Revista FEUC em Foco - Edição 12 (março/2013)

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Revista

Ano 3 • Nº 12 • março de 2013 • www.revistadigital.feuc.br

em foco

AVALIAÇÃO DO MEC

Alunos mostram sua força no Enade e ajudam a elevar conceitos das FIC

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Institucional

Os nossos heróis

A

verdadeira democratização do Ensino, em nosso país, ocorreria de forma muito mais célere se fosse possível firmar uma parceria responsável com o Governo Federal, livre de maniqueísmos e interesses individuais, na qual o ensino privado e o ensino público convivessem harmoniosamente e a supervisão do Estado fosse estratégica e duradoura, e não de interesse secundário e ocasional. É fundamental que olhemos a educação como um investimento, pois é o empreendimento mais precioso que as pessoas, as famílias, os municípios, os estados e o governo federal deverão sempre realizar. Os rendimentos, ou melhor, os benefícios serão de todos: pleno exercício da cidadania, sustentação do futuro e soberania nacional. O resultado é a possibilidade real de liberdade, progresso, igualdade e construção, segura e permanente, da democracia – que, tal como a educação, não é um porto seguro, mas um caminho interminável a ser construído permanentemente. Nessa perspectiva, o ensino desenvolvido pela livre iniciativa, em todos os níveis e graus, tem trazido resultados significativos para o desenvolvimento da nação e do povo brasileiro. A escola particular permite uma saudável diversidade: pode ser religiosa ou laica, grande ou pequena, conservadora ou liberal, construtivista ou tradicional. E está presente, multifacetada, em todas as comunidades, ricas ou pobres, em bairros centrais ou de periferia. E, além de tudo isso, são as famílias que escolhem a escola que melhor atenda as suas necessidades e expectativas. Claro, há toda sorte de dificuldades no financiamento que o Estado poderia minimizar. Mas o fato é que isto proporciona uma grande riqueza intelectual pela convivência e a construção de uma sociedade diversa e plural. A participação da iniciativa privada na Educação Infantil e na Educação Básica é proporcionalmente menor que a do poder público. Já no

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Ensino Superior, o ensino público atinge aproximadamente um quarto dos estudantes. Apenas essas constatações já seriam suficientes para um importante estudo conjunto: o público e o privado, na mesma mesa de trabalho, com especialistas multidisciplinares e visão conjuntural das necessidades e realidades, regionais e nacionais, e o olhar crítico em programas bem sucedidos implantados em outras nações. Os espíritos desarmados e focados em um Brasil possível, impulsionado por uma Educação na qual o papel desempenhado pela iniciativa privada fosse mais reconhecido como aliado do Estado. Ou será que ao longo de nossa história os governos se sentem incomodados com a livre iniciativa na educação? Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, com a grande densidade demográfica e a importância de ter sido um bairro-cidade do Distrito Federal, só teve a sua primeira faculdade em 1960, criada pela iniciativa privada. Este não é um exemplo isolado, é o retrato de nosso país: as famílias com menor poder aquisitivo chegam sempre, com mais possibilidade, à universidade particular. Temos aí um importante contingente de verdadeiros heróis silenciosos e anônimos, não fossem os diários de classe. E o mais irônico é que, apesar de vivermos em um país tão pobre de exemplos de heróis que possamos mirar e seguir, seja ele tão rico de Macunaímas, bem falantes, famosos e, geralmente, investidos em posições de mando. Ao iniciarmos mais um período letivo, desejamos a todos vocês, novos e antigos estudantes da FEUC, força e persistência, sucesso e realizações. Acima de tudo, recebam os nossos parabéns e o reconhecimento por acreditarem que é possível, pela educação, mudar, escalar degraus, ascender intelectualmente, socialmente e economicamente. ■ Prof. Durval Neves da Silva Diretor Superintendente


Índice Foto: Tania Neves

Foto: Gian Cornachini

18 Capa

14 Comportamento

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Prêmio FEUC

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Perfil

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Tema em Questão

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Primitivo Paes

Uma análise do resultado das avaliações do MEC

Conheça as poesias de alunos vencedores da edição 2012

Um debate sobre a origem e os rumos atuais da escola

Alunos do CAEL vão de skate e longboard para a escola

Tonhão da tesouraria: bom humor é marca registrada

Adeus ao poeta que escolheu Campo Grande para viver

CAPA: O ex-aluno de Ciências Sociais Joelson da Silva, que fez o Enade em 2011. Foto: Gian Cornachini. CORREÇÃO: Na edição passada, equivocadamente citamos o Porto do Açu na Ilha da Madeira (pg. 12), quando o correto é Porto Sudeste. FEUC em FOCO é uma publicação impressa e online da Fundação Educacional Unificada Campograndense. Presidente: Wilson Choeri; Diretor Administrativo: Hélio Rosa de Araujo; Diretora de Ensino: Arlene da Fonseca; Diretor Superintendente: Durval Neves da Silva; Periodicidade: trimestral; Tiragem: 5.000 exemplares; Site: www.revistadigital.feuc.br. Edição: Tania Neves; Estagiário: Gian Cornachini; Marketing: Bruno Rivéro;

Considerações e opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição da FEUC.

Editorial A

vida é feita de coisas boas e ruins, e se torna tão mais interessante e gratificante quando o prato das coisas boas pesa mais na balança. Por isso estamos felizes em oferecer nesta edição, a partir da página 18, um prato bem cheio de boas notícias sobre o desempenho das FIC nas avaliações do MEC – mas o outro prato também é nosso, e vamos falar dele. Trazemos ainda um revelador perfil do funcionário Antônio Damasceno, o Tonhão da Tesouraria, que um dia já foi Tuninho, mas sempre teve o mesmo jeitão acolhedor. Na página de artigo, o professor Rafael Dias Ribeiro mexe em um tema instigante: por que temos medo de mudanças? E há mais, muito mais: os poetas vencedores do Prêmio FEUC, os alunos do CAEL que liberam adrenalina vindo para a aula sobre skates, as novidades que as FIC, o CAEL e o Magali têm para 2013... Com esta edição, estreamos a nova página da revista na internet, no mesmo endereço www.revistadigital.feuc.br. Lá você encontrará não apenas as matérias aqui publicadas, mas também conteúdos complementares e novas notícias ao longo das semanas. A seção Tema em Questão – que nesta edição aborda um pouco da história e dos rumos atuais da escola – tem continuidade no site e faz um convite à sua participação: dê sua opinião no espaço para comentários ou proponha algum artigo defendendo o seu ponto de vista sobre o assunto. E se quiser fazer criticas ou sugestões, escreva também para emfoco@feuc.br. Bom início de ano e boa leitura! ■ Tania Neves Editora 3


MUNDO

Com carinho, de funcionário para funcionário

Mesmo em pleno recesso das aulas, o almoço dos aniversariantes de janeiro teve ‘casa cheia’. Seria pelos dotes culinários da auxiliar de tesouraria Érica Motta, convocada a reeditar o macarrão que provocou suspiros em um almoço passado? É uma boa razão, mas não a única. De acordo com o professor Durval, um dos aniversariantes daquele mês, o sucesso tem a ver com o espírito de confraternização que move

organizadores e participantes: “Essa não é uma festa da FEUC. É uma festa nossa, pois nos cotizamos, pagamos e realizamos”, disse ele em um breve discurso ao grupo. O encontro acontece todo mês, na penúltima terça ou quinta-feira, sendo que em janeiro e julho é oferecido um almoço, e nos demais meses o ‘agito’ conta com bolo e salgadinhos. Parabéns a todos – e, em especial, aos membros da atual comissão

Foto: Gian Cornachini

Aniversariantes e funcionários ‘atacam’ a mesa no almoço promovido dia 24 de janeiro

de festas: Solange, Guilherme e Margarida, da Biblioteca; Maria Luiza, da Infraestrutura; Marcelo, do Marketing; Neide, da Secretaria das FIC; Carlos, da Oficina; Jorge, das Compras; e Evandro, do Sequim. ■

Pós-Graduação promove evento sobre educação, pós-modernidade e diversidade O “III Encontro da Coordenadoria de Extensão, Pós-Graduação e Pesquisa (CEPOPE) das FIC” aconteceu nos dias 27 e 29 de novembro e 1º de dezembro de 2012. O evento fez parte do planejamento anual da Pós-Graduação da FEUC e

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discutiu a educação na pós-modernidade e práticas pedagógicas na diversidade voltadas para o mercado de trabalho. Para Rosana Benatti, professora da Graduação e Pós-Graduação, discutir esse tema é essencial para a formação dos

estudantes: “As empresas e escolas recebem número cada vez maior de pessoas com deficiência, sexo, gostos, raça e religião diferentes e se faz necessário que os profissionais saibam lidar com essas diversas questões”, afirma ela. ■


Concurso no Facebook rende bolsas de estudo a vencedores Surpresa, também, ficou Anna com as 2.041 curtidas que a premiaram em seu primeiro concurso pela internet: “Até o momento da minha matrícula eu não estava acreditando que havia ganhado. Foi a oportunidade que eu precisava para ingressar no ensino superior”, revelou . Thais teve 2.019 curtidas . Embora não tenha sido possível contabilizar as curtidas de Jennifer, pois ela postou a foto em seu próprio perfil, em vez de fazê-lo no da FEUC, a instituição decidiu perdoar a confusão e premiá-la também. Mas é bom ficar atento que isso não acontecerá novamente. ■ Anna Carolina dos Anjos e Fabio Espinosa foram dois dos ganhadores da promoção no Facebook “É Pra Vida Toda”

Foto: Nome e Sobrenome

Entre novembro e janeiro, a FEUC promoveu o concurso “É Pra Vida Toda”. O objetivo foi destinar bolsas de estudo para estudantes de escolas públicas da região. Para concorrer ao prêmio, os alunos deveriam postar uma foto no Facebook que transmitisse sua maior motivação em ingressar na graduação. As fotos mais curtidas seriam premiadas. Fabio Espinosa, Anna Carolina dos Anjos, Thais Guimarães e Jennifer Sodré foram premiados com bolsa de estudo de 100%. Fabio cursará Licenciatura em Computação, Anna escolheu Matemática, Thais será caloura de Letras (Português/Inglês) e Jennifer fará o técnico em Química. Fabio contou da dificuldade de conseguir suas 681 curtidas: “Em geral, é bem difícil e cansativo conseguir a ajuda das pessoas na internet, e eu não acreditava que poderia ganhar uma bolsa de estudo”, contou o jovem.

VAI ACONTECER Os primeiros eventos acadêmicos de 2013 já estão sendo anunciados pelas coordenações de cursos. Confira os que já têm data prevista: ABRIL

■ VIII Ciclo de Monografias em Geografia (VIII CMG): dia 27. Serão realizadas oficinas para orientar os alunos no processo de elaboração e pesquisa em Geografia, com foco na Educação ou no Ensino. MAIO

■ Encontro entre os Alunos de Matemática: provavelmente no dia 11, com tema ainda a ser definido, mas mantendo a estrutura de troca de experiências acadêmicas entre alunos. ■ XV Encontro de Ciências Sociais: dias 6, 7 e 8. O tema deste ano é “Juventude, territorialidades e movimentos sociais”, e haverá mesa-redonda, apresentação de trabalhos das turmas e palestra de encerramento. O foco das atividades será o papel da juventude na luta contra a desterritorialização promovida pelas obras para os mega eventos.

FIQUE ATENTO: A FEUC promove diversos concursos pelo Facebook. Ganhadores já foram contemplados com câmeras digitais, tablets e bolsas de estudo. Para concorrer, basta curtir a página da FEUC no Facebook (www.facebook.com/feucrj), ficar atento aos concursos e seguir suas instruções.

■ XXII Semana de Letras: 13, 14 e 15, com o tema “O papel da Língua e da Literatura na formação do homem: Uma questão de Direitos Humanos”. Propostas para a apresentação de palestras, oficinas, minicursos e exposição de pôsteres podem ser feitas até 5 de abril. Informações em: www. feucnel.blogspot.com.br.

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Artigo Rafael Dias Ribeiro

Mestre em Sistemas e Computação e professor do Bacharelado em Sistema de Informação das FIC

Por que temos medo de mudanças? C

om o dinamismo das organizações em uma economia cada vez mais orientada aos nanossegundos, as mudanças organizacionais serão sempre  mais frequentes e necessárias.  Entender as mudanças, seus processos e seu poder de transformação (para o bem ou para o mal) é essencial para que qualquer organização possa se manter saudável e competitiva. Segundo dados do Gartner Group, cerca de 70% dos projetos de TI falham em uma de suas metas; já o CHAOS Group indica que perto de 50% dos projetos de TI são cancelados antes do tempo e, dos que chegam ao final, cerca de 82% são entregues com atraso; enquanto a KPMG revela que menos de 40% dos projetos finalizados atingem seus objetivos de negócio. Acredito que tais dados estejam bem próximos da realidade de outras áreas, não sendo exclusividade dos projetos de TI. As boas práticas, como as apresentadas no Project Management Body of Knowledge (PMBok) ou em métodos emergentes como o SCRUM, aumentam as chances de sucesso de um projeto e são cada vez mais bem aplicadas. Um componente, porém, é frequentemente ignorado: a gestão de mudanças. Acredito que seja um fator crítico de sucesso para qualquer projeto organizacional e pode ser resumida como a atenção especial com o ser humano e suas peculiaridades. Segundo o Human Change Management Institute (HCMI), a Gestão de Mudanças em Projetos tem como 6

objetivo “planejar, aplicar, medir e monitorar ações de gestão do fator humano em projetos de mudança, ampliando as chances dos resultados esperados serem atingidos e superados”. Daryl R. Conner, em seu trabalho Managing at the Speed of Change, delineia assim a receptividade a mudanças em culturas estáveis: 40% aceitam com muito convencimento; 30%, somente depois que a mudança foi bem sucedida; 20% aceitam com um pouco de convencimento; e apenas 10% o fazem de imediato. Em circos, elefantes filhotes eram amarrados em cordas de até 1,5 metro de extensão durante seu treinamento; por certo tempo eles tentavam se libertar, sem sucesso. Ao atingirem a idade adulta, estavam condicionados a se manter naquela área restrita, desconhecendo a força que então lhes permitiria romper a corda sem grande esforço. Muitos profissionais na organização vivem como elefantes de circo: aprendem algumas ferramentas, desenvolvem certas habilidades e se limitam a elas. Mas por que temos tanto medo de mudar? No contexto antropológico, o ser humano foi modelado durante milhares de anos para não mudar e sim manter o status quo sempre que possível. Antes das primeiras comunidades de caçadores e agricultores se estabelecerem, o homem era nômade e via-se obrigado a migrar toda vez que sua área se esgotava. Com o domínio

das artes de cultivo e sobrevivência em uma determinada região, ele se estabeleceu, mas como ainda havia risco de sofrer invasões por outras tribos, construiu cercas e muralhas para garantir a zona de segurança e conforto e assim evitar a perda do espaço conquistado. Vemos este comportamento  no inconsciente coletivo como o medo da mudança: é possível observar no meio corporativo que construímos nossos muros em atividades, áreas e departamentos para garantir nossa zona de conforto, e isso é refletido na dificuldade de implantação de novos projetos que alterem o funcionamento de processos ou a estrutura das organizações. Decisões sempre implicam riscos, mas não tomar decisão também é um modo de decidir, normalmente com os piores custos para quem não se manifestou e para a organização. É comum observar organizações com cicatrizes de mudanças anteriores mal conduzidas, o que aumenta a sensação de insegurança e a resistência a inovações. Estas, porém, são necessárias e irão ocorrer cada vez com maior frequência. A atenção na gestão de projetos - com um bom planejamento de comunicação, riscos, estratégias de identificação das partes interessadas antagonistas e  protagonistas, assim como o uso de ferramentas e habilidades adequadas para a criação do plano de mudanças - pode incrementar as chances de um resultado positivo e duradouro. (http://www. rafaeldiasribeiro.com.br) ■


Eleições

Professor Choeri à frente da FEUC por mais um mandato Membros dos Conselhos Estatutários foram escolhidos no final do ano passado Foto: Gian Cornachini

O presidente Wilson Choeri ao lado dos colegas de conselho, professores Arlene e Hélio

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o último dia 12 de dezembro, os instituidores da FEUC reuniram-se para eleger os novos integrantes dos Conselhos Estatutários para o triênio de 2013/2015. No Conselho Diretor, o professor Wilson Choeri foi reeleito para o cumprimento de seu oitavo mandato à frente da instituição. O professor Hélio Rosa de Araujo assumiu a Direção Administrativa, sendo substituído na Direção de Ensino pela professora Arlene da Fonseca. E o professor Durval Neves da Silva foi confirmado como Diretor Superintendente. Na medida em que os instituidores insistiram pela candidatura do profes-

sor Choeri, evocando sua forte liderança e grande prestígio junto a toda comunidade acadêmica e demais empregados, o presidente decidiu aceitar o desafio, apesar de declarar que está à disposição para promover a alternância, pois sempre coloca a FEUC em destaque: “Ela ficará e as pessoas passarão”, destacou o presidente, reconhecido por sua coragem de empreender e disposição de realizar. Com larga folha de serviços prestados às FIC, a professora Arlene mostrou-se exultante em sua estreia como membro do Conselho Diretor, dizendo-se pronta para servir e contribuir,

com seu trabalho na Direção de Ensino, para que as três instituições interligadas – FIC, CAEL e Colégio Magali – dialoguem cada vez mais e, por meio de projetos modernos e bem estruturados, ajudem a pôr sempre mais em evidência o nome da FEUC. Os conselhos Deliberativo e Fiscal também tiveram seus novos representantes e suplentes eleitos. Figuram entre eles professores do CAEL e das FIC, integrantes da mantenedora e personalidades ilustres da comunidade campo-grandense, todos escolhidos em reconhecimento pelos serviços prestados à instituição e à sociedade. ■ 7


Prêmio FEUC

E os poetas vencedores Alunos de Letras e participantes de São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul ficaram com os três primeiros lugares das duas categorias Por Tania Neves

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ma das marcas registradas da instituição, o Prêmio FEUC de Literatura chegou em 2012 à sua 19ª edição contabilizando a maior participação de todos os tempos: 410 inscritos nas duas categorias (Alunos da FEUC e Âmbito Nacional), revelando novos talentos e confirmando a veia poética de concorrentes habituais. No primeiro caso está Robson Rafael Nascimento, que se formou ano passado em Literaturas e faturou o segundo lugar em sua estreia no certame. No segundo caso estão os alunos de Letras Suely Resende (nome artístico: Gui Soarrê), primeira colocada, e Paulo D’Athayde, terceiro colocado – ela que já prestigiava o concurso antes de estudar nas FIC e ele um colecionador de boas colocações, como o primeiro lugar de 2011 e o segundo de 2010. “Com este terceiro lugar o Paulo acaba de experimentar todas as posições do pódio”, destaca o poeta e pro-

fessor Américo Mano, coordenador do Prêmio FEUC ao lado da também poeta e professora Rita Gemino. Na categoria Âmbito Nacional, os vencedores foram Geórgia Stella (RS), com o poema “Serial killer”; Allan Santana (BA), com “Gênero: amoroso”; e Paulo Franco (SP), com “Infinito”. Assim como os alunos da FEUC, eles receberam medalhas e as premiações de R$ 400, R$ 300 e R$ 200. Embora eventos esporádicos de poesias tenham ocorrido na década de 80, a história registrada do concurso se inicia em 1993, quando um festival foi organizado pelos professores Célia Neves e Mauro Ferreira em conjunto com o Diretório de Estudantes. Uma aluna de Pedagogia e um aluno de Letras ficaram respectivamente com o primeiro e o segundo lugares: Rita Gemino e Américo Mano. Começava aí o romance entre os dois – hoje casados – e sua história de amor com o Prêmio FEUC. No ano seguinte houve apenas um sarau Foto: Gian Cornachini

Antologias reunindo os finalistas da primeira etapa são uma das razões de prestígio do prêmio

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durante a Semana de Letras, mas em 1995, com a ex-aluna Rita contratada como professora do CAEL e assumindo o Centro Cultural da FEUC com Américo, o concurso foi reeditado e passou a ocorrer todos os anos. “Há muito que o Prêmio FEUC tem reconhecimento nacional”, diz Rita, hoje professora das FIC, enumerando os detalhes que dão tal prestígio ao concurso: “Não cobra taxa de inscrição, dá premiação em dinheiro e edita antologias com os selecionados na primeira etapa, embora a publicação esteja um pouco atrasada”. Poetas atuantes nos círculos culturais de Campo Grande e outras localidades do Rio, Rita e Américo costumam trazer importantes nomes da literatura para compor as bancas examinadoras, ao lado de professores da casa.


s de 2012 são...

Foto: Gian Cornachini

Regresso a Minas (Gui Soarrê)

Quando o cheiro da janta encheu a casa, Eu saí batendo a porta. Ganhei mundo, perdi de vista a parede juntada de buganvílias... Só quando a fome bateu, fiz viagem de volta. Quando entrei, O fogão ruiu O espelho quebrou O meu pai morreu. Minha mãe permaneceu bonita A porta que fechei não vi E a janta já havia sido servida.

Reportagem (Robson Rafael) Era só uma preta de favela. Magra, esquálida, forte que só ela. Perda sofre dos filhos pela arma: dois pretos ceifados que não alarma. Era só uma preta favelada. Perto do macaco, sua dor é nada. É delícia, prazer sobremaneira para as crias da águia carniceira. Era só uma preta que chorava, E vale pouco no cotidiano. Diversão rápida proporcionava. Era só uma preta, várias/ano, Vida destruída que não tocava, dois pretos consumidos,vários/ano.

Américo Mano e Rita Gemino (em primeiro plano) com Robson Rafael, Gui Soarrê e Paulo D’Athayde, vencedores na categoria Alunos da FEUC: um estreante e dois veteranos no concurso

Saiba um pouco mais sobre os poetas premiados da FEUC “É meu primeiro dinheiro com as Letras, tenho que empregar bem”, brincou Robson Rafael sobre o prêmio de R$ 300. Policial, ele faz planos de seguir a carreira de professor e poder deixar a PM: “Para ter de volta minhas noites de sono”. Já Gui Soarrê, que cursa Letras por satisfação pessoal, não sabe se irá lecionar, mas a cada dia está mais à vontade na poesia: “Só que tenho um problema: não guardo o que

escrevo, depois fico louca procurando”, diz a atriz profissional e maquiadora. Paulo D’Athayde, iluminador cênico e professor de iluminação, acredita que um dia acabará dando aulas de português: “Sou de uma família de professores, não tem jeito”, avalia o poeta, revelando que sempre se surpreende quando conquista um pódio: “Entro no concurso pensando apenas em conseguir figurar na antologia”. ■

T P M (Paulo D’Athayde) Doce framboesa Lábios de batom vermelho A carne Pele Poros Pelos O cheiro A alma Lua minguante Lua nova Quarto crescente Lua Que sangra Sangra Sangra Tudo é Poesia na Mulher 9


Perfil / ANTÔNIO DAMASCENO, o Tonhão da Tesouraria Foto: Gian Cornachini

Tonhão no guichê em que trabalha há mais de duas décadas: sempre com um sorriso no rosto e muito bom humor

Sem perder a ternura (e a paciência) jamais Por Tania Neves

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á quem diga que o atual hit na voz de Roberto Carlos é somente uma adaptação. Os supostos versos originais, de autoria de um tal Antônio Damasceno de Freitas, seriam algo como “O cara que atende você toda hora/Que até corta a multa se você demora/Que está todo o tempo atrás do guichê/Com uma palavra gentil pra você/E mesmo se você reclama/ Ele diz que te ama/Esse cara sou eu”. Mas é pura lenda. Embora o Tonhão da Tesouraria seja mesmo O Cara, ele não precisa “cantar” isso: os outros o fazem por ele. “É o cara mais legal com quem eu já trabalhei. Vê-lo em ação é uma verdadeira aula”, opina Érica Motta, auxiliar de 10

tesouraria como Tonhão e há três meses sua companheira do outro lado do guichê. “Desde que cheguei, ele me recebeu muito bem, a mim e a meu filho, que também estuda aqui”, completa a colega, enxugando as lágrimas de emoção. Damasceno, de 45 anos, ganhou o apelido de Tonhão no ato de sua contratação, há quase 23 anos, da então Diretora Administrativa, dona Arith. “Ela perguntou se eu tinha apelido, respondi que me chamavam de Tuninho. E ela foi enfática: ‘Um homem desse tamanho, Tuninho? Tinha que ser Tonhão’. E aí pegou”, lembra o auxiliar de tesouraria, que sempre atuou nessa mesma função. Antes de aportar por aqui, porém, ele fez de quase tudo. Trabalhou em loja de tintas, aviário, sapataria, numa petroquímica e até na manutenção de

um trio elétrico na Bahia. “Uma vez que resolvi contar, constatei que já fiz 27 coisas diferentes”, diz ele, revelando que de modo geral teve mais sucesso na função de vendedor: “O segredo é ter uma boa conversa, conhecer bem o produto que está vendendo e se interessar de verdade pelo cliente”. Na Tesouraria da FEUC ele aplica exatamente essa fórmula: conhece como ninguém a instituição e as características do “produto” – no caso, os cursos; interage com alunos e pais a ponto de algumas vezes ser convocado como conselheiro ou ombro amigo; tem um discurso entusiasmado e extremamente respeitoso com todos. Todos mesmo. “Até quem chega às vezes com meia-dúzia de pedras nas mãos ele trata com extrema delicadeza, aí


quebra a pessoa”, conta Cláudia Alves, que trabalhou por 2 anos com Tonhão e hoje atua no Financeiro. O Cara explica: “Tem gente que chega aqui estressada, por causa dos diversos problemas da vida, e fala grosso. Já fui xingado, destratado. Se eu responder na mesma moeda, vira briga. Então procuro entender e aplicar um tom de voz totalmente oposto ao que recebi. Isso sensibiliza e restaura a paz”, ensina. As razões principais de queixas em seu guichê, segundo Tonhão, têm a ver dinheiro, claro. “Há quem reclame que a faculdade está cara, diz que vai se transferir para um concorrente mais barato. Nesses casos, eu convido a uma reflexão: primeiro peço para comparar nossa qualidade com a dos concorrentes, depois lembro casos de alunos que fizeram a besteira de trocar a FEUC por outra instituição e voltaram arrependidos”, conta. Embora de modo geral as mensalidades sejam pagas diretamente nos bancos, a facilidade de poder quitar na tesouraria num horário mais estendido – entre 8h e 21h – e com cartão de débito é um atrativo. Com a vantagem de que, havendo apenas um dia de atraso, o auxiliar de tesouraria tem o poder de cobrar o valor sem acréscimo, o que não aconteceria no banco. Casos excepcionais ele encaminha à direção para negociação. “Certa vez uma aluna chegou aqui com o formulário de trancamento de matrícula na mão, dizendo que passava por terríveis dificuldades e só lhe restava interromper o curso. Na mesma hora rasguei o formulário e a orientei a pedir parcelamento da dívida. Tempos depois, quando se formou, ela veio me agradecer, disse que se eu não tivesse feito aquilo ela nunca teria concluído a faculdade. Fiquei feliz”. Casado há 5 anos com Roberta e pai de Rebeca, de 12 anos (do primeiro casamento) e Ana Luiza, de 2 anos, Tonhão fora do trabalho gosta de curtir a família e se dedicar a ações sociais da igreja evangélica que frequenta. “A única coisa que não gosto muito, mas faço sempre, é passear no shopping. Afinal, tenho que agradar minhas meninas”. Ele é ou não é O Cara? ■

Foto: Gian Cornachini

A fã mirim Isabel Villar e Tonhão, que era Tuninho: estatura inspirou mudança no apelido do auxiliar de tesouraria 11


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Livro e Filme CINEMA NA FEUC

Contribuição ao debate sobre a dependência química As drogas são um tema a ser tratado no âmbito da segurança pública, saúde, educação ou defesa nacional? De preferência, em todos esses e mais alguns, como mostra o livro “Prisioneiro das Drogas: segurança pública, saúde e direitos humanos no Brasil”, que tem entre seus autores e organizadores a professora Vivian Zampa, coordenadora do curso de História das FIC, além de um artigo da professora Adriana Gomes Paiva, do curso de Ciências Sociais. A publicação traz estudos de profissionais da área de segurança pública e especialistas em Ciência Política, Psicologia, História e Direito, convidando a uma reflexão para além do que dita o senso comum sobre as drogas.

Foto: Divulgação

“Prisioneiro das Drogas: segurança pública, saúde e direitos humanos no Brasil”; Organizadores: Oswaldo Munteal Filho, Maria Paulina Gomes, Vivian Zampa, Eline Cavalcanti, Gabriel Gutierrez; Editora: CRV (www. editoracrv.com.br); Preço sugerido: R$ 32.

EM CARTAZ: “ZUZU ANGEL” Excepcionalmente agendado para o dia 23 (pois o último sábado do mês cai no feriado da Semana Santa), o Cinema na FEUC apresentará em março o filme “Zuzu Angel”, de Sérgio Rezende, que conta a saga da estilista Zuzu Angel para recuperar o corpo de seu filho, Stuart Angel, morto pela repressão no começo dos anos 70. O professor Mauro Lopes, do curso de Ciências Sociais, confirmou presença como debatedor e informou que a proposta da sessão é discutir a ditadura civil-militar no Brasil e seus reflexos na atualidade. O início da exibição está marcado para 13h.

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Comportamento

Estudo, a

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adrenalina e

Por Gian Cornachini

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em gente que vai para a escola a pé, outros são levados pelos pais, e há, também, aqueles que preferem pedalar para encurtar o tempo do trajeto. Agora, usar skate para chegar mais rápido e, de quebra, se divertir no caminho é uma opção para poucos — ou melhor, para corajosos. No Colégio de Aplicação Emmanuel Leontsinis, o CAEL, é possível encontrar alguns corajosos que ousam fazer o trajeto de casa à escola em cima de um skate. Até o ano passado, Felipe Bento, formado no Ensino Médio e técnico em Publicidade e Propaganda, era um dos estudantes que trocavam a caminhada pelas quatro rodinhas: “Tentei juntar o que gosto com o lugar em que tinha que ir. Moro perto do CAEL e, ao invés de ir a pé, eu ia de longboard”, conta o jovem. Felipe prefere o skate tipo longboard ao comum, pois, para ele, nesse equipamento é mais fácil de se equilibrar: “No longboard, a base é maior. No skate, eu me sinto mais limitado, não dá para abrir mais a perna senão já sai fora dele”, explica Felipe. A graça pelo longboard não apareceu da noite para o dia. O desejo pelo objeto veio de alguém que exibia suas manobras para Felipe: era Gabriel Coli, amigo do mesmo condomínio e, também, do CAEL. Gabriel está no terceiro ano do Ensino Médio, cursa técnico em Informática e, assim como seu amigo, aboliu a caminhada: “Às vezes acordo atrasado e, por isso, prefiro ir de longboard. Demora uns dez minutos da minha casa até a escola. De ‘long’, dá só uns quatro minutos”, observa Gabriel.

VERSÃO

Foto: Gian Cornachini

Trânsito: o maior inimigo

De casa ao CAEL: Gabriel e Felipe percorrem o trajeto de longboard

Dividir a rua com carros não é nada fácil para skatistas. É comum ouvir histórias de gente que já se acidentou colocando seu skate para andar, lado a lado, com automóveis no trânsito. Até mesmo Felipe e Gabriel não escaparam de alguns perigos em seus passeios com o longboard. “Certa vez, quando eu atravessava uma rua, meu ‘long’ travou na cal15


çada, eu caí e me ralei todo. Mas o pior foi o carro ter atropelado meu ‘long’. O motorista poderia ter desviado...”, lembra Gabriel. Com Felipe, algo mais sério quase aconteceu: “Eu estava andando na rua e um motorista de uma van me prensou, até que o pneu dela agarrou em meu ‘long’. Eu caí, não me machuquei muito, mas poderia ter sido pior. O motorista jogou o carro em cima de mim, foi de propósito”, conclui o jovem. No Brasil, não há uma lei de trânsito que enquadre os skates. Por isso, segundo o advogado especialista em direito de trânsito Marcelo Araújo, não é possível ordenar que os skatistas devam andar na rua ou na calçada: “Os skates são objetos que permitem deslocamento terrestre, mas não são classificados como veículos”, explica o advogado. “Até então, esses equipamentos são desportivos e inapropriados para uso na via pública. O recomendado é utilizá-los em ambientes recreativos, fora do trânsito de automóveis”, esclarece Marcelo. Enquanto uma lei não regula o skate, a atenção dos motoristas deve ser constante, conforme sugere o advogado: “Como não há regras para os skatistas, não dá para prever o comportamento deles no trânsito. Cabe ao motorista adotar prudência e atitude defensiva”, recomenda. Tanto Gabriel como Felipe já viram que andar na rua com longboard não é só diversão. Os estudantes também adotaram medidas preventivas para evitar possíveis acidentes: eles andam na calçada, não correm muito e vão para a rua somente quando o semáforo está fechado. “A gente evita andar na rua quando está muito movimentada. Ficamos mais na calçada, apesar delas serem horríveis. Precisaria ter ciclofaixas em Campo Grande e no caminho para a escola. Seria perfeito!” — sugere Felipe. Na ausência de espaços mais seguros, a dupla só coloca o longboard na calçada para se locomover: “No condomínio em que moramos tem mais espaço, não passa carro e dá para praticar as manobras”, afirma Gabriel. “Então, a gente prefere dar nossos ‘rolés’ lá mesmo, que é muito mais tranquilo”, garante Felipe. 16

Foto: Gian Cornachini

Comportamento

Os amigos Felipe Bento e Gabriel Coli aboliram a caminhada: o trajeto da casa deles até o CAEL não passa de 5 minutos com o longboard


Dois irmãos, um skate, um longboard e um plano Ao contrário de Felipe Bento e Gabriel Coli, os irmãos Gabriel e Rafael Boti não estão liberados para percorrer o trajeto de casa ao CAEL de skate. Gabriel está no 9º ano do Ensino Fundamental e Rafael no 8º ano. Para completar, a mãe deles, Elizabeth Boti, está no 7º período do curso de Pedagogia das FIC e trabalha como auxiliar de Recursos Humanos na Coordenação de Estágios e Mercado de Trabalho (CEMT), na FEUC. Elizabeth não deixa seus filhos irem de skate para o colégio. O motivo é o trânsito: “Os motoristas são muito irresponsáveis, não dá para confiar em deixá-los andar na rua de skate. É muito perigoso, e eu tenho medo de que eles sejam atropelados ”, assume a mãe. Os irmãos já tentaram ‘passar a perna’ em Elizabeth — o que rendeu uma boa história: “Os dois aproveitaram que vínhamos juntos para a FEUC e colocaram o skate e o longboard no porta-malas do carro”, conta a mãe. “Era rotina eles saírem da aula e guardarem as mochilas no carro para eu levá-las embora. Nesse dia, quando foram guardá-las, lembrei de falar algo para eles e peguei os dois no flagra: meus filhos estavam retirando o skate e o ‘long’ do porta-malas do carro para voltar com eles para casa”, lembra Elizabeth, rindo da história.

Foto: Gian Cornachini

Elizabeth (ao fundo), mãe de Rafael e Gabriel, descobre a o plano dos garotos

Para ajudar a diminuir os riscos no trânsito e os acidentes no desporto, Alex Batista, instrutor e sócio da Guanabara Longboard Escola, oferece algumas dicas: “Equipamentos de segurança nunca são demais. Capacetes e joelheiras são primordiais”, aponta Alex. “Há muitos motoristas mal-educados. Por isso, deve-se evitar a disputa do espaço com automóveis ou frequentar lugares muito movimentados”, aconselha o instrutor. A fim de prezar pela segurança de seus filhos, Elizabeth leva Gabriel e Rafael, frequentemente, para pistas de skate

de Campo Grande, Zona Sul e Itaguaí: “Eu não os deixo andar na rua, mas compenso levando-os para as pistas de skate. Tem dias que fico até de madrugada com eles nas pistas. Aproveito até para levar meu tablet e colocar meus e-mails e trabalhos em dia”, diz ela. Além de diversão para os irmãos, os skates despertam o coração das garotas: “As meninas acham legal ver a gente andar de skate”, garante Rafael. “Com certeza, elas ficam interessadas. Já estão até chegando em nós”, revela o garoto, com um sorriso largo e bochechas vermelhas. ■

Foto: Gian Cornachini

Não podendo andar na rua, Rafael (na foto) e Gabriel são compensados com muitas horas de diversão nas pistas de skate 17


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Desempen MEC segue

Por Gian Cornachini e Tania Neves

D

ivulgado em dezembro passado, o resultado final das avaliações do MEC nas instituições de ensino superior relativas ao triênio 2009/2011 nos trouxe muito boas notícias, embora algumas nem tão alvissareiras assim. As FIC confirmaram sua nota 3 no Índice Geral de Cursos (IGC). Entre as graduações, Ciências Sociais e Licenciatura em Computação obtiveram uma inédita nota 4 no Conceito Preliminar de Curso (CPC), enquanto Matemática, Geografia, Letras e História compartilharam o conceito 3 . Pedagogia e Bacharelado em Sistemas de Informação, apesar de estarem em trajetória de crescimento, continuaram com nota 2, o que custou à instituição uma medida cautelar que impediu a realização do vestibular de início de ano para ambos os cursos. As FIC já iniciaram as ações solicitadas pelo MEC para sanar os problemas identificados e enviaram o primeiro relatório com as providências tomadas. Caso a resposta do Ministério seja positiva – e rápida – o vestibular poderia ser realizado ainda em março. “Mas só se tivermos essa resposta até a metade do mês de março, depois disso seria inviável para novos integrantes acompanharem as disciplinas já iniciadas” – explica o professor Valdemar Ferreira da Silva, coordenador da Comissão Própria de Avaliação (CPA) e vice-coordenador Acadêmico das FIC. “Estamos confiantes, porém, de que o mais tardar até o fim do semestre tudo estará normalizado”.

Foto: Tania Neves

Infografia: Victor Abreu

Após rigorosa análise, MEC restitui à instituição seu conceito 3 no IGC 18


nho das FIC na avaliação do e em trajetória crescente Dois cursos alcançaram nota 4, dois se mantiveram com 2 e os demais ficaram com 3. Ações para sanar os problemas apontados já foram iniciadas

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Nota de alunos no Enade foi decisiva As boas notas obtidas pela maioria dos cursos são resultado do sério trabalho desenvolvido pelas coordenações e os professores nos últimos anos, mas principalmente refletem o empenho de boa parte dos alunos no Enade. “Tivemos o cuidado de apresentar a eles o questionário socioeconômico e discutir as entrelinhas, mostrar que uma pergunta mal interpretada poderia gerar uma resposta que não refletiria a realidade do curso”, diz a professora Vivian Zampa, coordenadora de História, curso que tirou 4 no exame. Já a professora Célia Neves, coordenadora de Ciências Sociais, optou por convocar os discentes a uma participação mais ativa na construção do curso, o que lhes permitiu observar o empenho e a integração dos professores e a coerência do trabalho realizado: “Isso gerou neles uma vibra-

ção muito grande”, destaca. Vice-coordenador de Computação, o professor Rodrigo Neves ressalta o comprometimento dos graduandos da Licenciatura: “A turma era muito boa e estudou bastante. Os alunos levaram as questões a sério, em vez de fazer de qualquer jeito”. Um dos formandos de Ciências Sociais que fez o Enade em 2011, o policial militar aposentado Wainer Teixeira Souza conta que a turma não tomou a tarefa como mera exigência para colar grau: “Fizemos com a consciência de ser um ato de cidadania. E, ao abrir a prova, constatamos que nosso curso era top de linha: parecia que as questões haviam sido elaboradas por nossos professores”. Dircéa Costa de Sá, que se formou em Letras, também observou esse espírito: “O nosso grupo compreendeu a importância do exame”.

‘Escolhi a FEUC após pesquisar os conceitos’ Morador de Piquete, no interior de São Paulo, Joelson da Silva conquistou, com sua nota do Enem em 2008, o direito a uma bolsa do Prouni para cursar Ciências Sociais em uma faculdade privada. Ele decidiu estudar no Rio e esmiuçou as notas obtidas pelas instituições que ofereciam a graduação aqui. “Na média, a FEUC foi a melhor. Os professores, a ementa e o objetivo do curso também pesaram positivamente na escolha”, conta ele, que se formou em 2011, este ano concluirá o mestrado em Políticas Públicas na FGV-SP e já foi encaminhado por seu orientador para tentar o doutorado em Sociologia na Universidade de Coimbra, em Portugal. Ao fazer o Enade, Joelson sentiu que era o momento de retribuir: “Eu e meus colegas de turma queríamos que a nota do MEC refletisse o que de fato é esse curso: excelente”, diz ele. “E a boa nota é importante não apenas para o aluno que chega, mas também para o que se forma, pois os empregadores levarão isso em conta”.

Joelson na biblioteca da FEUC: mestrado na FGV e indicação para tentar doutorado em Coimbra 20

Foto: Gian Cornachini


Maior qualificação e tempo de dedicação dos professores

Infografia: Victor Abreu

“Saímos de 2 para 3 e na próxima avaliação vamos pleitear uma nota 4”, afirma com entusiasmo a professora Arlene da Fonseca, coordenadora de Letras e nova Diretora de Ensino da FEUC. Ela atribui o bom resultado do curso ao intenso trabalho para que os alunos tivessem sucesso no Enade, mas também aos investimentos feitos na qualificação de professores e a ampliação do tempo de dedicação de parte do corpo docente: “Professores com dedicação maior para poder desenvolver os projetos do curso”, explica. Já História conquistou um 3 quase chegando no 4: teve conceito 4 no Enade e boas notas na maioria dos quesitos, mas a graduação foi mal avaliada pela quantidade de professores com mestrado – embora a proporção de mestres e doutores esteja acima do mínimo exigido pelo MEC. Isso é possível porque o cálculo considera a média dos cursos de História do país: como o contingente maior de professores está nas universidades públicas, que têm percentual altíssimo de mestres, as FIC perderam na comparação. Coordenador de Matemática, Alzir Fourny Marinhos diz que o conceito 3 trouxe muita alegria para ele e sua equipe. O professor ressalta que a nota 3 de seus alunos no Enade foi a melhor entre as instituições privadas da região que oferecem o curso: “A Universidade Rural tirou 3, mas outras faculdades privadas de Campo Grande, Santa Cruz, Realengo e Piedade ficaram com 2. Se você olhar a nota de uma avaliação que vai de 0 a 5, a nota 2 é muito pouco. Mas, em nível de Brasil, a nota 3 é muito boa, pois muitos cursos tiraram menos de 3. Então, a gente sobressai”, conclui. O ponto principal que o coordenador de Geografia, professor Luiz Mendes, ressalta na avaliação é o grande avanço dos alunos com relação às edições anteriores do Enade, de 2005 e 2008: “Há uma clara evolução no aprendizado pelos alunos e a pertinência do conteúdo ministrado pelos professores”, diz Mendes, atribuindo tal desempenho também ao esforço das FIC na contratação de docentes qualificados e no apoio ao desenvolvimento do Projeto Pedagógico do Curso. 21


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Degrau após degrau, com firmeza A conquista do CPC 4 por Licenciatura em Computação e Ciências Sociais e a obtenção do conceito 4 no Enade por História demonstram os acertos das coordenações e dos professores na condução dos cursos. No caso de LIC, o resultado é o melhor entre as quatro instituições que oferecem a graduação no Estado do Rio de Janeiro. Já Ciências Sociais tem a segunda melhor licenciatura, atrás apenas da PUC. E, em História, somente as licenciaturas da federal UNIRIO e da particular La Salle, de Niterói, superaram a nota do curso das FIC no Enade. Rodrigo Neves, vice-coordenador de Computação, ressalta a competência dos alunos na conquista. “A turma que fez o Enade de 2011 era excelente”, diz. O resultado, segundo ele, dará grande impulso à licenciatura: “O MEC está começando a exigir formados em Licenciatura da Computação para atuarem no Ensino Básico e Médio. Hoje, a Foto: Arquivo Pessoal

maioria dos professores de computação é formada por tecnólogos, e nós preparamos profissionais com as características pedagógicas para trabalhar com alunos”, explica. Douglas Amancio de Oliveira, da turma que se formou em 2011, concorda: “A avaliação comprova que o curso de licenciatura está preparando bons profissionais para atuarem no mercado de trabalho”. De sua parte, a coordenadora de Ciências Sociais, Célia Neves, atribui os resultados a um projeto cuidadoso que vem sendo construído pela equipe de profissionais em parceria com os graduandos. Segundo ela, uma característica forte do curso é que a maioria dos alunos tem absoluta convicção da escolha da carreira. “Muitos chegam com imensas dificuldades, devido à formação ruim nas etapas anteriores do ensino e por serem jovens trabalhadores que dispõem de poucos horários para o estudo. Mas se superam”, diz a professora.

Quatro com gosto de cinco A ex-aluna Marina Ribeiro, de 39 anos, formada em 2006, é um exemplo dessa superação. Ela fez pré-vestibular comunitário e optou por Ciências Sociais por buscar numa formação superior os meios de pensar a vida e as questões sociais. Mirava o magistério, mas conquistou uma vaga de estágio no Ibase e hoje é pesquisadora do instituto: “Antes eu questionava a qualidade da formação nas faculdades privadas, mas o que tive na FEUC foi de alto nível”, diz Marina, que faz mestrado em Educação na UNIRIO e é educadora voluntária do mesmo pré-vestibular comunitário que cursou. A percepção de Marina sobre a qualidade do curso de Ciências Sociais das FIC foi (quase) a mesma do MEC. A graduação foi bem avaliada na maioria dos aspectos, mas caiu no quesito nota do mestrado, como História, também por ser comparada com cursos de universidades públicas, embora tenha o percentual de mestres e doutores exigido pelo Ministério. “Não fosse isso, acredito que estaríamos com 5, igual à PUC”, diz a professora Célia Neves.

Douglas Amancio, formado em Licenciatura da Computação: curso prepara bons profissionais 22


Foto: Gian Cornachini

Rodrigo: Laboratório de Redes traz melhoria para Bacharelado em Sistema de Informação

Problemas já estão sendo resolvidos Pedagogia e Bacharelado em Sistemas de Informação foram os dois únicos cursos das FIC que não conseguiram sair do conceito 2 no CPC, apesar de progredir em vários aspectos com relação à avaliação de 2008. Ambos tiveram resultado ruim no Enade de 2011, o que pesou. “Esperávamos no mínimo a mesma nota do exame anterior, que foi 3” – disse a coordenadora de Pedagogia, professora Maria Lícia Torres – “vimos que o problema principal se deu com o questionário socioeconômico, que é longo, e muitos alunos não preencheram completamente”. Rodrigo Neves, vice-coordenador de Computação, admite a falha: “Deveríamos ter trabalhado mais a conscientização do aluno sobre o questionário. Faremos isso para o próximo Enade”. O preenchimento do questionário, de fato, é problemático, como explica o coordenador da CPA, professor Valdemar Silva: “São mais de 100 questões para responder on line. Além de paciência, é preciso muita

atenção, pois algumas perguntas dão margem a interpretações erradas”, analisa. Uma das soluções adotadas por professores foi a de discutir o questionário com os alunos e convidá-los a preencher em grupo, nos laboratórios de informática. “Precisamos generalizar isso”, conclui Valdemar. Quanto a outras deficiências identificadas, o coordenador da CPA informa que a instituição já começou a corrigi-las e enviou ao MEC um primeiro relatório a respeito. Entre elas estão a revisão do projeto pedagógico de ambos os cursos, a implantação do Programa de Iniciação Científica e, mais especificamente para BSI, elevação do número de docentes com dedicação parcial e integral, recomposição do Núcleo Docente Estruturante (professores que apoiam a coordenação no desenvolvimento de projetos) e melhoria na infraestrutura do curso, como a criação de um Laboratório de Redes. ■

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2013

Ano começa com novida Foto: Gian Cornachini

Evando em ação na desmontagem de um computador: ‘não há nada que eu não possa fazer’

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irme no compromisso assumido há pouco mais de 20 anos de promover o crescimento da FEUC com sustentabilidade e baseado no tripé aluno respeitado, empregado satisfeito e melhoria da infraestrutura, a atual gestão tem uma série de ações importantes previstas para este ano de 2013. Entre elas destacam-se a implantação do Plano de Cargos e Sa-

lários dos funcionários administrativos e de apoio; a ampliação e melhoria das condições de acessibilidade dos prédios; a priorização, nas novas contratações, de candidatos com deficiências ou limitações, mas habilitados ao trabalho. Evando da Cruz Silva, de 18 anos, que está em período de testes no setor de Suporte de Informática, é um exemplo des-

sa política. Em seu primeiro emprego com carteira assinada, o jovem, que tem uma deficiência no braço direito, está eufórico com a oportunidade conquistada: “Encho a boca para dizer que trabalho na FEUC. Apesar da deficiência, não há nada que eu não possa fazer, quero crescer nessa área e ser um futuro Vitão”, disse ele, referindose ao funcionário Victor Abreu.

Iniciação científica, revista de Letras e muito mais Nas FIC, há várias atividades previstas para movimentar os cursos. A principal delas, abrangendo todas as graduações, é o Programa de Iniciação Científica, que envolverá alunos e professores no desenvolvimento de projetos. Cada professor orientador acompanhará grupos 24

de até quatro alunos, que receberão bolsa de 20% de desconto nas mensalidades para se dedicar a pesquisas relacionadas a suas futuras monografias. “O objetivo é incutir no graduando o espírito da pesquisa”, diz o vice-coordenador Acadêmico, professor Valdemar Silva.

Individualmente, os cursos também planejam novidades. Letras já tem tudo preparado para lançar a revista “Letras na FEUC”, no segundo semestre. A chamada para apresentação de artigos será feita ainda em março ou no máximo em abril. “As edições não terão temas


ades por todos os lados específicos, os artigos poderão abordar qualquer assunto de interesse dos estudos de língua e literaturas”, explica a coordenadora Arlene da Fonseca. Na História, a coordenadora Vivian Zampa destaca uma nova fase da pesquisa dos documentos sobre a história de Campo Grande feita no Fundo do Conselho Ultramarino: “Vamos partir agora para transcrever os documentos já selecionados e montar um roteiro de fontes para futuras pesquisas. Quem sabe até buscar um patrocínio para a publicação desse roteiro, que seria de grande valia para pesquisadores interessados nesse período da história do bairro”, diz. “Como estabelecer uma relação com o universo do ensino básico que não seja unicamente a presença do discente que realiza o estágio orientado?” Partindo dessa pergunta, o curso de Ciências Sociais decidiu criar o Laboratório de Pesquisa e Ensino de Sociologia (Lapes), com o objetivo de construir uma interlocução com escolas de Ensino Médio da rede pública da região e desenvolver ferramentas de ensino e pesquisa no campo de Ciências

Sociais. “Sobretudo nos grupos que se aproximam da conclusão do curso, percebemos um conjunto de dúvidas, assim como grande disposição e entusiasmo em buscar respostas. O Lapes vem para auxiliar nesse movimento”, diz a coordenadora Célia Neves. Na Geografia, o coordenador Luiz

Aluno terá bolsa de 20% de desconto na mensalidade para fazer pesquisa Mendes informa que dará continuidade na definição do Rio da Prata como área de estudo do curso: “Principalmente nas áreas de Geografia Agrária (ruralidades do urbano), Meio Ambiente, Socioeconomia e Geografia Física, que engloba Geomorfologia, Geologia e Recursos Hídricos”, diz ele, ressaltando que um dos objetivos será verificar as

bases de dados socioeconômicos e educacionais existentes para a região. Já o coordenador Alzir Fourny Marinhos apostará as fichas da Matemática na oferta de mais e melhores cursos de extensão ao longo do ano, assim como na manutenção e ampliação do projeto Desbloqueando, de aulas de reforço para a comunidade, que dá ao graduando sua primeira experiência como professor. “Mas nosso foco em 2013 será mesmo nos cursos de extensão, importantes para incrementar a formação de nossos alunos”. Preocupados com os resultados ruins no Enade, a coordenadora de Pedagogia, Maria Lícia Torres, e o vice-coordenador de Computação, Rodrigo Neves, voltarão seus esforços primeiramente para uma preparação de longo prazo dos alunos para a prova de 2014. Outras ações virão a seguir, como a reestruturação de disciplinas e promoção de eventos acadêmicos. “Com a reestruturação de nosso Núcleo de Estudos em Sistema de Informação, buscaremos parcerias com empresas para levar atividades de extensão à comunidade”, diz Rodrigo.

Mais laboratórios, viagens e apoio pedagógico às turmas No CAEL teremos a montagem do laboratório de Alimentos, Bebidas e Hospedagem, do curso de Turismo, e o laboratório de Pneumática, do curso de Automação Industrial. O estúdio de Fotografia já está prontinho para uso do curso de Publicidade. E o programa de Cultura Internacional vai propor nova viagem ao exterior com os alunos em 2013. Na Educação Infantil (a partir do Maternal II) e no primeiro segmento do Ensino Fundamental a novidade é

a entrada no Sistema Uno de Ensino, adotado primeiramente nos outros segmentos. “Esse sistema, que apresentou bons resultados nas turmas em que foi aplicado, agora estará à disposição das demais séries”, explica Esther Bendelack, coordenadora da Educação Infantil. “Além do material didático de alto nível, os professores passam a ter à disposição consultores especialistas para dar apoio nas dificuldades pedagógicas que enfrentarem no dia a dia”.

No Colégio Magali, o que encantou os pais neste começo de ano foi o perfil no Facebook (www.facebook.com/ColegioMagaliFeuc) criado para que eles acompanhem parte das atividades de seus filhos na escola. “Além de postar fotos das atividades realizadas, também vamos usar o canal para manter a família informada sobre programações futuras. Acredito que ganharemos muito em entrosamento”, avalia Silvia Cezar, diretora adjunta e coordenadora. ■ 25


Tema em Questão

Escola: mão de obra ou educação crítica? Somos ‘forçados’ a manter uma máquina social ou desfrutamos de um espaço ideal do conhecimento? Da educação técnica à formação de um ser pensante, a escola enfrenta críticas e elogios Por Gian Cornachini*

T

ão presente na cultura ocidental, parece que a escola sempre existiu. Mas ela, tal como a conhecemos hoje, é uma instituição moderna e fruto, principalmente, do desenvolvimento econômico mundial. A partir daí, surgem questionamentos: para que a educação atual está voltada? Qual o papel dela na formação dos estudantes? Será que a escola sempre foi assim?

Um breve apanhado histórico Para entender a escola de hoje, vamos voltar no tempo. A cultura oral, antecessora à escrita, era a responsável por manter a história dos povos. Os ensinamentos passados de pais a filhos eram informais, conforme sugere a filósofa e escritora Maria Lúcia de Arruda Aranha. Em seu livro Filosofia da Educação (2006), a autora explica que a educação informal é caracterizada pela sua forma casual e empírica, ou seja, não organizada a partir de um sistema, mas passada a partir de suas próprias vivências e bom senso. O surgimento de sociedades mais complexas, fundadas em instituições políticas e práticas econômicas sofisticadas, começou a desvalorizar a educação informal. Considerado insuficiente e sem conhecimentos específicos, esse modelo de educação passou a ser substituído pelo formal. Surgiu, então, a figura do professor — geralmente um filósofo, especialista em repassar conhecimento intelectual e moral. Na Grécia Antiga, essa nova educação era um privilégio de pou26

cos: homens ricos, que não tinham necessidade de trabalhar e dispostos a investir o tempo livre no saber. Na Idade Média, a cultura escrita ganhou força: surgiram os estudos em gramática, retórica e filosofia, e a Igreja Católica criou escolas e transformou esses estudos em disciplinas. Para a historiadora Maria Lúcia Hilsdorf, a educação escolar começou a ser delineada na Idade Média, principalmente com o interesse da Igreja Católica em educar o clero. Posteriormente, outros saberes foram adicionados, como a estenografia — um processo de escrita por meio de abreviações que permite a transcrição das palavras tão rapidamente conforme são pronunciadas. Com o avanço da sociedade, os centros de ensino da Igreja Católica passaram a oferecer “cabeça de obra” para o Estado, ou seja, leigos educados para trabalhar na administração das cidades. Já na Idade Moderna, a cultura humanista cresceu, as cidades começaram a inchar e a economia se tornou mais urbana. Bastou um passo ao período contemporâneo para a escola tomar as formas atuais. Movida pelos ideais iluministas, a educação escolar passou a ser orientada pela razão. O Estado também ficou responsável por mantê-la, e então ela se voltou para o público. O material escolar dispensou os livros religiosos e adotou os didáticos e de cunho laico. O movimento educacional “Escola Nova”, no século XX, reviu as formas tradicionais de ensino e incorporou estudos voltados para as áreas de psicologia e biologia. Consolidou-se, então, a escolarização organizada em etapas – hoje com a nomenclatura de Ensino Básico (infantil e fundamental) e Secundário (médio e técnico).


A ‘decadência’ da escola em pauta

O filósofo francês Michel Foucault sugere que a escola vigia e adestra o corpo e a mente

O(s) papel(eis) da escola Segundo dados do Ministério da Educação com base no último Censo (2010), a população em idade de escolarização básica (de 4 a 17 anos) no Brasil ultrapassa os 45 milhões de estudantes. Com tanta gente matriculada, será que a escola de hoje é a referência na Educação? O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) foi um crítico da educação escolar. Ele via na escola moderna um espaço para vigiar e adestrar o corpo e a mente. É como se a criança fosse sequestrada de sua família para passar longos anos sob uma disciplina voltada para conduzir seu comportamento e formar seus pensamentos. A isso ele deu o nome de “corpos dóceis”, e tal “docilização” geraria vantagens sociais e políticas: corpos dóceis significam corpos produtivos. O pensamento de Foucault sugere que o papel da escola moderna seria o de formar mão de obra para alimentar a necessidade contínua e crescente de produção, seja ela de bens materiais ou não. E quanto à questão de a escola formar um ser pensante, que vá além de conteúdo, habilidades e competências propostas pelo ensino tradicional? Para a doutora em Educação Andrea Ramal, a escola ainda é esse local de formação diferenciada do estudante: “O papel da escola é fundamental para formar seres pensantes e críticos”, afirma ela. “A escola, junto com a família, precisa ajudar os jovens a construir um olhar crítico, a avaliar o que aprendem e o que fazem a partir de determinados critérios, a construir o seu próprio projeto de vida de forma responsável, autônoma e solidária”.

Os métodos de ensino e a estrutura prática da escola são grandes pautas de discussões. O documentário argentino “La Educación Prohibida” (2012), financiado vias redes sociais e disponibilizado gratuitamente na internet, propõe uma reflexão sobre o modelo tradicional da educação. Exibido no ‘Cinema na FEUC’ em setembro de 2012, o filme defende que a escola tradicional se baseia em um sistema repetitivo e autoritário, orientado à competição e limitador do aprendizado. O filme apresenta outras formas de pensar a educação, que valorizam a diversidade educativa, a liberdade pedagógica e a necessidade de democratização. Outro tema que vem alimentando discussões é o chamado “abolicionismo escolar”, abordado pelo historiador Danilo de Camargo em sua dissertação de mestrado na USP (“O abolicionismo escolar: reflexões a partir do adoecimento e da deserção dos professores”). Na pesquisa, ele conclui que o problema de afastamento dos professores se dá pela conduta das escolas enquanto instituições. Danilo sugere que se questione a existência da escola como um grave problema político, pois, para ele, a instituição é falha e não se propõe a pensar um outro modelo educacional que substitua o atual.

Apesar de defender que a escola busca contribuir para a formação de seres críticos, Andrea Ramal não renega a crítica de Foucault: “Ela [a escola] assume também o papel — junto com a família — da formação cidadã, da formação ética, além de desenvolver competências ligadas ao mundo do trabalho, como a postura empreendedora, a capacidade de trabalhar em grupo ou de compartilhar conhecimento”, esclarece a especialista. Mesmo assim, segundo Andrea, a formação técnica da escola não deve ser descartada: “Esse movimento é positivo, pois a tendência é que os alunos passem a sair da escola com visões mais globais e, portanto, mais preparados para a vida”, completa. ■ Esta matéria continua no site da revista (www.revistadigital.feuc.br). Leia e participe do debate! *

Com a colaboração de dados históricos fornecidos por Ellanny Brabo de Matos, professora do curso de História das FIC.

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CAEL

Muito além dos livros e cadernos Foto: Gian Cornachini

Na creche, os pequenos Luiz Miguel, Maria Roberta e Joaquim observam o preparo de salada de frutas e aprendem com Fernanda sobre as vitaminas

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m aluno que desmaia com frequência; outro que não consegue acompanhar a fala do professor e se dispersa; um terceiro que até presta atenção, mas retém pouca coisa. Já se foi o tempo em que tudo isso poderia passar despercebido ou ser tratado como preguiça ou mera indisciplina. Com o time de especialistas em atuação também fora das salas de aula no CAEL – como fono28

audióloga, orientadora, enfermeira e nutricionista – esses pequenos problemas são detectados antes que se tornem grandes e atrapalhem a vida de crianças e jovens nos estudos. “E tratados da maneira mais transparente possível, unindo forças da escola, da família e do próprio aluno” diz a diretora Regina Sélia Iápeter. Regina explica que, além de dar suporte aos estudantes, a função des-

ses profissionais também é a de promover a integração da família com a escola. Cecília Laranjeira, orientadora educacional do Ensino Médio e Técnico, ressalta o papel de sua especialidade: “Embora os professores também estejam voltados para isso, cabe ao orientador fazer a supervisão das questões de relacionamento entre todos na escola e cuidar para que haja um ambiente propício ao crescimento


Profissionais como nutricionista, orientadora educacional, enfermeira e fonoaudióloga estão a postos para garantir o bem-estar do aluno na execução de suas atividades diárias pessoal e profissional, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo”. Casos de atritos entre alunos ou entre eles e professores são as ocorrências mais comuns a demandar a intervenção do orientador, mas Cecília conta que também é feito um trabalho preventivo, para evitar que se chegue ao atrito: “Há a figura do aluno representante e do professor conselheiro em cada turma para justamente incentivar o diálogo”, diz. Outra frente em que esses profissionais atuam é na detecção antecipada de problemas. A fonoaudióloga Daniele Anjo já observou crianças no berçário com dificuldades auditivas que as famílias ainda não haviam percebido. E já chamou a atenção de pais para razões simples que levam ao mau rendimento escolar, mas que poucos notam: “Uma criança que vive com nariz entupido e respirando pela boca, por exemplo, terá não somente dificuldade de se concentrar, por falta de oxigenação, como pode desenvolver anomalias na fala”, ensina Daniele, que também é dentista e promove campanhas de saúde bucal na escola. Enfermeira e coordenadora do Centro Médico, dona Armelina Guimarães Oliveira volta e meia recebe estudantes com pequenas dores, ferimentos ou mal-estar. Ela faz o atendimento de sua competência e, quando isso não basta, chama o responsável e/ou encaminha para aten-

dimento médico em uma clínica conveniada do seguro saúde da instituição. Em alguns casos, uma “junta de especialistas” chega a se formar para atuar na solução. “Foi o caso de uma menina que desmaiava com frequência”, lembra Suellen Oliveira, orientadora educacional da Educação Infantil e do Fundamental: “A professora observou isso e me passou. Dona Armelina também comentou que a coisa era muito frequente. Os colegas contaram que a estudante não se alimentava, e houve suspeita de bulimia. Conversei com a jovem e com a família e pedi ajuda à nossa nutricionista”, relata. Fernanda Rosa dos Santos, a nutricionista, descobriu que era um hábito da família não tomar o café da manhã. Ela orientou a jovem e os pais sobre a importância dessa primeira refeição e o problema foi resolvido. Para prevenir casos assim, Fernanda faz um trabalho de avaliação e orientação nutricional desde o berçário. Ela examina as crianças e prescreve os cardápios de acordo com o desenvolvimento e o estado nutricional e de saúde de cada um. Além disso, promove sessões de preparo de alimentos simples – como saladas de frutas e bolos – para estimular a curiosidade e o gosto dos pequenos pelos alimentos saudáveis. Um jeito gostoso de ensinar e aprender. ■

Muitas vezes é um profissional da escola que detecta problemas que a família não percebe

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Homenagem / Primitivo Paes

Adeus ao

POETA No Dia de São Sebastião, Campo Foto: Divulgação

Grande se despediu do artista que levou a poesia para as escolas e as praças públicas e valorizou a vida cultural da Zona Oeste Por Tania Neves

L

avrador, operário, sindicalista, ator... poeta. Entre a dureza da terra e a delicadeza dos versos, Primitivo Paes viveu 85 anos colecionando experiências de vida, amigos, poesias. Nasceu em Pernambuco, rodou meio mundo e vivia há pelo menos 30 anos do Rio da Prata. Ele morreu no dia 19 de janeiro, deixando as filhas Joelma e Adriana, os genros Cândido e Anderson, os netos Tiago, Diego e Derick. Em meados da década passada, Primitivo fez uma apresentação na FEUC, numa Semana de Letras, e desde então criou um lindo vínculo com alunos e professores da instituição. “Com seu modo apaixonado de dizer poesia, ele soube cultivar nos alunos essa mesma paixão pela arte”, lembra a coordenadora do curso de Letras, Arlene da Fonseca. A filha Adriana conta que o acolhimen30

to que o poeta teve na FEUC significou para ele um sopro de vida. “Ele tinha muito orgulho de participar dos eventos culturais, sobretudo pelo carinho com que era recebido pelos jovens”. Poeta e professor de português das FIC, Erivelto Reis nos últimos anos acompanhava Primitivo nas apresentações que o veterano artista fazia em escolas, creches, teatros e outros espaços públicos (ao todo, foram mais de 1.100). “Foi um defensor da infância e da autonomia cultural e intelectual das crianças e dos jovens. Dizia querer ter sido professor”, relata o discípulo. Primitivo Paes foi enterrado no Jardim da Saudade, em Paciência, no Dia de São Sebastião, padroeiro da cidade que ele escolheu para viver e que aprendeu a amar. Um amplo e emocionante relato sobre sua vida e suas realizações, escrito por Erivelto, pode ser lido em http://poetaprimitivopaes.blogspot.com/. ■

Primitivo Paes a caráter para uma apresentação: elegância no traje e também nos versos

Partida Antes de partir sinto saudades Da mocidade com toda vibração Da infância com sua ingenuidade E da velhice com toda gratidão. Digo “tchau” aos amigos que deixei Dos poetas, levarei minha paixão Quem diria que eu não vou sentir saudade Das batidas desse velho coração. Pensamento de poeta é mesmo assim Cheio de sonhos, devaneios e ilusão: Pensa que vai; fica, Não vai não. Pois, Olha eu aqui, de novo no pedaço, Cheio de Vida, de Amor e de Paixão. Vou plantando sementes da saudade Em cada palmo de terra desse chão!


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