Revista FEUC em Foco - Edição 16 (março/2014)

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Revista

Ano 5 • Nº 16 • março de 2014 • www.feuc.br/revista

em foco

MULHERES NA FACULDADE

Mais do que a conquista de uma profissão de nível superior, a ampliação de horizontes NOVA GRADUAÇÃO: MEC aprova e as FIC abrem curso de Administração no 2º semestre 1


Institucional

O PAC da FEUC A FEUC construiu, ao longo do tempo, uma bela história com reconhecida trajetória de servir, promovendo a Educação, o desenvolvimento pessoal e profissional em nossa região. O foco sempre foi informar/formar/informar continuamente, despertando o senso e a vivência real de cidadania. Isto porque, embora professores, jamais perdemos de vista a sensibilidade de sermos alunos, aprendizes eternos do Magistério. Nas últimas décadas, apesar das dificuldades por que temos passado, avançamos exitosamente na formação e retenção de pessoas, fortemente determinadas e apaixonadas por nossa missão. E que, graças à experiência e ao conhecimento adquiridos com um ensino de qualidade, em todos os segmentos, atingiram uma formação superior. Muitos desses profissionais retornaram à FEUC e, sistematicamente estimulados, vieram a coroar suas formações com a Pós-Graduação, em Lato e Stricto Sensu, sempre sintonizados com a carreira do Magistério, seja na sala de aula, na gestão educacional ou na liderança institucional, focados na continuidade, no desenvolvimento e na consolidação da FEUC. Parece-nos, com base no que assistimos pelos noticiários de jornais, revistas e TVs, e também pelo que observamos no dia a dia de setores estratégicos em diversos níveis de governos em nosso país, que há um grande e perverso “apagão”. Não nos referimos à questão da luz elétrica, mas à falta de luz (aptidão, identificação, conhecimento e sintonia verdadeiras com a função e o papel que exercem) em muitos profissionais, líderes e gestores nas várias esferas do poder e, por extensão (ou origem), na sociedade em geral, quando a função e o papel que exercem nem sempre tem nexo com formação, mérito e vocação. O PAC da FEUC (Programa de Aceleração de Carreira), baseado na experiência positiva de outras instituições, foi adaptado à nossa realidade, cuidadosamente pensado e gestado nas duas últimas décadas.

Visava a oferecer, no âmbito da FEUC, oportunidades de crescimento e desenvolvimento, dentro e fora do quadro de empregados, para aqueles que demonstrassem identificação, determinação e alinhamento com o espírito servidor da Fundação. O surgimento da FEUC foi fruto da mentalidade pública de um valoroso político da região (Miécimo da Silva) que, entusiasmado pela ideia da implantação de uma faculdade na chamada Zona Rural, comoveu, comandou e arregimentou pessoas especiais que entre si tinham poucas relações, mas que aderiram prontamente, com muita seriedade, à visionária empreitada em Campo Grande. O tempo, implacável e incorruptível, tem-nos tirado do convívio essas pessoas, tão preciosas, que ajudaram a criar e velar pelo bom funcionamento de nossa Instituição. Mais do que nunca necessário se tornou que o PAC da FEUC desse frutos, frutos consistentes, capazes de impedir e repelir um apagão do ideário dessa história, forjada no passado, e que consagrou as FIC, o CAEL, o Colégio Magali e a Unatic pelo importante trabalho que desenvolvem para a melhoria educacional, social e profissional de nossa região. Hoje, estamos cada vez mais estimulando e investindo no preparo e treinamento intensivo de talentos potenciais em nossos quadros de alunos, estagiários e empregados, administrativos ou professores, de forma a acelerar a carreira de talentos que já estão a servir na FEUC. Ao se iniciar o período letivo de 2014 abrimos nossos braços para receber a todos com alegria e entusiasmo e, ao mesmo tempo, desejamos muito trabalho, dedicação e sucesso a cada um em particular. E com incontido orgulho nos congratulamos — sem citar nomes, pois a lista é grande e está sempre aberta a novos integrantes — com todos que, conscientemente, muitas vezes silenciosamente, mas corajosamente, e pelos próprios méritos, têm mostrado visão de servir e, com determinação, integram o grande PAC da FEUC. ■

Durval Neves da Silva Presidente da FEUC 2


Índice

Editorial Foto: Gian Cornachini

Foto: Gian Cornachini

18 Capa

14 Administração

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CAEL

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Infraestrutura

Histórias de mulheres que estão vencendo com a educação

Sub-17 do colégio fatura a Taça Zona Oeste de futsal

O trabalho fundamental da ‘turma do macacão azul’

Nova graduação será oferecida pelas FIC no segundo semestre

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Tema em Questão Para onde leva o discurso da ‘justiça com as próprias mãos’?

Memória FEUC Homenagem à forte e sensível Florence de Oliveira Lima e Silva

CAPA: Crisvânia dos Santos trocou a máquina de costura pelos livros, formou-se em Português-Espanhol na FEUC e em breve concluirá seu mestrado em Estudos da Linguagem na PUC. Foto: Gian Cornachini FEUC em Foco é uma publicação impressa e online da Fundação Educacional Unificada Campograndense. Presidente: Durval Neves da Silva; Diretor Administrativo: Hélio Rosa de Araujo; Diretora de Ensino: Arlene da Fonseca Figueira; Diretora Superintendente: Mônica Cristina de Araújo Torres; Marketing: Bruno Rivéro; Concepção editorial e edição: Tania Neves; Estagiário (texto, foto e diagramação): Gian Cornachini; Periodicidade: trimestral; Tiragem: 5.000 exemplares; Site: www.feuc.br/revista;

Considerações e opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição da FEUC.

Ao mesmo tempo em que a frase “estudar para ser alguém na vida” pode ser de uma crueldade absurda quando mira apenas o status conferido por um diploma, carimbando com a marca da inferioridade aqueles que por uma razão ou por outra trilham caminhos afastados dos bancos escolares, quando compreendido por um ângulo mais humanista este pensamento reflete uma verdade cristalina: a educação de fato torna as pessoas melhores. E é com o respaldo de uma instituição que há mais de meio século se dedica à Educação, com letra maiúscula, que recheamos a matéria de capa desta edição com histórias de mulheres que estão transformando suas vidas ao cursarem uma faculdade. Muito além da conquista de uma profissão mais especializada, elas revelam em seus discursos o quanto o contato com novos saberes, com professores dedicados e com colegas solidários tem feito a diferença em suas trajetórias. Tivemos a oportunidade de falar de Crisvânia, Diva, Luci, Maria de Fátima, Marina, Mônica, Ramayana, Verônica... – mas elas são incontáveis por aqui, e queremos continuar relatando outras histórias no nosso site na internet. Conhece outros casos? Conte-nos. A abordagem feminina foi em função do mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, mas logo voltaremos ao tema também para falar dos homens – todas as histórias de superação nos interessam, pois mostram como a Educação tem o poder de contribuir para a cidadania e para a construção de um mundo melhor. Boa leitura! Tania Neves Editora 3


MUNDO

Natal no Magali incentiva o amor e a solidariedade O Colégio Magali preparou no começo do mês de dezembro uma festa para 22 crianças do Abrigo Lar Crianças Amadas, uma ONG de acolhimento no bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Intitulada de “Natal Solidário”, a tarde de confraternização teve o intuito de incentivar o amor, a solidariedade e a prática de ajudar. Os estudantes do Magali receberam a turma do abrigo na quadra do Colégio com com um almoço, apresentações culturais, lanche da tarde e muitos sacos de presentes. A festa contou com o apoio de familiares dos alunos. Marcia Gama, mãe dos estudantes João Vitor (9º ano) e Gustavo (4º ano), ajudou na doação de presentes, alimentos para a refeição e a servir as comidas às crianças do abrigo e aos alunos durante o

Foto: Gian Cornachini

Mãe de estudantes do Magali colabora com organização da festa evento. Ela participara de uma visita do Magali ao abrigo e, desde então, passou a estimular mais os filhos a ajudarem o próximo: “Eu quero que

Estudante de BSI da FEUC palestra na Campus Party Carlos Augusto da Silva de Carvalho, estudante do 3º período do Bacharelado em Sistemas de Informação, teve projeto aprovado para ser apresentado em palestra na Campus Party. O evento, que aconteceu no fim de janeiro na capital paulista, é um dos maiores do mundo no ramo da tecnologia, e teve como principal tema o empreendedorismo. O estudante apresentou o projeto “ANIMA Pascal — Animações em 2d e jogos em linguagem de programação Pascal”, que tem como finalidade servir como um modelo para o ensino de uma linguagem de programação para aqueles que têm pouco ou nenhum conhecimento sobre o tema. Carlos aplica a linguagem Pascal na criação

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de jogos e animações para despertar o interesse de crianças, jovens e adultos no aprendizado de uma linguagem de programação. Sua página “ANIMA PASCAL” no Facebook tem hoje mais de 7 mil curtidas. De acordo com Carlos, a apresentação em público do projeto durante a FEUCTEC em 2013 e o sucesso comprovado na internet renderam um sinal verde dos organizadores para o estudante ir à Campus Party como palestrante. Carlos avalia positivamente o conteúdo que repassou no evento: “Propus uma alternativa nacional e fácil de ensino de linguagem de programação, com um método inovador de inclusão digital, levando em conta a nossa re-

meus filhos e outras pessoas dêem amor a quem precisa, pois está faltando isso. Precisamos de mais atitudes como essa festa”, ressalta Marcia. ■ Foto: Arquivo Pessoal

Carlos apresenta seu projeto de animações e jogos no evento alidade social”, afirma ele, que ainda estimula estudantes a também desenvolverem e divulgarem seus projetos: “Estudem muito. Procurem seguir um padrão de qualidade. O mercado exige excelência”. ■


Encontro de geógrafos e curso de extensão Ainda estreando na função de coordenadora do curso de Geografia, a professora Rosilaine Silva anuncia duas importantes atividades programadas para este começo de semestre: o encontro com a Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB), nos dias 25 e 31 de março, e um curso de extensão previsto para ocorrer ao longo de 4 sábados, a partir de 29 de março. Confira: GEOGRAFIA em movimento: encontro com a AGB – No dia 25 (manhã) e 31 (noite), representantes da entidade que reúne geógrafos, professores e estudantes de geografia falarão aos graduandos das FIC: “Neste primeiro encontro, trataremos da importância da AGB para a construção do pensamento geográfico brasileiro, os grupos de trabalho em funcionamento hoje e como nossos alunos

poderão se integrar às atividades de pesquisa”, explica Rosilaine Silva. EPISTEMOLOGIA da Geografia e as principais abordagens dos conceitos geográficos hoje – Valendo como preparatórios para o Enade e os concursos públicos, principalmente para alunos de 5º e 6° períodos, os encontros dos dias 29/3, 5/4, 12/4 e 29/4 (de 8h às 12h) abordarão a história do pensamento geográfico, a formação da cidade, o processo de expansão capitalista, o processo de globalização e a geopolítica atual, e serão conduzidos pela professora convidada Gisele Santos, mestranda pela PUC. A inscrição custa R$ 20 e validará 20 horas de atividades complementares. “Em maio teremos o segundo módulo, enfocando a Geofísica e o Meio Ambiente”, adianta Rosilaine. ■

‘Golpe de 1964 – 50 anos de uma dura verdade’ Este é o tema da programação que ocupará vários espaços da FEUC no próximo dia 1º de abril, abordando o período de ditadura militar e as consequências do regime de exceção vivido pelo país. Três telões serão dispostos nos pátios e exibirão, continuamente, fotografias, reproduções de reportagens de jornais e revistas da época e pequenos vídeos. Para o auditório e algumas salas de aula estão previstas mesas-redondas e palestras com visitantes, professores e alunos que pesquisam o assunto. Já na semana anterior a TV Inte-

rativa da FEUC começará a veicular pequenos depoimentos de personalidades brasileiras sobre os anos de chumbo. E o Cinema na FEUC, no sábado, 29 de março, também entrará no tema: o filme programado é “O dia que durou 21 anos”, documentário de Camilo Tavares, filho do jornalista Flávio Tavares, um dos presos políticos trocados em 1969 pelo embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado por militantes de esquerda. Após a sessão, que começa às 13h, haverá debate mediado pelo professor Mauro Lopes. ■

VAI ACONTECER ■ Uma mesa-redonda do IV Ciclo de Palestras em Letras das FIC está marcada para o dia 6 de maio, das 19h às 21h50min, no Auditório FEUC. “Repensando a formação do professor de língua materna e línguas estrangeiras” é o tema deste debate, que tem o objetivo de discutir aspectos relacionados à formação do professor de Língua Portuguesa e Língua Estrangeira. São 180 vagas e a entrada é gratuita. A participação no evento rende 5 horas de atividades complementares. A frequência será feita por meio de assinaturas da lista de presença. ■ O I Fórum de Segurança da Informação, evento do ciclo ConectaFEUC, vai acontecer no dia 10 de maio. Organizado pelos cursos de computação das FIC, o fórum propõe debate e disseminação de conhecimentos sobre segurança de dados, informações e sistemas por meio de palestras, workshops e mesas-redondas. A entrada será gratuita e a inscrição deve ser feita no setor de Cursos Livres. A participação rende 10 horas de atividades complementares. ■ Matemática e Pedagogia estão com duas programações já iniciadas, mas seguem com atividades. Os minicursos de extensão de Matemática acontecem aos sábados (29 de março, 5 e 12 de abril), das 8h às 12h, com o intuito de revisar conteúdos para as provas do Enade; e a oficina “Sexualidade: Desafios, orientações e estratégias em sala de aula”, de Pedagogia, vai de 24 de março a 26 de maio, em dias variados. Para mais informações sobre os cursos, acesse o site www.feuc.br.

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CAEL

É... campeão! Após dois anos na luta pelo título, equipe sub-17 do CAEL

Por Gian Cornachini

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CAEL terminou o ano de 2013 com uma notícia muito boa: a categoria sub-17 do time de futsal do Colégio foi campeã da Taça Zona Oeste, importante campeonato estudantil da região. Foi a primeira vez que o sub-17 do CAEL venceu o disputado torneio, que em outra edição teve o sub-13 da escola como campeão. O Colégio tem como prática oferecer aos alunos, em seus horários ociosos, atividades como futsal, handebol, vôlei e oficina de teatro. No caso do futsal, treinam estudantes com idades entre 9 e 17 anos. Os alunos são divididos em categorias por faixa etária: sub-9 engloba estudantes de até 9 anos, sub-11 de até 11 anos. A mesma lógica segue para as categorias sub-13, sub-15 e sub-17. De acordo com Miguel Louro, professor de Educação Física e treinador das equipes do Ensino Médio, o treinamento na escola não tem como objetivo vencer campeonatos, mas contribuir para o desenvolvimento do estudante: “A gente não pensa como clube esportivo, mas como escola. O objetivo é a socialização, coordenação motora, a melhora de aprendizado em sala de aula. A gente não está formando atletas, mas cidadãos”, explica Miguel. A equipe campeã esteve treinando com Miguel desde o 1º ano do Ensino Médio, quando participava do sub-15. Segundo o professor, os estudantes da época eram tidos como “uma das melhores equipes”. Em 2011, o time alcançou o terceiro lugar na Taça Zona Oeste. No ano seguinte, foi o mesmo resultado. Mas em 2013, em disputa final com o Colégio Guilherme da Silveira, de Bangu, e com o placar fechado em 4x2, o CAEL levou o troféu do primeiro lugar no campeonato estudantil.

“Esse título pode se resumir em muita dedicação de todos, e foi uma forma de retribuir ao Miguel tudo o que ele fez por nós nesses três anos. É uma sensação de dever cumprido!”, afirma Bruno Araujo, de 18 anos, recém-formado em Petróleo e Gás no CAEL e um dos jogadores da equipe. O time também contou com o apoio de um jovem destaque: Gustavo Ribeiro, de 16 anos, do 2º ano do técnico em Química, eleito o melhor goleiro da Taça Campo Grande de 2013. Desde outubro passado ele vem treinando no Clube dos Subtenentes e Sargentos do Exército do Rio de Janeiro, após convite de um juiz da competição: “venho me dedicando para melhorar cada vez mais, e sei que isso me ajudou muito para mostrar meu potencial na equipe do CAEL”, ressalta Gustavo. Ao fim da Taça Zona Oeste, saiu vitorioso também o professor Miguel, que recebeu uma faixa com os dizeres “Miguel, você é mais que um treinador, é um pai. Obrigado por tudo! Nós te amamos!!!”. Ingrid Monteiro, de 18 anos, recém-formada no técnico em Publicidade e uma das organizadoras da homenagem, explica o porquê de ter feito a surpresa ao professor: “Miguel sempre foi um pai para os jogadores. Dava esporro, chorava junto, era amigo e professor. Fizemos a faixa para demonstrar o quanto ele é especial”, aponta ela. Emocionado com a surpresa vinda dos estudantes, o professor Miguel guarda com carinho o momento na história do Colégio e a amizade feita com os estudantes: “A maior vitória não é a medalha de campeão, é a amizade que construímos durante esses anos, é vê-los crescendo e se desenvolvendo. Meu sonho é que eles voltem daqui a 4 ou 5 anos com um diploma de graduação na mão, mostrando que deram um passo a mais na vida”, revela Miguel. ■

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Fotos: Acervo/Marketing FEUC. Ilustração: Gian Cornachini

vence o campeonato estudantil Taça Zona Oeste de futsal


Na foto acima, equipe do sub-17 de 2013 reunida com amigos e familiares após vitória na Taça Zona Oeste; professor Miguel Louro segura o troféu; Na foto ao lado, professor é homenageado com uma faixa e chamado de “pai”

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Teatro na FEUC

A arte de EMOCIONAR Grupo de teatro revela talentos na FEUC

Fotos: Gian Cornachini

Pai escravo (Adriano) segura o filho (Roberto) sob gritos e choro

Por Gian Cornachini

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grupo de teatro CAEL em Movimento tem dado um show de encenação. Com direção de Adriano Marcelo Leandro, funcionário da secretaria do Colégio e professor de teatro da FEUC, a peça “O Navio Negreiro” foi reapresentada em fevereiro devido ao sucesso garantido na primeira exibição, em outubro de 2013. Inspirada na poesia social também intitulada de “O Navio Negreiro”, de Castro Alves, a peça teatral retrata o traslado de escravos negros da África em navios para o Brasil, sob domínio dos senhores no período anterior à Abolição da Escravatura. A apresentação revelou atores talentosos presentes no universo da FEUC, entre eles estudantes e funcionários. A auxiliar de serviços gerais Maria Aparecida Ramos, de 60 anos, foi convidada por Adriano a fazer o papel da matriarca escrava. Apesar de não ter sequer uma fala durante a encenação, Maria representou com muita expressão a vida sofrida e cansada da personagem tirada a força de sua terra natal, e se orgulha

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Giulianna: “Eu mergulho na sensação para as lágrimas virem” de ter participado da peça: “Nunca participei de nenhum teatro, foi uma coisa nova para mim. Estou adorando, porque distrai a cabeça da gente, e é maravilhoso ser aplaudida por todo mundo!”, revela Maria, sorridente. Já a estudante do 3º ano do técnico em Turismo Giulianna Menezes teve um grande destaque na peça. A jovem fez o papel da neta do senhor do navio, uma moça que sofria por ver os escravos sendo tratados de maneira desumana. Em um determinado momento, a personagem entra sozinha no palco, não fala nada e apenas chora. As lágrimas eram verdadeiras. “A música e o clima da cena são emocionantes. Eu mergulho na sensação

para as lágrimas virem”, conta Giulianna. “Sou atriz há três anos, e a gente tem que ter técnica para emocionar o público, senão o trabalho estraga”, revela a estudante, que pretende tirar seu registro de atriz em breve e trabalhar na área por hobby. Roberto Silva, aluno do 2º ano do técnico em Administração, também deu um show de canto e expressão no papel do filho do escravo líder. A mãe de Roberto, Mary Suzana, esteve presente para aplaudir o estudante: “A peça foi linda, muito tocante. Acho muito bom incentivar o teatro na escola, porque desde que meu filho entrou no grupo, eu vi que ele ficou mais amadurecido. O teatro é ótimo para a educação”, avalia Mary. ■


Mercado de Trabalho

Estágio à vista!

Foto: Gian Cornachini

Coordenação de Estágios e Mercado de Trabalho realiza feira de oportunidades em abril na FEUC

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IV Feira de Estágios e Oportunidades já tem data marcada para acontecer. Nos dias 2 e 3 de abril, das 9h às 21h, o pátio da FEUC estará repleto de estandes em exposição, com a presença de diversas empresas, agentes de capacitação de oportunidades e instituições escolares conveniadas da Zona Oeste do Rio de Janeiro. A feira acontece anualmente e é organizada pela Coordenação de Estágios e Mercado de Trabalho (CEMT) da FEUC. O tema condutor desta edição é “Relações Humanas: o comportamento como diferencial para o mundo do trabalho”. Por meio de palestras e workshops, o evento pretende discutir a inserção e a realidade dos jovens no mercado de trabalho. Elisabete Boti, responsável pela CEMT, aponta a impor-

Pátio da FEUC terá 20 estandes de empresas e parceiros montados tância de os estudantes visitarem a feira de estágios: “Quando as empresas aceitam o convite de estarem conosco, elas trazem oportunidades de estágio e emprego. Na maioria das vezes, os alunos conseguem essas vagas. São 20 estandes para colocar 20 empresas. Então, tem muita oportunidade, pois o evento é feito justamente para isso”, afirma Elisabete. A feira é destinada aos estudantes dos cursos técnicos e de graduação da FEUC. Ela também é aberta à comunidade e a entrada é gratuita. Mais informações: (21) 3408-8478. ■

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UNATIC

A prévia dos 20 anos Festa de encerramento das atividades de 2013 encantou pelas belas apresentações e a animação do grupo

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caminho de completar 20 anos em agosto, a Universidade Aberta à Terceira Idade em Campo Grande (Unatic) fez em dezembro passado uma de suas mais animadas festas de fim de ano dos últimos tempos, com a realização do tradicional amigo oculto e apresentações de dança, teatro, canto coral e ginástica, além de uma celebração religiosa pelo Natal. “Foi uma tarde muito boa, muito agradável”, disse a professora Leda Noronha, diretora da Unatic, elogiando os integrantes do grupo pela dedicação e participação nas atividades. A cobertura completa do evento você pode ver no site da revista FEUC em Foco na internet (http://migre.me/ioL42), incluindo alguns comentários postados por leitores: “Procuraremos

Duas décadas de belas histórias Para já ir esquentando o clima de festejo pelos 20 anos da Unatic, a FEUC em Foco decidiu contar um punhado das muitas histórias que envolvem seus integrantes: histórias de vida ou momentos marcantes protagonizados por alguns deles. No site da revista, na internet, a cada 15 dias publicaremos um novo relato. A estreia da série será na segunda semana de abril com uma conversa bem descontraída que tivemos com a aluna Wanda Braga Campos, de 81 anos, a mais antiga aluna da Unatic, que há quase 20 anos marca presença toda semana por aqui, embora tenha ficado um pequeno período afastada do grupo, devido a dificuldades em família. Ela nos contou um pouco sobre sua vida e revelou como a Unatic a ajuda a se manter ativa e sempre de alto astral. 10

fazer muito mais em 2014”, escreveu a aluna Auderita Araújo. “No próximo ano vamos caprichar mais para sermos merecedores de sua atenção”, completou Waldea Bernardo Ferreira. “Quero enfatizar também a enorme participação das alunas da Unatic nas atividades”, atestou o professor de ginástica Luiz Alberto Camillo. Em agosto deste ano a Unatic completa 20 anos de funcionamento, consolidando-se como um dos mais importantes projetos sociais da Zona Oeste voltados para o público de terceira idade, com aulas de informática, línguas, artesanato e diversas outras atividades desenvolvidas com o objetivo de promover a integração de seus participantes. Uma família que hoje já passa de uma centena de membros. ■ Fotos: Gian Cornachini

Wanda no grupo de movimento da professora Sheila, na festa de fim de ano


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Prêmio FEUC

Poesia que bate recorde

Número de inscritos na 20ª edição do concurso foi o maior já registrado Por Tania Neves

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esclando tradição e renovação, o Prêmio FEUC de Literatura sagrou campeões em 2013 na categoria Alunos da FEUC dois velhos conhecidos de quem acompanha o certame – Gui Soarrê e Paulo D’Athayde, já premiados anteriormente – e um novato: André de Oliveira Nascimento. Gui e André são alunos do curso de Letras, no qual Paulo acaba de se formar. No Âmbito Nacional, os vencedores foram Giovanna de Oliveira, do Distrito Federal; Paulo Franco, de São Paulo; e Ingrid Utzig, do Amapá. A 20ª edição do concurso de poesias bateu um duplo recorde: teve a mais intensa participação de todos os tempos, com 30 inscritos na categoria Aluno da FEUC e 534 na Âmbito Nacional, e a qualidade dos poemas apresentados foi altíssima, segundo os coordenadores, Américo Mano e Rita Gemino: “A grande quantidade e a qualidade dos poemas exigiram dos jurados uma atenção espe-

cial, para não haver injustiça com ninguém”, afirmou Mano. GUI SOARRÊ repetiu este ano a mesma primeiríssima colocação do ano passado, recorrendo mais uma vez à sua “estratégia” de sucesso: deixar por conta da filha a escolha do poema a ser inscrito. “Se tenho poesias guardadas e protegidas, é graças a ela, porque não me preocupo muito com isso, não costumo sequer reler o que escrevi, faço mesmo é para exorcizar os meus demônios, que não são poucos”, afirma a também atriz e maquiadora, que este mês começará a filmar um curta-metragem. Pelas lembranças de Gui, “Insolências” foi escrito em 2002. ANDRÉ NASCIMENTO, o terceiro colocado, fez sua estreia em concurso de poesia já faturando um lugar no pódio, mas diz que entrou na disputa de forma bem despretensiosa: “Foi mais para fazer companhia a um amigo, que se inscreveu na categoria Âmbito Nacional e eu tinha certeza de que ele ganharia. Fui surpreendido por me clasFoto: Gian Cornachini

André e Gui conversam no pátio: estreante e veterana são alunos do curso de Letras 12


es a cada ano

INSOLÊNCIAS (Gui Soarrê) Contrária às profecias Foi fêmea que nasci, Para fiar fio a fio as coisas deste mundo. Fiquei mãe na vida, maturada, E vez por outra faço de conta que sou santa. Em cada tempo sou uma, Só quando sangro sou todas. Quando posso cumpro as leis impostas, Quando não, viro faca e corto. Entre suave e rude remendo as feridas que abro. É amando que me esgoto inteira!!! Mas se desamo fico indigesta, desbotada, Feito roupa no varal. Aí, então, me desvencilho, corto caminho, Pego de novo a estrada... E é tudo meu domínio.

o, com poemas de altíssima qualidade Foto: Gian Cornachini

LUTO OFICIAL (Paulo D’Athayde) Se há fantasmas Eles resolveram sair de suas alcovas Para atormentar minha memória O sagrado silêncio tomou conta de mim Uma punhalada cortante na alma O matiz da melancolia Uma oração de fim de estrada Nem mesmo GPS me daria um rumo certo Deliberadamente

Paulo na biblioteca, com seu livro de poemas publicado em 2003: sensações o inspiram sificar e ele não”, conta André, que estreou este mês também como ator, na peça “O Mágico de Oz”. O poema “Nuvens da fuga”, segundo ele, reflete um momento de crise e perplexidade após o rompimento de uma amizade de longa data. PAULO D’ATHAYDE, que já esteve em todas as posições do pódio do PRÊMIO FEUC, retoma o segundo lugar nesta edição. Recém-formado em Letras, mas atuando profissionalmente como iluminador cênico e professor de iluminação, Paulo já tem um livro de poemas publicado: “Sinestesia”, lançado em 2003. O título é uma referência direta àquilo que mais o impulsiona durante o processo de criação: as sensações que dançam ao seu redor, os cheiros, as imagens, elementos que ele belamente traduz em metáforas. “Luto oficial” foi escrito especialmente para o concurso: “Todos os poemas que coloco no prêmio FEUC são inéditos, não coloco poemas já publicados”, diz. ■

Lança em riste O dia ficou triste

NUVENS DA FUGA (André de Oliveira Nascimento) Hoje é inverno. Um dia nublado com nuvens cobrindo as montanhas, os coqueiros e as flores. Não se vê o azul do céu. Hoje é inverno. Triste e vazio está meu coração. As nuvens já encobrem meu sorriso, meus olhos e meus abraços. Hoje é inverno. E já não sei se quero fugir, talvez gritar, correr, me esconder. Hoje é inverno, mas a sequidão da vida se umedece com a gota da chuva. 13


Ensino Superior

Administração: Novo curso das FIC MEC dá sinal verde para instituição começar a ofertar o bacharelado a partir do segundo semestre deste ano

Professores Rafael Neves (à esquerda) e Valdemar Ferreira (à direita) apresentam a instituição para Vladimir Gonçalves, o novo coordenador de Administração (no centro) 14


Por Gian Cornachini

Foto: Gian Cornachini

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s Faculdades Integradas Campo-Grandenses (FIC) receberam autorização do Ministério da Educação (MEC) para oferecer um novo curso na instituição: bacharelado em Administração. A partir do segundo semestre deste ano, a FEUC iniciará a formação de futuros administradores, e passará a contar com nove graduações, sendo sete licenciaturas e dois bacharelados. O curso de Administração já era uma demanda antiga da comunidade da região, fato confirmado pela telefonista da FEUC Jenifer Kezia Palma: “Administração é um dos cursos mais procurados por quem liga pra cá. Eu dizia que não tinha e eles perguntavam se eu conhecia uma outra faculdade por perto que oferecesse a graduação”, conta ela. A busca pelo curso na região é um reflexo da oferta de trabalho, como explica Valdemar Ferreira da Silva, coordenador Acadêmico das FIC: “Temos muitas empresas instaladas nas redondezas da FEUC e em cidades vizinhas, como o caso de Itaguaí, que tem atraído indústrias para a região por conta da abertura do porto na cidade. E são poucas instituições por aqui que têm o curso de Administração. Há uma demanda reprimida na área”, observa Valdemar. O pedido de abertura do curso, formalmente apresentado ao MEC, foi aprovado após visita de duas avaliadoras do órgão na primeira quinzena de março. Elas consideraram adequadas a estrutura da FEUC e o projeto da graduação, que já começará a ser ofertada no período noturno do próximo semestre. Serão 120 vagas anuais, sendo metade destinada ao vestibular do início do ano e o restante para o segundo semestre. Vladimir Leite Gonçalves é o novo coordenador do curso. Contratado especialmente para o cargo, o professor é bacharel em Administração, especialista em Comércio Eletrônico e mestre em Economia Empresarial. Além da carreira docente, Vladimir acumula vasta experiência profissional na área: já trabalhou em empresas como Ambev, IBM e Bradesco, e no Exército Brasileiro. “Estamos muito confiantes no curso de Administração da FEUC, pois o corpo docente envolvido no projeto é excelente”, afirma o coordenador. “Constatamos uma carência na região de cursos com qualidade e compromissados com o atendimento de nossa população local. Estou esperando que essa abertura possa significar um novo marco na educação superior presente na região e que isso possa servir de impulsionador aos nossos futuros alunos e para o mercado de trabalho”, ressalta Vladimir.

Dados do Censo de Educação Superior de 2012 divulgados no ano passado pelo MEC apontam que Administração é o curso mais procurado no Brasil. Ao todo, são mais de 800 mil estudantes matriculados. No entanto, os números não representam grande concorrência para os interessados na área, como explica o professor Vladimir: “Ainda é pouca a formação dessa mão de obra. Temos um cenário que nos mostra um déficit entre a demanda das empresas e a nossa capacidade de formar administradores. Com isso, podemos esperar que o mercado de trabalho absorva a mão de obra qualificada para atender às suas necessidades”, garante o professor. As oportunidades de emprego para os futuros administradores são muitas, pois podem atuar em qualquer tipo de empresa, desde o ramo de siderurgia até educação, por exemplo. “Isso ocorre pelo fato de que qualquer empresa necessita de um profissional habilitado ao exercício de um plano de carreira, à execução de um orçamento ou controle de fluxo de caixa. Mas há carência nas áreas de projetos, logística e finanças. Por este motivo, bons profissionais nessas áreas são contratados a ‘peso de ouro’. Uma preparação de excelência, aliada ao curso de idiomas, trará bons frutos para os novos administradores”, aponta o professor Vladimir. O presidente da FEUC, professor Durval Neves, acredita que Administração está vindo na hora certa. Segundo ele, a gestão da educação cada vez mais adquire um grau de complexidade que pede soluções criativas e bem dosadas. Como a FEUC tem a tradição de incorporar egressos da graduação em seus quadros profissionais, pode vir futuramente a se beneficiar disso: “Apesar de, no nascedouro, a faculdade ter sido de formação de professores, com o tempo ela caminha para outras direções. Por exemplo, no momento em que a FEUC sentiu necessidade de se informatizar, a maneira mais inteligente que encontrou foi também abrindo o curso de bacharelado em Sistemas de Informação. Isso trouxe um crescimento espetacular não somente no aspecto acadêmico, mas também nos serviços prestados à comunidade e na gestão administrativa, pois o saber especializado dos profissionais da área contribuiu muito para nossa expansão”, lembra Durval. “Com Administração esperamos que aconteça a mesma coisa, e signifique uma nova etapa de crescimento e desenvolvimento da instituição. E outros cursos ainda virão. Estamos estudando algumas possibilidades na área de tecnologia e até mesmo engenharias”, revela, com otimismo, o presidente. ■ 15


Tema em Questão

‘Justiça com as próp

Professores da FEUC debatem os sentidos das manifestações violentas Por Tania Neves Desde que a artista plástica e ativista Yvonne Bezerra de Mello postou nas redes sociais a foto de um menor espancado e despido, preso a um poste no Flamengo, e denunciou o caso como obra de autoproclamados justiceiros que agem na região atacando quem eles identificam como bandidos, a polêmica se instalou nos meios de comunicação e nas rodas de conversa: “é válido fazer justiça com as próprias mãos?”, “torturar um suposto ladrão, em vez de chamar a polícia, é fazer justiça?”, “ações assim vão resolver o problema da insegurança e da criminalidade?”. Pinçando comentários sobre o tema na mídia, temos desde as violentas palavras ditas no ar pela jornalista do SBT Rachel Sheherazade, que se alinha aos que defendem o ‘olho por olho’ (“Num país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, que arquiva mais de 80 por cento de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível”), até a quase poética tomada de posição do escritor Luís Fernando Veríssimo, em crônica publicada dia 16 de fevereiro em O Globo (“Inacreditável é, depois de dois mil anos de civilização cristã, existir gente que ama seus filhos e seus cachorros e se emociona com a novela e, mesmo assim, defende o vigilantismo brutal, como se fazer justiça fosse enfrentar a barbárie com a barbárie, e salvar uma sociedade fosse embrutecê-la até a autodestruição”). Para estimular a discussão no ambiente da escola e da comunidade, convidamos três professores das FIC e um do CAEL a “pensarem em voz alta” com a gente sobre esses fatos. Cada um buscou interpretar de acordo com suas convicções e também a partir do olhar das disciplinas que ministram: Sociologia, Filosofia e Direito. Umberto Eller, professor de Ci16


prias mãos’ é justiça?

s na sociedade e dos discursos de incentivo à barbárie presentes na mídia Arte: Gian Cornachini sobre foto de Yvonne Bezerra de Mello

ências Sociais, acredita que uma das razões desse cenário é o imediatismo que está tomando conta das pessoas: cada vez mais, todos querem respostas muito rápidas e automáticas para os problemas, em vez de soluções mais pensadas. “A gente tem trabalhado mais, dado mais atenção às coisas da vida, e se dedicado pouco à essência mesmo. Não se fala de uma educação mais humanizada, de acesso à cultura para todos, daí esse embrutecimento. É a barbárie civilizada de que falava Foucault”, diz o professor. Especialista em Direito e Legislação e coordenador do turno da noite do CAEL, o professor e advogado Paulo Accioly entende que o papel de punir é exclusivo do Estado, e que quem julga deve fazê-lo sempre à luz da Constituição, respeitando os direitos humanos acima de qualquer situação. Ele considera que uma das razões dessas atitudes extremas de “justiçamento” tem a ver com nossa legislação, que seria defasada e não garantiria a aplicação adequada da Justiça: “Só está funcionando para quem tem recursos, a polícia prende e o advogado vai lá e liberta. A lei, do jeito que está, só atende aos interesses dos magnatas. Os políticos estão vendo isso, mas parece que não lhes interessa enxergar. A insegurança do povo está aí”, defende. A professora de Sociologia Carmen Castro concorda que a lei acaba atendendo mais aos estratos sociais poderosos, mas duvida que a dita desatualização do Código Penal seja a questão principal. “O problema não é falta de lei, mas sim o modo como alguns sujeitos se servem da lei, passando por cima dela, um uso mais ao nível do privado do que do coletivo. O Estado no Brasil é altamente punitivo, basta ver que temos um dos sistemas carcerários mais lotados do planeta. Mas quem está lá? Os pobres, os negros. O ‘bandidinho’ pode ser amarrado no pos-

te, mas o banqueiro corrupto não?”, diz Carmen, chamando a atenção para o fato de que os episódios de linchamento não são um fenômeno novo: “Muitos sociólogos no passado já abordaram essas características de autoritarismo e barbárie. A sociedade brasileira não é pacífica. E é excludente, desigual. Não é possível falar de justiça num sistema assim”. Flávio Pimentel, professor de Filosofia, também rejeita a justificativa dada por alguns de que o povo estaria fazendo “justiça com as próprias mãos” porque faltaria a presença da polícia para coibir a violência: “Quando está presente, o que a polícia faz é aplicar violência e não coibir. Tanto que, quando se arvoram a ‘fazer justiça’, essas pessoas reproduzem a violência da polícia”, diz Flávio. O professor não vê aí uma manifestação massiva do povo, mas sim de alguns grupos: “A maior parte da população está é na posição de vir a ser vítima desse tipo de violência, tanto por parte dos ‘justiceiros’ quanto da polícia. E se há algo que aparece aí como falta, é a falta de uma política de segurança cidadã”. Para finalizar, os três professores das FIC chamam a atenção para uma mesma questão: o tanto que esse clima de violência e linchamento tem sido estimulado pela abordagem rasa do problema nos meios de comunicação: “O debate é desequilibrado, já que as TVs, principal meio de acesso à informação por parte da população, não propõem uma reflexão mais abrangente, focando apenas nos pontos de interesse dos poderosos”, diz Umberto. “Quando uma jornalista diz no ar que a atitude de vingadores é compreensível, está estimulando a violência e não a reflexão”, ressalta Carmen. “Ao dizer que isso é o povo fazendo justiça, os meios de comunicação estimulam o oprimido a incorporar o olhar do opressor e ver o outro oprimido como seu inimigo”, conclui Flávio. ■

“Se há algo que aparece aí como falta, é a falta de uma política de segurança cidadã”

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Capa

Foto e arte: Gian Cornachini

Educa caminh

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Verônica ‘chutou o balde’ da opressão, deixou para trás um relacionamento em que não era valorizada e ingressou na faculdade para cursar Pedagogia e transformar sua vida


ação que abre novos hos e também os olhos Conheça histórias de mulheres que transformaram suas vidas ao concretizar o desejo de ingressar na faculdade Por Tania Neves

“E

squece! Você acha que tem capacidade para ler seis livros em um semestre?”; “Estudar para quê, se já sabe o suficiente para pilotar um fogão?”. Frases desse tipo, ditas por companheiros ou outros familiares, fizeram mulheres como Verônica e Diva engolirem o choro e até duvidarem se tinham ou não o direito de sonhar com uma faculdade. Mas incentivos como “Pode se matricular, eu trabalho mais para você poder estudar” e “Vá em frente, você consegue!” impulsionaram guerreiras como Crisvânia e Maria de Fátima. E a elas se juntam Marina, Mônica, Ramayana, Luci e muitas outras alunas que passaram pelas salas de aula da FEUC ou estão neste momento cursando suas graduações e pósgraduações, a despeito de todas as dificuldades que a vida impõe. Mulheres para quem a entrada na faculdade representou ou está representando muito mais do que obter um diploma e uma (nova) profissão: uma oportunidade ver o mundo com outros olhos. Neste Mês da Mulher, a FEUC em Foco traz algumas dessas histórias marcantes. Verônica Faustina Nogueira tem 41 anos e está no 5º período de Pedagogia. Lá atrás, quando começou seu 2º Grau, queria ter trilhado o caminho do Magistério, mas não pôde. Logo precisou encarar o trabalho (atuou como secretária e auxiliar administrativa), teve filhos, focou em seu sustento, e o sonho da Pedagogia foi ficando para trás. Tempos depois a mãe insistiu para que ela voltasse a estudar, ofereceu ajuda, mas seu

companheiro na época – que tinha curso superior – só desestimulava. “Ele valorizava as pessoas com faculdade, mas dizia que isso não era para mim, só me jogava para baixo. Quando minha mãe morreu, me deu uma coisa e eu decidi correr atrás dos meus sonhos”, conta Verônica, que saiu de casa e entrou na briga: fez vestibular, usou as economias para começar a faculdade e em pouco tempo já estava trabalhando como professora em escola particular. Agora ela planeja a pós-graduação: “Tenho vaga reservada em Psicopedagogia!”. “Chutar o balde” da situação de opressão que vivia, segundo Verônica, foi fundamental. Ela diz que o primeiro passo foi aprender a transformar um famoso ditado popular. “Ruim com ele, pior sem ele? Nada disso! Melhor sem ele”, afirma, completando com uma autocrítica: “Eu que deixei. Ninguém faz isso com a gente se a gente não deixa”. Formada em Ciências Sociais pelas FIC em 2006, Marina Ribeiro também se deixou oprimir por muito tempo, antes de virar a mesa. Casou cedo, teve filhos, trabalhava como costureira e reproduzia modelos familiares de que, como mulher, tinha obrigação de cuidar dos filhos enquanto o companheiro podia se divertir com os amigos e fazer o que quisesse. “Deixar a fábrica onde eu costurava foi uma decisão difícil, pois era o sustento dos meus filhos, mas a opressão era grande, com horas extras obrigatórias e proibição de estudar”, conta Marina. Ela fez a faculdade graças a uma bolsa de estudos integral, e logo que iniciou o curso começou a trabalhar com jovens e mulheres, estagiando no Núcleo de Estudos Urbanos (NEURB). 19


Capa Com a formação na FEUC, Marina se candidatou a um estágio no Ibase e se destacou na disputa com uma centena de candidatos. Hoje é pesquisadora do instituto, cursa mestrado na UniRio e acaba de se mudar da casa da mãe: “Minha primeira casa, aos 40 anos!”, comemora. Mônica Teixeira Pinheiro de Oliveira, de 47 anos, interrompeu os estudos por volta dos 16, logo depois de se transferir para o turno da noite com o objetivo de trabalhar no comércio. O casamento, os filhos e a ascensão na empresa puseram a escola em segundo plano. Anos depois, com os meninos criados – hoje eles têm 26, 18 e 16 anos – ela retomou os estudos disposta a contribuir com o desenvolvimento do mais novo, que tinha problemas de aprendizagem. Escolheu Pedagogia, e se formou no fim do ano passado. O interessante é que a opção pela retomada dos estudos se deu no momento em que o marido, militar, propôs que ela parasse de trabalhar para ter mais tempo para si. “Eu pensei... ficar em casa? Quero tempo é para fazer algo realmente importante. Decidi estudar e ele me apoiou”. Elogiadíssima por professores e admirada por colegas – “nunca faltei, chegava cedo e era tida como ‘caxias’” – Mônica fez Iniciação Científica nas FIC, contribuiu em pesquisas e já emendou numa pós-graduação em Psicopedagogia. “Depois dessa pós vou fazer outra, em Supervisão, e me candidatar para trabalhar com Orientação Educacional quando abrir concurso. A faculdade mudou minha vida, o modo de ver o mundo, o assunto das conversas. Eu já nem vejo quase TV, prefiro ocupar o tempo com boas leituras”. Ler, ler e ler mais um pouco se tornou a rotina de Crisvânia dos Santos, de 39 anos, que no fim de

2011 se formou em Português-Espanhol nas FIC e nas próximas semanas estará defendendo a dissertação “Aquele abraço – Estudo dos demonstrativos em contextos de uso”, no mestrado em Estudos da Linguagem na PUC. Um caminho pavimentado com muito sacrifício, determinação e dedicação. Nascida numa família de nordestinos em que as mulheres se tornavam costureiras ou manicures, e os homens trabalhavam de pedreiro ou mecânico, ela cedo teve que abandonar a escola para ajudar a mãe nas costuras. Mas quando viu que a vida estava passando sem ter realizações, ousou tentar mudanças. “Meu marido disse: ‘volta a estudar que eu trabalho mais para segurar as pontas’. Fiz isso, consegui o Prouni, estudei muito, me formei, passei em concurso para dar aula no município e para o mestrado na PUC”, conta Crisvânia, entusiasmada porque seus ganhos agora permitem retribuir o apoio de Anderson: o marido reduzirá o trabalho na mecânica para cursar Matemática ou Engenharia a partir do segundo semestre. Em oposição total a apoio, o que Diva da Silva Carvalho teve por muito tempo foi o terror da frase sobre saber o suficiente para pilotar um fogão ecoando em sua mente. Mesmo depois de separada do marido e com os filhos criados – com seu salário de empregada doméstica – ela continuava sufocando o desejo de estudar e tinha pânico de escola, por ter introjetado que aquilo não era para ela. Tentava se realizar por meio dos filhos, dando-lhes as condições que não teve. Sua filha mais velha, Patrícia, que cursou o Normal e depois fez faculdade de Nutrição, foi quem um dia decidiu que ia “empurrá-la” para a frente. “Ela fez que nem mãe: me levou pela mão e me matri-

Foto: Gian Cornachini

Foto: Gian Cornachini

Marina: com salário de pesquisadora do Ibase, alugou sua primeira casa, aos 40 anos 20

Mônica Teixeira na biblioteca: leitura tomou o lugar da televisão na vida da aluna


Foto: Gian Cornachini

culou no supletivo. Cada etapa que eu terminava, ficava quietinha para ver se ela esquecia de mim, mas lá vinha ela: ‘agora é o segundo grau’; depois: ‘agora é a faculdade’”, conta Diva, que aos 53 anos cursa o 5º período de Geografia nas FIC e já se imagina lecionando daqui a algum tempo. Diva trabalha há 20 anos como doméstica para uma família em Copacabana. Mora em Santa Margarida, acorda às 3h da madrugada para ir trabalhar, lê os textos acadêmicos no trem (quando consegue se sentar e não cair no sono), chega quase em cima da hora para as aulas noturnas na FEUC e não falta nunca. Admite que os 30 anos afastada da escola lhe trazem dificuldade nessa retomada, mas tem nos professores e em muitos colegas um apoio precioso. “Adoro meus professores, principalmente a Rose, a Alice, mas gosto de todos, eles me ajudam muito”, diz a aluna, cuja luta inspira os colegas: “Mais de uma vez já me disseram: ‘quando penso em desistir, lembro que a senhora acorda às 3h para trabalhar e nunca falta’. Vê lá se eu imaginava que um dia ia ser exemplo para alguém!”. Já Maria de Fátima Alves Faustino Fróes, de 57 anos, que está no 3º período de Ciências Sociais, veio para a faculdade justamente com a intenção de se tornar um exemplo para sua família: duas filhas, quatro netos e uma bisneta, por enquanto. “Parei de estudar há 35 anos, matando aquele sonho de me formar, porque a vida não oferecia mesmo condições. Agora voltei porque estou vendo que é importante dar aos filhos e aos netos essa demonstração de que é preciso querer crescer e conquistar objetivos”, afirma Fátima, que sempre trabalhou como cabeleireira. Casada há 5 anos com Delci Gonçalves Fróes, de 73 anos, ela tem

Diva chega na FEUC para a aula, após longa jornada de trabalho e viagem de trem Foto: Gian Cornachini

Maria de Fátima, entre Delci e Renata: tornando-se exemplo para os filhos e os netos Foto: Gian Cornachini

Crisvânia trocou a máquina de costura pelos livros e hoje é professora, quase mestre 21


Capa no marido o maior incentivador: “É uma tremenda esposa, mãe e avó maravilhosa. Eu digo a ela: ‘Mete a cara que você consegue’. E ela vai fundo, às vezes dá 3 horas da manhã e está lá estudando”, conta Delci, que passou a frequentar a Universidade Aberta à Terceira Idade (Unatic) para dividir o mesmo ambiente educacional com a mulher. Roberta, a neta de 14 anos, é outra que apoia a nova vida de Fátima. Aluna do 9º ano do Fundamental e fazendo preparatório para o ensino técnico, ela outro dia perguntou se a avó conhecia “um tal de Marx”, sobre quem precisava ler. “Deu uma alegria enorme poder compartilhar com ela tudo o que já estudei sobre o filósofo, acho que meu entusiasmo a contagiou. É disso que falo quando digo que quero ser um exemplo”. Luci Sá Freire terminou sua primeira graduação na FEUC (Português-Inglês) em 1997, fez pós em 2000, voltou em 2006 para cursar Espanhol e hoje, aos 48 anos, é mestre em Gestão e Educação e dá aula nas redes municipais de Itaguaí e Seropédica. Uma trajetória que só foi possível pelo empenho que demonstrou – e a ajuda que recebeu – nos primeiros anos na faculdade. Desempregada na época, vivendo de trabalhos manuais,

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Luci inovou para garantir que conseguiria pagar a mensalidade. “A cada dia ela trazia um pouquinho do dinheiro que ganhava e nos entregava”, contra Mônica de Araújo Torres, superintendente da FEUC: “A gente tinha uma caixa onde ia juntando, e no fim do mês contava e dava algum desconto nas vezes em que ela não alcançava o valor”. Segundo Mônica, o empenho e a fibra de Luci se tornaram um exemplo na época, e até hoje ela é lembrada. A superintendente diz que a instituição se esforça para atender casos assim e ajudar como pode os alunos e alunas que verdadeiramente têm dificuldades de se manter no curso. “Todo final de ano a FEUC oferece algumas bolsas para os que têm renda realmente baixa. O setor de assistência social analisa os casos e damos a ajuda possível. Fora isso, facilitamos o acesso a quem se inscreve no FIES, permitindo que se matriculem sem pagar, até sair a resposta, além de parcelar mensalidades em atraso”, diz. Outro tipo de ajuda é o oferecimento da infraestrutura da Brinquedoteca para as alunas e alunos que têm filhos pequenos e não poderiam estudar à noite por não ter com quem deixá-los. Ramayana Del Secchi Linhares, de 37 anos, que


cursa Português-Literatura, é uma que aproveita esse conforto, levando às vezes dois ou três dos quatro filhos para passar algumas horas com a recreadora Isabella Rodrigues. “Meu marido se formou aqui, e eu lamentava não poder estudar também porque não tinha com quem deixar as crianças. Cada vez que ele chegava falando das aulas da Arlene eu pensava: ‘tenho que ir para essa faculdade!’. Com a Brinquedoteca, pude realizar isso. Sou extremamente grata à instituição e às meninas daqui, a Isabella e a que trabalhava antes. A FEUC se tornou nossa segunda casa”. Para a professora Célia Neves, coordenadora de Ciências Sociais, há algo em comum nessas trajetórias femininas: a busca por alguma coisa que ficou faltando lá no começo da juventude, quando tiveram que se dedicar ao trabalho. “Apesar de todas as dificuldades, a convicção do que desejam faz com que elas avancem. E até se tornam lideranças nas turmas, criando um ambiente

Foto: Gian Cornachini

“A convicção do que desejam faz com que elas avancem” muito fraterno”. Rosilaine Silva, coordenadora de Geografia, vê na construção de novas sociabilidades algo importantíssimo: “Percebo que, para as mulheres trabalhadoras, estar no espaço acadêmico é muito mais difícil, porque elas continuam tendo as duplas e triplas jornadas lá fora. E ainda assim encaram com o maior encantamento”. Se a possibilidade de exercer uma profissão mais qualificada é a consequência imediata da conquista de um diploma de nível superior, outros ganhos que vêm com a entrada na faculdade são igualmente importantes. “Minha visão de mundo mudou completamente. E isso transformou outras coisas a meu redor. Antes eu mandava meus filhos estudarem porque se diz que é preciso estudar e pronto; hoje eu sei explicar a eles por que é importante estudar”, revela Crisvânia, que atribui parte dessa transformação ao bom ambiente que encontrou na FEUC. ■

Ramayana com os filhos André (à esquerda), Amanda e Rafael, acompanhados da recreadora Isabella (à direita): deixar as crianças na Brinquedoteca durante a noite lhe permite realizar o sonho de cursar Letras e ter aula com a professora Arlene! 23


‘Quebrou, chamou, consertou’ De um reparo à criação de móveis e estruturas grandiosas: conheça o setor responsável pela manutenção da FEUC Por Gian Cornachini

L

onge das áreas movimentadas da FEUC, um grupo de trabalhadores atua quase que escondido. É a ‘turma do macacão azul’, como carinhosamente se referia o professor Wilson Choeri aos funcionários do Departamento de Infraestrutura, que são responsáveis pela manutenção física da instituição. A lista de profissionais do setor é grande: eletricistas, serralheiros, marceneiro, bombeiro hidráulico, pintor, jardineiros, pedreiros e auxiliares de limpeza se dedicam a fazer das instalações da FEUC espaços mais adequados à rotina estudantil e administrativa. O Departamento de Infraestrutura foi criado em 1986, após a FEUC dar início à expansão dos prédios e receber mais estudantes. Paulo Roberto Ferreira Theodoro, responsável pelo setor desde seu início, conta que dos anos 80 em diante houve a necessidade de evitar a terceirização de serviços de manutenção: “Até fazer o levantamento de preços e contratar um determinado serviço de infraestrutura, demora. Sem contar que acaba saindo muito mais caro nas situações de emergência”, explica Paulo. Com a formação da equipe, que veio aumentando durante todos esses anos em virtude do crescimento da FEUC, os serviços terceirizados quase não

existem. A maioria dos objetos danificados na instituição é consertada no local. Paulo chama o serviço de “pronto atendimento: quebrou, chamou, consertou”. Para se ter uma ideia, todo dia aparece ao menos uma cadeira escolar com braço danificado devido ao mau uso. Ao mês, são reformadas mais de 50 unidades quebradas. Por isso, as cadeiras e outros móveis passaram a ser produzidos pelos próprios funcionários da FEUC, como explica Paulo: “A gente não pode esperar muito para repor os objetos danificados. Às vezes, precisamos de uma medida tal, e no mercado não encontramos essa medida, como no caso de mesas, quadros, portas e janelas. Compramos os materiais necessários e fazemos as peças. Quando, por exemplo, um móvel como um armário estraga, nós tiramos suas medidas e o substituímos fazendo um igual”, conta Paulo. O serralheiro Francisco Dias de Almeida, de 53 anos, que há 17 trabalha na FEUC, procura sempre atender à demanda de trabalho: “Quando nossos superiores perguntam se somos capazes de fazer um serviço, a gente nunca diz que não sabe fazer. Nós damos um jeito”. garante o serralheiro. O trabalho mais difícil que Francisco e seus colegas do setor fizeram foi a cobertura do corredor entre o prédio das FIC e o CAEL. Tanto os estudantes como funcionários pediam que o espaço fosse

Serviços terceirizados são evitados na FEUC, e profissionais são contratados para um pronto atendimento

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Foto: Gian Cornachini

Infraestrutura


O serralheiro Francisco, que há 17 anos trabalha na FEUC, solda partes de cadeiras escolares; ao mês, mais de 50 unidades desse móvel são danificadas, a maioria por mau uso

coberto, para poderem se deslocar seguramente e a qualquer hora a locais como o prédio da Educação Infantil, a quadra, a copiadora e a tesouraria. Com cinco meses de trabalho, estudos e acompanhamento técnico, a cobertura do corredor ficou pronta, e o resultado orgulha Francisco: “O trabalho foi desafiador. Primeiro por causa da altura, e depois porque eu pensava que nunca faria um ‘troço’ desse. A gente montava as peças aqui na oficina e soldava elas lá em cima. Agora, depois de pronto, a gente olha e... poxa, eu mesmo fiz isso”, exclama o serralheiro, sorridente. Investir em profissionais próprios que atendam às demandas da instituição torna os serviços de manutenção mais ágeis, além de muito mais econômicos. Segundo Paulo, a diferença de preço entre um serviço contratado e um serviço feito pela competente equipe do Departamento de Infraestrutura

chega a ser de 40%: “Isso tudo vai para uma planilha de custos que recai automaticamente sobre as mensalidades das faculdades e colégios da FEUC. Se a gente não tivesse os funcionários do Departamento de Infraestrutura, certamente o preço final das mensalidades seria mais alto”, aponta Paulo. Apesar dos custos reduzidos com a manutenção na instituição, o responsável pelo setor pede que os alunos tenham mais cuidado com o manuseio dos móveis e objetos da FEUC, principalmente os estudantes do CAEL, que são mais jovens: “O que mais quebra nas cadeiras são os braços. É comum o aluno sentar justamente nessa parte da cadeira. Também há muito problema com as torneiras dos banheiros. Elas são de apertar, mas tem gente que dá soco nelas. Vamos utilizar corretamente o que há em nosso espaço, pois são danos que vêm do mau uso e que podem ser evitados”, frisa Paulo. ■ 25


Zona Oeste

Uma vida dedicada à música e ao teatro Dineyar Valente Plaza manteve por quase meio século em Campo Grande uma importante academia de formação artística

Por Tania Neves

O

nome Dineyar Valente Plaza soa familiar para quem viveu o circuito cultural da Zona Oeste de meados dos anos 50 até 2004, quando esta musicista (hoje com 85 anos) manteve em plena atividade sua Academia de Música Dineyar Valente Plaza – inicialmente no coração de Campo Grande, encravada na esquina do Beco Seridó com a Rua Augusto de Vasconcelos, depois transferida para a Rua Manaí. Era uma época em que peças de teatro, espetáculos musicais e eventos institucionais em escolas e espaços públicos quase que invariavelmente tinham a participação de algum profissional ou grupos de artistas oriundos daquela academia. “Tocávamos e nos apresentávamos em tudo quanto é lugar. Teatros, auditórios, praças”, conta Dineyar, que chegou a ter em sua escola 23 professores diferentes, cada um em sua área de atuação. De instrumentos de sopro a cordas e percussão; de canto coral a impostação de voz; de dança de sa-

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lão a balé clássico e teatro. O segredo da vida longa da academia, segundo ela, era ter a melhor propaganda do mundo: “Nossos professores e alunos sempre estavam à disposição para participar dos eventos culturais de Campo Grande e dos bairros vizinhos, por isso Foto: Gian Cornachini

Dineyar em sua casa, com os morros de Campo Grande ao fundo

o trabalho da academia era muito conhecido e reconhecido pelo público. Desse modo, os alunos nos chegavam naturalmente, pois sabiam que ali se estudava arte com dedicação”, avalia. Das salas de aula da academia de Dineyar saíram grandes talentos do clássico e do popular, como a pianista Maria Lúcia Barros, que atualmente leciona em Paris, e o cantor Weber Werneck, famoso no circuito de shows. As turmas eram compostas não somente por quem queria se tornar músico ou ator, ou ainda se preparar para as escolas superiores de música, mas também por pessoas que viam na atividade artística uma possibilidade de melhorar o desempenho profissional em outras áreas. Era o caso de professores de diversos cursos da FEUC, que volta e meia faziam aulas de impostação de voz: “Um diretor da faculdade os incentivava a treinar a voz lá na academia, pois isso lhes ampliava o rendimento vocal durante as aulas”, lembra Dineyar, que cursou Pedagogia nas FIC com o objetivo de melhor coordenar as atividades pedagógicas de sua escola.


Foto: Gian Cornachini

O POENTE E A AURORA

A musicista recorda que uma das mais destacadas alunas de impostação de voz de sua academia, Vilma Camarate – falecida em novembro passado, aos 71 anos – tornou-se professora de teatro na casa e consagrou-se como um ícone da cultura na região, tendo formado diversas gerações de atores e atrizes, além de fundar o grupo MOA: “Ela sempre trabalhou comigo, completamente envolvida com a cultura na Zona Oeste. Fará muita falta”. Se já não tem mais sua academia – fechou-a porque os alunos foram escasseando: “Hoje ninguém tem muita paciência para estudar, querem logo tocar e fazer sucesso” – nem frequenta muito os eventos artísticos da região, Dineyar continua amando a arte. Lê muito e adora escrever, sobretudo poesias. Em 2007 lançou o livro “Ousadia no outono”, no qual se destaca o poema “O poente e a aurora”, feito ao se deparar com a paisagem da janela do apartamento para o qual se mudou em 2005: “Quando vi esse perfil das montanhas de Campo Grande no pôr do sol, veio logo a inspiração”. ■

Sinto-me hoje, no outono, quase inverno de minha vida, como se o sol de um verão intenso e céu azul, me fizessem viver dias de quentes certezas, e decisões verdadeiramente minhas, só minhas, cheias de juventude e força. Sinto-me hoje, no outono, quase inverno, mulher abrindo portas e janelas. Mulher com asas, voando alto para os morros que se descortinam a frente de meus olhos curiosos e desvanecidos. Sinto-me hoje, dentro de mim, neste meu tempo, outono quase inverno, com a sensação de que, afinal, posso ainda buscar e encontrar a mim própria e meu caminho... Incrível. De repente, o poente faz-se aurora! 27


MEMÓRIA

Professora, mãe, avó

Quem conheceu Florence de Oliveira Lima e Silva descreve uma mulhe Por Tania Neves “Se eu tivesse que nascer novamente, escolheria ser professora”. A frase, dita muitas e muitas vezes por Florence de Oliveira Lima e Silva, foi a que o neto Gabriel Paixão Teixeira, de 16 anos, puxou na memória quando perguntei como ele definiria a avó, uma das fundadoras da FEUC e recentemente falecida, aos 76 anos. “Ela passava para as pessoas o lado encantador de ser professora”, analisa o jovem estudante do 3º ano de Publicidade do CAEL. “E defendia que as pessoas deveriam fazer aquilo que gostam, pois só assim seriam felizes e fariam os outros felizes”, completa o filho mais novo de Florence, Artur Miécimo da Silva, pai de Gabriel. A paixão que os dois deixaram transbordar enquanto contavam histórias da mãe e da avó era nada menos do que a reciprocidade do sentimento maior que parece sempre ter movido Florence: amor incondicional pelos filhos, netos, alunos, amigos. Essa é a imagem que ficou para quem conviveu com ela: “Quando a conheci, fiquei impressionadíssimo com sua beleza física e sua voz pausada e sempre serena”, diz o presidente da FEUC, professor Durval Neves da Silva. “O instinto familiar muito grande, que a provia de asas bem amplas, sempre protegendo filhos, noras e netos, também era sua marca registrada, fora o fato de ter sido uma colega de trabalho exemplar”, comenta. O diretor e a secretária das FIC, professor Hélio Rosa de Araújo e professora Roseli Monteiro da Silva, conviveram com Florence durante o período em que ela dirigiu a faculdade. Hélio, que chegou a ser seu aluno, ressalta a postura altamente democrática: “Dava aos interlocutores inteira liberdade de ação, tanto como

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professora regente de turma quanto como diretora. E deixou também uma imagem de mãe muito ligada aos dois filhos, que sempre colocava à frente de seus próprios interesses”. Já Roseli pontua o bom humor e a espirituosidade da colega, a quem costumava dar carona no fim do expediente. “Eram momentos divertidíssimos, porque ela era alegre, risonha, de bem com a vida. Sempre tinha uma história engraçada, como a do dia em que ganhou um saco de tamarindos e comeu todos, compulsivamente. Daí chegou para mim e disFoto: Acervo da Família

Florence com os netos Mariana, Gabriel, Artur, Ana Flávia e Ana Júlia – filhos de Artur


ó, amiga...

Foto: Acervo da Família

er ao mesmo tempo sensível e forte se: ‘Eu não sabia que isso é laxante, me leva para casa agora!’”, lembra. A história de Florence com a FEUC começou ainda antes do surgimento da instituição, com sua união ao homem que viria a sonhar este sonho e reunir em torno de si as personalidades que dariam vida à pioneira Sociedade Universitária Campograndense (SUC). Aluna do Instituto de Educação, na Tijuca, a jovem conheceu o então vereador do Distrito Federal Miécimo da Silva quando foi com um grupo de colegas à Câmara com a tarefa escolar de entrevistar um político. Lá chegando, descobriram que o vereador que as atenderia faltara. Inteirado do problema, Miécimo ofereceu-se para recebê-las. E não resistiu aos encantos da normalista: “Dali saiu paquera, namoro, noivado e casamento”, conta o filho Artur, revelando que Florence também se apaixonou e rompeu o noivado com um cadete para mudar radicalmente seu destino. “E assim estou eu aqui, meu irmão, a FEUC e mais uma porção de coisas que eles fizeram juntos”. Florence e Miécimo se casaram em 1959 e tiveram dois filhos: Miécimo da Silva Filho, hoje com 52 anos, professor de história; e Artur Silva, de 48, professor de matemática, que adotou o nome político de Artur Miécimo da Silva. Cada um deu 5 netos a Florence. Sempre ao lado do marido, apoiando os projetos ousados que ele tinha para a então Zona Rural, a professora participou da fundação da FEUC e da Escola Normal Sarah Kubitschek. Foi uma das primeiras alunas (de Pedago-

Em 1962, ao lado do marido (com Miécimo Filho no colo) e o deputado Chagas Freitas gia) da Faculdade de Filosofia de Campo Grande (hoje FIC), onde depois lecionou e esteve na direção por mais de uma década. Atuou como professora também no Sarah e no Município do Rio. No baú de recordações de Artur – formado por centenas de histórias narradas pela própria mãe, que adorava reunir a família para contar casos – ele puxa um exemplo da força que ela tirava sabe-se lá de onde quando precisava defender os seus: “Na ditadura, meu pai foi cassado e ficou preso no Regimento Floriano. Ela foi visitá-lo levando meu irmão pequeno pela mão e eu, ainda de colo. Não queriam deixá-la entrar, pois alegavam que poderia estar escondendo algo nas nossas roupas. Ela então despiu a mim e ao meu irmão e enfrentou os militares: ‘Se é para meus filhos verem o pai, eu tiro a roupa deles’. E entramos”, conta. Outras vezes, o que se destacava era seu modo descomplicado e bem humorado de levar a vida, como relata Gabriel: “Tentei pegá-la no 1º de abril e disse que havia engravidado a namorada. Em vez de bronca, veio um sonoro ‘melhor isso do que ser estéril, a gente assume a criança e vai ficar tudo bem’. Até convencê-la de que era brincadeira, ela foi me dando a maior força”, lembra Gabriel. ■

Defendia que as pessoas deveriam fazer aquilo que gostam, pois só assim seriam felizes

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Artigo

Carlos Vinícius N. Barbosa Técnico em Eletrônica, Professor e Supervisor Técnico do CAEL

Orgulho de ser técnico e de formar novos técnicos Em décadas passadas, mas precisamente nos anos 90, a economia brasileira não apresentava números tão satisfatórios como nos dias atuais. Naquela época - 1992 - eu iniciava minha formação profissional na área de eletrônica, na Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá. Era então a única alternativa que tinha para mudar de vida, pois naquele tempo restava aos estudantes das famílias de baixa renda a Escola Técnica. Os empregos que remuneravam um pouco melhor estavam nas indústrias, mas os postos de trabalho eram escassos e de alta competitividade. Realidade esta que vem sendo modificada ao longo dos anos, por meio de políticas econômicas que recuperam o poder de compra do salário mínimo e aquecem a indústria de bens e serviços no Estado do Rio de Janeiro. Em 1994 me formei técnico em Eletrônica. Motivado pela possibilidade de emprego - já que este era o discurso de meus professores da Escola Técnica - candidatei-me a inúmeras vagas de estágio. O que foi frustrante, pois o perfil das tais vagas nunca era o meu. Insisti muito, até que, seis meses depois de formado, fui convidado para estagiar em uma empresa de manutenção de equipamentos de microinformática, ramo então em alta devido à abertura das importações. Foi meu primeiro contato com o mercado de trabalho - um mundo completamente diferente, desafiador, e no qual eu, agora profissional, tinha que tomar decisões e opinar tecnicamente sobre os equipa-

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mentos e as rotinas da empresa. Foi difícil, mas consegui superar com êxito. Em quatro meses de trabalho, o estágio se tornou emprego. Meu primeiro emprego, meu primeiro salário... Com a empolgação da idade e do momento mágico que estava vivendo, retornei à Escola Técnica para agradecer meus professores pela formação que me deram, pois foi com ela que conquistei trabalho. Para minha surpresa, um dos coordenadores me convidou a dar palestra aos alunos e mostrar-lhes como a formação técnica que recebiam poderia resultar em uma trajetória profissional bem interessante. Aceitei o desafio, e gostei tanto daquele contato, de trocar experiências e passar adiante o que aprendi, que acabei abandonando os estudos de engenharia e ingressei na faculdade de formação de professores para a área de Eletrônica. Há 17 anos vivo esta realidade de ensinar e transformar vidas. Por meio do trabalho em sala de aula - em especial no curso de Eletrônica do CAEL, no qual lecionei por mais de uma década - pude observar o sucesso de nossos alunos, que hoje estão espalhados por este imenso Brasil, atuando em empresas públicas e privadas. Cabe ressaltar que o país vive hoje um momento bastante promissor para todas as carreiras técnicas. Basta ver o destaque que o Governo Federal tem dado à formação profissional, em diversos programas de incentivo à qualificação e requalificação profissional. E você, está esperando o quê?


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