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Equipe da gestão escolar
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Adificuldade em se acostumar com o ensino não presencial fez com que Pedro Henrique Tavares, 15, aluno do nono ano da Escola Municipal Professora Lacy Luiza da Cruz Flores optasse pelo retorno às aulas, depois de quase oito meses desde o último dia em que esteve na unidade. Com módulos atrasados, o terceiro trimestre no ensino, em toda a rede municipal, vai estabelecer recuperações e estratégias para ajudar o estudante que não está em dia com os conteúdos dos componentes curriculares. Alinhados aos protocolos sanitários e pedagógicos, os espaços educativos estão com menos de 30% da capacidade máxima, aulas ofertadas com até duas horas de interação e os dias letivos de acordo com a quantidade de professores disponíveis. Na turma em que Pedro está, por exemplo, neste primeiro momento, dos mais de 30 alunos matriculados, apenas sete optaram pelo retorno e todos podem estar na escola nos dias de aula, organizados toda segunda, quarta e sexta-feira. Com identificação por toda a unidade sobre distanciamento social, cartazes informativos sobre os cuidados necessários e salas de aula com marcações em carteiras que não podem ser usadas, a volta segura na rede municipal de ensino de Joinville conta com o Plano de Contingência (Plancon), criado para prevenção, controle e monitoramento da disseminação da Covid-19 nas unidades escolares e CEIs. Desenvolvido pela Secretaria de Educação, Secretaria da Saúde e diferentes instituições e representantes de diversas áreas, o documento alinha a discussão do retorno com as orientações a nível nacional e internacional com estratégias, ações e planos de ação para o momento de pandemia.
“Uma semana antes do retorno, nós fizemos reunião online com as famílias, mostramos todos os protocolos e neste momento ele tem que ser levado a risca, até em relação ao horário. Até mesmo porque se eu cuidar de mim eu cuido do outro também”, conta Celina Aparecida Bertol Lopes, diretora da unidade e também integrante da comissão escolar para o desenvolvimento do Plancon. “Para o aluno participar do retorno ou não, os pais vieram até a escola para assinar um termo de compromisso e no quadro de gestão à vista estão todas as informações, como o aluno e toda a comunidade escolar deve colocar em prática.”
É que até o final do ano letivo, previsto para a segunda quinzena do mês de dezembro, o sistema híbrido de ensino, que é estabelecido tanto ensino presencial como remoto, deve seguir nas escolas e CEIs municipais de Joinville, alinhados com a classificação da matriz de risco sobre os índices da Covid-19 na cidade. “Mesmo com o retorno presencial, a gente continua online e com material impresso. Na segunda, quarta e quinta é entrega de material impresso. Na terça e sexta é preparação das impressões. E aí tem cronograma de entrega de acordo com cada ano até para a gente ter o cuidado de distanciamento”, descreve Celina.
Dos cerca de 1150 alunos matriculados na unidade, do primeiro ao nono ano do Ensino Fundamental, 179 foram autorizados pelos responsáveis para retornar à escola. Com redução para duas horas de encontro por turno e rodízio semanal, em caso de necessidade, os alunos participam de três aulas de 40 minutos de duração, com a preferência de um componente curricular consecutivo e outro intercalado para evitar a troca e movimentação de professores. “Trabalhamos exaustivamente para garantir que o retorno das atividades presenciais fosse feito com segurança e qualidade, seguindo todas as exigências sanitárias. As escolas e CEIs passaram por adaptações para atender as exigências dos protocolos. Os pais podem ficar seguros que os alunos estarão recebendo todo o atendimento necessário para a continuidade dos estudos presenciais, com o suporte das unidades para casos suspeitos da doença”, esclarece a Secretária de Educação, Sônia Regina Victorino Fachini.
Geovana Gabrieli Machado e Pedro Henrique Tavares
Com menos de 15% de adesão dos alunos por turma para o retorno na unidade, Celina acredita que a instabilidade do momento é o maior fator para que as famílias sintam receio em permitir a volta dos alunos. Até antes do retorno e orientado no Plano de Contingência, cada escola fez um mapeamento “para identificar os estudantes que se enquadram em grupo de risco ou que residem com familiar que constitui grupo de risco” e também uma identificação prévia do “número de estudantes que constituem grupo de risco ou que não apresentam condições para o retorno às atividades presenciais”, de acordo com os itens levantados no documento para garantir a segurança de todos da comunidade escolar. “Às vezes não é nem pelo aluno, mas por quem ele mora”, acredita a diretora.
No levantamento sobre os estudantes que apresentaram dificuldades em relação ao rendimento escolar no ensino não presencial ou que não realizaram nenhum módulo, a busca ativa foi constante para mapear os alunos prioritários, como foi o caso de Bryan Lorenzetti, 11, que está no quinto ano, na turma da professora regente Anabelle Senem. “O Bryan foi um aluno em que eu estive de estar direto em contato com os pais, porque ele não conseguiu manter uma rotina de estudos em casa, se perdeu nos módulos e ficou atrasado. Então, ele foi um dos alunos em que eu conversei com a mãe para retornar os estudos na escola, porque daí assim ele consegue recuperar os módulos perdidos e fica comigo tirando as dúvidas”, conta a professora, que deixou claro que a decisão de retorno é dos pais. Para Bryan, estar na escola é tudo diferente, até por conta da convivência escolar. “Na escola, a professora ou um amigo me ajudava e eu me sentia mais aliviado, porque em casa não é igual na escola. Eu senti muita saudade da professora”, desabafa o aluno.
Fotos: Emily Milioli
Professora Anabelle Senem
A quadra escolar segue interditada
Para cuidar do distanciamento social, as carteiras que não podem ser usadas são sinalizadas com recado
Mesmo com filho em grupo de risco, por escolha própria Anabelle resolveu retornar com as aulas no ensino presencial. Com oferta de aula síncrona uma vez na semana, grupos no Whatsapp com as famílias e alunos, rotina de produção de módulos postados na plataforma e até produções de vídeos como complemento, às aulas presenciais na turma em que o Bryan está seguem programadas de segunda a quinta-feira. “A nossa escola está muito preparada para receber os alunos e professores. Está tudo sinalizado”, observa. Para que nenhum aluno saia prejudicado, os conteúdos trabalhados na aulas presenciais estão alinhados com os postados na plataforma para que um meio não substitua o outro, mas sirva de complemento aos conteúdos apresentados em cada semana.
Na semana do retorno, às escolas também seguem os protocolos de acolhimento para recepcionar os alunos, professores e funcionários de cada unidade. Apesar de estar com todos os módulos em dia e não fazer parte do grupo prioritário, a estudante Geovana Gabrieli Machado, 14, está preocupada em como chegar ao primeiro ano no Ensino Médio, depois de ter passado quase que um ano letivo inteiro no ensino remoto. Aluna desde o quarto ano na unidade, sempre se envolveu com atividades ofertadas no contraturno, mas que neste ano não ocorreu. “Nunca a gente ficou tanto tempo sem entrar na escola”, diz. Apesar do comprometimento com os estudos, ela confessa que o psicológico, ao menos ainda no início, foi afetado. “Era muita coisa que vinha tudo junto e a gente já estava em casa e o nono ano é bem difícil.”
Foto: Emily Milioli Neste ensino remoto, a parceria dos pais tem sido primordial para que a gente alcance o nosso objetivo. A volta para todos nós é a esperança.” Celina Aparecida Bertol Lopes
Para analisar a aprendizagem dos estudantes ao longo deste ano, Celina conta que uma sondagem está programada para ser feita como próxima etapa para todos os alunos e todos os professores devem se organizar para fazer a sua. “A sondagem é uma avaliação dos conteúdos que foram trabalhados de forma remotamente. Baseado nesta sondagem é que vai ser analisado sobre o que os alunos tiveram uma aprendizagem efetiva ou não. Pode ser que aconteça em 2020 ou 2021”, diz a diretora da unidade. “Neste momento em que nós estamos vivendo é uma angústia para a escola e as famílias precisam deste acalento, porque elas ficam se questionando sobre a aprendizagem dos filhos. Neste ensino remoto, a parceria dos pais tem sido primordial para que a gente alcance o nosso objetivo. A volta para todos nós é a esperança.”
Manoela Calegarim e Francoyse Hugen Mendes, gestão CEI Pedro Paulo Hings Colin
Espaços isolados para evitar a aglomeração
Atendimento presencial no CEI ofertado nos espaços abertos e revitalizados da unidade
Parque interditado por tempo indeterminado no CEI
Retorno na Educação Infantil, o que muda?
Com novos espaços revitalizados para o acolhimento dos alunos no retorno do atendimento presencial, o cuidado com a manutenção da unidade e o coloridos dos muros chamam a atenção de quem entra no Centro de Educação Infantil (CEI) Pedro Paulo Hings Colin, ainda que com ambientes isolados e aplicação de todas as medidas sanitárias. Logo na entrada, além da aferição da temperatura corporal, também é disponibilizado um borrifador de álcool para a higienização das mãos de todos que chegam na unidade. Adentrando aos espaços, neste primeiro momento é possível ver fitas de isolamento no parque, bebedouros fechados e cartazes com identificação sobre os cuidados necessários para a permanência no local. Assim como nas escolas, os horários de atendimento nos CEIs também seguem de, no máximo, duas horas e a alimentação não pode ser ofertada pela unidade, visto que ainda no início da pandemia as famílias puderam se cadastrar para receber os kits escolares entregues em períodos e datas marcadas por escolas na região em que as crianças estão matriculadas. Com aproximadamente 317 crianças inscritas na unidade, desde o berçário até o segundo período, menos de 30 voltaram para o atendimento na unidade. “Nós até colocamos que a energia da unidade foi diferente. Nós estamos em processo de até revitalização para que a gente pudesse acolher e isso sempre foi cultura, nós temos esse cuidado para que as crianças tenham espaço de qualidade. Quando eles chegaram, a gente viu a alegria deles, no momento da sala que eles queriam conversar. Deu vida, a vida voltou para a unidade”, conta a diretora Manoela Calegarim. “Para nós, foi um momento de emoção, apesar de o atendimento ter sido reduzido, mas a gente poder reviver esse momento que a gente sempre viveu.” Para Francoyse Hugen Mendes, auxiliar de direção, o retorno é período de acolhida a todas as crianças e professoras que ficaram longe da unidade nos últimos oito meses. “Não vai ser a festividade do retorno, mas a saudade e acolhimento de todos os sentimentos que ficaram ali nesse tempo que a gente teve que trabalhar remotamente.”