Painel de Geopolítica, Meio Ambiente e Cultura
ISSN 2179-1538
número 3 ano 2
gl c cal
R$ 14,90
As vanguardas Históricas As transformações por que passaram as Artes Visuais ao longo do século XX
Congresso nacional Como funciona e é formado o Poder Legislativo Brasileiro
Pitágoras Um gênio além de seu tempo
Sustentabilidade: o Paradigma do Desenvolvimento.
Romper hoje o paradigma da sociedade globalizada, consumista e predatória marcada pelo progresso tecnológico-produtivista significa abrir caminhos para a sustentabilidade? Darlon Silva Caio Vinicius Martins Leandro Marubayashi Adiany da Silva Sara Menoya Ferraz Ana Carolina Grangeia Cardoso Rafael Barbosa Fialho Martins Felipe Rodrigues dos Santos Gustavo Meyer Aroldo Dias Lacerda Denise Schynder João Nacle Urt Davi Aquino Renan Luis Fragelli Ingrid Goncalves Solange Lima Gabriel Boiani Barbosa Ana Maria Hoyos Cadavid Willians Ferreira Leandro Carvalho Paulo Coelho Araujo Guilherme Bortolotto Vanessa Kawaichi
Seu autêntico plano de estudos.
516s. pág
31
s fascículo
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4513-8660
(11) 9 9423-1131
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Materiais didáticos
edit rial Prof. Fernando de Souza Coelho
Educador Mateus Prado
Olá, queridos leitores da Revista Glocal.
Gostaríamos, primeiramente, de explicitar a nossa satisfação pelos elogios à edição anterior da Glocal. Estamos muito felizes por ter contribuído no entendimento dos alunos e leitores sobre a prova do ENEM. Esperamos sinceramente que, no dia do exame, nossas dicas e orientações sejam válidas para melhorar o rendimento de cada um. Nessa terceira edição do segundo ano da revista, procuramos reforçar nosso compromisso com a questão da sustentabilidade. O artigo de capa, “Sustentabilidade: o paradigma do desenvolvimento”, de Williams Ferreira, para muito além do “Economia Verde”, coloca em xeque o desenvolvimento produtivo e tecnológico da sociedade organizada em torno do consumo. Junto dos textos “O ciclo hidrológico nas cidades”, “A política global na era da mudança climática”, “Educação Ambiental em Museus de Ciência: estamos sendo adestrados ou educados?” e “Catação de materiais recicláveis: degradação social e pouco compromisso ambiental”, temos um conjunto de artigos que foca a Competência 3 cobrada pela matriz curricular do MEC para o ENEM em “Ciências da Natureza”: “Degradação, Conservação Ambiental e Ciclo da Água”. Na área de “Linguagens, Códigos e suas Tecnologias”, abordamos um tema que se torna cada vez mais importante num universo marcado pelas tecnologias de informação: “Quem é
o ‘dono do pedaço’ nas redes sociais?”. Temos aqui também o artigo “Além dos Capitães de Areia”, que irá abordar a obra de Jorge Amado, cujo centenário de nascimento foi comemorado nesse ano. Selecionamos também um texto de Renan Luis Fragelli, da área de “Matemática e suas Tecnologias”, que procura demonstrar como Pitágoras, e não só o teorema que leva seu nome, está presente no nosso cotidiano. Além disso, com um texto de Leandro Marubayashi, você poderá entender um pouco melhor o funcionamento de uma casa de apostas, passando pela noção de probabilidade. Por fim destacamos, na área de “Ciências Humanas”, um artigo que trás a questão do Ensino Superior no Brasil, abordando a problemática do acesso a ele e sua democratização. Com a certeza de que a leitura dos artigos destacados, e também dos que não puderam ser citados, poderá contribuir de diferentes formas e medidas para cada leitor, agradecemos cada um por juntar-se a nós nessa caminhada e desejamos uma boa leitura.
Dos editores, Prof. Fernando de Souza Coelho e Educador Mateus Prado.
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sumário
por Darlon Silva
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Quem é “o dono do pedaco” nas redes sociais?
por Leandro Marubayashi
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Como funciona uma casa de apostas
por Ana Carolina Cardoso
Expediente: Editores: Fernando Coelho e Mateus Prado Conselho Editoral: Renato Eliseu, Wagner Iglesias, Pedro Ivo Batista e Paulo de Tarso Gestora de Educação e Ensino: Ana Paula Dibbern Coordenador do Observatório Social: José Gustavo Fávaro Barbosa Silva Revisão: Patrícia Bernardes Estagiária - Gestão Pedagógica: Caroline Ramos Diretor de Arte: José Geraldo S. Junior Projeto Gráfico: Lucas Paiva Designer: Daniel Paiva
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Democratizacão da Educacão Superior
por Felipe Rodrigues dos Santos
08 Você conhece o Congresso Nacional? por Caio Vinícius Martins da Silveira
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12 Além dos Capitães da Areia
Duracão dos produtos – Tem alguma coisa errada? por Adiany da Silva Montelo
16 por Aroldo Dias Lacerda
Estrangeirismos por Sarah Menoya Ferraz
22 Educacão em Museu de Ciências por Gustavo Meyer
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As Vanguardas Históricas
Reading Strategies por Gabriel Boiani Barbosa
34 por Willians Ferreira
Como já dizia Pitágoras: “Tudo é número” por Renan Luis Fragelli
38 O Batismo da Nacão Brasileira
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por Solange Lima
Sustentabilidade: o Paradigma do Desenvolvimento.
40 O ciclo hidrológico nas cidades por Paula Coelho Araújo
Escreva o mundo de hoje. Envie seu artigo e colabore para o debate da sociedade sobre os temas do momento.
Pensamentos globais, acões locais A Revista Glocal - Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana é uma publicação de atualidades do Instituto Henfil Educação e Sustentabilidade, que tem como objetivo divulgar informações qualificadas sobre arte, cultura, política nacional e internacional, meio-ambiente, geopolítica, economia, questões sociais, ciência e matemática. O formato colaborativo abre espaço em suas páginas para que estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, professores e especialistas em diversas áreas publiquem seus artigos em português, inglês ou espanhol.
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Duracão dos produtos – Tem alguma coisa errada? O que há por trás do funcionamento dos itens que consumimos?
O
consumidor pode facilmente citar uma lista de diferenças entre produtos ofertados pelo mercado há um tempo, comparando com os que temos hoje. Por exemplo, consegue imaginar os modelos dos celulares de uns 10 ou 20 anos atrás? Quais são as diferenças? Bom, são muitas. E das impressoras, computadores e televisores? Percebe a diferença? As mudanças nos produtos são apresentadas desde o seu material de fabricação à quantidade de serviços reunidos em um único produto. Isso não aconteceu por acaso, há fatores intimamente relacionados. Um deles é a obsolescência acelerada. Isso mesmo, na obsolescência acelerada, os produtos que você compra são programados para terem uma curta vida útil ou apresentarem defeitos com determinadas horas de uso e os fabricantes fazem isso conscientemente. Apesar de antes terem sido feitas algumas tentativas de introduzir no mercado produtos com tempo de vida reduzido, a obsolescência acelerada real teve início oficial com a queda da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, quando a condição do mercado ficou caótica com a assustadora queda no consumo. Era necessária uma estratégia urgente para estimular o crescimento econômico. Neste cenário surgiu em 1932 o economista Bernard London, apresentando pela primeira vez teorias escritas sobre essa prática. Em seu livro “The new prosperity”, London além de sugerir a obsolescência programada como meio de acabar com a depressão, ele incentivava ainda as pessoas a continuarem comprando, pois assim a indústria continuaria crescendo e todos garantiriam seus empregos. Outros estudiosos vão mais a fundo na questão e dividem em espécies os tipos de obsolescência programada, ou as formas que o produto pode tornar-se obsoleto. São basicamente três formas: a obsolescência de função, a de qualidade e a desejabilidade. A obsolescência de função é aquela em que um produto existente torna-se ultrapassado com o
lançamento de outro que execute melhor a mesma função. Como um remédio novo que produza menos efeitos colaterais que outros já no mercado. A obsolescência de qualidade refere-se às circunstâncias de planejamento dos produtos para que ele se gaste ou se quebre em determinado tempo, tais atitudes não estão de acordo com os padrões éticos e é uma prática contra o consumidor, por isso, no Direito do Consumidor, estão estabelecidos prazos mínimos de garantia, para que de certa forma os prejuízos sejam amenizados. Em muitos casos são ações propositais, nos quais há uma substituição por materiais mais frágeis em que não seja possível apenas a troca da parte danificada, mas que seja necessário trocar do produto inteiro. Isso é feito de forma planejada, e apesar disso, conseguem com estratégias de marketing fazer com que o consumidor compre novamente o produto de sua marca. Por fim temos a obsolescência de desejabilidade. Sob esse aspecto temos alguns fatores psicológicos em cena, pois isto faz com que o consumidor deseje obter ou renovar um bem sem que tenha qualquer necessidade. Os produtos estão propensos à troca somente porque os novos se tornaram mais atrativos. A obsolescência programada faz sentido enquanto você pensa em como manter o crescimento da indústria e a criação de empregos em curto prazo. O problema é a ideia do longo prazo. Estamos usando nossos recursos naturais e criando “montanhas de lixo”. Anualmente, apenas o Brasil produz de 20 a 50 toneladas de lixo eletrônico, de acordo com pesquisa do Greenpeace. A obsolescência programada funcionou bem no passado, mas estamos começando a sofrer as consequências logo. É nítido que este sistema não pode ser usado para sempre. Adiany da Silva Montelo Acadêmica de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Roraima, participante do Programa de Extensão Tutorial – Aplicado às Ciências Sociais (PET - ACS).
A obsolescência acelerada consiste, genericamente, na redução artificial da durabilidade de um produto, de modo a induzir os consumidores a novas aquisições de produtos substitutos dentro de um prazo menor e, consequentemente, com uma frequência maior, do que fariam naturalmente.
Mais Para o melhor êxito desta prática, as empresas adotam estratégias de marketing. Os profissionais desta área têm o objetivo de influenciar a velocidade, o nível e a composição da demanda com a finalidade de alcançar as metas organizacionais acima dos valores éticos.
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EducacĂŁo Ambiental em Museus de CiĂŞncia: estamos sendo adestrados ou educados?
A educação adjetivada como ambiental tem sido seriamente banalizada atualmente, sendo assumida, também, por aqueles atores sociais que estão no centro da crise ambiental
A
tualmente, quando nos vêm à mente o termo Educação Ambiental (E.A.), pensamos em algo extremamente simplista e homogêneo, com ações de caráter pontual e de comportamento individual, como, por exemplo, incentivar hábitos que levem a diminuição do consumo de água e de energia, e é isto que a bióloga e professora da UFSC Paula Brügger caracterizaria como sendo uma espécie de adestramento ambiental ao invés de educação ambiental. Porém, uma análise mais atenta nos possibilita enxergar que na realidade a Educação Ambiental é um campo de estudo heterogêneo, que engloba diferentes visões de mundo e, principalmente, é subsidiada por posicionamentos ideológicos e políticos diferenciados. A importância de reconhecer as diferentes concepções de Educação Ambiental existentes está no fato de que tais posicionamentos ideológicos influenciam as práticas de Educação Ambiental, legitimando e podendo aumentar o poder político e econômico de atores sociais diferentes. Como exemplo, podemos citar a prática da Educação Ambiental por empresas, que tendem a legitimar as ações das mesmas (que normalmente estão no centro dos problemas socioambientais) ou então, tentam imputar a cada indivíduo da sociedade a culpa pela crise ambiental, como se cada pessoa individualmente tivesse acesso igualitário aos recursos naturais, ou não pertencessem a certo sistema econômico pautado por um modo de produção predatório. Dessa forma, aparentemente a responsabilidade pela crise ambiental é de todos, igualitariamente, o que é uma grande inverdade. Acima de tudo, a principal consequência do adestramento ambiental refere-se à despolitização da sociedade, à opressão e manutenção do estado vigente, deixando-se a tomada de decisões para grupos de poder minoritários, que se articulam de acordo com seus interesses, buscando a minimização de conflitos com base em ações de EA possuidoras de todas as características superficiais já citadas: pontuais, de cunho técnico e naturalizante, com foco em mudanças de comportamento individuais, sem atitudes na real causa dos problemas socioambientais, já que, em muitos casos, os próprios proponentes das ações de EA, ou aqueles que os financiam, fazem parte da raiz do problema. Como diria Enrique Leff, economista mexicano e professor da UNAM e UFPA, “a crise ambiental nada mais é do que uma crise civilizatória, uma crise do pensamento ocidental, principalmente”. O pensamento ocidental, historicamente, tendeu a separar sociedade e natureza, caracterizando a natureza como objeto a ser estudado e explorado; tal tipo de
pensamento subsidiou o desenvolvimento de técnicas e avanços científicos desde o período da Revolução Industrial até os dias atuais, sendo esse período marcado por grandes progressos tecnológicos, mas, também, por inúmeros problemas socioambientais. Assim, de maneira resumida, o cerne da questão ambiental se encontra na relação entre os indivíduos da sociedade que, organizados por meio de determinado modo de produção baseado em uma ideologia dominante que busca a exploração dos recursos naturais. Portanto, a crise ambiental não é somente natural ou ecológica, ela também é social, é fruto da organização societária, das relações de classe e de poder. Uma educação ambiental que não responda a essa complexidade do problema é totalmente ineficaz, ela apenas adestra os indivíduos ou os cega, enquanto os verdadeiros responsáveis pela depredação e exploração de recursos naturais agem impunemente. Mas, onde entram os Museus de Ciência nessa história? Parte-se da hipótese que, os atuais Museus de Ciência (mais especificamente os centros de ciência), em suas exposições que tratam de temáticas socioambientais, buscam explicitar ao público visitante o caráter conceitual do tema tratado, não abordando fatores políticos, sociais ou éticos que existem no contexto do tema. Tal forma de comunicação e divulgação científica pode vir a prejudicar uma formação cidadã mais ampla, capacitada a intervir em políticas públicas ou privadas e, principalmente, não fornece subsídios para se pensar em outros modelos de desenvolvimento, mais justos e equitativos. Revela-se nesses espaços educacionais uma EA de atributos tecnicistas e naturalizantes, pautada pela ação nas consequências e não nas causas da questão ambiental, com foco em mudanças de comportamento individuais, e, principalmente, despolitizando o debate acerca da problemática ambiental e sua complexidade e multidimensionalidade. Desta forma, o potencial do Museu de Ciência não é aproveitado, visto que não possibilita um real diálogo e participação pública, mesmo sendo um espaço propício para a discussão de temas que integram múltiplas dimensões. Na análise da Estação Ciência, por exemplo, em seu projeto intitulado “O Planeta Terra e a Preservação Ambiental”, observou-se a prática da EA com todas as características descritas anteriormente, além do fato de que a temática ambiental está compartimentada na área da Geologia, reduzida a um debate estritamente técnico. Portanto, nota-se a necessidade de pensarmos outras formas pedagógicas para os Museus de Ciência.
Uma instrução de caráter essencialmente técnico, fruto de uma visão de mundo cientificista e unidimensional.
Gustavo Meyer Bacharelando em Gestão Ambiental pela USP e membro do grupo de pesquisa “Movimentos Sociais: Sustentabilidade e Dimensão Socioambiental”
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Estrangeirismos A Língua Portuguesa e o empréstimo de palavras estrangeiras: uma relação evidente, funcional e principalmente necessária
O
empréstimo de palavras de outras línguas para a nossa comunicação em Língua Portuguesa não pode ser evitado. Esse uso de estrangeirismos se justifica e se estabelece por conta da adaptação e da acomodação dos termos estrangeiros ao Português brasileiro. Há quem seja contra o uso dos estrangeirismos. É o caso do ex-ministro do Esporte Aldo Rebelo, que em seu mandato como Deputado Federal criou o Projeto de Lei n° 1676-d, de 1999, que dispõe (vejam só!) sobre a promoção, a proteção, a defesa e o uso da Língua Portuguesa. Depois de aprovado na Câmara dos Deputados em 2001, muitos linguistas e outros pensadores da linguagem começaram, com razão, a se opor. Segundo Rebelo (1999), “as muitas palavras estrangeiras utilizadas no Brasil podem dificultar a comunicação dos usuários da Língua Portuguesa”. Den-
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tre as exigências legais, consta que, toda a vez que um emissor se utilizar da palavra estrangeira em um ambiente público, deverá ser disponibilizada a tradução em português. Estudos foram sugeridos para que termos estrangeiros sejam substituídos por palavras de origem na Língua Portuguesa, principalmente na área científica e tecnológica. Caberia então ao Poder Público adotar as iniciativas cabíveis para adaptar a lei no ensino de Língua Portuguesa e realizar campanhas para promover o uso ideal do português. Essa concepção do que seja usar a “Língua Portuguesa Brasileira” é questionável. As teorias linguísticas não aprovam tais concepções. Justifica-se isso pelo fato de que o brasileiro não sabe enrolar a língua. É difícil para muitos falantes da Língua Portuguesa pronunciar software, por exemplo, e mesmo assim não existe equivalente em português. O falante se sente à vontade com o termo, pois o pronuncia no modo que achar mais conveniente, adaptando a palavra a sua capacidade fonadora e incluindo-a ao seu vocabulário. Já houve uma tentativa de transformar software em logiciário, e é claro que não deu certo. A palavra é única e necessária ao entendimento, portanto o seu uso não abalou as “estruturas” linguísticas. Já nos acostumamos às adaptações e fica difícil neste momento distinguir das palavras que usamos quais são originadas de termos estrangeiros, mas sabemos que são muitas. Toda língua é composta por uma multiplicidade de outras línguas, que por sua vez, também são compostas por outras. Sabe-se que a árvore genealógica brasileira não é exemplo de linearidade cultural, pois a miscigenação é evidente. Nas palavras do filósofo Mikhail Bakhtin, “a palavra estrangeira foi, efetivamente, o veículo da civilização, da cultura, da religião, da organização política”, de modo que podemos compreender a importância do uso dos estrangeirismos para evolução linguística e social da nação. Quanta contradição com a lei n° 1676-d, de 1999, que, em vez de assumir essa importância afirma que a Língua Portuguesa precisa ser protegida para não prejudicar a identidade nacional.
Sabemos que questão da identidade não se refere à maneira de usar a língua, mas a outros fatores de nível sociológico. A língua tem que ser encarada sem vínculo necessário com o que o dicionário nos oferece. As palavras não pertencem a esta ou aquela significação específica dentro desta ou daquela língua em especial. A consciência dos falantes não se conforma à forma física dos termos. A língua é parte das enunciações dentro de contextos específicos de acordo com a necessidade do falante. E as enunciações podem se fazer valer naturalmente por empréstimos e enriquecer o teor da comunicação. O brasileiro nunca deixou de se comunicar bem por conta do uso de empréstimos linguísticos. A nossa língua, que na verdade não é de ninguém, não precisa ser promovida, protegida e muito menos defendida. Somos os usuários da língua, fazemos a língua viver enquanto falamos, portanto não podemos “podar” os termos quando eles são necessários à comunicação. A palavra deixará de ser estrangeira quando o termo for compreendido dentro de um contexto do seu uso, fazendo sentido e parte da comunicação. Pouco importará aos falantes a forma linguística (o seu revestimento, o seu som, a sua grafia) associada ao termo. Não se pode estagnar uma cultura que é viva. Não se pode “despir” as palavras para ficar com as suas “roupas”. Importa a alma, importa o que é vida e o que se move. Importa que, independente da origem, as palavras nos movam e nos façam sentido.
Sarah Menoya Ferraz Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos (PPGL-UFSCar) e pesquisadora na área de Análise do Discurso.
TEORIAS LINGUÍSTICAS Num segundo momento da Gramática Comparada, fase por que passou a Linguística, os neogramáticos começaram já a pensar positivamente nas transformações linguísticas e questionar a ideia de que a língua se transforma pelo seu “mau uso” ou “uso descuidado” (crítica parecida com a nossa em relação ao que pensa o deputado). Talvez este tenha sido o primeiro momento na história em que a língua fosse pensada como “algo vivo”, que não se deteriora pelo seu movimento contínuo natural. Logo depois, com influência de Ferdinand de Saussure, começa-se a pensar a linguagem por outro ângulo, chamado de estruturalista. Surgem então as visadas evolutivas da língua e todas as consequências que daí decorre deste pensamento, que os linguistas conhecem bem. Os que se inserem ainda nesta escola tendem a defender concepções errôneas sobre “língua fraca”, “língua forte” e sobre processos de dominação linguística e cultural, se é que um dia estes termos tiveram o direito de existir. Observam-se então reminiscências deste paradigma evolutivo nos dias atuais. Exemplo claro disso é a lei contra o uso dos estrangeirismos, que entende a língua como estrutura.
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Como já dizia Pitágoras:
“Tudo é número” Esse gênio foi muito além de seu tempo e do teorema que leva o seu nome.
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P
ouco se sabe sobre um dos primeiros gênios do mundo ocidental. Provavelmente Pitágoras foi o primeiro matemático, filósofo e quem iniciou a prática da metempsicose. Não bastando essas façanhas, acredita-se que foi ele quem inventou ou utilizou, pela primeira vez, as palavras matemática, filosofia e metempsicose, citadas acima, nos sentidos hoje aceitos. Para alguns, filho de Mnesarco. Para outros, filho de Apolo, o antigo deus grego da música, poesia e dança. Essa decisão fica por conta dos leitores. O fato é que este cidadão, nascido por volta de 572 a.C. na ilha de Samos (Grécia), criador da Escola de Pitágoras, desenvolveu um teorema que leva o seu próprio nome e está presente na vida de qualquer estudante do Ensino Médio ou da área de exatas. Sempre que se ouve algum comentário sobre este grande estudioso, qual a primeira coisa que nos vem à mente? A resposta é unânime: Teorema de Pitágoras. A princípio pode parecer estranho pensar que a área do quadrado construído sobre a hipotenusa seja, precisamente, igual à soma das áreas dos quadrados construídos sobre os catetos. Porém, em 4000 a.C., os egípcios já possuíam um método de traçar ângulos retos, onde utilizavam uma corda com treze nós, de forma que o espaço entre eles fosse igual. Unindo os extremos dessa corda, era construído um triângulo cujos lados mediam 3, 4 e 5. É isso mesmo! O famoso triângulo 3, 4 e 5 já era utilizado muito tempo antes de os professores pedirem para memorizarmos essa tão conhecida figura geométrica. No dia a dia, esse teorema pode ser aplicado sem sequer notarmos. Um exemplo disso? Você já se pegou pensando na expressão “o menor caminho entre dois pontos é uma reta”, enquanto contornava um quarteirão (de forma retangular) a fim de chegar na extremidade aposta? Neste caso, as calçadas que contornam o quarteirão seriam os catetos e a hipotenusa seria justamente
o “menor caminho”, que nos garantiria uma economia razoável de passadas e de tempo. Um outro exemplo se relaciona com os clássicos caminhões do corpo de bombeiros. Para apagar um incêndio no 8º andar de um edifício, o veículo precisa ficar a uma certa distância do prédio e ao mesmo tempo garantir que o comprimento máximo da escada será suficiente para alcançar o andar desejado. Deste modo, temos uma relação pitagórica pura entre a distância do caminhão à base do edifício, a altura do 8º andar e o comprimento da escada. Na aeronáutica, são utilizados os conceitos de Pitágoras para que não haja colisão nos voos, pois são feitos cálculos constantemente para as rotas de aviões. Já nos sistemas de GPS, o conceito do Teorema de Pitágoras também é aplicado, a fim de auxiliar na localização exata do indivíduo ou objeto. Apesar de todas as aplicações citadas e de seu teorema, Pitágoras foi muito além disso. Ele foi um dos primeiros gênios da música e, mesmo não tendo criado belíssimas sinfonias, descobriu as notas e os intervalos que possibilitariam a futura criação destas. Então, quando você estiver escutando música, tocando algum instrumento musical ou vendo um caderno de partituras, tenha certeza que Pitágoras contribuiu com tudo isso. Todas as suas teorias matemáticas eram cercadas por analogias musicais, onde os sentidos eram o ponto de partida para atingir o conhecimento da realidade. A harmonia matemática era considerada a pedra fundamental de toda a criação, existência e operação do universo. E assim, Pitágoras se faz presente no cotidiano de uma realidade 2500 anos mais velha que o seu próprio tempo.
É o termo genérico para transmigração da alma, de um corpo para outro, seja este da mesma espécie ou não.
Foi uma escola fundada por Pitágoras, onde ele ensinava toda a sabedoria que havia adquirido através de suas experiências. Os membros desta escola tinham que guardar silêncio por 5 anos, não comiam alimentos de origem animal, eram adeptos a doutrina da metempsicose e não podiam registrar qualquer princípio ou doutrina por escrito.
Renan Luis Fragelli Estudante de Engenharia Mecânica na Universidade Estadual Paulista (UNESP).
525 a.C. Cambises II, rei da Pérsia, invadiu e conquistou o Egito, e fez Pitágoras prisioneiro, mantendo-o por 12 anos na Babilônia. Durante este tempo, Pitágoras adquiriu grande parte de seus conhecimentos sobre matemática e música.
Os conhecimentos desenvolvidos por Pitagoras já eram utilizados a mais de 5000 anos nas pirâmides.
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