Em Família | Unidades Sociais da Rede Marista

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2015 | 15a edição

ENTREVISTA

Questionamentos sobre a sexualidade são naturais e devem ser encarados com normalidade.

CONTEÚDO EXCLUSIVO

A partir de agora, você tem acesso a 16 páginas produzidas especialmente para a sua unidade.

{PRE}conceito

venindo o

Para combater o julgamento, a convivência com o diferente é a melhor opção.


VAMOS JUNTOS CULTIVAR

NOVAS HISTÓRIAS A FTD Educação apresenta um projeto pensado para envolver escolas, professores e famílias na grande aventura de cultivar novos leitores.

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Às vésperas de completar 200 anos de presença mundial e há mais de 110 anos presente no Rio Grande do Sul, a atuação dos Colégios e das Unidades Sociais da Rede Marista se dá, atu-

Presidente das Mantenedoras Ir. Inácio Nestor Etges

almente, em 13 cidades gaúchas e em Brasília. São 26 colégios e dez centros sociais, que atendem 19 mil estudantes na Educação Básica e 30 mil pessoas nos projetos e nas Unidades Sociais.

Vice-Presidente das Mantenedoras Ir. Deivis Fischer

COLÉGIOS Colégio Marista Aparecida colegiomarista.org.br/aparecida | 54 3449 2600

Colégio Marista São Luís colegiomarista.org.br/saoluis | 51 3713 8500

COLÉGIOS E UNIDADES SOCIAIS

Colégio Marista Assunção colegiomarista.org.br/assuncao | 51 3086 2100

Colégio Marista São Marcelino Champagnat colegiomarista.org.br/ejachampagnat | 51 3584 8000

Superintendente Executivo Rogério Anele

Colégio Marista Champagnat colegiomarista.org.br/champagnat | 51 3320 6200

Colégio Marista São Pedro colegiomarista.org.br/saopedro | 51 3290 8500

Coordenador Jurídico Elder Filippe

Colégio Marista Conceição colegiomarista.org.br/conceicao | 54 3316 2700

Colégio Marista Vettorello colegiomarista.org.br/ejavettorello | 51 3086 2100

Coordenador de Comunicação e Marketing Tiago Rigo

Colégio Marista Graças colegiomarista.org.br/gracas | 51 3492 5500

Escola Marista Santa Marta colegiomarista.org.br/santamarta | 55 3211 5200

Gerente Educacional Ir. Manuir Mentges Gerente Social Ir. Luciano Barrachini Supervisão editorial Katiana Ribeiro, Sendi Spiazzi e Reinaldo Fontes Conselho editorial Luciano Centenaro, Patricia Saldanha e Simone Martins da Silva.

Colégio Marista Ipanema colegiomarista.org.br/ipanema | 51 3086 2200 Colégio Marista Irmão Jaime Biazus colegiomarista.org.br/jaimebiazus | 51 3086 2300 Colégio Marista João Paulo II colegiomarista.org.br/joaopauloii | 61 3426 4600 Colégio Marista Maria Imaculada colegiomarista.org.br/imaculada | 54 3278 6100 Colégio Marista Medianeira colegiomarista.org.br/medianeira | 54 3520 2400 Colégio Marista Pio XII colegiomarista.org.br/pioxii | 51 3584 8000

Sede Marista Rua. Ir. José Otão, 11 - Bonfim - Porto Alegre/RS cep: 90035-060 Tel.: 51 3314-0300 / 0800 541 1200

colegiomarista.org.br socialmarista.org.br

Colégio Marista Roque colegiomarista.org.br/roque | 51 3724 8100 Colégio Marista Rosário colegiomarista.org.br/rosario | 51 3284 1200 Colégio Marista Sant’Ana colegiomarista.org.br/santana | 55 3412 4288 Colégio Marista Santa Maria colegiomarista.org.br/santamaria | 55 3220 6300

EscolaS de Educação Infantil Marista Aparecida das Águas Marista Menino Jesus Marista Renascer Marista Tia Jussara colegiomarista.org.br

Centros Sociais Marista Aparecida das Águas Marista Boa Esperança Marista da Juventude Marista de Formação Tecnológica Marista de Inclusão Digital (Cmid) Marista Ir. Antônio Bortolini Marista Mario Quintana Marista de Porto Alegre (Cesmar) Marista Santa Isabel Marista Santa Marta socialmarista.org.br

Colégio Marista Santo Ângelo colegiomarista.org.br/santoangelo | 55 3931 3000

Polo Marista

Colégio Marista São Francisco colegiomarista.org.br/saofrancisco | 53 3234 4100

Polo Marista de Formação Tecnológica socialmarista.org.br

15a Edição | 2o Semestre 2015 Periodicidade Semestral

EDIÇÃO Supervisão editorial: Maria Fernanda Rocha Redação: Michele Bravos Edição de arte: Julyana Werneck PROJETO GRÁFICO Estúdio Sem Dublê | semduble.com

Revisão Lumos | Bureau de Traduções Envie comentários, críticas e sugestões sobre a revista para o email conteudo@grupomarista.org.br

Capa

Aline Lopes

ILUSTRAÇÃO DA CAPA Julyana Werneck © Todos os direitos reservados. Todas as opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores.

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índice capa

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Para previnir o preconceito: exposição à diversidade desde cedo. Saiba como se dá a construção de um olhar preconceituoso e como dialogar com os filhos sobre essas questões.

1a impressão

Dia a dia

Entrevista

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Rogério Anele fala sobre a reformulação da revista e reforça o posicionamento da nova campanha dos Colégios Maristas.

Saiba como as famílias devem se preparar ao receberem um intercambista em casa.

Olhar

Curiosidade

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Nesta edição, você confere uma reflexão sobre o sentido da vida - ou a ausência dele - na rotina da juventude atual.

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Índice

Solidariedade

Como fazer

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local Confira as matérias elaboradas especialmente para a sua unidade.

Para expandir a atuação social marista, novas propostas estão sendo pensadas e implementadas. Conheça algumas.

Grêmios Estudantis são um espaço de debates relevantes e de novas amizades. Conheça as histórias de quem está envolvido.

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Diversão

Essência

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Confira nesta edição as dicas de aplicativos sugeridas pelo supervisor de Tecnologias Educacionais dos Colégios Maristas, Silvio Augusto Langer.

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Música clássica pode influenciar no desenvolvimento da mente e em atividades vitais.

Especialista fala sobre o quão natural é se ter questionamentos sobre a sexualidade e como a família pode lidar com essa situação.

Saiba o que as brincadeiras mais antigas, como amarelinha, esconde-esconde desenvolvem nas crianças.

O Irmão Alvanei Finamor relembra os primórdios do Instituto Marista e reforça a importância de se doar ao próximo nos dias atuais.


A virtude da 1a impressão

diferença

É preciso trocar o julgamento pelo apoio, o individualismo pela coletividade, a descrença pela aceitação. É preciso valorizar, acima de tudo, o amor.

© Foto: Divulgação / Comunicação e Marketing

“Se o mundo é plural, por que as opiniões deveriam ser iguais?” Essa é a questão norteadora abordada na nova campanha dos colégios da Rede Marista, mas poderia ser aplicada em diversos outros contextos que resumem boa parte dos conflitos da sociedade. A intolerância à diferença, como retrata a matéria principal desta edição da revista Em Família, mostra os prejuízos irreversíveis que podem ser aplicados na formação da personalidade de crianças e jovens. A adoção do pensamento preconceituoso, que muitas vezes acaba passando despercebido pelos pais durante a educação dos filhos, faz parte de um grande ciclo nocivo que só tem a prejudicar o cultivo das relações humanas. Hoje, somos parte de um mundo em crise, e boa parte das resoluções dos problemas que enfrentamos depende de um olhar atento para a diversidade. É preciso trocar o julgamento pelo apoio, o individualismo pela coletividade, a descrença pela aceitação. É preciso valorizar, acima de tudo, o amor. Promover o aprendizado de diferentes formas é um dos caminhos desenvolvidos por nossas unidades para lidar com essa questão. Respeitar o encontro de dois ou mais pontos de vista é o primeiro passo para conviver com as diferenças e incentivar o protagonismo dos jovens desde cedo. Reconhecer a virtude da diferença é estimular o surgimento de transformações e a característica plural do mundo em que vivemos. Ao tratar este e outros assuntos decorrentes da proposta pedagógica marista na revista, também convidamos as famílias de nossos estudantes, educadores e demais leitores ao debate. A partir desta edição, a revista Em Família passa a entregar um conteúdo mais personalizado e completo, com o objetivo de dar mais visibilidade ao que acontece dentro e fora das nossas unidades. Nesta reformulação editorial, muitos serão os personagens, histórias e conceitos apresentados aos nossos leitores. Afinal, conhecer a pluralidade da vida, é o que faz do ser humano, único.

Rogério Anele Superintendente dos Colégios e Unidades Sociais da Rede Marista

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dia a dia

© Foto: Fabio Melo

Um intercambista

em minha

casa Acolher o intercambista como um filho e deixar claras as regras da casa são fundamentais para uma experiência bem sucedida Michele Bravos

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Já pensou em adotar um filho estrangeiro? Calma, a gente explica. É comum e bastante incentivado por agências de intercâmbio que os adolescentes intercambistas se hospedem em casas de família para que a imersão na cultura do país para onde estão indo seja mais intensa e significativa. Abrir as portas de casa para um intercambista é como adotar um filho – mesmo que temporariamente. Para Celso Javorski, acolher o jovem Jacob Pritchard, 17 anos, da Nova Zelândia e que está estudando até o fim desse ano no Colégio Marista de Ribeirão Preto (SP), está sendo uma experiência enriquecedora. “É a primeira vez que estamos recebendo um intercambista e a troca cultural é muito rica. Temos dois filhos e um deles está fora do país, em intercâmbio também. Então, o Jacob, literalmente, está sendo tratado como um filho”. Para Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio (agência que também possui parceria com os Colégios Maristas do Rio Grande do Sul, uma vez que esta proposta demanda uma organização especializada), a consideração mais importante de um programa de intercâmbio em casa de família é que a 'família hospedeira' acolha o estrangeiro como um membro da família. “O intercambista tem que usufruir da mesma estrutura de um filho. Ele tem que se sentir integrado, acolhido. As atividades diárias têm que ser realizadas com o intercambista. No começo, isso


pode significar sair da rotina – e a família precisa estar ciente disso –, mas, aos poucos, todos se adaptam”. Jacob afirma que um ponto positivo dessa experiência tem sido passar tempo com sua família brasileira. “Eles são pessoas muito legais, que fazem eu me sentir bem-vindo na casa deles”. Uma boa adaptação depende bastante de regras claras. Reischl lembra que toda casa tem normas que, naturalmente, são cumpridas pelos membros da família. O intercambista precisa ser inserido nesse contexto também. “Ele precisa saber o que pode fazer na cozinha, o que deve fazer com as roupas sujas – se ele irá lavá-las ou se alguém fará isso para ele –, se existe um horário para o banho, se o secador é de uso comum...”. O diretor comercial complementa que isso tudo deve ficar claro já no primeiro dia. “Assim que o intercambista chegar, dê as boas-vindas, faça ele se sentir em casa. Em seguida, de forma gentil, apresente as regras do lar”. Javorski conta que Jacob respeita inclusive as normas de comportamento – por exemplo, com relação a sair para festas e dar satisfação quanto a para onde está indo e com quem. “Tínhamos muita expectativa com relação a essa convivência. É também nossa responsabilidade zelar pela segurança dele”.

Integrando Integrar não quer dizer fazer as vontades do intercambista. Ele precisa conhecer e se adaptar aos costumes do país em que está. Uma boa forma de integrar o jovem à cultura e à nova família é na hora das refeições. “O momento das refeições é muito importante para a integração. Por isso, pelo menos algumas devem ser feitas com a família reunida”. Javorski afirma que os hábitos alimentares certamente são muito diferentes e isso sempre rende bastante conversa. Outra forma de integrar é convidar o intercambista para passear. “É importante que a família esteja preparada para fazer 'programas de turista',

mesmo na sua cidade natal. É preciso lembrar que o intercambista também está interessado em conhecer lugares típicos e diferentes dos que ele está habituado a ver”.

Comunicação Na casa da família Javorski, apenas a filha fala inglês. Então, foi preciso desenvolver formas de comunicação até Jacob estar mais fluente no português. “Às vezes, o Google tradutor nos ajuda. A gente acaba tendo que ser criativo”, diz Javorski. Reischl aponta que é ideal que pelo menos um membro da família compartilhe de um idioma em comum com o intercambista. “Caso contrário, a comunicação fica nula e pode gerar desconfortos, como prejudicar a compreensão das regras da casa. Uma família monoglota poderia ser um problema”. As barreiras de comunicação na casa de Javorski têm sido vencidas com bom humor. “Nós falamos português e inglês em casa. Eu imagino que deve ser um quebra-cabeça para eles entenderem o que eu falo, às vezes, mas nós rimos disso”, diz Jacob. O quesito “comunicação” também deve se estender para a família no exterior, pois isso gera maior confiança para o intercambista. “A família que está recebendo deve fazer contato com a família do outro país, mesmo que não falem a mesma língua. Por meio de uma conversa por chamada de voz e vídeo, as famílias podem se ver, sorrir uns para os outros e dar um ‘tchauzinho’. Isso já faz diferença”, comenta Reischl.

PROJETO INTERCÂMBIO MARISTA Embora os Colégios Maristas do Rio Grande do Sul ainda não recebam intercambistas em suas unidades, desde 2011, os estudantes têm a possibilidade de trocarem os períodos de férias por experiências em outros países. Ficou interessado? Acesse mais informações do projeto Intercâmbio Marista – Novas culturas, novos saberes colegiomarista.org.br/intercambio.

dicas Seguindo essas dicas, a 'família hospedeira' terá uma grande experiência de vida recebendo um intercambista. l Tenha certeza de que sua casa tem condições de receber mais um membro. Pode ser que ele tenha que dividir o quarto com os seus filhos, mas é importante que o intercambista tenha um espaço apropriado para que ele possa realizar as atividades curriculares. l Conheça o intercambista antes de ele chegar à sua casa. Pode ser por e-mail, por chamada de voz e vídeo, etc. l Trate-o como um filho, tanto para as coisas legais, como passear em família, quanto para as regras. l Apresente as regras da casa. Elas precisam estar claras para o intercambista. l Pergunte o que ele gosta de fazer ou o que tem curiosidade em conhecer. Seja solícito, simpático, mas não extrapole, impondo a sua programação. l Tenha disposição para conviver com as diferenças – elas são enriquecedoras – e dialogue sempre!

Na foto: Maria Eduarda, Jacob, Anaisa e Celso Javorski.

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capa

{PRE}conceito

venindo o

Expor a criança desde cedo à diversidade do mundo contribui para a formação de um indivíduo menos preconceituoso Por Michele Bravos

VAMOS VER COMO NOS COMPORTAMOS? Esse é um teste, mas um teste do bem. Gostaríamos de saber como você vê a imagem ao lado, sem receio algum de utilizar os traço, elementos ou cores que considere mais adequadas aos seus olhos. Crie o restante dos elementos na figura da maneira que preferir (canetinha, colagem, etc.), tanto da personagem, quanto do cenário. Não hesite em desenhar o cabelo, a roupa, a maquiagem que quiser. Use a sua imaginação, e, se precisar ou preferir, peça ajuda. A ideia é, justamente, entender a maneira como as pessoas entendem as outras, mesmo com os esteriótipos que nos são referenciados durante a vida, sejam eles pessoais, sejam eles interpressoais.

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Quem é essa pessoa para você? O que você pensa dela? Como você imagina que ela seja?

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Em tempos de politicamente correto, o real preconceito que a produtora executiva, Aline Lopes (28), enfrenta é sutil. “Ninguém me chama de macaca ou fala que meu cabelo é ruim, mas enfrento indiferença e menosprezo em situações profissionais, por exemplo”. A frase de destaque nesta página ilustra com o que Aline tem de conviver. Ela conta que já foi ignorada em uma reunião de trabalho em que era a responsável pelo projeto apresentado. “A reunião era com uma universidade e a coordenadora com quem eu me reuni falava apenas com a estagiária. Simplesmente, não se reportava a mim”. Ela percebe que ainda há muitos estereótipos a serem quebrados para a existência de uma sociedade igualitária. Aline também ressalta a importância da autoaceitação nesse processo. Ela lembra o dia em que chegou em casa chorando, após a aula, por terem dito que o cabelo dela era feio e o nariz grande demais. “Minha mãe me colocou em frente ao espelho e ficamos lá umas duas horas. Eu olhei para cada detalhe de mim e aceitei todos eles. Sim. Eu sou negra, eu sou mulher! E daí?”

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© Foto: Renata Sales

capa


Ao olhar para as imagens ao lado, o que você vê? Segundo a psicóloga Marlene Strey, professora e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o conceito que lançamos sobre alguém é decorrente dos nossos aprendizados – que começam a se formar na infância. “A construção do preconceito se inicia a partir do momento em que nascemos. É uma ideia colocada em nossa mente a partir da observação dos mais velhos, principalmente daqueles que amamos e respeitamos, como pais e professores. A criança nasce sem preconceitos, mas ao perceber exemplos de discriminação, palavras ou atitudes, elas internalizam essa avaliação”. O neurocientista Naim Akel ressalta que é na infância que o cérebro conclui o processo básico do seu desenvolvimento e, portanto, é a hora de ajudar o indivíduo a organizar as suas ideias, exercitando áreas fundamentais para a consciência e o autocontrole. “Eu digo que é possível prevenir o preconceito. Para isso, é preciso que as crianças sejam sempre estimuladas a refletir; aprendam a construir suas próprias conclusões a partir do conhecimento e das informações; sejam convidadas a experimentar e conviver com o diferente, acostumando-se a uma enorme diversidade do mundo que a cerca”. É possível deduzir de diversos estudos e pesquisas neurocientíficas que experiências precoces alteram o funcionamento e a estrutura cerebral. Para o neurocientista, “de uma infância com situações agressivas e desfavoráveis deverá emergir um adolescente e adulto com forte tendência a percepções tendenciosas do mundo e com reações agressivas, destrutivas e de confrontação com os outros”. Especialistas apontam que mesmo ações sutis dos adultos que cercam essa criança interferem na construção da análise do outro. Por exemplo, quando uma mãe branca segura firme na mão do filho ao ver uma pessoa negra. Ela pode não ter falado nada, mas a insegurança passada naquele ato pode influenciar na

forma como a criança – futuramente, um adulto – irá perceber as pessoas que possuem uma cor de pele diferente da sua.

Convivendo com o diferente

Apesar de ser mais fácil conviver com tudo aquilo que se conhece e entende, o mundo é feito de diferenças e, em geral, o diferente assusta. Diante daquilo que causa medo, existem três possibilidades de ação, de acordo com a psicóloga:

Afastar-se Neste caso, a pessoa guarda os seus “pré-conceitos” para si e evita a convivência com pessoas ou situações com as quais não sabe lidar.

AGREDIR

Em defesa do próprio espaço, das próprias ideias e do seu jeito de viver, a pessoa agride o que destoa dos seus padrões de normalidade. Essa agressão pode ser verbal ou até chegar a uma violência física.

RESPEITAR

Pessoas que foram incentivadas a pensar antes de agir ou foram criadas em um ambiente – tanto familiar quanto escolar – onde há diversidade de raças, religiões e costumes tendem a se aproximar do diferente.

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capa

Às vezes, até esqueço que vocês são normais. Palavras da diretora de uma empresa à Aline

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Adaptação O preconceito também tem sua raiz atrelada a uma necessidade do ser humano de se adaptar e se sentir aceito. Segundo a psicóloga Marlene Strey, “a tendência da criança é imitar as pessoas do seu convívio. Logo, se um pai tem uma atitude preconceituosa, é provável que o filho siga o exemplo. Não por concordar, mas por entender que essa é forma como o grupo em que ele está inserido – no caso, a família – age”. A psicóloga ressalta que a questão da adaptação e aceitação também se dá em outros grupos. Há casos em que a família não é preconceituosa e o filho também não, porém, se na escola ele faz amizades com crianças que discriminam as diferenças, é possível que ele também passe a ter esse comportamento. Mais uma vez pelo fato de querer se sentir aceito e parte de algo. O neurocientista Naim Akel pondera que o inverso também pode acontecer, pelo mesmo motivo. “A capacidade de o cérebro mudar e se moldar às experiências é espetacular. Isso se faz mais presente no início da vida e vai diminuindo com o passar dos anos. Por isso, o que acontece nos primeiros anos de vida será decisivo para o futuro do sujeito”.

propõe que por meio de estímulos sonoros, durante o sono, estereótipos ligados à raça e gênero sejam quebrados e um novo conceito seja aprendido. Porém, Naim afirma que ainda são especulações. Para mudanças efetivas

de consciência é preciso bem mais que uma noite de sono. “Para mudar cérebros e mentes o trabalho é constante, persistente e de todos (pais, familiares, professores) e, preferencialmente, deve ocorrer desde os primeiros anos”.

Existem estudos atuais que apontam que é possível, através da neurociência, modificar os conceitos de alguém sobre outras pessoas. É o caso do estudo promovido pela Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos, e publicado na revista Science. A pesquisa liderada pelo neurocientista Ken Paller

Cadastre-se no site goo.gl/4HmIOY e leia a pesquisa na íntegra.

A criança nasce sem preconceitos, mas ao perceber exemplos de discriminação, palavras ou atitudes, elas internalizam essa avaliação. Marlene Strey Psicóloga, professora e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

© Fotos: Renata Sales

Mudança de consciência

Primeira impressão A primeira impressão pode até não ser a que fica, mas, inevitavelmente, ela se forma rapidamente na mente de cada um. Meio segundo é o bastante para um “pré-conceito” ser concebido, segundo um estudo realizado em 2014 pela Universidade de Glasgow, na Grã-Bretanha. Ainda de acordo com a pesquisa, para a concepção de uma primeira impressão, às vezes, não é preciso nem olhar. Só de ouvir a voz de alguém, algumas pessoas já formam um conceito sobre o outro. Esta pesquisa está disponível aqui: goo.gl/gI0cJX

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Š Foto: Shutterstock

entrevista

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Interrogações

sobre

SEXUALIDADE Diante de questionamentos dos filhos sobre a sexualidade, pais devem estar atentos ao sofrimento que isso possa estar causando para poder orientá-los Por Michele Bravos

Desde a infância, os pontos de interrogação acompanham o ser humano. Apesar de nem sempre as respostas serem encontradas, a busca é constante. Com questões relacionadas à sexualidade isso não é diferente. Para falar sobre o tema, a entrevistada desta edição da Em Família é a psicóloga Maria Virgínia Cremasco, professora na Universidade Federal do Paraná, com estudos sobre sexualidade feminina e masculina pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado no Centro de Estudos em Psicopatologia e Psicanálise na Universidade de Paris VII.

Em uma situação em que a criança ou o adolescente tem questionamentos sobre a sua orientação sexual, qual deve ser a postura dos pais?

Permitir o diálogo. Se não conseguem ou não se sentem à vontade de fazer isso, devem procurar ajuda. Se os filhos desejarem ou apresentarem sofrimento com relação aos seus questionamentos ou vivências, a ajuda profissional poderá ser de grande valia. Sugerir ajuda não é tratar como doença, é oferecer ajuda, se for necessária, é claro. Não sugerir é que, talvez, seja tratar como uma doença – e dessas que não podem ser ditas.

Podemos considerar que a orientação sexual é pautada em uma escolha individual?

Na perspectiva em que eu trabalho, a psicanálise, não existe “uma escolha individual” no sentido de que as escolhas ou decisões do sujeito só dependem dele, desconsiderando-o como um ser social. Claro que é o sujeito quem faz as suas escolhas. Mas as condições que o levam a isso dependem, sobretudo, de sua história de vida. E isso tem a ver com todos os aspectos que concorreram para ele ser quem é. No entanto, a orientação sexual não é uma “escolha”. A orientação sexual é uma descoberta que se dá em determinado momento de nossas vidas, que se impõe a nós no sentido de pedir que respondamos a ela. Não assumi-la ou negá-la são também respostas.

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entrevista De que forma as relações familiares podem interferir na orientação sexual dos indivíduos? Podemos dizer que existe alguma influência direta?

© Foto: Shutterstock

Quais consequências podem ser geradas por um ambiente familiar homofóbico ou que se nega a se solidarizar com os questionamentos do filho ou da filha sobre sexualidade?

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As relações familiares estão na base da formação do sujeito, ou seja, ele se constitui a partir desse contato, sobretudo da qualidade afetiva do contato. No entanto, não existe absolutamente nada que possa ser afirmado quanto às relações familiares interferirem na orientação ou desejo sexual dos filhos. O contrário se pode dizer quanto a sua expressão.

A importância das relações familiares diz respeito à constituição do sujeito e seus recursos para enfrentar a realidade.

A partir de que idade o assunto sexualidade entra no universo da Pais muito repressivos e punitivos criança? podem dificultar a expressão da sexu-

alidade dos filhos. Um ambiente assim também pode criar filhos preconceituosos ou que não conseguem aceitar em si e nos outros as diferenças. A importância das relações familiares diz respeito à constituição do sujeito e seus recursos para enfrentar a realidade.

A curiosidade sexual que envolve a diferença ente os sexos e a gravidez acontece por volta dos 4 anos, quando a criança quer saber de onde vêm os bebês, como são feitos. No entanto, desde muito antes a curiosidade sexual dos bebês existe, envolvendo a descoberta de seu próprio corpo, suas sensações. Por isso, a psicanálise fala de uma sexualidade infantil – não genitalizada como nos adultos, que é voltada para a relação sexual –, mas uma sexualidade diluída em todo o corpo, o que envolve a importância dos primeiros contatos corporais que unificam o corpo e despertam a sensorialidade, que só depois fará parte das trocas sexuais.

Comportamentos de uma orientação sexual homossexual podem ser notados na infância?

Normalmente não, até porque a curiosidade sexual das crianças é polimorfa, sem direção de orientação, como os adultos entendem isso. Para a criança, explorar o próprio corpo e o corpo do outro é uma brincadeira, necessária, como já disse, da mesma ordem de outras brincadeiras. O adulto é quem sexualiza isso, dá um sentido genital a isso, padroniza e normaliza o que é pura expressão pulsional.

De que forma um acompanhamento psicológico nesse momento de questionamentos pode contribuir?

O papel de um acompanhamento psicológico é ajudar o indivíduo a compreender seu sofrimento e encontrar meios de lidar com ele. Quem sofre precisa procurar ajuda. Se não há sofrimento, não há necessidade. Se o sofrimento é dos pais, que o estão projetando no filho, são os pais que precisam de ajuda.


EXPEDIENTE Unidades Sociais da Rede Marista Rua Ir. José Otão, 11 – Bom Fim Porto Alegre - RS social@maristas.org.br GERENTE SOCIAL Ir. Luciano Barrachini COMUNICAÇÃO e marketing Sílvia Fighera de Medeiros JORNALISTA RESPONSÁVEL Tiago Rigo (MTB 13919) PROJETO GRÁFICO Lumen Comunicação

Assistência Social em movimento

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Por meio de oficinas e projetos, Centros Sociais Maristas trabalham as potencialidades de mais de 2,2 mil educandos.

Com a palavra

Educação Básica

Em movimento

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20 24 28

Ponto de vista

Você sabia?

Inclusão Digital

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Gente nossa

Comunidade

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Gerente social conta sobre o surgimento das Unidades Sociais e da revista como meio de divulgação do trabalho realizado.

Simone Weissheimer Santos traz uma reflexão sobre a Educação de Jovens e Adultos.

Sonho conquistado: com esforço e dedicação, Vitor Gonçalves, de 73 anos, comemora a formatura no Ensino Médio.

Saiba como funcionam as Escolas Sociais, que já atendem mais de 2 mil estudantes gratuitamente.

Conheça a história do Apóstolo dos Ferroviários.

Modernização da rede de esgoto do Cesmar também resulta em benefícios para a comunidade local.

Relembre as principais ASSISTÊNCIA atividades e SociaL os projetos do primeiro INCLUSÃO DIGITAL semestre. EDUCAÇÃO BÁSICA

Unidades com enfoque em tecnologia desenvolvem projetos que promovem o acesso ao conhecimento.


Com a palavra

Presença marista

no caminho da

solidariedade

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Unidades Sociais Maristas

As Unidades Sociais trazem em sua essência o sentido mais profundo do legado de Champagnat deixado aos 'Irmãozinhos de Maria': ser presença junto aos mais necessitados.

Ir. Luciano Barrachini Gerente Social

© Foto: Acervo da Gerência Social

As Unidades Sociais surgem, na Rede Marista, como resposta aos apelos da missão marista e às necessidades da comunidade, em um momento profícuo e de esperança, marcado pelo advento da democracia e da luta por direitos humanos no Brasil. Nesse contexto, as Unidades Sociais trazem em sua essência o sentido mais profundo do legado de Champagnat deixado aos 'Irmãozinhos de Maria': ser presença junto aos mais necessitados. A pedagogia de São Marcelino Champagnat, fundada na devoção e no amor à Maria, ensina-nos que a presença é um valor inestimável, traduzido como sinal de afeto, de compaixão, de cuidado. É dessa forma que Champagnat nos convida a percorrer, de coração aberto, terras novas e a conhecer a realidade de cada criança, adolescente, jovem, adulto, idoso, pertencente aos mais diversos territórios, que estão expostos ao risco, ao abandono e à invisibilidade social. A partir disso, a Rede Marista foi chamada para cuidar da vida e atuar no desenvolvimento de ações que possibilitem a vivência, a promoção e a garantia dos direitos humanos, capazes de promover a emancipação humana e a transformação social. Assim, esta revista foi elaborada de forma a contribuir para a divulgação do trabalho realizado nesses espaços. Boa leitura!


© Foto: Acervo das Unidades Sociais

Educação Básica

Conhecimento

que transforma histórias de vida Mais de 2 mil estudantes frequentam gratuitamente as Escolas Sociais da Rede Marista Da Educação Infantil à Educação de Jovens e Adultos (EJA), as Escolas Sociais da Rede Marista valorizam a integralidade do estudante e buscam o desenvolvimento afetivo, ético, social, político e cognitivo. Você conhece os oito colégios sociais que estão localizados em três diferentes municípios do Rio Grande do Sul e atendem, gratuitamente, mais de 2 mil estudantes todos os dias? Em Porto Alegre, Novo Hamburgo e Santa Maria, a atuação das Escolas Sociais compreende presença, dedicação, simplicidade e respeito à diversidade cultural e religiosa. Cerca de 300 profissionais, entre educadores e técnicos, dedicam-se todos os dias a evangelizar por meio da educação os estudantes em situação de vulnerabilidade social. Nas quatro Escolas Maristas de Educação Infantil – Aparecida das Águas, Menino Jesus, Renascer e Tia Jussara –, os professores desenvolvem projetos em sala de aula que proporcionam o desenvolvimento de habilidades e competências. Inseridos em comunidades onde o contexto econômico, cultural e social é precário, o Colégio Marista Irmão Jaime Biazus e a Escola Marista Santa Marta promovem a educação integral por meio de um processo educativo a partir dos interesses e das necessidades dos educandos. Nas duas unidades de Educação de Jovens e Adultos – Colégios Maristas São Marcelino Champagnat e Vettorello –, os educadores se preocupam com o acolhimento do estudante, a fim de garantir a aprendizagem para aqueles que não a tiveram no tempo oportuno. Estar ao lado dos que mais necessitam é a essência do Instituto Marista. Mais do que espaços educativos, as Escolas Sociais são a continuidade do compromisso assumido por São Marcelino Champagnat há quase 200 anos. Por meio da educação e do conhecimento, novas histórias são escritas nesses espaços todos os dias.

Escolas sociais Educação Básica

Educação de Jovens e Adultos

Ensino Médio

Educação Infantil e Ensino Fundamental

Educação Infantil

Colégio Marista Vettorello (POA)

Colégio Marista Irmão Jaime Biazus (POA)

Escola Marista Santa Marta (Santa Maria)

Escola Marista Aparecida das Águas (POA)

Colégio Marista São Marcelino Champagnat (NH)

Escola Marista Menino Jesus (POA)

Escola Marista Renascer (POA)

Escola Marista Tia Jussara (POA)

Unidades Sociais Maristas

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Em movimento | Educação Básica

Em parceria com a Faculdade de Economia da PUCRS, o Colégio Marista Vettorello recebeu cerca de 90 acadêmicos da universidade para realizar uma consulta financeira aos estudantes. Com o Guia de Planejamento Financeiro em mãos, elaborado pelo Estúdio de Finanças da PUCRS, eles puderam conversar sobre questões importantes do dia a dia.

2015

Tradicional evento do Colégio Marista São Marcelino Champagnat (EJA), o Show de Talentos levou ao palco diversos artistas da unidade, entre professores e estudantes. Com o objetivo de apoiar e incentivar o talento de cada um, o evento teve atrações para todos os gostos e estilos.

VIVÊNCIA NOVO HAMBURGO

SANTA MARIA INTEGRAÇÃO

PORTO ALEGRE

© Fotos: Acervo das Unidades Sociais

A Escola Marista Santa Marta preparou uma série de atividades para celebrar seus 17 anos de atuação na comunidade da Nova Santa Marta. Os estudantes dos Anos Iniciais EF se mobilizaram em uma gincana, que envolveu provas criativas e solidárias, como a apresentação de uma proposta de melhoria para a unidade.

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Lucas Cruz Morais, estudante do 2o ano do Ensino Médio do Colégio Marista Irmão Jaime Biazus, viajou para o Canadá pelo Programa de Intercâmbio Marista. Ao lado de outros 149 estudantes dos Colégios Maristas, Lucas integrou o maior grupo de intercambistas de Educação Básica do Rio Grande do Sul.

Unidades Sociais Maristas


Com olhar atento para a importância de consolidar a Educação Básica do Brasil Marista, a Gerência Social realizou o Encontro de Coordenações dos Colégios Sociais. Coordenadores dos Colégios Maristas Irmão Jaime Biazus, São Marcelino Champagnat e Vettorello e da Escola Marista Santa Marta participaram do evento, que ocorreu na Sede Marista.

NA PRÁTICA

A Biblioteca Comunitária do Arquipélago recebeu os estudantes da Escola Marista de Educação Infantil Tia Jussara para uma sessão de contação de histórias. Acompanhadas de educadores e voluntários do Instituto C&A, as crianças interagiram e brincaram com os livros expostos no espaço. A ação possibilita que os pequenos conheçam o local onde a cultura é o foco.

Em parceria com o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), a Escola Marista de Educação Infantil Renascer realizou uma caminhada na comunidade. Educadores e estudantes levaram cartazes para conscientizar os moradores sobre o lixo colocado dentro do arroio que fica ao lado da unidade. Com a ajuda das professoras, as crianças colocaram ao redor do arroio pneus com mudas de árvore.

Unidades Sociais Maristas

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Por Simone Weissheimer Santos, supervisora pedagógica das Unidades Sociais da Rede Marista. Licenciada em História, pela Faculdade Porto-Alegrense (Fapa), e em Orientação Educacional, pela Universidade La Salle de Canoas.

© Foto: Acervo das Unidades Sociais

Ponto de vista

Novo olhar sobre a Educação de

Jovens e Adultos

A importância da atuação conjunta dos profissionais da Educação e do Serviço Social nessa modalidade de ensino O tema educação tem sido pauta de debates nas mais diversas rodas sociais, ora sobre o financiamento, ora sobre o acesso, ora sobre a permanência dos sujeitos na vida escolar. Diante dessa percepção, é importante que se entenda a necessidade de refletirmos sobre a permanência do sujeito no ambiente educativo. Nesse caso, trago uma reflexão acerca do tema com especial atenção aos profissionais que atuam na Educação de Jovens e Adultos (EJA). A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade da Educação Básica, amparada por Lei, porém, não fica restrita apenas à dimensão educacional: tem sua complexidade, na qual o pensar sobre a EJA não nos restringe a uma lista de conteúdos a serem vencidos no período letivo. No que se refere ao estudante, é preciso que se entenda em que momento lhe foi negado o direito à educação na idade apropriada; em que momento histórico e cultural o sistema não estava adequado para ofertar vagas e garantir o seu acesso; em que momento político a educação deixou de ter a sua importância, e em quais condições esse estudante ingressa ou retorna aos bancos escolares. Até pouco tempo atrás, a procura pela EJA ficava restrita a pessoas de uma faixa etária mais elevada, que pela sua bagagem histórica não tiveram

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acesso ao ensino regular. Contudo, algumas transformações vêm se instalando na sociedade e com elas se configuram novos espaços educativos. Nesse cenário, está a EJA, onde novos sujeitos buscam sua escolarização, já que muitas vezes são excluídos na escola regular, por questões de violência emocional e física, e até pela dificuldade nos processos de aprendizagem. Porém, cabe salientar que outras configurações se somam a esse público: adolescentes e jovens que engravidam no período escolar têm dificuldade em conciliar estudos com maternidade e acabam muito precocemente procurando essa modalidade de ensino. É importante que esses profissionais intensifiquem a interação, a relação dialógica, bem como uma efetiva organização da escola; que promovam o mundo do trabalho, que despertem a consciência e o respeito, bem como os limites e as possibilidades de um jovem adulto acerca de um novo contexto de mundo. Ser profissional da EJA é entender essa dinâmica e, paralelamente, entender as relações democráticas, a garantia de direitos e a capacidade de perceber o quanto esse sujeito precisa superar barreiras, que por um determinado momento foram impeditivas na sua escolarização. Diante dessa

Unidades Sociais Maristas

configuração é que reforço a importância da integração dos profissionais anteriormente citados, seja para a colaboração na construção do currículo e seus entendimentos, seja na colaboração para encaminhar uma melhor construção dos processos de ensino-aprendizagem, não esquecendo a formação humana e todas as questões que estão na transversalidade da atuação específica de cada profissional.

REFERÊNCIAS BRASIL. Conferência Regional Preparatória. Brasília, 1997. V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos. Hamburgo, 1997. Brasília: MEC, 1998. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no 9.394/96. Brasília: MEC, 1996. CONSELHO Nacional de Educação. Parecer CEB no 11/2000. Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília: MEC, 2000. UNIÃO MARISTA DO BRASIL. Projeto Educativo do Brasil Marista: nosso jeito de conceber a Educação Básica. Brasília: Umbrasil, 2010.


Comprometimento

Assistência Social

com a formação integral

Por meio de oficinas, Centros Sociais Maristas trabalham as potencialidades de mais de 2,2 mil educandos Evangelizar crianças, jovens e adultos comprometidos com uma sociedade justa e fraterna é a missão legada por São Marcelino Champagnat, fundador do Instituto Marista. Por meio da Política de Assistência Social, a igualdade de oportunidades e o protagonismo no processo de formação integral são promovidos nos dez Centros Sociais da Rede Marista, localizados em cinco cidades do Estado. Nesses espaços, cerca de 200 educadores desenvolvem práticas educativas voltadas para a proteção de crianças, adolescentes, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social. Hoje, mais de 2,2 mil educandos frequentam esses espaços todos os dias, no turno inverso ao da escola. Oficinas com diversas temáticas, como esporte, teatro e cultura digital, são o caminho para o desenvolvimento da proposta de educação integral. Por meio de convênios e parcerias com organizações públicas e privadas, as unidades potencializam a formação de crianças, adolescentes, jovens

e adultos. Nos Centros Sociais Maristas, o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) é o mais executado da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, mas existem outros tipos (veja no quadro abaixo). Seu caráter é preventivo e proativo, pautando-se na defesa e afirmação dos direitos e no desenvolvimento de capacidades e potencialidades dos atendidos. O Futebol de Valores, por exemplo, é uma das oficinas oferecidas no Centro Social Marista Santa Isabel, em Porto Alegre. Por meio do futebol, são trabalhadas as relações do grupo, não somente a técnica do esporte, resgatando os valores humanos e mostrando aos educandos que há coisas mais importantes do que simplesmente ganhar uma partida de futebol. Os educadores estão atentos às habilidades e aos sonhos de todos os atendidos, para que eles possam desenvolver seus talentos e se firmar como sujeitos de direito e capacidades no exercício de sua cidadania.

Conheça os dez Centros Sociais: • Centro Social Marista Aparecida das Águas (Porto Alegre) • Centro Social Marista Boa Esperança (Santa Cruz do Sul) • Centro Social Marista da Juventude (Porto Alegre) • Centro Social Marista de Formação Tecnológica (Viamão) • Centro Social Marista de Porto Alegre – Cesmar (Porto Alegre) • Centro Social Marista Irmão Antônio Bortolini (Porto Alegre) • Centro Social Marista Mario Quintana (Gravataí) • Centro Social Marista Santa Isabel (Porto Alegre) • Centro Social Marista Santa Marta (Santa Maria) • Polo Marista de Formação Tecnológica (Porto Alegre)

Confira os serviços mais executados nos Centros Sociais Política de assistência social l Serviço de Atendimento Familiar (SAF) l Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV)

Política de EDUCAÇÃO l Projeto Cidade Escola

© Foto: Unidades Sociais Maristas

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO l Programa Jovem Aprendiz

PROJETOS ESPECIAIS l Bola pra Vida l Escolinha de Futebol l Finais de Semana da Paz

Unidades Sociais Maristas

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Em movimento | Assistência Social

2015

Lançado neste ano, o projeto Cesmar do Futuro provocou os colaboradores da unidade a mergulhar no passado e voltar o olhar para o futuro. Com a reflexão Para entender o futuro, precisamos olhar para o passado, os educadores relembraram histórias e momentos marcantes da trajetória do Cesmar e de sua vida na instituição. Os colaboradores se reuniram em grupos e discutiram ideias de como deverá ser o Cesmar em 2030.

CENTROS E UNIDADES SOCIAIS

© Fotos: Acervo das Unidades Sociais

A Pastoral Juvenil Marista (PJM) ganha novos membros das Unidades Sociais: foi criado o primeiro grupo de jovens no Centro Social Marista Irmão Antônio Bortolini. O nome do grupo já foi escolhido: Decididos a Organizar o Mundo (DOM). São 17 participantes da comunidade e do Centro Social Marista que se reúnem semanalmente.

Para dar continuidade ao projeto Coração Solidário Marista, desenvolvido pelas Unidades Sociais em 2014, neste ano foi estruturado um grupo de estudo do qual fazem parte adolescentes e jovens dos Centros Sociais e das Escolas Sociais. Os participantes estudam o documento Caminhos de solidariedade marista nas Américas: crianças e jovens com direitos e também a temática escolhida por eles mesmos – Garantia de direitos: o desafio do protagonismo infantojuvenil.

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Unidades Sociais Maristas


O Encontro Mistagógico Marista 2015 proporcionou aos 17 participantes das Unidades Sociais Maristas uma experiência de vida. À luz da temática Ação marista em contextos de vulnerabilidade social: os pobres como os prediletos de Deus e as implicações para o Serviço de Pastoral, os participantes vivenciaram a experiência de imersão territorial no bairro Santa Vitória, em Santa Cruz do Sul, onde está inserido o Centro Social Marista Boa Esperança.

Convidado especial da Confraria Ctrl+A, o Centro Social Marista Boa Esperança fez as honras da casa em uma das edições do evento. Promovida pela Rádio Atlântida de Santa Cruz do Sul, a ação é realizada todo mês, cada vez em um local diferente. O espaço escolhido foi o Condomínio Serra Azul, que recebeu mais de 200 pessoas.

Unidades Sociais Maristas

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Você sabia?

O Apóstolo

dos Ferroviários

Você conhece a história do Apóstolo dos Ferroviários ou “Padre” das Cabras? Irmão Estanislau (Karl Joseph Gold) veio da Alemanha, em 1886, e ficou conhecido no Rio Grande do Sul, especialmente em Santa Maria, pelo trabalho social feito junto aos ferroviários, com prioridade para a educação e a alimentação das famílias. Viajando em trens de passageiros ou de carga, ele criou, ao longo dos trilhos, dezenas de escolas, que atendiam os filhos dos funcionários da ferrovia. Em 1932, ele foi admitido na Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea do Estado como inspetor das escolas, passando a morar na comunidade de Irmãos que dirigiam a Escola Artes e Ofícios de Santa Maria. Na época, já existiam 14 escolas, construídas na

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Unidades Sociais Maristas

extensão da estrada de ferro para atender os milhares de ferroviários cujos filhos não tinham acesso à educação. Além de cuidar das escolas, Irmão Estanislau também dava às famílias dos arredores uma cabra, a “vaca dos pobres”. Ele também desenvolveu, ao longo das vias férreas, a organização de hortas familiares e criações de aves, porcos e, claro, cabras. Hoje, os Irmãos Maristas que estão à frente das Unidades Sociais moram nas comunidades onde os centros estão inseridos. Os Irmãos Diego Lunkes, José Bittencourt, João Zimmermann Costa, Miguel Antonio Orlandi (foto abaixo), Luciano Barrachini e Odilmar Fachi, coordenadores de Unidades Sociais Maristas, mantêm viva a missão de Champagnat, de estar ao lado daqueles que mais necessitam.

© Fotos: Acervo das Unidades Sociais

Irmão Estanislau nas proximidades da Viação Férrea de Santa Maria.


© Foto: Acervo das Unidades Sociais

Inclusão Digital

Inclusão digital

como acesso ao conhecimento Unidades com enfoque em tecnologia desenvolvem projetos que vão do recondicionamento de computadores à programação de software Em 1978, em Novo Hamburgo, foi fundado o primeiro Centro Social Marista no formato que se conhece hoje. Naquela época e nos anos que se seguiram, eram ofertadas aos educandos oficinas de educação ambiental, jardinagem, artes visuais, esportes, música, entre outras. A partir dos anos 2000, entretanto, uma nova e crescente área temática começou, discretamente, a ser difundida nesses espaços: a informática. Iniciava-se, assim, o processo de inclusão digital nas Unidades Sociais Maristas. Desde a última década, esse trabalho apresenta estreita ligação com ações de inclusão digital, inserção na sociedade do conhecimento e formação profissional em áreas tecnológicas, aliando a atuação com a formação humana e a pedagogia marista. Essas ações ganharam, ao longo dos anos, reconhecimento público, que se reflete em convênios com as diversas esferas governamentais e empresas, e em impactos sociais. É preciso unir, cada vez mais, a democratização do

conhecimento, a apropriação tecnológica, a educação social, a solidariedade e o compromisso com o desenvolvimento local. Hoje, três Unidades Sociais têm enfoque na tecnologia. Localizado em Porto Alegre, o Polo Marista de Formação Tecnológica compreende um espaço de desenvolvimento humano, crescimento econômico, justiça social e proteção ambiental. No complexo, construído com o apoio de inúmeros parceiros, são desenvolvidos diversos projetos de protagonismo e emancipação de jovens e adultos da comunidade do bairro Mario Quintana, região com o menor índice de desenvolvimento humano de Porto Alegre. São diversas as iniciativas oferecidas aos educandos pelo Polo, a exemplo dos projetos Recondicionar, Meta Arte e Rádio Conexão. Em Santa Maria, está localizado o Centro Social Marista Santa Marta, que tem o objetivo de formar cidadãos capazes de transformar a realidade na qual estão inseridos. Um dos projetos vinculados à unidade é o Centro

Marista de Inclusão Digital (Cmid). Lá, são oferecidos subsídios na capacitação tecnológica para o mercado de trabalho e formação do cidadão por meio da inclusão digital e da reciclagem do lixo eletrônico. Dentro do Cmid, são ofertadas Oficinas de Meta Arte, Projeto Alquimia, Recondicionamento de Computadores, Robótica Livre e Telecentro. A unidade inaugurada mais recentemente é o Centro Social Marista de Formação Tecnológica, em Viamão. Nos primeiros anos, desenvolveu o projeto Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC Viamão), que integrava o programa RS Mais Digital, do governo do Estado. O curso era dividido em três módulos – informática básica, hardware e software – e ainda contava com dois ônibus equipados com Laboratório de Informática, onde os educadores ensinavam informática básica para jovens de diferentes bairros de Viamão. Agora, o Centro Social desenvolve o programa Jovem Aprendiz para pessoas com deficiência (PCDs).

Unidades Sociais Maristas

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Em movimento | Inclusão Digital Oficinas, palestras-relâmpago, exposições e apresentações culturais marcaram a programação do estande marista no 16a Fórum Internacional de Software Livre (FISL). No Espaço Marista de Tecnologias, ocorreu a entrega dos certificados do projeto Recondicionar às unidades que têm ecopontos em seus espaços.

2015

Lançado no início do ano, o Programa de Responsabilidade Socioambiental apresenta as modalidades de parceria com o Polo Marista de Formação Tecnológica e dá ao parceiro a possibilidade de colaborar com a conscientização e as políticas socioambientais. São três formas de parceria: doações de resíduos eletrônicos de maneira regular para a unidade, instalação de um ecoponto do projeto Recondicionar, e cotização de jovens nos projetos de formação profissional existentes no Polo ou convênios com a unidade incentivando a aprendizagem.

Tecnologia

© Fotos: Acervo das Unidades Sociais

Os educandos do Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC Viamão), projeto desenvolvido no Centro Social Marista de Formação Tecnológica, utilizaram um software criado por eles mesmos em sala de aula. Chamado Educon, o sistema online foi criado para auxiliar nas tarefas administrativas e pedagógicas, como controle de frequência, horário de entrada e saída dos educandos, avisos, entre outras.

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Unidades Sociais Maristas


Pelo quinto ano consecutivo, o Centro Social Marista Santa Marta participou da Feira Internacional de Cooperativismo (Feicoop) e da Feira Latino-Americana de Economia Solidária (Ecosol). O Centro Marista de Inclusão Digital (Cmid) e três grupos de música da unidade apresentaram os seus trabalhos para o público presente.

A terceira edição da Semana de Meta Arte, realizada em julho, envolveu cerca de 200 educandos do Polo Marista de Formação Tecnológica. O evento surgiu do reaproveitamento de materiais que não podem ser utilizados no processo de recondicionamento de computadores.

Os educandos do curso de Turismo Ecológico da Ilha da Pintada, que integra o Programa Jovem Aprendiz do Polo Marista de Formação Tecnológica, realizaram uma saída de campo turística. Acompanhados por educadores, 16 jovens participaram do city tour Linha Turismo oferecido pela Secretaria Municipal de Turismo de Porto Alegre.

Unidades Sociais Maristas

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Gente nossa

Educação que inspira e transforma Luzes, orgulho e aplausos. Muitos aplausos. Foi assim que o aposentado Vitor Gonçalves, 73 anos, comemorou junto à comunidade educativa do Colégio Marista Vettorello, em Porto Alegre, no dia 23 de dezembro de 2014, a sua tão sonhada formatura no Ensino Médio. O roteiro, carregado de emoção, reflete não apenas a conquista de um objetivo, mas a conclusão de uma etapa tortuosa e repleta de desafios e perseverança. Hoje, ele é classificado como “exemplo” por onde passa e integra a exposição itinerante Novos Rumos, das Unidades Sociais da Rede Marista. Carpinteiro por profissão, o ex-aluno passa hoje pelos corredores de seu antigo colégio como celebridade. Sempre disposto e com um sorriso e atenção para oferecer, ele relembra, com os amigos que fez, os momentos marcantes de sua trajetória, iniciada em 2006 na instituição. A sintonia que Gonçalves mantém com professores, direção, coordenações, demais colaboradores e ex-colegas é a mesma com a qual foi recebido há oito anos para iniciar o processo de alfabetização. “Gosto muito de estar entre amigos. Sou o tipo de pessoa que procura, se preocupa. Meus amigos são a minha família hoje. E muitos estão aqui, pessoas que me aceitaram, me respeitaram e me deram uma oportunidade”, celebra.

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Tamanha gratidão relaciona-se ao fato de que Seu Vitor, como é conhecido na comunidade, passou por dificuldades ao longo de sua jornada escolar. Filho de uma família humilde, parou de estudar logo cedo para se dedicar ao trabalho e ajudar no sustento de seus pais e de sua irmã. Dedicou-se assim aos trabalhos de construção de peças até aposentar-se na última década. Durante esse período, cultivou o seu primeiro e único amor, Neide Gonçalves, com quem foi casado por 45 anos. A despedida foi difícil, enquanto ambos estudavam juntos no colégio. Seu Vitor pensou em desistir, mas persistiu. Não se obrigava, apenas sentia que precisava terminar seus estudos. Hoje, lembra com carinho de sua eterna esposa. “Vivi o amor de verdade, o amor sincero. Hoje isso é raro, os casamentos parecem coisas descartáveis”, observa. Após a perda de sua parceira, o aposentado ainda teve complicações cardíacas que o fizeram ficar 30 dias no hospital. Amplamente recuperado, tornou a encarar o desafio educacional. “Voltar a estudar foi a melhor coisa que fiz na vida, agradeço a Deus por ter tomado essa decisão e ter persistido diante das dificuldades”, afirma. Quem acompanhou a sua trajetória sabe que dedicação nunca lhe faltou. Ao se aproximar de uma pequena reunião de seus

Unidades Sociais Maristas

antigos professores, relembrou o fato de nunca ter faltado a uma aula. Para a assistente social do Marista Vettorello Teonila Wollmann, histórias como a do carpinteiro são a maior prova de que o serviço social faz a diferença. “Conhecemos a realidade dos estudantes, mas incentivamos todos a serem protagonistas de suas histórias. Nós damos as ferramentas, mas são eles que precisam fazer a diferença”, pondera. Ela conta que o ex-aluno tinha


© Foto: Acervo das Unidades Sociais

dificuldades nas aulas de Química, mas era muito bom em Matemática. Nem mesmo as diferentes faixas etárias faziam o estudante se desmotivar em sala de aula. “Seu Vitor mostrou que é possível se redescobrir, não importando a idade”, conta.

A vida fora da sala de aula Fora da sala de aula, Seu Vitor sempre se preocupou em cumprir seus compromissos como cidadão, desvencilhando-se tranquilamente de oportunidades erráticas que lhe apareciam. “Vi muitos amigos meus morrerem ao meu lado”, lembra. As recordações fazem menção ao cenário de violência do qual sempre se manteve afasta-

do. Em uma oportunidade, pôde usar sua experiência de vida e valores para dissuadir um crime relacionado ao tráfico de drogas na região onde morava. “As pessoas pensam em tirar a vida de outras por dívidas de R$ 50. É triste”, lamenta. Questionado sobre o que acha da educação atual, o aposentado chama atenção para as questões sociais, que segundo ele podem ser mais exploradas no processo de formação de jovens, em casa e na escola. “É preciso explorar mais as relações humanas, a aceitação das diferenças. No entanto, não podemos esquecer que o respeito e a educação começam em casa. As crianças se baseiam nos modelos que recebem”, argumenta.

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Comunidade

Rede de esgoto do

Cesmar é modernizada A rede de esgoto do Centro Social Marista de Porto Alegre (Cesmar) passou por grandes mudanças e sofreu um intenso processo de modernização nos últimos meses. Visando ao alinhamento com as práticas de responsabilidade socioambiental, a reforma contemplou toda a rede de esgoto cloacal da área do Cesmar – e beneficiou também a comunidade que vive no entorno do complexo. O projeto começou em abril de 2014 e foi dividido em três fases. As obras da primeira e segunda fases se estenderam até novembro de 2014. Para a concepção de todo o trabalho, foram utilizados 12 filtros biológicos, 13 fossas sépticas e cerca de 900 metros de tubulação de concreto. A rede antiga não suportou a pressão do terreno composto por vários tipos de aterro. Agravou a situação o fato de ser um terreno pantanoso, o que acarretou a obstrução da rede. O tratamento primário consiste na instalação de fossas sépticas com filtro biológico, que retém os resíduos sólidos liberando apenas o líquido na canalização. O tratamento secundário é químico. Foi instalada uma caixa de contato para cloração, que elimina coliformes fecais e outros germes e bactérias que, sem o tratamento, seriam liberados diretamente na rede pública de esgotos cloacal.

A terceira fase começou na segunda semana de janeiro e foi concluída na primeira semana de fevereiro deste ano. Consistiu na interligação, em uma linha reta, das áreas do Galpão Cesmaria, Social, Polo e Anexo, finalizando com a ligação destes à caixa de contato para cloração, ou casa química. Para a execução da obra, foi eliminada e bloqueada toda a rede de esgoto antiga, pois a tubulação anterior estava frágil, e instalada tubulação nova em toda a extensão do empreendimento, a fim de garantir que não haja perda de efluentes no solo. Para evitar que os antigos problemas retornem com o passar dos anos, a modernização incluiu a instalação dos seguintes itens: caixas de gordura para as saídas de pias, onde são manuseados alimentos; fossas sépticas, instaladas nas saídas de esgoto, inclusive após as caixas de gordura; e filtros biológicos instalados nas saídas das fossas sépticas. Além da modernização da rede de esgoto, o projeto reforça a preocupação dos Irmãos Maristas e do Cesmar com o meio ambiente. Todos os processos adotados para a obra buscam o bem-estar dos colaboradores, estudantes e educandos e, principalmente, da comunidade do bairro Mario Quintana.

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Unidades Sociais Maristas

© Fotos: Acervo do Cesmar

Reta final



olhar

Crise de sentido em um mar de

© Foto: Shutterstock

{des}informação

O crescente envolvimento de jovens ocidentais em movimentos radicais gera questionamentos sobre qual o propósito de vida da atual juventude 34

Em março deste ano, o governo nacional detectou intervenções do Estado Islâmico (EI) para aliciar jovens brasileiros à causa, por exemplo. Também, neste semestre, presenciou-se expressões de radicalismos por parte de jovens cristãos diante de fatos considerados por eles uma afronta às Escrituras Sagradas. Para refletir sobre o que leva um jovem a acreditar que vale a pena se envolver em um movimento radical, que, por vezes, propaga morte e destruição, o doutor em Sociologia Eurico Gonzalez propõe uma discussão sobre o sentido da vida nos dias de hoje.


Nosso tema é complexo, ou seja, tem muitas causas simultâneas, de modo que podemos nos concentrar apenas em algumas delas. Sugiro que reflitamos sobre duas coisas: o império da inteligência eletrônica e a crise de sentido pela qual passa hoje o Ocidente, em geral, e o Brasil, em particular. O que chamo de “império da inteligência eletrônica” significa o fato de que as ideias que hoje estão à disposição na sociedade não possuem critérios institucionalizados de filtragem, mas deveriam ter. Quando Lutero traduziu a Bíblia, no século 16, ocorreu algo semelhante: de uma hora para outra, um acervo completamente novo de pensamentos se distribuiu horizontalmente pela sociedade, podendo suas verdades ser interpretadas por cada um livremente, gerando, no curto prazo, crise de ordem e, no longo, ideias novas que originaram a modernidade. Vivemos, hoje, uma situação semelhante. Há enorme profusão de alheios à sociedade e a internet faz com que cada um tenha o direito de dizer como acha que o mundo deve ser. Acrescente a isso o poder de sedução da publicidade, que produz e inculca ideias afirmativas sobre o mundo, nas quais, secretamente, a sociedade não acredita, pois sabe que sua finalidade é a de seduzir a mente para que adquira esse ou aquele bem. Assim, temos uma situação cultural em que as ideias antigas são desacreditadas e novas não surgem com autoridade, muito menos por consenso. Além disso, como uma grande quantidade de vozes – umas roucas, outras possantes –, cada um tenta resolver sozinho (inclusive por solidão de sentido) os difíceis problemas da vida. Não devemos ficar apreensivos demais. O número dos que seguem procurando uma vida normal ainda é amplamente majoritário, mas as exceções de que tratamos aqui apontam para direções potencial-

mente perigosas que, se não forem contrabalanceadas com inteligência e amor, podem aumentar. A sociologia sabe que a consciência do sujeito é produzida pela sociedade – e sabe, então, que quando a sociedade se desorganiza, a consciência individual se ressente paralelamente, em uma relação causal forte. Como especificidade de nossa época, porém, há a crise de sentido que mencionei anteriormente. Os principais referenciais coletivos de sentido estão dessacralizados em nossa sociedade: religião, ideais morais e políticos, ideais estéticos ligados à beleza e o próprio e prosaico valor da vida. Nada mais deixa de poder se submeter ao cálculo dos prazeres e das vantagens, está livre o caminho para que os humanos adorem as coisas materiais. Mas quem dera a vida fosse assim fácil de resolver... O cálculo dos prazeres e das vantagens ignora o problema do sentido interior da vida de cada um – mas este não deixa de existir. Impedida publicamente de se manifestar, a demanda por sentido da vida segue pulsando, vindo a se manifestar de formas bizarras e, frequentemente, destrutivas. Na medida em que a sociedade tomou por saber o que era, na verdade, sua ignorância e omissão quanto ao problema do sentido, foram se desenvolvendo

Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom [...], quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente.

respostas cegas, raivosas (pudera!), ilhadas e não compartilhadas ao problema do sentido interior. Assim, chegamos a algum lugar: se somarmos o império da inteligência eletrônica à crise de sentido, perceberemos que as respostas às mais difíceis questões, que dizem respeito a todos os seres humanos, estão sendo dadas de modo confuso e fraco, incapaz de fazer face à imensidão dos problemas da interioridade. Quando se tem condições excelentes, já é muito difícil atinar uma resposta às grandes questões; quando se fazem tais perguntas à internet, obtém-se como resposta algo que não é uma resposta, mas uma incrível zoeira. Alguns jovens estão se deixando seduzir pela violência porque ela gera certa ilusão de sentido. Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom (como as ideias sacrificiais sugerem), quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente. Essa é uma síntese do que penso sobre as condições interiores da vida da juventude atual. Para um exame completo do assunto, que não pode ser feito aqui, deveríamos observar também as “condições exteriores” da adesão de jovens ao terrorismo internacional – facilidades de trânsito de pessoas e de informações, etc. Eurico Gonzalez Cursino é doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília e consultor legislativo do Senado Federal, onde responde pela área de Direitos Humanos e Cidadania. Cursino também tem realizado estudos em sociologia da religião e em sociologia política e do direito, bem como na intersecção desses temas.

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© Fotos: Renata Sales

O poder dos

clássicos Música erudita pode influenciar no desenvolvimento da mente e em atividades vitais Por Michele Bravos

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Ao som de Beethoven, Bach, moléculas de água assumem formas harmoniosas, enquanto que quando expostas a ruídos agressivos, tornam-se assimétricas, desconstruídas. É o que mostram os estudos professor Masaru Emoto, que ficou conhecido pelo seu livro A mensagem da água (publicado em dois volumes, em 1999 e 2001). Considerando que o corpo humano é formado, em média, por 70% de água, as pesquisas apostam que existe alguma influência da música clássica sobre o ser humano, tanto adultos quanto crianças.

Na prática, a professora de Música Helena Secco percebe que os alunos da classe de piano se tornam mais atentos e disciplinados com o passar das aulas. "Para tocar uma música clássica no piano, o aluno precisa fazer várias coisas ao mesmo tempo, o que exige muita atenção. Já tive caso de alunos que eram muito agitados e motivo de reclamação nas aulas regulares, mas que hoje estão entre os melhores". O maestro Paulo Torres ressalta que "a música está enraizada nas camadas mais profundas de da personalidade, onde percepções senso-


riais, sentimentos e pensamentos se integram, por isso a música está relacionada com o desenvolvimento da mente humana e de questões reflexivas". Ele pontua que quanto mais experiências sensoriais a criança tem, ela percebe mais possibilidades no mundo, interferindo, inclusive na sua inteligência. Além desta relação, existe também uma explicação fisiológica para tantas interferências. "O nervo vago ou pneumogástrico está conectado ao nervo auditivo e é responsável pela inervação de praticamente todos os órgãos abaixo do pescoço: pulmões, coração, estômago, intestino delgado, o que significa que a música pode alterar a respiração e a pulsação, interferindo no desempenho em outras atividades". A professora percebe que o benefício não é restrito para quem executa a música. Ela afirma que a música clássica é mais intencional e, por isso, ativa diversos campos sensoriais do indivíduo para que ela seja interpretada, mesmo quando a pessoa é só ouvinte. Da mesma forma que a "boa música", como diz o maestro, pode equilibrar o corpo e a mente, uma música muito ruidosa pode provocar estresse, dores de cabeça, náusea, perda de audição, perturbação do sono, digestão deficiente, irritabilidade, falta de concentração, hiperatividade e até constrição do sistema circulatório. Torres cita o pesquisador David Noebel, lembrando que seus estudos afirmam que o ritmo da música rock cria uma secreção anormal nos hormônios sexuais e adrenalina. Para estabilizar os hormônios, o açúcar que está no sangue é direcionado para resgatar o equilíbrio, provocando uma redução na quantidade de açúcar que estaria sendo enviada para o cérebro. Consequentemente, isso diminui a atividade cerebral, uma vez que a massa cinzenta é nutrida por açúcar.

Ok! Já que a música erudita é tão benéfica, você deve estar se perguntando: "como fazer com que meu filho ou minha filha tenha algumas na playlist?" Helena afirma que o importante é desmistificar os clássicos e essa é uma tarefa que cabe aos pais também. "Primeiramente, é interessante que a criança seja apresentada à variedade musical existente, incluindo música clássica. Os pais também devem ouvir os compositores clássicos. A criança ou o adolescente precisa perceber que isso é algo tangível tanto quanto a trilha do desenho que ele gosta. E às vezes é preciso insistir um pouco. Mas, conforme ele vai tendo contato com esse universo, o gosto também vai surgindo naturalmente, vai sendo aprendido".

A música está enraizada nas camadas mais profundas de da personalidade, onde percepções sensoriais, sentimentos e pensamentos se integram, por isso a música está relacionada com o desenvolvimento da mente humana e de questões reflexivas. Paulo Torres Maestro

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Soluções

para o e-lixo

Iniciativa marista busca solucionar um dos problemas da atualidade: o excesso de lixo eletrônico Por Michele Bravos

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© Fotos: Acervo da Rede de Colégios

solidariedade


Cada cidadão brasileiro produz cerca de 7 kg de lixo eletrônico por ano. Ou seja, só neste ano de 2015, o país deve gerar 1,4 bilhão de toneladas de e-lixo, segundo dados levantados pela iniciativa Step – uma aliança entre as Nações Unidas, empresas e governos de diversos países, que tem o objetivo de fomentar o desenvolvimento de políticas que solucionem a questão do excesso de lixo eletrônico produzido no mundo. Preocupado com esse problema, o Polo Marista de Formação Tecnológica desenvolveu a iniciativa Recondicionar, que visa à conscientização da comunidade escolar sobre o direcionamento correto de resíduos eletrônicos. Em um ano, o projeto já coletou 4 toneladas de lixo. Pode parecer pouco perto do montante nacional, mas o número superou as expectativas iniciais dos idealizadores da proposta. O coordenador de Projetos do Polo, Ricardo Brodt Leistner Júnior, ressalta que o grande legado não diz respeito aos números, mas sim a conscientização da comunidade. “As nossas principais metas não estão relacionadas ao volume de arrecadação e sim à quantidade de educandos que conseguimos envolver com a disseminação da importância da reciclagem do lixo eletrônico”, comenta. A partir dos materiais recolhidos nos 23 pontos de coleta nos Colégios e Unidades Sociais (confira a lista de locais ao lado), eles utilizam e reaproveitam muitas peças em benefício da própria comunidade escolar. Os resíduos são utilizados pelos educandos como suplementos e para algumas atividades educativas do Polo. De acordo com o Irmão Odilmar Fachi, diretor do Centro Social Marista de Porto Alegre (Cesmar), uma iniciativa como esta faz parte da essência da educação marista. “No Cesmar, crianças e jovens são incentivados desde o princípio a se vincularem a projetos voltados para a construção da cidadania. Esses valores estão intrínsecos à metodologia educacional que praticamos e permitem que os educandos pensem de forma coletiva a partir da autonomia que recebem”. Cerca de 90% do montante arrecado entre todas as unidades são encaminhados para reciclagem e possível retorno à indústria, evitando extração de recursos da natureza. No segundo ano de projeto, a equipe da unidade trabalha para estimular o uso dos ecopontos também nos ambientes empresariais. A iniciativa faz parte do Programa de Responsabilidade Socioambiental da instituição e premia com uma placa especial as organizações que adotam os pontos de coleta em suas sedes, entre outras ações.

LOCAL

CIDADE

TELEFONE

Dobil Engenharia

Alvorada

(51) 3412-1400

Marista Maria Imaculada

Canela

(54) 3278-6100

Ecoponto Eldorado

Eldorado

(51) 3499-6438

Marista Medianeira

Erechim

(54) 3520-2400

Ecoponto Guaíba

Guaíba

(51) 3480-0794

Marista Pio XII Novo Hamburgo

(51) 3584-8000

Marista Conceição

Passo Fundo

(54) 3316-2700

Centro de Promoção da Criança e do Adolescente São Francisco de Assis CPCA

Porto Alegre

(51) 3319-1001

Colégio Bom Jesus Sévigné

Porto Alegre

(51) 3284-6200

Ecoponto Dataprev

Porto Alegre

(51) 3455-4000

Fertilizantes Piratini

Porto Alegre

(51) 2126-2306

Hospital Fêmina

Porto Alegre

(51) 3314-5200

Hospital Cristo Redentor

Porto Alegre

(51) 3357-4100

Hospital Conceição

Porto Alegre

(51) 3357-2000

Marista Assunção

Porto Alegre

(51) 3086-2100

Marista Champagnat

Porto Alegre

(51) 3020-6200

Marista Ipanema

Porto Alegre

(51) 3086-2200

Marista Ir. Jaime Biazus

Porto Alegre

(51) 3086-2300

Marista Rosário

Porto Alegre

(51) 3284-1200

Marista São Pedro

Porto Alegre

(51) 3290-8500

Porto Alegre

(51) 3079-3550

Viamão

(51) 3492-5500

Santo Ângelo

(55) 3931-3000

Thoughtworks - TW O Brasil produz Marista 7 kg de lixo Graças eletrônico por Marista Santo Ângelo habitante em um ano. Isso significa 1,4 milhão de toneladas no mesmo período.

Links: Confira aqui o quanto cada país tem produzido de lixo eletrônico no mundo: goo.gl/ZVq9iK

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© Foto: Acervo do colégio

como fazer

Vida longa aos grêmios estudantis Os grêmios reúnem estudantes para debater questões relevantes do dia a dia do colégio e da sociedade. Eles também representam um espaço para se fazer novas amizades Por Michele Bravos

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Ainda que tenham nascido já conectados, os atuais adolescentes não abrem mão do convívio social presencial e fazem valer sua opinião à moda antiga: em rodas de conversa, em debates olho no olho. Os grêmios estudantis são um exemplo de contato ao vivo que ainda perduram mesmo na nova geração. A Brenda Andrade, 16 anos, vice-presidente do grêmio

estudantil do Marista Irmão Jaime Biazus, de Porto Alegre (RS), afirma o quanto preza esse relacionamento mais próximo com seus colegas. "Eu gosto de ter o contato com os estudantes, poder entrar nas salas e falar com eles, dar avisos, saber o que eles estão achando das atividades". Ela ainda complementa que esse feedback é necessário para o crescimento do grupo.


Novas amizades

Alunos integrantes da gestão de 2015 do Grêmio Estudantil do Marista Ir. Jaime Biazus, de Porto Alegre (RS).

Brenda conta que sem o grêmio seus dias seriam muito monótonos. "Se não fosse pelo grêmio, estaria tendo minha rotina normal. Participar dele me fez uma pessoa muito mais comunicativa, com muito mais ideias, e ainda me prepara para um mundo profissional". A coordenadora pedagógica Cláudia Rocha lembra que estar à frente de um grêmio significa estar o tempo todo ouvindo as demandas dos alunos e depois defendê-las. Por isso a contribuição para o futuro dos envolvidos é tão grande. Ela afirma que o Marista Irmão Jaime Biazus faz questão de incentivar essa representação.

O grêmio também serve de ponte para novas amizades, uma vez que integrantes e demais alunos devem estar em constante troca de experiências e sempre em busca de melhorias para a convivência no colégio. "Logo que um estudante novo chega, o assunto grêmio estudantil já surge. A gente conta como fomos eleitos, o que temos feito. Aí, vão se criando laços. Aqueles com quem não tinha tanta intimidade, você passa a ter. Jamais iria conhecer as pessoas que conheço hoje se não fosse pelo grêmio", diz Brenda. A coordenadora pedagógica pontua que aqueles que participam do grêmio têm o papel fundamental de ser um exemplo para os colegas – novos e antigos. Ela ressalta a importância da relação entre todos os estudantes para que um perceba no outro que é possível sonhar e fazer. "É essencial que todos se envolvam de tal maneira para que todos sejam protagonistas e autônomos".

Responsabilidades Apesar de toda a responsabilidade em torno de "ser a voz de um grupo", os integrantes do grêmio não reclamam e veem o lado positivo disso. Brenda garante que representar um colégio não é fácil, muito menos os estudantes, mas acredita que isso a ajuda para além do ambiente escolar. "Não tenho explicação para definir o

Nós damos orientações, mas permitimos que tenham liberdade para agir. Cláudia Rocha Coordenadora pedagógica

que é o grêmio estudantil para mim. Adoro muito estar envolvida. É tudo tão grandioso, e tudo se encaixa, tudo se soma como conhecimentos, e por isso não desisto". Brenda, que está no grêmio desde 2014, quando fez parte da primeira chapa, pretende se reeleger no próximo ano.

© Foto: Acervo pessoal

"Foi em 2013 que surgiu o primeiro grêmio, com a ajuda do colégio. Desde então, fomentamos discussões e reflexões sobre maioridade penal, coleguismo, entre outros assuntos atuais ou que possam contribuir para o desenvolvimento dos alunos." Em geral, o colégio propõe junto com os adolescentes um tema a ser apresentado e uma forma de atuação. "Nós damos orientações, mas permitimos que tenham liberdade para agir", diz Claudia.

PARA LEMBRAR "Os debates que antecederam as eleições para a gestão do grêmio de 2015 foi algo muito marcante para mim. Eu fazia parte da chapa 1, que concorria com mais outras duas chapas. Pelo fato de nossas propostas serem bastante ousadas, os estudantes fizeram muitas perguntas e os professores questionaram a viabilidade de algumas delas. Mas nós permanecemos ali, fortes e focados nas propostas, tentando mostrar que tudo era possível de realizar. Foi difícil. Saímos do debate sem nenhuma esperança de vitória, mas no dia da votação veio a surpresa. A maioria dos alunos acreditaram em nosso potencial e hoje representamos um colégio". Brenda Andrade, 16 anos, vice-presidente do grêmio estudantil do Marista Ir. Jaime Biazus, de Porto Alegre (RS)

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compartilhar

Confira nesta edição as dicas de aplicativos sugeridas pelo supervisor de Tecnologias Educacionais dos Colégios Maristas, Silvio Augusto Langer

Casa Virtual FURNAS Este aplicativo simula o consumo dos seus aparelhos elétricos, permitindo descobrir quais deles gastam mais e gerar o valor aproximado de sua conta de luz. É possível adicionar cômodos e seus respectivos equipamentos. É gratuito e está disponível para o iOS e Android. iOS: goo.gl/qn1gjW

© Imagens: Divulgação

ANDROID: goo.gl/MNHVas

GEOGEBRA O GeoGebra (www.geogebra.org) é um software de Matemática voltado para estudantes e professores de todos os níveis de ensino. Ele integra geometria, álgebra, planilha eletrônica, gráficos, estatística e cálculo em um único ambiente fácil de usar. Atividades interativas criadas com este app podem ser compartilhadas e baixadas. É gratuito, está disponível para o iOS e Android e há uma versão web. iOS: goo.gl/4YMTha ANDROID: goo.gl/1lUSwW

GOOGLE EARTH O Google Earth é um aplicativo de mapas em três dimensões que permite passear virtualmente por qualquer lugar do planeta. O programa traz a integração com o Street View (recurso que permitem andar por ruas) e o Google Maps. Há também vídeos e mapas sobre oceanos, a Lua e Marte. É gratuito e está disponível para o iOS e Android. iOS: goo.gl/4YMTha ANDROID: goo.gl/1lUSwW

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TED

National Gallery, London HD Free Este app apresenta mais de 1,6 mil pinturas em alta resolução de 500 artistas, como Van Gogh, Monet, entre outros. As pinturas são classificadas por século, gênero e autor. Permite o envio das imagens por e-mail ou salvá-las em seu dispositivo. Possui uma versão grátis para dispositivos iOS; para Android, custa R$ 5,07.

Reunindo conferências e discursos de alguns dos melhores pensadores sobre diversos assuntos, Technology Entertainment and Design (TED) disponibiliza centenas de vídeos e áudios de palestras dos melhores pesquisadores e gênios da tecnologia, entretenimento e design. Contando com legendas para dezenas de idiomas, o aplicativo é a ferramenta ideal para ter um rápido e eficiente acesso aos conteúdos da TED. É gratuito e está disponível para o iOS e Android. iOS: goo.gl/14ZHgY ANDROID: goo.gl/c0HPeM

iOS: goo.gl/OJmABm ANDROID: goo.gl/620uOm

EVERNOTE Este aplicativo sincroniza suas anotações entre todos os seus dispositivos: celular, tablet e desktop. Com ele é possível criar divisões e dentro delas inserir páginas com suas notas, tarefas e checklists. Também serve para organizar documentos e fotos e compartilhá-las com outras pessoas, diretamente pelo aplicativo. É gratuito e está disponível para o iOS e Android. iOS: goo.gl/hLxPDO ANDROID: goo.gl/iiZXyX

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diversão

Desenvolver-se

Você pode não perceber, mas brincar de amarelinha, de esconde-esconde e de pular corda são atividades que também despertam habilidades nas crianças. Saiba o que cada uma dessas brincadeiras de antigamente desenvolve nos seus filhos

Por Michele Bravos

Cabra-cega batata quente

Com os olhos vendados, inibindo o sentido da visão, a criança é incentivada a aguçar a audição e o olfato. O controle do próprio corpo e a noção espacial são pontos despertados aqui. Nesta brincadeira, a autoconfiança da criança também é estimulada.

A criança aprende a controlar a ansiedade, percebendo a importância de manter a calma. Movimentos mais harmoniosos também são estimulados aqui.

© Foto: Renata Sales

BAMBOLÊ

Pular corda Pular corda desenvolve o equilíbrio, a coordenação e o condicionamento físico.

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Girar o bambolê em torno do corpo – na cintura ou, como os mais avançados, no pescoço, no braço e até no tornozelo – colabora para o desenvolvimento da concentração e o aprimoramento da noção de espaço e tempo.


brincando ESCONDE-ESCONDE No esconde-esconde é preciso mais que velocidade para sair vencedor. Essa brincadeira trabalha, principalmente, o domínio das próprias emoções e o controle de ações impulsivas. A integração com o grupo e a compreensão da competitividade são pontos importantes despertados aqui.

AMARELINHA Cada vez que a criança precisa mirar em um quadrado e depois percorrer o caminho pulando, o seu raciocínio lógico está sendo estimulado, assim como o seu equilíbrio.

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essência

© Foto: Acervo pessoal

(In)diferença Ir. Marcelo Bonhemberger

Intitula-se por (in)diferença paradoxal os processos que incidem sobre os indivíduos sociais imersos numa sociedade, se pensarmos em Lipovetsky, hiperconsumista. Um dos paradoxos com os quais se confrontam os jovens na atualidade diz respeito, de um lado, à indiferença e, de outro, ao preconceito. Este surge quando um conjunto de premissas aparentemente inquestionáveis origina conclusões inaceitáveis ou contraditórias. Enquanto a incerteza se apodera do nosso dia a dia, as assimetrias sociais se acentuam, os valores que dão dignidade às pessoas estão cada vez mais ausentes e assistimos à globalização da indiferença pela ausência de padrões éticos e morais. A revista Science (2014) publicou recentemente um estudo sobre a moralidade na vida cotidiana (Morality in everyday life), mostrando como as ações consideradas “moralmente corretas” ou “moralmente incorretas” afetam aspectos importantes da vida e contribuem, por exemplo, no aumento ou na diminuição da felicidade. A pesquisa foi realizada nos Estados Unidos e no Canadá com 1.252 adultos, entre 18 e 68 anos. A análise demostra que os atos morais “bons” se associam a níveis mais elevados de felicidade do que atos imorais. Possivelmente, a educação, pelo exemplo, desde a tenra idade exerce um papel fundamental na formação da personalidade e do caráter da pessoa. Uma construção com sutis eventos, ou episódios preconceituo-

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paradoxal sos na infância, contribui na reprodução de atos futuros internalizados nessa época. Dado que o preconceito muitas vezes é desenvolvido pelos indivíduos na busca da dicotomia e na diferenciação entre o bem e o mal, porém, há um bloqueio da realidade, tornando-a deficitária por algo que foi impedido de enxergar (CHAUÍ, Marilena). Experimentar, conviver, sentir, conhecer e respeitar o outro como diferente e não indiferente é essencial no desenvolvimento atitudinal e operacional do sujeito. Em outras palavras, o filosofo francês Emmanuel Lévinas (19061995) acredita que através da face do outro toda a humanidade se torna presente. As necessidades, as preocupações, as dificuldades e os problemas do outro são também de todos em igual situação. Estabelece-se, então, uma relação de alteridade que implica acolhimento, aproximação, abertura, estender-lhe a mão, dar-lhe abrigo, ir ao encontro de respostas. Uma vez que estamos inseridos em um contexto paradoxal em que se sucedem conflitos relacionadas às (in)diferenças, sejam elas pessoais ou culturais, saber lidar com essas adversidades e respeitar o valor intrínseco de cada pessoa significa reconhecer

no outro aquilo que difere de mim, independentemente das disparidades sociais, étnicas e religiosas. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2003.

Cada história é acompanhada por um número indeterminado de anti-histórias, cada uma das quais é complementar a outras. Claude Lévi-Strauss


plural,

se o mundo é por que as opiniões deveriam ser

iguais?

tem gente que tem um ponto de vista. tem gente que tem outro. e tem gente que tem um terceiro. e essa troca de opiniões é o que faz com que haja mudanças significativas nas pessoas e em tudo que as cerca. nós

acreditamos

nisso,

tanto

que

incentivamos

nossos estudantes, pais, professores a trocarem experiências e ideias na sala de aula e além dela. porque a vida ensina, o colega ensina e até quem não concorda com você ensina. só com essa troca é possível transformar o estudante em alguém capaz de também transformar o outro, o mundo e o futuro.

aprender de todos os jeitos muda você.

i n s c r i ç õ e s a b e r ta s pa r a 2 0 1 6 • c o l e g i o m a r i s ta . o r g . b r / m at r i c u l a



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