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Reinaldo da Silva Fernandes
Reinaldo da Silva Fernandes Brumadinho/MG
Aninha - a que eu (não) seguia
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Nos encontramos os três, Jane, eu e Aninha, no estacionamento do supermercado. Jane tinha encontrado a amiga havia pouco tempo, no salão (de beleza) onde discutiram ferrenhamente se a melhor cor para tingir seus cabelos – com um ou outro fio branco – era Louro Médio Acobreado Intenso 7.44 ou se Louro Super Claríssimo Natural 12.00. Quando fui buscar Jane, Eliete, a terceira mulher da relação, cabeleireira das mais renomadas da cidade, disserame que, depois de quase meia hora de dúvida, e depois de pedirem a opinião de todas as mulheres – e um rapazola –que estavam no salão, acabaram por optarem pelo Castanho Claro Acinzentado Acaju 10.23, embora Aninha ainda tenha ficado com certa dúvida.
Agora encontraram-se novamente no supermercado. Assim que parei meu carro, Jane a viu, e foi logo brincando; — Uai, Aninha, cê tá me seguindo, mulher? A que a outra respondeu prontamente: — Nossa, Jane! Cê que tá me seguindo mais do que o seu marido! A frase saiu assim, natural, inocente. Só mesmo eu, com essa mania de trabalhar com a língua – no bom sentido, é claro! – para ficar preocupado, analisando. Não pela frase, mas podia rolar um ciúme por causa dela (não de Aninha, da frase... ou seria por causa das duas?). Vai que a Jane entendesse o que entendi: que eu estava seguindo a Aninha. Não que Aninha não tivesse lá seus adjetivos, alguns, aliás, superlativos, como o caso dos .... deixa pra lá. Mas eu nunca segui Aninha (nem no facebook, confesso!). Mas o diminutivo no nome chegava a ser irônico... Aninha... Ah, não! Talvez mais coerente seria chamá-la Anão! (com maiúscula para não haver mais confusões) Olhei para Jane, torcendo para que ela achasse que a amiga dissera que ela (Jane) a seguia mais do que ela (Jane) seguia o próprio marido (que, no caso, era eu mesmo). E foi mesmo o que Jane entendeu. Escapei de uma! Entramos no supermercado para fazer nossas compras, esquecidos de Aninha e de seus predicados (eu, particularmente, esquecido
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especialmente dos predicados superlativos analíticos porque, sejamos francos, de sintéticos, ali não tinha nada!) Arroz, feijão, macarrão, verdura. Meia hora na fila da carne. Material de limpeza, xampu, pasta de dentes, Mais vinte minutos na padaria e R$ 1.500,00 no caixa. Aí, quando estamos nos dirigindo ao estacionamento, Jane se lembra: — Ih! Esquecemos o leite! Vou pegar! Te encontro lá embaixo! Desço, e encontro Marcinha (outro diminutivo injusto). — Oi, Valter! – me cumprimenta sorrindo. Pode me ajudar com um probleminha aqui? Posso!! Claro que posso! Ela entra no banco de trás do seu carro de vidros de películas fumês e pede para eu entrar pelo outro lado. Do supermercado ela passaria pela creche para pegar seu filhinho, mas o cinto da cadeirinha tinha se soltado e ela não conseguia pô-lo corretamente. Ela ajeitou a cadeirinha no banco, e, no exato momento em que Jane aproximavase do veículo, eu perguntava: — Eu já posso pôr? — Pode! Mas põe direito, pra não machucar, disse ela, enquanto Jane não via direito. Mas ouvia bem nosso diálogo. E foi assim que a língua portuguesa me arrumou problemas naquele dia.
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