1 minute read
Daniel Cardoso Alves
Daniel Cardoso Alves Belo Horizonte/MG
Baiano sem lar
Advertisement
Foto: Daniel Cardoso Alves, 2020.
Desço da Bahia em direção às Gerais. Vou em busca de labuta. Lá, na Bahia, deixo minha casa, meus amigos, minha família, meu amor ... Deixo meu lar!
Chego nas Gerais para labutar. Sinto-me só, perdido, sem minha casa, sem meus amigos, sem minha família, sem meu amor ... Sem meu lar!
De início, me ponho à busca por um lar. Não o encontro. Me engano com o labutar... Deixa pra lá! Não desisto, me ponho a uma casa buscar. Contento-me com 22 m² num dos arranha-céus do centro urbano da capital das Gerais. Sigo sem meus amigos, sem minha família, sem meu amor... Sem meu lar!
Com o tempo, conheço muitas pessoas. Mas, não fecharão em uma mão as que se tornarão amizades
70
verdadeiras. Sigo sem minha família, sem meu amor ... Sem meu lar!
Eis que vem a tal da COVID e me obriga o engano parar. Sem labor, sem fuga, me sinto sufocado, um gigante preso numa caixa vertical de 22 m². Grito por socorro, preciso de espaço para respirar. Preciso da minha família, do meu amor ... Do meu lar!
Saio pelas ruas de um vazio, estranho e temeroso centro urbano à procura de uma casa com espaço para respirar. Subo Bahia, desço Floresta, como cantava Rômulo Paes... Preciso do meu lar!
Nesse sobe e desce, com um estranho e sufocante adereço na face para me proteger da tal COVID, encontro um suposto lar. Ah, nele minha família pode entrar... Aqui será meu lar!
Me mudo para o suposto lar. Em poucos meses chega Blessed... Auau! Ouço latidos de cachorro... Um som familiar!
Mas, cadê meu amor? - Está lá Bahia. Agora tenho casa, amigos, família, mas não tenho amor. Pode um lar sem amor? Pode um amor sem lar? Paro e penso: Preciso do meu lar...
Suspiro e clamo: Ah, Bahia, que vontade de voltar!
@danielcalves_