LiteraLivre Vl. 5 - nº 27– mai/jun. de 2021
Reinaldo da Silva Fernandes Brumadinho/MG
Aninha - a que eu (não) seguia Nos encontramos os três, Jane, eu e Aninha, no estacionamento do supermercado. Jane tinha encontrado a amiga havia pouco tempo, no salão (de beleza) onde discutiram ferrenhamente se a melhor cor para tingir seus cabelos – com um ou outro fio branco – era Louro Médio Acobreado Intenso 7.44 ou se Louro Super Claríssimo Natural 12.00. Quando fui buscar Jane, Eliete, a terceira mulher da relação, cabeleireira das mais renomadas da cidade, disserame que, depois de quase meia hora de dúvida, e depois de pedirem a opinião de todas as mulheres – e um rapazola – que estavam no salão, acabaram por optarem pelo Castanho Claro Acinzentado Acaju 10.23, embora Aninha ainda tenha ficado com certa dúvida.
A frase saiu assim, natural, inocente. Só mesmo eu, com essa mania de trabalhar com a língua – no bom sentido, é claro! – para ficar preocupado, analisando. Não pela frase, mas podia rolar um ciúme por causa dela (não de Aninha, da frase... ou seria por causa das duas?). Vai que a Jane entendesse o que entendi: que eu estava seguindo a Aninha. Não que Aninha não tivesse lá seus adjetivos, alguns, aliás, superlativos, como o caso dos .... deixa pra lá. Mas eu nunca segui Aninha (nem no facebook, confesso!). Mas o diminutivo no nome chegava a ser irônico... Aninha... Ah, não! Talvez mais coerente seria chamá-la Anão! (com maiúscula para não haver mais confusões)
Agora encontraram-se novamente no supermercado. Assim que parei meu carro, Jane a viu, e foi logo brincando;
Olhei para Jane, torcendo para que ela achasse que a amiga dissera que ela (Jane) a seguia mais do que ela (Jane) seguia o próprio marido (que, no caso, era eu mesmo). E foi mesmo o que Jane entendeu. Escapei de uma!
— Uai, Aninha, cê tá me seguindo, mulher? A que prontamente:
a
outra
respondeu
— Nossa, Jane! Cê que tá me seguindo mais do que o seu marido!
197
Entramos no supermercado para fazer nossas compras, esquecidos de Aninha e de seus predicados (eu, particularmente, esquecido