao Edital SESI/ SENAI de Inovação.  SAIBA MAIS www.portaldaindustria.com.br www.inseed.com.br


QUEM MATA A MATA, mata mais que a mata. seja sustentรกvel


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GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

OLHA QUEM ESTÁ FALANDO!

C

hamemos nosso personagem de João. Ele tem nove anos. João está na sala tomando seu leite. E a mãe, na cozinha, é uma mãe moderna. Vamos chamá-la de Ana. Ela trabalha fora - #sóquenão (trabalha em casa mesmo) -, desenvolvendo softwares. Entre uma linha de código e outra, Ana prepara pães de queijo para o João. De repente, a pergunta estranha: - Mãe, leite fala? Ana não dá muita atenção à pergunta. Sorri, sem responder, enquanto João permanece em silêncio, quebrado logo em seguida: - Tô perguntando, mãe... Leite fala? Ana dá uma gargalhada e responde: - Claro que não, João! Onde já se viu leite falar? - Mas, mãe, esse leite tá falando! - João, quem fala é a vaquinha, que nos dá o leite. A vaquinha faz “muuuuuuuuu”! - Disso, eu sei! Irritado com a incredulidade da mãe, ele dispara: - Não estou falando de vaca, mãe. Tô perguntando se caixa de leite fala. Sabe, a caixa, aquela de onde vem o leite que a gente compra no supermercado? - Ah! Essa caixa não fala, João. O leite vem da va.... - Mãe, eu sei de onde vem o leite. Eu vi na internet. Mas eu acho que esta caixa está falando. Ana começa a ficar preocupada com a insistência do filho. Entre queimar o dedão pra tirar correndo do forno o pão de queijo, que já estava queimando, e responder o whatsapp da chefia sobre um erro em seu programa, tem certeza agora que o filho está com uma daquelas invencionices de criança. Imperativa, ela declara: - Caixa de leite não fala, João, para de me atazanar com isso! João não desiste. - Mas mãe, a caixa tá falando, eu juro! Eu tô vendo... - Vendo ou ouvindo, João? - Tô vendo e ouvindo. - Ai, minha santa periquita! João, eu já disse que

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caixa de leite não fala! Vem pegar seu pão de queijo e para com isso! João silencia por minutos. A mãe olha de longe o filho com olhar fixo na caixa de leite e em seu celular sobre a mesa. Ana se distrai com o trabalho e João continua ali, consumido em pensamentos. Na tela do celular o aplicativo da marca do leite se abriu. O pai do menino havia escaneado o QR code da caixa no dia anterior e instalado a traquitana. Uma vaquinha aparece na tela e diz: - Oi, pessoal! Obrigado por abrir mais uma caixa de leite da marca Mimosa. Nosso leite tem muita qualidade. Você quer saber de onde ele veio? Quer que a gente mande entregar mais uma caixa? Vi que vocês abriram a penúltima e já é hora de repor... A gente manda entregar. Quer? Ana insiste: - João, vem pegar o pão de queijo!!! João entra na cozinha e encontra a mãe absorvida em trabalho. Enquanto ela digita freneticamente, João olha para o pacote de pães sobre a pia e fica pensativo. Espera por um minuto, para finalmente perguntar: - Mãe, saco de pão de queijo não fala? 

TECH NOTES l Como a Absolut está reinventando a forma de

vender vodca goo.gl/ydbG6l

l Mãe, a garrafa de Malibu fala?

goo.gl/bJJBwi

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.


Nยบ 42


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - LUA

A Lua tem quatro fases e sua gravidade influencia marés e o crescimento das plantas. E mais: no futuro, ela pode ser a segunda casa da nossa civilização

Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

I

nspiração para os poetas, objeto de estudo dos astrônomos, referência da passagem de tempo para os povos antigos. A Lua tem diferentes significados e é fonte de várias reflexões. Mas todas elas nos despertam a mesma indagação: como esse satélite natural foi formado e qual a importância dele para o planeta Terra? Satélites naturais são corpos celestes que se movimentam em círculos, ou seja, orbitam ao redor de um planeta. A Terra possui apenas um: a Lua. Mas um corpo celeste pode ter mais. Júpiter, por exemplo, possui 67, dezenas já conhecidas e designadas com nomes interessantes, como Europa e Calisto. A nossa Lua tem influência poderosa na manutenção da biodiversidade planetária e sua origem é intrinsecamente ligada à formação da Terra. A teoria mais

86  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2016

aceita para o nascimento lunar é a da Agência Espacial Americana (Nasa). Acredita-se que um corpo do tamanho de Marte colidiu com a Terra há cerca de 4,5 bilhões de anos. Uma imensidão de detritos e rochas expelidas dessa explosão orbitaram em torno do nosso planeta, até se unirem e formarem, no decorrer de milhões de anos, o globo lunar. Essa hipótese ganhou reforço quando a missão Apollo, primeira viagem do homem à Lua, em 1969, recolheu amostras de solo e rochas e detectou que elas eram

Sem a Lua, o clima da Terra seria caótico, e talvez, nem estaríamos aqui para contar essa história

semelhantes ao material encontrado na Terra. Outro estudo mais recente, divulgado em 2015 e feito por um grupo de astrônomos do Instituto de Tecnologia de Israel, simulou colisões entre planetas. Os pesquisadores compararam a composição de cada orbe que sobreviveu ao impacto com a do corpo celeste que se chocou contra ele. O resultado dessas análises mostrou que de 20% a 40% dos corpos que impactaram tinham uma composição similar aos planetas com os quais colidiram. Tese que reforça a forma como o nosso satélite natural foi formado. INFLUÊNCIA A Lua, nos seus primeiros anos de existência, estava muito mais próxima da Terra, o que significava uma influência ainda maior da sua gravidade em nosso planeta. Ao longo do tempo, ela foi se


CARTA LUNAR Colocar os pés na Lua ainda é privilégio de poucos. Mas, com uma Carta Lunar, podemos identificar as legendas que mostram os acidentes geográficos da orbe.

IMPORTÂNCIA E INFLUÊNCIA O que aconteceria se a Lua não existisse? Enquanto ela dá voltas em torno da Terra, ela puxa o planeta com sua gravidade. Sem a Lua, o planeta ficaria “frouxo” como um pião, que perde a força ao ser girado. Isso faria, por exemplo, que locais como as regiões polares ficassem mais expostos ao Sol. Ou seja, nosso clima seria caótico e provavelmente quase todas as formas de vida seriam diferentes. Talvez, nem estaríamos aqui para contar essa história. Em contrapartida, sua existência é referência para a prática de uma agricultura que leva em consideração hábitos ancestrais de plantar e colher, conforme as diferentes fases do satélite natural. Entre elas, a permacultura, uma forma de cultivar alimentos que se alinha não somente com a astronomia, mas também ao respeito das especificidades do solo, oferta de água natural e a simbiose existente entre diferentes plantas. Outra influência da Lua se dá nas marés. Assim como a Terra atrai a orbe lunar, fazendo-a gi-

FIQUE POR DENTRO l A Lua tem água - e em volume surpreendente - na forma de “orvalho”, gelo depositado no fundo escuro de suas crateras e, sobretudo, no interior de suas rochas. l A Lua tem menos de um terço do tamanho da Terra. l A temperatura da orbe lunar atinge 127ºC em pleno Sol e cai para menos 280ºC na escuridão. l A Lua tem uma atmosfera muito fina, chamada “exosfera”. Ela não fornece qualquer proteção contra a radiação solar ou impacto de meteoros. l Com uma atmosfera tênue, a Lua é alvo constante de asteroides, meteoros e cometas, deixando numerosas crateras. O que explica a sua aparência lembrar a de um queijo e seus furos. l Através de uma lente de aumento com ampliação 10 vezes superior, a Lua pode ser vista em detalhes. Um binóculo atual e barato tem maior poder de resolução que a antiga luneta do físico italiano Galileu Galilei, que viveu no século 16 e 17. FOTO: DIVULGAÇÃO

afastando e estima-se que se distancia a uma velocidade de 3,78 centímetros por ano da nossa Casa Comum. Esse afastamento se deve à fricção entre a superfície da Terra e a gigantesca massa de água que paira sobre ela. O atrito faz com que, ao longo do tempo, nosso planeta gire um pouco mais lentamente sobre seu eixo. E à medida que a velocidade da Terra diminui, a da Lua acelera fazendo com que ela seja empurrada para fora. O movimento lunar influencia nosso planeta de diversas formas. Porém, as mudanças são muito lentas e sutis. Para se ter uma ideia, as noites ficam mais longas conforme o satélite se distancia, mas isso representa apenas dois milésimos de segundo a cada século. Mas fiquem despreocupados: a Lua nunca vai “escapar” da Terra. Mesmo que ela continue diminuindo sua velocidade, irá girar na mesma velocidade em que orbita a Lua. Atualmente, a orbe lunar está a 384.400 km de distância de nós. Isso significa que, entre a Lua e nosso planeta, caberiam 30 Terras.

l A Lua faz uma órbita completa ao redor da Terra correspondente, cronologicamente, aos nossos 27 dias, girando na mesma velocidade e tempo, sempre voltada com o mesmo hemisfério para nosso planeta. Esse fenômeno é chamado de rotação síncrona. Mas, como a Terra gira em seu próprio eixo enquanto orbita o Sol, a partir da nossa perspectiva, temos a impressão de que ela leva 29 dias.

rar ao seu redor, a Lua também atrai nosso planeta, só que de um jeito mais sutil. O puxão gravitacional tem pouco efeito sobre os continentes, por serem sólidos. Mas afeta fortemente os oceanos, que são constituídos de água e possuem grande fluidez, produzindo as chamadas marés altas e baixas.

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DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  87


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - LUA

Datas importantes 1609

1610

Thomas Harriot torna-se a primeira pessoa a usar um telescópio voltado para o céu. Mais tarde, ele faz os primeiros mapas da Lua.

Galileu Galilei publica observações científicas da Lua no “Sidereus Nuncius” (Mensageiro das Estrelas).

1959-1976

1961-1968

“Programa Luna” da extinta União Soviética (URSS) lança 17 missões robóticas bem sucedidas à Lua, incluindo o primeiro vislumbre do lado oculto lunar e três retornos de amostra.

Lançamento do “Programa Lunar Orbiter”, desenvolvido pelos Estados Unidos para envio de cinco sondas espaciais não-tripuladas à Lua. 99% da superfície lunar foi mapeada.

1969

1994-1999

O astronauta Neil Armstrong se torna o primeiro homem a caminhar sobre a superfície da Lua.

Missões “Clementine” e “Lunar Prospector” sugerem que podem existir gelo nos polos lunares.

2003

2007-2008

Primeira missão lunar da Europa com a sonda “Smart-1” para identificar elementos químicos.

Segunda nave espacial do Japão, Kaguya (foto), e primeira sonda lunar da China. Ambas começam missões de um ano orbitando a Lua.

2009

“MULHER” DE FASES

Descoberta de gelo na Lua.

Conforme a Lua viaja ao redor da Terra ao longo do mês, ela pode ser vista de diferentes formas. Pelo fato de a orbe lunar não possuir brilho próprio, suas fases - Cheia, Nova, Crescente e Minguante - são resultado de um ciclo de aproximadamente 29,5 dias em que ela fica iluminada pelo Sol. A fase da Lua representa o quanto dessa face iluminada está voltada também para a Terra.

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FOTO: ARQUIVO PESSOAL

CINCO PERGUNTAS PARA...

AMAURY A. ALMEIDA

Doutor em Astronomia e professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP

CURIOSIDADES LUNARES Quando a Lua está cheia em nosso país, por exemplo, ela também é vista nesta fase em diferentes partes do planeta? Sim. Quando vemos a Lua Cheia (ou Nova) no Brasil, os japoneses, do outro lado do globo, também a veem da mesma forma - Cheia ou Nova - na noite anterior. Mas, por uma questão de perspectiva, a Lua Crescente no Hemisfério Norte tem a forma de um “D”. E, no Hemisfério Sul, de um “C”. Já a Minguante, no Hemisfério Norte, tem o formato de um “C”. E de um “D”, no Hemisfério Sul. É comprovado cientificamente que a Lua tem influência sobre o crescimento das plantas? Não se pode negar os efeitos dela sobre a Terra, tendo em vista as marés e a tradição de se respeitar o calendário lunar na agricultura. Em especial quanto à Lua Cheia, devido à maior luminosidade que incide sobre as plantas à noite. A NASA afirma que a Lua poderia ser o local de uma futura colonização humana. Acredita que isso seja possível? Em quantos anos? Sim, é possível. A Lua será um local de futura colonização por seres humanos e já existem pesquisas focadas nesse objetivo. Mas ainda é difícil

Nós apoiamos essa ideia!

prever em quanto tempo isso pode acontecer. Existem na Lua regiões chamadas de “Mar da Tranquilidade” e “Mar da Serenidade”. Como são esses locais e por que eles são denominados assim? Os astrônomos antigos acreditavam que as regiões planas e escuras fossem mares. Daí os nomes de “Mar da Tranquilidade”, etc. Hoje, sabese que essas extensas planícies basálticas e escuras na superfície lunar foram formadas pelo impacto de meteoros, há cerca de quatro bilhões de anos. Em novembro deste ano, tivemos no céu o fenômeno da superlua. Por que nosso satélite se aproxima da Terra? A órbita da Lua em torno da Terra não é circular. Então, em algum momento ela fica mais próxima da Terra (chamado de “Perigeu”). E, em outro, fica mais distante (“Apogeu”). Uma superlua é uma Lua Cheia que fica 14% maior e 30% mais brilhante. Para que isso aconteça, além de estar na fase Cheia, a Lua deve estar localizada no perigeu. Temos cerca de 12 perigeus por ano. Assim, de um a seis deles ocorrem próximos à Lua Cheia. Portanto, são vários os fenômenos de superlua por ano. 


1 VOCÊ SABIA?

AS PIRÂMIDES

DO EGITO Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

E

las são, sem dúvida, um dos monumentos mais emblemáticos da história da humanidade. Construídas nos arredores das cidades de Cairo e Gizé, as pirâmides datam de 4.500 anos atrás. Envolvidas em muitos mistérios, há diferentes teorias para justificar como foi possível uma civilização sem grandes tecnologias construir estruturas gigantescas formadas por blocos de pedra, que têm entre 2,5 e 80 toneladas cada! Confira, a seguir, algumas curiosidades:

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TUMBAS

SÍTIO ARQUEOLÓGICO

A Necrópole de Gizé, também chamada de Pirâmides de Gizé, é um sítio arqueológico que inclui os três complexos de pirâmides conhecidas como as “Grandes Pirâmides”, a escultura conhecida como a Grande Esfinge, vários cemitérios, uma vila operária e um complexo industrial.

COMO ERAM FEITAS

Uma das respostas de como os egípcios transportavam as pedras gigantescas pode ser baseada em uma figura encontrada no túmulo do governante egípcio Djehutihotep. Na imagem, a estátua do faraó é transportada por um trenó arrastado por centenas de trabalhadores, enquanto um homem lubrifica a areia com água à frente do veículo. Outra explicação dada para justificar como essas rochas eram levadas ao topo das pirâmides foi produzida pelo arquiteto francês Jean-Pierre Houdin. Ele propôs que os egípcios poderiam ter usado rampas em espiral subindo por dentro da pirâmide. Há outras teorias também de que essas rampas poderiam ter sido feitas do lado de fora das estruturas. Enfim, nada de ajuda alienígena, como supõem alguns!

As pirâmides nada mais eram que tumbas gigantescas feitas para resguardar os restos mortais dos faraós. Afinal, os egípcios acreditavam que a morte era passageira e que a alma voltaria para o corpo. Por isso, eles se tornaram mestres nas práticas de mumificação e na construção de monumentos que serviriam para manter os corpos conservados e protegidos contra os saqueadores. Como acreditavam que regressariam ao corpo, os faraós eram enterrados com suas riquezas em uma câmara real. Sacerdotes, escribas, criados e animais eram enterrados em outras câmaras mais simples também no mesmo espaço. Comportamento que asseguraria ao faraó, quando ele retornasse à vida, o mesmo poder.

TRABALHO DURO

O Egito possui mais de 100 pirâmides, mas as mais conhecidas são Quéops, Quéfren e Miquerinos. Esses nomes se referem a faraós que eram, nessa ordem, pai, filho e neto. Estima-se que foi preciso o trabalho de mais de 30 mil egípcios durante 20 anos para construi-las. São números costumam variar conforme diferentes estudiosos do tema. Acredita-se também que não foram escravos que ajudaram a construir as pirâmides, mas sim trabalhadores pagos com cerveja e pão.

MARAVILHA ANTIGA

A Pirâmide de Quéops é o monumento mais pesado que já foi construído pelo homem: aproximadamente 2,3 milhões de blocos de rocha, cada um pesando em torno de 2,5 toneladas, foram usados na construção. Ela tem 146 metros de altura, o que corresponde a um prédio de 49 andares, e também é a única das Sete Maravilhas Antigas do mundo que resiste ao tempo.

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1

NATUREZA MEDICINAL

MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

FLOR DE SABUGUEIRO

É

FOTO: MARCOS GUIÃO

na infância que, uma vez percebido um “cheiro”, ele se aloja em nosso cérebro e é identificado na sequência da vida sempre que fizermos contato com aquele aroma, trazendo a lembrança da mesma emoção, o mesmo sentimento vivido lá nos “começo” da vida. Pois comigo se dá essa magia quando me inclino para perceber o perfume suave das flores do sabugueiro (Sambucus nigra). Imediatamente me vejo no enorme quintal da casa de minha avó Joana, com ela do lado enxugando as mãos no avental imaculadamente branco, os pés se arrastando em folgados chinelos e os longos cabelos brancos presos num discreto coque no alto da

SABUGUEIRO (Sambucus nigra)

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cabeça. Seus lindos olhos azuis brilhavam quando fazia referência às suas plantas, carregando os “erres” para exaltar a origem francesa. Hoje, com meu olhar adulto, vejo que o quintal era minúsculo... Certa vez minha irmã mais velha, Nana, teve sarampo e eu ainda era uma pessoinha à toa enrolada nos “pano”. Minha vovó Joana se apavorou e, na prevenção, dispôs um cacho de flor de sabugueiro no meu berço para evitar a fadiga de doença tão braba em menino tão acanhado. Dizia ela que dava proteção. Anos depois minha mãe me contou que desde aquela época eu era esganado e acabei por comer as “florzinha” tudo. Acho que, derivado disso, ainda num tive sarampo. Pode ser que se deu aquele efeito Obelix, que caiu na panela de porção mágica e nunca mais teve necessidade de tomar a tal... Carrego comigo carinho especial no manuseio do sabugueiro. E aos poucos venho tomando tenência de seu valor como estimulante do sistema imunológico, devido às altas concentrações de vitamina C. Além disso, os antioxidantes encontrados em suas flores combatem os famigerados radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento das células, as doenças do coração, derrame e até o câncer. Mas o que mais escuto dos entendidos de raizada sobre o sabugueiro é a valença de suas flores pra acudir os casos de doenças que ficam recolhidas, do tipo catapora, gripe e resfriado com aquela dorada no corpo. Na febre ele é poderoso, pois age instigando o cabra a suar de encharcar os “pano”. E ainda tem uso no tratamento de tosse, rinite e alergias. Como é uma planta medicinal que aportou por aqui vinda do velho continente, por lá o delicado aroma de suas flores cobertas com água quente tem fama de limpar o sangue, eliminando feridas e pustemas, além de eliminar pedra nos rins, tratar da nefrite, queimadura e reumatismo. Essa mesma porção pode e deve ser utilizada para clarear e amaciar a pele, fazendo parte de cremes, loções e géis. Entrando na onda das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCS), as flores frescas enfeitam e são consumidas nas saladas da turma natureba. Gostoso sem base! Inté a próxima lua!  (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.


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13/09/2013 17:07:17


1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

VERDE E PRODUTIVO Criação de corredor agroecológico reforça compromisso da Anglo American com a sustentabilidade ao longo do Minas-Rio, no Espinhaço. Foco é voltado tanto para a proteção da natureza quanto para a melhoria da qualidade de vida dos produtores locais Bia Fonte Nova

U

ma das funções de um corredor ecológico é reduzir e/ou prevenir a fragmentação das florestas existentes em determinada região. Por meio da conexão entre as unidades de conservação e áreas protegidas existentes, é criado um mosaico de sustentabilidade capaz de assegurar a conservação de toda a biodiversidade local. Em Conceição do Mato Dentro, na Região Central de Minas, essa estratégia de conservação ambiental já está sendo colo-

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cada em prática por vários produtores rurais, com a adoção de práticas agroecológicas voltadas para o uso responsável e inteligente dos recursos naturais. O eixo de condução das ações, capitaneadas pela mineradora Anglo American, é um corredor agroecológico: são mais de 11 mil hectares, sendo 3.000 deles relativos às propriedades aderentes. Seu objetivo é preservar e conectar dois importantes atrativos naturais e paisagísticos da região: o Monumento Natural da Serra da

FOTO: LUCIANA MORAIS

redacao@revistaecologico.com.br

TIAGO ALVES: “A criação do corredor reforça o compromisso da Anglo American com a preservação da natureza”


O CORREDOR tem mais de 11 mil hectares, sendo aproximadamente 3.000 ha contando apenas as propriedades que estão participando

FOTO: GEONATURE SERVIÇOS EM MEIO AMBIENTE

Ferrugem e a Serra de São José. Elas integram a porção meridional da Serra do Espinhaço – que é tombada como Reserva da Biosfera pela Unesco desde 2006 – e são consideradas hotspots de biodiversidade, ou seja, têm grande relevância ecológica e ambiental, abrigando vegetação diferenciada, como campos rupestres, e centenas de espécies de animais. Até o momento, 17 produtores rurais já aderiram de forma voluntária à iniciativa. A Anglo American, além de apoiar a regularização ambiental das propriedades participantes, também está atuando na capacitação dos agricultores. A ideia é fomentar o desenvolvimento sustentável de toda a região, apoiando os produtores no seu dia a dia para que eles potencializem as boas práticas e identifiquem novas oportunidades para aumentar a produtividade de suas lavouras e também a geração de renda. Tudo sempre em sintonia com a con-

O objetivo é aperfeiçoar práticas agrícolas seculares, bem como estimular a preservação dos recursos naturais. E, principalmente, o manejo sustentável e correto do solo servação do solo, da água e protegendo a fauna e a flora locais. MANEJO CORRETO O coordenador de Desenvolvimento Sustentável da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil da Anglo American, Tiago Alves, explica que a iniciativa foi idealizada pela própria mineradora. E, aos poucos, vem conquistando a confiança e também o interesse de novos produtores. São famílias que mantêm pe-

quenas lavouras de milho, feijão, mandioca etc., sendo boa parte delas de subsistência. “Com a criação desse corredor agroecológico, trabalhamos em conjunto com os proprietários para que as práticas agrícolas sejam aprimoradas e assim, seja feito o manejo sustentável do solo, da água e da vegetação. Dessa forma, todos contribuem para a manutenção do equilíbrio de todos os serviços ecossistêmicos locais.” Segundo Tiago, a empresa conta com um técnico agrícola e com um engenheiro agrimensor exclusivamente dedicados a apoiar os produtores. Eles vão visitar todas as propriedades participantes, repassando orientações sobre o ciclo agrícola, técnicas de fomento produtivo e outras medidas destinadas a incrementar a produtividade dos pequenos negócios existentes na região. Entre elas, vale destacar a tradicional produção do queijo minas artesanal, por exemplo.

DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  95


FOTOS: RONALDO GUIMARÃES / ANGLO AMERICAN

1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A ESTAÇÃO CIÊNCIA Anglo American, em Conceição do Mato Dentro (MG), fica próxima ao corredor ecológico. Reúne informações sobre a fauna e flora da região e conta com o apoio científico da PUC Minas e de educadores ambientais da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda)

ENTENDA MELHOR

l Os corredores ecológicos se destinam a conectar porções isoladas de floresta nativa, facilitando o deslocamento de animais e a propagação de sementes. Com a recuperação das matas, conservamse também as aves, os insetos, os frutos e a madeira, além de outros serviços ambientais essenciais, tais como a produção de água e a regulação do clima. l Um dos pontos fortes da atuação da Anglo American em Minas Gerais é o seu empenho em salvaguardar áreas representativas de Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos e ameaçados do Brasil. Toda a atenção e cuidado demonstrados pela empresa se justificam. Afinal, o Minas-Rio está inserido numa região delicada e altamente estratégica para a formação de mosaicos de unidades de conservação. l São áreas que também incluem formações vegetais de campos rupestres ferruginosos e cerrado. Por meio da integração de projetos de locação de áreas de compensação florestal, regularização de Reservas Legais e criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), a empresa vem investindo de forma maciça no aumento da cobertura vegetal da região.

NO VIVEIRO da Estação Ciência são produzidas mudas de espécies típicas de campo rupestre e de mata atlântica, que são usadas para esverdear o corredor ecológico

OLHAR DIFERENCIADO A Anglo American também vai auxiliar os produtores na elaboração do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Obrigatório para todas as propriedades rurais do Brasil e previsto no novo Código Florestal, o CAR é fundamental 96  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2016

para que os agricultores tenham acesso a financiamentos e possam investir na melhoria da infraestrutura de suas propriedades e também na gestão de sua produção. Para Tiago, que é antropólogo, a criação do corredor

l A proposta de criação de aproximadamente 10 mil hectares de áreas verdes – que estão sendo instituídas sob a forma de RPPNs –, comprova esse compromisso da empresa. E o conceito-base que norteia todo o processo de criação e conservação dessas áreas é exatamente o da conectividade. l Assim, a cada proposta de regularização de Reserva Legal ou de compensação florestal que a companhia faz, o principal critério de escolha das áreas é a possibilidade de conectá-las a outras unidades de conservação existentes, fomentando a criação de corredores ecológicos e, consequentemente, a proteção da fauna e da flora.

A S O


CONHECIMENTO APRIMORADO FOTO: LUCIANA MORAIS

Em paralelo às iniciativas de implantação do corredor agroecológico, a Anglo American também segue investindo em estudos e monitoramentos da fauna existente em toda a região de influência do Minas-Rio.

“A produção de conhecimento é, sem dúvida, um importante legado do nosso empreendimento. Desde que iniciamos os levantamentos, JOSIMAR: mais conhecimento em 2009, estamos ampliando gradativamente o nosso banco de dados e, acima de tudo, aprimorando o nosso conhecimento sobre os hábitos e as dinâmicas das espécies existentes na região”, explica o biólogo e analista ambiental da empresa, Josimar Gomes. Nos estudos feitos pela mineradora há registro de mais de 300 espécies de aves. Uma delas é o carcará (Caracara plancus), da família dos falcões, avistado pela reportagem da Ecológico durante visita a uma área próxima ao corredor. Vale ressaltar, ainda, a grande diversidade de anfíbios, com cerca de 50 espécies já registradas, incluindo duas recentemente identificadas por pesquisadores.

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agroecológico demonstra o compromisso da Anglo American com o desenvolvimento e a conservação da região e se destaca, sobretudo, por ter um forte viés socioambiental. Afinal, é uma iniciativa que tem um olhar diferenciado, voltado para o bem-estar das famílias e não apenas para a proteção ambiental em si. “Com diálogo e parcerias fortes, todos sairemos ganhando: os produtores, a empresa e, em especial, a natureza, que é o nosso patrimônio mais valioso.”  SAIBA MAIS www.angloamerican.com.br A Estação Ciência Anglo American é aberta gratuitamente ao público de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 17h. Para visitas de grupos acima de 15 pessoas, é preciso agendar com antecedência pelo e-mail educacao.ambiental@ angloamerican.com

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DEZ/JAN DE 2017 | ECOLÓGICO  XX

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1 ENSAIO FOTOGRÁFICO

PATRIMÔNIOS

GERAES Livro "Parques e Reservas" mostra as riquezas naturais e históricas do quarto maior estado brasileiro em 220 imagens de tirar o fôlego Cristiane Mendonça

redacao@revistaecologico.com.br

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FOTO: JOSÉ ISRAEL ABRANTES

CATAS ALTAS, entorno do Parque Santuário do Caraça, divisa com Mariana

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FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

Silvana conta que o grande diferencial da obra primeira vez que abri o livro “Parques e Reservas – Patrimônio das Minas Gerais” foi dividir os parques por vocação, trazendo as tive, ao mesmo tempo, um sentimento referências naturais que são mais fortes nesses de pertencimento e gratidão ao estado onde locais. “Montanhas e picos” englobaram, por nasci. Com textos de Iêda Ferreira e fotografias exemplo, o Parque Estadual do Pico do Itambé e de José Israel Abrantes, Evandro Rodney e Mar- a Serra de Ouro Branco. “Pelas Veredas de Minas”, o Parque Estadual Serra das Araras. celo Andrê, a obra consegue refor“Arte na paisagem”, o Santuário do çar o orgulho de ser mineiro em Caraça, entre outras referências. cada uma das 220 belas imagens “O objetivo é repensar o livro que ilustram suas páginas. Lançado em dezembro e orgasob o ponto de vista da sustentabilidade, promover a educação nizado pela produtora cultural ambiental. E fazer com que as Silvana Terenzi Neuenschwanpessoas ajam com menos desder o livro faz uma viagem pelos perdício, para preservamos justamilenares jardins de pedra do mente essa natureza que está reParque Nacional do Itatiaia, as cavernas do Peruaçu, as pintutratada na obra”, diz a produtora. SILVANA TERENZI: Minas e Resultado de quase um ano de ras rupestres da Serra do Cabral, trabalho, a obra envolveu dezenas o povo mineiro e suas festas reli- seus cenários vocacionais giosas, o valor de elementos culturais, como de pesquisadores e consultores. Feita por meio o café e o queijo, chegando às cachoeiras de da Lei Rouanet e patrocinado pela Pottencial águas douradas do Parque Estadual do Ibiti- Seguradora, será distribuída gratuitamente poca. Imagens que trazem uma mesma sen- para bibliotecas, escolas e conselhos municisação aos olhos e ao coração: Minas Gerais é pais de 93 cidades do entorno dos parques retratados. Confira! um Estado belo e múltiplo.

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DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  99


1 ENSAIO FOTOGRÁFICO FIQUE POR DENTRO

CACHOEIRA DOS CRISTAIS, Parque do Biribiri

FOTO: JOSÉ ISRAEL ABRANTES

Considerado o quarto maior Estado do Brasil em extensão, com 587,5 mil km², Minas Gerais tem 50% do território tomado pelo bioma Cerrado, além da Mata Atlântica e a presença dos Campos Rupestres e da chamada Mata Seca, localizada na Região Norte. No seu território, localizam-se nascentes de importantes rios brasileiros, inseridos nas bacias: São Francisco, Paraná, Atlântico Leste e Atlântico Sudeste. Recursos hídricos que garantem a vida de espécies como veado-campeiro e gavião cará-cará. Animais que vivem em algumas das unidades de conservação registradas no livro.

SAIBA MAIS

FOTO: MARCELO ANDRÊ

BESOURO Eumolpus Sp

CARÁ-CARÁ (Caracara plancus)

FOTO: JOSÉ ISRAEL ABRANTES

VEADO-CAMPEIRO na Serra da Canastra

FOTO: MARCELO ANDRÊ

www.luccacom.com.br


FOTO: JOSÉ ISRAEL ABRANTES

PÔR-DO-SOL no Parque Estadual do Rola Moça

FOTO: EVANDRO RODNEY

FOTOS: ANTONIO RUSSILLO

FOTO: JOSÉ ISRAEL ABRANTES

FOTO: MARCELO ANDRÊ

SERIEMA (Cariama cristata)

DEZEMBRO OUT/NOV DE 2016 | ECOLÓGICO  101 100  ECOLÓGICO

| OUT/NOV DE 2016


MEMÓRIA ILUMINADA

FOTO: RODRIGO FERNÁNDEZ

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MATURANA: “É no amor que alcançamos o bemestar e realizamos nossa condição humana”


A BIOLOGIA DO AMOR DE

Humberto Maturana Luciano Lopes

redacao@revistaecologico.com.br

S

eria o neurobiólogo chileno Humberto Maturana, 88 anos, um ser mais evoluído, que veio de outro planeta para renascer na Terra? Quem conhece algumas de suas obras mais famosas, como “A Biologia do Amor” e “Á Árvore do Conhecimento”, sabe que há uma razão para fazermos essa pergunta. Maturana é um cientista diferente dos demais: consegue ver o ser humano pelas lentes do amor, pela biologia do sentimento, enxergando-o em um sistema global de múltiplas interações. Há quem diga que isso é impossível. Mas existe alguma barreira que o amor ou a influência da natureza em nossas vidas não atravesse? Nascido na capital, Santiago, Maturana é adepto do pensamento sistêmico, que defende uma visão interdisciplinar, integrada e interdependente da realidade: o ser vivo, os objetos e o ambiente estão em constante relação e devem ser estudados como um todo. Nessa abordagem, ciência, subjetividade, espírito e, claro, o amor, caminham juntos. Na orelha do livro “A Árvore do Conhecimento”, que escreveu junto com o também chileno Francisco Varela, PhD em Biologia, há uma descrição que melhor representa a tese defendida por Maturana: “Vivemos no mundo e por isso fazemos parte dele; vivemos com os outros seres vivos, e portanto, compartilhamos com eles o processo vital. Construímos o mundo em que vivemos ao longo de nossas vidas. Por sua vez, ele tam-

bém nos constrói no decorrer dessa viagem comum. Assim, se vivemos e nos comportamos de um modo que torna insatisfatória a nossa qualidade de vida, a responsabilidade cabe a nós”. E completa: “Nossa trajetória de vida nos faz construir nosso conhecimento do mundo – mas este também constrói seu próprio conhecimento a nosso respeito. Mesmo que de imediato não percebamos, somos sempre influenciados e modificados pelo que experienciamos”. Ou seja: um ser só sobrevive em um entorno que o receba. Para o neurobiólogo, o amor tem papel fundamental nisso, porque faz o homem evoluir. “O que guia o fluxo do viver individual são as emoções e na constituição evolutiva também. É o emocionar que se conserva de uma geração a outra”, disse. Crítico da propaganda e do consumo insustentável, que, segundo ele, são um “estímulo à cobiça”, Maturana destaca que o amor está sempre associado à sobrevivência. “Numa de suas parábolas, Jesus fala do camponês lançando sementes ao solo. Algumas caem nas pedras e são comidas pelas aves, outras caem num solo árido e resistem por pouco tempo. Mas há aquelas que encontram boa terra e crescem vigorosas. Assim também nós precisamos de um solo acolhedor para nos desenvolver. Nosso solo acolhedor é o amor.” É o que você, caro leitor, confere nesta seleção de frases e pensamentos que a Ecológico apresenta a seguir:

l BIOLOGIA DO AMAR “A biologia do amar é o fundamento biológico do mover-se de um ser vivo, no prazer de estar onde está na confiança de que é acolhido, seja pelas circunstâncias, seja por outros seres vivos. No caso dos seres humanos, isto é central na relação do bebê com sua mãe, com seu pai, com seu entorno familiar, que o vai permitir crescer como uma criança que vai

ser um adulto que se respeita por si mesmo.” “Se você observa a história de crianças que se transformam em seres, chamemos assim, antissociais, vamos descobrir que sempre tem uma história da negação do amar, de ter sido criado na profunda violação de sua identidade, na falta de respeito, na negação de seu ser.”

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DEZEMBRO DE 2016 | ECOLÓGICO  103


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MEMÓRIA ILUMINADA – HUMBERTO MATURANA na constituição evolutiva também. É o emocionar que se conserva de uma geração a outra na aprendizagem das crianças.” l COBIÇA “Toda a visão do comércio que se associa ao estímulo da cobiça é destruidora da democracia. Quando Jesus disse ‘não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo, não se pode servir ao dinheiro e ao amor’, aponta certamente isso. Mostra que servir ao dinheiro tem a ver com a cobiça. Por isso, o jovem rico para entrar no Reino de Deus tem que desfazerse de suas riquezas, abandonar seus apegos, porque o Reino de Deus é, de fato, amar. É a democracia.” l PROPAGANDA

“O mundo sempre foi maravilhosamente acolhedor.” l EMOÇÕES “As emoções são centrais na evolução de todos os seres vivos, porque definem o curso de seus fazeres: onde estão, para onde vão, onde buscam alimentos, onde se reproduzem, onde criam seus filhotes, onde depositam seus ovos, etc. Bem, com os seres humanos ocorre exatamente a mesma coisa. O emocionar, o fluxo das emoções, vai definindo o lugar em que vão acontecer as coisas que fazem no conviver.” “Se uma pessoa se move, por exemplo, a partir da frustração, isso vai definir continuamente o espaço relacional na qual se encontra e o curso que vai ter seu viver. Se vive a partir da confiança, vai seguir um curso distinto. Assim, portanto, o que guia o fluxo do viver individual são as emoções, e

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“Toda a propaganda para transformar as crianças em consumidores é um estímulo para a cobiça. Provavelmente estas crianças serão adultos que vão cobiçar, porque cresceram na busca da satisfação de qualquer coisa que querem, sem ter consciência do que isto significa no espaço social, no espaço de convivência, por exemplo, de seus pais, que não necessariamente podem comprar tudo o que os filhos querem.” l COMPETIÇÃO “A criança, ao jogar, aprende um modo de viver cuja atenção não está nas consequências, mas na responsabilidade do que faz. Claro que vão ter consequências, mas elas não são o ponto central, e sim aquilo que a criança está fazendo ao jogar. Se alguém aprende isso pode colaborar, pode estudar, pode fazer qualquer coisa com satisfação e com prazer.” “A competição não é nem pode ser sadia, porque se constitui na negação do outro.”


l CRIANÇAS “Não traiam as crianças! Não prometa acolhêlas quando os vai desconsiderá-las. Não prometa que vai levá-las para brincar quando vai ordená-las que se sentem e fiquem quietas. Porque o que um professor faz, às vezes, sem se dar conta, é trair as crianças em função do que ele quer que elas façam. Por um lado as acolhe, mas na realidade as distingue. As crianças sabem exatamente quando alguém promete algo e não cumpre, e vivem isso como uma traição. Isso gera dor e produz sentimentos, por que é uma negação de nossa condição amorosa.” l CONVICÇÕES “Tendemos a viver num mundo de certezas, de solidez perceptiva não contestada, em que nossas convicções provam que as coisas são somente como as vemos e não existe alternativa para aquilo que nos parece certo. Essa é nossa situação cotidiana, nossa condição cultural, nosso modo habitual de ser humanos.” l DETERMINISMO “Quando nos encontramos com um advinho profissional, que nos promete com sua arte de predizer o futuro, em geral experimentamos sentimentos contraditórios. Por um lado nos atrai a ideia de que alguém, olhando para nossas mãos e baseando-se num determinismo para nós inescrutável, possa antecipar nosso futuro. De outra parte, a ideia de sermos determinados, explicáveis e previsíveis nos parece inaceitável. Gostamos do nosso livre-arbítrio e queremos estar além de qualquer determinismo.”

“A imposição dos desejos de alguém sobre outra pessoa dissipa o prazer de estar junto.” l CERTEZAS “O conhecimento do conhecimento obriga. Obriganos a assumir uma atitude de permanente vigília contra a tentação da certeza, a reconhecer que nossas certezas não são provas da verdade, como se o mundo que cada um vê fosse o mundo e não um mundo que construímos juntamente com os outros.” l PLANETA TERRA “O mundo sempre foi maravilhosamente acolhedor. Se assim não fosse, a história do ser humano não teria acontecido. Um ser só sobrevive em um entorno que o receba. Caso contrário, tornase negativo e agressivo e não resiste. Apesar de vivermos um momento de negação do amor, só sobrevivemos porque essa emoção persiste nos

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MEMÓRIA ILUMINADA – HUMBERTO MATURANA l AMOR “O ser humano não vive só. A história da humanidade mostra que o amor está sempre associado à sobrevivência. Sobrevive na cooperação. Se a mãe não acolhe o bebê, ele perece. É o acolhimento que permite a existência. Numa de suas parábolas, Jesus fala do camponês lançando sementes ao solo. Algumas caem nas pedras e são comidas pelas aves, outras caem num solo árido e resistem por pouco tempo. Mas há aquelas que encontram boa terra e crescem vigorosas. Assim também nós precisamos de um solo acolhedor para nos desenvolver. Nosso solo acolhedor é o amor.”

“Descartar o amor como fundamento biológico do social seria desconhecer tudo o que nossa história de seres vivos de mais de três bilhões e meio de anos nos diz e nos legou.”

“O amor nos dá a possibilidade de compartilhar a vida e o prazer de viver experiências com outras pessoas. Essa dinâmica relacional está na origem da vida humana e determinou o surgimento da linguagem, responsável pelos laços de comunicação e que inclui ações, emoções e sentimentos.”

l DOR

“O amor, ou, se não quisermos usar uma palavra tão forte, a aceitação do outro junto a nós na convivência, é o fundamento biológico do fenômeno social. Sem amor, sem aceitação do outro junto a nós, não há socialização, e sem esta não há humanidade. Qualquer coisa que destrua ou limite a aceitação do outro, desde a competição até a posse da verdade, passando pela certeza ideológica, destrói ou limita o acontecimento do fenômeno social.”

“A dor nos faz perguntar. Apesar de difícil, é uma oportunidade única de transformação, assim como a curiosidade, que não nos permite submissão aos padrões externos. Quando tropeçamos, dói o pé. Isso faz pensar sobre o modo de andar, a atenção ao caminhar, os desafios do trajeto. A dor da alma também ensina.”

“Amar é uma atitude em que se aceita o outro de forma incondicional e não se exige ou se espera nada como recompensa. Amar implica ocupar-se do bem-estar do outro e do meio ambiente. Em vez de oferecer instruções do que e como fazer, amar é respeitar o espaço do outro para que ele exista em plenitude.” 

vínculos que definem a vida em sociedade. É no amor que alcançamos o bem-estar e realizamos nossa condição humana.”

107  ECOLÓGICO | DEZEMBRO DE 2016


ESSE CALOR TÁ DE MATAR O PLANETA É HORA DE PENSAR NO FUTURO

A RecordTV Minas parabeniza as ideias vencedoras que promovem atitudes que ajudam a salvar nosso planeta.

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