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Ano 2 • Nº 17 - Setembro/2014
MARIANA Arquidiocese abre quatro pedidos de beatificação
Itabirito
Eleições
Acidentes marcam a Serra da Santa
Vamos discutir política?
O restauro da Matriz de Nazaré Revista Em Minas
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Revista Em Minas
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Leo Homssi
6 Prosa Boa Xisto Siman
9 Não
é bem assim! As marcas que deixamos em alguém
10 Em Pauta Vem aí na nossa região
21 Direito
na Prática Casa para a arte marianense
21 Atitude Política tem que discutir?
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25 Dona Drama
Muito amor em um quadro mural
26 Mariana
Capa
A joia do barroco mineiro
32 Itabirito
Terra de santos
Leo Homssi
Serra da Santa: o perigo por trás do trajeto
35 BGourmet
O melhor da gastronomia
36 Turismo
Sob as bênçãos de Anchieta
38 Set Palavras
Satiricon: um livro improvável
40 Sociais
A vida cultural em cena
46 Arrasô!
O olhar de Fernanda Tropia
Revista Em Minas
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Edição 17 • Setembro/2014
Leo Homssi
Leo Homssi
Nesta edição celebramos mais uma vez o patrimônio e a cultura religiosa do povo mineiro. A restauração da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré finalmente foi concluída, após dois anos e meio de obras, e o monumento está de volta à comunidade de Cachoeira do Campo. Essa é a primeira obra entregue pelo PAC Cidades Históricas, programa criado pelo governo federal e anunciado em Ouro Preto ainda em 2009. É uma vitória para o patrimônio histórico cultural, mas precisamos fiscalizar e cobrar o andamento das demais obras, como da Matriz de Nossa Senhora da Conceição em Ouro Preto, que está fechada desde fevereiro do ano passado. A religiosidade é tão presente na vida de Minas que o Estado pode se tornar até terra de santos. Quatro religiosos da Arquidiocese de Mariana estão em processo de beatificação no Vaticano: Dom Viçoso, Isabel Cristina, Monsenhor Horta e Dom Luciano. Para o arcebispo dom Geraldo Lyrio Rocha, isso “revela a vitalidade e a força da Igreja”. Independente da crença, é um fato importante que merece destaque e despertará o interesse de todo o mundo para a região. Conheça os feitos dos possíveis santos e como é o processo de beatificação. A edição também traz o perigo no trajeto da BR-356 conhecido como Serra da Santa, próximo a Itabirito. Curvas fechadas, falta de sinalização e a imprudência dos motoristas aumentam o índice de acidentes. O período eleitoral também levanta o debate sobre a política. A editoria Atitude trata da importância de se discutir o assunto e como o voto pode fazer a diferença. Por fim, a Revista Em Minas tem uma novidade: a coluna BGourmet, com a jornalista Blima Bracher, que vai trazer o melhor da gastronomia regional e as novidades de restaurantes, eventos e muito mais. Aproveite e boa leitura!
Expediente Diretora Comercial | Lícia Ribeiro • Editora-chefe | Ana Paula Martins - MTb-MG 12.533 • Editora | Aline Monteiro • Projeto gráfico | Leo Homssi - Converso Comunicação • Consultor de Design | Bruno Portella • Diagramação | Aline Monteiro - Converso Comunicação • Redação | Adriana Moreira, Aline Monteiro, Ana Paula Martins, Dreisse Drielle, Kelen Barros, Vitor Secchin • Colaboração | Carine Nunes, Douglas Couto, Erica Vieira, Filipe Barboza, Laura Godoy, Michelle Borges • Colunistas | Ana Possas, Blima Bracher, Felipe Comarela, Fernanda Tropia, João Baldi Jr., Matheus Baldi, Valter Nascimento • Revisão | Ana Paula Martins • Foto da capa | Leo Homssi • Assessoria Jurídica| Ricardo Carvalho Assine| contato@revistaemminas.com.br • Anuncie | (31) 3551-0618 | comercial@revistaemminas.com.br Tiragem: 1.500 exemplares • Impressão: Formato Artes Gráficas A Revista Em Minas é uma publicação mensal da Em Minas Publicações (Rua Paraná, 61, Sala 2 - Centro • Ouro Preto/MG • CEP 35400-000) • Em Minas Publicações LTDA ME • CNPJ: 17.864.373/0001-03 • ISSN: 2318-0609 revistaemminas.com.br • facebook.com/RevistaEmMinas • @RevistaEmMinas Fale Conosco: redacao@revistaemminas.com.br Todos os textos e as fotos publicados na Revista Em Minas tiveram seus direitos autorais cedidos pelos seus autores.
Revista Em Minas
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Prosa Boa
Xisto Siman Elias Figueiredo
___________________ Ana Paula Martins Aline Monteiro
Mineiro de Governador Valadares, Xisto Siman, nome artístico de Xisto José Pinto Costa, mora em Mariana há 20 anos. Vive da “palhaçaria”: na indecisão sobre qual vestibular fazer, conheceu e se apaixonou pelo teatro de rua e pela arte circense. Começou sua carreira no extinto Stronzo, que veio de Valadares para Mariana. Após o fim do grupo, em 2000, ao lado do amigo João Pinheiro, com quem trabalha há 23 anos, criou o Circovolante, hoje sediado em Passagem de Mariana. Ambos são os idealizadores do Encontro Internacional de Palhaços, em sua sexta edição, de 25 a 28 de setembro. Além do Circovolante, Xisto compõe músicas, escreve poesias, canta, desenha e pinta. Tem uma agenda do show Macaco, com a banda Rabo de Olho, e ainda prepara uma exposição de pinturas para outubro. Em meio a todo esse “turbilhão”, Xisto conversou com a Revista Em Minas sobre teatro de rua, arte circense, Mariana e muito mais. Você mora em Mariana há 20 anos. O que significa Mariana para você? Mariana hoje é a minha cidade, tenho casa aqui, amigos, mesa com gaveta [risos]. Já virei “gaveteiro”. Tenho um amor muito grande por esta cidade, defendo-a aonde vou, faço questão de divulgar a cidade em todo lugar aonde vou, seja pessoalmente ou com o Circovolante. Eu acho que é um lugar lindo, mágico. Você circula pela cidade e vê as pessoas que são da própria cidade, passando pela rua. Acho muito interessante, gosto muito daqui.
vontade e pré-disposição a mudanças. A gente falou ‘por que não?’ Na época, montamos projetos, as empresas financiaram e resolvemos nos mudar pra cá de mala e cuia. Saímos com todo aval de Governador Valadares. Quando viemos para estruturar a nossa sede aqui, fizemos uma grande campanha em Governador Valadares. Mais de cinco mil pessoas que contribuíram financeiramente. Foi bem bacana. Fomos ficando aqui, deu certo e aqui estamos até hoje. Você poderia, por exemplo, ter ido para Belo Horizonte ou São Paulo. Por que ficar em uma cidade do interior? Justamente por este ponto: por ser uma cidade do interior. Mariana é perto da capital, é uma cidade onde circulam artistas e turistas do mundo inteiro. Viemos pra cá, ficamos e deu certo. Acho que o retorno da cidade é o carinho que as pes-
Por que você saiu de Valadares pra cá? Estávamos em turnê com o grupo Stronzo e viemos nos apresentar em Mariana. A então diretora do Sesi, Maria Alice Martins, nos fez um convite para montarmos um projeto em parceria. Quando você tem 23 anos, tem muito mais Revista Revista Em Em Minas Minas
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soas tiveram com a gente, o apoio que sempre deram, tanto na época do Stronzo como agora, com o Circovolante. Já nos consideramos mesmo da cidade, e a própria cidade já nos reconhece como dela e divulga o nosso trabalho. Nos eventos, a cidade toda participa.
quadras, em qualquer lugar. Para conquistar esse público de rua, nós nos aproximamos das artes circenses, da perna-de-pau, dos malabares, do fogo, da comicidade e do palhaço. O que é mais gratificante nesse trabalho da arte circense e da palhaçaria? Pode parece um grande clichê, mas é o sorriso do público, o retorno das pessoas, quando acaba espetáculo, que vêm até nós e contam que estavam tristes e que se transformaram. Eu acho que a maior satisfação é essa alegria intrínseca que tem no trabalho circense. O circo é associado à felicidade. Assim que você fala ‘circo’, as pessoas se lembram da tenda e do palhaço com a mesma rapidez, os dois em um mesmo plano como se fossem sinônimos. O que mais me impressiona é essa capacidade de mudar o astral de uma pessoa.
Como você considera o cenário artístico de Mariana e da região dos Inconfidentes? Tem uma cena teatral tanto em Ouro Preto como em Mariana. Mas não só de teatro, como artistas plásticos de renome internacional. A cena musical é muito forte aqui na região, tem pelo menos 15 bandas que ensaiam regularmente, com composições próprias, que viajam pelo Brasil e fazem o seu trabalho. Mariana é uma cidade propícia para arte circense? Eu acho que a arte circense é propícia para todo lugar, porque com um nariz de palhaço ou malabares você pode fazer o seu espetáculo. As pessoas têm uma receptividade muito grande com o circo, o circo de lona e o teatro de rua. Todo lugar no Brasil tem espaço para arte circense.
Conte alguma história marcante de um retorno do público. O tempo inteiro, a gente recebe manifestações de carinho e de surpresa. Me emocionou muito, há uns dois anos, quando fui buscar o Dedé Santana no aeroporto para participar do Encontro de Palhaços e ele havia acabado de sair do hospital. Ele entrou no carro, tirou os óculos, olhou no fundo do meu olho e disse: “Xisto, este evento tem sido a alegria do final da minha vida”. Claro que eu desabei a chorar [risos]. O encontro tem uma importância grande para quem é famoso e reconhecido, como Dedé Santana; desde alguém que é gigante até alguém simples, o nosso vizinho.
“A máscara, o nariz e a maquiagem são o meu estado de jogo com a plateia”
Em geral, nós, leigos, classificamos o circo como uma arte popular, da qual a dita “elite intelectual” não participaria. Aí você nos diz que o circo é para todos. Como é isso? Como frequento muito o circo, de vários tamanhos, tanto o de lona e como de rua, há mais de 20 anos, acho que a rua é o local onde você consegue reunir todo tipo de gente, desde o mais rico ao mais simples, é um espaço muito democrático. E o teatro e o circo de rua agrupam essas pessoas, incluindo essa “elite”. Quando você chega num lugar, um distrito por exemplo, para fazer um espetáculo, você vê que tem todas as classes sociais ali reunidas. Eu acho isso genial.
Como surgiu essa “parceria” com Dedé Santana? Eu sou do Colegiado Setorial do Circo, e um amigo em comum me apresentou ao Dedé Santana. Esse amigo tem um grande circo que circula pelo sul do País. Quando me contou que era amigo do Dedé, eu falei que o meu grande sonho era homenageá-lo, porque ele é o palhaço branco mais famoso que a gente tem, que por mais tempo serviu de escada para os seus colegas. Dois dias depois, o meu amigo liga e
Como foi para você entrar nesse mundo circense? Na época do Stronzo, optamos por fazer um teatro de rua, que cabia em praças, escolas, Revista Em Minas
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diz que o Dedé topou e me coloca para falar no telefone com o Dedé. Eu tremia... [risos] Fiquei todo emocionado. Quando o Dedé topou vir e a gente fechou a data, não sabíamos que coincidia com o aniversário dele, de 75 anos. E ele já vem há três encontros. É um parceiro, divulga a gente dentro da Globo, nos veículos de comunicação e pra onde vai. Por meio do encontro, a gente estabeleceu essa relação que hoje é pessoal, forte e profunda com ele, que deposita grande confiança no trabalho que a gente realiza.
evento em Belo Horizonte, o Palhaçadas em Geral. Aí o João sugeriu de fazermos um encontro aqui em Mariana e começamos a nos mobilizar, com pouco dinheiro. Várias atrações se dispuseram a vir se apresentar de graça. De 20 atrações, três eram internacionais, que estavam no Brasil no período, que nos procuraram para participar do encontro. E o evento foi um sucesso tremendo, começou em Belo Horizonte, ficou nove dias em BH e três dias aqui em Mariana. Nós tivemos um retorno fantástico da comunidade e da classe artística, tanto que, com base nesse primeiro encontro, em 2009, nós ganhamos o prêmio Carequinha de Estímulo ao Circo. Foi um pontapé para a produção do segundo encontro. Veio o terceiro e já estamos na sexta edição.
O artista de rua tem que estar preparado para o inesperado. Como isso acontece? Como a gente faz um trabalho com comicidade, o palhaço tem esse espaço para brincar. O teatro tem uma coisa mais fechada. Agora, a palhaçaria tem essa outra possibilidade. Quando os palhaços preparam os seus espetáculos, eles já criam esses espaços para jogar com o público. Quando você está na rua, não está num espaço que é apenas seu. Ele também é do grupo de pessoas tomando cachaça, do mendigo dormindo, das crianças brincando. É preciso entender que aquele espaço é tão meu quanto deles.
“A maior satisfação é essa alegria intrínseca que tem no trabalho circense. O circo é associado à felicidade”
E o que teremos de novidades neste ano? O que estamos enfatizando bastante é a descentralização do encontro. Vamos colocar apresentações em 12 distritos e bairros em Mariana e Ouro Preto. Porque eu acho que é importante você realizar um evento que não seja somente no centro; um evento que chegue até às pessoas que não estão no centro das cidades. Considero importante o Encontro de Palhaços chegar aos lugares aonde ele não chegaria, onde os eventos culturais normalmente não alcançam. Todas as atrações são gratuitas, tanto da descentralização quanto as ações que acontecerão no Sesi, as exibições de filmes.
Já virou até um clichê falarmos que o palhaço, na verdade, é um ser triste. A máscara, o nariz e a maquiagem são o meu estado de jogo com a plateia. Eu acho que é muito uma troca. Quando você vai pra rua, o público sempre te dá uma resposta e a gente baliza o nosso espetáculo nesse retorno. É sempre uma troca energética fantástica. Eu sempre termino um espetáculo ou um show pilhado, cheio de ideias novas. Porém, é claro, eu também tenho vários problemas como todo mundo, às vezes, me entristeço. Ninguém é feliz o tempo inteiro, nem triste o tempo todo. São doses. Eu sou uma pessoa que não sei mentir, você vê no meu rosto quando eu estou dissimulando.
O que o Encontro trouxe para vocês, como Circovolante e como Xisto e João? Eu acho que como Circovolante acabou nos tornando mais conhecidos aqui no Estado devido à grande divulgação do evento e também nos deu um feedback imenso com os artistas da palhaçaria do mundo inteiro. Isso ampliou a nossa rede e o nosso conhecimento. Pessoalmente, o encontro gerou cabelos brancos [risos]. Mas é muito gratificante poder reunir pessoas de várias partes do mundo para fazer e pensar formas de arte. A gente conseguiu, ainda, fortalecer os vínculos com a cidade. •
Como surgiu o Encontro de Palhaços? Nós fomos convidados para co-realizar um Revista Revista Em Em Minas Minas
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As marcas que deixamos em alguém Poucas coisas são mais complicadas em relacionamentos humanos do que dimensionar corretamente a impressão que deixamos em alguém. Não existem indicadores claros ou regras de proporcionalidade que orientem ou regulem o quanto você se lembra de alguém em relação ao quanto essa pessoa se lembra de você. Pessoas que você se esforçou anos pra esquecer em 15 dias nem lembravam mais o seu nome. O telefonema que você lutou durante meses para não fazer, mas acabou realizando num momento de bebida e fraqueza, é respondido com um “mas marcos? qual deles? o da academia?” e você ficou sabendo que aquela que na sua cabeça está indexada como “a garota que foi embora” se refere a você como “o carequinha que falava engraçado”. O contrário também acontece. Pra você foi um beijo, pra ela uma noite inesquecível; pra você um casinho na firma, pra ela foi um tórrido romance com um colega de trabalho sedutor; pra você foi um sexo no qual você tenta não pensar muito porque estava bêbado, ela escreveu um conto erótico sobre a noite. Em qualquer interação social, estamos sempre reféns não apenas da nossa capacidade de percepção como também da nossa vontade de distorcer tudo para que bata com as nossas expectativas. Você não quer se envolver e nem magoar a garota, então vai tentar ler em todas as atitudes dela a mesma postura, mesmo quando ela mostra uma montagem de como seriam os filhos de vocês. Assim como, quando profunda-
mente apaixonado, você vai transformar tudo em provas de que ela sente o mesmo. Além disso, a maior parte de nós não tem uma grande facilidade para expressar sentimentos de forma clara e sincera (quantos “te acho muito legal” não queriam dizer “eu te amo” e quantos “eu te amo” não eram apenas versões assustadas de um “tenho medo de ficar sozinho e li que gatos podem sim comer a carne de seus donos depois da morte, dos donos não dos gatos, ou será que dos gatos? meu deus”), o jogo de entender o quanto você marcou alguém e justificar o quanto essa pessoa te marcou se torna mais e mais complexo. Aplicando isso em todos os mais diversos tipos de relações – pra você ele era um amigo, pra ele você era um colega de trabalho; você não se lembra do cara em quem jogou água com o carro, ele vai se lembrar daquele passat cor verde-chumbo pra sempre – é natural que tenhamos surpresas com coisas desse tipo. Mas nada disso me preparou para que a fonoaudióloga com quem eu fiz apenas uma consulta, em 2009, me reconhecesse no metrô e me perguntasse se eu já voltei pro Rio depois daquele meu mestrado na Europa. Claramente preciso aprender a ser sincero com prestadores de serviço e não ficar usando o mesmo tipo de desculpa que o vilão galinha usa pra se livrar da mocinha numa comédia romântica. E não, eu não falei a verdade. Eu disse que tinha vindo visitar, voltava pra Oslo no outro dia, nada de retorno as sessões por enquanto... • Por João Baldi Jr. - Jornalista e autor do blog justwrapped.me
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Divulgação - PMI
CD e DVD Valencianas já às vendas O encontro entre a Orquestra Ouro Preto e o músico Alceu Valença, no show Valencianas, já pode ser adquirido, em CD ou DVD. O espetáculo foi gravado ao vivo no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. A compra digital pode ser feita na loja ITunes (itunes.apple.com/br). As Valencianas foram concebidas tendo como referência a biografia musical de Alceu. Guitarra, violão, baixo elétrico, bateria e percussão dialogam com instrumentos típicos da sonoridade nordestina como sanfona, zabumba, tampa de panela, rabeca e marimbau que, por sua vez, unem-se a uma orquestra de cordas. Alceu Valença aponta que o espetáculo representou um novo capítulo em sua carreira. “Fiquei, realmente, muito emocionado com o resultado das Valencianas. Desde a primeira apresentação, muitas pessoas nos cobraram o registro dessa boniteza de espetáculo. Por fim, se Villa-Lobos produziu uma obra-prima como as Bachianas Brasileiras, me sinto honrado por receber as Valencianas como presente”, brinca.
Viação Gastronômica: 20 bares em Itabirito Até 13 de setembro, Itabirito vive a profusão de sabores proporcionada pelo Festival Viação Gastronômica, com o tema Comida Verde e Amarela. Os 20 bares e restaurantes participantes preparam uma receita especial e concorrem a um prêmio. O voto popular analisa o sabor e a apresentação dos pratos, a organização do restaurante e o atendimento. O juri técnico avalia a originalidade e a criatividade das receitas e a higiene e a limpeza dos estabelecimentos. No dia 20 de setembro, a partir das 17h, na praça dos Inconfidentes, acontece a Saideira, com shows e a entrega do prêmio ao vencedor. O projeto é promovido pela Secretaria de Patrimônio Cultural e Turístico e faz parte do Programa de Qualificação do Produto Turístico. Os proprietários dos bares e restaurantes participantes já começam a trabalhar na criação da Associação de Bares e Restaurantes da cidade.
Nathália Torres - Divulgação
Protuário eletrônico em Ouro Preto A cidade foi escolhida para receber o Registro Eletrônico em Saúde, projeto da Secretaria de Estado de Saúde, devido a seu vínculo com a Ufop e à integração da insti tuição com a rede de saúde municipal. Os prontuários eletrônicos estarão dispo níveis em todas as 32 unidades de saúde de Ouro Preto. Os agentes de saúde usarão tablets para as visitas em domicílio. O registro começa a valer em setembro. Revista Em Minas
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Mais polos de Ginástica na Praça
Árvore histórica passa por tratamento em Santa Bárbara
PMM - Divulgação
O flamboyant ao lado da Igreja Matriz de Santo Antônio, em Santa Bárbara, recebeu os cuidados de poda, limpeza, aplicação de inseticida e autossustentação. Os serviços foram realizados pela empresa de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Para a preservação da árvore, estão previstas mais duas aplicações de inseticida, nos próximos meses. PMSB - Divulgação
A população de Mariana agora pode contar com mais três polos do projeto Ginástica na Praça. Os bairros contemplados são Morro Santana, São Gonçalo e, ainda, o distrito de Cachoeira do Brumado. O projeto atende mais de 500 alunos com os polos de Passagem de Mariana, praça Gomes Freire, Chácara, Cabanas, Alto Rosário e Arena Mariana, com aulas de ginástica, aeróbica, alongamento e dança, ministradas por professores de educação física e monitores. Vitória Fotos - PMOP - Divulgação
Miguel Burnier realiza Festival Cultural O 6º Festival Cultural de Miguel Burnier, no distrito de Ouro Preto, está marcardo para os dias 12, 13 e 14 de setembro. O objetivo é promover a importância da mobilidade cultural para o desenvolvimento da cidadania. Miguel Burnier é conhecido como o berço da siderurgia no Brasil. O distrito possui as ruínas da primeira fundição de ferro da história do País. A povoação se desenvolveu no século XVIII. Um de seus principais atrativos é a Estação Ferroviária, que tem 127 anos e foi restaurada há dois. O festival é organizado pela Associação do Projeto Estação Cultura (Assopec).
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Beto Figueiroa - Divulgação
Arena Mariana sedia jogos do vôlei mineiro Em setembro, a Arena Mariana sedia jogos de vôlei válidos pelo campeonato mineiro adulto. Duas partidas estão confirmadas: no dia 2 de setembro a disputa é entre a equipe do Sada Cruzeiro x Minas. Já no dia 18 de setembro, o confronto é entre Minas x UFJF. A Arena Mariana, que já recebeu jogos de edições passadas do campeonato, foi aprovada pela Federação Mineira de Voleibol. A organização do evento está a cargo da Associação Marianense de Voleibol (AMV). O valor do passaporte é R$7, que dá direito à entrada aos dois jogos em Mariana. Todo o valor arrecadado com os ingressos será revertido em melhorias na
prática do voleibol na cidade, que conta com cerca de 300 crianças e jovens aprendendo os fundamentos do esporte.
Cadastro no SUS em Ouro Preto
Minas recebeu 255 mil estrangeiros na Copa
A Secretaria de Saúde de Ouro Preto informa sobre a necessidade dos usuários da saúde no município se cadastrarem no Sistema Único de Saúde (SUS), mesmo quem possum plano de saúde. Para isso, os moradores que ainda não possuem o cartão do SUS devem comparecer ao prédio da secretaria, localizado à av. Juscelino Kubitschek, 31, Bauxita, das 8h às 17h. É preciso levar o documento de identidade ou a carteira de motorista ou a certidão de nascimento, no caso de crianças que não possuam RG, ou a certidão de casamento, no caso de alteração de nome. A ação é importante para inserção de toda a comunidade no novo modelo de cadastro do SUS: o e-SUS. O sistema, que funciona como um cadastro eletrônico nacional, é uma estratégia do Departamento de Atenção Básica alinhada com a proposta mais geral de reestruturação dos Sistemas de Informação em Saúde do Ministério da Saúde. Informações: (31) 3559-3213.
A Copa do Mundo 2014, a Secretaria de Estado de Turismo e Esportes de Minas Gerais (Setes-MG) divulga os dados consolidados da pesquisa realizada durante o evento na capital mineira. Segundo o estudo, 392.898 visitantes passaram por Belo Horizonte no Mundial. Destes, 255.383 foram estrangeiros, de 46 nacionalidades, sendo que a maioria era da Argentina (17%), Inglaterra (14,9%) e Colômbia (13%). O levantamento, realizado pelo Estado em parceria com a Belotur e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre 14 de junho e 10 de julho, teve 2.800. A margem de erro é de 2%. O evento gerou uma receita direta de R$ 445,6 milhões e uma receita indireta de R$ 1,6 bilhão para o setor de comércio e serviços da capital. Além disso, uma pesquisa do Ministério do Turismo, também elegeu o Mineirão como o estádio mais bem avaliado pelos torcedores estrangeiros.
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Festival Internacional Artes Vertentes em Tiradentes Música, literatura, artes visuais, cinema, dança e teatro de diversas partes do mundo vão movimentar a histórica Tiradentes (MG), entre os dias 12 e 21 de setembro. O Festival Artes Vertentes reúne 45 atrações de 15 países entre artistas eruditos e populares. Divulgação
Investimento literário
Pós-graduação gratuita em Educação Matemática
Até 15 de setembro, estão abertas as inscrições para o 1º Prêmio SESI de Literatura. A premiação está dividida em duas categorias: prosa (para textos narrativos livres) e verso (para poesias de qualquer estilo). O objetivo é fomentar a produção literária também na indústria. Serão 15 classificados de cada categoria, que além dos prêmios em dinheiro (que chegam a R$6 mil para o primeiro lugar, R$3,5 mil para o segundo e R$2,5 mil para o terceiro lugar), terão o texto publicado no livro Sesi Literatura em Prosa e Verso, com lançamento marcado para 2 de novembro, no Teatro do Sesi Minas, em Belo Horizonte. O concurso é voltado para o empresariado, o trabalhador da indústria e seus dependentes diretos. Saiba mais: www7.fiemg.com.br/publicacoes-internas/ literatura. Revista Em Minas
A programação traz nomes já consagrados internacionalmente, que se apresentam pela primeira vez no País, como o cineasta Algimantas Pujpa, da Lituânia; o artista visual Matej Andraz Vogrincic, da Eslovênia; e o compositor palestino Samir Odeh-Tamimi. Entre os artistas nacionais, estão confirmados o poeta Leonardo Fróes, o percussionista Fernando Rocha e a soprano Eliane Coelho. As atividades acontecem na Matriz de Santo Antônio, na Igreja do Rosário dos Pretos, no Museu Padre Toledo, no Centro Cultural Yves Alves, no Chafariz São José de Botas, o Largo das Forras e o Largo do Ó. Os espaços têm acessibilidade para deficientes e grande parte dos eventos é gratuita. Acesse a programação completa no site artesvertentes.com.
Estão abertas, até o dia 19 de setembro, as inscrições para o curso gratuito de especialização em Educação Matemática do IFMG - Campus Ouro Preto. O objetivo é contribuir para a formação matemática e pedagógica de professores de Matemática da educação básica, por meio de discussões sobre teoria e prática, visando a formar profissionais com potencial para pesquisar e refletir sobre sua própria prática docente. Pretende-se também trocar experiências entre os professores do IFMG e da região em relação a novas propostas pedagógicas. As inscrições são feitas apenas pelo site edumat.ouropreto.ifmg.edu.br. A seleção dos candidatos ocorrerá entre os dias 10 e 14 de outubro, e a aula inaugural está prevista para o dia 24 do mesmo mês. O curso gratuito oferece 20 vagas. 13
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Fotos: Leo Homssi
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A joia do barroco mineiro Após dois anos e meio de restauro, Matriz de Nossa Senhora de Nazaré volta à comunidade de Cachoeira do Campo incêndio. Hoje, há sensores e projeto elétrico adequados”, explica. A comunidade cachoeirense se envolveu diretamente na busca pelo restauro do mo numento. Mesmo pessoas de outras religiões, como evangélicos e espíritas, apoiaram a causa, por sua importância histórica e cultu ral. “Muita gente brigou pelo restauro, para ver a igreja pronta”, ressalta Rodrigo, que é tecnólogo em Conservação e Restauro de Imóveis e foi batizado na matriz, onde também atuou como coroinha. “Tinha o hábito de sempre entrar na igreja e rezar. Agora, finalmente, posso voltar a fazer isso”, comemora. Ele acompanhou de perto o trâmite para o início do restauro e, ainda, todo o processo das obras, ajudando até a tirar os bancos, quando os trabalhos se iniciaram. “Foi aí que vi que a situação estava pior do
___________________ Aline Monteiro Em 2002, a comunidade de Cachoeira do Campo enviou ofício ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) solicitando vistoria na Matriz de Nossa Senhora de Nazaré. O objetivo era conseguir o restauro da igreja, que apresentava alguns problemas. Rodrigo Gomes, morador do distrito e um dos responsáveis pelo documento, agora respira aliviado, assim como os aos moradores do distrito ouro-pretano: o templo, considerado a “joia do barroco mineiro”, está completamente recuperado e restaurado. “Quando o representante do Iphan veio nos visitar e viu as condições da matriz, o processo para o restauro foi acelerado. Havia um grande risco de
Esta é a primeira obra concluída do PAC Cidades Históricas
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O ouro-pretano Sidney de Paula Mendes se sente realizado fazendo trabalhos de restauro, como o realizado na Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, em Cachoeira do Campo
que achávamos”, pondera. Muito da madeira do altar-mor e dos altares laterais estava podre, a ponto de cair. Em pouco tempo, a igreja virou um canteiro de obras.
As obras
ização do Terço dos Homens e apresentações da Orquestra Ouro Preto e do Coral Canarinhos de Itabirito. A bênção do templo foi presidida pelo arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha. No dia 30 de agosto, teve início a novena, que termina no dia de Nossa Senhora de Nazaré, em 8 de setembro. A paróquia e a comunidade se uniram para apresentar a nova igreja às crianças do distrito. O concurso “Orgulho de ser cachoeirense”, com o tema “Matriz de Nazaré, a joia cachoeirense”, foi desenvolvido para contemplar crianças de três a 12 anos, matriculadas na rede pública de ensino, premiando desenhos e redações sobre o monumento. A proposta é fazer com que os peque-
No processo de restauro, foram utilizados os mesmos sistemas, processos e técnicas de douramento feitos por artistas do século XVIII
A igreja esteve fechada para a comunidade desde 9 de setembro de 2011. As obras tiveram início em maio de 2012. O canteiro só permitia o acesso dos envolvidos nos trabalhos. Quando os andaimes foram retirados, a população pôde voltar a entrar na igreja. E, oficialmente, no dia 29 de agosto de 2014, a Matriz de Nossa Senhora de Nazaré retomou suas atividades normais. A volta foi antecedida por três dias de festa, com a realRevista Em Minas
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nos moradores do distrito recebam o legado de arte e cultura da Matriz de Nazaré.
Em maio de 2014, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré voltou, finalmente, para seu lugar de origem. Rodrigo, que estava na igreja nesse momento, ficou emocionado, assim como outras pessoas da comunidade que, ao visitarem a obra, já viram a “Senhora soberana” no altar-mor, plenamente restaurada. Bianca trabalhou por um ano nas obras de restauro, principalmente dando acabamento final às imagens. “É muito gratificante ter participado disso”, enfatiza. Além da imagem de Nossa Senhora de Nazaré, ela destaca o trabalho de restauro no forro do consistório da sacristia. Por ser bem diferente da igreja, considera-se que o forro era da capela original, mas não há comprovação histórica para o fato.
A padroeira A imagem de Nossa Senhora de Nazaré chegou a Cachoeira do Campo, provavelmente, em 1719. É toda em madeira e policromia. Em 2007, Rodrigo Gomes solicitou ao então pároco que a imagem fosse retirada do altar-mor para evitar danos. Por um período, ela ficou na sacristia e, em seguida, foi posicionada junto ao altar. A restauradora Bianca Monticelli foi a responsável pela recuperação da obra, com limpeza, imunização e acabamento final. “Foi um dos trabalhos mais importantes que já fiz”, destaca.
“A igreja estava fragilizada, descaracterizada, com ataque de
cupins. Fizemos um resgate de materiais e da arte original”
Sidney de Paula Mendes, Rodrigo Gomes, Bianca Monticelli e Sílvio Luiz Rocha Vianna de Oliveira integrantes da equipe que trabalhou nos dois anos de restauro da matriz
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O restaurador-chefe Sílvio Luiz Rocha Vianna de Oliveira afirma: “O sentimento é de missão cumprida”
O restauro emocionante
materiais e da arte original daqui. Meu sentimento é de missão cumprida”, diz. Ele enfatiza que nenhum processo sintético foi utilizado nas obras de restauro. “Utilizamos os mesmos sistemas, processos e técnicas de douramento feitos pelos artistas do século XVIII”, exemplifica, lembrando que um ateliê de restauro foi montado dentro da nave da igreja para que a equipe pudesse trabalhar. As peças que foram se soltando com o tempo eram guardadas pelos paroquianos na sacristia. Algumas delas não puderam voltar ao seu lugar de origem, pois este não foi identificado. Rodrigo conta que várias vezes escorou alguns dos elementos dos altares da nave. Sílvio aponta que o trabalho de restauro ainda resgatou jornais de 1951, que
Também fez parte da equipe o restaurador ouro-pretano Sidney de Paula Mendes, que ficou por dois anos e meio na obra. Para ele, o trabalho de restauro é sempre alegre: “Me rea lizo fazendo isso”. Sidney aponta que descobrir pinturas escondidas é sempre gratificante. Um destaque é a cimalha da capela-mor, onde foram descobertas pinturas originais, com influência chinesa. O restaurador-chefe foi o ouro-pretano Sílvio Luiz Rocha Vianna de Oliveira, que se emociona com o grande desafio de trabalhar na matriz e resgatar a originalidade do templo. “A igreja estava fragilizada, descaracterizada, com muito ataque de cupins. Fizemos um resgate de
A novena de Nossa Senhora de Nazaré começou em 30 de agosto e vai até 8 de setembro, o dia da padroeira
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foram usados para tapar gretas na madeira, em vários pontos da matriz. Roberto Lima, artista e entalhador, de Mariana, refez os pontos em madeira que estavam desgastados ou não puderam ser recuperados.
A Matriz de Cachoeira do Campo foi construída pela Irmandade do Santíssimo Sacramento. A data mais antiga documentada é de 1725, que já explicita as obras da igreja. Documentos comprovam que o teto da capela-mor foi pintado por Antonio Rodrigues Belo, em 1755. Foi a primeira pintura em perspectiva de Minas Gerais. Em 1890, o artista Honório Esteves, de Santo Antônio do Leite, produziu uma pintura sobre a de Antonio Rodrigues Belo. É a pintura de Esteves que está, hoje, no teto da capela-mor. Sílvio Rocha descreve que os processos de restauro, com cortes estatigráficos, fluorescência de raios ultravioleta e ensaios de raio-x, realizados por laboratório da UFMG, garantem que a pintura de Belo está em 90% a 95% do forro. Mas não é tarefa fácil definir qual será a pintura oficial: uma das duas será perdida. Assim, quem visitar a igreja pode reparar os cortes deixados na pintura de Esteves, que permitem ver parte do trabalho realizado por Belo. A igreja apresenta douramento (técnica em que se aplica laminas de ouro, em folhas extremamente finas, em pinturas, esculturas e objetos em geral, especialmente os de madeira) no altar-mor e nos altares laterais. O douramento do altar-mor foi realizado por Manoel de Souza e Silva de Vasconcelos, de 1733 a 1735. Jair Inácio, famoso restaurador de Ouro Preto, também trabalhou em obras de restauro da igreja, na década de 1970.
Mais sobre a matriz O estilo de construção da igreja é o Nacional Português, da primeira fase do Barroco Mineiro. Esse estilo é representante do momento artístico vivido na região das minas, cujo marco temporal é o ano de 1675. Suas principais características são as colunas em especial e as arquivoltas concêntricas nos altares. Paulo Krüger Corrêa Mourão, autor do livro As igrejas setecentistas de Minas, afirma que nada é “mais harmonioso e impressionante do que aquele conjunto de arcos concêntricos maravilhosamente trabalhados, dando, pela profusão do ouro e dos finos e variados lavores, a impressão típica do barroco - o sentimento da majestade, da grandeza, do luxo e da magnificência”.
Horário de missas • No segundo sábado do mês, às 19h. • Todos os domingos, às 8h e às 19h.
Rodrigo Gomes traduz o sentimento de alegria da comunidade com o restauro da igreja Revista Em Minas
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Infomações: (31) 3553-1796 (Escritório Paroquial), no horário comercial
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O restauro em números • A obra demandou dois anos e meio de trabalho; • Foram investidos R$1,8 milhões do governo federal, via Ministério das Cidades. O restauro da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré é a primeira obra do PAC Cidades Históricas; • A Prefeitura de Ouro Preto entrou com a contrapartida de R$200 mil; • Foram 28 profissionais, entre restauradores, técnicos, auxiliares, artistas, cientistas, entalhadores, carpinteiros e historiadores envolvidos na obra; • 300 chapas de madeirite foram usadas nos andaimes internos, para restauro do teto da igreja; • O douramento dos retábulos e altares demandou de 2.500 a 3.000 folhas
de ouro; • Para a fixação das peças, foram utilizados mais de 10 mil parafusos de aço inoxidável. •
As obras de restauro encontraram chaves e cravos de ferro, uma pequena imagem de Nossa Senhora e jornais da década de 1950 Revista Em Minas
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De olho na telefonia Na edição anterior da Revista Em Minas, começamos a indicar algumas novidades para o consumidor de serviços de telecomunicações, decorrente de resolução da Anatel, que entrou em vigor no início de julho. Além do direito dos clientes antigos de se beneficiarem das promoções oferecidas para os “novos clientes”, do dever de a prestadora do serviço retornar as ligações do call center que forem interrompidas e os mecanismos mais ágeis para o cancelamento de serviço, indicamos mais três alterações importantes para os consumidores:
atender, em função do serviço contratado. Prazo mínimo de 30 dias para a utilização dos créditos para os celulares pré-pagos Ainda que muitas operadoras já garantissem esse direito aos seus clientes, não era uma postura uniforme, razão pela qual, a partir de julho, todas as operadoras de serviço de telefonia celular na modalidade pré-paga deverão garantir um prazo mínimo de 30 dias para que o consumidor utilize os seus créditos. Uma novidade, também, é a obrigatoriedade de as operadoras oferecerem outras opções para a utilização dos créditos, no caso, 90 e 180 dias de validade, bem como de precisarem avisar o consumidor da proximidade do prazo limite para utilização do seu crédito.
Efetividade do direito à informação e maior transparência para a oferta do serviço Como é complicado para o consumidor entender todas as particularidades de um determinado contrato, não é mesmo? Apesar de, em regra, tudo estar no contrato, nem sempre a compreensão e o conhecimento dessas disposições são facilitados. Reconhecendo essa fragilidade do consumidor, as operadoras estão obrigadas a apresentarem, antes da formalização do contrato, um resumo sobre a oferta de prestação do serviço de telecomunicações, contendo informações sobre se tratar ou não de um serviço oferecido a título de promoção, o prazo da promoção, o valor da mensalidade (incluindo aquele que será cobrado após o período de uma possível promoção), prazos para a instalação de equipamentos (quando necessário), serviços que estão incluídos e excluídos, e, em se tratando de serviço de internet, quais são as velocidades média e mínima que a operadora está obrigada a
Respeito ao consumidor no caso de contestação de cobranças indevidas As prestadoras do serviço passam a ser obrigadas a responder, no prazo máximo de 30 dias, os questionamentos apresentados pelos consumidores em relação à cobrança indevida, sob pena de, não efetivando essa resposta, serem obrigadas a corrigir a fatura (caso já não tenha sido quitada) ou, conforme previsto do Código de Defesa do Consumidor (CDC), efetuar a devolução em dobro do valor questionado. Todas essas mudanças são acompanhadas pela Anatel, que, a partir do retorno dos consumidores, relatando descumprimentos por parte das operadoras, poderá adotar medidas para a efetivação das novas regras incidentes sobre os serviços de telecomunicações. •
Por Felipe Comarela Milanez Advogado e professor do curso de Administração Pública da Ufop Revista Em Minas
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Atitude Shutterstock
Política
tem que discutir? No dia 5 de outubro, os brasileiros têm a chance de decidir os rumos do País
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Voto em trânsito Em 2014, quem estiver fora de seu domicílio eleitoral, na data do pleito, também poderá pedir para votar se estiver em algum município com mais de 200 mil eleitores, o que totaliza 92 cidades brasileiras, além das capitais. Minas Gerais é o segundo Estado que mais fez requisições para o voto em trânsito. São Paulo vem em primeiro lugar. Os municípios mineiros habilitados a receber o voto em trânsito são: Belo Horizonte, Uberlândia, Contagem, Juiz de Fora, Betim, Montes Claros e Uberaba. O balanço do TSE ainda traz dados relativos ao voto em trânsito para o segundo turno. Até agora, 29 mil eleitores se habilitaram para votar longe de casa numa eventual segunda etapa do pleito. Em 2010, esse número fechou em 76,5 mil.
Elias Figueiredo
Prof. Antônio Marcelo Jackson explica que todas as relações sociais já se configuram em relações políticas Revista Em Minas
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Número de eleitores por cidade * muniCípio
eleitores
Itabirito
37.637
Mariana
44.530
Ouro Preto
58.413
* Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dados de julho de 2014
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Dona Drama Muito amor em um quadro-mural Há algumas edições, fiz um tutorial bem fácil explicando como fazer porta-recados com rolhas de espumante. Tenho uma sacola delas em casa e, de vez em quando, eu encontro uma finalidade para algumas. Desta vez, o projeto também inclui as rolhas. No entanto, o trabalho foi um pouco maior: duas noites para ficar pronto. E posso falar que fiquei toda orgulhosa?! Consegui pensar num “faça-você-mesmo” bonito e, de quebra, enfeitei uma parede sem graça do meu quarto.
Fotos: Ana Possas
Para fazer tudo, gastei: - 60 rolhas de espumante; - 1 base de corte para estiletes; - 1 estilete; - 1 pedaço de papel pardo (ou uma sacola de loja); - lápis; - cola branca extra (que cola outros tipos de materiais); - fita dupla-face (para colar na parede). Com o estilete, cortei a cabeça de rolha por rolha para utilizar só a parte de cima, redondinha. Utilizei a base de corte para não estragar outras superfícies. No papel pardo, fiz um desenho em formato de coração e dei início ao trabalho de quebra-cabeça para encaixar e colar as rolhas. Comecei pela fileira do meio e fui montando as outras em seguida. No dia seguinte, após a cola secar, colei três fileiras de fita dupla face e preguei na parede. Está bem firme. A vantagem do projeto é que, com os alfinetes, também funciona como mural. Faltam agora os recadinhos. E aí, o que me diz? Por Ana Possas – jornalista, consultora de imagem e criadora do blog Dona Drama (donadrama.com) Revista Em Minas
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Mariana
Terra de santos Quatro religiosos da Arquidiocese de Mariana estão em processo de beatificação no Vaticano ___________________
São mais de 22 mil quilômetros quadrados que, divididos em 30 paróquias, englobam cerca de um milhão de pessoas. Talvez por isso o número de religiosos com processo de beatificação em andamento também se destaque. Atualmente, quatro nomes são indicados para investigação no Vaticano por serem considerados com “fama de santidade”. São eles: Dom Viçoso, Isabel Cristina, Monsenhor Horta e Dom Luciano. Para dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo da Arquidiocese de Mariana, o fato “revela a vitalidade e a força da Igreja”. Responsável por dar continuidade aos processos, dom Geraldo explica que alguns dos candidatos já estão em estágio adiantado. “No processo de Dom Viçoso, a fase diocesana e o exame das virtudes por ele praticadas já foram concluídos. O Papa Francisco já autorizou a publicação do decreto da Congregação da Causa dos Santos, reconhecendo o elevado nível de virtudes praticadas por ele”.
Kelen Barros
Quem anda pelas ruas e arredores de Mariana sabe que é percorrer caminhos ao longo da história. O clima frio e a paisagem de montanhas integram o perfil da cidade que se sustenta, sobretudo, em uma cultura intensamente religiosa. A Arquidiocese de Mariana, primeira diocese do Brasil, fundada em 1745, é a segunda maior de Minas Gerais e compreende, hoje, 79 municípios.
Leo Homssi
Processo adiantado
Para dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana, os processos revelam a vitalidade da Igreja Revista Em Minas
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O religioso Dom Antônio Ferreira Viçoso já possui o título de “venerável”, concedido pelo Vaticano. Isso significa que houve a instalação de um tribunal eclesiástico que averiguou as virtudes e a fama de santidade do indicado. Na próxima etapa, um milagre deve ser confirmado depois de uma investigação rigorosa realizada
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Leo Homssi
Edite Reis da Paciência, filha adotiva de Dom Luciano, sempre se emociona lembrando dos feitos do religioso
religioso foi o responsável pela reforma do clero em Minas Gerais e sempre lutou pela educação de crianças, mulheres e negros, como um “incansável defensor da dignidade dos escravos, abriu obras assistenciais e de educação, criando asilos para meninos órfãos, meninas órfãs, para doentes e idosos. Fundou o Colégio Providência de Mariana, trazendo religiosas francesas para ministrarem as aulas numa época em que 99% da população feminina era analfabeta”. Na região, é famoso o casebre em que Dom Viçoso morava, na Cartuxa, localizado a 6km do centro de Mariana, local em que ele se recolhia para medita-
por especialistas autorizados em Roma [saiba mais no quadro da pag. 31]. Não é possível saber, exatamente, quanto tempo esse tipo de inquérito pode demorar, mas já existem relatos da intercessão de Dom Viçoso. “O processo de beatificação vem instruído com o milagre da cura do padre Célio Delamore, por sua vez, atestada e confirmada por médicos brasileiros, concluindo que aquele fato extrapolava as possibilidades científicas da medicina. O padre atribuiu sua cura à intercessão a Dom Viçoso”, afirma o estudioso sobre a vida e obra do sacerdote, Roque Camêllo. Segundo ele, Mariana guarda até hoje marcas das ações de Dom Viçoso. O
Com fama de santidade, Dom Viçoso, Isabel Cristina, Monsenhor Horta e Dom Luciano estão a caminho do altar
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ção e orações. Após sua morte, a propriedade passou para a Congregação da Missão e hoje está entregue em comodato à arquidiocese. No local, é celebrada uma missa por sua alma todo dia 13, lembrando a data de seu nascimento.
gre e será então automaticamente marcada a beatificação. O tribunal já examinou todo o processo já colheu todos os depoimentos, provas e a documentação necessários”, esclarece dom Geraldo.
Isabel Cristina
Outro candidato a santo da Arquidiocese de Mariana é Monsenhor José Silvério Horta, que nasceu na cidade ainda no século XIX. O religioso é tema do livro de autoria da professora do curso de História da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Virgínia Buarque, convidada, em 2010, por dom Geraldo Lyrio Rocha para integrar a comissão histórica do processo de beatificação do sacerdote. Lançada em
O tribunal eclesiástico para a avaliação da vida e virtudes de Dom Luciano se reuniu em agosto, na Igreja da Sé
Além do processo de beatificação de Dom Viçoso, o de Isabel Cristina também está adiantado. A moça que morreu em 1982, em uma tentativa de estupro, em Juiz de Fora, pode ser beatificada como mártir da Igreja. A ação foi iniciada em Barbacena, onde ela nasceu, e está em Roma para ser avaliada se trata efetivamente um martírio. “Em caso positivo, não há exigência do mila-
Monsenhor Horta
Conheça os possíveis santos Monsenhor José Silvério Horta (1859 – 1933) Natural de Mariana, nasceu no dia 20 de junho de 1859. Passou a juventude no município, onde também estudou Humanidades e Filosofia. Aos 27 anos, foi consagrado bispo da Diocese, tendo sido apresentado pela princesa Isabel, em 1887, como cônego do Cabido da Sé primacial de Minas Gerais. Atuou como secretário do Bispado e ocupou de forma interina o cargo de vigário geral. Teve um dos títulos mais importantes da época, nomeado pela Santa Sé como Camareiro Secreto e Prelado Doméstico do Papa Pio XI, em 1923. Faleceu no dia 30 de março de 1933, em Mariana. Estima-se que mais de 5 mil pessoas tenham comparecido ao velório. No mesmo ano, o processo de beatificação foi iniciado no Vaticano.
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Arquivo Público Mineiro
Leo Homssi
Dom Luciano Mendes de Almeida (1930 – 2006) Nasceu no estado do Rio de Janeiro em 5 de outubro de 1930. Estudou na Casa de Formação dos Jesuítas em Nova Friburgo e na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, onde também concluiu o doutorado em Filosofia. Foi membro do conselho permanente da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) de 1979 até o ano de sua morte. Também atuou na Cúria Romana como integrante da Comissão Pontifícia Justiça e Paz e foi vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Serviu como arcebispo em Mariana durante 18 anos, até falecer. Morreu no Hospital das Clínicas, em São Paulo, em 27 de agosto de 2006 em decorrência da falência múltipla dos órgãos. O processo de beatificação foi iniciado este ano, pelo atual arcebispo, dom Geraldo Lyrio Rocha.
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2012, a obra biográfica intitulada Monsenhor José Silvério Horta e a espiritualidade do bom pastor (1859-1933) foi feita em parceria com Tiago Pires, estudante de graduação na época. De acordo com a docente, durante a pesquisa e investigação sobre a vida e virtudes de Monsenhor Horta, muitos fatos chamaram sua atenção, fazendo com que o interesse aumentasse a ponto de escrever um livro dedicado ao assunto. “Os relatos deixados sobre Monsenhor Horta destacam seu grande empenho em acudir as necessidades alheias, transformando desapego pessoal em serviço ao próximo. Tanto as escolhas no campo da religiosidade, como a atuação eclesiástica, vinculavam-se, sobretudo, a seu propósito de fidelidade à leitura sacerdotal do ‘bom pastor’. Em seus escritos, ele meditava: ‘não estamos na terra senão para servir a Deus’”, aponta Virgínia. A professora também revela que casos
vinculados ao sobrenatural eram comuns à vida do religioso. “A ação de Deus se fazia sentir, conforme descrito pelo próprio Monsenhor Horta em seus relatos, em curas repentinas e inexplicáveis, abrangendo desde situações de desaparecimento da lepra à recuperação do movimento de braços e pernas. Foram também mencionadas feridas misteriosamente saradas e cinco casos de recuperação da vista”. A fase do processo que requer o exame da vida e virtudes de Monsenhor Horta já está quase finalizada, como explica dom Geraldo: “Concluída essa parte, espera-se obter logo uma documentação que comprove algum milagre feito pela sua intercessão”.
Dom Luciano a caminho do altar Diante de tantos exemplos extraordinários, o arcebispo decidiu fazer jus também ao nome de Dom Luciano Mendes de Almeida, falecido em 2006, antecessor na sua
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Isabel Cristina (1962-1982) A jovem Isabel Cristina Mrad Campos nasceu em Barbacena, no dia 29 de julho de 1962. Foi batizada na igreja matriz do município, onde também foi iniciado o processo de beatificação. Quando tinha 20 anos, mudou-se para Juiz de Fora com o objetivo de fazer o vestibular para o curso de Medicina. Estava em processo de mudança para um apartamento junto com o irmão, quando foi assassinada em uma tentativa de estupro. Isabel resistiu fortemente ao abuso e morreu depois de levar 15 facadas. Após a autopsia, foi constatado que a moça morreu virgem. Por ter levado uma vida sempre voltada para ações religiosas junto à família, no ano de 2001, Dom Luciano deu abertura ao processo de beatificação, em Barbacena. Em 2009, a ação foi transferida para Roma. Reprodução
Dom Antônio Ferreira Viçoso (1787 - 1875) Leo Homssi O missionário nasceu na cidade de Peniche, em Portugal, em 13 de maio de 1787. Veio ao Brasil para missões no Mato Grosso e ingressou fortemente no trabalho educacional. Foi responsável pela reforma do Seminário de Mariana, onde aplicou as normas do Concílio de Trento para a formação do clero. Dom Viçoso foi o sétimo bispo da Diocese de Mariana, nomeado na função por Dom Pedro II, aos 57 anos. O imperador regente também lhe concedeu o título de conde de Conceição e o nomeou conselheiro imperial. Faleceu no dia 7 de julho de 1875, na casa simples em que morava na Cartuxa, em Mariana. O processo de beatificação só foi aberto 110 anos após a morte, em 1985.
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função. A abertura do processo de beatificação foi realizada por dom Geraldo no início deste ano e já recebeu uma resposta positiva da congregação. “Eu encaminhei o pedido à Congregação para a Causa dos Santos, respaldado por 307 bispos, que o subscreveram. Já obtive a resposta dizendo que, para a Santa Sé, nada impede que se possa iniciar a causa para a beatificação e canonização do servo de deus Dom Luciano”, confirma o arcebispo. O tribunal eclesiástico para a avaliação da vida e virtudes de Dom Luciano se reuniu no dia 27 de agosto, na Igreja da Sé, em Mariana. Dom Luciano ficou bastante conhecido pelas visitas que fazia durante as madrugadas aos moradores de rua e hospitais de São Paulo, onde serviu como bispo auxiliar. “Nas enfermarias, ele consolava uns, aliviava outros, via um que não estava coberto convenientemente, onde o soro estava acabando”,
lembra dom Geraldo. Foi em uma dessas idas aos hospitais, que Dom Luciano conheceu Edite Reis da Paciência, sua filha de criação. A alagoana, que reside hoje em Mariana e trabalha no Centro Pastoral do município, dificilmente segura as lágrimas ao ser perguntada sobre o pai. “Quando eu conheci Dom Luciano, eu tinha 12 anos e estava no hospital devido a um grave acidente que havia sofrido”, lembra. Edite conta que, quando tinha apenas 11 anos, partiu sozinha da casa onde morava, em Alagoas, para tentar ter uma vida melhor em São Paulo. Após um ano na capital, ela sofreu um acidente de ônibus e ficou muito ferida. “Entrando no quarto, ele [Dom Luciano] perguntou: ‘filha o que fizeram com você?’ Porque me viu toda arrebentada em cima da cama. Aproximou-se de mim, sentou no lugar do travesseiro, apoiou minha cabeça no colo dele e começou a fazer perguntas sobre o que Na cripta da Catedral da Sé, o fiel encontra os túmulos de Dom Viçoso e de Dom Luciano e pode prestar homenagens tinha acontecido, eu chorava muito ao contar minha Leo Homssi história. Ele me disse: ‘filha, guarde essas lágrimas para quando eu morrer porque de hoje em diante, eu não quero ver mais esse choro. A partir de hoje você terá dois pais: o pai do céu e um aqui na terra, que vai estar sempre ao seu lado. Enquanto eu viver, eu vou cuidar de você, aonde eu estiver, você também estará’ e foi assim desde aquele dia”, descreve Edite, emocionada. A filha de criação de Dom Luciano acompanhou de perto o exemplo de vida dado pelo pai, sempre disposto a ajudar o próximo. “Dom Luciano foi uma pessoa que não viveu pra si, mas para o outro. Ele podia estar com o presidente da República, se chegasse um
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pobre, ele pedia ao presidente um momento e perguntava em que poderia ajudá-lo”, conta. Situação semelhante também lembrou dom Geraldo ao falar sobre a vida do religioso. “Dom Luciano era capaz de meter a mão no bolso e entregar para um necessitado uma oferta que ele tivesse recebido em um evento, sem nem saber o valor que estava no envelope”. De qualquer modo, o decorrer de todo o processo de beatificação pode ser extremamente longo. Um famoso exemplo é a beatificação do Padre Anchieta, iniciado no Brasil em 1597 e só concluído em 2014, após mais de 400 anos. “Tudo depende do tempo em que o milagre demorar a aparecer”, conclui dom Geraldo.
Na Catedral da Sé, de Mariana, fiéis oram para a beatificação dos servos de Deus da região Leo Homssi
Entenda como é o processo de beatificação 1. É feito o pedido de abertura do processo, um postulador da causa é nomeado. Ou seja, alguém responsável pela ação. 2. Investigação da vida do candidato. São pesquisadas as provas de virtude e fama de santidade. 3. Solicitação à Congregação para a Causa dos Santos, também chamada de Dicastério Romano. Cuida dos processos de canonização na Santa Sé. 4. Congregação para a Causa dos Santos concede o título de “Servo de Deus”. 5. O bispo local formaliza a causa da beatificação. Um tribunal é instituído para a apresentação da vida e virtude do Servo de Deus. Há a nomeação de um juiz delegado pelo bispo. Depois o tribunal oficializa as declarações de pessoas que enviaram depoimentos sobre o candidato. 6. Após o encerramento do processo no tribunal, o Vaticano concede o título de “Venerável”. Em seguida, o postulador deve apresentar um provável milagre que aconteceu após a morte do Servo de Deus. Revista Em Minas
7. É instituído o Tribunal do Milagre. A investigação é acompanhada por médicos, teólogos, cientistas e religiosos. Deve se tratar de uma cura física, repentina, sem a intervenção de tratamentos médicos ou cuidados. Não existe explicação científica para o verdadeiro milagre. 8. As constatações e comprovações dos especialistas são enviadas à Roma. É autorizada a exumação dos restos mortais do candidato para que sejam enviados a uma igreja com visitação pública de fácil acesso. A beatificação é realizada e o Servo de Deus, posteriormente intitulado Venerável, é nomeado “Beato”. 9. Em seguida, para que o Beato siga no processo de canonização e seja nomeado “Santo”, o postulador deve eleger outro provável milagre realizado pela intercessão do religioso após a beatificação. 10. Novamente, a investigação criteriosa por especialistas é iniciada. Após a comprovação do novo milagre, o Beato é canonizado. • 31
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Itabirito Leo Homssi
Serra da Santa: o perigo por trás do trajeto Curvas fechadas e imprudência dos motoristas aumentam o índice de acidentes no trecho da BR-356 ___________________
vista. Thiago conta que era de manhã e a serração estava baixa. “Eu olhava no retrovisor, mas não conseguia ver a moto em que os dois estavam. Então, resolvemos parar. Foi quando um caminhoneiro também parou para conferir os pneus do caminhão e nos alertou sobre um acidente que aconteceu a poucos metros de nós”, descreve. Thiago não teve dúvidas que o ocorrido envolvia David e Rômulo. “Aquilo foi o fim para gente. Quando eu voltei para ver o acidente, a polícia e ambulância já estavam lá. Eu não tive coragem de acompanhar o socorro de perto. Enfrentei a morte da pior forma
Dreisse Drielle
Um local marcado pelo perigo. É assim que Thiago Diógenes Vieira, 22 anos, define o trecho que liga Itabirito à Nova Lima, na BR-356, mais conhecido como “Serra da Santa”. No dia 20 de julho, Thiago perdeu dois amigos, David Queiroz e Rômulo Moreira, durante um acidente a caminho de Belo Horizonte, próximo à barreira policial. Eles viajavam juntos com outros amigos em diversas motos e, por algum motivo, perderam Rômulo e David de Revista Em Minas
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possível”, revela. O acidente que envolveu David e Rômulo faz parte das estatísticas. De acordo com a Polícia Militar Rodoviária, só no mês de julho, foram quatro acidentes, sendo três deles com vítimas. Entre janeiro e junho, aconteceram 30 acidentes com 19 vítimas de ferimentos e sem nenhuma vítima fatal. O número representa 65% do total de acidentes que aconteceram durante 2013 inteiro. Só no ano passado, foram registrados 46 acidentes, sendo 17 com vítimas. Para Thiago, a estrada que recebe aproximadamente 20.000 automóveis por dia, fora do período de feriados, poderia ficar mais segura se houvesse mais investimentos em sinalização. “Vou muito a Belo Horizonte e ali, naquele trecho, tem muita serração. Não vejo má condição da estrada; talvez só mais sinalização ajude”, afirma o jovem que pretende continuar pilotando motos, apesar do medo e do trauma.
pior e evitar a colisão com outro carro. Pouco antes, eu vi um outro acidente e ainda parei para oferecer ajuda. Eu sabia que estava errado quando fiz aquela ultrapassagem”, conta. O carro deslizou e acabou rodando na pista, até ser novamente controlado e seguir viagem. O coordenador dos Bombeiros Municipais de Itabirito, Lívio Gonçalves da Silva, confirma que a “curva do O” é a mais problemática. “Tem que tomar cuidado. É necessário redobrar a atenção nas curvas e nos trechos em declive”, orienta. Para ele, o maior problema é a imprudência dos motoristas. “Raramente acontece um acidente por falha mecânica ou porque a estrada está esburacada, por exemplo. E as pessoas têm o hábito de dirigir na Serra Santa como se estivessem dirigindo numa estrada normal. A Serra Santa não é um trecho normal”, alerta. Lívio conta também que os bombeiros de Itabirito já atenderam todo tipo de acidente, exceto ciclistas, e também acredita que o problema poderia ser solucionado se houvesse mais placas de advertência e orientação para os motoristas.
Motoristas pedem mais sinalização na estrada da Serra da Santa
Curva do O Em 2010, Clévio Paulo, 47 anos, quase sofreu um acidente na curva mais perigosa do trecho, conhecida como “curva do O”. Estava chovendo e ele tentou fazer uma ultrapassagem. “Havia muito óleo na pista e com a chuva, tudo piorou. Tive que pensar rápido para impedir o
Buscando soluções Visando a minimizar a quantidade de acidentes, o Batalhão de Polícia Militar Rodoviário (BPMRv) promove ações no trecho
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Somente entre janeiro e junho, aconteceram 30 acidentes nesse trecho da BR-356
considerado e em toda área de atuação da Polícia Rodoviária. De acordo com o major Cássio Eduardo, da Polícia Militar Rodoviária, algumas medidas já foram apresentadas junto ao órgão de responsabilidade da via, o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), como a instalação de um radar no local e sinalizadores pelo percurso. Além disso, em dias de maior fluxo, como feriados prolongados e festividades nas cidades histórias, as viaturas do BPMRv são destinadas à operação denominada “Minas Em Segurança”, que tem por objetivo estar em áreas críticas e aglomerados com maior fluxo de trânsito, desenvolvendo operações de blitz nas rodovias federais e estaduais. Assim, a operação objetiva prevenir acidentes e monitorar a movimentação da BR. A operação também combate o desmanche de veículos e as atividades ilegais e busca proporcionar uma viagem segura aos usuários das vias, simultaneamente em todo o território mineiro. Nesses dias, o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG) também intensifica as operações de fiscalização do transporte de passageiros das linhas regulares e procura combater o transporte clandes-
tino de pessoas na rodovia. O trabalho é realizado com o deslocamento de viaturas e de fiscais para monitorar o transporte de passageiros e de pessoas na via.
Próximas ações
De acordo com o Dnit, também serão instalados equipamentos de monitoramento no Km-36,8, próximo a Itabirito, nos dois sentidos, com velocidade máxima de 60km/h. Os estudos técnicos necessários à implantação já foram realizados. A próxima etapa será a Ordem de Serviço, por parte da Coordenação de Operações Rodoviárias, em Brasília. O órgão acredita que os equipamentos estarão operando até o fim de setembro. Atualmente, os radares estão guardados em Ouro Preto. Recentemente, aconteceram as obras de revitalização de pavimento, dispositivos de drenagem e sinalização. Não há previsão de outras reformas, como a duplicação do trecho, a curto prazo. Questionada sobre possíveis ações de conscientização para os motoristas, a Prefeitura de Itabirito apenas respondeu que o trecho é de responsabilidade do Dnit e que os bombeiros municipais estão à disposição para prestar atendimento quando acionados. •
Dicas de segurança na estrada* Para uma viagem tranquila, os condutores de veículos devem observar as seguintes orientações: Estar descansado e sem sono; Manter o veículo em boas condições de funcionamento; Verificar os equipamentos obrigatórios do veículo; Estar em posse e com a documentação obrigatória em situação regular; Cumprir a legislação de trânsito; Não conduzir manuseando ou comunicando em aparelhos eletrônicos; Manter-se à direita da via e distância segura do veículo que segue à frente; Observar
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a sinalização da via e os limites de velocidade; Respeitar o pedestre e os outros condutores da via; Não conduzir veículos sob efeito de bebida alcoólica, substâncias tóxicas e calmantes; Utilizar o cinto de segurança e conduzir crianças no banco traseiro (até um ano de idade, no dispositivo chamado “bebê conforto”; de 1 a 4 anos na “cadeirinha”; e de 4 a 7 anos no assento de elevação). * Informações do Batalhão de Polícia Militar Rodoviário (BPMRv)
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Muito além da pizza
Sotaque belga
Fruto da parceria entre os primos Leandro Tropia Pinheiro e Daniel Tropia Pinheiro, O Passo PizzaJazz é referência em Ouro Preto para quem quer ver e ser visto, além da boa comida, claro. Instalado num casarão do século XVIII, ao lado da Casa dos Contos, o restaurante tem oito ambientes e traz intensa programação musical. Apesar de o carro-chefe ser as pizzas, o cardápio traz massas, frutos do mar, saladas, sobremesas e carnes, como o divino Bife San Telmo, um contrafilé argentino grelhado, com batatas rústicas, farinha do norte na manteiga e molho chimichurri [foto], R$45. Blima Bracher
Instalado no casarão da Fiemg na praça Tiradentes, o Café Cultural Ouro Preto tem charmosa decoração, graças ao bom gosto da proprietária Manu Rocha Nunes. No cardápio: cafés, chocolates, chás importados, salgados, caldos, sobremesas, cachaças, doses, vinhos e espumantes e vasta carta de cervejas nacionais e importadas, selecionadas pelo proprietário, o belga Vincent Pattyn. Destaque para as quiches, como a Lorraine com gruyére e bacon, R$17; ou a de queijo brie com maçã, R$18.
Meca do chope Blima Bracher
Parada obrigatória para quem visita a capital mineira, a choperia Albano’s coleciona títulos como a melhor da cidade. O sucesso é tanto que algumas lendas cercam de magia o chope, chamado até de poção mágica. Crenças à parte, por trás de tudo está a competente administração de Rodrigo Ferraz. São dois endereços na cidade: rua Pium-í, 611 e rua Rio de Janeiro, 2.076. Como acompanhamento vale pedir o tradicional Frango à Sabará, recheado com catupiry, envolto em bacon, grelhado e regado ao molho de jabuticaba [foto], R$32,50.
Fica a dica
Eduardo Tropia
Até o final do ano acontece na cidade o Festival Gastronomia de Ouro Preto. Participam 25 casas que trazem no cardápio um prato especial, como a Maçã de Peito Atolada no Angu, do Bar da Nida [foto]. Infelizmente, ficou na saudade a lendária coxinha do extinto Bar Barroco, que também participava do festival. Mais informações: www.ouropreto.com.br. • Por Blima Bracher Jornalista formada pela UFMG, com experiência em TVs e revistas e como editora de gastronomia Revista Em Minas
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Turismo Fotos: Leo Homssi
Sob as bênçãos de Anchieta ___________________
Vítor Secchin
Praia de Ubu
Achieta foi fundada pelo agora santo José de Anchieta, canonizado pelo Papa Francisco em abril de 2014. No século XVI, depois de passar por São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, catequizando os índios, foi na antiga Vila de Reritiba que o sacerdote viveu seus últimos anos. Formada a partir de uma aldeia de índios, Anchieta está localizada no sul do Espírito Santo, a 82km da capital Vitória. O município faz parte da Rota do Sol e da Moqueca, um roteiro entre cinco cidades do litoral do Estado – Serra, Vitória, Vila Velha, Guarapari e Anchieta – ricas em opções de lazer e com culinária saborosíssima. Anchieta é formada por 23 praias que compõem o cartão-postal da região, e também é conhecida pela herança histórica e pelas manifestações religiosas e folclóricas, além da natureza que nasce do Rio Benevente. Revista Em Minas
De paisagens bucólicas e águas claras e calmas, o local é ideal para se degustar a verdadeira moqueca capixaba. Diz a lenda que a origem do nome do balneário, em tupi-guarani, significa “queda”. Quando padre Anchieta morreu e estava sendo levado pelos índios para ser sepultado no Colégio de São Thiago, eles deixaram o corpo cair exatamente nessa localidade e exclamaram “Aba Ubu!”, que significa “o padre caiu”.
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Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção Construída no século XVI pelo padre Anchieta e pelos índios Tupis, a igreja foi feita com pedras e blocos de recifes, argamassa de cal de mariscos e óleo de baleia. O local já foi cadeia pública, Fórum e casa do juiz da Vila. Em 1860, D. Pedro II hospedou-se lá. A matriz abriga o Museu Nacional de Anchieta, casa onde o beato viveu, que hoje reúne peças de valor histórico e sacro, além de um pedaço do osso da perna do santo.
Ruínas do Rio Salinas Quem quer fugir do agito das praias pode conhecer parte do patrimônio histórico da cidade visitando as Ruínas do Rio Salinas. A origem das 32 colunas que formam as ruínas feitas de pedras, conchas e óleo de baleia é um mistério. Alguns acreditam que o espaço teria sido uma igreja construída pelos jesuítas. Porém, a hipótese mais provável é que seja uma antiga salina clandestina. Para visitar a construção, é preciso fazer um passeio pelo rio Benevente e entrar por um de seus afluentes, o rio Salinas, mais cinco minutos de caminhada em meio à mata preservada. Durante o percurso, é possível apreciar a fauna e a flora do manguezal.
Rio Benevente e Parque Fluvial Balneário de Iriri É um dos locais mais agitados da região, principalmente durante o verão e o Carnaval. O balneário é composto por quatro praias entre costões rochosos e mata atlântica: Santa Helena, Namorados, Areia Preta e Costa Azul, esta última concentra a vida noturna do local. As opções de lazer são diversas, vão desde o mergulho ecológico e a pesca até o surfe e a prática de esportes náuticos. Para os amantes da natureza, uma boa opção é subir e descer o rio Benevente, que foi porta de entrada dos imigrantes que desembarcavam no porto da cidade e iam para as regiões de montanhas do Espírito Santo. O rio de planície e águas tranquilas integra uma área de preservação permanente. O passeio permite conhecer o Parque Fluvial formado pela Estação Ecológica Municipal de Papagaios e pelo Manguezal, rico em crustáceos. A revoada das garças ao entardecer é um show à parte. • Revista Em Minas
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Satiricon Um livro improvável Muitos livros desapareceram por completo. Há uma lista infinita de obras-primas engolidas pela loucura, pelas fogueiras, traças ou pelo mero acaso. Há livros que existem somente como nota de rodapé e obras que mesmo existindo fisicamente, essencialmente, não existem. Satiricon é o exemplo (talvez o único que eu conheça) de um livro que podemos ler, mas que de fato não existe. As aventuras de Encolpio, Ascilto e Gitão, que rendem boas risadas e deixam leitores boquiabertos há pelo menos 1947 anos, são apenas fragmentos de um livro maior que se perdeu ao longo dos séculos. O Satiricon nada mais é do que um monte de texto recosturado por diversas mãos. Acredita-se que o que temos hoje represente apenas a sexta parte da obra completa. Para alguns estudiosos, Satiricon já foi maior do que Em Busca do Tempo Perdido, de Proust. A história se inicia em algum lugar próximo a Nápoles e foi escrito por um tal Petrônio, Caio Petrônio, Tito Petrônio ou Públio Petrônio. Ninguém sabe bem que Petrônio era este. Não sabemos se são pessoas diferentes ou nomes diferentes para a mesma pessoa. O mais aceito é o Petrônio Arbiter, que morreu em cerca de 66 d.C. Esse Petrônio era chegado da corte de Nero, até o imperador ficar louco e mandar matar meio mundo, inclusive sua venerável mãe. O Petrônio, autor de Satiricon, quando viu o caldo entornando, resolveu se matar em grande estilo cortando os pulsos enquanto falava para uma Revista Em Minas
plateia atônita sobre os feitos de sua vida breve. Tinha 39 anos. Enquanto agonizava com o sangue vazando pelos pulsos, Petrônio teria redigido uma carta a Nero dizendo umas poucas e boas. Há quem acredite que essa carta fosse o próprio Satiricon. O local onde se passa a história do livro também é mistério. Aceita-se Nápoles, Campanha, Crotona, mas as cidades não são citadas, apenas sugeridas. Talvez o lugar fosse descrito em partes já perdidas do livro ou talvez ele não contenha informações precisas pelo interesse do próprio autor. Quem sabe? Mesmo o nome do livro quem deu foram os copistas e tradutores que o manusearam ao longo dos anos. Não existe dentro do próprio texto nenhuma alusão ao verdadeiro nome da obra. Nem data de seu lançamento. A mais aceita é a de 60 d.C., mas é apenas um chute. O Satiricon segue com um livro sem lugar, data, nem nome. De 60 d.C. até o nascimento da imprensa, ninguém sabe como sobreviveu. Em algum ponto da história da humanidade, alguém resolveu não jogar o Satiricon no fogo e devemos ser eternamente gratos a essa pessoa. Então, temos um livro sem começo nem fim, sem autor específico, sem local determinado, passado numa época mal descrita. E tem mais...
Cena descoberta Em 1664, um tal Pierre Petit (pouco se sabe sobre ele também) encontrou em uma biblio38
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teca de um monastério a parte mais famosa do livro, a célebre cena do banquete de Trimalquião, uma das coisas mais geniais da literatura ocidental. Mais uma vez o Satiricon contou com a sorte. A melhor parte de um livro somente foi unida a ele mais de 1500 anos depois. É como se só pudéssemos ler o Ser ou não ser de Shakespeare depois de séculos, nos contentando até então apenas com os diálogos entre Polônio e Ofélia. Mas é interessante pensar que o capítulo do banquete de Trimalquião nos parece a melhor parte porque não conhecemos o livro como um todo. A leitura do Satiricon exercita em nós um constante pensamento de que havia ali coisa muito melhor. Até o aparecimento do fragmento perdido, por 1500 anos, os leitores leram apenas pedaços soltos de uma aventura sexual cômica e, ainda assim, não consideraram Satiricon um punhado de papel velho e nem desistiram dele. Não bastando ser um livro com tantas lacunas, ainda sofreu com a falsificação. Na tentativa de apresentar ao mundo um livro finalmente completo, muitos editores investiram nas versões definitivas do texto. A mais famosa falsificação, de um certo Nodot, chegou a ser aceita por muito tempo como o Satiricon definitivo. Apesar de falsa, era boa a edição, tanto que algumas publicações trazem as passagens falsas como souvenir entre parênteses.
Para ler: Satiricon, de Petrônio Editora Cosac Naify Tradução e Posfácio: Cláudio Aquati aquilo que o leitor tem de mais valioso, sua imaginação. O que falta em Satiricon é justamente o que mais lhe dá graça. A ordenação de capítulos que temos hoje foi estabelecida em 1629, em Genebra, depois de muito debate entre o que era ou não texto verdadeiro, o que era ou não boa tradução, o que era ou não obra de Petrônio, seja lá quem fosse. Também nunca se chegou a um consenso sobre que tipo de livro é o Satiricon. Ele não pode ser classificado como romance, afinal foi escrito muito antes do nascimento do gênero. Nem como farsa ou paródia, uma vez que, apesar de todo o seu exagero, ele reflete os costumes de uma época melhor do que qualquer outro. Embora utilize poesia em algumas passagens, o seu tom foge ao da saga poética. Mesmo o personagem principal sendo perseguido por um deus furioso, não se trata bem de uma epopeia. Mesmo tendo tom teatral e flertando com o mimo – uma espécie de farsa cômica na qual os atores interpretavam na cara limpa, sem máscaras – Satiricon não pode ser representado por nenhum ator em sã consciência. É como um não-livro, um livro que não existe de fato. Satiricon foi escrito mais pela sorte do que por Petrônio. Sobreviveu à loucura de Nero, à idade, às falsificações dos séculos XVI e XVII e aos maus tradutores dos dias de hoje. Ele ainda tem que contar com a sorte para que o leitor o descubra numa livraria e se encante por ele. As melhores edições do livro no Brasil estão esgotadas. Quem sabe um dia não acordemos com a notícia de uma nova cena descoberta num arquivo perdido. Quem sabe o Satiricon completo não esteja escondido em algum lugar, rindo disso tudo. •
Ler o Satiricon é a coisa mais deliciosa que um leitor pode experimentar na vida
Mas, afinal, que livro é Satiricon? Ou melhor, que tipo de leitura temos de uma obra como essa, que nos apresenta uma história no meio do caminho, cheia de lacunas, sem final, sem autor e sem a certeza exata de que o que estamos lendo é realmente um livro? Ler o Satiricon é a coisa mais deliciosa que um leitor pode experimentar na vida. É uma dádiva, uma mágica. É como assistir a um filme com cenas faltando e ainda assim entender o seu conteúdo por completo, preenchendo as lacunas com
Por Valter Nascimento Coelho - Livreiro, proprietário da livraria Set Palavras (setpalavras.com.br) Revista Em Minas
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PMOP - Divulgação
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52º BPM/PMMG - Divulgação
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52º BPM/PMMG - Divulgação
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52º BPM/PMMG - Divulgação
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Roberto Ribeiro - PMOP - Divulgação
1 - Turma de alunos do curso de Administração, do Promova Ouro Preto, com a secretária de Ação Social e Cidadania, Regina Braga • 2 - Turma do curso de Recepcionista, do Promova Ouro Preto, e professoras com Regina Braga • 3 Formatura dos alunos do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violencia (Proerd), em Ouro Preto • 4 - Premiação do concurso de redação do Proerd, em Ouro Preto • 5 - O sargento Thion lleney de Armando e o soldado Oldário Abreu, que representaram o 52º Batalhão de Polícia Militar no Circuito Itabirito de Corrida de Rua • 6 - Aula Inaugural do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) no sub-distrito de Maracujá, em Amarantina, Ouro Preto
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Gil Leonardi - Imprensa/MG - Divulgação
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Yara Diniz - PMM - Divulgação
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Marcelo Nicolato - Divulgação
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Marcelo Tholedo - Divulgação
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Divulgação
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Hospital Arnandl Gavazza - Divulgação
1 - O governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, é agraciado com a Comenda Professor Raymundo Cândido, maior honraria da seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) • 2 - Jovens do CRIA-Mariana participam de Oficina de Foto e Vídeo• 3 - Projeto Loucos Por Leitura chega à Rede Municipal, em Mariana • 4 - O fotógrafo Orlando Azevedo e os participantes de sua oficina no encontro Fotógrafos em Ouro Preto • 5 - Equipe representante dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) de Itabirito participa do Seminário Final do encontro realizado na Universidade Federal de Viçosa (UFV) • 6 - 10 - Equipe do Hospital Arnaldo Gavazza, em Ponte Nova, e do MG Transplantes
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Divulgação
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PMOP - Divulgação
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Douglas Couto - PMM - Divulgação
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Luma Sabóia - PMM - Divulgação
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Câmara de Mariana - Divulgação
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Élcio Rocha - PMM - Divulgação
1 - Integrantes do projeto Miniempresa, do Senai-Mariana • 2 - Equipe da Prefeitura de Ouro Preto comemora 1º lugar do ICMS Cultural de Minas Gerais • 3 - Prefeitos do Rio Grande do Sul fazem visita técnica a Mariana e são recebidos pelo prefeito Celso Cota • 4 - Participantes do Fórum de Desenvolvimento Econômico de Mariana • 5 - Alunos do Centro Educacional Arco Íris visitaram a Câmara de Mariana e foram recebidos pelo presidente, vereador Bruno Mól • 6 - O cantor Bell Marques fez a festa na ExpoMariana 2014, acompanhado pelo prefeito, Celso Cota, e pela primeiradama, Cristina Cota
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Lilian Miranda - Fetran - Divulgação
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PMOP - Divulgação
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PMOP - Divulgação
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Cláudia Klock - Museu da Inconfidência - Divulgação
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Cláudia Klock - Museu da Inconfidência - Divulgação
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Richard Dias - Ufop - Divulgação
1 - Reinaldo Cota, presidente da Turin Transportes, recebe premiação em Qualidade do Ar, concedida pela Federação dos Transportes (Fetram), para a empresa • 2 - A escritora Anna Ferreira e Ferreira, lançando seu livro A família e a rosa, durante a Semana da Poesia, promovida pela Prefeitura de Ouro Preto • 3 - Leonardo Sales e Francisco Nicolino, durante apresentação musical na Semana de Poesia, em Ouro Preto • 4 - Abertura da exposição Dali A Divina Comédia, no Museu da Inconfidência • 5 - Rui Mourão e o presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Angelo Oswaldo, foram os anfitriões das comemorações dos 70 anos do Museu da Inconfidência • 6 - A vice-reitora da Ufop, Célia Maria Nunes, com o ex-reitor, prof. Dirceu do Nascimento, o reitor, prof. Marcone Jamilson Freitas, e o ex-reitor, prof. João Luis Martins, em cerimônia dos 45 anos da Ufop
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52º BPM/PMMG - Divulgação
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Valter Nascimento - Divulgação
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Arquivo Pessoal - Divulgação
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Marcelo Tholedo - Divulgação
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1 - As cinco associações comunitárias vencedoras da 24ª edição da Julifest, em Itabirito, receberam os repasses referentes aos prêmios das mãos do prefeito Alex Salvador • 2 - Integrantes da Rede de Comerciantes Protegidos de Itabirito, formada pela Câmara de Dirigentes Lojistas da cidade e pela Polícia Militar • 3 - Aline Monteiro, Creusa Mendes, Sônia Bottaro e Valéria Romain, no Clube de Leitura da Set Palavras • 4 - Vanessa Barçante, Gizele Ferreira, Melina Leite e Verônica Barçante brincam com o pequeno Miguel • 5 - O fotógrafo Orlando Azevedo com os participantes da oficina ministrada por ele durante o evento Fotógrafos em Ouro Preto • 6 - Em agosto, a Branquinha, cachorrinha mais famosa de Ouro Preto, morreu, aos 14 anos
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Itabirito por Matheus Baldi 2
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Acesse: www.sounoticia.com.br 1 - Abraço apertado logo após o espetáculo do Grupo Trampulim, no Festival Mundial de Circo • 2 - Esta lindeza curtiu o Festival Mundial de Circo, em Itabirito • 3 - Artistas de Itabirito no cortejo de abertura do Festival • 4 Crianças aproveitando o cortejo do festival de circo • 5 - Meninada vidrada no espetáculo da artista argentina Maku Jarrak no Festival Mundial de Circo • 6 - Omar de Oliveira, uma das figuras mais conhecidas e carismáticas de Itabirito, posando para reportagem feita sobre ele no Sou Notícia
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Handmade do amor
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Coisa mais linda são estes corações e portamoedas bordados à mão que a artista plástica Virgínia Magalhães faz! O Feito à Mão é uma iniciativa de produtos artesanais, que também aceita encomendas em maiores quantidades, como uma lembrança de casamento, batizado ou aniversário diferente e cheio de afeto. Tudo colorido e de qualidade. Quem vende aqui em Ouro Preto e região é a filha dela, Luiza Magalhães. Entre em contato pelo e-mail feito_a_mao@outlook.com ou pelo telefone (31) 8641-4127. Conheça também o www.facebook.com/feitoamaovirginia.
Um presente delícia No cartãozinho, você escreve: acrescentar 2 ovos inteiFernanda Tropia ros, duas colheres de sopa de margarina e 1 colher de chá de essência de baunilha. Misturar tudo e levar ao forno a 180 graus em uma forma untada. Já fiz um e dei de presente. Pode acreditar, foi um sucesso!
Olha que ideia bacana: uma receita de cookie que vira um presente diferente! É só colocar os ingredientes secos em camadas, em um pote de vidro com um cartãozinho contendo os outros ingredientes que a pessoa tem que acrescentar e fazer. Pode ser receita de brownie e bolo também! Receita do cookie: 2 xícaras de farinha de trigo (pode misturar farinha de trigo integral e aveia também); 1 e ½ xícaras de açúcar mascavo; 1 colher de chá de fermento em pó; 1 pitada de sal; 180 gramas de chocolate meio amargo picado (eu misturei confeitos).
Por Fernanda Tropia – nutricionista antenada no mundo da moda, em cultura e entretenimento nandaquerserchique.blogspot.com.br Revista Em Minas
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