Revista Feira de Ciência & Cultura 2022 - V.7 / nº 15

Page 1

Revista Feira de Ciência e Cultura | 1


Apresentação Este volume da Revista Feira de Ciência & Cultura conta com 10 textos selecionados após avaliação minuciosa de nosso conselho editorial. O compilado retrata trabalhos apresentados na IX edição de 2019 de nossa Feira Científica, marcada como a última realização do evento de forma presencial, pré-pandemia da Covid-19. São projetos científicos das Ciências Humanas e Biológicas, voltados para a compreensão de aspectos ambientais, culturais e sociais, com abordagens interdisciplinares e de imersão dos alunos às dinâmicas dessas áreas do conhecimento. É a ciência de Sergipe feita por sergipanos e para sergipanos. Neste volume trazemos projetos que buscam avaliar aspectos históricos e culturais de forma empírica, unindo as vivências dos alunos ao método científico. Aqui abordaremos ações que investigaram a construção histórico-cultural e saberes que dialogam com questões de trabalho, como apontam os projetos “A cultura negra e a produção de cana-de-açúcar”, desenvolvido por alunos e docentes do Colégio Estadual Prefeito Anfilófio Fernandes Viana, em Umbaúba, e “Carcinicultura: trabalho, meio ambiente e saberes no Complexo Taiçoca em Nossa Senhora do Socorro - SE.”, oriundo de pesquisadores do Centro de Excelência Deputado Jonas Amaral. Também vislumbramos projetos que buscam instigar o resgate de aspectos históricos de forma lúdica, visando tornar o processo de aprendizado mais frutífero. São esses os temas abordados pelos trabalhos “A Numismática como fonte histórica: uma análise do corpo das moedas do Brasil Republicano”, realizado por alunos pesquisadores do Colégio Estadual Professor José Franklin, na Barra dos Coqueiros, e “Roteiro virtual sobre vestígios da Segunda Guerra mundial em Aracaju – SE”, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Rita de Cássia. Outras frentes abordadas por projetos que você lerá adiante são voltadas à investigação de aspectos sociais e ambientais, visto que são temas de extrema relevância e em alta, hodiernamente. A educação em saúde, tendo o jovem como principal público alvo, é tema unânime nesta edição da Cienart, ressaltando a urgência de trazer esse diálogo ao ambiente escolar. É o que podemos avaliar com os projetos “CONECTEEN: Em sintonia com a saúde”, desenvolvido por docentes e discentes do Centro de Excelência Deputado Jonas Amaral, em Nossa Senhora do Socorro; “O consumo de álcool entre os adolescentes poçoverdenses: um problema de saúde pública”, ação do Colégio Estadual Professor João de Oliveira, em Poço Verde; e “Prevenir ou Arriscar: potencializando o protagonismo dentro e fora da escola”, projeto oriundo do Centro de Excelência José Rollemberg Leite, em Aracaju. A educação ambiental é uma pauta latente, a qual tem sido alvo de investigações científicas nas escolas sergipanas, visto que a cada dia as crises ambientais se expandem e se tornam mais complexas, exigindo intervenção e protagonismo principalmente dos atores da atual geração. Tendo isso em vista, trazemos projetos com abordagens de conscientização às questões ambientais e temas que lhes perpassam, como os artigos “Educação Ambiental e a preservação do patrimônio escolar: um enfoque geográfico sobre cotidiano e identidade”, encabeçado por alunos e professores de ensino médio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe, em São Cristóvão; “Educação Ambiental no Jonas Amaral: das teorias às práticas”, idealizado pelo Centro de Excelência localizado em Nossa Senhora do Socorro; e “Nosso plástico de cada dia: discutindo o impacto ambiental gerado pelo descarte incorreto”, oriundo de pesquisadores do Colégio Estadual Edélzio Vieira de Melo, na cidade de Capela. O encanto e a crença na educação, na cultura e na ciência são os primeiros passos para a manutenção desses bens tão essenciais à vida humana. Sendo assim, esperamos que sua leitura seja proveitosa e que os trabalhos a seguir consigam inspirá-los a consumir e produzir ciência no seu dia a dia assim como nos inspira a cada ano, a cada nova Cienart. Boa jornada! Equipe da Revista Feira de Ciência & Cultura

2 | Revista Feira de Ciência e Cultura


A Cienart A Feira Científica de Sergipe (CIENART) é uma iniciativa da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Associação Sergipana de Ciência (ASCi), com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Secretaria de Estado da Educação, Esporte e Cultura de Sergipe (SEDUC) e da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (FAPITEC). O projeto prevê atividades concentradas principalmente em Minicursos e Ciclos e Palestras, promovidos ao longo de todo ano, e na realização da Feira Científica de Sergipe no mês de outubro, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). A Feira envolve alunos e professores do ensino fundamental (a partir do 6º ano), ensino médio e profissionalizante das redes públicas e particular do estado de Sergipe.

Equipe executora Zélia Soares Macedo – UFS Raquel Meister Ko. Freitag – UFS Eliana Midori Sussuchi – UFS/ASCi Márcia Regina Pereira Attie – UFS Mario Ernesto Giroldo Valerio – UFS Lucas Santos Silva – Pós-graduando UFS Darcylaine Vieira Martins – C.E. Doutor Antônio Garcia Filho Lark Soany Santos – C.E. Dom Juvêncio de Brito Carlos Alexandre Nascimento Aragão – C.E. 28 de Janeiro Shirley Santos Teles Rocha – IFS Mário Jorge Oliveira Silva – SEDUC/SE Marcus Eugênio Oliveira Lima - UFS Luciana Carvalho – EMBRAPA Comitê editorial Raquel Meister Ko. Freitag Zélia Soares Macedo Eliana Midori Sussuchi Lucas Santos Silva Editora assistente Graziela Santos Andrade Conselho científico Adriano Bof de Oliveira Ailton Fernando Santana de Oliveira Aldenise Cordeiro Santos Alessandra Pereira Gomes Machado Ana Figueiredo Maia Andrey Guimarães Sacramento Bruno Felipe Marques Pinheiro César Moura Nascimento Christina Bielinski Ramalho Cochiran Pereira dos Santos Darkson Kleber Alves da Silva Edvaldo Alves de Souza Junior Emanoela Gonçalves Ramos Fernanda Araújo Florisvaldo Silva Rocha Georgiane Amorim Gerson Cortes Duarte Filho Giancarlo Richard Salazar Banda

Herbet Alves de Oliveira Jairton Mendonça de Jesus Janaina Cardoso de Mello Jaqueline Gomes dos Santos Teles Jhon Fredy Martinez Avila Jorge Alberto López Rodríguez Josilene de Jesus Mendonça Julian Tejada Katlin Ivon Barrios Eguiluz Kelly Araújo Valença Oliveira Laelia Pumilla Botelho Campos dos Santos Leopoldo R Oliveira Luanny Santos Lucas Santos Silva Luiz Anselmo Menezes Santos Luiz Pereira da Costa Marcia Terezinha Jerônimo Oliveira Cruz Márcia Valéria Gaspar de Araújo Marcos Antônio Couto dos Santos Marcos Vinícius dos Santos Rezende Maria Augusta Rocha Porto Maria Inêz Oliveira Araújo Osmar de Souza e Silva Junior Paloma Batista Cardoso Paulo Sérgio de Rezende Nascimento Randeantony da Conceição do Nascimento Ricardo Nascimento Abreu Rodolpho Roberto da Rocha Sandes Samisia Maria Fernandes Machado Samuel Rodrigues de Oliveira Neto Sandro Márcio Drumond Alves Marengo Sarah Karenine Paes Ribeiro Proença Shirley Teles Rocha Tiago Nery Ribeiro Victor Renê Andrade Souza Capa e diagramação Frederick O’Hara Revisão de Língua Portuguesa Graziela Santos Andrade Lucas Santos Silva

Revista Feira de Ciência e Cultura | 3


4 | Revista Feira de Ciência e Cultura


Revista Feira de Ciência e Cultura | 5


Resumo. O presente artigo descreve trabalho realizado com alunos da 3ª Etapa da Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade Ensino Médio, do Colégio Estadual Prefeito Anfilófio Fernandes Viana, localizado na cidade de Umbaúba/SE, cujo objetivo foi leva-los a compreender a história da escravidão no Brasil, com destaque para a contribuição da cultura dos escravos africanos que trabalhavam nas plantações. A química envolvida no beneficiamento da cana-de-açúcar para a obtenção de açúcar, cachaça e etanol foi discutida considerando aspectos da história do Brasil. 1. Introdução A modalidade de Educação de Jovens e Adultos é um grande desafio para a educação, pois normalmente, os alunos apresentam dificuldades de aprendizagem ao retornarem à escola. Nesse contexto, deve-se utilizar em sala de aula metodologias de ensino interativas que favorecem o processo de ensino-aprendizagem. As Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio enfatizam o trabalho contextualizado e interdisciplinar, considerados nesse documento como eixos centrais organizadores das dinâmicas interativas no ensino. Ainda ressaltam que: “[...] a contextualização deve ser vista como um dos instrumentos para a concretização da ideia de interdisciplinaridade e para favorecer a atribuição de significados pelo aluno no processo de ensino e aprendizagem” (BRASIL, 2006, p. 95). Considerando a importância da inserção e da valorização da cultura afro-brasileira na sociedade, em atendimento a lei nº 11.645/2008, o presente trabalho teve como objetivo levar os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade Ensino Médio, a compreenderem a história da escravidão no Brasil, com

6 | Revista Feira de Ciência e Cultura

destaque para a contribuição da cultura dos escravos africanos que trabalhavam nas plantações através da química envolvida no beneficiamento da cana-de-açúcar para a obtenção de açúcar, cachaça e etanol. 2. Materiais e Métodos A pesquisa foi realizada por alunos do 3ª Etapa da Educação de Jovens e Adultos, modalidade Ensino Médio do Ensino Médio do Colégio Estadual Prefeito Anfilófio Fernandes Viana, localizado na cidade de Umbaúba/SE, durante o ano de 2019 como objeto de estudos da disciplina de Química. O trabalho foi baseado na abordagem interdisciplinar e organizado em três momentos pedagógicos: problematização inicial, organização/ explicação do conteúdo e aplicação do conhecimento (DELIZOICOV et al., 2009). Inicialmente, os alunos responderam a um questionário (Quadro 1) para realizarmos a problematização inicial.

A organização do conteúdo foi realizada através dos documentários Quanto vale ou é por quilo? e Cana de mel, preço de fel, além de trechos de outros vídeos


disponíveis na internet que mostraram os processos químicos envolvidos no processamento da cana-deaçúcar, bem como da influência cultural que os negros trouxeram para o Brasil. Também foi realizada a leitura de textos sobre a temática, visita a um alambique na cidade de Umbaúba/SE e de um engenho da época do Brasil Colônia, na cidade de Santa Luzia do Itanhy/SE. Para aplicação do conhecimento, os alunos puderam construir uma maquete que ilustrasse as informações coletadas em campo e expor os seus conhecimentos na 4ª Feira de Ciências e Tecnologia do Colégio Estadual Prefeito Anfilófio Fernandes Viana – FECINTEC. A maquete foi construída com materiais como isopor, tecidos, palito de sorvete e emborrachado, representando o Brasil Colônia e uma produção moderna de cachaça, etanol e açúcar. 3. Resultados e discussão Ao analisar as respostas do questionário inicial, pudemos perceber que os alunos conheciam o processo de produção de cana-de-açúcar e a história da escravidão do negro no Brasil, mas, de uma maneira muito superficial, com conhecimentos baseados na cultura popular, ou seja, sem aprofundamento científico. Eles acreditavam que a química estava relacionada com a história da cana-de-açúcar, pois continham substâncias que são o objeto de estudo da química, mas nenhum aluno relacionou com a escravidão. Em relação ao processo de produção de canade-açúcar (questões 2 e 3) as respostas giraram em torno da ideia que hoje não existe mais nenhuma forma de escravidão e que o plantio da cana-de-açúcar gera impacto na natureza em virtude das queimadas. Na questão 4, foi possível identificar em algumas respostas, por exemplo, que “o negro veio ao Brasil para trabalhar” e que foram “vendidos pelos seus familiares na África”. Estas respostas demonstram uma visão muito comum e equivocada na história da escravidão do negro no Brasil, pois os negros não vieram espontaneamente para o Brasil à trabalho e sim foram forçados em condições subjugantes, movidos pelos conflitos que ocorriam na

África.

Segundo Casagrande (2016), os negros nesse período espalhavam-se em um grande continente, com muitos povos, tribos, línguas, etnias, costumes, culturas e religiões, sendo que muitas dessas culturas existem até hoje. Dessa forma, ocorriam – como em quase todo o mundo – atritos decorrentes dessas diferenças, que podiam resultar na conquista de um povo por outro. Os conquistados se tornavam propriedade do conquistador, que muitas vezes os escravizavam: “[...] eram somente vítimas de guerras tribais e isso era melhor do que acontecia mundo afora, onde a nenhum inimigo era permitido continuar vivo” (CASAGRANDE, 2016, p. 1). No segundo momento do trabalho, foi realizada a organização do conhecimento. Para isso, foram exibidos os documentários: Cana de mel, preço de fel, da série 500 anos: o Brasil Colônia na TV, da TV Escola (BRASIL, 2008), que retrata a forma com que os negros eram trazidos ao Brasil, como eram suas condições de trabalho e também sobre os outros atores desse período do Brasil Colônia. Quanto vale ou é por quilo?, filme brasileiro de 2005 dirigido por Sérgio Bianchi que faz uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a atual exploração da miséria pelo marketing social, que formam uma solidariedade de fachada. A exibição dos vídeos gerou um caloroso debate com a turma, e o contexto histórico para a produção de cana-de-açúcar foi retratado. Durante as aulas, foram apresentadas e discutidas as formas de produção de derivados da canade-açúcar. Assim, temas como os processos físicos (corte, moagem, filtração, evaporação, condensação) e químicos (fermentação, refino) pelo qual passa a cana-de-açúcar para se tornar o açúcar, o etanol e a cachaça foram abordados. De posse de todas essas informações, os alunos foram guiados para visitar um alambique na cidade de Umbaúba/SE, onde puderam observar todo o processo de produção da cachaça artesanal (Figura 1). Vale destacar que como se tratava de uma turma de Educação de Jovens e Adultos, todos os alunos eram maiores de idade e, portanto, puderam participar da visita que envolvia uma bebida alcoólica, proibida para menos de 18 anos.

Revista Feira de Ciência e Cultura | 7


Na última etapa do projeto, organização do conteúdo, os alunos puderam construir uma maquete que ilustrasse um engenho e como ocorre atualmente a produção de álcool, açúcar e cachaça. A maquete foi exposta e apresentada para a comunidade escolar durante a 4ª Edição da Feira de Ciências e Tecnologias do Colégio Estadual Prefeito Anfilófio Fernandes Viana – FECINTEC (Figura 3).

Figura 1: Sala de destilação do alambique em Umbaúba/SE

Também foi visitado o Engenho São Félix, localizado na cidade de Santa Luzia do Itanhy/SE, fundado em 1632 e tombado pelo Patrimônio Histórico de Sergipe em 1984 e que conserva a arquitetura do Brasil Colonial.

Figura 3: Stand da turma durante a FECINTEC do Colégio Estadual Prefeito Anfilófio Fernandes Viana.

A apresentação da maquete mostrou uma grande evolução conceitual por parte dos alunos, e os mesmos puderam explicar todos os conceitos aprendidos durante o projeto de maneira rica e detalhada para o público visitante. 4. Conclusão

Figura 2: Engenho São Félix em Santa Luzia do Itanhy/SE

As visitas técnicas são um importante recurso metodológico. Peres (2005) afirma que a visita técnica mostra-se assim um instrumento de ensino positivo, pois proporciona uma maior interatividade, além de despertar o interesse dos alunos, fato esse observado pelo grande envolvimento dos mesmos durante a realização das atividades, pois os alunos podem vivenciar coisas, lugares e experiências novas, que certamente serão muito importantes na sua formação.

8 | Revista Feira de Ciência e Cultura

No cenário de uma escola pública, no qual estamos inseridos, a criação de um projeto interdisciplinar envolvendo à Educação de Jovens e Adultos tratou-se de uma prática pedagógica muito eficaz que proporcionou o interesse pelo tema aos alunos envolvidos, incentivandoos a pesquisarem e consequentemente adquirirem mais conhecimentos. Dessa forma, o trabalho interdisciplinar que foi realizado foi eficaz, tendo o alambique e a indústria canavieira como tema gerador para a abordagem de diversos conteúdos de química e história, como como separação de misturas, fermentação, carboidratos, funções orgânicas, escravidão ontem e hoje, consumismo


e o conceito de liberdade, trabalho e economia da canade-açúcar, Brasil Colônia e cultura negra. 5. Referências BRASIL. Lei nº 11.645 de 10 de março de 2008. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11645.htm>. Acesso em: 21/08/2019. BRASIL. Ministério da Educação. Secretária de Ensino Básico. Orientações curriculares para o ensino médio: ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. 2. Brasília, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Governo Federal. DVD Escola. TV Escola – História. Brasil 500 anos: O Brasil-Colônia na TV - Cana de mel, preço de fel. 2008. CASAGRANDE, L. Africanos não venderam seu próprio povo para a escravidão. Fórum, 9 de junho de 2016. Disponível em <https:// www.revistaforum.com.br/osentendidos/2016/06/09/africanosnao-venderam-seu-proprio-povo-para-escravidao/>. Acesso em: 20/01/2019. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J.A. e PERNAMBUCO, M.M. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2009. PERES, J. A. Visitas técnicas: o ensino fundamental, médio e superior. João Pessoa: Meta-EGM, 2005. QUANTO vale ou é por quilo?. Direção: Sérgio Bianchi. Produção: Paulo Galvão. Roteiro: Sérgio Bianchi, Eduardo Benaim, Newton Canitto. Intérpretes: Ana Carbatti, Herson Capri, Cláudia Mello, Caco Ciocler, Ana Lúcia Torres e outros. [S.I]: RIOFILME, Petrobras e Agravo Produções, 2005. Cor (107 min).

Revista Feira de Ciência e Cultura | 9


Resumo. O projeto foi desenvolvido junto com alunos do 3º ano do Ensino Médio, bolsistas do PIBIC-JR do Centro de Excelência Deputado Jonas Amaral. A pesquisa objetivou conhecer, a partir da carcinicultura, os processos que envolvem as relações de trabalho, a interação com o meio ambiente e a construção de saberes dos produtores e trabalhadores envolvidos nessa atividade na região do Complexo Taiçoca em Nossa Senhora do SocorroSE. Contribuiu para a sensibilização acerca de questões ambientais e sociais que envolvem a comunidade local, desenvolvendo o pensamento científico e a prática de pesquisa acadêmica. 1. Introdução O trabalho constitui uma esfera primordial da existência humana e tem como princípio fundamental sua relação com a natureza, que fornece os recursos necessários que são convertidos em riqueza através da ação humana. Como afirma Engels (1896) “o trabalho é a condição básica e fundamental de toda a vida humana”, o que confere significante importância aos estudos no âmbito do trabalho. Historicamente, as primeiras atividades econômicas no município de Nossa Senhora do Socorro estiveram ligadas à agricultura, seguida da pecuária, que devido às crises desses setores na região foram paulatinamente perdendo sua centralidade enquanto fontes geradoras de renda na economia local. O município está inserido na bacia hidrográfica do rio Sergipe e é composto por uma rede de drenagem que possui manguezais e apicuns, importantes ecossistemas ligados à vida marítima e às atividades voltadas para a pesca e mariscagem. A salinidade dos seus rios, ocasionada por fatores ligados à dinâmica fluvial do ambiente estuarino do rio Sergipe, favoreceu

10 | Revista Feira de Ciência e Cultura

também a implantação de salinas, tornando o município o segundo maior produtor nacional de sal em períodos do século XX. Entretanto, devido a fatores como a resistência dos produtores frente à modernização do setor (BEZERRA, 2009), quase a totalidade das salinas foram desativadas, dando lugar para o desenvolvimento da piscicultura e posteriormente da carcinicultura. Com isso, a criação de camarão ganha destaque na região como atividade produtiva no qual muitos moradores obtêm sua principal fonte de renda. O crescimento urbano e industrial da região, mais a intensificação da carcinicultura, modificaram as características das margens dos rios localizados no município que promoveram uma série de impactos ambientais e sociais. Ao abordar estas temáticas na forma de pesquisa acadêmica no âmbito escolar, foi possível oportunizar os alunos e professores envolvidos no projeto a experiência para a prática de pesquisa social, aguçando a curiosidade e o pensamento científico, além de estimular na comunidade escolar a sensibilização para questões sociais e ambientais que envolvem a comunidade, contribuindo também para reforçar sentimentos de pertencimento local. 2. Materiais e Métodos A pesquisa foi desenvolvida utilizando a metodologia qualitativa. Como ponto de partida foi necessário que os alunos compreendessem com mais profundidade as etapas da metodologia científica, através de aulas expositivas e dialogadas, estudo dirigido e rodas de conversa para exposição teórica visando à construção desses conhecimentos. Também foi feita a revisão de literatura utilizando artigos, dissertações,


livros e reportagens sobre o tema, a fim de produzir fichamentos e sistematizar os conceitos utilizados ao longo da pesquisa. Os instrumentos utilizados para coleta de dados consistiram em observação e análise do cenário/ paisagem, visitas técnicas, diário de campo e realização de entrevistas semiestruturadas. De acordo Minayo (2011), o trabalho de campo permite ao pesquisador aproximar-se do objeto que se deseja conhecer e estudar e criar um conhecimento partindo dessa realidade. A inserção no contexto dos sujeitos entrevistados permitiu melhor apreender os significados que eles atribuem a sua realidade e às suas ações. Na segunda etapa, iniciou-se o trabalho de campo por meio de visitas em instituições públicas que lidam direta ou indiretamente com questões relativas às atividades de carcinicultura no município e no estado, sendo elas: Administração Estadual do Meio Ambiente (ADEMA), Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Nossa Senhora do Socorro e a Secretaria Municipal de Agricultura, Irrigação e Pesca do mesmo município. Posteriormente, foram realizadas visitas em seis viveiros de criação de camarão localizados no Complexo Taiçoca, onde foi possível observar e analisar a paisagem destes espaços e de seu entorno, formados por planícies de inundação dos rios Cotinguiba e rio do Sal, integrantes da bacia do rio Sergipe. Essas áreas inicialmente eram ocupadas por manguezais e foram antropizadas em função do aproveitamento da dinâmica da maré para criação de camarão. A combinação dinâmica entre os elementos naturais do ecossistema local potencializou a atividade econômica da carcinicultura. Segundo Bertrand (1968), a paisagem é um conjunto geográfico indissociável que evolui em bloco, tanto sob os efeitos das interações entre os elementos que a constituem como sob o efeito da dinâmica própria de cada um dos elementos, sendo sua abordagem fundamental para a compreensão desse objeto de estudo. Durante as visitas aos viveiros foram aplicadas dez entrevistas semiestruturadas com atores envolvidos diretamente na atividade produtiva, formados por

proprietários, trabalhadores em sistema familiar e informais. Os entrevistados residem em sua maioria no município, sendo homens com idade entre 40 e 65 anos e escolaridade de nível fundamental completo e incompleto. As entrevistas foram gravadas e transcritas, com duração entre 30 e 60 minutos, com perguntas organizadas a partir do seguinte roteiro semiestruturado: um primeiro bloco abordando o perfil social; o segundo bloco com questões abertas sobre trajetória do trabalho, processo de desenvolvimento dos saberes para a prática produtiva da carcinicultura, rotina laboral, rentabilidade econômica, dificuldades encontradas e entidades de apoio e representatividade; um terceiro bloco sobre produção, produtividade e técnicas utilizadas e um último bloco abordando a relação com o meio ambiente, instituições responsáveis pela fiscalização e orientação, assessoria de empresas para aquisição e utilização de insumos e possíveis impactos positivos e negativos desta atividade. Por fim, os dados obtidos com a pesquisa de campo foram sistematizados, os conteúdos das entrevistas ordenados por categorias pré-definidas considerando as informações, opiniões e reflexões nelas contidas, de modo a compreender a dinâmica do trabalho, a relação com o meio ambiente e os significados dados pelos atores sociais a sua realidade. Os dados analisados foram então articulados com elementos conceituais e do contexto social, cultural, econômico e geográfico analisados. 3. Resultados e discussão O complexo Taiçoca é um recorte espacial na bacia hidrográfica do rio Sergipe, sendo influenciado direta e indiretamente por afluentes, manguezais, apicuns, croas e outras formações da dinâmica e geomorfologia fluvial que foram historicamente conduzidas à prática de atividades econômicas voltadas para a exploração dos recursos naturais. A carcinicultura aparece como uma atividade que se apropria deste ambiente e se beneficia das condições naturais para a produção de camarão em cativeiro, além de ter sido uma atividade

Revista Feira de Ciência e Cultura | 11


que aproveitou as antigas estruturas construídas nas planícies de inundação da rede de drenagem, a exemplo das salinas, que durante décadas foi um importante segmento econômico na região. É, portanto, uma atividade que agrega diretamente a discussão da relação homem versus natureza a partir do trabalho. A carcinicultura começa a ganhar destaque no estado a partir do ano de 2000 (CARVALHO e FONTES, 2007), assim como no município de Nossa Senhora do Socorro, onde atualmente é possível localizar no perímetro urbano do complexo Taiçoca (Conjunto Fernando Collor, Taiçoca de Dentro e Taiçoca de Fora, Conjunto João Alves Filho, Piabeta), diversos viveiros inseridos na paisagem. A carcinicultura no Complexo Taiçoca é potencialmente conflituosa, pois é desenvolvida nos espaços que são protegidos pelo Código Florestal Nacional como unidades de conservação permanente. A regularização da atividade esbarra nos múltiplos interesses existentes entre o poder público, empresas, pequenos produtores e associações de representatividade. Em termos legais, a resolução do CONAMA 312, de 10 de outubro de 2002, de âmbito nacional dispõe sobre o licenciamento da carcinicultura. Esta resolução veda a prática da carcinicultura em ecossistemas de manguezal e determina que a construção, a instalação, a ampliação e funcionamento das fazendas de cultivo de camarão na zona costeira dependem de licenciamento ambiental. (CARVALHO e FONTES, 2007). Em Sergipe, atualmente, a carcinicultura é amparada pela Lei nº 8.327/2017 que estabelece a continuidade da carcinicultura em áreas de preservação permanente exclusivamente consolidadas até 22 de julho de 2008, devendo obrigatoriamente o produtor responder ao órgão estadual competente (ADEMA e SEMARH-SE). Analisando a legislação ambiental vigente é possível observar que há divergências entre as esferas de poder, a exemplo das Secretaria Municipal de Agricultura, Irrigação e Pesca e a Secretaria de Meio Ambiente do município e órgão estadual sobre as abordagens no que diz respeito a atividade da carcinicultura em áreas de preservação. Muitos empreendimentos, ainda que não atendam aos requisitos

12 | Revista Feira de Ciência e Cultura

previstos na legislação para obterem o licenciamento continuam em atividade, denotando as dificuldades de manejo, fiscalização e monitoramento técnico por parte dos órgãos responsáveis. De acordo com os dados produzidos na pesquisa de campo foi possível identificar que a atividade tem se tornado uma fonte de renda para trabalhadores da região, tornando-se um vetor de mobilidade social para pequenos e médios empreendedores que possuem baixa escolaridade (ensino fundamental completo e incompleto), oriundos de outras atividades de baixa renda que migraram para a carcinicultura. Os trabalhadores entrevistados possuem idades acima de 40 anos, alguns inclusive com faixa etária acima dos 60 anos. Todos os entrevistados na pesquisa de campo foram homens (apenas uma produtora do sexo feminino foi identificada, entretanto a mesma não exerce atividade laboral no campo). O camarão produzido é comercializado localmente, no mercado central de Aracaju ou repassada para atravessadores. Boa parte dos produtores concentra todas as tarefas do viveiro; alguns trabalhadores têm no grupo familiar a base para a execução das tarefas laborais, enquanto outra parcela contrata trabalhadores avulsos para os serviços braçais, de acordo com a demanda do ciclo produtivo, configurando uma rede de subemprego que está associada à vulnerabilidade e a precarização de uma mão de obra que migra de postos de trabalho de acordo com a oportunidade. Nos espaços visitados evidenciou-se que os trabalhadores recrutados não possuem formalização dos vínculos empregatícios, sendo observada a ausência do uso de equipamentos de proteção individual, do cumprimento de carga-horária pré-definida e a tendência ao pagamento dos serviços prestados através de diárias ou outras modalidades de pagamento não assalariados. Os viveiros que foram visitados estão, em sua maioria, localizados no perímetro urbano, o que pode vir a gerar e potencializar diversos conflitos advindos do processo de expansão urbanística que vem ocorrendo nas últimas décadas no município. Dentro desta perspectiva, foi possível observar uma supressão de manguezal, o


lançamento de lixo e esgoto doméstico nas águas que alimentam os viveiros, a formação de novos loteamentos (regularizados ou não) que intensificam a disputa por espaço, além de alterar ainda mais a qualidade dos recursos hídricos locais. A manutenção dos viveiros é realizada com o revolvimento do sedimento fluvial; tal fator pode contribuir para o aprofundamento do canal dos pequenos córregos modificando a sedimentologia local. A devolução da água para o leito natural do rio durante os períodos de pesca do camarão contribui para o lançamento de produtos de origem química, pois como relatado por alguns trabalhadores é comum o uso de rações e probiótico, devendo ser realizado estudo para analisar a qualidade da água, como orienta a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/97) e as resoluções do CONAMA. Os carcinicultores utilizam toda uma rede de saberes, práticas e percepção do meio para a realização do seu trabalho. De acordo Diegues (1983) cada forma de produção determina uma maneira específica de exploração da natureza e consequentemente as normas boas e más de utilização da natureza, ou seja, a produção em cativeiro de camarões possui uma forma específica de exploração dos recursos naturais e as percepções sobre os aspectos positivos e negativos dependem dos objetivos de cada agente social envolvido nas relações de produção. Nas entrevistas os produtores relatam a existência de uma degradação ambiental nos recursos naturais (tais como o despejo de esgoto não tratado e lixo no manguezal e nos afluentes, e de poluentes químicos que gera poluição das águas) mas não associam diretamente o exercício da carcinicultura aos impactos observados, como é possível identificar na fala de alguns produtores: “a gente não faz nada que prejudique o meio ambiente, é que muita gente fala que o produtor de camarão solta aquela água com produto químico mata os caranguejo, mata o manguezal. No meu viveiro, vê camarão, vê siri, vê caranguejo, peixe natural que entra. Quando você pesca no viveiro tira o camarão que é seu objetivo final, tira siri e várias espécies de peixe, até 10 espécies de peixe.” (Produtor, 41 anos)

“a poluição que tem é esgoto no mangue, corre tudo pra maré, do outro lado lá dá muito esgoto, por isso que hoje tá essa poluição […] contaminação a gente tem em todo canto, mas pra dizer assim eu não acho que é tanto assim, porque a gente tem muito cuidado pra trabalhar aqui” (Produtor, 64 anos) Faz-se necessário, contudo, estudos mais aprofundados para identificar e mensurar os impactos gerados mais diretamente pela carcinicultura nesta região e as condições futuras para a manutenção, contenção ou expansão da atividade no município, pois embora as condições naturais do ambiente estuarino sejam propícias para a produção do camarão em cativeiro, essas mesmas áreas são de preservação permanente e devem ser protegidas da exploração humana indiscriminada. 4. Conclusão O contato e observação com o meio natural e social através de um olhar mais reflexivo na pesquisa de campo proporcionaram uma experiência enriquecedora em termos acadêmicos e humanos. O confronto com uma gama de questões que surgiram ao longo da pesquisa: a análise do processo e das condições laborais de uma categoria de trabalhadores, os conflitos evidenciados nos problemas que envolvem o uso dos recursos naturais e as legislações ambientais, o contato com os saberes tradicionais e técnicos, fomentaram uma aprendizagem mais significativa, oportunizando aos alunos e professores envolvidos estabelecer novas relações com o saber, articulando conceitos, experiências e conhecimentos de maneira interdisciplinar. As questões levantadas ao longo da pesquisa produziram um rico material para debater e promover um processo de reflexão sobre a comunidade da qual os estudantes fazem parte, que podem vir a despertar o interesse científico e a troca de saberes no ambiente escolar.

Revista Feira de Ciência e Cultura | 13


5. Referências - ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. Campinas/SP: Boitempo, 4a edição, 2001. - BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global. São Paulo: Caderno de Ciências da Terra, 1968. - BEZERRA, Maurício. Conflitos ambientais no setor habitacional no baixo curso do Rio do Sal - SE. 2009. Dissertação de mestrado. PRODEMA. Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão - SE, 2009. - CARVALHO, Márcia E. S.; FONTES, Aracy L. A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano. Revista da Fapese, v.3, n. 1, p. 87-112, jan./jun. 2007. - DIEGUES, A. C. Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar. São Paulo: Ática, 1983. - LIMA, Juliana Schober Gonçalves; SILVA, Carlos Alberto da. Carcinicultura Marinha Familiar no Estuário do Rio Vaza-Barris, Sergipe: Implicações para uma Produção Sustentável. Brasília, DF: Embrapa, 2014. - MARTINS, Jorge Santos. O trabalho com projetos de pesquisa: do ensino fundamental ao ensino médio. 5 ed. Campinas, SP: Papirus, 2007. - MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

14 | Revista Feira de Ciência e Cultura


Resumo. Pretendemos dinamizar as aulas de história através do uso de uma fonte histórica primária (moedas), estimulando o aluno a buscar e construir seu próprio conhecimento de forma prazerosa, tornando o passado mais próximo, além de inspirá-los na prática do colecionismo através da criação de um clube escolar de numismática. Acreditamos na contribuição desse trabalho para desenvolver a paixão pela pesquisa científica e pela história. 1. Introdução Nas aulas de introdução à história, sempre falamos sobre as fontes que auxiliam na construção do conhecimento histórico. Dentre as fontes consideradas primárias, costumamos levar para a sala de aula as moedas. Elas são importantes para ilustrar períodos históricos, neste caso, do Brasil republicano, permitindo ao aluno interpretar os fatos através da pesquisa e análise de uma fonte. Dessa forma, da moeda de réis, passando pelo cruzeiro e cruzado até chegar ao real é possível compreender momentos importantes da vida econômica, política e sociocultural brasileira. Assim, desenvolvemos aulas sobre o período republicano brasileiro utilizando uma das ciências auxiliares da História, a numismática, objetivando que “o aluno pudesse ter contato pessoal e próximo com as realidades passadas” (SCHMIDT; CAINELLI, 2009, p. 115). 2.Materiais e Métodos Moedas e cédulas não precisam ser relíquias. Esta foi a premissa a partir da qual iniciamos o trabalho desenvolvido com a 3ª série do ensino médio da Escola

Estadual Professor José Franklin, localizada na Barra dos Coqueiros. Para desenvolver o trabalho, os estudantes envolvidos foram convidados a montarem slides apresentando a definição de numismática e as cédulas comemorativas que foram impressas desde o início do período republicano. Nessa etapa, além de incitar uma familiaridade dos estudantes com esse campo do conhecimento, a ideia foi despertar outros olhares quanto às moedas e cédulas, sobretudo em três dimensões: 1) o dinheiro como fonte histórica; 2) o dinheiro como demonstrativo de políticas econômicas; 3) o dinheiro como um espaço de representações que espelham a política, a cultura e a sociedade vigente no contexto em que foi produzido: As moedas, entretanto, podem fornecer dados históricos importantes, como documentos, cujas informações são apresentadas, em sua maior parte, na forma de imagens. Pode realizar-se, assim, uma análise dos aspectos políticos e ideológicos iluminados pelas moedas tomadas como documento, mediante a aplicação de uma série de métodos para identificação e decodificação das imagens contidas nos tesouros numismáticos, brasileiros ou não (CARLAN; FUNARI, 2012, p. 23). A partir do trabalho feito pelos próprios alunos, em exame das cédulas e moedas arroladas e da definição de numismática trazida por eles, esses olhares foram discutidos pelos professores. No caráter de fonte, as moedas e cédulas permitem aos professores o retorno a um tema anterior à 3ª série – e que deve ser revisitado sempre que possível – que é o método da pesquisa histórica, em que a crítica às fontes é obrigatória. O objetivo dessa reflexão é lembrar aos alunos que as fontes têm suas potencialidades e limitações, não trazendo uma informação “integral” do passado, mas sendo apenas um vestígio desse passado, cabendo ao

Revista Feira de Ciência e Cultura | 15


historiador interrogar a fonte quanto ao que está presente e também o que falta nela, assim sendo necessário buscar outras fontes. Quanto à dimensão econômica, o estudo das moedas e cédulas pode ocupar lugar central ao permitir uma reflexão sobre o valor monetário e sua relação com as economias nacional e internacional, a partir de conceitos como taxa de câmbio e inflação. Enfim, a dimensão enfatizada por este trabalho foi o das representações presentes nas moedas e cédulas. Com esse enfoque, o pretendido foi conceituar para os alunos o que seria imaginário social, além de diferenciar a História da memória. Este enfoque intrigou os estudantes, por exemplo, ante a análise da moeda de cinco centavos a qual ostenta a figura do mítico Tiradentes enquanto não existe nenhuma representação efetiva do mártir. 3. Resultados e Discussão Com uma análise das variadas representações que perpassaram as moedas e cédulas, o objetivo foi mostrar aos estudantes as tendências e os contextos específicos que levaram àquelas representações. Ficou claro, então, que as representações não são inocentes, e que, instituídas em algo tão cotidiano como o dinheiro, foram usadas para consolidar narrativas históricas que não raro remontaram a períodos anteriores à República, alcançando o Império e mesmo o período da colonização portuguesa. Por quê? Narrativas têm início, meio e fim. Esboçá-las nas moedas e nas cédulas, imprimindo ali símbolos e personagens que remetem à história do país, seria uma forma fácil de perpetuar personagens e símbolos como basilares da história da nação, profundos na memória coletiva, mesmo que a História inquira esses signos de forma diferente. Por isso, foi chamada a atenção para os estudantes quanto às figuras homenageadas e os símbolos presentes nas notas. Por que o café apareceu tanto no dinheiro? Por qual motivo políticos importantes do período imperial apareceram no dinheiro? Por que a República é essa mulher de louros? Fábricas, construções, prédios e ruas. Qual significado teriam? E por que

16 | Revista Feira de Ciência e Cultura

demorou tanto a aparecer um indivíduo negro nas notas? Há diversas perguntas com as quais se pode interrogar o dinheiro, e cada uma delas revela um contexto diferente. O positivismo presente na “proclamação” da República explica a figura da República como uma mulher, enquanto a presença do café nas notas levaria os estudantes até a emergência desse produto no século XIX. Para responder melhor a essas questões, dividimos o trabalho em momentos diferentes. 3.1. Primeiro Momento Para o trabalho na sala de aula selecionamos moedas brasileiras de réis, cruzeiro, cruzado e real. Apresentamos a coleção de moedas de real de 1994 a 2019, incluindo as comemorativas para despertar a curiosidade dos estudantes. Em seguida, solicitamos aos alunos que observassem a partir daquele momento as moedas que passavam por suas mãos, que pesquisassem entre os parentes e amigos quem possuía moedas “antigas” e pudessem ceder para um trabalho escolar. Dividimos a turma em grupos para que cada um destes pudesse construir uma apresentação sobre as moedas brasileiras, sendo: a) Réis; b) Cruzeiro; c) Cruzado; e, d) Real. Desta feita, cada grupo fez a apresentação do dinheiro brasileiro considerando período de circulação, material de confecção, iconografia das moedas, valor e peso. 3.2. Segundo Momento Depois desse deslocamento de perspectiva quanto aos diversos valores do dinheiro – econômico, político, sociocultural e histórico – um novo desafio foi colocado aos estudantes: pensar em um novo conjunto de moedas e cédulas para circulação no Brasil. Alguns critérios foram estabelecidos, a exemplo: a) definir um eixo temático; e, b) remeter à brasilidade em qualquer um de seus aspectos (fauna, flora, cultura, ciência, política, sociedade, regional, dentre outros). Depois da escolha do grupo, novas representações ocupariam os espaços das moedas (cinco, dez, vinte e


cinco, cinquenta centavos e um real) e cédulas (dois, cinco, dez, vinte, cinquenta e cem reais) circulantes. Além destas, seria trazida de volta a moeda de um centavo, também colocada a dispor da imaginação dos estudantes. Com as representações devidamente escolhidas dentro de um enfoque temático relacionado à brasilidade, um serviço de design gráfico foi contratado para concretizar o imaginado pelos estudantes. 4. Conclusão Percebemos que utilizar documentos históricos para análise em sala de aula pelos alunos promove um maior envolvimento da turma com o objeto da história. A busca pelo conhecimento torna-se mais prazerosa e o estudante encontra significado para sua aprendizagem: Uma nova concepção de documento histórico implica, necessariamente, repensar seu uso em sala de aula, já que sua utilização hoje é indispensável como fundamento do método de ensino, principalmente porque permite o diálogo do aluno com realidades passadas e desenvolve o sentido da análise histórica (SCHMIDT; CAINELLI,2009, p.116). Desta feita, a possibilidade de criar um novo objeto a partir da leitura de mundo cuja perspectiva foi ampliada a partir do conhecimento adquirido nas aulas nos mostra que atingimos o objetivo proposto. 5. Referências CARLAN, Cláudio Umpierre; FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Moedas: a numismática e o estudo da História. São Paulo: Annablume, 2012. (Coleção História e Arqueologia em Movimento). SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scpione, 2009. (Coleção Pensamento e Ação na Sala de Aula).

Revista Feira de Ciência e Cultura | 17


Resumo. O propósito deste artigo é analisar o processo de elaboração de um roteiro virtual sobre os vestígios relacionados à Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em Aracaju, no Estado de Sergipe. Trata-se de uma iniciativa justificada pela carência de um roteiro histórico, que pode ser explorado por professores e cidadãos interessados pelo tema. Utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica, consultas a sites, registros fotográficos e construção de verbetes. Foram identificados dezesseis bens culturais disponibilizados, como um recurso didático, com potencial de despertar nos educandos o interesse em conhecer a história e a memória local, e estabelecer relações com um contexto mais amplo. 1. Introdução A praia dos Náufragos, na cidade de Aracaju, é um dos lugares cuja beleza encanta moradores locais e turistas. Ela também guarda vestígios, lembranças e histórias da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O torpedeamento de navios brasileiros, no litoral do Nordeste, em 1942, culminou na decisão do Brasil de integrar-se à força dos Aliados para combater os países do Eixo, durante a Guerra. O submarino alemão U-507 atingiu os navios brasileiros Araraquara, Baependi e Aníbal Benévolo, próximo à costa de Sergipe. Centenas de pessoas morreram e seus corpos espalharam-se nas areias das praias sergipanas. Assim como a praia dos Náufragos, diversos outros espaços públicos e privados, de Aracaju, guardam vestígios reveladores de memórias e histórias de sergipanos durante um dos conflitos mais traumáticos da humanidade: a Segunda Guerra. Sobre esse processo histórico, alguns historiadores e escritores lançaram luzes que nos ajudam a observá-lo a partir de diversas

18 | Revista Feira de Ciência e Cultura

perspectivas. O historiador Dilton Cândido Santos Maynard (2015) organizou uma coletânea de textos, com a contribuição de alguns autores, na qual a Guerra é vista sobre diferentes ângulos. Não menos relevante é o estudo de Luiz Antônio Pinto Cruz (2012) sobre o cotidiano de Aracaju no período. Mesmo se tratando de um registro geral sobre a memória de Aracaju, o escritor Mário Cabral (2002) também nos deixou algumas impressões, mesmo de forma indireta, sobre o conflito. Essas leituras nos instigaram a formular a seguinte questão: quais são os vestígios materiais reveladores de memórias e histórias sobre a Segunda Guerra em Aracaju? Identificados esses vestígios, operou-se a necessidade de analisá-los e criarmos uma estratégia de divulgá-los, de forma sistematizada, para o público interessado pelo tema. Optou-se pela elaboração de um roteiro disponibilizado em um site, ou seja, um itinerário virtual. Este processo é objeto do presente artigo. 2. Materiais e Métodos A pesquisa foi iniciada a partir de maio de 2018, por Cauã Gustavo Santos Lima, estudante do nono ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Rita de Cássia, em Aracaju. Ela fez parte do Projeto de Digitalização de Fontes sobre a história de Aracaju durante a Segunda Guerra Mundial, do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GETEMPO), da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e foi financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (FAPITEC). Foi concluída em maio de 2019. A investigação foi desenvolvida em duas etapas. Na primeira, procurou-se identificar vestígios materiais sobre a Segunda Guerra em Sergipe. Neste sentido, empreendeu-se leituras de textos históricos, como artigos,


livros e trabalhos acadêmicos. Na segunda, operou-se a construção do site no qual foi disponibilizado o resultado da pesquisa. Durante a execução das tarefas, em cada etapa, utilizou-se a pesquisa bibliográfica e de campo. No que se refere à primeira etapa, o estudante Cauã Gustavo fez leituras e fichamentos de textos ligados à produção do grupo GETEMPO, sobre as temáticas da Segunda Guerra em Aracaju, tais como: “Leituras da Segunda Guerra Mundial em Sergipe” (2013) e “GETEMPO: Memórias de uma coluna na internet” (2015). Ao longo da pesquisa, outros estudos foram consultados, a exemplo de “Roteiro de Aracaju” (2002) e “Aracaju e seus monumentos” (2005). Os textos foram lidos e debatidos com a participação do co-orientador Marcelo Santos, no espaço da escola, e com o orientador do Projeto de Digitalização, Dilton Cândido Santos Maynard, na UFS. As leituras e os registros resultantes foram fundamentais para a identificação e reflexão sobre os vestígios e as imagens que foram utilizadas no site. Na segunda etapa, o estudante pesquisou na internet plataformas de sites e ferramentas que fossem mais adequadas à proposta da investigação: a construção de um roteiro virtual sobre os vestígios da Segunda Guerra Mundial em Aracaju. Optamos pela plataforma de site Wix. Esta plataforma, diferente da Wordpress, foi escolhida por conta da sua facilidade de manipulação dos elementos integradores da interface de um site e por apresentar diversos aplicativos que se encontram disponíveis para customização. Nesta etapa, também realizamos visitas técnicas nos espaços identificados para a produção de imagens fotográficas, a pesquisa de campo. 3. Resultados e discussão A partir da pesquisa bibliográfica e em alguns sites foram identificados diversos espaços e vestígios sobre a Segunda Guerra em Aracaju. Entretanto, atendendo à natureza e o cronograma da pesquisa, foram selecionados, pesquisados e construídos verbetes dos seguintes espaços e vestígios: Cúria Metropolitana de Aracaju (casa de Nicola Mandarino); Palácio Olímpio Campos e Praça Fausto Cardoso; Jornal Correio de Aracaju; Aeroclube de

Sergipe; Hotel Marozzi; Hospital Cirurgia; Penitenciária de Aracaju; Rua Duque de Caxias; Mercados Centrais; Feira do Aribé; Quartel do 28° Batalhão Dos Caçadores; Farol Antigo; Igreja Do Santo Antônio; Cemitério dos Náufragos; Capitania dos Portos e a Praça dos Expedicionários. Logo após, foram construídos verbetes sobre esses espaços e vestígios, e desenvolvido um site com o título “Vestígios da Segunda Guerra em Aracaju SE”,

Figura 1: Print da tela inicial do site “Vestígios da Segunda Guerra em Aracaju - SE”. (Fonte: https://marcelosanjes.wixsite.com/ historiadesergipe)

O material disponibilizado no site foi organizado nos seguintes menus (Figura 1), com os respectivos objetivos: a) Início: convidar e apresentar o site: b) O roteiro: disponibilizar um mapa de geolocalização dos vestígios; c) Os vestígios: apresentar as imagens com os verbetes que identifiquem, caracterizem e estabeleçam as relações com a experiência da Segunda Guerra em Aracaju; d) Conhecendo mais: disponibilizar um recurso didático, elaborado pelo co-orientador, para ser compartilhado; e) Apoio e Pesquisa: citar os agentes e as instituições que viabilizaram e executaram o projeto; f) Referências Bibliográficas; apresentar textos e sites básicos que foram utilizados durante o projeto e na construção do site. Após identificarmos os vestígios e os espaços relacionados à Segunda Guerra em Aracaju, definido o tipo de site e a organização dos menus, uma das nossas primeiras preocupações foi como apresentaríamos o roteiro. Esta atividade foi designada ao estudante Cauã Gustavo, que utilizando a ferramenta Google Maps,

Revista Feira de Ciência e Cultura | 19


customizou um mapa que atendesse aos nossos objetivos. Tal ferramenta além de permitir a visualização geral dos vestígios e a localização, possibilita ao visitante do site (turista, professor, estudante...etc.) a criação do seu próprio percurso, segundo seus interesses específicos -ensino, pesquisa, passeio - (Figura 2).

Figura 2: Print parcial da tela “mapa de geolocalização...” do site “Vestígios da Segunda Guerra em Aracaju - SE”. (Fonte: https:// marcelosanjes.wixsite.com/historiadesergipe/o-roteiro)

O ponto central da pesquisa, ou seja, os vestígios da Segunda Guerra em Aracaju, cujo resultado foi materializado no site, mais precisamente na página direcionada através do menu “os vestígios”, foi apresentado a partir dos seguintes procedimentos: a) identificação e seleção de fotografias, contemporâneas à época da Segunda Guerra e atuais; b) apresentação de verbetes, confeccionados a partir dos dados obtidos com a pesquisa bibliográficas sobre o tema. Assim, por exemplo, vejamos o caso “do Aeroclube de Aracaju” (Figura 3):

Figura 3: Print parcial da tela do menu “os vestígios”, destacando fotografias do Aeroclube de Aracaju (Fonte: https://marcelosanjes. wixsite.com/historiadesergipe/informacoes).

Na apresentação de cada um dos 16 vestígios identificados, foi criado um título que procurou sintetizar a ideia básica do verbete. No caso do verbete sobre o

20 | Revista Feira de Ciência e Cultura

Aeroclube de Aracaju, um dos vestígios da Segunda Guerra em Aracaju, o título foi “sob as asas” (figura 3). Após o título foram inseridas, na maioria dos casos, duas fotografias: uma que reproduzisse a imagem no momento do conflito, ou no tempo mais próximo a ele, e a outra atual. Tratou-se de uma estratégia que despertasse reflexões sobre a dinâmica do tempo e do espaço, operação fundamental para o ensino de História e para a análise da constituição de memórias. Os textos que seguem nas fotografias foram escritos privilegiando usos atuais e anteriores dos vestígios identificados, além da sua relação com a Segunda Guerra Mundial, conforme é possível verificarmos a partir do trecho abaixo, sobre o Aeroclube: O Aeroclube de Sergipe localiza-se na avenida Maranhão, no conjunto Almirante Tamandaré. Conhecido como o Campo do Anipun, foi criado em 1939, e teve suas atividades de pouso e decolagem de aeronaves e ultraleves encerradas em 2015. Quando os navios brasileiros foram torpedeados, os pilotos do Aeroclube exerceram um papel importante no processo de localização dos destroços e das vítimas. Apreensivo com o atraso do navio Aníbal Benévolo, em 1942, Gentil Homem de Menezes, Capitão dos Portos de Sergipe, solicitou ajuda aos pilotos do Aeroclube para verificar o motivo do atraso. Acredita-se que, liderados pelo piloto Walter Batista, eles ajudaram bastante na identificação dos corpos e salvar os sobreviventes do torpedeamento. Participavam deste clube homens como Antônio Leite Cabral, Durval Maynard, Eliseu Santos, Evandro Freire, José da Rocha Novais, José Figueiredo Monte, Lindolfo Calazans, Osório Ribeiro, Valter Rezende e muitos outros. Aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) e norte-americanas utilizaram esse espaço durante o conflito. (Fonte:https://marcelosanjes.wixsite.com/ historiadesergipe/informacoes) 4. Conclusão Ao longo da pesquisa, foi possível identificarmos 16 espaços e vestígios sobre a Segunda Guerra Mundial em Aracaju. Eles são indicadores de memórias e histórias de um acontecimento traumático,


que precisa ser melhor conhecido pelos brasileiros, professores, estudantes e turistas, nas diversas perspectivas. Neste sentido, o roteiro virtual disponibilizado no site tem o potencial de despertar e aprofundar o interesse sobre esse processo histórico. Entretanto, à luz do que foi realizado, alguns procedimentos da pesquisa devem ser efetuados numa futura continuidade do trabalho: a) refinar a parte gráfica e tipológica do site; b) engendrar formas de divulgação do site e dinamizar seu fluxo; c) Proceder uma pesquisa histórica mais apurada sobre as imagens utilizadas. Deve-se registrar que o site também pode ser acessado em https://www.laboratoriodehistoria. com/projetos. 5. Referências CABRAL, Mário. Roteiro de Aracaju. Aracaju: Banese, 2002. CRUZ, Luiz Antônio Pinto. ‘“A guerra já chegou entre nós’’: O Cotidiano de Aracaju durante a guerra submarina (1942-1945). Salvador: UFBA, 2012. (Dissertação de Mestrado em História Social). GOVERNO DO ESTADO DE SERGIPE. Aracaju e seus monumentos. Aracaju: Gráfica e Editora Triunfo, 2005. MAYNARD, Dilton Cândido Santos (0rg). GETEMPO: Memórias de uma coluna na internet. Macapá: EdUNIFAP, 2015. ________; MAYNARD, Andreza Santos Cruz. Leituras da Segunda Guerra Mundial em Sergipe. São Cristóvão: Editora UFS, 2013.

Revista Feira de Ciência e Cultura | 21


Resumo. Esse trabalho foi resultado da eletiva, realizado junto às disciplinas de Biologia e Arte, com alunos do Ensino Médio Integral, no CEDJA, situado em Nossa Senhora do Socorro, SE, cujo objetivo foi conectar o tema transversal de saúde ao cotidiano dos jovens. As aulas foram subsidiadas por pesquisas bibliográficas, exibições de documentários, bate-papos, visita de campo, Feira de Saúde e atividades artísticas. Como resultados, propusemos discussões e momentos de reflexões, trazendo as vivências dos alunos. A criação da performance “Conecteen: um diálogo com a saúde” originou-se de diálogos sobre as problemáticas dos adolescentes e desencadeou a prática do protagonismo. 1. Introdução A importância de diálogos sobre o universo juvenil tem sido uma constante em diferentes espaços sociais e a escola tem se tornado um dos principais polos dessas discussões, trazendo à tona aspectos singulares vivenciados por seus alunos. Corti e Souza (2012, p. 31) destacam sobre a importância de a escola fomentar trabalhos dessa natureza “na busca por uma educação que consiga compreender e dialogar mais efetivamente com as necessidades educativas desses sujeitos.” No Centro de Excelência Deputado Jonas Amaral (CEDJA), em agosto de dois mil e dezoito, após realização de sondagens com turmas de primeiras e segundas séries do Ensino Médio Integral, temas associados à Educação e Saúde foram bem requisitados. Na busca por uma disciplina eletiva que se relacionasse com os projetos de vida daqueles estudantes e que, da mesma forma, potencializasse os conteúdos da Base Nacional Curricular de Biologia e Arte, recorremos à possibilidade de ampliação do repertório de temas específicos na área de Saúde. Através de metodologias dinâmicas, interativas

22 | Revista Feira de Ciência e Cultura

e que traziam, em sua essência, as vivências dos estudantes como parte de objetos de estudo, a disciplina ganhou uma conotação diferenciada e bastante participativa. Foi nessa empreitada que a denominamos de “Conecteen”, cuja ideia era a de conectarmos os anseios daqueles jovens às premissas do PCN/saúde, quando enfatiza que “a escola (...) deve fornecer elementos que os capacitem para uma vida saudável” (BRASIL, 1997, p. 90). Em outros momentos, houve a tentativa de se desenvolver projetos dessa natureza, para tanto, esbarrouse nas dificuldades de sistematização de dias e horários específicos para esse tipo de iniciativa. Os relatos, as práticas e os conhecimentos adquiridos junto às fontes bibliográficas e trocas de experiências com os alunos tornaram-se fundamentais para o envolvimento de todas as partes e resultados alcançados no decorrer deste trabalho. 2. Materiais e métodos Este trabalho foi desenvolvido no período de agosto a dezembro de dois mil e dezoito, no Centro de Excelência Deputado Jonas Amaral, localizado na cidade de Nossa Senhora do Socorro, Sergipe, durante a disciplina eletiva. Participaram trinta alunos de primeiros e segundos anos com faixas etárias entre 14 e 18 anos. Com base na primeira roda de conversas sobre a expectativa da turma sobre aquela disciplina, propusemos que enumerassem, na perspectiva da Educação e Saúde, os temas que poderiam ser contemplados. Dentre as sugestões, definiu-se: juventude e identidade; sexualidade; ansiedade; comportamentos autodestrutivos na adolescência: suicídio, bebidas e drogas; doenças sexualmente transmissíveis; e jovens e qualidade de vida. Diante da abrangência de temáticas apresentadas, o que significou um trabalho desafiador para as professoras


orientadoras, o próximo passo foi selecionar os materiais bibliográficos. Dentre as referências, trouxemos Esslinger e Kovács (2006) que apresentam discussões de cunho contemporâneo sobre “o universo” da adolescência associado ao ambiente escolar, com linguagem clara e trazendo exemplos muito próximos daqueles citados por alguns estudantes. Isso facilitou o engajamento e debate no decorrer dos encontros presenciais. As aulas foram realizadas semanalmente, em dois horários germinados, favorecendo a reorganização de salas, conforme a proposta metodológica de cada atividade. Realizamos práticas artísticas, a exemplo de produções de painéis, máscaras e trabalhos manuais; palestras com profissionais da área de saúde, como assistentes sociais e psicólogos; visita de campo à Universidade Federal de Sergipe; Feira de Ciências e Cine Conecteen. Os equipamentos básicos de audiovisuais tais como projetor, notebook e caixa de som foram essenciais para as ações. Para cada temática apresentada, os depoimentos pessoais de cada aluno enriqueciam e dinamizavam nossas propostas. De acordo com os combinados feitos com os discentes, todas as “conversas” compartilhadas e pessoais não poderiam ser levadas para além da disciplina. Como instrumento avaliativo, adotamos individualmente o diário de bordo, no qual detalhouse todo aprendizado adquirido em cada aula, abrindo espaços para sugestões e críticas. Esses registros foram de grande valia para nossa autoavaliação e como ferramenta de replanejamento de aulas. A culminância desse trabalho foi sintetizada pela junção das linguagens artísticas de dança e teatro, através do retrospecto da complexidade desse universo juvenil, trabalhada ao longo do semestre. Dividimos a apresentação em quatro fases: na primeira, expusemos falas e gestos particulares de alguns depoimentos compartilhados; na segunda, ao som dramático de Carl Orff, as palavras-chaves que nortearam os diálogos incorporados pelos alunos, imperaram no espaço cenográfico (elas falam por si próprias); na terceira, trouxemos a interpretação angustiada do texto “Eu Jovem” e, na quarta, o desfecho dessa guerra interior “jovem x caminhos”.

3. Resultados e Discussão Desdobramentos de temáticas transversais, vinculadas à Educação e Saúde, difundiram-se em espaços diversos: dentro e fora da sala de aula. As experiências vivenciadas pelos alunos ou relatos de situações de pessoas muito próximas a eles projetaram-se em rodas de conversas e, por vezes, desabafos angustiados que exemplificaram aulas expositivas, a priori, sugeridas por eles. Os estudos (Figura 1) concretizaram-se com ênfase em explanações de conceitos a saber: “Identidade: quem sou eu?”, “Sexualidade: descobertas e cuidados”, “Doenças sexualmente transmissíveis”, “Os dramas de ser adolescente (as escolhas): culto ao corpo, alimentação saudável e doenças”, “Ansiedade”, “Comportamentos autodestrutivos: suicídio, bebidas e drogas” e “Discutindo alternativas para a vida: família, escola e amigos”.

Figura 1: Processo de discussões com diferentes metodologias. (Fonte: acervo particular. Fotos: Cristiane Cardoso, 2018)

Revista Feira de Ciência e Cultura | 23


Valemo-nos, concomitante, de exibições de vídeos, documentários e filme “Todas as coisas são belas”, palestra sobre ansiedade e suicídio e criações artísticas, (Figura 2), associando os conteúdos às técnicas de artes visuais, desenvolvendo técnicas de máscaras, painéis e instalações. Servimo-nos ainda da visita de campo ao Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Sergipe (São Cristóvão), orientados por estudantes de Biologia e Medicina, o que representou para muitos de nossos alunos que traziam em seus projetos de vida o anseio ao ingresso na área de Saúde, o fortalecimento desse propósito (Figura 3).

Figura 3: Visita ao Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Sergipe. (Fonte: acervo particular. Fotos: Nara Costa, 2018)

Figura 2: Palestra, Cine Conecteen e atividades artísticas. (Fonte: acervo particular. Fotos: Nara Costa, 2018)

24 | Revista Feira de Ciência e Cultura

Nesse percurso consolidamos a Feira de Saúde, em parceria com a Secretaria de Saúde e Ação Social da Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Socorro, que no dia quatorze de novembro, disponibilizou uma equipe de médicos, técnicos de enfermagem, fisioterapeuta e psicólogo para campanhas junto à comunidade escolar e local. Ao longo dessa trajetória, ao final de cada encontro todos os alunos tinham que registrar minuciosamente o conteúdo absorvido, as estratégias utilizadas, avaliar o encontro, sugerir novas possibilidades de abordagens e críticas específicas sobre a aula. Essa


ferramenta foi basilar para planejamentos semanais, dando-nos referência dos resultados ao longo do processo. Destarte, buscando retomar os pontos áureos deste trabalho, montamos coletivamente a performance “CONECTEEN: um diálogo com a saúde”. Em seu processo de criação, chegou-se ao consenso de que, assim como os conteúdos trouxeram força e dinamismo, da mesma proporção aconteceria na apresentação. Para tanto, dividimos o grupo em quatro equipes. A primeira responsabilizou-se em selecionar as falas que melhor resumissem os principais momentos dos encontros, com base nos diários de bordo. A segunda incumbiu-se de enumerar as seis palavras-chaves do processo e, com isso, confeccionar os respectivos estandartes, utilizando TNT, cola quente, EVA e cabos de vassoura. A terceira selecionou um depoimento, dentre aqueles mencionados durante as aulas, e o dividiu em três partes, entre seus componentes, para dramatização. E, por fim, a quarta engajou-se nas expressões corporais, entrelaçadas aos movimentos da performance, conforme a música de Carmina Burana, interpretada por Carl Orff. A narrativa da performance desencadeou-se pelos depoimentos dos alunos e seguiu-se com o desfile imperioso, ao som de Carl Orff, das palavras-chaves que também representavam as buscas de respostas daqueles personagens. Na sequência, as dramatizações interpretadas por três alunas do depoimento de Jonh (17 anos), invadiram o espaço cênico, que simbolizavam os trinta alunos participantes daquela eletiva. O desfecho foi arrematado pela chegada da performer “JUVENTUDE”, que em luta com todas as suas dúvidas e buscas de respostas, dinamizou o contato entre os demais participantes e que, pela imponência da força e persistência de seus movimentos, saiu como vencedora (Figura 4).

Figura 4: Performance apresentada no evento de culminância das disciplinas eletivas do CEDJA, no dia 11/01/19. (Fonte: acervo particular. Fotos: Figueiredo Neto, 2019)

Os resultados dessa apresentação foram surpreendentes, primeiro pelo engajamento de todos os participantes em todas as etapas de criação e execução e, segundo, pelo alinhamento do processo teórico dialogado entre conteúdos das disciplinas de Arte e Biologia. 4. Conclusão Entendemos que cumprimos o nosso papel como propositores e articuladores de diálogos abertos junto aos alunos sobre temáticas transversais que

Revista Feira de Ciência e Cultura | 25


perpassaram pela Educação e Saúde no espaço formal da escola. Trouxemos as problemáticas, acima de tudo, por meio de planejamentos criteriosos e cuidadosos perante as abordagens, por vezes polêmicas, mas tratadas sob o viés pedagógico. Frisamos que em meio aos trinta alunos participantes dessas atividades, que embora apresentassem faixas etárias muito próximas, compartilharam uma multiplicidade de experiências, o que nos levou a refletir sobre a necessidade de atuação de profissionais específicos no ambiente escolar, a exemplo de psicólogos e assistentes sociais. A construção processual e coletiva da performance concretizou que o conhecimento pode ser disseminado por caminhos informais, dinâmicos e em diferentes espaços da escola, como também seu resultado final demonstrou que é possível envolver estudos interdisciplinares, tomando como base o tema transversal de Educação e Saúde. 5. Referências BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente, saúde. Brasília: SEF, 1997. CORTI, Ana Paula e SOUZA, Raquel. Diálogos com o mundo juvenil: subsídios para educadores. 2ª ed. São Paulo: Ação Educativa, 2012. ESSLINGER, Ingrid e KOVÁCS, Maria Júlia. Adolescência: vida ou morte? São Paulo: Ática, 2006.

26 | Revista Feira de Ciência e Cultura


Resumo. O objetivo da presente pesquisa foi promover estratégias que fizessem o estudante do Colégio Estadual Prof. João de Oliveira repensar sua relação com a bebida alcoólica. Para tanto, foram coletados dados que mostraram que a maioria dos entrevistados consome bebidas alcoólicas. Após análise, temas como influência da mídia e das músicas e efeitos do consumo de bebidas alcoólicas no âmbito social, biológico e psicológico foram debatidos nas salas de aula das 2ª e 3ª série do Ensino Médio. Por fim, foi organizado um evento para toda escola a fim de sensibilizar os estudantes para uma vida mais saudável. 1. Introdução O consumo de álcool tem se tornado um grave problema de saúde pública, tanto por ser um fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis, como por causar outros problemas como dificuldades no trabalho e com familiares, envolvimento em acidentes e violências (ANDRADE & SILVEIRA, 2009). Diante disso, Aires et al. (2014) afirmam que os adolescentes são um grupo vulnerável ao consumo de álcool uma vez que estão numa fase de experimentação e curiosidade, sentindose imunes aos riscos, e estando sujeitos à pressão dos colegas para se sentirem integrados num grupo. No município de Poço Verde/SE a realidade para o consumo desta droga não foge ao parâmetro nacional. É perceptível o uso indiscriminado de álcool entre os jovens em festas, reuniões de amigos, bares, lanchonetes, praças e esquinas da cidade. Até a escola não consegue ficar ilesa a essa prática e, vez ou outra, alguém é chamado na secretaria por estar levando bebida alcoólica para o recinto, seja em garrafas de refrigerante ou no recipiente de levar água.

Diante disso, o objetivo deste trabalho foi promover estratégias que façam o adolescente que estuda no Colégio Estadual Prof. João de Oliveira no município de Poço Verde/SE repensar sua relação com a bebida alcoólica. 2. Materiais e Métodos O projeto foi desenvolvido durante o ano letivo de 2018 no Colégio Estadual Prof. João de Oliveira, então única escola de Ensino Médio da cidade, e foi dividido em três etapas: (1) Diagnóstico da realidade local, (2) Construindo conhecimento, (3) Compartilhando experiências e vivências. Para compor o momento do diagnóstico da realidade local, foi aplicado um questionário aos alunos do colégio supracitado contendo cinco perguntas a fim de compreender a relação dos jovens com o consumo de bebidas alcoólicas. Os dados foram analisados e discutidos com os alunos envolvidos. A partir da discussão destes dados, a problemática do consumo de bebidas alcoólicas foi levada para as salas de aula dos segundos anos E, F, G e H e dos terceiros anos A, B, E Mariel F. Essas turmas foram escolhidas por terem a coordenadora desta pesquisa como professora de Biologia. or fim, foi necessário promover um momento para o compartilhamento daquilo que havia sido produzido nas salas de aula com o restante dos alunos da escola. Para tanto, foi organizado um evento nos turnos matutino, vespertino e noturno com a promoção de palestras, divulgação dos dados obtidos a partir dos questionários aplicados, apresentação de músicas, vídeos, paródias e teatros produzidos pelos alunos sobre a temática.

Revista Feira de Ciência e Cultura | 27


3. Resultados e discussão 3.1. Diagnóstico da realidade local Com o objetivo de compreender a relação dos nossos alunos com a bebida alcoólica, foram aplicados questionários em todas as turmas do Colégio Estadual Professor João de Oliveira no período entre 05 a 29 de junho de 2018. Nesse período, o CEPJO contava com 929 alunos matriculados, dos quais 742 responderam ao questionário, o que corresponde a aproximadamente 80% do total de alunos. Quando foi perguntado “Você já consumiu alguma bebida alcoólica?” 68% dos alunos responderam que sim e 14% afirmaram que experimentaram uma única vez, mas não reincidiram na ação, o que quer dizer que 82% dos alunos entrevistados já fizeram uso de alguma bebida alcoólica. Apenas 18% dos entrevistados nunca consumiram esta droga lícita. A partir da pergunta “Quando você consumiu bebidas alcoólicas pela primeira vez?”, percebeu-se que a maior parte dos alunos teve seu primeiro contato com as bebidas alcoólicas durante a adolescência, entre os 14 e 17 anos, correspondendo a 64%. De acordo com Duarte & Formigoni (2011), os adolescentes passam por importantes mudanças biológicas, cognitivas, emocionais e sociais. Nesta fase da vida, ocorre a experimentação de novos comportamentos e vivências e algumas dessas experiências podem se constituir em fatores de risco para a saúde. É o caso da relação entre os mesmos com o consumo de bebidas alcoólicas. Outro fato que chamou atenção foi que 30% dos alunos consumiram bebida alcoólica pela primeira vez entre os 10 e 13 anos e 3% tinham ainda menos de 10 anos. Isso denota que crianças estão consumindo bebidas alcoólicas apesar do Estatuto da Criança e do Adolescente qualificar tal prática como crime que pode resultar em detenção de dois a quatro anos do vendedor, aplicação de multa de até R$10 mil ou interdição do local de venda. Foi perguntado aos alunos: “Onde você consumiu bebida alcoólica pela primeira vez?” e a maioria, 64%, respondeu que foi em uma festa, 21% disse

28 | Revista Feira de Ciência e Cultura

ter bebido em casa em comemorações familiares, 11% também em casa sozinho ou com amigos. Apenas 2% diz ter consumido bebida alcoólica pela primeira vez em um bar, enquanto outros 2% referem-se a outro lugar como local de seu primeiro contato com a droga em questão. O fato de os jovens terem esse primeiro contato com as bebidas alcoólicas em festa não surpreende, pois em nossa região é bem comum nestes eventos barracas e carrinhos que vendem indiscriminadamente o produto a qualquer pagante. Além desse acesso fácil, há um incentivo muito grande dos amigos que já bebem e das próprias músicas que tocam nas festas como “sertanejos universitários”, “funks” e “sofrências” que trazem em suas letras alusão ao consumo de álcool como solução para problemas emocionais, financeiros e até estéticos. Quando foi perguntado: “Você já se envolveu em alguma situação de risco estando sob o efeito de bebidas alcoólicas?”, 82% responderam que não, enquanto 18% responderam que sim. O custo social do uso abusivo de álcool é elevado, pois os adolescentes ficam mais expostos a situações de violência sexual e tendem a apresentar comportamento de risco, como praticar atividade sexual sem proteção, o que pode levar à gravidez precoce e à exposição a doenças sexualmente transmissíveis. O consumo de álcool entre 12 e 19 anos também eleva a probabilidade de envolvimento dos jovens em acidentes de trânsito, homicídios, suicídios e incidentes com armas de fogo. A mortalidade nessa faixa etária está intimamente ligada ao consumo precoce do álcool. Sendo assim, apesar da maioria dos entrevistados acreditarem não estarem expostos a situações de risco, pesquisas mostram justamente o contrário. A partir destes dados foi possível compreender melhor a realidade local, a relação dos jovens estudantes da escola com o consumo de bebidas alcoólicas e a relevância do projeto para uma possível reflexão e consequente mudança de postura. 3.2. Construindo conhecimento A partir da discussão destes dados, a problemática do consumo de bebidas alcoólicas foi


levada para as salas de aula onde foram montados grupos de discussão com os seguintes temas: 1. A influência da mídia no consumo de bebidas alcoólicas; 2. A relação de determinadas letras das músicas e o consumo do álcool; 3. Situações de risco a que os jovens se submetem ao ingerir bebidas alcoólicas; 4. Consequências biológicas do consumo de álcool a curto e longo prazo; 5. Consequências sociais e psicológicas do consumo de álcool. A metodologia utilizada teve como finalidade o debate, a pesquisa, a resolução de problemas e a construção de materiais sobre as temáticas propostas. Dessa forma, os alunos tiveram a oportunidade de aprender uns com os outros, empenhando-se para formar o pensamento crítico construído por meio de debates e reflexões. Essas discussões em sala de aula culminaram no desenvolvimento de metodologias ativas como seminários, apresentações teatrais, vídeos e paródias. 3.3. Compartilhando experiências e vivências No dia 18 de setembro de 2018 aconteceu a culminância do projeto com o título “Juventude e o consumo de álcool: suas escolhas delineiam o seu futuro”. Para tanto, os alunos fizeram apresentações de dança, música, paródias (Figura 01), teatro, e houve palestra com coordenadores do grupo “Alcoólicos Anônimos” e com a professora de Educação Física com o tema “O lazer e a cultura na promoção da saúde”. Ao organizarem as apresentações, os alunos tiveram a oportunidade de serem proativos, se envolvendo em atividades nas quais tiveram que tomar decisões e ser criativos. Concomitante ao que acontecia no palco da escola, em outro pátio foi instalada uma televisão na qual passavam ininterruptamente os vídeos que os alunos elaboraram dentro de suas temáticas. Foi montado também um painel onde os alunos colocaram imagens capturadas por eles mesmos através de seus celulares sobre cenas cotidianas nas quais as bebidas alcoólicas estavam presentes.

Figura 1: Apresentação de paródia dos alunos do 2º ano F sobre o consumo de álcool.

Apesar de a bebida alcoólica fazer parte de nossa cultura, é preciso analisar os malefícios que tal hábito pode trazer e adotar o costume de não beber ou, ainda, beber pouco. E, caso a decisão seja ingerir bebida alcoólica, quanto mais tarde isso ocorrer, melhor, assim o organismo estará preparado para fazer um consumo moderado, seguro e com responsabilidade. 4. Conclusão Portanto, considera-se que os objetivos deste trabalho foram alcançados à medida que foi dado a oportunidade aos alunos de conhecerem a realidade local a partir da análise dos questionários, acessarem informações consistentes através da pesquisa, exposição e discussão dos eixos temáticos em sala de aula, repensarem seus conceitos e práticas a partir da criação de paródias, textos, vídeos e desenvolver habilidades como oralidade, criatividade, proatividade, trabalho em grupo e liderança através da exposição dos resultados desse processo de aprendizagem para os demais colegas no evento específico. Conclui-se que a problemática das drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, deve ser tratada como problema de saúde pública e ser integrada às políticas governamentais

Revista Feira de Ciência e Cultura | 29


de saúde e educação. Somente a partir da base é que será possível construir valores nos jovens que primam por hábitos de vida saudáveis. 5. Referências AIRES, Sofia; NEVES, Sérgio; CÁLIX, Maria José; FIGUEIREDO, Cecília; SILVEIRA, Alzira. Alcoolismo na adolescência: a realidade de um Serviço de Pediatria. In: Nascer e Crescer. Vol. 23. N 1. Portugal, Porto: 2014. ANDRADE, AG; ANTHONY, JC; SILVEIRA, CM. Álcool e suas conseqüências: uma abordagem multiconceitual. São Paulo: Minha Editora: 2009. DUARTE, P.C.A.V.; FORMIGONI, M. L. O. S. Fé na Prevenção: prevenção ao uso de drogas em instituições religiosas e movimentos afins. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2011.

30 | Revista Feira de Ciência e Cultura


Resumo. O presente projeto foi desenvolvido por professores e alunos do ensino médio e teve o objetivo de potencializar hábitos e comportamentos saudáveis. As ações foram voltadas às práticas educativas, através de parcerias com instituições que abordaram sobre: prevenção às drogas e às IST/AIDS; prevenção e combate a incêndio; técnicas de primeiros socorros; importância da doação órgãos e tecidos; práticas de atividades físicas. Este trabalho contribuiu na formação do protagonismo dos educandos, para que eles saibam enfrentar as situações-problema do seu diaa-dia. A culminância ocorreu no 1º semestre letivo, onde foram expostos e apresentados artefatos e painéis para a comunidade escolar.

O projeto “Prevenir ou arriscar: potencializando o protagonismo dentro e fora da escola” foi materializado na disciplina Eletiva, denominada “Ação & Prevenção”, e teve o objetivo de potencializar hábitos e comportamentos saudáveis junto aos estudantes. As ações promovidas foram voltadas às diversas práticas educativas, tais como: prevenção às infecções sexualmente transmissível (IST)/ AIDS; doação de órgãos, tecidos e sangue; prevenção e combate a incêndio; técnicas de primeiros socorros; prevenção às drogas lícitas e ilícitas; importância das atividades físicas para a qualidade de vida.

1. Introdução

O projeto foi desenvolvido no 1º semestre de 2019, no Centro de Excelência José Rollemberg Leite, localizado em Aracaju/SE. Teve a participação voluntária de 46 alunos das três séries do ensino médio em tempo integral e de professores de Ciências da Natureza (Biologia, Física e Química), Linguagem (Educação Física) e Matemática. As ações do projeto foram efetivadas nos seguintes momentos: 1º momento- Reunião entre os professores para a seleção das temáticas; 2º momento - Apresentação e discussão das temáticas junto aos estudantes; 3º momento - Abordagem de conteúdos da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) referentes às componentes curriculares envolvidas; 4º momento Aplicação de questionário com perguntas sobre a saúde dos estudantes; 5º momento - Realização de ciclo de palestras; 6º momento - Divisão dos grupos de aluno, conforme as temáticas apresentadas ao longo do projeto,

O Ministério da Saúde (MS) preconiza que as vulnerabilidades produzidas pelo contexto social e as desigualdades resultantes dos processos históricos de exclusão e discriminação, determinam os direitos e as oportunidades dos jovens (BRASIL, 2016), dessa forma, a escola se apresenta como um ambiente de equidade, capaz de potencializar atitudes e comportamentos dos adolescentes, visto que os mesmos estão em processo de formação de pensamento crítico. Além disso, Camboin e Fernandes (2016) e Cavalcante e colaboradores (2008), relatam que o uso e o abuso de álcool e outras drogas também constituem as principais causas desencadeadoras dessas situações de vulnerabilidade, a exemplo dos acidentes, suicídios, violência, gravidez não planejada e a transmissão de doenças por via sexual e endovenosa, nos casos das drogas injetáveis.

2. Materiais e Métodos

Revista Feira de Ciência e Cultura | 31


a fim de construir painéis, gráficos, tabelas e artefatos para a culminância; 7º momento - Culminância do projeto na 5ª Mostra das disciplinas Eletivas do semestre letivo. 3. Resultados e discussão 3.1. Apresentação das temáticas e dos conteúdos da BNCC As temáticas desenvolvidas no presente projeto foram selecionadas e discutidas junto à equipe de professores. Foi solicitado que os estudantes formassem grupos de trabalho, os quais estariam juntos ao longo do projeto. Cada grupo recebeu um questionário sobre uma das temáticas, a fim de promover um debate entre os componentes. Após as discussões, os alunos socializaram os conhecimentos prévios sobre as temáticas. Os conteúdos relacionados à BNCC foram apresentados a cada temática trabalhada: na Biologia e na Química foram trabalhados os efeitos e as consequências das drogas lícitas e ilícitas, os porquês da legalização ou não da maconha, a anatomia humana, os tipos e combinação sanguínea, os métodos preventivos de gravidez e de infecções na relação sexual, componentes químicos dos extintores de incêndio; na Educação Física foi abordada a importância do alongamento e do aquecimento antes e depois de atividades físicas, as causas e consequências da obesidade e como desenvolver hábitos saudáveis; na Física e na Matemática foram discutidos o cálculo de IMC, análises e construção de gráficos e tabelas. 3.2. Ciclo de palestras As instituições convidadas ministraram palestras no auditório e no pátio da escola. Na palestra sobre Doação de órgãos e tecidos (Figura 1 A-B), o Enfermeiro Benito Fernandes (coordenador da Central de Transplantes de Sergipe), apresentou os órgãos e tecidos possíveis de doação, os procedimentos legais e o tempo para realizar o transplante após o óbito. O coordenador enfatizou sobre a importância da mobilização dos jovens junto a seus familiares. Houve um momento de muita interação entre os alunos e o palestrante.

32 | Revista Feira de Ciência e Cultura

Figura 1 (A-B): Interação entre os estudantes e o Enf.º Benito Fernandes. Fonte: Arquivo do autor.

As palestras sobre Prevenção e Combate a Incêndio e Técnicas Básicas de Primeiros Socorros foram apresentadas pelos Subtenentes Nunes e Marinho, militares do Corpo de Bombeiros. Durante as abordagens, os estudantes fizeram diversos questionamentos e participaram ativamente das dinâmicas promovidas pelos militares (Figura 2A-C). Foi um momento de muito aprendizado sobre os cuidados com o botijão de gás de cozinha, classes e utilização dos extintores de incêndio, procedimentos em caso de primeiros socorros com queimaduras, fraturas, engasgos, desmaios e outros.


Figura 2 (A-B-C): Prevenção e combate a incêndio com subtenente Marinho (A); Técnicas de primeiros socorros (B) e Palestra sobre queimaduras (C) com subtenente Nunes. Fonte: Arquivo do autor.

Para a palestra sobre Prevenção às Infecções Sexualmente Transmissível (IST)/Adis e Hepatite Virais, o convidado foi o Dr. Almir Santana, coordenador do programa junto à Secretaria Estadual de Saúde. O médico abordou sobre a importância do uso de preservativos (masculino e feminino) nas relações sexuais e a estatística de pessoas com HIV/Aids no Brasil (Figuras 3A-B). Em Sergipe houve aumento de casos, principalmente entre os jovens. Apesar de ser uma temática bastante corriqueira, os alunos ainda tinham dúvidas de como se pega o vírus e quais os tratamentos para a síndrome.

Figura 3 (A-B): Interação entre os estudantes e o Dr. Almir Santana. Fonte: Arquivo do autor.

Uma das temáticas de maior atenção foi a Prevenção às Drogas Lícitas e Ilícitas, pois essa é uma problemática que afeta muitos jovens, independente da classe social, sexo e raça. Os debates foram conduzidos pelos professores Celso Freitas (Biologia) e Givanildo Batista (Química) (Figura 4A) e pela bolsista do Programa Residência Pedagógica de Química da UFS, Tâmiris Venâncio (Figura 4B). No questionamento sobre a legalização da maconha, as opiniões foram bastante controversas. Os estudantes também tiveram conhecimento sobre os métodos para detectar o uso de drogas lícitas e ilícitas, as causas da dependência, entre outras indagações.

Revista Feira de Ciência e Cultura | 33


Figura 4 (A-B): Interação entre estudantes, professores e bolsista da UFS: Arquivo do autor.

3.3. Culminância do projeto Os alunos expuseram painéis com informações e imagens das temáticas trabalhadas. Além disso, apresentaram a roleta sobre IST/Aids, a maquete de um centro de reabilitação e simulação de drogas, dinâmica com bexigas sobre doação de órgãos, exposição de extintores e experimento com extintor caseiro, atividades aeróbicas com professor visitante; realização do IMC (índice de massa corpórea) e medição da pressão arterial dos visitantes (Figura 5).

34 | Revista Feira de Ciência e Cultura

Figura 5: Momento de culminância da disciplina Eletiva “Ação & Prevenção”. Fonte: Arquivo do autor.

4. Conclusão Os adolescentes estão em processo de construção de sua identidade, por isso, é imprescindível que ações como as apresentadas no presente projeto sejam potencializadas no ambiente escolar. Além da aquisição de informação, os estudantes também atuaram


de forma protagonista em todas as temáticas abordadas, as quais os mobilizaram quanto à “ação” e “prevenção” em diversas situações dentro e fora do espaço da escola. A perspectiva é que novas ações sejam realizadas, como visitas pedagógicas às instituições, confecção de folhetos informativos e envolvimento de outras áreas de conhecimento. 5. Referências BRASIL. Diretrizes para implantação do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde. 24 p. 2006. BRASIL. Política Nacional de Saúde mental, álcool e outras drogas. Disponível em: http://www.saude.gov.br/politica-nacional-de-saudemental-alcool-e-outras-drogas. Acesso em 20/06/2019. CAMBOIN, Franciele Foschiera; FERNANDES, Luciana Magnani. Primeiros Socorros para o ambiente escolar. Porto alegre: Evangraf, 80p, 2016. CAVALCANTE, Maria Beatriz de Paula Tavares et. al. Adolescência, álcool e drogas: uma revisão na perspectiva da promoção da saúde. Esc Anna Nery Rev Enferm. set; 12 (3): p.555-59, 2008.

Revista Feira de Ciência e Cultura | 35


Resumo. Este artigo é resultado de um projeto de iniciação científica que teve como objetivo apresentar estratégias de educação ambiental para alunos do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe, com a finalidade de conservar o patrimônio ambiental escolar. A pesquisa foi desenvolvida pela equipe formada por duas professoras de Geografia e duas alunas do ensino médio, bolsistas de PIBICJr/Fapitec/CNPq. Para alcançar o objetivo, foram realizados levantamento bibliográfico, aplicação de questionário aos estudantes e participação em oficinas de revitalização do ambiente escolar. Logo, ao fim da pesquisa foram elaboradas estratégias de educação ambiental para que os alunos pudessem criar laços de intimidade com a escola, aumentar o interesse e cuidado com o espaço e patrimônio escolar. 1. Introdução A educação ambiental assinala para propostas pedagógicas voltadas para conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação dos educandos no espaço geográfico. Tais mudanças podem ser bem estimuladas no espaço mais próximo, ou seja, no espaço escolar, no espaço cotidiano. Desse modo, a educação ambiental crítica tenta despertar a consciência de que o ser humano é parte do meio ambiente, ao buscar superar a visão antropocêntrica, que fez com que o homem se sentisse sempre o centro de tudo, esquecendo a importância da natureza, da qual é parte integrante. O principal eixo de atuação da educação ambiental deve estar vinculado, acima de tudo, à solidariedade, à igualdade e o respeito à diferença através de formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. Isto se

36 | Revista Feira de Ciência e Cultura

consubstancia na finalidade de criar novas atitudes e comportamentos diante do consumo na nossa sociedade e de estimular a mudança de valores individuais e coletivos (JACOBI, 2003). Oliveira (2002) elucida que a tomada de consciência deve ser considerada não como uma simples informação dada pela percepção, mas basicamente uma conceituação, pois, essa tomada de consciência ocorre quando o indivíduo procura transformar a situação ou o acontecimento em graus conceituais, em vez de simplesmente registrar as mudanças. É preciso, portanto, o exercício pleno de nossa cidadania em um processo de conscientização (consciência + ação)” (GUIMARÃES, 2003, p. 102). Neste contexto, o presente projeto objetivou apresentar estratégias de educação ambiental para alunos do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe com a finalidade de conservar o patrimônio ambiental escolar. 2. Materiais e Métodos A pesquisa foi desenvolvida por uma equipe formada por duas professoras de Geografia e duas alunas do ensino médio do Colégio de Aplicação, ambas bolsistas de PIBICJr/Fapitec/CNPq. Para alcançar o objetivo citado, inicialmente foi realizado levantamento bibliográficos e fichamentos sobre a iniciação científica, educação ambiental, cotidiano, espaço geográfico, cidadania, conservação do patrimônio público, entre outros conceitos. Essa fase de reflexão teórica é crucial para o entendimento dos alunos acerca do se tornar pesquisador, do que é fazer uma pesquisa científica, da importância da leitura e dos fichamentos de artigos


científicos acerca da temática que envolve o objeto de estudo, tornando possível a aproximação da teoria com a realidade. Além do estudo teórico outros procedimentos foram realizados, tais como: a) elaboração e aplicação de questionário aos estudantes e servidores - a fim de verificar a percepção sobre educação ambiental; b) rodas semanais de debates com a equipe do projeto (com o objetivo de aprofundar o conhecimento teórico e prático sobre o assunto); c) identificação e estudo de problemas presentes no ambiente escolar do CODAP relacionados à educação ambiental e à conservação do patrimônio escolar (com caráter educativo e colaborativo); d) elaboração das estratégias de divulgação da educação ambiental na escola (participação em ações de conscientização ambiental sobre o uso da água, descarte do lixo, cuidado com o patrimônio escolar); e) aplicação das “estratégias” em oficinas realizadas no final do semestre letivo envolvendo toda a comunidade escolar; f) análise dos dados; g) escrita do relatório final com os resultados da pesquisa e publicação do texto final. 3. Resultados e discussão As discussões, reuniões e palestras a favor da educação ambiental vem sendo cada vez mais difundidas na sociedade, despertando nas pessoas a necessidade da conservação dos recursos naturais. Entretanto, os índices de destruição da natureza permanecem elevados, uma vez que a mesma é explorada como um recurso inesgotável, sem que haja preocupação com equilíbrio ecológico, ocasionando graves problemas ambientais da atualidade. Osorio (2015) pontua que não existe a separação entre natureza e a sociedade, pois a sociedade compõe e altera diretamente a natureza. No entanto, é dito diariamente pelo senso comum que deve existir uma heterogeneidade entre a sociedade e a natureza. Por causa desse mito, a sociedade está degradando a natureza, por uma sensação de não-pertencimento ao ambiente natural ou ao meio ambiente. Por isso, ressalta-se a importância da educação ambiental crítica que é a vertente da educação

originada do desejo de transformação a partir da crise socioambiental e visa um trabalho com atividades educativas construtivistas, a exemplo da aproximação entre a geografia escolar/educadora com a educação ambiental. Ainda de acordo com Osorio (2015) os conceitos geográficos, espaço geográfico, lugar, paisagem e território: “mesmo não sendo utilizados somente pela geografia adquirem importância maior quando abordados na análise do espaço geográfico, sendo essenciais na construção do pensamento geográfico na escola, e, da mesma forma, na mudança de “lentes” pretendida pela educação ambiental” (OSORIO, 2015, P. 263). De acordo com Morin (1997) a compreensão de mundo fragmentado não dá conta de estabelecer uma relação equilibrada entre indivíduos em sociedade na natureza, apesar do papel dos educadores que buscam desenvolver atividades reconhecidas como de educação ambiental apresentarem uma prática informada pelos paradigmas da sociedade moderna. Nessa perspectiva, é importante acreditar que os indivíduos são capazes de atuar de forma crítica se reconhecendo como parte do ambiente em que vivem, ao conseguirem pensar em soluções para os problemas e dar importância aos mesmos. A esse respeito, quando questionados sobre ser parte integrante e importante do ambiente escolar, 4,1% dos estudantes do Colégio de Aplicação pesquisados responderam negativamente, 37,8% responderam que não sabiam opinar, porém 51,8% responderam positivamente. Apesar do considerável percentual de alunos que se identificam pertencentes ao ambiente escolar, nota-se que há uma parcela que ignora o problema, por falta de conhecimento ou falta de interesse sobre o assunto. Por mais que nesses últimos anos estejam ocorrendo mais discussões sobre a conservação e preservação ambiental, existe a sensação de que não está havendo avanço e/ou mudança de atitudes, pois a evolução está acontecendo apenas na mente da população. Para que haja mudança de comportamento

Revista Feira de Ciência e Cultura | 37


da sociedade em geral no quesito socioambiental é necessário que os educadores estimulem uma visão global e crítica das questões ambientais, a fim de promover um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes. JACOBI (2004) coloca que o educador tem a função de mediador na construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito de educação ambiental Na presente pesquisa, em sintonia com o enfoque interdisciplinar e o resgate dos saberes ambientais, foram promovidas ações que culminaram na revitalização das áreas de convivência da escola. Nessas ações, alunos e servidores participaram de diversas oficinas produzindo móveis, jogos, decoração, utilizando materiais recicláveis como garrafas pets, pallets e madeiras. Atividades coletivas, nas quais foram colocados em prática os conceitos de educação ambiental trabalhados na pesquisa, como mostra a figura 01 a seguir.

público fazer algo em prol do ambiente, mas de toda coletividade. De acordo com o resultado da pesquisa com os estudantes, pôde-se comprovar a ideia de que para melhorar a educação é preciso esforço e comprometimento na transformação da realidade a partir do uso de novas práticas ambientais, como demonstram os dados em que 90,5% dos estudantes disseram que a solução dos problemas ambientais depende das pequenas ações do dia-a-dia, 5,4% responderam que depende do governo e 4,1% não souberam responder. Nesse sentido, Loureiro (2004) afirma que a educação não é o único, mas certamente é um dos meios de atuação pelos quais nos realizamos como seres em sociedade ao propiciarmos vivências de percepção sensível; ao exercitarmos nossa capacidade de definirmos conjuntamente os melhores caminhos para a sustentabilidade da vida; e ao favorecermos a produção de novos conhecimentos que nos permitam refletir criticamente sobre o que fazemos no cotidiano. 4. Conclusão

Figura 1: Oficinas de revitalização do espaço de convivência do CODAP/UFS. Fonte: SANTOS, 2018.

A cidadania se alicerça na participação de uma comunidade unida em função de interesses coletivos, fato que ficou mais evidente ao final das oficinas, pois a comunidade escolar pôde vivenciar na prática ações coletivas em prol do bem-estar escolar, colocando em evidência que não é somente responsabilidade do poder

38 | Revista Feira de Ciência e Cultura

Projetos que envolvem temáticas acerca da educação ambiental através do olhar geográfico e/ ou interdisciplinar favorecem a mudança de valores e o aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas para estimular uma maior integração e harmonia dos indivíduos com o meio ambiente. Além disso, a participação em projetos dessa natureza, possibilita que as crianças e jovens se sintam parte integrante do todo, do espaço, estabelecendo assim uma relação de intimidade com o ambiente mais próximo, o lugar, e perceba como suas ações cotidianas podem modificar o espaço que o cerca, a paisagem. Logo, deve-se pensar em métodos para que os alunos criem laços de intimidade com a escola para que surja o interesse e o cuidado com o meio ambiente, meio que o cerca cotidianamente. Estreitar os laços de intimidade (a partir da participação em oficinas e atividades de monitoria) é um exemplo de estratégia


que possibilitará uma identificação com o ambiente e a construção do sentimento de pertencimento. Nesse sentido, o CODAP se tornará um colégio que os alunos além de amar, cuidar e conservar como um lugar de harmonia e um modelo para os outros colégios de Sergipe. 5. Referências JACOBI, Pedro. Educação e meio ambiente – transformando as práticas. In: Revista de Educação Ambiental, Vol. II, n. 0, nov, 2004. _____. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. In: Caderno de pesquisa (118): 189, mar. 2003. GUIMARÃES, Mauro. Sustentabilidade e educação ambiental. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. (Orgs.). A Questão Ambiental: diferentes abordagens. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, pp. 81106. LOUREIRO, Carlos Frederico B. Educar, participar e transformar em educação ambiental. Revista de Educação Ambiental, Vol II, n. 0, nov, 2004. MORIN, E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. OLIVEIRA, L. de. Ainda sobre percepção, cognição e representação na geografia. In: KOZEL, Salete; MENDONÇA, F. (orgs.). Elementos de epistemologia da Geografia contemporânea. Curitiba: ED. UFPR, 2002, pp.189-196.

Revista Feira de Ciência e Cultura | 39


Resumo. Este trabalho foi realizado no CEDJA (SE), junto aos alunos do ensino médio integral. Objetivamos aprofundar os conhecimentos sobre Educação Ambiental, envolvendo os alunos no processo de sensibilização e práticas ambientais. A metodologia foi fundamentada pela pesquisa bibliográfica, fichamentos, discussões de materiais teóricos, aplicações de questionários e intervenções. As discussões teóricas perpassaram pela abrangência da Educação Ambiental. As práticas de intervenções artísticas envolveram pesquisas de materiais, estudos de cores e técnica de estêncil. Observamos a inserção da comunidade escolar e local nas ações da escola, fortalecendo a perspectiva de educar para cidadania e consolidando o protagonismo juvenil. 1. Introdução No contexto escolar, o desenvolvimento da Educação Ambiental é compreendido como uma das mais significativas possibilidades de provocar mudanças na forma de pensar e agir dos sujeitos com relação ao meio ambiente. A Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999a), estabelece a obrigatoriedade da Educação Ambiental em todos os níveis do ensino formal da educação brasileira. Em outro aspecto legal, o tema “meio ambiente” é considerado como um dos temas transversais sugeridos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1997), justificando a inserção do tema, inclusive, no ensino de Arte. Nesse âmbito, diante do processo de degradação e conflitos de interesses que envolvem o meio ambiente, a escola se apresenta como um espaço legitimado para a criação de condições e alternativas que estimulem os alunos a terem percepções e posturas cidadãs, críticas e cientes de suas

40 | Revista Feira de Ciência e Cultura

responsabilidades em relação ao meio ambiente (DOS SANTOS, 2018). As inquietações provocadas em consequência das problemáticas socioambientais na comunidade Taiçoca, localizada no município de Nossa Senhora do Socorro (SE), nos motivaram a propor ações coletivas de cunho pedagógico junto aos alunos das terceiras séries do Ensino Médio Integral do Centro de Excelência Deputado Jonas Amaral (CEDJA), que atuaram como agentes disseminadores do processo de Educação Ambiental (EA). Desde o ano de dois mil e dezesseis, projetos sistematizados e interdisciplinares na área de educação ambiental têm propiciado espaços importantes de discussões e reflexões sobre práticas cotidianas que influenciam o meio ambiente. Além disso, temos desenvolvido atividades com foco no desenvolvimento sustentável da comunidade local. Ao longo desse percurso, instigamos um olhar para a construção de uma Educação Ambiental crítica, tomando como referência: a sustentabilidade, os resíduos sólidos, conservação e preservação do ambiente escolar, reciclagem e reaproveitamento de materiais. Portanto, propomos a continuidade dessas atividades formativas. Dentre elas, destacamos o projeto intitulado “Fazer o bem, que mal tem?”, que ganhou espaço na Revista Feira de Ciência e Cultura em 2018. 2. Materiais e Métodos Este projeto foi realizado pelos professores de Arte e Química entre os meses de maio de 2018 e agosto de 2019. Participaram de sua execução dois alunos bolsistas do PIBIC Jr, selecionados por meio de requisitos específicos do programa e vinte e um alunos voluntários das terceiras séries do Ensino Médio Integral, ambos com faixas etárias entre 15 e


19 anos, apresentando perfis de jovens protagonistas e colaboradores da comunidade local. Durante os sete primeiros meses, o trabalho contou exclusivamente com os alunos bolsistas, respaldados em pesquisas bibliográficas sobre Educação Ambiental e suas contribuições para intervenções na escola. Realizamos reuniões em horários de intervalos e sábados letivos, que nos ajudaram a sistematizar e discutir o material fichado, fundamentando-nos em descrições e observações de forma crítica da comunidade local. No segundo momento, alunos voluntários foram integrados e em conjunto com os alunos bolsistas, participaram das atividades propostas. A priori, os pesquisadores bolsistas organizaram rodas de conversas sobre o trabalho em andamento para a formação desses novos participantes. Estudando os princípios da Educação Ambiental, o grupo formulou um questionário para uma entrevista semiestruturada com o intuito de avaliar o nível de contato dos entrevistados (discentes e comunidade local) acerca da temática e, nessa perspectiva, desenvolver uma alfabetização científica baseada na relação sociedade versus meio ambiente. A pesquisa trouxe três questões objetivas: faixa etária, nível de escolaridade e algum conhecimento sobre Educação Ambiental; e uma subjetiva, trazendo sugestões de ações naquela comunidade. Num período de quarenta e cinco dias, foram aplicados vinte questionários na escola, com alunos do sétimo ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio, e dezenove questionários com moradores do entorno da escola. A tabulação de resultados norteou a fase de planejamento de atividades de intervenção, abrangendo sensibilizações com alunos e comunidade local e atividades artísticas. As fases de pesquisa foram acompanhadas pelos professores orientadores, que registraram todas as ações por meio de fotografias e pequenos vídeos.

Gráfico 1: Perfil dos alunos entrevistados em relação à faixa etária.

A aplicação dos questionários foi bem aceita uma vez que a grande maioria dos alunos colaborou de forma efetiva. Observa-se no Gráfico 1 que 85% dos alunos entrevistados têm idade entre 15 e 18 anos e 15% dos alunos entrevistados entre 19 e 21 anos.

Gráfico 2: Nível de escolaridade dos estudantes

3. Resultados e discussão Os dados levantados foram tratados e os resultados foram apresentados em gráficos, possibilitando assim uma melhor visualização dos mesmos.

Gráfico 3: Contato dos entrevistados com Educação Ambiental

Revista Feira de Ciência e Cultura | 41


As informações constataram (segundo gráficos 1, 2 e 3) que a maior parte dos alunos entrevistados do CEDJA, independente da faixa etária e da respectiva série, já tinha ouvido falar em Educação Ambiental. Isso é um reflexo das atividades formativas e projetos com a temática Educação Ambiental que foram desenvolvidos na escola ao longo desse período.

Gráfico 4: Perfil dos moradores do entorno da escola entrevistados em relação à faixa etária.

Verificamos que dos moradores entrevistados, quase metade (47%) possui mais de 31 anos. Outra parcela dos moradores entrevistados têm idades entre 15 e 18 anos. E a última fração, correspondendo a 16%, possuem idades entre 19 e 30 anos.

Gráfico 5: Nível de escolaridade da comunidade local

A respeito do nível de escolaridade (gráfico 5), observamos que 42% dos entrevistados apresentam o ensino fundamental incompleto; 37% com ensino médio incompleto; 21% com ensino médio completo e

42 | Revista Feira de Ciência e Cultura

nenhum dos entrevistados com ensino superior. Desses, 64% afirmaram que já ouviram falar sobre Educação Ambiental e 36% enfatizaram que a desconheciam (gráfico 6). Porém, os resultados sobre esse contato com a EA foram questionados pelos pesquisadores, haja vista que durante as conversas informais, afirmaram que, independentemente do nível de escolaridade e faixa etária, os entrevistados não souberam falar sobre o tema.

Gráfico 6: Contato dos entrevistados com Educação Ambiental

Diante da percepção de se expandir momentos formativos sobre a Educação Ambiental, iniciamos rodas de conversas com todos os alunos do CEDJA, entendendo que esses também difundiriam as informações entre seus familiares, colegas e vizinhos. E conforme a pesquisa, desenvolvemos as práticas na praça da escola (Figura.1) e dessa maneira transformamos todos os bancos e placas de sinalização que, em sua maioria, encontrava-se pichados, utilizando técnica de estêncil e pinturas mistas. Em frente ao portão principal da escola, criamos a instalação artística “O lúdico é ser consciente” (Figura.2), cuja proposta agregou pneus pintados, colocados emparelhados no caminho de acesso à escola, e dentre eles, criamos jogos direcionados por palavras e frases sobre a Educação Ambiental, além da confecção de flâmulas para os portões da escola, sugerindo que “levantamos as bandeiras por essa causa”. No espaço onde era comum o acúmulo de lixo, a instituição escolar providenciou um latão para os resíduos sólidos, evitando os descartes em praça pública, e complementamos com placas informativas, utilizando materiais reutilizáveis.


Todo esse processo teve a parceria do Curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Sergipe.

Figura 2: Etapas da instalação artística “O lúdico é ser consciente”. (Fonte: Acervo Particular. Foto: Cristiane Cardoso, 2019)

Figura 1: Intervenção artística na praça da escola. (Fonte: Acervo Particular. Foto: Cristiane Cardoso, 2019)

Consideramos que o projeto surtiu um resultado satisfatório, principalmente quando os alunos se somaram de maneira voluntária aos estudantes bolsistas. Vale ressaltar que a junção do tema transversal “Educação Ambiental com Arte” possibilitou à comunidade escolar reflexões a respeito da problemática do lixo; capacitou multiplicadores para implementação de ações que visem Revista Feira de Ciência e Cultura | 43


a gestão integrada de resíduos e buscou multiplicadores para processo de educação/conscientização da população sobre a importância da redução, reutilização e reciclagem de resíduos. 4. Conclusão Reiteramos a valorosa contribuição dessa pesquisa como objeto de conhecimento e prática de métodos científicos, haja vista que de forma sistematizada e, observando as especificidades da comunidade local, suscitamos em nossos alunos o espírito investigativo e crítico sobre o ambiente em que estão inseridos. Conforme os próprios relatos, não só os discentes foram beneficiados, mas também a comunidade local, uma vez que por meio de conversas e participação nas intervenções já obtivemos algumas mudanças de posturas naquela localidade. A praça da escola está mais bonita e colorida e até o momento as pinturas continuam intactas. As crianças e adolescentes daquela redondeza interagem positivamente com a instalação artística, o que nos leva considerar que estão em processo contínuo de aprendizado sobre a Educação Ambiental. As placas foram arrancadas por alguns animais que também permanecem naquela localidade, mas o excesso de lixo diminuiu consideravelmente após o trabalho de intervenção. Por fim, concluímos que embora tenhamos promovido discussões salutares sobre os impactos da Educação Ambiental na escola e na comunidade, ainda percebemos a necessidade de insistir e continuar desenvolvendo ações dessa natureza, pois essa temática é abrangente e associada a minúcias do nosso dia-a-dia. Para tanto, estamos convictos do papel desempenhado pelos nossos alunos de cidadãos conscientes, mobilizadores e protagonistas do meio em que estudam. 5. Referências BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução. Brasília: MEC/SEF, 1997. BRASIL. Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, MEC, 1999a.

44 | Revista Feira de Ciência e Cultura

DOS SANTOS, Julio Gomes; RODRIGUES, Cae. Educação ambiental no ensino de Química: a “água” como tema gerador Environmental education in the teaching of Chemistry: “water” as a generative theme Educación ambiental en la enseñanza de Química: la “agua” como tema generador. REMEA - Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, [S.l.], v. 35, n. 2, p. 62-86, ago. 2018. ISSN 1517-1256. Disponível em: <https://periodicos.furg.br/remea/article/ view/7643>. Acesso em: 15 ago. 2019. doi:https://doi.org/10.14295/ remea.v35i2.7643.


Resumo. AO trabalho foi desenvolvido com uma turma de segundo ano do ensino médio do Colégio Estadual Edélzio Vieira de Melo, no município de Capela. O objetivo foi de provocar a reflexão sobre a destinação correta das embalagens plásticas consumidas na escola e no seu entorno, como também de informar sobre o impacto ambiental gerado pelo descarte incorreto, utilizando-se de uma intervenção interdisciplinar. Inicialmente, a classe foi dividida em grupos de cinco alunos para a realização de uma pesquisa sobre polímeros naturais e artificiais, suas aplicações e importância para a sociedade contemporânea. O segundo momento envolveu curtas metragens, retirados do YouTube, sobre algumas problemáticas que envolvem o uso destes materiais. Para embasar as discussões foram selecionados artigos científicos, do Google Acadêmico, com foco na reciclagem, produção de plásticos biodegradáveis e no consumo sustentável. A atividade final envolveu uma campanha sobre o uso consciente e os impactos no meio ambiente, utilizando-se da linguagem publicitária. 1. Introdução O contato dos estudantes do ensino médio do Colégio Estadual Edélzio Vieira de Melo (CEEVM), no município de Capela, com a metodologia científica é restrito às atividades de pesquisa descritas nos livros didáticos. Essa atitude impede a reflexão e a problematização de situações do dia a dia, que são tão importantes para uma educação científica. Nesse sentido, buscou-se promover uma intervenção pedagógica utilizando a abordagem da Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), a interdisciplinaridade e a contextualização para conectar os diferentes campos do conhecimento e tendo o plástico como tema gerador.

O plástico é um material bastante presente no mundo contemporâneo, estando ligado direta e/ ou indiretamente a vários produtos manufaturados. No processo de polimerização, por exemplo, as resinas plásticas são utilizadas em diversos setores: embalagens de alimentos, objetos na construção civil, equipamentos na indústria automobilística, próteses na medicina, estufas na agricultura, entre outros. Mas, o aspecto negativo que envolve a degradação do material precisa ser ressaltado, seja com estratégias que promovam a reflexão sobre o consumo consciente, por exemplo, ou por incursões a diferentes sistemas de informações. O objetivo principal do trabalho foi provocar a reflexão sobre a destinação correta das embalagens plásticas consumidas na cidade de Capela - SE, como também de informar sobre o impacto ambiental gerado pelo descarte incorreto, através de uma intervenção que contempla o ensino/aprendizagem e que rompe com o tradicionalismo acadêmico. O combate ao ensino tradicional é urgente no mundo contemporâneo. Em pleno século XXI ainda existem escolas “engessadas” por um currículo que não coloca o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem. Neste contexto os estudantes encontram uma contradição, pois atuam em um cenário social vivo e atraente e visitam uma escola monótona e desestimulante. Para Moran (2012, p. 8): […] Temos de oferecer-lhes uma educação instigadora, estimulante, provocativa, dinâmica, ativa desde o começo e em todos os níveis de ensino. Milhões de alunos estão submetidos a modelos engessados, padronizados, repetitivos, monótonos, previsíveis, asfixiantes. Sobre o modelo tradicional de ensino e aprendizagem, Antunes (2010, p. 17) comenta:

Revista Feira de Ciência e Cultura | 45


[…] Nessa visão de ensino aplaudia-se o silêncio, e a imobilidade do aluno e a sapiência do mestre, além de se pensar o conhecimento como informações préorganizadas e concluídas que se passavam de uma pessoa para outra, portanto, de fora para dentro, do mestre para o estudante. Ensinar significava difundir o conhecimento, impondo normas e convenções para que os alunos o assimilassem. Estes levavam para a escola a boca – porque da mesma não podia se separar – mas toda a aprendizagem dependia do ouvido, reforçado pela mão na tarefa de copiar. […] Excelente professor era o que mais sabia e não quem melhor ensinava, pois a aprendizagem era uma responsabilidade do aluno e se este não a conquistasse, que repetisse o ano tantas vezes quanto necessário ou quando pudesse resistir”. A escola não atrai seus alunos, portanto precisa se reinventar e tornar-se mais dinâmica ao olhar do educando. 2. Materiais e Métodos O trabalho foi iniciado com um questionário para coletar a visão que um grupo de estudantes, da segunda série do ensino médio do CEEVM, traziam sobre plásticos e seus impactos na sociedade contemporânea. Em seguida, uma pesquisa bibliográfica foi proposta usando o endereço eletrônico: “Movimento Plástico Transforma”. O intuito era demonstrar algumas das aplicações deste material no cotidiano e sua importância para os seres humanos. A pergunta proposta como problematização foi: “É possível viver sem plástico?”. Por fim, solicitou-se aos estudantes a construção de um texto argumentativo. Com a contribuição dos professores de história, sociologia e geografia, promovemos um debate sobre a descoberta do plástico, os benefícios para a humanidade e a sociedade capitalista, como também os impactos para o meio ambiente. Alguns vídeos do YouTube, destacando os efeitos do uso do plástico na sociedade, foram apresentados.

46 | Revista Feira de Ciência e Cultura

Para sustentar e qualificar a argumentação foram selecionados artigos científicos (Google Acadêmico), com foco na reciclagem, produção de plásticos biodegradáveis e no consumo sustentável. Como atividade final, promoveu-se uma campanha sobre o uso consciente e os danos no meio ambiente, utilizando-se da linguagem publicitária. Os grupos, constituídos por 5 alunos, foram estimulados a construírem slogans, materiais de divulgação e difundir o aprendizado pelas redes sociais. O trabalho encontra-se em fase de finalização. Os participantes da pesquisa foram identificados pela letra “s” maiúscula, seguida de um número, logo o sujeito 1 foi representado por S-1. 3. Resultados e discussão De posse das respostas coletadas, sobre as impressões que os estudantes traziam sobre plásticos e seus impactos na sociedade contemporânea, foi possível perceber uma visão simplista, que é característica de um entendimento conhecido como “senso comum”, mas que deve ser considerado e respeitado (CHASSOT, 2008). Assim sendo, acreditamos e defendemos a visão de Gondim e Mól (2009, p. 2) de que a escola é o local de mediação entre a teoria e a prática, o ideal e o real, o científico e o cotidiano”. O nordeste brasileiro, como outras regiões do país, é composto por diferentes contextos sociais, com uma grande diversidade cultural e de interpretações distintas sobre o mundo. Nessa perspectiva, a escola deve estimular a interlocução de saberes, considerando os aspectos culturais da comunidade na qual está inserida. Na tabela 1, destacamos algumas das respostas consideradas mais significativas, pois apesar do conteúdo ser parte do currículo do terceiro ano do ensino médio foi possível encontrar percepções mais elaboradas. O sujeito S-5, por exemplo, confundiu plástico com “molécula” e destacou o efeito negativo para as tartarugas. Enquanto, que S-14 afirmou que o descarte incorreto traz problemas para a comunidade.


Tabela 1: Algumas respostas sobre Plástico e os impactos na sociedade

Para promover o contato dos estudantes com o conhecimento científico utilizamos a contextualização. Para Kato (2007, p.10), no ensino de ciências, é preciso conhecer as concepções para melhor utilizálas. Contudo, a contextualização esteve presente nas propostas de reforma do ensino médio, desde a década de 90. A contextualização aparece nos documentos oficiais, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (Brasil, 1996); nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – DCNEM (Brasil, 1998); nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio – PCNEM (Brasil, 1999a), e ultimamente, recebeu destaque na Base Nacional Curricular Comum – BNCC (Brasil, 2018): A contextualização social, histórica e cultural da ciência e da tecnologia é fundamental para que elas sejam compreendidas como empreendimentos humanos e sociais. Na BNCC, portanto, propõe-se também discutir o papel do conhecimento científico e tecnológico na organização social, nas questões ambientais, na saúde humana e na formação cultural, ou seja, analisar as relações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente. A contextualização dos conhecimentos da área supera a simples exemplificação de conceitos com fatos ou situações cotidianas. Sendo assim, a aprendizagem deve valorizar

a aplicação dos conhecimentos na vida individual, nos projetos de vida, no mundo do trabalho, favorecendo o protagonismo dos estudantes no enfrentamento de questões sobre consumo, energia, segurança, ambiente, saúde, entre outras (BNCC, 2018, p.549). Lopes (2002, p. 390) destaca que a contextualização nos documentos oficiais envolve a valorização dos conhecimentos prévios do cotidiano. E, Pellegrin e Damazio (2015, p.16), entendem a contextualização para o ensino de ciências como uma contribuição para a formação de um aluno que participe da sociedade. Após o debate interdisciplinar e os vídeos do YouTube, uma atividade em grupo envolveu a reflexão de como seria o dia a dia dos consumidores sem as embalagens plásticas que protegem os alimentos. Em seguida, alguns produtos consumidos pelos estudantes foram separados. A simbologia que envolve a identificação dos plásticos para facilitar a separação e a reciclagem, pode ser observada na Figura 01.

Figura 1: Símbolos de identificação dos materiais plásticos (ABNT NBR 13230) Fonte: COLTRO e DUARTE (2013, p. 128-134)

Com a atividade de identificação da simbologia presente nas embalagens dos alimentos, foi possível perceber que os estudantes não conseguem entender a Química como uma ciência alinhada com as tecnologias mais avançadas do mundo e que estão presentes em suas vidas. Portanto, acreditamos ser preciso motivar os estudantes e ajudá-los a ter contato com esta realidade.

Revista Feira de Ciência e Cultura | 47


Para Chassot (2018, p.75): […] Não cabe um conhecimento de química desencarnado, como se a Química fosse pura (na acepção de boa e maravilhosa, como costuma, às vezes, ser pintada) e neutra. A transmissão desse conhecimento deve ser encharcada na realidade, o que não significa o reducionismo que virou modismo: Química do cotidiano às vezes, apenas utilitarismo, mas ensinar a Química dentro de uma concepção que destaque o seu papel social, mediante uma contextualização social, política, filosófica, histórica, econômica e (também) religiosa. Foi pensando neste desafio que propomos trabalhar a Química com uma maior proximidade da realidade, substituindo os conteúdos engessados do livro didático pelo conhecimento contextualizado. 4. Conclusão O trabalho possibilitou apresentar a contextualização, como uma abordagem que auxilia o professor em sala de aula. De acordo com Marcondes (2007), deve ocorrer uma estruturação de unidades didáticas contextualizadas, a partir de temas que considerem três etapas pedagógicas: introdutória, com uma visão geral do problema ou tema através de textos, vídeos ou notícias; o uso de conhecimentos químicos relacionados ao tema/problema; leitura do problema/tema a fim de ampliar o conhecimento sobre o assunto. A sequência do trabalho envolveu a construção da campanha publicitária, tendo o plástico como tema gerador e a contextualização como abordagem metodológica. A interdisciplinaridade contribui para enriquecer o debate e aprofundar os conhecimentos científicos. Os aspectos da Ciência, da Tecnologia e da Sociedade (CTS) serviram para construir a base de dados para os materiais de divulgação da campanha. Esperamos assim, que os estudantes entendam o conteúdo como algo mais próximo de seus contextos sociais.

48 | Revista Feira de Ciência e Cultura

5. Referências Associação Brasileira de Norma Técnicas – ABNT. - “NBR 13230: Embalagens e acondicionamentos plásticos recicláveis – identificação e simbologia”, Rio de Janeiro, 8p. (2008). BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999. Disponível em: http:// portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdf. Acesso em 15 de ago. 2019. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20/12/1996. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999. Disponível em: http:// portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdf. Acesso 15 de ago. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC, SEMTEC, 2002. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/ pdf/CienciasNatureza.pdf. Acesso em 15 de ago. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular - Proposta preliminar. 2ª versão revista em abril. Brasília, Distrito Federal, 2016b. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular -Brasília, Distrito Federal, 2018. CHASSOT, Attico Inácio. Fazendo educação em ciências em um curso de pedagogia com inclusão de saberes populares no currículo. Química Nova na Escola, São Paulo, n. 27, p. 9-12, fev. 2008. COLTRO, Leda; DUARTE, Leda C. Reciclagem de embalagens plásticas flexíveis: contribuição da identificação correta. Polímeros, v. 23, p. 128-134, 2013. GONDIM, Maria Stela Costa; MÓL, Gerson Souza. Interlocução entre os saberes: relações entre os saberes populares de artesãs do triângulo mineiro e o ensino de ciências. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 7, 2009, Florianópolis. Anais. KATO, Danilo Seithi. O significado pedagógico da contextualização para o ensino de ciências: análise dos documentos curriculares oficiais e de professores. 2007. 119f. Dissertação (mestrado –de pós-graduação em Educação, área de concentração: Ensino de Ciências e Matemática) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. LOPES, Alice Cassimiro. Os Parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio e a submissão ao mundo produtivo: o caso do conceito de contextualização. Educação & Sociedade, v. 23, n. 80, p. 386–400, 2002. MARCONDES, Maria Eunice Ribeiro. et. al. Oficinas Temáticas no Ensino Público visando a Formação Continuada de Professores. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007. PELLEGRIN, Tatiana Peruchi de; DAMAZIO, Ademir. Manifestações da contextualização no ensino de Ciências Naturais nos documentos oficiais de educação: reflexões com a Teoria da Vida Cotidiana. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 15, p. 477–496, 2015.


Revista Feira de Ciência e Cultura | 49


50 | Revista Feira de Ciência e Cultura


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.