Revista Giropop - Edição 26

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EDITORIAL Reciclagem. No dicionário são várias as suas definições: adaptar-se melhor ao processo industrial e científico, transformação de uma substância ou de um material já utilizado para uma nova utilização ou até adaptação de algo a novas circunstâncias. Nesta edição, descontruímos a afirmação de que é necessário reciclar para entender como é possível fazer isso, como a reciclagem é feita e, principalmente quem faz parte dessa palavra. Ao contrário do que muitos imaginam, a edição não trata apenas da reciclagem do lixo, mas sim de diferentes setores que movem a nossa vida. Faltaram dias e até páginas para descobrirmos todas as formas de se fazer isso, mas uma boa dose já foi encontrada e relatada por aqui. Reciclar atitudes, pensamentos e culturas são as chaves desse mês. Como de costume, nos surpreendemos com projetos, histórias de vida e lições, que podem ser muito bem adotadas na rotina de todos nós.

Boas-vindas

Nesta edição, temos novidades no conteúdo editorial. Um novo projeto é incluído no grupo de matérias da revista: Giro Pop na Escola. Para divulgar e incentivar novos e bons projetos escolares, a cada edição vamos apresentar uma atividade diferente realizada pelas escolas de Itapoá e Guaratuba. Entrevistas com alunos, professores, gestores e pais trarão as escolas nas discussões do tema de cada mês e mostrarão quanta coisa boa é realizada por aqui. Outra novidade é a nova integrante da equipe. A partir desse mês Ana Beatriz Machado Pereira da Costa também vai conhecer e escrever as belas e instigantes histórias de Itapoá e Guaratuba. Acompanhe que mais novidades devem chegar por aqui!

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RESÍDUOS SÓLIDOS

Os números de nosso descarte Augusta Gern

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ocê já parou para pensar quantos quilos você gera de lixo? Em casa, no trabalho, no comércio, nas ruas... Toda ação tem uma reação e muitas vezes esta acaba dentro de uma lixeira, às vezes sem que você se de conta. 76.387.200 toneladas foi a quantidade de resíduos sólidos urbanos gerado no Brasil no ano de 2013, conforme o último panorama divulgado pela Abrelpe – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. O número é preocupante: de 2012 para 2013 a geração total de resíduos aumentou 4,1%, índice superior à taxa de crescimento populacional no país no período, que foi de 3,7%. As novidades, embalagens diferentes e facilidade na compra de novos produtos, ao invés do conserto de antigos, refletem no resultado que o brasileiro gera em média 1,04 kg por dia. Para realização do panorama, a Abrelpe levantou dados sobre os resíduos sólidos urbanos, resíduos de construção e demolição, resídu-

os de serviços de saúde e coleta seletiva de 404 municípios do país, o que representa 45,3% da população indicada pelo IBGE em 2013. De todo o resíduo sólido urbano diagnosticado no panorama,52,4% foi gerado na região sudeste, 22,1% na região nordeste, 10,9% na região sul, 8,2% na região centro-oeste e 6,4% na região norte. A destinação final dos resíduos também foi apontada com preocupação no panorama: 58,3% do lixo teve uma destinação final adequada, “mas 28,8 milhões de toneladas ainda seguiram para lixões ou aterros controlados que, do ponto de vista ambiental, pouco se diferenciam dos lixões, pois não possuem o conjunto de sistemas necessários para a proteção do meio ambiente e da saúde pública”.

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Apesar de não haver dados mais recentes disponíveis, a esperança é que este número tenha mudado no último ano. Conforme a Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, até o dia 2 de agosto de 2014 todos os rejeitos deveriam ter uma disposição final ambientalmente adequada, dando fim aos famosos lixões. Esse prazo faz parte das metas dos planos estaduais ou municipais de resíduos sólidos, que devem “prever desde a distribuição ordenada de rejeitos em aterros, de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública, à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos, até a coleta seletiva”. A disposição de resíduos sólidos em lixões é crime desde 1998, quando foi sancionada a Lei nº 9.605/98 de crimes ambientais. A lei prevê, em seu artigo 54, que causar poluição pelo lançamento de resíduos sólidos em desacordo com leis e regulamentos é crime ambiental. Dessa forma, os lixões que se encontram em funcionamento estão em desacordo com as Leis nº 12.305/2010 e 9.605/98. Além da destinação do lixo, a

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Política Nacional de Resíduos Sólidos também prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos – aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado. Segundo o panorama de 2013 da Abrelpe, pouco mais de 62% dos municípios registraram alguma iniciativa de coleta seletiva no período. “Embora seja expressiva a quantidade de muni-

cípios com iniciativas de coleta seletiva, convém salientar que muitas vezes estas atividades resumem-se à disponibilização de pontos de entrega voluntária ou convênios com cooperativas de catadores, que não abrangem a totalidade do território ou da população do município”, ressalta o documento divulgado. O panorama também apresenta a questão econômica dos resíduos sólidos. Em 2013 os municípios brasileiros aplicaram, em média, R$ 114,84 por habitante/ano na coleta de resíduos sólidos urbanos e demais serviços de limpeza urbana. No mesmo período foram gerados mais de 332 mil empregos diretos na área e destacada a relevância do mercado de limpeza urbana no cenário econômico: ultrapassou 24 bilhões de reais em 2013. Em relação aos resíduos de construção e demolição, foi registrado que os municípios coletaram mais de 117 mil toneladas por dia. Já nos resíduos de serviço de saúde foram 252,2 toneladas por ano; o número de se dá “em virtude da legislação atribuir aos geradores a responsabilidade pelo tratamento e destino final dos resíduos de

serviço de saúde, assim grande parte dos municípios coletam e dão destinação final apenas para os resíduos deste tipo gerados em unidades públicas de saúde”. Desse resíduo oriundo da saúde, 44% tiveram como destino final a incineração.

Um raio x da região Sul Segundo o panorama, os 1.191 municípios dos três Estados da região Sul geraram, em 2013, a quantidade de 21.922 toneladas/dia de resíduos sólidos urbanos, das quais 94,1% foram coletados. Dos resíduos coletados na região, cerca de 30%, correspondentes a 6.094 toneladas diárias, ainda são destinados para lixões e aterros controlados que, do ponto de vista ambiental, pouco se diferenciam dos próprios lixões. O maior gerador de resíduos é o estado do Paraná, com 8.123 toneladas por dia e 0,73 kg por habitante; em seguida é o estado do Rio Grande do Sul, com 7.953 toneladas de resíduos gerados por dia e 0,71 kg por habitante; e depois Santa Catarina, com 4.546 toneladas geradas por dia e 0,68 por habitante.


RESÍDUOS SÓLIDOS

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A realidade local

s números apresentados são impactantes e demonstram uma realidade de dois anos atrás. Apesar disso, podemos ter um panorama geral da geração de resíduos sólidos no Brasil e de cada região. Os municípios de Itapoá e Guaratuba não fogem do padrão: geram lixo, possuem coleta e destinação final dos resíduos e coleta seletiva. Porém, como cidades litorâneas, contam com o agravante da alta temporada de verão, quando os números aumentam significativamente. Em Itapoá a coleta de resíduos sólidos é realizada pela Surbi, através de uma concessão do município com a empresa Serrana Engenharia. Conforme Sidnei Pires do Amaral, gerente operacional da empresa, o município gera em média 500 toneladas de resíduos sólidos por mês. Todo o lixo é levado para a área de transbordo. “O transbordo é o local onde o lixo sai do caminhão e passa para uma carreta, que todo o dia leva os resíduos para o aterro sanitário de Mafra – SC”, explica Sidnei. Como Itapoá não tem um aterro próprio, esta é a forma mais correta de destinação. A área de transbordo fica

Sidnei Pires do Amaral, gerente operacional da Surbi, em Itapoá, afirma que o município gera em média 500 toneladas de resíduos sólidos por mês. retirada da cidade, na região da estrada Cornelsen. De acordo com a empresa, a coleta de resíduos abrange todo o município. Durante o ano são quatro caminhões, que fazem escala nas diferentes regiões da cidade e, na temporada, o número de veículos sobe para sete. Enquanto nos meses de fevereiro a novembro a média é 400 toneladas geradas por mês, nos meses de dezembro e janeiro o número passa para 800 e 1.200 toneladas, respectivamente. Em relação à coleta seletiva, que é realizada pela empresa e destinada à Associação de Catadores e Carroceiros de Itapoá, Sidnei comenta que a consciência das pessoas em separar o lixo comum ao reciclável está aumentando, mas a média ainda está em 20 to-

neladas por mês. “As pessoas só precisam se organizar e colocar o lixo reciclável na frente de casa no dia da coleta seletiva”, afirma. Conforme ele, o balneário mais organizado em relação à reciclagem é a Barra do Saí: 80% das residências separam o lixo para a coleta seletiva. Já o balneário Itapema do Norte, maior produtor de resíduos, ainda é o menos organizado. Em Guaratuba a coleta de resíduos também é terceirizada e abrange todo o perímetro urbano. Conforme o secretário de Meio

Ambiente do município, Vicente, os resíduos são destinados ao aterro sanitário da própria cidade, localizado no loteamento Santo Amaro. A média de lixo gerado por dia é se 36 toneladas e, durante a temporada, sobe para 100. A cidade também conta com coleta seletiva e os recicláveis são encaminhados para a triagem de reciclagem. Segundo o secretário, a média de recicláveis coletado por mês é de 40 toneladas, mas poderia ser maior com atitudes de separação nas próprias residências.

O local de transbordo, nas proximidades da estrada Cornelsen, acumula os resíduos coletados pelos caminhões e diariamente os encaminha ao aterro sanitário de Mafra - SC.

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RECICLAGEM DE LIXO

O lixo que não é lixo A expressão que nem tudo que vai para lixeira é lixo já virou moda. Sustentabilidade e reciclagem são palavras da vez, estão em todos os lugares e permeiam as mais diversas áreas da rotina, só que mais do que palavras, estas devem ser atitudes. Augusta Gern

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ntre os quilos de lixo produzidos todos os dias dentro de nossas casas, há muitas riquezas. Papel, plástico, alumínio e outros tantos materiais descartados diariamente têm um valor inestimável: se reciclados garantem o sustento de muita gente, preservam o meio ambiente e prosperam um futuro cada vez melhor. A atitude é muito simples: separar o lixo orgânico do reciclável, organizar e lavar o que vai para a coleta seletiva e colocar na frente do portão no dia em que o caminhão passa para recolher. Em Ita-

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Arlene Fiedler, atual coordenadora da associação de Itapoá, com a companheira jabuti, encontrada em meio aos recicláveis. poá e Guaratuba há coleta seletiva O montante que chega até as espaço que deveria ser dedicado de lixo, que passa em todas as lo- associações e empresas é gran- apenas ao lixo seco, limpo e recicalidades dos municípios e destina de, mas não o suficiente para um clável. Conforme Arlene Fiedler, o material a associações responsá- elogio: ainda há muito material atual coordenadora da associação, veis. Lá é separado e categorizado reciclável descartado junto com o muito material perde seu valor porde acordo com o tipo de material lixo comum que vai parar no aterro que já chega contaminado de oue vendido para empresas de reci- sanitário, onde perde todo o seu tros resíduos. clagem. Além disso, dezenas de valor. O pior ainda é o contrário: A associação recebe diariacarroceiros garantem o prato de muito lixo orgânico é descartado mente o lixo da coleta seletiva: a comida junto à limpeza da cidade, na coleta seletiva, contaminando empresa responsável pela coleta recolhendo recicláveis das ruas, li- os materiais recicláveis e atribuin- de resíduos sólidos recolhe o lixo xeiras e até da praia. Do carrinho o do riscos aos recicladores. reciclável com caminhões diferenmaterial é vendido para empresas Na Associação de Catadores e ciados e destina à associação. No de reciclagem, que também cate- Carroceiros de Itapoá ainda é en- terreno de bons metros, é difícil gorizam o material e repassam a contrado muito lixo orgânico mistu- distinguir tudo que existe: o camiindústrias e empresas que trans- rado ao reciclável: papel higiênico, nhão despeja o material na entraformam o que era lixo em matéria restos de comida, sujeira de casa da e, pela quantidade, o morro de prima. e até lixo de quintal vão parar no recicláveis e outros tantos mate-


riais já ocupa boa parte do espaço. Segundo Arlene, a quantidade é boa, mas já foi maior: “De alguns anos pra cá o número de recicláveis diminuiu bastante, pois há empresas privadas recolhendo antes da coleta seletiva”. De qualquer forma, a quantidade parece maior do que o número de mãos para separá-los, o monte nunca diminui muito o seu tamanho. Atualmente, de acordo com a coordenadora, são onze associados. Ali os materiais mais expressivos são o plástico e papel, são os que mais entram e mais saem. Porém, outros materiais também entram em cena e parecem problemas. Lixo eletrônico, pilhas e pneus ainda não conseguem ser separados pela associação e criam grandes montes, tanto de lixo como de preocupação. Conforme Arlene, muitas televisões já chegam ali com o tubo de imagem quebra-

do e o material químico que não deveria ser liberado ao meio ambiente já ganhou outros rumos. Porém, segundo ela, é melhor que este material fique na associação do que espalhado nas ruas da cidade. Algumas vezes conseguem vender os aparelhos para empresas de reciclagem especializada. Porém, nem tudo está estragado e será destinado à reciclagem. Objetos seminovos e eletrônicos que precisam de poucos reparos saem dali para novos lares. Alécio Fiedler, irmão de Arlene, também trabalha na associação e é responsável pelos consertos. “Vem muita coisa nova que às vezes só precisa de um ajuste para voltar a funcionar normalmente, então sempre damos uma garimpada e arrumamos o que é possível”, explica. No tempo da entrevista, cerca de uma hora, um DVD portátil e telefones sem fios foram

encontrados na caixa, até com o manual. Objetos de decoração, óculos de sol e diversos documentos também são encontrados e expostos na associação. Conforme Arlene, a maioria dos documentos são levados à delegacia. “Um dia encontramos aqui até um cheque. Como eu não sabia o que fazer, pedi ajuda na prefeitura e descobrimos que o cheque era de uma agência aqui mesmo da cidade. O dono foi encontrado e o dinheiro devolvido”, lembra a coordenadora. Porém, coisas ainda mais estranhas já foram parar no meio dos sacos de lixo reciclável. Arlene é catadora de lixo desde 2002, começou com carrinho nas ruas e em 2010 assumiu a associação, e já viu de tudo dentro das sacolas e nas ruas da cidade, mas se impressiona com algumas coisas encontradas.

Alécio Fiedler é responsável por consertar os pequenos estragos de objetos seminovos que chegam à associação.

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Na associação, sem dúvida, os objetos mais estranhos que aparecem com certa frequência são dentaduras. De diferentes tamanhos e nas mais variadas épocas do ano, elas aparecem entre o montante de plástico, papel e latinhas. Outro achado que também a impressionou muito foi sua mais nova companheira de estimação, uma jabuti. “Ela veio dentro de um saco de lixo preto, mas estava viva. Cuidamos dela e hoje ela vive comigo”, fala com carinho. Em Guaratuba a situação não é muito diferente: variados objetos impressionam os recicladores. No município paranaense a Associação de Catadores de Material Reciclado Pôr do Sol é responsável pela coleta, separação e destinação do material. Conforme Jocelene Aparecida da Conceição, atual coordenadora, a Prefeitura cedeu o espaço, os maquinários, dois caminhões e uma pessoa para coordenação; e a associação é responsável por todo o trabalho. “Todos têm acompanhamento médico e recebem cestas básicas do poder público municipal”, afirma. São atualmente 120 associados e 27 trabalham no galpão de separação e na coleta com os caminhões. “Esta é a associação paranaense que mais têm idosos

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Heitor, Vitalina, Cristiane, Pretinha, Ana Salete, Cida, Maria de Jesus, Rosângela, Tereza, Aliferssandro, Mario e Natália – alguns dos recicladores da Associação Pôr do Sol, em Guaratuba. participando”, ressalta. A coleta seletiva também passa em todas as localidades da cidade e diariamente despeja uma boa quantidade de material para a separação. Depois de separado, todo material é prensado e encaminhado para uma mesma rede de reciclagem. São cerca de 25 a 30 toneladas que saem dali todo mês. Os materiais que mais chegam da coleta são papelão, plásticos em geral, garrafas pet e latinhas. Porém, também chega muita coisa que não deveria estar ali: lixo orgânico dentro de embalagens reciclá-

veis, lixo hospitalar e outras coisas que contaminam os materiais. Conforme os catadores, também chega muita roupa boa, mas no meio de resíduos orgânicos, que as apodrecem. “A consciência ter que vir de todos, de quem produz o lixo e de quem o recicla”, afirmam os associados. Nesta associação quase não se vê lixo eletrônico, pois é de responsabilidade do projeto Esperança Mirim Paranaense, também coordenado por Jocelene, e que o transforma em pedras para calçadas. Mas como em Itapoá, esta as-

sociação também encontra coisas boas no meio de tantos sacos de lixo. Quando aparece alguma coisa de valor a regra é clara: é sorteado entre todos os associados ou, caso os coletores que trabalham nos caminhões ganham, é necessário que o doador assine no caderno que está dando para a pessoa, e não para a associação. “Todos trabalham igualmente, então os direitos são os mesmos”, fala Jocelene. Entre os achados mais valiosos estão um saco com R$ 1.500,00 – o restante já havia sido comido por ratos – e um vestido de noiva, que usam para casamentos comunitários. O empréstimo do vestido é feito para a própria comunidade, que agradece com alimentos para a associação. “Como muitos catadores não terminaram a escola, damos aulas aqui na própria associação e o alimento que recebemos vai para o lanche dessas aulas”, conta a coordenadora. Os associados de Guaratuba, que mais parecem uma família, também contam com outras atividades. Em festas da cidade, como a Festa do Divino, por exemplo, eles são contratados para a limpeza do ambiente, chamados de “Esquadrão da Limpeza”. Além disso, constantemente participam de festividades, como desfiles e blocos de carnaval.


RECICLAGEM DE LIXO

Quando a reciclagem se torna um bom negócio Augusta Gern

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lém de associações, os municípios também contam com empresas próprias de reciclagem, como a Recicle Resíduos e Sucatas, em Itapoá. Há dez anos no mercado, eles compram material reciclado de catadores ou pontos de reciclagem da cidade e da região, classificam como a indústria exige e encaminham para empresas que transformam o material em matéria prima. “O material já vem pré-selecionado, mas fazemos mais uma seleção e passamos um pente-fino antes que vá para a prensa”, explica Regina Araújo Mainardes, proprietária da empresa. A Recicle é tocada por Regina e seu marido Andreo Mainardes. Antes da empresa de reciclagem, tinham uma moagem de pets no balneário Barra do Saí, por influên-

cia da família. “Meu cunhado era professor aqui em Itapoá e sempre dizia que a reciclagem era um bom negócio, então viemos para cá, fizemos cursos e começamos a trabalhar com isso”, conta Regina. A moagem acabou não dando certo e eles resolveram ampliar o negócio: ao invés de só pets, começaram a trabalhar com tudo que pode ser reciclável. “No começo pagávamos os funcionários catando materiais também, mas agora a empresa cresceu e trabalhamos com diferentes setores”, afirma. A organização de materiais e cores ali torna o lixo reciclável muito bonito. Tudo é separado: cadeiras de praia, tampinhas de pets, nos mais variados tamanhos, papel colorido, papel branco, papel com verniz, enfim, cada coisa tem um lugar certo e formam uma composição de blocos prensados

Regina Araújo Mainardes e seu marido Andreo Mainardes. ou bags (grandes bolsas) cheios e coloridos. A quantidade de recicláveis é grande. A cada semana, quinze dias ou até um mês, toneladas de lixo deixam o galpão para ganhar utilidade novamente. Conforme Regina, a cada 15 dias sai cerca de seis toneladas de ferro e três toneladas de plástico do tipo de baldes. Por mês, são cerca de 15 toneladas de papel, sete de plástico, cinco de pets e sete de alumínio. “Muita pouca coisa que chega aqui não é aproveitado, tentamos reaproveitar o máximo”. Haja logística para manter tudo tão organizado. Como também recebem muitas peças boas e diferentes, montaram uma espécie de brechó logo na entrada. Peças de eletrodomésticos, portões e diferentes objetos são organizados e estão à venda. “Às

vezes estraga um eletrodoméstico e temos a peça que a pessoa precisa aqui”, fala Regina. Antiguidades também são encontradas e geralmente vendidas no mesmo dia. “Televisões antigas e lustres antigos são muito procurados, principalmente por pessoas de São Paulo”. Além disso, Regina também já levou algumas coisas para decoração da própria casa, como objetos de bronze, talheres e enfeites antigos. Outra coisa que aparece com certa frequência são livros. Infelizmente, ainda falta a consciência de que o conhecimento pode ser compartilhado em bibliotecas ou até mesmo em expositores como o projeto Giro Teca, por exemplo. Regina conta que sempre encontra boas histórias e acaba levando para os seus filhos.

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Alguns funcionários da empresa Recicle de Itapoá: Marli Fatima Klein, Ronilda Oliveira e Ana Elisa de Lima. Na prensa: Ivanilde Oliveira e Leonardo Gomes.

A reciclagem no Brasil Augusta Gern

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Abrelpe – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais divulgou em seu último relatório, de 2013, informações sobre a reciclagem no país dos setores que possuem maior representatividade e que estavam com os relatórios do ano de 2012 atualizados, que são alumínio, papel e plástico. O alumínio, em 2012, atingiu a marca de produção primária de 1.436 toneladas. Segundo dados de 2011, a média do consumo do

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brasileiro por ano foi de 7,4 kg, representados principalmente pelas embalagens (29,8%), transportes (21,5%) e construção civil (13,8). O dado mais recente divulgado, de 2012, mostra que o Brasil reciclou 508 mil toneladas de alumínio, o que corresponde a 35,2% do consumo doméstico registrado no período. A informação garante uma posição de destaque do país neste setor, pois a média mundial de reciclagem de alumínio é de 29,9%. Outro dado que merece destaque são as latas de alumínio: “o Brasil vem mantendo a liderança mundial nesse segmento específico, tendo atingido, em 2012, o índice

de 97,9%, que corresponde a cerca de 260 mil toneladas recicladas”. Em relação ao papel, a cadeia produtiva em 2013 foi de cerca de 10,4 milhões de toneladas. De acordo com a Abrelpe, a reciclagem anual de papéis é obtida pela divisão da taxa de recuperação de papéis recuperáveis (com potencial de reciclagem) pela quantidade total de papéis recicláveis consumidos no mesmo período. Assim, em 2012 o Brasil registrou uma taxa de recuperação de 45,7%, ficando bem abaixo do índice de países como a Coréia do Sul (91,6%), Alemanha (84,8%), Japão (79,3%), entre outros.

Já o plástico teve um consumo de 7.127 toneladas em 2012. Os dados disponíveis pelo relatório sobre a reciclagem de plásticos no país retratam o universo da indústria de reciclagem mecânica dos plásticos, a qual transforma os materiais plásticos descartados pós-consumo em grânulos para serem utilizados na produção de novos artefatos do material. Em 2012 a indústria brasileira de reciclagem dos plásticos era constituída por 762 empresas e, das 3.262,6 mil toneladas geradas de plástico pós-consumo, apenas 683,2 toneladas foram recuperadas com a reciclagem.


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RECICLAGEM DE LIXO

As vidas por trás da reciclagem

Das mãos que pegam o lixo às mãos que criam um mundo melhor Augusta Gern

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o momento em que colocamos o lixo reciclável em frente de casa até a hora em que vira nova matéria prima, muitas são as mãos por onde percorre. As mais próximas aos nossos olhos geralmente são as menos vistas e que para muitos nem parecem ter importância, mas são elas que iniciam o ciclo, que limpam a cidade e que, mesmo sem perceber, garantem um futuro melhor. As mãos que usam da força para levantar os quilos de lixo descartados são as mesmas mãos que fazem parte de um corpo como de qualquer pessoa: cheio de necessidades, de desejos, sonhos e emoções.

Apesar de diminuir ao longo dos anos, o preconceito ainda bate de frente dos carrinhos, dos recicláveis que às vezes parecem sujeira e das mãos que os recolhem.

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Maria Aparecida Januário, mais conhecida como Cida, trabalha com a reciclagem desde pequena e com a coleta dos materiais criou os nove filhos.

Quem garante e lamenta isso é Maria Aparecida Januário, mais conhecida como Cida, catadora de reci-

cláveis desde 1973. Aos oito anos ela começou a catar, sua mãe trabalhava fora e ela recolhia ossos do chão, vendia para depósitos e garantia alguns troquinhos para ajudar em casa. Dos ossos passou para o vidro, depois jornal, revistas até que o saco nas costas começou a carregar tudo que podia ser reciclado. Tudo isso na capital paranaense, onde morou até se mu-

Com a reciclagem, Dona Vitalina está realizando o sonho de ter uma coleção de bonecas.

dar para Guaratuba. Cida conta que já teve outros ofícios, mas foi com a reciclagem que criou os nove filhos. Diferente de outros trabalhos, com a reciclagem o dinheiro vem mais rápido, segundo ela. E para garantir o prato de comida dos nove, já puxou carrinho com até 1.500 quilos e viu um pouco de tudo: cobras e até pedaços de pessoa já foram achados em meio ao reciclável. Porém, também encontrou coisa boa, parte de sua casa foi montada com objetos já considerados lixo por outras

pessoas, como a geladeira, fogão, cama e muitas roupas. O maior problema da reciclagem, para ela, é o jeito em que o reciclável é separado. “Em Curitiba as pessoas separam o lixo por cor, o saco preto é só para lixo orgânico e os mais claros são para o reciclável, porque é possível ver o que tem dentro”, conta. Para Cida, as pessoas deveriam deixar coisas em bom estado em sacolas diferentes, pois podem ser muito bem reaproveitadas por outras. Ela afirma que já sofreu muito


O alemão Joachin Rodolph Buehrer deixou o emprego na área de finanças e hoje é o atual presidente da associação em Guaratuba. preconceito, mas hoje as coisas estão mudando, principalmente no litoral. Cida começou a frequentar Guaratuba apenas na temporada para aumentar o volume da reciclagem, mas há oito anos adotou a cidade como moradia. Há sete anos ela deixou o trabalho no sol, colocou o carrinho para descansar e começou a trabalhar na Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis Pôr do Sol. E com muita simpatia, dá uma aula quando o assunto é cidadania: “As pessoas falam tanto que amam o futuro e acham que é só aqui que temos que reciclar, mas é preciso preservar a vida e o meio ambiente em todos os lugares”. Na associação há gente de todos os lugares e culturas, gente que acolheu a reciclagem como trabalho com o maior prazer.

Dona Vitalina está há cinco anos com o novo ofício, antes pescava camarão: “quando o meu neto morreu na pesca, resolvi bus-

car outro trabalho”. Entre os sacos de lixo reciclável também já encontrou muita coisa, mas não esconde a sua paixão: bonecas. Hoje, com 65 anos, realiza um sonho de colecionar bonecas, já são 22, nos mais variados tamanhos. Do lixo os brinquedos ganham casa nova, abraços e até roupas exclusivas, costuradas pela própria Vitalina.

Outro personagem que adotou a reciclagem foi Joachin Rodolph Buehrer. Ale-

mão, veio para o Brasil por amor e uniu todo o seu conhecimento para encontrar novas amizades. Em seu país de origem foi corretor financeiro de seguros e imóveis e, em busca de sua outra metade, largou tudo e se mudou para Itajaí, em Santa Catarina. Na cidade catarinense teve restaurante e foi gerente de uma fábrica de papel, mas por gostar muito de praia e se habituar à Guaratuba logo na primeira visita, se mudou para o litoral paranaense há três anos.

Luzia Quirino de Meira já passou por muitos caminhos difíceis, mas foi na reciclagem que encontrou novas oportunidades. Conforme ele, neste meio tempo conheceu pelas redes sociais a Jocelene, atual coordenadora da associação e, junto com sua esposa, foi visitar o centro de reciclagem. Com um vocabulário brasileiro ainda restrito, logo fez amizades e pediu para trabalhar voluntariamente com o pessoal. O pedido foi aceito, as amizades foram fortalecidas e hoje atua como presidente da associação. “Ele fez amizades muito rápido e está aprendendo a falar português com quem não sabe ler”, conta Jocelene. Amizade, neste caso, foi que uniu as mãos de Joachin ao material reciclável, mãos com uma boa experiência profissional, com 62 anos e cheias de vontade de aprender e cumprimentar outras mãos, futuros amigos brasileiros. Porém, nem sempre a reciclagem vem como uma escolha, às vezes é oportunidade.

Luzia Quirino de Meira,

natural de Curitiba, está em Itapoá

desde 2008 e afirma que andou por muitos caminhos errados até chegar à reciclagem. A comercialização de drogas e até prisão já fizeram parte de sua vida, pelo qual não se arrepende por ter passado. “Para garantir o prato de comida dos meus filhos eu faria tudo de novo. Por medo que eles errassem, eu errei por eles”, afirma. Quando decidiu recomeçar a vida, iniciou com a coleta nas ruas com um carrinho e hoje está na associação de reciclagem de Itapoá. Aos 53 anos, ela vê no lixo reciclável, uma oportunidade para manter a escolha de mudança, manter a decisão de uma nova vida. E assim, com diferentes histórias, experiências e motivos, as mãos que reciclam o lixo reservam emoções pouco observadas. A lição que fica é que mais do que preservar o meio ambiente e um futuro melhor, a reciclagem é capaz de preservar vidas, em suas mais diferentes circunstâncias.

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LIXO ELETRÔNICO

Calçadas ecológicas:

uma aula de sustentabilidade Augusta Gern

Um dos maiores problemas do descarte de resíduos sólidos sem dúvida é o lixo eletrônico: cresce três vezes mais que o lixo convencional, na maioria das vezes não tem destinação adequada e apresenta um risco à saúde e ao meio ambiente. Porém, entre tantos problemas, catadores de lixo reciclável de Guaratuba encontraram uma solução e dão uma grande aula quando o assunto é sustentabilidade.

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Organização das Nações Unidas (ONU) já alertou que a situação do lixo eletrônico é preocupante: são aproximadamente 50 milhões de toneladas por ano. Os Estados Unidos lideram o ranking com três milhões de toneladas, seguidos pela China, com mais de dois milhões de toneladas por ano. Porém, segundo informações da Organização, a situação é mais preocupante

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nos países emergentes, principalmente no Brasil, campeão quando o assunto é geração de lixo eletrônico por habitante: meio quilo por ano. Em Guaratuba, uma solução para isso foi encontrada quase sem querer. Conforme a catadora Jocelene Aparecida da Conceição, mais conhecida como Pretinha, o lixo eletrônico começou a fazer parte de sua rotina há quatro anos e há três tornou-se uma nova forma de geração de renda e sustentabilidade. Catadora há 20 anos, Jocelene é atualmente coordenadora da Associação de Catadores de Material Reciclado Pôr do Sol e há oito anos coordena o Instituto Esperança Mirim Paranaense, onde proporcionam reforço escolar, aulas de teatro e outras atividades educativas às crianças do bairro Mirim com apostilas e livros encontradas nas lixeiras. “Na época o município tinha que dar a destinação do lixo eletrônico para uma organização que proporcionasse um retorno à comunidade”, conta Jocelene. Como já realizava o projeto com a criança-

da, foi escolhida pelo poder público. Apesar de já mexer em resíduos sólidos há muito tempo, participou de uma capacitação específica sobre eletrônicos e se reuniu com o comércio local da área para que todo material descartado chegasse até ela. Assim, a ideia inicial era separar todo o material e vender para empresas especializadas, mas a reciclagem tomou outro rumo. “Vinha muito plástico e não tínhamos o que fazer com tanto vo-

lume, então começamos a prensar o material”, lembra. Não suficientes com o resultado, o grupo de catadores que trabalhava junto no projeto resolveu moer o material e percebeu que virava uma espécie de brita. Aí só usaram a imaginação: misturaram com massa de construção civil e criaram pedras, dando origem às famosas calçadas ecológicas de Guaratuba. Conforme Jocelene, depois da descoberta a primeira iniciativa foi


A calçada, idealizada pelos próprios catadores de recicláveis, é patenteada e chama atenção de diferentes organizações. procurar um advogado, que os orientou a procurar na internet a existência desse material. Já existiam calça-

das de outros produtos, mas de lixo eletrônico essa era a primeira. Assim, patentearam e fizeram todos os testes necessários com apoio da Univille – Universidade da Re-

gião de Joinville. Com tudo aprovado, colocaram a mão na massa, ou melhor, no lixo eletrônico. “O paver era feito pelos pais das crianças participantes do projeto e o valor da venda era revertido no lanche e material escolar da criançada”, conta a catadora. Hoje o projeto está parado pela falta de um moedor, que era emprestado de uma empresa do Japão, mas boas novas devem vir por aí. Em fevereiro o pessoal do Japão esteve na sede do projeto para saber a utilidade do empréstimo do maquinário e, quando souberam das calçadas, prometeram investir. Jocelene também já foi convidada a implantar o projeto em outras regiões do país, mas pretende colher os frutos na cidade onde tudo surgiu.

Conheça um pouco do projeto Esperança Jocelene Aparecida da Conceição, mais conhecida como Pretinha, descobriu que é possível fazer calçadas ecológicas com o lixo eletrônico.

Como já divulgado na edição 19 da revista, o Instituto Esperança Mirim Paranaense, mais conhecido como Projeto Esperança, surgiu porque muitos dos catadores, inclusive Jocelene, teve que parar de estudar pela falta de material escolar. Assim, há oito anos, livros e materiais escolares encontrados

nas ruas proporcionam novos horizontes e tiram a criançada de sete a 17 anos das ruas. A sede está localizada no terreno da própria Jocelene: uma pequena sala e várias mesas distribuídas ao ar livre recebem as crianças. Hoje são cerca de 60 participantes, mas, conforme a

coordenadora, já passaram mais de 1.000 crianças por ali. O trabalho conta com alguns voluntários e doações de livros e lanche, mas nenhum apoio público. “Também não aceitamos doações em dinheiro, porque ninguém está aqui para ganhar prestígio, apenas para colaborar”, afirma.

Revista Giropop | Março 2015 | 25


RECICLAGEM | ESPECIAL

Dos lacres às cadeiras Pequenas atitudes que geram grandes resultados Augusta Gern

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equenos e até aparentemente insignificantes, mas responsáveis por uma grande mobilização social e até ambiental. Muito prazer, esses são os lacres de latinhas de refrigerante, cerveja e outras bebidas. Sozinhos eles têm apenas a função de fechar as latinhas e conservar o líquido que está dentro, mas em quantidade podem ser trocados por cadeiras de rodas e fazem uma diferença danada para quem tem dificuldade de locomoção. Há algum tempo se ouvia dizer que essa troca de lacres por cadeiras era uma lenda urbana, mas existe e é real. Diferentes empresas e instituições se organizaram, montaram a campanha e fazem a coleta de lacres. O número varia de campanha para campanha, às vezes 80, 100 ou até 120 garrafas pet

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de dois litros cheias de lacres são necessárias para a troca de uma cadeira de rodas. Em uma garrafa pet cabem até três mil lacres e sim, o número necessário para a troca é grande. Porém, como aquele velho ditado “de grão em grão a galinha enche o papo”, todo o lacre guardado é bem-vindo e faz a diferença. Mas por que só reciclar o lacre e não toda a latinha, visto que a quantidade de latas necessárias para atingir o valor seria muito menor do que a de lacres? O projeto “Lacre, Amigo”, realizado por voluntários da Autopista Litoral Sul, explica que a grosso modo quem faz essa pergunta tem razão, mas há dois motivos básicos para se preferir o lacre. Primeiro é a questão do volume. “O manuseio do lacre é mais simples, pois a lata, para não ocupar muito espaço, deve ser amassada e normalmente se precisa de um amassador de latas para isso”, explica o site da campanha. Conforme informações


O Porto Itapoá é parceiro da campanha Lacre Amigo, da Autopista Litoral Sul. Colaboradores e caminhoneiros podem participar. do projeto, 30 mil lacres cabem em dez garrafas pet que podem ser facilmente armazenadas em casa e equivalem a quase mil latas de alumínio. Já imaginou guardar mil latas em casa? O segundo motivo é o valor do alumínio do lacre. “A liga de alumínio do lacre tem um teor de magnésio maior do que a lati-

nha. Dessa forma, separando o lacre evita-se que a mistura dos dois tipos de alumínios contaminem o alumínio reciclado”. Além disso, só com o lacre, a arrecadação não interfere no trabalho de muitos recicladores que dependem da latinha para garantir o sustento. A campanha de arrecadação

de lacres de alumínio da Autopista Litoral Sul iniciou em outubro de 2012 e já garantiu 65 cadeiras de rodas, doadas para diferentes cidades do estado. Qualquer pessoa pode participar levando os lacres na sede da Autopista, em Joinville, ou nos pedágios da BR 101, como o de Garuva, por exemplo. Além da comunidade, empresas também são parceiras do projeto e contribuem para a arrecadação, como o Porto Itapoá. Conforme Patrícia Dall’Onder, analista de sustentabilidade do Porto, todos os colaboradores do Porto Itapoá são convidados a participar da campanha voluntária. Além disso, os caminhoneiros podem contribuir através do ponto de coleta no prédio de apoio ao motorista do terminal, além da passagem pelos pedágios da Autopista. O Porto iniciou a campanha há um pouco mais de seis meses e já arrecadou cerca de 20 garrafas. “Leva tempo para encher uma garrafa, mas vale muito a pena”, garante Patrícia. Em Itapoá e Guaratuba, quem também lidera essa campanha são os clubes do Rotary. Em diferentes pontos comerciais, potes ou mesmo garrafas pet de dois litros aguardam doações e, quando cheias, são destinadas aos clubes para a troca por cadeiras. Conforme o atual presidente do clube de Itapoá, José da Silva Tomás, o projeto intitulado banco ortopédico foi implantado em 1997,

logo depois da fundação do clube. “Vimos a necessidade de cadeiras de rodas em Itapoá e começamos a comprá-las com recursos do clube. Mais tarde descobrimos o projeto de troca e iniciamos então a campanha de arrecadação de lacres”, conta. Hoje, segundo ele, já são mais de 140 equipamentos, entre cadeiras de rodas, cadeiras de banho, andador e muletas. Apesar de alguns terem sido comprados com recursos próprios, o clube afirma que a maioria é conquista da arrecadação de lacres. De acordo com Tomás, são necessárias 85 garrafas pet de dois litros cheias de lacres para uma cadeira de rodas. O clube itapoaense faz a troca diretamente com uma fabricante de cadeiras em São Paulo. Todos os equipamentos são emprestados sem custos à população, tanto para quem precisa por pouco tempo até aos que usarão durante o resto da vida. “Juntar os lacres é uma atitude muito simples e que só se reverte a favor da população”, afirma o atual presidente. Além dos diferentes estabelecimentos comerciais que possuem ponto de arrecadação, algumas ações já fizeram uma boa diferença na campanha. Tomás lembra que há dois anos a Gincana Cultural e Esportiva, realizada em comemoração ao aniversário da cidade, organizou uma prova de arrecadação de lacres. Ao todo foram 800kgs arrecadados, isso em pouco tempo.

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a cidade é pequena e os rotarianos são conhecidos, a entrega também é feita de mão em mão. “No começo as pessoas desconfiavam e perguntaram se realmente seria trocada por cadeiras, mas hoje já virou mania e todo mundo nos ajuda a arrecadar”, conta Eliana. Recentemente, pela solicitação e apoio da comunidade, uma cadeira foi doada para o balneário Caieiras. Conforme Eliana, a comunidade se uniu, arrecadou a quantidade de lacres necessária para uma cadeira e hoje tem o equipa-

mento à disposição. “A ideia é seguir isso como exemplo e começar a movimentar os bairros, para que cada um tenha uma cadeira à disposição”, fala. Diferente de Itapoá, o clube de Guaratuba não faz a troca diretamente com o fabricante. “Nós vendemos o lacre para a reciclagem e com o dinheiro compramos as cadeiras”, explica. De uma forma ou de outra, o que vale é a comunidade, tanto na hora de arrecadar, como na disponibilidade para usar as cadeiras.

José da Silva Tomás, atual presidente do Rotary de Itapoá, afirma que já foram conquistadas mais de 100 cadeiras com o projeto. Em Guaratuba o Rotary também conta com boas parcerias. Segundo Eliana da Silva de Jesus, diferentes escolas e estabelecimentos abraçaram a causa e fazem a campanha acontecer. A arrecadação iniciou há cerca de três anos e já garantiu um bom número de cadeiras de rodas, além de ca-

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deiras de banho, andador e muletas. Os equipamentos já foram doados para o Hospital Municipal, o Pronto Atendimento e até para o Hospital Erasto Gatner, em Curitiba. Além disso, algumas cadeiras ficam no clube para empréstimo. A coleta também é feita em estabelecimentos comerciais e, como

Eliana da Silva de Jesus, do Rotary de Guaratuba, garante que a comunidade está bastante envolvida com o projeto.


RECICLAGEM | ESPECIAL

Gente que faz a diferença Sem dúvida o número de envolvidos no projeto é enorme: há gente que arrecada e movimenta toda a família, há quem recolhe da rua, quem guarda apenas das latas que consome e comércios que são pontos de coleta. Tem gente que nem sabe o motivo de guarda-las e outros que ajudam na divulgação da campanha. Enfim, para diferentes projetos e instituições, quem faz parte está de parabéns! Porém, muito mais pode ser feito. Conforme a empresa Recicle, de Itapoá, quase todas as latinhas que chegam para reciclagem ainda contam com os lacres. O que custa tirar e guardar em uma garrafa pet em casa?

A família toda unida Na casa da família Quevedo todo mundo já sabe o lugar dos lacres: a garrafa pet ao lado da churrasqueira aguarda ansiosamente cada um que é depositado. Jana Quevedo, a matriarca da casa, nem lembra bem quando isso começou, mas sugere o ano de 1999. Na época moravam em Foz do Iguaçu – PR e conheceram o projeto desenvolvido pelos clubes do Rotary. “Começamos a arrecadar, incentivamos toda a família, amigos e nunca mais paramos”, conta. Há quatro anos se mudaram para Itapoá e a rotina é a mesma. Os três filhos arrecadam e depositam na garrafa – os dois filhos que não moram mais na cidade trazem quando os visitam e a filha junta até na faculdade. Conforme Jana, toda hora é hora de arrecadar: em casa, em churrasco nos amigos e até mesmo quando saem para comer fora. “É só ver uma latinha que já tiramos o lacre e guardamos no

bolso”, afirma. Todo este empenho já resultou tantas garrafas cheias de lacres que a família até Jana e José Quevedo dão exemplo perdeu a conta. quando o assunto é arrecadar lacres: Há dois anos são mais de cinco garrafas PET em dois anos. Janiffer levou três garrafas cheias para a gincana campanha até começou a servir de da faculdade e, de lá para cá, já são desculpa para uma cervejinha ou mais de cinco para doação. Confor- outra. No final, é claro que a paneme Jana, até o momento da entre- la foi conquistada e até hoje rende vista não tinha conhecimento do bons quitutes. Em Itapoá, também estão partrabalho desenvolvido pelo Rotary da cidade e os lacres seriam doados ticipando de uma campanha de lano Hospital Unimed, em Joinville, tas. “A nossa vizinha colabora para que também abraça a causa. Agora a campanha de um menino do balneário Pontal que está juntando as a arrecadação deve ficar por aqui. Além dos lacres, a família parti- latas para comprar uma bicicleta”, cipa de outras campanhas. Em Foz explica Jana. Assim, latinha de um do Iguaçu, João Quevedo se lembra lado do muro e lacre de outro. “Tudo de uma campanha para juntar lati- isso virou uma grande brincadeira, nhas e trocar por uma panela. Eles mas que para quem precisa é muito juntaram, os amigos também e a sério”, afirma Jana.

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As amigas Michele e Andréa se uniram e colocaram uma meta: só irão parar de juntar lacres quando conseguirem o necessário para uma cadeira de rodas.

As amigas unidas No caso de Michele Rodrigues da Veiga, o que impulsionou e hoje faz a arrecadação dar certo é a amizade. Há alguns meses ela soube do projeto realizado por uma amiga na cidade de Rio Negro – PR e resolveu ajudar. “A mãe da minha amiga tem câncer, eles começaram a arrecadar lacres e conseguiram trocar por uma cadeira, então comecei a juntar para ela”, conta. Até o momento da entrevis-

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ta, Michele também não conhecia o projeto desenvolvido em Itapoá. Com o desejo de ajudar, não importa em qual cidade, ela movimentou as amigas e hoje os lacres se tornaram uma meta: “vamos juntar até conseguir o suficiente para trocar por uma cadeira de rodas”. Junto com Michele, Andréa Batista Dias e Rosane Maria Minatti Cavalarri estão empenhadas e juntam lacres em qualquer lugar, nas mais diferentes ocasiões. A arrecadação começou em novembro de 2014 e já tem uma garrafa cheia. “Em novembro viajamos para a Ilha do Mel e ficamos atrás de todas as latinhas possíveis”,

Waldir Batilana, do Wal Lanches, também apoia o projeto e incentiva a filha Heloisa sobre os benefícios da reciclagem. conta Michele. Segundo Edson Ferreira da Veiga, seu marido, era até engraçado: Michele e Andréa estavam na frente e para não perdê-las na pista eles olhavam as latinhas das lixeiras. “Descobrimos que estávamos no caminho certo porque não tinha nenhum lacre no caminho”, brinca. Além de arrecadar os lacres, Michele já está divulgando a ideia e impulsionando outras pessoas também à campanha. “Tem muita gente que guarda e nem sabe o porquê, então vamos unir tudo e conquistar uma cadeira de rodas”, acredita.

Clientes e comércios unidos Quando um comércio adota a campanha, depende também que os clientes façam a sua parte. A timidez ou falta de interesse muitas vezes ainda deixa os lacres junto às latas, mas quando o ponto de coleta existe, geralmente a curiosidade fala mais alto. Clientes perguntam sobre o que se trata ou às vezes nem falam nada, mas depo-


Mascote Auto Pistal Litoral Sul

A Escola GEES, em Itapoá, é parceira do projeto. Na foto, os alunos, junto com a direção, entregaram as primeiras garrafas cheias para Genésio, representante do Rotary. sitam os lacres no recipiente. Isso acontece no Wal lanches, em Itapoá. Há cerca de um ano uma senhora pediu para deixar uma garrafa para arrecadação e já foram duas cheias. Conforme Waldir Batilana, proprietário do estabelecimento, a campanha não é do Rotary, mas também visa a troca por cadeiras de rodas. “O importante é contribuir”, afirma. Segundo Waldir, alguns clientes têm interesse e sempre contribuem para a campanha, mas quando a latinha volta com o lacre, ele mesmo tira e coloca na garrafa.

A escola unida Não é só em casa ou na roda de amigos, escolas também apoiam a campanha. Em Itapoá, a Escola GEES, por exemplo, mostrou que pode dar certo. No ano passado conheceram o projeto, criaram um ponto de coleta na secretaria e já doaram cinco garrafas para o Rotary de Itapoá. Em sacolas cheias, nas mãos ou até de um em um, os alunos se

Mariana é mascote da campanha de lacres da Auto Pista Litoral Sul. organizaram e mostraram como é fácil juntar os lacres. Conforme Isabel Trevizan, proprietária da instituição, além de cadeiras de rodas e preservação ao meio ambiente, a campanha promove a conscientização sobre a importância da cidadania. Apesar de o projeto ter iniciado no final do ano, os bons resultados e a contribuição dos alunos não restam dúvidas à Escola sobre a importância de continuar o projeto: “Vamos continuar com o ponto de coleta e esperamos contribuir ainda mais neste ano”.

Mariana, nasceu em Londrina, mas mora há pouco mais de dois anos em Itajaí/SC. Mari, como é chamada, é deficiente visual desde os 40 dias de vida. Nasceu prematura de 5 meses e meio de gestação com 890 gramas. Ela se sensibiliza sempre quando encontra alguém especial, como ela, seja cadeirante, deficiente auditivo ou visual ou com alguma perda neurológica. Em uma viagem de Itajaí à Londrina, o pai de Mariana parou no Serviço de Atendimento ao Usuário da Autopista Litoral Sul de Barra Velha. Lá tem um recipiente para recolher lacres de latas de latinha de alumínio para a Campanha Lacre, Amigo. A Mariana se empolgou com a história e começou a juntar lacres para trocar por cadeira de rodas e quer conhecer a pessoa que vai recebê-la. Desde então, vem mobilizando os amigos e familiares para que todos juntem os lacres para ela. Por onde passa e ouve alguém abrindo uma latinha, logo pede o lacre, mesmo que não conheça a pessoa. Pode ser em qualquer lugar, ouviu o estalo do lacre, está lá pedindo o lacre da latinha. E assim é sempre. A Mari, mascote da campanha de lacres da Auto Pista Litoral Sul, é solidária e atenciosa.

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RECICLAGEM | LACRES

Das campanhas para a vida real Augusta Gern

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á descobrimos que arrecadar os lacres de latinhas é uma das formas mais simples de se reciclar e que pode trazer um resultado imenso, mesmo sem parecer. “É algo muito simples e que parece pouco, mas que faz uma grande diferença para quem precisa”, afirmou Jana Quevedo, que junta lacres há anos. Sem dúvida, faz uma diferença enorme. Quem afirma isso é Odenir da Silva. Morador de Itapoá, o socorrista do SAMU sofreu um acidente há dois anos e tem a cadeira de rodas como sua fiel companheira: “por enquanto ela é minhas pernas”. Odenir morava na localidade rural

Há dois anos Odenir tem a cadeira de rodas como companheira diária e reafirma a importância do projeto.

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Saí Mirim e estava indo trabalhar quando se deparou com um cavalo na pista. “Ele estava no canto, mas se assustou com o carro que vinha na direção contrária e acabou na minha frente”, conta. Segundo ele, tudo isso são relatos de amigos e testemunhas do acidente, pois não se lembra do ocorrido. Como estava de moto, o impacto com o animal o lançou para a pista, onde bateu a cabeça. A lesão afetou os movimentos do seu lado direito, mas que aos poucos estão sendo retomados. Na época ficou com poucas chances de sobreviver, sua filha tinha quatro meses e a espo-

sa ainda morava em Joinville. Foi um tempo difícil, mas tudo está sendo retomado e suas pernas estão ganhando movimento: com apoio, alguns passos já são dados. A fisioterapia faz parte de sua rotina e a cadeira de rodas ainda é seu aconchego na maior parte do dia, mas não por muito tempo. Antes do seu acidente, Odenir conta que já presenciou outros casos parecidos e até piores que o seu, e nunca tinha se imaginado em uma cadeira de rodas. Pois é, quem um dia se imaginaria em uma? Assim, sua história representa a de outras tantas pessoas que um dia foram surpreendidas com o destino e tiveram que adotar a companheira metálica: alguns por meses, outros por alguns anos e até os que a adotam para a vida inteira. Uma surpresa impactante, mas que é diminuída por ações como a reciclagem. Dezenas de cadeiras já foram doadas e outras tantas estão à disposição para empréstimo através desse projeto de reciclagem. Comece a juntar, é simples, fácil e importante!


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BEM ESTAR | CORPUS STUDIO

X Tend Barre: Pilates, balé e muita novidade Serão 55 minutos para resultados rápidos e duradouros. Não é preciso ter conhecimentos do balé ou muito alongamento, o único requisito é a vontade de se sentir bem. Marque uma aula experimental e entre nesta onda. “Meet you at the barre”, ou melhor, encontro você na barra, diz Débora Gervasio.

Augusta Gern

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aniversário é do Corpus Studio e quem ganha é o seu bem estar. Em comemoração ao primeiro ano de atuação no município de Guaratuba, uma novidade está chegando: o Xtende Barre Brasil. Você já imaginou unir balé e pilates? Se não, saiba que esta modalidade deve contagiá-lo nos próximos meses. Com movimentos adaptados do balé clássico e os princípios do pilates, a atividade surgiu nos Estados Unidos e ainda é muito nova no Brasil. Conforme Débora Rachel B. C. Gervasio, fisioterapeuta e proprietária do Corpus Studio, apenas dois locais oferecem esta prática no Paraná, um em Curitiba e outro em Maringá. Com exclusividade no litoral, esta modalidade promete fazer sucesso. Baseado em práticas corriqueiras e tradicionais, esta é uma atividade diferente e garante benefícios em curto prazo. “Em pouco tempo é possível perceber perda de peso, fortalecimento da musculatura e uma melhora na postura e no con-

38 | Março 2014 | Revista Giropop

Equipe Corpus: Giovani Luigi M. Gnata, Debora Carolina, Débora Rachel e Edson Gervasio Junior. dicionamento cardio respiratório”, explica a fisioterapeuta Débora Carolina Larramendia. A dupla de ‘Déboras’ já é especialista na prática e garante o resultado: “a modalidade tem o componente aeróbico, com movimentos e posições adaptadas do balé”, afirmam. Segundo as fisioterapeutas, é uma atividade que pode ser adaptada a qualquer necessidade. Além das mulheres, crianças, gestantes, homens e até idosos são bem-vindos. “O objetivo é alcançar o bem estar de uma forma divertida e pra-

zerosa”, afirma Débora Gervasio. Além da nova modalidade, o Corpus Studio também oferece outras atividades, com larga experiência e profissionais capacitados. Junto ‘às Déboras’, Edson Gervasio Junior, também proprietário, e Giovanni Luigi M. Gnata fazem parte da equipe de fisioterapeutas, que oferecem aulas de pilates com aparelhos e acessórios, sessões de fisioterapia e tratamentos de fisioterapia dermato-funcional. As aulas de Xtende Barre Brasil iniciam ainda no mês de março.

Representante do X Tend Barre Brasil Audrea Regina Ferro Lara.



GIROPOP NA ESCOLA - ITAPOÁ

Escola e Meio Ambiente: soluções sustentáveis Nesta primeira edição da série Giro Pop na Escola, conhecemos projetos em que a reciclagem vai além de preservar o meio ambiente, ela também cria novos espaços e garante a sustentabilidade em salas de aula.

SAIBA COMO AJUDAR

Ana Beatriz

J

á imaginou estudar em uma sala de aula de garrafas pet? Se você uniu esta pergunta à preocupação e a dúvida se isso é mesmo possível, saiba que sim: é possível e está em andamento em Itapoá. O projeto surgiu e está sendo realizado na Pré Escola Palhacinho Feliz para a construção de uma sala para as aulas de artes. Artes é uma disciplina adorada pela maioria das crianças, nela, há possibilidades de experimentações, descobertas e sensações. E, para que as atividades fluam de melhor maneira, são preciso materiais, trabalhos, espaço para exposição e até mesmo, para inspiração. Partindo desta necessidade é que Ana Paula Dutka de Miranda, professora de artes da Pré Escola, executou o projeto “A cidade e o meio ambiente: Criança e comunidade numa ação sustentável”, cujo produto final é a construção da

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A equipe da Pré Escola visitou a sala construída de garrafas PET no C.E.I. Alegria de Viver, em Joinville. sala com garrafas pet. A ideia se uniu ao tema do ‘V Salão de Artes’, realizado em 2014, que foi “Itapoá”. A professora, junto com a coordenadora pedagógica, Fabiane Roberta Pereira, e a gestora, Patrícia Machado Pereira, resolveram aplicar um projeto sobre o meio ambiente no município e deram a largada à construção da sala sustentável. O primeiro passo foi uma reunião com os pais das turmas onde o projeto seria executado: pré I e pré II, crianças de quatro e cinco anos. Foram várias as etapas realizadas com a criançada: visitaram uma empresa de reciclagem, estudaram a importância dos catado-

Para que a Sala Pet seja possível, a Pré Escola Palhacinho Feliz precisa de 5 a 6 mil garrafas pet. Você pode doar garrafas limpas, com tampinhas (para que ela não esvazie) e de preferência, transparentes (para que a sala de aula fique clara) na própria escola.

res, o que é lixo e o que não é, e montaram painéis com materiais recicláveis trazidos pelos pais e pelas próprias crianças. “Nós plantamos a sementinha agora, para que eles sejam adultos conscientes”, conta Ana Paula. Durante esse período, muitas etapas da sala de aula também foram realizadas. Inicialmente, a sala seria construída com tijolos ecológicos, mas depois de algumas pesquisas, optaram por garrafas pet. “Pesquisando, achamos algumas construções com garrafas pet com barro dentro e outras de garrafas pet com tijolos, mas não era bem o que queríamos”, conta Fabiane.

Demorou um pouco até que encontraram o que imaginavam. Através da internet descobriram uma sala construída apenas com garrafas em Itajaí – SC e, logo em seguida, uma na cidade vizinha, no C.E.I. Alegria de Viver, em Joinville. Uma comitiva foi conhecer a sala e ideias não faltaram. “Fomos muito bem recebidas pela equipe do C.E.I. Alegria de Viver. Lá, foram utilizadas madeiras ecológicas, toras, e muitas garrafas”, conta Patrícia. “Tínhamos a preocupação com a chuva, mas a equipe nos garantiu que nunca entrou água na sala e verificamos de perto que ela é bastante fresca”, complementa a


A professora de artes Ana Paula, a coordenadora Fabiane e a gestora Patrícia com parte das doações de garrafas. professora Ana Paula. Com os modelos, iniciaram a arrecadação de garrafas. Até o momento, a equipe estima ter cerca de 1 mil garrafas pet, e são necessárias, para a realização do projeto, mais 4 ou 5 mil garrafas. Diferente das duas salas encontradas na região, que contaram com apoio de universidades para a arrecadação do material e construção, em Itapoá o apoio vem dos pais. Este ano, na volta das férias, havia no pátio algumas sacolas com garrafas pet jogadas por pais. “Os pais que nos ajudam, dão bastante opinião e correm atrás conosco, isso nos deixa muito feliz”, afirma Fabiane.

As turmas do Pré I e Pré II desenvolveram diferentes etapas no projeto que tem como resultado, a construção da sala de aula sustentável.

Simone Cristine Cubas e André Luiz Pereira têm dois filhos na Pré Escola Palhacinho Feliz, são integrantes da APP e amigos da escola. “A Equipe, de forma responsável e criativa, desenvolve a educação de nossas crianças, incluindo-as na sustentabilidade. Acreditamos que o planeta possa se tornar autossustentável, pois aquilo que nos parece lixo nos dá vida”, conta Simone. Conforme a direção, o projeto já foi aprovado pela Prefeitura e a sala agora aguarda um espaço apropriado para construção e a arrecadação do número necessário de garrafas. Segundo a professora Ana Paula, o projeto rendeu muitos resul-

tados positivos no ano passado: “As crianças passaram a pegar no pé dos pais para que separassem o lixo. Eu mesma posso dizer que evoluí com este projeto”. Na escola a reciclagem faz parte da rotina: o lixo é separado e entregue à coleta seletiva, e as cascas de frutas e restos de comida viram compostagem para a horta da escola, também construída através de projetos pedagógicos. Além da sala de garrafas, a Pré Escola teve, também no ano passado, outros projetos bacanas envolvendo reutilização de materiais: projeto de compostagem, onde os alunos foram ensinados a valorizar e a separar o lixo; a amarelinha

de pneus; a canoa que virou canteiro; caixas de leite que viraram um tapete para leitura; cantos de biblioteca com caixas de frutas; bibliotecas móveis com geladeiras antigas, entre outros. A gestora convida a comunidade para que conheçam os espaços criados para estudos, pesquisas e lazer através dos projetos desenvolvidos. E, apesar de ter início no ano passado, a sala de garrafas pet será integrada aos atuais alunos e, sem dúvida, receberá a visita dos antigos. Muda o ano e vêm novos projetos, mas a expectativa para a execução da sala continua grande, enquanto isso, toda garrafa pet doada é bem-vinda.

Revista Giropop | Março 2015 | 41


BRECHÓS

Barato e diferente, por que não provar? Confira os belos looks de Meuryam, econômicos e cheios de estilo.

10 reais - Boa parte de seu guarda-roupa vem do brechó. O vestido azul comprou por apenas R$7 e o colar por R$3.

Q

Augusta Gern

uem é que não tem alguma peça de roupa no armário que não serve mais ou que está esqueci-

42 | Março 2015 | Revista Giropop

da? Dando uma boa vasculhada, certamente você vai encontrar mais de uma. Em vez de deixá-la eternamente guardada, por que não trocá-la por uma peça nova ou vender? Foi dessa forma que surgiram os famosos e cada vez mais

Dois reais - O vestido laranja foi comprado em Itapoá por apenas R$2. Uma pequena reforçada em uma das alças foi o suficiente para se tornar um coringa nos dias quentes de verão. em alta brechós: locais onde é fácil encontrar roupas baratas, diferentes e às vezes até exclusivas. Para montar um bom look não é preciso gastar muito, uma boa garimpada pode garantir um guarda-roupa renovado e ainda faz um bem dana-

do ao meio ambiente. Conforme pesquisas, o mercado de brechós e de venda de produtos usados no Brasil cresce a cada ano e comerciantes e especialistas atribuem isso ao aumento de um consumidor mais conscien-


Dois reais - Além de roupas e acessórios, ela também encontra objetos diferentes. As miniaturas foram compradas por R$1 cada e hoje ajudam na decoração de seu quarto. te e com menos preconceito em relação a itens de segunda mão. Em Itapoá, isso já virou moda: brechós estão fazendo a cabeça e o look de muita gente, principalmente no modo digital. “Eu vi primeiro”. Esta é a frase mais famosa nos grupos de venda, compra e troca de coisas online. A foto da peça de roupa é postada e quem quiser pro15 reais - O vestido de fio também vem do vá-la sinaliza com a brechó por apenas R$15. Além dele, as bolsas e mensagem para ter o sapato da foto também foram comprados por prioridade na compra. A ideia existe um preço bem abaixo do mercado. em diferentes luga-

res do mundo e geralmente surge por uma apaixonada por brechós. Foi assim que nasceu o grupo “Brechó Itapoá”, por exemplo. A idealizadora do grupo, Meuryan Gomes Lopes, não esconde sua paixão por brechós: boa parte de seu guarda-roupa custou barato, há peças exclusivas, roupas de marca e que até fazem inveja às amigas. “Gosto muito de variar as roupas e encontro nos brechós uma forma de fazer isso: são roupas diferentes e baratas”, conta. Segundo ela, muitas pessoas ainda têm o preconceito de que nos brechós só há roupa velha e antiga, mas não é verdade: “Com uma boa garimpada, você encontra ótimas peças”. Como também não gosta de acumular roupas que não usa mais, criou no facebook um grupo

de desapego, inicialmente apenas para as amigas. A ideia é que cada uma postasse roupas e acessórios que não foram usados nas últimas estações, que estão acumulados no armário e vendessem a um preço acessível. A ideia deu tão certo que do grupo de amigas passou para colegas, conhecidas e até pessoas desconhecidas e hoje já ultrapassa 790 membros. “O grupo recebe convites de meninas de outras cidades da região, mas é exclusivo para moradoras de Itapoá”, afirma Meuryan. As regras do grupo são claras: qualquer participante pode postar uma peça de desapego no valor de brechó e quem quiser comprar é só sinalizar nos comentários com a famosa frase. “Com a prioridade da compra, a interessada deve combinar a prova ou entrega e terá três dias de reserva para concluir a compra. Qualquer negociação é de responsabilidade da vendedora e compradora”, afirma a idealizadora na rede social. Assim, roupas dos mais variados estilos já foram comercializadas e estão garantindo guarda-roupas mais baratos e diferentes. E para quem quer dar um toque pessoal nas roupas chamadas de “segunda mão”, uma boa dica é a customização. Desfiar um pouquinho ali, cortar aqui ou até bordar alguma peça ou estampa diferente já torna a peça novamente única e exclusivamente sua.

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BRECHÓS

No estilo tradicional

Por tanto gostar de brechós, Ju abriu o seu próprio em 2013, no Avenida Zilda Arns, em Itapoá.

A

lém da compra e venda online, Itapoá também conta com os tradicionais brechós no estilo de lojas. O esquema é o mesmo: roupas fruto do desapego, baratas e às vezes exclusivas. A diferença é que não são apenas de Itapoá, mas de diferentes lugares do país e até do mundo. Foi essa diversidade que atraiu Jucelene Correa aos brechós e a fez abrir o próprio em junho de 2013. “Sempre andei em brechós e achava coisas novas, diferentes, ousadas e até importadas”, conta. Assim, passou dois anos garimpan-

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Na Avenida do Príncipe, em Itapoá, Sandra do Rosário investe em roupas infantis.

do, procurando e juntando roupas até abrir o seu em Itapoá. Conforme ela, hoje diferentes públicos procuram os brechós, desde pessoas mais simples a pessoas que buscam peças originais e com estilos específicos. “Hoje os brechós estão mais modernos, as roupas vêm novas, pois as tendências e coleções são rápidas e as pessoas usam pouco”, fala. Exclusivo de peças femininas, neste brechó se encontra roupas dos mais variados tamanhos e estilos, sapatos e até acessórios. As peças vêm de diferentes cidades, fruto também de uma boa garimpada da proprietária.

Osneide da Silva, também com o brechó na Avenida do Príncipe, além de roupas também oferece uma boa variedade de móveis e objetos.

Sandra do Rosário também uniu o gosto ao trabalho. A venda de roupas usadas começou na própria casa e hoje conta um ponto específico em Itapoá, que mais parece loja de novidades infantis. Com destaque para roupas e brinquedos de criança, ela garante que este é um bom negócio: “vem gente de diferentes lugares e culturas comprar aqui”. Conforme ela, a moda infantil é a mais forte nos brechós, pois as crianças crescem rápido e usam as peças por um período muito curto. A maioria de seu estoque vem de bazar e feiras realizadas em Joinville e Curitiba. Já Osneide da Silva, proprietá-

ria de outro brechó em Itapoá, traz a maioria das roupas de São Paulo. Além de roupas, tanto infantil, como feminina e masculina, investiu também em móveis e objetos usados. Artigos de cozinha, ventiladores, bicicletas e outras tantas coisas também são vendidas com preço mais barato do que de mercado. Nos diferentes brechós as novidades chegam com frequência, toda semana ou pelo menos de quinze em quinze dias, novas peças são expostas. Com uma boa garimpada, com apenas um real às vezes se consegue garantir uma peça de roupa nova, então por que não experimentar essa moda?


ESPORTE

Itapoaense estará na primeira prova do Campeonato Brasileiro de Rally Baja para esta etapa de abertura da temporada 2015”, afirmou Júnior. A concentração do evento será no Parque do Peão, localizado na Rodovia Brigadeiro Faria Lima, s/n, km 428. Ali, estarão montados os boxes das equipes, onde os veículos estarão expostos para que o público possa apreciar essas máquinas bem de perto. O acesso é gratuito.

Ana Bellucci Liberdade de Ideias

O

piloto Osmar de Mendonça Júnior representará o município na etapa de abertura de mais um campeonato do rali nacional. Ele disputará cerca de 300 quilômetros em busca da vitória no 9º Rally Barretos O 9º Cross Country Rallymakers Barretos abrirá mais uma temporada dos campeonatos Brasileiro de Rally Cross Country e Rally Baja. O certame será realizado de 06 a 08 de março, na cidade de Barretos, interior de São Paulo, e contará com as categorias motos, quadriciclos, UTVs, carros e caminhões. E neste grid de grandes competidores do rali nacional, estará o piloto itapoense, Osmar de Mendonça Júnior, que participará do evento pela terceira vez. Ele competirá na categoria ATV (quadriciclo), a bordo de um Polaris scrambler xp 1000. ” Todas às vezes em que participei, sempre fui surpreendido com a qualidade da organização e estrutura do evento. É uma prova muito rápida, técnica

e exige dos pilotos. Sempre foi uma disputa que deu muito prazer de participar”, disse Júnior. O 9º Rally Barretos terá cerca de 300 quilômetros, divididos em dois dias de disputas. As características são conhecidas pelos off-roaders, porém, trechos inéditos serão incluídos no roteiro que adentrará canaviais, seringais e áreas de pastos. De acordo com o diretor executivo da Rallymakers, Fernando Bentivoglio, as especiais terão setores de alta e média velocidade, em trajetos que mesclarão lombadas, erosões e muitas curvas. ”É muito bom saber que posso representar a minha cidade e meu Estado nas etapas do Campeonato Brasileiro de Baja e Cross Country, pois sou o único nesta categoria. Estou me preparando bastante

As inscrições serão abertas através do site www.rallymakers. com.br, no link Rally Barretos. O 9º Cross Country Rallymakers Barretos é realizado pela Rallymakers, com promoção da Agência Black Box. Conta com apoio da Prefeitura Municipal de Barretos, Os Independentes, Bike Box e DNA Comunicação Digital

Crédito das fotos: Fábio Davini/DFOTOS e Doni Castilho/DFOTOS

Revista Giropop | Março 2015 | 45


RECICLAGEM

Nada de pia, ralo ou lixo Augusta Gern

Claudiane Nogueira, cozinheira do Restaurante do Alemão, armazena todo o óleo usado para reciclagem

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uem é que não gosta de batata frita, frango frito ou até um pastelzinho? A fritura é cobiçada por todos os paladares, menos pela natureza. Você já deve ter escutado que o óleo polui agressivamente o meio ambiente quando descartado na pia, no ralo ou junto ao lixo doméstico, mas o que fazer com ele? O consumo é alto e a reciclagem ainda é mínima. Conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, todos os anos o país consome cerca de 3 bilhões de litros de óleo. Como não é consumido integralmente, o problema de onde descartar o que restou das frituras é muito sério. A atitude mais comum dos consumidores é jogá-lo na pia, mas isso pode causar muitos transtornos: quando jogado na rede, o óleo pode se solidificar e entupir os encanamentos. Outra forma comum de descarte é jogá-lo no lixo doméstico, porém causa muitos danos ambientais. Quando em contato com o solo, o óleo causa a impermeabilização e dificulta a passagem de água até as camadas mais profundas da

terra. Além disso, pode contaminar ligeiramente a água: um litro de óleo de cozinha contamina até 25 mil litros de água, de acordo com informações divulgadas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp. Todos esses problemas são agravados com o baixo número que passa por algum processo de reciclagem: apenas 1% em todo o país. Mas então, o que fazer com o óleo utilizado? A melhor opção é armazená-lo em uma garrafa PET, conforme for utilizando. É importante lembrar-se sempre de fechar bem as garrafas para evitar vazamentos, mantendo fora do alcance de crianças e animais de estimação, que podem ser atraídos pela curiosidade. Mas e depois, o que fazer com as garrafas cheias? Infelizmente, são poucas as atitudes realizadas na região de Itapoá e Guaratuba. Muitas famílias o reciclam fazendo o tradicional sabão caseiro, mas a maioria ainda se pergunta: onde levar? Em Itapoá, a Escola Municipal Frei Valentim iniciou uma campanha de coleta no ano passado, que deve ser retomada neste primeiro semestre. Conforme a direção, a for-


ma de reciclagem ainda será estudada de acordo com a quantidade recebida – fabricação do sabão ou entrega a empresas especializadas da reciclagem do material – mas deve receber dos alunos e comunidade em geral. Se em algumas residências o consumo já é alto, imagine em comércios do ramo alimentício. O Restaurante do Alemão, em Itapoá, gera até 50 litros de óleo a cada 15 dias, isso que, do óleo que é comprado, metade é usado na cozinha e só a outra metade é reciclada. Como outros estabelecimentos, há sete anos o restaurante recicla a base das frituras - uma empresa responsável pela coleta e reciclagem recolhe o óleo a cada duas semanas. Conforme Claudiane Nogueira, cozinheira, o óleo é armazenado em galões da própria empresa e a cada coleta o restaurante recebe um certificado. “A empresa é de Joinville e coleta de vários estabelecimentos da região”, conta. Antes de repassar para a reciclagem, o restaurante devolvia o óleo para a empresa que o vendia. Além de empresas de Joinville, os comércios da região contam com a coleta de empresas de Garuva, Curitiba e outras cidades. A empresa JE Recicle, de

Garuva, por exemplo, coleta o óleo de 15 estabelecimentos comerciais de Itapoá e 30 de Guaratuba. Conforme Jessé Schuvedler, um dos proprietários da empresa, são mais de dois mil litros recolhidos nas duas cidades todos os meses. O óleo é encaminhado para uma empresa de Tubarão – SC, que o transforma em biodiesel e ração para animais. Além desses materiais, o óleo descartado corretamente também pode ser utilizado para a produção de sabão, tintas a óleo, massa de vidraceiro entre outros produtos. Pelo sim ou pelo não, o que nos resta é fazer o correto: não descartar o óleo em qualquer lugar. Apesar da falta de projetos para a coleta de óleos de residências – que poderia ser realizado por órgãos públicos em parceria com empresas de reciclagem – o armazenamento ou fabricação de óleo são as alternativas possíveis.

Aprenda a fazer sabão caseiro Produzir sabão a partir do óleo de cozinha é fácil e resolve o problema de seu descarte. Quem não conhece alguém que já recolheu o óleo para transformar em sabão? Esse tradicional processo é o mesmo realizado pelas grandes empresas de reciclagem. A boa notícia é que, além de muito fácil, este sabão é menos agressivo para o meio ambiente, uma vez que possui origem orgânica e se decompõe com mais facilidade. Confira uma receita para a fabricação do sabão, disponibilizada pela engenheira química Josenildes Gomes ao site do G1. Ingredientes - 500 ml de água - 1 litro de óleo de cozinha (coado) - 250g de soda cáustica - Detergente e sabão em pó (a critério) Modo de preparo Coloque a água para ferver a aproximadamente 70º Celsius. Antes de levantar fervura, retire do fogo e adicione a água à soda cáustica (mas mantenha distância e cuidado, pois podem ocorrer pequenas explosões de gases nessa fase do processo). Depois de misturados, os dois ingredientes, es-

pere, sempre mexendo, até que a soda derreta. Depois de dissolvida, adicione o óleo de cozinha usado (deve estar coado – com esponja de aço ou peneira bem fina – para que não sobre nenhum resíduo). Continue mexendo até a mistura ficar homogênea e um pouco mais grossa. Durante o preparo, se preferir, pode acrescentar um pouco de sabão em pó, que ajuda a formar espuma, e sabão líquido, que deixa cheiroso e mais macio. Outra opção é acrescentar também anilina, para dar coloração ao sabão. A agitação do líquido deve ser feita entre 30 e 45 minutos, até que a mistura esteja um pouco mais grossa. Depois de pronto, despeje o produto em qualquer assadeira que tenha em casa e que esteja forrada com saco plástico. Leve para o sol e espere secar. Ele fica consistente em torno de dois dias. Aguarde mais 10 dias para utilizá-lo. Cuidados Dois cuidados importantes devem ser tomados no preparo do sabão. O primeiro é na mistura dos ingredientes, que deve ser feita em vasilha plástica. E para mexer os ingredientes não pode ser utilizada colher de metal, e sim de madeira. Não se pode usar nada de metal em nenhum momento do processo, pois ele pode reagir com a soda cáustica.

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APAIXONADOS POR ANIMAIS

Florais e homeopatia entram no mercado veterinário Ana Beatriz

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odo mundo que tem um animalzinho sabe da importância de mantê-lo sempre saudável e, para isso, práticas que vem sendo cada vez mais utilizadas para a cura de doenças e problemas corriqueiros são o tema da vez: florais e homeopatia veterinária. Conforme Roberta Moro, médica veterinária da clínica São Camilo, em Guaratuba, assim como no mercado de medicações voltadas para os seres humanos, a homeopatia e os florais como tratamento de cães e gatos vem gerando resultados surpreendentes. A homeopatia segue o princípio de que qualquer mal que atinja o corpo é uma forma de desequilíbrio ocasionada por algum tipo de perturbação da energia vital. E, para curá-lo, é necessário restaurar esse equilíbrio, por meio de medicamentos naturais em doses pequenas. Para os animais, a homeopatia veterinária não é diferente. Já os Bio Florais da linha veterinária, atuam como um poderoso preventivo e como coadjuvante em diversos tratamentos de distúrbios emocionais nos animais, aliviando o estresse, os medos e ajudando a controlar o comportamento dos bichinhos. Muito requisitados nos últimos

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Roberta Moro, médica veterinária da clínica São Camilo de Guaratuba anos, estes tipos de medicamentos chegaram à Guaratuba há cerca de um ano e, segundo Roberta, é um trabalho legal e que vem rendendo bastante. “Normalmente, a homeopatia para cães e gatos vem sendo procurada como segunda opção de tratamento, para não usar alopatia (o tratamento convencional)”, conta. A homeopatia é mais indicada em casos de problemas fisiológicos, como o controle de carrapatos, pulgas e outros parasitas; dermatites e dermatoses, tratamento de infecções do sistema urinário, do sistema digestivo e esquelético; para a proteção do coração, tratamento de epilepsia e até para

estimular partos e ninhadas mais saudáveis. É importante consultar um veterinário, mas, normalmente, são indicadas três borrifadas ao dia. Já os BioFlorais podem ser aplicadas gotas uma ou duas vezes ao dia, ou até mais, de acordo com a intensidade do problema. “Os florais trabalham os problemas psicológicos, ou seja, as ‘doideiras’ do bichinho”, explica Roberta. Segundo ela, os Florais de “Lambedura”, “Estresse”, “Hiperatividade” e “Medo” têm um bom resultado. Além destes, são encontrados Florais de problemas bastante comuns nos bichinhos e curiosos como “Aversão a banho”, “Marca-

ção de território”, “O bebê chegou” e “Tristeza e depressão”. E para despertar ainda mais o interesse, ambos os tratamentos que restauram o equilíbrio da energia vital do animal não tem contraindicação, nem efeitos colaterais. Outra vantagem desse tipo de tratamento é o custo, que é normalmente menor do que o medicamento tradicional. Quando conservados longe da luz e de cheiros fortes, os remédios durarão por muito tempo. De acordo com a médica veterinária, o interesse dos donos para curar seus bichinhos é o grande diferencial: “O tratamento trabalha bastante a lógica do contato, o psicológico entre a pessoa e o olhar dela para o animal”. Segundo ela, uma cliente que tem dezenove gatos dentro de casa, mas só tinha acesso a cinco deles, começou a levar o Bio Floral para os que tinham acesso e logo os outros também se aproximaram. Esses medicamentos, tanto os florais como a homeopatia, geralmente são encontrados a pronta entrega. Por serem de fácil administração, podem ser comprados e testados em casa, mas é recomendável que a linha de tratamento utilizada para curar seu pet baseie-se em seu bem-estar e tenha sempre o auxílio de um médico veterinário.


EMPREENDEDOR GUARATUBA | CACAU SHOW

Os caminhos para uma trajetória doce cela da população da cidade, recebendo cerca de mil clienscolhas têm tes por mês. “A muita imfranquia da me portância dá um suporte em nossas muito bom, os trajetórias. p ro f i s s i o n a i s Quando bem feitas, essão flexíveis, o tudadas e unidas de marketing é forpaixão e entrega, não te e os produrestam dúvidas: o retos são de alta sultado é o sucesso. E qualidade. Líder é isso que colhe Charem franquias, les Janesch, desde que a Cacau Show escolheu abrir uma das é a maior rede franquias mais doces de chocolates que se pode imaginar finos do mundo, em Guaratuba, da Cae a maior em cau Show. vendas de choNatural de Jaraguá Charles Janesch, abriu a franquia mais doce em Guaratuba. colate do Brasil”, do Sul – SC, Charles é conta Charles. formado em Administração. “Meu a qualidade dos produtos. SegunA fórmula do sucesso também trabalho anterior tinha tudo a ver do ele, resumidamente, as etapas com o atual”, brinca. Ele passou para abrir este tipo de negócio são: pode ser descrita em uma frase vinte e três anos tocando a Auto cadastro no site, pré-análise do que Charles costuma usar para a Elétrica da família, passada de pai perfil e reunião com a marca. Fun- vida toda, nas mais diferentes cirpara filho, e hoje divide sua preocu- ciona como um processo seletivo e, cunstâncias: “Faça mais do que o pação com o maior prazer da vida depois que tudo estiver de acordo, necessário, que você conseguirá de muita gente. Chocolates a gra- vem o processo burocrático: a pro- fazer o possível, mas, quando menel de diferentes sabores, variadas cura pelo ponto ideal de locação e nos se espera, estará fazendo o imlinhas e até objetos de decoração e a pesquisa de mercado, para ver possível”. Ou seja, é fazendo mais se este comporta. Assim, a aprova- que o necessário que as portas se presentes preenchem a loja. Ao se mudar para o litoral e ter ção do ponto ocorreu em março de abrem. Até o momento o movimento a ideia de investir em uma fran- 2014 e, em 28 de junho Guaratuba tem superado as expectativas. Duquia, o empreendedor levou sete ganhou o novo negócio. Apesar de recente, Charles já rante a época do Natal já era espemeses para pesquisar e optar pela Cacau Show. Sem conhecer este vê muitos resultados positivos em rado o sucesso que foi, mas o que o ramo comercial, o que mais o cha- sua escolha. Com pouco mais de surpreendeu de verdade foi a baixa mou a atenção foi o valor do inves- oito meses, a Cacau Show de Gua- temporada. “A Cacau Show não é timento, a taxa de retorno, e claro, ratuba já conquistou uma boa par- só uma loja de chocolates. Exceto Ana Beatriz

E

na Páscoa, nossos principais concorrentes são lojas de perfumes, de roupas, etc. É uma loja de presentes de chocolates”, comenta. Para qualquer data especial, a loja pode ser o destino e a garantia de um bom presente. Já nessa primeira temporada de verão, a cidade vizinha, Itapoá, também contou com o gostinho doce dessa trajetória com um stand da Cacau Show na feira Expoverão. Além dos diferenciais da marca como o chocolate, a Cacau Show realiza todos os anos uma campanha de doação de ovos de Páscoa para ONGs e entidades filantrópicas. Charles, como franquiado, irá participar e promete realizar uma boa surpresa para algumas crianças de Guaratuba. E entre tanta notícia boa, ele conta que a maior dificuldade que encontrou no processo de abertura do seu negócio, hoje é seu maior orgulho: a criação da identidade. Honestidade é um dos valores que aprendeu com seu pai e é praticado também profissionalmente. Charles garante que muitas novidades estão por vir e ansiedade faz parte das preparações para a primeira Páscoa do empreendimento. Ele se orgulha ao dizer que a Cacau Show foi abraçada pela população de Guaratuba e que “veio para ficar”. Amor no que faz é a receita para uma trajetória doce e cheia de sucesso. Como o slogan da Cacau Show diz: “Carinho em cada pedacinho”.

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ARTESANATO

Da reciclagem material à espiritual Ana Beatriz

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o clima de atitudes positivas é possível melhorar o ambiente, a sociedade, o eu interior e até mesmo o planeta. É o que faz Sueli Sampaio Firmino, através de sua sensibilidade e amor ao próximo. Em Itapoá, com terapias alternativas e artesanato, ela mostra como a reciclagem pode ser uma boa ferramenta para mudar mundo e prosperar o futuro. O envolvimento de Sueli com a arte e seus ofícios se dá logo na infância, através de aulas de corte e costura: “meus tios eram alfaiates e eu costumava reaproveitar todos os retalhos”. Com o passar do tempo, foi desenvolvendo mais habili-

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dades e provando ter “mãos boas”. Adora confeitar, plantar, decorar, pintar e costurar. Entre a infinidade de técnicas e objetos que surgem de suas mãos, criou algo original e muito propício para esta região: guarda-chuva, guarda-sol ou até cadeira de praia estragada tem outro destino ao invés da lixeira. A inovação surgiu quando um guarda-chuva de grife, presente de seu filho, quebrou. “Não queria perder aquele presente e tentei reaproveitar o belo tecido”, conta. Assim, procurando a solução para não perder a lembrança, Sueli retirou, com cuidado, o tecido da armação e fez o guarda-chuva virar

Sueli Sampaio Firmino, encontrou na reciclagem uma nova forma de fazer arte bolsa. A partir daí, todo guarda- geralmente, resistentes, então há -chuva estragado e jogado fora, grandes chances de terem uma virou, para ela, uma possibilidade boa durabilidade. Mas a artesã vai além: também de criação de bolsas, bonecas e objetos decorativos – uma série de mistura técnicas e materiais como coisas hoje ganha forma com o te- crochê com garrafa pet, faz essêncido antes considerado lixo. Segun- cias e móbiles com tampinhas de do ela, algumas de suas peças têm garrafa e sacolas – esta última motivos de datas especiais, como ideia veio de um curso oferecido Páscoa, Copa do Mundo e Natal. E em Itapoá para a Associação dos suas bonecas, têm na roupa, men- Artesões, sobre o perigo do plástico nos mares para as tartarugas. sagens positivas e de esperança. Se isso é bom ou ruim, ainda Além do guarda-chuva, seu senso de observação e paixão não sabemos, mas Sueli encontra pela reciclagem também a fizeram todo o material para suas criações aproveitar tecidos de guarda-sóis no bairro de Itapema do Norte, e cadeiras de praia. Uma das van- às vezes jogado nas ruas. Ela os tagens é que estes tecidos são, guarda em sua casa até que sur-


gem as ideias do que criar. “Um dia encontrei oito cadeiras de praia estragadas na areia e recolhi todo o material”, lembra. Assim, sem saber bem onde e quando encontrará sua matéria prima, costuma andar acompanhada de sua tesoura para poder retirar o tecido. A armação é deixada ao lado da lixeira, para que seja recolhida depois. Junto à reciclagem, suas peças também traçam um toque pessoal. Natural de Goioerê – PR, Sueli conheceu o mar com 31 anos de idade, e mora em Itapoá há 12 anos. Em suas criações – sejam os quadros, as bolsas ou os materiais utilizados – podemos notar vestígios de sua paixão pela praia. Sua arte pode ser encontrada nas feiras de

Itapema do Norte, mas não rende muito lucro, “é mais por amor”, conta Sueli. Além de seu olhar criativo e sustentável para materiais, ela também acredita em outro tipo de reciclagem, a espiritual. É especializada em Quiropraxia e realiza Terapia Psico-Espiritual, massa-

gens que também trabalham o sentimento. Em seu ambiente místico, com conchas, florais e cristais nas cores dos chakras, Sueli recebe pessoas de várias religiões, com muito carinho e respeito. Conta ser frequentemente procurada por surfistas com dores musculares.

E é entre a reciclagem material e espiritual que Sueli acredita num mundo melhor através de hábitos simples e saudáveis, assim como a mensagem escrita na roupa da boneca nascida de um resto de guarda-chuva: “Cuide do planeta para mim, sou criança”.

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MÚSICA | GUARATUBA

Além das batidas do Cájon

Ana Beatriz

A

curiosidade é o primeiro passo para se tocar um instrumento musical. A forma correta de segurá-lo, o movimento das mãos e dedos, o som... Enfim, para ser um bom músico é preciso, primeiramente, ser um bom observador. Morador de Guaratuba, Alfredo Farro resolveu ser mais do que isso: além de músico, uniu curiosidade à paciência e passou a ser fabricante dos próprios sons com o cajón, instrumento de percussão de origem peruana. Neto de peruano, Alfredo conheceu o instrumento assistindo a um programa de televisão, se interessou e pesquisou a respeito na internet. Seu primeiro cajón veio há cerca de quatro anos e, descontente de apenas tocar, desmontou o instrumento na pretensão de descobrir seu sistema interno: de onde saía o som e do quê era feito. Não deu outra: virou fabricante. O cajón vem sendo popularizado e conquista cada vez mais músicos pela sua qualidade e praticidade. Sua aparência lembra um simples

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Mais do que músico, Alfredo Farro passou a ser fabricante dos próprios sons com o cajón, instrumento de percussão de origem peruana. caixote de madeira, mas esconde segredos musicais. “Muitas pessoas imaginam que o som emitido é da madeira, mas o instrumento tem cordas colocadas por dentro”,

conta. Bordões – as cordas mais grossas do violão, esteira de bateria, madeira virola e tarraxas de violão compõe o modelo flamenco. O modelo peruano é oco e, segundo Alfredo, a diferença do nome também é expressa no som. O primeiro cajón fabricado em Guaratuba surgiu há dois anos, entre testes, erros e acertos. Já foram confeccionados cerca de sessenta exemplares e são aceitas encomendas para todo o Brasil. Alfredo confecciona o peruano, o flamenco e o modelo “dois em um”, que de um lado é cajón peruano e, de outro o cajón flamenco. Através da divulgação na internet, o interesse pelo instrumento vem tanto de músicos experientes, quanto de iniciantes curiosos. Além dos materiais internos, o cajón também necessita de um bom corte de madeira, única tarefa que não é realizada por suas mãos. Hoje, ele apresenta linhas do instrumento, como a “Linha Talara”, a “Linha Natura” e a “Black Line”. Segundo o músico, a forma do instrumento altera o som como, por exemplo, o modelo “quadradão”, que faz com que o bumbo seja mais potente e aveludado. Depois de pronto, alguns cuidados são necessários para que o som do cajón permaneça o desejado e não altere. Alfredo oferece três

meses de garantia e explica que a mudança de temperatura pode desregular as cordas, por isso, são necessários cuidados básicos com sol e umidade. “Muitas pessoas me perguntam se podem colar adesivos no instrumento, mas eu não indico. Bem como a pintura na tampa no cajón, que pode abafar o som”, complementa. Cordas, esteiras, ocos ou todos juntos, bastaram alguns minutos de batidas no instrumento para constatar que é um instrumento encantador pela sua simplicidade e desempenho. “As vantagens deste instrumento são principalmente o espaço e a versatilidade, já que ele é muito menor que a bateria e acompanha todos os ritmos. É um acompanhamento muito rico para voz e violão”, conta o artista. Alguns se emocionam ouvindo, outros tocando, e outros, assim como Alfredo, têm curiosidade e audácia de entendê-lo. Indo além do comum, além das batidas. Todo esse amor às artes vem de família: Seu pai, Chico Farro, é músico e poeta, e juntos formam a dupla “Farro A²”, tocando em hotéis de Guaratuba e região. Alfredo, além de músico, é tatuador há doze anos. Seu gosto por desenhar vem desde a infância e, inclusive, todas as tatuagens do seu corpo foi ele mesmo quem fez.


QUEM É | RISADINHA

O sorriso que caminha pelas ruas Augusta Gern

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le é fã do Ayrton Senna, gosta muito de Roberto Carlos e conhece Itapoá inteirinha pela sola de seus pés. Assim pode até ser difícil reconhece-lo, mas não há quem ainda não o viu pelas ruas de Itapoá. São dois personagens diferentes que carregam a mesma identidade: às vezes com roupa social e uma maleta nas mãos, outras vezes puxando um carrinho de reciclados, Alexandre Pereira Gomes, mais conhecido como “Risadinha” ou “Inho” é figura marcada nas ruas de Itapoá. Pra ele não tem tempo ruim, está sempre caminhando e com um sorriso no rosto. Natural de Itapoá, há 49 anos percorre os mais de trinta quilômetros de praia. Já teve diferentes ofícios, mas hoje seus pés são a principal ferramenta para o ‘ganha pão’. Uma de suas atividades, onde recolhe lixo reciclado nas ruas e na praia, começou há muitos anos: “nem sei quantos anos eu faço isso, mas tenho o meu próprio carrinho e encontro bastante coisa nessas ruas”. Segundo ele, o que mais recolhe são litros de bebida vazios, mas plásticos e latinhas também aparecem em grande volume. E não é só lixo

Alexandre Pereira Gomes, mais conhecido como “Risadinha” ou “Inho” é figura marcada nas ruas de Itapoá. que é descartado, panelas e outros objetos em bom estado já foram recolhidos na rua e levados para dentro de sua casa. Alexandre conta que o local com mais lixo é o balneário Itapema do Norte. Ele sai cedo de casa, enche o carrinho e vende para uma empresa de reciclagem da cidade. Há dias em que duas viagens são poucas para recolher tudo que há pelo percurso, conforme ele.

Quando não sai com o carrinho, a maleta é a companheira. Alexandre trabalha com panfletagem para diferentes empresas da cidade e seu principal requisito é o traje social: “não dá para trabalhar nessas ruas de bermuda e chinelo, preciso estar bem arrumado”. Assim, inverno ou verão, a calça comprida, a camisa de botões e o sapato são como uniforme. Na maioria das vezes a panfletagem é feita com

as próprias pernas, mas quando a distância é muito grande e o tempo não colabora, também é adepto do transporte coletivo. Porém, sua vida vai além dessas caminhadas. Lembranças da infância, atividades de lazer e planos para o futuro também fazem parte da sua vida, como de qualquer outra pessoa. De uma família de sete irmãos que nasceu e cresceu no balneário Pontal, sua maior lembrança da infância é a primeira música que ouviu: “Detalhes tão pequenos de nós dois”, do Rei Roberto Carlos. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, ele conta que viaja com frequência para Aparecida do Norte e todos os anos colabora na festa do Dia das Crianças organizada pela igreja do balneário Paese. “Eu ajudo com o que posso, mas sempre estou lá e fizemos uma grande festa para as crianças, com bolo e brincadeiras”, afirma. Do que ganha com seus dois ofícios, sempre reserva uma parte para ajudar nessa comemoração. Além de cobrir seus gastos e ajudar os outros, as caminhadas diárias também buscam realizar outros sonhos: ter sua casa própria e conseguir conquistar o coração do grande amor de sua vida, paixão desde sua infância.

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POR AÍ | CANADÁ

Intercâmbio: não há bagagem que caiba a experiência pessoal Augusta Gern

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rrumar às malas para um passeio é fácil, mas imagine para passar um ano e meio em um país novo, com uma língua diferente e pessoas que você nunca viu? Pois é, apesar de parecer complicado, este é o sonho de muita gente e foi vivenciado recentemente pela jovem Taynara Pinheiro, de Itapoá. O intercâmbio, uma conexão com outras culturas, é cada vez mais procurado e, sem dúvida, faz uma boa reciclagem pessoal: além dos presentes, novos costumes, muito conhecimento e até uma nova percepção da vida vêm junto com a bagagem. Este tipo de viagem sempre foi um sonho para Taynara e conseguiu realizar durante a universidade, na flor da idade. Em julho de 2013 ela deixou o Brasil e partiu para um dos países mais desenvolvidos do mundo, o Canadá. Foram 18 meses de muito aprendizado. Conforme a estudante de oceanografia da Universidade Federal do Paraná, o intercâmbio veio graças ao estudo. “Sempre quis fazer

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intercâmbio e já tinha procurado em agências para ir durante o período de férias, mas era muito caro”, conta. A primeira oportunidade bateu na porta com a abertura de um edital da própria universidade, mas foi com o edital do programa federal Ciências Sem Fronteiras que entrou no avião e embarcou na aventura. Segundo ela, o programa é a melhor opção para quem deseja fazer intercâmbio. “É uma forma fácil, barata e que você consegue aproveitar bastante, tem ajuda financeira e auxílio durante todo o período – antes, durante e depois que viaja”, conta. O Canadá nunca foi a sua primeira opção, mas hoje afirma que foi o melhor lugar que poderia ter ido. A escolha ocorreu por dois motivos: era um dos países que exigia a menor nota de corte no exame de pró-eficiência em língua estrangeira e o que conhecia projetos em sua área. “A universidade aqui tinha projetos em parceria com um professor da área pesqueira do Ca-

Com a típica paisagem canadense, Taynara visitou o Pippy Park, em St. Johns - Canadá. ciplinas – e, por fim, participou do nadá e me interessei”, fala. Com tudo organizado, deixou período de estágio. Nos primeiros a família com o coração apertado sete meses morou na casa de uma e um orgulho sem tamanho. No família, que a ajudou a se habituar Canadá, aproveitou três fases di- ao país e, depois, dividiu o aluguel ferentes: primeiro estudou inglês, com duas amigas brasileiras, que depois passou pelo período acadê- conheceu lá. Tudo isso foi na Promico – onde cursou algumas dis- víncia de Manitoba, só nos últimos


Sem dúvida, o Lake Louise, em Banff, foi uma de suas paisagens preferidas.

Bonecos de neve não faltaram no inverno mais rigoroso das últimas décadas, com sensação termina de até 56 graus negativos.

quatro meses se mudou para St. John´s, onde fez o segundo período acadêmico. E durante todo esse tempo, passou por bastante coisa. Taynara pegou um dos invernos mais rigorosos das últimas décadas, com quatro meses só com temperaturas negativas. Em um dia, sua cidade registrou a sensação térmica de 56 graus negativos. “Apesar de o frio ser intenso, foi bem mais tranquilo do que imaginei, porque o país tem uma ótima estrutura para isso”, conta. Segundo ela, todos os ambientes tem calefação e até os pontos de ônibus têm os assentos térmicos. “Você sofre quando está na rua, mas é só exagerar nas camadas de roupa”, brinca. Diferente do inverno, ela conta que no verão o desejo de viver é contagiante: “parece que todo o frio vale a pena quando chega o verão”. Com temperaturas de até 30 graus, o que não faltam são opções de lazer. “O Canadá tem uma qualidade de vida muita boa e os canadenses são muito educados e receptivos”, afirma. Os lugares que mais gostou de conhecer, sem dúvida, foram os parques Banff e Jasper, com as legítimas paisagens canadenses. Taynara também aproveitou para viajar pela região e conhecer diferentes países, o que deixa o álbum de fotos até pequeno para tantos momentos bons. Uma grande lembrança também foi na área profissional: a estudante teve a oportunidade de participar de um cruzeiro de pesquisa dentro do lago de Win-

nipeg. Foram oito dias embarcada, outro sonho realizado. Mas entre tanta novidade e coisa boa, também teve a saudade. Para Taynara, não foi fácil ficar 18 meses longe da família, mesmo que o contato era quase que diário. “Conversava quase todos os dias com a minha mãe pelo whatsapp e facebook, mas por vídeo era apenas nos finais de semana”, lembra. Outra coisa que deixou saudade foi a comida brasileira. Segundo ela, os canadenses não têm tradição de fazer diferentes tipos de comida e não tem uma culinária típica, pois o país acolheu diferentes culturas com a imigração. E por falar nisso, imigração é assunto em alta no Canadá. “É um país que tem muitos imigrantes e ainda precisa de mão de obra”, fala. Para Taynara, esta é uma ótima opção para quem quer morar fora, até porque são muito receptivos e ajudam bastante em relação ao inglês. “É um lugar muito bom para se viver se o frio não for um problema em sua vida”, alerta. E assim, os meses passaram voando e no calor de dezembro ela retornou à terra natal. Para ela, mais do que profissional, foi uma experiência que valeu muito pelo lado pessoal. “O Canadá me mostrou que as coisas não acontecem por acaso e que, quando menos você espera, aparecem pessoas maravilhosas em sua vida”, fala. Depois dessa experiência, os planos são terminar a faculdade e conhecer outros países, quem sabe com um mestrado.

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EMPREENDEDOR ITAPOÁ | PANIFICADORA TEZUKURI

A receita caseira para o sucesso Ana Beatriz “Aventura” – é assim que Célia Xavier Felippe e José Carlos Felippe resumem a jornada desde que saíram de Londrina – PR para morar em Itapoá. Sem experiência na área e quase sem querer, Célia e José são, há treze anos, proprietários da Panificadora Tezukuri. Uma tentativa que deu certo e é reconhecida por seus clientes. Ele, funcionário de uma multinacional. Ela, dona de casa. A empresa em que José trabalhava foi vendida e junto de seus filhos, não hesitaram em vir morar em Itapoá, em 2001. “Tínhamos casa em Itapoá há muito tempo, e sempre falamos que um dia iríamos morar aqui”, conta José. Acostumados a fazer produtos caseiros para a vizinhança, esta renda lhes abriu as portas no litoral. Desde que seu filho teve gastrite na infância, alimentos sem conservantes fizeram parte do livro de receitas de Célia. Assim, com produtos naturais, os pães caseiros eram vendidos de carro, de porta em porta. Com

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o passar do tempo, a demanda cresceu e o carro começou a ficar pequeno. “Já morávamos nesta região e este ponto (onde fica a Panificadora) sempre nos agradou. Achávamos que combinava com produtos coloniais”, conta Célia. O ponto foi comprado e abraçado pelo casal, que deu início à aventura de abrir seu primeiro negócio. “Te” em japonês, é “mão”, e “Tezukuri” significa “feito à mão”. Em seu primeiro ano de Panificadora, produziam e vendiam apenas pães coloniais, mas havia muita procura. “A experiência de produzir em casa era uma, mas depois de abrir as portas, a produção precisava ser maior”, conta José. Assim,

além dos tradicionais caseiros, inseriram na bancada alguns produtos industrializados. E com o passar dos dias, tudo aumentou. Antes cuidada apenas por Célia e José, com ajuda de seus filhos, a Tezukuri ganhou padeiro, confeiteiro e máquinas industrializadas. O número de clientes, a demanda e até a estrutura da panificadora aumentou. Aos poucos, Célia e os funcionários foram fazendo cursos de confeitaria oferecidos pelos fornecedores e pelo Sebrae, aumentando também o número de receitas. As principais dificuldades encontradas, segundo José, foram mão de obra e o tempo de trabalho, que chega até 16 horas por dia. “Muitas pessoas gostam do nosso produto e reconhecem nosso esforço. Temos clientes que moram em outro bairro e compram aqui e também clientes que levam nossos produtos para suas cidades. É muito gostoso saber disso e ouvir elogios”, conta Célia. Costumam atender muitas encomendas de coffee break para eventos e reuniões, e bolos para casamento e aniversários.

O segredo, de acordo com José, está nos produtos caseiros e nos funcionários da casa, como o confeiteiro e padeiro, que trabalham ali há anos. “Isso gera fidelidade, mantendo o compromisso e o padrão de qualidade”, explica. Futuramente, o casal planeja abrir um café colonial na parte superior da Panificadora, com vista para a praia. A ideia não está tão distante, pois Itapoá tem crescido muito. “Antes, esperávamos o ano todo pela temporada. Hoje em dia Itapoá tem vida própria e temos público o ano todo”, conta Célia. O perfil do consumidor também mudou. De acordo com o casal, nos últimos três anos os clientes têm procurado mais por produtos sem glúten, diet ou light, ou seja, estão cuidando mais da saúde. Apesar das dificuldades, José e Célia veem morar em Itapoá uma vantagem: gostam da vista estonteante da Panificadora para a Praia do Continental, do sossego e ar puro. Certas coisas nunca mudam, como as receitas de pães e bolos sem conservantes, mas o aprendizado muda, e para melhor. Abrir um negócio foi, para José e Célia, uma receita caseira inusitada, que acabou dando certo.


Miami...onde tudo acontece e onde tudo se acha!

M

iami, cidade símbolo da Flórida, ideal para pessoas que querem desfrutar mar, cidade chique ou cidade cafona, compras e passeaios indescritíveis . São opções diferentes para descobrir essa icônica cidade com total liberdade. Para aproveitar o tempo e se situar, antes de mais nada, dirija-se à Estação Central Big Bus e escolha o passeio num confortável ônibus de dois andares. Em ambas opções: cidade ou praia, são vinte paradas, nas quais você pode subir e descer do ônibus quantas vezes quiser, durante certo tempo estipulado pela companhia. A frequência do ônibus é de quinze a trinta minutos. Bikes elétricas, carrões antigos, prédios Art Deco, bares, restaurantes, clubes fazem parte do universo da Ocean Drive, que se encontram de um lado do longo calçadão e do outro lado temos o mar muito azul e vasta extensão de areia, cartão-postal dessa cidade americana mais brasileira de todas que conheço, pois em cada dez americanos encontramos pelo menos quatro brasileiros. Um passeio interessante é a Biscayne Bay, que é a baia que banha Miami, Miami Beach entre outras localidades. O acesso ao mar faz parte do dia-a-dia de Miami e aqui que você pode pegar um barco e passar pelas belas mansões de artistas e ou pessoas famosas. Passeio im-

perdível! Muito próximo a essa baia fica o famoso Bayside Market Place, como o nome já diz é um mercado aberto, no qual você encontra inúmeras lojas com preços acessíveis, além de muitos restaurantes e lanchonetes interessantes com vista para a baia de Miami. Grandes hotéis, dos mais acessíveis aos mais caros podem ser encontrados nessa região. Já Little Havana é um pedaço de Cuba em Miami. Muitas placas escritas em espanhol, arquitetura e temperamento dos que lá residem indicam a concentração de cubanos com seus restaurantes e cafeterias. Lincoln Road é um shopping a céu aberto, via com grande diversidade de cafés, restaurantes, bares e lojas famosas dos dois lado da rua. Local de badalação,tanto de dia como à noite, indo a pé por ela, chega-se na Ocean Drive, conectando agito por todo lado e bela paisagem arquitetônica Passeio muito bonito é Fort Lauderdale, cidade bem próxima a Miami, conhecida como Veneza americana, devido à enorme quantidade de canais na região. Prédios imponentes, desde os mais antigos e os mais modernos. Como falar de Miami, sem falar de compras? Macetes incríveis para se dar bem nas compras, ou seja, nos outlets, como são chamados e como ir direto ao que interessa poupando dinheiro, serão assuntos a serem explanados na próxima edição da revista Giropop!

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