Revista Ecológico - Edição 112

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FOTO: LEONARDO MERÇON

EXPEDIENTE

Coruja-do-mato Megascops choliba Instituto Terra

Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETOR-GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@souecologico.com

REPORTAGEM Bia Fonte Nova, J. Sabiá e Luciana Morais

ASSINATURA Ana Paula Borges anapaula@souecologico.com

DIRETORA DE GESTÃO Eloah Rodrigues eloah@souecologico.com

MÍDIAS DIGITAIS Bruno Frade

IMPRESSÃO Log & Print Gráfica e Logística S/A

EDITORIA DE ARTE André Firmino

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda.

EDITOR-EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@souecologico.com DIRETOR DE ARTE Sanakan Firmino sanakan@souecologico.com CONSELHO EDITORIAL Fernando Gabeira, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani, Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e Sérgio Myssior CONSELHO CONSULTIVO Angelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pos

COLUNISTAS (*) Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza REVISÃO Gustavo Abreu

REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276 Sagrada Família - Belo Horizonte - MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br

CAPA Foto: Roberto Murta/ Bicho do Mato

EDIÇÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br

DEPARTAMENTO COMERCIAL Sarah Caldeira sarah@souecologico.com

(*) Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.

MARKETING Janaína De Simone janaina@souecologico.com

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/revistaecologico EMISSÕES CONTABILIZADAS

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2,24 tCO2e Maio de 2018


As mudanças ambientais globais desafiam os negócios a se prepararem para atuar em um novo contexto. O nosso Modelo de Avaliação de Vulnerabilidades Climáticas (MOVE) examina o presente e lança um olhar sobre o futuro, antevendo os impactos da mudança do clima. O nosso desafio? Avaliar riscos ambientais e transformá-los em oportunidades. Conheça:

O mundo traz desafios. A WayCarbon, respostas.


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ÍNDICE

Capa Possível retomada da exploração mineral nos arredores dos parques estaduais do Rola-Moça e da Baleia pode impactar o abastecimento hídrico da Região Metropolitana da BH. Pág.

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20 PÁGINAS VERDES FABIO FELDMANN FALA SOBRE OS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O DÉFICIT DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

E mais...

CARTAS DOS LEITORES 08 IMAGEM DO MÊS 09

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OS MAIORES CRIMES AMBIENTAIS DO BRASIL (6)

SEXTO EPISÓDIO DA SÉRIE “O AMBIENTALISTA” RELEMBRA OS TRÊS ANOS DO DESASTRE DA MINERAÇÃO EM MARIANA

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MUNDO VASTO MATANÇA DE BALEIAS NAS ILHAS FAROÉ CHOCA O MUNDO E MOBILIZA ATUAÇÃO DE ONGS AMBIENTALISTAS

CARTA DO EDITOR 10 ECONECTADO 12 GENTE ECOLÓGICA 14 BLOG DO HIRAM 16 ESTADO DE ALERTA 24 AGROTÓXICOS 26 A MINERAÇÃO EM DEBATE 32 MINERAÇÃO & COMUNICAÇÃO 38 GESTÃO & TI 41 MUNDO EMPRESARIAL 48 EMPRESARIAIS 50 PRÊMIO HUGO WERNECK 52 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 61 O VIÉS MÉDICO NA LITERATURA DE GUIMARÃES ROSA (8) 67 MEMÓRIA ILUMINADA 70 NATUREZA MEDICINAL 78



CARTAS DOS LEITORES

do Rio Paracatu tem apenas 50% (42 mil hectares), da área original. Os outros 50% foram devastados pela agricultura. O Cerrado já está extinto há muito tempo. São só 20% do tamanho original e tudo era área de recarga hídrica. Esses caras não estão conversando com gente boba. Está tudo errado. É uma sacanagem o que pessoas assim falam. E ainda são condecorados pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg)! Nessa entrevista, a palavra água nem foi mencionada. E sabemos muito bem que sem floresta não há água. Destruíram o Cerrado e ficam nesse papo furado! Até o nome veneno eles querem trocar para fitossanitário. Não adianta falar que não entendi o que foi falado na entrevista, porque conheço muito bem esse assunto.” Antônio Eustáquio Vieira (Tonhão) (foto acima), presidente da ONG Movimento Verde de Paracatu (MG), via WhatsApp l O NOSSO DESAMOR CLIMÁTICO “Tem tanto candidato que faz marketing junto aos ambientalistas e da causa animal em época de campanha eleitoral... Precisamos ter uma lista negra pro povo acordar, denunciando esse tipo de interesseiro que nunca faz nada pelo meio ambiente mas quer nosso voto.” Lucileia Cruz, via Facebook l O PROJETO VENENOSO DO BRASIL (NOVA LEI DOS AGROTÓXICOS) “O 3º Mundo sempre será laboratório do Primeiro. E isso só é permitido por conta da ganância dos governantes e da ignorância de seu povo.” Carlos Brancaleone, via Facebook l PÁGINAS VERDES Entrevista com Maurício Lopes, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) “O entrevistado fala que o Brasil é um país preservado e tem 7,6% de seu território composto de lavouras. Queria que esse povo tirasse a Amazônia e levantasse os dados do restante do país para ver o tanto que nós temos de floresta verde e área preservada no Brasil. Eles falam esses valores porque incluem a Amazônia no pacote. Hoje, só temos 4.400.000 km2 do bioma (que dá 400 milhões de hectares). Na realidade, a Grande Floresta tem 5.500.000 km2, mas 20% dela já foram devastados. Tirando esses 20%, é só fazer um balanço para ver se esses 7,6% são verdadeiros. Hoje, a bacia mineira 08  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

l CUMPRIMENTOS “Parabéns pela edição corajosa! Adorei o editorial da última edição.” Clarice Mendonça, consultora em educação ambiental da Herkenhoff & Prates, via WhatsApp l PORTAL SOU ECOLÓGICO “Agora, com o novo site, ficou mais fácil acessar e ler a Ecológico. Muito boa a edição!” Gabriel Rodrigues Muniz, engenheiro, de Denver, Colorado (EUA) EU LEIO “A Ecológico sempre apresenta informações relevantes, aguçando nossa consciência ambiental e convergindo nossas ações para a sustentabilidade. Os temas são expostos de maneira consciente, tecnicamente adequada e ética. E, ainda, sempre exprimindo mensagens de amor, de poesia e de cultura de gente que luta para tornar o nosso mundo melhor.” Cleinis de Faria, advogado, presidente do Conselho de Sustentabilidade da ACMinas e sócio-diretor da Faria, Braga Advogados Associados

FOTO: NAUH MELO

Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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FA L E C O N O S C O

Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br


BH, CIDADE VERGEL? Desde a polêmica retirada dos fícus ao longo da Avenida Afonso Pena na década de 1960, a capital mineira não vê tamanho cortes de árvores. A razão das podas radicais, em nome da segurança pública, é a seguinte: os cidadãos têm medo de as árvores já debilitadas caírem em cima de suas casas e veículos. Sem explicação pontual ficou o corte de uma árvore enorme no início do passeio agora sem sombras da Avenida Carandaí, do outro lado do gradil do Parque Municipal. O tronco robusto dessa ex-majestosa árvore revela toda a boa saúde do seu cerne. A Ecológico conferiu. Não há um só sinal de apodrecimento. Somente o canteiro circular foi levantado à sua volta, por causa da força das raízes. Nada que um novo e mais elevado canteiro poderia ter resolvido. Uma pena.

FOTO: ECOLÓGICO

1 IMAGEM DO MÊS


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CARTA DO EDITOR

HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com

QUE FUTURO VOCÊ QUER?

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FOTO: ECOLÓGICO

o meio de uma conturbada eleição na qual, ao contrário da natureza solidária, somos todos contra todos, uma velha pergunta está no ar: que município, estado, país e planeta herdarão os nossos futuros governantes? Na área de educação, o entrevistado desta edição, o ex-deputado federal Fábio Feldmann, responsável pela redação da maior parte do capítulo ambiental da Constituição de 1988, não tem dúvida: ainda existe um grande déficit de conteúdo informativo e democrático no sistema educacional brasileiro sobre o conhecimento da natureza e o desenvolvimento sustentável que pode nos salvar junto dela. Se ainda falta educação ambiental básica na maioria dos estabelecimentos de ensino brasileiros, sobra veneno para os professores e alunos das escolas próximas aos campos de cultivo do agronegócio. É o que a ONG Human Rights Watch denuncia, na forma de relatos de dor, nesta edição. Uma dor tão latente, invisível e não ouvida pelos nossos políticos antigos que se intensifica a cada avião das multinacionais que cru-

LUCAS MONIZ, citado na página 38: esperança de um mundo melhor 10  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

za o céu despejando agrotóxicos na forma de nuvens. Você vai conferir também, como matéria principal e assunto recorrente, a ameaça e avanço permanentes da mineração predatória no que ainda nos resta de serras e águas no entorno mineral da Grande Belo Horizonte. Como os eleitos vão administrar um país férreo assim, sem educação ecológica, sem agricultura orgânica e intoxicado? O futuro e o Brasil que dão certo, queremos e acreditamos serem possíveis estão reportados a partir de um olhar histórico sobre as já nove edições do Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza. De 2012 a 2017, a maior premiação ambiental do país já beneficiou cerca de um milhão de cidadãos, por meio do reconhecimento replicável de 50 projetos socioambientais país afora. Concedeu, ainda, 132 troféus, homenageou 22 ONGs e 52 personalidades do mundo empresarial, político e institucional, num conjunto de 954 inscrições e indicações vindas das cinco regiões brasileiras. A esperança, que é o outro nome do Prêmio Hugo, não acaba aí, embora países como a Dinamarca ainda matem, covardemente, milhares de baleias nas Ilhas Faroé, assombrando o mundo, tamanho o mar de sangue. E exatamente na capital dos mineiros, já chamada de a “Paris brasileira” e “Cidade Jardim”, nunca se viu cortar tantas árvores, expondo sua população aos raios ultravioleta que causam câncer de pele e envelhecimento precoce. Enquanto tudo isso acontece, mesmo frágil e sem votos, a resistência por um estado, país e planeta mais humanos, éticos e resilientes, também se faz presente, independentemente do resultado das urnas. Trata-se, caro leitor (e você vai se inteirar e sentir orgulho, ao constatar que nem tudo está perdido de vez) da comemoração dos 40 anos de existência e luta da Associação Mineira de Defesa do Ambiente, a Amda. Uma ONG cuja superintendente férrea, notória e corajosa em denunciar quem ainda suja a nossa esperança, sejam políticos ou empresas, também é capaz de chorar. Talvez seja isso que falte aos nossos futuros governantes. A capacidade de se emocionar e defender a natureza. Amar, defender e lutar pela vida do planeta que, sem água e sem verde preservados, continuará somente promessa eleitoreira. Promessa de morte continuada também da natureza humana. Boa leitura! Até a lua cheia de novembro. 


P H OTO M A G A Z I N E - C ATA LO G T E M P L AT E

Sediada em Belo Horizonte, a Bicho do Mato Meio Ambiente® atua no mercado brasileiro desde 2006, oferecendo a seus clientes uma ampla gama de serviços de consultoria ambiental. Privilegiando processos de qualidade e eficácia, a empresa trabalha de forma diferenciada, focada em soluções criativas e inovadoras através da análise criteriosa de estudos ambientais consistentes. Norteada pelos preceitos do desenvolvimento sustentável, sua gestão segue valores éticos que respeitam as pessoas e o meio ambiente.

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A Bicho do Mato Meio Ambiente® é especializada em projetos ambientais relacionados a empreendimentos de infraestrutura, mineração, barragens, usinas hidroelétricas, e planejamento urbano, industrial e agropecuário. Seu portfólio inclui uma grande diversidade de estudos e monitoramentos que auxiliam processos de licenciamento ambiental, gestão e ações de empreendedores frente ao gerenciamento de negócios.

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A empresa dispõe de ampla experiência na execução de serviços de pesquisa e conservação na área ambiental, incluindo a elaboração de Planos de Manejo em Unidades de Conservação e o desenvolvimento e alimentação de bancos de dados da biodiversidade.

Foto: Roberto Murta

Contato: Rua Perdigão Malheiros, 222. Coração de Jesus. BH MG.

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ECONECTADO

ECO LINKS

“Enquanto a Dinamarca será o primeiro país do mundo 100% orgânico em 2020, nosso querido Brasil continua em retrocesso.... Aprova leis que prejudicam o ser humano e o meio ambiente. É revoltante conviver numa sociedade de políticos que fazem conluios, espúrios, pensam somente em benefício próprio e fazem a política a favor das grandes indústrias... Por que proibir os orgânicos em mercados? Por que desfavorecer o pequeno produtor? Por que favorecer coisas que destroem o meio ambiente e a vida das pessoas? Perguntas que jamais terão respostas! Por quê?” Bruno Gagliasso, ator Instagram: @brunogagliasso

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FOTO: REPRODUÇÃO

Gregório Duvivier, escritor Instagram: @gduvivier

SMARTPIVÔ Cálculo certo e consciente! Basta alguns minutos e o aplicativo Smartpivô consegue determinar a quantidade de água e energia para garantir que uma área seja totalmente irrigada. O app foi desenvolvido pelo Instituto de Ciências Agrárias (ICA) em Montes Claros, no norte de Minas, e vai ajudar técnicos, estudantes e professores da área em qualquer lugar do mundo! O programa está disponível gratuitamente para download apenas para usuários do sistema Android (goo.gl/63T1rt). Depois de baixá-lo, é só acrescentar informações que funcionam como parâmetro de cálculo, como diferença de nível do terreno, temperaturas do ar, dados relacionados ao cultivo e o equipamento de irrigação. A ferramenta possui um banco de dados que armazena as atividades que foram realizadas e também contribui para a economia no uso de água e energia, evitando desperdício.

MAIS ACESSADA Amazônia em transe foi o texto mais lido do mês de agosto na Revista Ecológico. O quinto episódio da série “O Ambientalista” retratou a demarcação de terras indígenas e a relação tensa entre índios e brancos. Para acessar o conteúdo na íntegra, vá em goo.gl/8P9M87.

FOTO: DIVULGAÇÃO

“Fahrenheit 451. ‘Queimar era uma delícia’. Que distopia perfeita o Brasil. O próprio nome já remete à brasa. A gente queima coisa demais pra ser por acaso. Queima museu, queima teatro, queima floresta, queima índio e queima morador de rua. Incêndio por aqui é um plano de governo, uma ideologia, um legado, uma promessa de campanha, um projeto de país. Foram 518 anos de queima de arquivo. Isso aqui ainda vai virar um pasto. Só gado e soja e segurança armado e uns drones tacando veneno.”

FOTO: DIVULGAÇÃO

NA REDE

RECEITAS LIGHT A falta de tempo não pode ser mais uma desculpa para não se alimentar bem. Manter uma vida saudável consumindo comida de qualidade pode ser um desafio para a maioria das pessoas, mas é algo simples. O aplicativo “Receitas Light” foi desenvolvido por uma equipe nutricional e reúne um cardápio que vai ajudar você a mudar os hábitos alimentares e viver de bem com a vida. O app oferece receitas diversificadas (aperitivos, carnes, crepiocas, pizzas, tortas e doces), acompanhadas de informações sobre calorias, rendimento, ingredientes e modo de preparo por meio de imagens e um simples passo a passo. Chega de desculpa e comece agora a preparar aquela “panqueca funcional”! Ou, quem sabe, uma lasanha low carb de cenoura com abobrinha para almoço com a família? Para a sobremesa, a nossa dica é cheesecake light de morango! O app está disponível na plataforma IOS (goo.gl/ qvks8g) e Android (goo.gl/6PyL9N).



FOTO: ADÃO DE SOUZA / PBH

GENTE ECOLÓGICA

FOTO: REPRODUÇÃO

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“Nesta vida, deve-se morrer várias vezes para depois renascer. E as crises, embora atemorizem, servem para cancelar uma época e inaugurar outra.”

FOTO: JB ECOLÓGICO

EUGENIO TRÍAS, filósofo espanhol

FOTO: DIVULGAÇÃO

MÁRIO QUINTANA, poeta, sobre a velhice

“Qualquer floresta perto de cidade grande sofre impacto. A Cantareira é fundamental para a qualidade do ar e da água de São Paulo.” ALMIR SATER, cantor e compositor 14  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

RONALDO FRAGA, estilista, sobre a 23ª edição do Minas Trend, que será promovida pela Fiemg, entre 29 de outubro e 1º de novembro próximos

“Virei um animal solitário. Leio, vejo série, fico em silêncio. Meu celular não toca mais. Fui afunilando as minhas amizades frequentes, os encontros, fui ficando sozinha e descobri que o trabalho era a minha vida social. Voltar para casa era minha hora de ficar sozinha.” MARÍLIA GABRIELA, jornalista, escritora e atriz

FOTO: DIVULGAÇÃO GNT

“No fim, paramos de julgar. Entendemos que tudo que importa é ter paz e sossego, é viver sem medo, é fazer o que alegra o coração naquele momento. E só.”

“Para sobreviver no mundo moderno, a moda precisa ir além da roupa. Tem de ser uma indústria que fale de tudo, de economia, história e cultura.”


GLÓRIA PIRES

A atriz e empresária acabou de lançar a plataforma Bemglô, uma revista eletrônica que aborda diversos assuntos sobre sustentabilidade e consumo consciente. No site (bemglo. com) há uma loja online que traz uma seleção de produtos feitos à mão por artesãos e designers brasileiros.

PAULA FERNANDES, cantora e compositora

“Como bom otimista, continuo investindo no país... mesmo com os absurdos que a classe empresarial vem enfrentando. Só para a abertura de uma loja temos de pagar 35 taxas!”

MURILO MENDES, empreiteiro e filho do fundador da construtora Mendes Junior, falecido no dia 19 de agosto

MODESTO ARAÚJO NETO, presidente da Drogaria Araújo, ao receber o Prêmio “Liberdade Empresarial”

MATEUS SOLANO, ator e ambientalista, novo defensor da Campanha “Mares Limpos”, da ONU Meio Ambiente

FOTO: DIVULGAÇÃO

“Sempre procurei ter um espírito crítico. A receita é ter coragem para enfrentar as coisas. É como a massa de um bolo, quanto mais você toma pancada, mais você cresce.”

“Espero poder contribuir para a luta pelo respeito aos oceanos, berçários de toda a vida na terra.”

A youtuber e influenciadora digital foi a representante brasileira da The Body Shop que entregou à Organização das Nações Unidas (ONU) um documento contendo oito milhões de assinaturas angariadas pela campanha Forever Against Animal Testing ("Para Sempre Contra Testes em Animais"). A campanha consiste em banir, até 2020, testes em animais com finalidade cosmética em produtos e ingredientes em todo o mundo. O Brasil está entre os 10 países que mais colaboraram com a petição.

FOTO: EDY FERNANDES

FOTO: REPRODUÇÃO

NÁTALY NERI

MINGUANDO

VERDE PESAR

A eventual ocupante do cargo de Secretária de Assuntos Institucionais e Comunicação Social da PBH continua discriminando a imprensa verde da capital. SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  15

FOTO: DIVULGAÇÃO

CRESCENDO

FOTO: REPRODUÇÃO INSTAGRAM

FOTO: DIVULGAÇÃO

“Em contato com a natureza eu sou feliz, me renovo, me sinto livre! Já pensaram na sensação de plantar uma árvore? Vê-la crescer, para um dia, poder desfrutar de sua sombra e de seu colo?”


BLOG DO HIRAM FOTO: SANAKAN FIRMINO

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A NOVA e ensolarada praça em reforma: menos sombra e mais exposição aos raios ultravioleta causadores do câncer de pele e do envelhecimento precoce

A PRAÇA MAIS ÁRIDA DA LIBERDADE Que me perdoem a presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), Michele Arroyo, o prefeito Alexandre Kalil, o governador Fernando Pimentel, a Vale (que investiu R$ 5,2 milhões) e todos os arquitetos e paisagistas responsáveis pelas obras da "nova" Praça da Liberdade, símbolo maior da capital dos mineiros. Mais que isso. Eu os convido a chamarem seus filhos, netos e sobrinhos – incluindo qualquer casal de idosos ou namorados – para ver se suportam 16  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

ficar com eles mais de meia hora, sem chapéu ou sombrinha, na futura praça quase totalmente sem sombra, apartada que foi do seu antigo bucolismo. É vero e inclemente. Nenhum de vocês, autoridades e autores do projeto, conseguirá achar um só metro quadrado ali sem sol fervente para, naturalmente, poder se esconder do calor cada vez mais infernal de Belo Horizonte. Tudo porque seus paisagistas e arquitetos se esqueceram ou não levaram em consideração em suas pranchetas a realidade hoje global das mudanças climáticas.


www.blogdohiram.com.br

Vidas secas BH aceita a morte de 34 palmeiras, enquanto outras 24 agonizam ao longo do Boulevard Arrudas FOTO: ECOLÓGICO

Em vez do velho e ecológico manejo florestal, que seria mais sustentável (manter as árvores condenadas e suprimi-las à medida que novas e saudáveis árvores fossem crescendo, mantendo uma meia sombra, no mínimo, para a população), o que eles fizeram de desecológico ali? Exageraram matematicamente na dose, e sempre contra o verde. Sem sensibilidade social cortaram exatas e condenadas 30 senhoras-árvores, incluindo o romântico corredor de ciprestes-gigantes onde tantos de nós já namoramos escondidos. E, pra compensar, vão plantar outras... 20 (dez a menos!). Isso mesmo. E que só vão dar sombra daqui a quatro, cinco, seis anos. Até lá, como os frequentadores vão se esconder de tamanha e infeliz insolação, vide que as árvores mantidas também foram podadas ao extremo, eliminando todas as suas saias? Cortaram até um terço de seus galhos e folhas. Que natureza, agora, vai filtrar os raios ultravioleta e poupar as pessoas do câncer de pele e do envelhecimento precoce? Um horror urbanístico, enfim, que, in memoriam, deve estar estarrecendo Paul Villon (1841-1905), o famoso paisagista francês também responsável pela criação do Parque Municipal e da Praça Raul Soares, numa época mais romântica e com clima ameno. Ele deve estar se perguntando no túmulo: “Como podem ter tornado tão árida e desumana a praça que sonhei bucólica e amei sem suor nessa 'Cidade Vergel', assim descrita nos versos de Olavo Brás dos Guimarães Bilac? E isso, justamente nessa cidade que já foi chamada de Jardim, não à toa, a 'Paris brasileira'?" - Pardon, pardon, monsieur Villon! Parece que nós ainda temos medo e ódio atávicos do verde, da vida natural. O que talvez explique a nossa atração fatal pelo excesso de cinza do cimento e do asfalto que nos desumaniza. - Pour l´amour social, s'il vous plaît! No fundo, no fundo, como também diria o professor e ambientalista Hugo Werneck, nós ainda não percebemos, não respeitamos, não somos gratos, não amamos e muito menos sabemos o que fazer com a natureza que Deus nos deu. - O ódio ou a indiferença ao verde (leia-se o calor intensificado com a falta e a supressão violenta de árvores em todo o planeta, e não somente na nossa devastada e desvitalizada Praça da Liberdade) só se estabelece nos espaços em que o amor natural não entra. Por que não incluí-lo?

Uma, duas, três... 94 palmeiras exóticas e caríssimas plantadas pela Prefeitura de BH sobre o trecho canalizado do Ribeirão Arrudas, desde o Terminal Rodoviário, no Centro da capital, até o Viaduto Carlos Prates, na saída para a região Oeste, continuam à própria sorte. Em plena primavera, do latim “A primeira verdade”, parte delas morreu tão somente de abandono. Por falta d’água! SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  17


BLOG DO HIRAM

A Ecológico foi até o local e contabilizou os números dessa agonia verde, paga com dinheiro público: uma, duas, três... 36 delas, que continuam vivas, exuberantes! Talvez alguns caminhões-pipa ou a raridade de algumas chuvas temporãs caídas, antes da primavera, as tenham salvado. Uma, duas... 24 outras continuam semivivas, pálidas e descompostas, pedindo socorro. Quanto a uma, duas... 34 delas não há mais o que fazer. Só lhe resta mesmo o consolo da extrema-unção. Já estão todas mortas. Sem mais qualquer vestígio de verde, só cor cinza do tronco às folhas, elas lembram mortos-vivos, adereços esguios de vidas secas ou passistas de algum mórbido e nada ecológico carnaval. PROMESSA VERDE Segundo a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura da PBH, essas palmeiras foram plantadas em 2013, durante a etapa de paisagismo na construção do Boulevard Arrudas. As substituições das 58 mortas e semi-mortas acontecerão agora, no período chuvoso. Se houver novos períodos de seca, chamados de “veranico”, elas serão irrigadas duas vezes por dia, por caminhões-pipa. Quanto ao acontecido, a Secretaria explicou que, devido a restrições financeiras, em 2016, último ano da gestão anterior, não havia contrato de manutenção ativa dos canteiros centrais e áreas verdes da capital. E somente com uma nova contratação, conseguida pela gestão Alexandre Kalil, o verde do Boulevard Arrudas voltou a ser irrigado. Mas, “entretanto, por causa das condições de abandono em que seu paisagismo se encontrava, com quase dois terços das árvores mortas ou danificadas, não foi possível recuperá-las. Mas repô-las, novamente”, a um mesmo preço caríssimo. O que acontecerá agora, promete a PBH, em meio às chuvas esperadas de outubro. A um novo custo público, o que alguns caminhões-pipa não terceirizados, da própria prefeitura, mais um olhar amoroso para as palmeiras, poderiam ter evitado. É o tal do “amor à natureza” que o ambientalista Hugo Werneck pregava, e ainda não encontra espaço nas nossas políticas e obras públicas, assim como no exemplo da nova e árida Praça da Liberdade. Triste demais! 18  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

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BIBLIOTECA COMUNITÁRIA O Instituto Ecofuturo, junto com a Suzano Papel e Celulose, avançou em mais uma etapa na implantação de uma Biblioteca Comunitária em Malacacheta (MG), com apoio da prefeitura municipal. Trata-se de uma mobilização comunitária, realizada na Escola Municipal Eva Ribeiro Mendes, que receberá o projeto, e reuniu 200 pessoas. Na ocasião, foi apresentado o "Programa de Educação Ambiental", que envolverá professores e alunos da rede pública de ensino. Ambas as iniciativas integram o "Nascentes do Mucuri", projeto idealizado pela Suzano e desenvolvido por vários parceiros, que promove a restauração das nascentes do rio e o desenvolvimento local. Com inauguração prevista para 2019, a biblioteca receberá 1.000 livros novos, dois computadores, impressora, software para gestão da biblioteca, equipamento de TV e Blu-Ray, além do mobiliário necessário para compor o espaço. FOTO: SÉRGIO ZACCHI

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KINROSS PREMIADA Há mais de duas décadas, a Kinross Brasil Mineração desenvolve pesquisa aplicada em drenagem ácida, adotando medidas sustentáveis que garantem a qualidade da água usada na operação. Em reconhecimento ao trabalho realizado na mina do Morro do Ouro, em Paracatu (MG), a empresa recebeu o Prêmio “Global Practice Award”. A honraria ocorreu na cidade de Pretória, na África do Sul, sendo recebida pelo seu diretor de Sustentabilidade e Comunicação da Kinross, Alessandro Nepomuceno (foto). 


anuncio revista ecologico LASE 2018.pdf 1 01/10/2018 15:34:08

15 a 17 de outubro Hotel Blue Tree Premium Morumbi São Paulo-SP

O ponto de encontro anual dos profissionais de energia, meio ambiente e gestão social Há nove anos reunindo governos e empresas do setor de geração e transmissão de energia para discutir temas da gestão socioambiental dos empreendimentos.

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Os debates e palestras apresentam as experiências dos empreendedores, aspectos regulatórios e técnicos da pauta ambiental e social dos projetos do setor elétrico.

Licenciamento e Gestão Socioambiental no Setor Elétrico

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O LASE se estabeleceu como o ponto de encontro obrigatório para profissionais de meio ambiente em empresas de energia, órgãos ambientais, poderes executivo e judiciário. Durante o Congresso é possível interagir e se relacionar com os principais líderes do setor, tanto nas sessões de perguntas quanto nas sessões sociais intercaladas na agenda. Inscrições em: viex-americas.com Ou entre em contato: Telefone: 11 50516535 whatsapp: 11993038369 info@viex-americas.com

Marcelo Moraes FMASE

Renata Fonseca ABCE

Com as palavras de: Um café da manhá com o convidado especial, Professor José Goldemberg, para discutir as opções e escolhas para a definição da matriz elétrica brasileira no longo prazo

Janderson Rubens

Felipe Felipe Fleury Lavorato Arqueoproject Ambientare Ambientare

José Goldemberg A visão de líderes com expressiva participação no cenário energético contemporâneao

Rui Chamas CEO Sterlite

Marcos Meireles CEO Rio Energy

Aljan Machado Diretor CTG

Laura Rocha de Castro WALM

Leonardo Santiago Licentia

Marcos Vilela Caruso Jr.

Thomaz Ney Maron Pedro Dias Rachel Cia Toledo Maron Starling Consultoria Ambiental Rio Energy

Alexandre Sion Sion Advogados

Alexandre Waltrick Waltrick Advogados

Ana Luci Grizzi Veirano Advogados

Fernando Tabet Tabet, Bueno & Franco Advogados

Ricardo Carneiro Ricardo Carneiro Advogados

Simone Nogueira Siqueira Castro Advogados

Lúcia Juliani Lidiane Lorena A Lasca Deoti Ramos Atlantic Marrikah Energias Consultoria Renováveis e Gestão Social

A análise do cenário eleitoral para o segundo turno e como os possíveis resultados nos níveis federal e dos estados podem influenciar as atividades de geração e transmissão, bem como a regulação dos setores energético e ambiental

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André Luiz Enio Brandão Mustafá Fonseca ABCE FMASE

Daniel Falcão

Professor de Direito Eleitoral, Advogado. Doutor, Mestre e Bacharel pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Especialista em Marketing Político e Propaganda Eleitoral

Marcus de Almeida Lima Presidente INEA-RJ

Germano Luis Gomes Vieira FEAM-MG

João Pimenta IMA-SC

Caio Miranda Vereador Prefeitura de São Paulo

Patrocínio Platina

Rose Mirian Federica Sodré Hofmann Câmara dos EPE Deputados

André Dick Jânio Presidente Ferreira Prefeitura IMA-SC de São Paulo

Flavio Calippo IPHAN

Carlos Alberto Mendes Presidente SEMACE-CE

Walter Senise ACETI, SENISE, PAIVA, MARTINS Advogados

Werner Grau Neto Pinheiro Neto Advogados

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PÁGINAS VERDES

“Temos um déficit de educação ambiental no Brasil” Luciano Lopes Colaboração de Luciana Morais

FOTO: DIVULGAÇÃO

redacao@revistaecologico.com.br

FELDMANN implantou o rodízio de carros na capital paulista quando foi seu secretário municipal de Meio Ambiente 20  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

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os últimos seis meses, o ambientalista e consultor Fabio Feldmann se dedicou à produção de um livro sobre os 30 anos da Constituição Federal. Militante ativo da causa da sustentabilidade, ele tem conhecimento de sobra para falar sobre o assunto: foi um dos deputados responsáveis pela redação da maior parte do capítulo ambiental da Constituição de 1988. Em entrevista à Ecológico, Feldmann aborda as consequências que o Brasil enfrenta por

não ter investido efetivamente em educação ambiental e faz um balanço de questões importantes para o país, como a gestão de resíduos sólidos e de Unidades de Conservação. Fundador da ONG SOS Mata Atlântica, Feldmann também abordou assuntos espinhosos, como o fato de o setor de mineração dificultar, há décadas, a aprovação do projeto de lei de sua autoria que protege cavidades subterrâneas no país. Confira:

Qual a sua avaliação sobre a educação ambiental no país hoje? Este ano, a Constituição brasileira completa 30 anos. Isso é mais do que uma geração. Se o país tivesse investido efetivamente em educação ambiental antes, hoje seria outro. As pessoas valorizam muito a educação ambiental informal. Ela é importante, mas corre o risco de virar apenas cartilha e cartaz. É preciso preparar nossos estudantes, desde a educação formal, para terem um olhar voltado para o meio ambiente. Falta colocar uma visão ambiental histórica em todas as matérias do currículo escolar. O país também deveria ter investido na formação de professores com uma visão multidisciplinar nesse sentido, valorizando também as questões éticas. E isso é responsabilidade do Poder Pú-

blico. Infelizmente, temos um déficit na prática da educação ambiental no Brasil.

Na comparação com outros países, em que patamar o Brasil está em relação ao tratamento de resíduos sólidos? Quais os gargalos a serem superados? Lixão é coisa do século 19, mas o Brasil ainda convive com eles. Esse é um dos nossos principais gargalos. A implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos é tímida. Primeiro porque quando se fala em lixão estamos falando apenas em disposição final de lixo. E, segundo, porque o tema dos resíduos sólidos está associado à economia circular. A legislação indica diretrizes importantes para uma melhor gestão e tratamento de resíduos sólidos, mas falta fazer a lição de casa.


FA B I O F E L D M A N N

Ambientalista e consultor

ELE

Fabio Feldmann é administrador de empresas e advogado. Foi eleito deputado federal por três mandatos consecutivos (1986 – 1998) e participou da elaboração da Constituição de 1988, sendo responsável pela redação do capítulo destinado ao meio ambiente, um dos textos mais completos e avançados referentes a essa temática no mundo. Integrante do Conselho Consultivo da Revista Ecológico, acompanha a publicação desde a sua fundação, em 1993, ainda como “Estado Ecológico”. E, a partir de 2002, como “JB Ecológico”, quando circulou por nove anos no Jornal do Brasil. Feldmann também foi autor de grande parte da legislação ambiental brasileira.

Como avançar nesse sentido? É preciso pensar de forma integrada – recursos naturais, resíduos sólidos e reciclagem – para que seja viável pensar um país que gere menos lixo e implemente de verdade a economia circular. Estou convencido de que, após 30 anos de Constituição, a relação União-Estado-Município tem de ser urgentemente repensada no contexto da sustentabilidade, principalmente do ponto de vista do município. Falo isso porque a legislação trata todas as cidades de forma igual, mas elas têm inúmeras diferenças, sobretudo, populacionais e territoriais. Daí a dificuldade na implementação da lei. O que é preciso fazer, então? Estabelecer categorias de municípios para definir novos e melhores instrumentos de gestão dos resíduos sólidos, fortalecendo inclusive o papel da União, que é promover a capacitação dos municípios pequenos não apenas na questão dos resíduos sólidos. Mas também no que se refere ao saneamento e recursos hídricos.

FOTO: DIVULGAÇÃO ICMBIO

QUEM É

“O Brasil precisa revolucionar a gestão das Unidades de Conservação. Há um movimento forte de desafetação das UCs, além das invasões, grilagem, pesca e caça ilegal. É preciso radicalizar um novo modelo de gestão das áreas protegidas.” A Política Nacional dos Recursos Hídricos (Lei 9.433/1997) completou 20 anos em 2017. Qual sua visão sobre a realidade hídrica atual? Que situações ou entraves mais o afligem? A implementação dos comitês de bacia hidrográfica, associada à cobrança do uso da água, não aconteceu como deveria. A PNRH precisa ser aperfeiçoada. O Brasil tem um Conselho Nacional de Recursos Hídricos que está à deriva, não se reúne. Também há um problema de integração: o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh) e o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) não dialogam. Ambos caminham paralelamente, e com dificuldades... Exatamente. Em relação ao segundo, proponho um modelo semelhante ao do Sistema Único de

Saúde (SUS). É essencial repensar o modelo de financiamento do Sisnama, porque a União delega competências e não transfere recursos. Um exemplo disso é a questão da fauna. Pela Lei Complementar 140/2011, ela foi delegada aos estados, mas nenhum deles está apto a fazer gestão de fauna. Ou seja, foi dado um sinal verde à caça ilegal no Brasil.

Estados e municípios respondem por mais de 90% das licenças ambientais concedidas no país. Como torná-las mais eficientes e sustentáveis? O licenciamento ambiental é um instrumento democrático muito importante e aliado da participação da sociedade. O que precisa ser feito é reconsiderá-lo, no sentido de se eliminar exigências cartoriais e burocráticas, dando agilidade ao processo e, ao mesmo tempo, preservando-o como ins-

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SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  21


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PÁGINAS VERDES

trumento. Hoje, a maior parte do licenciamento ambiental no Brasil não está com a União, mas nos estados e municípios. E eles estão totalmente despreparados para exercer essa atribuição. E com a crise fiscal, essa situação tende a se agravar. Parte da crise do licenciamento também é reflexo da crise institucional do Sisnama, que tem instituições frágeis, sem recursos humanos. A União deve estruturar melhor e capacitar essas instituições para que os licenciamentos ambientais sejam bem-feitos.

Em que ponto a crise fiscal afeta a área ambiental? Os estados já estão quebrados financeiramente. A área ambiental, então... Não se pode tratar os outros estados do país como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Há órgãos públicos ambientais com pouquíssimos técnicos. Até recentemente, por exemplo, o Amazonas tinha duas pessoas para cuidar dos recursos hídricos. Está na hora de se fazer um redesenho institucional. No caso do licenciamento, a questão se torna ainda mais grave. Se você delega essa competência aos estados e eles não têm o mínimo de capacidade para tal, como resolver o problema? O senhor já afirmou que um dos grandes desafios da conservação da biodiversidade está na gestão das Unidades de Conservação (UCs). Como avançar ou repensar o atual modelo? As UCs têm de ser encaradas pela sociedade como um ativo, uma alavanca de desenvolvimento sustentável nas regiões onde estão inseridas. Hoje, a maior parte dessas unidades está isolada em territórios muito grandes e seus gestores não têm capacidade de diálogo com seu entorno. E isso cria dificuldade para se 22  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

compreender a sua importância. O Brasil precisa revolucionar o conceito de gestão de unidade de conservação, principalmente nesse momento, em que há um movimento forte de desafetação das UCs, além das invasões, grilagem, pesca e caça ilegal. É preciso radicalizar um novo modelo de gestão de áreas protegidas.

Há algum exemplo que sirva de inspiração para alcançarmos novos patamares de conservação ambiental, via manutenção de áreas protegidas? Sim, e que fica no Brasil mesmo: o Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná. Ele recebe milhares de visitantes todos os meses e

DEPOIMENTO ECOLÓGICO “O Brasil e o planeta devem muito a Minas Gerais. A começar por José Carlos Carvalho que, em 2002, foi considerado o melhor ministro em toda a RIO+10, em Johannesburgo, na África do Sul. Depois, por Angelo Machado, Célio Valle e por lembrarmos dr. Hugo Werneck, um mestre não só para os mineiros, mas para todos nós, brasileiros. O Brasil deve muito ao movimento ambientalista mineiro; e à Ecológico também. Como paulista, digo: quiséramos nós ter uma Revista como essa em São Paulo. E como não temos, o desafio de vocês é tornála cada vez mais nacional e internacional. Afinal, temos de trazer os jovens novamente para essa luta, envolvê-los na causa ambiental. A Ecológico tem a grande responsabilidade de se fortalecer no meio digital, para atrair a moçada que, hoje, lê pouco. Assim, daqui a 40 anos, os jovens vão agradecer à Revista e a Minas por tudo o que estão fazendo pelo planeta.”


FA B I O F E L D M A N N

FIQUE POR DENTRO Em comemoração às três décadas da Constituição Federal, a editora Mil Folhas, do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), e o Instituto Avaliação (IA) lançaram recentemente o livro "30 anos da Constituição de 1988 - Direitos Socioambientais: história, avanços e desafios". A obra é organizada pelo advogado e mestre em Gestão e Política Ambiental André Lima e aborda questões como a proteção dos biomas, dos ecossistemas marinhos, da Mata Atlântica, do licenciamento ambiental, das populações indígenas e tradicionais, além de assuntos relacionados ao futuro do direito socioambiental e sua implementação. A história do meio ambiente a

é fundamental para a manutenção ambiental, o turismo e a economia de toda aquela região. Ainda assim, ele vem sofrendo uma pressão enorme para a reabertura da Estrada do Colono, que corta a unidade e foi fechada em 2001. Também sou a favor do desenvolvimento de estudos científicos sobre a nossa biodiversidade, com o objetivo de oferecermos recursos decorrentes de novos medicamentos, cosméticos. Devemos diminuir a distância entre a comunidade científica e a ambientalista.

Há 25 anos tramita no Congresso Nacional uma proposta de sua autoria para proteger cavernas e grutas. Como avalia a postura do setor em relação a essa pauta? Esse projeto tem sido ostensivamente obstruído pela Vale. Ele já passou no Senado, está na Câmara, na ordem do dia, mas não avança. Enquanto isso, o que acontece? As cavernas brasileiras estão sendo destruídas, mesmo com a ciência reconhecendo

partir da Assembleia Nacional Constituinte vai além do famoso artigo 225 da Carta Magna (defesa e conservação) e é contada por meio de 11 textos com análises críticas e propostas de renomados juristas e advogados da área. Entre eles, destacam-se Fabio Feldmann; Carlos Marés, professor e Procurador do Estado do Paraná, e Herman Benjamin, ministro do Superior Tribunal de Justiça, que assina o prefácio.

FOTO: DIVULGAÇÃO

Ambientalista e consultor

Para saber mais, acesse: goo.gl/Hvb14T

a importância da biodiversidade subterrânea. Nessas cavernas existe uma enorme e peculiar biodiversidade subterrânea, que estamos perdendo sem ao menos conhecê-la.

E o Brasil segue abrindo mão desse patrimônio... Infelizmente, sim. Pela Constituição, as cavernas são bens da União, mas ela se omite. Há inclusive um relatório do Tribunal de Contas da União, mostrando que os investimentos em proteção de cavernas são da ordem de R$ 1.000 por mês! Defendo o diálogo com a mineração, e já tentei fazer isso inúmeras vezes. Mas o setor se nega, porque está muito confortável com o status quo, que autoriza a contínua destruição desse patrimônio espeleológico. Como avalia a indicação de Edson Duarte para o Ministério do Meio Ambiente (MMA)? É a melhor escolha que tínhamos no cenário atual. Ele foi um deputado bastante atuante e presente.

E sua nomeação é absolutamente necessária para dar continuidade ao que foi feito pelo Sarney Filho. Até fiz uma brincadeira: como a bancada ruralista estava pleiteando o MMA, coloquei-me à disposição do governo Temer para ser ministro da Agricultura. Se ela quer o Ministério do Meio Ambiente, podemos pleitear o da Agricultura, não é verdade? Temos de apoiar o Edson.

Como se sente diante do Brasil de hoje e que futuro vislumbra para a humanidade no planeta? Há uma maior conscientização sobre o tema, que cresceu exponencialmente em todo o mundo a partir da década de 1970. Mas a urgência em relação às questões ambientais ainda não tem sido compreendida efetivamente em termos de ações concretas. A mudança climática é um exemplo disso: ela está aí, é incontestável e pouco ainda foi feito no mundo e no Brasil para cumprir o Acordo de Paris.  SAIBA MAIS

www.ffconsultores.com.br SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  23


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ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

ATÉ O ÚLTIMO "BASTA" DA NATUREZA

Q

uando fundamos a Amda, em 1978, adotamos como princípio norteador de nossa luta o preceito de que respeito e proteção do meio ambiente não podem ser separados de fatores sociais, econômicos, políticos e culturais. Como consequência lógica, nossa principal estratégia é lutar pelo uso correto dos recursos naturais dos quais depende a espécie humana. Mas há algo esquisito e desafiador nesse cenário: a espécie humana “nasceu” destrutiva e violenta ou houve um momento na história em que isso aconteceu? Se tomarmos como parâmetro a ideia de que, desde seus primórdios, os seres humanos se matam por qualquer coisa e são incontáveis suas guerras, desde as tribais isoladas até as genocidas, a conclusão inevitável é que sua relação com a natureza sempre foi também de guerra. O biólogo e professor da UFRJ Fernando Fernandez cita como exemplo a extinção de diversas espécies da fauna, caçadas até o último exemplar, não por necessidade de sobrevivência somente. Mas por diversão ou por nada. Apenas pelo “instinto de matar”? Com o advento da tecnologia, a natureza passou a ser menos temida. Florestas escuras, então abrigo de monstros, passaram a ser vistas como áreas de caça, depósito de madeira ou áreas a serem cultivadas. Foram impiedosamente destruídas na Europa e na Ásia e continuam a ser em outras partes do mundo. A revolução industrial foi o golpe de misericórdia. Além de facilitar a destruição, trouxe consigo a geração de resíduos líquidos e sólidos como nunca havia se imaginado. A explosão na produção de alimentos e a descoberta de antibióticos geraram o crescimento exponencial da população e a construção e consolidação dos perigosos princípios que norteiam a economia

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humana: recursos naturais são infinitos, consumo e desperdício são suas molas mestras e a tecnologia resolverá os problemas ambientais. O avanço da industrialização e da tecnologia concentrou a maior parte da população humana nas cidades, em busca de trabalhos bem menos difíceis e do gozo das facilidades e fetichismo de novos produtos e serviços nunca antes imaginados. O corte da relação ser humano/natureza consolidou-se então, pela junção de seus primitivos instintos de destruição com o novo mundo descoberto: não precisamos mais dela. Não que isso seja um conceito elaborado para todos. Pior: é uma postura incorporada à história e ao caráter humano, bem percebida pelos políticos, “tomadores de decisão”, marqueteiros, etc., que fazem “bom uso” dela, guiando multidões para garantir seus propósitos. E não estou dizendo que somente eles são os vilões. Quem joga lixo nas ruas e nos rios, quem não muda comportamentos, o faz porque quer. Não por falta de informação. A inteligência e a adaptabilidade da espécie humana que permitiram seu êxito de sobrevivência, apesar de destrutivo, podem ser o caminho para mudar essa situação. A prova e esperança disso é que muitas pessoas, em diversas partes do planeta, já adotaram forma de vida diferente e vozes levantam-se cada vez mais em sua defesa. A prefeitura de Londres espalhou bebedouros na cidade para desestimular a compra de água em garrafas plásticas, peste ambiental de rios e oceanos. Acelerar as mudanças é o maior desafio ambiental que enfrentamos. Resta ver se teremos tempo, antes que a natureza nos dê um basta.  (*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente.


Setembro

é mês de celebração! A Rede Catedral de Comunicação Católica comemora os três anos da proclamação de Nossa Senhora da Piedade como Padroeira das emissoras, Rádio América e TV Horizonte.

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1 AGROTÓXICOS

RELATOS DA DOR NO CAMPO Polêmica sobre a proposta de alterações na Lei 7.802/89, que regulamenta o uso de defensivos agrícolas no Brasil, esconde outra realidade: o impacto na saúde da população rural

E

m maio de 2013, um avião pulverizou agrotóxicos sobre a Escola Rural São José do Pontal, localizada em meio às vastas plantações de milho e soja em volta da cidade de Rio Verde (GO). Cerca de 90 pessoas - a maioria delas crianças que estudam na escola - foram imediatamente hospitalizadas. O incidente chocou o país e, logo em seguida, o Brasil voltou-se para o problema das intoxicações por agrotóxicos em áreas rurais. Infelizmente, hoje a situação pouco mudou: cidadãos continuam sendo intoxicados por agrotóxicos na maioria das zonas rurais do país. Em suas rotinas diárias, eles ficam expostos às aplicações de pesticidas nas proximidades de suas casas, escolas e locais de trabalho, quando são pulverizados em plantações e se dispersam no ar ou seguem para áreas adjacentes. Para entender melhor a realidade dessas pessoas, a ONG Human Rights Watch foi, literalmente, a campo. De julho de 2017 a abril de 2018, durante sete semanas, a entidade entrevistou 73 pessoas diretamente afetadas pelos agrotóxicos em sete zonas rurais das cinco regiões brasileiras, incluindo comunidades rurais, indígenas, quilombolas e escolas rurais (leia o documento na íntegra no link goo.gl/S9ieQQ). Nesses locais, os entrevistados afirmaram ter apresentado vários sintomas de intoxicação aguda após a pulverização de agrotóxicos em plantações próximas: de sudorese, frequência cardíaca elevada e vômitos a

O PERIGO mora ao lado: escola no município de Primavera do Leste (MT) tem plantação ao lado da sala de |aula 90  ECOLÓGICO SETEMBRO/OUTUBRO DE 2018

náusea, dor de cabeça e tontura. A Human Rights Watch constatou que, mesmo o Brasil tendo um regulamento que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos a menos de 500 metros de povoações, cidades, vilas, bairros e mananciais de água, a lei é desrespeitada. Inclusive nos poucos estados que já determinaram o limite de segurança. De modo geral, a intoxicação aguda por agrotóxicos e a exposição crônica não chama a atenção do público em geral e dos formuladores de políticas públicas do Brasil. Uma das razões mais perversas para essa invisibilidade é o medo que muitos membros de comunidades rurais sentem de represálias por parte de grandes proprietários de terra. Para proteger a confidencialidade e a segurança dos entrevistados, seus nomes e os das comunidades foram preservados. Em abril de 2010, o agricultor rural e ativista contra o uso de agrotóxicos, José Maria Filho, foi baleado 25 vezes quando voltava para casa à noite em Limoeiro do Norte (CE). Ele foi fundamental na mobilização para que o governo municipal proibisse a pulverização aérea naquele ano, frente à oposição dos grandes proprietários de terra. Um mês depois de sua morte, a proibição foi revertida. Conheça, a seguir, alguns dos locais visitados pela ONG Human Rights e os relatos mais tristes de quem vive essa realidade no campo:


FOTOS: MARIZILDA CRUPPÉ / HUMAN RIGHTS WATCH

A ESTUDANTE Carina sofreu uma intoxicação aguda quando frequentava a escola em 2017

Mato Grosso

CARINA

O local selecionado pela ONG é uma escola rural no município de Primavera do Leste, na região centro-oeste brasileira. A instituição atende pouco mais de 100 alunos, com aulas para estudantes entre 15 e 16 anos durante o dia e para adultos à noite. Há plantações bem ao lado do terreno da escola, com as salas de aula aproximadamente 15 metros dos campos. Lá, a Human Rights Watch entrevistou cinco pessoas, entre alunos e professores. Diferentemente de outras localidades no Brasil, tanto o estado do Mato Grosso quanto o município de Primavera do Leste estabelecem uma zona de

segurança para a realização de pulverização terrestre. Atualmente, ela é de 250 metros de zonas urbanas, mas há um projeto de lei em discussão que busca reduzi-la a 90 metros - a mesma distância estabelecida pela legislação estadual. De acordo com os professores, durante a safra de algodão, em meados de 2017, a pulverização ocorreu com frequência perto da escola. Posteriormente, funcionários notificaram a Secretaria de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Agricultura e Meio Ambiente. Mas não houve resposta ou foi realizada visita.

"Naquela noite, havia um cheiro forte quando cheguei na escola. Eu podia sentir na minha boca. Comecei a me sentir mal, enjoada. Tentei beber água para melhorar, mas não ajudou. Comecei a vomitar várias vezes, tudo o que tinha no estômago e continuei com ânsia. As aulas foram canceladas para todos e fui para casa. Eu me senti mal no dia seguinte também, com náusea e dor de cabeça. Tomei algo para essa dor, mas isso não ajudou. Na manhã seguinte, tomei leite e comecei a me sentir melhor. Até o uniforme da minha escola tinha cheiro de agrotóxico."

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SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  27


1 AGROTÓXICOS

Paraná

TERESA

Teresa tem apenas dez anos e o relato a seguir descreve um incidente que aconteceu quando ela tinha cinco. A escola a que ela se refere fica na cidade de Cascavel (PA), na Região Sul do Brasil. Em 2015, o município estabeleceu uma zona de segurança em torno de escolas, unidades de saúde e comunidades rurais, proibindo qualquer tipo de pulverização dentro de 300 metros, ou 50 metros, caso haja uma barreira de árvores. No momento da entrevista, as salas de aula mais próximas ficavam a aproximadamente 100 metros das plantações com

árvores plantadas no meio. Entrevistados na localidade disseram que desde a adoção da lei, a situação melhorou. No entanto, a Human Rights Watch visitou outras escolas em Cascavel, incluindo duas onde professores e alunos afirmaram que problemas de saúde causados pela pulverização de agrotóxicos permaneciam. Nas duas escolas, funcionários contaram à ONG que as pulverizações aconteciam perto das escolas, dentro da zona de segurança estabelecida pela lei municipal.

"O trator amarelo começou a pulverizar de repente: ouvimos o barulho da máquina, dava para ver pelas janelas da sala de aula. Eu tive uma forte dor de cabeça, dor de barriga e a sensação de que ia vomitar. A professora disse: ‘Vamos sair da sala porque o cheiro está muito ruim’. Fomos para casa mais cedo. Cheguei em casa com enjoo, me sentindo mal, com uma forte dor de cabeça. Vomitei em casa duas vezes: a primeira quando eu estava comendo com minha família. Deixei meu prato e corri para o banheiro. Eu não comi mais. Deitei na cama, dormi e depois de um tempo vomitei de novo."

Goiás

DANILO

A escola rural visitada pela ONG fica a poucas horas de carro de Goiânia, capital de Goiás, em plena região Centro-Oeste do Brasil. A instituição tem cerca de 200 alunos, desde o pré-escolar (crianças com 3 anos de idade) até alunos de ensino médio (entre 15 e 16 anos). Há também alguns alunos adultos. As aulas são ministradas durante o dia e à noite. As plantações mais próximas às salas de aula ficam a apenas cinco metros. Sete pessoas foram

entrevistadas, incluindo quatro estudantes com idades entre 13 e 16 anos. Questionados sobre os sintomas pós-pulverização, eles relataram que as frequentes aplicações de agrotóxicos nas áreas próximas à escola causaram crises de náusea, tontura, vômitos e dores de cabeça entre os estudantes. Foi o que Danilo, um dos entrevistados, contou à Human Rights Watch:

"Da sala de aula, é possível ouvir o barulho da pulverização tanto terrestre quanto aérea. Dá para ver o trator pulverizando e a água branca saindo. Eles pulverizam muito perto, mas mesmo se eles fizessem um pouco mais longe, o vento sopraria os agrotóxicos para cá. A gente sente náuseas; dá dor de cabeça. Tento me sentar do outro lado da sala de aula. Temos um ventilador na sala de aula que ajuda um pouco, mas o cheiro continua. É ruim porque você quer vomitar, mas fica preso na garganta. Às vezes minha mãe vem me buscar na escola e nós vamos ao hospital."

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FOTOS: MARIZILDA CRUPPÉ/HUMAN RIGHTS WATCH

SEGUNDO Jakaira, pulverizações aérea e terrestre são constantemente realizadas na plantação ao lado da comunidade

Mato Grosso do Sul

JAKAIRA

O local fica a poucas horas de carro de Campo Grande, capital do estado. Na comunidade, algumas centenas de indígenas Guarani-Kaiowá vivem em cabanas e casas em uma pequena floresta ao redor de um córrego. Uma plantação de soja e milho começa a aproximadamente 50 metros da entrada principal da comunidade e de várias casas localizadas nas margens da floresta. A ONG entrevistou nove pessoas que vivem na localidade, entre homens, mulheres e crianças Guarani-Kaiowá. Eles descreveram diversos inci-

dentes de intoxicação aguda por agrotóxicos nos últimos anos, tanto por pulverização aérea quanto terrestre. Em alguns casos, os moradores tratam os sintomas de intoxicação por agrotóxicos com uma solução natural feita com suco de limão, enquanto, nos mais graves, eles relataram ter ido ao hospital local (a cerca de 45 minutos de carro). O depoimento de Jakaira, um homem de 40 anos que vive na comunidade há 10, casado e pai de três filhos adultos, mostra uma realidade triste e ainda ignorada pelos governantes.

"Foi por volta das 8 da manhã. O trator estava pulverizando e senti o cheiro do agrotóxico. Dava pra ver o líquido branco no ar. Vai para o seu cérebro, a gente sente uma amargura na garganta. Você não quer mais respirar veneno, quer outro tipo de ar, mas não tem. Então você se sente fraco, não consegue se levantar. Dá febre. Tive dor de cabeça muitas vezes, não aguento mais. Naquele dia, foi diarreia e vômito. Todo mundo que vive na beira da nossa comunidade passou mal. Enquanto eu esperava a ambulância, fiquei deitado na cama. No hospital expliquei o que eu tinha e a causa. Eles me deram soro e um remédio e eu recebi alta no dia seguinte. Quando saí, o médico me disse para me proteger, mas não tem jeito."

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SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  29


1 AGROTÓXICOS

Pará

EDUARDA

Trata-se de uma comunidade rural de aproximadamente 600 pessoas a poucas horas de carro de Santarém (PA), na Região Norte. As casas ficam ao lado de uma rodovia, com grandes plantações no sentido oposto da comunidade. A plantação se estende até as casas das pessoas, seus pequenos jardins e um pequeno campo (de futebol). A plantação termina a apenas 5 metros do poço que a comunidade usa para obter água potável. Um membro da comunidade que organizou um abaixo-assinado dirigido às autoridades estaduais de meio ambiente, para reduzir a pulverização de

agrotóxicos na região, disse que o fazendeiro proprietário da plantação vizinha o ameaçou fazendo o gesto de uma arma quando se cruzaram em público. Ele denunciou as ameaças à Polícia Civil. Segundo o morador, ela não tomou nenhuma medida para investigar as ameaças. Eduarda, que deu o depoimento abaixo, tem 20 anos e vive em uma casa a cerca de 100 metros de uma plantação de soja. Quando foi entrevistada pela Human Rights Watch, estava grávida de seu primeiro filho, prestes a nascer dentro de algumas semanas.

"Eu estava em casa. Senti um cheiro terrível, muito forte, como algo podre e químico, e me senti mal, com enjoo e dor de cabeça. Vomitei muito, não conseguia parar. Tive que ligar para meu marido pedindo ajuda. Estou grávida e minha principal preocupação era com meu filho, estava preocupada que isso pudesse afetar sua saúde. É minha primeira gravidez, eu não tinha vomitado antes ou depois desse incidente. Fiquei doente por causa dos agrotóxicos. No caminho para o hospital paramos 3 vezes para eu vomitar. Eles me deram soro salina e algo para dor de cabeça e náusea. Eu disse que era por causa de agrotóxicos, mas eles ignoraram. Trataram como uma virose; não foi registrado como uma intoxicação."

Bahia

MARELAINE

A comunidade onde mora a professora Marelaine, de 20 anos, fica no sul da Bahia, no Nordeste brasileiro. A área é dominada por plantações de eucalipto. Aproximadamente 100 famílias vivem na comunidade que tem uma pequena escola e uma unidade de saúde. Casas e pequenas hortas pertencentes aos

moradores são intercaladas com plantações de eucalipto; em alguns casos, as casas estão a 20 metros das plantações. Cinco moradores foram entrevistados e todos relataram ter sentido náusea, dor de cabeça, diarreia, olhos ardentes e lacrimejantes, e lábios dormentes após aplicações de agrotóxicos. 

"Eu estava perto da minha casa quando o avião veio jogando por cima do eucalipto e o vento trouxe os agrotóxicos para mim. Fiquei molhada com o produto e tive que voltar para casa e tomar outro banho. Fui para a escola e comecei a sentir dor de cabeça, nariz ardendo, coceira. O avião estava jogando do lado da escola e o vento trazia. Não dava para sentir o cheiro, mas dava para sentir a neblina, o vapor de agrotóxicos entrando pela janela. As crianças, entre 4 e 7 anos, reclamavam que suas gengivas e olhos estavam ardendo. Eu os liberei por volta das 9 da manhã e mandei um bilhete para os pais dizendo que não teríamos aulas enquanto eles estivessem pulverizando."

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FOTO: MARIZILDA CRUPPÉ/HUMAN RIGHTS WATCH

BERNARDO nasceu em uma comunidade quilombola em Minas. Lá vivem aproximadamente 60 pessoas, entre homens, mulheres e crianças

Minas Gerais

EDUARDO

Bernardo tem cerca de 30 anos e nasceu na comunidade quilombola onde vivem cerca de 60 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. Ele é casado e tem um filho pequeno. Em entrevista à ONG, ele afirmou que se sente particularmente impotente contra a pulverização aérea e frustrado após anos de denúncias formais e negligência das autoridades. A comunidade que ele mora fica a poucas horas de carro de Belo Horizonte, capital de Minas. As casas são simples, ao lado de algumas mangueiras e ba-

naneiras, e os moradores cultivam feijão, abóbora, milho e quiabo em pequenas hortas. Algumas das casas na localidade ficam a aproximadamente 20 metros da plantação de cana-de-açúcar vizinha. A Human Rights Watch entrevistou 21 pessoas lá. Moradores também disseram que os aviões geralmente realizam a pulverização sobre suas casas e que ela interrompe suas atividades diárias, como trabalho na horta, varrer terreiro ou mesmo brincadeiras ao ar livre.

"A pulverização causa dor de cabeça, enjoo, falta de ar e irritação na vista, na pele e no nariz. A aérea é pior do que a terrestre: é possível evitar os tratores, dá para perceber de mais longe pela zoeira. Avião não tem como tentar parar, passa por cima. Se aparece um avião, entro em casa. Essa semana, um passou por cima da casa de um vizinho com o motor de pulverização ligado. A gente sente os agrotóxicos caindo na pele. Toda vez que bate, tem isso. Nós temos problemas com aviões há uns 10 anos. Fizemos várias ocorrências no quartel, delegacia [de polícia civil]. Não resolve - não existe justiça."  Fonte: ONG Human Rights Watch www. hrw.org/pt

SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  31


FOTO: SANAKAN FIRMINO

1 A MINERAÇÃO EM DEBATE

A EMPABRA ainda não recuperou a "casca" que sobrou da Serra do Curral na divisa dos parques das Mangabeiras e da Baleia

MINAS SEM SERRAS E

SEM ÁGUA?

A ameaça que ronda as montanhas que definem o belo horizonte dos mineiros

E

m audiência pública realizada recentemente na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), ambientalistas, moradores e representantes de organizações ambientais da Região Metropolitana de BH se uniram para discutir a interferência e o avanço da atividade minerária no entorno dos parques estaduais da Serra Rola-Moça e da Baleia. Eles temem que a possível retomada da mineração nesses locais - somada à pressão imobiliária e à crise hídrica - coloque em risco a biodiversidade local e impactar seriamente o abastecimento de água na capital mineira e nos municípios adjacentes. Entenda melhor a seguir: 32  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

O QUE ESTÁ EM JOGO Os dois parques estaduais têm importância estratégica para o abastecimento de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Localizado na confluência das serras do Curral, Três Irmãos e da Moeda, o Parque Estadual Serra do Rola-Moça é considerado a “caixa d’água” da capital mineira. Ele foi criado há 24 anos justamente para proteger os mananciais de água que abastecem a RMBH - Taboões, Bálsamo, Catarina, Barreiro e Mutuca. É o terceiro maior parque em área urbana do país, com 3.941 hectares. Sua relevância biológica e ecológica é inquestionável, uma vez que, além de fornecer água para a população da capital mineira, também guarda remanescentes

dos biomas Cerrado, Campos Ferruginosos, matas ciliares e espécies em extinção da fauna mineira. Segundo o Movimento Serra Sempre Viva, mais de dois milhões de pessoas são abastecidas na Região Metropolitana com a água que vem dos mananciais do Rola-Moça. Já o Parque Estadual da Baleia, com seus 102 hectares, fica na base da Serra do Curral, cartão-postal e afetivo dos belo-horizontinos, e é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Primeira Unidade de Conservação da capital mineira, ele foi criado há 86 anos e guarda seis nascentes do Córrego Navio-Baleia, que integra a bacia do Ribeirão Arrudas e que beneficiam a Região Centro-Sul de BH. Faz divisa com o Parque das Mangabeiras, o pare-


MARAVILHA AMEAÇADA: o medo dos ambientalistas é que o Parque Estadual Serra do Rola-Moça tenha o mesmo destino de degradação ambiental

FOTO: ROBERTO MURTA/BICHO DO MATO

dão da Serra do Curral e as matas do Jambreiro e da Baleia, formando um corredor ecológico de 3,42 milhões de metros quadrados. QUAIS SÃO AS AMEAÇAS Historicamente, as duas áreas de preservação convivem com os impactos da exploração mineral. No caso da Serra do Curral, a ameaça vem da Mina Corumi, da Empresa de Mineração Pau Branco (Empabra), no bairro Taquaril, zona leste de BH. Em julho deste ano, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) suspendeu as atividades da empresa no local por descumprir condicionantes de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2017, que previa ações de recuperação ambiental. Em visita técnica, a Semad comprovou ainda que a Empabra descumpriu o limite da extração de minério previsto na autorização oficial. O Instituto Estadual de Florestas (IEF) também identificou que a cava feita pela mineradora provocou alterações no balanço hídrico da região, por meio da redução de vazão das nascentes. O fato foi atestado em laudo assinado pelo gerente do Parque Estadual da Baleia, Carlos Silveira. Em relatório

técnico apresentado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Mineração, criada na Câmara Municipal de BH para investigar denúncias de atividade minerária irregular, o arquiteto urbanista e geógrafo Leandro Aguiar denunciou que a mineração na Serra do Curral alterou o perfil do solo, expondo-o a processos erosivos. CONTRA A RETOMADA A ameaça não para por aí. Os ambientalistas temem que uma possível retomada da atividade minerária, atualmente embargada, possa desestabilizar de vez o topo do maçico da Serra do Curral. Vale lembrar que também há um novo projeto da Taquaril Mineração (que pertence à Construtora Cowan) e está em fase de licenciamento. Ele prevê um potencial de exploração de 25 milhões de toneladas de minério por ano no lado novalimense da Serra do Curral. Caso seja aprovado, 150 hectares de floresta de Mata Atlântica em transição para o Cerrado serão devastados para a implantação do empreendimento. Foi o que a Ecológico reportou em sua edição 99. Em relação ao Parque Estadual Serra do Rola-Moça, o perigo vem da possibilidade de reativa-

ção de duas minas. A primeira é a de Casa Branca, da Mineração Geral do Brasil (MGB), que foi desativada há 17 anos pelo Ministério Público (MPMG) por danos ambientais que não foram compensados. A mineradora pleiteia autorização junto ao Estado para extrair 17 milhões de toneladas nos próximos anos. Assim como no caso da Taquaril, os ambientalistas destacaram na audiência que a intenção da MGB é a mesma: minerar sob o pretexto de ganhar dinheiro para fazer a recuperação ambiental depois. A mina de Casa Branca está localizada próxima ao Mirante dos Veados, em Brumadinho, um dos pontos mais visitados do Rola-Moça. Outra preocupação é uma mina próxima a Ibirité e explorada pela Mineração Santa Paulina. O Ministério Público embargou as atividades da empresa no local em 2009, mas ela conseguiu retomar a extração de minério. Em abril deste ano, o MP novamente a impediu de atuar na região. A empresa continua tentando na Justiça retomar as atividades. *Com informações do Lei.A (www.leia. org.br) e da Câmara Municipal de BH.

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SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  33


1 A MINERAÇÃO EM DEBATE

Júlio Grillo, superintendente do Ibama em Minas Gerais LEMBRANDO MARIANA “Não é possível pensar projetos minerários de forma isolada na região, sem considerar os empreendimentos imobiliários e a expansão urbana desordenada. Nos últimos anos, estamos vivenciando um processo de desmonte da legislação ambiental. Se não revisarmos os procedimentos e a estrutura dos projetos para o estado, continuaremos a ter desastres como o de Mariana. Na Serra do RolaMoça, a tragédia será o desabastecimento, o comprometimento da soberania hídrica da região. A luta pela Serra não é uma bandeira contra o progresso, mas a favor das vidas humanas e não humanas que habitam aquele lugar.” Emmanuel Almada, mestre em Ecologia pela UFMG, doutor em Ambiente e Sociedade e professor da UEMG/Unidade Ibirité CONSEQUÊNCIA ÁRIDA “Quando, por exemplo, a Prefeitura de Itabirito toma uma decisão através do SAAE de liberar outorga de exploração de água para a Coca-Cola Femsa e três 34  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

nascentes na Serra do Jorge e na Serra da Moeda secam, a consequência não é para Itabirito. É para Brumadinho, Ibirité, toda a Região Metropolitana. A CPI instalada na Câmara Municipal de BH identificou, por meio de visitas à área de exploração, que o Parque Estadual da Baleia está sendo minerado pela Corumi. Isso é crime! Tanto a área de amortecimento quanto o próprio parque estão sendo minerados. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) tem de fechar aquela mina definitivamente e exigir a recuperação ambiental.” Gilson Reis, vereador e presidente da CPI da Mineração COLUNA QUEBRADA “O governador Fernando Pimentel colocou em votação, em regime de urgência, o PL 2.946, que deu origem à Lei 21.972, flexibilizando os licenciamentos ambientais no estado. Essa lei 'quebrou a coluna' do meio ambiente. Antes o sistema de licenciamento funcionava em três fases (Licença Prévia, de Instalação e de Operação). Depois passou a ser LOC (Licença de Operação Corretiva). Essa lei previu também a revisão da Deliberação Normativa 74, conquistada por meio da luta dos movimentos ambientais, e a retirada da polícia ambiental e do meio ambiente dos processos de licenciamento, das composições das Câmaras Técnicas, a centralização das decisões em Belo Horizonte a toque de caixa. A mineradora Santa Paulina está com um embargo de decisão favorável para voltar a minerar a 900 metros do manancial Taboões, que abastece Ibirité e a RMBH. Isso é uma aberração!” Pedro Cardoso, do Movimento Serra Sempre Viva e conselheiro do Parque Estadual Serra do Rola-Moça ÁGUAS GERAIS “O corredor ecológico é muito importante para a região. O Estado já acertou isso com Nova Lima

FOTO: REPRODUÇÃO

RISCO ALTÍSSIMO “Estamos no início de uma crise hídrica no Brasil e, especificamente na RMBH, ela aparentemente será grave. Sessenta e sete por cento da água consumida na capital mineira vem da captação de Bela Fama, em Nova Lima, mas a Copasa não tem um balanço hídrico que informe a real disponibilidade. Isso é um risco altíssimo, porque não teríamos como repor essa água. É uma irresponsabilidade generalizada continuar licenciando empreendimentos que possam impactar o consumo de água em BH sem um conhecimento pleno da disponibilidade ou do balanço hídrico de Bela Fama.”

FOTOS: RICARDO BARBOSA / ALMG

O QUE DISSERAM... OS AMBIENTALISTAS


Arthur Nicolatto, médico, professor da UFMG e morador do bairro Taquaril

Adriano Peixoto, presidente da ONG EcoAvis FOTO: DIVULGAÇÃO

DOIS BRINDES “Lamento a ausência das autoridades que não enviaram representantes, o que mostra o pouco caso deles com um tema tão importante e que afeta a Região Metropolitana. Uma das nossas maiores apreensões é a semelhança entre a proposta de recuperação ambiental na Serra do Rola-Moça tendo em vista o que acontece na Serra do Curral. As obras que têm de ser feitas para recuperar o parque custariam muito menos do que se fossem para obras de recuperação de taludes, do que se vai gastar de tempo e da biodiversidade do local por uma atividade econômica. É como dar dois brindes: você minera e, em vez de recuperar o que se destruiu, você minera de novo. É um absurdo. Não à mineração nas serras do Rola-Moça e do Curral!” Maíra do Nascimento, do Movimento de Águas e Serras de Casa Branca GOELA ABAIXO “Um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) não é licenciamento para mineração. As empresas alegam que precisam minerar para ter dinheiro para recuperar as áreas, como se não tivessem tido lucro nenhum, como se fossem vítimas das pessoas. Não se deve ter tolerância com a mineração na região. Essas propostas de licenciamento corretivos são artimanhas para fazer isso passar goela abaixo da sociedade. A

Região Metropolitana representa apenas 1,6% do território do Estado, onde reside 30% da população. É um espaço de vida. Qualquer atividade exercida em contrariedade a esses parques é absurda, porque atenta contra a vontade do povo.”

FOTO: RICARDO BARBOSA / ALMG

FOTO: RAÍLA MELO / ALMG

e Belo Horizonte. No caso da Mina Corumi, ela está exatamente na linha do corredor, que não é respeitado. Como recuperar uma cava como aquela? Eles a elevaram a 70 metros de profundidade, afetaram todas as nascentes do Parque da Baleia. A própria lei ambiental diz que topo de morro não pode ser destruído. As mineradoras estão acabando com todos os topos de morro que têm por aí. E as áreas de recarga hídrica estão neles. Isso é vergonhoso! Esse modelo de exploração tem de considerar a água e não o minério de ferro. As Minas Gerais são as águas gerais!”

O QUE DISSERAM AS PREFEITURAS Quase nada. Nenhum dos prefeitos convidados das quatro cidades abrangidas pelas duas áreas de conservação – Alexandre Kalil (Belo Horizonte), Vitor Penido (Nova Lima), William Duarte (Ibirité) e Avimar Barcellos (Brumadinho) – esteve presente na audiência. Apenas a Prefeitura de Ibirité enviou um representante: Anderson Mourão, secretário de Meio Ambiente e Serviços Urbanos. Em seu depoimento, ele afirmou que a segurança hídrica na Região Metropolitana é fundamental para todos. “A forma que Ibirité conduz esse debate no município é abrindo espaço para a manifestação da sociedade civil e exigindo que a legislação ambiental seja cumprida. O processo que nos afeta mais é o da mineradora Santa Paulina, mas ela não está em funcionamento. Ia ser realizado no município (é um empreendimento Classe 3) e depois foi para o Estado (Classe 5). É essencial que haja o processo de licenciamento e audiência pública em Ibirité”, defendeu Anderson.

O QUE DISSERAM AS MINERADORAS Segundo os ambientalistas, havia alguns representantes do setor na audiência pública, mas eles não se manifestaram.

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SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  35


1 A MINERAÇÃO EM DEBATE

Durante a audiência pública, a gerente de Divisão de Recursos Hídricos da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Silvana Vaz, afirmou que especificamente em relação ao Rio das Velhas, de onde vem a maior parte da captação de água, estão sendo desenvolvidos vários estudos dentro do Plano Diretor da Região Metropolitana. Eles incluem, principalmente, a realização de balanços hídricos de todos os mananciais onde há captação de água pela Copasa. E confirmou que no Quadrilátero Ferrífero, onde estão concentrados os empreendimentos

FOTOS: RICARDO BARBOSA / ALMG

A POSIÇÃO DA COPASA minerários, “o uso da água subterrânea não é bem caracterizada e outorgada”. Sobre as mineradoras envolvidas nas polêmicas da Serra do Rola-Moça, Silvana destacou que elas se encontram a jusante das principais captações de água e que em um primeiro momento o impacto é mínimo. Vale lembrar que essas empresas não apresentaram estudos completos sobre o impacto de suas atividades no complexo hídrico da região. A MGB, que opera a Mina de Casa Branca, foi a única que apresentou à Copasa um estudo prévio. “Ele, entretanto, é muito preliminar e há necessidade de melhorias no que tange ao monitoramento. Apesar de a mineradora apontar que não irá atingir o nível de água no rebaixamento de cava no estágio final, temos essa preocupação porque, uma vez iniciada a atividade, o projeto pode tramitar de outra forma”, ressalta Silvana.

A POSIÇÃO DA SEMAD “O estado é muito grande e na Região Metropolitana de BH são mais de 80 municípios. E, além das audiências públicas, da representação nos Conselhos, existem as portas de entrada das denúncias feitas pela população e somos obrigados a tratar desses assuntos no âmbito do licenciamento. Essa participação é muito importante. No caso da Serra do Curral, recebemos a denúncia da população contra a Empabra, chamamos todos os órgãos intervenientes (Semad, IEF, órgãos de patrimônio histórico municipal e estadual, Câmara Municipal de BH e ALMG) para agir de maneira conjunta e o resultado foi assertivo. Hoje, as atividades da empresa estão paralisadas e ela não está autorizada a vender minério. E sim

fazer só a recuperação ambiental. Também solicitamos obras emergenciais que o IEF está acompanhando e que estão sendo feitas. As outras mineradoras”, afirmou Hildebrando Rodrigues Neto, superintendente regional de Meio Ambiente da Central Metropolitana (Supram CM), “estão com processo de licenciamento em trâmite, sendo que o pedido de anuência sequer foi votado”.

AUDITÓRIO LOTADO e cartazes de protesto: a audiência reuniu ambientalistas, moradores e estudantes na ALMG

PARTICIPAÇÃO ATIVA Solicitada pela deputada Marília Campos (PT), que aprovou um novo requerimento para a realização de visitas técnicas aos parques da Baleia e do RolaMoça, com a participação de outros deputados, a audiência pública provou que o movimento ambiental mineiro continua forte. E ele está se perpetuando de forma mais organizada, unida e articulada. Como Caetano Veloso canta em uma de suas canções mais famosas, não podemos continuar “caminhando contra o vento”, ir contra aquilo que nos mantém vivos, que é a natureza. E se não lutarmos por ela agora, enquanto há um fio de esperança e tempo, ficaremos sem lenço, sem documento e sem água. 

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Uma nova programação está chegando na emissora da Padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade! Totalmente gratuita e em sintonia com você! Cultura, informação, lazer, evangelização, educação, entretenimento e muito mais!

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1 MINERAÇÃO & COMUNICAÇÃO

IMAGENS da paisagem pré-mineração, dos anos de mineração e da restauração ecológica ocorrida no River Blue...

TRÊS ANÚNCIOS

PARA UM RIO

Quando a mineração e o governo conseguem se comunicar de maneira simples, eficiente e cidadã, à beira de um rio recuperado a três mil metros de altitude, no sudoeste das Montanhas Rochosas do Colorado (EUA) Hiram Firmino

De Breckenridge, Colorado, Condado de Summit (EUA) redacao@revistaecologico.com.br

J

á fazia dias que eu levava Lucas Moniz, a doçura de um menino de pouco mais de um ano de idade, neto da minha mulher, Eloah, para passear e brincar à beira de um pequeno e despoluído rio chamado Azul. Isso, na cidade turística de Breckenridge, distante 130 quilômetros de Denver, onde nasceu o mountain bike e foi filmada a grande maioria dos filmes de faroeste que encantaram o mundo. 38  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

E onde hoje, em vez de flecha, pistola ou espingarda – parece um sonho real – há vasos de flores exuberantes, que são regadas todas as manhãs e entardeceres por servidores da prefeitura local. Impressionante: flores em cada rua, esquina, poste, porta, janela ou alpendre poético que você encontra à sua volta na encantadora Breckenridge. Pois foi num desses dias, em meio à profusão de outros avós,

pais e mães olhando suas crianças brincarem nas pedras e nas águas congelantes do Blue River, que percebi uma placa singela, de aço inoxidável, à sua margem composta por três desenhos e três textos. Onde se pode ler “Riverwalk – Marcador de Restauração”, assinada por Kevin W., desde dois de julho de 2012, a placa não ocupa mais que um metro de largura por outro de altura. Mas conta tudo de


FOTOS: KEVIN W.

...o rio-símbolo de sustentabilidade e auto-estima dos norte-americanos na hoje cidade turística de Breckenridge

história, horror e recuperação ambiental ali ocorrido. No mesmo local onde milhares de norte-americanos e turistas de todas as partes do mundo vão todos os anos para andar de bike ou esquiar nas neves já não mais eternas das Montanhas Rochosas, por causa das mudanças climáticas. Tal como, em escala global, o filme “Três anúncios para um crime”, estrelado por Frances McDormand, “Melhor Atriz” do último Oscar, foi capaz de mostrar: o papel e a força da comunicação direta. Para quem não assistiu ao filme, trata-se de uma mulher que, inconformada com a ineficácia da polícia, em não desvendar o assassinato de sua filha, resolve – criativamente – denunciar o xerife local, instalando três outdoors (anúncios subsequentes) na entrada e saída da cidade, onde o crime aconteceu. O primeiro anúncio do Rio Azul, com desenhos de bisões e paleoíndios que já beberam de suas águas límpidas, há 6.800 anos, informa que bandos de Utes, como eram chamados esses descenden-

tes dos primeiros povos norte-americanos, também já viveram e caçaram em todo o seu vale, antes de devastá-lo. Foi como descreveu o explorador Thomas J. Farnham, em 1839: “A paisagem parece ondas cobertas de búfalos, em meio a flores silvestres”. O ANTES E O DEPOIS O anúncio responde: “Granitos, gnaisses e xistos, as antigas rochas no coração das montanhas que cercam Breckenridge e foram formadas há mais de 600 milhões de anos passaram a ser mexidas pela própria revolução geológica do planeta, fazendo-se infiltrar e depositar veios riquíssimos de ouro, prata, chumbo e zinco em seus cursos d’águas”. Notadamente no Rio Azul, afluente do Rio Colorado. Até então, o rio fazia jus ao seu nome. Mas, como informa o segundo anúncio, depois vieram os anos 1800, já sem índios nem Utes: “Foram os anos da mineração que alteraram drasticamente a paisagem não só do rio, mas de todo o seu vale. As florestas desapareceram e, no seu lugar, as dra-

gas transformaram o chão natural em enormes pilhas de pedras. Em 1859, a paisagem natural original já não existia mais”. A gente continuou lendo no marcador de tempo: “As florestas foram impactadas pelas atividades de mineração. Incêndios passaram a ser constantes em todo o vale, seja acidentalmente, queimando brasas, ou intencionalmente para expor as rochas e facilitar a prospecção mineral. Embora a queima anual dos fundos dos vales pelos primeiros norte-americanos tenha impactado a vegetação da área, essa ação não se compara à devastação que acompanha os anos de mineração. Mais do que todos os incêndios combinados, o corte de madeira foi responsável por desnudar as encostas arborizadas em toda a região”. “Fotografias do final do Século XIX revelam que vastas áreas de árvores nas montanhas circundantes foram cortadas. A madeira fornecia materiais de construção para cabines, comportas, ferrovias, minas de madeira, quilômetros de canos de madeira e combustível SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  39


1 MINERAÇÃO & COMUNICAÇÃO

O SEGUNDO ANÚNCIO Ele continua lembrando que as dragas maiores processavam até 5 mil jardas cúbicas por dia. Em um mês, volume equivalente a um campo de futebol, de 90 metros de profundidade, era processado para extrair US$ 80 mil em ouro. Atrás das dragas, montes de peÀ ESQUERDA, a placa dos três anúncios e o rio hoje limpo tomado pelas pessoas: sustentabilidade e amor social

dras secas e estéreis, empilhadas em dois andares, cobriam grande parte do fundo do vale. Em 1942, quando as últimas dragas fecharam, a maior parte da vegetação no fundo do vale e o solo necessário para suportar o crescimento das plantas desapareceram. Tinha sito levado pelo Rio Azul afora, junto à areia advinda do desmonte/assoreamento progressivo das suas margens. Consequentemente, em lugares onde as dragas antigas haviam operado, o curso d’água literalmente desapareceu no subsolo. A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA Em 1988, quatro anos antes da ECO/92 no Brasil, quando o mundo foi informado e despertou para a questão ambiental, a cidade de Breckenridge já havia criado um plano para restaurar o seu famoso e cristalino rio da cor do céu. Toneladas de pedras no canal do rio foram movidas. O solo e milhares de espécies de plantas endêmicas da região devastada foram importadas de outros estados para realocação às suas margens. O governo municipal comprou 11 acres de rejeitos de mineração para reconstruir o que seus moradores hoje chamam e se orgulham como “caminho do rio”, o Riverwalk. Todo o seu curso foi restaurado, reconfigurando 90 mil FOTO: KEVIN W.

para os enormes barcos e dragas”. E continua: “Por mais de 80 anos, os mineradores empregaram uma variedade de técnicas para alcançar o ouro. Cada método deixou uma marca na paisagem. Um dos últimos, a dragagem, foi o mais destrutivo. Ele literalmente virou os pisos do antigo e bucólico rio, e todo o seu vale, de cabeça para baixo”. As dragas eram enormes estruturas de minas flutuantes construídas a partir de até 40 cargas de vagões ferroviários de madeira do Noroeste Pacífico: “Entre 1898 e 1942, nove barcos de draga operaram no Condado de Summit. Os enormes cascos flutuavam nos lagos de sua própria criação. Eles subiram e desceram vagarosamente os vales, enquanto processavam os depósitos de calçada até o leito de rocha. Com seu apetite voraz por ouro, essas máquinas consumiram os prados floridos e as terras úmidas que davam vida e enfeitavam o Vale do Rio Azul”.

toneladas de calçadas de pedra. Ou seja: mais de um quarto da área atualmente urbanizada na forma de cidade foi destinada à restauração ecológica. Os rejeitos de dragagem seca também foram convertidos de volta ao que a sua população hoje nomeia como “Vales de Flores Silvestres” da paisagem pré-mineradora. E o bem-sucedido processo de restauração do Riverwalk continua. É o que eu e milhões de turistas podem ler no terceiro e último anúncio à sua beira: “Esse local é como um paciente em tratamento intensivo. Exigirá proteção cuidadosa contra infecções (ervas daninhas), pois recupera sua força e saúde (densidade de plantas, diversidade e função). Esse período pós-atendimento é fundamental para o sucesso do projeto. Uma equipe especial e local irá administrar todos os cuidados posteriores”. E, sem ódio algum, nem o subterfúgio da comunicação tão somente online (cada vez mais usada pelo setor mineral brasileiro, provocando mais desamor ainda contra o setor junto à opinião pública, vide o exemplo da Samarco e Fundação Renova no Rio Doce) termina assim o texto-legenda dos três anúncios do Rio Azul, na hoje ecologicamente correta e ex-minerária Breckenridge, em meio ao cenário de cinema do sudoeste norte-americano: “Convidamos você a explorar esse emocionante projeto de demonstração. Veja, por si mesmo, o potencial que a restauração ecológica guarda para devolver a beleza, não somente do nosso Rio. Mas do Vale todo, hoje também novamente Azul”. A gente olha em volta do marcador no meio da praça, as crianças e seus pais brincando no rio. E sente esperança. É tudo verdade. É tudo possível!  SAIBA MAIS

www.townofbreckenridge.com


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GESTÃO & TI

ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

LIFELONG O QUÊ?

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á vamos nós de novo. Viajando entre neologismos, anglicanismos e puritanismo conceitual, há que se enfrentar a onça dos conceitos. O termo da vez é Lifelong Learning, “a busca contínua, voluntária e automotivada do conhecimento por razões pessoais ou profissionais. Portanto, não só aumenta a inclusão social, a cidadania ativa e o desenvolvimento pessoal, mas também a autossustentabilidade, bem como a competitividade e a empregabilidade”. É o que diz a Wikipedia. Ando aí, por esse mundão de meu Deus, trabalhando com isso misturado com Inteligência Artificial e comecei a tirar umas conclusões. O conceito é simples na sua essência: acabou a barreira que divide o tempo da escola do tempo do trabalho. E - escreva aí e me cobre isso -, as novas tecnologias já reinventaram o significado de diploma, de ensino médio, de ensino fundamental e por aí afora. Quero dizer: programadores muito jovens estão revolucionando o mundo, consequência direta de um impulso, responsável ou não, pelo empreendedorismo cada vez mais cedo. Tenho escutado muitas histórias de adolescentes que até frequentam uma escola, nos intervalos da gestão de suas “empresas”. Vai começar cada vez mais cedo e eu não escrevo aqui para discutir certo e errado, mas fatos! Se assim é, Lifelong Learning significa nunca parar de aprender, desde o momento em que saímos da barriga de nossas mães, até a hora em que descermos ao descanso eterno. Se dizem até que não vamos mais morrer, nem haverá descanso, não procede? Mas isso é outra cerveja, outro torresmo e muita conversa! Voltemos ao ponto: é preciso medir o aprendizado? E, se é preciso, como vamos medi-lo? Vamos partir do princípio de que William Edwards Deming, engenheiro e matemático norte-americano nascido incrível e distantemente em 1900, e longevo, morto em 1993, ainda permaneça vivo. Recordemos: “Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, e não há sucesso no que não se gerencia”.

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Se assim é, o tal do Lifelong Learning precisa ser entendido para ser definido. Definido para ser medido e, por fim, propiciar uma genuína gestão de carreira, a tal que dizem que agora é mutante, mutante, mutante ao longo da vida! Também nessa matéria, as pessoas ficam confusas, mas o Lifelong Learning é contínuo, voluntário e automotivado e fim! Se não for assim, voltou a ser escola e escola tradicional, seja essa escola uma empresa (ou uma escola mesmo), aquelas do século XX. Se é contínuo não pode ser só na hora da prova nem na hora da seleção pra trabalhar numa empresa. Se é voluntário, tem que ser focado no indivíduo, não na escola, não na empresa. Para mim, caberá a essas empresas e escolas criarem as condições para que as pessoas estudem e estudem de acordo com essas premissas: sempre, porque querem, porque julgam isso importante em suas vidas. Temos que ensinar as pessoas a aprenderem e deixar que aprendam. Para além disso, é ajudá-las a medir e navegar pelo mundo do conhecimento. Nesse quesito, prepare-se: muita tecnologia vem por aí! 

TECH NOTES  Speck: Plataforma socioemocional que

transforma goo.gl/5mnBBu

 Aluno ou profissional?

goo.gl/LsC6Fd

 Um imperativo econômico

goo.gl/LhJ9kQ

(*) CEO & Evangelist da Kukac Plansis, fundador do Arbórea Instituto.


OS MAIORES CRIMES AMBIENTAIS DO BRASIL (6)

FOTOS: DIVULGAÇÃO

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UMA ÚNICA PALAVRA:

SAUDADE

O SEXTO EPISÓDIO DA SÉRIE “O AMBIENTALISTA” REVIVE OS DRAMAS E AS POLÊMICAS DA MAIOR TRAGÉDIA SOCIOAMBIENTAL DO BRASIL: O ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE FUNDÃO, EM MARIANA, CUJAS FERIDAS AINDA LATEJAM ENTRE AS MONTANHAS DE MINAS ATÉ O ESPÍRITO SANTO 42  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018


Neylor Aarão

redacao@revistaecologico.com.br

P

ercorrendo o Brasil, de Norte a Sul, para mostrar crimes e impactos ambientais e como eles nos afetam, chegamos a Minas Gerais, minha terra natal e estado que carrega, em seu próprio nome, a ligação intrínseca com a mineração. Com mais de 700 barragens usadas para a contenção de rejeitos originados do beneficiamento, produção e extração do minério de ferro, Minas tem sido palco de graves acidentes e rompimentos dessas estruturas. A maior tragédia do setor já ocorrida no país se deu na tarde de 5 de novembro de 2015. A Barragem de Fundão, da mineradora Samarco, devastou o distrito de Bento Rodrigues, a cerca de 35 km do centro de Mariana (MG). Um rastro de lama assolou o Rio Doce e atingiu o Oceano Atlântico, deixando 19 mortos. Diante de tudo que vi e ouvi na cidade, é quase impossível imaginar que o processo de licenciamento pudesse prever a extensão desse dano, o que deixa sob suspeita todo o processo de licenciamento de barragens no Estado. Durante a gravação desse episódio, uma de minhas primeiras providências, em Mariana, foi ligar para o setor de Imprensa da Samarco. Fui informado que não havia nenhum porta-voz oficial da empresa que pudesse nos atender e gravar entrevista, dando a versão da mineradora sobre o acidente e abordando aspectos ligados à segurança da barragem. Diante da negativa, decidi me encontrar com Mônica dos Santos, moradora de Bento Rodrigues. Com ela, seguimos de carro até o local da tragédia. Chegando

ACIDENTE ocorrido em novembro de 2015 devastou o distrito de Bento Rodrigues, deixando um rastro de destruição e 19 mortes

lá, conheci também Mauro da Silva, outro morador, e caminhamos juntos pelas ruas do Bento, forma carinhosa como eles se referem ao velho e destruído distrito. CENÁRIO DE GUERRA O cenário à nossa volta era pior do que uma praça de guerra. “Em casos de guerra, quando tudo acaba, pelo menos você tem esperança de voltar. Os mais apaixonados pelo Bento também têm esse sentimento, de esperança.” Enquanto caminhamos, Mônica aponta o local em que havia uma lanchonete. “Ficava aqui, bem na esquina, perto de uma feirinha e do açougue. Naquele prédio, de dois andares, era o Bar do Barbosa, onde

a gente achava de tudo”, relembra. Em meio à lama, nos deparamos com dois ursinhos de pelúcia, o que confirma a presença de famílias com crianças no local. Um pouco mais adiante, Mauro nos mostrou restos de uma construção e do quarto onde que ele nasceu. Em Paracatu de Baixo, outro distrito atingido pela tragédia, o cenário de devastação se repetia. A onda de lama que desembocou no Atlântico, em Regência, no Espírito Santo, atingiu cerca de 5 metros de altura. Um dos moradores, Marino D’Ângelo, nos mostrou o que havia sobrado de sua casa. Nada! IMPACTOS INIMAGINÁVEIS Coordenadora de Emergências Ambientais do Ibama, Fernanda Pirillo afirma que não se tem registro no país de um acidente de

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SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  43


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OS MAIORES CRIMES AMBIENTAIS DO BRASIL (6)

tamanha proporção, bem como de impacto ambiental, social e econômico. Afinal, atingiu em sua totalidade o Rio Doce, importantíssimo para a economia local, sem falar nas comunidades indígenas e tradicionais diretamente dependentes dele para sua sobrevivência. Segundo ela, houve impactos na foz e vários outros danos ambientais, como a mortandade de animais, o assoreamento de outros cursos d’água e a interrupção do abastecimento de cidades. “O desastre reuniu todos os tipos de impactos ambientais imagináveis”, frisa. “A barragem de rejeitos de mineração traz muitos riscos, porque é construída sem consentimento da comunidade. Geralmente, tudo é norteado pelo que as empresas querem. Para nós, é como uma bomba instalada em cima da cabeça das pessoas e aqui, em Mariana, foi o grande exemplo disso”, salienta Letícia Oliveira, representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB-MG). Para Letícia, diferentemente dos barramentos de usinas hidrelétricas, as estruturas destinadas à contenção de rejeitos da mineração são estruturas datadas, ou seja, temporárias e com menor vida útil estimada. “A barragem se mantém enquanto a mina existir. Com o fim da operação, tudo tem de ser desativado, o rejeito removido e tem que ser dada outra condição à estrutura.” O processo de licenciamento ambiental, durante o qual se faz, por meio de estudos ambientais, a previsão dos impactos do empreendimento, também é responsável por determinar fatores ligados à segurança tanto da construção quanto do alteamento (aumento da capacidade de 44  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

“A gente tinha uma história. Agora, somos uma comunidade inteira que perdeu tudo, é muito triste.” Keila dos Santos, ex-moradora de Bento Rodrigues

armazenamento) das barragens de rejeitos minerários. Subprocuradora-geral da República, Sandra Cureau explica que, normalmente, essas barragens são construídas para serem alteadas na medida da necessidade e do aumento da produção da empresa. “Mas é preciso ter garantias e segurança de que uma determinada barragem tem resistência suficiente para suportar a quantidade de rejeitos planejada. Em Mariana, isso não aconteceu de maneira alguma. Fundão já apresentava rachaduras dois anos antes do acidente. E o mais dramático de tudo é o fato de a barragem ficar acima do distrito de Bento Rodrigues.” PODER DE POLÍCIA Protagonista da tragédia, independentemente de culpa, a Samarco assumiu riscos ao construir o empreendimento. Questionada sobre de quem seria a responsabilidade pelo rompimento, Fernanda Pirillo, do Ibama, é enfática. “A responsabilidade pela barragem é da Samarco. Aos órgãos intervenientes, que licenciaram, cabe a fiscalização. Mas o responsável é sempre o empreendedor. Não são acidentes, normalmente são

negligências que causam esse tipo de evento.” A subprocuradora-geral Sandra Cureau vê outros corresponsáveis pela tragédia ocorrida. Para ela, além dos governos federal e estadual, os órgãos ambientais também são responsáveis, uma vez que se omitiram, não fiscalizaram e não cumpriram o seu dever de exercer o poder de polícia. “A Samarco é controlada pela Vale e pela BHP Billiton. A Billiton tem um histórico de tragédias ambientais mundo afora e a Vale, entre outras questões, financiou a campanha do atual governo de Minas. O governador, inclusive, chegou a conceder entrevistas dentro das dependências da Samarco.” Para Letícia Oliveira, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB-MG), é papel do Estado, na condição de governantes eleitos pelo povo, apoiar e estar ao lado dos atingidos pelo acidente. “Mas, infelizmente, sabemos que há vários mecanismos do Estado para estar também junto com as empresas, principalmente no que se refere ao financiamento privado de campanha eleitorais. Esse é um problema sério e faz com que as empresas se sintam no direito de cobrar resultados do poder público.” Do ponto de vista legal e dos direitos humanos, conforme salienta o promotor de Justiça Guilherme de Sá Meneghin, a Samarco tem de arcar com todos os prejuízos causados aos atingidos. “Não basta simplesmente construir uma casa para a pessoa no local anterior, pagar uma indenização. É preciso resgatar e incentivar as práticas culturais e modelos econômicos que elas tinham antes do acidente, ou seja, reparar efetivamente o meio de


FOTO: DIVULGAÇÃO

TRAGÉDIA apagou para sempre a memória e a pacata rotina dos moradores de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo

vida sociocultural e econômico dessas pessoas. Tudo isso é responsabilidade da empresa.” CRITÉRIOS POLÊMICOS Os critérios adotados pela Samarco para decidir ou não pela indenização das famílias e reparar os danos causados geraram – e ainda continuam – gerando muita polêmica. Marino D’Ângelo, de Paracatu de Baixo, cita o exemplo de uma moradora que se mudou temporariamente para Mariana, para acompanhar os estudos do filho, e não foi contemplada nas indenizações, porque a empresa considerou que sua casa seria de ‘fim de semana’. “Ela perdeu o direito de usar a casa e não foi contemplada com nada. São critérios que a Samarco cria para excluir direitos das pessoas.” Para Marino, a Samarco exerce forte domínio sobre políticos e órgãos de controle em Mariana. “Existe uma obsessão de que se a Samarco for embora, Mariana acaba. Mas a Samarco está há 50

anos em Mariana e não temos educação e saúde de qualidade, nem segurança nenhuma. Se [a mineração] fosse tão boa assim para Mariana, a gente seria uma cidade modelo.” Mauro da Silva, de Bento Rodrigues, corrobora a versão de Marino. “Pela lei, independentemente do número de residências que a pessoa tenha, qualquer uma delas pode ser caracterizada como domicílio. E o que a gente vê é a empresa simplesmente passando por cima de tudo, como se ela fosse a lei.” SEGURANÇA NEGLIGENCIADA Diante do que vimos nos dois distritos, após a tragédia, ficou claro que a segurança das comunidades, localizadas abaixo da barragem, foi negligenciada. Não havia plano emergencial concreto, sistemas de alerta ou sirenes para alertar a população em caso de colapso. Os moradores se salvaram por sorte. Logo no início das apurações que resultaram no inquérito ci-

vil e, posteriormente, na Ação Civil Pública, salienta o promotor de Justiça Guilherme de Sá Meneghin, ficou claro que a prática de alerta sobre os riscos representados pela barragem era invertida. Ou seja: os moradores é que cobravam e alertavam a Samarco sobre a possibilidade de um eventual rompimento e a ausência de um plano de emergência. “Eles alertaram a empresa inúmeras vezes e sempre recebiam como resposta que havia problema algum com a barragem, que ela estava segura. Além desse comunicado falso e evidentemente equivocado para os atingidos, a Samarco também não os treinou para um caso de rompimento, nem criou um sistema de alerta.” “Para nós, o mais importante agora é debater qual é a mineração que o povo quer: para Minas e o Brasil. Uma mineração que paga pouco, explora o trabalhador e na qual a maioria do minério vai para fora do país? Ou uma que favoreça de fato os municípios e considere o tipo de barragem mais adequada, segura e o destino correto do rejeito? É possível minerar a seco? Tudo isso precisa ser debatido com a população e, as determinações, cumpridas pelas empresas”, frisa a representante do MAB-MG. A penalização na área criminal, ressalta a subprocuradora Sandra Cureau, está diretamente ligada ao poder aquisitivo do réu. “Enquanto o réu tiver dinheiro para pagar o seu advogado, ele pode protelar a decisão dessa ação indefinidamente. Na prática, o réu pobre é o que é penalizado.” Na visão da subprocuradora, de modo geral, as empresas contam muito com a impunidade. “Já foi detectado que há outras barragens em risco em

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OS MAIORES CRIMES AMBIENTAIS DO BRASIL (6)

A salvadora de vidas PAULA ALVES: "A barragem veio depois de nós"

Moradora do então pacato distrito de Bento Rodrigues, Paula Geraldo Alves teve a alegria de ajudar a salvar inúmeras vidas no dia da tragédia. Ela saiu pelo povoado aos gritos, alertando as pessoas sobre o rompimento da barragem. “Se eu não tivesse conseguido chegar aqui, acho que teria morrido mais gente. Meu colega, que estava do outro lado, no alto do morro, me contou que foi a conta de eu atravessar a ponte, de moto, para a lama descer, arrancando tudo. Eu não vi aquele

mundo de lama atrás de mim.” Ela conta que estava trabalhando numa empresa terceirizada da Samarco. Ao fim da jornada, por volta de 15h45, escutou um barulho e ficou confusa. “Parecia avião, helicóptero, tempestade. Só que o dia estava lindo, maravilhoso, com céu azul e sol quente. Um técnico de segurança saiu de sua sala falando ao celular. Ele foi até a caminhonete, ligou o rádio transmissor e ouvimos todo o desespero do pessoal na área, gritando: ‘A barragem estourou, a barragem estourou’.” Paula não pensou duas vezes. Pegou sua moto e também saiu gritando pelas ruas do Bento. “Corre, que a barragem está vindo aí. Para chegar até sua casa, na parte alta do distrito, ela precisou empurrar a moto que, a essa altura, havia ficado sem gasolina.” “Quando encontrei minha família, olhei pra baixo e vi que já não tinha mais Bento. Estava tudo coberto de água, barro. As casas indo embora, a igreja, o bar da Sandra... Em questão de sete minutos tinha acabado tudo. Nunca mais confio de morar embaixo de barragem. Nosso distrito é centenário. Portanto, não construímos nossas casas aqui, embaixo da barragem. Eles é que construíram a barragem em cima de nós.”

FOTOS: DIVULGAÇÃO

"Mesmo reconstruindo a nova comunidade, que não vai ser mais aqui, muita gente não vai se encontrar nela. Minha sogra e meu sogro não se adaptaram onde a gente estava morando. Eles ainda estão procurando a casa deles... Mas não vão achar nunca mais o mundo que tinham." Marino D’Angelo, morador de Paracatu de Baixo Minas. Ainda assim, o acidente de Mariana não provocou nas empresas responsáveis nenhum tipo de ação no sentido de elaborar um plano de contingência, de estabelecer um sistema de alarme, nada. Elas continuam operando da mesma maneira. Nada mudou.” Diante de tantas versões e

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constatações, uma delas se sobrepõe. A certeza de que é impossível acabar com mais de 700 barragens de rejeitos num curto espaço de tempo. O procurador de Justiça de Congonhas (MG), Vinícius Alcântara Galvão, acredita que, após o episódio de Fundão, os órgãos ambientais estão mais cautelosos e novas

exigências serão acrescidas nos processos de licenciamento. “A postura que o Ministério Público adotou é a seguinte: barragem a montante (acima de comunidades) somos contra, porque são estruturas que têm menos segurança. A jusante (no sentido em que os rios correm) também precisam ser discutidas. São pau-


UM GRANDE MILAGRE

“Eu acredito muito em Deus. Para mim, por mais que tenha sido a maior tragédia ambiental do país, foi também um grande milagre. Se o acidente tivesse acontecido à noite, ia morrer todo mundo. Não tínhamos um radar, um sinal sonoro, nada. Não temos um legado para afirmar que se a mineração fosse paralisada, teria valido a pena. Se tudo parasse hoje, diria: foi ruim demais, porque quebrou, rachou nossa cidade ao meio. Não podemos deixar que uma cidade seja tão dependente da mineração como nós. Não só Mariana, mas qualquer cidade mineradora precisa, de forma rápida, buscar a sua diversificação econômica, porque a mineração é finita.”

FOTO: JOSÉ CRUZ/AGÊNCIABRASIL

tas e elementos para enriquecermos a discussão.” Presidente do Conselho do Patrimônio Cultural de Mariana, Ana Cristina de Souza Maia lembra que os moradores perderam todas as suas referências do dia pra noite. “Além de suas casas, camas, roupas, carros e motos, elas também perderam a sua paisagem, a sua rua, o seu vizinho, a sua história, o seu cotidiano, a sua rotina, a sua festa, a sua igreja, a sua fé e até mesmo seus mortos que ficaram nos destroços. A maioria das pessoas não entende isso.” Ex-moradora do Bento, Keila dos Santos resume tudo em uma palavra: saudade. “É uma saudade muito grande, porque eu cresci aqui. Minha história de vida está toda aqui.” Segundo ela, a angústia e a aflição de constatar que não existe mais o Bento são difíceis de descrever. “Dói demais olhar e ver as casas onde os amigos e os filhos da gente moravam e brincavam. A gente tinha uma história. Agora, somos uma comunidade inteira que perdeu tudo, é muito triste. Eu choro quando falo, dói demais ver tudo assim destruído.” Procurada pela reportagem da Ecológico, a Samarco informou em nota que “reafirma seu compromisso com as comunidades e locais impactados pelo rompimento da barragem de Fundão. A empresa reitera que apoia a Fundação Renova, entidade responsável pelas ações de reparação e compensação dos impactos causados pelo rompimento. A Renova é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, criada a partir da assinatura do Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC), firmado em março de 2016, entre a Samarco,

DUARTE GONÇALVES JÚNIOR, prefeito de Mariana

suas acionistas, Vale e BHP, e os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo. Desde novembro de 2015, até julho de 2018, foram desembolsados R$ 4,2 bilhões nas ações de reparação e compensação, assumidas pela Renova em agosto de 2016. Reforça também que em agosto deste ano foi homologado pela 12ª Vara da Justiça Federal de Minas Gerais o Termo de Ajustamento de Conduta Governança (TAC GOV) – do qual a Samarco é signatária – que aprimora a participação das pessoas atingidas no processo de reparação dos impactos decorrentes do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. O TAC GOV foi firmado entre a Samarco, suas acionistas, BHP Billiton Brasil e Vale, os Ministérios Pú-

blicos (Federal, do Espírito Santo e de Minas Gerais), as Defensorias Públicas (da União, do ES e de MG) e as Advocacias Públicas (da União, do ES e de MG), e outros órgãos governamentais”. 

LEIA NA PRÓXIMA EDIÇÃO: Os impactos da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

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MUNDO EMPRESARIAL

Perfil: Flávio Roscoe

FOTO: SEBASTIÃO JACINTO JR.

ROSCOE na coletiva: “A sociedade tem de ser maior que o Estado”

"QUE PAÍS É ESTE?"

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le assumiu a presidência da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) no fim de maio deste ano. E, em pelo menos duas oportunidades desde então, como no almoço-palestra da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE-MG), em 20 de agosto, e durante coletiva de imprensa exatos 30 dias depois, na sede da entidade, o industrial Flávio Roscoe mostrou ter crenças consolidadas. Sem medo de entrar em polêmicas, fazer enfrentamentos e mea-culpa, ele falou sobre os desafios da representação empresarial e reafirmou sua convicção de que este é o momento político para fazer as mudanças necessárias em prol do interesse coletivo. Mas, para isso, reconheceu, é preciso que além da articulação empresarial haja diálogo aberto e permanente com a toda a sociedade. Com sua fala direta e franca, Roscoe também bateu pesado na tecla de que há inúmeras re48  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

formas importantes para a retomada do crescimento brasileiro, como a da Previdência Social, além da urgência de reduzir o tamanho do Estado e a burocracia inoperante no serviço público. É o que você confere, a seguir:  MAIS OU MENOS “Ano passado, o Sistema Fiemg teve um déficit de caixa de mais de R$ 100 milhões e saltamos agora para um saldo positivo de R$ 100 milhões, apenas no segundo semestre. E a casa está funcionando bem, não tem nada fora do lugar. Esperamos fazer mais com menos.”  IMPOSTOS “A indústria já paga 48,6% de todos os impostos cobrados no país. Se o governo não quiser mais indústrias, melhor acabar com tudo logo; e encontrar outro setor para pagar, substituir esse valor.”  PREVIDÊNCIA SOCIAL “O maior programa concentrador

de renda do mundo chama-se Previdência Social brasileira. Para falar em justiça social, temos de discutir a questão da Previdência no âmago, porque ela paga uma merreca para milhões e um absurdo para poucos, com tenra idade ainda.” “A Previdência Social representa mais de 50% do gasto público federal. E tende a continuar subindo. Em pouco tempo, deve bater na casa dos 60%. Ninguém vai fazer nada?” “Essa reforma é vital para o Brasil, porque é boa para a população: ruim é não fazê-la. Ou, pior ainda, ficar sem dinheiro para custeála. Infelizmente, é para onde estamos caminhando.”  CENÁRIO ATUAL “O que me assusta é a sociedade brasileira não entender que a reforma da Previdência é


QUEM É

ELE

À frente da representação de 139 sindicatos e 64 mil indústrias em Minas, Flávio Roscoe, 46 anos, é dirigente da Fiemg há 16 anos. Sócio-diretor do grupo Colortextil, sediado em Belo Horizonte, ele preside o Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas (Sindimalhas). Atuou, ainda, como presidente do Conselho Fiemg Jovem e da Câmara da Indústria do Vestuário e Acessórios da entidade. Foi também integrante do Conselho de Indução ao Desenvolvimento de MG (Coind) e do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). É casado e tem três filhas.

necessária. Também me assusta ver candidatos [políticos] defendendo o fim da reforma trabalhista.” “Não deixarei nunca de apontar o caminho a ser seguido, com base na nossa perspectiva. Não estou dizendo aqui que ela é 100%

correta, mas é a nossa percepção.”  ORGULHO “O brasileiro não é picareta. Ele tem orgulho de honrar seus compromissos, gosta de pagar suas contas em dia. Temos de lhe assegurar meios para isso.”  REDUÇÃO DO ESTADO “Não dá para discutir reforma tributária sem antes debater o tamanho do Estado brasileiro. Ele é caro, grande e ineficiente. Como vamos crescer, se o Estado consome quase metade da nossa riqueza, do PIB [Produto Interno Bruto] e não investe nada?” “A reforma tributária é importante, mas é nada se comparada à urgência da redução do tamanho da máquina pública. Nos últimos 20 anos, boa parte da elite intelectual brasileira migrou para o serviço público, porque nós, das indústrias e empresas, deixamos.”

“É óbvio que temos servidores públicos capazes, comprometidos e competentes. Mas, a primeira reforma que defendo é o fim da estabilidade do servidor público. A sociedade tem de ser maior que o Estado que, por sua vez, deve atender às necessidades do setor produtivo e da população.”  BUROCRACIA “A burocracia é grande. Só hoje foram publicadas [no Diário Oficial] mais de 700 regulamentações; todos os dias é assim. Que país é este? Será que estamos na direção correta? Infelizmente, várias regulamentações não servem para nada. Por isso, as coisas não andam. Esse é o Brasil que temos.”  EM TEMPO: leia mais sobre o pensamento do presidente da Fiemg em nosso portal: goo.gl/UA3JJs

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Toda Lua Cheia

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1 EMPRESARIAIS A ArcelorMittal é a primeira produtora de aço do Brasil a obter a Declaração Ambiental Internacional de Produtos (DAP) para o vergalhão. Emitida pelo órgão certificador alemão IBU (Institut Bauen und Umwelt), a DAP abrange os vergalhões CA25 e CA50 produzidos em todas as unidades da empresa no Brasil. O produto foi escolhido como primeiro a pleitear a Declaração Ambiental devido à sua alta demanda no mercado de construção civil. DAP é um documento produzido e auditado de forma independente, reunindo informações sobre o ciclo de vida ambiental e os impactos de produtos.

MRV urbana

R$ 100 milhões. Foi esse o montante investido pela MRV Engenharia, no primeiro semestre deste ano, em obras de urbanização e infraestrutura viária e sanitária, nas diversas cidades que recebem os empreendimentos da construtora. Com esse valor, a construtora atingiu o marco de meio bilhão de capital empregado nas mais

de 150 cidades onde atua, nos últimos três anos. Somente em Minas Gerais, o investimento da MRV chegou a R$ 18 milhões. As principais obras realizadas foram: pavimentação de vias urbanas, construção de estações de tratamento de esgoto, de escolas e de ciclovias. Além da reforma e construção de praças, revitalização de áreas de lazer e de unidades básicas de saúde etc.

Veracel sustentável

Mudanças na estrutura corporativa da Veracel Celulose. Com sede em Eunápolis (BA), a empresa acaba de criar a Diretoria de Sustentabilidade e Relações Corporativas, sob o comando de RENATO CARNEIRO: Renato Carneiro, até desafio verde então gerente dessa área. Carneiro está na Veracel desde 2009 e sua promoção demonstra a importância das questões socioambientais para a companhia.

É amparada em pilares como esses que a Arcos Dorados/McDonald’s Brasil comemora um de seus melhores momentos no país. Entre as ações de destaque do grupo vale citar a “Gincana Bom Vizinho”, competição solidária que incentiva seus funcionários a transformarem voluntariamente as comunidades locais. Em 2018, esse programa completa 16 anos, totalizando mais de 110 mil ações promovidas em diferentes estados, incluindo a limpeza de praças, de escolas e o plantio de mudas. Na apresentação do Relatório de Impacto Social e Ambiental América Latina e Caribe 2017 à imprensa, em São Paulo, o presidente da Arco Dorados Brasil, Paulo Camargo, e o diretor de Desenvolvimento Sustentável, Leonardo Lima, destacaram ainda o movimento iniciado nas lojas da rede, em agosto, com a entrega de canudos plásticos apenas mediante solicitação dos clientes. "Esse é mais um passo. Temos de caminhar juntos rumo ao desenvolvimento”, pontuou Camargo. Na economia de água e de energia nos 50  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

FOTO: DIVULGAÇÃO

Sustentabilidade e solidariedade

Paulo Camargo e Leonardo Lima, durante encontro com a imprensa em SP: rumo ao desenvolvimento coletivo

restaurantes, também há avanços a ressaltar. Baterias solares são usadas para aquecimento da água, enquanto redutores instalados nas torneiras permitiram reduzir a vazão de 22 para apenas 2 litros por minuto. 

FOTO: DIVULGAÇÃO

Arcelor inédita



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PRÊMIO HUGO WERNECK

PREPARE O SEU CORAÇÃO! Às vésperas da nona edição do “Prêmio Hugo Werneck”, a Ecológico revisita um pouco da história da maior premiação ambiental do Brasil

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uando novembro chegar, o Brasil conhecerá os vencedores da nona edição do “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”. Desde que foi lançada pela Revista Ecológico em 2010, a premiação já recebeu quase mil inscrições e indicações de iniciativas socioambientais das cinco regiões brasileiras. Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Paraná, Santa Catarina e Ceará estão entre os estados que tiveram mais

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projetos reconhecidos nesses oito anos de história. A ideia de criar um evento que homenageasse o ambientalista mineiro Hugo Werneck (19192008) e se tornasse uma referência na promoção de exemplos sustentáveis surgiu em 2009, durante um encontro entre o jornalista Hiram Firmino e o então presidente do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra), José Fernando Coura. A história provaria

que nada acontece por acaso. Além da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a ideia foi abraçada por parceiros, empresas, instituições e cidadãos e possibilitou que 132 projetos fossem agraciados. E, principalmente, tivessem seu exemplo mostrado e replicado para o mundo. Convidamos você, caro leitor, para fazer uma viagem à memória da maior premiação ambiental do Brasil. Confira:


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PRÊMIO HUGO WERNECK

Maria Dalce Ricas e José Carlos Carvalho (2012) FOTO: REPRODUÇÃO

Um dos precursores da consciência ecológica na América Latina – foi o fundador do Centro para a Conservação da Natureza e defensor da criação de importantes áreas verdes de Minas Gerais, como os parques Nacional da Serra do Cipó e Estadual do Rio Doce –, Dr. Hugo acreditava que só o amor, a democratização da informação e a educação ambiental podem mudar a atitude do ser humano em relação ao meio ambiente e à natureza que nos resta.

FOTOS: GLÁUCIA RODRIGUES

Dr. Hugo Werneck

O troféu

Criada pela artista plástica baiana Suzana Gouveia, a estatueta do “Prêmio Hugo Werneck” é produzida com alumínio fundido e traz no topo de sua estrutura uma borboleta, símbolo da transformação e uma das paixões do dr. Hugo Werneck.

FOTO: JB ECOLÓGICO

1.000.000

Dr. Antunes (2013) FOTO: REPRODUÇÃO

Paul McCartney (2013)

O Prêmio em números é o número de cidadãos beneficiados pelas iniciativas premiadas

4.380

público presente nas oito cerimônias realizadas

954

Carlos Drummond de Andrade (2015)

132 troféus concedidos 50 projetos socioambientais reconhecidos

FOTO: REPRODUÇÃO

267 empresas patrocinadoras, apoiadoras e parceiras

Guimarães Rosa (2014) FOTO: TOMAZ SILVA/ABR

inscrições e indicações das cinco regiões brasileiras

22 ONGs e associações ambientais premiadas 52 personalidades já homenageadas. Entre elas:

Angelo Machado (2010) 54  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

Célio Valle (2011)

Papa Francisco (2015)

Chico Xavier (2016)

Sebastião Salgado e Lélia Wanick (2017)


2010: As vertentes ecológicas Na primeira edição, em 2010, foram apresentadas as vertentes de ensinamento do grande ambientalista brasileiro que fundamentaram a premiação. Elas sintetizam, com clareza, o que Hugo Werneck pregou em vida: um desenvolvimento verdadeiramente sustentável e amoroso. 2011: As borboletas Uma das grandes paixões de Dr. Hugo, as borboletas foram o tema da edição 2011 do maior prêmio da ecologia brasileira. Depois de perpetuar a máxima de que as borboletas são “cores que voam”, ele nos mostrou que a nossa transformação interior é o caminho primeiro para protegermos a natureza. 2012: O canário-da-terra Por sua beleza e capacidade de sobreviver em ambientes extremos, o Sicalis flaveola brasiliensis simboliza a luta pela economia verde e a erradicação da pobreza abraçada pelos governos, empresas e ONGs socioambientais na RIO+20. Tema do “III Prêmio Hugo Werneck”, o nome desse pássaro também representa a sobrevivência de todas as espécies aladas do planeta. 2013: A gravata O tema-símbolo da premiação foi a gravata-borboleta. O objetivo era passar a ideia de que a sustentabilidade, a questão ambiental e o amor à natureza defendidos por Hugo Werneck devem ser tratados com respeito, elegância e prioridade nas agendas governamental e empresarial.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Os símbolos temáticos

2014: O buriti A preservação do Cerrado brasileiro foi o tema desse ano. Para representar o bioma, presente em 14 estados brasileiros, o buriti foi escolhido como símbolo maior da premiação, que também homenageou desde o pioneirismo de Paulo Nogueira Neto, primeiro ministro de Meio Ambiente, até as veredas de Guimarães Rosa. 2015: As águas Na versão contrária da crise hídrica, a temática da sexta edição foi “Pelas Águas do Planeta – da Caixa D’Água do Brasil à Terra das Cataratas”. O prêmio teve dois grandes homenageados: Carlos Drummond de Andrade, por meio de sua obra poética, e o Papa Francisco, que lançou sua encíclica ecológica naquele ano. Itaipu Binacional também foi reconhecida por meio do projeto “Cultivando Água Boa”, na categoria “Homenagem Especial”. A iniciativa também foi agraciada com o “Prêmio Global ONU”, como “Melhor Exemplo em Água”. 2016: As mudanças climáticas A sétima edição homenageou projetos, organizações e indivíduos que contribuíram para reduzir os efeitos do aquecimento global, bem como o enfrentamento das mudanças climáticas. O homenageado do ano foi o médium e filantropo brasileiro Chico Xavier. 2017: A paz Sob o tema “A Terra pede paz”, a oitava edição do prêmio reconheceu indivíduos, projetos e instituições que desenvolvem iniciativas sustentáveis que estimulem a harmonia entre os seres humanos e o planeta, de forma a mantê-lo preservado, sustentável e mais justo. SAIBA MAIS

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PRÊMIO HUGO WERNECK

Edição 2018 “A Sustentabilidade na Floresta, no Campo e na Cidade: de Chico Mendes a Chico Bento” A ideia de reunir em um mesmo tema a floresta, o campo e a cidade é uma oportunidade de identificar, incentivar e reconhecer ações e iniciativas ecologicamente responsáveis que preservem a natureza e possam ser replicadas nos três ambientes. POR QUE CHICO MENDES? Em 2018 completam-se 30 anos da morte, por assassinato, do ambientalista e líder amazônico. Natural de Xapuri, no Acre, Francisco Alves Mendes Filho passou a infância e a juventude ao lado do pai, lutando a favor dos seringueiros da Amazônia, cuja subsistência dependia da preservação da floresta. Como a atividade extrativa na Amazônia era pautada por relações de exploração insustentável, causando grande miséria na região, o sonho de Chico Mendes consistia em mudar essa realidade. Buscar mais direitos para os trabalhadores e preservar, de maneira sustentável, a Floresta Amazônica. Seu trabalho ambiental e político em prol da natureza foi reconhecido pela ONU, em 1988, quando recebeu o “Prêmio Global 500”.

POR QUE CHICO BENTO? 56  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

Mais ecológico personagem de Mauricio de Sousa, que nasceu em Santa Isabel e cresceu na região rural de Mogi das Cruzes (SP), Chico Bento é fruto das observações de seu criador sobre o homem do campo. Seu nome foi emprestado de um tio-avô do desenhista, que ele não chegou a conhecer. Chico Bento foi criado para incentivar os leitores a preservarem os nossos recursos naturais, com um olhar mais voltado à terra, num reflexo da sensibilidade para a causa ambiental que Mauricio de Sousa demonstra desde criança. Em sua atual versão, o personagem cresceu e estuda Agronomia para voltar ao campo e ajudar seus pais a resolverem os problemas socioambientais da zona rural – uma tendencia que hoje, felizmente, já começa a se tornar realidade em todo o país. O HOMENAGEADO O desenhista, cartunista e criador da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa, nasceu em 27 de outubro de 1935. Foi durante a infância em Mogi das Cruzes que Mauricio teve seu primeiro contato com a natureza. Adorava tomar banho de rio, desenhar e rabiscar cadernos escolares. Mais tarde, seus traços passaram a ilustrar cartazes e pôsteres para comerciantes da região. Aos 19 anos, mudouse para a capital paulista e iniciou sua carreira como cartunista consagrado. Abordar a sustentabilidade nas revistas, vídeos e livros que edita para crianças e jovens foi um caminho natural para ele, desde 16 anos antes da realização da ECO-92 no Brasil, com a Turma da Mônica já abordando a questão ambiental. A vocação para ensinar, orientar e informar, sempre de forma leve, ecológica e bem-humorada, colocou-o entre os mais admirados escritores e desenhistas do país e do mundo.


“Sermos reconhecidos em uma premiação de tamanha importância em Minas e no Brasil muito nos orgulha. Ainda mais como o aval da sociedade e das comunidades onde atuamos. Isso reforça nosso esmero em fazer o melhor pela sustentabilidade do planeta.” MANOEL VITOR DE MENDONÇA FILHO, vicepresidente executivo da Gerdau

“A nossa história, a história da humanidade, tudo que o temos, foi construído através de sonhos. A gente sonhou e reconstituímos um ecossistema na Fazenda Bulcão, em Aimorés (MG), que ficou parecido com o de quando eu era criança. E, aqui no Prêmio, é uma honra estar na companhia de tantos companheiros sonhadores.” SEBASTIÃO SALGADO, fotógrafo de natureza “Se a Terra é um planeta vivo, esse ser está completamente alucinado. Estão colocando em risco a sobrevivência da espécie. O único jeito de combater isso é com informação rigorosa e precisa, que é o que a Revista Ecológico faz. Vida longa a ela e ao Prêmio Hugo Werneck.” FERNANDO MEIRELLES, cineasta

FOTO: DIVULGAÇÃO MRV FOTO: REPRODUÇÃO

“Muito mais do que falar sobre as catástrofes, que a gente foque e preste mais atenção no amor à natureza. É o amor que conhece o que é a verdade. É através do amor que conseguiremos cuidar bem da nossa Casa Comum.” MARIA JÚLIA COUTINHO (MAJU), jornalista

FOTO: STEVE JURVETSON

FOTO: DIVULGAÇÃO TV GLOBO

“Em um país como o Brasil, empresa alguma hoje pode se dar ao luxo de querer apenas ganhar dinheiro. Temos a obrigação de avançar não apenas no economicamente viável. Mas também no ecologicamente correto e socialmente mais justo.” RUBENS MENIN, empresário e presidente da MRV

FOTO: DIVULGAÇÃO

“O prêmio nasceu e se consolida como um exemplo de Minas para o Brasil e o mundo. Ele consegue representar e abordar todas as agendas da sustentabilidade. Acolhe e dignifica pessoas, projetos e empresas da Amazônia aos Pampas. E se posiciona e luta com amorosidade pela preservação dos nossos rios e florestas.” IZABELLA TEIXEIRA, ex-ministra de Meio Ambiente

FOTO: SENADO FEDERAL DO BRASIL

“Quando um Prêmio Hugo Werneck acontece, a repercussão é incomensurável. Faz reiterar algo muito importante para nós: que ser sustentável é podermos tornar possível a continuidade do nosso viver e sobreviver nesse planeta.” TONY RAMOS, ator

FOTO: GLÁUCIA RODRIGUES

“Acredito que nós podemos tentar ser parte da solução. Convido a todos que participam do Prêmio Hugo Werneck para que olhemos e cuidemos uns dos outros e do nosso mundo, que afinal é o único que temos.” CLEO PIRES, atriz

FOTO: HELENA LEÃO

Discursos marcantes

SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  57


1 MUNDO VASTO

MORADORES participam de ritual de matança e alegam depender da carne de baleias para sua alimentação

MAR DE SANGUE Matança de baleias ocorrida anualmente nas Ilhas Faroé, pertencentes à Dinamarca, segue assombrando o mundo e mobiliza a atuação de ONGs como a Sea Shepherd Bia Fonte Nova

redacao@revistaecologico.com.br

O

ritual sangrento se repete a cada verão no Atlântico Norte. Mais precisamente entre a Escócia e a Islândia. E quem responde pelo festival de matança que tinge de vermelho-sangue o azul do mar em dezenas de praias são os moradores das Ilhas Faroé. Nessa nação autônoma pertencente à Dinamarca, parte da população age movida por uma tradição milenar – regulamentada pelo governo local – e conhecida como grindadráp ou grind. 58  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

É quando centenas de baleias são encurraladas por barcos e, depois de acuadas em águas rasas, são mortas a golpes de facão. A cada edição desse festival de horrores, ONGs ambientalistas e defensores da vida animal voltam a se assombrar e lideram ondas de protesto mundo afora, enquanto a tradição resiste incólume. Uma lei das Ilhas Faroé de 1298 define regras para o uso de baleias. Um regulamento específico sobre a caça de baleias-piloto foi promulgado em 1832 e atualiza-

do em 2013. As autoridades faroenses afirmam ter estatísticas precisas de captura de baleias que datam de 1584. Segundo elas, são as mais longas e contínuas avaliações sobre o uso da vida selvagem do que as já feitas em qualquer outra parte do mundo. As justificativas são muitas, mas não convencem. No site da organização responsável pelo festival (www.whaling.fo) estão descritas, entre outras questões, as regras para a matança das baleias, considerada uma atividade sustentá-


vel e destinada a assegurar a alimentação de parte da população, em especial da mais idosa, durante o rigoroso inverno. A caça a baleias é proibida na União Europeia. No entanto, o parlamento das Ilhas Faroé legisla independentemente da Dinamarca em todas as áreas, incluindo as relativas a conservação e manejo da vida marinha. A população local se defende, ainda, afirmando se tratar de uma tradição que reforça os laços de comunidade e deve ser respeitada. Em dezembro de 2009, a JB Ecológico publicou uma reportagem sobre o assunto. As fotos, assim como as atuais, eram chocantes. Mostravam animais mortos e enfileirados em praias, vítimas de cortes profundos aplicados no pescoço até romper a medula espinhal. Essa técnica seria uma forma de “humanizar” a carnificina, uma vez que leva à morte da baleia em poucos minutos.

LUTA HISTÓRICA Apostando na força da denúncia em escala global, ONGS e representantes de movimentos ambientalistas lutam há anos, com manifestações e pedidos de boicote e restrições comerciais para pôr fim a essa matança de baleias. Um dos primeiros grupos a se envolver com a questão foi a Sea Shepherd Conservation Society (SSCS), os Guardiões do Mar, organização com sede nos Estados Unidos e escritórios na Austrália, Canadá, Inglaterra, Holanda, França, África do Sul e Brasil. Anualmente, a ONG marca presença nas Ilhas Faroé em campanhas contra o grindadráp. Em fotos postadas em redes sociais, em 16 de setembro passado, são vistas várias baleias-piloto adultas enfileiradas na praia. Enquanto isso, afirma a entidade, os filhotes eram escondidos atrás de caminhões, no porto, na tentativa de não atrair a atenção de turistas e ativistas.

TORTA DE LIMÃO A Sea Shepherd enviou sua primeira missão de conservação às Ilhas Faroé em 1986. Na ocasião, uma equipe de voluntários documentou e obstruiu a caça de centenas de animais. Foi recepcionada a tiros e com gás lacrimogêneo. Respondeu ao ataque a seu navio com canhões d’água e jatos de recheio de torta de chocolate e limão. Cinco ativistas acabaram presos. O incidente, filmado por voluntários da Sea Shepherd, transformou-se em documentário premiado exibido pela rede BBC de Londres, intitulado de Black Harvest (“A Colheita Negra”). Naquele mesmo ano, entrou em vigor a moratória global à caça comercial de baleias. No entanto, países como Japão, Islândia e Dinamarca seguem sacrificando e comercializam a carne desses animais, o que é proibido por convenção internacional, que libera a caça só para

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FOTOS: SEA SHEPHERD / REPRODUÇÃO

1 MUNDO VASTO FLAGRANTE de extermínio de animais feito por ativistas da ONG Sea Shepherd

NO OLHO DA BALEIA QUE MORRIA A luta em defesa das baleias tem a marca do Capitão Paul Watson. Ele foi o imediato da primeira viagem do Greenpeace para proteger esses animais. Em junho de 1975, se uniu a Robert Hunter e se tornaram as primeiras pessoas a arriscarem suas vidas por essa causa: se lançaram num pequeno barco inflável e bloquearam os arpões da frota baleeira soviética. Dois anos depois, nascia a Sea Shepherd. O encontro do capitão com uma baleia cachalote agonizando fez dele um PAUL WATSON: defensor apaixonado da espécie. Durante o "Ecoterrorista é quem confronto com a frota russa, um animal ferido se levantou sobre o bote, e Paul “viu um brilho destrói o meio ambiente” de compreensão no olho da baleia que morria. Sentiu que ela entendia o que eles tentavam fazer.” Esses instantes cara a cara com o bicho mudaram a vida do capitão para sempre. Ele jurou se tornar defensor das baleias e de todas as criaturas dos mares pelo resto de sua vida. “Os direitos dos homens e dos animais são interligados. Ecoterrorista é quem destrói o meio ambiente”, já disse Paul, que continua ativo nos mares.

pesquisas científicas e aproveitamento turístico ordenado. Ainda segundo o governo das Ilhas Faroé, a economia local depende dos recursos mari60  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

nhos, tendo a pesca como sua principal indústria. Afirma também tanto a carne quanto a gordura das baleias-piloto são, há séculos, peça-chave da die-

ta nacional. A média anual de captura de baleias gira em torno de 900 animais, enquanto estudos científicos estimam que o “estoque” no Atlântico Norte seja de mais de 700 mil animais, o que tornaria a matança “totalmente sustentável”. Representantes da Sea Shepherd, no entanto, rechaçam tais justificativas. Para eles, a matança é puramente esportiva – e cruel. “As Ilhas Faroé não podem impor suas leis, protegendo a prática de abater baleias sem o apoio e a força ativa da polícia e dos militares dinamarqueses. É o sangue que liga a Dinamarca e as Ilhas Faroé”, concluem os reponsáveis pela entidade.  SAIBA MAIS

www.facebook.com/OpBloodyFjords www.facebook.com/captpaulwatson seashepherd.org.br


No 60


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - ADUBAÇÃO ORGÂNICA

Restos de alimentos, como borra de café e cascas de ovos, além de substâncias ricas em nitrogênio, como palha, grama e folhas secas, estão entre os resíduos mais usados para a produção de compostos orgânicos caseiros Luciana Morais

redacao@revistaecologico.com.br

O

s adubos orgânicos são bons para bolso e principalmente para o ambiente. Afinal, tanto no campo quanto nas cidades ainda é comum o desperdício de resíduos que, sem qualquer custo, podem ser reaproveitados para produzir compostos, realizando a ciclagem de nutrientes e misturas naturais destinadas a melhorar a matéria orgânica do solo e, consequentemente, favorecer a nutrição e o crescimento das plantas. E, para isso, não é preciso fazer nada mirabolante ou “reinventar a roda”. Basta dar um destino mais nobre a restos orgânicos que geralmente são ignorados ou descartados junto ao lixo comum, impactando os aterros sanitários. Alternativa ao uso de fertilizantes industrializados, a adubação orgâni-

62  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

ca é ideal para pequenas hortas, canteiros e até mesmo vasos e jardineiras usados para o cultivo de ervas e de outras plantas em casas e apartamentos. Os principais adubos orgânicos são: composto, cinza, osso queimado, esterco de animais, adubo verde e biofertilizante. Composto é o produto do processo de compostagem que ocorre naturalmente no ambiente, caracterizando-se pela degradação de matéria orgânica. O termo compostagem diz respeito a essa decomposição. Porém, está mais associado à manipulação do material pelo homem que, por meio da observação do que acontecia na natureza, desenvolveu técnicas para acelerar a decomposição e produzir compostos orgânicos que atendessem mais rapidamente

as suas necessidades. Borra de café e restos de poda de grama também são dois coringas quando o assunto é potencializar o desenvolvimento de plantas. No caso da borra de café, basta deixar esfriar e aplicar direto na terra do canteiro ou do vaso, bem junto à raiz da planta. Ótima aliada para afugentar caracóis e lesmas, a borra de café é rica em fósforo, potássio e nitrogênio, os três minerais mais importantes para o desenvolvimento vegetal. Outra forma de aproveitamento da borra de café é diluí-la em água, criando um fertilizante líquido que pode ser borrifado em hortaliças e ervas. Já os restos de poda de grama podem ser espalhados diretamente sobre a terra de canteiros. Além do efeito paisagístico –


deixando o ambiente mais verde –, esses resíduos são uma rica fonte de nitrogênio, ajudando a conservar a umidade e devolvendo vários nutrientes à terra, durante o seu processo de decomposição. CORREÇÃO DE ACIDEZ O uso de cinzas é indicado para os casos em que a terra é ácida e, por isso, as plantas não se desenvolvem bem. Geralmente, a correção da acidez é feita com calcário, dois ou três meses antes do plantio. Mas, na falta dele, vale usar cinza de fogão a lenha, de fogueiras ou também de olarias e de padarias. Outra opção de fonte de cinzas é a casca de arroz. Caso você tenha espaço na horta, no quintal ou no pomar – e opte por fazer queimada para a geração de cinzas –, é preciso redobrar a atenção para evitar que o fogo saia de controle. Ossos de peixes, de aves, de suínos e de bovinos também podem se transformar em adubo natural. Através do processo de queima, faz-se a farinha de osso, que serve como fonte de fósforo. É ideal para estimular o crescimento de vegetais que precisam de muito nitrogênio, tais como o milho e o tomate. Basta fazer um amontoado de ossos, cobrir tudo com lenha e pôr fogo, preferencialmente à noite, quando os ventos são mais fracos e, a temperatura, geralmente mais amena do que durante o dia. No dia seguinte à queima, com o monte já frio, é hora de separar o carvão e retirar os ossos queimados, junto com as cinzas. Em seguida, triture tudo num pilão e armazene em sacos, latas ou tambores.

A adubação verde, por sua vez, costuma ser mais recomendada para plantações maiores. Isso porque é preciso deixar o terreno ocupado com plantas conhecidas como adubos verdes – entre elas o guandu, o amendoim e outros feijões –, por um período inteiro de plantio para que elas se desenvolvam. Durante o crescimento dessas espécies, usadas para melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo, bactérias benéficas (rizóbios) penetram em suas raízes, enriquecendo o terreno, fazendo a fixação biológica de nitrogênio e transformando o nitrogênio que a planta retira do ar em compostos nitrogenados fáceis de serem absorvidos pelos vegetais. O processo é simples: depois de crescida, a palhada da leguminosa plantada para ser adubo verde pode ser enterrada, com o uso de um arado, ou simplesmente roçada e deixada como cobertura do solo. Assim, além de adubar, ainda protegerá o terreno. NUTRIENTES ESSENCIAIS Já o biofertilizante é o adubo orgânico líquido. Ele deve ser aplicado nas folhas por pulverização ou diluído na água de irrigação. Fornece nutrientes essenciais às plantas e auxilia no controle de pragas e de insetos. A parte sólida do biofertilizante também pode ser usada para a adubação de covas e de canteiros. Os ingredientes mais usados no preparo são: terra, composto orgânico ou esterco, farelo de arroz, de algodão ou de mamona, farinha de ossos, resíduo de sementes, cinzas, restos de rapadura ou de açúcar mascavo, além de ami-

FIQUE POR DENTRO

 Um dos métodos de adubação urbana mais conhecido é a compostagem: mistura de restos de alimentos e de substâncias ricas em nitrogênio, como palha, grama e folhas secas. Há duas opções: misturar todos esses elementos e incorporar à terra antes de plantar uma nova muda ou aplicar essa mistura diretamente sobre o solo, sem remexer a terra.  As minhocas também são boa opção para ter um solo saudável e rico em nutrientes. Num minhocário, elas produzem húmus e biofertilizante líquido. O viveiro deve ser dividido em três andares: no primeiro, as minhocas se misturam à terra e a restos de plantas e folhas; no segundo, ficam represados os compostos depositados por elas; no terceiro, fica armazenado o líquido que escorre dos dois primeiros e pode ser usado como biofertilizante.  As cascas de ovos, ricas em cálcio e potássio, ajudam a aumentar a resistência das plantas e reduzem o aparecimento de larvas. Lave-as, triture bem e aplique no entorno das mudas ou misture à terra, antes do plantio.  Cinzas de madeira podem ser usadas para borrifar a horta e ervas plantadas em vasos. Uma vez ao mês é o suficiente. Basta diluir ¼ de xícara (chá) de cinzas em um litro de água.  Caso opte por esterco de vacas, ovelhas e cavalos, a dica é não depositar esses dejetos diretamente na terra. O ideal é diluí-los na água, deixando a mistura exposta ao sol por pelo menos duas semanas. Depois desse período, use a parte líquida para borrifar as plantas e, o esterco curtido, para adubar a terra.

do de mandioca e água. Basta colocar tudo num tambor ou bombona plástica, agitando três vezes ao dia, durante cinco minutos ou aerando (com o auxílio de compressor de ar), em intervalos de uma hora. Depois de oito dias, o biofertilizante estará pronto para ser usado.

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SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  63


1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - ADUBAÇÃO ORGÂNICA

MINHOCÁRIO é dividido em três andares e líquido produzido pela decomposição orgânica serve como biofertilizante

Fique por dentro

A)

A adição de matéria orgânica melhora as características físicas e biológicas do solo. Seus principais benefícios são:  redução

do processo erosivo;

 maior disponibilidade de nutrientes para as plantas;  maior

retenção de água;

 menor

diferença de temperatura do solo (entre o dia e a noite);  estimulação  aumento  maior

B)

A adubação orgânica tem ainda outros aspectos ecológicos favoráveis, além do fato de reaproveitar resíduos cujo descarte acarreta inúmeros impactos ambientais, entre eles a poluição do solo e de cursos d’água. Um de seus diferenciais é o tempo de duração. Como o processo de absorção dos nutrientes orgânicos envolve decomposição e mineralização, a adubação orgânica é considerada uma fonte de nutrientes – além de muito rica – lenta e duradoura.

da atividade biológica;

da taxa de infiltração de água;

agregação das partículas do solo.

Nitrogênio:

nutriente responsável pelo crescimento/ produtividade das plantas. Confere cor verde-escura às folhas e aumenta a velocidade de crescimento. Sua ausência faz as folhas ficarem verde-claras ou amareladas. Em excesso, faz os frutos ficarem mais moles e aguados do que o normal, além de se estragarem com mais facilidade e demorarem mais para amadurecer. É fornecido pelo esterco, leguminosas (adubos verdes), composto, ureia, amônia e adubos minerais.

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Fósforo:

ajuda na formação e no crescimento das raízes. É importante ainda na formação das sementes, aumentando a produção e o tamanho dos frutos. Sua falta faz as folhas ficarem vermelhas ou roxas. É fornecido pela farinha de ossos, superfosfatos e fosfatos de rocha.

Potássio:

aumenta o vigor das plantas, sua resistência a doenças e a quantidade de açúcar nos frutos. Está presente no esterco, nas cinzas, na urina de vaca e no bagaço da casca de coco.

FONTES/PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Cartilha Adubação Alternativa - Embrapa/ Emater-MG, Ministério da Agricultura e Globo Rural.


FOTO: EMATER-MG

QUATRO PERGUNTAS PARA...

ADENILSON DE FREITAS

Mestre em Produção Vegetal e coordenador-técnico da Emater-MG/Regional Salinas

Saberes e experiências É possível assegurar todos os nutrientes de que uma planta precisa apenas com a adubação orgânica? Com base na Teoria de Trofobiose, todo e qualquer ser vivo só sobrevive (resistente ao ataque de pragas e doenças) se houver alimento adequado disponível. A adubação orgânica por si só não assegura todos os nutrientes necessários à planta, mas atende grande parte de suas demandas. Por exemplo: com uma compostagem bem-feita é possível suprir 10 dos 14 nutrientes essenciais para a planta completar seu ciclo produtivo, incluindo macro e micronutrientes. Além de conhecer a planta e o solo, também é importante lembrar que, no processo produtivo, há outros fatores que se somam: solo em equilíbrio dinâmico, ambiente mais estável e plantas selecionadas e adaptadas a cada local e realidade. Que cuidados tomar ao fazer a complementação de nutrientes com adubos industrializados? Em regiões com solo de baixa fertilidade natural, como os de Cerrado, a manutenção ou incremento da produtividade agrícola depende do reabastecimento das reservas de nutrientes que são removidas do sistema solo-planta. No modelo agrícola predominante no Brasil, o suprimento desses elementos baseia-se na aplicação intensiva de fertilizantes sintéticos, prática que apresenta limitações econômicas e ambientais, uma vez que a agricultura é altamente dependente de insumos importados. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em 2014, foram importados 70% do nitrogênio, 50% de fósforo e 90% de potássio do total de fertilizantes consumidos no país. A adição de agroquímicos requer conhecimento e acompanhamento

Nós apoiamos essa ideia!

especializado. Do contrário, pode resultar na degradação do ecossistema, sobretudo em ambientes com maior vulnerabilidade à contaminação do solo e das águas. Para quem tem orquídeas, violetas e folhagens plantadas em vasos, dentro de casa ou apartamento, quais são os adubos orgânicos mais indicados? Húmus e/ou composto. No preparo do vaso para plantio o ideal é usar de 5% a 8% de húmus e/ou composto em relação ao volume total de terra. A dica é optar por mudas de boa qualidade, com três a quatro pares de folhas e/ou sementes novas e com bom potencial germinativo. Mantenha o solo úmido (sem encharcar) e deixe a planta à exposição do sol. Um dos projetos de destaque da Emater-MG é o “Mãos à horta, garotada”. Quando ele foi criado e quais os resultados obtidos até o momento? Ele é fruto da iniciativa da diretora Fabiane Mendes, da Escola Municipal Professora Rute Braz, de Capim Branco (MG). Teve início em 2011, com 40 alunos do ensino fundamental. O desejo da diretora era criar uma horta no local. Ao visitar a escola, vimos que a área era toda cimentada e não havia como fazer canteiros. Surgiu, então, a ideia de criar uma horta reciclável, reaproveitando pneus velhos e garrafas PET que foram recolhidos numa blitz ecológica. Também levamos os alunos para conhecerem propriedades de produção orgânica, em sintonia com a lei municipal que determina a compra de produtos da agricultura familiar local para a merenda escolar. A troca de saberes e experiências entre nós, técnicos, alunos, servidores da educação e agricultores é gratificante e traz ganhos coletivos. 


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ENCARTE ESPECIAL (VIII)

FOTO: THIAGO FERNANDES

O VIÉS MÉDICO NA LITERATURA DE

Guimarães Rosa


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ENCARTE ESPECIAL (VIII)

Doenças psiquiátricas Parte 2

Eugênio Goulart

redacao@revistaecologico.com.br

68  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

O OLOGIC

parando, notava as diferenças. Assim repartido em dois, num dos cômodos as janelas sendo de grades, feito as de cadeia, para os presos. A gente sabia que, com pouco, ele ia rodar de volta, atrelado ao expresso daí de baixo, fazendo parte da composição. Ia servir para levar duas mulheres, para longe, para sempre. O trem do sertão passava às 12:45h. Os pacientes ficavam internados no manicômio em péssimas condições sanitárias e de habitação, aglomerados em grandes cômodos, sem direito à privacidade e isolados de seus familiares. Era comum o uso de eletrochoques e lobotomias, às vezes como medida punitiva. Estima-se que sessenta mil internados morreram nos cerca de oitenta anos em que a instituição trabalhou nesses moldes. Um fato histórico que merece registro é que o Hospício de Barbacena era o grande fornecedor de cadáveres para as aulas de anatomia das faculdades de Medicina. A partir da década de 1980 foram realizadas mudanças drásticas, e os métodos terapêuticos foram humanizados, com os pacientes recebendo tratamento melhor. Hoje o local foi transformado em Museu da Loucura, com fotos, textos, documentos e os instrumentos cirúrgicos utilizados, como depoimento de um passado de tragédias na história da Medicina. Em outro texto do livro “Primeiras estórias”, no conto “Darandina”, um indivíduo subitamente escala a palmeira de uma praça urbana, situada defronte a um hospício, e inicia longo discurso. O narrador do conto é interno de plantão no manicômio, e a primeira observação já denota a avaliação médica do provável paciente: - Aspecto e facies nada anormais, mesmo a forma e conteúdo da elocução e a princípio denotando fundo mental razoável [...] Segue a explicação desse ato insólito, dada por outro interno de plantão, relatando a argumentação do homem empalmeirado: - “Disse que era são, mas que, vendo a humanidade já enlouquecida, e em véspera de mais tresloucar-se, EC FOTO: JB

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m livro publicado posteriormente, com o estranho título de “Primeiras Estórias”, o conto “Soroco, sua mãe, sua filha” é todo dedicado a transtornos psiquiátricos. Em apenas quatro páginas densas e de extrema poesia, Guimarães Rosa escreveu sobre a reação de uma população rural em relação à loucura, buscando nos detalhes da cena, como a “chirimia” e o “canto desatinado” da mãe e filha do Soroco, uma correta interpretação da insanidade mental: Para onde ia, no levar as mulheres, era para um lugar chamado Barbacena, longe. Para o pobre, os lugares são mais longe. [...] A filha - a moça - tinha pegado a cantar, levantando os braços, a cantiga não vigorava certa, nem no tom, nem no se-dizer das palavras - o nenhum. A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os espantados, vinha enfeitada de disparates, num aspecto de admiração. O Hospício de Barbacena, ou o nome oficial menos conhecido, Hospital Colônia de Barbacena, foi criado em 1903, seguindo o modelo vigente nessa época para o tratamento de doentes mentais. Recebia pacientes de várias regiões do Brasil, que chegavam a Barbacena por meio da ferrovia. De fato existia o “Trem dos Doidos”, que eram vagões especiais que conduziam pessoas até o hospício, as quais, em verdade, estavam condenadas à prisão perpétua. Cordisburgo faz parte dessa história, já que situada às margens da estrada de ferro. Fatos verídicos, que fizeram parte da infância do menino João, são relatados no conto “Soroco, sua mãe, sua filha”. Detalhes do texto correspondem exatamente ao pátio de manobra das marias-fumaças em Cordisburgo. Da janela de sua casa via o movimento da estação ferroviária, um de seus passatempos favoritos. E o “trem do sertão”, que vinha do Norte de Minas, passava na hora citada no texto adiante. Isto é, quando não atrasava, o que não era evento raro: Não era um vagão comum de passageiros, de primeira, só que mais vistoso, todo novo. A gente re-


FOTO: NAPOLEÃO XAVIER G. COELHO

inventara a decisão de se internar, voluntário: assim, quando a coisa se varresse de infernal a pior, estaria já garantido ali, com lugar, tratamento e defesa, que, à maioria cá fora, viriam a fazer falta...” Na sequência, chegam os psiquiatras, acompanhados de seus ajudantes, os enfermeiros e os padioleiros: Traziam a camisa-de-força. Fitava-se o nosso homem empalmeirado. E o dr. Diretor, dono: - “Há de ser nada!” Contestando-o, diametral, o professor Dartanhã, de contrária banda aportado: - “Psicose paranóide hebefrênica, dementia praecox, se vejo claro!” [...] O diagnóstico psiquiátrico é assim detalhado de imediato, logo no início do conto. “Hebefrênico” significa adolescente esquizofrênico e dementia praecox pode acompanhar um caso de psicose paranoide. Mais adiante, no mesmo texto, outra frase com termos técnicos: Abusava de nossa paciência - um catatônico-hebefrênico - em estereotipia de atitude. Catatônico referia-se ao estado do paciente quando internado, ausente, imóvel e “rijo por incontável tempo”. No conto “A Menina de Lá”, do livro “Primeiras estórias”, também um possível quadro de esquizofrenia infantil, já que Nhinhinha era de “lá”, falava palavras incompreensíveis, “pelo esquisito do juízo”. Tranquila, às vezes suspirosa, vivia em outro mundo: Em geral, porém, Nhinhinha, com seus nem quatro anos, não incomodava ninguém, e não se fazia notada, a não ser pela perfeita calma, imobilidade e silêncios. Ainda no livro “Primeiras Estórias”, o conto “A terceira margem do rio” gerou muitos textos interpretativos, que abordam, entre vários aspectos, os caminhos inexplicáveis que muitas vezes a mente humana toma por opção. Um quieto pai de família, morando beira-rio com a mulher e três filhos, resolve, sem motivos e sem maiores explicações, encomendar uma pequena canoa. Quando pronta, sem sequer se despedir, parte para viver apoitado no meio do rio. O criativo título do conto talvez possa dar uma indicação para esclarecer o que parece ser inexplicável: Nosso pai não voltou. Ele nem tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. No conto “Hipotrélico”, do livro Tutaméia, há o relato de um paciente psicopata, que cria um interessante neologismo: - “Enxergo umas pirilâmpsias...” dizia outro, de suas alucinações visuais. Como última citação de problemas psiquiátricos, no conto “Meu tio o Iauaretê”, do livro póstumo “Estas Estórias”, é relatado que o personagem Siruvéio ficava acorrentado a uma árvore, o que era comum quando não havia o que fazer, por falta de recursos, e se o paciente sofresse crises de agressividade: Mulher muito boa, chamava Maria Quirinéia. Ma-

PACIENTE do Instituto Raul Soares, em Barbacena: "Ô dotô, deixa eu voltar pra minha rocinha"

rido dela era doido, seo Siruvéio, vivia seguro com corrente pesada. Marido falava bobagem, em noite de lua incerta ele gritava bobagem, gritava, nheengava [...].  NA PRÓXIMA EDIÇÃO, confira a primeira parte do capítulo que trata de menções a doenças como malária, sífilis e Doença de Chagas na obra de Guimarães Rosa. APOIO CULTURAL:

SET/OUT DE 2018 | ECOLÓGICO  69


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MEMÓRIA ILUMINADA – OS 40 ANOS DA AMDA

Maio de 1980, na capital mineira: estudantes liderados pela Amda fazem passeata até o Parque Municipal, onde realizam show popular em defesa da Amazônia

CAMINHANDO E CANTANDO Marca de uma instituição sobrevivente, a história da Amda se mistura à de Minas e do país. E tudo começou no final do regime militar Hiram Firmino

redacao@revistaecologico.com.br

70  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

ma criativa e artística de evento, com apenas dois atores (Renatto e Kátia, da Cia Teatral (2x2) no palco, mais o violonista e cantor Willer Bontempo) contando e revivendo uma história de luta. Foi como uma volta ao passado, lembrando derrotas, vitórias, ânimos e desânimos dessa espécie de “Greenpeace mineira”. Seus momentos trágicos e cômicos. Seu crescimento e sua persistência, sem jamais perder a esperança. A Ecológico esteve lá. Acompanhe: FOTO: LIGIA NASSIF

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oi numa noite de lua minguante e tantas as emoções, no último dia de agosto, no auditório da sede do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG), em BH, onde tudo começou, a comemoração interna dos 40 anos da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), a mais aguerrida ONG ambiental de Minas Gerais. Na plateia, quase nenhum empresário ou político convidado. Só correligionários, colegas históricos de luta e resistência. E uma for-


FOTOS: ACERVO AMDA

O violonista dedilha “Roda Vida”, de Chico Buarque. E o evento tem início, com os dois atores relembrando a época em que tudo começou: “Gestão Francelino Pereira, nomeado governador de Minas pelo governo militar. O país já falava em abertura política. Ernesto Geisel acabara de revogar o famigerado Ato Institucional número 5. Mas, perigo na esquina, cantava Elis Regina. Qualquer movimento social ainda era considerado perigoso e subversivo.” Foi nesse contexto que ocorreu a fundação da Amda que conhecemos hoje, amada ou odiada, temida ou respeitada. Mas sempre verdadeira, franca e coerente com seus princípios. Seu núcleo fundador foi formado por alguns estudantes de Ciências Econômicas, a Face da UFMG, que, engajados no movimento estudantil, também começaram a pensar e discutir sobre como atuar na defesa do meio ambiente. A eles, sob a coordenação da então jovem e futura economista Maria Dalce Ricas, se juntaram outros estudantes das Ciências Biológicas. Entre todos, algo em comum: a vontade de melhorar o mundo. E um

poço de incompreensão pela frente: “Nossos amigos de esquerda riam da gente e nos chamavam de reformistas. Os professores nem conversavam sobre o assunto. Autoridades? É... logo se interessaram por nós: éramos vigiados e chamados de verde/melancia. Verdes por fora e comunistas por dentro”. A Amda não foi a primeira organização não governamental ambiental do país: “Já havia algumas, mas nossa visão era diferente: sabíamos que a proteção do meio ambiente estava intrinsicamente ligada à política, economia, cultura e aspectos sociais. Éramos mesmo subversivos!” Nessa época, a luta ambiental ainda era voltada para o “verde pelo verde” ou para problemas que incomodavam as pessoas, como a poluição atmosférica causada pelas indústrias. Desmatamento, extinção da fauna, poluição dos rios por efluentes industriais e domésticos, degradação da paisagem e incêndios não faziam parte da preocupação da sociedade, do poder público, da iniciativa privada e nem mesmo das poucas enti-

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MEMÓRIA ILUMINADA – OS 40 ANOS DA AMDA Governo Newton Cardoso na Lista Suja de 1989, por ter permitido o retorno da mineração e garimpo predatórios no Rio Jequitinhonha, região de Diamantina e Gouveia

dades não governamentais que atuavam no país.

FOTOS: ACERVO AMDA

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“Já as chaminés das indústrias ainda eram vistas apenas como sinônimo de progresso. E os ambientalistas que as criticavam e cobravam mudanças eram considerados românticos, além de subversivos.”

INÍCIO AMAZÔNICO A fundação da Amda ocorreu no contexto da abertura política promovida pelo fim da ditadura militar. Era algo totalmente novo entre os poucos movimentos populares que existiam na época, voltados A BRIGA NÃO ERA FÁCIL exclusivamente para temas sociopolíticos. A Amda As empresas resistiam e o governo apoiava. Para fortalecer a luta, a Amda lançou, em 1982, aquele era a única que desenvolvia militância ecopolítica. A primeira grande bandeira foi a campanha em que seria ao longo das próximas duas décadas seu principal instrumento de denúndefesa da Amazônia, quando o governo militar anunciou que cia: a “Lista Suja”, que rapidamen“Contra o retrocesso, te ganhou uma força surpreenabriria a exploração das florestas à iniciativa privada. Cartazes junto à mídia e à sociedade o processo. Contra os dente e adesivos foram produzidos de forma geral. sujos, a denúncia. Era pelo Clube Mineiro de Criação. Divulgada em outdoors, atos Traziam a expressão, hoje cult, públicos e, depois, pela internet, assim que agíamos. tamanha a profundidade e ecosempre no dia 5 de junho ou na E muitos, via diálogo, Semana Mundial do Meio Amlogia do recado: “Assim será a nossa Amazônia se você não a lista tornou-se anual. aprenderam a lição.” biente, entrar na briga”. Além de instrumento de denúnA colagem era feita de macia, também permitiu a aproximaMaria Dalce Ricas, drugada, por duas equipes. ção entre a Amda e as empresas, superintendente da Amda Uma ficava em uma casa, no já que seu processo de construção Barro Preto, na capital mineiprevia abertura de diálogo prévio ra, por conta da produção da cola num fogão à com aquelas que se interessassem. “Algumas dessas empresas denunciadas comelenha improvisado no quintal. A outra ia para as ruas fazer a colagem dos cartazes, que eram afi- çaram a entender a importância de cuidar do meio xados em postes e paineis de construção. E ainda ambiente e a buscar formas de reduzir seus imenviados para todo o país. pactos ambientais. Houve muitos conflitos, muito A campanha sacudiu a opinião pública e o go- diálogo. Mas, depois, muitas delas aprenderam que verno desistiu. “Ser ecológico é... sair da Lista Suja da Amda”. 72  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018


Político e governo algum escapavam de ser denunciados pela Lista Suja

Troféu Fuligem, Lista Suja de 1995, tornando pública a degradação causada pela Siderúrgica Ironbrás

Protesto em 2003, contra a não revitalização do Rio São Francisco, antes do projeto nacional de sua transposição

Certificação ÀS AVESSAS José Cláudio Junqueira (*)

redacao@revistaecologico.com.br

“A Lista Suja da Amda talvez tenha sido um dos instrumentos mais valiosos já desenvolvidos para promover a política ambiental do Estado. Funcionou como uma certificação às avessas. Entrar para a Lista Suja era algo, na época, muito negativo para as empresas. Afinal, com critérios técnicos, ela informava à opinião pública quem eram os maiores poluidores e degradadores do ano, não só de Minas como de outros estados também. Sair da Lista Suja era um atestado de que aquela empresa havia promovido as melhorias necessárias para não ser mais denunciada e acusada como destruidora do meio ambiente.” (*) Engenheiro sanitarista, cofundador da Amda e membro do Conselho Editorial da Revista Ecológico

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MEMÓRIA ILUMINADA – OS 40 ANOS DA AMDA

LUTA SEM TRÉGUA no Parque Estadual do Rola-Moça: estudantes são educados ambientalmente para participar dos novos plantios...

Papel protetor DO VERDE Chico Mourão Vasconcelos (*) redacao@revistaecologico.com.br

“A Amda teve papel muito importante na ampliação das áreas protegidas em Minas Gerais. Primeiramente, na região norte do Estado, na região de influência do Jaíba, o maior projeto de irrigação no Estado e um dos maiores do país. Nessa região foram implantados em torno de 100 mil hectares de áreas protegidas, que hoje compõem o Sistema de Áreas Protegidas do Extremo Norte de Minas, envolvendo os ambientes de Mata Seca e Cerrado. Também na Região Metropolitana de BH e áreas adjacentes, a Amda atuou, sobremaneira, na criação dos Sistemas de Áreas Protegidas do Vetor Norte, envolvendo o Cárste de Lagoa Santa, área de grande relevância ambiental, arqueológica e paleontológica. E também no Vetor Sul da capital mineira, envolvendo áreas do hoje Parque Estadual do Rola-Moça, e da Serra da Moeda, com a criação de Unidades de Conservação (UCs) que abrangem várias tipologias vegetais, como florestas de galeria, matas secas, cangas e campos ferruginosos, extremamente importantes no abastecimento hídrico da Região Metropolitana.”

BRIGANDO CONTRA O FOGO Outra grande e já longa bandeira paralela da entidade é a luta contra incêndios florestais, tragédia que se repete ano após ano. O fogo mata milhares de animais silvestres, impacta o solo, polui e degrada cursos d’água, causa acidentes em rodovias, danos à saúde pública e lança gases causadores do efeito estufa na atmosfera. Atualmente, a Amda dispõe de brigadas em parceria com a Vale, Gerdau, AngloGold Ashanti, Usiminas, Usiminas Mineração, ArcelorMittal e AngloAmerican; e os voluntários aumentam a cada ano. Além de apagar fogo, a Amda investe também na conscientização e educação ambiental de seus parceiros, feita pelos próprios brigadistas. FOTOS: ACERVO AMDA

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(*) Biólogo e membro do Conselho Diretor da Amda. 74  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018

... enquanto os brigadistas da Amda tentam salvar o que foi plantado nos anos anteriores


Adeus à máfia DO CARVÃO Graças à luta da Amda, Minas Gerais se tornou, no final de 1991, o primeiro estado brasileiro a dispor, democraticamente, de uma legislação florestal própria, a partir de propostas apresentadas pelos órgãos públicos, consumidores de carvão vegetal e produtores rurais. Como lembrou Dalce durante a cerimônia – cuja homenagem foi presidida pelo secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Germano Vieira –, a luta da Amda contra o consumo de carvão vegetal de origem nativa foi uma das mais longas e emblemáticas da entidade. “E ela tem a ver diretamente com a discussão, aprovação e promulgação de três significativas leis florestais do estado. Sendo que na última, promulgada em 2013, apesar de a gente considerar um retrocesso, de forma geral, na norma ambiental do estado, há um ponto que merece ser destacado.” Além da sua importância como norma jurídica de preservação das florestas, ela representa ainda o coroamento de uma luta de 40 anos de existência. A partir de 2018, as empresas que operam em Minas e consomem carvão vegetal em seus processos produtivos não podem mais utilizar carvão vegetal, seja de origem nativa, seja oriundo também de qualquer estado do país. RECADO FINAL Por último, a Amda recordou, em vídeo, que tão importante como lutar e continuar evitando mortes de milhares de árvores Minas afora até a Floresta Amazônica, é também repor o verde no solo devastado e ressequido em todo lugar ainda possível do planeta. Foi o que ela comandou em apenas dois dias, no ano de 1997, com mais de três mil voluntários, às margens do Rio São Francisco, em Lagoa da Prata (MG). E que lhe valeu menção no Guiness Book (“O Livro dos Recordes”): o plantio de 106.482 mil mudas de árvores, cujo objetivo era a sociedade civil engajada ajudar no reflorestamento das áreas desmatadas pelo avanço ilegal, na época da cana-de-açúcar até a beira dos rios. Foram 5.300 mil novas árvores a mais do que o recorde anterior, na Cidade de Pretória, na África do Sul.

CARTAZ-SÍMBOLO produzido pelo Clube Mineiro de Criação, em 1978: primeira campanha da Amda

O “The End” dos 40 anos da Amda terminou com duas perguntas e uma afirmação cruciais projetadas na tela: Em 1979, perguntamos: “Amazônia: até quando?”. Em 1989, voltamos a perguntar: “Como será daqui há 10 anos”? Em 2018, estas perguntas permanecem no ar. Acesse o vídeo completo em www.revistaecologico.com.br

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MEMÓRIA ILUMINADA – OS 40 ANOS DA AMDA

Quando a causa comove A noite em que Maria Dalce chorou e fez muita gente grande chorar também FOTOS: LIGIA NASSIF

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José Carlos Carvalho e Léo Fares: voz embargada e lembrança intelectual

Fernando Leite, Marcelo Freitas, José Cláudio Junqueira, Maurício Boratto, Luiz Paulo Pinto e Eduardo Tavares (Neneco): memória viva

Fundadores, parceiros, ex-funcionários e atual equipe: reencontros e fé em um mundo e humanidade melhores

Recebendo de Germano Vieira o reconhecimento oficial do Sisema

Tentando conter as lágrimas ao lado de Germano. Amparada pelos atores Katia e Renatto. E recebendo o carinho do companheiro Francisco Mourão 76  ECOLÓGICO | SET/OUT DE 2018


Bem-estar e equilíbrio

Aura Soma

Avaliação energética

Organização de espaço

Qual o propósito de sua alma aqui na Terra? Quais os seus talentos? Por meio da terapia inglesa Aura-Soma, você encontra respostas para essas perguntas. Elas surgem por meio da leitura de frascos coloridos, que revelam sua verdadeira essência no mundo.

Por meio da radiestesia, é possível um diagnóstico das energias física, mental, emocional e espiritual e ainda verificar como os centros energéticos (chacras) estão funcionando. Após a avaliação são dadas indicações para se traballhar a situação atual.

Seu ambiente de trabalho e sua casa devem estar em equiíbrio, espelhando organização e harmonia. Desapegando-se daquilo que não precisa mais, reciclando, traga o novo, cores e flores para sua vida. Consultoria para organização de espaços usando a cromoterapia e a radiestesia.

A terapeuta e jornalista Ana Diniz tem mais de 20 anos de experiência com fitoterapia, cromoterapia, radiestesia, Aura-Soma, reiki e cura prânica. Foi sócia-fundadora do Espaço Aquário e fez parte das equipes da Bétula e do Núcleo Mãos de Luz. Convênio com SINJUS, SERJUSMIG e SINDSEMPMG Agende sua consulta: anabethdiniz@gmail.com ou (31) 99163-3240


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NATUREZA MEDICINAL

MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

CISCO NOS OLHOS

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FOTO: MARCOS GUIÃO

osaura é uma mulher determinada e deixa transparecer isso pelo olhar firme espelhado nos olhos levemente esverdeados. O corpo tem uma aparência frágil, mas isso se dissolve com dois minutos de prosa, quando se percebe que as rugas de seu rosto trazem histórias e experiências que poucos têm a clareza sobre o sentido da vida. Num domingo pachorrento, fui à casa dela atendendo ao convite de provar sua destreza na cozinha. Depois do almoço, se demos de vagar no à toa pelas ruelas da pequena comunidade de Forquilha, nas berolas do Jequitinhonha. A intenção era dar folga e trato na digestão, pois eu havia berado a gula com os quitutes da dona da casa. No decorrer do trecho chegamos num largo arrodeado de flamboyants floridos com bancos esparramados, instigando uma prosa relaxada. Foi daí que ouvi uma história deveras interessante sobre sua

ALFAVACA Ocimum gratissimum

iniciação no trato com as plantas. Tudo se deu ainda na barriga da mãe, visto que ela chorou e a mãe, ouvindo, guardou segredo. Com o passar dos anos, um dia a mãe acabou por lhe contar e Rosaura afirmou categoricamente que se não tivesse sabido do ocorrido, certamente hoje seria advinhadora... Mas, ao saber, acabou se derivando pra benzeção e raizada. Depois de boas risadas, a caminhada foi retomada por uma ruela comprida e foi aí que se demos de topá com uma dona e seu filhote de uns cinco anos no colo, choroso e resmunguento. No pouco além dos rodeios iniciais, ela deu de contar o ocorrido com o menino, que não se apartava dela por nadica de nada, só naquela murrinha chorolenta. A queixa era que tinha entrado um cisco no olho e dando um reparo mais acurado, via-se que os olhinhos dele tavam remelentos e avermelhados. Rosaura foi conversando com a dona e discretamente foi nos arrastando até parar em frente a um muro baixo de uma casa avarandada protegida por um belo jardim na frente. Sem nenhuma cerimônia, abriu o portão e enfiou-se pra dentro, só retornando depois de arrancar uns galhos de alfavaca (Ocimum gratissimum), que naquela região é conhecido por chá-cravo ou chá-da-Índia. Imediatamente o cheiro de cravo nos envolveu e ela despachadamente deu às instruções a mãe para dar cabo de tamanho desconforto: “Você vai ponhá umas sementes dessa alfavaca nos zoinhos dele e dá uma massageada de leve. Deixe por um tempo e dispois tira nos canto e lava bastante com água corrente, pois as sementes vão inchar e em torno delas vai ficá grudado a sujeira”. Simples assim. Há anos indico a alfavaca pra tratar as queixas das gripes, resfriados, tosse, bronquites e até mesmo a asma. Mas pra tirar cisco nos olhos... Num xarope é presença quase que obrigatória, mas o banho de suas folhas também combate a febre. E o chá consumido depois da refeição ajuda na eliminação de gases estomacais, além de agir como vermífugo. Mais uma que aprendi e espero que você, caro leitor, também. Até a próxima lua!  (*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

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