Revista Ecológico - Dia Mundial da Água - Edição 79

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ANO 7 - Nº 79 - 05 DE MARÇO DE 2015 - R$ 12,50

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA




FOTO: ALFEU TRANCOSO

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EXPEDIENTE

Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Pedro Borrego, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos REPORTAGEM Cristiane Mendonça, Luciana Morais, Déa Januzzi e Vinícius Carvalho EDITORIA DE ARTE André Firmino e Marcos Takamatsu COLUNISTAS Alfeu Trancoso, Andréa Zenóbio Gunneng, Antonio Barreto, Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

REVISÃO Gustavo Abreu CAPA Arte: Adaptação livre do cartaz do filme “A Teoria de Tudo” DEPARTAMENTO COMERCIAL Fábio Vincent fabiovincent@souecologico.com Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

ASSINATURA Alessandra Cristina alessandra.cristina@souecologico.com IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda ecologico@souecologico.com

Representante Comercial Brasília Forza CM - Comunicação e Marketing sdonato@forzacm.com.br

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

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VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

Assistente Comercial Silmara Belinelo silmara@souecologico.com

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souecologico

revistaecologico MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com EMISSÕES CONTABILIZADAS

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

3,06 tCO2 e Fevereiro 2015

ecologico


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ÍNDICE DICE

CAPA CONHEÇA 11 FATOS ESSENCIAIS PARA ENTENDER A CRISE HÍDRICA NO PAÍS E SAIBA POR QUE 91% DOS ENTREVISTADOS DE UMA PESQUISA AFIRMAM QUE O GOVERNO PODERIA TER EVITADO A ESCASSEZ DE ÁGUA.

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POLÍTICA EM ENTREVISTA À ECOLÓGICO, A MINISTRA IZABELLA TEIXEIRA FALA SOBRE OS AVANÇOS AMBIENTAIS DO PAÍS

Pág.

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E mais... IMAGEM DO MÊS 06 CARTAS DOS LEITORES 07 CARTA DO EDITOR 08 ECONECTADO 10 GENTE ECOLÓGICA 12 SOU ECOLÓGICO 18

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ENSAIO ARTÍSTICO EM SUA ARTE INSPIRADA NA NATUREZA, A ARTISTA TATIANA CLAUZET MISTURA ÁGUAS E PLANTAS NUM CENÁRIO ONÍRICO

PÁGINAS VERDES 20 MINERODUTO (I) 24 ESTADO DE ALERTA 34 CANA ECOLÓGICA 54 CÉU DE BRASÍLIA 60 CÉU DO MUNDO 72 EDUCAÇÃO AMBIENTAL 73 CULTURA 74 ESPECIAL NOVA LIMA 77 OLHAR INTERIOR 92

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MEMÓRIA O PENSAMENTO E A HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO DO ASTROFÍSICO INGLÊS STEPHEN HAWKING

GESTÃO & TI 94 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 95 VOCÊ SABIA? 100 NATUREZA MEDICINAL 102 CORAÇÃO DA TERRA 103 OLHAR POÉTICO 113 CONVERSAMENTOS 114 MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 05


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IMAGEM DO MÊS

CONTRASTE HÍDRICO

FOTO: SÉRGIO VALE - SECOM ACRE

Enquanto os reservatórios do Sudeste estão longe de atingir melhores níveis de armazenamento de água, o estado do Acre vem “sofrendo” com as chuvas. No início deste mês, na cidade de Brasileia, mais de 20 bairros foram atingidos pela cheia do Rio Acre. Em Epitaciolândia, pelo menos 67 famílias ficaram desabrigadas e 165, desalojadas. Na capital, Rio Branco (foto), o nível do rio atingiu a marca histórica de 18,34 metros. Como a Ecológico mostrou em sua edição 76, o desmatamento da Amazônia influencia diretamente o clima da Região Sudeste, que, por sua vez, contribui para alterar o regime de chuvas na Região Norte. 06 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015


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FA L E C O N O S C O Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br

CARTAS DOS LEITORES

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

O GESTÃO & TI – TSUNAMI DIGITAL “Roberto Souza, mais uma vez você conseguiu ser simples e preciso. Parabéns!” Eduardo Ladeira, via site “Excelente artigo. O cliente é a razão de ser dos negócios e um novo mundo se abre para esse relacionamento, uma via de mão dupla como nunca houve. Parabéns!” Ricardo Gouveia, via site

O CARTA DO EDITOR – CRISE HÍDRICA, BEM FEITO PARA NÓS! “Isso é resultado da ganância e corrupção desses políticos que só pensam neles. Não se preocupam com os filhos e netos de nossa sociedade!” Mauro Bernardo, via Google+ O A TRÊS MINUTOS DO FIM “Está mais fácil iniciar uma guerra nuclear do que uma catástrofe ambiental.” Jean Carlos da Costa, via Google+

“Assino a Revista Ecológico porque acredito na mensagem que ela busca passar aos seus leitores: a conservação do nosso meio ambiente. Traz reportagens maduras, inteligentes e importantes sobre os mais diversos aspectos do tema. A revista mostra exemplos reais e apoia as iniciativas de preservação ambiental. Quero um futuro sustentável não só para mim, nos dias de hoje, mas para os meus filhos, netos, enfim, para toda a vida em nosso planeta!”

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

EU ASSINO

Edson André Oliveira Dias, funcionário público

1 HUMOR

“Se nós, seres humanos, não nos conscientizarmos, o mundo irá acabar sim. E pelas nossas próprias mãos.” Leonardo Souza, via Google+ “É possível evitar o referido evento, mesmo que todas as evidências apontem para um rumo contrário. Depende muito de nós e de nossos governantes. Chega de emissão de CO2! Chega de investimentos em armamentos, principalmente os nucleares! Paz! O mundo é de todos.” Zamyrton Júnior, via Google+ O VOCÊ SABIA? - CACHORROS “Amo esses animais! Sempre estou aprendendo com eles.” Eucida Giffoni, via Google+

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CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

O POLÍTICO E O E

m chinês simplificado, a palavra “crise” tanto representa “perigo” quanto “oportunidade”. Em outras palavras: é aquilo que a gente sabe que é preciso fazer para sair da mesmice perigosa, mudar o rumo das coisas e não dá conta (mesmo que signifique a nossa sobrevivência). E aí nos acontece algo que, de repente, nos obriga a fazer na marra (e pode nos salvar). Pode nos mudar pra melhor, desde que aceitemos as aparentes linhas tortas de Deus e de sua natureza. É esse o cenário que a humanidade errante e o Planeta Água estão vivendo com a crise ambiental, que é muito maior, vide o apagão hídrico em curso. No caso de Minas, a exemplo de São Paulo e suas cantareiras, de um lado trata-se da degradada “caixa d’água” do país pedindo socorro. E, de outro, o novo governo Fernando Pimentel, cheio de vontade, mas atado e ameaçado pela falta do líquido mais precioso, vital e desrespeitado até hoje pela raça humana.

FOTO: MANUEL MARQUES

ISSO É BOM? É ótimo, repetimos, se a crise hídrica não for enfrenta-

FERNANDO PIMENTEL e Sebastião Salgado: unidos no desafio de recuperar as nascentes do Rio Doce

da de maneira rasa, somente nos seus efeitos, tipo “vamos racionar, taxar mais ainda a população, rechear ainda mais os cofres públicos, fazer obras faraônicas, transpor outros Velhos Chicos. Mas, como oportunidade maior: “Que bom, Mãe Natureza! Agora estamos sendo obrigados e podemos fazer tudo que a senhora, os ambientalistas e os cientistas também sempre nos avisaram e nunca os ouvimos”. Se Fernando Pimentel agir assim, ele não verá o meio ambiente, os ambientalistas e a própria Semad, a pasta que sempre foi o patinho feio dos governos anteriores, como inimigos ou empecilhos para o desenvolvimento econômico a qualquer preço. E pode até virar o estadista que o Brasil atual ainda não tem, conforme convocação do empresariado mineiro, que você vai conferir nesta edição. Isso não é um sonho distante. Diferentemente de seus antecessores, Pimentel tem levado praticamente todo o seu secretariado nos fóruns de discussão hídrica. O que significa a internalização na marra da questão ambiental, cuja revolução maior é ser transversal a todas as pastas de governo. Quem o sensibilizou de vez, para capitanear a recuperação possível de 400 mil nascentes na bacia hidrográfica do Rio Doce, onde Minas encontra o Espírito Santo, e entender direito o que está acontecendo e pode virar uma oportunidade histórica daqui pra frente, foi Sebastião Salgado, o mais famoso e ecológico fotógrafo do planeta, e sua mulher, Lélia Wanick, à frente do Instituto Terra. Aliás, hoje aos 71 anos, Salgado não gosta mais de ser chamado de fotógrafo. Mas de ambientalista, o que se revela em suas palavras reproduzidas na página ao lado, as mesmas que ele declarou ao governador. Toda essa realidade, esse perigo hídrico que estamos vivendo, e a oportunidade que temos de mudar o curso da história, é o que você vai ver aqui discutido, caro leitor, cara leitora, nesta edição comemorativa ao Dia Mundial da Água. Olha que não estamos sozinhos! Temos até o desabafo amazônico e exclusivo da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; e a companhia amorosamente cósmica de Stephen Hawking! Viva a crise! Boa leitura e até a próxima lua cheia. O


AMBIENTALISTA “A questão hídrica não está na falta de chuva. Os governos e a mídia insistem em medir os índices dos atuais reservatórios e, com isso, não vão ao cerne da questão: estamos matando os rios, as fontes. Os reservatórios têm de ser preenchidos com água dos rios, córregos e nascentes que nós assassinamos, ao longo do tempo. É hora de reavivá-los.” “A crise está estabelecida. É preciso recuperar as nascentes. Senão, daqui a 15 anos não terá mais jeito. O processo de destruição foi longo e a recuperação será também. Só na bacia do Rio Doce, em Minas e no Espírito Santo, existem 400 mil nascentes degradadas, mais ainda vivas. Um trabalho para 30 anos.” “O preço para recuperá-las, através de um projeto de reflorestamento e reconstituição de matas ciliares, é de R$ 5 bilhões. É caro. Mas, se considerarmos a compra de aviões de combate pelo Brasil da Suécia, R$ 500 milhões cada, não será nada. Com o preço de 10 aviões desses é possível operar uma bacia hidrográfica do tamanho de Portugal.” “O sistema hidrológico está todo destruído. Este é o desafio dos governantes: restabelecê-lo através da convocação de toda a sociedade, dos proprietários rurais aos indivíduos que moram nas cidades. Não há outra saída.” “Nós nos distanciamos da natureza e temos que reencontrá-la. Precisamos dessa aproximação, nem que seja espiritualmente. Do contrário, o planeta vai nos expulsar.”

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ECONECTADO CRISTIANE MENDONÇA

Trabalhista no Reino Unido fala em zerar emissão de carbono na produção de energia até 2030. Nosso congresso prefere o pré-sal.” @fmei7777 - Fernando Meirelles, cineasta

FOTO: REPRODUÇÃO

O “Partido

SÓ PARA GATINHOS! A seção “Você sabia?” desta edição (página 100) mostra algumas curiosidades sobre os gatos. E se você tem um em casa, certamente irá gostar da seguinte novidade: há aplicativos desenvolvidos especialmente para eles. É isso mesmo! Se você digitar no Google palavras como cat toy, cat game ou kitty toy vai encontrar apps gratuitos e criados para distrair os bichanos. Um deles, por exemplo, exibe peixinhos que se movimentam pela tela. Uma verdadeira distração para esses animais! A dica, claro, é manter as unhas dos gatos bem curtinhas para eles não arranharem os aparelhos.

O “Desde 2005, ano do assassinato de Dorothy Stang, 118 pessoas foram mortas no estado por disputas no meio rural.” @BernaVilmar – Vilmar Berna, jornalista

FOTO: PAULO CHAFFIN

O “Mesmo nos alimentos orgânicos há uma certa contaminação química. E mais: eles são quase sempre contaminados por fungos, bactérias, vermes, etc.” @alfredohalpern - Alfredo Halpern, médico

MAIS ACESSADA

O “Ouvir de um aluno que ‘o HIV já não

A matéria “E o verde, como fica?”, que revela as prioridades da ministra de Meio Ambiente, Izabella Teixeira, para os próximos quatro anos (além das suas expectativas em relação à atuação da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e do ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo), foi a mais acessada de fevereiro. Para conhecer os temas ambientais que terão prioridade até 2018, acesse: http://goo.gl/YkqzvD

O “Períodos de silêncio e um cardápio

O “De ecochatos a

profetas, ambientalistas começam a ser levados a sério quando lembram o óbvio: os recursos finitos do planeta podem colapsar.” @andretrig - André Trigueiro, jornalista

FOTO: DIVULGAÇÃO

com alimentos ricos em magnésio são duas dicas para evitar a perda auditiva.” @drfernandoneuro - Fernando Gomes Pinto, neurologista

FOTO: 1. WILSON DIAS / AGÊNCIA BRASIL | 2. CHRISTOPHE LIBERT

Sudeste tem muito a aprender com os nordestinos, que têm experiência acumulada para lidar com a falta d’água.” @silva_marina Marina Silva, ex-senadora

FOTO: JEFFERSON RUDY

é grande coisa’ dá frio na espinha!” @blogdosakamoto - Leonardo Sakamoto, jornalista O “Quem vive no

1. 2.

10 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

FOTO: STEVE LYON

TWITTANDO

FOTO: BYRON CHIN

ECO LINKS


Fazer da educação o nosso m a i o r o r g u l h o. É a s s i m q u e a g e n t e fa z a m e l h o r c a p i ta l d o B r a s i l . Com as UMEIs – Unidades Municipais de Educação Infantil – a Prefeitura de Belo Horizonte garante o melhor ensino infantil do Brasil e torna-se modelo para o mundo.

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FOTO: SEBÁSTIAN FREIRE

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GENTE ECOLÓGICA

“A água é a única bebida para um homem sábio.”

FOTO: DIVULGAÇÃO VIVA

HENRY THOREAU, filósofo, naturalista e escritor norte-americano

“Eu sou lúcida na minha loucura, permanente na minha inconstância, inquieta na minha comodidade. Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz. Quando me entrego, me atiro e, quando recuo, não volto mais.”

“O Brasil é minha terra, um lugar lindo, que está sendo destroçado. A natureza está dizendo: ‘Cansei, estão tirando a água, querem que eu tire o ar?’. Mas o Brasil é um país mágico, e somos maiores do que a burrice.” MARIA BETHÂNIA, cantora, em entrevista ao Jornal do Commercio

“Se a nuvem falar para a terra o segredo do vento, tenho certeza de que a água dominará o tempo.” EÇA DE QUEIRÓS, escritor português 12 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

“Se apenas um usuário das águas, como a Copasa, contribuísse com 1% do que arrecada com a venda de água na Região Metropolitana de BH para a política ambiental, significaria uma injeção de milhões de reais por ano para defender sua própria matériaprima: água de boa qualidade.” ROBERTO MESSIAS FRANCO, ambientalista, então secretário-adjunto de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas, ao “Estado Ecológico”, atual Revista Ecológico, em 23 de janeiro de 1997

FOTO: VALTER CAMPANATO / ABR

MARTHA MEDEIROS, escritora


“O verdadeiro valor de uma organização também é determinado por seu nível de consciência ambiental, respeito pelas pessoas, conduta justa e transparente em relacionamentos comerciais e contribuição positiva para as comunidades locais.”

FOTO: RUSSELL WATKINS / DEPARTMENT FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT

SÉRGIO MARCHIONNE, CEO global da Fiat Chrysler Automóveis

“Vamos lutar contra o analfabetismo, a pobreza e o terrorismo. Nossos livros e lápis são nossas melhores armas.” MALALA YOUSAFZAI, paquistanesa, vencedora do Prêmio Nobel da Paz, cuja declaração inspira a programação 2015 do Movimento “Minas pela Paz”

“Ligue para sua mãe e para seu pai. Se você tiver sorte o bastante para ter um ou os dois vivos nesse planeta, ligue para eles. Não envie mensagem nem e-mail. Diga para eles que os ama, e os agradeça, e os ouça pelo tempo que eles quiserem falar com você. Obrigado, mãe e pai!” J.K. SIMMONS, ator norte-americano, ao receber o Oscar de “Melhor Ator Coadjuvante”

JOSÉ ARMANDO CAMPOS O presidente do Conselho de Administração da ArcelorMittal reapareceu na cena ambiental, como nos velhos tempos do CEBDs pós-RIO/92. Como conselheiro do Instituto Terra, ele acompanhou o casal Sebastião Salgado e Lélia Wanick em duas visitas ao governador Fernando Pimentel. Final da ópera: a Arcelor vai doar seis mil quilômetros de arame farpado, 300 mil mourões de eucalipto e 14 toneladas de grampos para cercar quase mil nascentes na bacia hidrográfica do Rio Doce. RONALDO BARCELOS Por meio da RJR Produções, e com consultoria do ambientalista Paulo Coutinho, ele acaba de lançar o terceiro volume da exitosa trilogia “Guerreiros da Amazônia”, vencedora do V Prêmio Hugo Werneck na categoria “Educação Ambiental”. Chamado de “A Flor do Sol”, o livro dá continuidade à luta de três jovens para preservar a floresta e suas comunidades de homens gananciosos. MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 13

FOTO: DIVULGAÇÃO FIAT

MARCO ANTÔNIO LAGE O diretor de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade do Grupo Fiat Chrysler da América Latina se superou à frente das comemorações dos 10 anos de existência do “Projeto Árvore da Vida”, que a montadora desenvolve com a comunidade do bairro Jardim Teresópolis, ao redor da sua fábrica, em Betim. Todos os indicadores de melhora da qualidade de vida foram alcançados, inclusive a redução do índice de violência, que era extremo na região.

FOTO: REPRODUÇÃO

FOTO: INTERNATIONAL STUDENTS’ COMMITTEE / WIKIPEDIA

ANTÔNIO CARLOS ANDRADA, prefeito de Barbacena e presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM)

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

FOTO: DIVULGAÇÃO AMM

CRESCENDO

“As cidades e suas prefeituras são a última instância e as principais reféns da crise de água.”


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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

O ABANDONO COMO LEGADO

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uvi de um ex-secretário estadual a seguinte frase: “Não aceito mais cargo público. A máquina do Estado está montada para não funcionar”. E, com exceções, provavelmente de instituições públicas que sustentam nossa mais que desacreditada “classe política”, é verdade que isso se aplica com primor à área ambiental. Minas Gerais possui 72 unidades de proteção integral – estações ecológicas, monumentos naturais, parques, refúgios de vida silvestre e reservas biológicas, que totalizam cerca de 560 mil hectares, menos de 2% de seu território. O quadro geral é de abandono. Sob muita cobrança, no final de 2015 o governo liberou 52 caminhonetes Amarok, e logo depois, em 17 de novembro, suspendeu a autorização para abastecimento em postos de gasolina antes autorizados. Restou aos gerentes abastecer os poucos veículos (principalmente motos) movidos a gasolina ou diesel comum, em batalhões da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) ou unidades do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG). As Amaroks utilizam óleo S10 que não há nesses locais e, por isso, estão paradas. As motos do Parque Estadual do Rio Preto têm de ir até Diamantina, a cerca de 80 km, dos quais 20 em estrada de terra. Do Itacolomi, em Ouro Preto, até BH, percorrendo distância de cerca de 200 km. Ficam horas fora dos parques e gastam a maior parte do combustível para ir e voltar. Já o Parque Veredas do Peruaçu não tem como abastecer seus veículos porque acabou o combustível do DER.

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Os modelos 4x4 são fundamentais para os parques que, em sua maioria, localizam-se em áreas montanhosas e deslocam-se em estradas de terra. Comunicamos o fato ao novo secretário de meio ambiente, Sávio Souza Cruz, que determinou providências e até a solução do impasse: como medida emergencial, foi autorizada a liberação de R$ 150 para cada unidade de conservação, valor insuficiente para atender ademandas da Semana Santa que se aproxima. Para aumentá-lo, é necessária autorização da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag). Para manter os parques abertos e realizar tarefas mínimas, muitos gerentes doaram combustível, apesar do salário baixíssimo que ganham. Os fatos são a ponta de uma situação estrutural que piora a cada ano, apesar de as unidades de conservação exercerem funções sociais importantes, propiciando às pessoas lazer e contato com o meio ambiente natural, além de protegerem a biodiversidade e inúmeros mananciais. Os gerentes são responsáveis por impedir que fogo, invasões e caçadores destruam esses espaços, além de zelarem pela manutenção de equipamentos, gestão de pessoal, receberem e darem assistência a visitantes, inclusive em caso de acidentes. E, apesar de tanta responsabilidade e dedicação, são tratados como se não tivessem importância para o Estado e para a sociedade. Só mesmo uma sociedade imediatista, que continua agindo como se os recursos naturais fossem infinitos, explica esse tipo de coisa. O (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).



Em 2014, o Programa Gerdau Germinar beneficiou mais de 8.500 alunos e educadores . A educação transforma a vida das pessoas. Por isso, investimos continuamente em projetos de educação, preservação e conscientização ambiental, como o Programa Germinar, que já favoreceu várias comunidades, beneficiando mais de 260 mil pessoas ao longo dos seus 25 anos. Mais que uma colaboração, um compromisso com um futuro melhor para o planeta e para as pessoas.


A melhor maneira de mudar o futuro do planeta é transformar a vida das novas gerações.

Pablo Miguel Sousa Marques, aluno da Educação Infantil da Escola Municipal Pe. Jacinto Pinheiro – Congonhas (MG)

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FOTOS: CARLOS ALBERTO - IMPRENSA MG

hiramfirmino.blogspot.com

PAPÉIS INVERTIDOS E SOMADOS Uma das primeiras providências tomadas pelo novo secretário de Cultura de Minas, Angelo Oswaldo, foi reunir o prefeito de Tiradentes, Ralph Justino, e a presidente da Copasa, Sinara Meirelles, para resolverem um desafio antigo e sempre adiado pelos governos anteriores: despoluir, tratar e salvar o Rio São José, que corta todo o centro histórico do município, há anos maculado pelo lançamento de esgotos (a céu aberto). John Parsons, do Solar da Ponte, que o diga! Já o novo diretor-presidente da Codemig, Marco Antônio Castello Branco, confirmou sua pegada cultural, ao patrocinar e inaugurar entusiasticamente a Sala Minas Gerais, o novo endereço da Orquestra Filarmônica, na Estação de Cultura Presidente Itamar Franco, ainda em construção na capital mineira, dedicada à música clássica. “Nada mais coerente e simbólico do que denominar assim esse espaço, pois é a mineração que nos distingue do concerto da federação brasileira.” Pra quem não sabe, foi Marco Antônio, enquanto

PONTO TERRA, 15 ANOS

Uma reunião especial da Câmara Municipal de Belo Horizonte irá homenagear, no próximo dia 31, os 15 anos de fundação da Organização Ponto Terra. Além de programa televisivo na BHNews e realização de ciclos de debates constantes na Faculdade Fumec, a ONG ambientalista presidida por Ronaldo Vasconcellos (foto) mantém-se atuante. Ela é membro efetivo dos conselhos municipal (Comam) e estadual de Meio ambiente (Copam), do Conselho Consultivo do Parque Estadual do Rola Moça e do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).

Ainda repercute a conquista de Sônia Araripe (foto), editora da Revista Plurale, vencedora do Prêmio “Os 100 Mais Admirados Jornalistas Brasileiros”. A láurea, merecida pelo seu bom combate, foi concedida pelos portais Jornalistas & Cia e Maxpress. A Ecológico também aplaude.

18 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

esteve à frente da Vallourec, quem idealizou, patrocinou e impulsionou a transformação do antigo Cine Brasil no hoje charmoso e concorrido Cine Theatro Brasil Vallourec, revalorizando a Praça Sete, no centro de BH. Bravíssimos todos eles!

PROFESSORA ECOLÓGICA FOTO: ISABELLA ARARIPE

NOTÍCIA BOA NÃO ENVELHECE

Angelo Oswaldo e Marco Antonio: sintonia dupla

FOTO: VAGNER CAMPOS

FOTO: FERNANDA MANN

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Acesse o blog do Hiram:

SOU ECOLÓGICO

A Fundação Dom Cabral agora tem mais uma profissional de peso em seu cast: a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. O contrato foi assinado no dia 13 último, no Campus Aloysio Faria em Nova Lima (MG). “É uma satisfação passar a fazer parte do quadro de professores associados da Fundação Dom Cabral, que é uma instituição de excelência na formação de gestores privados e públicos no Brasil. Para mim, será uma oportunidade especial para compartilhar conhecimentos e experiências que acumulei ao longo de mais de 30 anos de militância na causa do desenvolvimento sustentável”, disse a ambientalista. O


Pague o IPTU que ele volta para vocĂŞ. COTA ĂšNICA

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Em pouco tempo, a Prefeitura de Nova Lima realizou vĂĄrias obras e açþes que melhoraram a qualidade de vida e preservaram o meio ambiente. Veja algumas delas: t $SJBĂŽĂ?P EF .POVNFOUPT /BUVSBJT t OBTDFOUFT QSFTFSWBEBT t *ODFOUJWP BP FDPUVSJTNP t .BJPS ĂĽTDBMJ[BĂŽĂ?P EB BUJWJEBEF NJOFSBEPSB t 3FGPSNVMBĂŽĂ?P EP 1MBOP .VOJDJQBM EF 4BOFBNFOUP #ĂˆTJDP EB DJEBEF t $PORVJTUB EP NFMIPS ÂśOEJDF EF %FTFOWPMWJNFOUP )VNBOP EF .JOBT t $JEBEF DPN NBJT ĂˆSFBT WFSEFT QSFTFSWBEBT OB (SBOEF #) ESSA E MUITAS OUTRAS OBRAS SAĂ?RAM DO PAPEL GRAÇAS AO SEU IPTU. Cadastro ImobiliĂĄrio: (31) 3541-4338 / 3541-4341 Rendas ImobiliĂĄrias: (31) 3541-4340 / 3541-4346 Regional Noroeste (J. CanadĂĄ): (31) 3581-1982 / 3541-8523 Regional Nordeste (H. Bicalho): (31) 3547-5040

PLANTĂƒO IPTU

de 01/04 a 20/04 Em caso de divergência nas informaçþes do seu Carnê, vå atÊ o Plantão Especial do IPTU no Hall da Prefeitura (Regional Noroeste ou Regional Nordeste).

PEDIDOS DE REVISĂƒO Para obter o desconto de 10% na cota Ăşnica, os processos administrativos de revisĂŁo cadastral devem ser abertos atĂŠ o dia 20/05/2015.

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DESCONTO ESPECIAL E ISENĂ‡ĂƒO Conforme a Lei 2029/2007, para garantir o seu direito ao benefĂ­cio, os processos devem ser abertos atĂŠ o dia 20/04/2015.

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PÁGINAS VERDES

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

"ARMAZENAR É PRECISO" Bia Fonte Nova redacao@revistaecologico.com.br

O

racionamento de água expõe a fragilidade governamental em planejar adequadamente as obras requeridas para o atendimento aos diversos usuários. A afirmação é do professor da Escola de Engenharia da UFMG Mário Cicareli Pinheiro, especializado em obras hidráulicas. Em entrevista à Ecológico, ele avalia o uso da água pelos diferentes setores produtivos, em especial pela mineração; defende o transporte de minério de ferro por minerodutos e faz um alerta: “É inconcebível falar de racionamento na Região Metropolitana de Belo Horizonte, uma vez que as bacias dos rios das Velhas e Paraopeba produzem uma vazão média da ordem de 100 m³/s na travessia da região. O problema atual da crise hídrica somente pode ser solucionado com investimentos em obras de armazenamento de água”. Confira, a seguir: Diante das campanhas visando à redução do consumo de água, muitos usuários domésticos questionam: “Eu faço a minha parte; não lavo calçada com mangueira, capto água da chuva para limpar a casa, molhar o jardim etc. Mas e as empresas, elas estão fazendo a parte delas?”. Considera que o setor de mineração tem contribuído efetivamente para a conservação e a disponibilidade dos recursos hídricos? Como a grande maioria das atividades industriais, o setor de mineração consome água no processo de extração, concentração e transporte de minério. Entretanto, as usinas de processamento são montadas com estruturas de recuperação e recirculação da água demandada, reduzindo sobremaneira o consumo efetivo de água captada nas bacias hidrográficas.

CICARELI: "Sou a favor do uso de minerodutos para transporte de minério"

Poderia citar exemplos? Sim. No processamento do minério de ferro, a taxa de recuperação e recirculação alcança até 85%. Além desse aspecto, as empresas procuram economizar o máximo possível em captação de água nova das bacias hidrográficas, como forma de reduzir custos de implantação de grandes obras de captação e de consumo de energia elétrica. As barragens que são construídas para a contenção de rejeitos operam também na recuperação da água que não foi recirculada dentro das usinas de concentração, além de clarificar a água que é liberada para o meio ambiente. E nos casos de rebaixamento dos lençóis de água subterrânea para a implantação das cavas? Nesse caso, são identificadas todas as nascentes eventualmente impactadas, por meio de me-


M Á R I O C I CA R E L I P I N H E I R O

"Para produzir uma tonelada de minério de ferro são gastos, em média, 450 litros de água. Como comparação, pode-se citar a pegada hídrica da carne bovina, que equivale a 17 milhões de litros de água por tonelada."

dições sistemáticas das vazões bombeadas e do monitoramento dos cursos de água no entorno da mina, repondo as vazões suprimidas como forma de conservar os mananciais. Todas essas ações, que são inerentes ao processo de mineração, contribuem para a conservação das águas e para reduzir o impacto nas disponibilidades hídricas. Em algumas situações, as empresas de mineração até fornecem água de rebaixamento das cavas para a Copasa e para o abastecimento de condomínios residenciais localizados na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Empresas como a Vale (vide a ex-mina de Águas Claras, da exMBR) afirmam que "devolvem água à natureza e à população em qualidade superior à do recurso captado". Qual é a sua visão sobre esse assunto? A devolução de água para a natureza ocorre em qualidade pelo menos igual às condições em que foi captada. No caso da operação das barragens de rejeitos, muitas vezes a devolução à natureza, por meio do fluxo remanescente legal

FOTO: DIVULGAÇÃO VALE

Professor da Escola de Engenharia da UFMG e diretor da Potamos Engenharia e Hidrologia Ltda.

fixado no instrumento de outorga, ocorre em qualidade superior à vazão que foi captada. Isso ocorre porque os reservatórios formados por essas barragens funcionam como grandes tanques de tratamento, que induzem a sedimentação das partículas sólidas e decantam uma água clarificada. As mineradoras operam diversas obras hidráulicas: barragens, captações, pilhas de estéril, bacias de contenção de sedimentos etc. Há uma estimativa de quanto se gasta de água, em média, para produzir uma tonelada de minério de ferro? O consumo de água requerido para fabricar uma unidade de determinado produto é denominado pegada hídrica. Para produzir uma tonelada de minério de ferro são gastos, em média, 450 litros de água. Como comparação, pode-se citar a pegada hídrica da carne bovina, que equivale a 17 milhões de litros de água por tonelada. Para produzir uma tonelada de queijo, são consumidos 5,2 milhões de litros de água.

QUEM É

ELE

Engenheiro civil especializado em obras hidráulicas e professor de graduação e pós-graduação da Escola de Engenharia da UFMG, Mário Cicareli Pinheiro fundou a Potamos Engenharia em 1993. Atualmente, a empresa tem cerca de 30 profissionais com experiência em gestão de recursos hídricos, estudos hidrológicos, dimensionamentos de obras hidráulicas, hidráulica fluvial e hidrossedimentologia, bem como monitoramento hídrico, modelagens matemáticas e qualidade de água.

O senhor afirmou em recente entrevista que: “A legislação ambiental de MG é a mais restritiva do Brasil e que os limites impostos para outorga – água captada dos rios, poços e reservatórios – são baixos e com prazo definido”. No entanto, diante da atual crise hídrica, não seria o caso de "taxar" as empresas e estender a cobrança a todas as bacias hidrográficas do estado? A cobrança pelo uso da água é um instrumento previsto na Lei Fede-

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PÁGINAS VERDES FOTO: REPRODUÇÃO

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ral 9.433, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos. Esse instrumento já está sendo praticado em algumas bacias de Minas Gerais, sendo o setor industrial um dos grandes pagadores. Entretanto, não há instrumento para “taxar” as empresas em caso de crise hídrica, até porque tal medida, caso fosse adotada como mecanismo de redução do consumo, deveria ser aplicada a todos os usuários, pois não faria sentido penalizar apenas um setor. Qual seria, então, a alternativa mais viável para evitar as crises hídricas? A aplicação de outro instrumento previsto na lei: os Planos de Recursos Hídricos. Por meio deles é feita uma avaliação dos riscos de faltar água e projetam-se as obras necessárias para evitar problemas. Essas obras, tais como barragens de acumulação e transposição de bacias, denominadas de infraestrutura hídrica, vêm sendo 22 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

"O racionamento expõe a fragilidade governamental em planejar adequadamente as obras requeridas para o atendimento aos diversos usuários." combatidas pelos movimentos ambientalistas, razão pela qual mesmo as empresas de geração de energia elétrica ou de abastecimento público de água foram reduzindo ou evitando progressivamente os investimentos em medidas estruturais dessa natureza. Para o setor elétrico, ainda há alternativas de outras fontes de geração de energia, mas para o setor de saneamento a implantação de obras de infraestrutura apresenta-se como a única solução, quando a fonte de produção

é representada pelos mananciais de superfície. Pela lei, em caso de racionamento de água, o abastecimento à população é prioridade. Se preciso, o governo pode “exigir” que as empresas diminuam o volume de água captado para uso industrial, a fim de evitar que o abastecimento público seja comprometido? Seria uma medida extrema, que deve ser ponderada entre a prioridade do abastecimento à população e a manutenção da atividade industrial, que mantém a economia em movimento. Na verdade, o racionamento expõe a fragilidade governamental em planejar adequadamente as obras requeridas para o atendimento aos diversos usuários. Essas ações devem partir dos governos, que detêm a titularidade das águas do Brasil. Como solucionar a atual crise, em especial na Grande BH? É inconcebível falar de racionamento na Grande BH, uma vez que as bacias dos rios das Velhas e Paraopeba produzem uma vazão média da ordem de 100 m³/s na travessia da região. O problema atual da crise hídrica somente pode ser solucionado com investimentos em obras de armazenamento de água. Medidas de redução do consumo, reuso da água ou conservação das bacias hidrográficas são obrigação da sociedade, mas não resolveriam, por si só, o problema atual. O governo sabe informar qual o volume de água sai de suas áreas exploradas em Minas, via minerodutos? Há como comparar esse consumo com os demais usos da bacia e/ou


M Á R I O C I CA R E L I P I N H E I R O Professor da Escola de Engenharia da UFMG e diretor da Potamos Engenharia e Hidrologia Ltda.

bacias onde a água é captada, para termos uma ideia real do que se está discutindo? O governo saberia informar a quantidade de água demandada para a operação dos minerodutos ao consultar as informações contidas nos relatórios do Plano de Utilização da Água na Mineração (PUA), elaborados pelas empresas mineradoras. Eles são instrumento obrigatório para o licenciamento ambiental dos empreendimentos, conforme estabelecido pela Resolução 55, de 28.11.2005, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Em médio prazo, o planejamento do setor de mineração indica a meta anual de transportar 106,5 milhões de toneladas de minério por minerodutos. Para o transporte de uma tonelada de minério são requeridos, em média, 122 litros de água, considerando características médias da granulometria do minério de ferro, com teor de sólidos de 65% na polpa de minério. Ao ser atingida a meta anual de transporte, seria necessária uma vazão de 1.483 m³/h (ou 412 litros por segundo) para escoar toda a produção de concentrado de minério para os portos. Que números comparativos temos, por exemplo, do consumo de água do mineroduto com a agricultura, indústria, abastecimento público, dessedentação animal, geração de energia, pesca e lazer? Se comparado com a água requerida na irrigação, o consumo dos minerodutos seria equivalente

ao volume necessário para irrigar uma área da ordem de 1.300 hectares, o que corresponde mais ou menos a 13 pivôs centrais de grande porte. Essa comparação pode ser estendida ao se considerar a existência de 5.500 pivôs centrais em MG. Em termos econômicos, considerando uma produção anual de soja em 7,2 toneladas por hectare em áreas irrigadas, ao preço atual de US$ 320 a tonelada, tem-se uma receita esperada de

US$ 3 milhões/ano nos 1.300 hectares. Os minerodutos transportando 106,5 milhões de toneladas/ ano, ao preço atual do minério de ferro a US$ 60 a tonelada (o mais baixo dos últimos anos), representam a geração anual de uma receita de US$ 6,39 bilhões, ou seja, cerca de 1.800 vezes maior que o equivalente em soja. Se a comparação for feita com o abastecimento público, uma vazão de 412 l/s equivale ao abastecimento de uma população de 178 mil habitantes, considerando um consumo per

capita de 200 l/habitante por dia. Vale ressaltar que a maioria dos minerodutos está implantada em bacias que não têm usuários de abastecimento público a jusante. Demais comparações podem ser feitas com base na pegada hídrica de cada produto. Enfim, aplicar água para o transporte de minério representa um uso industrial como outro qualquer, com a diferença de o consumo específico ser baixo e o retorno financeiro bastante alto. Em outro tipo de comparação, com o transporte por caminhões, seriam necessárias 9.700 viagens diárias em carretas de 30 toneladas para transportar a produção prevista. E em relação aos minerodutos: o senhor é a favor ou contra? Sou a favor do seu uso como meio de transporte de minérios processados, dadas as amplas vantagens em relação aos demais meios de transporte, que seriam por caminhões ou vagões ferroviários. Os impactos ambientais são menores que aqueles decorrentes da implantação de rodovias e ferrovias, principalmente em função dos menores volumes de terra que são movimentados na execução de cortes e aterros para a implantação da infraestrutura requerida. Quanto ao consumo de água, os volumes utilizados são relativamente pequenos, ao serem comparados com os resultados obtidos e com os benefícios gerados por outros usos da água. O SAIBA MAIS www.potamos.com.br

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FOTO: DIVULGAÇÃO / ANGLO AMERICAN

1 MINERODUTO (I)

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VILÃO OU SUSTENTÁVEL? A no passado, a divulgação de que até o ex-governador Antonio Augusto Anastasia veladamente era contra a construção de mais minerodutos no único estado brasileiro que traz a mineração em seu próprio nome, causou um desconforto geral. E reacendeu uma antiga discussão. Para os ambientalistas radicais, a atitude de Anastasia, hoje senador da República, foi ecologicamente assertiva. Segundo eles, e isso também é compartilhado pela maioria da população, os minerodutos “roubam e exportam” as nossas águas cada vez mais escassas. E, portanto, têm de ser proibidos. Já para os ambientalistas mais moderados e os especialistas no assunto, incluindo obviamente as empresas de mineração, o que falta é informação ambiental à opinião pública. Para eles, do ponto de vista da sustentabilidade, a opção pelos minerodutos é muito mais ecológica que o tradicional uso de caminhões e trens, cujos impactos no meio ambiente são ainda mais danosos. Compromissada com a informação de qualidade e visando contribuir jornalisticamente com o debate, a Revista Ecológico ouviu ambos os lados. O resultado desse “ouvir democrático” é o que mostraremos, a partir desta edição. Acompanhe!

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1 MINERODUTO (I)

"E AÍ GOVERNADOR, É ÁGUA OU MINERODUTO?" “Chama a atenção a petulância das grandes corporações da mineração de optarem pela utilização de minerodutos para exportar nossos minérios. Para quem não conhece, minerodutos são grandes tubulações que transportam minério diluído em volumosas quantidades de água, formando uma polpa de minério, semelhante à borra de café. Como o minério precisa ser diluído e bombeado por água, os minerodutos precisam manter a pressão para conduzir o minério. E é por isso que, para além do alto consumo de água para a formação da polpa do minério, os minerodutos inerentemente causam diversos impactos ambientais. Pois, para manter a pressão do bombeamento, os dutos têm de desviar dos morros, percorrendo dessa maneira os vales, que são as regiões onde estão concentrados os cursos d’água, brejos, nascentes, as melhores áreas de plantio e moradia.

A Vale e a Samarco possuem três minerodutos ligando a Mina Alegria, em Mariana (MG), até o Porto de Ubú no Espírito Santo. Depois de anos destruindo os mananciais de Mariana e Ouro Preto, essas mineradoras não tiveram alternativa a não ser captar água instalando uma adutora para utilizar 82% do potencial hídrico do Rio Conceição no distrito de Brumal, em Santa Bárbara. Moradores da região alegam que na época de estiagem o rio termina, literalmente, no ponto de captação para o duto. São utilizados para a funcionamento dos três minerodutos cerca de 4.400 m³/hora. A multinacional Anglo American se orgulha em dizer que é dona do maior mineroduto do mundo. Ao iniciar a operação dele em 2014, foram visíveis as consequências no ambiente, com drásticos assoreamentos dos córregos, mortandade de peixes, de gado e a inviabilização do uso social da água na região.

A QUESTÃO Em Minas, há hoje diversos minerodutos de pequeno porte, mas há, também, de grande porte, que levam os minérios das minas até o litoral, onde são exportados através dos portos. No caso dos grandes, o estado conta atualmente com oito projetos, quatro já em operação e outros quatro que pleiteiam licenças ambientais. Sobre estes, vamos tentar entender como funcionam e o quanto de água estão tirando dos mineiros.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Luiz Paulo Guimarães de Siqueira (*)

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LUIZ PAULO: “Queremos, o quanto antes, nos livrarmos deles”

A Ferrous Resources pleiteia a instalação de dois minerodutos partindo de Congonhas. Inicialmente, seu projeto era partir de Brumadinho, através da exploração da Serra da Moeda, também conhecida como Monumento Natural Mãe D’Água, mas graças à forte resistência das comunio dades quilombolas e do Abraço a da Serra da Moeda a mineradora foi obrigada a ajustar seu proje-to. A Ferrous vai captar 3.400 m³/ hora do Rio Paraopeba, manan-cial fundamental para o abaste-cimento da RMBH. Além disso, o a mineroduto ameaça a segurança hídrica de milhares de comuni-dades rurais e cidades inteiras, como é o caso de Viçosa, podendo comprometer, inclusive, o funcionamento da universidade federal da cidade (UFV). A Manabi, que pretende instalar uma megamina em Morro do Pilar, também pleiteia a instalação de um mineroduto para transportar o minério de ferro. A mineradora pretende captar cerca de 2.850 m³/hora da bacia do Rio Santo Antônio. A Sul Americana Metais (SAM), do grupo Votorantim, por sua vez, pretende explorar minério de ferro no Norte de Minas e escoar via mineroduto. Serão captados do semiárido mineiro 6.200 m³/hora para viabilizar o empreendimento. SOMA POLÊMICA Se somarmos os volumes de água utilizados por esses projetos chegaremos ao escandaloso valor de 19.350 m³/hora. De


acordo com o diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades, o consumo médio per capita de água, em Minas Gerais, é de 159 litros por dia. Ou seja, o valor consumido por esses projetos minerários equivale ao abastecimento de cerca de 2,9 milhões de mineiros ou o suficiente para atender à demanda de quase 50% da RMBH. Os minerodutos possuem algo em comum. Além de todos os projetos possuírem inquéritos instaurados no Ministério Público, ambos estão sendo licenciados pelo Ibama. Uma das características do choque de gestão ffoi utilizar todo o aparato da máq quina pública para beneficiar, à

revelia da legislação ambiental, os empreendimentos minerários privados. Os governos anteriores assinaram decretos que declaram de utilidade pública as implantações dos minerodutos para fins de desapropriação e, ainda, colocam a serviço das mineradoras a empresa estatal Codemig para realizar o serviço sujo. Os decretos, assim como a emissão das outorgas para o uso de água emitido pelo Igam, foram assinados antes mesmo da concretização dos processos de licenciamento ambiental, ou seja, sem saber se há a viabilidade ambiental e técnica dos empreendimentos, o Estado tratou de reconhecê-los como fatos consumados. O governador Fernando Pimentel foi eleito sob o lema

“Ouvir para Governar”, e muitos dos que estão sofrendo com as mazelas da mineração em Minas creditaram e acreditaram nesse lema ajudando a elegê-lo. O povo mineiro já fez a sua opção, não quer assistir às suas águas, casas, nascentes, plantações, culturas, memórias, suor, comunidades e minérios entrando pelo cano. Queremos sim, o quanto antes, nos livrarmos desses projetos que nada tem a nos oferecer e empenharmos conjuntamente para garantir a segurança hídrica do estado. E isso significa, definitivamente, enterrarmos de vez essa infeliz ideia de mineroduto.” (*) Membro da Coordenação da Campanha Pelas Águas e Contra o Mineroduto da Ferrous e militante do Movimento Pela Soberania Popular Frente à Mineração (MAM).

“A INSENSATEZ DA MINERAÇÃO” Maria Teresa Viana de Araújo Corujo (Teca) (*)

destruir também a vida de pescadores e comunidades do litoral, quando chegam aos navios para que nossos minérios sejam exportados. Tudo isso através FOTO: ALICE OKAWARA

“Minerodutos são mais uma insensatez da mineração, que vive buscando alternativas tecnológicas para manter seus empreendimentos e seus lucros a qualquer custo. Não faz o menor sentido transportar minérios usando água, ainda mais quando se usam também produtos como soda cáustica e amido. Cada mineroduto transporta água equivalente ao abastecimento de 200 mil pessoas. Em sua trajetória, os minerodutos causam a destruição de ambientes naturais e cursos de água e violam direitos, modos e qualidade de vida e o sossego das pessoas. Atravessam comunidades indígenas, tradicionais, núcleos rurais e urbanos. E vão

MARIA TERESA: “É hora de dizer não”

de decretos de desapropriação baseados na utilidade pública da mineração. Qual é mesmo a utilidade pública dessa atividade econômica que enriquece os bolsos dos acionistas, alimenta o mercado de ações e acaba definitivamente com nossas paisagens, biodiversidade, biomas, aquíferos, qualidade do ar e saúde? Na gravíssima crise hídrica, a água é o bem de utilidade pública mais essencial. Assim, pensar em minerodutos é mais que insensato. É criminoso. Está na hora de dizer não!” (*) Artesã, educadora ambiental e integrante dos movimentos pelas Serras e Águas de Minas (MovSAM) e pela Preservação da Serra do Gandarela.

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1 MINERODUTO (I)

“ELES ESTÃO LONGE DE SEREM SUSTENTÁVEIS” Marcus Polignano (*)

de 220 mil habitantes. A previsão é de que os cinco minerodutos previstos para Minas Gerais (três em operação, um em construção e outro em licenciamento) irão consumir 5,612 milhões de metros cúbicos de água por mês, o que equivale a 30,4% do consuFOTO: REPRODUÇÃO

“Do ponto de vista hídrico, o mineroduto não é uma solução ambientalmente sustentável ou socialmente justa. Em princípio, as águas existentes na bacia hidrográfica devem nela permanecer para dar suporte às atividades humanas e suprir as necessidades do ecossistema ali existente. Todas as bacias hidrográficas mineiras têm uma capacidade limitada de vazão outorgável, na maioria das vezes insuficiente para suprir as necessidades atualmente existentes. Os minerodutos fazem uma explotação de vazões significativas de água retirada da bacia e que não mais retornarão a ela. Para exemplificar, o mineroduto Minas-Rio consumirá 2.500 m3 de água para transportar minério por 529 km, o que seria suficiente para abastecer uma população

MARCUS POLIGNANO: “Mineroduto não é solução”

mo residencial, industrial e comercial de Belo Horizonte, que tem 2,3 milhões de habitantes. A água exportada é de Classe I ou II, o que significa dizer uma água de excelente qualidade e que, ao contrário dos consumidores da cidade, não é paga. Enquanto os usuários urbanos fazem o seu sacrifício para economizar esse bem natural precioso, não é justo que outros setores não participem desse processo. É importante destacar que a crise hídrica que assola o estado de Minas Gerais veio para ficar, o que requer uma significativa melhoria na gestão ambiental mbiental das águas e mudanças nos processos produtivos para se adequar a essa nova realidade.”” (*) Coordenador-geral doo Projeto Manuelzão.

XX X O ECO ECOLÓGICO E COLÓG C LÓGICO LÓGICO CO O | MARÇO MARÇ MA RÇO RÇO Ç DE DE 2015 2015 20 5

“OS MINERODUTOS NÃO SECAM OS RIOS” Vitor Feitosa (*)

“Projetos de mineração de ferro têm sua viabilidade fortemente dependente da solução logística, pois no custo envolvido em se produzir, transportar e comercializar o minério, até 70% podem ser consumidos na logís28 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

tica. Portanto, o transporte em um projeto assim é determinante para seu sucesso. Basicamente, existem duas maneiras de se transportar o minério de ferro fino entre uma planta produtora e o por-

to exportador: por mineroduto ou ferrovia. Considerando-se os aspectos sociais, ambientais e econômicos relevantes de cada um, podemos entender a ampla vantagem que os minerodutos apresentam.


O São altamente eficientes energeticamente e usam a água como meio de transporte, beneficiando-se da energia gerada pela diferença de altitude entre a mina e o porto para onde se destinam. São construídos para funcionar em tempo integral e na capacidade máxima, visando otimizar o uso da água, que depois de usada é tratada e pode ser destinada a diversas finalidades. O São muito amigáveis social e ambientalmente, pois são construídos para ficar enterrados, permitindo o uso do solo para atividades agropastoris e causando muito pouco impacto visual. Além disso, são muito seguros, com índices muito baixos de acidentes por vazamento. Ainda assim, as consequências de acidentes são pequenas e muito localizadas, pois não transportam material tóxico ou contêm contaminantes perigosos. Isso faz deles equipamentos de alta eficiência ambiental e baixo impacto social. EFICIÊNCIA ECOLÓGICA Apesar de sua alta eficiência, os minerodutos vêm recebendo críticas principalmente pelo consumo da água, via de regra transpondo a bacia onde a água que utiliza foi originalmente captada. O grande desconhecimento que os cercam, por vezes levam a considerações para que seu construtor seja responsável pelo bombeamento da água utilizada de volta à área de

FOTO: FERNANDA MANN

Eles são equipamentos de transporte de minério de fert ro moído e transformado em polpa pela mistura com água, que permite seu bombeamento através de um duto por longas distâncias. Apresentam algumas características importantes no contexto da sustentabilidade, a saber:

FEITOSA: “Os minerodutos, ao contrário do imaginário popular, são amigáveis ao meio ambiente”

captação. Conquanto isso seja tecnicamente possível, certamente se traduz em altíssima ineficiência energética. Ao utilizarem água como meio de transporte, os minerodutos fazem uso de energia solar, que protagoniza o ciclo hidrológico, responsável por trazer água às regiões elevadas. Com isso, todo o sistema hídrico é reabastecido, particularmente o sistema freático, fluvial e lacustre. Ao bombearem a polpa das montanhas para o mar, o uso da energia gerada reduz-se a um mínimo, pois há um significativo aproveitamento da força da gravidade. Por outro lado, qualquer exigência de retorno forçado por bombeamento implicará em uma necessidade energética muito alta, fornecida pelos meios de geração hidrelétrico, termelétrico etc., que poderia ser melhor utilizado nas demandas que o desenvolvimento econômico e social trazem, evitando-se impactos ambientais advindos desses equipamentos, sem correspondência na geração de valor econômico para a sociedade. IMAGINÁRIO INSUSTENTÁVEL Outro ponto que ronda o imaginário das pessoas, e que não

encontra respaldo na realidade, é que os minerodutos “secam” os rios de onde retiram a água. Isso é impossível por duas razões. Primeiro, a água utilizada para transportar o minério representa um percentual muito pequeno, quando comparado com outras atividades econômicas, como agropecuária, indústrias e saneamento. Segundo, o Brasil dispõe de uma legislação de gerenciamento de recursos hídricos consubstanciada na Lei 4.933/97, também chamada de “Lei das Águas”. Essa legislação criou um conjunto de ferramentas para permitir o gerenciamento adequado da disponibilidade hídrica, entre os quais se destaca a outorga e a cobrança pelo uso da água. Por meio da outorga, o órgão gestor é responsável pela caracterização hídrica da bacia, outorgando os usos da água de acordo com a disponibilidade e a vocação de uso, esta última definida pelo respectivo comitê de bacia. Já a cobrança pelo uso garante que o empreendedor não solicitará mais água do que necessita, pois teria que pagar por uma água que não utilizará. Isso significa que, ao outorgar determinada quantidade de água, o gestor reconhece a disponibilidade para tal, encontrada após a caracterização para o uso ecológico (preservação da biodiversidade, capacidade de autodepuração, usos humanos diretos etc.) e a aloca para o uso econômico proposto. Se essa disponibilidade na bacia não for utilizada, o ciclo hidrológico natural a remeterá de volta ao mar sem qualquer benefício econômico para a sociedade.”

(*) Geólogo e consultor de mineração e meio ambiente.

MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 29


1 MINERODUTO (I)

“ÁGUA É VARIÁVEL FUNDAMENTAL” José Carlos Carvalho (*)

que se deve fazer sempre a análise de outras alternativas durante o processo de licenciamento. Isso, não ocorre no Brasil porque acaba prevalecendo a alternativa escolhida pelo empreendedor, que obviamente fará a escolha de menor custo, licenciada pelo órgão ambiental. FOTO: FERNANDA MANN

“Mineroduto é uma alternativa que pressupõe, obviamente, que haja água disponível o suficiente para viabilizar o transporte de minério. Logo, a disponibilidade de água, levando em conta os múltiplos usos na região de sua captação, é uma variável fundamental. Os empreendedores preferem o mineroduto porque é o tipo de transporte mais barato para essa atividade do que por ferrovia. Como a alternativa por caminhão deve ser descartada por ser completamente inviável econômica e ambientalmente, deve ser analisada comparativamente as alternativas: mineroduto e ferrovia. Em uma região com escassez de água, o mineroduto perde viabilidade. Aprioristicamente, não sou contra, até porque, havendo disponibilidade de água, o mineroduto produz impactos ambientais menores. Mas acredito

CARVALHO: “Aprioristicamente, não sou contra. Mas deve-se analisar outras alternativas”

Deve se considerar ainda o fato de o Brasil, erroneamente, ter abandonado as ferrovias como um modal de transporte estratégico da sua política de logística, levando em conta a dimensão continental do país. Como as ferrovias têm grande importância para o desenvolvimento regional, ao longo de seu percurso, podendo servir, além do minério, para o transporte de carga geral e o de passageiros, essa alternativa tende a ser mais consentânea com os interesses do país. Todavia, não se deve esperar que os custos de implantar uma ferrovia recaiam exclusivamente sobre os empreendedores, devendo ser compartilhado pelo Estado,, p diante do reconhecido cido interesse público que este e modal de transporte representa.” ta.” (*) Consultor tor e ex-ministro dee Meio Ambiente.

XX X O ECO ECOLÓGICO E C CO OLÓG LÓG LÓ ÓGICO CO O | MARÇO MARÇO MA RÇ ÇO Ç O DE DE 2015 2015 20 15

“NÃO EXISTE OUTRA FORMA

MAIS SUSTENTÁVEL” Pedro Borrego (*)

“Tudo na vida são trade offs. Temos de escolher entre uma opção e outra. Se queremos extrair um mineral que está no

30 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

centro do país, estamos lidando com um produto que se mensura em tonelada e não em quilate ou grama. Para se transportar

esta riqueza mineral para a costa e depois para o cliente, qual é a melhor opção de transporte? Os minerodutos.


"Captamos água do Rio do Peixe abaixo de Dom Joaquim, Serro e Alvorada. A Copasa faz a captação antes de nós, atendendo a todas as necessidades de qualquer comunidade aqui na região. Nem Conceição do Mato Dentro nem Carmésia fazem parte da mesma sub-bacia em que captamos. Não podemos começar a pensar que essa água, que iria para o mar de qualquer jeito, vai resolver o problema da falta d’água em outro lugar, como BH."

Copasa Serro

Anglo American

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Alvorada de Minas

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PEDRO BORREGO

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Usuários outorgados

Carmésia

Ponto de captação da Anglo American

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Copasa

Usuários outorgados ! ( Prefeituras ! (

Ponto de captação da Anglo American Hidrografia

OutorgasBacia de abastecimento do Rio do Peixe público

( !

População absoluta (Censo IBGE, 2010) Carmésia - 2550 Alvorada de Minas - 3482

! (

Copasa

Dom Joaquim - 4530

! (

Prefeituras

Ferros - 11387

os baixos custos operacionais e de manutenção, especialmente se comparado a outras alternativas, como a ferroviária. PREOCUPAÇÃO CIDADÃ Depois de que a construção de um mineroduto é feita, não há impacto ambiental nenhum. Essa é a grande questão de sustentabilidade do mineroduto. Apesar de ter um alto investimento de capital para sua viabilização, ainda há

FOTO: FLAVIA VALSANI

O mineroduto foi o modal logístico escolhido pela Anglo American para transportar minério de ferro do município mineiro de Conceição do Mato Dentro ao Porto do Açu, em São João da Barra, no Rio de Janeiro, atravessando 33 cidades. Concluído em 2014, a estrutura que integra o Sistema Minas-Rio, empreendimento da empresa em operação nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, é o maior do mundo em extensão com 529 km e uma das maiores obras de engenharia da América Latina. Para construir uma obra de tal porte a empresa contou com a participação de mais de 10 mil pessoas em 200 frentes de obra. Foram utilizadas tecnologias de ponta e processos de controle de qualidade rigorosos na construção da estrutura, sem deixar de priorizar a segurança dos empregados e terceirizados em todas as etapas. Entre os benefícios que levaram a Anglo American a optar pelo mineroduto estão segurança, a alta confiabilidade na estrutura, os baixos impactos ambientais e

( !

Ferros

PEDRO BORREGO: "Não se pode prejudicar aqueles que estão agindo dentro da lei"

a questão do custo operacional, que é extremamente mais competitivo em relação a qualquer outro meio de transporte. Isso é importante para a sustentabilidade do negócio nos próximos 40 a 50 anos. Conceitualmente falando, ganha-se em muitas questões, pois o transporte de 26,5 milhões de toneladas por ano, por rodovia, é inviável. O negócio do minério de ferro é logística. Não existe forma mais sustentável de se transportar minério do que os minerodutos: sem poeira, emissão de gases e ruído. Outra coisa é o conceito de como o minério é transportado: uma polpa, mistura composta de 68-70% de minério e 30-32% de água. Essa polpa é impulsionada por uma estação de bombeamento, e não por água. Sem água, nada, nem a mineração, funciona. Somos cidadãos e, claro, estamos preocupados com o recurso natural. As pessoas não podem olhar para as mineradoras e achar que não nos preocupamos com esse tema. Temos políticas internas

MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 31


1 MINERODUTO (I) de meio ambiente e estamos constantemente buscando novas formas de reduzir o consumo de água e energia. Além de ser a coisa certa a fazer, há um custo para gerenciar essas questões. Atualmente, o minério de ferro está abaixo de US$ 60 a tonelada, o que já é um incentivo para reduzir a captação de água. Captamos água do Rio do Peixe abaixo de Dom Joaquim, Serro e Alvorada. A Copasa faz a captação antes de nós, atendendo a todas as necessidades de qualquer comunidade aqui na região. Nem Conceição do Mato Dentro nem Carmésia fazem parte da mesma sub-bacia em que captamos. Não podemos começar a pensar que essa água, que iria para o mar de qualquer jeito, vai resolver o problema da falta d’água em outro lugar, como BH. Não há irresponsabilidade nenhuma, por parte do Estado, em dar outorgas de água. O processo é bem rigoroso e há condicionantes críticas para garantir que o sistema funcione. Uma das principais é que a vazão não pode baixar a um certo nível. Se

realmente houver uma situação assim, somos obrigados a reduzir a captação. A outorga é fixa desde que não seja abaixo do que a condicionante permite. POSIÇÃO FAVORÁVEL Outra iniciativa para preservar água é minimizar o consumo interno dentro de todo o nosso empreendimento. Infelizmente, há equipamentos no setor que não têm a mesma eficiência dos que hoje existem. Isso provoca uma ineficiência no sistema, assim como acontece na gestão de abastecimento urbano (40% da água se perde). Nesse contexto, estamos num posicionamento favorável, porque acabamos de construir o mineroduto e tanto os equipamentos quanto a tecnologia que implementamos são mais avançados. Não temos problemas com vazamentos. E nosso índice de reúso de água é acima de 80%. Quando a polpa chega ao Porto do Açu, a água e o minério são separados. O minério é embarcado e a água é tratada e descartada no mar. Esse porto foi pensado para ser um complexo industrial. Es-

Sustentabilidade é a nossa pauta!

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tamos buscando, junto de vários parceiros na região, estudar novas oportunidades de reúso da água lá. Por exemplo: existe uma possibilidade, com investimento adicional, de se converter essa água em potável. O problema é que, às vezes, a legislação não facilita esse processo. Em vez de criticá-las, é preciso incentivar as mineradoras para, além de ser responsável na captação, uso e reúso de água, estimular a sua oferta à sociedade e ao meio ambiente através de projetos sustentáveis. Não se pode prejudicar aqueles que estão agindo dentro da lei.” O (*) Diretor de RH, Assuntos Corporativos, Segurança e Desenvolvimento Sustentável da Unidade de Negócios Minério de Ferro Brasil da Anglo American.

NA PRÓXIMA EDIÇÃO Confira os depoimentos de Márcio Perdigão, gerente-geral de Meio Ambiente e Licenciamento da Samarco, Maria José Gazzi Salum, doutora em Tecnologia Mineral, Maria Dalce Ricas, superintendente da Amda, Patrícia Boson, secretária-executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da Fiemg, e Paulo Lamac, deputado estadual e autor do PL 4.839/2014.

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CORAÇÃO DA TERRA DÉA JANUZZI (*) redacao@revistaecologico.com.br

CLÍNICA DO FEMININO E m nome das mulheres, digo que o feminino está doente, sofrendo de um mal incurável. Assim como a Mãe Terra, que é mulher, feminina e constantemente violentada, castigada, estuprada. Não se garante mais como fonte inesgotável de recursos. Como as mulheres, as florestas, os mananciais e os cursos de água têm sido retalhados. Para me salvar de mim mesma, das angústias e dúvidas que me consomem, do vulcão que sou e está em constante erupção é que vou procurar a Clínica do Feminino, para ver se encontro um diagnóstico para a minha dor de ser mulher. Aproveito e peço socorro também para a Mãe Terra. Fundadora da Clínica do Feminino, Marisa Sanabria é psicóloga e mestre em Filosofia. Ela escuta atentamente sobre os vaga-lumes que se acendem dentro de mim em certos dias. Falo das minhas erupções e labaredas internas, sobre as tempestades e tsunamis que devastam os meus dias. Peço que me ensine essa difícil tarefa de ser mulher. Marisa diz que “não dá para ensinar, pois trata-se de um gesto, de uma atitude frente à vida”. O feminino não se ensina, se exerce e, sobretudo, se compartilha. O feminino diz respeito ao acolher, ao preservar e perambular. Ele não tem lugar marcado, não é capturado pela cultura ou pela civilização, não reclama o protagonismo nem instaura a lei, não é sua a palavra que determina o que está certo ou errado, o que deve ser perdoado ou condenado, enfim, ele não está no palco. Ao contrário: o feminino é a trama, o tecido que sustenta a realidade da existência. Em nome do Dia Internacional da Mulher, que está sendo comemorado este mês, Marisa pede emprestado ao sociólogo francês Jean Baudrillard uma citação do livro “A Sedução, o Horizonte Sagrado das Aparências”. O autor revela que um dos grandes esforços do mundo patriarcal tem sido “capturar, silenciar e programar o feminino, que sempre se mostrou como força transbordante, indeterminada, surpreendente e desafiadora da norma estabelecida”. As mulheres vivem sob uma estrutura patriarcal, numa arena de poder, de submissão, de abuso de uma força contra outra. É preciso lembrar que patriarcal não é o mesmo que masculino, que diz respeito a uma atitude 34 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

em relação à vida, de lucidez, constância e segurança. Em nome do feminino, Marisa esclarece que o abuso de poder pode ser exercido por qualquer um, seja homem ou mulher. Há mães patriarcais, autoritárias e ameaçadoras, mulheres distantes, frias e calculistas, dispostas a vencer a qualquer preço. Assim como homens bélicos, cruéis, insensíveis e despóticos. Em nome de todos, Marisa lembra que o mundo da tecnologia e dos afetos descartáveis, líquidos, tem gerado um patriarcado em sua versão mais cruel, violenta e intolerante. Esse é o grande desafio para o feminino, pois as mulheres de hoje estão distantes do afeto, da simplicidade, do acolhimento, da concavidade como força que se deixa penetrar. Em nome da sobrevivência, a mulher se tornou uma caricatura, se encaixando nos modelos vigentes do soldado exausto, da executiva eficiente, da gata erotizada, da cigana desprevenida, enfim, em fórmulas artificiais. A culpa, o estresse, a depressão, a raiva contida e a vingança têm sido a resposta de mulheres amargas, desiludidas, enfermas, sem alegria nem vitalidade. O feminino é, antes de tudo, uma força civilizadora imprescindível, pois remete a movimentos mais holísticos, integradores, ecológicos e tolerantes. Na Clínica do Feminino chegam mulheres jovens, ansiosas para alcançar o modelo do êxito, com medo de amar, de se entregar e de serem descartadas. E também mulheres maduras, amargas, entristecidas, com pavor do envelhecimento e da morte. Onde está o feminino nessas mulheres que sofrem? Ficou escondido, mutilado, abandonado. Como desejar um mundo menos desigual, se o feminino em todos nós, homens e mulheres, é um produto escasso e fora de moda? Em nome das mulheres é preciso esclarecer que exercer a feminilidade não tem nada a ver com submissão, perda da autoestima, do respeito ou da dignidade. Viver o feminino diz respeito a perder o medo do abandono, da solidão e do fracasso. É ficar distante dos modelos estabelecidos. É deixar de ser implacável e exigente com a gente mesmo. Soltar a armadura e sair da trincheira, para poder ser, exercer e escolher o próprio destino, qualquer que seja. O (*) Jornalista e escritora.


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Discurso de Inauguração da Sala Minas Gerais, em 27/2/2015. Caro colega Ângelo Oswaldo, Secretário de Estado da Cultura, Senhoras e Senhores admiradores da música, Tenho o privilégio de me dirigir a todos os que nos honram com suas presenças nessa solenidade de abertura da temporada de 2015 da Orquestra Filarmônica, porque a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais foi a responsável por arcar com os custos da construção dessa majestosa sala de concertos. Entretanto, o verdadeiro esforço para consecução desse empreendimento foi despendido pelas centenas de trabalhadores, engenheiros e técnicos que aqui labutaram, e merecem portanto o nosso mais sincero agradecimento. A CODEMIG pode patrocinar essa obra com zelo e presteza, pois conta com os recursos gerados por suas importantes jazidas de minério de Nióbio. Assim, nada é mais justo do que batizarmos essa sala de música como o nome do nosso Estado, Minas Gerais, ele mesmo portador da atividade que nos distingue no concerto da nação brasileira, a MINERAÇÃO. Junto com a CBMM tiramos do solo de Araxá o minério de pirocloro, mas é apenas dela, da CBMM, de seus operários e engenheiros, o grande mérito de ter desenvolvido a tecnologia que o transforma em ligas de metal, criador de riquezas, cujo valor essa majestosa obra arquitetônica tem ocasião de exemplificar. Cumpre-se assim reconhecer nesse evento o grande sucesso da vitoriosa parceria que o Estado de Minas Gerais mantém com o Grupo Moreira Sales já há mais de 42 anos.

postos de saúde pública – para hospedar de maneira invejável a já nacionalmente reconhecida Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. O povo mineiro manifesta dessa forma seu profundo reconhecimento pela missão civilizadora da música clássica, pela capacidade que uma melodia harmoniosa tem de tocar a alma do homem, de emocioná-lo, fazendo-o refletir sobre sua própria condição de ser humano, falível e imperfeito, passageiro temporário numa viagem terrena cheia de surpresas. Nessa noite tão especial para o Diomar e para o maestro Mechetti, eu gostaria de confessar minha esperança de que homens e mulheres, tão distintos em suas histórias, e diferentes nas suas aspirações, ao darem vida aos seus instrumentos entoando peças clássicas e modernas, ajudem a cada pessoa que aqui vier a descobrir a beleza da construção de uma unidade à partir da diversidade de múltiplas partes. Talvez assim cada pessoa possa encontrar os caminhos que a transformem em instrumento de combate à intolerância, ao fanatismo, ao radicalismo, à discriminação e ao ódio que assolam nossos espaços de convivência e as redes sociais. Que a maravilha da música, suas melodias e acordes, ajudem a cada pessoa a descobrir a virtude da humildade, e que a verdadeira cidadania se constrói na defesa do direito do outro. Muito obrigado, Marco Antônio S. C. Castello Branco DIRETOR PRESIDENTE CODEMIG

Mas se a CODEMIG é o veículo através do qual aquela terra marrom completamente sem graça – como me dizia outro dia uma funcionária – se transforma num espaço das artes, é o povo mineiro o verdadeiro e único proprietário da Sala Minas Gerais. Pois foi ele, o cidadão das Minas e das Gerais, quem abriu mão dos R$ 180 milhões de reais aportados nos 32 mil m² desse edifício – dinheiro tão necessário às escolas e Foto: Carlos Alberto Pereira


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ESPECIAL DIA MUNDIAL DA ÁGUA

O RECADO DA

MÃE

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crise hídrica que tem pautado sobremaneira a agenda política dos atuais governantes não é de hoje. É o que recordamos aqui, relendo o texto de capa da edição 46, de 23 de janeiro de 1997, do “Estado Ecológico”, suplemento que circulou durante nove anos no jornal “Estado de Minas”, outros nove como “JB Ecológico”, no Jornal do Brasil, e já há sete como a atual Revista Ecológico. O texto, assinado com licença poética pela “Mãe Natureza”, se referia às 79 pessoas mortas, 91 feridas e 43 mil desabrigadas pelas enchentes, rompimento de barragens e fúria das águas em 193 municípios mineiros, no então governo Eduardo Azeredo. Observem a atualidade do recado dado - e não ouvido -, 18 anos atrás: “Minas na água ainda conta seus mortos, corpos mais pobres do que ricos. Cadáveres de uma gente ainda moça, ou velhos e crianças, igualmente inchados e enlameados. Vítimas sociais, perdidos desabrigados ambientais. Morros repartidos, rios revolvidos. Todos a comemorar, até quando, a velha ignorância humana? O que lhes posso dizer, se eu sou assim, desde antes do dilúvio universal, do nosso primeiro pecado ambiental? Continuem, senhores vereadores, prefeitos e empresários, acima das leis de Quem os criou, ocupando os meus vales com loteamentos clandestinos, eleitoreiros e antiecológicos! Continuem vocês também, senhores fazendeiros, devastando-me e plantando até às margens dos meus rios, cortando todas as minhas matas ciliares, até a última árvore, o último mato ribeirinho, a última raiz que tenta segurar, solitária, os meus barrancos!

Façam tudo isso, senhores governadores e ministros, sua excelência, presidente dessa república que já foi tupiniquim. Que eu continuarei lhes devolvendo calamidade e morte, quando queria beleza e vida. Devolvendo-lhes, em vômito, o que vomitam em mim. Todo o lixo, lata, plástico, papel de bala, urina e merda que jogam em mim. E eu continuarei assim, cada dia mais cruel, na visão de vocês, mesmo que eu não seja nada disso. Em verdade vos digo, imitando Cristo, não sou boa nem má. Apenas sou a natureza. A força e o milagre, incessantes, da vida. A mãe divina, ainda incompreendida, vilipendiada, humilhada e estuprada por vocês. A escolha, portanto, não é minha. O risco, as áreas de risco e os futuros corpos boiando n’água, são seus! Ou compreendam-me, amemme e recebam o meu amor. Ou continuem me tratando mau, fazendo-me apenas chorar junto. Claro que prefiro verter lágrimas de fertilidade, vida e amor. Mas, se as preferem de dor, não tenho como evitar, por eu ser só doação. Está escrito, desde sempre, na tábua da salvação humana. A dor, tal como o amor, os conduzirão à mesma sabedoria, ao mesmo paraíso perdido, de volta à casa, sem enchentes nem vítimas, do Pai. Acordem! Escolham! A dor ou o amor. E eu estarei sempre por perto, até o final natural dos tempos, por amá-los demais! Desculpem-me, portanto, pelas tragédias que, desecologicamente, querem me imputar a culpa. Desculpem-me! Por amor a vocês mesmos.”

Assinado: Mãe Natureza

2 MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 37


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ESPECIAL DIA MUNDIAL DA ÁGUA

REALIDADE CRUEL: as chuvas já começaram, mas não são suficientes para aumentar o nível dos reservatórios

CRISE HÍDRICA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER Há mais de uma década, os ambientalistas brasileiros já vêm alertando sobre a possibilidade de um apagão hídrico no país. Agora que ele é uma realidade, os governantes tentam desesperadamente encontrar soluções emergenciais para o problema. Conheça, a seguir, 11 fatores importantes para entender a escassez de água vivida no Brasil hoje:

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REPRESA de Serra Azul, na Região Metropolitana de BH: o volume de captação de água caiu 70% em um ano

A REDUÇÃO das matas ciliares, instituída no novo Código Florestal, impacta diretamente a conservação e manutenção dos rios

SEM FLORESTA NÃO VAI TER ÁGUA, MAS O PODER PÚBLICO TALVEZ PENSE QUE SIM. #fato

A CRISE DA ÁGUA É APENAS EM SÃO PAULO? #sqn Não! Está mais que provado que a escassez de recursos hídricos não é um problema exclusivo da maior cidade brasileira. Tanto que, enquanto só se falava em São Paulo, os níveis dos reservatórios do Rio de Janeiro estavam ainda piores. Agora, Belo Horizonte também já sinalizou que, se a seca continuar, precisará racionar água. Como essas três capitais estão no Sudeste, pode parecer que a crise está restrita a essa região, o que também não é verdade. O Sul do país está sendo considerado como “livre da crise”, mas já passou por situação parecida em 2006, quando uma estiagem atingiu o Paraná, ocasionando falta de água para milhares de pessoas. A seca chegou até mesmo a Curitiba, cidade reconhecida como capital ecológica do país. Isso nos leva a refletir se estamos tratando o problema atual de forma isolada, quando deveríamos agir e pensar em âmbito nacional. E na sua cidade, que tal verificar como a situação está?

A proteção das florestas nativas nas regiões de mananciais, nas margens dos rios e reservatórios, é essencial para a produção de água. Sem cobertura florestal, a água não consegue penetrar corretamente nos lençóis freáticos, causando diminuição na quantidade de água. Mais do mesmo? Todos sabem disso? Em 2012, grande discussão foi levantada quando o Código Florestal foi revisto. As alterações aprovadas implicaram na redução das Áreas de Proteção Permanente (APPs) previstas em lei para as margens de rio dentro das propriedades rurais: as matas ciliares (que protegem as margens dos rios) agora devem ter 15 metros, metade do que era obrigatório antes. Especialistas da área ambiental foram veementemente contra, pois apontavam para a importância da conservação dessas áreas que influenciam a produção de água. Mas, mesmo assim, o projeto foi aprovado. Durante as discussões para aprovação do novo código, processo que durou 13 anos, instituições de proteção ao meio ambiente, como a Fundação Grupo Boticário, a SOS Mata Atlântica e a The Nature Conservancy investiram em ações na ordem inversa, garantindo a conservação de áreas-chave para a produção de água em diversas regiões. Elas investiram no Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), iniciativa que premia financeiramente proprietários de terra que conservam a mata nativa em suas propriedades, protegendo suas nascentes além do exigido por lei.

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ESPECIAL DIA MUNDIAL DA ÁGUA

FALTA DE INFRAESTRUTURA E INVESTIMENTO? #desdesempre Às vezes, costumamos deixar algumas atitudes para a última hora, quando estamos “com a corda no pescoço”. Nesse caso, não foi diferente. Obras importantes como a construção do Sistema São Lourenço, previsto para 2011, traria água do interior até a Grande São Paulo. As obras começaram apenas em 2014 e têm previsão de ficar prontas em 2017. Isso quer dizer que, se elas tivessem começado em 2011, provavelmente teriam sido entregues em 2014, quando a crise estava se intensificando. Outro ponto importante é que, segundo o Plano Metropolitano de Água III da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a empresa não investiu nem 37% do previsto em obras.

UM MAR DE DESPERDÍCIO #reduzirépreciso

RACIONAR POR QUÊ? #cadêaáguaqueestavaaqui? Mesmo sem muita cobertura da mídia em anos anteriores, em 2014 muito já se falava sobre falta de água e em uma possível crise hídrica. Apesar disso, o racionamento oficial pelos órgãos competentes não aconteceu. Por quê? Será que interesses políticos influenciaram as tomadas de decisão relacionadas à crise hídrica? Mais uma dúvida sem resposta exata para os tantos questionamentos que envolvem a situação. Independentemente das razões, o fato é que essa atitude piorou ainda mais um cenário já bastante complicado.

O ECOLÓGICO 40 XX O ECOLÓGICO || MARÇO MARÇO DE DE 2015 2015

Presente na cadeia produtiva de qualquer insumo, o desperdício é uma dura realidade também na distribuição e no consumo de água. Estima-se hoje que em torno de um quarto da água tratada é perdida no trajeto entre as represas e as torneiras. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que 110 litros por dia é suficiente para atender às necessidades de uma pessoa. Parece bastante, mas não é tanto assim. A cada dois minutos no banho, consumimos em média 12 litros de água. Se você é daquelas pessoas que gosta de refletir sobre os problemas do mundo num longo banho, saiba que se demorar 16 minutos terá consumido em torno de 96 litros. Isso sem contar o que usamos para escovar os dentes, dar descarga, lavarmos as mãos, cozinhar, lavar a roupa, além de matar a sede. Quando colocamos na ponta do lápis, percebemos a importância de cada um economizar ao máximo na sua rotina diária.


A ÁGUA VIRTUAL QUE VAI EMBORA DO PAÍS #equenãovolta Você já ouviu falar em água virtual? É um conceito muito interessante criado pelo professor britânico John Anthony Allan, que calcula a quantidade de água utilizada na produção de bens de consumo. Ele leva em consideração não apenas a água contida no produto, mas a que foi usada em todas as etapas do seu processo de fabricação. Por exemplo, na produção de uma xícara de café são utilizados cerca de 140 litros de água! Para a produção de um quilo de carne de gado, o número chega a 15 mil litros. Essa quantidade astronômica de água, na maioria das vezes, nem fica para o consumo do brasileiro, pois o país é o maior exportador de carne bovina do mundo. De acordo com dados da Unesco, se somarmos todas as commodities que o Brasil exporta, enviamos ao exterior aproximadamente 112 trilhões de litros de água doce por ano, o equivalente a 45 milhões de piscinas olímpicas.

RIOS VOADORES REGULAM CHUVA NO PAÍS #correntesdobem Na natureza, tudo está interligado buscando um equilíbrio. Apesar de não parecer, um ecossistema que está a cerca de três mil quilômetros de distância pode ser fundamental para garantir a produção de água em outro. No caso do Brasil, existe um fenômeno chamado “rios voadores”: grandes massas de vapor de água se formam no Oceano Atlântico – na altura do litoral nordestino - e ao chegarem na região amazônica aumentam de volume ao incorporar a umidade evaporada pela floresta. Levados pelas correntes de ar em direção ao Sul do país, elas são importantes para a formação de chuvas em diversas regiões, como a Sudeste. Portanto, o aumento do desmatamento na Amazônia, que após quatro anos em queda voltou a subir em 2013, pode reduzir os índices pluviométricos em outras regiões.

Vida para as populações locais e para a biodiversidade. As áreas preservadas pela CENIBRA abrigam mais de 4.500 nascentes que fornecem água limpa para a fauna, flora e para uso das comunidades situadas próximas às propriedades da Empresa. MARÇO DE 2014 | ECOLÓGICO O XX


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ESPECIAL DIA MUNDIAL DA ÁGUA

COM A PALAVRA, SÃO PEDRO: FALTA CHUVA, SIM! #masnãoédehoje

O CLIMA MUDA SEM PEDIR PERMISSÃO #otempotodo

Claramente, a falta de chuva é um fator importante na equação da crise. Mas ela não veio tão de repente assim. Desde 2012, e principalmente no ano seguinte, a quantidade de chuvas foi caindo vertiginosamente. E muitas pessoas sabiam disso. O relatório 20–F da Sabesp, de 2012, afirmava que há anos observava-se a redução nos níveis pluviométricos. Diversas instituições ambientalistas também alertavam sobre a falta das chuvas, fruto de mudanças climáticas e desmatamentos que prejudicam o ciclo da água. Mesmo assim, quase nada foi feito. Por isso, não podemos apenas culpar São Pedro por ter sido econômico demais nas chuvas; ou por errar na pontaria.

A poluição e os Gases do Efeito Estufa (GEEs) que lançamos na atmosfera diariamente têm alterado o clima e, consequentemente, as chuvas. Ainda não temos condições de saber exatamente os reais efeitos das mudanças climáticas, mas já estamos sentindo os eventos extremos, com grandes secas em algumas regiões e fortes tempestades em outras, bem como os seus resultados para nossas vidas. As mudanças climáticas, que comprovadamente foram aceleradas pela ação do homem, tornam o clima irregular. Dessa forma, mesmo os especialistas acabam tendo dificuldade em prever quando, onde e quanto vai chover.

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O BRASIL TEM UMA IMENSA CAIXA D’ÁGUA #cerrado

“ÁGUAS SÃO MUITAS; INFINDAS.” #realidadebrasileira

Da mesma forma que temos a caixa d’água em nossas casas para garantir que o recurso natural não falte, o Brasil também possui uma região que é essencial para que a água continue sendo produzida. É o Cerrado, que ocupa 22% do território nacional e concentra oito das 12 bacias hidrográficas do país (67%), além de possuir alta concentração de nascentes de rios que abastecem outras regiões brasileiras. Apesar da sua importância, ele é o segundo bioma mais ameaçado do país e sofre com as pressões da agricultura e principalmente da pecuária e das queimadas não naturais. Além disso, o Cerrado é o que possui menor porcentagem de unidades de conservação integral, tendo apenas 8,21% do seu território legalmente resguardado (sendo 2,85% de proteção integral). Vale lembrar que não estamos fazendo nossa tarefa de casa: esse índice está muito abaixo da meta com a qual o Brasil se comprometeu com a ONU, em 2010, ao se tornar signatário das Metas de Aichi. O compromisso diz que, até 2020, o país deve ter 17% de áreas terrestres de grande importância ecológica protegidas por meio de sistemas estruturados de unidades de conservação.

Esse é um pequeno trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, relatando à corte portuguesa sobre a incrível quantidade de água que o recém-descoberto Brasil tinha. Realmente somos um país privilegiado, com a maior reserva de água doce do mundo. Possuímos a maior bacia hidrográfica do planeta (Amazônica), bem como a maior planície alagável do mundo (Pantanal), entre outros recordes de água doce. O Brasil é referência internacional em água. Porém, é preciso conservação, tecnologia e interesse político para que esse recurso seja revertido em benefício para os brasileiros. É necessário que aprendamos com a natureza a busca pelo equilíbrio. Nenhum desses fatos apresentados deve ser encarado de modo isolado ou como se fosse mais importante que os demais. Todos estão interligados e fazem parte de um contexto que nos trouxe até a maior crise hídrica de nossa história, porque descuidamos de nosso patrimônio natural. O problema da água existe, mas a realidade sobre o que o causou e sobre como revertê-lo também estão aí. FONTE: Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza www.fundacaogrupoboticario.org.br

2 MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 43


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ESPECIAL DIA MUNDIAL DA ÁGUA

É CULPA DO GOVERNO, SIM! Pesquisa da Expertise revela que 91% dos brasileiros afirmam que os governantes poderiam ter evitado a crise hídrica Os últimos meses de 2014 já anunciavam que a crise de abastecimento de água no Brasil aconteceria. Agora, o que era previsão virou uma dura realidade. Todos os dias surgem relatos de pessoas que sofrem com o desabastecimento nos mais variados bairros e cidades da Região Sudeste. Há casos impressionantes de locais que estão sem água há mais de 15 ou 20 dias. Por conta desse cenário caótico, a Expertise, empresa de pesquisa de opinião e de mercado do país, resolveu promover uma nova etapa do seu estudo sobre a crise hídrica. Assim como na primeira pesquisa, realizada em outubro de 2014, o levantamento dos dados foi feito pela Opinion Box, plataforma de pesquisa digital, e integra o painel #brasilsemfiltro. Desta vez, foram realizadas 2.138 entrevistas online com pessoas de ambos os sexos e de todas as classes sociais de cidades de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A principal mudança identificada entre os dados de outubro de 2014 e de janeiro deste ano diz respeito à percepção de quem são os responsáveis pela crise e quais são os principais fatores que a desencadearam. As pessoas estão atribuindo uma responsabilidade muito maior ao governo (87% agora, frente a 75% em outubro) e às companhias de abastecimento de água (74% atualmente, frente a 62%). E, se antes o mau uso da água e dos recursos naturais pela população e a falta de chuva eram considerados, respectivamente,

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os principais fatores para a crise, agora é a falta de planejamento do governo que aparece em primeiro lugar na opinião de 29% dos internautas, seguido pelo mau uso da água e dos recursos naturais (21%). A falta de chuva aparece em quinto lugar, sendo escolhida como principal fator por apenas 13% dos entrevistados. Quando estimulados a pensar no futuro, o pessimismo entre os entrevistados é grande: 87% demonstraram estar bem preocupados com a crise hídrica e 89% acham que a falta de água vai afetar o fornecimento de energia elétrica. Além disso, 66% das pessoas acreditam que a situação ainda vai piorar nos próximos 12 meses e 90% dos entrevistados acham que o preço da água vai subir. “Conforme a situação vai se tornando mais

grave, o pessimismo da população também vai aumentando. Já estamos praticamente na metade do verão e o volume de chuvas ainda está muito abaixo do necessário. As medidas fundamentais para melhorar a infraestrutura e o fornecimento de água ainda são muito pequenas e as notícias que circulam nos jornais sobre racionamento e rodízio vão se tornando cada vez mais reais e próximas. É natural que a preocupação da população vá aumentando diante desse cenário”, afirma o CEO da Expertise, Christian Reed. MUDANÇA DE COMPORTAMENTO A pesquisa mostra que, com o aumento da preocupação, aumentaram também as medidas preventivas. Em outubro do ano passado, 64% dos entrevistados estavam


estocando ou pensando em estocar água. Este número aumentou para 73% no último levantamento. Entre quem já teve problemas de abastecimento, 31% já estão estocando água, contra 10% entre os que não tiveram problemas. Além disso, o estudo identificou algumas mudanças de comportamento: 83% disseram ter reduzido o tempo no banho e 72% passaram a fechar a torneira ao escovar os dentes ou lavar a louça. Sessenta por cento estão, de alguma forma, reutilizando a água, 57% passaram a lavar as roupas com menor fre-

quência, 51% das pessoas deixaram de lavar a calçada e 46% reduziram a frequência da lavagem do carro. Vale registrar que 77% das pessoas acham que poderiam usar um pouco menos ou bem menos água do que usam atualmente. Apesar dos transtornos, 73% dos respondentes são a favor do racionamento. A interrupção no fornecimento de água também foi expressiva em todas as localidades pesquisadas. 48% dos entrevistados afirmaram ter tido pelo menos um corte de água nos últimos 30 dias. O problema é mais sério na Grande São

Paulo, onde 70% dos entrevistados afirmam ter tido pelo menos uma vez a água cortada. O número de entrevistados que mencionaram ter sofrido com quatro ou mais cortes de água nos últimos 30 dias aumentou de 30% em outubro de 2014 para 43% agora. Além disso, 74% dos entrevistados que tiveram falta de água afirmaram que o corte durou mais de seis horas. Comparando os resultados obtidos nos dois levantamentos, é possível afirmar que, apesar de estar no início, a situação em outubro já era bastante crítica.

A pesquisa em números

MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 45


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ESPECIAL DIA MUNDIAL DA ÁGUA

GOVERNANÇA DAS ÁGUAS Minas Gerais será o primeiro estado brasileiro a monitorar a Política Estadual de Recursos Hídricos Em meio à maior crise hídrica do Brasil, Minas continua dando bons exemplos ambientais. A partir de junho próximo, o estado passará a ser o primeiro a aplicar o conceito de governança em sua Política Estadual de Recursos Hídricos. Trata-se de um conjunto de indicadores, ainda em estudo, que será implementado para monitorar a gestão das águas no estado e verificar, por exemplo, se a participação social na agenda do setor é efetiva, se a administração é transparente e se as ações da política estadual estão sendo adequadas. O objetivo é investir na prevenção de crises e em um modelo mais sustentável. Pioneira no país, a iniciativa

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contou com o apoio do programa “Água para Vida” do WWF-Brasil, que, durante todo o ano de 2014, apresentou aos 36 comitês de bacias de Minas, ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e

MARÍLIA CARVALHO: "As decisões sobre recursos hídricos devem ser legitimadas pela sociedade"

ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais (CERH-MG) um estudo realizado em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) que lista uma série de índices possíveis para acompanhar a implementação da governança dos recursos hídricos. “Gostamos muito da proposta do WWF-Brasil e decidimos colocá-la em prática. Um grupo de trabalho criado pelo CERH em dezembro de 2014 apresentará em junho uma proposta de indicadores adequados à realidade do nosso estado. A ideia é que Minas seja mais transparente na gestão da água e ouça mais os comitês de bacia, as instituições políticas, as empresas, as


PARQUE ESTADUAL do Rio Doce, no Vale do Aço: a "Amazônia mineira" preservada pela luta ambiental

organizações e os demais usuários de água porque acreditamos que as decisões sobre os recursos hídricos devem ser sempre colegiadas e legitimadas pela participação social”, diz Marília Carvalho, secretária-adjunta de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas. “É muito contraditório termos uma das leis de águas mais avançadas do mundo e sofrermos com racionamento e crise hídrica. Precisamos da governança no setor para fortalecer os comitês de bacia, a sociedade civil e os usuários de água. Ouvir todos os envolvidos é fazer com que a gestão flua melhor, funcione com eficácia. Por tanto, é contribuir para a melhoria da qualidade e da quantidade da água, recurso cada vez mais demandado no planeta”, afirma Maria Cecília Wey de Brito, secretária-geral do WWF-Brasil. A publicação “Governança dos Recursos Hídricos - Proposta de indicadores para acompanhar sua implementação” analisou a Política Nacional de Recursos Hídricos,

em vigor desde 1997 (Lei 9.443/97), e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh), responsável por coordenar a gestão das águas, arbitrar conflitos e promover a cobrança pelo uso da água. O estudo propõe diversos indicadores, como: a qualidade e a efetividade das leis e da regulação; a importância do tema para a agenda pública; se os governos estão atuando de forma coordenada e se as metas, diretrizes e recomendações do Singreh estão sendo cumpridas; se os governos estão sendo capazes de articular a Política Nacional de Recursos Hídricos com as políticas estaduais e municipais relacionadas; e a interação estado-sociedade (qualificação e canais de participação).

SAIBA MAIS Para baixar o estudo na íntegra e conhecer os outros indicadores propostos, incluindo os aspectos de governança e as fontes, acesse www.wwf.org.br

INDICADORES DA GOVERNANÇA O documento traz algumas propostas de indicadores que podem ser testados e aplicados para o acompanhamento da gestão de recursos hídricos. Apresentamos, a seguir, alguns exemplos desses indicadores elencados por dimensão de governança:

AMBIENTE INSTITUCIONAL O que pretende verificar: Se o tema “água” e as diretrizes, metas e recomendações do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (Singreh) estão sendo incorporados nos debates das políticas de desenvolvimento formuladas ou em formatação. Indicador sugerido: grau de inclusão do tema “água” (diretrizes, metas e recomendações do Singreh) nos debates das políticas de desenvolvimento. INTERAÇÃO ESTADO-SOCIEDADE O que pretende verificar: a implementação de projetos, ações, deliberações, sendo monitoradas e avaliadas pelos organismos colegiados. Indicador sugerido: quantidade de projetos, ações e deliberações implantadas e avaliadas.

CAPACIDADES ESTATAIS O que pretende verificar: Se está acontecendo o acompanhamento e a coordenação do Sistema através de um organismo executivo vinculado ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos constituído de forma colegiada com representação dos Estados. Indicador sugerido: ações coordenadas pelo organismo coordenador do sistema. INSTRUMENTOS DE GESTÃO O que pretende verificar: A efetividade do monitoramento – se as necessidades de correção constatadas estão sendo incorporadas ao planejamento. Indicador sugerido: porcentagem de recomendações resultantes de avaliação incorporados no planejamento. RELAÇÕES INTERGOVERNAMENTAIS O que pretende verificar: Se a participação dos representantes do setor de recursos hídricos está sendo efetiva na definição de ações conjuntas. Indicador sugerido: porcentagem de representantes de órgãos gestores de recursos hídricos em colegiados de outras políticas públicas indispensáveis à gestão de RH.

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ESPECIAL DIA MUNDIAL DA ÁGUA

OLAVO MACHADO com o governador e seu secretariado: “O momento é de encontrar soluções e não de buscar culpados”

FIEMG CONVIDA PIMENTEL PARA

SER O “ESTADISTA HÍDRICO" Convite público aconteceu na sede da entidade, na capital mineira, durante o concorrido lançamento do “Pacto de Minas pelas Águas” Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

Na manhã sem chuva do dia três do chamado “mês das águas”, abrindo a agenda da crise hídrica, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) não deixou por menos. Convocou o governador Fernando Pimentel e sua equipe para, juntos, assinarem um documento inédito na história política, ambiental e empresarial mineira: o “Pacto de Minas pelas Águas”. São 15 ações pragmáticas e parceiras propostas em busca não apenas da sustentabilidade hídrica do setor produtivo, como do pró-

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prio estado considerado a “caixa d’água” do país. O objetivo em comum é refrear os efeitos atuais mais urgentes das mudanças climáticas sobre o ciclo hidrológico no estado, que, de maneira geral, podemos dizer, tem sido influenciado pelo ser humano com a acentuada degradação ambiental iniciada durante a Revolução Industrial. Com o pacto, a Fiemg se propõe a apontar o norte principal que o setor espera do governo Fernando Pimentel. Num discurso forte e pontual, o presidente Olavo Ma-

chado repetiu o que já havia confidenciado como uma “luz no final do túnel” à Revista Ecológico, na virada de mais um ano ruim para a indústria brasileira: “É hora de estadistas se apresentarem. Lidere-nos, caro governador!” E explicou por que: “O rosário de problemas com os quais nos defrontamos hoje tem a mesma origem da falta de água: a incúria com o planejamento! A omissão diante de questões cruciais que afligem o povo brasileiro! O fisiologismo e a demagogia. A crise hídrica, a crise energética, a crise


da Petrobras, da infraestrutura, da saúde, educação e de credibilidade das nossas lideranças políticas tem, todas elas, a mesma origem: a mais absoluta ausência de compromisso com o país!”. FIO DA NAVALHA “Andamos todos, usuários e consumidores de água” – prosseguiu Machado – “sob o fio da navalha. A crise, verdadeiramente, é grave! Transparência e planejamento são fundamentais para evitar que aconteça com a água o que hoje vemos ocorrer no setor elétrico, com os apagões frequentes, o risco de racionamento. E, agora, o tarifaço por meio do qual se transfere ao consumidor, aos cidadãos e às famílias, os ônus decorrentes de erros cometidos pelo governo. Precisamos construir o futuro mais transparente e planejado. Insistir apenas em eleger culpados não ajuda em nada.” UM NOVO CENÁRIO Como lembrou o presidente da Fiemg, nos anos 1950 e 1970, o país passou por crises hidrológicas muito mais graves que a atual. E isso foi uma advertência ignorada pelo setor. “Era um alerta para que planejássemos soluções. No primeiro ano deste século, tivemos uma grave crise de abastecimento de energia. Fomos apresentados aos apagões e ao racionamento, mais um alerta que subestimamos. Hoje pagamos um alto preço pelo que deixamos de fazer no passado, vivendo na iminência de racionamento de água e energia. E pagaremos um preço ainda mais elevado se insistirmos na imprevidência e omissão.” Machado também chamou a atenção do governador para o novo choque de realidade divulgado recentemente pelo Boletim Focus, do Banco Central. “A inflação média projetada para 2015 já está em 7,47%. A dos preços ad-

MINAS SUSTENTÁVEL, UM EXEMPLO PARA O PAÍS Estabelecer novos paradigmas a partir da premissa de que a água é um recurso escasso e finito; e, portanto, necessita da união de todos, é o objetivo maior do “Pacto de Minas pelas Águas” proposto pelo empresariado. Conforme enalteceu o presidente da Fiemg, Olavo Machado, o pacto também reflete a permanente preocupação do setor em gerar iniciativas como o “Programa Minas Sustentável”. Criado há quatro anos e vencedor do “V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” na categoria “Melhor Exemplo Empresarial”, o programa bateu recorde ao atender a mais de 400 micro e pequenas empresas nas bacias dos ribeirões da Mata, do Onça e Rio Itabirito, principais afluentes do Rio das Velhas, que não tinham condições de se ajustarem sozinhas à legislação ambiental do Estado. Trata-se de atendimentos focados no diagnóstico e proposição de melhorias em relação à gestão da água e efluentes, gestão de resíduos sólidos e regularização ambiental. Os números alcançados são expressivos. Foi o que Pimentel ouviu: O 2.684

indústrias cadastradas

O 1.845

visitadas

O 961

capacitadas

O 1.708

orientadas para o licenciamento ambiental

O 238

licenciadas

O 432

orientadas para a ecoeficiência

O 1.317

pessoas capacitadas.

ministrados está em 11%. A taxa de juros deve subir mais meio ponto percentual e deverá fechar o ano em 13%. Ladeira abaixo, o PIB projetado para 2015 é de menos 0,58%. Isso significa que a economia nacional vai encolher ainda mais, pelo segundo ano consecutivo! As taxas de desemprego já começam a aumentar!”

E concluiu, relembrando a falta que estadistas, e não de políticos comuns e tradicionais, faz ao país com mais água - e ao mesmo tempo, com mais desprezo por ela - em todo o planeta: “Este é o cenário que precisamos. E nessa empreitada, caro governador Pimentel, a sua liderança é crucial!” - enfatizou Olavo.

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ESPECIAL DIA MUNDIAL DA ÁGUA

PIMENTEL NA ESCUTA Cumprindo seu lema de campanha “Ouvir para Governar”, Fernando Pimentel preferiu escutar mais que responder aos apontamentos e convocações que lhe foram feitos. Ao seu estilo professoral, humilde e amigável, qualidades essas que o levaram a vencer as eleições, ele afirmou ser também um cidadão igualmente atingido e preocupado com a questão hídrica que assola todo o país. Na pessoa de Sinara Meirelles, presidente da Copasa, ele destacou o empenho de todo o seu secretariado ali presente para conter o desperdício e o vazamento de água. E prometeu fazer até o “impossível” em parceria com o setor produtivo para evitar o fantasma nada ecológico, econômico e bem-vindo da taxação e do racionamento de água no estado: “Hoje mesmo, pela manhã, assistindo ao noticiário na televisão, vi a continui-

dade de um vazamento de água na cidade e liguei na hora para a Sinara mandar resolver. É essa cultura hídrica, de compartilhamento entre Estado e cidadão, que estamos inaugurando em Minas”. À saída do evento, ele falou com exclusividade à Ecológico, sobre o que mais preocupa o empresariado mineiro: a grave crise que se abateu na nunca antes tão sucateada Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), com seus pouquíssimos funcionários, em greve branca há quase um ano, e os milhares de pedidos de licenciamento feitos pelo setor, que estão parados e jazem no esquecimento político. Muitos desses pedidos, a exemplo do da Samarco, que busca autorização do Estado para altear uma de suas barragens em nome da segurança e disponibilidade hídricas, estão engavetados há mais

de três anos na pasta que mais importância estratégica e transversal deveria ter junto ao novo governo estadual. Disse o governador: “Eu não apenas tenho consciência dessa situação, que é grave sim e prejudica a todos nós, governo, empresários e população, como já tenho uma solução em curso para propor e discutir com os servidores da Semad. É um absurdo os baixos salários que eles recebem como técnicos em início de carreira, em comparação com o mercado e o setor que atendem. Vamos transformar em verde a greve branca deles. Já estou acertando isso com o Sávio (Souza Cruz, atual titular da Semad) e o Helvécio (Magalhães, secretário de Planejamento)”. SAIBA MAIS Para conhecer as 15 ações propostas da Fiemg, acesse www.revistaecologico.com.br

O CAOS (E A ESPERANÇA)

DA SEMAD

ADRIANO TOSTES com seus colegas da Semad esperando o novo secretário: soluções em curso

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Não é à toa que o novo titular da Semad, Sávio Souza Cruz, indicado pelo governador Fernando Pimentel e aguardado com ansiedade pelos seus funcionários para liderá-los e tirar a pasta ambiental do caos completo em que se encontra, ainda hesita em assumir o cargo, diante de tantos desafios e falta de recursos humanos, técnicos e operacionais. Atualmente, segundo a Semad, existem 2.800 processos de licenciamento ambiental paralisados e 13 mil novos pedidos de outorgas de água engavetados. Mesmo se, doravante, não entrassem mais pedidos de regularização ambiental - e somente na Supram Central é registrada uma entrada média de 1.200 novos empreendimentos/ano -, e a Semad se dedicasse totalmente a analisar os atuais, fazer visórias etc., o novo secretário levaria oito anos para zerar todo esse passivo administrativo. Ou seja, precisaria desse tempo todo para poder responder e impulsionar novos investimentos privados e atender ao setor produtivo sob a égide da sustentabilidade. E, assim, gerar mais recursos para o caixa único do estado, outra reclamação histórica da luta ambiental que reivindica o investimento e a aplicação dos recursos arrecadados na área. A Feam, quando foi criada, a exemplo do Instituto Estadual de Florestas (IEF), tinha recursos próprios do orçamento oficial, mais direito ao que arrecadava com o resultado do cumprimento maior de sua missão. Sucateada ao longo das administrações anteriores, desde o início do novo

governo, a Semad já perdeu 300 funcionários. O valor do vale-refeição diminuiu de R$ 300 para R$ 220/mês, em vez de ser corrigido. A retirada do fator redutor (VT) do cálculo da Gedama (gratificação de desempenho) também fez cair, e não aumentar, ao longo do tempo, a remuneração dos funcionários. Esse é o maior desestímulo da equipe, confirma o presidente da Associação Sindical dos Servidores Estaduais do Meio Ambiente (Assema), Adriano Tostes, que reconhece o esforço e até elogiou

a receptividade tanto do novo secretário de Planejamento, Helvécio Magalhães, quanto do acompanhamento e apoio de Sávio. É na Seplag que está sendo discutido o futuro da Semad, em termos de dotações orçamentárias, manutenção de projetos exitosos, como o AmbientAção, e correção dos salários e das condições de trabalho de seus servidores. A situação atual é grave. Das cinco Suprams existentes e distribuídas estrategicamente no estado,

para acelerar in loco o processo de licenciamento, quatro não têm mais funcionários (foram demitidos) nem equipamentos para continuar digitalizando e tornando mais célebre o rito administrativo. Os servidores também estão se recusando a dirigir veículos oficiais em vistorias e fiscalizações, pois não existe seguro de vida e contra acidentes. E todos podem ser responsabilizados por qualquer dano ou roubo do veículo, mesmo não havendo dolo, culpa dos mesmos. Eles temem responder, individualmente, pelo que acontecer. A questão da infraestrutura e das condições de trabalho também é uma questão urgente e precisa ser tratada. Não foi por outra razão que os funcionários da Semad se vestiram de branco com tarja preta para receber o novo secretário. Preto, simbolizando a morte, pela situação de desecologia humana, técnica e operacional em que se encontram. E de branco, pela paz e esperança no prometido e em discussão “ouvir” do governo Pimentel. O meio ambiente que nos resta também torce por uma solução rápida, justa e motivadora. Ele sabe que o servidor público que trabalha na área ambiental tem uma característica diferente, um algo a mais de motivação que o distingue do das outras pastas. Por trabalhar junto, informado e tocado pela natureza, ele também se torna um militante. Naturalmente. Ele vira um defensor espontâneo da causa que hoje mais deveria preocupar os políticos e a humanidade, e pode significar a salvação do planeta. Politicamente.

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ESPECIAL DIA MUNDIAL DA ÁGUA

ESFORÇO RECONHECIDO Para especialistas da ONU, o governo Pimentel demonstra seriedade e comprometimento para buscar soluções e evitar o desabastecimento hídrico Durante recente reunião do governador Fernando Pimentel no Palácio Tiradentes, com presidentes e representantes dos 36 Comitês de Bacias Hidrográficas de Minas Gerais, este mês, o fiscal de água da Organização das Nações Unidas (ONU), Leo Heller, reconheceu os esforços do governo para superar a falta de água no estado, sempre atuando com transparência. Na sua avaliação, o trabalho realizado pela atual força-tarefa “demonstra a seriedade e o comprometimento do Estado para enfrentar os problemas e buscar soluções”. “É necessário reconhecermos esta postura transparente e clara,

fundamental para que as pessoas saibam da realidade que estamos vivendo”, disse Heller. A reunião teve como principal objetivo discutir o atual quadro nas bacias hidrográficas e definir uma agenda de trabalho para que a gestão dos recursos hídricos avance em Minas Gerais. O encontro contou ainda com a participação dos secretários de Estado Helvécio Magalhães (Planejamento e Gestão), e Murilo Valadares (Transportes e Obras Públicas), da presidente da Copasa, Sinara Meirelles, e do presidente da Cemig, Mauro Borges. O presidente do Comitê de Bacia Hidrografia dos Afluentes do Baixo Rio

Grande, Hideraldo Buch, também integrou a mesa de trabalho. Forte identidade Fernando Pimentel ressaltou, durante seu pronunciamento, a forte identidade do governo de Minas com o tema bacia hidrográfica. Para ele, é fundamental o diálogo entre os comitês de bacias e os órgãos do Estado para que a gestão dos recursos hídricos seja feita de maneira compartilhada. “Temos 36 comitês de bacias hidrográficas e precisamos trabalhar juntos, em parceria, para que esse modelo seja fortalecido”, afirmou o governador. O

PIMENTEL e a equipe montada para enfrentar a crise: identidade com as bacias hidrográficas

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QUANDO A GENTE FALA QUE CADA GOTA CONTA, NÃO É EXAGERO NENHUM. PEQUENAS ATITUDES AJUDAM A GARANTIR O ABASTECIMENTO. A COPASA FAZ A SUA PARTE POR MEIO DO TRATAMENTO DE ESGOTO NAS CIDADES QUE POSSUEM O SERVIÇO. A EMPRESA COLETA, TRATA E DEVOLVE A ÁGUA PARA O MEIO AMBIENTE, PROTEGENDO NOSSOS RIOS E CÓRREGOS. PARA EVITAR O RACIONAMENTO, VOCÊ TAMBÉM PODE CONTRIBUIR: BASTA SEGUIR ALGUMAS DICAS.

Cinco minutos no banho são suficientes. Se você fechar a torneira enquanto se ensaboa, melhor ainda: a economia vai de 90 a 162 litros.

Ao lavar o carro, use o balde. Se for possível, não lave o carro.

Lavar a calçada com mangueira é um absurdo. Use a vassoura.

Nada de deixar torneiras pingando. Em um ano, sabe quanta água vai embora? Pelo menos 16 mil litros. Jamais deixe a torneira da pia aberta enquanto ensaboa pratos e talheres.

Enquanto estiver escovando os dentes ou fazendo a barba, feche a torneira. Morando em casa, você economiza mais de 11 litros.

Ao economizar água, produzimos menos esgoto e ajudamos a proteger os mananciais.

Nunca jogue óleo usado na pia da cozinha, pois isso vai contaminar milhares de litros de água. Coloque tudo dentro de garrafas pet e leve a um posto de coleta para que ele possa ser reciclado.

Água: para não faltar, cada gota conta. NÍVEL DOS RESERVATÓRIOS DE ÁGUA EM MINAS GERAIS (EM %)

Saiba como economizar no site:

copasatransparente.com.br


FOTO: LUIZ FELIPE

FOTO: JOĂƒO ANDRÉ

CANA ECOLĂ“GICA

DA QUEIMA à colheita mecanizada: o novo processo possibilitou a utilização de um sistema de limpeza a seco, reduzindo o uso de ågua

PROMESSA CUMPRIDA Setor sucroenergÊtico atende recomendaçþes do Protocolo de Intençþes assinado com o governo estadual e elimina processo de queima da cana Mônica Santos

O

monicasantos@siamig.com.br

setor sucroenergĂŠtico de Minas Gerais cum- uma verdadeira revolução ao utilizar uma nova tecnologia priu este ano o compromisso de eliminar a bem diferente da que conheciam: o setor empregava um grande contingente de mĂŁo de obra do queima da cana em 100% da campo para a colheita manual da cana. ĂĄrea de colheita com declividade abai2 SHUtRGR GH GLĂ€FXOGDGHV GD WUDQVLomR xo de 12%, conforme o “Protocolo da queima para a mecanização jĂĄ passou. de Intençþes Agrosocioambiental do E, segundo o presidente da Associação Setor Sucroalcooleiroâ€?, assinado em das IndĂşstrias SucroenergĂŠticas de Minas 2008 com o governo do estado. Na Gerais (Siamig), MĂĄrio Campos, o que se atual safra (2014/15), o setor comedestaca ĂŠ o alto grau de externalidades mora 97% da ĂĄrea de cana colhida sem gerado pelo processo. “Podemos citar, queima e mecanizada. Somente 3% da ĂĄrea com declividade maior que 12% pelo menos, cinco itens de alta relevância para a sustentabilidade, como a reduĂŠ que ainda terĂŁo queima, mas apenas ção da emissĂŁo de gases de efeito estufa; atĂŠ o desenvolvimento de tecnologias melhoria do solo com a palha; redução para sua mecanização. GR XVR GD iJXD QD LQG~VWULD TXDOLĂ€FDomR Os produtores investiram, nos Ăşltimos SEGUNDO MĂĄrio Campos, a da mĂŁo de obra e o retorno dos animais seis anos, mais de US$ 3 bilhĂľes na cominiciativa proporcionou redução GR &HUUDGR DR FDQDYLDOÂľ DĂ€UPD pra de mĂĄquinas, implementos e treinanas emissĂľes de GEEs e retorno &RQĂ€UD mento da mĂŁo de obra, passando por de animais do Cerrado ao canavial

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FOTOS: DIVULGAÇÃO SIAMIG

VEADOS na área póscolheita da cana, Usina Santo Ângelo, Pirajuba, Triângulo Mineiro

TAMANDUÁ BANDEIRA na Usina Coruripe, Iturama, (Triângulo Mineiro)

EMAS NO CANAVIAL na Usina Rio do Cachimbo, João Pinheiro (Noroeste) SIRIEMA no canavial do Grupo Coruripe, Iturama (Triângulo Mineiro)

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CANA ECOLÓGICA

CANA GANHA ALTO GRAU DE SUSTENTAB REDUÇÃO DA EMISSÃO DE GASES DO EFEITO ESTUFA

Ao eliminar a queima desde 2008 (até 2014), o setor em Minas Gerais deixou de emitir 6,1 milhões de toneladas de gás carbônico equivalentes na atmosfera, levando-se em conta a área mecanizada, que passou de 250 mil para 900 mil hectares no período. Somente este ano serão evitados 1,3 milhão de toneladas/ha/ano de CO2 equivalente. Os dados são baseados em estudos que demonstram que a substituição da queima pela mecanização evita a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera na ordem de 1.484 kg/ha por ano.

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PALHA DA CANA VIRA MATÉRIA ORGÂNICA NO SOLO

A palha que antes era queimada com a mecanização da lavoura agora fica no campo, conferindo umidade e material orgânico ao solo. Estudos indicam que o corte mecânico deixa um mínimo de 20 toneladas de palha por hectare, distribuídas em toda a área colhida. Em Minas Gerais, entre 2008 e 2014, 83,4 milhões de t/ha de palha ficaram no solo do canavial mineiro. Somente na safra 2014/15 são 17,6 milhões de toneladas/ha. A cana é uma das culturas que mais fornecem matéria orgânica ao solo, protegendo-o do sol e da erosão.

RPPN Vereda da Caraíba, Usina Santo Ângelo / Cerradão, em Bonito de Minas, no Norte de Minas

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FOTOS: DIVULGAÇÃO SIAMIG

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BILIDADE COM A ELIMINAÇÃO DA QUEIMA 3

MENOS ÁGUA NO PROCESSO INDUSTRIAL

A diminuição do uso da água no processo industrial é também um dos ganhos resultantes da eliminação da queima da palha durante a colheita. A cana queimada era transportada até a indústria e necessitava de uma grande quantidade de água para limpeza, antes de entrar em moagem. No processo produtivo atual é utilizado um sistema de limpeza a seco, somente para a retirada das impurezas. Somada ao reuso da água nas várias etapas do processo produtivo industrial, a eliminação da lavagem da cana propiciou uma redução na utilização da água no setor sucroenergético de 5 m3 por tonelada de cana processada, nos anos 1990, para a quantidade atual - 1 m3 /ton de cana, segundo dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).

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Os produtores de cana de açúcar de Minas Gerais convivem hoje com o aparecimento de um grande número de animais no canavial em função da eliminação da queima da cana. Esse processo afugentava os animais, que ficavam restritos e em pouca quantidade nas Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e Reserva Legal (RL). Sem a queima, os canaviais, APPs e RLs se transformaram em áreas de abrigo, reprodução e passagem dos animais. Em muitas regiões, esses locais foram integrados e formaram corredores ecológicos, abrigando grande quantidade de mamíferos, répteis e aves, numa proteção contínua à biodiversidade local.

Com o fim da queima da cana de açúcar, o facão e a estrutura utilizados durante o corte manual foram substituídos por colhedoras e equipamentos sofisticados, necessitando um forte investimento na qualificação dos trabalhadores. A migração de um grande contingente de mão de obra para o corte manual foi, também, praticamente eliminada e ocorreu um aproveitamento maior dos trabalhadores locais, com maiores ganhos salariais. Os treinamentos envolveram recursos próprios das usinas em parceria com o Senai e o Senar-Minas e também por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), com as mesmas entidades do Sistema S. A Siamig participa na intermediação dos programas de qualificação do governo federal para atender as necessidades das associadas. Somente na operação da colheita mecânica em Minas Gerais somam-se 12 mil trabalhadores para um número aproximado de 700 colhedoras, centenas de implementos e toda estrutura de manutenção, abastecimento e prevenção de incêndios, com funcionamento 24 horas/dia.

ANIMAIS RETORNAM AO CANAVIAL SEM QUEIMA

CORREDORES ECOLÓGICOS formados com a recuperação de APPs na Usina Santo Ângelo, Triângulo Mineiro

QUALIFICAÇÃO DO TRABALHO NO CAMPO

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CANA ECOLĂ“GICA

Bons Exemplos APRENDIZADO NA CORURIPE As quatro unidades em Minas Gerais do Grupo Coruripe no Triângulo Mineiro - Iturama, Campo Florido, Limeira do Oeste e Carneirinho - nĂŁo queimam mais a cana e jĂĄ mecanizaram 100% da colheita, com investimentos na compra de um total de 37 colhedoras. Outro grande aprendizado foi a superação de problemas que envolviam a sistematização do canavial para a entrada das mĂĄquinas. O diretor de Produção do grupo, Carlos Marques, ressalta que o avanço no processo de mecanização foi grande, mas os investimentos ainda tĂŞm sido altos na agricultura de precisĂŁo, *36 H SLORWR DXWRPiWLFR D Ă€P GH IDFLlitar a colheita e otimizar os ganhos. O treinamento da mĂŁo de obra tambĂŠm ĂŠ constante na empresa, principalmente sobre prevenção e segurança dos SURĂ€VVLRQDLV H GD PDWpULD SULPD DOpP do alto custo dos equipamentos (cada colhedora e perifĂŠricos demandam inversĂľes em torno de US$ 1,5 milhĂŁo). Mas, se o investimento tem sido alto, o processo de mecanização da lavoura na Coruripe jĂĄ estĂĄ rendendo frutos. Marques diz que a palha que nĂŁo ĂŠ mais queimada e sua permanĂŞncia no campo tem provocado uma melhoria VLJQLĂ€FDWLYD GDV SURSULHGDGHV TXtPLFDV e biolĂłgicas do solo, como fonte de nitrogĂŞnio, potĂĄssio, enxofre, cĂĄlcio e magnĂŠsio. Segundo ele, para cada KHFWDUH GH FDQD FROKLGD Ă€FDP QR VROR cerca de 10 a 12 toneladas de palha, com inserção, em mĂŠdia, de cerca de 36 quilos de nitrogĂŞnio e 75 quilos de potĂĄssio, por hectare. “Isso fez com que a empresa reduzisse em 11% a quantidade de potĂĄssio aplicado e temos feito anĂĄlises para veriĂ€FDU VH SRGHPRV HFRQRPL]DU DLQGD PDLV nos fertilizantesâ€?, ressalta Marques. Ele diz, ainda, que ĂŠ notĂĄvel o aumento da produtividade da cana, nos Ăşltimos trĂŞs anos, em função da palha e do manejo.

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O uso da ĂĄgua na indĂşstria tambĂŠm foi reduzido, jĂĄ que a cana nĂŁo ĂŠ mais lavada. Em 2008, a unidade Coruripe-Iturama tinha 53% da ĂĄrea mecanizada e consumia 0,96 metro cĂşbico de ĂĄgua por tonelada de cana; hoje, com a mecanização em 100%, estĂĄ consumindo 0,80 metro cĂşbico/ tonelada de cana, ou seja, uma redução de 17% no consumo. Quando a cana era 100% queimada, o uso da ĂĄgua era de 1,1 metro cĂşbico/ton de cana na indĂşstria, com uma redução no total, entĂŁo, de 28%. Os animais, que nĂŁo sĂŁo mais afugentados pelo fogo, tambĂŠm somam maior nĂşmero nos canaviais e APPs. Ninhos de siriemas e tatus jĂĄ foram avistados nesses locais. “A convivĂŞncia com os animais tem sido muito tranquila e ĂŠ bom ver que agora eles se sentem proWHJLGRV QR FDQDYLDOÂľ DĂ€UPD MELHORIAS NO RENDIMENTO DA INDĂšSTRIA Localizada em JoĂŁo Pinheiro (Noroeste de Minas), a destilaria Rio do Cachimbo tambĂŠm nĂŁo queima mais FDQD ( DV GLĂ€FXOGDGHV LQLFLDLV FRPR queda de produtividade e redução da YLGD ~WLO GR FDQDYLDO Ă€FDUDP SDUD WUiV depois que a mecanização foi introduzida. Para o gerente administrativo, Daniel Fazanaro Cunha, hoje a mecanização da lavoura, com o investimento em trĂŞs conjuntos de mĂĄquinas, sĂł gera benefĂ­cios e a produtividade estĂĄ sendo igualada ao sistema antigo. As melhorias, segundo ele, se reĂ HWHP QD LQG~VWULD Mi TXH D FDQD sem queima proporciona um maior rendimento. Ele cita a economia de recursos e o aperfeiçoamento de processos, principalmente no uso de antibiĂłticos para combate a infecção e melhor fermentação alcĂłolica. Palha Na parte agrĂ­cola, Cunha diz que o

principal benefĂ­cio ĂŠ a retenção da umidade do solo em função da palha e o aumento de matĂŠria orgânica. “A percepção de melhoria do solo ĂŠ imediata e o ano que vem iremos começar XP PRQLWRUDPHQWR D Ă€P GH YHULĂ€FDUmos se podemos economizar no uso GH IHUWLOL]DQWHVÂľ DĂ€UPD 2XWUR SRQWR positivo ĂŠ a menor utilização da ĂĄgua na indĂşstria, jĂĄ que a cana nĂŁo tem mais que ser lavada. A usina investiu tambĂŠm na capacitação dos trabalhadores para operar as mĂĄquinas modernas e os tratores, e grande parte do corte manual foi aproYHLWDGD QD RĂ€FLQD GH VXSRUWH jV PiTXLQDV ´,VVR SURSLFLRX XPD TXDOLĂ€FDomR


FOTO: BIG FACE

TECNOLOGIA AMBIENTAL: cobertura do solo pela palha Ê a solução para retenção de umidade por mais tempo

A cana ĂŠ uma das culturas que mais fornecem matĂŠria orgânica ao solo, protegendo-o do sol e da erosĂŁo. Todos os resĂ­duos gerados na produção de cana sĂŁo aproveitados RV WUDWRUHV DWp FKHJDU jV FROKHGRUDV PDLV VRĂ€VWLFDGDVÂľ DĂ€UPRX Segundo Geraldo Cordeiro, a AgropĂŠu tem um histĂłrico de trabalhadores que iniciaram no corte de cana e hoje ocupam funçþes como supervisor de produção agrĂ­cola, motoristas, mecânicos e encarregados de colheita. “Damos oportunidade para quem quer HYROXLU QD HPSUHVDÂľ DĂ€UPD 2 SURdutor ressalta que jĂĄ nota tambĂŠm a PHOKRULD GR VROR FRP D SDOKD TXH Ă€FD no campo, principalmente na conservação da umidade e aumento de matĂŠria orgânica. A redução do uso da ĂĄgua ĂŠ tambĂŠm semelhante em todas as outras usinas que nĂŁo queimam mais cana, com uma economia em torno de 20% na indĂşstria, alĂŠm do aparecimento de animais de espĂŠcies variadas QR FDQDYLDO H QDV iUHDV GH Ă RUHVWDV

maior para os trabalhadores e um importante ganho socialâ€?, destacou o gerente da Rio do Cachimbo. O retorno dos animais com a eliminação da queima foi imediato, destaca o gerente, e a convivĂŞncia tem sido muito tranquila. Segundo ele, grande parte transita pelo canavial, mas se abriga nas Ă RUHVWDV TXH RFXSDP GD iUHD GH cana da usina. SĂŁo um grande nĂşmero de siriemas, tatus, onças, antas, tamanduĂĄsbandeiras, tamanduĂĄs-mirins, raposas, lobos-guarĂĄs, veados campeiro e vĂĄrias espĂŠcies de pĂĄssaros. APOSTA NA EVOLUĂ‡ĂƒO DO TRABALHADOR

A AgroindĂşstria de PompĂŠu, AgropĂŠu, na regiĂŁo Central de Minas, conta com 90% de cana mecanizada e ainda haverĂĄ necessidade de queima e colheita manual em uma ĂĄrea de 10% com declividade acima de 12%. PorĂŠm, de acordo com o diretor-presidente, Geraldo Cordeiro, a mecanização jĂĄ estĂĄ totalmente assimilada pela usina. AlĂŠm do investimento em 12 mĂĄquinas, a AgropĂŠu investiu pesado na capacitação dos trabalhadores e grande parte do corte manual foi aproveitada na operação dos tratores e colhedoras. “O processo de aproveitamento do pessoal foi natural, os trabalhadores foram passando de uma mĂĄquina mais simples, como

SOLO CONSERVADO O Grupo Delta Sucroenergia jĂĄ mecanizou 97% da colheita da cana e ainGD HQFRQWUD DOJXPDV GLĂ€FXOGDGHV GH mecanização dos 3% restantes, em função da acentuada declividade do terreno. Assim como as outras empresas, jĂĄ estĂĄ auferindo externalidades positivas com a cobertura do solo pela palha, como retenção de umidade por mais tempo (redução da evaporação), atenuação da compactação, redução de erosĂľes (a palha tem auxiliado na sistematização e conservação do solo), contribuição na construção e manutenção da fertilidade. O SAIBA MAIS www.siamig.com.br

MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 59


CÉU DE BRASÍLIA DENGUE

SECA HISTÓRICA O volume de chuvas sobre os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste em janeiro foi o mais baixo para o mês desde que as medições foram iniciadas, em 1931. O volume de água que atingiu as represas ficou em 38,04% da média histórica. No Nordeste, o índice foi ainda menor: 25,61%, também o pior resultado desde o início das medições. Já a Região Sul foi a única onde o volume ficou bem acima da média, fechando o mês em 214,4%.

TRANSPOSIÇÃO AMAZÔNICA

TOCAIA RURALISTA (I) A bancada ruralista já tem três alvos para o primeiro semestre deste ano no Congresso: o novo Código da Mineração, o Projeto de Lei que dá acesso aos recursos genéticos e a PEC 215, que transfere do Executivo para o Congresso o poder de demarcar Terras Indígenas e Terras Quilombolas e de criar Unidades de Conservação.

TOCAIA RURALISTA (II) O objetivo é aproveitar a vitória de Eduardo Cunha, apoiado pelo grupo, para tentar tratorar os ambientalistas. O novo presidente da Câmara já avisou que é favorável ao pedido de desarquivamento da PEC 215. A índios pataxós, ele chegou a sugerir que começassem a mobilizar os deputados que os apoiam para tentar ganhar no voto.

60 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

O ex-ministro Mangabeira Unger (foto) voltou ao comando da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Segundo ambientalistas, ele pode ressuscitar um fantasma: a proposta de uma nova transposição bilionária - via aquedutos - para levar água da Amazônia a estados da Região Nordeste e Sudeste.

INÉRCIA HÍDRICA Das três regiões metropolitanas do Sudeste que convivem com a possibilidade de rodízio de água, nenhuma inaugurou represa de grande porte nos últimos 22 anos. Já o número de habitantes de Rio, São Paulo e Belo Horizonte aumentou 16,5% nesse período, passando de 17,1 milhões para 19,9 milhões.

MAIS POLUIÇÃO Diante da seca, o governo federal prepara a realização de um leilão para contratar, ainda este ano, novas termelétricas a gás natural de partida rápida. A meta é ter essas usinas instaladas nas principais capitais de consumo, como Rio, São Paulo e Belo Horizonte, com prazo de cerca de um ano e meio para a construção.

FOTOS: REPRODUÇÃO

Os casos de dengue cresceram 57,2% no Brasil em janeiro, se comparado ao mesmo período de 2014. De acordo com balanço do Ministério da Saúde, a crise hídrica é um dos principais motivos para o aumento, já que a população das regiões atingidas pela estiagem acaba estocando água de forma inadequada.

FOTO: FABIO POZZEBOM / ABR

FOTO: WILSON DIAS / AGÊNCIA BRASIL

VINÍCIUS CARVALHO



POLÍTICA

FOTO: MARTIM GARCIA / MMA

1

IZABELLA TEIXEIRA: “Nos últimos cinco anos de minha gestão, temos as cinco menores taxas de desmatamento. Por que ninguém divulga isso ou só divulga o contrário?"

62 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015


"A nossa legislação não engessa nada. O desafio é identificarmos com precisão se o que está sendo desmatado é legal e terá como ser recuperado, para que o balanço final seja próximo do zero."

O DESABAFO DE (1)

IZABELLA

Em entrevista exclusiva à Revista Ecológico, a ministra Izabella Teixeira fala sobre os desafios para o segundo mandato e os avanços do Brasil na área ambiental Hiram Firmino e Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

N

ascidos entre 24 de setembro e 23 de outubro, os librianos costumam ser descritos com as seguintes características: “Libra é um signo mental. O libriano gosta de florescer, é hábil diplomata e está sempre trabalhando em prol da ordem, da perfeição e do equilíbrio, daí seu símbolo ser a balança; busca sempre conciliar os elementos mais diversos e ouvir a opinião alheia”. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, tem procurado fazer jus à harmonia do signo que a rege. Aos 53 anos, ela é funcionária de carreira, está há 30 anos no governo e não representa nenhum partido político. Talvez por isso sinta-se livre e ainda mais determinada a deixar uma marca positiva nesse tão combalido segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Em conversa exclusiva de quase duas horas com a reportagem da Ecológico, em seu gabinete, em Brasília, Izabella foi do contentamento à indignação em diferentes momentos. Contundente, destacou os avanços que vê na gestão ambiental no Brasil e, acima de tudo, rebateu críticas feitas ao seu ministério, em especial no que se refere à divulgação de dados referentes ao desmatamento na Amazônia. Um desabafo corajoso, cuja prévia ela protagonizou no final do ano passado, também com veemência, diante da plateia presente à solenidade de entrega do “V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, no Teatro Francisco Nunes, na capital mineira. “Na minha gestão, nos últimos cinco anos, tivemos as cinco menores taxas de desmatamento da história... Não vou sair por aí ‘batendo boca’ com quem diz que desafetei mais Unidades de Conservação (UCs) do que criei. Quero que provem isso! Eu defendo o país. Não parto para a pequenez, para a picuinha. Não é meu temperamento”, enfatiza. É o que você vai ler nesta primeira parte da entrevista. Confira:

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MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 63


POLÍTICA

O DESMATAMENTO – TAXA OFICIAL “No governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) a taxa de desmatamento na Amazônia era de 29 mil km2. Na gestão da ministra Marina Silva (2003-2008) chegou a 27 mil km2. Hoje, está em 4.848 km2: é a segunda menor taxa desde 1988. Na minha gestão, nos últimos cinco anos, temos as cinco menores taxas da história.”

FOTO: ROBERTO STUCKERT FILHO / PR

1

“Os dados da taxa oficial são fornecidos anualmente pelo Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Eles calculam o desmate por corte raso na Amazônia Legal com base em imagens de satélites. Entre agosto de 2013 e julho de 2014, foram desmatados 4.848 km2. Uma queda de 18% na comparação com os 5.891 km2 registrados no mesmo período do ano anterior.” “Há muita inverdade sendo divulgada. As pessoas não podem confundir esses dados – científicos e oficiais do país, auditados inclusive pela ConvençãoQuadro da ONU sobre Mudança do Clima – com medições feitas por ONGs.” “A existência de outros sistemas de monitoramento é válida para controle social. Afinal, quanto mais informação nós tivermos, melhor. Mas não podemos aceitar que produzam e divulguem equivocadamente determinadas informações, com dados incorretos do ponto de vista técnico-científico – e o pior –, números que não expressam a real situação brasileira.”

previsão de desmatamento. Estimou aumento de 92% no corte raso do bioma. A taxa Prodes, no entanto, constatou percentual bem menor, equivalente a 28%.” O MANIPULAÇÃO NEGADA “O cálculo da taxa Prodes envolve um trabalho sério e rigoroso. Nós, do MMA, não temos acesso aos dados. Recebemos o resultado fechado, das mãos do ministro de Ciência e Tecnologia. É absolutamente irreal e indigno, portanto, dizerem por aí que o governo federal está manipulando a taxa de desmatamento.”

O DISPUTAS POLÍTICAS “Não se trata, repito, de “A legislação brasileira “O combate ao desmatamento desqualificar o trabalho de tem envolvido uma série de determina que na Amazônia ninguém. Pelo contrário: todas disputas políticas. É preciso ter o dono de uma propriedade as iniciativas de controle são cuidado. Separar com clareza importantes. Mas, pelo amor de o que é conhecimento técnicoprivada não pode mexer Deus, informem corretamente.” científico do que é ‘especulação’. em 80% dela. Ele tem que A metodologia do Inpe é preservar a floresta nativa O COMPROMISSO reconhecida mundialmente. A do Imazon (Instituto do e produzir no restante. Que FORMAL Homem e Meio Ambiente da “Os dados sobre o outro país faz isso?” Amazônia) não. O próprio desmatamento são gerados pessoal do Imazon já admitiu moto-contínuo. Um sistema publicamente as limitações do seu sistema.” complexo e cientificamente embasado. Os “O SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon) é importante para a sociedade ter informações, mas ele não dialoga com o sistema Prodes. Basta checar os dados divulgados todos os anos para verificar que não há um único dado que coincida. Em 2013, o Imazon errou em 228% na 64 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

responsáveis, do Inpe, avaliam cerca de 300 imagens de satélite de todo o bioma amazônico. Os técnicos vão a campo, testam, verificam e cruzam os dados obtidos inclusive com as informações de fiscalização repassadas pelo Ibama. Depois de gerados no centro regional do Inpe em Belém (PA), esses dados são


“Lucrar com a floresta em pé é a lógica econômica. Mostrarmos ao produtor que é possível ganhar mais dinheiro protegendo uma RPPN e abrindo-a ao turismo, por exemplo, do que criando 100 cabeças de gado.”

“Doa a quem doer: o governo Dilma está fazendo muito pelo meio ambiente. Nunca esse ministério teve tanto apoio de um presidente da República quanto agora. Nem na época do Lula, e eu também fui ministra dele.”

enviados à unidade do Inpe em São José dos Campos (SP). Lá, passam por nova varredura e é calculada, finalmente, a taxa oficial.” “Temos um compromisso formal perante a ONU de monitorar o desmatamento na Amazônia. Fazemos isso desde 1988. O Brasil foi o primeiro país de florestas tropicais a desenvolver uma metodologia técnico-cientifica para mensurar o que está sendo desmatado. Estamos falando de imagens de satélite, de equipamentos de ponta e de modelos matemáticos que o país desenvolveu e vem sofisticando ao longo do tempo. Graças às tecnologias usadas, é possível identificar áreas desmatadas a partir de 6,25 hectares.” O FUNDO AMAZÔNIA “A taxa Prodes é tão séria e importante que o governo da Noruega se baseia nela para fazer os repasses do Fundo Amazônia. Trata-se da primeira iniciativa de REED+ (incentivo desenvolvido pela Convenção do Clima da ONU para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados no combate ao desmatamento e à degradação florestal) no mundo.” “O governo norueguês nos financia em função do resultado obtido e não o contrário: paga primeiro e, só então, fazemos algo. O Fundo Amazônia só existe porque reduzimos o desmatamento no Brasil. Tanto que a Noruega está fazendo o mesmo agora com a Indonésia e a Colômbia.”

FIQUE POR DENTRO

Reserva Legal (RL) Área do imóvel rural que deve ser mantida com vegetação nativa e varia conforme o bioma. Admite o uso econômico sustentável, por meio do regime de manejo, sem permitir a supressão total do verde. Área de Preservação Permanente (APP) São áreas, independentemente da cobertura vegetal, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, paisagem, solo, estabilidade geológica, biodiversidade, fluxo gênico de fauna e flora e assegurar o bem-estar das populações. Não permite exploração econômica direta (madeireira, agricultura ou pecuária), mesmo que com manejo.

“Por meio desse fundo, o Brasil destinou ainda recursos para criar o primeiro mapa de todo o bioma amazônico. Ele foi divulgado em dezembro passado, na Conferência do Clima em Lima, no Peru. Foi o evento paralelo que teve maior repercussão no encontro. Vocês tinham que ver a emoção dos participantes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), formada por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela], principalmente do ministro do Suriname. Ele disse: ‘Agora temos um retrato de como está o nosso país e de como podemos avançar’. Foi emocionante.” O META ANTECIPADA “A nossa meta, com base no Plano Nacional sobre Mudança do Clima, é reduzir o índice de desmatamento anual da Amazônia em 80% até 2020, em relação aos números de 2005. Isso equivale chegar a 3.925 km2. O Brasil estabeleceu essa meta voluntariamente e estou confiante de que a atingiremos já no ano que vem. Estamos empenhados e motivados para isso.” O AÇÃO SOLITÁRIA “Outro mito que é preciso rebater: muita gente afirma que houve um pico, um aumento do desmatamento de 2012 para 2013, e que isso nunca aconteceu antes no Brasil. É mentira. Basta checar os dados para ver que, de 2007 para 2008, a taxa subiu exatos 1.280 km2. Nós

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MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 65


POLÍTICA

FOTO: MAURICIO E. AGUIAR

FOTO: THAYS CABETTE

não estávamos aqui. Eu assumi em abril de 2010.” “Estamos apertando as ações de fiscalização. Então, é natural que a taxa oscile. Mas só vamos avançar efetivamente no combate ao desmatamento se os estados e municípios fizerem a parte deles. A competência de fiscalizar também é deles. Hoje, estamos fazendo isso praticamente sozinhos.” O APOIO DE DILMA “Ouço críticas ao governo federal, mas não vejo ninguém cobrar medidas dos governadores dos estados amazônicos. Quer um exemplo? Nem um estado ou município da região – nem o Tião Viana, governador do Acre – criou um só hectare de Unidade de Conservação (UC) nos últimos quatro anos. Eu criei. Sem conflito.”

“No governo FHC (1995-2002) a taxa de desmatamento na Amazônia era de 29 mil km2. Na gestão da ministra Marina Silva (2003-2008) chegou a 27 mil km2. Hoje, está em 4.848 km2, a segunda menor taxa desde 1988.”

“Então, devagar com o andor. Não posso admitir mentiras. Afinal, o que está em xeque é a credibilidade da área ambiental brasileira de fazer avançar as suas políticas públicas, integrando-as à agenda de desenvolvimento do país. Nunca esse ministério teve tanto apoio de um presidente da República quanto agora, com a presidente Dilma. Nem na época do Lula, e eu também fui ministra dele.” O MAIS ÁREAS VERDES “O Ministério do Meio Ambiente tem um intenso trabalho de criação e ampliação das Unidades de Conservação (UCs) em diversos biomas. De 2011 a 2014, foram criadas 10 novas áreas – cinco parques nacionais, uma estação ecológica e quatro reservas

HISTÓRICO DE DESMATAMENTO

-82%

5.891

4.848

4.571

7.000

6.418

7.464

12.911

11.651

14.286

19.014

27.772

25.396

21.651

18.165

17.259

17.383

13.227

14.896

14.896

18.161

29.059

5.000

13.786

10.000

11.030

15.000

13.730

20.000

21.050

25.000

17.770

Desmatamento (km2/ano)

30.000

18.226

1

88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14

66 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015


“Zerar o desmatamento não é algo simples de se conseguir. Várias ONGs defendem isso, mas quero ver sentarem aqui e fazerem na prática.”

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL O O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro eletrônico obrigatório para todos os imóveis rurais. O objetivo é integrar as informações ambientais referentes à situação das APPs, das áreas de RL, das florestas e dos remanescentes de vegetação nativa, das áreas de uso restrito e das áreas consolidadas das propriedades e posses rurais do país. O Criado pela Lei 12.651/2012, é uma base de dados estratégica para controle, monitoramento e combate ao desmatamento das florestas e demais formas de vegetação nativa do Brasil, bem como para o planejamento ambiental e econômico dos imóveis rurais. O Ferramenta importante para auxiliar no planejamento do imóvel rural e na recuperação de áreas degradadas, o CAR fomenta ainda a formação de corredores ecológicos e a conservação dos demais recursos naturais, contribuindo para a melhoria da qualidade ambiental, sendo atualmente usado pelos governos estaduais e federal.

extrativistas. Ao todo, foram 889.504 hectares, dos quais 792.796 hectares estão em regime de proteção integral. Somente na Serra do Mar (Mata Atlântica) foram 83.480 hectares. Além disso, cinco unidades – duas florestas nacionais, duas reservas extrativistas e um parque nacional – foram ampliadas, com um total agregado de 86.100 hectares.”

PÁTRIA AMADA

DEVASTADA

O Brasil perdeu 24 mil campos de futebol do seu bioma mais ameaçado. Pela quinta vez, Minas é campeã do desmatamento

“Na Floresta Amazônica, o balanço entre área desafetada e área acrescentada a essas UCs é positivo: soma 144.400 hectares. Com isso, o saldo total de novas áreas protegidas federais é de 1.119.604 hectares. Outras 81 novas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) foram reconhecidas no âmbito federal, totalizando 16 mil hectares.” “Por outro lado, na contramão dos esforços do governo federal, todos os estados e municípios brasileiros somados criaram apenas 73 mil hectares de unidades de proteção integral e 335 mil hectares de uso sustentável. Isso ninguém diz.” O SUPRESSÃO É LEGAL “Acabar com o desmatamento ilegal é prioridade para nós. No entanto, temos leis que autorizam a supressão de vegetação. Por isso, ainda é difícil fazer com que as pessoas distingam o que é legal do que é ilegal. Temos que separar o joio do trigo.”

REPRODUÇÃO da abertura da reportagem sobre a Mata Atlântica no Brasil e em Minas, publicada na edição 70 da Ecológico: registro nada pátrio

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MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 67


1

POLÍTICA

“O caminho é compensar, plantar e repor aquilo que foi ilegalmente perdido. A legislação brasileira determina, por exemplo, que na Amazônia o dono de uma propriedade privada não pode mexer em 80% dela. Que outro país faz isso?”

está ameaçando o bem-estar da humanidade e do planeta. E não estamos falando das gerações futuras, mas do aqui e do agora.” “Zerar o desmatamento não é algo simples de se conseguir. Várias ONGs defendem isso, mas quero ver sentarem aqui e fazerem na prática. Afinal, é proibido matar, mas as pessoas, infelizmente, matam.”

“No meu entendimento, nossa legislação não engessa nada. Ao contrário, ela é clara. Determina: preserve a vegetação nativa e produza no restante da propriedade. “Eu sei o que é parar um caminhão O desafio é identificar com de madeira, de madrugada, no precisão se o que está sendo desmatado é legal e terá meio de uma estrada e abordar como ser recuperado, para um caminhoneiro, com um policial que o balanço final seja próximo do zero.” armado ao meu lado. Não preciso

“A expectativa é chegarmos a algo próximo de zero, o que chamamos de desmatamento residual. O seu alcance envolve, além de questões técnicas, de controle e de fiscalização, o amadurecimento da consciência coletiva. O “Ampliar a fiscalização é consenso que temos de buscar que me contem como se faz. importante, mas temos de é o seguinte: o desmatamento Eu vivi isso.” dar também alternativas tem ser entendido como algo para que as pessoas intolerável pela sociedade prefiram lucrar com a floresta em pé. É a lógica brasileira, seja na Amazônia, no Cerrado ou em econômica: temos que mostrar ao produtor que é qualquer outro bioma. Mas hoje, na prática, a possível ganhar mais dinheiro protegendo uma realidade é outra. Minas Gerais, por exemplo, é a RPPN e abrindo-a ao turismo, por exemplo, do que campeã brasileira de devastação da Mata Atlântica. criando 100 cabeças de gado.” Os estados também têm de assumir o seu papel no combate ao desmatamento.” O DESMATAMENTO ZERO “Se dependesse de mim, quem fosse pego desmatando ilegalmente seria preso. Esse é um crime de lesapátria. Quem desmata está roubando da sociedade,

O "FUI FISCAL DO IBAMA" “Eu, Izabella, não derrubo uma árvore sequer. O MMA não autoriza supressão de vegetação. Pelo contrário:

CLASSES DE USO E PERCENTUAIS DE ÁREAS DESFLORESTADAS DA AMAZÔNIA 2008

2010

2012

2008

2010

(km²)

(km²)

(km²)

(%)

(%)

(%)

Agricultura Anual

34.927,24

39.977,85

42.346,40

4,92

5,39

5,64

Área não observada

45.406,27

45.849,48

69.132,49

6,4

6,18

9,2

Área Urbana

3.818,14

4.473,56

5.340,76

0,54

0,6

0,71

CLASSES

Mineração

2012

730,68

966,82

1.048,96

0,1

0,13

0,14

24.416,57

17.962,95

9.590,23

3,44

2,42

1,28

Outros

477,88

2.730,64

6.112,77

0,07

0,37

0,81

Pasto com solo exposto

594,19

373,16

42,65

0,08

0,05

0,01

Pasto limpo

335.714,95

339.851,87

345.419,85

47,32

45,82

45,97

Pasto sujo

62.823,76

56.076,64

50.472,11

8,85

7,56

6,72

Regeneração com pasto

48.027,37

63.165,46

46.468,12

6,77

8,52

6,18

Mosaico de ocupações

Reflorestamento

-

3.014,79

3.176,33

-

0,41

0,42

Vegetação secundária

150.815,31

165.229,31

172.189,78

21,26

22,27

22,92

TOTAL

707.752,36

739.672,53

751.340,47

100

100

100

68 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015


FOTO: DIVULGAÇÃO

“Absurdo dizerem que era melhor termos ficado com o Código Florestal anterior. Toda vez que releio o primeiro relatório (apresentado por Aldo Rebelo) e vejo o que conseguimos aprovar, eu respiro aliviada.”

"Já temos tecnologia para enxergar por meio da copa das árvores e desarticular quem pratica o leasing fake, que é se camuflar com a floresta para destruí-la. A detecção é em tempo real. Há 30 anos não tínhamos isso."

plantamos árvores, mantemos jardins botânicos e criamos UCs. Mas, infelizmente, todo ano, quando a taxa Prodes é divulgada, vivemos o estresse de ver ameaçado todo o esforço que estamos fazendo no combate ao desmatamento.”

dos Órgãos, no Rio de Janeiro, estava em chamas, em outubro passado, pude chegar lá e dizer: ‘Está errado. Isso tem de ser feito assim’. Não falo sobre todos esses assuntos em tese. Eu sei quais são as nossas dificuldades, os nossos ativos e o quanto o Brasil avançou nos últimos 30 anos.”

“Estou há 30 anos no governo e posso afirmar, sem modéstia: nunca houve um ministro de Meio Ambiente que conhecesse tanto dessa área quanto O CRIME ORGANIZADO eu. Inclusive de fiscalização. Hoje eu comando, “O garimpo é hoje um dos braços que financia o pessoalmente, mais de 10 instituições federais desmatamento ilegal na Amazônia. Só no Pará há envolvidas no combate ao desmatamento na mais de três mil garimpos ilegais. A competência de Amazônia. Demos um licenciá-los é dos estados, salto enorme nas ações “O desmatamento tem de ser não é nossa. Usamos toda de inteligência e digo isso tecnologia possível para entendido como algo intolerável porque conheço todos os a ação dos ilegais. pela sociedade. Mas hoje, na prática, flagrar meandros da gestão e da Já temos tecnologia que operação. No início da a realidade é outra. Minas Gerais, nos permite enxergar por minha carreira eu trabalhei por exemplo, é a campeã brasileira meio da copa das árvores. no Departamento de Tudo na tentativa de Fiscalização do Ibama.” de devastação da Mata Atlântica.” desarticular, por exemplo, o leasing fake – tratores que “Eu já fiz fiscalização na são pintados de verde para camuflar com a floresta Amazônia à meia-noite, na BR-364, no Mato Grosso, e não serem vistos do alto. Desenvolvemos filtros de na divisa de Rondônia com o Acre... Eu sei o que é lentes para detectar a presença deles. Há 30 anos parar um caminhão de madeira, de madrugada, no não tínhamos isso.” meio de uma estrada e abordar um caminhoneiro, tendo um policial armado ao meu lado. Não preciso “Implantamos também o auto de infração eletrônico. que me contem como se faz. Eu vivi isso.” Com isso, estamos pondo fim à derrubada de multas por erro no registro de dados. Antes, quando o agente “Sei o que é passar 10 dias fiscalizando um garimpo. registrava uma coordenada de localização errada ou Também sei como combater fogo: participei da citava um artigo incorreto, o auto era anulado. Agora, elaboração do memorando de entendimento que isso acabou. O sistema está todo automatizado. Os traçou o caminho do PrevFogo (Centro Nacional de dados são registrados e ‘batem’ direto na sala de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) no controle aqui em Brasília.” país. Por isso, quando o Parque Nacional da Serra

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MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 69


POLÍTICA

O CÓDIGO FLORESTAL “Para além das críticas, o que eu defendo são as alianças. A votação do Código Florestal (CF) mostrou o poder das alianças. Foi um divisor de águas. Fizemos um enorme esforço de diálogo com os mais diferentes setores, pois a polarização era tremenda.”

fossem mantidos pela presidente Dilma. Todos os envolvidos reconheceram que nunca um ministério fez um trabalho de articulação política de tão grande envergadura quanto nós. Sou uma pessoa absolutamente convicta da eficiência das alianças. Parceria é mais fácil até para brigar.”

“Se dependesse de mim,

O CAMINHO DO MEIO “Eu me reuni pessoalmente quem fosse pego desmatando com todas as lideranças “Por isso, acho um absurdo ilegalmente seria preso por crime dizerem quer era melhor sociais e políticas; com a frente ambientalista, com a termos ficado com o Código de lesa-pátria. Quem desmata bancada ruralista e com as Florestal anterior. Diante de está roubando da sociedade, mais diferentes entidades: todas as adversidades que MST (Movimento dos está ameaçando o bem-estar da enfrentamos, essa foi, sem Trabalhadores Rurais Sem dúvida, uma negociação humanidade e do planeta.” Terra), Via Campesina, vitoriosa para o Brasil. Toda CNBB (Conferência vez que releio o primeiro Nacional dos Bispos do Brasil), com a Contag relatório [apresentado pelo deputado Aldo Rebelo (Confederação Nacional dos Trabalhadores na (PC do B-SP)] e vejo o que conseguimos aprovar, eu Agricultura), com o pessoal da agricultura familiar e respiro aliviada.” vários outros.” “Foi um grande aprendizado político. É óbvio “Todos eles foram recebidos aqui nesta sala. E, no que o Código Florestal não agrada em 100% os final, conseguimos que todos os vetos solicitados ambientalistas, mas também não agrada em 100% os ruralistas. Isolamos os mais radicais – tanto de um lado quanto do outro – e trilhamos o caminho do DESMATADOR NA PRISÃO meio. A causa pétrea da negociação era: a floresta que está em pé permanecerá de pé.” FOTO: REUTERS / FOLHA DO PROGRESSO / JULIANO SIMIONATO

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Ezequiel Antônio Castanha, o “maior desmatador da Amazônia”, foi preso em 21 de fevereiro, em Novo Progresso, no Pará. Segundo o Ibama, a prisão coroa com êxito a Operação Castanheira, deflagrada em parceria com o Ministério Público Federal, Receita Federal e Polícia Federal, que desarticulou a maior quadrilha de grileiros que operava na região da BR163, respondendo por 20% de todo o desmatamento da Amazônia. Castanha poderá ser condenado a mais de 46 anos de prisão pelos crimes de desmatamento ilegal, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e uso de documentos falsos.

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“O essencial foi mantido no novo texto. Não caiu nada na metragem das Áreas de Preservação Permanente (APPs), de Reserva Legal (RL). Preservamos tudo. Está tudo descrito direitinho: as disposições permanentes, os instrumentos econômicos. Tanto que, na campanha para presidente, o assunto Código Florestal simplesmente sumiu de cena.” “Se alguém quiser nos apontar o dedo, dizendo que o MMA fez alguma mudança no código, a única que ‘assumo a maternidade’ é o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ele sim foi ideia nossa, e vai nos permitir seguir avançando na conservação com base em dados reais sobre a situação das propriedades brasileiras. Com ele, vamos ter métrica, dados para estimar o que o Brasil terá de reflorestar, proteger.” O MINISTRA KÁTIA ABREU “Pela primeira vez na história, agricultura e meio ambiente estão buscando novos caminhos. Reunimos todos os secretários estaduais do país aqui. Conheço a ministra Kátia Abreu ainda como senadora e posso dizer que ela é uma pessoa que


FOTO: AGENCIA BRASIL / EBC

“Sou uma pessoa absolutamente convicta da eficiência das alianças. Parceria é mais fácil até para brigar.”

defende a pauta dela, assim como eu defendo a minha. Ela tem essa qualidade: é uma defensora da agricultura brasileira. É óbvio que temos milhões de pensamentos divergentes, mas vejo nela uma postura assertiva e construtiva.” “Experimentei isso nas discussões do novo código. Quando pactuamos o que teria de ser protegido, tentaram dar um ‘golpe’ nos manguezais brasileiros, retirando-os das APPs. Ela encerrou a sessão no Senado dizendo 'não: eles ficam'. Quando algo é pactuado com ela, ela cumpre.” “Ela pediu uma audiência, veio aqui e deixou claro o interesse em trabalhar o CAR. Ela vai me contar onde estão os problemas e quais são as dificuldades do setor produtivo. Vamos nos unir para entregar o CAR à sociedade. Eu disse a ela que temos de recuperar florestas, produzir água no país. Ela citou essa questão no seu discurso de posse. Afirmou que a água será o mais novo produto na cesta do agronegócio brasileiro. Aqui na Esplanada, 26 ministérios têm interface com o MMA. Vou continuar construindo alianças com a Agricultura e com todos eles, sem exceção.” O PARQUES X HIDRELÉTRICAS “Doa a quem doer: o governo Dilma está fazendo

“Kátia Abreu tem postura assertiva e construtiva. Nas discussões do novo código, quando pactuamos o que teria de ser protegido, tentaram dar um ‘golpe’ nos manguezais brasileiros, retirando-os das Áreas de Preservação Permanente (APPs). Ela encerrou a sessão no Senado dizendo ‘não, eles ficam!’. Quando algo é pactuado com ela, ela cumpre. Em seu discurso de posse, afirmou que a água será o mais novo produto na cesta do agronegócio brasileiro.”

muito pelo meio ambiente. A elaboração de planos de manejo (exigidos para abertura das UCs ao uso público e elaborados a partir de estudos e diagnósticos do meio físico, biológico e social) é outro exemplo. No governo Lula (2003-2010) foram elaborados 58 planos. Nós entregamos 60 e contratamos outros 111. Em quatro anos, fiz mais que nos dois governos do Lula.” “Não vou sair por aí ‘batendo boca’ com quem diz que desafetei mais UCs do que criei. Quero que provem isso. Como uma pessoa de governo, não defendo a bandeira A, B ou C: eu defendo o país. Não parto para a pequenez, para a picuinha. Não é meu temperamento.” “Na política, para ter credibilidade, é preciso cumprir aquilo que é pactuado. No caso da desafetação do Parque Nacional da Amazônia, cumprimos o que foi definido pelo ICMBio para regularizar a situação de pessoas que já estavam no local, quando criaram o parque, nos anos 1970. Então, não tem fundamento ‘esse papo’ de que estamos desafetando terras para construir mais hidrelétricas. A crise hídrica está aí, batendo à porta...” O SAIBA MAIS www.mma.gov.br | www.ibama.gov.br | www.inpe.gov.br (*) Continua na próxima edição. MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 71


CÉU DO MUNDO VINÍCIUS CARVALHO

O Equador declarou estado de emergência ambiental nas Ilhas Galápagos após o naufrágio de um navio que transportava carga de 1.400 toneladas, incluindo materiais perigosos como combustíveis e gás. A medida, preventiva, foi divulgada pela Comissão de Operações de Emergência do Equador.

FOTO: RUDOLPH A. FURTADO

NEGOCIAÇÕES CLIMÁTICAS (I) As tratativas internacionais sobre o clima foram retomadas este mês em Genebra, na Suíça. O objetivo do encontro foi avançar sobre o texto que deve substituir o Protocolo de Kyoto a partir de 2020. O novo acordo deve ser assinado em Paris, no fim do ano, por representantes de 195 países.

NEGOCIAÇÕES CLIMÁTICAS (II) Apesar das divergências entre países desenvolvidos e em desenvolvimento sobre as responsabilidades de cada um para reduzir as emissões, o objetivo geral já está traçado: limitar o aumento da temperatura mundial a 2°C em comparação com a era pré-industrial. Ao ritmo atual, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o mundo se aproxima de um aumento de 4 a 5°C até o fim do século.

FRANÇA PRÓ-BIKE Eis o resultado de um experimento de cinco meses conduzido pelo governo francês com oito mil funcionários de 18 empresas: pagar 25 centavos de euro por quilômetro aos funcionários que vão ao trabalho de bicicleta se traduziu em um aumento de 50% do uso desse meio de transporte. A porcentagem dos que utilizaram a bicicleta subiu de 2% para 3,6%. 72 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

FOTO: ETEIMAGING

FOTO:ESTIVILLML

GALÁPAGOS EM RISCO


1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

DE GOTA EM GOTA Prefeitura sanciona decreto convidando, e não multando, a população para evitar o desperdício de água FOTO: DIVULGAÇÃO

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ducar em vez de multar”, era o que defendia Hugo Werneck. Essa foi a linha de pensamento do Decreto-lei nº 462/2015, assinado pelo prefeito de Contagem (MG), Carlin Moura, instituindo o “Programa Municipal de Combate ao Desperdício de Água” pela linha da conscientização ambiental. Seu lançamento festivo ocorreu no Parque Ecológico do Eldorado, com a presença do vice-prefeito João Guedes, dos secretários municipais, representantes da Copasa e da Fiemg, e lideranças comunitárias. O programa prevê ações de educação ambiental para divulgar e conscientizar a população sobre a necessidade da adoção de hábitos relativos ao uso racional de água. E possui caráter educativo, uma vez que não adianta ter ações punitivas e fiscalizadoras se a população não se conscientizar: “Medidas mais austeras somente serão tomadas em casos extremos de desperdício, em consonância com as ações da Copasa e do governo do Estado”, ressaltou o prefeito. Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Contagem, Ivayr Soalheiro, a intenção original é não punir nem multar. Mas, sim, educar, esclarecer e orientar a população: “Estamos fazendo nosso dever de casa, começando primeiro

O SECRETÁRIO Ivayr Soalheiro e o prefeito Carlin Moura com o folder sobre consumo consciente de água (veja box abaixo)

dentro dos órgãos públicos. Já temos exemplos de sucesso, como o ‘Programa Escola Sustentável’, que vem contribuindo para economizar até 40% de água nas instituições de ensino municipais. Nosso objetivo maior é não apenas mobilizar as pessoas a essa causa tão importante, mas também criar instrumentos para conter os grandes desperdícios de água. Seria uma grande omissão, nesta crise hídrica, Contagem se abster de sua responsabilidade”, afirmou Ivayr. O

DICAS PARA ECONOMIZAR ÁGUA NO BANHO: Se molhe, feche o chuveiro, se ensaboe e depois abra para enxaguar. Não fique com o chuveiro aberto. O consumo cairá de 180 para 48 litros. AO ESCOVAR OS DENTES: Escove os dentes e enxague a boca com a água do copo. Economize três litros de água. NA DESCARGA: Verifique se a válvula não está com defeito, aperte-a uma única vez e não jogue lixo e restos de comida no vaso sanitário. NA TORNEIRA: Uma torneira aberta gasta de 2 a 20 litros/minuto. Pingando, 46 litros/dia. Isso significa 1.380 litros por mês. Feche bem as torneiras. VAZAMENTOS: Um buraco de dois milímetros no encanamento desperdiça cerca de três caixas d’água de mil litros.

NA LAVAGEM DE LOUÇAS: Lavar louças com a torneira aberta, o tempo todo, desperdiça até 105 litros. Ensaboe a louça com a torneira fechada e depois enxague tudo de uma vez. Na máquina de lavar são gastos 40 litros. Utilize-a somente quando estiver cheia. REGAR JARDINS E PLANTAS: No inverno, a rega pode ser feita dia sim, dia não, pela manhã ou à noite. Use mangueira com esguicho-revólver ou regador. LAVAR CARRO: Com uma mangueira gasta-se 600 litros de água. Só lave o carro uma vez por mês, com balde de 10 litros, para ensaboar e enxaguar. Para isso, use a água da sobra da máquina de lavar louças. NA LIMPEZA DE QUINTAL E CALÇADAS USE VASSOURA: Se precisar, utilize a água que sai do enxágue da máquina de lavar.

NA CAIXA D’ÁGUA: Não a deixe transbordar e mantenha-a tampada.

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1 CULTURA

FOTO: EBERSON CASS

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SOL DAS GERAIS em ação: sonho que precisa de patrocínio para permanecer real

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EM TOM DE EMOÇÃO Orquestra Sol das Gerais resgata o talento de adolescentes em situação de risco na periferia de Betim e Contagem e pede apoio de mais empresas cidadãs para continuar suas atividades Déa Januzzi redacao@revistaecologico.com.br

VÂNIA: “Vivo o sucesso de cada menina da orquestra como se fosse meu. Isso é amor”

música que encantou todos. Na verdade, o Projeto Gente Grande começou na Casa de Apoio da Irmã Margarida, no Bairro Eldorado, em Contagem, uma das obras dos salesianos. “Eram 12 meninas de rua que faziam teatro, dinâmica de grupo, jogavam xadrez e conversavam com a gente. O projeto deu tão certo que não paramos mais. Das 12 meninas, só uma desistiu. Foram três anos de muito trabalho e aprendizagem. Para se ter uma ideia, no segundo ano, a gente já atendia 20. E, no seguinte, 40, até que tivemos o apoio da Jabil do Brasil, uma das quatro maiores do mundo em montagem de eletroeletrônicos. Na sua fábrica de Betim, ela nos cedeu espaço para trabalhar com as meninas, em três frentes: melhoria da educação formal, com aulas de reforço. Capacitação para o trabalho, em parceria com o Senai Social, que ministra aulas gratuitas. E atividades socioeducativas, com arte, educação e cultura. Daí surgiu a orquestra de câmara Sol das Gerais”, explica Vânia. A completar 10 anos de existência em setembro deste ano, a orquestra está mais do que consolidada. Não faltam prêmios no currículo do grupo, que se apresenta em empresas, escolas, teatros, shoppings, parques, além de shows com a participação de artistas como Maurício Tizumba, Marcos Lobo, Walter Lang e Mamour Ba. As meninas já mostraram seu talento na UFMG e na PUC Minas. E fizeram espetáculos no Palácio das Artes. “Muitas nunca tinham passado nem na porta do grande teatro”, diz Vânia. Elas também foram finalistas do “Prêmio Voluntários das Gerais”, da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg); do “Prêmio Melhores do Ano”, da Folha de São Paulo; e do “Projeto Social das Empresas de Informática”, da Plano Editorial. Vânia Mendes se emociona quando fala do trabalho da orquestra. “A vida me deu de presente viver o sucesso de cada menina como se fosse meu. Acho que isso é amor. Ser útil para o nosso país é música para os nossos ouvidos. Mas o que nos falta agora é sermos adotadas por mais empresas e instituições que valorizem nosso trabalho de ecologia social.” FOTO: DIVULGAÇÃO

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omo as sementes que recebem água e cuidados e desabrocham-se em flor, as meninas do “Projeto Gente Grande”, do qual faz parte a Orquestra Sol das Gerais, também ganharam força e visibilidade com a música. A oportunidade de aprender a tocar um instrumento foi a água que regou o sonho das 430 jovens que já passaram pelo projeto. Vindas da periferia de Betim e Contagem, elas aprenderam que a música é um caminho seguro, pois muitas delas viviam perdidas nas ruas, sem rumo e sem chances. Há cinco anos na orquestra, Vanessa Soares, de 19 anos, nem imaginava que um dia iria tocar um instrumento. “Comecei tocando viola de arco e adorei. Mas queria mesmo era aprender violoncelo por causa do som grave das cordas, que combina comigo. Basta tocar o instrumento para que a minha tristeza vá embora.” Moradora da Vila Cristina, em Betim, na Região Metropolitana de BH, Vanessa é autodidata no violoncelo. Aprender a tocar “Primavera”, uma das “Quatro Estações” de Vivaldi, não é para qualquer um. “A gente mora em um lugar que ninguém escuta esse tipo de música. Os quatro irmãos de minha mãe, Sandra Luiza, inclusive, são pagodeiros. Mas todos gostaram de me ouvir tocar música clássica e comparecem em peso quando me apresento em qualquer sala de espetáculo. Vai toda a minha família, até meu avô”, conta. Estudante do terceiro ano do ensino médio, ela escolheu a música como profissão, mas quer mesmo é viajar e conhecer o mundo inteiro tocando violoncelo. Uma única vez nesse tempo todo, Vanessa pensou em desistir e procurar um trabalho comum, com carteira assinada. “Fui para Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, onde havia uma escola de música. Todas as vezes em que passava em frente à escola, eu chorava. Então, voltei para a orquestra e para o violoncelo. Vou tentar entrar para a Escola de Música da UFMG e seguir em frente com o meu sonho.” Mentora, coordenadora-geral do projeto há 20 anos e regente da orquestra desde 2005, Vânia Mendes é dessas mulheres múltiplas, formou-se inclusive como técnica mecânica, de carro, avião e o que for necessário. Mas foi o seu jeito especial de ensinar

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FOTO: DIVULGAÇÃO

1 CULTURA

SEM A ORQUESTRA, muitas adolescentes estariam socialmente vulneráveis

A MELHOR COLHEITA Segundo Vânia, “toda menina que entra para o projeto vem aprender comigo primeiro, depois passa para os professores de flauta, violoncelo, viola, violino e teoria musical. Não tem nada melhor do que descobrir o talento adormecido dessas meninas. Acho que as pessoas têm talentos iguais e merecem as mesmas oportunidades”. Com benefícios da Lei Rouanet, cada uma das 25 adolescentes que integram a orquestra recebe cachê depois de cada apresentação. “Sou tão louca pelo projeto que conheço e chamo cada uma pelo nome. E olha que foram muitas que passaram por lá. Muitas saem do projeto, porque vivem num mundo que considera música como diversão e não como trabalho sério, capaz de resgatar a autoconfiança das meninas. Elas se transformam e os resultados surpreendem. Muitas têm revelado notável talento musical e liderança, tornando-se multiplicadoras.” Com um único filho, de 21 anos, Vânia já o incluiu no projeto. Ele é pianista da orquestra e ajuda a mãe a desabrochar talentos e cultivar autoestima. O sonho de Vânia é levar as adolescentes para os palcos da França. Para isso, ela dá aulas três vezes por semana, num total de 20 horas semanais de música. “Com um ano e meio de aprendizagem, elas já podem entrar para a orquestra. É um jeito diferente de levar conhecimento e atuação no mundo para meninas de baixa renda, pois enquanto tocam, aprendem valores universais e convivem dentro de um ambiente empresarial de Primeiro Mundo. É uma oportunidade de deixar brotar o que elas têm de mais precioso. É 76 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

DEPOIMENTOS O “Há 40 anos trabalho com arte. Sinto-me feliz por ser um eterno aprendiz e agradeço por ter encontrado no meu caminho a luz da Orquestra Sol das Gerais. Que ao tocar música popular e clássica, arte pura e pura arte, sensibiliza todos ao redor: quem toca, quem escuta, quem paga para ver e quem patrocina. Que o projeto tenha vida longa! Viva a batuta de Vânia Mendes, que é usada com destreza, sensibilidade e inteligência.”

Maurício Tizumba, músico O “O

som desta orquestra é o fruto do trabalho incansável e criativo de sua idealizadora Vânia Mendes, com a parceria forte dessas garotas guerreiras e talentosas.” Eliseu Barros, violonista da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais O “A

orquestra para nós é uma perfeita combinação de emoção, talento e compromisso social.” José Pedro Alcântara, diretor de operações da Jabil, filial de Belo Horizonte

o dom que mantém o ser humano vivo e cultivado. A orquestra é a minha melhor colheita, pois essas meninas não podem ser mais humilhadas, jogadas em qualquer canto sem cuidados.” O SAIBA MAIS http://goo.gl/E6YL5G


O VERDE E AS ÁGUAS DE

NOVA LIMA Conheça o município que tem o maior número de nascentes e florestas preservadas da Grande BH, vencedor do V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza

EDIÇÃO COMEMORATIVA DIA MUNDIAL DAS ÁGUAS


FOTOS: DIVULGAÇÃO

MEMÓRIA AMBIENTAL: da luta artística contra a erosão do solo ao pedido de socorro de suas águas

POR QUE NOVA LIMA? “D

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dos seus inícios mais emblemáticos, coincindindo com a realização da ECO/92 no Brasil. Artistas da terra, como Léo Santana e Ivã Volpi (foto acima, ao centro), se juntaram a outros ambientalistas e ONGs em formação para denunciar o estrago secular

FOTO: ECOLÓGICO

edico este prêmio a todos aqueles que têm a coragem de preservar a biodiversidade maravilhosa que temos em nosso município. Apesar do índice de desenvolvimento crescente, da mineração alterando o nosso município e do assédio grande do setor imobiliário, nada disso é capaz de nos demover do encanto e da busca incessante pela preservação. Temos a consciência de que Nova Lima é hoje o pulmão e a caixa d´água de toda a Região Metropolitana de BH. Que esse prêmio sirva para que Nova Lima tenha sempre, como lição, a conservação e a sustentabilidade de seus ecossistemas”. Essa declaração, feita pelo prefeito Cássio Magnani, ao receber no final do ano passado o “V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” na categoria “Destaque Municipal”, comprova a vocação não apenas natural de Nova Lima, mas também política. Foi no seu distrito de São Sebastião das Águas Claras, mais conhecido por Macacos, que a luta ambiental mineira teve um

na região causado pela mineração irresponsável e antiecológica da época. Ivã confeccionou uma agulha enorme de bambu e literalmente “costurou” as feridas abertas pelos motociclistas no dorso das montanhas erodidas, com a participação de dezenas de moradores do distrito revoltados com o silêncio da matriz. Já Leo, hoje conhecido internacionalmente pela estátua que criou de Carlos Drummond de Andrade olhando o mar na praia de Copacabana, não deixou por menos. Utilizou os próprios rejeitos da mineração para forjar mãos gigantescas “nascendo” dos próprios rios poluídos, pedindo socorro à consciência ecológica coletiva. É desta Nova Lima, terra de moradores tradicionais e ambientalistas históricos que também conseguiram a criação da Área de Proteção Ambiental (APA-Sul) da Região Metropolitana de BH, que tratamos aqui, neste Encarte Especial sobre o seu verde e suas águas preservadas. Boa leitura!


Administrando com Responsabilidade

FOTOS: DIVULGAÇÃO

“SOMOS O PULMÃO E A CAIXA D’ÁGUA DE BH”

CASSINHO, em seu gabinete, com o Rego dos Carrapatos retratado pelo artista nova-limense Edgar Walter, ao fundo: "Sempre vi a causa ecológica com bons olhos"

Nascido em Belo Horizonte, Cássio Magnani Júnior mora, desde pequeno, em Nova Lima. Casado e pai de cinco filhas, tem uma paixão declarada pela cidade. E a população parece retribuir isso em votos: elegeu-se vereador por seis mandatos até assumir a administração municipal em 2012. Formado em Advocacia, Cassinho também é músico e tomou gosto pela causa ambiental ainda na década de 1980, quando participou dos primeiros movimentos sociais contra a degradação que as mineradoras causavam na região. “Hoje, Nova Lima é uma prova de que harmonizar é possível”, diz ele, sobre o fato de o setor minerário preservar 62% da área verde do município. Na entrevista concedida à Revista Ecológico, Cassinho falou sobre seu otimismo em relação ao futuro da natureza, a importância de desenvolver o ecoturismo em Nova Lima e o tomba-

mento de espaços naturais no município, especialmente em áreas de nascentes. Confira: O senhor inaugurou um discurso novo em Minas, ao dizer que Nova Lima é o “pulmão” e a “caixa d’água” da Região Metropolitana de BH. Em que se baseia para tal afirmação? Porque o nosso sistema Rio das Velhas, na região do bairro Bela Fama, é responsável por captar a água que abastece mais de 60% da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Também temos 800 nascentes aqui, graças a Deus. E estão preservadas. Algumas delas até declaramos patrimônios naturais e outras estão dentro de condomínios fechados, o que contribui diretamente para sua conservação. As mineradoras também fazem uma vigilância muito grande no sentido de preservar as reservas naturais que abrigam as nascentes em suas áreas.

E em relação aos corredores ecológicos? Fizemos uma primeira proposta, que está em discussão na Câmara Municipal, para identificar as áreas verdes que podem ser interligadas para criarmos e fazer a manutenção dos corredores ecológicos. Trata-se de um projeto de lei, que terá base científica, para integrar essas áreas ricas em biodiversidade. O apoio da Prefeitura de BH e do Governo de Minas também será muito bem-vindo para criarmos um grande complexo ambiental no entorno da Serra do Curral, que é o sonho também do prefeito Marcio Lacerda. Nova Lima é um dos grandes polos turísticos da região, por conta de sua natureza riquíssima. O que está sendo feito para potencializá-los? Estamos aperfeiçoando o nosso plano municipal sobre turismo,

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trabalhando para a reabertura de trilhas ecológicas e mirantes e recuperação de banquetas, disponibilizando acesso e infraestrutura para que a população possa visitá-los. São recantos maravilhosos para se desfrutar a natureza. Fizemos ainda, recentemente, o tombamento da Banqueta de Matosinhos, que se tornará o quinto monumento natural de Nova Lima. Os turismos ecológico e gastronômico são características importantes que a cidade tem a oferecer e vamos desenvolvê-los ainda mais.

Nova Lima? Porque acreditamos que é importante. Sempre vi a causa ecológica com bons olhos e luto por ela desde a primeira manifestação ambiental em Nova Lima – o Movimento Ecológico Livre (Mel), no início da década de 1980. Éramos um grupo de pessoas obstinadas e entusiasmadas para defender e preservar a natureza, em uma época que se falava pouco do assunto. Aliás, foi a degradação social e ambiental causada pela mineração que me despertou tal sentimento. As condições de trabalho nas minas, por exemplo, eram terríveis. Hoje, isso mudou. Nova Lima é a prova de que harmonizar é possível.

E quanto à verticalização? Nesse sentido, briguei muito, principalmente contra o Vila da Serra e o Vale dos Cristais. Não por causa dos empreendimentos em si, mas da verticalização. Não acho que é o melhor caminho. Temos modelos de condomínios, como o Vila Del Rey, que mostram que é possível conviver de forma mais harmônica e sustentável com a natureza. Em Nova Lima, temos buscado reduzir ao máximo o impacto da expansão imobiliária. Os projetos são analisados cada vez com mais rigor. Inclusive, isso estará sendo contemplado com a inclusão de novos parâmetros na revisão do Plano Diretor de Nova Lima, que está sendo discutido amplamente com a população. Na campanha eleitoral de 2014, pouquíssimos candidatos abordaram a questão da sustentabilidade. Por que isso tem sido um diferencial em FOTO: ROBERTO MURTA

O trânsito continua intenso na saída de BH para Nova Lima. Há algum projeto de mobilidade urbana em andamento? Já estamos alinhando com o governo estadual e a Prefeitura de BH uma nova solução de mobilidade urbana para a crista da Serra, que seria a criação de uma via expressa estruturante. Ela sairá do bairro Olhos D’Água e terá dois “braços” de trânsito: um que vai para Sabará e o outro que sairá próximo a Nova Lima, desafogando o fluxo de veículos

da rodovia MG-030. Também há vários parceiros da iniciativa privada interessados em participar dessa iniciativa.

MATA do Jambreiro: maior reserva de Mata Atlântica da Grande BH

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Dizem que saneamento básico não dá voto. Isso é verdade? Estou em meu sétimo mandato e acredito muito na população, que ela é preparada e sabe dar resposta ao que é feito com seriedade. Sempre acreditei em trabalhar sério, com decência, pois só assim o reconhecimento vem. A população de Nova Lima é muito consciente. Também acredito naquele coletivo inconsciente, que faz a vontade das pessoas. E tenho muita fé em Deus. Dizem que a natureza é a face terrena Dele e creio nisso. Se você planta o bem, o retorno é imediato em boas energias. Acredita que as pessoas estão definitivamente conscientes sobre a necessidade de se preservar a natureza? Há um ditado que diz que “se Deus criou as mãos longe do peito, é porque existe distância entre intenção e gesto”. As pessoas estão conscientes sim, mas falta mais atitude. A conveniência e o imediatismo são um grande perigo. Com eles, as pessoas superam qualquer tipo de valor, inclusive os próprios. Apesar disso, sou muito otimista em relação ao futuro. O


FOTO: MARCOS TAKAMATSU

Administrando com Responsabilidade

BERÇO DO VERDE E DA ÁGUA Cidade com melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDM) de Minas, Nova Lima tornou-se referência nacional em sustentabilidade usando uma receita muito simples: aliando crescimento econômico, justiça social e respeito à natureza J. Sabiá redacao@revistaecologico.com.br

A

primeira vez que visitei Nova Lima foi há exatos dez anos. Ao sair de BH, lembro-me de ficar impressionado com a vista das montanhas pelo caminho, que, assim como hoje, ainda lutam para se manterem preservadas - mesmo com as tentativas permanentes da especulação imobiliária de “plantar” florestas de concreto por lá. Os 22 quilômetros que distanciam o Centro da capital mineira ao de Nova Lima parecem ter passado em um segundo. E logo percebi que o município de 88 mil habitantes realmente tem privilégios naturais que poucos outros possuem no país: entre eles, o de ser guardado e caracterizado por montanhas ainda intactas. Ser também abençoado e esverdeado por remanescentes de perder de vista de Mata Atlântica e Cerrado preservados. E “hidratado” por

centenas de nascentes, que fazem brotar água doce e cristalina em toda sua extensa área de 428.449 km2, contribuindo responsavelmente para abastecer grande parte dos domicílios da região metropolitana. Tudo isso, quem diria, por causa da mineração e sua parceria já há bastante tempo sustentável – desde a ECO/92 no Brasil – com o município. Graças a apenas duas empresas tradicionais – a ex-Morro Velho, hoje AngloGold Ashanti; e a ex-Minerações Reunidas Brasileiras (MBR), atual Vale – 62% de toda a superfície do município de Nova Lima, que é enorme se comparado com os seus vizinhos, maior até que BH, ficou automaticamente preservada por elas. Isso porque, ao atuarem pontualmente na extração e aproveitamento de suas minas de ouro e ferro, respectivamente, sob obrigação de preservar o en-

torno de suas atividades industriais (3% de degradação pontual contra 97% de áreas verdes e hídricas), ambas as empresas acabaram fazendo um bem ecológico tanto para o município quanto para a região. Se até então, essas imensas áreas verdes e fontes de água naturais estivessem somente nas mãos de particulares, dos prefeitos e de seus munícipes, elas certamente não existiriam mais, tendo em vista o processo de urbanização descontrolado que tem acabado com a qualidade de vida de quase todos os municípios brasileiros, que não pensam duas vezes antes de trocar seu verde, suas últimas árvores e cursos d’água por mais prédios, asfalto e cimento. Exemplo maior disso está na Mata do Jambreiro, que só continua de pé graças à ex-MBR, que assumiu a sua fiscalização e pre-

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FOTO: EVANDRO RODNEY

RPPN VALE DOS CRISTAIS: a ideia dos prefeitos Cássio Magnani e Marcio Lacerda é unir e proteger todas as demais áreas verdes num grande corredor ecológico ao redor da Serra do Curral, que divide os dois municípios

servação, substituindo o Estado (IEF) e o próprio município, sem recursos técnicos nem financeiros. A hoje Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) da Mata do Jambreiro (leia mais a seguir), adotada e administrada pela Vale, tornou-se a única, última e maior reserva de Mata Atlântica de toda a Região Metropolitana de BH. Essa relação bem-sucedida do município com sua maior vocação econômica, ao lado do ecoturismo, que é a indústria sem chaminés, está na sua própria história. O povoado teve início com a extração aurífera, no início do século XVIII, quando o bandeirante paulista Domingos Rodrigues da Fonseca, contemporâneo de Manuel Borba Gato, encontrou ouro nos riachos Cristais e Cardoso. Assim nascia Nova Lima, que receberia este nome somente em 1923 (antes, foi Campos de Congonhas, Congonhas das Minas de Ouro, Congonhas de Sabará e Villa Nova de Lima). Com a independência do Brasil em 1822, enormes perspectivas econômicas se abriram

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para o país. Em Nova Lima, a Mina de Morro Velho, da Companhia Saint John Del Rey (que teve importância histórica para a cidade), prosperou. Isso proporcionou ao então povoado a construção de um hospital, uma escola, um cemitério e uma igreja para a comunidade. Ao longo do tempo, outras edificações foram construídas pela Companhia na cidade, incluindo moradias para operários brasileiros no bairro do Retiro e casas para a colônia inglesa, além da famosa Casa Aristides, armazém que atendia a toda a região. No fim dos anos 1950, a mina foi vendida para a Hanna Corporation, transferindo-se posteriormente para acionistas brasileiros, que mais tarde criaram a Mineração Morro Velho, hoje incorporada à AngloGold Ashanti. Na mesma época, a extração de ouro começava a perder valor pelo preço do metal e pelo aumento da produção mundial. Qual seria, a partir daí, a solução para Nova Lima continuar crescendo, tendo em vista que o ouro foi o grande impulsionador

FIQUE POR DENTRO Nova Lima em números O É a quarta cidade mineira com maior Produto Interno Bruto (PIB): R$ 6,4 bilhões (dado de 2011). O A expectativa de vida na cidade é uma das maiores do país: 78,1 anos. O A renda per capita é de R$ 1.731,84, superior à média belo-horizontina. O A frequência escolar é de 9,38 anos. O Durante três anos, Nova Lima foi indicada pela revista “Atlas do Mercado Mineiro” como a melhor cidade para se investir. O Alcançou 0,704 pontos no “Índice Mineiro de Responsabilidade Social”, indicador criado pela Fundação João Pinheiro para avaliar renda, saúde, educação, segurança pública, gestão, habitação e meio ambiente, cultura, esporte e lazer dos municípios mineiros.

Segundo o IBGE, mais de 3.300 empresas estão cadastradas na cidade. O

de seu progresso? Muito simples: compensar o fim da exploração aurífera com a valorização das


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FOTO: JOSE GUSTAVO ABREU MURTA / PANORAMIO

OS MONUMENTOS NATURAIS

Serra da Calçada

FOTOS: REPRODUÇÃO

Tem 58.545 hectares e está localizada a 25 km de BH, logo após o bairro Jardim Canadá, abrangendo os municípios de Nova Lima, Brumadinho e Itabirito. É uma área de Cerrado caracterizada por um elevado endemismo de espécies de flora nas cangas (nome dado aos terrenos ferruginosos que ocorrem nessa região). O Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) já tem determinação para garantir o tombamento estadual provisório do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Serra da Calçada.

Serra do Souza Localizada próxima à rodovia MG-030, a serra possui uma área de 145.025 hectares. Sua preservação é garantida pelo Decreto 5.319, promulgado no Dia Mundial do Meio Ambiente de 2014 (05 de junho). E segue uma recomendação de ambientalistas e do Ministério Público de Nova Lima para providenciar o tombamento da Serra, com o intuito de preservar o caráter paisagístico local e garantir a manutenção do corredor ecológico existente na região. A Serra do Souza faz a interligação entre as bacias do Rio Paraopeba e do Rio das Velhas.

Morro do Pires Também decretado Monumento Natural em junho de 2014, a área do Morro do Pires abrange 110.217 hectares. Ele tem 1.380 metros de altitude e fica na sede do município, acima do bairro Campo do Pires. A vegetação também é predominantemente de Cerrado, com árvores de médio porte e gramíneas. A região tem clima tropical de altitude, as temperaturas são amenas durante todo o dia e, por isso, é considerada um local para excelentes passeios e avistamento da região.

Morro do Elefante Com seus 450 metros de altitude, o Morro do Elefante abrange uma área de 43.902 hectares e localiza-se acima do Condomínio Quintas do Sol. O monumento natural recebeu este nome por sua forma se assemelhar à de um elefante deitado. O local é constantemente visitado por turistas, atletas e amantes da natureza, por ser um ótimo local para a prática de escaladas ou caminhadas. Faz parte da APA Sul e do seu cume é possível avistar toda a cidade de Nova Lima e parte da capital mineira, próxima ao BH Shopping.

outras potencialidades do município – preservação ambiental, cultura, gastronomia, turismo, educação e atendimento à saúde de qualidade. Só o tempo provaria que essa receita iria muito além de cereja em topo de bolo. E que continuaria funcionando, mesmo com as jazidas minerais chegando à exaustão.

PATRIMÔNIO NATURAL Coube a Nova Lima reconhecer em suas matas e suas águas, a grandeza de sua essência e vocação. Hoje, ela orgulhosamente mantém o título de a cidade da Grande BH com mais áreas verdes preservadas, as quais abrangem os inacreditáveis 62% de seu território natural. Dotada de uma riqueza natural belíssima, abri-

ga 11 Unidades de Conservação (UCs), incluindo em seu município, além da RPPN Mata do Jambreiro, o Parque Estadual do Rola Moça. Isso sem contar que, apenas nos últimos dois anos, a prefeitura criou quatro monumentos naturais (conheça-os acima). A Mata do Jambreiro, que mencionamos anteriormente, é a “menina dos olhos” da popula-

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dores ecológicos na região, um desejo antigo dos moradores e ambientalistas. E que está perto de ser realizado, conforme afirmou o prefeito Cássio Magnani na entrevista à Ecológico. O patrimônio natural preservado tem fortalecido Nova Lima como um forte polo ecoturístico do estado. Os visitantes podem passear por trilhas ecológicas, nadar em cachoeiras, praticar esportes náuticos e ainda participar de eventos artísticos e culturais na cidade e em comunidades vizinhas. Não é à toa que a região tem sido altamente procurada, principalmente pela classe alta, para ser reduto de moradia. QUALIDADE DE VIDA Tive a oportunidade de voltar a Nova Lima no final de 2014. A cidade continua a ter algo de “diferente”. A começar pelo ar, mais puro que o da capital. A profusão de lojas no Centro da cidade mostra que o comércio anda bem das pernas. E a edu-

cação e a saúde, idem. Apesar de a mineração ser a principal base econômica do município, a Prefeitura vem investindo constantemente em vários setores, o que confirma a posição positiva do município em um recente levantamento da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), em que Nova Lima foi apontada como a cidade que “mais se desenvolve em Minas”. Mais: em 2012 e 2014, Nova Lima encabeçou, no âmbito estadual, o “Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)” do Ministério da Educação, que mede a qualidade do ensino por meio do fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. Os avanços também podem ser sentidos na área da saúde. Mais sete unidades de saúde foram construídas em Nova Lima, além de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). E o Hospital Mater Dei, um dos maiores e principais da capital mineira, já sinaFOTO: WELINGTON DE OLIVEIRA

FOTOS: DIVULGAÇÃO

ção nova-limense. A riqueza de ambientes da reserva se reflete na fauna e na flora, que abrigam diversas espécies ameaçadas de extinção, raras e endêmicas, como o guigó, a lontra, o tamanduá-mirim, o beija-flor-de-papo-branco, o tangará-dançarino, o ipê-amarelo, a peroba e o jacarandá-do-mato. Para se ter ideia, 21 espécies de anfíbios, 20 de répteis e 180 de aves estão registrados na RPPN. Já o emblemático Rola Moça é considerado o terceiro maior parque em área urbana do país e um dos mais visitados de Minas. Criado em 1994, por meio do Decreto 36.701, tem 3.941 hectares e abriga seis mananciais de água administrados pela Copasa (Áreas de Proteção Especial – APAs) que abastecem Belo Horizonte (Taboões, Rola Moça, Bálsamo, Barreiro, Mutuca e Catarina). Tanto a Mata do Jambreiro quanto o parque e as outras áreas de preservação são importantíssimos para a criação de corre-

ENCHENTES NUNCA MAIS: a Barragem dos Cristais, recém-inaugurada, pôs fim às tragédias vividas durante anos pela população

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lizou a construção de uma unidade no Vale do Sol, no local onde funcionava uma antiga fábrica da cervejaria Skol. A nova casa de saúde será erguida em uma área de 260 mil metros quadrados e terá 340 leitos para atender às urgências médicas da região. A preocupação com a população nova-limense é prioridade para a administração municipal. Recentemente, o prefeito inaugurou a Barragem dos Cristais, visando à contenção de águas da chuva e pondo fim à ação das enchentes que traziam sofrimento à população, principalmente da parte baixa do município. A barragem foi construída com recursos do Programa Saneamento para Todos (R$ 34 milhões), do governo federal, e contrapartida do município (R$ 5 milhões). Tem 41 metros de altura e 105 de comprimento e está localizada a 500 metros do Centro de Educação Ambiental da AngloGold. “Somente quem viveu o desespero e o flagelo das enchentes que massacraram injusta e cruelmente a população de nossa cidade, por tantas décadas, pode dizer sobre o grande significado dessa barragem. A partir de agora, a chuva representa para Nova Lima um dádiva divina, fertilidade, verde, vida e felicidade para todos nós”, afirmou Cassinho, durante a inauguração. A busca de Nova Lima pela excelência em desenvolvimento, no entanto, não para por aí. Ano passado, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud Brasil), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro, divulgou o “Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil”, que apresenta um ranking das cidades com melhor qualidade de vida do país. O Atlas se baseia no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), que segue as

FOTO: MARCOS TAKAMATSU

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IMPACTO IMOBILIÁRIO: a permissividade de prefeitos anteriores que mudaram a Lei de Uso e Ocupação do Solo e fizeram eclodir florestas de concreto insustentáveis ao longo da Seis Pistas, na divisa com BH, é o grande e herdado receio da administração atual

mesmas três dimensões do IDH Global – longevidade, educação e renda. Nova Lima ficou na primeira colocação em âmbito estadual, atingindo o índice de 0,813, acima de Belo Horizonte, que registrou 0,810. Essas conquistas, somadas principalmente às ações de preservação ambiental desenvolvidas pela

Prefeitura, levaram Nova Lima a vencer a última edição do Prêmio Hugo Werneck. E reafirmam que melhor cidade para se viver em Minas não é só um orgulho para os nova-limenses. Mas também para os mineiros, que buscam em seu exemplo a qualidade de vida e o respeito que cada brasileiro, mais a natureza, merecem.

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FOTO: LUCIANO RICARDO DE SOUZA

COM O SANEAMENTO PREVISTO, a proposta é ampliar as áreas de caminhadas, a exemplo do Parque Municipal Córrego dos Carrapatos, cartão-postal da cidade

MAIS SOLUÇÕES À VISTA Prefeitura de Nova Lima avança no desenvolvimento do Plano de Saneamento do município para resolver, de vez, o maior problema ambiental de sua história Luciano Lopes redacao@revistaecologico.com.br

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município com maior repasse de Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Naturais (Cfem) do estado ainda tem mais dois desafios a serem vencidos: a destinação incorreta dos resíduos sólidos e a falta de saneamento. Atualmente, apenas 18% da população de Nova Lima têm coleta sanitária adequada e esgoto tratado. O restante é jogado

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in natura nos córregos da região. Em termos de disposição de lixo, o problema é ainda pior. Desativado em 2002 e localizado às margens do Rio das Velhas, principal afluente do Rio São Francisco, o Lixão do Galo é um passivo histórico, cujo enfrentamento é protelado há várias administrações públicas. São mais de 94 mil toneladas de lixo, depositadas em 50

anos de descarte irregular, que continuam poluindo o solo e o rio. Uma “bomba” que vem implodindo, aos poucos, a biodiversidade da região, uma vez que, com a proximidade dos períodos chuvosos, o carreamento de lixo pode potencializar o assoreamento e a poluição do curso d’água, responsável hoje por abastecer mais de 60% da região metropolitana.


“Quando uma prefeitura desenvolve um projeto de recuperação ambiental assim, ela está cumprindo a sua função social. Com o plano de saneamento e o fim do Lixão do Galo, estaremos dando uma boa contribuição para o país.”

FOTO: ANA CLÁUDIA PINHEIRO

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CRISTOVAM PAES DE OLIVEIRA, presidente da Fundação Gorceix LOCALIZADO às margens do Rio das Velhas, o Lixão do Galo, com suas 94 mil toneladas de resíduos, será um dos problemas a serem sanados por meio do Plano Municipal de Saneamento

ESPERANÇA QUE SE MATERIALIZA Para solucionar de vez os problemas ambientais da cidade, a prefeitura iniciou recentemente uma reformulação total do Plano Municipal de Saneamento Básico, que terá propostas mais assertivas e realistas quanto ao tratamento de água e esgoto, drenagem urbana, coleta seletiva e destinação correta de lixo. O pontapé para a sua elaboração foi dado no início de outubro último, quando a prefeitura assinou um contrato com a Fundação Henrique Gourceix para elaborar o novo plano e oficializar um convênio para que a instituição também realize um projeto técnico ambiental para recuperar a área do Lixão do Galo. “O plano é de fundamental importância para Nova Lima, pois nosso maior problema é o saneamento”, reconhece Cassinho. Paralelamente à elaboração do plano, que contará com financia-

mento do Ministério das Cidades, também estão sendo construídos “interceptores, estações de tratamento de esgoto no centro e no bairro José de Almeida, além de estações elevatórias no Vale do Sol e Jardim Canadá”. No caso do Lixão do Galo, após a conclusão do estudo que será feito pela fundação, a prefeitura abrirá licitação para contratar a empresa que ficará responsável por executar os serviços de recuperação do local, que deverão ser concluídos em até 12 meses a um investimento de R$ 473 mil. “Buscamos nesse convênio uma solução técnica e definitiva para esse passivo de décadas, seja por meio da incineração ou de formas de contenção e eliminação sustentável do lixo, que serão definidas após o levantamento das características próprias dos materiais que ali foram depositados. O município se omitiu todos esses anos em relação a isso, mas agora o retoma-

remos de vez para acabar com o impasse”, completa o prefeito. A iniciativa também foi recebida com bons olhos pelo Ministério Público. Segundo a promotora Drª Andressa de Oliveira Lanchotti, da 1ª Promotoria Pública de Nova Lima, o problema se arrastava há mais de 13 anos, quando o Ministério Público acionou o município para buscar uma solução definitiva. “Desde 2001 foram feitos vários termos de ajustamento de conduta. O município contratava empresas para solucionar o problema de maneira eventual, retirando o lixo que estava no local sem buscar uma resolução para ele. E, no período chuvoso seguinte, o problema retornava. Por isso, é fundamental a elaboração de um plano de saneamento básico adequado que atenda integralmente o município. Com ele, poderemos caminhar para resolver em definitivo a questão do saneamento em Nova Lima.”

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“SE BOBEARMOS, NEM AQUI

AS ÁGUAS VÃO ROLAR” Roberto Messias Franco (*)

A análise de 129 anos de registros de dados mensais, entre 1885 e 2014, sobre a quantidade de chuvas em Nova Lima, trouxe uma dura e planetária constatação: no município com maior quantidade de florestas (Mata Atlântica em transição para o Cerrado) e nascentes d’água da Região Metropolitana de Belo Horizonte, 2014 também foi o 11º ano mais seco em quase um século e meio. Detalhe árido: cinco desses onze anos ocorreram somente na última década, o que comprova a rapidez das mudanças climáticas em curso, em resposta ao que fazemos à natureza. Essa é uma das conclusões, vendo-se a série histórica, registradas ao longo desse tempo todo pela centenária ex-Mineração Morro Velho, atual AngloGold Ashanti, que nos foi enviada pela sua Gerência de Meio Ambiente. A pesquisa por essas informações se deu a partir de um telefonema do ex-secretário de Estado e ex-ministro de Ciência e Tecnologia, professor José Israel Vargas, que pediu que tentássemos recuperar esses dados. Segundo ele, Nova Lima é a única cidade do hemisfério sul que tem tamanha e ininterrupta série de medidas mensais da quantidade de chuva que se precipita em seu solo. Sendo dependente desse recurso natural para as atividades de lavra e purificação do minério de ouro e, depois, para a geração de energia em seus processos industriais, a antiga mineração necessitava conhecer em profundidade o comportamento hídrico da

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FOTO: REPRODUÇÃO

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CÓRREGO DOS CRISTAIS, no seu nascedouro em Macacos: Nova Lima é a única cidade do hemisfério sul que, ao longo de 129 anos, mede e sabe a quantidade exata de chuva que se precipita em seu solo

região. E, assim, ter uma estratégia para o uso necessário da água disponível no município. Isso a fez montar essa iniciativa pioneira de monitoramento, além de construir um portentoso sistema de armazenamento, composto pelas lagoas do Miguelão, Codornas e Grande ou dos Ingleses. E a derivação de águas, também chamada de “banquetas”, que ainda hoje atravessa o centro urbano da cidade, para operação das minas e geração de energia elétrica. Trata-se, na verdade, de um verdadeiro e ainda em funcionamento “museu vivo” da memória da eletricidade brasileira. Outras conclusões a que se pode chegar estudando a “história das chuvas”, tomando como base os índices nova-limenses são muito interessantes. E, ao mesmo tempo, preocupantes:

1

- A média pluviométrica anual, em 129 anos, é de 1.573 mm anuais, com maiores concentrações nos meses de novembro (234 mm), dezembro (341 mm), janeiro (302 mm) e fevereiro (209 mm de chuva). Portanto, uma estação úmida bem marcada. Somando-se as médias desses quatro meses temos 1.086 mm, ou seja, a média do que chove nos meses mais úmidos representa 69% da média dos totais anuais.

2

- A média das precipitações dos quatro meses mais secos (maio, com 31 mm; junho, com 13 mm; julho, com 10 mm; e agosto com 69 mm) é muito pequena. Ela acarreta grandes déficits hídricos, o que reforça a necessidade de se ter mecanismos de retenção da água em todas as bacias formadoras dos nossos rios.


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3

- Dos 11 anos mais secos registrados, entre os quais se encontra 2014 (é o 11º, com um total de 1.145 mm), cinco ocorreram na última década, entre 2005 e 2014. E indicam, assim, uma inequívoca tendência histórica de queda de pluviosidade. Chove cada vez menos, mesmo no município considerado o “pulmão verde e hídrico” da Grande Belo Horizonte.

4

- Todos os 18 anos mais úmidos, em que choveu mais de 2.000 mm, são anteriores a 1992, quando choveu 2.034 mm. Ou seja, anteriores à RIO/92, quando pela primeira vez a humanidade reuniu o maior número de estadistas da sua história para discutir o estado ambiental do planeta e falar de meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Dessa data em diante, nenhum ano viu mais de 2.000 mm de chuva, segundo os dados da Morro Velho. Neste ano de 2015, que já começou drástico e em que todas as atenções dos novos governantes se voltam para o que vem sendo chamado de “crise hídrica”, quando até o cidadão comum também se vê preocupado com o futuro breve em que poderá faltar água, cabem algumas reflexões: O Comparando-se a quantidade de

água que entra no sistema com a que é utilizada por nós, tomando-se por base os dados colhidos em Nova Lima (que podem ser um indicador do que também acontece regionalmente), a primeira constatação é a de que está chegando menos água da atmosfera. Pior: ela corre mais em áreas que, por estarem impermeabilizadas, dificultam a sua infiltração, a ocorrência e preservação das fontes e nascentes. Pior ainda: ao escorrerem preferencialmente na superfície impermeabilizada do solo, as águas mesmo diminuídas

“Nova Lima é um exemplo de que conhecimento científico e consciência ecológica podem reverter as dificuldades para termos cada vez mais águas.” tornam-se volumosas provocando inundações e riscos para as áreas mais baixas do município. O Por outro lado, com o crescimen-

to da população da região metropolitana nas últimas décadas, a captação e uso da água do Rio das Velhas (onde está o maior sistema de captação e tratamento da água do estado) e, em segundo lugar, e da bacia do Paraopeba, já estão próximos do esgotamento. Diminuem tanto as precipitações quanto as infiltrações no solo, o que também estabelece um fim cada vez mais próximo do que os cientistas chamam de “reservação natural”. Fazendo uma comparação singela, mas ilustrativa, é como se estivéssemos tendo nosso salário paulatinamente diminuído, mas nossos gastos só aumentando. Não tardaríamos a cair no “cheque especial”, ou a ter que iniciar a busca do reequilíbrio, evitando os gastos supérfluos e cortando “despesas”. Portanto, não podemos mais deixar de atentar para o alerta da natureza. Juntos, com todos os níveis de

governo e segmentos da sociedade, temos de partir para programas tão urgentes quanto essenciais para nosso futuro comum e imediato. Seja recuperando, cercando e preservando as nascentes que ainda temos. Seja usando a água com parcimônia. E, finalmente, tratando e dispondo adequadamente os nossos esgotos para que não se transformem em focos de doenças e morte. Enfim, devemos ouvir o que a Natureza nos diz: usar sem abusar, respeitando o equilíbrio e buscando o que o sócio economista canadense Pierre Dansereau chama de “austeridade feliz”: ter o necessário e não sermos levados a cometer o desperdício e o super consumo. Em nosso município, onde boa parte da água que serve a região metropolitana é captada, já começamos a trabalhar neste sentido: atualizando o Projeto “Revitalização das Águas de Nova Lima”, elaborado há mais de uma década pela HF Consultoria Ambiental & Comunicação, que identificou e estudou 800 nascentes em todas as bacias e córregos do município. Lançando campanhas educativas contra o desperdício e pelo bom uso da água. E iniciando o programa municipal de incentivo à proteção das nascentes, indicado no “prognóstico” do mesmo plano de revitalização da HF, patrocinado na época pela Copasa, MBR (Vale) e Mineração Morro Velho. Esperamos que, baseados no conhecimento científico e na crescente consciência ecológica de todos, possamos reverter as dificuldades e termos cada vez mais água, fonte de vida e preservação. Nova Lima é um exemplo dessa visão, preocupação e esperança. O

(*) Geógrafo e, entre outros cargos, já foi titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de BH, presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), do Programa da ONU para o Meio Ambiente na América Latina (Pnuma) e do Ibama nacional. Atualmente é secretário municipal de Meio Ambiente de Nova Lima.

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OLHAR INTERIOR ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) DE OSLO, NORUEGA

FOTO: SHUTTERSTOCK

V

iver em paz e livre de aflições emocionais é o toda essa parte de seu corpo também relaxa. O fluxo medicamento essencial para a saúde mental e de luz branca desce, então, para dentro de suas perfísica; é o que prescreve a receita para ser feliz. nas e pés. A bela cachoeira de luz branca está, agora, Mas que as aflições emocionais nos tormentam dia- fluindo ao longo de todo o seu corpo. Você está tranriamente, isso não há como negar. Porém, da mesma quilo, relaxado e em paz. maneira que nossa mente, se não domada, pode se Outro exercício é visualizar um rio caudaloso, mas tornar o nosso maior inimigo e fonte de doenças, ela de águas calmas. Sente à margem dele e contemple a também tem o poder de gerar energias de cura. natureza da água, fresca, calma, sem oferecer resisA questão é: como suscitar, em nossa mente, essas tência. Permita-se ficar ali, sentado por um tempo, energias de cura? Uma opção são os exercícios espi- apenas apreciando o mover da água. Quando você rituais que enfatizam a visualização e o desenvolvi- tomar consciência de que seus pensamentos “voamento de uma atitude e energia positivas. E quando ram” para outra parada, gentilmente traga de volta o assunto é restaurar e manter a sua atenção para a correnteza do saúde física e mental, a água exerce “E quando o assunto é rio. A sua mente, naturalmente, se papel central... por ser vida e condiacalmará e você perceberá maior restaurar e manter a clareza em suas ideias. A água, em ção sine qua non para a existência de nosso planeta. Além disso, água saúde física e mental, sua pureza, promove um sentimensimboliza pureza, clareza e calma. to de reverência em nós. a água exerce papel Uma boa prática para relaxar e Ao beber um copo de água, prestrazer paz para sua mente é visua- central... por ser vida e te atenção na satisfação de ter sua lizar uma cachoeira. Primeiro, escondição sine qua non sede saciada. Ao sentir a água em colha um lugar tranquilo em sua sua boca, tocando sua garganta, para a existência de casa, num parque ou mesmo feche envolvendo seu estômago, sinta a a porta de seu escritório. Certifiquepureza do líquido e evoque pensatoda vida.” se de que nada e ninguém irá lhe mentos positivos, de saúde, de cura perturbar. Respire profundamente umas cinco vezes, e de paz. Ao escovar seus dentes, lavar o rosto, tomar concentrando sua atenção na expiração, exalando o banho ou nadar, visualize todas as impurezas – doenar vagarosamente. Quando notar que sua respiração ças, emoções distorcidas e tensões – sendo purificaencontrou um ritmo sereno, delicadamente feche das e todo o seu ser brilhando com energia de cura. seus olhos e imagine uma cachoeira. A água que corre No Dia Mundial da Água, conscientize-se, sim, do é tão pura que se torna um fluxo de luz branca, fluin- drama hídrico que o planeta, o Brasil, nossa cidade do para dentro de você a partir do topo de sua ca- e agora até o nosso bairro estão vivendo. Mas reserve beça. Sinta sua cabeça, testa, olhos, bochechas, boca um espaço mental e afetivo para também reverene mandíbulas relaxando. A corredeira de luz branca ciar o poder purificador e curativo da água. Celebre a continua seu caminho pelo seu pescoço e ombros vida! Comemore a água! O que estão agora relaxados. Ela flui para baixo, em seus braços. A luz desce pelas suas costas, liberando (*) Life coach, psicanalista e consultora internacional de comunicação. toda a tensão. Ela flui sobre o seu peito e estômago, e

92 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015


JORNAL HOJE EM DIA. VIVA A INFORMAÇÃO.

Experimente o jornal Hoje em Dia. Impresso, mobile, iPad e digital para você viver a informação o tempo todo. Tudo com os melhores colunistas de Minas: Boris Feldman, com o Auto Papo, Eduardo Avelar, no caderno de Gastronomia e Cris Carneiro, com o caderno Bela.


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GESTÃO & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

CONFESSO QUE SOU JARDINEIRO

É

possível que você, leitor, esteja se perguntando qual a razão deste meu ato contrito, expressado no título, uma vez que não é comum que seres do mundo dos negócios se confessem como tal. Falo de gestão, não de jardins. Foi maduro que comecei a jardinar, quase por acidente, um monte de plantas que, deixadas em terra seca, à própria sorte, morriam. Resolvi cuidar. Meu compadecimento alcançou primeiro os vasos em estado precário e, pouco depois, encantaram-me flores e pequenas árvores que, acredite, pensei que sorriam para mim cada vez que as aguava. Começaram a me ensinar e fui aprendendo, agora feito um aluno fiel. Passei a sofrer de um mal que acomete irremediavelmente todo cuidador de plantas: passei a falar com elas e, falando, eis-me aqui, teimando em contar o que me ensinaram de gestão. Já devo ter dito alguma vez que me ensinaram primeiro a recontar o tempo. Quando se planta, não somos mais senhores do relógio: tudo tem seu tempo na face da Terra. Vi depois que cada planta era diferente da outra. Não podia tratar todas de forma igual e pretender resultados também iguais. A umas, mais água, a outras, sombra. E, cuidadas assim, como seres especiais, todas viçavam, embora distintas, umas azuis, outras amarelas, outras sem flores e de um verde deslumbrante. Aprendi sobre ervas daninhas e plantas à toa. Das primeiras, soube que não lhes bastava cuidar na superfície. Vasos inteiros foram replantados para extirpar batatas pequenas e recônditas no seio da terra. Das segundas, passei a apreciar a beleza que surgia em pequenas flores inesperadas e belos ramos de sementes. Aprendi que, quando adubamos, os resultados são lentos. E que muito adubo pode matar. Aprendi a perseverar e a ter foco, fruto da paciência que me foi exigida.

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TECH NOTES O Sobre a alma e a arte da jardinagem

http://goo.gl/ZBx4XB O Como começar um jardim no seu quintal

http://goo.gl/x8Lryt O Cuidar do jardim faz bem à saúde

http://goo.gl/0YZq5

Aprendi a ouvir mais e a ouvir o silêncio. Aprendi a admirar e agradecer cada vez que um pé de figo num vaso me brindava com frutos enormes e doces. Aprendi a me orgulhar da minha bela e verde equipe e a sofrer com ela quando a doença acometia algum membro, mas aprendi também que o cuidado quase sempre era capaz de regenerar as mudas. Quase sempre! Com jardins aprendi a recomeçar... Acho que jardinagem devia ser matéria de escola, desde a tenra idade e, mais ainda, nas faculdades, mestrados e doutorados de gestão. Um cuidador de plantas aprende mais sobre gerir pessoas em seis meses de jardinagem que em seis anos de escola. E torna-se humano de verdade, com o que há de mais desafiador na humanidade. Aos que duvidarem, os desertos! O

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.



1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

TESOURO LÍQUIDO Os aquíferos constituem as maiores reservas de água doce dos continentes. Em todo o mundo, eles asseguram a sobrevivência de mais de dois bilhões de pessoas Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

A

Declaração Universal dos Direitos da Água, publicada pela ONU em 1992, é explícita: “A água não é somente herança de nossos predecessores; é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui necessidade vital, assim como obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras”. Sim, habitamos o planeta azul, a Terra, coberta em sua maior parte pela água, a seiva da vida. No entanto, 97% desse recurso natural no globo é salgado. Os 3% restantes, de reservas doces, estão presentes sob a forma de geleiras e nas profundezas do solo. Nesta edição especial, em comemoração ao Dia Mundial da Água, vamos conhecer um pouco mais sobre as águas subterrâneas. Diferentemente das águas superficiais, presentes nos rios, 96 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

lagos e reservatórios, as águas subterrâneas representam cerca 0,75% de todo o volume hídrico doce da Terra, constituindo a parte “invisível” do ciclo da água. Sua exploração racional e adequada é condição essencial para a conservação dos mananciais subterrâneos, significativamente mais vulneráveis e de difícil recuperação, quando contaminados. Segundo especialistas, apesar das notícias alarmantes e do risco iminente de escassez de água doce no planeta, a quantidade de água na Terra é praticamente a mesma há dois bilhões de anos. O que está diminuindo, em velocidade preocupante, é o volume de água boa para o uso humano, em razão do consumo em escala ascendente e da poluição tanto das águas subterrâneas quanto das superficiais.

RECURSO VITAL As águas popularmente conhecidas como “lençóis freáticos” se encontram em reservatórios subterrâneos, os aquíferos, constituídos de rochas com porosidade ou vazios que possibilitam a circulação e o armazenamento das maiores reservas de água doce dos continentes. Em todo o mundo, elas são o recurso natural mais usado, assegurando a sobrevivência de mais de dois bilhões de pessoas. Na Europa, cerca de 80% da água potável é subterrânea. De acordo com a ONU, nas últimas décadas, o total global de água retirado de rios e aquíferos aumentou nove vezes, enquanto o uso por pessoa dobrou e a população mundial praticamente triplicou. Em 1950, as reservas mundiais representavam 16,8 mil m3/pes-


soa. Atualmente, estão reduzidas a 7,3 mil m3/pessoa e a previsão é de que caiam para 4,8 mil m3/pessoa nos próximos 25 anos. O Brasil detém 12% de toda a água doce do mundo e 30% dos mananciais subterrâneos. No entanto, a distribuição é irregular. A Amazônia é considerada a região mais rica em água superficial do planeta. Em contrapartida, cerca de 10% do território brasileiro encontra-se em região semiárida, com pequena disponibilidade hídrica – devido à combinação da irregularidade e da concentração das chuvas em um curto período de tempo – aliada à grande evaporação causada pelas altas temperaturas. Segundo o IBGE, 61% da população brasileira é abastecida, para fins domésticos, com água subterrânea. MOVIMENTO NATURAL Continuamente reciclada, o recurso natural integra um movimento ininterrupto chamado “ciclo da água” ou

Segundo o IBGE, 61% da população brasileira é abastecida, para fins domésticos, com água subterrânea “ciclo hidrológico”. Funciona assim: o calor do sol promove o aquecimento das águas dos rios, lagos e oceanos e estes, juntamente com a transpiração de plantas e animais, passam do estado líquido ao gasoso. Esse vapor – quente e mais leve que o ar – vai subindo às camadas mais altas da atmosfera (evaporação). Como nas camadas superiores da atmosfera, a temperatura é mais baixa do que nas inferiores. O vapor d’água, ao encontrar uma temperatura inferior, esfria e se torna líquido novamente (condensação), formando as nuvens. Quando as nuvens estão cheias de gotículas de água, ocorre a precipitação. Ao contrário do que muitos pensam,

a precipitação não ocorre apenas sob a forma de chuva. Em regiões frias, a água pode se precipitar como neve ou granizo. Entretanto, nem toda água precipitada chega ao solo. Parte dela evapora no caminho, voltando à atmosfera para reiniciar o ciclo. Outra parte da água precipitada, quando chega ao solo, se infiltra, enchendo os espaços porosos existentes entre as partículas que o compõem. A água infiltrada pode ficar retida em camadas do solo mais próximas à superfície nos aquíferos rasos, os lençóis freáticos, ou se acumulam nos aquíferos mais profundos. Essas águas que se infiltraram voltam à superfície formando as nascentes e alimentando os rios. Já as águas precipitadas que não se infiltraram nos solos escoam pelas superfícies até as partes mais baixas dos terrenos, formando os rios e lagos, ou evaporam. Entenda, a seguir, a importância e os desafios de conservação das águas subterrâneas:

Ciclo da Água Armazenamento de água na atmosfera

Condensação Precipitação

Evaporação

Infiltração Nascentes

Descargas do aquífero

Armazenamento de água subterrânea

Armazenamento da água nos oceanos

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MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 97


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - ÁGUAS SUBTERRÂNEAS O AQUÍFERO GUARANI O Está localizado na Bacia Geológica do Paraná e ocupa mais de 1,2 milhão de km2. Desse total, 71% estão no Brasil, nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, a, São Paulo e Paraná; o restante, na Argentina, Paraguai e Uruguai. O Estima-se que o Guarani contenha volume superior perior a toda a água dos rios e lagos do planeta. A população ulação existente em sua área é de 15 milhões de habitantes. ntes.

ENTENDA MELHOR

O O Guarani é constituído por rochas depositadas as num ambiente predominantemente desértico há cerca a de ecido 150 milhões de anos. No Brasil, também é conhecido como “Formação Botucatu”. Os poços tubulares a perfurados para a captação de água em sua área m têm profundidades que variam de 100 metros em São Carlos (SP) até 1.800 metros em Presidente ntre Prudente (SP), produzindo vazões que oscilam entre 10m3 e 1.000 m3/hora.

Poço tubular profundo: obra de engenharia geológica para captação da água subterrânea executada com sonda perfuratriz específica e profundidade de até dois mil metros.

Poços manuais, cacimbas ou amazonas: os poços ou cacimbas são construídos com diâmetros da ordem de um metro, escavados manualmente e revestidos com tijolos ou manilhas de concreto. Os poços amazonas são construídos com diâmetros da ordem de quatro a seis metros. Normalmente, captam água dos aquíferos rasos ou freáticos, em geral, até 20 m de profundidade. Entretanto, há poços escavados com mais de 100 m de profundidade.

VULNERABILIDADE E CUIDADOS – Por sua natureza, os aquíferos são mais protegidos em relação à 1“menos contaminação do que as águas superficiais. No entanto, por serem visíveis” têm merecido pouca atenção tanto dos órgãos gestores quanto da sociedade em geral. A exploração da água subterrânea tem de respeitar, entre outros: 2dos–a poços; proteção dos aquíferos durante a fase de perfuração e operação o perímetro de proteção dos poços; o equilíbrio regional do aquífero quanto às recargas e descargas, bem como os limites outorgados pelos órgãos de controle. – Diante do cenário de consumo e poluição crescentes, a simples 3para“proteção” conferida pela natureza a um aquífero não é suficiente mantê-lo qualitativamente útil. Projetos, construções e operações

O As águas subterrâneas apresentam propriedades que tornam o seu uso mais vantajoso em relação ao das águas dos rios: são naturalmente filtradas e purificadas por meio da percolação, assegurando excelente qualidade e dispensando tratamentos prévios; não ocupam espaço em superfície e sofrem menor influência das variações climáticas; são passíveis de extração perto do local de uso, têm temperatura constante e maior quantidade de reservas; apresentam maior proteção contra agentes poluidores. Entretanto, podem apresentar constituintes naturais que as tornam impróprias ao consumo humano. O próprio aquífero Guarani apresenta áreas com excesso de flúor, o que impede o seu consumo. O Em Minas, a água dos aquíferos é outorgada pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). No ano passado, foram liberadas cerca de 1.900 licenças de captação. Os principais aquíferos da Região Metropolitana de Belo Horizonte são: Carste, Cauê, Cercadinho, Gandarela, Moeda e Cristalino, com potenciais que variam de expressivo a fraco. O Carste é tradicionalmente usado no abastecimento público. Porém, em algumas cidades – como Sete Lagoas – está próximo ao limite de sua capacidade. Já o Cauê é bastante usado pela mineração e condomínios. Junto com Gandarela e Cercadinho, contribui com valores próximos a 1 m3/s no abastecimento da Grande BH.

inadequadas podem ameaçar sua estrutura e até levá-lo à exaustão.

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FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Abas / Copasa / Igam / Ministério do Meio Ambiente / Projeto Caminho das Águas – Fundação Roberto Marinho – Agência Nacional das Águas (Ana).


TRÊS PERGUNTAS PARA...

ANTONIO CARLOS BERTACHINI Mestre em Hidrogeologia pela USP, especialista em Hidrogeologia/Hidrologia Subterrânea pela Universidade Politécnica da Catalunha (Espanha)

POTENCIAL HÍDRICO Em BH, diante da estiagem e do risco de racionamento, o uso dos reservatórios subterrâneos é a alternativa mais viável para o abastecimento público? Sim. Em especial a água armazenada nas formações ferríferas do aquífero Cauê. Graças às pesquisas feitas pelas mineradoras, seu potencial é bem conhecido ao longo das serras do Curral, da Moeda e de Itabirito, onde ele surge na superfície do terreno. Excetuando os poços das mineradoras e os de poucos condomínios, esse reservatório ainda é pouco explorado. A água “sai pelo ladrão”. Novos poços podem atenuar a escassez e ainda servir, no futuro, de reserva estratégica, a exemplo do que ocorre em cidades como Barcelona e Madrid, que têm sistemas de abastecimento com reservação em barragens, mas mantêm poços prontos para operação em momentos de crise. Onde ocorre essa “saída” de água no Cauê e como aproveitar o seu potencial? Há diversas surgências de água do aquífero Cauê. Talvez uma das mais visíveis seja o ponto de abastecimento de caminhão-cisterna na trincheira da BR040, em frente ao Condomínio Miguelão. Mesmo na estiagem histórica ela não seca. O Cauê, mesmo onde é bem conhecido, está sendo operado a fio d’água, ou seja, sua capacidade de acumulação de água subterrânea não está sendo usada. Tomando por exemplo o trecho da BR-040, entre o Vale do Sol e Água Limpa, a estrada passa sobre esse reservatório por 15 km e os poços existentes apresentam vazões de até 50 l/s. Se forem abertos 40 novos poços, com a melhor técnica,

podemos chegar a até 2.000 l/s. Eles podem ser construídos junto à área de servidão da estrada, praticamente sem supressão vegetal. Também dispensarão grandes adutoras, pois estão próximos aos lagos das barragens de geração de energia da antiga mina do Morro Velho (Miguelão, Lagoa Grande e Codornas), as quais vertem para o Rio das Velhas, alcançando a captação de Bela Fama, da Copasa, em Honório Bicalho. Em situação de emergência, essas barragens podem ser usadas para abastecimento público? Com certeza. Grande parte do abastecimento da RMBH provém do Sistema Velhas, onde a captação é a fio d’água, ou seja, não há reservatório para acumular a água. Dessa forma, poderíamos usar o reservatório subterrâneo durante as estiagens mais críticas, como a atual. Passada a estiagem, o aquífero entra em recuperação, com parte pequena dos poços operando para manter a água das surgências afetadas até que também se recuperem. O mais importante é nos livrarmos da dependência de estudos pontuais feitos por mineradoras e de dados de poços de condomínios e indústrias. Já passou da hora de conhecermos o real potencial dos reservatórios do Cauê, nas estruturas geológicas como o Sinclinal Moeda, Serra do Curral e outras. O poder público e os órgãos gestores têm que “acordar” para isso. O SAIBA MAIS www.mdgeo.eco.br www.abas.org

MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 99


1 VOCÊ SABIA?

ELES SÃO... Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

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ânguidos, os gatos têm olhar profundo e penetrante. Não perdem a oportunidade de arranhar o primeiro sofá que encontram pelo caminho. Somente no Brasil, eles somam 20 milhões e ocupam o segundo lugar na lista dos animais de estimação preferidos, perdendo apenas para seus eternos rivais: os cachorros.

OUVIDOS AGUÇADOS

VIDA E MORTE A expectativa de vida de um gato de rua é de apenas três anos. Já um gato que seja cuidado por humanos pode superar os 20. Porém, sua velhice ocorre de forma abrupta, não sendo gradual como a dos seres humanos. Estima-se, que em condições naturais, em um ano, o corpo do gato envelheça e ele morra.

FOTOS: MATHIAS WEIL

VISÃO NOTURNA À noite, um gato enxerga de seis a oito vezes melhor do que um ser humano. Isso porque eles possuem um número maior de fotorreceptores na retina, responsáveis pela visão em casos de obscuridade. Suas pupilas, de forma elíptica, podem dilatar-se na escuridão, tal como o diafragma de uma câmera fotográfica, e fecharem quase totalmente, quando a luz é forte. 100 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

FOTOS: IVONNE WIERINK

Os gatos possuem trinta e dois músculos nas orelhas, o que lhes permitem fazer o que nenhum ser humano consegue: ter uma audição aguçadíssima. Elas se movem independentes uma da outra, permitindo que o corpo do animal vire numa direção, e cada orelha, para lugares diferentes. Mas, por favor, não tente fazer isso em casa!


UNS GATOS! HIGIÊNICOS Sempre que têm oportunidade, os gatos deitam em algum cantinho e ficam se lambendo. Tudo isso, em nome da boa limpeza! Por meio da língua, esses felinos removem do pelo qualquer tipo de poeira e detrito. Mas a forma como fazem também tem seu preço: vez ou outra eles precisam regurgitar pelinhos que, por ventura, foram parar na sua barriga.

DORMINHOCOS E SONHADORES Dormir de 12 a 16 horas por dia, alterando entre sonos leves e profundos, é um comportamento comum dos gatos. Mas, antes de fazer qualquer julgamento precipitado sobre a possível preguiça dos bichanos, é bom saber que esse hábito é uma forma de o animal guardar energia para o momento da caça. É o instinto, mesmo em animais domesticados, visto que seus antepassados eram caçadores. Gatos também sonham. Pesquisas mostraram que, em momentos de sono profundo, os animais faziam movimentos rápidos dos olhos. O comportamento (conhecido como REM) também é comum em seres humanos e indica que os felinos estão sonhando. O que justifica o fato de eles mexerem as patas, orelhas e fazerem barulho durante a soneca.

PULO DO GATO A sabedoria popular diz que os gatos sempre caem de pé. História que tem fundamento concreto graças ao sentido aguçado do bicho. Os felinos contam com uma grande sensibilidade nos receptores vestibulares que integram o labirinto, uma estrutura interna do ouvido, responsável pelo equilíbrio. O primeiro movimento é a rotação da cabeça na direção da posição correta, seguida da rotação da porção superior do corpo. Por fim, há a rotação da parte inferior.

MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 101


1

NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

QUIABO-DA-LAPA A

FOTO: MARCOS GUIÃO

qui pelos lados do sertão, se a gente juntar tudo que choveu no finalzinho do ano passado com mais o tiquinho de água que desceu nesse começo de ano, quase que não dá pra encher uma caneca! Dei de ficar matutando como é que esse mundão de gente morando nos ajuntamentos das grandes cidades vai beber e comer... Muita gente acha que comida brota nas prateleiras dos supermercados. E, quando acaba, é só buscar lá no depósito que tudo se resolve. Será? Quem vive de plantar, colher, beneficiar e depois vender, sabe que a coisa não é bem assim. Na lavoura-

gem do dia a dia, somente um ou outro produtor rural tem água em quantidade pra tocar seu roçado e garantir alimentação pra essa tanteira de gente urbanoide. A maioria dos produtores depende do regime de chuvas, que anda bem descabeceado nesses últimos tempos. Sob essa perspectiva, a experimentação de novas plantas para compor o cardápio naturalmente tende a aumentar. Pensando nisso, lembrei-me de uma prosa antiga que travei com meu amigo Ademil, garimpeiro antigo, que em sua mocidade explorou, com força, ouro e diamante nas cabeceiras do Jequitinhonha. De acordo com ele, “naquele tempo, dificuldade é que num faltava, pois as distâncias demasiadas e o transporte só se dava a pé ou em lombo de animal. Pra gente comer, cada qual se virava como podia e, muitas das vezes, a solução era procurar por ali mermo qualquer coisa que desse pra gente tapar o buraco da barriga. E olha que trabalho de garimpo é serviço bruto e, quando dava a volta do dia, a fome montava medonha!”. Curioso, perguntei-lhe por um exemplo de coisa diferente usada por eles na alimentação e a resposta veio rápida: “Nessas serras, o quiabo-da-lapa (Cipocereus minensis) dá por todo lado e aquilo é gostoso demais. O cozinheiro é que penava pra despelar toda aquela espinharia, pois primeiro tinha de sapecar ele no fogo, segurando com cuidado pra não espetá a mão e, em seguida, raspava a casca com uma faca até desfazer a espinhada. Daí, era só o tempo do toicinho chiar na panela pra gente refogar ele já picadinho. Com angu forrando prato e o quiabo-da-lapa meio babento, derramado por riba, hummm, é uma delícia”. Como essa planta, existem centenas de espécies vegetais com grande potencial alimentício e que não frequentam a mesa do consumidor, principalmente por falta de informação. O recente lançamento do livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil”, da Editora Plantarum, tenta resolver essa limitação. Com belas imagens, são descritas mais de 300 novas possibilidades alimentares, assim como o quiabo-da-lapa, sempre acompanhadas por três receitas já experimentadas. Para quem gosta de se aventurar na cozinha, essa publicação é uma viagem sem volta a novos sabores. Bom apetite e até a próxima lua! O (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

QUIABO-DA-LAPA (Cipocereus minensis)


EXPOSIBRAM 2015:

a maior feira de mineração da América Latina.

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1 ENSAIO ARTÍSTICO - TATIANA CLAUZET

PINCELADAS

DA VIDA Pinturas da artista Tatiana Clauzet convidam para um mundo de sonhos, onde os elementos da natureza dançam sobre as águas Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

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104 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

primeira vez que olhei direta com o lugar onde Tatiapara os quadros da arna vive: o Parque Nacional do tista Tatiana Clauzet tive Itatiaia, no Rio de Janeiro. Um a sensação de estar sonhando. reduto de Mata Atlântica exuDiante dos meus olhos, aniberante que tem guiado a armais, plantas e águas se mistutista em todas as obras. “Morar ravam num cenário onírico, de no Itatiaia proporciona, todo traços fortes e cores vibrantes. dia, um pouco de experiência A paulista que descobriu aos religiosa, já que os caprichos 18 anos, na Austrália, o gosto da natureza são instigantes”, pela pintura, conta que foi o diz. Sensibilidade que justifica marido, Christian Spencer, que perceber, no mesmo quadro, TATIANA CLAUZET: a apresentou ao mundo das inspiração nos elementos elementos singelos como o da Mata Atlântica tintas e telas. Arrebatada pela germinar de plantas e a exunova paixão, passou seis meses berância de animais, permeanuma fazenda em pleno deserto se dedican- dos por nuvens, chuvas e um fluir de águas do à arte. Era 1999. Desde então, ela não pa- presente em muitas de suas telas. Beleza em rou mais. imagens que você apreciará a seguir: No decorrer desses dezesseis anos de trabalho, as inspirações vieram de vários eleSAIBA MAIS mentos. A atual, por exemplo, tem ligação www.tatianaclauzet.pro.br


DESÁGUE EM FLOR Acrílica sobre tela - 120x90 cm

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MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 105


FOTOS: TATIANA CLAUZET

1 ENSAIO ARTÍSTICO - TATIANA CLAUZET

DREAM FISHER Acrílica sobre tela - 98x64 cm 106 O ECOLÓGICO | MARÇO DE 2015


MEU CANTO ÀS BALEIAS Acrílica sobre tela - 150x100 cm

CICLO DA PUREZA Acrílica sobre tela - 55x33 cm

UNÍSSONO Acrílica sobre tela - 1065x624 cm

MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 107


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MEMÓRIA ILUMINADA - STEPHEN HAWKING

FOTO: MIKE HUTCHINGS / REUTERS

HAWKING: “Por pior que a vida pareça, enquanto houver vida, haverá esperança!”

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A TEORIA DE TUDO E DO AMOR DE

STEPHEN HAWKING Eloah Rodrigues redacao@revistaecologico.com.br

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uem nunca se interessou pela origem do universo? Saber como tudo começou e há quanto tempo? Quem assistiu ao filme “A Teoria de Tudo”, do diretor James Marsh - que conta a história de Stephen Hawking, matemático, astrofísico e doutor em Cosmologia pela Universidade de Cambridge-, achou que poderia encontrar as respostas para essas e tantas outras perguntas. Mas não é bem assim que acontece. O filme, que concorreu a quatro “Oscar” este ano e foi vencedor na categoria de “Melhor Ator”, merecidamente entregue para o talentoso e jovem ator Eddie Redmayne, não aprofunda em detalhes nem traz as respostas claramente. Apesar da enigmática relação entre o tempo e o espaço fazer parte da vida de Stephen Hawking, “o objetivo do filme é fazer uma jornada pela ciência e dar esperança a quem tem deficiência”, conforme bem definiu o próprio astrofísico. Hawking nasceu em 1942, em Oxford, na Inglaterra. Aos 21 anos de idade, já cursando seu doutorado, Stephen recebeu o diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica, mais conhecida como “doença de Lou Gehrig”. Acometido, portanto, por um processo repentino e violento de degeneração de quase todos os seus órgãos e funções vitais, a medicina da época lhe deu apenas mais dois anos de vida. Diante de tal circunstância, parecia não fazer mais sentido se empenhar tanto em sua tese de doutorado. Mas o tempo passou e o jovem estudante não piorou tanto como se previu. Melhor: para completar a mudança, ele também foi acometido pelo amor! Apaixonou-se e se casou com uma amiga de suas irmãs, Jane Wild, interpretada no filme

pela atriz Felicity Jones. Juntos, decidem enfrentar a doença. Moça decidida, de personalidade firme, mas também muito sensível, ela se torna a grande companheira de vida do astrofísico por 35 anos, dando-lhe três filhos. Com o avanço da doença, Stephen Hawking perdeu o movimento em quase todo o corpo, ficando entregue a uma cadeira de rodas. Mas ainda assim consegue falar e se comunicar, graças a um sensor, desenvolvido por ele mesmo, que capta o movimento de um único músculo de sua face e o transmite a um programa de computador. Esse sinal é convertido e traduzido para um sintetizador de voz. Imperdível, “A Teoria de Tudo” é uma história de superação. A ponto de Stephen, quando perguntado se o interesse dele pela ciência e estudo da física foi estimulado pela sua doença, ter confessado: “Tenho de admitir que começo a pensar em física e em buracos negros quando sou deixado de lado numa conversa”. Isso explica sua enorme satisfação por ter contribuído para uma maior compreensão do universo. Sobre as doenças terminais que trazem muitas dores aos pacientes, ele defende o direito das pessoas optarem pelo término de suas vidas: “Se não deixamos os animais sofrerem, por que deixamos os humanos?” Materialista e físico brilhante, Stephen Hawking defendia a compreensão do universo com base na ciência: “Pode ser uma tarefa além da nossa capacidade, mas que deveríamos ao menos tentar”. A seguir, a Ecológico reuniu alguns de seus mais célebres pensamentos e frases. Confira:

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MEMÓRIA ILUMINADA - STEPHEN HAWKING O INCERTEZAS “O Big Bang foi o começo do Universo. Mas existia algo antes do Big Bang?” “Se sabemos o que aconteceu apenas desde o Big Bang, como é o caso, não podemos determinar o que ocorreu antes. No que nos diz respeito, eventos prévios ao Big Bang não exercem qualquer efeito, de modo que não fazem parte de um modelo científico do Universo. Devemos assim, eliminá-los do modelo e dizer que o tempo teve início no Big Bang.”

FOTO: UNIVERSAL PICTURES

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“Mas nós não sabemos como a vida inicialmente surgiu. Há dados de evidência observacional sobre a probabilidade do surgimento de vida. Um é que nós temos fósseis de algas de 3,5 bilhões de anos atrás.”

O O TEMPO E O ESPAÇO “O que é o tempo? Um rio ondulante que carrega todos os nossos sonhos? Ou os trilhos de um trem? Talvez ele tenha curvas e desvios, permitindo que você possa continuar seguindo em frente e, ainda assim, retornar a uma estação anterior da linha.” “Uma teoria científica segura, seja do tempo seja de qualquer outro conceito, deve ser baseada na mais viável filosofia da ciência. É um modelo matemático que descreve e codifica as observações que fazemos.” “Com o Hubble, astrônomos descobriram que, analisando a luz de outras galáxias, era possível medir se elas se aproximam ou se afastam de nós. Verificaram que quase todas as galáxias estão se afastando. Além disso, quanto mais longe estão de nós, mais rapidamente se afastam. O Universo está se expandindo.”

O LIMITES “O Universo é realmente infinito ou apenas enorme? Ele é eterno ou apenas tem uma longa vida?” “A coisa mais óbvia sobre o espaço é que ele continua e continua e continua. Isso tem sido confirmado por modernos instrumentos, como o telescópio Hubble, que nos permite sondar profundamente o espaço.” “Não há nada maior ou mais antigo que o Universo.”

FELICITY JONES e Eddie Redmayne com Stephen Hawking

incontáveis bilhões de estrelas, muitas com planetas à sua volta.”

O COMPLEXIDADE “Os sistemas mais complexos que temos são nossos próprios corpos.” “A vida parece ter se originado nos oceanos primordiais que cobriram a Terra há quatro bilhões de anos.” “O que sabemos é que, há 3,5 bilhões de anos, a altamente elaborada molécula de DNA surgiu. Ela é a base de toda a vida na Terra.” “Os seres humanos também precisam aumentar sua complexidade para que os sistemas biológicos se mantenham à frente dos eletrônicos.”

O TECNOLOGIA “No momento, os computadores têm a vantagem da velocidade, mas não mostram sinal de inteligência. São menos complexos do que o ‘cérebro’ de uma minhoca – uma espécie que não se destaca por seus dotes intelectuais.”

“Até onde podemos dizer, o Universo prossegue no espaço continuamente.”

“Mas os computadores obedecem àquela que é conhecida como Lei de Moore: suas velocidade e complexidade dobram a cada 18 meses.”

“O que vemos são bilhões e bilhões de galáxias de variadas formas e tamanhos. Cada galáxia possui

“Trata-se de um dos crescimentos exponenciais que, sem dúvida, não podem continuar para sempre.

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Entretanto, provavelmente continuarão, até que os computadores atinjam uma complexidade semelhante à do próprio cérebro humano.”

O ASTROLOGIA “A astrologia alega que os eventos na Terra estão relacionados aos movimentos dos planetas no céu. Esta é uma hipótese cientificamente experimentável, ou seria, se os astrólogos se arriscassem e fizessem previsões precisas que pudessem ser testadas. Mas, suas previsões são tão vagas que acabam se aplicando a qualquer situação.” “O verdadeiro motivo de a maioria dos cientistas não acreditar em astrologia não é a existência de provas científicas ou a falta delas, e sim o fato de ela não ser compatível com outras teorias testadas pela experiência.”

O EVOLUÇÃO “A vida biológica e eletrônica continuarão evoluindo em complexidade a um ritmo sempre crescente.” “De certo modo, a raça humana precisa melhorar suas qualidades mentais e físicas para lidar com o mundo cada vez mais complexo à sua volta e enfrentar novos desafios, como as viagens espaciais.” “Se o aumento da população e do consumo de eletricidade continuar no ritmo atual, em 2600 as pessoas ficarão ombro a ombro, e o consumo de eletricidade deixará a Terra incandescente.” “O atual crescimento exponencial não pode durar para sempre. Então o que acontecerá? Uma possibilidade é nos exterminarmos completamente por algum desastre, como uma guerra nuclear.”

O OUTRAS VIDAS “Nós acreditamos que a vida surgiu espontaneamente na Terra, então deve ser possível que a vida tenha aparecido em outros planetas apropriados, os quais aparentam existir em grande quantidade na galáxia.” “Acho muito provável que nós somos a única civilização de várias centenas de anos-luz; caso contrário já teríamos ouvido ondas de rádio.” “Qualquer vida extraterrestre que encontrarmos será provavelmente muito mais primitiva ou muito mais avançada que a nossa. Se mais avançada, por que não se espalhou pela galáxia e visitou a Terra?”

O MISTÉRIO “Desde a aurora da civilização as pessoas não se dão por satisfeitas com a noção de que os eventos são desconectados e inexplicáveis. Sempre ansiamos por compreender a ordem subjacente do mundo.” “Hoje ainda almejamos saber por que estamos aqui e de onde viemos. O desejo profundo da humanidade pelo conhecimento é justificativa suficiente para nossa busca contínua.” “Suponha que houve um primeiro evento. O que causou? Essa não era uma pergunta que muitos cientistas quiseram abordar. Eles tentaram evitá-la, quer alegando, como os russos, que o Universo não teve um início, quer sustentando que a origem do Universo não estava sob o domínio da ciência, mas que pertencia à metafísica ou à religião.”

“Os pessimistas dizem que o motivo por que não fomos contatados por extraterrestres é que, quando uma civilização atinge o nosso estágio de desenvolvimento, torna-se instável e destrói a si mesma.” O SUSTENTABILIDADE “Se nós somos os únicos seres inteligentes na galáxia, deveríamos nos assegurar de que sobreviveremos e continuaremos.” “Mas nós estamos entrando num período

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MEMÓRIA ILUMINADA - STEPHEN HAWKING

gradativamente mais perigoso de nossa história. Nossa população e nossa utilização dos recursos finitos do planeta Terra estão crescendo exponencialmente, assim como nossa habilidade técnica de modificar o ambiente para o bem ou para o mal.” “Nossa única chance de sobrevivência a longo prazo é não permanecermos escondidos no planeta Terra, mas nos espalhar pelo espaço.”

O BIOLOGIA “Do lado biológico, o limite da inteligência humana tem sido, até agora, fixado pelo tamanho do cérebro que passará através do canal do parto.” “A raça humana atingiu sua forma atual há apenas dois dos cerca de 15 bilhões de anos desde o Big Bang.” “Nas próximas centenas de anos, a engenharia genética humana poderá substituir a evolução biológica, reprojetando a raça humana e levantando questões éticas totalmente novas.”

“Fizemos progresso admirável nos últimos cem anos. Mas se quisermos continuar além dos próximos cem, nosso futuro está no espaço.”

“Implantes neurais oferecerão aumento de memória e pacotes de informações completos, como um idioma inteiro ou o conteúdo de um livro aprendido em minutos. Tais seres humanos se parecerão pouco conosco.”

O O FUTURO DA RAÇA HUMANA FOTO: FREDERICO QUEIROZ

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“Nosso código genético ainda carrega os instintos egoístas e agressivos que foram vantajosos para nossa sobrevivência no passado. Já seria difícil o suficiente evitar o desastre durante as próximas centenas de anos, quanto mais os próximos milhares ou milhões.” “Sou a favor da exploração tripulada ou humanizada do espaço.”

O VIDA & ESPERANÇA Não deveria haver fronteiras ao esforço humano. Por pior que a vida pareça, enquanto houver vida, haverá esperança!” “A esperança é tudo! A vida é tudo! O amor é tudo!” O

“Creio que nos próximos 100 anos conseguiremos desenvolver bebês fora do corpo humano, de modo a eliminar essa limitação.”

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FONTES: Livros “O Universo numa Casca de noz” e “Uma breve história do tempo”, de Stephen Hawking/Filme “A Teoria de Tudo”, Focus Features/NBC Universal.


ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br

AFOGÁBILIA /

debaixo da pele uma palavra em pelo sutil desvela o vil novelo da linhalma / ÁGUA: (o último Deus-retrós) / represa, no entanto, é tudo que nada, noves fora o nada, & se aparta de nós: os cívicos entulhos / / usina, no entanto, é tudo que a sina assassina da usura usa, & deságua em nós: seus barulhos e bagulhos / na foz da atlântica e impúdica política púb(l)ica / / barragem é tudo o que s(obra) na elétrica mente dos postes em estado de eólica futurossíntese / & nós, diuturnos, noturnos e taciturnos a desaguar futuros... / no entanto, nada nave desaquática: essa esquálida cruz que engolimos engov raquíticos pedregulhos impostos pelos n(ossos) engovernados desgovernantes em soluços e perjúrios & nós a desaguar os juros... / depois, goela abaixo, nos inserimos assim calados cordeiros descarnados carneirinhos vermelhos contados na conta de apagões verdeapagar & nós a desaguar mercúrios... contando nuvens de sonho tarifas aqualípticas em kilowatts de microch(uvas) enquanto poetas do planejamento perpetram imóbiles suas inúteis gravatas que secam o céu no varal deserto do último sol & nós a desaguar murmúrios... poemas, porém, não choram não chovem não molham poemas não brotam não pingam não regam ou irrigam poemas não banham não abrem torneiras válvulas chuveiros poemas se banham de penas, apenas, no sangue do pássaro, que atroz, revoa agora em busca de um peixe a quem possa lamber ou m(olhar) poetas são peixes que perderam a voz (um celular na guelra / um anzol no bolso / um verso noir) hoje em dia o silêncio da água tem várias formas de nadar & nós a desaguar, a desaguar, a desaguar... O (*) Escritor e poeta. MARÇO DE 2015 | ECOLÓGICO O 113

FOTO: PROMOTION

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OLHAR POÉTICO


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CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

MARÇO, O TEMPO DA

EXPANSÃO T

odo o nosso tempo cronológico está marcado pela influência da mitologia greco-romana. Março, por exemplo, é Martius, em referência a Marte, o deus da guerra romano (foto), que é uma extensão de Ares, o deus da guerra grego. Março já foi o mês que marcava o início do Ano-Novo no império romano. Só a partir de 153 a.C. é que Janeiro foi adotado em Roma como o primeiro mês do ano. Em 1582, a Igreja confirmou a mudança ao adotar o calendário gregoriano, vigente até os dias de hoje. Mesmo assim, muitas culturas e algumas linhas esotéricas continuam a celebrar o Ano-Novo em março. Essas mudanças cronológicas ocorreram mais comumente no império romano, pois os imperadores mudavam o tempo conforme seus interesses. Março, por ser o mês que inicia a primavera no hemisfério norte, tornava-se o tempo propício para as campanhas militares com vistas à expansão do império romano. E, também, por ser o mês em que o sol começava a predominar, um tempo adequado ao plantio dos cereais. Na religião romana primitiva, Marte era um deus mais ligado à agricultura e também um regulador das tempestades e da fertilidade da terra. Associado a Ares, esse deus teve rápida aceitação entre os romanos, uma vez que esse povo tinha fortes tendências expansionistas. Teve uma aceitação maior ainda quando foi considerado o pai de Rômulo e Remo, fundadores de Roma. Por isso, a população considerava-se descendente desse deus, mais tarde eleito “o protetor maior das conquistas romanas”. Nas comemorações do Ano-Novo em março, os romanos pediam ao deus Marte novas conquistas de território e a ampliação das culturas de trigo e de outros cereais. Para o povo, a luz primaveril renovava não só as plantas, mas todos os seres vivos. Março também era o mês das sangrias, pois se acreditava que era preciso renovar o sangue, retirando o sangue velho. Todo dia primeiro de março - isto é, no início do novo ano -, as senhoras romanas sacrificavam galos em homenagem ao deus protetor

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de todo o povo. O planeta Marte, inclusive, recebeu esse nome porque sua cor vermelha lembra o sangue derramado pelo deus durante toda a sua vida. Que cor estamos deixando o planeta Terra, com a morte de suas águas já sem azul? O

(*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.


O ciclo da vida vai e volta, gira como o planeta azul em torno do Sol. A água, fonte da vida, exerce seu papel com perfeição nessa ciranda: corre entre a nascente e a foz, o vapor e a chuva, o fundo do solo e a beleza da margem. Envolve tudo. Diante da crise que a ameaça, é hora de unir ideias e atitudes: empresas, cidadãos, setor público e instituições num movimento compartilhado para reescrever o amanhã que se anuncia.

ÁGUA.

NA PRÁTICA, ENVOLVE TUDO. A Samarco quer ir além e mantém suas equipes mobilizadas. De simples mudanças de hábitos a inovações que estimulam a gestão e o uso consciente dos recursos hídricos. Queremos que o desenvolvimento de hoje envolva todos nós e a sociedade. Queremos pensar e fazer juntos. Se da água nasceu a vida, há mais de três bilhões de anos, ainda é em torno dela que a vida persiste. E, se todos nós nadarmos na mesma direção, talvez possamos perpetuar a alegria das futuras gerações.

Saiba mais: www.samarco.com/agua 22 de março, Dia Mundial da Água. ILUSTRAÇÕES DO ARTISTA PLÁSTICO ANGELO ABU.


R E S P E I T O A O M E I O A M B I E N T E É U M D O S N O S S O S VA L O R E S . Á G U A L I M PA E T R ATA D A É O N O S S O C O M P R O M I S S O .

A CBMM tem um grande respeito pela natureza e principalmente pela água que utiliza. Localizada em Araxá, a companhia recircula hoje 95% da água usada em seus processos de produção. Investindo continuamente em tecnologia e controle de qualidade, a CBMM espera alcançar a marca de 98% nos próximos dois anos. Esse é um compromisso com o meio ambiente e com o futuro. CBMM. Aqui tem nióbio.

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