Revista Giropop - Edição 64

Page 1



Editorial Um mundo mais igual e inclusivo é o que pede a edição de maio da revista Giropop. Naturalmente, todos os caminhos levaram-nos a uma série de pautas especiais sobre pessoas especiais. No mês das mães, conhecemos aquelas que ‘matam um leão por dia’ por seus filhos autistas; o trabalho da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Itapoá; e uma jovem que mora em Itapoá, considerada a melhor paratleta mesatenista com Síndrome de Down do Brasil. Ainda falando de igual para igual, conhecemos as peculiaridades da África do Sul, adentramos as memórias de uma senhora, o universo criativo de uma artesã, uma campanha em prol do trânsito de Itapoá e fizemos um traçado sobre a profissão dos coletores de lixo de nosso município. Desejamos que vocês mergulhem nas páginas seguintes. Mas desejamos, também, que todos (independentemente de gênero, raça ou credo) sigam o exemplo das mães e, assim, respeitem mais, entendam mais, amem mais e coloquem-se mais no lugar do outro.

ÍNDICE SAÚDE | 1º Encontro sobre Autismo em Itapoá – “Conhecer para promover” Pág 4 ESPECIAL | Amor e dedicação movem o trabalho da APAE de Itapoá Pág 10 QUEM É? Memórias e saudades de uma forte senhora Pág 16 ARTE SOLIDÁRIA | Costuras, crochês, tricôs e faróis Pág 22 POR AÍ | África do Sul, um país de cores, ritmos e contrastes Pág 24 ADOTE UM ATLETA | Paratleta do tênis de mesa escolhe Itapoá para treinar e viver Pág 28 PROFISSÃO | Os tão essenciais coletores de lixo Pág 32 CAMPANHA | ‘Maio Amarelo’ oportuniza conscientização no trânsito de Itapoá Pág 34 EMBARQUE! - Com Sonia Charlotte - Da série...locais que visitei e que mais gostei! Pág 36 SOCIAL - com Beto Vieira Pág 37 ITAPOÁ E SUA HISTÓRIA - Com Vitorino Paese Pág 38

Revista Giropop | Maio 2018 | 3


SAÚDE

Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

No mês de abril o mundo parou para falar sobre um assunto ainda pouco conhecido pela maioria das pessoas e, ainda assim, vital para a qualidade de vida de milhares de crianças e seus familiares: o autismo. No município de Itapoá (SC) não foi diferente. Dispostos a compartilhar relatos, estudos, disseminar informações e oferecer apoio a quem precisa, criou-se um grupo de pais e apoiadores do autismo. Buscando informar a comunidade, no mês das mães, conhecemos a história de mulheres fortes que convivem diariamente com este transtorno, que tem como características mais comuns a dificuldade para interagir socialmente, deficiência na comunicação, interesses restritos, hábitos e movimentos repetitivos.

E

m Piraquara (PR), Elvira Lacerda e Wellington Cassiano já eram pais de Kauane (hoje, com 11 anos), quando nasceu Isabela, a segunda filha do casal (hoje, com 5 anos). Certo dia, levaram a mais velha ao neurologista. Durante a consulta da irmã, o casal recorda que a

4 | Maio 2018 | Revista Giropop

Wellington Fotografia

Grupo de pais e apoiadores promove o 1º Encontro sobre Autismo em Itapoá – “Conhecer para promover”

Da esquerda para direita: André, Caroline, Cristiane, Regina, Estela, Marcela, Vitória, Silvia, Stoklosa e Luiza. À frente estão: Patrícia, Fernanda e Elvira. Todos vestem azul para chamar a atenção para o autismo.

pequena Isabela estava com os ânimos exaltados. “Aproveitando o momento, pedi à doutora que examinasse brevemente minha filha mais nova, uma vez que ninguém podia tocá-la, tinha crises de nervosismo agudo durante semáforos, filas e lugares tumultuados”, lembra a mãe, que desde cedo notou algo diferente no comporta-

mento da filha. A doutora, que suspeitava de autismo, pediu alguns exames para descartar outras possibilidades, até que a suspeita foi confirmada quando a menina tinha pouco mais de 2 anos de idade. Assim como Isabela, o pequeno Miguel (hoje, com 5 anos de idade) também é autista. Antes do menino com-

pletar 1 ano de vida, sua mãe, Caroline Mayer, notou alguns sintomas do autismo. “Ele não tinha contato visual com as pessoas, padronizava objetos por cores e, quando íamos a algum lugar com barulho e movimento (como um restaurante, por exemplo), tínhamos de vir embora, pois ele chorava muito”, recorda. O diagnóstico de


Miguel veio somente oito meses depois. Hoje, Isabela e Miguel fazem parte de um universo de cerca de dois milhões de autistas no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada 68 crianças no mundo é afetada pelo autismo. Mas, afinal de contas, o que é o autismo?

Quanto mais cedo, maior a capacidade do cérebro de mudar, se adaptar e desenvolver novas conexões entre os neurônios. Mas, infelizmente, no Brasil, o diagnóstico precoce ainda é uma dificuldade.

Sobre o autismo

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) ou, simplesmente, autismo, segundo o DSM-V (quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), é definido pela presença de “déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos”. Pesquisas comprovam que a incidência de autismo em meninos é quatro vezes maior que em meninas, daí a cor azul para representar o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado no dia 2 de abril.

Os sinais deste transtorno não acusam em exames nem são físicos, mas, sim, comportamentais, sendo os mais comuns: o comprometimento da interação, da comunicação verbal e não-verbal, além do comportamento restrito e repetitivo. As causas que provocam o TEA são desconhecidas. A complexidade desse transtorno e o fato de que os sintomas e severidade podem variar (o que é chamado de espectro), provavelmente, são quadros resultantes da combinação de diferentes genes. Alguns problemas genéticos acontecem espontaneamente e outro são herdados. De fato, estudos sugerem uma hereditariedade muito alta, mais ainda quando se considera a presença de traços do espectro autista em uma mesma família. Estudos recentes indicam que o autismo não é regido apenas por causas genéticas. A suposição é que fatores ambien-

Fique atento aos seguintes sinais. E é bom lembrar: a intervenção precoce é valiosa para bons resultados no tratamento.

tais que tenham impacto no desenvolvimento do feto, como estresse, infecções e exposição a substâncias químicas tóxicas, podem levar ao desenvolvimento do autismo. “Dentro dos fatores ambientais, pesquisadores detectaram uma maior importância para o risco de TEA dos fatores ambientais individuais, que incluem complicações durante o nascimento, infecções maternas ou a medicação que se recebe antes e após o nascimento”, esclarece psicóloga infantil Bárbara Catarina. Em linhas gerais, o TEA pode ser classificado conforme o grau de dependência e/ou necessidade de suporte, podendo ser considerado autismo leve, moderado ou severo, em que os leves são aqueles que precisam de pouco suporte para viver e desempenhar tarefas básicas,

em que os moderados precisam de algum suporte, e os severos necessitam de muito auxílio.

Desafios do diagnóstico precoce

Muitas dessas ações podem ser corrigidas ou, ao menos, atenuadas se o Transtorno do Espectro Autista for identificado de forma precoce, defendem neurologistas. Segundo especialistas, aos seis meses de vida já é possível observar alguns sinais e a recomendação é intervir com terapias intensivas, mesmo que ainda não haja confirmação. O tempo recomendável para o diagnóstico varia, mas quanto mais cedo, maior a chance de a criança conseguir evoluir normalmente, pois a evolução ou regressão do estágio do paciente depende dos estímulos recebidos.

Felizmente, tanto Miguel quanto Isabela foram diagnosticados cedo. Mas as mães Elvira e Caroline afirmam que, na grande maioria dos casos, sejam eles particulares ou do SUS (Sistema Único de Saúde), há um déficit de conhecimento sobre o autismo por parte de profissionais da saúde. “Para que isso seja possível, o conhecimento clínico sobre desenvolvimento típico e atípico é fundamental. Não se pode concluir, sem que se tenha conhecimento sobre desenvolvimento e sem uma investigação adequada, que atrasos são normais e que ‘cada criança tem sua hora para desenvolver determinada habilidade’, como ouvimos muitas vezes. Do ponto de vista estatístico, é muito mais provável que um atraso na fala seja apenas um atraso na fala e não autismo. No entanto, o autismo se apresenta como atraso na fala e, nesses casos, queremos identificar que se trata de autismo o mais precocemente possível, porque fará grande diferença em termos de resposta ao tratamento”, contam. O diagnóstico do autismo é clínico, feito através de observação direta do comportamento. Os sintomas costumam estar presentes antes dos 3 anos de idade da criança, sendo possível fazer o diagnóstico por volta dos 18 meses de vida. Uma vez identificados sinais de autismo ou mesmo estabelecido o diagnóstico precoce, a intervenção é fundamental para a aquisição dos repertórios de comunicação, socialização, autonomia e coordenação motora – fundamentais para o desenvolvimento da criança.

Revista Giropop | Maio 2018 | 5


Ainda não há cura conhecida para o autismo, mas, sim, tratamento. Intervenções precoces intensivas, para a estimulação, são as mais estudadas. Uma delas é o ABA (Applied Behavior Analysis ou Análise Aplicada do Comportamento, em tradução livre), método baseado na observação e investigação. Aplicado de forma dinâmica, o método ABA vem sendo muito utilizado pelos médicos, pelo fato de o tratamento descobrir novos princípios comportamentais, o que contribui de forma efetiva para o desenvolvimento de estudos. Além das terapias intensivas, existem tratamentos alternativos, como a musicoterapia, e os medicamentos, que podem amenizar sintomas, como agitação, insônia, agressividade e ansiedade. Mas, vale ressaltar: fazer o diagnóstico precoce é essencial, pois o cérebro da criança está em desenvolvimento acelerado e os estímulos têm efeitos muito mais intensos. Por trás dos bastidores Em sua cidade, Elvira e Wellington foram acolhidos pela UPPA (União de Pais pelo Autismo). Ela também participou de outros grupos de mães, enquanto ele organizou encontros voltados aos pais das crianças.

6 | Maio 2018 | Revista Giropop

“Quando descobrimos o diagnóstico do Transtorno de Espectro do Autismo da Isa, vivemos o período de luto, nos questionando muitas vezes sobre seu futuro. Mas, com ajuda dos grupos, entendemos que a jornada seria bastante difícil, mas não impossível”, comenta Elvira. O casal também conta que, na grande maioria dos casos, as mães das crianças autistas desabafam e recebem apoio de grupos, amigas ou familiares. Os pais, por sua vez, costumam se isolar da família como estratégia de defesa, por conta do estresse e do medo do desconhecido. Por este motivo, a porcentagem de divórcio entre os casais com filhos autistas chega a quase 80%. “O autismo é um enigma inquietante que afeta tanto a criança como toda a família. O cuidado que requer uma criança autista é muito exigente. Nós, pais, estamos expostos a múltiplos desafios que têm um impacto forte na família”, comentam Elvira e Wellington, pais de Isabela. Além das dificuldades já mencionadas da relação do próprio casal, outros desafios são comuns, como: a saúde mental e sentimento de impotência da família; as barreiras de não saber a quem recorrer; os incontáveis gastos com

O evento “Conhecer para Promover” contou com a palestra da jornalista e mãe de autista Adriana Czelusniak.

médicos, serviços, terapias e medicamentos; os irmãos das crianças com autismo que, normalmente, sentem-se deixados de lado; o preconceito e desconhecimento de causa em locais públicos; os direitos dos especiais e suas famílias, como atendimento preferencial, professora auxiliar e estacionamento exclusivo; a rotina repensada de toda a família, etc. Devido à complexidade, que afeta toda a estrutura familiar, muitos pais necessitam de acompanhamento psicológico. “Falar do espectro do autismo é muito complicado, pois a mídia faz um desfavor em abordar este assunto citando personalidades, como

Bill Gates, Steve Jobs e Albert Einstein. Com base nisso, as pessoas esperam que seu filho autista seja um gênio em determinada área”, comenta Caroline. Embora uma das características que definem o autismo seja o fato de a pessoa ter uma área de interesse circunscrita, nem todo o indivíduo com autismo possui essa aptidão especial. Para Caroline, mãe de Miguel, a melhor maneira de combater esse estereótipo de que “todo autista é um gênio” é lembrar que o autismo se manifesta de várias maneiras e nunca é exatamente igual de uma pessoa para outra.


Um dos slides da apresentação de Adriana no evento “Conhecer para Promover”. Nas imagens, a palestrante e seu filho.

Por trás dos bastidores, o autismo não é tão genial como mostram os programas de televisão. Não raramente, diante de uma crise de Miguel em um local público, Caroline, que tem atendimento preferencial, recebe olhares de reprovação de estranhos. Assim como ela, Elvira e Wellington também adaptaram sua vida social. Hoje, frequentam menos lugares, reavaliam suas amizades e toda a rotina, incluindo alimentação. “Tentamos viver essa mudança na rotina sem privar nossa filha mais velha de uma vida normal. Felizmente, a Kauane é muito compreensiva e parceira”, falam. Quando pais tratam de

descrever o viver com um filho com TEA, usam termos bem variados, como: doloroso, incômodo, difícil, normal, complicado, faz amadurecer, diferente, entre outros. Mas, em uma coisa todos concordam: o trabalho em conjunto entre família e escola, aliado ao acompanhamento psicológico, torna esse processo muito mais ameno. Grupo de Pais e Apoiadores do Autismo de Itapoá Já residindo em Itapoá, Elvira sentiu necessidade de retomar os encontros com familiares de crianças autistas, seja para compartilhar experiências, trocar estudos, rece-

ber apoio, indicar profissionais comprometidos ou disseminar o tema no município. Em conversa com a professora Silvia P. Santos Frisanco – na época, professora auxiliar de Isabela –, Elvira compartilhou sua ideia. “Me identifiquei com a proposta, pois já tive uma irmã autista, que veio a falecer e, durante minha experiência como professora auxiliar nas escolas de ensino regular e na APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) tive alunos autistas”, comenta Silvia. Há quatro anos a professora Regina dos Passos Venâncio trabalha na educação especial. Sua experiência na sala de estimulação foi essencial para que conhecesse, ainda mais, o universo dos autistas (inclusive, Isabela também foi sua aluna). Hoje, Regina é tia de duas crianças autistas e trabalha na APAE de Itapoá. “Nenhum curso ou estudo nos ensina a lidar com os especiais. É preciso muita vontade de pesquisar, estudar, se especializar e, principalmente, amar o que faz”, fala Regina, que uniu-se a Elvira, Silvia, Wellington, Caroline e outras famílias e apoiadores da causa, para criar o Grupo de Pais e Apoiadores do Autismo de Itapoá. Em abril deste ano de

2018, em celebração ao Dia Mundial da Conscientização do Autismo, o grupo promoveu o evento “Conhecer para Promover”. Com apoio da Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Municipal de Saúde, APAE e Câmara Municipal de Itapoá, a ação foi um sucesso e contou com a palestra da jornalista e mãe de autista Adriana Czelusniak. E as ações não param por aí: o grupo, cujos membros são mães, pais, familiares, educadores e apoiadores, planeja organizar encontros, rodas de conversa, caminhadas, palestras e informativos, a fim de disseminar o tema no município. Elvira, idealizadora do grupo, fala: “Não há, ainda, o levantamento de quantos autistas vivem em Itapoá. Até o momento, há conhecimento de doze casos diagnosticados no município. Mas existem muitos casos por aí que estão sem diagnóstico, que os familiares não aceitam ou sequer sabem do que se trata”. O casal Lazaro Antônio Luz e Marina Marturelli da Luz, de Itapoá, são pais de Caio, de 27 anos de idade, também diagnosticado com Transtorno de Espectro do Autismo. Há mais de vinte anos, quando receberam o diagnóstico do filho, o au-

Revista Giropop | Maio 2018 | 7


Aula de natação oferecida pela Fisiopilates para crianças com autismo, com a Professora Thayna Martins. Nas imagens, os pequenos Luan (à esquerda, com a professora) e Lucas (à direita, com sua mãe). Ambos são filhos de Cristiane. tismo não era um assunto tão aceito e difundido. “Ficamos felizes que este tema esteja ganhando seu espaço, ainda que aos poucos. Nos surpreendemos com a divulgação que se deu ao autismo esse ano. É muito importante que toda a sociedade tenha conhecimento do autismo para, somente então, incluir”, comenta Lazaro. Mais que vestir de azul no mês de abril, as famílias sonham com fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais (T.O.), psicólogos, neuropediatras e profissionais da saúde que sejam preparados, especializados e apaixonados pela área. As mães também ressaltam “a

8 | Maio 2018 | Revista Giropop

esperança de que a Secretaria de Saúde tenha um olhar para essas famílias tão esquecidas, que geralmente ficam meses e até anos na fila do SUS, esperando por um atendimento com um neuropediatra, por exemplo”, o que prejudica ainda mais o diagnóstico. Nas palavras de Elvira, “cada dia perdido por falta de profissionais é um atraso na vida dessas crianças”. Hoje, Miguel e Isabela, aos 5 anos de idade, frequentam o ensino regular. O menino estuda na Escola Gees, que o acolheu prontamente, o incluindo nas atividades escolares. Já a menina, que estuda em uma escola municipal, também

Caio, filho de Lazaro e Marina, também é autista e veste a camisa pela causa.

foi acolhida por uma equipe dedicada e coleguinhas que entendem e respeitam suas diferenças. A mãe, Elvira, completa: “Esse carinho (que os coleguinhas têm por Isabela) prova que amar e respeitar as diferenças são lições ensinadas em casa. O Centro Municipal de Educação Infantil Lua de Cristal se vestiu de azul pela Isabela e pelo autismo. Foi emocionante”. Desde o início de sua estimulação, Isabela e Miguel apresentam avanços na comunicação e interação. Apesar de amados por toda a equipe escolar e toda a família, é preciso dar mérito às mães dos autistas, que são um pouco de


O CMEI Lua de Cristal também aderiu ao azul! Na imagem abaixo, a pequena Isabela, filha de Elvira e Wellington, e sua turma.

tudo: médicas, psicólogas, amigas e heroínas. “Conhecimento” é a palavra-chave para um tratamento adequado, uma vez que o pouco conhecimento dos profissionais da saúde, dos pais, professores e da sociedade faz com que as pessoas autistas sejam pouco ou nada compreendidas. Aliado ao desconhecido está o preconceito, que prejudica ainda mais o Transtorno de Espectro do Autismo, contribuindo para que hospitais e profissionais não entendam as necessidades especiais dessas crianças, com que instituições não se modernizem e não se interessem em incluir os alunos, e com que famílias neguem o problema e, assim, percam uma oportunidade de ouro para intervir precocemente. Os pais de Isabela, os pais de Caio e os pais de Miguel compartilham do mesmo desejo de todos aqueles que têm um autista na família: um mundo mais acolhedor, que caminhe para a inclusão. Afinal de contas, autistas não são pessoas doentes, mas, sim, diferentes. E todos os dias surpreendem aqueles à sua volta com uma lição: esperar mais, respeitar mais e amar mais.

André, Vitória, Nicolle, Tiago, Patrícia, Ezequiel, Jonny, Helley, Marcela, Silvia, Regina, Wellington e Flare formam o grupo. Mas, no mês das mães, gostaríamos de dar um “parabéns” ainda mais especial a Carol (mãe do Miguel), Elvira (mãe da Isabela), Marina (mãe do Caio), Ruth (mãe do Maikon), Fernanda (mãe do Caio), Cristiane (mãe do Luan e do Lucas) e a todas as mães de autistas, que vencem cada obstáculo com amor. Para acompanhar notícias, eventos e novidades acerca do autismo, acesse a página “Grupo de Pais e Apoiadores do Autismo de Itapoá”, no Facebook. Para maiores informações, entre em contato com Elvira, através do número 47 99237-6115 ou do e-mail gpaautismoitapoa@gmail.com

Revista Giropop | Maio 2018 | 9


A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais presente no desfile cívico, no último dia 26 de abril.

Amor e dedicação movem o trabalho da APAE de Itapoá A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) nasceu em 1954, no Rio de Janeiro. A rede destaca-se por seu pioneirismo e capilaridade, estando presente em mais de 2 mil municípios em todo o território nacional, entre eles, Itapoá. Caracterizada por ser uma organização social, a APAE do município de Itapoá trabalha por um mundo mais inclusivo e promove a atenção integral à pessoa com deficiência intelectual e múltipla.

10 | Maio 2018 | Revista Giropop

Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

A história Para lembrar um pouco da história da APAE em Itapoá, conversamos com Lazaro Antonio Luz. Ele e sua esposa, Marina Marturelli da Luz, são pais de Caio, de 27 anos de idade, diagnosticado com TEA (Transtorno de Espectro do Autismo). A história da associação em Itapoá se funde com a história do autismo de Caio, uma vez que o transtorno motivou os pais a abraçarem essa causa.

Em busca de corpo clínico e melhorias para pessoas especiais do município, um pequeno grupo de munícipes, educadores e empresários idealizou e compôs a primeira diretoria da APAE. Entre eles, o casal Lazaro e Marina, Cenita Schizzi Dani, Nair Soares Mertens, a falecida Mery Kalikoski, Mariza Filla, Márcio, os conhecidos “Manoel do Cartório” e “Bento da Jussara”, entre outros. “O município tinha boa vontade e nós, fundadores, batalhamos muito para estabelecer parcerias com fundações, a fim de promover

eventos, angariar recursos, obter apoios e doações”, comenta Lazaro. Nos primeiros passos da APAE de Itapoá, a ajuda veio de todos os cantos: da Fundação Gustavo Kuerten, da maçonaria, da Central do Dízimo, da empresa Döhler Têxtil, do comércio local e da Prefeitura Municipal de Itapoá – durante o mandato do prefeito Ervino Sperandio –, que realizou a doação do terreno onde foi instalado o prédio da associação. Fundada em 8 de outubro de 1997, a APAE iniciou com


Momentos especiais do Natal celebrado na APAE. Na foto à direita, alunos e equipe posam ao lado do Papai Noel. apenas dez alunos, entre eles, Caio. Desde o início de suas atividades, promove a melhoria da qualidade de vida de seus alunos especiais, buscando a crianças, adolescentes, adultos e idosos o pleno exercício da cidadania. Lazaro, que começou na associação como secretário e hoje atua como suplente, conclui: “A APAE foi uma verdadeira conquista para o município, pois a educação inclusiva passou a fazer parte da vida de pessoas com deficiência; cidadãos com direitos e deveres, como todos os demais”. Sobre a associação Prestes a completar 21 anos neste ano de 2018, a As-

sociação de Pais e Amigos dos Excepcionais conta com, aproximadamente, 50 alunos, e tem como atual presidente Auzilia Terezinha Dória Ramos. Ela explica que há diferença entre a associação e a instituição da APAE: “a associação é organizada por uma diretoria, composta por voluntários; nós, membros voluntários da diretoria, administramos e somos mantenedores da instituição que, por sua vez, é composta por uma equipe pedagógica e técnica, remunerada através de um convênio com a fundação”. A diretoria é composta por 20 voluntários, são eles: presidente, vice-presidente, tesoureiro, vice-tesoureiro, 1ª se-

cretária, 2ª secretária, diretor social, diretor do patrimônio, cinco conselheiros administrativos, seis conselheiros fiscais e uma conselheira executiva. Já a equipe pedagógica é composta por 18 funcionários: diretora pedagógica, secretária pedagógica, motorista, auxiliar de serviços gerais, monitora, secretária administrativa, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional (T.O.), psicóloga, assistente social e oito professores, habilitados em educação especial. Apesar de muitos não enxergarem a APAE como uma escola, mas, sim, como um centro de atendimento, a equipe vem trabalhando para ser reconhecida como tal. Conforme Fabia-

ne Monteiro Kanzler, diretora pedagógica da instituição, as turmas são divididas em ciclos, por idade. “Os alunos de 0 a 6 anos pertencem à turma de estimulação precoce, estão inseridos no ensino regular e frequentam a instituição para complementar seu desenvolvimento. De 7 a 10 anos fazem parte do SPE (Serviço Pedagógico Específico), já possuem um grau de comprometimento mais elevado e estudam apenas na APAE; o mesmo serviço se aplica àqueles de 11 a 16 anos. Já os alunos de 17 a 38 anos recebem atendimento ocupacional e participam de oficinas. Por fim, os alunos de 39 anos em diante participa-

Revista Giropop | Maio 2018 | 11


ram do Centro de Convivência”, explica Fabiane. Vale frisar que a maioria dos alunos da APAE é deficiente intelectual de múltiplas deficiências, salvo aqueles de 0 a 6 anos, que estão na estimulação e ainda não possuem laudo (diagnóstico fechado da deficiência) médico. Entre os 50 alunos da associação, estão portadores de Transtorno do Espectro de Autismo (TEA), surdos, deficientes visuais de baixa visão, portadores de síndromes (como a Cornélia de Lange), deficientes de paralisia cerebral, entre outros. “As

12 | Maio 2018 | Revista Giropop

chances de responder aos estímulos são consideravelmente maiores quando o aluno é estimulado precocemente”, afirma a secretária pedagógica Angela Maria Belotto. Contudo, essa realidade ainda é encarada como um desafio, uma vez que muitos médicos ainda não encaminham os pacientes ao corpo clínico e muitas famílias sofrem com a aceitação, por medo de sofrimento e preconceito. As instalações da APAE de Itapoá contam salas de aula, salas de atendimento, quadra, refeitório, auditório e secre-

taria. No plano pedagógico, a palavra-chave é “inclusão”, trabalhada através da musicalização, jogos, brincadeiras, entre outras atividades lúdicas. Para que esse trabalho seja possível, a associação realiza eventos, projetos e campanhas, a fim de angariar recursos, conseguir parceiros e incluir os alunos na comunidade. APAE e a comunidade A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais é uma organização sem fins lucrativos e mantém-se com recursos da ADR (Agência de Desenvolvi-

mento Regional) e da Prefeitura Municipal de Itapoá, utilizados para remunerar seus 18 funcionários. Para contribuir com os gastos mensais de água, luz, transporte, alimentação e manutenção dos materiais, a diretoria recebe doações e promove ações que fazem parte do calendário de eventos da instituição, como a Pastelada, o Arraiá, a Feijoada e o Churrasco da APAE. Acontecem também, ações extras, como o jantar beneficente que aconteceu recentemente no Restaurante Recanto do Farol, o pedágio durante a


alta temporada, e a parceria com a CELESC (Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A.), que consiste em preencher um formulário junto à instituição, tornar-se um associado e receber descontos mensais de, no mínimo, R$ 5,00 na conta de energia elétrica – o valor proporcional é doado para a instituição. Mais que angariar recursos financeiros, a APAE prioriza inserir os alunos na sociedade, estreitando a relação entre eles e a comunidade itapoaense. Eles já foram à praia, à pizzaria e participaram do desfile cívico em comemoração aos 29 anos do município de Itapoá. “Tirar os especiais de dentro da escola é uma das missões dessa atual gestão”, comenta a presidente Auzilia, cujo filho tem paralisia cerebral e estuda na APAE. Outros projetos buscam a aproximação da sociedade, como o Projeto Prevenir, que orienta gestantes para uma gravidez mais saudável, pois dados comprovam que hábitos mais saudáveis podem reduzir a incidência de deficiências no bebê. Em breve, o Projeto Futuro também será implantado, ensinando conhecimentos básicos para que os alunos especiais possam ser inseridos no mercado de trabalho.

Junto aos Guarda-vidas Civis de Itapoá e aos Bombeiros Militares de Itapoá, os alunos da APAE tiveram um dia de praia inesquecível.

Amor e dedicação A recompensa é diária e

está presente nas pequenas evoluções dos alunos. Fabiane, Auzilia e Angela teriam muitos exemplos para contar, mas lembram uma aluna com paralisia parcial que não andava e, hoje, praticamente corre pelos corredores; bem como um aluno autista, que não deixava ninguém se aproximar dele e, na Páscoa desse ano, até posou para uma foto ao lado do coelho. “Eles nos ensinam todos os dias. São momentos emocionantes”, diz Fabiane. O aluno da APAE não pertence apenas ao seu professor, mas a toda a equipe, que é movida por amor e dedicação. “É um trabalho de formiguinha, aos poucos, no tempo deles. Mas o resultado é, sem dúvidas, gratificante”, comenta Angela. Em nome de todos os profissionais, voluntários, familiares, apoiadores e colaboradores, as palavras da presidente Auzilia definem bem a essência do trabalho realizado com pessoas com deficiência intelectual e múltipla: “são eternas crianças, puros, sem maldade e sempre cheios de amor a oferecer”. A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Itapoá está localizada na Rua Mariana Michels Borges, nº 675, em Itapema do Norte. Telefone para contato: 47 3443-1295.

Revista Giropop | Maio 2018 | 13


EMPREENDEDOR DO MÊS

Inovação, qualidade e referência no ramo automobilístico Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Quando se trata do ramo automobilístico, a empresa Teles Auto Peças, com quase 15 anos de atuação, é referência no município de Itapoá. Seu proprietário, Eliseu Teles da Silva, mais conhecido como Teles, conta que o sucesso desta trajetória está pautado na qualidade, ética, responsabilidade e inovação.

T

udo começou em meados de 1981, quando Eliseu tinha apenas 13 anos de idade e passou a trabalhar como aprendiz de autopeças com seu tio, Francisco, mais conhecido como Chico, no oeste do Paraná. A partir da primeira experiência profissional, passou por outras empresas que ensinaram-lhe ainda mais acerca do universo automobilístico. No ano de 1983 trabalhou no setor de peças da empresa Volpa (antiga concessionária Volkswagen). Em 1986, morando no município de Ji-Paraná (RO), Eliseu atuou como vendedor na antiga Empalo, do grupo Tecnodiesel – hoje, conhecida como DPS (Distribuidora de Peças Santos Ltda.), uma das maiores distribuidoras de peças do país. No ano de 1992, foi transferido para a cidade de Curitiba (PR), onde permaneceu trabalhando no mesmo

Eliseu Teles da Silva e Regis Lemonie trabalham juntos há dez anos. grupo. Já em 1998, trabalhou exercendo a função de comprador na empresa Magili, recuperadora de veículos. Enfim, no ano de 2002, constituiu sociedade com um amigo em uma loja de autopeças e auto center. Ele, que já sonhava em residir no município de Itapoá desde meados de 1995, encontrou o cenário ideal em 2004, quando destituiu sociedade e abriu uma nova empresa no município litorâneo: a Teles Auto Peças. A escolha do nome deu-se por conta do sobrenome da família e, também, a fim de homenagear seu tio, Chico, quem considera um grande incentivador e professor no ramo. Com ânimo, Eliseu conciliou os sonhos de residir na cidade litorânea e ter o próprio negócio. “Na época falava-se da expansão de negócios, haja vista a perspectiva de instalação do porto. Em relação às dificuldades encontradas, cito,

14 | Maio 2018 | Revista Giropop

como até hoje, a logística nos negócios”, comenta. Há cerca de dez anos, Eliseu trabalha ao lado de Regis Lemonie, seu colaborador e parceiro de profissão, que também faz parte da história da “família” Teles Auto Peças. Juntos, Eliseu e Regis almejam adquirir cada vez conhecimentos para que, assim, possam exercer aquilo que sempre propuseram: satisfazer as necessidades de seus clientes. Desde sua instalação em Itapoá, a Teles Auto Peças preza por inovação, uma vez que as novidades se expandem todos os dias no ramo automobilístico. Trabalhando sempre em parceria com seus clientes, a empresa oferece peças para automóveis e caminhões, sejam nacionais ou importadas, além de utilitários. A equipe – capacitada para exercer seus ofícios com qualidade, ética e responsabilidade – possui interesse não somente no mo-

mento da venda, mas, principalmente, na pós-venda, dando assistência e garantia aos clientes. Com, aproximadamente, 37 anos de expertise na área, Eliseu, o Teles, busca sempre acompanhar o desenvolvimento automobilístico e manter bom relacionamento com seus colaboradores e clientes. E as novidades não param: no ano que vem, a Teles Auto Peças completará 15 anos de história junto ao município de Itapoá. Por fim, Eliseu garante: “esta nova fase vem trazendo muitas renovações como, por exemplo, novos ambientes na empresa para que nossos clientes sejam melhor acolhidos”. As demais novidades a equipe da Teles Auto Peças deixará para 2019, quando seus clientes serão surpreendidos em comemoração aos 15 anos de muito trabalho, confiança e inovação.



QUEM É?

Memórias e saudades de uma forte senhora Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

O “Quem É?” de maio, mês das mães, conta a história de Luiza Arminda Cunha, de 80 anos de idade. Há 54 anos os caminhos da vida lhe trouxeram ao município de Itapoá (SC), onde dona Luiza batalhou e descobriu sua força enquanto mãe, pai e mulher.

F

ilha de Arminda de Aguiar Cunha e João Januário Cunha, Luiza nasceu em São João do Itaperiú (SC), quando o município ainda pertencia a Barra Velha. Ao lados dos pais e irmãos, trabalhou na lavoura, onde criavam porcos, bois, vacas, galinhas e outros animais que serviam de sustento. “Era uma tradição em nossa região que os filhos ajudassem os pais. E as crianças

16 | Maio 2018 | Revista Giropop

Luiza Arminda Cunha na companhia de seus filhos e netos. não se importavam, ao contrá- com apenas 5 meses de vida. a viver à base de lampião de rio, não admitiam que apenas A viagem até Itapoá foi uma querosene, sem o fogão à leos pais trabalhassem duro”, verdadeira aventura: “Pegamos nha que estava acostumada lembra. O tempo passou, Luiza caronas de caminhão, de carro- e, ao invés da agricultura, a casou-se e foi mãe pela primei- ça e andamos trechos a pé, em principal atividade da família ra vez, de Ieda Correa da Silva. estradas precárias, que tinham passou a ser a pesca. “Naquela A família de seu esposo era muita lama. Atravessamos de época, tinha muito robalo, corde pescadores. Por isso, há 54 São Francisco do Sul (SC) a vina, cação-mangona e outras anos, quando tinha 25 anos Itapoá em uma canoa, em um espécies em abundância. Era de idade, Luiza teve de deixar dia de mar revolto. Lembro-me muita fartura, muita boniteza”, São João do Itaperiú para ten- como se fosse ontem”. recorda. Seu esposo pescava tar a vida no município de ItaJá em Itapoá, Luiza sofreu em alto-mar e vendia os peixes poá, na companhia do esposo com os contrastes culturais em uma manta (para manter o e da pequena Ieda – na época, do local. No município, passou frescor) nas cidades vizinhas


de São Francisco do Sul e Guaratuba (PR) ou até mesmo na Barra do Saí. Depois de Ieda, o casal teve mais três filhos: Ivani Correa da Silva Arzão, Gibrail Correa da Silva e Izabel Correia da Silva, mais conhecida como Bela – esta última, filha da terra com muito orgulho, pois nasceu na beira da praia, em Itapoá, com ajuda da parteira dona Neiva. Desde que chegou ao município, a família viveu próximo à praia, na região da Segunda Pedra, em Itapema do Norte. Enquanto o marido saía para pescar, vender e trazer alimentos das cidades vizinhas, Luiza dedicava-se ao lar e às crianças. Do tempo que criou seus filhos em Itapoá, guarda muitas memórias, como, por exemplo, o dia em que sua filha Ivani (na época, com menos de 2 anos) foi picada por uma cobra jararaca dentro de casa e quase veio a óbito, ou o amor que sua filha Bela, quando criança, sentia por nadar e brincar na água do mar. Certo dia, a vida da mãe de Ieda, Ivani, Gilbrail e Izabel sofreu uma reviravolta. Seu marido abandonou o casamento e os filhos, ainda crianças, fazendo com que Luiza assumisse as funções de mãe, pai, provedora do lar e dona de casa. “Foi uma época sofrida. Eu havia deixado minha cidade e minha família para viver com ele. E, aí, me vi

Dona Luiza (de rosa) na companhia das filhas (da esquerda para a direita) Izabel, Ieda e Ivani. sozinha, com os quatro filhos para criar”, recorda. Felizmente, Luiza mostrou-se uma super mãe. Ela pescava, limpava a casa, levava os filhos às benzedeiras (muito comuns naquele tempo) sempre que preciso, cuidava das crianças, plantava mandioca, feijão e outros cultivos, cozinhava e, ainda assim, tinha tempo para divertir-se nos tradicionais bailes da região. Luiza faz questão de mencionar a ajuda recebida de vizinhos, casais de amigos e familiares – especialmente de seu irmão José Januário, mais conhecido como Zeca. “Eu era mãe solteira, de quatro filhos, numa época em que isso era mal visto pela sociedade, e algumas pessoas se solidarizavam com isso. Me ajudavam a cuidar das crianças, faziam doações de roupas e mantimen-

tos. Antigamente era assim, as pessoas ajudavam mais o próximo”, comenta. Para driblar as dificuldades, toda a família contribuía: dona Luiza fazia pastéis, enquanto seus filhos os vendiam pelas redondezas, de casa em casa, e na beira da praia. Bela, a filha mais nova, recorda: “Nós adorávamos vender os pastéis de minha mãe, pois, além de ajudá-la, estávamos nas ruas, conversando com as pessoas e nos divertindo”. Vale lembrar que, naquele tempo, as crianças viviam muito mais livres, já que o município era muito mais seguro. O tempo passou e a família se multiplicou. Além dos quatro filhos (Ieda, que está com 54 anos de idade, Ivani, com 51, Gibrail, com 50 anos e Bela, com 46), dona Luiza ganhou sete netos e nove bisnetos. Da

filha mais velha, Ieda, ganhou os netos Hemerson da Silva Gomes, Hermes Soares Junior, Jefferson Soares Gomes e Geandro Soares Gomes. Já da segunda filha, Ivani, dona Luiza ganhou os netos Jovanir da Silva Rosa, Luiz Felipe da Silva Arzão e Nicole Karine da Silva Arzão. Quanto aos bisnetos, eles são: Maria Luiza Correa Gomes e Rafaelly Correa Gomes (filhas de Hermes), Pedro dos Santos e Valentina Ieda Souza Gomes (filhos de Jefferson), Geovana de Oliveira Gomes (filha de Geandro), além de Ana Julia Massaneiro Rosa, Ana Carolina Massaneiro Rosa, Kauê Massaneiro Rosa e João Pedro Massaneiro Rosa (estes quatro últimos, filhos de Jovanir). Há dez anos, Luiza converteu-se à religião adventista. Seu ex-marido é falecido, mas até os dias atuais é conhecida, por Itapoá, como “Luiza do Oza”. Hoje, aos 80 anos de idade, permanece uma mulher forte, saudável e ativa. Do passado, restam apenas memórias e saudades. Apesar de adaptar-se ao mundo moderno, dona Luiza sente falta daquele tempo, quando, em suas palavras, “as tradições eram mantidas, o respeito aos mais velhos era sagrado, as ruas ofereciam menos perigo, as pessoas precisavam de menos bens materiais e eram mais solidárias umas com as outras”.

Revista Giropop | Maio 2018 | 17






ARTE SOLIDÁRIA

Costuras, crochês, tricôs e faróis Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Autodidata e amante das artes em geral, o universo criativo de Mariette Bark, de Itapoá, permeia por diversas técnicas manuais, do bordado à costura, do gesso ao tricô. Hoje, a artesã contribui com as tradicionais decorações do restaurante Recanto do Farol, busca inspiração na praia do Pontal e afirma à revista Giropop qual a sua técnica artesanal favorita: “todas”.

F

ilha de uma costureira, tricoteira, crocheteira e cozinheira de mão cheia, Mariette mostrou habilidades manuais logo cedo. Aos 5 anos de idade, bordou sua primeira toalhinha, em um trabalho de escola, no município de Porto União (SC). “Na época, as professoras surpreenderam-se com o capricho da atividade”, recorda. Tamanha era sua curiosidade e paixão para as artes que, aos 8 anos de idade, criou sua primeira peça de tricô: uma blusa mesclada com fios de diferentes cores. Depois de aprender, com sua mãe, noções básicas, como cava e decote, Mariette deu continuidade ao tricô como autodidata, apenas observando e tentando até conseguir. Já residindo na cidade de Curitiba (PR), passou a ajudar sua mãe e sua tia nas aulas de tricô à máquina. “Minha mãe e minha tia foram duas das primeiras professoras de tricô de Curitiba e eu amava ajudá-las, pois aquilo me preenchia. Naquele tempo, vestidos da alta-costura eram febres, e não demorou muito para que surgissem nossas primeiras encomendas”, lembra. Funcionava assim: a mãe costurava a peça, enquanto Mariette, aos 12 anos, aplicava rendas, bordados, pedrarias e outros aviamentos. O tempo passou, a jovem criou seus próprios modelos e permeou por diversas artes e técnicas: criou arranjos decorativos, fez esculturas de gesso, bordou acessórios, trabalhou com tricô, malharia, entre outros. Depois de certo tempo, dedicou-se à casa e aos filhos, e as habilidades manuais se 22 | Maio 2018 | Revista Giropop

A artesã Mariette Bark com sua doação para a campanha Arte Solidária: uma réplica do Farol do Pontal.

vó de três bisnetos. Em casa, um espaço é reservado para expor o trabalho de suas amigas artesãs e para desenvolver suas próprias criações: ora com crochê, ora com tecidos, ora com patchwork, ora com gesso. Amante das mais diversas artes, ela afirma ser muito feliz por herdar as habilidades manuais de sua mãe e dar sequência às suas delícias. Seja para compor o charme do restaurante Recanto do Farol ou para dar vida às encomendas, a inspiração está sempre ali, a poucos metros da casa de Mariette: a praia do Pontal e toda sua natureza abundante.

Detalhes das criações exclusivas da artesã para o Restaurante Recanto do Farol.

reinventaram. Ela passou a fazer bolos e salgados sob encomenda para festas e lanchonetes de Curitiba e, inclusive, atendia um restaurante da Ilha do Mel (PR), na praia de Encantadas. “As pessoas diziam que eu tinha ‘mãos de fada’ e que meus salgados também eram uma arte”, conta. Desde meados dos anos 90, seus pais e irmãos acampavam à beira-mar, na região do Pontal, em Itapoá. Em 2005, seu pai já falecido e com sua mãe precisando de cuidados em Itapoá, Mariette foi para o município litorâneo, a fim de assessorar os trabalhos que sua mãe fazia para o Restaurante do Francês, produzindo lasanha, empadão,

pão de batata e casquinha de siri – delícias elogiadas por todos. No município itapoaense, também trabalhou na cozinha do restaurante Tambaiá e, até mesmo, contribuiu para a criação da ICHTUS (hoje, ACAPI – Associação dos Curtidores Artesanais da Pele de Peixe de Itapoá). Quando o casal Romario Arthur Ferreira e Angela Piekarski desejou abrir um restaurante, procurou Mariette, por conta das suas habilidades para costura e artesanato. “Nos tornamos grandes amigos e parceiros”, fala a artesã, que passou a contribuir com seus “toques de fada” nas decorações do Restaurante Recanto do Farol, antes mesmo de sua inauguração. Toalhas, capas e paredes decoradas compõem o universo criativo de Mariette para o restaurante, mas foram os porta-guardanapos desenvolvidos por ela, com pequenas réplicas do Farol do Pontal, que mais encantaram os proprietários Angela e Romario, e os clientes do restaurante. “Sou muito detalhista. Gosto de peças diferentes, originais e exclusivas. Ao lado de Angela e Romario, essa dupla tão especial, criamos coisas inimagináveis”, afirma a artesã. Hoje, aos 62 anos de idade, Mariette é mãe de três filhos, avó de três netos e bisa-

Campanha Arte Solidária Nesta edição de maio, foi a vez da artesã Mariette Bark doar uma peça de sua autoria para a nossa campanha Arte Solidária, em parceria com a Associação Mãos do Bem, de Itapoá. Para indicar artistas e artesãos locais que também queiram contribuir, envie um e-mail para redacao@giropop.com.br com um breve resumo sobre tal trabalho artístico, foto e telefone para contato.

Mariette trabalha com tecidos, bordados, couro de peixe e até mesmo confecciona guirlandas comemorativas.

Para conhecer melhor o trabalho da artesã Mariette Bark, entre em contato com ela através do número 47 98848-0349. Tanto sua casa quanto o restaurante Recanto do Farol estão localizados na região do Pontal, em Itapoá.



POR AÍ

África do Sul, um país de cores, ritmos e contrastes Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Quando viajou para a África do Sul, o casal Monika Fahl Rodrigues e Luciano Duarte Rodrigues, de Itapoá (SC), tinha a pretensão de conhecer um país de natureza abundante, animais, safaris, ritmos musicais, pessoas simples e de bom coração, contrastes sociais e sol. Com exceção do clima (que, na verdade, fazia frio), a experiência foi além das expectativas. Confira, a seguir, o relato do casal por este país simples e De Itapoá para a África do Sul, o casal Monika Fahl Rodrigues e Luciano Duarte Rodrigues compartilham suas aventuras de viagem. À esquerda, posam em frente à estátua de Nelson Mandela. acolhedor.

M

onika e Luciano sempre foram aficionados por viagens. Certo dia, após assistirem a um programa de televisão que falava sobre a África do Sul, decidiram que este seria o des-

tino ideal para uma viagem à dois. Pesquisas, economias, passagens aéreas (inclusive, passagens de trechos internos da África do Sul), roteiros e hotéis: tudo foi planejado dentro de oito meses. Conforme o casal, pesquisar por passagens aéreas com antecedência é

24 | Maio 2018 | Revista Giropop

muito importante, pois economiza na viagem. Também, é recomendável definir uma programação – uma vez que a África do Sul oferece inúmeros atrativos – e, assim, otimizar o tempo de viagem. A experiência, que aconteceu em junho de 2017, durou

onze dias. É bom lembrar que para viajar para a África do Sul não é necessário visto. Contudo, para embarcar, é obrigatória a vacina de febre amarela. Partindo de Guarulhos (SP), o voo até Joanesburgo (a maior cidade da África do Sul, com, aproximadamente, 6 mi-


lhões de pessoas) levou cerca de nove horas. Sendo o principal núcleo urbano, industrial, comercial e cultural do país, há muito o que conhecer por lá. A cidade de Joanesburgo é símbolo da luta contra o Apartheid (regime de segregação racial que ocorreu na África do Sul a partir de 1948, o qual privilegiava a elite branca do país, que perdurou até as eleições presidenciais de 1994, ano em que ascendeu ao poder Nelson Mandela, o maior ícone negro de liderança, que pôs fim ao regime segregacionista, lutando pela igualdade racial na África do Sul). Com a ajuda de um guia turístico, Monika e Luciano conheceram o local e muitas histórias sobre a luta de Mandela contra o Apartheid. “Boa parte da luta do povo africano é espelhada em Mandela,

Zebras, macaco e elefantes no Safari, em Kruger Park. Ao lado, Monika fazendo carinho em um leãozinho.

e essas histórias acabam até se confundindo”, fala o casal. Também em Joanesburgo, contam que está localizada a Villazaki Street – única rua do mundo onde viveram dois vencedores do prêmios Nobel: Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu.

O roteiro também incluiu as pequenas cidades de Skukuza e Hazeview, no interior da África do Sul, mais precisamente, na região do Kruger National Park, a maior reserva florestal do país. Conforme Luciano e Monika, estas são excelentes opções para quem deseja fa-

zer safari (uma expedição por terra em lugares selvagens, tipicamente as viagens de caça ou turismo pela África). “Os animais são o carro-chefe do turismo no país. Quando nos hospedamos na região dos safaris, ficamos em um lodge (complexo turístico de imersão à natureza), cujos quartos eram verdadeiras tendas. Durante a noite, ouvíamos o som dos animais que ficavam às margens dos rios. Já nos safaris, observamos uma variedade deles, como, por exemplo, leões, girafas, elefantes, rinocerontes, crocodilos e hipopótamos”, fala o casal de brasileiros, “ver estes animais em seus habitats naturais, sem interferência dos seres humanos, é uma experiência única e emocionante”. A última cidade a ser explorada foi Cape Town, em

Revista Giropop | Maio 2018 | 25


Foto clássica em Waterfront, em Cape Town. As “tendas” no Lodge em que Luciano e Ao fundo, a majestosa Table Mountain. Monika se hospedaram, em Kruger Park.

português, Cidade do Cabo – a capital administrativa e segunda maior cidade do país. “É uma cidade mais cosmopolita, onde as belezas naturais contrastam com o desenvolvimento”, relatam. Na região, Luciano e Monika conheceram a Greenstreet Market (feira de artesanatos locais), o Aquário Two Oceans, o Cabo da Boa Esperança, o Cage Dive (onde passearam de barco para avistar tubarões brancos), a V&A Waterfront (uma área portuária revitalizada, que conta com shopping, restaurantes, museus, galerias, entre outros) e, também, a Ta-

26 | Maio 2018 | Revista Giropop

ble Mountain (uma das montanhas mais antigas da terra, considerada uma das sete maravilhas naturais do mundo). Cultura sul-africana Sendo um país muito importante para a história da humanidade, a cultura sul-africana é bastante rica. Monika e Luciano recordam que, além da histórica luta contra o Apartheid, na África foi encontrado um dos fósseis humanos de Homo Sapiens mais antigos do mundo – por isso, o continente africano ficou conhecido como “berço da humanidade”. A culinária da África do Sul,

As Orlando Towers, no Soweto, em Joanesburgo.

em especial, recebe influência de diferentes regiões da África. Em um restaurante típico, os brasileiros provaram o prato Shaka Laka, que consiste em feijão com molho curry e um molho apimentado com legumes. A cultura do país também é bastante mista, com espaços dedicado às artes, como galerias, exposições e praças. “Era comum encontrarmos artistas de rua expondo suas pinturas ou apresentando suas músicas ao ar livre, que são oriundas do interior da África, com muito ritmo e percussão”, recorda o casal, que gostou muito de um estilo

musical chamado marimba. Para Monika e Luciano, assim como o Brasil, a África do Sul é um país de muitos contrastes. “É um país desenvolvido, mas que também sofre muito com o problema de má distribuição de renda. Em Joanesburgo, conhecemos o bairro de Soweto, que é nitidamente dividido em classes sociais, uma delas bem pobre. Mas, na África do Sul, enxergamos uma pobreza mais urbana, como as favelas das grandes cidades brasileiras, por exemplo”, contam. No país, existem onze idiomas oficiais, sendo que o


Mergulho com tubarões branco em Gansbai, próximo a Cape Town.

inglês é o idioma mais falado nas grandes cidades. O casal de Itapoá, que tem nível intermediário de inglês, afirma: “O sotaque se mistura aos outros idiomas e, vez ou outra, pode tornar a comunicação um pouco mais difícil, mas nada que não possa ser compreendido”. No geral, os brasileiros contam que a prestação de serviços na África do Sul é muito boa e organizada, bem como Uber e internet 4G. Da viagem, Monika e Luciano trouxeram muito mais que vinhos (o vinho sul-africano é um dos mais famosos do mundo), Amarula e artesanatos da

Na mira de Luciano: rinoceronte se alimentando no safari.

cultura local. “Apesar das dificuldades, o povo africano está sempre disposto a lutar para vencer seus problemas. São pessoas muito prestativas, extremamente simpáticas, educadas e que estão sempre dispostas a ajudar o próximo. Conhecê-los e ver que são felizes com aquilo que têm, sem dúvidas, foi uma grande lição que trouxemos conosco”, contam. Exceto pelo clima – a África do Sul é famosa pelo seu sol e clima quente, mas a viagem aconteceu durante o inverno, com temperaturas na média de 10ºC –, o país superou as

Monika na famosa Table Mountain, considerada uma das sete maravilhas naturais do mundo.

expectativas do casal. Com opções para todos os gostos, Monika e Luciano garantem que este é o destino ideal para aqueles que apreciam tanto natureza quanto desenvolvimento: “é um lugar acolhedor, de muitas cores, ritmos e contrastes”. Para compartilhar relatos, dicas e curiosidades acerca da África do Sul, o casal Monika e Luciano, de Itapoá, criou um blog de viagem. Para conferir, acesse: africadosul2017.webnode.com

Revista Giropop | Maio 2018 | 27


ADOTE UM ATLETA

Paratleta do tênis de mesa escolhe Itapoá para treinar e viver Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Maria Fernanda da Silva Costa, de 16 anos de idade, superou as dificuldades da Síndrome de Down e da surdez com o tênis de mesa. Desde então, ganhou diversos títulos na modalidade – o que rendeu-lhe o título de melhor paratleta de tênis de mesa portadora de Síndrome de Down do Brasil e, também, a participação no programa “É de Casa”, da rede Globo. Hoje, a menina vive no município de Itapoá (SC), local que escolheu para morar, estudar e treinar tênis de mesa. A paratleta comunica-se por Libras, a linguagem dos sinais. Portanto, conversamos com sua mãe, Karen Jackeline da Silva, que afirma: “Maria Fernanda é muito batalhadora e cheia de personalidade”.

M

aria Fernanda nasceu na cidade de Blumenau (SC) e desde pequena é uma vencedora. Portadora de Síndrome de Down e surda profunda bilateral, ou seja, dos dois ouvidos, aprendeu a comunicar-se por Libras, a linguagem dos sinais. Ao longo da vida, sua mãe, Karen, já presenciou incontáveis episódios

de bullying e preconceito, mas é positiva: “gosto de falar só das coisas boas porque, felizmente, elas também existem”. Durante a infância, Karen sempre buscou estimular a filha no esporte, um aliado importante para promover o fortalecimento muscular, a socialização e outros benefícios. Maria Fernanda já jogou voleibol e destacou-se nas lutas, como judô, boxe e taekwondo. Mas tudo

28 | Maio 2018 | Revista Giropop

Maria Fernanda é paratleta de tênis de mesa e hoje vive em Itapoá.

mudou quando, aos 13 anos, foi levada ao CEMATEPCA (Centro Municipal de Ampliação do Tempo e Espaço Pedagógico da Criança e do Adolescente), uma instituição mantida pela prefeitura de Blumenau. Lá, com o professor de educação física e técnico Mário, apaixonou-se pelo tênis de mesa e deu os primeiros passos na modalidade. Sua primeira competição foi em Timbó (SC), no ano de 2013, no

Parajest, onde obteve o 3º lugar. No mesmo ano, ficou em 1º lugar nos Jogos Estudantis da Primavera de Blumenau e 1º lugar nos Jogos Escolares Municipais de Blumenau. Tempo depois, a família mudou-se para Balneário Camboriú (SC), onde Maria Fernanda recebeu todo o suporte do técnico José Gamba, para despontar de vez nas competições. “Ela sempre teve muita garra e


Hoje, a paratleta compete levando a bandeira da ASEPI de Itapoá. persistência e, à medida que foi participando dos campeonatos, seu amor pelo esporte crescia”, conta a mãe. Entre os resultados mais expressivos de Maria Fernanda neste período, estão: 1º lugar no Parajesti, em Timbó; 1º lugar no Parajesc, em Blumenau; 3º lugar no Campeonato Brasileiro de Tênis de Mesa, em Joaçaba; 3º lugar no Campeonato Estadual de Tênis de Mesa, em Florianópolis; e 3º lugar na Liga Leste Catarinense, em Balneário Camboriú. No ano de 2015, a jovem passou a treinar com a equipe do paradesporto de Itajaí (SC), na Associação Itajaiense de Tênis de Mesa (AITM) e Fundação Municipal de Esportes e Lazer de Itajaí (FMEL), com os técnicos Suéllen Almeida Batista, responsável pela equipe

do tênis de mesa paralímpico do município, e Edson Luiz da Silva, técnico de rendimento olímpico. Ao longo da carreira, Maria Fernanda obteve outros títulos, como: 1º lugar na XX Olimpíada Estadual das APAES, em Criciúma (SC); 1º lugar na edição nacional da Fenapaes, em Campo Grande (MS); 1º lugar nos Jogos Abertos, em Caxias do Sul (RS), e 1º lugar nos Parajaps (Jogos Abertos do Paraná), em Maringá (PR). Toda a garra da paratleta e a dedicação de sua mãe – que já fez rifas, vaquinhas e campanhas para que a filha pudesse participar das competições – fizeram com que Maria Fernanda vivenciasse grandes experiências no ano de 2017. A primeira delas foi participar da Surdolimpíada pela Seleção

Maria Fernanda na companhia de sua mãe (à esquerda) e seu namorado (à direita).

Brasileira, na Turquia. Também, foi convidada a participar do programa ‘É de Casa’, da rede Globo, onde ficou cara a cara com o ídolo Hugo Hoyama, o maior mesatenista da história do esporte no Brasil. Karen recorda a sensação: “Ela curtiu muito estas experiências. Ficou fascinada com os lugares e as pessoas que conheceu. Enquanto mãe, vê-la feliz me deixou radiante”. Neste ano de 2018, a convite de Alan Rezende da Silva, um dos idealizadores da ASEPI (Associação Esportiva e Paradesportiva de Itapoá), Maria Fernanda foi a Itapoá para o que seria apenas uma temporada de treinos. “Ela foi muito bem acolhida pela equipe da ASEPI. Então, decidimos deixar tudo para trás e recomeçar

uma nova história, desta vez, em Itapoá”, comenta a mãe, que desapegou de tudo para compartilhar dos mesmos sonhos da filha. ASEPI Peças fundamentais para que a paratleta fixasse residência em Itapoá, a dupla de fundadores da Associação Esportiva e Paradesportiva de Itapoá também contribuiu com seu depoimento. “Enquanto atleta, vejo que Nanda é altamente técnica. Ela vem de uma escola boa, o que a diferencia de outras atletas de sua classe, pois possui características de uma verdadeira jogadora de tênis de mesa, e não de ping pong, o que é bem diferente. Juntos, buscamos desenvolver um treinamento para

Revista Giropop | Maio 2018 | 29


Entre amigos e com o paratleta Paulo Henrique, o PH, também da ASEPI.

que ela ganhe um pouco mais de agilidade e rapidez nos movimentos e, então, estará apta a conquistar muitos outros títulos. Para nós, treinadores, trabalhar com ela é gratificante e ao mesmo tempo desafiador. Mas temos a convicção que as dificuldades nos tornam mais fortes, e a Nanda traz isso consigo: de estar sempre lutando contra as adversidades da vida. Como pessoa, ela é só elogios. Obediente, cativante, sempre querendo ajudar o próximo e vivendo em harmonia com todos. Ela é tudo de bom!”, Sergio Ofugi, atleta paraolímpico de tênis de mesa, treinador específico de rendimento e um dos fundadores da ASEPI “Maria Fernanda é uma excelente atleta, tem muito potencial. Ela teve uma boa base de iniciação, deve-se

30 | Maio 2018 | Revista Giropop

isto aos excelentes profissionais que a acompanharam até aqui. Por onde andei, sempre encontrei Nanda e sua mãe pelas competições. Sempre presente, Karen nunca mediu esforços pra realizar os sonhos da filha. Para nós, da ASEPI, foi uma emoção muito grande esse sonho utópico se concretizar (fato de ela trocar uma metrópole como Itajaí e Balneário Camboriú pela nossa bela Itapoá). O fato é que nos tornamos amigos de verdade, temos uma relação super família, dividimos rotinas semanais de treino e lazer. Enquanto técnico, acredito que tem um futuro muito promissor. Apesar de pouca idade, é uma atleta experiente, já rodou muitos lugares e muitas oportunidades ainda estão por vir. Do ponto de vista pessoal, sou suspeito

A mãe Karen e a filha Maria Fernanda posam ao lado do atleta Hugo Hoyama, encontro proporcionado pelo programa “É de Casa”, da rede Globo.

a falar, pois tenho um enorme carinho e admiração por ela, que é sempre muito carinhosa, detalhista e vive me pregando peças. Espero que tenhamos sucesso juntos e que possamos ter uma carreira ainda mais vitoriosa daqui para frente”, Alan Rezende da Silva, professor de Educação Física, técnico de tênis de mesa e um dos fundadores da ASEPI. Além do tênis de mesa, em Itapoá, Maria Fernanda também pratica aulas de muay thai. Seu professor, Arbus Draco, conta que é muito aplicada, presta atenção em tudo que lhe é ensinado, tem boa coordenação motora e foi recebida de braços abertos pela equipe. “A Maria Fernanda gosta muito de praticar muay thai. Fiquei muito feliz por ela fazer parte de nossa equipe e mais ainda

por estar fazendo parte de seu crescimento”, comenta o professor. Escola Ayrton Senna Karen, que foi educadora durante 28 anos, afirma: “nunca vi uma escola tão receptiva como a Escola Ayrton Senna”, onde sua filha estuda atualmente, no 9º ano. Desde que passou a frequentar a escola, a adolescente tornou-se mais feliz, amada, amorosa e independente. “Me emociono sempre que a vejo incluída em uma brincadeira na quadra ou quando percebo o amor por suas colegas de classe”, comenta a mãe. A professora auxiliar de Maria Fernanda e intérprete de Libras da Escola Municipal Ayrton Senna, Elizângela Regina da Silva Wrobel, mais co-


Junto de Arbus Draco, seu professor de muay thai.

nhecida como Eliz, conta que sua relação com a aluna foi de “amor à primeira vista”. “No cotidiano escolar, ela é assídua, comunicativa, uma boa amiga, inteligente, afetiva, respeitada e querida pelos colegas”, fala professora Eliz, “é muito bonito ver o interesse dos colegas em se comunicarem com ela, ainda que uma comunicação parcial”. Autora do projeto “Incluindo-se para Incluir”, Jovita Márcia da Silva, orientadora da Escola Ayrton Senna, afirma que a inclusão de alunos como Maria Fernanda (portadores de necessidades especiais) no ensino regular necessita de respeito e dedicação por parte de todos os envolvidos. “Nossa escola pode não estar totalmente preparada, mas, com certeza, está fortalecida

A aluna e Eliz, sua professora auxiliar e intérprete de Libras.

e confiante com ações apoiadas por toda a equipe. Assim como Maria Fernanda, que é uma doce menina, buscamos acolher estes alunos sem qualquer preconceito, para que na interação com professores e colegas construam seu conhecimento, participem ativamente das tarefas dentro de suas capacidades e diferenças, e desenvolvam-se como cidadãos”, diz Jovita. Para Nelma Machado, professora de Libras do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da escola, “Maria Fernanda é como uma caixinha de surpresas – boas, é claro”. Já a professora Patrícia Machado Pereira, contadora de histórias e responsável pela biblioteca, que já havia assistindo a história de Maria Fernanda no programa “É de Casa”, con-

Da esquerda para a direita: as professoras Nelma e Elizângela, a gestora Marizélia, a professora Roseli, a orientadora Jovita, Maria Fernanda e sua mãe Karen, e a professora Patrícia parte da equipe da Escola Ayrton Senna.

ta que a aluna e sua mãe são verdadeiros “presentes” para a escola. Não raramente, a aluna surpreende toda a equipe escolar, como o dia em que a professora Roseli Tureck, do AEE, montou uma bateria para ela tocar: “foi emocionante, pois ela tocou, cantou e chorou de felicidade com os ruídos do som”. O amor Dona de um currículo invejável, por onde passa Maria Fernanda é sucesso. Atualmente, detém o título de melhor paratleta de tênis de mesa portadora de Síndrome de Down do Brasil e almeja participar dos Jogos Olímpicos de Verão de 2020, em Tóquio. Dentro de suas limitações, é uma adolescente comum: estuda, tem amigas, namora,

ganha, perde e tem sonhos. A mãe Karen fala que, mais que títulos ou medalhas, o que verdadeiramente importa para Maria Fernanda é o amor que recebe daqueles que se importam e se dedicam por ela – seja da mãe, da irmã mais velha Maria Eduarda, dos colegas do muay thai, da equipe da ASEPI ou dos profissionais e colegas da escola Ayrton Senna. Por fim, Karen pergunta à filha se essa gostaria de deixar Itapoá e, então, traduz seus sinais: “não, pois amo esse lugar e essas pessoas”. Deseja apoiar, patrocinar ou saber mais sobre a paratleta de tênis de mesa Maria Fernanda? Entre em contato com sua mãe, Karen, através do número 47 99691-1914.

Revista Giropop | Maio 2018 | 31


PROFISSÃO

Os tão essenciais coletores de lixo Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Em poucos segundos eles correm de um lado ao outro da rua e, como em um passe de mágica, tudo aquilo que descartamos ganha um novo destino: o caminhão. Não, eles não são seres imaginários, nem estampam histórias em quadrinhos, mas deveriam ter um título, pois em segundos conseguem resolver o grande problema do lixo em nossa cidade. Estamos falando dos coletores de lixo de Itapoá (SC). Ao todo, são 22 trabalhadores que realizam este grande e importante trabalho na Surbi (Serviços Urbanos e Meio Ambiente de Itapoá), empresa que cuida da coleta domiciliar no município.

C

oletor há mais de 10 anos, Vladimir Cordeiro já trabalhou na capital paranaense, Curitiba, e há sete meses realiza este trabalho em Itapoá. Ele diz que, diferente de outras profissões, o coletor precisa ter preparo, disposição e condicionamento físico. “Esse é um grande diferencial para o nosso serviço. Quanto mais estivermos preparados para atuar, melhor realizaremos nosso trabalho no dia a dia, afinal de contas, ser coletor não é para qualquer um”, explica. Vladimir é técnico adminis-

32 | Maio 2018 | Revista Giropop

Da esquerda para a direita: o motorista Wilson, os coletores Josimar e Jair, o trabalhador do transbordo Jardel, o fiscal Mário, os coletores Alexandre, Valmir, Ricardo, Vladimir e Anderson, o motorista Jorge e o coletor

trativo de formação. Já trabalhou em escritórios e serviu ao exército, mas é como coletor que se realiza. “Sou agitado por natureza, gosto de trabalhar ao ar livre, vendo pessoas e lugares, sem uma rotina maçante”, comenta. Tamanho é o amor pela profissão que se você encontrar um coletor cantarolando por aí, muito provavelmente, será ele. Em Itapoá, a coleta de resíduos sólidos é realizada pela Surbi, através de uma concessão do município com a empresa Serrana Engenharia. De acordo com Maikon Schlickmann, gerente operacional da empresa, o municí-

pio gera, em média, 623 toneladas de resíduos sólidos por mês. Por trás deste trabalho estão: 15 coletores, quatro motoristas de caminhão, um fiscal e dois trabalhadores do transbordo, para onde todo o lixo é levado. No município não existe aterro sanitário, por este motivo, a estação de transbordo é acionada. Transbordo é o local onde o lixo sai do caminhão e passa para uma carreta que, todos os dias, leva os resíduos para o aterro sanitário de Mafra (SC). Em Itapoá, a área de transbordo fica retirada da cidade, na região da estrada da Cornelsen.

“Essa profissão demanda amor, vontade de trabalhar e de manter o bom relacionamento com os colegas, uma vez que passamos tanto tempo no trabalho, que a nossa equipe se torna uma segunda família”, comenta Jardel de Freitas Silvano, que trabalha na Surbi desde 2013 e hoje atua no transbordo. A Surbi faz a coleta de resíduos em todo o município, de segunda-feira a sábado, com quatro caminhões em dois turnos diferentes. Já na alta temporada de verão,


dedicação, pois é de extrema responsabilidade. “Coordenar os colegas que são responsáveis pela limpeza de uma cidade inteira é extremamente importante. Graças a Deus, temos uma equipe excelente, de colegas sérios, competentes e humildes”, pondera. E quando questionados sobre aquele assunto chato, o mau cheiro, eles logo disparam: “o que incomoda mesmo é o cheiro de frutos do mar e as sujeiras de ani-

mais de estimação”. O gerente operacional, Maikon, orgulha-se ao dizer que, desde que assumiu tal função há dois anos, nenhum roteiro foi deixado para trás. “Nossa política de trabalho é que, faça chuva ou faça sol, sigamos o roteiro, passando por todos os pontos, nos devidos horários, e é o que vem acontecendo. Trabalho e dedicação definem nossa equipe e nosso compromisso com a cidade”.

Quer ser gentil com os coletores? Então confira algumas dicas que separamos pra você:

O motorista Jorge e os coletores Jair e Ricardo, pronto para mais um roteiro.

para atender toda a cidade, a empresa disponibiliza equipes extras chegando a oito caminhões. Na baixa ou alta temporada, cada caminhão possui, obrigatoriamente, um motorista e três coletores. O coletor mais antigo da equipe é Alexandre G. da Silva. Na Surbi desde 2005, Alexandre conta que já trabalhou em cidades como Rio do Sul, Lages e Guaramirim, e nos municípios por onde passou, enfrentou grandes batalhas. “Já vivi períodos de enchente e já trabalhei em rotas com muitos morros e curvas. Costumo dizer que, hoje, trabalhando como coletor em Itapoá, estou no céu. Aqui é muito mais tranquilo”, comenta o coletor da região do Itapoá e Barra do Saí. Alexandre é também o responsável pela distribuição dos EPI’s (equipamentos de proteção individual) da equi-

pe matutina: além de uniformes apropriados, os coletores recebem botas, luvas impermeáveis, protetor solar, bonés e capa de chuva (para uso quando necessário). “Amo meu trabalho e amo trabalhar aqui. Não me vejo executando função alguma em outro lugar”, aponta Alexandre, que tem seu filho trabalhando como coletor na empresa. O fiscal da equipe, Mario Vieira Tirapelli, trabalhou como motorista durante 16 anos. “Adorava a sensação de dirigir o caminhão, ver cestas e mais cestas de lixo pela frente e, de repente, olhar pelo espelho retrovisor e ver que as ruas ficaram todas limpinhas. Isso sempre foi muito prazeroso”, comenta. Ele explica que hoje atua na fiscalização, e diz que o trabalho também exige muita

•Cuide do seu cachorro: Engana-se quem pensa que apenas os cães de rua atrapalham o trabalho dos coletores. Muitos moradores deixam o portão de casa aberto e o cachorro foge para correr atrás do caminhão de lixo. Quando o cão é muito agressivo, os coletores não recolhem o lixo da casa e comunicam seus superiores. Maikon, o gerente, faz questão de lembrar: “nossa missão é limpar a cidade da maneira mais correta, mas prezamos, sempre, pela integridade física de nossos colaboradores”. •Posicione bem a sua lixeira: Este segundo item complementa o primeiro, uma vez que uma lixeira bem posicionada pode evitar mordidas de animais e sujeiras diversas ocasionadas por eles. Segundo os colaboradores da Surbi, a lixeira ideal está posicionada, de preferência, do lado de fora do terreno, oferecendo segurança e agilidade do trabalho. Outra dica importante é deixar a lixeira no alto, para que os animais não as alcancem. •Mensure o peso do saco de lixo: Mensurar o peso das sacolas e sacos de lixo é bastante importante, pois evita que o mesmo rasgue no momento da coleta. Se você achar que isso pode acontecer, se antecipe e coloque dois ou mais sacos ou sacolas. Reforce o quanto achar necessário. •Separe vidros, seringas e outros objetos cortantes: Ao depositar objetos cortantes na sacola de lixo, embale e identifique. Assim, pode evitar possíveis acidentes de trabalho. “Por mais que a gente utilize equipamentos de segurança, dependendo da forma como o objeto cortante for acondicionado, ele pode provocar algum acidente. Dê atenção especial aos cacos de vidro, às seringas e outros objetos cortantes. Melhor ainda, se as embalagens vierem com etiquetas indicando os objetos cortantes”, apontam.

Revista Giropop | Maio 2018 | 33


‘Maio Amarelo’ oportuniza conscientização no trânsito de Itapoá Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

N

este mês de maio, Itapoá será pintada de amarelo. O movimento internacional ‘Maio Amarelo’ objetiva chamar a atenção da sociedade para o índice de acidentes de trânsito. Dentre outras missões da Polícia Militar, está a de executar a fiscalização de trânsito, cumprindo e fazendo cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições. Conforme o Tenente Richardson Bortolini Lima, da Polícia Militar de Itapoá, com o passar dos anos, a frota do município cresceu e continua crescendo. “A longa extensão da cidade faz com que o veículo automotor seja a primeira opção da população. A cidade desenvolveu muito e, em contrapartida, a sinalização e meios de prevenção não. A infraestrutura de toda malha viária de Itapoá não acompanhou o crescimento”, comenta Tenente Lima. Tendo como instrutores práticos Andriele Cristina Monteiro, Rodolpho Tavares Neto, Lucas Waez Gorkawckuk e Josiane Maraschi Luchtenberg, e diretora geral Ivanice Carminatti e diretora de ensino Claudia C. C. Cherubini, a Autoescola Querubini é formadora de condutores no município de Itapoá. O instrutor Rodolpho pontua: “Na formação de novos condutores, sempre enfatizamos que o veículo, quando utilizado da maneira errada, pode tornar-se uma arma na mão das pessoas”. Ainda, completa que o problema está enraizado na falta de investimentos para educação e, por consequência, a população não tem acesso a informações de trânsito. Trabalhando diariamente dentro de veículos automotores nas vias itapoaenses, Rodolpho destaca dois pontos importantes que ainda são questões para muitos munícipes: a rotatória e o semáforo. “A rotatória auxilia muito no fluxo do trânsito, mas muitos ainda não

34 | Maio 2018 | Revista Giropop

Lucas, Josiane, Ivanice, Andriele, Claudia e Rodolpho, formam a equipe da Autoescola Querubini. sabem como utilizá-la. É importante lembrar que sempre terá preferência o veículo que estiver circulando por ela”. Quanto ao semáforo, Rodolpho salienta: “Há sinalização vertical de ‘proibido estacionar’ bastante visível em frente à lotérica. Mas, ainda assim, sempre encontramos veículos estacionados por ali, de forma irregular”. Portanto, é preciso questionar: se é proibido e vai gerar transtornos, por que não estacionar o veículo em outro local? Casos atípicos também caracterizam o trânsito de Itapoá, como a quantidade de animais de rua, principalmente cavalos e cães, um problema ainda muito recorrente no município. Tenente Lima também destaca a situação das vias do local: “Nem toda a cidade possui local adequado para os pedestres e ciclistas circularem. Todavia, onde há esse acesso deve ser utilizado por ambos. Ciclistas que circulam pela via devem fazê-lo seguindo as normas, ou seja, andando na mão da direção, como se outro veículo fosse. Mas o ponto principal é a conscientização dos motoristas, que devem conduzir com atenção aos pedestres e ciclistas, buscando sempre dar a preferência. Além disso, nossa cidade, infelizmente, carece de boas ruas, pois são, em sua maioria, precárias e sem pavimentação e sinalização”. Por sua vez, o instrutor Rodolpho ressalta que é preciso prudência por parte

dos condutores, pois ruas mais pavimentadas não devem significar veículos circulando com maior velocidade. Segundo Tenente Lima, no ano de 2017 os três principais erros de condutores foram estacionar em local proibido, seguido de conduzir veículo sem o licenciamento e deixar de usar cinto de segurança. Dados da Polícia Militar comprovam que, em 2017, ocorreram 102 acidentes de trânsito apenas com danos materiais e 73 acidentes com vítimas. Já em 2018, do começo do ano até o mês de abril, o Tenente observa que os três principais erros vêm sendo conduzir o veículo sem utilizar o cinto de segurança, seguido de conduzir veículo sem o licenciamento e, também, estacionar em local proibido. Ainda conforme os dados da PM, neste ano de 2018, até o presente momento ocorreram 29 acidentes de trânsito apenas com danos materiais e 19 acidentes com vítimas. Em suma, o Tenente ressalta que a maioria dos acidentes de trânsito se deu na Avenida Celso Ramos e que suas principais causas são a falta de atenção e pressa dos motoristas. “Utilizamos o trânsito desde pequenos e, logo na infância, muitos aprendem a dar de bicicleta. Por isso, esse assunto é debatido no mundo todo e vem tornando-se causa de saúde pública”, fala o instrutor Rodolpho, “no Brasil, são gastos, em mé-

dia, 26 bilhões por ano somente em acidentes, o que é um dado alarmante”. Para Tenente Lima, a população precisa conscientizar-se que é dever de todos fazer o certo, respeitar as normas de trânsito, pensar no todo e não individualmente, ter paciência, tolerar o próximo (ainda que ele esteja errado), ter uma condução gentil e harmônica, não andar com pressa e estar sempre atento, dando preferência aos ciclistas e pedestres. Nas palavras de Rodolpho, “educação e conscientização são palavras-chave para melhorarmos nossa qualidade de vida no trânsito, respeitando o bem comum”. Por fim, o Tenente complementa: “pequenas ações, como estacionar de forma correta ou conduzir em velocidade condizente com a vida, além de salvar vidas, transformam o trânsito de Itapoá, engrandecem e embelezam a nossa cidade”. Nós Somos o Trânsito Neste ano de 2018, o tema do movimento Maio Amarelo é “Nós somos o trânsito”. O tema, sugerido pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) propõe o envolvimento direto da sociedade nas ações e uma reflexão sobre uma nova forma de encarar a mobilidade, sendo um incentivo aos condutores, seja de caminhões, ônibus, vans, automóveis, motocicletas ou bicicletas, e aos pedestres e passageiros, para que optem por um trânsito mais seguro. Ações em Itapoá No município, o movimento vem sendo apoiado pelo CFC (Centro de Formação de Condutores) Querubini, em parceria com a Polícia Militar de Itapoá, o Corpo de Bombeiros Militar de Itapoá. Desde o dia 3 de maio os envolvidos realizam palestras de prevenção e educação ao trânsito nas escolas municipais. No dia 19 de maio acontecerá um passeio ciclístico, com início às 9h, partindo do Hotel Pérola. No momento, serão distribuídos informativos sobre as normas de circulação.


Este ano, o Joaquim e a Revista Giropop completam seis anos, ele, dia 16 de maio, a Giropop é um pouquinho mais nova, faz anos em outubro. Daqui há pouco já o teremos como um dos nossos mais jovens leitores. Parabéns!

No último dia 29 de abril, graças a ação rápida de uma policial militar de Itapoá, uma criança que estava engasgada com leite foi salva através de orientação por meio da Central de Emergências (190). A bebê de apenas 15 dias, segundo a tia, já estava sem respirar e com a pele arroxeada. Por isso, a soldado Danieli Cristina Soares, de Itapoá, merece parabéns em dose tripla: por ser mãe, tão humana e excelente profissional!

Da esquerda para a direita: Vera, Denise, Daiane, Eugenia, Luciane, levando a família passear em Garuva, Gabriel, Valfredo, Karine e Ana Luiza. No mês das mães, o esposo Baiano e os filhos Francisco e Ana Beatriz agradecem Patrícia: “por ser uma mãe tão incrível, amorosa e sereiuda, e por nos aturar (risos)”.

Não importa a ocasião, os amigos do Pedal na Estrada estão sempre programando um roteiro diferente por aí. Dessa vez o motivo foi especial, pedalaram em comemoração aos 29 anos de Itapoá, marcando presença no desfile cívico.

Alunos do Gees participaram do desfile em comemoração ao aniversário de Itapoá.

Revista Giropop | Maio 2018 | 35


Da série...locais que visitei e que mais gostei!

S

antorini, maravilhosa ilha grega no sul do Mar Egeu que faz parte de um arquipélago fruto de erupções vulcânicas foi um dos locais que mais gostei. A cidade se encontra no topo da ilha, sobre milenar rocha vulcânica. O espetáculo é singular quando avistamos a ilha, aparece logo um contorno branco sobre ela que são as casas e o resto da ilha de cor meio preta, meio avermelhada e marron. Nuances coloridas, que fazem dela um local incomum, criado pelo homem e pela natureza. Em Santorini também chamada de Santa Irene, não existe porto para navios de grande porte, apenas trapiches, aonde chegam lanchas e barcos pequenos. O navio ancora a uma certa distância da ilha e com uma lancha chega-se à Santorini em si. Para chegar à cidade no topo do vulcão existem possibilidades como: subimos oitocentos e oitenta e cinco degraus a pé, ou sobe-se de forma primitiva sobre o lombo de mulas, como também de teleférico, que sobe dois mil metros até o topo. O teleférico, ainda é o meio mais prático e mais rápido para quem tem pouco tempo para conhecer Santorini. Se você tem tempo curta a subida sobre mulas, a paisagem é de tirar o fôlego. Ao chegar à cidade anda-se a pé. Carros não existem, somente nos arredores. Ruas muito estreitas, repletas de lojas, tavernas muito charmosas, igrejas ortodoxas com suas cúpulas pintadas de azul, pousadas para todos os gostos e bolsos. Só é preciso muita disposição e força nas pernas para passear pelas ladeiras e escadarias tendo um mar e céu muito azul como pano de fundo. Nesse rico solo vulcânico são cultivadas trinta e seis tipos de uvas, que produzem um vinho branco saboroso, como também, existem jóias e objetos artesanais feitos da lava dos vulcões de preço incalculável. São obras fantásticas encontradas em lojas e galerias de arte. Imaginem estas casinhas debruçadas em um penhasco de aproximadamente dois mil metros apreciando o que parece ser mar, mas na verdade é uma lagoa, es-

36 | Maio 2018 | Revista Giropop

pécie de caldeira de água salgada que se formou da erupção vulcânica e que fez, há milhares de anos, a ilha desmoronar. A tranqüilidade e beleza natural são elementos fora de série e que fizeram com que e encantasse com esse paraíso na Grécia. Só vendo para crer! Talvez a mais fotografada de todas as ilhas gregas, um refúgio para artistas e artesãos e cujo povo é muito hospitaleiro. Santorini é um destino que você nem deve se preocupar tanto em o que fazer porque o simples fato de estar lá já é tudo de bom. O pôr do sol é um dos mais bonitos que vivenciei. O nosso planeta é maravilhoso, os lugares, cidades e países possuem belezas indescritíveis, fica até difícil relatar sobre o mais bonito. Vou relatar, na sequência de textos os que mais apreciei, incluindo, cultura, povo, comida.


PROFISSÃO

MEC reconhece mais dois cursos na Faculdade Isepe Trabalho e dedicação, o resultado não poderia ser outro, senão o reconhecimento. Da assessoria

N

os últimos seis (06) meses, a Faculdade do Litoral Paranaense Isepe Guaratuba, obteve do Ministério da Educação o reconhecimento de mais dois cursos, Tecnologia em Negócios Imobiliários em outubro passado e mais recente, o Curso de Engenharia de Produção. Após ser reconhecido o Curso de Tecnologia em Negócios Imobiliários, o qual obteve nota 4 (quatro), em uma escala de 1 a 5, a instituição aguardava ansiosa a visita dos avaliadores do MEC a fim de ter confirmado o reconhecimento do Curso de Engenharia de Produção. A exemplo dos demais processos para reconhecimento de curso, este não foi diferente, colocando a prova todo o trabalho de uma equipe. Nos dias 02 e 03 de abril p.p., direção, coordenação, professores e colaboradores estiveram empenhados para apresentar aos avaliadores do Ministério da Educação a estrutura de ensino oferecida pela Faculdade Isepe. O reconhecimento Ha 15 anos produzindo ensino de qualidade, a Faculdade Isepe reuni duas IES (Instituição de Ensino Superior): A Faculdade do Litoral Paranaense, que oferta os cursos de Administração, Ciências Contábeis, Direito, Engenharia de Produção e Tecnologia em Negócios Imobiliários; e o Instituto Superior de Educação de Guaratuba que oferta o Curso de Pedagogia. Ambas as instituições são mantidas pelo ICAPES- Instituto

Caiçara de Pesquisa e Ensino Superior. Bem avaliada e conceituada pelo Ministério da Educação, o Isepe Guaratuba se consolida a cada turma formada e onde mais de 800 profissionais conquistaram o mercado de trabalho. A aprovação no Exame da Ordem tem sido uma constante entre os formados em Direito, além de muitos alunos dos diversos outros cursos sendo aprovados em concursos públicos. O reconhecimento recente dos últimos dois cursos é resultado de muita dedicação e carinho que a Faculdade Isepe dispensa aos seus alunos, é fruto do empenho de um corpo docente preparado (doutores, mestres, especialistas); e de uma equipe de colaboradores competentes e comprometidos com a instituição, com a cidade

e com toda a região. O resultado não poderia ser outro, senão o do reconhecimento do Curso de Engenharia de Produção, avaliado e aprovado pelo MEC. A avaliação A Avaliação Institucional das Instituições de Ensino Superior integram um conjunto de procedimentos que avaliam e que compõem o SINAES-Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, instituído pela Lei 10.861/2004. O sistema que funciona como instrumento de avaliação superior, avalia todos os aspectos que giram em torno do ensino, da pesquisa, da extensão, da responsabilidade social, do desempenho dos alunos, da gestão da instituição, do corpo docente, das instalações e vários outros aspectos. O proces-

so de avaliação dos cursos no Ensino Superior ocorre de duas formas: Avaliação Interna ou Autoavaliação, coordenada pela CPA-Comissão Própria de Avaliação da instituição; e a Avaliação Externa, realizada in loco pelos técnicos do MEC. Os processos de avaliação tem como referência os padrões de qualidade para a educação superior, expressos nos instrumentos de avaliação e nos relatórios da autoavaliação. Sempre norteada pelas diretrizes do CONAES - Conselho Nacional de Avaliação da Educação Superior, esses processos são constantes e objetivam identificar os pontos positivos e negativos, onde a instituição deve avançar, propondo medidas que melhorem a qualidade de toda a estrutura e ações vinculadas ao ensino e à aprendizagem.

Revista Giropop | Maio 2018 | 37


Itapoá e sua história (parte XVIII)

História não é o que passou, mas o que ficou do que passou.

M

uitas etnias são responsáveis pelo cadinho itapoaense e sua rica e ousada história, bem como seus usos e costumes. Remotamente os ‘’sambaquianos’. Depois os índios “carijós” da grande nação tupi-guarani que ocupavam uma imensa área localizada entre Cananéia, no estado de São Paulo e a Lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul. Aos carijós atribuiu-se o nome Itapoá. Vale lembrar que o guarani era falado no sul, e o tupi no norte do Brasil. Enquanto, atentamente, espreitavam um possível cardume de peixes com sua visão treinada para esse fim, observaram uma “pequena pedra’’ que desaparecia com a preamar e reaparecia com a baixa-mar. Como não dissociavam o místico do real, para eles a pedra reaparecia trazida de volta das profundezas do mar por Tupã. Esses primitivos habitantes nominavam os locais de acordo com o fato notável, acidente geográfico ou fenômeno que mais chamasse a sua atenção. E, esse vaivém das marés levando e trazendo a pedra de volta os conduziu a chamar o local de ‘’ita-poã’’, vocábulo que atingido pela ‘’lei do menor esforço de pronúncia’’ foi transportado para o português como Itapoá, ou seja, ‘’a pedra que ressurge’’. Do DNA de suas existências em Itapoá restaram os sentimentos elevados, como a hospitalidade, o respeito a palavra dada, o culto da amizade, a confiança nos compromissos, a habilidade pesqueira e os traços indígenas, observados, especialmente, na população autótene, isto é, aquela que não tem outra origem que não seja o cruzamento luso-carijó.

38 | Maio 2018 | Revista Giropop

Materialmente deixaram como prova, os ‘’sambaquis’’, prática herdada dos ancestrais sambaquianos. Esses montes constituídos de conchas e cascas de ostras, mariscos e berbigões resultantes de sua alimentação e depositados sempre no mesmo local serviam de morada, pois eram mais secos e arejados, livrando-os dos animais venenosos, bem como serviam para observar cardumes de peixes e visualizar inimigos. Neles uma página da pré-história, ou seja, da História do Brasil ainda não escrita. Embora pequena, porém não menos importante, a etnia africana também fez-se presente através da força de trabalho escravo - um capítulo triste da História do Brasil – empregada ao longo de todos os ciclos da economia brasileira até o ano de 1888 quando foi definitivamente abolida. Por sua vez a etnia normanda chega a Itapoá via duas experiências, uma de cunho colonizatório, leia-se socialista, no montante de 217 franceses no ano de 1841 durante o reinado de D. Pedro II, e outra voltada para fins exploratórios em 1919, quando Presidente da República Washington Luís, com a implantação de um bem sucedido empreendimento do

qual faziam parte: indústria de conservas, serrarias, arrozais e até mesmo um trecho de estrada de ferro para transportar a madeira da serraria até o porto de Barrancos por onde era exportada. Ressalte-se que os fatos elencados ocorreram numa época que São Francisco do Sul, Garuva e Itapoá constituíam um só território. Somente em 1963 Garuva desvinculou-se de São Francisco do Sul e Itapoá de Garuva em 1989. Tem-se bastante presentes na composição étnica itapoaense os nossos descobridores portugueses, bandeirantes que desbravaram Santa Catarina, espalhando entrepostos e povoados pelo litoral a partir do século XVI. Os imigrantes açorianos vieram bem mais tarde no século XVIII, mas foram eles que colonizaram e deram forma ao tipo humano que hoje habita os 500 quilômetros do litoral catarinense. Revelam-se, sobretudo, quando ao passar por uma pessoa a reverenciam curvando-se ligeiramente para a frente. Todas estas etnias e outras que chegaram depois são responsáveis pela diversidade cultural e sociológica de Itapoá. Deduz-se então que, predominantemente, Itapoá está lastreada nas etnias franco-portuguesas. OPINIÃO Toda essa inesgotável riqueza étnica nos leva a pensar que um dia haverá congraçamento entre o povo de Itapoá e seus ascendentes, particularmente europeus, para compartilhar informações técnicas e culturais, rumo a construção de uma sociedade global mais justa e perfeita.




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.