Integração Energética na América do Sul

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número 1 outubro/2010 ano 1

gl c cal Painel de Geopolítica, Meio Ambiente e Cultura

R$ 14,90

Integração Energética na América do Sul China & África Diplomacia e interesses econômicos

Concentração Bancária Uma pedra no caminho do Brasil

Indústria Farmacêutica O lucro vem em primeiro lugar

Mateus Prado Wagner Iglesias Taís Fuoco Humberto Dantas Felipe Lemos Caio Penko Camila Medonca Jony Rodrigues André Fontana Ildo Sauer Sônia Seger Marco Paupério Pablo Batista Samira Burani



edit rial Prof. Fernando de Souza Coelho

Mateus Prado

Caro Leitor, É com prazer que o Instituto Henfil lança sua revista de atualidades, a GLOCAL: Painel de Geopolítica, Meio Ambiente e Cultura. O nome de nossa revista é um reconhecimento da interdependência entre o ambiente Global e o ambiente Local na sociedade contemporânea. Nossa publicação, bimestral, abordará as questões mundiais e os assuntos nacionais relacionados aos processos políticos, sociais, econômicos e culturais da atualidade. A GLOCAL nasce como uma revista multidisciplinar, uma abordagem que emerge na educação básica nacional e que, no futuro, tende a ser um dos princípios do nosso processo educacional. Com pauta atual e plural, a GLOCAL constitui um material paradidático que, diferente dos livros e apostilas, associa alguns dos eixos do moderno ensino médio com os acontecimentos/fatos do cotidiano. Realmente, a complexidade de nosso tempo tem reformado as instituições. Mesmo que a passos lentos, a escola começa a se reestruturar no Brasil. Educadores questionam a tão antiga e, paradoxalmente, atual educação bancária, onde o professor é o dono do saber e impõe este ao aluno. Desde meados dos anos 90, a Unesco argumenta que na escola é importante que o aluno aprenda a “conhecer”, a “fazer”, a “ser” e a “conviver”. São os quatro pilares da educação para o século XXI, que recomendam metodologias de ensino-aprendizagem (incluindo materiais) inovadores. Neste contexto, o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) propõe uma avaliação das competências e habilidades adquiridas pelos alunos na Educação Básica, suplantando os vestibulares que, convencionalmente, avaliam os conteúdos-programáticos. A GLOCAL, atenta à reforma do Ensino Médio no país, apresenta uma linha editorial condizente com a proposta do ENEM. Ademais, um dos diferenciais da GLOCAL é a sua construção em rede; enquanto alguns dos nossos textos são escritos por renomados intelectuais e prestigiados técnicos convidados pelo conselho editorial, os outros passam por um processo de seleção inclusivo. Universitários de todo o país enviam artigos que são analisados pelo nosso conselho editorial. Os artigos es-

colhidos voltam para seus autores para as adequações e, na seqüência, nossa equipe seleciona gráficos, inclui informações adicionais, destaca passagens nos textos, tudo para que você aproveite – plenamente – a leitura. Por fim, agradecemos o seu interesse pela leitura do primeiro número da nossa revista. Nesta edição debatemos sobre as Perspectivas para a Integração Energética da América Latina. A saúde pública tem seu espaço em um artigo sobre o parto humanizado e dois textos que tratam dos interesses da indústria farmacêutica. Na área política temos a oportunidade de ver posições sobre os Desafios da Democracia Brasileira e os Avanços da Democracia na América Latina. Por fim, agradecemos o seu interesse pela leitura do primeiro número da nossa revista. Nesta edição um dos texto que se destacam versa sobre as Perspectivas para a Integração Energética da América Latina. A saúde pública tem seu espaço em um artigo sobre o parto humanizado e dois textos que tratam dos interesses da indústria farmacêutica. No campo da política temos a oportunidade de ver posições sobre os Desafios da Democracia Brasileira e os Avanços da Democracia na América Latina. A discussão sobre o Meio Ambiente é abarcada por dois textos; um sobre a destinação do Lixo Eletrônico e o outro sobre as questões ligadas ao Aquecimento Global. A área econômica está coberta com um texto que analisa as relações econômicas entre China e o continente africano e com um revelador artigo sobre a Concentração Bancária no Brasil. As questões socioculturais são tratadas em dois artigos: o primeiro sobre a Inclusão da Diversidade nos Currículos Escolares e o segundo sobre as formas que os Estados Nacionais tratam o Multiculturalismo e a Diversidade. O nosso primeiro número é fechado com um texto sobre Exclusão Digital e um guia para conhecer melhor o Patrimônio Cultural da Cidade de São Paulo. Boa leitura! Dos editores, Prof. Fernando de Souza Coelho e Mateus Prado.

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sumário Expediente:

Editores: Fernando Coelho e Mateus Prado Conselho Editoral: Renato Eliseu, Wagner Iglesias e Paulo de Tarso Gestão de Educação e Ensino do Instituto Henfil: Ana Paula Dibbern Coodernação de Comunicação e Direção de Arte: José Geraldo S. Junior Projeto Gráfico: Lucas Paiva

por Humberto Dantas

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Desafios da democracia brasileira

por Felipe Lemos

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Onde diplomacia e interesses econômicos se encontram por Jony M. Rodrigues

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Concentracão bancária no Brasil: uma pedra no meio do caminho


por Ildo Sauer Sônia Seger Marco Antônio Luz Paupério

09 Lixo eletrônico desafios das novas geracões por Taís Fuoco

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Perspectivas para a Integracão Energética na América do Sul por Pablo de Araujo Batista

12 Para pensar sobre o espaco escolar por Caio Penko

14 Desmistificacão do parto natural por Camila Mendonça

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(Re)descobrindo o Patrimônio e os Museus

O fantasma do aquecimento global

por André Fontan Köhler

26 por Mateus Prado

A máfia dos medicamentos por Samira Burani

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Avancos da democracia na América Latina por Wagner Iglecias

Combate à exclusão digital

34 Multiculturalismo e universalidade por Franz Gustav Buhr


Escreva o mundo de hoje. Envie seu artigo e colabore para o debate da sociedade sobre os temas do momento.

Pensamentos globais, acões locais A Revista Glocal - Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana é uma publicação de atualidades do Instituto Henfil Educação e Sustentabilidade, que tem como objetivo divulgar informações qualificadas sobre arte, cultura, política nacional e internacional, meio-ambiente, geopolítica, economia, questões sociais, ciência e matemática. O formato colaborativo abre espaço em suas páginas para que estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, professores e especialistas em diversas áreas publiquem seus artigos em português, inglês ou espanhol.


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humanas

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os escritos da antiga Grécia, que carregam nas costas mais de vinte e cinco séculos de história, a democracia por vezes era colocada em dúvida. Platão entendia que a acomodação poderia levar a uma catástrofe. Homens acostumados com o poder se renderiam facilmente à preguiça e se corromperiam. Diógenes, o Cínico, protagonizava teatralmente esse sentimento, e circulando pelas ruas com uma lanterna acesa, em plena luz do dia, dizia que procurava um homem probo. Mais de um milênio depois, a democracia que (re) nasceu das reivindicações burguesas contra os nobres teve DNA liberal, sob as vestes de um Estado mínimo. Culturalmente não poderia ser diferente: o absolutismo deu brecha aos que buscavam estabilidade nas regras tributárias e garantias de propriedade – já era

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muito para os padrões da época. Direitos sociais vieram depois, muito depois, como resultado de uma série de fatores. Primeiramente a extensão do sufrágio, ou seja, homens pobres passaram a votar, e em seguida vieram as mulheres, já no século XX na imensa maioria dos países democráticos. Tal cenário alterou completamente a lógica do Estado, sobretudo em virtude do que Engels chamou de “a situação da classe trabalhadora na Inglaterra” e também dos cenários pós-guerras, com ênfase ao conflito que terminou em 1945. Tendo em vista o novo quadro, as democracias representativas modernas (termo utilizado por Robert Dahl) passaram a atender as massas e parte de seus reclames, caracterizadas pelo sufrágio universal (acesso de todos ao voto). Os partidos se fortaleceram como organização, pois precisaram buscar apoio no imenso contingente que ascendeu às urnas. O caráter quanti-


Os desafios da “democracia” brasileira Uma revolução cultural. Presente no cotidiano dos cidadãos e não somente na política eleitoral

tativo da democracia se fez presente. As teorias acerca da participação tornaram-se práticas no alistamento de imensos contingentes de cidadãos. O voto era a garantia aparente da cidadania. Mas restava um desafio, associado ao caráter qualitativo da democracia. O voto, por si só, isoladamente, não parece garantir grandes avanços. Os eleitores necessitam de informação e educação política para que possam “jogar o jogo da democracia”. E isso não é apenas opinião, está presente em praticamente todos os escritos filosóficos sobre o tema, até mesmo entre os descrentes da democracia, que apontavam essa falta de comprometimento como algo capaz de corromper o sistema. Esse talvez seja um dos grandes desafios do Brasil: a qualificação para o voto. Os anos 80, vistos por muitos economistas como a década perdida, representaram algo expressivo para nossa democracia. Entramos no período reorganizando nosso quadro partidário, artificialmente composto no regime militar. Em 1982 elegemos governadores diretamente, em 1983 assistimos os primeiros ensaios da maior agitação popular vivida nesse país, o Movimento Diretas Já, frustrado em 25

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de abril de 1984 com a derrota da emenda Dante de Oliveira numa manobra regimental da situação no Congresso. Em 1985, mesmo indiretamente, assistimos um civil chegar ao poder nacional, e incluímos por decreto o analfabeto no rol de eleitores. No ano seguinte elegemos uma Assembleia Constituinte, que num movimento bastante inclusivo, em permanente contato com a sociedade, promulgou a Carta Cidadão de 1988, ou: Constituição Federal. Nela reservamos espaço para o voto dos jovens de 16 e 17 anos, algo raríssimo no mundo. E fechamos a década conduzindo, em dezembro, um presidente diretamente escolhido pelo povo, nas urnas. A década de 90 também nos reservou boas surpresas. Assistimos a um impeachment sem golpes posteriores, controlamos a inflação e fizemos a sociedade compreender que grandes feitos na esfera pública são avaliados positivamente nas urnas. Na entrada do século XXI elegemos o grupo de oposição para o poder público federal e empossamos os vencedores sem rumores de radicalismos. Para muitos analistas, a democracia se conquista com o amadurecimento eleitoral, e nesse rumo parece que estamos seguindo. Mas de que bastaram todos esses esforços para aqueles que se atêm às teorias da democracia? Pesquisas de opinião pública e estudos acadêmicos revelam descrença e descaso do cidadão com a política. Para ficarmos em apenas uma dimensão do nosso desafio, em artigo publicado em 2004 na Revista Opinião Pública da UNICAMP, cientistas políticos da USP mostravam com base nos dados do Estudo Eleitoral Brasileiro de 2002 que 67% dos brasileiros são alienados politicamente. Ou seja, dos 132 milhões de eleitores, 88 milhões são analfabetos políticos – utilizando um termo radical para um problema assombroso. E a arena pública se torna ainda mais assustadora diante de seguidos escândalos de corrupção. Ou seja: o descaso é aproveitado pelos que se interessam em distorcer a visão do Estado. Tal cenário desacredita a política, e por mais que as eleições nacionais ocorram com relativa qualidade no Brasil, é absolutamente necessário lembrar que estamos muito distantes do que poderíamos descrever como uma Democracia, aos moldes mais teóricos associados à participação quantitativa simbolizada pelas urnas, e qualitativa representada pela busca de informações e educação suprapartidária formal nas escolas. Assim, diante dos desafios de nossa democracia, fica a grande questão: o que devemos fazer para que a democracia se consolide em nosso país após anos de conquistas relevantes? Necessitamos de uma revolução cultural. Aquela que seja capaz de colocar a democracia como um bem inestimável, presente não apenas na política eleitoral, mas também no cotidiano dos cidadãos. Norberto Bobbio, célebre pensador italiano do século XX, afirmava que a democracia precisa estar presente nas escolas, nas casas, nas famílias, relacionamentos pessoais e profissionais. Enfim: em todas as formas de as pessoas se associarem e conflitarem. Diante de tal desafio é chegado o momento de promover algo capaz de desencadear diversas mudan-

ças em nosso cotidiano. A sabedoria política, sempre suprapartidária, com interesses em estimular a participação, nunca de indicar uma legenda e seus candidatos específicos, pode alterar nossas vidas e deve estar presente em escolas, empresas e organizações sociais. O cidadão politicamente educado é aquele que sabe, por exemplo, que um parlamentar não é um fazedor de favores, e sim um legislador. Que um presidente não é o pai da República, e sim o administrador maior do patrimônio público, que é nosso. Um cidadão comum deve entender minimamente o sentido da palavra orçamento, conhecer as atribuições daqueles que elege e tantas outras questões básicas de nosso cotidiano. Um eleitor precisa saber que o voto não tem preço, tem consequências, e que emprego na área pública deve ser ocupado por técnico, e não por apadrinhamento. A crise de nossa democracia passa pela capacidade de solucionarmos um imenso déficit de educação política, simbolizado por uma cultura associada ao favor, ao medo, ao descaso, à malandragem e à esperteza. Essa é a verdadeira reforma política de que o país precisa. Com um grande agravante, no entanto: os responsáveis pelos currículos escolares públicos são aqueles que chegam ao poder conduzidos pelo eleitor mediano, aquele que pouco ou nada entende de política, enxergando-a como algo distante. O cenário torna-se menos pessimista se pensarmos que muitos políticos estão dispostos a mudar essa realidade por meio de ideias inovadoras. Uma delas foi por meio da implementação de uma série de iniciativas participativas. Foram criados conselhos gestores de políticas públicas, comissões de legislação participativa, audiências públicas e reuniões do orçamento participativo em uma série de lugares. Tais iniciativas são internacionalmente reconhecidas como grandes ferramentas de gestão democrática, mas ainda padecem da falta de conhecimento da sociedade e da truculência de alguns políticos que desrespeitam algumas decisões legitimadas pela sociedade nesse tipo de ferramenta. Assim, criar mecanismos de aproximação é menos relevante, nesse momento, do que ofertar ao cidadão uma formal instrução acerca dos valores associados à democracia. De posse das regras do jogo, caberá a cada um, de forma consciente, escolher o que pretende fazer de seu voto, de seu tempo e de sua dedicação à coisa pública. Afinal de contas, a despeito do tempo que nos separa da citação, Rousseau dizia que a partir do momento em que o cidadão colocar seus interesses pessoais à frente de suas questões públicas o Estado estaria fadado ao caos. Resta alguma dúvida? A educação é realmente nosso grande desafio, em nome do bem maior chamado Democracia.

Um eleitor precisa saber que o voto não tem preço, tem consequências

67% dos brasileiros são alienados politicamente, de acordo com dados do Estudo Eleitoral Brasileiro de 2002

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Humberto Dantas é doutor em ciência política pela USP, professor visitante da USP-Leste, curso de Gestão de Políticas Públicas e superintendente da Fundação Mario Covas. Ao longo dos últimos seis anos coordenou mais de 100 turmas de cursos de educação política. Humberto@fmcovas.org.br


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natureza


A máfia dos medicamentos A “utilização” de médicos na divulgação de medicamentos é feito de forma sistemática pelos laboratórios

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s remédios são utilizados há muito tempo, produzidos a partir de ervas, substâncias aromáticas e de drogas que vinham do oriente. A Indústria dos Remédios participa intensamente da vida da população e, em especial, na dos idosos. É comum encontrarmos pessoas idosas ingerindo mais de dez medicamentos por dia. Mas qual será a influência dos médicos, estudantes e docentes das universidades na indústria medicamentosa? Grande parte dos docentes universitários desenvolve pesquisas, com o apoio governamental, a fim de encontrar novas formas de tratamento para determinadas doenças. Quando finalizam seu estudo, o Estado, que durante todo o desenvolvimento financiou a pesquisa, agora é passado para trás, já que um fabricante de remédios oferece uma proposta tentadora e todo o conhecimento financiado com dinheiro público passa a ser dominado pela indústria privada, que produzirá o medicamento e logo o colocará em circulação, em grande parte das vezes, com valores absurdos. Após todo o processo de compra do conhecimento e produção do medicamento, a próxima etapa é a produção e distribuição do produto no mercado. É nessa que muitos médicos contribuem com a propaganda. Um caso interessante a ser citado é o que aconteceu com a Professora Doutora Ângela Maria Machado de Lima do curso de graduação em Gerontologia da USP: “Estive no XVI Congresso da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, que foi realizado em junho de 2008 em Porto Alegre, e me incomodou o fato de receber no ato da inscrição, por ser médica, um crachá de tarja verde na qual estava escrita a palavra “prescritor”. Ao perguntar as razões que teriam para tal procedimento, fui informada que para os que não prescrevem havia um crachá de tarja vermelha onde se lia “não prescritor” e que isso havia sido proposto pelos laboratórios farmacêuticos para facilitar a abordagem dos profissionais que podem receitar medicação. Então, imediatamente solicitei que meu crachá fosse trocado por outro de tarja vermelha e não fui assediada por ninguém, porém a quantidade de brindes a serem distribuídos aos “prescritores” me impressionou bastante e observei que houve quem entrasse na mesma fila para pegar bolsas, estojos e até lanches de uma importante rede de fast food, por repetidas vezes. Outra coisa impressionante foi descobrir que houve palestras patrocinadas por laboratórios (medicamento que supostamente trata a

Doença de Alzheimer) nas quais se distribuíam brindes aos ouvintes. Fiquei preocupada com a possível banalização e mercantilização do tratamento medicamentoso para idosos e com risco de comprometer os objetivos e atividades de um congresso científico com assuntos relacionados aos negócios.” Esse fato acontece já que grande parte da população acredita que o médico é uma fonte de conhecimento, como se o título de Doutor bastasse para que o mesmo seja o possuidor de todo o conhecimento, poder e cura das doenças das pessoas. Sendo assim, ele é tido como o melhor propagandista para as empresas. Além do mais, os médicos fornecem amostras para os pacientes, as quais lhe foram cedidas pelas empresas, assim os pacientes acabam saindo dos consultórios com a ideia de que “Nossa, como aquele médico é bonzinho, ele me deu até amostras do remédio”. O ciclo da produção do conhecimento e de medicamento é fechado com o lucro ganho pelas indústrias. Após ganhar o fármaco, a grande tendência é de o paciente ir à farmácia solicitando o mesmo medicamento, da mesma marca que lhe foi fornecido pelo médico. Segundo um estudo publicado em 2009 na Revista da Associação Médica Brasileira sobre a complexidade do regime terapêutico prescrito para idosos, a prevalência do uso de medicamentos no Brasil é de 60% a 91%. O maior alvo das indústrias, talvez seja os idosos, já que muitos ingerem grandes quantidades de medicamentos e podem ser considerados como propagandistas das empresas. Quando o remédio traz o efeito desejado, eles divulgam para amigos, parentes, que foi curado de determinada doença e assim mais uma pessoa poderá ser um freguês desta empresa. A máfia dos medicamentos nunca deixará de existir, já que ela contribui com o enriquecimento não só de profissionais de mau caráter, como de funcionários governamentais. E é muito triste dizer que instituições de, possam contribuir com esse comércio, possibilitando que seus docentes, mal intencionados, possam pesquisar e vender a ciência para esse fim. Portanto é necessário dar uma atenção para esse fato, algo que não aparece frequentemente em jornais e revistas, mas que prejudica, certamente, a população que necessita de medicação.

Mais Jardineiro Fiel O filme, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, conta a história “fictícia”de um laboratório farmacêutico que faz testes de um medicamento contra o câncer, de forma ilegal, em habitantes do Quênia. O Enredo discute a Ética em pesquisas e as práticas e interesses da indústria farmacêutica no mundo atual.

Samira Burani Aluna do curso de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP).

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lĂ­nguagens


Combate à exclusão digital A inclusão digital está fortemente relacionada à distribuição de renda, à participação popular e ao combate à fome

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iferente da maior parte dos países da Europa e da America do Norte, a questão da exclusão digital é fundamental para a plataforma da inclusão social no Brasil. No país temos somente 16 milhões de pontos de acesso à internet, revelando que boa parte da população não pode usá-la como tecnologia a qualquer momento que deseje. Isso se torna mais grave se consideramos uma concepção mais ampla do que seria exclusão digital, concepção à qual me filio. Na sociedade da informação, quem toma decisões e quem está nas principais posições de poder usa da tecnologia da informação para tomar decisões, comandar processos e influir pessoas. Para caminharmos para uma sociedade em que as diferenças de oportunidade fossem minimizadas, o mínimo que deveríamos contar é que todos pudessem ser usuários avançados das tecnologias de informação. Para que haja um pouco de justiça nas relações de quem controla os meios de produção, os demais usuários precisam mais do que saber navegar na internet. É necessário que cada um deles tenha acesso a software livre, saiba utilizá-lo, consiga alterar programas para que estes atendam às suas necessidades, possa produzir conteúdos e publicá-los na rede internacional de computadores, entre outras coisas.


Alguns pesquisadores apontam que as políticas de inclusão digital não podem estar dissociadas das políticas sociais. Pelo contrário, a inclusão digital está fortemente relacionada ao desenvolvimento sustentável, à distribuição de renda, à participação popular, ao combate à fome e à globalização contra hegemônica. Também é importante destacar que a inclusão digital, tal como caracterizada acima, possibilita que os usuários desenvolvam formas diversas de desenvolver as capacidades cognitivas e incentiva a multiplicidade de pensamentos. Para entender melhor isso, lembramos que os software proprietários possuem um caminho lógico e que os usuários, com o tempo de uso, tendem a repetir em outras áreas da vida os processos cognitivos que usam nos programas. Os programas de inclusão digital de que temos conhecimento no Brasil são tímidos e partem de outra concepção. Alguns disponibilizam totem de acesso à Internet. Ora, como esperar que um usuário que, por alguns minutos, utiliza o computador, e em pé, desenvolva as competências e habilidades necessárias para estar

Mais FUST O FUST ( Fundo de Universalização do Sistema de Telecomunicações ) já arrecadou cerca de 9 bilhões de reais através de cobrança em contas telefônicas. O dinheiro poderia ser utilizado para a universalização do acesso à Internet no Brasil.

em igualdade com as pessoas que decidem as coisas em nossa sociedade? Outros programas, como os telecentros, também partem desta visão estreita de que o simples acesso à internet, mesmo que por poucas horas na semana, inclui digitalmente as pessoas. Há ainda programas mais restritos, que pregam que usuários que dominem a edição de textos e tabelas já estão incluídos. A velocidade de acesso também é um problema a ser resolvido. As camadas mais pobres costumam ter acesso à internet em velocidades menores. A Finlândia resolveu isso, colocando na constituição que Internet de um Mega de velocidade é direito de toda pessoa. No Brasil, a defesa pura e simples do direito de baixar arquivos e copiar documentos é solidificar uma estratificação que existe em relação ao acesso, uso e formas de uso das tecnologias da informação no país. Mais correto, como vemos, é possibilitar que todos tenham acesso e saibam usar as ferramentas para terem os mesmos direitos.

Transparência Governamental

Mais uma diferença marcante entre o Brasil, a Europa a América do Norte está relacionada à disponibilização das informações em bancos de dados que sejam fáceis e que os usuários possam cruzar dados a fim de obter outras informações. No Brasil, o próprio sistema de acompanhamento dos gastos do governo não está disponível para consulta do cidadão comum. Somente parlamentares possuem senhas para acessá-las. Os bancos de dados disponíveis para os parlamentares são de difícil navegação e só possuem dados quantitativos, relativos ao tamanho dos gastos. A qualidade não é levada em conta. Cruzar informações dentro do programa é muito difícil e lento. Algumas ONGs acompanham esses gastos. É claro que já é algum avanço termos ONGs que acompanham os gastos governamentais, mas gostaria de destacar dois problemas. O primeiro deles é que algumas destas ONGs sobrevivem de financiamento público, portanto fiscalizando aqueles que viabilizam sua existência. O outro problema é que as ONGs que não vivem de recursos públicos dependem de favores de deputados para que tenham acesso aos dados do sistema. Ora, não é demais supor que deputados contrariados não emprestam a senha para essas ONGs. Tal qual o financiamento público causa dependência de algumas instituições, a necessidade de pedir favores e de manter uma boa rede de relações no legislativo causa a de outras. Não é preciso dizer que o melhor é que todos possam ter acesso aos dados e que a qualidade destes seja aprimorada. A transparência precisa estar entre as propostas dos Partidos no Brasil, para incluir de forma séria essa pauta na agenda política brasileira e para permitir que nossos internautas possam navegar pelos mares da administração pública e “pilhar” e “saquear” os dados que são capazes de combater o condomínio patrimonialista instalado na política brasileira. Mateus Prado cursou sociologia e políticas públicas na USP. É presidente nacional do Instituto Henfil e autor de livros didáticos

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