2ª - Edição - Revista Gabrielle

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ANO 1 • 2ª EDIÇÃO – 2015


CAMILA LIBERAL

BEATRIZES RODRIGU

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BRUNA E T N A M L A B


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segunda edição da Gabrielle enfoca mais uma vez obstáculos que enfrentamos todos os dias pelo simples fato de sermos mulheres. Nossa ideia é apresentar a você, nas próximas páginas, abordagens que vão transformar o seu modo de pensar. Em destaque está a violência sexual, que, ao contrário do que todos pensam, vai muito além do ato em si. Você sabia que no Brasil uma em cada cinco mulheres so-

BEATRIZ FAGGIAN

frem algum tipo de violência? Que qualquer comentário de caráter sexual é caracterizado como assédio? Você sabia que todo mundo, pelo menos uma vez na vida, praticou a cultura do estupro, mesmo sem saber? Pois bem, seja por falta de informação, machismo, ignorância ou desejo, a sociedade tem para si que é justificável um estupro a partir do momento que uma mulher estava usando uma roupa curta, um batom vermelho ou ingerido certa quanti dade de álcool. O assunto é tão relevante que foi

até tema da redação do Enem – realizado após o fechamento da nossa reportagem. A Gabrielle também mostra novamente que todos merecem a liberdade de viver como querem, que uma mulher deseja andar pela rua sem ser chamada de gostosa, que nenhum crime deve ser silenciado e que a culpa nunca é da vítima. Também apresentamos um singelo editorial de moda que tem como objetivo mostrar a diversidade, criticar padrões e encorajar quem não quer mais se deixar oprimir pela sociedade ignorante que dita regras.

A Gabrielle está mais forte do que nunca! Vem com a gente!

LETÍCIAES RODRIGU

A D I C E R A P A AQUINO

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FEMINISMO A LUTA POR TODAS AS MULHERES

A DAMA DOS PALCOS DA VIDA

DESMISTIFICANDO A HISTÓRIA MULHERES NO FRONT

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ALERTA DA SAÚDE: CRIOLIPÓLISE

ABORTO DIREITO OU CRIME?

VIOLÊNCIA SEXUAL O CRIME ACOBERTADO PELA CULTURA DO ESTUPRO

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ANTICONCEPCIONAL PERIGOS X BENEFÍCIOS

ANDRESSA URACH UM LIVRO ABERTO PARA O PÚBLICO

MULHER DE FASES

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EVOLUÇÃO DOS TRAJES E A INDEPENDÊNCIA DA MULHER

SEJA VOCÊ MESMA!

VIVA A DIVERSIDADE!


i m eF r o p a A lut s a s a d to lheres mu

POR LETÍCIA RODRIGUES FOTO REPRODUÇÃO (INTERNET)

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O

feminismo pode parecer bobagem para alguns. Pode provocar a ira de outros. Mas um fato ninguém deve negar: sua importância para nós, meras mortais do século 21. Graças às ‘malucas’ que um dia queimaram sutiãs, hoje podemos votar, trabalhar, nos divorciar e fazer uma série de coisas que antes eram exclusivas para os homens. Mas acreditem: ainda falta muito a ser conquistado. Dados da Catho, uma das principais recrutadoras de emprego no mercado brasileiro, as mulheres ainda recebem cerca de 30% menos do que os homens, mesmo quando exercem cargos de chefia. Na política, a representatividade feminina é minúscula, apesar de as mulheres serem 51% da população. Nas eleições de 2012, 86,6% dos vereadores eleitos no Brasil eram homens, assim como ocorre com grande parte dos outros cargos políticos.

Feminismo vs. machismo

Movimentos feministas ganharam grande destaque nas redes sociais nos últimos anos, mas ainda enfrentam resistência por uma parcela da sociedade. Isso porque muita gente teima em achar que o feminismo é o inverso de machismo ou em achar que as feministas querem privilégios. Segundo a definição do dicionário Michaellis, feminismo é um “movimento iniciado na Europa com o intuito de conquistar a equiparação dos direitos políticos e sociais de ambos os sexos”. Já o machismo é “um comportamento de quem não admite a igualdade de direitos para homens e mulheres”. Portanto, o inverso de machismo não é o feminismo. O inverso é, na verdade, o femismo, outro termo completamente diferente, que reforça a misandria e a superioridade das mulheres. As feministas só querem, mesmo, conquistar a igualdade. 6

Mas de onde vem todo esse machismo?

Uma das raízes do machismo vem do modelo patriarcal, que teve seu início ainda nas sociedades hebraicas com a qualificação de líderes masculinos. Ainda assim, o grego helenístico já fazia menção ao termo, quando as mulheres serviam apenas como objeto de satisfação dos homens e eram vistas, portanto, como inferiores. Em sociedades patriarcais, são os homens que lideram as famílias, os escravos, os aspectos políticos das organizações sociais e tudo o mais. Resumindo: são os homens que mandam em tudo e que detêm todos os poderes em suas mãos. Foi na Revolução Francesa que as coisas começaram a mudar. Com os conceitos de ‘Liberdade, igualdade e fraternidade’, seria injusto que uma sociedade comandada inteiramente por homens continuasse a existir com tanta força. E é justo aí que começa a surgir um ideal de feminismo, que foi fortificado somente décadas depois.

E quem foi que comecou tudo isso?

O início das lutas se deu na chamada ‘primeira onda do feminismo’, que buscava o direito ao voto e o direito de escolha, dando fim aos casamentos arranjados. Surgiu com um caráter intelectual, filosófico e político, principalmente em países como a Inglaterra e os Estados Unidos, acompanhando o movimento de urbani zação, crescimento das cidades e entrada das mulheres no mercado de trabalho. A conquista do voto feminino finalmente aconteceu em 1918 na Inglaterra e, no ano seguinte, nos Estados Unidos. No Brasil, a luta durou alguns anos a mais: em 1932, o então presidente Getúlio Vargas assinou um decreto que permitia o voto das mulheres brasileiras.

Após essa primeira conquista, o movimento nunca mais parou. Na década de 60 surgiu a ‘segunda onda feminista’ e, dos anos 90 para cá, a ‘terceira onda feminista’ está a todo vapor, acirrada pela globalização e pela internet. E é nesse cenário que surgem as páginas no Facebook, os diversos blogs e sites e até mesmo canais no Youtube que difundem cada vez mais o movimento para as mulheres de todo o mundo.

Movimentos online

Com a ‘terceira onda do feminismo’ rondando a internet em um mundo globalizado, diversos movimentos feministas têm sido fortificados. E, graças a isso, Carol Rosetti, designer e ilustradora, começou a fazer e a divulgar no seu perfil do Facebook desenhos com personagens fictícias que reforçam a liberdade da mulher.

"Meu objetivo é tornar visíveis os sentimentos do ser humano mediante a tantas criticas com as quais me deparo ao longo da vida. São críticas em relacão as escolhas pessoais, a identidade, aos corpos... São coisas que acontecem com todo mundo, mas de forma ainda mais forte,opressiva e cruel com as mulheres”, explica. Seus desenhos, além de lutar contra o machismo, combatem o racismo, a homofobia, a transfobia e qualquer outro tipo de opressão. É o chamado feminismo interseccional, que busca lutar por outros


grupos que fazem parte do feminismo, mas que sofrem mais que uma mulher branca, classe média e heterossexual. E é isso que Carol expressa em seus desenhos, por acreditar que os movimentos de luta por igualdade social devem ser interligados e fortalecerem uns aos outros. “Uma mulher negra não tem como ser ‘apenas mulher’ quando luta contra o sexismo ou ‘apenas negra’ quando luta ontra o racismo. Ela é uma mulher negra, que não pode sofrer racismo dentro do feminismo e nem sexismo dentro do movimento negro”. O sucesso de suas publicações levou sua página a mais de 270 mil curtidas e ao lançamento de um livro intitulado ‘Mulheres’, que reúne uma compilação de seus desenhos. Além disso, suas ilustrações agora contam com tradução para outras línguas.

Sem asseédio

Dentro dessa onda de Internet, outro movimento causou furor nas redes sociais: a campanha Chega de Fiu Fiu, idealizada e realizada pelo Think Olga. A ideia foi realizar um estudo online sobre cantadas de rua, com a participação de quase 8 mil mulheres. O resultado, óbvio para o universo feminino, acabou virando notícia em grandes veículos de comunicação: 98% das mulheres já sofreram assédio na rua, 83% não acharam legal, 90% já trocaram de roupa antes de sair de casa e 81% já deixaram de ir a algum lugar com medo de possíveis cantadas inapropriadas. Os assédios ocorrem principalmente na rua e no transporte público, e também no trabalho. De todas essas cantadas, 27% das mulheres não respondem e não fazem nada, por um simples motivo: medo.

Movimentos off-line

A Marcha das Vadias é um dos

movimentos ‘de rua’ mais conhecido pelas pessoas, isso porque elas protestam com roupas consideradas provocantes, justamente para ir contra o ideal de que mulheresque são estupradas são culpadas de um suposto ‘mal comportamento’. Surgiu no ano de 2011 no Canadá, tendo como antecedente diversos casos de estupro na Universidade de Toronto. Na época, um dos policiais observou que as mulheres deveriam parar de se vestir como vadias, para que pudessem evitar esses estupros. Tal observação levou 3 mil mulheres às ruas, criando o nome oficial de ‘Marcha das Vadias’. No Brasil, as marchas ocorrem anualmente em diversas cidades, principalmente nas capitais, alertando sobre os números de estupros ocorridos no país: por ano, segundo a organização do evento, cerca de 15 mil mulheres que são estupradas, uma média de mais de 1200 mulheres por mês. Outro ponto são os diversos coletivos existentes com o intuito de juntar meninas e mulheres para discutir o assunto. Laryssa Stéfani Zani, dona de um sex shop, é uma das que militam por esse meio, com encontros todas as semanas no campus da Ufscar de Sorocaba. “O coletivo Mandala surgiu dentro da própria universidade e esse ano fizemos parceria com a Parada LGBT, o que nos deixou conhecidos na cidade inteira. Juntando esses dois grupos, que precisam estar unidos, nós levamos a informação para as pessoas e promovemos debates no Sesc e em escolas da cidade”, conta.

Como mudar?

Sobre a possível forma de acabar com todo esse machismo, Laryssa observa que a mudança tem que vir de cada um de nós, em gestos diários.

“Talvez a solucão seja cada um olhar para suas atitudes e mudá-las. Coletivos, movimentos, manifestacões e estudos são muito bons, mas se a pessoa não mudar seu interior, seus pensamentos e atitudes todos os dias, nada adianta”. Já para Nadine Gasman, representante da ONU Mulher, em entrevista para a revista Veja em março desse ano, a solução para alcançar a igualdade de gêneros é criar oportunidades e promover ações afirmativas e políticas públicas. “Não tem jeito. Se for pela vontade espontânea, ou pela consciência, demoraremos mais 80, 100 ou 200 anos para atingir a igualdade. Por isso é muito importante termos políticos, acordos, fazer o esforço de dizer: queremos um planeta com igualdade de gêneros antes de 2030”. Hoje as mulheres podem votar, trabalhar, se divorciar e fazer um ‘montão’ de coisa. Mas, ao passo que a liberdade parece estar próxima, a violência, o assédio, a falta de representatividade na política e até os salários menores ainda assombram o cotidiano feminino. O machismo ainda corre escancarado pelos ares, tentando silenciar a luta feminista. Nós, da Gabrielle, compactuamos com a ONU e esperamos que até 2030 as coisas estejam melhores. Será que conseguiremos? Entrevista completa com CAROL ROSSETTI, você confere em nosso facebook: FACEBOOK.COM/REVISTAGABRIELLE

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m mais de 80 anos de vida Fernanda Montenegro já interpretou centenas de papéis. O mais longevo deles é o de si mesma: nascida Arlette Pinheiro Esteves da Silva, em 16 de outubro de 1929, ela adotou a alcunha na década de 1950, quando trabalhava como locutora na Rádio MEC, emissora ligada ao então Ministério da Educação e Cultura, quando o Rio de Janeiro ainda era a capital federal. De lá para cá, encantou nos palcos e nas telas, vivendo distintas vidas – sem nunca deixar de ser ela mesma, a grande dama da dramaturgia nacional. Fernanda, ou melhor, Arlette, nasceu numa família de classe média que vivia no bairro Campinho, no subúrbio do Rio. Aos 16 anos, quando fazia curso técnico de Secretariado, decidiu participar de um concurso na citada Rádio MEC chamado “Teatro da Mocidade”. Ganhou seu primeiro prêmio, um emprego de locutora e uma carreira. Carreira que se solidificou ao conhecer um grupo de teatro formado por alunos da Faculdde Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dirigido pelo professor Adauto Filho. Sua primeira personagem foi Cassona, na peça Nuestra Natascha. Em 1950, apresentou sua primeira peça como atriz profissional, em Alegres Canções nas Montanhas. Essa atuação chamou a atenção da mídia e lhe garantiu um emprego na florescente TV Tupi. Escolhida em 1952 como a atriz revelação pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais, casou-se no ano seguinte com Fernando Torres e junto com ele montou a “Companhia Teatral dos Sete” no ano de 1959. Além dos dois, participavam também Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Gianni Ratto, Luciana Petruccelli e Alfredo Souto de Almeida. Prestigiada nacionalmente e já mãe de seus dois filhos, Fernanda e Cláudio Torres, estreou no cinema com adaptação da peça “A Falecida”, de Nelson Rodrigues, em 1964. Já 8

era então uma atriz consagrada, com passagens por diversos palcos e pelas principais emissoras de TV. Seu amor pela atuação sempre sobrepujou outras frentes – recusou convites de dois presidentes, José Sarney e Itamar Franco, para ocupar o cargo de ministra da Cultura, porque não queria trocar a arte pelos gabinetes da política. Seu auge, pelo menos lá fora, foi em 1998, ano em que concorreu ao Oscar de melhor atriz pela atuação como Dora, em Central do Brasil. “A grande estrela do Brasil, Fernanda Montenegro, rivaliza com atrizes lendárias como Jeanne Moreau e Giulietta Masina em sua capacidade de atuar”, escreveu a revista The New Yorker. A estatueta não veio, mas ela foi premiada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso com a Ordem Nacional do Mérito Grã-Cruz, pela contribuição artística nacional. E se não levou o Oscar, ganhou cinco Prêmios Molière, três Prêmios Governador do Estado de São Paulo, o Urso de Prata do Festival de Berlim, o Globo de Ouro e o Emmy, chamado de “Oscar da TV”, pelo papel de Dona Picucha no especial da Rede Globo Doce de Mãe. O diretor J.J. Abrams criador da série Lost e diretor da nova trilogia de Star Wars, se encantou com o trabalho impressionante de Fernanda e pediu à Globo uma cópia completa do especial. Aos 86 anos, Fernanda continua na boca do povo. Em 2015, interpretou uma personagem lésbica na novela Babilônia, na qual contracenava com a amiga Nathália Timberg e chegou a trocar um selinho, um escândalo dentro e fora da novela. Criticada por todos os lados, saiu-se com elegância, em entrevista à revista Veja: ”meu

critério não é o de escolher papéis, mas procurar pecas que queiram dizer alguma coisa. Fazer teatro é um destino”. Destino esse que ela cumpre com maestria.

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a vida POR APARECIDA AQUINO

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Emmy 2013 - Melhor atriz (Doce de Mãe)

urso de prata 1998 - Melhor atriz (Central do Brasil)

National Board of Review 1998 - Melhor atriz (Central do Brasil) 9


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o imaginário popular, as mulheres pouco desempenharam funções durante as grandes guerras. Para reforçar esse estereótipo, quase não se fala sobre o assunto nas aulas de história nas escolas, acentuando ainda mais o machismo e a desvalorização da força e da astúcia femininas. Para desconstruir esse paradigma, lançamos a pergunta: qual foi a importância feminina nas guerras? Durante a Primeira Guerra Mundial, no início do século 20, o feminismo tomava força, assim como a exigência feminina de entrar e participar das batalhas. Isso as levou a participar da produção de armamentos e ferramentas, além de exercer funções como motoristas, bombeiras e paramédicas, criando instituições especificamente femininas para realizar todos os tipos de trabalhos. Algumas dessas organizações merecem destaque, como a WAAC (Corpo do Exército Auxiliar Feminino), a YWCA (Back Our Girls Over There) que trabalhava nas redes de telefonia, e as Sufragistas, que lutavam pelo direito do voto das mulheres e espalhavam cartazes incentivando-as a ir para a guerra. A WSPU (União Social e Política das Mulheres), cuja fundadora é Emmeline Pankhurst, resolveu ajudar e disponibilizou suas brigadas femininas para ajudar nos combates. Quando terminou a guerra, os grupos perderam força, pois os governos da época afirmaram

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que o investimento era muito alto e não queriam ver às frentes de batalha. “A participação das mulheres na Segunda Guerra não pode ser negada. Elas foram atiradoras, administradoras, mecânicas, soldadoras, pilotas de avião, entre outras atividades. Um belo exemplo disso são as enfermeiras brasileiras nos campos de batalha italianos e as combatentes soviéticas”, afirma Jéssica Nunes, historiadora pela Unesp. Na época, cerca de 105 mil mulheres participaram da guerra, e todas eram devidamente treinadas em turmas mistas, junto com os homens. Sobre seu desempenho nas atividades, o General Spaatz das Forças Aéreas Estrategistas no Pacífico disse em uma entrevista: “Não vejo nenhuma diferença entre homens e mulheres, senão que estas últimas usam saia”. Além dos órgãos oficiais reconhecidos pelos governos, havia guerrilhas clandestinas formadas majoritariamente por soviéticas, chinesas, polonesas, gregas e iugoslavas. Um exemplo destas combatentes são as Partisianes da antiga Iugoslávía, cujas funções eram abater os fascistas e traidores, sabotar ferrovias, infiltrar-se nas cidades e espionar os inimigos. Diante disso, nota-se que a participação feminina foi de grande importância. Então, qual o motivo que as deixa em segundo plano quando o assunto são suas ações diante das batalhas?


DESMISTIFICANDO A HISTÓRIA:

MULHERES NO FRONT

Ao contrário do que se imagina, as mulheres tiveram importância fundamental nas grandes guerras travadas pela humanidade. POR APARECIDA AQUINO

Segundo Jéssica, a construção desse silêncio é história: “A mulher é tratada como coadjuvante e não como sujeito histórico. Ao meu ver, tal silêncio ocorre em razão de uma historiografia que protagoniza o homem. Basta analisar livros de históriwa que, em sua maioria, ainda abordam os acontecimentos históricos a partir dos feitos dos homens”. Justamente por esse olhar histórico que até hoje as mulheres são consideradas incapazes de algumas funções: “Muitas mulheres foram apagadas, silenciadas e não documentadas. Por causa disso não é raro o discurso de que não nos é compatível determinadas atividades, como o serviço militar. Para a sociedade, a mulher deve apenas cumprir o seu papel socialmente construído: o de mãe e de dona de casa”, conta. Contra esse papel tendenciosamente construído, as feministas ocidentais do século 21 vêm

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continuamente buscando informações a fim de desmistificar o papel da mulher como meiga, frágil e covarde. “Ainda

querem nos calar, mas nós feministas estamos trazendo a luz a história de muitas mulheres que foram excluídas, nos empoderando de nosso lugar social, desconstruindo o machismo, buscando valorizacão, respeito, seguranca e igualdade”, explica a historiadora. Portanto, os machistas que se cuidem. A batalha das mulheres contra a história patriarcal começou, e com certeza não descansará até acabar com o descaso e o menosprezo atribuído as grandes mulheres que ajudaram através da história.

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ocê certamente já ouviu falar dessa ‘belezinha’ chamada criolipólise. O tratamento vem fazendo tanto sucesso que está sendo chamado de “a nova lipoaspiração”, com a diferença de que não é um tratamento cirúrgico. Desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, a criolipólise funciona por meio de um aparelho que resfria intensamente as células de gorduras, chamadas de adipócitos, que são sensíveis ao frio. A gordura sofre cristalização, as células adiposas são destruídas e posteriormente eliminadas pelo sistema imunológico, via sistema linfático. Até aí, tudo maravilhoso. Só que a criolipólise não é um tratamento para sobrepeso ou obesidade, e sim apenas uma opção para pessoas que têm gordura localizada em algumas regiões do corpo, o famoso “pneuzinho”, por exemplo. Ou seja, é um método exclusivamente estético, que não tem nada a ver com alimentação saudável, mudança de hábitos e, acima de tudo, com saúde. O tratamento é eficaz e seguro, desde que realizado por um médico habilitado, com aparelho de boa qualidade. Alguns cuidados são necessários, pois o mau uso do método pode acarretar complicações como formação de bolhas na pele, inflamações e cicatrizes definitivas. A indicação é no máximo três sessões por ano, com intervalo

mínimo de dois meses entre cada aplicação. Há casos de pessoas que fizeram sessões com intervalos de quinze dias que sofreram com queimaduras, entre outros problemas.

Faz milagres, dizem.

Faz mesmo?

Por falar em resultados milagrosos, algumas clínicas estão “vendendo” a criolipólise com a promessa de eliminar a gordura visceral – aquela que fica entre os órgãos internos. O problema é que a eliminação dessa gordura pode levar a alterações metabólicas como aumento de glicose, triglicérides, problemas circulatórios e cardíacos, ou seja, vale ressaltar que a avaliação do local onde será feito o procedimento é de extrema importância e todo o método deve ser acompanhado por um médico de confiança. A Criolipólise é indicada somente para pessoas que querem eliminar o famoso ‘pneuzinho’ e delinear melhor o corpo.

Se estiver barato demais, desconfie, veja se a máquina utilizada tem registro na Anvisa e procure se informar sobre a experiência do profissional que aplicará a técnica. A sessão, quando feita corretamente, custa caro, de R$ 1.000 a R$ 1.500. Vale ressaltar também que o resultado da sessão só aparece depois de dois meses, e a recuperação não é imediata.

VALE LEMBRAR QUE A CRIOPÓLISE É CONTRAINDICADA EM CASOS DE: • Sobrepeso ou obesidade; • Doenças metabólicas descompensadas, como diabetes, dislipidemia, síndrome metabólica; • Pessoas que passaram por cirurgia há menos de seis meses; • Pacientes com hérnia no local a ser tratado; • Pacientes com implantes metálicos; • Pacientes com doenças cardíacas; • Gestantes; • Pessoas com alta asensibilidade ao frio; • Urticária; • Prega cutânea menor do que 2 cm (medidos pelo adipômetro); • Processos infecciosos; • Neuropatias periféricas; • Doenças que causam alterações dos fatores de coagulação, como hemofilia, trombocitopenia e deficiência do Fator V de Leiden. • Crioglobulinemia (doença relacionada ao frio).

ALERTA DA SAÚDE:

CRIOLIPÓLISE POR JAQUELINE KRAUCZUK

Tratamento estético promete eliminar gorduras localizadas, mas requer cuidados. 12

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s primeiros relatos sobre aborto no Brasil datam na década de 1940. Naquele tempo, com a medicina ainda engatinhando, mulheres que não queriam ter filhos recorriam a ervas, objetos cortantes e aplicação de pressão abdominal. O tempo passou e a polêmica ainda continua: afinal, ele deve ser permitido ou não? Trata-se de um assassinato de um ser inocente ou do direito de uma mulher sobre o que acontece em seu próprio corpo?

Parte da sociedade ainda enxerga as mulheres que abortam como criminosas, e não como alguém com liberdade sobre o próprio corpo. POR CAMILA LIBERAL FOTO REPRODUÇÃO (INTERNET)

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Por enquanto, ao menos aqui no nosso país, a primeira visão está vencendo. Um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados, com boas chances de aprovação, prevê restrições do direito ao aborto em casos de estupro, um dos raros tipos de interrupção da gravidez permitidos no Brasil. Se essa lei passar, não será permitido, por exemplo, oferecer em postos de saúde às vítimas a chamada “pílula do dia seguinte”, que evita a fecundação. A lei brasileira já é bastante conservadora. Considera que a vida se inicia na fecundação do espermatozoide no óvulo, passando, a partir desse momento, a garantir ao embrião todos os direitos civis. É uma visão com forte influência religiosa, já que a Bíblia diz, no livro dos Salmos, capítulo 139: “Tu criaste o intimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Digo isso com convicção”. Os defensores da proibição acreditam que, uma vez legalizado o aborto, ele se tornará um método anticoncepcional a mais, uma saída para adolescentes que engravidam precocemente ou por mulheres de vida sexual ativa ou simplesmente por vaidade. O que essas pessoas ignoram é que isso já acontece. Clínicas clandestinas existem em todas as grandes cidades do país, e não é preciso muito esforço para encontrar informações no Google, por exemplo. E são muitos os casos de mulheres que sofrem e até morrem por procedimentos aterrorizantes feitos em tais clínicas (veja o quadro). “É melhor uma criança não nascida do que uma que sofre abusos por não ter sido desejada, que é jogado na privada ou deixado numa caçamba de lixo. Além disso, o corpo é de cada um deveríamos ser livres sobre ele. Sou 14


mãe e amo minha filha desde o ventre, mas essa é minha opinião”, diz a dona de casa Daniella Freires Vaida, de 21 anos. As defensoras do direito ao aborto dizem que a legalização servirá justamente para acabar com esse submundo e tornará legal algo que hoje acontece debaixo dos panos. Afinal, é direito da mulher decidir o que fazer com seu próprio corpo, especialmente por se tratar de algo que afetará o resto de sua vida. “Acho que somos donos de nós mesmas, devemos e podemos fazer o que for necessário e o que quisermos. O aborto abrange muito mais que um feto retirado e fim... Maus tratos durante a gravidez e depois do bebê nascido podem ser maiores crimes contra uma vida do que o aborto”, completa a autônoma Milla Cristina Assis Farias, 23 anos.

Depoimento:

“Fiz um aborto clandestino”

“Aos 15 anos fiz um aborto clandestino. Foi daqueles feitos por uma pessoa – no meu caso uma mulher que se dizia enfermeira. Fomos na casa da mulher, eu e o namorado que havia inistido muito, já que eu já tinha 3 filhos, não queria mais um nosso relacionamento era apenas um “namorico” e estávamos juntos há pouco tempo. O tempo todo eu me perguntava se estava fazendo o certo, mas como saber? Eu não conversava com ninguém, não podia contar para meus pais, temia que eles me colocassem na rua como fizeram anos antes com minha irmã. Hoje vejo que não, pois depois minha irmã e minha sobrinha voltaram, mas naquele tempo eu só lembrava de ajudar minha irmã com a sua mala e ir até a casa de uma colega onde ela ia ficar. Eu tinha vergonha e medo, era só uma garota assustada. Fomos

até a casa da mulher e lá na cama dela ela “resolveu” o problema injetando algo em uma seringa diretamente no feto. Foi rápido. Ela disse que em até 3 dias “aquilo” sairia como uma menstruação normal. Sai de lá sem ver nada, sem pensar nada, parecia que olhava a vida de outra pessoa, não era real. Não me lembro de quanto tempo passou, só me lembro de uma noite sentir uma dor imensa, como se fosse cólica, mas dez vezes pior, e eu sai da cama escondida, fiquei no quintal andando de um lado e de outro, chorando, com medo, pedindo para morrer. Ia ao banheiro, fazia força e nada. Horas depois, não sei quanto tempo, minha irmã desceu, perguntou o que estava acontecendo, ficou muito brava por eu não ter falado antes. Ela me levou no banheiro e segurou na minha mão e falou, agora não tem jeito, vamos terminar, ela quis chamar minha mãe mas não deixei, já estava envergonhada demais e com medo de apanhar. Enfim expeli o feto e minha irmã o tirou do vaso, uma coisinha minúscula, mas linda, um perfeito bebê, com olhinhos e tudo, era um menino. Ela jogou fora, sim, meu bebê foi para o lixo e eu me senti um monstro, um lixo maior. Tomei um banho e sai, estava chovendo, eu andei pelas ruas, chorando, pedindo perdão, me sentindo perdida e sem chão. Não fui até ele contar que o problema tinha acabado. Não sei quanto tempo fiquei na rua. Depois voltei para casa e nunca mais toquei no assunto com minha irmã. O namoro não foi para a frente, depois minha vida voltou ao normal. Namorei outros rapazes, e aos 18 anos comecei a namorar meu marido, engravidei novamente. Achava que Deus não ia mais me dar um filho, que eu não merecia. Mas dessa vez foi diferente,

com medo eu contei para ele, já pensando que tudo ia acontecer de novo, ele ia me deixar, me fazer tirar, mas foi ao contrário: ele ficou assustado, mas disse que ficaríamos juntos e cuidaríamos do nosso bebê. Hoje estamos casados há 17 anos, temos dois filhos e somos muito felizes. Tivemos problemas, mas resolvemos juntos. Mas quero dizer que nunca

superei ou aceitei o fato de ter matado meu primeiro filho. Contei os dias do restante da gravidez, o dia que ele nasceria, quantos anos teria hoje. Olho meus filhos e procuro um pedacinho do meu bebê. Eu dei um nome a ele: Jhon. Eu conversava com ele, pedia perdão – perdão que eu nunca me dei. Você pode pensar que eu fui covarde, “se fui mulher para fazer porque não fui para assumir”. É fácil olhar de fora e dizer isso, eu mesma já me disse isso várias vezes, vi muitas amigas fazerem isso, terem seus filhos. Umas são felizes, outras culpam os filhos pela vida ruim que levam com o marido, por terem “parado a vida” e essas coisas. Hoje 20 anos depois, ainda não sei se fiz o certo. A questão é mais delicada que parece, é um caso de saúde, de acompanhamento, se eu tivesse feito diferente, contado aos meus pais, pedido ajuda, podia ser outra história. O aborto não é só culpa, envolve muitos outros fatores, e não deveria ser tabu. Quantas fatalidades poderiam ser evitadas se o assunto fosse discutido corretamente? Muitas mulheres só estão sozinhas e assustadas, e com apoio poderiam fazer diferente. Em muitos outros países, o aborto é feito com segurança, mas no Brasil, por causa de leis atrasadas, várias vidas são perdidas, de mulheres e crianças”. 15


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violência sexual é um dos crimes mais presentes no mundo. Somente em 2013 houve cerca de 50 mil casos de violência contra a mulher, cerca de 25 para cada 100 mil habitantes. Desse número, segundo dados do Ministério da Justiça, apenas cerca de 7% dos casos são denunciados, já que o número de mulheres violentadas e silenciadas ainda é grande. Para começar, é bom deixar claro que a violência sexual não se resume ao estupro. Por definição de lei em vigor desde 2009, ela é qualquer ato ou tentativa de ato sexual por violência ou coerção, além de comentários ou investidas sexuais indesejadas. Ou seja, muito mais do que a penetração forçada. Mesmo assim, muitas mulheres ainda pensam que a violência é só quando ocorre o ato sexual em si e, por isso, muitas vezes não denunciam o que acontece. “Quando eu tinha 15 anos meu chefe me mostrou seu órgão genital e começou a se masturbar para mim. Eu fiquei assustada, o ameacei e contei para todo mundo sobre o que ele tinha feito. Mas não denunciei, achei que não daria em nada”, relata Ana Paula de Assis, estudante do terceiro ano do Ensino Médio.

Cultura do estupro

O número de denúncias no Brasil ainda é pequeno comparado ao número estimado de assédios que ocorrem, por conta da culpabilização da vítima e da cultura do estupro, ainda muito presente no país. Alguns órgãos estimam que esse número possa chegar a 500 mil por ano.

POR LETÍCIA RODRIGUES E BEATRIZ RODRIGUES FOTOS ISA ALMEIDA

MODELO DANIELLE ALVES

“Muitas mulheres não denunciam com medo, principalmente do que o agressor possa voltar a fazer e também porque tem vergonha de falar o que aconteceu com ela, já que será culpada, marginalizada e principalmente rotulada dentro da sociedade em que vive”,

explica Brenda Procópio, estudante de jornalismo na FCAD e participante do coletivo feminista Rosa Lilás, de Sorocaba. Segundo uma reportagem especial da revista Super Interessante sobre a cultura do estupro, publicada em julho de 2015, uma em cada cinco mulheres será estuprada. Dessa forma, a matéria questiona o leitor sobre argumentos geralmente usados para justificar o abuso: a bebida, a roupa, o comportamento e o desempenho da sexualidade feminina. “Dessa forma as mulheres se sentem cada vez mais retraídas. Deixam de sair com roupas consideradas ‘provocantes’, ficam com medo de pegar transporte público em horários lotados, sentem-se culpadas quando bebem demais e algo acontece, enfim, cada vez se fecham mais”, explica Brenda. E o problema começa cedo, como ficou escancarado em outubro, após a estreia de um programa de TV de culinária com crianças e adolescentes. Brincadeiras sem a menor graça com uma garota de 12 anos provocaram revolta na internet e resultaram na criação de uma hashtag #Primei17


roAssedio, em que mulheres de todas as idades contaram casos de assédio, cantadas e tentativas de estupro das quais foram vítimas desde a infância.

A CULPA NÃO É NOSSA POR APARECIDA AQUINO

A violência sexual é uma das consequências da banalização do corpo feminino. Tratadas apenas como objeto, as mulheres foram submetidas ao desejo masculino em todas as eras da história, independentemente de suas vontades. Mesmo com esse histórico de abuso, o assunto ainda é tabu e sofre resistência ao ser abordado com a população, e deixado de lado pelas autoridades. “Protege-se a figura do violentador e culpa-se a vítima, a mulher que deve ter dado motivo, usando roupas 'inapropriadas', e andando desacompanhada pela rua à noite, corroborando ideias machistas e preconceituosas e legitimando uma punição extraoficial para aquela que ousou dizer não a um homem. Muitos homens acham que o 'não' de uma mulher é puro charminho. Muitos homens acham que a mulher tem que satisfazê-los, mesmo quando não está com vontade”, conta Maria Lucia Ferrari, psicóloga pela PUC. A motivação por trás desses abusos advém da construção machista de servidão feminina, afirma Maria Lúcia: “Creio que a desigualdade de gêneros seja o pivô de tudo. Na verdade, o câncer da cultura do estupro, do aborto de fetos de meninas, da alimentação melhor de meninos, do tráfico de mulheres como escravas brancas e dos crimes de honras, tudo isso contribui para tais atos”. Há aqueles que pensam que a violência sexual é um ato de momento, e que depois a mulher irá esquecer o ocorrido. O ato pode até 18

ser momentâneo, mas a violência psicológica é contínua, o que leva à necessidade de tratamento. “No caso de mulheres adultas, é muito comum que também guardem segredo e uma sequela muito comum é que se sintam 'impuras' e culpadas. O acolhimento deve ser total, em todos os sentidos. Ligar para a polícia, sem medo nem vergonha. Ir para um local seguro. Encontrar amiga de confiança ou pessoa da família. Procurar um centro de apoio à vítimas de estupro. Consultar o seu médico o quanto antes. Procurar um psicólogo o quanto antes”, recomenda a psicóloga. O violentador, de sua parte, possivelmente possui um distúrbio, explica Maria Lucia: “O abusador sexual é uma pessoa que não tem vida saudável, não se preocupa jamais com o bem-estar da vítima. Não é necessariamente um criminoso com problemas psicológicos, porém a maioria deles têm transtornos de personalidade, especialmente na parte sexual, que fazem com que só consigam ter sexo à força e nunca em uma relação de igual para igual. Dentro desse universo de estupradores, a maioria é de psicopatas, marcados pela falta de culpa e de remorso. Ele estupra, eventualmente vai preso, cumpre sua pena, sai do presídio, volta à sociedade, tem condições de conviver, mas nada garante que não irá estuprar novamente. Ao contrário: provavelmente estuprará novamente. Para a ciência, não há cura” ela diz. A solução então para lidar melhor com esse problema, além do que já é feito, é desconstrução de conceitos pré-concebidos. “As práticas sociais precisam ser revistas e modificadas, especialmente porque muitas mulheres também são machistas, legitimam o ato do algoz e culpam a vítima com frases como ‘Se elas soubessem se comportar, não haveria tantos estupros’. É ne-

cessário desconstruir a ideia de que a violência contra a mulher é culpa da mulher” idealiza a psicóloga.

Depoimento:

“Se algum homem

senta ao meu lado, eu

comeCo a rezar”

Tudo começou quando você nasceu com um órgão genital feminino, ou seja, quando você nasce menina, a merda já começa aí. “Tu vai ser fornecedora, é menina. Ela vai fornecer pro meu filho comedor”. Escutava sempre isso. As pessoas simplesmente riem como se fosse algo natural e o máximo. Um dia quando criança eu estava doente, queimando em febre debaixo das cobertas. Um amigo da família entrou em casa, sentou ao meu lado e pôs a mão debaixo da coberta, por debaixo da roupa, até encostar entre as minhas pernas. Minha mão começou a tremer. Ele não penetrou seu dedo em mim, mas ficava mexendo, vibrando com a mão lá. Como era criança não entendia muito o significado daquilo. Eu estava assustada, mas ele me mandava ficar calada e que não poderia sair dali. Desse dia em diante, todos os dias ele ia lá e fazia a mesma coisa. Levava a mão dentro da calcinha e ali ficava com a mão vibrando. Beijava toda a minha intimidade e mandava calar a boca. Fiquei anos sendo abusada e minha mãe não acreditando no que eu falava. Nunca mais dormi com tranquilidade, sempre com portas e janelas trancadas, acordando no meio da noite aos gritos. Quando eu tinha 15 anos, assustada por tudo aquilo fui buscar apoio deitada ao lado do meu pai, já que ele sempre me mimou, sempre me tratou como uma verdadeira princesa, sempre me colocou para dormir, fazia


isso é assédio! TOQUES NTIMOS NO DESEJADOS COMO BEIJAR ACARICIAR OU APALPAR COMENTARIOS OU PIADAS DE CARATER SEXUAL QUE CAUSAM DESCONFORTO OU RECEIO CARICIAS INDESEJADAS NOS ORGAOS SEXUAIS cafuné e tudo o mais. Só queria ficar deitada quietinha ao lado dele. Talvez esse dia não foi um bom dia. Meu pai me virou de costas para ele e arranhou as minhas costas. E puxou para deitar no peito dele. Ele subiu a mão ao encontro do meu seio. Mas apertei meu braço no meu corpo impedindo a passagem. Mesmo assim ele ainda tentava, depois de não conseguir ele enfiou a mão dentro do meu short e eu consegui com força sair da cama. Nunca mais fiquei sozinha com ele, só quando estava em coma no hospital. Eu tinha medo de sair na rua, não pedia informações a homem nenhum, só conseguia sentir medo. Não sento mais em ônibus ao lado de um homem e nem em público. E se algum senta ao meu lado, eu só sei rezar.

Camila, 22 anos.

SER FORCADO A TOCAR NOS ORGAOS SEXUAIS DE OUTRA PESSOA SER PENETRADO POR VIA ORAL VAGINAL OU ANAL POR ORGAO SEXUAL OU OUTRAS PARTES DO CORPO COMO POR EXEMPLO DEDOS OU OBJETOS SER OBRIGADO A PENETRAR OUTRA PESSOA OU A PRATICAR COM ELA SEXO ORAL SER OBRIGADO A ASSISTIR OU A PARTICIPAR DE FILMES FOTOGRAFIAS OU ESPETACULOS PORNOGRAFICOS SER FORCADO A ENVOLVERSE NA PROSTITUICAO

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POR APARECIDA AQUINO FOTO REPRODUÇÃO (INTERNET)

U

m dos marcos que permitiram a liberdade sexual feminina foram os anticoncepcionais hormonais, criados na década de 60, em plena expansão do feminismo. Com essa revolução, a mulher pôde ampliar o domínio sobre seu corpo sem abdicar do prazer sexual, diminuindo os riscos de uma gravidez indesejada. É preciso saber, no entanto, que o uso do anticoncepcional também pode trazer riscos à saúde. Isso porque a maioria deles trabalha com substâncias bioidênticas, ou seja, biologicamente parecidas com as que produzem nossos corpos, e as sintéticas, produzidas em laboratório, sem a preocupação de compatibilidade com o organismo humano. Nos dois casos, o anticoncepcional é uma imitação dos hormônios femininos estrógeno e progesterona, e podem vir em formas de pílulas, injeções, implantes e até mesmo adesivos. A mulher que deseja fazer uso do anticoncepcional deve procurar um médico para escolher o método adequado ao organismo. Não é incomum o relato de problemas como inchaços, dores, sangramentos, ganho de peso e problemas vasculares. Quando isso acontece, é fundamental a troca desse medicamento para que ele se ajuste corretamente à pessoa que o toma. Hoje, tais métodos devem oferecer não riscos, mas benefícios – além da impossibilidade da gravidez, redução de cólicas, diminuição de acne e pelos e ovários policísticos podem ser decorrentes do anticoncepcional usado corretamente. Todos esses pontos positivos foram alcançados sem grandes percalços porque a qualidade das composições químicas melhorou significativamente, explica o clinico geral Antônio Renato Cordeiro. “Os novos anticoncepcionais usam uma dose muito baixa de hormônios. A medici-

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na é uma evolução. No início, como a qualidade do sal que era utilizado para fazer o anticoncepcional era péssima, as quantidades de hormônios eram altíssimas para que funcionassem, portanto, o risco de desenvolver algum problema era maior, realmente. Mas hoje a pureza das substâncias é bem melhor, o que faz com que a idade da mulher não interfira na questão de aumentar riscos de algum problema. Os benefícios são os mesmos, não há por que ter medo”. De fato, os primeiros contraceptivos hormonais utilizavam quantidades exorbitantes de hormônios, como por exemplo, 60 mg. Contudo, hoje os números vão de 2 mg até 5mg, ou seja, a diminuição é de pelo menos 90%. O médico salienta, entretanto, que não é indicado fazer uso desses métodos por longos períodos sem nenhuma pausa. “É importante fazer pausas, pois os efeitos diminuem com o passar dos anos. O que faz o anticoncepcional? Ele simula uma gravidez, ou seja, o seu corpo pensa que você está grávida, mas você não está, então, os ovários estão sempre bloqueados, devido à quantidade de hormônio, o que faz recomendável uma pausa de dois meses pelo menos, para que os ovários voltem a funcionar e a eficiência volte ao normal”. Apesar da eficiência, se a mulher não se sentir à vontade, há métodos menos invasivos, como a camisinha e o diafragma, que não mexem com a composição química do corpo, e ainda previnem doenças sexualmente transmissíveis, função que o anticoncepcional não tem. Cabe a cada

mulher buscar o que fará bem, e o que a deixará livre e segura sexualmente. Mas

não se esqueça, um especialista sempre deve ser consultado. Nada de se medicar por conta!


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costumada a estampar capas de revistas masculinas e a protagonizar cenas polêmicas, Andressa Urach tenta se reinventar. A mulher conhecida pelo prosaico título de “vice Miss Bumbum” sempre foi vista por muitos simplesmente como uma pessoa vulgar e sem escrúpulos, que tudo fazia em busca de fama e dinheiro. Hoje, quem a vê na TV não a reconhece logo de cara. Depois de quase morrer por causa de uma cirurgia plástica mal-sucedida, ela agora quer se apresentar como uma nova pessoa. Em agosto, ela lançou seu primeiro livro, “Morri para Viver – meu submundo de fama, drogas e prostituição”. São 240 páginas de um relato cru sobre como obteve sua fama, os percalços que passou para se manter na mídia e o drama de sua recuperação. Com um texto explicito e revelador e muitas vezes chocante, a cada página ela revela seu passado e aborda temas como seu casamento fracassado e a gravidez precoce, suas frustrações amorosas, drogas, abuso sexual infantil, perda da virgindade com o meio-irmão, zoofilia, orgias, prostituição, envolvimento com bandidos e famosos, como Cristiano Ronaldo, o caso que a lançou na mídia e lhe rendeu “fama” em 2013 e o falso relacionamento homossexual com a

POR CAMILA LIBERAL FOTO REPRODUÇÃO (INTERNET)

modelo Camila Vernaglia – que ficou em terceiro no concurso de Miss Bumbum. Camila topou a proposta de Andressa para simularem o namoro, ficarem com a fama e ofuscarem a vencedora do concurso. Você se lembra do nome dela? Pois é.... a estratégia deu certo! O livro tem recebido críticas positivas e negativas na imprensa. Andressa é extremamente explícita em algumas passagens e diz estar feliz com a repercussão das vendas e a receptividade do público. Ela almeja que seu livro se torne até um filme – a atriz Tais Fersoza seria a sua indicação para o papel principal - e jura que tudo no livro, por mais “absurdo ou nojento” que pareça, é verídico. Para ela, o livro serve como um desabafo e reforça que suas histórias podem ajudar outras pessoas a não seguir o mesmo caminho. Porém, com tantas revelações polêmicas Andressa ganhou alguns desafetos, entre eles adeptos da Umbanda, após ela declarar que seus atos foram guiados por causa de um “pacto” com uma entidade mística. Muitos nomes e fatos citados precisam de comprovação e credibilidade. Por fim, não se pode dizer que a autobiografia de Urach será uma leitura envolvente e prazerosa, mas que nos leva a seguinte reflexão: até que ponto vale tudo para estar na mídia?

“Andressa deixou de ser uma mãe solteira adolescente apelidada de magrela para uma explosiva participante de reality show” The New York Times

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ssim como a cor do arco-íris, o movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) tem diversos gêneros na identidade e na sexualidade. As travestis e transexuais fazem parte desse espectro: nascem com o determinado gênero, mas vivem psiquicamente pertencendo ao outro. E isso nada tem a ver com interesse ou desejo sexual, é importante deixar claro. No Brasil, as transgêneros estão em evidência, por terem ícones que se posicionam por seus direitos. Mesmo assim, esse assunto é tratado como um tabu e o preconceito é umas das suas maiores barreiras. Transexuais e travestis aparentemente parecem iguais, pois vivem como mulheres, mas a diferença está na questão da mudança de sexo. A transexual é operada e a travesti não, algumas continuam com órgão genital original por opção, pois consideram uma mutilação, e outras por não ter condições financeiras. A travesti Khess, de 40 anos, trabalha como cabeleireira em Indaiatuba e conta sobre algumas fases de sua transformação e sua vida como mulher.

Amor ao feminino

A bandeira LGBT é ilustrada por arco-íris, e a cor que representa Khess é o violeta por ser uma cor intensa e a transição entre o rosa, ícone feminino, e o azul, masculino. O amor pelo gênero feminino é o mais fascinante entre travestis e transexuais. “É maravilhoso você poder ser quem você é e é bem legal ser mulher, eu gosto, eu indico!”. A cobrança da sociedade e dos pais tradicionais é querer ver os seus filhos como uma menina com menino e no caso do menino ter uma menina. No caso dos trans, eles sofrem conflitos internos que, quando não são tratados, podem causar depressão e até mesmo suicídio. 22

Virar mulher

A transformação é um processo difícil e doloroso – mas, ao mesmo tempo, fascinante. “São várias fases para você ter uma alma feminina no corpo masculino. A fase de quando você está começando, de quando você é menininha e está se transformando e que fica meio indefinida. A fase mediana, que ela já é mais feminina e mulher, mas ainda ficam traços masculino. E a fase que você é totalmente feminina e você se mistura no meio das mulheres como uma mulher”, conta. A mudança de sexo é umas das transformações mais radicais: o órgão genital masculino é retirado para a colocação de uma vagina. À parte o preconceito, especialmente contra travestis, que não fariam a operação “porque são pobres”, há correntes contra a cirurgia. Alguns travestis consideram que a mu-

dança é uma mutilação. “A operação é um assunto muito sério. Tenho amigas que moram na Europa e que são operadas, mas sou totalmente contra, mesmo porque é o limite para o final de transformação. Acho que fazer uma vagina no lugar de um pênis não faz ser mulher. Ser mulher é ter atitude, é o comportamento. É um assunto bem complexo”, diz Khess. Tatiana Lionço, doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília no tema transexualidade, explicou, em entrevista para o site UOL, a potencialidade do prazer depois da mudança de sexo. “Por mais que os médicos assegurem a potencialidade no órgão genital, é importante que se saiba que o prazer será diferente daquele que já se conhecia no corpo de antes “. No Brasil, para fazer a cirurgia é preciso ter no mínimo 21 anos, conforme parecer de 2010 do Con-


POR BRUNA BALMANTE ILUSTRA REPRODUÇÃO (INTERNET)

khess selho Federal de Medicina (CFM). O Ministério da Saúde oferece o processo por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) desde a publicação da Portaria Nº 457, de agosto de 2008. Até 2014, foram realizados 6.724 procedimentos ambulatoriais e 243 procedimentos cirúrgicos em quatro serviços habilitados no processo.

Vida e relacionamentos

Khess diz que sempre sai com rapazes que, em tese, se apresentam como heterossexuais. Para ela, no entanto, a maioria dos homens têm um lado bissexual, ainda que muitas vezes enrustido. Sem a cirurgia, Khess não tem a possibilidade física de ser mãe, mas isso não a incomoda. “Gerar não faz ser mãe, mãe não é quem dá à luz e sim quem cria. Engravidar deve ser fascinante, mas eu também posso adotar um filho”, diz.

Sua identidade continua com o gênero masculino e o nome de registro, Marcelo. Quando precisa ir a algum local que exige o RG, ela o apresenta e pede para ser chamada pelo nome social, Khess – direito também garantido por lei.

Trabalho

O mercado de trabalho é difícil para travestis que não tenham aparência bem feminina e se tornam alvo de preconceito e discriminação. Sim, a discussão sobre beleza também está presente no mundo trans: as que têm aparência bem feminina têm mais chances de conseguir um trabalho “comum”. As demais são excluídas e têm de recorrer, em muitos casos, à prostituição. Em uma entrevista para o jornal Brasil de Fato, Carlos Magno, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros), declara

que muitas travestis e transexuais sequer conseguem chegar ao mercado formal de trabalho. “O que a gente tem visto é que essa discriminação às vezes é velada, o tratamento é diferenciado. A pessoa não tem carreira e o assédio moral é comum”, alerta. É um cenário que, felizmente, começa a mudar. A modelo Lea T., filha do ex-jogador Toninho Cereza e nascida Leandro, é um caso de sucesso no mundo trans. Em agosto, a Casa Branca contratou sua primeira funcionária transexual, Raffi Freedman Gurspan, uma ativista de direitos humanos que ocupará o cargo de contratação de funcionários do presidente Barack Obama. Devagar, transexuais e travestis têm atravessado barreiras e influenciado todo mundo a lutar por sua felicidade, sem se importar com o que outros pensam. Quem vem junto? 23


POR APARECIDA AQUINO E BEATRIZ FAGGIAN FOTO REPRODUÇÃO (INTERNET)

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opressão sobre as mulheres não só influenciou no seu papel histórico, quase sempre de dependência ao homem, como também culminou para que as mulheres não pudessem se expressar de maneira livre em suas roupas, que reproduziam valores como status, religião e fartura, todos eles, claro, propostos pela sociedade patriarcal. Tudo começa no berço da civilização que é a Grécia. Lá, as mulheres tinham apenas o papel de reprodução e de donas de casa, o que as restringiu do trabalho e das relações políticas na ágora. Nessa época não havia uma preocupação elaborada com roupas, então as vestes femininas eram apenas retângulos de tecido, ajustados ao corpo. Em Roma, por outro lado, alguns conceitos começavam a surgir. Em meio à política do “pão e circo”, ou seja, de manter o povo alegre e alimentado para evitar revoltas, homens e mulheres não precisavam realizar atividades muito diferentes, o que refletiu em suas roupas, que eram muito parecidas e consistiam em túnicas com diversas pregas no tecido, o que chamamos de drapeados. Saindo deste período clássico e mais liberto, a Idade Média veio como um soco de conservadorismo causado pelo grande domínio da Igreja Católica. Além das túnicas já utilizadas, houve um incremento de acessórios, como broches e cintos, por exemplo. Na baixa Idade Média, por volta do século 11, o período gótico surgiu com grande influência, levando chapéus extravagantes e um acessório muito polêmico chamado Barbette, uma faixa que passa pela cabeça e tapa os ouvidos femininos, com o propósito das mulheres não ouvirem, apenas obedecerem.

Devido às ideias conservadoras, o Renascimento veio como uma reação a Idade Média, resgatando ideais do período clássico. Nessa época, os decotes ficaram mais acentuados e as roupas extremamente extravagantes. Foi justamente aí, no período renascentista, que a mulher readquiriu a função de parideira, reforçado pelos corpetes que davam a impressão de fertilidade, já que deixavam a cintura fina e quadris largos com seios fartos quase expostos. Cansadas desse papel e inspiradas pelas monarcas femininas, as mulheres adquiriam algo mais simples para usar durante o século 19. Rainhas como a francesa Maria Antonieta ditaram a moda da época: muito versátil, utilizava trajes de estilos diversos, variando de corpetes justos e saias longas, a vestidos de algodão com chapéu de palha e roupas de montaria. Além das vestimentas, a maquiagem também ficou mais leve, dando um toque de naturalidade. Com a virada do século, tudo mudou. O surgimento das feministas e a entrada no mercado de trabalho, livrou as mulheres dos espartilhos justos e do papel de mãe. Agora vestidas com muito mais versatilidade, usavam saias fluidas e roupas menos desconfortáveis. Gabrielle Coco Chanel foi uma das revolucionárias da época trazendo cabelos curtos, cardigãs adaptados do vestuário masculino e um estilo menos pesado. Além disso, as mulheres também começaram a utilizar uma peça que simbolizou a liberdade e o poder: a calça jeans. Simples, bonitas e utilitárias, elas vieram com tudo, permanecem até hoje e são o símbolo da independência feminina.

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iariamente a mídia prega como as mulheres devem ser, se vestir e se portar. Do acessório queridinho do mês até as dietas infalíveis, que temos que fazer para perder aquelas gordurinhas extras, ninguém perde a chance de dar um palpite. Mas será que ninguém percebe que isso está errado e que não há um padrão de beleza que devemos seguir? Ainda nos anos 50, com o surgimento de revistas femininas como Cinelândia, Querida e Capricho, as mulheres já eram bombardeadas com figuras femininas um tanto quanto distantes da realidade. Na época, as revistas ilustravam fotografias de atrizes do cinema europeu e americano, vencedoras de

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concursos de miss ou de beleza. Portanto, os conselhos eram recomendados por Gina Lollobrigida, Sophia Loren, Marylin Monroe, Martha Rocha, entre outras. Já nos anos 80, as revistas que passaram a ditar padrões eram especializadas em boa forma, saúde, regimes alimentares e desenvolvimento corporal. Foi nessa época que surgiu o “mercado do músculo”, causando crescimento no consumo de bens e serviços destinados à manutenção do corpo. Hoje o padrão de beleza é de magreza excessiva. As modelos de passarela exibem corpos de no mínimo 1,70 metro de altura e manequim 36, seguindo a explicação de que as roupas ficam mais valorizadas em uma modelo magra – o que atende à necessidade das grifes de vender mais. Mas será que isso faz bem para as mulheres? De acordo com uma pesquisa feita com 3.200 mulheres pelo instituto de pesquisa StrategyOne, encomendado pela Dove para a campanha “Real Beleza”, a maioria das mulheres estão insatisfeitas com seu próprio corpo. A pesquisa, feita com mulheres de 10 países ao redor do mundo, revelou que apenas 2% delas elegeram a palavra “bonita” para descrever sua aparência e 70% se consideram normais. Observando esses números, Letícia Pouza, 20 anos e estudante de jornalismo, conclui que a beleza está em ser quem você realmente é. “Por mais que a sociedade tente me convencer de que eu não estou dentro dos padrões de beleza impostos pela mídia, eu me considero bonita, sim! Ser bonita é se vestir como gosta, usar o cabelo como quiser e ter o corpo que te faz feliz”, observa.


Mas o que é a real beleza?

Desde meados do século 20, os Estados Unidos e a Europa passaram a definir quais seriam as tendências e os padrões de beleza no mundo inteiro. Hoje em dia, mulheres magras, altas, brancas e com rostos delicados são consideradas o ápice da beleza feminina. Nesse processo, alguns exemplos de padronização ocorrem até mesmo com as próprias norte-americanas: em uma edição da revista Vanity Fair de setembro de 2010, a atriz Gabourey Sidibe teve seu rosto emagrecido e sua pele clareada ao sair na capa. O mesmo aconteceu na versão de novembro de 2011 da Vogue UK, onde a atriz Rihanna apareceu com a pele quase caucasiana. O padrão ocidental alcançou até mesmo o oriente. Um exemplo famoso é a Coréia do Sul, país com a maior taxa de cirurgias plásticas no mundo. Dentre as mais comuns, está a ‘ocidentalização’ das pálpebras dos olhos, que faz as coreanas deixarem sua principal marca étnica de lado. Na última edição de GABRIELLE, o foco foram os cabelos afros, um importante símbolo contra a luta de padrões de beleza irreais e da opressão contra minorias que não se encaixam no padrão ocidental. “De acordo

com os padrões, o cabelo liso é um quesito para um cabelo bonito. Ouvi na escola que meu cabelo era feio, era grosso, era ruim”, desabafou na época uma das entrevistadas, Iraciane Silva, estudante de Eventos. Depois de quase um século de luta feminista, que começou com o direito ao voto, passou pela liberdade de expressão e chegou à independência financeira, não faz sentido a mulher hoje virar escrava de um padrão de beleza imposto pela mídia. ”Por mais que se estique daqui e dali, a idade vai chegar e tudo vai envelhecer. A mulher precisa lembrar que é mais do que um peito e que sua beleza precisa ultrapassar a aparência”, diz Maísa Martins, estudante de psicologia. Em um planeta com 193 países reconhecidos pelo ONU, é normal que deixemos de lado nossas etnias, culturas e nosso próprio eu em detrimento de padrões inalcançáveis? Fica a reflexão no ar, acompanhada de um editorial com as mais diversas belezas que encontramos ao redor da FCAD.

POR LETÍCIA RODRIGUES FOTO REPRODUÇÃO (INTERNET)

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or que ficar num único padrão de beleza quando todo ser humano é único e temos 6 bilhões deles espalhados pela Terra? É isso que este ensaio veio mostrar, que como há milhões de personalidades diferentes também há belezas diferentes, e nem por isso uma é melhor que a outra. No país da diversidade, padrões não devem existir. Somos a cara de todo o planeta em um só lugar, levamos cores e expressões de personalidade mundo a fora para que saibam que nós somos todos diferentes, mas somos iguais em lutar por essas diferenças. Esse ensaio é para todos nós, que temos a diferença de nos aceitar como realmente somos e não o que é vendido pela mídia e aceito pela sociedade. Somos a diversidade, então, vamos fazer a diferença! PRODUÇÃO BEATRIZ FAGGIAN E ANA GASPAROTTO TEXTO APARECIDA AQUINO FOTOS ISA ALMEIDA E MAYCO GRENADE

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MODELOS ANA GASPAROTTO, ITALO TEIXEIRA, MAYCO GRENADE, LETÍCIA RODRIGUES, BRENDA PROCÓPIO, WHITNEY ALVES, IRACIANE SILVA, FERNANDA SANNAVIO, VERÔNICA SABINO, MILENE GARCIA, LUCKAS ALEXSANDER. ENSAIO COMPLETO EM: FACEBOOK.COM/REVISTAGABRIELLE

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