Revista Giropop - Edição 75

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Editorial ddd

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HISTÓRIA

Quando Itapoá se torna cidade Por Augusta Gern

26 de abril de 1989. Há 30 anos atrás Itapoá se tornou município. A terra cheia de riquezas e tradições, que já havia pertencido à São Francisco do Sul e depois à Garuva, neste dia foi emancipada. Essa história está presente nos ensinamentos da Escola, na fala dos moradores e até mesmo viva na memória de quem presenciou o fato. Mas você sabe como isso realmente aconteceu e quanto esforço foi necessário? Quem nos conta essa história é Ademar Ribas do Valle, primeiro prefeito de Itapoá, um dos protagonistas desse marco, que foi construído com o trabalho, dedicação e amor de muitas pessoas. Emocionado, ele lembra: “Esse povo tem uma garra muito grande, Itapoá foi construída com muito amor”.

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elos olhos de Ademar, essa história iniciou em 1970, quando chegou a Itapoá. Na época, aos 19 anos de idade, veio para trabalhar no cartório. En-

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tre as lembranças, está uma praia maravilhosa, com muitos metros de extensão (que até poderiam pousar aviões), sem energia elétrica, com vizinhos há pelo menos 1.500 metros de distância e uma

única venda para comprar as coisas. Mesmo quase sem estrutura, já ficou entusiasmado com a cidade, vista por ele como um tesouro. “Naquela época, o senhor Romário, pai do Seu Lelé, já falava das profundezas da Baía e que um dia um Porto poderia se instalar aqui”, recorda. Dois anos em Itapoá e Ademar já estava envolvido na política. Até então, Itapoá pertencia ao município de Garuva e alguns vereadores representavam o distrito. É importante lembrar que, mesmo com uma distância relativamente pequena, uma estrada era é a ligação entre as duas comunidades e, por muitas vezes, Itapoá não recebia a atenção que merecia. Em 1972, com as eleições do governo municipal de Garuva, Ademar assumiu a intendência de Itapoá, ou seja, representava a comunidade na Prefeitura de forma voluntária. Na eleição seguinte, em 1976, concorreu como verea-


Foto tirada por Ademar Ribas do Valle em uma das reuniões, aonde eram discutidas as estratégias, para convocar a população para emancipação. Esquerda para direita: Niltom José Speck, vereador em Garuva (1983 a 1988) por Itapoá, no centro da mesa Ilton Zagonel, vice-prefeito em Garuva; Valdemir Schwartz, Osvaldo Rieper e Ivo Zagonel.

14 de maio de 1986, momento da entrega do abaixo assinado para emancipação do plebiscito para criação do município de Itapoá ao presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, Stélio Cascaes Boabaid. Na foto o deputado Osni Piske e o presidente da Comissão Ademar Ribas do Valle. Ato de instalação do Distrito de Itapoá, em 28 de setembro de 1968, presidindo a cerimônia (em pé) o juiz da Comarca de Joinville Francisco de Oliveira; a esquerda, desembargador e Presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (?); vereador e presidente da Câmara de Vereadores de Garuva, José Ossowski; a direita, prefeito de Garuva Dórico Paese, e o juiz da Comarca de Joinville (?).

dor e foi eleito. Foi então que surgiu a ideia para a emancipação da cidade. Primeiro, começou a estudar as possibilidades legais e entender as articulações políticas, e a ideia foi sendo alimentada ao longo do tempo. Nesse período como vereador, lembra alguns marcos: “Em 1977 foi criada a CERVIL – Cooperativa de Eletrificação Rural do Vale do Rio do Itapocu, com sede em Guaramirim, e contou com um importante aporte de recursos pela Asso-

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ciação dos Amigos do Bairro Uirapuru, através do grupo Bamerindus”, conta. A partir disso, em Itapoá a rede de energia foi construída em 1977 e, no dia 4 de novembro de 1978, foi inaugurada e energizada. O tempo passou e o objetivo da emancipação ganhou força entre os moradores de Itapoá. Ademar lembra então a data de 14 de maio de 1986, o prazo constitucional para ingressar com o abaixo-assinado requerendo a emancipação de Itapoá à Assembleia Legislativa de Santa Catarina. “Fomos apoiados e representados pelo Deputado Estadual Osni Piske, que acreditou nos anseios da população do Distrito de Itapoá, através da Comissão pró-emancipação”, lembra. Na época, pelo período eleitoral, o processo teve que ser interrompido, mas foi nessa data que as atividades iniciaram ativamente. É aí que a história ganha muitas mãos: foi um trabalho comunitário, em conjunto, de muitos amantes de Itapoá. Foi aí que criaram as associações comunitárias, como a ACOPOF, por exemplo, e todos lutaram juntos. “Quando tinha uma reunião na Assembleia, a gente lotava até dois ônibus e íamos todos juntos. Certa vez, em função do grande número de pessoas, usamos um caminhão furgão para todos poderem ir até Florianópolis”, recorda. E mais: “depois de enfrentar uma estrada horrível e um dia cansativo, todos já estavam juntos novamente logo cedo, era muito bonito de ver”, reforça Ademar. O trabalho era intenso: estavam frequentemente na Assembleia Legislativa para conseguir apoio dos deputados para abrir o processo de emancipação. Além de

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26 de abril de 1989. Itapoaenses presentes na Assembléia Legislativa, para aprovação do projeto de lei da criação do município de Itapoá, na tribuna o deputado Francisco Mastella.

Governador Casildo Maldaner, sancionando a Lei 7586 da criação do município de Itapoá.

Itapoá, outros 17 distritos de Santa Catarina iniciaram o mesmo movimento e começaram a trabalhar juntos, para unir forças. “Foi um trabalho de formiguinha, tínhamos apenas um posto telefônico via rádio e os contatos com os outros distritos eram feitos à noite, quando o telefone/rádio pegava melhor”, conta. Depois de muitas viagens e muita luta, conseguiram a primeira conquista e o processo foi aberto. A primeira tarefa era fazer o primeiro plebiscito na cidade. Na época, Itapoá tinha 1.512 eleitores; o resultado tinha que ser metade dos votos mais um, a favor da emancipação. A primeira votação foi em 18 de outubro de 1987 e foi positiva. De acordo com Ademar, foram 956 votos a favor da emancipação, 97 votos brancos e 46 nulos. Com o resultado, a Assembleia Legislativa aprovou o projeto de lei sobre a criação do município de Itapoá e dos outros 17 distritos, entretanto, a emancipação não ocorreu. “O governador da época, atendendo o pedido de companheiros do partido da região vetou o projeto de lei de Itapoá e também de Forquilhinha, no sul do estado”, lembra. Mas isso não foi motivo para desistirem, o grupo de emancipadores resolveu unir ainda mais forças e continuar. Em 1988 surgiu a ideia de chamar a atenção através do jornal. Ademar conta que Pier Luigi Marsigli e sua esposa Neusa, jornalista, convidaram vários amigos jornalistas de Curitiba para um almoço à beira mar. “Entre os convidados estava o deputado federal Airton Cordeiro, a quem fiz o clamor de levar à Câmara Federal o nosso pedido de passar para o estado do Paraná, mesmo sabendo dos


Governador Casildo Maldaner, recebe da comissão de emancipação uma placa de agradecimento após a Cerimônia Solene de Criação de sanção dos municípios. Ao seu lado, repórter Amaury Junior do Jornal A Notícia, Ademar Ribas do Valle e Ângelo de Souza (in memoriam), presidente da Colônia de Pescadores de Itapoá. impeditivos constitucionais”, conta. O pedido foi registrado e publicado no jornal Gazeta do Povo e Ademar aproveitou a publicação para reforçar os trabalhos da emancipação: comprou 80 exemplares do jornal e passou três dias em Florianópolis, de gabinete em gabinete, comentando sobre os anseios do povo de Itapoá. O fato de que Itapoá estava querendo passar para o Paraná chamou atenção e deu resultados: “O deputado Ivan Cezar Ranzolin, autor do projeto de lei de Itapoá, foi para a tribuna e defendeu a imediata criação do município”, lembra. Com isso, conseguiram então fazer o segundo plebiscito. Foi em 4 de setembro de 1988 e, mesmo com oposições fazendo força contra, o resultado foi positivo: 732 à favor da emancipação, 50 votos contra e 31 votos brancos ou nulos. Assim, no dia 26 de abril de 1989, foi sancionada a lei estadual n. 7.586, criando o município de Itapoá. A comemoração não poderia ter sido diferente: mais uma vez uma grande comitiva de Itapoá foi

até Florianópolis participar do ato solene. “Não poderia ter sido de outra forma, pois foi o povo que fez o município”, afirma Ademar. Com o resultado da emancipação, em 1 de janeiro de 1990 o município foi instalado junto com a eleição presidencial. Ademar Ribas do Valle assumiu então a prefeitura, que na época teve uma votação acompanhada por sete vereadores. “Tivemos então que iniciar tudo por aqui”, conta. Ademar lembra que a cidade tinha poucas pessoas formadas: “Homens e mulheres, pescadores, agricultores, pedreiros e comerciantes, o povo humilde e trabalhador que se uniu e com grande dedicação conseguiu”. E é aí que está o segredo da nossa cidade: construída por muitas mãos, muito trabalho, dedicação e amor. Como diz Ademar, houve um grupo forte de emancipadores, que fizeram toda a diferença: é por eles que hoje a cidade existe. Fica então a homenagem e o agradecimento a cada um que acreditou e lutou por essa conquista!

Deputado estadual Dércio Augusto Knop (1986 a 1990), recebendo também uma placa de agradecimento da comissão de emancipação. Na foto, a esquerda, deputado estadual João Matos e ao seu lado Hélio Valmor Correa, membro ativo da comissão. E a direita, Melinda Zagonel e Ademar Ribas do Valle.

Parte da comitiva da comissão de emancipação de Itapoá presentes no ato da sanção, em Florianópolis, em frente a Assembléia Legislativa.

Solenidade de diplomação do primeiro prefeito, vice prefeito e vereadores de Itapoá em Itapoá. Na foto Juiz Diretor da Comarca e Juiz Eleitoral Erico Borges e o primeiro prefeito eleito Ademar Ribas do Valle.

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itapoá 30 anos | Domingos dos Santos

História e tradição, de geração em geração Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Não há quem more na Barra do Saí e não conheça Domingos dos Santos (67), mais conhecido como Mingo da Barra. Em uma tradição que ultrapassa gerações da família dos Santos, Mingo marcou a história do município de Itapoá, sendo o primeiro vice-prefeito eleito na cidade.

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eria impossível narrar a história de Domingos dos Santos sem lembrar seus falecidos pais, Maria Caldeira dos Santos e Inácio Porfírio dos Santos. Antigos moradores da comunidade do Saí-Guaçu, em Guaratuba (PR), Maria e Inácio tiveram quatro filhos: Ricardo, Domingos, João (já falecido) e Rosa – todos nascidos em casa, com a ajuda de uma parteira. Pouco tempo depois, a família mudou-se para a região que conhecemos hoje como Barra do Saí, em Itapoá. Conforme Mingo, naquele tempo existiam apenas oito casas na região. Seus pais, Maria e Inácio, sustentavam a família através da pesca e da roça. “Foi uma infância difícil. Nosso pai pescava no rio Saí Mirim, enquanto nossa mãe

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trabalhava na roça na companhia dos quatro filhos pequenos. Desde cedo, ajudávamos nossos pais a plantar arroz, cortar mandioca, confeccionar rede de pesca, entre outras atividades”, lembra. Foram muitos os feitos de seu Inácio, pai de Mingo, para a população de Itapoá. Na época, convidado pelo prefeito de São Francisco do Sul (SC), assumiu o cargo de inspetor local, quando Itapoá ainda pertencia ao município de Garuva (SC). Tendo o diálogo como sua principal arma, Inácio – que, apesar de inspetor local, realizava o trabalho de um policial – trabalhou durante vinte anos zelando pela harmonia da população, apar-

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tando brigas e, muitas vezes, levando os presos a pé. Seu pai, Inácio, também foi responsável por viabilizar a primeira escola da Barra do Saí. “Como ele sabia ler e escrever levou ao prefeito de São Francisco do Sul uma lista de crianças em idade escolar. O prefeito, por sua vez, lhe forneceu todo o material necessário para que iniciasse uma escola. Sem formação para assumir o cargo de professor, ele (Inácio) percorreu toda a praia, da Barra ao Pontal, à procura de uma professora para lecionar às crianças da Barra do Saí. Foi na casa do pai de meu pai, meu avô, com a professora Jurema Gonçalves, moradora do Pontal, que começou a primeira escola da Barra do Saí”, explica Mingo que, apegado ao pai, acom-

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panhou de perto sua luta por benfeitorias na Barra do Saí. Fazendo história Mais tarde, Mingo tornou-se comerciante, assumindo a venda de secos e molhados de seu pai por aproximadamente dez anos. Ainda, fez história promovendo durante cinco anos o famoso ‘Baile do Mingo’, na Barra do Saí. “Trazia bandas de Joinville (SC) e de Itapema do Norte para tocar vaneira, salsa e samba. Era diversão garantida para a população. As famílias iam aos bailes acompanhadas das crianças e a festa acontecia até o amanhecer”, conta, “aquilo, sim, era festa de verdade”. Domingos casou-se com Bernadete Pinheiro dos Santos (hoje, divorciados), com quem teve quatro filhos: Marcelo Pinheiro dos Santos, Adriano Domingos dos Santos, Daniela Domingos dos Santos Novaes e Carina Pinheiro dos Santos. Naquele tempo, em suas idas rotineiras ao cartório de Itapoá, Mingo fez amizade com Ademar Ribas do Valle, líder do movimento de emancipação de Itapoá. Interessado na autonomia da cidade, Domingos dos Santos, o Mingo, compôs a comissão de emancipação, enquanto Inácio Porfírio dos Santos, seu pai, atuou na condição de coadjuvante da comissão principal. Os longos anos de luta de Ademar, Domingos, Inácio e outros tantos resultaram na emancipação de Itapoá, pela Lei Estadual Nº 7.586, de 26 de abril de 1989. Vida política Conquistada a emancipação, o conhecido ‘Mingo da Barra’ foi convidado a candidatar-se a vice-prefeito, ao lado de Ademar Ribas do Valle. Com 1.030 votos, Ademar e Domingos foram eleitos,

poá, no ano 2000, Domingos ingressou novamente na política, sendo um dos nove vereadores eleitos para a gestão de 2001 a 2004, ao lado do prefeito Ervino Sperandio e da vice-prefeita Maria do Rocio Cunha Aguiar. Neste período, Mingo participou ativamente da construção do trapiche da Figueira do Pontal, e promoveu, pela primeira vez em Itapoá, o estudo do supletivo na Escola Euclides Emídio da Silva, na Barra do Saí. “Para instaurar o supletivo em Itapoá era preciso um documento com, no mínimo, 25 assinaturas de interessados no estudo. Com o documento em mãos, obtive 46 assinaturas. Foi uma conquista de grande importância para a cidade, pois muitos munícipes almejavam vagas de trabalho, mas não tinham o Ensino Médio completo”, lembra.

Momento da posse do Prefeito Municipal de Itapoá, Ademar Ribas do Valle e do vice Domingos dos Santos.

Transmissão de cargo para o vice-prefeito em 5 de julho de 1991. respectivamente, os primeiros prefeito e vice-prefeito de Itapoá. “Foi muito trabalhoso, pois começamos tudo do zero. Tínhamos apenas uma máquina e um caminhão, já deteriorados, mas muita força de vontade para fazer Itapoá crescer”, lembra Mingo que, neste período, tomou as rédeas para que fosse, enfim, construída a Escola Municipal Euclides Emídio da Silva, na

Barra do Saí. Ainda enquanto vice-prefeito, batalhou pela construção do campo de futebol, em Itapema do Norte. Para evitar a instabilidade política, uma vez que a emancipação ocorreu ao final do mês de abril de 1989, o mandato da primeira eleição, chamado de “mandato-tampão”, durou três anos, de 1990 a 1992. Na quarta eleição em Ita-

Novos caminhos Concluindo seu trabalho pelo município de Itapoá, Domingos emitiu o registro junto ao Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) e dedicou-se exclusivamente ao ramo imobiliário, no qual já atuava há cerca de 30 anos. Hoje, aos 67 anos, Mingo está aposentado, mas permanece trabalhando em seu escritório, Domingos dos Santos Corretor de Imóveis, situado na Barra do Saí. Pai de quatro filhos e avô de sete netos (quatro meninas e três meninos), gosta de passar o tempo livre na companhia da família. Por fim, Domingos dos Santos, o Mingo da Barra, declara: “Amo Itapoá e não consigo ficar muito tempo longe desse lugar. Adoro caminhar pela Barra do Saí, reencontrar as pessoas que fizeram e ainda fazem parte da minha vida. Tenho muito orgulho de ser itapoaense”.

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itapoá 30 anos | GILMAR DA SILVA

Pesca, vereança e a ‘Ambulância da Colônia’ Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Seja como pescador profissional, vereador eleito no primeiro mandato ou motorista de seu carro particular – veículo carinhosamente apelidado pela população de ‘Ambulância da Colônia’, Gilmar da Silva (74), também conhecido como Gilmarzinho, fez história no município de Itapoá.

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o município de Barra Velha (SC), viviam Izabel Joana da Silva e Otávio Gerôncio Correia (já falecidos). Lá, o casal tirava o sustento da vida na roça e teve sete filhos – dentre eles, Gilmar da Silva. “Meu pai tinha um amigo que vivia em Itapoá e, certa vez, viemos visita-lo. Chegando aqui, minha família gostou do que viu: muitos peixes para pescar e muitas terras para plantar. Foi então que decidimos ficar”, recorda Gilmar que passou a morar em Itapoá aos 15 anos de idade. Ele conta que, antigamente, o município era semelhante a um sertão de cinquenta anos atrás: “Não tinha nada, só mato. À beira-mar, existiam cerca de quinze casinhas cobertas de palha, e a população pescava, plantava e, em

foto 1 seguida, se alimentava de peixe com farinha de mandioca”. A família Correia da Silva, que trabalhou durante anos na roça em Itapoá, comprou redes de pesca, canoas e iniciou na atividade. “Eu, meu pai e meus irmãos mais novos pegávamos de tudo: pescada, corvina, linguado, camarão e por aí vai”, fala Gilmar, que aos 18 anos emitiu sua carteira de pescador profissional junto à Capitania dos Portos. Comunidade pesqueira Já entrosado com a comunidade pesqueira, Gilmar se fez presente na construção da Colônia de Pescadores, sendo secretário da mesma durante quatro anos. Com o passar do tempo, adquiriu um carro, um Fusca, que era chamado carinhosamente pela população de ‘Ambulância da Colônia’,

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uma vez que Gilmar levava voluntariamente a população para realizar consultas em Joinville (SC), Guaratuba (PR), Garuva (SC) e onde mais precisasse. Em meados dos anos 70, a diretoria da Colônia de Pescadores adquiriu, de fato, uma ambulância devidamen-

te equipada. E, todos os dias, lá estava Gilmar na direção da ambulância de verdade, transportando voluntariamente os munícipes. Também, orgulha-se ao lembrar que a Colônia de Pescadores, da qual fazia parte, foi responsável pela chegada do primeiro médico e do primeiro dentista na cidade. Vivendo durante 33 anos à beira-mar, em Itapema do Norte, e participando ativamente da Colônia de Pescadores, Gilmar da Silva, o Gilmarzinho, fez seu nome na pesca. Apesar de ser pescador profissional durante quarenta anos de sua vida, Gilmar não se vestia como tal. Vaidoso, gostava de andar pelas ruas itapoaenses com roupa social, cabelo cortado, barba feita e portando uma maleta. “Quando eu passava, as pessoas comentavam ‘esse que é o advogado?’, e eu me divertia, pois era só um pescador. Até tentei trabalhar com outras coisas, foto 2


mas como sempre guardei os sábados para adorar a Deus, tive dificuldade de conseguir um emprego. Então, fiquei na pesca mesmo”, diz. Vida Casou-se com Teresinha Borba da Silva (66) que, por sua vez, veio de Guaramirim (SC) para Itapoá logo na adolescência. “Nós nos conhecemos pela janela, pois éramos vizinhos”, contam Gilmar e Teresinha, que completam, neste ano de 2019, 50 anos de casados. A união deste amor gerou frutos: os filhos Joacir Borba da Silva, Eliane Borba da Silva e Cristiane Borba da Silva. Ainda, Gilmar e Teresinha são avós de oito netos. A Escola Nereu Ramos, inicialmente, funcionava onde é hoje a Colônia de Pescadores – nas palavras de Gilmar, a escola era situada “em frente à Pedra do Meio” (Segunda Pedra). Quando a escola surgiu, não havia um professor para lecionar aos alunos. Gilmar, que sabia ler e escrever, foi, então, professor da escola durante certo tempo. Em muitas de suas lembranças, Gilmarzinho recorda que foi dele a primeira bicicleta de Itapema do Norte, bem como o segundo carro do bairro. Ele também diz a origem da frase “Itapoá, pedra preciosa sendo lapidada”: “Essa frase foi criada por José Correia, meu parente, pois sua filha, Eunice, participava da gincana municipal e havia uma prova em que os gincaneiros precisavam criar um slogan para a cidade. Mais tarde, essa frase compôs o hino municipal de Itapoá, cuja letra é de José Sluminski”. Vereança “Sou adventista do sétimo dia e sempre cultivei o espírito cristão de ajudar o próximo. Acho que por esse

foto 3 motivo que, quando Itapoá foi emancipada, em 1989, decidi me candidatar a vereador, para ter meios de fazer ainda mais pela população”, conta Gilmar, um dentre os nove vereadores eleitos na primeira eleição da história de Itapoá, eleito com 61 votos pelo PDS. Neste primeiro mandato, Gilmar recorda as dificuldades: “Não tínhamos nada. Nós, vereadores, nos reuníamos em uma sala alugada, no bairro Itapoá, enquanto a prefeitura acontecia no espaço onde é hoje o Corpo de Bombeiros”. Em uma pastinha, Gilmar guarda carinhosamente todos os requerimentos feitos por ele enquanto vereador, como, por exemplo, o requerimento nomeando a rua Otávio Cipriano, em homenagem ao seu falecido pai. Mas, dentre todos os papéis, um deles é especial: “Na época, a Prefeitura Municipal de Itapoá oferecia bolsa de estudos

foto 4 para os munícipes cursarem o magistério nas cidades vizinhas. Para facilitar as coisas, tivemos a ideia de abrir um curso de magistério aqui mesmo, em Itapoá. E assim aconteceu. Muita gente se beneficiou do curso de magistério, que passou a acontecer na escola Nereu Ramos. Ali mesmo, em frente à Pedra do Meio”. Com o fim do mandato, que durou de 1990 a 1992, Gilmar dedicou-se exclusivamente à pesca. Voltou a envolver-se com a política somente em meados de 2010, trabalhando como assessor parlamentar do ex-vereador Daniel Weber, na Câmara de Vereadores de Itapoá. Ele conta que sente saudade do tempo da vereança, mas não da Itapoá de antigamente: “Era tudo muito mais difícil. Levávamos duas horas de Itapema do Norte ao Pontal e, lá, tínhamos de pegar uma canoa para atravessar

até São Francisco do Sul (SC), seja para ir ao médico ou comprar uma camisa”. Além de pescador e vereador, Gilmar também era conhecido como ‘homem do microfone’, uma vez que realizou a locução de muitos eventos importantes para o município de Itapoá. Em agosto deste ano, Gilmar irá completar 60 anos de Itapoá. Hoje, aos 74 anos de idade, vive junto da esposa em Itapema do Norte. Gosta de passear, viajar, descansar, curtir a família e cultivar acerolas, frutas do conde, canas, maracujás, açaís, entre outras delícias de seu quintal. Ainda que tenha nascido em outra cidade, Gilmar da Silva, o Gilmarzinho, se considera itapoaense: “O amor por este lugar que me manteve aqui por todos esses anos. Não gosto quando as pessoas falam mal dessa cidade. Se falarem em minha presença, eu retruco, pois amo e defendo Itapoá”.

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itapoá 30 anos | Pedro José de Souza

Tino empreendedor e um pedaço de paraíso Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Mais que um comércio, o Bar do Pedro, em frente à Primeira Pedra, em Itapema do Norte, é referência para moradores e turistas. Seu proprietário, Pedro José de Souza (69), foi empreendedor, vereador e ajudou a escrever a história da nossa querida Itapoá.

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ilho de Maria dos Santos Souza e Delaldino João de Souza (já falecidos), Pedro nasceu no município de Tijucas (SC). Aos 13 anos de idade, quando seu pai faleceu, decidiu sair de casa para morar junto do irmão, em Joinville (SC). Trabalhou durante certo período em uma empresa de ônibus até retornar para a cidade natal, onde passou a trabalhar cortando cana na palhada. Aos 19 anos, Pedro tinha um emprego fixo em uma empresa de cerâmica, estava em um relacionamento sério e fazia planos de se casar com a moça, também de Tijucas, até que a vida mudou completamente seus planos. Certo dia foi a Joinville no batizado de sua sobrinha. Era a época da Copa do Mundo de 70 e, após o batizado, ele

foto 1 e seus familiares foram a um barzinho, assistir a transmissão dos jogos. “Ao lado do bar, tinha uma casa, onde avistei uma moça, uma ‘gata’. Naquele momento, me apaixonei por ela”, recorda. A tal gata, que Pedro conheceu em plena Copa do Mundo de 70, era Selma Martins de Souza. Filha de Etelvina Martins e Arnoldo Martins (já falecidos), Selma nasceu e cresceu no município de Itapoá, mais precisamente em uma casa situada em cima da Primeira Pedra – hoje, ainda é possível encontrar os degraus da antiga casa sob as pedras. Sem pensar duas vezes, Pedro voltou à sua cidade natal, deixou seu emprego e sua atual namorada para viver em Joinville e namorar Selma, que vivia em Itapoá. “Quando conheci aquele canto (onde fica hoje o Bar do

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Pedro) me encantei. Aquela área pertencia a um tio de Selma, que estava querendo vendê-la. Na época, não pude comprá-la, mas não tirei aquilo da cabeça”, conta. Eles se casaram e partiram para Joinville. Por oito anos, Pedro trabalhou na Fundição Tupy como montador mecânico, passando por líder de sessão e chegando a supervisor. “Sou semianalfabeto, mas tenho facilidade em me comunicar e muita vontade de vencer na vida. Acho que por isso sempre fui bom em trabalhar”, diz. Ainda em Joinville, Selma e Pedro tiveram dois filhos, Reginaldo de Souza e Denise de Souza Zagonel. Eles estavam à espera da filha Adriana de Souza quando, enfim, Pedro negociou a casa do cantinho paradisíaco, em frente à Primeira Pedra.

À beira-mar Já com o objetivo de abrir um comércio, em 1977, Selma e Pedro chegaram a Itapoá para viver em frente à Primeira Pedra, em Itapema do Norte. Além de Reginaldo, Denise e Adriana, tiveram mais dois filhos, Ronaldo de Souza e Tatiane de Souza. Conforme Selma, antigamente, existia apenas umas dez casas de pescadores à beira-mar. Ela lembra: “Vivíamos em um espaço de 6x6. Metade era nossa casa, e na outra metade montamos uma mercearia”. Em seguida, o local transformou-se em bar e peixaria. Nas palavras de Pedro: “Eu cuidava do bar e Selma da peixaria. Compramos canoas e tínhamos pescadores que trabalhavam conosco. Todos os dias, saíam caminhões lotados de peixe para as cidades próximas. Naquele tempo, o mar era uma fartura que só. Já vimos pescador pegar cação de 360 quilos, tartaruga de 700 quilos, arraia de 1.200 quilos... Todos estes anos à beira-mar dariam um livro. Está tudo aqui, em minha memória”. O casal do Bar do Pedro contribuiu para o crescimento da cidade. Já naquele tempo, trazia professores da Univille (Universidade da Região de Joinville) para treinar sua equipe de garçons e cozinheiras. Também, ficava situado no Bar do Pedro um dos primeiros telefones da região de Itapema do Norte. O agito aos finais de sema-


na ficava por conta dos campeonatos de futebol. Selma, que era esportista, jogava no time feminino do Itapema Futebol Clube. Ela recorda que, certa vez, os três times (feminino, masculino e infantil) do Itapema F.C. foram campeões, e a festa, como era de praxe, aconteceu no Bar do Pedro. Para movimentar o comércio, Selma e Pedro traziam bandas, trio elétrico e promoviam festas no bar. “A gente agitava Itapoá”, recordam. Política Em Itapema do Norte, poucas famílias tinham carros. Geralmente, quando alguém precisava ir à maternidade, ao hospital ou quando era preciso buscar os policiais, procurava por Pedro ou Gilmarzinho (Gilmar da Silva), que, prontamente, usavam seus veículos particulares para ajudar toda a comunidade. Chegado o momento da primeira eleição da história de Itapoá, Pedro foi convidado a se candidatar a vereador. “Adorava ajudar a população, mas não queria entrar para a política, o fiz para preencher vaga. Ao final das contas, fui eleito pelo PMDB com 116 votos”, recorda. Quando assumiram o poder executivo e legislativo, em janeiro de 1990, o primeiro ato do prefeito Ademar Ribas do Valle, do vice-prefeito Domingos dos Santos e dos nove vereadores eleitos foi decretar estado de emergência, pois a enchente da época e as péssimas condições das estradas, aliado à falta de maquinaria, não deixavam outra alternativa. Enquanto vereador, Pedro lutou pelo progresso da cidade. Naquele tempo, ele e os demais vereadores já trabalhavam em prol do Porto Itapoá e pelos terrenos da

1958 - Vila dos Pescadores

foto 2 Gleba, destinados aos pescadores. “Sempre acreditei que lugar de vereador é em meio ao povo. Todo mês era sagrada a visita da Barra do Saí ao Pontal, e do Pontal ao Saí Mirim, para conversar com a população, conhecer suas reais necessidades para, depois, lutar por elas”, conta. Com o fim do mandato, Pedro foi tesoureiro da APP (Associação de Pais e Professores) da Escola de Ensino Básico Nereu Ramos por cinco mandatos consecutivos e, depois, tornou-se presidente da mesma. “Nesse tempo, o

Nereu Ramos era uma potência. As festas na escola paravam a cidade. A cada festa era a coisa mais linda”, conta. Tempos depois, na quinta eleição em Itapoá, Reginaldo de Souza, filho mais velho de Selma e Pedro, foi eleito vereador no mandato que durou de 2005 a 2008. Inspiração Em 2012, Pedro e Selma arrendaram o conhecido Bar do Pedro e passaram a viver na região do Samambaial. “Gosto daqui, é bom sossegar um pouco. Mas quase todos

os dias vou até o bar. Temos boas lembranças naquele cantinho da praia”, diz Pedro. Casados há 48 anos, pais de cinco filhos e avós de cinco netos, Selma e Pedro fizeram história no município. Ele, que gosta hoje de passear, pescar, viajar e falar bem de Itapoá por onde passa, não economiza elogios à esposa: “Nunca fizemos nada sozinhos, eu ou ela. Sempre fomos nós dois juntos. É verdade quando dizem que por trás de um grande homem há uma grande mulher. Selma sempre foi uma mulher forte e muito trabalhadora”. Mesmo semianalfabeto, ao lado da esposa, Pedro José de Souza teve mercearia, peixaria, gerenciou canoas, promoveu eventos, foi vereador, teve bar e restaurante por trinta e cinco anos. Com tino empreendedor, sua história de vida serve inspiração para muitos comerciantes de Itapoá. Hoje, aos 69 anos de idade, Pedro declara: “Vivo bem com o que tenho para viver. Mas, melhor ainda é quando você vive bem e o seu semelhante, também. Para mim, aí é que está o segredo de um bom vereador ou de um bom comerciante, não visar apenas o seu próprio benefício, mas principalmente do próximo”.

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itapoá 30 anos | Carlos Augusto da Silva

Memórias de um ex-vereador e caminhoneiro Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Futebol e caminhão sempre foram as atividades favoritas de Carlos Augusto da Silva (55). Sendo um dos vereadores eleitos logo na primeira eleição de Itapoá, Carlos era conhecido entre os jovens da época.

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ano era 1973 e Aracélia Teresinha Mocker (já falecida) e Carlos da Silva deixaram o município de Guaramirim (SC) para viver em Itapoá, na companhia dos cinco filhos, Diocinei, Carlos Augusto, Sérgio, Margarete e Adriana. Carlos Augusto, que naquele tempo tinha seis anos de idade, recorda: “Em Guaramirim, morávamos em uma casa grande, bem localizada e tínhamos energia elétrica. A única televisão da rua onde morávamos era a tevê que meu pai comprou. Aos domingos, nossa casa ficava cheia de gente, todo mundo reunido para assistir à novela. Em Itapoá, passamos a morar em uma meia-água e a

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cidade não tinha rede elétrica, era tudo à base da vela ou do lampião”. Na região de Itapema do Norte daquele tempo, Carlos Augusto recorda que existiam poucas casas, a maioria coberta de palha, e o Hotel Pérola – o único lugar que já tinha gerador e telefone na região. Como seu pai já pescava em um rio em Guaramirim, chegando a Itapoá tirou sustento da pesca. Mais tarde, a família comprou um bar que transformou em mercearia e peixaria – e é lá que seu Carlos da Silva toca, até os dias atuais, a Peixaria Silva. No município litorâneo ao Nordeste de Santa Catarina, Carlos Augusto teve seu primeiro emprego na loja de Materiais de Construção Weber, de Carlito Weber. Em seguida, trabalhou por seis anos com seu Osvaldo, na primeira empresa de terraplanagem do município de Itapoá. “Eu fazia de tudo: aterrava, transportava, dirigia o caminhão, recebia, pagava, atendia...”, lembra Carlos Augusto, que sempre gostou de caminhões e dirige desde os 17 anos de idade. Carlos e Sinara Spricigo da Silva namoravam. De Orleans (SC), Sinara chegou a Itapoá em 1988, quando tinha 15 anos de idade. Ela recorda: “Eu o conhe-


ci quando ele trabalhava na madeireira. Todos os dias eu o via carregando o caminhão. Dentro de um ano passamos a namorar, noivamos e nos casamos”. Durante certo tempo, Carlos e Sinara tiveram uma sorveteria em Itapoá. Da união de quase 30 anos de casados, nasceram as filhas Mabel Spricigo da Silva e Mabiele Spricigo da Silva. Futebol e política Enquanto seu pai ficou conhecido na comunidade pesqueira, Carlos Augusto ficou popular com o futebol. “Sempre gostei muito de jogar bola. Muitas vezes, tirei dinheiro do meu bolso para levar a turma a campeonatos fora de Itapoá. Isso que me dava prazer”, diz. Na época, existia o time Itapema Futebol Clube, e Carlos ajudou a fundar o time Beira-Mar Futebol Clube, também de Itapema do Norte. Ainda, gostava de frequentar os tradicionais bailes da região, como o Baile do Saí Mirim e o Baile da Bernarda, no Pontal. Por conta da pesca de seu pai e do futebol, tornou-se conhecido entre os jovens. Ele, que votou a favor da emancipação política de Itapoá e já era filiado ao PFL antes mesmo da primeira eleição do município, se candidatou a vereador e foi eleito com 65 votos. “Só soube que havia sido eleito dois dias após a eleição, pois as notícias custavam a chegar. No dia da cerimônia de posse, que aconteceu em uma associação ao lado do Continental, tivemos de ir de carro pela praia, pois chovia muito em Itapoá”, conta. Aos 25 anos de idade, Carlos Augusto foi o mais jovem vereador eleito no primeiro man-

(Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) e, inclusive, ‘puxei muita terra’ de meu caminhão para fazermos o campo de futebol de Itapema do Norte”, lembra. Desde então, afastou-se do meio político. “Cumpri minha missão ajudando muitas pessoas. Depois disso, continuei trabalhando como caminhoneiro”, fala o ex-vereador, que recebeu título de Cidadão Honorário de Itapoá, em 2005.

foto 2 dato, de 1990 a 1992. “Ser vereador naquela época era muito diferente, pois não existia farmácia ou hospital em Itapoá. Qualquer problema de saúde que os munícipes sofressem, eles iam até a casa de um de nós, vereadores. Mesmo nas madrugadas, tínhamos de levar a pessoa até uma cidade próxima, pagar a gasolina do carro, a consulta e o remédio”, explica o esposo de Sinara. Enquanto vereador continuou trabalhando com a sua frota de caminhões e uma retroescavadeira. “Realizei muitos serviços para a CASAN

Saudade Hoje, aos 55 anos de idade – 49 anos de Itapoá e 35 anos de caminhão, Carlos Augusto é vice-presidente da COONTRANLOG (Cooperativa de Transportes e Logística de Itapoá), trabalha dirigindo seus caminhões e realizando transportes para toda a região Norte de Santa Catarina. Ele, que sempre gostou muito de festas, chegou a promover, em Itapoá, duas edições da Festa do Caminhoneiro. “Olhando para trás, reconheço que tudo era muito mais difícil. Se você quisesse comer pão fresco, por exemplo, tinha de aguardar alguém que fosse a Guaratuba (PR). A notícia de que fulano foi a Guaratuba e trouxe quinhentos pães frescos se espalhava pela população. Dentro de duas horas, só sobravam as migalhas. Nós, que vivemos aquele tempo, percebemos nitidamente o quanto a cidade cresceu”, fala. Mas, para Carlos Augusto da Silva, certas coisas deixam saudade, como o sossego, os tradicionais bailes e as tradicionais festas que agitavam Itapoá, e a alegria ao sair na rua e conhecer todas as pessoas.

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itapoá 30 anos | Almir Speck

Da área rural para o legislativo Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Foi para representar a comunidade do Saí Mirim no poder legislativo que Almir Speck (60) candidatou-se a vereador na primeira eleição da história de Itapoá. Eleito por dois mandatos consecutivos, o ex-vereador teve como principal pauta a agricultura.

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ilho de Brandina Fernandes Speck (falecida em 1996) e Evaldo Carlos Speck (morador da comunidade do Saí Mirim), Almir Speck nasceu no município de Itapoá, quando este ainda pertencia a São Fran-

foto 1 cisco do Sul (SC). Criado na comunidade do Saí Mirim, em Itapoá, Almir teve uma infância difícil, pois começou a trabalhar cedo. Desde os sete anos de idade já trabalhava nas plantações de banana, junto de dona Brandina, sua mãe. Em con-

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versa à sua filha, Almir conta que carregava cachos de banana que mediam quase o seu tamanho; quando não dava conta de suportar o peso dos cachos, chorava e tentava até conseguir. Das melhores lembranças daquele tempo, recorda seu bichinho de es-

timação de infância: um porquinho, que era alimentado na mamadeira. Ainda na juventude, Almir passou a trabalhar como motorista de caminhão da serraria de Evaldo, seu pai. Frequentemente, o caminhoneiro viajava a outras cidades para buscar madeira. Ao longo do tempo, casou-se com Maria Elizabeth de Souza (hoje, são divorciados) e, juntos, tiveram uma filha, Jaqueline Souza Speck. A filha, Jaqueline, conta que seu pai participou ativamente do processo de emancipação do município de Itapoá, que ocorreu, de fato, em 26 de abril de 1989. Quando surgiu a primeira eleição da história do município, Almir Speck se candidatou a vereador (pelo PFL), pois acreditava que o Saí Mirim era uma comunidade muito esquecida, especialmente por sua localização distante do centro. Foi o segundo vereador mais votado, com 134 votos.


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foto 2 Enquanto vereador, levantou pautas, como agricultura, saúde e educação, e lutou pelo acesso à comunidade do Saí Mirim, uma vez que a situação da estrada era delicada. “Meu pai participava ativamente de eventos e sempre ajudou a comunidade no que fosse preciso. Ele conta que costumava encher o carro de gente e levar as pessoas até a prefeitura para reivindicar o que precisassem diretamente com o prefeito. Lembro-me também que ele saía a qualquer hora de casa para atender a população, como levar alguém ao médico, por exemplo”, recorda Jaqueline.

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Sendo um representante da comunidade do Saí Mirim, Almir também foi eleito vereador na segunda eleição de Itapoá – mandato de 1993 a 1996, que teve como prefeito eleito Sérgio Ferreira de

Aguiar e vice-prefeita Romilda Velen. Durante os seis anos de vereança o forte do ex-vereador Almir Speck foi a agricultura, levantando constantemente questões como feira livre e agricultura familiar.

Ao fim do segundo mandato, dedicou-se ao trabalho na madeireira de seu pai, Evaldo, mas que Almir administra junto de seu irmão, Jaci Speck. Dentre suas paixões de vida, gosta de reunir toda a família. Muito orgulhosa do trabalho que Almir fez pela população, Jaqueline diz: “Hoje, aos 60 anos de idade, meu pai é ainda muito respeitado, querido e admirado em nossa comunidade. Ele ama o Saí Mirim, lugar onde cresceu e dedicou grande parte de sua vida. Foi aqui, nessas terras tão amadas, que ele me criou e pretende, um dia, ajudar a criar seus futuros netos”.

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marlon neuber

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itapoá 30 anos | João José Silvino

Entre vias e maquinários Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

As histórias contidas na memória de João José Silvino (75), mais conhecido como Benga, do Pontal do Norte, dariam um livro. Em entrevista à revista Giropop, ele, que foi um dos nove vereadores eleitos na pioneira gestão de Itapoá, lembra sua história e os anos de muito trabalho.

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o município de Araquari (SC), o casal Benta Cristina da Trindade e José Silvino Borges (já falecidos) teve treze filhos – dentre eles, João José Silvino, o Benga, apelido que herdou de seu pai. Aos 9 anos de idade, Benga e sua família passaram a viver na comunidade do Saí Mirim, quando a mesma ainda pertencia ao município de São Francisco do Sul (SC). “Meu pai gostava muito de pescaria e nós trabalhávamos na roça, plantando, colhendo e trazendo banana, mandioca, entre outros alimentos, do Saí Mirim a Itapema do Norte”, recorda. Conforme Benga, o transporte da época era o cargueiro – um cavalo com uma cangaia, carregando dois balaios, e o trajeto a Itapema do Norte era feito através de um picadão. Em seguida, a família passou a plantar, cortar e vender palmito nativo para a região da Vila da Glória. “Éramos treze irmãos, trabalhávamos na roça e tivemos uma infância muito simples. Nossa casa era feita de pau, coberta de palha e o chão de areia. Lembro-me de, muitas vezes, usar a vela do barco como cobertor de dormir”, recorda Benga. Em meados dos anos 60, a base era a troca, ou seja, a família não vendia seus alimentos, mas trocava com comerciantes. Há 56 anos, Benga casou-se com Lurdes Speck Silvino (73), com quem teve dez filhos (do mais velho ao mais novo): Marilda, Mariza, Marlete, Mário, Marlene, Marildo, Márcio, Márcia, Marcos e Marcelo (este último, já falecido). Deixando a comunidade do Saí Mirim, a família morou na região da Jaca, da Figueira do Pontal e, em seguida, no Pontal do Norte – onde se estabeleceu e vive há mais de quarenta anos. Na cidade de Itapoá, Benga trabalhou com extração de madeira e realizou muitos serviços particulares na área da construção civil, tendo trabalhado durante doze anos com reforma e construção no condomínio Bamerindus. “Eu mexia com coisa bruta, coisa do mato, aprendi tudo sozinho. Sempre acreditei que quem tem força de vontade para fazer as coisas, aprende”, diz. Certa vez, deixou tudo e foi viver em Joinville (SC), por ‘bobiça’, como ele mes22 | Abril 2019 | Revista Giropop

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mo diz, mas não aguentou ficar longe da cidade que amava. Retornando, abriu um boteco na Figueira do Pontal e, tempos depois, comprou um caminhão usado, que utilizava para trabalhar com aterro e ajudar a população. “Sempre fui pobre, mas sempre tive bom coração, gosto de ajudar as pessoas. Com meu caminhão velho, transportei muita gente da Figueira e do Pontal até o posto de saúde, situado onde é hoje a Colônia de Pescadores, em Itapema do Norte”, recorda.

buracos, fazendo bueiros, as primeiras coletas de lixo do município, abrindo vias, fazendo assentamentos para famílias desabrigadas e afins. Em suas palavras: “Fui vereador de Itapoá, não apenas de meu bairro. Durante os três anos de mandato (1990-1992), estive constantemente nas ruas e puxei muita terra à base da pá”. Na segunda eleição em Itapoá, atuou como primeiro suplente. e, ainda, assumiu a Secretaria de Obras por quase três anos. Enquanto Secretário de Obras da Prefeitura Municipal de Itapoá, ajudou a criar a estrada para a Reserva Volta Velha, criou um canal para resolver o problema de enchentes e inundações frequentes na época, auxiliou na construção da ACOPOF (Associação Comunitária do Pontal do Norte e Figueira do Pontal), a conseguir postes de luz para a Escola Municipal Euclides Emídio da Silva, na Barra do Saí, entre outros. Para Benga, política tem de ser feita nas ruas, não em salas ou gabinetes. “Sinto orgulho ao dizer que, mesmo analfabeto, ajudei muitos munícipes de Itapoá. Sempre prezei pelo diálogo e pela política da boa vizinhança, acho que isso é essencial para um bom trabalho”, afirma. Hoje, aos 75 anos de idade, João José Silvino, o Benga, ainda trabalha no ramo da construção civil, tem disposição de sobra, bom humor e uma memória invejável: “Tive uma vida pobre, mas feliz, pois nunca tive preguiça ou má vontade para ajudar as pessoas ou trabalhar. Trabalhar dignifica o homem. Sinto que a cada dia de trabalho ganho um mês de vida”.

Nas ruas Benga participou ativamente do processo de emancipação política de Itapoá, que aconteceu, de fato, em 26 de abril de 1989. “Foram anos de muita luta e incontáveis idas a Florianópolis (SC), com o objetivo de que nosso município se tornasse independente”, lembra. A convite do então candidato a prefeito Ademar Ribas do Valle, Benga se candidatou a vereador pelo PDS, sendo eleito com 114 votos. Na política, muitos eram os medos de João José Silvino, o Benga: “Em toda a minha vida, frequentei a escola apenas por um dia. Só tive a oportunidade de aprender a ler e a escrever depois da vida adulta. Mas sempre fui muito bom em fazer contas, em me comunicar com as pessoas e, também, sempre tive boa vontade para trabalhar e ajudar o próximo”. Enquanto vereador da primeira gestão de Itapoá, Benga – com anos de expertise em terraplanagem e construção civil – trabalhava até mesmo aos finais de semana com o maquinário, cobrindo



rodrigo lopes


sol e mar Pรกscoa


itapoá 30 anos | Izeu Zagonel

Sessenta anos de momentos e memórias em Itapoá Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Com 60 anos de Itapoá, Izeu Zagonel (73) coleciona momentos e memórias no município. Foi o vereador mais votado da primeira eleição da história do município, eleito o primeiro presidente da Câmara Municipal de Itapoá, fez e ainda faz história no comércio itapoaense.

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ilho de Ludovico Zagonel e Melinda Zagonel (já falecidos), Izeu foi o segundo dentre seis filhos. De Joaçaba (SC), chegou a Itapoá aos 13 anos de idade. “Naquele tempo, a SIAP (Sociedade Industrial Agrícola e

foto 1 Pastorial Ltda.) trazia pessoas para trabalhar em Itapoá. Foi assim que meu pai decidiu morar para cá”, lembra. No ano de 1959, Izeu conta que seu pai, Ludovico Zagonel, adquiriu um terreno no morro de Itapoá, além de um galpão com uma serraria – um dos poucos comércios da região.

26 | Abril 2019 | Revista Giropop

Em suas memórias, Izeu recorda que a infância em Itapoá foi difícil. “Não tinha energia elétrica. Na serraria de meu pai, usávamos motor a diesel. Mas, para isso, tínhamos de ir a Garuva (SC) buscar óleo diesel. Existia apenas uma via para sair ou entrar da cidade. Quando chovia forte,

o rio Saí Mirim transbordava e a rua alagava. Ninguém entrava, ninguém saía”, diz. Para fazer compras ou utilizar serviços públicos, como hospitais, o morador devia ir a Garuva ou pegar uma canoa a São Francisco do Sul (SC). Durante muitos anos, seu Ludovico trabalhou na serraria, enquanto dona Melinda cuidava das plantações nos terrenos do morro. Mais tarde, a família comprou um caminhão para se locomover na região. Izeu ganhou gosto pelo futebol, jogando pelo time Itapoá Futebol Clube. “Volta e meia, aconteciam torneios de futebol no Pontal, no Saí Mirim e em Garuva. Eu e meus irmãos pegávamos o caminhão, enchíamos de gente e íamos para os campeonatos. Era muito divertido”, lembra. Desde cedo, Izeu e seus irmãos Ildo Zagonel e Ivo Zagonel (este último, falecido) trabalhavam com o pai na ser-


raria. Aos poucos, o comércio transformou-se em uma loja de materiais de construção, a loja Irmãos Zagonel, tocada pelo trio durante muito tempo. Izeu, que se casou cedo (hoje, é divorciado), teve cinco filhos: Ilton César Zagonel, Luís Carlos Zagonel, Lisângela Zagonel, Iara Cristina Zagonel e Izeu Zagonel Júnior. Pioneira gestão Quando Itapoá ainda pertencia ao município de Garuva (SC), Izeu já demonstrava interesse por política, frequentando as sessões extraordinárias da Câmara Municipal de Garuva, ao lado de amigos como César Cunha, Nilton Speck e Sérgio Ferreira de Aguiar. Ainda em Garuva, Izeu se candidatou a vereador, mas não obteve votos o suficiente para se eleger. No processo de emancipação de Itapoá, Izeu – bem como seus irmãos Ildo e Ivo – teve participação ativa. Inclusive, Izeu esteve presente no ato de criação do município, em Florianópolis (SC), em 1989. Na primeira eleição da história de Itapoá, se candidatou a vereador pelo PDC. Muito conhecido no futebol e no comércio itapoaense, Izeu Zagonel foi o vereador mais

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votado, com 139 votos. Em votação, também foi eleito o primeiro presidente da Câmara Municipal de Vereadores, cuja sede ficava em uma sala alugada, no bairro Itapoá. Ele recorda que o primeiro secretário da câmara foi Wilson Madeira. “Naquela época, como o município ainda não tinha arrecadação, ganhávamos muito pouco, e todos nós tínhamos serviços paralelos ao compromisso de vereador. Tivemos de criar e aprovar tudo, a bandeira, o regimento interno, a lei orgânica, entre outros”, recorda. Conforme Izeu, os alunos da cidade não tinham como se locomover

até a Escola de Ensino Básico Nereu Ramos, em Itapema do Norte. Pensando nisso, os vereadores conseguiram um ônibus escolar, que transitava do Pontal a Barra do Saí. “Assim que o ônibus chegou, não tinha quem o dirigisse. Então, fiquei de motorista por uma semana. Fui o primeiro a transportar os alunos da escola. As ruas eram muito esburacadas, foi uma experiência inesquecível”, conta Izeu. Durante essa pioneira gestão destaca-se: aquisição e aparelhamento da sede própria com 480,00 m² de área edificada; duas retroescavadeiras, dois caminhões trucados e uma motoniveladora;

quatro carros para atender as áreas de saúde, educação e transporte; dois ônibus escolares; um barco com 14 metros para deslocamento de moradores dos bairros Figueira e Pontal a São Francisco do Sul; 37 lotes para atender moradores de baixa renda; reforma das escolas municipais; contratação de dois médicos e um dentista; e aterros nos pontos críticos das estradas da serrinha e Cornelsen, onde os alagamentos eram frequentes. Desde então, Izeu dedicou-se exclusivamente ao comércio. Em 2004, na quinta eleição de Itapoá, seu filho, Luís Carlos Zagonel, foi eleito vereador com 193 votos, no mandato que durou de 2005 a 2008. Hoje, aos 73 anos de idade, pai de cinco filhos, avô de sete netos e bisavô de três bisnetos, Izeu está à frente da loja Irmãos Zagonel – a primeira loja de materiais de construção da região, com 45 anos de atividade. Por fim, Izeu confessa sua vontade de passear e viajar para rever os parentes: “Mas minha vida é meu trabalho. Bem aqui, nessa loja, em Itapoá, que começou a nossa história, a história de minha família”.

tuco empreendimentos

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itapoá 30 anos | Pedro Stanislau Alves

Itapoá de porta em porta Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Para os moradores antigos, Pedro Stanislau Alves (67) é mais conhecido como ‘Pedro da Malária’. Com 11 anos consecutivos de vereança e 41 anos trabalhando no combate à malária, o morador da comunidade do Saí Mirim tem muito a compartilhar.

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ilho de Eugênio Stanislau Patrício e Maria Alves Maia Stanislau (já falecidos), Pedro nasceu na Vila da Glória, região pertencente ao município de São Francisco do Sul (SC). De família católica, aos oito anos de idade tornou-se coroinha da igreja. Mais tarde, passou

foto 1 a catequista e ministro da eucaristia. O amor o levou à região do Saí Mirim, uma vez que, em uma de suas idas à comunidade, apaixonou-se por Maria da Silva Alves (44) – nascida e criada no Saí Mirim. Já casados, Pedro e Maria moraram na cidade de Joinville (SC) e, em seguida, na Vila da Glória,

onde viviam no barracão da igreja católica. Certo dia, Pedro recebeu o convite para atuar em uma campanha de combate à malária. Convite aceito, trabalhou por três anos em São Francisco do Sul, visitando as família da Vila da Glória, Itapoá e Garuva (SC). “Para trabalhar, ia da Vila da Glória

a Barra do Saí de bicicleta. Quando chegava a Itapoá, se a maré estivesse cheia, pegava a estrada, um areião que só, e vinha empurrando a bicicleta na maior parte do trajeto”, recorda. Quando seu pai faleceu, Pedro e Maria deixaram a Vila da Glória para viver na comunidade do Saí Mirim. Ele permaneceu trabalhando em ações preventivas no combate à malária, à poliomielite e ao sarampo – mas sua fama se deu como ‘Pedro da Malária’. Em suas lembranças, Pedro descreve como desempenhava essa função: “Naquele tempo, não existiam enfermeiros na região. Então, eu batia de porta em porta para deixar comprimidos, tirar o sangue dos moradores, depositar em um frasco, catalogar e mandar para laboratório de análise. A cada família que visitava, tomava um cafezinho e conversava um pouco. Assim, fiz amizades da Barra do Saí ao Pontal”. Na Igreja Nossa Senhora

porto imoveis

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Aparecida, no Saí Mirim, deu continuidade ao trabalho de ministro, ajudando a promover teatros, Terno de Reis, a tradicional festa da coroação, entre outras. Sempre na companhia de sua bicicleta, Pedro conta que ia do Saí Mirim a Barra do Saí para pernoitar na residência de Inácio Porfírio dos Santos (já falecido), com o intuito de ensaiar cânticos, fazer celebrações e catequizar as crianças. ‘Pedro da Malária’ A favor da emancipação política de Itapoá, Pedro Stanislau sonhava com melhorias para o município. “Naquele tempo (quando Itapoá ainda pertencia a Garuva), nosso povo (de Itapoá) não tinha a atenção dos poderes executivo e legislativo. Por isso, me candidatei a vereador em Garuva, no ano de 1988, mas foi na primeira eleição da história de Itapoá que fui eleito vereador”, lembra. Com 114 votos, ‘Pedro da Malária’ (como constava em seu santinho) foi eleito pelo PP. Entre as pautas mais defendidas, ele, recorda a inserção do 2º grau na Escola de Ensino Básico Nereu Ramos e a instalação do hospital muni-

da igreja apenas durante os meses de campanha. Mas nunca deixou o trabalho na saúde. Nas palavras de ‘Pedro da Malária’: “nossas ações foram muito efetivas e conseguimos combater a malária na região”.

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cipal com vinte leitos (P.A. 24 horas). “Apesar de viver na comunidade do Saí Mirim, enquanto vereador, gostava de olhar para a cidade como um todo, já que meu trabalho me presentou com amigos por todos os cantos”, diz Pedro Stanislau, que foi eleito vereador de Itapoá por três mandatos consecutivos (1990-1992, 1993-1996 e 1997-2000). “A primeira gestão, em especial, foi bastante difícil, pois tivemos de abrir todos os caminhos. Lembro-me

que os estudantes do Saí Mirim chegavam da escola na madrugada, pois não existia asfalto e as ruas eram esburacadas. Lembro-me também de acompanhar o prefeito da época, Ademar Ribas do Valle, em Florianópolis (SC). Ele levava uma garrafa contendo a água suja de Itapoá, a fim de reivindicar aos governantes que viabilizassem água para o nosso município”, lembra Pedro. Dos onze anos de vereança, afastou-se das atividades

Em paz Casados há aproximadamente 50 anos, Maria e Pedro tiveram oito filhos (do mais velho ao mais novo): Marcelo, Therezinha, Anderson, Joanita, Patrícia, Anderlei (que se tornou padre), Adriele e Afonso. Também, são avós de dez netos. Com 11 anos consecutivos de vereança, 41 anos trabalhando no combate à malária, mais de 30 anos enquanto ministro da eucaristia e catequista, Pedro Stanislau tem muita história para contar. Hoje, aos 67 anos de idade, Pedro vive ao lado da esposa, na tranquilidade do Saí Mirim, ora participando do grupo de reflexão da igreja, ora fazendo artesanato em cipó – mais uma de suas paixões. Ao recordar sua trajetória de vida, Pedro se sente realizado: “Amo minha família, minha igreja e minha cidade. Aqui, vivo feliz e em paz”.

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itapoá 30 anos | ivo alcides cezarotto

Mandatos de histórias e conquistas Ana Beatriz Machado Pereira da Costa

Foi a passeio que Ivo Alcides Cezarotto chegou a Itapoá. Não custou para que se apaixonasse pelo município, sendo o único vereador da história de Itapoá a cumprir quatro mandatos consecutivos.

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ascido em Frederico Westphalen (RS), Ivo foi criado no município de Dionísio Cerqueira (SC). Lá, fez o curso de datilografia em uma igreja, cursou até o segundo ano de Contabilidade e foi presidente do grêmio estudantil de sua escola – já demonstrando uma veia política. Aos 19 anos de idade, solteiro e desempregado, veio conhecer o município de Itapoá a convite

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de um amigo. “Fiz amizade fácil, gostei daqui e acabei ficando. Era dia 21 de setembro de 1983 quando me tornei morador. Eu não tinha absolutamente nada e, antes de me estabelecer em Itapoá, dormia de favor na casa de amigos”, recorda. Por conta da sua habilidade em ‘bater máquina’ (datilografar), Ivo passou a trabalhar no cartório de Itapoá, onde ficava situada a primeira cabine telefônica da região. “Trabalhei no cartório e, em seguida, como o primeiro telefonista de Itapoá, realizando ligações para moradores e turistas”, lembra, “chegou o momento em que eu discava o número desejado sem que a pessoa precisasse me falar, pois fazia aquilo com muita frequência”. Mais tarde, trabalhou durante quinze anos no posto de gasolina do balneário Itapoá, daí a fama como ‘Ivo do Posto’. No município, fez amizade com Ademar Ribas do Valle, e não custou para

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que participasse ativamente da comissão pró-emancipação de Itapoá, na função de secretário. “Foram anos de lutas e contínuas despesas em busca da autonomia de Itapoá. Felizmente, naquele tempo uma onda assolava o estado de Santa Catarina e muitos distritos buscavam a emancipação. Criamos, então, um abaixo-assinado para que a população apoiasse a iniciativa e eu saí, de porta em porta, recolhendo as assinaturas”, recorda. Enfim, no dia 26 de abril de 1989, às 17h45, o governador Casildo Maldener sancionou no Palácio Santa Catarina a lei aprovada pela Assembleia Legislativa que emancipou o distrito de Itapoá. União e vontade Conquistada a emancipação, aos 24 anos de idade, Ivo Cezarotto partiu para a candidatura a vereador, pelo PDC. Com a alcunha de ‘Ivo do Posto’, foi o terceiro vereador mais votado, com 139 votos. “No dia seguinte em que tomamos posse, não sabíamos ao certo por onde começar. Costumo dizer que nós, da pioneira gestão, ‘tocamos

foto 2 na manivela’, pois tivemos de aprender tudo do zero. Mesmo um pouco atrapalhados, tímidos ou inexperientes, tínhamos união e força de vontade de sobra para trabalhar”, fala. Para Ivo, os políticos da primeira gestão da história de Itapoá foram verdadeiros trabalhadores. “Grande parte das conquistas positivas de nosso munícipio são resultados de muito trabalho do primeiro mandato, de 1990 a 1992, que durou três anos por conta da emancipação, que aconteceu somente em abril de 89, subtraindo um ano de trabalho. A inserção

do Porto Itapoá, a abertura do Caminho da Onça, o hospital municipal e a inserção do ônibus universitário – hoje, extinto – são pautas já defendidas e praticadas desde aquele tempo”, conta o ex-vereador, que foi também presidente da Câmara Municipal de Vereadores, participou da Associação Comunitária de Itapoá e Jaguaruna, e da ACINE (Associação Comercial Industrial). Com o intuito de servir a comunidade, Ivo foi vereador pelos três mandatos seguintes (1993-1996, 19972000, 2001-2005), sendo o único vereador da história de Itapoá a cumprir quatro man-

datos consecutivos. Ivo é pai de três filhos, Ivo Alcides Cezarotto Filho, Franciele Josefina Gelamo Cezarotto e Pedro Bernardo Cezarotto. Hoje, dedica-se exclusivamente à imobiliária Ivo Cezarotto Corretor de Imóveis, ramo no qual atua há vinte anos. Com 36 anos de Itapoá e 15 anos consecutivos de vereança, ele conclui: “Já participei de muita coisa, mas não gosto de usar a expressão ‘eu fiz isso’ ou ‘eu fiz aquilo’ porque acredito piamente que, tratando-se de poder legislativo, ninguém faz nada sozinho. Todos nós, juntos, trabalhamos muito por Itapoá”.

oliveira e pozzer

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itapoá 30 anos | carlos roberto fogagnolo

Pescador, vereador, corretor de imóveis e doutor das ruas e o sorteio de loteamentos, a fim de resolver a questão de ocupação dos pescadores. Também foi mérito deste projeto da Gleba o atual campo de futebol e a Igreja Nossa Senhora Imaculada Conceição, em Itapema do Norte”, recorda. No processo de emancipação do município de Itapoá, seu pai, Santo Fogagnolo, participou da comissão oficial da emancipação. Por sua vez, Rosa, sua mãe, foi a primeira enfermeira a aplicar injeções e vacinas na Colônia de Pescadores de Itapoá.

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atural de Londrina (PR), Beto é filho de Santo Bueno Fogagnolo (também conhecido como ‘Santo do Pesque-Pague’, falecido há dois anos) e Rosa Alves Fogagnolo (81). Em sua cidade, praticava muitos esportes, tendo participado da Seleção Paranaense de Vôlei. Aos 9 anos de idade, quando conheceu o município de Itapoá em um passeio em família, encontrou muito mais que águas limpas e belas praias: “Avistei uma menina muito bonita à beira da praia. Ela vestia um short azul e uma camiseta branca. Aquilo ficou gravado em minha memória”. Quando Beto completou 18 anos de idade, seu pai enfrentava problemas de saúde, sendo fundamental viver no litoral, por conta da qualidade de vida. Sendo assim, a família, que já possuía uma casa na cidade, mudou-se para Itapoá, quando esta ainda era um distrito de Garuva (SC). Beto, então, reencontrou a tal moça da beira da praia: era Terezinha Salete da Cunha Fogagnolo, mais conhecida como Teka, com quem se casou um ano depois. Em meados dos anos 80, a família de Beto abriu a Lanchonete Gaivota, entre a Primeira e a Segunda Pedra, em Itapema do Norte – a primeira experiência de Carlos Roberto enquanto empreendedor. Por quase uma década a família

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tocou a lanchonete onde também promovia bailes, festas e concursos de dança. Em 1982, Beto e Teka se casam e têm seu primeiro filho, Ruan Carlos da Cunha Fogagnolo. Ainda nesse período, Carlos Roberto prestou concurso para atuar como professor de ensino básico. Aprovado, lecionou na comunidade pesqueira da Barra do Saí durante um ano. Já em 1984, nasce o segundo filho do casal, Felipe Geovani da Cunha Fogagnolo. Sempre ativo na comunidade, o casal também teve uma vidraçaria, uma panificadora e publicou por trinta edições o jornal Gazeta de Itapoá. Ele, que possuía formação em Técnico em Edificações do período em que residia em Londrina, foi essencial durante a elaboração

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do projeto da Gleba. “Com minha formação, pude participar ativamente do projeto da Gleba de Itapema do Norte, em que realizamos a divisão

Pescador com orgulho Certa vez, Beto investiu em uma canoa de pesca e passou a vender cargas de camarão e outros frutos do mar para cidades próximas. Enquanto Teka gerenciava as descascadeiras, Beto se apaixonou pela pesca. “Aprendi a fazer os primeiros arrastos com os pescadores Paulo e

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Gabriel. Naquele tempo, a fartura era constante na pesca em Itapoá. Já vi situações de o pescador Gabriel pegar, em uma redada de Itapema do Norte ao Balneário Rainha, setenta quilos de camarão branco. Nesse contexto, me apaixonei pela pesca, ao ponto de passar o inverno dormindo com meus pés para fora, para evitar o choque térmico quando entrasse no mar”, recorda Beto. Foram, ao todo, doze anos convivendo com a população local e comercializando os pescados. Nesse período, atuou como secretário da Colônia de Pescadores, buscando o fortalecimento da classe pesqueira. Auxiliou nos times de futebol da colônia e promoveu eventos alusivos ao Dia do Pescador, como competições de canoas de arrastos, entre outros. Tradição Nascida no Saí Mirim e criada em Itapema do Norte desde os 5 anos de idade, Teka vem de uma das famílias pioneiras em Itapoá. Na cidade, os membros da família Cunha têm memória e tradição, sobretudo no meio político: o pai de Teka (seu Loreno), seu irmão, seu cunhado e sua irmã (Semilda Cunha) já foram vereadores. “Quando surgiu a primeira eleição da história do município, a família dela apoiou e incentivou minha candidatura”, lembra Beto. Uma vez que a maioria da população tinha como modo de vida o extrativismo pela pesca, Beto fez seu nome entre a comunidade pesqueira. Somado a isso, seu envolvimento em comemorações do município e o apoio da família de Teka fizeram de Carlos Roberto Fogagnolo vereador eleito da pioneira gestão, com 117 votos, sendo o mais votado dentro de sua localidade. Enquanto vereador, aju-

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Solenidade em comemoração do primeiro aniversário em 26 de abril de 1990, no Colégio Nereu Ramos. dou a escrever a Lei Orgânica do Município de Itapoá e aprovar muitas leis que até os dias atuais regem o município. Ganhou um troféu como vereador mais atuante de sua legislatura e deixou seu nome marcado positivamente na história da política de Itapoá. “Na pioneira gestão, todas as ações demandaram muita união, boa vontade, colaboração e estudo”, diz. Bem como os demais vereadores da primeira gestão

de Itapoá, após o término de seu mandato, recebeu da Câmara Municipal de Vereadores o título de Cidadão Honorário de Itapoá pelos serviços prestados à comunidade. Em busca de conhecimento Há 47 anos conheceu Itapoá, onde reside há mais de 41 anos e há mais de 30 anos atua no mercado imobiliário e é sócio na empresa Roberto Imóveis Buscando capacitação e conhecimen-

to, com o intuito de oferecer segurança aos negócios imobiliários, Beto cursou Direito e foi aprovado no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). A esposa, Teka, por sua vez, cursou Gestão em Negócios Imobiliários. Nos dias atuais, ela administra a imobiliária Roberto Imóveis, enquanto Carlos Roberto atua como advogado junto da imobiliária. Também, ele faz parte do CONCIDADE (Conselho das Cidades), do CDUI (Conselho de Desenvolvimento Urbano de Itapoá) e representa o SINDIMÓVEIS (Sindicato dos Corretores de Imóveis) de Santa Catarina. Aos 56 anos de idade, casado com aquela moça bonita da praia, pai de dois filhos e avô de três netos, Carlos Roberto Fogagnolo olha para o passado e conclui: “Nunca tive medo de arriscar, seja para me tornar pescador, vereador, corretor de imóveis ou advogado. Para ter sucesso em qualquer área, é necessário unir persistência, otimismo, dedicação e criatividade”.

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ch

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bom sucesso


Diferentes formas de ver Itapoá

Veículo suporte base para a construção da estrada.

Refeição ao ar livre.

Primeiro Hotel de Itapoá, próximo ao Corpo de Bombeiros.

1959 - Planta do primeiro loteamento registrado de Itapoá - planta b1 - Baln Itapoá.

1966 - Vereador Pedro Mikos lê a ata de posse do prefeito de Garuva, ao lado, Vitorino Paese

1957 - Primeira placa de Itapoá. Ambrósio Paese com um amigo.

1957 - Acampamento suporte da estrada.

Famoso táxi, Pontal - Itapoá.

Primeira hospedaria de Itapoá.

1958 - Pioneiros de Itapoá

1958 - Dórico Paese em seu escritório em Joinville.

Inauguração da estrada Itapoá - Barra do Saí.

Arrastão de tainhas em Itapema, 5 mil tainhas.

1963 - Arrastão em Itapoá.

Sambaqui da Estrada Cornelsen - 1970.


Ponte de madeira, acesso pela SC 415.

Lanchonete em frente ao Hotel Pérola.

Av. André Rodrigues de Freitas.

Restaurante Hipocampo.

Primeira carga de combustível, Auto Posto Itapoá, na Av. Brasil.

1º Posto Telefônico de Itapoá. Banco Bamerindus, 1990


Itapoá e sua história (parte XVI)

História não é o que passou, mas o que ficou do que passou. Durante 25 anos, Vitorino Luiz Paese escreveu o maior registro histórico da cidade, o livro “Memórias históricas de Itapoá e Garuva”. Antes com uma memória gravada em pequenos relatos ou nas boas e interessantes conversas dos antigos moradores que aqui escolheram viver, o livro trouxe um documento de registros. Com uma história que começa junto aos índios carijós, a obra apresenta pontos que impulsionaram o crescimento e desenvolvimento da cidade. De forma cativante, através das páginas Vitorino conta a história dos municípios de Itapoá e Garuva, enfatizando principalmente “a primeira comunicação regular de Itapoá com o mundo”, a abertura da estrada Serrinha e toda a sua importância. A conclusão dessa primeira estrada também é apresentada por imagens em um documentário inédito em DVD, gravado em 1958. Para Vitorino, professor, economista e historiador, tudo começou com a sua proximidade com os acontecimentos. Seu irmão Dórico Paese fez parte da Sociedade Imobiliária Agrícola e Pastoril Ltda – S.I.A.P, conforme o livro a responsável pela abertura da estrada e o “despertar de Itapoá”. “Eles descobriram que Itapoá tinha todos os ingredientes para se tornar um grande balneário”, conta Vitorino. Sempre interessado nos fatos, o autor esteve na cidade pela primeira vez em 1955, aos oito anos de idade. Talvez por curiosidade de criança, aliada ao seu gosto pela história e pesquisa, começou a guardar e registrar todos os fatos, como panfletos e documentos. “Estava sempre atento com tudo que acontecia e admirava a coragem deles em abrir a estrada em uma cidade ainda carente de qualquer infraestrutura”, lembra. Segundo ele, este “gosto por loucura” para abrir a estrada só pode estar no sangue da família. Seu farol de bons exemplos, o Nôno Giácomo, também citado no livro, era detentor de conhecimentos sobre engenharia de estradas e foi chamado pelo governo gaúcho para opinar sobre a abertura de uma via. “Impressionado com a formação técnica, o mandatário aproveitou-o de imediato, incubindo-o da abertura de um dos trechos. Muito dinâmico e motivado pela distinção recebida, rapidamente arregimentou o pessoal e concluiu em tempo recorde a etapa a ele destinada”, cita na página 51 do livro. Conforme Vitorino, muitas foram as dificuldades enfrentadas pelo Nôno, mas que não desistiu. A mesma persistência ele conta que o irmão e seus sócios tiveram em Itapoá. Em 1957 houve o maior volume pluviométrico registrado, e as fortes chuvas atrasaram o cronograma das obras da estrada, causando problemas orçamentários e outros imprevistos. “Mas entre as duas opções que tinham, continuar e ver a estrada pronta ou parar e deixar todos os investimentos para trás, decidiram seguir em frente”, conta Vitorino.

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Conforme o historiador, momentos como esse lembram as pessoas que aqui moravam de forma heroicamente e que mostraram um desprendimento que emociona, ajudando efetivamente na abertura da estrada. Assim, o livro detalha o ano de 1958, quando Itapoá saiu do anonimato: “… Com grande alegria, os pescadores, agricultores e demais habitantes dessas localidades viam chegar à porta de suas casas o primeiro veículo e com ele a certeza de que estavam definitivamente interligados, regularmente, aos demais pontos do país. Houve muita festa, pois o grande sonho, de tanto acalentado e quase desacreditado, finalmente… graças a Deus, estava concretizado”, trecho da página 65. Assim, com muitos documentos em mãos e uma memória invejável, Vitorino seguiu por muitos anos colecionando tudo como algo precioso, mas não pensava em escrever um livro. O impurrão final foi quando o amigo Padre Tarcísio de Garuva o entregou um envelope com novos documentos. “Sempre o visitava e naquele dia ele estava com problemas de saúde. Me entregou um envelope e assim segui viagem, sem abri-lo. Até que me dei conta que aquilo era um presente e que deveria ver”, recorda. No envelope havia documentos sobre as duas experiências francesas na região, também citadas no livro. Com todos os momentos registrados, o professor se deu conta de que precisava partilhar esta história, que não era justo guardá-la apenas na memória e em documentos engavetados, e então resolveu escrevê-la. Para garantir a veracidade dos fatos, Vitorino foi até a Câmara de São Francisco do Sul, cidade mãe de Garuva e Itapoá, e buscou as atas de criação dos distritos e depois municípios. Também fez um “pente-fino” com as notícias publicadas na época e conversou com pessoas que aqui moravam. Depois de tudo comprovado, juntou o material com o inédito documentário de 1958, que guardou em rolo, transformou em fita e depois em DVD. Para ele, sua convivência com os fatos facilitou muito o trabalho. Uma lembrança interessante é ter conhecido pessoalmente Tereza Rosa do Nascimento, senhora que viveu a abolição da escravatura e o presentou com uma caneca gigante usada no café matinal dos escravos. De todos os registros, a maior dificuldade foi conseguir o significado do nome Itapoá. Como os índios carijós foram os primeiros habitantes da região, além da pesquisa em livros e dicionários, foi através de reuniões com paraguaios que falam guarani que chegou ao significado: “a pedra que ressurge”. Conforme ele, os índios costumavam dar o nome do local fundamentados no acidente geográfico ou ponto notável que mais chamasse a sua atenção e não dissociavam o místico do real. Assim, impressionados com a pedra que de-

saparece com a preamar e reaparece com a baixa-mar, surgiu o nome Itapoá. E entre memória, pesquisa e dificuldades, nasceu um trabalho de 25 anos. “Nunca houve preocupação em terminá-lo na outra semana”, afirma Vitorino. Assim, em 2012 o livro foi lançado para autoridades dos dois municípios contemplados. De acordo com o autor, o momento de lançamento também foi muito propício, pois a obra não tem nenhum vínculo político (nenhum dos prefeitos da época concorreram à reeleição). Ele ressalta o agradecimento a todos que acreditaram no seu trabalho e o apoiaram no momento do lançamento. Hoje o livro está presente em muitas residências de Itapoá, Garuva e tantas outras cidades, pela distribuição gratuita. Também está em bibliotecas públicas e logo será lançada a segunda edição. Com o término desse trabalho, Vitorino incentiva a publicação de mais registros históricos, mas ressalta o cuidado com datas equivocadas. O livro “Memórias Históricas de Itapoá e Garuva” apresenta então uma das grandes paixões de Vitorino: o município que reserva grandes momentos históricos, belas paisagens naturais e um desenvolvimento promissor. Para ele, Itapoá tem muitas pessoas e energias boas: “A história conta que os carijós sempre foram muito carismáticos e um povo de palavra, devem ter deixado suas vibrações positivas por aqui”, arrisca Vitorino.


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