Revista Giropop - Edição 72

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Editorial Chegamos a mais uma primeira edição de um novo ano que se inicia. Nessa atmosfera, tudo é praticamente renovado: os desejos, os sentimentos, as energias e os motivos pelos quais somos gratos e felizes. Em um momento de renovação de sonhos, nada melhor do que compartilhar relatos, roteiros e dicas de viagens mundo afora, para que você continue sonhando, mas principalmente realizando. A inspiração fica por nossa conta, mas a coragem – e isso serve para todas as coisas da vida – está sempre dentro de você. Que em 2019 nossas páginas inspirem, encantem e ensinem muito às pessoas. Leitores, colaboradores e anunciantes, será um imenso prazer permanecer junto de vocês, praticando, mês a mês, a arte de compartilhar coisas boas.

Tem uma sugestão de pauta? Envie para a Giropop Você tem uma sugestão de pauta, super bacana, que é ‘‘a cara’’ da nossa revista? Conhece alguém ou algo aconteceu com você que daria uma ótima matéria? Então conte para a gente! A equipe selecionará as melhores sugestões e as transformará em reportagens. O tema é livre, lembrando que aqui só tem notícia boa! Para participar envie sua sugestão para giropop@gmail.com

ÍNDICE POR AÍ Jovem casal deixa tudo para viajar pelo mundo com turismo colaborativo História, arquitetura e belezas do Uruguai Viajando entre amigos e com baixa cilindrada Trancoso: um roteiro pela Costa do Descobrimento, na Bahia MÚSICA Otti MC lança “Hipnose”, seu primeiro EP APAIXONADOS POR ANIMAIS Uma família, quatro cães e muito amor ARTESANATO Artesanato com plantas, conceito e sustentabilidade Itapoá e sua história com Vitorino Paese

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POR AÍ

Jovem casal deixa tudo para viajar pelo mundo com turismo colaborativo Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Juntos há sete anos, Thaís Oricolli Menezes (26 anos) e Rafael Hilgenstieler (28 anos) encontravam-se insatisfeitos profissionalmente. Na busca incessante por respostas que transcendessem qualquer bem material e experiências além da zona de conforto, largaram tudo para começar um mochilão mundo afora. Com algumas economias guardadas e hospedagens colaborativas, a aventura durou 8 meses, passando por 16 países e 3 continentes.

Thaís Oricolli Menezes e Rafael Hilgenstieler em Piazza Del Duomo, na Itália. À direita, a icônica Duomo do Miliano, e à esquerda a entrada da belíssima Galleria Vittorio Emanuele II.

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O ano era 2017. Rafael havia deixado o emprego recentemente e Thaís, advogada, estava insatisfeita no trabalho. Eles, que moravam em Curitiba (PR) e já haviam viajado juntos para muitos destinos do Brasil, sonhavam mais. “Tínhamos a pretensão de conhecer vários lugares em uma única viagem. Optamos pela Europa, uma vez que o continente facilita o trânsito para outros países”, comentam. Pesquisando e empolgando-se cada vez mais com a ideia de explorar o mundo, Thaís pediu a conta do emprego e, dentro de apenas dois meses, ela e Rafael planejaram o mochilão de suas vidas, sem data prevista para retornar e sem um roteiro definido – apenas com a Europa servindo de norte. Ela recorda: “ Tinha uma poupancinha, sem saber exatamente para quê, e Rafael também tinha algum dinheiro guardado. Mas, como não era grande coisa, começamos a procurar meios de baratearmos essa trip, foi aí que surgiu o turismo colaborativo”. Então, Rafael conheceu o site


Da esquerda para a direita: na Torre de Belém, em Portugal; em frente à London Eye, no Reino Unido; e na pausa para um lanche em Praga, na República Tcheca.

workaway.info – uma plataforma de trabalho voluntário, conhecida como work exchange, onde você presta algumas horas de ajuda para alguma família, fazenda ou algum estabelecimento em troca de alimentação e hospedagem. No Workaway, Rafael e Thaís criaram um perfil como casal, o que lhes deu acesso a uma lista de hosts mundo afora. O cadastrado pode filtrar a busca por interesse de região e tipo de trabalho a ser prestado. Em seguida, recebe e-mails com as datas para checar se a família ou o estabelecimento tem possibilidade/interesse de lhe acomodar. O casal levou consigo

apenas duas mochilas e uma embalagem a vácuo para objetos volumosos. Na bagagem, apenas o essencial, como, por exemplo, uma jaqueta quente, calça legging, blusa térmica para o frio e toalha de microfibra. Com total apoio de familiares e amigos, Thaís e Rafael deixaram o Brasil em 21 de agosto de 2017, rumo ao desconhecido e à aventura mais longa de suas vidas. Para compartilhar cada passo com amigos e familiares, criaram o perfil @caminhomundo no Instagram – uma espécie de diário de bordo online, contendo fotografias, dicas e informações de viagens.

Mochilando O primeiro país a ser explorado foi a Espanha. O casal ‘turistou’ alguns dias em Madri e foi para San Martin Del Camino, uma cidade pequena situada no Caminho de San Tiago da Compostela, para trabalhar em um albergue recebendo peregrinos por duas semanas. Conheceram, também, algumas cidades dos arredores, como Astorga e, depois, Barcelona. Sem roteiro pré-definido, usaram da lógica de qual seria o país mais interessante para seguir viagem, e se naquele lugar conseguiriam encaixar o voluntariado em troca de

hospedagem e alimentação. Deixando a Espanha, conheceram a região da Cote Dazur, ao Sul da França, onde fizeram trabalho voluntário em um hotel por cerca de quarenta dias e, então, Paris. Partindo da capital francesa, pegaram um ônibus para Amsterdam, capital da Holanda. “Por lá, ficamos hospedados por quase cinquenta dias na casa de uma família muito querida e especial. Era uma casa muito diferente, toda colorida, feita para as crianças. Todos os dias cozinhávamos juntos um prato de algum lugar do mundo. Em troca, cuidávamos da casa enquanto eles viajavam, e eu levava e

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Da esquerda para a direita: em Pi-leh Lagoon, na Tailândia; as duas mochilas do casal, apenas com itens essenciais; um registro em Veneza, na Itália. buscava as crianças na escola, de bicicleta. Rafael também ajudou a cuidar das crianças e, ainda, construiu uma porta para a família”. A família de Amsterdam convenceu os brasileiros a partirem sentido Ásia, mas os preços atrativos para o Egito, situado no continente africano, acabaram falando mais alto. Assim, antes de seguir para o continente asiático, o casal passou dez dias em Cairo, Luxor e Hurgada – uma praia localizada no Mar Vermelho. Enfim, o continente asiático e dois meses na Tailândia. Neste período, Rafael e Thaís realizaram dois trabalhos voluntários: um deles em um ho-

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tel de bangalôs em uma ilha, Koh Pangan, onde hospedaram-se por quarenta dias; e, depois de passarem alguns dias em Bangkok e Ayutthaia, mais um trabalho voluntário em uma fazenda, próxima à Bagkok. Ainda, visitaram as famosas Phi Phi Islands (Ilhas Phi Phi) que, nas palavras do casal, são “coisa linda de se ver”. Em seguida, dez dias de turismo na Malásia e dois dias em Singapura. De volta ao Ocidente, vivenciaram vinte dias no United Kingdon (Reino Unido), incluindo seu litoral, Swanage. O destino seguinte foi Ahreenshoop, na Alemanha, a fim de visitar um casal de amigos que fizeram

na viagem à Tailândia. “Passamos dez dias hospedados na casa desses amigos, situada bem ao Norte, no Mar Báltico, com a temperatura marcando -15ºC”, recorda Rafael. Depois do turismo em Berlim, estiveram alguns dias conhecendo a República Tcheca. Já na Itália, Thaís e Rafael viveram trinta dias de voluntariado em troca de alimentação e acomodação na região de Veneto, próxima à Veneza. Dali em diante, visitaram Milão, onde ficaram hospedados na casa de mais uma grande amiga que fizeram durante a viagem. Por fim, os brasileiros exploraram as cidades de Porto e Lisboa, em Portugal.

Estatísticas Retornando ao Brasil em 20 de abril de 2018, Thaís e Rafael somaram 8 meses, mais precisamente 241 dias, de aventuras. Visitaram 3 continentes (Europa, África e Ásia), passaram por 16 países e hospedaram-se em 13 deles (o que representa 8% do mundo), na respectiva ordem: Espanha, França, Mônaco, Holanda, Egito, Tailândia, Malásia, Singapura, Inglaterra, Alemanha, República Tcheca, Itália e Portugal. Ao final das contas, conheceram 44 cidades e percorreram, em média, 51.605 quilômetros.


Final da temporada de ski e inverno ainda com muita neve em San Martino de Castrozza, na Itália.

Experiências marcantes Dentre todos os cantos conhecidos, os brasileiros impressionaram-se com a qualidade de vida da Holanda. “Sua arquitetura é linda, o povo é muito educado e feliz, e faz absolutamente tudo utilizando bicicletas. Amsterdam foi, sem dúvidas, um lugar que nos conquistou, com exceção do frio”, comentam. Segundo os mochileiros, Tailândia também é um país incrível. “É de uma simplicida-

de e uma energia muito boa. As pessoas estão sempre dispostas a lhe ajudar. Lá, você vive o novo por completo, pois tudo lhe é diferente: a culinária, o trânsito, a cultura, as paisagens, o povo, tudo”, falam. Na Tailândia, Thaís apaixonou-se pela sopa de coco com frutos do mar; pelo pad thai – o macarrão mais famoso do país, comumente servido com legumes; pelos incontáveis tipos de molho curry; e, principalmente, pela papaya salad – uma salada feita de mamão

verde ralado, com tamarindo, tomate, fish sauce (molho de peixe), limão e muita pimenta. Ao olhar para trás, o casal confessa que desacreditava ir tão longe, e orgulha-se ao lembrar de tudo o que viveu

com tão pouco. “Para mim, que não falava inglês tão bem, a língua foi um aprendizado que, por si só, já valeu a pena. É incrível o quanto aprendemos viajando, com as pessoas e com os lugares.

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Da esquerda para a direita: na ponte de Rialto, Veneza, Italia; no Wat Pho, em Bangkok, Tailândia; em frente à um dos templos de Ayutthaya, Tailândia. Hoje, depois de uma experiência como essa, percebo o quanto somos ricos, espiritualmente falando”, diz Thaís. Assim como a namorada, Rafael também acredita que viajar é uma boa maneira de aprender e aperfeiçoar o idioma, conhecer pessoas e lugares diferentes, e aprender com eles, seja por meio de boas ou más experiências. Em suas palavras: “Com o trabalho voluntário, por onde você passa, deixa algo além da impressão pessoal, algo que as pessoas se lembrarão para sempre. Por exemplo, na Holanda, construí uma estrutura de drywall e instalei uma porta para separar dois cômodos da casa. Já na França, tiramos

fotografias para atualizar todo o portfólio de um site de vendas de um hotel, enquanto na Tailândia realizamos um trabalho com carpintaria, erguendo paredes de um bar/restaurante junto de outros voluntários. É muito bacana imaginar que parte de nós, algo feito com nossas próprias mãos, ainda permanece lá”. O inglês foi o idioma usado em todos os países. Rafael também é fluente em espanhol, o que foi bem útil na Espanha. Mas na França, onde moraram por quarenta dias com um casal de mexicanos e um casal de chilenos, Thaís teve a oportunidade de aprender espanhol, também. Por todos os países onde passaram,

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os brasileiros aprenderam a cumprimentar, despedir-se e a agradecer na língua local. Durante os 241 dias de imersão, Thaís e Rafael andaram de ônibus, trem, carro, metrô, barco, motocicleta e até a cavalo. Mas, conforme o casal, o mais marcante foram os amigos feitos pelos lugares: “São amigos que desejamos levar para a vida toda. Alguns deles acabamos reencontrando durante outro ponto da viagem, e muitos têm planos de nos visitar. Inclusive, Davina, uma francesa que conhecemos na Tailândia já veio nos visitar no Brasil”. Dicas Desapegar-se é um bom começo para embarcar em um

mochilão. “Quando você abandona seu guarda-roupa parece impossível viver apenas com uma mochila. Mas o desapego é necessário para nossas vidas. Durante a viagem, todos os itens que não usávamos frequentemente (considerando as intempéries) eram deixados para trás”, conta Thaís, “por exemplo, se tínhamos apenas cinco camisetas, mas estávamos nos virando apenas com três peças, a mais surrada era deixada”. Conforme os jovens, a experiência de trocar trabalho voluntário por alimentação e acomodação barateou muito a viagem, além de proporcionar uma real imersão nas culturas. Eles comentam: “Vi-


Da esquerda para a direita: Parc de La Ciutadella, Barcelona, Espanha; Musée du Luvre, Paris, França; Batu Caves, Malásia. venciamos a verdadeira rotina das famílias, comendo a mesma comida que elas, dormindo sob o mesmo teto e falando a mesma língua”. Utilizando a plataforma Workaway, Rafael e Thaís ficaram em lugares incríveis e viveram experiências impagáveis. Àqueles que procuram por dicas, informações e motivação para viajar, o casal encontra-se disponível para sanar qualquer dúvida através do Instagram @caminhomundo. Ainda, aconselham: “É necessário desapegar-se de coisas que parecem verdadeiras âncoras e começar a planejar, pesquisar e conversar, para sair da zona de conforto. Uma vez que virada a chave do mo-

chilão, o restante vai fluindo, desde que você esteja de peito aberto. Hoje, existem oportunidades para todos os bolsos e perfis. É importante lembrar que viajar nunca é um gasto, mas, sim, um investimento, já que lidar com o novo, o diferente e o desconhecido nos torna mais ricos de vida, memórias e experiências”. O que fica Ela, que sonha todos os dias em voltar nos lugares que conheceu, fala: “Pode parecer clichê, mas viajar nos torna mais sensíveis, mais cultos, mais adaptáveis, mais maduros, mais confiantes. Faz com que a gente lide melhor com os problemas e dê valor às

pequenas coisas”. Ele complementa a fala da amada: “Essa experiência, em especial, nos trouxe mais confiança e respeito pelas pessoas. Ficamos impressionados como muitas pessoas abriram as portas de suas casas para nós, demonstrando confiança. Isso despertava ainda mais nossa necessidade de compensar com uma boa ajuda e nos lembrava que existem, sim, pessoas de bom coração por aí”. Por diversas vezes, não sabiam qual rumo tomar ou como fariam para acomodar-se em determinado lugar, o que ensinou paciência e otimismo aos brasileiros. Hoje, Thaís vive no município de Itapoá (SC) e Rafael

em Guaratuba (PR). Depois de uma aventura que deixou-lhes ainda mais unidos enquanto namorados e amigos, planejam viajar a outros lugares, como Nepal e Índia. Mas, acima de tudo, os jovens de apenas 26 e 28 anos são fonte de inspiração para aqueles que sonham, buscam por respostas e pelo prazer de viver. Ao final de contas, aquele que retorna de uma viagem nunca é o mesmo que partiu – e, disso, Thaís e Rafael entendem bem. Acompanhe o resultado da jornada de Thaís e Rafael, somando 241 dias por 16 países, através do Instagram @caminhomundo.

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POR AÍ

História, arquitetura e belezas do Uruguai muito completa, que inclui dicas de passeios, restaurantes, bares, hotéis e até mesmo rotas online para GPS do Google Maps.

Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Viajar é um dos verbos favoritos do casal Thais Kristine de Espindola Andrade e Erick Araujo de Andrade, moradores de Itapoá. Em busca de um roteiro que permitisse uma experiência enriquecedora por um preço justo, optaram por conhecer o Uruguai – popular pela sua história, arquitetura e belezas naturais.

O

Uruguai tem sido um destino cada vez mais procurado pelos brasileiros. Seja pela curta distância, a fronteira com o Rio Grande do Sul ou pelas promoções incansáveis de passagens aéreas, o país

O casal Thais Kristine de Espindola Andrade e Erick Araujo de Andrade, fazendo turismo na Plaza Independencia (Praça da Independência), em Montevideo.

definitivamente está entrando na rota das nossas viagens. E não é por acaso, pois, apesar de pequeno, oferece atrações para todos os gostos, que normalmente “pescam” o viajante pelo estômago, pelo visual ou pela simpatia de seus moradores.

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A viagem de Thais e Erick foi planejada em dois meses e o roteiro de oito dias, que inclui Montevideo, Punta Del Eeste e Colonia Del Sacramento, foi previamente montado utilizando vídeos do YouTube e o site-guia “Melhores Destinos” – uma plataforma

Roteiro Chegado o grande dia, voaram de Curitiba (PR) para Montevideo, capital e maior cidade do Uruguai, onde ficaram hospedados no Hotel Laffayette. Com um carro alugado, o casal deu início à jornada de oito dias pelo Uruguai. Ainda em Montevideo, passearam pela Ciudad Veija (Cidade Velha), que concentra a maior parte das atrações, como o Teatro Solis e Puerta De La Ciudadela; conheceram restaurantes no Mercado do Porto; realizaram passeios na região metropolitana de Pocitos, que concentra boa parte de restaurantes, shoppings e casas noturnas; e, ainda, realizaram passeios pelas


Registros em frente ao famoso Teatro Solís, Ciudade Vieja, Montevideo, inaugurado em 1856.

Ramblas, avenidas litorâneas da capital uruguaia, com mais de 20 km de extensão às margens do Rio de la Plata (Rio da Prata), que banha Uruguai e Argentina. No terceiro dia de viagem, deixaram Montevideo a caminho de Colonia Del Sacramento, a cidade mais antiga do Uruguai, localizada às margens do Rio da Prata. A hospedagem no local foi escolhida com a ajuda do Airbnb – serviço online comunitário para as pessoas anunciarem, descobrirem e reservarem acomodações e meios de hospedagem. “Através do Airbnb,

Vielas e detalhes de Colônia do Sacramento, a cidade mais antiga do Uruguai, localizada às margens do Rio da Prata.

Monumento Los Dedos: parada obrigatória para quem visita Punta Del Este.

ficamos hospedados no Remus-Art Hostel, cuja proprietária era uma russa, que já tinha morado por toda a Europa, sendo ela uma aficionada por arte e cinema, que fez do hotel um verdadeiro museu, repleto de fotografias e obras de arte”, recordam. Durante os dias na charmosa cidadezinha, conheceram restaurantes locais, o centro histórico, o forte militar e apreciaram a tranquilidade das ruas de pedras, com carros antigos e casas de barro. Chegando ao quinto dia de viagem, Thais e Erick levaram aproximadamente seis horas

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Registros de Colonia Del Sacramento. Da esquerda para a direita: Farol de 1850; entrada e portal do Forte Militar; e Plaza de Toros.

de viagem – entre erros e acertos no trajeto, por conta da falta de sinal para atualizar o GPS, para chegar a Punta Del Este. No mais badalado dos balneários do Uruguai, o casal aproveitou para visitar a famosa Casa Del Pueblo, o monumento Los Dedos, a Marina, o Casino, Ramblas, além de belos restaurantes e cafeterias. Em Punta, a hospedagem ficou por conta do Spa Yoo, um quarto todo equipado, com acabamento de alto padrão e piscinas climatizadas – outro achado do Airbnb. Por fim, para não perder o voo de volta ao Brasil, os brasileiros retornaram a Montevideo, onde pernoitaram na

Casapueblo é a antiga casa de verão do artista plástico e arquiteto uruguaio Carlos Páez Vilaró, atualmente uma cidadela-escultura que inclui um museu, uma galeria de arte e um hotel chamado Hotel Casapueblo.

casa de um casal de uruguaia e francês, que também conheceram através do Airbnb.

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Dicas Conforme Thais e Erick, viajar pelo Uruguai com um

carro alugado foi uma boa opção. “Viajamos pela rodovia principal, que corta todo o país. Ela conta com boa sinalização, pedágios que podem ser pagos em pesos uruguaios ou argentinos, dólar ou real, e excelente estado de conservação, uma vez que o trânsito de caminhões é desviado para fora das pequenas cidades e regiões metropolitanas”, contam. O Airbnb, que tornou-se a principal plataforma para itinerantes como Erick e Thais, também entra na lista de dicas de viagem, já que oferece, em qualquer canto do planeta, preços atrativos, segurança e anfitriões idôneos, que passam por análises antes de


O casal fotografa e posa nas conhecidas Ramblas, avenidas litorâneas.

cadastrarem-se no site. Se você também deseja conhecer o Uruguai, anote as dicas valiosas do casal: “Aconselhamos trocar dinheiro e pagar tudo à vista, caso você procure descontos nos itens e serviços. Mas se optar pelo pagamento no cartão de crédito, pergunte sempre se o valor será cobrado em peso ou dólar. Se for alugar um carro, prepare-se para o alto preço do combustível, algo em torno de R$ 6,00 por litro em todo o país. Quanto à culinária, o Uruguai tem uma severa política contra o uso de sódio nos alimentos, portanto, os alimentos como carne, presunto,

Thais no Portal da Ciudade Vieja (Cidade Velha), em Montevideo.

batata frita e ovo cru, têm pouco sal. Procure voos diretos e, se comprar conexões, opte por comprá-las com a mesma empresa aérea. Também, é interessante comprar passeios pela internet antecipadamente, pois o turista, como em qualquer lugar do mundo, é a todo momento explorado financeiramente”. De volta a Itapoá, o casal trouxe souvenirs, comidas típicas, como alfajor, dulce del eche (o fabuloso e saboroso doce de leite uruguaio) e vinhos. “Mas o que pudemos trazer de mais especial dessa viagem foram as lembranças deste lugar incrível, que nos en-

sinou e nos surpreendeu, como, por exemplo, com a educação da população e a sensação de segurança por onde for”, conta Thais, que apaixonou-se pela arquitetura local, e Erick, que adorou degustar as famosas parrilhas (carnes) que, segundo ele, têm gosto peculiar e são ainda melhor que as carnes brasileiras. Para o futuro, o casal estuda qual será o destino das próximas férias, que coincidem com o aniversário de casamento: “Viajar é sempre um bom investimento. Conhecer culturas tão diferentes da nossa é uma experiência que nos engrandece muito”.

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POR AÍ

Viajando entre amigos e com baixa cilindrada

Em setembro de 2018, um grupo de amigos motociclistas de diferentes lugares uniu-se para uma aventura utilizando apenas motocicletas de baixa cilindrada. O idealizador da viagem, Dalton Richter Toledo Piza, também conhecido como Fofo, conta que diversão, adrenalina e amizade moveram os quase 1.600 km percorridos de Itapoá ao Rio Grande do Sul.

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Grupo de motociclistas de diferentes lugares, como Itapoá-SC, Joinville-SC, Curitiba-PR e Ilha do Mel-PR, realiza viagem até o Rio Grande do Sul com uma condição: utilizar motocicletas pequenas de, no máximo, 125 cilindradas. Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

O

apreço pelo motociclismo iniciou quando Dalton tinha 13 anos de idade, por influência de seu falecido pai. Mais tarde, apaixonou-se por motos de trilhas, tendo frequentado diversos encontros de trilheiros e sendo um dos fundadores do Italama – o primeiro motoclube de trilheiros de Itapoá. “Sempre

gostei da sensação de liberdade e da confraternização entre amigos que o motociclismo oferece. Seja em um passeio, uma trilha ou uma viagem, andar de moto faz com que me sinta mais feliz e mais vivo”, comenta. Com diferentes modelos de motocicletas Dalton chegou a realizar viagens sobre duas rodas, para lugares como Argentina, Peru e Deserto do Atacama, no Chile. Recentemente, teve uma ideia: “Nem todos nós, mo-

tociclistas, temos condições financeiras ou apreço pelas motocicletas grandes, então propus uma viagem entre amigos apenas com motocicletas pequenas de, no máximo, 125 cilindradas. Assim, todos poderiam participar em pé de igualdade e diversão”. A ideia foi acatada pelo grupo de amigos de diferentes lugares, como Itapoá-SC, Joinville-SC, Curitiba-PR e Ilha do Mel-PR. Partindo de Itapoá, o destino final – definido em consenso, foi a região da

Rota do Sol, que liga o litoral do Rio Grande do Sul à Serra Gaúcha, Canela, Gramado e os cânions de Itaimbezinho. A experiência Com duração de quatro dias, a aventura contou com mais de dez motociclistas (todos com motocicletas de poucas cilindradas) e um carro de apoio, para situações emergenciais e distribuição da bagagem. O foco dos amigos foi realizar uma viagem a baixo custo, prazerosa e divertida.

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No primeiro dia, saíram de Itapoá com destino a Arroio do Sal-RS, onde pernoitaram. No dia seguinte, atravessaram a Rota do Sol, visitaram Canela-RS e Gramado-RS, com pausa para dormir em Lajeado Grande-RS. Já no terceiro dia, conheceram o belo Cânion Itaimbezinho, o mais famoso de Cambará do Sul-RS, local onde percorreram cerca de 60 km em estradas de chão – a pernoite, dessa vez, aconteceu no Farol de Santa Marta, em Laguna-SC. O quarto e último dia foi reservado para deixar o Farol de Santa Marta e retornar à cidade de origem. Entre os amigos, estava Alessandro Gabardo, mais conhecido como Bunny. Apaixonado por motocicletas por influência de seu avô e de seu pai, para a viagem ao Rio Grande do Sul, Bunny escolheu uma Yamaha XTZ 125. Ele lembra: “Foi uma experiência incrível, de muita adrenalina, empolgação e responsabilidade”. Para ele, o frio da barriga que sentiu no caminho de Canela a Gramado – onde se depararam com doze horas de chuva forte, entraram em um trecho errado, percorreram caminhos sem

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GPS e má sinalização – será inesquecível. “É uma emoção muito grande, mas viver estes perrengues entre amigos não tem preço”, diz. Já para Fabiano Hempkemaier, de Joinville-SC, a experiência teve significado diferente pois, apesar de andar de moto desde a adolescência e competir em provas de Enduro (modalidade de motociclismo, praticada em pistas majoritariamente de todo-terreno), esta foi sua primeira viagem sobre duas rodas. Sua motocicleta Honda CG 125, comprada especificamente para a viagem, foi a mais antiga do grupo (com 25 anos). Com ela, Fabiano viveu boas aventuras: “alguns episódios me marcaram, como a tempestade que enfrentamos em Lajeado Grande, a visita ao Cânion de Itaimbezinho e a compra de um pelego de ovelha do meu amigo Fofo (Dalton), em uma casa com mais de 70 anos, em meio ao nada”.

Dalton, mais conhecido como Fofo, faz uma pausa na aventura uma selfie com os grandes amigos apaixonados por motocicleta.

Não espere o momento certo A viagem superou as expectativas: motociclistas sem lesões e motocicletas em perfeito estado. Para Fabiano, a


Chegando ao belo cânion de Itaimbezinho, lugar que encantou a todos. experiência de quase 1.600 km rendeu histórias que não cansará tão cedo de contar aos demais. Morador da Ilha do Mel-PR, onde não são permitidos motocicletas e demais veículos automotores, Irineu Guidolin é apaixonado por motos e, fora da Ilha, trabalha com carros de competição. Aos 58 anos de idade, foi o mais velho da turma e diz: “todos deveríamos, ao menos uma vez da vida, nos arriscar em

uma aventura como essa, pois um dia sentiremos falta do que ficou para trás”. Aos companheiros de duas rodas, ele se diverte ao dizer: “estamos juntos, nem que a roda entorte!”. Por fim, em nome de todos os amigos, Bunny deixa sua mensagem: “As pessoas passam muito tempo de suas vidas esperando. Esperam ter um dia melhor, uma condição financeira melhor, uma previsão do tempo melhor, uma

motocicleta melhor e, assim, o tempo passa. Acredito que, desde um curso de corte e costura, de culinária, uma viagem de moto ou o que quer que seja, todas as experiências são válidas e sempre nos trarão uma lição. No final das contas, o que vale, mesmo, serão sempre as lembranças, os aprendizados e as emoções. Por isso, não espere o momento certo, porque ele não existe. Se você tem uma moto Biz ou qualquer modelo de baixa cilindrada, independentemente de ano ou estado de conservação, revise a motocicleta, organize-se com o abastecimento e arrisque-se”.

Para os motociclistas, os sonhos devem ser sempre realizados e nunca existe momento ideal para tal. O momento ideal é agora.

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Quadrado, principal ponto turístico de Trancoso, na Bahia. Casinhas charmosas e coloridas formam uma praça retangular com aspectos do período colonial e folclóricos da região.

POR AÍ

Trancoso: um roteiro pela Costa do Descobrimento, na Bahia

S

Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Depois de narrar incontáveis histórias para a Revista Giropop, chegou a minha vez. Nesta edição, o “Por Aí” não é somente escrito, mas também vivido por mim, Ana Beatriz, junto de meu namorado, Jairo. O texto a seguir relata um pouquinho de nossa experiência em Trancoso, na Bahia. Que você faça boa leitura e inspire-se a visitar este lugar ‘danado de porreta’, que carrega muito da história de nosso país.

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Eu, Ana Beatriz, e Jairo, jantando à luz de velas, sob uma amendoeira e escutando forró. Momentos que só o Quadrado de Trancoso proporciona.

empre ansiei viajar para o Sul da Bahia, por motivos de: praias, clima, povo, história, cultura. Ao contrário de mim, que nunca havia sequer entrado em um avião, Jairo já viajou para muitos países, mas todos os seus destinos tinham sempre algo em comum: ondas para surfar. Ao final de julho de 2018, ele me telefonou dizendo: “arruma a mala que vamos viajar daqui a dois dias, mas o destino é surpresa, só posso adiantar que faz calor”. Obviamente, fiquei feliz, porque tinha muito anseio de viajar, mas nunca o havia feito por inúmeras questões, como


falta de planejamento, procrastinação e medo. Curiosa que sou, não sosseguei até que me contasse para onde iríamos. Para minha surpresa, essa não seria mais uma viagem de surfe, mas, sim, um dos destinos dos meus sonhos: Trancoso, na Bahia. Chegou o dia da viagem-surpresa, planejada em apenas dois dias. Embarcamos no frio do aeroporto de Curitiba (PR), fizemos conexão em meio aos prédios no aeroporto de Congonhas (SP) e, enfim, o avião pousou em uma área de um verde imenso, um céu azul e o mais legal de tudo: calor, muito calor. Ah, e sobre minha primeira vez em um avião, não me envergonho ao admitir que não contive as lágrimas, de medo, de emoção, de paixão, de alegria, enfim, de tudo um pouco. O lugar Trancoso é um distrito do município de Porto Seguro, situado no Sul da Bahia, e pertence a uma região chamada de Costa do Descobrimento. O local histórico teve origem no século 16, com a chegada dos portugueses e jesuítas no Brasil, que ali montaram uma aldeia, a princípio chamada de São João Batista dos Índios, com o objetivo de catequizar os índios da região e combater o contrabando de pau-brasil. Na década de 70, a vila foi descoberta pelos hippies. O tempo passou e o local foi ganhando mais fama, assim como mais investimento, até se tornar um destino internacional cinco estrelas. O curioso é que, mesmo depois de ser invadida por resorts, festas luxuosas e artistas, a região ainda mantém uma atmosfera hippie, com uma simplicidade visível, comércio rodeado de artesanatos e natureza abundante. Se você é noveleiro, deve ter visto as praias de Trancoso na última novela das 21h, Segundo Sol, da Rede Globo, ou até mesmo em um videoclipe

O artesanato é muito presente em Trancoso. Aqueles que confeccionam filtros dos sonhos costumam pendurar suas peças nas jaqueiras, amendoeiras e outras árvores centenárias. Ao fundo, a imensidão azul da Praia dos Nativos.

Cada estabelecimento do Quadrado é um espetáculo à parte, com portas e paredes coloridas, traços período colonial.

Durante a viagem, noites de Lua cheia iluminaram a histórica Igreja de São João Batista, situada ao centro do Quadrado. Construída em 1586, a igreja remonta ao trabalho dos padres jesuítas no Brasil-colônia. que a cantora Beyoncé gravou por lá. Há cerca de dois anos, Bill Gates ficou hospedado discretamente em Trancoso e é lá, também, que está situada a casa da cantora Elba Ramalho. Pode até ser que o local esteja na moda e bombe mais ainda no Ano Novo, mas fora de temporada, é uma paz que só. Nós, que estivemos por lá ao final de julho e início de agosto, visitamos praias com Entre o verde dos coqueipoucas pessoas e restauranros e o azul do mar na tes movimentados, mas não Praia dos Coqueiros. cheios. Para nossa alegria,

o clima da nossa viagem variou entre 29ºC e 34ºC, com dias de Sol forte, Lua cheia e céu azul. Fato engraçado foi que, enquanto eu estava de biquíni e Jairo sem camisa, a recepcionista da pousada estava de casaco e cachecol, reclamando da “frente fria baiana” (sabe de nada, inocente, rs). Cultura e história As praias de Trancoso são muito bonitas, rodeadas de vegetação e limpas (não vimos uma sujeira sequer na areia). A principal praia de Trancoso é a Praia dos Nativos, onde é possível sentar-se nos bares e resorts à beira-mar ou na beira do rio que deságua no mar, proporcionando água doce e rasa. É uma delícia ficar por ali, com vista para o mar e um pôr do sol lindo. Porém, se tudo o que você quer é calmaria, existe uma praia quase deserta a poucos minutos da Praia dos Nativos, é a Praia dos Co-

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queiros que, como o próprio nome já sugere, oferece uma paisagem paradisíaca. No coração de Trancoso está sua grande atração, o Quadrado, uma praça retangular com aspectos do período colonial, traços tradicionais e folclóricos da população. No Quadrado, é possível encontrar lojas de roupas, feiras de artesanato, bares e restaurantes de culinária típica, desde os mais simples até os mais requintados. Um visual formado por duas fileiras de casinhas charmosas e coloridas separadas pela Praça São João, onde há um campo de futebol, inúmeras amendoeiras e a Igreja de São João Batista, o ponto alto da história do local. Ir até o Quadrado em Trancoso é como experimentar uma viagem no tempo. Construída em 1586, a arquitetura da Igreja de São João Batista é uma herança colonial, remontando ao trabalho dos padres jesuítas no Brasil-colônia. A capela centenária possui altares originais, imagens de vários padroeiros e é palco de muitas cerimônias. Uma das características mais marcantes da igreja é a sua localização, em um jardim imenso, com um mirante. Logo atrás da catedral, uma vista eston-

teante do oceano, das praias, da foz do Rio Trancoso e do pôr do sol. Todos os dias de nossa viagem, seja durante o dia ou à noite, era sagrada a ida ao Quadrado. Durante o dia, gostávamos de ir ao mirante para admirar a paisagem amarelada com o Sol, o colorido das casinhas e as crianças jogando futebol; de noite, costumávamos sentar em um tronco para namorar a Lua cheia, provar da culinária baiana (eu a-mei o acarajé) nos restaurantes, nos encantar com a iluminação das velas e das luminárias nas árvores, ouvir música ao vivo e prestigiar a feira dos artesãos locais. Ressalva especial para duas noites no Quadrado: a primeira, quando fomos a um legítimo forró pé-de-serra, e a segunda, quando fomos surpreendidos com o grupo de Capoeira Sul da Bahia apresentando-se ao ar livre. Rio da Barra Um de nossos preciosos dias de viagem reservamos para realizar o passeio na

Assim como Itapoá, Trancoso também um lugar paradisíaco chamado Rio da Barra. Nas imagens, registros do passeio inesquecível nas falésias, rochas à beira-mar moldadas pela erosão marinha.

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praia do Rio da Barra, considerada um paraíso secreto escondido em Trancoso. Por seu caráter paradisíaco e assumidamente isolado, entre as praias da região, o Rio da Barra é um dos destinos favoritos dos famosos. Lá, há apenas um local com infraestrutura à beira-mar, o Rio da Barra Villa Hotel. Como desejamos passar um dia diferente, utilizamos o day-use do hotel, ou seja, não nos hospedamos nele, mas pagamos um valor mínimo de consumação para utilizar por um dia inteiro a estrutura de espreguiçadeiras, quiosques, guarda-sol, bar, restaurante, garçom, etc. O que mais nos encantou, além, é claro, de nos sentirmos os “donos da praia”, foi a localização pri-vi-le-gi-a-da. De um lado, as avermelhadas e brancas falésias (rochas à beira-mar moldadas pela erosão marinha) da Costa do Descobrimento; de outro, o Rio da Barra, com a diversidade e a beleza do manguezal, que alguns metros antes de sua foz forma uma enseada

com águas mornas e tranquilas, propiciando um banho de água doce com o mar para testemunha. Por ser uma opção mais luxuosa, o preço do consumo para o day-use no Rio da Barra Vila Hotel pode ser considerado um pouco alto, mas vale a pena. A comida é muito boa, as bebidas são deliciosas, o atendimento é excelente e a estrutura muito confortável.


Em um único dia, eu e meu amô tomamos banho de água doce e salgada, desfrutamos de momentos incríveis e cenários de tirar o fôlego, como o visual do alto das falésias – que estará em nossa memória para sempre.

escondida atrás de uma falésia, com pedras e recifes de corais, que formam piscinas em pleno mar. As águas da Praia do Espelho foram, sem dúvidas, as mais cristalinas de toda a viagem.

Praia do Espelho Em outro dia, realizamos o passeio para a Praia do Espelho e para a ilha de Caraíva. Optamos por fazer o percurso de carro, com um taxista, o que acabou sendo uma ótima ideia, pois o percurso era longe e a estrada bastante esburacada. No caminho, avistamos patos-selvagens, búfalos e até tivemos de dar a ré para dar passagem a um grupo de mulas. Mas o ponto alto do trajeto foi conseguirmos avistar a silhueta do Monte Pascoal – o primeiro ponto de terra avistado por Pedro Álvares Cabral e sua tripulação em 22 de abril de 1500, data do descobrimento do Brasil pelos portugueses. Chegando à Praia do Espelho, entendemos o porquê de esta ser considerada a terceira praia mais bonita de todo o Brasil. Para entender o apelido de “espelho”, visitamos o local durante a maré baixa, quando se formam piscinas naturais e é possível ver o reflexo do céu e das falésias na água. Então, para garantir, vale fazer como as meninas da pousada nos recomendaram e consultar a tábua de marés. No local, optamos pelo day-use no RestauUm registro em casal feito por um gar- rante Oribá, onde deiçom muito simpático do local. Por seu xamos nossos pertencaráter paradisíaco e assumidamente ces para caminharmos isolado, o Rio da Barra é considerado até a vizinha Praia dos um dos destinos favoritos dos famosos. Amores, que fica bem

Falésias, coqueiros gigantes, pedras e recifes de corais compõem a bela Praia do Espelho.

Na Praia do Espelho, conhecendo as águas azuis e cristalinas que dão nome à praia, enquanto Jairo relaxa e aprecia a paisagem estonteante.

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O colorido, a atmosfera hippie e a natureza abundante da ilha de Caraíva, em Trancoso Caraíva Deixando o Espelho, seguimos para Caraíva, uma ilha simples, rústica e ideal para quem deseja fugir do agito. Para chegar ao local, é preciso pegar uma carona nas canoas dos nativos da região e atravessar o rio Caraíva – um dos símbolos do destino e muito importante para a região. Segundo documentação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a comunidade de Caraíva é o vilarejo mais antigo do Brasil. Os primeiros portugueses chegaram ao local por volta de 1530 e na chamada Costa do Descobrimento viviam diversas tribos indígenas. Hoje, a ilha-vila de Caraíva possui pousadas, restaurantes, barzinhos coloridos e

cheios de artesanato, e ruelas cercadas de árvores centenárias. Como no local não passam carros, ônibus e motos, consequentemente, as praias são mais reservadas, proporcionando um clima de privacidade. Além disso, por não ter uma multidão de turistas, as areias são recheadas de conchas e vida. Em Caraíva, Jairo e eu caminhamos até a vila indígena Barra Velha, considerada a aldeia-mãe dos índios Pataxós (eles ainda vivem por lá, em conjuntos habitacionais) e avistamos a Ponta de Corumbau, considerada a praia mais isolada do Sul da Bahia. Também em Caraíva, a equipe da Rede Globo desejou gravar cenas da novela Segundo Sol, mas a associação de moradores locais se uniu e não permitiu, pois

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deseja manter o local assim: simples, rústico e preservado. Conforme moradores locais, Caraíva é considerada “a Trancoso de antigamente”, um refúgio para quem busca relaxar e fugir do agito.

Sorria gostoso, você está em Trancoso Assim, como diz o subtítulo, nos diziam os moradores locais, como um lema local. Falando nisso, o povo baiano é simpático, divertido, sorri-


dente, respeitoso, atencioso, talentoso, criativo, calmo, mas não preguiçoso. Certos nativos nos confessaram que ficam chateados com a imagem que a mídia mostra de sua gente. Um motorista nos disse: “A gente não gosta muito de xingar e falar alto como mostra a tevê, não. E também não somos preguiçosos. Eu, mesmo, levanto às 6h da manhã e tem dias que nem consigo parar para o almoço, pois estou só trabalhando”. Durante essa experiência deliciosa, ficamos hospedados na Pousada Jardim das Margaridas, um espetáculo baiano a parte, com pés de cacau, flores, borboletas, beija-flores e até saguis – aqueles macaquinhos pequenos. Além do atendimento excelente das meninas, piscina, biblioteca, café da manhã e da tarde, o bacana é que essa

Alguns registros da ilha-aldeia de Caraíva, a comunidade mais antiga do Brasil. Caraíva é um local muito calmo, colorido, com uma atmosfera hippie e de natureza muito preservada, onde vivem os índios pataxós.

pousada oferece transfer gratuito até o Quadrado durante a noite, mas a pé você leva apenas cinco minutinhos. Ao final das contas, mesmo sem ondas propícias para o surfe, Jairo adorou Trancoso, pois voltou repleto de inspirações para o uso da madeira (matéria-prima com a qual trabalha) e de conhecimentos sobre a história do Brasil. Eu, que já carregava grandes expectativas para este pedacinho da Bahia, tive todas elas superadas. Escrevi este relato de viagem poucos dias após voltarmos de viagem, e já estava registrada a saudade daquele Sol quente. Daquelas praias paradisíacas. Daquele colorido vivo das casas e comércios. Daquele sotaque baianês e daquela gente-sorriso. Daqueles bares tocando forró, axé e MPB. Daquela culinária apimentada e gostosa. Daquelas noites de Lua no Quadrado e das luminárias nas árvores. Mas, enquanto não tenho a Bahia de volta, está tudo bem. O que vale é ainda ter Jairo, meu amô.

De Trancoso, apenas os registros fotográficos feitos pelo meu fotógrafo favorito. Mas o melhor desse lugar está em nossas memórias.

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MÚSICA

Otti MC lança “Hipnose”, seu primeiro EP Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Quem vê Jadiel Miotti do Nascimento no dia a dia, em Itapoá, talvez desconheça seu sucesso enquanto Otti MC – alcunha para suas métricas, melodias, flows e levadas. Com apenas 23 anos e formado em Direito, Otti canta, compõe, já venceu batalhas de rimas, lançou músicas, videoclipes e até foi indicado pelo site RND (Rap Nacional Download) como uma das promessas do rap para 2019. Em breve, lançará seu primeiro EP, “Hipnose”, com sete faixas que convidam os ouvintes a fazerem reflexões, e transmitem mensagens de positividade.

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Jadiel Miotti do Nascimento, de Itapoá, é Otti MC, uma das apostas de 2019 para o rap catarinense.


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esde cedo, Jadiel foi influenciado pela mãe a cantar na igreja. O rap, por sua vez, surgiu por intermédio dos irmãos mais velhos, que escutavam canções do gênero. Na escola, especialmente nas aulas de português, o menino descobriu intimidade com as palavras e a poesia. “A arte das palavras me apareceu como refúgio, alcova particular que me ajudava a vivenciar meus próprios dilemas”, comenta. Durante o curso de Direito, Jadiel conheceu Daniel, um amigo que compunha rap com muito talento e lhe incentivou a criar seus próprios versos. Tão logo passou a participar de batalhas de rimas na região, onde chegou a consagrar-se campeão. Tempos depois, Otti produziu e lançou à mídia duas músicas: “Chocolate e Avelã” e “Remanescente”, que, juntas, somam aproximadamente 18 mil acessos no YouTube. Com teor lírico e conteúdo poético, suas músicas convidam os ouvintes ao amor e à reflexão. “Visualizo minha

Da esquerda para a direita: Otti MC, Mineiro, Casas e Javã - parte do coletivo 7ª Praga. evolução muito mais em meu conta que suas referências trabalho e em mim, enquanto mais frequentes estão senser humano, do que propria- do o rapper Matuê, devido a mente com as conquistas ob- influência melódica e a catidas por intermédio do rap, pacidade popular de atingir pois amadureci muito nos qualquer público, e o rapper dois sentidos”, diz. Quando Djonga, pela ampla capacidao assunto é inspirações, ele de lírica.

Carreira Ao longo da trajetória, Otti MC ganhou experiência, absorveu novas concepções musicais, lançou as músicas “Me Reergui”, “Excalibur” e “Quanto Tempo Faz” – essa última, com aproximadamente 500 mil visualizações no YouTube; lançou dois videoclipes próprios, de “Me Reergui” e “Campeão”; dividiu o mic (microfone, na linguagem do rap) com MC’s renomados, como Clara Lima, Chris, da banda 1 Kilo, com o projeto “SC no Mapa” e com Leto Die, em seu EP “Olhos Tristes”; e, ainda, dividiu o palco com artistas consagrados, como Xamã, os grupos 1 Kilo e Haikaiss. Todos esses feitos, somados à identidade lírica consolidada, aos flows variados e às referências icônicas, fazem de Otti um dos grandes destaques do rap catarinense. “Muitas pessoas já contribuíram com minha carreira. É muito importante agradecer algumas pessoas, como Bruno Fabil, youtuber do canal Planeta Novo, que me abriu diversas portas e ajudou a propagar meu nome; ao meu

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produtor, Ojizzy, que sempre somou e me trouxe experiência; e ao meu coletivo, a banca Sétima Praga, onde formei uma nova família”, destaca. Envolvido com a carreira musical, buscou profissionalização de todas as etapas de criação, produção e divulgação. “Venho aprendendo muito com a música, mas o maior presente que ela me trouxe foi a autodescoberta de poder ajudar o próximo”, conta Otti, “a musicalidade tornou-se um dos pilares de minhas canções, que buscam sempre equilibrar referências temáticas, boas melodias e vivências”. Projetos futuros “Hipnose” será o primeiro EP de Otti MC, lançado ainda neste mês de janeiro – é este também o nome da primeira faixa, que faz alusão ao estado, metaforicamente, em que muitas pessoas vivem, presas ao preconceito e constantemente manipuladas. “Com a mixtape, haverá a libertação desse estado. Afinal, se for para que sejamos hipnotizados, que seja

Para Otti MC, o maior presente que a música lhe deu foi a autodescoberta de poder ajudar o próximo.

por boas músicas”, fala o MC. O EP terá sete faixas com temas distintos, atendendo a diferentes públicos. “Este vem sendo um período muito agitado, pois concilio uma vida de estudo e trabalho, moro em Itapoá e produzo em Joinville. Mas tenho a certeza de que está valendo a pena, o resultado está muito bom”, garante o rapper, que ainda pretende lançar muitas outras músicas e videoclipes, especialmente em parceria com a banca Sétima Praga. Para o ano de 2019, Jadiel Miotti, o Otti MC, investirá todas as suas fichas na carreira musical, focado em, um dia, poder viver da mú-

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sica. Espalhando sua mensagem por onde passa, Otti conclui: “Tenho convicção de que a música é minha vocação e meu legado a ser deixado. Estou me esforçando muito para conquistar meu espaço e levar o nome de minha cidade, Itapoá, nas alturas”. Com previsão de lançamento para o dia 10 de janeiro de 2019, o EP “Hipnose” estará disponível em todas as plataformas musicais. Acompanhe o trabalho de Otti MC nas mídias: Instagram – @otti_mc YouTube – Otti MC


To bem cansado de tanta caçada, que salga essa selva é Sahara, canalha No fio da navalha faço punch line Equilíbrio nas linhas, tipo slackline To na rap vibe, tipo Reptile, soltaram a coleira do rottweiler Otti fighter 24 horas salvo meu país, que sou Jack Bauer

HIPNOSE Quebrei MTV, Terror em Amityville Minha alma em cada linha, Minha vida tá por um fio Sinta minha cólera, Cavaleiro Seya Eu continuo de bronze, ouro sujo não vale a pena Cinema mudo, povo não muda, sempre a procura de um santo escolheram o Collor e para acabar no preto e branco pagamos pelos todos seus roubos... Vale lembrar De Jesus crucificado no lugar de Barrabás

Eu vou fazer minha parte, igual Marthin No fight da rua Executado como mártir, nunca enforcado igual Judas Me ajuda, tirem os falsos da minha volta Pq não sou Harry Potter pra entender língua de cobra Refrão: Entrando em transe, excitando a mente Somos ignorantes, presos em correntes Entrando em transe, excitando a mente Sem ignorantes, live-se das correntes Hipnose... Se fala em segurança, mas só ouço vingança Eles tão revelando todo ódio enrustido Vários justiceiro e vejo semelhança Ao cidadão de bem que aplaudiu a morte de Cristo

Tá tudo errado é fato desequilíbrio ou mundo Só 1% possui 99% de tudo Mas ó que absurdo... De 4 em 4 anos ignorância vence no primeiro turno Mas ó que absurdo... Mas de 4 em 4 anos o povo esquece pq tem copa do mundo Caneta aqui Machado e vou descendo a lenha Eu vou tirar a coroa e vou descer na arena Pensando bem, nem vale a pena É muita Covardia por o Tayson contra peso pena Sou prole poesia dos livros de Alexandria Otti não é Pavarotti, mas rege com maestria ninguém duvidaria, que minha parte eu ia fazer Se tu tbm quer mudança, então começo por voce Entrando em transe, excitando a mente Somos ignorantes, presos em correntes Saindo do transe, exercício da mente Sem ignorantes, live-se das correntes Hipnose...

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APAIXONADOS POR ANIMAIS

Uma família, quatro cães e muito amor Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

A pauta “Apaixonados por Animais” dessa edição conta a história de Denise Batista e Luciane Agner, moradoras do município de Itapoá-SC. Elas são “mães” dos cães Paco, Petra, Norma e Lufa – um quarteto que apronta muitas peripécias, dá muito trabalho, mas, também, muita alegria.

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e Ponta Grossa-PR, Denise e Luciane são parceiras de vida e sempre gostaram de cachorros. Luciane, inclusive, trabalhou em uma clínica veterinária durante oito anos. A irmã do meio de Denise, que trabalha como tosadora profissional na cidade de Guarapuava-PR, tinha uma fêmea da raça labrador que deu cria à cachorra Yumi. Em 2011, a labradora Yumi, por sua vez, teve nove filhotinhos, entre eles estavam os irmãos Paco, Petra e Norma. A princípio, Luciane e Denise ficariam apenas com Petra, a labradora de pelagem creme escuro, mas pegaram Paco, o labrador de pelagem preta, para doar a um amigo. Foi então que notaram algo

Família feliz reunida. Da esquerda para a direita: Gustavo; Daiane - que está fazendo carinho na labradora Norma; dona Eugênia; Denise - que está com Lufa em seu colo e Paco à sua frente; e Luciane fazendo carinho na cachorra Petra. de diferente no cachorro: “Quando os dois irmãos completaram seis meses, Petra já subia e descia do sofá com faOs irmãos cilidade, enquanto Paco tinha labradores dificuldades para movimenPaco e tar-se. Quando o levamos ao Petra, veterinário, descobrimos que compatinha sopro cardíaco”, recorda nheiros Denise que, sem pestanejar, até na decidiu ficar com o irmão de hora da Petra, também. foto. Há aproximadamente quatro anos, Denise e Luciane trouxeram Norma, a labradora de pelagem creme claro, irmã de Petra e Paco, para viver com elas em Itapoá. A nhia dos quatro cachorros: os já viveram ao lado dos “filhos pequena Lufa, sem raça defi- labradores e irmãos Paco, Pe- de quatro patas”. nida, surgiu há cerca de dois tra e Norma, e a vira-lata Lufa. anos, adotada pela irmã de Em conversa com a família de Limitações de Paco Denise, Daiane Batista. apaixonada por cães, as irDepois de uma bateria de Hoje, Denise vive com a mãs Denise e Daiane, Lucia- exames, Paco foi diagnosticamãe, dona Eugênia, em uma ne e dona Eugênia recordam do com displasia coxofemoral casa no Pontal, na compa- os sustos e as aventuras que – uma condição esquelética

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causada por má formação da articulação do quadril e também por tecidos moles próximos, ou seja, a musculatura, tendões e ligamentos da região. Com isso, a junção entre a bacia e o fêmur não se desenvolve corretamente. Por consequência, ao invés de deslizar suavemente durante os movimentos, as partes acabam se esfregando uma na outra. A patologia, infelizmente, não tem cura, mas para aliviar as dores do cão, durante um bom tempo Denise e Luciane levaram Paco semanalmente a Joinville-SC, com o objetivo de realizar tratamentos paliativos, como acupuntura e ozonioterapia – tratamento que consiste na utilização do gás ozônio como agente terapêutico. Tempos depois, o cão Paco também apresentou outros problemas de saúde, como artrose, artrite e até mesmo rompeu o ligamento do joelho. Com a artrose, desgastou e quebrou seu cotovelo, por isso, manca e sente muita dor ao andar. Denise, que se emociona facilmente ao contar a história de Paco, recorda: “Foram incontáveis idas a Joinville para trata-lo, e muitas idas a Curitiba para leva-lo ao médico veterinário. Ao todo, Paco passou por quatro grandes cirurgias, muitos tratamentos e dieta na alimentação, para controlar seu peso. Em todos estes anos, já tivemos de gastar muito dinheiro para cuidar dele, mas ele nos ensinou o verdadeiro significado de amor entre cães e seres humanos”. As aventuras do quarteto Como é de praxe entre irmãos, os quatro “filhos” de Luciane e Denise também têm personalidades diferentes. Elas contam que Petra é a mais geniosa e agitada,

Paco, Petra e Lufa acompanhando o café da tarde. Na casa de Denise e dona Eugênia, os cachorros são da família. adora brincar com bolas. Ela tem epilepsia e toma medicamentos diários para evitar convulsões. Quando está sozinha na cozinha, todo cuidado é pouco: Petra já fisgou pão caseiro, costela de carneiro e até um peixe-espada. Denise também conta episódios memoráveis das peripécias da cachorra, como o dia em que ela brigou com um porco-espinho e ficou com o focinho repleto de espinhos, e o dia em que Denise comprou um carro novo e Petra arranhou todo o capô no mesmo dia da compra. Segundo Luciane, Norma é a mais carente dos cachorros, e adora pedir carinho. Ela também já aprontou poucas e boas, como o dia em que engoliu uma água-viva – até hoje possui sequelas por conta das queimaduras sofridas. Recentemente, a labradora Norma passou a apresentar as mesmas características de Paco, com certa dificuldade para movimentar-se. Falando nele, Paco é o mais mimado dos cachorros e quer a atenção toda para ele. O cão toma medicamentos diários para aliviar a dor que

sente ao andar, e não consegue acompanhar as irmãs nas brincadeiras. “Muitas vezes, enquanto os outros cachorros estão passeando ou brincando, ele fica comigo, eu cuidando dele e ele cuidando de mim”, conta dona Eugênia, que tem Paco como seu companheiro. Mas se você pensa que Lufa, a única vira-lata dentre os labradores, sofre por ser menor, aí é que se engana. Daiane conta que Lufa, pequenina diante dos demais, é a mais esperta, a mais brava, territorialista e dominadora. Em comum, os quatro cães compartilham da alegria de brincar na areia da praia e na água do mar. Nos momentos à beira-mar, Paco, especialmente, esquece que é manco e adora correr para a água. Guarda compartilhada Os cachorros vivem com Denise e dona Eugênia, mas aos finais de semana Luciane os visita para dar banho e levar para passear, assim como Daiane, que sempre que possível passeia com o quarteto. “Os cachorros moram comigo,

mas são de todas nós. A ajuda delas é muito importante”, comenta Denise. Aos finais de semana, todas se reúnem para dar banho, passear, brincar e cuidar dos cachorros. Em uma “guarda compartilhada” dos cães, nada mais justo que dividirem, também, as despesas. Paco, Petra e Norma só comem ração light e cada pacote de ração é dividido entre Luciane, Denise e Daiane. Os cães também adoram comer beterraba, maçã, banana e brócolis (com exceção de Petra, que volta e meia rouba algum alimento que lhe foge à dieta). Além dos quatro cães, a família procura sempre ajudar outros animais de rua, de vizinhos ou amigos. Atualmente, adotaram mais três cachorros – dois pitbulls e um yorkshire – e três gatos, todos adotados porque os donos não podiam mais cuidar. Por conta da convivência com Paco, Petra, Norma e Lufa, os pitbulls acabaram sendo encaminhados a outra casa, mas onde vivem Denise e dona Eugência continua sendo um lar de muito amor e muitos animais. Atualmente, a cachorra sem raça definida, Lufa, tem quatro anos de vida, os irmãos Paco, Petra e Norma têm sete anos de vida. A mãe e a avó dos labradores ainda estão vivas (a primeira com dez anos, e a segunda com treze) em Guarapuava, sob os cuidados da irmã de Denise. Mesmo com todos os gastos financeiros e todo o desgaste emocional das doenças e peripécias dos quatro “filhos de quatro patas”, Denise enche os olhos para falar o que eles representam em suas vidas: “Eles nos enchem de amor e gratidão por cuidarmos dele, são seres dependentes que jamais devemos abandonar. São nossos amigos para todos os momentos”.

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artesanato

Artesanato com plantas, conceito e sustentabilidade

Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Na pauta “Arte Solidária” da edição de janeiro, conhecemos a história da artesã Glades Luiza Salvador Stonoga, de Itapoá-SC. Apaixonada por artesanato e botânica, Glades cria vasos e cachepôs com madeira reaproveitada – peças que dão ainda mais charme às plantas, unem beleza e sustentabilidade.

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ascida no município de Francisco Beltrão-PR, Glades iniciou no trabalho manual por influência de seu falecido pai. Em entrevista à revista Giropop, recorda: “Nas horas vagas, meu pai criava artesanatos e eu ficava admi-

A artesã Glades, de Itapoá, e seu esposo Luiz Alberto, que lhe ajuda na confecção das peças. rada, lhe observando. Volta e meia ele permitia que eu ajudasse a lixar e pintar as peças e, assim, me apaixonei”. Anos depois, Glades mudou-se para o município de Garuva-SC, mas sempre alimentou o sonho de, um dia, viver em uma cidade litorânea. A oportunidade sur-

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giu no ano de 2016, quando passou a residir no município de Itapoá. Já apaixonada pelo artesanato, conheceu outra paixão: a botânica. Em sua casa, gosta de plantar flores e outras espécies, em busca de um contato mais próximo com a natureza. Aliando as duas pai-

Peças com matérias-primas reutilizadas são o forte da artesã. xões, Glades passou a criar belos vasos e cachepôs, para que as plantas cresçam ainda mais charmosas e saudáveis. Com o conceito de sustentabilidade, a artesã utiliza-se de madeiras reaproveitadas. “Gosto de garimpar pedaços de madeira na beira da praia ou pedaços de portões, me-


Em seu mix de produtos, a artesã Glades cria uma infinidade de prateleiras, vasos e cachepôs, todos feitos com madeira reaproveitada. sas e cadeiras já comprometidos. Também, utilizo bambus para criar os vasos e conchas para fazer os detalhes”, conta. As peças criadas por Glades recebem ajuda de seu marido, Luiz Alberto Stonoga, e podem ser encontradas tanto em sua casa quanto em floriculturas do município. Recentemente, a artesã formalizou sua atividade para poder

participar de feiras. “O artesanato é minha fonte de renda extra, que me faz muito feliz. Mais que valor material, é onde extravaso minhas emoções e minha criatividade”, diz Glades, que adora estar em contato com a arte e com a natureza. Campanha Arte Solidária Glades Luiza Salvador Stonoga é uma das artesãs

cadastradas junto ao Departamento de Cultura, da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura. Nesta edição de janeiro, foi sua vez de doar uma peça de sua autoria para a campanha Arte Solidária – iniciativa da Revista Giropop. Para indicar artistas e artesãos locais que também queiram divulgar seus trabalhos na revista Giropop em troca de uma doação para a

campanha, envie um e-mail para redacao@giropop.com. br com um breve resumo sobre o trabalho artístico, foto e telefone para contato. Para conhecer melhor o trabalho artesanal de Glades e adquirir uma de suas peças, consulte-a através do número 47 99906-4874, ou vá até sua residência, na Rua 180, número 54, na Barra do Saí.

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Itapoá e sua história (parte XV)

História não é o que passou, mas o que ficou do que passou.

A

região que abrange o atual município de Itapoá reserva algumas particularidades interessantes. A começar por estar inserido geologicamente no microcontinente Itapoá-São Francisco do Sul, o qual por volta de 500-600 milhões de anos colidiu com o microcontinente Luis Alves. Após a referida colisão estabeleceu-se uma zona de sutura entre os terrenos da região de Joinville e aqueles de Itapoá e São Francisco do Sul. Tal sutura está atualmente representada por rochas intensamente fragmentados em consequência de forças tectônicas que se desencadearam com terremotos e vulcanismo. Na linha da sutura está encaixado o rio São João no município de Garuva, bem como os canais do Palmital e Linguado. (Atlas Ambiental da Região de Joinville). Primeiro, através da tradição oral transmitida de geração em geração, depois com os registros da escrita chegou até nós que esse espaço físico fora ocupado primitivamente pelos ‘’sambaquianos’’ sucedendo-os os índios carijós da grande nação tupi-guarani. A área de atuação da tribo carijó estendia-se da Lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul a Cananéia no Estado de São Paulo. Por sua vez o norte do Brasil era marcado pela presença Tupi e o Sul pelos guaranis. Como provas incontestes de suas passagens deixaram os sambaquis, cuja etimologia do nome remete a ‘’tambá’’ que significa conha e ‘’aqui’’ que significa monte. Esses montes de conchas resultavam do consumo de ostras, mariscos, berbigões e outras espécies sempre depositadas pelos aborígenes num mesmo local. Ao longo de gerações ganhavam dimensões surpreendentes. Um desses sambaquis se encontra na margem direita da Estrada Cornelsen, no quilômetro quatro de quem se dirige a Itapoá, e mede 60x100 por 17 metros de altura. Constituiam-se nos únicos lugares secos e arejados nas planícies úmidas e eram pouco acessíveis aos mosquitos e serpentes venenosas. Além de servir para chão de casas, também se transformavam em pontos estratégicos para observar a aproximação dos inimigos e cardumes de peixes. Esses primitivos habitantes não co38 | Janeiro 2019 | Revista Giropop

nheciam o metal, pois os objetos neles encontrados eram feitos de pedra, ossos, madeira ou barro. Os sambaquis guardam uma página da Pré-História, ou seja, da História ainda não escrita. Somam um total de quinze nos municípios de Garuva e Itapoá, inclusive o mais antigo da região com 5420 anos. Esses povos indígenas que desde tempos remotos aqui viviam passaram a receber pela estrada marítima outras gentes, especialmente portugueses. Segundo estudiosos da História eles aqui chegaram bem antes de 1500. Portanto, este não seria o ano do descobrimento, mas sim do ‘’desocultamento’’ do Brasil. Explica-se a divergência de datas pelo fato de que espanhóis e portugueses rivalizavam-se em relação as descobertas, buscando, amparados na Lei do Sigilo, ocultar do concorrente todo e qualquer novo êxito obtido. Tanto que os lusitanos só anunciaram oficialmente a descoberta do Brasil em 1500 depois que os espanhóis revelaram ter chegado a América. E o fizeram porque o Brasil era de vital importância no reabastecimento das naus a vela que se deslocavam para as índias seguindo as indispensáveis ‘’voltas do mar’’. Garantindo a posse das terras estavam garantindo o lado estratégico de suas operações marítimas. As correntes marítimas do Oceano Atlântico, juntamente com os ventos dominantes, determinavam as rotas dos veleiros. Os pilotos portugueses e espanhóis conheciam as duas grandes ‘’voltas do mar’’, a do Atlântico Norte em sentido horário, e a do Atlântico Sul, em sentido anti-horário. O conhecimento das grandes rotas de navegação constituía-se em segredo de Estado. O Tratado de Tordesilhas firmado entre Portugal e Espanha em 1494 refor-

ça a tese de que bem antes de Cabral ser trazido pela Corrente Sul Equatorial para oficializar o domínio sobre as terras brasileiras aqui estiveram outros portugueses em missão não oficial. A prevalecer em nossos dias esse acordo firmado no século XV, determinando os limites da América para a melhor exploração entre duas nações ibéricas, nossa realidade geográfica no que tange as divisas entre países poderia ser outra, pois essa linha colocava as localidades de Três Barras, Urubuquara, Palmital, Garuva Acima, Caovi e o Centro, no lado espanhol. Por outro lado Barrancos, Baraharas, Sol Nascente e Bom Futuro, juntamente com Itapoá ficariam do lado brasileiro. Então de acordo com os estudos e artigo publicado pelo Professor Gleison Vieira, Itapoá poderia ser fronteira de um país de língua espanhola. A linha de Tordesilhas perdeu a sua razão de ser em 1580, quando, por direito sucessório, o Rei da Espanha, Dom Felipe, assumiu também o trono português, passando portugueses e espanhóis a ser súditos de um mesmo monarca. A União Ibérica perdurou até 1640 quando ocorreu a restauração do Reino de Portugal. Como é sabido, Portugal foi muito além do lado espanhol, de modo que em 1750, o Tratado de Madrid estabeleceu basicamente as atuais dimensões do Brasil, que abraça boa parte da Floresta Amazônica. Terra de efetiva riqueza os portugueses começaram por comercializar uma madeira nobre denominada pau-brasil e ‘’brasileiro’’, no século XVI, era aquele que negociava com pau-brasil, não era o que nascia no Brasil. Em verdade, nós teríamos de ser brasilenses ou brasileses. OPINIÃO Itapoá privilegiadamente tem em seu território vários museus a céu-aberto. Um deles é de facílimo acesso e de potencial turístico – educacional infinito, bastando buscar junto ao Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional as orientações para transformá-lo num ponto de visitação mediada agregando ganhos para o município. Reportamo-nos aos ‘’sambaquis’’ do quilômetro quatro da estrada Cornelsen.




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