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Ailson César Lovato
Ailson César Lovato Castelo/ES
Carta escrita à noite
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Uma última carta, por favor. Não quero explicar motivos, não quero lhe tirar sorrisos não quero que guardes rancor. Esta não tende a ser uma carta de amor. De todas as saudades, a sua. De escrever cartas e bilhetes. De um filme a dois e um café no meio da tarde. De uma música ao fundo como trilha sonora de um abraço apertado. De um girassol que me sirva de bússola. De todas as saudades, a do verbo amar. Escrevo a ti agora tentando frear o pulsar rítmico de um coração de plástico. Em quem pensavas tu quando quiseras me abandonar? Queres tu mil e treze flores colhidas do meu jardim? Não fuja, não abandone, não seja um estranho a mim. Escrevo-te agora como um último pedido de tudo o que foi escrito e lido me faltam ainda palavras a pronunciar. Eu prometo que jamais encontrarás alguém como eu. Fostes tu a minha escolha. No luar de uma noite calma, viestes me encontrar como uma estrela cadente. Já não quero mais o teu abraço, no triste prender de um laço não quero me aprisionar. Infinitas vezes tendes a errar e eu não estarei mais aqui. Não mais, não por ti. O tempo tende a lhe mostrar o jogo dos sete erros. Na escuridão da noite, nossas memórias assombrarão os teus sonhos e sussurrarão no teu ouvido o meu nome. Você pode me encontrar à meia-noite, sua mente precisa de mim, dance comigo – serei para ti um perigo, um risco a correr. As palavras dele são rasas e já não me convencem. És tolo. És cego. És bobo. Tal como uma criança fascinada por um doce, ele te seduziu. Até quando eu não sei. O mar tende a derrubar frágeis castelos de areia. Despeço-me. Desejo te esquecer, desejo evitar te ver. Deixar no esquecimento da minha mente toda e qualquer lembrança sua. Todo e qualquer contato seja corporal ou poético. Já não mereces minhas cartas. Não serei pra ti um dicionário: palavras bonitas pouco procuradas.