Revista
Ano 4 • Nº 14 • setembro de 2013 • www.feuc.br/revista
em foco
1925 - 2013
PROFESSOR WILSON CHOERI 1
Institucional
E agora?... amigo Choeri... como será? Lá se foi mais um herói desta fantástica história chamada FEUC... Deixou, como memória de sua passagem por aqui, muito mais do que um legado em realizações visíveis aos olhos. Ficou a contagiante energia e autoridade expressas em frases que traduzem bem o grande gestor e condutor exímio em situações difíceis: “... seguir sempre em frente e para cima...”; “... aproveitar os momentos de crise para crescer...”; “... jamais trocar a ‘progenitura’ por um prato de lentilhas...”. Seu entusiasmo e energia, que contaminavam a todos, serviram de polo de atração e de “caixa de ressonância” — expressão que gostava de usar — para unir a todos em um clima institucional de harmonia e forte sinergia, que tem proporcionado importante desenvolvimento e crescimento competente nos espaços físico e mental (prédios/ equipamentos e pessoas/gestão). Cabe a todos nós, e não somente a mim, que vou sucedê-lo na presidência da FEUC, cumprir o seu mandado: apertar os cintos e marchar com ousadia, ética, coragem e agilidade para, unidos, construirmos e mantermos sólida e longeva — e sempre moderna, atual e vigorosa — a FEUC, o
grande sonho de tantos que no final dos anos 50 implantaram o Ensino Superior na então Zona Rural do Rio de Janeiro. Agradeço muito a confiança de todos que propuseram, permitiram e torceram para que eu fosse eleito. Assumo o desafio com o olhar e o sentimento do sempre aluno, do ex-aluno, do professor, desde 1978 — e, principalmente, com o cuidado, a fidelidade e o esmero de honrar, com empenho e dedicação, aqueles verdadeiramente apaixonados pela FEUC, especialmente o professor Choeri, as professoras Leda Noronha, Carmen Navarro e Florence de Lima e Silva, além, é claro, daqueles com quem convivemos no dia a dia do trabalho e que fazem a nossa luta valer a pena. Avante amigos, alunos, colegas professores, instituidores e colaboradores da nossa comunidade. O barco, onde somos todos passageiros, não pode marear. O vento contrário, bem manejado, nos ajudará se soubermos usá-lo a nosso favor. A nossa égide será entendimento e harmonia, competência e dedicação para cumprirmos com êxito a trilogia ALUNO RESPEITADO, FUNCIONÁRIO SATISFEITO e MELHORIA CONSTANTE DA INFRAESTRUTURA.
“Agradeço muito a confiança de todos que propuseram, permitiram e torceram para que eu fosse eleito. Assumo o desafio com o olhar e o sentimento do sempre aluno, do ex-aluno, do professor, desde 1978” Durval Neves da Silva Presidente da FEUC
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Índice Foto: Gian Cornachini
Foto: Gian Cornachini
10 Capa
18 Bibliotecas
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Monografia
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Tema em Questão
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Nossos escritores
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Idiomas em alta
No adeus, nossa homenagem ao professor Wilson Choeri
Dicas de como vencer essa exigência da graduação
Ex-alunos das FIC e do CAEL lançam livros
Na Regional e na FEUC, livros e internet à disposição
Apolítico e apartidário é tudo a mesma coisa?
Demanda por professor cresce e incentiva melhor formação
CAPA: Dias após ser reeleito presidente da FEUC, o professor Wilson Choeri é fotografado para matéria da FEUC em Foco, em fevereiro deste ano, sobre a nova composição dos Conselhos Estatutários. FEUC em Foco é uma publicação impressa e online da Fundação Educacional Unificada Campograndense. Presidente: Durval Neves da Silva; Diretor Administrativo: Hélio Rosa de Araujo; Diretora de Ensino: Arlene da Fonseca Figueira; Diretora Superintendente: Mônica Cristina de Araújo Torres; Periodicidade: trimestral; Tiragem: 5.000 exemplares; Site: www.feuc.br/revista Edição: Tania Neves; Estagiário: Gian Cornachini; Marketing: Bruno Rivéro.
Considerações e opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição da FEUC.
Editorial E
ste é aquele tipo de edição que não gostaríamos de fazer: noticiar a perda de alguém tão importante para a instituição como foi o professor Wilson Choeri. Mas, diante do inevitável, procuramos fazê-lo com o coração, em forma de homenagem, relembrando uma pequena parte das muitas realizações dele ao longo de toda uma vida dedicada à educação, com ênfase no papel decisivo que teve entre os pioneiros em trazer o ensino universitário para a Zona Oeste do Rio, com o erguimento da Fundação Educacional Unificada Campograndense (FEUC) e sua condução nas últimas décadas. Alguns temas abordados nas demais matérias da revista fazem deste número um daqueles que o professor Choeri leria com satisfação e comentaria cheio de orgulho: ex-alunos das FIC e do CAEL que lançaram seus primeiros livros, bibliotecas da região que abrem as portas à comunidade, campo de trabalho em expansão para licenciados em língua estrangeira, dicas aos graduandos sobre como fazer uma boa monografia de fim de curso e o artigo da professora Gabriela Barbosa comentando os resultados recentemente divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) sobre o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) no Brasil, mostrando que nas últimas duas décadas o país teve avanços na área educação, mas que falta muito ainda por fazer. Enfim, restou-nos a alegria de tê-lo colocado em muito boa companhia nas páginas que se seguem. Boa leitura a todos. ■ Tania Neves Editora 3
MUNDO
Laboratório da FEUC vira escritório de telejornal espanhol Evaristo de Vicente Pachés não é um jornalista comum. O espanhol também é sacerdote e trabalha como correspondente internacional do canal religioso 13 TV em Roma, na Itália. No dia 14 de julho, com uma semana de antecedência à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), Evaristo chegou ao Brasil para cobrir os preparativos do megaevento católico. Mas deparou-se com um problema: precisava de um local com internet rápida para fazer suas transmissões à Espanha. Por intermédio de Silvia Neves, professora do curso de Letras das FIC e voluntária da JMJ, o sacerdote chegou à FEUC, que prontamente cedeu um laboratório de informática ao jornalista e disponibilizou o auxiliar de suporte técnico Vinícius Teixeira para que o ajudasse em suas transmissões. Foi a primeira vez que o espanhol
Foto: Gian Cornachini
Sacerdote Evaristo transmitia suas reportagens da JMJ na FEUC veio ao Brasil. Logo nos primeiros dias aqui, Evaristo comentou suas impressões sobre os brasileiros: “Todos são muito felizes, amáveis, cordiais, afetuo-
Foto: Gian Cornachini
Aberta inscrição para o Prêmio FEUC de Literatura A 20ª edição do Prêmio FEUC de Literatura está com inscrições abertas desde 1º de agosto. Até o dia 30 de setembro, qualquer pessoa poderá se inscrever no concurso que tem o objetivo de incentivar a criação artística e revelar novos talentos da poesia. O Prêmio FEUC de Literatura tem duas categorias de inscrição: “Alunos da FEUC” e “Âmbito Nacional”. A primeira é reservada para estudantes matriculados no Colégio Magali, no CAEL, nas FIC e na Pós-graduação. Já a categoria “Âmbito Nacional” e aberta para qualquer pessoa do Brasil se inscrever, desde que não
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sos. Isso eu não tinha conhecido”, disse o jornalista, sem poupar elogios. Leia a matéria completa no site da revista pelo link ttp://migre.me/fUHQY ■
As poesias vencedoras podem vir a ser publicadas em uma antologia tenha matrícula na instituição. Em ambas as categorias, a premiação é de R$500, R$ 350 e R$250 para o primeiro, segundo e terceiro colocados, respectivamente.
Para se inscrever, acesse o link http://migre.me/fUHf1 e confira o regulamento da competição. Conheça as poesias vencedoras de 2012 pelo link http://migre.me/fUHiX ■
Olimpíadas CAEL 2013 fecham primeiro semestre com muita animação Fotos: Gian Cornachini
Durante a última semana de aula do semestre passado, todos os espaços da FEUC foram tomados por estudantes cheios de energia. Era a 23ª edição das Olimpíadas CAEL 2013, que movimentou o Colégio nos dias 9, 10, 11, 12 e 15 de julho. Com o intuito de promover a prática de esporte, o companheirismo e a interação entre os alunos, o evento foi uma competição entre os times Amarelo, Azul, Verde e Branco, e organizado com a ajuda da Equipe de Apoio — o grupo Cinza —, todos formados a partir de sorteio prévio. A ideia era evitar grupos fechados e promover a socialização por meio de atividades como futebol, handebol, queimada, xadrez, pingue-pongue e jogos eletrônicos, como explica o professor de Educação Física Luis Claudio Bastos, organizador das Olimpíadas CAEL 2013: “Os grupos são compostos por pessoas que passaram a se conhecer depois da divisão das equipes”, afirma Luis. “Quando trabalhamos em grupo, as diferenças passam a ser menores comparadas aos objetivos. Os alunos deixam as diferenças de lado e se organizam por um objetivo, que é vencer”, explica o professor.
Uma semana inteira de jogos movimentou o Colégio em julho
“Sou assim com todo mundo”, afirma Nelson, amigo do povo
A cada vencedor, um beijo Em clima de brincadeira e muita amizade, o simpático Nelson Cavalcante, de 17 anos, estudante do 2º ano do técnico em Administração, foi cotado para premiar todos os vencedores. Carinhoso, o jovem entregava as medalhas
e beijava o rosto de cada membro do time que vencia uma modalidade esportiva. Quem ganhava, já sabia: iria receber uma medalha e um afeto de Nelson. De longe, o jovem distribuiu mais de 50 beijos. Questionado sobre o ta-
manho desse carinho, abriu o coração: “Eu sou assim com todo mundo. Tenho vontade de beijar todos!”, exclamou. A cobertura completa das Olimpíadas CAEL 2013 pode ser acessada pelo link http://migre.me/fUKS4 ■
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MUNDO
SETEMBRO
‘Cinema, ditaduras e memórias - Brasil e América Latina’
Anote as seguintes datas em seu calendário: 21 e 28 de setembro; 05, 19 e 26 de outubro. Nesses dias será realizado o curso de extensão gratuito “Cinema, ditaduras e memórias — Brasil e América Latina”, promo-
SETEMBRO
partir de filmes e documentários produzidos no continente sobre o tema. O curso é aberto à comunidade e a inscrição é feita no setor de Cursos Livres. A participação rende 20 horas de atividades complementares. ■
“Estamos trazendo pessoas de fora para falar sobre o tema, a fim de que os alunos tenham contato com diversidade de ideias”, adianta a coordenadora de Pedagogia, Maria Lícia Torres. A XXIV Semana de Pedagogia tem como principal objetivo discutir as ações do pedagogo a partir dos direi-
tos básicos do homem, da responsabilidade de preservação do meio ambiente e do respeito à vida. A inscrição para a Semana deve ser feita no setor de Cursos Livres. O investimento é de R$ 10,00 e o evento rende 30 horas de atividade complementar em participação integral. ■
Fórum Permanente de Debates - 3ª edição
O 3º Fórum Permanente de Debates, organizado pelo Núcleo de Estudos Urbanos (NEURB), começou em agosto, mas continua até o fim do ano. Com a proposta de refletir sobre a realidade brasileira e as manifestações populares, o Fórum traz sempre uma palestra com o intuito de gerar debate e incentivar na plateia o cultivo do pensamento crítico. O evento acontece no Auditório da FEUC, das 19h às 21h50m. Para participar, basta se inscrever no setor de Cursos, mediante a doação de uma lata de leite em pó. Confira a seguir as datas dos próximos debates: • 17 de setembro: “O que é reforma política?” — A discussão sobre a reforma política sempre é adiada pe-
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vido pela professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Janaína Cordeiro, pós-doutora em História. O objetivo do curso é discutir sobre a memória das ditaduras civis-militares no Brasil e na América Latina a
XXIV Semana de Pedagogia - Educação Ambiental e DH
“Educação Ambiental e Direitos Humanos: qual o papel do pedagogo neste contexto?” é o tema da XXIV Semana de Pedagogia, que acontecerá entre 23 e 25 de setembro. O evento foi planejado para os estudantes de Pedagogia das FIC, mas está aberto a todos os alunos de outras licenciaturas.
SETEMBRO
VAI ACONTECER
los políticos. Por isso, o objetivo da palestra é compreender o funcionamento de nosso sistema eleitoral e a insatisfação da sociedade com o jogo político atual dos partidos e das eleições. O palestrante convidado para falar sobre o tema é o professor Dr. Marco Antonio Perruso, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). A mediação será feita pelo professor do curso de Ciências Sociais das FIC Mauro Lopes. • 23 de outubro: “Megaeventos e violações dos Direitos Humanos no Rio de Janeiro” — O encontro discutirá a remoção de famílias em áreas que estão passando por obras para a Copa do Mundo e Olimpíadas. Renato Constantino, representante da ONG Justiça Global e do Comitê
Popular da Copa, será o palestrante do dia. A coordenadora do curso de Ciências Sociais, professora Célia Neves, será a mediadora do debate. • 07 de novembro: “O que é ‘dívida pública’? Como anda a dívida pública brasileira?” — De acordo com a organização do Fórum, o tema é pouco discutido e conhecido. A ideia é desvelar o problema econômico que o Brasil enfrenta há tanto tempo. Sandra Quintela, economista do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e integrante da Rede Jubileu Sul/Brasil, é a palestrante convidada que irá abordar o assunto com o público presente. A mediação do evento ficará a cargo da professora Ma. Rosilaine Araújo, do curso de Ciências Sociais das FIC. ■
SETEMBRO
Projeto ‘Cinema na FEUC’ - reflexão da sociedade
Nos dias 28 de setembro, 26 de outubro e 30 de novembro, das 13h às 17h, acontecerá o projeto Cinema na FEUC, organizado pelo Núcleo de Estudos Urbanos (NEURB). A progra-
SETEMBRO
derá participar de palestras, oficinas, minicursos e ainda assistir a uma peça de teatro montada pelos alunos. “Quando você vê que a matemática está em toda parte, você torna o ensino de matemática significativo”, explica o coordenador do curso de Matemática, Alzir Fourny Marinhos. A organização da Octobermática está sendo realizada em grupo pelos próprios alunos. A inscrição pode ser
feita no Setor de Cursos. Posteriormente, será cobrada dos estudantes uma taxa de R$ 60,00 pela organização. O valor financiará camisetas para os participantes, brindes para uma olimpíada de matemática voltada ao público e os comes e bebes de uma confraternização no último dia. No link a seguir, você poderá conferir a programação completa do evento: http://migre.me/fVVpy ■
XVI Fórum de Educação, Ciência e Cultura
Neste ano, a 16ª edição do Fórum de Educação, Ciência e Cultura será realizada no dia 26 de outubro. O tema e a programação ainda não foram fechados, mas os estudantes podem acompanhar o site da revista
NOVEMBRO
acredita que a linguagem cinematográfica dá muita conta de construir interlocução com outras formas de conhecimento”, ressalta a coordenadora de Ciências Sociais, Célia Neves. ■
20ª Octobermática - ‘Matemática em toda parte’
A Octobermática, Semana de Matemática da FEUC — que acontece anualmente no mês de outubro — já tem tema e datas definidas: “Matemática em toda parte” é a ideia central que guiará as atividades durante a semana. Apesar de acontecer sempre no mês de outubro, neste ano a Octobermática vai começar um dia antes do mês que lhe dá nome: de 30 de setembro a 04 de outubro, o público po-
OUTUBRO
mação ainda não está definida, mas é certo que o projeto seguirá no rumo de incitar a reflexão sobre a realidade brasileira e latino-americana por meio de filmes e documentários. “A gente
FEUC em Foco (www.feuc.br/revista) para se informar sobre este e outros eventos que acontecem na instituição. O Fórum de Educação, Ciência e Cultura foi criado em 1998 e em cada ano ele traz uma temática diferente
para construir reflexões acerca de questões que atravessam todas as áreas do conhecimento. Palestras, oficinas e minicursos serão oferecidos no evento a fim de enriquecer o debate sobre o tema proposto. ■
Semana de Autoavaliação Institucional
A Semana de Autoavaliação Institucional está marcada para os dias 04 e 05 de novembro. Por meio de uma página que será disponibilizada na internet, estudantes, professores e funcionários poderão avaliar aspectos da instituição, desde as salas de
aula e laboratórios até serviços como a copiadora e as cantinas. Além da infraestrutura física da instituição, são avaliadas a infraestrutura de pessoal e pedagógica. Os alunos também avaliam os professores e funcionários e vice-versa. “Essa atividade é uma de-
terminação do Ministério da Educação, e todas as instituições precisam fazer. O objetivo principal é melhorar a FEUC como um todo”, explica Valdemar Ferreira da Silva, coordenador Acadêmico e responsável pela Comissão Própria de Avaliação”. ■
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Universo Científico
Monografia: pesquisa e
Tarefa indispensável para concluir a graduação, monografia é a oportunidade
Por Gian Cornachini
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esde o dia em que começam suas aulas nas FIC, os estudantes já sabem o que os espera no último período do curso: a monografia (para as licenciaturas) e o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), no caso do Bacharelado em Sistemas de Informação. Tais atividades são necessárias para que os alunos sejam graduados. Pela especificidade do TCC para apenas um curso, a reportagem abordará somente o universo da monografia.
Monografia: o que é? A monografia é um texto científico produzido individualmente por estudantes no fim da graduação. Nele, são apresentados os resultados de uma investigação sobre um determinado tema. É o momento, na faculdade, em que o aluno se torna um pesquisador e faz ciência. Segundo a coordenadora do curso de Letras e Diretora de Ensino das FEUC, professora Arlene Figueira, o aluno não precisa escrever algo novo: “A monografia não tem que ser inédita, mas o interessante é que você dê a sua contribuição, sua conclusão, seu ponto de vista para o tema que já foi discutido”, afirma Arlene.
os cursos das FIC, o estudante é preparado para a monografia desde quando entra na Faculdade: “No primeiro período, o aluno cursa uma disciplina de produção textual para que possa nivelar sua escrita e aproximá-la mais da acadêmica”, explica Valmir. “No segundo, ele cursa a MTE para saber quais são os tipos de pesquisa que existem, quais os caminhos metodológicos a seguir, além de aprender a produzir artigos, resenhas e resumos. Para isso, ele aprende técnicas de estudo e escrita que contribuirão futuramente para a escrita da monografia”, afirma. No 6º período, o estudante tem aula de Elaboração de Projeto de Pesquisa. É nessa fase que ele deverá apresentar à academia o tema de sua pesquisa, incluindo itens como o problema a ser estudado, as hipóteses desse
Preparação De acordo com o professor Valmir Oliveira, que dá aulas de Métodos e Técnicas de Estudo (MTE) e Elaboração de Projeto de Pesquisa em todos 8
Desanimado? Com preguiça? Monografia requer muita disciplina
problema, a metodologia de pesquisa, as referências bibliográficas, entre outros. “Nesse momento do sexto período, o aluno vai perceber se o trabalho dele será viável e executável no tempo de três meses do 7º período”, observa Valmir. “Ele tem que fazer uma boa decisão, porque não poderá mudar seu tema no último período”, lembra o professor.
e ciência dos graduandos
e de o estudante se aventurar no mundo da ciência e contribuir para sua área Arte: Gian Cornachini
Mãos à obra Com o tema definido, é hora de escrever. Entre os muitos elementos que a monografia deve conter estão a capa, introdução do tema, desenvolvimento do texto, um capítulo conclusivo e as referências bibliográficas. O aluno cursa a disciplina de Monografia sozinho, em casa, e só vai à instituição para encontros marcados com seu professor orientador, que guiará o estudante durante o processo de escrita da monografia. O tempo é curto e o aluno precisa dar conta de fazer um texto científico que atenda a todos os atributos desse gênero textual, conforme aprendido durante as aulas de MTE e Elaboração de Projeto de Pesquisa. Durante a escrita, o nervosismo é comum. “Todo mundo sente um friozinho na barriga porque é um momen-
to crucial, a parte final do curso”, relata Lecília Ferreira Rangel, estudante do 7º período de Sistemas de Informação. Lecília optou por fazer uma monografia em vez de um TCC — opção também oferecida no curso — e está estudando o E-commerce (comércio na internet) na vida social: “Eu apresento a ideia de que a sociedade tem dependido muito do computador para fazer compras ou pesquisar preços”, explica. Sobre a sua rotina de estudo, Lecília afirma estar tranquila: “Quando eu quero começar ler eu leio, aí eu escrevo um pouco, aí paro. Não sou muito neurótica com o tempo, apesar de eu precisar de um pouco mais de disciplina”, reconhece. O segredo de uma boa monografia, para a Diretora de Ensino Arlene, é ter essa tal disciplina: “O aluno tem que dar conta de fazê-la e precisa estar focado nisso. Ainda corre o risco de não estar a fim de ler a bibliografia ou escrever em vários dias, mas tem que se esforçar sempre”, recomenda.
Falta de preparo Mesmo com o suporte das disciplinas de Métodos e Técnicas de Estudo e Elaboração de Projeto de Pesquisa, o professor Valmir conta que há uma grande dificuldade dos alunos em fazer as pesquisas para suas monografias e escrever suas descobertas com suas próprias palavras. O problema, segundo ele, é anterior à graduação: “O Ensino Fundamental e o Médio não preparam muito bem o aluno para pesquisar”, lamenta Valmir. “O pro-
fessor pede uma pesquisa ao aluno, aí o aluno pesquisa na internet, cola no trabalho e parece que fez a pesquisa. Quando ele chega na academia, precisa ter uma escrita própria, mas ele não foi preparado para isso. Se não houvesse na faculdade essas duas disciplinas para ajudá-lo a pesquisar e escrever, iria ser muito pior”, analisa o professor. Na contramão dessa realidade, desde o ano passado o CAEL tem oferecido oficinas de Metodologia Científica aos alunos do Ensino Médio. Eles aprendem técnicas de pesquisa, que dão um suporte melhor aos seus projetos para a Expo X, a Feira de Ciência e Tecnologia do Colégio da FEUC. Já os estudantes do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental do CAEL ganharam uma nova disciplina neste ano: a Iniciação Científica (IC). “O objetivo é que eles despertem o gosto pela pesquisa”, ressalta Georgina Duarte, professora de IC do CAEL. A disciplina promete dar uma base mais firme aos estudantes para que possam fazer pesquisas e textos autônomos e chegar preparados para a ciência na faculdade: “Se você ensina a cultura da pesquisa, cria automaticamente a cultura da leitura. O aluno deixa de copiar e colar da internet para fazer uma análise crítica sobre o assunto. A médio prazo, isso vai refletir nos trabalhos de monografia durante a faculdade”, assegura a professora. ■ > Na Área Restrita do aluno (site da FEUC), na Biblioteca e na copiadora há o Manual de Elaboração de Monografias, com orientações sobre a elaboração, encaminhamento e apresentação de monografia. 9
Capa
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Wilson Choeri: educador e empreendedor
Por Tania Neves
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FEUC sente a perda de um de seus fundadores e presidente dos últimos 21 anos, que também ergueu a UERJ
O professor Choeri no Auditório da FEUC, durante aula inaugural em que deu boas vindas aos estudantes que ingressaram na faculdade este ano
Foto: Gian Cornachini
e reergueu o Pedro II
uando surgiu a ideia de publicar na FEUC em Foco uma série de perfis de nossos instituidores ainda vivos, de modo a relembrar a história da instituição por meio de relatos de e sobre os fundadores, procuramos o professor Wilson Choeri para apresentar a proposta. Pensávamos em começar por ele, por ser o presidente, mas Choeri elegantemente recomendou que antes fossem perfilados os que estiveram desde a Sociedade Universitária Campograndense (SUC) — como as professoras Leda Corrêa de Noronha e Carmen Navarro Rivas — e ele, que chegou anos depois, na transição para a Fundação Educacional Unificada Campograndense (FEUC), aguardaria a vez. Assim o fizemos, publicando na edição passada o perfil da professora Leda e programando para esta o da professora Carmen. Mas a triste perda de Choeri, no último dia 13 de agosto, 15 dias antes de seu aniversário de 88 anos, nos fez mudar o rumo e trazer aos leitores neste número um pequeno apanhado das muitas realizações de um homem que tinha alma de educador, mas que em sua extensa e produtiva trajetória atuou em muitos outros papeis. Formado em Física, Matemática e Ciências Sociais, Wilson Choeri foi professor da UERJ e de colégios como o Pedro II, de Aplicação da UERJ e da Aeronáutica. Como gestor, esteve na linha de frente da UERJ a partir dos anos 60, participando ativamente da construção do campus Maracanã da universidade; mesma energia que empregou no Pedro II a partir dos anos 80, primeiro reestruturando e ampliando as unidades existentes e depois promovendo a expansão para a Zona Oeste e outros municípios do Rio. Foi ainda o criador do Projeto Rondon e fundador de algumas instituições privadas de ensino no Rio, entre elas a FEUC, em cuja vida esteve presente por 48 anos, nos últimos 21 como presidente. 11
Capa
Missões do profissional que gostava de ser o nº 2 No serviço público, UERJ e Pedro II foram as duas grandes missões de Wilson Choeri. Graduado pelo Instituto La-Fayette, uma das faculdades que deram origem ao que hoje é a UERJ, ele foi o primeiro professor a alcançar a cátedra naquela instituição por concurso público, em 1963. No período em que o campus Maracanã foi erguido, esteve à frente da Secretaria de Planejamento e depois à disposição do gabinete do Reitor, sempre em função executiva: “Ele encabeçou tudo isso, com gestões junto ao Governador Lacerda para obter o máximo para a universidade”, conta Raul Choeri, filho do professor. Raul recorda-se que o pai viajou a vários países para trazer para a universidade as mais atualizadas tecnologias existentes na época. Muitas vezes foi sondado para se tornar reitor, mas recusou: “Ele queria ser o número dois, nunca o número um. Achava que contribuía mais como executor”, diz Raul. Já com o Pedro II sua história começou em 1940, quando ainda garoto
Imagem: Reprodução
A primeira expedição do Projeto Rondon é notícia em ‘O GLOBO’ 12
Foto: Alex Batista / Acervo do Pedro II
Choeri abraça a professora Vera na passagem de cargo, em 2008 ingressou como aluno. Posteriormente se tornou professor da casa, e em 1980 assumiu a secretaria de ensino, onde ficou por 12 anos. De 1994 a 2008 foi diretor-geral do colégio. Reitora Pro Tempore do Pedro II,Vera Maria Ferreira Rodrigues lembra que nesses 26 anos como administrador (houve breve hia-
to de 20 meses), Choeri elevou o número de alunos de 3.800 para mais de 13 mil e expandiu as unidades de 5 para 14, chegando ao bairro de Realengo e aos municípios de Niterói e Caxias. “Sintome privilegiada por ter convivido com ele esse tempo todo. Foi um mestre que tive na administração pública”.
No Rondon, ‘Integrar para não entregar’ Em 10 de agosto de 1967, “O GLOBO” publicava a matéria “Universitários do Projeto Rondon clamam por soluções”. O principal entrevistado, criador daquele projeto de integração entre a universidade e os brasileiros de localidades distantes, o professor Wilson Choeri relatava as preocupações dos estudantes que acabavam de voltar da primeira expedição, a PR Zero, em Rondônia: eles ansiavam por ver aproveitados pelo governo seus relatórios sobre os problemas encontrados em campo, com o objetivo de saná-los. Foi esta a intenção do professor quando idealizou o Projeto Rondon,
em meados dos anos 60, e o apresentou ao governo federal: unir o conhecimento acadêmico com a presença militar nas regiões remotas do país para conseguir diagnosticar as necessidades das populações mais pobres e contribuir com soluções. O coronel José Maria Teixeira da Fonseca, hoje com 82 anos, que se tornou secretário geral do projeto logo após aquela primeira expedição, comenta: “O Choeri foi o grande ideólogo, se bateu pelo projeto, e não foi fácil; mas conseguiu implementar. Creio que foi ele mesmo quem cunhou o slogan ‘Integrar para não entregar’, sobre a Amazônia”, conta.
Quando assumiu a presidência da FEUC, há 21 anos, o professor Wilson Choeri deu início a um momento extremamente criativo para a instituição, conseguindo unir todas as forças em torno de um grande objetivo comum, que era o de trabalhar pela Educação na Zona Oeste, particularmente o ensino universitário e o técnico. Quem conta é professor Durval Neves da Silva, sucessor de Choeri na presidência: “Com o gesto corajoso dele, outras demandas menores e pessoais saíram de cena naquele momento, estabelecendo-se um clima de harmonia e sinergia, e os esforços frutificaram”, afirma. Durval lembra que o grande sonho de Choeri era acabar com o “prédio hemiplégico” — como ele se referia ao que hoje é o prédio principal da FEUC, e que na época era uma construção inacabada. O novo presidente ressalta ainda o papel do antecessor ao receber as comissões do MEC e outros visitantes ilustres na instituição. Segundo ele, Choeri impressionava a todos com seu conhecimento profundo da educação e a memória viva e ativa retratando a história do ensino superior na Zona Oeste: “Muitos avaliadores chegavam às lágrimas pela emoção que Choeri passava, ao falar com entusiasmo do ensino técnico e superior numa área que outrora foi Zona Rural e hoje é um grande centro de influência”, diz o professor. Abaixo, destacamos algumas frases dele sobre a FEUC, em entrevistas que deu à FEUC em Foco:
“As articulações do vereador Miécimo da Silva com intelectuais como Deblangy Machado, Leda Noronha e outros permitiram trazer para cá uma intelectualidade docente de primeira grande za, e todos trabalhavam por idealismo”
Foto: Gian Cornachini
Grande entusiasmo ao falar sobre a FEUC
Para o professor Choeri, o maior valor da FEUC é ser uma casa que pertence à comunidade e que tem instituidores e não financiadores
“Bem cedo foi adotada a regra de dar preferência, na contratação de professores, a nossos egressos: os melhores alunos se tornavam professores da faculdade. Esse recrutamento criou o espírito de tradição que nos contamina até hoje”
“A FEUC tem imagem própria e intensa grandeza em Campo Grande, onde cumpre papel relevantíssimo: sendo uma fundação, não tem dono nem objetivo de lucro. Por isso, não comprometemos nossa estrutura pedagógica, como outras fazem, porque não temos financiadores, mas sim instituidores” 13
Capa Foto: Álbum de Família
Choeri com o filho Raul e a bisneta mais nova, Tayla, então com três meses, em agosto de 2011
Vascaíno apaixonado e excelente cozinheiro O professor Wilson Choeri foi casado por 59 anos com dona Carolina da Silva Choeri, com quem teve dois filhos: Luís Carlos, economista; e Raul, advogado e procurador federal. Completam a família três netas, duas bisnetas e um bisneto. “Ele era o xodó desses bisnetos”, conta Raul. “Moramos próximo, então o apartamento de meus pais era o centro de tudo: Natal, aniversários, almoços de domingo”, relembra. Almoços, muitas vezes, preparados pelo próprio Choeri, que era excelente cozinheiro, segundo o filho. Na família Silva Choeri, aliás, juntaram-se duas tradições de boa mesa: a culinária árabe por parte dele, de origem libanesa, e a portuguesa por contribuição de dona Carolina. “Meu pai adorava fazer as compras no mercado, gostava de gastar com comida, valorizava uma mesa farta; simples, mas farta”, diz Raul. Vascaíno apaixonado por futebol, pai de dois botafoguenses, Choeri os levava ao Maracanã quando garotos, na torcida do Botafogo, e se esforçava para 14
ficar calado nos gols do Vasco. “Esse é um bom exemplo de como ele era democrático: nunca nos exigiu ser vascaínos, não nos impôs nenhuma religião, jamais interferiu em escolha de profissão nem em tomada de posição política. Sempre votei em candidatos diferentes
“Adorava fazer as compras no mercado, valorizava uma mesa farta; simples, mas farta” dos dele, e isso não rendia qualquer atrito”, afirma Raul. A marca mais forte, nas lembranças do filho, é a dedicação ao trabalho. Nas fases em que estava envolvido em algum grande projeto — e isso era quase sempre — ele mal parava em casa.
“Tinha dias que nem via meu pai”, diz Raul. Nenhuma dificuldade o demovia do que estava disposto a fazer: “Na minha infância, moramos em Niterói, e além da UERJ ele dava aulas em vários lugares, muitos deles distantes, como a Aeronáutica, em Campinho. Imagina: de Niterói a Campinho, sem carro”. Ainda com relação ao trabalho, exercia no limite a autonomia que seus cargos lhe conferiam, e costumava dizer: “Se tenho autonomia, vou fazer”. Foi assim quando decidiu atender à antiga reivindicação da comunidade de Realengo, que já havia batido em mil portas pedindo uma escola federal para a região. Quando o procuraram no Pedro II, logo deu curso ao projeto. “Ele chamava para si as responsabilidades. Como procurador federal, muitas vezes o alertei sobre consequências que alguma dessas atitudes ousadas poderiam acarretar. E ele respondia: ‘Eu assumo. O que não vou é deixar de fazer’. E ia lá e fazia”, conta Raul.
Colegas e filho definem Choeri
Foto: Tania Neves
“Exercia a engenharia de gente: plantava raízes e fazia brotar projetos para
“Ele foi um educador por formação, um gestor por uso da vida e um engenheiro por vocação, pois construiu a UERJ, ampliou o Pedro II e foi fundamental nas expansões da FEUC”, afirma o professor Durval Neves da Silva, novo presidente da instituição. “Ele exercia a engenharia de gente: plantava raízes e fazia brotar projetos para melhorar a vida das pessoas”, analisa. A lembrança do filho Raul é de um pai que nunca parou de trabalhar, nunca tirou férias e era incansável: “Ele estava no meio de algum projeto, sempre”, afirma. De acordo com o filho, talvez uma das coisas ruins que a idade avançada e a saúde frágil impuseram ao pai foi um certo freio para o dinamismo e a ousadia que cultivou desde a juventude. “Ele costumava dizer: ‘é preferível o mar tempestuoso à calmaria dos pântanos’. Isso porque, como timoneiro, ele se garantia e sabia que ia conseguir conduzir o barco a bom porto”. Já a professora Vera Maria o considera uma das mentes mais inteligentes, criativas e ousadas que ela já conheceu. E destaca seu engajamento social: “Tinha preocupação de atender os menos favorecidos. Foi aí que uniu a Matemática e as Ciências Sociais”, diz. Contemporâneo no Projeto Rondon, o coronel José Maria da Fonseca considera que o professor Choeri era, antes de tudo, um visionário, pois apostava em soluções ousadas e não tinha medo de avançar para além do que lhe diziam ser possível. “Era um líder; mais ainda: um ídolo”, define. Também integrante do grupo de fundadores da FEUC, a professora Leda Corrêa de Noronha, diretora da Universidade da Terceira Idade em Campo Grande (UNATIC), resume a importância que Choeri teve não somente para a instituição campograndense, mas para o país: “Foi um incansável estudioso da educação brasileira”. ■
melhorar a vida das pessoas” Durval Neves da Silva Presidente da FEUC
Foto: Tania Neves
“Como timoneiro, ele se garantia e sabia que ia conseguir conduzir o barco a bom porto” Raul Choeri Filho do professor Choeri
Foto: Tania Neves
“Tinha preocupação de atender os menos favorecidos. Foi aí que uniu a Matemática e as Ciências Sociais” Vera Maria Ferreira Rodrigues Reitora ‘Pro Tempore’ do Pedro II
Foto: Angelina Batista
“Ele foi um incansável estudioso da educação brasileira” Leda Corrêa de Noronha Diretora da UNATIC 15
Tema em Questão
Apolítico e apartid Termos ditos e repetidos nas manifestações de rua rendem boa discussão Foto-ilustração: Gian Cornachini
Por Tania Neves
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ntre outras coisas, as manifestações de rua que começaram em junho pelo país trouxeram para o centro das discussões dois termos que ora apareceram como se fossem sinônimos, ora com suas diferenças marcadas: apolítico e apartidário. Inicialmente capitaneadas pelo Movimento Passe Livre (MPL), contra os aumentos das passagens de ônibus, as manifestações foram somando novas pautas de reivindicações e sendo engrossadas por outros grupos, muitos dos quais lançavam gritos de ordem e exibiam cartazes de “Fora partidos!”, em alguns casos agredindo militantes e exigindo que recolhessem suas bandeiras. O MPL, que em sua carta de princípios se apresenta como “um movimento horizontal, autônomo, independente e apartidário, mas não antipartidário”, criticou tais atitudes. Afinal, apolítico e apartidário significam a mesma coisa?
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Professor de História no curso de Ciências Sociais das FIC, Mauro Lopes lembra que, do ponto de vista filosófico, dizerse apolítico é uma contradição em si, pois essa tomada de posição já é uma atitude política. “A própria expulsão dos grupos que levavam bandeiras de partidos, isso não deixa de ser uma atitude política. Então como se dizer apolítico? Não ter vínculo com partido, ok. Dizer-se apartidário, tudo bem. Mas a tentativa de desqualificação geral da política foi outra coisa, eu vi um cunho bem conservador nisso”, destaca o professor, que apesar disso considerou aquele momento muito rico: “Quando os grupos mais conservadores tentaram se apropriar do movimento, buscando determinar a pauta, se aproveitando daquela reação inicial de rejeição à política, aí os grupos de esquerda acordaram e foram para as ruas colocar também suas questões”. Patrick Silva dos Santos, aluno do 5º período de Ciências Sociais que esteve em algumas dessas manifestações, não gostou das vezes em que viu a associação do termo apolítico ao movimento. Segundo ele — que integra o coletivo de política estudantil Juntos!, ligado ao PSOL — des-
dário... é tudo igual? de o início, entre os grupos que se articularam pelas redes sociais para tomar as ruas, muitos eram de militantes, embora houvesse também os sem filiação. Patrick considera justo que os não filiados quisessem evitar ser confundidos ou ter suas ações apropriadas pelos outros, mas daí a combater a presença ou querer cassar a voz e destruir bandeiras, vai uma grande diferença. “Brigar para não ter nenhuma bandeira é o mesmo que brigar por uma bandeira única, é querer a ditadura”, afirma o estudante. Doutor em História e professor das FIC, Jayme Fernandes Ribeiro entende que havia entre os manifestantes muitos que rejeitam os atuais partidos, e o recado que estavam dando nas ruas era exatamente esse: que os partidos são aproveitadores e que eles não queriam se vincular a isso. Neste sentido, podem ter ingenuamente empregado o termo apolítico quando queriam dizer apartidário. Mas Jayme acredita que, quando a mídia valorizou isso e passou a martelar o tempo todo a questão da rejeição à política como um todo, já não havia mais ingenuidade: “Eu estive lá e juro que não vi bandeiras do PSDB, do DEM. Vi do PSOL, do PCB, do PT. Se o movimento fosse associado a partidos, seria aos de esquerda, e isso não era interessante para a mídia. Não sei se a confusão do apartidarismo com o
apolítico foi intencional, mas que há ganhos políticos para os conservadores com essa confusão, isso há”, opina o professor. Prestes a se formar em História, o aluno do 7º período Carlos Eduardo Moreira viu no movimento um forte sentimento de descrédito com os políticos. E mesmo compartilhando o pesar — “É difícil querer discutir política tendo os parlamentares que temos” — ele afirma que não existe outra possibilidade fora da política, e até se pergunta se as coisas não chegaram a este ponto exatamente porque muita gente insiste em achar que “política não é coisa minha”. E sugere: “O negócio é se manifestar, participar, se interessar por saber o que nossos eleitos fazem, assistir a sessões na Câmara de Vereadores e na Alerj. Se não tiver tempo pra isso, manda e-mail, entope a caixa deles, usa a Lei de Acesso à Informação. O que não pode é deixar a política só com eles”. Vale relembrar a frase do economista britânico Arnold Toynbee, que viveu na segunda metade do século XIX: “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”. ■ > Esta discussão pode continuar. Entre em http://www.feuc.br/revista e deixe sua opinião no site da revista. Participe do debate!
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Biblioteca aberta
De graça e para todos Biblioteca Popular de Campo Grande oferece ao público um acervo de mais de 10 mil livros, acesso à internet e atividades culturais Por Gian Cornachini
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undada há 60 anos, a Biblioteca Popular de Campo Grande passa despercebida por quem mora no bairro da Zona Oeste do Rio. Muitos conhecem a 18ª Região Administrativa de Campo Grande, mas poucos devem ter subido a rampa que liga o térreo ao segundo andar do prédio. É lá em cima que fica a Biblioteca Popular Manuel Ignácio da Silva Alvarenga, um espaço tranquilo no meio da praça Telmo Gonçalves Maia,
na movimentada Rua Campo Grande. Administrado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, o espaço oferece ao público acesso à leitura, informação e atividades culturais voltadas à comunidade. São 10.119 livros em seu acervo e cinco computadores conectados à internet à disposição de qualquer pessoa. O local ainda conta com uma brinquedoteca, uma biblioteca de DVDs, CDs e VHS, audiolivros e livros em braile, para os deficientes visuais. Apesar de todo esse material dispoFoto: Gian Cornachini
A Biblioteca dispõe de computadores com acesso à internet aos visitantes 18
Biblioteca Popular de Campo Grande é um espaço de incentivo à leitura na Zona Oeste do Rio
nível, a frequência pode ser considerada baixa. São 2,5 mil usuários cadastrados na Biblioteca — número tímido, tendo em vista os mais de 300 mil habitantes do bairro de Campo Grande. A bibliotecária Angela Marinho, há 13 anos na administração do espaço, lamenta a falta de interesse da população pela leitura: “O hábito de leitura do brasileiro é muito baixo. Temos muitos leitores jovens, mas na medida em que ele fica mais adulto, ele passa a ter outras prioridades, e a leitura fica muito para trás”, observa a bibliotecária. Para tentar mudar esse quadro, a administração da Biblioteca tem se empenhado em formar novos leitores. Há projetos como o “Troca-Troca Solidária”, uma feira de livros onde a pessoa leva um exemplar de publicação mais recente e troca por três mais antigos. Também são organizadas contações de histórias com autores de livros infantis. Escolas da região levam os alunos até a Biblioteca e, quando eles não podem ir, o evento vai até eles: “A gente quer incentivar o hábito de leitura, pois acho que se as pessoas lerem mais, elas terão uma visão mais crítica. O jovem já tem a ânsia pelo saber, só precisamos oferecer esse suporte, ser um elo de mudança da sociedade”, ressalta Angela.
Foto: Gian Cornachini
Sempre atualizado, acervo é voltado para público jovem Periodicamente, o acerco da Biblioteca Popular de Campo Grande é atualizado. Mas ele não atende a todos os tipos de público. O foco está nas literaturas infantil e juvenil — principal procura por quem frequenta o espaço, como explica a bibliotecária Angela: “Aqui tem tudo o que está na moda. Se sai um filme, e ele é baseado em um livro, o livro vira aquele ‘xodó’. E aí a gente tem que ter. Para isso, a gente mantém o acervo sempre atualizado”, conta Angela. Na lista dos mais procurados, estão os best-sellers “Um homem de sorte” e “A última música”, de Nicholas Sparks; a série “Crepúsculo”, de Stephenie Meyer; e as publicações da escritora brasileira Thalita Rebouças. A estudante Evelyn Paiva da Costa, de 19 anos, foi à 18ª Região Administrativa de Campo Grande tirar seu Título de Eleitor e acabou descobrindo a biblioteca: “Entrei aqui e encontrei vários livros que eu queria ler. Por sorte, eu tinha tudo o que era preciso para fazer meu cadastro”, disse Evelyn, que levou o livro “Em Chamas”, o segundo da trilogia “Jogos Vorazes”, de Suzanne Collins.
Para fazer empréstimos de qualquer título da Biblioteca é necessário efetuar um cadastro, gratuito. Basta levar o documento de identificação (RG), CPF, comprovante de residência recente e duas fotos 3x4. O associado tem direito de levar dois livros por vez. A devolução deve ser feita no prazo de até duas semanas. Ainda é possível fazer a reno-
vação do empréstimo por mais 14 dias, caso nenhuma pessoa entre na lista de espera pelo livro. Para fazer consultas ao acervo e utilizar a internet da Biblioteca, não é preciso ser associado. A Biblioteca Popular Manuel Ignácio da Silva Alvarenga fica aberta de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. O telefone para contato é (21) 3394-5509. Foto: Gian Cornachini
Evelyn Paiva Costa: “Entrei aqui e encontrei vários livros que eu queria ler” 19
Biblioteca aberta
Na FEUC, comunidade pode usar biblioteca Quem precisa consultar o acervo bibliográfico para estudar ou fazer trabalhos escolares e acadêmicos pode contar com a biblioteca da FEUC. Fundada em 1966, a Biblioteca Joaquim Ribeiro atende à demanda dos professores e alunos da faculdade e colégio da FEUC, mas também é aberta à comunidade. O acervo da instalação conta com 29 mil volumes impressos e 2,5 mil livros disponíveis no sistema da Biblioteca Virtual. A média de empréstimos por ano fica entre 10 e 11 mil, e a quantidade de gente que visita o local para fazer qualquer tipo de consulta, empréstimo ou solicitação passa de 50 mil pessoas. Além de livros, a biblioteca assina mais de 50 periódicos e as versões digitais dos jornais O GLOBO, Folha de São Paulo e Jornal do Brasil. O local também dispõe de salas de estudo em grupo e cabines individuais, acesso à rede de internet sem fio e computadores conectados à rede. De acordo com o bibliotecário Guilherme Carneiro Santos, o espaço oferece as fontes de estudo para alunos da área de educação: “Os alunos vêm buscar informações para fazer seus trabalhos, e mais de 90% das pesquisas são atendidas”, relata Guilherme. O acesso da comunidade à biblioteca da FEUC é gratuito. Para isso, é necessário fazer uma carteirinha, que é válida durante um semestre. Os documentos necessários são a cópia do comprovante de residência, uma foto 3x4 e o pagamento do valor de R$ 4,00 na Tesouraria para confeccionar o documento. A comunidade local pode acessar a biblioteca de segunda a sexta-feira, das 13h às 18h — horário em que o fluxo de estudantes da FEUC no espaço é menor. O acervo está disponível apenas para consulta, sem permissão de empréstimo. No entanto, o visitante pode ficar o tempo que for necessário para fazer sua pesquisa, dentro do horário permitido. ■ 20
Foto: Gian Cornachini
Acervo conta com 29 mil volumes disponíveis ao público para consulta Foto: Gian Cornachini
Usuário também pode frequentar as salas de estudo e acessar a internet
Orgulho da casa
Ex-alunos, novos escritores Formados nas FIC e no CAEL, Evandro e Mariana lançam seus primeiros livros Foto: Gian Cornachini
Por Gian Cornachini
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Evandro prevê lançar seu segundo livro no próximo ano
ormado em História nas FIC em 2008, pós-graduado em História Social e Cultura do Brasil em 2010 pela casa e professor da rede pública de ensino, Evandro Luiz Barbosa Sá lançou em julho o livro “Prepare-se para o Enem: História — com resolução discursiva das questões”. A proposta da publicação é responder e comentar questões de todas as provas de História do Enem entre os anos de 2002 e 2011. O livro, editado pela Ciência Moderna, é o primeiro de autoria de Evandro e foi escrito em parceria com Antonio Cesar Esteves Falcão, também professor da rede pública. São 113 perguntas comentadas que deram bastante trabalho aos autores: “Noites de sono tiveram que ser diminuídas para poder dar conta do livro”, lembra Evandro, que fala contente sobre o resultado: “A proposta inicial foi fazê-lo para o Enem, mas ele também serve para uma pessoa que queira se informar sobre fatos históricos. Por isso, a importância de comentar as questões”, explica o professor com orgulho. No site da Editora Ciência Moderna, a versão impressa do livro sai por R$ 31,20 e a versão digital por R$ 23,40 (endereço para o produto: http://migre.me/fUhum). Ele ainda pode ser encontrado na Livraria Cultura, na Livraria da Travessa e na Saraiva. Prevista para o ano que vem, uma segunda edição também trará questões das provas de 2012 e 2013. ■ Imagem e foto: Divulgação
EX-ALUNA DO CAEL VEM AO BRASIL PARA LANÇAR LIVRO Fotógrafa nos Estados Unidos e formada no Ensino Médio Regular do CAEL em 2000, Mariana S. Silva-Buck veio ao Rio de Janeiro em agosto para lançar seu primeiro livro infantil, “As Aventuras de Zandor”, que ela autografou durante um almoço beneficente do abrigo A Minha Casa. Editado originalmente nos EUA como “The adventures of Zandor”, o livro conta a história de Zandor, um cachorrinho de 5 anos da raça jack russel que leva a vida de forma aventureira. Leia a matéria completa na internet pelo endereço http://migre.me/fUh4M 21
Celebração
Quem se dedica, festeja! Tardou, mas não falhou: FEUC realiza grande festa para comemorar o desempenho dos estudantes no Enade 2011 Por Gian Cornachini
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a noite do último dia 30 de agosto, alunos, ex-alunos formados em 2011 e professores se encontraram para comemorar o bom resultado da FEUC na última avaliação do Ministério da Educação (MEC). O empenho dos alunos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de 2011 garantiu excelentes resultados à instituição, como foi o caso das notas 4 (de uma escala até 5) dos cursos de Ciências Sociais e Licenciatura em Computação. A celebração, conduzida pela coordenadora de Ciências Sociais Célia Neves, também foi um estímulo para os estudantes que farão o Enade em 2014, conforme ressaltou Arlene Figueira, Diretora de Ensino
das FIC e coordenadora do curso de Letras: “Esperamos em 2014 alunos vibrando e dispostos para ter o mesmo resultado que tivemos em 2011”, disse ela. Formado em Letras - Português/Inglês (1980), em Ciências Sociais (2011) e pós-graduado em História Social e Cultura do Brasil (2012) pela FEUC, o ex-aluno Wainer Teixeira Souza também exclamou sua satisfação: “Podem ter certeza que a faculdade, os educadores e os educandos são sinônimo de excelência. Nós não perdemos para ninguém. Nós somos os melhores!”, bradou Wainer, ao som de aplausos dos estudantes. A diversão da festa ficou por conta do Coral e Orquestra Sinfônica da FEUC e da banda Xinapp, do professor de Ciências Sociais Umberto Eller, que foi a grande atração da noite. ■ Fotos: Gian Cornachini
A cada discurso, muito aplauso: público esbanjou alegria na comemoração do Enade 22
Ex-alunos formados em 2011 ajudaram a instituição a conquistar bons resultados
Arlene Fonseca, Diretora de Ensino da FEUC, estima uma boa avaliação também em 2014
“Nós somos os melhores!”, disse entusiasmado Wainer Teixeira Souza, ex-aluno da FEUC
Coral e Orquestra Sinfônica da FEUC prestam homenagem ao público com seus musicais
A banda Xinapp, do professor de Ciências Sociais Umberto Eller, foi atração da noite 23
Língua Estrangeira
Procura-se professor de Inglês e Espanhol Foto: Gian Cornachini
Por Tania Neves
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azer cursinho de inglês já foi moda em tempos passados. Hoje em dia, estudar e aprender o idioma é mais do que necessidade — e chega a ser estratégico, como é o caso de quem pretende fazer mestrado e doutorado ou trabalhar em atividades ligadas a empresas estrangeiras. Diante disso, a busca por cursos livres tem aumentado, e com ela a procura desesperada por bons professores de idiomas. Junte-se a isso a lei federal 11.161, de 2005, que instituiu a inclusão da Língua Espanhola no Ensino Médio, e está desenhado um cenário mais do que positivo para os formados nesses idiomas, sobretudo os que contam com diploma de Licenciatura: “O professor licenciado tem mais opções do que o mero instrutor de língua estrangeira, pois este só pode atuar nos cursos livres, enquanto o outro pode dar aulas também nas escolas regulares e nas universidades”, explica Renata Souza Gomes, vice-coordenadora de Letras das FIC. O professor de espanhol Adriano Oliveira, graduado nas FIC e prestes a se doutorar pela UFF, confirma na prática o que diz Renata. Segundo ele, muitos alunos seus da graduação atuam nos cursos livres enquanto fazem a faculdade, e logo que se formam partem para concursos públicos ou buscam escolas privadas de ensino regular, que remuneram melhor: “Tem a questão do salário e também uma certa estabilidade que é maior nas escolas regulares”, 24
Adriano Oliveira: após se graduar, instrutores trocam curso por escola
“O professor licenciado tem mais opções do que o mero instrutor de língua estrangeira”
diz Adriano, lembrando que nos cursos livres a rotatividade de professores é alta. De fato, o piso salarial do instrutor (R$ 11 a hora/aula, conforme o site do Sindelivre) é mais baixo que os dos professores (R$ 15 a hora/aula para os particulares, de acordo com o site do SinPro, e R$ 12 para os do município do Rio, conforme o Sepe). “E até na hora da aposentadoria há desvantagens”, diz
Com a multiplicação de eventos internacionais na cidade, vinda de estrangeiros para trabalhar aqui e a implantação de lei que rege o ensino de língua estrangeira nas escolas, cada vez mais há espaço no mercado para a atuação de profissionais licenciados em idiomas estrangeiros Renata, lembrando que o instrutor não é enquadrado como professor, portanto não tem direito à aposentadoria especial com menos tempo de serviço. Mas as diferenças não se resumem a isso. Hudson Barros, professor de inglês da Faculdade Machado de Assis (FAMA), que se graduou e doutorou pela UFRJ, conta que fez cursinho de inglês antes e também trabalhou como instrutor durante a faculdade. Depois de licenciado é que pôde refletir melhor sobre o tipo de aula que re-
cebia no cursinho: “A preocupação era só com oralidade, pronúncia, e com dar aulas dinâmicas e motivadoras, mas não havia qualquer unidade metodológica, cada um ensinava de um jeito diferente, e boa parte das dúvidas dos alunos sobre o idioma não era respondida”, analisa. Victor Ramos, que se formou ano passado nas FIC em Português/Inglês, aos 21 anos, mas que atuava como instrutor em cursinhos desde os 14, pois começou a estudar inglês muito cedo,
diz que a faculdade mudou muito sua forma de lecionar: o conhecimento de literatura, cultura, fenômenos linguísticos e conceitos de educação trouxeram uma reflexão maior sobre todo o processo de aprendizagem. “Falo isso como ‘instrutor’ e como professor de escola regular. Hoje acredito que, mesmo havendo essa bipartição instrutor/ professor, da qual sou contra, os instrutores devem considerar que a faculdade de Letras é o caminho para um trabalho mais adequado”, avalia.
Privilegiar fluência ou didática? De preferência, os dois Bruna Serra, de 23 anos, concluiu Português/Inglês nas FIC em dezembro de 2012 e acredita que o domínio da didática tem ajudado neste seu início de carreira. Ela fez alguns processos seletivos, passou em concurso do município para lecionar Língua Portuguesa e dá aulas de inglês para turmas do 1º ao 6º ano em uma escola privada. Nas entrevistas que fez em alguns cursos de inglês, observou que a preferência é dada a quem melhor domina a língua, mesmo sem formação acadêmica. Ela diz que entende o lado dos donos de cursos, pois é mais difícil encontrar profissionais que aliem as duas coisas, mas avalia que os que tiveram formação didática saberão responder melhor às dificuldades dos alunos: “Na FEUC, aprendi com os professores o modo
como eles tratavam o conhecimento, com comprometimento e seriedade. Pude ver a forma humana de interagir com os alunos, com companheirismo e respeito. Isso me motiva a dar o melhor como professora”, completa. Dono do WSA, Paulo Roberto Magalhães Faria gosta da facilidade de poder trabalhar com instrutores ou licenciados em seu curso, mas afirma que dá preferência aos licenciados: “Eles já trazem um conhecimento didático forte. É óbvio que, como posso optar, quando aparece alguém que domina bem o idioma e tem o perfil exigido, contrato mesmo sem ser licenciado. Mas incentivo sempre que se graduem. Hoje, a maior parte das minhas equipes é de graduados ou de instrutores que estão buscando a faculdade”, diz.
Foto: Acervo Pessoal
Bruna: exemplo de seus professores a motiva a dar o melhor em sala 25
Língua Estrangeira
Formação inicial e continuada é fundamental É certo então que instrutor sempre dá aula ruim e professor graduado dá aula boa? Nem de longe existe essa lógica, afirmam Hudson Barros e Victor Ramos. Hudson lembra que há ‘instrutores’ e ‘instrutores’: “Alguns se mantêm como instrutores apenas temporariamente, e buscam a faculdade para se aperfeiçoar”, diz ele, lembrando que estes depois migrarão para escolas ou alcançarão uma posição de mais prestígio nos próprios cursos. “Lamentavelmente — completa Victor — há os que dizem dar aula em cursinho só para ‘ganhar uma graninha extra’, sem compromisso com o magistério”. Estes,
na opinião dos dois, estarão fadados a uma carreira simplória. Atualmente cursando mestrado na UFF e lecionando tanto em cursinhos como em escolas regulares e faculdade — num total de 6 empregos — Victor considera fundamental a formação inicial e continuada para o professor: “Sugiro, como pessoa que viveu (e vive) nessa corda bamba, uma reflexão sobre a formação dos professores de línguas: se, de um lado, temos instrutores fracos em didática, de outro temos professores com carências linguísticas que só poderão ser superadas com o apoio alternativo”, opina Victor, que tem no Foto: Gian Cornachini
O muito jovem Victor tem no currículo 8 cursos de inglês e 27 de educação Foto: Gian Cornachini
Hudson: não necessariamente instrutor dará aula ruim e professor aula boa 26
currículo 8 cursos na área de inglês e 27 na de educação. “Na graduação em Matemática, por exemplo, não se ensina a tabuada, a somar e dividir; uma base é necessária e, por vezes, ‘correr atrás’ faz toda a diferença”. Bruna Serra reconhece isso: ela tinha estudado inglês na adolescência e, ao entrar na faculdade, estava fora do cursinho há alguns anos, por isso teve dificuldades: “Desde o 1º período até o último me empenhei muito para aprender a gramática da Língua Inglesa. A cada período era um desafio, visto que eu não dominava a língua. Hoje eu ainda preciso aprender mui-
De um lado, instrutores fracos em didática; de outro, professores com carências linguísticas to, principalmente na oralidade, mas a faculdade me ensinou muito na parte gramatical e didática”, diz. Ainda a respeito da expansão do mercado de trabalho para os formados em Letras, Adriano Oliveira lembra que a busca por professores de português que ensinem aos estrangeiros que se mudam para cá levou à criação da Associação dos Professores de Português para Estrangeiros do Estado do Rio de Janeiro (Aple-RJ). Por meio dela, alunos de graduação e professores filiados podem obter informações sobre eventos, cursos, pós-graduação e até oportunidades de trabalho. ■ > Saiba mais: Aple-RJ: http://aplerj.com.br Sindelivre: http://www.sindelivrerio.org.br SinPro: http://www.sinpro-rio.org.br Sepe: http://www.seperj.org.br
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DICAS DE OURO
Diante da incrível trajetória de Victor Ramos, pedimos a ele que ensaiasse alguns conselhos para quem quer seguir a carreira de professor de língua estrangeira. Por lecionar inglês, ele faz referência direta a este idioma, mas as recomendações servem aos que estudam qualquer língua. “Não há uma receita, mas vou descrever alguns dos passos que tomei como referencial e trouxeram, como reflexo, seis empregos e a felicidade de estar no caminho certo”, adianta Victor. 1 Tenha certeza de que é isso que você gosta e quer fazer, pois também existem outros empregos com carga horária flexível. Vamos tentar estimular o trabalho de pessoas que viveram em prol do ensino da língua. Quem sabe esse não seja o caminho para lutarmos por melhores condições de trabalho!? 2 Defina um plano de metas consigo mesmo: provas que fará, nível a que chegará, cursos e locais em que trabalhará. 3 Comece um estudo aplicado na língua inglesa, a princípio em um curso que se encaixe ao seu jeito de ser. Não existe o melhor curso, existe o curso que mais se adapta às suas necessidades. 4 Após um conhecimento mais profundo da línguae nível de fluência, faça cursos complementares e faça provas de proficiência (Cambridge, Michigan etc.), pois elas dão reconhecimento internacional para sua competência na língua, como também dão pontos nos processos seletivos, além de atribuir bonificações nos planos de carreira.
5 Entre na graduação em Letras: o conhecimento Intermediário da língua fará com que seu aproveitamento seja bem maior. 6 Inicie sua carreira trabalhando com aulas particulares, o número de alunos é mais limitado e você vai adquirindo confiança e didática pessoal para turmas maiores. 7 Faça uma rede de contatos com outros professores para troca de ideias. 8 Participe dos treinamentos para “instrutores” oferecidos pelos cursos, assim você terá acesso às diversas abordagens, designs, propostas e metodologias. 9 Atue em cursos de idiomas e em escolas. É interessante “passear” pelos dois, pois as propostas são diferentes e você acaba por adquirir “vícios” de um ou de outro quando fica muito tempo somente em uma área. Eu, por exemplo, trabalho com Fundamental, Médio, Superior, cursos de abordagem comunicativa e cursos com abordagem audiovisual – fazendo isso,
estou “antenado” com todas as áreas. 10 Faça concursos e participe de todos os processos seletivos, mesmo antes de terminar a graduação, pois tudo será experiência acumulada. 11 Assista aulas de colegas e peça para que eles assistam algumas suas: trocar ideias é fundamental. 12 Quando estiver em sala, busque atuar frente às necessidades específicas do grupo e peça feedback: o ensino da língua deve gerar algum resultado ao fim do período de ensino, seja a leitura, a oralidade ou o conhecimento da gramática. 13 Seja um eterno apaixonado pelos fenômenos da língua e os relacione com a atualidade (atuando em seus estudos ou com suas turmas). A teoria deve ser vista na prática. Entendemos melhor que will, dentre outros usos, indica previsão quando vemos que Bruno Mars diz “It will rain”. E por fim só podemos entender o verb be se, de fato, entendermos quem somos e onde estamos.
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Centro Médico
Em apoio a alunos e funcionários Acompanhar exames periódicos, medir pressão arterial e prestar primeiros socorros são algumas das ações do posto Foto: Gian Cornachini
A técnica de enfermagem Amanda Corrêa faz curativo em aluna que ralou o pulso
Por Tania Neves
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nfermeira do Trabalho e supervisora do Centro Médico da FEUC, dona Armelina Guimarães Oliveira diz que o melhor de seu trabalho é poder cuidar de um “dodoizinho” de um aluno choroso que se acidentou na aula de Educação Física e vê-lo sorrir novamente; ou detectar que um determinado funcionário sofre de pressão alta (sem saber) e poder orientá-lo a bus-
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car tratamento antes que seu problema se agrave: “Fico extremamente gratificada quando uma ação minha ou de algum funcionário do setor ajuda a cuidar da saúde de nosso pessoal”, diz a enfermeira. Mas há também o lado difícil, segundo ela: “Periodicamente, vamos aos setores fazer verificação de pressão arterial, como forma de detectar precocemente esses problemas e poder orientar os funcionários, mas muitos resistem por achar que é uma vigilância com a intenção de
demitir os que estiverem doentes. Isso chateia a gente, porque não é verdade”, lamenta. Médica do Trabalho que dá plantão semanal na instituição, a doutora Verônica Assumpção reforça a fala de dona Armelina: “Um dos objetivos da medicina ocupacional é acompanhar os funcionários nos exames periódicos, detectar problemas precocemente e orientar quando necessitarem de tratamento”, explica a médica. E quando um aluno ou funcionário passa mal na instituição, o que o Centro Médico pode fazer? Segundo a doutora Verônica, apenas aplicar os primeiros socorros, em seguida encaminhando o paciente para algum hospital ou clínica, se necessário. Se um aluno se fere em tombo na aula de Educação Física, por exemplo, é feito um curativo e os pais são avisados do ocorrido: “Nós imediatamente avisamos à coordenação para que entre em contato com a família, é ela quem decide sobre o que será feito em seguida. Se for algo mais grave, até podemos ir agilizando a ida para o hospital, mas avisamos à família”, diz dona Armelina. A enfermeira conta ainda que há alunos que procuram o setor com dor de cabeça, dor de barriga... “No máximo damos um analgésico leve, depois de perguntar se são alérgicos a algo. Medicamentos mais fortes, somente com ordem dos pais e se trouxerem receita”. A FEUC conta com um seguro escolar que dá atendimento, em clínicas conveniadas, a alunos e funcionários que sofram qualquer tipo de aciden-
te, durante as 24 horas do dia – ou seja: mesmo em eventos ocorridos fora do horário de trabalho e fora da instituição. Mas cobre apenas situações acidentais. O corretor Alessandro Leão explica o que é considerado, neste caso, um acidente: “Se a pessoa sofre uma queda descendo do ônibus e tem uma fratura ou contratura qualquer, é um acidente, então está coberto pelo seguro. Mas se um belo dia ela acorda com dor na coluna, sem ter sofrido um acidente, isso não está dentro da cobertura. Outro exemplo: a pessoa está andando na rua e um corpo estranho entra em seu olho, é um acidente, pode usar o seguro. Já uma conjuntivite que surja de repente não é fruto de um acidente, então não está coberto pelo seguro”, diz ele. Álvaro Martins, chefe de segurança patrimonial da FEUC, diz que, no caso dos alunos, a referência ao seguro está contida na carteira de estudante. Quanto aos funcionários, os mais antigos têm uma carteirinha com o número 0800 para o qual devem ligar em caso de sinistro, mas há tempos esta carteira não tem sido distribuída aos novos funcionários. Ele estuda um modo de fazer uma divulgação mais ampla do benefício: “O que posso afirmar é que este é um produto muito bom e dá segurança a nossos alunos e funcionários. Nos últimos tempos, foram prestados importantes atendimentos a pessoas que teriam tido dificuldades para se tratar se não fosse essa cobertura”, avalia Álvaro. ■
EM CASO DE ACIDENTE, LIGUE PARA O SEGURO ESCOLAR: 0800 704 9399 São três as coberturas contratadas pela FEUC em seu seguro escolar: despesas médicas hospitalares, invalidez total por acidente e morte acidental, com cobertura de até R$ 10 mil por evento. No caso de morte acidental, é pago aos dependentes ou responsáveis pelo segurado o valor integral de R$ 10 mil. Sendo invalidez total por acidente, o valor será definido a partir da tabela de sinistros da seguradora, até o limite de R$ 10 mil. No caso de despesas médicas hospitalares por acidente, o segurado tem direito a custeio do tratamento até o limite de R$ 10 mil. É importante que, tão logo sofra um acidente, o segurado ligue para o 0800 e informe sua ocorrência, mesmo que em um primeiro momento ele não pretenda usar o seguro (por exemplo, se tiver um plano de saúde que lhe dá assistência médica). Isso porque ele poderá precisar do seguro depois, para complementar coberturas que seu plano de saúde não oferece, como o reembolso de valores gastos com remédios. Neste caso, é preciso que tenha informado ao seguro que sofreu o determinado acidente que acabou resultando na necessidade dos remédios, e que guarde as receitas médicas e as notas fiscais dos medicamentos, pois tudo isso será exigido pela seguradora.
Foto: Gian Cornachini
Caiu e se lesionou na aula de educação física? Se precisar, pode acionar o seguro
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Artigo Gabriela Barbosa PhD em Educação Matemática e coordenadora da CEPOPE/FEUC
Educação ainda é o ponto que freia o desenvolvimento humano nos municípios brasileiros O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1965. Atualmente ele está presente em 177 países e territórios, procurando colaborar para a construção de nações que possam resistir a crises, sustentando e conduzindo um crescimento capaz de melhorar a qualidade de vida para todos. Entre suas ações no Brasil, destacamos o cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Com base no Censo do IBGE, este índice leva em conta três indicadores — expectativa de vida ao nascer, educação e renda per capita — e permite uma avaliação do desenvolvimento humano em cada município. Os dados do último estudo, publicados no Atlas de Desenvolvimento Humano Brasil 2013, revelam que a educação teve o maior crescimento relativo no período de 1991 a 2010. Contudo, apesar do avanço, o setor ainda tem o menor índice diante dos três indicadores. Neste artigo questionamos: Por que a educação continua sendo o principal ponto que freia o desenvolvimento humano nos municípios brasileiros? O que podemos fazer para reverter este quadro? Uma análise mais aprofundada dos dados do IDHM nos mostra que mais da metade dos jovens brasileiros ainda não tinha concluído o Ensino Médio. Além disso, estudos recentes desenvolvidos em centros de excelência como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destacam que os índices de repetência
e evasão escolar entre os jovens ainda são altos. Se fizermos um passeio pelas nossas experiências escolares nos ensinos Fundamental e Médio, reconheceremos alguns fatores que, muitas vezes, conduzem ao afastamento do estudante antes mesmo que ele conclua o ano letivo. Certamente, em alguma fase da vida escolar, experimentamos um programa curricular engessado, desatualizado e que em nada nos atraía. Enfrentamos dificuldades para nos identificarmos com aquilo que estudávamos e não fomos motivados por nenhuma área do conhecimento. Lamentavelmente, esta é uma realidade da maioria dos estudantes brasileiros. Se, hoje, prosseguimos nos estudos, isto se deve mais a fatores individuais como incentivos familiares e oportunidades profissionais do que a estímulos oferecidos pela própria escola. Somos exceções quando a regra ainda é o abandono dos estudos. Para revertermos este quadro, são necessárias muitas transformações na educação, desde aquelas relacionadas à infraestrutura precária de muitas escolas e aos baixos salários dos professores até a formação destes profissionais. O professor precisa ser formado para reavaliar e adequar propostas curriculares, desenvolver e colocar em prática novas metodologias de ensino e, num sentido mais amplo, despertar o interesse dos estudantes pelo estudo e pela pesquisa. Para tanto, não basta apenas uma graduação. É preciso investir na formação continuada, que pode se apresentar sob a forma de cursos de extensão, pós-graduação lato e strictu sensu.
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